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deixando resenhas e avaliações positivas nos devidos meios e plataformas


para tal. Se puder compre a obra original.
Quase dois séculos atrás, centenas de vampiros de raça pura
desapareceram sem qualquer explicação - desapareceram como a névoa
varrida pela brisa.

Nino Bianchi e Haruka Hirano são vampiros de raça pura acasalados:


loucamente apaixonados e explorando as profundezas de seu jovem
vínculo. Mas um evento inesperado traz suas vidas aconchegantes para
uma parada brusca.
Um novo desaparecimento, muito perto de casa.
ABRIL

UM

Meia noite Haruka observa com admiração enquanto Nino sai do


banheiro principal. Sua pele melada irradia o aroma delicioso de canela e
mogno. A luz lança um brilho angelical em seus ombros esculpidos e nus.
—Grazie per avere aspettato, tesoro. —Nino sorri, subindo na cama.
Ele dobra as pernas em sua calça de moletom macia.
Obrigado por esperar querido, Haruka traduz enquanto se arrasta para
ficar em pé depois de se deitar de lado, ajustando-se para espelhar seu
companheiro na frente dele. Nino morde o lábio. Haruka levanta uma
sobrancelha. —O quê?
Estendendo a mão, Nino move as mãos atrás da cabeça de Haruka e
em direção ao grande coque na nuca. Ele solta a gravata, puxando-a para
frente e permitindo que a pesada massa de cabelo de Haruka se desenrole e
descanse em seus ombros. Nino penteia seu comprimento com os dedos. —
É tão longo, Haru e grosso. Jesus… é incrível. Quando o seu barbeiro vai
cortá-lo para doá-lo?
—Talvez no outro mês? —Haruka adivinha. Esta é uma ‘punição’
benevolente por ser preguiçoso em cortar o cabelo. Quando ele espera
demais, seu barbeiro insiste que ele o deixe crescer para que seja doado a
crianças humanas que não estão bem. Estranhamente, existe um mercado
grande e diversificado para cabelo de vampiro de raça pura. —Está pronto?
—Haruka pergunta. —Você queria me mostrar uma coisa?
—Sim, —diz Nino.— Olhe só isso.— Com a palma plana, ele coloca
uma das mãos entre eles. Os olhos de Nino mudam de seu âmbar natural e
radiante para um brilho laranja-arando vívido. A cor lembra Haruka de um
pôr do sol ardente. É a cor de seu amor: seu vínculo único e essência
vampírica compartilhada.
Com a palma da mão ainda aberta, Nino flexiona os dedos. Haruka
engasga quando as pontas brilham em uma luz laranja-avermelhada
brilhante. Nino ergue os olhos para ele, sorrindo. —Vê? Posso isolar um
pouco minha energia. Você está sempre reclamando que eu não levo nossas
meditações a sério, mas estou melhorando.
—Não. —Haruka levanta o queixo. —Eu te encorajo...
apaixonadamente.
Nino ri. —Tá bom. —Ele traça as pontas dos dedos ao longo da
mandíbula de Haruka. O toque de Nino é quente e efervescente, reflexo de
sua natureza inerente. Ele move o cabelo de Haruka para o lado, acariciando
para cima e para baixo em sua nuca, através dos sulcos delicados de sua
coluna. A sensação é calmante, tornando as pálpebras de Haruka pesadas.
—Ainda não consigo pressioná-lo para fora para manipular qualquer
coisa,— diz Nino, calmo e reconfortante. —Eu me sinto um pouco como um
ET, mas é melhor do que nada.
Os olhos de Haruka se abrem em um olhar vazio. Nino faz beicinho.
—Haruka-
—ET é... —Ele olha de lado, examinando apressadamente os
arquivos abarrotados de sua mente. —Um animal - não. Um alienígena? De
um programa de televisão infantil. Cinema Eu entendo a referência. Preciso.
Nino se levanta e se inclina para dar um beijo rápido no nariz de
Haruka. —Eu tenho um amigo tão bom que me escuta quando eu falo sobre
coisas triviais. Como eu tive tanta sorte?
—Este isolamento de sua aura é um progresso maravilhoso.
Pressioná-lo para fora com o mesmo nível de manipulação será nosso
próximo objetivo. Mesmo que de uma forma simples, minha esperança é que
você tenha capacidades defensivas.
—Não sei se minha aura foi feita assim, Haru.
—Minha essência dentro de você inquestionavelmente permite essa
capacidade. É apenas uma questão de intenção e foco, manifestando o poder
de acordo com suas habilidades únicas. Devemos meditar para praticar
agora?
Nino torce o nariz, esticando o braço para coçar a nuca castanho-
acobreada. Ele o usa cônico nas laterais, mas ondulado e mais longo na parte
superior. Moderno, limpo e fácil. —Nós podemos tentar.
Tirando o laço de cabelo das mãos de Nino, Haruka ajeita suas
madeixas escuras em um coque baixo. Uma vez seguro, ele vira as palmas
das mãos planas entre eles, os cotovelos apoiados nas coxas, as costas retas.
Nino respira fundo antes de segurar as mãos.
Haruka relaxa, fechando os olhos e abrindo sua mente para Nino. O
objetivo é simples - calibrar a energia compartilhada para praticar a
manipulação em conjunto. Haruka é excepcional no controle de sua aura,
capaz de manejá-la de várias maneiras específicas. Ao concentrar e unir suas
mentes, ele pode orientar Nino a fazer o mesmo.
Eles tentaram praticar várias vezes, mas seus experimentos são
sempre interrompidos... de alguma forma.
Ele respira fundo, esvaziando sua mente de todos os pensamentos,
concentrando-se na energia frenética de sua essência vampírica bem no
fundo. O calor aumenta e pulsa fora do corpo de Haruka, fazendo seus olhos
brilharem por trás das pálpebras fechadas.
Mudando sua atenção para a força das mãos de Nino segurando as
suas, Haruka mentalmente o alcança como sua outra metade - como uma
parte fundamental, mas autônoma dele.
Ele fica sexy com este manto... É novo? Por que ele sempre cheira tão bem -
—Nino.
—Sinto muito.
Inspirando, expirando, Haruka pressiona sua aura ainda mais. A
essência de Nino gira quente e vibrante na proliferação da energia fria de
Haruka. Ele manipula sua essência ao redor deles de modo que forme uma
grande esfera, permitindo que a aura de Nino flua e preencha a forma -
idealmente imitando-a. Os pensamentos de Nino ecoam como um sussurro
na mente de Haruka.
É uma esfera... Faça uma esfera...
Haruka abre seus olhos ardentes. Os de Nino ainda estão fechados,
sua testa franzida em severa concentração.
E ele está nu - pare. Esfera, Nino... Deus, ele cheira incrível - merda. Esfera
Como um balão estourando, Haruka libera seu controle inato sobre
sua energia combinada. A luz laranja-avermelhada brilhante dele cintila e se
desvanece. Nino abre os olhos âmbar, desculpas estampadas em sua
expressão.
Antes que ele pudesse falar as palavras, Haruka fecha a distância e o
beija. Ele desliza a mão contra o couro cabeludo de Nino, enroscando e
enredando os dedos em seus cabelos grossos. Haruka inclina a cabeça,
abrindo mais para persuadir Nino a deixá-lo entrar - para senti-lo e saboreá-
lo completamente.
Beijar Nino consome tudo, a força disso é como ser arrastado para um
efervescente tornado de fogo. Quando a boca de Nino está na sua, é como se
Haruka estivesse no ar, voando por um céu vermelho de calor e paixão e
perdendo o fôlego. Perdendo o sentido de si mesmo e de sua mente racional.
Ele se inclina para trás, as mãos ainda enlaçadas no cabelo de Nino
enquanto o arrasta em direção à cama. Ele precisa sentir o peso e o peso de
seu corpo. Haruka desdobra as pernas e abre as coxas para que Nino possa
descansar entre elas. No momento em que Nino se acomoda, suas bocas se
conectam em outra explosão de paixão: línguas se torcendo e deslizando,
famintas e explorando. Ele beija Haruka, voraz, como se sua sanidade
estivesse em jogo. Como se o gosto e a sensação de sua boca fossem o único
consolo de Nino diante da loucura total.
Depois de soltar o cinto do manto de Haruka, Nino o levanta e passa
a mão entre os corpos deles para abrir e empurrar o material para o lado. Ele
se abaixa, acariciando levemente as pontas dos dedos ao longo do centro da
barriga de Haruka. Ele roça o umbigo e Haruka suspira, contorcendo-se com
a perspectiva da mão de Nino se movendo mais para baixo.
Nino levanta a cabeça com o beijo, sua voz baixa. —Não consegui me
concentrar... de novo.
—Eu ouvi, —Haruka respira.
—Talvez... —Nino se inclina para espalhar beijos ao longo do queixo
de Haruka. —Eu posso ter esta noite de folga? Porque hoje é especial.
Haruka desliza as mãos pelas costas firmes de Nino, acariciando os
contornos suaves de definição e músculos elegantes. —É? —ele pergunta.
—Sei que geralmente nos concentramos em marcos do centenário em
nossa cultura, mas... hoje é nosso aniversário de um ano, tesoro.
Traçando as pontas dos dedos ao longo da parte côncava rasa da
coluna de Nino, Haruka sorri.— Já passou um ano?
—Hum-rum. Asao manteve sua agenda limpa para hoje à noite,
certo?
—Acredito que sim.
—Estou fazendo o jantar para você, —sussurra Nino, inclinando-se
para esfregar os narizes. —O menu é uma surpresa - e eu encontrei o Merlot
que comemos na noite em que nos conhecemos. Lembra? Você entrou no
meu bar e eu esqueci como respirar quando te vi.
As borboletas no estômago de Haruka flutuam e dançam enquanto
ele levanta o queixo para se conectar com os lábios carnudos de Nino. Ele o
beija duas vezes antes de recostar-se na cama. —Sim. Eu adoro quando você
cozinha para mim.
—Estou ansioso por isso. —Nino se levanta, levantando-se de quatro.
Ele olha para a mesinha de cabeceira ao lado da cama. —Você colocou a nova
garrafa na minha gaveta ou na sua?
—A sua.
Nino passa por sua cabeça e Haruka admira as linhas distintas de seu
torso, observando-as se moverem e se esticarem enquanto ele abre a gaveta.
O corpo de Nino é primoroso, como uma escultura de mármore de um jovem
deus grego, mas encharcado de mel dourado.
Nino para congelado. —Você... há... uma caixa de anel aqui.
—Talvez você deva abri-lo?
Por um momento, Nino permanece imóvel, seus olhos movendo-se
entre o rosto de Haruka e a gaveta aberta. Ele se inclina para frente
novamente para agarrar a pequena caixa preta, então rasteja para trás,
descansando contra suas canelas. Haruka se senta ereto para encará-lo.
Nino se concentra na caixa de camurça, seus ombros subindo e
descendo enquanto ele respira. Ele está tentando ficar calmo, mas Haruka
pode sentir a alegria contida irradiando de dentro dele. Nino abre a caixa.
Os dois anéis bonitos e polidos que Haruka escolheu brilham na penumbra.
—Você gosta deles? —Haruka pergunta.
—Eu... —Nino respira fundo, passando os dedos pelo cabelo. —Adoro
eles. Haru, eu... Quando mencionei isso a você, você não pareceu
interessado.
—Estou interessado em tudo que agrada a você, —diz Haruka,
pegando a caixa das mãos de Nino. Usar e trocar anéis dessa maneira é uma
prática humana, algo raramente feito entre casais unidos. Tudo entre os
vampiros é orgânico - a atração biológica e a conexão dominante sobre
qualquer outra coisa, sem necessidade de adornos materiais ou simbolismo.
Mas se é isso que faz seu companheiro feliz, então que seja.
Ele pega o anel de Nino de seu pequeno espaço na caixa. O metal
preto e brilhante é frio ao toque e a intrincada incrustação âmbar espelha os
olhos de seu marido. Ele agarra a mão esquerda de Nino. —Eu percebo que
quando nos ligamos há um ano, foi inesperado... Meu comportamento
naquela época deixou muito a desejar.
Com cuidado, ele guia o anel no dedo de Nino. Cabem perfeitamente.
—Eu... Não expresso bem esses sentimentalismos. Mas, por favor, saiba que
você me reanimou - de um lugar de amargura e solidão. Você sempre foi
puro em sua bondade para comigo. E eu... Talvez eu nunca consiga expressar
o quanto sou grato a você. O quanto eu te amo.
Haruka respira fundo, com o coração na garganta. Falar assim -
franco e emocional - é difícil. Ele não está acostumado a isso, mas quer tentar
ser mais aberto e direto como seu companheiro. —Obrigado por escolher.
Por me amar, —diz ele, observando Nino e esperando.
Desmaiando, os olhos de Nino se fecham quando ele cai no colchão -
um peso morto. Ele rola de costas e pressiona a palma da mão no rosto.
Haruka se inclina sobre ele. —Nino, por quê?
Puxando o pulso de Nino, Haruka tira a mão de seu couro cabeludo.
O cabelo ondulado de Nino está uma bagunça e sua pele cor de mel.
Lágrimas são silenciosamente reunidas e escorrendo dos cantos de seus
olhos amendoados.
Haruka se abaixa, usando a ponta dos dedos para enxugar e enxugar
as lágrimas. —Meu amor, por que você está chateado?
O peito de Nino sobe e desce em um suspiro. —Estou apenas... um
pouco sobrecarregado.
Ele acena com a cabeça, entendendo. —Esta é a minha transgressão.
Se eu expressasse essas coisas a você com mais frequência, sua reação não
seria tão extrema.
—Haru, eu... eu te amo mais do que posso dizer. Você sempre me
encoraja a ser confiante e você é muito paciente. Obrigado por me confiar
seu coração... por se entregar a mim.
Haruka se inclina, beijando suavemente os lábios de Nino enquanto
ele segura seu rosto manchado de lágrimas. —Você vai colocar meu anel? —
ele pergunta. Nino acena com a cabeça contra o colchão. Haruka pega a
caixa, abre e dá o anel para seu companheiro. Enquanto Nino fica deitado,
ele segura a palma de Haruka acima do rosto e desliza o anel no dedo
apropriado de sua mão esquerda.
Ele estende a mão e agarra o colarinho de Haruka, puxando-o para
seu corpo. Ele remove a gravata do coque de Haruka mais uma vez e o peso
de seu cabelo cai para a frente como uma onda negra. Nino passa os dedos
nele, afastando-o do rosto de Haruka enquanto o traz para baixo para
encontrar seus lábios entreabertos.
Beijando Nino. O movimento de seu companheiro é tão lento e
intencional que o peito de Haruka se contrai. Quando eles interrompem o
beijo, suas íris se acendem enquanto eles se encaram na escuridão quente. O
olhar do pôr-do-sol de Nino é suave, mas inabalável. —Você pode me esticar
e gozar dentro de mim?
Haruka morde o lábio. Ele não tem certeza se algum dia será direto,
mas se isso é o que deixará seu cônjuge feliz, então que seja.
DOIS

—Bom dia.— Nino entra na cozinha e Haruka já está lá, sentado à


mesa com Junichi. As portas do pátio estão abertas, permitindo que o ar
fresco e doce e a luz do sol da primavera saturem o espaço.
Movendo-se em direção ao balcão, o objetivo de Nino é claro. Pote de
café. Ele sorri na direção deles. —Ei, Jun.
Alto e bonito, com pele quente e marrom-manteiga amendoada, o
vampiro da primeira geração levanta suas íris negras como mármore,
sorrindo. Como alfaiate e designer de roupas local de Okayama, Junichi
Takayama é suave. Na mente de Nino, ele é como um pavão macho, exceto
que suas penas são todas Preto. Quando a luz o atinge, a escuridão de sua
plumagem brilha como iridescência líquida.
—Bom dia, Nino. —Junichi acena com a cabeça, seu inglês suave e
desimpedido por sua língua nativa, como a de Haruka. —Seu marido e eu
estamos em um impasse. Talvez você possa nos ajudar?
—O que está acontecendo? —Nino serve seu café. Certa vez, ele disse
a Junichi que falava japonês ao visitar a casa deles (não precisando aderir ao
hábito doméstico de falar em inglês), mas o homem recusou friamente,
alegando que é ‘mais divertido’ dessa forma.
—Isto é para o casamento de Hamamoto-Iseki em seis meses, —
explica Junichi. —Estamos tendo dificuldade em decidir se Haruka deve
usar um terno ou traje tradicional. Você tem preferência nas roupas dele?
Junichi levanta a sobrancelha, esperando enquanto Haruka se senta
com os braços cruzados na cabeceira da mesa, seu olhar focado em uma carta
à sua frente.
Nino se apoia no balcão com os cotovelos, segurando a xícara de café
quente nas palmas das mãos. —Bem, ele parece majestoso em um
quimono..., mas moderno e sexy em um terno. Gosto de ambos Talvez eu
prefira o quimono? Você sabe o que é melhor ainda? Um yukata. Ele está
sempre nu sob essas coisas. Somente uma camada.
Junichi ri. Haruka balança a cabeça. Nino sorri enquanto leva sua
xícara de café aos lábios. Sempre que Haruka usa vestes tradicionais, Nino
se sente como se estivesse ligado a uma daquelas elegantes figuras relaxantes
em uma pintura de bloco de madeira ukiyo-e - especialmente com seu cabelo
tão longo e dramático como este.
—Isso foi muita informação.— Junichi sorri. —Um yukata é muito
casual para um casamento, mas sua preferência é notada. Talvez eu faça
algumas roupas novas para ele este mês antes de voar para a Europa?
Sentindo-se realizado, Nino sorri. —Você vai viajar por três meses,
certo?
—Sim, senhor. Meus clientes no exterior exigem entregas
personalizadas.
—Você é incrível. Tudo o que você faz para Haruka sempre combina
perfeitamente com ele. Meu favorito foi aquele quimono que você desenhou
para a festa de boas-vindas dele no ano passado... Talvez eu deva tentar usar
um no casamento?
—Você poderia fazer isso. —Junichi pisca, considerando. —Terei que
pensar em um design que complemente você.
—Haru tem tantos, devo tentar um deles?
—Definitivamente não. Vocês dois têm a mesma altura, mas seus
ombros são mais largos e arredondados. Seu físico é mais definido de sua
rotina de exercícios. De jeito nenhum eu deixaria você andar por aí com um
quimono apertado e mal ajustado.
Haruka ri. O som profundo e gutural surpreende Junichi e Nino
enquanto eles voltam sua atenção para ele. —Sinto muito. —Ele sorri. —A
imagem mental desse cenário me pegou desprevenido.
—Bem-vindo à conversa, tesoro. —Nino se endireita e vai até o final
do balcão. Ele se inclina com o quadril. —O que você está lendo?
—Um pedido formal de visitação. —As sobrancelhas escuras de
Haruka estão franzidas enquanto ele respira fundo, sua alegria anterior
evaporou.
—De alguém de quem você não gosta? —Junichi pergunta.
—De alguém que não conheço e de quem nunca ouvi falar. —Haruka
levanta seu olhar cor de vinho brilhante em direção a Nino. —Posso tomar
uma xícara?
Nino acena com a cabeça e se vira em direção ao armário para pegar
uma caneca. —Qual é o pedido?
—Apresentações. —Haruka cruza os braços. —O vampiro é Lajos
Almeida, que é inegavelmente sinônimo de Ladislao Almeida do Rio de
Janeiro. Mas eu nunca ouvi falar desse vampiro em particular dentro da
linhagem familiar do clã.
Tenso, Nino contorna o balcão com o café de seu companheiro. Tendo
em conta o desaparecimento de Gael e Ladislao no ano passado, ter alguém
associado ao Clã Almeida tão perto de casa parece um mau presságio.
—Por que alguém do Clã Almeida iria querer conhecê-lo? —Junichi
pergunta. —Odeio dizer isso, mas as coisas se acalmaram no Brasil depois
que Ladislao desapareceu. É óbvio que ele era a raiz do problema. Homem
louco...
—Você já o conheceu?— Nino pergunta.
—Sim. Apenas uma vez, mas ele deixa uma impressão.
—Temos uma conexão, —diz Haruka, aceitando a oferta de Nino. —
Cruzamos o caminho com um dos associados do Clã Almeida no ano
passado. Houve uma altercação em relação à pesquisa da minha família, mas
então ele escapou e eu não vi ou ouvi nada desde então.
Em uma névoa, Nino se senta à mesa ao lado de Haruka. O associado
é Gael Silva, um grande e dominador vampiro de primeira geração que
conheceram na Inglaterra há mais de um ano. Ele atacou Haruka depois de
aprender sobre o manuscrito Lore and Lust - uma compilação impressionante
de relatos sobre a formação de laços vampíricos. A pesquisa tem um valor
inestimável, dando corpo a um tema envolto em muitos mistérios.
A resposta brutal de Gael convenceu Nino e Haruka de que eles
deveriam evitar revelar a existência do manuscrito. Pelo menos entre
estranhos.
Com a ponta dos dedos, Nino desliza o pedido dentro de sua linha
de visão e leu os detalhes. O recurso é por um mês a partir de agora - a
quantidade mínima exata de tempo considerada adequada ao fazer pedidos
formais de raça pura. Nino empurra a carta para que fique no meio da mesa,
incomodado com a sensação de mau agouro que emana dela.
Junichi pega a carta para lê-lo, escaneando suas íris negras. Ele puxa
a carta até o nariz e inala. —Cheira forte, como sálvia. Este Lajos é
provavelmente de raça pura?
Haruka solta um suspiro. A preocupação está gravada em sua testa.
—Parece que sim.
—Eu não estou gostando disso.— Nino balança a cabeça. —Como ele
nos encontrou? Quando registramos legalmente nosso vínculo, garanti que
todos os nossos registros fossem mantidos em sigilo. Nada aparece se você
nos pesquisar online.
—Oh, vocês dois registraram seu vínculo com o governo humano? —
Junichi pergunta. —A maioria dos casais vinculados não se preocupa com
essa etapa.
Haruka leva sua xícara de café aos lábios. —Meu companheiro é de
natureza meticulosa - muito mais do que eu.
—É porque faz sentido. —Nino sorri, envergonhado. A decisão não é
convencional. Mas, na cabeça de Nino, se alguma coisa séria acontecesse,
seria melhor que eles assumissem a responsabilidade legal um pelo outro.
Sem necessidade de esclarecimentos.
Ele olha para sua mão esquerda contra a mesa e flexiona os dedos.
Outro desejo não convencional. Ele suspira, seu coração leve devido ao lindo
anel enrolado em seu dedo. É zircônio preto, mas o embutimento é
texturizado com pedra âmbar. É perfeito e parece algo encontrado e
cultivado em uma densa floresta tropical... talvez atrás de uma cachoeira.
Lembrar as palavras e ações sedutoras de Haruka na noite passada
dá a Nino uma onda de arrepios calorosos. Quando Haruka se solta, ele
lembra Nino de uma pantera - escura, sedutora e dedicada em todos os seus
movimentos. Ele deu a Nino o que ele pediu e muito mais.
—Quando eu te conheci na celebração de boas-vindas no ano
passado, era óbvio que você era um vampiro com um plano. —Junichi
levanta a sobrancelha para Nino, provocando.
Nino balança a cabeça. —Não, eu... eu não... não exatamente...
—A maneira como Haruka pegou sua mão sem questionar e deixou
você varrê-lo para a floresta falou muito.
—Nós não entramos na floresta. —Haruka franze a testa.
—Todo mundo enlouqueceu, —diz Junichi. —Tipo. Quem é esse
vampiro âmbar deslumbrante que acabou de entrar e roubou nosso líder do
reino?
—Eles se uniram no primeiro tentar-
—Asao.
O criado de Haruka entra na sala - sal e pimenta, ombros largos e
cabeça erguida. Apesar da testa franzida de Haruka, o vampiro mais velho
sorri enquanto segura a cafeteira. —Jun, ele alguma vez te disse que
enlouqueceu depois? Destruiu a casa?
—Asao, nenhuma dessas informações é necessária agora, —adverte
Haruka.
—É o seu aniversário. —Asao encolhe os ombros, sem se incomodar.
—É bom refletir. Você percorreu um longo caminho, não foi, Nino?
Nino coça a nuca. —Por favor... não me inclua nesta conversa. —
Haruka e Asao têm um relacionamento único. Asao é muito mais velho e de
terceira geração, suas origens de vampiro puro-sangue duas vezes
removidas. Quando Haruka tinha doze anos, seus pais morreram e Asao foi
nomeado seu tutor.
Os dois vampiros se sentem mais como provocando pai e filho
mortificado do que servo e mestre. Ao se juntar à família deles, Nino
aprendeu a manter a boca fechada durante suas desavenças.
—Feliz aniversário de casamento! —Junichi sorri. —Nossa. Ligado na
primeira tentativa? Que Nunca acontece. Vocês dois estavam destinados a
ser. Como o destino.
—Esta acha que sim. Nino muda os olhos, encontrando o olhar cor de
vinho vintage de Haruka. —Mas sempre me dizem que sou um “romântico”.
Haruka se estica e agarra a mão de Nino, levando-a até sua boca. —
Eu sou grato que o vampiro âmbar deslumbrante e romântico é sempre tão
paciente com seu companheiro pragmático. —Ele cruza os olhos com Nino
enquanto pressiona os lábios nos dedos. O estômago de Nino dá um salto.
—Precisamos sair nos próximos cinco minutos para chegar a tempo à
propriedade do clã Fujihara,— diz Asao, pouco antes de tomar um longo
gole de seu café. Haruka faz o mesmo e se levanta da mesa.
Nino ergue os olhos para ele. —Voltarei para casa por volta das sete
para começar o jantar.
Assentindo, Haruka empurra a cadeira e encontra Nino ao seu lado.
Ele se abaixa e dá dois beijos rápidos na boca. —Boa sorte em Osaka hoje.
—Obrigado. —Nino sorri. —Boa sorte com a tradução.
Haruka se levanta e levanta o queixo em direção a Junichi. —
Kimemashita. Suitsu ja nakute, quimono wo kimasu. Jaa, mata atode.
Junichi oferece um aceno firme com a cabeça e pisca para Nino. —
Yappari kimono desu yo ne. Dewa boku ga tsukurasete itadakimasu. Ainda
vamos almoçar neste sábado?
—Nós vamos, —Haruka confirma. Ele caminha em direção à porta e
Nino se vira para observá-lo, comprido e elegante em suas calças escuras.
Ele veste uma camisa branca estampada sutilmente estampada sob um belo
suéter cinza. O peso de seu cabelo lustroso está puxado para trás, limpo e
arrumado. O historiador quintessencial para fazer pesquisas.
—Você conheceu os Fujiharas? —Junichi pergunta quando eles estão
sozinhos na cozinha. —Eles são a família com gêmeos.
—Sim... —Nino diz. Ele sabe quem são porque, sem saber, lhe
mostraram algo importante. Algo que ele está lutando em particular desde
o dia em que os conheceu e testemunhou a maneira como seu companheiro
interagia com seus gêmeos. Nino ainda está surpreso com o quão calma e
afetuoso Haruka estava. Ele sabe que seu companheiro é afetuoso. Mas vê-
lo com crianças expôs Nino a uma nova camada oculta do caráter de Haruka.
—Eu os conheci alguns meses atrás, —diz Nino, guardando para si
sua revelação sobre sua companheira. —Eles parecem legais. Ambos são de
primeira geração, certo?
—Sim, eles são ótimos - e as crianças são obcecadas por Haruka. Uma
família tão interessante. O pai de raça pura de Sora foi vítima do Grande
Desaparecimento. Ela disse que ele a estava empurrando em um balanço no
parque uma tarde e então puf, ela olhou para trás e ele havia sumido. Talvez
ela tivesse cinco anos na época? Ela voltou para casa sozinha e, quando
chegou lá, sua mãe estava dobrada de dor pela separação repentina de seu
companheiro. Ela acabou morrendo cerca de uma semana depois.
Nino estremece com a simples menção do Grande Desaparecimento:
o evento cultural inexplicável que aconteceu há quase dois séculos. Vários
puros-sangues em várias comunidades e continentes desapareceram
lentamente - como a névoa no ar. Sem explicação. Nem mesmo agora, tantos
anos depois. Como resultado, toda a população de vampiros de raça pura
diminuiu.
—Eu não sabia sobre os pais de Sora. Isso parece horrível.— Nino
suspira.
—Certo? —Junichi concorda. —Então Kosuke, o marido de Sora, não
consegue suportar a luz direta do sol muito bem. Seu pai de primeira geração
costumava se alimentar casualmente de humanos na juventude - como para
se divertir? Porra de nozes. Sua mãe é pura, mas ela não desapareceu. Eles
estão morando em Shimane, eu acho?
—Haru me disse que se alimentar de humanos em excesso destruirá
a linhagem de um vampiro por uma geração inteira - talvez até mais. A
linhagem de minha família não estava limpa até meados do século XIX. Mas
acho que o Haru está limpo desde... algo maluco como 200 DC.
—Sangue antigo. —Junichi balança a cabeça, a frase pesada enquanto
fica suspensa entre eles. —Yayoi, sangue da Rainha Himiko... Aposto que
seus ancestrais eram assustadores. Eles provavelmente sugaram outros
vampiros até secar quando se alimentaram. De qualquer forma, o próprio
Kosuke nunca se alimentou de humanos, então os gêmeos estão bem. Sora
trabalha em tempo integral como enfermeira no hospital da minha mãe em
Himeji, já que ela pode caminhar durante o dia. Kosuke fica em casa para
cuidar das crianças. Eles podem se sentir melhor em encontrar uma
sociedade noturna, mas são muito leais a Haruka como líder do reino - e
agora a você também, é claro.
—Temos muitas famílias interessantes em nosso reino, —diz Nino,
pensativo. —Alguns são humildes e normais. Outros são ridículos. Você
conheceu aquele novo clã que acabou de se mudar de Tóquio?
O rosto de Junichi desmorona. —Sim.
—Fomos à casa deles para recebê-los e foi uma loucura - estátuas de
mármore, pinturas enormes e uma escadaria dramática. Era como algo saído
de um drama cafona. O filho é algum tipo de estrela do rock underground?
—Ele é um pouco merda, —Junichi diz com um sorriso de escárnio. —
Ele vem à minha loja pelo menos uma vez por semana para incomodar-me
fazendo pedir Versace e Gucci, Dolce & Gabbana, depois me pedindo para
fazer ajustes personalizados para ele antes que ele pegue. Eu era tão
arrogante e frívolo quando tinha a idade dele? Eu não poderia ter sido tão
ruim...
Nino se inclina sobre a mesa com os cotovelos, sorrindo. —Sabe, Jun,
você pode jurar assim e ser você mesmo na frente de Haru. Eu sei que ele
tem sangue velho e um pouco pretensioso, mas você não precisa se gabar
dele. Ele pensa em você como seu amigo.
Junichi levanta a sobrancelha em um sorriso malicioso. —Eu? Jurar e
fofocar na frente do meu gracioso, equilibrado e diplomático líder do reino
puro-sangue? Meu pai viraria em seu túmulo e sairia apenas para me bater.
Nino entende. Ele próprio é de raça pura, mas se sentiu da mesma
maneira quando conheceu Haruka. Com o tempo, porém, sua fachada
estoica rachou, revelando alguém compassivo e paciente.
—Você deveria dar uma chance a ele - ele vai te surpreender. —
Percebendo algo, Nino estreita os olhos. —Por que você fala palavrões e
fofoca na minha frente?
—Porque você jura e fofoca na minha frente. Você quebrou o selo,
meu jovem amigo.
—Justo.
—Eu sei que Haruka é um bom homem,— Junichi diz. —Ele é fácil de
trabalhar e não tão pomposo quanto poderia ser, considerando sua linhagem
ancestral. Não é um pesadelo como a minha origem egoísta e dramática.
Além disso, Haruka está ligado a você. Mesmo que eu não soubesse mais
nada sobre ele, isso me daria toda a validação de que precisava.
TRÊS

O clima da manhã está quente e claro, o ar fresco com o cheiro de terra


úmida e nova vida. Haruka olha para cima, examinando as nuvens brancas
fofas que flutuam no alto enquanto ele espera na varanda da frente. Quando
a porta se abre, ele desvia sua atenção para a frente e sorri.
—Bom dia, sua graça, —Sora diz, retornando o sorriso de Haruka
enquanto ela abre mais a porta. Ela se curva na cintura, fazendo o coque
gigante e bagunçado no topo de sua cabeça se mover para frente. Quando
ela está de pé, ela ajusta os óculos de armação vermelha. Muito obrigada por
terem vindo.
—Por favor, apenas Haruka está bem, e é um prazer. Desculpe pelo
atraso. As últimas semanas foram excepcionalmente ocupadas.— Haruka
entra no saguão fresco. A casa cheira a chá verde amargo, tatame limpo e
algo doce.
—Eu posso imaginar, —Sora diz. —Desde que você voltou, todos
estão muito animados e todos nós precisamos de algo seu. Sem mencionar
os eventos sociais e...
O som de pequenos pés ansiosos correndo em direção a eles fica mais
alto, fazendo Sora e Haruka voltarem suas atenções para o longo corredor.
Haruka dá um passo para trás para firmar seus pés, preparando-se para o
impacto de pequenos vampiros.
—Shion, Amon, Pare -
Haruka abre os braços bem na hora em que a garotinha passa à frente
de seu irmão, pulando a toda velocidade em seu abraço. Ele a levanta,
enquanto o menino se choca contra suas longas pernas, os braços em volta
dos joelhos de Haruka.
—Você trapaceou, Shion. —O garoto ergueu os olhos dos joelhos de
Haruka, uma ruga severa em sua adorável testa. —Isso não é justo.
—Bom dia, Haru-sama. —Shion sorri, ignorando seu irmão e se
acomodando nos braços de Haruka. —Eu e papai fizemos mochi para você.
Também tomamos chá. Você vai querer um pouco?
—Eu também ajudei,— afirma seu irmão gêmeo, indignado.
Shion olha para ele em um momento agudo de silêncio, então focaliza
seu rico olhar castanho de volta em Haruka. Seu rosto está indiferente. —
Amon também ajudou.
—Eu sinto muito pelos meus filhos selvagens, —Sora diz, se
abaixando para arrancar o corpo determinado de Amon de seis anos das
pernas de Haruka.
—Não há necessidade de se desculpar. Eu adoraria ter mochi e chá.
Obrigado pelo tratamento maravilhoso. —Embora Haruka não precise
consumir comida de mesa como um puro-sangue, ele gosta mesmo assim.
Como uma família de vampiros de primeira geração, o sangue humano
entrelaçado na linhagem do clã Fujihara exige isso. Eles precisam de comida
e sangue para prosperar como criaturas nascidas da biologia vampírica.
Shion chia envolve seus pequenos braços em volta do pescoço de
Haruka. Ele tira os sapatos e vai para o piso de madeira para seguir Sora pelo
corredor. Ela puxa o filho pela mão enquanto caminham em direção à
cozinha. A cena lembra Haruka de um dono puxando seu cachorrinho
obstinado e destreinado.
—Eles estão enlouquecidos há um mês por causa de sua visita. —O
sorriso de Sora é tenso enquanto ela luta com seu filho. —É tudo o que eles
falam - eles têm conduzido Kosuke e eu loucos. Quando Haru-sama vem?
Que dia é hoje? Que dia é hoje? Por que não é hoje? Ai, meu Deus, nunca
mais vamos contar nada com antecedência. Tudo é uma surpresa a partir de
agora.
Haruka ri enquanto eles dobram a esquina da cozinha. A forte luz do
sol entra pelas janelas abertas e o cheiro almiscarado do chá verde é forte.
Kosuke, o companheiro de Sora, sorri em saudação do balcão, um avental
enrolado em sua cintura estreita.
—Bom dia, sua graça. Muito obrigado por nos ajudar com este
projeto.
—Por favor, apenas Haruka. O prazer é meu. Peço desculpas pela
demora em começar.
—Não se preocupe com isso. Nós sabemos o quão ocupado você tem
estado... —Kosuke franze a testa para a filha. —Shion, sério? —Ele mantém
as palmas das mãos espalmadas, incitando-a a se transferir para seus braços,
mas ela se afasta. Um distinto —Não, obrigado. —Seu rabo de cavalo preto
brilhante salta enquanto ela envolve os braços com mais força em volta do
pescoço de Haruka.
—Está tudo bem, —Haruka disse calmamente. —Não me importo.
Kosuke balança a cabeça exasperado enquanto se volta para o balcão.
Haruka o observa por um momento, considerando. —Kosuke, a luz forte
aqui não te incomoda?
—Oh não, eu estou bem contanto que eu não saia ou me sente sob a
luz direta do sol. Felizmente, minha sensibilidade não é tão ruim quanto
alguns outros vampiros com meu histórico genético semelhante - não o
suficiente para tornar nossa casa noturna. É muito difícil hoje em dia viver
esse tipo de estilo de vida.
—Concordo, seria difícil manter uma existência tão desatualizada. —
Haruka se move para se sentar à pequena mesa da cozinha com Shion em
seu colo, tomando o assento lavado pela luz solar direta. Sora se junta a ele,
ainda puxando um excitável Amon ao seu lado.
—Haru-sama? —Shion sussurra, levantando o rosto e piscando os
olhos castanhos. —Você cheira realmente legal...
—Shion, meu Deus. —Sora franze a testa por trás dos óculos da moda.
—Tipo, quem está criando essa criança? Alguém chame os pais dela...
—Eu também acho.— Amon pia do outro lado da mesa. —Ele cheira
bem porque é um puro-sangue.
—Posso sentar com você enquanto lê hoje? —Shion pergunta,
piscando os olhos. Amon pula no colo da mãe.
—Eu também quero ler latino! diz ele.
—Seu Latin —Sora diz, revirando os olhos. —Haruka precisa se
concentrar. Vocês dois não podem estar brigando e subindo em cima dele
enquanto ele está trabalhando.
Shion direciona sua atenção para seu irmão. —Não vamos, vamos,
Amon?
—Não vamos - nós prometemos.
—Dependendo da complexidade da vontade e da confiança, pode ser
bom ter companhia pelo menos algumas vezes? —Haruka acaricia seu
queixo, brincalhão. —Certamente para uma pausa ocasional para o chá?
—Mãe - ele disse às vezes! —Shion implora, seu rabo de cavalo
saltitante batendo no queixo de Haruka enquanto ela vira a cabeça.
—Para pausas, mãe! —Amon acrescenta.
Sora dá a Haruka um olhar hesitante, mas ele balança a cabeça para
tranquilizá-la. —Tudo bem. —Sora suspira. —Mas você tem que se
comportar e ouvir Haruka quando estiver no escritório com ele.
Um coro de pequenas vozes ressoa em celebração. Kosuke carrega
uma grande bandeja de chá e arroz grudento pressionado para a mesa. Os
doces em formato oval são rosados e embrulhados em folhas verdes - mochi
de flor de cerejeira para celebrar a primavera.
—Haru-sama, qual é a sua cor favorita? —Shion pergunta.
—Hm... Eu gosto de âmbar.
—Eu também, —diz Shion.
—Eu também! —Amon ecoa.
Sora bufa. —Shion, você gosta de verde-
—Nuh-uh, eu mudei. —Shion levanta o queixo. —Eu gosto de âmbar
agora.
—O que é âmbar? —Amon pergunta, confuso. Ele intimida. —Haru-
sama, você gosta de ler mangá?
—Eu nunca li nenhum,— diz Haruka. —Talvez eu deva? De qual
você gosta mais?
—O que?— Amon pula no colo de Sora, com os olhos arregalados. —
Você nunca leu mangá? Impossível. Papai adora mangá. Quando a mamãe
está no hospital, tudo que ele faz é ler mangá.
—Tudo bem, isso é o suficiente, —Kosuke interrompe, se abaixando
para agarrar Amon do colo de sua companheira. —Você vê com o que
lidamos todos os dias? Pequenas criaturas que nunca, nunca, nunca param
de falar.
Haruka solta uma risada enquanto Shion se inclina para frente em seu
colo, se espreguiçando e pegando o mochi. Ele entende a exasperação de
Sora e Kosuke. É natural.
Para Haruka, porém, esse ambiente é especial. Sempre que ele visita
a família Fujihara, seu coração se aquece. Mas as bordas são pintadas com
uma suave melancolia. Quando ele ainda era muito jovem e estava prestes a
formar seu primeiro vínculo, ele havia imaginado que sua vida seria algo
assim. Pelo menos ele esperava.
Depois de um tempo, ficou claro que ele deveria desistir. Então ele
fez. Ele enterrou o desejo silencioso bem no fundo, nunca dando outro
pensamento.
As coisas não saíram do jeito que ele imaginava, mas ele é
infinitamente grato. Ele tem Nino. Um segundo vínculo. Um encontro
fortuito e circunstância milagrosa que ele nunca previu. Ele não podia pedir
mais nada. Ele não se virou.

QUANDO CHEGOU A HORA Haruka voltou para casa, é noite. A


casa está em silêncio. Ele entra na cozinha e o luar branco derrama das portas
de vidro do pátio e sobre a mesa de carvalho resistente.
Conforme Haruka avança, ele fica surpreso com a visão decadente
diante dele. Velas pretas grossas ocupam o centro da mesa, tremeluzindo e
queimando suavemente. Ao lado deles, um vaso de vidro alto cheio de rosas
vermelhas de caule longo em plena floração. A atmosfera brilha com
elegância sombria e romance.
De repente, Nino está atrás dele, envolvendo os braços em volta da
cintura de Haruka para abraçá-lo e puxá-lo contra seu peito. Ele dá um beijo
firme logo abaixo da orelha de Haruka. —Tesoro, bentornato a casa.
Querido, bem-vindo ao lar. Sorrindo, Haruka se inclina para o abraço.
“Grazie, amore mio”. —Isso parece excelente.
—Isso me lembra você. —Nino estende a mão para puxar o colarinho
do pescoço. Ele abaixa a cabeça, dando um beijo suave no topo da coluna de
Haruka. —Sua aura e seus olhos não brilharam naquela cor rosa vermelha
brilhante desde que nos unimos. Eu sinto falta.
Haruka se vira em suas mãos, abraçando os ombros de Nino. — Eu
não beijo, — ele diz. —Eu prefiro muito mais minha natureza entrelaçada
com a sua. —Ele se inclina para beijar Nino, entregando-se ao sabor rico e
com infusão de canela dele.
Quando Haruka se ligou a Yuna pela primeira vez, sua natureza
inerente não mudou tão drasticamente. Neste novo vínculo com Nino, tudo
é diferente: sua comunicação aberta e dinâmica geral. A paixão e o amor que
ele sente são mais intensos - quase selvagens. Submetendo-se ao fascínio
disso... Haruka ainda hesita, mas está se acostumando a isso.
Nino levanta a cabeça, os olhos âmbar brilhando. —Sente-se e vou
servir-lhe um copo. —Obediente, Haruka se move em direção à mesa
enquanto Nino fala atrás do balcão. —Tenho outra surpresa para você, mas
ainda não está pronta. Preciso de mais tempo.
—Quando posso antecipar esta surpresa?
—Mm... talvez no próximo mês? —Nino ri. —Mordi um pouco mais
do que consigo mastigar. Como está o projeto de tradução até agora?
—Desafiadora. Excelente. —Ele se acomoda à mesa e olha pela janela.
As cerejeiras em flor no pátio vibram em tons rosados sombrios, balançando
contra a brisa noturna. —Eu leio muitas coisas em latim por prazer, mas
minha compreensão da terminologia jurídica está enferrujada. Vou precisar
do meu léxico e dicionário na próxima vez que visitar.
—Como estão os Fujiharas? —Nino pergunta, colocando uma
generosa taça de Merlot diante dele.
—Maravilhoso. —Haruka pega seu copo e toma um gole antes de
continuar. —O ninho deles é sempre caloroso e acolhedor.
—Eu acho... nós temos isso também,— Nino diz do balcão,
arrumando os pratos.
—É claro que temos. —Haruka o observa, confusa. —Não era um
ponto de comparação.
Nino dá a volta no balcão com dois pratos nas mãos. —Você
realmente gosta dos gêmeos, certo? Quais são os nomes deles?
—Shion é a garota e Amon é o garoto. Sim, eles são maravilhosos. O
que temos? —Ele olha para a comida habilmente preparada. Tem cheiro de
ervas frescas - quente, amanteigado e rico.
—O primeiro prato é vieiras grelhadas com salsa verde. Teremos três
cursos ao todo.
A boca de Haruka já está molhando quando ele pega seu garfo. —Il
secondo?
—O segundo prato é filetti di cernia empanado com sementes de
gergelim e vegetais assados. Temos um pequeno bolo de chili de chocolate
derretido para a sobremesa.
Deus, ajudai-me. Como ele acabou com essa criatura? Este vampiro
bonito e saudável que o nutre e o satisfaz. Que o ama e o ajuda. Haruka
enfrentou muitas dificuldades e tragédias - a perda de seus pais quando
criança, um vínculo rompido sem precedentes. Com o aparecimento de
Nino, parece que a vida ofereceu uma recompensa sincera em um gesto
incrível e abrangente.
—Você se superou,— diz Haruka. —Isso é divino. Quando você dá
conselhos de consultoria para seus clientes em Kansai, você também sugere
receitas?
—Às vezes, mas, tento não meter muito o nariz no cardápio deles,
especialmente se for comida que não conheço. Se eu ver uma necessidade
porque está afetando suas finanças, dou alguns conselhos gerais.
—Tipo? —Haruka pergunta, dando outra mordida na vieira tostada
e amanteigada. Descama e praticamente derrete na boca.
—Eu digo a eles para manter o menu pequeno. Menus grandes com
muita variedade podem ser um assassino de negócios. Por um lado, é caro
manter tantos ingredientes em estoque. Dois, isso afeta a qualidade.
Haruka acena com a cabeça. —Eles congelam as coisas para estender
a vida útil.
—Exatamente, e não gosto disso, —diz Nino. —Minha filosofia é, faça
sua comida fresca e faça-a bem. Um menu menor ajudará a prepará-los para
o sucesso. A maioria dos restaurantes familiares no Japão são bons nisso.
Não encontrei nada muito louco, por isso evito aceitar grandes redes como
clientes.
—Sim, com uma empresa maior, imagino que seria árduo fazer
mudanças em vários locais. Alimentos congelados também são inevitáveis
para distribuição. —Haruka dá sua última mordida na vieira, animada para
o próximo prato. Ele olha para Nino, e seu companheiro está olhando para
um prato meio comido.
—Meu amor, por que você não está comendo? —Haruka pergunta.
Algo o está distraindo. A menos que ambos estejam receptivos a isso,
eles não podem ler explicitamente a mente um do outro. Como regra geral,
eles decidiram que é melhor dar privacidade um ao outro.
Nino respira fundo antes de erguer os olhos radiantes para ele. —Eu...
Tenho algo em mente nas últimas semanas. Parece um assunto sobre o qual
deveríamos ter conversado agora, mas eu nunca realmente...
—Nino, o que é? —Haruka pergunta, com o peito apertado com a
mudança repentina na atmosfera.
—Você... e Yuna. Você esteve ligado a ela por dez anos, certo?
—Sim,— diz Haruka, sua voz paciente, mas seu corpo tenso. A última
coisa que ele quer discutir é sua companheira anterior. Especialmente na
noite de seu aniversário muito jovem.
Nino passa a mão pelo cabelo, um claro indicador de seu estresse. —
Por que - por que vocês dois não tiveram filhos? Estar juntos há tanto tempo,
parece que você teria.
Suspirando, Haruka se recosta na cadeira, seu apetite arruinado.
QUATRO

Meu timing é uma merda. O coração de Nino está disparado. Ele está se
perguntando sobre isso há meses, o assunto incomodando e agarrando-se às
bordas de sua consciência. Ele sempre reprimiu o desejo, sabendo o quanto
Haruka não gosta de falar sobre seu primeiro imediato.
E, no entanto, aqui estamos. Estranho e extravasado durante o jantar
de aniversário.
—Yuna não queria filhos, —Haruka diz, seus olhos sem piscar. Nada
mais.
— Então, é assim? —Nino pergunta. —Fim da história. Vocês dois
nunca tentaram...
Haruka respira visivelmente, seu olhar se voltando para as portas do
pátio. —Tentamos. Ela engravidou uma vez, mas acabou perdendo o filho.
Não tentamos de novo.
Droga. Nino se sente como se tivesse levado um soco no peito. Sua
garganta está apertada. —E-eu sinto... muito...
Haruka acena com a cabeça. —Não é algo que eu gosto de pensar.
Na mente de Nino, a próxima pergunta natural é se Haruka ainda
quer ou não filhos. Ele quer uma grande família? Devem procurar ajuda para
tentar ter filhos algum dia? Mas Nino não consegue responder a essas
perguntas sozinho. Ele não sabe o que quer, apenas recentemente refletiu
sobre o assunto.
Ele ainda se sente um adolescente em alguns aspectos. Ele não pode
se imaginar sendo responsável pela vida de jovens vampiros - ensinando e
guiando-os entre sua cultura ancestral e as complexidades da sociedade
moderna. Ele ainda está descobrindo por si mesmo.
Pegando sua taça de vinho, Haruka a leva aos lábios, então inclina a
cabeça para trás para drenar o conteúdo. Quando ele termina, ele se levanta
da mesa. Em pânico, Nino se levanta, bloqueando seu caminho.
Haruka franze a testa. —O que você está fazendo?
—Estou pegando mais vinho.
Eles estão congelados em silêncio. Assim que Haruka se move ao seu
redor, Nino age por impulso. Ele pisa nele e se agacha. Em um movimento
rápido, ele golpeia seu braço na parte de trás dos joelhos de Haruka,
fazendo-os dobrar para que ele possa levantá-lo e embalá-lo contra seu
corpo.
Os olhos de Haruka se arregalam com o ataque surpresa. Ele se
contorce. —N-Nino, coloque-me para baixa.
—Devo levar sua graça ao balcão-
—Pare.
Rindo, Nino coloca seu companheiro perturbado de volta em seus
pés. —Sua senhoria protesta - me surpreende que tenhamos a mesma altura,
mas você não seja nem um pouco pesado para mim.
—Por favor não faça isso.
—Por quê? —Nino franze a testa. —Você me deixa pegar você
quando estamos fazendo sexo?
—Isso - isso é diferente.
—Como assim?
—Há contexto, —diz Haruka, evitando o olhar de Nino enquanto ele
tenta passar por ele. Nino pisa nele novamente, franzindo o nariz.
—Então, eu só posso te pegar se eu estiver deslizando meu pau...
Ofegando com grandes olhos cor de vinho, Haruka estende a mão e
fecha a boca de Nino com os dedos. Nino solta uma risada abafada. Haruka
ri também, levantando a mão livre para cobrir o rosto corado.
Nino agarra seu pulso, puxando os dedos de Haruka para longe. —
Sério, Haru? Ninguém mais está aqui além de nós - até mesmo Asao e sua
audição supersônica se foram esta noite. Por que você fica envergonhado
assim sempre que tento falar sobre nossa vida sexual? Conversamos sobre
tudo.
—Porque discutir isso é redundante. —Haruka respira fundo,
passando a palma da mão no topo de sua cabeça negra e lisa.—Isso significa
que só... Eu sei o que fazemos.
Aproximando-se ainda mais dele, Nino ajeita os quadris e pressiona
as costas de Haruka contra a mesa. Ele descansa as mãos na cintura de
Haruka, então se inclina e beija a pequena verruga sexy bem no meio de seu
nariz. —O senhor do feudo simplesmente não está acostumado a que
alguém fale sujo com ele. Pode ser divertido. Você pode me dizer do que
gosta?
Haruka balança a cabeça, sorrindo. —Você sabe do que eu gosto com
base na minha reação... e eu não sei essas palavras em inglês.
—Mentiras. Você pode dizê-los em japonês?
Ele faz uma pausa, seus olhos mudando para o lado. —Essas palavras
não existem em japonês.
Os dois riem. —Teimoso, —Nino repreende. —Tudo bem, eu desisto
por agora. Vou ignorar o fato de que você conhece cerca de quinze outros
idiomas e que essas palavras definitivamente existem em japonês.
Haruka se inclina em sua boca e Nino deixa cair seu queixo, deixando
suas línguas se tocarem e deslizarem, provando um ao outro como dois
amantes se reencontrando. A boca de Haruka está sempre alguns graus mais
fria do que a sua e com um toque de rosas frescas. A sensação lembra Nino
da primavera - um dia chuvoso em que o ar é fresco e doce. Como um beijo
pode criar imagens tão vívidas em sua mente? A sensação de estar envolto
em uma névoa de sonho - um ambiente totalmente novo onde ele está
protegido e profundamente amado. Ele nunca experimentou nada assim até
Haruka.
O beijo é forte. Quando Nino inclina a cabeça, Haruka empurra para
trás, encontrando sua intensidade. Antes de quebrar o afeto, Haruka agarra
o cabelo de Nino em um punho e puxa sua cabeça para o lado. Ele se inclina
para baixo, os lábios roçando ao longo do pescoço côncavo. Nino aperta os
braços em volta da cintura e Haruka morde o lado esquerdo de seu pescoço
e puxa.
Nino geme, exalando com o calor familiar que desce por sua barriga
e se estabelece em sua virilha. Haruka nunca se alimenta do lado oposto,
tomando cuidado para evitar as cicatrizes permanentes na curva do ombro
de Nino. As feridas são antigas, mas sempre doloridas pelo abuso que Nino
sofreu quando criança.
Haruka suga com força a carne de Nino, suas presas afiadas
afundando ainda mais em seu pescoço. Nino fecha os olhos pela pura euforia
da intimidade. Haruka sempre derrama os pensamentos mais elegantes nele
sempre que ele se alimenta. Parece poesia: amor e paixão fluindo em versos
e expressões profundas.
Ele chupa com mais força e os olhos de Nino se abrem. Queimação
Sua natureza profunda na base de seu núcleo muda, querendo se libertar.
Para se submeter à vontade de Haruka. Nino fecha os olhos e exala um
suspiro, permitindo que Haruka o tire dele.
A onda aquecida da liberação da aura de Nino é como um vento
efervescente correndo e girando por sua espinha, depois se dispersando
descontroladamente por todos os poros de seu corpo. Ele irradia um brilho
intenso de luz laranja profunda. A sensação é incrível, como se as entranhas
de Nino estivessem sendo liberadas e confiadas a seu companheiro. Às
vezes, Nino tem orgasmo físico quando Haruka faz isso, dependendo de
onde ele se alimenta. Agora, Nino mantém seu corpo no controle, sua mente
recalibrando com o prazer e se concentrando.
No momento em que Haruka para de se alimentar, Nino se inclina
para colocar as mãos atrás das coxas de seu companheiro. Ele o levanta e o
incentiva a se sentar contra a mesa, os pratos do jantar fazendo barulho e se
movendo para o lado.
Seu olhar ardente está focado enquanto ele desabotoa as calças de
Haruka, mas então Nino ergue os olhos. —Este contexto é apropriado para
eu buscá-lo, certo?
Haruka ri de seu jeito profundo e gutural. Quando suas calças estão
abertas, ele se levanta. Nino rapidamente guia tudo pela curva de sua bunda
firme e, em seguida, ao longo de suas longas pernas. Ele joga as roupas de
Haruka no chão.
Sentado seminu ao luar e emoldurado por velas pretas tremeluzentes,
Haruka parece algo saído dos sonhos mais selvagens de Nino. Talvez Nino
nem seja criativo o suficiente para sonhar com alguém tão sedutor e
sobrenatural. Ele sempre pensou em seu companheiro como lindo.
Sofisticado. Mas com esse cabelo comprido e pesado, ele nem é como um
vampiro. Ele parece algo de uma espécie completamente diferente.
Nino agarra a bainha do suéter de Haruka e o conduz por seu corpo.
Seu companheiro é obediente ao levantar os braços, permitindo que ele os
remova. Ele desabotoa a camisa de Haruka, egoísta em querer vê-lo por
inteiro antes de se entregar a seu corpo.
A voz profunda de Haruka corta o silêncio. —Eu me tornei o
segundo?
Os dois riem quando Nino termina sua tarefa e separa o material da
camisa de Haruka. Ele sorri. Alcançando atrás da cabeça de Haruka, ele
desmonta a gravata segurando seu coque pesado. Ele o arrasta para frente,
deixando seu cabelo se desenrolar espesso e ondulado como ônix líquido
contra sua cremosa pele de amêndoa.
—Meu amor, você prefere meu cabelo assim? —Haruka pergunta
baixinho. —Se... você gosta disso, eu não vou cortar.
Nino puxa uma cadeira por trás, situando-se na frente das coxas
abertas de Haruka. Ele envolve a parte de trás dos joelhos com os dedos,
incentivando-o a avançar quando encontra o olhar de Haruka. —Tesoro, eu
não me importo com a aparência do seu cabelo. Você é o que eu prefiro. Eu
só quero que você seja livre.
As íris de Haruka se transformam, gradualmente cintilando em um
vívido laranja do pôr do sol. O cheiro inebriante de sua aura rosada irradia
de seu corpo magro. Ele está se abrindo. Deixando sua verdadeira natureza
respirar e se expandir. Ele não é tão contido como costumava ser (do jeito
que era nos primeiros dias do relacionamento), mas ainda leva um minuto
para Haruka relaxar. Eles estão chegando lá.
Sorrindo, Nino se abaixa, beijando suavemente o topo de suas coxas
cremosas. Haruka se contorce conforme ele se move mais alto, mas Nino
muda a cabeça para cima e se inclina para frente, brincando de beijar e
lamber sua barriga apertada.
Nino agarra a parte de trás de seus joelhos novamente e Haruka
respira quando Nino o puxa ainda mais para perto, descansando uma de
suas pernas dobradas em cima do ombro de Nino. Ele beija e belisca o
interior da coxa de Haruka, sentindo o corpo de seu companheiro estremecer
de necessidade. Nino ergue os olhos para ele, e os olhos brilhantes de
Haruka estão desesperados, seu peito exposto arfando enquanto ele enlaça
os cabelos de Nino. Ele nem sempre é capaz de romper a fachada composta
de Haruka, mas nesses momentos de sucesso, isso dá a Nino uma sensação
sublime e uma confiança como ele nunca conheceu.
Ele pega o eixo rígido de Haruka com a ponta dos dedos, depois se
inclina para lamber a ponta da língua. Haruka suga uma respiração instável,
os olhos cerrados fechados.
—Você tem um gosto tão bom, Haru... — Nino muda, segurando a
dureza de seu companheiro com uma mão, então usando a outra para
deslizar mais fundo entre suas pernas. Ele provoca e acaricia a suavidade da
abertura de Haruka com a ponta dos dedos.
Haruka fica tenso, arqueando o pescoço. O comprimento selvagem
de seu cabelo cai para trás dos ombros. —Deus me ajude
—Diga-me o que você quer, tesoro, —diz Nino. Ele sacode a língua
contra a umidade dele novamente para provar. Incrível. —Devo colocar seu
pau na minha boca?
Ele olha para Haruka, esperando enquanto ele continua acariciando
e brincando, atraindo-o com os dedos. Haruka finalmente olha para baixo,
seu pomo de adão saltando em sua garganta por engolir. Ele respira fundo.
—Por favor!
Nino sorri, então se curva e leva todo o comprimento dele à boca,
lento e suavemente. Haruka geme em um som gutural enquanto Nino
trabalha, passando a língua ao longo de sua crista - ávido em consumi-lo.
Dentro de minutos, seu companheiro grita e estremece em êxtase,
deliciosamente transbordando das ações sedutoras de Nino.
O corpo de Haruka está tremendo quando Nino finalmente levanta a
cabeça - arrastando a língua e lambendo, certificando-se de que nada seja
desperdiçado. Ele se levanta da cadeira, mas Haruka o surpreende quando
ele agarra a calça de Nino em sua cintura. Seus dedos longos são agressivos,
desafivelando e desamarrando com urgência. Nino sorri, inclinando-se para
frente para pressionar suas testas juntas. —Há algo mais em que eu possa
ajudá-lo?
—Tire suas calças, —Haruka sussurra, sua respiração entrecortada.
Em conformidade, Nino faz conforme solicitado. Antes que ele
pudesse tirar a calça e a cueca além dos joelhos, Haruka agarra sua camisa e
puxa Nino de volta para sentar na cadeira. Seu companheiro parece
selvagem enquanto se levanta da mesa, então dá um passo à frente e monta
em suas coxas. Assim que ele descansa seu peso no colo de Nino, Haruka
toma sua boca. A paixão por trás do beijo faz o coração de Nino bater como
um tambor em seu peito.
Quando Nino se afasta, é como voltar para respirar depois de ser
arrastado para as profundezas do oceano. Ele engole, incapaz de recuperar
o fôlego. —Há azeite atrás de você.
Haruka olha para trás, então se inclina e pega a garrafa verde escura
da mesa antes de abri-la. Uma vez que seus dedos estão lisos, ele se abaixa e
os envolve ao redor do comprimento rígido de Nino entre eles. Nino suspira,
o calor do clímax já pulsando dentro dele com o peso e toque de Haruka.
—O que você quer que eu faça? —Nino sorri, preguiçoso. Os dedos
de Haruka são maravilhosos enquanto acariciam e se movem - talentosos,
como se ele estivesse tocando um instrumento. Seu cheiro está deixando a
cabeça de Nino confusa, como se ele tivesse bebido demais.
Com a sobrancelha escura levantada, ele pega a mão de Nino e a guia
para trás e para sua bunda nua. —Você sabe o que eu quero.
Usando o resíduo escorregadio da mão de Haruka, Nino pressiona
lentamente o dedo dentro dele. Haruka muda de prazer e Nino pode sentir
o canal quente e apertado do corpo de seu companheiro se flexionando e
cedendo a ele. Nino morde o lábio, sem fôlego. —Seria bom se você me
contasse... abertamente.
Ele arrasta o dedo para fora, com cuidado ao mudar e pressionar dois
dedos dentro, fazendo Haruka arquear e gemer enquanto ele os pressiona
mais profundamente. Quando Haruka abaixa a cabeça, suas íris são o pôr do
sol brilhante. Ele segura o queixo de Nino para que seus olhos se encontrem.
—Chega de conversa. —Ele dá um beijo rápido nos lábios antes de se mover
para cima e para longe de seus dedos. Agarrando o dedo de Nino, Haruka
se orienta para baixo para encontrar e gradualmente avaliar seu
comprimento.
Quando eles estão conectados, não há mais conversa. Ou pensando.
Há apenas os dois e sua necessidade inata de estarem entrelaçados. Para que
suas naturezas e corpos existam como um. Haruka rola e balança os quadris
enquanto Nino o agarra, seus dedos cravando em sua carne. Em poucos
instantes, os dois ascenderam a algo que parece o paraíso.
MAIO

CINCO

Por três dias seguidos, a chuva varreu o oeste do Japão. O céu chora,
implacável e cinza, despojando as cerejeiras de suas flores delicadas.
18h50 Haruka está sentado na sala de chá da frente da propriedade,
braços cruzados enquanto seu joelho salta de estresse. Raios brilham contra
a janela, mudando sua atenção para lá. A árvore de bordo fora do vidro se
curva e balança em um ritmo hipnótico e um estrondo de trovão ecoa em
advertência. O tempo está não ajudando sua inquietação sobre este encontro.
A porta da frente da propriedade se abre e depois se fecha com um
estrondo. Depois de uma confusão barulhenta, Nino aparece na porta, com
a jaqueta e o cabelo úmidos de chuva. Asao passa atrás dele, provavelmente
se dirigindo à cozinha para preparar chá para o convidado iminente.
—Os atrasos de trem hoje são terríveis. —Nino tira o paletó e
desaparece por um momento para pendurá-lo no armário ao lado da sala de
chá. Ele grita: —Pelo menos eu fiz isso antes das sete?
Um momento depois, ele desce para a sala, passando os dedos no
topo de seu cabelo molhado e acobreado para pentear para trás. Apesar de
estar agitado e encharcado de chuva, ele fica bonito em uma camisa
estampada e calça cáqui escura. Haruka levanta o queixo quando está de pé
sobre ele. Nino dá dois beijos perfeitos em sua boca antes de se sentar ao
lado dele no sofá.
—Bem-vindo ao lar, meu amor. —Haruka sorri. A presença de Nino
sempre ajuda a tranquilizá-lo. Mesmo no dia em que se conheceram, ficar na
frente de Nino parecia estar se aquecendo sob os raios quentes de um sol de
outono.
—Grazie, tesoro. Não sinto nosso convidado?
—Nem eu, —Haruka suspira. 18:55 Sentir a presença e localização de
outro vampiro classificado não é uma ciência exata, mas é um componente
confiável de sua biologia. Haruka pode sentir Nino muito mais
intuitivamente porque eles estão ligados - não apenas sua localização, mas
seu estado emocional e bem-estar. Seus pensamentos também, quando eles
consentem mutuamente em abrir suas mentes um para o outro. Se a
distância ficar muito grande, Haruka só poderá discernir sua mortalidade.
Com três minutos restantes antes da hora marcada para o encontro,
ele deve detectar a aura vampírica de seu convidado se aproximando. Se ele
estiver focado, Haruka pode sentir cada vampiro classificado dentro de um
raio de vinte e cinco milhas - sua presença como luzes quentes salpicadas
contra o mapa escuro de seu reino.
Em relação a este novo puro-sangue, ele não sente nada no horizonte.
—Isso não faz sentido nenhum.
—Você acha que ele não vai aparecer? —Nino pergunta. —Você me
disse que o puro-sangue que sentiu na floresta no ano passado cheirava a
salva. Esta tem que ser a mesma criatura.
Gael, um associado do Clã Almeida, havia armado uma emboscada
fora da casa de Haruka na Inglaterra no ano anterior. Uma tentativa
imprudente de roubar seu manuscrito Lore and Lust. O esforço do vampiro
de primeira geração foi frustrado, mas algo inesperado aconteceu. Um flash
de poder emanou da floresta circundante - a presença inconfundível de
outro puro-sangue.
O incidente foi ainda mais estranho porque não há mais vampiros de
raça pura na Inglaterra. Enquanto toda a população puro-sangue sofreu
como resultado do Grande Desaparecimento, os puros-sangues de
ascendência britânica foram extintos.
O misterioso vampiro sábio emergiu, então rapidamente
desapareceu. Gael também se desintegrou bem diante dos olhos de Haruka.
—Não vi o puro-sangue na floresta naquela noite, —argumenta
Haruka. —Apenas os senti. Portanto, não posso saber com certeza.
—Eu gostaria que pudéssemos ter recusado seu pedido. Não me sinto
bem com isso.
—Meu amor, nós discutimos isso. Não podemos recusar totalmente
um pedido sem justificação para o fazer. Dentro das expectativas da
aristocracia, é apropriado.
Haruka respira fundo. A presença pesada de um puro sangue velho
apareceu de repente, criando uma pressão distinta no ar ao redor deles. Nino
se senta ereto, seus olhos âmbar arregalados. O vampiro se materializou do
nada, e ainda assim ele está esperando do lado de fora da porta da frente.
A campainha soa. 19:00 Perplexo, Haruka se levanta, seu coração
batendo descontroladamente. Como é possível? Que tipo de poder esse
vampiro tem? O cheiro de sálvia vagueia pelo ar, confirmando que este é
realmente o vampiro que ele sentiu na floresta um ano atrás.
Nino está ao lado dele, seus dedos passando por seu cabelo mais uma
vez. Asao aparece, passando correndo pela sala de chá para abrir a porta da
frente. A chuva torrencial e o trovão lá fora quebram o silêncio antes que a
porta se feche novamente.
Quando Asao está na entrada, ele se curva em um gesto educado. —
Meus senhores, Lajos Almeida do Clã Almeida. —Ele se move para o lado,
permitindo que seu convidado passe pela porta.
O vampiro é antigo com pele pálida, enrugada e enrugada. Uma
dureza está definida em sua expressão. Sua postura é reta em uma estrutura
alta e magra. Ele está vestido com roupas formais imaculadas, mas sua moda
está severamente desatualizada: um sobretudo azul profundo, colete e
camisa social branca enfiados em calças pregueadas. Ele bate com a bengala
enquanto fica parado ali, erguendo o queixo pontudo como se fosse um rei
e eles fossem seus súditos servis.
A velha criatura desce para a sala. Haruka respira fundo, então se
curva em sua cintura. —Bem-vindo, Lajos Almeida, à comunidade de
Okayama. Eu sou Haruka Hirano. Este é meu companheiro, Nino Bianchi. É
um prazer conhecê-lo.
Nino se curva ao seu lado, com um sorriso gentil, mas sem o calor de
sempre. —Bem-vindo à nossa casa e reino. Ficaram satisfeitos...
Lajos levanta a mão enluvada. Nino para, olhando para Haruka com
o canto dos olhos. O queixo de Lajos sobe ainda mais alto, seu olhar escuro
e afiado focado em Haruka por baixo das sobrancelhas espessas. —Você tem
sangue antigo. Você é o líder desta casa? Você também é o mais velho? —
Apesar de sua aparência frágil, a voz do vampiro é pesada, carregada de
tempo e autoridade.
—Não,— diz Haruka, mantendo o rosto calmo. —Meu cônjuge é o
mais velho, mas não administramos nossa casa de acordo com esses éditos
conservadores.
Lajos franze as sobrancelhas cinzentas. Seu cabelo prateado está
puxado para trás e brilha contra a iluminação do recesso. —Então, esta casa
não tem líder?
—Tem dois líderes, —diz Haruka. Sem dúvida, este puro-sangue é seu
mais velho, e seu sangue é registrado como primitivo, como o de Haruka.
Ele sabe que deve mostrar respeito ao convidado, mas o convidado não deve
questionar abertamente as operações de sua casa - especialmente nos
primeiros dois minutos depois de entrar pela porta.
Sorrindo, Lajos dá um passo para trás e em direção ao sofá em frente
a eles. Uma pequena mesa de centro está colocada no meio. —Dois líderes?
Não é possível.— Ele joga seu casaco longo para o lado antes de se sentar,
nunca quebrando o contato visual com Haruka.
—E ainda assim, estamos diante de você. —Haruka também se senta,
a veia em sua têmpora latejando enquanto ele cruza as mãos no colo. A
ansiedade que irradia do corpo de Nino ao lado dele é palpável.
Lajos apoia sua bengala na almofada do assento ao lado dele. —Em
qualquer par, há sempre um mais forte e um mais fraco. Um maior e um
menor. É papel do menor apoiar o mais forte.
—Discordo respeitosamente, —diz Haruka. —Em qualquer dupla,
ambos são fortes, mas de maneiras distintas - seus talentos e o apoio mútuo
são iguais em valor. Você nos enviou um pedido formal de apresentações.
Divulgue o verdadeiro propósito de sua visita esta noite. Como podemos
ajudá-lo?
Com isso, Lajos inclina a cabeça para trás em uma risada genuína. O
som disso é turbulento, surpreendente. Isso irrita Haruka ainda mais.
Quando Lajos se recompõe, ele passa a mão enluvada sobre a cabeça,
focalizando Haruka novamente. —Muito afiado. Você, jovem homem, é o
líder desta casa. Seu discurso é ousado e decidido. Você irradia poder e
graça, enquanto este macho de sangue recém-descoberto sentado ao seu lado
não diz nada. Esta não é uma introdução fascinante? Não consigo me
lembrar da última vez em que fui desafiado dessa forma. Como você é
divertido.
—Você veio aqui em busca de diversão? —Haruka pergunta, seu
temperamento atingindo um ponto de fervura baixo. —Para agitar e ofender
nossa casa?
— … Haru.
Os olhos de Haruka piscam para seu companheiro, reconhecendo o
chamado fraco enquanto ecoa em sua mente. Ele abre seus sentidos para
receber os pensamentos de Nino, claros e concisos.
Nada do que ele diz importa. Não deixe ele te chatear. Fique calmo.
Ele respira fundo. Ele revira os ombros e Nino estende a mão para
agarrar sua mão. Haruka volta a se concentrar em seu convidado pomposo
e rude que cheira a sálvia... Ele não vai comer nada com sálvia por muito
tempo.
—Interessante. —Lajos inclina a cabeça para Haruka. —Jovem
homem, qual é a sua idade?
Ele fala com os dentes cerrados. —Cento e três.
—Muito jovens. Com sua mente e poder, você pode fazer grandes
coisas. Você não deve desperdiçar os dons com os quais foi abençoado de
forma única, ao jogar com esses ideais contemporâneos e suaves. Você tem
a capacidade de mudar a própria base de nossa raça. Você poderia governar
sobre tudo. Posso mostrar para você.
Pela primeira vez, Haruka está sem palavras. Ele não sabia o que
esperar esta noite, mas não era isso. Do que diabos ele estava falando?
—Senhor Almeida, porque está aqui? —Nino pergunta, indo direto
ao ponto.
—Ele fala. —Lajos sorri, mas sua expressão não é divertida. —Sua
linha de sangue renovada tem mesmo um século de idade? Seus ancestrais
são uma vergonha por se alimentarem de humanos por tanto tempo.
Repulsivo!
Os dois se sentam, piscando em resposta ao comentário depreciativo.
A discriminação entre linhagens de sangue puro é irrelevante. Obsoleto.
Principalmente depois do Grande Desaparecimento. Sangue de raça pura é
sangue de raça pura. Período.
Com o silêncio deles, Lajos muda seu olhar de volta para Haruka. —
Você está interessado em melhorar nossa corrida? Crescendo nosso número
como entidades gloriosas de raça pura?
Haruka o encara, sentindo como se seu cérebro tivesse parado, ou
como se ele estivesse entendendo mal alguma coisa. Isso é uma fraude
elaborada? Esta criatura antiquada com sua retórica elitista e arrogância sem
remorso.
—Nossa raça tornou-se bastardizada, marcada por essas criaturas de
primeira, segunda e terceira geração que cheiram a sangue humano, —
continua Lajos. —Puros-sangues do passado fornicaram com humanos para
criar esses seres vampíricos menores. Eles se alimentam de sangue e comida,
como porcos em um cocho sugando todos os recursos da terra. Eu estabeleci
uma solução. Uma sociedade pura e perfeita onde nós multiplicaremos. Onde
sobrevivemos apenas de sangue e permanecemos noturnos como nossos
ancestrais viveram.
Asao entra na sala com uma bandeja de chá e biscoitos de arroz. Ele
caminha até a pequena mesa, em seguida, deixa cair a bandeja contra a
superfície, fazendo com que o conteúdo se espalhe e se mova com um
barulho alto. Ele encara Lajos com a testa franzida por um longo momento
antes de se virar e sair da sala.
Lajos acena com a mão. —Vê? Eles são uma mancha em nossa raça. A
infeliz consequência da avareza e das curiosidades pervertidas.
Levantando-se do sofá, Haruka gentilmente solta a mão de Nino. Este
estranho entrou em sua casa, insultou seu companheiro, ofendeu seu criado
e desafiou o fundamento moral sobre o qual Haruka está. Agora, ele
expressa xenofobia flagrante em relação aos vampiros ranqueados. Suas
apresentações terminaram.
—Eu não compartilho de suas ideais, nem acredito que possa ajudá-
lo a alcançar qualquer um de seus objetivos. Lamento que você tenha
perdido seu tempo. Eu peço que você deixe nosso reino.
Lajos não se move. Ele olha para cima, piscando seus olhos frios como
se Haruka não tivesse dito uma palavra. —Eu tenho um associado que me
disse que você possui uma coleção interessante de pesquisas em torno de
vínculos vampíricos. Será assim?
—Pedi que você saísse de nossa casa, —diz Haruka, sem piscar,
enquanto Nino se levanta ao lado dele. Lajos solta uma risada.
—Jovem homem, —diz ele, com o sorriso esmaecendo, —não aceito
recusas. Talvez eu seja mimado na minha velhice, mas não é algo a que
estou... acostumado.
—Então, sou grato por ajudar no seu desenvolvimento pessoal. —
Haruka acena com a cabeça. —Vá embora. Agora.
Lajos encara. O sorriso arrogante desaparece de sua boca enrugada e
suas íris piscam para frente e para trás entre os dois. Ele suspira, os olhos
fechados enquanto leva uma mão com uma luva branca até o centro da testa
para massagear com os dedos.
—Você tem uma mente muito forte e, portanto, vai precisar de algum
convencimento. Eu posso ver isso agora.
Ele abre os olhos e eles estão brilhando, um branco leitoso. Ele move
os dedos em direção a eles em um movimento preguiçoso. Haruka recua
com o gesto estranho, mas nada acontece.
—Haru-
Haruka vira a cabeça, encontrando o rosto em pânico de Nino. Ele
não entende a princípio, mas quando olha para baixo, o corpo de Nino está
se dissolvendo de baixo para cima. Haruka fica tenso ao ver sua forma
embaçada diante de seus olhos. Em pânico, ele estende os braços para
envolvê-lo, mas não há nada em que se segurar. Nino se foi. Ele tinha estado
ali aquecido e sólido em um momento, mas no próximo, desapareceu.
Algo como um buraco aberto no estômago de Haruka, como se ele
tivesse sido atingido por uma bala de canhão. Ele agarra seu estômago do
vazio e da dor. A miséria vazia. Não é como se Nino estivesse morto. Ele
ainda pode sentir que está vivo. Mas ele está muito longe, em algum lugar
indiscernível e fora do alcance de Haruka.
Sua mente está quente - uma nuvem de raiva, confusão e desespero
tomando conta dele de uma vez. Seus olhos brilham quando ele olha para o
velho vampiro sentado em seu sofá. Haruka libera o peso de sua aura com
força, empurrando-a em direção a Lajos para subjugá-lo por completo. Ele
envolve sua energia em torno do vampiro decrépito, levantando-o de sua
posição sentada e aumentando o controle de sua energia como uma grande
cobra sufocando sua presa.
Mas seu controle mental sobre a criatura vacila, como se algo sólido
dentro de seu controle se transformasse em areia e escorregasse por entre
seus dedos. Lajos se dissolve nas mãos de Haruka, a forma de seu corpo
rolando e se transformando em um nada enevoado. —Ele partiu.
—Eu vi seu poder, jovem.
Haruka olha para cima e Lajos está parado na porta, calmo e com seus
olhos brancos brilhando como faróis. Um som ao lado de Haruka muda sua
atenção. Ele observa enquanto a bengala com que Lajos entrou se dissolve e
reaparece em sua mão.
—Você é uma criatura excepcional. —Lajos sorri. —Mas eu vivi por
séculos e você não pode me segurar. Você não vai quebrar meus membros
hoje-
—Devolva-o AGORA -
—EU não recebo ordens, jovem. Eu dou a eles. Você vai se acalmar e
reconsiderar educadamente meu pedido. Devemos tentar novamente em
alguns dias?
Haruka abre a boca para falar, mas Lajos se desfaz. Foi-se novamente.
A sala está silenciosa, exceto pela forte chuva lá fora.
O desespero desaba na psique de Haruka - violento e doloroso.
Desesperado. Uma hora atrás, seu mundo era perfeito: seguro e isolado com
o calor do profundo amor e segurança. Agora, o mundo virou de cabeça para
baixo e Nino se foi. Sumiu. O buraco que Haruka sente em seu interior se
intensifica, a agonia e o vazio causam uma raiva cega inundando sua mente.
Ele amaldiçoa, e a pressão de sua aura explode de seu corpo. Ouve-
se um estrondo alto e o som de vidros quebrando. As luzes da sala piscam e
depois morrem. Ele cai de joelhos com a dor que irradia em seu corpo. Ele
engasga, desesperado por ar enquanto se senta, envolto em completa
escuridão.
SEIS

Do outro lado do oceano, é uma bela manhã em Milão. O tempo está


ensolarado e ameno, e felizmente seco o suficiente para que Cellina tenha
certeza de que não terá nenhuma surpresa com problemas de cabelo no meio
do dia (principalmente frizz - o agressor cruel e silencioso).
Ela olha para o calendário grande e plano que cobre sua mesa. Está
quase na hora de sair para seu compromisso de almoço com o novo artista
que ela está perseguindo. Ela olha para a esquerda. Os escarpins de tiras de
15 centímetros que ela usou no escritório foram descartados contra o tapete
ornamentado que cobria o piso de mármore. Ela suspirou. —Besteira de
salto alto.
Um dia, quando ela for a única proprietária de sua própria pequena
galeria de arte, ela nunca usará salto alto. Depois de jogar, fazer as conexões
e estabelecer seu nome como uma força confiável no mundo da arte, ela
usará leggings sexy e tênis brilhantes para trabalhar todos os dias. Qualquer
um que discordar pode se foder.
Seu telefone toca, interrompendo sua fantasia de moletons com capuz
e sutiãs esportivos de tiras. Cellina se inclina para frente, olhando para a tela.
Giovanni —Por quê? —Seu rosto fica mais sério. Ele nunca liga para ela.
Sempre, apesar de se conhecerem e estarem conectados por toda a vida.
Como seus pais eram melhores amigos, ela passou a maior parte de sua
infância com os irmãos Bianchi. Enquanto Cellina adora e tem uma longa
história de cuidar do irmão mais novo, Nino, Giovanni é... uma situação
totalmente diferente. Complicada
—Sim? Cellina atende. Suas comunicações entre si não são cordiais.
Não desde que ela era uma adolescente, de qualquer maneira. Se ele está
ligando, há um motivo. Pode muito bem ir direto ao ponto.
—Venha para a casa, ele late em sua voz rouca. Isso é parte do
problema com Giovanni. Muito masculino e cheio de testosterona. Muito
orgulhoso e teimoso, usando sua autoridade de raça pura para mandar nas
pessoas.
—O quê? Agora?
—Sim, por favor, ele diz. Silêncio.
Merda. Cellina se recosta na cadeira, arrastando o cabelo espesso e
alisado sobre os ombros. Ela torce atrás de sua cabeça enquanto
mentalmente reorganiza sua programação. Pegando um lápis, ela diz: —Dê-
me trinta minutos.
—Até logo. Ele encerra a ligação.
Cellina liga para um número diferente em seu telefone e o leva de
volta ao ouvido. Ela termina de escrever em seu calendário, então se levanta
para recuperar seus saltos. Eles são como uma penitenciária glorificada para
os pés dela.
—Oi, Gabriella? É Cellina De Luca… Estou bem, mas tenho que me
desculpar com você. Algo aconteceu e eu preciso reagendar nosso almoço.
Como a sexta-feira funciona para você?

VINTE E CINCO MINUTOS DEPOIS, Cellina bate na pesada porta


de carvalho do escritório de Giovanni. Há muito tempo, era o escritório de
sua mãe. Cellina sorri para si mesma, lembrando-se da mulher feroz com
pele de marfim e cabelo preto como azeviche. A pequena japonesa que ela
conhece, ela aprendeu com ela. Por sua vez, a mãe de Cellina havia
presenteado Nino e Giovanni com suaíli.
Depois de ouvir Giovanni gritar, ela entra na sala. Os tetos são altos e
abobadados. A iluminação embutida brilhante faz com que o piso de
mármore e as paredes de pedra pareçam cremosos e elegantes.
Passando pela área de estar externa, ela atravessa o arco principal e
entra no escritório. Giovanni está de pé atrás de sua mesa, ombros largos e
impecavelmente vestido em um lindo terno azul royal. Sua camisa branca é
impecável, sem gravata. Ele nunca usa gravata se não for necessário. Ela se
lembra muito de quando eles eram jovens. Ele costumava dizer que o faziam
se sentir como um cachorro na coleira - uma representação física das
circunstâncias de sua vida.
Dando um passo à frente, Cellina respira fundo, inalando
inconscientemente seu perfume limpo. Ela nunca consegue colocar o dedo
nisso. Ele cheira a terra como alecrim, mas... misturado com algo apimentado
ou picante. Gengibre. Ele contorna o canto de sua mesa para se sentar contra
a borda da frente.
Ela levanta o queixo. —Por que você está me chamando como o
senhor do reino? Isso não é normal. Alguma coisa está errada.
—Tecnicamente, sou o senhor do reino,— diz Giovanni, com o rosto
sério. —Recebi más notícias do Japão.
A frequência cardíaca de Cellina triplica de intensidade. —O que
houve?
—Nino se foi.
—O que?— Os joelhos de Cellina enfraquecem, o peso de suas
palavras como uma bola de demolição em seu estômago. Ela se senta com
força contra o sofá de couro atrás dela. —Giovanni, o que isso significa?
Como ele pode ter-
Ele desapareceu. Houve alguma circunstância com um visitante que
eles tiveram, e parece que ele fez algo com ele. A situação não está clara, mas
precisamos manter isso para nós mesmos.
—Oh Deus,— Cellina respira, levando as palmas das mãos ao rosto.
Seu coração está se despedaçando. Nino é sem dúvida a criatura mais
maravilhosa que ela já conheceu, e ainda assim ele experimentou um grau
inaceitável de tragédia em sua jovem vida vampírica. Ele foi aproveitado
quando criança, perdeu sua mãe jovem e seu pai ainda está doente por causa
da ausência dela. Nino também tinha ficado isolado enquanto crescia -
evitado pela sociedade por causa de seus abusos. Os vampiros modernos são
geniais sobre muitas coisas, mas raramente simpáticos a feridas emocionais
ou saúde mental. É uma falha cultural distinta.
O universo mostrou misericórdia a Nino ao enviar-lhe Haruka: um
vampiro de bom coração e o amor da vida de Nino. Mas agora, isso.
O estresse desaba, seu corpo treme e sua garganta fica apertada.
Assim como o peso do desespero a oprime, Giovanni está lá. Ela olha para
cima, assustada com a presença sólida dele enquanto ele se senta em cima
da mesa de centro na frente dela, as pernas abertas de cada lado de seus
joelhos. Sem uma palavra, ele estende a mão e envolve uma grande mão por
baixo do cabelo e na nuca. Ele a puxa para frente, juntando suas testas. Eles
estão tão perto que seus narizes se tocam.
Cellina engasga, seu corpo ainda mais tenso de sua proximidade. Eles
não se tocam há mais de um século.
Um calor suave lava sobre ela de seus pontos físicos de contato. A
influência calmante e reconfortante de sua aura vampírica se derrama,
cobrindo-a com uma névoa brilhante. Terroso e apimentado, o cheiro alivia
seu pulso acelerado, fazendo-a respirar em um ritmo perfeito com ele.
Lentamente, entrando e saindo.
A última vez que ele fez isso com ela - por ela - foi quando ela tinha
treze anos. Seu irmão mais novo, Cosimo, havia lido seu diário particular e
depois andava por aí citando frases diretas dele ao acaso. Falas sobre seus
sentimentos particulares em relação a Giovanni. Ela estava tão chateada que
queria drená-lo. Quando ela começou a traçar vocalmente a logística de
acabar com a vida dele (porque ter um plano organizado é a chave para o
sucesso), Giovanni a surpreendeu ao se encostar nela, batendo em suas testas
e deixando sua aura inchar e crescer. Ele acalmou Cellina naquele dia,
dando-lhe paz de espírito enquanto, inadvertidamente, mantinha seu irmão
mais novo vivo... não que ele merecesse.
Anos depois, a sensação reconfortante é a mesma. Mas Cellina e
Giovanni mudaram.
Quando Giovanni levanta a cabeça, Cellina abre os olhos com as
pálpebras pesadas. Suas brilhantes íris verde-esmeralda estão olhando para
ela. —Você está bem?
—Sim, —Cellina respira, sentando-se em linha reta para escapar do
peso de sua mão contra sua carne, a intensidade de seus olhos vívidos. —
Obrigada. Como está Haruka?
—Nada bom. —Giovanni esfrega a nuca, seus olhos desbotando e
voltando à cor avelã normal com manchas verdes. —Eu não falei com ele.
Tudo o que eu disse a você é de segunda mão daquele que sabe tudo.
—Asao. —Servo de Haruka. Apesar de ser um vampiro de terceira
geração, ele tem um sentido único de audição - o traço profundo dentro da
linhagem de sua família por ter sobrevivido a três gerações.
—Estou partindo em um voo para Okayama esta noite. —Giovanni
suspira. —Você vem?
Cellina se recosta no sofá. Ela está calma agora, sua mente focada. —
Sim. Só preciso voltar ao escritório e fazer alguns telefonemas. Você está
bem?
—Eu estou bem. Vou me sentir melhor quando chegar lá e entender
toda a história.
—De acordo. Eu preciso reservar meu voo. Talvez,
—Comprei duas passagens de avião. Se você puder estar de volta às
sete, podemos sair juntos.
Juntos? Cellina levanta a sobrancelha. Por que eles viajariam juntos?
No século passado, a regra tácita foi evitar uns aos outros. Ele deixou seus
sentimentos em relação a ela claros anos atrás. Como resultado, sempre que
se encontram agora, eles brigam - mesquinhos e amargos.
Mas hoje é diferente. Não há espaço para suas queixas triviais e
comentários amargos. Estas entidades precisam de trabalhar em conjunto.
Ela balança a cabeça, reorganizando mentalmente sua agenda para a
próxima semana. Na verdade, ela está grata porque o incômodo de reservar
um voo foi tirado de seu prato. Por que ele faria essa gentileza com ela, ela
não entende. Mas ela vai aceitar.
—Ele tem que estar bem, —ela suspira, a imagem de seu doce amigo
e seus olhos âmbar brilhantes piscando em sua mente. —Não há outra opção,
Giovanni.
Ele se levanta da mesa. —Eu sei. Vamos descobrir o que aconteceu.
SETE

Após trinta horas de voos, escalas e silêncio amigável, Cellina e


Giovanni chegam à propriedade Kurashiki.
Eles seguem o criado de Haruka enquanto ele os guia por um elegante
corredor de madeira, passando por portas de correr pintadas com belas
obras de arte sumi-ê1.
—Ele não está me ouvindo, —queixa-se Asao, com a voz rouca. —Ele
não dormiu ou pôs os pés fora de sua biblioteca nas últimas 48 horas e não
quer chamar a polícia - diz que eles são inúteis.
Ele abre uma porta deslizante de papel para revelar uma passagem
aberta. Uma onda quente de ar úmido da primavera acaricia a pele de
Cellina. Eles saem. Ela olha para o jardim gramado encharcado de chuva e
para o pequeno lago de carpas enquanto caminham pela varanda. Há uma
enorme árvore de bordo japonês no centro com folhas ricas em marrom. A
casa de Haruka e Nino parece um retiro Zen para meditação espiritual.
Tranquilo, natural e de tirar o fôlego.
—Sem novidades em dois dias? —Giovanni pergunta. —Ele só pode
dizer que Nino ainda está vivo e nada mais?
—Sim, —disse Asao, abrindo uma porta e gesticulando para que eles
entrassem em outro corredor. —Ele está vivo, mas está longe. Ele não pode
supor mais nada. Eu sei que a polícia humana é incompetente em assuntos
de vampiros, mas devemos contatar aquele detetive de segunda geração que
estava trabalhando no desaparecimento de Ladislao. Aquele na América.

1Sumi-ê, Suiboku-ga ou Shuimohua é uma técnica de pintura oriental que


surgiu na China no século II da era cristã. Da China o sumi-ê foi levado ao Japão
onde tornou-se mais difundido. A palavra tem raiz japonesa e significa pintura
com tinta. Seu conceito não tem ligação com a pintura praticada no ocidente.
Giovanni balança a cabeça. —Eu não sei. Acho que devemos manter
isso privado por enquanto. Veja se podemos lidar com isso por conta
própria.
Cellina concorda. —Todo mundo acabou de se acalmar com o
desaparecimento de Ladislao. Isso criará uma nova onda de pânico
generalizado se ele vazar. Acho que conheci aquele detetive uma vez quando
estava em Nova York. Anika Cuevas. Lembro que ela tinha opiniões muito
fortes.
—E você não tem? —Giovanni olha para ela, erguendo a sobrancelha.
—Isso não é sobre mim, no entanto.
Asao os guia por outro corredor curto de madeira brilhante. Esta área
da propriedade é mais compacta, como uma pequena residência em si
mesma - uma casa de hóspedes.
—Você deveria ter ouvido esse babaca do Lajos,— murmura o criado.
—Tudo o que ele disse foi arrogante ou intolerante. Eu não sabia que raças
puras como aquela ainda existiam. Velho desgraçado.
Antigamente, raça pura nós somos arrogantes e intolerantes –
insensíveis em dominar vampiros graduados, usando-os e colocando seus
próprios desejos e necessidades acima dos de qualquer outra pessoa. É uma
das razões pelas quais Cellina adora Nino.
Seu amigo é como o antirracismo puro. Inocente, atencioso e gentil.
Quando sua mãe morreu, ele ficou tão perturbado que se escondeu e se
recusou a alimentar ou interagir com qualquer pessoa - como se quisesse
morrer também. Então, aos dezesseis anos, Cellina se ofereceu para ser sua
fonte de alimentação. Esse não era o plano original, mas ela nunca se
arrependeu de sua decisão... apesar do transtorno que isso causou entre ela
e um certo homem dominador.
Asao para em frente a um conjunto de portas de correr duplas. Ele se
abaixa e os separa como se abrisse manualmente um elevador. Há uma
biblioteca lá dentro, banhada pela luz natural, mas nublada do céu. Cellina
olha ao redor. O espaço seria excelente se não fosse uma bagunça completa
e absoluta.
Há livros por toda parte - abertos, fechados, empilhados, descartados.
Papéis e pergaminhos estão espalhados por todo o piso de tatame. Uma
mesa baixa em um canto está coberta de jornais velhos, alguns caídos na
beirada.
Em meio a todo esse caos está Haruka. Ele usa uma túnica tradicional,
seu cabelo muito comprido uma bagunça e empurrado para longe de seu
rosto, amarrado a esmo atrás de sua cabeça. Ele pisca seus olhos cor de vinho
para eles por um momento antes de se concentrar novamente no que quer
que esteja lendo. Ele vira uma página.
—Haruka ... Cellina e Giovanni vieram ajudar. —Asao espera.
Haruka coça a cabeça, sem falar e com os olhos ainda no livro. Ele vira outra
página.
Com isso, Asao praticamente rosna, perdendo a paciência que tem se
agarrado. —Você está com medo, eu entendo. Mas você disse que Nino está
vivo, então não pode sentar aqui e internalizar tudo sozinho. Esses dois
vieram para ajudá-lo e-
—Ajudar-me a fazer o que? —Haruka ergue os olhos, seus olhos são o
auge do estresse. Eles estão cheios de olheiras e sua pele é muito pálida. Ele
parece terrível. —Não sei onde está o Nino. Ele desapareceu no ar e não
posso fazer nada para reverter o que foi feito. Não há registros deste puro-
sangue em qualquer lugar - onde ele vive, sua habilidade, seu reino, sua
linhagem, nada!
Ele pressiona as palmas das mãos no rosto, arrastando-as para cima e
para os cabelos desgrenhados enquanto sua fala se apressa, frenética. —E
isso é meu fazer- eu sou responsável por proteger meu companheiro. Eu era
superconfiante e preguiçoso e permiti que esse vilão entrasse em nossa casa
sem saber o suficiente sobre ele e do que ele era capaz, e agora meu
companheiro está...
Com alguns passos de suas longas pernas, Giovanni fecha a distância
para chegar a Haruka. Ele coloca uma grande mão sobre a cabeça, e o calor
amadeirado e gengival de sua aura se irradia para fora. Ele se instala ao
redor deles em um brilho suave enquanto Giovanni se agacha na frente de
Haruka. —Primeiro, você vai se acalmar. Então, vamos sentar na cozinha e
tomar um café - chá, seja o que for. Vamos conversar sobre isso de forma
racional. Entendido?
Cellina caminha para frente a tempo de ver Haruka acenar sob a
palma da mão de Giovanni. Depois que Giovanni se levanta e o solta,
Haruka passa a mão em seu cabelo bagunçado, fechando os olhos com força.
Cellina toma o lugar de Giovanni, abaixando-se para descansar de joelhos
na frente dele. Ela franze a testa, examinando sua expressão cansada. —Você
está com dor física?
Ele balança a cabeça, os olhos ainda fechados. Não importa. Ele inala
uma respiração instável e abre os olhos para encontrar o olhar dela. —Vocês
dois me confiaram ele e eu... Falhei com vocês.
Inclinando-se para frente, Cellina envolve os braços em volta dos
ombros. —Não diga isso. Ele está vivo, nós o traremos de volta. Vamos para
a cozinha conversar, certo? —Ela o solta e se levanta. —Por favor. Você vai
ficar de pé?
Ela estende as mãos em direção a ele. Após um momento de
hesitação, Haruka os agarrou, permitindo que ela ajudasse a puxá-lo do chão
de tatame. Quando ele está de pé, ela aperta uma de suas mãos
calorosamente na dela e todos se movem para deixar a biblioteca.

—EU DISSE a meu pai que se chamava Lajos Almeida, e ele o


reconheceu. —Giovanni dá um longo gole em seu café enquanto eles se
sentam à mesa da cozinha. As portas do pátio estão abertas. Cellina pode
ouvir a garoa suave da chuva batendo no pavimento do pátio como uma
trilha sonora sutil para a conversa.
Haruka encara sua xícara de chá. Ele não o tocou, mas o calor dele
gira e dança na luz sombria. Ele levanta os olhos para Giovanni. —De que
forma?
—Há muito tempo - ele disse que talvez duzentos anos? Meu pai era
jovem. Isso foi antes mesmo de ele conhecer nossa mãe. Um vampiro com o
nome de Lajos Almeida solicitou uma visita com ele, alegando que estava
fazendo pesquisa.
—Meu pai disse que se lembrava disso porque ele nunca conheceu
um puro-sangue com pontos de vista tão dogmáticos e severos sobre
vampiros graduados. Ele disse que isso o incomodava e que Lajos estava
obviamente tentando descobrir se eles compartilhavam as mesmas opiniões.
Meu pai não - sua melhor amiga, Andrea, é o pai de Cellina, um homem de
primeira geração com quem ele cresceu em Milão.
A imagem do pai bonito e moreno de Cellina surge em sua mente. Ele
e Domenico - o pai de Nino e Giovanni - eram como irmãos até que
Domenico adoeceu e se escondeu. Seu pai sempre fala sobre o quanto sente
falta dele, mas Domenico tem recusado todos os convidados de fora por
décadas.
Giovanni dá outro gole rápido em seu café. —Meu pai disse que a
reunião foi desconfortável, então ele embrulhou as coisas rápido e mandou
o puro-sangue embora. Ele nunca pensou mais nada sobre ele.
—Lajos disse... —Haruka faz uma pausa, pensando. —Que ele criou
uma sociedade -pura e perfeita- onde não há vampiros graduados. Ele estava
tentando recrutar seu pai naquela época?
Giovanni encolhe os ombros. —É possível. Meu pai disse que nunca
mais ouviu falar dele.
—O que Lajos fez com Nino—, Cellina interrompeu, é como eles
descrevem o Desaparecimento nos livros de história. —Você acha que Lajos
teve algo a ver com o Grande Desaparecimento?
Todos eles param, seus olhos piscando um para o outro. Asao bufa
do balcão atrás deles. —Velho bastardo sombrio.
—Se ele estava recrutando, —diz Haruka, seus olhos obstinadamente
cansados, mas brilhantes pela primeira vez desde que se sentaram à mesa,
isso significa que aqueles vampiros desaparecidos ainda existem em algum
lugar? E que talvez eles tenham se oferecido para fazer parte deste novo
reino?
—Eu não sei sobre voluntariado, —Asao fala novamente, cruzando
os braços. —Pense no pai de Sora Fujihara. Ele era puro-sangue, mas
felizmente acasalado com uma fêmea de primeira geração. Eu não acho que
ele teria concordado em ir para uma sociedade purista e abandonar sua
parceira e filho.
Haruka exala. —Verdade, isso. Nos registros históricos detalhando
aqueles afetados pelo Desaparecimento, há casos semelhantes de puro-
sangue desaparecidos que estavam ligados a vampiros ranqueados - mas
apenas alguns. Se suas opiniões fossem tão conservadoras, eles não teriam
se acasalado com criaturas de sangue misto.
A tristeza pesa no coração de Cellina. Os vampiros ranqueados
deixados para trás morreram dentro de algumas semanas após o
desaparecimento de seus companheiros. Embora seja difícil sobreviver à
morte de um companheiro em um vínculo, é impossível para um vampiro
classificado ligado a um puro-sangue. Depois de serem condicionados a
consumir sangue tão rico e potente, seus corpos não podem sobreviver sem
ele - como se estivessem perigosamente viciados em uma droga.
Giovanni se recosta na cadeira, erguendo os dedos para massagear o
centro da testa. —Isto é inacreditável. Olha, Lajos pegou Nino porque ele
quer Lore and Lust, correto?
—Sim, —Haruka confirma.
—Ele disse para você se acalmar e reconsiderar, então ele estará de
volta.
Asao acena com a cabeça em concordância. —Isso é o que eu disse.
—Então, quando ele voltar, vamos exigir que ele devolva Nino. —
Giovanni abre os olhos para olhar para Haruka. —Em troca, você dará a ele
o livro. Você tem problemas para separar o manuscrito?
—De curso não, —Haruka respira, exasperado. —Se eu pudesse
imaginar que Lajos iria tão longe, ele poderia ter pegado o livro desde o
início. Nada disso é necessário - esse estilo bárbaro e guerrilheiro de
negociação. Em que século estamos? E quando ele foi levado, Nino não se
alimentava de mim há alguns dias. Como pode alguém que proclama ter
tanto respeito pelos puros ao mesmo tempo nos tratar com tanto desprezo?
Para separar um casal unido à força?
—Hipócrita bastardo. —Asao fecha a cara. —Ele dá um nome feio
para os velhos, sabe? Ganhe tempo.
Giovanni se inclina com os cotovelos contra a mesa e se concentra em
Haruka mais uma vez. —Asao disse que não informou ninguém em seu
reino sobre isso. O que você tem comunicado a eles? Quem está cuidando
dos compromissos de negócios de Nino? E a sua.
Haruka pisca, sem emoção. Ele está olhando para Giovanni como se
ele fosse uma parede de tijolos. —Isso é o que está mais longe da minha
mente.
—Ninguém,— responde Asao. —Tudo foi interrompido nos últimos
dois dias. Já fiz o máximo de ligações que pude para me desculpar, mas as
coisas estão ficando suspeitas. Eles não podem manter compromissos sem
comparecimento sem uma explicação como esta. É suicídio social - e eles
estão se estabelecendo há apenas um ano.
Cellina franze a testa. —Nino trabalhou muito para garantir que seus
contatos em Osaka e Kyoto estivessem seguros e confiantes em sua
habilidade. Cada vez que conversam, ele dá a ela atualizações completas
sobre seu progresso. Nino adora seu novo trabalho e posição. A entidade
singular que o excita mais é o vampiro perturbado sentado ao lado dela.
Giovanni foca seus olhos penetrantes nela novamente. Cellina engole.
—Quanto trabalho você pode perder? —ele pergunta.
—O trabalho está lento agora, mas minha agenda para o meio do
verão é louca. Não importa - vou fazer funcionar até que Nino esteja de volta
aqui e seguro.
—Tenho colegas que podem cuidar de algumas das minhas reuniões,
mas tenho que sair daqui a um mês para ver meu pai. Posso voltar depois
disso, se necessário. Vamos dar uma olhada em seus horários e falar sobre
como cobrir seus compromissos. Divida o que pudermos. O que você acha?
Cellina acena com a cabeça. Ela quer ajudar, mesmo que isso
signifique trabalhar com Giovanni e ignorar constantemente o elefante que
os segue como um animal de estimação compartilhado. Contanto que
mantenham as coisas no nível da superfície e se concentrem no trabalho,
tudo bem. —Vamos fazer isso. Estou dentro.
—Podemos dizer aos vampiros do seu reino que vocês dois estão
ocupados com um projeto importante e confidencial, —afirma Giovanni. —
Fizemos isso com papai nos primeiros dias de sua doença, quando
mantínhamos em segredo que mamãe havia morrido de fome na guerra.
Ninguém questionou quando comecei a assumir - por anos. Portanto, isso
deve resolver qualquer inquietação dentro de sua comunidade.
—Isso parece bom pra mim. —Asao levanta-se do balcão e dirige-se
à porta ampla. —Deixe-me mostrar onde estão seus quartos. Vocês dois se
acomodem e eu prepararei o jantar.
Giovanni se levanta da mesa. Cellina também, mas os dois fazem uma
pausa. Seus olhos descem até Haruka. Ele está sentado curvado com os
cotovelos contra a superfície de madeira, as palmas das mãos esfregando o
rosto. A caneca de chá à sua frente está fria e cheia.
A miséria. A escuridão irradia dele em ondas. Cellina testemunhou
essas emoções cruas e viscerais de outro vampiro em sua vida. Ela era jovem.
Quando ela pensa naquele dia em particular, a tristeza que ela sente e o peso
disso ainda permanecem como uma pedra em seu peito.
Cellina olha para o homem largo de pé em frente a ela. O homem
responsável por esse peso.
OITO

VERÃO, 1914

O salão de baile brilha com a luz brilhante do lustre e uma energia alegre.
Cellina alisa seu vestido de seda esvoaçante cor de champanhe, nervosa enquanto
ajusta a renda deslizando para baixo na curva de seu ombro marrom.
Ela olha ao redor da sala lotada e para todos os adultos fantasiosamente
vestidos. Ela murmura: —Onde ele está?— Suspirando, Cellina decide ir sentar-se
no pátio. O jardim da propriedade do Clã Bianchi é mágico à noite, com suas belas
fontes de mármore e gazebos tecidos com hera.
Ela dá um passo à frente e duas mãos grandes a seguram pela cintura.
Surpresa, ela se vira. —Aí está você.— Ela sorri, olhando em seus olhos verdes avelã
brilhantes. —Onde você estava? —Ela não tem certeza, mas parece que Giovanni
cresceu pelo menos sete centímetros desde o verão passado. Aos dezessete anos, ele se
eleva sobre ela.
Ele retribui o sorriso aberto a princípio, mas depois estreita os olhos, travesso
ao olhar para a esquerda e depois para a direita. Ele se inclina em direção ao ouvido
dela. —Negócios enfadonhos e conversa de guerra com os vampiros antigos. Eu
escapei.
Cellina torce o nariz. —Eu serei sua cúmplice. Jardim
Ele balança a cabeça, agarrando a mão dela e correndo em direção às portas
do pátio no fundo da sala. Cellina aperta sua palma quente na dela. Ela poderia voar
do frenesi de borboletas em seu estômago. Assim que eles alcançam as portas duplas,
uma voz familiar os chama.
—Escapando de novo, não é?
Giovanni para de repente, fazendo Cellina desajeitadamente bater em suas
costas sólidas. Os dois se viram para encarar a mãe de Giovanni. Seu cabelo preto
está preso para cima, elaborado e adornado com flores lindas. Ela escolheu vestir um
quimono tradicional esta noite, e ela está incrível: a bela do baile.
—Você não deveria estar no solário com seu pai? —ela pergunta, levantando
uma sobrancelha perfeitamente desenhada.
—Mãe, eu estava, —explica Giovanni. —Pelas últimas duas horas... Eu só
queria uma pequena pausa? Por favor?
Sua expressão severa derrete, um sorriso conhecedor se formando em seu
lugar. —Hai, wakatta wa. Jaa, Otōto mo issho ni tsuretette, ne. Amari osoku
naranaide ne.
Cellina estende sua mente, lembrando-se de tudo que a mãe de Giovanni lhe
ensinou sobre sua língua nativa. Ela diz que sim, mas eles precisam levar Nino e têm
que voltar logo. Cellina baixa os olhos para Nino. Ele é adorável em seu terno chique
e ficou um pouco mais alto também. Ele está quieto enquanto segura a mão de sua
mãe. Os olhos âmbar de Nino examinam a sala, como se a qualquer momento algo
pudesse saltar e agarrá-lo.
Giovanni suspira. —Sim, Madre, ho capito. Ele se abaixa e agarra a mão
livre de Nino, puxando suavemente o silencioso menino de sete anos para frente.
Cellina segura a outra mão de Nino e ele olha para ela, sorrindo. Os três vão para o
jardim.
A lua está alta e redonda, brilhante contra o céu escuro e salpicado de estrelas.
É uma noite quente de verão e o calor ameno se sente bem contra os ombros expostos
de Cellina.
—Quando estou em casa, ela me obriga a levá-lo a todos os lugares, reclama
—Giovanni enquanto eles caminham pelo caminho sinuoso em direção ao seu gazebo
de costume. Cellina já pode ouvir a fonte através do arbusto de árvores que os cercam.
—Ele não é meu filho - ele é seu. Você cuide dele.
Cellina ri e balança o braço de Nino, olhando para ele. —Você gosta de passar
um tempo com G, certo?
Ele balança a cabeça enquanto eles caminham, mas o sorriso de Cellina
desaparece. —Nino, você está se divertindo esta noite?
—Tá tudo bem. Ele encolhe os ombros. Por dentro, o coração de Cellina está
tenso. Nino não é parente dela pelo sangue, mas pelo modo como cresceram juntos,
pode muito bem ser. Na verdade, Cellina adora Nino mais do que seu irmão mais
novo. Cosimo é um pouco punk, mas Nino? Ele é fofo. Internacional. Ela não sabe
por quê, mas sente que precisa cuidar dele.
—Você vai sentir falta da mamãe quando ela for para o Japão na próxima
semana, certo? —Cellina pergunta. A guerra está chamando e também o avô de
Nino - exigindo que sua filha volte para casa para apoiar seu clã.
—Sim... —Nino diz, seus olhos examinando a passagem à frente deles.
Quando eles contornam o caminho, a grande fonte aparece - mármore
brilhando ao luar. A água que sai da escultura elaborada quase brilha. Nino se liberta
de suas mãos e pula em direção à fonte. Ele se inclina com as palmas das mãos contra
a borda para olhar para a água, então a sacode com os dedos.
—Ele quase não fala mais, observa Cellina. —Ele costumava ser tão falador
e brincalhão, barulhento.
Giovanni esfrega a nuca, observando seu irmão mais novo. —Devíamos
saber que algo estava errado. A mudança em seu comportamento foi drástica... Já se
passou um ano desde que a mamãe descobriu e matou o tio, mas ele ainda age como
um ratinho assustado. E como o pai e o tio são gêmeos idênticos, Nino agora é
péssimo com o pai, nem chega perto dele. Acho que fere seus sentimentos.
Quando ela se vira, seu vestido flui, arejado na sutil brisa noturna enquanto
ela se move em direção ao gazebo. Giovanni a segue.
—É por isso que seus pais querem que você passe mais tempo com ele,
argumenta Cellina, segurando o comprimento do vestido enquanto sobe os degraus
de pedra. —Aposto que eles estão esperando que ele saia de sua concha novamente se
ele estiver perto de você?
Cellina se senta contra o banco de pedra e Giovanni se acomoda ao lado dela.
Ele exala outro suspiro pesado. —Compreendo isso. Mas por que tenho que fazer
tanto? Papai me arrasta para toda e qualquer reunião de negócios que ele tem, e
mamãe sempre me faz ir a passeios sociais. Enquanto isso, Nino fica em casa com a
empregada e brinca. Quando finalmente estou em casa, eles me dizem para passar
um tempo com ele. Eu só quero algo para mim - nada.
Ele massageia a testa com os dedos longos e, em seguida, passa-os na
espessura de seu cabelo castanho-mel. Giovanni sempre foi atraente, mas no ano
passado, ele cresceu. Os traços suaves e infantis que ela sempre conheceu se tornaram
mais nítidos, esculpidos e fortes. Ele cheira maravilhoso também. —Você é o
primeiro filho, Giovanni.
Ele ri, amargo. —Como se eu precisasse de um lembrete.
Ela se estica para descansar a mão contra a dele no banco. Registrando seu
toque, ele vira a palma da mão para cima e entrelaça seus dedos. Ele olha para ela,
temor em seus olhos brilhantes. LINA
—Sim?
—Você vai fazer dezesseis anos no próximo verão...
—Eu vou, ela diz, mantendo seu rosto calmo. Mas por dentro, as borboletas
estão enlouquecendo novamente.
—Você já... pensou em quem você quer como sua fonte? Ou a quem você pode
se oferecer pela primeira vez?
—Na verdade, não, é um ano de distância, mentiu Cellina. Ela pensa nisso
desde os doze anos. Fazer dezesseis anos significa que sua carne vampírica se
endureceu. Chega de dar comida nas mãos de alguém que seus pais escolheram. Em
um ano, ela pode se alimentar como um adulto e se oferecer ao vampiro de sua
escolha.
Em sua mente, é Giovanni. Claro que é ele. Ele é seu melhor amigo. Eles
contam tudo um ao outro e se divertem juntos. Ele cuida dela e ela cuida dele, como
a vez em que ouviu Antonio sendo ousado lamber a bochecha de Giovanni quando o
cumprimentou no sarau de primavera. Giovanni tinha evitado ser tratado como um
lambedor de sal puro-sangue por causa do insight valioso de Cellina.
Eles se entendem, como se falassem a mesma linguagem inata. Isto tem que
ser ele. ele é o único.
Mas ela precisa ser modesta sobre isso.
—Por quê? Cellina pergunta, ignorando a batida animada de seu coração.
—Falta um ano, mas... Giovanni diz, seu olhar abaixado. —Você
consideraria me escolher como sua fonte? O que você acha?
Cellina não consegue esconder seu sorriso quando ele olha para ela. Ela
levanta a sobrancelha, provocando. —O futuro rei de Milão está se oferecendo a
mim? O escândalo.
—Não me chame assim. Giovanni franze a testa. —Eu odeio isso -
especialmente de você. —Isso não importa. Eu... eu só quero... ser responsável por
alimentá-la. Se estiver tudo certo para você?
Todo mundo está esperando que Giovanni se ofereça a alguém. No ano
passado, desde que fez dezesseis anos, ele se alimentou do macho que seus pais
designaram para ele. Vampiros dentro de sua aristocracia, jovens e velhos estão
especulando: será que ele mudará de fonte? Se sim, quando? O belo primeiro filho do
renomado líder Domenico Bianchi, quem terá a oportunidade de beber seu divino
sangue puro?
E aqui está ele, esperando sua resposta. Cellina morde o lábio, radiante. —
Eu ficaria honrada... e se você me achar agradável, quando chegar a hora, eu gostaria
de me tornar sua fonte também.
Giovanni a surpreende quando ele pressiona sua testa na dela, o cheiro dele
avassalador e fazendo sua cabeça girar. —Eu faço, ele sussurra. —Eu te acho muito
agradável, tão agradável. Você não faz ideia.
Ele levanta a cabeça, mas então a inclina e pressiona seus lábios nos dela em
uma ação rápida. Cellina respira fundo com o choque maravilhoso disso. Ele nunca
tinha feito isso antes. Ela queria. Tem fantasiado sobre isso. Mas Giovanni está
sempre se comportando, brincalhão, mas comedido. O primeiro filho perfeito.
Ele se afasta e seus olhos mudam para um verde esmeralda brilhante
enquanto a encara. Ela engole em seco. A queimadura atrás de seus próprios olhos
cinzentos acende em resposta a ele. O sangue muito antigo dentro de suas veias,
provocado pela atração inata entre eles.
Giovanni estende a mão e segura o rosto dela com a palma da mão. —Eu me
perguntei de que cor seus olhos brilhavam... Prata Como um raio. É perfeita.
Desta vez, Cellina se inclina e dá um beijo tímido em seus lábios carnudos.
Ela não consegue recuperar o fôlego quando Giovanni sorri e se inclina para frente
novamente.
—Ridículo.
Uma pequena voz os faz parar e desviar a atenção. Nino está parado nos
degraus de pedra, seu narizinho fofo levantado enquanto ele os observa. Giovanni
rosna e, em um piscar de olhos, ele está fora do banco e segurando seu irmão em seus
braços. Nino grita e ri enquanto é erguido no ar. Giovanni o manobra para que ele
voe pelo céu noturno.
A alegria do jovem vampiro ecoa pelas árvores, iluminando o coração de
Cellina. Talvez seja a primeira vez em mais de um ano que ela ouve Nino rir com
tanta alegria. Ela se levanta, descendo os degraus para se juntar às risadas dos dois
vampiros que ela ama.
NOVE

Os quartos em que Cellina e Giovanni estão hospedados


compartilham a mesma varanda. Depois que ela desempacotou suas coisas,
Cellina desliza a porta de papel aberta e se aventura para fora. Sentada na
madeira de lei com as pernas dobradas, ela respira o ar limpo e úmido,
observando a chuva cair sobre o jardim forrado de bambu.
É crepúsculo. O céu é teatral, uma mistura de tons rosa do pôr do sol
e nuvens de chuva de ardósia escura. Romântico, mas sombrio. Esperançosa
Ela pode ouvir Giovanni andando de um lado para o outro em seu quarto
através da porta fina, seus passos pesados contra o piso tradicional. Ele está
ao telefone, latindo em seu jeito de —Rei do Reino—.
Olhando fixamente para a paisagem encharcada pela chuva, ela
perde a noção do tempo. Quando a porta de papel do quarto de Giovanni se
abre, ela olha por cima do ombro. Ele está carregando um grande planejador
com capa de couro e seu smartphone enquanto se senta ao lado dela, suas
longas pernas penduradas na beira da varanda. Ela estremece. A
temperatura caiu.
— Está com frio? ele pergunta, olhando para ela.
Cellina balança a cabeça. —Eu estou bem.
Ele concorda com a cabeça. —Asao me deu seus horários. Eu só dei
uma olhada neles, mas provavelmente deveria ficar com os clientes de Nino
enquanto você administra as responsabilidades de Haruka. Eles parecem
mais adequados para sua experiência, mas me diga o que você prefere.
Ele abre a agenda de couro fulvo entre eles, e Cellina examina as
páginas em silêncio enquanto Giovanni escreve mensagens de texto em seu
telefone. Ela lê, mas é discreta ao erguer os olhos para verificar o perfil dele.
Uma sombra enfeita sua mandíbula forte. Giovanni não usa barba desde o
ano passado. Ele precisa se barbear. Sua expressão está descontente
enquanto ele encara o brilho de seu telefone. Ele está sentado ao lado dela,
mas como sempre, ele se sente a quilômetros de distância, como uma bela
casca do vampiro quente e protetor que ela conheceu.
Depois de ler o planejador e considerar, Cellina endireita os ombros.
Concordo. Eu assumirei as responsabilidades de Haruka. Não tenho os
japoneses para negociar contratos de negócios detalhados, mas acho que
posso sobreviver com visitas sociais e planejamento de alguns eventos. Este
projeto de tradução em latim terá que esperar, mas ainda assim irei encontrar
a família e avisar que Haruka não desistiu do pedido.
—Tudo bem. Giovanni solta um suspiro, ainda digitando e focado em
seu telefone. —Vou pegar tudo na ponta de Nino. Em cerca de um mês,
tenho que voltar para casa. Vamos reavaliar o plano nessa época.
—Parece bom. Cellina suspira. Tem mais alguma coisa pra eu ajudar?
Haruka parece que está prestes a se espatifar.
—Chegamos, diz Giovanni, erguendo os olhos para ela com empatia.
—Tudo o que podemos fazer é ficar juntos. Haruka já entregou todos os
livros de sua biblioteca e fui o mais discreto possível ao entrar em contato
com meus contatos... O pai é uma mistura de perturbado e assassino. Temos
que esperar. Esta criatura... Lajos trará Nino de volta. Ele precisa se quiser o
maldito livro.
Mas e se ele o machucar? E se ele estiver sofrendo? Cellina quer perguntar,
mas Giovanni não tem as respostas. Ninguém sabe. Estressar não vai ajudar
em nada. —Certo, ela diz, respirando fundo para se acalmar. —Devemos
falar com Asao sobre como proteger fontes de alto nível, dependendo de
quanto tempo precisamos para ficar?
Giovanni balança a cabeça, voltando sua atenção para o telefone. —
Não, eu não preciso disso. Você deveria perguntar a ele por você mesmo.
—Hum, você não pode passar um mês sem se alimentar.
Ele olha para ela, sorrindo com seus lábios grossos. —Eu não sabia
que você se importava.
Seu rosto fica mais sério. —Como se você se importasse se eu me
preocupo ou não.
—Oh, eu me importo sim. Você nem pode imaginar as merdas que eu
dou.
—Agora nisso Eu concordo. Então, e aí... Você está planejando ir à bar
para encontrar sua próxima fonte? Eu sei que é o seu segredo - dormir por
aí e provar os produtos locais.
Giovanni zomba. —Isso já faz muito tempo. Há mais de cem anos. eu
tinha dezoito. Você vai manter isso na minha cabeça para sempre? Eu não
posso viver assim?
—Pode fazer o que quiser. Não tenho nada a ver com isso.
—Tem tudo a ver com isso. E tudo que eu queria era que você foda.
Olhasse para mim. Que me reconhecesse.
Sua voz pesada ecoa através do silêncio do jardim chuvoso. Cellina
pisca. —O quê? Do que você tá falando? Você me disse
—Eu sei o que eu disse, certo? Mas eu...
Alguém bate na porta de Giovanni. Ele se vira e Cellina ouve a voz
de Asao de dentro. —Eu tenho a mesa posta para o jantar.
Giovanni se levanta abruptamente, então se inclina para pegar o
grande planejador entre eles. Cellina se levanta, tirando a poeira da calça
enquanto olha para ele. Ele evita o olhar dela e volta para o quarto.
Eles se movem em direção à cozinha em silêncio pesado. Cellina está
preocupada com seu amigo desaparecido e com o estado emocional de seu
marido. Agora não é hora de dançar com velhos esqueletos do armário dela
e de Giovanni. Essa é a última coisa de que ela precisa agora.
DEZ

Nino abre os olhos e é atingido por uma sensação avassaladora de


náusea. Seu corpo é como uma massa, mas dói quando ele vira algo macio.
Ele geme, sua mente atordoada, tentando registrar o que está ao seu redor.
É pôr do sol. A janela em sua linha direta de visão está cheia de
nuvens laranja contra um céu que escurece. Também há uma árvore
estranha... Eu nunca havia visto nada igual.
—Meu anjo está acordado?
Uma voz desconhecida paira acima dele em seu estado nebuloso -
como uma divindade que fala português. Meu anjo está acordado? O som está
próximo. Perto demais.
Ele olha por cima do ombro, e um vampiro com cabelo castanho
caramelo muito longo está olhando para ele com olhos pálidos do oceano...
não exatamente azuis, mas não verdes. Seu rosto está magro enquanto ele
sorri. Ele se beneficiaria com uma refeição. Ou cinco.
—Veja como você é lindo e dourado, e essa aura rica e derretida... —
O vampiro levanta a sobrancelha. —Como mergulhar meu pau em mel
quente. Uma delícia…
Nino se joga da cama. Ele atinge o chão de madeira em uma pilha e
sua cabeça gira. Sua percepção gira com vertigem. Para piorar as coisas, há
um vazio distinto pulsando em seu núcleo. Nino arqueia o pescoço em um
gemido, sentindo o profundo vazio dentro de si, onde geralmente há um
contentamento profundo. Em combinação com a náusea e a desorientação,
ele pode desmoronar completamente.
—Você está bem? Eu só estava brincando… na maioria das vezes. O
vampiro de cabelos compridos está inclinado sobre a beira da cama e
olhando para ele como uma criança curiosa olha para um animal ferido
preso em um poço. Nino se afasta ainda mais, seu corpo protestando em
agonia enquanto seus olhos lacrimejam. Ele se endireita para se sentar contra
a parede sob a janela quadrada.
—Onde diabos eu estou? Um minuto ele está em casa e no próximo...
Seu corpo começou a desaparecer. Agora ele está inteiro. Mas sua mente está
girando e o vazio dentro dele é insuportável.
—Ei, favo de mel. Você está bem? Ouça, o truque de desaparecimento
do esqueleto o deixa com uma sensação de merda por um ou dois dias... e
você dormiu o dia todo ontem. Apenas respire, ok?
Nino observa o vampiro ossudo olhando para ele do colchão. Por que
estávamos na cama juntos? O que está havendo?
—Meu Deus! O outro vampiro foge da cama em direção a Nino. —
Parece que você está prestes a vomitar. Experimente e relaxe.
Quando o homem estende a mão, algo dentro de Nino ganha vida.
Através da dor, vazio e confusão, sua aura se expande para fora. O vampiro
desconhecido recua com pressa enquanto a essência laranja-sangue de Nino
se expande de seu corpo para formar uma esfera perfeita ao seu redor. Os
olhos de Nino estão arregalados enquanto ele olha para o estranho, sua
imagem agora tingida de pôr do sol pelo filtro colorido da energia de Nino
entre eles.
O vampiro magro levanta a mão, hesitante. Ele pressiona a palma da
mão contra a esfera. O peito de Nino se agita de ansiedade, mas a mão do
estranho repousa a pelo menos meio metro de distância de seu rosto. A
superfície é sólida.
—Uau! Que lindo! Isso é incrível, favo de mel... lindo.
Um som de clique na pequena sala faz Nino erguer o olhar. Uma
velha porta se abre. Lajos entra e se move direto em sua direção, um macho
alto e jovem de raça pura ao seu lado. Nino estreita os olhos e percebe algo
estranho na aparência do vampiro mais jovem. Ele está emaciado, assim
como Lajos e o estranho de cabelos compridos, mas este novo homem... Ele
também está sem uma orelha.
O vampiro com cabelo castanho caramelo corre para se sentar na
cama novamente, espalhando-se como um grande rato quando Lajos chega
e fica na frente de Nino.
—Agora então, o que é isso? —Lajos diz, se curvando para examinar
a esfera brilhante. Com o coração batendo forte, Nino pressiona as costas
com mais força contra a parede. Ele não sabe como está fazendo isso, mas
reza para que continue. Lajos descansa a palma da mão sobre a forma sólida.
—Hm. Há mais do que aparenta. Seu poderoso companheiro lhe ensinou
algo.
O homem de cabelos compridos fala em português da cama. Nino
não produz bem a língua, mas seu nível de compreensão é alto. —Tio... É
cruel separar dois vampiros de raça pura assim.
Lajos passa a mão pela curva da esfera, focalizando, como se fosse um
enigma complexo. —Esses jovens puros modernizados nada sabem sobre a
verdadeira devoção. Eu imagino que o vínculo deles foi forçado por meios
políticos ou atração superficial... O número de tentativas necessárias é
provavelmente nojento.
—Um vínculo é um vínculo. O cabelo comprido encolhe os ombros.
—Incorreto. E como se você se importasse com laços. Seu desvio
sexual é tão atroz que precisei acabar com isso. Desgraçar Meu irmão não
lhe ensinou nada sobre modéstia e autoestima.
—Pelo contrário, sinto que minha autoestima é tão valiosa que
deveria ser compartilhada com o maior número de criaturas.
—Quieto. Lajos vira a cabeça, olhos redondos focalizando Nino, e
volta para o inglês. —Jovem homem, eu percebo que talvez começamos com
o pé errado. Com seu companheiro me pedindo para ir embora, as coisas
pioraram muito rapidamente. Meu temperamento leva o melhor de mim às
vezes. Eu seria negligente em ignorar essa verdade fundamental. Lajos pisca,
sua expressão suavizando enquanto ele observa Nino. Quando Nino fica
quieto, ele continua.
—Talvez devêssemos ir para a sala de estar e conversar? Você poderia
me falar um pouco sobre o manuscrito Lore and Lust que seu cônjuge possui,
e posso lhe ensinar mais sobre meu reino e as grandes coisas que conquistei
aqui?
Em vez de responder, Nino fecha os olhos, rezando para que sua aura
continue firme. Ele não quer entrar em outra sala e falar com esta velha
criatura estranha. Ele quer ir para casa!
Os olhos de Nino se abrem novamente quando Lajos bate com a mão
na superfície espessa com um estrondo. —Novamente você permanece em
silêncio!
—Que diabos há de errado com você?
—Onde está seu orgulho como um vampiro de raça pura?
—Por favor, por favor apenas me mande de volta, diz Nino,
engolindo em seco. —Se você quiser conversar, podemos falar na minha
casa. Você não precisa fazer isso aqui. Não fazemos mais coisas como esta.
Lajos levanta o queixo enrugado, um sorriso arrogante em seus lábios
finos. —Conte-me mais sobre o livro e eu o levarei de volta.
—Leve-me de volta primeiro... então podemos discutir.
—Eu não recebo ordens de raças puras fracas e recém-encontradas.
Seus olhos brilham em um branco brilhante de raiva. Nino se encosta ainda
mais na parede, mas nada acontece. Lajos rosna. —Quando este escudo
quebrar, e vai quebrar, a primeira coisa que farei é dissolver essa língua
inútil de sua boca.
O velho puro-sangue está ereto, seus olhos brancos queimando e
retornando ao seu estado mais escuro e endurecido. Ele se vira, o piso de
madeira gemendo sob seus pés enquanto ele caminha em direção à porta.
Ele direciona seu discurso para o vampiro de cabelos compridos na cama. —
Torne-se útil pelo menos uma vez e observe-o. Se algum de vocês tentar ir
embora, eu prometo que não irão muito longe.
O cabelo comprido acena com a cabeça, mas permanece em silêncio.
Quando Lajos e seu companheiro alto com a orelha faltando vão embora e a
porta se fecha, o magricela se vira para Nino. —Ouça, se ele dissolver sua
língua, não se preocupe tanto com isso, amigo. Ele vai crescer novamente. É
doloroso mesmo.
Nino pressiona as palmas das mãos contra o rosto e as arrasta para
cima para agarrar seu cabelo. Ele está apavorado e confuso, e quer que essa
sensação de vazio e insuportável diminua. Como isso aconteceu?
Como um gato tímido, o macho desliza novamente para o chão para
encontrar Nino ali. Ele dobra as pernas fora do centro da esfera protetora.
Quando o Esqueleto me trouxe aqui no ano passado... Eu acho que já faz um
ano? Eu acho? Enfim, ele estava com tanta raiva, ele dissolveu meus
testículos. Bolas e tudo.
Encontrando o olhar do magro puro-sangue, Nino franze a testa. —
De que diabos você está falando?
—Mas eles voltaram a crescer! ele diz, alegre. —Tudo, foi lento e não
era bonito... Eu era como um daqueles manequins da loja de departamentos.
Talvez seis meses depois eu estava bem? Então não se preocupe. Não se
preocupe com isso. Não fiz xixi o tempo todo. Acontece que não precisamos
fazer xixi se não estivermos consumindo comida humana. Quem diria??
—Deus? Os olhos de Nino se fecham com força enquanto ele inclina
a cabeça para trás contra a parede de sua energia. Ele está tentando me
confortar? Ele se sente mal, seu corpo doendo em protesto por estar tão longe
de seu companheiro. Ele está faminto por Haruka em todos os sentidos.
—Amigo, qual é o seu nome?
Mantendo a respiração lenta e regular, Nino abre os olhos, olhando o
homem no rosto e de repente reconhecendo-o. Ele está olhando para trás
com seus olhos turquesa desbotados, na expectativa. Nino acha que não
pode confiar nele..., mas dada sua ânsia de tranquilizá-lo, ignorá-lo também
não parece certo.
—É Nino. Você é Ladislao Almeida, não é?
Ele ergue as sobrancelhas. —Você me conhece? Eu ainda sou
reconhecível? Ebaaa. —Ele sorri e abre as mãos em um grande gesto.
Nino pisca em descrença. Ladislao é muito mais magro em
comparação com as imagens e vídeos dele na mídia. Os traços cinzelados,
cabelos longos e tom de pele oliva são os mesmos. Em termos de
personalidade, porém, ele não é nada do que Nino esperava.
—Onde estamos? Nino pergunta, olhando para a janela e o céu
escurecendo.
—Essa é uma boa pergunta. Em termos de geografia, não tenho ideia.
Mas tenho quase certeza de que este é o reino do meu tio. —Sua sociedade
de raça pura perfeita— ou o que seja. Já tentei sair de casa algumas vezes
durante o dia, quando todos estão dormindo e, bem... Eu ainda estou aqui!
Não há nada além de sujeira e pedras por quilômetros e quilômetros. Tio fica
muito bravo quando tento correr, então parei. Gosto de ter os testículos
grudados no corpo, sabe? Ele ganha.
Nino suspira, exausto e estressado e realmente desejando que ele pare
de tocar no assunto.
—Meu tio abusa de seu poder e sangue antigo, diz Ladislao. —Ele
não gosta de matar outros puros, apenas lhes ensina lições para que —
conheçam seu lugar— ... horrível.
—Eu desapareci, mas não sou... Estou aqui - em algum lugar. —Nós
não estamos mortos. Nino tenta entender a situação, precisando dar sentido
a alguma coisa.
—Sim, correto. Você não está sozinho! Existem muitos de nós aqui.
Você pode sentir a presença deles? Tente se concentrar.
Pela primeira vez, Nino volta seu foco para fora, ignorando a dor e o
medo reverberando por todo seu corpo. De olhos fechados, ele inspira.
Ladislao está certo. O ar ao redor deles zumbe com a energia dos vampiros
de raça pura. Mas é fraco... como uma suave corrente elétrica sussurrando
pela atmosfera. Ele tenta discernir seu número, mas é difícil. O pulso de
energia está muito fraco. —Quantos estão aqui?
—Eu não sei. Sem pistas, amigo. Esqueleto não me deixa sair desta
sala, então não posso dizer. Além de minhas fugas fracassadas, estou preso
aqui há um ano sem comida, bebidas ou sexo. Não sexo. Ahh, tão chato.
Apenas me mate.
—Por que você continua chamando Lajos de —esqueleto—
—Bem, olhe para ele - em Eu. Os olhos cor de espuma do mar de
Ladislao estão arregalados, incrédulos. —Tudo com meu tio é muito, muito
rígido. Eu recebo sangue uma vez a cada dois dias e isso é tudo. Você sabe,
existe um mito de que nós, como raça pura, não precisamos consumir
alimentos. É verdade que podemos sobreviver bem sem ele, mas nossos
corpos são vivos. Essas coisas ajudam a nos tornar mais fortes.
Nino se senta um pouco mais reto em sua aura. —Onde estão todas
essas raças puras que estou sentindo? Eu os sinto, mas... é distante.
—Que tal você relaxar, sim? Precisamos dessa bolha entre nós?
Ladislao estende a mão e bate contra a superfície dura. O som ecoa como se
ele estivesse batendo em um vidro oco. —Eu só estava brincando mais
cedo... sobre meu pau e a coisa de mel quente. Você é gostoso e eu estou com
muito tesão, mas não sou seu inimigo. Eu respeito o seu vínculo, eu prometo.
Nino morde o lábio. Parte dele se preocupa que, se continuar assim,
isso o deixará exausto e desaparecerá, deixando-o indefeso em seu estado já
angustiado. Ele também se preocupa com o fato de que, se retirá-lo, não será
capaz de pressioná-lo para fora novamente. Ele se amaldiçoa por não levar
a meditação dele e de Haruka mais a sério.
É um risco, mas ele não tem certeza de quanto tempo seu corpo e
mente podem funcionar enquanto exercem tanta energia. Ele fecha os olhos
e deseja a força da esfera de volta dentro dele, sentindo-a enfraquecer e se
dissipar. Ele estava quente dentro de sua aura, mas agora o ar úmido, frio e
úmido da sala se acomoda contra sua pele como um cobertor molhado. Isso
o faz estremecer.
Ladislao sorri. —Muito melhor. Você deve economizar sua energia.
Consegue se levantar? Olhe pela janela acima de sua cabeça.
Ignorando seus membros doloridos e a sensação de vazio e
desamparo em seu abdômen, Nino se levanta do chão. Ele se vira, usando o
peitoril da janela como apoio para se apoiar enquanto tem a vista além do
vidro.
A posição deles é alta, o precipício de uma montanha com vista para
um vasto vale desértico com rochas escarpadas, arbustos selvagens
espalhados e as árvores mais únicas que ele já viu. Eles o lembram de
guarda-chuvas virados: como se o vento os soprasse com muita força e
jogasse todos os galhos para cima, estendendo-se para o céu em vez de para
fora e para baixo como a maioria das árvores. A paisagem é estranha para
ele, como se ele estivesse em um planeta totalmente diferente. O horizonte
está repleto de nuvens roxo-azuladas escuras que parecem montanhas, e um
pôr do sol laranja ilumina os espaços quebrados onde ele pode ver o céu.
Nada mais está aqui, sem lojas, sem edifícios, sem estradas ou pessoas.
—Olhe para a sua direita.
Nino salta com a proximidade da voz de Ladislao bem em seu
ouvido.
—Sinto muito, sinto muito. Ladislao ergue as mãos em um gesto
amigável. —Você pode ver, um pouco além da dispersão de árvores? Lá
embaixo no vale muuuuito ali...
Apertando os olhos, Nino registra algo, quadrados e retângulos. Um
grande aglomerado de moradias cor de lama, escurecidas e sombreadas pelo
sol poente. Se Ladislao não os tivesse apontado, Nino nunca os teria notado
porque estão quase camuflados dentro do fluxo natural do terreno
acidentado. —É... algum tipo de cidade?
—Uma grande aldeia, eu acho? É onde estão todas as raças puras. Eles
vivem lá, eu os vejo às vezes no crepúsculo, como minúsculos pontos neste
lugar estranho. Também há água ao nosso redor. Eu podia sentir o cheiro no
ar quando tentei escapar, mas nunca cheguei à costa. Talvez seja uma ilha?
Enquanto Nino observa a cena árida pela janela, algo o atinge. Ele se
vira, encontrando o olhar de Ladislao. —Eu desapareci da minha casa... e o
noticiário dizia que você —desapareceu—. É - é este lugar... Lajos é
responsável por levar todos esses vampiros?
—Está certo, favo de mel.
Nino franze a testa. —Por favor, pare de me chamar assim.
—Combina com você, criatura celestial... Ele sorri, batendo os cílios.
—Como um anjo dourado.
—Devo reformar minha aura?
—Ahh, tão rigoroso. —Ladislao cruza os braços, fazendo beicinho.
ONZE

—Eu o despistei!
A chuva ainda está caindo forte no terceiro dia de ausência de Nino.
Haruka está sentado no chão de sua biblioteca, curvado e olhando pela
janela. A luz está cinza. Seu mundo está escuro. Vazio. A tristeza o corrói,
corroendo e esvaziando seu peito. Ele olha fixamente, imóvel, mas quando
ouve a voz de Cellina, seus olhos mudam em sua direção.
—Haruka... você deveria comer alguma coisa. Você não jantou ontem
também.
Ele se endireita. Não estou com fome.
Eu o perdi.
Cellina se senta no chão ao lado dele, dobrando as pernas. Haruka
não quer falar. Não há o que discutir.
Mas ela não fala. Ela se senta ao lado dele no tatame em silêncio. Eles
ouvem as batidas fortes da chuva contra o telhado, respirando seu cheiro
úmido e terreno misturado com a essência gramada do piso.
Eu não posso perdê-lo! Não vou sobreviver a isso de novo...
Haruka esfrega as palmas das mãos no rosto. A desesperança cresce
dentro dele, ondulando e sufocando como a fumaça de um incêndio na
floresta.
—Acho que quando Nino te conheceu... foi amor à primeira vista.
Respirando fundo, Haruka levanta a cabeça, olhando para Cellina.
Seus olhos cinzentos estão voltados para o chão e o brilho suave da luz
nublada ilumina sua pele morena.
—Eu me lembro da primeira vez que ele me falou sobre você. Ele
disse que você era sofisticado e que cheirava muito bem. Eu conheço Nino
desde que ele era um bebê, mas ele nunca falou sobre outro vampiro dessa
forma. E então ele se ofereceu a você alguns dias depois de passar um tempo
com você. Eu fiquei chocada. Ele nunca tinha oferecido seu sangue a ninguém
antes, nem mesmo tinha falado sobre fazer isso! Você sabia que você foi o
primeiro?
Haruka balança a cabeça, sua mente empurrando através da névoa e
teias de desespero para vagar de volta àquela época. Naqueles dias em que
suas interações com Nino eram tão novas. Sua amizade pura. —Não…
inicialmente não. Eu... eu estava em uma situação terrível, mas ele se
ofereceu para me ajudar.
Cellina encontra seus olhos, sorrindo. —Porque ele te amou, desde o
início. Ele não confiou em ninguém além de mim e seu irmão por tanto
tempo, mas ele instintivamente confiou em você. Foi lindo ver meu amigo
florescer e se abrir com você - de uma forma que ele não fez com ninguém.
Ela se estica, pegando a mão de Haruka que está frouxa contra sua
coxa. Ela agarra a palma da mão dele. —Ele me disse que estar com você
parecia seguro. Você foi atencioso, mas nunca o tratou de maneira estranha
por causa do que aconteceu com ele. Ele disse que finalmente se sentiu
normal com você.
—Ele é normal, Haruka diz, então faz uma pausa. —Bem, ele é
excepcional, mas merece o mesmo respeito e consideração que qualquer
outra pessoa.
—Você sabe que a maioria dos vampiros não pensa como nós. O que
seu tio fez com ele é proibido. A mãe dele o matou, mas é quase como... Nino
carregou a indignidade disso? Não foi nem culpa dele, mas tantos vampiros
em nosso reino em casa o rejeitaram e tiveram pena dele - como se ele
representasse algo vergonhoso. A situação ficou tão ruim que Nino quase
nunca saía da propriedade.
Haruka faz uma careta. —Eles são vergonhosos, por abrigar
ressentimentos extraviados e causar mais danos a alguém que já havia
passado por um trauma. Idiotas de mente estreita...
—Concordo plenamente. Cellina acena com a cabeça. Depois de um
momento, ela sorri, inclinando a cabeça. —Você sabia que ele dança muito
bem?
Haruka pisca e recua. —Não sabia.
—Aham. Quando ele teve dias muito difíceis depois que sua mãe
morreu, eu tocava música no seu quarto e dançávamos. Seu marido se move.
Pela primeira vez em três dias, Haruka sorri, pensando que embora
nunca tenha visto seu companheiro dançar, os movimentos de Nino são
definitivamente evidentes em outras áreas.
—Hm, o que mais... —Cellina olha para o teto, pensando. —Quando
ele era pequeno, ele mordia maçãs e pêssegos com as presas e chupava todo
o suco. Ele me dizia que estava praticando para ser realmente bom na
alimentação. Foi tão fofo, mas tão estranho... Ah! Ele também é muito bom
no xadrez e em outros jogos de estratégia.
—Eu sei disso, Haruka admite, achando graça. —Eu pedi a ele para
jogar xadrez comigo uma vez. Ele estava relutante, então achei que suas
habilidades provavelmente eram novatas. Mas ele me bateu. Quando eu
sugeri shōgi2, ele reclamou e chamou isso de —jogo do velho—, mas então
ele me venceu nisso também.
Cellina ri, um som cintilante que enche a sala. —Ele sempre ganha -
contra mim, Giovanni, meu irmão mais novo, Cosimo... até Domenico.
Ninguém pode vencê-lo. Ele é tão blasé enquanto joga, que você acha que

2O shogi, também chamado de xadrez japonês, é a versão nipônica do


chaturanga, jogo de tabuleiro indiano que, teoricamente, originou o xadrez
europeu e seus semelhantes.
ele não está prestando atenção. Mas então você olha para cima e percebe que
está frito!
Ele ri com Cellina, seu coração quente, mas ainda em pedaços pela
realidade da situação.
—Ele escolheu você, diz Cellina. —Nino demorou muito para se
entregar a alguém, e faz apenas um ano de seu vínculo. Acho que vocês dois
têm um longo caminho a percorrer, Haruka. Este é apenas um solavanco no
caminho. Nós vamos superar isso.
—E se não o fizermos? Cellina, eu… Eu falhei em mantê-lo seguro.
—Você não...? Ela aperta a palma da mão dele com um pouco mais
de força. —Você não tinha ideia de que algo assim poderia acontecer. Fomos
pegos totalmente desprevenidos, mas vai ficar tudo bem. Tenha esperança.
Suspirando, ele abaixa os ombros. —É difícil ser otimista quando a
vida foi impiedosa e cruel no passado.
—Mas a vida também lhe deu Nino.
Haruka acena com a cabeça, a declaração simples e a implicação por
trás disso inegáveis. —Sim.
Ela se aproxima um pouco mais, colocando a cabeça em seu ombro e
segurando sua mão com força. —Então vamos pegá-lo de volta. E você não
precisa se sentar aqui na miséria sozinho. Estamos aqui porque somos sua
família. Estamos passando por isso juntos.
Quando eles estão em silêncio novamente, o som da forte chuva chega
à frente. Haruka não sabe o que fazer. Ele não tem certeza de que confia na
vida para lhe enviar algo tão bom sem, então, impiedosamente arrancar isso
dele. A esperança parece uma coisa indiscernível. Algo fora de foco e
distante. Mas ele reconhece o calor e a bondade de Cellina. Isso é tangível.
Haruka aperta a palma da mão de volta e respira fundo, relaxando
contra o cheiro de magnólia dela misturado com a chuva.
DOZE

—Então, como você sabia que ele era o cara? Aquele com quem você
queria se relacionar.
Ladislao está sentado em uma velha poltrona estofada ao pé da cama.
Ele está inclinado sobre o corrimão de latão lascado, olhando para Nino à
luz fraca das velas. Tudo no quarto parece velho. Desatualizado, como se a
casa tivesse sido construída e decorada em algum momento de 1800 e não
tivesse sido tocada desde então. Há luminárias, mas não há eletricidade, e o
ar ao redor delas é úmido e frio, o vento uivando e soprando lá fora enquanto
a chuva suave atinge a janela.
Nino está deitado de costas no topo da cama, a palma da mão
pressionada na testa e os olhos fechados em concentração. Eles tiveram um
impasse em que Nino se recusou a se sentar na cama com Ladislao. Este
último cedeu (com relutância e apesar das muitas promessas de que não
tentaria nada), encorajando Nino a sair do chão sujo e gelado.
Suspirando, Nino abre os olhos com as pálpebras pesadas. Ele encara
o teto escuro, chamando o rosto de Haruka à mente: seus olhos cor de vinho,
o leve franzir de seus lábios e a pequena verruga na ponta de seu nariz. —
Sua natureza cantou para mim, como... em mim e através de mim. Chegou
a um ponto em que ficar com ele era mais fácil e natural do que ficar sem ele.
Eu queria tudo dele, e nunca me senti assim por ninguém antes.
—Mm, não posso dizer que já me senti assim... e já trepei com muitos
tipos diferentes de criaturas humanos e vampiros.
Nino balança a cabeça contra a cama, os olhos se fechando.
—Mas eu me divirto, sabe? —Ladislao diz. —Do meu jeito. Certa vez,
tive um caso com uma rainha de primeira geração de duzentos anos de uma
tribo aborígine da Austrália. Talvez ela fosse minha favorita? E outra vez, eu
tinha uma fêmea humana que uma vez tinha sido um macho, e ela...
Uma batida suave na porta faz os olhos de Nino se abrirem. Ele se
senta ereto, devagar e gemendo de náusea ainda rodando em seu corpo.
Ladislao levanta a mão em sinal de tranquilidade. —Sem estresse, favo de
mel, é só hora da alimentação. Café da manhã.
—Mas é noite.
—Os vampiros aqui são noturnos. —Ladislao se levanta da poltrona
e caminha sobre as tábuas do assoalho que rangem. Ele abre a porta,
espiando. Depois de uma saudação educada, ele o abre. Uma pequena
vampira com uma cabeça cheia de cabelos rebeldes e encaracolados entra.
Ela está carregando uma bandeja fantástica em uma mão e segurando a alça
de uma lanterna acesa na outra. O brilho suave da luz faz pouco para
proteger a escuridão dentro da sala.
Nino olha para a porta e percebe o vampiro alto com a orelha faltando
parado do lado de fora, então ele expande a força de sua aura para fora para
se cobrir. O vampiro zomba pela fenda antes de se virar e sair de vista.
Depois de colocar a bandeja sobre uma mesinha, Ladislao pega a
frágil fêmea pela mão. Sua hesitação é óbvia e ela está com medo enquanto
ele a guia em direção a Nino.
—Minha amiga, ele está bem, garante Ladislao. —Ele é bom, como
eu. E do mundo exterior.
Ela está piscando para Nino com grandes olhos castanhos. A natureza
escura da sala faz a luz da aura de Nino brilhar e refletir em suas íris.
—Nino, ela pode tocar no seu escudo? —Ladislao a exorta a ficar ao
lado da cama, logo além do perímetro de sua esfera. A garota parece
inofensiva e Nino sabe que está bem protegido por trás de sua aura, então
ele concorda.
Ladislao guia sua mão para cima. Ele pressiona suavemente a palma
da mão contra a forma. Seus olhos se arregalam de espanto. Ela respira
fundo e vira a cabeça na direção de Ladislao, depois para a mão, antes de
pousar o olhar em Nino.
—Ela não pode falar, sussurra Ladislao. —Eu acho que meu tio ou
alguém fez algo com ela... Ela é a única raça pura que conheci aqui fora do
cara alto com uma orelha. Levei meses para ganhar sua confiança, mas acho
que agora tenho?
Olhando para ela, Nino considera o pulso fraco de sua aura de raça
pura - o redemoinho silencioso de duas energias separadas dentro dela. —
Ela está ligada.
—Milímetros. Acho que o companheiro dela está na aldeia. — ele se
mexe vê? Não somos pessoas más. Ele é forte, mas não vai doer.
Os três pularam com um forte som de batida contra a porta. A
pequena fêmea retira a mão e corre em direção à saída. Antes que ela esteja
lá, o homem de uma orelha só entra, rosnando, —Suficiente —Kahla, por que
você está demorando tanto? Desgraçada inútil.
Assim que a garota desaparece no corredor escuro, o homem bate à
porta, sacudindo as paredes. Quando está em silêncio, Nino retira sua aura
e cai de volta na cama bufando, seus níveis de energia diminuindo
rapidamente.
—Não sei por que sua orelha ainda não se regenerou - já faz mais de
um ano... — Ladislao vai até a mesinha, examinando seu conteúdo: dois
copos cheios de líquido.
—Ela deixou sua lanterna. Queres mais sangue?
O estômago de Nino se revira. —De quem é o sangue? —Ele
pergunta, sua voz seca e cansada enquanto ele está deitado com a bochecha
pressionada contra o edredom de seda. Isso cheira estranho...
—Não sei.' Ladislao encolhe os ombros. —Mas é de raça pura, então
vai te ajudar a se sentir melhor.
—Não, obrigado.
—Você pode beber o sangue de outro vampiro desta forma sem ferir
seu vínculo, amigo. Contanto que não seja alimentação íntima.
—Eu o conheci. — Não o quero. Nino suspira, seu corpo dolorido
flácido contra a cama enquanto ele murmura. —Eu morreria de fome
primeiro.
Do outro lado da sala, Ladislao pega um dos copos da bandeja. —
Verdadeira devoção... Meu tio está errado sobre você e seu companheiro. —
Ele leva o copo aos lábios e termina tudo com um longo gole.
—Quem era aquela mulher? —Nino pergunta quando ele termina. —
Por que você a fez tocar minha aura?
Ladislao pega o segundo copo e o segura na direção de Nino. —
Última chance.
—É todo seu.
Ele levanta o copo e o devora. Nino não consegue se imaginar
bebendo o sangue de outro vampiro, sob nenhuma circunstância. Seu
companheiro experimentou a traição mais profunda possível em sua cultura.
Nino nunca faria nada para desencadear aquele sentimento dentro dele
novamente. Nunca.
Quando Ladislao termina, ele estala os lábios em um som alto e
satisfeito. —Eu não sei quem é este, mas eles não são nada mal. Muito bom
para a minha natureza. Ele coloca o copo na mesa e volta para seu assento
na poltrona. —Ela tem me trazido sangue desde que cheguei, há um ano.
Acho que meu tio a escolheu porque ela não fala nada, o que significa que
ela não pode falar sobre mim com seus outros membros da comunidade...
Eu posso estar errado, no entanto.
—Você é um segredo? E por que ela teria medo de mim?
—Porque ela é jovem, e talvez... Eu acho que alguns vampiros aqui,
eles não sabem nada sobre o mundo exterior. Ela estava tão nervosa e com
medo de mim no começo, por um longo tempo. Mas depois de um tempo,
pude ver sua mente mudando. Ela começou a sorrir para mim quando eu
disse coisas engraçadas e ela permaneceu na sala, me ouvindo falar em vez
de deixar cair o sangue e fugir. Normalmente, ela não tem uma escolta, o
cara assustador de uma orelha fica bem perto do meu tio. Ela estava nervosa
de novo hoje, mas você viu como ela reagiu à sua aura?
—Ela pareceu surpresa.
Ladislao acena com a cabeça. —É bom para ela. Essa exposição. Já
reparei… Além do meu tio, talvez os outros vampiros aqui tenham auras
fracas? Kahla e Uma Orelha, suas energias são tão patéticas quanto os de
raça pura. Depois de estar aqui um ano, sinto que o meu também se
desvaneceu. Acho que ela ficou surpresa com o quão forte é a sua aura.
Nino se endireita. —Por que seu tio está fazendo isso? Você sabe
como isso começou?
—Sei que ele começou este lugar há pouco mais de cento e cinquenta
anos, depois que brigou com meu pai. Eles não conseguiram concordar sobre
como administrar o reino no Rio de Janeiro depois que meu avô morreu, mas
como meu pai era o mais velho, ele venceu. Meu tio decidiu que faria seu
próprio —reino perfeito— em algum lugar novo.
Nossa raça tornou-se bastardizada, marcada por essas criaturas de primeira,
segunda e terceira geração que cheiram a sangue humano...
As palavras duras que Lajos expressou durante sua visita a Kurashiki
ressurgem na mente de Nino. Parece que o velho vampiro conseguiu seu
objetivo. Mas, para Nino, o resultado é questionável: auras fracas, criados
nervosos e não-verbais e um capanga de uma orelha só. Nino nunca
conheceu vampiros de raça pura como este. Este reino parece longe de ser
perfeito.
—Você acha que os puros gostam de viver neste lugar? —Nino
pergunta. Eles estão felizes?
—Como eu disse, não falei com ninguém além de Kahla, e ela não
pode falar comigo, então não sei. Mas, quanto a mim, gostaria de sair o mais
rápido possível. Tio acha que vou tagarelar sobre sua sociedade se ele me
deixar ir. Eu nem sei onde diabos estamos! E daí se eu falar, o que eu diria?
Quem quer falar sobre este lugar… Este lugar é um lixo. Eu quero esquecer
isso rapidamente.
—Concordo. Nino deita a cabeça para trás, dando um suspiro
profundo. Seus incisivos estão latejando, ameaçando se alongar por falta de
sangue. Ele está com fome e cansado, desconfortável e anseia por seu
companheiro para preencher o vazio excruciante que lateja em seu abdômen.
Ele estremece com o ar úmido e frio da sala. Parece que as paredes
desbotadas estão se fechando sobre ele.
—Sua condição não é boa, favo de mel. Quando foi a última vez que
você se alimentou?
Nino considera. Este é o terceiro dia dele aqui. Antes disso, ele não se
alimentava de Haruka há alguns dias - o que não é do feitio deles, mas as
coisas ficaram agitadas com Nino passando a noite em Osaka a negócios. —
Quase uma semana.
—Nada bom. Sua pele está parecendo cinza. Está com frio? Devemos
abraçar?
—Não.
—Eu posso aquecer você. Estou um pouco ossudo agora, mas isso
pode ajudar?
Nino fecha os olhos novamente, concentrando-se em sua natureza
interior e se isolando de seu próprio calor. Enquanto o brilho irradia, ele
pensa em sua casa - o ninho dele e de Haruka e a paz, amor e segurança que
eles construíram lá.
—Eu quero conhecer seu companheiro.
Ao som da voz de Ladislao, a concentração de Nino quebra, mas ele
mantém os olhos fechados. Silencioso.
—Quero ver essa pessoa que inspira tanta fidelidade em você. Tanto
que não consigo nem sentar na cama com você... Essa coisa suja de veludo,
ah! Tão desconfortável! Eu não gosto…
Reconhecendo o beicinho em sua voz, Nino reprime um sorriso. —
Você pode sentar na cama, mas fique aos pés, por favor.

HORAS MAIS TARDE, A respiração de Nino é superficial. Sutil. Ele


está deitado imóvel de lado. Quando ele passa a língua pelos dentes, seus
incisivos se afiam por conta própria.
Ele precisa se alimentar. Sua pele está seca - suas entranhas também,
como se ele estivesse deitado ao sol e toda a vida e nutrientes estivessem
sendo sugados de seu corpo. Mover-se mesmo uma polegada envia ondas
de choque de dor através do núcleo e dos membros de Nino.
—Ei, favo de mel, você precisa beber o sangue mais tarde esta noite -
você não vai durar assim. —Apesar do pedido de Nino, Ladislao está
sentado bem atrás dele e contra a cabeceira da cama, seus longos dedos
agitando e acariciando o cabelo de Nino. —Você tem que pensar em seu
companheiro. A sobrevivência dele está enraizada na sua, amigo. Até falar
consome uma energia que Nino não pode gastar.
Passos altos no corredor fazem Ladislao pular de sua posição
relaxada. No momento em que a porta se abre, ele está de volta na poltrona
ao final da cama grande. Usando toda a energia que pode reunir, Nino
expande sua aura para fora. Está mais fraco agora - ele pode sentir. Mas
ainda vai durar.
Os passos se aproximam enquanto ele deita com a bochecha apoiada
no edredom.
Hora de ir para casa.
—Nino levanta, lento, cauteloso. Lajos está parado perto dele, seus
olhos negros sem emoção. Ele levanta sua bengala e bate na superfície vítrea
da essência de Nino. Seu sorriso é assustador. —Eu não posso devolvê-lo se
você permanecer protegido de mim, posso? —O vampiro alto com uma
orelha caminha para ficar ao lado de Lajos, seu rosto fino e pontudo
projetado nas sombras.
Nino vira os olhos na direção de Ladislao na ponta da cama, que
então dá de ombros levemente. A tensão é densa no silêncio, com todos
olhando para Nino dentro de seu orbe brilhante.
—E aí? Lajos pergunta. —Não é minha intenção mantê-lo aqui. Não
sem seu companheiro, de qualquer maneira...
Com o coração acelerado, o pulso latejando nos ouvidos, Nino engole
em seco. —Eu tenho que voltar para casa…Ele não pode sobreviver por
muito mais tempo neste estado. —Ele não tem escolha. Inspirando, ele
desenrola e retira o poder de sua aura, mas no segundo que se dissolve em
torno dele, a mão do velho vampiro se lança para fora, seus dedos agarrando
o queixo de Nino com força.
—Ah
Os olhos de Lajos brilham em um branco brilhante enquanto seu rosto
se contorce de raiva. Antes que Nino possa processar o que está acontecendo,
uma sensação quente e borbulhante cresce em sua boca, como se ela estivesse
cheia de bicarbonato de sódio, vinagre e fogo. Ele inala de desconforto e o
espaço fica inesperadamente vazio. Vazio e desconcertante. Ele tenta engolir,
mas tosse, seu peito lateja enquanto ele engasga com a perda de algo
fundamental. Lajos tira os dedos do rosto de Nino e uma forte pressão bate
em seu peito, jogando-o para trás de modo que ele cai do lado oposto da
cama.
—Tio, isso é demais...
—Fique de boca fechada ou você será o próximo.
Nino está tossindo, engasgando e tentando respirar em meio à dor do
ataque surpresa. Ele rola de costas no chão gelado. Quando ele abre os olhos,
o vampiro de uma orelha está ameaçador e se elevando sobre ele. Nino
levanta os braços, mas há outro golpe intenso contra suas costelas.
E aí não tem nada. Escuridão e silêncio enquanto seu corpo fica mole.
TREZE

Personalidade, resolução de problemas, comportamentos e emoções...


julgamento. Fala Não - isso não. Movimento corporal... tira do motor?
Haruka empurra seu livro atual de lado e pega uma referência de
anatomia clínica pesada. Ele vira para o índice e verifica com o dedo
enquanto se senta agachado no chão.
Ele não sabe que horas são. Não importa. Está escuro.
Faixa motora - córtex motor primário... controla o movimento voluntário, a
fala, a deglutição. O tálamo transmite sinais sensoriais e motores para o córtex
cerebral... córtex cerebral. Funções intelectuais superiores... Talvez
Ele joga o livro fora em um movimento preguiçoso, então se levanta
para pegar outra referência, virando para trás mais uma vez. A cabeça de
Haruka levanta quando ele sente o mais vago zumbido de energia, como
eletrodos se movendo na atmosfera da sala. Ele fica ereto, lento e com todos
os músculos de seu corpo tensos. Por instinto, seus olhos brilham contra a
escuridão.
O intruso se materializa no centro da sala, seu corpo magro se
solidificando em uma onda nebulosa de átomos e partículas de prata. É
Lajos, usando as mesmas roupas escuras, formais e desatualizadas. Ele bate
com a bengala no tatame e abre um sorriso arrogante. —Você reconsiderou,
jovem?
—Devolva meu companheiro. —Haruka encara, tremendo. Fúria
ardente e desespero redemoinham em sua mente, caóticos. Estar à mercê
desta criatura cruel... Ele odeia isto. —Devolva-o agora e você pode ficar com
o manuscrito.
Lajos levanta uma sobrancelha. —Você e seu companheiro insistem
em negociar comigo. É assim que as coisas são feitas na era moderna? Quid
pro quo e conversas diplomáticas.
—Chega de conversa. Haruka respira fundo, segundos antes de
quebrar. —Devolva-o, pegue o livro, deixe-nos.
Lajos o encara pelo que parece uma eternidade antes que seus olhos
brancos finalmente acendam. —Este arranjo combina comigo. Considere-se
afortunado por não lhe ensinar uma lição sobre como respeitar os mais
velhos.
A energia na sala muda novamente, átomos prateados ondulando e
se reunindo no ar do espaço entre eles. O corpo de Nino se forma e, em
seguida, cai com força contra o tatame. Ele geme, seus olhos cerrados
quando uma esfera brilhante de luz laranja-sangue pisca, crescendo e
irradiando ao seu redor. Haruka corre para frente, suavemente passando
pelo calor da forma e caindo de joelhos para embalar a cabeça de Nino contra
suas coxas.
—Seu idiota insuportável, rosna Lajos, seu olhar focado em Nino. Ele
se dirige a Haruka. —Onde está o manuscrito?
Haruka segura a cabeça de Nino. Ele está cinza e com muita dor. O
brilho bronzeado de seu tom de pele é diluído e acinzentado, a textura
descamativa e seca. Haruka responde enquanto examina seu companheiro.
—A mesa atrás de você.
O peito de Nino está pesado, seu rosto se contraiu de angústia.
Haruka passa os dedos pelo cabelo e segura a bochecha de Nino. —Meu
amor, você precisa se alimentar. —Ele pressiona a palma da mão contra a
boca de seu companheiro para encorajá-lo, mas ele surpreende Haruka
quando ele muda a cabeça, sacudindo-o antes de tossir e sufocar em
espasmos violentos. —Por quê? Haruka pergunta, o alívio que sentiu por ter
Nino em seus braços se transformando em ansiedade.
Uma batida forte e forte de algo batendo no vidro faz Haruka olhar
para cima. Lajos está parado sobre eles, sua bengala apoiada no topo da
esfera. Haruka pisca. É sólido? Ele não ensinou Nino a manipular sua aura
até esse ponto. Ele nunca viu Nino criar essa forma por sua própria vontade.
—O fato é —Lajos sorri, sua juventude primorosa combinada com seu
sangue antigo e sua aura poderosa me impressionam. Você tem certeza de
que não estaria interessado em visitar meu reino?
—Saia de nossa casa. —Nunca volte? Se você fizer isso, vai se
arrepender.
Lajos ri. —Isso é uma ameaça, jovem homem?
—É uma promessa.
—Hm... você me desafiou, negociou comigo e agora me ameaçou.
Não me divirto assim há quase dois séculos. Tenho certeza de que nos
encontraremos novamente.
Antes que outra palavra seja dita, a luz brilhante dentro dos olhos do
velho vampiro pisca. Ele desaparece. O odor pútrido de sálvia permanece
em sua ausência. Haruka volta a se concentrar em seu companheiro. —Nino,
por favor, você deve
A energia ao redor deles se esvai quando a cabeça de Nino cai para o
lado contra o colo de Haruka. Quando a porta da biblioteca se abre, Asao
está lá com Cellina logo atrás.
—Precisamos ir para o hospital. Haruka se levanta, envolvendo o
poder de sua essência em torno de Nino enquanto ele o embala contra seu
corpo, levantando e carregando-o. Os dois estão envoltos em um brilho de
fogo. —Por favor, traga o carro para a frente.
Cellina corre para frente, observando a expressão angustiada de Nino
enquanto eles se movem. —Algo de errado? ele está bem?
—Eu não sei, Haruka disse, com cuidado ao se mover pela porta. —
Ele não vai se alimentar e não falou.

ASAO FAZ a viagem para o hospital em Himeji na metade do tempo


que normalmente levaria. Às quatro da manhã, as estradas estão livres.
Sora Fujihara contou a Haruka sobre um médico humano em Himeji
que se especializou em medicina e saúde para vampiros. O médico acabou
de se mudar para o Japão. Vampiros de nível muito baixo em seu reino já o
visitam regularmente para receber bolsas de sangue doadas para
alimentação e outros propósitos médicos ou psicológicos.
Nino está quase catatônico quando eles chegam ao hospital. Haruka
tentou alimentá-lo durante o passeio de carro, mas ele recusou
repetidamente, aumentando a angústia interna de Haruka. As enfermeiras o
atendem assim que chegaram, colocando-o em um quarto e retirando o
sangue de Haruka para um soro intravenoso.
Depois que Nino está estável e o médico o examina, uma enfermeira
direciona Haruka para um escritório próximo para discutir a condição de
seu companheiro. Asao permanece no quarto do hospital, mas Cellina insiste
em se juntar a Haruka para ouvir o prognóstico.
Eles estão sentados juntos no consultório do médico agora,
esperando. As mãos de Haruka estão entrelaçadas em seu colo. Ele respira
fundo e fecha os olhos.
—Você parece exausto. A voz de Cellina corta o silêncio, suave, quase
um sussurro. —Quando Giovanni chegar de Osaka, podemos sentar com
Nino. Você deveria tentar dormir um pouco. Você deu muito sangue e Asao
disse que não comia há dias. Haruka sorri fracamente. —Eu estou bem.
Obrigado pela preocupação.
Cellina suspira. —Haruka, ouça-
A porta do escritório abre e fecha. O médico segue para trás da mesa.
Ele tem altura média, olhos castanhos calorosos atrás de óculos modernos
de armação preta. Seu cabelo é castanho claro, mas com mechas douradas, a
onda sutil dele penteada para trás de seu rosto.
—Bom Dia. O médico faz uma reverência educada e sorri. Seus dentes
brancos são retos e brilhantes. —Eu sou o Doutor Davies. A enfermeira me
disse que você está casado com Nino Bianchi, mas... você é legalmente
responsável por ele?
—Eu sou, Haruka confirma.
—Ótimo. Prazer em conhecê-lo, Sr. Hirano. E esta é... Ele inclina a
cabeça em direção a Cellina.
—Esta é Cellina De Luca. Ela tem meu consentimento para
comparecer à consulta. Ela não é fluente em japonês, então, por favor, fale
em expressões simples.
O médico balança a cabeça, mas seu comportamento parece rígido.
Desconfortável, de alguma forma. Sora contara a Haruka coisas boas sobre
ele como profissional médico, mas a tensão sutil que irradiava do médico era
perturbadora.
—Certo, eu entendo. —O Dr. Davies revira os ombros. —Eu... eu
tenho que lhe dar o discurso jurídico primeiro. O Hospital Municipal de
Himeji não se especializa explicitamente em biologia vampírica. No entanto,
não fazemos discriminação com base em raça, biologia, gênero, cor, etnia ou
crenças religiosas. Os resultados que estou dando a você hoje foram
avaliados e derivados por médicos humanos licenciados e profissionais que
possuem um conhecimento limitado da biologia dos vampiros. De forma
alguma esses médicos são proficientes nas infinitas complexidades
associadas à composição genética de um vampiro, e estão sujeitos a
escrutínio. Vocês dois aceitam as condições sob as quais eu dou meu
prognóstico?
—Sim, —Haruka e Cellina dizem ao mesmo tempo.
—Tudo bem. Ótimo Eu odeio dizer tudo isso. —O Dr. Davies sorri.
Ele respira fundo e continua em um japonês simples. —Isso me faz parecer
incompetente, mas não sou! Eu estudei biologia de vampiro por mais de
vinte anos... o que não é nada comparado com a sua vida, eu acho..., mas, de
qualquer maneira...
O médico gira os ombros novamente, voltando-se para o
computador. Haruka levanta uma sobrancelha. Os humanos estão sempre tão
nervosos?
Algo está estranho nele. No entanto, essa circunstância é incomum.
Os vampiros classificados quase nunca precisam de médicos, e os puros-
sangues são indiscutivelmente os seres mais saudáveis do planeta. Com o
tempo, seus corpos se curam. Mas como Nino se recusou a se alimentar,
Haruka decidiu agir pelo seguro e levá-lo a um profissional médico para
obter ajuda.
—Nino está estável. Estou confiante de que ele terá uma recuperação
completa, então fique tranquilo. O médico clica e move o mouse do
computador enquanto fala, um brilho branco da tela piscando contra seus
óculos. Mas há algumas coisas acontecendo, sendo uma delas muito
estranha. Primeiro, ele estava gravemente desnutrido. Com o gotejamento
intravenoso, isso será resolvido nas próximas vinte e quatro horas.
—A segunda coisa é que algumas de suas costelas estão quebradas,
como se tivessem sido danificadas por um trauma contundente, talvez
alguém tenha usado um objeto ou o chutado? Seus órgãos estão
machucados, mas nada foi perfurado. Isso vai se curar em um ou dois
meses... talvez um mês, já que vocês dois são de raça pura? A cura tende a
ser ainda mais rápida com sua biologia.
Fechando os olhos, Haruka sufoca uma onda de raiva não filtrada.
Lajos não apenas sequestrou seu companheiro, mas lhe causou danos físicos.
A realização cria um incêndio em Haruka, incitando-o a caçar o vampiro
decrépito e...
Quando a mão de Cellina repousa sobre a sua, ele abre os olhos. Suas
brilhantes íris cinza estão focadas nele, piscando. O médico também está
olhando, com as mãos pairando no lugar sobre o teclado. Os olhos de
Haruka estão acesos. Ele respira fundo. —Sinto muito.
—Está... está tudo bem, diz o Dr. Davies, com a testa franzida. —Devo
continuar?
—Por favor.
Ele concorda com a cabeça. —Certo. A última coisa é muito estranha.
— Nunca vi nada parecido. O Dr. Davies vira a grande tela para que Cellina
e Haruka possam ver. Há uma varredura de raio-X em preto e branco. O
médico aponta. —Esta é a cavidade da boca de Nino. Você vê este grande
espaço vazio? É aqui que sua língua deveria estar. Simplesmente... não está
lá. Ela nem existe! Não há trauma - nenhuma evidência de que foi removido.
É muito estranho
Haruka respira fundo novamente, reprimindo a fúria silenciosa
dentro de si.
—É por isso que ele não se alimentava? —Cellina pergunta.
—Ele não pode, diz o médico. —Você precisa de sua língua para
controlar o fluxo de líquido e saliva, para guiar a comida para baixo em sua
garganta para engolir. Sem isso, ele lutaria. Ele... ele tinha uma língua antes?
Silêncio.
Cellina recua. —Você está brincando?
— Sim, Haruka garante ao médico.
—Claro, pergunta estúpida, sinto muito. —O Dr. Davies se endireita
e sorri. —Ele vai se regenerar. Vou ser honesto com você, a regeneração
vampírica é um processo muito doloroso e lento. Dependendo da parte do
corpo e da qualidade do sangue da fonte de alimentação, pode levar de dois
meses a um ano.
Assentindo, Haruka se prepara mentalmente para a longa estrada
que tem pela frente. —Ele vai precisar usar esse soro intravenoso e tirar meu
sangue até que sua língua se regenere?
—Sim, isso mesmo. Não será divertido para ele, mas, novamente,
como vocês dois são de raça pura, imagino que o processo será mais curto.
Suas costelas também devem cicatrizar muito rápido. Seu cônjuge voltará ao
normal em alguns meses.
—Isso é um alívio, Haruka respira. Nenhum dos detalhes importa.
Enquanto Nino estiver seguro e saudável novamente, tudo estará bem. Eles
podem lidar com os detalhes juntos.
—Você vai precisar ir devagar. —O Dr. Davies vira a tela para a frente
e clica com o mouse antes de dar a eles toda a atenção. —Ele vai precisar de
muito sangue enquanto se cura, mas você não pode passar fome
alimentando-o. Então vá aos poucos. Eu também recomendo que você evite
atividades físicas rigorosas enquanto ele se cura... Talvez evite puxar sua
aura? Ou natureza? Os dois são intercambiáveis? Em todos os meus estudos,
nunca fui claro sobre isso.
—Fundamentalmente, eles são um e o mesmo, mas a aura de um
vampiro é a manifestação física e externa de sua natureza interna, explica
Haruka.
O Dr. Davies acena com a cabeça, seus olhos cor de caramelo
brilhando por trás dos óculos. —Certo. Entendi. Faz todo o sentido.
Obrigado por isso. Eu gostaria de ter uma consulta de acompanhamento em
dois meses para verificar seu progresso, talvez até dar luz verde a vocês dois
para retomarem suas atividades normais. O que acha?
—Entendido. Obrigado, Doutor Davies.
Cellina suspira. —Obrigada, doutor.
—É um prazer, honra, de verdade. —Ele sorri. —Pare no posto de
enfermagem no final do corredor. Deveria estar lá. Ela vai agendar o
acompanhamento. Também precisaremos coletar seu sangue a cada semana
para o IV.
—Há alguém que possa fazer chamadas em casa? Haruka pergunta,
não querendo ir e voltar de Himeji pelos próximos dois meses ou mais.
—Um, claro. O Dr. Davies coça a nuca. —Vou cuidar disso para você.
Vamos resolver o problema.
—E... Haruka sorri, encantador. —Você tem alguma recomendação
de livros ou recursos que enfoquem a fisiologia dos lobos frontal e parietal
do cérebro? Algo que descreve detalhes precisos?
O Dr. Davies faz uma pausa. Sua sobrancelha levanta acima dos
óculos pretos. —Ah… O que vocês podem nos contar desta história?
QUATORZE

Haruka odeia o cheiro de hospitais. Ele é sensível a odores, e a


enxurrada de sangue humano e produtos de limpeza agressivos lhe dão dor
de cabeça. Ele se senta ao lado de Nino na cama. O benefício disso é duplo -
ele está mais próximo de seu companheiro, e o cheiro único de Nino ajuda a
abafar os outros odores desagradáveis que o cercam.
Nino está desmaiado, deitado de costas e enfiado debaixo dos lençóis,
com o peito subindo e descendo. O médico disse que ele precisa dormir
muito como parte de sua recuperação. Haruka desliza e enreda os dedos no
comprimento de cobre em cima de sua cabeça. É macio, mas pesado de dias
sem ser lavado.
Há uma espessa camada de cabelo dourado acobreado traçando sua
mandíbula, queixo e lábio superior. Nino odeia seus pelos faciais e os depila
todos os dias, mas Haruka sorri, olhando para ele. Ele gostou. Seu marido
parece um lenhador jovem e ruivo. Ele precisa de flanela.
A porta do quarto do hospital se abre e Giovanni está lá. Elegante em
um sobretudo escuro sobre sua camisa social e calça, ele acaba de chegar de
administrar os negócios de Nino em Osaka. Cellina e Asao sentam-se juntos
em uma pequena mesa ao lado perto de uma janela aberta. Seu criado a está
ensinando a tocar karuta.
—Qual é o prognóstico? —Giovanni caminha para o lado oposto da
cama, olhando para seu irmão adormecido.
—Ele está subnutrido. —Haruka suspira. —Suas costelas estão
danificadas e sua língua está faltando.
Giovanni pisca seus olhos verde-avelã para ele, franzindo a testa. —
Qual foi a última parte?
—Lajos fez desaparecer a língua dele e o agrediu. —Haruka balança
a cabeça, o ressentimento agitando-se espesso em seu coração. Se ele mesmo
vê Lajos novamente, ele vai estrangulá-lo e acabar com sua vida repulsiva.
Período.
—Que porra de maníaco - para que propósito isso servia? —O verde
por trás dos olhos de Giovanni pisca um pouco mais brilhante. Ele respira
fundo e passa a palma da mão pelo rosto. —Ele está acordado o suficiente
para te dizer alguma coisa?
—Não. Anteriormente, ele abriu os olhos por cerca de cinco
segundos, mas apenas disse —oi— para mim com sua voz interior e sorriu
antes de cair no sono novamente.
—Bem, isso é um bom sinal, eu acho. O que aconteceu com o velho?
—Ele desapareceu de novo, Haruka resmunga. A situação é
enervante. Uma criatura insensível e malévola está vagando livremente e
com pleno conhecimento de sua localização. Ele pode aparecer à vontade e
sem aviso, capaz de desaparecer um ou ambos a qualquer hora do dia ou da
noite.
O estresse lateja entre as orelhas de Haruka - a total falta de controle
nesta circunstância cria uma forte tensão por todo o corpo. Como ele pode
continuar como era? Blasé e totalmente despreparado para um ataque
repentino. Preguiçoso e confiante demais em sua habilidade. Nada vai ser
como antes! Deste dia em diante, ele fará o que for preciso para proteger seu
companheiro.
—A habilidade desse velho idiota é aterrorizante, declara Cellina. —
Seus vampiros de sangue antigo e seus poderes bizarros... Usar sua
habilidade assim na era moderna é uma loucura. Se Haruka decidisse dobrar
outros vampiros à sua vontade, quem poderia realmente impedi-lo?
Asao ri, barulhento. —Ele é muuuito introvertido para isso.
Haruka acena em concordância. —Do ponto de vista pessoal, parece
um pesadelo.
Nino desperta sob a palma da mão de Haruka, abrindo os olhos com
as pálpebras pesadas. Ele parece exausto, ainda muito pálido. Ele estica o
corpo e se encolhe de dor. Giovanni se aproxima, franzindo a testa. —Por
que a boca dele parece tão cheia? Porque a língua dele se foi?
—Não, diz Haruka. Ele desliza a mão pelo rosto de Nino e pressiona
o polegar contra os lábios macios. Nino abre, deixando-o deslizar para
dentro para arrastar o lábio superior para cima. Dentes brancos e afiados
brilham, projetando-se das gengivas de seu companheiro. —Seus incisivos
não retraem porque ele estava perto de morrer de fome e precisava se
alimentar. O médico disse que seu corpo deveria se ajustar ao gotejamento
intravenoso do meu sangue dentro de 24 horas. Eles vão voltar ao normal
em breve.
Dando um passo à frente, Giovanni coloca uma grande mão sobre a
cabeça de Nino. —Você não pode andar por aí com suas presas para fora,
garoto. É incivilizado. O que os vizinhos vão pensar?
Nino bufa em um som fraco, mas depois se transforma em tosse
violenta e sufocação. Haruka se levanta, ansioso ao colocar as duas mãos nas
bochechas de Nino. Respire, meu amor. Abra sua boca.
Obediente, Nino abre a boca com presas e respira fundo, o peito
arfando para cima e para baixo. Ele repete essa ação até que seu corpo relaxe
e ele recupere o controle. Haruka franze a testa, virando a cabeça em direção
a Giovanni. —Não o faça rir!
Giovanni encolhe os ombros, sorrindo. —É melhor manter nosso
ânimo.
Enquanto ainda segura seu rosto com uma palma, Haruka se inclina
e acaricia seu nariz contra a bochecha peluda de Nino. Bem-vindo de volta.
A voz de Nino está grogue em sua mente, suave. Obrigado. Senti sua
falta. Era doloroso.
—Senti sua falta. Você está segura agora.
Eu sei.
—Eu nunca vou deixar isso acontecer novamente. Para onde ele te
levou?
Eu não sei... Em algum lugar com montanhas desérticas... e uma casa velha.
Ladislao estava lá.
—ALMEIDA, Rio de Janeiro?
Nino sorri, preguiçoso. Tesoro, que outro Ladislao existe?
—É claro. Haruka se inclina mais uma vez, beijando a ponta de seu
nariz. —Quem fez isso com você?
Seu companheiro engasga em um bocejo profundo, suas pálpebras
ficando mais pesadas e seus olhos como fendas estreitas. Lajos... pouco antes
de ele me trazer de volta... Os olhos de Nino estão fechados, sua respiração
superficial. Haruka acaricia seu polegar contra o cabelo eriçado de sua
bochecha, embalando-o para dormir.
—O que ele disse? Giovanni pergunta.
—Que ele estava em uma casa velha em algum lugar cercada por
deserto e montanhas. Ladislao estava lá.
ALMEIDA Do Brasil
Haruka encara. —Você não acabou de me ouvir dizer isso?
—Não consegui ouvir as respostas dele!
—Então, incluindo Nino, diz Cellina, pensativa, são dois vampiros,
sabemos com certeza que Lajos é o responsável pelo desaparecimento.
—Você está me dizendo que um vampiro singular é responsável pelo
desaparecimento? —Giovanni pergunta. —Que esse velho maluco causou a
maior reviravolta da história da nossa cultura?
O silêncio na sala é pesado enquanto eles se olham. Haruka olha para
baixo, pegando a mão inerte de Nino na sua e entrelaçando seus dedos.
Apesar de estar dormindo, Nino agarra a palma da mão.
Cellina se levanta da mesa e estica os braços sobre a cabeça. No
momento em que ela se move, o olhar de Giovanni a segue como um falcão
observando sua presa. Ela revira os ombros por baixo do moletom com
capuz. —Eu preciso de café se vamos desvendar os maiores mistérios da
aristocracia. Quantos estou trazendo de volta?
—Eu gostaria de uma xícara, diz Haruka. —Obrigado, Cellina.
—Eu também... por favor, admite Giovanni.
Asao também se levanta da mesa. —Vou com você. Eu preciso me
mover. A cabeça de Giovanni se vira, examinando-a enquanto ela caminha
em direção à porta. Cellina é uma linda mulher com pele lisa marrom-canela
e cabelos grossos e encaracolados. Mesmo vestida com roupas casuais e com
seus cachos empilhados e bagunçados no topo de sua cabeça, um fascínio e
confiança inegáveis irradia dela.
Quando ela vai embora, Giovanni relaxa os ombros como se estivesse
esperando por algo, uma luta? Quando não vem, ele exala e se move para
ocupar o lugar que ela ocupava à mesa. Ele olha para as cartas de jogo e as
cutuca com os dedos.
—Você achou que ela se recusaria a pegar um café para você? —
Haruka pergunta. Os olhos de Nino estão fechados. Ele está dormindo
novamente.
—Talvez, diz Giovanni, virando a cabeça para olhar pela janela
brilhante. —Tenho que ir para casa daqui a um mês para cuidar de algumas
coisas, mas volto assim que puder.
—Asao garantiu uma fonte para Cellina. Você gostaria que ele
arranjasse um para você? Estamos mais do que felizes em acomodá-lo.
—Não. —Eu estou bem.
Haruka se vira para encarar Giovanni. Ele não é do tipo que
pressiona, mas ter um segundo Bianchi faminto em sua casa é indesejável.
—Giovanni, você não deve ficar um mês sem se alimentar.
O olhar de seu cunhado muda para ele. —Estou me alimentando. Eu
tenho bolsas.
—BOLSAS? Haruka se encolhe. —Por que você escolheria se
alimentar desta forma? Haruka se alimentou de sacos em seu passado,
quando ele evitava intimidade e estava em dívida com outros vampiros.
Tinha servido ao propósito pretendido, mas a prática era péssima. Estou
Alimentando-se com o calor de uma criatura viva que respira, especialmente
uma que você ama... Não há nada melhor. Nada.
Giovanni cruza os braços. Ele olha para as cartas de karuta em cima
da mesa por um longo minuto. Assim que Haruka abre a boca novamente,
Giovanni fala. —Eu não escolho me alimentar dessa maneira. Eu preciso,
para ajudar a manter nosso pai vivo. Eu sou a fonte do meu pai, então minha
fonte de alimentação afeta seu bem-estar. É muito arriscado se alimentar de
qualquer pessoa.
A boca de Haruka ainda está aberta quando a confissão de Giovanni
chega. Ele pisca e fecha, processando. —Isso... é assim que seu pai sobrevive
sem sua companheira?
—Sim. Meu sangue é uma combinação do sangue de meu pai e de
minha mãe. A biologia que ele recebe de mim ajuda a nutrir a parte dele que
sofre com a perda de minha mãe. Ele não se alimenta diretamente. Não
somos completamente esquisitos.
Inacreditável. Haruka olha pela janela, considerando. Quando sua mãe
morreu, houve uma conversa. Ele não deveria estar ouvindo, mas ele estava
bisbilhotando, como as crianças fazem. Ele notou que seu pai, Hayato, estava
ficando mais fraco a cada dia. Então Haruka começou a segui-lo
silenciosamente. Apenas para estar perto dele e cuidar dele, sabendo que seu
tempo juntos era finito.
Em uma conversa apressada, Asao perguntou se Hayato poderia
tentar se alimentar de Haruka. Ele recusou. Foi a primeira vez que ele viu
seu pai mostrar raiva de Asao. Haruka ainda se lembra de suas palavras
como se fosse ontem...
Não vou sacrificar a vida inteira do meu filho para me apegar a alguma versão
deficiente e infeliz da minha.
Se tivesse a oportunidade, Haruka teria feito qualquer coisa para
salvar seu pai, para mantê-lo vivo e com ele. Mesmo que isso significasse
uma qualidade de vida questionável para os dois. Seu pai fez sua escolha,
presenteando Haruka com livre arbítrio e solidão em troca.
O pai de Giovanni, Domenico, fez uma escolha diferente.
—Você não pode se alimentar por sua própria vontade? Haruka
pergunta, voltando a se concentrar em Giovanni. —E você não pode formar
um vínculo?
Haruka espera, o silêncio se estendendo entre eles antes de Giovanni
responder.
—Não.
Vozes familiares se aproximam da porta fechada. Giovanni ergue os
olhos para ele, sério. —Você não repete nada disto.
—O Nino sabe disso?
Giovanni zomba. Claro que ele sabe.
—Cellina?
—Não.
A porta se abre e Asao entra primeiro com uma bandeja cheia de
xícaras de café. Cellina segue atrás. Giovanni se levanta da cadeira, diz —
Obrigado— enquanto pega uma xícara da bandeja de Asao, então se move
em direção à poltrona no canto oposto da sala. Ele bebe o café, mas seus
olhos continuam correndo para Cellina.
QUINZE
VERÃO, 1915

Não é assim que Cellina imaginou seu aniversário de dezesseis anos.


Ela segue a criada pelo longo corredor. Isso por si só é perturbador. Em que
ponto Cellina começou a precisar de uma escolta para vê-lo?
A propriedade está silenciosa. Fria. O calor que ela geralmente sente aqui, a
energia, vivacidade e risos, se foi. Tudo está mudo agora, como se todas as cores vivas
tivessem sido sugadas de uma bela pintura.
A criada bate na porta. —Vossa Graça, Srta. Cellina De Luca está aqui para
vê-lo.
Ela foi anunciada como uma estranha. Cellina entra na sala formal repleta
de móveis antigos, velhos retratos de família e cortinas pesadas e empoeiradas. Eles
costumavam zombar desta sala: a sala de estar. Só no nome parece dramático, este
lugar onde todos os vampiros mais velhos falam sobre coisas sérias e chatas. Coisas
em que ela e seu querido amigo não têm interesse.
Giovanni está de pé em uma janela, seu corpo alto banhado pela luz cinza do
céu nublado. A chuva atinge o vidro e escorre pela janela como lágrimas. Ele não se
vira enquanto ela caminha para frente. Ele não sorri, atravessa a sala para encontrá-
la ou agarra suas mãos normalmente. Em vez disso, ele fica como uma estátua,
olhando através do vidro.
—G, a voz de Cellina é baixa no vasto silêncio da grande sala. Ela odeia isso.
—O que você quer?
Ela para, colocando os ombros para trás. Ele sabe. É claro que ele conhece.
Mas essa reação... ela nunca antecipou. Ela pensou que ele entenderia. Como não
saberia? A gente pode por favor conversar? Sobre Nino...
—Não.
Quando ele a encara, Cellina recua. A raiva e a desconfiança em seus olhos
são como uma flecha em seu peito. Ela balança a cabeça, dando um passo à frente.
Não precisa ser assim. As coisas vão ficar bem depois de um tempo. Ela só precisa de
um pouco de tempo para ajudar Nino a se estabilizar. —Giovanni, eu tinha que...
—Certo, ele ri, afastando-se dela. O som é amargo, feio e cheio de desprezo.
—Você tinha que acabar. É isso que você sempre quis? Você estava apenas me
usando...
—Não seja nojento, isso é nojento! Cellina diz, sua voz aumentando. Ele está
insinuando o que ela pensa? —Nino é como meu irmão mais novo. Você sabe disso,
você sabe. Eu... Ele não se alimentaria de ninguém. Todo mundo está tentando por
duas semanas. Como você poderia sugerir?
—Por que você? De todas as criaturas, por que diabos tem que ser você? —
Ele me encara com firmeza, os olhos como adagas. O som da chuva estraga o silêncio.
Ela abre a boca para falar, mas ele balança a cabeça.
—Saia. Sua expressão desmorona, seus olhos lacrimejando. — Vá embora.
Não quero você aqui, não quero mais ver seu rosto. Você fez a porra da sua escolha.
JUNHO

DIAS ATUAIS
DEZESSEIS

O corpo caloso atravessa a fissura longitudinal... aqui. Haruka segura o


cérebro modelo de cabeça para baixo, estreitando os olhos enquanto usa um
marcador preto para designar o local crítico. O manto cerebral está acima do
corpo caloso. Esta área. Talvez esses giros... perto desse sulco?
Uma batida forte na porta do quarto aberta quebra sua concentração.
Ele olha para cima e Giovanni está na porta. Ele está vestido com calças sob
medida e uma camisa estampada, o paletó dobrado sobre o braço. Ele olha
para Haruka no chão enquanto caminha em direção à cama.
—Você ficou acordado a noite toda de novo, não é? —Giovanni
pergunta.
Haruka encolhe os ombros. —Que horas são agora?
—Quatro e meia da manhã. Tenho uma reunião às oito em Osaka, e
então encontrarei Cellina em Kyoto às três para revisar a programação da
próxima semana. Estarei de volta aqui por volta das dez da noite.
—Obrigado, Giovanni. —Com as pernas dobradas, Haruka inclina a
cabeça para trás contra a parede.
—Você está bem, garoto? —Giovanni diz. De sua posição no chão,
Haruka pode ver que a mão de Giovanni está pousada sobre a cabeça de
Nino. Seu companheiro acena com a cabeça contra o travesseiro.
—Você parece melhor hoje, o amplo vampiro continua, mas seu
marido parece uma merda. Ele vai ficar acordado a noite toda e não comer,
como a porra de um vampiro da velha escola. Devo arrastar um caixão aqui
para ele dormir? Ele vai começar a ficar pendurado de cabeça para baixo no
maldito armário?
Nino se contorce na cama e agarra suas costelas, ofegando no que
Haruka entende como uma risada dolorosa. Haruka franze a testa. Quanto
mais tempo ele passa com o irmão mais velho de Nino, mais aparente se
torna sua dupla personalidade. Ele é em parte um diplomata encantador e
em parte um antagonista amargurado, uma metade ou outra capaz de
emergir a qualquer momento.
—Os quatro contratos que você garantiu são estáveis, explica
Giovanni. —Clientes de boa qualidade, eles parecem sérios quanto a fazer
as mudanças que você recomendou e são flexíveis. Bom trabalho. Tenho uma
reunião para um novo cliente em potencial hoje. Eu poderia conseguir mais,
mas você só quer cinco de cada vez, certo?
Nino acena com a cabeça novamente sob a palma da mão do irmão.
Giovanni se afasta da cama. —Tudo bem. Vou embrulhar isso antes de ir
para casa ver papai. Meu suprimento de sangue está diminuindo. Giovanni
se vira e caminha a passos largos em direção à porta do quarto. Ele olha por
cima do ombro antes de sair. —Coma alguma coisa, e tire uma soneca
maldita. De que adianta todo esse estudo se Lajos aparecer e você desmaiar
de exaustão?
Haruka coloca o cérebro modelo em seu colo, considerando. —Sua
personalidade não é diferente da de uma cobra de duas cabeças.
Giovanni sorri. —Mas uma cobra-rei, certo? Não uma daquelas
cobras de jardim fracassadas. Voltarei mais tarde.
Quando ele sai, Haruka revira os olhos e levanta o modelo de plástico.
Giovanni pode ser mais velho, mas está fora da linha. Andando por aí na
minha casa e latindo ordens... Ele se pergunta como acabou sendo o vampiro
mais jovem em seu círculo íntimo de colegas.
Nino sussurra contra a cama, lento e manobrando para remover o
gotejamento intravenoso de seu braço. Haruka coloca seu cérebro de plástico
no chão e se levanta do chão com urgência, pisando na bagunça de livros,
papéis e marcadores espalhados ao seu redor.
Ele se move para o braço de Nino. —Bom dia, meu amor, eu cuidarei
disso. —Acabou? Ele olha para cima e aperta o saco plástico transparente.
Sem sangue. Sora estará de volta no domingo de acordo com seu
compromisso habitual para tirar mais sangue e criar novas bolsas. Cada vez,
o corpo de Haruka precisa de uma semana inteira para se recuperar.
Caindo em sua rotina, ele pega a gaze esterilizada da bandeja da
mesinha de cabeceira e pressiona o material macio na pele de Nino no local
da inserção. Meticuloso, ele puxa a cânula do braço, descarta-a e
desengancha a bolsa intravenosa vazia.
—Você dormiu bem? Haruka pergunta, jogando o saco no lixo. —Eu
tentei não incomodar você.
Alimentação
A voz grogue de Nino se registra na cabeça de Haruka. Ele é grato
por eles poderem se comunicar dessa maneira, mas sente falta do som de sua
voz saudável e física.
Com suas tarefas concluídas, Haruka se desloca em direção ao final
da cama aos pés de Nino, ajoelhando-se e segurando o tornozelo de seu
companheiro. —Eu faço. Ele sorri. Como está se sentindo? Haruka levanta a
perna e Nino obedece, permitindo-lhe dobrar o joelho em direção ao peito
em um alongamento lento.
Estou bem. Por que você não quer comer? Você adora comer.
—SOLIDARIEDADE. E há muito o que fazer. Ele rola suavemente o
quadril em seu encaixe, aprofundando o alongamento. Depois de um
momento, ele estica a perna de Nino e encosta o pé no colchão. Ele se move
para esticar a perna oposta. —Nino, há quanto tempo Giovanni alimenta seu
pai?
Desde logo depois que mamãe morreu... talvez 1915? Ou dezesseis? Ainda
estou surpreso por ele ter te contado.
Haruka segura o joelho dobrado de Nino em direção ao peito e o rola.
Saber que Giovanni é o único responsável por fornecer a nutrição do pai foi
chocante e também respondeu a outras perguntas antigas na mente de
Haruka.
A perda de um companheiro é prejudicial para o membro
sobrevivente de um vínculo, sua complexa biologia tornou-se dependente
de uma fonte específica de nutrição. Haruka tinha se perguntado como
Domenico, um vampiro de raça pura, sobreviveu tanto tempo sem sua
companheira. Consumir o sangue de seu filho fornece o alimento necessário
para sobreviver. É uma escolha controversa, por isso não é de admirar que a
família prefira mantê-la em segredo.
Também explica por que Giovanni - um renomado e atraente líder do
reino de raça pura, permaneceu sem ligação. Misturar outro, fora da biologia
do vampiro com a sua própria, poderia causar resultados devastadores para
o pai em sua situação precária.
—Quem é a fonte de Giovanni? Haruka pergunta, endireitando a
perna de Nino.
Uma de nossas primas - filha do meu tio. Portanto, a linhagem familiar
dentro de G permanece consistente. Ninguém se alimenta diretamente. Meu pai
emprega uma pequena equipe de profissionais médicos para ajudar a coletar e ensacar
o sangue de todos. Ele mencionou isso?
—Sim. Com menos detalhes.
Não acho que G tenha se alimentado de outro vampiro de maneira íntima
desde que era adolescente. Lembro que houve um tempo... por um curto período,
talvez um mês? Não demorou muito depois que mamãe morreu, mas G ficou meio
selvagem. Ele não ficava muito em casa e eu mal o via. Então meu pai piorou de sua
doença e gritou com G uma noite. Eu era pequeno, mas lembro que era assustador
como o inferno - o quão louco ele estava. E ficou-se por aí. G tem estado no caminho
reto e estreito desde então.
—Ele sempre será submetido a esta circunstância estrita? — Haruka
pergunta. Ele nunca sentiu simpatia por Giovanni, nem ouviu o homem
dinâmico reclamar. Nem uma única vez. Mas, conhecendo todas as
circunstâncias, é esmagador.
Supervisionar uma aristocracia agitado sozinho, constantemente
abordando as necessidades e caprichos de outros vampiros classificados,
sendo responsável pela vitalidade de seu pai enquanto incapaz de alimentar
e satisfazer suas próprias necessidades inerentes... e agora, Giovanni
também está gerenciando o reino de seu irmão enquanto ele se recupera.
Eu não sei. Não falamos sobre nada disso. Eu sei, no fundo, G se ressente de
mim por uma série de razões, então eu apenas deixo isso pra lá. Nosso relacionamento
está muito melhor desde que me liguei com você. Isso tem sido bom.
Haruka sorri. — Estou satisfeito por ter proporcionado algum alívio
a esta situação complexa. Ele levanta o tornozelo de Nino e beija o arco de
seu pé descalço. Nino sorri, sua pele cor de mel mudando para uma cor
rosada e quente.
Se... se G tivesse permissão para se ligar e alimentar...
—Ele sem dúvida escolheria Cellina? —Haruka interrompe. — Se ela
está presente, o olhar dele a segue. Seu respeito e desejo por ela são óbvios.
Para todos, menos ela. Eles discutiram há muito tempo e se recusam a pedir
uma trégua. Eu não posso imaginá-lo acasalando com qualquer outra pessoa,
especialmente com outro homem. Acho que ele iria comê-lo vivo.
—Sim, quando outros machos estão envolvidos, seu irmão se torna
—alfa— mesmo nas circunstâncias mais desnecessárias. — Como sentar na
cabeceira da mesa da cozinha de Haruka, fazendo com que todos ao seu
redor falassem italiano ou andando por aí e latindo opiniões rudes e não
solicitadas. Haruka balança a cabeça.
Tesoro, por favor, você se alimentaria de mim? Você precisa dar um jeito.
Haruka se levanta da cama. —Que tal tomarmos banho? Vou ajudá-
lo a tomar banho e, talvez, em algum momento durante o processo, vou me
alimentar.
O rosto de Nino se ilumina. Sim? Você vai puxar minha aura? Enquanto
estamos no banho?
—Não, adverte Haruka. —Eu não posso me alimentar
profundamente de você. O médico disse que não devemos nos envolver em
atividades tão rigorosas até que ele nos libere.
Gemendo, Nino desliza ainda mais contra a cama e vira a cabeça.
Haruka ri, parado ao seu lado. —Eu ainda não sou capaz de derramar
emoções muito agradáveis em você?
Nino vira a cabeça para trás, seus olhos âmbar franzidos. Provocador
Haruka bufa em uma risada cortada. Ele se abaixa para segurar o
queixo de Nino com os dedos. —Abra por favor.
Hesitando, Nino muda o olhar e abre a boca. Haruka o examina. As
coisas melhoraram muito em relação ao mês anterior. Ele se endireita,
satisfeito. — Agradeço a vinda do fonoaudiólogo na próxima semana. Sinto
falta de ouvir sua voz natural.
Eu sei. Você pode me ajudar a me barbear de novo? Levantar meus braços
por muito tempo ainda é doloroso.
— É claro.
Cuidado, Nino se senta ereto, movendo-se para a beira da cama.
Durante a última visita de Sora, ela relatou que suas costelas se fundiram,
mas que seu corpo ficará sensível e dolorido por mais um tempo. Haruka
estende as mãos e dobra os joelhos. Uma vez que Nino agarra suas mãos,
Haruka desliza suas palmas pelos braços de Nino para segurar seus
cotovelos, firme e exatamente como Sora o ensinou. Nino ajusta seu peso,
plantando os pés no chão. Ele conta e, em seguida, levanta Nino da cama
para se levantar.
Nino geme, com o rosto dolorido. Isso é uma besteira.
Haruka fica atrás, segurando sua cintura e o guiando até o banheiro
principal. — É incrível para mim que você conjurou um escudo defensivo
tão poderoso. Nunca manipulei minha energia dessa forma.
Você me ensinou como focar e criar essa forma. Quem sabe o que ele teria
feito comigo se eu não tivesse aprendido isso. Nino boceja, tremendo enquanto
eles se movem. Comunicar-se assim por muito tempo o exaure mentalmente.
Haruka precisa levá-lo para um banho e colocá-lo de volta na cama o mais
rápido possível.
— … Haru.
— Sim, meu amor.
Fico pensando naquele lugar... e em Ladislao. Ele não queria estar lá. Não
deveríamos tentar ajudar? Ou pelo menos contar a alguém?
— Pelo que você me disse, esse problema parece um assunto de
família. Além disso, o reino de Lajos foi estabelecido por quase dois séculos.
Nesse ponto, muitos dos vampiros daquela sociedade nasceram lá. Não é
nossa função chutar uma colmeia, e você ainda está se curando do nosso
primeiro encontro com ele.
Nino suspira. Você está certo.
Percebendo seu descontentamento, Haruka acrescenta: — Podemos
revisitar este tópico quando você estiver curado?
OK, certo… Você pode comer hoje? G está certo, você perdeu muito peso. E
quando foi a última vez que você dormiu?
No banheiro, Haruka desamarra o manto de Nino, então desliza o
material sobre seus ombros cor de mel para retirá-lo de seu corpo. — Vou
comer hoje.
Me prometa. Os belos olhos de Nino estão sérios enquanto ele me
encara.
Haruka dá um beijo rápido em sua boca. —Prometo. Mas chega de
falar sobre mim. Vamos terminar isso para que você possa voltar para a
cama. O médico disse que o sono é a melhor maneira de seu corpo se
regenerar rapidamente. Vou cuidar de você e mantê-lo seguro.
DESESETE

Cellina repousa contra o quadril no chão de tatame do restaurante


tradicional, com os braços cruzados sobre a mesa baixa. O pequeno edifício
está situado ao longo do rio Kamogawa, fluindo e brilhando à luz do sol. Ela
está sentada ao lado de uma grande janela aberta com vista para o centro da
cidade no centro de Kyoto. A chuva parou e o tempo está glorioso - um dia
imaculado de início de verão com nuvens brancas e fofas espalhadas pelo
céu azul.
Detectando seu cheiro de gengibre, Cellina se endireita e olha para a
entrada. Um minuto depois, ele está lá. Ele sorri para a anfitriã e faz uma
reverência. Impecavelmente vestido, como sempre, e suas ondas marrons
mel estão mais longas agora, mas puxadas para trás na nuca em um estilo
elegante.
Na mesa, ele acena com a cabeça em saudação. Cellina retribui o
gesto, distraída pela forma como a luz do sol atinge as manchas verdes em
seus olhos como flashes de pedra esmeralda. Giovanni se acomoda em frente
a ela enquanto a garçonete sorri acima deles. Ela se registra como vampírica
por natureza, talvez terceira geração?
—Há algo que eu possa fazer com que você comece?
Ele olha para Cellina. — Você já fez o pedido?
—Apenas dois cafés gelados e um bolo para mim.
—Sobremesa primeiro. —Giovanni oferece um meio-sorriso, como se
a escolha tivesse trazido algo em sua memória. Ele olha para a garçonete. —
O café gelado está bom por enquanto, obrigado.
— Não há de quê. Você é irmão de Nino Bianchi?
O semblante de Giovanni muda, exalando charme puro-sangue
enquanto ele sorri mais brilhante. —Sou.
—Nino trabalha com meu irmão em Osaka —Daiki Izumi, ela explica.
—Ele me disse que você o tem ajudado e como você é incrível. Obrigado por
salvar o negócio da família. Ela oferece uma reverência profunda e reverente.
Giovanni ergue o queixo quadrado, seus olhos pensativos. — Seu
irmão é um vampiro trabalhador com muitas ideias criativas. É um prazer
apoiar meus parentes de qualquer forma - especialmente com aspirações
empresariais. O negócio vai prosperar com o tempo.
Ela se curva novamente, borbulhando de entusiasmo. — Obrigada,
quando as coisas estiverem funcionando, quero voltar para casa e trabalhar.
Mal posso esperar por isso. Eu, eu vou verificar seus cafés! Por favor,
desculpem-me.
—Obrigado. Ele concorda com a cabeça. Quando a jovem garçonete
se afasta, todo o comportamento de Giovanni desaparece quando ele coloca
sua agenda na mesa. Ele lembra Cellina de um balão de hélio esvaziando. A
mudança é drástica, e quanto mais tempo eles passam juntos, mais ela
percebe as linhas duras se formando em seu rosto esculpido.
Ele abre o livro com uma das mãos e pressiona os dedos no centro da
testa com a outra. — Eu tenho que voar para casa no próximo fim de semana.
Estou fechando um novo contrato de restaurante esta semana, então tenho
reuniões de acompanhamento agendadas com três dos clientes de Nino
antes de sair. Seu mais novo cliente está tendo uma espécie de celebração do
centenário na próxima sexta-feira à noite em Osaka, então acho que posso
espremer isso antes do meu voo pela manhã. O que está acontecendo com as
visitas sociais em Okayama? Como está indo o planejamento para Tanabata?
—Está indo bem, Cellina relata, assim que a garçonete retorna e
coloca seus cafés e seu bolo na mesa. —Estou trabalhando com o templo para
programar reformas e administrando os vendedores de alimentos. O Clã
Shōwa cuida de todos os detalhes da competição de decoração, então estou
deixando isso nas mãos deles. Mas eles sabem como entrar em contato se
precisarem de mim. Estou me divertindo dando cobertura para Haruka.
Todo mundo é tão legal. Eu adoro planejar eventos e conversar com novos
vampiros, meu japonês está melhorando também.
— Isso é bom, estou feliz que você esteja se divertindo. Se eu
conseguir resolver todos os clientes de Nino, Asao disse que talvez eu não
precise voltar. Isso funciona, porque eu tenho que voar para Paris e
Alemanha enquanto estou em casa, mas vamos tocar de ouvido.
Ele olha para baixo para rabiscar datas em seu calendário. Cellina
balança a cabeça. Ela se considera uma pessoa profissional e produtiva. Ter
aspirações de gerenciar sua própria galeria no futuro significa que ela está
sempre estudando e trabalhando, fazendo contatos e trocando ideias. Mas a
programação deste puro-sangue é insana. —Giovanni, quando você apenas
respira?
Ele olha para ela, uma carranca profunda gravada em sua testa. —
Respira! Como assim?
— Faz uma pausa. Relaxa.
Ele zomba. — Quando estou dormindo.
Ela o observa escrever coisas em seu calendário, apagar e reescrever.
Tudo nele é tenso. Ereto e tenso. Quem é esse homem sentado na frente dela?
O que aconteceu com o vampiro desafiador e doce que ela considerou seu
melhor amigo? Eles tiveram sua briga há muito tempo, mas as ramificações
disso ainda estão presentes entre eles mesmo agora.
O que os anos fizeram com Giovanni? Parece que o tempo o devastou,
levou-o a este estado áspero e amargo como uma pedra desgastada pelo
tempo na areia.
—Por que não vou à comemoração do centenário em nome de Nino
na próxima sexta-feira, já que é a noite anterior ao seu voo para casa? —
Cellina pergunta. —Você pode voltar para a propriedade Kurashiki e
descansar.
Ele balança a cabeça, ainda escrevendo. —Já estarei na área. Não faz
sentido você ir até lá. Não se preocupe com isso. Vou apenas mudar meu
voo para sair do Kansai International.
Cellina toma um gole de seu café gelado, deixando o líquido doce e
fresco acalmar seus nervos. Respira fundo... Você quer que eu vá com você?
Posso te encontrar em Osaka e podemos ir juntos? Caso não se importe. —
Dois representantes em um evento social são sempre melhores do que um.
Giovanni congela, encontrando seus olhos. —Você está disposta a
participar de um compromisso social... comigo? Juntos?
Isso deveria seja minha linha. Nervosa, ela alisa o cabelo até o coque
enorme e encaracolado. Com toda essa umidade no Japão, todo dia é dia de
pão encaracolado. —Sim... se você se sentir confortável comigo estando lá?
Largando o lápis, ele se senta ereto, massageando a nuca. — É claro.
Um silêncio constrangedor paira indiferente entre eles até que ele diz: —É
sempre melhor com você lá.
—Sempre? Cellina franze a testa. —Sempre desde quando?
—Desde que a gente era criança. Como quando meu pai me prendia
naquelas conversas enfadonhas sobre comércio agrícola e exportações, ou
taxas de crescimento anual nacional. Tendo você lá ... Fugir com você o
tornou melhor. Isso me deu algo para esperar.
—Eu… pensei sobre isso recentemente, admite Cellina. —As festas de
verão na propriedade de sua família foram as melhores. A comida, e eu
adorava vagar pelos jardins à noite. Foi como mágica. Ela relaxa os ombros.
Eles não falam assim há muito tempo: calmos, casuais e sem algum propósito
explícito ou hostilidade subjacente. É bom... como mergulhar os dedos dos
pés em um banho quente.
—Sim. Giovanni acena com a cabeça. —Passamos muito tempo lá.
Você se lembra de como costumávamos dizer a Nino e Cósimo que íamos
brincar de esconde-esconde, então eles corriam para algum lugar e íamos
nos sentar perto da fonte e conversar?
Cellina ri. —Nós escapamos disso por um longo tempo antes que
Cosimo descobrisse. Ele estava tão chateado. Nino nem ligou, não é?
—Não. Giovanni sorri. —Ele costumava escalar aquele velho
pessegueiro perto do mirante, aquele perto daquela cerca de roseiras? O
jardineiro encontraria pêssegos enrugados e seus caroços ao redor da parte
inferior da árvore no dia seguinte e faria um grande alvoroço sobre eles
destruindo seu equipamento de gramado.
—Recentemente, contei a Haruka sobre esse hábito bobo. — Cellina
ri. E o Nino sempre se escondia naquela área com as roseiras. Deus, ele era
um pouco solitário... Cosimo tentou ao máximo fazer com que Nino se
abrisse com ele depois que eles atingissem a maioridade.
—Naquela época, Cos estava tão desesperado para transar com ele e
se alimentar dele que deixou Nino desconfortável.
—Ele era tão em Nino, admite Cellina. —Ele veio a caminho muito
forte.
Giovanni sorri com malícia, cruzando os braços sobre o peito largo.
—Graças a Deus por Haruka.
—Eu amo Nino como se ele fosse meu irmão mais novo,
provavelmente mais. Mas sim, graças a Deus por Haruka. Mas Nino sempre
foi bom, sabe? Ele nunca testou meus limites e sempre se alimentou da
minha mão. Ele também me deixou expô-lo a programas de R&B e TV
americanos dos anos 90, quando eu estava passando por essa fase.
—Hm. Todos em nossa propriedade foram expostos a ele por
procuração.
—E vocês são todos muito bem-vindos. —Cellina estica o queixo.
Giovanni sorri.
Uma pausa confortável se estabelece sobre eles enquanto a luz do sol
muda para trás de uma nuvem. Eles estão conversando. Amigavelmente.
Relembrando os bons tempos e quando suas vidas eram mais simples.
Cellina quase pode sentir o aroma do verão, esfumaçado, mas doce, dos
ciprestes flutuando no ar noturno ameno do jardim. Ela quase pode ouvir o
ruído branco da fonte de mármore, sua água doce jorrando à distância.
Seu humor diminui, a melancolia se instalando em seu coração. Ela
olha para o vampiro sentado em frente a ela, encontrando seus olhos
adoráveis, mas desconhecidos. —O que aconteceu conosco?
Ele respira fundo, seu peito subindo e descendo. —E então tudo
mudou.
E assim foi. Sem dúvida. Cellina considera. Talvez seja hora de conversar
sobre isso?
—Não fiz essa escolha para machucar você, Giovanni. —Essa nunca
foi a minha intenção.
—Eu sei disso, ele diz, seu olhar abaixado. —Eu não conseguia
entender na época, minha mente vampírica juvenil não conseguia processar.
—Muita coisa aconteceu naquela época, diz Cellina, parando por um
momento para se preparar. Ela passou tantos anos lutando com a confusão
de emoções complexas resultantes daquela época, frustração, indignação,
arrependimento e profunda tristeza por seu amigo. Ela queria estar lá para
ele quando as coisas estivessem difíceis, mas ele não a queria lá. Ele disse a
ela para ir embora, então ela foi.
Mas agora…
—Então... você não está mais com raiva de mim? —Ela pergunta. —
Você não me odeia?
—EU nunca odiei você. Eu nunca poderia me sentir assim por você.
—Desculpe-me se te machuquei. Não me arrependo da minha
decisão, mas... nós fizemos uma promessa e eu a quebrei.
—Você fez a escolha certa. Giovanni fecha os olhos, levantando os
dedos para massagear o espaço entre as sobrancelhas. —Você salvou a vida
de Nino. Ele precisava de você mais do que eu - e eu fiz algumas coisas
estúpidas naquela época.
—Éramos jovens, diz Cellina, deixando o momento passar por ela.
Quando se refere a medida judicial: Tutela a liberdade disso há muito tempo
necessária. Esta infeliz circunstância do rapto de Nino os trouxe aqui, em
Kyoto juntos e nesta mesa, forçando-os a se sentar e reconhecer o elefante.
Para atacar e empurrar entre eles.
Sentindo-se confortável o suficiente para colocar os dois pés na água,
Cellina sorri. —Devo admitir que, quando me ofereci a Nino, não pensei que
o alimentaria pelos próximos cento e quatro anos.
—Você o alimentou por muito tempo, porra.
Cellina ri, cobrindo o rosto com as palmas das mãos. —Tão longo, por
que foi tão longo? Achei que ele tivesse atingido a maioridade aos 21 e
encontrasse alguém.
—Não, diz Giovanni. —Você o habilitou. Ambos fizemos de maneiras
diferentes.
—Creio que Eu só queria protegê-lo, sabe? Os vampiros em nossa
sociedade estavam sendo tão idiotas, eu senti que tinha que compensar...
Nossa! Cellina balança a cabeça e pega o garfo de sobremesa. Ela dá uma
mordida em seu bolo, suspirando quando a textura fofa, amanteigada e doce
engolfa seus sentidos.
—O que é isso? Giovanni pergunta, olhando seu prato enquanto toma
um gole de seu café.
—Chama-se Castella. Originalmente é de Portugal, mas você sabe
como os japoneses gostam de pegar as coisas e colocar seu próprio estilo
nisso. Uma das famílias que visitei me deu alguns e agora estou fisgada.
Você quer experimentar?
Os lábios carnudos de Giovanni se curvam em um sorriso de
surpresa. —Claro.
Cellina corta um pedaço do bolo com o garfo e o estende para ele.
Talvez eles nunca sejam tão próximos quanto antes. Muito tempo foi perdido
entre eles e eles são vampiros muito diferentes agora. Não há mais crianças
escapando de conversas chatas de adultos para vagar por jardins de verão
iluminados pela lua.
Eles são os adultos chatos agora. Totalmente alterado. Cresceram e
experimentaram grande parte da vida na ausência um do outro. Mas isso -
uma conversa aberta, um momento de calorosas recordações e risos. É um
bom começo. Um verdadeiro cessar-fogo.
Giovanni se inclina para frente, abrindo a boca para pegar o pequeno
pedaço de bolo. Sem pensar, Cellina o observa, hipnotizada por seus belos
lábios envolvendo seu garfo, em seguida, puxando lentamente a sobremesa
do utensílio. Ele lança um olhar malicioso, seus olhos vívidos brilhando. Viu
algo que gostou?
—Cale a boca. Ela franze a testa, afastando o constrangimento leve.
—Eu só estava pensando... seria bom se pudéssemos ser amigos de novo.
Ele levanta uma sobrancelha castanho-dourada. —Éramos apenas
amigos antes?
—Claro que erámos.
—Lembro-me um pouco diferente, diz ele, levando o café gelado à
boca.
Cellina estreita os olhos e se inclina para frente. —Então será bom
para nós sermos amigos do primeiro tempo, aparentemente. —Com isso,
Giovanni ri, as linhas de expressão em sua testa diminuindo e dando lugar
à alegria.
A maldita boca dele, Cellina pensa. Isso mudou ao longo dos anos, com
certeza.
Entre outras coisas.
DEZOITO.

Caos. É a primeira palavra que vem à mente no momento em que


Cellina desce do trem que a joga no labirinto de concreto da estação de Osaka
na semana seguinte. É sexta-feira à noite. Ela navega na espessa corrente de
pessoas, sentindo-se como se estivesse dentro de uma dessas intrincadas
fazendas de formigas subterrâneas.
Seguindo as placas em direção ao Portão Sakurabashi, ela abre
caminho, acompanhando o fluxo intenso da multidão. De sua visão
periférica, ela observa o fascínio brilhante de lojas de conveniência bem
iluminadas e de aparência limpa e lojas de souvenirs cheias de objetos
bonitos: bolsas feitas à mão com tecidos japoneses vibrantes e caixas de bento
coloridas cuidadosamente empilhadas sob cerejeiras artificiais.
Saindo das portas giratórias, Cellina respira fundo. O ar é ameno e
nebuloso e tem o cheiro de uma cidade - fumaça de escapamento, arranha-
céus de cimento, borracha e estradas pavimentadas. Sinais de néon em kanjis
que ela não consegue ler e em inglês que ela pode piscar no topo de edifícios
altos. Primeira impressão: Osaka parece corajosa. Mais movimentado e
áspero nas bordas do que Kyoto e Okayama. As duas últimas cidades
parecem mais uma tia gentil e charmosa que assa biscoitos, enquanto Osaka
é um tio barulhento que bebe demais.
Cellina para, tentando discernir Giovanni através da névoa urbana
com seus sentidos inatos. Um segundo depois ele está lá, as pontas dos dedos
gentis ao tocar sua cintura.
—Ei, ele diz.
—Oi. Ela sorri, feliz por ver um rosto familiar em meio à estranheza
opressora de seus arredores. Seu terno parece preto... ou é muito azul
escuro? Sua camisa por baixo a lembrava de sangria e sua gravata é macia e
acetinada em um tom mais escuro da mesma cor.
Cellina dá uma risadinha. Eles combinam. Não foi intencional, é
claro, mas ela está usando seu vestido de jersey azul marinho alegre com
mangas esvoaçantes e decote profundo. A viagem de trem de Okayama leva
duas horas, e ela sabia que este vestido em particular iria viajar bem e mantê-
la confortável na umidade do verão. Seus saltos de tiras laranja queimado
não oferecem nada, tanto quanto conforto, mas eles ficam incríveis com o
vestido. Ela lidará com as consequências de priorizar a moda sobre a saúde
geral e o bem-estar de seus pés mais tarde.
—O carro está por aqui. Ele acena com a cabeça para a direita, dando
um passo na mesma direção. Ele abre a mão em um gesto casual. Sem pensar,
ela desliza a palma da mão na dele, apertando os dedos enquanto ele a guia.
O contato gentil faz algo como eletricidade brilhar em seu braço e em seu
peito. Seu coração bate e pula.
Quando eles estão no banco de trás de um carro preto, ela respira
fundo. O espaço é um abrigo fresco em comparação com o calor frenético e
a tenacidade da cidade lá fora.
—Você está linda, diz Giovanni, focando-se nela antes de olhar para
o smartphone. O brilho branco-azulado do dispositivo ilumina suas feições
esculpidas na luz do entardecer.
—Obrigada, igualmente. E ele cheira maravilhosamente bem. Limpo,
ruivo e perfeitamente masculino. Sua aura de raça pura irradia dele, sutil,
mas enchendo o veículo. Em um pequeno esforço para se distrair, Cellina
olha pela janela, observando as luzes brilhantes, prédios altos e multidões
de pessoas passando.
—Isso é legal. Ele desliza o telefone no bolso interno da jaqueta e se
concentra nela.
—O que?
—Ir a um evento de aristocracia juntos... sentados aqui. Ele sorri. —
Você não está me ignorando.
Cellina levanta a sobrancelha, altiva. —Tive a impressão de que
estávamos nos ignorando.
—Não. Eu nunca ignorei você. Nem uma única vez.
—Você está bancando o inocente agora? —Cellina pergunta. —Como
se você não tivesse me dito para ir embora e que não queria olhar para mim
nunca mais.
—Lamento dizer isso no minuto em que você foi embora.
Cellina franze a testa. Como é que eu ia saber? —Por que você não
contou antes?
Giovanni encolhe os ombros. —Porque você estava me ignorando,
fria como uma pedra. Como se eu nem existisse se estivéssemos na mesma
sala juntos.
—Esse é o meu superpoder. Eu estava apenas fazendo o que meu
líder de reino me disse para fazer.
—Seu superpoder é uma merda. Giovanni sorri, ajustando suas costas
contra o assento. —É isso que somos agora, Lina? Líder do reino e súdito
obediente? Você vem comigo esta noite como parte de alguma obrigação
aristocrática?
—Não. Estou aqui porque eu queria apoiar você, Haruka e Nino.
Porque eu quero que nós dois sejamos amigos como costumávamos ser.
Giovanni zomba na luz fraca. —Aí está aquela palavra de novo.
—O que é então, Giovanni? O que você quer que sejamos?
Ele vira a cabeça para encontrar o olhar dela. A intensidade por trás
de suas íris verde-avelã faz Cellina inalar e sentar-se ereto. Sua temperatura
corporal aumenta conforme o silêncio se prolonga. Seus olhos piscaram para
baixo, levando-a antes que ele olhasse para frente novamente. —O que eu
quero e o que posso ter são duas coisas muito diferentes.
—Meu senhor, minha senhora, estamos aqui, anuncia o motorista.
Ela solta um suspiro quando Giovanni sai do carro. O que diabos isso
quer dizer? Ele é um vampiro de raça pura - líder do reino de uma das
comunidades de vampiros mais prósperas e densas da Europa. Em geral, ele
pode ter e fazer o que quiser, e ninguém consegue entender por que
Giovanni ainda não se uniu depois de todo esse tempo. Existem alguns
rumores e especulações, mas ninguém sabe o motivo.
Querendo qualquer momento de fuga que ela pudesse administrar,
Cellina desamarrou seus sapatos ao entrar no veículo. Ela se abaixa,
correndo para prender a fita em seu pé esquerdo enquanto Giovanni abre a
porta do carro.
—Um segundo, por favor, diz ela, terminando o pé esquerdo e
deslocando suas longas pernas para fora da porta para que ela tenha mais
espaço para calçar o sapato certo. Antes que ela pudesse se abaixar, Giovanni
se agacha na frente dela, segurando seu pé com a mão grande e examinando
o sapato. Cellina balança a cabeça em protesto. —Eu farei isso.
—Está tudo bem. Giovanni se concentra, ajustando o salto no sapato
de camurça e amarrando os cadarços no tornozelo. —Seu decote é baixo. Não
quero que nosso motorista tenha uma visão que não merece.
Quando Cellina olha para cima, o motorista está absolutamente
olhando para o peito dela. Não falando italiano, ele não entende a declaração
de Giovanni. Mas quando seu olhar encontra o de Cellina, ele sorri, sem jeito,
antes de se virar e ir embora. Cellina solta uma risada. —Você está
protegendo minha virtude agora?
—Estou protegendo seu corpo requintado de curiosos rebeldes, diz
ele, prendendo o arco.
—Meu anjo protetor. Cellina sorri. —Por que você está usando uma
gravata? Você odeia gravatas. Ele reclamava deles quando eram jovens -
quando seus pais davam festas formais e o obrigavam a usá-los. A criada
que o ajudava a vesti-lo sempre apertava demais. Sufocando ele. Assim que
eles estivessem no jardim e longe dos adultos, Cellina o desamarrava para
ele, enrolava e colocava em uma cerca viva, sua teoria adolescente sendo
quanto menos laços ele possuía, menos provável que ele fosse obrigado a
usar um.
Ele se levanta e estende a mão para ela. —Esta não é minha
aristocracia, então devo seguir os protocolos formais. Estou feliz que você se
lembre de algo sobre mim.
—Ah, por favor. Cellina revira os olhos, sorrindo enquanto ela pisa
nele e aperta o material macio e liso entre os dedos. —Você disse que eles te
faziam sentir, entre aspas, Como um cachorro na coleira. Pelo menos você
escolheu uma bela guia esta noite. Essa cor é maravilhosa.
Quando ele não responde, ela ergue os olhos. Seus olhos vívidos são
ilegíveis quando ele a encara. Ele bufa uma respiração quente e ruidosa e
puxa sua boca em um pequeno sorriso. —Obrigado.
Cellina dá um passo para trás e escova o tecido fluido do seu vestido,
o calor de sua natureza borbulhando em sua espinha. Acalme-se com os
encontros íntimos, Lina.
É assim que sempre foi com ele. Sempre que eles estavam perto, sua
natureza girava e se contorcia dentro dela, puxando-a para sua solidez e
calor. Sua natureza malandra e brincalhona e seu espírito rebelde. Sua
honestidade e consideração sincera pelos vampiros ao seu redor. Mesmo
agora, ele está gerenciando o reino de seu irmão mais novo - não hesitou um
momento em reorganizar sua agenda já insana para estar aqui para Haruka
e Nino quando eles precisassem dele.
Giovanni é sempre assim: focado no exterior. Cumprindo os desejos
dos pais, apoiando Nino em seus abusos, acalmando-a em seus acessos de
raiva por causa do irmão. Ele é a rocha sobre a qual todos se apoiam e se
apoiam. Confiável
Talvez com uma falha.
Ela não sabe mais nada sobre a vida privada dele, mas espera que ele
se divirta por conta própria. Em algum lugar entre compromissos, encontros
sociais, negócios, responsabilidades e crises. Ele deve se divertir e escapar,
pelo menos às vezes. Como costumavam fazer quando eram crianças.

NINGUÉM FAZ FESTA bem como uma vampira de quatrocentos


anos no Japão. Houve discursos sinceros e risos estridentes, licores
sofisticados e frutos do mar frescos. Em um ponto, ela foi recolhida nos
braços de outros vampiros, então erguida, como uma multidão de surfar, e
jogada no ar.
Chegar a quatrocentos é um feito impressionante em sua cultura, e a
mulher mais velha era ágil e esperta, sem nenhum sinal externo de sua
biologia quebrando e virando pó. Absolutamente digno de uma celebração
ao estilo de uma estrela do rock.
Cellina aprecia a experiência cultural - mesmo sendo regada com
elogios e comentários de flerte de vampiros com o dobro de sua idade.
Durante todo o tempo, Giovanni foi o puro-sangue perfeito. Ele bebeu uma
taça de vinho a noite inteira. Ele sorriu e riu na hora, ofereceu uma visão de
negócios séria para aqueles que queriam e mostrou preocupação e empatia
quando apropriado.
Ele é o que há de melhor na diplomacia. Uma máquina bem
lubrificada de civilidade e graça.
No momento em que eles voltam para o carro para deixar Cellina na
estação, Giovanni puxa a gravata, depois se recosta no assento e fecha os
olhos, respirando. Ela sorriu. O robô de diplomacia está recarregando.
—Ei, ela diz depois de dar a ele um longo momento de silêncio.
—Sim? ele responde, os olhos ainda fechados.
—Você já comeu okonomiyaki 3 , estilo Osaka? Ouvi dizer que é o
melhor.
Ele vira a cabeça. —Você está com fome? Acabamos de comer toda
aquela comida.
Ela dá de ombros. —Eu não comia muito por causa de todo o bate-
papo. E nós dois estamos aqui. Devíamos tentar. Ela se inclina para frente,
decidindo fazer um bom uso de suas crescentes habilidades na língua
japonesa. —Sumimasen, oishii okonomiyaki no resutoran wa doko desu ka?
Osusume no mise wa?
—Eu conheço um lugar, diz o motorista. —Melhor lugar para
okonomiyaki e takoyaki em toda Osaka. É em Namba. Não estamos muito
longe agora. Eles têm uma boa cerveja também.
Cellina sorri para Giovanni. Ele olha para o relógio. —Você pode
perder o último trem?
—Está tudo bem, ela diz. —Você tem um quarto? Posso dormir no
sofá ou conseguir outro quarto.
—Você não vai dormir no sofá. Ele franze as sobrancelhas. —Tem
certeza?

3Okonomiyaki é um tipo de panqueca frita japonesa com vários ingredientes.


Okonomi significa "o que você quer" ou "do seu desejo," e yaki significa "grelhado"
ou "frito"; sendo assim, o nome desse prato quer dizer "cozinhar aquilo que você
gosta, da maneira que você deseja".
—Absoluta. Ela estreita os olhos. —Vamos comer coisas fritas e
cerveja tarde da noite. Eu quero aproveitar Osaka.
E eles fazem isso. O motorista os leva a uma pequena loja de
propriedade local na movimentada área de Namba. A rua é agitada, lotada,
com prédios com letreiros de neon que brilham em cores nítidas contra o céu
negro. Subindo um lance estreito de escadas e em uma sala quente e
nebulosa, eles são recebidos por um chef humano ocupado e dois garçons
que hesitam levemente em suas naturezas vampíricas. Eles fritam as
saborosas —panquecas— ao estilo japonês na grande grelha de sua mesa
privada, com o calor, a fumaça e os cheiros girando ao seu redor. Giovanni
tira o paletó, afrouxa o colarinho da camisa e eles bebem cerveja gelada. Ele
ri muito - os dois riem, relembrando mais sobre seus dias de juventude e
preenchendo as lacunas de sua longa separação.
Quando a grelha foi desligada e pedaços rebeldes de macarrão frio,
flocos de peixe e lulas permanecem em seus pratos, Cellina se recosta,
relaxada. —Como você se diverte e relaxa atualmente? Só por curiosidade.
Ele franze a testa enquanto olha para ela, seus olhos brilhando da
lâmpada pendurada sobre a mesa. —Qual é essa palavra? Diversão
—Já chega.
—Deixando de lado esta noite, eu não tenho me —divertido— desde
o início dos anos 1900.
—Ah ... foi quando você entrou em sua famosa escapada sexual?
Eles fazem uma pausa. Giovanni franze a testa. —É assim que você o
chama?
Hum-rum. Cellina acena com a cabeça, sorrindo. —Sua grande
sexploração. Sua incursão juvenil no domínio do sexo.
—Não. Giovanni pega sua cerveja e a leva aos lábios. —Não era.
—Nós apenas... excluímos um do outro. —Cellina suspira, olhando
para a frigideira bagunçada. —Eu queria conversar sobre as coisas com você
- talvez bolar um plano juntos? Mas eu não tinha ideia de que você reagiria
dessa maneira. Fiquei tão zangada e desapontada, mesmo que você tentasse
falar comigo, provavelmente não teria ouvido.
Giovanni coloca sua cerveja na mesa e respira fundo. —Mil
novecentos e quinze foi o pior ano da minha vida - e todos os dias... todos os
anos depois foi igual. Entorpecido.
—Novecentos e quinze... Cellina considera. —Eu fiz dezesseis
naquele ano. Esse também foi o ano em que sua mãe passou fome na guerra
e Domenico ficou doente... Comecei a alimentar Nino. A sexcapada.
—E eu perdi você, acrescenta Giovanni. —O único vampiro na minha
vida que já se importou com a meu bem estar. Eu fiz essa merda para chamar
sua atenção, na minha cabeça idiota de dezoito anos, eu estava tentando te
deixar com ciúme. Meu pai acabou gritando comigo sobre isso e dizendo a
merda mais vil que ele já me disse. Parece que tudo foi para o inferno
naquele ano e nunca mais se recuperou.
Funcionou. Mal sabia ele, ele tinha sido bem sucedido. Suas ações na
época a deixaram com ciúme e muita raiva, abastecendo seu superpoder com
força máxima. Ela sacode a cabeça. —Giovanni, não sou a única pessoa que
se preocupa com você. Os vampiros de nossa aristocracia e de toda a Europa
adoram você. Seu pai se preocupa com certeza. Nino também.
Ele tira sarro. —Sou um servidor público de todos eles, alguém que
lida com a porra dos problemas deles.
Cellina discorda, mas não vai discutir com ele sobre um assunto
delicado como este. —Bem... você e eu estamos conversando agora, pelo
menos? Eu só queria que pudéssemos ter conversado sobre o que aconteceu
antes.
—Estou feliz por estarmos falando sobre isso, ponto final. —
Giovanni olha para seu copo vazio e o torce contra a mesa com os dedos. —
Achei que nunca iríamos.
Cellina acena com a cabeça enquanto estica os braços para cima,
bocejando. O motorista estava certo. A comida estava deliciosa.
—Está cansada? Giovanni pergunta.
—Você está? Cellina sorri. —Não se preocupe comigo. Você é aquele
com um voo para pegar em algumas horas. Devemos voltar para o hotel para
que você possa dormir um pouco?
Ele considera por um momento, ainda torcendo sua cerveja. Ele
encontra o olhar dela. —Não. Se você quiser, vamos dar uma volta, talvez
encontrar algo doce? Eles têm algo chamado taiyaki. É uma panqueca quente
em forma de peixe e recheada com creme ou feijão vermelho... às vezes
outras coisas. Talvez você goste. Podemos dividir um?
—Inferno, sim, eu vou gostar, vamos ver sobre esse negócio de
divisão. —Outra situação de panqueca recheada? A boca de Cellina já está
molhando. Esta noite parece um desafio: quanta comida deliciosa ela pode
colocar em seu corpo. —Talvez eu precise comprar um novo guarda-roupa
até o final desta viagem. Ela sorri de brincadeira. —Vai valer a pena.
—Não importa, ele diz. —Você sempre será você, alguém com quem
eu posso largar a besteira de —líder puro-sangue. —Você nunca assinou isso
e sempre me tratou como uma pessoa normal e sensível e não apenas alguém
que poderia fazer algo por você. Você vive por suas regras e é hipnotizante
para mim. Admiro isso em você e gostaria de poder...
Giovanni faz uma pausa, olhando para seu copo de cerveja vazio. O
sangue corre para as bochechas de Cellina e ela respira, desejando que sua
natureza interior pare de girar antes que seus olhos se iluminem e a
envergonhem no meio deste restaurante.
Ele balança a cabeça, sorrindo quando encontra os olhos dela. —Você
vai andar comigo? Vamos ficar fora a noite toda... apenas uma noite. Vou
dormir no avião.
Ela olha para ele, controlando seu interior borbulhante. Sapatos
desconfortáveis e imagens corporais opressivas que se danem.
— Sim. Estou dentro.
DEZENOVE

Algumas semanas depois, Nino se concentra em seu telefone,


observando as bolhas cinza do texto iminente de Cellina flutuando no brilho
branco da tela.
[Eu não sei, tenho certeza que ele está flertando comigo.]
Nino sorri, digitando sua resposta. Ele clica em enviar.
[Sem querer minimizar sua atratividade óbvia, mas acho que essa é a
personalidade de descanso de Jun?]
Ele é tão charmoso. Um excelente par, e ele está vestindo matador
como... terno branco pérola. —Nunca vi nada parecido.
Nino zomba, digitando sua resposta.
[Não diga isso a G.]
[Tanto faz. Te vejo amanhã de manhã.]
[Ciao, bella! Oi, linda!]
Lentamente, Nino se senta na cama. Ele está cansado de ficar deitado,
cansado de sentir dor. Suas costelas e órgãos se recuperaram, mas esse
negócio de regeneração da língua é um inferno absoluto. Sua boca inteira
lateja e queima, a sensação reverberando em sua mandíbula e enviando
tremores por todo seu crânio. Isso o deixa imóvel às vezes. Tonto e com
náuseas.
No momento, um avanço está ocorrendo. Os ardentes formigamentos
da regeneração ainda estão presentes, mas não totalmente. Ele olha para o
espaço em frente ao pé da cama. O vasto ninho de livros, papéis e anotações
de seu companheiro, marcadores e cérebros de modelos de plástico está
dentro de um semicírculo bagunçado. Haruka sempre descreve seus
métodos de pesquisa como —caos organizado—. Depois de observá-lo por
mais de um mês, Nino agora entende.
O criador do ninho está faltando. Ele olha pelas portas do pátio, e a
lua crescente está alta, lançando sua área de fonte termal natural em uma luz
branca suave. As enormes cerejeiras em flor não têm flores e estão cheias de
ricas folhas verdes. Ele se levanta da cama, então sai do quarto em busca de
seu companheiro amoroso.
Previsivelmente, ele está na biblioteca. Nino fecha as portas duplas
atrás de si. Haruka está sentado no chão com as pernas dobradas, mas ele
está dormindo - um grande livro aberto e colocado no côncavo de suas
pernas dobradas. O queixo de Haruka repousa contra seu peito, sua
respiração silenciosa e profunda.
Relaxando de joelhos na frente dele, Nino estende a mão para segurar
e erguer o queixo de Haruka com a ponta dos dedos. Ele não acorda de jeito
nenhum. Nino sorri. Haruka tem sido incrível cuidando dele. Ele sabia que
seu cônjuge era paciente e amoroso, mas o nível de benevolência, abnegação
e ternura que ele exibia era indescritível.
Com o rosto adormecido de seu companheiro levantado, Nino inclina
a cabeça e dá um beijo suave em seus lábios. Haruka inala, seus olhos
desfocados piscando abertos. Ele pisca, confuso. Sua voz profunda está cheia
de exaustão. —Desculpa, o quê?
Por que você está se desculpando?
Haruka respira fundo novamente, olhando ao redor da sala. —Eu
peguei no sono. Que horas são?
Quase dez e meia da noite. Não durma assim. Venha para a cama.
—Estou bem. Haruka boceja. —Estou acordado agora. —Ele esfrega
a mão na nuca e sob o coque pesado e desgrenhado. As bolsas sob os olhos
de Haruka são proeminentes. Suas feições, geralmente esguias e elegantes,
parecem agudas e magras. Ao cuidar de Nino, Haruka deixou sua própria
saúde e corpo ruírem.
Nino se inclina para frente e beija o canto da boca. Ele se afasta e os
olhos de Haruka estão focados em seus lábios. Quando eles piscam para a
íris de Nino, a hesitação é óbvia.
Estou com saudades tesoro…
Ele sente falta da satisfação de estar enlaçado com seu corpo nu. Sua
aura terrosa e rosada envolvendo-o em uma névoa brilhante de paixão
quando eles fazem amor. O sabor delicioso de sua carne fresca e sangue em
sua boca. Nino está cansado de se alimentar de uma intravenosa e cansado
de ficar deitado na cama. Cansado de ser prejudicado.
Ele aprecia sua intimidade. Isso lhe dá confiança, e Haruka sempre
incentiva suas ações. Ele quer explorar e cavar mais fundo com seu
companheiro, verdadeiramente entendendo como satisfazê-lo e alcançar
novas alturas juntos.
Haruka suspira, olhos fechados. —Meu amor, o médico disse que
deveríamos esperar pelo menos dois meses.
Eu quero você agora.
Ele se inclina para ele novamente e Haruka deixa cair seu queixo,
exalando um gemido pesado enquanto desliza seus dedos contra a parte de
trás do cabelo crescido de Nino. Mas um momento depois, ele se afasta do
beijo, um sorriso tímido nos lábios.
—Você deveria estar na cama.
A frustração borbulha dentro de Nino, apertando seu peito. Ele solta
um suspiro para reprimi-lo e encosta a testa no ombro de Haruka. Então vem
comigo… Não fique aqui sozinho a noite toda de novo.
—É melhor se eu vigiar aqui para não atrapalhar o seu descanso.
Não?
Nino vira a cabeça, esfregando o rosto na parte côncava do pescoço de
Haruka. Ele se abaixa e segura sua mão contra o tatame. Apenas, venha comigo
e tente relaxar, certo? Vou dormir melhor se você estiver perto de mim de qualquer
maneira. E eu quero que você durma à noite também. Você só precisa tentar.
Os ombros de Haruka sobem e descem em um suspiro. Nino pode
senti-lo em conflito, paranoico e dolorosamente ansioso. As emoções são
fortes, mas ocultas dentro dele. Silencioso, como um céu escuro sobre as
ondas do oceano negro, pouco antes de uma terrível tempestade.
—Eu, eu não consigo dormir sabendo que somos vulneráveis a Lajos
e a qualquer ataque em potencial. Vou acompanhá-lo de volta ao quarto, mas
vou ficar de guarda...
Ele pode nunca mais voltar aqui.
—E, no entanto, ele pode voltar a qualquer segundo.
—… Haru. Nino se levanta, olhando nos olhos de seu companheiro.
—Po- por favor.
Seu companheiro fica congelado, seu olhar se suavizando. —Você
falou comigo.
Eu falo com você o tempo todo.
—Sim, mas ouvindo sua voz física... —Haruka balança a cabeça, seus
olhos vidrados na luz fraca. —Eu senti tanto a falta disso. —Ele se inclina
para frente, envolvendo os braços em volta dos ombros de Nino. Ele pode
sentir o alívio sutil passando por Haruka, aliviando um pouco a tensão
espessa.
—Venha... para a cama. Comigo. Nino se afasta do abraço, esperando.
Apesar de ter uma língua na boca a vida inteira, perdê-la por quase dois
meses foi mais impactante do que ele jamais poderia ter imaginado. Mesmo
agora, parece volumoso, estranho e fazendo-o tropeçar nas palavras.
Haruka acena com a cabeça, ficando de pé e pedindo a Nino que se
levante também. Eles caminham de mãos dadas enquanto se movem pelos
corredores silenciosos em direção ao seu quarto. Quando estão lá dentro e
deitados no colchão firme, Nino tenta relaxar, mas é impossível. Haruka
repousa de costas, imóvel ao lado dele. Ele está terrivelmente tenso, tenso
como um elástico esticado e a segundos de estalar.
Virando-se de lado, Nino o encara. Haruka está olhando para o teto,
quase sem piscar. Nino estende a mão e segura seu pulso. —Por favor, durma?
—Eu não estou cansado. Ele vira a cabeça contra o travesseiro para
encontrar os olhos de Nino. —Mas eu sinceramente desejo que você faça. É
fundamental para a sua cura.
Nino suspira, áspero ao se ajustar ao travesseiro. Ele odeia isso:
Haruka se desgastando, a paranoia constante e essa obsessão em protegê-lo
de algum evento desconhecido. Tudo mudou por causa de Lajos, o fluxo
saudável e a paz de suas vidas diárias arruinados. Ele está começando a se
sentir como uma criança sendo punida por algo que não foi culpa dele.
Para piorar a situação, o formigamento ardente da regeneração
irrompe em suas mandíbulas mais uma vez. Ele fecha os olhos e geme com
a tortura familiar. Haruka se vira de lado e se depara com Nino, envolvendo-
o em seus braços e segurando-o durante o pior da dor.
VINTE.

—Bom dia, sua graça. —Junichi sorri, sentado à mesa com Asao e
segurando uma xícara de café fumegante.
Haruka se aproxima, semicerrando os olhos por causa da luz forte da
manhã que preenche a cozinha. Confuso, ele coça a cabeça. —Achei que você
fosse viajar pela Europa até agosto?
—Eu estava, mas os planos mudam. Giovanni está de volta em casa e
Cellina vai embora neste fim de semana, certo?
—Sim... Nossas responsabilidades pendentes estão acertadas por
enquanto, então eu sinto que não há nenhuma razão tangível para eles
ficarem.
—Certo. E como Nino está se recuperando? Junichi pergunta.
—Ele está excelente, dormindo, atualmente. —Haruka se senta na
cadeira aberta na cabeceira da mesa, protegendo os olhos da luz.
Ultimamente é intenso. —Suas costelas estão curadas e ele começou a
trabalhar com um fonoaudiólogo na semana passada. Nesta semana,
iniciaremos a terapia de alimentação. Sora está vindo hoje para tirar meu
sangue. Mas por que você encurtou sua viagem? Você sempre gosta de suas
excursões de negócios para a Europa.
—A luz está incomodando seus olhos? —Junichi inclina a cabeça. —
Você parece angustiado com isso.
Haruka estende a mão e esfrega com a ponta dos dedos. Suas íris
estão queimando, mas não da maneira usual quando se acendem. Isto é
diferente. —Não sei por que, mas eles parecem irritados no momento.
—Eles parecem irritados. Asao me disse que você não dorme à noite...
que não dorme há mais de um mês e tem o hábito de desmaiar em algum
lugar da casa durante o dia.
—Ele? Haruka deixa cair suas mãos, estreitando os olhos para seu
criado. Asao olha para a frente, ignorando-o enquanto ele bebe.
—Haruka… Sondas Junichi. —Se você se tornar noturno?
—Não, não estou.
—Sim, você está, interrompe Asao, franzindo a testa. —Você já está,
Haruka. É um problema.
—Se você é noturno, —Junichi continua, —todos nós temos que se
tornar noturno, você entende isso? Mesmo se você não mandar, nossa
natureza seguirá sua liderança por instinto, porque sua essência é como um
farol para nós. É antigo e poderoso e nos afeta. Se quisermos nos encontrar
ou fazer negócios com você, mas você só está acordado à noite, adivinhe?
Nós também temos que ser.
Haruka balança a cabeça. Seus olhos estão queimando e parece que
seu cérebro está nadando em água turva. —Não, não quero que esta
comunidade mude suas práticas.
—Então por que você não está dormindo? —Junichi pergunta.
—Eu... Eu não. Não agora.
—Por quê? Asao pressiona.
Apoiando os cotovelos na mesa, Haruka coloca as palmas das mãos
nos olhos irritados, protegendo-os da luz. —Porque Lajos é noturno. O
atacante de Nino anda à noite. Como posso dormir e deixar nós dois
indefesos contra ele?
—Você não rescindiu verbalmente o convite dele para entrar em
nossa casa? —Asao pergunta. —Ele não pode mais entrar. Você não precisa
fazer isso.
—Não é o suficiente! Haruka faz uma pausa na explosão, respirando
fundo. —Ele ainda pode usar seu poder para nos fazer desaparecer, mesmo
que não esteja dentro de casa. Enquanto ele souber que estamos aqui,
seremos vulneráveis e não posso... Eu não consigo dormir sabendo disso.
Não vou.
—Então, por que não deixar Cellina e Giovanni ficarem para ajudar?
—Junichi pergunta.
—Porque eles já fizeram mais do que o suficiente por nós. Recuso-me
a sobrecarregá-los mais do que já fiz. Eu posso resolver isso.
O silêncio cai sobre o espaço quente da cozinha. Haruka esfrega os
olhos. A inflamação está se tornando insuportável.
—Até quando? Junichi pergunta. —Essa prática de viver com medo e
paranoia?
—Eu não sei, Haruka disse, sua garganta apertando de ansiedade e
cortando sua respiração. Tudo, o estresse, o choque e a incerteza do mês
passado, tudo desaba em sua psique. —Eu perdi muito na minha vida,
Junichi. Perdi meus pais muito jovem e perdi meu primeiro companheiro e
um filho. Quase perdi Nino e isso me assusta de morte. Se eu o perder...
Acabou. Não há mais nada para mim nesta vida.
Haruka fecha os olhos com força, o medo dentro dele subindo à
superfície e transbordando. Seus olhos lacrimejam e ele enxuga as lágrimas
com a ponta dos dedos. —Eu era muito complacente, muito relaxado. Eu…
Farei o que for preciso para proteger o vampiro que amo e nossa casa. Se isso
significa tornar-se noturno, então que seja. Mas não desejo que suas vidas
sejam arrancadas por minhas ações. Não quero dificultar as coisas para
minha comunidade. Me desculpe.
—Você não precisa se desculpar, Junichi diz. —Mas eu não gosto que
todas as nossas vidas estejam mudando por causa deste vampiro vil. Você
está dando a ele muito poder, Haruka.
—Não sei mais o que fazer.
Asao solta um gemido e passa as mãos no rosto. —Ir ao banco e fazer
compras no mercado vai ser uma verdadeira merda.
Junichi ri. —Seu velho rabugento, é só com isso que você está
preocupado agora?
—Chega de jogos de beisebol do colégio ou partidas de karuta à tarde
no centro de recreação local. E pense em vampiros cujos negócios prosperam
durante o dia, ou como os trens param de circular às duas da manhã, viagem
e acessibilidade vão ser uma merda. Ônibus noturnos para todos!
—Mm. Junichi balança a cabeça. —Foda-se o ônibus noturno, não vou
fazer isso.
Asao ri. —Vampiros no ônibus noturno soa como um filme de terror
barato.
A campainha toca e Asao se levanta para sair. Quando ele sai, Haruka
aperta os olhos para o suave vampiro marrom-amendoim ao lado dele. —
Asao disse para você voltar para casa para falar comigo?
—Asao não manda em mim. —Eu tomo minhas próprias decisões.
—Ele é seu mais velho.
—Não importa. Depois que meu pai morreu, parei de ouvir os mais
velhos. O bastardo malvado arruinou tudo para eles.
Haruka zomba, não convencido. Junichi fará cento e trinta neste
outono. Haruka o supera, mas a dinâmica do relacionamento deles é
confortável, não rígida na maneira tradicional e hierárquica de sua cultura.
É legal.
—Obrigado, Jun. Por ouvir e por manter minha circunstância em
segredo... pelo maior tempo possível, de qualquer maneira.
—De nada. Junichi sorri, observando Haruka com o canto dos olhos.
É para isso que os amigos servem. Devo começar a fazer roupas novas para
você, já que você está muito magro agora? Minha musa escura e etérea está
se tornando esquelética, então preciso ajustar minha estética?
Etéreo Haruka empurra o nariz para cima, mas depois olha para seu
suéter folgado, suas calças largas com o cinto aumentado por um buraco
feito por ele mesmo para apertá-lo mais. —É tão ruim?
—Não está Bem. Por que você não quer comer?
SOLIDARIEDADE. Mas eu como às vezes... Estou ocupado.
—O Nino não ganha um tubo de alimentação para nutrição e um
sangue IV? Além disso, seu companheiro é um pouco mais tonificada do que
você, Haruka. Ele pode lidar melhor com a perda de peso. Você, por outro
lado, precisa comer mais do que —às vezes—, meu caro amigo.
Haruka encolhe os ombros. —Sempre fomos ensinados que, como
vampiros de raça pura, não precisamos consumir alimentos para sobreviver.
—Certo. Você pode andar por aí parecendo um Nosferatu de peruca
se quiser, mas seria melhor com um pouco de carne nos ossos.
Asao reaparece na porta e Haruka fica surpresa quando um Doutor
Davies vestido casualmente está parado ao lado dele. Ele se curva na cintura
enquanto segura as alças de uma grande bolsa em seus punhos. Haruka se
vira para Junichi, o momento o chocando. Ele sussurra: —Há um humano
em minha casa.
—Quem tá falando? Junichi se senta para frente, sussurrando de volta
com seus olhos negros arregalados. —Ele é excelente...
Entrando na cozinha, o médico acena com a cabeça. A ação é dura. —
Bom dia, senhor Hirano. Eu... Bem... Sora teve um turno duplo ontem e você
me perguntou sobre livros de medicina. Então decidi fazer a visita
domiciliar, já que estou de folga aos domingos. Tentei entrar em contato com
você diretamente, mas, mas seu telefone estava desligado.
Haruka não tem ideia de onde está seu telefone. Ele nem consegue se
lembrar da última vez que o viu ou usou. —Por favor, me chame de Haruka
e obrigado por fazer uma visita pessoal. Doutor Davies, este é Junichi
Takayama. Ele é um amigo próximo. Junichi, Doutor Davies.
O Dr. Davies faz uma reverência. —Muito prazer em conhecer.
—Igualmente. Junichi sorri. —É a primeira vez que está em uma casa
cheia de vampiros de alto nível?
O médico relaxa os ombros e coça a parte de trás de seus grossos
cabelos ombre. A cor lembra Haruka da juba de um leão. Ele levanta as
sobrancelhas por trás dos óculos. É tão óbvio?
—Muito. Junichi se recosta, examinando-o. —Mas não se preocupe.
Não vamos morder... antes do primeiro encontro, de qualquer maneira. Você
tem planos para o jantar hoje à noite?
O Dr. Davies pisca. —Com-com licença?
Haruka levanta a mão, balançando a cabeça. —Peço desculpas pela
retórica jocosa de meu amigo. Nino está no quarto - Asao o guiará até lá, e
obrigado pelos livros. Foi muito gentil da sua parte.
O Dr. Davies estreita os olhos em direção a Junichi, mas então ajusta
e suaviza sua expressão. Ele sorri para Haruka. —O prazer foi meu. Vou
precisar tirar seu sangue para o novo soro hoje também. Vou examinar Nino
primeiro e depois avisarei você quando estiver pronto. Haruka... você está
bem? Você está tão pálido.
—Estou bem, doutor. Obrigada pela preocupação.
O médico acena educadamente antes que Asao o guie para fora da
cozinha. Haruka vira a cabeça em direção a Junichi quando eles se vão. —O
que você está fazendo? Ele é o médico de Nino.
—Por que você está bloqueando meu pau? E por que ele cheira assim?
Junichi aponta para a porta vazia. —Você não percebe como ele cheira
incrível? Ele é humano?
Haruka pisca, franzindo a testa. Ele nunca ouviu o termo —bloqueio
de pau— antes, mas dado o contexto e o comportamento de Junichi, ele pode
entender facilmente. —Eu admito que ele é estranhamente atraente para
minha natureza. Mas ele lê como humano.
—Eu conheço humanos. —Junichi cruza os braços. —Eles cheiram a
sujeira. Ele não cheira a sujeira, e ele é deslumbrante. Ele está no hospital da
minha mãe com Sora? Droga... talvez eu também esteja me sentindo mal?
Junichi força uma tosse superficial, o som não natural e estranho.
Haruka franze os lábios em uma carranca. —Por favor, não moleste o médico
do meu companheiro.
—Não faço promessas. Junichi sorri. —Você acha que ele gosta de
homens? Os humanos são muito específicos sobre isso.

TRINTA MINUTOS DEPOIS, O Dr. Davies terminou de examinar


Nino e retirou bolsas de sangue de Haruka para a próxima semana.
Com Nino deitado atrás dele, Haruka desenrola as mangas de seu
suéter enquanto se senta na beira do colchão. —Ele diz que o processo de
regeneração é, entre aspas, como terremotos e fogo do inferno em sua boca.
O médico sorri. —Bem, sim, isso parece certo, eu disse que não seria
fácil. Mas tudo está progredindo como deveria. Esperançosamente, o fogo
do inferno continua e se apaga logo? — Com o silêncio de Haruka, o médico
parou de arrumar sua mala e ergueu os olhos. O rosto de Nino está achatado
enquanto ele balança a cabeça.
Haruka sorri. Ele diz: —Ele está brincando sobre isso agora. —Houve
também um palavrão que não quero repetir.
—Não, de forma alguma. Sinto muito por isso.
A campainha toca, surpreendendo Haruka. Eles não estão esperando
mais ninguém hoje. Mas dentro de alguns minutos, ele pode ouvir o
tamborilar de pequenos pés, o sussurro de vozes excitadas. Ele se senta mais
reto, com o coração leve.
—Comporte-se, por favor, ou não faremos isso de novo, Sora avisa
quando eles entram pela porta. Shion e Amon estão ao seu lado, suas mãos
agarradas nas dela e seus rostos cheios de admiração. É a primeira vez que
visitam a propriedade.
—Haru-sama! —Amon grita, então foge das garras de Sora. Ela
chama atrás dele, mas não adianta. Ele salta, então bate em Haruka enquanto
ele se senta com as pernas abertas na cama. Ele envolve seus braços em volta
da cintura de Haruka em um abraço apertado, seu rosto pressionado em seu
suéter.
Haruka agarra a cabeça de Amon com as palmas das mãos e puxa seu
olhar para cima, sorrindo. —Olá!
—Oi.
—Amon, mamãe disse não corra, Shion repreende ao lado de sua mãe.
Amon vira a cabeça e mostra a língua antes de se aninhar no estômago de
Haruka novamente.
—Oi, Sora. O Dr. Davies pisca. —Eu disse que cuidaria das coisas
hoje?
—Eu sei, eu sei, ela diz. —Mas eu queria surpreender Haruka, já que
tem sido difícil nas últimas semanas. E esqueci que prometi aos pequenos
que os traria comigo esta semana, então, você sabe... eles não entendem o
conceito de —mamãe trabalhava em turnos de trinta horas, então a viagem
que você esperava por três semanas é cancelado—.
—Ah, bem, é justo. —O médico sorri. —Devo ir na próxima semana
também?
Enquanto eles conversam, Haruka puxa Amon de sua posição
semelhante a um torno de sua cintura e o senta contra suas coxas. Quando
ele se acomoda, ele olha para Haruka com olhos castanhos brilhantes. —
Posso te mostrar uma coisa? —ele sussurra.
—Sim. Haruka acena com a cabeça, sussurrando por sua vez. —Mas
primeiro, acho que devemos nos desculpar por não ouvir a mamãe, não é?
Amon vira a cabeça na direção de Sora e acena com a cabeça em uma
reverência educada. —Mamãe, sinto muito.
Sora sorri em reconhecimento. —Obrigado, querida, mas ouça
próxima vez. —Ela estreita os olhos e se volta para o médico.
Haruka dá um tapinha nas costas de Amon. —E podemos também
cumprimentar Nino-sama adequadamente? —Amon vira a cabeça e faz uma
reverência apressada.
—Olá, Nino-sama!
—O-olá?
Amon vira para trás, olhando para Haruka. —Posso te mostrar agora,
por favor?
—Claro, o que é?
Ele enfia a mão no bolso da jaqueta e tira um objeto de aparência
complexa. Segurando-o em suas pequenas mãos, Amon vira o brinquedo
enquanto fala. —São nano blocos. É um tubarão, viu? E pode abrir e fechar
a boca, chomp. Amon agarra a mandíbula do tubarão com os dedos,
demonstrando e segurando um pouco perto demais do rosto de Haruka.
—Está maravilho. Haruka ri, recostando-se. —Você construiu isso
sozinho?
—Não, papai ajudou. Demorou muito - ah! Podemos fazer um juntos?
Da próxima vez que você vier visitar?
—Eu amo essa ideia. Que animal devemos escolher?
—Hmm, você escolhe.
Haruka contempla, coçando a cabeça. Na verdade, ele não tem ideia
do que esta linha de brinquedos tem disponível.
Tem um porco, um periquito, um canguru... uma raposa e todo tipo de
Pokémon.
Haruka encontra os olhos de Nino e seu companheiro o está
observando. Ele está com o telefone nas mãos, um sorriso gentil nos lábios.
Haruka sorri. —Obrigado, meu amor.
De nada.
Confiante, Haruka olha para Amon. —Acho que gostaria de fazer um
Pokémon.
—Sim! — Amon se ilumina. —Qual é o seu favorito?
Pelo amor de Deus. Você não poderia escolher o porco? Ou um dos outros
três que você reconheceu?
Haruka morde os lábios, olhando discretamente seu companheiro. O
que diabos é um Pokémon?
Inacreditável.
—Nino-sama?
Shion está ao lado de Nino. Ela coloca as mãos contra seu braço
exposto, acariciando-o afetuosamente. —Você está bem?
Nino acena com a cabeça, piscando brevemente os olhos em direção
a Haruka antes de responder, suas palavras lentas e cuidadosas. —Sim. O-
obrigado... por perguntar...
—Por favor, sinta-se bem logo, diz Shion. —Então você pode vir com
Haru-sama, e eu e papai faremos mochi!
—Eu também vou ajudar! Amon franze a testa.
Shion suspira. —Amon vai ajudar também.
Nino sorri, hesitando, mas depois põe a mão em cima da dela que
repousa em seu braço. —Ok, parece bom.
JULHO

VINTE E UM

—Em uma escala de um a dez, quão bêbado eu estava na noite


passada? Mia geme e deita a cabeça para trás, com cuidado para não
derramar o café no sofá de veludo. Ela passa a mão em seus longos cabelos
ondulados. Ainda é o período de entressafra, então é claro, está tingido. Algo
como um rico tom de ameixa brilha contra o nogueira profunda de sua cor
natural. —Dez com cara de merda e caindo... Não me lembro de ter caído,
entretanto? Espere - isso é pior?
—Ó Deus.
—Eu não deveria beber tanto rum.
Cellina toma um gole de seu próprio café e sorri. —Você não deveria
ter bebido tanto, não, você não caiu, e talvez um oito? Se eu estiver sendo
legal.
—Droga. Eu fui constrangedora? Sinto que fiz algo embaraçoso, como
cuspir descaradamente nas pessoas enquanto falava. Eu cuspo quando estou
bêbada, acho que minhas glândulas ficam hiperliquificadas.
—Você estava bem. Cellina ri. Que nojo. Olha, esqueça isso.
—A pressão estúpida me atinge, sabe? Muitos vampiros ranqueados
concentrados em um lugar pequeno. eu odeio isto.
As duas participaram de um evento da sociedade na noite anterior. O
Clã Moretti, uma família de vampiros de primeira geração proeminentes no
mundo da arte - realizava sua festa anual de verão. Todo aquele que é
alguém participa. A noite é um marco na aristocracia milanesa.
—Meus pais continuam me pressionando para criar um vínculo e
encontrar um companheiro, como se a merda fosse fácil, lamenta Mia. —Eles
não podem simplesmente se orgulhar de mim por quem eu sou? Pelo que
consegui?
Cellina sorri para a amiga. —Você foi a primeira bailarina do La Scalla
nos últimos cinquenta anos, é claro que eles estão orgulhosos de você. Eles
só querem que pequenos vampiros se aninhem mais cedo ou mais tarde.
Mia cruza os braços. —Então eles deve aparecer um pouco mais.
—Uh, você sabe que eles não podem. Seus pais têm bem mais de
duzentos. É tarde demais.
—Ouça, você e eu podemos apenas... tentar vínculo e, em seguida,
encontrar um doador? —Mia pisca os olhos. —Nós nos conhecemos desde
sempre e estamos confortáveis. Poderíamos fazer o que quiséssemos, sabe?
Sem os papéis de gênero antiquados e besteiras de hierarquia. Pode ser o
relacionamento perfeito.
Cellina se levanta do sofá e vai até a grande janela, esticando as
pernas. Ela olha para os prédios cinzentos e sombrios da cidade sob o
horizonte nublado, os pilares afiados do Duomo como adagas eretas
ornamentadas à distância. Pesadas gotas de chuva caem contra o vidro e
escorrem. —Mia, eu te amo e tudo mais, mas não vou me comprometer a
cuidar da sua bunda bêbada pelo resto da minha vida. Sra., já falamos sobre
isso.
—Eu sei, mas não bebo tanto quanto antes! Não, estou melhorando.
Só é ruim como neste período de entressafra... e sabemos como nos divertir
juntas, certo? Mesmo que já faça um tempo... Mia pisca com um sorriso.
Cellina franze a testa.
—Você recebeu muita atenção ontem à noite, como sempre, Mia
continua sorrindo. —Apenas espantando-os como moscas. Por que é que o
vampiro que não quer a atenção recebe uma tonelada de merda? Enquanto
isso, estou mostrando minhas presas e não consigo nem mesmo conseguir
um encontro. Você finalmente terminou a escola, os trabalhos e os estágios,
você tem uma posição incrível na Pinacoteca di Brera… Então, quando
vamos começar a nos abrir para o namoro?
—Ainda tenho coisas que quero realizar, há um longo caminho pela
frente.
—Certo... Mia acena com a cabeça. —Mas você pode fazer essas coisas
e estar com o vampiro certo... Aparentemente, esse vampiro não sou Eu, mas
de qualquer forma.
Cellina volta para o sofá com seu café. —Relacionamentos românticos
exigem muito trabalho e atenção, as pessoas são carentes e co-dependentes.
Não tenho tempo para mimar ninguém. Nem eu quero.
Na verdade, ela ainda está se recuperando de mimar seu melhor
amigo pela maior parte de sua vida. Desgastado de ser a fonte de
alimentação de Nino por mais de um século. A última coisa que ela quer
agora é assumir outra ala. Sendo a vampira que ela é - direta e ambiciosa -
inevitavelmente acabaria assim.
A menos que ela encontrasse alguém mais parecido com ela? Alguém
que seria um verdadeiro parceiro em vez de uma terceira perna que ela
precisaria arrastar e mãe.
Mia se levanta do sofá em um solavanco, farejando o ar em um gesto
dramático e erguendo o queixo. Seus olhos azul-claros estão arregalados. —
Cheira a Giovanni.
—Sim. Cellina levanta uma sobrancelha. —Este é seu dia e hora
habitual para visitar meu pai.
Agarrando sua bolsa em uma agitação, Mia vasculha e puxa um
espelho compacto. —Por que diabos você não me avisou, merda. Merda. Ela
passa os dedos para afofar e acentuar suas ondas brilhantes, então
rapidamente pega o batom e o aplica. VERMELHO CEREJA
A boca de Cellina está aberta. —Você está falando sério?
—Você está? —Mia franze a testa, recolocando a tampa do batom e
franzindo a testa. —Giovanni é de raça pura e quente. Ninguém pode
descobrir por que ele não escolhe uma companheira. Eu também não
entendi, mas quando ele estiver pronto, estarei na fila.
—Giovanni está muito ocupado para acasalar, Cellina raciocina. —
Ele está sempre correndo por todo lado. Não parece um pouco louco? Como
se ele estivesse se desgastando muito?
Mia congela e encara Cellina como se ela tivesse declarado algo
estupidamente óbvio, como se a água estivesse molhada. Sua amiga dá de
ombros. —Ele é o líder do reino. É o trabalho dele.
—Ainda assim... Eu sei o que é estar ocupado e motivado, mas tem
que haver algum equilíbrio.
—Não sei. Mia enfia o pó compacto e o batom de volta na bolsa. —
Tudo o que sei é que ainda há um Bianchi no mercado. Nino é fofo, certo?
Doce e despretensioso. Giovanni é um maldito homem. Mia grunhe e flexiona
os braços para enfatizar seu ponto de vista.
Cellina cai de volta no sofá, rindo. —O que ele é mesmo? Mais uma
vez, eu perdi...
—Cale a boca. Mia sorri. —Você sabe do que eu tô falando. Ele é todo
largo e alto, com aqueles lindos olhos esverdeados, e ele cuida de toda essa
merda. Esse é o meu ideal, cuide de mim. Cuide da minha bunda bêbada.
Cellina está rindo tanto que mal consegue recuperar o fôlego. —
Giovanni não tem tempo para cuidar de sua bunda bêbada.
—Você não sabe disso. Mia se estica e dá um tapa no quadril de
Cellina, brincando. —Ele pode ter algumas horas extras de sobra. À noite...
em seu quarto.
Ouve-se uma batida suave na porta do escritório. Ele abre e Giovanni
está lá. Ele está mais casual do que o normal em jeans azul escuro e um suéter
bege claro com as mangas arregaçadas sobre os antebraços cor de mel. Seu
cabelo castanho dourado está cortado curto agora, o comprimento cortado e
penteado para trás de seu rosto esculpido.
Mia se levanta como um foguete, surpreendendo Cellina enquanto
ela olha do sofá. Sua amiga se curva, educada. Prissy. —Boa tarde,
excelência, é um prazer vê-lo aqui.
Giovanni sorri enquanto caminha para frente, com a cara de jogo. —
Olá, Mia. Cellina. Ele está carregando uma pequena caixa rosa com uma alça
de barbante elegante. É mais ou menos do tamanho de um meio pão. —
Vocês duas gostaram do sarau de ontem à noite?
—Foi delicioso, sua graça. —Mia pisca os cílios, sentando-se no sofá
como se fosse um cisne. Cellina coloca a palma da mão contra o rosto,
surpresa quando Mia continua. —Você ficava muito bonito em seu terno,
mas na verdade, você fica incrível em qualquer coisa... ou talvez em nada?
—Mia levanta um ombro, coquete. Cellina cobre o rosto com as palmas das
mãos.
—Obrigado pelo elogio. Giovanni sorri, humilde. —Estou ansioso
pelo seu desempenho em Giselle na temporada de outono. Os ensaios já
começaram?
—Bem, eu... Há um som de bipe da bolsa de Mia e ela pragueja
baixinho. Ela pega o telefone e desliga o alarme. —Na verdade, os ensaios
começam na próxima semana. Mas eu preciso ir, consulta de cabelo. Minhas
desculpas, sua graça. Foi um prazer ver você.
Mia se levanta, então se inclina e beija Cellina nas duas bochechas
antes de passar correndo por Giovanni e sair pela porta. Depois que ela
fecha, ele se vira para olhar para Cellina. Ela está bêbada?
Cellina ri. —Não, no momento, não.
—Mm. Giovanni franze a testa. Isso é raro,
Desdobrando a perna de sua posição dobrada abaixo dela, ela aponta
os dedos dos pés para a pequena caixa que ele está carregando. —E o que é
isso?
—Há uma padaria japonesa perto de Porta Nuova. Eu estava na área
para uma visita social esta manhã, então eu passei por aqui. Cellina se senta
ereta, dobrando seus membros vestidos de legging contra o sofá e aceitando
a caixa com as duas mãos quando ele a entrega a ela. Ele geme em um
suspiro e se senta no chão, com as costas contra o sofá ao lado dela.
Ela desamarra o barbante e depois levanta a aba. Dentro está um bolo
de Castella úmido e com cheiro de manteiga. Ela respira um pequeno grito.
—Obrigada.
—Não há de quê. Mia ainda é sua fonte?
—Por esses dias. Para o melhor ou para o pior, sim. Cellina examina
o bolo. Não é uma única fatia como ela sempre recebia nas casas de vampiros
ou em cafés quando estava no Japão. É um pequeno bolo em si. Ela vai
precisar de mais café.
—Ela é sua amiga há muito tempo, diz Giovanni, pensativo, as linhas
em sua testa enrugando. —O sangue dela tem um gosto diferente quando
ela bebe demais?
—Não é muito ruim. Se ela sabe que vou me alimentar, ela limpa seu
ato pelo menos vinte e quatro horas antes. —Giovanni, quem é sua fonte? Eu
sei que seus pais escolheram Dante originalmente, mas ele está acasalado
agora... É o Sergio? A imagem do amigo igualmente masculino e carismático
de Giovanni surge em sua mente.
—Definitivamente não. Giovanni franze a testa ainda mais.
Cellina inclina a cabeça. —Eu pensei que ele fosse seu amigo?
—Ele é... mais ou menos. —Giovanni suspira. —É difícil considerar
vampiros como amigos quando você é de raça pura. Eles sempre querem
merda de você. Falei com Haruka sobre isso uma vez e ele concordou. Ele
disse que toda a sua vida foi gasta concentrando-se no que todos ao seu redor
queriam e precisavam, até que ele se isolou na Inglaterra. Aparentemente,
Nino foi o primeiro amigo genuíno que ele fez..., mas então eles começaram
a trepar um com o outro, então eu nem tenho certeza se isso conta.
—Isto conta. Cellina ri. —Deus… Junichi é seu amigo genuíno agora?
—Eles definitivamente não podem foder.
Revirando os olhos, Cellina balança a cabeça. —Nino me ligou ontem
de manhã e disse que Haru ainda está uma bola de tensão e não está
dormindo. Então, é claro, Nino está estressado demais. Não sei por quanto
tempo eles podem funcionar assim.
—Eu me ofereci para voltar e ajudar, mas Haruka insiste que eles
estão bem. Eu não sei, mas algo tem que acontecer.
Cellina acena em concordância. Quando Giovanni não diz mais nada,
ela levanta o queixo. —Então, voltando para você, de quem você se
alimenta? Você não me respondeu.
Seu peito sobe e desce em uma respiração profunda, a ruga em sua
testa de alguma forma se aprofundando. Mas sua voz é leve, provocante. —
Eu não me alimento de ninguém, Cellina.
Ela faz uma pausa, processando as palavras. —O que isso quer dizer?
—Isso significa o que eu disse.
—De quem é o sangue que você bebe para sustentar seu corpo?
Giovanni sorri. —Meus primos.
Ela se senta ereta, pensando. —Isso... tem a ver com seu pai, não é?
Você está alimentando ele? —Ela olha para o perfil lateral dele, esperando.
Seu coração está pesado em seu peito e sua respiração está presa. É injusto
colocar tanto peso e responsabilidade em um vampiro.
—Sim, ele diz. —Mas essa informação é confidencial. Por favor, não
repita.
Ela se recosta na cadeira e suspira, passando os dedos pelos cabelos
crespos. Ela fecha os olhos.
—Está tudo bem, Lina, ele garante a ela. Ela abre os olhos e a cabeça
dele está virada para o lado. Essa é a minha vida. Eu sou o primeiro filho,
lembra? É assim que é - como sempre será. Eu aceito.
Cellina se inclina para frente, séria. —Eu não aceito. É demais... Ela
enlaça os dedos na parte de trás de seu cabelo macio, em seguida, usa a outra
mão para massagear sua testa. —E essas falas, pare de franzir a testa tanto.
Deus, Giovanni, você não costumava ter essas falas.
—Estou velho agora.
—Não. —Sério?! Erámos jovens. Seu maldito rosto está apenas
enrugado o tempo todo.
Ela continua esfregando as rugas da testa dele, como se pudesse
apagá-las por pura vontade. A outra mão dela agarra a nuca dele. —Quando
foi a última vez que você se alimentou fisicamente de outro vampiro?
—Dante? A sexescapada.
—Dante foi seu último alimento verdadeiro? Droga ... isso foi há mais
de cem anos. —A sensação de alimentação, a intimidade de romper a carne
de outro vampiro e experimentar o fluxo do sangue deles em sua boca, é
uma necessidade inata. Talvez ainda mais para raças puras. Negar a alguém
esse direito primordial parece duro. Quase cruel. Ela nunca soube que
Domenico era um vampiro cruel. Na verdade, ele sempre foi exatamente o
oposto quando se tratava de Nino.
Depois de um momento, ela inclina a cabeça dele para trás contra o
sofá, brincando em puxar seu cabelo. —Por quê? ela pergunta, inclinando-
se sobre o rosto dele e percebendo a sombra suave de uma barba já se
formando contra sua mandíbula.
—O que você está fazendo exatamente?
—Massageando as linhas da sua testa maldita.
—Isso é uma massagem de simpatia? —Ele fecha os olhos, mostrando
os dentes brancos e retos em um sorriso.
—Não. Esta é uma massagem do tipo —Estou preocupado com o meu
amigo.
—Essa palavra de novo. —Ele abre os olhos, devagar, e a respiração
de Cellina para. Suas íris estão brilhando verde esmeralda e assustadoras.
Ele a encara sem vergonha. Chama por ela, fazendo sua natureza dentro dela
quente e inquieta. É como se um fogo queimasse em sua barriga, entre suas
coxas e subindo por sua espinha, seus próprios olhos ameaçando ganhar
vida.
Em pânico e precisando de uma distração, ela estende a mão livre e
abre a tampa da caixa de bolo. Ela aperta um grande pedaço de textura macia
com os dedos, em seguida, segura o pedaço sobre a boca de Giovanni. —
Abra.
Obediente, ele abre os lábios. Ela coloca a mordida dentro, mas
Giovanni fecha os lábios em torno dos dedos dela antes que ela os remova.
Sem pensar, ela desliza o dedo úmido na boca, limpando as migalhas. —
Melhor. Menos estressado?
—Pior. Ele levanta a cabeça, sacudindo-a. —Você e este maldito bolo.
—Ele puxa seu corpo alto do chão, e Cellina estica a perna para chutar seu
quadril.
—Estou tentando fazer você relaxar.
Giovanni gira em uma moeda de dez centavos e segura o tornozelo
dela com a palma da mão grande. Ele puxa, fazendo Cellina ofegar enquanto
ela desliza para baixo, curvando-se nas almofadas do sofá. Ele se inclina
sobre ela, seus olhos esmeralda ardentes olhando fixamente enquanto ele
fala com os dentes cerrados.
—Você não está ajudando.
VINTE E DOIS

Nino vira de lado enquanto está deitado na cama, a inquietação como


uma dor profunda em seus ossos. Ele não consegue dormir agora. Está
ficando pior.
Haruka está deitado quieto ao lado dele, de costas. O luar das portas
do pátio mostra sua silhueta sombreada como prata.
Nino franze a testa. —Haru. Ele espera. Seu companheiro não se
move, não fala. (de olhos fechados) Aborrecido, Nino estende a mão e belisca
bem alto na lateral do corpo, logo abaixo da caixa torácica. Haruka pula em
estado de choque, estremecendo e fugindo.
—Você está fingindo dormir agora? —Nino se senta, sem acreditar. —
Você se esquece de que somos biologicamente conectados? Você não pode
fingir nada comigo.
Ele geme, esfregando e acariciando o lado onde Nino o beliscou. Nino
zomba, sorrindo. —Não posso acreditar.
Haruka espia por cima do ombro. —Só... se eu for à biblioteca, talvez
não vá incomodá-lo lá?
—Isso não importa. Já é tarde. —Você não pode continuar fazendo
isso. Não se trata apenas de mim, ou mesmo de nós. Estamos perturbando o
pulso e a energia de todo o nosso reino. Cada vampiro é impactado por isso.
Haruka muda para o lado oposto para que ele enfrente Nino. Ele
levanta os olhos do travesseiro. —Eu... Eu sei disso, mas você é minha
prioridade. Meu único desejo é que você esteja seguro e saudável, não
importa o custo.
—Então, está tudo bem para você se arruinar e passar fome em nome
do meu saúde e segurança, e eu deveria estar bem com isso? Você acha que
isso não funciona nos dois sentidos?
—Eu não estou —morrendo de fome— Haruka reclama, então
suspira enquanto cai de costas mais uma vez. Ele fecha os olhos. Nino o
encara com a boca franzida. Depois de um momento, Haruka abre um olho,
sorrindo. —Tanta pressão.
Nino se inclina na direção da gaveta da mesinha de cabeceira, abre-a
e pega a garrafa com o líquido de dentro. Quando ele abre a tampa com o
polegar, Haruka pisca com os dois olhos abertos devido ao som distinto. A
expressão usual de preocupação está em sua testa. —Nino, não se passaram
dois meses. O doutor...
—Se você disser a frase —o médico disse— para mim mais uma vez,
Haruka, eu juro por Deus.
Haruka o encara, mordendo a língua. Nino continua. —Eu me sinto
ótimo, ok? Passará dois meses em mais três dias. Quer parar de me dizer
não? Posso por favor tocar-te?
—Claro, claro. Eu simplesmente queria ter certeza de que você
recuperou sua saúde ideal. Não era minha intenção ser difícil.
Inclinando-se, Nino desliza a palma da mão por baixo da coxa de
Haruka. —Joelhos para cima. Não é que você esteja sendo difícil. Haruka
obedece e Nino se senta ereto e se acomoda entre suas coxas abertas. —Você
é o zelador mais completo, incrível e bonito que eu poderia pedir..., mas um
pouco rigoroso.
Haruka levanta a cabeça do travesseiro, as sobrancelhas franzidas em
protesto. —Se o doutor… Se o profissional médico sugerir que façamos algo,
é aconselhável seguir suas recomendações. Especialmente se ah...
Nino se move rapidamente, deixando cair a garrafa e rastejando os
dedos por baixo do manto de Haruka como aranhas para fazer cócegas na
curva de sua cintura. Haruka se contorce em protesto, agarrando as mãos de
Nino enquanto reprime o riso.
—Nino, estou...
—Eu vejo o que você fez lá, espertinho. —Nino luta e provoca, mas
Haruka segura seus pulsos com força, rindo enquanto recupera o fôlego.
Nino faz uma pausa, olhando para Haruka deitado na cama. As
bolsas sob seus olhos são perceptíveis mesmo na sala iluminada pela lua.
Sua aparência cansada: seu rosto ossudo e clavícula pontiaguda... a
ansiedade profundamente enraizada que Nino sente pulsando dentro dele.
Haruka tenta sufocá-lo, mas ele vaza, manifestando-se em sua incapacidade
de dormir, comer e relaxar adequadamente.
—Acho que é a primeira vez que você ri em dois meses.
—Isso não é verdade. Haruka inala, relaxando os ombros.
—Você precisa dormir.
— Não posso.
— Não pode ou não vai?
Haruka não responde, mas solta seus pulsos. Nino acaricia as palmas
das mãos contra os quadris de seu companheiro, suave e deslizando por sua
pele fria. —Creio que eu quero ser indulgente com você um pouco, já que
faz um tempo. Posso tentar algo diferente? Você está comigo?
Haruka sorri. —Sempre.
—Você vai falar comigo enquanto fazemos isso?
Agora, Haruka ficou tenso, levantando uma sobrancelha escura em
suspeita. —Depende?
—Bom, vamos simplificar. Vou fazer perguntas e você pode me dizer
sim ou não?
Ele levanta o queixo, seu alívio é óbvio. —Sim!
Nino balança a cabeça, sufocando uma risada. —Eu só quero que você
tente e relaxe. Podemos tirar o seu manto? —Haruka se senta na cama, e
Nino ajuda a remover o manto de seus ombros, desembrulhando-o do
comprimento de seu corpo. Quando ele está nu, Haruka se joga contra o
travesseiro bufando, exalando e ajustando a coluna com os olhos fechados.
Nino examina seu corpo magro como um raio, pensando que tem muito
trabalho a fazer nas próximas semanas.
Levantando-se para ficar de quatro e pairando sobre o rosto de
Haruka, Nino segura seu queixo. Haruka abre os olhos e seu olhar mútuo se
bloqueia em um momento antes de Nino se mover mais alto, inclinando-se
para beijar sua testa. —Posso começar aqui? Ele sussurra, colocando outro
beijo apenas entre as sobrancelhas.
—Sim.
Nino se move até a ponta do nariz de Haruka, roçando a forma lisa e
curva com os lábios. Ele desliza a palma da mão em um lado do rosto de
Haruka e se inclina para beijar logo abaixo de seu olho, desejando ter o poder
de fazer as bolsas pesadas desaparecerem magicamente. Quando as
pálpebras de Haruka se fecharam, Nino roçou os lábios na pele delicada de
uma das pálpebras e depois da outra, pensando no quanto ama a cor viva
dos olhos dessa criatura. A gama infinita de expressão em camadas dentro
deles, e como olhar nas profundezas de seu olhar faz seu coração disparar.
Ele levanta, observando. As pálpebras de Haruka estão pesadas
quando ele as abre. Sua língua desliza para fora do lábio inferior antes que
ele os separe em uma antecipação silenciosa. Mas quando Nino se inclina,
ele beija um canto da boca de Haruka, depois o outro. Ele beija embaixo do
lábio inferior e apenas no queixo, provocando e evitando o contato direto
com os lábios.
Haruka exala um suspiro pesado, esticando o pescoço contra o
travesseiro enquanto Nino se move por baixo para beijar sua garganta,
seguindo a linha requintada lá e sentindo o pulso de seu sangue rosado
fluindo sob sua pele.
Ele acaricia um dedo ao longo da borda dura de sua clavícula. —
Posso beijar você?
—Sim, —Haruka respira.
Enquanto ele se move para baixo para traçar o osso com a língua, ele
desliza a mão no peito de seu companheiro, sentindo o mamilo de Haruka
fazendo cócegas no centro de sua palma. Nino ajusta a mão, circulando a
dureza dela com o polegar.
—E aqui? Ele se move mais para baixo, acariciando o torso de Haruka
enquanto beija o centro de seu peito. Seu companheiro está em silêncio,
respirando pesadamente na quietude do quarto e seu corpo se contorcendo
contra os lençóis escuros e sob as mãos de Nino. Segurando os quadris de
Haruka, Nino se abaixa para lamber o côncavo plano de seu estômago. Ele
sorri contra a pele de Haruka quando sua barriga aperta e estremece com
sua língua mergulhando em seu umbigo.
Lentamente, Nino se senta ereto, puxando uma das pernas de Haruka
da cama. Seu companheiro aperta os lençóis em punhos apertados de cada
lado de seus quadris enquanto observa os movimentos de Nino.
—Estamos bem? Nino pergunta, segurando a perna dobrada de
Haruka na frente dele. Ele levanta mais, esticando o quadril e beijando a pele
fina e macia atrás do joelho. Ao fazer isso, ele desliza sua mão livre para
baixo e ao longo da carne da parte interna da coxa de Haruka, traçando com
a ponta dos dedos.
—Sim, Haruka diz, seus olhos se transformando e brilhando como um
pôr do sol de fogo.
Nino beija sua panturrilha, em seguida, descansa o rosto contra a pele
de Haruka para acompanhar o aumento dos músculos em direção ao pé. Ele
lambe o tendão de Aquiles e beija o calcanhar. —Cada vez que você esticava
minhas pernas quando eu estava deitado, sempre desejei que estivéssemos
nus.
—Eu sei, Haruka geme, sem fôlego. —Você foi bastante eloquente
sobre isso.
—Um dia você beijou a planta do meu pé, como se não fosse grande
coisa. Isso me surpreendeu... Nino imita a ação de Haruka, primeiro
apoiando o nariz no arco quente do pé de seu companheiro, depois
inclinando a cabeça e enchendo a curva com beijos suaves.
O peito de Haruka sobe e desce enquanto ele olha. —Eu amo cada
parte de você.
—E eu amo você. Nino sorri, as pontas dos dedos ainda deslizando
para cima e para baixo na parte interna da coxa de Haruka. —Posso ter essa
parte de você? Posso tentar? —ele pergunta, segurando seu pé firme.
—Sim, diz Haruka. Ele relaxa a tensão na perna enquanto Nino se
abaixa, provocando seus pés e dedos dos pés com a boca. Enquanto ele
lambe, chupa e beija, ele acaricia delicadamente a parte interna da coxa de
Haruka como se fosse um instrumento de cordas, algo elegante, como uma
harpa ou koto4.
—Nino…
Ao som da voz rouca de seu companheiro, Nino para, levantando-se
da protuberância do dedo do pé de Haruka. —Sim?

4 O koto é um instrumento musical de cordas dedilhadas, composto de uma


caixa de ressonância com diversas cordas, semelhante a uma grande cítara,
possui cerca de 1,80m. Atualmente é o mais popular dentre os instrumentos
musicais tradicionais japoneses.
Seus olhos brilhantes estão ansiosos sob as sobrancelhas franzidas. —
Por favor.
Nino deixa cair a perna, mas surpreende Haruka quando ele se abaixa
para segurar seus pulsos. Ele puxa suavemente, incitando seu companheiro
de pé para que ele fique em uma posição sentada com as pernas abertas e os
joelhos dobrados. Quando ele está perto, Nino pressiona suas testas uma na
outra. —Por favor o que, tesoro?
Com a cabeça inclinada e os olhos semicerrados, Haruka se estica
para encontrar a boca de Nino. Ele sussurra: —Chega...
Seus lábios se tocam em um roçar rápido antes de Nino se afastar,
levantando as mãos para segurar o rosto de Haruka. Ele encara seus olhos
brilhantes. —Me diga o que você quer.
Haruka fecha os lábios entreabertos, piscando. Seus olhos mudam
para o lado antes de encontrar o olhar de Nino mais uma vez. —Eu... —Eu
quero você.
Em um movimento suave, ele agarra o líquido que Nino havia
guardado e fica de joelhos. Colocando a pequena garrafa na mão de Nino,
ele agarra seu pulso e o puxa para cima da cama. Haruka se ajusta de forma
que suas costas fiquem de frente para Nino, estende a mão para trás e o puxa
para sua coluna. Quando Haruka vira a cabeça, seu cabelo faz cócegas no
rosto de Nino. —Eu quero você.
Aninhado em sua orelha, Nino envolve seus braços ao redor do corpo
de Haruka. Ele sussurra contra sua pele, —Você não precisa me querer,
Haruka. Você tem a mim. Eu já sou seu.
Nino se deleita com a sensação da carne fresca de seu companheiro e
sua nudez sob suas mãos, segurando-o com força. Ele cobre o ombro de
Haruka com beijos. —E você é meu? —Nino pergunta, deslizando uma mão
para descansar contra seu estômago. Haruka se arqueia na virilha de Nino,
inclinando a cabeça para trás para descansar em seu ombro.
—Para sempre.
Ele desembrulha o corpo de Haruka, mas apenas por um momento
para rapidamente ensaboar os dedos e arrastá-los para baixo e entre sua
carne macia. Nino segura a barriga e beija a parte superior das costas
enquanto enfia dois dedos lá dentro. Haruka relaxa, segurando a cabeceira
da cama e empurrando para trás para encorajá-lo.
Quero tentar algo, senhor. Nino engole em seco, seu corpo rígido de
excitação.
—Mm, —Haruka respira.
Focado, Nino fecha os olhos. A energia quente dentro dele gira. Ele a
canaliza, fazendo-a fluir como mel quente por seu núcleo, por suas veias e
pelos tendões de seu braço. Quando alcança a ponta dos dedos dentro de
seu companheiro, ele o pressiona para fora, suave, como a luz de uma vela.
Fraco e com calor suficiente.
—Deus, Haruka respira fundo, então exala um gemido profundo
através dos lábios entreabertos.
—Dói? Quer que eu pare?
—Não … N-não. Eu estou... é... — Haruka ofega e engole, o peito
subindo e descendo sob a palma da mão de Nino enquanto ele o segura.
—Pantera, você tem certeza?
Haruka solta um suspiro. —Sim, não... por favor, não pare.
Nino se concentra, manifestando o brilho suave de sua energia
através das pontas dos dedos novamente. Haruka fica tenso e bufa, mas
Nino confia em sua segurança e não para desta vez. Conhecendo o corpo de
seu companheiro ainda melhor do que o seu, ele torce e esfrega as pontas
dos dedos quentes dentro de suas paredes internas, acariciando apenas o
ponto certo. Um leve gemido escapa dos lábios de Haruka, e Nino nunca o
ouviu fazer esse som antes: algo como prazer e ronronar transformados em
uma expressão singular e sedutora.
Ele praticamente derrete no abraço de Nino quando ele cai em êxtase.
Sua aura rosada preenche o quarto, selvagem e livre como uma criatura
antiga e mítica. Nino sussurra em seu ouvido. —Estamos bem?
Haruka está tremendo em seus braços, seus olhos fechados. —Tão
Bem…
Removendo os dedos, Nino enganchou o polegar na cintura da calça
do pijama. Ele puxa o material macio para baixo para se libertar, agarra seu
eixo com a palma da mão lisa e gradualmente se orienta para dentro. Haruka
encontra a intenção de Nino, arqueando-se com a fricção e umidade de seus
corpos unidos. A pele de seu companheiro é sempre fria ao toque, mas por
dentro há um calor delicioso: quente, firme e perfeito.
Em vez de rolar os quadris, Nino faz uma pausa. Tudo dentro dele
está ameaçando transbordar, o cheiro de Haruka e os sons suaves de seu
prazer, a sensação de seu corpo se submetendo a ele, sua aura ao seu redor.
Percebendo a falta de movimento deles, Haruka vira a cabeça. —Pois
não?
Nino geme em um suspiro, apreciando a quietude dele dentro de seu
abraço e seu corpo calorosamente envolto em seu eixo. Ele escova o nariz ao
longo da curva do pescoço de Haruka. —Ti amo molto.
—Eu amo você, —Haruka diz, diversão em sua voz profunda. —Por
que ... paramos?
—Porque eu quero que você venha primeiro e eu estava muito perto
do limite.
Haruka ri quente e profundamente. Não importa. Ele sorri,
levantando a mão e passando os dedos no cabelo de Nino na parte de trás
de sua cabeça. Ele se vira apenas o suficiente para onde Nino pode pegar sua
boca em um beijo preguiçoso.
—É importante para mim, sussurra Nino contra seus lábios. —Você
gosta quando eu me alimento de você enquanto estou dentro de você.
O corpo de Haruka enrijece, seus olhos se arregalam. Nino pode
praticamente sentir o rubor de vergonha irradiando da pele de seu
companheiro.
—Por que você está envergonhado? —Nino cutuca, sorrindo. —Eu
acabei de notar que você gozou muito se eu fizesse isso.
—Eu... —Haruka vira a cabeça, respirando fundo. Ele se contorce,
mas Nino o segura com mais força.
—Tecnicamente, é apenas mais uma pergunta sim ou não. — Nino
beija sua nuca, suavemente, bem no centro. —Você quer que eu te morda?
A voz de seu companheiro é baixa, um pouco acima de um sussurro.
—Sim...
Nino estende a mão e solta o cabelo de Haruka da gravata, deixando
que o comprimento dele caia e caia em suas costas. Ele passa os dedos nele,
segurando e puxando a cabeça de Haruka para o lado antes que ele morda
sua carne.
Haruka fica tenso debaixo de sua boca, mas Nino puxa, se
alimentando para saciar a natureza intrínseca de seu companheiro, para
cumprir e agitar suas emoções. Ele derrama seu afeto e gratidão nele,
querendo dar pelo menos alguma noção do quanto ele significa para Nino e
do quanto ele o ama.
Enquanto ele se alimenta, ele rola os quadris, rítmico e empurrando,
até que Haruka teve um espasmo, gemendo quando o clímax o atingiu. O
som de sua voz e a sensação dele se desfazendo em seus braços levam Nino
ao limite. Ele se permite se soltar, seu próprio corpo estremecendo com a
onda de alívio enquanto ele segura Haruka com força.
Quando eles relaxam mutuamente do alto requintado, Nino
desconecta seus corpos, agarra Haruka pela cintura e o puxa da cabeceira da
cama. Gentilmente, ele o guia para deitar contra o colchão. Os olhos de
Haruka estão fechados, seu longo cabelo escuro selvagem, como se ele
tivesse sido pego por uma tempestade violenta.
Ofegante, Nino olha para a cabeceira da cama. —Fizemos uma
bagunça. —Ele rasteja para frente, esticando o comprimento de seu corpo e,
em seguida, descansando seu peso em cima dele, no cheiro úmido, rosado e
cheio de sexo dele.
Ele beija Haruka embaixo do queixo enquanto sussurra: —Eu
cuidarei disso pela manhã. Durma, pantera.
Haruka já está desmaiada, sua respiração lenta e regular. Nino muda
de posição para deitar ao seu lado. Ele fecha os olhos e logo se junta a ele.

A SEGUINTE a manhã está abafada e quente. As cigarras estão


zumbindo alto do lado de fora, seus chamados de acasalamento
reverberando nos corredores da propriedade enquanto Nino caminha. Ele
reajusta seu manto de verão, amarrando o cinto com mais força. Ele precisa
de café.
Passando os dedos pelo cabelo recém-lavado, ele entra na cozinha. —
Ei, Jun.
—Bom Dia. O vampiro charmoso está sentado à mesa da cozinha em
seu assento usual perto das portas abertas do pátio. Ele acena um leque de
meia concha de um azul profundo perto de seu rosto. A cor do leque
combina com o grande padrão tradicional impresso em sua camisa branca.
Junichi é nada se não estiloso, suas escolhas sempre ousadas, sem remorso
por natureza.
—Eu pensei que você viria mais tarde. Por que chegou tão cedo?
—Eu gosto de passar o tempo com meu casal de raça pura favorito.
—Junichi sorri. —Estar em sua presença derrete meu coração velho e
cansado. —Ele coloca a mão no peito, dramático. Nino ri.
—Jun, você é não velho.
Ele bate seus cílios escuros. —Eu sou mais velho que vocês dois. Onde
está sua alteza?
—Adormecido...
Junichi para de se abanar, seus olhos de ônix arregalados. —Durante
toda a noite?
—Sim. —Nino enche a xícara de café até a borda. Ele precisa de uma
caneca maior. Ou duas.
—Bem, isso é uma notícia incrível. Talvez as coisas voltem ao normal?
Ouvi dizer que a escola primária local está se divertindo muito. Nenhum dos
pequenos dormiu à noite no último mês. Você sabe que a natureza deles é
muito sensível a ele.
—Sério? —Nino se senta à mesa em frente a Junichi. —Quer dizer, eu
definitivamente sinto a inquietação, mas estou com ele o tempo todo.
Junichi se inclina com o cotovelo na mesa, segurando o queixo na
palma da mão. —Todos nós sentimos isso. Sora disse que os gêmeos não
dormem à noite há duas semanas. Entre isso e seus turnos extenuantes no
hospital, ela disse que pode deixá-los aqui se Haruka não parar com isso,
veja o quanto ele gosta deles quando estão ricocheteando nas paredes às três
da manhã.
Nino dá um longo gole em seu café. Quando ele termina, ele suspira,
relaxando os ombros. —Ele gosta muito deles... —A imagem de um Amon
empolgado exibindo seu tubarão de brinquedo sentado nos joelhos de
Haruka surge na mente de Nino. Ele assistiu à interação gentil, pasmo. Algo
dentro de seu companheiro iluminou-se, como uma densa névoa se
levantando ou uma abertura no peito trancada. Haruka estava tão contente
e singularmente focada no garotinho, como se todos os outros na sala
tivessem deixado de existir.
—Você gosta de crianças, Nino?
—Eu não sei. Eu não desgosto deles. Nunca pensei muito sobre eles.
Honestamente, eu não sabia se algum dia teria um vínculo. Pensar em
qualquer coisa do passado que parecesse inútil.
—Bem, vendo que você atingiu esse marco, talvez seja hora de
começar a pensar sobre o que mais você pode querer?
—Hm... talvez. —Você quer ter filhos algum dia, Jun?
— Inferno não.
—Chamada de correio. —Asao entra na cozinha com uma pequena
pilha de cartas em uma das mãos e uma caixa de entrega do tamanho de um
livro grande na outra. Nino sorri, animado ao se levantar da mesa para tirar
o pacote de seu criado. Ele o leva até o balcão.
Junichi sorri. —Ei, velho idiota.
—Veja isto. — Asao aponta, sorrindo.
—Como você se sente sobre alguns pequenos vampiros correndo por
aqui no futuro? Mais monstros para você cuidar.
Asao encolhe os ombros. Eu ficaria bem Haruka queria isso quando
era pequeno, de qualquer maneira.
Nino para de desempacotar a caixa de remessa, piscando para Asao.
—Ele disse?
—Sim. Ele fez uma pequena declaração lamentável logo depois que
seu pai morreu. Ele disse que quando se uniu com Yuna, ele queria ter uma
grande família. Ele é filho único, sabe? Então, com Aika e Hayato passando,
isso o deixou muito sozinho. Mas Yuna não queria fazer parte disso, então...
fim da história. Ele nunca mais tocou no assunto, pelo menos não comigo?
Tanto Asao quanto Junichi olham para Nino, fazendo-o engolir em
seco. —Ele também não disse nada para mim.
—Onde ele está, afinal? —Asao pergunta.
—Dormindo, aparentemente, —Junichi responde. —Você quer sair
para tomar um café? Já que estou aqui...
—Claro. Asao concorda. —Ele dormiu a noite toda?
—Sim. —Nino puxa uma segunda caixa menor e elegantemente
embrulhada da embalagem. —Ele não será noturno por muito mais tempo.
Vamos consertar isso de alguma forma. Ele tem estado tão intenso e
estressado ultimamente. Eu não quero a ameaça de Lajo ditando o resto de
nossas vidas.
—Concordo. —Junichi acena com a cabeça. —Você já pensou mais em
relatar o que sabe ao detetive? Poderia ajudar a aliviar um pouco a pressão,
sabendo que um profissional está cuidando do caso?
—Eu quero. —Nino suspira. —Preciso falar com Haru sobre isso. —
Entre seus próprios desafios de regeneração e a angústia geral de seu
companheiro, Nino havia deixado o assunto de lado. Como eles podem
ajudar a resolver os problemas de outra pessoa quando sua própria casa está
sob pressão? Mas, desde a noite passada, talvez eles finalmente tenham dado
um passo firme na direção certa? Apenas um centímetro mais perto de voltar
às suas vidas normais.
Talvez eu deva tentar trazer isso à tona novamente?
VINTE E TRÊS

Haruka se endireita na cama, os olhos arregalados. Dia. Ele respira


fundo como se estivesse morto, o fluxo de oxigênio em seus pulmões o traz
de volta à vida. O medo toma conta de seu corpo enquanto ele vira a cabeça
para o lado.
—Tá tudo bem.
Nino está de banho tomado ao lado dele, sentado em seu yukata azul-
marinho com as costas contra a cabeceira da cama. Ele está lendo algo. Estou
bem aqui.
Exalando, Haruka cai com força contra a cama. Todo o seu corpo
parece pudim, ou outra coisa macia e sem forma perceptível. Ele ainda está
completamente nu e enrolado nos lençóis como resultado do encontro da
noite anterior. Localizar e vestir seu manto parece uma tarefa intransponível.
Ele geme e rola em direção a Nino, movendo-se para que sua cabeça repouse
em sua coxa firme. Ele se aninha contra ele e envolve os braços em volta da
cintura de Nino. Sua voz está rouca e cheia de sono. —Bom Dia.
—Olá, lindo. Como você tá se sentindo?
Haruka para, fazendo um inventário. Ele precisa de um banho e suas
pernas estão dormentes. —Tipo... mingau.
Nino bufa, rindo. —Bom. Você tem estado perturbadoramente tenso
nos últimos dois meses. Acontece que você só precisava ser completamente
fodido.
Com isso, Haruka se enrijece. Ele enterra o rosto corado na curva
suave do quadril de Nino, sua voz abafada. —Não tenho certeza do que isso
diz sobre mim...
—Bem, definitivamente não é o só coisa que você precisa. — Nino
passa os dedos no couro cabeludo. —Mas você gosta de sexo. E não há nada
de errado com isso.
—Eu gosto de você. —Haruka levanta a cabeça, piscando para ele. —
O sexo é um bônus.
—Eu também gosto de você. —Nino penteia preguiçosamente o
comprimento do cabelo, puxando e desembaraçando os longos fios. Haruka
fecha os olhos, calmo enquanto descansa contra o calor e a firmeza do colo
de Nino. Ele respira fundo, inalando sua essência amadeirada e doce. Este
momento singular... É a sensação mais tranquila que Haruka sentiu em
meses.
—Tesoro?
—Mm!
—Tenho algo para você.
Haruka se endireita, o peso de seu cabelo caindo e cobrindo seus
ombros nus. —Para mim? Por quê?
—Lembra do nosso aniversário, eu disse que tinha outra coisa para
você? Ele está aqui. Nino se inclina, pegando uma caixa de presente marrom
em cima da mesa de cabeceira. É do tamanho de um livro grande e amarrado
com uma fita de seda vermelha.
Haruka aceita a oferta com as duas mãos, colocando-a em seu colo.
Ele desenrola o arco e remove a tampa da caixa. Ele separa o papel de seda
branco e crocante de dentro para revelar um diário de aparência bem
organizada. Seu coração bate mais rápido enquanto ele lê o título em relevo.
—Fiz backup e reimprimi Lore and Lust. —Nino balança as
sobrancelhas acobreadas. —Comecei a trabalhar nisso logo depois de nos
unirmos no ano passado. Foi uma loucura para mim que você acabou de ter
uma cópia impressa de algo tão importante para o legado de sua família.
Haruka retira a versão condensada da pesquisa de seu clã da caixa. É
encadernado no mesmo couro fulvo, mas mais elegante e mais recente. Ele
folheia as páginas e a fonte também fica limpa e organizada, ainda mais do
que os dados da versão original.
Nino morde o lábio. —Reorganizei um pouco as entradas... É
configurado por seção, depois por período de tempo e, em seguida, por
classificação de casal e por último em ordem alfabética. Agora, você pode
ver os padrões de ligação e fazer comparações. Também existe um índice.
Voltando ao índice, Haruka olha com admiração, examinando a lista
de nomes e iniciais dos últimos. Nino até abordou a questão da privacidade
com a qual Haruka estava preocupada. É incrível que ele esteja acasalado
com alguém com habilidades organizacionais tão impressionantes. Haruka
não tem certeza se possui uma habilidade organizacional singular em todo
o seu ser.
A caixa se move em seu colo e Haruka olha para baixo. Algo deslizou
pelo fundo. Ele enfia a mão na bagunça de papel de seda e tira um pequeno
USB.
—Também coloco todos os dados em uma planilha, explica Nino. —
Você pode manipulá-lo da maneira que quiser, dependendo do que estiver
procurando.
Haruka coloca o livro e o USB de volta na caixa e coloca o presente de
lado. Ele se inclina para frente, envolvendo os braços ao redor de seu
companheiro infinitamente pensativo e inteligente. —Eu não posso acreditar
que você fez isso sozinho, e dentro de um ano!
—Você sabe que eu trabalho rápido. Além disso, tarde da noite e
longas viagens de trem de ida e volta para Kyoto me deram muito tempo. —
Nino abraça Haruka pela cintura, puxando-o para mais perto. Precisava
estar. Eu sei que Lajos pegou o original, mas pelo menos a informação ainda
está em suas mãos?
—Você é fenomenal, sussurra Haruka, saindo do abraço caloroso e
segurando a cabeça de Nino com as mãos. —Fenomenal. Brilhante. Ele se
inclina, os lábios já separados quando encontra a boca de Nino. Nino
retribui, e Haruka abre mais a boca, deslizando sua língua contra a de seu
companheiro e suspirando com o gosto de seu sabor com infusão de canela
e café.
Quando Haruka se afasta, a pele de mel de Nino está corada e seu
sorriso brilhante. —Com esta nova língua, você é tecnicamente meu
primeiro beijo!
Haruka fica de joelhos, subindo no colo de Nino enquanto ainda
segura sua cabeça. Ele se inclina, faminto em tomar sua boca novamente,
rosnando de falta dele e mergulhando sua língua no calor úmido de Nino.
Nino apoia as palmas das mãos nos quadris nus, mas assusta Haruka
quando ele se afasta do afeto. Nino engole em seco, com o rosto dolorido. —
Eu realmente… realmente não quero parar com isso.
—Mas, por que isso? Haruka sorri, agarrando o cabelo acobreado de
seu companheiro em um punho e brincando puxando sua cabeça para trás.
Ele ergue uma sobrancelha. —Você me negaria?
—Eu nunca faria isso, Nino suspira, fechando os olhos. —Mas... Acho
que devemos conversar sobre algumas coisas...
—Tipo?
Ele respira fundo. —Talvez você devesse se vestir primeiro? Podemos
ir sentar na cozinha e...
Algo na atmosfera muda e Haruka congela. Ele olha para seu
companheiro abaixo dele e seus olhos âmbar estão arregalados em alerta.
Haruka se move com a velocidade e intensidade de um tornado, pulando do
colo de Nino, agarrando seu robe na ponta da cama e envolvendo seu corpo.
Sem dizer uma palavra, ele se dirige à porta do quarto com Nino logo atrás.
A sensação é inconfundível e o cheiro de sálvia paira no ar como um
gás tóxico. O sequestrador de Nino voltou.
VINTE E QUATRO

Duas coisas que Cellina odeia, trabalhar aos domingos e ser ignorada.
O fato de ambos ocorrerem no mesmo caso está azedando seu humor. Bem
rápido.
Ela espia dentro do escritório de seu pai. O cheiro fresco e gengibre
permanece, apesar de seu dono ter desaparecido. Andrea está sentado em
sua poltrona velha. Seu escritório é o lugar singular que sua mãe não
redecorou para fluir no ritmo da estética moderna. Parece algo da década de
1980 - a década favorita de seu pai. Ela o culpa por seu próprio fascínio pelos
programas de televisão americanos e pela música daquela época.
Quando ele encontra o olhar dela, há calor em seus olhos cinza
cintilantes: os olhos que Cellina herdou dele. Ele está bonito, tendo
recentemente aparado seus grossos cachos sal e pimenta. Ele sorri, o afeto
irradiando dele como uma névoa. —Caffettino.
Meu pequeno café. Cellina balança a cabeça. Quando ela tiver duzentos
anos, ele ainda a chamará assim. —Ei, papai - E andato via Giovanni?
—Sim, sei arrabbiata? —O pai dela volta o olhar para o jornal que está
segurando. Onde ele encontra jornais hoje em dia?
—Não, não estou bravo, mas disse a ele para esperar um segundo. —
Cellina está sentada em frente a ele, no velho sofá de couro. Ela olha para as
prateleiras de mogno atrás de sua mesa, abarrotadas de livros sobre direito
imobiliário. Na mesa de centro entre eles, há uma pequena caixa de bolo rosa
com um cartão de visita em cima. —Eu só precisava trocar de roupa, diz ela.
—Giovanni é um vampiro muito ocupado. —Ele fecha e dobra o
jornal, oferecendo toda a sua atenção. —Ele me disse para me desculpar em
seu nome.
Resmungando, Cellina cruza os braços. —Ele poderia ter esperado
um minuto maldito. —Talvez ela esteja paranoica, mas começa a parecer que
ele a está evitando. Eles deveriam estar reconstruindo sua amizade -
enterrando a machadinha, ou como quer que se diga.
—Vá com calma com ele, querida. Ele está passando por um
momento difícil. Fique tranquilo, ele tem uma boa consideração por você.
—Não estou preocupada com ele pensando bem de mim. —Cellina
franze a testa. —Nós corrigimos, então ele pode me dizer se algo o está
incomodando. Ele costuma fazer isso. Eu sei que isso foi há muito tempo...
Eu não sei. Seria bom se ele se sentisse confortável comigo novamente.
Andrea dobra o tornozelo sobre o joelho e relaxa as costas. —Ele me
disse que você sabe sobre a situação de alimentação dele agora. Parece-me
que ele está confiando em você a sério.
—Você sabia? Os olhos de Cellina se arregalam. —Ele te contou sobre
isso?
—Ele fez, muito tempo atrás. Fico feliz. Giovanni carrega muita
responsabilidade em seus ombros, admiravelmente. Mas todo mundo
precisa de uma válvula de escape. Ele não é uma máquina.
—Estou feliz que ele confia em você. —Cellina se inclina para frente
e em direção à pequena caixa. Ela sorri. —Isso é meu?
—É sim. Eu disse a ele que você estava reclamando de encontrar um
novo conservador de arte nas próximas semanas. Ele tem um cliente que
trabalha com um artista freelance que pode estar procurando um emprego
de tempo integral. Esse é o cartão deles no topo. É apenas uma pista.
Cellina pega o cartão, virando-o nos dedos. —Líder do reino no seu
melhor.
—Ele está bem conectado. —Andrea encolhe os ombros. Cellina abre
a caixa de bolo e sorri. Castella.
—Hum. O bolo mudou? — o pai pergunta.
—Do que você está falando?
Ele sorri, brincalhão. —Agora vou revelar mais segredos, mas já que
vocês dois estão se dando bem, talvez esteja tudo bem? Você se lembra
quando eu estava trabalhando no projeto Castiglione?
—Na verdade, não.
—Querida, você estava mergulhado até os joelhos na pós-graduação,
talvez no primeiro ano?
—Sim, sim. —Eu me lembro daquele inferno em particular.
—Tá bom. —Seu pai sorri. —Você estava passando por um momento
difícil, então toda sexta-feira após minha reunião com o cliente, uma caixa
de tiramisu fresco aparecia magicamente no balcão da cozinha?
Cellina sorri. Aquele tinha sido o único ponto brilhante a cada semana
em um momento muito escuro e estressante em sua busca pelo ensino
superior e uma nova carreira. —Eu lembro. Convidaria Mia e tomávamos
café juntos. Foi o ponto alto da minha semana naquela época.
—Bem, eu odeio parecer uma fraude..., mas Giovanni comprou isso
para você. Semanalmente. Ele sempre perguntou por você, e eu disse a ele
que você estava passando por momentos difíceis. Ele sabe muito bem que
você gosta de doces, então queria ajudar. Claro, eu jurei segredo.
—Oh, me dê um tempo, sério? —Cellina se recosta no sofá, o coração
batendo quente no peito. Mas ela também está irritada. —É demais!
Andrea ri. —Ele está preso entre uma pedra e um lugar duro, mas ele
encontra alegria onde pode?
Cellina faz beicinho, pensando em como ela ficou chateada com ele.
Por décadas. Sempre que eles se cruzavam, ela o ignorava e o tratava com
frieza, pensando que ele preferia as coisas assim. Enquanto isso, ele estava
sendo injusto e comprando bolos secretos para ela. Ele deveria estar bravo
com ela também. É assim que funciona quando duas pessoas lutam. Ele não
entende isso?
Ele a excluiu, saiu como um furacão pela cidade e se embriagou e
fornicou com qualquer vampiro que pudesse encontrar. Tudo isso quando
ele deveria estar se alimentando e (idealmente) fornicando com ela. Quanto
tempo eles perderam? Ela gostaria que eles pudessem ter resolvido isso
antes. Se ele não a odiasse e se arrependesse do que disse... Ela entende que
ele está em uma situação difícil, mas ele deveria ter dito algo.
—Como está Nino? —o pai pergunta. —Ele está melhor depois do
acidente?
—Sim, ele está indo muito bem. —Cellina sorri, encolhendo-se um
pouco por dentro. Como regra geral, ela conta tudo aos pais. Mas com isso,
ela jurou segredo. Não há necessidade de causar alarme onde não é devido.
Quando ela partiu, um mês atrás, a situação estava um pouco sob
controle (apesar da resolução irreal de Haruka de lidar com tudo sozinho,
um traço comum entre os machos de raça pura, aparentemente).
Com alguma sorte, eles nunca mais verão ou ouvirão falar de Lajos
novamente.

MAIS TARDE NAQUELA NOITE, Cellina entra em um evento


bicentenário para um membro da aristocracia milanesa. É uma festa no
jardim tarde da noite, com pequenas luzes brancas piscando no alto e velas
acesas ao longo dos caminhos de paralelepípedos para definir sonho de uma
Noite de Verão tipo de humor.
Antes de sair do museu, ela trocou a blusa por baixo do paletó por
um bustiê de renda sexy, que combina com sua calça de smoking preta de
cintura alta com uma camiseta. Está úmido esta noite, então o cabelo está
preso em um coque, o mais elegante que ela conseguiu. Esperançosamente,
os brincos grandes distraem da situação indisciplinada em cima de sua
cabeça.
Ela vê seu amigo Matteo no meio da multidão, sozinho ao lado de
uma mesa alta. Cellina se inclina sobre os paralelepípedos em seus saltos
altos para alcançá-lo. Quando ela está lá, ele beija ambas as bochechas em
uma saudação calorosa.
—Rainha.
—Oi, lindo.
Ele pega a mão dela e a levanta acima de sua cabeça, incitando-a a
girar em um círculo completo. Ela obedece e ele balança a cabeça. —Querida,
você está foda quente. Aquelas cadelas magras modelo para quem eu faço
maquiagem não têm nada em você. Maravilhosa. E esta clivagem. Sim.
—Obrigado querido. Eu gosto deste blazer. —Cellina aperta sua
lapela de cetim cor de vinho. O resto do tecido brilha sutilmente sob a
iluminação suave como um vinho tinto espumante.
—Dolce, querida, não toque. —Matteo franze os lábios e afasta a mão
dela. —Nossa bailarina bêbada está vindo?
—Ah, cara. —Cellina reprime uma risada. —Mia treinou o dia todo
hoje, então eu duvido. E ela só fica bêbada fora da temporada.
—Você é simplesmente ingênua. Essa coisa é sempre bêbada. É seu
estado natural de ser agora, como um maldito peixe nadando no mar - Oh
meu. —Matteo agarra seu peito em um gesto dramático. —Sua alteza chegou.
Cellina fica na ponta dos pés, esticando o pescoço. Ela o cheirou
quando entrou, mas não tinha certeza se Giovanni já estava presente ou
apenas chegando.
—Juro por Deus. Matteo suspira, seus ombros caindo. —Eu cairia de
joelhos e comeria sua bunda agora mesmo se ele me deixasse.
—Você está em máxima capacidade. —Cellina levanta a palma da
mão, os olhos arregalados. —Acalme-se. —Não apropriado.
—Ele é muito perfeito e lindo pra caralho, —Matteo continua
estreitando os olhos. —Ele provavelmente morde as unhas dos pés, ou gosta
de ficar chateado quando está fazendo sexo, alguma merda inesperada e
bizarra... Eu farei isso se ele quiser.
—Matteo, Pare. —Cellina ri.
Matteo levanta o queixo, um sorriso carismático estampado em seus
lábios. Ele levanta sua sobrancelha lindamente arqueada. —Ele está vindo
direto para cá, e duvido que seja por causa de minha bunda de segunda
geração.
Um momento depois, Giovanni está na frente deles. Terno preto
clássico, camisa branca impecável, sem gravata. Seus olhos verde-avelã
brilham e seu rosto charmoso está em ação, as linhas de expressão quase
imperceptíveis.
—Boa noite, Sua Graça. Matteo oferece um arco suave e raso de sua
cintura. Cellina nunca o chama por títulos formais. Nunca se inclina
também. A ideia de fazer isso é estranha, mas ela imagina que diabos? Ela
vai tentar na empresa atual.
Cellina acena com a cabeça. —Sua graça. A expressão de Giovanni
muda para um olhar de desgosto quando ele recua, como se ela o chamasse
de algo ofensivo. A máscara escorregou, mas ele rapidamente respirou.
—Boa noite. —Tá gostando da festa?
—A pequena senhorita Lina acabou de chegar, mas estou aqui há um
minuto. —Seu amigo sorri, sua voz brincalhona. Eu preciso de outra bebida.
Você gostaria de um, sua graça? Eu vou fazer isso por você.
—Obrigado, Matteo, diz Giovanni. —Uísque com gelo, por favor.
Matteo acena com a cabeça enquanto ele levanta a sobrancelha em
direção a Cellina. Amaretto Sour.
—Obrigado querido. —Cellina levanta o ombro, sedutora.
—Não fale sobre mim enquanto eu estiver fora, a menos que seja
sobre o quão incrível eu sou. —Ele pisca enquanto se vira e caminha em
direção ao bar. As sobrancelhas de Giovanni caem na carranca de sempre.
—Não me reverencie ou me chame assim.
Cellina torce o nariz. —Essa é uma ordem oficial como meu líder de
reino?
—Eu odeio isso, especialmente de você. —Ele respira fundo,
passando a mão grande nas costas de suas ondas marrons mel.
—Odeio que você tenha ido embora sem falar comigo no domingo,
rebate Cellina. —Que diabos, G? São duas semanas seguidas. Você está
chateado porque eu chutei você naquele domingo? Minha massagem na
cabeça foi ofensiva? —Ela sorri, tentando aliviar a estranha tensão crescente
entre eles.
Ele respira fundo novamente, mas ao fazer isso, seus olhos piscam,
sem vergonha, enquanto ele examina o comprimento do corpo dela. De cima
para baixo, depois volte a subir. Cellina muda sua postura, de repente mais
ciente de sua energia masculina crua e sentindo a faísca usual em seu
estômago e entre as pernas.
—Você está muito bonita, diz ele, em voz baixa.
—Obrigada. Ela limpa a garganta, se concentrando. O que há com
você? —Você estava bem algumas semanas atrás, quando estávamos no
Japão. Agora você está sendo... É isto tímido? O que você está fazendo?
—Antes havia uma barreira entre nós, diz ele, desviando o olhar. —
Mas você continua diminuindo. Agora é diferente.
—E isso não é uma coisa boa?
—Para alguns vampiros... na maioria das circunstâncias.
Provavelmente. —Giovanni vira seu largo corpo para o lado e estica o
pescoço, procurando Matteo. Como se ficar sozinho com ela fosse algo
desconfortável.
Cellina encara. —O que isso quer dizer?
—Isso significa o que eu disse.
—Por que está agindo assim?
—Não estou agindo como nada.
—Ótimo, então você vai apenas repetir e desviar de tudo que eu digo?
—Porque eu quero você, Cellina. Mas eu não posso ter você.
O silêncio perdura enquanto ele a encara com seus olhos intensos. —
E isso não uma piada, diz ele. —Não é engraçado e não é bonito. Eu aceito
minha terrível prisão de vida, mas quando você flerta comigo e coloca suas
mãos sobre mim, isso fode com minha determinação. Isso bagunça minha
cabeça.
Cellina o observa, reconhecendo a dor e a frustração em seu rosto. —
Talvez... —Ela pisca, considerando. —Sua resolução precisa ser fodida?
Talvez você deva parar de ser o mártir da sua família.
Giovanni recua, sua expressão mudando para algo entre confusão e
insulto. Matteo retorna, distribuindo bebidas enquanto segura uma pequena
bandeja de prata. Giovanni pega seu copo, acena em agradecimento e se
afasta deles como se estivesse com pressa de escapar.
Matteo fica olhando para ele com a boca aberta. —Hm… o que? —Ele
se vira e olha para Cellina. Para onde ele ia? Eu nem me ofereci para fazer
coisas desagradáveis com ele ainda! Você insultou nosso rei?
—Não, suspira Cellina, puxando a bebida para os lábios. —Falei a
mais pura verdade.
VINTE E CINCO

Nino nunca tinha visto essa expressão em seu companheiro antes:


pura raiva tingida com uma convicção letal. A ternura e a vulnerabilidade a
que ele se acostumou quase desapareceram enquanto eles caminhavam pelo
corredor em direção ao jardim externo no centro da propriedade.
Nino passa os dedos trêmulos nos cabelos. —Por que diabos ele está
de volta?
—Porque criaturas desprezíveis como este sempre volta. Assim que
adquirem uma coisa, inevitavelmente querem mais.
Haruka abre a porta externa para a passagem aberta, então entra na
varanda, decidido em seus passos largos. Nino segue atrás, o medo quase o
paralisando. Ele não quer que Haruka seja tirada dele, nem deseja retornar
àquele lugar estranho e árido com Ladislao como um companheiro de quarto
sinistro.
—Talvez se ficarmos dentro de casa, estaremos seguros.
—Não. Ele pode ser capaz de identificar nossas localizações. Isso
termina agora.
Eles ficam juntos, observando o jardim imóvel lançado em uma névoa
cinzenta de verão da cobertura de nuvens. Está úmido e o ar é denso e cheira
a chuva iminente. Lajos sai de trás da grande árvore de bordo centrada no
gramado. Pálido e em corda, seu movimento é gracioso, como se flutuasse
ao lado da superfície escura e vítrea do lago de carpas.
Nino expande sua aura protetora para fora, a habilidade muito mais
fácil de invocar em comparação com a primeira vez que ele descobriu a
habilidade.
—Este poder... Lajos descansa sua bengala na grama e fica diante
deles, seu rosto magro e enrugado transformando-se em um sorriso
malicioso. —Vocês dois deveriam considerar juntar-se aos meus esforços.
Seus sangues e naturezas combinados produziriam uma prole requintada.
Eu poderia ajudar a providenciar isso para você? O resultado seria uma
adição maravilhosa ao pool genético da minha comunidade.
Nino sufoca um suspiro seco. Lajos faz com que ter filhos pareça um
experimento científico - algo clínico e insensível. Além disso, Nino ainda não
abordou esse assunto com seu companheiro. Parece tudo errado: ter esse
vampiro insensível falando com eles sobre um assunto tão importante e não
abordado em sua comunicação privada. Nada disso é da conta dele.
Lajos espera. Ninguém fala. Nino olha para Haruka e ele está
perfeitamente calmo. A raiva é dissipada, mas seus olhos são como adagas
quando ele se concentra no decrépito puro-sangue.
—Considere feito. Lajos levanta o queixo em seu silêncio. —Você
poderia fazer muito bem pelo futuro de nossa família. O que me leva ao
propósito de minha visita. O manuscrito que você me presenteou é
excelente. Será que poderíamos discutir suas descobertas com mais
detalhes? Aprendi muito sobre biologia de raça pura enquanto
supervisionava meu reino, os extremos em que podemos sobreviver e
florescer são notáveis! Talvez pudéssemos trocar histórias e trabalhar juntos
para restabelecer uma raça de vampiros pura?
Trocar histórias e trabalhar juntos? Ele é louco... Quando Nino engole, o
som é alto em seus ouvidos. Haruka não se move, mas seus olhos brilham.
Em vez da profunda cor do pôr do sol de sua genealogia compartilhada, as
íris de seu companheiro queimam de um vermelho vivo.
Lajos sorri como se estivesse se divertindo com alguma coisa. —
Preciso te lembrar que você não pode subjugue-me com sua essência
impressionante, jovem. Meus poderes são...
Haruka levanta o braço e move os dedos na direção de Lajos em um
movimento rápido, como se ele os estivesse livrando da água. Lajos engasga
alto, chocado ao cair de costas na grama, como uma árvore que foi
derrubada. Haruka sai da varanda e se move para ficar sobre o corpo do
velho vampiro. A névoa prateada do poder de Lajos treme e se agita a seus
pés, mas Haruka estende a palma da mão sobre a cabeça e fecha o punho
com força.
Lajos grita, o som gelando o sangue e ecoando pelo ar. Ele leva as
palmas das mãos enrugadas às têmporas, segurando a cabeça enquanto
chora em agonia. Haruka fala, sua voz profunda alta e forte sobre os gritos
do velho vampiro.
—Eu claramente te avisei que se você voltasse aqui, você iria se
arrepender. Como se atreve a voltar aqui e conversar conosco? Como se você
não tivesse me ameaçado e causado um dano imperdoável ao meu
companheiro!
Haruka abre a palma da mão novamente e a fecha com força. Lajos se
contorce na grama, seus gritos se transformando em gemidos ininteligíveis.
Haruka move sua mão para baixo até que ela paire sobre o pescoço do velho
vampiro. Ele aperta o ar com os dedos e Lajos se contorce e engasga, o som
ofegante de suas cordas vocais uma indicação clara de que sua garganta está
sendo fechada.
—Haru, pare, já chega! —Nino desce da madeira dura da varanda em
direção a seu companheiro.
—Por quê? —Os olhos vermelhos ardentes de Haruka estão cheios de
malícia enquanto ele observa o velho vampiro. Quando ele fala, Nino pode
ver que seus incisivos se transformaram em adagas elegantes. —Ele merece
muito mais do que isso pelo que nos fez passar. —Ele move a palma da mão
aberta ainda mais para baixo até pairar sobre o peito de Lajos. Nino estende
a mão, segurando o rosto de Haruka com as palmas das mãos. Quando o
olhar aterrorizante de seu marido encontra o seu, Nino respira fundo.
—Não o mate por minha causa. Eu... eu não quero ver alguém que
amo fazer isso na minha frente de novo.
A raiva na expressão de Haruka amolece, derretendo como gelo
descongelado. Seus olhos brilhantes voltam à sua cor normal de vinho. A
criatura escura e assustadora desaparece.
—Eu não quero isso, certo? —Nino diz, entrando em Haruka e o
abraçando. —Está me ouvindo?
—Sim. —Haruka acena com a cabeça contra sua orelha, envolvendo
os braços em volta da cintura de Nino. —Eu ouço você, eu entendo.
Nino fecha os olhos, ainda tremendo de inquietação. Toda a cena o
tinha jogado de volta aos seis anos de idade e sua mãe descobriu seu tio se
alimentando dele em seu quarto. Sem hesitação, sem perguntas, ela rasgou
sua garganta.
—Não preciso de outra memória gráfica e violenta em minha cabeça,
sussurra Nino em seu ouvido. —Podemos, por favor, tentar entrar em
contato com aquela detetive para que ela possa lidar com isso?
—Podemos, é claro... —Haruka levanta a cabeça do abraço e os dois
olham para o velho vampiro se contorcendo a seus pés. Seus olhos estão
vazios, paralisados no céu nublado.
—O que aconteceu com ele? Nino pergunta. —Ele está em coma?
—Talvez. Fiz alguns palpites com relação a seu lobo frontal. Eu sabia
que tinha uma chance de acertar. Parece que tive sucesso... —Haruka olha
nos olhos dele. —Eu te chateei? Peço desculpas.
—Não, tesoro. Estou bem. Você é perfeito. Só quero falar com a
detetive e contar a ela o que sei. Sinto que é importante e já o adiamos por
tempo suficiente.
Haruka suspira, coçando a nuca enquanto olha para Lajos. —Não
desejo chamar a atenção para nós com este assunto. Talvez possamos
solicitar alguma discrição? De alguma forma...
—Concordo. Vou perguntar a G se ele tem alguma ligação com ela,
aposto que sim. O que devemos fazer com ele enquanto isso? Devemos
chamar a polícia local?
—Duvido que eles estejam equipados para lidar com uma criatura tão
vil. —Haruka agarra a mão de Nino, incitando-o em direção à casa. —Deixe-
o por enquanto. Ele tem a sorte de estar vivo.

A CHUVA É frenético e garoa em todas as direções à tarde, o que


significa que Nino ainda se sente úmido, embora esteja andando sob um
toldo.
Descontente em manter Lajos como um enfeite de gramado, Asao fez
Haruka usar sua aura para movê-lo. Seu companheiro se recusa a permitir
que o vampiro decrépito entre em sua casa, mesmo incapacitado, então eles
optaram por despejá-lo bem nos fundos do complexo, debaixo do grande
recinto aberto do Kyudojo.
O pai de Haruka, Hayato Hirano, era um arqueiro habilidoso e usava
o espaço há muito tempo. Haruka, por não ter se interessado pelo arco e
flecha (ou por qualquer esporte ou exercício), nunca usa o prédio expansivo
de qualidade profissional.
Nino puxa a pesada porta do kyudojo, o cheiro de cedro polido e
palha flutuando em seu rosto. Ele chuta os sapatos ao ar livre antes de pisar
no chão limpo. Nino caminha em direção à frente aberta do prédio, onde
Haruka está sentado com Lajos. Conforme ele se aproxima, ele ouve a voz
de seu companheiro.
—Se você se mudar algum capacidade, vou acabar com você.
A voz de Lajos é um sussurro rouco, quase imperceptível mesmo na
atmosfera silenciosa e chuvosa. —V-você... mataria... um companheiro de
raça pura?
—Aquele que captura e agride violentamente meu companheiro? Isso
ameaça à paz de nossa existência? Sem dúvida.
Nino caminha para o grande deck aberto. Lajos está imóvel no chão
de madeira brilhante, caído em uma pilha. Haruka está sentado com os
braços cruzados em um banco de cedro que corre ao longo da parede
traseira. Além do corpo de Lajos, sua visão negligencia o trecho de gramado
verde que se estende até a margem do alvo na extremidade oposta da
cordilheira.
Quando ele está ao lado de seu companheiro, Nino se dirige a ele em
sua mente. Achei que já tivéssemos conversado sobre isso! Você não vai matá-lo.
Claro, mas ele não sabe disso.
Nino balança a cabeça, sentando-se ao lado dele. Você já matou alguém?
Não.
Então, vamos começar.
Lajos geme, e Haruka vira a cabeça para a frente, os olhos brilhando
enquanto ele desdobra um braço e estala os dedos na cabeça do velho
vampiro. Lajos grita, o som ecoando pelo espaço aberto. Seu corpo
estremece. Então nada. Silêncio.
—Haruka
—Meu amor, ele está bem. Ele é uma criatura antiga. Seria preciso
muito mais do que isso para eu acabar com sua vida sórdida. —Ele se estica
e agarra a mão de Nino, entrelaçando seus dedos. —Você pediu que eu o
poupasse, então eu nunca iria contra a sua vontade. Nunca.
Nino respira fundo e solta o ar, aliviando a tensão em seu peito.
—Achei que tivesse causado graves danos ao lobo frontal dele na
noite passada, continua Haruka, —mas ele conseguiu falar comigo agora
mesmo. Devo ter perdido algo fundamental para a produção de sua fala...
Enfurecido.
—O que aconteceu com ele? Por que você precisava estudar tanto?
—É complicado, —Haruka suspira. —Normalmente, eu cubro minha
vítima em minha essência primeiro para subjugá-la, então miro áreas
específicas de sua anatomia que eu estudei, ossos, músculos, articulações,
ligamentos e assim por diante. É um processo de duas etapas e, como tal, há
um atraso na minha eficiência. Lajos estava em vantagem, tendo
testemunhado minha habilidade na Inglaterra no ano passado. Assim que
ele sentisse minha aura cobrindo-o, ele poderia desaparecer para fugir de
mim. Eu nunca encontrei um vampiro com tal habilidade, então eu precisava
traçar uma estratégia e surpreendê-lo.
—Bater nele forte e rápido?
—Sim, —Haruka diz, mas com precisão. Nunca estudei o cérebro com
tantos detalhes - apenas uma compreensão geral e abrangente. Saber
exatamente onde eu precisava atacar Lajos era fundamental. O cérebro é
infinitamente complexo e, mesmo com minha pesquisa, foi difícil entender a
origem de seu poder em sua mente. Então eu fiz suposições.
—Você supôs corretamente. —Nino sorri. —Você é incrível. Meu
herói.
Haruka se inclina, pressionando um beijo suave em seus lábios. —
Qualquer bondade em mim é um reflexo direto de você.
O sorriso de Nino se alarga, o inevitável calor subindo ao seu rosto.
—Encantador
—Você falou com o Giovanni?
—Oh sim, merda! —Nino pisca. —Ele conseguiu falar com a detetive
e ela está planejando pegar o próximo voo. Ela também disse que fará com
que a polícia local o leve sob custódia, para que não tenhamos que ficar
sentados aqui e observá-lo até que ela chegue. Sinceramente, vou me sentir
melhor quando ele não estiver mais debaixo de nossos narizes... e talvez eu
possa finalmente começar a trabalhar de novo em breve.
—Devemos considerar seu trabalho permanente de dentro da
propriedade? Existem muitos métodos para conduzir negócios remotamente
agora. Você não precisa viajar muito, e seus clientes podem vir aqui se
necessário.
—Eu... Eu não sei por que eu precisaria fazer isso?
—Para garantir a sua segurança.
—Bem, tecnicamente... Eu desapareci enquanto estava em casa,
então...
—Aquilo Nunca vai aconteceu de novo. Farei tudo ao meu alcance
para ter certeza.
—… Haru. Nino suspira, esfregando a palma da mão na testa e se
perguntando se eles vão voltar ao normal ou se esse estado constante de
paranoia é seu novo padrão de vida. —Deus, eu espero que que não…
—Você espera que não, o quê? —Haruka pergunta.
Os olhos de Nino se arregalam. Você ouviu aquilo? Eu... eu não estava
tentando me comunicar com você diretamente...
—Sim. Eu sinto que você está chateado com alguma coisa?
—Não, bem... —Eu estou bem. Nino passa os dedos no topo do
cabelo, mas seu companheiro o olha com desconfiança.
VINTE E SEIS

A detetive Anika Cuevas levou uma semana inteira para chegar a


Kurashiki, vinda de Nova York. Haruka precisou visitar a delegacia de
polícia local uma vez para verificar Lajos. O velho vampiro despertou, mas
desta vez sua fala era incoerente e seus movimentos bruscos. Ele estava
gemendo e deitado no chão - mais um incômodo para o pessoal da estação
do que uma ameaça real.
—Tudo bem, então me diga mais sobre este lugar, para onde você
desapareceu. —O detetive Cuevas está sentado na sala de chá da frente da
propriedade, empoleirado na beirada do pequeno sofá em frente a Nino e
Haruka. Ela está cheia de figurino em seu terno cinza elegante, uma camisa
de botões de listras azuis por baixo. Seus traços suaves são complementados
pelo corte de cabelo curto e encaracolado emoldurando seu rosto.
—Eu estava em uma casa velha, dentro de uma sala escura e fria com
janela, explica Nino. —Estava mobiliado, mas não havia eletricidade.
Ladislao estava lá, como eu disse antes, e quando olhei pela janela, havia
montanhas escarpadas ao redor. Estávamos muito no alto e a paisagem era
árida, como um deserto.
—Bem, isso poderia ser em qualquer lugar, diz o detetive. —Algo
mais específico? Algo para nos ajudar a localizar exatamente onde você
estava?
Nino suspira, coçando a cabeça. —Eu... Ladislao disse que sentiu o
cheiro de água ao redor quando tentou escapar antes. Pode ser uma ilha? Eu
não, ah! Havia árvores estranhas espalhadas também. Eu nunca tinha visto
nada como eles antes. Eles pareciam... guarda-chuvas? Mas virado de cabeça
para baixo. — Nino gesticula com as mãos para enfatizar a forma. —Os
galhos se estendiam em direção ao céu em vez de para fora ou para baixo
como a maioria das árvores.
A detetive puxa o telefone da bolsa ao lado dela. Ela murmura
enquanto focaliza a tela, seus polegares se movendo em alta velocidade. —
Árvores que parecem guarda-chuvas de cabeça para baixo... —Ela desliza
para cima com o dedo indicador, seus olhos castanho-azulados escaneando.
Um momento depois, a detetive vira seu telefone para Nino, entregando-o a
ele. —As árvores mais magníficas do mundo. Vê algo familiar?
Pegando o telefone, Nino rola enquanto Haruka se inclina ao lado
dele. Os olhos de Nino se arregalam para uma determinada árvore e ele
aponta. —Esta. Diz “Dragon Blood Tree” ... no Iêmen. Eu estava no Iêmen?
Ele devolve o telefone para ela e ela lê a tela, rolando mais uma vez.
Bingo. Esta árvore só cresce em um lugar chamado Socotra, que também é
uma ilha. Temos uma localização sólida, senhores... Caramba. Venho
trabalhando neste caso há um ano inteiro e minha primeira grande quebra
gira em torno de uma porra de uma árvore.
Haruka ri. —Nós entregamos a você a arma fumegante, por assim
dizer.
A detetive Cuevas estreita os olhos. —Eu faço um bom trabalho de
detetive, certo? Mas geralmente consiste em muito mais do que utilizar
corretamente os motores de busca da Internet. De qualquer forma, essa é
uma pista forte. Vamos seguir em frente e ver aonde nos leva.
—Como você vai manter Lajos incapacitado? —Haruka pergunta.
—Fonte de sangue de nível inferior, diz o detetive. —Se o tivermos
alimentado de um vampiro de primeira geração, isso deve sufocar seus
poderes muito bem, já que ele tem sangue velho.
—Concordo. —Haruka sabe por experiência própria como o sangue
de primeira geração pode ser impactante para a saúde de um puro-sangue
velho.
—Me diga! A detetive se senta ereta, seu olhar sério. —Por que ele
raptou você em primeiro lugar? Qual é a raiz de tudo isso?
Haruka muda os olhos para seu companheiro, apreensivo.
Acho que podemos contar a ela. É seguro, Haru.
Assentindo, Haruka respira fundo. —Meu clã estabeleceu uma
coleção de dados em torno dos laços vampíricos. Isso remonta a quase cinco
séculos e, portanto, ajuda a criar um significado e uma visão com relação ao
acasalamento.
—Parece interessante. —Detetive Cuevas diz pensativo. —E nerd.
Então Lajos queria este livro?
—Correto. Ele sequestrou Nino e exigiu o livro como resgate. Como
ele aprendeu sobre isso, não temos certeza. Mas há uma conexão entre nós e
um ex-criado de seu clã.
—Este livro é tão importante? —Ela pergunta. —Parece
impressionante, mas... é apenas um livro, certo? É feito de ouro, rubis e
merda?
—Não. Na verdade, também fiquei surpreso com as ações drásticas
de Lajos em relação à pesquisa da minha família. No entanto, com base em
tudo o mais que sabemos sobre ele, parece que ações radicais são o seu
modus operandi.
—E você acha que esta criatura é responsável pelo Grande
Desaparecimento? —Pergunta a detetive Cuevas. —Que ele tem todos esses
vampiros desaparecidos em algum vilarejo de cabana de barro nas
montanhas de Socotra?
—Tenho quase certeza, Nino confirma. —Mas eu não poderia dizer
quantos eram. Era difícil sentir seus números distintos.
—Louco... pensamos que todos eles morreram, não é? a detetive diz.
—Você acha que ele levou todos os puros-sangues britânicos também? Essa
também poderia ser a resposta para esse mistério?
—Não podemos ter certeza, mas é possível, diz Haruka. Quando ele
e Nino se conheceram há pouco mais de um ano na Inglaterra, eles eram os
dois únicos vampiros de raça pura em todo o país. Os puros-sangues de
ascendência inglesa estão extintos há quase duzentos anos.
Ou então eles foram levados a acreditar.
A detetive Cuevas se levanta do sofá, puxando a bolsa sobre o ombro.
—Tudo bem, nós vamos transportar Lajos para Nova York dentro de uma
semana, então ele estará fora de sua mente. Vou mantê-lo informado sobre
nosso progresso com a pesquisa.
—Eu não acho que isso será necessário.
—O quê? —O detetive franze a testa.
Tesoro…
Meu amor, como disse antes, não desejo interferir no reino desta criatura.
Mas se esses vampiros precisam de ajuda, devemos ajudá-los.
Não podemos saber com certeza. Talvez eles estejam contentes
—Olá? —A detetive pisca. —Está acontecendo alguma coisa agora?
Asao fala enquanto entra na sala e se dirige à mesa baixa com xícaras
de chá verde. —Eles têm o hábito estranho de falar sobre coisas na frente das
pessoas, mas dentro de suas cabeças.
Haruka se endireita, limpando a garganta. —Minhas desculpas. Sim,
por favor, mantenha-nos informados sobre a situação.
—Obrigado. —Ela acena com a cabeça. —Vou tentar obter mais
respostas de Lajos também... assim que o cérebro dele cicatrizar um pouco.
Se precisarmos de sua ajuda para localizar seu reino, eu o avisarei.
Com os olhos arregalados, Haruka recua. —Localizando seu reino?
Dentro Socotra?
—Aparentemente, diz a detetive, levantando o queixo. —Desculpe
pedir-lhe para deixar sua propriedade ostentosa. Pense nisso como seu
dever cívico para a segurança e o bem-estar de nossa sociedade vampírica,
ou talvez uma aventura?
Haruka se recosta e cruza os braços, odiando completamente o som
de ambas as coisas.
Você sabe, você é muito sexy quando faz beicinho... Me dá vontade de morder
você.
Apesar de sua frustração, Haruka sorri, rindo. Você pode. Depois.
A detetive franze a testa. Por que você está rindo?
—Eles estão fazendo isso de novo, Asao explica, limpando a mesa.
AGOSTO

VINTE E SETE

A abertura da galeria para o novo artista que Cellina contratou está a


todo vapor em uma noite de verão ventosa. Os músicos estão no lugar, a
comida está lindamente apresentada, a arte é exibida com a iluminação
perfeita e os patronos e doadores estão entrando pelas portas. O trabalho
árduo de Cellina está valendo a pena e todos parecem estar satisfeitos com
os resultados.
Todos, exceto o artista idiota.
Ele reclamou e fez barulho sobre uma miríade de coisas
insignificantes. A mais recente é que a marca de garrafas de água que ela
escolheu não condiz com seus padrões refinados, nem "refletem a qualidade
de sua arte”.
Eles são merdas de garrafas de água.
E são garrafas de água caras, de vidro, recicladas e ecológicas, pelo
amor de Deus. O artista chegou a reclamar com o diretor da Cellina. Ela
acabou de sair de uma “reunião de emergência” improvisada, onde foi
repreendida pelo artista por não atender às suas exigências mesquinhas. Ela
irrompe pela galeria, entrando e saindo da incrível multidão de pessoas que
ela conseguiu.
Sua mente está branca de raiva quando alguém pisa na frente dela,
fazendo com que ela se choque contra eles. É como se ela tivesse atingido
uma parede de tijolos. Ela olha para cima e Giovanni está lá, sorrindo para
ela. Sua sobrancelha muda em um olhar de preocupação. —Qual é o seu
problema?
Ela balança a cabeça e levanta a palma da mão. —Agora não. — Ela
nem o vê há duas semanas, desde que ele se afastou dela na festa de noite de
verão. Ele a tem evitado completamente agora, então por que diabos ele está
aqui? Ela se move ao redor dele e vai direto para seu escritório no corredor
superior, longe do salão principal e das festividades.
Cellina entra no espaço escuro e não se preocupa em acender as luzes.
Ela está andando e esfregando a testa em descrença. Como pode esse idiota
pomposo ser tão ingrato?
Ela conhecia esse artista quando ninguém tinha ouvido falar dele.
Enquanto ela ainda estava na escola, foi ela quem o ajudou a alcançar sua
grande chance na cena artística de Milão. Mas ele mudou. É inconcebível o
quão desleais e superficiais as pessoas se tornam quando recebem um pouco
de sucesso.
Além da reunião de hoje à noite, seu diretor disse a ela que eles se
encontrarão amanhã também. Aparentemente, eles precisam esclarecer as
“expectativas do artista” para as inaugurações de galerias daqui para frente.
—Minha bunda. —O apoio dos doadores aumentou vinte por cento desde
que assumi a programação.
Cellina resmunga de frustração quando a porta do escritório se abre.
Ela faz uma pausa, observando na escuridão. Giovanni espreita a cabeça na
esquina. Ele entra, afrouxando a gravata e sorrindo. —Ei...
—Eu disse não agora mesmo.
Caminhando para frente, seu calcanhar fica preso no tapete que cobre
o piso de mármore. Ela se abaixa e desamarra as alças em seus tornozelos
antes de jogar os sapatos pela sala, um de cada vez. —Salto alto estúpido
besteira.
—Lina, seus convidados estarão procurando por você. Você precisa
se acalmar.
Ela encontra seu olhar, seus olhos selvagens quando ela aponta. —
Não se atreva a entrar aqui, porra, me dizendo o que fazer. Estou farta de
tudo dessa merda.
Giovanni cruza a sala, suas longas pernas levando-o para a
intimidade de seu espaço pessoal em segundos. Assustado com seu
movimento repentino, Cellina se afasta. Ela bate na parede ao lado de sua
mesa e olha para ele. Que porra é essa?
Ele coloca as mãos grandes contra o queixo dela e pressiona suas
testas uma na outra. Imediatamente, ela está aterrada por seu calor
reconfortante e gengival. Isso diminui sua frequência cardíaca, fazendo-a
inalar e exalar seu aroma picante quando seus olhos se fecham. Logo, a
respiração dela está no mesmo ritmo da dele. Ela relaxa, permitindo que a
sensação de paz a envolva.
Eles ficam juntos por um longo momento antes de Giovanni puxar a
cabeça para cima. Cellina abre os olhos. Ele está olhando para ela através das
íris brilhantes.
—Escute, ele diz. —Este evento é fantástico, e você trabalhou muito
para deixá-lo ser arruinado por algum idiota artista. Eu o vi sair da sala atrás
de você, e ele estava agindo como uma vadia e fazendo um estardalhaço.
Mas você tem que ficar calma nessas situações.
Cellina se inclina para trás, relaxando a cabeça contra a parede. A mão
de Giovanni desce até a cintura dela. —E você está incrível, a propósito. Você
sempre supera.
Sua mão pesa contra seu corpo - contra o material macio e sedoso de
seu vestido cor de mostarda. Ela adora esse vestido. A bainha flui e se move
quando ela anda, as mangas com gola e o decote se ajustam perfeitamente
ao busto. Isso a faz se sentir requintada.
Erguendo o queixo, ela encontra os olhos esmeralda de Giovanni. —
Obrigada. Eu gostei muito. Você usou gravata esta noite?
Ele suspira. —Eu odeio gravatas.
—Eu sei que sim. Cellina alcança seu pescoço, manobrando os dedos
ao redor do nó para afrouxá-lo. Ela desfaz o material sedoso, maravilhada
com o quanto se sente mais calma. —Não faça coisas que você odeia. Esta
noite não é tão formal de qualquer maneira.
Ele fica parado, sem falar, enquanto ela puxa e desliza a gravata de
seu pescoço por completo, em seguida, a joga em sua mesa próxima. A
respiração de Giovanni é profunda e seu pomo de adão balança em sua
garganta. Ela desabotoa os dois primeiros botões do colarinho e separa a
camisa. —Melhor?
Ele fecha os olhos com força, balançando a cabeça em um sorriso
tenso. —NÃO!!!
Cellina agarra o colarinho de sua camisa e o puxa para baixo em
direção a ela. Ela levanta o queixo para encontrar sua boca, roçando
suavemente seus lábios. O calor de sua respiração fica preso, hesitando
pouco antes de ele se inclinar para ela, pressionando totalmente suas bocas
enquanto ele agarra sua cintura.
Ela abre os lábios. Sua língua é quente e doce ao tocar a dela, e ele tem
o mesmo cheiro que cheira - gengibre e fumaça, como chai quente ou alguma
outra mistura apimentada e terrosa. Querendo mais dele, ela inclina a cabeça
e fica na ponta dos pés, envolvendo os braços ao redor de seus ombros largos
para pressionar com mais força em seu corpo.
Quando Giovanni desliza as mãos até os quadris, Cellina decide que
quer tudo dele. Ou o que quer que ele esteja disposto a dar a ela. Agora
mesmo, neste escritório silencioso, escondido da sociedade e da
responsabilidade. Ela se afasta do beijo, encostando-se na parede. O brilho
prateado de seus próprios olhos acende quando ele a observa com suas íris
em chamas. Ele a persegue, apoiando-se em sua testa. Sua voz é rouca e
profunda quando ele fala. —Você cheira tão bem para mim, tudo sobre você
é só... Sua natureza canta para mim.
Ele exala um suspiro pesado, levantando-se dela e esfregando a
palma da mão grande em seu rosto bonito e fechando os olhos. Cellina o
observa, sua mente calma e decidida. —Você me quer.
Giovanni zomba, diversão em sua voz. —Que eufemismo.
—Eu também quero você. Agora mesmo.
Piscando, ele encontra os olhos dela. —Aqui?
—Devemos esperar outro século?
Ele faz uma pausa, olhando fixamente, antes de balançar a cabeça.
Seu rosto está hipnotizado enquanto a encara. É melhor não. Giovanni puxa
o tecido sedoso de seu vestido para cima com a ponta dos dedos, a sensação
fazendo cócegas em sua pele. Suas grandes palmas são quentes contra suas
coxas nuas, deslizando para cima em um movimento lento e intencional.
A maneira como ele a toca parece cautelosa, como se ele fosse um
explorador procurando por algo cuidadosamente. Ela espera em antecipação
à descoberta dele, apreciando a sensação de suas mãos em sua pele nua.
Giovanni alcança seus quadris por baixo do vestido e faz uma pausa,
seu sorriso perverso. Ele arrasta as palmas das mãos por suas curvas suaves,
em seguida, agarra sua bunda nua. —Tá falando sério?
—Eu nunca uso roupa íntima. —Cellina sorri. Odeio isso.
—Bom Deus, ele respira. —Nunca?
Ela levanta o queixo para dar um beijo rápido em sua boca. Beijar seus
lábios carnudos e ter suas mãos em sua carne é maravilhoso - uma
experiência profunda e gratificante pela qual seu corpo ansiava. —Você
pode testar daqui para frente. Você tem consentimento.
O que fazer a partir de agora. Hesitação lava sua expressão, mas
Cellina se inclina para ele e o beija novamente, querendo redirecioná-lo de
qualquer caminho que sua mente esteja descendo em espiral. Ele responde
ao beijo, gemendo e com fome. Ela engasga quando ele quebra o afeto de se
abaixar e agarrar suas coxas. Ele levanta, suavemente, como se o peso dela
não fosse nada. O material macio de seu vestido desliza mais alto em suas
coxas enquanto ela abre mais as pernas, com as costas pressionadas na
parede.
Quando ela está firme com os braços sobre os ombros de Giovanni,
ele usa uma das mãos para alcançá-los. Ele traça os dedos na parte interna
de sua coxa, a sensação delicada fazendo os dedos dos pés dela se curvarem.
Alcançando seu alvo, ele a toca entre as pernas com a ponta dos dedos.
Gentil, mas seguro. A intimidade crua e o contato a fazem inalar e mover
seus quadris para frente, perseguindo seus dedos.
Finalmente...
Demorou mais de cem anos, mas eles estão aqui. O desejo inato que
ela sempre sentiu por ele, a coisa inflexível e quente parada e estagnada e
profunda em sua natureza, pode ser alimentado e gratificado finalmente.
Ele esfrega os dedos contra sua carne, provocando e fazendo sua
respiração ficar mais curta enquanto ele se inclina para beijá-la novamente.
Ela geme quando ele pressiona seus dedos grossos dentro, movendo-os
lentamente para dentro e para fora para esticá-la. Cellina levanta a cabeça e
arqueia o pescoço. Seu corpo está quente, como se estivesse pegando fogo, e
ela mal pode esperar para tê-lo dentro dela. Não apenas seus dedos, mas
Giovanni. Este homem frustrante que ela está querendo desde que ela sabia
como querer outra criatura.
Quando ele remove os dedos, ela suspira com a perda deles. Seus
dedos roçam sua carne enquanto ele desabotoa as calças para se libertar.
Correndo os dedos em seu cabelo castanho dourado macio, ela se acomoda
contra a parede, envolvendo as pernas ao redor dele e olhando em seus
olhos. —Você me fez esperar muito tempo por você.
Um canto dos lábios carnudos de Giovanni se curva em um sorriso.
—Eu nem pensei que você me queria. —No momento em que ela sente o
calor de seu eixo tocando seu corpo, ela respira fundo. Giovanni exala
enquanto se orienta para dentro dela. —Mas você não me odiava?
Cellina relaxa seu corpo em torno de seu eixo, dando-lhe as boas-
vindas. Ela move seus quadris para frente, incitando a plenitude e o calor
dele mais profundamente, seu corpo inteiro formigando de êxtase. —Eu
poderia dizer a mesma coisa.
O movimento de seus quadris é lento, lânguido, enquanto ele agarra
a carne de sua coxa com uma mão. Ele move a mão livre pela curva de seu
corpo até que a palma alcance seu seio. Ele aperta e Cellina exala de prazer,
mas ele cobre sua boca em outro beijo voraz - seduzindo e provocando seu
corpo de várias maneiras. Ele levanta a cabeça e sua voz é baixa, mas
carregada de luxúria. —Você... era a única coisa boa sobre minha vida. Eu
nunca poderia odiar você.
Giovanni sustenta o peso dela com seu corpo largo, movendo a mão
entre eles mais uma vez. Ele acaricia sua carne com os dedos enquanto se
embala nela. Ela fecha os olhos e encontra seu ritmo, usando a parede como
alavanca para mover seus quadris para frente e em seu corpo firme. Algo
primitivo ganha vida dentro dela.
Sempre que ela está com ele, sua natureza se contorce e se contorce
em resposta a ele. Mesmo quando eles eram jovens. Depois da luta, ela o
ignorou. Recusou-se a reconhecer qualquer sentimento que nutria por ele.
Agora, tudo se move, ameaçando se expandir e alcançá-la.
O calor do clímax ferve baixo em sua barriga. Ela afunda e abre mais
as coxas, querendo-o mais fundo. Ele parece grosso e forte, e o gengibre
enviado por ele está ficando mais intenso, fazendo sua cabeça girar e seus
olhos brilharem. Ele se inclina, beijando-a com uma ferocidade que ela nunca
conheceu, enquanto a pressão dentro dela transborda. Ela geme contra sua
boca, o calor efervescente e a liberação do orgasmo correndo por sua espinha
e fazendo-a estremecer por completo.
Giovanni geme enquanto a segura. Logo, ela sente sua liberação
quente enquanto derrama dentro dela. Deitando a cabeça para trás contra a
parede, Cellina fecha os olhos, deleitando-se com a sensação dele - com o
calor e o cheiro de seu corpo. Ela tem fantasiado sobre isso em segredo por
anos, indefinidamente. Mas a realidade é selvagem. Mais inatamente
satisfatório do que ela poderia ter previsto.
Ele abre seus lindos olhos verdes e ela sorri. Ela está pensando em
algo engraçado e sarcástico para dizer, mas ele inclina a cabeça e se curva
para ela. Antes que ela pudesse piscar, ele morde seu pescoço, alto e logo
abaixo da orelha. Seus olhos se arregalam em choque quando ele puxa com
força sua carne. Cellina engasga. A emoção que ela sente dele é intensa - uma
sensação avassaladora de desejo e amor. Nua, sincera adoração e desejo.
Necessidade desesperada.
Seus sentimentos são lindos à medida que a preenchem, mas algo
nisso faz seu coração doer. Desesperança Como se este momento e a
satisfação inerente que ele sente dentro dele fossem passageiros. Algo que
ele nunca pode experimentar novamente.
Ele envolve seus braços em volta da cintura dela, segurando-a com
força contra seu corpo enquanto se alimenta. Ele puxa com força novamente
e Cellina respira fundo, se firmando para que suas emoções intensas não a
dominem - para que não a reduzam a uma pilha de mingau e lágrimas.
Cellina entrelaça os dedos na nuca dele. Giovanni
Ele puxa a cabeça de seu pescoço com um solavanco. Os incisivos de
Giovanni ainda estão alongados, seus olhos verdes confusos. Sua expressão
é uma mistura de confusão e preocupação, como se ele tivesse acabado de
acordar após ser hipnotizado. Ele esfrega a palma da mão no rosto. —Eu
sinto muito- merda. Deus. Cellina, eu-
Ela se inclina e beija a ponta do nariz dele. Ela se move para sua
bochecha, então o canto de sua boca antes de encontrar seus lábios. Quando
Cellina puxa, ela sussurra, olhando em seus olhos angustiados, —Está tudo
bem, Giovanni. —Você está bem.
VINTE E OITO

Nino fica maravilhado enquanto eles voam no pequeno avião de


passageiros, com o Mar da Arábia magnífico e vívido abaixo deles em sua
descida em direção à Ilha de Socotra. O litoral é o gradiente de azul, turquesa
e verde mais marcante que ele já viu. Isso o lembra de uma pedra preciosa
escondida no fundo de uma caverna: malaquita crua ou fluorita.
Os penhascos recortados surgem ao fundo, imponentes. Imóvel como
barreiras rígidas - titãs retirados da terra e alcançando o céu. Eles o fazem se
sentir insignificante. Seus cento e quatorze anos como criatura desta terra
não são nada comparados aos milênios e à fortaleza dessas montanhas.
Após vinte horas de viagem, eles pousam em Hadibu para encontrar
A detetive Cuevas. Ela e seu substituto de terceira geração, Marcus, são sua
escolta desde o aeroporto, levando-os em um velho micro ônibus branco em
direção à cidade onde ficarão antes de viajar para a casa de Lajos nas
montanhas.
Em poucas semanas, A detetive descobriu o local, mas estava
abandonado. Não foi possível encontrar um único puro-sangue, na casa ou
na aldeia de tijolos de barro que Nino tinha visto à distância. Sabendo que
os vampiros de raça pura têm um senso de consciência aguçado, o detetive
pediu que Nino e Haruka se juntassem a eles em Socotra para ajudar no caso.
A jornada até a cidade é difícil, empoeirada e empurrando contra a
estrada. Nino não se preocupa em olhar para o seu companheiro gato
doméstico, com medo do que ele possa ver: olhos como adagas que dizem
—Tive que deixar o conforto da minha biblioteca para isso? Uma viagem
nauseante em um ônibus de brinquedo?
É basicamente o que ele está pensando. Ultimamente, quando Haruka
está descontente, seus pensamentos ressoam alto na cabeça de Nino, quer ele
queira ou não. Algo sobre eles compartilharem o espaço mental nos últimos
dois meses e enquanto a língua de Nino estava se regenerando tornou a
comunicação dessa forma mais fácil do que nunca. Se isso é bom ou ruim,
Nino não tem certeza.
—Outra monção está chegando, grita A detetive Cuevas sobre o
barulho da estrada, o zumbido alto do motor do veículo. —Vamos esperar
hoje à noite e, em seguida, pegar um helicóptero amanhã quando o tempo
melhorar.
O policial vira uma esquina com um pouco mais de força do que o
necessário, fazendo Nino agarrar a barra de metal acima dele, mas não antes
de bater no ombro de Haruka.
—Foi mal por isso. —Marcus levanta a mão do volante.
Agora, ele olha para seu companheiro. Haruka está saudável
novamente. Após algumas semanas de TLC intencional sob a supervisão de
Nino (que incluiu uma série de refeições caseiras, alguns encontros sexuais
bastante intensos e, consequentemente, várias noites de sono profundo), as
olheiras desapareceram, suas feições elegantes e brilhantes mais uma vez.
Além disso, seu cabelo está curto, o mais curto que Nino já viu. Ele
cortou antes de partir. O jovem e vadio senhor feudal ukiyo-e se foi
substituído por um estudante universitário intelectual que leva sua pesquisa
muito a sério.
No momento, a expressão de Haruka é mortalmente séria. Seus olhos
se apertaram. Nino muda seu olhar para a frente. —Quanto tempo leva o
passeio de helicóptero para chegar à casa de Lajos? —ele pergunta.
—Cerca de uma hora, grita a detetive. —É no fundo das montanhas
Hajhir. Não podemos dirigir até lá. Qualquer outro método levaria dias de
viagem.
Deus, ajudai-me.
Nino pisca em direção a seu companheiro. Desculpe, Haru...
—É isso, anuncia a detetive Cuevas.
O veículo diminui a velocidade, ainda sacudindo ao longo do
caminho largo que serpenteia pela aldeia. Nino olha pela janela. O sol está
baixo com espessas nuvens cinzentas pairando no oeste.
Seus arredores são totalmente, incolores, exceto pelo espectro
singular de bege a marrom sujo. O ocasional verde pastel de um toldo.
Hadibu é como uma pequena cidade nascida no meio de um deserto. A
maioria das estruturas são compactadas juntas, planas e baixas. Alguns estão
sujos e parcialmente destruídos, outros estão intactos, mas com detritos de
rocha ou lixo espalhados ao longo do cascalho à sua frente. Roupas,
cobertores e utensílios domésticos adornam a entrada de uma estrutura por
onde passam. Outro, um pequeno rebanho de cabras.
A van para em frente a uma casa quadrada atarracada com uma
grande rachadura nos degraus de pedra que conduzem à entrada.
—Suas acomodações para a noite, meus senhores. —A detetive
Cuevas se vira, sorrindo para eles do banco do passageiro. Tendo viajado
leves, eles pegam suas respectivas malas e entram. A construção em pedra
do exterior continua no interior. É um quarto individual sem fotos ou
enfeites, apenas as necessidades mais básicas: uma cama de solteiro com
uma colcha, um lavatório, uma cadeira. Uma lâmpada nua está pendurada
no alto e uma porta no canto dos fundos leva a um banheiro estreito com
vaso sanitário e chuveiro.
—Pelo menos tem água quente? —a detetive diz. Ela levanta o queixo,
sarcástica. —Há um tipo de hotel ruim na estrada, mas eles tiveram um cano
estourado ontem, então este é o melhor que temos em curto prazo. Vocês,
puros-sangues ricos e de crosta superior, provavelmente não estão
acostumados a lugares desajeitados como este. Minhas desculpas pelo seu
desconforto.
Haruka está curvado e remexendo em sua bolsa contra a cama, mas
ele se endireita, olhando para o detetive. —Por que você insulta o modo de
vida dessas pessoas na sua tentativa de zombar de nós?
A detetive zomba. —Por favor. Você entendeu o que eu quis dizer.
—Não tenho. Nossas acomodações são modestas, mas adequadas. O
povo desta cidade pode ter um estilo de vida diferente do nosso, mas seu
julgamento é insensível.
—Sério? —ela empurra de volta. —Você vai ficar aqui e agir como se
o estilo de vida deles fosse apenas “diferente” do seu? Você mora em uma
bela e extensa propriedade em um dos países mais ricos do mundo e não
precisa de nada, vivendo uma vida feliz e alegre. Enquanto isso, essas
pessoas estão sem um tostão, morrendo de fome e vivendo na miséria.
—Qual é a sua intenção por trás desta declaração? —Haruka
pergunta. —O que deveríamos fazer?
O detetive começa franzindo a testa. —Eu-eu não sei... doar ou alguma
coisa.
— Sim, o fazemos. Para inúmeras causas. O que mais?
—Olhe. Eu sei que você não pode simplesmente invadir e salvar um
país inteiro, certo? Só estou dizendo que essas pessoas provavelmente estão
sofrendo. Não se trata apenas de “estilos de vida”.
—Em minha experiência, miséria e sofrimento existem em muitas
formas, e o contentamento pode ser encontrado nas mais humildes das
circunstâncias. Eu sinto que o verdadeiro perigo está em fazer comparações
superficiais e suposições amplas.
Ela se vira em direção à porta, zombando. —Certo. Acho que ainda
não vivi o suficiente em minha escassa vida de segunda geração para
alcançar níveis tão elevados de iluminação. Estarei de volta pela manhã,
meus senhores. —Ela faz uma reverência superficial e sai.
—Qual é o problema dela? Nino franze a testa. —Por que ela é tão
amarga conosco? Devo dizer a ela que, embora morasse em uma casa chique,
estava sendo abusado? Que minha mãe morreu quando eu tinha oito anos e
toda a minha comunidade me condenou ao ostracismo - como se eu fosse
uma mancha na sociedade? Meu sofrimento é inválido porque cresci em
uma “propriedade extensa”?
—Ignore. Qualquer problema que ela tenha, está dentro de si mesma.
—Quando Haruka se senta na cama, ela chia alto. Ele estende a mão, um
sorriso gentil enfeitando seus lábios.
Compreendendo, Nino caminha em sua direção. Ele encontra o gesto,
deslizando a palma da mão dentro da de seu companheiro e movendo-se
para ficar entre as pernas abertas de Haruka. Lá fora, o vento já está uivando,
ganhando força ao redor deles como sussurros altos.
Nino respira fundo e suspira. —Obrigado por fazer isso.
—Você está desconfortável? Estar tão perto do seu local de cativeiro?
—Na verdade não. A detetive me deixou ansioso agora, mas estou
bem. Merda. Estou ansioso para levá-lo de volta a Milão e Trentino depois
que terminarmos aqui. Acho que estamos muito atrasados para um pouco
de paz.
Haruka leva as costas da mão de Nino à boca, dando um beijo suave
nos nós dos dedos. —Vamos nos concentrar e trabalhar juntos amanhã para
que possamos partir o mais rápido possível? Não desejo suportar o peso de
seu ressentimento extraviado por mais tempo do que o necessário.
—Parece bom, —Nino respira. Ele olha além de seu companheiro e
para a cama estreita. —Eu chamo de colher grande esta noite.

O OLHO DO PÁSSARO A vista do oceano foi substituída por


montanhas, ondulantes e cavernosas, até onde Nino pode ver. Picos agudos
e vales baixos cobertos de sujeira e poeira. Árvores de sangue de dragão se
estendem para cima com suas raízes invertidas e a vegetação cresce
selvagem, mas esparsa entre fendas e penhascos. Quando a casa de Lajos
aparece, o coração de Nino bate forte. Sua pulsação bate em seus ouvidos
acima do barulho da hélice do helicóptero.
Uma grande casa branca de estilo vitoriano fica no topo da montanha,
completamente deslocada neste vasto deserto estranho. O projeto é de dois
andares e assimétrico com telhados e torres arredondadas. De alguma forma,
o drama de sua aparência enfatiza a estranha justaposição de sua localização,
como uma freira em uma rave no porão que também usa um hábito de
lantejoulas.
Conforme o helicóptero se aproxima em sua descida, a casa está em
séria deterioração: pintura lascada e venezianas danificadas. O telhado está
dilapidado, até mesmo desabado em uma pequena seção na parte de trás.
Não há movimento em lugar nenhum aqui. Sem vampiros, pessoas ou
animais. Apenas a grande casa perdida em ruínas.
Eles tocam uma generosa extensão de rocha plana abaixo da casa. O
operador do helicóptero permanece sentado enquanto A detetive, Marcus,
Haruka e Nino saem. Quando Nino pisa na montanha, ele estremece. A
temperatura é baixa devido à altitude, muito mais baixa do que na aldeia
onde pernoitaram.
—Eu te avisei, não foi? —A detetive Cuevas repreende quando Nino
se eriça de frio. —Estou surpreso que vocês, puros-sangues, até mesmo
fiquem com frio.
—Não somos infalíveis, diz Haruka friamente, com as mãos enfiadas
nos bolsos de seu longo casaco de lã azul marinho. —Se você nos picar, não
sangramos por cinco segundos?
A detetive bufa. —Engraçado?
—Como é que vamos chegar lá? —Nino pergunta, esfregando as
mãos antes de enfiá-las nos bolsos de sua jaqueta com capuz. Seu mal-estar
é baixo, mas ameaça ferver. Quanto mais cedo eles começarem a se mover,
melhor.
—Há um caminho ao lado com degraus que levam até a frente. A casa
está em muito mau estado, por isso devemos ter cuidado. Me acompanhe,
por favor. —Tanto a detetive quanto seu ajudante estão usando grandes
mochilas vermelhas, que eles ajustam e seguram conforme avançam,
liderando o caminho.
Pedras trituram e deslizam sob seus pés. O caminho sobe mais e mais
alto, o vento soprando e chicoteando os cabelos e casacos de todos enquanto
eles se movem. Esta trilha foi cavada manualmente, porque logo, eles estão
caminhando por um corredor de pedra com paredes altas de cada lado. Nino
compara a sensação a estar em um túnel de vento, o som é alto enquanto
passa por seus ouvidos. Quando a brisa acalma, ele olha por cima do ombro
para Haruka.
Você sente isso?
Haruka levanta suas íris para encontrar seu olhar, resoluta. Sim.
Existem outras raças puras aqui.
O vento volta a soprar com violência, fazendo Nino engolir em seco.
Mas onde? Posso sentir o zumbido de sua energia, mas está quase... abafado?
—Veja.
Nino e Haruka param. O túnel se abre para um grande penhasco com
a paisagem abaixo se estendendo por quilômetros, aparentemente sem fim.
A detetive Cuevas aponta para o oeste. —Você pode ver as casas de
tijolos de barro à distância. Nós descemos lá antes, mas como eu disse a você
quando liguei, estava deserto, nenhum vampiro singular à vista. Muito
estranho e úmido. Sem eletricidade ou encanamento ou qualquer coisa.
Parecia algo saído da Idade da Pedra.
Uma trilha sinuosa de degraus irregulares surge diante deles. O
detetive Cuevas lidera a subida. —Quase lá, senhores.
Nino avança, mas seu peito está tenso. Este lugar está isolado, longe
de qualquer pessoa ou coisa familiar, e a estranheza disso pesa em sua
mente. É como se eles tivessem chegado aos confins da terra, e a
compreensão o perturba.
Que diabos eu estou pensando? E se o helicóptero parar de funcionar e
ficarmos presos aqui... E se houver algo esperando por nós na casa? O que nós vamos
-
Haruka dá um passo ao lado dele, enfiando os dedos no bolso de
Nino para remover e agarrar sua mão. Nós ficaremos bem. Isso vai acabar logo.
Ele respira fundo e solta o ar, confortando-se com o calor e a
segurança da mão de Haruka segurando a sua.
Quando a casa está diante deles, parece ainda mais abandonada de
perto. O vidro está faltando em algumas janelas e rachado como uma teia de
aranha em outras. As que estão intactas estão sujas: com lama seca, poeira e
manchas de gota de chuva.
—Como ele conseguiu esta casa até aqui? —Marcus pergunta.
—Não sei, mas parece que ele não pôde pagar pela manutenção
depois que foi construído, observa A detetive Cuevas. —Está quase pronto
para ser demolido.
Quando eles estão na porta da frente e na varanda de madeira frágil,
A detetive Cuevas agarra a maçaneta. Ela empurra, mas não se move. —
Estranho... isto estava aberto quando viemos antes. —Ela se vira para seu
vice. —Você bloqueou isso?
—Eu não sei como diabos eu faria isso sem uma chave...
Ela estreita os olhos. —Estranho.
—Posso? Haruka pergunta, dando um passo à frente.
—É claro. —A detetive se afasta, observando enquanto os olhos de
Haruka ganham vida. Ele coloca as pontas dos dedos na placa de latão
embaçada do buraco da fechadura. Nino pode sentir a energia de seu
companheiro movendo-se e interagindo com a fechadura, examinando-a
para entender seu funcionamento interno. Um momento depois, ouve-se um
clique alto. Haruka envolve seus longos dedos em torno da maçaneta, então
empurra a porta aberta, sem esforço.
—Muito bom, comenta a detetive Cuevas. —Eu também poderia ter
pedido ao meu substituto para decifrá-lo.
—Todos nós temos nossos métodos.
—Acho que sim, ela diz, passando por ele e entrando na casa. —Me
desculpe por ontem, a propósito... sair dos trilhos assim. Lajos ainda se
recusa a se alimentar, mas ele melhorou o suficiente para poder gritar
besteiras xenófobas sobre vampiros ranqueados em padrões de fala
quebrados dia e noite. Talvez eu o tenha deixado chegar até mim. Não tive
a intenção de descontar em você, e é claro que sei que dinheiro não é igual a
felicidade.
—Desculpas aceitas. —Haruka sorri. —Porém, você deve saber que a
maior parte da riqueza de raça pura está ligada a propriedades e terras muito
antigas. Não temos dinheiro para queimar.
A detetive Cuevas estende a mão para coçar a cabeça cacheada dela.
— Não tinha ideia. Você sabe, Lajos... Aquele velho maluco está
menosprezando e recusando o sangue de primeira geração. Por todas as
contas, o sangue de vampiro de primeira geração é Boa para o seu puro-
sangue médio. Ele nem mesmo me reconhece quando tento falar com ele,
como se eu fosse um camponês.
—Nem todos os vampiros de raça pura têm opiniões tão imorais e
dogmáticas, afirma Haruka.
—Certo. Entendi.
O interior da casa é sombrio e monótono, escuro por causa da luz
nublada do lado de fora. A cada passo, o piso range e geme, protestando
contra todo movimento.
Quando eles chegam a uma sala de estar vazia, coberta com papel de
parede de veludo damasco dourado desbotado, o detetive se vira para eles.
—Tudo bem, algum de vocês sente alguma coisa?
—Sim. Nino acena com a cabeça. —Desde o segundo em que
pousamos.
—Ok... então falar sobre isso, talvez?
—A fonte é incerta, disse Haruka. —Os puros-sangues aqui não
desapareceram uma segunda vez, como você sugeriu. Sua energia está
presente, mas a sensação é muito fraca... semelhante a uma baixa frequência.
Nino anda de um lado para o outro no tapete ornamentado grande e
sujo com as mãos nos bolsos da jaqueta. Dentro de casa parece ainda mais
frio do que fora. —Parece bloqueado por algo, como uma parede ou barreira.
Não podemos dizer onde está centrado.
—Bem, já valeu a pena trazê-lo aqui. Meu delegado e eu não
sentíamos o agachamento. Vamos nos separar? Ande um pouco pela casa e
veja se consegue alguns esclarecimentos?
Resolvem: O detetive e Marcus sobem as escadas, enquanto Nino e
Haruka permanecem no andar térreo. Eles vagam pela sala de estar, por um
corredor estreito e escuro e acabam em uma grande cozinha.
Tal como acontece com o resto da casa, está frio aqui, escurecido pelo
céu parcialmente nublado lá fora. Os eletrodomésticos brancos são como
adereços dos anos 1950 e são apoiados por ladrilhos verde-menta nas
paredes. Haruka tenta um interruptor de luz ao entrar, mas não funciona.
—Isso é tão confuso. —Nino passa por uma grande ilha no centro da
sala e se dirige a uma pequena janela. —Eu sinto o zumbido da energia de
raça pura, mas... não é agudo como a sensação normal. —Apesar do cenário,
a vista através do vidro é de tirar o fôlego. A cordilheira encontra um
horizonte laranja-azulado cheio de nuvens tempestuosas.
—Fique parado, diz Haruka. Nino se vira para encontrar seu olhar,
mas então segue as instruções. Imóvel e com os olhos fixos, a reverberação
suave da energia que Nino sente pulsar. Ele incha, não ao redor dele como
normalmente faria, fluindo livremente pelo ar. Não. O zumbido está...
subindo pelas solas dos pés, ativando sua consciência como se os puros-
sangues fossem de alguma forma parte da terra. Ou dentro a Terra.
Os olhos de Nino se arregalam enquanto ele inala. —Eles estão no
subsolo.
—Alguém tá vindo.
Ambos viram a cabeça em direção a uma porta de madeira na
extremidade oposta da cozinha. Parece a abertura de uma despensa ou
armário, mas uma pulsação fraca de energia pura está crescendo e se
fechando por trás dela. Haruka se aproxima para ficar ao lado de Nino,
nunca tirando os olhos da porta fechada. O silêncio da sala é palpável, então,
quando a porta se abre lentamente, a coluna de Nino se enrijece e seus olhos
se iluminam.
A porta se escancarou e um feixe de luz verde amarelada saiu direto
na direção deles. Nino conjura a esfera de sua aura para cobri-los no
momento em que a luz faz contato e ricocheteia na superfície, atingindo e
estilhaçando a janela de vidro ao seu lado. No mesmo momento, a névoa
carmesim da essência de seu companheiro se desenrola, estendendo-se em
direção à porta escura como uma víbora espessa. Ele agarra algo, alguém,
porque a sala é imediatamente preenchida com um grito de gelar o sangue.
Torturante e barulhento, ele oprime os sentidos de Nino. Ele bate as palmas
das mãos nos ouvidos enquanto mantém a bolha protetora ao redor deles.
A energia de Haruka atrai para dentro, carregando com ela uma
figura congelada da porta sombreada. Ele está flutuando, braços e pernas
retos. Seus olhos estão arregalados enquanto ele grita.
Quando ele está mais perto, Nino o reconhece como o puro-sangue
de uma orelha de seu cativeiro. O companheiro de Lajos é magro,
desgrenhado e horrorizado. Suas roupas estão sujas e esfarrapadas. Nino se
vira para seu companheiro, concentrando-se na confusão. O que você está
fazendo?
Nada. Eu estou apenas segurando ele quieto!
Tente deixá-lo ir.
Ele nos atacou, sem ser provocado.
Eu sei, mas ele não pode fazer nada se eu mantiver esta forma.
Assentindo, Haruka desenrola sua aura do corpo do homem,
fazendo-o tropeçar no chão. Os dois o encaram por trás do escudo cor de sol
de Nino. O vampiro para de gritar. Ele olha para eles em um momento
incerto, o terror plantado em seu rosto. Mas então ele tropeça, tropeçando e
correndo de volta para a porta escura de onde veio.
VINTE E NOVE

—Eles estão aqui, explica Nino. —Debaixo da casa.


—Tipo, em um porão? —A detetive Cuevas franze a testa.
—Não temos certeza, —Haruka diz, seus braços cruzados enquanto
ele se inclina com a parte inferior das costas contra o balcão da cozinha. —O
pulso de energia que sentimos está sob nossos pés, mas a sensação é abafada.
Provavelmente, eles estão muito abaixo da superfície, muito mais do que um
porão raso.
—Então, aquele grito horrível que ouvimos... O cara acabou de fugir?
—delegado pergunta.
—Sim, —Haruka confirma. —Eu não fiz nada para prejudicá-lo.
A detetive balança a cabeça. —Parecia que você estava literalmente o
matando.
—Não estava. Eu só o segurei parado porque ele nos atacou sem
aviso. —Haruka exala, levando os dedos à ponte do nariz. Que diabos é esse
lugar!
A geografia, a desolação e o isolamento deste reino são chocantes o
suficiente, mas vendo aquele puro-sangue, uma criatura emaciada e
esfarrapada com seus olhos esbugalhados e bochechas rasas, gritando e se
espalhando como uma barata enorme...
Haruka encontrou uma grande variedade de raças puras em suas
viagens. De diferentes culturas, origens étnicas e indígenas, diferentes níveis
socioeconômicos e em todas as idades. Ele nunca viu um puro-sangue como
este: existindo em um estado tão horrível, desnutrido e aterrorizado.
—E aí? —a detetive diz, caminhando em direção à porta onde o puro-
sangue se retirou. —Estamos seguindo ou o quê?
—Chegamos até aqui. Haruka encolhe os ombros. Ele olha para cima
para ver Nino olhando pela janela. A apreensão definida em sua expressão
é pesada, sua ansiedade rolando por todo seu corpo tenso. Haruka se levanta
do balcão e dá alguns passos à frente para encontrá-lo. Quando ele está
parado na sua frente, ele levanta as duas mãos, passando os dedos na nuca
de Nino para segurar sua cabeça. Haruka o puxa para perto de modo que
suas testas se tocam. Fecha os olhos.
Você não precisa fazer isso, Haruka garante a ele. Posso ir com o detetive e
você pode ficar aqui com Marcus?
Nino se levanta para olhar nos olhos de Haruka. —Eu posso ajudar a
proteger você com nossa aura. É melhor ficarmos juntos, certo? Ataque e
defesa.
—Eu concordo. —Haruka esfrega as pontas dos dedos contra o couro
cabeludo, farfalhando suas ondas acobreadas. A ESCOLHA é tua.
Inclinando a cabeça, Nino se inclina para ele, seus lábios entreabertos,
mas seus olhos abertos. Haruka deixou cair o queixo para receber o beijo
rápido, deleitando-se com o calor inesperado e o sabor doce e fumacento da
boca e da língua de seu companheiro. Nino suspira e levanta a cabeça, o
olhar carregado de afeto. —Eu tenho que ir com você, eu só ficarei
preocupado com o contrário. Mas obrigado por me dar essa opção.
—É claro, diz Haruka, abaixando as mãos e segurando as de Nino
entre seus corpos. —Nós podemos?
—Mm. —Nino acena com a cabeça.
Quando Haruka se vira, a detetive está olhando para eles,
boquiaberta. —Bem, droga, isso foi... bastante exibição. Achei que teria que
virar uma mangueira para vocês dois.
Haruka zomba, segurando uma das mãos de Nino enquanto ele
caminha para frente. —Eu ficaria impressionado com a sua desenvoltura em
encontrar um neste lugar esquecido por Deus.

COMO HARUKA TINHA SUSPEITADO, a descida para o espaço sob


a casa de Lajos é profunda. Um conjunto estreito de degraus de pedra foi
revelado quando eles abriram a porta da cozinha, o caminho que conduzia
às profundezas e escuridão da montanha. Não há luzes ou tochas acesas com
fogo ao longo das paredes de pedra fria, apenas escuridão. Felizmente, a
detetive e seu substituto trouxeram muitos suprimentos de emergência em
suas mochilas, incluindo duas lanternas.
—Mesmo os puros não podem ver no escuro, certo? — Marcus
pergunta, seguindo Haruka para fechar a retaguarda. —Eu nunca conheci
nenhum puro-sangue até vocês dois... e Lajos.
—O mesmo, grita a detetive Cuevas na frente. —Só vi os mais
famosos e chamativos na TV. Temos uma aristocracia em Nova York, mas...
nossos líderes de reino não interagem muito com vampiros sob o status de
primeira geração. Parece que os puros que supervisionam as aristocracias
em outros países mantêm um senso de comunidade muito mais forte.
—Para responder à sua pergunta, a forma como nós “Ver” baseia-se
em sentir e sentir a energia de outro vampiro, diz Haruka, seguindo o
caminho e descendo cada vez mais fundo na terra úmida. —Nossas
naturezas e habilidades vampíricas como puros-sangues estão enraizadas
em atrair presas para alimentação, ou parceiros para sexo e acasalamento.
Mas desde então evoluímos com a modernização e a civilidade da sociedade.
A alimentação e o acasalamento não são mais o único objetivo da raça pura
na vida.
—Você acha? —a detetive pergunta. —Ladislao é muito famoso por
se concentrar em alimentação e sexo.
—Nós somos… a maioria puros-sangues modernos?
—Aquele cara? — Nino diz contemplativamente. —Aquele que nos
atacou... Sua energia chegou até nós como um feixe de laser. Não fez nada
com a minha aura, mas me surpreendeu.
—Sim, —Haruka concorda. —O impacto foi bastante fraco.
Quando o detetive Cuevas para todos atrás dela param. Ela ilumina
sua lanterna descendo os degraus. Graças a Deus. O caminho é plano um
pouco mais à frente. Eu não achava que era claustrofóbica, mas este lugar
está me sufocando. O que suas vibrações de raça pura estão dizendo a você?
—Que existem muitas criaturas aqui, —Haruka diz. —O mapa da
minha consciência está iluminado com múltiplas energias fracas.
A detetive se move mais rápido, exigindo que os outros sigam atrás
dela. Logo, eles alcançam um espaço plano e cavernoso. É grande - quão
grande, Haruka não consegue discernir devido à sua natureza sombria. Mas
ele pode sentir sua vastidão. A brisa fresca sopra contra suas bochechas e o
cheiro úmido e lamacento é surpreendentemente limpo enquanto ele respira.
Sem aviso, Nino expande o peso de sua essência laranja-avermelhada
para que cubra os quatro. O detetive pula com a sensação, desacostumado a
ser impactado diretamente pela aura de um puro-sangue. Ela enrijece,
virando-se para Nino. —Qu... Que diabos você está fazendo? Um pequeno
aviso da próxima vez que você decidir sacar sua energia?
—Não houve tempo!
—Estamos cercados, —Haruka anuncia.
Luzes em todas as cores do arco-íris os banham, ferozes e inflexíveis,
algumas como longas flechas ou dardos, outras como lanças ou balas. Se isso
não fosse algum tipo de ataque frontal completo, poderia ser uma exibição
agradável. Mas a aura de Nino se mantém firme, as energias saltando e se
estilhaçando contra a superfície vítrea da esfera. Haruka dá um passo atrás
dele, ignorando a confusão e colocando as mãos em seus ombros. —Isso está
machucando você de alguma forma?
Nino balança a cabeça, olhando ao redor. —Não. Está um pouco
formigando, mas estou bem.
Haruka aperta seus ombros, tranquilizando-o enquanto a barragem
continua. Listras brilhantes de amarelo e roxo, vários tons de verde e alguns
azuis voam pelo ar como fogos de artifício de festival contra o céu noturno.
Haruka se dirige a seu companheiro. —Devo parar com isso?
—Eu, pelo menos, agradeceria se você fizesse, —O detetive rosna. —
Essas criaturas são assustadoramente fracas, ou vocês dois são
assustadoramente fortes? É como se estivessem jogando granulados de arco-
íris elétricos em nós!
Nino vira a cabeça, olhando para ela. —Talvez sim? Não sei por
quanto tempo eles planejam fazer isso e isso não está nos levando a lugar
nenhum. Precisamos conversar.
Haruka passa ao redor dele e se move para passar a barreira da aura
protetora de Nino. Nino estende a mão, sua voz em pânico. —Espera! Haru,
não...
Quando Haruka sai, a energia quente ao redor dele permanece,
puxando e reformando seu corpo em um brilho intenso e ardente. Ele faz
uma pausa e olha para trás. Ele está encapsulado em sua própria aura
protetora, autônoma, mas idêntica àquela que envolve Nino, Marcus e o
Detetive Cuevas.
Nino pisca, endireitando-se com a mão ainda estendida em sua
direção. Ok, uau. —Por que você está fazendo isso?
—Eu não estou, —Haruka confirma. —Este é o seu poder, mas
iniciado dentro de mim.
—Tudo bem ... então isso é uma coisa que eu posso fazer.
Sorrindo, Haruka se move para frente e se aproxima do que ele
percebe como o centro do grande espaço. As luzes brilhantes da energia pura
ainda o estão atacando na escuridão enquanto ele levanta as mãos,
respirando e permitindo que o poder dentro de si mesmo se desdobre e se
espalhe em direção às fontes de energia que o cercam. Seus olhos brilharam,
ele derrama um vermelho brilhante, movendo-se com intenção e brilhando
dentro da caverna.
Vozes clamam, mas, tendo aprendido a lição, ele se concentra em
silenciá-las imediatamente. Haruka puxa sua energia de volta para si
mesmo, arrastando suas vítimas com ela. Eles são pesados, como um
pescador puxando uma rede lotada da água para o convés de um navio.
Quinze, vinte... então mais e mais corpos flutuam na escuridão e em
direção a ele como orbes vermelhas brilhantes. Ele organiza as figuras
estáticas em várias fileiras para que repousem no chão à sua frente, sentadas
eretas. Ele caminha entre a multidão, examinando os olhos. Há pelo menos
cinquenta criaturas aqui ao todo e elas parecem esqueléticas, bochechas
cavadas, membros longos e ossudos e olhos esbugalhados. De alguma
forma, eles estão ainda piores do que seu companheiro de antes na cozinha.
Suas roupas são como trapos, insuficientes para cobrir seus corpos pálidos.
Haruka balança a cabeça em descrença na visão perdida e deprimente
deles. Esta é uma sociedade de raça pura perfeita? Ele escolhe um dos vampiros
ao acaso. Era uma mulher, Ele não tem certeza de que idioma essas criaturas
falam, mas o padrão é o inglês. Sua voz profunda ecoa na caverna. —Por que
você nos ataca quando não fizemos nada para provocá-lo ou prejudicá-lo?
Viemos para você em paz.
Levantando a mão, Haruka remove seu aperto em sua boca. A mulher
esquelética o encara com o rosto contorcido de raiva. — Intrusos! Monstros
poderosos do mundo exterior! Demônios. —Onde está nosso líder? —O que
você fez?
Com um movimento de seus dedos, Haruka fechou a boca
novamente. Ele suspira. —Isso foi inútil.
—Tesoro, vamos perguntar a alguém sobre Ladislao, se ele ainda está
aqui? —Nino fica ao seu lado, sua proximidade faz com que as duas bolhas
se iluminem e se fundam novamente em uma única entidade.
Assentindo, Haruka olha em volta. Os vampiros de cada lado da
mulher leem da mesma forma hostil, suas sobrancelhas franzidas fortemente
e seus olhos cheios de ódio injustificado enquanto o encaram. Olhando um
pouco mais para trás, ele vê um jovem homem com um corte escuro e
crostoso na testa ossuda. Seus olhos são muito menos hostis do que os dos
outros. Arriscando-se, Haruka levanta a mão e remove o aperto em sua boca.
O homem respira fundo, mas não grita.
—Não estamos aqui para te machucar. Você pode nos dizer se o
vampiro chamado Ladislao está aqui?
O jovem assente com a cabeça, seus olhos arregalados e sua voz rouca
tranquila. —Ele está.
—Se eu te soltar, você o traria aqui? Então, eu prometo que teremos
prazer em deixar sua sociedade e eu, por exemplo, nunca voltarei.
—Sim, —o jovem vampiro sussurra. Haruka o solta. O homem faz
uma pausa, colocando as mãos contra o peito meio exposto. Verificando a si
mesmo. Ele olha para Haruka, então se levanta e acena com a cabeça. —Um
momento... meu senhor. —O jovem vampiro foge, desaparecendo por um
túnel escuro.
Haruka se vira para encarar seus companheiros, girando os ombros.
—Sua vez, detetive.
O brilho das auras de Haruka e Nino iluminam suas feições
perturbadas enquanto a Detetive Cuevas dá um passo à frente. —Veja eles.
Puros-sangues. O estado deles aqui embaixo. Meu Deus. Isso é horrível.
—E eles estão lutando contra nós, Marcus oferece, intensificando ao
lado do detetive. —Eles estão defendendo sua casa. Estamos nós errado,
aqui?
Nino olha para Haruka. —O que devemos fazer quanto a isso?
—Temos que tirá-los daqui, é claro. —A detetive gesticula. —Isso é
horrível, eles precisam de Comida e luz solar e acomodações. Eles estão aqui
vivendo e parecendo vampiros de filmes de terror antigos. É inacreditável
que Lajos tenha feito isso com eles, e por quase duzentos anos!
—Você pode querer resgatá-los, diz Haruka, —mas é possível que
eles não queiram ser libertados.
—O quê? —A detetive Cuevas recua. —Você é Insano! Por que
diabos?
Haruka levanta a mão, então escolhe um vampiro ao acaso,
removendo o controle sobre sua boca.
O macho cospe, mas pousa bem na frente de sua esfera protetora. —
Saiam! —Intrusos! —Demônios. Haruka sela sua boca novamente. Ele faz isso
com outro vampiro, que oferece retórica semelhante, depois outra, até que
Haruka tenha testado vários vampiros. Ele se vira para a detetive. —Isso
ajuda você a entender?
—Eu não posso acreditar nisso. Ela me encara. —Eles... eles só
precisam Ver. Podemos ensiná-los.
—Removê-los à força do único ambiente e mundo que conheceram
pode criar mais mal do que bem. Nós nos tornaremos os intrusos e demônios
que eles já acreditam que somos.
Haruka olha para o lado dele. Através da escuridão, ele sente o
homem que iniciou o ataque na cozinha. Ele se afasta de Nino, e novamente
a luz e a força da aura de seu companheiro se reformam independentemente
ao seu redor.
O que você está fazendo?
Um momento.
Depois de alguns passos, ele está diante do homem, examinando-o.
A luz laranja-avermelhada em torno de Haruka ilumina suas feições na
escuridão. Estranhamente, ele está sem uma orelha. Ele acena com a mão e
remove o aperto em sua boca. —Você é o líder interino deste reino?
O vampiro levanta os olhos, mas não fala. Seu olhar é frio, ameaçador.
Haruka está prestes a se repetir quando uma luz amarela aquece e brilha nos
olhos do homem. Algo nele é ligeiramente verde, como icterícia ou bananas
não maduras. No próximo segundo o vampiro magro abre bem a boca e a
luz amarelada preenche a caverna de sua boca com presas. Haruka recua em
choque, mas é tarde demais. O feixe de luz sai de sua boca, causando impacto
direto no escudo de Haruka. A caverna explode alto em eco e confusão. O
chão treme e o som distinto de pedras caindo e deslizando enche os ouvidos
de Haruka.
A poeira paira na escuridão como névoa. Conforme a terra assenta,
ele ouve Nino chamando por ele a alguns metros de distância. Haruka se
examina e respira fundo, verificando suas mãos, tórax e membros. Ele se
move lentamente, passando por cima dos escombros e pelo chão da caverna
para se juntar a seu companheiro. Quando ele está lá, Nino agarra sua mão
com força, sua voz tensa. —O que Porra... —Você está bem?
— Creio que Estou ileso, Haruka o tranquiliza, seu corpo tremendo
de choque. —Você está?
Nino acena com a cabeça, inclinando-se e envolvendo os braços em
volta dos ombros. Haruka olha para onde ele estava. Os vampiros que ele
mantém cativos dentro de sua aura também estão intocados, congelados no
lugar entre as rochas e destroços. Mas o vampiro com uma orelha está
deitado de costas a vários metros de distância. Nenhum movimento além de
seu peito mal subindo e descendo. O solo abaixo dele está chamuscado,
côncavo.
—Isso... ricocheteou, diz Marcus calmamente, mas então sua voz
aumenta. —Aquele idiota se explodiu na cara! Vocês podem respirar suas
auras? Tipo, como um maldito vampiro dragões?
—Alguns de nós, ao que parece. —Haruka gira os ombros quando
Nino o libera do abraço, mas eles voltam a unir as mãos. Nino franze a testa
e puxa Haruka para perto.
—Quer parar de vagar por aqui? Não se afaste mais de mim.
—Peço desculpas, eu...
A atenção de todos muda ao som de passos se aproximando. O jovem
vampiro com o corte aparece primeiro, seguido por outro vampiro magro
com cabelo muito comprido. Ele faz uma pausa, mas então sorri, os dentes
brancos brilhando com os braços estendidos.
—Favo de mel Ebaaa, você veio para me resgatar, eu sabia você
poderia. —Ele se move através da multidão de vampiros congelados para
alcançá-los. Quando ele está parado do lado de fora da bolha protetora, ele
joga os braços ao redor da curva da grande esfera, descansando sua
bochecha contra a superfície e sorrindo. —Eu tive fé em você esse tempo
todo, meu lindo anjo dourado. —Ele fecha os olhos.
Favo de mel Haruka se vira para seu companheiro, uma sensação
espinhosa agitando dentro dele e fazendo-o franzir a testa. —Por que ele está
se dirigindo a você de maneira tão afetuosa?
—Seja o que for que eu estou sentindo de você, por favor, pare. Não
posso controlar esta criatura ou o que ela diz. É assim que ele é.
O mapa escuro da consciência de Haruka muda, o número de luzes
fracas que ele sentiu pela primeira vez se multiplicando de repente, como se
piscando para a existência. Cem, não, dois... então dobra novamente, mais e
mais conforme pontos quentes de energia iluminam sua mente. Seu pulso
acelera conforme eles se aproximam deles, lento, mas constante. É como se
tivessem perturbado um formigueiro e todas as criaturas agora estão
descendo sobre eles.
—Haru... você sente isso? —Nino está em pânico ao seu lado, sua
mente frenética enquanto ele dá um passo para trás para mudar a posição
da bolha. Ladislao tropeça com o movimento de Nino, surpreso ao abrir os
olhos.
—São muitos, diz Haruka. Ele respira fundo. A aura de Nino é forte
o suficiente para afastar cinquenta vampiros de raça pura..., mas centenas
deles?
Ladislao se endireita, olhando para eles com a cabeça inclinada para
o lado, como se estivesse confuso. Mas então ele segue seu olhar em direção
à escuridão. Quando ele se volta para eles, ele está sorrindo. —Ah, eles estão
acordados de toda a confusão. Não se preocupe com eles. —Tudo bem, tudo
bem. Eles não vão lutar, acredite em mim. Eles estão apenas curiosos sobre
você.
Está escuro, mas Haruka pode vê-los e senti-los se aglomerando na
ampla abertura na extremidade oposta da caverna, a luz brilhante de sua
aura e de Nino dando-lhes uma forma sutil. Centenas de raças puras:
esqueléticas e caídas com olhos esbugalhados e trapos como roupas. Os
habitantes das cavernas de uma época antiga viviam isolados do mundo
moderno.
Haruka a encara como se estivesse em transe, não acreditando nessa
situação inexplicável. Ele só fica abalado quando Ladislao atinge a superfície
sólida da aura de Nino.
—Olá, meus lindos salvadores, podemos subir agora? Eu realmente
gostaria de dar o fora desta caverna, mas quero conversar um pouco
primeiro. Pode ser? Ladislao se move sem esperar por sua resposta. Ele anda
ao redor da esfera e direto para as escadas que levam de volta à superfície.
Sem saber mais o que fazer, Nino, Haruka, o Detetive Cuevas e Marcus se
viram e seguem seu exemplo.
Quando eles chegam às escadas, Haruka olha para trás uma última
vez, observando o mar de puros-sangues semelhantes a zumbis observando-
o por sua vez. Quando ele está fora de vista, ele libera seu domínio sobre o
exército que os atacou. Felizmente, ninguém segue.
TRINTA

—Você é tão bonito como… como um príncipe demônio e um anjo.


Nino bate no ombro de Haruka ao lado dele. Viu? Ele diz o que quer.
Eles estão sentados em uma sala de chá sombria perto da cozinha. Há
dois sofás de estilo antigo, uma pequena mesa de bistrô coberta por uma
toalha empoeirada e pesadas cortinas de veludo penduradas em uma janela
alta. O detetive Cuevas está pairando atrás de Nino e Haruka enquanto eles
enfrentam Ladislao no sofá oposto. Marcus está na cozinha, observando
qualquer movimento, embora Ladislao tenha garantido que, cite, talvez
ninguém apareça.
Envolvido em um cobertor cinza de emergência da mochila do
detetive, Ladislao se levanta do sofá de veludo desbotado. Ele se curva
profundamente, o gesto enfatizado por seus longos cabelos castanhos
caramelo sujos caindo para frente. —É minha sincera honra conhecê-lo, meu
amado príncipe. Obrigado por me resgatar.
—Sente-se, por favor, —Haruka o assegura, com a palma da mão
levantada. —Não seja tão formal.
Ladislao pisca em seu arco, seus olhos brilhantes. —Você fala minha
língua nativa? Ahh, incrível. Eu entendo sua devoção agora, favo de mel. Eu
seguiria essa criatura sexy de sangue antigo até o fogo do inferno... esses
olhos vermelho-rubi e cabelos escuros...
Quando Haruka levanta os dedos até a ponte do nariz, Nino percebe
que é hora de começar a trabalhar. —O que aconteceu? Por que você estava
aí embaixo? Quando eu estava aqui, todo mundo ainda morava naquela
aldeia.
Ladislao se joga de volta no sofá. Uma pequena nuvem de poeira
forma uma nuvem, pairando em torno de seus quadris. —Correto. Depois
que meu tio não estava por perto por cerca de dois dias, algum tipo de plano
de emergência entrou em ação e todos foram transferidos para a
clandestinidade. O cara de uma orelha só tem estado uma bagunça nervosa
tentando controlar a todos. Acho que ele tem pavor da responsabilidade.
—Sua tio está na prisão em Nova York, diz o detetive Cuevas atrás
deles. Nino se vira e seus braços estão cruzados, seu queixo erguido em
competição.
—Bom. Ladislao se concentra no detetive. —É onde ele deveria estar.
Você é bonita.
O detetive Cuevas começa. —Isso é importante agora?
—Para mim é assim. Ladislao morde o lábio. —Deliciosa e macia,
mulher corpulenta, você é de segunda geração?
A detetive desdobra os braços e muda de posição, com o rosto
transtornado, mas avermelhado. —Eu, com licença, mas você pode ter foco?
—Não posso. —Ladislao encolhe os ombros. —Você é
definitivamente de segunda geração. Todo vampiro de segunda geração que
conheço é um pouco mal-humorado assim, porque vocês são os filhos do
meio da aristocracia, não?
Ofegante, a detetive recua, seu rosto fixo em um discurso retórico,
mas Haruka a interrompe.
—Por que seu tio fez isso? —ele pergunta. —Por que ele roubou essas
criaturas e as forçou a existir em tal... miséria? Eles não sabem que suas vidas
não são naturais? Eles são cegos para o ambiente?
O detetive zomba. — Engraçada? Você me repreendeu ontem sobre
julgar as pessoas que vivem na pobreza.
—NÃO!!! —Haruka balança a cabeça. Isto é diferente. —Esses
vampiros são escravizados sem saber. Esses puros-sangues são...
—Lavagem cerebral.
Os três olham para Ladislao. Eu recomendo. —Eles não sabem nada
melhor. Meu tio os treinou para pensar que é assim que um puro-sangue
deve viver. Com nada. Apenas bebendo sangue. Apenas acasalamento e
reproduzindo. Ele permite que eles conheçam línguas, matemática e
ciências. Algumas habilidades comerciais para construção civil. Eles são
espertos sobre esse tipo de coisa, o que é estranho..., mas é isso! Ele diz a eles
que o mundo exterior é mau, e que eles seriam infelizes se tentassem partir.
—E eles acreditam nele? —Haruka pergunta. —E quanto àqueles que
ele originalmente pegou no Desaparecimento? Eles saberiam melhor, que o
mundo exterior tem muito mais a oferecer do que isso.
—Eu não sei tudo, príncipe das trevas, mas...
— Não me chame assim.
Ladislao inclina a cabeça, piscando. —Mas isso fica bem em você.
Nino dá uma risadinha enquanto Ladislao continua. —Como eu disse, não
sei a história toda, mas conheci um puro-sangue muito velho depois que eles
me fizeram descer para a caverna. Isaque, ele foi o primeiro puro-sangue
britânico que conheci.
—Há raça pura britânica lá embaixo? —A detetive está inclinada com
as palmas das mãos em volta da moldura de madeira ornamentada do
encosto do banco, os olhos arregalados.
—Não, amiga. Ele morreu na semana passada e era o único aqui. Ele
e sua esposa vieram no Vanishing originalmente. Eles se ofereceram para vir
aqui! Você acredita nisso?
—Ele disse na época, havia guerras de clãs terríveis em toda a
Inglaterra, e muitos dos vampiros estavam fazendo coisas drásticas para
sobreviver e preservar suas linhagens. Ele disse que não gostava da direção
que seu pessoal estava tomando, algumas das escolhas que eles estavam
fazendo. Então ele escolheu Lajos. Ele disse que sua companheira morreu
em trabalho infantil aqui, muitos anos atrás, e que ele sempre quis ir embora,
mas não conseguiu. Meu tio não o deixou ir. Eu disse a ele: —Isaac, você é o
maior puro-sangue britânico no planeta! Ele disse que estava errado. Ele
disse: —Você não pode ver meu povo, mas eles estão lá. Ele me disse que
eles estavam escondidos à vista de todos... Honestamente, isso me assustou
e eu não dormi por duas noites depois que ele disse isso... lá naquela caverna
congelante.
Ladislao estremece o corpo em um gesto dramático. —Como uma
história de fantasmas... Os puros-sangues britânicos são fantasmas?
Haruka se recosta no assento empoeirado, cruzando os braços. Nino
pode sentir as engrenagens de sua mente girando e dissecando as
informações que Ladislao lhe deu. Nino se vira, encontrando os olhos
aquáticos de Ladislao. —Então... alguns dos vampiros lá embaixo querem ir
embora?
Ele encolhe os ombros debaixo do cobertor. —Talvez? Acho que eles
estão com medo. E alguns acreditam na afirmação do meu tio de que o
mundo exterior é tão terrível. Você conheceu seus asseclas na caverna, os
obstinados. Eles protegerão este lugar até que meu tio volte, mesmo que ele
nunca volte. Mas devemos perguntar se alguém quer ir embora. Eu acho que
seria bom oferecer?
—Eu estava pensando a mesma coisa, diz a detetive Cuevas. —
Haruka mencionou que alguns podem não querer ir embora, e depois de
ouvir isso, bem... não devemos forçar ninguém a fazer nada drástico.
Podemos perguntar agora e tentar novamente em alguns meses. Encontrar
uma maneira de ficar de olho neles?
Ladislao levanta a sobrancelha em direção a detetive em um olhar
aguçado. —Meu amor, nossas mentes já estão conectadas. Isso significa que
quando nossos corpos se unirem, será explosivo!
—Já faz um tempo que você não transa, não é? —a detetive pergunta.
—Oh Deus, tanto tempo. —Ladislao esfrega as mãos ossudas no rosto,
estressado. É doloroso.
—Eu ainda não entendo por que, —Haruka diz, seu olhar focado na
mesa de centro baixa. —Até que ponto ele escondeu este lugar mal
conservado, por que...
—Prole, meu príncipe, diz Ladislao. —Ele queria fazer mais raças
puras. Toda essa configuração... O objetivo principal é aumentar o número
de raças puras no mundo. E ele tem, não sem baixas, é claro. Isaac me disse
no início, havia cerca de quinhentos vampiros de raça pura aqui. Agora, são
mais de mil.
—UMA mil deles estão presos lá? — o detetive exclama.
—Sim, contei um pouco, mas cansei e parei por aí. —Ladislao acena
com a cabeça. —Alguns são tão fracos que é difícil senti-los, eles nem
conseguem se regenerar bem. E você sabe, em nossa cultura, bebês de raça
pura estão se tornando cada vez mais raros, o que significa que a raça está
morrendo lentamente.
—Meu tio odiava isso, e ver raças puras se misturando com vampiros
de baixo escalão, ou mesmo raças puras criando laços fracos com outras
raças puras, a ponto de eles não poderem nem se reproduzir porque suas
energias estão tão fora de sintonia. Então ele criou este lugar para fazer o
controle da população e estudar como fazer laços vampíricos mais fortes. Foi
por isso que ele brigou com meu pai. Eles não podiam ver olho no olho.
—Huh, acho que o seu livro de sexo nerd seria a coisa perfeita para
ajudá-lo com isso? —a detetive repreende. Eu me pergunto onde, Ele não
nos contaria, é claro. Deve tá aqui em algum lugar.
—Todos nós sabemos isso sobre nossa cultura e que a falta de filhos
de raça pura é um problema genuíno..., mas ir até esse ponto. —Haruka
exala um suspiro, suas sobrancelhas escuras unidas. A frustração que Nino
sente dentro de seu companheiro está mexendo com seu próprio coração.
Confusão, nojo, tristeza e silêncio, escondido em algum lugar muito, muito
profundo, há outra coisa. Algo que Nino é capaz de perceber porque viu
Haruka interagir com os gêmeos de Sora. Porque Asao expôs algo sobre ele
e deu a Nino um pequeno vislumbre de seu passado.
Haruka olha para cima abruptamente, seus olhos de vinho
preocupados. —O que foi? Por que você está?
—Nada. —Nino balança a cabeça, o coração na garganta.
—Ahh porcaria, alguém está vindo, alguém está vindo! — Quando
Marcus grita da cozinha, Nino percebe que sente várias energias se
aproximando das profundezas da superfície. Ele e Haruka se levantam e se
movem em direção à cozinha, caminhando rapidamente com suas longas
pernas. A detetive segue e Ladislao grita por trás.
—Eu disse não se preocupe! Está tudo bem, eles não vão te machucar.
Eles são muito fracos.
Marcus se afasta da porta e fica parado na outra extremidade da
cozinha, com os olhos arregalados. Haruka entra primeiro e Nino fica ao
lado dele. Eles aguardam em silêncio, sentindo a aproximação de tímidas
energias de raça pura. Três... quatro... e meio? Nino está prestes a explodir sua
aura, mas Ladislao dá um passo à frente e bate a mão no ombro, fazendo
Nino pular.
—Ei, relaxa, você não precisa fazer isso, amigo. —Ele sorri e caminha
em direção à porta. Ele abre e espera. Logo, ele levanta as mãos em um gesto
caloroso. —Ebaaa, você decidiu! eu esperei por você. Venha, venha conhecer
meus amigos. Favo de mel e seu príncipe das trevas.
Ladislao dá um passo para o lado. Uma pequena vampira com cabelo
preto selvagem e encaracolado emerge da escuridão. Ela está de mãos dadas
com outra mulher que tem pele marrom-amarelada e cabelo preto muito liso,
pesado e espesso. O último está de mãos dadas com um terceiro vampiro.
Um muito pequeno, não mais de cinco anos. Seus olhos claros estão olhando
maravilhados enquanto a mulher de cabelos lisos a pega e coloca a criança
contra seu quadril.
Nino reconhece aquela com cabelo encaracolado. É Kahla, a mulher
que tocou sua aura e trouxe sangue para a sala durante seu cativeiro. O
próximo vampiro a emergir da escuridão é um homem com cabelo castanho
claro e uma cicatriz na testa. Ele está de mãos dadas com uma mulher loira,
mas ao contrário do primeiro casal a surgir, suas essências não estão ligadas.
Radiante, Ladislao se vira para Nino e Haruka. —Está vendo! Alguns
vão querer deixar este lugar. Vamos descer e perguntar, só para ter certeza?
Os asseclas do meu tio são fracos. Talvez eles não lutem com você de novo
agora que viram que é inútil.
Tem problema? Nino olha para seu companheiro, esperando. Quando
Haruka encontra seu olhar, ele oferece um sorriso caloroso.
Claro.
TRINTA E UM

Quando eles chegam a Milão, Haruka está exausto. A viagem do


Iêmen para a Itália foi longa e, antes disso, discutir a logística do transporte
dos refugiados de raça pura também era assustador.
No final, vinte e sete vampiros desejaram deixar a ilha. Para começar,
eles serão encaminhados para Nova York. Lá, a detetive iniciará o trabalho
de criação de identidades formalizadas, estabelecendo quaisquer vínculos
familiares remanescentes e iniciando o longo caminho de aclimatá-los aos
conceitos de comida, abrigo quente e água.
Com a ajuda de Haruka e Nino, a detetive também deseja convencer
outros líderes de raça pura de confiança a adotarem refugiados em seus
reinos. Dessa forma, os vampiros recém-livres podem receber uma
reabilitação mais completa, bem como orientação para serem apresentados
à sociedade moderna, aos humanos e aos vampiros graduados.
Ladislao havia deixado seu reino no Rio de Janeiro em grande
turbulência depois de encenar e atrair a atenção do tio, então o puro-sangue
de cabelos compridos insistiu que Haruka e Nino adotassem Kahla e sua
família quando o detetive terminar de processá-los em Nova York. Eles
concordaram. Eles também se ofereceram para reabilitar e abrigar o jovem
lutador e sua companheira.
A viagem foi tumultuada e Haruka não queria participar da excursão.
Mas, no final, ele está feliz por ter ajudado, e sua mente de historiador está
ansioso para documentar o insight cultural e a experiência para as gerações
futuras.
Quando eles saem do Aeroporto Internacional de Milão, é noite. Um
carro da propriedade Bianchi está esperando no local designado para o
encontro. Nino cumprimenta o criado da propriedade e o ajuda com as
malas enquanto Haruka sobe no banco de trás. Giovanni está lá.
Haruka faz uma pausa, notando a mudança sutil em seu cheiro. O
irmão de Nino e Cellina estão se dando muito bem. Ele sorri. —Olá,
Giovanni.
—Olá, príncipe das trevas.
Haruka revira os olhos. Claramente, seu companheiro já atualizou
Giovanni sobre os detalhes de sua jornada. Ele foge para o outro lado do
assento enquanto Nino sobe atrás dele. Seu companheiro se senta e fecha a
porta, mas então vira a cabeça para encarar seu irmão, os olhos âmbar
arregalados. —O que diabos está acontecendo?
Giovanni se recosta, com irritação na voz. —Que tal “Ei, G, como está
indo? Obrigado por nos pegar”.
—Por que você cheira a Cellina? Você se alimentou dela? Ela deixou
você se alimentar dela? —A voz de Nino é aguda e incrédula. Ele está
olhando para Giovanni com algo parecido com nojo. Haruka interrompe,
calma.
—Talvez vocês dois pretendam se relacionar?
—Não, —Nino diz, o volume de sua voz aumentando. —V-você não
pode.
Giovanni levanta a mão, o rosto achatado. —Nino, você precisa se
acalmar, porra.
—Se você se alimentou de Cellina, então o que dizer do pai? Eu
preciso começar a alimentá-lo agora? Eu posso? Ele sabe disso?
Haruka sente que Giovanni está tentando ficar calmo, mas sua
paciência está se dissipando. —Nino. Pare.
—Eu... eu não quero alimentar o papai. —Nino ignora seu irmão, seus
olhos perplexos. —Eu nem mesmo moro aqui, como eu poderia, você pensou
sobre isso? Que tal?
—Você é egoísta, ingrato merda.
A força da emoção por trás das palavras de Giovanni faz Nino parar
e recuar. O insulto não é dirigido a Haruka, mas seu peito está apertado com
a inquietação repentina.
—Deus me livre que você tenha que fazer algo, para nossa família, —
Giovanni diz, sua voz pesada crescendo no pequeno espaço. —Se todo
mundo não está se curvando para cuidar de sua bunda egocêntrica.
—Isso não é verdadeiro. —Nino se endireita. —Eu... Eu não sou.
—Eu acabei de voltou de te ajudar por dois malditos meses no Japão.
Administrando seu maldito reino e gerenciando seus clientes. Sempre que
você precisar de algo, eu te ajudo. Você me liga em horas ímpias com
perguntas e eu respondo. Eu nunca te pedi para fazer uma maldita coisa a
sua vida inteira, e tudo o que você faz é tirar, tirar de mim como todo mundo
e fazer o que diabos você quiser. Deve ser legal.
Nino aperta a beirada do banco de trás com as mãos enquanto encara
o irmão. —G, eu não... Eu não estou...
—Cale a boca, Giovanni cospe, esfregando a têmpora com os olhos
fechados. —Você sabe o quanto eu me importo com Cellina. Eu finalmente
fiz algum progresso com ela, e você está gritando e reclamando de mim
sobre você e como isso afeta você. E você a manteve amarrada como sua
própria fonte de alimentação pessoal por um século. Vá se foder. Vou
descobrir isso sozinho, sempre faço. Ninguém precisa de você para fazer
absolutamente nada.
O resto da viagem de carro até a propriedade é silenciosa. Haruka
pode sentir o estresse e a tensão irradiando do corpo de seu companheiro
enquanto Nino olha para seu smartphone. Embora a entrega tenha sido um
pouco hostil, ele concorda com Giovanni. Nino não deveria ter reagido dessa
forma.
Assim que eles param no portão externo principal da propriedade
Bianchi, Nino empurra a porta dos fundos. Há outro carro esperando na rua
e Haruka dá a partida, confusa. —Aonde você está indo?
—Para falar com Lina. —Nino fecha a porta sem dizer mais nada e se
dirige ao segundo veículo. Um momento depois, ele se afasta e desce pela
estrada escura.
—Provavelmente para falar mal de mim. —Giovanni balança a
cabeça. —Ele vai contar para a mamãe que gritei com ele. Estou deixando
você aqui.
—Você não vai entrar? —Haruka pergunta. A excursão a Socotra está
começando a parecer uma viagem mais relaxante.
—Não. Estou hospedado em um hotel de propriedade humana no
distrito comercial. Preciso descobrir o que diabos estou fazendo antes que
meu pai descubra. Ainda não posso ir para casa. —Giovanni esfrega a mão
no rosto e nos cabelos grossos e ondulados. Ele solta um suspiro profundo.
—Como você antecipa a reação de seu pai?
—Não é bom, diz Giovanni, massageando o topo de sua cabeça com
os olhos fechados. —Meu pai é um doce pra caralho com Nino, mas ele é um
bastardo severo comigo. Eu desobedeci a ele uma vez e ele gritou comigo e
me assustou pra caralho. Tenho estado no meu melhor comportamento
desde então. Até agora.
Haruka acena com a cabeça, entendendo a situação. —Você guarda
muito ressentimento em relação a Nino, mas talvez sua comunicação precise
de... moderação?
Giovanni abaixa a mão dele. Seu rosto achatado. —Eu sei, certo?
Gritar não adianta, mas estou fodidamente cansado. Ele faz o que quer,
sempre fez. Mas nunca posso fazer merda nenhuma. A única vez que tenho
algo bom para mim, a primeira coisa que sai de sua boca é “E eu”.
—O que você vai fazer sobre Cellina? Vocês dois desejam criar um
vínculo?
—Não sei. —Giovanni suspira. —Cellina conhece minha situação.
Sua mãe e seu pai já sabem o que eu sinto por ela, mas eu não... Acho que
não consigo... Criar vínculos não é uma opção para mim.
Haruka cruza os braços, considerando. Vínculo é um direito inato de
cada vampiro classificado. Parece injusto que algo tão essencial seja negado.
Especialmente considerando que há um vampiro em particular pelo qual
Giovanni se sente atraído, o que é uma circunstância rara por si só.
Então, novamente, sacrificando a saúde e a vitalidade potencial de
seu pai por seus próprios desejos pessoais... A situação é difícil.
—Deve haver uma resolução sensata aqui, diz Haruka. —Um em que
todos nós trabalhamos juntos? Minha linhagem é muito antiga e
profundamente mesclada com a de seu irmão. Cellina é de primeira geração,
mas... a metade pura de sua linhagem também parece antiga. A dieta de seu
pai tem sido rígida, mas não saberemos até tentarmos? E eu sei que sou
tendencioso, mas Nino pode ser muito altruísta e atencioso.
—Ele pode ser, admite Giovanni. —Com outros vampiros. Não
comigo. Ele evita nosso pai e me usa como substituto. Ele tem feito isso desde
que mamãe morreu. Eu sei que tudo isso decorre de nosso tio abusar dele, e
eu sei que eu o habilitei por causa disso, mas eu não sou a porra do pai dele.
Nino é um vampiro adulto vinculado agora. Ele ainda espera que eu cuide
de tudo para ele e então eu cuido. Estou farto desse ciclo de merda. Tive o
suficiente...
—Mesmo assim, rebate Haruka, —a situação é complexa e ele
valoriza a sua opinião. Imagino que suas palavras esta noite o tenham tocado
profundamente.
—Bom. Giovanni ergue o queixo. —Pequeno punk. Ela pediu por
isso.
TRINTA E DOIS

Quando Nino toca a campainha do apartamento onde a família De


Luca mora no último andar, o irmão mais novo de Cellina atende... o que é
estranho.
Cosimo sempre age como se Nino devesse ter se ligado a ele, como se
houvesse algum entendimento tácito entre eles. Exceto que Nino não
entende nada. Sim, eles cresceram juntos e foram sexualmente íntimos
algumas vezes (os encontros estressantes e enjoados), mas Nino nunca deu
a Cosimo qualquer inclinação de que ele queria acasalar-se com ele ou
oferecer seu sangue.
Nino mantém a conversa dura curta. Ele teve discussões cheias de
tensão o suficiente esta noite para durar o resto de sua vida. Ele bate quando
chega ao quarto de Cellina, mas não há resposta. Ele vira a maçaneta e
espreita a cabeça para dentro.
Está escuro. Ela está deitada na cama, imóvel. —LINA, Nino sussurra.
Ainda sem resposta. Ele caminha até a cama e se senta ao lado. Ele olha para
ela. Algo está errado. Sua pele normalmente rica e marrom-café parece cinza
e a textura é áspera. Nino toca seu ombro, o pânico crescendo em seu peito.
—Cellina?
Seus olhos piscam abertos. Em vez do assombroso cinza de aço a que
está acostumado, eles são claros, quase brancos. Ela olha para ele e suspira,
fugindo. —N-Nino? Que merda é essa?
—Eu disse que estava voando hoje.
—Sim, mas você não disse que viria aqui? Bom Deus, você me
assustou. —Ela coloca a palma da mão contra o peito e respira fundo.
—Lina, por que você está assim?
—Eu... eu estou... bem... —Ela tenta alisar a cabeleira cacheada e
crespa sem sorte. Ela levanta o queixo. Estou pensando...
—Sobre o quê? —Nino pergunta. —Você precisa se alimentar. Quem
fez isso com você? Giovanni fez isso?
Seu rosto cai enquanto ela franze os lábios. —Escute, Giovanni não
fez nada para me machucar, ok? Corrija o seu tom.
—Sinto muito.
—Sim, ele se alimentou de mim... e foi intenso, —Cellina continua
puxando o comprimento de seu cabelo para um lado. —Mas decidimos que
eu não deveria me alimentar dele até que ele falasse com seu pai. Eu disse a
ele que me alimentaria da minha fonte, mas...
—Mas?
—Eu não sei... —Cellina suspira. —Eu não quero. Ele se alimentou de
mim, e foi glorioso. Agora é como se minhas entranhas estivessem torcidas
e tendo um acesso de raiva.
Nino entende. Houve um tempo em que Haruka se alimentava dele,
mas Nino não podia receber seu sangue em troca. Ele aceitou a circunstância
na época, mas o desejo intenso pelo sangue de Haruka tinha sido
enlouquecedor, às vezes mantendo-o acordado à noite.
—Nós decidimos, —Cellina continua. —Mas eu só quero ele. Estou
pensando...
—Você disse isso a G?
Cellina balança a cabeça. —Giovanni já tem muito para fazer. Não
vou adicionar uma camada extra de merda para ele lidar.
Nino estende a mão e segura os ombros de Cellina, parecendo-a
morta em seus olhos translúcidos. —Qualquer camada de merda você tem a
oferecer, Giovanni aceitará de bom grado. Fale para ele. Não se preocupe
com papai. Nós... podemos descobrir isso mais tarde. Você precisa se
alimentar.
—Sei, sim. Eu sinto que estou secando de dentro para fora. Não é
divertido. Por que você está aqui? Qual é o problema?
Soltando as mãos, Nino se endireita. Ele passa os dedos no topo do
cabelo. —Por que você acha que algo está errado?
—Porque você aparece no meio da noite assim que o avião pousa e
passa a mão no cabelo. O que é?
—Não é nada. Eu... eu queria que você soubesse que acho ótimo que
você e G estejam se dando tão bem. Eu quero que vocês dois sejam felizes.
Ele ama você.
—Sim. —Cellina sorri e encolhe os ombros. —Ele é um bom homem.
Ele precisa parar de se atirar na espada da família.
—Sim! Vou tentar ajudar com isso.
—Eu concordo com essa escolha. —Cellina olha para ele. —Acho que
demos a você espaço para crescer e se curar? E Haruka é um apoio
maravilhoso.
Nino acena com a cabeça. —Você tem Ele. Sinto muito se me alimentei
de você por muito tempo. Se eu fosse um fardo.
—Não. —Cellina sorri. —Você nunca foi um fardo. Você floresceu
mais tarde do que eu esperava, mas tudo bem. Cada um tem seu próprio
tempo para fazer as coisas. Você precisava de alguém que o fizesse se sentir
confortável e em quem você confiasse. Valeu a pena esperar, sim?
—Com certeza. Nino sorri e acena com a cabeça. —Com certeza.
Quando você vai ligar para G?
Cellina encolhe os ombros, acomodando-se de volta na cama. —Vou
mandar uma mensagem para ele amanhã. Eu preciso dormir.
—Envie uma mensagem para ele agora.
Ela boceja. —Está tudo bem.
Nino franze a testa. Não está bem. Em um momento, ela está
dormindo novamente. Ele puxa o telefone do bolso, com as mãos tremendo.
Respirando fundo, ele manobra para o aplicativo de mensagens.
Onde você está?
Ele se senta, esperando. Parece uma eternidade, a forma como seus
nervos estão confusos em seu estômago, repetindo a conversa tensa no carro.
Poucos minutos depois, seu telefone vibra.
Por que?
Você está em casa?
Não
Você pode me enviar o endereço de onde você está? Por favor?
Se ele se concentrar bastante, Nino pode sentir e encontrar seu irmão
organicamente. Mas este é o método mais fácil e rápido, e o salva de ficar
perambulando metade da noite como um vampiro fictício assustador.
Nino se levanta da cama e se dirige para a porta, as têmporas
latejando de ansiedade. Quando ele está de volta à rua e entrando no táxi, o
endereço do hotel onde Giovanni está hospedado apareceu na tela do
telefone.

DE PÉ do lado de fora do quarto de hotel de Giovanni, o coração de


Nino bate forte no peito.
Ele bate na porta e espera. Pelo menos dois minutos depois, a porta
se abre e Giovanni está lá. Ele ainda está vestido com roupas casuais, seu
cabelo ondulado brilhando sob a iluminação do recesso. Ele também está
usando óculos com uma armação marrom moderna que combina com seu
rosto esculpido.
Nino pisca, pego de surpresa. —Desde quando você usa óculos?
—A luz da tela do computador incomoda meus olhos e isso ajuda.
—Huh, Haruka diz a mesma coisa sobre seu smartphone... talvez eu
devesse comprar um par para ele? Aposto que ele ficaria bem de óculos...
—O que você quer?
—Posso entrar... por favor?
Giovanni o encara por um momento de pausa, depois suspira. Ele dá
um passo para trás e Nino entra.
Existem papéis organizados em pilhas em todos os lugares. Seu
laptop de trabalho está aberto em uma mesa perto da janela escura, e há
recipientes para viagem na mesa de centro em frente ao sofá. Além da
desordem organizada, a suíte é agradável.
Nino passa por cima da bolsa do irmão e uma pilha de papéis. —
Parece que seu escritório vomitou aqui...
—É difícil ser organizado em um espaço desconhecido. —Giovanni
caminha em direção à mesa no canto e se senta na frente de seu laptop.
Sentando-se no sofá, Nino se vira, cruzando uma perna contra as
almofadas e ajustando o corpo para poder ver o irmão. —Então... quando
você vai contar ao pai?
Giovanni se concentra na tela brilhante do computador. —Não sei.
—Eu vi Cellina.
—Tá bem. —Seu irmão olha para o monitor. Digitando, não
prestando atenção a Nino.
—G, peço desculpas pela maneira como reagi no carro. Eu estou...
Desculpe, e eu não quero ser egoísta... Não entendo. —Nino engole em seco,
esperando. Ele sabe que desempenhou o papel de um espectador inocente
durante a maior parte de sua vida, nunca se oferecendo para ajudar
Giovanni em situações difíceis da aristocracia ou para ajudar a alimentar seu
pai. Ninguém pediu sua ajuda, então ele sempre dava de ombros e ficava
quieto. Fez suas próprias coisas.
—Tudo bem, é tudo o que Giovanni oferece, ainda focado em seu
computador.
—Diga a papai amanhã, Nino insiste. —Haru disse que também está
disposto a ajudar. Posso tentar controlar a alimentação. Conhecemos um
bom médico que pode fazer as coletas de sangue no Japão, só precisaríamos
descobrir um envio confiável se o pai responder bem.
Giovanni para de digitar e esfrega a têmpora. —Apenas se acalme,
certo? Eu disse que vou descobrir tudo.
—Temos que fazer as coisas rapidamente, diz Nino. —Você precisa ir
ver Lina. Ela não se alimentou de sua fonte, então ela está em casa deitada
em sua cama, mumificando.
—O quê? —Giovanni franze o rosto.
—Ela não quer se alimentar de sua fonte. Ela quer se alimentar de
você, mas, como você, ela está indiferente às circunstâncias. Enquanto isso,
ela está morrendo de fome. Então você precisa ir lá agora. Então vamos falar
com meu pai amanhã de manhã.
—Droga. Giovanni franze a testa, levantando-se de sua mesa. —Por
que ela não me disse isso?
Nino balança a cabeça, piscando. —Vocês são muito teimosos e auto
suficientes. É normal dizer às pessoas que você precisa de ajuda... ou ser
honesto sobre o que você deseja.
Giovanni arranca os óculos do rosto e esfrega os olhos. Nino sorri,
tímido. —Vocês dois são incríveis. Como um casal de vampiros poderosos...
um casal de vampiros. — Seu sorriso cai e ele murmura: —Isso é tão
extravagante.
Você está tentando me bajular?
—Não. Sendo bem franca. Vocês serão ótimos juntos. Demorou
bastante tempo. Lamento ter atrapalhado.
Giovanni revira os olhos. —Tudo bem, dê um tempo. —Ele se move
pela sala e pega sua jaqueta das costas do sofá.
—Você vai contar a ela?
—Sim. —Giovanni dá um tapinha na parte de trás do bolso da calça
jeans escura, distraído enquanto olha ao redor da sala.
—Bom. Nino o observa.
Seu irmão vai até a mesa, pega o cartão-chave e a carteira antes de
atravessar a sala novamente. —Feche a porta atrás de você quando sair.
Nino acena com a cabeça. —Eu vou. Eu amo você.
Quando Giovanni está na porta, ele a abre. Ele não olha para trás, mas
sua voz é clara. —Eu também te amo.
Nino se joga de costas no sofá no momento em que sai, sentindo uma
pequena sensação de alívio pela tensão em seu peito. Ele puxa o telefone do
bolso, levantando-o no alto enquanto envia uma mensagem rápida.
G está a caminho para ver Lina. Estarei de volta em casa em breve. Estamos
bem.
Um momento depois, seu companheiro responde.
Ótimo. Vejo você em breve. xx
Nino sorri e torce o nariz, o coração de repente leve.
Esteja nu. xxxxxxxx
TRINTA E TRÊS

Gengibre ... e carvalho.


Cellina inala, sorrindo enquanto está meio adormecida na cama, o
calor e a sombra cobrindo-a como um cobertor maravilhoso e reconfortante.
Isso lhe dá uma sensação de paz e calma. Segurança.
Um beijo suave em sua bochecha faz seus olhos piscarem. Giovanni
está lá, bonito, largo e silencioso enquanto se inclina sobre o corpo dela. Ele
está apoiado nos cotovelos acima dela e sentado ao lado da cama. Cellina
sorri. —Luce dei miei occhi.
—Perché non mi hai chiamato? —ele diz, com a testa franzida. Ela
estende a mão, esfregando as pontas dos dedos contra a testa dele.
Por que você não me ligou? —Pare de franzir a testa, ela repreende,
grogue. —Você franze a testa demais... como um... Shar Pei muito sexy.
Ele segura o pulso dela, seus olhos sérios. —Não faça isso! —Se você
precisar de alguma coisa de mim, me diga. Eu te amo mais do que você pode
imaginar, tudo o que você precisar, eu darei a você. Entendeu?
Ignorando a onda de calor inundando suas bochechas, ela rosna: —
Isso é um mandato oficial? Como meu líder de reino.
—Alimente-se. Ele se senta ereto, puxando-a para cima com ele.
—E quanto a Domenico? —Ela esfrega os olhos, se perguntando o
quão completamente louca ela deve parecer com seu cabelo em pé por todo
o lugar e sua pele seca. Ela faz uma tentativa fraca de reprimir seus cachos
crespos. É inútil.
Ele segura o rosto dela com a palma da mão grande. O calor de seu
toque envia faíscas por seu pescoço e por todo seu corpo. Ela fecha os olhos,
cedendo.
—Não se preocupe com isso agora, implora Giovanni, sua voz rouca
silenciosa na escuridão. —Apenas se alimente.
Cellina abre os olhos e encara seu rosto esculpido. —E se eu me
alimentar de você e nós nos unirmos. Aconteceu com Haruka e Nino.
Primeira vez.
Giovanni balança a cabeça. —Eles são… estranhos.
Rindo, ela levanta as palmas das mãos, esfregando o rosto e sentindo
sua pele descamar. —Não estranhos. É romântico.
—É estranho, diz Giovanni, com um sorriso por trás da voz.
Cellina considera por um momento, então acena com a cabeça e
coloca as pontas dos dedos no centro do peito dele, pedindo-lhe que se deite
contra a cama. Compreendendo, Giovanni tira os sapatos e levanta as
pernas. Ele repousa de costas e Cellina rasteja para frente para montar em
seus quadris. Ela se acalma e imediatamente sente a dureza distinta do eixo
de Giovanni através de sua calça jeans.
Ela descansa as palmas das mãos na cintura dele, em seguida, desliza
as mãos por baixo da camisa de algodão para sentir o calor de seu abdômen
nu e tonificado. —Mas e se eu tiver você uma segunda vez antes de me
alimentar de você? E aí? Ela pergunta.
Giovanni levanta os quadris, ajustando sua excitação debaixo dela.
Ele traz suas mãos grandes para a cintura dela, em seguida, desliza-as para
baixo para segurar a curva de sua bunda nua debaixo de sua camisola
enorme. —Você pode se alimentar primeiro, depois me ter uma segunda
vez. —Ele sorri, então franze a testa. —Você realmente nunca usa roupa
íntima?
—Especialmente não para a cama. Apenas os sociopatas usam roupas
íntimas para dormir.
—Isso não é verdadeiro.
Cellina ri, diabolicamente puxando sua camisa para cima até que ele
agarre a bainha. Ele levanta o torso e o puxa pela cabeça. O corpo musculoso
de Giovanni é lindo ao luar e ela fica hipnotizada por ele: o cheiro dele e a
devoção em suas palavras e ações.
Ele está sempre se entregando. É seu caráter e fundamento moral.
Quem ele é como um vampiro de raça pura bem preparado. Se ela puder,
ela quer dar algo a ele pelo menos uma vez. Algo inato e bom que só ela
pode dar.
—Posso puxar sua aura? —Ela pergunta.
Ele engole em seco, sua garganta balançando enquanto ele acaricia as
pontas dos dedos para cima e para baixo em suas coxas. Você pode fazer o
que quiser comigo. Sinto que este é um sonho que vou acordar a qualquer
minuto.
Ela se inclina, esticando o comprimento de seu corpo para pressionar
seu peito contra o dele. Ele suspira um som profundo e gutural enquanto ela
descansa os cotovelos em cada lado de sua cabeça, seu rosto logo acima do
dele. —Não é um sonho, ela sussurra. —Eu te amo, Giovanni Bianchi.
Suas mãos sobem por sua espinha, expondo seu traseiro nu ao frescor
do ar noturno no quarto. —Você me ama? Ele sorri, inocente, quase infantil.
—Sim, —ela diz. Senti sua falta. Muito obrigada.
Inclinando-se em seu pescoço, ela lambe sua pele para prová-lo
primeiro. Quente e picante. Delícia. Seus olhos brilham para a vida quando
ela o morde, o fluxo de seu sangue em sua língua apimentado e complexo.
Mais gratificante do que qualquer outro vampiro que ela já provou.
O sangue dele é como uma droga, eufórico porque vai direto para a
cabeça dela. Ela geme enquanto uma grande mão segura sua omoplata e a
outra agarra sua bunda. Ela puxa com força sua carne, sentindo a barreira
profunda e inata da aura de raça pura de Giovanni. Cellina nunca lançou a
aura de um vampiro de raça pura antes, mas ela sabe que é preciso foco
mental e determinação emocional. Duas coisas com as quais ela está bem
equipada.
Firmando-se contra seus quadris, ela coloca as mãos acima de sua
cabeça. Cellina foca sua mente no homem altruísta e forte debaixo dela e
suga o mais forte que pode. Ela pensa há quanto tempo ela o queria, para
tocá-lo, confortá-lo e fazê-lo sorrir. Para deixá-lo saber que ele não tem que
lidar com tudo sozinho, que ela estará ao seu lado. Que eles podem apoiar
um ao outro.
O corpo de Giovanni arqueia, seu aperto aumenta. Ela puxa com força
mais uma vez e ele respira, praguejando. A pressa e o poder da liberação de
sua aura são impressionantes: uma névoa selvagem de vívida luz verde. Ela
se senta ereta enquanto isso os cerca, seu coração dançando em seu peito.
Cellina fecha os olhos, apreciando a energia feroz e cintilante que gira e pulsa
como uma tempestade de areia de esmeraldas esmagadas.
Após um momento, a sensação intensa se dissipa. Os dois estão em
silêncio, apenas o som da respiração laboriosa de Giovanni sob o seu sopro
ilumina o silêncio. Ele traz suas palmas das mãos no rosto, cobrindo um
largo sorriso. —Maldição de merda.
Cellina puxa seu cabelo rebelde para trás, em seguida, trabalha para
desabotoar as calças. —Bom trabalho para uma primeira tentativa, certo?
—O que quer que meu pai diga ou faça comigo amanhã, vale a pena.
Ela se levanta e puxa sua cintura para puxar suas calças para baixo.
Vamos fazer valer a pena.
ALGO SOBRE A NOITE, estando sozinhos no vácuo escuro do quarto
de Cellina, apenas os dois... Isso os torna confiantes. Destemida.
De manhã, Cellina acorda primeiro. Ela está envolta no abraço de um
homem bastante grande, nu, musculoso e com cheiro de gengibre. A pele de
Giovanni é quente, mas macia, os pelos castanho-dourados de seu corpo
firme fazendo cócegas no dela de cima a baixo. Seu peito está pressionado
em toda a extensão de sua coluna. Sua virilha em sua bunda e suas pernas
grossas emaranhadas com as dela.
Para ser claro, é glorioso: esta situação de manto de homem. Se ela
tivesse percebido a bondade disso antes, talvez ela tivesse tentado comprar
um online.
Seu aperto é seguro, mas ela se contorce e se vira em suas mãos. Ele
se ajusta, sentindo sua intenção e ajudando-a a encará-lo. Quando ela o faz,
os olhos dele ainda estão fechados. Cellina o examina, a forma como a luz
do sol revela a sombra sutil que se acumula em seu queixo quadrado, como
realça os tons dourados de seu cabelo castanho bagunçado. Sua testa é lisa,
seu rosto relaxado de uma forma que ela não via desde que eram muito
jovens.
—Smettila di fissarmi.
Cellina sufoca uma risada. A voz de Giovanni está baixa e cheia de
sono. Seus olhos ainda estão fechados, mas um sorriso caloroso se forma em
seus lábios. Pare de encarar.
—Tenho ignorado você há décadas. —Cellina sorri, aninhando-se
nele. —Eu preciso recuperar o tempo perdido.
—Você fica olhando para mim com tanta força que estou com medo
de que você mude de ideia sobre isso.
Ela estende a mão e aperta seu nariz, fazendo-o abrir os olhos e puxar
a cabeça para trás em um bufo assustado. —Agora que tenho toda a sua
atenção, diz ela, —não seja estúpido. Eu não vou mudar de ideia. Nunca.
Ele se inclina para ela mais uma vez, puxando-a ainda mais apertado
em seu calor e esfregando os lábios contra sua testa. —Por favor, não mude
de ideia, ele sussurra. Ele beija a linha pelo nariz dela, tão suave e terno que
dá a Cellina uma onda de arrepios em sua pele. Quando ele paira sobre os
lábios dela, roçando seus lábios carnudos sobre os dela, ele diz: —Meu
coração não aguenta.
Ela levanta o queixo, beijando-o com força, com tudo. Ele encontra
sua tenacidade, mudando de forma que ele está em cima dela com seu peso
apoiado em seu peito, barriga e quadris. Ele é pesado e divino, duro e grosso
entre suas coxas abertas. Giovanni se levanta com o beijo, seus olhos
brilhando com magnificência verde. —Posso me alimentar de novo?
Cellina solta uma risada, envolvendo as palmas das mãos contra a
parte inferior de suas costas. —Você está indo para a cidade agora?
—Poderia muito bem. Ele encolhe os ombros fracamente. Ele sorri,
mas algo sombreado cruza sua expressão. —Não sei quando ou se poderei
fazer isso de novo. Por favor?
—É claro que pode! Cellina move os braços para cima, deslizando os
dedos em seu cabelo. —Tente não ficar tão desanimado. Vamos conversar
com o Domenico juntos, certo? Vamos descobrir o que aconteceu.
Ele balança a cabeça enquanto se inclina para ela, seus olhos focados
nela como se ela fosse sua primeira e última refeição. Sua única esperança.
Cellina puxa seus joelhos para cima para embalar o corpo pesado de
Giovanni e ele lambe seu pescoço. Ao mesmo tempo, ele afunda os dentes
nela, ele desliza a palma da mão grande pela lateral do corpo dela,
acomodando-a na curva de sua cintura e acariciando sua pele com o polegar.
Cellina respira enquanto ele toma, fechando os olhos. Antes, quando
ele se alimentava, os pensamentos eram amorosos, mas desesperados,
selvagens com fome e necessidade. Agora, sua mente está calma. Há
gratidão fluindo dentro dela, amorosamente rodada com algo mais.
Reverência? Isso aquece o coração de Cellina e sua pele lateja.
Ela relaxa, abrindo sua mente e corpo para ele completamente.
Naquele momento, uma onda profunda abala toda a sua psique. É
estonteante, como se ela tivesse sido atingida por um grave caso de vertigem.
Ele puxa para cima de seu pescoço, e antes que ela possa reunir seus
sentidos, a pressa fresca de sua natureza se expande dentro dela, fazendo
seus olhos brilharem como prata.
O peso de Giovanni em cima dela endurece, a rica névoa verde-
esmeralda de sua aura se intensificando ao redor deles. O cheiro agradável
dele a consome enquanto agarra seu corpo, mas a própria natureza de
Cellina se espalha como a luz das estrelas. Ela nunca viu sua própria aura
única se manifestar fora de seu corpo assim. Como uma primeira geração,
ela tem sangue puro dentro dela, mas ela é incapaz de manejá-lo e manipulá-
lo como os puros às vezes fazem.
Sua essência se funde com a de Giovanni, a imagem dela a lembra de
uma lâmpada de lava. Lento, gracioso e hipnótico antes de explodir e brilhar.
Ela se derrama na névoa esmeralda, intensa e prateada antes que a fusão de
suas duas auras envolva seus corpos.
O momento é deslumbrante, mas dura apenas alguns segundos. A
luz se dissipa, refugiando-se em ambos os corpos como por osmose. Sua
natureza está se estabelecendo dentro dela, mas é quente e derretida em todo
o seu núcleo. Diferente de alguma forma. Tranquilizador. Ainda mais forte.
E algo sobre Giovanni... A sensação e o cheiro dele estão lá também. Dentro
dela.
Giovanni se levanta de seu corpo, seus olhos ainda brilhando e seu
rosto uma mistura de quase todas as emoções possíveis. Sua mente está uma
bagunça completa: alegria, alívio, medo, culpa intensa, preocupação. De
alguma forma, ela sente tudo isso.
Cellina coloca as mãos em cada lado do rosto de seu companheiro e
respira fundo. —Nós definitivamente precisamos falar com seu pai. Agora.
TRINTA E QUATRO

Duas vezes… Cellina pondera. Não tão “esquisito” quanto Nino e Haruka,
mas ainda assim muito bom. Não é uma competição, mas algo sobre a
facilidade com que o vínculo deles se formou lhe dá confiança.
De pé ao lado de Giovanni agora na frente de seu pai, ela precisa
dessa garantia.
Giovanni está segurando a mão dela com tanta força que se Cellina
não corresponder ao seu aperto, ele pode esmagá-la. A ansiedade rola de
seus ombros largos acima dela. Ele está olhando direto para a frente:
nenhuma face de jogo. Este rosto parece apavorado. Mais como, —Por favor,
não grite comigo e tente tirar isso de mim. Não que Domenico pudesse
afastá-la dele neste momento. Não sem colocar em perigo a vida de ambos.
O pai de Domenico e Cellina poderiam ser irmãos, exceto que o pai
de Giovanni é mais alto, mais corpulento e mais teimoso. Quando ele era
mais jovem e saudável, ele lembrava Cellina de um gladiador muito bonito,
ou talvez um Viking italiano, se tal coisa pudesse ter existido. Ele está mais
velho agora, seus cabelos grossos e ondulados são prateados e seu físico
ainda imponente, mas menos musculoso quando ele se senta ereto na cama.
Ele encara os dois com olhos castanhos desbotados, mas não há raiva
neles. Ele está em silêncio, considerando algo nos brilhantes raios de sol
dourados que preenchem a sala íntima. O corpo de Giovanni está tremendo
ao lado dela. Ela ajusta suas mãos para que seus dedos fiquem entrelaçados,
então agarra a palma dele com mais força.
Com o silêncio de Giovanni, ela sorri e inclina a cabeça. —Bom dia,
sua graça. —É bom vê-lo de novo.
Domenico franze a testa e franze os lábios grossos. —Cellina, não me
chame de “sua graça”. Sei que já se passaram muitos anos desde nosso
último encontro, mas você me insulta com as formalidades... Além disso,
agora somos uma família, ao que parece. —Sua carranca se abre em um
sorriso gentil. Cellina considera isso um sinal muito positivo. Mas quando
Domenico olha para Giovanni, sua expressão endurece. —Você se ligou a
esta linda jovem vampira. No entanto, você não discutiu isso comigo, essa
intenção nem o seu desejo.
Giovanni passa a palma da mão livre pelo rosto e respira fundo. —
Peço desculpas, padre.
—Eu ouvi isso pela primeira vez de Andrea através de um telefonema
alguns meses atrás, continua Domenico. —Eu me perguntei quando você
revelaria isso para mim, o profundo afeto que você secretamente nutria por
sua filha. Você retransmite todos os aspectos dos negócios e da sociedade
para mim, até mesmo atualizações detalhadas sobre seu irmão. Mas você
confia em Andrea quando se trata de seus próprios assuntos privados?
Há repreensão em seu tom, mas Domenico parece menos zangado e
mais magoado com o segredo do filho mais velho. Giovanni esfrega a testa
novamente e abaixa o rosto. —Sinto muito.
—Eu espera, Giovanni. Esta é uma decisão crítica que você deve
discutir comigo, seu pai biológico. Agora você está diante de mim, ligado. É
inconcebível para mim. —Ele suspira e fecha os olhos. —É por isso que você
não voltou para casa nos últimos quatro dias? Para ocultar ainda mais isso
de mim? Para me iludir como se eu fosse um idiota?
Cellina olha para seu companheiro silencioso. Os olhos de Giovanni
ainda estão baixos. Ele é como uma parede ao lado dela. Uma parede
instável, oscilando à beira do colapso e se preparando para o impacto de
uma bola de demolição.
—Venha aqui. —As palavras de Domenico são resolutas. Giovanni
afasta sua mão da dela e se move em direção à cama grande. Cellina dá um
passo à frente, mas se detém. Ela leva as palmas das mãos às bochechas, o
estômago em nós. Eles não sabiam que se ligariam na segunda vez que ele
se alimentasse.
Ou talvez no fundo, eles tinham? Cellina não leu Lore and Lust, O
infame manuscrito de Haruka sobre a formação de laços vampíricos. No
fundo de sua natureza, porém, ela não está surpresa. Ela sabia que não
demoraria muito para suas energias clicarem, se agarrarem em um abraço
metafísico e entrelaçarem suas linhagens para a vida.
Giovanni se ajoelha ao lado da cama de Domenico. Normalmente,
seus ombros quadrados estão para trás, orgulhosos com seu peito largo para
frente. Agora, eles são arredondados e sua cabeça está abaixada. Domenico
baixa os olhos para ele. —Quando sua mãe morreu de fome e morreu na
guerra, metade de mim faleceu. Essa é a natureza dos laços, e é incomum
que eu tenha vivido tanto tempo sem ela. Com o equilíbrio da minha
natureza tão arruinado.
Domenico levanta uma mão grande e a coloca sobre a cabeça marrom-
dourada de Giovanni. Os ombros de seu filho estremecem com o contato,
mas ele permanece imóvel.
—Este severo desequilíbrio dentro de mim... —Domenico suspira,
seus olhos suavizando. —Tem se manifestado através de minhas ações com
você e seu irmão. Eu sei disso há muito tempo. Mas, eu... Eu não sabia como
resolver isso. Como consertar meus erros. Tenho sido... muito duro com
você. Rigoroso em exigir e exigir muito de você, a ponto de ficar com tanto
medo de me dizer que está apaixonado pela filha de Andrea e que deseja
formar um vínculo com ela.
Domenico respira fundo novamente, mas desta vez, uma sugestão de
um sorriso se forma em sua boca. Ele esfrega os dedos grossos no topo da
cabeça do filho. —Você escolheu bem e não estou zangado com você. Eu
lamento ter levado nosso relacionamento a um estado como este. Você
sacrificou muito para sustentar nosso reino... e eu. Fico muito agradecido por
isso. Parabéns pelo seu vínculo. Que seja abençoado.
O coração de Cellina está na garganta quando Domenico levanta o
olhar para se concentrar nela. —Quando devo esperar netos, por favor me
avise com antecedência. Não se esconda de mim.
Acenando com a cabeça, Cellina vai até a cama. Ela olha para
Giovanni e há lágrimas escorrendo pelo rosto dele. Ele fecha os olhos com
força quando Cellina o encontra no chão, caindo de joelhos. Ela envolve os
ombros de Giovanni com os braços para colocar a cabeça dele em seu peito.
Ele se inclina para ela, estremecendo com respirações dispersas e soluços
silenciosos enquanto ela descansa o queixo contra o topo de seu cabelo
macio.
Ela encontra os olhos de Domenico. —Você será o primeiro a saber,
nós prometemos. —Ela vira o rosto para o cabelo de seu companheiro e o
beija, segurando-o com mais força.
—Meu caçula e seu companheiro me procuraram muito tarde na
noite passada, diz Domenico. —Eles desejam tentar me dar seu sangue. Eu
concordei, mas o processo precisará ser lento. Gradual Você pode aceitar
isso?
—É claro. —Cellina sorri. —Eu sei que meu pai adoraria visitar você
também. Ele sente falta da sua amizade, especialmente, “vencê-lo no
xadrez”.
—Ha. Domenico joga a cabeça para trás, um sorriso brilhante no
rosto. —Eu deito no meu leito de morte e seu pai espalha mentiras insípidas.
Aquele velho cão deseja poder me vencer.
—Você deve colocá-lo em seu lugar. —Cellina mostra seu rosto mais
inocente, piscando os olhos. Domenico a encara, balançando a cabeça em
câmera lenta.
—Meu filho, você se ligou a uma mulher bonita e astuta. Não devo
esperar nada menos da prole de Andrea e Saida. Deus te ajude.
TRINTA E CINCO

No momento em que Haruka passa pela porta do solário brilhante,


Cellina se levanta, piscando seus olhos cinzentos redondos. Seu cabelo
castanho escuro está preso em um coque intrincado no alto da cabeça, e ela
usa um lindo vestido verde-menta que balança quando ela anda. Cellina
sempre lembra Haruka de uma linda borboleta... que poderia picar você se
provocada.
Ela estende a mão em direção a ele enquanto eles se aproximam,
incitando-o a fazer o mesmo. Quando suas palmas estão unidas, ela sorri
com admiração ao olhar para ele. —Você cortou todo o seu cabelo comprido,
você está tão bonito. —Ela estica o pescoço e Haruka se abaixa. Ela o beija
nas duas bochechas. —O cabelo comprido era lindo, diz ela, radiante, mas
este é mais moderno... fresco! Agora vocês dois têm a vibração de garoto
sexy da porta ao lado.
—Você parecia uma mulher. —Giovanni está sentado com os braços
cruzados na cabeceira da mesa. Ele levanta a sobrancelha em um sorriso
malicioso.
—Acho que não. —Cellina inclina a cabeça, considerando. —No
mínimo, ele apresentou ainda mais ambiguidade de gênero com o cabelo
comprido. Muito lindo de qualquer maneira.
—Então? —Nino franze a testa para o irmão. Que diferença isso faz?
—Relaxe. Giovanni o encara, o rosto inexpressivo. —Foi apenas uma
observação.
Haruka revira os olhos. —Opiniões não solicitadas, como de costume.
Criatura pomposa.
Sem aviso, Nino ri enquanto se senta à mesa. Eu ouvi isso.
—Ficou sabendo do quê? Giovanni pergunta. Nino encolhe os
ombros, as sobrancelhas erguidas em inocência. Giovanni resmunga: —Não
fale merda sobre mim em sua cabeça na minha frente. Eu não gosto disso.
—Eu disse que você é pomposo, o que é verdade. —Haruka se senta
e puxa sua cadeira até a mesa. —Como foi a conversa com Domenico esta
manhã?
Giovanni se inclina com o cotovelo na mesa e aponta com o dedo. —
Bem aparentemente. Não se esqueça disso.
—A conversa correu bem, Haruka. —Cellina acena com a mão na
frente de seu companheiro para dispensá-lo. Giovanni se recosta na cadeira,
rindo consigo mesmo. Ele está obviamente de bom humor. Cellina sorri. —
Ele já está nos perguntando sobre os netos.
A tensão no corpo de Nino dispara, tanto que pega Haruka
desprevenido, fazendo seu próprio corpo ficar tenso em resposta. Ele se vira
para seu companheiro, perplexo. Qual é o problema? Porque...
Nenhum Nino balança a cabeça e passa os dedos pelo couro
cabeludo. Um sinal inequívoco de que definitivamente não é nada. —Estou
bem. Desculpe, Haru. —Ele respira fundo, mas Haruka o observa, tentando
ler e entender sua ansiedade interna.
—Nino mencionou algo sobre aceitar alguns desses refugiados de
Socotra, diz Giovanni. —Se fizermos isso, precisamos desenvolver um plano
para integrá-los à sociedade. Não podemos simplesmente jogá-los em um
apartamento e esperar que prosperem. Há muito que eles precisam
aprender, muito como segurar as mãos.
—Eu concordo. —Haruka se recosta, suspirando. —Eles já são
formados em matemática, ciências e línguas, então esse é um obstáculo com
o qual não precisamos nos preocupar. Ajudá-los a se adaptarem aos aspectos
socioemocionais da vida em uma sociedade moderna será o verdadeiro
desafio.
Cellina se inclina para frente, cruzando os braços contra a mesa. —
Devemos considerar quais líderes de reino queremos envolver primeiro e,
em seguida, pedir que ajudem a desenvolver um programa?
—Eu gosto disso. —Giovanni acena com a cabeça. Temos de limitar.
Não queremos muitos chefs na cozinha ou que isso se torne uma questão
política esquisita. Que tipo de poderes esses vampiros têm?
—Com os que estamos aceitando, Kahla não fala porque Lajos fez
algo com a voz dela, explica Nino. —Mas o companheiro dela me disse que
a voz de Kahla era muito persuasiva. O poder manifestado de sua aura
estava em sua fala. Seu companheiro, seu nome é Mai, ela pode manipular
sua aura em formas como uma extensão de seu corpo. Ela me mostrou
fazendo sua essência na forma dessas gigantescas asas de morcego azuis e
brilhantes. Ela pode até voar.
Deus do céu. Giovanni franze a testa. —Vampiros voadores... Você
desencadeou um bando de aberrações em nossa sociedade?
—Rude, Cellina repreende. —Esses puros-sangues foram
escravizados por quase dois séculos.
Nino faz uma careta para o irmão. —Acho que tudo o que eles
querem agora é viver em um lugar pacífico e ter liberdade. Eles não formarão
uma aliança e se transformarão nos X-Men. —Nino se contorce na cadeira e
olha para Haruka. —Você sabe quem são os X-Men?
Haruka acena com a cabeça, mas na verdade, ele não tem ideia. Ele
não está com humor para uma digressão na cultura pop humana trivial.
Nino ri. —Você está mentindo para mim agora, mas vou deixar passar.
—Vamos descobrir os detalhes do plano de refugiados mais tarde,
afirma Giovanni. —Vamos falar sobre alimentar papai. Ele precisa de uma
bolsa pelo menos duas vezes por semana, se tudo estiver bem e ele estiver
estável, o que tem acontecido há algumas décadas. A melhor opção é criar o
maior número de bolsa possível. Eu verifiquei a reserva e havia vinte e seis
bolsas do meu sangue lá. Isso nos dá um pouco mais de três meses para ficar
à frente da curva e descobrir essa nova situação.
Giovanni respira fundo, esfregando a mão grande na nuca. —Antes
de testarmos seu sangue, vou tentar alimentá-lo com meu sangue
entrelaçado com o de Lina.
—NÃO!!! —Nino se senta, seu corpo tenso novamente. —Eu disse
que vou fazer isso! Pare de tentar fazer tudo quando estou disposto a ajudar.
—Está tudo bem, Nino, Cellina interrompe. —É tudo experimental e
seria melhor se pudéssemos compartilhar a tarefa. Vai ser mais fácil para
todos.
—E ainda vai ser muito melhor para mim do que era, diz Giovanni.
—Confie em mim.
Acolhido, Nino recosta-se na cadeira. Ele exala uma respiração
pesada e desvia os olhos. Haruka estende a mão para pegar a mão dele, e
Nino entrelaça seus dedos embaixo da mesa. Ele aperta a palma da mão de
Nino com força.

DEPOIS DE ALMOÇAR JUNTOS, Haruka segue atrás de Nino


enquanto caminham para o prédio oeste da propriedade. Haruka sorri,
lembrando-se de uma época em que ele e Nino eram simplesmente amigos.
Naquela época, ele seguiria Nino até seu quarto, semelhante a este.
Mas o relacionamento deles tinha sido tão cuidadoso naquela época.
Inocente e sincero. Eles polidamente reprimiram seus verdadeiros
sentimentos um pelo outro - a crescente sensação de desejo, amor e
necessidade de algo mais. A intimidade emocional entre eles cresceu e
floresceu, a um ponto onde tudo dentro deles exigia o físico.
Estar com Nino, tocá-lo, beijá-lo, saboreá-lo e respirá-lo... É
fundamental agora. Haruka não consegue imaginar sua vida de outra
maneira, nem ele gostaria.
Quando eles estão lá em cima, no quarto principal, Nino tira os
sapatos e se joga na cama para se deitar de lado. Ele está quieto desde o
almoço, e também estava quieto ontem à noite quando voltou para casa.
Haruka empurra a porta fechada com um clique suave, então se move
em direção à cama. Ele tira os sapatos também antes de subir e descansar
sobre as mãos e joelhos, pairando sobre seu companheiro. —Posso
reivindicar a posição de colher grande?
Nino dá uma risadinha pelo nariz, os olhos fechados. —Você pode.
Depois de um pouco de mudança e ajuste, Nino é calorosamente
encapsulado contra a curva do peito e do corpo de Haruka, com os braços
em volta da cintura. A luz que penetra no quarto é branca e limpa. As folhas
verdes vivas de uma árvore fora da janela balançam e balançam com a brisa
suave. Está quieto Haruka pode ouvir o canto abafado dos pássaros fora do
vidro, bem como a respiração lenta de seu companheiro dentro de seu
abraço.
Mas ele sente as emoções de Nino se agitando. Sua mente está
frustrada, caótica. Haruka espera, segurando-o até que a voz de Nino se
registre suave no silêncio.
—Eu não quero ser egoísta.
Haruka abaixa a cabeça, acariciando-o contra sua nuca. Não é.
—Mas G ainda pensa que eu sou, eu ... Eu não quero mais ser essa
pessoa. Estou tentando não ser. Eu estou tentando.
Ele sente Nino estremecer e se enrolar em si mesmo, então Haruka se
curva para envolvê-lo, segurando-o com força. —Você não é egoísta. Você
passou por graves traumas em seu ambiente familiar, o que, legitimamente,
levou à sua apreensão de se envolver com esses assuntos domésticos. Seu
relacionamento com seu irmão é complicado. Mas vocês dois estão mudando
como resultado de suas novas circunstâncias. Isso levará a dores de
crescimento inevitáveis entre vocês. É natural.
—Eu sei. Eu sei, mas... Eu não sou uma criança. Ele gritou comigo
como se eu ainda fosse um vampiro pré-adolescente! O que há em mim que
faz as pessoas me tratarem dessa maneira? Minha vida inteira tem sido
assim, meu tio se aproveitando de mim.
—Nino, o que seu tio fez com você tem nada a ver com seu próprio
comportamento ou personalidade. Não assuma nenhuma culpa por suas
ações grotescas.
—Tudo bem, eu... Eu entendo. Eu sei. Mesmo assim, minha mãe
puxando-o e matando-o para me proteger... Pai não me dando nenhum tipo
de limite, e G e Cellina me arrastando e segurando minha mão... —Nino se
mexe, virando-se no abraço de Haruka para que fique de frente para ele.
Seus olhos âmbar estão vidrados. Desnorteado. —E você também…
—Eu? —Haruka pisca com o peito apertado.
—Sim, diz Nino. —Quando voltarmos para casa, preciso começar a
trabalhar novamente. Em Osaka. Em Kyoto. Passar a noite fora às vezes, se
necessário, ou voltar no último trem. Gosto de sair para trabalhar e conhecer
pessoas. Não posso ficar em casa porque você quer cuidar de mim, Haru.
Parece que fui jogado para trás dez passos por causa da foda de Lajos e do
seu desaparecimento de mim e dos ferimentos. Precisamos voltar às nossas
vidas normais, antes que tudo isso acontecesse. —Nino o encara nos olhos,
sem vacilar sob a luz forte da sala.
—Eu... —Haruka engole em seco. O estresse, o medo e a incerteza
aumentando e dominando-o com o simples pensamento de Nino estar em
algum lugar e longe dele. Fora de seu alcance, indefeso e sem saber. Ele
desvia os olhos, mas Nino estende a mão, colocando as mãos quentes contra
o rosto de Haruka para manter seu olhar.
—Ninguém vai me machucar ou me tirar de você novamente. Tesoro,
você não precisa ter medo assim. Você continua tentando esconder isso de
mim, mas você não pode esconder nada de mim. Também posso sentir e é
sufocante, esse pavor bem no fundo de você. Por favor pare de se preocupar
assim.
Pouco antes do ataque de emoções ocultas tomar conta de Haruka,
ele sente o calor de sua aura compartilhada crescer por dentro. Fora dele e
ao seu redor, Nino o está manipulando, chamando-o para confortá-lo como
só ele pode. Nino envolve os braços em volta do pescoço de Haruka para
puxá-lo com força. O carvalho e a canela dele combinados com o calor de
sua aura acalmam Haruka e retarda sua respiração. Ele estende a mão para
segurar Nino pela cintura e puxá-lo ainda mais perto. Respiração.
—Quando Lajos tirou você de mim, eu estava... —Haruka respira
fundo novamente, permitindo que sua aura o acalme. —Meu mundo se
tornou nada. Foi assustador e eu, eu não posso perder você.
—Você não vai.
—Mas eu tenho, Nino. Eu perdi muito no passado. Se isso acontecer
comigo de novo, eu não sei ... Eu não vou viver sem você.
Nino se inclina, seus olhos fechados enquanto ele coloca o beijo mais
suave contra os lábios de Haruka. —Você não vai precisar. Isso é passado.
Esta situação é totalmente nova para você. Além disso, posso me proteger
agora, certo?
Exalando, Haruka repousa contra sua testa, com os olhos fechados.
—Sim.
—Eu protegi nós dois em Socotra - de um ataque total com cinquenta
e poucos vampiros de raça pura e um desmoronamento! Eu mostrei que
posso fazer isso, então você não precisa mais ser paranoico assim. Estavam
a salvo. E vou me concentrar e aprender ainda mais quando meditarmos.
Vamos começar nossas vidas de novo...
Nino abaixa a cabeça, aninhando o rosto na pequena depressão entre
o pescoço de Haruka e o edredom, fazendo-o erguer o queixo. Ele descansa,
enrolado firmemente contra o corpo de Haruka, suas pernas entrelaçadas.
Ele pode sentir a lenta ascensão e queda do peito de Nino enquanto eles
ficam imóveis ao sol.
Haruka traça seus dedos ao longo da parte inferior das costas de
Nino, apreciando a sensação dele no silêncio. Neste momento perfeito e
tranquilo. —Eu pedi para ser a colher grande com a intenção de confortar
você - no final, você me consolou.
Abafada contra seu pescoço, a voz de Nino está meio adormecida. —
Nós nos consolamos. Você se esquece de que, tão facilmente quanto pode
me ler e sentir, posso fazer o mesmo por você. Vai para os dois lados,
pantera.
—Certo. Haruka suspira, fechando os olhos.
—Você também queria ser a colher grande porque gosta de se aninhar
na minha bunda e cheirar meu pescoço.
Haruka abre os olhos, sorrindo. —Eu gosto.
TRINTA E SEIS

Duas semanas depois, Cellina empurra o peso de seus cachos grossos


para trás dos ombros enquanto entra no restaurante. Ele brilha com a luz
quente de velas e o romance antigo, movimentado em sua localização perto
de uma rua de paralelepípedos no bairro de Brera. Ela olha ao redor da sala
lotada e para todos os vampiros proeminentes celebrando a inauguração do
restaurante. Ela murmura para si mesma: —Onde ele está?
Giovanni está aqui. Ela pode senti-lo. Não apenas externamente,
como uma corrente elétrica estática acariciando sua pele, mas também
internamente. O poder e a força de seu sangue rodopiam dentro dela,
puxando-a para ele como se fossem ímãs. Quando ele está perto, parece que
ele está em toda parte, ao seu redor. É magnífico.
Ela se vira por instinto, assim como as mãos grandes dele agarram
sua cintura. Ele é bonito em seu terno escuro, os olhos brilhando de afeto.
Sem vincos em sua testa. Sem dizer uma palavra, ele se abaixa. Ela o envolve
em seus braços e fica na ponta dos pés para encontrar a boca de Giovanni,
abrindo os lábios para ele. Ele a beija uma vez, plena e sensualmente,
enquanto a segura, e então levanta a cabeça. Sua voz é baixa e rouca. —
Amore della mia vita.
O amor da minha vida. Ela sorriu. —Quando você chegou?
Ele a abraça um pouco mais apertado e ela abafa um grito de prazer
de ser pressionada contra seu corpo musculoso. —Dez minutos atrás, mas
eu estava preso do lado de fora. Coisas chatas de negócios com Esposito.
Um garçom contorna a elegante mesa de carvalho e faz uma pequena
reverência. —Minha senhora, meu senhor, por aqui, por favor.
Giovanni desembrulha seu corpo, mas ela se abaixa e segura a mão
dele enquanto segue o garçom. Cellina tenta ignorar os olhares flagrantes
enquanto se movem pelo restaurante. Eles anunciaram seu vínculo e estão
fazendo visitas sociais formais, mas a notícia ainda é recente. Além de alguns
comentários invejosos, a aristocracia em geral é muito positiva sobre sua
união. Todos estão ansiosos para a cerimônia de casamento que terão no
próximo ano, na primavera.
—Esposito dirige a empresa de software em Hamburgo, certo? —
Cellina pergunta enquanto eles caminham. —Ele está procurando um novo
desenvolvedor de front-end5?
—Certo, confirma Giovanni. —E eles têm o acordo de programação
com a Fischer Corporation que depende disso.
O garçom os guia até uma mesa no meio da sala. Cellina se sente como
se estivesse em um aquário quando Giovanni puxa sua cadeira, mas esta é a
vida dela agora. Ela mantém a cabeça erguida enquanto se senta, alisando o
material ajustado de seu vestido preto abraçando suas curvas. Giovanni se
senta ao lado dela e o garçom entrega os cardápios.
—Obrigada. —Ela sorri, depois abre e dá uma olhada no conteúdo.
—E Paul Fischer é o filho mais novo que vai se casar em janeiro, já tenho a
data na minha agenda. Ele está liderando o projeto do lado do cliente, se bem
me lembro?
Quando Giovanni não diz nada, Cellina pisca para ele. Ele está
olhando para ela, hipnotizado. Você é incrível. E esplêndida.
—Não precisa agradecer. Cellina pisca.

5 Desenvolvimento web front-end é a prática de converter dados em uma interface


gráfica, através do uso de HTML, CSS e JavaScript, para que os usuários possam
visualizar e interagir com esses dados.
—Eu não posso acreditar o quão rápido você está memorizando e
aprendendo todas essas merdas banais que eu tenho que suportar todos os
dias. Você age como se estivesse realmente interessado...
—Eu não estou agindo, Giovanni. eu sou afim disso. Porque estou
interessado em você e em nossa sociedade, ajudando. É interessante para
mim aprender e ter acesso a todas essas diferentes facetas dos negócios e da
aristocracia. É emocionante.
Pegando o menu, o rosto de Giovanni mostra ceticismo. Seus ombros
largos sobem e descem em uma respiração profunda. —Emocionante? Eu
gostaria de compartilhar seu entusiasmo. Estou em um estado perpétuo de
exaustão funcional.
—Eu acho um grande alívio que Domenico esteja respondendo bem
à nossa mistura de sangue, e de Nino e Haruka. Uma coisa a menos para se
estressar.
Ele se endireita na cadeira, balançando a cabeça. —Enorme alívio.
Deus. Todos esses anos tive que sofrer sozinho. E ouça isso, o médico me
ligou uma hora atrás e disse que acha que a biologia do meu pai está sendo
curado dessa mistura de todos nós. Algo sobre a combinação de Nino, eu e
nossos companheiros o está tornando mais forte do que há décadas. —Dá
para acreditar nessa merda?! Me fode.
Concentre-se no lado positivo. Cellina sorri enquanto ele levanta o
menu para ler. Ela o observa em silêncio. Desde que eles se uniram, ele está
inquestionavelmente mais relaxado, as linhas de expressão em sua testa
quase invisíveis. Está se aproximando o fim da temporada movimentada da
galeria de arte e Cellina também está um pouco cansada.
—G.
—Sim linda.
—Você já esteve de férias?
Ele levanta os olhos do menu. —O que seria?
— Esperem!
—Como você pronunciou de novo? Vay-kay-shon? — Giovanni ri,
colocando seu cardápio na mesa. —Eu sei o que é férias, mas talvez eu não
saiba.
—Certo... Cellina cruza os braços contra a mesa, inclinando-se. —
Quais são as férias dos seus sonhos?
—Tanzânia
Cellina estreita os olhos, desconfiada. —Você está me sugando agora?
—Não. —Giovanni ri. —Quando éramos crianças, você ia para a
propriedade da sua tia em Zanzibar por um mês todo inverno, certo?
—Sim, claro.
—Quando você voltou, você pintou esta porra de um quadro vívido
da praia de areia branca e do mar turquesa do lado de fora de sua
propriedade. Os pássaros exóticos e palmeiras. Então, eu sempre quis ir lá e
ver por mim mesma.
Cellina pisca, impressionada. —Hum. Você lembra disso?
—Eu me lembro de tudo sobre você. Lembro-me da primeira vez que
você entrou em casa com o cabelo alisado no final dos anos trinta. Lembro-
me de ouvi-lo contando a Nino sobre o quanto adorava Boyz II Men and
Guy nos anos 90, então comprei os dois álbuns e acabei amando essa merda
também. Lembro que você namorou aquele idiota de segunda geração,
Carlos Russo, no início dos anos 2000, que é dono daquele restaurante
popular de frutos do mar em Navigli. Até hoje não vou colocar os pés em
seu restaurante e ele não tem ideia do porquê.
—Os dois primeiros foram fofos. —Cellina sorri, balançando a cabeça.
—Mas o último foi mesquinho como o inferno.
—Eu sou mesquinho como o inferno. —Giovanni franze a testa em
uma espécie de sorriso. —Ele que se foda... —Ele tem sorte de estar vivo.
Os dois riem, mas Cellina se recompõe quando o garçom volta para
anotar os pedidos de bebida. Quando ele sai, ela se volta para Giovanni,
divertida. —Então você manteve o controle de todos os vampiros que eu
namorei e secretamente guardou rancor contra eles? Isso foi algum tipo de
gesto romântico? Eu preferiria rosas.
—Sim e não. Giovanni sorri, esfregando a nuca. Eu estava com ciúme.
E pensando demais. Deitado na cama à noite, porque é a única vez que tenho
para mim mesmo, estressado por você se relacionar com algum perdedor
que estava abaixo de você, e como eu poderia fazer uma cara feliz,
comparecer ao seu casamento e parabenizá-la sem me jogar fora do arranha-
céu mais próximo imediatamente após. Mas com você alimentando Nino por
um século, eu sabia que você não poderia oferecer seu sangue a ninguém
enquanto ele ainda estava sugando você.
—Não estava sugando, Cellina repreende, embora Giovanni esteja
certo. Esse tinha sido um ponto constante de discórdia ao longo de sua vida
amorosa. Foi difícil explicar: —Desculpe, não posso oferecer meu sangue
porque sou a fonte do meu melhor amigo. Não, não estamos
romanticamente envolvidos. Não, não estamos criando laços. Ele está
traumatizado emocionalmente e eu só tenho que apoiá-lo. Tudo bem com
você? —Seus relacionamentos nunca duraram muito, mas ela também nunca
foi muito apegada a ninguém.
Isto é, exceto pelo homem sentado ao lado dela. Ele sempre
permaneceu no fundo de sua mente e coração. Ela o ignorou por anos -
ignorou ele. Ele estava sempre lá, ocupando espaço.
Giovanni cruza os braços. —Acho que de certa forma ele acabou me
ajudando. Eu nunca vou dizer isso... pequeno sugador de sangue
bloqueador de pau.
—Você ser rude com Nino está ficando velho, o que você fez para que
ele aparecesse na minha porta no meio da noite há algumas semanas?
Ele faz uma pausa, a culpa estampada em seu rosto. Ele não disse
nada?
—Não, ele não fez. Percebi que ele estava chateado, mas disse que nos
apoiava e que eu deveria ligar para você. Eu não fiz, mas uma hora depois
você apareceu na minha porta de qualquer maneira. Desembucha.
Giovanni respira fundo e desvia o olhar, mantendo a boca fechada.
Cellina sorri. —Você não quer me dizer porque você errou.
—Não está errado. Mas talvez... duro.
—Escute, Nino está indo muito bem, certo? Ele não está mais
agarrado ao meu quadril ou escondido em sua propriedade. Ele está ligado
a uma criatura incrível que o adora e faria qualquer coisa por ele. Ele tem
seu próprio negócio e contatos em um novo reino, e você até admitiu que
ficou impressionado com o que ele estabeleceu para si mesmo. Ele foi até o
Iêmen para ajudar a resgatar vampiros escravizados e resolver um antigo
mistério cultural! Você vai dar uma folga para ele? Você gritou totalmente
com ele, eu sei disso. Ele não é uma criança, se você apenas falar, ele vai te
ouvir.
— Eu sei. Não vou mais fazer isso.
—Diga a ele que ele está fazendo um bom trabalho, ele vai gostar
muito de você.
—EU Fiz… as vezes. Foi apenas um momento ruim.
—Certo. Ouça. Com todo o estresse e drama dos últimos tempos,
precisamos de férias. Nino e Haru têm a ideia certa. Estou levando você para
a Tanzânia.
A luz nos olhos verde-avelã de Giovanni pisca. Um sorriso inocente
se espalha por seu rosto. —Sim?
— Sim. Talvez possamos ajustar nossos horários e ir em dezembro?
Vamos chamá-lo de lua de mel para nosso vínculo. Ou podemos esperar até
depois do nosso casamento oficial na primavera do próximo ano?
—Quanto antes melhor. Ele sorri. —Deus, eu não posso esperar,
porra. UMA férias. —Seus olhos mudam para frente e Cellina segue seu
olhar. Uma mulher pequena com pele cor de caramelo e cabelo preto
brilhante está caminhando em direção à mesa. Ambos estão em saudação.
Cellina estende a mão para apertar a mão dela, emocionada ao se apresentar.
Armeena Khan é a proprietária de sucesso de uma galeria de arte
contemporânea em Madrid. Ela está visitando Milão no fim de semana, mas
se junta a eles para jantar a pedido pessoal de Giovanni. Se alguém pode dar
uma ideia a respeito de possuir uma galeria de arte próspera em uma grande
metrópole, é essa mulher.
TRINTA E SETE.

Nino pisca e abre os olhos, o calor do sol da manhã entra pela janela,
aquecendo seu rosto. Ele vira a cabeça contra o travesseiro, olhando para a
vista além do vidro. O céu é de um tom de azul brilhante e imaculado, e as
montanhas escarpadas que cercam a cabana permanecem majestosas e
vastas.
Ele respira fundo para sugar o ar limpo. Haruka deve ter aberto a
janela quando ele saiu da cama, porque o quarto está cheio com o cheiro das
florestas de verão ao redor deles, terra verde e luz do sol.
—Hoje, Nino diz para si mesmo. A gente precisa falar sobre isso.
O universo continua mostrando algo a ele. Várias vezes agora, e até
aqui em Trentino. Em vez de pegar o touro pelos chifres, Nino ainda está
caindo na sua maneira infantil de pensar.
Se Haru não disser nada... talvez eu deva cuidar da minha vida? Talvez ele
fale sobre isso quando estiver pronto?
Mas Nino sabe melhor. Eles estão ligados há mais de um ano, e ele
aprendeu muitas coisas sobre seu companheiro. Uma delas é sua
surpreendente relutância em dizer a Nino o que ele quer. Com coisas
simples, não há problema. Café ou chá? Chuveiro ou banheira (ou ambos).
Fácil. Em questões de diplomacia também, ou em circunstâncias em que sua
autoridade é necessária, Haruka é facilmente franco, eloquente em sua
expressão. Mestre e confiante.
Quando se trata de seus desejos mais profundos, as coisas silenciosas
que ele gosta, espera, prefere ou mantém perto de seu coração... ele é como
um armário selado. Nino entende algumas coisas por causa de suas próprias
deduções intencionais, prestando muita atenção às ações de Haruka, suas
respostas, suas emoções interiores ou tomando nota das coisas que ele não
diz.
Hoje marca uma semana juntos em Trentino. Mais uma semana. Na
maior parte, eles se isolaram em uma bem-aventurança natural e esplêndida.
Ontem, Nino levou Haruka para a charmosa cidade de Andalo. A população
de vampiros é pequena lá, sem um líder oficial de raça pura, o que significa
nenhuma reunião formalizada ou expectativas rígidas. É perfeito.
Quando eles entraram em um café, Nino sentou-se a uma mesa e
observou seu companheiro com admiração enquanto Haruka estava na fila.
Um jovem macho de terceira geração estava atrás dele, com quem Nino
presumiu ser seu filho. O pai lutou para impedir o pequeno vampiro de
estender a mão e agarrar as pernas de Haruka, então o pai o pegou. Naquele
momento, Nino se lembrou do insight de Junichi sobre crianças vampiras
serem sensíveis ao sangue antigo de Haruka.
Haruka olhou por cima do ombro para o menino e o pai. Ele acenou
com a cabeça a princípio, educado em reconhecer a inquietação da criança.
Logo, eles estavam conversando. Enquanto a criança continuava a se esticar
e se contorcer nas mãos do pai, Haruka ergueu os braços e sorriu. O pequeno
macho saltou em seu abraço enquanto seu pai se desculpava. Haruka
segurou o menino e o embalou, ambos contentes enquanto ele continuava
sua conversa com o pai.
A cena inteira atingiu Nino mais uma vez - assim como aconteceu
com os filhos de Sora antes. Cada vez, é como se uma cortina pesada tivesse
sido aberta inesperadamente em uma peça que ele pensava saber de cor e ele
está testemunhando uma troca secreta, um ato significativo, mas oculto, que
ele nunca havia imaginado.
Quando Haruka voltou para a mesa, a cortina havia caído de volta no
lugar. A produção que ele conhecia e amava estava avançando como sempre,
a coisa secreta que ele testemunhou como um fantasma em sua imaginação.
Nino se senta ereto na cama e rola os ombros antes de jogar as pernas
pela beirada do colchão. Quando ele tocou no assunto das crianças pela
primeira vez, ele o fez da maneira errada. Ele sabe que Haruka não gosta de
relembrar seu ex-companheiro, mas Nino não teve coragem de perguntar ao
direito pergunta. Ele estava muito incerto de seus próprios pensamentos
sobre o assunto.
Ele se levanta da cama e caminha em direção à porta, confortável em
sua nudez. Ele passa direto pela cabana aconchegante e sai para a varanda
da frente. Ainda é de manhã cedo e os raios do sol batem forte, banhando
tudo com uma luz dourada e nítida.
Protegendo os olhos com a palma da mão, ele olha para o lago: claro
e brilhante como manchas de prata, pois reflete as montanhas e árvores
circundantes. Ao lado e perto da costa, ele vê seu companheiro flutuando de
costas na água tingida de água.
Nino sai da varanda e corre em direção a Haruka. Quando seus pés
atingem a beira do lago, a água cintila e espirra ruidosamente na vastidão.
Já está quente e a umidade fria é refrescante contra sua pele.
Antes de mergulhar, Haruka se endireitou. Nino desliza sob a
superfície vítrea, impulsionando-se para a frente com os braços e soprando
bolhas pelo nariz. Seus instintos o guiam em direção ao gol e logo ele quebra
a superfície mais uma vez e nada no estilo livre para fechar a distância
restante. Ele levanta a cabeça da água ao se aproximar. Haruka o está
observando, em paz.
—Bom Dia.
No momento em que está ao seu alcance, Nino empurra seu corpo
para fora da água e coloca as palmas das mãos nos ombros de Haruka para
conduzi-lo para baixo da superfície. Quando os dois estão debaixo d’água,
Nino envolve suas longas pernas em volta da cintura de Haruka. Ele abraça
seus ombros, arrastando seu companheiro ainda mais fundo.
O calor de sua aura compartilhada se espalha, cercando-os. Haruka
arrasta os dois de volta para a luz do sol brilhante. Quando eles vêm à
superfície, ele respira fundo e tira a água da cabeça. — Que diabos você está
fazendo?
Brincadeira Nino sorri, alisando o cabelo molhado para trás com uma
das mãos enquanto se mantém agarrado ao marido. —Isso é o que eles fazem
nos filmes.
—Mandar seus companheiros para o hospital para ter seus pulmões
bombeados? Isto é o que eles fazem? Criar contas médicas caras?
—Não exatamente, diz Nino, apertando-o com mais força. Ele beija
sua testa. —É muito divertido, tesoro. Brincalhão.
Haruka levanta a sobrancelha. —Divertido?
Lentamente, o corpo de Nino se solta de Haruka, mas não por conta
própria. Ele está sendo manipulado para fora de Haruka e para cima. Então
suba um pouco mais. Nino pisca, seu corpo imóvel enquanto ele sobe mais
e mais alto. A princípio, ele fica surpreso, absorvendo sua nova perspectiva
do lago plácido e cintilante, das montanhas de tirar o fôlego e da floresta ao
redor. A luz do sol torna todas as cores vivas, como se tudo tivesse
aumentado dez pontos a mais do que o normal.
Ele sobe ainda mais alto. O coração de Nino bate mais forte no peito.
Ele grita: —Haru... o que você está fazendo? —Nino estreita os olhos para
ver os pequenos traços do rosto de seu companheiro lá embaixo. Haruka está
sorrindo um pouco demais.
—Se divertindo, —sua voz ecoa.
—Você não vai me deixar cair deste alto.
Haruka sorri.
—Haru
A sensação é como estar em uma bolha que estourou
inesperadamente, ou se o chão invisível embaixo dele caiu. Nino engasga
quando seu corpo cai em direção à superfície. Assim que ele se prepara
mentalmente para o impacto, seu corpo congela novamente, gracioso e
quicando no ar. Ele parou alguns centímetros acima da superfície, tendo
apenas um momento para recuperar o fôlego antes que a bolha estourasse
novamente. Ele cai na água.
Quando ele é reorientado, ele nada até Haruka novamente, desta vez
rompendo a superfície bem na frente dele. Nino enxuga o rosto. —Aquilo
foi como uma montanha-russa. Você tem essa veia diabólica em você que me
pega desprevenido. É meio sexy - eu gosto.
—Isso é divertido, não é? —Haruka sorri, jogando água em Nino com
a ponta dos dedos.
Nino recua, franzindo o rosto. Engraçadinho. Ele inala uma
respiração profunda e enrijece seu corpo de modo que ele mergulha abaixo
da superfície. Por baixo, ele abre os olhos, observando a longa e cremosa
moldura de Haruka se contorcer dentro do lago turquesa brilhante, tentando
se afastar dele. Nino agarra a parte de trás dos joelhos de Haruka em seu
caminho para cima, puxando-o para seu corpo.
Acima da superfície, Nino balança a cabeça para se livrar da água. Ele
agarra e levanta Haruka contra ele, envolvendo os braços debaixo de sua
bunda para que suas coxas fiquem abertas nos quadris de Nino. Haruka
segura seus ombros, apreensão em seus olhos cor de vinho. —Não quero
água nos pulmões, Nino. É extremamente desconfortável.
Nino o abraça com força, segurando-o contra o corpo. A água para de
mexer e fica calma. O canto dos pássaros de verão ecoa pela floresta
circundante. Ele encara o rosto de sua companheira, sério. —Eu iria causar
algum mal a você?
Haruka levanta a sobrancelha enquanto olha para ele. —Talvez não
intencionalmente.
—Você acha que eu iria te machucar por acidente? Como uma criança
estúpida?
A expressão provocadora de seu companheiro cai como um saco de
batatas. —Não -EU… Claro que não. Achei que estávamos brincando. Você
disse brincalhão. —Haruka leva as palmas das mãos ao rosto de Nino, então
se inclina e o beija. O calor no peito de Nino esfria e relaxa. Ele respira fundo.
—Por que você está chateado, meu amor? —Haruka pergunta. —Não
é necessário. —Eu já tive água nos pulmões devido a um infeliz incidente na
banheira, e isso não é doloroso. Que droga! Haruka pisca, então franze a testa
como se não tivesse certeza sobre algo desagradável que ele acabou de
experimentar.
Nino balança a cabeça. —É estranho quando você usa gíria. Que tipo
de incidente na banheira?
—Concordo. E o incidente não é importante. —Estamos bem? —Meu
comentário não deve ser levado em um contexto sério. Claro que sei que
você nunca me faria mal. —Haruka o beija de novo, ainda mais lento dessa
vez - lambendo o lábio inferior de Nino e mordiscando-o entre os seus, suave
e provocante.
—Estamos mais do que bem. —Nino sorri, acariciando com a mão as
costas escorregadias de Haruka por baixo da água. Ele se sente um idiota.
Jogando suas próprias inseguranças em seu companheiro e tornando as
coisas confusas. E eu estava agindo totalmente como uma criança...
—Você não estava, —Haruka garante a ele. —Eu amo sua natureza
brincalhona e efervescente. Não é quem você é.
—Por favor, não mergulhe na minha cabeça agora. —Nino sorri,
olhando para o vampiro elegante enrolado em seu corpo. —Jesus, podemos
ouvir um ao outro sem nem tentar. Acho que temos feito muito isso...
Ele toma uma decisão firme. Depois de tudo que ele passou nos
últimos meses, depois do que ele percebeu de Giovanni e Cellina, e do que
ele testemunhou naqueles momentos tranquilos de Haruka revelando uma
parte oculta de si mesmo, Nino tem uma resposta para a pergunta que ele
tem evitado. É hora de resolver isso de frente.
—Isso é ruim? —Haruka pergunta, preocupação persistente em seus
olhos evocativos. —Se eu não estou na sua cabeça, então não sei exatamente
o que está errado.
—Podemos entrar? Quero falar com você sobre uma coisa.
TRINTA E OITO

Depois de tomar banho primeiro, Haruka se senta no sofá da sala da


frente da cabana, os braços cruzados com força contra o peito e o joelho
quicando como uma bola de remo em uma corda.
Ele tomou banho primeiro. Tipo, eles tomaram banho separadamente,
porque Nino disse que não queria que eles se distraíssem. Em que ponto a
intimidade deles se tornou uma distração? O temperamento de Nino mudou
enquanto eles estavam no lago juntos. Haruka geralmente se sente confiante
em conhecer seu companheiro, em entender suas emoções não ditas e
discernir seu estado geral de espírito.
A mudança aconteceu sem aviso, e então ele pediu que Haruka
parasse de ler sua mente intencionalmente. Eles comunicam abertamente
seus pensamentos há meses, desde que Nino não conseguia falar. Não é uma
técnica que tudo vê: a mente abrange infinitas camadas de consciência e eles
não podem ler cada pensamento literalmente. Mas, ao cortá-lo, Haruka sente
como se tivesse largado a lanterna e tropeçado em um quarto escuro como
breu.
O rico aroma de café vem da cozinha e se mistura com o cheiro de
pinheiro de verão das florestas. Logo, Nino entra na sala da frente com duas
canecas fumegantes nas mãos. —Aqui. Ele entrega um para Haruka. Ele
aceita a oferta enquanto Nino se acomoda ao seu lado.
Haruka não bebe, mas vira a cabeça. —Qual é o problema? Seu
comportamento tem sido incomum desde que estávamos no lago. Pedi
desculpas pelo meu comentário.
—Nada está errado. —Nino encontra seu olhar. —Eu só... Eu quero
que nós tenhamos uma conversa. —É importante.
—Certo...
Nino muda seu corpo para ficar de frente para Haruka, uma perna
dobrada contra o sofá enquanto a outra fica pendurada. Ele segura a xícara
de café entre as coxas. —Eu percebi algo... sobre você. você muda um
pouquinho sempre que há uma criança por perto. Isso é como...
Haruka olha para baixo enquanto Nino muda sua xícara de café para
uma das mãos. Ele aperta a mão livre em um punho. —Eu não estou dizendo
isso de uma maneira ruim, de forma alguma. Mas é como se você fosse
sempre assim. —Ele aperta o punho um pouco mais forte. —Então, quando
uma criança aparece... —Nino abre a mão, a palma espalmada e os dedos
abertos. —Algo dentro de você se abre. Eu não tinha ideia de que aquela
coisa estava lá - que havia algo... fechado? Ou trancado assim dentro de você.
Você nem mesmo pensa sobre isso ativamente. Tipo, é uma resposta inata.
Você percebe isso?
Os olhos âmbar de Nino estão sérios enquanto ele o observa,
esperando. Haruka balança a cabeça, ainda tentando ignorar a tensão em seu
estômago. —Não. Não percebo.
Respirando fundo, Nino segura sua xícara de café com as duas mãos
mais uma vez. —Haru, você quer filhos?
A garganta de Haruka aperta. Ele não quer passar por isso uma
segunda vez. Este desacordo. A primeira vez foi muito dolorosa e
inesperada: uma discussão longa e difícil que, no final, o deixou com a
sensação de que seu coração estava partido de alguma forma invisível, mas
significativa. Como fraturas finas que cortam todo o caminho e
profundamente no centro. Ele percebeu como Nino fica estressado toda vez
que alguém menciona o assunto filhos - como ele fica tenso nesse momento,
tentando falar sobre isso.
Haruka sorri. É melhor encerrar isso rapidamente para que eles
possam continuar com suas férias tranquilas. Ele não quer pensar sobre isso.
—Meu amor, não tenho expectativa de ter filhos durante a minha
vida. —Haruka respira fundo. —Não é algo pelo qual você deva se sentir
estressado ou ansioso. —Ele se abaixa e segura a mão de Nino, na esperança
de colocar as preocupações de seu companheiro de lado.
A cabeça de Nino balança no silêncio enquanto ele olha para sua
xícara. —Eu ouvi você, mas... você não respondeu à minha pergunta.
Haruka inala e exala outra respiração profunda. Por que ele está
empurrando isso? —Não é algo que eu pense.
—Tudo bem, Haru, mas estou pedindo que você pense sobre isso. —
Nino ergue os olhos novamente, encontrando seus olhos. — Eu sei... Eu
entendo que este é um assunto delicado para você. Que você teve uma má
experiência e situação com Yuna, mas eu não sou Yuna. Então eu acho... você
deveria me dar uma chance justa. Eu quero que você seja honesto comigo,
como se este fosse o primeiro vez que você já teve essa conversa.
Pela primeira vez. Haruka muda seu olhar para a janela e o céu azul
brilhante. Como ele tinha sido a primeira vez que disse a Yuna que queria
filhos? Jovem, excessivamente otimista e esperançoso. Ingênuo Quem era
aquele vampiro? Haruka não o reconheceria se ele estivesse de alguma
forma diante dele.
—Guardami, caro. —Nino estende a mão para segurar o queixo com
a ponta dos dedos, trazendo o olhar de Haruka de volta para ele. —Olhe
para mim. A voz de Nino está calma enquanto ele continua. —Você quer ter
filhos?
—Sabe mesmo? —Haruka pergunta.
Soltando sua mão, Nino respira fundo. —Estou aberto a isso. Eu não
cresci sonhando em ter filhos algum dia. Mas... Eu te amo e quero
experimentar tudo contigo. Se é algo que você quer, eu também quero. Acho
que seria incrível fazer isso juntos - trazer alguns novos pequenos vampiros
de raça pura ao mundo e cuidar deles... criá-los. Eu me pergunto como seria?
Haruka abaixa a cabeça, segurando a alça de sua xícara de café com
mais força enquanto as palavras de Nino crescem dentro dele como algo
quente e reconfortante. Como líquido, derramando-se e fundindo os lugares
quebrados, preenchendo as lacunas. Nino se abaixa, chamando sua atenção.
Ele levanta as sobrancelhas. - E então? Tem?
—Sim... —Haruka acena com a cabeça. —Sim. Algum dia.
O rosto de Nino se ilumina, mudando para um sorriso caloroso que
faz seus olhos âmbar brilharem. —Certo. Obrigado por me dizer o que você
quer. Por ser honesto comigo. Talvez, quando estivermos prontos, possamos
perguntar ao Dr. Davies sobre o processo de barriga de aluguel? Parece que
ele estuda muito sobre todas as coisas da cultura vampírica.
—O... o processo em si não é difícil, diz Haruka. —O verdadeiro
desafio é encontrar alguém que seja um substituto compatível para o casal
solicitante. No caso de vampiros de raça pura, a gravidez em si é de cinco
meses.
Sorrindo, Nino leva sua xícara de café aos lábios. —Você já sabe sobre
isso?
Haruka encolhe os ombros. —Eu leio muito... e como líder do reino,
eu deveria saber sobre este assunto pelo menos um pouco, para que eu possa
oferecer conselhos quando necessário.
—Bem, então eu também deveria saber mais, diz Nino. —Como
entenderíamos nossa compatibilidade com a mulher certa?
—Através de linhagens. Não devemos solicitar um substituto que
esteja bem abaixo de nossa linhagem, ou cujo sangue seja mais antigo que o
meu ou mais recente que o seu. Idealmente, sua linhagem cairia em algum
lugar dentro do nosso espectro.
Enquanto Nino acena com a cabeça, Haruka toma um gole de seu
café. É a temperatura ambiente agora, o que é pior.
—Então, com casais de homens, —Nino começa, —um fornece a ...
semente?
—Amostra biológica, sim. —Haruka sorri.
—E o outro alimenta a barriga de aluguel durante a gravidez, certo?
—Sim, mas por meio de extração médica para que o vínculo
permaneça intacto. —Haruka se abaixa para colocar sua xícara de café na
mesa de carvalho na frente deles. —Dessa forma, a composição genética da
prole é ricamente fundamentada na linhagem do casal solicitante. É por isso
que o substituto deve ser o mais inócuo possível. Se sua linhagem fosse mais
velha que a minha, sua biologia seria dominante sobre a minha dentro da
criança. Se ela fosse de primeira ou segunda geração, a criança seria
desequilibrada. O mesmo ocorre com os acoplamentos fêmeas. Embora uma
pessoa possa servir como portadora para a criança em crescimento, a
amostra substituta masculina ainda deve ser o mais benigna possível.
Nino se recosta no sofá e cruza os braços. Os olhos de Haruka piscam
para baixo, percebendo a definição contornada em seu bíceps de mel. —
Portanto, precisaríamos de uma fêmea pura não ligada com uma linhagem
semi velha, diz Nino. —Isso pode não ser tão fácil.
—Encontrar um fósforo orgânico é difícil, mas não impossível. Temos
muito tempo e nós... poderíamos repetir o processo quantas vezes
quisermos, então não há pressa. Você realmente deseja fazer isso comigo?
Para crescer nossa família algum dia?
Nino se abaixa e agarra sua mão, então olha em seus olhos. —Já lhe
disse que sim. Eu quero fazer tudo com você, se você quiser nadar com
tubarões, eu provavelmente faria isso também. Nino se inclina e dá um beijo
rápido em sua boca, mas Haruka pisca, perplexo.
—Isso não será necessário.
Rindo, Nino se levanta, agarrando a xícara de café morno de Haruka.
—Vou reaquecer isso, diz ele, caminhando em direção à cozinha. Ele olha
por cima do ombro, sorrindo. —Eu acho que devemos começar a dar
privacidade um ao outro com nossos pensamentos novamente. Parece a
coisa mais saudável a fazer?
Haruka desliza para o sofá, franzindo a testa. —Mas eu gosto de
conhecer sua mente. Geralmente você é fácil de ler e...
—Limites, por favor. Podemos fazer isso às vezes, mas nem sempre.
Eu posso falar agora, então de volta ao normal?
—Certo. Ainda curvado, Haruka volta o rosto para a janela
novamente, permitindo que a luz brilhante da manhã banhe sua pele. O calor
disso combina com a sensação de silêncio inundando seu coração e corpo.
Pela primeira vez em muito tempo, ele se permite imaginar a
perspectiva de um ninho aconchegante zumbindo com pequenas criaturas -
ou pelo menos uma? Um menino ou uma menina, talvez com pele quente e
cor de mel e inocentes olhos âmbar.
SETEMBRO

TRINTA E NOVE

—Lajos está morto.


Nino recua, piscando com o telefone no ouvido. —O quê?
—Bem, diz a detetive, ele é quase morto. Mas ele está morto para mim,
então...
—Você não pode simplesmente declarar que alguém está morto
quando não está.
—Ehhh. Ele está a caminho. Ele ainda se recusa a se alimentar com o
sangue de primeira geração que estamos oferecendo a ele. Nós o mantemos
trancado aqui desde junho. Faz três meses que ele está sem se alimentar. Ele
está apenas deitado na cama da cela. Ele não se incomoda em se mover e seu
pulso está fraco. Não há razão para ele fazer isso. Mas se ele prefere morrer
a beber sangue que está, cito, “abaixo dele”, então eu digo vá em frente e
morra. Um bastardo racista e classista a menos no mundo.
—Jesus! —Nino franze a testa, esfregando os dedos no topo da
cabeça.
—Enfim, eu estava ligando para dizer isso, mas o motivo pelo qual
estou ligando é porque encontramos seu livro de sexo nerd. Lore and Lust.
Uma pequena faísca de alegria sobe pela espinha de Nino. Haruka
ficará feliz em ouvir essas notícias. —Isso é ótimo! Onde foi?
—Nós ficamos em Socotra por um tempo depois que vocês dois
fugiram, acabamos voltando para a casa e descendo por baixo novamente.
Um dos vampiros daquele exército de raça pura atirou em nós com seu raio
laser da cor do arco-íris. Isso acabou deixando meu delegado com um corte
terrível no braço. Quando estávamos lá com vocês dois, aquelas luzes
pareciam brinquedos de criança, algum tipo de piada fofa. Na realidade essa
merda foi realmente perigoso. Mas fomos capazes de acalmá-los.
Perguntamos sobre o livro e alguém o trouxe para nós. Também convenceu
mais dez vampiros a deixar aquele lugar. Em suma, foi uma viagem de
sucesso.
—Foi corajoso da sua parte voltar lá desarmado, diz Nino.
—Eu sou uma garota corajosa, o que posso dizer? Eu estimo que
levaremos pelo menos seis meses para ter todos os refugiados devidamente
documentados antes de escolherem seu próximo reino mais permanente.
Teremos terapeutas para trabalhar com eles durante esse tempo.
—Isso parece inteligente. —Nino acena com a cabeça. —Ainda
estamos planejando o programa de reabilitação do nosso lado, mas temos
uma lista de líderes do reino internacional que gostaríamos de trazer para
este projeto.
—Perfeito. Vou mantê-lo atualizado sobre nosso progresso aqui e
enviarei o livro em breve. O que você acha de ter o casal feminino e o rapaz
tendo alta no início de um teste? Se alguma merda estranha acontecer, vocês
dois certamente podem lidar com isso... sendo assustadoramente fortes e
tudo.
—Ah... talvez? Vou ter que falar com Haru sobre isso primeiro.
Podemos voltar para você?
—Claro, me avise. Obrigada pela ajuda! Não poderíamos tê-los
encontrado sem você.
Quando Nino termina sua ligação, ele ouve vozes se aproximando.
Asao e Junichi dobram a esquina do corredor estreito no momento em que
ele desliga o fone. Você voltou mais cedo. Como foi o yakitori6?
—Ocupado, —Junichi resmunga. —Prefiro não ir nas noites de sexta-
feira, mas o velho insiste. Então ele “esquece” sua carteira.
—Dois espetos de língua de boi pelo preço de uma às sextas-feiras! —
Asao encolhe os ombros como se nenhuma explicação adicional fosse
necessária. —E eu tenho essa próxima rodada, nós não terminamos. Reservei
uma mesa para nós na izakaya do meu amigo no centro da cidade, então
nem precisaremos esperar.
Os dois vampiros vão para a cozinha, mas um pensamento surge na
mente de Nino. —Ei, Jun, você alguma vez devolveu aqueles livros ao
Doutor Davies? Já que você vai ao hospital com frequência, pedi a Asao que
empacotasse as malas para você enquanto estivéssemos no Iêmen.
Junichi levanta sua sobrancelha escura, suas íris negras brilhando na
luz da noite. —Não com muita frequência..., mas sim, estou cuidando disso.
Devagar.
Nino solta uma risada. —O que isso significa?
—Isso significa que Casanova está à espreita, —Asao diz, batendo no
ombro de Junichi. O vampiro alto estremece, mas franze a testa em uma
espécie de sorriso.

6O Yakitori, frango grelhado, é um tipo japonês de frango no espeto. O termo


"yakitori" pode também se referir a comidas no espeto em geral. O Kushiyaki é
um termo formal que abrange tanto aves como não-aves, no espeto e grelhados.
Os termos yakitori e kushiyaki são usados como sinônimos na sociedade
japonesa.
DEPOIS DE VER Asao e Junichi vão embora, Nino vagueia pelos
corredores silenciosos em busca de seu marido. Não que Haruka seja difícil
de encontrar. O composto é amplo em seu design, mas de alguma forma
íntimo e confortável. Uma curta caminhada por um corredor de madeira,
uma curva à direita e uma porta deslizante de papel o conduzem para a
varanda perto da biblioteca.
É crepúsculo. O tempo está perfeito e o elegante jardim está
mergulhado em sombras escuras. É uma noite calma de final de verão com
grilos cantando em um refrão suave e alegre por toda parte. A brisa tranquila
é misturada com a sugestão da aproximação do frio do outono.
Haruka está esticado na varanda em seu yukata, uma pilha
bagunçada de livros e uma taça de vinho vazia perto de sua cabeça enquanto
lê. Essencialmente, em seu elemento. A frieza suave e rosada de sua natureza
vampírica paira em torno dele como uma névoa, descansando
confortavelmente para fora.
Sentado ereto, seu sorriso é pacífico quando ele encontra os olhos de
Nino. Quem estava no telefone?
—A detetive. —Nino se senta ao lado dele de modo que suas pernas
fiquem penduradas na beirada da varanda. —Eles encontraram seu livro.
Como suspeito, os olhos cor de vinho de Haruka se arregalam de
alegria. Muito bem!
—Esta acha que sim. Ela disse que o enviará para nós em breve. Ela
também quer que pensemos em ter nossos refugiados chegando mais cedo
do que os outros, como uma espécie de teste?
—Podemos discutir isso amanhã. —Ele acena com a mão, indiferente.
—No entanto, estou ansioso para ter o livro em minha posse mais uma vez...
—As íris de Haruka cintilam até o manto de Nino. —Isso é novo?
—Sim, Nino confirma. —Jun fez isso para mim enquanto estávamos
fora. —O material do robe de verão é uma rica cor bordô com um padrão de
ondas tradicional japonês costurado em azul marinho. A cor do tecido
lembra Nino dos olhos de Haruka.
—Mi piace. Ti voglio bene. —Sorrindo, Haruka o beija, demorando-
se contra sua boca em um gesto de expectativa.
Gostei bastante. Eu te amo. Nino sorri contra o beijo, pressionando
contra ele antes de levantar sua cabeça novamente. O que você está lendo?
Haruka olha para seu livro aberto. —Cien Sonetos de Amor.
—Sonetos? —Nino esfrega a mão no rosto, uma tentativa fraca de
abafar sua diversão. —Você está de mau humor. Agora quem é romântico?
—Isso é uma coisa ruim? —Haruka se levanta com as palmas das
mãos espalmadas contra a varanda antes de deslizar para fora da borda.
Com os pés no chão, ele se move para ficar entre as coxas de Nino.
—Não... —Nino diz, excitado com o perfume rosado e a proximidade
de seu companheiro. Haruka desamarra o cinto de Nino, a ação fazendo seu
estômago apertar. Ele respira fundo para se acalmar. —Estou feliz que você
esteja tão feliz ultimamente.
—Ultimamente. —Haruka faz beicinho, separando o material do
manto e expondo o corpo nu de Nino ao ar confortável da noite. Ele se inclina
para o rosto de Nino, sua voz profunda sedutora e baixa. —Não sou
normalmente feliz?
—Você é. —Nino engole quando Haruka desliza as palmas das mãos
ao longo de suas coxas para espalhá-las ainda mais. —Mas não professando
seu amor por mim em italiano e lendo sonetos de amor chilenos felizes. Com
certeza alcançamos um novo nível de contentamento.
Haruka ri de sua garganta, baixo e borbulhante do jeito que Nino
ama, enquanto ele levanta o queixo e pressiona suas bocas. Nino enlaça os
dedos no cabelo curto de Haruka, inclinando a cabeça e intensificando o
carinho.
Ele se entrega a seu companheiro. Para Nino, Haruka é a coisa mais
deliciosa e satisfatória que ele já consumiu. Desde o primeiro momento que
eles travaram os olhos em seu bar, tudo sobre este vampiro sempre o
chamou. Agora, o sentimento está enraizado, essencial da mesma forma que
uma planta precisa da luz do sol para crescer ou como o fogo precisa de
oxigênio para se desenvolver.
Nino respira fundo quando Haruka interrompe o beijo e desce por
seu corpo. As ações de seu companheiro são lentas, beijando a linha da
mandíbula de Nino, então descendo pelo pomo de adão até o topo do peito
e clavícula. Haruka se agacha. O estômago de Nino se contrai quando ele o
beija ali e passa a língua dentro do umbigo. Ele se move ainda mais para
baixo, segurando sua dureza e lambendo de brincadeira a ponta antes de
deslizar o comprimento de Nino em sua boca.
Haruka geme de satisfação enquanto o leva mais fundo - o som e a
vibração sutil combinada com a umidade de sua língua faz todo o corpo de
Nino tremer de calor e êxtase. Ele deita a cabeça para trás, cerrando os olhos
para o céu noturno.
No momento em que Haruka agarra e aperta a pele pesada sob seu
eixo, o clímax toma conta do corpo de Nino. Ele corre por todo ele como lava
quente: formigando por suas pernas, sua espinha e seu cérebro. Ele chama o
nome de Haruka, ofegando enquanto se derrama.
Quando Haruka levanta a cabeça e abre os olhos, eles estão brilhando
no pôr do sol profundo. Com o olhar focado, ele envolve os braços ao redor
dos quadris de Nino, se move para frente e inclina a cabeça para morder seu
abdômen. Nino observa, seus dedos segurando a nuca de Haruka enquanto
ele se alimenta para satisfazer suas necessidades. A onda de emoções de sua
companheira pulsa dentro dele, gratidão e puro deleite. A vulnerabilidade
disso faz o coração de Nino disparar e sua respiração ficar presa.
A pele leitosa da amêndoa de Haruka fica vermelha quando ela se
levanta. Ele parece radiante no crepúsculo sombrio: contente e saudável.
Finalmente em paz.
Nino desliza para fora da varanda, mas agarra a mão de seu
companheiro enquanto ele se move para se deitar contra a grama macia do
jardim abaixo deles. Haruka pisca em confusão no início, então permite que
Nino o arraste para o chão. Nino relaxa de costas, olhando para o céu escuro
enquanto Haruka se acomoda ao lado dele. Seu companheiro está deitado
de lado, apoiado em um cotovelo e olhando para Nino com afeto em seus
olhos de vinho vintage.
Muito feliz! Nino sussurra, observando-o. A absoluta paz que irradia
dele é incrível - uma mudança drástica (e bem-vinda) de seu temperamento
alguns meses atrás. —Haru, se você queria filhos, por que não me contou?
QUARENTA

Nino está olhando para Haruka com olhos âmbar brilhantes. O luar
suave e emergente acima faz sua pele cor de mel brilhar. Seu companheiro é
deslumbrante por dentro e por fora, a questão sincera pairando entre eles.
Considerando, Haruka desvia o olhar. —Eu não estava escondendo
isso de você. Há décadas não pensava em ter filhos. Depois quando meu
vínculo com Yuna se desfez, pensei que ficaria sozinho para sempre. Pensei:
Esta é a maneira da vida me dizer que devo ficar isolado. É meu destino. Eu
tinha aceitado essa verdade. Mas quando nos tornamos amigos... então
amantes, e nosso vínculo se desencadeou tão facilmente... Fiquei atônito.
—Vocês surtou. —Nino ri.
O rosto de Haruka desmorona. Ele cutuca o lado de Nino, fazendo o
corpo de seu companheiro estremecer enquanto ele continua rindo.
—Sim, —Haruka admite. —Eu nunca serei perdoado por isso?
—Sem chance. —Nino balança a cabeça. Foi ótimo. Porque mesmo
que você estivesse estressado, você tentou tanto se recompor e segurou
minha mão. Eu nunca vou esquecer desse dia.
Haruka sorri, autodepreciativo. Ele aprecia o ponto de vista positivo
de Nino sobre um momento vergonhoso de sua história. Ele se abaixa e Nino
fecha os olhos quando Haruka passa a ponta dos dedos por sua mandíbula.
—Assim que recuperei o juízo, continua Haruka, me senti
eternamente grata por você. Nunca imaginei conhecê-lo ou ter esta segunda
chance. Para não viver minha vida sozinha, mas para passá-la com um
vampiro tão caloroso e afetuoso. Tão amoroso e gentil. Como eu poderia
querer ou pedir algo mais, quando você está muito acima das minhas
expectativas para a minha vida?
O que quer que Nino tenha visto, esse comportamento que ele
descreveu em Trentino - Haruka não sabia disso. Assim como a ideia de ser
acasalado novamente tinha sido selada em uma caixa e guardada até que
estar com Nino a rasgasse, a ideia de ter uma família era a mesma. Não era
uma opção, então ele enterrou bem no fundo e ignorou.
Nino segura a mão de Haruka, levando a palma à boca e beijando-a.
—Tesoro, é saudável ter esperança de coisas, gostar de certas coisas ou
querer coisas. Você não precisa ser complacente e apenas aceitar o que a vida
lhe dá. Você pode exigir o que quiser ou, pelo menos, expressar isso? —Nino
ri, erguendo o olhar para o céu. —Isso tornaria as coisas mais fáceis para
mim, então eu não tenho que extrair tudo de você ... Sabe quem?
—Claro, eu sei quem é Sherlock Holmes.
—Tá bom. —Nino acena com a cabeça contra a grama macia. —
Referência literária. Você sabia que existem filmes de Sherlock Holmes? E
havia um programa de TV popular também.
—Eles não poderiam viver de acordo com os escritos intrincados e
magistrais de Sir Arthur Conan Doyle.
—Eles não são ruins, diz Nino. Ele ajusta o aperto em suas mãos, em
seguida, puxa Haruka até que ele paire acima do corpo de Nino. Entendendo
a dica, Haruka se levanta para montá-lo, então se deita, acomodando seus
quadris contra seu companheiro. Ele repousa com os cotovelos de cada lado
da cabeça acobreada de Nino.
—Então, vamos fazer um inventário. —Nino sorri, se ajustando sob o
peso de Haruka. —Você gosta de Sir Arthur Conan Doyle, não gosta de
romances de distopia - notei isso alguns meses atrás.
—Eu não, —Haruka confirma. —Livros de autoajuda também são
questionáveis. Como filmes e programas de televisão contemporâneos,
especialmente aqueles ambientados no gênero sci-fi.
—Tá bom, tá bom. Isso não é sobre mim, porque eu digo o que gosto
e quero, e sou fácil de ler, lembra? Trata-se de decodificar Haruka. —Nino
habilmente puxa a lateral do cinto de Haruka. Haruka se levanta, permitindo
que seu marido o desamarre.
Quando Nino abre o manto de algodão, Haruka respira fundo ao
sentir o ar noturno acariciando sua pele nua. Decodificação Haruka sorri. —
Eu sou um enigma?
—Às vezes, Nino respira, deslizando as mãos quentes pelos lados de
Haruka até que descansem na parte inferior de suas costas sob o manto. —
Mas se eu prestar atenção, posso descobrir você. —Ele apressa Haruka para
baixo, pressionando as pontas dos dedos em sua coluna. Haruka suspira
com o calor do corpo de Nino embaixo dele. De seus corpos nus
maravilhosamente alinhados e pressionados juntos.
—Eu também notei... —Nino desliza as mãos para baixo, segurando
sua bunda firmemente com as duas mãos. —Que você tem uma preferência
quando fazemos amor.
Haruka abre suas coxas e move seus quadris contra o corpo de Nino,
querendo sentir e se mover contra ele. Ele está indefeso para isso, como se
sua natureza dentro dele precisasse desesperadamente. Requer isso. Ele se
inclina na direção de Nino, balançando a cabeça e esfregando seus narizes.
—Eu não, — Haruka respira. Ele escova seus lábios, sua temperatura
corporal subindo enquanto uma das mãos de Nino desliza para baixo e entre
suas bochechas.
Nino interrompe o beijo suave, seus lábios carnudos se
transformando em um sorriso quando ele abre os olhos. —Você Faz. —Seus
dedos são divertidos em espalhar a carne de Haruka, e quando Nino usa um
dedo para acariciar a pele macia de sua abertura, Haruka suspira e balança
os quadris para trás, perseguindo a sensação.
—Tesoro, sua reação é diferente... mais forte quando fazemos amor
de uma certa maneira. —Nino acaricia sua pele sensível com os dedos
enquanto agarra a bochecha com a mão livre. Haruka sente como se um fogo
estivesse queimando sua virilha e parte inferior da coluna, e as provocações
de Nino apenas o fazem doer e se contorcer.
Ele tenta respirar, mas seu coração está batendo como o de um coelho.
—Não, eu… Eu amo tudo o que fazemos.
Nino levanta os quadris, deslocando Haruka um pouco mais para
cima, exatamente contra seu corpo enquanto continua a provocá-lo com os
dedos. —Eu sei, diz Nino. —Mas você tem uma preferência. Você pode, por
favor, dizer isso para mim? O que você realmente gosta?
Haruka engole em seco, com o peito apertado de desejo e ansiedade.
—Você é muito mais... liberado em expressar suas preferências sexuais do
que eu.
—Isso é ruim? —Nino levanta os quadris mais uma vez, deslizando
os dedos entre suas barrigas e arrastando os dedos ao longo de sua carne
úmida.
— Não, claro que não. Eu simplesmente... não estou acostumado com
isso.
—Você e Yuna nunca conversaram sobre o que gostavam?
—Nunca. E ... se você notar do que eu gosto, por que preciso dizer
isso? —A sensação dos dedos molhados de Nino contra seu corpo o tira de
seus pensamentos. Haruka geme, relaxando enquanto Nino os pressiona
para dentro.
—Porque eu quero ouvir, Nino diz, levantando a cabeça para lamber
e chupar o lábio inferior de Haruka entre os seus enquanto ele move seus
dedos mais profundamente. —Saber o que te excita me dá confiança, e eu
não quero que você tenha vergonha de me dizer o que você gosta ou quer
tentar...
O corpo de Haruka treme de desejo, com necessidade desesperada de
seu companheiro e sua conclusão.
—Ah
Nino pulsa sua energia por dentro, a sensação de calor efervescente
irradiando de seus dedos escorregadios. Haruka está sem fôlego enquanto a
energia de Nino se intensifica. Quando as brasas baixas de prazer finalmente
espiralam para fora em uma chama de êxtase, ele estica a coluna, deixando
a felicidade do clímax lavá-lo, rendendo-se ao que Nino está lhe dando.
Ele respira através dele: inalar o cheiro de grama e árvores rodopiado
com as notas de canela da essência de Nino. Isso deixa a cabeça de Haruka
confusa.
Removendo os dedos, Nino agarra seu corpo e rola, delicadamente
colocando Haruka de costas contra a grama. Nino monta nele, mas quando
ele se inclina, ele desliza seus dedos pela umidade da liberação de Haruka
contra seu abdômen, então se abaixa para agarrar e acariciar seu próprio
eixo.
Haruka muda o cóccix para baixo e levanta os joelhos. Ele está feliz,
observando seu companheiro de mel com olhos turvos. Esse amor. Esses
sentimentos que Nino cultiva dentro dele: honestidade e liberdade,
esperança e promessa. Haruka nunca imaginou que isso fosse possível. Que
a escuridão fria de sua vida pudesse ser mudada e pintada com tanta cor e
alegria. Que ele se sentiria tão vivo.
Nino paira acima dele, seu olhar âmbar suave. —Diga, Haru, ele
sussurra. —Por favor?
Ele fecha os olhos enquanto as palmas das mãos de Nino descansam
em seus quadris. Ele espera pela resposta de Haruka, paciente enquanto o
acaricia. Haruka respira fundo, empurrando o bloqueio que sente em seu
peito. —Eu, Haruka engole, autoconsciente. Ele leva a palma da mão à testa.
Eu gosto. Eu prefiro você. Dentro de mim.
Nino abaixa os quadris, pressionando a ponta úmida do lado de fora
do corpo de Haruka. —Tesoro, relaxe para mim.
Haruka solta um suspiro, aliviando a tensão em seu corpo após a
confissão. Ele move os quadris para cima, ainda respirando para relaxar, mas
querendo encontrar o corpo de Nino. Desejando-o dentro. Seu companheiro
abaixa os quadris, mas não o suficiente para empurrar. Não o suficiente para
quebrar a barreira íntima.
—Obrigada por me dizer. —Nino sorri, inclinando-se e beijando a
verruga na ponta do nariz de Haruka. Quando ele se afasta, seu tom é gentil,
mas sério. —Podemos tentar ser mais abertos e falar sobre essas coisas daqui
para frente, para que eu não tenha que adivinhar o tempo todo?
Olhando nos olhos de sua companheira, Haruka concorda com
seriedade. —Vou tentar, ele respira.
Nino se guia lentamente para dentro de seu corpo, e uma onda de
alívio e satisfação percorre Haruka da cabeça aos pés. Ele fecha os olhos e
arqueia o pescoço em um gemido, amando a sensação dele. Desejando-o
mais profundamente.
Nino mantém o corpo abaixado e imóvel, permitindo que Haruka
role independentemente seus quadris para cima e para dentro dele, uma e
outra vez enquanto segura a parte inferior das costas de Nino. Ele já sente o
segundo clímax borbulhando em sua virilha como uma panela de água
quente, tão perto de ferver. Através da espessa névoa de luxúria, ele ouve a
voz de Nino. —Como me sinto dentro de você?
Ele lambe e morde o lábio inferior, seu corpo tremendo. Quase. —
Completo, ele respira. —Perfeito.
Algo em sua resposta aciona Nino em movimento. Ele pressiona os
quadris para baixo, levando o corpo de Haruka de volta para a grama
exuberante enquanto empurra e balança. Haruka levanta os joelhos para
embalá-lo - a paixão por trás do movimento de Nino envia um flash de calor
na espinha de Haruka. Logo, ele geme de prazer, sua voz profunda ecoando
na vastidão do céu estrelado acima dele.
Ele agarra as costas fortes de seu companheiro por baixo de seu
manto, segurando-o com força enquanto o clímax diminui. Haruka suspira
de prazer quando sente o corpo esculpido de Nino tenso em seus braços - o
calor de sua libertação derramando como algo delicioso e íntimo dentro dele.
Haruka gira os quadris mais uma vez, deleitando-se com o peso dele
e a umidade de seus corpos. Nino mergulha a cabeça na nuca de Haruka e
morde. Ele se alimenta e as pálpebras de Haruka ficam pesadas - seu corpo
relaxado e profundamente saciado.
Quando Nino termina, Haruka mal consegue manter os olhos
abertos. Como sempre, seu companheiro sorri, genuíno e bonito. —Eu
também noto ... que se eu fizer um bom trabalho ao fazer amor com você,
você adormece logo depois.
Haruka franze a testa, mas parece fraca. Sem verdadeira convicção.
Ele está muito quente e muito confortável deitado seminu na grama. A
imagem de sua companheira pairando sobre ele e contra o céu estrelado é
muito parecida com um sonho. —É, Haruka boceja, a sensação sacudindo
seu peito. Constrangedor?
Nino ri, o som é como um eco suave longe de sua mente consciente.
—Não é, —ele diz. —Eu amo isso, que você confia eu o suficiente para ficar
vulnerável e me deixar ir assim. Devo levar sua senhoria para o quarto de
dormir? Este contexto é apropriado para tal ato?
—Não. —Haruka respira fundo, incapaz de manter as pálpebras
abertas. —Eu... Eu andarei… —Mas então não há nada. Apenas escuridão,
profundo contentamento e calma.
Quando Haruka pisca, seus olhos abrem novamente, a luz da manhã
e uma brisa fresca estão entrando pelas portas abertas do pátio. Ele está
calorosamente aninhado em sua cama, o amor de sua vida aninhado contra
seu peito e dormindo em seus braços.
EPÍLOGO

—Tudo estava muito... brilhante. Havia tanta cor?


Mai inclina a cabeça, seus olhos escuros perplexos, como se ela não
tivesse certeza de que está se expressando corretamente. Sua pele marrom-
amarelada é clara e rica, muito mais saudável em comparação com a
primeira vez que a viram na mansão de Lajos, dois meses atrás. —E os
cheiros eram abundantes - ofensivos. Porque é melhor Ainda estranho,
mas... não opressor.
Nino acena com a cabeça em compreensão. Mesmo sem a experiência
de ficar isolado em um deserto por toda a vida, ele pode concordar
facilmente que os cheiros em Nova York são provavelmente insuportáveis.
—Estar perto de tantos humanos é estranho, Mai declara. —O cheiro
deles também é desagradável.
Com isso, Kahla balança a cabeça em concordância com seu
companheiro. A filha deles, Aleyna, senta-se calmamente em seu colo, suas
pequenas mãos acariciam e torcem suavemente a boneca kokeshi que
Haruka e Nino deram a ela quando chegaram à propriedade Kurashiki. Seus
olhos castanhos claros continuam indo e voltando entre o brinquedo de
madeira intrincadamente desenhado em suas mãos e Haruka e Nino em
frente a ela.
—Como raça pura, os humanos não são uma fonte de alimentação
apropriada, afirma Haruka, daí seu cheiro desagradável. Mas você vai se
acostumar com a presença deles. Eventualmente, a essência deles quase
desaparecerá da sua consciência, como o ruído de fundo.
Mai inclina a cabeça de novo, seu cabelo muito liso e comprido se
movendo para o lado como um cobertor de seda. Ruído de fundo o que é
essa expressão? ela para, virando a cabeça e encontrando o olhar intenso de
seu companheiro em silêncio. Nino estreita os olhos, mas então Mai acena
em compreensão. —Sim, sim, ruído de fundo. Estou ansioso por esta
situação. Minha consciência deles é desconfortável agora. Esses humanos...
Dada a incapacidade de Kahla de produzir fala verbal, ela e Mai se
comunicam telepaticamente. É a mesma habilidade que Nino e Haruka têm,
mas Nino nunca testemunhou ninguém fazendo isso além dele e de sua
companheira. Vendo isso de uma nova perspectiva, ele concorda com Asao.
É muito estranho.
—A presença de todos esses novos vampiros ajuda a compensar seu
desconforto com os humanos? —Nino pergunta.
—Os vampiros inferiores... —Mai para de novo, piscando. Ao lado
dela, Kahla balança a cabeça encaracolada e Mai concorda. —Não. Peço
perdão. Vampiros classificados?
—Sim, Nino confirma. —Nós os chamamos de vampiros
“graduados”.
—É claro. Seu cheiro é confuso. Eles têm o sangue de nossas origens,
mas... com água misturada? Poeira Mai oferece, levantando sua sobrancelha
fina. Kahla balança a cabeça em algo parecido com desaprovação.
—Você vai se acostumar com o tempo, diz Nino. —Estaremos aqui
para apoiá-lo durante isso. Você gosta das acomodações que estabelecemos
para você?
Kahla acena com a cabeça, seu sorriso brilhante. Ela levanta as mãos
em volta da filha no colo para fazer vários gestos. Nino olha para seu
companheiro ao lado dele. Haruka retribui seus sinais com uma série de
movimentos rápidos em resposta, suas mãos mudando em um movimento
fluido. Quando ele termina, o sorriso de Kahla fica ainda mais animado.
—Eles estão muito satisfeitos, Haruka traduz para Nino. —
Particularmente com a banheira e a temperatura da água.
—Não recebíamos esses confortos em nosso reino, acomodações
limpas, água quente ou roupas quentes. Acadêmicos eram sempre a
prioridade. Lorde Almeida dizia: “Um puro-sangue sem educação é uma
desgraça para todos os puros-sangues”. —Ele valorizava livros e estudiosos
do que abrigo e provisões. Muitas noites eram tão frias que minha pele se
partia e descamava porque nossa regeneração era muito lenta...
—E esta nova forma de comunicação! Não aprendemos isso na ilha,
o uso das mãos e gestos físicos. Lorde Almeida tomou sua voz, por isso falo
frequentemente pelo meu companheiro. No entanto, é bom... que ela possa
falar por si mesma dessa forma.
Haruka se recosta, cruzando os braços. —Existe um sistema
reconhecido de língua de sinais árabe que pode ser benéfico aprender se
você quiser voltar ao país de origem de Kahla. Não estou familiarizado com
suas complexidades. Só estou familiarizado com a Língua de Sinais Japonesa
por causa de meus estudos casuais em várias linguísticas.
—Sua graça, o fato de você poder entender até mesmo o menor gesto
é muito mais do que já experimentamos, diz Mai, sentando-se na beirada da
cadeira. —Kahla está muito... emocionada em se comunicar com você
diretamente. Você não pode imaginar o quão desafiador - sem esperança tem
sido. O desrespeito que recebemos de outros vampiros em nosso reino por
causa de sua deficiência. Por causa do que senhor Almeida fez para ela. Eles
a condenaram ao ostracismo e também ficaram com ciúmes dela porque ela
teve permissão para visitar a mansão. Foi uma vida péssima. Mas conhecer
vocês - vocês dois, como líderes do reino - é uma lufada de ar fresco que não
sabíamos que existia.
Kahla estende a mão ao redor da filha mais uma vez para fazer uma
rápida série de gestos com as mãos. Quando ela termina, Haruka surpreende
Nino segurando sua mão. —Ela disse que quando te conheceu, sua aura era
poderosa, mas quente. E havia bondade em seus olhos, embora você
estivesse com medo. — Haruka sorri, suas íris de vinho cheias de afeto. Nino
reprime um sorriso, sentindo a onda de calor ameaçando inundar suas
bochechas.
—Você acha... que a voz do meu companheiro pode se regenerar?
Vivendo esta vida transformada?
—É possível, diz Haruka, ainda olhando para Nino. Ele desvia o olhar
para se dirigir a Mai. —Mesmo que isso não aconteça, faremos o nosso
melhor para garantir seu conforto e prosperidade em nosso reino. Nós te
damos as boas-vindas e esperamos que você aproveite sua vida aqui.
—Ainda estamos desenvolvendo nossos planos de reabilitação para
você, acrescenta Nino. —Mas teremos alguns de nossos vampiros
classificados em sua casa e ajudá-lo com suas necessidades diárias, por
exemplo, aprender a fazer compras, cozinhar, limpar e outras tarefas
associadas com o funcionamento de uma casa moderna. Desta forma, você
aprenderá rotinas básicas e também se aclimatará com a presença e
existência de vampiros ranqueados. Aozora Nanba é a diretora da escola
primária local. Agendaremos um horário para você se encontrar com ela
também. aos poucos.
As duas mulheres concordam com a cabeça, e Kahla estica o braço
para segurar a mão de Mai. Mai respira fundo. —Estamos prontos para esta
nova existência. Não perca.
Quando Mai, Kahla e Aleyna deixaram a propriedade, Nino e Haruka
sentaram-se no pequeno sofá na sala de chá silenciosa, refletindo.
—Correu muito bem para uma primeira reunião? —Nino diz.
—Mm. —Haruka acena com a cabeça, soltando a mão de Nino e
cruzando os braços. —O fato de terem aderido ao nosso pedido de relaxar e
se acomodar em seu novo espaço na primeira semana já foi um sinal
positivo. Esta reunião confirma minha impressão de sua intenção pacífica.
—Kahla é descendente daquela famosa família do Líbano que
desapareceu. O Clã Arslan?
—Sim. A detetive Cuevas se ofereceu para enviá-los para seu reino de
origem, se eles desejassem, mas ela escolheu vir aqui, porque ela confia vocês
e quer estar sob seu reino e liderança. —
—Nosso reino e liderança. —Nino sorri, desapontado. —Eu li no
relatório do detetive que Mai quer visitar o sudoeste americano para
encontrar sua tribo nativa, assim que eles estiverem totalmente adaptados à
vida moderna. Eles descobriram que ela ainda tem família no Arizona.
—Devemos apoiá-la nesse esforço quando chegar a hora certa.
—De acordo. Queria dizer que quando Sydney chegar na próxima
semana, ele estará sozinho. A mulher com quem ele deixou Socotra decidiu
ficar em Nova York. Aparentemente, estar fora da ilha e morar junto tem
sido um desafio.
—O que funcionar melhor para eles. —Haruka encolhe os ombros. —
Eles não estão ligados, então, se desejam explorar esta nova vida
independentemente um do outro, devem ser livres para fazê-lo.
—Eu também acho. —Um silêncio gentil se instala na sala, o cheiro
de sobras de chá e biscoitos de arroz salgado flutuando da bandeja na mesa
baixa bem na frente deles. Nino verifica o relógio. 15:46 Ele olha para sua
companheira. —Ei, pantera.
—Sim?
—Estamos sozinhos em casa... provavelmente pelos próximos quinze
minutos antes de Asao voltar depois de deixar todo mundo.
—Então?
—Então... —Nino se vira e empurra seu companheiro para que ele
caia no sofá. Ele sobe por cima dele, agarrando a parte de trás do joelho de
Haruka e puxando de forma que suas pernas fiquem abertas e ele descanse
de costas. Ele se ajoelha entre os joelhos, sorrindo. —Alguém tende a ser um
pouco mais aberto comigo quando Asao não está em casa e potencialmente
me ouvindo.
Haruka balança a cabeça, franzindo a testa, mas sem sucesso em
esconder sua diversão. —Não aqui. —É muito perto da porta da frente e...
Nino é rápido em deslizar a palma da mão contra a parte interna da
coxa de Haruka e agarrar firmemente seu eixo através das calças. Nino o
acaricia, e o peito de Haruka arfa em uma respiração abreviada.
—Aqui. Só uma rapidinha... —Nino se inclina, sussurrando e roçando
seus lábios. Ele pode sentir a respiração suave e rosada de Haruka soprando
fria contra sua boca. —Estamos sozinhos, tesoro… O que eu estou
segurando? —Nino lhe dá outro aperto firme para completar, esfregando
seus narizes. Ele levanta o rosto, esperando.
Lentamente, Haruka abre seus olhos cor de vinho, sua expressão
plana e sua voz rica e cremosa decidida. Meu pau?
Tudo dentro de Nino - seu sangue, sua natureza e energia, desce para
sua virilha como fogo, sua frequência cardíaca disparada. Mas ele se mantém
firme e respira fundo. —E o que devo fazer com isso?
Haruka levanta os braços, deslizando seus longos dedos contra a nuca
de Nino para segurá-lo perto. —Você pode desfazer minhas calças e me
tocar. —Ele levanta o queixo, lambendo os lábios de Nino com um rápido
movimento de sua língua. Coloque na sua boca.
—Puta merda! —Nino se senta ereto, balançando a cabeça. Ele passa
as palmas das mãos no rosto. —Ele disse. —Merda. Eu posso sair disso
sozinho. Deus
Haruka bufa em uma risada cortada enquanto ele se deita abaixo dele.
— Isso é ridículo.
—Não é.
—Você tem me pressionado a dizer essas coisas por meses.
Eu... eu sei..., Mas... Eu não acho que estava mentalmente preparado
... Eu não sabia que isso ia me atingir com tanta força...
Nino pula ligeiramente quando Haruka se mexe e se endireita. Seu
companheiro coloca a palma da mão no peito de Nino para empurrá-lo para
trás, virando a mesa. Quando Haruka está acomodada entre suas coxas, ele
acaricia os lábios de Nino com o dedo indicador. —Quão difícil, exatamente?
—ele pergunta, sua sobrancelha levantada. Nino abre os lábios, levando o
dedo de Haruka à boca, deixando-o deslizar contra sua língua.
Enquanto Nino suga, Haruka se move contra sua virilha, lenta e
intencionalmente balançando para que seus corpos se alinhem no lugar certo
através de suas roupas. Haruka e Nino geme em completa e perfeita
satisfação. Ele suspira, seu corpo a centímetros de distância da liberação
enquanto ele passa as mãos por baixo da camisa de Haruka para sentir sua
pele fria sob as palmas, encorajando seu movimento.
Mas Haruka para de repente. Confuso, os olhos de Nino se abrem.
Deus me ajude.... —Seu companheiro desliza o dedo da boca de Nino
e coloca a palma da mão espalmada contra o rosto. Um segundo depois, a
porta da frente se abre. Eles estão congelados em sua posição íntima quando
Asao passa pelo salão de chá. Ele não para, mas olha para dentro enquanto
passa. —Deixou a lista de compras no balcão.
Haruka muda para se mover, mas Nino estende a mão e segura seus
quadris, balançando a cabeça com um sorriso nervoso. Em um momento,
Asao volta para a porta da frente. Pouco antes de sair, ele grita para eles: —
Não façam bagunça na sala de chá.
—Afe. Haruka abaixa os ombros, desmoronando enquanto a
humilhação rola dele em ondas. Nino se senta, rindo e envolvendo os braços
em volta da cintura de seu companheiro.
—Podemos continuar, só temos que limpar nossa bagunça!
—Definitivamente não. —Haruka exala, a palma da mão colada no
rosto. Nino estende a mão e agarra seu pulso para puxá-lo para baixo. Os
olhos de Haruka mudam, relutantes em encontrar seu olhar.
Nino levanta o queixo por baixo dele, sorrindo docemente. —
Obrigado por me dar isso. Estava quente.
Haruka revira os olhos, sorrindo. —De nada. Ele se inclina para
encontrar a boca de Nino. O beijo é gentil, apenas um selinho no início. Mas
Nino mantém o queixo erguido e Haruka mergulha nele mais uma vez,
demorando-se, provocando. Ele inclina a cabeça para um novo ângulo
contra a boca de Nino, movendo-se lentamente e deslizando a língua para
dentro enquanto respira em Nino.
Quando ele levanta a cabeça, a voz de Haruka é baixa. —No quarto.
—Mm. —Nino sorri. —Não vamos parar de novo. Eu não me importo
com quem entra.

O do meio.
PRÉVIA
Lore and Lust livro 3: O despertar
JUNICHI

Estou muito perto de casa para essa merda. Eu não deveria nem cogitar
ajudá-lo, você sabe.
Caminhando pelo longo corredor, já posso sentir o cheiro do médico.
É fraco, mas ainda é forte o suficiente para cortar a abundância de
antisséptico e alvejante, luvas de látex, aventais de algodão ásperos e todos
os outros odores típicos de hospital que atacam meus sentidos.
Humanos são humanos. —Eu gosto. —Eu tive um monte e eles são
praticamente todos iguais. Mas algo sobre este médico me mexe. Desde que
coloquei os olhos nele, algo tem me incomodado e preciso saber por que
diabos.
— Não, meu pai me mataria. Literalmente. Se ele soubesse das coisas
que fiz... as coisas que quero fazer agora para este inexplicável médico. Ele
prefere me ver morto do que confraternizar com humanos e vampiros de
baixo nível, arriscando imprudentemente a metade da minha elite, linhagem
pura de sangue Takayama.
Sorte minha, porém, o velho bastardo está morto. Agora tudo o que
tenho a fazer é controlar meu desejo constante e viciante de me alimentar de
minha fonte de puro-sangue harpia malvada. Devo agradecer ao meu pai
por essa besteira. Por me prender a um monstro, pensando que me ligaria a
ele.
Eu não deveria estar fazendo isso.
Seguindo pelo corredor, viro a esquina e vejo que a porta do
consultório médico está aberta. Há duas semanas estou flertando com esse
homem. Nenhum progresso tangível feito. No mínimo, ele está ficando um
pouco agitado, o que, por si só, é intrigante, a lenta evaporação de alguma
máscara politicamente correta que está usando.
É confuso, porque o Dr. Davies também não me disse para me foder.
Não disse que está noivo ou que não gosta de homens. Não tentou ligar para
o segurança... não que ligar para o segurança resolveria alguma coisa. O
médico não está dizendo sim, mas também não está dizendo não. Ele me
disse que está ocupado, mas não é como se ele sempre está ocupado. Ele tem
que comer em algum momento, então por que não comigo?
Isso vai soar arrogante, mas ele é um desafio e eu acho isso um pouco
excitante. Faz muito tempo que ninguém me ignora assim, se é que alguma
vez. Aos cento e trinta anos, não me excita muito mais.
Estou carregando um livro singular nas mãos, o que é ridículo, mas
tenho razão. Eu agarro o batente da porta com minha mão livre e espreito
para dentro do escritório. O Dr. Davies está lendo algo em sua mesa. Há uma
janela atrás dele e a forte luz do sol da manhã está caindo sobre suas costas.
Ele parece um anjo maldito. Seu perfume é tão doce e celestial.
Eu entro na sala, então me sento em uma das duas cadeiras na frente
de sua mesa. Eu sorrio e falo em um japonês educado. —Bom dia, Doutor J.
Davies. —Coloco o livro na ponta de sua mesa. Esperando.
O médico mantém o olhar focado no arquivo à sua frente. —Por favor,
traga todos os meus livros da próxima vez?
—Se eu fizer isso, não terei um motivo para visitá-lo. —Sento-me,
trazendo minha perna para cima para cruzar meu tornozelo no meu joelho.
—Pense em mim como um entregador sob medida, devolvendo seus livros
preciosos um de cada vez.
O médico solta uma risada e revira os olhos, tirando os óculos do
rosto. Ele tem um sorriso bonito. Seu tom de pele quente me lembra leitelho.
—Vê? —Eu sorrio, olhando para ele. —Eu te faço rir. Diga-me seu
primeiro nome e jante comigo. —Eu poderia facilmente encontrar seu nome.
Facilmente.
—Onde está a graça nisso?
O Dr. Davies olha para mim, me encarando. Seus olhos são castanhos
e têm a forma de gotas de chuva para os lados. Ele não fala. Angelical e sem
expressão. Eu olho para o cartaz de nome ambíguo em sua mesa. Lê Doutor
J. Davies, MD
— É por causa John, pergunto.
—Não.
—Jeremy
—Não.
Juan, Joan, José? Juan-Manuel?
—O quê?
—Eu poderia pesquisar online. —Eu cruzo meus braços. Ou
perguntar a alguém. Mas seria muito mais pessoal e significativo para a
nossa história se você me contasse.
O médico balança a cabeça. —Não está online. Não temos uma
história.
—Podemos. Sorrio. —Era uma vez, convidei o Dr. Davies para jantar
e ele disse que sim. Mal sabia ele, era apenas o começo.
Com isso, o médico inala uma respiração profunda e a expira. A ação
faz seu perfume sutil soprar em mim. Eu pisco meus olhos, tentando ignorar
o quão adorável isso cheira. Estranho pra caralho.
—Como você pode simplesmente entrar aqui toda semana? ele
pergunta. —Isto não é um café. Por que você está me perseguindo?
Sério? Estou olhando para este homem perplexo com cabelo loiro
dourado profundo emoldurado pela luz do sol brilhante. —Você é lindo, —
eu digo.
Ele pisca e recua na cadeira, olhando para o lado como se eu não
pudesse estar falando com ele. Como se houvesse alguma terceira pessoa
secreta na sala que eu tivesse perdido.
—E obviamente inteligente, eu continuo. Por que não iria? Eu estou
“perseguindo” você? Eu seria um tolo se não o fizesse. Jante comigo. Minha
masculinidade é desagradável para você? É isso?
—Não, eu... —O médico estende a mão e coça a cabeça, a desconfiança
colorindo seus olhos. —Você quer sexo, certo? Eu sou humano, então você
não poderia querer se alimentar de mim. Você é de nível muito alto. Então,
se fizermos sexo, você vai se sentir satisfeito e seguir em frente?
Meu Deus. Agora eu recuo. Que diabos? Onde está a diversão em ir
direto ao ponto como este? A melhor parte de um novo parceiro romântico
é a sedução, e eu estou bem nessa parte. Por que ele está estragando tudo? —
Doutor J., esta não é uma negociação de reféns. É só um jantar. Jantar
equivale a sexo em seu mundo? É espremido entre os aperitivos e o prato
principal? Entre os pãezinhos e a salada? Parece excêntrico. Bagunçado.
Ele me observa por outro momento como se estivesse lutando com
alguma coisa. Estou pensando que devo simplesmente desligar isso.
Claramente, ele não está interessado, então eu deveria me levantar e sair.
O médico respira fundo e coloca seus lindos óculos de volta no rosto.
—Venha para minha casa na próxima sexta-feira. Estou de plantão, mas
estarei em casa depois das sete.
—Sua casa. Eu pergunto, minha sobrancelha levantada. —Você está
fazendo jantar, então?
—Claro, é isso que estou fazendo.
—Doutor Davies. Por que você está se esforçando tanto para desviar
meus avanços sinceros?
Ele pisca para mim como se eu tivesse feito uma pergunta estúpida.
—Eu sou humano… Você é um vampiro classificado e não entendo o que
você quer de mim. E eu estou ocupado. Sou médico em tempo integral.
Quantas vezes, devo dizer em outro idioma? —
Temos falado em japonês educado, mas me sinto mal. —Certo. Diga
isso em inglês.
—Porque estou muito ocupado para o sua besteira vampírica.
Silêncio. Nem um único som na sala e estou sem palavras. Ele disse a
frase perfeitamente, com nuances com um sotaque britânico leve. Eu
desdobro minha perna e me inclino para frente, como se isso fosse me ajudar
a discernir algo mais profundo.
Quem é esse humano? Por que ele cheira assim e por que ressoa
vagamente em minha natureza? Puxando-me em sua direção como se uma
linha de pesca estivesse enganchada em meu umbigo.
Eu balancei a minha cabeça. Isso não faz parte da sedução, mas não
posso evitar. Eu respondo em inglês, estreitando meus olhos. —O que é
você?
O Dr. Davies endireita as costas e pisca. Inexpressivo —Boku wa isha
desu.
Eu sou médico. O interfone toca. O médico aperta um botão e fala nele,
dizendo à enfermeira que está a caminho. Quando o telefone desliga, ele se
levanta, um tanto frenético. —Merda! —Mais uma vez, um inglês perfeito
enquanto se vira para pegar sua mochila de couro marrom do chão atrás de
sua mesa. Ele passa os braços pelas alças, verifica o relógio e se dirige à porta.
Eu me viro, pasmo. —Você não vai me dar seu número de celular ou
endereço? Sua primeiro nome?
Ele olha por cima do ombro enquanto se move. —Pergunte a Sora na
mesa da enfermeira. —Ele se foi. Apenas o perfume sutil e doce dele
permanece.
—Por que diabos ele está sendo tão estranho? —Não é como se eu
estivesse pedindo a ele para pagar meus impostos comerciais ou me ajudar
a me mudar para um apartamento no terceiro andar sem elevador. É apenas
um jantar, caramba.
Eu suspiro, me levantando e saindo do escritório e pelo corredor em
direção a Sora no posto de enfermagem. Quando estou lá, ela sorri, apoiando
os cotovelos na mesa baixa e segurando o queixo nas palmas das mãos.
—Olá, Juni.
Muito feminina. Ela está ligada, é claro. Mas ela usa esses óculos olhos
de gato vermelhos que complementam seu rosto estreito. —Ei, Sora. Como
você está? Crianças, tudo bem?
—Eu estou bom. As crianças estão com o pai. Por Deus... Você está
aqui a negócios oficiais? Ou você está devolvendo outro livro?
—Devolvendo livros é assunto oficial, então não tenho certeza do que
você quer dizer. —Cruzo os braços e me inclino contra o balcão alto,
sorrindo. —Você pode me dar o endereço do doutor J.? Ele prefere que eu
envie os livros para sua casa.
—Tá bom. —Sora sorri, empurrando os óculos no nariz. Ela se senta
ereta, seus dedos batendo em um movimento rápido contra o teclado
enquanto ela focaliza o monitor. —Você não se importa com os humanos,
não é, Junichi?
Ela fez a pergunta casualmente, mas a insinuação é pesada. Eu
mantenho minha resposta inócua. A última coisa de que preciso é de
rumores se espalhando pela aristocracia. —Eu encontro e trabalho com
humanos regularmente, tanto aqui quanto no exterior. Estou acostumado
com eles.
—Doutor J. é um amor, e ele é estranhamente fofo. Para um humano.
—Ela pega um post-it e uma caneta, anotando o endereço. —Ele foi um
excelente contratado para o hospital, você deve estar satisfeito. Ele é muito
popular entre os vampiros de baixo nível que vêm para vê-lo. Acho que estar
perto de vampiros de alto escalão como nós o deixa nervoso por algum
motivo. Já se passaram três meses desde que ele começou, mas ele ainda é
irritadiço comigo às vezes.
Eu levanto minha sobrancelha. —Você o chama de Doutor J. também?
Eu continuo perguntando, mas ele não me diz seu nome.
Sora olha para mim, piscando seus olhos castanhos escuros. —Esse é
o nome dele, Junichi. Está soletrado JAE, como na iteração coreana. Doutor
Jae Davies.
Eu esfrego minha palma no topo da minha cabeça e zombo. Tenho
chamado este homem hediondo pelo nome o tempo todo. Para duas semanas.
Ele não disse nada.
Incrível. Este curioso e delicioso doutorzinho. Apesar de tudo, estou
realmente ansioso para vê-lo novamente na próxima semana. Já faz muito
tempo que eu não esperava por algo.

Obrigada por ler


O terceiro livro da série Lore and Lust,
O despertar, será lançado no outono de 2021.
SOBRE O AUTOR

Karla Nikole tem um caso de amor de longa data com o Japão. Eles
sempre foram muito bons um com o outro. Tendo vivido no país por dois
anos e feito várias férias prolongadas lá, ela é profundamente inspirada pela
cultura, idioma, paisagem, comida e pessoas. Uma viagem à Itália em 2018
para um casamento trouxe um novo alento à sua escrita, levando ao
nascimento de Nino Bianchi e Haruka Hirano - duas cartas de amor para
esses belos países. Ela também morou na Coréia do Sul e em Praga, e
atualmente reside nos EUA (embora Milan a esteja convocando de forma
inflexível).

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