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II Workshop de Sistemas Distribuídos Autonômicos 21

Localização e Redução do Consumo de Energia em Pontos de


Articulação em Redes de Sensores Sem Fio
Ulisses R. Afonseca1,2 , Paulo H. Azevêdo Filho1 , Jacir L. Bordim1 e Priscila S. Barreto1
1
Departamento de Ciência da Computação – Universidade de Brası́lia (UnB)
2
Instituto Federal de Goiás – Campus Luziânia
{urafonseca,bordim,pris}@unb.br, paulo@cic.unb.br

Resumo. Várias soluções foram propostas objetivando aumentar o tempo de


vida de uma rede de sensores. Neste cenário torna-se necessário identificar
e manter os nós que desempenham funções crı́ticas. Entre estes estão os nós
de articulação que segmentam a rede em caso de falha. O desenvolvimento
de mecanismos que identifiquem e permitam reduzir o consumo de energia nos
nós de articulação é fundamental para garantir a conectividade da rede. Este
trabalho apresenta um mecanismo de identificação e redução do consumo de
energia dos nós de articulação. Nos cenários avaliados, os resultados mostram
que a solução proposta reduz em até 66% o tráfego nas articulações.

1. Introdução

As Redes de Sensores Sem Fio (RSSF) consistem em dispositivos, tipicamente


alimentados por baterias, capazes de medir grandezas fı́sicas. Os sensores possuem um
transceptor que permite a comunicação sem fio em que cada nó pode atuar como host ou
roteador. Como estes dispositivos utilizam baterias, vários trabalhos apresentam mecan-
ismos para reduzir o consumo de energia e prolongar a vida útil das redes de sensores.
Em uma topologia de RSSF, um sensor é uma articulação (nó crı́tico), quando
sua remoção, e de seus enlaces, segmenta a rede. Os nós crı́ticos, ao ligar dois sub-
grafos, tornam-se gargalos. São então submetidos a um volume de tarefas de roteamento
maior que os demais nós e, como resultado, possuem um maior consumo de energia
[Stojmenovic et al. 2011]. Este trabalho apresenta mecanismos para identificar e reduzir
o consumo de energia dos nós de articulação em uma RSSF com base em um algoritmo
para localização de articulações e uma técnica de agregação de pacotes. A solução pro-
posta é plenamente distribuı́da e não implica em aumento no custo de comunicação dos
demais nós da rede. O artigo é organizado como segue. A seção 2 apresenta o modelo de
comunicação. A base teórica sobre articulações e agregação são discutidos, respectiva-
mente, nas seções 3 e 4. A Seção 5 apresenta a solução proposta bem como as premissas
e configurações utilizadas na simulação. A Seção 6 apresenta a conclusão e potenciais
trabalhos futuros.

2. Modelo de Comunicação

A topologia de uma rede de sensores pode ser representada por um grafo G =


(E, V ), sendo V = {v1 , v2 , ..., vn } o conjunto de vértices (nós sensores) e E ⊆ V 2 o
conjunto de vértices (links). Sobre esta definição, utilizaremos o Unit Disk Graph (UDG),
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Algoritmo 1 RSSF:Agregação
Entrada: ζ, δ;
1: B ← ∅;
2: Enquanto ζ 6= 0 faça
3: Ao receber um pacote pi , no tempo ti para ser encaminhado, nó u faz B ← B ∪ (pi , ti ) .
4: Para (∀pi ∈ B) faça
5: Se T empoEspera(pi , ti , δ) ≥ δ então
6: P ← P ∪ pi ;
7: B ← B − (pi , ti );
8: Fim Se
9: Fim Para
10: Se (sizeof (P ) ≈ M T U ) então
11: Encaminhe P para o nó ascendente na rota para a estação base;
12: Fim Se
13: Fim Enquanto

Algoritmo 2 RSSF:Articulação
Entrada: G(V, E), k ≥ 0;
1: ζ ← 0;
2: Cada nó v ∈ V verifica se é um ponto de articulação;
3: Se v for um nó de articulação então
4: ζ ← 1;
5: O nó v informa aos nós descendentes a k-saltos para realizarem agregação;
6: Fim Se
7: Se u receber uma mensagem de v então
8: ζ ← 1;
9: Execute Algoritmo 1;
10: Fim Se

um modelo teórico de grafo de interseção de cı́rculos de mesmo raio. Uma definição


geométrica para o UDG, estabelece que uma aresta entre dois vértices surge quando a
distância Euclidiana entre eles é no máximo d [Clark et al. 1991]. Assumimos que os nós
utilizam algum mecanismo de roteamento que identifica o caminho mais curto.
Neste trabalho, assume-se que cada sensor possui um único transceptor, onde
a potência de tranmissão é suficiente para cobrir um raio de transmissão r. A in-
terface de rede do nó consome energia de acordo com as suas caracterı́sticas e do
tamanho do pacote de dados. O modelo de consumo de energia adotado foi proposto em
[Cano and Manzoni 2000] que determina a energia consumida ao enviar e receber bytes.

3. Pontos de Articulação
Seja G(E, V ) um grafo não direcionado, um vértice v ∈ V é um ponto de
articulação se e somente se G − v é um grafo desconectado. Para identificar estes
nós, em [Khelifa et al. 2009] é proposto um algoritmo centralizado. Esta abordagem tem
como deficiência a quantidade de mensagens para determinar a topologia completa. Em
[Jorgi et al. 2004], é proposto um algoritmo localizado onde cada nó determina se é ou
não uma articulação utilizando o conhecimento de parte da topologia. Neste caso, ex-
iste a possibilidade de ocorrência de falsos positivos. Em [Chaudhuri 1998, Turau 2006]
são apresentadas soluções distribuı́das, ótimas em tempo e quantidade de mensagens, que
utilizam como base o algoritmo de busca em profundidade distribuı́do.

4. Redução do Consumo de Energia em Pontos de Articulação


O mecanismo de redução do consumo de energia nos pontos de articulação con-
siste em localizar os pontos de articulação e identificar pontos de agregação de tráfego.
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Tabela 1. Volume de dados trafegados na rede.


Total Cabeçalhos Informação útil Redução
Sem agregar 985.800 799.800 186.000 —
k=0 838.800 652.800 186.000 14,91%
k=1 704.967 518.967 186.000 28,48%

Tabela 2. Gasto médio de energia (mJ)


Consumo Energia Sem Agregar k = 0 (redução) k = 1 (redução)
Total na RSSF 1.380.128 1.174.320 (14,91%) 986.953 (28,48%)
Total na Articulação 637.325 516.050 (19,02%) 440.971 (30,90%)
Total a Um Salto 644.735 596.235 ( 7,50%) 448.194 (30,48%)

A agregação consiste em unir pacotes de dados provenientes de diferentes origens.


Foi utilizada a técnica proposta em [Azevêdo Filho et al. 2011] que suprime cabeçalhos
e adiciona cabeçalhos de agregação. O autor destaca ainda que a agregação pode ser
aplicada sem aumentar significativamente o atraso. O mecanismo de agregação proposto
é descrito no Algoritmo 1. O algoritmo, que recebe como entrada ζ e δ, é distribuı́do e
executado por todos os nós da RSSF. O parâmetro ζ indica se o nó deve ou não realizar
agregação. O tempo máximo durante o qual um dado pacote pode ficar retido em um nó
de agregação é limitado pelo parâmetro δ. Ao receber um pacote pi para ser encaminhado,
seja das camadas superiores ou de um nó adjacente, o nó sensor associa este pacote ao
tempo de recebimento ti e o inclui em um buffer B. A função T empoEspera(pi , ti , δ),
calcula o tempo de espera pi com base no tempo corrente e de recebimento ti . Ao atingir
o tempo máximo, o pacote pi é inserido em um pacote de agregação P (e retirado de B).
Um pacote agregado é limitado pelo máximo do MTU, verificado pela função sizeof (P ).
A segunda fase, Algoritmo 2, identifica os nós responsáveis pela agregação uti-
lizando o mecanismo proposto em [Chaudhuri 1998]. O parâmetro k corresponde ao
número de saltos do nó de articulação em que a agregação será realizada. Uma vez iden-
tificados os nós de articulação, estes enviam mensagens para os descendentes localizados
a k-saltos. Os nós que receberem a mensagem iniciam a agregação (Algoritmo 1).

5. Resultados e Análise

Foi desenvolvido um simulador próprio. O tráfego é poissoniano com taxa λ = 10


pacotes por segundo, tendo, em média, 10 bytes de payload e mais 24 bytes de cabeçalho
para as camadas de rede e transporte. Para as camadas fı́sica e de enlace, definimos um
total de 15 bytes, correspondente ao padrão IEEE 802.15.4 operando a 2.4Ghz, 250Kbps
com endereçamento de 16 bits. O tempo máximo de retenção é δ = 100ms. Foram uti-
lizadas topologias pequenas e aleatórias com uma articulação e um nó sink, para permitir
a validação numérica. Analisamos as situações onde a agregação: (i) não é realizada, (ii)
é feita na articulação (k = 0) e (iii) é realizada a um salto da articulação (k = 1).
A Tabela 1 apresenta o tráfego na rede. O volume de informação útil é o mesmo
para os três casos. Podemos notar uma redução de 14, 91% quando a agregação é realizada
na articulação e 28, 48% para a agregação a um salto. A Tabela 2 sumariza o consumo de
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energia na articulação. Ao agregar na articulação, a redução é de aproximadamente 20%


enquanto a um salto da articulação, o consumo reduziu em, aproximadamente, 30%. A
supressão de cabeçalhos da agregação resulta em redução no consumo de energia.

6. Conclusão
Este trabalho apresenta mecanismos completamente distribuı́dos para identificar
e reduzir o consumo de energia nas articulações de uma RSSF. A solução é proposta em
duas fases: identificação dos nós de articulação e seleção dos nós agregadores a k-saltos
da articulação. Na avaliação foram utilizadas topologias pequenas, aleatórias e simples
para permitir a validação numérica. Verificou-se o consumo de energia sem agregação,
com agregação na articulação e a um salto dela. A redução no tráfego de pacotes na
articulação foi de até 66% enquanto a redução no consumo de energia foi de até 28%.
Os dados indicam que a agregação é um importante mecanismo para reduzir o
consumo de energia nos pontos de articulação de uma RSSF e assim, aumentar o tempo
de vida da rede. Diferente de outras soluções, para evitar a segmentação provocada pelas
falhas nas articulações, este trabalho apresenta um método eficaz que adia o particiona-
mento da rede. Não foram contabilizados a redução do uso de mecanismos de controle
das camada fı́sica e de enlace. Este ponto será avaliado nos trabalhos futuros.

Referências
Azevêdo Filho, P. H., Caetano, M. F., and Bordim, J. L. (2011). A packet aggregation
mechanism for real time applications over wireless networks. In 13th Workshop on
Advances in Parallel and Distributed Computational Models (APDCM).
Cano, J.-C. and Manzoni, P. (2000). A performance comparison of energy consumption
for mobile ad hoc network routing protocols. Modeling, Analysis, and Simulation of
Computer Systems, International Symposium on, 0:57.
Chaudhuri, P. (1998). An optimal distributed algorithm for finding articulation points in
a network. Computer Communications, 21(18):1707–1715.
Clark, B. N., Colbourn, C. J., and Johnson, D. S. (1991). Unit disk graphs. Discrete
Math., 86:165–177.
Jorgi, M., Stojmenovi, I., Hauspie, M., and Simplot-ryl, D. (2004). Localized algorithms
for detection of critical nodes and links for connectivity in ad hoc networks. In in Proc.
the Third Annual IFIP Mediterranean Ad Hoc Networking Workshop, Med-Hoc-Net,
pages 360–371.
Khelifa, B., Haffaf, H., Madjid, M., and Llewellyn-Jones, D. (2009). Monitoring connec-
tivity in wireless sensor networks. International Journal of Future Generation Com-
munication and Networking.
Stojmenovic, I., Simplot-Ryl, D., and Nayak, A. (2011). Toward scalable cut vertex and
link detection with applications in wireless ad hoc networks. IEEE Network.
Turau, V. (2006). Computing bridges, articulations, and 2-connected components in wire-
less sensor networks. In Nikoletseas, S. and Rolim, J., editors, Algorithmic Aspects of
Wireless Sensor Networks, volume 4240 of Lecture Notes in Computer Science, pages
164–175. Springer Berlin / Heidelberg.

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