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CAP.

IV - GESTÃO FINANCEIRA

1. Funções do gestor financeiro

Depois de termos identificado as principais funções do Gestor em sentido amplo, vamo- nos
agora restringir às funções do Gestor Financeiro. Uma abordagem possível é centrarmo- nos
nos principais objectivos da função em causa. Outra abordagem será através do tipo de tarefas
que o gestor financeiro desempenha e do horizonte temporal (curto e médio/longo prazo) em
que elas ocorrem.

Assim, entenda-se como curto prazo, as tarefas realizadas num período inferior a um ano, e
como médio e longo prazo as actividades desenvolvidas que têm repercussões num período
superior a um ano.

TAREFAS DO GESTOR FINANCEIRO

Compra de maquinaria

MÉDIO/LONGO PRAZO
Empréstimo Bancário M/L prazo

Decisões Estratégicas
Distribuição de Dividendos

CURTO PRAZO Crédito aos clientes

Decisões operacionais Crédito dos fornecedores

Política de stocks

As Decisões Estratégicas têm a ver com a Política de Investimentos e Financiamentos da


Empresa, as quais se traduzem no seu Plano de Investimento. Vejamos um exemplo: a
empresa Bombom que fabrica chocolates pretende comprar uma nova máquina para aumentar
a sua capacidade produtiva. Para isso, o gestor financeiro deve analisar o investimento em

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causa e escolher a melhor alternativa de financiamento possível, para poder concretizar esse
investimento.

As Decisões Operacionais do gestor financeiro têm a ver com a definição da política de


concessão de crédito aos clientes, ou seja, se a empresa ao vender o produto ao cliente este lhe
paga de imediato, ou se lhe concede um prazo para o fazer. Mas o inverso, isto é, quando a
empresa compra ao seu fornecedor um produto ou serviço, pode ter ou não crédito. Neste
último caso, estamos a referir a política de concessão de crédito dos fornecedores.
Exemplificando, a empresa Bombom que fabrica chocolates, ao vender os seus produtos ao
cliente, concede- lhe um crédito de 30 dias. A empresa que nos forneceu a matéria-prima, de
acordo com a sua política de concessão de crédito, concedeu à empresa Bombom um crédito
de 60 dias. A decisão de concessão de crédito é operacional, pois está directamente
relacionada com a actividade principal ou de exploração da empresa.

Até agora abordámos as funções do Gestor Financeiro na óptica da tarefa. Mas quais são os
objectivos da Gestão Financeira?

Um dos objectivos da Gestão Financeira é garantir o equilíbrio financeiro da empresa. Para


que isso aconteça, a empresa deve desenvolver a sua actividade operacional e realizar os seus
investimentos, de acordo com a política de financiamento mais adequada. Assim, se a
empresa pretende investir a longo prazo, deve utilizar meios de financiamento de longo prazo
(Ex: Compra de uma máquina para a linha de produção deve ser financiada por empréstimo
bancário de médio e longo prazo). Se a empresa pretende financiar as mercadorias que quer
ter em armazém, deve utilizar meios de financiamento a curto prazo, por exemplo,
negociando o crédito com os seus fornecedores.

Outro dos objectivos da Gestão Financeira é maximizar a rend ibilidade dos seus
investimentos, para que os resultados obtidos possam criar valor para a empresa. No entanto,
a um investimento está sempre associado um determinado nível de risco que é preciso
minimizar, para que a relação entre a rendibilidade e o risco do investimento seja equilibrada.

Um terceiro objectivo da Gestão Financeira é garantir a continuidade da empresa e desta


forma garantir a aplicação de resultados. Esta aplicação de resultados pode traduzir-se na

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distribuição de resultados aos sócios, ou em alternativa haver uma retenção desses resultados
para posteriores investimentos. Note-se que, embora a aplicação de resultados seja um dos
objectivos da Gestão Financeira, a decisão de como vai ser realizada a aplicação de
resultados, cabe à Assembleia Geral de Sócios, depois de apresentado o Relatório e Contas da
empresa. Estes documentos reflectem a situação económica e financeira da empresa no ano
anterior.

2. Conceitos Fundamentais

Qualquer organização desenvolve relações várias, não só no seio da própria organização, mas
também com o meio que lhe fornece os inputs, (matéria-prima, mão-de-obra, energia,
equipamentos, ...) de que necessita para desenvolver a sua actividade, e onde coloca os seus
outpus (bens e serviços).

Estas relações que uma empresa desenvolve com o meio externo, são susceptíveis de terem
uma expressão quantitativa que a Contabilidade Geral vai registar. Numa definição clássica, a
Contabilidade Geral regista as relações da empresa com o exterior, enquanto a Contabilidade
Analítica regista as relações existentes no seio da própria empresa.

Inputs→ Empresa→ Outputs

As relações que se estabelecem entre as empresas e o exterior e no seu interior vão gerar
fluxos físicos e de informação. Na óptica da gestão financeira os fluxos a tratar são:

1) Financeiros (Receitas/ Despesas) – dizem respeito ao endividamento da empresa


face ao exterior. Se a empresa fica credora de um elemento externo diz-se que teve
uma receita, se pelo contrário fica devedora diz-se que teve uma despesa.

2) Monetários (Recebimentos/ Pagamentos) – dizem respeito à entrada (recebimento)


e saída (pagamento) de meios monetários da empresa.

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3) Económicos (Proveitos/ Custos) – dizem respeito ao consumo de inputs (custo) e à


obtenção de outputs (proveito).

Por exemplo, quando uma empresa compra matéria-prima a um fornecedor teve uma despesa.
O momento da despesa pode ou não coincidir com o momento do pagamento. No caso da
compra a crédito, existe um desfasamento temporal entre a despesa e o pagamento. A empresa
só suportará o custo no momento do processo produtivo em que consumir esse input
(recurso).

Quando uma empresa obtém um produto acabado está a ter um proveito, quando o vender a
um cliente terá uma receita. No momento em que o cliente pagar o valor em dívida, a empresa
terá um recebimento. Tal como no caso anterior, pode haver desfasamento temporal entre o
fluxo financeiro (receita) e o fluxo monetário (recebimento). Tudo depende de se tratar de
uma venda a pronto-pagamento ou a crédito.

A Contabilidade Geral reúne assim um conjunto de informações de natureza quantitativa que


diz respeito aos diferentes tipos de fluxos. Quem poderá estar interessado nessas informações?
Muita gente e por motivos diferentes.

Dentro da empresa: Gestores, sócios, trabalhadores


No meio externo: Accionistas, bancos, clientes, fornecedores, Estado.

Património
Qualquer actividade económica exige a reunião de um certo conjunto de meios humanos,
materiais e financeiros.

Designa-se por património de qualquer pessoa ou organização o conjunto de bens, direitos


(dívidas a receber) e obrigações (dívidas a pagar) que esta possui. Todos os elementos
patrimoniais são susceptíveis de serem representados em unidades monetárias e por isso todos
eles são valores. Podemos dividir esse amplo conjunto que é um património em duas classes
distintas:
1) Activo: Bens + Direitos
2) Passivo: Obrigações

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O activo é o subconjunto do património constituído por todos os valores a receber,


enquanto o passivo é o subconjunto de todos os valores a pagar.

Exemplo:

Activo: Dinheiro em caixa, edifício, viatura, máquina, mercadorias, mobiliários, dívidas de


clientes.

Passivo: Empréstimo bancário, dívidas a fornecedores, dívidas aos trabalhadores.

A diferença entre o valor do Activo e do Passivo designa-se por Situação Líquida, Capital
Próprio ou Património Líquido.

Exemplo:

A empresa Alfa Lda dispõe dos seguintes elementos patrimoniais (valores em Euros):

Viatura: 40 000
Dinheiro em caixa: 200
Depósitos bancários: 2 000
Mercadorias: 5 000
Máquinas: 20 000
Edifício: 1 000 000
Dívidas de clientes (⇔ crédito a terceiros): 8 000
Dívidas a fornecedores (⇔ crédito de terceiros): 30 000

Activo = 200 + 2 000 + 20 000 + 1 000 000 + 40 000 + 8 000 + 5 000


= 1 075 200 Euros

Passivo = 30 000 Euros

Capital Próprio = 1 075 200 – 30 000


= 1 045 200 Euros

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(valor que efectivamente pertence à empresa)

Por definição temos então que:


Capital Próprio = Activo – Passivo ó
ó Activo = Passivo + Capital Próprio
A esta expressão chamamos Equação Fundamental da Contabilidade.

Quanto ao valor da situação líquida ou capital próprio, três situações distintas podem
acontecer:
• Activo > Passivo : Situação Líquida Activa
• Activo = Passivo: Situação Líquida Nula
• Activo < Passivo: Situação Líquida Passiva

A situação líquida de uma empresa é normalmente activa.

O património de uma empresa está em constante mutação. Todos os factos que transformem o
património de uma empresa são designados de factos patrimoniais. O que a Contabilidade faz
é precisamente observar, classificar e registar essas transformações do património da empresa.

Os factos patrimoniais podem ter origem em dois tipos distintos de acontecimentos:


1) Normais ou voluntários, isto é, aqueles que resultam de operações efectuadas por
vontade própria da empresa;
2) Extraordinários ou involuntários, que como o próprio nome indica resultam de
acontecimentos não desejados pela empresa, como por exemplo um incêndio.

Quanto à forma como afectam o património de uma empresa os factos patrimoniais


classificam-se habitualmente em:

1) Permutativos: quando alteram apenas a composição do património, mas não o seu


valor; mantendo inalterado o capital próprio.

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2) Modificativos: quando para além de alterarem a composição do património,


também modificam o seu valor, ou seja, conduzem a uma alteração do capital
próprio.

Todos os factos patrimoniais que originem um lucro ou um prejuízo, ou seja aqueles que
geram custos ou proveitos, são factos patrimoniais modificativos porque alteram o valor do
património da empresa.

Por exemplo, quando uma empresa faz um depósito bancário de 100 Euros está apenas a
alterar a composição do seu activo, mas o capital próprio não sofreu qualquer alteração.
Apenas se alterou a composição do património, não o seu valor, e por isso estamos perante
um facto patrimonial permutativo.

Quando uma empresa paga uma dívida de 200 Euros a um fornecedor diminui o seu activo em
200 Euros e diminui o seu passivo no mesmo montante. Mas o valor do seu património, ou
seja o capital próprio, não sofre qualquer alteração.

Variação do Activo = - 200 Euros


Variação do Passivo = - 200 Euros
Variação do Capital Próprio = Variação do Activo – Variação do Passivo
= (-200) – (-200)
= -200 + 200
=0
Se o capital próprio permanece inalterado estamos perante um facto patrimonial permutativo.

Vejamos agora operações que constituam factos patrimoniais modificativos.

Considere-se o seguinte exemplo: uma empresa vende por 100 Euros mercadorias que lhe
tinham custado 75 Euros. Neste caso a empresa tem um custo de 75 Euros e um proveito de
100 Euros. Como o proveito é superior ao custo, esta operação gera um lucro:

Lucro = Proveitos – Custos


= 100 – 75

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= 25 Euros

Tendo um lucro de 25 Euros o valor do património da empresa aumenta em 25 Euros, logo


estamos perante um facto patrimonial modificativo.

Suponha-se agora que a mesma empresa paga 50 Euros de juros referentes a um empréstimo
bancário. Os juros constituem um custo, logo esta operação originou um prejuízo no valor de
50 Euros. O valor do património diminui em 50 Euros. Havendo alteração do valor do
património da empresa, estamos perante um facto patrimonial modificativo.

Demonstrações financeiras

Balanço
Ao documento que resume a composição do património de uma empresa num dado momento,
que compara o seu Activo com o seu Passivo e evidencia o seu Capital Próprio chamamos
Balanço. O Balanço não é mais do que uma “fotografia” do património da empresa num
determinado momento. Como se refere a um momento preciso dizemos que se trata de um
documento estático. O Balanço de qualquer empresa está constantemente a sofrer alterações.
Qualquer facto patrimonial reflecte-se no Balanço. Se for permutativo, altera apenas a
composição do activo/ passivo, deixando o capital próprio inalterado. Se for modificativo,
para além de alterar a composição do activo/ passivo, modifica o capital próprio.

Em termos de estrutura trata-se de um mapa com duas colunas: no lado esquerdo colocam-se
os elementos do activo e respectivos valores, no lado direito o Capital Próprio e os eleme ntos
do Passivo e respectivos valores. Pela Equação Fundamental da Contabilidade a soma de
todos os valores do Activo tem que igualar a soma do Capital Próprio com todos os valores do
Passivo. Sendo assim, os dois membros do balanço têm obrigatoriamente que totalizar o
mesmo valor.

Utilizando o exemplo da empresa Alfa, Lda, o Balanço resumido teria a seguinte


apresentação. O capital social da empresa é o valor que os sócios investem na empresa.

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Balanço

Activo Capital Próprio


Imobilizações 1 060 000 Capital social 1 000 000
Existências 5 000 Resultado 45 200
Dívidas de terceiros 8 000 Passivo
Depósitos bancários e Caixa 2 200 Dívidas a terceiros 30 000

Total Activo 1 075 200 Total Passivo e Capital Próprio 1 075 200

De acordo com o Plano Oficial de Contabilidade (POC), a ordenação dos elementos


patrimoniais no Balanço deve ser feita da seguinte maneira:

• Activo: liquidez crescente. Assim surgem primeiro os elementos menos líquidos,


isto é, os valores que têm mais dificuldade em se transformarem em meios líquidos
de pagamento (edifício por exemplo) e depois os mais líquidos. A forma extrema
de liquidez é o dinheiro em caixa.
• Passivo: exigibilidade crescente. Assim surgem primeiro as dívidas a médio- longo
prazo e depois as dívidas a curto prazo.
• Situação Líquida: antiguidade no seio da empresa, dos mais antigos para os mais
recentes.

Sendo o Passivo o conjunto de todas as dívidas da empresa, pode ser designado por Capital
Alheio. O lado direito do balanço representa assim as duas fontes alternativas de origens de
fundos: Capital Próprio e Capital Alheio. O Capital Próprio é constituído pelos valores que
são propriedade da empresa. O Capital Alheio é constituído pelos valores que embora sendo
utilizados pela empresa pertencem a terceiros.

O Activo não é mais do que a aplicação desses mesmos fundos, ou seja, a aplicação do capital
total. Podemos então interpretar o Balanço com uma “fotografia” das origens e aplicações de
fundos da empresa num determinado momento. Origens e aplicações que vão sofrendo
alterações à medida que ocorrem factos patrimoniais.

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Balanço

Aplicações de fundos Origens de fundos

Demonstração de Resultados
Ao documento que descreve todos os custos e proveitos ocorridos numa empresa ao longo de
um determinado período de tempo, evidenciando o lucro ou o prejuízo obtido, chamamos
Demonstração de Resultados.

O resultado obtido por uma empresa, ao longo de um determinado período de actividade, não
é mais do que a diferença entre o valor de todos os proveitos obtidos e o valor de todos os
custos suportados.

Resultado = Proveitos – Custos


Proveitos > Custos => Resultado positivo ou lucro
Proveitos = Custos => Resultado nulo
Proveitos < Custos => Resultado negativo ou prejuízo

Exemplos de proveitos: Vendas, juros recebidos, rendas recebidas, ...


Exemplos de custos: Custo da mercadoria vendida, ordenados, consumo de água,
electricidade, telefone, juros pagos, rendas pagas, impostos pagos

Exemplificando, temos:
Demonstração de Resultados
Custos Proveitos
Custo das mercadorias vendidas 120 000 Vendas 225 200
Fornecimentos e serviços externos 30 000
Custos com pessoal 25 000
Custos financeiros 5 000
Resultado 45 200

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Por definição de resultado, a soma de todos os custos com esse resultado tem que igualar a
soma de todos os proveitos.

De acordo com a sua natureza podem-se classificar os custos e proveitos em:


1) Operacionais: decorrem da actividade principal da empresa;
2) Financeiros: decorrem das opções financeiras tomadas pela empresa;
3) Extraordinários: são originados pelos factos patrimoniais extraordinários.

3. Avaliação de Projectos de Investimento

Segundo Albertino Marques, na avaliação macroeconómica de projectos de investimento,


pretende-se avaliar os efeitos directos e indirectos que o projecto irá ter na economia e na
sociedade sobre:
Produto
Distribuição do rendimento
Impacto sobre o emprego
Impacto sobre as regiões
Impacto sobre os sectores
Impacto sobre o saldo em divisas
Impacto sobre o ambiente.

Neste tipo de análise macroeconómica, utilizam-se métodos e indicadores mais agregados, do


que aqueles que são utilizados para a avaliação dos projectos de investimento de uma
empresa.

A avaliação económica e financeira de um projecto de investimento permite saber se o


projecto é ou não rentável. Para isso, há que quantificar essa rendibilidade através de alguns
critérios, para posteriormente emitir o parecer sobre a sua “qualidade técnica e comercial”.

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A avaliação de um projecto baseia-se essencialmente na utilização de demonstrações


financeiras previsionais (Balanços e Demonstrações de Resultados). Estes documentos
resultam dos objectivos definidos e dos estudos prévios feitos pela empresa antes de investir.

Um conceito que é preciso clarificar é o de Investimento:

“Em sentido estritamente financeiro, investimento é qualquer aplicação de capitais a prazo”.


Abecassis, F e outros

“Investimento é uma aplicação de fundos escassos que geram rendimento, durante um certo
tempo, de forma a maximizar a riqueza da empresa”
Carlos Barros

O investimento pode ocorrer apenas no momento inicial do projecto, mas também pode ser
faseado. Para além disso, a natureza do investimento pode também ser distinta: investir na
compra de uma máquina que pinta automóveis, não é a mesma coisa que conceder crédito a
um cliente numa loja que vende móveis a 30 dias; mas ambas são situações de investimento.
A primeira situação é de investimento em Capital Fixo, pois o bem adquirido vai permanecer
na empresa num prazo superior a um ano. Na segunda situação trata-se de Capital Circulante,
pois provavelmente a empresa concede crédito aos seus clientes, para garantir os seus
proveitos de exploração (vendas).

A vida útil de um projecto de investimento é o horizonte temporal em que pretendemos


avaliar se o projecto é ou não viável. Num mundo empresarial em constante mudança, quanto
maior for o período (anos) em análise, maior é a possibilidade de erro, pois são muitas as
variáveis que estão em jogo.

Para contornar em parte esta questão, foram definidos vários critérios de avaliação de
projectos de investimento, mas neste capítulo vamos estudar apenas três:

Período de Recuperação do Investimento


Valor Actual Líquido

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Taxa Interna de Rendibilidade.

Se utilizarmos como critério de avaliação o Período de Recuperação do Investimento


(PRI), como o próprio nome indica, vamos comparar o valor do Investimento Inicial
efectuado, com o Somatório dos Cash Flows gerados pelo projecto durante n períodos (anos).
Os cash flows do Projecto resultam da diferença entre as Entradas e as Saídas de dinheiro, ou
seja, entre os Recebimentos e os Pagamentos efectuados em cada um dos períodos. Para a
aplicação deste método é necessário actualizar os cash flows, utilizando uma taxa (i) que
corresponde ao custo do capital, ou seja, à remuneração exigida pelos investidores.

Período de Recuperação do Investimento

n
Cash flow(t )
PRI = t ⇒ − Investimento Inicial + ∑ =0
(1+i )
t
t =1

Este método permite identificar a partir de que período ocorre a recuperação do va lor do
investimento. Assim, de acordo com este critério, o projecto só é viável se a soma dos cash
flows for superior ao valor do investimento. Dito de outra forma, para que o projecto seja
viável, o Período de Recuperação do Investimento tem de ser inferior à vida útil do projecto.

Vejamos um exemplo:

Investimento 100 000 €

Cash flow Ano 1 22 000 €

Cash flow Ano 2 55 000 €

Cash flow Ano 3 66 000 €

No exemplo apresentado, se considerarmos uma taxa de actualização de 10%, o projecto é


viável, pois a soma algébrica dos cash flows actualizados (115 041 €) é superior ao valor do
Investimento (100 000 €). Neste caso concreto, a vida útil do projecto são 3 anos, mas o

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Período de Recuperação do Investimento é inferior, uma vez que o investimento é recuperado


durante o 3º ano (aproximadamente 2 anos e 8 meses).

O Valor Actual Líquido (VAL) de um projecto de investimento é a soma dos cash flows
actualizados, remunerados em função da taxa exigida pelos investidores (i), no momento
presente, deduzido das despesas de investimento efectuadas. Assim, quando um projecto tem
um VAL positivo, os investidores para além do capital que investiram e do risco que
assumiram, obtiveram um excedente.

Valor Actual Líquido

n
Cash flow (t )
Valor Actu al Líquido = − Investimen to Inicial + ∑
(1 + i )
t
t =1

Utilizando o exemplo atrás apresentado do investimento de 100 000 €, e uma taxa de


remuneração do capital investido de 10%, teremos:

VAL = - 100 000 + 22 000 + 55 000 + 66 000 = 15 041 €


(1+0,1) (1+0,1)2 (1+0,1)3

Daqui resulta que o projecto é viável, pois o seu Valor Actual Líquido é positivo. Do cálculo
efectuado, pode concluir-se que os investidores conseguiram recuperar o investimento
efectuado, remunerado a uma taxa de 10% e conseguiram ainda um excedente de 15 041 €.

A vantagem deste método face a outros é o facto de considerar todos os cash flows do
projecto na sua análise. Como desvantagem, pode apontar-se o facto de a viabilidade do
projecto ser muito sensível à taxa de actualização estimada, que pretende medir o risco
associado ao projecto.

A Taxa Interna de Rendibilidade (TIR) é aquela que torna o Valor Actual Líquido de um
projecto nulo. Assim, para que um projecto seja viável é necessário que a sua TIR seja

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superior ao valor da taxa de actualização. Só assim, os investidores conseguem obter um VAL


positivo.

Taxa Interna de Rendibilidade

n
Cash flow(t )
− Investimento Inicial + ∑ =0
(1+TIR )
t
t =1

O cálculo teoricamente correcto da Taxa Interna de Rendibilidade é algo complicado, uma


vez que é necessário resolver a expressão em ordem à TIR, sendo esta expressão de grau n,
dependendo n do número de anos da vida útil do projecto. Para obviar a esta situação, o
cálculo da TIR pode ser feito por interpolação linear recorrendo ao VAL.

Outra forma de cálculo mais expedita é recorrer a métodos computorizados, como por
exemplo através do EXCEL, onde algumas funções, nomeadamente financeiras já estão pré-
definidas.

Para o exemplo apresentado, a Taxa Interna de Rendibilidade é igual a 17,1%. Como a taxa de
actualização (i) é de 10%, significa que também de acordo com este critério o projecto é
viável.

Uma das grandes vantagens deste método de avaliação de projectos de investimento é que não
exige o conhecimento prévio do custo do capital exigido pelos investidores. Para além disso,
fornece um valor relativo (uma taxa) pelo que permite um termo de comparação, abaixo do
qual os projectos devem ser recusados. Isto porque a TIR é a taxa de remuneração máxima
que a empresa obtém do investimento efectuado, logo deve ser a taxa máxima a que a
empresa se financia para realizar o projecto.

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Conceitos Obrigatórios Conceitos Complementares


Activo Circulante Acção
Activo Fixo Amortizações
Balanço Capital de Risco
Bens Equilíbrio Financeiro
Capital Próprio Empréstimo Obrigacionista
Custo das mercadorias vendidas e matérias Facto patrimonial
consumidas Financiamento bancário
Custos com o pessoal Locação Financeira
Custos financeiros Investimento em Capital Circulante
Demonstração de Resultados Investimento em Capital Fixo
Depósitos e Caixa Prestação de Serviços
Direitos Rendibilidade
Dívidas de terceiros
Existências
Fornecimentos e serviços externos
Grau de exigibilidade
Grau de liquidez
Imobilizações
Imposto sobre o rendimento
Investimento
Obrigações
Passivo
Período de Recuperação do Investimento
Resultado Antes de Impostos
Resultado Líquido
Resultado Operacional
Risco do projecto
Taxa de actualização
Taxa Interna de Rendibilidade
Valor Actual Líquido
Valor Residual
Vendas
Vida útil do projecto

Texto de Apoio Elaborado por: Catarina Cardoso e Margarida Moiteiro Tristão


Bibliografia ( de suporte aos textos de apoio ):
Borges, A. e outros (1998), Elementos de Contabilidade Geral, Áreas Editora, 16ªEdição
Marques, A.(1998), Concepção e Análise de Projectos Investimento, Edições Sílabo
Menezes, H.(1996), Princípios de Gestão Financeira, Editorial Presença, 6ª Edição
Neves, J.(2000), Análise Financeira – Técnicas Fundamentais, Texto Editora, 12ª Edição
Saias, L. e outros (1998), Instrumentos de Gestão Financeira, Univ. Católica Editora, 3ª
Edição

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