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SUMÁRIO

RESUMO ..................................................................................................................................... iii


LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................................... iv
LISTA DE TABELAS ...................................................................................................................... vii
LISTA DE QUADROS .................................................................................................................... vii
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1
1.1. Abrangência geográfica da zona costeira e das áreas de ressacas .......................................................... 2
1.2. Histórico sucinto da área e aspectos gerais da ocupação ........................................................................ 6
1.2.1. O Estado do Amapá ........................................................................................................................... 6
1.2.2. Município de Macapá ...................................................................................................................... 10
1.2.3. Município de Santana ...................................................................................................................... 12
1.3. Aspectos socioeconômicos do estado do Amapá .................................................................................. 12
2. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 14
2.1. Objetivo geral ......................................................................................................................................... 14
2.2. Objetivos específicos .............................................................................................................................. 14
3. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 14
4. RESULTADOS .......................................................................................................................... 17
4.1. Composição da renda ............................................................................................................................. 17
4.2. Aspectos de moradia .............................................................................................................................. 18
4.2.1. Tempo de residência ....................................................................................................................... 18
4.2.2. Situação de domínio do imóvel ....................................................................................................... 20
4.2.3. Mão de obra utilizada na construção do imóvel ............................................................................. 22
4.2.4. Material de construção do imóvel .................................................................................................. 23
4.2.5. Edificações no lote........................................................................................................................... 25
4.2.6. Número de cômodos da casa .......................................................................................................... 26
4.2.7. Localização do terreno .................................................................................................................... 28
4.2.8. Situação fundiária ............................................................................................................................ 29
4.2.9. Ambiente da casa mais utilizado ..................................................................................................... 31
4.2.10. Tipo de uso do imóvel ................................................................................................................... 32
4.2.11. Permanência no local de moradia ................................................................................................. 34
4.3. Saneamento básico ................................................................................................................................ 35
4.3.1. Localização do banheiro .................................................................................................................. 35
4.3.2. Utilização do banheiro..................................................................................................................... 37
4.3.3. Presença de fossa no terreno .......................................................................................................... 38
i
4.3.4. Tratamento de esgoto ..................................................................................................................... 40
4.3.5. Destino do lixo ................................................................................................................................. 41
4.4. Infraestrutura ......................................................................................................................................... 44
4.4.1. Fornecimento de energia elétrica ................................................................................................... 44
4.4.2. Abastecimento de água ................................................................................................................... 46
4.5. Saúde ...................................................................................................................................................... 48
4.5.1. Localização do posto de saúde ........................................................................................................ 48
4.5.2. Satisfação em relação aos serviços de saúde .................................................................................. 49
4.6. Segurança pública ................................................................................................................................... 50
4.6.1. Posto policial ................................................................................................................................... 50
4.6.2. Presença de viatura ou ronda ......................................................................................................... 50
4.6.3. Presença de bombeiros e salva-vidas.............................................................................................. 51
4.6.4. Presença de vigilância particular ..................................................................................................... 51
4.6.5. Satisfação em relação à segurança pública ..................................................................................... 52
4.7. Organização social .................................................................................................................................. 53
4.7.1. Existência de entidades de organização social................................................................................ 53
4.7.2. Participação na entidade local ........................................................................................................ 54
4.7.3. Participação em atividades comunitárias ....................................................................................... 54
4.8. Problemas sociais ................................................................................................................................... 55
4.9. Alterações ambientais nas áreas de ressacas......................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 58

ii
RESUMO

Ressaca é uma expressão empregada para designar um ecossistema típico da zona costeira do Amapá que se
caracteriza como um ecossistema complexo e distinto. Para o entendimento das relações socioambientais
dos ocupantes desses ambientes foi realizado levantamento socioeconômico que ocorreu apenas nas áreas
de ressaca de Macapá durante os meses de abril e junho de 2010. Foram aplicados questionários com
perguntas estruturadas e semiestruturadas de caráter socioeconômico e ambiental, buscando responder a
problemática de pesquisa para essa temática, a saber, “Qual a condição socioambiental atualmente, dos
moradores nas áreas de ressacas de Macapá”. A pesquisa foi de caráter amostral, com 30 questionários por
ressaca. Foram aplicados 390 questionários em 13 ressacas, nos quais constam questões envolvendo
indicadores sociais e ambientais amplamente utilizados em pesquisas sob a dinâmica humana e ambiental,
tais como: Questões relativas à renda, Populacional, Migração, Questões relativas à moradia, Infraestrutura
Habitacional, Saneamento Básico, Educação, Saúde, Segurança pública, Organização Social, Lazer, Percepção
de Condições de Vida, Atividades Econômicas, Problemas sociais, Alterações ambientais no local onde mora,
Impacto Humano no Ambiente de Moradia. Todos os dados quantitativos foram organizados em tabelas do
software Excel, para serem analisadas em seus respectivos agrupamentos. As informações de caráter não-
diretivas foram digitadas para análises não-estatísticas, portanto de caráter qualitativa. Foram realizados
registros fotográficos e de GPS de navegação nos locais da pesquisa objetivando compor um banco de
imagens e o posicionamento geoespacial para a memória do projeto. O processo de ocupação das áreas do
ecossistema ressaca começou na década de 50. A partir do inicio dos anos 90 intensificou-se o processo,
sendo essas áreas, cada vez mais ocupadas de forma desordenada, devido à falta de planejamento urbano e
políticas adequadas, agravado pelos altos índices migratórios de pessoas oriundas de outros estados da
federação brasileira, que chegaram ao estado do Amapá. A ocupação desenfreada e desordenada modificou
o ambiente natural das ressacas e, com estas ocupações vieram as reivindicações dos já residentes naquelas
áreas por melhorias dos serviços de infraestrutura entre outros. Como resultados, o relatório apresenta
dados que, dentre outros, demonstram que muitos dos problemas atuais são os oriundos de uma série de
faltas de iniciativas do poder público no passado. O não atendimento às questões fundamentais de sua
população como necessidades de moradia, alimentação e geração de renda, com qualidade, permitiria uma
melhor qualidade de vida a todos. Assim, a gestão pública não acompanhou a dinâmica do seu território de
modo a garantir que o trabalho mantivesse seu papel, o de ser um instrumento de liberdade do trabalhador,
e não uma forma de sua submissão.

iii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Setorização da Zona Costeira do Estado do Amapá. ............................................................................ 3


Figura 2. Localização das áreas de Ressacas na Zona Urbana e periurbana de Macapá e Santana. Fonte:
GERCO/AP. Adaptado SEMA, 2001...................................................................................................................... 5
Figura 3. Identificação das principais ressacas no perímetro urbano de Macapá e Santana. Fonte: Adaptado
Sema, 2001. ......................................................................................................................................................... 6
Figura 4. Identificação do local da entrevista com placa indicativa das iniciais da ressaca, seguida pelo
número do questionário e o número do ponto de GPS que contém as coordenadas geográficas referentes ao
ponto. ................................................................................................................................................................ 16
Figura 5. Composição da renda dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá..................... 18
Figura 6. Tempo de residência, em anos, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá. .... 19
Figura 7. Vista da ocupação de área de ressaca em Macapá, demonstrando um processo de ocupação das
áreas, com suporte em madeira para estender a rede improvisada de energia. ............................................. 20
Figura 8. Situação de domínio do imóvel dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá. ..... 21
Figura 9. Residência edificada em ressaca com padrão arquitetônico que indica o déficit habitacional na
cidade de Macapá, ressaca Nova Esperança. .................................................................................................... 22
Figura 10. Residência edificada em ressaca com padrão arquitetônico que indica o déficit habitacional na
cidade de Macapá, ressaca Nova Esperança. .................................................................................................... 22
Figura 11. Mão de obra utilizada na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 22
Figura 12. Vista do material de construção predominantes nas edificações como a madeira e o telhado com
fibrocimento ou amianto, ressaca do Tacacá.................................................................................................... 24
Figura 13. Tipo de material utilizado na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 25
Figura 14. Tipo de material utilizado na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 25
Figura 15. Número de edificações no lote onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 26
Figura 16. Vista da disposição das edificações residênciais dispostas lado a lado, ao longo das pontes. ........ 26
Figura 17. Número de cômodos dos imóveis onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade
de Macapá. ........................................................................................................................................................ 27
Figura 18. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.
........................................................................................................................................................................... 28
Figura 19. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.
........................................................................................................................................................................... 29
Figura 20. Vista do local de construção das residências, com detalhe das pontes sendo reconstruídas.
Ressaca Chico Dias............................................................................................................................................. 29
Figura 21. Situação fundiária do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 30
Figura 22. Ambientes das residências onde os moradores passam mais tempo quando estão em casa. ....... 31
iv
Figura 23. Tipos de usos das edificações residenciais nas ressacas de Macapá. .............................................. 33
Figura 24. Vista das atividades de Comércio com ocupação tipo mista com uso residencial. ......................... 33
Figura 25. Vista de estrutura comercial, com parte do empreendimento em área aterrada........................... 33
Figura 26. Vista da edificação destinada ao uso residencial por aluguel de quartos, detalhe placa com
divulgação da atividade tipo “kitnets”. ............................................................................................................. 34
Figura 27. Vista de placas de venda em residências, demonstrando o que a maioria dos entrevistados
afirmou quanto ao desejo de saírem do local onde moram. ............................................................................ 35
Figura 28. Vista de placas de venda de residências. ......................................................................................... 35
Figura 29. Moradores das áreas de ressacas de Macapá segundo sua vontade de saída ou permanência nos
locais onde moram. ........................................................................................................................................... 35
Figura 30. Localização do banheiro no imóvel dos entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.
........................................................................................................................................................................... 36
Figura 31. Localização do banheiro do imóvel dos entrevistados para as áreas de ressaca da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 36
Figura 32. Vista da localização dos banheiros/sanitários, em primeiro plano banheiro dentro da residência. 37
Figura 33. Vista da localização dos banheiros/sanitários, em segundo plano, sanitário fora da casa ligado a
esta por meio de ponte. .................................................................................................................................... 37
Figura 34. Usuários dos módulos sanitários nas residências das ressacas de Macapá. .................................... 37
Figura 35. Usuários dos módulos sanitários das residências nas ressacas pesquisadas em Macapá. .............. 38
Figura 36. Tipo de fossa existente nas residências dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 39
Figura 37. Trabalhador construindo anteparo em madeira, denominado fossa. Observa-se que a construção
de fossas ocorre, em determinadas áreas, na estação do verão. ..................................................................... 40
Figura 38. Existência de tratamento de esgoto sanitário nas ressacas de Macapá. ......................................... 40
Figura 39. Existência de tratamento de esgoto sanitário por ressaca em Macapá. ......................................... 41
Figura 40. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas
ressacas. ............................................................................................................................................................ 41
Figura 41. Vista das galerias de coleta e distribuição das águas pluviais sendo despejado diretamente nas
ressacas. ............................................................................................................................................................ 41
Figura 42. Existência de coleta pública e destinação final de resíduos sólidos................................................. 42
Figura 43. Disposição de lixo doméstico na ressaca ao longo da passarela, ressaca Pedrinhas. ...................... 43
Figura 44. Vista da disposição do lixo, ressaca Sá Comprido. ........................................................................... 43
Figura 45. Vista da disposição de lixo sob residências, ressaca, Congós........................................................... 43
Figura 46. Vista de disposição de lixo, ressaca Tacacá. ..................................................................................... 43
Figura 47. Vista da disposição à céu aberto na ressaca Chico Dias. .................................................................. 44
Figura 48.Vista da disposição de lixo, ressaca Nova Esperança. ....................................................................... 44
Figura 49. Fornecimento de Energia elétrica segundo os tipos de ligação nas ressacas de Macapá. ............. 44
Figura 50. Vista do Posteamento estruturado pela companhia de eletricidade em área de ressaca de Macapá.
........................................................................................................................................................................... 45
v
Figura 51. Vista do medidor de energia instala na residência, retratando que o serviço é cadastrado. .......... 45
Figura 52. Fornecimento de energia elétrica segundo os tipos de ligação por ressaca na área pesquisada em
Macapá. ............................................................................................................................................................. 45
Figura 53. Vista do misto de ligações cadastrada com os conectores nos fios, com as não cadastradas,
formando uma trançadeira de fios.................................................................................................................... 46
Figura 54. Vista da distribuição dos fios elétricos com ligações não cadastradas em direção às casas,
demonstrando que o suporte para os fios, ocorre de maneira improvisada. .................................................. 46
Figura 55. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas......... 47
Figura 56. Vista da dificuldade dos moradores para adquirirem água. Mesmo a tubulação sendo da
companhia de saneamento, a água não alcança as torneiras nas residências. ................................................ 48
Figura 57. Vista de outra maneira dos moradores adquirirem água, ligação clandestina da rede geral, dentro
das ressacas. ...................................................................................................................................................... 48
Figura 58. Localização dos postos de saúde em relação à residência dos entrevistados. ................................ 48
Figura 59. Nível de satisfação quanto ao serviço de saúde oferecido à comunidade nas ressacas. ................ 49
Figura 60. Localização de unidade de segurança em relação à moradia do entrevistado nas ressacas de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 50
Figura 61. Frequência dos serviços de segurança para os moradores segundo estratégia de acesso nas
ressacas de Macapá........................................................................................................................................... 51
Figura 62. Freqüência da presença de bombeiros com serviço de salva-vidas nas ressacas de Macapá. ....... 51
Figura 63. Moradores que utilizam serviço de vigilância particular nas ressacas de Macapá. ......................... 52
Figura 64. Nível de satisfação com os serviços de segurança pública existentes nas áreas de ressaca de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 53
Figura 65. Existência de entidades da sociedade civil nas ressacas de Macapá. .............................................. 53
Figura 66. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas entidades de representação social....... 54
Figura 67. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas atividades e mutirões organizados pela
representação social local. ................................................................................................................................ 55
Figura 68. Principais problemas sociais existentes nas ressacas de Macapá. ................................................... 56
Figura 69. Principais alterações ambientais presentes nas ressacas de Macapá. ............................................ 57

vi
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Tempo de residência, em percentual, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de
Macapá. ............................................................................................................................................................. 19
Tabela 2. Situação de domínio do imóvel, em percentual, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade
de Macapá. ........................................................................................................................................................ 21
Tabela 3. Mão de obra utilizada na construção do imóvel, em percentual, dos entrevistados das ressacas da
cidade de Macapá. (MO = mão de obra). .......................................................................................................... 23
Tabela 4. Número de cômodos dos imóveis, em percentual, onde residem os entrevistados das áreas de
ressaca da cidade de Macapá. ........................................................................................................................... 27
Tabela 5. Situação fundiária do terreno, em percentual, onde residem os entrevistados das áreas de ressaca
da cidade de Macapá......................................................................................................................................... 30
Tabela 6. Ambientes das residências onde os moradores passam mais tempo quando estão em casa. ......... 31
Tabela 7. Tipos de usos das edificações além do residencial. ........................................................................... 34
Tabela 8. Existência e tipos de fossas nas residências das áreas de ressacas de Macapá. ............................... 39
Tabela 9. Existência de coleta pública e destinação final de resíduos sólidos. ................................................. 42
Tabela 10. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas. ....... 47
Tabela 11- Localização dos postos de saúde em relação as residências nas áreas de ressaca ......................... 49

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Resumo dos dados gerais dos municípios do Estado do Amapá. .................................................... 13
Quadro 2. Distribuição da população residente, por situação de domicílio, no Estado do Amapá. ................. 13
Quadro 3. Número de estabelecimentos de saúde nos municípios de Macapá-AP e Santana-AP................... 14

vii
1. INTRODUÇÃO
O diagnóstico socioambiental das áreas de Ressacas de Macapá e Santana está vinculado ao Projeto
Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano das Áreas de Ressacas de Macapá e Santana, Estado do Amapá,
na área temática de Socioeconomia. Este documento consiste na análise de dados coletados a partir do
levantamento de informações em fontes secundárias referentes à dinâmica humana dos moradores das
chamadas áreas de “ressacas” e de levantamento primário de informações socioambientais para a
caracterização da dinâmica social, cultural e econômica dos moradores das referidas áreas.

Em Macapá (Capital) e Santana, as duas principais cidades do Estado, a ocupação das áreas úmidas vem
ocorrendo de maneira totalmente desordenada. A ocupação com fins de moradia é a mais perceptível e a
mais impactante, ocasionada principalmente pela falta de planejamento urbano e pela explosão
demográfica, representada por uma taxa anual de crescimento de 3,44% (IBGE, 2010), a mais alta entre os
estados brasileiros. As condições de vida das pessoas que residem nestas áreas, normalmente habitando
palafitas, são visivelmente ruins e a ocupação aumenta a cada dia (TAKIYAMA, 2008).

Além da moradia, outras formas de utilização dessas áreas ocorrem de forma indiscriminada, ocasionando
vários impactos negativos, dentre eles, as queimadas intencionais para a “limpeza” e renovação da
pastagem para os búfalos causam sérios prejuízos ambientais. Outras atividades comuns nessas áreas são: a
extração de argila para olarias, a piscicultura, a caça e a pesca de subsistência, a extração vegetal, a
navegação, a recreação e o turismo (SILVA & TAKIYAMA, 2009; LEITE-SILVA, FERREIRA & EVANGELISTA,
2009).

Como iniciativa de resposta a questões cadastrais das áreas úmidas, foi instituída a Lei Estadual nº 0455/99,
que estabeleceu o tombamento de todas as áreas de ressacas do Estado do Amapá e impôs limitações ao
uso e à ocupação desses ambientes, sem, no entanto, oferecer suporte técnico no que diz respeito à
definição legal dos mesmos. Para a regulamentação desta Lei seria necessário que o conceito de ressaca
pudesse ser conhecido pelos diversos setores da sociedade e pelos Poderes Constituídos, a fim de que ações
de comando e controle impedissem a implantação de novos usos impactantes, bem como penalizar os
responsáveis pelos impactos causados e, ainda, orientar que a preservação desses ambientes seja de
responsabilidade não apenas dos órgãos competentes, mas também da população em geral. Em 27 de maio
de 2004 a Lei No 0455/99 foi revogada pela Lei Estadual Nº 0835, que dispõe sobre a ocupação urbana e
periurbana, reordenamento territorial, uso econômico e gestão ambiental das áreas de ressaca e várzea
localizadas no Estado do Amapá, além apresentar ações de preservação destes ambientes (TAKIYAMA,
2008). Buscando subsídio jurídico na Lei Estadual Nº 0686 de 7 de junho de 2002 criada para estabelecer

1
instrumentos importantes para a gestão dos recursos hídricos, esta Lei serviu como reforço à elaboração do
presente trabalho. Nela são apontados vários problemas relacionados aos recursos hídricos das
proximidades das zonas urbanas de Macapá e Santana, portanto, incidindo diretamente sobre a necessidade
de ordenamento e gestão, especialmente das áreas de ressacas.

As pesquisas a respeito desses ambientes iniciaram somente na primeira metade da década de 2000,
quando foram realizados estudos específicos para a caracterização das ressacas de Macapá e Santana. De
acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Amapá (SEMA) no ano de 2000, 32% das
margens das ressacas nas duas cidades já estavam totalmente descaracterizadas em relação ao seu estado
natural (dados não publicados). Adicionalmente, Maciel (2001) realizou um diagnóstico preliminar
abordando aspectos físicos e de biodiversidade desses ambientes, identificando problemas sociais e
ambientais, suas consequências e propostas de soluções. O referido trabalho possibilitou a compreensão da
dinâmica ambiental dessas áreas de forma sistematizada e demonstrou o quanto a intervenção desordenada
e sem embasamento científico expunha a sociedade e a natureza aos riscos de alterações irreversíveis. Os
resultados apresentados por esta autora permitiram que posteriormente fosse realizado o trabalho
organizado por Takiyama e Silva (2004), que realizaram um diagnóstico abrangendo os meios físico, biótico e
antrópico de algumas ressacas de Macapá e Santana.

Nesse contexto, o presente diagnóstico foi elaborado com o intuito de caracterizar as áreas de ressacas das
duas principais cidades do Estado, quanto aos aspectos socioeconômicos e ambientais, a fim de contribuir
para a formação de uma base de conhecimento que possa auxiliar as medidas de regularização do uso e
ocupação desses ambientes, bem como de proteção dos mesmos indicando os usos adequados.

1.1. Abrangência geográfica da zona costeira e das áreas de ressacas


A zona costeira brasileira apresenta aproximadamente 8.698 km (MMA, 2008) e abrange uma grande
diversidade de ambientes, incluindo os habitats mais produtivos e valiosos do planeta (GRUBER et al., 2003),
muitos deles extremamente frágeis, com acentuado processo de degradação gerado pela crescente
ocupação, tais como recifes de coral, praias, manguezais, marismas, dentre outros (MMA, 2008). É uma
região, portanto, que apresenta grande valor do ponto de vista ecológico e socioeconômico, se constituindo
em ecossistemas de grande relevância para o planejamento ambiental preventivo.

Aproximadamente 1/3 da população se concentra nestas áreas e quase metade reside a menos de 200
quilômetros da costa (MMA, 1996), com destaque para os diversos gêneros de populações tradicionais, tais
como pescadores artesanais, remanescentes de quilombos, de tribos indígenas, entre outros (MMA, 2008).

2
Geralmente são áreas intensamente urbanizadas que abrigam atividades industriais, sistemas portuários,
uso turístico, pesca (TAKIYAMA & SILVA, 2006), dentre outras atividades que, associadas ao crescimento
populacional, ocasionam mudanças ambientais significativas (MMA, 2008).

A zona costeira do Estado do Amapá, localizado no extremo norte do Brasil, apresenta mais de 600 km de
extensão (TAKIYAMA & SILVA, 2009) e está dividida em dois setores – o Setor Costeiro Estuarino ou
Amazônico e o Setor Atlântico ou Oceânico (GEA, 1994). O primeiro se caracteriza por possuir as maiores
densidades demográficas do Estado, onde os problemas sociais e as pressões ambientais são mais
preocupantes (Figura 1).

Figura 1. Setorização da Zona Costeira do Estado do Amapá.

Na zona costeira amapaense encontram-se extensas áreas úmidas denominadas localmente de “ressacas”. A
Convenção de Ramsar (1971) define áreas úmidas como: “áreas de pântano, charco, turfa ou água, natural
ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada,
incluindo áreas de água marinha, cuja profundidade na maré baixa não exceda seis metros”. Várias
denominações são utilizadas em diversas regiões do Brasil para nomear estes ambientes, tais como charcos,
brejos, banhados, lamaçal, lodaçal, tremedal, alagados, baixadas, ipus, ipueiras, pântanos, lezírias, paúis,

3
ribeirinhos, igapós, igarapés, veredas, várzeas, manguezais, marismas, etc. No entanto, segundo Maciel
(2001), o termo “ressaca”, como sinônimo de área úmida, não é encontrado em dicionários, livros de
geografia ou de limnologia.

Cientificamente as áreas de ressaca são definidas como ambiente formado em costas de baixa energia com
substrato predominante de silte, argila, areia e turfa, em cotas baixas de relevo (COSTA NETO & THOMAZ,
2004), abaixo do nível do mar e do rio Amazonas (TAKIYAMA & SILVA, 2004), resultantes da flutuação do
nível do mar e colmatados pelos sedimentos aluviais do rio Amazonas (TORRES, 2004; GERCO, 2004). De
acordo com Takiyama (2008) são sistemas físicos fluviais colmatados, drenados por água doce e ligadas a um
curso principal d’água, influenciados fortemente pela pluviosidade e possuindo vegetação herbácea (Figura
2).

As áreas úmidas apresentam diversas funções ecológicas, climáticas e sociais, tais como: habitat de várias
espécies vegetais e animais, proteção de margens contra erosão, reciclagem e armazenamento de
nutrientes, melhora da qualidade da água, armazenamento de água de enchentes, comodidade térmica,
recarga de águas subterrâneas e manutenção do fluxo de escoamento, turismo, recreação, assentamento
humano, etc. Vale ressaltar o papel fundamental para o equilíbrio ecológico, fornecendo serviços ambientais
que podem ajudar a combater os efeitos das mudanças climáticas e reduzir a perda da biodiversidade. Além
de apresentam valor sociocultural para as comunidades locais (SCHUYT & BRANDER, 2004).

No presente trabalho foram abrangidas as áreas de ressaca localizadas nas zonas urbanas e periurbanas da
cidade de Macapá-AP, compreendendo as bacias do Igarapé da Fortaleza, posicionadas entre as cidades de
Macapá e Santana (Figura 3), as quais estão sujeitas a forte pressão antrópica devido ao intenso processo de
ocupação desordenado imposto pela ausência de um plano de expansão urbana (NERI, 2004).

4
Figura 2. Localização das áreas de Ressacas na Zona Urbana e periurbana de Macapá e Santana. Fonte: GERCO/AP.
Adaptado SEMA, 2001.

Áreas de ressaca abrangidas


Do ponto de vista espacial, as áreas de ressacas estão distribuídas ao longo da costa amapaense, sendo seu
conhecimento associado, obviamente, às áreas de maior concentração populacional nos limites das bacias
do igarapé da Fortaleza e do rio Curiaú, no setor costeiro estuarino, as quais abrangem áreas de
aproximadamente, 194,5 km2 e 185,0 km2, respectivamente (NERI, 2004).

Ainda não existe um cadastro com o registro dessas áreas, por isso, o que se conhece são as ressacas mais
próximas aos centros urbanos de Macapá e Santana. Desconhece-se, desse modo, as existentes no meio
rural como as ressacas no Bailique, Região do Pacuí, as associadas ao curso do rio Piririm, Região de
Mazagão, dentre diversas outras, na planície costeira.

A denominação de cada área de ressaca está vinculada ao bairro no qual está inserida, normalmente na
memória dos moradores mais antigos e, associadas aos canais ou igarapés que as drenam e/ou a alimentam
(MACIEL, 2001). No entanto, essas denominações não englobam todas as ressacas existentes na região
urbana das duas cidades (Figura 3). Dentre as denominações, mais comuns destacam-se:
a) Município de Macapá – Chico Dias, Beirol, Congós, Tacacá, Lagoa dos Índios, Sá Comprido, Lago da Vaca,
Canal do Jandiá, Lago do Pacoval, Laguinho do Nova Esperança, Brasil Novo, Açaí, Infraero II, São Lázaro, do
Cristo, Cabralzinho, Marabaixo, Goiabal, Coração, Mucajá, Pedrinhas, Renascer, Pantanal, Perpétuo Socorro,
ramal do Km 9, dentre diversas outras.

5
b) Santana – Funda, Fonte Nova, Paraíso, Vagalume, Provedor, dentre outras.

Figura 3. Identificação das principais ressacas no perímetro urbano de Macapá e Santana. Fonte: Adaptado Sema, 2001.

1.2. Histórico sucinto da área e aspectos gerais da ocupação


1.2.1. O Estado do Amapá
A Constituição Federal de 1988 elevou o Amapá a categoria de Estado deixando de ser território cuja
histórica trajetória perpassa por uma longa proposta de ação com caráter bélico, seja ofensivo, quando na
luta contra os estrangeiros para manter o domínio da região; seja defensivo, com as edificações, povoados e
vilas criadas para garantir a posse da terra para a coroa portuguesa.

Sua economia, até a década de 1940, estava voltada para o extrativismo da borracha, da castanha, madeira,
sementes oleaginosas e exploração das minas de ouro e criação de gado, mais precisamente nos Municípios

6
de Amapá e Mazagão (PORTO, 2007). Após 1943, novas ações foram implementadas pelo Governo Federal,
no sentido de fomentar uma infraestrutura e estimular atividades econômicas, principalmente na área do
extrativismo mineral, com o objetivo de intensificar o povoamento da região, criando núcleos povoados por
pequenos agricultores (BRITO, 2008). Porém, tais ações foram pensadas e executadas sem conhecimento
das especificidades regionais, pois seu objetivo maior era o de proporcionar o povoamento da região com
melhorias nas condições econômicas e sociais das famílias, utilizando-se de Programas de Integração
Nacional (PIN) para induzir a migração. Nesse sentido as medidas foram orientadas por atividades que
possibilitassem a ocupação humana como, dentre outras, os incentivos fiscais e até mesmo infraestrutura
fornecida pelo próprio governo para estimular a implantação de indústrias na Amazônia (LEITE-SILVA, 2010).

Essas medidas do Governo Federal tiveram relevante contribuição na estruturação econômica amapaense e
organização espacial. Exemplo disso foi a exploração do manganês que, devido a demanda internacional por
esse minério no início do século XX, principalmente a norte-americana, houve um crescimento na atividade
mineradora no Amapá, uma vez que o Brasil passou a ter participação relevante no fornecimento desse
produto para os EUA, através da exploração na serra de Urucu (MGS) e Serra do Navio (AP), alterando,
assim, o cenário da economia amapaense, havendo um aumento da participação do setor industrial na
economia em detrimento da atividade comercial, que registrou uma queda nesse período (PORTO, 2007).
Com a implantação da ICOMI, de propriedade de Augusto Trajano de Azevedo Antunes, em associação com
a Bethlehem Steel Company, e início da exploração do manganês no Amapá, a partir de 1957, sentiu-se a
necessidade de uma infraestrutura local que possibilitasse a exploração e transporte do mineral para o porto
de Santana, para exportação. Desse modo, iniciou-se em Serra do Navio a estruturação de uma vila com
capacidade para 1500 pessoas e a construção das bases de extração e preparação do minério e em Santana,
local de exportação, uma vila habitacional e um complexo administrativo, assim como a construção de um
porto para desembarque de máquinas e equipamentos e outro para escoamento do minério. Além disso,
construiu-se uma estrada de ferro ligando Serra do Navio ao Porto de Santana e uma usina hidrelétrica, a fim
de atender a logística de exploração e exportação do minério (BRITO, 2008).

A instalação da ICOMI e o processo de exportação do manganês influenciaram diretamente no crescimento


demográfico e consequente organização do espaço amapaense, mais precisamente até a década de 1980
(PORTO, 1998). Outro empreendimento que teve essa influência foi projeto Jari Celulose, instalado em 1967
no Vale do Rio Jari, que, ao possibilitar o processo migratório para o Amapá, contribuiu para o surgimento de
vários povoados sem infraestrutura, mas que estimularam a criação de novos municípios como Laranjal do
Jari em 1987, desmembrado de Mazagão e o município de Vitória do Jari, em 1994, desmembrado de
Laranjal do Jari. Também teve forte influência no setor econômico, social e ambiental.

7
No entanto, apesar da grandiosidade do investimento no projeto Jari Celulose, este não se consolidou,
ficando o que restou sob a administração de empresas lideradas pelo Grupo CAEMI e pelo Banco do Brasil.
Porém, a falta de planejamento na estruturação do espaço para abrigar um número grande de pessoas em
busca do “novo Eldorado” teve como consequência um aglomerado de habitações desordenadas, em
condições insalubres, ao contrário do que aconteceu em Monte Dourado, distrito do município de Almeirim-
PA, cujo núcleo urbano bem estruturado, foi destinado aos empregados qualificados da empresa (BRITO,
2008).

Daí conclui-se que, o processo migratório intensifica-se pelas ações do capital sobre uma determinada
região, apoiando-se na intervenção direta ou indireta do governo em garantir mão-de-obra disponível a ser
usada no processo produtivo ou reprodutivo dessa ação. No Amapá, como exposto acima, esse processo
está intrinsecamente ligado à implantação desses dois projetos, que parece levaria o território a atingir o tão
“propagandeado” desenvolvimento. No entanto, a realidade demonstrou a expropriação das terras
camponesas e exploração daqueles que só podiam contar com sua força de trabalho (LEITE-SILVA, op. cit.).

Com a transformação do Território do Amapá em Estado, surge a necessidade de se buscar possibilidades de


desenvolvimento, principalmente econômico. Dentre essas possibilidades, cria-se, em 1991, a Área de Livre
Comércio de Macapá e Santana – ALCMS, fato que representou perspectivas de negócios para a economia
amapaense por oportunizar o investimento em empresas importadoras, facilitado pelas vantagens
resultantes dos incentivos fiscais federais (PORTO, 2007). Essa medida teve influência direta no aumento do
consumo de energia no Estado, que nesse período triplicou, principalmente por atrair um significativo
processo migratório para a região, o que já vinha acontecendo de forma ininterrupta desde os anos 70,
ocasionando um crescimento populacional desordenado, concentrado na área urbana das principais cidades
do Estado: Macapá, Santana e Laranjal do Jari (BRITO, 2008).

Quanto à infraestrutura rodoviária, destacam-se duas principais vias de ligação da malha rodoviária do
Estado. A Perimetral Norte/BR-210 iniciada em 29 de junho de 1973, que circunda o Parque Nacional
Montanhas do Tumucumaque, e a BR-156 que, concluída em 1991, perfaz uma distância de 805 km, ligando
o estado de norte a sul, passando diretamente por nove municípios: Oiapoque, Calçoene, Amapá,
Tartarugalzinho, Ferreira Gomes, Santana, Mazagão e Laranjal do Jari. Seu asfalto, no sentido
Macapá/Oiapoque, termina na sede do município de Calçoene. O trecho Calçoene/Oiapoque, que se
encontra sem asfalto, tem um tráfego bastante complicado, com vias esburacadas que se agravam nos

8
períodos de inverno (período chuvoso, que ocorre entre janeiro a julho) rigoroso pela inexistência de
manutenção, dificultando o acesso aos municípios por onde ela passa.

Os portos, em Macapá e Santana, não apresentavam condições adequadas, principalmente no que se refere
à sua capacidade de movimentação de cargas, limitando o desembarque de contêineres. Esse problema foi
solucionado com a construção do terminal de contêineres, com verba do Tesouro Nacional, que está em
funcionamento desde 1996 (PORTO, 2007).

No caso do Amapá, percebe-se ainda, uma economia fragilizada que reflete uma organização do espaço
físico, tanto urbano quanto rural, de forma desordenada, herança do período em que o Estado era território
federal, cuja consequência é a dependência direta da população de uma política assistencialista do governo.
Nesse sentido, o Amapá apresenta pouca diversificação no seu setor produtivo, buscando apoiar-se no setor
terciário e de forma incipiente, nas atividades extrativas (BRITO, 2008). Assim, as atividades econômicas
estão baseadas na produção de bens de consumo não duráveis, como é o caso do abate de reses,
preparação de produtos de carne e pescado, fabricação de móveis e bebidas e intermediários, dentre os
quais se destacam o beneficiamento de madeira, a fabricação de celulose, de papel, de cerâmicos que não
suportam altas temperaturas e de estrutura metálica destinada à construção civil.

Quanto à produção industrial e demais atividades econômicas observa-se uma maior concentração na
capital do Estado e na cidade portuária de Santana por constituir-se em um importante ponto de
escoamento de mercadorias para outras regiões. Nesse sentido, o fraco desenvolvimento industrial tem
como consequência direta a carência de tecnologia na fabricação de produtos, assim como de capital
humano qualificado.

O processo migratório induzindo a ocupação das áreas de ressacas do Amapá iniciou-se na década de 1950,
quando a Indústria e Comércio de Minérios S/A (ICOMI) se instalou no Estado para a exploração de
manganês no município de Serra do Navio, atraindo um grande número de trabalhadores em busca de
ofertas de emprego, fazendo com que o processo de ocupação urbana aumentasse para quase o dobro
(PORTO, 2000). Nesse período ocorreu a construção da ferrovia que liga Serra do Navio à Santana, na área
portuária, para o escoamento da produção de minério. Simultaneamente houve a construção de duas
cidades com objetivos voltados ao atendimento de infraestrutura e serviços aos funcionários da Icomi. Uma
delas foi a Vila Amazonas, uma vila operária situada no município de Santana. A partir de então surgiram as
primeiras ocupações em áreas úmidas (MACIEL, op. cit.).

9
Paralelamente à instalação dos grandes projetos econômicos no Estado, pautados no discurso de
modernização e industrialização ocorreu a expropriação de comunidades rurais, que passaram a migrar para
a capital em busca de melhores oportunidades de vida (RAIOL, 1992). A pressão exercida pelo grande
aumento demográfico resultou em uma reconfiguração do espaço urbano de Macapá. Como resultado tem-
se o surgimento de assentamentos irregulares, em locais afastados e de difícil acesso, atingindo áreas
úmidas e alagadas, caracterizando o processo de expansão desordenada da cidade (BASTOS, 2006).

Atualmente a população do Amapá é de 668.689 habitantes, sendo que aproximadamente 90% vivem na
zona urbana, especialmente nas cidades de Macapá e Santana, que abrigam aproximadamente 59% e 15%,
respectivamente, dos habitantes do Estado (IBGE, 2010). De acordo com a espacialização dos dados do
Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2002), realizada por Neri (2004), a população das áreas de ressacas era
de aproximadamente 72.580 habitantes, dos quais 53.461 viviam nas ressacas de Macapá.

O intenso fluxo de migrantes agravou consideravelmente os problemas ambientais e sociais do Estado,


especialmente nas áreas urbanas de Macapá e Santana (BRITO, 2003). Atualmente o déficit habitacional
(falta de habitação) no Estado do Amapá é de 15.546 unidades, sendo que 18.555 unidades são classificadas
como “Inadequação da Moradia” (dados da Fundação João Pinheiro), se constituindo em locais onde as
pessoas vivem em condições subumanas, sem infraestrutura básica e em situação favorável à proliferação
de endemias, especialmente as de veiculação hídrica, como hepatite A, amebíase, dengue, malária, dentre
outras (NERI, 2004). Adicionalmente, as propostas de melhoria dessas áreas geralmente estão em
descompasso entre as necessidades reais dos moradores e a solução apresentada, que não atendem
minimamente sua necessidade.

1.2.2. Município de Macapá


Macapá tem sua história ligada às questões de defesa e fortificação da fronteira, o que representava uma
ameaça à posse portuguesa sobre estas terras, pois possibilitava ataques constantes de estrangeiros para
explorações dessas áreas. Então, em 1738, foi criado um destacamento militar e, posteriormente, em 04 de
fevereiro de 1758, foi fundada a Vila de São José de Macapá por Francisco Xavier de Mendonça Furtado. Era
preciso, no entanto, defender a região contra novas ameaças de invasão francesa, iniciando, assim, o projeto
de fortificação, em 29 de janeiro de 1764, com o lançamento da pedra fundamental da fortaleza de São José
de Macapá por Fernando da Costa Ataíde Teive.

Em 06 de setembro de 1856, a Vila de São José de Macapá foi transformada em Município pela Lei nº 281,
tornando-se a capital do Território Federal do Amapá em 1943, ocasião em que foi transformado em

10
território. Tal condição foi conservada, mesmo com a elevação do território à condição de Estado, em 1988.
Com uma população atual de 397.913 habitantes, sendo que 96% habitam a zona urbana e 4% a zona rural,
totalizando uma área de 6.408,52 km2. O Município de Macapá é constituído por 05 distritos: Macapá,
Bailique, Carapanatuba, Fazendinha e São Joaquim do Pacuí (IBGE, 2010).

A economia de Macapá desenvolve-se, principalmente, com base na atividade comercial, favorecida com a
criação da Zona de Livre Comércio de Macapá, regulamentada pela Lei Federal nº 8387, de 30 de dezembro
de 1991 e do Decreto nº 517 de 08 de maio de 1992, pois a partir dela, se criou oportunidades de negócios
que fomentasse a economia do Estado. No setor primário, a criação de gado bovino, bubalino e suíno; a
avicultura, a pesca artesanal e do camarão são as atividades que mais se sobressaem. Além delas, outra
atividade que vem gerando divisas para o município é a exploração do açaí, bastante consumido pela
população. Já o secundário é representado por diversas fábricas, dentre as quais as de tijolo,
engarrafamento de refrigerantes, sucos, palmitos, além de padarias, jornais e movelarias. Mas é no setor
terciário que se encontra o maior responsável pela circulação de dinheiro no Estado que é a administração
pública.

Macapá pode contar quanto aos meios de comunicação, com a telefonia fixa e móvel, no entanto, em alguns
de seus distritos mais distantes o funcionamento, principalmente da fixa é de péssima qualidade, além de
não receber o sinal da telefonia móvel.

O Município disponibiliza um transporte rodoviário precário, com altas tarifas, sem atender as reais
necessidades da população, que enfrenta grandes problemas por conta disso. Como não tem nenhuma
ligação rodoviária com outra capital, conta com um aeroporto, que opera voos nacionais e internacionais,
com capacidade para receber aviões de médio porte. Mas é ligado aos demais Municípios do Estado pelo
transporte rodoviário, possuindo, assim, um terminal rodoviário.

Quanto ao saneamento básico, pode-se dizer que, em Macapá, boa parte da população utiliza-se de água
tratada e esgoto sanitário. No entanto, parte dessa água vai parar direto no ralo, visto que, não havendo um
sistema de reaproveitamento, o esgoto é todo despejado na orla de Macapá. Vale ressaltar ainda que,
mesmo o Amapá sendo privilegiado em termos de bacia hidrográfica, e seus rios de extrema importância
para a sobrevivência de comunidades ribeirinhas, são comuns, há poucos metros do rio, moradores
conviverem com a constante falta de água em suas torneiras.

11
1.2.3. Município de Santana
Santana teve seu povoamento iniciado em 1753 por pessoas de origem europeia, principalmente
portugueses, além de mestiços originados do Pará e índios da nação Tucujus, vindos de aldeamentos
localizados no Rio Negro, Chefiados pelo português Francisco Portilho de Melo, fugitivo da alfândega do
Pará. Sua emancipação político-administrativa em 17 de dezembro de 1987 pela Lei nº 7639 foi marcada por
crescente expansão urbano-comercial. Está localizado ao sul do Estado, a 23 km de Macapá. Possui sete
distritos: Santana, Igarapé do Lago, Ilha de Santana, Igarapé da Fortaleza, Elesbão, Anauerapucu e Pirativa.
Seu desenvolvimento populacional teve início com a exploração do Manganês na Serra do Navio e a
instalação da ICOMI em 1956, atraindo um constante fluxo migratório por conta da oferta de empregos
(IBGE). Hoje, segundo censo IBGE-2010, sua população é de 101203, numa área de 1580 km2.

Por constituir-se no maior centro portuário do Estado, conta com uma posição privilegiada em relação aos
demais municípios, pois é pelo Porto de Santana que chegam os produtos importados e também grande
parte da produção ribeirinha de toda a região. Esta última é facilitada pelo fato de ter-se construído um
porto flutuante que acompanha o movimento das marés, não causando problemas para as embarcações
realizarem o embarque e desembarque de seus produtos no porto.

1.3. Aspectos socioeconômicos do estado do Amapá


A história dos municípios do Estado está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento dos interesses e das
ações capitalistas, que motivava sucessivas correntes migratórias para a Amazônia, entretanto, estas se
tornam específicas e não exclusivas, segundo os diferentes fluxos ocorridos em diferentes momentos,
gerando relações múltiplas, sociais, socioambientais e socioeconômicas. Mas os fluxos humanos não são
recentes, e em muitos casos são frutos da expropriação de suas regiões de origem, geralmente do Nordeste
(RAIOL, 1992).

Os fluxos migratórios são lentos em sua trajetória. Essas pessoas, mesmo de origem comum quanto à região,
diferem muito quanto às formas de se relacionarem ao ambiente e a adversidade, criando desse modo, ao
local aonde chegam, um mosaico de intenções e ações causando profundas transformações (LEITE-SILVA,
2010). Exemplo disso foi o fato dessa ocupação ter sido intensificada, a partir de 1893, pela descoberta de
ouro no Rio Calçoene por mineradores brasileiros e estrangeiros, quando essa região foi sendo ocupada por
aventureiros, desertores, quilombolas, escravos fugidos. (LEITE-SILVA, 2010).

O Estado do Amapá tem em sua organização espacial 16 municípios, que segundo Brito (2008), estão
organizados em duas mesorregiões (Norte e Sul) e quatro microrregiões (Macapá, Mazagão, Oiapoque e

12
Amapá). A organização espacial, social, econômica e ambiental difere substancialmente de uma mesorregião
para outra. A região Norte do Estado, por exemplo, tem seu desenvolvimento limitado pela grande distância
da capital e dos principais centros consumidores, assim como, pelo sistema de transporte, que se complica
com o início das chuvas, dificultando, assim, o acesso a essa região. Já o sul do Estado teve sua organização
espacial influenciada pela implantação do complexo industrial no Vale do Jarí, na década de 70 e sua
economia revitalizada, principalmente a partir da década de 50, com a exploração do manganês na Serra do
Navio, atraindo atuação governamental no sentido de criar infraestrutura adequada à exportação de tal
minério (BRITO, 2008).

Com base no censo de 2010 (IBGE, 2010), pode-se observar um crescimento substancial nos números, o
próprio Estado cresceu relativamente cima de 36%. Os municípios apresentaram um aumento de sua
população acima da média nacional. O Quadro 1 mostra a evolução populacional do Estado do Amapá e dos
seus dois principais municípios, Macapá e Santana.

Quadro 1. Resumo dos dados gerais dos municípios do Estado do Amapá.


Município Área População População Estimada População
2
(km ) (Censo 2000) (2007) (Censo2010)
Macapá 6.409 282.745 359.020 398.204
Santana 1.580 80.169 95.733 101.262
AMAPÁ 142.815 475.843 587.311 669.526
FONTE: IBGE, 2010.

De modo geral, observando-se o exposto, vê-se que a população apresenta grande crescimento, culminando
com um processo de urbanização. A esta tendência estão ligadas dinâmicas regionais relacionadas à
ocupação de novas áreas e à fuga de regiões pobres e carentes de infraestrutura que proporcione qualidade
de vida. Esse contexto pode ser observado no Quadro 2 a seguir. Através do quadro observa-se que houve
um crescimento da população urbana em relação à rural. Essa crescente urbanização pode ser justificada,
em parte, pelo processo de desenvolvimento orientado pela lógica de mercado que leva à concentração
populacional em uns poucos polos de desenvolvimento e de prestação de serviços, o que,
consequentemente, contribui para estagnação de atividades econômicas na zona rural, expulsando
expressivo contingente de população.

Quadro 2. Distribuição da população residente, por situação de domicílio, no Estado do Amapá.


População/2000 População/2010
Município Total Urbana % Rural % Total Urbana % Rural %
Macapá 283.308 270.620 96 12.680 4 397.913 380.937 96 16.976 4
Santana 80.439 75.849 94 7.590 6 101.203 99.094 98 2.109 2
AMAPÁ 477.032 424.683 89 52.349 11 669.526
FONTE: IBGE, Censos 2000 e 2010.
13
Esse crescimento, em sua maioria, não é acompanhado de uma infraestrutura que possa melhorar as

condições de vida desses municípios. Como exemplo pode-se citar a quantidade de estabelecimentos de
saúde que, como mostra o Quadro 3, ainda são insuficientes em alguns municípios, além de funcionarem,
em sua maioria, em condições precárias.

Quadro 3. Número de estabelecimentos de saúde nos municípios de Macapá-AP e Santana-AP.


Município Federais Estaduais Municipais Privados
Macapá 04 11 59 63
Santana _ 01 20 50
FONTE: Ministério da Saúde, Departamento de informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS, 2009.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral


Realizar estudos do meio socioambiental para identificar as condições de vida da população residentes nas
áreas de ressacas, subsidiando a elaboração de uma proposta de zoneamento ecológico-econômico urbano
dessas áreas em Macapá e Santana, Estado do Amapá.

2.2. Objetivos específicos


- Levantar informações sobre de uso e ocupação das áreas de ressacas;
- Investigar os impactos do uso e da ocupação humana sobre as áreas de ressacas;
- identificação das condições de vida dos moradores locais;
- Analisar a percepção dos moradores sobre a importância das áreas úmidas;
- Auxiliar a confecção do documento orientador para o Zoneamento Ecológico-Econômico Urbano das áreas
de ressacas de Macapá e Santana - AP.

3. METODOLOGIA
A amostragem ocorreu no período de abril a junho de 2010 através de pesquisa realizada em domicílios de
13 áreas de ressaca da cidade de Macapá. Em cada área foram aplicados 30 questionários com perguntas
estruturadas e semiestruturadas abrangendo aspectos socioambientais. Para a aplicação dos questionários
foram escolhidas preferencialmente as residências construídas efetivamente dentro das ressacas, ou seja,
que tenham sido edificadas de alguma forma sobre a lâmina d’água. Nas ressacas com poucas edificações
com essa característica, foram escolhidos os domicílios mais próximos à linha d’água.

14
As perguntas das entrevistas foram estruturadas e semiestruturadas, de modo que pudessem ser adquiridas
informações complementares, que eventualmente não fossem abrangidas pelos questionários. No total
foram aplicados 389 questionários, envolvendo indicadores socioambientais amplamente utilizados em
pesquisas sobre a dinâmica humana e ambiental, tais como questões relativas à: renda, população,
migração, moradia, infraestrutura habitacional, saneamento básico, educação, saúde, segurança pública,
organização social, lazer, percepção de condições de vida, atividades econômicas, problemas sociais,
alterações ambientais e impacto humano sobre o ambiente. Todos esses indicadores envolveram um
conjunto de variáveis que os qualifica e, que também permitissem sua estrutura em banco de dados
quantitativos. O entrevistador buscou conhecer o perfil da população, bem como registrar fotograficamente
a área pesquisada a fim de contribuir com mais informações para o banco de dados.

Os dados obtidos foram organizados em tabelas do software Excel, para serem posteriormente analisadas
em seus respectivos agrupamentos. A pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Pesquisas Científicas e
Tecnológicas do Amapá – IEPA, por meio do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro – GERCO/AP.,
em parceria com a atividade pedagógica dos alunos do 4º ano, turma 2007, do curso de Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP.

As etapas das atividades permitiram que entrevistas e registros fotográficos fossem feitos simultaneamente.
O mapeamento das habitações e demais edificações comunitárias – incluindo tipologia, escalas e
infraestrutura - foi realizado através do equipamento GPS (Global Positioning System) de navegação. Os
locais de entrevista foram identificados com inicial da área da ressaca (C.D – para Chico Dias, por exemplo), o
número do questionário e o ponto do GPS (P), conforme figura (Figura 4). A verificação previa da área
contou com um “check list” que possibilitou a definição mais precisa dos limites da área, o planejamento e
treinamentos das equipes, bem como a identificação da forma de acesso mais adequada para adentrar as
áreas.

15
Figura 4. Identificação do local da entrevista com placa indicativa das iniciais da ressaca, seguida pelo número do
questionário e o número do ponto de GPS que contém as coordenadas geográficas referentes ao ponto.

Por meio de mapas e entrevistas, teve-se acesso a vários tipos de informações sobre a população,
infraestrutura urbana, condição socioeconômica e demográfica dos domicílios, posse de bens como
televisor, freezers, geladeiras, entre outros. A partir desses dados, as amostras foram rigorosamente
analisadas para a identificação da sua relação na vida dos moradores e, assim correlacioná-los aos
parâmetros sociais. A amostra foi desenvolvida considerando a dinâmica da população, a existência de
estrutura como as pontes ligando as residências para que permitissem o acesso dos que ali chegaram apenas
para realizar a pesquisa, sem conhecimento do real funcionamento dos fluxos do local.

A pesquisa iniciou no final do mês de abril, com o levantamento de informações empíricas. Para a realização
do trabalho, o IEPA haveria de disponibilizar como contrapartida, prevista no projeto, o transporte. Porém,
não dispunha de veículos para a locomoção das equipes em campo. Por esse motivo, foram formadas 05
(cinco) equipes, compostas por 05 (cinco) pesquisadores cada, cuja coordenação de cada equipe ficou a
cargo de 01 (um) servidor do IEPA, envolvido com a pesquisa. Os procedimentos para análise e verificação
dos questionários, digitalização, correção e estruturação do banco de dados, constitui-se em etapa
indispensável para a apresentação dos resultados, sendo necessário tempo e pessoal.

Mesmo tendo sido realizada a aplicação piloto dos questionários em Santana, a pesquisa não foi realizada
naquele Município. Fatos como o atraso no início do projeto, gerados pela demora no processo de compra
de material e combustível, concorreram para isso. Os veículos usados para o deslocamento das equipes
foram de propriedade dos membros das equipes, os quais receberam ticket de combustível. Isso gerou

16
diversos problemas, de modo que tal procedimento foi descartado para a etapa do campo prevista para o
Município de Santana.

É importante destacar que no ano de 2010, no segundo semestre iniciaria o Censo Demográfico do País
realizado pelo IBGE. Mesmo necessitando, com maior brevidade, dos resultados para a entrega do relatório,
não haveria tempo hábil, nem estrutura de apoio para a continuidade da pesquisa. Por isso, as dados
socioeconômicos do Município de Santana não constam no relatório, os quais estarão disponíveis apenas
com a divulgação final dos dados do Censo 2010, pelo IBGE.

4. RESULTADOS
A caracterização dos aspectos socioeconômicos e ambientais das áreas de ressaca da cidade de Macapá foi
realizada com base em uma série de indicadores, tradicionalmente usados em pesquisas por instituições
oficiais, para levantamento de dados como exposto nos itens que se seguem.

4.1. Composição da renda


A renda da maioria dos entrevistados é composta por salário (42%) e trabalho autônomo (43%), sendo que
estes itens foram mencionados em todas as ressacas analisadas. A aposentadoria também integra a renda
de uma pequena parcela dos entrevistados (10%), com exceção das ressacas Açaí e Lagoa dos Índios, nas
quais este item não foi mencionado por nenhum dos entrevistados. Dentre os Programas Sociais do
Governo, apenas a Bolsa Família faz parte da composição da renda de maior parcela de entrevistados (32%),
sendo que apenas na ressaca Canal do Jandiá esse item não foi mencionado. A renda de aproximadamente
4% dos entrevistados é composta exclusivamente por este benefício.

Os Programas Bolsa Escola e Amapá Jovem foram pouco representativos, 8% e 3%, respectivamente (Figura
5). A Bolsa Escola compõe a renda apenas dos entrevistados das ressacas Canal do Jandiá, Lago da Vaca,
Muca, Pedrinhas e Sá Comprido. Apenas um entrevistado de cada uma das ressacas Tacacá, Muca e
Pedrinhas afirmaram que a renda é composta unicamente por este benefício. Enquanto o Amapá Jovem é
integrante da renda dos entrevistados do Muca, Sá Comprido e Tacacá, sendo que apenas um entrevistado,
morador da ressaca do Muca, afirmou que a renda familiar é proveniente unicamente deste benefício.
Apenas 5 % dos entrevistados afirmaram que algum outro tipo de benefício compõe a renda familiar.

17
100
90

% entrevistados
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Composição da renda

Figura 5. Composição da renda dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.

Para a composição da renda, Aguiar e Silva (2004), trabalhando com indicador “renda média”, considerando
apenas salários e os ganhos como trabalho autônomo identificaram faixa salarial de até 6,01 salários
mínimos, em apenas uma das ressacas e, a maioria apresentou renda inferior a 01 salário mínimo.

É importante destacar que mesmo na condição de programas sociais, com objetivos definidos, há casos em
que o mesmo se constitui em fonte de renda com única forma para a aquisição dos víveres, cuja retirada do
benefício resultaria em piora da condição socioeconômica, que já se apresenta ruim.

4.2. Aspectos de moradia


4.2.1. Tempo de residência
Considerando o tempo de moradia foi constatado que a maioria dos entrevistados reside há poucos anos
nas áreas das ressacas estudadas, sendo que aproximadamente 50% residem há menos de 5 anos e 29%
entre 6 e 10 anos (Figura 6), com destaque para a ressaca do Açaí, onde todos os entrevistados residem há
menos de 10 anos (Tabela 1). Apenas cerca de 4% dos entrevistados vivem há mais de 20 anos no local,
sendo mais frequentes nas ressacas Sá comprido (17%) e Nova esperança (13%).

18
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
Até 05 De 6 a 10 De 11 a 15 De 16 a 20 Mais de 20
Tempo de residência (anos)

Figura 6. Tempo de residência, em anos, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.

As ressacas que apresentaram uma porcentagem maior de entrevistados da categoria “tempo de residência”
de 11 a 15 anos foram: Chico Dias (23%), Nova Esperança (20%), Pacoval (16%), Perpétuo Socorro (17%), Sá
Comprido (17%) e Tacacá (23%). Por outro lado, considerando a categoria de 16 a 20 anos, as poucas
ressacas foram: Lagoa dos Índios (10%), Nova esperança (13%) e Sá comprido (17%).

Tabela 1. Tempo de residência, em percentual, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.
Ressaca Até 05 De 6 a 10 De 11 a 15 De 16 a 20 Mais de 20
anos anos anos Anos anos
Açaí 80,00 20,00 - - -
Canal do Jandiá 43,33 36,67 13,33 - 6,67
Chico Dias 50,00 23,33 23,33 3,33 -
Lago da Vaca 60,00 23,33 10,00 6,67 -
Lagoa dos Índios 50,00 33,33 3,33 10,00 3,33
Marabaixo 66,67 33,33 - - -
Muca 53,33 36,67 10,00 - -
N. Esperança 33,33 20,00 20,00 13,33 13,33
P. Socorro 37,93 31,03 17,24 6,90 6,90
Pacoval 46,67 26,67 13,33 6,67 6,67
Pedrinhas 53,33 43,33 3,33 - -
Sá comprido 33,33 16,67 16,67 16,67 16,67
Tacacá 46,67 26,67 23,33 3,33 -
Média geral 50,39 28,53 11,83 5,14 4,11

Aguiar e Silva (2004) registraram que o tempo médio de moradia nas ressacas era de aproximadamente 5,04
anos em Macapá.

19
A ocupação das áreas de ressacas intensifica-se a partir dos anos 1990 como resultado de diversos fatores,
dentre os quais a não implementação dos planos urbanísticos, já existentes (MACIEL op. cit.) e a não
adequação da cidade às transformações na dinâmica populacional.

O processo de ocupação das ressacas não foi disciplinado, o que resultou sua intensificação, é o caso das
áreas na Chico Dias, Sá Comprido e N. Esperança que foram identificadas como as de mais antiga ocupação
(AGUIAR e SILVA, 2004). A condição atual demonstra que recomendações como a desocupação dessas áreas
(MACIEL, 2001) não foram seguidas (Figura 7).

Figura 7. Vista da ocupação de área de ressaca em Macapá, demonstrando um processo de ocupação das áreas, com
suporte em madeira para estender a rede improvisada de energia.

4.2.2. Situação de domínio do imóvel


Considerando a condição de domínio do imóvel, aproximadamente 91% dos entrevistados residem em casas
próprias e, secundariamente, em residência alugada (4%) ou cedida (3%). Os entrevistados que residem em
casas cedidas foram mais representativos nas ressacas Lago da Vaca (10%), Pacoval (7%) e Lagoa dos Índios
(7%). Enquanto que aqueles que vivem em casas alugadas foram mais representativos nas ressacas Chico
Dias (10%), Marabaixo (10%) e Muca (10%).

Os entrevistados que vivem em casas herdadas ou doadas somados representaram menos de 2 % do total de
entrevistados (Figura 8), sendo que apenas nas ressacas Açaí e Tacacá foram encontrados entrevistados que
residem em imóveis herdados (Tabela 2).

20
100
90
80
% entrevistados 70
60
50
40
30
20
10
0
Alugada Casa Cedida Doada Herança Outras
propria

Situação do imóvel

Figura 8. Situação de domínio do imóvel dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.

Tabela 2. Situação de domínio do imóvel, em percentual, dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.
Ressaca Alugada Casa própria Cedida Doada Herança Outras
Açaí 3,33 86,67 3,33 3,33 3,33 -
Canal do Jandiá 3,33 96,67 - - - -
Chico Dias 10,00 90,00 - - - -
Lago da Vaca - 90,00 10,00 - - -
Lagoa dos Índios 3,33 90,00 6,67 - - -
Marabaixo 10,00 86,67 3,33 - - -
Muca 10,00 86,67 3,33 - - -
N. Esperança 3,33 96,67 - - - -
P. Socorro - 93,10 3,45 3,45 - -
Pacoval 6,67 83,33 6,67 - - 3,33
Pedrinhas 3,33 90,00 3,33 3,33 - -
Sá comprido - 96,67 - 3,33 - -
Tacacá - 93,33 3,33 - 3,33 -
Média geral 4,11 90,75 3,34 1,03 0,51 0,26

Nas ressacas as casas em sua maioria são do tipo palafita e seus moradores se consideram proprietários do
espaço. Vale destacar que nem todas as habitações são de moradores são de baixa renda, ou que as
condições da estrutura estejam desmoronando. É comum encontrar casas do tipo palafita com padrão de
construção encontrada em qualquer outro local da cidade. Dito isto, fica evidente que o déficit habitacional
na cidade, além de desconstruir o discurso de que áreas de ressacas são usadas unicamente por pessoas de
baixa ou nenhuma renda (Figura 9 e 10), mostra que fatores diversos “empurram” a população para essas
áreas. Portanto, a busca de soluções precisa considerar a dinâmica de cada local.

21
Figura 9. Residência edificada em ressaca com padrão Figura 10. Residência edificada em ressaca com padrão
arquitetônico que indica o déficit habitacional na cidade arquitetônico que indica o déficit habitacional na cidade
de Macapá, ressaca Nova Esperança. de Macapá, ressaca Nova Esperança.

4.2.3. Mão de obra utilizada na construção do imóvel


Em relação à construção do imóvel, a maioria dos entrevistados (46%) utilizou mão de obra contratada,
mediante pagamento em dinheiro e, secundariamente, através de mutirão familiar (39%). Apenas 3% dos
entrevistados relataram terem contado com algum tipo de solidariedade na construção e outros 6%
compraram a casa já pronta (Figura 11).

Mão de obra contratada


1%
5%
6%
3% Mutirão familiar

Mutirão comunitário
46%

Mutirão familiar e mão


de obra contratada
39% Comprou pronta

Sem resposta

Figura 11. Mão de obra utilizada na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de Macapá.

Dentre as ressacas analisadas, a utilização de mão de obra contratada foi o principal meio de construção
adotado pelos entrevistados das ressacas Canal do Jandiá (60%), Chico Dias (57%), Muca (43%), Lagoa dos
Índios (53%), Nova Esperança (47%), Sá Comprido (57%) e Tacacá (70%). Enquanto que a utilização de
mutirão familiar destacou-se nas ressacas Açaí (50%), Lago da Vaca (50%), Pacoval (40%), Pedrinhas (47%) e
22
Perpétuo Socorro (59%). A contratação de terceiros para a construção das edificações revela a existência de
trabalhadores autônomos experientes na construção de estruturas em áreas úmidas. Pela constatação,
destaca-se que o dinamismo do processo de ocupação abrange um setor importante com agentes
produtores do espaço urbano, com movimentação de atividades autônomas, tal qual a carpintaria, além da
geração e ocupação de postos de trabalho.

A utilização de mutirão comunitário foi mais frequente nas ressacas Açaí (17%) e Pedrinhas (10%), enquanto
que a aquisição da casa pronta foi mais representativa nas ressacas do Pacoval (17%) e Perpétuo Socorro
(21%) (Tabela 3).

Tabela 3. Mão de obra utilizada na construção do imóvel, em percentual, dos entrevistados das ressacas da cidade de
Macapá. (MO = mão de obra).
Ressaca Comprou MO Mutirão Mutirão Mutirão familiar e Sem
pronta contratada comunitário familiar MO contratada resposta
Açaí - 30,00 16,67 50,00 - 3,33
Canal do Jandiá - 60,00 - 36,67 - 3,33
Chico Dias 10,00 56,67 - 23,33 - 10,00
Lago da Vaca - 46,67 3,33 50,00 - -
Marabaixo 3,33 40,00 - 43,33 - 13,33
Muca 10,00 43,33 - 36,67 - 10,00
N. Esperança 10,00 46,67 6,67 30,00 3,33 3,33
P. Socorro 20,69 17,24 3,45 58,62 - -
Pacoval 16,67 33,33 - 40,00 - 10,00
Pedrinhas - 40,00 10,00 46,67 - 3,33
Sá comprido - 56,67 3,33 36,67 3,33 -
Tacacá - 70,00 3,33 26,67 - -
Lagoa dos Índios 3,33 53,33 - 33,33 6,67 3,33
Média geral 5,66 45,76 3,60 39,33 1,03 4,63

Vale ressaltar que a maioria das casas é construída em curto período de tempo, sendo isto uma medida
utilizada para possibilitar um rápido adensamento de ocupação, dificultando a remoção por parte da
fiscalização.

4.2.4. Material de construção do imóvel


Considerando o tipo de material do imóvel, foram constatadas que nas áreas de ressaca analisadas as
residências são predominantemente de madeira (69%), com destaque para Perpétuo Socorro e Tacacá, nas
quais todas as residências são desse tipo de material (Figura 12). Os entrevistados que residem em casas de
alvenaria representaram 23%, sendo predominantes apenas nas ressacas Lago da Vaca (53%), Lagoa dos
Índios (53%) e Marabaixo (50%).

23
Figura 12. Vista do material de construção predominantes nas edificações como a madeira e o telhado com
fibrocimento ou amianto, ressaca do Tacacá.

Aqueles que habitam casas cujo material inclui uma combinação de tijolo e madeira representaram 7%
(Figura 12) do total amostrado e foram mais comuns nas ressacas Sá Comprido (20%) e Canal do Jandiá
(13%). Apenas 1% alegou viver em casas com outros tipos de materiais. Em nenhuma das ressacas analisadas
foram observadas residências que utilizam materiais para vedação, como lonas, adobe, papelão e isopor
(Figuras 13 e 14).

Foram identificados como materiais de construção para as residências, o tipo madeira, que embora
abrangessem duas variáveis: a madeira bruta e madeira trabalhada somavam acima de 90% nas ressacas de
Macapá. Apenas no Beirol e Pacoval foram registrados materiais como palha e lona como material de
construção, (AGUIAR & SILVA, 2004).

Devido às condições ambientais das ressacas e a dificuldade para aquisição de materiais como a palha para a
cobertura de casas, o padrão de construção é predominante com madeira e cobertura com telha de
amianto. A deterioração do material de edificação, na água, é um fator que agrava a condição
socioeconômica dos mais pobres uma vez que a reposição e o custo do material oneram as despesas das
famílias de baixa renda.

24
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
Madeira Tijolo Tijolo e madeira Outras

Material de construção do imóvel

Figura 13. Tipo de material utilizado na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de Macapá.

100
90
80
% entrevistados

70
60
50
40 Madeira
30
20 Tijolo
10 Tijolo e madeira
0
Outras

Ressaca

Figura 14. Tipo de material utilizado na construção do imóvel dos entrevistados das ressacas da cidade de Macapá.

4.2.5. Edificações no lote


Considerando o número de edificações no lote, a maioria dos entrevistados (97 %) afirmou haver apenas a
própria residência no terreno. Dentre as ressacas analisadas, destacaram-se Lago da Vaca, Lagoa dos Índios e
Perpétuo Socorro, nas quais todos os entrevistados afirmaram não haver outros imóveis no lote (Figuras 15
e 16).

25
100
90
80
70
% entrevistados 60
50
40
30 Uma edificação
20 Mais de uma edificação
10
0

Ressaca

Figura 15. Número de edificações no lote onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

Figura 16. Vista da disposição das edificações residenciais dispostas lado a lado, ao longo das pontes.

4.2.6. Número de cômodos da casa


Grande parte dos entrevistados (31%) habita residências que apresentam quatro cômodos, incluindo sala,
quarto, cozinha e banheiro. Apenas aproximadamente 5% vivem em casas com mais de sete cômodos.
Aqueles que vivem em casas com apenas um cômodo totalizaram aproximadamente 11%. Normalmente
este único cômodo se constitui em um tipo de ambiente conjugado.

26
Os entrevistados que vivem em casas com apenas um cômodo (Figura 17) foram maioria na ressaca Pacoval
(30%), enquanto aqueles que habitam residências com dois cômodos foram mais expressivos na ressaca
Tacacá (17%). Os imóveis com seis cômodos foram predominantes nas ressacas Chico Dias (33%), Muca (30
%), Pedrinhas (27%) e Sá Comprido (30%). Enquanto as residências com mais de sete cômodos foram mais
comuns nas ressacas Lagoa dos Índios (13%), Nova Esperança (10%) e Sá Comprido (10%) (ver Tabela 4).

Figura 17. Número de cômodos dos imóveis onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

Tabela 4. Número de cômodos dos imóveis, em percentual, onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da
cidade de Macapá.
Ressaca Um Dois Três Quatro Cinco Seis mais de sete
Açaí 13,33 3,33 16,67 40,00 10,00 13,33 3,33
Canal do Jandiá 3,33 - 20,00 53,33 13,33 6,67 3,33
Chico Dias - 3,33 3,33 23,33 30,00 33,33 6,67
Lago da Vaca 6,67 - 6,67 40,00 36,67 10,00 -
Lagoa dos Índios 3,33 - - 36,67 16,67 26,67 13,33
Marabaixo 23,33 - 6,67 36,67 16,67 13,33 -
Muca 6,67 3,33 - 26,67 26,67 30,00 6,67
N. Esperança 16,67 - 3,33 23,33 33,33 10,00 10,00
P. Socorro 3,45 - 6,90 37,93 17,24 31,03 -
Pacoval 30,00 3,33 - 20,00 26,67 20,00 -
Pedrinhas 16,67 6,67 16,67 20,00 13,33 26,67 -
Sá comprido 10,00 - 3,33 23,33 23,33 30,00 10,00
Tacacá 10,00 16,67 3,33 26,67 20,00 13,33 6,67
Média geral 11,05 2,83 6,68 31,36 21,85 20,31 4,63

27
Aguiar e Silva (op. Cit.) investigaram a existência do cômodo quarto nas residências, as quais identificaram a
média percentual (%) de 29,02; 36,87; 13,49 e 20,62 para as variáveis um quarto, dois quartos, mais de dois
quartos e nenhum quarto, respectivamente.

Neste trabalho, o cômodo quarto não foi investigado isoladamente, mas no contexto do total da residência.
Assim, a maior frequência deste item está na faixa de quatro cômodos, como consta na tabela 4.

4.2.7. Localização do terreno


Quando consultados a respeito da localização terreno em que habitavam, aproximadamente 62% dos
entrevistados responderam residir em áreas alagadas e 38% em terra firme. O grupo de entrevistados das
ressacas Açaí, Canal do Jandiá, Lago da Vaca, Lagoa dos Índios, Marabaixo e Sá Comprido, foi formado
predominantemente por pessoas que residem em áreas de terra firme (Figuras 18 e 19). Enquanto o grupo
de entrevistados das demais ressacas foi formado principalmente por pessoas que residem em áreas
alagadas, destacando-se as ressacas Chico Dias e Perpétuo Socorro, nas quais todos os entrevistados
afirmaram residir neste tipo de terreno (Figura 20).

38%
Lago
Terra Firme
62%

Figura 18. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

28
Figura 19. Localização do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

Figura 20. Vista do local de construção das residências, com detalhe das pontes sendo reconstruídas. Ressaca Chico
Dias.

4.2.8. Situação fundiária


A maioria dos entrevistados (40%) não possui documentos comprobatórios da posse do lote, apesar disso, os
mesmos não consideram que residem em áreas de invasão pela justificativa de que adquiriram o lote por
meios considerados regulares (Figura 21). Aproximadamente 27% possuem título de posse do terreno e
apenas 6% possuem o título definitivo. Cabe ressaltar que os entrevistadores não tiveram acesso aos títulos
citados anteriormente em função de não ser uma exigência metodológica. Uma significativa parcela de
entrevistados (24%) afirmou residir em áreas de invasão, uma vez que a construção da residência ocorreu
sem a devida autorização dos órgãos competentes.

29
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
Invasão Não Título de Título Outros Sem
titulado posse definitivo resposta
Situação fundiária

Figura 21. Situação fundiária do terreno onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

O percentual de entrevistados que possuem o título definitivo do terreno foi maior na ressaca Canal do
Jandiá (27%). Por outro lado, nenhum dos entrevistados das ressacas Marabaixo, Perpétuo Socorro, Pacoval
e Sá Comprido apresentam este tipo de documento. Já o título de posse foi predominante nas ressacas Canal
do Jandiá (33%), Chico Dias (43%), Muca (50%) e Nova Esperança (47%).

Na maioria das ressacas predominaram os entrevistados que habitam terrenos não titulados, especialmente
no Lago da Vaca (50%), Pedrinhas (50%) e Tacacá (57%). Aqueles que afirmaram residir em área de invasão
foram maioria nas ressacas Marabaixo (37%) e Sá Comprido (47%) (ver Tabela 5).

Tabela 5. Situação fundiária do terreno, em percentual, onde residem os entrevistados das áreas de ressaca da cidade
de Macapá.
Ressaca Título Título Não titulado Invasão Outros Sem resposta
definitivo de posse
Açaí 13,33 26,67 36,67 23,33 0,00 0,00
Canal do Jandiá 26,67 33,33 33,33 6,67 0,00 0,00
Chico Dias 3,33 43,33 26,67 26,67 0,00 0,00
Lago da Vaca 10,00 23,33 50,00 16,67 0,00 0,00
Lagoa dos Índios 13,33 33,33 46,67 6,67 0,00 0,00
Marabaixo 0,00 16,67 33,33 36,67 6,67 6,67
Muca 3,33 50,00 33,33 13,33 0,00 0,00
N. Esperança 6,67 46,67 16,67 30,00 0,00 0,00
P. Socorro 0,00 17,24 48,28 20,69 13,79 0,00
Pacoval 0,00 23,33 46,67 30,00 0,00 0,00
Pedrinhas 3,33 16,67 50,00 30,00 0,00 0,00
Sá comprido 0,00 13,33 40,00 46,67 0,00 0,00
Tacacá 3,33 10,00 56,67 26,67 3,33 0,00
Média geral 6,43 27,25 39,85 24,16 1,80 0,51

30
4.2.9. Ambiente da casa mais utilizado
Considerando a permanência da família nos cômodos da casa, a maioria (47,6%) dos entrevistados
respondeu ser a sala o ambiente onde passam a maior parte do tempo (Figura 22). Esse padrão foi
observado em quase todas as ressacas, com destaque para Açaí (63%), Canal do Jandiá (57%), Muca (60%),
Pedrinhas (53%) e Tacacá (57%). Os entrevistados que afirmaram que o quarto é o ambiente mais utilizado
representaram 17% e foram mais significativos nas ressacas Açaí (30%) e Lago da Vaca (30%); enquanto os
que responderam ser a cozinha totalizaram 16,7% e foram mais expressivos nas ressacas Canal do Jandiá
(27%), Nova Esperança (27%) e Sá Comprido (33%) (Tabela 6).

Em menor escala, também foram observados entrevistados que afirmaram que os ambientes mais
frequentados são o quarto e a cozinha na mesma proporção (1,5%). Os entrevistados que se enquadram
nesta categoria são moradores das ressacas Marabaixo (6,7%), Perpétuo Socorro (3%), Pedrinhas (3%) e Sá
Comprido (6,7%). Os entrevistados que afirmaram que outros ambientes também são os mais frequentados
totalizaram 13,3% (Figura 21), com destaque para as ressacas Marabaixo (30%), Perpétuo Socorro (30%) e,
principalmente, Pacoval (47%), uma vez que a maioria dos entrevistados desta ressaca fez esta afirmação.
Dentre estes outros ambientes, destaca-se o pátio.

100
90
80
% entrevistados

70
60
50
40
30
20
10
0
Sala Quarto Cozinha Quarto e Outros Sem
cozinha resposta

Ambiente mais utilizado

Figura 22. Ambientes das residências onde os moradores passam mais tempo quando estão em casa.

Tabela 6. Ambientes das residências onde os moradores passam mais tempo quando estão em casa.
Ressaca Sala Quarto Cozinha Quarto e cozinha Outros Sem resposta
Açaí 63,33 30,00 6,67 - - -
Canal do Jandiá 56,67 13,33 26,67 - 3,33 -
Chico Dias 43,33 20,00 20,00 - 16,67 -
Lago da Vaca 50,00 30,00 16,67 - 3,33 -
Lagoa dos Índios 50,00 20,00 20,00 - 10,00 -
Marabaixo 43,33 16,67 3,33 6,67 30,00 -

31
Ressaca Sala Quarto Cozinha Quarto e cozinha Outros Sem resposta
Muca 60,00 10,00 23,33 - 6,67 -
N. Esperança 30,00 16,67 26,67 - 26,67 -
P. Socorro 40,00 10,00 13,33 3,33 30,00 -
Pacoval 40,00 10,00 3,33 - 46,67 -
Pedrinhas 53,33 10,00 16,67 3,33 16,67 -
Sá comprido 30,00 20,00 33,33 6,67 10,00 -
Tacacá 56,67 20,00 6,67 - 13,33 3,33
Média geral 47,56 17,48 16,71 1,54 16,45 0,26

4.2.10. Tipo de uso do imóvel


Quando consultados sobre o tipo de uso que o imóvel adquire considerando a possibilidade de geração de
renda ou prestação de serviços, aproximadamente 93% dos entrevistados afirmaram que o mesmo é
utilizado apenas como residência (Figura 23). Este padrão foi observado em todas as áreas de ressaca
analisadas (Tabela 7). A utilização do imóvel para fins comerciais (2%) foi observada apenas nas ressacas
Lagoa dos Índios (3%), Marabaixo (6,7%), Muca (10%) e Nova Esperança (6,7%). Normalmente o ponto
comercial é destinado à venda de gêneros alimentícios e outros produtos de primeiras necessidades (Figuras
24 e 25).

Em quase todas as ressacas foram registrados entrevistados que residem em imóveis que são utilizados
tanto para habitação quanto para comércio (3,9%) com exceção das ressacas Lagoa dos Índios, Sá Comprido
e Tacacá, nas quais não foram observados imóveis com uso misto. Os serviços oferecidos pelos imóveis que
apresentam uso misto são variados, incluindo batedeiras de açaí, comercialização de pescado, estética
feminina, venda de “chope” e escritório. Menos de 1% dos entrevistados afirmaram que o imóvel é utilizado
para fins institucionais. Nesse caso, os entrevistados são moradores das ressacas Marabaixo (3%), Muca (3%)
e Perpétuo Socorro (3%). Esse tipo de uso inclui, por exemplo, o funcionamento provisório de igrejas. Outros
entrevistados também afirmaram que o imóvel dispõe de quartos de para aluguel (0,5%), incluindo “kitnets”
(Figura 26).

32
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
Residencial Comercial Uso misto Institucional Aluga
cômodos

Tipo de uso do imóvel

Figura 23. Tipos de usos das edificações residenciais nas ressacas de Macapá.

Figura 24. Vista das atividades de Comércio com ocupação Figura 25. Vista de estrutura comercial, com parte do
tipo mista com uso residencial. empreendimento em área aterrada.

33
Figura 26. Vista da edificação destinada ao uso residencial por aluguel de quartos, detalhe placa com divulgação da
atividade tipo “kitnets”.

Tabela 7. Tipos de usos das edificações além do residencial.


Ressaca Residencial Comercial Uso misto Institucional Aluga cômodos
Açaí 96,67 - 3,33 - -
Canal do Jandiá 96,67 - 3,33 - -
Chico Dias 86,67 - 10,00 - 3,33
Lago da Vaca 96,67 - 3,33 - -
Lagoa dos Índios 96,67 3,33 - - -
Marabaixo 86,67 6,67 3,33 3,33 -
Muca 83,33 10,00 3,33 3,33 -
N. Esperança 90,00 6,67 3,33 - -
P. Socorro 93,10 - 3,45 3,45 -
Pacoval 90,00 - 10,00 - -
Pedrinhas 90,00 - 6,67 - 3,33
Sá comprido 100,00 - - - -
Tacacá 100,00 - - - -
Média geral 92,80 2,06 3,86 0,77 0,51

4.2.11. Permanência no local de moradia


Quando consultados sobre o desejo de permanência no local, 53 % dos entrevistados responderam que
gostariam de sair de onde moram (Figura 27 e 28) e os demais responderam que não gostariam de sair do
local (Figura 29).

34
Figura 27. Vista de placas de venda em residências, Figura 28. Vista de placas de venda de residências.
demonstrando o que a maioria dos entrevistados afirmou
quanto ao desejo de saírem do local onde moram.

Mesmo tendo sido encontradas diversas casas com placa de venda, não significa que os entrevistados
queiram sair, sem garantias ou que se faça de qualquer maneira. Segundo os moradores, para sair da ressaca
e se instalarem em condições piores, o melhor é ficar onde estão.

Figura 29. Moradores das áreas de ressacas de Macapá segundo sua vontade de saída ou permanência nos locais onde
moram.

4.3. Saneamento básico


4.3.1. Localização do banheiro
Quando consultados sobre a localização do banheiro (Figuras 30 e 31), a maioria dos entrevistados (59%)
afirmou que o mesmo situa-se do lado de fora da residência, geralmente ligado a esta por meio de uma
pequena ponte. Os entrevistados cujo banheiro localiza-se no interior da casa totalizaram 41%, com
destaque para as ressacas Perpétuo Socorro (79%) e Pedrinhas (60%) (Figuras 32 e 33).

35
41%
Dentro da casa
Fora da casa
59%

Figura 30. Localização do banheiro no imóvel dos entrevistados das áreas de ressaca da cidade de Macapá.

Figura 31. Localização do banheiro do imóvel dos entrevistados para as áreas de ressaca da cidade de Macapá.

A existência de banheiros, dentro e fora das unidades residenciais está condicionada a adaptações nas casas,
pois a instalação de banheiros internos, geralmente é realizada sobre pequena laje em alvenaria, no
assoalho da casa. Independente da estrutura utilizada, os dejetos são canalizados para as ressacas de forma
in natura.

36
Figura 32. Vista da localização dos banheiros/sanitários, em Figura 33. Vista da localização dos banheiros/sanitários,
primeiro plano banheiro dentro da residência. em segundo plano, sanitário fora da casa ligado a esta
por meio de ponte.

4.3.2. Utilização do banheiro


Em relação ao uso do banheiro por terceiros, 93% dos entrevistados afirmaram que o mesmo é utilizado
apenas pela própria família. O restante (7%) afirmou que outras famílias também fazem uso do mesmo, com
destaque para as ressacas Marabaixo, Perpétuo Socorro e Pedrinhas, nas quais 16,7% dos entrevistados de
cada uma afirmaram dividir o banheiro com pessoas de outras famílias (Figuras 34 e 35).

7%

Apenas a familia
Outras famílias

93%

Figura 34. Usuários dos módulos sanitários nas residências das ressacas de Macapá.

37
Figura 35. Usuários dos módulos sanitários das residências nas ressacas pesquisadas em Macapá.

4.3.3. Presença de fossa no terreno


Quanto ao local de deposição de dejetos humanos, 66% dos entrevistados afirmaram haver algum tipo de
fossa no terreno (Tabela 08). Dentre as ressacas analisadas, destaca-se a Lagoa dos Índios e Sá Comprido,
nas quais todos os entrevistados afirmaram que residem em terrenos que apresentam fossa (Tabela 08).

Considerando o tipo de fossa, 34% dos entrevistados afirmaram possuir fossa negra (Figura 36),
especialmente nas ressacas Pedrinhas (53%) e Sá Comprido (50%). Outros 31% afirmaram possuir fossa
séptica, principalmente nas ressacas Lagoa dos Índios (70%), Marabaixo (57%), Lago da Vaca (53%) e Sá
Comprido (50%).

Apenas 1 % dos entrevistados afirmaram que o terreno apresenta outro tipo de fossa não especificada.
Nesse caso se enquadram apenas entrevistados da ressaca Muca (10%). Entretanto, um significativo
percentual (34%) lança os dejetos diretamente no ambiente das ressacas devido à ausência de fossa no
local. Os entrevistados que residem em terrenos que não apresentam fossa foram mais significativos nas
ressacas Chico Dias (73%), Muca (63%), Tacacá (63%), Pacoval (57%), Nova Esperança (53%) e Perpétuo
Socorro (52%). A Tabela 8 demonstra os resultados obtidos (Figura 37).

38
34% Fossa negra
34%
Fossa séptica
Outro tipo de fossa
Não possui fossa
1%
31%

Figura 36. Tipo de fossa existente nas residências dos entrevistados das áreas de ressacas da cidade de Macapá.

Tabela 8. Existência e tipos de fossas nas residências das áreas de ressacas de Macapá.
Presença de fossa Tipo de fossa
Ressaca Não possui Possui Fossa negra Fossa séptica Outros tipos
Açaí 30,00 70,00 36,67 33,33 -
Canal do Jandiá 16,67 83,33 36,67 46,67 -
Chico Dias 73,33 26,67 20,00 6,67 -
Lago da Vaca 10,00 90,00 36,67 53,33 -
Marabaixo 3,33 96,67 40,00 56,67 -
Muca 63,33 36,67 26,67 0,00 10,00
N. Esperança 53,33 46,67 23,33 23,33 -
P. Socorro 51,72 48,28 44,83 3,45 -
Pacoval 56,67 43,33 33,33 10,00 -
Pedrinhas 16,67 83,33 53,33 30,00 -
Sá comprido 0,00 100,00 50,00 50,00 -
Tacaca 63,33 36,67 13,33 23,33 -
Lagoa dos Índios 0,00 100,00 30,00 70,00 -
Média geral 33,68 66,32 34,19 31,36 10,00

39
Figura 37. Trabalhador construindo anteparo em madeira, denominado fossa. Observa-se que a construção de fossas
ocorre, em determinadas áreas, na estação do verão.

4.3.4. Tratamento de esgoto


Como mostra a Figura 38, a maioria dos entrevistados (95%) afirmou que não ocorre tratamento de esgoto
no local. Apenas 10% dos entrevistados da ressaca Açaí e, 6,7% dos entrevistados das ressacas Marabaixo,
Muca, Nova Esperança e Tacacá, afirmaram que possuem tratamento de esgoto (Figuras 38 a 41).

2% 3%

Possui
Não possui
Sem resposta

95%

Figura 38. Existência de tratamento de esgoto sanitário nas ressacas de Macapá.

40
Figura 39. Existência de tratamento de esgoto sanitário por ressaca em Macapá.

Figura 40. Vista das galerias de coleta e distribuição das Figura 41. Vista das galerias de coleta e distribuição das
águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas. águas pluviais sendo despejado diretamente nas ressacas.

O tratamento de esgoto é inexistente e, justamente por não conhecer o sistema de esgotamento a maioria
da população associa a rede coletora de águas pluviais, com o serviço de esgoto. A atual condição de
manutenção da estrutura é tão precária que chega a aumentar os problemas, que não são poucos, dos
moradores dessas áreas. Por ocasião das chuvas, frequentemente as galerias ficam obstruídas pelo lixo. A
água, impedida de ser canalizada, passa escoar superficialmente, apresentando como consequência um tipo
de inundação às residências.

4.3.5. Destino do lixo


A maioria dos entrevistados (88%) afirmou que o lixo doméstico é recolhido por meio de coleta pública,
principalmente nas ressacas Lagoa dos Índios, Muca e Pacoval, nas quais todos os entrevistados afirmaram

41
que este é o principal destino final do lixo (Figura 42). De acordo com o detalhamento mostrado na Tabela 9,
a deposição do lixo em contêineres foi mencionada por apenas 8% dos entrevistados, com destaque para as
ressacas Pedrinhas (43%) e Tacacá (20%). Somente 2,8% dos entrevistados afirmaram que realizam a
incineração do lixo, especialmente nas ressacas Pedrinhas (13%) e Sá Comprido (10%).

Os entrevistados que afirmaram que o lixo é descartado exclusivamente a céu aberto totalizaram menos de
1% e são moradores das ressacas Lago da Vaca e Pedrinhas. Considerando outros tipos de destino do lixo
doméstico, aproximadamente 6,7% dos entrevistados da ressaca Açaí afirmaram também utilizar o mesmo
como adubo. Apenas um entrevistado, morador da ressaca Lago da Vaca, afirmou enterrar o lixo. A
reciclagem do lixo foi mencionada por apenas um entrevistado, morador da ressaca Perpétuo Socorro.

100
90
80
% entrevistados

70
60
50
40
30
20
10
0
Coleta pública Contêiner Incineração Céu aberto

Destino do lixo doméstico

Figura 42. Existência de coleta pública e destinação final de resíduos sólidos.

Tabela 9. Existência de coleta pública e destinação final de resíduos sólidos.


Ressaca Coleta pública Contêiner Incineração Céu aberto
Açaí 96,67 3,33 - -
Canal do Jandiá 96,67 - 3,33 -
Chico Dias 90,00 10,00 - -
Lago da Vaca 90,00 3,33 3,33 3,33
Lagoa dos Índios 100,00 - - -
Marabaixo 96,67 3,33 - -
Muca 100,00 - - -
N. Esperança 90,00 6,67 3,33 -
P. Socorro 93,10 6,90 - -
Pacoval 100,00 - - -
Pedrinhas 36,67 43,33 13,33 6,67
Sá comprido 83,33 6,67 10,00 -
Tacacá 76,67 20,00 3,33 -
Média geral 88,43 7,97 2,83 0,77
42
Mesmo que os resultados apontem para um local sem resíduos, não é o aspecto geral das ressacas, nem o
constatado pelas equipes durante a pesquisa. Portanto, faz-se necessário identificar o porquê das respostas
destoarem dos fatos. Uma das prováveis respostas para isso seja o constrangimento de reconhecer que seu
lixo está no local, em baixo de suas casas, por isso, muitos dizem que colocam o lixo doméstico em sacos
plásticos e o levam para a parte mais alta do terreno, onde o caminhão coletor possui rota; outra possível
explicação seja o constrangimento de verem as áreas entulhadas. O fato é que os moradores assumem uma
responsabilidade que não é inteiramente sua, embora tenha que evitar o descarte do lixo á céu aberto
(Figuras 43 a 48).

Figura 43. Disposição de lixo doméstico na ressaca ao Figura 44. Vista da disposição do lixo, ressaca Sá
longo da passarela, ressaca Pedrinhas. Comprido.

Figura 45. Vista da disposição de lixo sob residências, Figura 46. Vista de disposição de lixo, ressaca Tacacá.
ressaca, Congós.

43
Figura 47. Vista da disposição à céu aberto na ressaca Figura 48.Vista da disposição de lixo, ressaca Nova
Chico Dias. Esperança.

4.4. Infraestrutura
4.4.1. Fornecimento de energia elétrica
Considerando o fornecimento de energia elétrica, 59% dos entrevistados afirmaram que a ligação da
residência é cadastrada (Figura 49), com destaque para as ressacas Lago da Vaca (70%), Lagoa dos Índios
(77%), Marabaixo (90%), Nova Esperança (63%), Perpétuo Socorro (62%) e Sá Comprido (90%), conforme
ilustração (Figuras 50 e 51). Aqueles que não apresentam ligação cadastrada (41%) foram mais
representativos nas ressacas Pedrinhas (77%) e Tacacá (60%), conforme figura (Figura 52) e ilustradas em
seguida (Figuras 53 e 54).

41%
Ligação cadastrada
Ligação não-cadastrada
59%

Figura 49. Fornecimento de Energia elétrica segundo os tipos de ligação nas ressacas de Macapá.

44
Figura 50. Vista dos postes de eletricidade estruturado Figura 51. Vista do medidor de energia instala na
pela companhia de eletricidade em área de ressaca de residência, retratando que o serviço é cadastrado.
Macapá.

Figura 52. Fornecimento de energia elétrica segundo os tipos de ligação por ressaca na área pesquisada em Macapá.

45
Figura 53. Vista do misto de ligações cadastrada com os Figura 54. Vista da distribuição dos fios elétricos com
conectores nos fios, com as não cadastradas, formando ligações não cadastradas em direção às casas,
uma trançadeira de fios. demonstrando que o suporte para os fios, ocorre de
maneira improvisada.

4.4.2. Abastecimento de água


Observa-se com o auxílio da Figura 55 que aproximadamente 53% dos entrevistados afirmaram que o
abastecimento de água é realizado pela CAESA, principalmente nas ressacas Chico Dias (100%), Muca (90%),
Nova Esperança (80%), Perpétuo Socorro (93%), Pacoval (96%) e Tacacá (80%), como mostrado na Tabela 10.

A utilização de poço do tipo Amazonas (36%) é o principal meio de abastecimento de água dos entrevistados
das ressacas Açaí (97%), Canal do Jandiá (87%), Lagoa da Vaca (70%), Lagoa dos Índios (53%) e Marabaixo
(83%). Enquanto o abastecimento de água por meio de poço do tipo artesiano é mais significativo nas
ressacas Lagoa dos Índios (30%), Marabaixo (16,7%) e Sá Comprido (16,7%). A utilização de outros meios de
abastecimento de água foi mais comum nas ressacas Muca (10%), Nova Esperança (13%) e Pedrinhas (13%).
De acordo com ilustração (Figuras 56 e 57)

46
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
CAESA Poço Amazonas Poço Artesiano Outros

Abastecimento de água

Figura 55. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas.

Tabela 10. Serviço e fonte de abastecimento de água nas unidades residenciais nas áreas de ressacas.
Ressaca CAESA Poço Amazonas Poço Artesiano Outros
Açaí - 96,67 3,33 -
Canal do Jandiá 6,67 86,67 6,67 -
Chico Dias 100,00 - - -
Lago da Vaca 23,33 70,00 6,67 -
Lagoa dos Índios 16,67 53,33 30,00 -
Marabaixo - 83,33 16,67 -
Muca 90,00 - - 10,00
N. Esperança 80,00 - 6,67 13,33
P. Socorro 93,33 - - 3,33
Pacoval 96,67 3,33 - -
Pedrinhas 43,33 33,33 10,00 13,33
Sá comprido 53,33 30,00 16,67 -
Tacacá 80,00 10,00 6,67 3,33
Média geral 52,70 35,99 7,97 3,34

47
Figura 56. Vista da dificuldade dos moradores para Figura 57. Vista de outra maneira dos moradores
adquirirem água. Mesmo a tubulação sendo da adquirirem água, ligação clandestina da rede geral,
companhia de saneamento, a água não alcança as dentro das ressacas.
torneiras nas residências.

4.5. Saúde
4.5.1. Localização do posto de saúde
A maioria dos entrevistados (41%) afirmou que o posto de saúde que atende a sua comunidade está
localizado distante da área e apenas aproximadamente 19% afirmaram que o mesmo situa-se no próprio
local de moradia (Figura 58).

100
90
80
% entrevistados

70
60
50
40
30
20
10
0
No local Próximo Distante

Unidade Básica de Saúde

Figura 58. Localização dos postos de saúde em relação à residência dos entrevistados.

Os entrevistados que afirmaram que o posto de saúde está localizado próximo da área onde vivem foram
maioria nas ressacas Açaí (60%), Canal do Jandiá (80%), Lago da Vaca (57%), Lagoa dos Índios (80%),
Marabaixo (53%) e Tacacá (37%). Enquanto aqueles que afirmaram que o mesmo situa-se na própria

48
comunidade foram maioria apenas na ressaca Nova Esperança (57%). Nas demais áreas de ressaca a maioria
dos entrevistados afirmaram que o Posto situa-se distante da comunidade (Tabela 11).

Tabela 11- Localização dos postos de saúde em relação as residências nas áreas de ressaca
Ressaca No local Próximo Distante
Açaí - 40,00 60,00
Canal do Jandiá 6,67 13,33 80,00
Chico Dias 36,67 46,67 16,67
Lago da Vaca 33,33 10,00 56,67
Lagoa dos Índios 3,33 16,67 80,00
Marabaixo 10,00 36,67 53,33
Muca 26,67 66,67 6,67
N. Esperança 56,67 33,33 10,00
P. Socorro 13,79 55,17 31,03
Pacoval 26,67 56,67 16,67
Pedrinhas - 63,33 36,67
Sá comprido 3,33 50,00 46,67
Tacacá 33,33 30,00 36,67
Média geral 19,28 39,85 40,87

4.5.2. Satisfação em relação aos serviços de saúde


Considerando o grau de satisfação dos entrevistados em relação à saúde (Figura 59), a maioria (39%)
afirmou que a mesma é regular e 28% ruim. Aproximadamente 32% afirmaram que a saúde encontra-se em
bom estado.

1%

28% 32%
Bom
Regular
Ruim
Sem resposta

39%

Figura 59. Nível de satisfação quanto ao serviço de saúde oferecido à comunidade nas ressacas.

49
4.6. Segurança pública
4.6.1. Posto policial
Considerando a segurança pública, 75% dos entrevistados afirmaram que o Posto Policial que atende a sua
comunidade está localizado em área afastada (Figura 60), especialmente nas ressacas Açaí (100%), Canal do
Jandiá (87%), Marabaixo (90%), Pedrinhas (100%), Sá Comprido (97%) e Lagoa dos Índios (83%). Apenas 23%
dos entrevistados afirmaram que o Posto está situado no próprio local, com destaque para as ressacas Chico
Dias (53%), Nova Esperança (43%) e Pacoval (47%). Dentre os demais entrevistados, 1% afirmou não existir
Posto Policial e 1% não soube ou não quis responder à pergunta.

1% 1%

23%
No local
Afastado
Inexistente
Sem resposta

75%

Figura 60. Localização de unidade de segurança em relação à moradia do entrevistado nas ressacas de Macapá.

4.6.2. Presença de viatura ou ronda


Quando consultados sobre a existência de viatura ou ronda na área (Figura 61), 45% dos entrevistados
afirmaram que ambas são inexistentes, com destaque para as ressacas Canal do Jandiá (60%), Chico Dias
(53%), Muca (73%), Perpétuo Socorro (52%), Pacoval (53%) e Tacacá (53%). A existência de ronda noturna foi
mencionada por 25% dos entrevistados, sendo mais citada pelos entrevistados das ressacas Canal do Jandiá
(30%), Lago da Vaca (43%), Nova Esperança (33%) e Sá Comprido (33%). Enquanto a ocorrência de ronda
diurna (7%) foi mais frequente nas ressacas Lagoa dos Índios (20%) e Tacacá (17%). Os entrevistados que
afirmaram existir ronda diurna e noturna totalizaram 21%, com destaque para as ressacas Marabaixo (53%)
e Pedrinhas (40%). Aqueles que nãou souberam ou não souberam responder à pergunta totalizaram 2%.

50
2%

7%

Ronda diurna
25% Ronda noturna
45% Ronda diurna e noturna
Inexistente
Sem resposta
21%

Figura 61. Frequência dos serviços de segurança para os moradores segundo estratégia de acesso nas ressacas de
Macapá.

4.6.3. Presença de bombeiros e salva-vidas


A maioria dos entrevistados (Figura 62) afirmou ser inexistente a atuação de corpo de bombeiros (77%) e
salva-vidas (95%). As únicas áreas de ressaca nas quais os entrevistados afirmaram haver corpo de
bombeiros (21%) foram Canal do Jandiá (50%) e Lago da Vaca (47%). Já a presença de salva-vidas (5%) foi
mencionada, principalmente, pelos entrevistados das ressacas Lagoa dos Índios (20%). Os entrevistados que
não souberam ou não quiseram responder à pergunta totalizaram aproximadamente 1 %.

100
90
80
70
% entrevistados

60
50 Bombeiros
40 Salva-vidas
30
20
10
0
Existe Inexistente Sem resposta

Figura 62. Frequência da presença de bombeiros com serviço de salva-vidas nas ressacas de Macapá.

4.6.4. Presença de vigilância particular

51
Como ilustrado na Figura 63, a maioria dos entrevistados (87%) afirmou que não existe vigilância particular
na área. Somente os entrevistados da ressaca Lagoa dos Índios afirmaram existir vigilância diurna e norturna
(3%) e somente diurna (3%). A existência de vigilância noturna (7%), embora pouco significativa, foi
mencionada pelos entrevistados da maoria das ressacas, sendo mais frequente na Açaí (17%). Os
entrevistados que não souberam ou não quiseram responder à pergunta totalizaram aproximadamente 6%,
com destaque para as ressacas Chico Dias (2 %) e Muca (17%).

100
90
80
% entrevistados

70
60
50
40
30
20
10
0
Diurna Noturna Diurna e Inexistente Sem resposta
noturna

Figura 63. Moradores que utilizam serviço de vigilância particular nas ressacas de Macapá.

4.6.5. Satisfação em relação à segurança pública


Considerando o grau de satisfação com a segurança pública, 36% dos entrevistados afirmaram que a mesma
encontra-se em estado regular, 33% ruim e 30% bom. Somente 1% dos entrevistados não quiseram ou não
souberam responder à pergunta. Os resultados estão expressos na Figura 64.

52
1%

30%
33% Bom
Regular
Ruim
Sem resposta

36%

Figura 64. Nível de satisfação com os serviços de segurança pública existentes nas áreas de ressaca de Macapá.

4.7. Organização social


4.7.1. Existência de entidades de organização social
Quando interrogados a respeito da existência de organização social na área, aproximadamente 40% dos
entrevistados afirmaram que há uma entidade no local (Figura 65), com destaque para as ressacas Açaí
(53%), Chico Dias (67%), Lago da Vaca (53%), Muca (50%) e Nova Esperança (63%). Entretanto, 35% dos
entrevistados afirmaram que não há organização social. Vale destacar que os entrevistados que não
souberam ou não quiseram responder à pergunta (25%) foram maioria nas ressacas Marabaixo (43%),
Pacoval (50%) e Lagoa dos Índios (43%).

25%

40% Existe
Inexistente
Sem resposta

35%

Figura 65. Existência de entidades da sociedade civil nas ressacas de Macapá.

53
4.7.2. Participação na entidade local
A maioria dos entrevistados (85%) não participa da entidade social, especialmente nas ressacas Chico Dias,
Pedrinhas e Tacacá, nas quais todos os entrevistados afirmaram que não participam da organização social
local. Somente os entrevistados da ressaca Lago da Vaca participam mais frequentemente das entidades
sociais locais, totalizando 47% dos entrevistados. Apenas 1% dos entrevistados não soube ou não quiseram
responder à pergunta (Figura 66).

1%

14%

Participa
Não participa
Sem resposta

85%

Figura 66. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas entidades de representação social.

4.7.3. Participação em atividades comunitárias


Em relação à participação dos entrevistados em atividades comunitárias, aproximadamente 75% afirmaram
que participam de alguma atividade (Figura 67). Dentre as atividades comunitárias mais citadas, destacaram-
se as atividades religiosas (3 %), festividades (16%) e atividades esportivas (15%). As atividades religiosas
foram as principais atividades mencionadas pelos entrevistados, com destaque para as ressacas Marabaixo
(57%) e Lagoa dos Índios (57%). A participação em limpeza de ruas e horta ou roça foi mencionada somente
por, respectivamente, 5% e 3% do total de entrevistados.

54
100
90
80

% entrevistados
70
60
50
40
30
20
10
0
Horta ou roça Limpeza de Festividades Atividades Atividades
ruas religiosas esportivas

Atividades comunitárias

Figura 67. Participação dos moradores das ressacas de Macapá nas atividades e mutirões organizados pela
representação social local.

4.8. Problemas sociais


Considerando a percepção dos entrevistados em relação aos problemas sociais (Figura 68), o alcoolismo
(65%) foi o principal fator mencionado pelos entrevistados, seguido por roubos (60%). O alcoolismo foi
mencionado por mais de 70% dos entrevistados das ressacas Chico Dias, Marabaixo, Muca e Pacoval.
Enquanto a ocorrência de roubos é um problema frequente principalmente das ressacas Açaí (70%), Chico
Dias (77%), Lago da Vaca (80%), Marabaixo (83%) e Perpétuo Socorro (76%). A utilização de drogas ilícitas
também foi citada por grande parte dos entrevistados (51%), principalmente nas ressacas Chico Dias (80%),
Marabaixo (60%) e Muca (73%).

Uma significativa parcela de entrevistados também identificou outros graves problemas como agressão à
mulher (41%), com destaque parar as ressacas Chico Dias (60%) e Marabaixo (63%), e homicídios (42%),
especialmente nas ressacas Lago da Vaca (53%), Marabaixo (67%) e Pedrinhas (53%). A ocorrência de
prostituição e agressão às crianças foi mencionada por somente 27% e 21% dos entrevistados,
respectivamente. Já a existência de trabalho infantil foi mencionada por 17% dos entrevistados, com
destaque para a ressaca Chico Dias (47%).

55
Homicídios

Roubos

Agressão à mulheres

Agressão à crianças

Trabalho Infantil

Prostituição

Drogas

Alcoolismo

0 20 40 60 80 100

% entrevistados

Figura 68. Principais problemas sociais existentes nas ressacas de Macapá.

4.9. Alterações ambientais nas áreas de ressacas


As principais alterações ambientais identificadas pelos entrevistados foram as inundações (35%) e os aterros
(31%) (Figura 69). A primeira foi mencionada principalmente pelos entrevistados das ressacas Nova
Esperança (63%), Pacoval (47%) e Pedrinhas (47%). Já os aterros foram identificados como problema
principalmente pelos entrevistados das ressacas Nova Esperança (57%), Lagoa dos Índios (47%) e Perpétuo
Socorro (45%).

A ocorrência de formação de entulho com lixo (25%) foi mais frequentemente citada pelos entrevistados das
ressacas Marabaixo (50%) e Nova Esperança (40%). Enquanto as alterações causadas pelas queimadas (22%)
foram mencionadas principalmente pelos entrevistados do Marabaixo (50%) e Lagoa dos Índios (57%).

O despejo de águas pluviais (20%) foi um fator citado principalmente pelos entrevistados das ressacas Chico
Dias, Pacoval e Pedrinhas, representando aproximadamente 37% de cada uma. Em menor percentual,
porém não menos importante, foram citadas alterações como entulho com restos de construção (17%),
despejo de esgoto (13%), desmatamento (11%), descarga de sobras de açougue (3%), abertura de valas
(10%) e tanques (6%).

56
Abertura de tanques
Abertura de valas
Aterros
Descarga de sobras de açougues
Desmatamento
Despejo de águas pluviais
Despejo de esgoto
Entulhamento com lixo
Entulhamento com restos de construção
Inundações
Queimadas
Outros

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

% entrevistados

Figura 69. Principais alterações ambientais presentes nas ressacas de Macapá.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados alcançados é possível afirmar que a maneira como a sociedade de organiza para
produzir, se reflete na maneira com o homem se relaciona com seu semelhante. Por esse motivo, a
sociedade atual organizada em um sistema de produção excludente, concentrador e que produz e reproduz
desigualdades, dá origem a uma mazela social ao relegar a maioria da sociedade às margens do bônus,
passando a arcar com o ônus do resultado do trabalho humano. Outra característica marcante do período
atual é a produção de mercadorias em escala cada vez maior e mais rápido, resultando em volume de lixo
que cada vez mais difícil de dá a destinação adequada. Nesse sentido, o espaço do homem ou o espaço
geográfico é o resultado da transformação da primeira natureza em segunda natureza, por meio do trabalho
humano. Assim, temos as seguintes considerações no âmbito do estudo acerca das questões tratadas:
- as áreas possuem sérios problemas de habitação, a população vive em condições precárias. Muitas
habitações são inadequadas e não oferecem a seus moradores condições desejáveis de habitabilidade;
- as unidades sanitárias são consideradas inadequadas, e a maioria encontra-se em condições impróprias de
uso, sendo assim as mesmas são responsáveis pela proliferação de sujeira e doenças;
- a construção de habitações em áreas que não pertencem aos moradores, resulta em moradias próprias,
mas construídas em áreas ilegais para esse uso em área de proteção ambiental;
- a carência de infra-estrutura reflete a situação dos domicílios localizados em áreas precárias, em termos
urbanísticos, onde redes de água e esgoto, sistemas de coleta de lixo e iluminação pública não estão
implantados, ou são fornecidos de forma ilegal;
- a violência doméstica prende as suas vítimas e gera uma série de traumas e que deve ser combatida sob
todas as formas;

57
- mesmo não sendo apenas nas ressacas onde ocorre, o intenso processo de urbanização desordenado nas
áreas de ressacas de Macapá tem como conseqüências graves problemas sociais, como: homicídios,
prostituição, roubos e trabalho infantil;
- a insegurança das pontes, porque em grande parte a madeira está deteriorada, isso
representou uma situação de perigo.
Nesse sentido, as questões levantadas não se constituem em visão negativa da realidade, mas caracterizar as
dificuldades é um grande passo para construir, em conjunto, a proposta de intervenção que se materializará
no subsídio deste documento ao ZEEU das ressacas.

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