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CHICO MENDES VIVE NA LUTA ANTICAPITALISTA

E ANTIFASCISTA! (QUE É UMA SÓ)


O que queremos realmente dizer,
Michael F. Schmidlehner1
quando afirmamos que "Chico Mendes vive"? A
"desenvolvimento sustentável". Aspectos mais
frase expressa a ideia de que as pessoas que
radicais ou polêmicos do pensamento de Chico
tiraram a vida dele não conseguiram destruir
Mendes foram sistematicamente omitidos nesta
seus ideais, e que estes ideais continuam sendo
narrativa governamental. Criava-se, assim, uma
defendidos hoje. Mas, eis a pergunta: quais
espécie de "Chico Mendes light", que servia
seriam estes ideais e. quem poderia ser
perfeitamente como produto promocional para
considerado defensor do legado de Chico
inserir as florestas do Acre no emergente
Mendes? Um texto do jornal Empate, de 2003,
mercado global das "soluções" ambientais e
mostra o quanto esta questão é controversa e
climáticas - manejo madeireiro "sustentável",
polêmica:
carbono florestal, serviços ambientais -, e atrair
Os princípios que projetaram as lutas dos financiamentos de bancos e agências de
trabalhadores rurais acreanos e lançaram
desenvolvimento internacionais.
seu representante maior no cenário
internacional foram abandonados em Tirando foto com busto de Chico Mendes no estande do
tro ca de um eng ano so p ro je to de governo do Acre na Rio+20

'd e s e n v o lv im e n t o e s t a d u a l' com


'sustentabilidade'. Os inimigos de Chico
Mendes o eliminaram fisicamente. Os que
se diziam seus amigos e aliados que, hoje,
vivem e acumulam cargos e benefícios à
custa de sua memória, tratam de eliminar
seus sonhos, seus projetos, sua herança,
seus princípios de não mercantilizar a
floresta (cit. in MORAIS, 2012, p.26).

Analisando a apropriação e
Fonte: ac.gov.br, fotografia Gleison Miranda
ressignificação dos 'sonhos e ideais' de Chico
Voltando à pergunta inicial, sobre o que
Mendes pelo Governo da Frente Popular do Acre
queremos dizer com "Chico Mendes vive",
- FPA, Maria de Jesus Morais (2012) mostra
devemos ter em mente duas coisas. Primeiro: ao
como este governo criou um discurso sobre a
proclamar que Chico Mendes vive, situamo-nos
identidade acreana associando a luta dos
inevitavelmente na esfera da interpretação. O
seringueiros com seu modelo de
homem não está mais aqui, fisicamente, para

‘ M ich ael Franz Schm idlehner é m estre em Filosofia pela Universidade de Viena, nativo da Áustria e brasileiro naturalizado, pesquisador e professor
de filosofia do IFAC/Campus Sena M adureira e da União Educacional do Norte, UNINORTE

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nos contradizer ou dar razão. Portanto, ninguém Neste sentido, propomos, para fins deste

pode ser único ou "legítimo" articulador de seu ensaio, a seguinte resposta: "Chico Mendes
legado na atualidade. O grau de legitimidade da vive" quer dizer que a luta da qual ele se tornou
nossa interpretação vai depender de quanto ela símbolo se renova e aprofunda na medida em
é referenciada nas ações e palavras da pessoa que muda a realidade sociopolítica à qual ela
histórica de Chico Mendes. precisa reagir.
Segundo: as ações e as palavras de Chico
Legado anticapitalista
Mendes têm que ser interpretadas como sua

reação - a aplicação de seus ideais - a uma Para hoje fazer referência aos ideais de

determinada situação histórica e política. Em Chico Mendes, é preciso resgatar aqueles


outro momento histórico, estes mesmos ideais aspectos do seu pensamento que foram
tinham e terão que se expressar de outra forma. omitidos ou suprimidos na versão oficial das
Enquanto Chico Mendes estava vivo, sua luta era últimas duas décadas.
contra a espoliação da Amazônia pelos Neste contexto, precisa ser lembrado
fazendeiros. Diante da mercantilização da Euclides Fernandes Távora, que é a pessoa que
floresta em seu nome, os ideais de Chico provavelmente mais contribuiu com a formação
Mendes foram - em nossa interpretação - do pensamento de Chico Mendes. Euclides era
defendidos pelos dissidentes deste projeto
militante do Partido Comunista brasileiro que
(como por exemplo o autor do artigo do jornal
havia se refugiado na floresta acreana. Elder
Empate, citado acima). E, em reação à nova
Andrade de Paula e Sílvio Simione da Silva (2012,
conjuntura política do Brasil a partir de 2019, a
p.105) resumem sua importância na vida de
luta em nome de Chico Mendes terá que se
Chico Mendes assim:
reformular novamente.
Com as ferramentas ofertadas por Euclides
Entendemos que Chico Mendes tinha Távora, Chico Mendes não só aprendeu a

forte espírito comunitário e não queria ser ler e escrever. Apreendeu, sobretudo, a
paixão pelas idéias revolucionárias de seu
"advogado" dos povos da floresta, no sentido de
"v e lh o am igo e in s tru to r" (form a
falar por eles. O apelo dele hoje, provavelmente, respeitosa com que se referia a Euclides), e
ao seu modo, um método de análise da
seria para não nos fixarmos demais em sua
realidade que orientou sua trajetória
pessoa ou idolatrá-lo. Honrar o legado de Chico política e o projetou para reescrever a
história da luta de resistência de uma
Mendes significa também usar nossa própria
parcela dos segmentos sociais subalternos
capacidade crítica e criatividade para levar a luta na Amazônia brasileira.

adiante.

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Os ideais comunistas de Chico Mendes e políticas de extrema direita ganham espaço com

sua clara ideia de luta social estão evidentes em um discurso de perseguição de minorias. No

seus textos, por exemplo, quando ele escreve Brasil, além desta perseguição, espera-se, nos

próximos anos, uma acelerada destruição da


em sua Carta ao Jovem do Futuro sobre a
Amazônia.
revolução socialista mundial que "unificou todos
As novas tendências fascistas, antes de
os povos do planeta num só ideal e num só
tudo, têm que ser entendidas como
pensamento de unidade socialista".
consequência de décadas de globalização
Outro exemplo é a forma como ele se
neoliberal, que criou um clima de insegurança e
refere ao Banco Interamericano - BID (banco
precarização e uma profunda frustração diante
este, inclusive, que no governo da FPA ia se
das múltiplas crises que ela criou, e para as quais
tornar o primeiro grande financiador do ela não tem resposta credível. A atual viragem à
Programa de Desenvolvimento Sustentável do direita, que na superfície parece "dar um basta",
Estado do Acre - PDSA), usando estas palavras: romper com o sistema anterior, de fato - e isso

"com isso, a ONU e as entidades ambientalistas pretendemos mostrar neste texto - conserva,

americanas nos convidaram para participar de em grande parte, estruturas econômicas e de

uma reunião do BID em Miami, em março de poder.

Nossa avaliação sobre a atual conjuntura


1987. Eu fui, sabendo que estava em terreno
coincide com a tese formulada na década de
inimigo" (CUT/CNS 1988). A luta pela
1930 por Georgi Dimitroff, que explica fascismo
humanidade, da qual Chico Mendes fala, não é
e "democracia burguesa" como duas formas
ambientalista, mas antes de tudo,
diferentes de capitalismo. Neste sentido, a
anticapitalista.
situação do Brasil, hoje é, em determinados

aspectos, comparável com aquela no início da


Dois discursos, um só sistema de espoliação
década de 1920 na Itália, ou durante a Grande
Em 28 de outubro 2018, um novo Depressão na Alemanha, quando a democracia
presidente foi eleito no Brasil. A mudança no burguesa foi transformada numa ditadura
cenário político brasileiro, que está em curso fascista, que manteve a exploração capitalista
desde 2016, se insere naquilo que críticos mesmo com os meios mais brutais. Segundo
chamam de "surto fascista", fenômeno com que Dimitrov (1938, p. 2, tradução nossa), fascismo
atualmente se deparam diversos países, onde é uma "ditadura abertamente terrorista dos
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elementos mais reacionários, mais chauvinistas, - a espoliação continua e seus mecanismos

e mais imperialistas do capital financeiro". econômicos em grande parte não mudam.

Podemos dizer que o sistema capitalista,


Exploração madeireira "sustentável"
em termos ideológicos, possui um caráter

"camaleônico", com dois principais discursos O discurso das falsas soluções na esfera
oscilando na sua superfície, que no contexto das
ambiental e climática foi idealizado inicialmente
atuais crises neoliberais se apresentam assim:
no âmbito do Banco Mundial e da ONU, e
» O primeiro discurso é de um suposto
consolidado nas grandes convenções que foram
"consenso", socialmente "inclusivo" e
assinadas na Eco-92. Consagrando o conceito de
"politicamente correto", reconhecendo
parcialmente a existência de uma crise global e "desenvolvimento sustentável", estes tratados

apresentando as políticas capitalistas - cujas preconizavam a preservação do ambiente e do

consequências violentas e destrutivas ele oculta equilíbrio climático sem questionar o principal

- como "soluções" através das quais "todos paradoxo do desenvolvimento capitalista: seu
ganham". Este discurso legitima mecanismos paradigma de crescimento econômico ilimitado
hegemônicos (menos violentos) de dominação.
diante da limitação dos recursos naturais.
Ele pode ser chamado como o discurso das
O governo da FPA, como descrevemos no
falsas soluções.
início do texto, reproduziu o novo discurso a
• O segundo discurso opera a partir da construção
nível local. No centro do desenvolvimento
de um inimigo que possa ser excluído e
sustentável, configuraram inicialmente os
abertamente perseguido. A crise global é
projetos de manejo madeireiro. O discurso
basicamente negada, e a "crise nacional",
apresenta estes projetos como inclusivos e
simplesmente atribuída à atuação deste inimigo,
participativos, denominando-os "manejo
dando-se a solução através da sua eliminação
florestal comunitário sustentável", enquanto os
(política, cultural ou física). Este discurso
impactos violentos são sistematicamente
legitima mecanismos coercitivos (mais
ocultados.
violentos) de dominação. Ele pode ser chamado
O relatório da Plataforma Dhesca de
como o discurso da negação.
2014 - veementemente desmentido pelo
Nas próximas páginas, pretendemos
governo da FPA - revela alguns aspectos deste
mostrar, no contexto da Amazônia brasileira,
"lado escuro" do manejo madeireiro, dando voz
que estes dois discursos se complementam, e

como - enquanto eles alternam e se sobrepõem às queixas das comunidades afetadas, entre as

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quais: "diminuição do território disponível para Fundo Amazônia (dinheiro principalmente da

a realização de atividades tradicionais e de Noruega e da Petrobras), da Alemanha e,

subsistência, [...] fuga de animais de caça, [...] recentemente, do Reino Unido.

'invasão' de pessoas de fora das comunidades, Os países industrializados e os

trazidas pelas madeireiras [...], exploração exploradores de combustíveis fósseis (a

sexual de mulheres e meninas" (FAUSTINO; Noruega é um dos principais produtores


mundiais de petróleo e gás) têm grande
FURTADO, 2014, p.18).
interesse em "compensar" as emissões
O corte raso da floresta e a violenta
causadas por suas atividades, ou seja, "pagar
expulsão de seus moradores, que ocorreram em
para poluir" através da compra de carbono
décadas anteriores, seguindo o lema "integrar
florestal.
para não entregar", foram trocados por uma
O discurso que enfatizava a vocação
matança silenciosa da vida do seringueiro. A
florestal do Acre e a perspectiva de venda de
proposta da Reserva Extrativista - originalmente
créditos de carbono para a Califórnia serviram
reivindicada pelo movimento seringueiro - foi
como convite para os diversos
desvirtuada e sucessivamente transformada em
empreendimentos privados que se instalaram
negócio pelas grandes ONGs e madeireiras.
no estado. Olhando de perto para alguns destes

Dominação via carbono projetos, o programa REDD revela-se como um


poderoso novo mecanismo de espoliação da
Ao implementar os projetos madeireiros,
Amazônia que - mesmo utilizando a nova
a relação de tutela que o governo e as ONGs
roupagem discursiva - conserva e reafirma
criaram com as comunidades rurais no Acre
antigas estruturas de dominação.
facilitou, predominantemente na década de
A empresa estadunidense Carbon Co.
2010, a introdução dos programas para Redução
LLC, em parceria com a empresa Freitas
de Emissões por Desmatamento e Degradação
International Group e LLC (nome fantasia
Florestal - REDD, e de Pagamentos por Serviços Carbon Securities), efetivou desde 2012 quatro
Ambientais - PSA. projetos REDD no Acre: Purus, Russas,
Em 2012, o governo criou a base para um Valparaiso e Envira. As áreas onde estes projetos
mercado regulado de carbono, por meio da Lei foram implantados são antigos seringais. Os
estadual 2.308 de 2010 (conhecida como Lei parceiros locais da Carbon Co., que alegam ser
Sisa) e de um acordo com o estado da Califórnia proprietários destas florestas, são em parte
(EUA). Com esta política, atraiu recursos do descendentes dos antigos seringalistas ou
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empresários que "compraram" as terras dos Agora, encontram-se placas do projeto

mesmos. REDD nas colocações da área - ao lado das

Nestas áreas, há históricos de conflitos proibições do projeto -, exibindo a frase: "A

de longa duração entre as comunidades - ex- comunidade é parceira".

seringueiros, ribeirinhos, pequenos produtores

- e os supostos proprietários. Gerson

Albuquerque (2012) descreve alguns destes

conflitos no antigo seringal Valparaiso, e como

as arcaicas relações de trabalho lá sobrevivem

até hoje. Em eiltrevistas realizadas na década de

1990, moradores da área descrevem a relação

com o atual "proprietário" da área, Manoel


Placa em colocação na área do p rojeto Valparaiso: "A
Batista Lopes: com unid ad e é parceira"
Fonte: h ttps://rep orte rbrasil.org.b r/20 13 /12 /p rojetos-de -
carb ono-no-acre-am eacam -direito-a-terra/
Moro há 53 anos lá. Ele, lá no seringal, mata
nossos porco, nossos cachorro. Primeiro, ele Na mesma linha "eufemística", as
mandava os capanga matá. Agente tinha que
descrições oficiais dos projetos da Carbon Co. no
assiná um contrato prá prantá e só podia
prantá pouco, na capoêra, num podia Acre enfatizam aspectos como participação,
desmatá. Quem pescá no lago tem que dividi
transparência e repartição de benefícios com a
cum ele, se não dé ele diz que vai dá parte na
justiça (ALBUQUERQUE, 2012, p. 18). comunidade.

No documento descritivo do projeto

O violento regime de dominação que Envira (MCFARELAND, 2015, p.42) lemos, por

perdura nas florestas acreanas desde o primeiro exemplo, que eventuais queixas por parte da

surto da borracha não só não mudou com a nova comunidade seriam atendidas pela empresa do

economia florestal promovida pelo governo da promotor local do projeto, Duarte José de Couto

FPA, mas reafirmou-se na lógica dos projetos Neto. Esta empresa seria, ao mesmo tempo,

REDD. A proibição das atividades de proprietária da área; ou seja, para os moradores,

subsistência, que antes objetivava a Duarte de fato representa o "patrão".

maximização da produção de borracha, hoje 0 nível de participação e transparência

serve para maximizar a estocagem de carbono que pode ser esperado do "atendimento" por

na biomassa. O que mudou drasticamente com este empreendedor ambientalista pode ser

o novo modo de produção é o discurso. deduzido de suas declarações públicas, nas


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quais afirma, entre outros, "ter saudade, e Seguindo nossa tese, de que o discurso

muita, do regime militar" (cit. in KILL, 2018). das falsas soluções e o discurso da negação se

Por meio do carbono como novo complementam em uma só lógica de espoliação

produto, implementa-se um novo modo de capitalista, esta mudança não pode afetá-los

produção nas florestas, assentado nas antigas fortemente. Sem nos alongar em especulações

relações de dominação capitalista criadas pelos sobre o futuro, podemos mencionar duas

seringalistas. Para vender este produto - circunstâncias que apontam para a persistência

projetado para salvar o mundo da catástrofe destes projetos.

climática -, o discurso que o promove precisa Primeiro: projetos privados de REDD,

como aqueles da Carbon Co., por enquanto


ofuscar as reais relações da sua produção.
vendem certificados apenas no mercado
Neste sentido, a vinculação com o
voluntário. Para isso, eles não dependem de
"legado" de Chico Mendes é um elemento
uma base jurisdicional específica. Mesmo se,
essencial para a promoção dos projetos REDD.
com o fim do governo da FPA, as transações com
Na página de venda online da Carbon Securities
Califórnia não se realizem, estes projetos podem
(na versão em inglês) consta:
continuar vendendo seus créditos para

empresas ou pessoas físicas, no mundo inteiro,


Hoje, a Carbon Securities firmou parceria
com a Fundação Chico Mendes, gerida e que desejam diminuir ou apagar sua "pegada de
operada por llzamar M endes e Elenira
carbono".
Mendes, esposa e filha de Chico Mendes.
Temos o prazer de manter vivo o espírito e a Entre 2016 e 2017, o projeto Envira
iniciativa de Chico Mendes e estaremos
vendeu créditos no valor de pelo menos 750.000
sempre lutando para salvar a floresta tropical
juntos (CARBON SECURITIES, 2018, tradução toneladas de carbono (KILL, 2018). No site da
nossa).
Carbon Securities (2018), pessoas podem
comprar tais créditos online pagando dez
REDD: a ameaça vira "oportunidade"
dólares por tonelada. Baseado neste preço, o

Surge a questão sobre o futuro dos projetos valor de mercado do carbono vendido pelo
do tipo REDD no novo cenário político no Acre projeto Envira em dois anos totalizaria mais que
e no Brasil a partir de 2019. As esperadas 7,5 milhões de dólares.
políticas de eliminação do "ativismo xiita Projetos privados de REDD,
ambienta " - como diz o presidente eleito -, e a teoricamente, podem se tornar ainda mais
reduzida fiscalização ambiental vão afetá-los ou lucrativos num cenário geral de desmatamento
inviabilizá-los? aumentado, uma vez que podem reivindicar

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mais "adicionalídade". Que significa isto? Na uma oportunidade de fazer um jogo duplo de

medida em que um empreendedor REDD pode ameaça e proteção da Amazônia, barganhando-

argumentar que a floresta que seu projeto a como "sumidouro de carbono".

supostamente preserva esteja ameaçada, este


Sinergias com o agronegócio: o novo Código
seu projeto vale mais redução de carbono em
Florestal
comparação com um cenário sem projeto.

Na paradoxal lógica da adicionalídade, a O texto acima citado menciona os

ameaça de desmatamento ou degradação "poderosos interesses agrícolas" que apoiam o

florestal acaba "valorizando" o carbono florestal novo presidente do Brasil. Por que razão
e transformando a ameaça em oportunidade de projetos "ambientalistas" como REDD e PSA
negócio. gozariam de interesse por parte do
Segundo: mesmo que algumas agronegócio? Dois anos depois da criação da Lei
declarações do novo presidente eleito apontem Sisa, o então senador Jorge Viana foi o relator do
para uma possível saída do Acordo de Paris, por novo Código Florestal (Lei n212.651 de maio de
parte do Brasil, há indícios que isto não ocorra. 2012), lei que marca a mudança de uma política
A permanência do Brasil, com a consequente exclusivamente de restauração para uma
concretização de uma política nacional de REDD, política com amplas possibilidades de
compensa economicamente. Um analista da compensação de desmatamentos.
revista Forbes argumenta neste sentido: A Cota Rural Ambiental (CRA) é a peça

Os europeus fazem questão de destacar para central neste sistema de compensação, uma vez
Bolsonaro e para os poderosos interesses
que pode ser usada para fazer a obrigação de
agrícolas que o apoiam que o Brasil é um dos
maiores beneficiários de ser signatário do Reserva Legal ser cumprida em outra
Acordo de Paris. Como o país está na
vanguarda da vulnerabilidade às mudanças
propriedade; o proprietário que desmatou além
climáticas e da capacidade de combatê-lo, ele do permitido, por exemplo, um sojeiro da
recebe milhões em subsídios como parte do
regime de Paris, que desaparecería se Amazônia mato-grossense, pode compensar
abandonasse o acordo (KAETING, 2018,
essa dívida através de CRAs de outro local,
tradução nossa).
dentro do mesmo bioma, seja no Mato Grosso
Para sustentar seu vício em combustíveis ou no Acre.
fosseis, os países industrializados necessitam do 0 novo Código Florestal, em seu artigo
pretexto de "compensar" suas emissões. Para o 41, inclusive, incentiva a "cumulação" de
Brasil, por sua vez, esta dependência apresenta diversos tipos de compensações, quando
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autoriza o Poder Executivo a instituir programas redução das emissões dos agricultores

para "pagamento ou incentivo a serviços brasileiros" (eit. in CARDOSO, 2012).

ambientais [...] isolada ou cumulativamente" O novo Código Florestal cria fortes

(grifos nossos), listando os sete serviços sinergias entre dois poderosos mecanismos de

ambientais que haviam sido definidos em 2010 acumulação de capital no Brasil: o do

na Lei Sisa, e acrescentando como oitavo item "a agronegócio e o do carbono. Além disso, ele

manutenção de Áreas de Preservação oferece para as agro-oligarquias - até então

Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito". antiambientalistas que reproduziram o discurso

O relatório Preparando a da negação - a possibilidade de se

implementação da Cota de Reserva Ambiental apresentarem como protetores da Amazônia.


no M ato Grosso explica este "uso cumulativo" Ou seja, de se apropriarem do discurso das
dos diversos serviços ambientais a partir da CRA falsas soluções.
pelos latifundiários do estado: Nas palavras de Jorge Viana sobre o novo

Código Florestal, esta função fica clara: "Quando


Além disso, a CRA, sendo um atestado da
existência de uma área florestal conservada, o meio ambiente ganha, ganha o agronegócio,
pode ser usada para outros fins e em outros
mercados além da compensação de passivos ganha a produção, ganha a economia"
de reserva legal: por exemplo, pode ajudar a
(SENADO FEDERAL, 2011).
viabilizar m ecanismos de Redução de
Emissões do Desmatamento e Degradação
Florestal (REDD), estabelecendo um título "Limpando o ar" para as multinacionais
conversível em toneladas de carbono; ou
ai nda, pode servi r em a ç õ e s de
Não são apenas os latifundiários que
responsabilidade ambiental de empresas,
como um "vale-floresta", etc. Podería ganham com o agronegócio. Alimentando o
tam bém ser usada em pagamento da
compensação ambiental de
crescente vício do mundo industrializado em
empreendimentos hidrelétricos, conversão carne e biocombustíveis, a produção das
de multas de impactos ambientais como
derramamento de petróleo, dentre outros, commodities agrícolas (como soja, cana de
sem prejuízo da responsabilidade de
açúcar, milho), por sua vez, é viciada no uso de
remediação dos danos (ICV 2013, p.9).
produtos de empresas multinacionais, tais como

Neste sentido, a então senadora e sementes (patenteadas ou transgênicas) e os

presidente da Confederação Nacional da agrotóxicos.

Agricultura (CNA), Kátia Abreu, comenta que sua Nos últimos três anos, houve forte

organização procura "fundos e corporações que concentração corporativa neste ramo.

querem compensar suas emissões com a Atualmente, os quatro "gigantes" do


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agronegócio mundial são: Corteva Agriscience expansão do agronegócio no Brasil. Entre 2014

(resultante da fusão de Dow com Dupont em e 2020, o Ministério para Cooperação e

2015), Chem China (que comprou Syngenta em Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) apoiou o

2017), Bayer (que comprou Monsanto em 2018) Cadastro Ambiental Rural - CAR com 5,5 milhões

e Basf. de euros (GIZ, 2017).

Para nossa análise, a Bayer - agora a Mas, sobretudo, temos que mencionar

maior corporação agrícola do mundo - e a Basf neste contexto a recente implantação do

merecem especial atenção. Após a compra da programa alemão REDD Early Movers - REM

empresa americana Monsanto pela Bayer por ("Pioneiros do REDD" na tradução ao português)

cerca de US$ 66 bilhões, a Basf - por exigência no estado de Mato Grosso. Por que a Alemanha

das autoridades de defesa da concorrência - quer "premiar" por >sua «política climática
adquiriu ativos da Bayer no valor de cerca de justamente aquele estado brasileiro, que desde

US$ 7,24 bilhões. Com isto, estas duas décadas é considerado o líder em
multinacionais alemãs assumem uma posição desmatamento e o berço do agronegócio
dominante no agronegócio brasileiro. brasileiro?
Atualmente, combinadas, as vendas de Bayer e O período em que o acordo para
Monsanto no Brasil somam R$ 15 bilhões anuais financiar o REM em Mato Grosso foi fechado
(PORTAL DO AGRONEGOCIO, 2018). (final 2017) coincide com a consolidação da
Ao mesmo tempo, por serem fortes compra da Monsanto pela Bayer. Neste
componentes da economia exportadora alemã, momento, já se sabia que a Bayer teria que lidar
Bayer e Basf vêm participando em diversas com as grandes polêmicas em torno dos
iniciativas juntas com o governo daquele país. produtos agrotóxicos que assumiría da
Estes programas, como o German Food Monsanto. No foco desta polêmica
Partnership (GFP, Parceria Alimentar Alemã) e internacional, estão os herbicidas da linha
os fóruns para "soja responsável" e "óleo de Roundup com o princípio ativo glifosato, que
palma responsável", frequentemente são segundo estudos independentes, é considerado
criticados por organizações da sociedade civil, possivelmente cancerígeno.
que veem nelas uma "lavagem verde" para as O presidente da Associação dos
insustentáveis práticas do agronegócio. Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato
O apoio à implementação do novo Grosso (Aprosoja - MT) comenta sobre este
Código Florestal pelo governo alemão é veneno: "sem glifosato, não tem safra no Brasil"
igualmente consistente com seu interesse na e "hoje, produtor não sabe mais plantar de outra

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forma a não ser esta" (ESTADÃO 2018). A função mensal da IG Farben de maio 1938: "De fábrica

de "lavagem verde" pelo programa REM - isto é, para fábrica".


a tentativa de, com ele, encobrir os impactos

violentos do agronegócio por meio do discurso

das falsas soluções - fica evidente a partir deste

momento.

Olhar para o histórico das duas


corporações alemães nos permite entender

ainda melhor certas dinâmicas discursivas. Na

época do regime nacional-socialista alemão,


Bayer e Basf faziam parte de uma só empresa
aglomerada, chamada IG Farben. A IG Farben foi

responsável pela produção do gás venenoso


Zyklon B, que foi usado para assassinar milhões
de pessoas nos campos de extermínio. A mão de
obra da empresa era, em grande parte, formada

por trabalho forçado, incluindo 8000 internos


Capa da revista da IG Farben em 1938: "De fábrica para fábrica"
dos campos de concentração. A estreita (em alem ão "V on W e rk zu W erk")
Fonte: http://w w w .od4 3.com /IG _Farb en_ period ical.htm l
cooperação com o governo nazista levou a um
Empresas como Bayer e Basf, seguindo a
quintuplicar dos lucros líquidos da IG Farben
dinâmica camaleônica do sistema capitalista,
entre 1933 e 1943 (HAYES 1987, p.124).
constantemente adaptam seu discurso para
Hoje, a Bayer diz "contribuir para a
conciliar seus mecanismos de acumulação com
formação e o bem estar da sociedade, além de
a moral da época. Esta dinâmica acaba
[desenvolver] ações de preservação do meio
conservando as estruturas de poder: o discurso
ambiente", e a Basf assegura criar "química para
muda justamente para que as relações de poder
um futuro sustentável". Como tal "conversão"
não mudem. Desta forma, as estruturas
pode ser explicada? Insistimos em que as
coloniais e imperiais vêm se reafirmando ao
corporações capitalistas não possuem ideologia
longo dos séculos.
ou filosofia. Elas obedecem unicamente ao

imperativo da acumulação de capital. O caráter Concluindo

inexorável da progressão desta lógica encontra A intensificação do desmatamento e dos

sua simples expressão no título da revista atos de violência contra os povos da floresta que

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se iniciam com a nova presidência, assim como política - isto é, uma abordagem que reconhece

seu discurso da negação, desafiam a sociedade a dimensão essencialmente política da questão

civil a adotar formas mais diretas de resistência. ambiental - inspirada na luta anticapitalista do
..... _ v*>
Porém, o perigo neste momento é que o movimento dos povos da floresta e nos ideais de

discurso das falsas soluções possa se fortalecer Chico Mendes pode nortear a esperada

diante da ameaça, apresentando-se como reformulação da esquerda no Brasil pós-2018.

"única alternativa" para lidar com a crise. Não As palavras que Euclides Távora dirigiu a

devemos cair neste engano. Os movimentos Chico Mendes • em 1964 parecem valer

sociais precisam reconhecer que os dois novamente para nós hoje: "[...] por maior que

discursos se complementam e, juntos, seja o massacre, sempre existirá uma semente

promovem a espoliação capitalista da que renascerá e aí você terá que entrar, mesmo

Amazônia. que seja daqui a oito, dez anos" (CUT/CNS 1998).

Na medida em que o capitalismo Só que hoje, a acelerada destruição da base da

extingue vida na terra, a luta da esquerda se vida pelo capitalismo não nos permite mais

tornará uma luta ecológica. Uma ecologia esperar muito.

Referências bibliográficas

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27
CHICO MENDES VIVE NA LUTA
ANTICAPITALISTA E ANTIFASCISTA!
(QUE É UMA LUTA SÓ)

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ativo-econom ico. Acesso em 08/09/2018.

28
SUMÁRIO

& Balanço dos 3 0 anos sem Chico M endes (Dercy Teles de Carvalho) 7

4<>Trinta anos pós-assassinafo de Chico M endes e os desafios do sindicalism o 10


rural no Acre (Elder Andrade de Paula)

Chico M endes vive na luta anticapítalista e antifascista! (que é um a luta só) 16


(Michael F. Schm idlehner)
Ascensão e queda - o "desenvolvim ento sustentável" e a força política da 29
Frente Popular do Acre (Israel Souza)

A "sebraelização do in d igenism o" na Am azônia Ocidental como estratégia 42


para a mercantilização e a financeirização (Lindom ar Dias Padilha)
Usos e abusos da im agem de Chico M endes na legitim ação da "econom ia 49
verde" (Maria de Jesus M orais)
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO
Órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Regional Amazônia Ocidental

TRINTA ANOS
POS-AS3ASS1NATO DE

CHICO MENDES
E DESTRUIÇÃO OCULTA DE
FLORESTAS E VIDAS NO ACRE

ORGANIZAÇÃO EDITORIAL: Rosenilda Nunes Padilha, Michel E Schmidlehner,


Bárbara Silva Figueiredo e Israel Souza
ARTE DE CAPA: Antônio Fellipi Morais Ferreira
RE VISÃO: Bárbara Silva Figueiredo
PROJETO GRÁFICO: Jerson Oliveira da Silva

Apoio:

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sicfd-terresolidaire

Rio Branco, dezembro de 2018.

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