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Temáticas transdisciplinares
Sessões especiais de orientação acadêmica
TRANSPORTE E
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Este texto de trabalho foi elaborado pelo Grupo SOA
com vistas exclusivamente ao debate no âmbito do Pré-Vestibular Social
◄ 1 ►
Foto: Zsuzsanna Kilian. Disponível em: http://www.sxc.hu/photo/980459
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Luiz Fernando Pezão
Fundação Cecierj
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
Vice-Presidente Científica
Mônica Damouche
Pré-Vestibular Social
Diretora
Celina M. S. Costa
Material Didático
Elaboração de Conteúdo
AAlbert J. S. Stirling
Aparecida B. M. Pedro
Bruno A. França
Carlos F. S. Cunha
Cristiana L. Januario
Edson D. M. Menezes
Elaine F. C. Cordeiro
Jose C. T. Silva
Juliana M. Sousa
Leandra M. C. Melim
Lenise L. Fernandes
Leyza B. Lucas
Marcela M. Gomes
Maria F. C. M. Gomes
Munique F. Gomes
Paloma C. S. Feitosa
Rafael C. Neves
Simone M. Silva
Vanessa R. Tinoco
Victor H. Vassallo
Ygor C. M. Oliveira
PRÓLOGO
Neste texto dedicaremos nossa atenção ao tema dos transportes, presente em nossa vida
diária de forma cada vez menos silenciosa e que, por sua relevância social, pode vir a ser
abordado no ENEM e em outros exames de acesso ao Ensino Superior. Porque interfere dire-
tamente na possibilidade de circulação de pessoas, objetos e até mesmo de informações, este
assunto se torna pauta tanto do planejamento público quanto de conversas informais, sendo
frequentes as críticas à insuficiência deste tipo de serviço no atendimento das necessidades
da população brasileira, principalmente se comparadas aos padrões encontrados em outras
cidades do mundo.
Pela importância desta discussão, é necessário considerarmos os diversos ângulos impli-
cados nas condições que atualmente caracterizam tanto as demandas quanto o oferecimento
destes serviços. Conforme veremos, a busca pelos avanços no campo dos transportes se re-
laciona com fatores econômicos, sociais, culturais e políticos, ao longo da história humana.
Nosso objetivo neste texto é, portanto, abordar a relação entre transporte e desenvolvimento
humano, visando apresentar uma perspectiva crítica e macroscópica sobre o assunto para
que, ultrapassando as visões fundadas nas experiências individuais e no senso comum, pos-
samos requisitar soluções mais consistentes e democráticas para os problemas identificados.
Neste sentido, algumas indagações atravessarão as próximas páginas. Por que o sistema
de transportes no Brasil difere tanto dos encontrados em outros países? Como o progres-
so tecnológico tem sido aplicado no atendimento da necessidade milenar de deslocamento
humano? Que vantagens e desvantagens as estruturas de transporte oferecem? Se o “caos
urbano” nas grandes cidades brasileiras parece ser assunto cotidiano entre a população que
busca o direito diário de ir e vir, por que governos e profissionais da área ainda não viabi-
lizam soluções que parecem óbvias à maioria dos cidadãos? Postas estas primeiras provo-
cações, aceite nosso convite e embarque conosco em mais uma interessante viagem através
desta leitura.
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EIXO 1: O transporte como necessidade essencial ao
desenvolvimento humano
A análise da história humana indica que a necessidade de deslocamento de pessoas e
mercadorias se sofisticou - ultrapassando as práticas nômades -, conforme o sistema de tro-
cas de produtos se tornou mais complexo e determinado pelos processos de monetarização
de bens de consumo. A geração de riquezas passou a ocorrer atrelada ao desenvolvimento
e aperfeiçoamento dos transportes. Em consequência disto, tal desenvolvimento passou a ser
determinado por disputas cada vez mais acirradas no campo das relações de poder. Veja-
mos, a seguir, alguns aspectos importantes que marcam as relações entre estes processos.
Nos dias atuais podemos reconhecer a existência de inúmeras profissões cujo exercício
está relacionado ao desenvolvimento técnico e logístico dos mais diversos meios de transporte
e das redes de infraestrutura necessárias ao seu suporte. Antes disso, a raça humana contava
apenas com os recursos motores imediatamente disponíveis: a capacidade oferecida por suas
próprias pernas e braços, e aquela posteriormente adquirida com a domesticação dos ani-
mais. Esta última permitiu o deslocamento de cargas mais pesadas, por trajetos mais longos
e difíceis, aumentando a rapidez e a mobilidade, em alguns casos. As relevantes invenções
da roda e do trenó, por sua vez, tornaram mais eficiente o transporte já feito por animais.
A percepção do amplo potencial de exploração dos recursos hídricos como via de loco-
moção estimulou o aprimoramento e a intensificação do uso do transporte aquático, crucial
para a expansão do mundo. As Grandes Navegações (séculos XIV ao XVI) demonstraram
a importância destas novas vias de circulação na conquista dos territórios sob o domínio da
nobreza europeia. A ampliação dos mercados veio propiciar o abastecimento de produtos
que interessavam ao consumo direto desta classe e a extração de outros, como os metais
preciosos, essenciais à sua hegemonia. Assim, expansão marítimo-comercial Ibérica pode
ser indiscutivelmente destacada como um dos maiores registros históricos que confirmam a
relevância dos meios de transporte para o crescimento de Nações e regiões, bem como para
o estabelecimento de uma hierarquia de poder político e econômico entre elas.
A Revolução Industrial também se revelou fundamental para impulsionar invenções que
modificaram radicalmente o transporte a partir do século XIX. O desenvolvimento do sistema
ferroviário integrou locais de produção, fontes de matérias-primas e centros de distribuição
e consumo, estratégia crucial à expansão dos mercados e à dinamização das relações co-
merciais. Este sistema foi ainda o primeiro a gerar grande impacto na expansão da malha
urbana e na conexão entre as cidades, como veremos em outro item, adiante neste texto.
Estendendo-se progressivamente ao atendimento das demandas individuais, os avanços do
motor à combustão interna favoreceram a produção do automóvel na virada do século XIX
para o XX, massificada por décadas no contexto do Fordismo. O primeiro metrô foi projetado
no fim da primeira metade do século XIX e construído na cidade de Londres. Com o nome oficial
de Métropolitain ou “metropolitano”, este sistema de transporte subterrâneo passou a ser usado
no início do século XX, na cidade de Paris, e foi progressivamente adotado por várias nações
em suas redes de circulação.
◄ 4 ►
O século XX foi marcado, ainda, por outras duas grandes surpresas: a exibição do primei-
ro avião, em 1906, pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, e a concretização do transporte
espacial, iniciado na década de 1950, com rápido crescimento até os anos 1970. Embora
utilizados com propósitos absolutamente distintos, estas duas formas de locomoção definitiva-
mente impactaram a percepção humana tanto sobre o “tamanho do mundo” quanto sobre a
capacidade da conquista humana sobre ele, estimulando ainda a infinita busca de expansão
de fronteiras no próprio Universo.
Inventado na década de 1960 e aprimorado ao longo dos anos, o popularmente conhe-
cido “trem bala” revolucionou o trânsito em longas distâncias. Desenvolvendo velocidades
que costumam variar entre 250 e 300 km/h (embora possam alcançar a marca dos 500
km/h), eles são amplamente difundidos em países da Ásia e da Europa, beneficiando os des-
locamentos nacionais e entre nações. Áreas que normalmente consumiriam longas horas de
deslocamento tiveram seus trajetos reduzidos a minutos. No Brasil, previa-se a viabilização
deste modal para a Copa do Mundo 2014, ligando os estados de São Paulo e Rio de Janei-
ro. Contudo, a efetivação deste serviço foi adiada para 2020. Até lá, o Maglev-Cobra, um
trem de levitação magnética criado pela Coppe/UFRJ, talvez seja uma opção de transporte.
Segundo especialistas, esta novidade dispensa rodas, não emite ruído e nem gases de efeito
estufa, sendo um dos veículos mais limpos do mundo em termos de emissões. Além disso,
requer obras de infraestrutura até 70% mais baratas do que as obras necessárias ao metrô
subterrâneo, gerando muito menos impacto na vida da cidade.
Portanto, se a evolução dos meios de transporte se relaciona dialeticamente com o desen-
volvimento infraestrutural, tecnológico, informacional, político e econômico das sociedades,
não será fundamental refletir sobre as consequências históricas das ações humanas, acarre-
tadas pela busca da circulação de pessoas e mercadorias?
◄ 5 ►
cimento de água para o uso doméstico, agrícola e comercial. A construção de rodovias, com
o desmatamento destas áreas, afeta o habitat das espécies da região, contribuindo para a
extinção de algumas delas e para a consequente diminuição da biodiversidade.
A circulação de veículos também desestrutura os taludes, promove a formação de racha-
duras no solo, as chamadas “cicatrizes erosivas” e potencializa o risco de eventos catastrófi-
cos como os deslizamentos de terra. Isto acresce a taxa de produção e deposição de sedimen-
tos, contribuindo para o assoreamento dos rios e para a diminuição da qualidade da água.
As ferrovias causam, basicamente, os mesmos efeitos nocivos provocados pelas rodovias:
poluição atmosférica e geração de partículas sólidas, desestruturação de taludes, alterações
hídricas ecossistêmicas, erosão e desmatamento de grandes extensões de áreas verdes.
O modal hidroviário também gera impactos ambientais. O desmatamento para criar ou
expandir áreas de embarque e desembarque para passageiros e mercadorias, bem como a
diminuição da mata ciliar, desencadeiam processos erosivos e suas consequências. Hidro-
vias de grande porte, utilizadas para o transporte de mercadorias em maior quantidade e
frequência, requerem intervenções de engenharia mais significativas, exigindo ações que
podem envolver o fechamento de braços do curso fluvial, a retificação do leito, a construção
de canais fluviais, portos e terminais, entre outras estruturas. Estas operações geram impactos
ambientais em múltiplas escalas, com efeitos imediatos e em longo prazo.
Foto: Celina Costa
Barca de passageiros entre a Praça XV e a Ilha de Paquetá, na Baia de Guanabara, Rio de Janeiro.
Como vimos, todos os modais de transporte contribuem para degradar o meio ambiente.
Entretanto, desenvolver combustíveis menos poluentes, aplicar medidas mitigadoras de im-
pactos ambientais e planejar uma boa infraestrutura de serviços de transportes coletivos são
alternativas para atenuar tais efeitos.
◄ 6 ►
1.3 Transporte e tecnologia
Conforme vimos até aqui, o mundo dos transportes sofreu diversas e profundas modificações
impulsionadas pelos avanços tecnológicos, ao longo da história humana. Com o telégrafo,
por exemplo, a comunicação se tornou instantânea e independente do transporte físico. Nas
últimas décadas, entretanto, temos notado que os impactos provocados pela introdução de
novas tecnologias neste campo incidem decisivamente no mercado de trabalho. O advento da
automação, quando presente em determinados meios de transporte, altera a organização da
rotina dos serviços, interferindo na quantidade de trabalhadores envolvidos neste processo, as-
sim como na cadeia produtiva que ele articula. A criação de cartões eletrônicos, por exemplo,
permite que o próprio passageiro compre sua passagem, eliminando desta etapa a cobrança
física feita pela mão de obra humana. Alguns trens são 100% automatizados, eliminando a
necessidade de maquinistas. O desemprego causado pela tecnologia é chamado “desemprego
estrutural”, pois reflete a perda irreversível de postos de trabalho para os meios tecnológicos.
Essa revolução tecnológica vem modificando as cidades e a sua população, interferindo
inclusive na relação entre as pessoas e os meios de transporte. Hoje, o simples fato de pegar
um ônibus, um trem ou um transporte aquaviário exige algum conhecimento prévio da tecno-
logia ali empregada. Por um lado, a não adaptação a essa realidade pode levar o cidadão
a um isolamento econômico e social, restringindo-lhe as possibilidades de emprego e até
mesmo de mobilidade. Porém, a disponibilidade de outras tecnologias favorece esta rotina:
através de smartphones podemos acessar mapas virtuais interativos (google maps, por exem-
plo) e o Sistema de Posicionamento Global (GPS, Global Positioning System), ferramentas ba-
seadas no uso de informações de satélites que orbitam nosso planeta, subsidiando o traçado
de rotas e a localização de pontos específicos, além do deslocamento de mercadorias e/ou
pessoas no espaço terrestre.
O aumento do consumo fez crescer também a quantidade de produtos em trânsito nas
diferentes modalidades de transporte. No caso do Brasil, que tem nas rodovias sua principal
malha de transporte, há cada vez mais mercadoria circulando nas estradas. O uso da tecno-
logia dos rastreadores nos veículos transportadores auxilia os processos de acompanhamen-
to do produto comprado ao longo de toda a sua rota, até sua entrega. Do mesmo modo, esta
tecnologia ajuda na localização de cargas diante de situações de furto ou roubo. O próprio
código de barras, que usamos em nosso dia a dia, aperfeiçoa e agiliza etapas necessárias à
circulação dos produtos, como na etiquetagem (labelling) e conferência eletrônica de cargas
(scanning). As informações contidas nestes códigos podem ainda identificar o valor, a origem
e o destino das peças, fatores que contribuem para uma circulação mais rápida e efetiva.
Os avanços informacionais interferem também na espacialização produtiva, pois viabilizam
a ocorrência de fluxos imateriais (controle de produção de filiais, negociação, venda, compra).
Como veremos mais adiante, a logística tornou-se um importante campo de consumo das novas
tecnologias. Afinal, a preocupação das empresas, indústrias e de produtores agrícolas já não
se define mais pela proximidade com os espaços fornecedores de matérias-primas e insumos,
mas com a fluidez das mercadorias no que se refere a sua distribuição e entrega.
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1.4 Transporte e poder: a geopolítica energética
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EIXO 2: O papel dos transportes no desenvolvimento
das cidades
Ao conhecermos a história do desenvolvimento dos transportes no mundo, é fundamental
compreendermos que a disposição e o controle de um modal de transporte podem definir o
papel e o futuro de determinadas áreas: a emergência e valorização de umas se contrapõem
à obsolescência e à perda de prestígio de outras. Vejamos, então, alguns efeitos da relação
entre o desenvolvimento dos sistemas de transportes e dos territórios.
Europa Industrial.
Fonte: Wikipédia.org
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A aglomeração urbana desprovida de um sistema sanitário proporcional à concentração
do contingente populacional tornou as áreas fabris cada vez mais inóspitas. Por essa razão
as elites buscaram locais mais aprazíveis para sua moradia, desencadeando o povoamento
de regiões entre as cidades e os espaços rurais, fenômeno verificado em vários países. Isto
deu origem aos primeiros subúrbios e à ocupação de áreas periféricas localizadas nos perí-
metros dos centros urbanos. No campo da geografia, essa “faixa de transição entre o uso da
terra tipicamente rural e o urbano” é denominada de “região periurbana” (SOUZA, 2003).
Aos poucos, a expansão horizontal das cidades foi inevitável, intensificando a demanda
por sistemas de deslocamento. O aumento desta mobilidade proporcionou a ocupação de
áreas mais distantes das centrais, com custos de vida menores. Como os centros ainda deti-
nham funções políticas e de geração de riquezas e a classe trabalhadora precisava se deslo-
car diariamente para exercer suas funções na divisão social do trabalho, retornando às suas
casas após esta jornada, a popularização dos subúrbios acabou produzindo o fenômeno
conhecido como “movimento pendular”.
Na fase em que as indústrias ainda se localizavam perto dos locais que detinham maté-
rias-primas, as ferrovias realizavam o transporte de mercadorias para os centros de distri-
buição e comercialização. Contudo, o desenvolvimento deste modal de transporte contribuiu
para que a instalação de unidades de produção tivesse outros critérios como determinantes.
A disposição de ferrovias permitia que áreas mais longínquas contribuíssem com matérias-
-primas para a produção industrial. Logo, povoados distantes e pouco adensados passaram
a integrar as dinâmicas de abastecimento do mercado. Ao redor das estações cresceram as
atividades comerciais de modo a suprir as necessidades dos negociantes e de compradores
que ali transitavam. Através da ampliação deste comércio e das moradias no entorno das
estações, os locais de paradas dos trens, antes pequenos vilarejos espaçados, foram se trans-
formando em núcleos urbanos mais densos, tornando atrativa a ocupação de áreas distantes
dos grandes centros e com baixo custo de vida. No mundo inteiro, muitas das cidades exis-
tentes surgiram a partir deste tipo de expansão.
A ocupação do território brasileiro e seu reconhecimento por nossos colonizadores tem
relação intrínseca com os sistemas de deslocamento. Inicialmente, a ocupação litorânea foi
considerada fator primordial, uma vez que os mares eram as principais vias de expansão
territorial, por onde possíveis inimigos chegariam.
Durante muito tempo, devido à falta de estradas, os rios brasileiros foram utilizados pelos
portugueses como vias para o reconhecimento territorial do mesmo modo que os rios pouco
navegáveis apresentavam-se como um fator limitante ao desbravamento de muitas regiões
do novo domínio português.
Assim como nos moldes europeus, as ferrovias no Brasil foram estabelecidas para o trânsito
de mercadorias e, posteriormente, de pessoas. Ainda, do mesmo modo que na Europa, os
núcleos urbanos foram surgindo radialmente às estações e linearmente às estradas de ferro.
Cabe lembrar que a descoberta do Caminho Novo ocasionou a transferência da capital do
Brasil para o Rio de Janeiro no século XVIII. Este fator tornou a região econômica e politi-
camente relevante para o país, reduzindo a soberania absoluta da cidade de São Paulo em
relação ao território brasileiro.
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2.2 Expansão da metrópole do
Rio de Janeiro e os sistemas de transporte
Os registros oficiais afirmam que o Rio de Janeiro se inicia com a ocupação do Morro do
Castelo, considerado o primeiro núcleo urbano da cidade, em 1567. Desde então, diversos
movimentos estimularam a expansão para além desta área. Entre eles, merece destaque a
substituição dos antigos sistemas coletivos de transporte terrestre, movidos por tração animal,
pelos elétricos (os bondes) ou a vapor, ao final do século XIX.
Bondes Elétricos.
Fonte: commons.wikimedia.org
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Em 1858, novo impulso foi dado à ocupação de novas áreas quando D. Pedro II inau-
gurou o primeiro trecho da estrada de ferro, que levava seu nome e interligava a Corte às
regiões fornecedoras de gêneros agrícolas. Posteriormente, outras estações foram estabeleci-
das em distintas localidades (atuais Japeri, Duque de Caxias, Cascadura e Madureira, entre
outros) ao longo e no eixo desta via. Isto permitiu a ocupação de outras regiões e produziu
o deslocamento pendular ao centro, o que transformou as antigas freguesias agroprodutoras
em núcleos urbanos, posteriormente identificados como bairros ou municípios.
A Estrada de Ferro Rio d’Ouro foi criada para transportar o material necessário ao estabe-
lecimento da rede de abastecimento que captava água dos mananciais da baixada fluminen-
se. Essa ferrovia atravessava as freguesias de São Cristóvão, Engenho Novo, Inhaúma e Irajá
(ABREU, 1997). Embora não tenha sido inicialmente projetada para o transporte de passa-
geiros e não tivesse a mesma relevância que a D. Pedro, a Rio d’Ouro permitiu desenvolver
outro eixo da cidade ao longo de suas linhas (Inhaúma, Vicente de Carvalho, Irajá, Colégio,
Areal - atual Coelho Neto - e Pavuna). Assim, a população podia alcançar o centro da cidade
através de baldeação para os trens da Dom Pedro II, na altura de São Francisco Xavier.
Para fugir da “cidade fétida” que era o Rio de Janeiro, a elite se deslocou para áreas mais
afastadas e beneficiadas pelo poder público com a abertura de vias de circulação. Instalan-
do-se na área atualmente conhecida por Centro e Zona Portuária, esta classe promoveu a
ocupação de bairros como Lapa, Catete, Glória e, São Cristóvão, posteriormente. O atual
bairro de Botafogo é contemporâneo e fruto deste mesmo processo (ABREU, 1997). Inicial-
mente, os bondes serviam ao deslocamento para estas áreas. Em um segundo momento, estes
equipamentos passaram a atender a classe trabalhadora, estendendo seus serviços a locali-
dades ocupadas por ela, tais como Santo Cristo, Gamboa, Saúde e Catumbi.
◄ 12 ►
Em 1962, a inauguração dos serviços de barcas a vapor (sistema Ferry) empreendeu as
instalações portuárias da linha Rio-Niterói, impulsionando a ocupação e o crescimento urba-
no na cidade de Niterói, bem como o início do movimento pendular de trabalhadores desta
ao centro do Rio de Janeiro.
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2.4: Os transportes e outros debates contemporâneos
Outro eixo interessante que vem ganhando ênfase nos debates de assuntos correlatos aos
transportes é aquele que aborda a relação entre a produção de combustíveis e a produção
de alimentos. Os biocombustíveis são aclamados por muitos como uma grande saída para o
impasse ambiental proveniente da queima dos combustíveis fósseis. Contudo, o alargamento
das áreas destinadas ao plantio de matéria-prima destes produtos, com priorização do aten-
dimento a este setor, pode ser uma ameaça à segurança alimentar mundial.
Observamos no México um exemplo das consequências das alterações no uso de uma
importante matriz alimentar como matéria-prima para a fabricação de matriz energética.
O país já foi um dos maiores exportadores mundiais de milho. Porém, com o crescimento
da produção de etanol à base de amido de milho, incentivada pela estratégia de consumo
de biocombustíveis nos Estados Unidos, a produção deste item passou a estar especialmente
voltada à exportação, prejudicando o abastecimento interno. Em 2008 uma crise alimentar
afetou o México devido à falta deste produto. A tortilha, tradicional guloseima dele derivada,
triplicou de valor, em média.
Outro ponto que merece destaque se refere à relação entre transporte e saúde. A queima
de combustíveis fósseis por veículos automotores libera na atmosfera substâncias poluidoras,
tais como: óxidos de carbono, nitrogênio e enxofre, além de hidrocarbonetos. Estas substân-
cias podem provocar danos à saúde conforme foi mencionado no texto Saúde, consumismo
e meio ambiente.
Em 2009 uma epidemia da Influenza A (H1N1), mais conhecida como gripe suína, causou
centenas de mortes. A H1N1 contaminou milhares de pessoas em diferentes países como Mé-
xico, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e, em menor número, no Brasil, Países da Ásia,
Oceania e outras nações Europeias. Embora a dinâmica dos animais migratórios também
contribua no processo de desenvolvimento e expansão geográfica dos vírus, a circulação
internacional de pessoas contribui consideravelmente para a transmissão de doenças. Isto
ocorreu em 2002, por exemplo, quando a epidemia de Pneumonia Asiática alcançou o
Canadá, na América, devido à circulação de pessoas, processo que propiciou o avanço do
vírus. Em 2014, o mundo foi alarmado pela epidemia do Ebola.Embora já reconhecido como
existente desde a década de 70 do século XX, o vírus passou a chamar a atenção das auto-
ridades de saúde internacionais desde que voltou a matar maciçamente na África Ocidental,
espalhando-se por outras regiões do planeta.
É importante lembrar que a construção de rodovias e ferrovias e a adaptação de áreas
para o funcionamento de hidrovias também contribuem para agravar certas situações deste
tipo. Na medida em que tais empreendimentos requerem intervenções ambientais, podem
destruir o habitat natural de diversas espécies, dentre elas os vetores de doenças, que migram
para as áreas urbanas em busca de alimento.
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Pessoas usando máscaras no metrô da cidade do México durante a
epidemia da Influenza A em 2009.
Fonte: Wikipédia.org
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Como funciona um bafômetro?
Os bafômetros mais simples, descartáveis, consistem em pequenos tubos com uma
mistura sólida de solução aquosa de dicromato de potássio (K2Cr2O7) e sílica, ume-
decida com ácido sulfúrico (H2SO4). A detecção da embriaguez por esse instrumento
é visual, pois a reação que ocorre é a oxidação de álcool (CH3CH2OH) a aldeído
(CH3CHO) e a redução do dicromato (K2Cr2O7) a cromo (III) [Cr2(SO4)3]. A colora-
ção inicial é amarelo-alaranjada devido ao dicromato (K2Cr2O7), mas a final é verde,
devido ao cromo (III). Estes bafômetros portáteis são preparados e calibrados apenas
para indicar se a pessoa está abaixo ou acima do limite legal.
A Figura abaixo mostra o funcionamento dos bafômetros descartáveis.
◄ 16 ►
Infelizmente a Lei não alcançou o sucesso pleno. Muitos condutores ainda insistem em be-
ber antes de dirigir, motivados pela inconsequência, irresponsabilidade, pouca credibilidade
das instituições punitivas. São frequentes as divulgações em páginas das redes sociais, e por
outras vias, nas quais os pontos onde haverá fiscalização são compartilhados, reduzindo a
eficiência destas operações.
◄ 17 ►
os órgãos públicos tornaram-se apenas agentes reguladores, enquanto que a gestão e o ofe-
recimento do serviço de transporte ficaram progressivamente a cargo das empresas privadas.
O slogan primordial destas parcerias público-privadas é sempre a melhoria dos serviços
prestados. Porém, o que efetivamente vem ocorrendo é a crescente desresponsabilização do
Estado diante das suas atribuições. Neste processo, o setor privado sai amplamente benefi-
ciado, pois passa a contar com uma fonte geradora de capital que, na maioria dos casos,
não investiu para implementar. Alguns modais podem apresentar melhorias pontuais, mas
nunca alcançam um padrão de qualidade que atenda a todas as necessidades da população.
Além disso, muitas vezes, as melhorias são efetivadas mediante a transferência deste custo
para a composição do valor das altas e crescentes tarifas pagas pelos usuários. Em linhas
gerais, esta lógica se reproduz no sistema de transporte brasileiro como um todo, ainda que
cada modalidade enfrente questões específicas para a superação destes limites.
O metrô, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, pode ilustrar bem algumas destas si-
tuações, na medida em que vem recebendo críticas há algum tempo. Sua recente expansão foi
profundamente questionada tanto do ponto de vista dos recursos quanto do planejamento, mas,
principalmente, por impasses sociais. As elites, detentoras de influencia espacial, não medem
esforços para dificultar ou mesmo impedir a construção de estações em áreas valorizadas da
cidade, já que isto facilitaria o deslocamento pendular da massa trabalhadora para além dos
dias em que ela presta serviços a estas mesmas elites, isto é, quando estivessem em busca de
lazer.
◄ 18 ►
ções, bem como a não extensão das linhas do sistema para onde existe maior demanda, são
fatores que tiram do setor ferroviário qualquer aclamação pelo título de melhor alternativa de
transporte. Além disso, devemos lembrar que grande parte das pequenas cidades brasileiras
não dispõe deste serviço e as cidades mais afastadas dos grandes centros, quando possuem
trens, frequentemente constatam que o uso de seus modais prioriza o transporte de cargas
com valor internacional agregado, em detrimento do transporte de passageiros.
Por nosso país ser detentor de uma grande rede hidrográfica há também os que defendem
a ampliação das hidrovias como estratégia pouco custosa, supondo que esta só apresente
vantagens a todos os agentes envolvidos em suas dinâmicas de implantação e uso. Entretan-
to, conforme já ponderamos anteriormente, este modal, como qualquer outro, gera impactos
ambientais e socioambientais de diferentes tipos e em múltiplas escalas.
◄ 19 ►
3.3 Do transporte como demanda coletiva
à criminalizarão dos movimentos
Porém, na medida em que conseguiu atingir alguns de seus maiores objetivos - isto é,
mobilizar distintos segmentos da população, contribuir para desconstruir a visão estreita e
preconceituosa de que “transporte público é coisa de pobre”, impedir ou fazer retroceder a
aplicação do reajuste das passagens de ônibus e metrô, principalmente -, o MPL, como outros
movimentos que deram forma às Jornadas de Junho, passou a sofrer duras críticas por parte
das elites governantes. Estas, com o apoio da grande mídia, investiram na criminalização
destes movimentos, procurando atribuir a eles a responsabilidade pelas formas de manifes-
tações mais radicais (quebra-quebras com danos a patrimônio privado e/ou público), regis-
tradas em meio aos sucessivos atos públicos por eles organizados.
De qualquer forma, a demanda por transportes que atendam às múltiplas e complexas ne-
cessidades de mobilidade da população permanece, desafiando desde os avanços tecnológi-
cos até os compromissos e valores ético-políticos na nossa sociedade e no mundo, em geral.
◄ 20 ►
Conclusão
Apesar das tecnologias desenvolvidas ao longo dos séculos e, principalmente, nas últimas
décadas terem tornado os modais de transporte sistemas mais ágeis e abrangentes, esta não
é uma realidade aplicável ao espaço brasileiro como um todo. Vimos que os processos de im-
plantação de um modal de transporte e sua posterior administração e fiscalização ficam res-
tritos às esferas de poder públicas e privadas. As possibilidades de intervenção efetiva neste
processo, para os demais membros da sociedade, são constantemente restritas, impondo-lhes
a aceitação pacífica da condição de usuários.
Embora seja fundamental para integrar diferentes espaços, dinamizar a economia mun-
dial e, indissociavelmente, facilitar a sobrevivência diária e o bem-estar das pessoas, a im-
plantação de rodovias, ferrovias e outros sistemas, sem as devidas medidas de preservação
ambiental, podem proporcionar consequências danosas, das quais podem emergir doenças,
além de perdas relativas a biodiversidade. Cabe ainda ressaltar que uso de transportes coleti-
vos diminuiria consideravelmente a demanda por combustíveis que, conforme já vimos, sejam
estes fosseis ou não, geram impactos ambientais, sociais e até alimentícios.
Para que as redes de transporte coletivo historicamente desenvolvidas possam cumprir seus
diversos objetivos, torna-se necessário que as sociedades estabeleçam um conjunto de proce-
dimentos que devem servir como parâmetros especificamente voltados para tal propósito. Esta
dinâmica se apoia em um ambiente legal (leis, códigos, regulamentos, etc.) que é também per-
passado por interesses políticos e econômicos. Como vimos, esta correlação de forças frequen-
temente subjulga os interesses sociais representativos da maior parte da população.
Transporte e qualidade de vida possuem uma relação intrínseca ainda pouca percebida
por nossos governantes e pela maioria das pessoas.
◄ 21 ►
Bibliografia
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◄ 22 ►