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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


EE754 – ONDAS GUIADAS

Revisão (EE540)
Prof. Lucas Heitzmann Gabrielli
Parte 1: Equações de Maxwell
Equações de Maxwell

∂𝓑
∇×𝓔=− Lei de Faraday
∂𝑡
∂𝓓
∇×𝓗=𝓙+ Lei de Ampère
∂𝑡
∇ ⋅ 𝓓 = 𝜌˜ Lei de Gauss (elétrica)
∇⋅𝓑=0 Lei de Gauss (magnética)

𝓔 [V/m] : campo elétrico


𝓗 [A/m] : campo magnético
𝓓 [C/m2] : densidade de fluxo elétrico ou campo de deslocamento elétrico
𝓑 [T] : densidade de fluxo magnético ou campo de indução magnética
𝓙 [A/m2] : densidade de corrente elétrica
𝜌˜ [C/m3] : densidade volumétrica de carga
Conservação de carga (continuidade)

Aplicando o divergente na lei de Faraday e usando a lei de Gauss em conjunto com a identidade
vetorial ∇ ⋅ ∇ × 𝓒 = 0:

∇⋅∇×𝓗=∇⋅𝓙+ ∇⋅𝓓⇔
∂𝑡
∂𝜌˜
⇔ +∇⋅𝓙=0
∂𝑡

Integrando sobre um volume 𝑉 com fronteira 𝑆 e aplicando o teorema de Gauss (teorema da


divergência):

󰞂 𝓙 ⋅ d𝐒 = − 󰝾 𝜌˜ d𝑉
∂𝑡
𝑆 𝑉
Relações constitutivas

As relações entre os campos e as densidades de fluxos elétricos e magnéticos, bem como entre
a densidade de corrente e o campo elétrico dependem das características do meio segundo as
seguintes convoluções:

𝓓(𝐫, 𝑡) = 𝜀(𝑡) ∗ 𝓔(𝐫, 𝑡)


𝓑(𝐫, 𝑡) = 𝜇(𝑡) ∗ 𝓗(𝐫, 𝑡)
𝓙(𝐫, 𝑡) = 𝜎(𝑡) ∗ 𝓔(𝐫, 𝑡)

É comum especificar-se a permissividade e a permeabilidade do meio relativas às constantes em


vácuo: 𝜀𝑟 = 𝜀𝜀 e 𝜇𝑟 = 𝜇𝜇
0 0

𝜀 [F/m] : permissividade ou constante dielétrica (no vácuo: 𝜀0 = 8,854 × 10−12 F⁄m)


𝜇 [H/m] : permeabilidade (no vácuo: 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 H⁄m)
𝜎 [S/m] : condutividade elétrica
Teorema de Poynting

É fácil mostrar que em um meio linear, isotrópico e sem dispersão:


1∂
∇ ⋅ (𝓔 × 𝓗) + 𝓙 ⋅ 𝓔 + 󰙃𝜀|𝓔|2 + 𝜇|𝓗|2 󰙄 = 0
2 ∂𝑡

Integrando sobre um volume 𝑉 envolto por uma superfície 𝑆 :


∂ 1
󰞂 𝓔 × 𝓗 ⋅ d𝐒 + 󰝾 𝓙 ⋅ 𝓔 d𝑉 = − 󰝾 󰙃𝜀|𝓔|2 + 𝜇|𝓗|2 󰙄 d𝑉
∂𝑡 2
𝑆 𝑉 𝑉

𝓢𝑖 = 𝓔 × 𝓗 [W/m2] : vetor de Poynting instantâneo (densidade de potência)


𝓙⋅𝓔 [W/m3] : densidade de potência dissipada
1
𝜀|𝓔|2 [J/m3] : densidade de energia elétrica
2
1
𝜇|𝓗|2 [J/m3] : densidade de energia magnética
2
Campos harmônicos
Assumindo que todos os campos e fontes têm dependência temporal harmônica de frequência
angular 𝜔, podemos descrevê-los através de seus fasores complexos:
1
𝓒(𝑡) = ℜ 󰙇𝐂𝑒 𝑗𝜔𝑡 󰙈 = 󰙃𝐂𝑒 𝑗𝜔𝑡 + 𝐂∗ 𝑒 −𝑗𝜔𝑡 󰙄
2
∂𝓒 𝑗𝜔
= 󰙃𝐂𝑒 𝑗𝜔𝑡 − 𝐂∗ 𝑒 −𝑗𝜔𝑡 󰙄
∂𝑡 2

Utilizando a representação fasorial, reescrevemos as equações de Maxwell:


∇ × 𝐄 = −𝑗𝜔𝐁
∇ × 𝐇 = 𝐉 + 𝑗𝜔𝐃
∇⋅𝐃=𝜌
∇⋅𝐁=0

Note que 𝐉 e 𝜌 também são fasores de 𝓙 e 𝜌,


˜ respectivamente.
Relações constitutivas para campos harmônicos

As convoluções no domínio do tempo tornam-se apenas produtos entre os fasores:

𝐃 = 𝜀𝐄 𝐁 = 𝜇𝐇 𝐉 = 𝜎𝐄

Podemos também definir os vetores de polarização e magnetização, que representam as


respostas do meio aos campos elétrico e magnético:
𝐏 = 𝜀0 𝜒𝑒 𝐄 = 𝐃 − 𝜀0 𝐄
1
𝐌 = 𝜒𝑚 𝐇 = 𝐁−𝐇
𝜇0

𝜒𝑒 = 𝜀
𝜀0 − 1 [1] : susceptibilidade elétrica
𝜒𝑚 = 𝜇𝜇 − 1 [1] : susceptibilidade magnética
0

𝐏 [C/m2] : polarização
𝐌 [A/m] : magnetização
Correntes e cargas

Além das densidades de corrente de condução 𝐉 e de deslocamento 𝑗𝜔𝐃 da lei de Faraday e


da densidade de carga externa 𝜌 da lei de Gauss elétrica, podemos reescrever essas equações
utilizando os vetores de polarização e magnetização para obter:

∇ × 𝐁 = 𝑗𝜔𝜇0 𝜀0 𝐄 + 𝜇0 (𝐉 + 𝑗𝜔𝐏 + ∇ × 𝐌)
∇ ⋅ 𝐄 = 𝜀0 −1 (𝜌 − ∇ ⋅ 𝐏)

Identificamos nessas equações:

Densidade de corrente de polarização: 𝐉pol = 𝑗𝜔𝐏


Densidade de corrente de magnetização: 𝐉mag = ∇ × 𝐌
Densidade volumétrica de carga de polarização: 𝜌pol = −∇ ⋅ 𝐏
Teorema de Poynting para campos harmônicos
O vetor instantâneo de Poynting calculado através da representação fasorial é dado por:
1
𝓢𝑖 = 𝓔 × 𝓗 = 󰙃ℜ {𝐄 × 𝐇∗ } + ℜ 󰙇𝐄 × 𝐇𝑒 𝑗2𝜔𝑡 󰙈󰙄
2
Note que a média temporal de 𝓢𝑖 é dada por 𝓢 = 12 ℜ{𝐄 × 𝐇∗ }.
O teorema de Poynting na forma complexa é:
1 1 1 1
∇ ⋅ 󰚛 𝐄 × 𝐇∗ 󰚜 + 𝐄 ⋅ 𝐉∗ + 𝑗2𝜔 󰚛 𝜇|𝐇|2 − 𝜀|𝐄|2 󰚜 = 0 ⇔
2 2 4 4
1 1 1 1
⇔ 󰞂 𝐄 × 𝐇∗ ⋅ d𝐒 + 󰝾 𝐄 ⋅ 𝐉∗ d𝑉 + 𝑗2𝜔 󰝾 󰚛 𝜇|𝐇|2 − 𝜀|𝐄|2 󰚜 d𝑉 = 0
2 2 4 4
𝑆 𝑉 𝑉

𝓢𝑐 = 12 𝐄 × 𝐇∗ [W/m2] : vetor de Poynting complexo (densidade de potência complexa)


𝑃𝑑 = 12 𝐄 ⋅ 𝐉∗ [W/m3] : densidade de potência dissipada
𝑈𝑒 = 14 𝜀|𝐄|2 [J/m3] : média temporal da densidade de energia elétrica
𝑈𝑚 = 14 𝜇|𝐇|2 [J/m3] : média temporal da densidade de energia magnética
Parte 2: Ondas Planas
Equação de onda

Em um meio homogêneo (∂𝑖 𝜀 = ∂𝑖 𝜇 = 0, 𝑖 ∈ {𝑥, 𝑦, 𝑧}), não condutor (𝜎 = 0), sem perdas
(𝜀 ∈ ℝ, 𝜇 ∈ ℝ) e sem fontes (𝐉 = 0, 𝜌 = 0):

∇ × 𝐄 = −𝑗𝜔𝜇𝐇 ⇒
⇒ ∇ × ∇ × 𝐄 = ∇ × (−𝑗𝜔𝜇𝐇) ⇔
⇔ ∇(∇ ⋅ 𝐄) − ∇2 𝐄 = −𝑗𝜔𝜇∇ × 𝐇 ⇔
⇔ − ∇2 𝐄 = −𝑗𝜔𝜇 (𝑗𝜔𝜀𝐄) ⇔

⇔ ∇2 𝐄 + 𝜔 2 𝜇𝜀𝐄 = 0

Similarmente para o campo magnético obtemos:


∇ × 𝐇 = 𝑗𝜔𝜀𝐄 ⇒
⇒ ∇2 𝐇 + 𝜔 2 𝜇𝜀𝐇 = 0
Solução da equação de onda
Consideramos como solução uma onda plana com vetor de onda 𝐤 = 𝑘𝐮𝑘 , com 𝐮𝑘 um vetor
unitário na direção de 𝐤:
𝐄(𝐫) = 𝐄0 𝑒 −𝑗𝐤⋅𝐫 ou 𝓔(𝐫, 𝑡) = ℜ 󰙝𝐄0 𝑒 𝑗(𝜔𝑡−𝐤⋅𝐫) 󰙞

Substituindo essa solução na equação de onda, obtemos a equação de dispersão, que relaciona a
frequência angular da onda com sua constante de propagação:
𝐤 ⋅ 𝐤 = 𝑘 2 = 𝜔 2 𝜇𝜀 ⇔

⇔ 𝑘 = 𝜔 𝜇𝜀

Da equação de dispersão obtemos as velocidades de fase e grupo da onda:


𝜔 1 ∂𝜔 1
𝑣𝑝 = =√ 𝑣𝑔 = =√
𝑘 𝜇𝜀 ∂𝑘 𝜇𝜀

𝐤 [rad/m] : vetor de onda


Solução da equação de onda
Para que a solução respeite a lei de Gauss (elétrica), devemos ter:

∇ ⋅ (𝜀𝐄) = 0 ⇔
⇔ ∇ ⋅ 𝐄 = −𝑗𝐤 ⋅ 𝐄 = 0
∴ 𝐤⊥𝐄
𝐇
A solução para o campo magnético é:

− 𝑗𝜔𝜇𝐇 = ∇ × 𝐄 = −𝑗𝐤 × 𝐄 ⇔
1 1
⇔𝐇= 𝐤 × 𝐄 = 𝐮𝑘 × 𝐄 𝐄
𝜔𝜇 𝜂 𝐤
Ou seja, 𝐤, 𝐄 e 𝐇 são perpendiculares (onda transversal) e formam um
triedro direito.
𝜇
𝜂=󰞐 [Ω] : impedância do meio (no vácuo: 𝜂0 = 376,7 Ω ≈ 120𝜋 Ω)
𝜀
Polarização
A polarização é definida pela relação
𝐇= 𝐸0 −𝑗𝑘𝑧 de magnitudes e defasagem entre as
𝜂 𝐮𝑦 𝑒
componentes do vetor campo elétrico
𝐄 = 𝐸0 𝐮𝑥 𝑒 −𝑗𝑘𝑧 (ou magnético) no plano transversal
da onda.
𝐤 = 𝑘𝐮𝑧 Ela reflete o desenho que a ponta do
Linear
vetor de campo descreve ao longo da
trajetória de propagação da onda (em
𝐸0 sentido reverso) em um determinado
𝐇= 𝜂 (𝐮𝑦 − 𝑗𝐮𝑥 )𝑒 −𝑗𝑘𝑧 instante ou, equivalentemente, ao
longo do tempo em um determinado
𝐄 = 𝐸0 (𝐮𝑥 + 𝑗𝐮𝑦 )𝑒 −𝑗𝑘𝑧 plano transverso.

𝐤 = 𝑘𝐮𝑧 • Linear
• Circular esquerda ou direita
Circular esquerda • Elíptica esquerda ou direita
Potência e energia
Vetor de Poynting complexo:
1 |𝐄|2
𝓢𝑐 = 𝐄 × 𝐇 ∗ = 𝐮
2 2𝜂 ∗ 𝑘
1 |𝐄|2 |𝐄|2
𝓢 = ℜ{𝓢𝑐 } = ℜ 󰚟 󰚠 𝐮 = 𝐮
𝜂∗ 2 𝑘 2𝜂 𝑘
A média do vetor de Poynting é constante e aponta no mesmo sentido de propagação da onda,
i.e., a potência transmitida é constante em todo o espaço, o que não é fisicamente possível, mas
ainda assim é uma valiosa aproximação.
Densidade de energia armazenada nos campos:
𝜀|𝐄|2
𝑈𝑒 =
4
𝜇|𝐇|2 𝜇|𝐄|2
𝑈𝑚 = = = 𝑈𝑒
4 4𝜂 2
Meio com perdas

Em um meio homogêneo (∂𝑖 𝜀 = ∂𝑖 𝜇 = 0, 𝑖 ∈ {𝑥, 𝑦, 𝑧}) e sem fontes (𝐉 = 0, 𝜌 = 0), mas


possivelmente com perdas, obtemos a seguinte equação de onda:

∇ × 𝐄 = −𝑗𝜔𝜇𝐇 ⇒
⇒ ∇ × ∇ × 𝐄 = ∇ × (−𝑗𝜔𝜇𝐇) ⇔
⇔ ∇(∇ ⋅ 𝐄) − ∇2 𝐄 = −𝑗𝜔𝜇∇ × 𝐇 ⇔
⇔ ∇2 𝐄 − 𝑗𝜔𝜇 (𝜎 + 𝑗𝜔𝜀) 𝐄 = 0 ⇔
𝑗𝜎
⇔ ∇2 𝐄 + 𝜔 2 𝜇 󰚛𝜀 − 󰚜𝐄 = 0
𝜔

Vemos neste caso a equivalência entre um meio condutor (𝜎 ≠ 0) e um dielétrico com perdas
(ℑ{𝜀} ≠ 0)
Solução da equação de onda com perdas

Consideramos agora apenas o caso em que as partes real e imaginária do vetor de onda (que
agora será complexo) apontam na mesma direção e sentido. Sem perda de generalidade
escolhemos essa direção como sendo 𝐮𝑧 .

Usamos agora a notação mais comum em problemas de guiamento substituindo 𝑘 (ou, para ser
exato, 𝑗𝑘) pela constante de propagação complexa 𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽, com {𝛼, 𝛽} ⊂ ℝ.

Substituindo essa solução de onda plana uniforme na equação de onda obtemos:


𝐄(𝐫) = 𝐄0 𝑒 −𝛾𝑧 ⇒
⇒ 𝛾 2 𝐄0 𝑒 −𝛾𝑧 − 𝑗𝜔𝜇(𝜎 + 𝑗𝜔𝜀)𝐄0 𝑒 −𝛾𝑧 = 0 ⇔
⇔ 𝛾 = ±󰞎𝑗𝜔𝜇(𝜎 + 𝑗𝜔𝜀)

𝛼 [Np/m] : constante de atenuação


𝛽 [rad/m] : constante de fase
Solução da equação de onda com perdas

A escolha do sinal ± indica apenas que a onda pode propagar-se em ambos os sentido ao longo
de 𝑧, de modo que a solução completa é:

𝐄 = 𝐄+
0
𝑒 −𝛾𝑧 + 𝐄−
0
𝑒 +𝛾𝑧 = 𝐄+
0
𝑒 −𝛼𝑧 𝑒 −𝑗𝛽𝑧 + 𝐄−
0
𝑒 +𝛼𝑧 𝑒 +𝑗𝛽𝑧
1 𝛾 1
𝐇=− ∇×𝐄= 𝐮𝑧 × 𝐄 = 𝐮𝑧 × 𝐄
𝑗𝜔𝜇 𝑗𝜔𝜇 𝜂

Com 𝛾 e 𝜂 dados por:

𝛾 = 𝛼 + 𝑗𝛽 = 󰞎𝑗𝜔𝜇(𝜎 + 𝑗𝜔𝜀)

𝑗𝜔𝜇 𝑗𝜔𝜇
𝜂= =󰞑
𝛾 𝜎 + 𝑗𝜔𝜀
Diferentes meios
Separamos as partes real e imaginária de 𝜀 = 𝜀 ′ − 𝑗𝜀 ″ e agrupamos as perdas dielétricas com a
condutividade para obter 𝜎ef = 𝜎 + 𝜔𝜀 ″ .

Assim, podemos calcular as constantes de fase 𝛽 e atenuação 𝛼 nas seguintes condições


especiais:

Sem perdas Baixas perdas Condutores


Caso geral magnéticas ℑ{𝜇} = 0 ℑ{𝜇} = 0
ℑ{𝜇} = 0 𝜎ef ≪ 𝜔𝜀 ′ 𝜎ef ≫ 𝜔𝜀 ′
󰞍 ′
󰞌 𝜇𝜀 𝜎ef 2 𝜎ef 𝜇 𝜔𝜇𝜎ef
𝛼 ℜ 󰙳󰞎𝑗𝜔𝜇(𝜎 + 𝑗𝜔𝜀)󰙴 𝜔󰞌 󰛕󰞐1 + 󰚅 󰚆 − 1󰛖 ≈ 󰞐 ′ ≈󰞐
2 𝜔𝜀 ′ 2 𝜀 2

󰞍 ′
󰞌 𝜇𝜀 𝜎ef 2 𝜔𝜇𝜎ef
𝛽 ℑ 󰙳󰞎𝑗𝜔𝜇(𝜎 + 𝑗𝜔𝜀)󰙴 𝜔󰞌 󰛕󰞐1 + 󰚅 󰚆 + 1󰛖 ≈ 𝜔󰞎𝜇𝜀 ′ ≈󰞐
2 𝜔𝜀 ′ 2

Diferentes meios
Uma maneira de especificar as perdas de um meio dielétrico é utilizando a tangente de perdas,
definida como:
𝜎
tan 𝛿 = ef′ [1]
𝜔𝜀
Nos condutores é útil o conceito de profundidade de penetração, 𝜉, definida como a distância
para a qual a amplitude do campo decai de um fator 𝑒 −1 , de modo que:

1 2
𝜉= ≈󰞑 [m]
𝛼 𝜔𝜇𝜎ef

Ainda para o caso de condutores observamos pela expressão da impedância que o campo
magnético é atrasado 45° em relação ao campo elétrico:

𝑗𝜔𝜇 𝜔𝜇 𝜔𝜇 𝜋
𝜂=󰞑 ≈󰞐 (1 + 𝑗) = 󰞐 𝑒 𝑗 4
𝜎 + 𝑗𝜔𝜀 2𝜎ef 𝜎ef
Potência
Considerando apenas a onda que se propaga no sentido de 𝐮𝑧 : 𝐄 = 𝐄+
0
𝑒 −𝛼𝑧 𝑒 −𝑗𝛽𝑧 , e escrevendo
a impedância do meio como 𝜂 = |𝜂|𝑒 𝑗𝜃 , temos:

1 ∗ |𝐄|2 |𝐄+0
|2 −2𝛼𝑧 𝑗𝜃
𝓢𝑐 = 𝐄 × 𝐇 = 𝐮 = 𝑒 𝑒 𝐮𝑧
2 2𝜂 ∗ 𝑧 2|𝜂|
|𝐄+0
|2 −2𝛼𝑧
𝓢 = ℜ{𝓢𝑐 } = 𝑒 cos(𝜃)𝐮𝑧
2|𝜂|
Neste caso é importante notar como a densidade de potência transmitida decai ao longo do
sentido de propagação, já que há perdas no meio.

Como transformar a constante de atenuação do campo 𝛼 (em Np/m) em uma especificação


de perda de potência em dB/m?
Parte 3: Condições de fronteira
Campo elétrico tangencial

𝑏 𝐮𝑛
𝜀1 , 𝜇1 2

𝐮𝑡
𝑏 𝐮𝑠
2
𝜀2 , 𝜇2


󰞂 𝓔 ⋅ d𝐋 = − 󰝾 𝓑 ⋅ d𝐒 ⇒
∂𝑡
𝐿 𝑆
𝑎𝑏 ∂
⇒ 𝑎(𝐮𝑡 ⋅ 𝓔2 − 𝐮𝑡 ⋅ 𝓔1 ) = − (𝐮 ⋅ 𝓑1 + 𝐮𝑠 ⋅ 𝓑2 ) ⇒ … ⇒
2 ∂𝑡 𝑠
⇒ 𝐮𝑛 × (𝓔1 − 𝓔2 ) = 0
Campo magnético tangencial

𝑏 𝐮𝑛
𝜀1 , 𝜇1 2

𝐮𝑡
𝑏 𝐮𝑠
2
𝜀2 , 𝜇2

𝑎

󰞂 𝓗 ⋅ d𝐋 = 󰝾 𝓙 ⋅ d𝐒 + 󰝾 𝓓 ⋅ d𝐒 ⇒
∂𝑡
𝐿 𝑆 𝑆
𝑏⁄2
𝑎𝑏 ∂
⇒ 𝑎(𝐮𝑡 ⋅ 𝓗2 − 𝐮𝑡 ⋅ 𝓗1 ) = 𝑎 󰝾 𝐮𝑠 ⋅ 𝓙 dℓ + 𝐮𝑠 𝐮𝑠 ⋅ (𝓓1 + 𝓓2 ) ⇒ … ⇒
2 ∂𝑡
−𝑏⁄2

⇒ 𝐮𝑛 × (𝓗1 − 𝓗2 ) = 𝓙𝑠
Campo elétrico normal

𝐴
𝑏
𝐮𝑛
𝜀1 , 𝜇1 2

𝐮𝑡
𝐮𝑠
𝑏
2
𝜀2 , 𝜇2
𝐴

󰞂 𝓓 ⋅ d𝐒 = 󰝾 𝜌˜ d𝑉 ⇒
𝑆 𝑉
𝑏⁄2

⇒ 𝐴(𝐮𝑛 ⋅ 𝓓1 − 𝐮𝑛 ⋅ 𝓓2 ) = 𝐴 󰝾 𝜌˜ dℓ ⇒ … ⇒
−𝑏⁄2

⇒ 𝐮𝑛 ⋅ (𝓓1 − 𝓓2 ) = 𝜌˜𝑠
Campo magnético normal

𝐴
𝑏
𝐮𝑛
𝜀1 , 𝜇1 2

𝐮𝑡
𝐮𝑠
𝑏
2
𝜀2 , 𝜇2
𝐴

󰞂 𝓑 ⋅ d𝐒 = 0 ⇒
𝑆

⇒ 𝐴(𝐮𝑛 ⋅ 𝓑1 − 𝐮𝑛 ⋅ 𝓑2 ) = 0 ⇔

⇔ 𝐮𝑛 ⋅ (𝓑1 − 𝓑2 ) = 0
Correntes e cargas superficiais

As condições de contorno envolvendo as componentes normais de 𝓓 e tangenciais de 𝓗


envolvem densidades superficiais de carga 𝜌˜𝑠 e corrente 𝓙𝑠 .

Usando os vetores de polarização 𝐏1 e 𝐏2 podemos encontrar a densidade de carga superficial


de polarização em cada meio:

𝐮𝑛 ⋅ (𝜀0 𝐄1 − 𝜀0 𝐄2 ) = 𝜌𝑠 + 𝜌𝑠,pol + 𝜌𝑠,pol


1 2

𝜌𝑠,pol = 𝐮𝑛ℓ ⋅ 𝐏ℓ (𝐮𝑛ℓ apontando para fora do meio ℓ)


𝓙𝑠 [A/m] : densidade superficial de corrente elétrica


𝜌˜𝑠 [C/m2] : densidade superficial de carga
Exercícios
1 Calcule as constantes de fase e atenuação de uma onda plana uniforme com frequência
10 GHz que se propaga em um meio com constante dielétrica 2,33 e tangente de perdas
1,3×10−3. Determine também a impedância complexa deste meio.

2 Calcule as constantes de fase e atenuação de uma onda plana uniforme com frequência
10 GHz que se propaga em um meio de cobre (condutividade 5,8×107 S/m). Determine também
a profundidade de penetração da onda.

3 Uma onda plana uniforme com frequência 10 GHz propaga-se em um meio não magnético e
apresenta campo magnético descrito por 𝐇 = 0.215𝐮𝑧 𝑒 (256+𝑗1,8×10 )𝑦 A⁄m. Obtenha a expressão
3

temporal para o campo elétrico 𝓔 desta onda. Determine também a densidade de potência
média transmitida pela onda (vetorial) e as perdas provocadas pelo meio em dB/mm.

4 Partindo da Lei de Gauss elétrica, demonstre a condição de fronteira para densidade de fluxo
elétrico. A seguir demonstre a expressão 𝐮𝑛 ⋅ (𝜀0 𝐄1 − 𝜀0 𝐄2 ) = 𝜌𝑠 + 𝜌𝑠,pol + 𝜌𝑠,pol
1 2

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