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A Poxoréu de Oitenta Anos

Izaias Resplandes de Sousa*

Figura 1: Rua Mato Grosso, em frente o IHG de Poxoréu.

O município de Poxoréu, cuja emancipação é datada de 26 de


outubro de 1938, está completando oitenta anos de existência em 2018. Sua
trajetória gráfica sempre foi marcada por altos e baixos, tanto do ponto de
vista social, como do econômico, do político e do Cultural.
Em quase todos os anos costumo fazer uma crônica de minhas
observações e audições referentes à paisagem poxoreana. E aqui estamos
nós de novo.

Figura 2: Povoado da Raizinha. Poxoréu, MT.


Socialmente, Poxoréu foi edificada sob o labor garimpeiro, desde
1924, quando os diamantes foram descobertos nessa região a partir das
influências de São Pedro, Sete, São Paulo da Raizinha, Ponte dos Santos e
Morro da Mesa, entre outros.
Luís Sabóia Ribeiro registra que a marcha para o Oeste é um favor
que o Brasil deve ao garimpeiro. Foi este que, em sua busca pelas riquezas
minerais, realizou um verdadeiro plantio de cidades na direção em que o sol
se põe em nosso país. Poxoréu fez parte dessa dinâmica, cujo desenrolar já
está muito bem contado, não só pelo próprio Sabóia, como também por
Michael Baxter, Jurandir da Cruz Xavier, João de Souza e tantos outros,
através de minuciosa e requintada escritura. Rendo tributo a esses notáveis
pesquisadores que já sintetizaram nossas raízes históricas, posto não
vislumbrar nada de novo no front neste momento.
A vida era difícil naqueles primeiros tempos, principalmente para os
que se aventuravam em direção às regiões mais inóspitas do oeste
brasileiro. As riquezas minerais endoidecem os homens, enchendo-os de
coragem e fibra. Aqueles dias viram muitos mortos e muitos matadores.
Qualquer motivo era suficiente para que a vida de alguém fosse ceifada. Não
havia segurança para ninguém. Assim, inegável dizer que fomos colonizados
pelos sobreviventes daquelas lutas sem fim.

Figura 3: O maranhense João Resplandes de Araújo e sua esposa Jorcelina Sousa Carrijo

Os nordestinos vieram para cá, aos milhares. Mas também vieram


os nortistas e os nossos vizinhos de Goiás e São Paulo. Meu avô João
Resplandes de Araújo, por exemplo, me contou que aos dezoito anos deixou
o Jenipapo do Resplandes, atual município de Fernando Falcão, no
Maranhão, vindo para Torixoréu e depois Poxoréu. E sua migração não tinha
outro propósito que não fosse encontrar as riquezas que se anunciavam
neste rico eldorado mato-grossense. Ele trabalhou muito, mas não foi
abraçado pela fortuna. Morreu pobre, como a maioria dos garimpeiros, que
até ganham bastante dinheiro, mas logo o perdem, porque não são bons
administradores. Naqueles tempos eles ganhavam e gastavam no mesmo
dia, sempre na crença de que haveria mais para o dia seguinte. E nem
sempre havia. De forma que a sociedade dos primeiros anos de Poxoréu era
formada por garimpeiros, prostitutas que sempre acompanhavam o afluxo
garimpeiro e mascates que perambulavam de um lado para outro vendendo
os produtos de primeira necessidade para a sobrevivência, dentre os quais
armas e munições. Havia também os bolicheiros que montavam pequenas
casas comerciais onde vendiam de um tudo; e os carreiros de bois, que
transportavam as cargas encomendadas pelos fazendeiros e bolicheiros.
Meu pai foi bolicheiro e carreiro.

Figura 4: João de Sousa e Genivá Bezerra, membros da União Poxorense de Escritores (UPE)

Nos primeiros tempos de Poxoréu, cada um fazia o que podia para


sobreviver. Temos o caso, por exemplo, de seu Mané Cego, que saía de
casa em casa, vendendo água para a população; água que ele buscava nos
córregos Bororo, Areia e Poxoréu, ou na biquinha que havia na curva da
serra, na saída para a Vila dos Currais. Os irmãos Genivá e Geová Bezerra
fizeram parte desse grupo de aguadeiros da primitiva sociedade e que foi de
vital importância para a cidade de Poxoréu.
Figura 5: Encontro das águas dos rios Areia e Poxoréu. Na margem oposta, a curva da biquinha

A famosa biquinha aparava a água que escorria da serra. A estrada


que demandava para Aparecida do Leste e Paraíso do Leste atravessava a
ponte sobre o Poxoréu e subia margeando o rio, à esquerda enquanto se via
o morro à direita. A bica ficava na beira da estrada. Segundo o relato de dona
Joana Cavalcante de Oliveira e seu irmão Antônio Cavalcante Brandão,
quando eles vinham de Aparecida do Leste, onde moravam, desciam pela
Rua dos Currais até o rio, passando por debaixo do penhasco, onde bebiam
da famosa água da bica. Disseram-me, nostalgicamente, que a bica foi
soterrada pela barragem da Usina Hidrelétrica.
As fazendas também, não eram tantas assim, porque eram grandes
propriedades, resultantes de titulações governamentais indiscriminadas aos
“meus compadres”. Expediram-se também muitos títulos dando a
propriedade aos imigrantes nordestinos, visando a colonização. Em Poxoréu
tivemos várias colônias que acabaram sendo responsáveis pelo povoamento
das fronteiras do Município. Nossos historiadores locais como João de Souza
e Gaudêncio Amorim têm falado sobre a vida que fluía nas colônias de
Paraíso, dos Mineiros, do Lambari, dentre outras.

Figura 6: Igreja Católica em Paraíso do Leste, Poxoréu, MT

A seara política não foi muito diferente da social. Se de um lado,


para cá vieram os garimpeiros atrás das riquezas minerais, de outro lado,
também vieram os capangueiros para financiar e adquirir os diamantes
encontrados. Nem sempre eles compravam para si mesmos. Na maioria das
vezes, eram testas de ferro de grandes empresas do ramo, sediadas no Rio
de Janeiro e até mesmo no exterior. Segundo o historiador, os diamantes de
Poxoréu fizeram fama na Europa, porque eram uns dos melhores do Brasil.
A política brasileira sempre funcionou na base do toma cá, dá lá. O
grosso da população era formado de gente simples, que quase sempre
andava pela cabeça dos outros, quando se tratava de questão política. Quem
tinha dinheiro, dominava o cenário. E quem tinha dinheiro eram os doutores
(bem poucos), os bolicheiros, os capangueiros e os fazendeiros. Não eram
muitos. E dentre eles, se dividiram entre os blocos políticos dominantes. Em
Poxoréu, destacaram-se naqueles primeiros tempos, o partido da UDN –
União Democrática Nacional e o PSD – Partido Social Democrata. Dentre os
caciques políticos mais famosos, destacaram-se Joaquim Nunes Rocha e
Amarílio Bento de Brito.

Figura 7: Joaquim Nunes Rocha. Político poxoreano conhecido como Rochinha UDN

Os Rochas se sobrepujaram na política poxoreana por muitos anos,


destacando-se o velho Joaquim Nunes Rocha (nosso confrade na União
Poxorense de Escritores, o Rochinha) e seus filhos Louremberg Ribeiro
Nunes Rocha e Lindberg Ribeiro Nunes Rocha. Rochinha foi Vereador,
Prefeito, Deputado e Suplente de Senador. Louremberg foi deputado e
Senador. Lindberg foi prefeito por várias gestões, em Poxoréu. Hoje, na
Poxoréu de Oitenta Anos, já não se verifica mais um predomínio político
partidário.
O atual prefeito de Poxoréu, Nelson Antônio Paim, não tem uma
trajetória política no Município. Embora tenha residido na cidade, nos últimos
anos vivia em Primavera do Leste. Segundo consta, filiou-se no PDT apenas
para poder se candidatar a prefeito da cidade. Disse que só tinha interesse
em fazer o bem para a cidade, homenageando o esforço e o trabalho de
seus pais, que vieram do sul e aqui se radicaram. Venceu os sistemas
estabelecidos, formando uma equipe de governo jovem e com pouca
experiência. Apesar disso, vem se saindo bem em sua administração. Em
que pese as críticas opositoras, que sempre haverá, sua gestão não tem
sofrido muito desgaste político. Em meu ver, acho que é mais elogiada do
que reprimida.

Figura 8: Nelson Paim discursando no IHG de Poxoréu, MT

A proposta de governo de Nelson Antônio Paim tem por objetivo


consolidar as obras inacabadas, iniciadas pelas gestões anteriores, antes de
se iniciar qualquer obra nova. Nessa linha, tem concluído as Unidades
Básicas de Saúde, está trabalhando na conclusão das obras da Feira do
Produtor, do Ginásio de Esportes Cinquentão e do Balneário da Lagoa,
dentre outras. As obras da Lagoa já estavam paralisadas há mais de 15 anos
e agora estão caminhando. Já ouvi que deverão ser concluídas nesse ano de
2018. Se isso realmente acontecer, essa deverá ser a sua marca registrada
na história de Poxoréu. Também tem trabalhado na recuperação de ruas,
estradas e pontes, bem como mantido os serviços básicos municipais.

Figura 9: Jane Maria Sanches Lopes Rocha, Prefeita de Poxoréu (2013-2016)

No cenário político, a Poxoréu de Oitenta Anos registra um conflito


com a cidade de Primavera do Leste, no que diz respeito ao Distrito Nova
Poxoréu, criado na gestão da prefeita Jane Maria Sanches Lopes, nos limites
com aquele município. Cada dia se escuta uma coisa a respeito. Ora se diz
que o Distrito é de Poxoréu, ora se diz que é de Primavera do Leste. As duas
administrações municipais desenvolvem atividades em Nova Poxoréu.
Segundo as notícias, o assunto está na Justiça.
Na questão econômica, Poxoréu está respirando. Ouvimos que ao
assumir a Prefeitura, Nelson Paim encontrou a Folha de Pagamento dos
Servidores atrasada por vários meses e que hoje ela está em dia. Mas se diz
que isso não foi por conta de incremento de receita, mas por administração
da receita já consolidada, deixando de fazer muitas coisas que eram feitas,
mas que poderiam esperar por melhores dias. Um exemplo disso foi a festa
de carnaval, tradicionalmente promovida pela Prefeitura e que neste ano teve
outras orientações.

Figura 10: Convite para o XVI Encontro Nacional de Violeiros em Poxoréu, MT. 2018

A festa da viola, o Encontro Nacional de Violeiros, foi realizada


normalmente, mas como soe acontecer todos os anos, os recursos para
essa festa não vieram propriamente dos bolsos poxorenses, sendo oriundos
de subvenções estaduais. Para tanto, foi criada a Associação Pró-Viola, que
faz a ponte entre os destinatários e os beneficiários dos recursos. A cidade
ainda não se preparou para receber os dividendos dessa festa. O movimento
dos recursos beneficia bem pouco a população da cidade. É uma festa cara,
custeada com recursos públicos, em sua maioria, e que não traz grandes
benefícios sociais. É mais trovão do que chuva. No entanto, é uma festa que
já perdura há 16 anos. E o povo gosta, porque muita gente participa.
A paisagem urbana da cidade de Poxoréu vem mudando, mas
muito lentamente. A construção civil foi um pouco incrementada. Há dois
novos hotéis sendo construídos. Isso é interessante. Várias casas de boa
qualidade também têm sido construídas, graças a recursos de
financiamentos, o que trouxe alguns empregos a mais de volta. Aliás, é de
dizer que nunca vi tantas obras particulares sendo realizadas em Poxoréu.
Para mim, isso é um indicativo de que a economia vai bem.
A cultura continua na mesma. Sobrevivendo à custa das migalhas
que caem das mesas dos senhores. Poxoréu conta com dois pontos de
cultura para orientar os projetos culturais com recursos públicos. A
Associação Partilhar e o Centelha de Luz Juvenil, tendo à frente Eder Rocha
e Lúcia Voltan, respectivamente. Giampiero Barozzi dirigia a Associação
Partilhar, mas retornou neste ano para a Itália.

Figura 11: Construção de novo hotel na rodovia MT-130, saída para Juscimeira. Vila Santa Maria.

O Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu – IHG chegou aos


seus três anos de existência, com uma marcante atuação cultural, tendo
realizado importantes movimentações populares. Dirigido pelo Prof.
Gaudêncio Filho Rosa de Amorim, vem lutando para consolidar a
propriedade de sua sede própria e definir seu quadro de sócios efetivos. O
prédio da sede foi doado pela administração Jane Sanches Lopes, mas a
transferência legal ainda está em curso até hoje. Várias reformas já foram
feitas na estrutura, mas ainda se precisam realizar muitas outras.
Dentre os projetos para 2018 foi prevista a edição da segunda
revista do IHG (a primeira foi lançada em 2017); a reforma para ampliação da
Casa de Memória Manuel de Aquino Pié, inaugurada em 2017, cuja
ampliação visa abrigar o acervo audiovisual; e também a realização de
palestras com personalidades mato-grossenses.
Figura 12: Sede do IHGP - Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu, MT

A União Poxorense de Escritores – UPE completou trinta anos de


lutas em defesa da arte e da cultura. Com muito suor e sacrifício, a entidade
se manteve durante essas três décadas, de forma ativa. Manteve no ar o
programa radiofônico Momento de Arte e Cultura, que foi transmitido pela
Rádio Saulmatogrossense, hoje controlada pela Rádio Jovem Pan.

Figura 13: Izaias Resplandes, João de Souza, Edinaldo Pereira e Gaudêncio Amorim, Diretoria da
UPE 2018
Durante todos esses anos, também realizou nos festejos do
aniversário da cidade, o Recital de Poesias Upenino, evento dirigido aos
alunos das escolas e creches de Poxoréu. Publicou várias edições do Jornal
O Upenino e também da revista A Upenina. Atualmente, a entidade está
sendo presidida pelo Notável Upenino Edinaldo Pereira de Souza, apoiado
por João de Souza (1º Vice-Presidente), Izaias Resplandes de Sousa (2º
Vice-Presidente), Gaudêncio Filho Rosa de Amorim (Secretário Geral) e a
Wallace Rodolfo Ferreira da Silva (Tesoureiro Geral). Essa é a trigésima
primeira diretoria upenina.
A Poxoréu de Oitenta Anos encontra a UPE investindo pesado nas
atividades eletrônicas. As duas últimas revistas A UPENINA (nº 6 e 7) foram
edições eletrônicas. Além disso, desde 2017, a entidade está mantendo a
Rádio Upenina, uma rádio web em caráter experimental. Entendendo que
esse é o rumo para as comunicações, a entidade continuará desenvolvendo
atividades nessa linha. E então é isso. Com certeza haveria muito mais para
se dizer, mas o faremos em outros espaços e em outras oportunidades.

Figura 14: Izaias Resplandes de Sousa, autor do artigo.


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* Izaias Resplandes de Sousa, advogado, professor e escritor mato-
grossense é o 2º Vice-Presidente da União Poxorense de Escritores e o
Orador do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu.

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