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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL

O PERFIL SÓCIOECONÔMICO E CULTURAL DAS USUÁRIAS QUE OPTARAM PELA


ESTERILIZAÇÃO NO PROGRAMA DE PLANEJAMENTO FAMILIAR DA FUNDAÇÃO
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ.

Márcia Regina Batista de Souza


Sarah Jordana Pantoja da Costa

Orientadora: Profª Ms. Sandra Maria Silva Fonseca

BELEM/PA
2013
MÁRCIA REGINA BATISTA DE SOUZA
SARAH JORDANA PANTOJA DA COSTA

O PERFIL SÓCIOECONÔMICO E CULTURAL DAS USUÁRIAS QUE OPTARAM PELA


ESTERILIZAÇÃO NO PROGRAMA DE PLANEJAMENTO FAMILIAR DA FUNDAÇÃO
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a


Universidade Federal do Pará, como parte dos
requisitos para obtenção do grau em Bacharelado
em Serviço Social.

Orientadora: Profª Ms. Sandra Maria Silva Fonseca

BELÉM/PA
2013
Márcia Regina Batista de Souza
Sarah Jordana Pantoja da Costa

“O perfil socioeconômico e cultural das usuárias que optaram pela esterilização no


Programa de Planejamento Familiar da Fundação Santa Casa de Misericórdia do
Pará”.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a


Universidade Federal do Pará, como parte dos
requisitos para obtenção do grau em Bacharelado
em Serviço Social.

Data de aprovação: ____de______________de 2013.

____________________________________- Orientadora.

Profº Msc. Sandra Maria Fonseca Silva.

____________________________________- Membro da Banca Examinadora.


Professor Msc. Welson de Sousa Cardoso.

__________________________________- Membro da Banca Examinadora.


Profº Msc. Maria Helena Aood.
AGRADEC

IMENTOS

Primeiramente a Deus que nos deu coragem e força para ultrapassar todas as

barreiras que encontramos no decorrer do curso, e foram muitas...

Aos nossos pais, que contribuíram para nossa formação e que pudéssemos

chegar até aqui.

Aos nossos esposos, Newton Viana e Breno Feio, e filhos, Yasmin Viana e Yan

Feio, que mesmo em ocasiões difíceis tiveram compreensão e paciência, sempre

dirigindo palavras de confiança e incentivo para que alcançássemos nosso objetivo.

As amigas da Faculdade, que nas atribulações do curso e elaboração dos

trabalhos sempre tiveram apoiaram para que seguíssemos em frente. Muito obrigada

Michelly Oliveira, Rosana Ribeiro, Tálita do Vale e Thaís Azevedo. (Sarah Costa)

As Assistentes Sociais do HEMOPA, onde realizei estágio curricular, em

especial Nazaré Veríssimo, que em suas ações me inspiravam a cada dia, por ser uma

ótima profissional. (Sarah Costa)

A nossa supervisora de estágio, a Assistente Social Ana Márcia Serrão, por

todas as orientações dadas, profissionalismo, atenção e amizade construída neste

período.
RESUMO
A esterilização é o método de anticoncepção mais utilizado no Brasil. Este fato pode ser
explicado através da falta de informação adequada aos demais métodos contraceptivos e
o difícil acesso nas unidades básicas de saúde ao Programa de Planejamento Familiar,
fazendo que muitas mulheres optem pelo método definitivo realizado na Fundação
Santa Casa de Misericórdia do Pará. Deste modo à elaboração de um perfil
socioeconômico e cultural das usuárias do Programa de Planejamento Familiar,
pretendeu conhecer a situação nas variáveis socioeconômicas e culturais do momento da
decisão. O estudo foi de modo exploratório com abordagem qualitativa e quantitativa,
realizado com 80 usuárias submetidas à laqueadura tubária nos anos de 2008 a 2012.
Constatou-se com esse perfil que as mulheres investigadas eram em sua maioria da
capital e as demais oriundas das meso regiões do Estado, encontravam-se em idade
reprodutiva, viviam em união estável, possuíam até dois filhos, o nível de escolaridade
era de ensino mediano e tinham como principal ocupação os cuidados domésticos e da
família. Deste modo, é possível afirmar que a usuária que realizou a cirurgia
esterilizatória, neste período teve como principal motivação os problemas de saúde,
especificamente a gravidez de alto risco e por medo de complicações com futuras
gestações, optavam pela laqueadura tubária. É muito importante que a mulher seja
acompanhada pela equipe multidisciplinar, para que essa decisão seja tomada de
maneira consciente e seguida de informação, pois é uma cirurgia de difícil reversão e
que podem oferecer efeitos colaterais, insatisfações e arrependimentos futuros.
Palavras-chave: Planejamento Familiar, esterilização, usuárias, perfil.
ABSTRACT

The sterilization is the method most commonly used for contraception in Brazil. This
factor can be explained by the lack of adequate information to other contraceptive
methods and difficult to access basic health units in the Family Planning Program,
making many women opt for the definitive method conducted at Santa Casa de
Misericordia Para Thus the development of a socioeconomic profile of the users of the
Family Planning Program, intended to meet the situation in the socioeconomic and
cultural at the time of the decision. The s tudy was exploratory qualitative approach,
performed with 80 users tubal ligation in the years 2008-2012. It was found that the
profile of the women surveyed had reproductive age, had stable, had up to two children,
education level of high school and primary occupation were home care and family. Thus
it can be seen that the woman who held Planned Parenthood this period had the main
motivation for the decision by health problems, specifically high-risk pregnancy and
fear of complications with future pregnancies, did not intend to put their lives at risk. It
is very important that the woman be accompanied by the multidisciplinary team, so that
decisions can be taken consciously and then information because surgery is difficult to
reverse and can offer side effects and dissatisfactions and future regrets.

Keywords: Family Planning, Sterilization, users profile.


SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS..................................................................................................VIII

LISTA DE TABELAS................................................................................................XIX

LISTA DE GRÁFICO.................................................................................................X

INTRODUÇÃO..............................................................................................................10

CAPÍTULO I.................................................................................................................14

1- A Revolução Industrial e a teoria sobre crescimento populacional............................14


1.1- A Teoria malthusiana e o crescimento demográfico......................................................14
1.2- A Teoria da Transição Demográfica........................................................................17

CAPÍTULO II....................................................................................................................18

2- O Planejamento Familiar no Brasil...........................................................................18

2.1-Um breve histórico do modelo de Família no Brasil...................................................18


2.2- Desenvolvimentismo e Planejamento Familiar...........................................................18
2.3- Movimento Feminista e Planejamento Familiar.........................................................25

CAPÍTULO III...........................................................................................................39

3- A Política Pública sobre Planejamento Familiar.......................................................39

3.1- O Programa de Planejamento Familiar: Balizas Legais................................................39


3.2- A Santa Casa de Misericórdia e o Programa de Planejamento Familiar.........................43
CAPÍTULO IV...........................................................................................................45

4- O Perfil Socioeconômico e cultural das usuárias que optaram pela esterilização na


FSCMPA.

4.1- Percursos Metodológicos.......................................................................................45


4.2- Perfil das usuárias segundo faixa etária, números de filhos e escolaridade.................. 47
4.3- Perfil das usuárias segundo renda e ocupação..........................................................46
4.4- Perfil das usuárias segundo município de origem e situação de moradia e números de
compartimentos.................................................................................................... 48
4.5- Perfil das usuárias segundo situação conjugal, núcleo familiar e motivos para a
esterilização..........................................................................................................50

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................57
LISTA DE SIGLAS

ABPF – Associação Brasileira de Entidades de Planejamento Familiar

BEMFAM - Sociedade de bem estar da família

CIPD – Comissão Parlamentar de Desenvolvimento

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

DIU - Dispositivo Intra Uterino

EUA – Estados Unidos da América

FSCMPA – Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará

IPPF - International Planned Parenthood Federation

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

PAISM - Programa de Atendimento Integral à Saúde da Mulher

PCCU – Preventivo do Câncer do Colo do Útero

PNPM – Plano Nacional de Política para as Mulheres

PREVSAÚDE – Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde

SUS – Sistema Único de Saúde

TFD – Tratamento Fora de Domicílio

UFPA – Universidade Federal do Pará

UNFPA – União Internacional para o Estudo Científico da População


Introdução

O presente Trabalho de Conclusão de Curso constitui-se como requisito final


para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do
Pará. O interesse em abordar o tema Planejamento Familiar surgiu durante a atuação do
Estágio Curricular I, II e III, realizado no Programa Seguridade Social e Saúde da
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), especificamente no
Ambulatório da Mulher, durante os períodos de março de 2012 a agosto de 2013. Neste
período, verificaram-se dúvidas e/ou até a falta de conhecimento dos métodos
contraceptivos oferecidos no Programa de Planejamento Familiar, razão pela qual
surgiu o interesse em realizar uma pesquisa com o objetivo de conhecer o perfil
socioeconômico e cultural das usuárias que optaram pela esterilização no referido
Programa.
Durante o estágio curricular na FSCMPA, especificamente no Ambulatório da
Mulher, sob a supervisão da Assistente Social, onde foram realizadas as atividades que
envolviam os serviços de saúde oferecidos pelo ambulatório inclusive o Planejamento
Familiar. No qual houve o acompanhamento dos acolhimentos, entrevistas e elaboração
do Parecer Social das usuárias do serviço.

O Programa de Planejamento Familiar oferecido pela FSCMPA é


disponibilizado o método reversível do DIU, que possui um período de cinco anos e os
métodos definitivos da laqueadura e vasectomia.

Nos acolhimentos das usuárias no Serviço Social, buscava-se conhecer a


realidade vivenciada pelas mesmas em seu cotidiano e o profissional do Serviço Social
buscava intervir no acesso aos direitos de saúde nas especialidades oferecidas pela
Fundação. Eram sempre trabalhadas diversas questões nesse primeiro contato.
Procurava-se conhecer se a usuária utilizava outros métodos contraceptivos e por quais
motivos manifestaram desejo pela cirurgia esterilizatória. Quando manifestavam desejo
pela laqueadura tubária, como se trata da escolha por um método cirúrgico, é importante
levar em consideração a possibilidade de que, com o tempo, a pessoa possa se
arrepender e volte a planejar ter filhos, e, nesse caso, as dificuldades para uma nova
gestação serão maiores (reversão da cirurgia) ou até mesmo impossíveis.
Neste sentido, ressalte-se a importância de que a escolha do método seja
consciente e bem orientada. Sendo o trabalho do Assistente Social é fundamental, pois
realiza a escuta diferenciada e qualificada da demanda. Neste momento são postas todas
as questões que envolvem o método irreversível para que o casal possa refletir e tomar
uma decisão consciente e amadurecida.

Nas entrevistas com as usuárias realizadas no ano de 2012, as mulheres


relataram desconforto na utilização de preservativos, indicando aparecimento de alergia
na área genital, sintomas de mal estar com o uso das pílulas e injetáveis
anticoncepcionais. A Assistente Social durante a conversa com as mulheres atendidas
pelo Programa sugere outros métodos reversíveis, como por exemplo, o DIU, porém
muitas usuárias desconhecem a existência do método, oferecido gratuitamente pelo SUS
através da FSCMPA.
A Constituição Federal do Brasil, de 1988, estabelece em seu parágrafo 7º art.
226 que “o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
propiciar recursos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por
parte de instituições oficiais ou privadas”.
Para regulamentação do que está estabelecido na Constituição Federal, foi
sancionada, em 12 de janeiro de 1996, a Lei nº 9.263, Lei do Planejamento Familiar, a
qual determina o Planejamento Familiar como um direito de todo cidadão. A Lei
estabelece como Planejamento Familiar o conjunto de ações que regula a fecundidade,
possibilitando a limitação ou o aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo
casal. O Planejamento Familiar orienta-se por ações preventivas e educativas e pela
garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para
a regulação da fecundidade.
Define ainda, que é dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde (SUS),
promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que
assegurem o livre exercício do Planejamento Familiar. Sendo assim, é um direito das
pessoas, assegurado na Constituição Federal e na Lei n.º 9.263/1996, que o
Planejamento Familiar, devendo ser garantido pelo Estado. É direito de todo cidadão
decidir, de forma livre e responsável, se quer ou não ter filhos, quantos filhos deseja ter
e em que momento de sua vida. É de direito, também, informações, meios, métodos e
técnicas para ter ou não filhos.
O Programa Planejamento Familiar da FSCMPA, recebe pacientes referenciadas
pela Rede Básica de Saúde, Rede Especializada ou demanda espontânea. Esta
disponível no complexo do Ambulatório da mulher e conta com uma equipe
multidisciplinar de diferentes especialidades de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes
sociais psicólogos, técnicos de enfermagem e nutricionistas).
A oferta de todos os métodos de contracepção é de fundamental importância;
porém, ela deve vir acompanhada de informação e educação, o que garantirá que as
escolhas possam ser feitas com mais consciência e responsabilidade do usuário, que,
dessa forma, se compromete mais com o método escolhido.

Neste trabalho será abordado apenas um método oferecido para as mulheres que
buscam o serviço: laqueadura tubária. Este procedimento da laqueadura ou ligadura de
tubas uterinas (trompas de falópio) consiste no método de esterilização feminina
caracterizado pelo corte e/ou ligamento cirúrgico das tubas uterinas, que fazem o
caminho dos ovários até o útero. Assim, as tubas uterinas impedem a passagem do
óvulo e os espermatozoides não o encontram, não havendo fecundação, ou seja,
impossibilitando a gravidez da mulher. A Portaria 144 do Ministério da Saúde,
posteriormente a Portaria n° 048 que inclui a laqueadura tubária e vasectomia no grupo
de procedimentos cirúrgicos do Sistema Único de Saúde, permite que a esterilização
ocorra após prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade do casal e a
realização da cirurgia.

O Ministério da Saúde, fundamentado na lei de Planejamento Familiar Lei


9.263 de 1996, determina como competência dos profissionais de saúde, assistir em
concepção e contracepção. É parte do trabalho dos profissionais empenhar-se em
informar aos indivíduos sobre as opções para o planejamento familiar, destacando a
oferta de métodos anticoncepcionais autorizados e disponíveis no Brasil.

Uma sociedade que assegura à população o direito ao planejamento familiar


certamente também proporciona melhor qualidade de vida a todos em inúmeros
aspectos: físico, psíquico e social. Pensar o planejamento familiar como o direito de
todo cidadão decidir se quer ou não ter filhos, quando tê-los e saber o que fazer caso
pretenda prevenir uma gravidez, pode contribuir para uma sociedade mais saudável, já
que filhos planejados nascem de mães que tiveram um acompanhamento médico. Por
sua vez, essas crianças serão bem-vindas dentro de uma estrutura que lhes garanta as
necessidades básicas para seu bem-estar, o aconchego de um lar, o acesso à educação,
criando seres humanos mais equilibrados, educados, responsáveis e, consequentemente,
uma sociedade menos desigual.

A esterilização vem sendo largamente utilizada no Brasil como método


anticoncepcional dentro do planejamento familiar. Com base nessas premissas foram
identificados através de observação assistemática que o fluxo de mulheres em busca de
laqueadura tubária na FSCMPA é significativo, tanto da capital quanto do interior do
Estado do Pará e muitas delas desconhecem outras formas de contracepção.

Em relação à estrutura, o trabalho apresenta na primeira parte um histórico sobre


a teoria malthusiana que apresentou uma posição pessimista, argumentando que a
população tendia, sempre, a crescer mais rápido do que os meios de subsistência. Em
consequência, o desenvolvimento e o progresso seriam objetivos utópicos longe do alcance
da maioria da população. Desta forma, inicia-se o levantamento bibliográfico a partir do
surgimento do capitalismo. Destaca-se o rápido crescimento populacional tornando-se
fundamental na agenda politica internacional após segunda guerra mundial. Em seguida
a teoria da transição demográfica, como resultado de tecnologias médicas e sanitárias
oriundas dos países Industriais.
Na segunda parte, o Desenvolvimentismo que surge como uma ideia de
organizar a comunidade, agregando-se ao empenho dos governos para promover a
melhoria das condições econômicas, sociais e culturais das comunidades, tirando os
países da América Latina do atraso e trazendo para a modernidade capitalista.
Posteriormente, destacam-se os movimentos que impulsionaram a implementação do
Planejamento Familiar como um direito constitucional, dando enfoque ao Movimento
Feminista e posteriormente levantando um histórico das políticas que permeiam o
Planejamento Familiar no Brasil.
Na terceira parte, as políticas de Planejamento Familiar a partir da década de
1990, priorizando as discussões realizadas através das Conferências, os documentos
oficiais originados por estas relacionados à saúde da mulher, o direito sexual e
reprodutivo e o Planejamento Familiar. Em seguida, busca-se apontar os serviços
oferecidos pela Santa Casa de Misericórdia do Pará em relação ao Planejamento
Familiar.
Na quarta e ultima parte, serão apresentados os percursos metodológicos e os
resultados da pesquisa bibliográfica obtida a partir da elaboração do perfil
socioeconômico e cultural das usuárias do Programa de Planejamento Familiar da
FSCMPA. Finalmente, apresentam-se considerações gerais acerca do objeto de estudo.

CAPÍTULO I

1- A Revolução Industrial e a teoria sobre crescimento populacional.

1.1-Teoria malthusiana e o crescimento demográfico.

Durante os séculos XVIII e XIX houve um acentuado crescimento demográfico


devido à consolidação do capitalismo, para Rodrigues (1990), com a expansão de
fábricas, lojas, minas, moinhos, transportes e outras empresas capitalistas industriais, as
oportunidades de emprego cresceram e vários membros da família podiam trabalhar,
justamente quando os custos de manutenção do grupo doméstico aumentavam ao residir
nas cidades, que cresciam rapidamente.
Isso era resultado de poderosas mudanças econômicas que deslocavam os
trabalhadores para novos centros de produção. O crescimento industrial se
edificava em cima da terrível pobreza da classe trabalhadora, compelida a
viver com baixos salários ou atentar oportunidades de emprego errático que
passaram a caracterizar o capitalismo industrial. (RODRIGUES, 1990, p.28)
Nesse momento, descreve Rodrigues (1990, p.28), havia uma demanda
considerável pela mão de obra feminina, o que exigia compatibilizar isso com a
maternidade. Ainda de acordo com a autora, a medida em que o local de trabalho da
mulher se foi transferindo da sua casa para a empresa, a contradição apareceu entre os
seus papéis de produtora e mãe. O cuidado com os filhos e o emprego assalariado
distante tornaram-se mutuamente antagônicos, porque as crianças maiores eram
convocadas também pela indústria e não podiam cuidar dos irmãos menores. O novo
sistema econômico não poderia durar muito se não resolvesse a contradição que ele
tinha criado entre produção e reprodução.

Diante dessas circunstâncias, surgem as primeiras teorias para defender a


necessidade de reduzir a fertilidade dos pobres e, algumas décadas depois, a proposta do
recurso à contracepção como um movimento social e não apenas como uma pratica
individual.

A Revolução Industrial teve como um de seus desdobramentos o surgimento de


um grande crescimento populacional que proporcionou a elevação da produção de
alimentos nos países em processo de industrialização diminuindo a taxa de mortalidade
(principalmente na Europa e nos EUA). Isto fez com que os índices de crescimento da
população subissem provocando discussões que culminariam em diversas teorias sobre
o crescimento populacional, destacando-se o malthusianismo.(ALVES, 2002)

Segundo Alves (2002), a teoria malthusiana caracterizava-se pelo grande


pessimismo em relação ao crescimento populacional e que o crescimento demográfico
iria ultrapassar a capacidade produtiva da terra gerando fome e miséria, e as únicas
formas de evitar que isso acontecesse seria reduzindo a taxa de natalidade através da
proibição de que casais muito jovens tivessem filhos, do controle da quantidade de
filhos por família nos países pobres, do aumento do preço dos alimentos e da redução
dos salários para forçar as populações mais pobres a ter menos filhos.

Malthus o pai da teoria Malthusiana, era economista e pastor da Igreja


Anglicana, ele propunha que as pessoas só tivessem filhos se possuíssem terras
cultiváveis para poder alimenta-los. Malthus não separava a atividade sexual da
reprodução e era contra a utilização de métodos contraceptivos e o aborto, concordando
apenas com o aumento da idade para o casamento e com a abstinência sexual fora dele,
o qual segundo ele seriam os únicos meios aceitáveis de limitação da natalidade .

Como assinala Alves (2002), Malthus argumentava que a alta taxa de


mortalidade e fecundidade seria praticamente impossível de reduzir uma vez que eram
consequências de fatores fora do alcance da intervenção humana. Por isso, ele defendia
que desastres como a fome, a epidemia e a guerra eram benéficas no sentido de ser um
controle para o crescimento populacional.
Rodrigues (1990), afirma que foram inscritos livros nesta época para instruir as
classes trabalhadoras sobre contracepção, outros falavam sobre contracepção e educação
sexual e algumas práticas para anticoncepção, porém nenhuma dessas ideias floresceu e
o movimento acabou cessando com o tempo. Com o despertar do pensamento
coletivista, houve uma alteração nos argumentos. Reconheceu-se que as informações
sobre contracepção seriam importantes em razão dos direitos individuais justamente
quando as pessoas tentavam fazer com que a renda familiar acompanhasse o crescente
custo de vida.
Como resultado desta época a elaborou-se uma imagem regular da feminilidade,
o que estava adequado aos interesses da Igreja. Para esta, a sexualidade somente serviria
para a procriação. Todas as idéias do desejo físico ou do ato sexual deveriam ser
extintas pela concepção. As dificuldades da vida conjugal, assim como os sofrimentos
decorrentes do parto, eram vistos como oportunidades purificadoras, redentoras do
pecado para a ressurreição. Deste modo era lançada a maldição para as mulheres que
não podiam conceber uma criança, essas mulheres seriam incapazes de reverter o
pecado do ato sexual com a pureza de uma gravidez.

Duas posturas antagônicas conviviam na sociedade e no governo brasileiro em


relação às politicas populacionais. FONSECA (1993) identifica estas posturas como
“coalização antinatalista e coalização anticontrolista”. A primeira colocou no mesmo
lado atores sociais como o governo norte-americano, preocupado com uma eventual
“cubanização” do Nordes6tte brasileiro e depois com repercussões sociais e politicas de
uma suposta explosão demográfica que estaria em curso no terceiro mundo; militares da
Escola Superior de Guerra, que passaram a ver no crescimento populacional uma
ameaça à “segurança nacional”; grandes empresários que percebiam na taxa de
crescimento demográfico um obstáculo ao desenvolvimento nacional e, grupos médicos
interessados em abrir espaço para o exercício do Planejamento Familiar no país.
(FONSECA, 1993 apud SILVA, 2000, p.03)

Em 1922, instituições filantrópicas dos EUA iniciaram o financiamento de


estudos estatísticos sobre problemas de população. Estas organizações pretendiam
financiar organizações não governamentais, que não visassem lucro e que fossem
administradas pelos seus curadores, de forma que houvesse o desenvolvimento de um
serviço social educacional e médico para atuar nos problemas relacionados à
reprodução, e em consequência, no crescimento demográfico, além de prover recursos
para pesquisas sobre os problemas de população. (RODRIGUES, 1990, p.34)
Em poucos anos, os índices de fecundidade na América e Europa apresentara m
uma sensível queda, o que era reforçado também, entre outras causas, pelo aumento da
participação feminina no mercado de trabalho, pelo crescimento das despesas no
cuidado de crianças e pelas dificuldades inerentes à vida nas áreas urbanas.
(RODRIGUES, 1990, p.36)
Após a segunda guerra mundial, houve uma nova aceleração populacional, neste
momento voltaram a surgir estudos baseados nas ideias de Malthus, dando origem a um
conjunto de teorias e propostas denominadas neomalthusianas. Novamente teóricos
explicavam o subdesenvolvimento e a pobreza pelo crescimento populacional, que
estaria provocando a elevação dos gastos governamentais com os serviços de educação
e saúde. Isso comprometeria a realização de investimentos nos setores produtivos e
dificultaria o desenvolvimento econômico. Para os neomalthusianos, uma população
numerosa seria um obstáculo ao desenvolvimento e levaria esgotamento dos recursos
naturais, ao desemprego e à pobreza. Enfim ao caos social.

Os demógrafos deram, a este fenômeno, o nome de Transição Demográfica. As


primeiras abordagens da transição demográfica não viam contradição entre população e
desenvolvimento, mas sim uma relação de influência mútua, já que o desenvolvimento
induziria a redução das taxas de mortalidade e natalidade e as mudanças na estrutura
etária e o baixo crescimento populacional, decorrente deste processo, ajudaria na
decolagem do progresso econômico.

1.2- A Teoria da Transição Demográfica

Em oposição a teoria malthusiana, para esta teoria formulada em 1929, o


crescimento populacional tende a se equilibrar no mundo, com a diminuição das taxas
de natalidade e mortalidade. Contudo, o arcabouço da teoria da transição demográfica
utilizado para analisar o caso dos chamados países do Terceiro Mundo levou a
conclusões diferentes. Os primeiros demógrafos que analisaram esta questão
argumentaram que a queda das taxas de mortalidade nos países não industriais, após a
Segunda Guerra Mundial, se deu de forma exógena, isto é, devido à importação de
tecnologias médicas e sanitárias oriundas dos países industriais. Assim, a queda das
taxas de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil, teria ocorrido sem a
transformação das estruturas sociais e econômicas e, sem estas transformações, as taxas
de natalidade tenderiam a continuar elevadas. (CORRÊA, et al, 2003)

Desta forma, na segunda metade do século XX, os países com estruturas


predominantemente agrárias e rurais tendiam a apresentar elevadas taxas de crescimento
demográfico, decorrentes de uma mortalidade em queda num quadro de elevadas taxas
de fecundidade. (CORRÊA, et al ,2003, p.02)

A contracepção cresceu muito neste século, a partir da orientação oferecida por


instituições privadas que foram surgindo na Inglaterra , com a liderança de Marie
Stopes. E, nos Estados Unidos, com a liderança de Margaret Sanger. Logo após esses
fatos, surge a preocupação das entidades de planejamento familiar em estender os seus
serviços pelos países de terceiro mundo, categoria que foi formulada nessa época, para
englobar os países capitalistas pobres e que não estivessem na órbita da união das
republicas socialistas soviéticas. (RODRIGUES, 1990. p.37)

Para introduzir um programa de planejamento familiar num pais, às instituições


internacionais incentivam a formação de um grupo voluntario de médicos que fundou
um núcleo pioneiro para orientar a população para o uso da contracepção, que se
justificaria diante da ocorrência elevada de aborto provocado, mortalidade materna e
frustração de muitas mulheres que tiveram gravidez indesejada. (idem, ibdem, p. 39)

Assim, os anticoncepcionais entram no mercado e as mulheres, uma vez


conseguindo dissociar sexualidade de procriação, aderem principalmente à contracepção
hormonal, mas, sem assistência adequada, comprometem a sua saúde e tornam-se cada
vez mais dependentes do sistema médico. Justamente neste período, por volta de 1964,
localiza-se o acirramento da polêmica entre as políticas de controle demográfico e as
anticontrolistas. (ALVES, 2004)

CAPÍTULO II

2- Planejamento Familiar no Brasil


2.1- Um breve histórico sobre o modelo de Família no Brasil

Nos primeiros séculos de colonização temos como modelo dominante de


organização a família tradicional, patriarcal, extensa, rural que resultou da adaptação do
modelo de família trazido pelos portugueses ao modelo socioeconômico em vigor no
país. Tinha como característica um grupo extenso formado pelo núcleo conjugal e sua
prole legítima, ao qual se incorporavam parentes, afilhados, agregados, escravos e até
mesmo concubinas e bastardos, todos abrigados sob o mesmo teto na casa grande ou na
senzala.

Historicamente estimulado pela sociedade brasileira e reforçado pela Igreja


Católica e pelo Estado, até recentemente, a idéia é de que haveria um modelo de família
brasileira. Este modelo de família estaria associado à presença de parentes, a um sistema
hierárquico e de valores no qual se destacariam a autoridade paterna e do homem sobre
a mulher, a monogamia, a indissolubilidade das uniões e a legitimidade da prole.
(GOLDANI, p.70)
A família patriarcal tinha como característica principal o fato de ser extensa
composta pelo núcleo central (Pai, esposa e filhos legítimos). Contava, ainda, com
grupos de agregados (tios, tias, primos, noras, genros, serviçais escravos, entre outros,
todos dominados pelo patriarca, dotado de autoridade absoluta).
Este modelo de família também se distinguia pelo controle da sexualidade
feminina e regulamentação da procriação, para fins de herança e sucessão. Alguns
traços existentes são: baixa mobilidade social e geográfica, alta taxa de fertilidade e
manutenção dos laços de parentescos colaterais e ascendentes, tratando-se de um grupo
multifuncional. Este sistema era a forma pela qual os indivíduos se reconheciam no
mundo: ser filho, parente, compadre, cabra, escravo do senhor proprietário, conferia os
limites e possibilidades para cada indivíduo. Desta forma, o poderio patriarcal foi
gestado na ausência de um Estado forte, e seu declínio se verificaria quando este Estado
assumisse seus papéis. (BRUSCHINI, 2000 apud CAYRES,p.01)

A sexualidade masculina se exercia, no entanto, livremente. Os casamentos eram


realizados por conveniência, entre parentes ou entre membros de grupos econômicos
que desejavam estabelecer alianças. Como a atração sexual ou outras razões de ordem
afetiva estivessem alheias a esse contrato, considerava-se legítimo que os homens
buscassem satisfação sexual e emocional fora da órbita legal do matrimônio, mantendo
concubinas, com as quais tinham filhos ilegítimos. Essa característica senhorial foi
observada também pelas famílias não proprietárias, das camadas intermediárias –
comerciantes, funcionários públicos, militares e profissionais liberais (Ibidem, 2000
apud CAYRES).

A família patriarcal era uma forma dominante de constituição social e política e


tinha no seu poder, o controle dos recursos da sociedade. O fortalecimento dessa
estrutura familiar se explica pela própria estrutura colonial, numa época em que o
governo português não conseguia se fazer representar em toda a colônia, o proprietário
de terras tomou as rédeas do poder local. Mais tarde, seu domínio na Colônia,
subjugando os indígenas e,, com a importação dos escravos negros, os portugueses
foram destruindo formas familiares próprias desses grupos que aqui chegavam.
(BRUSCHINI, 2000 apud CAYRES, p.01)
A casa-grande teria sido o símbolo desse tipo de organização, núcleo para onde
convergia toda a vida econômica, social e política da região, de forma mais ou menos
ordenada. Sua área de influência englobava a atuação da Igreja, do Estado e todas as
outras instituições sociais e econômicas. (CAYRES, p.01)

Em meados do século XVIII, verificou-se no Brasil baixa qualidade de vida da


população, muita ociosidade, falta de saúde, promiscuidade. Era necessária a atuação
forte do Estado no sentido de proporcionar trabalho para as pessoas ociosas, ensinar
ofícios, promover a saúde pública.

[...] tornava-se necessário cuidar mais agressivamente da saúde


das tropas e da população em geral, que estava sendo corroída
pelos leprosos, aleijados e doentes incuráveis: surgiram, a partir
dos meados do Século XVIII, os primeiros hospitais leprosários.
A família, portanto, ainda no século XVIII, surgia como
estrutura mediadora do disciplinamento dos povos, promovida
pelo Estado. E a medicina, nesse momento foi convocada como
instrumento auxiliar nessa tarefa. (SOBRINHO, 1993, p. 47/48
apud CASTANHO, 2012, p.183)

A transformação da sociedade no século XX, desde a promulgação do Código


Civil de 1916 veio impor uma nova regulamentação da família, pois seus conceitos já se
encontravam totalmente obsoletos, almejando por modelos jurídicos condizentes com a
realidade.
É evidente que a família do século XXI é bastante diferente daquela de outrora.
A mulher luta por seus ideais, não mais se dedica exclusivamente ao marido e aos filhos
e se impõe no mercado de trabalho. Os filhos saem do lar paterno bem mais cedo
buscando oportunidades profissionais em atividades produtivas.
Os meios de comunicação, mídia, globalização, todos avançam de forma mais
rápida, deixando para trás os velhos paradigmas de uma farm1ia baseada na figura do
pater. O casamento já não é mais o exclusivo centro gravitador da família. As entidades
familiares passam a ser reconhecidas e respeitadas.
A Constituição Federal de 1988 veio responder aos anseios da sociedade. o qual
considerava a legalidade vigente anacrônica e causadora de situações sociais
incompatíveis com a realidade, onde a igualdade entre o homem e a mulher foi
instituída. (CACHAPUZ, 2004, p.69)
Segundo Nascimento (1994, p. 30), com a Proclamação da República em 1889,
surgiram novas concepções de família, pois esta introduziu no país um conjunto de
modernizações que envolveram o fim do trabalho escravo e a urbanização (com
desdobramentos para o início da industrialização), como também o deslocamento para o
eixo centro sul dos polos de desenvolvimento econômico e de decisão política. Uma
característica fundamental da dinâmica populacional no Brasil foi sempre o seu
considerável crescimento.
Para Goldani, no que concerne aos estudiosos da família e aos grupos feministas,
a ênfase é colocada nos padrões de mudança nas estruturas famíliares, percebidos como
parte de um processo mais amplo de transformações econômico- sociais.

Os argumentos mais comuns, neste caso, giram em torno das mudanças nos
padrões de comportamento, desde o aumento de novos tipos de uniões entre
os sexos, declínio da fecundidade, aumento das mães solteiras e de
separações e divórcios, novos padrões de sociabilidade e relações de gênero,
até a participação de mulheres, crianças e adolescentes no mercado de
trabalho formal e informal.

Portanto, mudaram as condições de reprodução da população, os padrões de


relacionamento entre os membros da família, os modelos de autoridade estão em
questionamento, e a posição relativa da mulher alterou-se profundamente. Completando
o quadro, até mesmo a legislação brasileira redefiniu o conceito de família.
Significativas mudanças ocorreram na sociedade brasileira. Sua transformação
de sociedade rural, na qual predominava a família patriarcal e fechada em si mesma,
para uma sociedade de bases industriais com as suas implicações de mobilidade social,
geográfica e cultural acarretou transformações igualmente marcantes na estrutura do
modelo tradicional de família. (SIMIONATO & OLIVEIRA,2003).

Dado que as famílias não só respondem às transformações sociais, econômicas e


demográficas, mas também as geram, tem sido difícil para os estudiosos da família
brasileira interpretarem as mudanças nas estruturas famíliares no tempo. A visão
dicotômica - entre o tradicional e o moderno - que toma em conta modelos de família,
elaborados com base nas classes dominantes (rurais) e das classes médias (urbanas) já
não satisfaz. Não só por suas limitações como modelos interpretativos associados à uma
concepção de família e de tipologias de família, mas, também, porque obscurece a
realidade da maioria das famílias brasileiras que pertencem às chamadas camadas
populares.
A Constituição de 1988 considera que, para efeitos de proteção do Estado,
família é a união estável entre homem e mulher ou qualquer dos pais e seus
descendentes. Neste conceito “novo” de família, ao enfatizar a necessidade de proteção
aos dependentes - crianças, jovens e velhos - a Constituição Brasileira reconhece o
poder assimétrico entre os membros da família. Fica claro, ainda, que os direitos e
deveres conjugais são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
Estes princípios constituticionais, em grande parte regulamentados em lei,
alteram o direito de propriedade das mulheres casadas, facilitam o divórcio, reconhecem
os mesmos direitos legais dos filhos - independentemente da natureza da filiação - e
estabelecem os direitos e obrigações individuais dos membros da família, segundo a
posição que ocupam. (GOLDANI, p.72)
O conhecimento acumulado sugere que para a maioria das famí1ias brasileiras -
as famílias das chamadas camadas populares- são suas precárias condições de vida que,
maiormente responderiam por sua estrutura, ou seja, tamanho e organização interna
(Gomes, 1991, Woortman, 1987, Fausto Neto, 1982; Alvim, 1979; Bilac 1978, Durham
e Cardoso, 1979 apud GOLDANI).
Nesta perspectiva, é que Goldani afirma, que as famílias mais pobres, sobretudo
das periferias urbanas, iriam se formando, expandindo e contraindo dentro de um
quadro de precariedade de condições de vida que definiriam suas opções. Assim, tanto o
fenômeno de ampliação dos núcleos familiares, via integração de parentes ou não
parentes, bem como o incremento das famílias conviventes via associação entre núcleos
famíliares, responderiam em grande medida a fatores concretos de condições de vida
desta população.
Para autora Cachapuz (2004, p.76), o novo Código Civil vem modificar a visão
patrimonialista e patriarcalista do Código de 1916, buscando resgatar o ser humano em
sua inte gralidade. Conservando o arcabouço do brilhante trabalho de Clóvis Bevilaqua,
foi imputado ao Código de 2002, os traços consentâneos com a realidade do momento
histórico vivenciado pela sociedade brasileira. Hoje nos deparamos com uma legislação
que passou por inúmeras transformações, principalmente no que se refere ao direito de
família.
A família, nos dizeres de Teresa Ventura, "... é hoje um espaço emocional à
procura de novos equilíbrios e que pode revestir as mais diversas formas. Nos últimos
anos sofreu grandes modificações: o aumento do número de divórcios, o planejamento
familiar, a mudança do papel da mulher, a valorização do amor...”.
E o direito não poderia permanecer à margem, sem adaptar-se aos anseios de
uma sociedade oprimida pelas regras de outrora. Fazia-se necessário uma renovação da
vasta legislação das relações familiares. Felizmente pode-se constatar que o Código de
2002 adveio com ampla e atualizada regulamentação dos aspectos primordiais do
Direito de Família à luz dos princípios e normas constitucionais. (CACHAPUZ, 2004,
p.76)
Haveria uma dimensão invisível da mudança social na combinação do “moderno
e o arcaico” que geraria a nova família brasileira aponta Figueira (1987 apud
GOLDANI). Para este autor seria central imaginário, as emoções, a fantasia, o desejo,
enfim o sujeito. Seria assim a reflexão sobre o sujeito e seu papel no processo de
mudanças sociais que permitiria entender a convivência do arcaico e do moderno bem
como clarificar suas condições sociais e subjetivas.
O século XX foi cenário de grandes transformações na estrutura da família.
Ainda hoje, porém, observamos algumas marcas deixadas pela suas origens. Da família
romana, por exemplo, temos a autoridade do chefe da família, onde a submissão da
esposa e dos filhos ao pai confere ao homem o papel de chefe. Da família medieval
perpetua-se o caráter sacramental do casamento originado no século XVI. Da cultura
portuguesa, temos a solidariedade, o sentimento de sensível ligação afetiva, abnegação e
desprendimento (RIGONATTI, 2003 apud SIMIONATO & OLIVEIRA,2003).).

“Em todo o mundo, o conceito de família nuclear e a instituição casamento


intimamente ligada à família, passaram por transformações. A expressão mais
marcante dessas transformações ocorreu no final da década de 60: cresceu o
número de separações e divórcios, a religião foi perdendo sua força, não mais
conseguindo segurar casamentos com relações insatisfatórias. A igualdade
passou a ser um pressuposto em muitas relações matrimoniais”.

A partir daí, surgem inúmeras organizações familiares alternativas: casamentos


sucessivos com parceiros distintos e filhos de diferentes uniões; casais homossexuais
adotando filhos legalmente; casais com filhos ou parceiros isolados ou mesmo cada um
vivendo com uma das famílias de origem; as chamadas “produções independentes”
tornam-se mais freqüentes; e mais ultimamente, duplas de mães solteiras ou já
separadas compartilham a criação de seus filhos. Chegamos ao século XXI com a
família pós-moderna ou pluralista, como tem sido chamada, pelos tipos alternativos de
convivência que apresenta. (SIMIONATO & OLIVEIRA,2003).
Peixoto e Cicchelli (2000 apud SIMIONATO & OLIVEIRA,2003), assinalam
que nas últimas décadas falou-se muito a respeito da crise da família, numa alusão à
baixa taxa de fecundidade, ao aumento da expectativa de vida e, conseqüentemente, à
crescente proporção da população com mais de 60 anos.

Os mesmos autores afirmam que o que caracteriza esse processo a que se


chama de crise da família na atualidade, não é propriamente o enfraquecimento
da instituição família, mas o surgimento de novos modelos familiares, de novas
relações entre os sexos, numa perspectiva igualitária, mediante maior controle
da natalidade, e a inserção massiva da mulher no mercado de trabalho, entre
outros aspectos.

A composição das famílias brasileiras, especialmente nas últimas três décadas,


vem passando por várias alterações, do ponto de vista demográfico, e embora tais
alterações ocorram de forma diferenciada nas diversas regiões do país, algumas ocorrem
de forma mais ou menos similar, como a redução da natalidade e o aumento da
longevidade das pessoas. As autoras assinalam que as famílias vêm se tornando
menores, e com um número maior de idosos em sua composição, com prevalência de
doenças crônicas e de problemas decorrentes do processo de envelhecimento. (SENNA,
ANTUNES,2003 apud SIMIONATO & OLIVEIRA, 2003).
Nas famílias das camadas mais empobrecidas da população a realidade de
composição familiar é bem diferente do modelo tradicional de família nuclear, onde o
pai é o provedor, a mãe cuida da casa e os filhos estudam. De acordo com as autoras,
elevou-se o número de núcleos familiares compostos apenas por mulheres e seus filhos
menores, e também o número de indivíduos e mesmo de famílias moradores de rua
(SENNA; ANTUNES, 2003 apud SIMIONATO & OLIVEIRA,2003).).

Simionato & Oliveira (2003) referem-se que na tradicional divisão de tarefas


dentro do lar ocorrem modificações importantes: com o trabalho fora de casa,
decorrente da inserção feminina no mercado de trabalho, o tempo da mulher para o
cuidado dos filhos foi diminuindo e o homem foi mudando seu espaço no interior da
família, assumindo inclusive tarefas antes tipicamente femininas. A mulher torna-se
mais competente no trabalho, autônoma e competitiva, ao mesmo tempo em que o
homem aprende a ser mais cuidadoso e cuidador nas relações.
Ainda proferem que este panorama, as mulheres desempenham papel
importante na manutenção da vida cotidiana do grupo familiar exercendo, além
do trabalho doméstico, o preparo e manutenção dos alimentos, confecção do
vestuário, a procura por preços mais baixos para as compras, na tentativa de
contribuir na diminuição dos gastos. Somado a tudo isto, a mulher participa no
orçamento familiar com trabalho remunerado realizado dentro ou fora do lar, o
que potencializa a sobrecarga física e psíquica e os conseqüentes agravos à
saúde da mulher.

2.1- Desenvolvimentismo e Planejamento Familiar.

No Brasil, a saúde como questão social surgiu na década de 20 durante a


expansão da economia cafeeira, período de formação do capitalismo no país. Nessa
época, o aumento da população era necessário para expansão da economia. Porém
expandiram-se também a pobreza, as doenças e a marginalização, e a questão
populacional foi se constituindo como um problema político (COELHO et al, 2000).
Durante o período do “Estado Novo” (1937-1945), no governo Getúlio Vargas
foi adotado dispositivos legais para fortalecer a família numerosa, por meio de diversas
medidas: regulamentação e desestímulo ao trabalho feminino; adicional do imposto de
renda incidindo sobre os solteiros ou casados sem filhos; facilidades para a aquisição de
casa própria aos indivíduos que pretendessem se casar, complemento de renda aos
casados com filhos, reforço de renda aos chefes de famílias numerosas cuja renda fosse
inferior a um certo patamar, e regras que privilegiavam os casados com filhos para o
acesso e promoção no serviço público (FONSECA, 2001 apud ALVES).
A Constituição Brasileira de 1937 em seu artigo 124 dizia: “A família,
constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. As
famílias numerosas serão atribuídas compensações na proporção de seus encargos”.
Neste período, além dos incentivos ao casamento e à reprodução, houve uma legislação
claramente anticontrolista que proibia o uso de métodos contraceptivos e o aborto: a) o
Decreto Federal n. 20.291, de 1932 estabelecia “É vedado ao médico dar-se à prática
que tenha por fim impedir a concepção ou interromper a gestação”; e b) em 1941, foi
sancionada a Lei das Contravenções Penais que em seu artigo 20 proibia: “anunciar
processo, substância ou objeto destinado a provocar o aborto ou evitar a gravidez”
(ROCHA, 1987 apud ALVES).
O declínio do crescimento populacional no Brasil evidencia-se através dos
seguintes dados: entre as décadas de 40 e 60, a mulher brasileira tinha em média, 6 a 7
filhos; sendo que na década de 80, a média era de 3,4 filhos por mulher, entretanto esta
média passou para 2,4 filhos em 1991. O declínio de natalidade no Brasil, nos últimos
30 anos, pode ser atribuído a fatores como: a inserção da mulher no mercado de
trabalho, avanço tecnológico em relação às opções contraceptivas, o investimento de
organizações internacionais voltadas à contracepção, a identificação de uma política do
Estado em relação à contracepção efetuada pelas mulheres e em mulheres (COELHO &
FONSECA 2005)

Por muitos anos a prática da esterilização no Brasil aconteceu em um cenário de


clandestinidade, na medida em que era interpretada, do ponto de vista jurídico, como
ofensa criminal, com base no código Penal de 1940, Artigo 29, Parágrafo 2. III, e,
segundo o Código de Ética Médica, a realização da esterilização cirúrgica fora proibida
até 1988, salvo em algumas situações específicas de risco de vida. (CARVALHO, 2007
apud YAMAMOTO, 2011, p.14)

Evidentemente, o Brasil se beneficiou dos avanços ocorridos no âmbito


internacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o conceito de saúde, em
1948, da seguinte forma: “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e
social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Esta definição
representa um avanço, para a época, mas este conceito não incorpora as questões do
meio ambiente, como na seguinte definição: “A habilidade de identificar e realizar
aspirações, satisfazer necessidades, e de mudar ou interagir com o meio ambiente.
Logo, saúde é um recurso para a vida diária, não o objetivo de viver. Saúde é um
conceito positivo enfatizando os recursos pessoais e sociais, assim como as
capacidades físicas” (GALVÃO, 1999, p. 167 apud ALVES, 2006, p.28).
Logo após o término da Segunda Guerra Mundial, com a Declaração dos
Direitos do Homem (mais tarde nomeada como Declaração dos Direitos Humanos),
datada de 1948. Este documento foi formulado pela ONU organização internacional
fundada em 1945 com o objetivo de manter a paz e a segurança internacional;
estabelecer relações cordiais entre as nações do mundo, obedecendo aos princípios da
igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos; e incentivar a cooperação
internacional na resolução de problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários.
O intento de que os horrores das guerras e do holocausto ocorrido na segunda guerra
mundial, não se repetissem na história da humanidade fez com que se recorresse a esta
carta de intenções dos Estados, governos e países.
Neste período ocorreu à segunda aceleração do crescimento populacional mais
precisamente, a partir de 1950, particularmente nos países subdesenvolvidos. Esse
processo denominado revolução médico-sanitária, inclui também a ampliação dos
serviços médicos, as campanhas de vacinação, a implantação de postos de saúde pública
em zonas urbanas e rurais e a ampliação das condições de higiene social. Todos esses
fatores permitiram uma acentuada redução nas taxas de mortalidade, principalmente
infantil, que até então eram muito elevadas nos países subdesenvolvidos. A diminuição
da mortalidade e a manutenção das altas taxas de natalidade resultaram num grande
crescimento populacional, que atingiu seu apogeu na década de 1960 e ficou conhecido
como “explosão demográfica” (MENEZES, p.01)

Nas décadas de 1950 e 1960, quando se difundiu o medo da “explosão


populacional”, os formuladores de políticas, influenciados pelo pensamento
neomalthusiano, passaram a defender a disseminação de métodos contraceptivos,
mesmo que contrariando os interesses individuais, pois se tratava de obter resultados
coletivos de limitação global da população. Nas décadas seguintes, o pensamento
neomalthusiano tornou-se mais moderado, na medida em que a fecundidade diminuía no
mundo. Quando as pesquisas demográficas passaram a mostrar que o número desejado
de filhos (por parte das mulheres e casais) era menor que a fecundidade observada,
então se passou a dar mais ênfase às necessidades não atendidas de contracepção.
(ALVES, 2002)

Com o grande e não planejado crescimento urbano, surge à ideia de organizar a


comunidade, passando a ser mais bem precisada quando se descobriu que juntamente
com os esforços dos grupos da população local, agrega-se o esforço dos governos para
promover a melhoria das condições econômicas, sociais e culturais das comunidades.
No pós-guerra, com o socialismo grassando na Europa oriental e na China, o mundo já
tendo sido repartido por blocos de interesse opostos, era necessário oferecer aos países
do “terceiro mundo”, na área de influência dos Estados Unidos, uma alternativa para a
proposta socialista. (ESTEVÃO, 2005, p.26)

Estevão (2005, p.29), ainda discorre que é neste período que surgem as ideias
“desenvolvimentistas”, isto é as que visam tirar os países da América Latina do atraso,
trazê-los para a modernidade capitalista, fazer um esforço conjunto povo-governo para
promover o progresso.

Institucionalizado pela ONU após Segunda Guerra Mundial o Desenvolvimento


de Comunidade é postulado num momento histórico em que as grandes potências –
lideradas pelos estados Unidos e Rússia deflagraram a chamada “Guerra Fria” pela
conquista do primado politico, econômico e ideológico de um mundo supostamente
bipolarizado.(AMMANN, 2003, p.29)

A perspectiva desenvolvimentista buscava através de grandes obras a conquista


do progresso do país. No campo da reprodução percebe-se claramente essa diretriz na
defesa de políticas de população com bastante ambiguidade, vale salientar, uma vez que
por um lado tinham o objetivo de povoar o “continente” brasileiro e, por outro,
realizaram pelas mãos de instituições de controle de natalidade a diminuição da
população pobre dos países naquela época chamados de Terceiro Mundo, incluindo o
Brasil. (FONSECA, 2008, p.105)
Conforme Ammann (2003), a consolidação do bloco socialista e sua expansão
aos países orientais começam representar um perigo crescente para os países capitalistas
simultaneamente atingidos pela perda de suas colônias. Passa então a recém-criada
ONU a desfraldar a bandeira da socialdemocracia e a buscar estratégias capazes de
garantir a ordem social e de preservar o mundo livre dos regimes e ideologias
consagradas como não democráticas.

Sob o argumento de que a pobreza é um entrave e uma ameaça tanto para essas
populações (pobres) como para áreas mais prósperas; de que “na atual luta ideológica os
povos famintos tem mais receptividade para a propaganda comunista internacional do
que as nações prósperas”; de que “o esforço de ajudar os povos a alcançarem um nível
de vida mais sadio e mais economicamente produtivo eliminaria os focos de comunismo
em potencial”; de que “a melhoria das condições sociais e econômicas em qualquer
parte do mundo livre redundaria em benefício dos EUA” este país se proclama líder do
mundo pela boca do seu Presidente: “creio que devemos oferecer aos países amigos da
paz, afirmava Truman em seu discurso de posse, os benefícios do nosso cabedal de
conhecimentos técnicos e ajuda-los a realizar suas aspirações por uma vid. melhor”.
(AMMANN, 2003, p.30)
A partir da década de 1960 o discurso antinatalista ganha vigor e as taxas de
natalidade apresentam quedas significativas. Rodrigues (1990); Berquó (1993); Alves
(2004) mostram os motivos que levaram a queda da taxa de natalidade de forma
multifacetada. Em síntese, pode-se atribui-la à evolução dos quadros econômico e social
despertada pelo acelerado processo de concentração industrial e urbana;
consequentemente aumento do custo de vida, aliados à ascensão dos níveis
educacionais, à inserção da mulher no mercado de trabalho e à facilidade de acesso a
métodos contraceptivos, todos esses fatores decisivos na transição demográfica.
(MACAUBAS, 2011, p.77)
Tratando da problemática do controle da natalidade no Brasil, é importante
salientar os aspectos sócio-econômico-culturais da fecundidade. A fecundidade parece a
variável privilegiada para uma política demográfica. Em vista de baixar a fecundidade,
muitos autores procuram avaliar as relações existentes entre o nível da fecundidade de
um lado e o nível sócio-econômico-cultural de outro. (NASCIMENTO, p.98)
Pressões americanas forçaram a entrada de entidades internacionais no Brasil,
que tinham como principal objetivo controlar o crescimento populacional dos países
pobres. Assim, os anticoncepcionais entram no mercado e as mulheres, uma vez
conseguindo dissociar sexualidade de procriação, aderem principalmente à contracepção
hormonal, mas, sem assistência adequada, comprometem a sua saúde e tornam-se cada
vez mais dependentes do sistema médico. (ALVES, p.01)

Amman (2003) descreve que os lineamentos da literatura produzida pós-1964


revelam a absorção lenta mas progressiva das novas orientações que passam a vigorar
na superestrutura do bloco histórico então vigente. Os intelectuais do Desenvolvimento
de comunidade vão substituindo paulatinamente as reinvindicações de reformas
estruturais por apelos à integração dos programas ao processo de desenvolvimento,
bandeira largamente desfraldada pelo governo miliar. Com efeito, a palavra
“integração” – e subjacente à mesma, uma robusta e bem estruturada ideologia – passa a
dominar o discurso das classes dirigentes.

Destaca-se o importante papel feminino na busca de seus direitos durante a luta


contra a ditadura no Brasil:

A participação das mulheres na luta contra a ditadura dava-se igualmente na


busca dos direitos civis e políticos, porém alguns grupos de mulheres, dentro
da lógica da expansão desses direitos, foram paralelamente às lutas
antiditadura, inserindo a discussão da sexualidade e reprodução, ou seja, o
direito de ter ou não ter filhos e a relação com os serviços de saúde. Essas
reinvindicações faziam com que as mulheres brasileiras, a partir dos anos 60,
processassem uma ruptura com o clássico e exclusivo “papel social” que lhes
era atribuído para uma redefinição das relações sociais como um todo.
(BUGLIONE,2000 apud PEGORER, p.06, 2010)

Os objetivos básicos do desenvolvimento de comunidade concernem á promoção


do homem e à aceleração da dinâmica do desenvolvimento geral “através da
incorporação das forças locais no sistema de desenvolvimento. Esta incorporação irá
ampliar o sistema com estabelecimento de mais um nível de decisões, delimitado
naturalmente pela hierarquia de decisões de níveis superiores”.Ammann (2003), ainda
afirma que dentre os objetivos específicos alocam-se o desenvolvimento local, de forma
integrada e harmônica; a integração de programas; o fortalecimento da consciência
comunitária; a criação de mecanismo de participação e mudança de mentalidade com o
incentivo à cooperação e receptividade. Os objetivos operacionais dizem respeito à
criação de condições favoráveis ao desenvolvimento, garantindo-lhe continuidade e
segurança.

No Brasil a implantação dos serviços de planejamento familiar teve início em


1965, seguindo a estratégia politica das instituições internacionais. Neste ano aconteceu
um congresso de ginecologia e obstetrícia realizado no Rio de Janeiro, onde um grupo
de médicos apresentou a proposta de que este serviço deveria ser implantado para
reduzir o número de abortos provocados, que levavam muitas mulheres a morte e
sobrecarregavam os serviços de assistência médica previdenciária e beneficente.
(RODRIGUES, 1990, p.66)

Durante a Revolução cultural sexual de 1968, as mulheres de todo o mundo


empunharam a bandeira “o corpo nos pertence” ou “o corpo é nosso”, poucos poderiam
imaginar a profundidade dessas frases. Estas Significavam em sua essência, para
Alambert (2004), uma profunda reflexão sobre a condição de vida da mulher, na qual
seu corpo, apropriado pelo homem, transformara-se no instrumento mais marcante de
sua opressão e dominação. Por isso resgatá-lo consistia em abrir a porta mais importante
para o acesso à sua libertação.

2.2- Movimento Feminista e Planejamento Familiar.


Nos mais de cinquenta anos de atuação das Nações Unidas, as questões sobre
população sempre ocuparam papel de destaque em sua agenda. Criada em 1945, a ONU
estabeleceu sua Comissão de População um ano mais tarde, a qual teve como tarefa,
após calorosos debates, preparar estudos e informar seu Conselho Econômico e Social
sobre tamanho e estrutura populacionais e suas mudanças, interações entre fatores
demográficos, sociais e econômicos e políticas delineadas com o propósito de
influenciar as dinâmicas populacionais. .(BERQUÓ, 1999, p.55)
Entre as conclusões figuraram questões de caráter político sobre a possibilidade
de que o crescimento populacional viesse obstar expectativas de progresso econômico,
de modo que todos os governos deveriam estudar as inter-relações entre população,
crescimento econômico e progresso social e levá-las em conta na implementação de
políticas.
Ainda segundo Berquó, (1999, p.72) uma demonstração de que o mundo
assumiu forte preocupação com o campo da população por meio da ONU foi a
realização da sua primeira Conferência Mundial de População, em Roma, 1954,
contando com a participação de oitenta países. O co-patrocínio da União Internacional
para o Estudo Científico da População (Iussp), ao conferir caráter científico ao encontro,
não evitou um acalorado debate sobre o papel da população no desenvolvimento dos
países capitalistas do Ocidente e daqueles de economia planejada e centralizada, ficando
a maior parte do Terceiro Mundo como mera espectadora. Entre as conclusões
figuraram questões de caráter político sobre a possibilidade de que o crescimento
populacional viesse obstar expectativas de progresso econômico, de modo que todos os
governos deveriam estudar as inter-relações entre população, crescimento econômico e
progresso social e levá-las em conta na implementação de políticas.
Esta conferência foi promovida pelas Nações Unidas, em colaboração com a
União Internacional para o Estudo Científico da População (IUSSP). Inicialmente, ela
tinha um caráter eminentemente científico; houve, entretanto, um acalorado debate
sobre o papel da população no desenvolvimento. De um lado, os países capitalistas
avançados (Primeiro Mundo) defendiam posições neomalthusianas, argumentando que
o alto crescimento populacional poderia ser um entrave ao desenvolvimento econômico.
(CORRÊA et al , 2003, p.06).
Na Conferência de Belgrado no ano de 65, foi feita menção explícita a métodos
contraceptivos como a pílula e o dispositivo intrauterino (DIU), e à esterilização
masculina e ao aborto legalizado quando aceitos pela sociedade. Os países não
alinhados do Terceiro Mundo dividiram-se entre as três visões existentes: controlismo,
natalismo, ou a população concebida como elemento neutro para o desenvolvimento. A
de Belgrado, de 1965, também co-patrocinada pela Iussp, pretendeu igualmente ser uma
reunião de caráter técnico-científico, mas a emergência de certos temas denotou a
permanente presença de uma visão neomalthusiana, embora não se alcançasse consenso.
Salientava-se que os ganhos recentes no controle de doenças poderiam ser
descompensados pela fome e a desnutrição e que em vários países com alta fecundidade
as tentativas de desenvolvimento econômico eram frustradas pelo rápido crescimento
populacional.

Em novembro de 1965, foi criada a BEMFAM-Sociedade de bem estar da


família-que se tratava de uma entidade sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro,
com intervenções em todo o país. Financiada por capital internacional e filiada ao
IPPF(International Planned Parenthood Federation, criado por Margareth Sanger em
1952) , que tinha como estratégia o treinamento de profissionais de saúde para a prática
do planejamento familiar e a prestação direta de assistência exclusiva em ações
contraceptivas. Através de suas unidades próprias ou conveniadas com prefeituras,
sindicatos, secretarias de saúde, universidades, etc.(COSTA, 2006 apud BASTOS,
MIRANDA)

A BEMFAM, segundo Serruya (1993,p.22),considerou como trabalho pioneiro


atuar junto aos médicos no sentido de sensibiliza-los para a questão do planejamento
familiar, ratificando a ideia de usar um saber específico e de grande penetração social
para maior convencimento.

Conforme Rodrigues (1990), sobre a entidade:

A BEMFAM, desde o início, optou por métodos anticoncepcionais


reversíveis, dando prioridade à pílula, que pode ser distribuída facilmente sem
a infraestrutura de um ambulatório ou de um centro cirúrgico. Sua estratégia é
treinar rapidamente uma pessoa da comunidade, geralmente uma atendente de
posto de saúde ou uma parteira, para que entregue o material às mulheres,
apresentando explicações sumárias. Procurou fazer convênio com prefeituras e
secretarias estaduais de saúde, para que pudesse usar a infraestrutura da rede
pública de atendimento médico. Isto permitiu maior penetração na população
de baixa renda (...) (RODRIGUES, 1990, p.67).

Ao lado do trabalho desenvolvido junto à categoria médica, a BEMFAM


promoveu encontros para grupos específicos com a participação de autoridades
governamentais, de políticos, de religiosos, de jornalistas, etc. Em apenas cinco anos, a
entidade promoveu quarenta e nove seminários procurando maximizar sua ação
controlista, através da multiplicação dos seus defensores. (RODRIGUES, 1983, p.27/29
apud SERRUYA, 1993, p.22).

Para Serruya (1993), em que pese toda eficiência da BEMFAM devidamente


somada às facilidades institucionais, fruto de convênios com as prefeituras, é difícil
fazer uma avaliação criteriosa e, principalmente, responsável de uma questão como a
implantação de um sistema de atendimento a população em tempos tão exíguos.

Para a autora, o objetivo destas ações, longe de ter um caráter qualitativo, era
apenas a obtenção de um resultado quantitativo, privilegiando metas que,
provavelmente, eram necessárias para atingir resultados numéricos pré- estabelecidos
pelas agências financiadoras.

Nesse período, como afirma Serruya (1993), a pílula era ao mesmo tempo a
salvadora e a vilã das mulheres, surge então à ligação de trompas. Definitiva, realizada
com precisão cirúrgica unicamente por médicos, a laqueadura tubária era o método
ideal. Tinha como desvantagem inicial era o seu custo, que rapidamente diminuiu graças
às ações das entidades controlistas.
Foi criada em 1967 uma Comissão Parlamentar para investigar denúncias da
existência de “esterilizações maciças” de mulheres brasileiras, porém não chegaram a
nenhuma conclusão. (ALVES, p.01) Na ausência de políticas públicas de saúde,
farmácias e instituições privadas se encarregaram de oferecer métodos contraceptivos
para a população.
Berquó (1999) ressalta que surgiram discussões sobre a possibilidade de o
sistema das Nações Unidas tornarem-se um referencial essencial para ações nacionais e
supranacionais. Assim, os estudos sobre população deveriam ser estendidos além dos
tópicos tradicionais da demografia, da medicina e da biologia. Esta posição, a nosso ver,
foi o sinal decisivo para a ideia da criação, no âmbito das Nações Unidas, do United
Nations Fund for Population Assistance (UNFPA), o que se concretizou em 1969. Vale
salientar que em quatro anos os recursos do Fundo mais que quadruplicaram.
As pesquisas sobre direitos reprodutivos surgem no cenário acadêmico embalado
pela crítica feminista dos anos 70, fundada na constatação das diferenças, visíveis na
perspectiva comparativa, levando em conta as determinações culturais dos sexos,
matéria central da noção de gênero. O movimento feminista vislumbrou as relações de
poder concebidas no convívio “entre homens e mulheres, na família, na cama, além da
esfera pública em geral”(SANTOS apud ARRUDA,2000,p.113).

O movimento feminista nos anos de 1970 articulava lutas contra as formas de


opressão das mulheres na sociedade com lutas pela redemocratização, passam a
defender a regulação da fecundidade como direito de cidadania reivindicando o controle
sobre o corpo e contestando os interesses controlistas. (Coelho et al 2000) os
movimentos sociais lutaram para redemocratização do país, sendo o movimento
sanitário relevante nas questões de saúde e na luta de graves problemas sociais
existentes. Este movimento foi marcado pela conscientização e maior participação da
mulher no mercado de trabalho opõe-se ao discurso dos militares em relação ao controle
demográfico, apresentando posições firmes sobre suas aspirações.

A contracepção sempre foi uma questão muito importante na vida reprodutiva


das mulheres, pois significa o patamar de uma liberdade há muito desejado: a sexual.
Separar sexo e reprodução foi uma das maiores reivindicações do movimento feminista,
que desde a década de 70 luta por uma contracepção segura, em que o prazer “...não
deve estar cativo, acuado pelo medo da reprodução”. (CASTRO, 1992, p.17 apud
SERRUYA, 1993, p.155)

Como afirma Costa (2004), o movimento feminista clamava pela autonomia das
mulheres no que diz respeito à saúde reprodutiva, porém sem identificação com as
argumentações de controle da população. Esta percepção de desigualdades pelos
decorrentes das relações de gênero só foi possível pela análise do pensamento feminista,
o qual transpareceu a existência das relações de dominação, que não se limitavam à
atuação do Estado:

[...] As ideias marxistas foram determinantes para a percepção das formas de


dominação entre os indivíduos. Anteriormente, as ideias liberais, que
contribuíram com o processo de constituição dos direitos civis e políticos,
centravam a dominação em relações de poder basicamente vinculadas as
relações entre Estado/Igreja e pessoas [...]. (BUGLIONE, 2000 apud
PEGORER, p.09, 2010).

Entretanto, apesar das dificuldades para efetivá-los enquanto políticas


públicas, os direitos reprodutivos representam um conjunto de práticas que
mobilizam diversos grupos e organizações feministas, na defesa dos direitos das
mulheres. De maneira ampla, entende-se por direitos reprodutivos a assistência à
saúde das mulheres, a promoção da gravidez, a contracepção, o aborto, a
esterilização, o controle de doenças relacionadas à sexualidade e à reprodução, as
novas tecnologias reprodutivas, além da consciência sobre a expropriação e a
medicalização do corpo; em outros termos, tratam-se dos direitos das mulheres de
regular a sua capacidade reprodutiva e de assumir a autodeterminação sobre seus
próprios corpos.

Segundo Guertechin (p. 104), as declarações do Governo brasileiro a propósito


do problema populacional vêm modificando-se, de uma tendência natalista a uma
atitude controlista. Até 1974, a visão das esferas governamentais era bastante otimista.
Sublinhava-se a dimensão continental do país, os espaços vazios a ocupar em vista da
expansão do desenvolvimento nacional.
No ano de 1974, Ano Mundial da População, o Brasil mudou a sua atitude,
aceitando o princípio do planejamento familiar como meio para frear o crescimento
demográfico visando resolver o problema do emprego e reduzir as tensões sociais. Esta
política vai concretizar-se no decorrer destes últimos anos: legalização da oferta de
oportunidades de informações e meios de controle e uma política de saúde na qual se
insere estímulos em favor do tamanho reduzido das famílias. O projeto do Programa
Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREVSAÚDE) revela uma grande
ambiguidade em saber quem, em última instância, vai tomar ou forçar a decisão.
Entretanto, há uma ausência de participação, neste debate, de setores da sociedade
diretamente atingidos por esta política: os casais e as famílias. (GUERTECHIN, p.105)
Na Conferência de Bucareste, em 1974, a maioria dos países do Terceiro Mundo
alinhou-se na defesa das teses natalistas, sob o argumento de que o crescimento
populacional é um sinal de afirmação nacional e o controle da natalidade seria uma
ingerência dos países mais ricos sobre a soberania dos países pobres. A posição
defendida pela delegação da Índia – “o desenvolvimento é o melhor contraceptivo” –
pode ser tomada como uma síntese das resoluções da conferência. (CORRÊA, et al,
p.06)
A bipolaridade da ONU nas atividades em população torna-se explícita na
terceira conferência, de 1974, em Bucareste: Divisão de População e UNFPA passam a
ter territórios bem-definidos no cenário populacional. Primeira de caráter governamental
oficial, a Conferência de Bucareste foi palco de grandes controvérsias quanto ao
controle populacional.
“Os países em desenvolvimento se opuseram à visão dos mais ricos de que o
rápido crescimento populacional dos países pobres se constituía em séria
barreira ao desenvolvimento. Este foi o momento de maior tensão e
polarização entre "controlistas" e "não-controlistas". Para o bloco socialista a
população seria um "fator neutro", cujos problemas se deveriam unicamente
às injustiças dos sistemas econômicos e à propriedade desigual dos meios de
produção. Embora o Plano de Ação da Conferência não contivesse metas
temporais explícitas para as taxas de fecundidade, estas decorriam de uma
simples aritmética das metas propostas para a taxa anual de crescimento da
população e a expectativa de vida ao nascer. (BERQUÓ, 1999, p.73)

O programa de saúde materno-infantil, lançado pelo Ministério da Saúde, em


1977, foi à primeira ação estatal no sentido de oferecer o planejamento familiar e
contemplava a ação de prevenção da gestação de alto risco. Porém esse programa foi
criticado por seu enfoque limitado e a concepção estreita de pensar a saúde da mulher
apenas em seu escopo materno.

Em 1981, as entidades controlistas fundaram sua representação oficial: a


Associação Brasileira de Entidades de Planejamento Familiar, ABEPF, que reúne cerca
de 120 instituições no Brasil, sendo considerada a maior associação do gênero da
América Latina. Como tal apresenta, entre outros, os seguintes objetivos:

“ I”- Organizar e promover um programa de iniciativa privada, sem fins


lucrativos, para a prestação de serviços de planejamento familiar, a nível
nacional, de acordo com um plano operacional coordenado em nível central,
que assegure sua eficiência e eficácia, mas adaptado às necessidades
regionais e locais;
II- Desenvolver normas, rotinas e procedimentos recomendáveis à prestação
de serviços de planejamento familiar no Brasil;
“III- Influir para uma política que apoie a prestação de serviços de
planejamento familiar no Brasil, revisando a legislação e códigos de ética
em vigor, e propondo modificações compatíveis”. (BERQUÓ, 1986,
p.18)

Em 21 de junho de 1983, por ocasião do seu depoimento na comissão


parlamentar de Inquérito do senador que investigava o crescimento populacional, o
então ministro Waldir Arcoverde apresentou a proposta de criação do PAISM (OSIS,
1994). A proposta apresentada pelo ministro uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI), que fora preparada por uma comissão especialmente convocada pelo Ministério
da Saúde para a redação do programa em abril de 983 e é constituída por três médicos e
socióloga: Ana Maria da Costa, da equipe do Ministério da Saúde (MS) e fortemente
identificada como movimento de mulheres: Maria da Graça Ohana, socióloga da divisão
Nacional Materno-infantil, Aníbal Faúndes e Osvaldo Grassioto, ginecologista e
professor do departamento de tocoginecologia da Universidade Estadual de Campinas.
O trabalho dessa equipe consistiu em definir normas programáticas
especificando quais seriam as bases doutrinaria do Programa que estavam propondo, e
normas técnicas, descrevendo e especificando os diversos procedimentos médicos que
seriam adotados. Tudo indicava que o Ministério da Saúde desejava que o Programa
causasse impacto positivo e pudesse ter sua implementação iniciada imediatamente e de
forma satisfatória. (OSIS, 1994)
O Ministério da Saúde divulgou oficialmente o PAISM em 1984, através de um
documento preparado pela referida comissão: “Assistência Integral à saúde da mulher:
bases de ação programática”. Para estabelecer sua proposta o Ministério partia da
constatação de que o cuidado com a saúde da mulher pelo sistema de saúde até então,
limitava-se um quadro agravado face à “... crescente presença da mulher na força de
trabalho, além do seu papel no núcleo familiar”. (MS, 1985, p.05)
Foi esta perspectiva que prevaleceu no âmbito da CPI, criada em 1983 para
investigar os problemas vinculados ao aumento populacional, no contexto da crise
econômica de 1981-1983. Houve um consenso de que não deveria haver controle
coercitivo da fecundidade no país e que a disponibilidade de métodos contraceptivos é
um direito de todo cidadão, sendo um dever do Estado oferta-los via o sistema de saúde.
As diretrizes do Programa previam a capacitação do sistema de saúde para
atender as necessidades da população feminina, enfatizando as ações dirigidas ao
controle das patologias mais prevalentes nesse grupo; estabeleciam também as
exigências de uma nova postura de saúde da equipe de saúde em face do conceito de
integralidade do atendimento; pressupunha uma prática educativa permeando todas as
atividades serem desenvolvidas, de forma que a clientela pudesse se apropriar “ ... dos
conhecimentos necessários a um maior controle sobre sua saúde”.(MS, 1986, p.16)
Ainda o documento dedicava dois itens ao Planejamento Familiar,
primeiramente situavam-se as atividades voltadas à regulação da fecundidade como
complementares no elenca de ações de saúde materno-infantil, esclarecendo que as
ações do Ministério da saúde para agir nessa área baseavam-se: “... nos princípios de
equidade oportunidade de acesso as informações e aos meios para regulação da
fertilidade por parte da população e de ordem médica, traduzidos”. (MS, 1984, p.16)
Finalmente ainda em relação ao Planejamento Familiar, salientava-se a
necessidade de não se vincular a adoção dessas atividades à solução dos problemas
sociais e econômico do país “... e nem ter ignorado a sua inegável interface com o setor
da saúde (MS, 1984, p.05). Enfim, a postura do PAISM nessa área seria uma
ressonância daquela colocada no Brasil na conferência Mundial de População e
Bucareste, em 1974, ou seja ao estado caberia proporcionar meios e informação para
que todos os brasileiros pudessem planejar suas famílias. (OSIS, 1994)

Conforme Corrêa (1992), as teses feministas sobre as condições de saúde


reprodutiva constituíram um exercício inicial e exemplar de influência dos movimentos
sociais sobre as políticas públicas. Numa conjuntura em que se reestruturava o conjunto
do sistema de saúde, o Programa Nacional de Assistência Integral a Saúde da Mulher-
PAISM- Este é considerado um marco na história das políticas de gênero no país, em
função de seus princípios estruturadores, como a ênfase na dimensão educativa,
“pretendendo-se alterar valores e práticas de saúde de caráter sexista”, e a priorização de
“ações de promoção da saúde das mulheres e não apenas da saúde de seus filhos”
Conforme coloca-nos, desta forma, Alves (2006), foi com base nos conceitos
fundadores do PAISM que o governo brasileiro elaborou a sua posição oficial na
Conferência Internacional de População do México, em 1984. Sob a presidência do
Ministro da Saúde, Waldyr Arcoverde, a delegação brasileira apresentou os seguintes
princípios da política demográfica do Brasil:
1-Soberania total do país na definição e implementação das políticas de
população;
2-Recusa às posições neomalthusianas, demonstrando não ser o crescimento
demográfico a causa dos males dos países em desenvolvimento e muito
menos aceitar o controle demográfico como solução à miséria;
3-A política populacional brasileira não deve contemplar metas pré-fixadas
para o crescimento demográfico, mas preocupar-se com a morbidade,
mortalidade e problemas decorrentes das migrações internacionais;
4- planejamento da prole é direito de todo ser humano e decorre de ações
livres e informadas dos indivíduos e casais;
5-planejamento da prole deve ser integrante do atendimento público à saúde e
a proteção dos usuários deve ser proporcionada pelo setor público, através de
órgãos competentes;
6-A atuação do governo brasileiro quanto ao planejamento da prole está
assegurada dentro de uma estratégia de assistência integral à saúde da
mulher.

Em um consenso entre diferentes movimentos sociais, como o de mulheres,


sanitaristas, demógrafos, cientistas sociais e militantes de partidos políticos, no interesse
da regulação da fecundidade, em 1983, foi criado o Programa de Assistência Integral da
Saúde da Mulher (PAISM), pelo Ministério da Saúde, através da Divisão Nacional de
Saúde Materno Infantil, sendo atendida a reivindicação do movimento feminista ao
direito do controle sobre o corpo, através do subprograma Planejamento Familiar. Com
isso, o Estado brasileiro assume publicamente uma política de Planejamento Familiar, a
qual reconhece que “todas as pessoas têm o direito à livre escolha dos padrões de
reprodução que lhes convenham como individuo ou casal” (BRASIL, 1987)
Em 1986, a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
divulgou os dados provenientes da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios(Pnad), permitindo que se tomasse conhecimento de que o País apresentava
um índice significativamente alto do uso de algum tipo de controle da contracepção ou
estavam esterilizadas. O dado foi visto como alarmante. O Congresso Nacional instalou
uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), para investigar a questão
(BERQUÓ, 1996 apud MACAUBAS, p.22). Um dos consensos a que se chegou, foi a
necessidade de regulamentar a esterilização cirúrgica e todas as ações para o
planejamento familiar.

A CPMI sobre a Esterilização de Mulheres, analisando as atividades exercidas


pelas agências controlistas, concluiu que a BEMFAM tem como atividade principal o
controle populacional, com a venda de serviços e comercialização de produtos, que a
descaracterizaram como entidade filantrópica e de utilidade pública. Reconhece também
que:

“(...) a persuasão através dos meios de comunicação, seminários,


congressos, grupos de parlamentares criados pela IPPF etc., com vistas à
alteração de legislação que favoreça os objetivos controliastas da IPPF e da
AID, constitui de fato uma interferência em assuntos internos no País”.
(BRASIL,1992,p.84 apud SERRUYA,1993,p.27).

As modificações essenciais ocorreram no plano das práticas, que, por sua vez,
repercutiram no plano dos valores e paulatinamente foram mudando as representações
de família na sociedade brasileira. A esse respeito ela assinala três grandes
transformações. Primeiro, ocorreu à separação da sexualidade e da reprodução: o
número de filhos começa a ser previsto ou planejado. Segundo, a reprodução dissociou-
se do casamento: não há mais filhos ilegítimos. E, finalmente, a sexualidade dissociou-
se do casamento: reconheceu-se o direito às uniões consensuais. Estas transformações
marcaram de tal forma a sociedade brasileira, que a lei brasileira teve que adaptar e
assimilar uma série de mudanças. (FUKUI apud NASCIMENTO, p.12).
O texto constitucional de 1988 reconheceu o Planejamento Familiar como um
direito de todo cidadão, cabendo ao Estado oferecer informações e todos os meios
necessários para o exercício desse direito, o qual não deve ser vinculado a políticas de
controle demográfico, sendo proibida a manipulação de qualquer medida coercitiva para
determinar o Planejamento Familiar ou o número de filhos. Com isso, ficando
claramente explicita a liberdade de decisão do casal e a responsabilidade do Estado em
prover recursos educacionais e científicos para o exercício deste direito. No entanto, o
estabelecido na Constituição não se concretizou de imediato, sendo necessários ainda
outros debates, bem como normatizado seus procedimentos.
Na década de 1990, as feministas brasileiras começam a participar mais
ativamente dos fóruns políticos internacionais, a partir do ciclo de Conferências
Mundiais das Nações Unidas, que se iniciou em 1992 com a Conferência do Rio de
Janeiro sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (ECO-92). Uma rede feminista das
ONGs de mulheres foi organizada para introduzir a questão de gênero nas discussões
preparatórias da ECO-92. Um número crescente de organizações de mulheres trabalhou
na preparação da Conferência de Viena sobre Direitos Humanos. Em 1994, os
preparativos da Conferência do Cairo sobre Desenvolvimento e População articularam
um grande número de mulheres por meio da Rede Nacional Feminista de Saúde e
Direitos Reprodutivos. Mas, a participação em cada um destes processos preparatórios
ficou muito restrita a setores especialistas do movimento. (idem, ibdem)
A CIPID (1994), beneficiando-se da Conferência de Direitos Humanos de Viena
(1993), reafirmou a aplicação dos direitos humanos a todos os aspectos das questões
populacionais. Embora não explicitasse metas demográficas, como a conferência
predecessora, o neomalthusianismo esteve presente em seus preâmbulos, ressurgindo ao
longo do Plano de Ação. Assim, após chamar a atenção para o tamanho da população
mundial e seu incremento absoluto, enfatizou que esta situação continuaria até 2015 e
que no curso dos seis anos restantes da década as nações fariam opções, mediante sua
ação ou inércia, quanto a seus futuros demográficos. (idem, 1999)

Em lugar de metas demográficas, os países afirmaram o compromisso de


promover o desenvolvimento por meio da promoção dos direitos humanos, em especial
do fortalecimento da cidadania, o acesso universal à saúde, à informação e aos serviços
de saúde sexual e reprodutiva de maneira a permitir escolhas responsáveis e a equidades
entre os sexos. O plano de Cairo introduziu o conceito de direitos reprodutivos,
enfatizando as necessidades de saúde reprodutiva inter-relacionadas com outros direitos
sociais e individuais. (VENTURA, 2004)

A Plataforma de Ação aprovada na CIPD do Cairo é considerada uma “mudança


de paradigma” que instituiu a prevalência de um enfoque humanista no trato do
problema populacional (Alves, 1995). Para o economista indiano, ganhador do Prêmio
Nobel, Amartya Sen (1995) o Programa de Ação do Cairo permitiu superar duzentos
anos de pessimismo e autoritarismo malthusiano, resgatando a perspectiva otimista de
que a cooperação pode prevalecer nas questões demográficas.
Segundo Corrêa e Sen (1999, apud Alves, 2006), a Conferência do Cairo contou
com uma ampla pluralidade de vozes, o que foi um elemento fundamental na
democratização do debate e na afirmação dos seguintes princípios:
1-Retoma os princípios expressos na Conferência de Bucareste sobre o
direito ao desenvolvimento como uma meta universal e inalienável,
adicionando as preocupações sociais e ambientais, além de tratar do
problema das desigualdades nacionais e internacionais, enfatizando a
necessidade da erradicação da pobreza entre as mulheres, da redução da
produção e do consumo não-sustentáveis e de investimentos em seres
humanos e na segurança alimentar.
2-Abandona a linguagem de “status da mulher” em favor de um
reconhecimento explícito das relações desiguais de poder e recursos entre os
gêneros, avançando na formulação do conceito de empoderamento das
mulheres, ao mesmo tempo em que recomenda programas de educação dos
homens voltados para a assunção deum comportamento mais responsável.
3-Reconhece a multiplicidade de formas dos arranjos familiares existentes ao
invés de receitar um padrão único de família.
4- Reafirma as definições da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre
saúde sexual e reprodutiva e define os direitos reprodutivos como o direito de
tomar decisões sobre a reprodução livre de discriminação, coerção e
violência.
5-Reconhece o aborto inseguro como um grave problema de saúde pública, o
mesmo se aplicando à epidemia de HIV-AIDS.
6-Estabelece regras de parceria e colaboração entre governos, ONGs e o setor
privado e define recursos financeiros voltados para a regulação da
fecundidade, os serviços de saúde reprodutiva, para HIV-AIDS e para a
pesquisa e a coleta dedados.

A definição de saúde sexual e reprodutiva foi aprovada da seguinte forma na


Conferência do Cairo:
“A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não de mera ausência de doença ou enfermidade, em todos
os aspectos relacionados ao sistema reprodutivo, suas funções e processos. A
saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida
sexual segura e satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade
de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo. Está implícito nesta
última condição o direito de homens e mulheres de serem informados e de
terem acesso aos métodos eficientes, seguros, aceitáveis e financeiramente
compatíveis de planejamento familiar, assim como a outros métodos de
regulação da fecundidade a sua escolha e que não contrariem a lei, bem
como o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que propiciem às
mulheres as condições de passar com segurança pela gestação e parto,
proporcionando aos casais uma chance melhor de ter um filho sadio. Em
conformidade com a definição acima de saúde reprodutiva, a assistência à
saúde reprodutiva é definida como a constelação de método, técnicas e
serviços que contribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo
e resolvendo os problemas de saúde reprodutiva. Isto inclui igualmente a
saúde sexual, cuja finalidade é a melhoria da qualidade de vida e das
relações pessoais e não o mero aconselhamento e assistência relativos à
reprodução e às doenças sexualmente transmissíveis”.

Segundo Alves (2006) a definição de Direitos Reprodutivos foi aprovada da


seguinte forma na Conferência do Cairo:
“Os direitos reprodutivos abrangem certos direitos humanos já reconhecidos
em leis nacionais, em documentos internacionais sobre direitos humanos em
outros documentos consensuais. Esses direitos se ancoram no
reconhecimento do direito básico de todo casal e de todo indivíduo de
decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a
oportunidade de ter filhos e de ter a informação e os meios de assim o fazer,
e o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva.
Inclui também seu direito de tomar decisões sobre a reprodução, livre de
discriminação, coerção ou violência” (§ 7.3).

Soares (1994), afirma que no ano de 1994, o início dos preparativos para a IV
Conferência Mundial das Mulheres, realizada em 1995, proporcionou excelente
oportunidade para o fortalecimento dos movimentos feminista e de mulheres. Inúmeros
grupos feministas e centenas de grupos de mulheres construíram uma diversa e
complexa rede de cooperação para a preparação da Conferência, de proporções
realmente nacionais. Estavam incluídas as organizações de mulheres negras,
movimentos de mulheres urbanos e rurais, grupos das periferias das cidades,
trabalhadoras das centrais sindicais, organizações de lésbicas, sindicatos de empregadas
domésticas, feministas acadêmicas, associações de prostitutas, entre outras.
A mesma autora afirma que se impulsionou um grande debate público sobre a
desigualdade das mulheres. Com o objetivo de fortalecer e unificar o movimento de
mulheres independente das diferenças ideológicas e políticas foi organizado uma
coordenação: a Articulação de Mulheres Brasileiras para Beijing-95. Esse processo
gerou uma agenda genuína do movimento de mulheres no Brasil, centrada nas
necessidades das mulheres de todas as classes e grupos étnico-raciais. Os anos 90
demonstram que o feminismo multiplicou os espaços e lugares em que atua e,
consequentemente, onde circula o discurso feminista. O movimento das mulheres
levanta a bandeira da autonomia, da pluralidade constituindo em sua pauta as
reivindicações das mulheres pobres, trabalhadoras, negras, lésbicas, sindicalistas,
ativistas católicas progressistas e de outros setores do movimento de mulheres
incorporando elementos centrais do ideário e do imaginário feministas, reelaborados de
acordo com suas posições, preferências ideológicas e identidades particulares. Assim,
muitos feminismos são construídos. As mulheres dos movimentos pertencem a grupos e
classes sociais muito diversos, a raças e etnias diferentes, com sexualidades e trajetórias
políticas distintas. (ALVAREZ, 1988 apud SOARES, 1994, p. 14) usa o termo mosaico
de diversidade. Quando descreve os movimentos presentes no processo da IV
Conferência Mundial da Mulher, em 1995.
Os anos 90, conforme coloca-nos Soares (1994), também se caracterizaram pela
introdução de novas temáticas: as ações afirmativas, as cotas mínimas de mulheres nas
direções dos sindicatos, partidos políticos e, mais recentemente, nas listas de
candidaturas aos cargos legislativos, como medidas para superar a quase ausência das
mulheres nesses ambientes. Recentemente, a luta pelo direito das mulheres ao aborto
tem sido alvo de muitos debates e reportagens na grande imprensa. Esse é um velho
tema das feministas, mas no Brasil só após a democratização tem envolvido em maior
número as mulheres. (SOARES, 1994, p.15)
Segundo Pereira* no Estado do Pará a luta dos movimentos feministas do campo
e da cidade, pela saúde da mulher ganhou força com a Conferência de Beijim, sendo
realizado diversos eventos com o intuito de mobilizar as mulheres e os seguimentos
governamentais para o cumprimento das metas de Beijjim.Assim:

“Em 1995 realizou-se uma conferência em Belém para tratar especificamente


da Saúde da Mulher (Programa PAISMCA).neste encontro reuniram-se
representantes dos governos estaduais e municipais. Os temas principais do
evento foram: a saúde da mulher, violência contra a Mulher, Aborto legal e
os Direitos Reprodutivos”. (Gonçalves, 2002:43)

Durante este período iniciaram-se as discussões com os órgãos estaduais de


saúde sobre a demora no resultado do exame Preventivo do Câncer do Colo Uterino
(PCCU), capacitação dos técnicos para tratar a saúde feminina, realização de campanhas
para a prevenção do Câncer Cérvico Uterino, implantação do programa aborto legal,
bem como se intensificou a “participação das mulheres nos órgãos de Controle Social
ligados a saúde, como estratégia de incentiva-las a ocuparem os espaços em cargos nos
conselhos de saúde”.
Em 1998, outro importante encontro foi realizado, evidenciando que a questão
da saúde feminina ganha destaque no cenário estadual:
“Em Belém houve um seminário em 1998 para tratar exclusivamente da
Saúde Feminina, que levou em consideração a precariedade do sistema de
saúde e a forma como as mulheres eram tratadas pela instituição, sem
respeito na hora do atendimento. Dessa forma o Pará se inseriu no contexto
de luta nacional e internacional”. (GONÇALVES, 2002:42 apud PEREIRA)

O Fórum de Mulheres da Amazônia aglutinou as lutas comuns dos diversos


grupos de mulheres, estabelecendo como metas: A Luta pela Saúde da Mulher - A Luta
Contra a Violência Doméstica, pelo Trabalho e Geração de Renda e a Participação
Popular.

Como podemos observar paulatinamente as lutas focais por saúde, empregos,


etc, vão se ampliando e inserindo-se no contexto das discussões macro da sociedade, as
mulheres vão conquistando espaço no cenário nacional e estadual, passando a fazer
parte como sociedade civil organizada dos conselhos de Saúde, elaborando material
(cartilhas, livros, etc), organizando seminários, participando de encontros da Rede
Nacional de Saúde e de Direitos Reprodutivos e da elaboração das políticas voltadas
para o seguimento.

Em relação ao Estado do Pará que possui dimensões territoriais de um país, o


esforço foi de mobilizar os 143 municípios para o atendimento das mulheres dentro da
ótica de gênero. Trabalho árduo, pois a realidade naquele período revelava que muitos
sequer dispunham de postos de saúde. As grandes distâncias, as peculiaridades da região
amazônica, a cultura, a falta de equipamentos de saúde, profissionais capacitados,
formavam os entraves a serem equacionados com vistas ao atendimento da saúde da
mulher amazônida. (PEREIRA, p. 04)

As décadas de 1990 e 2000, no Brasil, passaram a ser marcadas pelo


neoliberalismo, que caracterizou também a relação de quase todos os países do globo. A
agenda neoliberal comporta um processo de desmonte e retrocesso das conquistas,
alcançadas através de muita luta, no texto constitucional. O que se presencia a partir
destas décadas, sob discurso de redução de gastos, são as privatizações dos serviços, a
terceirização, o voluntariado, o atendimento focalizado e clientelista, entre outros
mecanismos utilizados com o propósito de limitar o acesso aos serviços públicos pela
população, quando estes são oferecidos, entretanto, observa-se uma valorização e o
incentivo dos serviços privados (BRAVO, 2001, p.29).

CAPÍTULO III
3- A política Pública sobre Planejamento Familiar.
3.1- O Programa de Planejamento Familiar: Balizas Legais.

A Lei estabelece como Planejamento Familiar o conjunto de ações que regula a


fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole
pela mulher, pelo homem ou pelo casal. De acordo com o artigo 4º da Lei, “o
planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e educativas e pela garantia de
acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação
da fecundidade”. Define ainda, em seu artigo 5º que, “é dever do Estado, através do
SUS, em associação, no que couber, às instâncias competentes do sistema educacional,
promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que
assegurem o livre exercício do planejamento familiar”. No artigo 9º, da Lei de
Planejamento Familiar, define que “para o exercício do direito ao planejamento, serão
oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente
aceitas e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantida a liberdade
de opção”.
A consagração do direito ao planejamento familiar está explícita na Constituição
Federal de 1988, parágrafo 7 do Art.226, que estabelece “Art. 226. A família, base da
sociedade, tem especial proteção do Estado: Fundado nos princípios da dignidade da
pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do
casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
oficiais ou privadas”. Assim o direito ao acesso aos serviços de planejamento familiar as
políticas de controle demográfico, estas diretrizes configuram a liberdade de decisão do
casal e a responsabilidade do Estado em prover recursos educacionais e científicos para
seu exercício. (COSTA, A.M, 2006, p.05)
No entanto, o artigo 10º da Constituição, que trata da esterilização foi vetado
pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 15 de janeiro de 1996. Foi somente em
1997 que o Congresso Nacional derrubou o veto e publicou no Diário Oficial, com a
seguinte composição:
Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes
Situações:
I – em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25 anos
de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo
mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico,
período no qual será propiciado a pessoa interessada acesso ao serviço de
regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe
multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce.
II – risco a vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado
em relatório escrito e assinado por dois médicos.

Na Lei está explicita a proibição de esterilização de mulheres durante o parto ou


aborto, com exceção de comprovada necessidade, como por exemplo, nos casos de
sucessivas cesarianas. Ficou estabelecido ainda, que a cirurgia só pode ser feita pelo
menos sessenta dias após a manifestação da vontade registrada. Neste período, o
interessado deve ser informado dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais,
dificuldade e/ou impossibilidade de reversão e ainda das opções de contracepção
reversíveis. Ressalta-se ainda que a manifestação da vontade não possa ser considerada
válida se for registrada quando a pessoa interessada estiver bêbada, drogada, que seu
estado emocional esteja alterado ou incapacidade mental temporária ou permanente. É
importante destacar que, no artigo 13º da Lei, é proibida a exigência de atestado de
esterilização para qualquer fim.
Segundo Alves (2006, p. 44):

O movimento feminista, em sua grande maioria, é a favor da regulação


voluntária da fecundidade. Mas existem várias correntes feministas que
consideram que o planejamento familiar é uma forma disfarçada de controle
da natalidade e denunciam, principalmente, a ausência dos homens no
processo de regulação da fecundidade e protestam contra aqueles métodos
anticoncepcionais que prejudicam a saúde da mulher. Várias protestam,
também contra o excesso de laqueaduras tubárias no Brasil, por ser um
método contraceptivo irreversível ou por ser um método que “mutila” o
corpo da mulher.
Com a proximidade das eleições presidenciais, setores do feminismo brasileiro,
conscientes da necessidade de uma atuação conjunta e articulada no sentido de garantir
um compromisso por parte dos candidatos com as demandas das mulheres, lançam
através da articulação das diversas redes nacionais de mulheres o processo de
construção da Plataforma Política. Durante os meses de março e maio foram realizadas
26 Conferências Estaduais, mais de 5.000 ativistas dos movimentos de mulheres de todo
o país participaram dos debates. Em junho foi realizada em Brasília a 4º Conferência
Nacional de Mulheres Brasileiras com a participação de 2000 mulheres delegadas das
conferências estaduais e representantes das redes nacionais. (COSTA, A.A, 2008, p.03)
Ainda afirma que nesse processo, os debates afirmaram, segundo a Articulação
de Mulheres Brasileiras,

“... a relevância estratégica do Estado e dos governos para a justiça social,


mas demonstraram também a necessidade de transformação do próprio
Estado, ainda patriarcal e racista e hegemonizado pelas classes dominantes.
Os debates na Conferência de Mulheres Brasileiras demonstraram ainda a
importância de alterar a orientação governamental vigente nas políticas
públicas, marcadas pela lógica de mercado na gestão pública, destituição de
direitos, clientelismo, privatização do Estado e redução de investimentos na
área social com exploração do trabalho voluntário ou mal remunerado das
mulheres na execução de políticas sociais” (2004).

A Plataforma Política resultante desse processo foi entregue formalmente a


todos os candidatos à presidência da República, aos governos dos estados, aos dirigentes
partidários, deputados e senadores, além de amplamente divulgada através da imprensa.
Lula, o candidato que foi eleito, assumiu formalmente seu compromisso em fazer
cumprir essa Plataforma.
Em 2004, lançando mão dessa experiência de mobilização política das
mulheres, Lula, o presidente eleito, através da Secretaria Nacional de Políticas para as
Mulheres, convoca a I Conferência Nacional de Políticas Públicas para Mulheres, com o
objetivo de “propor diretrizes para a fundamentação do Plano Nacional de Políticas para
Mulheres” (BRASIL/SPM.2004 apud COSTA, 2008, p.04).
Consciente da necessidade de seguir criando novos espaços de interlocução com
o governo ou aproveitando os espaços já institucionalizados para avançar na conquista
de políticas públicas, o movimento organizado de mulheres feministas respondeu
positivamente participando ativamente em todas as etapas do processo de construção da
Conferência e consolidação das propostas. Calcula-se que aproximadamente 500 mil
mulheres se envolveram nesse processo, espalhadas por todo o país. As propostas
aprovadas constituíram-se nas “... diretrizes da política nacional para as mulheres na
perspectiva da igualdade de gênero, considerando a diversidade de raça e etnia”
(Brasil/SPM. 2004.p.11), que passaram a orientar a política governamental através do
Plano Nacional de Igualdade para as Mulheres. Segundo consta no Plano, essa política
tem “... como compromisso e desafio intervir nas ações do Estado, de forma a promover
a equidade de gênero, com respeito às diversidades” (BRASIL/SPM. 2004.p.31).
A presença da perspectiva feminista está presente ao longo de todo o texto do
Plano Nacional de Política para as Mulheres, isso fica muito demarcada no item que
trata da “autonomia das Mulheres”, ao ser estabelecido:

“... deve ser assegurado às mulheres o poder de decisão sobre suas vidas e
corpos, assim como as condições de influenciar os acontecimentos em sua
comunidade e país, e de romper com o legado histórico, com os ciclos e
espaços de dependência, exploração e subordinação que constrangem suas
vidas no plano pessoal, econômico, político e social” (BRASIL/SPM.
2004.p.33).

O Planejamento Familiar conceitua-se como um conjunto de ações de regulação


da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da
prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal, dentro de uma visão de atendimento
global e integral à saúde e cujos gestores do Sistema Único de Saúde têm que se fazer
presentes na prestação de ações voltado a este público.
Segundo a Portaria SMS.G Nº 497, de 25 de março de 2006, deve compor o
planejamento uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos,
assistentes sociais, enfermeiros e equipes de apoio/suporte. Quanto aos métodos
contraceptivos reversíveis, estes devem estar disponíveis na rede de saúde do município,
bem como os serviços de atenção básica têm que estar preparados para atender esta
demanda especializada e tem que atender as situações previstas na Lei 9.263/96 do
Ministério da Saúde.

3.2-A Santa Casa de Misericórdia e o Programa de Planejamento Familiar.


A Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, constitui-se como uma
instituição secular, originária da confraria da Misericórdia, fundada em fevereiro de
1616, sendo que seu primeiro hospital foi fundado em 1660, trazendo em seu rastro
assistência aos pobres, à infância abandonada, aos enjeitados, os filhos de relações
ilegítimas, em troca de assistência recebiam ajuda financeira das famílias abastadas para
cuidar das crianças e de todos aqueles que se encontravam a margem da sociedade.

Em 1890, foi construído o atual prédio da Santa Casa, localizado no Bairro do


Umarizal em Belém. Gerenciado por muitas décadas pela congregação religiosa “irmãs
filhas de Sant’Ana”, mas por problemas financeiros passou a ser administrado pelo do
Estado. Depois de 1985 a instituição foi transformada em Fundação Pública, legitimada
em 1990.

A Fundação é referência no atendimento materno-infantil e patologias


ginecológicas, considerada a maior maternidade do Estado do Pará. Além dos pacientes
da capital atende demandas oriundas das mesorregiões do Estado e de Estados vizinhos
como Maranhão, Piauí e Amapá.

Com base em documentos recebidos para consulta no estágio o Ambulatório da


Mulher foi inaugurado em 1° de Outubro de 2008, como um espaço especializado em
ginecologia. Anteriormente funcionava em um antigo espaço anexo à Santa Casa,
conhecido como “tijolinho”, a mais de 30 anos. Era utilizada como campo de estágio
para alunos de medicina da Universidade Federal do Pará.

Com as novas instalações o Ambulatório passou a ampliar as especialidades,


assim como o numero de profissionais e equipamentos para a realização de exames no
próprio ambulatório. Nele também é oferecido a população o Programa de Planejamento
Familiar ( Lei n° 9.263, de 12 de janeiro de 1996), que regulamenta o Art. 226 da
Constituição Federal do Brasil, que dispõe do seu Art. 1° “ O Planejamento familiar é
direito de todo cidadão”.

O atual Ambulatório da Mulher da FSCMPA, foi inaugurado no dia 1º de


outubro de 2008, é um serviço de ginecologia e obstetrícia especializado, que atende
mulheres na faixa etária de 0 a 90 de idade para diagnóstico e tratamento, desde que seja
encaminhada da unidade de saúde da Secretaria de Saúde dos municípios, através da
regulação (Central de marcação de consultas especializadas do SUS).
A equipe multidisciplinar é composta por diferentes especialidades de saúde,
como médico, enfermeiros, assistente social, psicólogos, técnicos de enfermagem
nutricionista e recepcionistas. O atendimento é realizado de forma humanizada e
acolhedora desde a sua chegada até seu atendimento, valorizando a fala dos pacientes,
sua autonomia, respeitando a privacidade das informações, bem como a escuta
qualificada possibilitando assim, trabalhar as preocupações e angústias, analisar e
responder as demandas dos usuários.

Para ter acesso às consultas e exames oferecidos no ambulatório, é necessário


que a Unidade de Saúde onde o paciente foi atendido e avaliado, encaminhe para
consulta especializada, por meio de uma ficha de referência e contra referência, desde
que esgotados todos os recursos para tratamento na atenção básica (Unidade de Saúde).

O Programa de Planejamento Familiar na FSCMPA foi implantado em 1998,


para atender a Lei 9.263/96, que preconiza a dimensão informativa, buscando promover
acesso ao direito, meios e técnicas disponíveis, como a esterilização, que garantam à
usuária e/ou casal, a decisão livre e consciente sobre o número de filhos que desejam
ter.
A Instituição recebe pacientes referenciadas pela Rede Básica de Saúde, Rede
Especializada ou demanda espontânea. O fluxograma de atendimento na Fundação dá-
se através de encaminhamento pelo médico para o Serviço Social, onde será agendada
uma palestra que é oferecida uma vez por mês, sobre saúde reprodutiva e orientação
sobre todos os métodos contraceptivos.
Depois da participação na palestra, o usuário(a) é encaminhado para entrevista
com a Assistente Social, onde o profissional busca levar ao interessado a pensar sobre
as implicações do método definitivo, como possíveis arrependimentos. Na entrevista é
possível conhecer as motivações para a opção da esterilização, como: satisfação com a
prole, problemas de saúde, situação financeira, etc.
O tempo de espera para realização da laqueadura tubária é de em média três
meses, assim que retorna ao médico para realização de exames e elaboração do parecer
social e psicológico emitidos respectivamente pela Assistente Social e Psicóloga.
CAPÍTULO IV

4- O Perfil Socioeconômico e cultural das usuárias que optaram pela esterilização


na FSCMPA.
4.1- Percursos metodológicos
A pesquisa realizada sobre o Programa de Planejamento Familiar da FSCMPA
teve como objetivo elaborar o perfil socioeconômico e cultural dessas usuárias, a fim de
perceber as determinantes à contracepção definitiva. E para tal buscou-se conhecer as
ações e os serviços de Planejamento Familiar oferecidos na instituição e a partir dos
dados coletados, na tentativa de identificar a motivação das usuárias com idade
reprodutiva para a realização da esterilização feminina, atendidas no Ambulatório da
Mulher de 2008 a 2012.

Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, visando compor o


referencial teórico que irá paradigmatizar o processo analítico desse estudo, que
contemplará o tema do Planejamento Familiar e também o objeto analisado. Fazendo
um resgate sobre a teoria malthusiana sob a qual se relacionava reprodução com
pobreza perpassando a maioria dos debates sobre democracia até a divulgação da Lei de
Planejamento Familiar em 12 de janeiro de 1997.
Em um segundo momento uma pesquisa exploratória qualitativa, utilizando
como instrumentais informações em sites, dissertações, artigos e bibliografias para
reflexão sobre o objeto abordado. Para o conhecimento do perfil das usuárias que
optaram pela esterilização no planejamento familiar, realizou-se coleta de dados nos
questionários socioeconômicos preenchidos pelo Assistente social no Ambulatório da
Mulher, nos anos de 2008 a 2012.
Os dados permitiram a elaboração do perfil das mulheres, incialmente os dados
pessoais, dados socioeconômicos e culturais. Os dados quantitativos serão apresentados
em forma de tabelas e gráficos e dados qualitativos serão descritos.
Os dados e as informações coletados serão submetidos a um processo analítico e
interpretativo qualitativo e quantitativo. O procedimento para a análise dos dados se
dará através da técnica análise de conteúdo que constará dos seguintes procedimentos:
descrição e codificação dos registros obtidos dos sujeitos pesquisados a fim de
compreender o sentido das unidades de análise, como afirma Mirian Goldenberg

“(...) Os cientistas sociais, que pesquisam os significados das ações sociais de


outros indivíduos e deles próprios, são sujeito e objeto da pesquisa. Estes
buscam compreender os valores, crenças, motivações e sentimentos humanos,
compreensão que só pode ocorrer se a ação é colocada dentro de um contexto e
significado.” (GOLDENBERG apud WEBER, p. 19, 1997)

Ao realizar uma pesquisa qualitativa volta-se a Minayo et al (2012,p. 21), quando


fala que
“ A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa,
nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria
ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos
motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse
conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade
social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o
que faz por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e
partilhada com seus
Semelhantes”.

Assim busca-se conhecer a realidade socioeconômica e cultural da usuária do


Programa neste espaço de tempo, pois o número elevado de mulheres que optaram pela
cirurgia com interesse de não ter mais filhos, pode ser analisado a partir das
determinantes encontradas nos dados obtidos, portanto na tentativa de interpretar suas
iniciativas à anticoncepção definitiva.

4.2- Perfil das usuárias Esterilizadas no Planejamento Familiar da FSCMPA

Tabela 1- Usuárias segundo faixa etária, 2008-2012

Faixa etária Usuárias %


18 – 22 1 1
23 – 27 21 26
28 – 32 27 34
33 – 37 21 26
38 – 42 9 11
43 – 47 1 1
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

De acordo com a Tabela 1, a faixa etária das mulheres atendidas no Programa de


Planejamento Familiar da FSCMPA variou de 18 a 47 anos, nos seguintes percentuais:
18 a 22 anos, 1%; 23 a 27 anos, 26%; 28 a 32 anos, 34%; 33 a 37 anos, 26%; 38 a 42
anos, 11% e de 43 a 47 anos, 1%.
Segundo os resultados obtidos por meio do instrumento de coleta de dados,
observou-se que das 80 usuárias submetidas à intervenção cirúrgica definitiva, um
elevado percentual de mulheres esterilizadas tinham idades compreendidas entre 28 a 32
anos, sendo mulheres em idade reprodutiva. Os dados revelam que as mulheres estão se
submetendo à esterilização voluntária com um número significativo de mulheres ainda
jovens, porém prevaleceu o maior percentual em idades mais avançadas, considerada
“madura” .
Pode-se dizer hipoteticamente que esse fato esta relacionado ao pressuposto de
que essas mulheres tenham iniciado sua vida reprodutiva precocemente, com breve
intervalo interpartal, ou seja, entre um parto e outro, ou até mesmo esteja associado com
a questão da cultura de esterilização. Pois de acordo com Berquó, o Brasil possui uma
"cultura da esterilização" que trata-se de "uma rede familiar e social envolvida no
processo de difusão da esterilização que permeia gerações, raças e classes
sociais"(1994:19). Este processo de difusão da esterilização passa de mãe para filha, de
irmã para irmã, de amiga para amiga e acrescentamos de colega de trabalho para colega,
de patroa para empregada doméstica, enfim, é inter e intrageracional e perpassa todo o
tecido social.

Tabela 2-Usuárias segundo número de filhos, 2008-2012

Número de Filhos Usuárias %


Entre 1 e 2 filhos 45 56
Entre 3 e 4 filhos 28 35
Entre 5 e 6 filhos 6 8
Entre 9 e 10 filhos 1 1
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Com relação a Tabela 2, Esses dados revelam que 56% das usuárias, possuem
até dois filhos e apenas 1% tem entre 9 a 10 filhos. Considera-se que a maioria das
mulheres que optaram pela laqueadura tubária foi mais frequente em mulheres com o
menor número de filhos, pode-se acreditar que estas mulheres teriam vivenciado a
experiência de uma gravidez não planejada e pra que não ocorresse este fato, decidiram
eliminar as possibilidades de novas gestações.

Essa mudança ocorrida em relação ao numero de filhos, demostra um novo


contexto social, que essa mulher esta inserida, rompendo com os limites de ser
reprodutora e mãe, passando a ter uma posição de maior autonomia na sociedade. Essa
mulher da atualidade participa ativamente do mercado de trabalho. Não há dados
anteriores, mais há relatos de que as famílias paraenses tinham grandes números de
filhos. A fecundidade passou a integrar os direitos individuais. No século 21, a mulher
tem a metade dos filhos que a geração de sua mãe. Berquó (1990) afirma que já existe,
no Brasil, por parte da mulher ou do casal "uma intenção reprodutiva no sentido de
reduzir o número de filhos e que a demanda por serviços de planejamento familiar é
maior do que a oferta".

Para a autora Serruya, as mulheres consentiram em uma transformação apenas


numérica da maternidade, diminuindo cada vez mais o número de filhos, mas
fundamentalmente mantendo-se mães, até mesmo de um filho só, ou seja considerando
o sentimento maternal sagrado e intocável. Entende-se para essas mulheres não mais
interessa grandes números de filhos, devido ao contexto atual, no qual elas se
encontram. Mas prevalece a preocupação de ser uma boa mãe para seus filhos.

Tabela 3: Usuárias segundo escolaridade, 2008-2012

Escolaridade Usuárias %
Fundamental completo 34 42,5
Médio completo 41 51,3
Superior completo 1 1,3
Não informado 4 5,0
Total 80 100,0
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Grafico 1-Usuárias segundo Escolaridade, 2008-2012


Usuárias

1% 5%

43% Fundamental completo


Médio completo
51%
Superior completo
Não informado

Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

A Tabela 3 e o Gráfico 1, demostra que a maior demanda das usuárias, 51%


possuíam ensino médio completo; 43% completaram o ensino fundamental; 5% não
informaram e apenas uma usuária tinha o ensino superior completo. Se valendo desses
dados, o que se observa quanto o grau de instrução da mulher, é que o crescimento nos
percentuais, no período analisado, ocorreu principalmente para as participantes com
maiores níveis de instrução, são mulheres com estudo mediano, capazes de ter
consciência dos pros e contras da esterilização cirúrgica. Considera-se a variável
educação como um ponto muito importante que contribui significativamente para o
nível de informação e cuidado da mulher. No que se refere aos métodos contraceptivos
é fundamental, que as usuárias assimilem, compreendam as informações repassadas pela
equipe multidisciplinar, quanto ao uso do medicamento, frequência, efeitos adversos e
composição. Pois além de possibilitar orientações sobre conhecimento dos métodos
contraceptivos e do uso mais apropriado para cada mulher.
Dessa forma, contribui para que as mesmas usufruam o direito básico  de decidir
livre e responsavelmente ter ou não ter filhos, sobre o número, a melhor hora de
engravidar e o espaçamento entre ter filhos/as e de ter a informações os meios de assim
o fazer. Isso pode significar um rompimento com a vida reprodutiva e um desejo de
vivenciar a sexualidade de forma prazerosa, saudável e despreocupada.
Tabela 4- Usuárias segundo Renda Familiar Mensal, 2008-2012

Renda Familiar mensal Usuárias %


Até 1,5 salários mínimos 45 58
De 1,5 a 2,5 salários mínimos 20 26
De 2,5 a 3,5 salários mínimos 11 14
4,5 salários mínimos ou mais 2 2
Total 78 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Sobre o rendimento mensal familiar, a Tabela 4, demostra que 58% das usuárias
declararam que a renda familiar chega até 1,5 salários mínimos, outras 26% tinham
renda de 1,5 a 2,5 salários mínimos, 14% com salários de até 2,5 a 3,5 salários mínimos
e apenas 2% apresentou renda familiar de até 4,5 salários mínimos.
Pode- se concluir que a determinante não é a situação de pobreza e miséria, pois
todas possuem renda familiar, sendo que a maioria das usuárias vive em média com um
salário e meio. Sendo assim, pode se dizer hipoteticamente que as causas que levaram
essas mulheres a esterilização cirúrgica, seja a questão da liberdade, sexualidade dentro
outros fatores, como por exemplo, emancipação profissional e financeira, porque se
observa em nossa sociedade muitas dificuldades em encontrar creches e escolas
qualificadas da rede pública, logo há necessidade de manter os filhos em instituições
privadas onde os custos materiais são bastante levados.

Tabela 5- Usuárias segundo Ocupação,2008-2012

Ocupação Usuárias %
Do Lar 39 49
Desempregada 8 10
Autônoma 14 18
Empregada 14 17
Não informado 5 6
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Em consideração à ocupação entre as mulheres submetidas à esterilização,


observou-se na Tabela 5, que a maioria das usuárias ou mulheres que fizeram a
laqueadura tubária e tinham como principal ocupação os afazeres domésticos. Pode-se
questionar o fato de serem mulheres de nível mediano, serem donas de casa e de não
estarem inseridas no mercado de trabalho. Dentre muitos fatores especula-se que sejam
mães que não possuem uma rede de apoio para deixar seus filhos, tendo em vista a
precariedade das creches municipais principalmente em Belém onde mora a maioria das
usuárias.
Cabe destacar, possivelmente essas mulheres tenham ainda que pequena,
participação na renda da família, pois com a renda familiar declarada subentende-se que as
mesmas possuam algum lucro com vendas da qual não necessitem ficar fora de casa por
muito tempo e ao mesmo tempo cuidar de seus filhos .

Tabela 6- Usuárias segundo município de origem, 2008-2012

Município de Usuária %
origem s
Belém 62 77
Bragança 5 6
Parauapebas 1 1
Barcarena 1 1
Abaetetuba 1 1
Ananindeua 1 1
Igarapé Mirim 1 1
Ourém 1 1
Cachoeira do Arari 1 1
Monte alegre 1 1
Castanhal 1 1
Turiaçu (Ma) 1 1
Não informado 3 5
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Dos questionários consultados, como está apresentado na Tabela 6, 77% das


mulheres esterilizadas eram da capital paraense, 7% eram oriundas das meso regiões do
Estado do Pará, 5% não informaram. Abaetetuba (1%), Ananindeua (1%), Barcarena
(1%), Bragança (6%), Cachoeira do Arari (1%), Castanhal (1%), Igarapé- Mirim (1%),
Monte Alegre (1%), Parauapebas (1%) e Ourém (1%). E apenas uma usuária era
oriunda de outro Estado.

Foi possível observar que neste período (2008 a 2012), houve uma maior demanda
de mulheres naturais de Belém, que buscaram a intervenção cirúrgica. Isso se deve em
grande parte na concentração do serviço na capital paraense, pois somente a Fundação
Santa Casa de Misericórdia do Pará, é hospital credenciado para a realização do
procedimento pelo SUS no estado, o que dificulta também o acesso da população do
interior, principalmente as oriundas dos municípios mais distantes. E imprescindível a
constatação de que as usuárias oriundas das meso regiões do Estado, não
conheciam/sabiam sobre o TFD, que é o repasse pela prefeitura do seu município das
passagens e ajuda de custo (diárias), quando o tratamento não é inviabilizado no
município de origem. Esse fato pode dificultar a vinda dessas usuárias até a capital para
fazer a cirurgia esterilizatória. Em abordagens com as mesmas a Assistente Social
identificou estas situações e encaminhou-as para suas respectivas secretarias de saúde
para obter o beneficio e assim subsidiar a sua inserção no Programa de Planejamento
Familiar. E também, pode-se sugerir que as usuárias do planejamento familiar do
interior do estado não busquem tanto o serviço de planejamento familiar como a usuária
da Capital, até mesmo por questão de cultura.
Na análise de Serruya (1996, p.16) a mulher na cidade recebe mais pressões do
modelo familiar pequeno, enfrenta maiores dificuldades em relação à moradia e à
educação, está mais engajada no trabalho não doméstico. Além disso, em geral, as
entidades controlistas atuam mais nas áreas urbanas que nas rurais. Esse fato pode
contribuir para a dada analise da maioria das mulheres esterilizadas serem da capital do
Estado e não do interior.

Tabela 7- Usuárias segundo a situação de Moradia, 2008-2012


Caracterização da Moradia Usuária %
s
Própria 43 54
Alugada 8 10
Cedida 25 31
Agregada com parentes 3 4
Não informado 1 1
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

De acordo com a Tabela 7, que caracteriza o tipo de moradia das usuárias, 54%
dessas mulheres possuíam casa própria, 10% residiam em casa alugada, 31% viviam em
casa cedida, 4% moravam em casa agregadas com parentes e 1% não informaram seu
tipo de moradia. Estabelecendo uma análise das mulheres pesquisadas, em maior
percentual viviam em casas próprias, com um grupo familiar de até 4 pessoas, notou-se
que com o reduzido espaço há uma dificuldade de promover um conforto para os filhos
que já possuíam, além disso ficava difícil a manutenção de grupo familiar extenso.
Fazer analise

Gráfico2-Usuárias segundo a Caracterização da Moradia, número de


compartimento. 2008-2012
Nº DE COMPARTI-
MENTOS
1a2 3a4
5a6 NÃO INFORMADO
28%
14%
20%

39%

Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

No Gráfico 2, percebe-se que em relação à moradia das usuárias o número de


compartimentos que se destacou variava de 3 a 4 compartimentos. Contabilizando 39%
das residências. 27% possuíam até dois compartimentos; 20% de 5 a 6 compartimentos
e 14% das usuárias não informaram quanto ao número de compartimentos.

Tabela 8- Usuárias segundo situação conjugal,2008-2012

Situação Conjugal Usuárias %


Casada 17 21 Fonte: FSCMPA – Serviço de
Planejamento Familiar
União estável 42 53
Solteira 17 21
De acordo Não informado 4 5 com a Tabela 8, as
Total 80 100
situações conjugais das usuárias que
passaram pelo processo de esterilização na FSCMPA, foram dadas da seguinte forma,
53% viviam em união estável, 21% casadas, 21% solteiras e 5% não informaram seu
estado conjugal.

Nota-se o maior número de mulheres com situação conjugal de união estável,


esta ocorrência tem sido muito presente ultimamente, pois a sociedade não traduz mais
essa união como censurável. Atualmente do ponto de vista jurídico a família é
considerada como base da sociedade ignorando o casamento como único modo de
proteção estadual, permitindo assim à proteção a família de união estável.
Por esses motivos, entende-se que não há preocupação das famílias constituídas
com união estável, haja vista que estas possuem direitos que se igualam as das formadas
por casamento civil.

Tabela 9- Usuárias segundo o Núcleo Familiar, 2008-2012

Núcleo Familiar Usuárias %


Até 3 pessoas 11 14
Entre 4 a 6 pessoas 48 60
Entre 7 e 10 pessoas 15 19
Não informado 6 7
Total 80 100,0
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Frente aos dados da Tabela 9, verificou-se que o mais elevado percentual de


60% das usuárias do Planejamento Familiar da FSCMPA, possuía núcleo familiar
compreendido entre quatro a seis pessoas; 19% entre sete e dez pessoas; 14% em até
três pessoas e 7% não informaram a composição dos componentes familiar.
É relevante salientar que a partir do final do século XX, a redução de família com
grande número de filhos, vem sendo apontada como um fator positivo para o controle
de crescimento populacional. Na análise de Serruya (1993) uma das argumentações
controlistas mais repetidas é a que relaciona o número pequeno de filhos ao bem estar
familiar e a harmonia do lar. Fundamentando que uma família numerosa é mais
insatisfeita em suas demandas básicas.

Tabela 10- Usuárias segundo os Motivos determinantes para


Esterilização,2008-2012

Motivos para Esterilização Usuária %


s
Problemas de saúde 31 39
Satisfação com a prole 26 32
Situação financeira 19 24
Não informado 4 5
Total 80 100
Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Gráfico 3- Usuárias segundo os Motivos para Esterilização, 2008-2012

Usuárias

35 31
30 26
25 19
20
15
10 4
5
0
Problemas de Satisfação com Situação Não informado
saúde a prole financeira

Fonte: FSCMPA – Serviço de Planejamento Familiar

Em relação à Tabela 10 e o Gráfico 3, os dados revelam que, 39% delas


declararam ter problemas de saúde; 32% estavam satisfeitas com a prole; 24% relataram
problemas na situação financeira; 5% , não informaram os motivos para a laqueadura.

O alto índice de problemas de saúde entre as mulheres, que era apresentado nos
questionários variavam quanto as situações de intercorrências para gestação da mulher,
o ciclo estabelecido por gestações repetidas sem o devido intervalo interpartal, cesárias
sucessivas chegando ao número de três, além de questões médicas propriamente ditas.

Para Macaúba (2011) sobre mudança no comportamento das mulheres, é


imprescindível, considerar que a partir da década de 1960, aliada às significativas
transformações da economia mundial, ocorreu com mais intensidade a entrada da
mulher no mercado de trabalho. Também houve crescente urbanização; expansão dos
meios de comunicação; e o surgimento da pílula anticoncepcional. Esses são fatores que
desencadearam, entre as mulheres, interesse maior em planejar sua prole.
Então podemos sugerir que dadas as circunstância
Aponta-se como motivos finitivos para a realização da cirurgia esterilizatória das
mulheres, a satisfação com a prole e a indicação médica, fato que se repete neste estudo,
pois do total, 16 referiram algum problema de saúde para sua opção pela ligadura
tubária, quais sejam pré-eclâmpsia, abortamento prévio, lúpus, hipertensão arterial,
dentre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade do planejamento familiar permitiu a compreensão de que as famílias nos


dias atuais vêm optando pela redução do número de filhos, em decorrência de diferentes
motivos que são originados em sua maioria por representações relacionadas aos
problemas de saúde, situação financeira, emocional e social.
Através do estudo nota-se que é cada vez mais crescente o desejo de mulheres
em idade reprodutiva pela laqueadura tubária, em detrimento dos métodos reversíveis.
A pesquisa na FSCMPA mostrou que das 80 mulheres participantes do planejamento
familiar, vivem em união estável, tem um nível de escolaridade médio, apresentam um
número pequeno de filhos e que são mulheres que são donas de casa sendo responsáveis
pelos cuidados do lar e da família.
Verificou-se que a mulher que optou pela esterilização, teve como demais
determinantes satisfação pela prole, a melhoria da qualidade de vida, através da sua
formação educacional e profissional; e inserção no mercado de trabalho.
Contudo, é entre as mulheres mais pobres que mais se evidenciam a falta de
meios para efetivamente se escolher ter filhos, quando e como. A luta pela realização da
necessidade e desejo de ter menos filhos, numa situação extremamente desfavorável de
pobreza, desinformação e de vigência simultânea e conflitante de padrões tradicionais e
modernos de gênero, alia-se o reduzido acesso a serviços de saúde, de baixa qualidade,
faz da trajetória anticontraceptiva a ineficiência dos métodos reversíveis, não atingindo
o objetivo proposto.
A esterilização atende ao propósito de não ter mais filhos, encerrando a
preocupação com a insegurança sentida pelas usuárias, quando utilizavam de maneira
errada os métodos reversíveis.
A procura pelo método definitivo retira da mulher a responsabilidade e
disciplina ao uso de anticoncepcionais reversíveis, pois se não utilizados de forma
adequada comprometem sua eficiência, logo a laqueadura tubária passa a ser
determinada pelos elementos anteriormente mencionados, perpassada por uma série de
contradições sociais que incidem em suas vidas – pobreza, inserção precária no mundo
do trabalho, relações de gênero, grau de escolaridade (que interfere na assimilação do
uso correto dos métodos e no conhecimento das informações sobre o controle da
fecundidade), ausência de apoio estatal, mudanças nos padrões familiares e moradia em
locais marcados pela violência.
Ao término deste trabalho, espera-se que tenha contribuído para uma
compreensão dos motivos que têm levado um número cada vez maior de mulheres a
optarem pela laqueadura tubária na FSCMPA, em detrimento dos métodos
contraceptivos, e pretende-se que suscite novas reflexões e questionamentos com o
objetivo não de questionar este direito, mas de contribuir para o exercício de uma
prática profissional capaz de compreender os processos macrossociais que interferem na
vida dessas mulheres e valorize e estimule a autonomia sobre sua capacidade de
exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, enquanto direitos humanos.
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