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Sinopse

Lindo. Primorosamente. O homem poderia ser um anjo caído,


porque Sean Ferro é um orgasmo ocular. Não é de admirar por que
estou grávida. Bebês. Pequenos Ferros. Em breve haverá quatro de nós.
Eu não tenho ideia do que esperar, mas me sinto tão presa. Um tempo
sozinha com Sean é exatamente o que eu preciso. Hora de ajustar-se a
essa mudança massiva antes que ela se torne realidade.

Estou finalmente animada e levemente apavorada. Não consigo


compreender como essa nova família se unirá, como vai agir. Quero
dizer, você pode imaginar a Rainha do Gelo Ferro tendo netos? Eu sou a
primeira noiva de sorte a ver como isso acontece. A mulher ainda me
apavora e ela gosta de mim agora. Eu não posso imaginá-la com um
bebê em cada joelho e um urso branco ao lado dela. A cidade de Nova
New York é um lugar estranho. Não é de admirar por que o clã Ferro
reside aqui. Bilionários com ursos são a nova moda.

Agora, só preciso descobrir como ser um deles, protegendo minha


nova família. Mas primeiro eu tenho que saber onde Sean está com os
negócios ilegais de sua família... se ele vai ficar ao meu lado ou voltar
para sua antiga vida quando os bebês chegarem.
Capítulo Um
MANHATTAN, NOVA IORK

De pé na varanda da cobertura mais tarde naquela noite, eu


descanso as palmas das mãos na grade de metal grossa para deixar a
frieza morder minha pele. Engolindo em seco, eu olho para os carros
abaixo com suas luzes vermelhas piscando enquanto eles avançam um
centímetro e param. Os sons da cidade eram uma vez uma sinfonia de
prazer. Eu adorava aqui. Agora é barulho. Pesado e opressivo.
Suspirando profundamente, levanto os olhos para o parque do outro
lado da rua, permitindo que meu olhar pelas copas das árvores à
procura de algo para me estabelecer — algo que me faça sentir com os
pés no chão. Qualquer coisa que me permita saber que estou ancorada.
Segura.

As copas das árvores parecem dedos irregulares de uma bruxa


velha. Elas se mexem, lançando feitiços e frieza. Não há nada. Nada
sólido para ver e me amarrar à sanidade. Eu sinto as bordas
desgastadas da minha mente chorando. Elas gritam dia e noite, Lembre-
se do que você fez. — Tornou-se um canto sinistro que nunca cessa. O
sangue em minhas mãos nunca secará, nunca será lavado. Há uma
razão pela qual eu não me abalei mentalmente em Manhattan. Um
motivo pelo qual preciso encontrar um jeito de continuar. Eu coloco
minha palma na minha barriga em expansão.

Eu não vou quebrar. Por eles. Por Sean. Por mim. Eu não vou
quebrar. As palavras são um sussurro em minha mente, desgastadas
pelo uso excessivo. Ainda assim, é tudo o que tenho para me segurar.
Fechando meus olhos, minha mente vagueia, recua para o lugar
onde a calma inunda minhas veias. Ao inalar profundamente o ar
fresco, solto meu estrangulamento no corrimão e, finalmente, posso vê-
la em minha mente — senti-la. É como se eu estivesse de volta a essa
casa de praia, percorrendo um caminho alinhado com pedras suaves.
Flores nativas se alinham nas bordas da calçada de pedra, projetando-
se da terra arenosa em plumas de azul e rosa. Os sons das ondas
batendo na praia enchem meus ouvidos, mas eu ainda não consigo ver
o oceano.

Meu passeio mental continua quando passo pela clara piscina


azul que fica diretamente do lado de fora das janelas do chão ao teto da
casa grande. As águas brilham em turquesa enquanto a luz do sol beija
as ondulações da piscina, espalhando luzes brilhantes.

Uma memória corta meu devaneio, e força o seu caminho. Fios


de sangue colorindo a água cor de vermelho antes que os corpos
apareçam, flutuando de bruços. Naquela noite, pensei ter perdido Sean.
Eu pensei que era ele.

Não era Sean. Ele está vivo. Estamos ambos vivos e em casa.
Apertando meus olhos, eu afasto a memória.

Meditação é importante. Tornou-se parte da minha vida. Dra.


Chan me disse para me concentrar, para não deixar a dormência me
atingir de novo. Ela não percebe que estou em um impasse. Eu posso
aceitar o meu passado se eu permitir que a falta de sentimento me
alcance, mas se não, eu não posso.

Aceitar o que fiz vai me destruir. Do jeito que está, meu estado
emocional parece frágil, fraco. Eu odeio ser tão vulnerável.

A ironia do momento é tão amarga que eu quero cuspir.


Balançando a cabeça, eu volto e me sento em uma cadeira azul fofa com
ornamentado requintado nos braços. Então eu me inclino para trás
contra uma almofada de couro macia. Abaixando a cabeça, seguro meu
rosto com as mãos e engulo os soluços que querem gritar. Isso é quem
eu queria ser quando conheci Sean. Eu queria isso. A dormência eterna.
Não sentir nada. Ser implacável. Eu teria trocado minha alma para
conseguir. Talvez eu fiz, porque minhas entranhas parecem tão vazias
agora.

Lute, Avery. Empurre de volta. Minha voz interior repreende,


fraca, mas não completamente ausente. A dormência feliz que tanto
desejei está aqui, mas não quero mais. O problema é que parte de mim
anseia pela sensação do nada. O vazio que me engoliria amenizaria
minha culpa e me deixaria seguir em frente com minha vida. É o
caminho mais fácil. Um passo nessa estrada e eu não vou voltar, mas
isso acena para mim. Gritando como uma tábua de salvação que pode
me salvar quando todos os outros falharem.

Eu não vou quebrar.

Sean não é mais desprovido de emoção. Há momentos que


surgem como um reflexo onde ele sufoca, mas então algo dentro dele
muda. Ele pode liberar o sentimento e compartilhá-lo comigo. Mostrar
outras pessoas. Mesmo os idiotas que acham que ele matou Amanda —
que uma vez olharam de frente para ele, duramente, frios e antipáticos.
Agora ele sorri para eles, com uma gentileza que não posso oferecer a
essas pessoas. Ele perdoou seus ataques, muitos deles.

Eu não posso. Eu não vou. Eu quero lutar de volta. Eu quero


gritar com eles. Eu quero gritar comigo mesma por ser tão fraca. O que
está acontecendo comigo?

Eu suspiro e toco minhas bochechas, notando que elas estão


molhadas de lágrimas. Merda. Concentre-se em Avery. Controle seus
malditos pensamentos. Por que isso é tão difícil? Volto ao meu lugar
feliz, meditando. Lembrando como foi há alguns meses atrás.

Com os olhos bem fechados, eu aperto a beira da cadeira e


empurro a almofada novamente. Respirações profundas retardam
minha mente frenética, a preocupação que agarra na minha garganta.
Eu vejo isso. As ondas. Elas são de um azul profundo, deslizando para
dentro e para fora, contra a areia prateada. O céu escuro a oeste está
encolhendo enquanto o céu do leste floresce com tons de violeta e
índigo.

Este é o meu lugar. Este lugar além da duna, onde a água


encontra a costa, no fim do mundo. Se a Terra fosse plana, aqui é onde
ela começa. É aqui que o sol se arrasta sobre o horizonte, espalhando
potes de ouro e luz âmbar. O doce aroma do ar da noite se eleva quando
as ondas se aproximam de mim, chegando aos meus dedos na beira da
água. A maré está mudando. Em breve haverá um banco de areia
coberto de vida.

Os músculos dos meus braços relaxam quando minha respiração


diminui. Na minha cabeça, estou lá. Segura da coisa que mais me
assusta.

Eu.
Capítulo Dois
Uma mão firme e quente repousa no meu ombro. O toque é firme,
mas é suave. Tranquilizador e possessivo. O devaneio se quebra quando
olho para aqueles olhos de safira vívidos. — Você está com fome? —
Pergunta Sean. — Eu fiz uma coisa para você.

Eu aceno e começo a me levantar, mas Sean estende a mão para


mim, oferecendo-a para mim. — Deixa-me ajudar.

Eu murmuro. — Queria que você pudesse. — Antes que eu


perceba, estou em pé em seus braços, minha barriga redonda
pressionada ao seu estômago liso e tonificado. Eu posso sentir a curva
de seus músculos, a força dele através de sua camiseta macia. Preta.
Com jeans escuro que está cortado e desgastado no joelho.

Seus lábios estão ao meu ouvido: — Diga-me. Eu quero estar


aqui para você, Avery, mas você ficou tão quieta desde que chegamos
em casa. É como se alguém tivesse acionado um interruptor e desligado
você. — Ainda segurando-me pelos braços, ele se afasta, seus olhos
percorrem meu rosto procurando respostas. Um sorriso suave reveste
seus lábios quando ele alcança um cacho do meu cabelo e o empurra
para trás da minha orelha.

O nó na minha garganta é enorme. Eu não posso respirar. O que


devo falar? Que eu consegui resolver a tarefa para a qual me propus
quando o conheci? Ele vai se culpar. Eu não posso dizer isso. Dando de
ombros, eu suspiro. Derrubando minha cabeça para o lado, eu minto:
— Estou cansada.

— Quando você viu Chan?

Meu olhar foge dele, os olhos se desviando em todos os lugares.


Gentilmente, Sean puxa meu queixo de volta para ele. Esperando por
uma resposta quando demoro em dar. — Eu não sei. Na semana
passada, eu acho. Tudo está se misturando, Sean.

Minha rigidez está rachando, se despedaçando sob o olhar dele.


Eu não posso me segurar por muito mais tempo. Tento me soltar,
dizendo: — Vamos comer no sofá, ok? — Mas ele não me libera.

— Avery — ele fala meu nome como um comando. — Você


nunca será a pessoa que você era antes de tudo isso acontecer. Aquela
garota se foi. Você sabe disso, mas eu não posso deixar de sentir que
Chan de alguma forma te convenceu de que você pode recuperar esse
pedaço da sua vida se você seguir suas regras. Você não pode. Deus
sabe que eu tentei.

Lágrimas brotam nos meus olhos. Nossos olhares estão


trancados. — Eu me sinto tão quebrada. Onde quer que eu olhe, é
outro lembrete da vida que perdi. Alguns dias eu mal posso respirar. Se
não fosse por eles... — Minha mão descansa no inchaço do meu
estômago, nos gêmeos crescendo dentro de mim. Meus lábios
permanecem separados, mas não há mais palavras. Eu não sei como
dizer isso. Para dizer a ele o que sinto.

Os cantos de sua boca se contorceram. Há um momento em que


ele não diz nada e depois cobre minhas duas bochechas, sua voz baixa
uma oitava com a seriedade do que está dizendo. — Eu sei. Eu vejo
isso em você. Há um lugar para dormência, Avery. Um tempo para usá-
la. E um tempo para guardar isso.

— A escuridão que estava em você se foi, Sean. Eu tenho medo,


se eu for desse jeito, eu não voltarei. — Meu lábio inferior está
tremendo. Um riso amargo é forçado dos meus pulmões e soa como um
latido. — Imagine uma mãe que não sente nada por seu bebê. Você
quer isto para mim? Se eu não continuar lutando, será.

A frieza escorre pela minha espinha antes que as palavras se


quebrem como lascas de gelo. Minha garganta aperta quando percebo o
quanto esse pensamento me assusta. Meu peito sobe e desce
rapidamente enquanto meu coração bate fora de controle, como se eu
estivesse correndo de Vic através dos pântanos.

—Avery. — sua voz é profunda, calma. Os dedos de Sean


empurram meu cabelo para trás enquanto ele respira devagar, com
segurança. Ele faz isso de novo e eu o copio, sugando o ar o mais
lentamente que posso. Tentando me acalmar.

Seus cílios escuros estão abaixados, considerando suas palavras.


Quando ele encontra meu olhar, diz suavemente: — Este é o seu
caminho, e a dor que você sente é porque esse caminho é divergente e
você não escolheu o caminho a seguir. Eu quero que você faça o que for
preciso para se sentir inteira de novo. Se isso significa caminhar nas
sombras, faça isso. Se isso significa lutar contra elas, então lute. Eu só
acho que há uma parte de você que está gritando para ser ouvida e não
será silenciada. Até você enfrentar o cerne da questão, você nunca
poderá descansar. Sua vida será uma luta em que você está
protestando contra isso.

Eu me afasto e envolvo meus braços ao redor da minha cintura,


ou tento. A barriga é uma grande curva agora, então eu coloco meus
braços sob o peito. A cabeça baixa, o gelo lambe minha espinha.
Reformule. Sempre acenando. Eu reprimo um arrepio. Falando através
de uma parede de cabelo castanho encaracolado, eu respiro: — Você vai
me perder se eu parar de lutar.

Sua voz está perto. Eu sinto sua respiração no meu pescoço


quando ele fala. — Eu nunca vou te perder. Isso faz parte de você. A
parte que você está negando. Uma parte que eu já vi. Avery, eu sei o
que você fez. Você não é fraca.

Eu balancei minha cabeça, — eu sou.

— Não, você não é, — Ele agarra meus ombros e me gira em


direção a ele. Sua voz é sincera e suas palavras são rápidas. — Você
está tentando negar metade do seu ser. Você não é mais toda arco-íris e
glitter. Você matou pessoas. Nada remove essa mancha. Ela se agarra e
escurece.

— E isso é horrível.

— Talvez, mas também é inerte. A sua parte escura não tem


poder sobre você. É como tentar reprimir o riso porque ser feliz é
errado. Faz parte de você agora. O bom e o mau. Deixe-se tornar quem
você está destinada a ser. Eu não vou deixar você e nunca vou deixar de
te amar.

O tremor no meu lábio inferior retorna dez vezes. Ele acertou em


cheio. O ponto dolorido. Ele disse o que mais me preocupa. Eu pisquei a
camada de lágrimas que não caíram dos meus olhos e segurei seu
olhar. Minha voz é quase uma respiração, — você não vai?

— Nunca. — A palavra toca com absoluta convicção. Sean


inclina a cabeça para o lado, mantendo os olhos fixos nos meus. Sua
sinceridade não é pena. Não é gentil também. Ele não mentiu para mim
e acolchoou o que está acontecendo aqui. Se alguma coisa, ele levanta
um espelho metafórico para me fazer face a ele.

— Há momentos na vida, — ele explica, — que você tem que


atravessar em total escuridão. Você não pode forçá-lo a parar. Você não
pode ignorar isso. É assim que é. Seja quem você é agora. Acho que vai
se sentir melhor uma vez que você... — ele para de repente. Aqueles
olhos de safira ainda trancados nos meus.

— Uma vez que eu, o que? Diga, Sean. — Minhas sobrancelhas


estão apertadas juntas. Esta conversa é duas partes de ansiedade e
uma parte brutalmente honesta. É difícil de engolir.

Seus lábios se separam enquanto ele traça um dedo ao longo da


minha bochecha. Ele trabalha com a mandíbula como se estivesse
pensando em recuar, sem dizer o que planejou, mas depois sinto a
mudança nele. Que ele acha que é melhor dizer do que sair em silêncio.
— Avery — ele pega minhas mãos e abaixa a cabeça enquanto
fala. O cabelo escuro cai em seus olhos. — Uma vez que você pare de
tentar ser alguém que não existe mais.

Isso é o limite. As lágrimas fluem. Os soluços feios começam.


Antes que Sean possa colocar seus braços em volta de mim, eu
desmorono de volta na cadeira, a cabeça nas mãos, escondendo meu
rosto. Ele disse tudo que eu precisava ouvir. Ele me deu a permissão
que eu precisava para seguir em frente. Para sentir, no entanto, eu
quero sentir. Parar de olhar para trás. Seus braços fortes me envolvem
enquanto ele aconchega meu corpo perto do dele.

— Avery, eu te amo. Para sempre. Eternamente. Não importa o


que aconteça. Você é minha.
Capítulo Três
Os dias passam, um após o outro. Eles não sangram mais nas
bordas. Eu faço o que eu quero. Não quero mais usar roupas de
maternidade alegres e brilhantes, então Sean me leva a uma loja
especializada em um beco do outro lado da cidade. Eu olho em volta
nervosamente quando o carro nos deixa e puxo meu suéter de bolinhas
rosa apertado ao redor do meu corpo.

Sean vê meu desconforto e ri. — Eu conheço o dono. Prometo


que estamos no lugar certo.

Eu aceno e tomo sua mão enquanto caminhamos até uma porta


preta fosca com uma curva no topo. Parece que uma vez pertenceu a
uma igreja. Não há um pouco de brilho, apenas tábuas grossas de
madeira preta com o antigo ferro exposto. Cabeças de pregos de ferro
formam uma linha entre as tábuas. Detalhes góticos é a única
decoração. Um dragão esguio está empoleirado em um olho mágico
antiquado que se abre como uma porta para um rato. O corpo do
dragão gira em torno da pequena abertura, sua forma esculpida com
detalhes requintados.

Não é até Sean abrir que percebo a espessura e o peso da porta.


Ele segura para mim, gesticulando para eu entrar. Eu me abaixei e
parei diretamente do outro lado da porta. — Uh, Sean?

Sua risada profunda está no meu ouvido quando ele está ao meu
lado e pega minha mão. Seus olhos se deslocam para as paredes negras
cheias de tiras de couro e arreios. Um espartilho vermelho está em uma
forma francesa preta sob um holofote pela parede. É feito de tiras de
couro vermelho-sangue, entrecruzando a forma, deixando certas coisas
expostas e cobertas de anéis de prata. A tela tem uma corrente presa ao
anel entre os seios da forma que se liga à parede.
Eu aperto a mão de Sean com mais força. — O que nós estamos
fazendo aqui? Eu não posso fazer essas coisas agora.

Um sorriso diabólico aparece em seu rosto antes que ele zombe.


— Claro que você pode. A menos que, você está sangrando de novo? —
Ele me observa com cuidado. Eu balanço minha cabeça. Os nervos
enchem minha barriga e eu agarro sua mão com mais força. Aquela
risada profunda retorna. Ele para e inclina a cabeça para mim,
sorrindo. — Você realmente acha que eu traria minha esposa grávida
para um clube de Sadomasoquismo?

— Uh, você fez. — Eu levanto minha palma no ar para mostrar


as coisas estranhas na outra parede e os casais seminus fazendo coisas
daquele lado da sala. Eu não os vi até aquele momento. Havia uma
meia parede e muitos travesseiros obstruindo nossa visão. Meu rosto
queima com um rubor feroz.

— A proprietária pode fazer qualquer coisa que você quiser, —


afirma Sean simplesmente. — Vestidos, calças, jaquetas, o que seja.

— Como você a conhece? — A curiosidade leva a melhor sobre


mim.

Sean levanta uma sobrancelha escura. — Black tinha um lugar


como este, anos atrás, antes de mudar para a operação em que você
tropeçou. A costureira que trabalhava lá é dona desse lugar. É uma
loja, não uma festa de orgia. Eu não sei o que há com eles. — Ele
inclina a cabeça para os casais no canto.

— Espere, Black tinha um clube? Você foi para ele? — Minhas


perguntas ficam sem resposta enquanto ele me puxa mais fundo na
sala mal iluminada. — Sean?

— Eu vou te atualizar mais tarde. — Sean anda em passos


largos até a mesa e toca a campainha.

O zumbido de uma máquina para e o lugar se enche de silêncio.


Um momento depois, uma mulher vestida de preto com um espanador
preto até o chão emerge de trás de uma cortina de jacquard dividindo a
frente da loja de seu quarto dos fundos. Seus lábios se torceram em um
sorriso. — Sean Ferro.

— Bella Noir. — Sean estende a mão e aperta sua mão enquanto


ela se inclina e beija sua bochecha.

Eu suprimo uma risadinha. Não tem como o nome dela ser real.
Há pessoas andando por aí que receberam nomes estranhos e antigos,
mas ela não é uma delas. Eu posso dizer. Faz parte deste lugar, ela está
apresentando um personagem. A mulher é magra, mais alta do que eu,
com cabelos escuros e lábios manchados de cereja que têm contornos
perfeitamente definidos. A palidez de sua pele a fez envelhecer bem,
mas há linhas de riso em seu rosto comprido e ligeiras rugas em seus
olhos castanhos. Eu suspeito que ela esteja com quarenta e poucos
anos.

Bella sai de trás do balcão e abaixa o espanador em cima dele.


Ela pressiona as mãos na frente de um vestido estilo Donna Reed1
completo com um pequeno casaco e avental. O conjunto completo é
preto, uma blusa colorida com botões de ébano adornada com uma
renda carvão na frente e enfiada num cinto largo com pedra colorida.
Uma saia grossa, preta listrada parando logo abaixo do joelho.
Juntamente com meias pretas e saltos, ela parece uma Stepford wife2.
Há uma mecha de cabelo branco que se estende do centro da sua testa.
Ele está enrolado em cachos, presos à cabeça, com um rabo de cavalo
solto caindo nas costas.

Ela me olha lentamente, em seguida colide comigo. — E quem é


essa?

— Esta é minha esposa, — diz Sean com orgulho. — E a razão


pela qual viemos aqui, é que você é a melhor e ela exige algo um pouco

1 Donna Reed — estilo dona de casa dos anos cinquenta.


2Stepford wife — é um romance de 1972 escrito por Ira Levin. Descreve uma esposa
servil, submissa, que faz a vontade do marido e serve todos os seus caprichos
respeitosamente.
diferente. Precisamos disso rápido. — Sean praticamente rosna as
palavras.

O antigo comportamento de Sean vestido com um terno.


Estranhamente, ainda se encaixa nele. Essa arrogância, a aspereza dele
juntamente com os olhos gelados fala volumes. Finalmente me ocorre
que, enquanto eu posso ver um lado mais suave de Sean, ele ainda
pode mudar para o modo escuro. Não há apreensão enquanto ele faz
isso também. O corpo magro de Sean está equilibrado, rígido, um
quadril contra o balcão preto com o tampo de granito cinza. Seu outro
braço está em volta da minha cintura, me segurando como sua posse.

Bella inclina a cabeça para o lado, coloca uma mão bem cuidada
em sua cintura. — Bem, então vamos começar. Exatamente o que você
está procurando? Você sabe que minha especialidade é mais macabra
do que, — ela faz uma pausa e levanta uma sobrancelha escura
enquanto olha minha roupa, então retorna seu olhar para Sean, — isso.

— As lojas de maternidade não têm o que ela está procurando.


Nós queremos um guarda-roupa inteiro. O que ela quiser. — A voz de
Sean é firme, mas sinto o calor da mão dele nas minhas costas.

— Sean, eu não posso... — Eu olho para ele, não tenho certeza


do que ele espera que eu encontre aqui.

— Você deve se vestir como se sente. Você não é de bolinhas e


fofa nesse momento. Você é durona. Uma sobrevivente. Você é alguém
com quem não deve se meter. A sua gravidez não muda isso. O que você
usaria se não estivesse grávida?

Eu sorrio. Sean muda para o modo formal às vezes, como se


estivesse na escola preparatória. — Eu não sei. Preto. Couro. Botas
altas na coxa. Um casaco grosso. Nada brilhante. E não isso. — Eu
aponto para a roupa de Bella.

Bella desliza a língua sobre os dentes, revelando uma barra de


prata antes de rir suavemente. — O que mordeu sua bunda, querida?
— Ela olha para Sean e abaixa seus cílios falsos e sorri com aqueles
enormes lábios pintados. — Oh, certo. Eu ficaria fora de forma
também.

Sean dá a Bella um olhar que a faz se retirar atrás do balcão,


mas eu não quero que ele me defenda. Algo dentro da confusão
nebulosa da minha mente se acende. — Ouça. Eu entendo, eu
simplesmente não estou nisso...

— Estilo de época? — Bella diz com certeza, seu pescoço longo e


seu queixo para cima. Orgulhosa.

— Não, castores. Você pode usar toda aquela roupa de Leave it


to Beaver3 como cartão de visitas, mas não é isso que eu quero. — Eu
me sinto mal-humorada. Acho que os hormônios da gravidez estão me
deixando mal, mas eu não estou totalmente certa desde que Sean está
reprimindo um sorriso.

Bella bufa. Toca a mão no seu cabelo. — Então o que você quer,
Barbie? Porque eu não estou aqui para brincar de se vestir com a
versão grávida da Rainbow Brite4.

Eu ri. Alto e forte. Isso me faz estremecer e colocar a mão na


minha barriga. Eu olho para Sean: — Alguma coisa?

— Vá em frente. — Ele recua e se ergue no balcão, com as


pernas penduradas na borda. — Couro, camurça, tricô, renda, o que
você quiser, ela pode fazer.

Um sorriso se derrama em meus lábios. Há uma dor estranha,


como se eu não usasse esses músculos há muito tempo. Eu esfrego as

3Leave it to Beaver — Um programa de televisão dos anos cinqüenta que retrata uma
família perfeita que vive no subúrbio.
4Rainbow Brite — Série animada de TV. Retrata uma menina chamada Wisp que é

levada para uma terra incolor. Para trazer cor de volta à terra, ela deve encontrar a
Esfera de Luz.
palmas das minhas mãos e vou até Bella: — Vamos lá, Mary Poppins5.
Vamos fazer com que essa mamãe se sinta mais como ela mesma.

Bella me olha, seus lábios em um sorriso torto, antes de olhar de


volta para Sean. — Vai te custar, Ferro.

Ele levanta a mão, acenando para ela. — Eu não esperaria


menos de você.

5 Mary Poppins — Filme americano de 1964. Uma babá de origem desconhecida que
chega à casa da família Banks, onde é dado o encargo dos filhos Banks e lhes ensina
lições valiosas com um toque mágico.
Capítulo Quatro
TARDE DE DOMINGO

É estranho como as roupas podem fazer você se sentir como


você mesma. Ou outra pessoa. Alguém completamente diferente. A
porcaria feliz das lojas de maternidades me estrangulava. Não é que eu
não esteja animada com os bebês. Eu estou. É só que eu não sei como
viver essa vida em que fui empurrada. Há uma parte minha
permanentemente danificada e não tenho ideia do que fazer com ela.
Mas não a isso de levantar a cabeça e vomitar em bolinhas cor-de-rosa
e babados. Quem decidiu que todas as mulheres grávidas queriam
parecer redondas e fofas, é insano.

Isso é um milhão de vezes melhor. Mais eu. Uma mistura de


passado e presente. Escuridão e luz. No começo eu estava hesitante,
mas, Bella fez algumas sugestões. Tome isso aqui, deixe isso de fora.
Combine este tecido com este fio metálico. Estou viciada. Eu não sabia
que a roupa podia ser tão personalizada. Não é só isso — colocar esses
sapatos com esta saia. — Não, minhas roupas são tão diferentes quanto
a emo Betty Crocker6 de Bella.

Algumas alterações depois, e encontrei meu novo visual.


Libertador, bonito e alegre. Bella alterou algumas peças enquanto eu
estava em sua loja. Minha favorita, a que eu estou usando agora, era
um espartilho cromado preto e comprido. Originalmente se estendia do
busto ao quadril, mas Bella o cortou acima da cintura, abaixo do busto,
logo acima do volume do bebê. Outras coisas foram feitas para

6Betty Crocker - é uma personagem de marca e fictícia usada em campanhas


publicitárias de comida e receitas.
aumentar o conforto ao meu corpo em constante mudança. Ela
substituiu a armação de metal por plástico, adicionou grossos painéis
elásticos nas laterais e cortou parte do tecido rígido. Esses painéis
flexíveis estão escondidos pelos meus braços, mas a mudança de
textura nas laterais também é interessante de se ver. É bonito. De uma
maneira foda.

Bella fez a curva do espartilho mais fácil para o meu corpo. Eu


não me sinto esmagada como foi da última vez que usei um desses.
Finalmente, Bella acrescentou uma costura rígida na bainha para que a
armação de plástico não espetasse os bebês. Ela puxou as tiras de
couro usadas para atar a parte de trás do espartilho e substituiu-o por
uma fita de prata metálica. Dois pedaços de renda foram pregados nos
ombros, formando uma capa no topo de cada braço. Sem babados.

O jeito que ela fez essa roupa vai me servir até eu ter os bebês e
depois. Ela também disse que um espartilho vai servir bem depois que
eles nascerem, então eu pedi um de cintura longa para mais tarde.

Bella enfia um lápis atrás da orelha e puxa a fita métrica ao


redor de seu pescoço enquanto ela observa sua criação. Há um sorriso
de reconhecimento em seus lábios como se ela já soubesse o que vou
dizer. Há um tom confiante em sua voz quando ela pergunta: — Bem?
O que você acha?

Estou descalça em seu quarto dos fundos usando o espartilho


modificado com uma saia da linha A que se alarga acima do joelho. Há
um par de All Stars cinza e branco na cadeira atrás de mim, do tipo que
amarra da panturrilha até o joelho. Há uma longa faixa de prata na
parte de trás do calcanhar. Ele brilha levemente.

Pressionando meus lábios, reprimo um sorriso quando olho no


espelho, depois nos tênis. A mulher no espelho não é a antiga eu. Ela
não é a Avery que nunca conheceu Sean. Aquela garota se foi. Ao
mesmo tempo, ela não é a nova eu também. Eu caí em algum lugar no
meio. É — Grávida Avery — com uma pitada de escuridão e uma pitada
de glitter. Eu sou um unicórnio da gravidez emo. O pensamento quebra
o sorriso no meu rosto.

— Porra, sim. Fizemos isso. — Bella levanta as mãos no ar e


depois se encaixa.

De má vontade, eu aceno. — Sim, tudo bem. Você acertou em


cheio. — Um olhar no espelho e eu quero mais. Isso é incrível. Eu torço
na cintura e não estou presa. A roupa se move comigo. Eu posso me
mexer! E... isso, eu corro meus dedos sobre o top espartilho, traçando o
tecido escuro liso. — Eu amo isso.

Bella grunhe com aprovação. — Bom, então vamos cuidar do


resto. Só porque você está grávida não significa que você precisa ignorar
tudo isso. — Ela gesticula em direção ao meu traseiro.

Eu olho para a saia que está escondendo minha enorme


calcinha, franzindo a testa. — Ninguém faz calcinha bonita para
gestante.

— Eu faço. — Sua sobrancelha escura sobe de um lado


enquanto ela cruza os braços sobre o peito. Ela suspira e levanta um
dedo, apontando para a calcinha embaixo da saia. — E você vai
queimá-las assim que eu pegar a minha calcinha para você.

— Se elas puderem lidar com a barriga e a minha bunda sempre


crescente, com certeza. Mas se elas não ficarem firmes e rastejando por
todo o lugar... Eu estou fazendo uma careta enquanto revivo alguns
itens sensuais que Sean me comprou antes dos bebês entrarem em
cena.

Bella zomba: — Nada vai rastejar sobre você, a menos que você
queira. Então, borboleta, sem costura, retirar, rápido?

— O quê? — Eu olho para a mulher como se ela tivesse duas


cabeças.
— Oh, meu Deus. — Bella aperta a ponte do nariz por um
segundo antes de respirar fundo e, em seguida, olhando para mim com
um sorriso demente. — Eu vou fazer muita coisa para você.

Erguendo um dedo, abro a boca para dizer-lhe que essa função


supera a forma, mas ela me interrompe.

— Eu sei. Conforto e função são imperativos.

Depois disso, voltamos para a sala de suprimentos, onde ela


usava pedaços de tecido em um milhão de tons de preto a cinza escuro.
Eu aponto para alguns e, em seguida, ela pega mais algumas bobinas
de tecido abaixo do balcão. Enquanto as empilha em seu espaço de
trabalho, ela pega um pedaço de couro, pega suas tiras e corta um
pedaço. Algumas medições depois e eu estou usando uma saia de
couro. É de cintura alta por isso esbarrou no topo do espartilho. Ela
puxa um par de Mary Janes7 com dedos de ponta de prata e desliza
meus pés neles.

— E os All Stars? — Eu pergunto.

Bella dá de ombros. — São para quando você não suportar a


ideia de amarrar isso.

Olhando para o meu sapato prateado, torço de um lado para o


outro. Um sorriso se derrama em meus lábios. Perfeição. As roupas
combinam com o meu humor. Eu posso me mover. Eu posso respirar.
Eu me sinto escura e leve. Talvez um pouco brilhante. E tudo bem.

7Mary Jane — Também conhecida como sapatos de boneca.


Capítulo Cinco
Os dedos de Sean estão entrelaçados nos meus enquanto
caminhamos pela rua. ‘Grávida gótica chique’ e um ferro. A vida como
deveria ser. O espartilho deixa meus peitos tão altos que faz meu corpo
parecer super curvilíneo. Eu me sinto como uma deusa mesmo que
esteja esticada e tenha uma barriga redonda para frente. A saia cobre
os gêmeos, mostrando-os em vez de escondê-los com babados ou
pregas. Deixei meu cabelo solto, longos cachos escuros pendurados nas
minhas costas.

Sean me olha, aperta minha mão antes de dizer: — Você parece


se sentir um pouco melhor.

Eu concordo. — Eu estou. Obrigada. Fiquei um pouco


preocupada quando fomos lá pela primeira vez.

Ele ri. — Eu sei. Eu vi seu rosto.

Eu bato com meu ombro, mas ele não se move. O homem é uma
parede de músculo. Reprimindo um sorriso, eu aperto sua mão com
mais força, agito seu braço um pouco. Então eu me inclino e sussurro:
— Eu não posso acreditar que você ainda pode me surpreender.

— Eu não posso acreditar que você não pode acreditar. — Sean


ri. É aquele rico som profundo que me faz querer enrolar nele e nunca
me soltar. — Nós tendemos a chocar o inferno um do outro.

Eu bufo. — Boa gramática, Sr. Ensino médio. Então, o que você


fez enquanto Bella estava costurando essa roupa?

— Eu fui fazer compras para mim mesmo, fiz algumas ligações.

— Ligações? — Paro de andar e fico no meio da calçada da


cidade. O sol está se pondo e está ficando frio.
— Essa é a parte que você quer perguntar? — Sean para,
virando-se para mim, enquanto ele esfrega as mãos para cima e para
baixo nos meus braços. — Mesmo? Você não quer perguntar se eu me
envolvi com os casais de orgia? Ou o que eu comprei?

Eu sorrio para ele. Seus olhos não se perdem. Já reparei. Eu


gosto deles. — Você se juntou a eles?

Seus olhos de safira perfuraram os meus. — Não. Eu tenho


exatamente o que eu quero.

Engolindo em seco, eu aceno. Meus dentes roçam meu lábio


inferior, sentindo que mais está vindo quando começamos a andar
novamente, seus dedos se entrelaçam com os meus. — E os
telefonemas?

Ele balança nossas mãos enquanto um sorriso brincalhão se


espalha em seu rosto. — Para a Dra. Liz.

Eu paro de repente, balançando-o para me encarar. — Por quê?

— Eu queria ver se seria seguro para você fazer certas coisas.


Recebi orientações, garantias e instruções específicas. A médica me deu
o número do celular dela também.

Eu franzo a testa para ele, sentindo minhas bochechas


esquentarem. — O que você pediu a ela que faria com que ela lhe desse
o seu número?

Ele encolhe os ombros. — Nada. Eu fui completamente honesto.


— Ele se inclina para frente e pressiona seus lábios no meu ouvido,
sussurrando o que ele disse a ela — as coisas que ele quer fazer comigo.

Com o queixo batendo, eu dou um passo para trás e dou


risadinhas, empurrando-o no peito e, em seguida, me virando para ir
embora quando palavras sem sentido saem da minha boca. Eu fico
boquiaberta com ele. —Você disse aquilo! A ela?

Ele concorda. — Por que não?


— Por que! — Eu empurro seu peito novamente.

— Seu rosto está vermelho brilhante, fodona. Você está


envergonhada? — Sean ri enquanto seu olhar varre sobre mim,
absorvendo minha reação.

— Não! — É uma grande mentira. Eu estou morrendo por


dentro. Eu quero cobrir meu rosto e me esconder debaixo de uma
tampa de esgoto. Talvez depois de fazermos as coisas que ele
perguntou. Eu olho para ele entre as pontas dos meus dedos. — Bem?

Sean ri, os cílios escuros se abaixando enquanto ele me examina.


Quando ele se aproxima de mim, descansa as mãos na minha cintura,
— Bem, o que, senhorita Smith?

O sorriso no meu rosto é tão grande que vai engolir a minha


cabeça. — Você sabe o que! Diga-me o que ela disse.

As pessoas ao nosso redor param e olham. Um flash da câmera


dispara quando um paparazzo rouba uma foto nossa. Ele não corre
dessa vez. O cara permanece como estava, mas sua câmera está em
seus olhos, pronta para pegar outra foto caso o momento apareça.

Sean dá a ele a foto, deixamos o cara fotografar. Sean se inclina e


beija minha bochecha. Seus braços em volta da minha cintura, as mãos
descansando na minha barriga. Aqueles lábios quentes e deliciosos
pressionaram minha bochecha. Minhas mãos estão em cima das dele,
cílios abaixados, rosto ainda carmesim. O pouco de vento que sopra
levanta meu cabelo e o flash se apaga. Quando eu olho para cima, o
cara com a câmera se foi.

Eu olho para Sean. — Você fez isso de propósito.

— Eu não fiz tal coisa. — Ele está tão perto que eu posso sentir
seu calor. Estamos cara a cara em uma calçada da cidade. Mesmo que
haja pessoas por perto, parece íntimo.
— Sim, você fez, — eu insisto. Sean está sem fôlego agora. Se
aproximando do meu rosto, seus olhos se encontraram nos meus
lábios. — Você deu a ele essa foto.

— Talvez. Talvez eu quisesse. — Aqueles olhos azuis se


levantam e encontram os meus. Ele levanta uma sobrancelha e
confessa: — Recuso-me a usar um pau de selfie.

Eu bufo uma risada, pressionando minhas mãos na minha


barriga. Lágrimas se formam nas bordas dos meus olhos quando sinto
um pequeno pé roçando minhas costelas. Eu finalmente sorrio para ele
novamente. — Então me conte. O que ela disse?

Sean se inclina para perto. — A médica disse que sim.

Desta vez, o rubor se espalha para consumir todo o meu corpo.


Capítulo Seis
Nós voltamos para a cobertura. Estou me sentindo melhor do
que o habitual, menos como uma pessoa maluca. Espero que não
acabe, por isso tento viver o momento e não pensar em mais nada.

Sean cuida do jantar, trabalhando na cozinha. O cheiro enche o


lugar, finalmente me alcançando de volta no quarto onde estou sentada
em uma cadeira de couro, lendo um livro. O cheiro me atrai. Eu tirei os
sapatos e meias, mas ainda tenho o meio espartilho e a saia.
Caminhando pelo corredor, encontro Sean na cozinha com um avental
bem apertado em torno de sua cintura estreita, segurando uma panela.
Ele inclina para o lado, derramando o conteúdo sobre uma camada de
macarrão.

Minha boca está cheia de água. — Oh meu Deus, isso é o que eu


acho que é?

— Fettuccini e scaloppini de vitela. Só para você. — Ele levanta o


olhar e segura o meu, um sorriso se espalha em seus lábios. — Além
disso, uma pequena garrafa de bebida adequada para gestante.

— Realmente? — Ele acena, apontando para uma bolsa no


balcão enquanto prepara a comida.

— Cheira tão bem. — Eu quero lamber a panela agora. Eu abro


o saco de papel marrom no balcão e olho para dentro. Há uma garrafa
rosa brilhante. É uma mini garrafa de champanhe. — O que é isso?

— É uma cidra de maçã espumante rosé não alcoólica.

— Onde você a encontrou? — Eu tento abrir a garrafa e não


consigo, então eu apenas caminho até a mesa e a deixo lá.

— Isto é Nova York. Você pode encontrar qualquer coisa, se você


procurar. — Sean leva dois pratos de comida, o avental ainda amarrado
na cintura. Ele parece tão bom e eu não estive com ele por um tempo.
Sinto falta da sensação de sua pele sob minhas mãos. Ele olha para
mim. — Sente-se.

Eu praticamente tenho um orgasmo sobre a comida. É leve e


deliciosa. Curiosamente, a sidra é perfeita com a refeição. Sean também
tem uma, pulando seu uísque habitual. Quando terminamos de comer,
ele me observa, seus olhos mergulhando no topo do espartilho. — Isso
é confortável? Estou surpreso que você não tenha tirado isso
imediatamente.

Eu arranco um pedaço de pão e coloco na minha boca.


Assentindo, confesso: — Sim, eu não achava que seria capaz de usá-lo
assim. É como um sutiã esportivo, mas tem mais apoio. Levanta em vez
de suavizar. — Eu sorrio e olho para ele. —Eu amo isso. Este foi um
grande presente. Obrigada.

— Eu comprei outra coisa para você hoje. — Ele levanta uma


sacola com o logotipo de Bella. Coloca na mesa.

Eu pressiono meus lábios e levanto os olhos para encontrar os


dele. Coração batendo, eu pergunto: — É sobre isso que você perguntou
à médica?

— Sim.

— E você quer fazer isso hoje à noite?

Ele se inclina para frente, intenso e pega minha mão. — Se você


quiser.

A verdade é que não sei o que quero. Estou com fome. Eu não
queria fazer algo em que eu o desconsiderasse por acidente. De repente,
estou olhando para a parede, evitando o olhar dele.

— Avery, diga-me. — Suas palavras são gentis. Um convite.

Levantando meus cílios, olho de volta para ele e confesso. O


redemoinho de emoções é tão imprevisível. A raiva. A fúria. Não foi
embora. — Eu não quero machucar você ou o bebê. Eu não quero
perder o controle porque não sei o que vou fazer.

Ele balança a cabeça lentamente, juntando os dedos. Observa,


considera suas palavras e diz: — Olhe na sacola e depois me diga sua
resposta. Podemos encontrar outra coisa para fazer. Ou você pode
escolher isso. É sua decisão. Eu não vou te empurrar.

Hesitante, pego a sacola e a puxo para mim. Eu a alcanço e sinto


várias sensações — seda, couro, madeira. Eu pego os itens um de cada
vez e os coloco em minhas mãos. Algemas de couro com correntes. Fitas
de seda. Uma venda suave. Um espanador de penas feito com uma
suave penugem. Pó cintilante. E um pacote de correias. O ponto entre
as minhas pernas está quente só de falar sobre isso.

Respirando com força, eu balancei minha cabeça. — Eu não


acho que posso deixar você me amarrar agora. Isso vai me deixar pior.
Eu vou...

Sean se inclina para frente, pega minhas mãos sob as dele. —


Não. Você não. Eu.

— O quê? — Eu pisco para ele como se não pudesse acreditar no


que ele está oferecendo.

Ele pressiona os lábios e separa as mãos antes de colocá-las na


mesa. — Qualquer coisa que você quiser. Você está no controle. Use-
me do jeito que quiser, Avery. — A voz de Sean está presa entre um
sussurro e um pedido.

Há um silêncio ensurdecedor que devora a sala. De repente,


estou ciente dos meus dedos, das minhas mãos e do jeito que minha
pele se arrepia como se estivesse congelada. Esta oferta é extremamente
diferente de Sean. Com base em tudo o que ele me disse, essa é uma
oferta que ele nunca teria feito quando nos conhecemos. Mas,
entretanto, muitas coisas mudaram desde então.
Limpando minha garganta, abaixei meu garfo e peguei minha
cidra borbulhante. Segurá-la entre nós me faz sentir como se eu tivesse
um pouco de segurança. Embora eu saiba que estou pisando em
território desconhecido, e é tanto assustador como sedutor. O clique do
meu garfo no topo da mesa parece ecoar.

Nervosamente, eu mudo na minha cadeira e olho para ele através


dos meus cílios enquanto pergunto baixinho: — Eu não entendo. Pensei
que você precisava estar no controle. Eu pensei...

Sean me corta respondendo com um sorriso hesitante, como se


ele estivesse incerto sobre essa conversa. A prepotência, a arrogância
que endireita sua espinha e faíscas em seu olhar se foi. Limpando a
garganta, ele abre a boca e fecha. Cabeça inclinando para o lado, ele
começa de novo, mas não saem palavras. Há um flash de sorriso, de
dentes brancos e retos, antes dele balançar a cabeça.

Estendo e pressiono a minha mão na mesa. Eu não consigo


alcançá-lo. Estúpida mesa extra longa. Constance não quer ninguém se
tocando em jantares de família. Esta mesa é do tamanho de uma cama.
Enquanto estamos sentados em frente um do outro, em vez de nas
extremidades, ele ainda não está perto o suficiente para tocar com mais
do que a ponta dos meus dedos. Seus olhos se fixam no movimento,
olhando para a minha mão.

Eu respiro: — Você pode me dizer. Qualquer coisa. — Meus


dedos estão lá, apenas fora do alcance da mão de Sean.

Ele se inclina sobre a mesa, aproximando-se de mim e pressiona


a mão sobre a minha. — Eu sei o que eu disse no passado.

— Isso mudou? — Minha sobrancelha sobe, esconde-se sob a


franja encaracolada que está enorme e não mais lisa. A sala parece
estar se inclinando, então eu me movo com ela, inclinando a cabeça
para o lado, tentando pegar o olhar dele, mas ele não olha para cima.
Não há palavras. Apenas respirações irregulares e o som do meu
coração batendo em minhas costelas. Ela se estende por quilômetros,
medindo a distância entre nós. Fazendo com que eu me sinta um
milhão de milhas de distância. A culpa me atormenta por deixá-lo
sozinho por tanto tempo. Sean oferece aconchego, abraços, fricções nas
costas, tudo que eu poderia pedir e muito mais. Eu não pensava nele,
não com isso. Não com sexo. Eu assumi que tinha que dar uma pausa
por um tempo. Era uma suposição estúpida composta por letargia e
enjoo matinal. No entanto, Sean ainda sorri para mim, segura minha
mão e age como se a intimidade não tivesse nos deixado. Eu engulo em
seco quando percebo e isso é minha culpa. Eu deveria ter dito a ele.

A pequena voz dentro da minha cabeça toca minha mente. Fale


com ele. Pergunte a ele. Esteja lá por ele. Você não precisa deixá-lo
sozinho.

Antes que eu possa falar, os lábios de Sean se separam. Ele


confessa tão baixinho que mal posso ouvi-lo. — Nada mudou a esse
respeito. — Lentamente, ele levanta a cabeça, seu cabelo escuro caindo
para a frente em seus olhos. Ele o afasta enquanto seus olhos azuis se
fecham nos meus. Eles se alargam como se ele tivesse percebido alguma
coisa. Ele corre até a beira da cadeira, aproximando-se de mim e estica
o braço sobre a mesa, para que ele possa esfregar o polegar nas costas
da minha mão. Seu toque permanece, a pele áspera em seu polegar
girando um padrão na parte de trás da palma da minha mão.

— Eu mudei. — Uma confissão. Sua testa se contrai quando ele


tenta dizer as palavras enterradas profundamente dentro. — Eu era
uma pessoa diferente quando conheci você. Eu precisava daquele medo,
daquele lampejo de pânico de você.

— E agora?

Ele sacode a cabeça. — Não. Quero dizer, ainda é inebriante


estar com você, dominar seu corpo nessa capacidade... — sua voz se
esvai. — Uma parte minha ainda está chocado que isso tenha
acontecido.

Eu sorrio para ele. — Eu também.

Sean inala profundamente e puxa as mãos para trás, coloca-as


nas laterais da cabeça e passa os dedos pelo cabelo, afastando-o dos
olhos. Quando suas mãos alcançam seu pescoço, elas permanecem lá.
A pose é aberta e completamente vulnerável. — É só que eu preciso de
você. Eu sei que haverá momentos em que você não pode — que não
podemos estar juntos. E eu vou proteger você e as crianças com todo o
meu ser, Avery.
Capítulo Sete
Eu não consigo evitar. Eu sorrio tão alto que me sinto uma
idiota. A potência é aumentada para olhar para a intensidade do sol
enquanto minha alma irradia com amor e orgulho. O fato de ele poder
confessar alguma coisa para mim está a quilômetros de onde
começamos. Mas isso. Este é um daqueles raros momentos em que o
tempo passa devagar e a escolha que faço aqui mudará minha vida.
Nossas vidas. Eu considero isso. Sinto isso.

Eu tenho dificuldade em não falar sobre ele, dando-lhe tempo


para dizer o que ele quer, sem interrompê-lo, então eu mordo meu lábio
inferior e ouço.

— Eu pensei muito nisso, Avery. Desta forma, os bebês estão


seguros, e você pode... Ele engole com tanta força que o pomo-de-adão
se desloca em sua garganta. Sean puxa as suas mãos para trás.

Eu a seguro, entrelaçando meus dedos entre os dele,


pressionando minha barriga na borda da mesa. Eu não vou deixar isso
passar. Nós não estamos juntos há algumas semanas. Ele não me
pressionou em nada. Eu estava esperando a médica dar permissão. Eu
não queria colocar o bebê em risco. Bebês. Eu ainda não consigo
entender que existem dois bebês. Inalando profundamente, eu o libero
— eu posso o quê?

Há um silêncio como se estivéssemos nos aproximando de um


assunto que ele não quer desvendar. A força de suas mãos é quente. Ele
aperta uma vez e me libera. Ele levanta. Anda até a cozinha, falando por
cima do ombro. Seus lábios se curvam em um sorriso constrangedor.
— Deixa pra lá. Não é a hora certa para isso.

O inferno que não é. Eu pulo da minha cadeira e sigo descalça


pelo chão, em seus calcanhares. — Você não sabe disso. Pergunte-me.
Diga, Sean. — Há um tom exigente na minha voz. Não é desespero nem
nada disso. É o argumento de um parceiro querer apoiar o outro. Por
mais que eu tente, não consigo entender onde esta conversa está indo.
— Sean?

Ele não se vira. — Não é nada.

— Não faça isso. É algo importante. Eu não estou brava, ainda


não. Conte-me. Eu não vou julgar. — Não pode ser mais estranho do
que as coisas que já fizemos. Embora eu não consiga entender o que ele
quer fazer comigo que não arrisque os bebês e ainda seja sexualmente
satisfatório para ele — para nós. Houve um elemento de perigo em
muitos dos nossos encontros. Desde que lhe contei sobre a gravidez, ele
não abordou o assunto de tanques ou caixas. Parte de mim está feliz.
Mas, de certa forma, é triste.

Quando Sean não responde, eu insisto: — Eu quero que você me


queira. Eu sei que isso não é exatamente sexy, — eu esfrego a mão
sobre a minha barriga em crescimento, — mas eu...

Ele me rodeia, seu corpo enrolado em tensão e um olhar em seus


olhos que ameaça me devorar. Suas mãos estão no meu antebraço
enquanto seu olhar me fixa no lugar. Suas palavras são afiadas,
apontadas de modo que atingiram diretamente minha alma. — Você é a
mulher mais linda, sexy e sedutora que já vi. Gravidez só fez as coisas
que mais me atraíram para você. Eu não consigo parar de olhar para
você, querendo você. Avery, eu amo a curva aqui, — dois de seus dedos
traçam a linha do meu crescente abdômen, — a maneira como o mundo
sabe que eu te adoro, foda-se, e esses bebês são meus. Você é tão sexy
quanto você já foi. Você é minha.

Suas mãos emaranham no meu cabelo enquanto ele segura


minha cabeça no lugar, certificando-se de que eu olho em seus olhos
enquanto ele confessa essas coisas. Parte disso é carnal, a exibição das
ramificações do sexo, o inchaço dos meus seios e barriga. Há orgulho
brilhando em seus olhos. Toda revista centra-se em meu corpo voltar a
ficar em forma para que ele me queira novamente após a gravidez. Eles
mencionam a pele flácida, esticada e arruinada. A maneira como Sean
está olhando para mim agora, diz outra história.

Há um tremor nos cantos da minha boca. Não sei se devo sorrir


ou chorar. — Você realmente acredita nisso?

Aqueles lábios. Sua boca deliciosa e aveludada fica em um canto,


me dando um lindo sorriso. — Não é uma crença. Essa é a realidade da
nossa situação. — Suas mãos deslizam pelas minhas curvas e
descansam em meus quadris. Seus olhos disparam entre meus lábios e
olhos. Ele vai me beijar e eu vou esquecer o que ele queria me dizer
porque não era isso. Eu o afastei com minhas próprias inseguranças.

Na ponta dos pés, eu coloco minhas mãos em seu peito, através


da camisa preta macia, e pressiono meus seios e barriga contra seu
corpo tenso. Deus, sinto falta dele. — Conte-me. Diga o que quer que
você queria dizer. Por favor.

Eu sinto sua respiração engatar e eu juro que seu coração caiu


de uma escada, caindo a cada batida rápida. Ou talvez seja o meu
pulso, pirando. O que poderia ser pior do que aquele tanque? Ou a
caixa?

Sean me abraça e finalmente confessa o que ele quer. — As


coisas mudam. Eu sei que elas fazem. E na sua condição, não podemos
participar de certas atividades. Então, eu estava pensando que
deveríamos inverter os papéis.

— Eu não entendo. — Eu me afasto um pouco dele e olho em


seu rosto bonito. — O que você quer dizer?

Sean engole em seco como se sua boca estivesse seca. Sua


mandíbula está apertada e é preciso muito esforço para ele liberar as
palavras. — E se você tirar suas emoções de mim? Use-me. Totalmente.
Eu sou seu, Avery.
Quando tento puxar minhas mãos, ele me restringe. Meu olhar
cai para os pratos vazios na mesa. A conversa que tivemos durante a
refeição é totalmente esquecida. Meus olhos saltam das penas para as
sedas, para as correias de couro. Ele quer que eu inverta as coisas.
Amarre-o e seja rude com ele.

Eu sou essa pessoa? Posso atravessar essa linha? Por alguma


razão, acho que não, mas não me lembro disso. Assim não. Não
tomando posse total de Sean e fazendo tudo e qualquer coisa.

O medo sobe em minha garganta porque eu não quero ser suave


com ele. Eu quero a dureza, a brutalidade do amor carnal, crua e sem
sabor. Oh meu Deus. Eu não posso.

Tirando minhas mãos dele, eu balanço minha cabeça. — Não.


Isso não é… — Eu não posso dizer isso.

Sean fica comigo, permanece segurando meu braço, como se ele


estivesse com receio que eu vá correr. —Você não precisa fazer nada.
Avery. — Eu olho para ele quando ele diz meu nome, tirando da minha
mente as imagens dele amarrado. — Foi só uma sugestão. A outra
opção é esta. Ele levanta o pacote de tiras de couro com cordas em dois
pontos.

— O que é isso?

— Um balanço. Eu posso te segurar, abraçar você, gentilmente


fazer amor com você sem machucá-la. — Ele chega para mim, acaricia
sua mão no meu cabelo. — Podemos ter a suavidade. Podemos nos
aconchegar e jogar essa coisa fora. O que você quiser. Eu sinto sua falta
e achei que você poderia tentar.

— Por que parece que você está me empurrando para o caminho


escuro?

Sean se afasta e fala bruscamente. — Eu não estou fazendo você


fazer nada.
— Mas você está. Você está, Sean. Por quê? Eu sinto que você
deveria me dizer. Eu não sou uma boneca de porcelana. Eu não vou
quebrar porque você disse algo ruim. Apenas diga o que quer que você
esteja pensando. — Não é uma discussão. Ainda não. Mas o chão
parece irregular. Como se eu devesse pisar com cuidado.

— Avery, você já está no caminho escuro. OK? É isso aí. Isso é o


que eu vejo. Eu sei porque estive lá, e negar isso só torna mais difícil.

— Então, quer que eu bata em você? É isso que acha que vai me
fazer sentir melhor? Eu não estou com raiva de você! — Minha voz é
alta. Eu estou gritando e não sei porque. Estou com raiva e não tenho
ideia de onde direcioná-la. Não é em Sean, no entanto. Eu sei muito
bem. Ele me salvou. Eu sugo uma respiração irregular e assobio através
dos meus dentes, — Isso é errado.

Sean sacode a cabeça. — Só é errado se nenhum de nós quiser.


Se uma pessoa forçar a outra. Eu sei onde você está e o que precisa. Por
que você não aceita?

Eu balancei a cabeça e me afastei. Envolvendo meus braços ao


meu redor, eu me retiro para a sala de estar. Minha mandíbula está
cerrada, ombros apertados. Estou tão rígida que mal posso respirar. —
Eu não sou ela.

— Quem? — Sean caminha em minha direção, seu olhar


procurando o meu, mas eu não olho para ele.

— Você não pode me obrigar. — Meus olhos queimam, mas as


lágrimas não caem. — Eu não sou ela. Eu não vou me tornar ela.

As mãos se Sean estão nos meus ombros, os dedos no meu


queixo, ele o levanta, então eu tenho que olhar nos seus olhos. —
Quem? Diga o que você está pensando. Conte-me.

— Black. — Eu não percebi o que estava passando pela minha


mente até que saiu da minha boca.

— Black?
— Sim! — Eu me afasto dele, sacudindo-o. — Ela é depravada.
Sexo não é amor para ela. É recreação, intimidação, manipulação e
milhões de outras maneiras de esmagar alguém. Eu não sou ela. —
Minha coluna se endireita quando olho nos olhos dele. — Eu não vou
me tornar ela.

O silêncio enche o ar. Sean continua distante e coloca as mãos


nos bolsos. — Eu nunca pensei que você fosse como ela. Vocês duas
são incomparáveis. Eu não percebi que você estava preocupada com
isso.

Nem eu. Olhei para ele pelo canto do olho e reprimi um arrepio.
Há uma onda de pensamentos queimando no meu cérebro. Eles estão
tão perto de derramar pelos meus lábios. Braços apertados em volta da
minha cintura, eu olho para ele. — Você deixou alguém fazer algo
assim com você antes?

Ele acena com a cabeça uma vez.

— Quem? — Eu me arrependo de perguntar, mas a questão já


está fora da minha boca.

— Não é Black, se é isso que você quer saber. Foi há muito


tempo. Foi brutal. Não havia amor lá. Não é assim, não é como o que eu
estou te oferecendo. — Sean segura meu olhar por um longo tempo e
depois olha para o outro lado.

Ele se vira para o sofá e cai nas almofadas, sentando-se


rapidamente, antes de apertar a ponte do nariz. — Eu tenho um
passado, Avery. Eu não posso apagar isso.

— Eu não quero que você faça. — Estou sozinha no meio da


sala, observando-o.

Sean se arrepende de sugerir isso. Eu posso dizer. Ele acha que


me empurrou longe demais, me pedindo para fazer algo que eu não
tinha vontade de fazer.
Meus lábios se separam e eu tento dizer isso. Não posso vê-lo se
culpar assim. Eu cuspo as palavras sem pensar, não querendo admitir
para mim mesma. Dizê-lo em voz alta faz com que seja real. Eu sinto
isso quando as palavras são forçadas do meu corpo e pairam no ar. —
Isso me intriga. Você não está errado. Sexo, assim. Sendo o único no
controle. A crueza carnal disso. Misturando prazer e dor. — Eu engulo
em seco e respiro as palavras: — Você não está errado.

Aqueles olhos de safira olham para mim. Sua resposta é uma


palavra, uma reprimenda. — Não.

— Eu não sou, — eu digo de volta, ofendida. — Cravar minhas


unhas nas suas costas não é o suficiente às vezes. Às vezes, eu quero
fazer mais. — Eu fico ali como uma garota abandonada em uma ilha,
confessando algo perverso ao vento. Minha garganta está tensa
pensando nisso. Colocando os pensamentos em imagens em minha
mente e, em seguida, expressando-as em palavras.

É real agora. Esse desejo. E ele sabe. Ele conhece. Por quanto
tempo? Não importa.

Há uma pausa. Sean faz uma pergunta cuidadosa: — O que você


quer fazer comigo? O que você imaginou?

Eu dou de ombros e torço minhas mãos na minha frente. — Eu


não sei exatamente. Só sei que não é o que estamos fazendo. Eu me
sinto apática. É irritante. Eu só quero... Estou olhando para ele, para o
seu rosto bonito, e pensando nas coisas que eu faria se ele estivesse
amarrado. Sean Ferro à minha mercê. A aspereza que uma vez me
aterrorizou é atraente. Ele está me chamando e eu tenho negado
ferozmente. Mas não é assim que uma mãe age. Não é quem eu sou,
quem eu era. Dividida entre permitir que essa parte de mim se solte e
empurrá-la de volta para baixo, eu olho para ele. Perdido em seus
olhos. Totalmente perdido.

Um nervosismo passa por mim. O desejo inato é tão conflitante


que falar sobre isso me deixa desconfortável. Colocar algo em palavras
torna isso real. Mas ele já sabe. Ele vê isso, embora eu mal tenha
admitido isso para mim mesma.

Depois de um momento, com os olhos no chão, eu engulo em


seco e acrescento: — Você não vai pensar menos de mim?

Sean está do outro lado da sala e na minha frente. Há uma onda


de ar ao redor dele como se ele estivesse caindo em minha direção. De
repente ele está lá, enchendo o espaço, fazendo meu coração bater mais
forte.

Embora esteja perto, ele ainda não me toca. O espaço entre nós
se enche com o perfume de sua colônia. Algo que é inconfundivelmente
intenso, sombrio e sedutor. Como Sean. Eu sinto seus olhos em mim
quando ele pergunta: — Você pensou menos de mim por ser tão brutal
com você às vezes?

Eu balancei minha cabeça e tentei ignorar o aperto na minha


garganta. Veias de vulnerabilidade saem do meu coração e da minha
teia de aranha, através da minha fachada cuidadosamente construída.
Meu ombro levanta um pouco. Dou uma encolhida de ombros, como se
esses momentos não fossem aterrorizantes no começo. Enfiando uma
mecha de cabelo atrás da minha orelha, confesso: — Não, eu não
pensava menos de você. Foi assustador e atraente. Emocionante de
certa forma. Eu não sei como descrever isso. No começo, eu não queria.
Mas agora... — Eu engulo em seco, recusando-me a encontrar seu
olhar. As fissuras que eu criei cuidadosamente sobre meu segredo estão
prestes a se libertar.

Mais próximo. De alguma forma, ele está mais perto, mas não
está me tocando. Nariz a nariz, como inclinar-se para um beijo, sua voz
é um sussurro. — Então, o que está te segurando?

As palavras são tão cruas, tão cerradas que me rasga a garganta


quando as forço sair. — Eu não sei.
Se eu disser a verdade, não posso voltar atrás. Eu tenho que
admitir que esta parte de mim, a parte escura, a raiva — está lá e eu
deixo isso assumir. Parece um fracasso, mas não importa o quanto eu
afaste os sentimentos, eles continuam voltando.

Ficamos cara a cara, olhando um para o outro. Nenhum de nós


fala. A tensão entre nós está amarrada como um elástico prestes a
arrebentar. Quero as mãos dele em mim, quero sentir a força do seu
toque junto com o calor possessivo. Eu não quero a suavidade, por
favor, e obrigada por isso. Quero senti-lo tomar o meu rosto entre as
palmas das mãos para que eu possa fazer o mesmo. Quero inclinar seus
lábios para os meus e enroscar meus dedos pelos seus cabelos, puxar
com força e controlar o beijo. Uma ferocidade que eu não reconheço
arde dentro de mim. Desejo de devorá-lo inteiro e tirar tudo o que eu
quero dele.

Meus cílios abaixam, abanando minha bochecha, enquanto tento


permanecer no controle. Acalme-se. Mas pensando em seus lábios e no
jeito que eles travam no meu. O gosto da boca dele. O jeito que eu
poderia pressionar suas costas contra a parede e pressionar meu corpo
contra ele. O pensamento desse beijo quente está me consumindo. Não
há parte de mim que não responda quando ele está tão perto, a um
sopro de distância. A batida constante do meu coração aumenta
quando meu corpo aquece. O que eu faria com ele? Se ele estivesse
realmente vulnerável, incapaz de escapar — isso é realmente atraente
para mim?

Quando cito as palavras, estou quase rindo do absurdo da minha


declaração. — Eu não sou dominadora.

— Ninguém está pedindo para você ser. — Sua voz é profunda,


rica e absolutamente sincera. Ele quer me libertar. Eu sinto. A maneira
como ele me observa, a maneira como seus olhos me perfuram, torna
essa verdade inegável.
Algo profundo dentro da minha alma clama por ele em um nível
feroz e isso me assusta. Não, é mais que medo. Isso é aterrorizante. O
pensamento rouba minha respiração e causa arrepios na espinha. Eu
não sei o que fazer com essa ânsia grotesca que nunca tive — então eu
fingi que não estava lá. Mas de pé aqui agora, sabendo que ele não vai
me julgar por isso, percebendo que ele quer essa parte de mim. Isso
muda as coisas.

Se eu acreditar nele. Por que é tão difícil aceitar a verdade? Por


que eu suponho que todo mundo prefere mentiras e palavras bonitas?
Especialmente Sean. Aquele homem nunca foi sobre palavras
açucaradas. Sua franqueza poderia me fazer sangrar se ele escolhesse
soltar sua língua daquela maneira em mim. Mas ele não é. Agora não.
Não com isso. Seus olhos não deixaram meu rosto. O jeito que ele me
procura, como se pudesse ver através da minha pele e no meu coração,
ainda me assombra. Eu não olho nesses lugares. Eu não posso aceitar
isso, então como ele pode?

É quando eu respiro fundo e passo por ele. Eu vou até a mesa e


me sento. Às vezes não há palavras. Mas a culpa é minha. Escondendo
meus olhos dele cria uma barreira entre nós. É muito fina, mas é
melhor do que seu olhar intrigado. Levanto a minha taça e bebo o resto
da minha cidra.

Os olhos de Sean estão em mim, mas ele não diz nada. Depois de
algum tempo, ele se afasta e caminha pelo corredor. O som do chuveiro
ligado alguns instantes depois.

A tensão em volta do meu coração diminui e eu não sei se estou


aliviada ou desapontada.
Capítulo Oito
Na manhã seguinte, nenhum de nós mencionou a noite anterior,
a confissão que quase fiz. Eu não sei dizer se Sean está desapontado ou
aliviado. Estou sentada no sofá de pijamas de gestante que achei que
ficaria bonitinho, mas eles só me fazem sentir perdida. Prendendo meus
lábios, sopro suavemente a xícara de chá em minhas mãos. O copo está
quente e aquece meus dedos frios. Uma cortina de cabelo escuro cai
sobre meu ombro enquanto eu inclino minha cabeça e olho para a
cidade nascente. A luz âmbar cai do horizonte enquanto o sol sobe
lentamente para o céu. A luz desliza sobre a escuridão sombria cheia de
luzes, lançando a cidade em um brilho celestial.

O sono foi evasivo na noite passada. Eu finalmente desisti e


deixei Sean dormir sozinho há uma hora. Ele não me seguiu. É quase
como se ele estivesse me dando espaço, tempo que eu não pedi — não
tenho certeza se preciso disso. Ele é irritantemente astuto às vezes.
Como as roupas de gestante e a parte escura de mim que está sugando
o brilho das minhas veias.

Talvez eu não queira admitir que parte de mim se foi. A garota


com uma pipa rindo na praia. A garota que não usava casaco para
deixar o frio penetrar porque queria sentir alguma coisa. Agora sinto
tanto que estou tentando bloquear. Eu não sei como experimentar isso.
Minha vida deu uma volta estranha, uma que eu nunca vi chegando. E
em vez de passar a tempestade para o outro lado, a linha para o meu
lado sombrio estourou e eu voei para o mar.

Colocando meus lábios na borda da caneca, tomo um gole e


saboreio o calor que percorre minha garganta. Uma imagem de Sean no
chuveiro, de seus frascos de sabonete, das coisas que fizemos — como
ele me testou, tudo de uma só vez. Eu reprimo as memórias, tentando
afastá-las. O tanque. A Caixa. O medo que eu senti uma vez foi
substituído por outra coisa. Não sei dizer se é curiosidade ou
retribuição. Estou com raiva. Eu sei disso, mas é assim tão simples?
Que meus desejos sombrios são apenas porque eu quero o retorno de
uma vida que não posso controlar? Pelos tempos em que Sean roubou
pedaços de liberdade.

Algo em minha mente se encaixa, negando, sabendo que esses


pensamentos não são verdadeiros. Eu quero o que quero. Embora raiva
e fúria possa ser parte disso, esses sentimentos não são por causa de
Sean. Então, eu não deveria apontar minha fúria para ele. Certo?

Suspirando, eu coloco a caneca na mesa de café na minha frente


e enterro meu rosto em minhas mãos. Meu cabelo cai ao redor do rosto,
me escondendo do mundo. Qual é o meu problema? Eu já fiz atos
sexuais sombrios com ele. Por que é tão difícil admitir que estou
controlando as coisas dessa vez? Que eu quero dominá-lo na cama. Que
eu quero que a dor e o prazer se misturem agora. Quando Sean se
transformou em um raio de sol? É quase como se tivéssemos mudado
de papéis nesse relacionamento.

— Eu não ouvi você sair. — A voz de Sean está atrás de mim,


ainda grogue com o sono.

Assustada porque estou muito perdida em meus pensamentos,


não percebi que ele estava lá até que ele falou. Ao som de sua voz, meu
coração pula na minha garganta. Minha mão voa para o meu peito
enquanto sugo o ar. Olhando para ele através da parede de cabelos, eu
rio ironicamente: — Você é um maldito gato, às vezes.

Sean se senta com força no sofá ao meu lado. Seu cabelo está
despenteado e os olhos ainda estão pesados de sono. Há uma aparência
de criança perdida no rosto dele no início da manhã que eu raramente
consigo ver. Eu me pergunto se os bebês dentro de mim estarão
acordados como eu no período da manhã ou se vão demorar um pouco
para se livrarem do sono do jeito que Sean faz.
Um sorriso torto derrama em seus lábios, quando ele pega meu
chá. Seus olhos estão olhando para a cidade, quando ele diz em uma
voz rouca e profunda: — Miau.

Um ronco me escapa. É tão inesperado que uma gargalhada


estridente segue. Um sorriso escorre dos meus lábios e desaparece tão
rápido quanto apareceu. — Eu não sei como você faz isso.

Sean levanta uma sobrancelha enquanto engole o chá. Seu lábio


se curva com o gosto antes que ele o coloque de novo. — Acho que
precisamos fazer algo diferente hoje.

Sean nunca bebe chá. Como sempre. Era estranho que ele
pegasse. — Sim? Como beber chá ou você acha que era café?

Ele inala devagar e vira os olhos de safira na minha direção. Uma


emoção explode dentro de mim quando ele olha para mim assim, como
se eu fosse uma deusa e ele não pudesse desviar o olhar de mim. Eu
empurro seu ombro e enrolo cachos do meu cabelo atrás da orelha. —
Pare com isso.

— O quê? — Ele sorri de volta como se não estivesse olhando


para mim com sexo em sua mente. — Eu só estou me perguntando
por que você está vestida toda bonita em vez de usar a renda preta que
você tem de Bella. — Ele boceja e coloca o braço em volta dos meus
ombros, me puxando para ele.

— Há um problema prático com alguns dos pijamas.

— Mesmo? Como o quê?

Descansando minha cabeça contra seu ombro, eu o respiro. — É


difícil ficar bem em couro. Estou sempre com frio, mas à noite tenho
estado muito quente ultimamente.

— Mmmm. É porque você está deitada ao meu lado. — Seus


dedos acariciam meu cabelo enquanto eu sinto um sorriso levantar
suas bochechas.
— Oh, caramba está quente. Chame o bombeiro8. — Minha voz é
suave e provocante.

Sean bufa e me pergunta: — Sério? Você gosta dessa música? —


Ele levanta a cabeça e me examina como se a terrível verdade de ser
vítima de música pop seria a nossa ruína.

—Você ouve Spice Girls quando ninguém está por perto, então
não me julgue.

Ele balança a cabeça lentamente, sem negar. Seu rosto é plácido,


os olhos ainda sonolentos quando ele diz: — Então me diga o que você
quer, o que você realmente quer.9

Eu não consigo controlar. Eu rio tanto que a alegria do momento


dispara através do meu corpo inteiro, me balançando para frente e para
fora do seu abraço. Enquanto eu arrebento uma costela de tanto rir, ele
se fica lá, sereno. Ele me alcança, empurra meu cabelo por cima do
meu ombro para que o emaranhado de cachos repouse nas minhas
costas.

Quando eu finalmente paro de me sufocar com o riso, olho para


ele, mas as risadinhas permanecem. Toda vez que penso nisso, começo
a rir de novo.

A voz de Sean é plana, inexpressiva. — Se eu soubesse que você


reagiria tanto ao meu canto, eu teria me esforçado mais há tempos
atrás.

Eu caio para trás, para ele, permitindo que seus braços me


envolvam. Seu calor me envolve e, nesse momento, não estou dividida,
preocupada ou perdida. Eu sou Avery e ele é Sean. E isso é o suficiente.
Uma calma se instala sobre nós enquanto nos abraçamos e vemos a
cidade reviver nas ruas abaixo.

8 Ela se refere à música Uptown Funk! do Bruno Mars.


9Ele canta a música Wannabe das Spice Girls.
— Eu amo essa vista. — Estou pensando em assistir as estações
mudarem desta janela. O contraste entre o pavimento escuro e a
natureza contida no parque do outro lado é fascinante. Asfalto e flores
vivendo lado a lado, numa estranha harmonia justaposta. Haverá
chamas de laranja e carmesim nas árvores no outono. Uma árvore de
natal com luzes cintilantes no inverno bloqueará a estátua do homem a
cavalo na entrada do parque. Seguido por flores cor de rosa em
cerejeiras na primavera. No verão, tudo será exuberante e verde.

— Eu também. — Sean descansa a cabeça em cima da minha.


Ele estava olhando para mim. Seu olhar desliza sobre meu corpo, as
curvas que crescem mais acentuadas a cada dia.

Às vezes me pergunto se Sean está com medo. Ele viveu essa


parte do casamento e da gravidez antes. Meu humor deve ser
preocupante para ele, mas ele nunca diz nada.

É como se lesse minha mente, porque ele diz baixinho: — Esta é


a minha hora favorita do dia. Está cheio de promessas e vida nova.
Mesmo no inverno, quando tudo é limpo e não há um ponto verde para
ser visto. A maneira como a luz flui pelos prédios, pelas ruas e pelo
parque... — sua voz se esvai e ele encolhe os ombros. — Eu não sei.
Há apenas algo sobre isso.

— Esperança? — Minha pergunta fica no ar e ele balança a


cabeça lentamente, sua barba pegando um pouco no meu cabelo.

— Acho que sim. É estranho.

— O que?

— Eu nunca pensei que estaria aqui, na cidade novamente. Não


por tanto tempo. Com amor. Com uma família. Com uma esposa e
bebês a caminho. Eu pensei que minha chance tinha passado. Eu não
pisei em Manhattan, a menos que eu precisasse.
— Estou feliz que você fez. — Minha mente volta para quando eu
o vi pela primeira vez. Para o dia no cemitério. — A dor torna as vidas
estranhas.

Ele acena algumas vezes. Em seguida, acrescenta: — Abre um


caminho. Eu tive que decidir qual deles seguir. Havia vários para
escolher, alguns que teriam me destruído. Eu pensei que não merecia
isso.

— E agora você faz? — Uma confissão como essa dele é rara.


Estou assumindo que é por causa da noite passada, mas pode ser
porque as coisas estão mudando novamente, para nós dois.

Ele nos move e se afasta para que possa me ver. — Há uma falta
de gratidão em pensar que eu mereço alguma coisa. Não é isso. Não é
que eu mereça isso. Ou conquistei. Inferno, sei que eu não fiz isso. —
Ele sorri com um sorriso torto perfeitamente sexy e passa a mão pelo
cabelo escuro, e depois por cima da cabeça, parando na nuca.

Ele abaixa os olhos antes de mudar seu olhar azul para


encontrar o meu. — A gratidão é uma explicação estóica, caindo
incrivelmente longe de como me sinto por estar aqui agora, com você.
Minha vida foi destruída e eu senti cada segundo disso. Isso me mudou.
Eu dei as boas vindas ao ataque. Eu mereci isso. — Antes que eu possa
dizer a ele que não, ele levanta a mão para me calar. — É o método
presunçoso de se mover pela vida. Culpa e raiva me controlaram. Mas
isso não é o que vejo em você. Aquela conversa que tivemos ontem à
noite — Avery, você ainda tem esperança. Ainda bate no seu peito e
brilha nos seus olhos. Esse desejo inflexível de compartilhar a vida,
você acha que é uma bênção. Você me mudou.

— Eu te coloquei no inferno. — Meu olhar cai para as minhas


mãos enquanto eu entrelaço meus dedos. As memórias de todas as
maneiras que eu o machuquei, passam em um flash inflexível. O nó na
minha garganta aperta.
Sua mão se aproxima, e ele coloca um dedo sob o meu queixo,
me puxando de volta para ele. — Você me libertou do inferno. E farei o
mesmo por você. Eu prometo. Nada que você possa dizer ou fazer me
assustará. Eu não vou a lugar nenhum. — Ele beija minha testa e me
puxa para seu peito, me abraçando.

A tranqüilidade que eu precisava ouvir. O homem tem essa


qualidade inata de saber o que preciso ouvir e quando dizê-lo. É uma
fraqueza que ele possa me ler tão facilmente, mas afastá-lo é a última
coisa que quero fazer.

Acanhada, eu sorrio para ele. É isso que você consegue quando o


velho eu e o novo eu colidem — ruborizo. Eu tento escondê-los, mas não
posso. E isso está acontecendo mais e mais ultimamente. — E se eu te
disser alguma coisa? Algo que eu queria fazer com você.

Essa nova linha de questionamento desperta seu interesse. —


Oh? E o que seria isso, senhorita Smith?
Pressionando meus lábios juntos, eu decido contar a ele. É uma
maneira de ver se eu quero ir lá com ele novamente. Se eu quero ser
aquela que traz isso de volta para a nossa cama. Eu me inclino em seu
ouvido e deslizo minha língua sobre meus lábios, dizendo a única coisa
que vem passando pela minha cabeça desde que ele se sentou. Minhas
bochechas queimam quando confesso, e a boca do meu estômago se
agita com as palavras.
Sean tem um sorriso sereno no rosto e busca manter o olhar
para frente enquanto eu falo. Ele absorve minha confissão e depois de
um momento de silêncio, olha para mim. — Isso é o que você quer?
Dentes?

Meu rosto inteiro queima enquanto me escondo na curva do


pescoço dele. Como se alguém pudesse ouvir. — Sim. E você. Amarrado
à cadeira. E eu. Entre suas pernas fazendo o que eu quiser.
Seus lábios se contorcem e antes que eu possa terminar o que
estou dizendo, posso ver que ele gosta da ideia. Sua cueca boxer abraça
cada centímetro dele, me apresentando um elogio bastante grande. —
Isso soa, bem, você pode ver como soa. — Ele se desloca no sofá,
excitado.

— Mesmo?

— Avery, — ele olha para mim com um sorriso incrédulo em seus


lábios. Ele puxa os cantos tão ligeiramente, não em risos zombeteiros,
mas em espanto. — Você poderia literalmente fazer qualquer coisa
comigo e eu deixaria. Eu adoraria ver onde isso te leva. Adoraria ser
aquele de quem você se enfurece, aquele que te liberta disso. E não é
porque a reviravolta é justa. É porque eu quero seguir esse caminho
com você, se você me deixar. Eu quero ver onde você vai, o que você
escolhe porque eu te amo. Cercas, papagaios, comida barata e essa
possessão provocante que você quer exercer sobre mim. Eu quero você.
Tudo de você. — Sua mão descansa na minha bochecha em um gesto
de tranquilidade.

Eu aceno e desvio meu olhar para o lado, não tentando mais


reprimir um sorriso tímido. — Você não está preocupado que eu vou
quebrar? Que esse caminho termina em destruição?

— Confie em você, Avery. Eu faço. Com cada grama do meu ser.


Você é mais forte do que imagina, mais feroz do que mansa, e é
exatamente isso que precisa ser agora. Você realmente não vê como isso
se encaixa em ser uma mãe jovem?

Eu pisco para ele, surpresa. Minhas sobrancelhas se juntam


quando penso nisso. — Não, eu não vi nada disso. — Eu estava muito
ocupada escondendo dele meus sentimentos sobre isso. Muito chateada
pensando que eu me transformei em uma pervertida. Que eu não sou a
mulher suave e flexível que já fui. Ok, agora estou mentindo para mim
mesma. Eu nunca fui completamente flexível. Eu sempre retive parte de
mim, e isso joga tudo lá fora. Não esconde nada, porque esse tipo de
sexo está cheio de emoções para mim.

— Diga-me o que você quer, Avery.

Os cantos dos meus lábios se inclinam em um sorriso


brincalhão. — Você. Agora.
Capítulo Nove
Eu descanso minha mão em meus gêmeos bem a tempo de sentir
um minúsculo pé bater na minha costela. Estremeço e fecho meus
olhos. A data do meu parto está dentro do previsto. Eu pularia em um
trampolim se eu achasse que poderia sair dessa cama.

A mandíbula de Sean está coberta de restolho escuro, com o


cabelo mais comprido do que quando nos conhecemos. Ele cai sobre a
testa, além das sobrancelhas, e apenas alcança os cílios escuros. Seus
lábios puxam em um sorriso. — Já faz mais de quarenta semanas de
elogios. Meu repertório está fraco hoje em dia.

Quero fazer beicinho. Eu tento dobrar meus braços sobre o peito,


mas ele também está enorme, então eu basicamente me bato no rosto
com meus antebraços. Resmungando, murmuro obscenidades
enquanto Sean se aproxima, passa a mão no meu rosto. — Você está
quase lá, Avery.

Olhando para ele, nossos olhos se encontram. Eu sei que este é o


começo de uma nova vida para nós. Tudo começa por aqui. É uma
chance de curar velhas feridas e começar de novo. Eu quero isso mais
do que tudo. O pensamento do parto não me assusta mais. Eu quero
segurar essas garotinhas em meus braços e sorrir para elas.

— Você acha que elas vão parecer comigo ou com você? — Eu


pergunto enquanto deslizo meus braços ao redor dele e o puxo para
perto.

Sean solta uma gargalhada: — É melhor que se pareçam com


você. Uma mulher com esse rosto seria horrível. — Ele me provoca, diz
outras coisas para me fazer sorrir e então fica de pé. Nós temos nomes
selecionados, nomes perfeitos para garotinhas.
Sean caminha pela sala e abre as cortinas, sabendo o quanto
amo a luz do sol, e como é triste estar presa nessa cama nas últimas
semanas. Repouso é uma merda. Sean está de costas para mim,
olhando através do vidro feito à mão. A luz do sol brilha em seu corpo
nu em pedaços curvos de luz. A força de suas costas, todo o caminho
até aquela bunda tonificada e pernas musculosas que parecem tão
atraentes.

Minha mente vaga para o que meu corpo parecia antes e como é
um acidente de trem agora. Antes de saber o que aconteceu, estou
chorando sobre o quão bonito ele é e como eu estou gorda — pareço
uma confusão hormonal.

Sean está lá, sentando-se comigo de novo, acariciando minha


testa, beijando minha bochecha e me dizendo coisas que eu não
percebi. — Você sabe o quão difícil é manter minhas mãos longe de
você?

— Você está apenas dizendo isso.

Ele sorri timidamente. — Eu juro, não estou. A ideia de foder


minha esposa grávida é inebriante. Quando a médica disse que não, eu
pensei em morrer. Avery, esses últimos meses foram mais difíceis para
mim do que você poderia imaginar. Eu sei o quão horrível você se sente,
mas é como se sua beleza fosse amplificada. Sua sensualidade está fora
dos gráficos. Quero dizer, olhe para isso. Ele desliza a ponta do dedo
para o lado do meu peito, seguindo a generosa varredura do meu seio.
Seu olhar é quente, demorando como se ele quisesse mergulhar a
cabeça e me devorar.

— Eu sinto sua falta. — A confissão está fora dos meus lábios


antes que eu tenha tempo para pensar sobre isso. Nós nunca
conversamos sobre essa parte porque não conseguimos.

— Deus, eu quero você. — Ele enterra o rosto em meus seios e,


em seguida, pressiona seu corpo contra o meu.
— Eu ouvi que o sexo pode induzir o parto? — Soa como uma
pergunta.

Sean levanta a cabeça e tranca os olhos nos meus. — Eu sei.


Você realmente quer?

— Você realmente acha isso, — eu gesticulo para a minha forma


enorme, — atraente?

Um rugido profundo ressoa em seu peito em uma resposta.


Então seus lábios estão em mim, movendo-se, reaprendendo a forma do
meu corpo e a ondulação da minha barriga. Eu estou perdida em seus
beijos, não me preocupando pela primeira vez. Isto é diferente. Eu não
sabia como me sentiria sobre isso e não achava que teríamos uma
chance. Já passou da data limite do parto.

Beijando. Tocando. E então uma dor aguda e repentina. Eu


pressiono minha mão na minha barriga, levanto e ofego. Sean se afasta,
me observando. — Você está bem?

Eu aceno lentamente enquanto a dor desaparece. — Sim. Falsa


contração.

— Há quanto tempo isso está acontecendo?

— Algumas semanas.

Ele se inclina com cautela. Beija meu pescoço uma vez e


pergunta: — Você quer que eu pare?

Eu balanço minha cabeça. — Eu sinto sua falta, e as contrações


são falsas — coisinhas de Braxton-Hicks10. — Sean sorri como se
soubesse algo que eu não sei. Inclinando a cabeça para o lado, tento
convencê-lo ainda mais: — Sério. Elas estão tão distantes que isso não
importa — minha palavra engasga quando outra dor aguda atinge o
que me faz recuperar o fôlego. Eu me inclino para frente, mão na
barriga, e fecho os olhos para suportar a pontada de dor.

10Braxton Hicks são chamados de contrações não-laborais porque não levam


diretamente ao trabalho de parto. Ao contrário das contrações laborais verdadeiras.
Quando abro os olhos, Sean se senta ao meu lado, sorrindo de
orelha a orelha. — Eu acho que está na hora do bebê, senhorita Smith.

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