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Estruturas de Concreto I

Autoria: Lucas dos Reis Furtado

Tema 02
Estudo das Seções das Vigas de Concreto Armado
Tema 02
Estudo das Seções das Vigas de Concreto Armado
Autoria: Lucas dos Reis Furtado
Como citar esse documento:
FURTADO, Lucas dos Reis. Estruturas de Concreto I: Estudo das Seções das Vigas de Concreto Armado. Caderno de Atividades. Anhanguera
Educacional: Valinhos, 2016.

Índice

CONVITEÀLEITURA PORDENTRODOTEMA
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CONVITEÀLEITURA
Agora que já sabemos o conceito de concreto armado, vamos nos aprofundar no tema. Foi visto que um sistema
estrutural é composto por vários elementos que podem ser analisados isoladamente a fim de se ter um estudo mais
simples e organizado. Também, temos conhecimento dos principais elementos que formam a estrutura: lajes, vigas e
pilares.

Nesta aula, iremos estudar um destes elementos separadamente: as vigas de concreto armado. Uma viga pode ter
diversas funções, de apoio para alvenarias a suporte para pontes e viadutos. Dada sua importância e aplicabilidade,
é importante conhecer seus pormenores. Para isso, faremos um estudo das seções em vigas de concreto armado,
verificando como se comportam ao sofrer diversas solicitações.

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Estudo das Seções em Vigas de Concreto Armado

Introdução

As vigas são componentes lineares de um sistema estrutural responsável por absorver, principalmente, as cargas
provenientes das lajes e transferi-las para os pilares em que se apoiam. Podem receber diferentes nomes face a suas
aplicações (viga baldrame, viga de respaldo, etc.) e também quanto ao seu modo construtivo (viga invertida, viga parede,
viga Gerber, etc.)

Conforme visto na primeira aula, existem diferentes métodos de cálculo para dimensionamento de peças de concreto
armado. Faremos o dimensionamento das vigas pelo método da verificação do estado limite último, para isso precisamos
entender como a seção mais solicitada, de toda sua extensão, se comporta.

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No caso de vigas biapoiadas com carregamento uniforme, já sabemos que a parte superior das seções é comprimida e
a parte inferior é tracionada. Existem diversos tipos de solicitações, as mais comuns em vigas são as tensões causadas
pelos momentos fletores. A própria NBR 6118:2014 caracteriza uma viga como “elemento linear em que a flexão é
preponderante”.

Por esse motivo, vamos analisar os tipos de flexão.

Tipos de Flexão

Vigas recebem ações (peso próprio, cargas acidentais, etc.) e as ações geram momento fletor. O momento
fletor, por sua vez, causa flexão.

De acordo com Carvalho (2010), as flexões podem ser divididas nos seguintes tipos:

a. Flexão normal (simples ou composta): Conforme a Figura 2.1, a flexão normal ocorre quando o plano do carregamento
ou da sua resultante é perpendicular à linha neutra (LN) – linha da seção transversal em que a tensão é nula – ou,
em outras palavras, quando o plano contém um dos eixos principais de inércia da seção; nesse caso, em seções
simétricas (um eixo de simetria é sempre um eixo principal de inércia), o momento fletor atua no plano de simetria.
Figura 2.1 – Flexão normal.

Fonte: <http://www.mspc.eng.br/matr/im01/rmat302.gif>.

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b. Flexão oblíqua (simples ou composta): Conforme a Figura 2.2, a flexão oblíqua ocorre quando o plano de carregamento
não é normal à linha neutra; ou quando o momento fletor tem uma componente normal ao plano de simetria; ou,
ainda, quando a seção não é simétrica, pela forma ou por suas armaduras.
Figura 2.2 - Flexão oblíqua.

Fonte: <http://www.mspc.eng.br/matr/im01/rmat302.gif>.

c. Flexão simples: Conforme a Figura 2.3, a flexão simples ocorre quando não há esforço normal atuando na seção
(N=0); a flexão simples pode ser normal ou oblíqua.
Figura 2.3 - Flexão simples.

Fonte: <http://image.slidesharecdn.com/flexo-140928102518-phpapp01/95/flexo-7-638.jpg?cb=1411906517>.

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d. Flexão composta: Conforme a Figura 2.4, a flexão composta ocorre quando há esforço normal (de tração ou de
compressão) atuando na seção, com ou sem esforço cortante.
Figura 2.4 - Flexão composta.

Fonte: <http://image.slidesharecdn.com/flexo-140928102518-phpapp01/95/flexo-7-638.jpg?cb=1411906517>.

e. Flexão pura: corresponde a um caso particular de flexão (simples ou composta), em que não há esforço cortante
atuante (V=0); nas regiões da viga em que isso ocorre, o momento fletor é constante.

f. Flexão não pura: ocorre quando há esforço cortante atuando na seção.

Apesar da existência de diversos tipos de flexão, nas vigas o esforço normal não é considerado. O que nos coloca na
função de verificar flexões normal, simples e pura, em que N=0 e V=0.

Tendo em vista que será feita a análise das vigas no estado limite último, acompanhe como ocorre o processo de colapso
de vigas sob tensões normais.

Processo de Colapso de Vigas Sob Tensões Normais

Vamos supor uma viga de concreto armado, simplesmente apoiada. Ao simularmos a situação de um carregamento
crescente, que causa momento fletor M variável de zero até um valor que a leve ao colapso, vamos obter os diagramas
conforme a Figura 2.5 (que aumentam proporcionalmente ao carregamento):

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Figura 2.5 - Diagramas de esforços.

Fonte: Adaptado de Carvalho (2010)

Nesta situação, sabemos que as maiores deformações ocorrem na sua zona central. Medindo as deformações nesta
região, conforme a Figura 2.6, é possível medir os deslocamentos dos pontos Ai e Bi conforme as cargas aumentam
(admitindo que a seção permanece plana durante o processo).

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Figura 2.6 - Deformações na região central.

Fonte: Montoya (1991)

Supondo que a seção transversal dessa viga seja retangular, conforme o momento fletor M aumenta, ela passará por
três níveis de deformação, denominados estádios, os quais determinam o comportamento da peça até sua ruína.

Estádio I (estado elástico) – O momento fletor M é diminuto. Conforme a Figura 2.7, a tensão de tração no concreto
será inferior à tensão de ruptura, assim, o concreto resiste acima da linha neutra à compressão e abaixo da linha
neutra à tração (juntamente com o aço).

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Figura 2.7 - Estádio I.

Fonte: <http://wp.ufpel.edu.br/estelagarcez/files/2013/05/Aula-3-2013-01.pdf>.

Características técnicas do estádio I:

• Diagrama de tensão normal ao longo da seção é linear.

• As tensões nas fibras comprimidas são proporcionais às deformações.

• Não há fissuras visíveis.

Estádio II (estado de fissuração) – Admitamos agora um crescimento significativo no momento fletor M. Conforme a
Figura 2.8, o concreto apresentará fissuras na parte tracionada, pois sua resistência à tração é menor que os esforços
que ocorrem abaixo da linha neutra, o aço irá resistir sozinho aos esforços de tração. Entretanto, acima da linha neutra
o concreto resiste bem à compressão, ainda em sua fase elástica.

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Figura 2.8 - Estádio II.

Fonte: <http://wp.ufpel.edu.br/estelagarcez/files/2013/05/Aula-3-2013-01.pdf>.

Características técnicas do estádio II:

• Considera-se que apenas o aço passa a resistir aos esforços de tração.

• Admite-se que a tensão de compressão no concreto continua linear.

• As fissuras de tração no concreto da flexão são visíveis.

Estádio III – Admitamos que o momento fletor cresça um pouco mais. O concreto abaixo da LN já havia fissurado no
estádio II. Conforme a Figura 2.9, na borda mais comprimida, acima da linha neutra, ocorre uma tensão que faz com
que o concreto trabalhe não na fase elástica, mas sim, na fase plástica (deformações permanentes). Podemos dizer que
o estádio III é a situação onde mais se exige dos materiais, aproveitando-os ao máximo e resultando em um cálculo
mais econômico (comparado ao método clássico).

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Figura 2.9 - Estádio III.

Fonte: <http://wp.ufpel.edu.br/estelagarcez/files/2013/05/Aula-3-2013-01.pdf>.

Características técnicas do estádio III:

• A fibra mais comprimida do concreto começa a escoar a partir da deformação específica de 2,0‰, chegando a
atingir, sem aumento de tensão 0,35‰.

• O diagrama de tensões tende a ficar vertical (uniforme), com quase todas as fibras trabalhando com sua tensão
máxima, ou seja, praticamente todas as fibras atingem deformações superiores a 2‰.

• A peça está bastante fissurada, com as fissuras se aproximando da linha neutra, fazendo com que sua profundidade
diminua e, consequentemente, a região comprimida de concreto também.

• Supõe-se que a distribuição de tensões no concreto ocorra segundo um diagrama parábola-retângulo.

Podemos observar que os estádios I e II devem ocorrer nas situações reais e o estádio III só ocorreria em situações
extremas, tendo em vista que as ações são majoradas e as resistências minoradas.

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Hipóteses Básicas para Cálculo

Segundo a NBR 6118:2014, as hipóteses básicas para o cálculo de vigas no estado-limite último são (não serão
citadas hipóteses para vigas de concreto protendido):

a. As seções transversais se mantêm planas após a deformação;

b. As deformações específicas da armadura e do concreto em seu entorno são iguais;

c. As tensões de tração no concreto, normais à seção transversal, são desprezadas;

d. A distribuição de tensões no concreto é feita de acordo com o diagrama parábola-retângulo (mencionado na primeira
aula) com tensão de pico igual a 0,85fcd. Esse diagrama pode ser substituído por retângulo de profundidade y=λx,
onde o valor de λ será:

• λ = 0,8 para ; ou

• λ = 0,8 – (fck – 50)/400, para fck >50 Mpa

e onde a tensão constante atuante até a profundidade y pode ser tomada igual a:

• αc fcd, no caso da largura da seção, medida paralelamente à linha neutra, não diminuir a partir desta para a
borda comprimida;

• 0,9 αc fcd, no caso contrário.

Sendo αc definido como:

• para concreto de classes até C50, αc = 0,85

• para concretos de classes de C50 até C90,

αc = 0,85 . [ 1,0 – (fck – 50) / 200 ]

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e. A tensão nas armaduras é obtida a partir do diagrama tensão versus deformação, conforme Figura 2.10.
Figura 2.10 - Diagrama tensão/deformação do aço.

Fonte: ABNT NBR 6118:2014

f. O estado limite último é caracterizado quando a distribuição das deformações na seção transversal pertencer a
um dos domínios citados no próximo subtítulo.

Domínios de Deformação na Seção Transversal

Como foi citado anteriormente, para que seja caracterizada como estado limite último, a deformação na seção
transversal deve apresentar características pertencentes a um dos cinco domínios representados na Figura 2.11.

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Figura 2.11 – Domínios.

Fonte: ABNT NBR 6118:2014

Primeiramente podemos dividir os cinco domínios em:

• Domínios 1 e 2: E.L.U. por deformação plástica excessiva (aço com alongamento máximo).

• Domínios 3 ,4, 4a, 5, e reta b: E.L.U, por ruptura do concreto por encurtamento limite.
Cada domínio, por possuir deformações específicas diferentes tanto no concreto quanto no aço, tem linha neutra
situada em locais diferentes da seção. Vale ressaltar que o domínio 3, em termos de economia e bom dimensionamento,
é o ideal para uma viga se encontrar, tendo em vista que exige o máximo dos materiais. No domínio 3 a seção resistente
é composta por aço tracionado e concreto comprimido, ambos os materiais atingindo o máximo de suas capacidades.

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Uso Racional do Aço no Concreto Armado

• Artigo encontrado no website “Fórum da construção”, que aborda o uso racional do aço no
concreto armado. Explica maneiras de reutilizar as sobras e como o fator de segurança pode
influenciar nos custos da obra.
Disponível em: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=19&Cod=278>. Acesso em:
05/10/2016.

Análise da Influência da Geometria da Seção Transversal na Capacidade de


Vigas de Concreto Armado

• Artigo que mostra como a geometria de uma viga pode influenciar em sua resistência e
economia de materiais.
Disponível em: <http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/1155/1/Mateus%20Ronchi%20Laurindo.pdf>. Acesso
em 05/10/2016.

Ensaio de Ruptura de Uma Viga de Concreto Armado

• Mostra um ensaio de flexão de uma viga de concerto armado. O equipamento recebe esforço
manual do operador e não eletrônico. É possível visualizar as deformações e os sons emitidos
pela viga previamente ao seu rompimento.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=t_qXl59Ber4>. Acesso em: 05/10/2016.

Tempo: 2:08

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AGORAÉASUAVEZ
Instruções:
Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla
escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.
Questão 1

Explique por que no estádio II do concreto não aparecem tensões de tração abaixo da linha neutra.

Questão 2

A afirmação abaixo é verdadeira ou falsa?

“O estádio I é aquele onde o concreto se encontra na fase plástica”.

Questão 3

A afirmação abaixo é verdade ou falsa?


“Para o cálculo de vigas de concreto armado utiliza-se a tensão de pico do diagrama tensão-deformação. Conforme a
NBR 6118:2014, a tensão de pico é obtida por 0,75 fcd”.

Questão 4

Qual a principal diferença entre os domínios 1 e 2 se comparados ao 3, 4 e 5?

Questão 5

Por que o domínio 3 é o mais adequado para uma viga de concreto armado?

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FINALIZANDO
Neste tema estudamos um elemento isoladamente, a viga. Começamos a visualizar internamente como os esforços
se comportam e quais são as hipóteses de cálculo definidas por norma. Vimos como e onde as deformações acontecem.
O estudo das seções é de suma importância, pois os cálculos serão feitos a partir da seção mais solicitada, que é
justamente o ponto mais crítico de uma viga.

REFERÊNCIAS
CARVALHO, R. C.; L. M. Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado. 3. ed – São Carlos:
EdUFSCar, 2009.
BOTELHO, M. H. C.; MARCHETTI, O. Concreto Armado eu Te Amo. 6ª ed. Editora Edgard Blücher, 2010, v. 1.
ABNT NBR 6118:2014 Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento.

GLOSSÁRIO
Domínio: Possível situação em que uma viga de concreto armado pode alcançar o estado limite último.
Estádio: Estágio em que uma seção transversal se encontra conforme recebe cargas crescentes.
Linha neutra: Linha imaginária que passa pela seção transversal de uma viga. Na linha neutra as tensões são nulas.
Momento fletor: Esforço que pode ser descrito pela fórmula M (momento fletor) = F (força), d (distância), ou seja, resul-
tante de uma força aplicada em um braço de alavanca.
Seção transversal: Corte transversal em uma viga utilizado para o estudo de seus esforços internos.

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GABARITO
Questão 1

Resposta: Por que a seção de uma viga que se encontra no estádio II é aquela onde a resistência do concreto não foi
suficiente para resistir aos esforços de tração, ou seja, o concreto está fissurado. Assim, não existem tensões de tração
abaixo da linha neutra.

Questão 2

Resposta: A afirmação é falsa. A seção que se encontra no estádio I é aquela onde o concreto ainda está na fase
elástica.

Questão 3

Resposta: A afirmação é falsa. Para o cálculo de vigas de concreto armado utiliza-se a tensão de pico do diagrama
tensão-deformação, mas a tensão de pico é obtida por 0,85 fcd.

Questão 4

Resposta: Os domínios 1 e 2 são aqueles que causam estado limite último devido ao alongamento máximo do aço. Já
os domínios 3, 4 e 5 são aqueles que causam o estado limite último devido ao encurtamento limite do concreto.

Questão 5

Resposta: Por que no domínio 3 a seção resistente é composta por aço tracionado e concreto comprimido, ambos os
materiais atingindo o máximo de suas capacidades.

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