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Economia Portuguesa

Tema 1: O séc. XX
1.1. O Final da Primeira República e
o Estado Novo
O Séc. XX até aos anos 50
• O Século XX português caracteriza-se pela lenta
aproximação do nível de vida do país em relação
aos demais países da Europa Ocidental
• Apesar da instabilidade política e das dificuldades
financeiras da República, esse processo de
convergência iniciou-se logo no início do século
• Depois do processo de estabilização do final dos
anos 20 e dos anos 30 seguiram-se duas décadas
de crescimento lento que criaram condições para
um crescimento sustentado
Cronologia
• 1916 – Portugal entra na Guerra
• 1917-18 – ditadura de Sidónio Pais
• de 1918 a 1926 – sucedem-se 30 governos.
• 1924 – Álvaro de Castro consegue equilibrar o
orçamento
• 1925 – faz-se a reavaliação do stock de ouro do
Banco de Portugal
• 1928 – Carmona é o Presidente da República e
chama Salazar para ministro das finanças
A Primeira Republica
• 1914 – nas vésperas da Primeira Guerra Mundial,
o governo de Afonso Costa conseguia um
orçamento geral do Estado equilibrado
• O período da guerra foi assinalado por grande
instabilidade politica e social: até 1924 houve 51
governos
• Em set 1918 a taxa de inflação homologa foi
153%; agravaram-se os défices orçamental e
externo
Financiamento de défices
• Empréstimos no mercado financeiro, junto de
instituições financeiras internacionais,
emitindo títulos de dívida pública/dívida
soberana (contratos de pagamentos futuros,
incluindo um juro)
• Emissão monetária: financiamento
inflacionista, explorando o direito de criar
moeda para pagas as dívidas (senhoriagem)
Inflação
• A emissão monetária é um processo de
desvalorização e leva ao aumento da inflação,
que tem efeitos nocivos:
– Tem efeitos redistributivos, por distorção de
preços relativos e redução do rendimento real; no
mercado financeiro redistribui rendimento do
credor para o devedor
– Introduz incerteza e distorce incentivos
Final da Primeira República
• Em 1923-24 o défice orçamental atingiu os
2.5% do PIB
• Em 1924 se conseguiu um empréstimo em
Londres e só em meados de 1925 estabilizou a
inflação e parou a desvalorização do escudo.
• Só com a ditadura militar há estabilização
politica definitiva, o que contribui para
consolidação das reformas orçamentais
Taxa de Cobertura das despesas pelas
receitas do Estado

Ano Tx Cobertura
1918 29.2%
1920 33.3%
1924 44.7%
1926 51.7%
1928 70.4%
1933 78.0%
Golpe de Estado e Ciclo Economico
• Note-se que a mudança de regime político
não tem directamente a ver com alterações
dos ritmos de crescimento da economia.

• O golpe militar de 1926 não terá acontecido


por razões económicas
Ritmos de Crescimento PT e Europa
Periodo Tx de crescimento Comentário Período Ec. Europeia
entre anos de
máximo (Portugal)
1911-1923 1919-20 Boom
1923-1934 4.5% Prosperidade, 1920-25 Recessão
beneficio de curto e 1925-29 Boom
médio prazo do acentuado*
proteccionismo 1929-32 Grande
depressão
1934-1937 -0.1% Recessão 1932-37 Boom
1937-1947 1.7% Crescimento,
vantagens da 2ª
Guerra Mundial,
devido à exportação
de conservas de peixe,
cortiça e volfrâmio
Antes de 1928
• 1926: O ministério de Sinel de Cordes
conseguiu negociar o perdão das dividas de
guerra à Grã-Bretanha (23.5 milhões de libras)
• 1927: acordo de financiamento junto da
Sociedade das Nações em 12 milhões de libras
• 1927: relatório de reforma fiscal – aumento de
impostos, controlo das despesas, emissão de
dívida
1928
• Quando Salazar é chamado para o ministério
das finanças, para substituir Sinel de Cordes,
sabe tirar partido de um contexto que lhe era
favorável:

– as suas políticas de reforma fiscal foram facilitadas


pelo reequilíbrio das contas externas o que ajudou
ao reequilíbrio das contas públicas
1931: reentrada seguida de saída do
Padrão Ouro
• Convertibilidade da moeda em ouro/prata
• As moedas do sistema mantinham paridade com o valor do
ouro/prata, sendo automaticamente conversíveis umas nas
outras
• a quantidade de reservas de ouro do país determinava a
sua oferta monetária
• Se um país fosse superavitário em sua balança de
pagamentos, deveria importar ouro dos países deficitários
(e vice-versa)
• O aumento de reserva de metal precioso aumentava a
moeda em circulação, o que pressionava os preços e havia
tendência para perder competitividade, evitando novos
superávits
1931
• Saída da Libra Esterlina do Padrão Ouro
• 25% do comércio externo era realizado com Grã-
Bretanha;
• as reservas do Banco de Portugal estavam
denominadas em Libras
• Uma vez declarada a inconvertibilidade da Libra,
o Escudo torne-se logo a seguir inconvertível,
mas mantem paridade com a Libra
• Mas entretanto conseguiu-se a estabilização
monetária e recuperou-se a confiança do
mercado financeiro
Cronologia
• 1931 – regresso de Portugal ao sistema
“Padrão Ouro” depois de o ter abandonado
em 1891.
• 1932 – Salazar torna-se presidente do
Conselho de Ministros
• 1933 – fundação do Estado Novo Corporativo
• 1935 – Proibição dos partidos políticos
• 1936 – criação da mocidade e legião
portuguesas
Saldo Orçamental do Estado
Sargent (1993 Rational Expectations
and Inflation):

• o que levou à estabilização monetária das


economias (fim da inflação e da
desvalorização dos câmbios) foi a modificação
das expectativas inflacionistas decorrentes de
uma alteração do regime de política
macroeconómica
Bases Legislativas do Estado Novo
• Organização da Nação:
– acto único colonial
– Constituição de 1933 com regime de partido único
– Corporativismo (grémios, juntas, comissões,
institutos, federações => representados na câmara
corporativa)
• Agricultura
– Campanha do Trigo 1929-1937
– Preço mínimo para o trigo (stocks geridos pelo Estado)
Preços Mínimos
CONCEITO:

Preço mínimo P

D S

PMIN

QD QS

Excesso de Oferta = Acumulação de Stocks


Bases Legislativas do Estado Novo
• Indústria:
– Leis do Condicionamento Industrial
• 1927, 1928 (sectores específicos com excesso de
capacidade)
• 1931 – limitação da criação de novas empresas e de IDE
• 1937 – regime torna-se aplicável apenas a:
– Indústrias sobre-equipadas
– Indústrias com matérias-primas importadas
– Indústrias de bens de equipamento
– Sector exportador
– Indústrias com muita mão-de-obra
Bases Legislativas do Estado Novo
• Regulamento do Trabalho
– Criação de salários mínimos e subsídio de
desemprego
– Salário real em média mantém-se estagnado

• Obras Públicas:
– Lei da Reconstituição Económica 1935-1950
– Planos de Fomento
Os Planos de Fomento
Durante o período da Guerra
• intervenção e controlo do estado sobre a economia
atingem o seu máximo
– 1943: Lei da Nacionalização do Capital
• Benefício de Portugal como fornecedor de alimentos,
matérias-primas e serviços (Açores: Lajes e Horta)

• 1939-1950: PIB cresceu 2,5% ao ano


• 1941-1945: divida inglesa a Portugal ascende aos 80
milhões de libras (fazem-se acordos de pagamentos)
• Acumulação de divisas e ouro nas reservas do BP
• Apreciação do Escudo
Economia Portuguesa

Tema 1: O séc. XX
1.2. Reconfiguração internacional no
período pós-1945
Nova Ordem Mundial
• Reorganização política
• Reorganização militar
• Reorganização económica
– NATO
– ONU
– GATT
– FMI Sistema de Bretton Woods
– BIRD
ONU
• Componente política:
– conselho de segurança, com poder de veto sobre as
decisões da Assembleia Geral.
• 5 elementos provisórios (5 regiões do globo)
• 5 elementos permanentes, que são os vencedores da guerra: EUA,
URSS, China, Inglaterra e França.

• Componente económica:
– intenção de liberalização e fomento do comércio
internacional: havendo menor proteccionismo, haveria
uma maior relação entre os povos, construindo-se
interesses comuns, diminuindo-se assim, o risco de
conflito.
Conferência de Bretton Woods (1944)
• FMI:
– ajudar na reconstrução do sistema monetário
internacional
– Os países membros contribuem com dinheiro para o fundo
através de um sistema de quotas
– os membros com desequilíbrios de pagamento podem
pedir fundos emprestados temporariamente
– vigilância das economias dos seus membros e procura de
políticas de autocorrecção
– Vigilância do valor relativo das moedas: o câmbio original
em dólares (USD) era definido por cada país no momento
de sua adesão ao sistema e devia manter paridade na
banda 1%
Conferência de Bretton Woods (1944)
• BIRD
– Financiamento para a reconstrução. Está na
origem do Banco Mundial

• GATT
– cada país signatário tinha de conceder estatuto de
nação mais favorecida aos outros membros.
Integração Económica
• Zona de Comércio Livre: abolição de tarifas e quotas na
comercialização de bens entre os países membros (ex.
EFTA)

• União Aduaneira: zona de comércio livre com tarifa externa


comum (ex. CEE)

• Mercado Comum: união aduaneira com livre circulação dos


factores produtivos entre os países membros (ex. CE depois
de 1986)

• União Económica e Monetária: mercado comum dotado de


uma moeda única (UE)
Período de Ouro da Economia
• 1945/47 até 1971/73
– Estabilidade política no pós-guerra em quase todo o
mundo
– Desmobilização e os refugiados permitiram aumentar
a mão-de-obra
– Elevado potencial de novos investimentos, em parte
destinados à reconstrução. Por outro lado, devido à
paralisação de 5 anos de produção, havendo assim
grande necessidade de novos investimentos
– Progresso técnico é adaptado à vida civil (aeronáutica,
indústria química, indústria automóvel, etc)
– Energia barata
Na Europa
• Plano Marshall, em conjunto com a OECE (que
depois originou a OCDE em 1961)
• Objectivos:
– Prestar auxílio alimentar
– Pôr a funcionar os meios de comunicação
– Pôr a funcionar estradas e indústrias
– Pôr a funcionar indústrias de bens de consumo e
agricultura
– Pôr a funcionar as escolas
Integração Económica na Europa
• BENELUX
• CECA CEE
• EURATOM

• CEE
• EFTA
Portugal 1945-51
• Crise política de 1945-49
• As eleições no Estado Novo
• Pressões Internacionais
• 1951: as colónias tornam-se províncias ultramarinas
• 1954-1961: perde-se a Índia

• Durante a década de 50 mantiveram-se as regras


usuais enfrentando tensões com os aliados (devido ao
regime e às Colónias) com a uma ligeira
industrialização do país, que continuava muito virado
para uma vocação rural.
Economia Portuguesa

Tema 1: O séc. XX
1.3. Os anos 50 e os Planos de
Fomento
1º Plano de Fomento
• 1953 a 1958
• projectos de investimento com inspiração
parcial no Plano Marshall. Esses projectos
envolvem áreas como:
– Agricultura,
– Indústria de base
– Transportes
– Electricidade
Os Planos de Fomento
1957: IIº congresso da indústria
• Motivação para o 2º plano de fomento (1959-1964)
• As análises mostram que o país está muito atrasado
• Os investimentos não tiveram os resultados que se
esperava. Detectou-se necessidade de:
– difundir uma mentalidade industrial
– Industrialização rápida do País (incluindo as possessões
coloniais)
– incremento do ensino técnico e da investigação aplicada
– alterar o regime do condicionamento industrial
– prestar uma especial atenção à situação da agricultura
– não perder de vista as transformações derivadas dos
movimentos de cooperação e integração europeia
2º Plano de Fomento
• Alvos preferenciais de investimento:

– Floresta, para evitar baldios e para prover a indústria


de celulose com matéria prima;
– Rega, instalando-se no Sul onde há falta de água e
aproveitando-se melhor as nascentes do Norte
– Estrutura Fundiária, que devia acompanhar o sistema
de regadio, como em Espanha (emparcelar no Norte,
onde as propriedades eram muito pequena e parcelar
no Sul, proprietários absentistas).
Final dos anos 50
• Crise política de 58/59: Presidente Craveiro Lopes era
desenvolvimentista, o que não agradou a Salazar. São
convocadas eleições presidenciais, onde participa
Humberto Delgado. Américo Tomaz “ganha” as
eleições
• O Regime apercebe-se de grande descontentamento:
substituição do Governo, alteração do método de
eleição do PR
• Sente-se a necessidade de maior abertura ao exterior:
– Adesão ao FMI e ao Banco Mundial
– Adesão à EFTA em 1960 (Estado fundador)
Bibliografia Recomendada
• Abel Mateus “Economia Portuguesa: Evolução
no contexto internacional 1910-2013” cap. 3

• Fernando Rosas “Estado Novo e


Desenvolvimento Económico (anos 30 e 40) in
Análise Social, vol XXIX

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