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GUARULHOS
2016
Considerações iniciais
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Núcleo de Pesquisa e Educação Patrimonial em Territórios Negros em São Paulo atuante desde 2014.
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Contudo, além de estar disponível em apenas três bibliotecas segundo a busca no
sistema municipal de bibliotecas de SP, tem uma acessibilidade bastante restrita. Tal fator,
somado a minha rotina - incompatibilidade de horários devido ao emprego e etc – tornou o
contato com essa obra ainda mais difícil.
Realizar empréstimo na Mário de Andrade e no Acervo Histórico de São Paulo é
inviável, no máximo uma consulta local em dias e horários bem delimitados. Na biblioteca do
Centro Cultural de São Paulo o único exemplar estava emprestado, cuja devolução estava
prevista para agosto, todavia, por sorte, essa devolução ocorreu antes do prazo, o que tornou
possível meu contato com a obra.
Como texto fundamental para me introduzir à pesquisa sobre a Igreja do Rosário do
Rosário dos Homens Pretos da Penha optei pela obra Recados aos nossos ancestrais:
memória das relações entre comunidade e o patrimônio. Trata-se de um livro de autoria
coletiva, fruto de parcerias com escolas, coletivos culturais, professores/as, historiadores e
jornalistas do Estado de São Paulo, e discorre sobre os patrimônios remanescentes do Brasil
colonial. Porém, a mesma insuficiência bibliografia observada em relação às Irmandades
Negras do Rosário do Paissandu, é também verificada em relação às Irmandades que atuaram
na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha, obtive mais informações acerca da história
da Igreja do que a respeito da atuação das irmandades que pertenciam ao local.
Contemplando o assunto num âmbito geral, foi utilizado para esse trabalho o sucinto
livro “Professora, existem santos negros? Histórias de identidade religiosa negra” da
historiadora Antonia Aparecida Quintão que integra a coleção “Percepções da Diferença –
Negros e Brancos na Escola” lançada em 2009.
As irmandades negras eram e são uma das importantes instituições religiosas que no
contexto de escravidão no Brasil desempenhou papel fundamental na preservação da
cosmologia dos povos africanos aqui chegados e escravizados, inclusive na preservação do
corpo negro, garantindo na hora da morte um enterro adequado, assegurando a prática dos
rituais em respeito aos ancestrais. Se a comunidade negra escravizada em vida não tinha sua
integridade física e moral respeitada, e sim agredida, restava-se, portanto, o consolo de na
hora morte ter seu corpo preservado.
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As irmandades negras cumpriam essa função de assegurar a sobrevivência do povo
escravizado, a sobrevivência dos princípios fundantes de uma cultura bantu para além-mar.
Constituídas no seio do catolicismo negro, essa instituição religiosa propiciou uma condição
de aceitação dos elementos da cultura negra no contexto brasileiro, submetendo-os a um
processo de adaptação, transformação e ressignificação diante da imposição de uma cultura
ocidental.
Constituíam-se por mulheres e homens negros integrantes da Igreja do Rosário, cuja
santa homenageada é reconhecida há tempos como padroeira dos escravizados. A lenda que
justifica a associação da santa branca aos negros e negras escravizadas possui diversas
versões. Acredita-se que o culto dedicado a Rosário pela comunidade negra originou-se no
contexto de colonização dos africanos pelos portugueses.
A igreja no contexto do Novo Mundo abriga, além do catolicismo, os cultos e rituais
da comunidade negra, recuperando as matrizes da tradição bantu; é lugar de valor sacro e
também político, por configurar-se como um dos espaços sociais de resistência do/a
negro/a. Como bem define Joviano (1991) os papeis das irmandades no contexto paulistano
do século XIX constitua no
Contudo, vale deixar claro que nem todas as igrejas do Rosário estão associadas ao
exercício religioso, cultural e político das irmandades negras. De passagem por Embu das
Artes fui informada de que por lá havia uma Igreja do Rosário. A expectativa de entrar em
contato com mais um patrimônio da resistência negra naquele lugar logo se esvaiu ao saber
que se tratava, na realidade, de uma igreja erguida no século XVII a pedido da Sra. Catarina
Camacha, dona de terra, por sua vez branca e devota de Nossa Senhora do Rosário. Segundo
informação dada pela funcionária do local, a construção ficou a cargo dos índios escravizados
que Catarina doara aos jesuítas instalados na região para serem mãos de obras e convertidos à
fé católica. A igreja integra o Museu dos Jesuítas e fica localizada no Largo dos Jesuítas,
centro comercial e histórico de Embu das Artes.
Como será percebido no decorrer desse trabalho, o processo de consolidação das
irmandades negras, bem como a manutenção da igreja do Rosário do espaço citadino, é
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repleto de conflitos e negociações, o que nos aproxima do conceito de cultura enquanto algo
dinâmico, antagônico, resultante de tensões. Ao mesmo tempo em que se mantiveram alguns
sentidos cosmológicos da cultura de origem, bem como a tradição de coroação de reis e
rainhas – deixando de ser hereditária para ser eletiva – o culto aos ancestrais na hora da morte
e etc. problemas de ordem política, social e cultural tentaram cercear o campo de atuação das
igrejas do Rosário e das irmandades. Com a propagação da cultura romana e as pressões
decorrentes disso a configuração administrativa das irmandades e da igreja do Rosário foram
perdendo sua caracterização inicial, sobretudo, o critério de cor que se tornou menos
determinante na composição do corpo da instituição, entre outras mudanças estruturais.
Importante também sublinhar o papel nada passivo das mulheres da irmandade negra,
que indo no contra fluxo do papel social da mulher branca na época, tinham como espaço de
atuação a esfera pública, as ruas, as igrejas. As mulheres que pertenciam às irmandades negras
ocupavam cargos de relevâncias e se responsabilizavam por diversas alçadas, sobretudo pelas
festividades. Embora algumas dessas mulheres, como nos informa Quintão (2009, p.36)
mantiveram-se anônimas, diversas foram as aparições do nome da irmã Rufina Maria do Ó,
por exemplo, o que leva a constatar o grau de atuação dessa irmã na irmandade,
transcendendo sua atividade para além do que fora lhe atribuído.
é muito provável que Rufina Maria do Ó, como tantas outras irmãs que
permanecem anônimas, tenha feito pelas irmandades muito mais que
arrecadar esmolas e vestir um anjo para acompanhar a procissão no dia da
festa da padroeira. Podemos levantar hipótese de que, além do sentimento
religioso, outros objetivos motivaram essas negras escravizadas ou libertas a
participar tão ativamente dessas irmandades. (QUINTÃO, 2009, p.36)
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Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos – Paissandu
O local, definido como “sítio ermo e soturno”, recebia toda leva de doentes,
bexigosos... era uma região distante, nada aprazível. Em torno da igreja, construída por
escravizados nos dias de domingo e santificados, iam se acomodando a população negra,
formada por africanos livres, casais de negros libertos de cativeiros, comerciantes,
quitandeiras, e diversos casebres pertencentes às irmandades que abrigavam negros e negras.
E, anexado à igreja, um cemitério, em cujo espaço se preservava uma tradição e executavam-
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se os rituais de culto aos mortos.2 Porque, embora cumprindo a religião dos “senhores”,
retomavam sob o viés do sincretismo os seus modos de ver o mundo, suas cosmologias.
Conforme relata Joviano (1991), os rituais funerários desenvolviam-se a noite, emitindo suas
ritmadas e tristes cantorias, batendo na terra as mãos de pilão, cantavam:
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Para evitar com que os mortos continuassem a serem enterrados no interior das igrejas como era de costume na
época, foi construído o cemitério da Consolação. Foi reservado às irmandades negras em 1858 um espaço no
interior desse cemitério para que dedicassem os seus cultos e executassem os seus funerais, o que foi recusado
pela própria irmandade.
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Segundo registro de Raul Joviano na obra Os pretos do Rosário de São Paulo (1991) existem controvérsias
quanto a data da construção da igreja. Com base em documentos consultados para a sua pesquisa há a hipótese
de que tenha sido construída em 1730. Interessante ressaltar que as irmandades negras já existiam a priori, desde
1711.
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igreja, a irmandade revindica por meio da carta algumas alguns direitos e indenizações para
efeito de justiça, dentre os pedidos estão: a solicitação da planta para a construção da nova
igreja; indenização com o valor de quinhentos contos de réis; remoção dos objetos sagrados e
dos cadáveres; um prazo de 3 meses para a desocupação entre outras solicitações. Conforme
relata Joviano (1991), o acordo foi considerado por parte das autoridades da cidade
impossível de ser firmado. A custo de diversas negociações foi liberado apenas metade do
valor solicitado para indenização, a o Largo do Rosário passa denominar-se praça Antonio
Prado em 4 de janeiro de 1905. “Os pretos foram desterrados para o longínquo Paissandu, no
Tanque dos Lunega.” (Joviano,1991, p.119)
A irmandade ficou instalada provisoriamente, até 1906, na Igreja de São Pedro da
Pedra até que fosse construída a nova igreja no Largo do Paissandu, local que na época era
escondido, distante do núcleo da cidade que se civilizava.
Em 1935-1948 novo pedido de remoção/demolição da igreja do Largo do Paissandu
inquieta a irmandade. Porém, com bases mais resistentes, a instituição dos negros e negros do
Rosário impõe todas as objeções possíveis até que findasse essa exigência do poder publico
de removê-la a outro canto (afastado) da cidade, e que pudessem, enfim, manterem fincadas
no local até hoje as suas vigas abrigando a única irmandade do Rosário de São Paulo.
Recentemente a prefeitura de São Paulo divulgou um edital que premiará projetos de
artistas negros para a confecção de uma escultura de Zumbi, que será instalada no local em
que havia a antiga Igreja do Rosário. A eleição de Zumbi para representar a luta que se fez
naquele espaço pode ser problematizada.
Sem deixar de reconhecer a legitimidade da trajetória de luta de Zumbi é preciso
coerência. Várias são as figuras de negros e negras que assim como ele foram protagonistas.
Relendo a história e recuperando os dados daquele contexto de gênese e estabelecimento da
Igreja do Rosário no centro de São Paulo vemos ressurgir atores importantes que fizeram
parte daquele processo.4 Como já dito, em torno da igreja a presença negra se organizava, até
mesmo o seu interior era cedido como espaço de sobrevivência, de esconderijo de fugitivos,
de armas e etc
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Associada à história da Igreja do Rosário de Paissandu está a história do movimento dos Caifazes. O grupo
fazia parte de outras Irmandades do estado a fora, e era representado inicialmente pela figura de Antonio Bento,
que por sua vez tornou-se membro das Irmandades do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, o que viabilizou
o diálogo e o contato entre a Irmandade e o movimento. A igreja tornou-se reduto de esconderijo dos caifazes,
assim como as casas dos membros das irmandades. Esse grupo de principio abolicionista agia sorrateiramente
nas fazendas mobilizando a fuga de escravos entre outras atividades. (QUINTÃO, p. 35, 2009)
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As irmandades funcionavam como ponto de agregação. Em seus terreiros,
nas festas religiosas, os negros dançavam o batuque. Muitas, como a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo,
chegaram a abrigar libertos (...) envolveram-se diretamente na campanha
abolicionista, articulando quilombos rurais às redes de apoio urbanas. 5
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ROLNIK, Raquel. Territórios Negros nas Cidades Brasileiras (etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de
Janeiro). 2013. Disponível em: https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros.pdf.
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Imagem presente no livro Os Pretos do Rosário de São Paulo, de Raul
Joviano.
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Imagem presente no livro Os Pretos do Rosário de São Paulo, de Raul Joviano.
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Foto: Aline Leão. Igreja do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo. Tirada durante o Roteiro “Contas
de um Rosário Negro: da diáspora a contemporaneidade” – Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Igreja do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo. Tirada
durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade” – Largo do Paissandu - Junho/2016
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Alguns aspectos importantes sobre a Igreja do Rosário dos Homens Pretos da
Penha.
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envolvem a história da Igreja do Rosário na Penha do pouco que foi lido sobre e da
experiência em ter participado do roteiro, motivando o olhar para estudos e leituras futuras
sobre o assunto.
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Divulgação da 1º festa do Rosário na Penha
Fonte: http://largodorosario.blogspot.com.br/p/his.html Divulgação da festa do Rosário da Penha edição
2016.Fonte:http://largodorosario.blogspot.com.br/p/his.
html
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário
Negro: da diáspora a contemporaneidade” – Penha - Junho/2016
Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Penha - Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Altar de São Benedito. Penha- Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Altar de Nossa Senhora do Rosário. Penha - Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”.Penha- Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Penha - Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a contemporaneidade"
Mastro. Penha - Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Anexo lateral de Igreja. Penha- Junho/2016
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Foto: Aline Leão. Tirada durante o Roteiro “Contas de um Rosário Negro: da diáspora a
contemporaneidade”. Penha- Junho/2016
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Palavras finais....
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Referências bibliografia
AMARAL, Raul Joviano. Os Pretos do Rosário de São Paulo: subsídios históricos. São Paulo:
Joao Scortecci Editora. 1991.
QUINTÃO, Antônia Aparecida. Professora, existem santos negros? histórias de identidade
religiosa negra. São Paulo: USP, v. 8, 2007.
SANTOS, Carlos José. Recados – Memórias das Relações entre a Comunidade e o
Patrimônio, São Paulo: Movimento Cultural Penha, 2011.
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