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Os Enigmas na pintura de “OS

EMBAIXADORES ”de Hans


Holbein

1.O quadro, de 1533, mostra dois embaixadores franceses: Jean de Dinteville (à esquerda) e
Georges de Selve, bispo de Labaur (à direita). As vestes de tecidos caros e os objetos dispostos na
mesa sinalizam a riqueza, status e cultura de ambos. A tapeçaria oriental sobre a mesa, a cortina de
brocado verde ao fundo e o piso ricamente ladrilhado eram símbolos de luxo e grandeza. O piso
lembra o da Abadia de Westminster, em Londres e o da Capela Sistina, no Vaticano.
2. Jean de Dinteville usa um casaco pesado, guarnecido com pele de arminho, sobre uma camisa
de seda rosa. No chapéu há um crânio, insígnia pessoal de Dinteville. A corrente de ouro ostenta o
símbolo da ordem de São Miguel, condecoração concedida pelo rei de Fraça.

3. Georges de Selve, bispo de Labaur veste um casaco adamascado guarnecido com pele e, na mão
direita, segura um par de luvas, símbolo de status naquele tempo.
4. A adaga ou punhal na mão de Dinteville tem gravado “AET. SUAE 29”, uma referência aos 29
anos do nobre francês. O instrumento é uma faca ornamental, não destinada à luta.

5. O livro sobre o qual o bispo se apoia, traz escrito, na beirada, AETAT IS SUAE 25”que informa a
idade do embaixador, 25 anos.

6. Na mesa, próximo ao cotovelo do bispo, tem um relógio de sol poliédrico, que marca a data de 11
de abril de 1533, uma Sexta-Feira Santa, quando foi revelado ao Conselho Real o casamento de
Henrique VIII com Ana Bolena, fato que marcou a ruptura com a Igreja Católica.
7. Na parte superior da mesa estão dispostos um grande globo celeste (ou esfera armilar), um
relógio de sol cilíndrico e outro poliédrico, um quadrante e um torquetum, aparelho usado para
medições astronômicas. As marcas astronômicas nesses instrumentos remetem à data de 11 de
abril.

8. Na parte inferior da mesa tem um globo terrestre, um livro de aritmética semiaberto por um
esquadro, um alaúde, um livro de cânticos, um compasso e quatro flautas que descrevemos abaixo.

9. Os objetos da mesa fazem alusão à Astronomia, Geometria, Aritmética e Música, as quatro


disciplinas que compunham o quadrívio ensinado nas universidades após o trívio (gramática,
lógica e retórica) dos anos iniciais. As sete matérias constituíam a base do conhecimento e do
ensino desde a época medieval.

10. O globo terrestre está centrado na França, país de origem dos retratados. Pode-se ver, também,
a África, a costa atlântica da América e a linha divisória do Tratado de Tordesilhas (1494). A
viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães e Sebastião del Cano havia sido concluída
poucos anos antes (1522) comprovando, de forma definitiva, a esfericidade da Terra.
11. O livro de Aritmética entreaberto permite ver que é uma obra impressa e em alemão usando,
portanto, a nova tecnologia da imprensa. A página traz a palavra “dividir” e três exemplos de
divisão – uma referência ao conflito que em breve levaria à ruptura entre a Inglaterra e Roma e à
excomunhão de Henrique VIII. Os dois franceses, embaixadores do rei Francisco I na Inglaterra,
tinham a difícil missão de impedir a ruptura, no que fracassaram, além de cuidar dos interesses da
França.
12. O alaúde, junto com o livro de cânticos e as flautas, representa a música, uma das disciplinas do
quadrívio. Tem uma corda quebrada, uma referência à harmonia perdida no seio da Igreja.

13. As flautas estão em um estojo que deveria conter cinco flautas; a ausência de uma flauta reforça
a mesma ideia da corda rompida do alaúde: a discórdia.
14. O livro de cânticos é um livro luterano e nele se pode ler, à esquerda, o primeiro verso do hino
“Veni Sancte Spiritus” e, à direita, uma introdução aos Dez Mandamentos indicando o contraste
entre o Evangelho e a Lei, que está diretamente ligado a um dos princípios fundamentais da
teologia de Lutero, a salvação pela Fé.
15. Na parte superior da pintura, à esquerda, em uma dobradura da pesada cortina pode-se ver a
metade de um crucifixo lembrando que os embaixadores são tementes a Deus, que os orienta em
todos os campos da vida. Mas o símbolo cristão, visto só pela metade, pode ser também uma
alusão ao movimento reformista que dividiu a Igreja.
16. Finalmente, a anamorfose do crânio, o elemento mais inusitado da pintura, suscitou muita
discussão entre os especialistas. Ele pode ser visto olhando-se de um ponto à direita da tela ou de
frente, através de um copo com água. Para alguns, o crânio enfatiza a transitoriedade da vida,
especialmente da vaidade e da riqueza lembrando que a morte iguala a todos, sejam ricos ou
pobres, poderosos ou humildes. Outros afirmam tratar-se de uma espécie de assinatura do pintor,
pois Holbein, em alemão significa “osso oco”.

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