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A ética por vezes é confundida com a moral sendo que uma distinção entre ambas é
necessária. A ética é para alguns o estudo da moral, enquanto que para outros é um
conjunto de conhecimentos sobre o comportamento humano relacionado, por
vezes, a alguns aspectos morais.
Moral vem do latim mos ou mores que significa “relativo aos costumes” ou normas
adquiridas por hábito. Ética vem do grego ethos que significa “modo de ser” ou “caráter” e
“costume” e que se refere aos comportamentos aprendidos (VASQUEZ, 1980, p. 14). De
um modo geral os conceitos se aproximam, mas guardam suas distinções. A moral é um
conjunto de convenções sociais sobre o melhor modo de agir ou de pautar o
comportamento humano sendo, portanto, algo relativo e dependente das regras e
representações de uma dada sociedade. A ética perpassa um conjunto de disposições
do indivíduo que incluem sua visão de mundo, modo de analisar, refletir e agir
diante de questões sob as quais o mundo o interpela. Vasquez (1980) aponta que a
ética é teórica e reflexiva, enquanto a moral é eminentemente prática. A moral neste
sentido ocupa, por vezes, um lugar secundário no comportamento ético embora não deixe
de orientá-lo ou mesmo dirigi-lo em determinados momentos. A ética transcende as
convenções morais de “certo” e “errado” para uma dada comunidade tendo uma
perspectiva mais ampliada.
A primeira referência neste assunto data de 1803 quando o médico inglês Thomas Percival
(apud HARDY et. al, 2004) propõe um código de ética médica. Este primeiro código
estabelecia que quando o profissional experimentasse um medicamento novo deveria
consultar outros colegas para sua administração. O livro Medical Ethics do Dr. Percival
estabelecia ainda normas para quando do fechamento de um hospital, regras para o trato
com pacientes “insanos”, atuação do médico no caso de testamentos realizados de
pacientes terminais e, sobretudo, questões como o cuidado com a exposição e prejuízos
aos pacientes. A partir disto alguns órgãos foram criados para discutir os procedimentos
realizados em hospitais.
No fim da Segunda Guerra Mundial, a questão ética tomou vultos internacionais por meio
do Código de Nuremberg. O Código foi formulado em 1947 por juízes para dar subsídios
ao Tribunal de Nuremberg no julgamento dos casos de crimes cometidos nas pesquisas
médicas dos campos de concentração nazistas. O Código incluiu, pela primeira vez,
diretrizes éticas para pesquisas envolvendo procedimentos experimentais em seres
humanos. O documento falava da necessidade do consentimento por parte do participante
do estudo para a realização da mesma.
Em 1964, em Helsinki, Finlândia, foi deliberada, pela 18ª Assembléia da Associação
Médica Mundial, a Declaração de Helsinki. A Declaração de Helsinki propaga os principais
referenciais que temos hoje quando falamos de ética em pesquisa: o consentimento
informado ao participante, o cuidado com riscos e danos ao mesmo, dentre outros
aspectos como sigilo e respeito à individualidade e à privacidade. A declaração iniciou
esta discussão dizendo na introdução:
“É missão do médico resguardar a saúde do Povo. Seu conhecimento e sua consciência
são dedicados ao cumprimento dessa missão. A declaração de Genebra da Associação
Médica Mundial estabelece o compromisso do médico com as seguintes palavras: ‘A
Saúde do meu paciente será minha primeira consideração’, e o Código Internacional de
Ética Médica declara: ‘Qualquer ato ou notícia, que possa enfraquecer a resistência do ser
humano, só pode ser usado em seu benefício’” (p.1).
Nas décadas de 1960 e 1970, a discussão ética se aprofundou e o termo “bioética” foi
utilizado a primeira vez por Van Rensselder Potter nos EUA em 1971, designando o
conjunto de procedimentos reflexivos e da prática sobre as questões humanas e sua
dimensão ética nos âmbito clínico e de tratamento de seres humanos (NEVES, 2007).
A Declaração de Helsinki mantém esse nome, mesmo após revisões realizadas em:
Tóquio, em 1975; Veneza, em 1983; Hong Kong, em 1989, Sommerest, em 1996 e
Edimburgo, em 2000. A Declaração apregoa que toda pesquisa com seres humanos deve
ser submetida a um comitê de avaliação ética que seja independente do pesquisador,
patrocinador ou outra influência indevida para um melhor cuidado na condução da mesma
(HARDY et. al., 2004).
Em 1981, um novo documento foi elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
pelo Conselho de Organizações Internacionais de Ciências Médicas (COICIM) intitulado
“Diretrizes Internacionais Propostas para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos” com
atualizações em 1993 e 2002 (CASTILHO & KALIL, 2005).
No Brasil, a discussão iniciou-se no Conselho Federal de Medicina (CFM) e foram criadas
comissões de ética médica nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) por todo o
Brasil. Em 1988, o Conselho Nacional de Saúde publicou a Resolução 01/88, obrigando as
instituições de saúde que realizassem pesquisas com seres humanos a instituir comitês de
ética.
Em 1996, revisando a Resolução 01/88, o Conselho Nacional de Saúde publicou a
Resolução Nº 196/96 estabelecendo normas para as pesquisas não só da área da saúde,
mas quaisquer pesquisas com seres humanos. Além disso, foram criados os
procedimentos operacionais da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) como
o “Manual Operacional dos Comitês de Ética em Pesquisa” (CEPs), aprimoramento e
capacitação dos membros dos CEPs e instrumentos de avaliação interna dos CEPs
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
Especificamente no que tange à Psicologia temos o Decreto Nº 53.464 de 21/01/1964 que
instituiu a profissão de psicólogo no Brasil. Nesta regulamentação apenas os habilitados
na profissão poderiam usar o título de psicólogos.
Em 1977 foi criado o órgão que tem como prerrogativa organizar a profissão no país: o
Conselho Federal de Psicologia e os respectivos Conselhos Regionais (DECRETO nº
79.822 de 17 de junho de 1977). Neste decreto em seu Art. 3º diz do papel destes órgãos:
“Art. 3º - O Conselho Federal de Psicologia tem por finalidade orientar, supervisionar e
disciplinar o exercício da Profissão de Psicólogo, em todo o território nacional”.
Este decreto também diz que o CFP é responsável pela elaboração e cumprimento do
Código de Ética Profissional do Psicólogo, funcionando como tribunal superior de ética
profissional. Um capítulo trata ainda das Infrações e Penalidades que são:
“Art. 56 - Constituem infrações disciplinares:
I - transgredir preceito do Código de Ética Profissional;
II - exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu
exercício aos não inscritos ou impedidos;
III - solicitar ou receber de cliente qualquer favor em troca de concessões ilícitas;
IV - praticar, no exercício da atividade profissional, ato que a lei define como crime ou
contravenção;
V - não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou autoridade
dos Conselhos, em matéria da competência destes, depois de regularmente justificada;
VI - deixar de pagar aos Conselhos, pontualmente, as contribuições a que esteja
obrigado.”
É vedado ao psicólogo:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de
orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas
funções profissionais e quaisquer outros atos que infrinjam os Direitos Humanos
e/ou a integridade da pessoa.
REFERÊNCIAS
HARDY, Ellen; BENTO, Silvana Ferreira; OSIS, Maria José Duarte & HEBLING, Eliana
Maria. Comitês de Ética em pesquisa: adequação à Resolução 196/96. Revista da
Associação Médica Brasileira, vol. 50, nº 4. São Paulo, out.dez. 2004.
PEREIRA, F. M. & PEREIRA NETO, A. O psicólogo no Brasil: notas sobre seu processo de
profissionalização. In: Psicologia em Estudo, v. 8, nº 2. Maringá, jul/dez, 2003. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722003000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt Acesso em 05 de março de 2008.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. 4 ª ed. Tradução de João Dell’ Anna. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980.