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Michael Schmidlehner
(Amazonlink.org)
Seminário "Saber Local/lnteresse Global: propriedade intelectual, biodiversidade e conhecimento tradicional na Amazônia"
Outro resultado dessa campanha, um levantamento que se fez: havia uma
preocupação na região do Acre, com um ritual indígena conhecido como “Kambô”
ou “Kampu”, também conhecido como a “vacina do sapo”. Ele não é só utilizado
pelos povos indígenas, mas também pelos seringueiros. Trata-se da secreção da
pele de uma pequena rã. A secreção é aplicada queimando a pele. Isso provoca uma
reação forte, a pessoa geralmente vomita e os povos acreditam que isso melhora a
saúde e traz sorte para a caça. E houve rumores que existiria algum patenteamento
disso e fizemos levantamento nos bancos de dados de patentes e encontramos uma
série sobre substâncias que foram encontrados através dessa secreção da pele dessa
rã: a dermorfma e a deltorfma, que são peptídeos desconhecidas até que os
pesquisadores, a partir de 1980, pesquisaram essa rã e encontraram esses peptídeos
na pele da rã e os patentearam. Essas substâncias são eficazes para uma série de
doenças como isquemia, que é a falta de circulação e pode causar infartos, usado
contra câncer, no tratamento da Aids, Alzheimer, Parkinson. Então este é que
suscita interesse e sobre o qual se pretende realizar um trabalho.
Depois de um ano de campanha, a gente tentou extrair as principais
medidas que deveriam ser tomadas para o combate da biopirataria. O primeiro
ponto foi a regulamentação de uma nova lei que substituiría a M edida Provisória
junto a uma fiscalização mais eficiente. Segundo ponto: investimentos mais
significativos em ciência e tecnologia. Observamos uma grande desigualdade entre
os detentores da biodiversidade de um lado e o da biotecnologia, do outro lado. Isso
pode ser mostrado através do numero de registros de patentes por ano. O Brasil
registra, anualmente, entre 5 e 7 mil patentes e, o Japão, registra 400.000 patentes.
Isso indica, claramente, como está crescendo essa desigualdade. Achamos
importante fazer um levantamento mais profundo de marcas e patentes,
envolvendo recursos biológicos e conhecimentos tradicionais na Amazônia. O
levantamento é uma coisa preliminar, mas deve ser sistematizado e avaliado o
prejuízo do Brasil. E importante a revisão do acordo T R IPS. Como já foi falado,
mesmo tendo uma lei Brasileira eficiente ela não pode resolver esse problema.
Como mostra o caso do cupuaçu - um caso de registro de marca no exterior -
nenhuma lei brasileira vai poder prevenir isso. Então precisamos de um movimento
internacional, que exija uma revisão dos acordos internacionais que permitem esse
tipo de registro. O quinto ponto para nós - o movimento das ONG’s - é o mais
importante: a socialização das informações acerca da biopirataria. O que seria essa
socialização da informação? Deve ser um trabalho educativo e de conscientização
em todos os setores da sociedade. Temos um vácuo enorme de informações sobre
108 esse tipo de coisa. Isso exige que se traduza esse discurso em uma linguagem mais
acessível para alcançar os demais setores da sociedade, pois não deve ficar com meia
dúzia de acadêmicos e sim alcançar as bases.
Um aspecto importante nesse trabalho é a responsabilidade que vem
com a divulgação desse tipo de notícia, pois, às vezes, a informação não é
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mediante o que já foi falado: a livre troca de conhecimento. O sistema de
patentes, exatamente, impede isso, que as pessoas troquem informações
livremente. Neste sentido este sistema de patentes colhe os frutos e impedindo a
geração do conhecimento, ele “definha as raízes” desta árvore.
Eu queria ler uma frase da carta de São Luís do M aranhão, onde teve um
encontro de pajés. Tem os inclusive aqui o Jorge T erena, um dos principais
autores deste documento. Fala neste documento: “Propomos aos governos que
reconheçam os conhecimentos tradicionais como saber e ciência,
conferindo-lhe tratam ento eqüitativo em relação ao conhecimento científico
ocidental, estabelecendo uma política de ciência e tecnologia que reconheça a
im portância dos conhecimentos tradicionais”; E, finalm ente, citamos uma dica
de Leonardo B off “Para acabar com a biopirataria, basta se deter em um simples
ponto: ouvir os povos que lá habitam , sejam os indígenas ou os caboclos. Eles
conhecem m inuciosamente o ecossistema onde vivem e têm sábias lições de dar
aos nossos acadêmicos”.
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