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O INQUISIDOR WEBERIANO

Lucas Alves Aragão


Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP
Lucas.aragao@aluno.ufop.edu.br

Resumo:

Esse artigo apresenta, em primeiro momento, uma descrição do texto A lenda do


Grande Inquisidor, escrito por Fiódor Dostoiévski. Posteriormente apresenta a tese de Max
Weber sobre os três tipos puros de dominação legítima. Ótica essa presente em seu livro
“Economia e Sociedade”, de 1922. Por fim apresenta uma análise do texto de Dostoiévski sob
uma ótica Weberiana construída a partir do livro (mais precisamente o capítulo três do mesmo
“Os tipos de dominação”).

Palavras chave:

Dostoiévski; Weber; dominação; inquisidor.

1. Descrição do texto:

O texto retrata uma história contada por Ivan1 a seu irmão Aliócha2, que retrata a
chegada de um suposto “novo Cristo” à cidade de Sevilha na Espanha, durante os anos mais
duros da inquisição espanhola. Um período no qual a separação entre a Igreja católica e o
Estado nacional era praticamente nula e impensável.

Na data do ocorrido, “quando todos os dias, para glória de Deus, se acendiam as


fogueiras e «os medonhos hereges ardiam em soberbos autos-de-fé»” (DOSTOIÉVSKI,
1880, p.2), a população se encontrava em praça pública um dia após a já corriqueira seção de
“limpeza eclesiástica no plano terreno”, como de costume inflamada e guiada pela inabalável
fé de dezenas de fiéis e sob os olhos ilustres da então chamada santa inquisição.

1
Personagem do romance de Dostoiévski “Os irmãos Karamazov”, de 1880.
2
Também um personagem da obra já citada.
Durante esse dia pós-excitação e clamor público, Ele aparece, suavemente,
praticamente sem alarde, andando pelas ruas uma vez inflamadas de Sevilha, porém, mesmo
sem se fazer notar, todos o reconhecem por onde passa. Sua aparência ainda é a mesma que
foi durante seus três anos de vida pública e com uma calma e ainda sim autoridade maravilha
a todos que o veem.

“todos O reconhecem; a explicação do motivo seria um dos mais belos


passos do meu poema; atraído por uma força irresistível, o povo comprime-
se à Sua passagem e segue-Lhe os passos. Silencioso, passa pelo meio da
multidão com um sorriso de compaixão infinita. Tem o coração abrasado de
amor, dos olhos se Lhe desprendem a Luz, a Ciência, a Força que irradiam e
nas almas despertam o amor. Estende-lhes os braços, abençoa-os, e uma
virtude salutar emana do Seu contacto e até dos Seus vestidos. Um velho,
cego de criança, grita dentre o povo: «Senhor, cura-me e ver-Te-ei»; cai-lhe
uma escama dos olhos e o cego vê. O povo derrama lágrimas de alegria e
beija o chão que Ele pisa. As crianças deitam-Lhe flores no caminho; todos
cantam, todos gritam: Hossana! É Ele, deve ser Ele, não pode ser senão Ele!
”(DOSTOIÉVSKI, 1880, p.2).

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