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O VALE
DO CÓRREGO DA MATA
Após a porteira, seguimos pela estradinha de chão e cascalho avermelhado, por uns
duzentos metros, mais ou menos, chegando ao mirante do pé da serra. A visão que se abriu aos
nossos olhos, para mim, era pura mágica, tal o grau de encantamento que produziu em minha alma.
Quantas vezes eu estivera ali, olhando e apreciando aquele velho pé de serra, onde
meu avô criou seus filhos e onde muitos de nós, seus netos, também nascemos.
Ali de cima dava para visualizar cada uma das antigas moradas, das quais, algumas,
nem os esteios se veem mais. Mas, lá no meio daquela bela paisagem, a velha casa de meu avô
resiste ao passar dos anos, há quase um século. Outrora, ali, era uma mata fechada. E, por isso,
quando meu avô Antônio Gomes de Sousa, que todos conheciam como Tunico Sousa, resolveu
fazer ali a sede de sua fazenda, ele não teve dúvidas de que ali seria a Fazenda da Mata.
Hoje, a mata nativa é quase inexistente, embora mereça elogios o esforço de
reflorestamento feito pelos “paulistas”, que compraram as terras do entorno.
Por conta da legislação, esses paulistas agricultores decidiram deixar como reserva
florestal o vale do Pé da Serra. E assim, apesar de ser apenas uma pequena faixa ciliar em torno do
Córrego da Mata, com certeza, já vale por demais a pena, principalmente, porque é a nossa velha
mata que está sendo restaurada. Segundo os “meninos” do Tiberó (que desde 16 de março de 2020
nos deixou, depois de trabalhar a maior parte de se seus 84 anos de vida no Pé da Serra), os bichos
estão voltando. A nova mata já abriga até mesmo onças pardas.
Ali, do alto do mirante, eu dei um zoom na câmera para ver a casa de vovô com mais
detalhes, apesar de que, cada um deles está bem guardado no “santo dos santos” de meu cérebro. E
então pude ver nitidamente a antiga estradinha de acesso à fazenda. Quantas vezes eu já passei por
ela, fosse a pé, guiando carro de bois, ou mesmo em meu próprio carro, em minhas visitas. É uma
subida apertada e, nessa época de chuvas, costuma brotar água no seu leito, dificultando a subida.
Eu nasci no Pé da Serra,
Pertinho de Pouso Alto.
Seja em paz, ou seja em guerra
No amor por ti não falto.
Eu nasci na sede da Fazenda da Mata, na casa de meus avós Tunico Sousa e Maria
Cândida de Sousa, em 25 de maio de 1958. Pode ser que meu amor por esse lugar decorra dessa
minha filiação. Meu Tio Antônio Carlos Martins de Sousa, o tio Carlinhos, costuma dizer que, para
as novas gerações, a casa da fazenda não passa de uma taperona. Também acho que muitos pensam
assim, mas há quem pense diferente e veja a necessidade de se restaurar a velha casa que, sem
dúvida alguma, é um patrimônio não só da família, mas também do município de Torixoréu.
II – JOÃO GOMES DE SOUSA
E então começamos a descida em direção ao Vale do Córrego da Mata, onde, em um
passado não tão distante, meu avô Tunico Sousa e seus filhos fincaram os alicerces de suas
moradias. E não somente eles, mas também os tios João Gomes de Sousa, Belmiro Gomes de
Sousa, José Carrijo de Sousa e Lázaro Coelho de Figueiredo se estabeleceram no mesmo vale, um
puco mais abaixo, na região do córrego Barreiro e do córrego Água Limpa.
Das águas que nascem nessa região, a cabeceira mais alta é a do Córrego da Mata,
que nasce nas terras que foram do meu pai, Marcelino, o Marcelo. Tem outra que nasce na serra, lá
perto de tio Belo Sousa, que é a do Córrego Barreiro e que recebe o Córrego da Mata, o qual perde
seu nome para ele. Também tem o Córrego Água Limpa, que nasce nas terras de tio Lázaro Coelho
de Figueiredo e que também cai no Barreiro. Quando esses dois se juntam formam o Córrego Boa
Esperança, que vai cair no Rio São Domingos, que depois cai no Araguaia, que cai no Tocantins e
que cai no mar. Então, as nossas terras queridas fazem parte da grande bacia do Tocantins.
Já no começo da descida, mais uma porteira. Passamos por ela e vimos que a estrada,
na parte mais alta é bastante sinuosa. No entanto, depois de algumas curvas, desce em disparada
linear até a antiga casa de tio João Gomes de Sousa, que depois foi de tio Irani, de José Estêvão de
Sousa, o Juquinha e, agora por último, é dos “Paulistas”.
Do tempo de tio João Sousa, eu não me lembro nada. Nem sei se era nascido. De tio
Irani, ali, também me lembro bem pouco. Minhas maiores lembranças são do tempo do Juquinha.
Provavelmente, faço confusão nas lembranças que tenho do morador. Mas, sei que ali teve uma
escola e que eu estudei nela. O mestre era o Professor Antônio Florêncio. Também estive no
casamento da Ivanete do Juquinha com o Sinval do Nicola Alves de Figueiredo. Naquela ocasião,
tomei conta de um bolicho improvisado que meu pai montou ali, com uns caixotes, para vender
cigarros, bala doce e cachaça. Meu pai, o velho e saudoso Marcelino era um bolicheiro nato.
Tio Irani e o Juquinha, permanentemente, tocaram bolichos nessa casa. Ela tinha
várias salas abertas para o pátio e, na parte à direita de quem entra, ficava a cozinha. No quintal,
haviam pés de jabuticaba, daquelas bem docinhas e também outras fruteiras.
Não há como ser otimista. O mato está tomando conta de tudo. Quase não se vê mais
a velha casa. É quase certo que, em breve, a antiga morada do tio João Sousa seguirá o destino das
outras casas vizinhas, como a do tio Belo Sousa, do tio Zé de Sousa, do tio Josias Gomes, do tio
Itamário Carrijo e tio Lázaro Cainágua, do tio Odílio Carvalho, do tio Marçal Ribeiro e do meu pai
Marcelino Argemiro de Sousa. Isso, para falar apenas daquelas casas que eu me lembro. Mas, outras
tantas já devem ter sucumbido a esse destino, conforme traçado pelos novos proprietários.
Ao chegar em frente a casa de tio João Sousa, outrora também habitada pelo
Juquinha e tio Irani, a estrada faz uma curva de noventa graus em direção à Fazenda da Mata,
margeando o Córrego da Mata.
Seguimos por ela. No percurso havia duas porteiras. Mas, hoje, elas somente são
abertas em situações especiais, para caminhões e máquinas pesadas passarem. Fizeram mata-burros
do lado e, assim, Lourdes, minha zezinha abrideira de porteiras, não precisou descer do carro para
abri-las. Atravessamos o Córrego da Mata, no qual, antigamente, a gente passava por dentro das
águas, mas, agora, tem uma pequena ponte. E pegamos a estradinha de subida para a fazenda,
aquela que avistamos lá do alto do mirante.
Ao terminarmos a subida, avistamos a casa centenária. Meu coração, como sempre
acontece nas vezes em que chego ali, começou a bater mais acelerado ao ver meu berço de
nascimento e de minha infância. Hoje, ela está desgastada pelo tempo, mas ainda me recordo de sua
plenitude, quando era toda pintada de branco, com um lindo barrado azul-celeste. Linda e
maravilhosa! Mas eu ainda a vejo com os mesmos olhos, o mesmo coração e o mesmo amor.
Abaixo das janelas, a casa era pintada de azul-celeste. Nas fotos mais antigas ainda
dá para se perceber a linha divisória das cores. Das janelas para cima era branca. E acho que as
portas não eram pintadas.
Olhando pelo lado do curral vemos seis janelas. As quatro primeiras ficam na sala; as
duas outras, no quarto de meu avô. A janela abaixo do quarto de vovô era a janela da despensa. Ela
se abria para o curral. E, por ali, o leiteiro colocava o leite direto nos baldes que estavam na
despensa, à beira dela. Era ali também que recebíamos a escuma de leite fresco extremamente
deliciosa, ou mesmo um copo de leite in natura, também bastante gostoso.
O curral tinha diversas repartições, como o tronco e o curral para os bezerros. O leite
era tirado no curral maior. E, às vezes, quando estava muito chuvoso e o curral se enchia de lama,
tirava-se o leite no pátio frontal da fazenda. Atualmente há um novo curral e ordenha mecânica.
Também era costume tirar fotos de dentro do curral para se ter a casa aos fundos. As
fotos ficavam mais bonitas. Nós temos uma dessas, com meu pai Marcelino Argemiro de Sousa,
também conhecido como Marcelo (que já não está conosco desde 29 de junho de 2004, quando foi
para o reino de Deus, após 67 anos de vida por aqui) e meu avô Antônio Gomes de Sousa, o Tunico
Sousa (que nos deixou em 09 de abril de 1999, após 95 anos no comando da família). Eles estão no
curral, enquanto os filhos de meu pai se apinham pelas janelas.
Meu pai teve dois casamentos. No primeiro, com minha mãe Maria Resplandes de
Sousa, teve cinco filhos: Eu (Izaias), Antonio, Argemiro, Waldomiro e Vildacy. No segundo, com
minha madrasta Maria Cândida Teodoro, teve dois filhos: Sandoval e Wanderley. E sua esposa
Maria Cândida também teve dois casamentos. No primeiro, com José Teófilo Coelho Filho, teve
seis filhos: Luiza, Lucimar, Luzia, Ediranir, Luecy e Alcir. No total, meu pai ficou com 13 filhos.
Desse treze, três já nos deixaram: Vildacy Resplandes de Sousa (28/07/1964-05/06/1978), Ediranir
de Freitas Coelho (07/09/1957-17/02/2018) e Luiza Coelho de Sousa (04/11/1951-24/02/2021).
Marcelo e seu pai Tunico Sousa
Na frente da casa havia um pátio cercado com lascas de aroeira e uma porteirinha de
entrada. O pátio era ladrilhado com tijolos. Depois, aos poucos, também foram incluídas algumas
pedras em reposição aos tijolos. Ali, também, era um local muito requisitado para se bater fotos.
Atualmente, a cerca de aroeira e o ladrilho de tijolos já não existem mais. O pequeno
pátio tem uma cerca diferente, mas que é funcional e serve aos propósitos da fazenda.
As paredes também vêm sendo, paulatinamente, reformadas, mas, sem a
preocupação de se manter os traços originais. Visa apenas a funcionalidade.
No pátio há duas entradas na casa, uma para a sala e outra para o salão. A porta da
direita e a janela ao lado, dão para a sala; a segunda janela e a porta ao lado, dão acesso ao salão,
sem que se precise passar pela sala. Entre a sala e o salão existe uma porta de comunicação. As duas
janelas da esquerda pertencem ao quarto do salão, que também tem janelas para o terreirão.
Atualmente, a sala foi dividida em dois cômodos, sendo que um deles serve para depósito e o outro
para mais um quarto.
Na parte de cima da casa (porque ela tem dois níveis) ainda ficam o quarto do vovô,
que tem janelas para o curral (e que era um local sagrado, onde os meninos não entravam), um
quarto que tem janelas para o pátio dos fundos e o quarto da escada, cujas janelas dão para o
terreirão.
No quarto que abre suas janelas para os fundos da casa, havia um letreiro vermelho
com os nomes dos filhos de meu pai que haviam nascido ali, eu creio. Tinha o meu nome, o do
Antônio e o do Argemiro, com as nossas respectivas datas de nascimento. Esse letreiro foi apagado
em uma recuperação da parede.
O quarto da escada era ocupado pela tia Zulmira, quando solteira.
A bica praticamente dividia o Calabouço da Casa do Monjolo. À frente da casa, uma outra bica levava água
para a casa. Havia um furo na bica principal, por onde a água fluía para a bica do chão, que hoje foi substituída
por canos de pvc. À frente da Casa do Monjolo está o terreirão. Do outro lado da bica, onde os meninos estão
sentados, tia Zulmira cultivava um jardim, de onde se destacavam lindas flores. Quanto aos meninos,
acreditamos que sejam tio Eriovaldo (de chapéu), tio Eriovan (ao lado esquerdo dele). Os demais não temos
segurança. Creio que o primeiro menino sentado seja o tio Antônio Carlos, o Carlinhos. Veja-se que o ladrilho de
tijolos do terreirão estava em bom estado. Também não sabemos o nome do cachorro.
O terreirão, nos tempos mais antigos, quando meu avô tinha um belo cafezal aos
fundos da casa, na chácara, era utilizado para secar o café. Depois de seco, o café era socado no
pilão do monjolo e torrado em torradeiras manuais, no fogão de lenha da cozinha. A gente ficava
rodando a manivela da torradeira até o café chegar ao ponto e para que não queimasse.
Hoje o terreirão está assim. Eu ainda me recordo de tia Zulmira de Jesus Sousa se
reunir comigo, meus irmãos e muitos outros primos aqui nesse terreirão, à noite, para nos contar
histórias fantásticas de reis e príncipes encantados. A gente viajava em suas narrativas.
Há seis janelas na casa, que se abrem para o terreirão. As duas primeiras são do
quarto da sala, as duas do meio são do quarto da escada e as duas do pavilhão de baixo são da
cozinha. A glória dos meninos é passar por essa quinta janela. Ela sai em cima da escada. Aí, a
gente sobe um lance de escada e se senta na janela, ou atravessa por ela.
Os adultos ficam sempre chamando a atenção dos menores que querem passar por
ali, para que tomem cuidado. Mas, como eles passam, todos querem passar.
E aí ocorre uma verdadeira farra na janela.
Aos fundos da cozinha fica hoje a área da piscina e um lavatório em que se usa a
água que vem da serra. Antes vinha somente pelo rego d’água. Agora, também foi canalizada, desde
a mina até a casa. É água pura, mineral. Vovô Tunico se orgulhava em dizer que essa água não
precisava ser filtrada. Que ele havia criado todos os filhos e muitos netos bebendo dela e todos
estavam gozando de boa saúde.
Em 2015, estive na nascente, acompanhado por minha esposa, meu neto Davi, tia
Agda e o primo Renan. Naquele dia, Davi foi montado na égua “Gaúcha”, de tio Osvaldo. E eu a fui
puxando pelo cabresto. Foi emocionante chegar até o local onde a água brota debaixo da pedra. Na
volta, Davi levou o seu primeiro tombo da égua. Ao atravessar uma grota, a égua resolveu saltá-la,
em vez de passar por dentro d’água e ele caiu. Mas, graças a Deus, sem nenhum dano colateral. Foi
só um susto. Davi chamava a égua de “Garrucha”.
Ainda na parte frontal da casa, há uma mangueira também quase centenária. Em
todas as minhas lembranças, ela está lá. Em tempos mais remotos, acima da mangueira ficava o
paiol e um galpão onde se guardava o carro de bois. Nesse prédio, também, já funcionou uma sala
de aulas.
Na Fazenda da Mata, todas as obras tinham múltiplas utilidades. Cada coisa era
usada conforme a necessidade do momento.
No lado direito da casa, na banda do curral, até hoje ainda existe um pequeno terreiro
ladrilhado, o qual era utilizado para se fazer o abate de porcos. Nos meus tempos de criança, o
animal era sapecado com folhas de “gueiroba”, recolhidas ali mesmo na chácara. Hoje, tio Osvaldo
usa um maçarico, com o qual sapeca até os frangos. Coisas da modernidade.
Na parede de fundo da cozinha, ao lado da porta que dá para a área da bica, tinha um
pequeno espelho, onde vovô Tunico se olhava para fazer a barba com sua navalha. Me lembro de
vê-lo fazendo isso várias vezes.
Ao lado esquerdo da Casa atual, dentre do Chiqueirão, bem antigamente, havia uma
outra Casa, onde meu avô morou até que a casa atual ficasse pronta. Hoje não há mais resquícios
dessa construção.
Já à direita da Casa, após o curral e a Casa do Engenho fica o bagaceiro., local onde
se jogava o bagaço da cana moída. Ali se plantava batatas que eram colhidas em abundância.
A Casa do tio Marçal e tia Graciana ficava mais abaixo, mais próxima do Córrego da
Mata. Durante muitos anos eles moraram ali. Hoje não há mais indícios dessa casa.
Nas fotos, a seguir, mostraremos alguns recortes da parte interna da Casa da Fazenda,
como a cozinha, quartos, a escada, as paredes e as portas.
É de ver que, antigamente, nos tempos de chuva, brotava água na cozinha, porque a
casa ficava em uma encosta. A água saía debaixo do assoalho. Hoje esse problema foi resolvido,
mas eu achava muito interessante aquelas nascentes de água dentro da cozinha.
Dentre o mobiliário da cozinha, o destaque era para o “bancão” e a “banqueta”.
Tia Leidiomar e eu no terreiro da cozinha. Ao fundo,
a porta da despensa e as janelas do quarto no andar de
cima.
Tia Leide com os filhos de tia Marina: Aberaldo, Antônio e
Aparecida dos Anjos, na cozinha da Fazenda da Mata.
Foto do salão, com destaque para a porta e a janela da frente, que dão para o pátio de entrada
e a porta do quarto do salão; as paredes internas que separam o salão da sala e do quarto do
salão são de madeira trabalhada. A pintura das tábuas é de rosa e das vistas é de azul. Nesse
salão havia penduradores para as traias. Hoje, como quase não se usa mais cavalos na
fazenda, o Tio Osvaldo usa o salão para guardar sua moto. Ele vai ao pasto de moto.
Essa é a porta do quarto de meus avós. Daqui, todos os dias,
meu avô chamava a todos que estivessem na casa para se
levantar. Somente depois ele se levantava.
Wanessa, filha de Laiane, neta de tia Leidiomar e Arthur, filho de Fernando,
meu neto. Eles estão no salão. O destaque é para a porta que demanda para a
escada que desce à cozinha. As paredes internas e o assoalho ainda são
originais.
Essa é a janela do salão. Todas as janelas da casa possuem essa
característica. O destaque é para a tramelinha. Muito engenhosa. Essa também é
uma janela original, de 1924.
A casa, agora, já é abastecida por energia elétrica e celular.
Aspectos da cozinha, com destaque para a escada que conduz ao pavimento superior.
É uma escada em ee com seis degraus com corrimão e mais tres degraus (que hoje
são de cimento). Originalmente, todos eram de madeira. A quinta janela, que dá
acesso ao terreirão fica na altura do primeiro degrau da escada.
Essa é a escada original de 1924, que une os dois pavimentos da Casa da Fazenda
da Mata, a qual ainda está em perfeitas condições. O corrimão oferece toda a
segurança para quem estiver subindo ou descendo. Descer ou subir correndo essa
escada já foi uma de minhas diversões favoritas.
Essa é a sexta janela da parte lateral esquerda da casa. Também fica na
cozinha. Na foto, Tia Leidiomar prepara um lanche para os seus visitantes,
o que sempre fez parte da tradição hospitaleira dessa casa. Aqui sempre
foram preparadas e servidas deliciosas quitandas.
A quinta janela da parte lateral esquerda da casa, que se abre
para o terreirão. Nesta vista, do lado de dentro da cozinha,
Wanessa, filha de Laiane e neta de tia Leidioma é o destaque.
Nascente de água da Fazenda da Mata, no pé da
serra da Irara, município de Torixoréu. A água
nasce debaixo das pedras
A aventura de Davi Nascimento Resplandes, filho de Fernando Resplandes e
neto de Izaias Resplandes de Sousa e Maria de Lourdes Resplandes, em 20 de
janeiro de 2015, até as nascentes de água da Fazenda da Mata, no Pé da Serra.
A égua em que Davi está montando tem o nome de “Gaúcha”, mas o Davi a
chamava de “Garrucha”. Nessa época ele ainda tinha apenas 4 anos de idade.
Participaram da aventura: Tia Agda e seu filho Renan, minha esposa Lourdes,
minha filha Mariza, eu e o meu neto Davi. Foi inesquecível.
Vista aérea da Fazenda da Mata, hoje Fazenda OR.
Abaixo, arte com Vô Tunico, Tio Eriovaldo e Izaias
Resplandes de Sousa
Antigo letreiro no
quarto da fazenda onde
nasci. Abaixo: tio
Osvaldo e tia
Leidiomar, os atuais
proprietários da
Fazenda da Mata
IV – JOÃO BEROCAM DE SOUSA
Atualmente, nenhum dos filhos de Tiberó está morando na velha fazenda deles. O
primo Valmi Pereira de Sousa está cuidando da propriedade, mas ele não mora nela. Sua residência
fica na Fazenda 14 de Maio, de sua propriedade, a qual não está tão distante.
Casa de Tiberó e Titezilda. Na foto abaixo, Davi
Nascimento Resplandes, meu neto, em foto tirada dos
pastos da Fazenda da Mata mostrando o belo Lago de
Tiberó
Um pouco acima da casa de Tiberó foi construída uma outra casa. Inicialmente,
quem morava ali era o Antônio, depois a Ilda também morou lá. E o José Pereira mais a Luziamária
foram os últimos moradores.
Nessas duas fotos é possível ver a Casa do Ze Pereira. Na foto acima, com o Genes
Marcelino, o Zé Pereira e o Waldomiro Resplandes, ela está bem visível ao fundo. A foto
foi batida de frente da Casa de Tiberó. Na foto panorâmica, dá para se ver a Casa da
Fazenda da Mata, a Casa de Tiberó e a Casa de Zé Pereira.
Vistas da Casa de Tiberó nos tempos áureos
Essas, talvez sejam as melhores memórias dessa histórica casa, tio Josias
e tia Inez passaram a maior parte de suas vidas, criando seus filhos e
servindo a todos da região. Acima: Waldomiro, Argemiro, seu Erasmo e
Lourdes. E as crianças são: Douglas e Tânia Mara, Izaias, Ricardo,
Fernando, Genes, Izangela e Mariza Resplandes. Abaixo: Izangela,
Ricardo, Tânia e Mariza Resplandes. Fotos de outubro de 1993.
Argemiro Resplandes chegou a morar nessa casa. Inclusive, nessa época, também
tivemos o privilégio de passar um tempo breve com ele aqui. Hoje, só nos resta lamentar termos
vendido essa propriedade, nesse lugar que é tão caro para nós que nascemos e vivemos nessa região
a maior parte de nossa infância. Como disse, os planos do futuro, nem sempre são os nossos.
Uma de minhas lembranças do tio era o seu grosso cigarro de palha, que sempre
estava chamegando. Seus filhos dizem que ele era muito rígido na disciplina, mas nunca vi o tio
Josias bravo. Pelo contrário, minhas lembranças dele são de uma pessoa extremamente alegre e
feliz.
Depois de muitos anos vivendo com tia Inez, eles se separaram. E assim
permaneceram até o fim de suas vidas. Ambos faleceram em Goiânia, onde estão sepultados.
O rego d’água que abastecia esse monjolo, vinha de um açude no Córrego da Mata,
dentro das terras de meu pai. É provável que esse rego ainda esteja ativo, servindo de fonte de água
para o gado.
Quando nós morávamos no Pé da Serra, era costume sairmos lá de casa no começo
da noite e virmos passear no tio Josias. E aqui, no pátio que havia em frente da casa, cercado de
aroeira, nós brincávamos até altas horas.
Ao lado direito da casa ficavam os currais de aroeira. Coisa preciosa que,
infelizmente, não existem mais. Da janela da sala, a gente podia acompanhar as atividades no
curral.
Ao lado esquerdo, havia um galpão com paiol. E, aos fundos da casa, próximo ao
calabouço, também havia um galpão onde tio Josias guardava coisas velhas que ele ajuntava e que
serviam de socorro para muitas pessoas. Ali se encontrava quase de tudo, de pregos a pilha de
lanterna usada.
O grande quintal era coberto de bananeiras, mangueiras e outras fruteiras. Também
havia uma grande plantação de açafrão, que ainda se mantém, dado a grande resistência dessa
planta.
Nós também moramos no Pé da Serra. A fazenda de meu pai era vizinha do tio Josias
e ficava na extremidade da Fazenda da Mata, na divisa com tio Sebastião Ambroso.
Tivemos duas casas ali naquela fazenda. A primeira, foi um rancho construído pelo
seu Mané Bizuta e ficava quase à margem do Córrego da Mata. Ali, primeiro o seu Bizuta e, depois,
o meu pai Marcelino Argemiro de sousa, o Marcelo, tocaram um pequeno bolicho.
A segunda casa foi construída pelo meu pai um pouco mais acima, em relação à
primeira. A casa ficava no meio de uma ladeira. Ali, meu pai e nós, seus filhos, aplainamos o
terreno para a construção da casa e do terreiro.
Atualmente, não há sequer ruínas de nossas antigas moradias.
Quando meu irmão Argemiro Resplandes de Sousa e eu compramos essa fazenda, ele
refez a casa na medida do possível e morou uns tempos ali. Depois, quando compramos a fazenda
de tio Josias, ele se mudou para lá.
A casa de meu pai, no entanto, continua bem visível em minhas memórias. Pelo que
me lembro, a casa tinha uma sala comercial em ele, dividida por um balcão. Atrás do balcão,
ficavam as mercadorias e na frente, um espaço para os fregueses. Na sala, em um dos cantos, havia
um filtro de água.
Ao lado direito da sala saía um corredor em direção à cozinha. Havia uma porta na
sala comercial, que se abria para esse corredor. E defronte dela, havia outra porta, que se dava para
o quarto da sala. E, ao final do corredor, havia um pequeno degrau e se chegava à cozinha.
Na parte esquerda da cozinha, ficava a despensa, que também servia de quarto. Eu
dormia ali, junto com meu irmão Antônio. Nesse cômodo havia uma janela que dava para o curral.
Ali era posta a lata que recebia o leite tirado no curral.
O fogão de cimento ficava no lado direito da cozinha. Na parede d
a direita havia uma porta que dava para o terreiro da cozinha, onde ficava a bica d’água, a casa do
monjolo com a tulha e a casa do tear. Minha madrasta era tcelâ e tinha um grande tear. Ela tecia
cobertas de algodão.
A cozinha tinha também uma janela para os fundos.
Saindo da cozinha, na parte de cima, havia mais dois quartos. Para se chegar ao
segundo, tinha que se passar pelo primeiro. Meu pai Marcelo e a minha madrasta Maria Cândida
ocupava o quarto dos fundos. As minhas irmãs Luiza, Luzia e Lueci dormiam no primeiro quarto.
Meu pai Marcelino Argemiro de Sousa e seu neto Ricardo
Resplandes. Foto tirada na casa de meu pai, em Aparecida de
Goiânia, GO.
Os meninos da mamãe, o Lucimar e o Ediranir dormiam no quarto da sala. Acho que
o Alcir dormia no quarto do papai. Ele era bem pequeno. Com o tempo, essa distribuição foi se
modificando. Até porque vieram mais filhos: o Sandoval e o Wanderley. O Argemiro e o Waldomiro
ficavam com a tia Zulmira e o meu avô Tunico Sousa, lá na Casa da Fazenda.
A água que
abastecia a casa, vinha por um
rego d’água desde uma
pindaíba que havia no sopé da
serra da irara. Constantemente,
o gado arrombava esse rego, ao
atravessá-lo e aí nós tínhamos
que ir arrumar.
Eu me lembro de
termos tocado uma roça nessa
pinaíba onde ficava a nossa
nascente de água. Depois dela,
na verdade. Ali havia uma
furna que penetrava no meio da
serra.
Ao redor da
casa, havia um mangueirão
(sem pés de manga) na parte da
frente. Nesse mangueirão havia
um galpão, onde funcionou
uma escola. Não me lembro
quem era o professor. Mas
estudamos ali. Inclusive, eu me
lembro que esse galpão foi
feito duas vezes, porque, por
acidente, meu pai colocou fogo
nele da primeira vez. Ele
aparou as pontas da palhas da
cobertura, fez um monte com
elas e pôs fogo. E o fogo saltou
Meu pai Marcelino Argemiro de Sousa e sua esposa Maria para o galpão e queimou tudo.
Cândida Teodoro, minha madrasta. Eles moraram nas duas Aí, meu pais fez de novo.
casas que houve na Fazenda de meu pai, no Pé da Serra. Aos fundos do
mangueirão, ao lado da casa,
ficam os currais. Me lembro
que havia um curral maior e um curral para os bezerros. Um pouco mais abaixo da Casa do Tear e
do Monjolo, que ficavam no mesmo prédio, ficava o paiol e, perto dele, assim mais para o lado
direito, ficava o chiqueiro dos porcos. Lá na parte mais baixa do quintal, minha madrasta plantava
uma horta.
O quintal era bem grande. O rego d’água atravessava ele na parte de cima. E, teve
uma época que também havia uma horta, cercada de abacaxis, que ficava logo abaixo dele. Aí,
tirava-se um rombo e se levava a água até a horta. Não usávamos regador para molhar a horta.
Havia um pequeno poço que se enchia com a água do rego e aí gente jogava a água nas plantas,
usando um prato velho.
No quintal, plantávamos milho, mandioca. Havia muitas bananeiras plantadas. E meu
pai também plantou café. Mas não me lembro de colhermos café ali. Quando estávamos limpando o
quintal, nós gostávamos quando chegava alguma visita, porque aí, meu pai parava para ir conversar
com a visita e nós ficávamos na bamba.
***
*