Na história da África estão envolvidos eventos de invasão, violação,
escravização, pilhagem de riquezas naturais e roubo de patrimônio artístico. Tais ações, praticadas durante décadasséculos, foram sustentadas por umela crença branca de “superioridade” branca empenhada em construir um discurso ideológico, apoiado pela ciência,por um discurso que atribuía cientificamente da “inferioridade inata” do negro-africano. A institucionalização do racismo favoreceu e orientou a criação de museus etnográficos nos países colonizadores, os quais reproduziam e ainda reproduzem teorias baseadas em um suposto exotismo, primitivismo e inferioridade dos povos que habitam a África. Ao retomar esses fatos lembramos que, apesar das máscaras, esculturas e outras produções africanas não terem seu estatuto de arte reconhecido, porque , pois foram classificadas como abaixo do nível da arte pelos colonizadores; apesar dos homens e mulheres artistas africanos terem sido expropriados de suas funções e escravizados; apesar de já terem sido criadas proibições oficiais de acesso a determinados materiais, como ouro, para os negros; apesar de toda uma estrutura coercitiva de assegurar a estabilidade do sistema mantendo os africanos e seus descendentes sob constante terror, brutalidade e ignorância. , aAinda assims as manifestações artísticas dos povos da África, habitantes do continente ou em diáspora, não foi silenciada. Os africanos souberam resistir à própria e total desumanização e continuaram desenvolvendo suas produções artísticas. Dessa forma, com a constatação de que a estética africana é um tema ainda pouco explorado na filosofia, convidamos as pesquisadoras e pesquisadores para a publicação de artigos que versem sobre tal temática. E partindo do fato de que a estética é uma ciência da sensibilidade, então colocamos a questão: quais afetos são produzidos quando articulamos a imagem de África com a nossas sensibilidades? Para isso é necessário contrapor-se ao discurso colonial e à crença na modernidade como narrativa ocidental para dar legitimidade às vozes subalternas de África e de sua diáspora. Com isso, este dossiê aceitará textos que incitem a repensar através de manifestações artísticas (teatro, cinema, música, grafite, entre outras) como a ideia de África torna-se um signo (MBEMBE, 2015) contemporâneo de decolonização não somente no continente (DIAGNE, 2007; MUDIMBE, 1990), mas também na diáspora por meio da ancestralidade ou da construção de um discurso territorial do negro (SODRÉ, 1987).