JANCSÓ, I.; PIMENTA, J. P. Peças de um mosaico. In: MOTA, C. G. (Org.
) Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000.
Jornais apoiando a Independência do Brasil e criticando as cortes de Lisboa
“A análise atenta da documentação revela que a instauração do Estado brasileiro se dá em meio à coexistência, no interior do que fora anteriormente a América portuguesa, de múltiplas identidades políticas, cada qual expressando trajetórias coletivas que, reconhecendo-se particulares, balizam alternativas de seu futuro.” Objetividade versus subjetividade (Estado vs Nação) Visto de fora, ser baiano, paulista ou mineiro era sempre sinônimo de português o desafio da construção da nação em âmbito interno, mas também em relação a outros países. Disputa de identidades presente nos Autos da Devassa Não existia para os colonos a ideia de Brasil. A concepção de Brasil é algo sólido apenas para a Metrópole. Na colônia há apenas o regionalismo. o A força coesiva do conjunto luso-americano era indiscutivelmente a Metropole, e o continente do Brasil representava, para os coloniais, pouco mais que uma abstração, enquanto para a Metrópole se tratava de algo muito concreto, a unidade cujo manejo impunha esta percepção(37). É por isso que é correto afirmar que a "apreensão de conjunto das partes a que 'genericamente' se chamou de Brasil" estava "no interior da burocracia estatal portuguesa'^38). (p. 402) Escravidão como unidade ordenadora da ideia de identidade Não entendi o argumento dele p. 403 A crise de mercados, tanto europeu como interno e o africano, tem papel na crise de identidade vivida. A questão é que a simples retração não demonstra isso, mas sim a busca por novas oportunidades. Quanto mais se torna necessário encontrar alternativas, mais evidente fica que é um momento de crise o a crise não aparece à consciência dos homens como modelo em vias de esgotamento, mas como percepção da perda de operacionalidade das formas consagradas de reiteração da vida social. Em outras palavras, é na generalização da busca de alternativas que a crise se manifesta. P. 405 A crise leva ao “reordenamento da referências” e “reiteração das condições sociais” Utiliza a concepção de “comunidade de imaginada”, de Benedict Anderson Existe também uma forte percepção de identidade conectada à noção de Estado e, por sua vez, à monarquia. Uma visão de que são todos vassalos do Rei. Na Bahia em 1798 há a previsão também de ir contra a escravidão. Isso coloca em cheque o modelo de Estado e de Nação, afastando da ideia em que os dois são equivalentes ao trono e focando na vontade do povo. No sistema vigente de respeito à propriedade privada, o escravo enquanto propriedade de alguém, não poderia ser sujeito político. o O confronto delineado em 1798 na Bahia colocava frente a frente a monarquia absoluta e uma comunidade que afirmava ter configuração específica, o povo bahiense instituidor potencial de um novo Estado que viria a ser nacional mediante um pacto de cidadãos, aqueles "baianos [que quando] longe de si lançarem mil despóticos tiranos, felizes e soberanos nas suas terras serão" p. 410 A instalação da corte no Rio de Janeiro altera o equilíbrio e a percepção que as partes tinham do governo português. o Diante do sentimento de perda dos peninsulares, a nova situação despertou grandes e positivas expectativas entre as elites das diversas partes do Brasil, o que se traduziu, de imediato, na adesão destas, em sua maioria, às iniciativas que conferiam visibilidade à liquidação da condição colonial. P.416 o Portanto, mesmo que no tocante à trajetória das identidades políticas no universo americano as variantes anteriormente apontadas tenham se mantido, seus significados tornaram-se passíveis de alteração substantiva. A partir de então a anterior identidade luso-americana poderia tornar-se brasileira e como tal se autonomizaria, somando-se ao elenco de identidades políticas que já então coexistiam - a portuguesa e as outras ancoradas em trajetórias instauradas pela colonização, cada qual expressando uma possibilidade de projeto de nação incompatível, no limite, com aquelas que as outras encerravam(82). P. 418 Nas Cortes de Lisboa, a bancada de São Paulo era contra a possibilidade de fim do sistema escravista. Vai nisto o motivo para uma ruptura da ordem social As cortes como reconstrução de algo que já existia (portugueses) ou como criação de algo novo com a participação de cada “pedaço” (brasileiro)