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Direito à Proteção Diplomática e Consular

Qualquer cidadão da União beneficia de proteção por parte das autoridades diplomáticas e consulares de qualquer
Estado-Membro nas mesmas condições que os nacionais desse Estado, em território de países terceiros.
O aspeto inovador deste princípio (inserido com o Tratado CE) é o facto de a proteção estar ligada à "cidadania da
UE". No espírito dos responsáveis pela redação do Tratado de Maastricht, a introdução de disposições comuns sobre a
proteção dos cidadãos da União em países terceiros tinha por objetivo reforçar a perceção da identidade da União nos
países terceiros e a perceção da solidariedade europeia pelos cidadãos da UE em causa.
As condições para beneficiar deste direito são:
 ser nacional de um Estado-Membro da União Europeia;
 encontrar-se numa situação de dificuldade que carece de proteção consular no território de um Estado terceiro;
 não existir embaixada ou consulado acessível (da nacionalidade do cidadão em causa)
Qualquer cidadão que reúna estes requisitos pode pedir proteção a uma embaixada ou a um consulado de qualquer
Estado-Membro da União acessível no país terceiro em que se encontrar, que lhe concederá o seguinte tipo de
assistência:
 assistência em caso de morte;
 assistência em caso de acidente ou doença grave;
 assistência em caso de prisão ou detenção;
 assistência a vítimas de atos violentos;
 ajuda e repatriação de cidadãos da União em dificuldade.
O Parlamento aprovou, em dezembro de 2007, uma proposta de Resolução sobre o Livro Verde "A proteção
diplomática e consular dos cidadãos da União Europeia nos países terceiros" em que incentiva a uma maior
harmonização da proteção diplomática e consular para os cidadãos europeus, a criação de um número de telefone
europeu único de emergência para estas situações e a uma alteração da decisão 95/553/CE que regula a proteção
diplomática e consular dos cidadãos europeus.

https://carloscoelho.eu/dossiers/view/34/260

Proteção Diplomática e Consular


A crescente preocupação de aproximar a Europa dos cidadãos esteve na base da introdução, pelo Tratado de
Maastricht, do conceito de cidadania europeia.
Esta, atribuída a qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado-Membro, apresenta uma natureza
parcelar e instrumental, desdobrando-se num conjunto limitado de direitos, entre os quais se inclui o direito à
proteção das autoridades diplomáticas e consulares. Inserido em 1992 no artigo 8.°-C do Tratado que institui a
Comunidade Europeia, este direito passou a constar do artigo 20.° com a revisão operada pelo Tratado de
Amesterdão, assim tendo permanecido com o Tratado de Nice. Por seu lado, o Tratado de Lisboa veio fazer-lhe
alusão em três dispositivos: a alínea c) do n.°2 do artigo 20.° e o artigo 23.°, ambos do TFUE, e o artigo 46.° da Carta
dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
A previsão, a nível europeu, deste direito reveste-se de especial importância. Com efeito, trata-se, no plano teórico,
de uma alteração da perspetiva jurídica tradicional, de acordo com a qual a questão da proteção diplomática e
consular se colocaria, apenas, por definição, na relação do Estado com os seus próprios cidadãos. Ora, com o
Tratado de Maastricht, tal direito passou a poder ser igualmente invocado na relação de quaisquer cidadãos
europeus com qualquer Estado-Membro, ainda que não possua a nacionalidade deste.
Nessa linha, o TFUE é muito claro ao dizer que qualquer cidadão beneficia, no território de países terceiros em que
o Estado-Membro de que é nacional não se encontre representado, de proteção por parte das autoridades
diplomáticas e consulares de qualquer Estado-Membro, nas mesmas condições que os nacionais desse Estado-
Membro (alínea c) do n.°2 do artigo 20.°). Para que tal se possa, na prática, concretizar, os Estados-Membros
estabelecem entre si as regras necessárias, devendo para isso desenvolver as necessárias negociações
internacionais (idem), podendo também o Conselho, deliberando de acordo com um processo legislativo especial e
após consulta ao Parlamento Europeu, adotar diretivas que estabeleçam as medidas de coordenação e de
cooperação necessárias para facilitar essa proteção (idem). Para além disso, devem igualmente as suas missões
diplomáticas e representações permanentes, bem como as delegações da Comissão, contribuir para o pleno
exercício deste direito (artigo 35.° do Tratado da União Europeia).
Compreende-se, assim, facilmente a importância que este direito pode assumir para os cidadãos europeus. É que a
consagração da sua existência na esfera jurídica de cada pessoa singular assegura-lhe que, caso se encontre em
território extracomunitário e aí careça de auxílio, pode, na ausência de uma embaixada ou de consulados do seu
próprio país, dirigir-se a estruturas similares de um outro Estado-Membro da União, obtendo um tratamento idêntico
ao que seria concedido a um nacional desse próprio Estado. E antevê-se, também, como esta possibilidade se
apresenta como especialmente relevante para os cidadãos dos países mais pequenos da União, cuja rede
diplomática e consular está longe de abranger sequer a maioria dos Estados que integram a comunidade
internacional.

Direito diplomático
MOREIRA LIMA, Sérgio Eduardo. Privilégios e imunidades diplomáticos. Brasília: Instituto Rio
Branco: Fundação Alexandre Gusmão, 2002. 224 p. ISBN: 85-87480-23-5.

GARCIA, Márcio & MADRUGA FILHO, Antenor Pereira (coords.). A imunidade de jurisdição e o
Judiciário brasileiro. Brasília: CEDI, 2002. 286 p.

MADRUGA FILHO, Antenor Pereira. A renúncia à imunidade de jurisdição pelo Estado brasileiro e
o novo direito da imunidade de jurisdição. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. 566 p. ISBN: 85-7147-
356-0.

Durante o século XX, o direito diplomático experimentou mudanças substanciais, especialmente no que
concerne aos privilégios e imunidades, que passaram a ser mais limitados, repercutindo diretamente
sobre os agentes das missões diplomáticas e repartições consulares. A codificação das regras relativas
às prerrogativas diplomáticas e consulares expressas na Convenção sobre Relações Diplomáticas de
1961 e na Convenção sobre Relações Consulares de 1963, ambas concluídas em Viena, possibilitou um
tratamento mais uniforme sobre a matéria. Ademais, observou-se o papel da opinião pública
internacional em demandar maior restrição às prerrogativas diplomáticas e consulares sempre que
essas contrariassem o direito interno dos países acreditantes.

Essa evolução do costume para a codificação das normas de direito internacional tem tido efeito direto
sobre os Poderes da União. No Legislativo, nota-se um movimento na elaboração de Immunity Acts, ou
seja, leis que versam sobre os privilégios e imunidades dos agentes diplomáticos e consulares. No
Executivo, observa-se o cuidado das Chancelarias em instruir as missões diplomáticas e repartições
consulares em respeitar as jurisdições internas dos países acreditantes. No Judiciário, o Supremo
Tribunal Federal, que manteve por décadas a posição de reconhecer a imunidade absoluta de jurisdição
e de execução dos agentes diplomáticos, mudou sua postura no começo da década de 1990, também
como conseqüência das inovações trazidas pela Constituição Federal de 1988, que teve impacto direto
sobre as questões trabalhistas envolvendo os Estados acreditados e seus funcionários locais.
Paralelamente, a distinção entre os chamados atos de império - ação em que o Estado age como
entidade soberana e os atos de gestão - quando o Estado se equipara ao particular, em atos de
natureza trabalhista ou comercial - contribuiu para a relativização de imunidade de jurisdição.

Privilégios e imunidades diplomáticos, de Sérgio E. Moreira Lima, é resultado do XXI Curso de


Altos Estudos do Instituto Rio Branco. O autor reúne décadas de experiência no Itamaraty, onde
ingressou em 1971. A obra é composta de cinco capítulos, conclusão e, em anexo, as indigitadas
Convenções de Viena de 1961 e de 1963. No primeiro capítulo, o autor sustenta sua tese principal,
posicionando-se a favor de uma política restrita com vistas à preservação dos privilégios e imunidades
diplomáticos. No segundo capítulo, expõe as bases históricas, o conceito, a evolução e o fundamento
jurídico da imunidade diplomática. No terceiro capítulo, trata da imunidade em si, isto é, nos planos
em que essa se manifesta, quais sejam, a inviolabilidade da missão diplomática e a imunidade de
jurisdição do agente diplomático. No quarto capítulo, Moreira Lima demonstra, com uma variedade de
casos práticos, as manifestações da imunidade nas diversas matérias jurisdicionais dentro do Brasil. No
quinto capítulo, examina os instrumentos bilaterais e multilaterais que versam sobre o assunto. Na
conclusão, volta a reforçar sua tese inicial, clamando pela adoção de uma posição mais restrita quanto
às imunidades e às prerrogativas diplomáticas e oferece valiosas sugestões a serem apreciadas pelos
Poderes da União com a finalidade de garantir o desempenho eficaz das missões no exterior.
A imunidade de jurisdição e o Judiciário brasileiro surgiu a partir da compilação feita por Márcio
P. P. Garcia e Antenor P. Madruga Filho dos trabalhos apresentados durante a Jornada de Direito
Internacional realizada em Brasília no ano de 2002. Cuida-se de obra que apresenta diferenças
significativas entre os autores no que diz respeito ao tratamento do assunto. Em linhas gerais, tem-se
o artigo de José F. Rezek que analisa a imunidade no âmbito das organizações internacionais e a
dificuldade de existir uma imunidade generalizada para todas organizações devido à nítida
desigualdade entre elas; Guido F. S. Soares faz uso da perspectiva histórica para explicar as origens e
as justificativas do instituto da imunidade; Jorge Fontoura, em artigo polêmico, alega que "(...) o
instituto continua incólume em sua funcionalidade, não argüido ou relativizado quanto sua procedência
jurídica e utilidade política"; Márcio P. P. Garcia distingue conceitos fundamentais para o entendimento
do tema como os de imunidade de jurisdição e de execução, os atos de império e de gestão e, ao final,
expõe sugestões de como o Governo brasileiro poderia evitar contenciosos com os países acreditados
em matéria trabalhista; Renato Cabanillas analisa a jurisprudência da Corte Suprema de Justiça
argentina relativa à imunidade de jurisdição e execução; Carlos Eduardo Caputo Bastos e Antenor P.
Madruga Filho identificam e comentam as questões que surgem do processamento da imunidade de
jurisdição sob uma perspectiva brasileira; Nádia de Araújo aprofunda-se na jurisprudência do RE nº
222.368 do STF, em que o Ministro Celso de Mello distancia-se das ponderações tradicionais sobre do
tema; Maria de Assis Calsing distingue a imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro e das
organizações internacionais em matéria trabalhista; José Ignácio B. de Mesquita e Enéas Bazzo Torres
analisam as questões procedimentais das ações contra Estados e organizações internacionais; e, por
último, o artigo de Antenor P. Madruga Filho aborda o desenvolvimento da imunidade de jurisdição dos
Estados soberanos e expõe a inovadora teoria da fundamentação autônoma.

A renúncia à imunidade de jurisdição pelo Estado brasileiro e o novo direito da imunidade de


jurisdição, de Antenor P. Madruga Filho, demonstra de maneira contundente o que
o establishment jurídico brasileiro sempre costumava negar: a possibilidade de o Estado brasileiro
renunciar à sua imunidade de jurisdição perante cortes estrangeiras. Para isso, o autor se embasou em
uma extensa bibliografia sobre o tema, na prática do Estado brasileiro como parte em processos
judiciais estrangeiros e nas legislações internas vinculadas ao assunto de alguns países. A obra é
resultado de sua tese de doutorado em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo.
Atualmente, Antenor Madruga é o Diretor do Departamento de Recuperação de Ativos Ilícitos do
Ministério da Justiça.

O livro é dividido em quatro partes e dezesseis capítulos. Seguem anexas sete fontes jurídicas
relacionadas ao tema, tais como as leis sobre imunidade dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e
Argentina e o Projeto de Convenção Internacional sobre Imunidades de Jurisdição dos Estados e de
seus Bens.

Na primeira e na segunda parte examinam-se os conceitos de soberania e jurisdição e como o


entendimento aprofundado destes permite utilizá-los como instrumentos para contestar certos
princípios antes intocáveis, como o do par in parem non habet imperium (princípio da igualdade
soberana). Quanto à jurisdição, destaca-se o Capítulo III do Título II, em que o autor atenta para a
existência de dois tipos de espécies de imunidade de jurisdição: a imunidade de cognição - que diz
respeito às atividades de dizer o direito - e a imunidade de execução - relacionada à execução da
sentença. Na terceira parte, analisa-se o instituto da imunidade, seu desenvolvimento, a prática dos
Estados e os casos não abrangidos pela imunidade. Demonstra-se também que, ao contrário do que
muitos afirmam, o Supremo Tribunal Federal sói incorporar de imediato o direito internacional ao
direito interno. Outro inovador subsídio científico de Antenor P. Madruga Filho é a formulação da teoria
da fundamentação autônoma, uma resposta à tradicional (e insuficiente) fundamentação do princípio
da igualdade soberana.Na quarta e última parte, examina-se com minúcia a questão da renúncia,
preocupação central da obra. Os dois primeiros capítulos procuram demonstrar que o problema da
impossibilidade de renúncia localiza-se apenas em parte das submissões do Estado brasileiro a
jurisdições estrangeiras. No terceiro capítulo é demonstrada a possibilidade, sob a perspectiva do
direito brasileiro, da renúncia à imunidade de jurisdição. A partir de exames de casos concretos,
afirma-se que a renúncia à imunidade de jurisdição é efetivamente praticada pelo Estado brasileiro. Na
conclusão, o autor inova ao sugerir linhas de pesquisa correlatas ao assunto para aqueles que desejam
desenvolver dissertação de mestrado ou tese de doutorado.

Os trabalhos aqui brevemente examinados são visivelmente conexos devido à grande inter-relação
temática. Afinal, como se poderia conceber a atuação diplomática sem a fundamentação teórica do
instituto da imunidade? Portanto, vale destacar a relevância dessas obras, pois elas contemplam de
forma plena todos os aspectos do instituto da imunidade, isto é, desde sua evolução histórica até sua
manifestação prática no plano interno e internacional. Destaca-se, igualmente, a intimidade dos
autores com o assunto, como pode-se comprovar pela abundância de casos práticos estudados e pelas
úteis sugestões indicadas, que poderiam ser cuidadosamente avaliadas pelos órgãos competentes. O
grande mérito dos autores é, sem dúvida, acender o debate quanto à temática das imunidades de
jurisdição e contestar certas premissas que se encontravam acomodadas entre os juristas brasileiros.

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