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18/03/2019 SEI/GOVERNADORIA - 6308341 - Manifestação

ESTADO DE GOIÁS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - UEG
GERÊNCIA JURÍDICA

PROCESSO: 201900020004385
INTERESSADO: REITORIA DA UEG
ASSUNTO: Orientação preliminar sobre greve no serviço público

MANIFESTAÇÃO Nº 4/2019 - GEJUR- 06211

Considerando o advento de diversas manifestações indicativas da realização de movimentos paredistas por


parte de servidores desta Universidade, a Gerência Jurídica presta os seguintes esclarecimentos jurídicos.

01. A Constituição Federal assegurou o direito de greve aos servidores públicos civis. Nos termos do artigo
37, inciso VII, o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica.

02. O Supremo Tribunal Federal decidiu há muito pela aplicação da Lei Federal n. 7.783/1986 aos servidores
públicos civis, até a edição da lei específica reclamada pelo texto constitucional (Mandados de Injunção n.
670, 708 e 712); viabilizando, portanto, a realização de greves no âmbito da administração pública.

03. No Mandado de Injunção n. 712-8/PA, o Supremo Tribunal Federal definiu o direito de greve dos
servidores públicos será regulado provisoriamente pela Lei Federal n. 7.783/89, arts. 1º ao 9º e 14, 15 e 17,
com as alterações e reduções adotadas, levando-se em conta as peculiaridades do serviço público.

04. Nos termos do artigo 2º da Lei n. 7.783/89, com as alterações promovidas pelo STF, considera-se
legítimo exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, parcial, de prestação
pessoal de serviços a empregador. Sendo assim, a greve no serviço público deverá ser sempre parcial, de
modo a assegurar a regular continuidade da prestação do serviço público, sob pena de configurar abuso de
direito e responsabilização dos envolvidos.

05. À luz do conceito legal, por se tratar de suspensão coletiva, a greve é um direito coletivo e só o grupo é o
titular do direito. O exercício desse direito pressupõe organização mínima dos participantes no que diz
respeito à sua representatividade. A representação pode ser realizada pelo respectivo sindicato, entidade de
classe, ou comissão designada pela assembleia dos servidores. A ausência de representantes dos servidores
grevistas incorre em abuso de direito.

06. O exercício do direito de greve pressupõe um vínculo funcional entre os envolvidos, Administração
Pública – servidores públicos civis. Desse modo, em termos jurídicos, discente não promove/deflagra greve.
O máximo que pode fazer é aderir ao movimento já deflagrado por quem detém a titularidade do direito.

07. São requisitos para deflagração de greve no serviço público (Min. Dias Toffoli, voto condutor no RE n.
693.456/RJ):

Tentativa de negociação prévia, direta e pacífica.

Frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda comum;

Deflagração após decisão assemblear

Comunicação aos interessados, no caso à Administração Pública a que a categoria se encontra


vinculada e à população, com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas;

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Adesão ao movimento por meios pacíficos;

Garantia dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades dos administrados, usuários ou
destinatários dos serviços, e à sociedade.

08. A deflagração do movimento paredista suspende, no setor público, o vínculo funcional e, por
conseguinte, desobriga o Poder Público do pagamento referente aos dias não trabalhados (STF, STJ, CNJ).
Segundo o STF, “ desconto dos dias de paralisação é ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial
dos serviços públicos imposta à sociedade é consequência natural do movimento. Esse desconto não tem o
efeito disciplinar punitivo. Os grevistas assumem os riscos da empreitada. Caso contrário, estaríamos diante
de caso de enriquecimento sem causa, a violar, inclusive, o princípio da indisponibilidade dos bens e do
interesse público.”

09. A Administração Pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do
direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre,
permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a
greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público. (Tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal no RE
693456/RJ)

10. A despeito da possibilidade da realização de acordo com o fito de compensar os dias não trabalhados;
nesses casos, prevalece o poder discricionário da Administração, a quem cabe definir pelo desconto,
compensação ou outras maneiras de administrar o conflito, sem que isso implique ofensa aos princípios da
proporcionalidade ou razoabilidade (STJ, MS 17.405/DF). Inclusive, deve ser aplicada a mesma sistemática
observada para as demais faltas justificadas, sendo prescindível a instauração de processo administrativo
com vistas ao desconto da remuneração (STJ, MS 14.962/DF).

11. Recentemente, o STF entendeu pela constitucionalidade da convocação dos grevistas a reassumirem
imediatamente o exercício dos respectivos cargos, bem assim a instauração de processo administrativo
disciplinar para apuração de fatos e aplicação das penalidades cabíveis (ADIs, 1306 e 1335), caso constatado
abuso do direito de greve ou cometimento de outras infrações funcionais1.

12. O Regimento Geral da UEG estabelece normas definidoras de competências e do regime jurídico a que
está submetida toda comunidade acadêmica.

12.1. Quanto ao Reitor. São atribuições do Reitor, dentre outras: (i) dirigir, administrar, coordenar e fiscalizar
todas as atividades da UEG, zelar pelo seu patrimônio, qualidade acadêmica e conceito; (ii) zelar, no âmbito
da UEG, pelo cumprimento da legislação em vigor; (iii) exercer o poder disciplinar no âmbito da instituição
(art. 20, incisos I, II e VII)

12.2 Quanto aos Diretores de Câmpus. O Diretor de Câmpus, enquanto gestor máximo no âmbito do
Câmpus, é autoridade competente para, dentre outras funções: (i) superintender os serviços administrativos
no Câmpus; (ii) supervisionar a execução do regime acadêmico, especialmente no que se refere ao
desempenho das atividades por docentes e discentes e à observância de horários e programas; (iii) manter a
ordem e a disciplina nas dependências do Câmpus; : (iv) exercer o poder disciplinar no Câmpus, no âmbito
de sua competência, conforme estabelecido nas normativas da Universidade (art. 59, incisos IX, X, XI e
XIX). E, em caso de não cumprimento da carga horária pelo docente, o Diretor adotará as medidas
administrativas cabíveis, privilegiando as necessidades do Câmpus (art. 173)

12.3 Quanto ao corpo Docente. Todos os integrantes do Corpo Docente - servidores efetivos e temporários –
devem realizar o registro de ponto, que será acompanhado pelo Coordenador de Curso, pela Direção e pelo
CaC do Câmpus de lotação principal do docente. São obrigatórios a frequência e a permanência dos
professores nas atividades de ensino e o cumprimento do calendário letivo, da carga horária das atividades e
dos programas previstos, correspondentes ao regime de trabalho e às normas específicas da UEG, sob pena
de procedimento disciplinar e corte de ponto, em conformidade com a legislação vigente e a regulamentação
específica. (art. 165, caput e §1º). Ainda, a falta de condições ideais de trabalho não é justificativa para o não
cumprimento de carga horária pelo docente, conforme regime de trabalho, no Câmpus de lotação. (art. 174,
parágrafo único).

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12.4 Quanto aos Discentes. O corpo discente da UEG é constituído por seus alunos regularmente
matriculados (art. 182). Os discentes da UEG têm os deveres inerentes à sua condição, sujeitando-se ao
regime disciplinar previsto no Estatuto e no Regimento Geral, estando também submetidos às demais normas
aprovadas pelos colegiados deliberativos da UEG (art. 183, §1º).

12.5 Quanto ao regime disciplinar. Caracteriza-se como infração ao regime disciplinar qualquer ação ou
omissão de qualquer membro da comunidade universitária da UEG, que possa comprometer o pleno
exercício da função pública, prejudicar a organização, o funcionamento e a eficiência dos serviços prestados,
ou causar dano à administração, ao patrimônio ou a qualquer membro da comunidade universitária (art. 190).
O regime disciplinar do corpo docente e técnico-administrativo desta Universidade, no que concerne a
deveres, proibições, responsabilidades, penalidades e procedimentos administrativos disciplinares, obedecerá
ao disposto no regime jurídico dos servidores públicos civis do Estado de Goiás, das autarquias e das
fundações públicas estaduais, na legislação complementar vigente, no Estatuto da UEG e em regulamentação
específica do CsU (art.191). Havendo quaisquer indícios de autoria e materialidade de falta funcional
envolvendo servidores lotados na UEG, sejam temporários, comissionados ou efetivos, ainda que não
integrem mais seu quadro de pessoal, os atos de apuração e processamento do feito ocorrerão no âmbito das
comissões constituídas pelo Reitor (art. 192).

13. À luz das considerações jurídicas acima, as seguintes medidas administrativas iniciais se afiguram
cabíveis, após regular juízo de conveniência e oportunidade pela autoridade competente:

13.1 Ao reitor, para que, no desempenho da função de dirigir, administrar, coordenar e fiscalizar todas
as atividades da UEG, proceda a convocação expressa dos servidores, mediante publicação no Diário
Oficial do Estado, para reassumirem, de maneira integral e sem demora, o exercício de suas funções.

13.2 Ao Reitor, para que, no desempenho poder disciplinar e diante da existência de indícios de autoria
e materialidade de falta funcional envolvendo servidores lotados na UEG, proceda a instauração de
procedimento administrativo-disciplinar, na forma da Lei 10.460/1988 e Lei 13.800/2001, para a
apuração de faltas funcionais e aplicação de penalidades administrativas aos faltosos, sem prejuízo das
de ordem civil e penal.

13.3 Ao Reitor, para que, no desempenho da função de dirigir, administrar, coordenar e fiscalizar todas
as atividades da UEG, proceda o desconto, na respectiva folha de pagamento, do valor referente aos
vencimentos e às vantagens dos dias de falta ao serviço por motivo de greve ou paralisação;
autorizando o pagamento dos valores descontados somente em caso de acordo celebrado pela categoria
profissional com o Poder Público, a fim de que haja reposição dos dias não trabalhados e após efetivo
cumprimento da medida.

13.4 Ao Reitor, para que, em cumprimento ao art. 3º, §1º do Decreto nº 7.964/2013, verificada a
necessidade e viabilidade e no menor prazo possível, proceda o remanejamento de servidores públicos,
ainda que com mudança de domicílio, para suprir temporariamente as necessidades da UEG,
observando ainda o art. 4º do mesmo decreto.

13.5 Aos Diretores de Câmpus, para que, no desempenho das atribuições regimentais, supervisionem
os serviços administrativos do Câmpus, bem assim a execução do regime acadêmico por parte dos
docentes e discentes, especialmente quanto à observância de horários e programas; e, sendo verificada
qualquer indício de infração ou irregularidade, adotem as medidas cabíveis de sua alçada e,
concomitantemente, informem a Reitoria imediatamente para adoção das demais providências
cabíveis.

13.6 Aos Diretores de Câmpus, para que, no desempenho das atribuições regimentais, acompanhem o
registro de ponto, a frequência e a permanência dos professores nas atividades de ensino, bem assim o
cumprimento do calendário letivo, da carga horária das atividades e dos programas previstos; e sendo
verificada qualquer indício de infração ou irregularidade, adote as medidas cabíveis de sua alçada e,
concomitantemente, informe a Reitoria imediatamente para adoção das demais providências cabíveis.

13.7 Aos Diretores de Câmpus, para que, no desempenho das atribuições regimentais, diante do
exercício do direito de greve em desconformidade com as disposições legais, notadamente quando
resultar em prejuízo à regular prestação do serviço público; ou quando verificado indícios de
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transgressões disciplinares por parte do corpo docente ou dos servidores técnico-administrativos,


informem imediatamente a Reitoria para adoção providências cabíveis.

13.8 Aos Diretores de Câmpus, diante da existência de indicativo ou efetiva deflagração de movimento
paredista, encaminhem à Reitoria toda e qualquer documentação relativa ao movimento; inexistindo
qualquer documento, encaminhem certidão narrativa pormenorizada dos fatos até então observados no
Câmpus.

14. Por fim, os apontamentos tecidos alhures não têm a pretensão de esgotar a apreciação jurídica da matéria,
mas tão somente de orientar preliminarmente o gestor público diante do contexto de greve. Da mesma forma,
as recomendações acima não perfazem todas as possibilidades de atuação do administrador público,
consistindo apenas possibilidades visualizadas abstratamente. Portanto, eventuais dúvidas pontuais e
circunstanciais não abarcadas pelo presente documento deverão ser objeto de análises individuais.

15. Em cumprimento à determinação contida no Memorando n. 7/2019 - REIT, encaminhem-se os presentes


autos à Reitoria, às Pró-Reitorias e às Diretorias de Câmpus.

Marcelo Carlos Maia Pinto


Procurador do Estado
Gerente Especial Jurídico

NOTAS:

1Está superado, portanto, o entendimento do TJGO que entendeu pela inconstitucionalidade dos artigos 1º e
2º do Decreto nº 7.964/2013.

GERÊNCIA JURÍDICA, em ANAPOLIS - GO, aos 18 dias do mês de março de 2019.

Documento assinado eletronicamente por MARCELO CARLOS MAIA PINTO, Gerente, em


18/03/2019, às 08:11, conforme art. 2º, § 2º, III, "b", da Lei 17.039/2010 e art. 3ºB, I, do Decreto nº
8.808/2016.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site


http://sei.go.gov.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=1 informando o código verificador 6308341
e o código CRC 7AB0953F.

GERÊNCIA JURÍDICA
RODOVIA BR 153 Qd.KM 99 - Bairro SAO JOAO - CEP 75132-903 - ANAPOLIS - GO - BLOCO
01, TÉRREO (62)3328-1167

Referência: Processo nº 201900020004385 SEI 6308341

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