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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, LETRAS, ARTES, CIÊNCIAS HUMANAS E


SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Guilherme de Oliveira Junior

Prática Curricular

Prof. Dr. Wagner da Silva Teixeira

UBERABA, 2018
Teoria de História nos livros didáticos: o Método Crítico e a influência
de Marc Bloch no ensino de História

Podemos dizer que o método crítico é a chama que mantém acesa a


cientificidade da História. Postulado no livro ​Apologia da História, do historiador
Marc Bloch, consiste em um arcabouço teórico metodológico capaz de auxiliar, não
somente, o historiador como também quem pretende estudar a História. Entre as
competências desenvolvidas, a partir das reflexões do autor sob o ofício do
historiador, podemos elencar como principais a racionalidade e a objetividade.

(...) a história terá portanto o direito de reivindicar seu


lugar entre os conhecimentos verdadeiramente dignos
de esforço apenas na medida em que, em lugar de
uma simples enumeração, sem vínculos e quase sem
limites, nos permitir uma classificação racional e uma
progressiva inteligibilidade. (BLOCH, 2001)

Essas habilidades podem ser observadas no livro que nos propusemos


analisar: ​Nova História Crítica​, para a antiga quinta série e atual sexto ano, do autor
Mario Furley Schmidt. Logo na apresentação, podemos encontrar uma série de
orientações propostas pelo autor para os leitores, entre elas: “Procure ler cada frase
de nosso livro com espírito crítico.” e “Você não deve aceitar tudo que está nele só
porque é um livro didático!” (SCHMIDT, 1999). Ao estimular a criticidade entre os
educandos sob o próprio livro didático, o autor procura provocar a centelha do
método crítico e prepará-los para os estudos históricos.

A crítica do testemunho, que trabalha sobre


realidade psíquicas, permanecerá sempre um arte de
sensibilidade. Não existe, para ela, nenhum livro de
receitas. Mas é também uma arte racional, que
repousa na prática metódica de algumas grandes
operações do espírito. Tem, em suma, sua dialética
própria, que convém deduzir. (BLOCH, 2001)

No primeiro capítulo, ​O Que é História,​ somos expostos aos estudos


introdutórios de História. O autor prepara os leitores para a relevância da disciplina
“Neste capítulo você vai aprender a importância de estudar História” e conceitua-a
de forma semelhante a Bloch “(...) a História é uma ciência que investiga o passado
para compreender melhor o presente” (SCHMIDT, 1999).

De acordo com o autor Jörn Rüsen no livro Razão Histórica:

A teoria da história é necessária para solucionar


o problema de uma introdução tecnicamente correta no
estudo da história. Ela exerce, aqui, uma função
propedêutica. (RÜSEN, 2001)

Dessa forma, ao explicar a relevância do estudo de História e conceituá-la


para os educandos, o autor Mario Schmidt exerce o primeiro dos seis significado da
teoria da história para o estudo da história propostos por Rüsen.

Ainda no primeiro capítulo, o tópico ​Para que serve estudar História? t​ enta
explicar o valor do estudo de História e dar uma resposta a pergunta feita no livro
Apologia da História “Papai, então me explica para que serve a História.” (BLOCH,
2001). O autor Mario Schmidt, por meio de exemplos, busca aproximar o estudo de
história à realidade do aluno, principalmente, à realidade do aluno de periferia.
Portanto, além de se guiar pela pergunta inicial feita por Bloch, o autor também se
apoia na ideia de atribuir uma relação de real necessidade para o estudo de
História.

Você sabe que o Brasil é um país cheio de


problemas graves. Existem pessoas pobres que não
têm dinheiro nem para comer todos os dias. Elas
passam fome. Muitas crianças pobres não podem ir à
escola porque precisam trabalhar da manhã até a
noite. Puxa, por que essas coisas acontecem? O que
poderia ser feito para mudar essa situação? Aí é que
entra a História. Quando estudamos História, nós
compreendemos como é que o Brasil e o mundo
ficaram dessa maneira. Estudando História, nós
percebemos o que foi feito de errado e de injusto no
Brasil e no mundo, e aí podemos pensar numa maneira
de fazer diferente, de rejeitar o que foi ruim e de
transformar as coisas para melhor. ​(SCHMIDT, 1999)

Os tópicos seguintes, ​Nós somos seres sociais​, ​A cultura e a natureza​, ​A


cultura e a humanidade​, ​Cultura e História​, ​As diferenças sociais​, ​As faces da
sociedade​, ​A economia​, ​As ideias sociais​, ​A política ​e ​As classe e os conflitos
sociais tratam temáticas que apresentam o estudo de história. Ao abordarem temas
comuns à história humana contribuem para a aquisição de conhecimento histórico e
formação histórica. Também, promovem uma reflexão e transcende a naturalização
da realidade na qual o aluno está inserido.

Os últimos tópicos, ​A história não é feita pelos grandes heróis​, ​Como


raciocina um historiador​, ​Pensar criticamente,​ ​As fontes históricas​, ​Fontes
secundárias,​ ​A crítica aos documentos e Múltiplas interpretações ​refletem o ofício
do historiador, ​complementando os estudos introdutórios de História. Por fim,
promovem uma imersão na realidade da ciência histórica, ainda que de forma
preliminar.
Podemos dizer que o primeiro capítulo de ​Nova História Crítica ​trabalham a
ideia proposta no capítulo ​Tarefa e função de uma teoria da história,​ em que Rüsen
expõem a importância de se enxergar o todo no estudo de História.

A pergunta acerca da função da teoria da


história na aquisição de competência profissional pode
ser respondida sumariamente com a afirmação de que
é dela que necessitamos se quisermos aprender a ver
a floresta, ao invés de perdemo-nos em uma multidão
de árvores. (RÜSEN, 2001)

Assim sendo, nessa breve análise conseguimos estabelecer um diálogo entre


as obras de Schmidt e as de Bloch e Rüsen. Embora, a própria ideia de teoria de
história possa nos remeter à uma especialização e profissionalização da disciplina,
algumas competências desenvolvidas na teoria podem ser encontradas no livro
didático. Trabalhadas de forma preparatória cumprem a função propedêutica da
teoria de história no estudo de história.

Por fim, o livro didático consegue apresentar um esboço do método crítico e


situa o aluno em uma posição de criticidade, não somente, mas como também de
​ capaz de ir a
reflexão e construção de saberes. Portanto, ​Nova História Crítica é
fundo no próprio título e conceber uma História atual ou seja em acordo com as
recentes correntes teóricos e metodológicas aqui expostas.
Referências Bibliográficas

BLOCH, Marc. ​Apologia da História ou o Ofício do Historiador.​ Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

RÜSEN, Jörn. Razão histórica. ​Teoria da história: os fundamentos da


ciência histórica​. Brasília: Ed. UNB, 2001

SCHMIDT, Mario Furley. ​Nova História Crítica.​ São Paulo: Nova Geração,
1999.

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