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editorial

Ricardo Pinto

O bêbado vai ao médico para se curar da ressaca e acaba levan- O feedback positivo (ou elogio) existe para reforçar atitudes e
do uma bela bronca: comportamentos desejados, inovadores e criativos. Já o feedback
- O senhor precisa parar de beber imediatamente! – diz rispida- corretivo (ou crítica) visa a ensinar não fazer e a desencorajar tudo
mente o médico. o que for contrário aos comportamentos e atitudes desejáveis. Líder
- Parar de beber? — pergunta o bêbado, incrédulo. que usa adequadamente esta técnica conquista o respeito de seus
- Parar de beber pinga! — acrescenta o doutor, - a partir de hoje liderados e por eles é valorizado. Por isso dar feedbacks deve estar
você não vai mais tomar nenhuma gota de álcool! Só leite, durante no cotidiano de trabalho dos líderes.
dois anos! Um bom feedback deve ser específico, pois é importante que
- Mas doutor... Outra vez? - argumenta o paciente. quem o receba identifique logo se é um elogio ou uma crítica. Além
- Por quê? O senhor já fez este tratamento? disso, o feedback deve ser direto e focado na situação ou problema
- Claro... Passei dois anos tomando leite, leite, leite... E não adian- que tenha ocorrido recentemente, de preferência, imediatamente. Ou-
tou nada. tro ponto a ser considerado é que se deve dar o direito de resposta ao
- Mas quando foi isso? — perguntou o médico, estranhando. recebedor do feedback, bem como assegurar-se de que ele absorveu
- Ah, faz tempo... Foram meus dois primeiros anos de vida. o que foi dito, sem pressa e sem ser repetitivo.
O bom feedback não é feito de generalizações, afinal ele é pes-
Quando falamos em ter uma conversa particular com alguém, soal. E, se for um elogio, que seja na frente dos demais. Contudo, se
normalmente é porque este alguém irá receber uma bronca, como a for uma crítica, que seja feito reservadamente. Todos estes cuidados
que o paciente recebeu de seu médico no caso anterior. Nas empre- precisam ser tomados para que o pós-feedback não seja carregado
sas, então, nem se fala. Se alguém é chamado pelo chefe para um de constrangimentos e emoções negativas, como ressentimentos,
“particular”, lá vem bomba. desânimo, resistência, oposição e até raiva ou desejo de vingança.
Mas não deveria ser assim, afinal o líder passar para o liderado Para quem ouve um feedback, procure não justificar ou con-
sua avaliação positiva ou negativa do mesmo, ou seja, dar um fe- tra-atacar, mas busque verificar com os outros colegas se aquela
edback ao liderado, é uma das melhores ferramentas de gestão de percepção realmente é compartilhada por eles. É importante não
pessoas que se conhece. Trata-se de um ótimo instrumento para fo- se mostrar indiferente aos feedbacks recebidos, especialmente os
mentar o desenvolvimento e valorizar os colaboradores e a própria corretivos. Nestes casos, é bom canalizar a energia que o incômodo
organização. trouxe para provocar uma mudança positiva em sua maneira de ser.
Basicamente, feedbacks são retornos, avaliações e informações Finalmente, vale lembrar que, na maioria dos casos, usamos
que recebemos, normalmente de nossos líderes, sobre nosso com- dos feedbacks muito mais para criticar do que para elogiar, o que
portamento, bem como ações e tarefas que realizamos. Um bom fee- é uma lástima. Um elogio sincero e oportuno pode impulsionar o
dback nos alimenta de qualidades ou deficiências que apresentamos desempenho de um colaborador. O elogio fortalece o elo que une
na execução de um trabalho ou numa atitude tomada, ilustrando, se quem o faz e quem o recebe, possibilitando a construção de times
necessário, outras formas e alternativas para fazermos aquele traba- de trabalho fortes e coesos.
lho ou para tomarmos ao invés daquela atitude. Feedback: pratique-o sem moderação!

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índice

“A verdadeira motivação vem de realização,


desenvolvimento pessoal, satisfação no trabalho Especial 4 ÁSIA: o futuro do açúcar brasileiro
e reconhecimento.”
Frederick Herzberg

“Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina.”


Fórum 14 A safra 2016/17 do Centro-Sul vai
acabar mais cedo?
Confúcio
Tecnologia
“A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa
própria alma.” agrícola
16 As últimas novidades do plantio
mecanizado de cana-de-açúcar
Platão

“Queres ser rico? Pois não se preocupes em


aumentar seus bens, mas sim em diminuir a tua
20 Calcário em cana:
muito além da correção de solos
cobiça.”
Epicuro Redução na área de plantio deve
24 afetar em até 2,7% a produtividade
“A paciência é a fortaleza do débil e a impaciência, da safra 2017/18
a debilidade do forte.”
Immanuel Kant Tecnologia
industrial
28 Pintura industrial

Conjuntura 32 Termo de Ajuste de Conduta (TAC)


e o Ministério Público do Trabalho

edição 184
Ano 16
Outubro
Entrevista 34 Disciplina operacional e financeira
de 2016

Opinião 36 Grandes pontenciais de um


setor ainda em transformação

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3
especial

Mesmo com a
concorrência
acirrada da Indonésia, Bangladesh, Malásia e diretor da Archer Consulting. “O acumulado
China. Desde o início deste ano, tem se no ano safra (de abril até agosto) soma 9,1
Tailândia, o tornado cada vez mais comum avistar na- milhões de t, o maior volume desta década.”
aumento do vios destes países, historicamente impor- Boa parte deste aumento é consequência
consumo tadores de açúcar da Tailândia, atracados do crescimento da demanda de alguns países
nos portos brasileiros à espera de carre- asiáticos pela commodity brasileira, que vem
de açúcar gamentos de açúcar. Nem mesmo a Índia, se tornando mais intensa desde fevereiro des-
nos países um dos principais produtores mundiais, te ano, período que corresponde a entressafra
que chegou no ano passado a exportar da região Centro-Sul. De acordo com João
do Sudeste
açúcar para outros países, escapou de re- Paulo Botelho, analista de açúcar e etanol
Asiático deve correr a commodity brasileira. da INTL FCStone, entre fevereiro e abril de
sustentar as A falta de oferta do produto na região 2016, os volumes de exportação para essa
do Sudeste Asiático, provocado tanto pe- região chegaram a 367 mil t, volume 87%
exportações la quebra de safra dos importantes polos maior do que a média exportada no mesmo
da commodity produtores e exportadores, ocasionada período dos últimos três anos.

brasileira até tanto por conta da seca que atingiu a re- Em 2015, de acordo com o Mapa (Mi-
gião, quanto pelo contrabando do ado- nistério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
2020 çante para a China, são alguns dos moti- cimento), dos 24,03 milhões de t de açúcar
vos que vem transformando o mercado exportados para 129 países, 2,51 milhões de
mundial de açúcar, que deverá ser bastan- t foram para a China, primeiro no ranking
te positivo para o Brasil até 2020. dos cinco maiores importadores do açúcar
Só em julho deste ano, as exporta- brasileiro. Em segundo lugar está Bangla-
ções brasileiras de açúcar alcançaram 2,9 desh, que importou 2,47 milhões t, em ter-
milhões de t elevando o acumulado de ceiro a Argélia, com 1,63 milhão de t, em
doze meses para 26,75 milhões de t (de quarto a Nigéria, com 1,34 milhão de t e em
agosto de 2015 até julho de 2016), 10,4% quinto vem a Rússia, que importou 1,04 mi-
a mais do que o mesmo período do ano lhão de t. Somente estes cinco países impor-
passado, segundo Arnaldo Luiz Corrêa, taram 37,4% de toda a exportação brasileira

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e vale destacar que os dois primeiros lugares e o quinto são países
asiáticos, o que nos faz pensar: será a Ásia o grande mercado para o
açúcar brasileiro também no futuro?
Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor Técnico da Uni-
ca (União da Indústria de Cana-de-açúcar), desde 2012, os chineses
são os principais compradores de açúcar. No acumulado de janeiro
a julho deste ano, o Brasil exportou um valor recorde para o perío-
do. Foram enviadas 1,6 milhão de t para a China, um crescimento
de 36,3% em relação ao volume comercializado para o país nos seis
primeiros meses de 2015.
Para a safra 2016/17, há perspectivas de aumento nas exportações
de açúcar brasileiro para a China, já que haverá queda de produção
no país asiático e aumento de consumo. A previsão é que o consumo
de açúcar na China cresça para 15,4 milhões de t em 2015/16, ante ciclo 2016/17, devido a secas ocorridas entre 2014/15 e 2015/16 no
15,2 milhões em 2014/15. A China se apresenta como o maior im- país. Deste modo, espera-se que o país também seja um grande im-
portador de açúcar do mundo, o principal destino do açúcar brasileiro portador de açúcar para o ciclo 2016/17. Já a produção de açúcar da
e se manterá como principal importador do açúcar brasileiro, posto Tailândia continua sujeita a restrições devido ao plantio de cana in-
anteriormente ocupado pela Rússia. ferior previsto para 2015/16 o que, portanto, não vai ajudar a reduzir
o gap regional”, destaca Duff.
CLIMA, OFERTA E DEMANDA GLOBAL Na China, os preços domésticos continuam deprimidos, apesar
O consumo de açúcar no mundo cresce a cada ano de 1,5% a dos esforços dos governos locais para fortalecê-los, o que está res-
2,0%, taxa bastante consistente ao longo do tempo, segundo Andy tringindo o aumento da produção de cana-de-açúcar. No Vietnã, a
Duff, analista de Commodities e especialista do Setor de Açúcar e falta inovação e investimentos, combinado com o clima ruim, causou
Etanol do Rabobank. No entanto, a produção mundial de açúcar uma grande queda na expectativa de produção. Já a Indonésia, que
segue muito mais volátil, impactada principalmente pelo clima e pelos caminha para ser auto-suficiente em açúcar, ainda continuará a ser
próprios preços, que nos anos anteriores foram baixos e desestimu- um importador líquido no curto e médio prazo.
laram investimentos em novas áreas de cana e beterraba, impactan- Com um gap de cerca de 3 milhões de t em 2016/17 e suprimen-
do também na manutenção dos canaviais, que foi reduzida. “Assim, tos baixos no mercado mundial de açúcar, a indústria de alimentos e
chegamos na safra 2015/16 com uma queda da produção mundial bebidas da região estão enfrentando mais um ano de déficit de açúcar.
de açúcar, depois de vários anos de preço mundial em queda, junto Em nível global, enquanto na Europa e no Brasil estão previstos uma
com o El Niño, fenômeno que impactou a produção na Ásia e até no melhora na produção do próximo ano, o Rabobank espera outro défi-
Nordeste do Brasil.” cit mundial de açúcar de 5,5 milhões de t em 2016/17. Diante disso,
A crescente demanda da indústria de alimentos e bebidas na Ásia, os preços do açúcar devem permanecer bem apoiados ao longo dos
juntamente com anos seguidos de produções menores de açúcar, tem próximos 12 meses.
empurrado o estoque de açúcar da Ásia para baixas históricas. Segun- “A demanda industrial para o açúcar continua forte e deve crescer
do os dados do último relatório do Rabobank, de agosto, depois de à medida que o aumento da prosperidade na Ásia continue a impulsio-
um 2015/16 ruim, o El Niño tem impactado a produção de açúcar em nar o crescimento do consumo de alimentos e bebidas industrializadas.
2016/17, tornando a região dependente do açúcar importado diante Enquanto a maioria dos países criaram políticas como as tarifas de
da crescente demanda doméstica industrial. importação e preços mínimos para compra de cana, afim de influenciar
Duff explica que ao longo dos últimos dez anos, a produção de e estabilizar o abastecimento interno e os preços do açúcar, usuários
açúcar na Ásia assistiu um forte crescimento, que direcionou os esto- industriais permanecem abertos ao risco de preços mais elevados e/ou
ques para níveis recordes. Durante este período, 2008/09 foi o único rupturas de fornecimento. Compradores industriais deverão, portanto,
ano a ter um déficit na oferta e demanda regional, causado por uma ter que considerar estratégias financeiras e operacionais para mitigar
redução acentuada na produção de açúcar da Índia, segundo maior esses riscos de preços”, detalha relatório do Rabobank.
produtor do mundo, que viu sua produção cair para 16 milhões de t. Outro ponto que tem ajudado o mercado brasileiro foi a queda
Em 2015/16, a Ásia testemunha o seu primeiro ano de déficit nos preços do petróleo e a desvalorização cambial, o que fez com
depois de mais de cinco anos. A produção de açúcar chinês caiu em que os preços do frete para a Ásia, principal região compradora do
mais de 2,3 milhões de t (valor bruto), comparado a 2014/15. Já a produto, tenham ficado mais competitivos, 50% inferiores aos pra-
produção indiana, deve encolher em mais de 4 milhões de t, empur- ticados em 2015.
rando a Ásia para um déficit total de quase 2 milhões de t. “O preço do frete, tanto marítimo como o rodoviário, quando
“A Índia deve ver uma queda na sua produção também para o cotados em dólar, apresentaram uma retração significativa nos úl-

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timos meses de dezembro de 2015, além da variação cambial e da
Em 2015, segundo o Mapa, o queda do preço do petróleo, a desaceleração da economia chinesa
Brasil exportou 24,03 milhões de fez com que a demanda pelas commodities agrícolas ficasse menor,
t de açúcar para 129 países. liberando maior espaço nos navios e contribuindo para preços mais
competitivos”, avalia Botelho.
O ranking foi o seguinte: Ainda segundo o analista da INTL FCStone, a retração nos preços

1º China
do frete beneficiou mais o Brasil do que os demais países produtores
em relação aos mercados mais disputados, que são o Oriente Médio
2,51 milhões de t e a Ásia. Além disso, o real desvalorizado faz com que o açúcar fi-
que mais barato para quem compra e garante maior rentabilidade ao

2º Bangladesh
produtor brasileiro. “No mercado asiático e no Oriente Médio, a Tai-

2,47
lândia e a Índia são as principais concorrentes da Brasil pela maior
milhões de t proximidade, o que gera custos menores com transporte. Com a queda
no preço do frete e o dólar valorizado, o açúcar nacional atinge maior

3º Argélia competitividade. Diante deste cenário, a tendência é que a partici-

1,63
pação do Brasil no mercado internacional seja ampliada”, observa.
milhão de t
CONTRABANDO DE AÇÚCAR
4º Nigéria Além das quebras de safras nos países do Sudeste Asiático e da

1,34 milhão de t
redução dos preços dos fretes, outro fator que propiciou a construção
da atual realidade do mercado mundial de açúcar foi o aumento do

5º Rússia
contrabando do produto para a China, que ocorreu no final do ano
passado e início deste, e que pode ter chegado a cerca de 1,2 milhão

1,04 milhão de t
de t do comércio global, segundo Plinio Nastari, presidente da con-
sultoria Datagro.
Os contrabandos ocorreram porque, em 2015, o governo chinês
Assim, somente estes cinco países importaram passou a regular a liberação de licenças de importação de açúcar, re-
37,4% de toda a exportação brasileira. Vale tirando a automaticidade do processo no momento de quebra de safra
ressaltar que os dois primeiros lugares e o no país. Segundo Botelho, como uma quantidade elevada de açúcar,
quinto são países asiáticos, o grande mercado que já havia sido contratada por algumas refinarias, ficou parada no
do açúcar brasileiro do presente e do futuro. porto, os comerciantes de Myanmar começaram a comprar da Índia

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BRASIL X TAILÂNDIA
Apesar do mercado da América Latina também ter
sua importância para o Brasil, o analista de açúcar
e etanol da INTL FCStone, João Paulo Botelho,
afirma que muito mais importante do que conseguir
se livrar das tarifas do Mercosul ao açúcar
brasileiro, é o Governo continuar focado na ação
junto à OMC (Organização Mundial do Comércio)
contra os subsídios aos produtores de açúcar
concedidos pelo governo da Tailândia, maior
concorrente do Brasil na produção da commodity.
A medida, solicitada pela Unica (União da Indústria
de Cana-de-Açúcar), foi autorizada pelo conselho
de ministros da Câmara de Comércio Exterior
(Camex) em março deste ano. No entanto, a
expectativa é de que o processo se desenrole por
até três anos e ainda há dúvidas quanto a uma
vitória brasileira.
A Tailândia elevou em 2014 o valor pago pela
tonelada de cana para 160 bahts (US$ 4,50). O
incentivo é válido para cerca de 300 mil produtores
e para um total de 103,67 milhões de t, o que
acarreta em um gasto de 16,59 bilhões de bahts
(US$ 466,79 milhões). O Brasil também questiona
o aumento da área plantada com cana na Tailândia
nos últimos anos, mesmo em meio à queda
constante dos preços internacionais do açúcar.
Na safra 2011/12, eram 1,28 milhão de ha, número e da Tailândia para colocar o produto ilegalmente na China, via ter-
que subiu em 2014/15 para 1,51 milhão de ha. Por restre, entre os meses de janeiro de 2015 a março de 2016.
fim, o governo brasileiro também pede informações A Tailândia chegou a exportar, apenas por navio, quatro vezes
sobre os custos de logística e sobre como são mais açúcar para Myanmar durante seu período de safra (de novembro
estabelecidas as cotações internas do açúcar, que do ano passado a março deste ano). O volume, de 356 mil t, porém,
ficam acima das do mercado internacional. indica apenas uma parcela do que pode ter sido contrabandeado à Chi-
A Tailândia instaurou um sistema de controle na via Myanmar, já que não há registros da quantidade exportada por
de preços que garante um valor elevado para o terra. Segundo Botelho, o surto de contrabando só terminou quando
açúcar produzido para consumo interno, e concede os preços internacionais subiram muito, o que fez com que o comér-
cio ilegal deixasse de ser lucrativo.
subvenções para a produção excedente, destinada
à exportação. O país também realiza pagamentos
ÁSIA: O PRESENTE E O FUTURO
adicionais aos produtores de cana-de-açúcar e
Ao analisar atentamente o cenário atual e as perspectivas dos
libera subsídios para transformar arrozais em especialistas para o futuro do açúcar no mercado asiático, fica fácil
plantações de cana. Esta política, de acordo com o responder à pergunta feita no início desta reportagem: O mercado
Brasil, viola as normas do comércio internacional. asiático é e continuará sendo o futuro para o açúcar brasileiro? A res-
“Se o governo brasileiro tiver um resultado positivo posta é sim! “A Ásia é o gigante de consumo, representando 47% do
contra a Tailândia, será uma vitória importantíssima consumo global e cresce robustamente em decorrência do crescimento
para o setor sucroenergético nacional”, afirma da população, do crescimento da renda e das mudanças em alimen-
Botelho. tação que acompanham a urbanização da população”, afirma Duff.
De acordo com previsões da Archer Consulting, a demanda por
açúcar para exportação deverá saltar de 25,57 milhões de t na safra

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2017/18 para 28 milhões de t na safra 2021/22, um incremento de sões para o crescimento do consumo de refrigerantes tenham sido
6,04%. Considerando também o consumo de etanol anidro e hidra- reduzidas na Ásia, a projeção de crescimento é permanece à frente
tado, e o consumo doméstico do açúcar, que deve pular dos 11,6 da maioria das outras regiões do mundo. A indústria de laticínios,
milhões de t em 2017/18, para 12,46 milhões de t, o volume de cana panificação e biscoitos, são outros segmentos-chave de interesse pa-
necessário para os próximos cinco anos deverá ser de 226 milhões de ra a indústria de açúcar. Ambos deverão crescer a uma taxa estável
t. “Como o crescimento mundial de consumo se concentra em grande nos próximos anos.
parte na Ásia, não é difícil assumir que eles serão nosso grande mer- Segundo Duff, em geral, o crescimento da indústria alimentícia
cado. Só China e Índia juntas, crescem em consumo até 2020, mais mantém-se forte diante do mercado mundial. Embora a taxa de cres-
de 6 milhões de t”, destaca Corrêa. cimento global para a Ásia tenha diminuído, a região continua a ser
O relatório do Rabobank mostra que o consumo asiático de ali- extremamente importante, representando quase 40% do crescimento
mentos e bebidas industrializadas é o que irá conduzir o crescimento do volume mundial entre 2015 e 2018. “Espera-se que este padrão se
da demanda por açúcar. “A Ásia tem estabelecido um ritmo de cres- repita no período de projeção. Exceto para áreas emergentes tais co-
cimento do setor de alimentos e bebidas industrializados desde 1990, mo o Oriente Médio e África, o Sudeste Asiático vai crescer à frente
impulsionado principalmente pelo crescimento da China. Com o de todas as outras regiões.”
rápido crescimento projetado para a Índia e o Sudeste da Ásia, acre- A demanda regional da Ásia por açúcar, hoje de quase 50% da
ditamos que esta tendência - da Ásia impulsionando o crescimento demanda total mundial, é projetada para crescer robustamente nos
mundial assim como a prosperidade econômica da região - prova- próximos anos (só a África, entre os continentes, está projetada pa-
velmente persistirá, embora a uma taxa mais baixa. Sem surpresa, o ra crescer a uma taxa maior), segundo o analista de commodities e
Vietnã está na liderança dos países em crescimento na Ásia, a uma especialista do setor de açúcar e etanol do Rabobank. “Dado que a
taxa de dois dígitos ao ano”, afirma o relatório. capacidade desses países para produzir mais açúcar seja limitada pela
No entanto, em termos absolutos, é a China quem lidera o ranking falta de terra nova para agricultura, esse crescimento provavelmente
de crescimento, sendo responsável por mais de 60% do aumento re- aumentará a necessidade da região de importar cada vez mais açúcar,
gional no volume de consumo de alimentos e bebidas industrializadas e o Brasil é muito bem posicionado para fornecer uma boa parte desse
ao longo da última década. Apesar da recente desaceleração econômi- fluxo adicional ao comércio internacional”, afirma Duff.
ca da China, que poderá criar um entrave ao crescimento da demanda, A China continuará sendo o importador mais relevante, segundo
por outro lado, segundo o Rabobank, a Índia deverá aumentar o con- Botelho, por dois motivos: crescimento da população e redução na
sumo de alimentos e bebidas industrializadas nos próximos três anos. produção. Com a rápida urbanização, ou seja, com uma população
Os refrigerantes têm sido um dos grandes responsáveis pelo au- muito grande indo para as cidades, o que acaba aumentando o con-
mento do volume do consumo de açúcar na Ásia. Embora as previ- sumo de refrigerantes, bebidas açucaradas e alimentos industrializa-

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dos, faz com que se aumente também a demanda de açúcar do país.
ETANOL BRASILEIRO O consumo tem aumentado de forma constante e a produção

RUMO À CHINA? passou por uma redução muito grande nos últimos anos. O setor ca-
navieiro de Guangxi, a principal província canavieira da China, tem
Muito além da demanda por alimentos, o setor tido problemas com a produtividade e falta de manejo e mecanização
sucroenergético nacional pode começar a se em suas áreas de plantio de cana, o que faz com que o país passe a
preparar para atender uma possível demanda da priorizar outras culturas que são mais difíceis de serem importadas,
China por etanol. Isto porque, o gigante asiático, como as hortaliças, muito usadas no consumo local. Considerando
maior comprador mundial de açúcar e principal todos estes fatores, há uma situação estrutural de déficit de açúcar
destino das exportações brasileiras, enfrenta crescente na China.
enormes desafios diante das altas taxas de “Até o momento, o governo chinês tem tentado diminuir o volume
crescimento demográfico e da necessidade de de importações através de barreiras, mas é algo que provavelmente
melhora na qualidade de vida da sua população. não será possível de se manter em longo prazo apenas por contro-
le alfandegário. Então, esse ano o governo chinês poderá vender os
Antonio de Padua Rodrigues, diretor Técnico da
estoques de açúcar e colocar no mercado afim de diminuir o preço
Unica, destaca a importância de se estreitar o
doméstico e manter as importações relativamente baixas. Mas isso é
relacionamento entre Brasil e China não apenas
algo limitado. Eles podem fazer isso durante esse ano e no próximo
para incrementar o comércio entre as duas nações,
já não terão este estoque. Sendo assim, a tendência é que a China se
como também para promover o desenvolvimento torne cada vez mais importador de açúcar”, afirma o especialista da
sustentável no maior país emissor de gases de efeito INTL FCStone.
estufa do planeta. “Visto que a China anunciou a
aprovação do acordo global sobre o clima, podemos A CONCORRÊNCIA DA TAILÂNDIA
buscar mais espaço para o etanol de cana. Tendo Apesar da elevação dos preços da commodity na Tailândia, por
a matriz energética muito dependente do carvão e conta da quebra da safra local, estimada pelo Departamento de Agri-
petróleo, os chineses terão que fazer um enorme cultura dos Estados Unidos (USDA) em 10% no atual ciclo 2015/16
esforço, nos próximos 15 anos, para diversificar - para 9,74 milhões de t -, após uma forte seca no ano passado, o país,
fontes de energia limpa”, avalia. segundo maior exportador global de açúcar, atrás do Brasil, é o único
que pode fazer a diferença na oferta de açúcar para os próximos anos.
Donos de uma frota automotiva composta por mais
Segundo dados da Archer Consulting, a perspectiva é que a Tailândia
de 217 milhões de veículos, quase todos movidos
produza cerca de 12 milhões de t na safra 2016/17, 12,5 milhões em
por combustíveis fósseis e diante dos altos níveis
2017/18 e aumente para 13 milhões de t na safra 2018/19.
de poluição de algumas cidades, inclusive já
“Por mais que tenhamos cada vez mais potencial de crescimento
considerados alarmantes pela Organização Mundial na exportação, teremos na Ásia o principal concorrente, a Tailândia,
de Saúde (OMS), a China deverá ser um provável que também terá um grande potencial de produção e poderá ser uma
destino para o etanol brasileiro. grande concorrente. A disputa será de market share será acirrada”,
conclui Botelho.

12
13
fórum

CLIMA SECO MENOS CANA


FARÁ UNIDADES “Sim! Na verdade, não é que ela vai acabar mais cedo. Como
ENCERRAREM fornecedor acredito que a safra deve acabar no máximo de 25 a
MAIS CEDO 30 de novembro, o que não ocorreu nos últimos anos. Os fatores
“Mais importante que a data de climáticos da safra 2016/17 afetaram e fizeram com que tivés-
término de safra é a previsão de semos que cortar canas mais tardias. Essas canas mais tardias
moagem de cana e a produção de da região da Tecnocana sofreram com o excesso de chuvas e
açúcar e etanol para a atual safra. pouca luminosidade. Foi um período fora do comum. E como
Sabemos de muitas usinas que en- nós cultivamos nossa cana no final de 2015, porque estendemos
cerrarão a safra 2016/17 mais cedo a safra até praticamente o Natal, esse cultivo está com o TCH
que a 2015/16, mas isso não quer muito baixo. Então, devido a esta quebra de produtividade, a
dizer que moerão menos cana ou safra deverá terminar antes, por volta de 30 de novembro. O
que produzirão menos sacarose que timing de término de safra é muito importante, porque às vezes
a safra passada. A safra 2016/17 es- você acha que está ganhando, mas tem que pensar nos outros
tá bem adiantada, começou mais anos. Se você desestabiliza o potencial genético da planta em
cedo, o clima seco ajudou no apro- um ano, os cortes consequentes serão menores. Às vezes é
veitamento do tempo e no nível alto preciso sacrificar um ano, antecipar o corte dela para que no
de ATR, mas também impactou a próximo ano essa cana produza mais. São dois fatores que vão
produtividade agrícola. Nas regi- fazer com que antecipemos a safra, o clima e a queda no TCH.
ões que foram mais afetadas pelo Para quem teve uma melhor distribuição das chuvas, a safra
clima seco, as empresas tendem a vai caminhar normalmente. Agora, nas regiões onde se choveu
encerrar mais cedo, como em Goi- menos e sofreu por geadas, a safra deverá ser mais curta. Co-
ás e algumas regiões de Minas Ge- mo produtor e fornecedor de cana, acredito que o melhor é que
rais. Já nos estados como São Pau- sempre se termine a safra até o dia 30 de novembro. E este ano,
lo, Mato Grosso do Sul e Paraná, principalmente para a Tecnocana que terá uma queda de 20%
o encerramento mais cedo não é em TCH, vamos ter de administrar. Como temos uma entrega
uma  tendência.” linear de cana, iremos até o final com a usina, mas com um
Mario Campos, presidente volume total de cana menor. As usinas também devem finalizar
da Siamig (Associação das sua moagem até o dia 20 de novembro.”
Industrias Sucroenergéticas de
Paulo Roberto Artioli, produtor e fornecedor de cana da
Minas Gerais)
Tecnocana

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DENTRO DO PRAZO QUEDA NA
NORMAL PRODUTIVIDADE
“O que acontecerá, diferente dos últimos anos, é que ENCURTARÁ SAFRA
o ciclo será finalizado dentro do prazo normal de ano/ “Vai acabar sim! Acredito que a safra do Cen-
safra, entre novembro e dezembro. Nas últimas safras tro-Sul neste ano vai acabar mais cedo porque
houve o avanço da colheita no ano seguinte devido a a produtividade agrícola dos canaviais a serem
condições climáticas que impediram o encerramento colhidos do mês de setembro em diante está
dentro do período comum.” mais baixa do que o esperado inicialmente.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Fruto, provavelmente, desta cana ter sido co-
Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar)
lhida embaixo de chuva no ano passado e ter
enfrentado secas importantes, especialmente
MS DEVE ESTENDER no final do último verão. Também ajuda o fato
“Restrinjo minhas observações ao Mato Grosso do
de termos iniciado a safra mais cedo este ano,
Sul. Como aconteceu na safra passada, muitas uni-
acreditando que, por conta do grande volume
dades aqui no Estado estão preparadas para moer no
de cana bis que havia, a safra seria longa.”
período tradicional da entressafra, seja estendendo
Ricardo Pinto, sócio-diretor da RPA
suas operações, seja antecipando o seu início. Como Consultoria
houve chuvas acima do esperado no final de abril e
início de maio, atrasando um pouco a safra, é de se DENTRO DA
esperar que isso aconteça novamente.”
Roberto Hollanda Filho, presidente da Biosul
NORMALIDADE
(Associação dos Produtores de Bioenergia de “Eu entendo que nós vamos ter um término
Mato Grosso do Sul) de safra 2016/17 normal. Essa normalidade
significa dizer que no Centro-Sul nós tivemos
DEPENDE DE FATORES estados onde a chuva foi mais intensa, fazen-
CLIMÁTICOS do com que o andamento da safra fosse mais
“O final da safra de cana-de-açúcar está diretamente prejudicado. Algumas usinas deverão entrar
relacionado com a disponibilidade de matéria-prima, janeiro, fevereiro e talvez até em março mo-
bem como com as condições climáticas que influen- endo, ou seja, vamos ter um grupo de usinas,
ciam de forma direta nas operações das usinas. So- não muitas, mas que vão entrar janeiro a fo-
bre a disponibilidade de cana, percebe-se claramen- ra. Algumas usinas irão terminar em outubro
te em algumas microrregiões que a falta de chuvas porque começaram mais cedo ou porque estão
em momentos importantes do desenvolvimento dos localizadas em regiões em que choveu muito
canaviais prejudicou o desenvolvimento da cana, o menos. A tendência é que daqui até novem-
que deve ocasionar perda de produtividade. Aliado bro as chuvas não atrapalhem a safra, ou seja,
a este fato, vimos a ocorrência de pelo menos duas devemos ter chuvas dentro da normalidade,
geadas em algumas áreas, o que também diminuiu dentro das médias, o que significa dizer que se-
a quantidade de cana-de-açúcar a ser processada na tembro e outubro serão meses de pouca chuva
atual temporada, podendo favorecer um término mais e que não deverão atrapalhar a safra. Acredito
precoce na colheita. Sobre os fatores climáticos, se que vamos ter a grande maioria das usinas ter-
continuar a incidência de chuvas acima das médias minando entre novembro e dezembro. O que
históricas (como ocorre neste final de agosto e início a gente tem visto ao longo dos anos são pro-
de setembro), não vemos a possibilidade de anteci- cedimentos normais de final de safra, algumas
pação do fim da colheita. Diante dos fatos expostos, acabando mais cedo, a maioria de novembro
fica difícil fazer uma previsão de término de safra, a dezembro, e algumas entrando de janeiro a
que ainda depende de São Pedro.” março.”
Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da Manoel Ortolan, presidente da Canaoeste
Udop (União dos Produtores de Bioenergia) (Associação dos Plantadores de Cana do
Oeste do Estado de São Paulo)

15
tecnologia agrícola

Evoluções tecnológicas e automatização das plantadoras são algumas


das soluções encontradas para os principais gargalos da atividade

Em uma de suas últimas edições, a RPA- homem na operação de plantio promovendo, de gastos de mudas de até 9 t/ha e uma média
news abriu espaço para especialistas, produ- com isto, uma melhor distribuição dos re- de 11 t/ha em algumas unidades com mais de 8
tores e fabricantes de plantadoras discutirem bolos nos sulcos de plantio com as mesmas mil ha de plantio.
qual, afinal, seria o futuro do plantio de cana. orientações técnicas de cada usina e gastando, “Entre usinas e fornecedores, atualmente
Alguns apontam a MPB (Muda Pré-Brotada) em média, de 20% a 40% a menos de mudas. são cerca de 45 clientes que já adquiriram a
ou a cana semente como as tecnologias que “Acreditamos que tirar os comandos das plantadora automatizada. É importante salientar
deverão dominar o futuro da atividade, ou- cabines das plantadoras e passar para os tra- que é preciso seguir as recomendações técnicas
tros, vislumbram o plantio mecanizado tal tores é apenas um paliativo para a redução de de cada unidade para posteriormente poder ajus-
qual o que temos hoje, mas com algumas custos com mão de obra na operação, porque, tar a máquina e conseguir maiores economias.
evoluções, como o principal método para o em muitos casos, isto acaba até aumentando Temos hoje unidades e produtores independen-
plantio da cana. Enquanto não há viabilidade o gasto de mudas por conta de todas as ope- tes (fornecedores) trabalhando com nossa plan-
econômica para o plantio comercial de MPB, rações estarem concentradas na mão de uma tadora automatizada em seis estados brasileiros
assim como também não há, em curto prazo, só pessoa”, afirma. com total sucesso e reduções de custos totais
previsão para o uso da cana semente em es- Para isso, ele explica que, além de adi- do plantio de 10% a 15% e ganhos futuros com
cala comercial, fabricantes e novas empresas cionar um sistema eletrônico, que permite maiores produções de cana devido ao menor
têm evoluído significativamente as soluções que todas as operações da plantadora sejam gasto de mudas”, revela Pardinho.
existentes e trazido novos conceitos para a programadas para o trabalho de plantio, a má- Ainda de acordo com ele, se considerarmos
mesma operação, resolvendo os principais quina passou por evoluções em sua esteira apenas o valor da tonelada de cana para muda e
gargalos da operação: o gasto excessivo de dosadora de toletes, que vem com ângulo in- a venda de açúcar e etanol produzidos pela cana
mudas por hectare e as falhas, responsáveis vertido e devolve para a caçamba o excesso que ficou no campo ao invés de ser plantada (em
pelo aumento dos custos da operação. de mudas, e os sensores, que mantém o fluxo excesso), há um valor altamente significativo
Cientes das reclamações dos produtores de toletes no ponto exato da esteira dosadora, que paga facilmente o custo do investimento
com relação as falhas e uso exagerado de mu- o que evita a ocorrência de falhas. na nova plantadora.  
das, que subiu de 12 t/ha (no plantio manual) Até o ano passado, apesar das boas ven- “Gostaria de ressaltar que o mercado mui-
para 18 ou até 20 t/ha, a DMB apostou na das da máquina e dos resultados de testes em tas vezes confunde plantadora automatizada
automação da sua máquina, tirando a respon- campo, ainda não se tinha respostas concretas com plantadora sem cabine. Esta máquina é
sabilidade das mãos do operador. De acordo sobre a melhora na questão do gasto de mu- uma plantadora totalmente automatizada on-
com Auro Pardinho, gerente de Marketing da das e na redução das falhas, mas após dois de o tratorista apenas liga e desliga o sistema,
DMB, que lançou o modelo automatizado da anos, a plantadora, que está sendo utilizada através de um IHM com touch screen, e veri-
PCP 6000 em 2014, a aposta na automação por usinas como Pedra Agroindustrial, Usina fica o trabalho realizado por um monitor HD
total da plantadora foi por acreditar que era Ipiranga, Usina Rio Vermelho e Usina Guaí- que recebe imagens de cinco câmeras, não ten-
preciso ter a menor interferência possível do ra, já acumula resultados muito interessantes do nenhuma outra ação sobre o funcionamento

16
da máquina. Outras plantadoras (sem cabine)
ainda possuem controles, cujas operações são
executadas pelo tratorista”, destaca.
Gustavo Villa Gomes, diretor agrícola da
Usina Guaíra, afirma que com o uso de plan-
tadoras mecanizadas e distribuidoras de toletes
conseguia chegar a um gasto mínimo de mudas
de 16 t/ha, o que o fez procurar trocar uma de
suas frentes de plantio. “Fizemos testes com
algumas plantadoras automatizadas e verifica- Das 24 plantadoras da Pedra Agroindustrial, 20 são automatizadas. As novas
máquinas têm proporcionado menor porcentagem de falhas e, consequentemente,
mos que é possível reduzir um pouco mais este
redução de 12,5% na quantidade de mudas empregadas
número. No entanto, sabemos que o sucesso do
plantio ainda dependerá das variedades de cana para que esta porcentagem de falhas seja a APOSTANDO NA
e da condição da muda.” menor possível, tolerando até 10% (meto- AUTOMAÇÃO
Cassio Manin Paggiaro, diretor agrícola do dologia Stolf, acima de 0,5 m é considerado A Sollus, empresa fabricante de imple-
Grupo Clealco, de Clementina, SP, conta que uma falha). É importante lembrar que falhas mentos agrícolas desde 2006, oferece o mo-
a usina faz o seu plantio com 12 plantadoras no plantio dependem de vários fatores além delo Plant Flex 8080 há 9 anos. Ao longo
convencionais e com uma média de gasto de do equipamento utilizado, tais como varie- destes anos, segundo Rodrigo Veloso, gerente
mudas de 18 t/ha, às vezes com números um dades, idade, porte da muda e da terra sobre de vendas da Sollus, a empresa modificou
pouco abaixo disso. a muda após o plantio.” itens como o peso e o comprimento da má-
“Os equipamentos para plantio mecaniza- Trawitzki adiciona que a plantadora au- quina, que ficaram menores para agilizar/di-
do de cana ainda são muito imprecisos em suas tomatizada permite uma distribuição mais minuir o tempo de manobras na operação, e
regulagens, principalmente quanto ao volume homogênea da muda dentro do sulco, pois foram criadas as opções de trabalhar sem ca-
de mudas, sua colocação no solo e cobertura, como o próprio nome já diz, ela dosa a muda bine, transferindo os controles do operador da
ocasionando falhas. É possível trabalhar um automaticamente e não de forma manual, ex- plantadora para dentro da cabine do trator ou
pouco abaixo das 18 t/ha, porém, com risco cluindo desta forma um possível erro huma- ainda a opção de trabalhar sem cabine, mas
de falhas de distribuição, não corremos o ris- no. “Em função disto, temos como resultado com a automação completa das operações, ou
co. Ainda não investimos em plantadoras au- um plantio com menor porcentagem de falhas seja, tirando o controle das mãos do operador.
tomatizadas, embora acredite poderem agregar e, consequentemente, redução na quantidade “O sistema de automação da máquina
resultados positivos à operação, principalmente de muda empregada, que no nosso caso foi de permite controlar a taxa de toletes (mudas) e
na redução do consumo de mudas e na diminui- 12,5%, ou seja, saímos de uma média de 16 também a quantidade de adubo. Oferecendo
ção de custo por utilizar menor número de pes- t/ha para 14 t/ha após a utilização das plan- a redução dos custos de aplicação destes in-
soas na operação das mesmas”, diz Paggiano, tadoras automatizadas. É importante destacar sumos e garantindo a uniformidade nas taxas
que adiciona que a performance e a qualidade que esta porcentagem pode ser maior ou me- aplicadas e menor gasto de mudas. Com a
do plantio mecanizado também estão direta- nor, dependendo do grau de desenvolvimento automação é possível depositar uma quan-
mente relacionadas à qualidade do preparo do que cada empresa está no processo do plantio tidade de cana no sulco entre 12 t/ha a 18 t/
solo e da sistematização do terreno e não so- mecanizado.” ha. O sistema de automação da Sollus faz a
mente as tecnologias. compensação nas taxas aplicadas indepen-
Na Pedra Agroindustrial são utilizadas 24 De acordo com Pardinho, as unidades e dentemente da variação de velocidade de tra-
fornecedores que vêm trabalhando com
plantadoras para a realização de todo o plan- a plantadora automatizada tem reduzido balho”, destaca Veloso.
tio da unidade. Deste total, 20 máquinas já são os custos totais do plantio em até 15% Além disso, foram alteradas as esteiras
automatizadas. Segundo Hebert Trawitzki, ge- plantadoras, o posicionamento das bicas con-
rente Agrícola da Usina da Pedra, as planta- dutoras e do sistema de cobrição para me-
doras automatizadas realmente permitiram a lhorar a distribuição e cobrição correta dos
redução do gasto de mudas por hectare, o que toletes de cana no sulco.
trouxe como consequência um menor número “Nós temos uma parceria direta com nos-
de abastecimentos com a muda, melhorando o sos clientes. Essa proximidade nos permite
rendimento de plantio. desenvolver melhorias nos produtos visando
“É importante destacar a melhora também sempre atender as necessidades apresenta-
na distribuição dos toletes, porque fazer um das. Acho que o plantio mecanizado de ca-
plantio sem falhas é praticamente impossível, na-de-açúcar tem muito a evoluir. O custo
até mesmo no plantio manual. Com o plantio atual da operação ainda é muito alto e está
mecanizado a porcentagem de falhas aumenta aquém da rentabilidade e qualidade que tinha
em função da maior mecanização tanto na co- no plantio manual. Mas acredito que o que
lheita da muda como no plantio propriamen- pode contribuir para a redução destes custos é
te dito. Na Pedra Agroindustrial trabalhamos exatamente o controle da dosagem de toletes

17
(mudas) por hectare de forma automatizada, clusivo sistema auto nivelante; sistema Split
garantindo um plantio eficaz com menores Flow de dosagem uniforme entre os sulcos,
índices de falhas.” isso devido ao exclusivo sistema de dosador
de mudas para dois sulcos; sulcador de dis-
REDUZINDO OS DANOS co, que reduz ainda mais a necessidade de
NAS GEMAS potência do trator; e menor peso estrutural,
A TMA, uma das primeiras empresas a possível graças aos pneus Super Flotation
desenvolver soluções para plantio de cana, te- (22% menos peso estrutural e 18% maior
ve como grande desafio, segundo Márcio Sou- apoio no solo), que garantem menor com-
za Leão, gerente Comercial Corporativo da pactação do solo.
TMA, quebrar paradigmas sobre o plantio “Com capacidade para 6 a 8 t de mudas,
mecanizado. “Trabalhamos em parceria com temos clientes trabalhando com velocidades
institutos de pesquisa e usinas para provar a de 8 a 12 km/h. O consumo de mudas também
viabilidade do processo. As evoluções aconte- está superando as expectativas. Até o momen-
ceram a partir disto, e provamos que o plantio to a máquina, no plantio de espaçamento de
mecanizado é possível de ser feito em grande Segundo Trawitzki, as plantadoras au- 1,5m, conseguiu trabalhar com um gasto de
escala e com qualidade. Buscamos então a tomatizadas permitiram a redução do mudas de 8 a 16 t/ha, podendo atender outras
preservação da qualidade das mudas, o menor gasto de mudas por hectare, um menor demandas se necessário. Tem se mostrado
número de abastecimentos com a muda,
uso toletes por hectare e todas as tecnologias muito eficiente, rápida inclusive nas mano-
melhorando o rendimento de plantio
que pudessem diferenciar nossas plantado- bras”, destaca Barbieri.
ras”, explica Leão. las chamada Doble TT, investe, desde 2015, Alguns produtores de Lençóis Paulista
Usadas em usinas da Raizen, SJC Car- em sua nova unidade no Brasil, sediada em já estão fazendo o uso da máquina, caso de
gill, Grupo São Martinho, Cofco, Cerradi- Lençóis Paulista, SP, e na fabricação de um Hamilton Rossetto, engenheiro agrônomo e
nho, Odebrecht Agricultura, entre outras, a novo conceito de plantadora de cana, a Neo- sócio proprietário da PHD-Cana, que iniciou
máquina foi projetada e pensada para resolver Zaf 8022, uma evolução do primeiro projeto os testes com a máquina em maio de 2015.
um dos itens mais importantes que é danificar NeoZaf 6000, lançada em 2013. Segundo Rossetto, a máquina já plantou apro-
menos a gema. Segundo Leão, o sistema da Apesar da empresa ser argentina, as tec- ximadamente 1.000 ha com uma estrutura
fabricante é exclusivo no mercado e trabalha nologias embarcadas na plantadora NeoZaf composta por uma colhedora, cinco cami-
com um ângulo de inclinação que, combinado 8022 foram todas desenvolvidas por enge- nhões transbordos, duas plantadoras NeoZaf
com seu fundo móvel, promove o abasteci- nharia brasileira para atender as necessidades 8022 T acopladas em dois tratores de 205 cv,
mento da esteira de distribuição sem qualquer dos plantios locais. De acordo com Leonardo mais o apoio.
agressão ao tolete, ou seja, não existe corrente Barbieri, engenheiro agrônomo e responsável “Ao comparamos com as plantadoras que
ou qualquer outro elemento que possa dani- pela área Comercial da Doble TT no Brasil, já utilizávamos, esta máquina apresenta um
ficar as gemas. um dos destaques da máquina é que ela já rendimento maior, pois trabalha com uma ve-
“Além disso, conseguimos comprovar foi desenvolvida pensando em altas decli- locidade maior e é mais rápida em manobras
que elas proporcionam um menor consumo vidades, situação que ocorre em canaviais por ser articulada. Quanto ao gasto de mudas,
de mudas por hectare plantado, ao redor de argentinos. “Ela vem com um sistema ex- já percebemos uma redução. Hoje estamos
10 a 12 t/ha em vários ambientes de plantio. clusivo para auto nivelamento da caçamba, gastando, em média, 14,5 t/ha, variando de
A evolução da automatização da plantado- que permite com que a máquina trabalhe em 12 a 16,5 t/ha dependendo da muda. Também
ra incorporou, além dos mecanismos atuais declividades mais acentuadas.” não estamos percebendo problemas com bro-
de agricultura de precisão, rastreamento por No entanto, o foco do projeto, segundo tação. Mas o que realmente chama atenção é
câmeras e monitores, e a automação através Barbieri, é obter a precisão do manual com a o maior rendimento, que reduz o custo opera-
de células de controles individuais de taxa eficiência do mecanizado. Para isso a máqui- cional”, revela o produtor, que diz que apesar
variável, que controla a vazão dos produtos na traz características importantes como bai- de ainda estar avaliando diversos aspectos,
automaticamente, tanto os toletes quanto os xo consumo de mudas, mais simplicidade na está muito satisfeito com o que está vendo.
fertilizantes e defensivos. A automação ainda operação, leveza e velocidade na operação.
compensa as variações de velocidade de des- A plantadora é articulada, sendo que a MUITO ALÉM DA
locamento da máquina, mantendo constante a unidade de plantio é acoplada no terceiro TECNOLOGIA
taxa de aplicação dos produtos”, detalha Leão. ponto do trator, o que garante que os sulcos Se de um lado as empresas fabricantes
serão feitos na mesma linha de deslocamento de tecnologias vêm tentando trazer grandes
DIRETO DA ARGENTINA do trator, sempre no local correto, inclusive melhorias em suas plantadoras, de outro, é
Se no campo de futebol a disputa é gran- em curvas de nível mais pronunciadas. Além preciso que as usinas e produtores também
de, fora deles, mas também no campo, a re- disso, a máquina conta com computador de evoluam na gestão de todo processo. Segun-
lação é um pouco mais amistosa e de coope- bordo de fácil manuseio e interpretação; au- do Dario Wilian Sodre, da Dg2 Consultoria,
ração. Há mais de 36 anos no mercado, uma tomação de dosagem de mudas e adubo; com- não existe segredo para o sucesso. “É gestão
empresa argentina de implementos agríco- partimento de armazenagem de cana com ex- do processo desde a escolha de variedades, a

18
utilização de mudas mais sadias e novas, pre-
paro de solo e o monitoramento da qualidade,
da colheita da muda até sua distribuição. Só
assim é possível obter falhas ao redor de 5%
com uma dosagem econômica de 12 t/ha.”
Para o diretor agrícola da Pedra Agroin-
dustrial, que considera o plantio mecanizado
muito mais técnico do que o manual, a preo-
cupação com a qualidade em todas as etapas
envolvidas neste processo também é funda-
mental. “Desde a formação dos viveiros, onde A máquina da empresa argentina Doble TT entrou no mercado brasileiro em 2015
a idade da muda é um quesito fundamental, e, segundo usuários, tem trazido melhoras no rendimento do plantio e reduzido os
passando pelo preparo de solo, que deve ga- custos da operação
rantir boas condições para o trabalho das plan- investiu na utilização do piloto automático para se manter na linha correta de plantio,
tadoras, até o plantio propriamente dito, onde nos reboques de plantadora para que fosse escorregando no terreno”, observa.
o cuidado com a terra sobre a muda é um pon- possível efetuar os projetos de sulcação em “As mudanças e evoluções ocorridas no
to chave, são fatores de sucesso para um plan- 100% das áreas de reforma. “Com relação a plantio mecanizado não devem se restringir
tio de qualidade. Portanto, investir em treina- tecnologia das máquinas empregadas, ainda somente aos fabricantes de equipamentos,
mento de todos os envolvidos neste processo tem muito a se fazer. Apesar das melhorias na mas também na gestão do sistema como um
é fundamental, de forma que cada um tenha distribuição da muda, ainda estamos longe do todo, começando no planejamento e sistemati-
consciência da importância de seu trabalho. ideal, que pode ser facilmente comprovado, zação da área, preparo de solo, escolha da va-
Ninguém se compromete com aquilo que não avaliando a deposição dos toletes no sulco de riedade, escolha do viveiro de mudas, colheita
conhece”, enfatiza Trawitzki. plantio. Também existe limitação de plantio com qualidade e transporte das mudas, termi-
Além da tecnologia da plantadora au- em locais com declividade um pouco mais nando na adoção de uma plantadora mais efi-
tomatizada, a Pedra Agroindustrial também acentuada, onde a máquina tem dificuldade ciente para a operação”, conclui Pardinho.

19
tecnologia agrícola

Mais do que estabilizar os solos, a calagem é


fundamental para facilitar a absorção de nutrientes
pela planta e aumentar o seu potencial produtivo

No Brasil, a maioria dos solos são ácidos, destacando-se aqueles de íons OH-. Os valores de pH variam de 0 a 14. De acordo com
sob vegetação de Cerrado. Caracterizados por possuir baixos teores de informações do Sindicalc/RS (Sindicato das Indústrias de Calcário
Ca2+ (cálcio) e Mg2+ (magnésio), além de teores elevados de Al3+ do Rio Grande do Sul), quanto maior o pH do solo, ou seja, até 6 e
(alumínio) e uma baixa disponibilidade de P (fósforo), estes solos 7, mais fácil será a germinação das sementes. Isso porque, com o pH
possuem uma acidez natural proporcionada por diversos fatores, como alto, as raízes retiram do solo o máximo de macro e micronutrientes.
material de origem com baixo teor de cátions básicos e precipitação As reações que o carbonato de cálcio sofre no solo permitem que
pluvial maior que a evapotranspiração, o que acarreta na lixiviação o H+ (substâncias ácidas) presente no solo seja neutralizado, elevan-
de bases no perfil do solo, um processo de perda de minerais. do o pH. Como consequência, esta alcalinização promove o aumento
Além de reparar os danos e estabilizar os solos, o calcário de- da saturação de bases (V%), ou seja, porcentagem de nutrientes ca-
sempenha um papel fundamental no desenvolvimento das culturas, tiônicos (Ca, K e Mg) que ocupam a CTC (Capacidade de Troca de
desencadeando diversas reações no solo de caráter benéfico às plan- Cátions) e promove a redução do alumínio tóxico presente no solo,
tas como, por exemplo, o fornecimento de cálcio e magnésio para a uma vez que este reage com as hidroxilas (OH-) liberadas e passa
cultura. O cálcio, por exemplo, é um elemento essencial para o de- a se apresentar em uma forma precipitada (AI (OH)3), permitindo
senvolvimento do sistema radicular, portanto, com a calagem, nome o correto desenvolvimento do sistema radicular da planta. “A fina-
dado a aplicação de calcário ao solo, é possível aumentar a quanti- lidade da calagem é corrigir o pH do solo quando este estiver ácido
dade de terreno explorado, melhorando a nutrição geral das plantas e elevar para níveis adequados (+/- 6,5), onde a maioria das culturas
e diminuindo os efeitos de secas prolongadas e veranicos. manifestam o máximo potencial produtivo”, explica Ronaldo Cabrera,
Além disso, fazendo a calagem, é possível aumentar a disponi- engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e consultor em Solos e
bilidade de nutrientes, principalmente do H2PO4, conhecida como Nutrição Mineral de Plantas.
dihidrogenofosfato ou fosfato diácido, fonte de K (potássio) e P (fós- Além de elevar o pH e neutralizar o alumínio tóxico e fornecer
foro), que serve basicamente para preparação de soluções nutritivas, cálcio e magnésio, a calagem traz outros benefícios:
adubação e correção de deficiências do solo. A calagem é realizada - Neutraliza o manganês em excesso;
com a aplicação do calcário no solo, que deve ser realizado em área - Melhora a disponibilidade de fósforo para as plantas, reduzindo as
total, à lanço e incorporado em até três meses antes do plantio da perdas deste nutriente;
cana-de-açúcar. A principal finalidade desta prática é a correção da - Melhora a disponibilidade dos micronutrientes molibdênio e cloro;
acidez do solo e do fornecimento de Ca e Mg. - E melhora a atividade microbiológica do solo, favorecendo os nu-
O nível de acidez é medido através do índice de pH. A sigla, que trientes nitrogênio, enxofre e boro, que estão muito ligados à ma-
significa ‘potencial hidrogeniônico’, consiste num índice que indica téria orgânica do solo.
a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer. O pH Ao elevar o pH, reduz-se a disponibilidade dos micronutrientes
é uma característica de todas as substâncias determinadas pela con- metálicos, como zinco, cobre e manganês, que devem ser monitora-
centração de íons de hidrogênio (H+). Quanto menor o pH de uma dos dentro de um programa de fertilização balanceada.
substância, maior a concentração de íons H+ e menor a concentração “Além de neutralizar o alumínio, a calagem forma uma camada

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de impedimento químico para o crescimento das raízes, bloqueia a maiores produtividades”, relata. Quando o pH da cultura está baixo
acidez dos adubos acidificantes, aumenta a atividade dos micro-or- significa que o solo é muito ácido e muito tóxico, e que as plantas
ganismos do solo, aumentando assim, o aproveitamento dos adubos terão muita dificuldade em se alimentar dos nutrientes que elas tanto
e melhorando o perfil do solo, o que faz com que haja um aumento precisam para se desenvolver. Em resumo, a produtividade de um
na profundidade das raízes. Todos esses benefícios fazem com que solo com pH baixo será também muito baixa.
no final, um aumento na produtividade e no lucro seja percebido”, Segundo o Sindicalc/RS, a quantidade de calcário por hectare
explica Artur Cesaretti Pereira, engenheiro agrônomo e coordenador varia de acordo com o maior ou menor grau de acidez do solo. Este
Comercial da Calcário Itaú. grau de acidez é determinado no laboratório. Por isso é essencial que
se faça a análise do terreno, a qual auxiliará na definição de qual é
FERRAMENTA A FAVOR DA a quantidade ideal que deve ser aplicado por hectare. Vale destacar
PRODUTIVIDADE que o uso do calcário não dispensa a adubação e sim auxilia no apro-
A cana-de-açúcar também vem sendo beneficiada pela calagem. veitamento dos adubos pelas plantas e, com isso, a atividade se torna
Com benefícios diretos e indiretos, o calcário, ao controlar o pH do mais eficiente para todas as culturas.
solo, proporciona um aumento de produtividade e longevidade da Na implantação do canavial, explica Pereira, o corretivo deve ser
planta. Segundo Cabrera, o bom rendimento de uma plantação de aplicado em área total efetuando-se incorporação o mais profunda
cana passa, inevitavelmente, pela saúde ou não do solo. “Por exem- possível. “Assim o sistema radicular poderá se desenvolver mais e a
plo, o potencial produtivo da cana-de-açúcar ultrapassa 350 t/ha e a maiores profundidades, proporcionando maiores produtividades. Na
média nacional está abaixo de 75 t/ha. Então, a correção do solo e a cana soca deve-se efetuar a análise de solo anualmente e, sempre que
fertilização são práticas que tem muito a contribuir para o aumento necessário, fazer a aplicação do corretivo em área total.”
da produtividade desta cultura. ” Cabrera explica que a indicação na utilização da calagem vai de-
O coordenador Comercial da Calcário Itaú acrescenta que a cala- pender muito da análise de solo, pois a recomendação varia de acordo
gem faz com que o solo tenha melhores condições para o crescimento com os teores de cálcio e magnésio no solo. “Além disto, há de se des-
das raízes da cana. “Além disso, o uso da técnica ainda fornece os cobrir qual o tipo de calcário será aplicado, para que assim o solo se
micronutrientes como cálcio e magnésio, que são requeridos em gran- mantenha estabilizado. Normalmente, busca-se um equilíbrio no solo
des quantidades pela cana. Consequentemente, a cultura alcançará com a relação cálcio x magnésio de 3:1, (3 cálcio para 1 magnésio) ”.

21
Existem aplicadores de calcário a lanço e tecnologias, como é o caso do SAK-4, que com quatro hastes faz a aplicação de
calcário em profundidade

Os teores de cálcio e magnésio sofrem influência direta da rocha óxido (O), elevando o teor de CaO para 60%, de MgO para 30% e o
da qual é extraído o calcário, pois cada região tem uma formação PRNT para 180%. Este produto foi ‘acelerado’ industrialmente. Isto
geológica especifica que dará a qualidade do calcário. Processos in- quer dizer que a reação química de neutralização do pH do solo que a
dustriais como a calcinação influenciam na concentração. O calcário natureza demoraria 90 dias para fazer com aplicação de um calcário
comum está na forma de carbonado (Ca.CaCO3 e Mg.CaCO3) com comum, ocorre em 15 dias com essas melhorias”, explica Cabrera.
peso atômico de 140 g e 124 g respectivamente. Ao passar pelo Segundo ele, apesar de ter um valor maior por tonelada em re-
processo de calcinação, ocorre a perda de CO2 e passam a se apre- lação ao calcário comum, o produto tem um custo-benefício me-
sentar na forma de óxido (CaO e MgO), com peso atômico de 56g lhor já que:
e 40g respectivamente. Com isto, os teores de Ca e Mg chegam a - é aplicado em menor dose;
quase a duplicar. - tem maior velocidade de reação no solo;
- tem maior concentração de cálcio e magnésio;
TECNOLOGIAS EM CALCÁRIO - maior PRNT;
Atualmente, existem diversos tipos de materiais corretivos dis- - menor volume a ser aplicado (ganho operacional);
poníveis no mercado. De acordo com o Gape (Grupo de Apoio à - é embalado em bags, resultando em menores perdas no campo e
Pesquisa e Extensão) da Esalq/USP, o mais comum é composto de melhor logística de abastecimento do aplicador.
CaCO3 (Carbonato de Cálcio) e MgCO3 (Carbonato de Magnésio), “Com um corretivo de reação rápida, os resultados agronômicos
chamado de calcário tradicional. Este calcário pode ser classificado são obtidos no mesmo ano agrícola, resultando em maior retorno
como calcítico (quando os teores de MgO - Óxido de Magnésio - são econômico para o agricultor. Ele pode ser aplicado à lanço em área
inferiores à 5%), como magnesiano (teores de MgO entre 5% e 12%) total, em cima da linha de plantio da cana ou ainda incorporado em
e dolomítico (com teores de MgO superiores à 12%). profundidade no solo”, complementa Cabrera.
Além deste, existem outros tipos de materiais corretivos como O coordenador Comercial da Calcário Itaú explica que o poder
o calcário Filler, que corresponde ao calcário tradicional micro- relativo de neutralização total é um índice utilizado para calcular a
pulverizado, ou seja, suas partículas são menores, e ele apresenta quantidade de corretivo que se deve aplicar ao solo. “Este índice ca-
um PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) igual à 100%; racteriza a qualidade do corretivo e quanto maior o valor do PRNT
o calcário calcinado, que é obtido a partir da calcinação parcial do menor será a quantidade a ser aplicado no solo. Portanto, o produtor
calcário tradicional (tratamento térmico do calcário tradicional em deve sempre efetuar uma conta simples: R$ do calcário + R$ frete/
elevadas temperaturas que promove a remoção de água), aumentando PRNT. O corretivo que gerar o menor valor por ponto de PRNT será
sua solubilidade; o cal virgem agrícola, obtido a partir da calcinação o mais econômico”, explica Pereira.
total, composta de óxidos de cálcio e magnésio (CaO e MgO); e o Para se aplicar o calcário, são necessários equipamentos espe-
cal hidratada agrícola, advindo da hidratação parcial da cal virgem, ciais. Atualmente, há tecnologias que suportam até 15 t de produto.
portanto, composta de Ca(OH)2 e Mg(OH)2. De acordo com Josiane Ferreira, Comercial da OTA Indústria de Má-
Atualmente, existem produtos no mercado que apresentam um quinas Agrícolas, o equipamento aplicador de calcário, para atender
poder reativo maior, que elevam, por exemplo, o nível do PRNT e a exigente demanda do mercado, deve ser um equipamento de alta
faz com que ele chegue a ser muito superior a 100%. Isso porque há precisão, robusto, durável, mas ao mesmo tempo deve propor faci-
um processo de transformação na matéria-prima para que ela tenha lidade no manuseio e na operação em campo.
uma eficácia maior, caso da tecnologia oferecida pela Oxyfertil. Ela explica que hoje, a parte estrutural destes equipamentos tem
“O calcário passa pelo processo de calcinação, ou seja, a rocha que ser reforçada diante do conteúdo em que carregam, para que
calcária fica durante 24 horas num forno a 1.100 °C, que faz com assim seja evitado problemas futuros como a corrosividade. “A es-
que ocorra a perda do CO2, transformando o carbonato (CO3) em trutura de um equipamento OTA, por exemplo, representa a maior

22
parte do investimento em matéria-prima de alta qualidade. Assim bilidade do sistema, como é visto hoje Brasil a fora no plantio direto
também acontece com os demais itens estruturais, como tubos, barras, de grãos. Em cana soca a subsolagem corretiva pode ser feita na en-
ferros etc. Todo esse investimento agrega qualidade e durabilidade. ” trelinha do canavial estabilizando a produtividade e aumentando a
Em a cada reforma de canavial existe a possibilidade de fazer longevidade”, destaca Cabrera.
arações e gradagens profundas para incorporação de corretivos, mas O Grupo Cerradinho Bio tem testado, na unidade Porto das Águas,
é uma prática onerosa, além de desestruturar o solo que vem sendo localizada no Chapadão do Céu, GO, os benefícios do calcário. Se-
melhorado intensamente com o cultivo de cana crua. Por outro lado, gundo dados da empresa, a calagem foi aplicada via incorporação pro-
de acordo com Cabrera, o uso de máquinas cada vez mais pesadas, funda na linha de plantio e teve como objetivos principais promover
aumentaram muito o nível de compactação, e mesmo arações pro- correção da acidez do solo e fornecer os elementos Ca e Mg em pro-
fundas não conseguem romper a camada compactada, que chega a 40 fundidade, possibilitando maior desenvolvimento e aprofundamento
cm de profundidade e continua limitando a produtividade, exigindo do sistema radicular. “Com base em análises de solo prévias, foram
mais uma operação no preparo do solo que é a subsolagem. Sendo aplicados a taxa fixa 2,16 t/ha de calcário, 2,17 t/ha de gesso e 1 t de
assim, não seria mais lógico em uma única operação fazer o preparo fosfato. Em cerca de seis meses, os índices de pH apresentaram um
do solo, a incorporação do corretivo e a subsolagem? Nesta linha de aumento significativo e saltaram de 4,1 para 6,1”, destaca Cabrera.
pensamento, a Kamaq desenvolveu o SAK, um Subsolador Adubador O setor de calcário segue passando aos produtores rurais a men-
que faz a correção do pH do solo em até 1 metro de profundidade. sagem de que a calagem também contribui com os resultados, na
“Na renovação do canavial, esta tecnologia otimiza a operação de medida em que a correção da acidez feita de forma preventiva reduz,
subsolagem com a correção em profundidade, alterando positivamente por exemplo, o total investido em adubos. O consumo de calcário na
o “Ambiente de Produção”, melhorando o aproveitamento da água agricultura do Estado de São Paulo apresentou um crescimento de
e nutrientes, resultando em aumento significativo de produtividade 13,16% no primeiro semestre deste ano, na comparação com igual
e longevidade dos canaviais. É uma prática que agrega ao produtor, período do ano passado. Segundo dados divulgados pelo Sindicalc,
pois a subsolagem já faz parte da rotina, não destrói a estrutura e não em São Paulo, do período janeiro a junho de 2015 foram utilizados
pulveriza o solo, e permite o cultivo mínimo ou plantio direto em cerca de 1 milhão t. Nos cinco primeiros meses deste ano este número
cana. Num segundo momento poderá substituir arações e gradagens já foi superado e chegou a 1,19 milhões de t.
profundas, reduzindo custos operacionais e aumentando a sustenta- (Colaboração Alisson Henrique)

23
tecnologia agrícola

De acordo com os autores, a redução da área de plantio na região


Centro-Sul trará consequências para a próxima safra

* Rubens L. do C. Braga Jr.

* Marcos G. A. Landell

A análise das áreas de plantio nos últi- çou, em 2016, o Censo Varietal IAC, pro- cultivada na safra 2016/17 foi a segunda
mos anos mostra que a crise no setor sucro- jeto liderado pelo consultor Rubens Braga menor já obtida na série histórica de 31 sa-
energético está afetando significativamen- Junior. fras (Figura 1).
te a capacidade dos produtores da região Iniciado em maio de 2016 esse projeto Outro aspecto interessante a ser ob-
Centro-Sul do Brasil em renovar os seus já levantou as áreas de variedades em 202 servado está na distribuição das épocas
canaviais. Para estudar essas relações o Pro- unidades produtoras totalizando, até o mo- de plantio. A ampla introdução do plantio
grama Cana IAC, com o patrocínio da Basf, mento, 5,7 milhões de ha recenseados. Os mecanizado, que já ocupa 76% das áre-
Bayer e Syngenta e apoio da Fundag (Dun- resultados obtidos mostram que a proporção as de plantio da região Centro-Sul (Ben-
dação de Apoio a Pesquisa Agrícola) lan- das áreas de plantio em relação à área total chmarking do CTC, 2014), forçou o plantio
ao longo de toda a safra. Esse fenômeno
fez com que, proporcionalmente, houvesse
uma redução das áreas de plantio de cana
de ano e meio e um aumento das áreas de
plantio de cana de inverno, como pode ser
observado na Figura 2.
A cana de ano e meio, que historicamen-
te continha mais de dois terços dos plantios,
nas últimas safras foi responsável por apro-
ximadamente 50% das áreas reformadas.
Além da mecanização, outro aspecto que
proporcionou o acréscimo na proporção de
plantio de cana de inverno foi o grande cresci-
mento do cultivo da cana-de-açúcar no Cerra-
do brasileiro, onde os resultados dessa época
de plantio são muito promissores.
A redução das áreas de plantio ocorrida
nos últimos anos impactou de forma direta no
aumento de Estágio Médio de Corte (E.M.C.)
ocorrido na safra 2016/17. Esse índice que es-

24
A forçA do
Agronegócio
começA nA terrA
calcário itaú tem os
nutrientes que o solo precisa,
com a qualidade e a eficiência
que o seu negócio merece.

Mais puro, mais eficiente na neutralização do solo,


mais econômico e mais fino, o Calcário Itaú garante
a melhor solução para o seu agronegócio.

A cAl fértil tem


mAior concentrAção
de nutrientes que os
cAlcários AgrícolAs
convencionAis

Produto de ação mais rápida e altamente


solúvel, percola para as camadas mais
inferiores do solo, sem incorporação.

Atinge
Concentrado camadas
Ação Rico em mais
CaO 40% e cálcio e profundas
Rápida MgO 27% magnésio do solo
25
tava dentro da faixa de qualidade (entre 3,10 e
3,44) nas duas safras anteriores, atingiu o valor
de 3,46 na safra atual (Figura 3).
A maior preocupação é o valor do E.M.C.
projetado para a safra 2017/18 que pelas estima-
tivas obtidas atingirá o maior valor já alcançado
na região Centro-Sul do País.
Estudos mostram que a produtividade em
toneladas de cana por hectare (TCH) está sig-
nificativamente correlacionada com o estágio
médio de corte. Quando se relaciona o TCH
calculado isolando-se o efeito climático do
ano agrícola com o E.M.C, percebe-se que
existe uma correlação linear superior a 95%,
mostrando como as variáveis estão altamente
relacionadas (Figura 4). É fato que, um novo
biótipo de cana-de-açúcar, preconizado por
alguns programas de melhoramento, como o
do Instituto Agronômico (IAC), indicam que
as novas variedades deverão apresentar uma
maior população de colmos, como uma das
condições para enfrentar alguns efeitos ne-
gativos da mecanização intensiva, trazendo
como consequência, uma maior longevidade
dos cortes. No entanto, o censo varietal 2016,
mostra que variedades com este perfil ainda
representam pouco da área cultivada, elimi-
nando assim, a interpretação de que o E.M.C.
estaria, neste momento, sendo influenciado
por este novo perfil.
O uso de variedades mais longevas deverá
ser uma tendência futura, o que fará com que
a análise dos dados históricos deste indicador
necessite de um maior detalhamento em fun-
ção da alteração do perfil varietal para genó-
tipos com população de colmos significativa-
mente maiores do que as variedades que hoje
predominam na grande lavoura.
Isolando-se os fatores climáticos, a partir
da equação gerada pela relação entre o TCH
e o E.M.C é possível estimar que a quebra na
produtividade para a próxima safra será de
2,7%, apenas em função do envelhecimento
do canavial.
Essa análise associada ao fato de que as usi-
nas vão parar a moagem mais cedo nessa safra
e, por consequência, praticamente não teremos
cana bisada na próxima safra, projetam uma sig-
nificativa redução na produtividade e na produ-
ção total da próxima safra.

*Rubens L. do C. Braga Jr é consultor da


RBJ Consult
*Marcos G. A. Landell é pesquisador e di-
retor do Centro de Cana do IAC (Instituto
Agronômico de Campinas)

26
27
tecnologia industrial

Um bom
revestimento
garante Quando olhamos um prédio, uma casa algum item.
ou qualquer outro local passando por um As usinas sucroenergéticas possuem ne-
uma maior
processo de pintura, sempre imaginamos cessidades de pintura de proteção em diver-
durabilidade do que o objetivo principal é embelezar aque- sas áreas e equipamentos, que vão desde a
equipamento le ambiente. Mas é muito mais do que isso. área de colheita até a armazenagem do pro-
ou área, menor É uma forma de proteger as estruturas in- duto final. Sendo assim, toda a usina pode
ternas e externas contra ações que podem receber pintura, desde as estruturas de con-
interferência
desgastá-las ou até mesmo comprometer creto como pisos e vigas, até máquinas e
no processo uma estrutura. equipamentos de ferro, aço, alumínio etc.
produtivo Assim como em qualquer outro am- De acordo com Sandro de Oliveira, chefe
para reparos biente, dentro de uma indústria, seja ela de marketing da WEG Tintas, dornas, cubas,
inesperados ou de alimentos ou bens de capital, a tinta tanques, cristalizadores, caldeiras, tubula-
atua como um revestimento de superfícies ções e outros equipamentos da indústria,
substituição de e tem a mesma finalidade do produto usa- precisam ainda de proteção química e an-
equipamentos do em paredes, com uma leve diferença: a ticorrosiva ao intemperismo e até mesmo a
danificados pintura industrial tem por objetivo man- altas temperaturas. “Áreas de movimentação
e, em muitas ter as qualidades intrínsecas dos objetos e de pedestres e/ou de máquinas também po-
de seus materiais primários por diferentes dem receber proteção contra a abrasividade
situações,
técnicas, casos do jateamento abrasivo, da assim como sinalização, aumentando a se-
aumenta o pintura de equipamentos e de pisos. gurança e a visibilidade.”
desempenho Uma das maneiras mais importantes Jonas Guimarães, gerente Comercial da
de processos de realizar a manutenção de certos equi- Quimatic Tapmatic, explica que dentro da
pamentos industriais é através pintura. indústria sucroenergética, em praticamente
Afinal, o jateamento de um material não todas as fases da produção, algum equipa-
adequado sobre um equipamento com su- mento estará sujeito a condições degradan-
perfície de metal ou similar pode causar tes. Por exemplo, nos elementos de primeiro
corrosão e consequente desgaste ou des- contato com a principal matéria-prima, a
truição da peça. Em alguns casos, isso cana-de-açúcar, o fluxo se torna agressivo
pode ser questão de vida ou morte para por abrasão e impacto. Em seguida, vem o

28
transporte durante o processo produtivo, ting, pois se um cliente visita o fornecedor
como bombeamento, onde o caldo da cana para conhecer ou para fechar negócios,
extraído ainda contém alto teor de parti- fica bem impressionado com a qualidade
culados (sólidos) que, numa mistura de da empresa;
temperatura alta com considerável velo- Áreas externas: a pintura de estru-
cidade de fluxo, torna-se muito abrasivo turas, equipamentos e tanques serve para
e desgasta de forma rápida as superfícies proteger contra a corrosão e para sinalizar.
por onde passa. As cores utilizadas servem para indicar o
“O sistema de armazenamento, como conteúdo de tanques e tubulações, por mo-
os tanques, também requer certo cuida- tivo de segurança, e para diminuir as per-
do, uma vez que, tanto os subprodutos ar- das por evaporação no caso de tanques de
mazenados temporariamente entre etapas, etanol (que devem ser pintados de branco);
quanto os produtos acabados estocados,
dependem da boa condição desses reci- TECNOLOGIAS PARA A
pientes para terem suas propriedades pre- INDÚSTRIA
servadas. Existem ainda outros agentes, A escolha do tipo de revestimento se
como vapores e gases, que tanto podem ser dá em função das condições às quais se-
gerados durante os processos produtivos rá submetido o equipamento ou área em
ou mesmo empregados neles. Neste caso, questão. A partir daí, adota-se o reves-
qualquer estrutura que seja alcançada por timento que suporte altas temperaturas, As usinas sucroenergéticas necessitam
fazer pinturas de proteção em diversas
estes estará sujeita aos efeitos da corro- agentes corrosivos ou abrasivos. Guima-
áreas e equipamentos, que vão desde a
são”, detalha. rães afirma que geralmente são utilizados colheita até a armazenagem do produto
Celso Gnecco, gerente de Treinamento materiais como, revestimentos com carga final
Técnico da Tintas Sherwin-Williams e An- cerâmica, metálica, compostos poliméri-
tonio Freitas, gerente Comercial da Tintas cos, como os epóxis e até mesmo combi- empregado como solução imediata para
Sherwin-Williams dividem as áreas que nações diversas que conferem maior du- reparos emergenciais em tubulações de
merecem manutenção de pintura dentro rabilidade ao revestimento. vários tipos. O produto permite realizar
de uma usina: “Por ter uma maior abrangência e ver- manutenção em cinco minutos, já que
Contato com produto: no caso do satilidade, o revestimento mais usado nas possui aço em sua composição e cura
açúcar, como a maioria dos equipamentos usinas é o Plasteel Cerâmico Azul, que bastante rápida. “Trata-se de uma solu-
é em aço carbono, a corrosão pode trazer além de proteção anticorrosiva, resiste à ção ideal para reparos emergenciais em
um fator de desvalorização do produto, abrasão até certo grau. Também há mui- tubulações com vazamentos e para a re-
que são os pontos pretos e as partículas ta demanda para o Plasteel Cerâmico Es- cuperação dimensional de peças metálicas
de corrosão, que contaminam o açúcar. patulável, Plasteel Diamantado e Plasteel com desgaste, trinca ou porosidade”, adi-
As pinturas modernas permitem que o aço Diamantada Espatulável, todos utilizados ciona Guimarães.
carbono seja usado, protegendo as estru- na recuperação de equipamentos desgas- No Brasil, segundo o Pierre Thurler
turas e tubulações contra a corrosão. No tados para seu redimensionamento. Estes Amorim, engenheiro químico e coorde-
caso de etanol, o produto ataca as pinturas produtos têm ótima adesão sobre todos os nador de assistência técnica da Renner
e as superfícies metálicas produzindo cor- tipos de metais, inclusive o aço inox, pre- Coatings, ainda se faz o uso de tintas al-
rosão, e esta ação deletéria pode destruir enchendo trincas, furos, recuperando os quídicas – também conhecidas como es-
partes de equipamentos e causar acidentes formatos originais e formando uma barrei- maltes sintéticos – na pintura de proteção
e paralizações na produção. Com pintura ra de alta resistência, impermeabilidade e anticorrosiva, produtos efetivamente mui-
adequada, a durabilidade das estruturas e impenetrabilidade sobre os equipamentos, to fáceis de aplicar, monocomponentes,
equipamentos são prolongadas e o patri- protegendo-os contra corrosão, desgaste, porém com grande limitação técnica pro-
mônio da empresa é preservado; cavitação e abrasão por fluxo de caldo de tetiva, espessuras secas não superiores a
Áreas internas: a pintura de estrutu- cana, água salina e água contaminada com 35 micrometros por demão. Ou seja, com
ras e equipamentos na parte interna da in- areia, pedra ou cinza. A camada proteto- expectativa de durabilidade baixa de, no
dústria é necessária porque as cores, além ra garante aumento da vida útil dos equi- máximo, uma safra.
da proteção contra a corrosão, trazem co- pamentos por até duas safras sem parada “A geração de tintas epóxi veio suprir
mo consequência, organização, segurança para manutenção”, afirma. esta lacuna, porém ainda com algumas li-
e bem estar para as pessoas que trabalham Outro destaque do portfólio da Qui- mitações de resistência química, térmica e
nestes ambientes. Além disso, é marke- matic é a solda a frio Plasteel Rapid 1:1, de camada por demão. As novas tecnolo-

29
BOMBA DE LAVAGEM DE CANA DE INOX
principalmente para pintura interna de
tanques de água potável e que tem co-
mo principal vantagem a possibilidade
de aplicação em demão única de 400
micrometros (produtos convencionais
utilizam três demãos para atingir a mes-
ma camada).
Para Gnecco e Freitas, da Tintas
Sherwin-Williams, as tintas à base de
resinas epóxi e novolac oferecem altís-
sima resistência a produtos químicos
que são usados na produção do açúcar
e do etanol em tanques, caixas e cana-
letas, além de resolverem um problema
até pouco tempo insolúvel na indústria
sucroalcooleira, como a pintura de de-
saeradores e de lavadores de gases.
“Antes as tintas convencionais só
resistiam até 40°C em imersão em água
gias contemplam o uso de geração de resi- gramas de manutenção, geralmente aper- e hoje temos produtos que suportam
nas da família epóxi novolac, que promove tados. até 120°C imersos em água e vapor de
um altíssimo cross link (reticulação) do Para usinas de açúcar e etanol, a Ren- água. Outra solução que a tecnologia
polímero formado, conferindo sua prin- ner Coatings oferece quatro produtos. O trouxe foi a de tintas que podem ser
cipal propriedade de resistência química. Revchem DHR 870, sistema epóxi fenóli- aplicadas em superfícies aquecidas até
Além disso, pigmentos especiais como o co novolac de alta resistência química para 260°C. Com esta inovação, não há ne-
Glass Flake (flocos de vidro) elevam sua pintura interna de equipamentos que ope- cessidade de desligar o equipamento
resistência térmica e à abrasão – agentes ram em imersão com temperaturas acima para a pintura, pois basta baixar a tem-
de stress corrosivo de ação contundente de 60°C; o Revchem NVC DHR 870 GF e peratura para a aplicação e depois vol-
nos substratos metálicos”, explica Amo- Revchem CNT 870, ambos revestimentos tar para a temperatura de operação. Há
rim, que complementa que a nova geração da linha 100% epóxi novolac, especial- uma economia de tempo e de energia
de produtos permite aplicações em cama- mente projetados para áreas internas de muito grande, permitindo que a pro-
das elevadas – podendo atingir 1000 mi- tanques de produtos químicos agressivos dução volte ao normal antes do prazo
crometros em uma única demão – o que e abrasivos e que possuem pigmentação previsto”, afirmam.
traz um grande diferencial de otimização especial com Glass Flake; e por último Entre os produtos do portfólio WEG
do processo de pintura, tornando-o mais o Revran TF PNA WT 870, revestimen- Tintas, Oliveira destaca o Wegpoxi Blo-
rápido e permitindo conciliar com crono- to epóxi curado com poliamina, indicado ck N 2912 tipo III, uma tinta epóxi de
altos sólidos, recomendada para a pin-
tura interna de lavadores de gases e cal-
Aplicação de revestimento (Plasteel Flex 80) em correia transportadora
deira; a Weg Fenoxi, uma tinta epóxi
fenólica, certificada para o contato com
alimentos e recomendada para pintura
interna de tanques, dornas, cubas, en-
tre outros; a Wegthane Antifungo 508,
desenvolvida especialmente para a pin-
tura de tanques de petróleo e etanol,
diminuindo a evaporação e perda do
combustível, inibindo a proliferação de
fungos, melhorando a aparência e au-
mentando a vida útil e o intervalo de
manutenção; e a Wegpoxi HBA 301,
tinta epóxi de alta espessura recomen-

30
ESPALHADOR REVESTIDO E DESGASTADO APÓS SAFRA

dada para a pintura de pisos de alto tráfe- superfície e curto tempo de cura. Já a fre- alizada a cada entressafra com a parada
go, diminuindo a abrasão e protegendo a quência e o tipo de reparo para cada máqui- dos equipamentos. Hoje, com as novas
superfície de concreto.” na ou equipamento, vai depender muito de tecnologias de tintas, o espaçamento en-
seu uso e das condições em que trabalha.” tre as manutenções pode ser estendido,
MANUNTEÇÃO DOS Gnecco e Freitas, da Tintas Sherwin- evitando manutenções a cada uma safra.
REVESTIMENTOS -Williams, afirmam que a frequência da A boa manutenção não se resume apenas
Nos primeiros meses do ano, as usinas manutenção depende do tipo de equipa- ao tempo entre os eventos, mas também
sucroenergéticas aproveitam a entressafra mento (condições de trabalho), do tipo de ao procedimento de inspecionar os equi-
para avaliar as condições do maquinário tinta e da sua qualidade, dos cuidados du- pamentos periodicamente, pois qualquer
e preparar a estrutura para o próximo pe- rante a aplicação, como uniformidade da defeito ou ocorrência de danos pode ser
ríodo de trabalho. Dados divulgados pe- camada, técnicas de aplicação (por exem- corrigida simplesmente com uma inter-
la Quimatic Tapmatic apontam que, neste plo um tanque pintado a rolo apresen- venção de retoques ou reparos de peque-
momento, é possível conquistar uma eco- ta chance de defeitos como poros, muito na monta. Se não houver esta disposi-
nomia de até 80% ao substituir a compra maior do que se a tinta fosse aplicada com ção de retocar, o defeito ou dano pode se
de equipamentos novos pela manutenção, pistolas) e cuidados durante a operação, avolumar, se alastrar e, em alguns casos,
seja ela preventiva ou corretiva. como evitar pancadas e danos por manu- há necessidade de troca de peças ou da
Um bom revestimento executado den- seio incorreto de ferramentas. ocorrência de acidentes, o que torna os
tro dos padrões recomendados, garante “Antigamente, a manutenção era re- investimentos em manutenção muito mais
uma maior durabilidade do equipamento, onerosos”, salientam.
menos interferência no processo produti- Gnecco: “hoje, com as novas tecnolo- Já o especialista da Renner Coatings,
vo para reparos inesperados ou até mes- gias de tintas, o espaçamento entre as recomenda que, mesmo com tecnologias
manutenções pode ser estendido”
mo substituição dos equipamentos danifi- mais modernas, seja feita uma manutenção
cados, e em muitas situações, aumenta o regular durante entressafras, para poder re-
desempenho desse equipamento, ajudando alizar não só o monitoramento da corrosão
na anti-aderência de particulados no subs- e a partir daí definir necessidades e pro-
trato, o que causa entupimentos e desba- gramar a próxima safra, mas também para
lanceamentos, por exemplo. reduzir áreas degradadas, gerando menor
Guimarães explica que, em sua maio- repintura.
ria, a manutenção é feita durante a entres- “Os cronogramas de trabalho geral-
safra, pois é nesse período que a maioria da mente são curtos para a pintura. Isto ad-
planta produtiva está desmontada para se vém de uma miopia clássica de que a
verificar as condições de cada equipamen- pintura, sendo o final de um trabalho de
to e se tomar as medidas cabíveis em cada manutenção mecânico ou estrutural, car-
situação, tanto corretivas, quanto preven- rega estigma do visual, aparência, ficando
tivas. Contudo, muitos setores precisam de em segundo plano. A pintura de proteção
pequenas paradas para ajustes mesmo fora anticorrosiva significa tecnicamente: pro-
da entressafra. “Neste momento, o uso de teção de ativos, aumento da vida útil de
produtos de fácil aplicação ajuda muito, equipamentos, segurança industrial e am-
pois a aplicação pode ser feita no local e biental, e redução de custos de manuten-
requer cuidados básicos, como limpeza da ções corretivas”, finaliza.

31
conjuntura

O que é e para que serve o TAC? Autor explica quais as cautelas que
devem ser tomadas antes de assiná-lo

*Fábio Luiz Pereira da Silva

O Termo de Compromisso de Ajustamento de Con- TAC. Ele é considerado um título executivo extrajudi-
duta – TAC é o instrumento pelo qual os órgãos públi- cial, o que vale dizer que as multas e obrigações nele
cos, entre eles o MPT (Ministério Público do Trabalho), inseridas podem ser executadas perante o juízo compe-
firmam compromissos com as pessoas físicas ou jurídi- tente pela simples constatação de descumprimento de
cas, com o objetivo de fazer cessar a prática de condutas seu conteúdo.
contrárias à legislação, conforme autoriza a Lei nº 7.347, Se não houver consenso para assinatura do termo de
de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública). compromisso, o MPT estará legitimado para propor a
Neste artigo, vamos abordar referido instituto, com ação civil pública, levando a demanda ao conhecimento
enfoque na atuação do MPT, visando esclarecer questões do Poder Judiciário, que então dará a palavra final sobre
importantes, como: para que serve o TAC? Quando de- o assunto, condenando ou absolvendo os demandados.
ve ser firmado? Quais cautelas adotar antes de assinar? Desta forma, o TAC serve para que os envolvidos
em práticas irregulares, que afetem direitos coletivos,
PARA QUE SERVE O TAC? reconheçam a ilegalidade de seus atos e assumam o com-
De forma bem sucinta, o MPT, ao ter conhecimen- promisso de não mais desvirtuar sua conduta.
to da prática de condutas irregulares e que violam a lei Este compromisso deverá prever prazo para cum-
trabalhista, instaura o que se chama de inquérito civil, primento da obrigação assumida, multas em caso de
por meio do qual serão avaliadas as circunstâncias em novo descumprimento, forma de eventual reparação do
torno destas condutas e se elas ferem interesses coleti- dano causado (indenização) e, como muito bem se diz
vos. Vale lembrar que o MPT não atua para defesa de atualmente, um prazo de vigência.
interesses meramente individuais. Realmente, não se pode ter um termo de compromis-
Sendo uma questão coletiva, o MPT procederá à so eterno, posto que a própria legislação estabelece as
investigação dos fatos e constatando o descumprimen- devidas punições a eventuais infratores. Vale ressaltar
to de normas trabalhistas, como, por exemplo, a explo- que o TAC não serve para reproduzir os termos da lei.
ração de mão de obra infantil, chamará os envolvidos Em verdade, seu objetivo é certo, preciso, determi-
para assumir o compromisso de adequar sua conduta. nado. Se, após o prazo de vigência, o infrator voltar a
Este compromisso, quando firmado, constitui o descumprir a lei, os órgãos de fiscalização terão o dever

32
de voltar a atuar, visto que esta é a sua função precípua. Se não, badas. Desta forma, pensamos que o empresário deve avaliar os
bastaria que a cada constituição de uma empresa fosse obrigató- atos praticados e se efetivamente houver irregularidade, discutir
ria a assinatura de um TAC, reproduzindo a legislação trabalhis- veementemente todas as cláusulas do TAC proposto, adequando
ta, em que o empresário desde logo assumisse a responsabilidade sua redação à realidade de sua atividade e contemplando obrigações
por cumpri-la. executáveis, sem a inserção de penalidades exageradas.
Por fim, é bom salientar que a assinatura do TAC não evita
a fiscalização por outros órgãos de inspeção. Por exemplo, um QUAIS CAUTELAS ADOTAR
mesmo fato pode ser investigado tanto pelo Ministério do Traba- ANTES DE ASSINAR O TAC?
lho quanto pelo MPT. Se assinado TAC com algum deles, não é Observando o que já foi dito, antes de se firmar o instrumento,
obrigatório que o outro órgão concorde com os seus termos e dê o interessado deve avaliar criteriosamente a matéria envolvida,
por encerrada a questão. a posição do MPT e órgãos de inspeção, mas, em especial, o que
a Justiça vem decidindo em casos análogos.
QUANDO O TAC DEVE Ultrapassada esta análise inicial, com a constatação de que a
SER FIRMADO? conduta praticada pelo empregador realmente constitui violação
O objetivo da Lei da Ação Civil Pública (que somente será ne- a direitos coletivos tutelados pelo MPT, recomenda-se a adoção
cessária se não assinado o TAC) é que os interessados firmem “com- das seguintes cautelas ao firmar o TAC:
promisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais”. Deste 1) Conteúdo preciso e específico de cada cláusula, sem obriga-
modo, tem-se por evidente que a lei quer do envolvido o ajustamento ções genéricas ou demasiado abrangentes, a fim de se evitar
de sua conduta irregular aos ditames legais. Ocorre que, muitas ve- condições inexequíveis, de difícil cumprimento ou que repre-
zes, a norma posta é de interpretação controvertida. Nestes casos, sentem um desequilíbrio para o interessado na execução de
reputamos que a assinatura do TAC não é a saída mais correta para sua atividade;
resolução da demanda. De fato, a depender do teor da norma, várias 2) Prever que não serão consideradas como descumprimento in-
interpretações são possíveis; e não é sempre que a interpretação do frações meramente episódicas e pontuais;
MPT ou mesmo do Ministério do Trabalho é a que prevalecerá no 3) Evitar cláusulas que impliquem alargamento do texto legal,
Poder Judiciário. fugindo do escopo do instrumento (que se direciona apenas ao
Em nossa experiência, tivemos oportunidade de ver divergên- ajuste de uma conduta ao que determina a lei);
cias de entendimento entre os próprios órgãos de inspeção. Nesta 4) Discutir o valor das multas e reparações, tendo sempre em
condição, o mais prudente é levar à Justiça todos os argumentos e mente as decisões judiciais já existentes sobre o assunto e to-
opiniões possíveis sobre o assunto, para que, aí sim, ouvidos todos mando como parâmetro inicial os valores já previstos em lei;
os interessados, chegue-se a uma interpretação coerente, mesmo que 5) Evitar cláusulas de multa em duplicidade para a mesma infra-
não seja aquela até então defendida. ção e ter muito cuidado ao estabelecer um valor por empregado
Aqui, um parêntesis: é curioso ouvir dos membros do Ministério envolvido, o que pode, a depender das circunstâncias, gerar
Público que, após o inquérito civil, não se negocia mais o valor para valores milionários;
reparação de dano moral coletivo. Ora, se a intenção é adequação da 6) Estabelecer prazo de vigência para o TAC, evitando que ele
conduta aos termos legais, e se o interessado, após a instauração da se torne eterno;
ação civil pública, se convencer de que o melhor é assumir o com- 7) Apesar de ser redundante, posto que o TAC, como dito, visa
promisso de ajustamento, qual a razão para que o pedido de repara- ajustar uma conduta a um ditame legal, prever que serão ob-
ção de dano seja diferente daquele oferecido na fase investigatória? servadas as eventuais alterações legislativas em torno do tema;
Não há qualquer coerência neste raciocínio, o qual só contribui 8) Se possível, incluir cláusula que garanta o direito do envol-
para maior prolongamento das demandas. Por outro lado, como se vido de apresentar suas razões (direito de
verifica, o TAC não se presta para estabelecer melhores condições defesa), na hipótese de suposto descum-
de trabalho. Seu objetivo é bastante claro: ajustamento da conduta primento ou, ainda, um item que afaste
irregular aos termos da lei. penalidade no caso de imediata correção
A melhoria nas condições de trabalho está inserida no âmbito da conduta;
do diálogo permanente entre patrões e empregados que, via de re- 9) A depender do caso, estabelecer crono-
gra, se dá por meio de negociação coletiva com os sindicatos das grama com prazos suficientes para a ade-
respectivas categorias. Deste modo, também em situações em que quação. Há itens que precisam de
são inseridas cláusulas genéricas ou com abrangência maior do que tempo para serem implementa-
a estabelecida em lei, recomenda-se que o TAC não seja assinado, dos como, por exemplo, os
deixando que o Poder Judiciário determine efetivamente a conduta que demandam algum tipo
a ser regularizada, se for o caso. de construção.
Entendemos alguns argumentos quanto à pressão sofrida quan-
do da iminência do ajuizamento de uma ação civil pública contra a *Fábio Luiz Pereira da
Silva é coordenador
empresa. Entretanto, é muito mais recomendável discutir a demanda
da Área Trabalhista
na esfera competente, do que ceder à tentação de firmar termos de do Escritório Pereira
compromisso de difícil cumprimento ou com penalidades exacer- Advogados

33
entrevista

Atuando como CEO do segundo força na criação de um modelo de gestão servamos uma melhora para o setor sucro-
maior grupo sucroenergético do País - a mais descentralizado. Com autonomia e res- alcooleiro. Os preços do açúcar tiveram
Biosev - há três anos, Rui Chamas, que ponsabilidade, os líderes agroindustriais em recuperação como reflexo da redução de
antes nunca havia atuado diretamente cada um de nossos polos e usinas podem estoques globais, prevendo-se impacto po-
dentro deste segmento, vem mostrando tomar decisões rápidas e adaptadas a ca- sitivo nas próximas safras. Houve ainda au-
que a resiliência e a descentralização da da região. Essa atuação é possível graças mento da ordem de 14% na demanda de
gestão podem ser as chaves para o su- à expertise da nossa equipe corporativa e etanol, combinado a melhores preços, mes-
cesso. O que o motiva? O mesmo que sua proximidade com as operações. Os di- mo com a elevação gradual da paridade em
move os colaboradores da companhia: retores de operações Agrícola, Originação relação aos preços da gasolina. O que me
um espírito de conquista, excelência e e Competividade, e as suas equipes corpo- motiva é o mesmo que move nossos cola-
trabalho em equipe. Espírito que rendeu rativas, por exemplo, estão instalados em boradores, um espírito de conquista, exce-
bons resultados para a Biosev, que na Sertãozinho, SP, ponto mais próximo das lência e trabalho em equipe. O espírito Bio-
safra 2015/16, alcançou aumento de pro- operações que a capital paulista. Além da sev traduz os resultados: na safra 2015/16,
dutividade e eficiência com base em dis- questão da estrutura, dois outros pontos im- alcançamos aumento da produtividade e
ciplina financeira e operacional. Confira portantes foram foco: maior integração com da eficiência com base em disciplina finan-
a entrevista exclusiva com o executivo! nossos fornecedores de cana e parceiros, ceira e operacional, garantida por pessoas
além do desenvolvimento de nossas equi- comprometidas em fazer sempre melhor.
RPAnews - Mesmo em período pes por meio de um Programa de Gestão Não adianta investimento em tecnologia se
de dificuldades para o setor su- de Pessoas e Competências que chamamos não valorizamos as pessoas, e na Biosev te-
croenergético no Brasil, a Bio- de Entrenós. mos trabalhado fortemente com nosso pro-
sev teve, por dois trimestres, grama Prisma (de Saúde e Segurança) e o
lucro líquido positivo após pe- Como tem sido o desafio de lide- programa Entrenós, dando protagonismo
ríodo de prejuízos. A que você rar uma companhia tão grande e ao colaborador nos processos de evolução
atribui estes resultados positi- importante para o setor no Bra- de carreira e no crescimento da empresa.  
vos para a companhia? sil diante de tantas turbulências?
 Rui Chamas - Além da otimização Apesar das turbulências no ambiente Como você avalia a passagem da
de processos internos, nós atuamos com macroeconômico e político no Brasil, ob- Biosev pela crise que mais abalou

34
o setor sucroenergético nos últi- de Precisão, cujo objetivo é adequar seus pro- cana e pecuária. Apenas para ilustrar, em
mos anos? cessos às ferramentas de análise, recomenda- 2015 produzimos ração para alimentar
Nossos resultados mostram que tivemos ção e aplicação de insumos. As informações 40 mil cabeças de bovinos de parceiros e
avanços significativos com uma estratégia georreferenciadas possibilitam a elaboração fornecedores do Estado de São Paulo e Minas
baseada na disciplina operacional e financei- de mapas para aplicação otimizada em taxa va- Gerais. A produção de ração de bagaço de
ra. Nosso volume de moagem, por exemplo, riável, permitindo melhor distribuição e maior cana traz inúmeras vantagens.  Diversificamos
totalizou 31 milhões de t na safra 2015/16, controle, além da maior eficiência nos proces- a propriedade rural e fortalecemos nossa
um aumento de 9,3% ante o período anterior. sos agrícolas. Os primeiros testes estão sendo parceria com produtores de cana que também
Já o nosso ATR (Açúcar Total Recuperado) realizados na unidade Santa Elisa para aplica- tenham gado.
chegou a 3,95 milhões de t. Aumentamos pa- ção de corretivos de solo, e na unidade Vale A ração, que é produzida a partir de
ra 85% a utilização de capacidade instalada do Rosário para os insumos de plantio através subprodutos do processo de extração de açú-
na safra 2015/16, sete pontos percentuais a de controladores de vazão nas plantadoras, ga- car e etanol da cana-de-açúcar – principal-
mais que a taxa apresentada no ano anterior. rantindo assim uniformidade da distribuição. mente bagaço de cana, melaço e levedura –
É a primeira vez que essa marca é alcançada Outro desenvolvimento tecnológico em possui eficiência equivalente ou até melhor
na história da Biosev, resultado das inicia- andamento é a utilização de mudas pré-brota- que a das tradicionais. Além disso, compran-
tivas para otimização dos ativos e máxima das (MPB). A adoção dessa tecnologia garan- do o alimento que fabricamos a preço com-
eficiência em suas operações. te uma taxa de multiplicação maior quando petitivo, os produtores não precisam produzir
 Fechamos o quarto trimestre da safra comparada com o sistema de plantio tradi- internamente a forragem para seus animais.
2015/16 com lucro líquido de R$ 50 milhões, cional devido ao alto vigor dos materiais. Na Isso elimina os gastos com instalação e ma-
contra um prejuízo de R$ 222 milhões em safra 2015/16, foram plantadas mais de 3 mi- nutenção de silos e com a mão de obra neces-
igual período da safra anterior. O resultado lhões de mudas. sária para operar esses equipamentos. Outro
marca o segundo trimestre consecutivo de diferencial é que na busca por fornecedores
lucro líquido, após ganho de R$ 163 milhões A Biosev tem planejamento de in- de cana, a possibilidade de oferecer a ração
nos três meses até dezembro. Além destes im- vestimentos em canaviais ou indús- agrega na negociação e fidelização com os
portantes indicadores trabalhamos para me- trias ainda este ano?   produtores que integram o programa “Mais
lhorar os processos internos da companhia de Investimos de forma contínua em linha Cana Biosev”, que visa a aproximação da
modo a trazer maior eficácia e produtividade com nosso Plano de Negócios em todas as companhia com seus parceiros de cana-de-
em nossas operações. áreas e unidades da companhia com muita -açúcar e oferece, além da integração cana e
disciplina e visão de longo prazo. pecuária, uma estrutura de atividades como
Além da reestruturação da gover- transferência de tecnologia, fornecimento de
nança corporativa, quais foram as Como vocês pretendem chegar a crédito, acesso a insumos a preços competi-
inovações que a Biosev implemen- cana de 3 dígitos ou pelo menos a tivos, entre outros.
tou, tanto na indústria quanto no ter uma retomada na produtivida-
campo, a fim de reduzir custos e de dos canaviais? Mediante o que a empresa pros-
aumentar a eficiência?  A otimização e a melhora do resultado pecta para a próxima safra e pa-
Entre as iniciativas que adotamos estão de nossos ativos e eficiência das operações ra os próximos anos, o cenário que
a uso de georreferenciamento do canavial, o já têm refletido em nossos resultados. A pro- você enxerga é positivo?
que favorece e otimiza a automatização do dutividade de 3 dígitos não é um objetivo Quando analisamos o mercado estamos
plantio e da colheita, e a utilização de veí- em si. O nosso propósito - que buscamos de positivos com a recuperação do ciclo do açú-
culos aéreos não tripulados (VANTs) para forma obstinada - está em capturar o máxi- car, que já é uma realidade, e satisfeitos em
fins de identificação de falhas no canavial. mo de produtividade em cada ambiente que ver o consumidor brasileiro dar preferência
Na última safra, concluímos o projeto piloto trabalhamos, a partir da otimização do in- ao etanol como combustível. Ao mesmo tem-
de irrigação por gotejamento no Polo NE, na vestimento para alcançar a maior longevi- po continuamos acreditando que se faz neces-
unidade de Estivas, e com essa tecnologia foi dade possível. sária uma política de longo prazo que deixe
possível aumentar a produtividade e a longe-   claro o papel que se espera do etanol – com-
vidade do canavial, reduzir os custos de pro- Além de açúcar, etanol e energia, bustível sustentável - na nossa matriz ener-
dução por tonelada de cana, e elevar a efici- a Biosev também atua no mercado gética. Quanto à Biosev, estamos confiantes
ência no aproveitamento da água e insumos. de nutrição animal. Como está este nos resultados a serem alcançados nessa safra
Além dessas tecnologias, que já são uma mercado para a Companhia? e permanecemos concentrados em executar
realidade nas nossas atividades, estamos de-  É um segmento importante para nós, o nosso Plano de Negócios de forma disci-
senvolvendo um projeto piloto de Agricultura sendo que somos referência na integração plinada.

35
opinião

Os acionistas e
*Mário Campos
as empresas do
setor precisam A condução de um negócio familiar ao cutor sairá convencido do nosso potencial.
estar antenados longo de várias gerações exige um grande Recentemente, uma colunista de política/
para todas as planejamento e disciplina na gestão, que pre- economia de Belo Horizonte mostrou, em
oportunidades cisa ser repassada de pai para filho, princi- sua coluna, uma impressão muito positiva
palmente dentro do setor sucroenérgetico. O sobre o setor após conversar com este autor
que poderão
setor já foi 100% nacional, 100% familiar, por poucos minutos. Ela ficou impressiona-
aparecer e que mas hoje convive com o capital estrangeiro da ao conhecer mais sobre nossa produção
permitirão um e a gestão profissional. Essa fusão do conhe- e como que o setor pode gerar uma agenda
crescimento cimento familiar de décadas com as práticas positiva em tão diferentes aspectos. Nossos
sustentável de gestão modernas norteará o crescimento assuntos são extremamente cativantes aos
ainda maior do setor nos próximos anos. olhos de nossos interlocutores, mas será
Tive a oportunidade de fazer, recente- que estamos fazendo isso chegar a quem
do setor
mente, uma palestra para os representantes precisa ser comunicado?
da quarta geração de um grande grupo do se- A agenda positiva do setor é muito ex-
tor. Sentimos um orgulho ao ver uma empresa tensa e importante para o Brasil. O setor
do setor chegar na sua 4ª geração forte, mo- sucroenergético é hoje um grande gerador
derna e pronta para novos desafios. Assim co- de divisas para o país, sendo o segundo seg-
mo essa empresa, temos outros muitos cases mento do agronegócio em exportação, que
de sucesso, mas também muitos de fracasso. por sua vez representa quase 50% das ven-
Coloque uma liderança de nosso setor das externas brasileiras. Além disso, é um
para conversar por dez minutos com qual- grande gerador de empregos, mais de 800
quer pessoa, que tenho certeza que o interlo- mil diretos, e com presença em mais de 1

36
mil municípios brasileiros. possui uma das mais rígidas legislações am- Francisco externou suas preocupações com
Cerca de 70 mil produtores rurais plan- bientas do planeta. o uso desses combustíveis e os líderes do G7,
tam cana para entrega nas unidades indus- Dizem que todo ser humano precisa, den- assumiram o compromisso de até 2100 afas-
triais, que somam mais de 370 espalhadas tre outras coisas, plantar uma árvore em sua tar a economia do seu uso. Além disso, pela
em mais de 20 estados do Brasil. Somado a vida, sempre digo a amigos que ao colocarem primeira vez as preocupações com as conse-
isso, o setor é um grande vetor de desenvol- etanol durante todo o ano, eles terão planta- quências das mudanças climáticas lideram o
vimento econômico regional, gerando renda do o equivalente a cerca de 35 árvores/ano. ranking dos riscos globais do Fórum Econô-
e negócios no interior do Brasil. E a lista não Recentemente a Siamig apoiou uma expedi- mico Mundial.
acaba, os produtos do setor têm sua grande ção pelo Brasil de um consultor de vendas Vários países também já estudam me-
importância estratégica nos seus respectivos de Belo Horizonte. Com sua Kombi anos 80, didas de taxação do carbono para penalizar
mercados. O açúcar é um dos principais ener- com um motor novo flex, ele foi do Chuí ao o uso dos combustíveis fósseis e arcar com
géticos da vida humana, o etanol é o combus- Oiapoque, realizando mais de 50 palestras em as consequências negativas à sociedade. O
tível verde do Brasil e já é usado para diversas diversas cidades pelo país, rodando sempre Brasil, em suas metas na COP 21, prome-
outras finalidades como na alcoolquímica, com etanol. Ao realizar o balanço final dos teu reduzir em 43% as emissões de gases de
além da bioeletricidade que torna as indús- mais de 12 mil km percorridos, o consultor efeito estufa - com base em 2005 - até 2030.
trias autossuficientes em energia e ilumina as não acreditou nos números ambientais gera- Ou seja, a agenda ambiental é real e o se-
casas de milhões de brasileiros. dos na sua expedição. A mitigação de CO2 tor precisa estar inserido e ser protagonis-
O lado ambiental é um capítulo à parte, ultrapassou 4 toneladas, o equivalente a 30 ta na contribuição do cumprimento da meta.
preocupação mundial materializada no re- árvores plantadas fazendo fotossíntese por Como uma submeta, a proposta do governo
cente acordo climático decidido em Paris, a 20 anos. brasileiro eleva dos atuais 28 bilhões de l de
COP 21. Não canso de afirmar que de todos O ano de 2015 foi o mais quente no mun- consumo de etanol para mais de 50 bilhões
os setores do agronegócio nacional, o setor do dentro do histórico das medições de tem- de l em 2030. Na mesma direção estaria a
sucroenergetico é aquele com maior nível de peratura e o uso de combustíveis fósseis tem bioeletricidade que também está inserida na
adequação ambiental, isso em um país que grande participação neste fato. Até o Papa meta brasileira.

37
commodities a condição atual do mercado nos
obriga a ter um contato direto com nosso con-
sumidor e essa barreira terá que ser quebrada.
Como induzir de forma mais efetiva um con-
sumidor a colocar etanol em seu veículo se
não temos contato com ele no momento do
abastecimento. Além disso, como poderemos
lutar de forma mais efetiva contra a onda de
redução do consumo de açúcar se não tivermos
acesso direto aos grandes players industriais
e do varejo brasileiro, e ao consumidor em
frente às gondolas do supermercado. Talvez
a solução esteja na tecnologia e seu potencial
Campos: “precisamos ver nossos governantes falando bem do setor dentro e fora
de nosso país como vimos em um passado não distante. Isso modifica a direção disruptivo. O Uber está aí para nos ensinar.
dos olhares dos investidores nacionais e internacionais” Um quarto ponto, extremamente impor-
tante é o setor continuar olhando para dentro
Já para o açúcar, as notícias de curto e do que passou as gorduras e o sódio nos úl- na busca de redução de custos e aumento de
médio prazo são boas. Após seis anos de pre- timos anos. eficiência. Em quinto, e não menos importan-
ços em reais muito baixos, os preços estão ho- Com todos esses fundamentos, é certo te, é a necessidade de investir e difundir as
je atingindo patamares mais remuneradores. que o setor vive um dilema. E pela sua impor- novas tecnologias de produção, desde novas
Com déficits mundiais e estoques em queda, tância econômica/social, um dilema do setor variedades a novos produtos como o etanol
que deverão durar mais duas safras, as pers- é também um dilema do governo e de toda a 2G e o biogás.
pectivas são mais positivas do que nos últi- sociedade. Claramente, o mundo clama pelo Por fim, temos a comunicação de todo es-
mos cinco anos. aumento da produção de açúcar brasileira, se universo canavieiro, cheio de boas notícias
No lado dos riscos, há dois movimen- maior produtor e maior exportador do pro- e potencialidades. Não temos o histórico de
tos que precisamos ficar atentos. O primeiro duto. Também é bastante claro que o Brasil grandes campanhas, e alguns poucos acabam
ocorre no mercado automobilístico, com a clama por uma maior produção de etanol para financiando por todos. Contudo, o segmento
dúvida de qual modelo de carro/combustí- reduzir a dependência externa de combustí- precisa fazer uma grande reflexão consideran-
vel teremos no futuro. Os carros híbridos e veis e para atender a agenda ambiental. Con- do o mundo atual e as novas formas digitais
elétricos ganham importância com grandes tudo, o setor não tem recursos para investir e de comunicação. Possuímos um exército de
incentivos, mas tecnologias ainda mais ino- atender esses anseios. Como resolver? pessoas dentro do setor, a maioria conectada
vadoras como a célula de hidrogênio também A solução é complexa, mas não impos- com o mundo digital. Temos todas as condi-
estão no radar. sível e passa por uma conjunção de fatores ções de movimentar esse universo com ideias
Durante as Olimpíadas do Rio, a Nis- que precisam ocorrer para que os investimen- criativas e com um custo muito menor do que
san apresentou um protótipo com célula de tos possam voltar. O primeiro deles é de ba- muitos possam imaginar. Ainda há milhões de
hidrogênio que utiliza o etanol como fonte se institucional, aproveitando a mudança da brasileiros que nunca abasteceram seus veícu-
para o carro. Especificamente no caso brasi- política internacional do governo brasileiro, los com etanol e nossas entidades represen-
leiro, apesar desta tendência de mudança no precisamos ver nossos governantes falando tativas precisam ter recursos suficientes para
mercado mundial, o que se tem hoje é uma bem do setor dentro e fora de nosso país co- comunicar com todo esse público. Somente
perspectiva de um grande déficit no mercado mo vimos em um passado não distante. Isso assim poderemos criar uma consciência am-
de combustíveis, o que aumentará a necessi- modifica a direção dos olhares dos investido- biental, conceito de grande relevância para o
dade do Brasil de importação para atender a res nacionais e internacionais além de induzir futuro do setor.
demanda. Abre-se, então, uma oportunidade a adoção de políticas públicas positivas ao Os acionistas e as empresas do setor pre-
que o setor de etanol não pode desperdiçar. segmento. O segundo fator decorre do pri- cisam estar antenados para todas as oportuni-
O segundo item é o consumo de açúcar. meiro, para solucionar o grande problema da dades que poderão aparecer, estar preparados
Apesar de boa parte do mundo ainda ter uma dívida setorial, dinheiro novo será necessá- e prontos para parcerias que possibilitarão o
dieta bastante pobre em função das desigual- rio e novos processos de fusões e aquisições aumento de escala e toda sinergia comercial
dades sociais, há um forte movimento glo- deverão ocorrer. e de gestão que permitirão um crescimento
bal, e que já chegou ao Brasil, de crítica ao Mas nada adiantará se o setor não solu- sustentável ainda maior.
açúcar como uma das causas da obesidade cionar seus entraves na área comercial, ter- * Mário Campos é presidente da Siamig
(Associação das Indústrias Sucroener-
com impacto na saúde pública, a exemplo ceiro fator. Apesar de sermos produtores de géticas de Minas Gerais)

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ADMINISTRADOR DO GRUPO JOÃO LYRA ABENGOA BIOENERGIA
Por dentro da Usina

QUER ARRENDAR USINA LAGINHA DEVE VENDER USINAS EM


A administração da massa falida do Grupo João Lyra lançou, no início de REESTRUTURAÇÃO
setembro, um relatório de prestações de contas que vai desde agosto de 2015 A reestruturação financeira da Abengoa Bio-
a julho de 2016. A publicação revela que o próximo passo é a reativação da energia deve envolver a venda das duas unida-
Usina Laginha na forma de arrendamento, com renda revertida para pagamento des produtoras localizadas no interior paulista.
de credores. A negociação deve ocorrer após as vendas das usinas Triálcool e De acordo com o diretor e porta-voz da compa-
Vale do Paranaíba, localizadas em Minas Gerais. nhia, Rogério Abreu dos Santos, com a situação
Também estaria programada a venda de ativos periféricos, como veículos, da matriz equacionada, a tendência é que as usi-
salas comerciais, apartamentos e outros imóveis, mediante autorização judicial, nas do Brasil sejam vendidas. As duas usinas da
com a finalidade de pagar credores. A documentação vem com relatos sobre a empresa ficam no interior de São Paulo, uma em
Usina Guaxuma, arrendada para a empresa GranBio e que quase foi vendida Pirassununga e outra em São João da Boa Vista.
para empresários de Pernambuco. No último dia 11 de agosto, a matriz espanhola
Atualmente, a administração judicial está por conta de João Daniel Marques informou ter chegado a um acordo com seus cre-
Fernandes e tem como gestor judicial Luiz Henrique da Silva. O complexo em- dores e fundos. A concordância de 75% dos credo-
presarial, hoje falido, abrange as usinas Laginha, Guaxuma, Uruba, Triálcool res, contudo, não foi alcançada, mas a expectativa
e Vale do Paranaíba, e as empresas coligadas Mapel, Sapel e JL Agroquímica. é de que isso ocorra até 28 de outubro. Uma vez
Todas integravam o Grupo João Lyra, pertencente ao usineiro e ex-deputado aprovado o plano, a Abengoa voltará a focar seus
federal João Lyra, que chegou a figurar como o parlamentar mais rico do país negócios em engenharia, desfazendo-se, assim,
nas eleições de 2010. das operações sucroenergéticas no País.

PREJUÍZO DO GVO RECUA 50% BIOSEV INVESTE EM


NA SAFRA 2015/16 TECNOLOGIA PARA INIBIR
O GVO (Grupo Virgolino de Oliveira), dono de quatro usinas no Estado O FLORESCIMENTO
de São Paulo, promoveu ajustes na safra 2015/16 que reduziram suas despe- A Biosev, segunda maior processadora global de
sas operacionais, além de ter registrado perdas menores com variação cambial, cana-de-açúcar, investiu na aplicação de inibidores
que contribuíram para um prejuízo 50% menor na última temporada. Confor- de florescimento de canavial em uma área superior
me balanço do Diário Oficial Empresarial de São Paulo, a companhia teve um a 32 mil ha. O objetivo da empresa com a aplicação
prejuízo líquido de R$ 792,1 milhões no exercício encerrado em 30 de abril, dessa tecnologia é minimizar os impactos causados
equivalente à safra passada. pelo florescimento, que se manifesta principalmente
Apesar da reação dos preços do açúcar ter começado na última temporada, entre os meses de junho e agosto. “O florescimen-
o grupo não conseguiu capturar essa reação em suas receitas com vendas, que to causa prejuízos na produtividade agrícola, pois
recuaram 2% para, R$ 408,9 milhões. Porém, a companhia conseguiu reduzir em a flor consome parte do açúcar produzido e causa
11% o custo dos produtos vendidos e diminuir sensivelmente seu prejuízo bru- isoporização nos colmos, o que acarreta perda de
to, que ficou em R$ 6,5 milhões, contra quase R$ 50 milhões no ciclo anterior. peso na planta” afirma o diretor Agrícola da Biosev,
No lado financeiro, o GVO ainda registrou perdas, mas menores do que na Ricardo Lopes.
safra precedente. As perdas com variações cambiais foram 61% menores na A tomada de decisão de aplicação de inibidores
última safra, somando R$ 185,2 milhões. Já as despesas financeiras continua- é suportada por um modelo integrado que contempla
ram em alta e totalizaram R$ 241,4 milhões, 5% acima das despesas do ciclo diversos fatores como, acompanhamento climatoló-
anterior. Diferentemente da safra 2014/15, quando o GVO consumiu R$ 106 gico antes e durante o período de indução, histórico
milhões de seu caixa, na última safra a companhia conseguiu gerar caixa de de florescimento da região, altitude dos locais, sus-
R$ 4,2 milhões. No entanto, o endividamento líquido cresceu 18% entre uma ceptibilidade de variedades ao florescimento, épocas
safra e outra e somava, em 30 de abril, R$ 193,8 milhões. Além disso, houve de colheita e período juvenil do canavial. A análise
uma concentração da dívida bruta no curto prazo. De todo o endividamento, integrada de todos esses fatores direciona e supor-
72% tinha prazo de vencimento em até 12 meses após o fim do exercício, en- ta a tomada de decisão na aplicação de inibidores
quanto na safra anterior, a dívida de curto prazo representava 61% do total. de florescimento pela equipe técnica da Biosev.

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BRASIL E COLÔMBIA FECHAM de 50 materiais até 2021. Ainda não estão definidas as varie-
ACORDO PARA TROCA DE dades RBs que serão intercambiadas. Mas antes disso, ainda
VARIEDADES DE CANA no segundo semestre de 2016, a equipe de melhoramento do
Com o objetivo de firmar um acordo para troca de variedades, dois Cenicaña fará uma visita técnica ao Brasil, com a intenção
pesquisadores do Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-açú- de conhecer as atividades, as tecnologias e os estudos que
car (PMGCA) da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) visita- estão sendo desenvolvidos pela Ridesa.
ram a Colômbia e trataram da efetivação do contrato de intercâmbio de O intercâmbio de variedades de cana-de-açúcar é uma
troca de germoplasma e espécies relacionadas de cana-de-açúcar entre estratégia de transferência e enriquecimento de patrimônio
Brasil (Ridesa) e Colômbia, via Cenicaña (Centro de Investigación de genético vegetal. O principal objetivo do intercâmbio entre
La Caña de Azúcar de Colombia). Os materiais a serem trocados pode- o programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar da
rão ser utilizados pelas duas instituições, mas somente nos programas Ridesa/UFSCar com outros países produtores de cana é in-
de melhoramento como genitores em cruzamentos e em avaliações em corporar novos acessos e o máximo possível de variabilidade
experimentos de doenças e competição varietal. genética ao banco ativo de germoplasma da Serra do Ouro,
O próximo passo do acordo é o envio das primeiras dez variedades localizado em Murici, Alagoas. Desta forma, será possível
RB para a Colômbia no primeiro semestre de 2017. No mesmo período, realizar futuros cruzamentos promissores visando obter va-
a Ridesa/UFSCar receberá dez variedades CC. O acordo prevê a troca riedades superiores àquelas atualmente em cultivo no Brasil.

RÉGUA DE PRODUTIVIDADE AJUDA USINAS ELEVAM COMPRAS DE


A SABER QUAL O POTENCIAL MÁQUINAS COM A MELHORA
PRODUTIVO ANTES DE PLANTAR NO CENÁRIO
O IAC (Instituto Agronômico), da Secretaria de Agricultura As usinas brasileiras de cana estão aumentando as compras
de São Paulo, desenvolveu uma ferramenta com informações para de máquinas em busca de melhor eficiência no campo, com a
que o produtor conheça, antes do plantio, o potencial da produ- perspectiva promissora para o mercado, em meio a um déficit
tividade média de todo o ciclo da cana-de-açúcar. A ferramenta global de açúcar, encorajando investimentos. Fabricantes de co-
é uma régua que orienta o cultivo de acordo com a variedade, o lhedoras de cana, como a John Deere e a AGCO, estão intensifi-
ambiente de produção e as práticas de manejo. Segundo o IAC, cando a produção no Brasil à medida que as entregas crescem.
o novo recurso é fruto de 13 anos de estudos de solos e ambien- “Algumas usinas estão correndo para comprar colhedoras
tes de produção em usinas localizadas nos Estados de São Pau- e outros equipamentos porque querem ter certeza de que serão
lo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do capazes de processar toda a cana-de-açúcar disponível”, disse
Sul, Tocantins, Maranhão, Pernambuco e Bahia. A régua será Marco Gobesso, gerente de Marketing de equipamentos para
distribuída aos produtores e traz informações sobre o ambiente, cana na fabricante norte-americana AGCO, que dobrou o nú-
classificado de acordo com a expressão da produtividade agrícola mero de produção de colhedoras de cana neste ano em compa-
em conceitos que variam de uma escala até 20. ração com 2015.
Na régua, as informações são ainda organizadas de acordo O Grupo Moreno é um exemplo do recente movimento de
com os critérios de manejo básico e avançado da cana. “A régua compras de equipamentos. A companhia adquiriu 15 colhedo-
registra variações das notas zero, com produtividade média de ras neste ano por cerca de R$ 1 milhão cada. No ano passado,
cinco cortes ou 50 t/ha, até a nota 20, que representa produtivi- a empresa não havia comprado nenhuma máquina e em 2014,
dade média de cinco cortes maior ou igual a 150 t/ha”, informou apenas duas.
o pesquisador do IAC responsável pelo trabalho, Hélio do Prado. Marco Ripoli, gerente de Marketing para máquinas de ca-
Segundo ele, para usar a ferramenta é necessário conhecimen- na na John Deere, afirma que a companhia está procurando
to prévio sobre o clima e a classificação do solo, de acordo com expandir a produção em sua unidade de Catalão, no Goiás, em
os 13 tipos existentes no Brasil. Com esses dois fatores, clima 30% após lançar uma nova geração de colhedoras que promete
e solo, tem-se a nota no manejo básico ou avançado. De posse recolher cana mais rápido e usando menos diesel. “Há cerca de
do resultado apontado pela régua, faz-se a alocação de varieda- 9 mil colhedoras antigas operando no Brasil. Elas precisam ser
des, que se torna mais eficiente com o uso da nova ferramenta. substituídas”, disse ele.

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atualidades jurídicas

DIREITO DO TRABALHO rio do Trabalho e Emprego, que impõe regras para funcionamento
EXISTÊNCIA DE TRANSPORTE dos locais de trabalho relativas a sanitários, vestiários e refeitórios,
INTERMUNICIPAL AFASTA assim como para fornecimento de água potável, em conformida-
HORAS IN ITINERE de com o capítulo V da CLT, que trata das normas de segurança e
Trabalhador contratado para trabalhar na construção de uma medicina do trabalho. Com tais fundamentos, o acórdão manteve
fábrica na zona rural pediu o pagamento de duas horas in itinere na íntegra a sentença de primeira instância, que condenou a em-
por dia, tempo de duração do trajeto de ida e volta entre sua resi- presa a pagar R$ 5 mil de indenização por danos morais, uma vez
dência e a obra. Como a empresa fornecia a condução, o pedido configurada a existência do ilícito moral por não ter cumprido o
teve fundamento no artigo 58, parágrafo 2º, da CLT, que permite a dever de oferecer um meio de trabalho salubre.
inclusão, na jornada de trabalho, do tempo gasto pelo empregado
para ir e retornar do serviço, quando o local é de difícil acesso ou DIREITO CIVIL
não atendido por transporte público. É RECONHECIDA A VALIDADE
Em primeira instância, o juízo julgou procedente a ação e deter- DA CORRETAGEM DE IMÓVEL E
minou o pagamento, como hora extra, de 66 minutos por cada dia DECLARADA COMO ABUSIVA
trabalhado. Ao manter a decisão, o Tribunal Regional do Trabalho A TAXA SATI
da 24ª Região (MS) afirmou que o transporte intermunicipal não Recentemente a 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça de-
exclui o direito às horas de trajeto, o que só ocorreria se houvesse cidiu pela validade da cláusula contratual que transfere ao consu-
transporte público urbano. Segundo o TRT-24, o serviço entre mu- midor a obrigação de pagar comissão de corretagem. Em contra-
nicípios difere do oferecido na área urbana, por ter passagens mais partida, o colegiado entendeu ser abusivo impor ao comprador o
caras e acesso mais difícil. Entretanto, a decisão foi reformada no pagamento da taxa de Serviço de Assessoria Técnico-Imobiliária
TST. O relator deu provimento ao recurso da empresa para excluir (SATI).
a condenação quanto às horas de percurso. A taxa SATI é cobrada pelas construtoras com base em 0,8%
De acordo com ele, o artigo 58, parágrafo segundo, da CLT, sobre o preço do imóvel novo adquirido pelo consumidor. Esta
não exclui da modalidade de transporte público o intermunicipal quantia é destinada aos advogados da construtora pelo serviço re-
ou interestadual. Portanto, a linha entre os municípios que passa alizado, notadamente a elaboração do contrato de venda e compra
no local de construção da fábrica, é considerada transporte públi- e demais serviços que decorram do instrumento particular.
co e, nesse caso, impede a inclusão do tempo de deslocamento na Ainda, no mesmo julgamento ficou definido que o prazo pres-
jornada de trabalho. Como analogia, afirmou que o artigo 1º da Lei cricional para ajuizamento de ações que questionem a abusividade
7.418/1985, ao instituir o vale-transporte, autorizou expressamente nas cobranças é de três anos.
o uso do benefício no transporte coletivo público, urbano, intermu-
nicipal ou interestadual com características semelhantes aos urba- DIREITO TRIBUTÁRIO
nos. “Se na questão do vale a lei equipara o transporte municipal REDIRECIONAMENTO DE EXECUÇÃO
ao intermunicipal e ao interestadual, não pode haver distinção entre FISCAL PARA PESSOA FÍSICA
as modalidades quanto às horas in itinere”, afirmou. REQUER O EXERCÍCIO DA GERÊNCIA
Novo entendimento sobre o Redirecionamento da Execução Fis-
MÁS CONDIÇÕES DE BANHEIROS cal de Pessoa Jurídica para Física considera como requisito o cargo
REDUNDAM EM DANO MORAL de gerência à época do fato gerador. O STJ decidiu em recurso apre-
A 1ª Turma do TRT/RJ condenou empresa ao pagamento de sentado pela Fazenda Nacional que não é possível fazer o redirecio-
uma indenização por danos morais no valor de R$ 5 mil a um em- namento da execução fiscal a um ex-sócio da empresa, a menos que
pregado por causa das más condições de higiene e manutenção dos este gerisse a companhia na época do fato gerador.
banheiros disponibilizados aos seus empregados. Anteriormente vigorava o entendimento da corte de que era per-
A empresa alegou que, em 2010, com a fusão entre duas grandes mitida a transferência da execução fiscal de pessoa jurídica para a
redes de lojas, houve a absorção de mais de R$ 5 mil empregados pessoa física se tivesse havido irregularidade na hora da dissolução
sem a alteração estrutural dos banheiros, situação que gerou revolta daquela. Após a decisão, porém, este entendimento só será aplicável
num grupo de trabalhadores, que quebrou louças e retirou as portas se o ex-sócio exercesse a administração da empresa à época do fato,
dos poucos sanitários existentes. Porém, para o relator do acórdão, caso contrário a transferência da execução fiscal para a pessoa física
compete ao empregador fornecer um ambiente de trabalho digno, não será possível.
o que deve incluir a constante manutenção de suas dependências, A nova decisão baseia-se no entendimento de que a Súmula 83 do
sendo irrelevante se alguns empregados promoveram algum tipo STJ já estava pacificada no sentido de ser imprescindível o requisito
de depredação. do cargo de gerência para a transmissão da execução fiscal. Assim, o
O magistrado ressaltou, ainda, a violação da NR 24 do Ministé- antigo entendimento estaria afrontando a Súmula.

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Da redação

Para quem gosta de curtir uma aventura off-road, rodar com No caso da Toyota Hilux, 90% das vendas estão con-
tranquilidade no campo ou tem a rotina de transitar entre fazen- centradas entre as opções mais caras, SRV e SRX.
da e cidade, nada melhor do que optar por uma boa picape, que Para a Toro, que chegou para reforçar a vocação ur-
além de ser robusta para aguentar o tranco do dia a dia, tanto nas bana das novas picapes, a Fiat calcula que os maiores
condições impostas pelas áreas rurais quanto na cidade, hoje é volumes estarão na Freedom Flex (40%), de entrada e
ofertada em modelos cheios de estilo. Mas você sabe quais são sem pretensões off-road, e no Volcano Diesel (30%),
as picapes mais procuradas e vendidas no Brasil? A RPAnews a mais luxuosa. Em 2015, 47,7% dos emplacamentos
fez um levantamento e separou os oito modelos que mais tem de comerciais leves - que inclui picapes - foram feitos
se destacado nesta categoria. na região Sudeste, onde fica a maior concentração de
Num segmento que anda cada vez mais concorrido com a en- centros urbanos do país.
trada de novas marcas no mercado, os principais rivais são: Toyo- No caso da Toro, que inaugura um novo segmento
ta Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10, Mitsubishi L200, Nissan intermediário entre as picapes leves e médias, os ven-
Frontier e Volkswagen Amarok, a única do mercado que oferece dedores da Fiat são unânimes e dizem que os atuais
a opção de câmbio automático com oito velocidades. donos de SUVs com perfil urbano são os que mais
Há alguns anos, picape era sinônimo de campo, de carro pa- procuram o modelo nas lojas. Segundo seus cálculos,
ra enfrentar os buracos e obstáculos encontrados na zona rural. 80% dos compradores da Toro eram donos de utili-
No entanto, uma reportagem do site ‘Quatro rodas’, que tenta tários esportivos. Surgem também proprietários de
desvendar o perfil dos donos de picapes, constata que a maio- picapes leves (10%), especialmente vindos da Strada,
ria dos compradores desta categoria usa a camionete 90% do de picapes médias (5%) e de sedãs (5%). “A maioria
tempo na cidade. das propostas envolvem mesmo as SUVs, em espe-
Essa mudança de hábito fez com que os modelos de picapes cial HR-V, da Honda, e Renegade, da Jeep, na troca
fiquem cada vez mais adaptadas a vida urbana. Não por acaso, pela Toro”, revela um dos vendedores.
a nova Hilux está com o design muito parecido com o modelo No acumulado de vendas de picapes em 2016 até
sedan da marca, o Corolla, enquanto a picape Toro, da Fiat, quer o meio do ano, a Strada, da Fiat, segue firme na li-
capturar o público dos SUVs compactos. Isso se deve à mudança derança das mais vendidas, seguida pela Saveiro, da
do perfil de seus clientes, que antes eram dispostos a aventuras Volkswagen. Entre as picapes médias, a Hilux lidera
na terra e trabalhos pesados, mas agora, além disso, também à frente da S10, Ranger e Amarok. Entre as inter-
querem respeito no trânsito da cidade. mediárias, a Toro vai se dando bem frente à Oroch,
O primeiro sinal dos novos tempos está no mix das versões. da Renault.

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CONHEÇA AS 8 PICAPES QUE MAIS SE DESTACAM NA CATEGORIA
TOYOTA NOVA HILUX VOLKSWAGEN AMAROK
Atualmente, uma das picapes de cabine du- Desde seu lançamento em 2011, a Volkswagen
pla mais vendidas no Brasil, a Hilux passou Amarok vem brigando com o segmento para se
por mudanças profundas com a chegada da equiparar aos concorrentes, no entanto, a missão
nova geração. O modelo 2017, lançado no é difícil já que o modelo precisa provar que é tão
final do ano passado, apresentou melhorias confiável quanto seus rivais. Para isso, a marca,
na parte mecânica, assim como no acaba- ao longo dos anos, lançou várias campanhas pro-
mento interno e adicionou a dirigibilidade mocionais oferecendo descontos e financiamen-
dos carros de passeio, segundo a Toyota. tos com taxa zero e outras ofertas para promover
a picape no Brasil, além de sugerir robustez e
CHEVROLET S10 durabilidade. O grande diferencial do modelo é
Presente no mercado nacional desde 1993, o câmbio automático de oito marchas.
quando era vendida apenas na versão ca-
bine simples equipada com motor 3.0 V6 FIAT TORO
a gasolina, a Chevrolet S10 se tornou a Maior que a Strada e menor que a Chevrolet
picape mais desejada do Brasil na época. S10, a Fiat estreou um novo segmento no mer-
No entanto, para se tornar líder, precisa- cado, chamado de Sport Utility Pick-up (SUP),
va ter opções mais baratas e econômicas. picape utilitária esportiva, segmento que tem
E foi isso que fez a Chevrolet do Brasil.  como principal rival a recém-lançada no mer-
No ponto alto da categoria atualmente, a cado nacional, a Renault Duster Oroch.  O gran-
nova geração da S10 só é ameaçada pela de diferencial da nova picape Toro é que ela
Toyota Hilux. é maior e mais cara que sua concorrente, mas
menor em tamanho e mais barata que a Che-
FORD RANGER vrolet S10.
  A Ford Ranger, tradicional picape de
porte médio, é conhecida no mercado RENAULT DUSTER OROCH
brasileiro desde 1996. O modelo nunca A Renault inaugura um novo segmento no mer-
teve um volume de vendas expressivo, cado nacional com a chegada da nova Duster
,se comparado com a sua principal rival Oroch 2016. Depois de muito trabalho no desen-
no mercado nacional, a Chevrolet S10. volvimento do modelo, a marca iniciou a comer-
Ao longo dos anos, passou por algumas cialização da sua picape de porte médio no final
mudanças e reestilizações, no entanto, de 2015. Embora utilize a mesma plataforma da
sempre manteve a base da primeira ge- SUV Duster, existem algumas diferenças como
ração. Em 2012, a Ranger teve a sua pri- o tamanho em relação ao SUV. São 360 mm a
meira transformação apresentada no Bra- mais no comprimento e 150 mm maior na distân-
sil com a nova geração, que ficou maior e cia entre eixos. Com isso, a picape ganhou porte
mais moderna. e também mais espaço interno para acomodar
com folga cinco ocupantes. Outra característica
NISSAN FRONTIER do Oroch é o fato de ser um SUV transformado
A Nissan Frontier, presente no mercado bra- em picape o que, segundo a empresa, melhora
sileiro desde 2002, tinha pouca representa- muito o conforto no interior do carro, graças à
tividade no mercado, já que era importada carroceria monobloco utilizada em SUVs e em
e chegava em pequenas quantidades. No automóveis mais atuais.
entanto, o cenário mudou a partir de 2007,
quando a Nissan apresentou no Brasil a nova MITSUBISHI L200 TRITON
geração, mais robusta e atualizada. A atual O segmento de picapes está agitado neste ano
Nissan Frontier nacional teve, ao logo dos e a Mitsubishi L200 Triton  não quis ficar de
anos, algumas mudanças e detalhes da carro- fora. Para isso, o modelo recebeu novas versões
ceria reestilizados, mas a principal novidade para a linha 2017. Com faróis de projetores e
veio em 2016, com a chegada da nova gera- apliques plásticos na carroceria, a Outdoor
ção da Frontier que teve a frente da picape chega para substituir a opção intermediária
toda resenhada, incluindo novos faróis, gra- GLS com câmbio manual de cinco marchas e
de frontal, para-lamas, para-choque e capô. motor 3.2 turbo diesel de 180 cv. O conjunto
A traseira também ganhou novas lanternas foi mantido na nova versão, que terá ainda uma
e a tampa da caçamba que foi redesenhada. opção automática e outra flex 2.4 com motor
Já o interior, foi repaginado e ganhou novos de 142 cv.
equipamentos. (Colaboração Alisson Henrique)

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executivo

ARNALDO LUIZ
CORRÊA
O executivo deste mês divide-se literalmente entre lado A e lado B. Se de um lado ele
Naturalidade dedica-se totalmente a gestão de riscos no mercado agrícola de commodities, no qual atua
Santos, SP há 40 anos, o outro lado é 100% dedicado à música. Este é Arnaldo Luiz Corrêa, diretor
da Archer Consulting, empresa criada por ele e especializada em gestão de riscos para
Estado Civil commodities agrícolas, e vocalista da Seabelt, uma banda que faz cover de Beatles e outros
Casado há 26 anos com conjuntos dos anos 60, como The mamas & the papas, Beach Boys, Kinks e Monkees.
Silvia e tem duas filhas Corrêa formou-se em Administração e logo iniciou sua trajetória no mercado de café.
Entre os anos de 1975 e 1994, ele passou pela Cargill e pelo Grupo Esteve Irmãos, onde
atuou nas áreas Comercial e de Risco. Mas foi em 1994 que teve sua primeira experi-
Formação
ência com o açúcar, quando foi trabalhar na Copersucar. “Na verdade, eu esperava que
Administração de fosse trabalhar na área de café da Copersucar, que na época detinha a União. Mas nunca
Empresas, com MBA o fiz, sempre fiquei no açúcar. ”
em Gestão Empresarial Depois que saiu da Copersucar, Corrêa pode realizar um sonho antigo. Foi convi-
pela FGV, e membro da dado para ser diretor agrícola da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F),
Professional Risk
PRMIA (Professional em São Paulo. Na BM&F participou da abertura do mercado para os
Manager’s International investidores estrangeiros, o que considera uma experiência muito
Association) gratificante. “No entanto, como não me adaptei a questão insti-
tucional, porque gostava mais das operações, decidir ir trabalhar
Cargo na Macquarie Bank, onde fiquei por dois anos, na área de Ris-
Diretor da Archer cos. Meu último emprego foi na Coimex Trading, como diretor
da mesa de derivativos, a qual era responsável pela operação
Consulting
de várias commodities, como café, açúcar e soja”, relembra.
Em 2004, ao sair da Coimex, ele revela que recebeu
Hobbies algumas ofertas de emprego, mas decidiu tirar
Ouvir muita música, uma semana para clarear as ideias e ver o que
ir ao cinema, teatro
e tocar com a sua
banda Corrêa acredita que
a maior conquista do
Filosofia de vida seu trabalho foi mudar
o conceito de hedge e
“Fazer o bem sem de derivativos dentro
olhar a quem.” das empresas em que
prestou consultoria

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Ao lado de seus amigos e companheiros da banda Seabelt, que faz cover de Beatles e outras bandas, como The mamas & the
papas, Beach Boys, Kinks e Monkees

realmente queria fazer a partir daquele momento. Corrêa foi para Outro trabalho que Corrêa realiza através de sua consultoria é
Ouro Preto, MG, sozinho. No retiro de uma semana, decidiu que iria a implantação do relatório diário de lucros e perdas, o qual auxilia
montar uma consultoria e que iria escrever um livro sobre derivativos as empresas a entenderem sua posição proprietária, as operações de
agrícolas. E assim fez! spread, de arbitragem, a quantificação de risco por meio das gregas,
“Em 2005, me juntei ao jornalista do Valor Econômico, Car- a reestruturação completa na abordagem comercial, utilizando deri-
los Raíces, e escrevemos o livro Derivativos Agrícolas, que foi um vativos e objetivando agregar valor ao acionista.
best seller, publicado pela Editora Globo e que teve duas edições “Também atuamos com bastante ênfase no monitoramento das
esgotadas. Eu queria repassar a minha experiência como trader para posições dos mercados futuros. Nós elaboramos as posições, opera-
aqueles que estavam iniciando e, até o momento, não havia literatura
em português sobre o assunto que retratasse de maneira didática o
funcionamento dos mercados de commodities. Então essa foi uma
experiência extremamente gratificante”, conta Corrêa.
Já a consultoria foi criada para ser uma empresa especialista em
Gestão de Riscos e focada em commodities agrícolas, com ênfase no
mercado de futuros de opções e derivativos, com objetivo de mitiga-
ção de riscos, inerente das próprias commodities, e também focada
no desenvolvimento da gestão dessas operações.
Surgia a Archer, palavra que no inglês significa arqueiro. Nome
escolhido por traduzir o objetivo dos projetos, serviços, consultoria e
planejamentos estratégicos oferecidos pela empresa de Corrêa. “Em
nossos trabalhos, buscamos sempre a assertividade. Lidamos dire-
tamente com o mercado de futuros, opções e derivativos, o qual a
exigência pelo acerto ao alvo é premissa básica para executar nossos
serviços com total eficiência. Acertar o alvo, ou melhor, ser o arqueiro
assertivo é nosso propósito!”

LADO A: O MERCADO
DE COMMODITIES
Hoje, Corrêa oferece através da empresa um trabalho focado na
construção de uma gestão de riscos, com forte conhecimento na área
de futuros, opções e derivativos, e na otimização do uso de instrumen-
tos de hedge para posições no mercado. A ideia principal, segundo
ele, era a implantação e disseminação da cultura de hedge dentro das
empresas por meio de Workshops e Companies, a elaboração de Polí-
tica de Risco e Gestão de Risco eficiente do agronegócio. “Hoje nós
temos um curso que é um intensivo de futuros, opções e derivativos
que já virou referência. Já estamos no décimo quarto ano e mais de
mil pessoas já fizeram este curso”, adiciona.

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Ao lado da filha Isabela, Corrêa descreve sua emoção ao Ao lado da esposa Silvia, com quem é casado há 26 anos e
conhecer a casa onde viveu Paul McCartney: “as histórias de com quem tem duas filhas, Isabela e Priscila
quem conviveu e viveu o clima da época remetem-nos a uma
emocionante, comovente e fantástica viagem ao tempo.”
mos com estoque, tiramos vantagem da volatilidade, fazemos estu- que ele montou, em 2002, junto com amigos, uma banda chamada Sea-
dos estatísticos diversos, temos um relatório semanal do mercado de belt, nome criado a partir de um anagrama da palavra Beatles e também
açúcar e café, que é enviado para mais de 5 mil pessoas. Além disso uma referência ao mar (Sea, em inglês) pela origem de seus primeiros
também fazemos previsões de safra, de preços para o médio e longo componentes, originais de Santos, SP. “Focamos o nosso repertório
prazo, atuamos no monitoramento de custos de produção, acompanha- em Beatles e nas carreiras solos de seus integrantes, mas também toca-
mos a fixação de preço nas usinas, elaboramos estruturas de hedges mos músicas de bandas que foram sucesso nos anos 60, como Beach
adequadas a cada cenário, entre muitos outros”, detalha o executivo. Boys, The mamas&the papas, Monkees, Kinks e Herman’s Hermits.”
Hoje ele trabalha com uma equipe formada por freelances, pes- A dedicação é tanta que a banda de Corrêa já gravou dois cds.
soas que fazem alguns trabalhos dedicados e que o ajudam na elabo- Um só com versões de músicas dos Beatles e um com as músicas das
ração de relatórios, pesquisas e modelos de preços. “Temos alguns carreiras solos de seus integrantes, principalmente Paul McCartney
tentáculos, pessoas que estão orbitando em volta da Archer e ajudando e George Harrison.
em diversos setores. São mais ou menos dez pessoas que colaboram
efetivamente com a gente.” PAUL OU JOHN?
Corrêa acredita que a maior conquista do seu trabalho foi mudar o Todo fã de Beatles já foi questionado alguma vez na vida sobre a
conceito de hedge e de derivativos dentro das empresas que auxiliou. preferência entre Paul McCartney e John Lennon. Corrêa surpreende
Segundo ele, é muito gratificante ver empresas ganhando dinheiro com a resposta. Seu Beatle favorito é George Harrison. “Eu gosto
com as estruturas que foram montadas por ele. “Na parte de gestão, muito de todas as músicas deles e tenho que admitir que todos eles
onde risco é muito importante, eu acredito que o setor sucroenergé- são geniais dentro de suas especialidades. O John como letrista e o
tico, onde estão a maior parte dos meus clientes, teve uma maturida- Paul como grande musicista e multi-instrumentista, além de criador
de muito grande ao longo desses últimos anos. Eles sabem usar de de harmonias simplesmente inesquecíveis. Mas acho que se tivesse
maneira correta os instrumentos de derivativos que estão disponíveis que escolher um deles para ser meu amigo, escolheria o Harrison,
no mercado. Algumas coisas que surgiram também ao longo desses por parecer o Beatle mais cool e o mais pé no chão de todos eles”,
últimos anos, principalmente a fixação de preços já em reais por li- revela Corrêa.
bra preço, foi muito importante e trouxe grande contribuição para o Sua música predileta? In my life, de autoria de McCartney e Len-
resultado das empresas sucroenergéticas.” non. “Os Beatles nos desafiam a todo momento, porque apesar de fazer
quase 50 anos que a banda deixou de existir, a gente se surpreende
LADO B: A MÚSICA com os detalhes, com as harmonias, com os arranjos, com os backing
Por viajar muito para visitar e atender clientes em várias locali- vocals, que a gente tenta reproduzir de maneira bem fiel na Seabelt.
dades do Brasil, Corrêa quase nunca vai a sede da sua empresa, que Acho que essa é até a principal diferença da nossa banda.”
fica em São Paulo. Apesar de adorar a falta de rotina de escritório, ele O foco da Seabelt não é fazer turnê pelo Brasil, mas o executivo
conta que mesmo assim preza por ser bastante organizado em seus conta que eles fazem de oito a dez shows por ano. Em 2014, a banda
planejamentos. “Consigo organizar meu dia a dia e minhas tarefas foi uma das três escolhidas de todo o Estado de São Paulo para par-
profissionais tranquilamente.” ticipar da Beatle Week, evento anual que ocorre em Belo Horizonte,
O lado B de Corrêa certamente poderia deixar as pessoas que o com o apoio do Cavern Club de Liverpool, terra dos Beatles, e que
encontram em grandes eventos de mercado, trajando terno e gravata, traz bandas de toda a América Latina. Seabelt também se apresentou
e falando o linguajar financeiro, bem surpresos. Seu lado B é rechea- em duas casas de shows de rock da capital mineira: Lord Pub e Jack
do de música. É o que ele mais gosta de fazer. “Minha relação com a Rock Bar, com direito a casa cheia.
música é muito íntima. Eu gosto muito de música, coloco música para “É uma terapia que traz muita energia. Já fizemos shows para
quase todas as minhas atividades. Algumas quando estou escrevendo, muitas entidades carentes. Adoramos fazer shows beneficentes. Co-
quando estou trabalhando. A música me relaxa. Mas também gosto de mo nenhum de nós vive da música, a gente gosta muito deste tipo de
ler, de assistir séries, gosto de ir ao teatro e cinema, então eu procuro atividade onde podemos juntar o que mais gostamos, com a oportu-
sempre dedicar algumas horas na semana para todos estes hobbies.” nidade de ajudar pessoas”, exalta Corrêa, que vive uma filosofia de
A paixão pela música se tornou algo tão latente na vida de Corrêa vida bem simples: “fazer o bem sem olhar a quem.”

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DEDINI ANUNCIA HIBERNAÇÃO solução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publica-
DE UNIDADE E APROVA da no “Diário Oficial da União”. Em 2014, o conselho havia
RECUPERAÇÃO JUDICIAL publicado uma resolução que liberava até o 1º de setembro de
A Dedini divulgou, no início de setembro, por meio de nota, 2016 os caminhões canavieiros do uso obrigatório de lonas
que dentro do seu plano de otimização da capacidade instalada, no transporte de cana de-açúcar em vias públicas. A cobertura
colocará em hibernação a planta da cidade de Sertãozinho, SP. com lonas de todas as cargas de sólidos a granel é obrigatória
Todos os funcionários serão demitidos, mas a empresa ainda desde 28 junho de 2013 e foi determinada pela resolução 441,
não confirmou qual o número. Segundo a Dedini, a medida foi também do Contran.
tomada em um momento em que é necessário reduzir custos,
centralizar atividades e buscar ter equilíbrio nos custos e despe- MG:USINAS DE ETANOL
sas. “A hibernação da unidade em nada afetará a operação das DESATIVADAS DEVEM
demais fábricas e esperamos que em breve possamos retomar em VOLTAR A FUNCIONAR
regime normal as atividades de Sertãozinho, visando atender a Duas usinas, uma de Capinópolis e outra localizada a 20
uma reação do mercado com novos investimentos”, informou. km de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, poderão voltar a fun-
Além disso, a Dedini informou que 97% dos credores pre- cionar anos após desativarem as atividades. Depois de con-
sentes em assembleia, realizada na segunda quinzena de setem- cluído o processo de falência, a Justiça determinou a venda de
bro, aprovaram o plano de recuperação judicial da companhia. ambas empresas. Com o fim da batalha jurídica, as unidades já
A aprovação será encaminhada ao juiz Marcos Douglas Veloso podem ser reativadas após quase quatro anos fechadas. Tam-
Balbino da Silva, da 2ª Vara Cível de Piracicaba, SP, para homo- bém já existem grupos empresariais interessados em reativar
logação. A proposta básica do plano de recuperação judicial da as usinas. O processo de falência das empresas foi conduzido
companhia é pagar integralmente, já no primeiro ano, os créditos pela Justiça do Estado de Alagoas. Pelo menos três grupos
trabalhistas de R$ 36,56 milhões. Também no primeiro ano, e empresariais, um deles da Espanha, já demonstraram interesse
com valor integral, seriam pagas as rescisões trabalhistas extra em reativar as unidades.
concursais, estimadas em cerca de R$ 20 milhões. De acordo com Alan Santana, presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Capinópolis, quase mil pessoas per-
DÍVIDA DO SETOR DE CANA deram o emprego na cidade e a falência das usinas causou
DIMINUIU 8,6% grandes impactos na economia local. Com a venda das em-
A depreciação do dólar ante o real permitiu ao setor sucroe- presas, ex-funcionários e produtores rurais esperam receber os
nergético reduzir o endividamento. Cálculos da Archer Consul- acertos trabalhistas e os pagamentos atrasados. Mas a maior
ting mostram que do início da safra 2016/17 até agosto, a dívi- expectativa é a geração de renda e trabalho em toda a região.
da acumulada pela indústria sucroalcooleira diminuiu 8,6%, de
R$ 92,88 bilhões para R$ 84,85 bilhões, ao passo que a moeda ANDRÉ ROCHA MOSTRA
norte-americana cedeu 9,4%, para R$ 3,25. Da dívida total do POTENCIAL DO SETOR
setor, 34,7% seriam em dólar. SUCROENERGÉTICO
Pela previsão da Archer, o Centro-Sul processaria 618,5 mi- NA ÁSIA
lhões de t da matéria-prima nesta safra, que vai até 31 de março O presidente-executivo do Sifaeg/Sifaçúcar e do Fórum
do ano que vem. Estes números, entretanto, poderão se caminhar Nacional Sucroenergético, André Rocha, participou da comiti-
para 605 milhões de t por conta das adversidades climáticas dos va da Missão Governamental e Empresarial à Ásia, comandada
últimos meses, incluindo chuvas em excesso e geadas. O cor- pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi. No roteiro estive-
te previsto pela consultoria vai em linha com o observado no ram a Tailândia, Myanmar, Vietnã, Malásia e Índia. O objetivo
mercado, que calculou que a temporada 2016/17 caminha para foi apresentar a empresários e investidores as oportunidades de
ser 1,4% menor que 2015/16. Na média, a expectativa é de um parceria comercial e investimento no agronegócio brasileiro.
processamento de cana na casa de 609 milhões de t, abaixo das Durante a viagem, Rocha fez uma apresentação em Hanói,
621 milhões de t inicialmente previstas e também 1,4% inferior no Vietnã, onde ressaltou os números da safra brasileira de
às 617 milhões de t do ciclo anterior. cana-de-açúcar, que colocam o Brasil como primeiro produ-
tor e exportador mundial de açúcar e segundo maior produtor
USO DE LONA EM CAMINHÃO DE e exportador de etanol. Ele abordou ainda a possibilidade de
CANA SERÁ OBRIGATÓRIO EM 2017 cooperação técnica daquele país com o Brasil no que se refere
O uso de lona em caminhões de transporte de cana-de-açúcar a variedades de cana, colhedoras e tecnologias para produção
será obrigatório a partir do dia 1º de junho de 2017, segundo re- de energia a partir do bagaço da cana e do etanol.

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