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Povo
Antigamente o conceito de Povo estava interligado como sendo uma componente da sociedade de
um estrato social mais baixo. Contudo atualmente entende-se por Povo o conjunto de todos os
cidadãos de um estado, ou seja, como o conjunto das pessoas que se encontram ligadas ao Estado
através de um vínculo jurídico de cidadania ou nacionalidade. Assim, o povo português é o conjunto
de cidadãos portugueses (art.4 da Constituição).
O único termo que interessa é o conceito de Povo no contexto jurídico. Visto que o conceito de
povo corresponde numa perspetiva normativa ao conjunto de todos aqueles para os quais vigora
especificamente uma ordem jurídica, quer, em geral, pelo facto de o povo ser determinado pelo
vínculo jurídico da cidadania.
Contudo não devemos confundir este termo com o de população ou nação.
A População corresponde ao conjunto de pessoas, sejam ou não nacionais, que residam
habitualmente no território do Estado. Não é um conceito jurídico está mais ligado às ciências
sociais, demográficas e económicas, daí interessar mais o conceito de povo.
Nação é uma coletividade identificada pela comunhão de laços culturais ou espirituais e histórico-
geográficos entre os seus membros, permitindo recortar uma alma comum ou espírito comum.
Contudo o conceito de Nação desapareceu da constituição, pois ficou muito ligado ao ideário do
Estado Novo, com isso tornou-se um conceito politicamente tóxico no Pós 25 de Abril. Para além
disso tal como população este conceito não é um conceito útil em termos jurídicos.
Mesmo assim esta ideia de nação esteve na base da formação de uma série de Estados. E permite-
nos distinguir entre Estados, como os Estados Nacionais (ex. Portugal - é um estado Nacional,
porque temos uma Nação - A Nação Portuguesa), Estados Plurinacionais (ex. Espanha) e os Estados
sem espírito nacional (ex. antigas colónias).
Relevância do conceito de nação em Direito Constitucional:
No respeito devido a certas tradições religiosas da comunidade, mesmo num Estado laico
Na proteção devida ao património cultural ou a defesa da língua
No reduto que deve constituir a defesa da identidade nacional, no âmbito da construção da
união europeia.
A cidadania ou nacionalidade
Expressões que são usadas como sinónimas no nosso ordenamento, com tendência da Constituição
a privilegiar a primeira e a lei ordinária a segunda – é um vínculo jurídico que liga uma determinada
pessoa a um determinado Estado. Não estando, todavia, excluída a possibilidade de alguém ter
mais que uma nacionalidade. Caso alguém tenha mais que uma nacionalidade, só a do Estado em
causa, neste caso Portugal é relevante para efeitos jurídicos. Além de ter mais que uma
nacionalidade, uma pessoa pode não ter qualquer nacionalidade, sendo um apátrida. Este é um
fenómeno que tenta ser eliminado, por exemplo pela determinação que quem nasça no território e
não tenha outra cidadania, adquira a portuguesa (lei da nacionalidade – art.1º/1/g).
O vínculo pode seguir dois critérios tradicionais:
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Ius sanguinis: vínculo é determinado pela filiação (são nacionais os que forem filhos de um
nacional)
Ius soli: o vínculo é determinado pelo local de nascimento (são nacionais os que nasceram
no território).
Embora Estados mais antigos tendem a demonstrar uma prevalência do ius sanguinis, e os Estados
mais recentes o ius soli.
Em Portugal, depois da existência secular de um sistema misto, com prevalência do ius soli, a lei da
Nacionalidade de 1981 pretendeu reduzir o peso do ius soli, concedendo prevalência ao ius
sanguini. Todavia, as sucessivas alterações introduzidas nas duas últimas décadas vieram reforçar
de tal modo a relevância do ius soli (tendo em vista a integração de dos filhos de imigrantes),
fazendo com que o Direito Português regressasse novamente a um sistema misto.
O regime jurídico da nacionalidade no ordenamento português é pautado pelos seguintes traços
característicos:
A evolução paulatina do direito da nacionalidade
Falta de sintonia entre o direito português da nacionalidade e dos demais países europeus
A construção de um direito fundamental à cidadania, com proibição da privação da
cidadania por motivos políticos
Garantia definida por lei de não haver lugar a perda da cidadania a não ser por um ato de
vontade e na condição de o interessado ser nacional de outro Estado
A cidadania/nacionalidade é um Direito Fundamental, consagrado no Art.26º da CRP.
A grande permeabilidade do Direito Português
A cidadania portuguesa pode ser:
Cidadania originária: atribuída por lei, seja por mero efeito da lei, pelo concurso da vontade
ou condicionada à verificação de outros requisitos (Lei da Nacionalidade – Art.1º).
o Decorre do nascimento ou do ato que se reporte ao nascimento (art.1º LN).
o É insuscetível de oposição (art.9º LN), produz efeitos desde o nascimento (art.11º
LN).
o Garante a plenitude de direitos.
Cidadania derivada: não se reporta ao nascimento, resultando sim da vontade (art.2º, 3º e
4º LN), da adoção (art.5º LN) e da naturalização (art.6ºLN):
o Sendo esta progressivamente vista como um direito interessado e em certos casos
passível de oposição por parte do Ministério Público (art.9º e 10º LN).
o Produz efeitos em momento posterior ao nascimento (art.12º LN).
o Não garante a plenitude de direitos, na medida em que a elegibilidade ao cargo de
presidente da república está reservada aos portugueses de origem maiores de 35
anos (art.122º CRP).
Princípio da equiparação: todos os estrangeiros e apátridas que se encontrem ou residam em
Portugal gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres do cidadão português
(art.15º CRP) – também se refere a pessoas coletivas estrangeiras ou internacionais. Contudo a
constituição consagra nos números seguintes do art.15º todo um sistema de exceções e desvios ao
princípio da equiparação.
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Explicação do Artigo 15º CRP
O art.15º/1 funciona como uma norma geral que consagra em sim o princípio da equiparação.
O nº2 do art.15º prevê quatro conjuntos de exceções ao dito princípio da equiparação:
Os direitos políticos
O exercício de funções públicas sem natureza predominantemente técnica
Outros direitos reservados pela Constituição aos cidadãos portugueses
Os direitos reservados por lei aos cidadãos portugueses
Os direitos políticos, são fundamentalmente os direito, liberdades e garantias de participação
política elencados no capítulo II, do título II, da parte I da Constituição. Concretamente:
o Direito a tomar parte na vida pública (art.48º)
o Direito à informação sobre a atividade das entidades públicas (art.48º)
o Direito de sufrágio (em eleições e referendos) (art.49º)
o Direito de acesso a cargos públicos (de natureza política) (art.50º)
o Direito a constituir (e a participar em) associações políticas (art.51º)
o Direito a constituir (e a participar em) partidos políticos (art.51º)
o Direito de petição (art.52º)
o Direito de ação popular (art.52º)
o Direito de iniciativa legislativa popular (art.167/2)
o Direito de iniciativa popular de referendo (art.167º/1 e art.240º/2)
O exercício de funções públicas sem natureza predominantemente técnica, é um conceito herdado
do art.7º/2 da CRP de 1933. A referência constitucional a funções de natureza predominantemente
técnica não deve ser contraposta a funções sem caráter técnico, mas sim a funções em que
predomina o exercício de prerrogativas de autoridade pública.
Neste sentido, confirma-se que as funções predominantemente técnicas, a que os estrangeiros
podem aceder, não se contrapõem às funções que não exigem particulares qualificações ou
especializações de índole técnica, mas sim àquelas funções publicas que, não correspondendo a
cargos políticos em sentido estrito, se caracterizam por:
Assumir uma componente política relevante
Implicar uma participação ativa no exercício de funções soberanas
Exigir uma lição de fidelidade ao Estado
Permitir o exercício autónomo de prerrogativas públicas
Exemplo de funções sem natureza predominantemente técnica:
Magistrados (judiciais, mas também os do Ministério público), porque participam de forma
ativa na função soberana de administrar a justiça
Os militares das Forças Armadas, estão ligados ao Estado por um vínculo de fidelidade
Membros da carreira Diplomata, estão ligados ao Estado por um vínculo de fidelidade
Funções nos serviços e forças de segurança, que estão ligados ao Estado por um vínculo de
fidelidade
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Alguns altos cargos administrativos, pela íntima ligação existente entre os lugares em causa
e o desempenho de funções políticas e ainda a ampla liberdade de que dispõem na
prossecução do interesse público.
A função de Juiz que, segundo o Professor Jorge Pereira da Silva considerada uma função
soberana.
Em consequência, serão inconstitucionais todas as disposições legais que exijam a cidadania
portuguesa como requisito para o preenchimento e desempenho de funções publicas, sempre que
essas últimas não revistam nenhumas das quatro características acima apontadas.
A exceção que diz respeito aos direitos reservados pelo próprio texto constitucional aos cidadãos
portugueses, refere-se aos direitos:
Art.14º: que concede aos portugueses no estrangeiro o direito à proteção diplomática e
consular por parte do Estado Português.
Art.33º/1: direito de nunca ser expulso do território português
Art.33º/3: apenas os portugueses gozam o direito de não serem extraditados do território
nacional, exceto quando estiverem reunidos os três pressupostos:
o Existência de condições de reciprocidade relativamente ao estado requisitante
estabelecidas em convenção internacional
o Tratar-se de crianças de terrorismo ou de criminalidade internacional organizada
o Consagração pela ordem jurídica do estado requisitante de garantias de um processo
justo e equitativo.
Art.276º/1: o direito de defesa da pátria
De forma expressa mais nenhum direito surge reservado pela Constituição aos cidadãos. Nenhuma
ilação se pode retirar do facto de a Constituição utilizar, na formulação textual de alguns direitos
fundamentais, a expressão “cidadãos” ou outra equivalente – em vez de utilizar expressões como
“todos”, “todas as pessoas” ou “ninguém”. Tais referências têm de ser lidas em conjugação com o
princípio da equiparação e em consonância com as regras e princípios constitucionais que este
sintetiza.
Por fim, a última exceção vem permitir ao legislador ordinário – antes de mais, ao legislador
parlamentar (art.165º/1/b) – o alargamento da lista dos direitos reservados aos portugueses. No
entanto, apesar não se encontrar expressamente sujeita a quaisquer limites específicos, esta
permissão tem um alcance relativamente reduzido.
Com efeito a doutrina tem sublinhado que, “como cláusula geral, o art.15º/1, aplica-se aí onde não
sejam decretadas expressamente exclusões de direitos dos estrangeiros e estas não podem ser tais
(ou tantas) que invertam o princípio. Um limite absoluto à exclusão decorre do elenco dos direitos,
liberdades e garantias insuscetíveis de suspensão em estado de sítio. Mas não basta: há ainda que
respeitar os princípios da igualdade e proporcionalidade. Só quando haja um fundamento racional
pode um direito atribuído a portugueses ser negado a estrangeiros – o que impõem um cuidadoso
trabalho de apreciação a cargo dos órgãos de fiscalização da constitucionalidade.
Os nº3, 4 e 5 permitem que, relativamente a algumas categorias de estrangeiros residentes em
Portugal – e já não aos que apenas aqui se encontrem -, se possam atribuir, por lei e em condições
de reciprocidade, alguns dos direitos que, em princípio, seriam reservados aos portugueses. Ou
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seja, abre-se um conjunto de exceções às próprias exceções do nº2, alargando-se ainda mais o
princípio da equiparação.
Os referidos números apresentam quatro pontos em comum:
A exigência de condições de reciprocidade, embora as mesmas não tenham de ser
estabelecidas por convenção internacional.
A exigência de residência em território português, a qual, apenas nos termos do 3º, tem de
ser permanente.
A definição por lei (ou convenção internacional, bilateral ou multilateral) do regime da
atribuição a estrangeiros dos direitos em causa.
Apenas se referem a direitos, pelo que os estrangeiros seus titulares não estão em princípio
sujeitos aos correspondentes deveres de participação política, como o dever de votar ou o
dever de inscrição no recenseamento.
Por sua vez, as diferenças referem-se aos direitos envolvidos e às categorias de estrangeiros que
podem ter acesso a esses direitos:
No nº3, os cidadãos dos Estados de língua oficial portuguesa, no que toca a todas os direitos
de cidadania, exceto a possibilidade de ocupar um conjunto muito restrito de funções
públicas.
No nº4, todos e quaisquer estrangeiros, no que se refere aos direitos de elegerem e serem
eleitos para os órgãos das autarquias locais.
No nº5, os cidadãos europeus, no tocante aos direitos de elegerem e serem eleitos
deputados ao Parlamento Europeu.
O confronto entre estas disposições permite autonomizar duas realidades, que confirmam que a
cidadania obedece, cada vez mais, a critérios de geometria variável: as cidadanias de segundo grau
– como deverá suceder com a denominada cidadania lusófona (nº3) e as cidadanias de
sobreposição – como é fundamentalmente o caso da cidadania europeia (nº5).
A regra da reciprocidade tem origem no direito dos tratados e é comum no direito comparado. Não
obstante, quer por via do desenvolvimento de formas de integração supranacional, quer por via das
novas abordagens dos fenómenos migratórios transnacionais, ela tem vindo progressivamente a ser
posto em causa. Além de não poder ser razoavelmente aplicável aos apátridas, ela revela-se
discriminatória dos estrangeiros residentes em Portugal que provêm:
De países onde vigoram regimes autoritários
De países desestruturados do ponto de vista político (e militar)
De países que simplesmente não tem como prioridade da sua política externa a integração
social e política dos seus nacionais a viver no exterior.
Esses estrangeiros são assim duplamente penalizados:
Primeiro, são forçados a emigrar pelas condições de vida nos seus países de origem e a
estabelecer-se no exterior sem beneficiarem de proteção ativa das suas autoridades
nacionais.
Segundo Portugal, como Estado de acolhimento, não lhes faculta a possibilidade de aceder a
uma integração plena e, concretamente veda-lhe o acesso a um conjunto de direitos
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políticos, com o argumento de que os portugueses, nos respetivos países também não
detém tais direitos.
Para alem disto muitas vezes a inexistência de reciprocidade é muitas vezes fruto de fatores
aleatórios, como a falta de afinidades culturais entre os países em questão, a distância geográfica, a
ausência de movimentos migratórios significativos, rivalidades históricas ou as orientações
dominantes das políticas externas dos Estados.
Em qualquer dos casos motivos inteiramente alheios à pessoa dos imigrantes e à sua situação
concreta no pais de acolhimento.
O direito de voto e o direito a candidatar-se nas eleições destinadas aos órgãos das autarquias
Imigrantes Ilegais
Princípio da equiparação só vale para os estrangeiros e apátridas que se encontrem ou residem
legalmente em Portugal, quer ao abrigo do regime de entrada, saída e permanência de estrangeiros
no território nacional, quer ao abrigo do regime de direito de asilo, quer por serem cidadãos
europeus, etc. se assim não fosse, alias, inviabilizar-se-ia na pratica a execução de qualquer politica
de emigração.
Contudo apesar de os estrangeiros e apátridas em situação irregular não beneficiarem dos mesmos
direitos que os portugueses – nem dos mesmos direitos que os demais estrangeiros e apátridas em
situação legal – não decorre que eles sejam desprovidos de todos e quaisquer direitos e deveres
constitucionais. O princípio da dignidade da pessoa humana garante-lhes o acesso a um conjunto
de direitos fundamentais – art.19º/6 CRP; art.16º/1 CRP, os Direitos Constantes da Declaração
Universal dos Direitos do Homem (art.16º/2).
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Artigo 15.º
Estrangeiros, apátridas, cidadãos europeus
1. Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos direitos e
estão sujeitos aos deveres do cidadão português.
2. Excetuam-se do disposto no número anterior os direitos políticos, o exercício das funções
públicas que não tenham carácter predominantemente técnico e os direitos e deveres reservados
pela Constituição e pela lei exclusivamente aos cidadãos portugueses.
3. Aos cidadãos dos Estados de língua portuguesa com residência permanente em Portugal são
reconhecidos, nos termos da lei e em condições de reciprocidade, direitos não conferidos a
estrangeiros, salvo o acesso aos cargos de Presidente da República, Presidente da Assembleia da
República, Primeiro-Ministro, Presidentes dos tribunais supremos e o serviço nas Forças Armadas e
na carreira diplomática.
4. A lei pode atribuir a estrangeiros residentes no território nacional, em condições de
reciprocidade, capacidade eleitoral ativa e passiva para a eleição dos titulares de órgãos de
autarquias locais.
5. A lei pode ainda atribuir, em condições de reciprocidade, aos cidadãos dos Estados-membros da
União Europeia residentes em Portugal o direito de elegerem e serem eleitos Deputados ao
Parlamento Europeu.