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SAGRADO E PROFANO2

SAGRADO:
Vamos identificar o Sagrado pelo termo HIEROFANIA = algo de
Prof. Silas (Ensino Religioso) 1ª Série Ensino Médio sagrado se revela aos homens. A história das religiões - desde as mais
primitivas às mais elaboradas – é constituída por um número considerável de
INTRODUÇÃO1 HIEROFANIAS → pelas manifestações das realidades sagradas.
É tudo aquilo que divinizamos ou está relacionado ao divino, foco de
Sagrado se tornou uma palavra-chave para os pesquisadores da respeito, veneração e até mesmo de adoração. São considerados sagrados, a
religião no século XX: descreve a natureza da religião e o que ela tem de própria divindade (Deus ou deuses), também os seres ligados diretamente a
especial. Esse termo ganhou realce numa obra sobre psicologia da religião, A ela, como os anjos, os avatares, etc. Além da divindade e dos seres ligados a
ideia do sagrado, de Rudolf Otto, publicada em 1917. O sagrado é das ganz ela também podemos identificar como sagrados coisas como alguns tipos de
Andere, o "inteiramente outro", ou seja, aquilo que é totalmente diferente de alimentos (o pão e o vinho oferecidos em sacrifício nos ritos cristãos da missa
tudo o mais e que, portanto, não pode ser descrito em termos comuns. Otto ou do culto), objetos (cálice, altar, roupas, bíblia, ícones, etc. a serviço do
fala de uma dimensão especial da existência, a que chama de misterium culto divino), lugares (templos, igrejas, sinagogas, montanhas, cidades, etc.),
tremendum et fascinosum (em latim, "mistério tremendo e fascinante"). É uma pessoas (profetas, sacerdotes, etc.), também existem outros tipos de coisas
força que por um lado engendra um sentimento de grande espanto, quase de sagradas bastante curiosas como: árvores, pedras, o sol, a lua, etc.
temor, mas por outro lado tem um poder de atração ao qual é difícil resistir. O Sagrado está quase sempre relacionado a ideia de santidade, mas
Um dos que adotaram essa noção de sagrado foi o romeno Mircea não necessariamente no sentido de perfeição, e sim também no sentido de
Eliade, estudioso de religiões, em seu livro O sagrado e o profano. Ele propriedade, ou seja, enquanto certas coisas ou seres são propriedades do Ser
começa com uma definição muito simples do que é o sagrado: é o oposto do ou dos seres divinos em questão. Isso ocorre por exemplo como no caso do
profano. Em seguida, põe-se a considerar o significado original dessas povo de Israel que é um povo considerado sagrado mediante a aliança
palavras. Sagrado indica algo que é separado e consagrado; profano denota realizada entre Javé (Deus) e o patriarca Abraão, cujo trato (aliança) conforme
aquilo que está em frente ou do lado de fora do templo. Eliade acredita que o está escrito na Torá, torna os descendentes de Abraão, propriedade de Javé,
homem obtém seu conhecimento do sagrado porque este se manifesta como mas não exige do povo perfeição, apenas que este adore e sirva a Javé como
algo totalmente diferente do profano. Ele chama isso de hierofani, palavra Deus Único e não venham a adorar outros deuses.
grega que significa, literalmente, "algo sagrado está se revelando para nós".
E o que sempre acontece, não importa se o sagrado se manifesta numa pedra, PROFANO:
numa árvore ou em Jesus Cristo. Alguém que adora uma pedra não está Ao contrário do sagrado o profano é tudo aquilo que está relacionado
prestando homenagem à pedra em si. Venera a pedra porque esta é um ao mundo atual em que vivemos, também chamado de século. Mas é
hierofani, ou seja, ela aponta o caminho para algo que é mais do que uma importante ressaltar que quando falamos de profano, não estamos nos
simples pedra: é "o sagrado". referimos ao mundo como algo negativo ou ruim. Talvez algumas religiões

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LIMA, Dilermando Freitas de. Sagrado e Profano. 2012. Disponível em:
http://ensinoreligioso1.blogspot.com.br/2012/06/o-sagrado-e-o-profano.html.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo:
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VICTOR, Hellern et al. O livro das religiões. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. Martins Fontes, 1992.
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possam ter uma visão negativa do mundo, mas não podemos generalizar. O Apesar de não se tratar de uma obra especificamente fenomenológica,
próprio Jesus afirmou certa vez que não é o que vem de fora (do mundo) que o livro “O Sagrado”, de Rudolf Otto, tem sido considerado a ponte da
torna o homem impuro e sim o que sai de dentro do homem (Mateus 15:11), fenomenologia filosófica de Husserl para a fenomenologia da religião de
pois tudo o que Deus criou é bom (Gênesis 1,1ss). O ser humano é quem Leeuw. Nele, Otto analisa a experiência religiosa afirmando que a mesma tem
destrói as coisas, mata por inveja, vingança, rouba, destrói a natureza, etc. por agente o “sagrado”, que se manifesta como um “mistério tremendo e
Quando nos referimos ao elemento profano estamos nos referimos ao fascinante”. “Mistério” porque é algo maravilhoso, que transcende a
mundo atual em que vivemos com as coisas diárias que fazemos, e que não compreensão do homem, totalmente outro; “tremendo” porque é uma potência
possui relação alguma com a divindade ou divindades, refere-se estranha, que se impõe de forma absoluta; e “fascinante” porque desperta
exclusivamente a vida humana em si, como o ato de namorar, trabalhar, curiosidade, causa fascínio. Ou seja, a experiência religiosa se dá quando o
estudar, comercializar, etc e que nada tem a ver com o culto as divindades. homem entra em contato com o sagrado e isso lhe causa um “sentimento de
Deste modo, são profanos todos os atos e relações humanas que não estão estado de criatura”20, enchendo o seu ser de perguntas, terror e admiração.
relacionados ao culto à divindade. A experiência religiosa é ao mesmo tempo individual e comunitária.
Individual porque o homem religioso a experimenta na sua particularidade.
A IMPORTÂNCIA DE RESPEITAR O SAGRADO Comunitária porque esse mesmo homem não a contêm e por isso comunica
com outros sobre a mesma. Neste processo, a experiência religiosa se
Sagrado não é apenas aquilo que existe dentro da religião a qual se manifesta através de linguagens próprias, que se apresentam em forma de
pertence, pois o que é sagrado para uma religião, pode não ser para outra. Mas fenômenos. São estes fenômenos que constituem o objeto da fenomenologia
quando há respeito mútuo, aprendemos a conviver com harmonia e da religião.
consideração. Pomos fim às guerras religiosas e as perseguições e valorizamos
o que talvez há de melhor na religião do outro. CRENÇA, REVELAÇÃO E FÉ
Ter uma ideia negativa do profano achando que o mundo e as coisas
mundanas são sinais de pecado e de impureza é desconsiderar que tudo o que Crença: Crença: Define-se por crença a firme convicção e a conformidade
existe foi criado por Deus (Gênesis 1, 1ss), um ser superior e transcendente com algo. A crença é a ideia que se considera verdadeira e à qual se dá todo o
que nos permitiu tudo isso que temos ao nosso redor, para a nossa crédito.
sobrevivência e para a nossa felicidade. Quando respeitamos o sagrado do Revelação: Parte de um Deus que se comunica ao ser humano; Algumas
outro, temos o direito a exigir respeito ao que é sagrado em nós. religiões que partem desta revelação: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo...
Como se dá a revelação: Deus manifestou-se desde o princípio, aos nossos
EXPERIÊNCIA RELIGIOSA3 primeiros pais através das coisas criadas; Convidou-os a uma comunhão
íntima consigo mesmo revestindo-os de uma Graça e justiça resplandecentes;
A experiência é a forma básica de aquisição de conhecimento. Nada Fe: De acordo com a etimologia, a palavra fé tem origem no Grego "pistia"
chega ao nosso intelecto sem causar uma experiência pessoal, quer seja que indica a noção de acreditar e no Latim "fides", que remete para uma
empírica ou existencial. A experiência existencial pode ser física, social, atitude de fidelidade. Fé é uma palavra que significa "confiança", "crença",
moral, metafísica ou religiosa. Assim sendo, a religiosidade está intimamente "credibilidade". A fé é um sentimento de total de confiança em algo ou
relacionada com a experiência, no caso, com o sagrado. alguém, ainda que não haja nenhum tipo de evidência que comprove a
veracidade da proposição em causa. Ter fé implica uma atitude contrária à
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dúvida e está intimamente ligada à confiança.
SILVA, Cácio. Fenomenologia da religião: Compreendendo as ideias religiosas a
partir de suas manifestações. Anápolis: Transcultural, 2008.
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