caso clínico

Harmonia estética trabalhando com

diferentes pastilhas cerâmicas em preparos
sobre metal e dente: relato de caso
Resumo: o objetivo desse trabalho é relatar o uso de pastilhas cerâmicas, com diferentes níveis de transluci-
dez, sobre preparos dentários e núcleos metálicos fundidos, possibilitando harmonia estética com laminados,
coroas e inlays. A paciente procurou tratamento odontológico relatando insatisfação com o sorriso. Durante a
avaliação, foi observada desarmonia de cor, forma, posição e proporção dos dentes e gengiva, com presença
de coroas e núcleos metálicos nos dentes 11 e 21, e restaurações extensas em alguns elementos. Diante disso,
o tratamento proposto foi a reabilitação com laminados cerâmicos dos elementos 14 ao 23, sendo nos elementos
11 e 21 cimentadas sobre coping cerâmico de baixa translucidez, a fim de mascarar as cores acinzentadas do
núcleo metálico e o escurecimento da gengiva; além disso, usou-se coroas metal-free nos dentes 24 e 25 e inlay
no dente 15, devido à extensão das restaurações existentes. As coroas dos dentes 11 e 21 foram removidas, os
núcleos metálicos repreparados e coroas provisórias confeccionadas. Nos dentes 24 e 25, foram feitos preparos
inlay, e, nos elementos do 14 ao 23, preparos para laminados que consistiram na remoção de áreas retenti-
vas. Os preparos foram moldados e as restaurações confeccionadas no sistema IPS e.max. Após prova de cor
e adaptação, as restaurações foram tratadas superficialmente e cimentadas com cimento resino adesivo de
presa dual ou fotopolimerizável. A seleção das pastilhas cerâmicas representa um passo importante durante o
trabalho em casos em que o substrato varia entre preparos sobre metal e dente, para a obtenção de harmonia e
a naturalidade ao sorriso da paciente. Palavras-chave: Facetas dentárias. Estética dentária. Cerâmica.

Rodrigo Borges FONSECA

Professor Adjunto de Dentística e Materiais Dentários, Universidade Federal de Goiás.

Letícia Nunes de ALMEIDA

Mestranda em Odontologia, Universidade Federal de Goiás.

Isabella Negro FAVARÃO

Doutoranda em Odontologia, Universidade Federal de Goiás.

Amanda Vessoni Barbosa KASUYA

Doutoranda em Odontologia, Universidade Federal de Goiás.

Como citar este artigo: Fonseca RB, Almeida LN, Favarão IN, Kasuya AVB. Harmonia estética trabalhando com diferentes Os autores declaram não ter interesses associati-
pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso. Rev Dental Press Estét. 2014 jul-set;11(3):97-109. vos, comerciais, de propriedade ou financeiros que
representem conflito de interesse nos produtos e
Enviado em: 25/9/2013 - Revisado e aceito: 24/04/2014 companhias descritos nesse artigo.

Endereço de correspondência: Rodrigo Borges Fonseca O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
Faculdade de Odontologia ‒ Universidade Federal de Goiás ‒ Praça Universitária, esq. com 1ª Avenida, s/n autorizou(aram) previamente a publicação de suas
Setor Universitário ‒ Goiânia/GO ‒ CEP: 74605-220 ‒ E-mail: rbfonseca.ufg@gmail.com fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

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 Fonseca RB, Almeida LN, Favarão IN, Kasuya AVB
INTRODUÇÃO
Elevados padrões estéticos exigem um sorri-
so harmonioso para aceitação e realização pessoal1.
A busca por procedimentos estéticos direciona as
pesquisas odontológicas para o desenvolvimento de
sistemas restauradores mais estéticos e duráveis2.
Assim, as cerâmicas odontológicas têm se destacado
por sua capacidade de mimetizar a estrutura dentá-
ria, possibilitando um sorriso natural e funcional3.
As cerâmicas são materiais altamente esté-
ticos por possuir como características transluci-
dez, fluorescência, opalescência e transmissão de
luz, assim como a dentição natural4. Apresentam,
ainda, características positivas, como a biocom-
patibilidade, estabilidade de cor em longo prazo e
resistência ao desgaste5.
Alguns sistemas cerâmicos atuais apresen-
tam maior resistência que a cerâmica feldspática
convencional, por serem reforçados com óxido de
zircônio, óxido de alumina, dissilicato de lítio ou
leucita5. A escolha do material cerâmico por parte
do profissional dependerá das exigências estéticas
do caso e da condição inicial do paciente6, o que
envolve fatores ligados ao tipo de preparo, capaci-
dade adesiva da cerâmica, situação oclusal, subs-
trato dentário, quantidade de remanescente, cor
do substrato e relação da restauração com os te-
cidos periodontais. O sistema cerâmico IPS e.max
(Ivoclar-Vivadent), reforçado por cristais de dissi-
licato de lítio, vem se destacando devido à possi-
bilidade de restabelecer a naturalidade da estrutu-
ra dentária e por apresentar características como
adesão, estética e resistência7.
Em associação às propriedades mecânicas,
a capacidade adesiva dos sistemas cerâmicos atuais
garante longevidade e previsibilidade dos resulta-
dos8. Diante do desenvolvimento dos procedimen-
tos adesivos, a cimentação de restaurações cerâmi-
cas diretamente à estrutura dentária possibilita que
as cargas incididas sobre a restauração sejam dissi-
padas e transferidas ao dente9. Dessa forma, restau-
ração e dente comportam-se como uma só estru-
tura, aumentando a resistência à fratura de ambos9.
98 Rev Dental Press Estét. 2014 jul-set;11(3):97-109
A cor do substrato, cor da restauração e cor
do material de cimentação influenciam no re-
sultado final de uma restauração em cerâmica
pura. Em casos em que o substrato varia entre
metal e dente, a etapa de seleção das pastilhas
cerâmicas tem extrema importância. Espessuras
de cerâmica inferiores a 1mm são incapazes de
mascarar substratos escurecidos10, e o uso de di-
ferentes tons de cimentos resinosos não é capaz
corrigir a cor final da restauração, mesmo quan-
do o substrato é a dentina11. O tipo e a espessura
da cerâmica são capazes de acarretar mudanças
em sua translucidez, porém, cerâmicas opacas
não apresentam grande variação de transluci-
dez, mesmo quando em diferentes espessuras12.
De modo a auxiliar no resultado de cor final, o
sistema cerâmico IPS e.max está disponível em
quatro níveis de translucidez: alta transluci-
dez (HT), baixa translucidez (LT), opacidade mé-
dia (MO) e alta opacidade (HO).
O presente artigo tem o objetivo de relatar o
uso de pastilhas cerâmicas do sistema IPS e.max
com diferentes níveis de translucidez/opacida-
de, sobre preparos dentários e núcleos metálicos
fundidos em um mesmo paciente, possibilitando
harmonia estética com laminados, coroas e inlays.
RELATO DO CASO
A paciente compareceu à clínica odontológi-
ca queixando-se de insatisfação com seu sorriso,
principalmente devido ao escurecimento dos in-
cisivos centrais e da gengiva, e pela presença de
restaurações antigas (Fig. 1). Notou-se o desejo
da paciente por um tratamento reabilitador es-
tético que devolvesse a aparência de naturalida-
de ao sorriso. Durante a anamnese, exame físico
e radiográfico, foi observada a presença de pinos
metálicos fundidos nos dentes 11 e 21 e coroas me-
talocerâmicas sobre esses, além da presença de
restaurações metálicas extensas nos dentes 15, 24
e 25 e de restaurações em resina composta clas-
se III insatisfatórias na mesial dos dentes12,13,22,23.
 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso
O plano de tratamento proposto para a pa-
ciente foi a confecção de laminados cerâmicos
minimamente invasivos para os dentes 14 ao 23,
substituição da restauração metálica inlay do den-
te 15 por uma restauração inlay cerâmica, substi-
tuição das restaurações extensas dos dentes 24 e 25
por coroas cerâmicas metal-free. Nos dentes 11 e
21, foi planejada a cimentação dos laminados ce-
râmicos sobre copings cerâmicos opacos de baixa
translucidez, para que a cor dos pinos metálicos
não viesse a prejudicar a cor final. O sistema ce-
râmico escolhido foi o sistema IPS e.max. Para os
laminados cerâmicos, inlays e coroas, foi empre-
gada a pastilha HT (high translucency) na cor A2,
e, para os copings cerâmicos nos dentes 11 e 21,
empregou-se a pastilha HO (high opacity).
Na primeira sessão, foram removidas as co-
roas metalocerâmicas dos dentes 11 e 21 (Fig. 2A).
Posteriormente, os preparos e núcleos metáli-
cos foram refinados e as coroas provisórias con-
feccionadas para esses elementos (Fig. 2B). As
restaurações classe III dos demais dentes ante-
riores foram substituídas com o emprego da re-
sina composta Z350XT (3M ESPE), na cor A2E.
Na segunda sessão, os dentes que iriam receber
os laminados foram preparados com um míni-
mo desgaste, restrito ao esmalte dentário, ape-
nas para a remoção de áreas retentivas (Fig. 3).
As restaurações dos dentes 15, 24 e 25 foram
removidas e os preparos confeccionados em to-
dos os dentes (Fig. 4). Após a confecção de todos
os preparos, deu-se início ao procedimento de
moldagem. O afastamento gengival foi feito pela
técnica do duplo fio (Ultrapack #000 e #00, Ul-
tradent) e a moldagem foi realizada com silicona
de adição (Futura AD, Nova DFL, Rio de Janeiro),
notando-se o correto afastamento promovido
para a moldagem (Fig. 5). As restaurações ce-
râmicas foram confeccionadas com as pastilhas
previamente selecionadas (Fig. 6A e 6C). Na Fi-
gura 6B, pode-se verificar a diferença em opaci-
dade da pastilha HO, utilizada para o coping, e
da pastilha HT, para as lâminas.
Na sessão seguinte, após a remoção dos pro-
visórios, foi realizada a prova das restaurações ce-
râmicas a fim de verificar a estética, cor, adaptação
marginal, contato proximal e relacionamento com
a arcada oposta (Fig. 7). Essa prova inicial é feita
apenas com gel hidrossolúvel, permitindo a inser-
ção sem deslocamento. Primeiramente, foram po-
sicionados os copings cerâmicos nos elementos 11
e 21 (Fig. 7A), observando-se o total mascaramento
dos pinos metálicos. Então, os laminados, coroas
e inlays foram inseridos. A fase de prova final en-
volve o uso de cimentos de prova (try-in), que são
matizados com a mesma cor do cimento que será
escolhido para a cimentação efetiva. Nesse caso,
a prova foi realizada com cimento Rely-X Veneer
Try-in (3M ESPE), na cor A3 (Fig. 7C).
Selecionada a cor do cimento a ser utilizado,
o processo de cimentação foi iniciado com o con-
dicionamento das cerâmicas com ácido fluorídri-
co a 10% (Condicionador de Porcelana, Angelus,
Londrina/PR), por 20 segundos (Fig. 8A), e, após
lavagem vigorosa por um minuto, foi feito con-
dicionamento com ácido fosfórico a 37%, por 60
segundos (Fig. 8B, 8C, 8D). As peças foram secadas
e silanizadas (Angelus), sendo o silano aquecido a
60°C, por dois minutos (Fig. 9). Todo esse processo
foi feito nas superfícies internas das lâminas, co-
roas e inlays, sendo que, nos copings, o processo
foi executado tanto interna quanto externamente,
haja vista que eles seriam cimentados e receberiam
a cimentação de suas respectivas lâminas (Fig. 8A).
Após o processo de silanização, um adesivo puro
foi aplicado nas superfícies condicionadas (Adper
Scotchbond Adhesive, 3M ESPE).
O condicionamento dos substratos dentá-
rios e dos pinos metálicos (Fig. 10) foi feito com
ácido fosfórico a 37%, por 15s, e, após lavagem
abundante e secagem com papel absorvente, foi
aplicado o sistema adesivo (duas camadas de pri-
mer e uma camada de adesivo; Fusion Duralink,
Angelus), que foi fotopolimerizado por 20 segun-
dos (Fig. 10). Os copings dos dentes 11 e 21, o inlay
do dente 15 e as coroas dos dentes 24 e 25 foram
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cimentados com cimento resinoso dual (Rely-X,
ARC, cor A3). Após a remoção dos excessos de
cimento, foi feita a fotopolimerização por 40 se-
gundos em cada face (Fig. 11). As demais peças
cerâmicas (laminados) foram cimentadas com
cimento resinoso exclusivamente fotopolimeri-
zável (Rely-X Veneer cor A3, 3M ESPE, EUA), e,
após o posicionamento e remoção dos excessos,
foi feita a fotopolimerização por 40 segundos, em
Figura 1. Aspecto inicial do sorriso.
(A)
Figura 2. A) Remoção das coroas metalocerâmicas antigas dos dentes 11 e 21. B) Coroas provisórias em resina acrílica instaladas.
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cada face (Fig. 11). O acabamento das margens
das restaurações foi feito com borrachas abrasi-
vas (DHpro, Paranaguá/PR) e pastas de polimento
(Diamond Excel, FGM, Joinville/SC).
O resultado final (Fig. 12, 13, 14) mostra a de-
volução de harmonia e estética ao sorriso da pa-
ciente devido às boas propriedades ópticas ofe-
recidas pelo sistema cerâmico utilizado, além da
satisfação da paciente com o resultado obtido.
(B)
 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso

Figura 3. Confecção dos preparos nos dentes que iriam receber os

laminados.

(A)

Figura 4. Preparos confeccionados: A) vista frontal, B) vista oclusal.

(B)

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 Fonseca RB, Almeida LN, Favarão IN, Kasuya AVB

(A) (B)

Figura 5. Moldagem dos preparos com silicona de adição (A), demonstrando o correto afastamento gengival (B).

(A)

(C)

Figura 6. A) Laminados cerâmicos confeccionadas no sistema IPS

e.max. B) Os copings, mais opacos que os laminados, permitem menor
passagem de luz, o que favorece ao mascaramento do substrato escu-
recido dos dentes 11 e 21. C) Coping, inlays e laminados posicionados
(B)
no modelo, evidenciando a harmonia que será devolvida à paciente.

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 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso

(A) (B)

(C)

Figura 7. A) Prova do coping, conferindo a boa adaptação. B) Prova dos laminados. C) Prova dos elementos com pasta try-in cor A3 (Rely-X veneer
Try-in, 3M ESPE).

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(B)

(C)

(A) (D)

Figura 8. Condicionamento das peças: A) condicionamento das peças cerâmicas com ácido fluorídrico. B) Aspecto após condicionamento com
ácido fluorídrico: note a presença de resquícios de sílica. C) Pós-condicionamento das peças cerâmicas com ácido fosfórico. D) Aspecto após
condicionamento com ácido fosfórico; note a limpeza da superfície interna dos laminados.

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 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso

(A) (B)

Figura 9. A) Aplicação do silano. B) Aquecimento do silano por um minuto.

(A)

(C)

(B)

Figura 10. A) Condicionamento com ácido fosfórico por 15s, la-

vagem e aplicação do sistema adesivo de três passos em subs-
trato dentário e pinos metálicos. B) Condicionamento com ácido
fosfórico por 15s, lavagem e aplicação do sistema adesivo de
três passos em substrato dentário e pinos metálicos. C) Con-
dicionamento com ácido fosfórico por 15s, lavagem e aplica-
ção do sistema adesivo de três passos em substrato dentário
e pinos metálicos. D) Condicionamento com ácido fosfórico por
15s, lavagem e aplicação do sistema adesivo três passos em
(D)
substrato dentário e pinos metálicos.

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(A) (B)

(C) (D)

Figura 11. A) Cimentação dos copings com cimento resinoso dual cor A3 (Rely-X ARC, 3M ESPE). Observe o total mascaramento dos pinos
metálicos. B) Fotopolimerização dos copings após remoção dos excessos de cimento. (C, D) Cimentação dos laminados com cimento resinoso
fotopolimerizável cor A3 (Rely-X Veneer, 3M ESPE), iniciado pelos incisivos centrais, mantendo os laterais em posição para checar o eixo de
inserção e adaptação completa. Os excessos vistos em D devem ser removidos, mas é extremamente importante observar esse extravasamento
para se ter certeza de bom um vedamento marginal.

Figura 12. Aspecto final após cimentação.

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 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso
Figura 13. Vista do sorriso final.
DISCUSSÃO
Restaurações de cerâmica pura apresentam
excelente estética, biocompatibilidade e sucesso
em longo prazo7,13. Estudos têm demonstrado ta-
xas de sucesso de 95% em acompanhamentos de
25 anos de tratamentos realizados com laminados
cerâmicos14,15. Esse sucesso está associado ao pla-
nejamento minucioso do caso, ao preparo conser-
vador, à seleção apropriada da cerâmica, à correta
seleção dos materiais e das técnicas de cimentação,
bem como do acabamento e polimento das restau-
rações e de um plano de manutenção contínua14.
A restauração com laminados cerâmicos está
indicada, principalmente, em casos de alterações
de cor, forma e posição dos dentes e fechamento de
diastemas16. No presente caso, devido ao formato
dentário inadequado, à cor escurecida, às restau-
rações antigas e coroas metalocerâmicas com colar
metálico exposto, foi indicada a reabilitação com
laminados e coroas cerâmicas, de forma a aliar fun-
cionalidade e preservação da estrutura dentária.
Um preparo mais conservador favorece a
resistência da restauração devido à adesão em
esmalte17; porém, é preciso considerar que, em
muitos casos, a utilização de restaurações indire-
tas que requerem um maior desgaste planejado e
Figura 14. Qualidade óptica e anatômica do trabalho final.
controlado pode ser muito efetiva para se alcan-
çar estética e durabilidade18. Portanto, os elemen-
tos 11, 14, 21, 24 e 25 receberam coroas cerâmicas
devido à presença de restaurações antigas exten-
sas nos elementos posteriores e coroas cerâmicas
e núcleos metálicos nos dentes anteriores, que se
encontravam insatisfatórias.
A escolha do sistema cerâmico leva em con-
sideração a cor do substrato dentário e a espes-
sura final do material cerâmico a ser cimentado19.
As boas propriedades de resistência dos sistemas
cerâmicos atuais possibilitam a confecção de la-
minados em espessuras mínimas, o que necessita
de um preparo dentário extremamente conser-
vador15. O sistema escolhido, IPS e.max (Ivoclar-
-Vivadent), é reforçado por cristais de dissilicato
de lítio, altamente estético, e possui boas proprie-
dades de resistência7. É um sistema versátil que
garante boas propriedades ópticas à restauração,
como translucidez e fluorescência1.
Dozic11 mostrou que restaurações muito
translúcidas não podem mascarar a cor do substra-
to dentário, nem mesmo quando diferentes tons de
cimento são utilizados, o que requer o uso de um
substrato mais opaco. A presença de núcleos me-
tálicos nos incisivos centrais da paciente mostrou
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a necessidade de um substrato menos translucido
para que o resultado final não fosse prejudicado.
Dessa forma, a opção pela utilização de copings na
pastilha LT e laminados translúcidos (pastilha HT)
favoreceu um resultado final com aspecto de na-
turalidade (Fig. 12, 13). Além disso, a cor final das
restaurações cerâmicas também podem ter seu de-
sempenho estético afetado pela cor do cimento re-
sinoso20. Para obter previsibilidade da cor final da
restauração e minimizar possíveis erros, a literatu-
ra destaca a prova das peças cerâmicas com pasta
Try-In, que acompanha o cimento resinoso21.
A adequada adesão entre a cerâmica e a estru-
tura dentária aumenta a longevidade e o desempe-
nho clínico da restauração. Etapa de extrema im-
portância para a cimentação, o condicionamento
com ácido fluorídrico cria microirregularidades
na cerâmica, que promovem a obtenção de reten-
ção micromecânica22. Magne et al.23 mostraram a
importância do pós-condicionamento das peças
cerâmicas com ácido fosfórico após o condiciona-
mento com ácido fluorídrico, de forma a remover
detritos cristalinos de sílica depositados na super-
fície da cerâmica e promover uma melhor adesão
da cerâmica à estrutura dentária. A Figura 8 de-
monstra esse passo, podendo-se verificar visivel-
mente a melhor limpeza da cerâmica condicionada
após a aplicação do ácido fosfórico. Outro meio de
aumentar a capacidade de adesão das cerâmicas é a
secagem do silano com ar quente. Em 2004, Shen
et al.24 mostraram que a secagem do silano com
ar quente tem melhores resultados de resistência
de união do que a secagem com ar à temperatura
ambiente, já que o tratamento térmico do silano
promove a eliminação de água e solventes, como o
álcool e o ácido acético (Fig. 9).
A polimerização adequada do cimento resino-
so promove alta resistência na união entre dente e
a restauração; para isso, é importante estar aten-
to ao fato de que o tipo e a espessura da cerâmica
podem diminuir a intensidade de luz alcançada25.
Além disso, a cor da cerâmica também pode in-
fluenciar na dureza do cimento resinoso dual após
108 Rev Dental Press Estét. 2014 jul-set;11(3):97-109
a fotopolimerização em casos de restaurações com
maiores espessuras26. Em casos de restaurações
opacas, o uso de cimento resinoso fotopolimerizá-
vel resulta em fraca dureza do cimento pela ineficaz
polimerização27. No caso apresentado, os copings
dos dentes 11 e 21, o inlay do dente 15 e as coroas
dos dentes 24 e 25 foram cimentados com cimento
resinoso dual (Rely-X, ARC), de forma que a foto-
polimerização não fosse prejudicada pela opacida-
de e espessura dessas restaurações; as lâminas dos
demais elementos foram cimentadas com cimento
resinoso fotopolimerizável (Rely-X Veneer).
Por fim, os procedimentos de acabamento
e polimento das margens de cimentação evita-
rão que não haja a descoloração das margens de
cimentação14. O acompanhamento periódico do
paciente favorecerá a longevidade do tratamen-
to, não havendo um período específico para novas
consultas. A observação criteriosa de cada caso
poderá orientar o profissional na periodicidade do
acompanhamento clínico.
CONCLUSÃO
A resolução do caso possibilitou a devolução
de harmonia e naturalidade ao sorriso da paciente,
obtendo um resultado estético e funcional satisfa-
tório, o que foi possível devido ao correto planeja-
mento do caso e ao conhecimento dos materiais e
técnicas empregadas. A seleção das pastilhas cerâ-
micas representa um passo importante durante o
trabalho em casos em que o substrato varia entre
preparos sobre metal e dente.
ABSTRACT
Esthetic harmony working with different ce-
ramic veneers for metal and tooth prepara-
tions: a case report. The objective of this study
was to report the use of ceramic veneers with
different levels of translucency in dental prepa-
rations and cast metal cores, enabling esthetic
harmony with laminates, crowns and inlays.
 Harmonia estética trabalhando com diferentes pastilhas cerâmicas em preparos sobre metal e dente: relato de caso

The patient reported herein sought dental treat-
ment reporting dissatisfaction with her smile.
Her clinical exams revealed disharmony in terms
of color, shape, proportion and position of the
teeth and gingiva with metallic cores and crowns
on teeth #11 and 21, and extensive restorations
in some teeth. Treatment included rehabilitation
with ceramic veneers placed on teeth #14-23, and
cemented on teeth #11 and 21 over a ceramic cop-
ing with low translucency in order to mask the
gray color of the metal core and the darkening of
the gingiva. Additionally, metal-free crowns were
placed on teeth #24 and 25; whereas inlay was
placed on tooth #15 due to the extension of the ex-
isting restorations. After planning was established
and accepted by the patient, the crowns of teeth
#11 and 21 were removed and provisional crowns
were made. Teeth preparation consisted in remov-
ing any undercuts, whereas the preparation of the
metal cores of teeth #11 and 21 underwent refine-
ment. Pieces in IPS e.max system were placed in
the mouth so as to check the fit, proximal contact
and esthetics. After color and fit were assessed,
the surface of ceramic restorations were treated
and cemented with adhesive resin-based cement,
whether dual-care or light-cured. The use of ce-
ramic veneers not only represents an important
step for cases in which the substrate requires
preparation over metal or natural teeth, but it is
also important to restore harmony and recover
the natural aspect of patient's smile. / Keywords /
Dental veneers. Dental esthetics. Ceramics.

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