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Jeisan dos Santos b

Supervisiona e gerencia o
departamento de Projetos
Integrados RIC – Rede
Independência de Comunicação,
nos veículos de comunicação TV
Record Paraná, Rádio Jovem Pan
Curitiba e Portal Click Market.

e-mail: jeisan@ric.com.br

A EVOLUÇÃO DO VAREJO
MUDANÇAS NA RELAÇÃO DOS SUPERMERCADOS COM FORNECEDORES DEVEM SER

COMPLEMENTADAS AGORA COM UMA GESTÃO VOLTADA AO CONSUMIDOR

Muita coisa mudou desde a revolucionária transformação dos b A NOVA REALIDADE DO FORNECEDOR
antigos armazéns, com seus balconistas prontos para atender,
até o “Pegue-Pague”, ou o conhecido, atualmente, por auto- Pode-se dizer que o elo indústria/fornecedor foi a grande força da
serviço. São mais de cinqüenta anos de história que mudaram o década de 1980 e início da de 1990. A elaboração de novos
modo de negociação de compra e venda, a disposição das produtos, até então, era feita à revelia do consumidor, já que as
mercadorias nas prateleiras, as formas de pagamento e, indústrias acreditavam que conheciam as necessidades e anseios
principalmente, o comportamento do consumidor. Essa nova desse consumidor e que tudo o que elas se propusessem a fazer
conjuntura fez com que a sensibilidade do varejista, fruto da sua seria bom. A pequena concorrência e o mercado fechado faziam
experiência adquirida na convivência do dia-a-dia, não fosse mais com que a falta de opções propiciasse a poucos o conforto e a
suficiente para garantir o melhor retorno de suas lojas. estabilidade. A concentração de poder da indústria não parava
somente na interferência do gosto do consumidor, mas também
Oscilações dos juros, margens estreitas, concorrência cada vez na persuasão da negociação junto ao varejo, imposição de
mais acirrada e consumidores mais exigentes não possibilitam quantidades de produtos, periodicidade de compra e atrelamento
aos supermercados e aos fornecedores correrem o risco de a outros produtos, ou seja, a chamada venda casada.
trabalharem com produtos e serviços que não atendam às
necessidades dos clientes, bem como às expectativas de Perante a abertura de mercado e profissionalização do varejo, os
rentabilidade do negócio. fornecedores tiveram de mudar o perfil, de evoluir no que diz
respeito a lançamento de produtos, foco no cliente, métodos de
Por essa razão, várias empresas do setor varejista, fornecedores redução de custos e acompanhamento dos resultados,
e prestadores de serviços estão cada vez mais interessados em concentrando seus esforços, cada vez mais, nos canais de
analisar as muitas variáveis do seu negócio, administrando cada distribuição, cliente e produto.
vez melhor e com grande aproveitamento os recursos
tecnológicos para gerenciar ferramentas e informações capazes No entanto, a evolução global das empresas fabricantes fez com
de atender a seus mercados. Para entender melhor essa nova que as vantagens competitivas que os fornecedores possuíam,
realidade, vale ressaltar o ciclo evolutivo do varejo brasileiro e a como desenvolvimento de novos produtos, campanhas publicitárias
sua estrutura básica: fornecedor, varejo e cliente. voltadas ao consumidor e promoções de vendas, perdessem o
b

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impacto, uma vez que a concorrência, entre as empresas
detentoras de recursos cada vez mais igualados, foi se tornando A atual situação de
cada vez maior. Essa disputa acirrada trouxe uma outra evolução:
a dos profissionais de marketing, que necessitam cada vez mais competitividade do mercado não
desenvolver ferramentas, formas e conceitos diferenciados para estagnará. As disputas no varejo
atender, convencer e fidelizar o consumidor.
não pararão. Haverá ainda
A atual situação de competitividade do mercado não estagnará; muitos processos de
as disputas não pararão em curto prazo; haverá ainda muitos incorporações e fusões de
processos de incorporações e fusões de empresas, como
aconteceu na indústria alimentícia, de bebidas, de chocolates, empresas, procedimento que se
higiene e limpeza. Esse procedimento transformou-se em uma transformou em uma forma de
forma de sobrevivência.
sobrevivência
A grande mudança na gestão da indústria com relação ao varejo
foi a forma de classificação e atendimento de seus clientes: deixou-
se de atuar por regiões geográficas para se atuar numa relação Com a estabilização da moeda e a contenção da inflação, a
cliente/varejista. Foram desenvolvidas formas de gerenciamento rentabilização do negócio pela ciranda financeira acabou.
de acordo com a necessidade e realidade de cada um. Esse As empresas do segmento varejista que quiseram sobreviver
trabalho fez surgir a figura do Key Account Management 1, com o tiveram de criar novas formas de gestão. Isso trouxe a
intuito de fortalecer o desempenho dos produtos e do fornecedor profissionalização do setor, o que gerou novas ferramentas para
no varejo. Essa nova forma de gestão comercial possibilitou ainda auxiliar nas tomadas de decisões.
o intercâmbio de informações entre a indústria e o varejo: a
indústria no suprimento de dados e informações de pesquisas; e A gestão de estoques foi extremamente aprimorada, evoluiu das
o varejo com os hábitos e necessidades concretas do consumidor. grandes quantidades e muitos depósitos, para a gestão logística
de quantidades adequadas que suprissem a demanda das unidades
b A NOVA REALIDADE DO VAREJO de loja, com entregas escalonadas pelo fornecedor, e modificações
nas formas de estocagem, compra e pagamento.
O varejo tem sofrido muitas mudanças, principalmente, nos últimos
anos. Aumentaram-se os desafios na forma de gerenciar e Os supermercados acompanharam a tendência de outros vários
operacionalizar o negócio. Na época dos altos índices de juros negócios. A gestão de custos não se limita à contenção de
inflacionários, a melhor forma de gestão era o gerenciamento de despesas, mas vai até a otimização de recursos e produtos. Como
estoque. As mudanças freqüentes nas tabelas de preços dos exemplo, pode-se citar a redução nos índices de quebras, ou
fornecedores faziam com que as empresas comprassem grandes seja, produtos que simplesmente ficavam impossibilitados para
quantidades de produtos, posto que viam seus depósitos venda, pela má conservação, manuseio, excesso de produção ou
valorizarem dia a dia. Outra situação benéfica era a dos produtos compra, enfim, por motivos que geravam percentuais altos de
de alto giro, os quais, ao serem vendidos antes dos prazos de redução da rentabilidade.
pagamento das notas ficais de compra, geravam um fluxo de
caixa que não ia para gestão comercial, mas para aplicações b DESAFIOS
financeiras que rendiam dividendos de um dia para o outro.
A evolução das gestões citadas, tanto a comercial quanto a funci-
onal, foi necessária para operacionalização da otimização dos
recursos do varejo, mas o gerenciamento principal deve agora se
A gestão de estoques no varejo voltar para o entendimento das necessidades do consumidor.
evoluiu das grandes quantidades de
produtos e muitos depósitos, para a Para que isso aconteça, o supermercadista deve desenvolver
uma nova forma de gestão para alinhar a sua visão e a do forne-
gestão logística de quantidades cedor com a do consumidor. Essa gestão força uma mudança e
adequadas que suprem a demanda um impacto cultural, requerendo que a gerência abandone a orga-
das unidades de loja, com entregas nização de gôndolas e corredores em forma de departamentos,
para uma gestão multifuncional, com base em unidades estratégi-
escalonadas pelo fornecedor, e cas de negócios do varejista, voltadas ao valor percebido pelo
modificações nas formas de cliente.

estocagem, compra e pagamento Ao concentrar os esforços, nesse tipo de gestão, é possível propor-
cionar oportunidades renovadas para suprir as necessidades, bem
como, simultaneamente, alavancar vantagens competitivas, geran-
do custos mais baixos e maior eficiência no processo operacional.
1
KAM – Key Account Management (Gerenciamento de Contas Esse tipo de gestão voltada ao consumidor requer tempo, recursos e
Chaves) é uma modalidade de gestão de vendas que prevê um ferramentas de sistemas de informações, que de nada valerão, se o
relacionamento especial com os principais clientes ou clientes varejista e seus colaboradores não assimilarem esta nova filosofia:
estratégicos da empresa. gerir em função de quem mantém o negócio. f

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