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Federalismo Norte Americano - Oliveira Filho
Federalismo Norte Americano - Oliveira Filho
RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade refletir sobre a origem do federalismo
norte-americano assim como descrever algumas características daquele povo.
Iniciamos a abordagem pela forma como o federalismo acabou sendo institucionalizado
nos Estados Unidos da América, sendo, na verdade, uma solução encontrada para os
inúmeros entraves encontrados na vigência da Confederação. Em seguida abordamos
as razões apresentadas pelos pais do federalismo para que este sistema fosse
substituto da Confederação, demonstrando ainda que toda a fundamentação do
federalismo se deu na obra do mestre francês Montesquieu. Ainda foram elencadas
algumas características e especificidades do povo norte-americano e o federalismo
dual competitivo. Todas as abordagens foram no sentido de fazer com que uma
reflexão sobre a origem do federalismo fosse posta, uma vez que na infinita maioria
das obras de Direito Constitucional apenas se menciona o federalismo norte-americano
como marco inicial deste sistema.
ABSTRACT: The present work aims to reflect on the origins of American federalism as
well as describe some characteristics of the people. We begin by addressing how
federalism was eventually institutionalized in the United States of America, and indeed a
solution to the many barriers found in the presence of the Confederacy. Then we
discuss the reasons given by parents of federalism that this system would substitute the
Confederacy, still showing that the whole rationale of federalism was made in the work
of French master Montesquieu. Were still listed some specific features and
characteristics of the American people and the competitive dual federalism. All the
approaches were in order to make a reflection about the origin of federalism be put,
since the infinite majority of the works of constitutional law only mentions the U.S.
federalism as a starting point of this system.
1 INTRODUÇÃO
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Mestrando em Teoria do estado e Direito Constitucional PUC – Rio. E-mail: gurja@terra.com.br.
homens, ser refutado. Hamilton citava o exemplo francês onde se pagava aos army of
patrols para que estes fiscalizassem o cumprimento das leis e os ataques de
contrabandistas. Isto continua Hamilton, poderia ser evitado com a união dos Estados,
restando apenas a necessária proteção das saídas marítimas.
Outras são as vantagens existentes com a criação de um governo geral,
entre elas, a existência de homens dotados de grande sabedoria que poderiam ser
escassos nos pequenos Estados, que não acabariam sendo influenciados por
determinados interesses pontuais de um determinado Estado, assim como de
interpretar tratados celebrados de maneira uniforme o que, certamente, é muito difícil
em treze Estados pequenos ou quatro pequenas confederações.
Diante de todos os fatos até aqui dispostos e da leitura completa da obra dos
federalistas, podemos já asseverar a necessidade da existência de um governo
federativo que tende a reforçar as funções da União, assim como a busca de meios
capazes de vincular de forma efetiva os Estados-membros às ordens da união.
Todas estas considerações foram necessárias para se chegar à análise do
tema ora proposto uma vez que, os federalistas ao disporem sobre a inviabilidade de
um governo confederado, acabam se reportando à obra de Montesquieu para
buscarem fundamentos de suas assertivas. Assim, veremos que a república federativa
pensada no Espírito das Leis acabou por servir de supedâneo para a teoria federalista
norte-americana.
Este trecho da obra de Hamilton deixa claro quais são as bases para o autor
sustentar a tão desejada união para o povo de seu país, assim como o seu desejo,
semelhante ao de Montesquieu de se ver livre de um governo despótico. Sem estes
princípios institucionais que chamamos nos dias atuais de federalismo, os homens,
conforme palavras do mestre francês estariam sujeitos ao governo de um só.
Tanto Hamilton como Montesquieu, cada autor em seu período, tinham por
finalidade tornar legítimo um governo com as características do liberalismo clássico. Os
dois autores afirmaram a república federativa como meio de preservação do
pensamento liberal clássico, o qual tinha como prioridade na relação entre os Estados,
a individualidade, o liberalismo e a desvalorização da cooperação e do bem comum
como conseqüência.
Analisando a obra de ambos, verifica-se que não foi o bem comum que lhes
motivou, mas sim os elementos básicos e necessários para a união federativa.
Acabaram defendendo o federalismo sob o aspecto liberal, ou seja, dando aos estados
um grande grau de democracia local e deixando apenas o mínimo necessário para a
união.
A república federativa de Alexander Hamilton, bem como a disposta por
Montesquieu, acabava refreando algumas condutas contrárias, diversas das dispostas
pelos Estados insurgentes. Assim, na hipótese de um Estado crescer de forma
vertiginosa, os demais unidos acabariam tendo força capaz de prevenir alguns
inconvenientes. Se acabassem tentando subjugar determinado lado, os outros estados
ofereceriam resistência. Na hipótese de um Estado estar perecendo os demais que se
encontrassem não poderiam oferecer respaldo necessário. Assim, tais exemplos
demonstram a força da democracia local e da soberania em âmbito internacional.
Há ainda outro elemento disposto no paper 51 como entrave confederativo,
que serve para finalizar os apontamentos da tese da federação derrubar a
confederação. Madison assevera no referido paper a existência de um perigo à
democracia liberal em comunidades menores, uma vez que em pequenas repúblicas
verifica-se que a autoridade é toda entregue a determinado e único governo,
contribuindo para que interesses de algumas maiorias articuladas acabem por usufruir
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Esta foi à doutrina assumida pelos federalistas assim como por Montesquieu,
tendo, assim, o federalismo norte-americano ganhado algumas características
diferentes e, quanto à sua origem, marcando a chamada duplicidade de competências
ou também federalismo dual. Neste tipo de federalismo os Estados acabam se
organizando e se regendo pelas próprias constituições e legislação que adotarem e
todos renunciam parte da sua liberdade em benefício de um bem maior, destinado à
necessária unidade interna, proteção quanto aos fatores externos e garantia dos
direitos fundamentais e da liberdade.
Seguindo esta linha de pensamento, a competência da União deveria ser
mínima enquanto esta duplicidade de níveis faz parte da história americana. Esta
dualidade acaba indo de encontro com o anseio liberal americano que, desde a sua
formação como povo, visava e valorava muito o ideal de liberdade, individualismo e não
intervencionismo.
Cabe aqui ressaltar que o federalismo dual reforça a dualidade de
competências com atribuições mínimas para a União e o estímulo à competição entre
estados que, como vimos, não aceitam intervenção da União.
4 AS ESPECIFICIDADES NORTE-AMERICANAS
O federalismo adotado pelos Estados Unidos acabou por balizar o que seria
o modelo dual adotado pelos outros países que iriam, no futuro, adotar o federalismo
liberal. Dentre esses países cabe destacar os ibero-americanos. As características do
federalismo americano podem ser descritas assim: governo central e governos
estaduais, fruto da união de Estados autônomos; divisão de poderes entre governo
local e federal; supremacia do poder nacional em detrimento dos poderes locais;
reconhecimento de mecanismos de execução das leis.
Esta característica do federalismo adotado pelos norte-americanos converge
para uma dualidade de competências, o que acaba por reforçar um sentimento de
competição nato do povo americano que floresceu com o ideal de liberdade
apresentado em suas origens. Agrupamentos independentes, individuais e liberais são
característicos desde os tempos da confederação americana. Não podemos deixar de
lado que os pais do federalismo sempre se posicionaram no sentido da unidade, isto é:
da busca constante pelo fortalecimento dos laços da confederação, de se evitar a
desagregação, da busca pelas formas de se conseguir aprovisionar recursos para a
União, ou seja, características marcantes e inscritas na alma do povo americano.
A formação dos Estados Unidos da América calca-se em princípios
uniformes, ideais igualitários e sentimentos comuns, diferente da grande parte dos
países da Europa, vinculados às idéias do período da Idade Média, enxergam a
comunidade em camadas ou estruturas sociais, de organização aristocrática, feudal ou
outra forma de hierarquização. Podemos até mesmo dispor que os americanos
preferem uma relação horizontal enquanto os europeus uma relação vertical. No
entanto, o povo americano não se deixa influenciar por essa forma de viver. Uma
sociedade recém criada, cuja organização social se verifica de baixo para cima e, não
ao contrário, não sofreria desses males. Esta sociedade acaba nascendo por ideais de
progresso, de viver de forma simples, avessa à hierarquia, onde o nobre não é bem
quisto e já foi expurgado pela independência. Na verdade é este o sentimento do povo
norte-americano.
Para Max Weber (2004, p. 41-69) os Estados Unidos é o único país
efetivamente burguês e que não apresenta em sua formação histórica características
pseudo-feudais. Na formação dos norte-americanos não se verifica a influência de
idéias aristocráticas da Europa. Estes fatores acabaram por ajudar de forma marcante
na formação daquele povo assim como em seu desenvolvimento econômico. Conforme
Weber o liberalismo, a tradição protestante e a orientação secular contribuíram para o
nascimento do capitalismo. Nos países europeus e da Ásia, por sua vez, verifica-se
uma relação forte entre governo e empresa em relação à realidade norte-americana
fazendo com que a economia não cresça nos moldes da verificada nos Estados unidos.
Assim, se faz necessário compreender os motivos do liberalismo, na cultura
americana, ser tão presente. Isto acabará por nos ajudar a definir os alicerces do
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BECCARIA, Cezare. Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 2007.
CALMON, Pedro. Curso de Direito Constitucional. 3ª. ed. São Paulo: Freitas Bastos:
1954.
HAMILTON, A., MADISON, J., JAY, J. Os Artigos Federalistas 1787 – 1788, Ed.
Integral: Nova Fronteira.