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Direito Internacional Privado

ricardolimalves@hotmail.com

Conceito: Trata-se da disciplina que cuida de problemas jurídicos enfrentados pelo


particular em relações que ultrapassam as fronteiras de um Estado.
Essas relações se fazem presentes de um modo cada vez mais frequente no dia a dia,
principalmente quando se considera a evolução das comunicações e dos transportes.

Ex: Importação de uma mercadoria, exportação, casamento no exterior ou com


estrangeiro.

O Direito Internacional Privado é composto por normas de sobre direito (sobredireito:


direito que trata de outro direito). Ou seja, o Direito Internacional Privado serve
apenas para indicar o ordenamento aplicável. A àquele caso específico, e não para a
resolução direta do problema. Assim, o DIPr identifica os elementos internacionais. E, a
partir disso, aponta se o caso de resolverá pela lei nacional ou pela lei estrangeira.

Ex: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro do art. 7º em diante.

Objeto: O DIPr, basicamente, cuida de 4 temas.

Nacionalidade: Caracteriza o nacional de cada estado que pode ser adquirida de forma
originária ou derivada. Pode ser também perdida e readquirida. No tema da
nacionalidade podem ocorrer conflitos de dão origem a figuras como da dupla
nacionalidade ou do apátrida, entre outros...

Condição Jurídica do Estrangeiro: Tema que trata do direito de alguém entrar e


permanecer no país, e estando domiciliado trata do Direito no plano econômico,
social, público e político.

Conflito de leis: Objeto típico de normas de sobredireito. O conflito de leis trata de


relações humanas ligadas a dois ou mais sistemas jurídicos cuja as normas materiais
normalmente não coincidem, cabendo determinar qual sistema será aplicado.

Conflito de Jurisdição: trata-se do conflito em torno da competência do judiciário na


solução de situações que envolvem pessoas, coisas ou interesses que ultrapassam os
limites da soberania. OBS: essa concepção e delimitação dos objetos de direito
internacional privado é a que prevalece na doutrina e é chamada de concepção
francesa.

Conflito de jurisdição – Trata-se do conflito em torno da competência do


judiciário na resolução de situações que envolvem pessoas, causas de
interesses que ultrapassam os limites de uma soberania.
NOMENCLATURA – Direito internacional privado. Existe na doutrina um intenso
debate sobre o equívoco na nomenclatura do direito internacional privado
embora o nome da disciplina seja amplamente consolidado.
Essa crítica parte da diferença ente o direito internacional público e do
direito internacional privado: A nomenclatura funciona como um elemento de
aproximação. Contudo, entende-se que cada uma delas compões uma
disciplina autônoma. Enquanto o direito internacional público trata de
problemas que envolvem Estados soberanos e organismos internacional com a
aplicação de instrumentos normativos multilaterais, o direito internacional
privado cuida de problemas relacionados às pessoas de direito privado (físicas
e jurídicas) com a aplicação de normas internas de cada Estado.
Percebe-se, assim, que ao diferenciarmos o direito internacional público
do direito internacional privado. Temos a oportunidade de debater a prevalência
das fontes internas do neste último
Essa afirmação pode ser testada com a análise de cada uma das bases
do direito internacional privado:
1. Nacionalidade – Trata-se do tema que mais nitidamente reclama a
aplicação de normas internas já que não pode haver interferências
externas nos critérios de atribuição de nacionalidade;
2. Condição Jurídica do Estrangeiro – Neste tema, também ocorre a
aplicação das fontes internas, com o respeito a alguns princípios
acordados entre os Estados;
3. Conflito de jurisdição – É composto basicamente de regras definidoras
da competência dos órgãos do judiciário, matéria tipicamente interna;
4. Conflitos de lei – Entre os temas de direito internacional privado é este
que mais contém normas internacionais, ainda assim, há a prevalência
de normas de direito interno.

FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO: Sem olvidar que há a prevalência


das normas de direito interno.
1. Lei – p. ex. LINDB;
2. Doutrina – Por conta da escassez de leis;
3. Jurisprudência –
4. Tratados e convenções internacionais – p. ex. Convenções da Haia
(Convenção Internacional de Sequestro de Crianças);

DAS PESSOAS DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO:


A) NACIONAL – Nacionalidade (trabalho);
B) Condição Jurídica de Estrangeiro –
O tema da Condição Jurídica do Estrangeiro pode ser divido, para fins
didáticos, em três assuntos:
1. Entrada do estrangeiro no Brasil – Historicamente, a entrada de
estrangeiros em território brasileiro foi totalmente livre durante o Século
XIX, esse período compreende eventos importantes como a abertura
dos portos em 1808, a Proclamação da Independência em 1822 e as
Constituições de 1824 e 1891; Além de uma preocupação estratégica de
ocupação e povoamento do território nacional.
Já no Século XX cresce a ideia da necessidade de um controle da entrada de
estrangeiros, o que se reflete na Constituição de 1934, que restringia a
liberdade de entrada a tempo de paz. Contudo as políticas de controle foram
mais restritas, principalmente quando se analisa o contexto dos grandes
movimentos populacionais que antecederam a segunda guerra mundial.
Instrumentalmente, para o controle da entrada de estrangeiros, se destacam
dois instrumentos: o passaporte e o visto.
O Passaporte também pode ser chamado de documento de viagem e segue
padrões internacionais para torná-lo funcional em qualquer lugar do mundo. Já
com relação ao visto de entrada para estrangeiros, o governo brasileiro segue
uma politica de reciprocidade: não se exige visto de entrada do estrangeiro cujo
país também não o exija para a entrada de brasileiros.
Tipos de Visto (Lei 13.445/17) –
a) DE VISITA – art. 13 – Concedido àquele que viaja para o Brasil com
estadas de até noventa dias, sem qualquer objetivo imigratório, ou de
exercício de atividade remunerada (OBS – Aquele que obtém o visto
de visita pode realizar atividades que lhe concedam remuneração,
como diária, ajuda de custo, cachê ou outras despesas com a
viagem).
É concedido, em geral, para fins de turismo, negócios, trânsito, realização de
atividades artísticas e desportivas.
b) TEMPORÁRIO – art. 14 – É concedido ao estrangeiro que venha
estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre
em, pelo menos, uma das hipóteses definidas no inciso I do art. 14
da referida Lei.
c) DIPLOMÁTICO – art. 15 a 17 – É o visto concedido àqueles que, na
qualidade de autoridades ou de funcionários estrangeiros, tenham
STATUS DIPLOMÁTICO e viajem ao Brasil em missão oficial de caráter
transitório ou permanente, representando governo estrangeiro ou
organismo internacional, reconhecidos pelo Brasil.
d) OFICIAL – art. 15 a 17 – É aquele concedido a funcionário
administrativo estrangeiro que viaje ao Brasil em missão oficial de
caráter transitório ou permanente.
e) DE CORTESIA – art. 15 a 17 – É aquele concedido a personalidades e
autoridades estrangeiras em viagem não oficial ao Brasil; pode ser
concedido, ainda, a companheiros e companheiras, dependentes e
outros familiares que não se beneficiem de visto diplomático ou
oficial, por reunião familiar.
Ainda, trabalhadores domésticos* de missão estrangeira sediada no Brasil;
artistas e desportistas estrangeiros que viajem ao Brasil para eventos de
caráter gratuito ou cultural.
*Art. 18 – O empregado doméstico que receba o visto de cortesia, só pode
desenvolver as suas atividades obedecendo a legislação trabalhista brasileira.
Além disso, a sua saída do Brasil fica sob a responsabilidade do titular do visto
diplomático ou oficial que lhe emprega.
Cidadão do Mercosul – No contexto de residência do MERCOSUL, os
nacionais dos Estados signatário podem estabelecer residência temporária no
Brasil, tanto por meio da solicitação de um visto de residência, como também
sem a necessidade de visto.

2. Direitos Concedidos ao Estrangeiro Admitido – Com relação aos


direitos do estrangeiro admitido em território nacional, deve-se destacar,
como primeira lição, que nenhuma distinção deve ser feita entre os
estrangeiros e os nacionais com relação aos direitos privados ou civis,
assim, não há restrições com relação ao casamento, à contratação, e à
aquisição de propriedade*.
Assim, as maiores restrições se encontram no exercício de atividades políticas,
notadamente para os cargos descritos no art. 12, §3° da Constituição Federal
de 1988. Além disso, o art. 20 da Constituição Federal, em seu §2°, limita a
ocupação e utilização da faixa de fronteira, trata-se da faixa de até 150Km de
largura ao longo de todas as fronteiras terrestres que é considerada como
fundamental para a defesa do território nacional.
Outras leis podem trazer, ainda, restrições a uma série de atividades para
serem exercidas por estrangeiros. São vedadas, total ou parcialmente,
atividades como bancos, seguros, petróleo, minas, águas, energia hidráulica,
entre outros.
*–

3. Saída compulsória do estrangeiro –


Direito de Asilo e Refúgio: Direito de asilo é tema de Direitos Humanos expressamente
enunciado no art. XIV da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “todo homem
vítima de perseguição tem direito a procurar e gozar asilo em outros países”.

Percebe-se assim que o direito de asilo tem caráter de proteção àquele indivíduo cuja
vida, liberdade ou dignidade estejam ameaçadas pelas autoridades de outro Estado,
normalmente por perseguições de ordem política. Não estão abrangidas nessa
proteção as perseguições motivadas por crimes de Direito comuns ou por atos
contrários aos objetivos das nações unidas. O direito de asilo protege o sujeito da
perseguição política, religiosa ou racial e não da persecussão penal.

OBS: não se confunde o direito de asilo com o refúgio. Este último trata de situações
em que ocorre o deslocamento de grandes populações por situações de ameaça a vida
ou liberdade. Ex: refugiados da Ucrânia em decorrência da guerra, refugiados da
Venezuela em decorrência da fome. O Asilo, por sua vez, é analisado e concedido caso
a caso.

Asilo territorial: Consiste no recebimento do estrangeiro no território nacional para


evitar punição ou perseguição de ordem política ou ideológica.

Pode se classificar o asilo da seguinte forma:

Asilo diplomático: também pode ser chamado de extraterritorial e se configura na


acolhida do indivíduo dentro do próprio estado em que ele é perseguido, mas em
locais como embaixada, consulados, acampamentos militares, navios ou aeronaves
sobre os quais o governo estrangeiro não tenha jurisdição.
OBS: a possibilidade de concessão de asilo diplomático confirma a sua principal
característica: sempre ser analisado e concedido caso a caso, pessoa a pessoa.

Direito de refúgio: trata-se do procedimento utilizado para acolher fluxos maciços de


populações que se deslocam por situações que geram ameaças à vida e à liberdade.

A questão dos refugiados se revela como um grande problema de caráter humanitário


que normalmente se associa com situações de guerra ou fome. Isso justifica a criação
da de um órgão no âmbito das nações unidas chamado de Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Trata-se de uma instituição apolítica
humanitária e social que tem como função a garantia da proteção internacional aos
refugiados. Visando especialmente a garantia da sua proteção e a implementação de
soluções duráveis.

Quando se fala de soluções duráveis pretende-se viabilizar, conforme o estatuto dos


refugiados, a integração local, o reacentamento, ou mesmo a repatriação voluntária.

No âmbito interno, destaca-se o CONARE, comitê nacional para os refugiados que é


um órgão vinculado ao Ministério da Justiça com competência e estrutura de
funcionamento previstos na Lei 9.474/97. O art. 1º da Lei 9474/97 traz a definição de
refugiados.
OBS: a aquisição de imóveis rurais por estrangeiro é regulada pela Lei 5709/71.
Visando a limitar a aquisição de grandes faixas territoriais por pessoas físicas ou
jurídicas estrangeiras.

Saída compulsória: A saída compulsória do estrangeiro é analisada pelo direito


brasileiro por meio dos seguintes institutos:

- Extradição: Trata-se do processo pelo qual o Estado atende a um pedido de outro


Estado, remetendo-lhe pessoa processada o país solicitante pela prática de crime
punido pela legislação de ambos os países. Há ainda hipóteses de que a extradição não
é concedida como, por exemplo, se o sujeito é brasileiro nato, se o fato não é
considerado crime no Brasil ou no Estado solicitante, se o Brasil for competente para
julgar.

- Expulsão: Processo por meio do qual um Estado expele do seu território um


estrangeiro residente. A Expulsão é motivada pela prática de um crime ou pela
demonstração de um comportamento nocivo aos interesses nacionais. O estrangeiro
expulso não pode retornar ao Brasil.

- Deportação: É o processo de devolução do estrangeiro que aqui chega ou permanece


irregularmente, para o país de sua nacionalidade ou procedência. Enquanto a expulsão
se dá pela prática de um ato ocorrido após a chegada do estrangeiro, a deportação
ocorre exclusivamente pela entrada ou permanência irregular. O deportado pode
retornar ao Brasil cumpridos os requisitos legais.

- Repatriação: Trata-se da medida administrativa prevista na Lei 13.445/2017 para a


devolução pessoal em situação de impedimento ao seu país de procedência ou
nacionalidade. Exigem-se duas comunicações:
Uma para a empresa transportadora e outra para a autoridade consular.

Questões:

1) Qual a definição de estrangeiro?


2) Quais são os temas estudados na condição jurídica do estrangeiro?
3) Quais são os documentos exigidos para entrada do estrangeiro no Brasil?
4) Qual a diferença de passaporte e visto?
5) Descreva o princípio da reciprocidade em matéria de visto.
6) Quais são os tipos de vistos?
7) Qual a diferença entre diplomático e oficial?
8) A quem se concede o visto de cortesia?
9) Qual a diferença entre asilo e refúgio?
10) Qual a diferença entre asilo territorial e diplomático?
11) Quais são as atribuições do CONARE?
12) Quais são os institutos que regulam a saída compulsória do estrangeiro no Brasil?
Explique cada um deles.
13) Diferencie deportação e expulsão.
14) Quais são os casos em que não se concede extradição?

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