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03/05/2018 Nelson Barbosa: Política fiscal, em resposta a Lisboa e Pessôa - 17/04/2018 - Opinião - Folha

OPINIÃO TENDÊNCIAS DEBATES (HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/OPINIAO/TENDENCIASDEBATES)


NELSON BARBOSA (HTTP://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA-TOPICOS/NELSON-BARBOSA)

Nelson Barbosa: Política fiscal, em resposta a


Lisboa e Pessôa
Contrariando "Lisbossôa", há estudos demonstrando a contribuição da política
fiscal na aceleração e estabilização da economia em 2006-2011

O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Nelson Barbosa fala em sessão no Senado, em


agosto de 2016 - Alan Marques - 27.ago.16/Folhapress

17.abr.2018 às 2h00

EDIÇÃO IMPRESSA (//www1.folha.com.br/fsp/fac-simile/2018/04/17/)

Após me acusarem de defender a “economia do moto-perpétuo”, Marcos


Lisboa e Samuel Pessôa voltaram ao assunto nesta Folha
(https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/04/marcos-lisboa-e-samuel-pessoa-resposta-a-nelson-barbosa.shtml)

(10/4). Dessa vez, a dupla foi mais focada e cobrou um artigo acadêmico

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provando que a expansão de 2006-2010 decorreu somente da expansão do


gasto público (outro espantalho sobre minha posição).

Como apontei (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/04/nelson-barbosa-a-economia-de-espantalhos-


perpetuos.shtml) em resposta ao primeiro texto de “Lisbossôa”

(https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/03/marcos-lisboa-e-samuel-pessoa-a-economia-do-moto-perpetuo.shtml), a
política fiscal de 2006-2010 foi bem-sucedida e contribuiu para o
crescimento da economia. Achar que isso signifique que a política fiscal
tenha sido a única causa do crescimento é insistir em caricaturas.

Artigo de jornal não é lugar para debate acadêmico, mas posso indicar o
caminho. Antes disso, vou ampliar o período em questão para incluir 2011 e
dividi-lo em duas fases: a expansão de 2006-2008 e a estabilização de 2009-
2011.

Na primeira fase, as condições iniciais justificavam uma “expansão fiscal


balanceada”, com aumento da receita primária canalizado principalmente
para transferências de renda e investimento público.

Quando há capacidade ociosa, como havia no Brasil de 2005, a expansão


conjunta de receita e despesa primárias pode aumentar o PIB sem afetar
significativamente o resultado do governo e a dívida pública com base no
que nós economistas chamamos de “Multiplicador do Orçamento
Equilibrado”.

A situação externa também foi bem favorável em 2006-2008, mas o impulso


fiscal teve impacto positivo sobre a renda, sobretudo via aumento do
investimento, como indica o estudo de Manoel Pires “Política Fiscal e Ciclos
Econômicos no Brasil”, publicado pela revista Economia Aplicada, da USP, em
2014.

Contrariamente à visão dominante na época, de que a inflexão da política


econômica de Lula diminuiria o investimento privado, aumentaria a taxa
real de juro e elevaria a dívida pública em proporção do PIB, ocorreu o
oposto em 2006-2008.

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Já na segunda fase, os dados são mais claros. Com base na variação do


resultado primário recorrente, houve expansão fiscal em 2009-2010, para
combater os efeitos da crise internacional, e contração em 2011 (mas isso
muitos esquecem).

Novamente a decisão se mostrou acertada, pois como indicaram Rodrigo


Orair, Fernando Siqueira e Sergio Gobetti, o impacto de um estímulo fiscal é
maior numa recessão do que em uma expansão no Brasil (condições iniciais
importam).

O texto em questão (“Política Fiscal e Ciclo Econômico: Uma Análise Baseada


em Multiplicadores do Gasto Público”) foi o segundo colocado no Prêmio do
Tesouro Nacional de 2016.

Assim, ao contrário do que diz “Lisbossôa”, há estudos empíricos que


corroboram a contribuição positiva da política fiscal para a expansão e
posterior estabilização da economia brasileira em 2006-2011.

Também há estudos no sentido contrário, como é natural em qualquer


questão estatística. O debate continua, no Brasil e no mundo, só que cada
vez mais desfavorável aos que defendem arrocho fiscal ontem, hoje e para
sempre.

Felizmente, não parece ser mais o caso de “Lisbossôa” —pois, segundo sua
última posição, uma expansão do gasto primário seria válida quando a taxa
de juro real sobre a dívida pública ficasse perto da taxa de crescimento real
da economia.

Pois bem, como hoje o custo de rolar a dívida do governo caiu para um valor
próximo ao crescimento do PIB, posso concluir que "Lisbossôa" agora é
favorável a uma expansão fiscal imediata e desbalanceada? Nem eu sou tão
keynesiano!

Proponho, apenas, a preservação de investimentos e gastos correntes que

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aumentem a produtividade da economia devido ao quadro atual de dívida


pública.

Ao mesmo tempo, sou favorável a reformas graduais do gasto obrigatório, tal


como já fiz enquanto estive no governo e defendi recentemente para a
Previdência social e a remuneração de servidores.

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