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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO

ACÓRDÃO
0001055-43.2012.5.04.0029 RO Fl. 1

DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS


Órgão Julgador: 10ª Turma

Recorrente: LEOCÁDIA CENSI - Adv. Joao Batista Tavares Leao


Recorrente: GOLDEN MIX CONCRETO LTDA. E OUTRO(S) - Adv.
Joao Batista Tavares Leao
Recorrido: OS MESMOS

Origem: 29ª Vara do Trabalho de Porto Alegre


Prolator da
Sentença: JUÍZA LUCIANE CARDOSO BARZOTTO

EMENTA

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE.


INTERVALO INTRAJORNADA. FRUIÇÃO PARCIAL.
Entendimento prevalecente de que, uma vez
demonstrada a fruição parcial do intervalo intrajornada
mínimo de 1 (uma) hora previsto no art. 71 da CLT, é
devido o valor correspondente ao período integral
assegurado, com acréscimo de 50%, em conformidade
com a posição firmada na Súmula 437, I, do TST.
Recurso provido no aspecto.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da 10ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 4ª Região: por maioria, vencida parcialmente a
Desembargadora Vânia Cunha Mattos e o Desembargaodr Luiz Alberto de
Vargas, por votos díspares, DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO
ORDINÁRIO DO RECLAMANTE para acrescer à condenação: a) 1 (uma)

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hora por dia trabalhado em que desrespeitado o intervalo intrajornada


mínimo legal, acrescido do adicional de 50%, com os mesmos reflexos
deferidos na sentença relativamente às horas extras; b) indenização pela
limpeza dos próprios uniformes no valor de R$ 15,00 (quinze reais)
mensais. Por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO
ORDINÁRIO DAS RECLAMADAS. Valor da condenação acrescido em R$
1.000,00 (mil reais). Custas adicionais de R$ 20,00 (vinte reais).

Intime-se.

Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2014 (quinta-feira).

RELATÓRIO

Inconformadas com a sentença das fls. 360-365, as partes recorrem.

As reclamadas LEOCÁDIA CENSI & CIA LTDA e GOLDEN MIX


CONCRETO LTDA interpõem recurso ordinário, fls. 368-374, insurgindo-se
contra o julgado em relação às seguintes matérias: adicional de
insalubridade, diferenças de horas extras, devolução de descontos e
honorários periciais.

O reclamante recorre de forma adesiva, fls. 383-388, buscando a reforma


daquela quanto aos tópicos: indenização pela lavagem do uniforme, horas
extras (pela invalidade dos controles de ponto), intervalo intrajornada,
acréscimo salarial pelo acúmulo de funções, adicional de periculosidade,
cumulação dos adicionais de insalubridade e de periculosidade, base de
cálculo do adicional de insalubridade e honorários advocatícios.

Com contrarrazões do reclamante, fls. 381-383, e das reclamadas, fls. 393-

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402, os autos são remetidos a este Tribunal para apreciação.

É o relatório.

VOTO

DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS (RELATOR):

A) RECURSOS ORDINÁRIOS DAS PARTES. MATÉRIAS COMUNS OU


CONEXAS

1. Adicionais de insalubridade e de periculosidade. Possibilidade de


cumulação dos adicionais. Base de cálculo do adicional de
insalubridade

O Juízo de origem, fl. 361, acolhendo integralmente o laudo pericial, o qual


referiu não ter sido infirmado por outro meio de prova, indeferiu o
pagamento de adicional de periculosidade, "porquanto a ré tinha
abastecedor, como se depreende da prova testemunhal", e, com base
no Anexo 13 da NR-15 da Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho,
condenou as reclamadas ao pagamento de "diferenças de adicional em
grau médio para o máximo, calculados sobre o salário mínimo, tudo
com reflexos (...)", por conta das atividades de lavagem das betoneiras
com graxas e óleos minerais.

As reclamadas insurgem-se contra o deferimento de diferenças do


adicional de insalubridade do grau médio para o máximo. Sustentam ter o
perito técnico feito o enquadramento equivocado das atividades do
reclamante, reportando-se ao laudo técnico juntado, referente a outro
processo, com mesmo objeto e conclusão totalmente diferente. Mantida a

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condenação, buscam a redução do valor arbitrado a título de honorários


periciais (R$ 1.500,00), referindo que a confecção do laudo pericial não
deve ter demandado mais do que um dia de trabalho, reportando-se aos
parâmetros adotados pelo TJ/RS.

O reclamante busca o deferimento do adicional de periculosidade. Entende


que o fato de acompanhar o abastecimento do caminhão, como
comprovado pela prova testemunhal, é suficiente para caracterizar suas
atividades como perigosas, conforme Anexo 16 da NR-15 da Portaria
3.214/78 do Ministério do Trabalho. Cita jurisprudência. Defende a
possibilidade de cumulação dos adicionais de insalubridade e de
periculosidade. Requer a adoção ao salário normativo como base de
cálculo do adicional de insalubridade.

Examino.

O reclamante foi contratado pela primeira reclamada para exercer a função


de motorista e seu contrato de trabalho vigeu de 02.05.2008 a 11.03.2011.

Realizada a inspeção pericial na sede da primeira reclamada, na presença


das partes, o perito técnico relatou ter o reclamante exercido habitualmente
as seguintes atividades, fls. 330-335:

- Todo o período como Motorista de Caminhão Betoneira no


transporte de concreto para obras diversas na grande Porto
Alegre.

- Diariamente efetuava a lavagem das betoneiras do


caminhão com água de lava jato e desengraxante Metacil
aplicado com pistola spray e acido (que não sabe o nome que
também era aplicado à pistola). Tempo da limpeza de 30 a 40

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minutos/x, 1x/dia.

- 1x/semana aplicava graxa mineral com bomba pneumática


em 12 pontos de lubrificação do caminhão, durante 20
minutos/x.

- O abastecimento do caminhão com diesel era efetuado em


uma bomba existente no pátio da empresa. Havia uma pessoa
especifica para abastecer os caminhões. Quantidade de diesel
abastecida de 80 a 100 litros e o autor permanecia ao lado do
frentista enquanto estava sendo efetuado o abastecimento.
Tempo de abastecimento no máximo 10 minutos/x, sendo que a
vazão da bomba era de no mínimo 35 litros/minuto. Ao lado da
bomba existe um tanque de diesel de 15.000 litros com bacia de
contenção. [grifos no original]

Referiu o perito técnico ter o reclamante utilizado como produtos de limpeza


"Detergente desencrustante Acido BT 28 - principio ativo acido fluorídrico" e
"Desengraxante BT 70". Relatou que não foram apresentados pelas
reclamadas documentos comprobatórios de fornecimento de EPIs, mas que
o reclamante utilizava "botina, óculos, protetor auricular e luvas de
raspa de couro. Quando o autor fazia a lubrificação e lavagem ele
declarou ao Perito que usava luvas de borracha CA 9634 da marca
Protemax ou Promat (sempre havia luvas de borracha)". Referiu que
"as luvas borracha CA 9634 não são apropriadas, ou melhor,
explicitando não estão aprovadas para atividades ou emprego de
produtos a base solvente de petróleo, graxas e óleos minerais", e que
deveria ter sido fornecido avental impermeável de hexanol ou similar para
proteção das pernas e do tronco, de acordo com a NR-6 da Portaria

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3.214/78. Concluiu o perito técnico que o reclamante mantinha contato


cutâneo contínuo e sistemático com graxas e óleos minerais, fazendo jus ao
adicional de insalubridade em grau máximo durante todo o contrato de
trabalho, conforma Anexo 13 da NR-15 da Portaria 3.214/78, pelo contato
com agentes químicos "Hidrocarbonetos e outros compostos de
carbono item "Manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno,
óleos minerais, óleo queimado, parafina ou outras substâncias
cancerígenas afins" em caráter qualitativo". Por outro lado, considerou
não serem perigosas as atividades do reclamante, pois "desenvolvia
seus trabalhos fora da bacia de segurança, que está localizada em
local aberto portanto fora da área de risco".

O laudo pericial foi oportunamente impugnado pelas partes, fls. 338-339 e


346-350, tendo as reclamadas juntado cópia de laudo pericial referente ao
Processo 0000856-21.2011.5.04.0008, fls. 351-356.

Foram juntados recibos de entrega de EPIs, fls. 77-79.

Sobre as atividades desenvolvidas, disse o reclamante em seu


depoimento, fl. 358: "que a empresa possuía um funcionário na função
de abastecedor, que se chamava Israel; que o sr. Diego era
abastecedor da empresa".

A preposta das reclamadas referiu, fl. 358: "que o motorista é o


responsável pela lavagem do caminhão, pois carrega concreto; que
o reclamante não ficava próximo da bomba de combustível para
abastecer".

A única testemunha ouvida no feito, ISRAEL DIEGO de O., fls. 358-359,


convidada pelo reclamante, relatou:

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que os motoristas encostavam o caminhão na bomba para


abastecer e ficavam próximo do caminhão; que o abastecimento
era diário, em torno de 15min; (...) que a função do depoente era
trabalhar numa máquina pá carregadeira e fazer abastecimento;
que não tinha função de abastecedor anotada na carteira; que
era o depoente quem fazia o abastecimento de todos os
caminhões; que o depoente era um dos primeiros a chegar e o
último a sair, pois fazia o abastecimento [sublinhei]

Relativamente ao adicional de periculosidade, como percebo, a prova


testemunhal confirma o descrito no laudo pericial quanto à existência de
empregado contratado para o abastecimento de caminhões, tarefa não
executada pelo reclamante, que apenas permanecia próximo do veículo
durante referida operação.

A Portaria 3.214/78, NR 16, Anexo 2, considera operações ou atividades


perigosas, em serviços de abastecimento de combustíveis líquidos, aquelas
do operador de bomba e aquelas dos trabalhadores que trabalham na área
de risco, ou seja, pressupõe que o empregado pelo menos permaneça uma
parte considerável da sua jornada de trabalho em contato com a área de
risco. No caso dos autos, o reclamante tinha como função principal a de
motorista de betoneira. Assim, mesmo que eventualmente realizasse o
abastecimento (o que não restou demonstrado) ou permanecesse próximo
ao caminhão durante o abastecimento, essa seria atividade eventual,
incapaz de enquadrar sua atividade como perigosa. É aplicável ao caso o
entendimento da Súmula 364 do TST:

Tem direito ao adicional de periculosidade o empregado


exposto permanentemente ou que, de forma intermitente,

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sujeita-se a condições de risco. Indevido, apenas, quando o


contato dá-se de forma eventual, assim considerado o fortuito,
ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo extremamente
reduzido. [sublinhei]

Consequentemente, correta a decisão do Juízo de origem ao julgar


improcedente o pedido relativo ao adicional de periculosidade.

Quanto ao adicional de insalubridade, verifico que a própria preposta das


reclamadas admitiu que a lavagem do caminhão era de responsabilidade
do motorista, tendo o perito técnico constatado que eram utilizados nesta
tarefa produtos que continham graxas e óleos minerais, sem o uso de EPIs
adequados a elidir o agente insalubre, o que caracterizada as atividades
como insalubridades em grau máximo, nos termos do Anexo 13 da NR-15
da Portaria 3.214/78, no item referente a "HIDROCARBONETOS E
OUTROS COMPOSTOS DE CARBONO (...) Manipulação de alcatrão,
breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou
outras substâncias cancerígenas afins" (sublinhei).

Registro que a conclusão do laudo pericial juntado pelas reclamadas não


prevalece sobre aquela do perito nomeado pelo Juízo, já que este é da
confiança do julgador e examinou toda a matéria técnica que lhe competia.

Mantenho, assim, a condenação das reclamadas ao pagamento de


diferenças de adicional de insalubridade do grau médio para máximo.

Quanto à base de cálculo do adicional de insalubridade, segundo entendi, a


partir do advento da Súmula Vinculante nº 4 do STF, o salário-base deveria
servir como base para cálculo da parcela, por aplicação analógica do art.
193, § 1º, da CLT. A remuneração do trabalhador, assim entendida a soma

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de todas as parcelas salariais recebidas, não poderia servir como base de


cálculo do adicional de insalubridade, uma vez que a previsão do art. 7º,
XXIII, da Constituição Federal, na verdade, estabelece a natureza salarial
do adicional, e não sua base de cálculo.

O Supremo Tribunal Federal, porém, vem reiteradamente decidindo que a


fixação de base de cálculo do adicional de insalubridade diferente do
salário mínimo, sem autorização em norma coletiva, viola a Súmula
Vinculante nº 4, porquanto, na ausência de disposição legal, não cabe ao
Poder Judiciário legislar sobre a matéria (p. ex., Reclamações 7.440/MG -
Rel. Ministro Joaquim Barbosa, DJ 10.03.2009, e 6.832/PR - Rel. Ministro
Ricardo Lewandowski, DJ 25.02.2009).

Nesse contexto, adequando-me à posição do STF e privilegiando a


segurança jurídica, passei a adotar o salário mínimo nacional como base
de cálculo do adicional de insalubridade à exceção daqueles casos em que
há instrumento normativo dispondo, expressamente, sobre a observância
de base de cálculo diversa. Não é esta, contudo, a situação dos autos. As
normas coletivas juntadas aos autos preveem piso salariais específicos
para as diversas funções (p. ex., cláusula 3ª, fl. 311) e, embora não vedem a
sua observância para cálculo do adicional de insalubridade, não
determinam expressamente tal adoção.

Por fim, no que se refere aos honorários periciais, uma vez mantida a
condenação, devem ser pagos pelas reclamadas, por força do art. 790-B
da CLT. Quanto ao valor arbitrado (R$ 1.500,00), reputo adequado à
complexidade do trabalho técnico realizado, registrando que é compatível
com os valores normalmente arbitrados por esta Turma julgadora.

Como corolário do antes decidido, resta prejudicada a apreciação da

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pretensão de cumulação dos adicionais de insalubridade e de


periculosidade.

Nego provimento a ambos os recursos.

2. Jornada de trabalho (validade dos controles de ponto, horas extras


e intervalos intrajornada)

O Juízo de origem, fls. 361-362, reportando-se aos termos da defesa


quanto às peculiaridades da entrega e da utilização do concreto, e, ainda,
com base na prova oral, declarou a validade dos controles de ponto,
referindo não ter verificado trabalho em horário noturno. Por outro lado,
identificou a existência de diferenças de horas extras, pelo cotejo dos
controles de ponto e dos recibos de pagamento juntados, condenando as
reclamadas ao pagamento de "diferenças de horas extras, assim
consideradas as excedentes à 8ª diária e 44ª semanal, acrescidas do
adicional legal de 50%, e de 100% na forma do Precedente nº 03 do
TRT/4, com reflexos". Referiu, por fim: "Não resta clara a supressão
intervalar pela prova produzida, motivo pelo qual indefere-se o
pedido de letra “e”.

As reclamadas insurgem-se contra a condenação ao pagamento de


diferenças de horas extras. Defendem a validade dos controles de ponto,
aduzindo não subsistirem as alegações da peça inicial, pois foram
corretamente anotados os horários trabalhados, inclusive intervalos
intrajornada, horas extras, jornada em sábados e em horário noturno, sendo
efetuados os pagamentos correspondentes. Aponta a impossibilidade de
comparação dos documentos referidos na sentença para fins de verificação
da existência de horas extras.

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O reclamante não se conforma com a declaração de validade dos controles


de ponto juntados. Reporta-se ao depoimento da única testemunha ouvida
no feito, que teria confirmado que os registros de horário não eram
fidedignos. Sustenta não serem confiáveis os registros eletrônicos de
jornada, pois assinados somente em uma oportunidade, não possuindo
valor probatório. Também se reporta à prova testemunhal, que teria
comprovado que os empregados poderiam fazer suas refeições na obra,
não se prestando os controles de ponto a comprovar a fruição do intervalo
intrajornada. Requer o pagamento da hora integral pela fruição parcial do
intervalo para repouso e alimentação, conforme OJ 307 da SDI-1 do TST.

Examino.

A alegação da peça inicial, fl. 03, é a de que o reclamante cumpria jornada


das 6h às 19h, sem intervalo intrajornada, e que trabalhou até às 4h,
"especialmente em obras de shopping centers, quando tinha que
descarregar depois da meia-noite, por vezes continuando o trabalho
no mesmo dia, até finalizar os serviços".

Na defesa, fls. 55-61, as reclamadas relataram as necessidades e


condições de se trabalhar com concreto pastoso, com entrega quase que
exclusivamente em horário diurno, considerando, dentre outros fatores, as
condições climáticas, a necessidade da presença de responsáveis
técnicos e de operários quando da entrega do produto. Reportaram-se aos
termos do depoimento do reclamante no Processo 0001411-
50.2011.5.04.0004, ouvido como testemunha, no qual referiu que "anotava
na ficha o horário de retorno das obras". Alegaram que houve o registro de
toda a jornada trabalhada, havendo acordo para compensação de horário e
previsão de banco de horas nas normas coletivas de trabalho, sendo as

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horas extras corretamente apuradas e remuneradas no final do mês, bem


como concedidas as folgas compensatórias e devidamente fruídos os
intervalos intra e interjornadas.

As reclamadas juntaram aos autos os controles de ponto referente a todo


período contratual, fls. 80-151, os quais foram impugnados pelo reclamante
na peça inicial, fl. 03v., e na manifestação sobre documentos, fls. 340-341.

Em seu depoimento, fl. 358, o reclamante referiu:

que fez entrega de concreto numa noite, no shopping Iguatemi,


até as 4h, da manhã; que não trabalhava todas as noites; que
quando trabalhava em jornada noturna anotava o ponto com
crachá; que não recebia compensação pelas horas
extraordinárias; que não lembra de ter tido folgas
compensatórias; que nos autos da ação movida por Ananísio,
fls.44/45, diz que anotava no relógio o horário da saída e não do
retorno das obras; [sublinhei]

A preposta das reclamadas disse, fl. 358:

que o controle de horário do reclamante era por cartão ponto,


batido pelo próprio autor, na entrada e na saída; que era comum,
havendo necessidade, dos funcionários fazerem horas extras;
que o horário de funcionamento da empresa é por escala; que
não havia trabalho a noite; que as vezes o horário se estendia
até às 20h ou 20h30min; que o reclamante trabalhava de
segunda a sábado;

A única testemunha ouvida no feito, ISRAEL, fl. 358v., disse:

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que trabalhou na empresa de 2005 a 2010, no pátio da empresa,


enquanto o reclamante era motorista de betoneira; que
iniciavam o trabalho às 6h da manhã não tendo horário definido
de término; que em média terminavam em torno de 21h ou 22h,
todas as noites; que registravam o cartão ponto, na entrada e na
saída; que as vezes o reclamante comia na obra; que recebia
horas distorcidas, pela carga horária que faziam; que sábado era
dia normal; [...] que viu o reclamante trabalhando a noite, o que
era normal; [...] que o depoente não anotava o horário de
intervalo [...] que o depoente era um dos primeiros a chegar e o
último a sair, pois fazia o abastecimento; [sublinhei]

Com efeito, assim como decidido na origem, reputo válidos os controles de


ponto juntados aos autos. Como percebo, o reclamante referiu que, pelo
menos, efetuava o registro da jornada noturna, e a testemunha ISRAEL
DIEGO disse que registravam a entrada e a saída nos controles de ponto,
ressalvando que não recebiam corretamente as horas trabalhadas. Além
disso, verifico que referidos documentos estão devidamente assinados pelo
reclamante e consignam o registro de jornada variável, às vezes superior à
própria jornada alegada na petição inicial, por exemplo no dia 20.05.2009,
quando o reclamante trabalhou das 7h às 12h04min a das 12h23min às
23h52min, fl. 128, e dia 21.07.2009, quando cumpriu jornada das 5h56min
às 11h48min e das 11h59min às 20h01min, fl. 130. Também observo que
há registro de que o intervalo intrajornada invariavelmente não era gozado
na sua integralidade, a exemplo dos dias 01 a 04.07.2009, quando consta a
fruição nos seguintes horários, respectivamente: das 11h03min às
11h28min, das 11h06min às 11h22min, das 13h22min às 13h33min e das

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11h47min às 11h57min.

Por outro lado, remanescem diferenças de horas extras, pois, conforme


controle de ponto referente ao mês de julho/2007, fl. 130, foram apuradas
"118:18" horas extras, "7:27" de "Ad. Noturno", "0:55" de "Acres. Reduz.", e
"20:48" de "Extras de Intervalo", sendo sendo pagas, no entanto, somente
"118,00" "Horas Extras 50%", conforme recibo salarial da fl. 211; no mês de
fevereiro/2009, foram prestadas "71:53" horas extras, fl. 125, mas pagas
"71,00", fl. 190. Ou seja, eram suprimidas as casas decimais.

Relativamente ao recurso do reclamante, considerando os limites da


pretensão recursal e, uma vez confirmado o decidido na origem quanto à
validade dos controles de ponto, cabe tão somente apreciar a questão
relativa ao intervalo intrajornada.

Ora, a exemplo do mês de julho/2007, como antes referi, não foi observado
o intervalo mínimo legal para repouso e alimentação, conforme controles de
ponto juntados, não havendo pagamento de valores a esse título nos recibos
salariais.

Quanto ao deferimento do período integral ou apenas dos minutos


subtraídos do intervalo mínimo legal, a questão foi pacificada com a Súmula
437, I, do TST, cujo entendimento passei a adotar, de que é devida a
integralidade do intervalo mínimo legal, ainda que tenha havido fruição
parcial.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso ordinário das reclamadas e dou


provimento parcial ao recurso do reclamante para acrescer à condenação o
pagamento de 1 (uma) hora por dia trabalhado em que desrespeitado o
intervalo intrajornada mínimo legal, acrescido do adicional de 50%, com os

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mesmos reflexos deferidos na sentença relativamente às horas extras.

B) RECURSO ORDINÁRIO DAS RECLAMADAS. MATÉRIA


REMANESCENTE E EXCLUSIVA

Devolução de descontos

As reclamadas insurgem-se contra a determinação de devolução dos


descontos a título de alimentação. Referem que o próprio reclamante
admite o fornecimento de alimentação, no refeitório da empresa ou por
meio de "marmita", o que implica a conclusão de que houve o ajuste tácito
de que o fornecimento da alimentação seria mediante um pequeno custo
para o empregado. Reporta-se ao art. 1º da Lei 3.030/56, referindo, ainda,
que a convenção coletiva não veda expressamente o desconto, além de o
fornecimento estar vinculado ao PAT, sendo aplicável o art. 2º, § 1º, do
Decreto 05/91, que autoriza a participação do empregado no custeio do
benefício. Aduz, por fim, que o art. 113 do CC estabelece que a
interpretação da lei se dá segundo os usos e os costumes da região, sendo
praxe o desconto de pequenos valores a tal título.

O Juízo de origem, fl. 363, assim decidiu:

Da prova produzida destaca-se que o autor trabalhava em


caminhão betoneiras e se alimentava nas obras, como refere
sua testemunha (fl. 359). Desta feita, não se considera que seja
justo o desconto de refeição que não comprova a ré ter sido por
si oferecida. Fato modificativo do direito do autor, não provado a
contento pela ré, que deveria provar à luz do art. 333 do CPC.

Deste feita, não estando ajustado o referido desconto e nem


comprovando-se que o mesmo reverteu em benefício concreto

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ao autor, nos termos do art. 462 da CLT, impõe-se a devolução


dos valores a título de alimentação.

Examino.

A alegação da peça inicial, fl. 04v., é a de que a reclamada não permitia


que o reclamante almoçasse no refeitório se, no mês anterior, não tivesse
pago o valor correspondente ao custeio do benefício, o qual não constava
em folha, sendo descontado "por fora". Por se tratar de benefício concedido
por liberalidade do empregador, requereu a restituição dos valores
descontados, estimados em R$ 100,00 mensais.

Nos recibos salariais constam descontos sob a rubrica "Vale Refeição"


(p.ex., fl. 193).

Consta no contrato de trabalho do reclamante, fl. 71: "6) DESCONTOS - A


empregadora poderá descontar dos haveres do empregado, além
dos descontos legais ou expressamente autorizados, os prejuízos
por ele causados, por dolo ou culpa, sem prejuízo da penalidade que
a ação ou omissão comportar.

Nas normas coletivas juntadas aos autos, há autorização para descontos


nos salários dos empregados, mas "desde que previamente
autorizados" (p.ex., cláusula 8ª, fl. 314).

Em primeiro lugar, diversamente da conclusão externada na origem e tal


como defende a reclamada, a própria narrativa da peça inicial autoriza a
conclusão de que a alimentação, de fato, era fornecida pela reclamada, o
que foi confirmado pela testemunha ISRAEL.

De outro lado, como percebo, o benefício era concedido por mera

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liberalidade da reclamada, porque não há previsão quanto ao seu


fornecimento nas normas coletivas juntadas aos autos, nem autorização
expressa do reclamante para custeio parcial da alimentação, razão pela
qual impertinente o argumento da recorrente de que houve ajuste tácito. Não
há, também, comprovação acerca da inscrição da reclamada ao PAT.

A conclusão, portanto, é de que os descontos efetuados a título de


alimentação não encontram amparo legal e não foram autorizados pelo
empregado, sendo devida sua devolução, a teor do art. 462 da CLT e do
entendimento firmado na Súmula 342 do TST, a qual adoto.

Recurso desprovido.

C) RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. MATÉRIA


REMANESCENTE E EXCLUSIVA

1. Indenização pela lavagem do uniforme

O reclamante busca o deferimento de indenização pela lavagem do


uniforme. Sustenta que as despesas com lavagem do uniforme cabem ao
empregador, que deve arcar com os riscos e encargos do negócio. Cita
jurisprudência.

O Juízo de origem, fl. 363, assim decidiu:

Em fl. 359 dos autos consta o depoimento da testemunha do


autor no sentido de que lavava a roupa de trabalho junto com
outras roupas, o que retira a excepcionalidade de qualquer
procedimento. Ainda que se entendesse o contrário, concorda-
se com o argumento da ré no sentido de que nas Convenções
Coletivas de Trabalho ora acostadas a exigência é de

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fornecimento do vestuário.

O recurso merece ser provido.

Não há controvérsia quanto ao fato de que o próprio recorrente era o


responsável pela higienização do uniforme recebido para utilização em
serviço.

Se a empregadora exigia do trabalhador o uso de uniforme no exercício das


atividades profissionais, a ela incumbe a limpeza e troca da vestimenta.
Trata-se de consequência do preceito segundo o qual os riscos da
atividade (e, consequentemente, os ônus econômicos inerentes ao negócio)
são suportados pelo empregador (CLT, art. 2º).

Por oportuno, vale a citação de precedentes desta Turma julgadora no


mesmo sentido:

LAVAGEM DE UNIFORME. INDENIZAÇÃO. O fornecimento


de uniforme deve ser ônus do empregador, que não pode
transferir ao empregado as despesas com a respectiva lavagem.
Hipótese em que devida a indenização pelos gastos extras com
a lavagem de uniforme, sendo desnecessária a comprovação
dos valores gastos para o deferimento da indenização. (TRT
da 4ª Região, 10a. Turma, 0000173-57.2012.5.04.0522 RO, em
20/06/2013, Desembargador Emílio Papaléo Zin - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargador Wilson Carvalho
Dias, Juiz Convocado Fernando Luiz de Moura Cassal)

RECURSO DO RECLAMANTE. LAVAGEM DE UNIFORME.


INDENIZAÇÃO DAS DESPESAS. O uniforme utilizado em
serviço, quando exigido o seu uso, deve ser fornecido em boas

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condições ao empregado, inclusive limpo, porquanto ao


empregador compete suportar os custos de exploração da
atividade econômica (CLT, art. 2º). As despesas com
higienização do uniforme, assim, não podem ser transferidas ao
empregado. Recurso do reclamante provido no aspecto. (TRT
da 4ª Região, 10a. Turma, 0001102-96.2011.5.04.0014 RO, em
19/09/2012, Desembargador Wilson Carvalho Dias - Relator.
Participaram do julgamento: Desembargadora Denise Pacheco,
Juiz Convocado Fernando Luiz de Moura Cassal)

Observo que a petição inicial não especifica quais os exatos uniformes


utilizados pelo reclamante, tendo as reclamadas referido na defesa que o
uniforme era composto por calça, camisa e botas comuns.

Nessa linha, tenho por razoável arbitrar em R$ 15,00 (quinze reais) mensais
a indenização, valor que se mostra razoável para ressarcir as despesas
com a higienização do uniforme utilizado.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso ordinário do reclamante para


acrescer à condenação o pagamento de indenização pela limpeza dos
próprios uniformes, em montante correspondente a R$ 15,00 (quinze reais)
mensais.

2. Acréscimo salarial pelo acúmulo de funções

Insurge-se o reclamante contra o indeferimento de acréscimo salarial pelo


alegado acúmulo de funções. Alega que, além da função para o qual foi
contratado, de motorista, era responsável pela lavagem do veículo que
dirigia, sendo evidente que esta função não é afeta às desenvolvidas por
um motorista.

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O Juízo de origem indeferiu a pretensão, assim fundamentando, fl. 363v.:

Não procede a alegação da inicial de que o autor demorava 20


dias para limpar os concretos, que, pela prova testemunhal eram
descartados prontamente.

Ademais, o autor receberá adicional de insalubridade pela


lavagem do caminhão betoneira, o que fazia diariamente, desde
o início do contrato. Portanto, nos termos do art. 456 da CLT não
houve alteração prejudicial do contrato a ensejar o referido plus.
Improcede o pedido.

Sem razão o reclamante.

Como ficou evidenciado pela perícia técnica realizada no feito, fl. 330v., a
lavagem das betoneiras do caminhão era realizada diariamente, tendo a
preposta das reclamadas referido em seu depoimento, fl. 358, "que o
motorista é o responsável pela lavagem do caminhão, pois carrega
concreto". Esses elementos de prova e as próprias razões recursais
revelam, na verdade, que o salário ajustado no início do contrato de trabalho
já cobria todas as tarefas contratadas.

Efetivamente, a pretensão de adicional salarial por acúmulo de funções tem


por fundamento jurídico a alteração contratual em prejuízo do empregado,
com a assunção de tarefas incompatíveis com a sua condição pessoal de
trabalho, que exijam maior qualificação técnica ou que acrescentem
determinada carga de responsabilidade ao prestador de serviço, sem a
respectiva contraprestação salarial, o que, a rigor, é vedado pela legislação
(CLT, art. 468). Tal não ocorreu no caso do ora recorrente, já que não houve
qualquer acréscimo de atribuições àquelas originalmente contratadas. Além

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disso, a atividade era compatível com a condição pessoal do empregado,


aplicando-se a previsão do art. 456, parágrafo único, da CLT.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

3. Honorários advocatícios

Busca o reclamante a reforma da sentença quanto ao indeferimento dos


honorários advocatícios.

Não merece ser provido o recurso.

Adoto o entendimento consagrado nas Súmulas 219 e 329 do TST,


segundo o qual os honorários advocatícios somente são devidos quando
preenchidos todos os requisitos da Lei 5.584/70, quais sejam, a percepção
de salário igual ou inferior ao dobro do salário mínimo ou a demonstração
de situação econômica que não permita demandar em juízo sem prejuízo do
sustento próprio e da sua família (art. 14, § 1º), bem como a assistência por
parte do sindicato da sua categoria profissional (art. 14, caput).

A jurisprudência majoritária sobre a matéria, de que são exemplos as


citadas Súmulas, aponta ter sido o art. 791 da CLT recepcionado pela
Constituição da República, não obstante a previsão dos arts. 5º e 133
desta, de modo que persiste o jus postulandi das partes no processo do
trabalho. Consequentemente, são inaplicáveis, para os fins pretendidos, os
arts. 389 do CC e 20 do CPC ou mesmo as Leis 8.906/94 e 1.060/50.

No caso dos autos, o reclamante prestou declaração de pobreza ao feitio


legal, fl. 14, mas está desassistido pelo seu sindicato de classe, não
preenchendo todos os requisitos da Lei 5.584/70. Indevidos, pois, os
honorários.

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Consequentemente, são inaplicáveis, para os fins pretendidos, os arts. 389


do CC e 20 do CPC ou mesmo as Leis 8.906/94, 1.060/50 e 10.537/02,
não sendo caso de adoção da Súmula 450 do STF.

Nego provimento.

D) PREQUESTIONAMENTO

Reputo prequestionados, para os devidos fins, os dispositivos


constitucionais e infraconstitucionais e os entendimentos invocados pelas
partes, ainda que não tenham sido expressamente citados na
fundamentação. Adoto, a esse respeito, a Súmula 297, 1, do TST e a OJ
118 da SDI-1 do TST.

DESEMBARGADOR LUIZ ALBERTO DE VARGAS:

Entendo que as restrições impostas pela Lei nº 5.584/70 encontram óbice


no art. 133 da Constituição Federal, que reconhece em nível constitucional a
imprescindibilidade do advogado, bem como nos artigos 5º, XIII, que veda,
por atentatório à liberdade de atuação profissional a criação de "reservas
de mercado" aos advogados ligados aos sindicatos, e do art. 5º, LV, já que
está contido no direito à ampla defesa a possibilidade de escolha pelo
litigante de advogado de sua confiança.

Assim, defiro os honorários assistenciais.

DESEMBARGADORA VANIA MATTOS:

LIMPEZA DE UNIFORME

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Divergência com relação à limpeza do uniforme.

Certo é que o trabalhador deve se apresentar ao trabalho com roupas


limpas e a limpeza do uniforme se assemelha à realizada nas roupas
particulares que seriam utilizadas caso o demandante não fizesse uso
daquele, o que torna incabível a indenização pretendida.

Entendo que o uso do uniforme, ainda que o empregado fique responsável


pela sua higienização, não acarreta prejuízos de qualquer espécie,
evitando, inclusive, que suas roupas pessoais sejam desgastadas em razão
do trabalho, em especial, como no caso em foco, em que as peças podem
ser lavadas em conjunto com as demais roupas do empregado e de sua
família. Não há prova de que a lavagem importasse em utilização de
produtos especiais.

Não resta dúvida que essas questões, no mínimo tidas como menores,
surgem nos últimos anos provavelmente porque a imaginação humana já
esgotou pretensões que podem ser qualificadas como abusivas.

Menciono, por importante, que já se tornou comum na Justiça do Trabalho


diversas tentativas de percepção de vantagem sem qualquer causa, como
neste caso, em que a parte aciona o Judiciário objetivando a que o
empregador seja responsabilizado pela higiene pessoal de seus
empregados ou lavagem de uniforme.

Abaixo, partes de sentença do ilustre Magistrado Eduardo Duarte Elyseu


sobre a matéria:

Processo nº 00458-2006-001-04-00-7.

12. DO RESSARCIMENTO DE DESPESAS COM LAVAGEM

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DO UNIFORME

O pedido em exame carece de amparo fático e jurídico,


porquanto não há prova de que o autor tenha despendido os
valores que alega ter gasto com a lavagem dos seus uniformes
de trabalho (R$ 4,00) por dia, segundo a petição inicial.

De qualquer sorte, não existe lei que obrigue o empregador a


ressarcir despesas do empregado com a lavagem dos seus
uniformes de trabalho.

Não é demais lembrar que muito antes de ser um dever


decorrente diretamente do contrato de trabalho, a manutenção
da limpeza das roupas que se utiliza em qualquer ocasião é uma
exigência da boa convivência em Sociedade, sendo um
imperativo de higiene pessoal.

A propósito, e de se questionar: se não fosse exigido do autor o


uso de uniforme, ou seja, se ele trabalhasse utilizando suas
próprias vestimentas, também não precisaria lavá-las? Ou o
reclamante iria trabalhar utilizando roupas sujas, caso a
reclamada não lhe exigisse o uso de uniforme?

Ora, constitui rematado absurdo, tangenciando as lindes da


mesquinhez, movimentar o Judiciário para cobrar valores que o
autor alega (mas não prova) ter despendido na lavagem das
roupas que utilizava para trabalhar, apenas porque se tratava de
uniforme fornecido pelo empregador.

Se o empregador não fornece uniforme, é demandado a

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ressarcir o empregado pelos dispêndios com roupas utilizadas


para trabalhar. Se fornece, então é demandado para pagar as
despesas do empregado com a lavagem da roupa.

Aliás, seguindo-se esta trilha de raciocínio, logo estaremos


julgando pedidos de ressarcimento de despesas com produtos
de higiene pessoal, pelo fato de o empregado ter que se
apresentar devidamente asseado para trabalhar (como se isso
não fosse uma imposição da vida em Sociedade). Lamentável o
ponto a que chegamos.

Se a Instância Superior quiser dar guarida a este despropósito,


que o faça, mas a caneta deste magistrado não irá chancelar
este absurdo.

Indefiro o pedido do item "d" da inicial.

Ora, a Justiça do Trabalho tem outras questões muito mais relevantes para
julgar do que o valor da lavagem de uniforme, quando parece óbvio que o
empregado tenha de lavar as suas roupas sem que esse encargo gere
pagamento de indenização.

A discussão sobre o valor de uma caixa de sabão em pó de um quilograma,


a sua duração ou a quantidade de roupas lavadas - se o uniforme inteiro ou
parte dele - são matérias que além de não ensejar maior repercussão
econômica, ocupam o tempo da Justiça do Trabalho que, como referido,
deveria se ater a questões mais significativas, amplas e importantes.

Esse tipo de pretensão bem demonstra o abuso atingido nas lides


submetidas à Justiça do Trabalho, em que nada mais havendo a peticionar
- repita-se, a imaginação já foi esgotada, assim como as letras do alfabeto -

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, há esse tipo de pretensão que nada significa economicamente para o


empregado.

Nego provimento.

______________________________

PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADOR WILSON CARVALHO DIAS (RELATOR)


DESEMBARGADOR LUIZ ALBERTO DE VARGAS
DESEMBARGADORA VANIA MATTOS

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