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Amor

Amemos! Quero de amor

Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor

Que desmaia de paixão!

Na tu’alma, em teus encantos

E na tua palidez

E nos teus ardentes prantos

Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber

Os teus amores do céu,

Quero em teu seio morrer

No enlevo do seio teu!

Quero viver d’esperança,

Quero tremer e sentir!

Na tua cheirosa trança

Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,

Minha’alma, meu coração!

Que noite, que noite bela!

Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento

Da noite ao mole frescor,

Quero viver um momento,


Morrer contigo de amor!

Álvares de Azevedo

LEMBRANÇAS DE MORRER

Eu deixo a vida como deixa o tédio

Do deserto, o poento caminheiro,

- Como as horas de um longo pesadelo

Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como o desterro de minh’alma errante,

Onde fogo insensato a consumia:

Só levo uma saudade - é desses tempos

Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - é dessas sombras

Que eu sentia velar nas noites minhas.

De ti, ó minha mãe, pobre coitada,

Que por minha tristeza te definhas!

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,

Se um suspiro nos seios treme ainda,

É pela virgem que sonhei. que nunca

Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora

Do pálido poeta deste flores.


Se viveu, foi por ti! e de esperança

De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,

Verei cristalizar-se o sonho amigo.

Ó minha virgem dos errantes sonhos,

Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário

Na floresta dos homens esquecida,

À sombra de uma cruz, e escrevam nela:

Foi poeta - sonhou - e amou na vida.

Álvares de Azevedo

Invejo as flores que murchando morrem,

E as aves que desmaiam-se cantando

E expiram sem sofrer...

Álvares de Azevedo

SE EU MORRESSE AMANHÃ

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã;

Minha mãe de saudades morreria

Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que amanhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva

Acorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o doloroso afã...

A dor no peito emudecera ao menos

Se eu morresse amanhã!

Álvares de Azevedo

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Sou o sonho de tua esperança,

Tua febre que nunca descansa,

O delírio que te há-de matar!

Álvares de Azevedo

PÁLIDA INOCÊNCIA

Por que, pálida inocência,

Os olhos teus em dormência

A medo lanças em mim?


No aperto de minha mão

Que sonho do coração

Tremeu-te os seios assim?

E tuas falas divinas

Em que amor lânguida afinas

Em que lânguido sonhar?

E dormindo sem receio

Por que geme no teu seio

Ansioso suspirar?

Inocência! quem dissera

De tua azul primavera

As tuas brisas de amor!

Oh! quem teus lábios sentira

E que trêmulo te abrira

Dos sonhos a tua flor!

Quem te dera a esperança

De tua alma de criança,

Que perfuma teu dormir!

Quem dos sonhos te acordasse,

Que num beijo t’embalasse

Desmaiada no sentir!

Quem te amasse! e um momento

Respirando o teu alento


Recendesse os lábios seus!

Quem lera, divina e bela,

Teu romance de donzela

Cheio de amor e de Deus!

Álvares de Azevedo

Respiro o vento, e vivo de perfumes

No murmúrio das folhas de mangueira;

Nas noites de luar aqui descanso e a lua enche de amor a minha esteira.

Álvares de Azevedo

Desânimo

Estou agora triste. Há nesta vida

Páginas torvas que se não apagam,

Nódoas que não se lavam… se esquecê-las

De todo não é dado a quem padece…

Ao menos resta ao sonhador consolo

No imaginar dos sonhos de mancebo!

Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!

Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!

Anjos das ilusões, as asas brancas

As névoas puras, que outro sol matiza.

Abri ante meus olhos que abraseiam

E lágrimas não tem que a dor do peito

Transbordem um momento…
E tu, imagem,

Ilusão de mulher, querido sonho,

Na hora derradeira, vem sentar-te,

Pensativa e saudosa no meu leito!

O que sofres? que dor desconhecida

Inunda de palor teu rosto virgem?

Por que tu’alma dobra taciturna,

Como um lírio a um bafo d’infortúnio?

Por que tão melancólica suspiras?

Ilusão, ideal, a ti meus sonhos,

Como os cantos a Deus se erguem gemendo!

Por ti meu pobre coração palpita…

Eu sofro tanto! meus exaustos dias

Não sei por que logo ao nascer manchou-os

De negra profecia um Deus irado.

Outros meu fado invejam… Que loucura!

Que valem as ridículas vaidades

De uma vida opulenta, os falsos mimos

De gente que não ama? Até o gênio

Que Deus lançou-me à doentia fronte,

Qual semente perdida num rochedo,

Tudo isso que vale, se padeço!

Nessas horas talvez em mim não pensas:

Pousas sombria a desmaiada face


Na doce mão e pendes-te sonhando

No teu mundo ideal de fantasia…

Se meu orgulho, que fraqueia agora,

Pudesse crer que ao pobre desditoso

Sagravas uma idéia, uma saudade…

Eu seria um instante venturoso!

Mas não… ali no baile fascinante,

Na alegria brutal da noite ardente,

No sorriso ebrioso e tresloucado

Daqueles homens que, pra rir um pouco,

Encobrem sob a máscara o semblante,

Tu não pensas em mim. Na tua idéia

Se minha imagem retratou-se um dia

Foi como a estrela peregrina e pálida

Sobre a face de um lago…

Álvares de Azevedo

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PORQUE MENTIAS?

Por que mentias leviana e bela?

Se minha face pálida sentias

Queimada pela febre, e se minha vida

Tu vias desmaiar, por que mentias?

Acordei da ilusão, a sós morrendo


Sinto na mocidade as agonias.

Por tua causa desespero e morro...

Leviana sem dó, por que mentias?

Sabe Deus se te amei! sabem as noites

Essa dor que alentei, que tu nutrias!

Sabe esse pobre coração que treme

Que a esperança perdeu por que mentias!

Vê minha palidez - a febre lenta

Esse fogo das pálpebras sombrias...

Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro!

Leviana sem dó, por que mentias?

Álvares de Azevedo

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