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A PRÁTICA JURÍDICA

O acesso ao direito e aos tribunais

O acesso ao direito e aos tribunais constitui um


direito, consignado nas leis fundamentais da maior
parte dos Estados Modernos.

Os organismos internacionais empenhados na


defesa dos Direitos Humanos consignam este
direito, como decorre dos textos legais.

De igual, modo a lei fundamental portuguesa


assegura aos cidadãos o acesso ao Direito e aos
tribunais, à protecção jurídica, que se consubstancia
num conjunto de direitos, como decorre do artigo
20º da C.R.P.
Artigo 20º
Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva
1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais
para defesa dos seus direitos e interesses legalmente
protegidos, não podendo a justiça ser denegada por
insuficiência de meios económicos.
2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e
consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se
acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.
3. A lei define e assegura a adequada protecção do
segredo de justiça.
4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham
seja objecto de decisão em prazo razoável e mediante
processo equitativo.
O acesso ao direito e aos tribunais é, assim, um
direito fundamental de todos os cidadãos e, para a
concretização deste direito e em cumprimento do
estipulado no preceito constitucional transcrito,
compete à lei instituir um sistema com esse fim.
Incluindo mecanismos de informação e protecção
jurídica de modo a assegurar que a ninguém seja
dificultado ou impedido, em razão da sua condição
social ou cultural, ou por insuficiência económica, o
conhecimento, o exercício ou a defesa dos direitos.
Lei nº 34/2004
de 29 de Julho
Artigo 2.
Promoção
1 — O acesso ao direito e aos tribunais constitui uma
responsabilidade do Estado, a promover,
designadamente,
através de dispositivos de cooperação com as
instituições representativas das profissões forenses.
2 — O acesso ao direito compreende a informação
jurídica e a protecção jurídica.
Informação jurídica:

Incube ao Estado realizar, de modo permanente e


planeado, acções tendentes a tornar conhecido o
Direito e o ordenamento legal, através da publicação e
de outras formas de comunicação, com vista a
proporcionar um melhor exercício dos direitos e o
cumprimento dos deveres legalmente estabelecidos.
No âmbito das acções referidas serão gradualmente
criados serviços de acolhimento nos tribunais e
serviços judiciários.

Compete à ordem dos advogados, com a colaboração


do Ministério da Justiça, prestar a informação jurídica,
no âmbito da protecção jurídica, nas modalidades de
consulta jurídica e apoio judiciário.
Protecção jurídica

A protecção jurídica é concedida para questões ou


acções judiciais concretas ou susceptíveis de
concretização, em que o cidadão tenha um interesse
próprio e que versem sobre direitos directamente
lesados ou ameaçados de lesão.
Têm direito à protecção jurídica os cidadãos nacionais
e da União Europeia, bem como os estrangeiros e os
apátridas com título de residência válido num Estado-
membro, que demonstrem estar em situação de
insuficiência económica.
As pessoas colectivas têm apenas direito à protecção
jurídica na modalidade de apoio judiciário.
Encontra-se em situação de insuficiência económica
aquele, que tendo em conta factores de natureza
económica e a respectiva capacidade contributiva, não
tem condições objectivas para suportar pontualmente os
custos de um processo.
A apreciação da situação económica do requerente deve
ser feita de acordo com determinados elementos
objectivos como o rendimento, património e a despesa
do agregado familiar, cabendo fazer prova da sua
situação económica.
A protecção jurídica pode ser requerida em qualquer
serviço da segurança social:
-Pelo interessado pela sua concessão
-Pelo ministério público
-Por advogado, advogado estagiário ou solicitador, em
representação dos interessados.
Os formulários de requerimento são gratuitos e podem
ser apresentados pessoalmente em qualquer serviço de
atendimento ao público dos serviços da Segurança
Social, enviados por fax ou por correio electrónico, neste
caso através do preenchimento do respectivo formulário.

A protecção jurídica abrange as modalidades:


-Consulta jurídica
- Apoio judiciário
Consulta jurídica – abrange a apreciação liminar da
inexistência de fundamento legal da pretensão, para
efeito de nomeação de patrono oficioso e pode
compreender a realização de diligências extrajudiciais
ou comportar mecanismos informais de mediação e
conciliação, conforme constar do regulamento dos
gabinetes de consulta jurídica.
Em cooperação com a ordem dos advogados e com as
autarquias locais interessadas, o Ministério da Justiça
garante a existência de gabinetes de consulta jurídica.
Apoio judiciário – aplica-se em todos os tribunais,
qualquer que seja a forma do processo, nos julgados de
paz e noutras estruturas de resolução alternativa de
litígios e ainda com as devidas adaptações, nos
processos de contra-ordenação e nos processos que
corram nas conservatórias.
O apoio judiciário compreende as seguintes
modalidades:

-Dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o


processo
-Nomeação e pagamento da compensação de patrono.
-Pagamento da compensação de defensor oficioso.
-Pagamento faseado da taxa de justiça e demais
encargos com o processo.
-Nomeação e pagamento faseado da compensação de
patrono.
- Atribuição de agente de execução.
Na últimas décadas assistiu-se a uma transformação
acelerada da sociedade, induzida, nomeadamente, pela
introdução das novas tecnologias, avanço da ciência e
pela globalização. Estes processos de transformação
apontam em simultâneo por diversos caminhos.
Por um lado avança a juridificação e a judicialização da
vida em sociedade com a expansão do direito a outras
áreas da sociedade e com a chegada a tribunal de novos
litígios oriundos da sociedade de mercado.
Por outro lado, desenvolve-se uma tendência para a
desjuridicação para a informalização e para a
desjudicialização da resolução de litígios.
Estes caminhos, por sua vez, interligam-se com a
transformação das profissões em geral, e particularmente
nas profissões jurídicas.
A necessidade de reformulação da justiça tem
conduzido a processos de desjuridificação que se
traduzem no facto de determinadas situações
deixarem de ter relevância jurídica
(descriminalização dos cheques sem cobertura de
valor inferior a € 150) bem como, a processos de
desjudicialização que têm permitido a simplificação
processual (injunção), na transferência de
competências dos tribunais judiciais para as
conservatórias do registo Civil (divórcios por mútuo
consentimento), para as conservatórias do registo
predial (venda de bens penhorados), transferência
de competências de notários para advogados
(autenticação de documentos), etc.
Magistrados:

Existem em Portugal duas magistraturas


autónomas e independentes:
-A magistratura judicial – os juízes;
-A magistratura do Ministério Público – os
agentes do ministério público.
A magistratura judicial é composta por juízes do STJ,
Juízes dos TR e juízes de 1º instância.
O Estatuto dos juízes rege-se pela C.R.P. (arts. 215 a
218º da CRP) e pelo estatuto dos magistrados judiciais.
Certos magistrados exercem funções em tribunais
especiais, nomeadamente os administrativos e os
fiscais, mas no que se refere à definição do seu
estatuto regem-se, também pela CRP, por um estatuto
próprio e subsidiariamente, pelo estatuto dos
magistrados judiciais.
O acesso à profissão está aberto aos cidadãos que a
isso se proponham, desde que reúnam as seguintes
condições:

- Ser cidadão português ou cidadão dos Estados de


língua portuguesa com residência permanente em
Portugal, a quem seja reconhecido, nos termos da lei e
em condições de reciprocidade, o direito ao exercício
das funções de magistrado.

- Ser titular do grau de licenciado em Direito ou


-

equivalente legal.

- Reunir os demais requisitos gerais de provimento


em funções públicas.
Além destes, são exigidos outros requisitos que
correspondem a duas vias distintas de admissão a
concurso e de ingresso no curso de formação inicial:

“via da habilitação académica”, assim denominada


por os requisitos de ingresso respeitarem
especialmente à habilitação académica dos
candidatos;

A“via da experiência profissional”, assim


denominada por os requisitos de ingresso
atenderem especialmente à experiência profissional
dos candidatos;
Para se candidatar pela “via da habilitação académica”
o candidato tem ainda de possuir o grau de mestre ou
de doutor, ou o respectivo equivalente legal. Todavia,
este requisito é dispensado se o candidato for
licenciado em Direito ao abrigo de organização de
estudos anterior ao estabelecido pelo Decreto-Lei n.º
74/2006, de 24 de Março, ou equivalente legal.

Para se candidatar pela “via da experiência


profissional” o candidato tem ainda de possuir
experiência profissional na área forense ou em outras
áreas conexas, relevante para o exercício das funções
de magistrado, e de duração efectiva não inferior a
cinco anos.
Os métodos utilizados para selecção dos candidatos são os
seguintes:

- Provas de conhecimentos, compreendendo uma fase


escrita e,  sucessivamente, mas apenas para candidatos
pela “via da habilitação académica”, uma fase oral, ambas
eliminatórias;
- Avaliação curricular, apenas para candidatos admitidos
pela “via da experiência profissional”, também eliminatória,
que inclui:
- Uma discussão sobre o currículo e a experiência
profissional do candidato;
- Uma discussão sobre temas de direito, baseada na
experiência do candidato.
- Exame psicológico de selecção.
São aprovados os candidatos que obtiverem a menção
«favorável» no exame psicológico de selecção.

Ficam habilitados para a frequência do curso teórico-


prático imediato os candidatos aprovados, por ordem
de graduação, até ao preenchimento do total das
vagas em concurso, com respeito pelas respectivas
quotas de ingresso. A graduação é feita por ordem
decrescente da respectiva classificação final.
Os candidatos aptos que não tenham ficado habilitados
para a frequência do curso teórico-prático imediato, por
falta de vagas, ficam dispensados de prestar provas no
concurso imediatamente seguinte, ficando graduados
conjuntamente com os candidatos que neste tiverem
ficado aprovados.
A formação dos juízes é da responsabilidade do Centro
de Estudos Judiciários.
A nomeação dos juízes compete ao Conselho superior de
Magistratura, que é o órgão superior de gestão da
magistratura judicial.

Este órgão tem, também, competência para a colocação


e transferência dos magistrados judiciais, bem como para
o exercício da acção disciplinar, nos termos definidos na
lei.
Os juízes são remunerados pelo Estado e em exercício
não podem desenvolver qualquer outra actividade pública
ou privada, salvo as funções docentes ou de investigação
científica de natureza jurídica, não remuneradas, bem
como funções directivas em organizações sindicais da
classe.
Agentes do Ministério Público:

Cumpre aos magistrados do Ministério Público


representar o Estado, defender os interesses que a
lei determinar, participar na execução de política
criminal definida pelos órgãos de soberania, exercer a
acção penal orientada pelo princípio da legalidade e
defender a legalidade democrática.
Os magistrados do MP regem-se pela CRP e
pelo Estatuto do MP.
O acesso ao exercício desta profissão, bem
como a formação dos magistrados do Ministério
envolve a frequência de uma fase inicial de formação
comum com a fase inicial do curso de preparação
destes magistrados são, também, idênticos aos
relativos à formação dos magistrados judiciais.
São órgãos do MP:
- A Procuradoria-geral da República
-As Procuradorias da República

São agentes do MP
- O Procurador-Geral da República,
- O Vice-Procurador-Geral da República,
- Os Procuradores-gerais adjuntos,
- Os Procuradores da república,
- Os procuradores adjuntos.
Advogados:
Os advogados são profissionais liberais, licenciados
em direito, que exercem o mandato forense e
funções de consulta jurídica a título profissional e
remunerado. Só os advogados e advogados
estagiários com inscrição em vigor na Ordem dos
Advogados podem praticar actos próprios da
profissão.

A inscrição como advogado na Ordem dos


advogados está condicionada à realização de um
estágio, que actualmente tem a duração de 30
meses.
O estágio terá a duração de 30 meses e compreende duas
fases de formação: a fase de formação inicial, com a
duração de 6 meses e a fase de formação complementar,
com a duração de 24 meses.
A fase de formação inicial destina-se a garantir a iniciação
aos aspectos técnicos da profissão e um adequado
conhecimento das suas regras e exigências deontológicas,
assegurando que o advogado estagiário, ao transitar para a
fase de formação complementar, está apto à realização dos
actos próprios de advocacia no âmbito da sua competência.
A fase de formação complementar visa o desenvolvimento e
aprofundamento das exigências práticas da profissão,
intensificando o contacto pessoal do advogado estagiário
com o funcionamento dos escritórios de advocacia, dos
tribunais, das repartições e outros serviços relacionados com
o exercício da actividade profissional.
1 - São, designadamente, incompatíveis com o exercício
da advocacia os seguintes cargos, funções e actividades:
a) Titular ou membro de órgão de soberania,
representantes da República para as Regiões
Autónomas,
b) Membro do Tribunal Constitucional e respectivos
funcionários, agentes ou contratados;
c) Membro do Tribunal de Contas e respectivos
funcionários, agentes ou contratados;
d) Provedor de Justiça e funcionários, agentes ou
contratados do respectivo serviço;
e) Magistrado, ainda que não integrado em órgão ou
função jurisdicional;
f) Governador civil, vice-governador civil e funcionários,
agentes ou contratados do respectivo
serviço;
g) Assessor, administrador, funcionário, agente ou
contratado de qualquer tribunal;
h) Notário ou conservador de registos e funcionários,
agentes ou contratados do respectivo serviço;
i) Gestor público;
j) Funcionário, agente ou contratado de quaisquer serviços
ou entidades que possuam natureza pública
ou prossigam finalidades de interesse público, de natureza
central, regional ou local;
l) Membro de órgão de administração, executivo ou director
com poderes de representação orgânica
das entidades indicadas na alínea anterior;
m) Membro das Forças Armadas ou militarizadas;
n) Revisor oficial de contas ou técnico oficial de contas e
funcionários, agentes ou contratados do
respectivo serviço;
o) Gestor judicial ou liquidatário judicial ou pessoa
que exerça idênticas funções;
p) Mediador mobiliário ou imobiliário, leiloeiro e
funcionários, agentes ou contratados do respectivo
serviço;
q) Quaisquer outros cargos, funções e actividades
que por lei sejam considerados incompatíveis com
o exercício da advocacia.
Conservadores:
Os conservadores são funcionários públicos aos
quais compete registar determinadas situações
permitindo, assim, dar-lhes publicidade.

Os conservadores são funcionários públicos pagos


pelo Estado e o exercício do cargo é incompatível
com qualquer função pública remunerada.
Os conservadores chefiam as repartições públicas
onde se efectuam os registos dos actos a eles
sujeitos, obrigatoriamente, por lei, as quais se
designam conservatórias, emitindo certidões,
fotocópias relativas aos factos sujeitos a registo.

Existem conservatórias do registo civil, predial,


comercial e de automóveis, tomando os
conservadores o nome da respectiva conservatória.

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