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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS

XXVII SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS


BELÉM – PA, 03 A 07 DE JUNHO DE 2007
TEMA 100 – A32

ESTUDO DE BARRAGENS DE ENROCAMENTO COM FACE DE CONCRETO


SOB CONDIÇOES TRIDIMENSIONAIS

Adriano FRUTUOSO DA SILVA


MSc/Doutorando – Universidade de Brasília.

André Pacheco de ASSIS


PhD/Professor – Universidade de Brasília.

Marcio Muniz de FARIAS


PhD/Professor – Universidade de Brasília.

Manoel Porfírio CORDÃO NETO


DSc/Professor – Universidade de Brasília.

RESUMO

As barragens de Enrocamento com Face de Concreto (BEFC) têm sido construídas


com freqüência crescente em todo mundo. Apesar disso, ainda são projetadas
empiricamente com base projetos anteriores. Entretanto, tem sido observado em
alguns casos, principalmente em barragens de grandes alturas, o aparecimento de
trincas e fissuras na laje da face de montante oriundas das deformações do maciço.
A geometria do vale é citada como um dos fatores causadores de alterações na
deformabilidade do maciço devido à redistribuição de cargas por arqueamento entre
as ombreiras. O presente trabalho apresenta um estudo numérico de uma BEFC
hipotética sob condições tridimensionais com o objetivo de verificar a influência da
forma do vale no comportamento da barragem.

ABSTRACT

Concrete Face Rock Fill Dams (CFRD) have increased in number everywhere in the
world. However, their design criteria are still quite empirical, based on the practical
experience of previous projects. More recently, it has been observed in some cases,
mainly for very high embankment dams, the appearance of cracks and fissures on
the upstream concrete slab, resulting from the rock fill displacements. The valley
geometry is one of the factors commonly mentioned as those that induce deformation
in the rock fill due to the load transfer by arching between the abutments. The
present work presents a three-dimensional numerical simulation of a hypothetical
concrete upstream-face rock fill dam, aiming to analyze the influence of the valley
shape on the embankment behavior.

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1. INTRODUÇÃO

As barragens de enrocamento vêm sendo construídas deste o final do século XIX e


nos últimos anos têm sido freqüentemente adotadas, principalmente quando se
necessita de estruturas de grande altura. Por ser um material de elevada resistência,
os taludes podem ser mais íngremes e a construção é relativamente rápida quando
comparada a das barragens de terra por não exigir um controle de compactação tão
restrito em termos de umidade, o que possibilita sua construção também em
períodos chuvosos.

Quanto às BEFC, segundo a International Water Power & Dam Construction (2005)
existem cerca de 383 BEFC construídas no mundo, com altura superior a 50m. A
Figura 1 apresenta uma distribuição mundial das BEFC.
Nepal-1 (0,3%)
Sri Lanka- (0,3%) Philipinas-2 (0,5%)
Malasia-6(1,6%) Africa-12 ( 3,1%)
Iran-5 (1,3%) Venezuela-4 (1,0%)
Libano-1 (0,3%) Oceânia-22 (5,8%)
Panamá-3 (0,8%)
Tailandia-4 (1,0%)
México-6 (1,6%) Chile-14 (3,7%)
Japão-1 (0,3%)
laos-7 (1,8%) Canadá-4(1,0%)
India-3 (0,8%) Asia-203 Peru-8 (2,1%)
Colômbia-9 (2,4%)
Korea do Sul- 5
(53,1%) America
(1,3%) Argentina-8 (2,1%)
87 (22,8%)
Rep. Korea-12 China - 149 (39.0%)
(3,1%) Equador-1 (0,3%)
Estados Unidos
Indonésia-3 (0.8%) 17 (4,5%)
Brasil-13 (3,4%)
Paquistão-3 (0,8%)
Europa-58 (15,2%)

FIGURA 1: Distribuição das Barragens de Enrocamento com Face de Concreto no


Mundo (H ≥ 50,00m).

No Brasil esta técnica tem sido aplicada com sucesso à barragens de grandes
alturas. A Tabela 1 apresenta as BEFC no Brasil.

Barragem Altura (m) Ano de Conclusão Potência Instalada (MW)


Foz do Areia 160 1980 1674
Segredo 145 1992 1200
Xingó 140 1994 3000
Itá 125 1999 1450
Machadinho 126 2002 1140
Itapebi 112 2003 1350
Barra Grande 185 2005 690
Campos Novos 202 2006 880
1
Monjolinho 125 2006 -
Quebra Queixo 1 75 2008 120
Pai Querê 2 150 2008 -
2
Santa Rita 85 - -
Bocaina 2 80 - -
TABELA 1: Barragens de Enrocamento com Face de Concreto no Brasil
(Nota: (1) em fase de construção; (2) em fase de licitação).

Apesar desse tipo de barragem ter sido construído em diferentes partes do mundo e
estarem operando satisfatoriamente, os critérios de projeto são ainda

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predominantemente empíricos baseados na experiência obtida de obras similares
construídas. A utilização da análise numérica ainda não é uma ferramenta usual
para o desenvolvimento e dimensionamento deste tipo de barragem, principalmente
pela dificuldade de obtenção de parâmetros dos enrocamentos [1]. Entretanto, tem
sido observado em alguns casos, principalmente em barragens de grandes alturas, o
aparecimento de trincas e fissuras na laje da face de montante oriundas das
deformações do maciço após o enchimento do reservatório.

A presença de fissuras nas lajes pode aumentar a vazão através do corpo da


barragem, o que pode levar a um aumento considerável dos deslocamentos do
corpo da barragem, gerando assim uma preocupação adicional com a estabilidade
da estrutura.

Segundo alguns autores, [2], [3], [4] e [5], as deformações experimentadas pelo
maciço de enrocamento são condicionadas por diversos fatores como a mineralogia,
granulometria, índice de vazios, forma, dimensão e textura das partículas, grau de
alteração e resistência da rocha e compactação com ou sem molhagem.

A geometria do vale também é um fator que tem forte influência na deformabilidade


devido à redistribuição de cargas por arqueamento entre as ombreiras, nas seções
próximas a essas extremidades. Contudo, a avaliação da extensão da influência
desse fator ainda é um assunto pouco explorado, necessitando de aprofundamento
das investigações.

2. COMPORTAMENTO DAS BEFC

2.1 COMPORTAMENTO DO MACIÇO DE ENROCAMENTO

Uma barragem de enrocamento com face de concreto apresenta duas fases distintas
de solicitação: inicialmente ela é submetida apenas ao peso próprio das camadas à
medida que sobe o maciço; depois com o enchimento do reservatório, a pressão
hidráulica. As conseqüentes deformações são indicadas esquematicamente na
Figura 2 [6].

Face de concreto Face de concreto

(a) (b)
FIGURA 2: Deslocamento Experimentado por uma Seção Transversal de uma
BEFC: a) Final de Construção; b) Após o Enchimento [6].

Durante o período construtivo ocorrem deformações e recalques significativos [6]. Os


deslocamentos horizontais se caracterizam por apresentarem uma movimentação
dos espaldares para o centro na metade superior da barragem, provocando um
estreitamento, enquanto que a metade inferior se movimenta em sentido oposto,
provocando uma abertura da base conforme apresentado na Figura 2a. Já na fase

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de enchimento a pressão hidráulica influencia no deslocamento da barragem,
principalmente no talude de montante, onde o sentido do deslocamento na parte
inferior deste é modificado como apresentado na Figura 2b.

[7] mostra para a barragem Foz do Areia que a maior parte dos movimentos
causados pelo enchimento concentra-se nas proximidades da laje e no terço de
montante do enrocamento, enquanto que na maior parte da porção de jusante, cerca
de 90% da deformação já havia ocorrido antes do inicio do enchimento. Nota-se
também que o recalque ocasionado pelo enchimento junto a face representa mais de
60 % do recalque total, no terço inferior, e 40% na metade superior Figura 3 [7].

FIGURA 3 – Relação, em percentagem, dos recalques medidos antes e depois do


enchimento do reservatório da barragem Foz do Areia [7].

2.1.1 Infiltrações

Em barragens de enrocamento com face de concreto, é normal procurar medir as


vazões de infiltrações pela barragem, as quais, em geral, são utilizadas como um
dos parâmetros básicos para avaliar o seu desempenho. Esta prática é decorrente
das observações de algumas vazões relativamente elevadas encontradas em
barragens antigas ou em algumas recentes que mostram defeitos de projeto e
construção.

As análises realizadas apontaram que as infiltrações nas BEFC resultam


principalmente de dois mecanismos: ruptura ou outros tipos de danos com os
sistemas de vedação da junta perimetral; e fissuras na face de concreto, localizadas
nas proximidades do plinto e relacionadas com deformações do enrocamento nestes
pontos e as características do concreto. A Tabela 2 apresenta vazões de infiltrações
medidas em algumas BEFC [7].

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Barragem País Ano de Conclusão Vazão de Infiltração (l/s)
Cethana (H = 110 m) Austrália 1971 7
Alto Anchicaya (H=140m) Colômbia 1974 1800
Foz do Areia (H = 160 m) Brasil 1980 236/60
Mackintosh (H = 75 m) Austrália 1981 14
Tullabardine (H=26m) Austrália 1982 4
Bastyan (H=75m) Austrália 1983 7
Shirro (H=125m) Nigéria 1984 1800
Salvajina (H = 148 m) Colômbia 1984 60
Golillas (H=125m) Colômbia 1984 1000
Segredo (H = 145m) Brasil 1992 400/50
Aguamilpa (H = 187 m) México 1993 260/100
Xíngó (H = 150 m) Brasil 1994 180
TABELA 2: Infiltrações Medidas em algumas BEFC.

2.1.2 Trincas no Maciço de Enrocamento

A primeira situação pode ser ilustrada com o caso ocorrido de trincas horizontais
observadas nas lajes de concreto da Barragem de Aguamilpa, no México, após o
enchimento do reservatório, conforme descrito por [8]. As trincas somente foram
descobertas quando ocorreu um rebaixamento do nível do reservatório em 30m. A
seção transversal típica dessa barragem apresenta a montante do eixo, cascalho
aluvionar compactado, e a jusante enrocamento de escavações em rocha além de
uma transição intermediária em enrocamento fino.

O segundo caso pode ser ilustrado pela BEFC de Tianshengqiao I, na China,


conforme descrito por [9] onde trincas verticais com até 10 cm de abertura e 3 m de
profundidade foram observadas alinhadas na superfície de montante da Zona IIIB.
As Figuras 4 a e b apresentam a seção transversal típica da barragem e uma vista
da trinca desenvolvida no maciço [6]..

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Zona Descrição
IA Solo argiloso
IB Enrocamento não selecionado
EL 791,00. Material semi-impermeável calcáreo são,
Face de concreto
N.A. normal EL 780 IIA britado φmáx = 0,08 m, espessura de
EL 765,00. camada=0,40m.
IIIA Transição, enrocamento fino, calcáreo são a
(a) IIIA pouco alterado φmáx = 0,3 m, espessura de
IIIB camada=0,40m

eixo da barragem
EL VAR.
IIA Enrocamento de calcáreo são a pouco alterado
IIIB
1.25 φmáx = 0,8m, molhagem: 20% em volume
1.0
1.0 Enrocamento Argilito, φmáx = 0,8 m,
1.4 IIIC
espessura de camada=0,80m
EL VAR.
EL 616,50 IIIC Enrocamento calcáreo, φmáx = 1,0m,
IIID
espessura de camada=1,0m
EL 675,00 EL 645,85
EL 660 IIB Transição de enrocamento fino
IA IIIB
EL 650,00
IIID
IIB IB
IB
IA

(b)

FIGURA 4: Barragem de Tianshegquiao I (178 m): a) Seção Típica; b) Vista da


Trinca Desenvolvida no Maciço antes da Construção da Face de Concreto.

2.2 COMPORTAMENTO DA LAJE DE CONCRETO

Observando os deslocamentos das lajes de barragens com face de concreto, nota-


se que a face se desloca, na seção transversal, aproximadamente na direção
perpendicular à mesma ou ligeiramente inclinada para baixo.

A Figura 5 apresenta um exemplo dos deslocamentos, em centímetros,


perpendiculares à face da laje de concreto de montante durante o período de
enchimento de uma barragem de enrocamento com face de concreto de 126 m de
altura [1].

FIGURA 5: Deslocamentos Perpendiculares à Laje [1].

O deslocamento máximo da laje é um parâmetro que sempre se procura prever, seja


utilizando programas de elementos finitos, devidamente ajustados em função das

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deformações observadas durante a construção, seja por meio de comparações com
barragens de características similares em termos de altura, tipo de rocha, espessura
de camadas, compactação, zoneamento, etc.

Shumann, W. H.,[10] o deslocamento máximo da laje pode ser estimado por meio da
relação empírica:

d = H2/Ev

Onde:

d é o deslocamento em cm,
H é a altura da barragem, em m,,
Ev é o módulo construtivo (em kg/cm2).

No que se refere às deformações, a tendência de comportamento é de compressão


na região central da laje, onde as juntas tendem a se manter fechadas, e de tração
no trecho superior e nas regiões próximas às ombreiras, onde as juntas tendem a se
abrir. Em Foz do Areia, os resultados medidos de deformação na laje confirmam
esse comportamento, conforme se observa na Figura 6 [7].
El. 740,00 El. 740,00

El. 715,00 El. 715,00


El. 695,00
El. 695,00
-100 -200 -300 El. 665,00 -100 El. 665,00
-400 El. 643,00 -300 -200 El. 643,00
-400
– compressão
+ tração
(a) medidores (b)

FIGURA 6: Curvas de Igual Deformação Específica Obtidas de Medidores Instalados


na Laje de Concreto (x10-6): a) Deformações na Direção do Talude; b) Deformações
Horizontais

As deformações na laje são condicionadas não só pela pressão hidráulica imposta à


laje devido ao enchimento do reservatório, como também pelos recalques
construtivos. Atualmente, as lajes têm sido executadas antes de se atingir a altura
final do maciço, o que tem gerado deformações adicionais nas mesmas devido à
movimentação do maciço de enrocamento.

2.1.1 Trincas na Laje de Concreto

Segundo MORI, R. T. [6] as trincas nas lajes de concreto podem ser de três tipos,
quais sejam:

Tipo A: São trincas de retração e cura do concreto. São trincas praticamente


horizontais de pequena abertura, geralmente de poucos décimos de milímetros, e
são de pequena extensão, sempre limitadas a largura da laje. Ocorrem
principalmente nas lajes confinadas por duas outras previamente executadas, por
causa da restrição imposta lateralmente. Devem ser tratadas previamente com uma
dosagem apropriada de fly ash, e com cuidadosa molhagem da superfície
concretada. Não são preocupantes, mas têm merecido tratamento com mantas de

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borracha colada sobre as trincas. Elas tendem a se colmatar com nata de cimento ou
finos que rolam sobre a superfície exposta, e não influênciam na quantidade de
vazamento.

Tipo B: São trincas causadas pelo abaulamento ou inchamento da parte inferior do


maciço, onde a diferença de rigidez das lajes com o maciço deformável provoca o
balanço da parte superior das lajes. São trincas espaçadas uniformente a cada 0,50
a 1,00 m e com pequena abertura, geralmente da ordem de poucos décimos de
milímetro. Com o enchimento do reservatório e conseqüente inversão dos
movimentos, as trincas se fecham. O tratamento usualmente feito de preenchimento
com argamassa após picoteamento da trinca tende a provocar a abertura de outras
trincas na face interna com o enchimento, o que é pior do que simplesmente deixar
sem tratamento. Outro tratamento usual é a colocação de manta de borracha colada
sobre as trincas. Em Tianshengquiao I foi feito um levantamento, mapeando-se
cerca de 1200 trincas, a maioria delas com espessura menor que 0,2 mm. Uma
estimativa de vazamento por todas essas trincas, considerando um coeficiente de
permeabilidade de 10-2 cm/s, mostrou que as infiltrações adicionais pelas trincas não
eram maiores que 24l/s, valor perfeitamente suportável. A Figura 7 apresenta um
exemplo de trincas Tipo B tratadas com manta de borracha [6].

FIGURA 7: Barragem Tianshengquiao I -Trincas Tipo B Tratadas com Manta de


Borracha

Tipo C: São trincas causadas por deformações diferenciais do maciço, seja pela
construção em etapas como em Tianshengquiao I, seja pelo zoneamento com
materiais de módulos de deformação muito diferentes em interface vertical, como em
Aguamilpa. A Figura 8 apresenta a localização das trincas em planta e em corte
transversal pela seção de máxima altura, além do zoneamento da barragem.

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Nota: Levantamento feito
em 20 de junho de 1997

(a) laje da face

(b) seção tranversal

FIGURA 8: Barragem Aguamilpa (H=187 m): Trincas Observadas nas Lajes de


Concreto.

2.3 COMPORTAMENTO DAS JUNTAS

As deformações experimentadas pelo maciço de enrocamento induzem movimento


ao sistema de juntas: as juntas verticais centrais tendem a permanecer fechadas,
enquanto que as de ombreira se abrem, em função da maior área final do talude
deformado; a junta perimetral fica submetida a três tipos de movimentos possíveis:
recalque normal à face de concreto, a abertura normal à junta e o deslocamento
devido ao cisalhamento. Estes três movimentos combinados causam ruptura de
vedajuntas. O padrão usual destes movimentos pode ser visto na Figura 9 [7].

R – recalque normal à face;


S – abertura;
C – cisalhamento.

FIGURA 9: Padrão de Movimentação da Junta Perimetral.

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3. ANÁLISES NUMÉRICAS

3.1. METODOLOGIA ADOTADA

Para realização das análises, considerou-se uma barragem tridimensional,


encaixada em um vale com formato em V, com a seguinte configuração: altura de
100 m; largura da crista 10 m; taludes de montante e jusante simétricos, inclinação
de 1V:1.3H; e talude do vale em V com inclinação 1V:1H.

A barragem descrita é simétrica nas duas direções (longitudinalmente e


transversalmente). Portanto, a utilização de somente metade da barragem devido à
sua simetria longitudinal foi adotada nas simulações. A Figura 10 mostra a malha
utilizada nas simulações, a qual foi discretizada foi discretizada com 4412 elementos
hexaedros de oito nós e cunhas de seis nós e 5309 pontos nodais.

Jusante

Montante

z x

FIGURA 10: Malha de Elementos Finitos utilizada nas simulações (talude da


barragem = 1V:1.3H e talude do vale = 1V:1H).

Simulações tridimensionais e bidimensionais foram realizadas a fim de verificar a


influência da geometria do vale no valor das tensões e nos deslocamentos durante a
fase de construção e enchimento do reservatório.

Nas simulações bidimensionais procurou-se representar à mesma simulação


realizada na análise tridimensional, considerando estado plano de deformação.
Assim, a malha de elementos finitos considerada para a seção bidimensional
corresponde à seção transversal máxima da barragem.

As análises foram realizadas considerando-se o conjunto fundação-barragem-face


de concreto. O contato entre a face e a barragem, e entre a barragem e o vale foi
representado por um elemento de pequena espessura (elemento de interface) com
propriedades mecânicas bastante inferiores as dos outros materiais envolvidos na
análise, a fim de levar em conta a ocorrência de movimentos relativos entre as
estruturas envolvidas e os seus associados modos de deformação. Figura 11 ilustra
esse elemento.

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Elemento de Interface

FIGURA 11: Elemento de Interface.

A fim de verificar o efeito do processo construtivo no deslocamento da face de


concreto, a construção da barragem foi simulada em duas etapas, com dez camadas
de 10 m: na primeira etapa o maciço de montante foi elevado até a altura de 70 m e
o de jusante a até 50m, a seguir a laje foi construída, defasada do maciço, até a cota
de 50 m; na segunda etapa o maciço foi construído até a cota final do aterro, e
finalmente a laje foi completada (Figura 12). O enchimento do reservatório foi
simulado em três estágios de carregamento, por meio da aplicação de uma carga
distribuída triangular aplicada nos nós dos elementos do talude de montante que
estão situados abaixo do nível d’água como mostra a Figura 13. O estado de
tensões gerado durante a etapa de construção foi utilizados como valores iniciais
para simulação do enchimento do reservatório.

Laje (2ª etapa) Maciço (2ª etapa)

Laje (1ª etapa)


Maciço (1ª etapa)

FIGURA 12: Processo Construtivo.

N.A. 100,00 m

N.A. 50,00 m

N.A. 30,00 m

p = γh

FIGURA 13: Aplicação da Carga Distribuída Gerada pelo Reservatório.

O programa utilizado nas análises numéricas foi o programa de elementos finitos


ALLFINE [11]. Os modelos constitutivos utilizados para descrever o comportamento
dos materiais, foram os seguintes: elástico linear para a fundação, laje de concreto e
do elemento de interface e o Cam-Clay modificado para o maciço de enrocamento.

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Os parâmetros solicitados pelo programa ALLFINE para reproduzir estes modelos
são apresentados nas Tabelas 3 e 4.

Parâmetros λ∗=λ/(1+e) κ∗=κ/(1+e) Rf=(σ1/σ3)rup=(1+senφ)/(1-senφ) ν


Enrocamento 0,0168 0,0018 3,70 0,3
TABELA 3: Parâmetros do Modelo Cam-Clay Modificado.

Parâmetros γ(kN/m3) E (MPa) ν


Fundação (basalto denso) 28,0 69000 0,2
Laje 25,0 21800 0,2
Interface 19,0 1,0 0,3
TABELA 4: Parâmetros do Modelo Elástico Linear.

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 FASE DE CONSTRUÇÃO

4.1.1 Tensões

A Figura 14 apresenta a distribuição das tensões verticais ao longo da base da


barragem para as análises 3D e 2D. As tensões apresentadas pela a análise 3D
foram menores que as apresentadas pela análise 2D. Este fato é devido a geometria
da fundação que não é considerada na 2D.

1800
1600
Tensão vertical (kPa)

1400
1200
1000
800
600
400
200 2D 3D
0
0 50 100 150 200 250 300
x (m )

FIGURA 14: Distribuição das Tensões Verticais ao Longo da Base da Barragem.

4.1.2 Deslocamentos

A Figura 15 apresenta os deslocamentos horizontais (direção z) para a seção


máxima da barragem (na linha de centro). Assim como observado para as tensões,
os deslocamentos horizontais apresentados pela a análise 3D foram menores que os
apresentados pela análise 2D.

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120
100
80

Y (m)
60
40
20
3D 2D
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
deslocamento horizontal (m)

FIGURA 15: Deslocamentos Horizontais (Eixo da Barragem).

As Figuras 16 a 18 mostram as isolinhas de deslocamentos obtidas para a primeira


etapa de construtiva. Estas figuras servem como ilustração dos resultados
tridimensionais obtidos para esta etapa. Observa-se que os deslocamentos na
direção longitudinal apresentam valores máximos da ordem 0,18 m no topo do
maciço, próximo ao contato com a ombreira. Os deslocamentos verticais
posicionaram-se no centro da seção transversal, na quinta camada, com valores
máximos da ordem 1,7m. Os deslocamentos horizontais apresentam uma
distribuição simétrica em relação à seção longitudinal central.
Os deslocamentos obtidos na segunda etapa construtiva apresentaram distribuições
semelhantes às observadas na primeira etapa, porém com valores maiores em
função da elevação do maciço.
(m)

FIGURA 16: Deslocamentos Longitudinais (Direção x – 1ª Etapa de Construção).

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(m)

FIGURA 17: Deslocamentos Verticais (Direção y – 1ª Etapa de Construção).


(m)

FIGURA 18: Deslocamentos Horizontais (Direção z – 1ª Etapa de Construção).

A Figura 19 apresenta os deslocamentos horizontais na face de concreto,


considerando o processo construtivo descrito no item 3.1, onde a laje foi construída
em duas etapas. Para efeito de comparação, a figura apresenta, também, os
deslocamentos desenvolvidos na laje, quando esta é construída em uma única
etapa, ou seja, após a elevação total do maciço. Observa-se para a laje construída
na primeira etapa, boa concordância entre os deslocamentos horizontais antes e
após a elevação da segunda etapa do maciço. Comportamento semelhante,
também, foi observado quando se compara a laje construída em duas etapas com a
laje construída em uma única etapa.

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110
100
90
80
70

Y (m)
60
50
40
30
20
10
0
-2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Deslocamento horizontal (direção z - 10-3 m)

1a etapa 2a etapa Const. única etapa

FIGURA 19: Deslocamento Horizontal na Face de Concreto.

4.2 RESULTADOS PARA O ENCHIMENTO

4.2.1 Tensões

A Figura 20 apresenta a distribuição das tensões verticais ao longo da base da


barragem para as análises 3D e 2D. Assim como observado na construção, devido à
geometria da fundação as tensões observadas na 2D foram maiores que na análise
3D.

1800
Tensão vertical (kPa)

1600
1400
1200
1000
800
600
400
200 2D 3D
0
0 50 100 150 200 250 300
x (m)

FIGURA 20: Distribuição das Tensões Verticais ao Longo da Base da Barragem.

As Figuras 21 a 23 apresentam as isolinhas de tensões que ocorrem na face para a


terceira fase de enchimento. Estas figuras servem como ilustração dos resultados
obtidos, além de permitir a visualização de que as tensões apresentam distribuição
semelhante nas três direções, e atingem valores máximos aproximadamente a 1/3
da altura da barragem no centro do vale.

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(kPa)

FIGURA 21: Tensões na Direção Longitudinal (direção x).


(kPa)

FIGURA 22: Tensões na Direção Vertical (direção y).


(kPa)

FIGURA 23: Tensões na Direção Horizontal (direção z).

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4.2.2 Deslocamentos

A Figura 24 apresenta os deslocamentos horizontais (direção z) para a seção


máxima da barragem (na linha de centro). Da mesma forma como observado para as
tensões, os deslocamentos obtidos na análise 2D foram maiores que os obtidos na
análise 3D.

120
100
Y (m) 80
60
40
20
3D 2D
0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60
deslocamento horizontal (m)

FIGURA 24: Deslocamentos Horizontais (Eixo da Barragem).

Para se ter uma melhor apresentação da configuração dos deslocamentos gerais


ocorridos devido ao enchimento, a Figura 25 apresenta uma vista isométrica da
malha deformada e uma tabela com os deslocamentos obtidos nos nós ao longo do
contato barragem-ombreira. A correta identificação desses deslocamentos é de
grande importância para os projetos da junta perimetral e do sistema de vedação.

A Figura 26 apresenta as isolinhas de deslocamentos longitudinais (direção x) na


face de montante devido ao enchimento do reservatório. A previsão desses
deslocamentos é importante para a avaliação da tendência de movimentação dos
painéis que compõem as lajes de concreto de montante. Analisando a Figura 26,
observa-se uma zona onde os deslocamentos ocorrem em sentido contrário ao eixo
positivo (do centro para ombreira), dando indício que os painéis da laje concreto
nesta zona, estão sujeitos a movimentação neste sentido. Assim sendo, os painéis
da laje devem ser projetados com juntas de tração nesta zona e com juntas de
compressão no restante da laje.

Deslocamentos (m)

4573
x y z
4574
4583 0,005 - 0,005 - 0,05
4582 -0,007 -0,37 -0,36
4575
4581 -0,026 -0,43 -0,42
4576
4580 -0,030 -0,31 -0,31
4577
4579 -0,033 -0,26 -0,28
4578
4578 -0,028 -0,22 -0,24
4579
4577 -0,019 -0,18 -0,20
4581
4576 -0,008 -0,14 -0,17
4582
4575 0,004 -0,11 -0,13
4583 4574 0,023 -0,05 -0,07
4573 0,008 -0,00 -0,00

FIGURA 25: Malha Deformada para o Final de Enchimento (Fator Escala = 50).

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(m)

Jusante

Montante

FIGURA 26: Isolinhas de Deslocamentos Longitudinais (Direção x) Devido ao


Enchimento do Reservatório.

5. CONCLUSÕES

Os resultados mostram que a ferramenta numérica se mostra adequada para


análises de Barragens de Enrocamento com Face de Concreto, uma vez que, a
mesma permite simular o comportamento conjunto fundação-maciço-laje de concreto
sob condições tridimensionais. Isso é particularmente importante, pois, esse tipo de
barragem tem sido construída cada vez mais alta e assentes em vales encaixados;

Comparando as análises bidimensional e tridimensional, verifica-se que as tensões


verticais ao longo da base da barragem são superestimadas na análise
bidimensional, ou seja, a análise bidimensional apresentou valores de tensão
maiores que a tridimensional. Quanto aos deslocamentos, o mesmo foi verificado
Este efeito é devido à geometria da fundação que não é considera na análise
bidimensional;

A construção da laje concomitantemente ao maciço de enrocamento não afeta o seu


comportamento, ou seja, não gera movimentos excessivos na laje, desde que a
mesma seja construída defasada do maciço;
A distribuição de tensões na face de montante mostra que os valores máximos
ocorrem aproximadamente a 1/3 da altura da barragem no centro do vale;

As isolinhas de deslocamentos longitudinais na face de montante mostram os


painéis de laje que estão em contato com a ombreira estão sujeitos a movimentos no
sentido do centro para ombreira. Essa movimentação pode resultar na abertura da
juntas verticais entre os painéis da laje. Assim sendo, as lajes devem ser projetadas
com juntas de tração nesta zona e com juntas de compressão no restante da laje.

6. AGRADECIMENTO

Os autores agradecem o suporte financeiro ao Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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7. PALAVRAS-CHAVE

Barragem de Enrocamento com Face de Concreto, Análise Numérica, Modelo Cam-


clay.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] PACHECO, D., ROVERE, L., LORIGGIO, D.D., WATZKO, A. &


STRAMANDINOLI, J.S.B.(2003) - Modelagem de Barragens de Enrocamento
com Face de Concreto. V Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto, São
Paulo, SP.

[2] Veiga Pinto, A.A. (1979) - Características de Resistência e Deformabilidade dos


Materiais de Enrocamento, Geotecnia No. 27, pp.3-41.

[3] Frassoni A., Hegg, V. & Rossi, P.P. (1982). Large scale laboratory tests for the
mechanical characterization of granular material for embankment dams.
Proceedings, 14th International Congress on large Dams, Rio de Janeiro, Brazil,
pp.727-751.

[4] Materón, B., (1999). Novos Métodos Construtivos em BEFC. II Simpósio sobre
Barragens de Enrocamento com Face de Concreto, Florianópolis, SC, pp. 397-
412.

[5] Saboya Junior, F. (1993). Análise de Barragens de Enrocamento com Face de


Concreto Durante o Período de Construção e Enchimento. Tese de Doutorado,
DEC/PUC – Rio de Janeiro, RJ, 225p.

[6] Mori, R.T. (1999). Deformações e trincas em Barragens de Enrocamento com


Face de Concreto. II Simpósio de Barragens de Enrocamento com Face de
Concreto, CBDB, Florianópolis, SC, pp. 27-60.

[7] Marques Filho, P.L. (1990). Monitoramento e análise de comportamento de


barragens de enrocamento com face de concreto. Simpósio de Barragens de
Enrocamento com Face de Concreto, UHE Segredo, PR, pp. 105-145.

[8] Cooke, J.B. (1999). The development of today’s CFRD Dam. II Simpósio sobre
Barragens de Enrocamento com Face de Concreto, Florianópolis, SC, pp.1-10.

[9] Freita Jr., M.S., Borgatti, L., Araya, J.M. & Mori, R.T. (1999). Barragem de
Tianshengqiao I – Monitoramento com Eletroníveis da face de concreto. XXIII
Seminário Nacional de Grandes Barragens, V.I, pp.105-115.

[10] Shumann, W.H. (1987). Discussion of A Study of Deformation in Concrete


Faced Rockfill Dams. Journal of Geotechnical Engineering, ASCE, V. 113, no
10.

[11] Farias, M.M. 1993. Numerical analysis of clay core dams. PhD Thesis,
University College of Swansea, Swansea, UK, 159p.

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