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NVMMVS, 2ª S., XLI, Porto, S.P.N.

, 2018

AS AMOEDAÇÕES DE COBRE DO ESTADO DA ÍNDIA:


PROVENIÊNCIAS, FONTES DE APROVISIONAMENTO E FLUXOS DE
METAL, C. 1510-16401

The copper coinage of the Portuguese State of India: provenance, sources of


supply and metal flows, c. 1510-1640

João Pedro Vieira2


Resumo
O presente estudo pretende examinar as questões da proveniência, das fontes de aprovisionamento,
dos circuitos e dos fluxos de cobre que abasteceram as casas monetárias do Estado da Índia e
especialmente de Goa entre 1510 e 1640. Procura-se deste modo lançar bases para futuros estudos de
científicos de caracterização elementar e de proveniência do cobre amoedado luso-indiano.
Palavras-chave: Cobre; moeda; Estado da Índia; política monetária; Portugal
Abstract
The present study intends to explore the subjects of the provenance, sources of supply, circuits
and flows of copper that reached the Portuguese State of India and supplied its mints, in particular Goa,
between 1510 and 1640, thus laying foundations for future scientific studies on the composition and
provenance of the copper used in Indo-Portuguese coinage.
Keywords: Copper; Coinage; Portuguese State of India; Monetary Policy; Portugal

1. Introdução3

O presente estudo procura compilar informação dispersa e apresentar uma visão


de conjunto sobre as proveniências, as fontes de aprovisionamento e os fluxos do
cobre que abasteceu as oficinas monetárias do Estado da Índia durante o século XVI e
a primeira metade do século XVII. O objecto de estudo não é, por isso, nem original,

1
O presente estudo constitui uma versão corrigida e desenvolvida da apresentação sob o mesmo tema efectuada no colóquio
«Troisièmes Rencontres de Numismatique Asiatique: Les monnaies de l’Empire portugais d’Asie (XVIe-XXe siècles)», realizado
em 25-11-2017.
2
Investigador Colaborador do Centro de História da Universidade de Lisboa.
3
Serão utilizados ao longo do presente estudo as seguintes abreviaturas referentes a bibliotecas e arquivos: ACM (Arquivo Histórico
da Casa da Moeda), AGI (Archivo General de Indias), AGS (Archivo General de Simancas), AHU (Arquivo Histórico Ultramarino),
ANTT (Arquivo Nacional da Torre do Tombo), BA (Biblioteca da Ajuda), BNB (Biblioteca Nacional do Brasil), BPE (Biblioteca
Pública de Évora), BM (British Museum), BMP (Biblioteca Municipal do Porto), BNE (Biblioteca Nacional de España), BnF
(Bibliothèque nationale de France).
João Pedro Vieira
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nem especificamente numismático, pretendendo antes contribuir para a renovação


do estudo das amoedações luso-indianas e para futuros estudos de caracterização
elementar e de proveniência, de carácter científico, sobre o cobre amoedado luso-
indiano.
O desaparecimento do grosso da documentação do período produzida por
instituições como a Casa da Índia e as casas monetárias de Goa e Cochim impõe
grandes limitações não só à reconstituição exacta das proveniências, circuitos,
canais e fluxos do cobre que transitava pelas oficinas monetárias luso-indianas
como também, por decorrência, à quantificação dos volumes de cobre efectivamente
recebidos e transformados em moeda.
Ainda assim, a documentação existente constitui um manancial heurístico
suficientemente relevante, e até abundante no que se reporta às primeiras décadas
do século XVI. Se bem que desigualmente distribuído ao longo do período em foco,
este manancial já mereceu a atenção de investigadores como Manuel Nunes Dias4
e especialmente Vitorino Magalhães Godinho5, em cuja linha o presente estudo se
inscreve. No período a partir da década de 1560, a escassez de dados quantitativos
será parcialmente compensada com a análise da evolução da política monetária do
Estado da Índia relativamente ao cobre.

2. Antecedentes históricos

Desde a Antiguidade que o cobre desempenhava um papel de relevo no activo


comércio entre os sistemas económicos mediterrânico e índico, participando de um
leque diversificado de produtos que incluía metais preciosos e não preciosos, coral,
vinho, vidros, mas também moeda6.
Um dos testemunhos mais antigos dos fluxos de cobre para o Oriente encontra-
se no Périplo do Mar Eritreu, um manual mercantil redigido em grego e datável
de meados do século I. Segundo este testemunho, o cobre, mas também o estanho
e o chumbo, eram exportados a partir do Egipto para a Índia, tendo como destino
os mercados de Barigaza, Muzíris e Nelcinda7. Cerca de 77-79, Plínio, o Velho,
relatava que a Índia procurava importar cobre e chumbo, oferecendo em troca pedras
preciosas e pérolas8. O mesmo autor estimava que o comércio com a Índia — que
considerava altamente lucrativo — extraía do Império Romano um volume de
riqueza não inferior a 50 milhões de sestércios por ano9. Quanto à proveniência do

4
Dias, 1963-1964, 2: 337-352.
5
Godinho, 1981-1983, 1: 8-14, 36-49. 2: 232-255.
6
Cobb, 2015.
7
Periplus Maris Erythraei 28, 49, 56. In Casson, 1989: 9/67, 16/81, 18/85.
8
Naturalis Historia 34.163 (Plínio, 1961b: 244-245).
9
Naturalis Historia 6.101 (Plínio, 1961a: 416-417).
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
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cobre em circulação no império, Plínio refere múltiplas fontes, entre as quais o sul
da Hispânia e o Chipre10.
A tradição textual das viagens de Marco Polo, que se reportam aos finais do
século XIII, revela a persistência milenar do padrão de trocas entre Mediterrâneo
e Índico desenvolvido no período romano e confirma a importância do cobre
nas importações indianas de metais. Segundo a versão francesa das viagens (F),
Cambaia, Tana e o Malabar importavam grandes quantidades de cobre, transportado
pelos navios mercantes como lastro11.
Nos séculos XIV e XV, Génova e especialmente Veneza surgiam como o
principal canal de transmissão do cobre, essencialmente de proveniência europeia,
através do seu comércio marítimo com a Síria e o Egipto mameluco, donde parte
substancial do metal era escoado para a Índia por via do Mar Vermelho12.
Nos finais do século XV e inícios do século XVI, o cobre desempenhava
claramente um papel de primeiro plano nos carregamentos venezianos e genoveses
da rota do Levante. Os diários de Marco Malipiero, Girolamo Priuli e Marino
Sanudo revelam que Veneza e Génoa encaminhavam anualmente para Alexandria e
Beirute largas centenas de toneladas deste metal. Em 1495, Alexandria recebia 1100
miera de cobre (524,7 t)13; em 1496, a mesma cidade acumulava um stock de 10 000
cântaros (941,9 t)14, enquanto 300 miera (143,1 t) eram encaminhados para Beirute15;
em 1501, o volume de cobre expedido para Alexandria atingia os 800 miera (381,6
t)16. Refira-se ainda, em 1503, o carregamento de 1400 miera de cobre (667,8 t) do
mercador Michiel Foscari com destino a Alexandria17.
Os portugueses puderam testemunhar a persistência deste fluxo de cobre pela via
do Mar Vermelho logo em 1498, embora sem qualquer tentativa de quantificação. O
relato da primeira viagem de Vasco da Gama inclui os preços de algumas mercadorias
trazidas pelos mercadores de Meca, à cabeça das quais figura o cobre, avaliado em
3 cruzados a faraçola, ou seja, a 17 cruzados o quintal do peso velho18. Cerca de

10
Naturalis Historia 34.4 (Plínio, 1961b: 128-129).
11
Livre qui est appelé le divisiment dou monde, fls. 88 v., 89 v. (BnF, Français 1116, manuscrito datável das primeiras décadas
do século XIV). Existem variações apreciáveis entre as diversas versões das viagens de Marco Polo, mas o reconhecimento da
importância do cobre no comércio da Índia é partilhado com a versão VB, de c. 1439-1446 (Ms. Donà delle Rose 224, fls. 273 r. – v.)
e com a versão ramusiana (Dei viaggi di Messer Marco Polo, fls. 56 v. – 57 r.), embora esta última coloque alguns problemas de
interpretação quanto à proveniência do cobre. Para a versão VB, vd. Gennari (2009).
12
Ashtor, 1971: 55-64.
13
Priuli, 1: 30. Miera computados a 1580 libras subtis de Veneza, segundo a Pratica della mercatura de Pegolotti (1936: 137, 139).
14
Sanudo, 1879-1903, 1, col. 380. Malipiero, 1844: 634. Assume-se que o cântaro corresponde ao qintār jarwī alexandrino de 312
libras subtis de Veneza. Vd. Tariffa de pexi, fls. 2 v. – 3 r. (Pasi, 1503) Tariffa dei pesi, fls. 9 r., 17 r., 57 v. (Pasi, 1557). A libra subtil
de Veneza pesava aprox. 0,3019 kg (vd. Zupko, 1981: 130. Martini, 1883: 818).
15
Priuli, 1912-1940, 1: 48.
16
Para diversas recolhas de dados quantitativos sobre as remessas de cobre para a Síria e o Egipto nos finais do século XV e
inícios do XVI, embora com divergências a nível dos equivalentes métricos, vd. Ashtor (1971: 83), Arbel (2004: 75)
Braunstein (1977: 91-92).
17
Priuli, 1912-1940, 2: 254.
18
BMP, Ms. 804, f. 41 r. In Marques, 1999: 120.
João Pedro Vieira
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1515, nos seus relatos circunstanciados do comércio oriental, Tomé Pires e Duarte
Barbosa confirmam igualmente a presença do cobre nesse circuito comercial19.
Todavia, importa mencionar que a corrente do cobre era acompanhada por uma
corrente paralela de metais preciosos mais significativa em termos de valor. Entre
1495 e 1503, Veneza remeteu para Alexandria espécies num valor estimado superior
a 1,2 milhões de ducados20. Procurando caracterizar o comércio entre Alexandria e a
Índia anteriormente à presença portuguesa, Castanheda corrobora a importância dos
metais preciosos, não deixando, porém, de valorizar a relevância comercial do cobre.
No seu relato, surgem em primeiro lugar as remessas de ouro amoedado em xerafins
(’āšrafī), de ouro não amoedado e de prata, e apenas depois o cobre e outros metais,
ligas metálicas e mercadorias21. Mas em Jiddah, os oficiais mamelucos pagavam aos
mercadores parte do valor da pimenta importada em cobre sobrevalorizado, a 12
cruzados o quintal, posteriormente expedido e revendido em Calecute22.

3. Importância do cobre no comércio asiático

Dando continuidade às remessas de metais preciosos — embora num valor


consideravelmente menor23 —, os portugueses apostaram igualmente, desde os
inícios do século XVI, na reexportação de grandes volumes de cobre europeu para o
Oriente através da nova rota do Cabo. Os oficiais régios constataram rapidamente o
elevado potencial comercial do cobre nos mercados orientais e as possibilidades de
financiamento que ofereciam ao Estado da Índia.
Em 1513 e 1514, são várias as cartas em que Afonso de Albuquerque reporta
ao reino esse potencial. O Sultanato do Guzerate era identificado como a principal
região consumidora. O seu potencial de consumo era estimado pelo mercador Malik
Gopi entre os 30 000 e os 40 000 quintais anuais de cobre (1762,6 – 2350 t) ao preço
de 90 xerafins (15,8 cruzados) o quintal24. A oferta garantida pelo Egipto parecia
ser insuficiente para satisfazer os elevados níveis de procura e especificamente as
necessidades de emissão de moeda divisionária em cobre, cuja escassez se supria
vulgarmente com recurso a amêndoas25.

19
Suma Oriental, fls. 120 r., 131 r., 174 r. (Cortesão, 1978). Barbosa, 1946: 37, 41.
20
Vd. compilação de dados de Sanudo, Priuli e Malipiero em Ashtor (1971: 66).
21
Castanheda, 1552a: 150.
22
Castanheda, 1552a: 151.
23
Godinho, 1981-1983, 1: 241-242.
24
ANTT, CC-1-14-12 e 1-14-15. In Pato, 1884-1935, 1: 194, 240. Apesar de em CC-1-14-15 Afonso de Albuquerque estabelecer
a equivalência do bar em quintais do peso velho (51,408 kg), o peso do cobre é normalmente expresso em quintais do peso novo
(58,752 kg). O valor nominal do cruzado foi de 390 reais até 1517, data em que passou a valer 400 reais (Resende, 1545: 39 r.).
25
ANTT, CC-1-13-10. In Pato, 1884-1935, 1: 135. Já em Novembro de 1510 Afonso de Albuquerque observava que o cobre se
gastava em toda a Índia, sendo convertido em vasilhas e em moeda fraccionária (ANTT, Colecção de Cartas, Núcleo Antigo 872. In
Pato, 1884-1935, 1: 423).
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Porém, o consumo real deste mercado seria bastante mais modesto. Em Outubro
de 1523, António da Fonseca afirmava que Diu costumava absorver anualmente
2000 a 3000 quintais de cobre (117,5 – 176,3 t) durante o governo de Malik Ayyaz
(falecido em 1522)26 e em Agosto/Setembro de 1525 o autor das Lembranças das
cousas da Índia estimava o consumo de cobre de Diu em 800 bares, i. e. 3275
quintais (192,4 t), valendo cada quintal cerca de 15,4 cruzados27.
Os juízos de Francesco Corbinelli (Francisco Corvinel) e de André da Silveira
são particularmente enfáticos. Em carta de 22-10-1513, Francesco Corbinelli, então
feitor de Goa, chamava a atenção do rei para os elevados lucros do comércio do
cobre na Índia e sobretudo em Cambaia, e apelava enfaticamente: «estimai muito
esta mercadoria, que é ouro em pó». Segundo o feitor, em 1512 o cobre era vendido
em Dabul e Chaul a 90 pardaus o candil, i. e. a 17,3 cruzados o quintal28. Na sua
missiva de 05-03-1520, André da Silveira dava conta das conversações com Hans
von Schüren (João de Xurem), agente da companhia dos Fugger, acerca da renovação
do contrato de fornecimento de cobre e rematava o assunto afirmando: «e lembre-se
vossa alteza que tão necessário lhe é cobre como pimenta»29.
Multiplicam-se nas fontes exemplos das elevadas cotações atingidas pelo cobre
nos mercados da costa ocidental indiana. Por exemplo, em 1512 o quintal era vendido
por 17,3 cruzados em Dabul e Chaul30, mas em Novembro de 1514 a cotação subira
para 21 cruzados, enquanto em Diu, no mesmo período, ficava pelos 18 cruzados,
uma cotação considerada baixa31. Sendo o cobre adquirido em Antuérpia a valores
que rondavam os 4 cruzados por quintal, como adiante se verá, tal significava a
realização de um lucro bruto potencialmente superior a 400%. Mas o benefício
poderia ser ainda maior, reduzindo o cobre a moeda.
A informação disponível sobre os fluxos e volumes de cobre em trânsito, tanto
no segmento europeu do circuito como no segmento euro-asiático, é especialmente
abundante até à década de 1520. Serão examinados de seguida os dados referentes
aos circuitos, volumes de produção e importação, e aos agentes no espaço europeu.

26
ANTT, CC-1-30-36, f. 10 r.
27
Felner, 1868: 40.
28
De acordo com o Livro dos pesos, f. 20 r. (ANTT, Contos do Reino e Casa, Núcleo Antigo 865), o candil de Chaul pesava 4 quintais
(novos) = 235,008 kg (vd. Felner, 1868: 30).
29
ANTT, CC-1-25-134, f. 2 r.
30
ANTT, CC-1-13-80. In Pato, 1884-1935, 3: 69.
31
ANTT, CC-1-16-127. In Pato, 1884-1935, 3: 99.
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4. O cobre europeu

4.1. Fornecedores e circuitos

Logo a partir de 1503, D. Manuel I procurou atrair a prata e o cobre alemães a


Lisboa através da concessão de diversos benefícios e isenções fiscais32, reunindo assim
uma parte importante do capital necessário ao financiamento do comércio oriental.
O cobre expedido para a Índia era adquirido a mercadores e companhias mercantis
italianas e sobretudo alemãs por intermédio da feitoria portuguesa em Antuérpia.
No período entre 1498 e 1505, a feitoria da Flandres adquiriu, entre outros
metais e artigos em cobre e latão, 639 692 libras de cobre (300,3 t)33; entre Janeiro
de 1509 e Agosto de 1514, somaram-se mais 458  558 libras de cobre (215,2 t)34.
Já durante o exercício de funções de João Brandão (01-12-1520 a 31-08-1526), as
aquisições da feitoria de Antuérpia atingiram os 49 740 quintais e 4 libras de cobre
(2334,8 t)35. Mas foi durante o exercício de Rui Fernandes de Almada (11-11-1525
a 11-11-1533) que o movimento de cobre da feitoria registou aparentemente o seu
auge, com a aquisição de 122 344 quintais e 49 libras de cobre (5742,9 t)36.
No abastecimento de cobre a Portugal, destaca-se a acção de Giovan Francesco
Affaitati (Cremona), da companhia de Antonio e Filippo Gualterotti (Florença), da
companhia de Ambrosius e Hans Höchstetter (Augsburgo) e principalmente de Jakob
Fugger (Augsburgo). Em 14-06-1514, D. Manuel I ordenava a Silvestre Nunes que
disponibilizasse 20 000 cruzados destinados a financiar a aquisição de 6000 quintais
de cobre (352,5 t, quintal a 3 ⅓ cruzados) encomendada a Affaitati e que este viria a
cometer à companhia de Antonio e Filippo Gualterotti37. Segundo o alvará régio, o
cobre destinava-se à armada de 1515. Deste contrato, foram adquiridos e entregues
ao tesoureiro da Casa da Mina 6394 quintais, 3 arrobas e 24 arráteis de cobre (375,7
t) por cerca de 31 816 cruzados (frete e outros encargos incluídos)38.
Em Maio de 1515, D. Manuel I contratava novamente o fornecimento de cobre
com Affaitati, procurando criar condições para um prazo contratual mais alargado.
Dos 12 000 quintais39 (705 t) encomendados, 2000 deveriam ser disponibilizados

32
Vd. carta de privilégios de D. Manuel I aos mercadores alemães Anton Welser e Konrad Vöhlin, datada de 13-02-1503 (BPE, Ms.
CXII/1-13. In Silveira, 1958). Quanto ao cobre, a importação deste metal estava apenas sujeita ao pagamento de um direito de 10%
(fls. 13 r. – 13 v.).
33
Toma-se como referência o quintal de Antuérpia (100 libras), que segundo o alvará régio de 10-11-1515 (ANTT, CC-1-18-10, f.
1 r.) pesaria ± 4/5 do quintal português (58,752 kg). De acordo com o documento citado, 1 quintal de Antuérpia equivalia a 0,79896
quintais de Portugal, i.e. cerca de 46,94 kg.
34
Dias, 1963-1964: 290-291.
35
ANTT, Chancelaria de D. João III, Privilégios, liv. 5, f. 6 v. In Freire, 1908-1910 (doc. 53).
36
ANTT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 11, f. 91 v.
37
ANTT, CC-1-24-89.
38
ANTT, CC-1-18-10.
39
Uma carta fragmentária de Antonio Salvago sugere que os 12 000 quintais terão sido fornecidos pelo peso de Antuérpia e não,
como inicialmente previsto, pelo peso do reino (ANTT, Fragmentos 1-3-4).
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
115

no mais breve termo possível, destinando-se os restantes 10  000 quintais a serem
reexportados para a Índia na armada de 151640. Duas cartas de Fevereiro de 1516
indicam que o rei contratara com Affaitati o fornecimento de 60 000 quintais de cobre
num prazo de 5 anos mas que decidira agora denunciar o contrato, liquidando apenas
os 12 000 quintais do primeiro ano, entretanto adquiridos por Filippo Gualterotti à casa
Fugger e já entregues, pelo valor de 54 000 cruzados (4,5 cruzados por quintal)41.
A casa Fugger era, na verdade, o grande fornecedor internacional de cobre
nos principais mercados europeus. A preponderância de Jakob Fugger tornava-o,
por conseguinte, num interlocutor dificilmente prescindível42. Os oficiais régios na
Flandres e destacados em missões comerciais e diplomáticas acompanhavam de
perto a evolução da posição de Fugger no mercado do cobre. Em carta de 16-02-
1515, Tomé Lopes informava o rei de que os Fugger tinham tomado posse da mina
que os Höchstetter tinham do imperador, com a clara intenção de monopolizarem
o comércio de cobre da Alemanha43. A notícia poderá reportar-se ao contrato de
financiamento de 07-11-1514, através do qual o governo do Tirol cedia à companhia
dos Fugger toda a produção de cobre de Schwaz durante 4 anos, estimada em 77 823
quintais de Viena (4358 t)44.
A afirmação de Lisboa e da feitoria portuguesa de Antuérpia na mediação
do comércio oriental levara a companhia dos Fugger a privilegiar o escoamento
da produção de cobre para Antuérpia, em detrimento de Veneza, que passou a
desempenhar um papel manifestamente secundário. Entre 1507 e 1518, mais
de metade de todo o cobre adquirido pelos Fugger foi encaminhado directa ou
indirectamente para Antuérpia, num total de mais de 10 300 t. E entre 1519 e 1525,
os Fugger fizeram chegar a Antuérpia mais de 3400 t de cobre. Até 1535, somar-se-ia
a estas remessas de cobre um volume superior a 5800 t 45.
O testemunho de Rui Fernandes de Almada, escrivão na feitoria de Antuérpia, é
particularmente eloquente acerca da reputação da companhia dos Fugger. Em carta
missiva de 04-02-1520, Rui Fernandes afirmava que que Jakob Fugger era «o maior
homem da Alemanha, e que governa todos os príncipes e reis; e é de maneira que
nenhum príncipe vive sem ele»46. Por isso, quanto ao cobre, era forçoso recorrer-
se a Fugger, «salvo se se descobrir alguma nova alquimia, o que crerei quando

40
ANTT, CC-3-2-30.
41
ANTT, CC-1-19-111. Gualterotti dá quitação do pagamento dos 54 000 cruzados em 16-10-1516.
42
Em 1511, a administração régia reconhecia as desvantagens desta preponderância num apontamento marginal ao contrato da
pimenta por 5 anos proposto pelo consórcio Fugger-Imhoff-Chamorro: propondo-se o consórcio pagar os 100 000 cruzados anuais
da pimenta em mercadorias, apontavam os oficiais que o cobre estava todo nas mãos dos mercadores e que estes poderiam, por isso,
alterar facilmente o preço em prejuízo da Coroa (ANTT, Colecção de Cartas, Núcleo Antigo, n.º 73, f. 2 r.).
43
ANTT, Fragmentos 1-1-11.
44
Schick, 1957: 100, 144-145.
45
Wee, 1963: 522-523. O autor utiliza a equivalência 1 quintal de Antuérpia = 47,0156 kg, ligeiramente diferente da utilizada neste
trabalho e baseada nas fontes portuguesas (vd. supra nota n.º 33).
46
ANTT, CC-1-26-122, f. 1 v.
João Pedro Vieira
116

vir»47. De referir ainda que segundo carta de Tomé Lopes, que em Maio de 1515
negociava com Fugger um contrato de fornecimento de cobre, o mercador alemão
estava bem informado das necessidades de cobre da Coroa portuguesa, as quais sabia
rondarem os 4000 a 5000 quintais anuais48. Importa notar que os Fugger tinham um
agente destacado em Lisboa desde cerca de 1504 e que tiveram participação directa
no financiamento da armada de 1505 (4000 cruzados), juntamente com outros
investidores alemães de vulto como os Welser, os Höchstetter e os Imhoff49.
As aquisições directas aos Fugger estão documentadas pelo menos desde
Setembro de 1513, momento em que Silvestre Nunes comprou à companhia dos
Fugger, em Antuérpia, cobre no valor de 3761 libras e 17 soldos50. Admitindo
conjecturalmente um preço de 25 soldos o quintal51, este cobre corresponderia a
cerca de 3009 quintais de Antuérpia (141,3 t). Foi já mencionada a aquisição de
12 000 quintais de cobre aos Fugger através de Affaitati e de Gualterotti, em 1516, e
aquisições directas de maior vulto se seguiriam nos anos subsequentes.
Segundo o testemunho tardio de Damião de Góis, em 1517 o rei D. Manuel I
encarregou Lourenço Lopes de negociar com Jakob Fugger um contrato de fornecimento
de 10 000 quintais de cobre (587,5 t) anuais durante 5 anos52. Efectivamente, deverá ter
sido por esse ano que foi celebrado um contrato de grande envergadura. Corroboram-
no três documentos: (1) uma minuta de carta a Silvestre Nunes, datável de 151753; (2)
uma minuta (incompleta) de uma carta de instruções a Silvestre Nunes, datável de c.
151854; (3) e uma carta missiva de Rui Fernandes, de 16-11-1519, que negociava então
em Augsburgo a celebração de um novo contrato com Jakob Fugger55.
Na primeira minuta, o rei comunicava ter destacado Lourenço Lopes para
negociar a aquisição de 30 000 quintais de cobre (1762,6 t) num prazo de 3 anos,
com abertura para contratar até 60 000 quintais (3525,1 t) em prazo de 3 ou 4 anos.
Na minuta de c. 1518, o rei informava Silvestre Nunes de que, apesar de faltarem 3
anos para se cumprir o contrato vigente, os Fugger estavam interessados em renovar
o fornecimento anual de 10 000 quintais de cobre por um prazo adicional de 4 anos.

47
ANTT, CC-1-26-122, f. 2 v.
48
ANTT, CC-1-17-126.
49
Pohle, 2015: 24-28. Dias, 1963-1964, 2: 210-212, Azevedo, 1929: 97. Ehrenberg, 1955: 91, 99. Kellenbenz, 2000: 61.
50
ANTT, CC-2-45-165.
51
Preço referente a 1514, extraído da carta de Silvestre Nunes, de 03-05-1516, em ANTT, Gavetas 20-2-9.
52
Góis, 1567: 27 r. O valor de referência indicado por Góis — 20 soldos — não corresponde às cotações da época, p. e. 26 a 28
soldos em Fevereiro de 1517 (ANTT, CC-1-21-26), 27 soldos em Março (ANTT, CC-1-21-20), 27 a 28 soldos em Julho (ANTT,
CC-1-22-25). Importa também referir que se o contrato foi efectivamente celebrado por Lourenço Lopes, as perspectivas pareciam
muito diferentes em Junho e Julho de 1517, pois cartas desses meses davam conta de negociações com outro fornecedor alemão
não identificado e em cujo cobre tanto os Fugger como os Höchstetter estavam vivamente interessados (ANTT, Fragmentos 1-1-28.
CC-1-22-25).
53
ANTT, Fragmentos 3-1-17.
54
ANTT, Fragmentos 3-1-36. Note-se que Silvestre Nunes abandonara o cargo de feitor em Julho de 1517 (Freire, 1908-1910:
390-391).
55
ANTT, CC-1-44-4.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
117

O interesse dos Fugger ressalta novamente na carta de 16-11-1519 e numa missiva


de André da Silveira, de 05-03-152056. Finalmente, em carta de 26-04-1521, Rui
Fernandes afirma ter tomado conhecimento de que D. Manuel I mandara contratar o
fornecimento de cobre com os Fugger por um prazo de 3 anos nas mesmas condições, i.
e. com obrigação de prestação de 10 000 quintais por ano. No total, estes dois contratos
significavam a canalização de 80 000 quintais de cobre (4700,2 t) para Portugal.
Parte das remessas deste cobre está documentada desde pelo menos 18-06-1518,
data em que são embarcados na Flandres 1000 quintais de Antuérpia (46,9 t) com
destino à Casa da Índia57. Nesse ano, as remessas expressamente ligadas ao contrato
dos Fugger somam 8710 quintais de Antuérpia (408,8 t)58. Entre 1518 e 29-10-1520,
foi possível contabilizar 26 conhecimentos que representam o embarque de mais de
31 375 quintais (1472,8 t) de cobre fornecido no âmbito do contrato quinquenal com
os Fugger59.
A companhia de Ambrosius e Hans Höchstetter foi outro fornecedor privilegiado
da Coroa portuguesa. Juntamente com os Fugger, os Höchstetter controlavam a
distribuição do cobre proveniente do Tirol e da Hungria — as principais regiões
cupríferas da época — e formavam, por isso, um verdadeiro cartel no mercado
europeu do cobre.
As relações comerciais com esta companhia datam pelo menos de Fevereiro de
1504. A propósito da aquisição de manilhas para o comércio africano, cujo contrato
terminava na Páscoa, Tomé Lopes informava o rei de que os Höchstetter tinham
manifestado interesse em assegurar esse fornecimento «porque um dos principais
negócios seus são cobres». O feitor régio estava incumbido de adquirir 4000 quintais
de cobre, mas não indica explicitamente potenciais fornecedores60. Em Agosto desse
ano, os Höchstetter investiam 4000 cruzados na armada da Índia em preparação e
que partiria em 150561.
Em Maio de 1516, Silvestre Nunes informava ter adquirido aos Höchstetter 4000
quintais de cobre (235 t) de duas variedades — da roseta e pães pequenos — ao preço
médio de 26,5 soldos o quintal (aprox. 4 cruzados62). O cobre deveria ser entregue
em duas parcelas de 2000 quintais, no final de Maio e no final de Julho. A negociação
fora conduzida de forma sigilosa, mas um entendimento entre os Höchstetter e os
Fugger impedia alegadamente os primeiros de disponibilizarem imediatamente o

56
ANTT, CC-1-25-134.
57
ANTT, CC-2-75-155.
58
ANTT, CC-2-75-155, 2-27-124, 2-76-30, 2-76-33, 2-76-35, 2-76-36, 2-27-39, 2-76-114 e 2-27-162.
59
Para além dos conhecimentos de 1518 já referenciados, consultem-se, igualmente ordenados por ordem cronológica: ANTT, 2-59-
35, 2-82-153, 2-82-155, 2-83-18, 2-156-144, 2-83-135, 2-157-86, 2-84-9 (assume-se que o contrato referido se reporta a Fugger),
2-87-57, 2-87-62, 2-87-66, 2-90-93, 2-90-94, 2-90-95, 2-90-122, 2-90-123 e 2-92-58.
60
ANTT, CC-1-4-63.
61
Haebler, 1903: 19. Kellenbenz, 2000: 61.
62
Assumindo a taxa 6,5 soldos = 1 cruzado de 390 reais (ANTT, CC-1-18-10).
João Pedro Vieira
118

cobre vendido. O feitor em Antuérpia considerava que o cobre dos Höchstetter era de
qualidade superior, claramente melhor que o cobre vendido pelos Fugger63.
Em carta de 18-09-1518, Rui Fernandes dava conta da antiguidade e reputação
dos Höchstetter e relatava as conversações com um representante da companhia
em Nuremberga. Aparentemente, por motivo de um conflito com Antonio Salvago,
os Höchstetter pretendiam liquidar as suas operações em Lisboa. Tinham ainda
imobilizado em Portugal um stock de 800 a 1000 quintais de cobre — «melhor que o
do Fugger» — que desejavam vender antes de se retirarem do reino64. Rui Fernandes
recomendava vivamente a celebração de um contrato. Em Novembro de 1519, o
enviado negociava activamente com a companhia dos Höchstetter a celebração de
um novo contrato de fornecimento de cobre, reafirmando a qualidade superior do seu
cobre. Chegara mesmo a estar pré-acordado um contrato de fornecimento de 4000
quintais anuais pagos em pimenta, mas em Dezembro de 1519 o rei decidia abortar
as negociações65.
A documentação regista a existência de outros fornecedores alemães de dimensão
comercial e financeira variáveis. Nalguns casos, o seu estatuto relativamente às
grandes companhias não é claro.
Em primeiro lugar, refira-se o caso de Leão Alemão, mercador que em Outubro
de 1519 entregava 1000 quintais de cobre (58,8 t) em Lisboa66 e que em Dezembro
do mesmo ano fazia uma entrega adicional de 253 quintais e 19 arráteis (14,9 t) de
manilhas de latão, cobre e fruseleira67. Trata-se provavelmente de Leo Ravensburger,
que em 1508 e 1511 surgia ligado ao consórcio Welser-Vöhlin através de Lucas
Rem68, mas que em Maio de 1517 desempenhava funções em Lisboa como agente
da companhia de Ambrosius e Hans Höchstetter69. Por conseguinte, é razoável
assumir que as entregas de cobre e de manilhas que efectuou em 1519 fossem em
representação da companhia dos Höchstetter.
Os Herwart estiveram igualmente entre os fornecedores de cobre à Coroa
portuguesa. Em Julho de 1518, Francisco Pessoa, feitor régio em Antuérpia, expedia
para Portugal 1000 quintais e 4 libras de Antuérpia (47,2 t), dos quais pelo 704
quintais e 60 libras (33,1 t) pertenciam ao «contrato dos Herbertes»70. Em finais de
Janeiro de 1520, seguiam de Antuérpia para Lisboa mais 1000 quintais de cobre

63
ANTT, Gavetas 20-2-9.
64
ANTT, CC-1-25-41.
65
ANTT, CC-1-44-4, 1-25-76 e 1-25-127.
66
ANTT, CC-2-85-61.
67
ANTT, CC-2-86-113.
68
ANTT, CC-2-16-105 (procuração de 18-05-1518) e CC-1-10-24 (procuração de 04-03-1510 e quitação de 07-10-1510).
69
ACM, Receita e Despesa, 1517, f. 68 v. Entre Maio de 1517 e Setembro de 1518, Ravensburger faz entregas de prata na Casa da
Moeda de Lisboa superiores a 1077 marcos (247,17 kg). Vd. Fernandes, 1878 (mapa n.º 7 de 1517 e mapa n.º 8 de 1518). Godinho
(1981-1983, 3: 199) contabiliza 785 marcos, 2 onças e 4,5 oitavas referentes a 1518, omitindo as entregas de 1517.
70
ANTT, CC-2-76-102.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
119

(46,9 t) com idêntica menção ao contrato71.


A companhia de Christoph Herwart, de Augsburgo, tinha já um importante
historial no comércio de metais da região do Tirol72, mas não são conhecidas relações
directas com Portugal73. Pelo contrário, a ligação de Georg Herwart a Portugal está
bem documentada. Georg fora agente de Jakob Fugger em Lisboa desde 151174. Em
1519, agia em representação de Lucas Rem e dos Welser no âmbito de um contrato
de vulto que incluía o exclusivo do cravo e da canela, e ainda a aquisição de pimenta
no valor de 70 000 cruzados75. Segundo Rui Fernandes, Georg Herwart estivera em
Lisboa como feitor de uma grande companhia mas operava agora por conta própria
e em representação de vários interesses, incluindo Lucas Rem e Anton Welser, como
referido, mas igualmente os Herwart de Augsburgo, tendo autorização para mobilizar
um capital total de cerca de 50 000 florins de ouro76. Será certamente em resultado
do contrato sobre especiarias acima referido que Georg entregou na Casa da Moeda
de Lisboa mais de 2110 marcos de prata (485 kg), entre 1517 e 152477. Quanto ao
cobre, é possível que as entregas reflictam relações com os Herwart de Augsburgo.
Sobre os Welser, de Nuremberga, há apenas uma breve notícia conservada no
Tagebuch de Lucas Rem, a propósito da sua actividade comercial em Portugal entre
Maio de 1503 e Setembro de 1508. Nesse período, Rem afirma ter feito grandes
negócios com a venda de cobre, chumbo, vermelhão, mercúrio e têxteis78. Os Welser
foram o maior investidor privado na armada de 1505, participando com um capital
de 20 000 cruzados.79
No capítulo dos exportadores de cobre para Portugal, refiram-se ainda as
figuras de Jany Becut, Friedrich Lonner e Hans Annerot, assim como uma aquisição
efectuada a mercadores hanseáticos não identificados.
Designado nas fontes por Janim, Joane ou João Bicudo80, Jany Becut era um
mercador de origem flamenga ou alemã com ampla actividade mercantil na Madeira,
ligada ao comércio do açúcar, e em Lisboa, ligada ao comércio de especiarias. Em
Março de 1520, Becut entregava ao tesoureiro da Casa da Mina 152 quintais, 3
arrobas e 18 arráteis de cobre (8,98 t) em pães redondos e ainda 866 quintais, 2

71
ANTT, CC-2-87-76.
72
Vd. Schick, 1957: 37-41. Ehrenberg, 1955: 102-103. Kellenbenz, 1960: 129.
73
Em Antuérpia, há notícia de um empréstimo de 3000 cruzados feito a Silvestre Nunes pela companhia de Christoph Herwart no
início de Maio de 1516 (ANTT, Gavetas 20-2-9).
74
Kellenbenz, 2000: 63.
75
ANTT, CC-1-44-4 e CC-2-100-118. Em 09-02-1520, um alvará régio compensava Georg Herwart e sócios de perdas sofridas no
contrato do cravo e da canela, cedendo-lhe 200 quintais de pimenta (ANTT, CC-1-25-119).
76
ANTT, CC-1-25-129.
77
Godinho, 1981-1983, 3: 199.
78
Greiff, 1861: 9.
79
Dias, 1963-1964, 2: 210-212. Azevedo, 1929: 97. Ehrenberg, 1955: 91, 99. Kellenbenz, 2000: 61. Pohle, 2015: 26.
80
Nos livros da receita e despesa da Casa da Moeda de Lisboa, o mercador assina «Johanj Becut» (ACM, Receita e Despesa, 1520,
fls. 93 v., 97 r., 99 r.).
João Pedro Vieira
120

arrobas e 30 arráteis de chumbo (50,9 t)81. Em Maio do mesmo ano, Becut fazia
uma entrega adicional de manilhas de latão e de cobre com o peso de 184 quintais, 2
arrobas e 5 arráteis (10,8 t)82.
Em Abril de 1522, Jany Becut surge referido como representante de Erasmus
(Schetz) em dois contratos de aquisição de mais de 600 quintais de pimenta83. Terá
sido certamente para pagamento de semelhantes aquisições que Becut entregou na
Casa da Moeda de Lisboa, entre 1517 e 1526, mais de 15 600 marcos de prata (3582
kg), que corresponderiam, uma vez amoedados, à avultada soma de mais de 91 200
cruzados84. É possível que as entregas de cobre, chumbo e manilhas acima referidas
tenham sido efectuadas em representação da companhia dos Schetz, com os quais a
Coroa portuguesa viria a celebrar um contrato de fornecimento de artigos de latão
na década de 1540.
Friedrich Loner (conhecido das fontes portuguesas por Fradique ou Frederico
Alemão) é outro dos pequenos fornecedores documentados em 1520. Sabe-se
que actuava então em Lisboa como agente dos Hirschvogel, de Nuremberga85. A
companhia dos Hirschvogel encontra-se entre os investidores alemães na armada de
1505, com uma participação de 2000 cruzados. Em Maio de 1520, Loner efectuava
a entrega de 121 quintais, 3 arrobas e 11 arráteis de cobre (7,2 t) na Casa da Mina86.
Uma vez mais, a par das entregas de cobre, há relativamente a este mercador o
registo de entregas de prata na Casa da Moeda de Lisboa, entre 1518 e 1524, num
total de mais de 2946 marcos (676 kg)87. Em Abril de 1522, Loner encontrava-se
entre os devedores da Casa da Índia, com a qual tinha contratado a aquisição de
maças e gengibre, provavelmente em representação dos Hirschvogel88.
Hans Annerot é uma figura menos conhecida, embora esteja envolvido num
fornecimento de cobre de grande envergadura. Surge nas fontes portuguesas sob
o nome «Haans Emrate» e corresponderá possivelmente ao mercador de metais de
nome Jan Annerot, da Baviera, activo em Antuérpia em 150989. Sabe-se que em
data anterior a 10-12-1519 fora contratado a Hans Annerot o fornecimento de 4000
quintais de cobre (187,8 t, se computados pelo quintal de Antuérpia), a prestar durante

81
ANTT, CC-2-88-83.
82
ANTT, CC-2-89-119. Assumindo a talha de 180 a 185 peças por quintal indicada em carta de Alonso de Torres, de 31-12-1526
(ANTT, CC-1-35-56), Becut terá entregue entre 33 217 e 34 140 manilhas. De referir que Jany Becut possuía casa na Rua Nova
em Setembro de 1514 (ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 15, f. 141 v.) e que foi beneficiado por carta de 29-12-1519 com os
privilégios concedidos aos mercadores alemães (ANTT, Chancelaria de d. Manuel I, liv. 36, f. 125 v.).
83
ANTT, CC-2-100-118, fls. 1 v. e 2 r.
84
Vd. Godinho, 1981-1983, 3: 197-198, 209.
85
Kömmerling-Fritzler, 1968: 147.
86
ANTT, CC-2-89-66.
87
Godinho, 1981-1983, 3: 198.
88
ANTT, CC-2-100-118, f. 2 v.
89
Harreld, 2004: 132.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
121

o ano de 152090. Em 31-05-1520, o feitor Francisco Pessoa passava a Annerot dois


conhecimentos relativos à receção de 2023 quintais e 52 libras de Antuérpia (94,98
t) em cobre de boa qualidade, pago a 27 soldos (5,1 cruzados por quintal91), e em
cobre de qualidade inferior à oferecida pelos Fugger, pago a 25 soldos e 6 dinheiros
(4,8 cruzados por quintal)92.
Por fim, uma última menção à aquisição de 1200 quintais de cobre (56,3 t) a
mercadores hanseáticos (Osterlinge), efectuada em Antuérpia pelo feitor Silvestre
Nunes, em Março de 151793. Subira então o preço do quintal a 27 soldos, devido a
uma redução temporária na oferta — problemas de navegação causados pelo gelo
atrasaram a frota hanseática —, mas nos inícios de Fevereiro de 1517 o cobre dos
Esterlins era vendido a 26 soldos, enquanto os Fugger colocavam o seu no mercado
a 28 soldos94.

4.2. As proveniências

Apresentados os principais intervenientes nos fluxos de cobre destinados a


Portugal, assim como o seu peso relativo no volume das remessas, importa abordar
com algum pormenor dois tópicos: (a) as proveniências do cobre importado para
Portugal e (b) os volumes de produção. A documentação portuguesa é relevante
quanto a ambos os tópicos e demonstra o nível e a qualidade da informação ao dispor
da administração régia. As informações resultantes serão complementadas com os
dados apurados pela historiografia contemporânea.
Em 1519 e 1520, Rui Fernandes reportou à administração régia em Portugal
informação detalhada que recolheu durante a sua deslocação à Alemanha. Estivera
em Nuremberga e em Augsburgo, grandes centros europeus do comércio de metais, e
entabulara negociações com as grandes companhias dos Fugger e dos Höchstetter. É
essencialmente através das missivas de 09-12-1519 e de 27-11-1520 que Fernandes
oferece uma visão de conjunto sobre a produção e os fluxos comerciais do cobre na
Europa95.
Fernandes identifica três grandes regiões de produção cuprífera: a Hungria, o
Tirol e a Saxónia. A estas acrescem a Suécia e a região báltica, dos Osterlinge, como
proveniências de importância secundária mas com alguma capacidade competitiva
face aos Fugger. Apesar disso, a feitoria portuguesa tomava essa oferta em

90
ANTT, CC-1-25-76, 2-89-168.
91
Quintal de Portugal. Taxa de conversão 1 soldo = 60 reais, conforme se deduz dos cálculos no verso de ambos os conhecimentos
(vd. nota seguinte).
92
ANTT, CC-2-89-125, 2-89-168.
93
ANTT, CC-1-21-70.
94
ANTT, CC-1-21-26.
95
ANTT, CC-1-25-76 (carta de 09-12-1519) e 1-26-129 (carta de 27-11-1520), ambas publicadas em Freire (1908-1910, docs. 41 e
48). Para a restante informação utilizada nesta secção, vd. a discussão supra sobre os intervenientes no comércio de cobre. Para uma
reconstituição similar, baseada no mesmo testemunho de Rui Fernandes, vd. Kellenbenz, 2000: 68.
João Pedro Vieira
122

consideração, tendo efectuado pelo menos uma aquisição de cobre aos Osterlinge.
A Hungria era claramente a principal região produtora — «a fonte de todas as
minas» —, com uma capacidade máxima estimada de 25 000 quintais por ano (1468,8
t)96, embora na sua fase alta tivesse alegadamente atingido os 40 000 quintais anuais
(2350,1 t). Os Fugger tinham aqui grandes investimentos em regime de exploração
quer indirecta, através de arrendamentos de longo prazo, quer directa, com numerosas
aquisições de minas. Curiosamente, Rui Fernandes é omisso em relação ao consórcio
Fugger-Thurzó, que garantira a Jakob Fugger o acesso ao mercado de metais do
Reino da Hungria e o controlo da produção de cobre de Neusohl (Banská Bystrica,
actual Eslováquia)97. Os dados apresentados por Vlachović confirmam de forma
genérica os volumes reportados por Rui Fernandes, assim como a recente quebra de
produção: do pico de 8514 t, ou 2838 t anuais, atingido em 1510-1512, a produção
húngara caíra em 1516-1518 para 4725 t, ou 1575,2 t por ano98.
Em termos quantitativos, as minas do imperador (= Tirol) constituíam a segunda
região cuprífera mais importante, com uma produção anual estimada entre 16 000
e 18 000 quintais de cobre (940 – 1057,5 t). Porém, do ponto de vista qualitativo, o
cobre do Tirol era manifestamente superior — «bom e doce» —, sendo distribuído
sobretudo pela companhia dos Höchstetter. Era essencialmente consumido na
Alemanha, sendo adicionalmente exportado para a Itália, Lombardia (Veneza) e
França. Para o período de 1510-1519, as minas do Tirol — entre as quais Schwaz,
Falkenstein, Ringenwechsel e Alte Zeche — terão produzido cerca de 17 500 t de
cobre, que correspondem a uma média anual de 1750 t99. Portanto, as informações de
Rui Fernandes aparentam subestimar a produção desta região.
Quanto ao cobre da Saxónia, a sua produção anual atingia volumes
comparáveis aos do Tirol, mas a maior parte do cobre produzido era vermelho e era
preferencialmente encaminhado para Nuremberga, grande centro metalúrgico onde
se transformavam anualmente cerca de 10 000 quintais (587,5 t) em barris, caldeiras,
fio e outros produtos metálicos. Os restantes 5000 a 6000 quintais (293,8 – 352,5
t) tinham como destino o mercado de Antuérpia. Os 4000 quintais contratados a
Hans Annerot e a fornecer durante 1520 seriam provenientes desta região. Muito
provavelmente, estará aqui subentendida a prolífica produção de Mansfeld e Eisleben,
que Hildebrandt estima em 10 000 t para o período 1510-1519 (média de 1000 t
anuais) mas que só atingiria o seu pico nas décadas imediatamente seguintes100.
Finalmente, Rui Fernandes menciona o cobre da Suécia e de Ostland, i. e. dos
territórios hanseáticos. Como referido, a oferta de cobre da Suécia em Antuérpia

96
Nas conversões aqui efectuadas utiliza-se como referência o quintal português. Contudo, não é de excluir a possibilidade de que o
padrão ponderal subjacente às informações de Rui Fernandes seja o quintal de Viena (c. 56 kg).
97
Schick, 1957: 54-55, 186-187, 281.
98
Vlachović, 1977: 171.
99
Hildebrandt, 1977: 193. Pickl, 1977: 118-119.
100
Hildebrandt, 1977: 193.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
123

era comparativamente pouco significativa. A sua qualidade relativamente ao cobre


colocado no mercado pelos Höchstetter e Fugger era manifestamente inferior —
«cru e muito sujo» —, razão por que a sua transformação acarretava um desperdício
estimado de 20%. A companhia dos Fugger procurara desenvolver a exploração
desta fonte de aprovisionamento, porém sem sucesso. Apesar disso, Fernandes
considerava tratar-se de uma fonte de aprovisionamento alternativa101.
Na verdade, o cobre sueco já tinha alguma expressão comercial pelo menos
desde os finais do século XV: em 1492-1494, a Suécia exportou anualmente
cerca de 340 t de cobre para Lubeque, que funcionava como plataforma de
redistribuição do metal por todo o Báltico e para Ocidente102. Sabe-se que em 1532
a exploração de Kopparberget produziu 281,2 t de cobre e que as exportações
suecas desse metal se cifraram em 338,9 t; 81,5% do cobre exportado destinava-se a
Lubeque103. Considerando a extensão setentrional das redes de distribuição do cobre
comercializado pelo consórcio Fugger-Thurzó, não é de excluir a possibilidade de
que parte do cobre vendido em Antuérpia pelos mercadores hanseáticos fosse de
origem húngara.
No total, a produção anual estimada das quatro regiões cupríferas excederia
certamente os 65 000 quintais de cobre ou 3640 t, computados pelo padrão português.
De acordo com as estimativas propostas por Hildebrandt para o período 1510-1519,
a produção média combinada das minas de Mansfeld, da Hungria (Eslováquia) e
do Tirol totalizava 4600 t anuais, o que correspondia a mais de 78  295 quintais
de Portugal. A produção total estimada do referido período terá assim ascendido a
46 000 t de cobre, com ligeiro domínio da produção húngara104.

4.3. Volumes de importação

Para avaliar devidamente a importância e dimensão das remessas de cobre de


Lisboa para a Índia entre c. 1500 e 1530, é necessário retomar a questão da dimensão
dos fluxos de cobre de Antuérpia para Lisboa. Para a quantificação exploratória desse
fluxo, tomar-se-ão em consideração os volumes de cobre efectivamente expedidos
de Antuérpia e/ou recepcionados em Lisboa.
As cartas de quitação dos feitores portugueses em Antuérpia foram já utilizadas.
Embora de forma descontínua, as quitações cobrem um período total acumulado
superior a 27 anos, distribuídos pelos exercícios de Tomé Lopes (01-01-1498 – 31-
12-1505), João Brandão (01-01-1509 a 22-08-1514 e 01-12-1520 a 30-08-1526) e Rui
Fernandes (11-11-1525 a 11-10-1533). Durante os referidos exercícios, os feitores

101
ANTT, CC-1-27-3.
102
Blanchard, 2005: 1502.
103
Kumlien, 1977: 414.
104
Hildebrandt, 1977: 193.
João Pedro Vieira
124

receberam mais de 183  067 quintais de Antuérpia, que correspondem a 8593,2 t


de cobre. Durante os primeiros exercícios, os volumes de cobre anuais terão sido
relativamente modestos, mas na década de 1520 as aquisições sofreram um forte
incremento. No segundo exercício de João Brandão, a feitoria adquiriu anualmente,
em média, 8659 quintais de cobre (406,3 t), e com Rui Fernandes os volumes médios
anuais superaram os 15 786 quintais de Antuérpia (741 t).
Para além das cartas de quitação, os conhecimentos passados na Flandres pelos
feitores relativamente a produtos e materiais embarcados com destino ao reino
constituem um repositório heurístico adicional. Os 56 conhecimentos detectados,
com datas entre 30-06-1516 e 29-10-1520, indicam o carregamento de 57  659
quintais e 36 libras de Antuérpia com destino a Lisboa, ou seja, um fluxo total de
2706,6 t de cobre105. Assim, em média, a feitoria de Antuérpia remeteria anualmente
para o reino cerca de 13 323 quintais de Portugal (625,4 t).
Mencionem-se ainda duas cartas de quitação dos tesoureiros da Casa da Índia.
Entre Fevereiro de 1511 e Abril de 1513, João de Sá recebeu 9961 quintais, 2 arrobas
e 28 arráteis de cobre (585,3 t)106. Muito significativas foram as entradas de cobre
durante o exercício de João de Barros: entre 01-05-1525 e 31-12-1528, o tesoureiro
do dinheiro da Casa da Índia recebeu 45 621 quintais, 1 arroba e 13 arráteis de cobre
(2680,3 t), o que constitui uma média anual superior a 12 450 quintais107.
Todos estes montantes, combinados ainda com o cobre fornecido por Affaitati
e Gualterotti em 1515 e com os montantes fornecidos à Casa da Mina por Leo
Ravensburger, Jany Becut e Friedrich Loner, já referidos, representam um influxo
total de mais de 215 800 quintais (12 678,7 t) de cobre para o período de 1498 a
1533108. Uma vez que existem alguns hiatos de informação no período em estudo,
e admitindo um elevado nível de execução dos contratos celebrados com Fugger
entre 1517 e 1523, é razoável admitir que as importações totais de cobre tenham
excedido os 220 000 quintais (12 925,4 t). À luz desta interpretação, a estimativa de
importação de 10 000 quintais anuais sugerida Godinho para a primeira metade do
século XVI parece adequar-se pelo menos ao período 1515-1533109.
Segundo os dados compilados por van der Wee, a companhia dos Fugger terá

105
Para além dos conhecimentos referentes à companhia dos Fugger, a Georg Herwart e Hans Annerot, já mencionadas, num total de
30 conhecimentos, foram detectados os seguintes, organizados cronologicamente: ANTT, CC-2-65-87, 2-65-93, 2-65-142, 2-66-11,
2-68-119, 2-68-127, 2-69-36, 2-71-50, 2-71-49, 2-1-68, 2-71-122, 2-71-123, 2-71-124, 2-72-28, 2-72-30, 2-72-35, 2-42-244, 2-42-
249, 2-5-29, 2-35-95, 2-72-90, 2-43-220, 2-14-7, 2-76-112, 2-76-149 e 2-91-55.
106
ANTT, Leitura Nova, Místicos, liv. 6, f. 149.
107
ANTT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 3, f. 93 v. In Baião, 1918: 203. Estranhamente, a carta de
quitação referente ao exercício de João Gomes, tesoureiro da Casa da Índia entre Janeiro de 1529 e Abril de 1534, regista a receção
de apenas 16 quintais, 3 arrobas e 3 arráteis de cobre (ANTT, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 27, f. 59 v.).
108
Pese embora a existência de algumas sobreposições temporais na série de dados, designadamente entre o primeiro exercício de
João Brandão em Antuérpia (Janeiro de 1509 a Agosto de 1514) e o de João de Sá na Casa da Mina, caso em que se preferiram
os dados deste último; e entre o exercício de João de Barros na Casa da Índia e o de Rui Fernandes em Antuérpia, caso em que se
preferiram os dados relativos à Flandres.
109
Godinho, 1981-1983, 2: 11.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
125

colocado no mercado, entre 1497 e 1533, cerca de 47  300 t de cobre, das quais
cerca de 19 700 t foram encaminhadas para o mercado de Antuérpia — 2/5 do total
exportado110. A maior parte deste cobre seria de origem húngara. Por conseguinte,
as importações portuguesas de cobre acima apuradas representavam quase ⅔ de
todo o cobre colocado pelos Fugger em Antuérpia. No entanto, numa perspectiva
mais alargada, essas importações representariam apenas 9,5% da produção total
combinada da Hungria, Tirol e Mansfeld, estimada, de acordo com Hildebrandt, em
mais de 135 800 t para semelhante período.

5. As remessas de cobre para a Índia

5.1. c. 1500-1530

a) Volumes de exportação
É chegado o momento de abordar uma das questões nevrálgicas do presente
estudo: qual a dimensão das remessas de cobre de Lisboa para a Índia? Como
anteriormente, a primeira abordagem ao tema será circunscrita ao arco cronológico
compreendido entre c. 1500 e 1530.
Segundo a relação de Cà Masser, a armada de 1504 transportava 2800 quintais
de cobre (164,5 t), reforçados no ano seguinte com uma remessa estimada pela
mesma fonte entre 3500 a 4000 quintais (205,6 – 235 t)111. Em 1509, a armada de D.
Francisco Coutinho contava com uma carga de 1834 quintais, 2 arrobas e 30 arráteis
de cobre (107,8 t) no valor de 21 885 cruzados112. Em Fevereiro de 1513, as naus
destinadas à Índia tinham já carregados nos seus porões 4000 quintais de cobre (235
t), ponderando-se a inclusão de uma carga adicional de 1500 quintais recentemente
chegada a Lisboa113. Já em 1516, a pequena e acidentada armada de João da Silveira
transportou 2514 quintais, 2 arrobas e 6 arráteis de cobre (147,7 t)114. Sabe-se ainda
que em 1518 o feitor da nau Conceição recebeu 2009 quintais e 15 arráteis de cobre
(118 t) destinados à Índia115.
No que se reporta às cargas por navio, refiram-se os exemplos da nau Santiago
da armada de 1506, que transportava uma carga superior a 1206 quintais (70,9 t)116;
da nau Belém da armada de 1507, que transportou 550 quintais de cobre (32,3 t) para

110
Wee, 1963: 522-523.
Peragallo, 1892: 73-74. Assume-se que o termo «cantara» se reporta a quintais portugueses (58,752 kg, com base no arrátel
111

manuelino de ± 0,459 kg).


112
ANTT, Fragmentos 4-3-56.
113
ANTT, CC-1-12-77.
114
ANTT, Leitura Nova, Místicos, liv. 6, fl. 163 r. In Freire, 1903-1916 (doc. n.º 233).
115
ANTT, CC-1-27-123.
116
ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 15, f. 130 v. In Freire, 1903-1916 (doc. n.º 518).
João Pedro Vieira
126

a feitoria de Cananor117; da carga mais modesta de 330 quintais de cobre da nau Santa
Maria de Luz, pertencente à armada de 1516 e naufragada em Moçambique118; ou
finalmente dos 592 quintais e 2 arrobas de cobre (34,8 t) da nau Santiago, integrada
na armada de 1528119.
As cartas de quitação dos feitores da Índia, combinadas com documentação
diversa, fornecem dados globais sobre os volumes de cobre movimentados pelas
feitorias. Entre 1502 e 1518, os feitores de Cochim receberam um volume total
de cobre superior a 49 332 quintais (quase 2900 t)120. Para a carga da pimenta em
Cochim, em 1521, André Dias recebeu, entre outros, 3355 quintais, 3 arrobas e 25
arráteis de cobre (197,2 t)121. Simultaneamente, entre 1503 e 1521, as feitorias de Goa,
Calecute, Cananor e Coulão registaram um movimento de cobre de 20 537 quintais
(1206,6 t), destacando-se aqui a feitoria de Goa, responsável pela movimentação de
9736 quintais (572 t) entre Novembro de 1510 e Novembro de 1521122.
Aparentemente, em meados da década de 1520 as remessas anuais de cobre
para a Índia atingiam um nível muito elevado e possivelmente sem precedentes.
Uma estimativa dos rendimentos e despesas do reino e da Índia, datável de c. 1525-
1526, previa o envio anual de 8000 quintais de cobre (470 t), num valor total de 50
000 cruzados (6 ¼ cruzados o quintal). Sendo o valor do capital das armadas orçado
em 135 000 cruzados, as remessas de cobre representavam 37% do valor do capital
embarcado e perfaziam 5/6 do valor enviado em moeda123. Em Janeiro de 1528,
Afonso Mexia registava a existência de um stock de 5700 quintais de cobre (334,9 t)
na feitoria de Cochim124.

b) Volumes de amoedação e função monetária do cobre


Deste enorme volume de cobre, apenas uma parte relativamente modesta terá sido
direccionada para a produção monetária na Casa da Moeda de Goa, aparentemente a
única oficina monetária da Índia em funcionamento durante o reinado de D. Manuel
I. Os relatos cronísticos situam o seu estabelecimento após a reconquista da cidade125,

117
ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 3, f. 35 r. In Freire, 1903-1916 (doc. n.º 457).
118
ANTT, Fragmentos 4-4-203A. O naufrágio é referido na carta de quitação citada na nota anterior. Um volume semelhante de cobre
foi recuperado da nau Bom Jesus, naufragada em 1533 (Hauptmann et al., 2016: 182).
119
Baião, 1918: 316.
120
Dias, 1963-1964, 2: 340-341, com correcção no montante de cobre referente ao exercício de Diogo Fernandes Correia, que
recebeu 2981 quintais, 2 arrobas e 28,5 arráteis de cobre (ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 36, f. 27 r. vd. Freire, 1903-
1916, doc. n.º 130). Para os pesos da Índia, assume-se a utilização do peso novo (adoptado em Portugal em 1502), cuja utilização é
explicitamente referida em diversos documentos desde pelo menos os inícios de 1510 (vd. p. e. ANTT, CC-2-24-160, conhecimento
de 08-01-1511, e CC-2-20-178, mandado de 03-02-1510).
121
ANTT, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 1, f. 86 v. In Freire, 1906-1913, doc. n.º 652.
Para Coulão, vd. carta de quitação de Heitor Rodrigues, referente ao período entre Janeiro de 1517 e finais de Dezembro de 1521
122

(Freire, 1906-1913, doc. n.º 762).


123
BA, 50-V-29, f. 19 v. In Pinto, 2013: 156.
124
ANTT, CC-1-111-29.
125
Vd. o relato de João de Barros, Segunda decada, liv. 5, cap. 10 (Barros, 1553: 75 v.) e Brás de Albuquerque, Commentarios, pte.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
127

em finais de Novembro de 1510, mas a sua actividade está documentada apenas


a partir de Janeiro de 1511. Logo em 01-01-1511, o tesoureiro da moeda de Goa
recebe, por mandado de Afonso de Albuquerque de 30-12-1510, 6 quintais de cobre
(352,5 kg) para lavrar em moeda126. Até 31-03-1513, a Casa da Moeda de Goa terá
amoedado uma quantidade de cobre superior a 753 quintais (44,2 t)127
Estes dados oferecem uma ideia bastante aproximada dos volumes de amoedação
de cobre do Estado da Índia na fase de arranque da sua produção monetária, a qual
estaria certamente sujeita a variações intimamente dependentes dos ritmos da despesa
estatal. Relativamente à metrópole, não são conhecidos dados sobre os volumes de
produção para o mesmo período. Não obstante, sabe-se que em Agosto de 1510
o rei tinha ordenado à Casa da Moeda de Lisboa a amoedação de 100 quintais de
cobre (5,88 t)128. Além disso, uma proposta de arrendamento da cunhagem de cobre
na Casa da Moeda de Lisboa, referente aos inícios de 1511, sugere que esta casa
monetária poderia produzir anualmente pelo menos 600 quintais de cobre (35,3 t)129.
À luz destes dados, a produção estimada de Goa para 1511 adquire maior
relevância, plenamente justificada pela dimensão da despesa militar evocada por
Afonso de Albuquerque em carta de c. 1512: 200 homens estacionados em Goa,
em tempo de paz, significavam uma despesa de 7200 cruzados, que pagos em cobre
amoedado, a 24 cruzados o quintal, equivaliam a 300 quintais de cobre amoedado
(17,6 t). Em tempo de guerra, o contingente aumentava para 400 homens e a despesa
estimada duplicava proporcionalmente, representando, em cobre amoedado, 600
quintais (35,3 t)130.
Todavia, convirá notar não só que a moeda de cobre era apenas um dos meios
de pagamento ao dispor da administração régia — a par da moeda de prata e de
ouro e das mercadorias, entre as quais o cobre não amoedado —, mas também que
o quintal de cobre amoedado estava então francamente sobrevalorizado em relação
ao valor de mercado do cobre em barra. Em reacção a essa sobrevalorização, o valor
do quintal de cobre amoedado foi reajustado para 18,6 cruzados (7440 reais / 23 ¼
pardaus) nos finais de 1517 — ou seja, menos 20,5% que em 1512 — e em finais de
1524 ou 1525 foi determinada nova redução, fixando-se o quintal amoedado nos 18
cruzados131. Ainda assim, tratava-se de valores elevados quer relativamente ao preço

2, cap. 27; pte. 3, cap. 9 (Albuquerque, 1557: 136 v. – 138 r., 184 r. – 185 r.)
126
ANTT, CC-2-24-122.
127
Para além do documento anterior vd. ANTT, CC-2-4-160, 2-24-200, 2-24-246, 2-25-158, 3-4-72, 2-26-85, 3-4-82 e 3-28-63;
Fragmentos 4-4-72, 4-4-73 e 4-4-6. Assume-se que os 287 quintais e 24 arráteis entregues à Casa da Moeda na sequência do mandado
de 26-11-1511 (ANTT, CC-2-26-85) constituem uma entrada de cobre autónoma relativamente às entradas seguintes.
128
ANTT, CC-1-9-51.
ANTT, Gavetas 20-2-2. Vd. Godinho, 1981-1983, 2: 10. Importa notar, todavia, a existência de períodos de inactividade na
129

amoedação de cobre.
130
BPE, cód. CIII/2-26. In Pato, 1884-1935, 1: 413.
131
Rivara, 1857-1877, 5.1: 8-9. Aragão, 1875-1880, 3: 455. Godinho, 1981-1983, 2: 38. Considera-se aqui que a conversão para
reais dada pelo regimento de Fernão de Alcáçova estará incorrecta. Vd. infra nota n.º 134.
João Pedro Vieira
128

do quintal de cobre em barra assentado nas feitorias da Índia — 12 cruzados de 390


reais —, quer ainda quanto ao preço do quintal de cobre amoedado em Lisboa —
12,8 cruzados de 400 reais132. Em comparação com estes preços, o cobre amoedado
em Goa apresentava uma valorização entre 41% e 54%.
Pouco depois do reajuste do quintal amoedado, o governo da Índia decidia
adoptar uma política expansionista quanto às emissões de cobre de Goa. Em Março
de 1518, o governador Diogo Lopes de Sequeira autorizava a exportação da moeda
de cobre de Goa e em Março de 1519 não só determinava a descontinuação das
cunhagens de ouro e prata nessa cidade como reiterava a autorização de exportação
da moeda de cobre, visando expressamente a expansão da circulação e da amoedação
de cobre em Goa133. Embora fragmentário, o livro de receita e despesa do feitor
Miguel do Vale corrobora esta tendência em meados da década de 1520. Entre
Fevereiro e Junho/Julho de 1525, a Casa da Moeda de Goa cunhou 489 quintais e
2 arrobas de cobre (28,8 t) em leais. E entre Outubro de 1524 e Junho de 1526, o
referido feitor despendeu mais de 8140 cruzados no pagamento dos mantimentos da
gente de guerra estacionada em Goa: 59% desse valor foi pago com 956 750 leais,
ou seja, 15,1 t de moeda de cobre134.
Na verdade, a moeda de cobre tornara-se fundamental na economia de Goa
e na satisfação de uma multiplicidade de despesas correntes, incluindo os jornais
de diversos trabalhadores, os salários de operários, os soldos da gente de guerra
e ainda o aprovisionamento alimentar, em larga medida obtido em territórios fora
da jurisdição do Estado da Índia. Em Julho de 1526, os obreiros e malhadores que
assistiam à fundição de caldeiras tinham vencido os seus salários a 12 leais (24
reais) e 10 leais (20 reais) por dia respectivamente135. Em Setembro de 1525, o feitor
Miguel do Vale registava o pagamento de 629 219 leais aos carpinteiros, ferreiros,
serradores e outros oficiais e servidores da Ribeira, ferrarias e cordoaria de Goa pelo
trabalho efectuado durante esse ano136. Na mesma cidade, em 1527, os soldos eram
pagos em moeda de cobre a 120 leais por mês137.
Refiram-se ainda os casos do Convento de S. Francisco e do Hospital de Goa.
Entre 17-10-1524 e 05-03-1526, as obras do Convento de S. Francisco geraram uma
despesa total de 941 682 reais, 88% da qual foi paga em moeda de cobre (414 341

132
Valor calculado com base na talha do ceitil (120 peças em marco), atestada pela ordenação nova sobre soldos, libras e ceitis (carta
régia de 12-06-1499; vd. ANTT, Hospital de S. José, liv. 938, f. 28 v.) e pelas Ordenações Manuelinas (Liuro quarto das ordenações,
tít. 1, f. 4 r.), onde a referida ordenação foi incorporada.
133
Rivara, 1857-1877, 5.1: 8-9 (doc. n.º 5). Aragão, 1875-1880, 3: 455-456 (docs. n.os 2 e 3).
ANTT, Fragmentos 5-1-6. De acordo com a receita e despesa do feitor, em Junho de 1525 o cobre era lavrado em leais na Casa da
134

Moeda de Goa a 23 ¼ pardaus o quintal, i. e. 7440 reais ou 18,6 cruzados (f. 21 v.). O leal valia na época 2 reais, cotação verificável
no referido livro e em variadas fontes da época, p. e. ANTT, CC-2-135-72. Da conjugação destes dados se deduz a talha de 3720
peças no quintal e consequentemente o peso teórico de 15,79 g por leal.
135
ANTT, CC-2-134-121.
136
ANTT, Fragmentos 5-1-6.
137
ANTT, CC-1-38-1.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
129

leais). O caso do Hospital é bastante mais significativo, pois recebia regularmente do


feitor de Goa, desde 1520, largas quantidades de moeda de cobre para satisfação de
despesas com a assistência aos doentes. No seu exercício de 1525/1526, o provedor
Álvaro Godinho recebeu um total de 652 500 leais138 e de 04-09-1526 até 14-09-
1527 o novo provedor, Cosme Fernandes, recebeu mais 456 000 leais139. Valendo
então o quintal de cobre amoedado 18,6 cruzados — o mesmo valor que em 1517 —,
as transferências de leais para o Hospital de Goa acima mencionadas representavam
um volume de 297 quintais, 3 arrobas e quase 30 arráteis de cobre (17,5 t)140.

c) Circulação e aplicações do cobre na Índia


Se a produção monetária consumia apenas uma fracção das importações de cobre
europeu, qual o destino da maior parte do cobre recebido pelas feitorias portuguesas
da Índia? A resposta foi já parcialmente avançada: a maior parte do cobre era directa
ou indirectamente reexportada para mercados preferenciais como Baticalá, Chaul
e sobretudo Diu, sendo ulteriormente escoado para o interior e transformado em
produtos metálicos diversos, em moeda e em artilharia141.
Além disso, o cobre era distribuído pelas diversas feitorias régias, de Ormuz a
Malaca, onde era revendido aos mercadores autóctones ou aplicado no pagamento
de vencimentos, na aquisição de especiarias, mantimentos e materiais para conserto
das armadas, entre outros, assim como na fundição de utensílios e especialmente
de artilharia, de acordo com os recursos tecnológicos e os perfis de despesa de cada
feitoria.
Quanto à distribuição do cobre pelas feitorias, entre Janeiro de 1510 e Dezembro
de 1514 a feitoria de Cochim, capital comercial do Estado da Índia, reenviou quase
3500 quintais de cobre (205,6 t) para as diversas feitorias régias orientais, com
destaque para Goa, que recebeu ligeiramente mais de metade do cobre distribuído142.
Uma carta de 15-01-1527 sobre a receita e despesa da feitoria de Cananor
presta informações esclarecedoras quanto à utilização do cobre em pagamentos. De
Fevereiro de 1526 a Janeiro de 1527, o feitor de Cananor despendeu 770 quintais e 1
arroba de cobre (45,3 t), a 12 cruzados o quintal, no pagamento de tenças (incluindo
ao rei de Cananor e seu alguazil), soldos, dívidas pendentes do feitor anterior, arroz,
cairo, caldeiras, mantimentos, cotonias para velas e sobretudo no pagamento de 200
quintais de gengibre e 1200 quintais de pimenta. Só o pagamento do gengibre e
da pimenta consumiu 428 quintais de cobre (25,1 t), que correspondem a 56% da

138
ANTT, CC-2-135-72.
139
ANTT, CC-2-135-72, 2-136-60, 2-144-96.
140
Além das utilizações referidas, refira-se a aplicação da moeda de cobre na distribuição regular de esmolas através das Misericórdias.
Entre Janeiro de 1525 e Setembro de 1527, o feitor Miguel do Vale entregou aos mordomos da Misericórdia de Goa 522 560 reais (i.
e. 261 280 leais), à razão de 11,5 pardaus por cada sexta-feira (ANTT, CC-2-144-149).
141
Vd. Barbosa, 1946: 84. ANTT, CC-1-13-103.
142
ANTT, CC-2-20-71, 2-20-93, 2-20-132, 2-91-94, 2-33-102, 2-29-11, 2-29-184, 2-34-21, 2-37-112, 2-37-217, 2-42-48, 2-42-51,
2-112-30, 2-43-100, 2-45-60, 2-53-122.
João Pedro Vieira
130

despesa total realizada em cobre. Restava um saldo de 221 quintais e 1 arroba, parte
do qual destinado a aquisições adicionais de gengibre143.
A aquisição de drogas e especiarias, especialmente a pimenta, foi efectivamente
uma das aplicações de relevo do cobre exportado para a Índia. Aproveitando o elevado
valor desse metal nos mercados indianos, era possível obter prata e ouro amoedados
e reinvesti-los na constituição das cargas de retorno, limitando as remessas de metais
preciosos amoedados e não amoedados do reino. Logo em Janeiro de 1503, Vasco da
Gama assentou com o rei de Cochim o pagamento do bar de pimenta ao preço de 8
cruzados, dos quais ¾ seriam prestados em dinheiro e ¼ em cobre, avaliado em 12
cruzados o quintal144.
Contudo, com o aumento das remessas anuais do reino, às quais se juntavam
frequentemente as remessas do Estreito, o cobre tornou-se rapidamente num meio
de pagamento menos atractivo para os fornecedores locais. Em Setembro de 1514,
Afonso de Albuquerque informava o rei de que em Cochim os mercadores indianos
revendiam prontamente e a desconto o cobre recebido em pagamento da pimenta e
que esse metal era desprovido de interesse para os produtores da especiaria145. Tal
falta de interesse mantinha-se em 1527146. Em Cananor, a situação parece ter sido
diferente, pois aparentemente nos anos anteriores a 1535 o rei de Cananor aceitara
o pagamento integral da pimenta em cobre, aproveitando preços de mercado mais
favoráveis relativamente ao preço oficial da feitoria (12 cruzados)147. Apesar disso,
o pagamento parcial da pimenta com cobre subsistiria pelo menos até à década de
1560148.
O cobre não era uma mercadoria estratégica apenas do ponto de vista comercial,
mas igualmente do ponto de vista militar, pois constituía a principal matéria-
prima usada na fundição de artilharia. Os crescentes volumes de cobre exportados
para a Índia eram, por isso, motivo de inquietação. Em Janeiro de 1507, Álvaro
de Noronha aconselhava que se refreassem os envios de cobre com o argumento
de que era desviado para a produção de artilharia e espingardas149. Já por volta de
1510, a administração régia procurava inteirar-se do uso e da quantidade de artilharia
existente nas várias regiões da Índia e ainda apurar qual a contribuição do cobre
expedido do reino para essa produção150. Em 1542-1543, o problema revelava-se tão
ou mais actual que há três décadas e terá sido uma das forças motrizes da política

143
ANTT, CC-1-37-76.
144
Godinho, 1981-1983, 3: 17.
145
ANTT, CC-1-16-82. In Pato, 1884-1935, 1: 329-330.
146
ANTT, CC-1-37-76, f. 4 v.
147
Ramusio, 1550: 152 v. (relação de Tomé Lopes, 1502). ANTT, Gavetas 20-7-13, f. 4 r.
148
ANTT, CC-1-87-50, 1-103-31. Vd. infra a discussão acerca da década de 1560.
149
ANTT, Gavetas 20-4-15, f. 14 v. In Rego, 1962-1977, 10: 368.
150
ANTT, Fragmentos 3-3-16A.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
131

monetária de Martim Afonso de Sousa relativamente à moeda de cobre151.


A crer no testemunho posterior do mestre da fundição de Goa, João Vicente,
o Estado da Índia só começou a produzir artilharia em Goa e Cochim durante o
governo de Diogo Lopes de Sequeira (1518-1522)152, embora mesmo depois desse
período continuasse a suprir parte das suas necessidades através das armadas do
reino153. De acordo com a relação de artilharia de 1525, e excluindo Ormuz, o Estado
da Índia dispunha de 1073 peças de artilharia, das quais 667 peças fundidas em
metal, i. e. bronze. Entre estas constavam pelo menos 13 falcões pedreiros e 10
camelos fundidos na Índia154. Em 1553, a artilharia ao serviço do Estado da Índia
duplicara; e se em 1525 o bronze compunha ⅔ da artilharia total, essa proporção
excedia agora os 92%155.
Conquanto as fontes compulsadas não indiquem pesos, parece razoável
conjecturar que toda esta artilharia de bronze fosse responsável pela imobilização
contínua de vários milhares de quintais de cobre, numa tendência crescente que viria
a eclipsar a amoedação do cobre durante a primeira metade do século XVII.

5.2. c. 1530-1560

a) Volumes de exportação
Retomemos a questão das remessas de cobre do reino para a Índia a partir de c.
1530 e até à década de 1560, quando se operou uma viragem no aprovisionamento
de cobre do Estado da Índia. Os dados quantitativos disponíveis são escassos
comparativamente ao período anterior, mas ainda assim suficientes para se formar
uma percepção genérica acerca dos volumes e ritmos de exportação do cobre europeu
para a Índia através da rota do Cabo, pelo menos até 1545. As flutuações da oferta
parecem ter sido significativas.
Em Dezembro de 1532, Estêvão Gago denunciava a grande escassez de cobre
em pasta sentida em Goa desde 1530. Segundo o feitor de Goa, não havia cobre
na feitoria quando assumiu o cargo; em 1531, as remessas do reino tinham sido
muito reduzidas e em 1532 a armada do reino não trouxera nenhum cobre156. A
administração régia na metrópole parece ter reagido à notícia com a retoma das
remessas em 1533. Numa carta ao vedor da Fazenda datada de 14-01-1533, D. João
III aprovava a quantidade de cobre a expedir para a Índia na armada da Primavera
desse ano; a dimensão da remessa não é, porém, especificada. Todavia, na mesma
carta, o rei instruía ainda o vedor da Fazenda a preparar uma carga adicional de cobre

151
ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, f. 265 r.
152
ANTT, CC-1-66-32.
153
Segundo se infere das Lembranças das cousas da Índia, fls. 19 r. – v. In Felner, 1868: 29-30.
154
Lembranças, fls. 5 v. – 6 v. In Felner, 1868: 11-13.
155
BA, 51-VI-54, fls. 39 r. – 43 v. In Jesus et al., 2014.
156
ANTT, CC-1-50-50.
João Pedro Vieira
132

para a armada de Outubro157.


Relativamente à armada de Março desse ano, é conhecida pelo menos a carga
de cobre de um dos navios, naufragado na viagem de ida junto à costa da actual
Namíbia, e redescoberto em 2008: o Bom Jesus. Das escavações conduzidas no local
resultou a recuperação de cerca de 18 t de cobre em pães, o que equivale a mais
de 300 quintais de cobre158. De notar que os pães ostentam a marca da companhia
dos Fugger, cujas remessas de cobre para Antuérpia rondavam então, numa média
grosseira, as 450 t anuais159. É muito provável que a Coroa portuguesa se continuasse
a abastecer primariamentejunto dos Fugger.
Nos anos seguintes, o elevado nível de remessas manteve-se. Em carta de 10-
08-1536, D. João III comunicava a D. António de Ataíde, vedor da Fazenda, ter sido
informado de que nas feitorias da Índia havia muito cobre e que o seu preço era
baixo. Nesse sentido, previa-se a suspensão ou redução das remessas em 1537160.
Não obstante, tal orientação acabou por ser mitigada. Em carta missiva de 20-04-
1537, o rei escrevia ao vedor da Fazenda ordenando que se enviassem para a Índia
6000 quintais de cobre (352,5 t) por ano em 1537/1538 e 1538/1539161. E segundo
as estimativas apresentadas em 1545 por Aleixo de Sousa, o Estado da Índia recebia
anualmente do reino entre 5500 e 7600 quintais de cobre (323,1 – 440,6 t)162.
Para os anos posteriores a 1545, não foi possível localizar dados quantitativos
sobre as remessas de cobre do reino para a Índia, embora existam dados que sugerem
a continuidade de remessas volumosas pelo menos até cerca de 1550. As cartas de
quitação dos tesoureiros da Casa da Mina relativamente ao período entre Maio de
1546 e Julho de 1554 registam a importação de quase 39  790 quintais de cobre
(2337,7 t)163, provavelmente concentrados na primeira metade desse período, como
adiante se verá.
O aprovisionamento de cobre para o reino e para a Índia continuava a ser
assegurado, como visto, através de importações a partir de Antuérpia. As informações
são muito escassas mas indiciam a continuidade dos contactos com a companhia
dos Fugger, liderada por Anton Fugger desde 1526, e o estabelecimento de relações
com Erasmus Schetz, cujas ligações comerciais a Portugal remontavam à década de
1510164. A companhia deste último tivera um contrato de fornecimento de artigos de

157
Ford, 1931: 63-64 (doc. n.º 29).
158
Chirikure, 2010. Hauptmann et al., 2016.
159
Wee, 1963: 522-523.
160
Ford, 1931: 260 (doc. n.º 225).
161
Ford, 1931: 335-336 (doc. n.º 306).
162
ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, fls. 264 v., 267 r.
163
Carta de quitação de Gaspar Tibão, referente ao período entre 24-05-1546 e 24-05-1550 (ANTT, Chancelaria de D. João III,
Privilégios, liv. 1, fls. 349 v. – 350 r.) e carta de quitação de Álvaro Mendes, referente ao período entre 21-05-1550 a 27-07-1554
(ANTT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 4, fls. 128 r. – v.).
164
Stols, 1973: 20. De notar que não foram localizadas as cartas de quitação de Jorge de Barros, Manuel Cirne e João Rebelo, feitores
régios em Antuérpia entre 1533 e 1549.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
133

cobre e latão para o comércio da Mina que terminara nos finais de 1547. Em Janeiro
de 1548, recusando-se a baixar o preço contratual, Schetz perdeu o contrato para
Anton Fugger, que já tinha possivelmente em execução um contrato de fornecimento
de cobre à Coroa portuguesa pelo preço de 9 cruzados o quintal (3600 reais), mantido
no novo contrato com a duração de 3 anos165.
Nos anos seguintes, a Coroa teve de recorrer a financiamento externo para
garantir a continuidade do aprovisionamento de cobre. Entre 1550 e 1554, de acordo
com a carta de quitação do tesoureiro Álvaro Mendes, a Casa da Mina recebeu quase
54 650 cruzados provenientes de empréstimos contraídos «a câmbio» para satisfação
do contrato do cobre166.
Sabe-se ainda que em Agosto de 1566 Rui Mendes desenvolvia negociações
para a aquisição de cobre em Antuérpia, pedindo a esse propósito que lhe fosse
disponibilizada uma cópia do anterior contrato do cobre, o que corrobora a
continuidade do aprovisionamento de cobre através da celebração de contratos de
fornecimento em Antuérpia167. Entre Janeiro de 1564 e Setembro de 1568, a Casa
da Mina recebeu 6493 quintais e 2 arrobas de cobre em pasta (381,5 t)168. Mas nessa
época, como adiante se verá, o Estado da Índia voltara-se para outras fontes de
aprovisionamento e a fundição de artilharia adquiria paulatinamente um maior peso
no consumo de cobre.

b) Volumes de amoedação: o governo de Martim Afonso de Sousa


Da polémica gerada pela crise monetária de Goa em 1544-1545 resultou alguma
informação privilegiada sobre a produção da Casa da Moeda de Goa no que à moeda
de cobre concerne. Trata-se de uma carta de Aleixo de Sousa, datada de 07-10-
1545169, e de um assento de 20-09-1545, produzido pelos contadores dos Contos
de Goa com base em informação recolhida junto dos moedeiros. Importa referir
que Aleixo de Sousa ocupara o proeminente cargo de vedor da Fazenda durante o
governo de Martim Afonso de Sousa (Maio de 1542 – Setembro de 1545) e fora um
dos protagonistas da polémica monetária que marcou o referido governo.
No primeiro documento, Aleixo de Sousa afirmava que em Goa se produziam
anualmente cerca de 1500 quintais de cobre (88,1 t) em moeda antes do governo
de Martim Afonso de Sousa170. Considerando o volume de remessas estimado pelo
referido vedor, tal produção representava a afectação mínima de 1/5 do influxo anual
de cobre à produção monetária. No segundo documento, heuristicamente superior, os

165
ANTT, CC-1-80-16. Pereira, 2003: 286. Godinho, 1981-1983, 2: 9-10. Kellenbenz, 2000: 483-484, 572.
166
ANTT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 4, f. 128 r.
167
ANTT, CC-1-107-143.
168
ANTT, Chancelaria de D. Sebastião e D. Henrique, Privilégios, liv. 12, f. 163 r.
169
BnF, Portugais 23, fls. 510 r. – 513 r. A carta encontra-se reproduzida, com pequenos lapsos, em ANTT, Colecção de S. Lourenço,
liv. 4, fls. 264 v. – 271 v., onde surge datada de 06-10-1545.
170
BnF, Portugais 23, fls. 510 r., 511 r. – v., 512 v. ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, fls. 264 v., 267 r., 271 r.
João Pedro Vieira
134

contadores e moedeiros de Goa declaram que no período em que o cobre era lavrado
a 25 pardaus o quintal (7500 reais) — i. e. anteriormente ao alvará do governador
de 16-05-1545171 —, a Casa da Moeda de Goa convertia em moeda, por semana,
45 quintais de cobre, ou seja, 2160 quintais por ano (126,9 t). Posteriormente à
reforma de Maio de 1545, lavrando o quintal de cobre ao preço de 32 pardaus, 3
tangas e 42 leais (9830,4 reais), a Casa da Moeda conseguia amoedar semanalmente
30 quintais, o que correspondia a uma produção anual potencial de 1440 quintais
de cobre amoedado (84,6 t)172, ou seja, ⅔ da produção potencial realizável com o
quintal avaliado em 25 pardaus.
Assumindo ex hypothesi 3,5 meses de laboração contínua de acordo com a nova
estiva, a Casa da Moeda de Goa teria convertido até meados de Setembro cerca de
420 quintais de cobre (24,7 t), equivalentes à enorme quantidade de 3,44 milhões de
bazarucos173.
Durante o efémero período de execução da reforma de 16-05-1545, que reduziu
o peso do bazaruco a 1,5 oitavas e estabeleceu a paridade bazaruco/real174, o volume
de cobre transformado em moeda por semana terá sido ainda mais baixo. Porém, o
quintal de cobre amoedado atingiu então um máximo histórico de 10 922 ⅔ reais
— mais de 36 pardaus e 2 tangas ou 27,3 cruzados —, o que correspondia a um
benefício adicional superior a 42% sobre o preço do cobre amoedado na metrópole
(7680 reais)175.
Porém, quanto ao período entre 1542 e 1544, em que decorreram as
desvalorizações de 18 para 20 pardaus e posteriormente de 20 para 25 pardaus176,
os volumes de produção terão sido significativamente superiores ao habitual, de tal
modo que Martim Afonso de Sousa providenciou a construção de duas novas oficinas
de fabrico, cuja capacidade produtiva máxima Aleixo de Sousa estimava em 5500
quintais de cobre177. Além disso, presumivelmente em finais de 1543 ou inícios de
1544, a Casa da Moeda de Cochim, aparentemente inactiva, iniciou a cunhagem de
bazarucos em abundância para satisfação de empréstimos, soldos e outras dívidas178.
O objectivo era, declaradamente, a canalização da maior parte do cobre recebido das
armadas do reino para a lucrativa operação de emissão monetária.
Em resposta aos veementes protestos da câmara da cidade, mesteirais, povo e

171
Contra Godinho (1981-1983, 2: 41), que situa a grande desvalorização em 1544. De notar que Gaspar Correia coloca a polémica
reforma dos bazarucos no Inverno (austral) de 1545 (ANTT, Códices e documentos de proveniência desconhecida, n.º 43, f. 355 r.
In Correia, 1864: 429-430).
172
BA, 51-VII-22, f. 67 v.
Bazaruco com valor de 50 na tanga e peso de 2 oitavas (7,17 g), segundo informação de Aleixo de Sousa (BnF, Portugais 23, fls.
173

510 v. – 511 r. ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, f. 266 r.).


174
BA, cód. 51-VII-22, fls. 17 r. – 17 v.
175
Pelo alvará de 14-04-1540 (ACM, Registo Geral, liv. antigo, f. 68 r. In Peres, 1957: 86).
176
BnF, Portugais 23, f. 510 v. ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, f. 265 v.
177
BnF, Portugais 23, fls. 511 r. – v. ANTT, Colecção de S. Lourenço, liv. 4, fls. 267 r., 271 r.
178
ANTT, Códices e documentos de proveniência desconhecida, n.º 43, f. 327 r. In Correia, 1864: 337.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
135

religiosos de Goa, e depois de levantados os competentes autos sobre os acontecimentos


dos meses passados, o vice-rei D. João de Castro, reunido em conselho em 21-09-
1545, decidia reverter o valor do quintal amoedado aos 25 pardaus (7500 reais)179,
novamente abaixo, portanto, do preço do quintal amoedado na metrópole.

c) A concorrência do cobre do Estreito


Incapaz de bloquear a navegação comercial entre o Mar Vermelho e a Índia,
o Estado da Índia assistiu nos meados do século à reanimação dos fluxos de cobre
por essa via e ao aumento de uma concorrência que, na verdade, nunca conseguiu
eliminar. Em 1523, há notícia de que Diu recebia elevadas quantidades de cobre
provindas do Mar Vermelho180, e em 1526 os portugueses apresavam três naus de
mercadores muçulmanos cuja carga incluía 1001 quintais de cobre (58,8 t)181. Em
Dezembro de 1548, a Câmara de Goa reportava a intensificação dessa navegação,
alegando que todos os anos vinham do Estreito à Índia 50 a 60 navios carregados de
cobre e outras mercadorias182. Quase dez anos depois, em 06-01-1557, o governador
da Índia notava uma vez mais a abundância desse cobre nos mercados de Cambaia
e o efeito profundamente depressor que tinha na procura do cobre oferecido pelos
portugueses183.
O crescimento da importação de cobre por via do Mar Vermelho estava
intimamente ligado ao avanço militar e comercial otomano no Médio Oriente e ao
ressurgimento da exportação de pimenta e drogas para o Egipto e o Mediterrâneo.
Em 1545, chegava a Jiddah grande quantidade de pimenta184 e em 1548 a navegação
comercial entre Veneza e Alexandria recuperara a sua vitalidade185. A concorrência
tornou-se especialmente flagrante na década de 1560186. A revitalização do comércio
da pimenta com Alexandria era tal que a própria companhia dos Fugger decidira
investir nesse negócio em 1559 e 1560187. Em 1566, o vice-rei D. Antão de Noronha
afirmava mesmo que a pimenta escoada pelo Mar Vermelho atingia volumes anuais
entre 20 000 e 25 000 quintais (102,8 – 128,5 t)188.

d) A quebra das remessas do Cabo

179
BA, cód. 51-VII-22, fls. 71 r. – 73 r.
180
ANTT, CC-1-30-36.
181
ANTT, CC-1-35-30.
182
ANTT, CC-1-81-93.
183
ANTT, Gavetas 15-9-28. In Rego, 1962-1977, 4: 178-179.
184
ANTT, Colecção de Cartas, Núcleo Antigo 876, n.º 146, f. 2 r.
185
ANTT, CC-1-81-30 (carta de 28-08-1548).
Vd. a carta de Lourenço Pires de Távora de 30-11-1560 (in Leal, 1886: 108-112), a correspondência de Tomás de Zornoza em
186

ANTT, CC-1-106-8 (22-08-1562) e CC-1-06-82 (10-08-1563) e a missiva de Gaspar e João Ribeiro, datada de 27-08-1564 (ANTT,
CC-1-107-9).
187
Carta de Lourenço Pires de Távora. In Leal, 1886: 111-112.
188
CC-1-108-15, f. 3 v. In Rego, 1947-1958, 10: 157.
João Pedro Vieira
136

Ao problema do aumento da concorrência acrescia um outro problema de maior


gravidade. Se até finais da década de 1540 o Estado da Índia beneficiara de um
aprovisionamento de cobre relativamente abundante e regular, a situação parece ter
começado a mudar logo nos inícios da década de 1550. As remessas de cobre do
reino sofreram uma redução drástica e surgem indícios de uma verdadeira crise de
abastecimento.
Em Fevereiro de 1551, D. António de Ataíde informava que na armada desse
ano iria pouco cobre para a Índia189. As fracas remessas de 1551 e possivelmente dos
anos anteriores ressaltam de duas cartas escritas de Cochim em Janeiro de 1552. Em
27 de Janeiro, D. Afonso de Albuquerque manifestava o seu espanto e discordância
perante a redução dos envios de cobre e mercadorias190. Três dias depois, Simão
Botelho, vedor da Fazenda, observava que costumavam vir do reino grandes
quantidades de mercadorias e de cobre, mas que agora já não chegavam quaisquer
mercadorias e que o cobre recebido era em tão pouca quantidade que não satisfazia
sequer as necessidades de moeda191. Entre 1555 e 1557, a insuficiência das remessas
do reino terá permanecido, pois em Janeiro de 1557 o governador Francisco Barreto,
para além de sinalizar a carência de artilharia, especialmente de grande calibre,
reiterava o pedido de 6000 quintais de cobre (352,5 t) formulado anos antes pelo seu
antecessor192.
A quebra das remessas terá certamente afectado a produção monetária do Estado
da Índia. Em 1558, os 437 quintais e 25,5 arráteis de cobre (25,7 t) devidos em parte
de pagamento dos cerca de 10 000 quintais de pimenta adquiridos anualmente em
Coulão já tinham sido substituídos por moeda de ouro, entregue aos mercadores
da pimenta à razão de 20 pardaus (15 cruzados) por cada quintal de cobre. O cobre
assim retido destinava-se à produção de moeda por conta da Fazenda Real193. Em
1559, o Estado da Índia continuava a receber cobre vindo do reino. Mas em Outubro
o vice-rei Constantino ordenava que todo o cobre recebido da armada do reino desse
ano fosse lavrado em moeda à razão de 42 pardaus o quintal (31,5 cruzados)194.
Quais as razões subjacentes à quebra das remessas? Na década de 1540, a
produção europeia de cobre começava a sua trajectória descendente, embora de
forma geograficamente desigual e com maior expressão nas décadas imediatamente
seguintes. Hildebrandt, por exemplo, estima que a produção média anual tenha
caído das 42  000 t na década de 1540 para as 27  500 t na década de 1570195.
Simultaneamente, o reino sofria de uma crescente escassez de moeda de cobre e

189
Ford, 1931: 376 (doc. n.º 346).
190
ANTT, Gavetas 15-19-38. In Rego, 1962-1977, 5: 316.
191
ANTT, Gavetas 15-19-37. In Rego, 1962-1977, 5: 328.
192
ANTT, Gavetas 15-9-28, f. 7 v. In Rego, 1962-1977, 4: 180.
193
ANTT, CC-1-103-31, f. 11 v.
194
Aragão, 1875-1880, 3: 458.
195
Hildebrandt, 1977: 193-200. Kellenbenz, 1977: 300-305.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
137

o preço do metal aumentava nos mercados: em 1548, como observado, a Coroa


portuguesa pagava à companhia dos Fugger 9 cruzados pela mesma quantidade de
cobre que em 1520 adquiria por apenas cerca de 4 cruzados.
Na década de 1530, a própria Coroa começou a debater-se com crescentes
dificuldades financeiras que terão afectado a constituição do capital das armadas e
acabariam por levá-la à insolvência declarada em 1560196. Em 1543, as dívidas da
Coroa em Antuérpia ascendiam a mais de 1,9 milhões de cruzados e venciam juros
anuais exorbitantes197. Em Abril do ano seguinte, nas cortes de Almeirim, D. João III
solicitava a concessão de um subsídio de 200 000 cruzados, parcialmente atendido198,
e em Julho mandava despachar centenas de pedidos de empréstimo a privados,
incluindo a alta aristocracia do reino199. Em finais de 1548, perante a acumulação de
dívidas e a falta de crédito, o rei acabou por determinar o encerramento da feitoria de
Antuérpia e o regresso dos seus oficiais200. A situação financeira da Coroa continuou
a deteriorar-se rapidamente, de tal forma que em Agosto de 1552 as dívidas na
Flandres ascendiam já a mais de 3 milhões de cruzados201.
No reino, a política monetária começou a exigir a retenção de maiores
quantidades de cobre. Por alvará de 10-10-1550, D. João III reagiu à escassez de
moeda de trocos ordenando que se amoedassem com prontidão 800 quintais de cobre
(47 t) em moedas de ceitil, real, 3 reais e de 10 reais, o que representava teoricamente
a injecção de mais de 10,5 milhões de moedas na circulação monetária202. Poucos
dias depois, a ordenação de 16-10-1550 regulava as especificações da nova moeda,
desvinculava o ceitil das restantes denominações e oficializava um espectacular
aumento no preço legal do quintal de cobre amoedado, que passava de 7680 reais
(19,2 cruzados) para 32 768 reais (81,9 cruzados) — mais do quádruplo do valor
fixado em 1540203.
Na mesma época, Espanha lidava também com os impactos negativos do
encarecimento do cobre. O aumento do preço do cobre comprometera a rentabilidade
da produção de moeda divisionária de bolhão, contribuindo para a sua crescente
escassez na circulação monetária. O problema foi denunciado nas cortes de Madrid,
em 1551, e manteve-se aparentemente ao longo de toda a década, ressurgindo com

196
Sousa, 1844: 415-417. Azevedo, 1929: 129-135. Vd. alvará de 22-02-1560 in Gomes (1883: 149-150).
197
Sousa, 1844: 408-410.
198
Sousa, 1844: 417. BnF, Portugais 62, fls. 191 v. – 192 r. («Memória das cortes em que se jurou o Príncipe D. João, que el-rei D.
João III ordenou em Almeirim o ano de 1544»).
199
Vd. p. e. as cartas para D. Álvaro de Noronha (ANTT, CC-1-74-91), D. Rodrigo de Castro (CC-1-75-16), D. Henrique de Noronha
(CC-1-75-31), D. Pedro da Silva (CC-1-75-32) e Manuel de Sousa (CC-1-175-33. Para a lista dos privados a quem foram solicitados
empréstimos, vd. BNB, Cód. 4,2,11, f. 14 r. ss.
200
Sousa, 1844: 421.
201
Sousa, 1844: 437.
202
ACM, Registo Geral, liv. antigo, f. 83 r. In Peres, 1957: 91.
203
ACM, Registo Geral, liv. antigo, fls. 82 r. – 83 r. In Fernandes, 1878: 48 (doc. n.º 132).
João Pedro Vieira
138

maior veemência nas cortes de Toledo, em 1559-1560204.


Em 1560, em plena crise financeira, a sobrevalorização nominal do cobre
amoedado agravava-se em Portugal e o sistema da moeda de cobre apresentava sinais
evidentes de desestruturação. Pela carta régia de 11-07-1560, o quintal de cobre
amoedado atingiu um máximo de 40  960 reais (102,4 cruzados), computado pela
moeda de 5 reais205. Os volumes anuais de amoedação seriam bastante elevados, pois
em 08-05-1564 o lavramento do cobre na Casa da Moeda de Lisboa ficou limitado a
456 quintais anuais (26,8 t)206. A valorização do cobre em relação à prata no período
entre 1540 e 1560 foi notável. O rácio legal prata/cobre, que em 1536 se fixara em
1:116, desceu para 1:91 em 1540 e em 1550 mergulhou vertiginosamente para 1:21.
Finalmente, em 1560, o rácio atingia o mínimo histórico de 1:17, ou seja, o cobre
amoedado valia então quase 7 vezes mais que em 1536.
Tal sobrevalorização acabou por tornar o stock monetário português susceptível
a ataques especulativos e à contrafacção. A partir da Flandres, desenvolveu-se
um lucrativo negócio de contrafação e exportação de moeda de cobre portuguesa,
documentado pelo menos desde os finais de 1563207. Entretanto, Portugal interveio
junto da Monarquia Espanhola e na Flandres, procurando a repressão do fenómeno208.
No reino, pela ordenação de 22-10-1566, a cunhagem das moedas de 10, 5 e
3 reais foi descontinuada e os pesos do ceitil e do real foram reajustados209. No
reino, pela ordenação de 22-10-1566, a cunhagem das moedas de 10, 5 e 3 reais foi
descontinuada e os pesos do ceitil e do real foram reajustados209. Mas assumindo
a sua incapacidade de reprimir a importação de grandes quantidades de moeda
contrafeita, a Coroa optou por uma solução radical. Em Março de 1568, determinou
uma brutal deflação da moeda de cobre: as moedas de 10, 5 e 3 reais foram reduzidas
a 30% do seu valor nominal e a moeda de real passou a valer apenas 50%210.
Iniciava-se, deste modo, o longo refluxo da moeda de cobre em Portugal, em
nítida divergência com a evolução monetária espanhola. A partir de da década de
1570, as cunhagens de cobre foram abandonadas e só voltariam a ser retomadas
depois de 1640211.

204
Colmeiro, 1903: 549-550, 857.
205
Leis extravagantes, pte. 5, tít. 8, lei 5, f. 196 v. (Leão, 1569). Aragão, 1878-1880, 1: 414-415 (doc. n.º 61).
206
ACM, Registo Geral, liv. 1, f. 43 v.
207
ANTT, CC-1-106-145. Em Novembro de 1565, são descobertos em Baiona 11 barris de moeda de cobre de 5 reais contrafeita
proveniente da Flandres (ANTT, CC-1-107-111).
208
ANTT, Gavetas 14-7-4, CC-1-106-145, 2-247-33.
209 ACM, Registo Geral, liv. 1, fls. 51 v. – 52 r. Leis extravagantes, pte. 5, tít. 8, lei 6, fls. 196 v. – 197 r. (LEÃO, 1569). In ARAGÃO,
1875-1880, 1: 417 (doc. n.º 64).
210
Leis extravagantes, pte. 5, tít. 8, lei 6, f. 197 v. (Leão, 1569). Aragão, 1878-1880, 1: 418 (doc. n.º 65).
211
De assinalar a breve excepção constituída pelas cunhagens de D. António em Angra.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
139

6. O cobre oriental

6.1. Cobre da China

À luz da evolução europeia e portuguesa acima esboçada, a exportação de cobre


para a Índia terá deixado de ser um negócio suficientemente remunerador a partir
das décadas de 1550 e 1560. Parece ser precisamente a partir da década de 1560 que
o Estado da Índia começa a explorar uma fonte de aprovisionamento alternativa na
Ásia Oriental: a China. O estabelecimento permanente dos portugueses em Macau
a partir de 1557 criou uma base de operações comerciais essencial para a aquisição
deste metal. Não obstante, a China terá também funcionado como mercado de
importação e de trânsito para o cobre japonês212, cuja exportação adquire especial
relevância no primeiro terço do século XVII. Por se reportar à fase final do período
em estudo, esta segunda proveniência oriental será abordada em momento posterior.
Comparativamente aos períodos anteriores, os dados disponíveis sobre os volumes
de produção e de circulação são ainda mais escassos e dispersos213.
A China possuía abundantes depósitos de cobre nas regiões do Yunnan e Sichuan,
e múltiplos outros dispersos pelo seu território, em regiões como Shanxi, Zhejiang e
Shaanxi, e controlados por estruturas administrativas próprias. No entanto, os escassos
dados disponíveis sugerem que pelo menos durante todo o século XVI os volumes
de produção terão permanecido em níveis aparentemente modestos relativamente
às necessidades de consumo dos mercados chineses. Lamentavelmente, não são
conhecidos dados relativos aos volumes de produção214. Aos modestos níveis de
produção acrescia uma política de condicionamento do comércio exterior com o
Japão que colocava um travão aos influxos de cobre eventualmente provenientes
desse arquipélago. A limitação das disponibilidades de cobre terá ainda influenciado
os longos períodos de inactividade das oficinas monetárias imperiais215.
Neste contexto, ainda que as possibilidades de quantificação das exportações
de cobre sejam muito limitadas, as fontes portuguesas adquirem uma importância
acrescida, contribuindo para uma melhor aproximação à dimensão dos efluxos de
cobre chinês canalizados através do eixo comercial Cantão-Macau.

a) O desinteresse na exportação de cobre europeu


A afirmação do cobre dito «da China» decorreu em paralelo com outros
desenvolvimentos importantes que ajudam a explicar o crescente desinteresse da
Coroa e dos investidores privados nas remessas de cobre europeu para o Oriente.

212
Godinho, 1981-1983, 2: 49. Vd. infra a discussão sobre o cobre do Japão.
213
O que em parte se deve às limitações da pesquisa efectuada relativamente ao período pós-1560.
214
Golas, 1999: 89. Vogel et al., 1991: 12-13.
215
Glahn, 1996: 83-153.
João Pedro Vieira
140

Em Janeiro de 1560, enfrentando graves dificuldades financeiras, a Coroa arrendou a


exploração directa do comércio da pimenta a um consórcio de mercadores com obrigação
de investir anualmente 100 000 cruzados de capital e com licença para exportar diversas
mercadorias potencialmente úteis na aquisição de pimenta216. Esta primeira experiência de
concessão teve sucesso limitado e terminou em 1564. Mas em 1570, embora reservando
para a Coroa o envio de prata e de cobre a partir do reino, D. Sebastião extinguia o
monopólio régio sobre o comércio de especiarias. Ao abrigo do novo regime, iniciou-se
em 1575 um período de sucessivos arrendamentos deste comércio que transferiram para
os privados a responsabilidade pela constituição do capital das armadas217.
A transferência de iniciativa da Coroa para os privados foi acompanhada de
uma importante transformação no mercado internacional monetário e de metais. A
partir da década de 1560, intensificou-se visivelmente o fluxo da prata americana
para Espanha e a irradiação dos reales de prata espanhóis e hispano-americanos — é
a «a maré enchente dos reales» a que se refere Godinho218. Segundo as estimativas
de Hamilton, o volume de importação de prata americana mais que triplicou
relativamente à década de 1550 — de 303,1 t para 942,9 t —, ascendendo depois a
1118,6 t na década de 1570 e disparando para mais de 2100 t na década de 1580219.
Neste contexto, os reales de prata tornaram-se rapidamente no elemento
dominante do capital das armadas. Desde a década da 1550 que a exportação de prata
do reino para a Índia assumira uma dimensão considerável, oferecendo então lucros
mínimos de 37,5%220. Em 1569, os reales deveriam ser já relativamente abundantes
em Goa, pois mereceram disposições legais sobre o seu valor221. Porém, só nas
décadas de 1580 e 1590 a importância capital dos reales se revela plenamente nas
fontes. Nas décadas de 1580 a 1600, viajantes e mercadores como Filippo Sassetti,
Jan Huygen van Linschoten e Pyrard de Laval testemunhavam a irradiação oriental
dos reales e a sua participação num circuito monetário e cambial altamente lucrativo
que transferia anualmente para a China milhões de cruzados222.
Adicionalmente, o aumento da fundição de artilharia e ainda a fortíssima
expansão da oferta monetária espanhola, através de abundantes emissões de bolhão
e posteriormente de cobre puro (1602), passaram a capturar parte substancial das
importações de cobre europeu na Península Ibérica.
Em 1552, João Brandão relatava que existiam em Lisboa cinco fundições de
artilharia «de metal» (i. e. bronze) cuja capacidade produtiva anual atingiria as 2000

216
Alessandrini, 2011: 392-393. Godinho, 1981-1983, 3: 63. Rau, 1968: 87.
217
Boyajian, 1993: 19-27. Godinho, 1981-1983, 3: 62-68. Kellenbenz, 1956.
218
Godinho, 1981-1983, 2: 91.
219
Hamilton, 1934: 38-42.
220
Aragão, 1875-1880, 3: 460 (doc. n.º 9).
221
Aragão, 1875-1880, 3: 462 (doc. n.º 9).
Sassetti, 1874: 286, 288 (carta de 09-11-1585). Linschoten, 1997: 74, 133-134. Laval, 1619: 68. Vd. Godinho, 1981-1983, 2:
222

125-134. Glahn, 1996: 118-129.


As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
141

peças de artilharia (grossa e miúda)223. Segundo o mesmo autor, a Casa do Armazém


fundia anualmente cerca de 3000 quintais de artilharia (176,3 t)224, a maior da parte
da qual muito provavelmente em bronze. Em 1554, a produção de artilharia neste
espaço empregaria 6 fundidores em permanência225.
Relativamente a Espanha, dispomos de dados mais significativos. No período
de 1554-1558, a fundição real de Málaga empregou 8165 quintais de cobre (375,6
t)226 na produção de mais de 100 peças de artilharia; para o período de 1575-1578, as
necessidades de cobre da fundição eram estimadas em 10 000 quintais (460 t)227. Quanto
à política monetária, a Coroa espanhola encontrava-se gravemente sobre-endividada
e procurou obter liquidez através das emissões de moeda divisionária, retomadas a
grande ritmo a partir de 1597. Só o engenho de Segóvia foi responsável pela cunhagem
de 704 430 marcos de bolhão (162 t) entre Agosto de 1597 e 1600 e de mais de 434 863
marcos (100 t) durante o ano de 1602228. E em 1603, as casas da moeda de Castela
receberam um volume de cobre superior a 587 700 marcos (135,2 t)229.

b) Evolução do aprovisionamento, c. 1560-1612


Relativamente ao cobre oriental, as primeiras referências encontram-se no relato
de Tomé Pires (c. 1515), que regista a exportação de ouro e de cobre japoneses para a
China e para Malaca pelos mercadores de Ryukyu230. No que respeita a Malaca, essa
informação é reiterada em 1557 por Brás de Albuquerque231. A versão ramusiana das
viagens de Marco Polo, publicada em 1559, poderá reflectir o conhecimento destes
fluxos de cobre oriental ao afirmar que os navios dos chineses (Mangi) transportavam
o cobre como lastro dos seus navios destinados ao Malabar232. Em 1563, Garcia de
Orta refere explicitamente o cobre entre as exportações da China233, embora Gaspar
da Cruz nada registe a esse respeito, limitando-se a mencionar que as únicas moedas
em circulação em território chinês eram desse metal234.
Quando em Janeiro de 1564 João de Mendonça requeria ao rei que lhe concedesse
uma segunda viagem comercial à China, a importação de cobre para o Estado da
Índia a partir da China estaria já relativamente bem estabelecida. Em compensação

223
Brandão, 1923: 162-164.
224
Brandão, 1923: 185.
225
Oliveira, 1554: 40 v.
226
Quintal castelhano de 46 kg e marco de 230 g (Pellicer i Bru, 1999: 177-178).
227
Sánchez Gómez, 1989: 126.
228
García Guerra, 1999: 17-18, 59.
229
AGS, Consejo y Juntas de Hacienda, leg. 1708. Vd. Sánchez Gómez, 1989: 144.
230
Suma Oriental, f. 162 v. (Cortesão, 1978: 372-373).
231
Albuquerque, 1557: 187 v.
232
Ramusio, 1559: 56 v.
233
Orta, 1563: 53 v., 57 v.
234
Cruz, 1569 (cap. XI). Na verdade, as moedas eram produzidas em bronze.
João Pedro Vieira
142

pelas duas viagens, o antigo capitão de Malaca prometia beneficiar a Fazenda Régia
com a entrega de 3000 quintais de cobre (176,3 t) pelo preço oficial, no valor de mais
de 60 000 pardaus (45 000 cruzados), e todo o mais cobre que pudesse, a pagar pela
Fazenda a preço conveniente235.
Segundo uma retrospectiva de cerca de 1622, o Estado da Índia enfrentava um
1565 um excesso de oferta de cobre proveniente da China que desvalorizava esse
metal e causava alegadamente perdas significativas aos mercadores da pimenta
de Cochim. Por esse motivo, o pagamento parcial em cobre foi abandonado e
substituído pelo pagamento em fanões velhos. Em 1566, também os mercadores
de Coulão e Calecoulão rejeitaram o pagamento estipulado em cobre236. Em 1582,
fazendo uma retrospectiva da política monetária do Estado da Índia, a Câmara de
Goa lembrava que durante o primeiro governo de D. Luís de Ataíde (1568-1571) o
cobre — certamente de proveniência oriental — era abundante e barato237.
A partir de então, o cobre da China dominou totalmente o aprovisionamento
do Estado da Índia e consequentemente a cunhagem de moeda divisionária. Em
1583, era esse cobre, importado por conta da Fazenda, que alimentava a produção de
bazarucos de Goa238. Já em 1588, esperava-se que o arrendamento da produção de
bazarucos de cobre na Casa da Moeda de Goa produzisse um ganho de 700 quintais
de cobre (41,1 t) para a Fazenda Régia no valor de 37 000 pardaus239. Em 06-02-
1588, um alvará régio mandava que todos os que importassem mercadorias da China
passassem a pagar os direitos alfandegários exclusivamente em cobre240. Nesse
mesmo ano, o governo celebrou um contrato de fornecimento de cobre da China
pelo qual os mercadores se comprometiam a entregar ⅓ do metal importado, o qual
renderia 50 000 pardaus anuais241.
A propósito da sua passagem por Malaca, em 1587, o inglês Ralph Fitch dedica
algum espaço do seu relato ao lucrativo comércio dos portugueses com o Japão e
a China, não deixando de referir o cobre. De acordo com este viajante, as cargas
de retorno do Japão para Macau eram exclusivamente constituídas por prata no
valor aproximado de 600 000 cruzados, os quais, juntamente com outras remessas
provenientes de Goa, no valor de 200 000 cruzados, eram investidos na China com
vista à importação de diversos produtos de luxo e metais, entre os quais o cobre242.
Em 1591, encontra-se nova referência à abundância de cobre que todos os

235
ANTT, CC-1-106-107. A ascensão ao governo do Estado da Índia fê-lo desistir da viagem concedida (ANTT, CC-1-92-6).
236
AGS, Secretarias Provinciales, cód. 1571. In Rego, 1960-1967, 3: 373-376.
237
Aragão, 1875-1880, 3: 479 (doc. n.º 16).
238
Aragão, 1875-1880, 3: 716 (doc. n.º 18).
239
AHU, cód. 500, f. 4 v. In Matos, 2004: 236.
240
Rivara, 1857-1877, 3.1: 128-129. Aragão, 1875-1880, 3: 485 (doc. n.º 22).
241
AGS, Secretarias Provinciales, cód. 1551, f. 491. In Matos, 1994: 86.
242
Hakluyt, 1904: 198.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
143

anos vinha da China à Índia243, repetida em 1592244 e corroborada pelo testemunho


posterior de Duarte Gomes de Solis. Segundo este autor, o Estado da Índia podia
então importar com facilidade 4000 quintais de cobre (235 t) anualmente245. Mas
em 1594 o contrato de fornecimento de cobre da China não teve interessados, o
que levou o vice-rei Matias de Albuquerque a contratar esse fornecimento anual
com os capitães das viagens à China246. Em 15-04-1597, procurando atrair tanto
metal quanto possível, mas desprovido de meios próprios, o vice-rei permitiu a livre
importação de cobre da China com a condição de ser entregue em Goa, mantendo-se
a obrigação de pagamento de todos os direitos alfandegários em cobre247.
No entanto, segundo o testemunho coevo de Diogo do Couto, o vice-rei não
cumprira a provisão de 1597 sobre o cobre, avaliando-o para efeitos fiscais num preço
entre 35 e 38 xerafins por quintal (26 ¼ – 28 ½ cruzados) e ordenando a expropriação
de todo o restante para a Fazenda Real por apenas 32 xerafins (24 cruzados)248. Em
Junho de 1597, pouco depois da sua ascensão, o vice-rei D. Francisco da Gama
atendeu aos protestos contra o procedimento arbitrário de Matias de Albuquerque,
fixando em conselho o preço unificado de 35 xerafins por quintal, o que era ainda
assim suficiente para garantir à Fazenda Real, convertido o cobre em moeda, um
lucro de 50%249. Em Abril do ano seguinte, verificando-se idêntica carência de cobre
em Goa, D. Francisco da Gama decidiu renovar a licença de importação dada pelo
seu antecessor250.
Todavia, um parecer anónimo de Julho de 1603 sugere que a abertura do Estado
da Índia à importação privada de cobre da China tornou esse metal novamente
abundante em Goa. O aumento da oferta de cobre barato acabou por intensificar a
drenagem de grandes quantidades de cobre em barra para os territórios muçulmanos,
apesar da proibição de exportação vigente251.
Em 1605, o cobre da China era mais barato que o cobre europeu. Por essa
razão, e considerando quer a escassez de cobre em Portugal, quer as necessidades de
armamento, Filipe III de Espanha ordenava ao vice-rei Martim Afonso de Castro, por
carta de 22-03-1605, que enviasse todos os anos o cobre que pudesse para fundição
de artilharia, além do salitre que já era hábito remeter252. Mas em Maio desse ano,

243
Rivara, 1857-1877, 3.1: 256.
244
Arquivo Histórico de Goa, Livro das Monções, 2-A, f. 199 r. In Sá, 1954-1988, 5: 209.
245
Solis, 1628: 17 r.
246
Rivara, 1857-1877, 3.1: 576 (carta de 02-01-1596).
247
Rivara, 1857-1877, 3.1: 760-761 (alvará de 15-04-1597), 240-241 (carta missiva de 08-01-1598).
248
Couto, 1645: 10.
Couto, 1645: 11. Carta régia ao vice-rei, de 10-12-1598 (ANTT, Miscelâneas manuscritas do Convento da Graça, tomo 6L, p.
249

229). A datação da decisão é sugerida por um parecer de Junho de 1597, aparentemente emitido pelos religiosos de Goa (BPE, cód.
CXXII/2-11d, fls. 102 r. – v.).
250
Rivara, 1857-1877, 3.2: 904-905.
251
BPE, cód. CXXI/2-11d, f. 271 r. – v.
252
Pato et al., 1880-1982, 1: 45.
João Pedro Vieira
144

na sequência de mais uma crise monetária e de abastecimentos ligada à moeda


divisionária, e perante o crescente afluxo de contrafações estrangeiras, a Câmara
de Goa pedia providências e notava a inexistência de cobre para amoedação253. A
exportação da moeda de cobre de Goa e a introdução de contrafações tornaram-se
motivo recorrente de perturbações económicas e sociais, embora o cobre partilhasse
o protagonismo com outros metais, como adiante se verá.
Em Dezembro de 1608, a Câmara de Goa comunicava ao rei que desde há
alguns anos que o abastecimento de cobre da China se encontrava interrompido,
o que ocasionara, directa e indirectamente, fortes perturbações quer na emissão,
quer na circulação monetária local254. Entretanto, o Estado da Índia debatia-se
com importantes dificuldades financeiras causadas por uma significativa quebra de
receitas — estimada em 1 milhão de cruzados —, para a qual também contribuía
a ausência do rendimento da amoedação do cobre255. A penúria de cobre durante o
governo de Aleixo de Meneses é confirmada pela relação elaborada em 1612 por
Francisco Pais, provedor-mor dos Contos de Goa256.
A relação de Francisco Pais é particularmente interessante pela visão de conjunto
que ministra relativamente ao cobre e à sua relevância na economia e na defesa
do Estado da Índia. Pais estimava as necessidades de cobre do Estado da Índia em
3000 quintais anuais (176,3 t), dos quais ⅓ destinado à fundição de artilharia e ⅔
à cunhagem de bazarucos. Anteriormente, as importações anuais oscilariam entre
os 2000 e os 3000 quintais. Não obstante, face à procura e à intensa drenagem da
moeda de cobre de Goa, o provedor acreditava que os mercados indianos facilmente
absorveriam 10 000 quintais por ano (587,5 t). Adquirido na China a 12 ⅓ pardaus
de 8 reales, o cobre valia em Goa 67 pardaus por quintal (50 ¼ cruzados), o que
significava que a importação de cobre da China continuava a revelar-se um negócio
altamente lucrativo para a Fazenda Real.
Com efeito, Pais considerava que «o contrato do cobre da China foi sempre
de grande importância para o Estado da Índia, assim para se fundir artilharia
como para se bater moeda»257. O reconhecimento da importância estratégica desse
aprovisionamento fora já formulado em idênticos termos pelas autoridades do reino
em 1588. Em carta de 21-01-1588 endereçada ao vice-rei, as autoridades do reino
declaravam que «é de tanta importância a esse Estado haver nele muita quantidade de
cobre da China, assim para se poder correr com as fundições da artilharia necessária,
como para se bater moeda na Ribeira de Goa para pagamento dos oficiais que nela
trabalham em minhas armadas […]»258.

253
Aragão, 1875-1880, 3: 503-504 (doc. n.º 45).
254
Aragão, 1875-1880, 3: 507 (carta da Câmara de Goa, de 25-12-1608).
255
Pato et al., 1880-1982, 1: 287 (carta ao vice-rei Rui Lourenço de Távora, de 23-01-1610).
256
ANTT, Miscelâneas manuscritas do Convento da Graça, tomo 6F, f. 35 r.
257
ANTT, Miscelâneas manuscritas do Convento da Graça, tomo 6F, f. 35 r. – v.
258
Rivara, 1857-1877, 3.1: 113.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
145

Importa aqui regressar à proporção de cobre que de acordo com o provedor-mor


continuava a ser alocada à produção monetária — ⅔ do total importado, ou 2000
quintais (117,5 t). Esta era uma proporção bastante elevada à luz quer da recorrente
escassez de artilharia, em consequência do aumento das perdas por naufrágio e da
necessidade de reacção à pressão militar holandesa no Índico259, quer da utilização
do estanho na cunhagem de moeda divisionária em Goa e em Cochim, atestada pelo
menos desde o primeiro semestre de 1582260 e perfeitamente vulgarizada em 1612.
Com efeito, a falta de artilharia tornara-se uma preocupação constante
do Estado, especialmente notória a partir da década de 1580, repetindo-se as
provisões do governo da Índia e as recomendações do reino para a conservação
de um stock adequado de artilharia, fundida com cobre da China. A insuficiência
das disponibilidades de artilharia era comum ao reino, que na mesma década se viu
forçado a desviar meios para os conflitos europeus da monarquia hispânica, embora
visse a sua capacidade produtiva aumentada com a criação de uma nova fundição261.
Os exemplos da fundição real de Málaga anteriormente aduzidos oferecem uma
noção geral dos montantes de cobre que a produção de artilharia poderia mobilizar.
Neste âmbito, importa retomar a análise da evolução da situação e da política
monetária do Estado da Índia no que se reporta à moeda divisionária de cobre a partir
dos finais da década de 1550 e até à viragem consumada nos finais da década de
1610. Este procedimento permitirá compreender a evolução da relevância monetária
do cobre ao longo deste horizonte temporal, contribuindo para preencher, pelo menos
de modo qualitativo e aproximativo, alguns dos amplos hiatos de informação sobre
os volumes de cobre importados pelo Estado da Índia e convertidos em moeda.

c) Política monetária, c. 1560-1612: cobre, calaim e tutanaga


Conduzido por recorrentes problemas de financiamento, o governo da Índia
continuou a recorrer periodicamente às desvalorizações de moeda como operações
de financiamento de curto prazo destinadas a satisfazer despesas correntes e dívidas.
Neste contexto, a emissão de moeda de cobre continuava a revelar-se uma actividade
muito lucrativa e, por conseguinte, um instrumento fundamental na gestão financeira
e na economia do Estado. No entanto, à semelhança do ocorrido em 1545, a
manipulação da moeda de cobre contribuiu para causar importantes perturbações na
vida económica de Goa.
Em Outubro de 1559, como visto, o quintal de cobre amoedado atingira os 42
pardaus262 (31 ½ cruzados). Este aumento significava uma valorização de 31,3%

259
Murteira, 2008. Godinho, 1981-1983, 3: 47-49. Boyajian, 1993: 24-26.
260
Nos seus apontamentos ao vice-rei D. Francisco de Mascarenhas, redigidos em 1582, a Câmara e cidade de Goa instavam-no a
autorizar a cunhagem de bazarucos de calaim «como até aqui se batiam» caso o preço do quintal de cobre em barra excedesse os 35
pardaus (Aragão, 1875-1880, 3: 480, doc. n.º 16).
261
Salgado, 2009: 237-239.
262
Aragão, 1875-1880, 3: 457 (doc. n.º 5).
João Pedro Vieira
146

acima do valor de mercado do cobre263 e um aumento de 68% relativamente ao


preço oficial fixado por D. João de Castro em Setembro de 1545. Mas segundo as
informações da carta de lei de 16-06-1569, a sobrevalorização do cobre amoedado
era ainda mais flagrante perante os preços a que os oficiais régios vendiam o cobre em
barra para exportação: entre 75% e 110%264. À semelhança do ocorrido em 1545, os
preços dos mantimentos duplicaram e a cidade sofreu uma crise de abastecimentos.
Provavelmente ainda em 1561, tomando conselho alargado, o vice-rei D. Francisco
Coutinho reduzia o valor do quintal aos 35 pardaus, medida confirmada por D.
Sebastião I em carta de 11-06-1562265.
Durante o governo de D. Antão de Noronha (1564-1568), o preço legal do
quintal de cobre amoedado regressou aos 42 pardaus (o bazaruco valia novamente 1
real), suscitando idênticas perturbações económicas e a proliferação de contrafações
originárias dos territórios envolventes. Mas em 1569, governando D. Luís de Ataíde
(1568-1571), o quintal revertia novamente aos 35 pardaus266. De acordo com os
apontamentos redigidos em Junho de 1582 pela Câmara e cidade de Goa, o vice-rei
voltou a alterar o preço do quintal de cobre para os 42 pardaus, contra os 20 pardaus
a que alegadamente era transacionado no mercado267.
Durante grande parte da década de 1570, o preço do cobre amoedado parece
ter estabilizado, o que se deduz de um assento de 30-01-1577 sobre a cunhagem de
bazarucos de cobre em Cochim, confirmado pelo governador em 28-02-1577. A nova
emissão, que visava resolver a escassez de moeda divisionária na cidade, retomava
explicitamente o preço praticado no tempo de D. Antão. Todavia, na ausência de
cobre, autorizava-se a utilização do calaim (estanho)268, embora se reconhecesse não
ser «metal decente para a dita moeda»269.
Aparentemente, trata-se da primeira referência documental alusiva à utilização
monetária do estanho fora de Malaca. Os dados disponíveis não permitem esclarecer
se houve emissões de estanho logo a partir de Fevereiro/Março de 1577, mas
a amoedação desse metal está atestada pelo menos desde o primeiro semestre de
1582, sendo de admitir que tenha decorrido tanto em Goa como em Cochim270. O
recurso ao novo metal, substancialmente mais barato, representava aparentemente
uma tentativa de resolução dos problemas colocados pela amoedação de cobre,
nomeadamente as crises cíclicas de escassez de moeda divisionária e o impacto

263
Aragão, 1875-1880, 3: 458 (doc. n.º 7).
264
Aragão, 1875-1880, 3: 460 (doc. n.º 9).
265
Aragão, 1875-1880, 3: 458 (doc. n.º 7).
266
Aragão, 1875-1880, 3: 462 (doc. n.º 9).
267
Aragão, 1875-1880, 3: 479 (doc. n.º 16).
268
As análises à composição elementar por activação neutrónica conduzidas por Maria Filomena Guerra demonstraram a identidade
calaim/estanho relativamente ao século XVI (Magro et al., 2000).
269
Aragão, 1875-1880, 3: 476 (doc. n.º 13).
270
Aragão, 1875-1880, 3: 480 (doc. n.º 16).
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
147

inflacionário da sobrevalorização do cobre amoedado.


Nesse primeiro semestre de 1582 ou ainda antes, o vice-rei efectuara uma
desvalorização violenta da moeda de cobre ao elevar o preço do quintal amoedado
a 57 pardaus (42 ¾ cruzados). O quintal de cobre amoedado estava flagrantemente
sobrevalorizado em relação ao seu custo de aquisição, que era então de 22 pardaus
(16 ½ cruzados), o que significa que circulava por quase 2,6 vezes o seu valor em
barra. Os protestos da cidade contra a medida foram parcialmente atendidos, com a
redução do preço do quintal amoedado para 47 pardaus (35 ¼ cruzados)271. Mas as
perturbações monetárias continuaram, a cidade foi inundada nos meses seguintes
por contrafações de bazarucos de estanho oriundos dos territórios circunvizinhos
e o valor de mercado dos bazarucos (cobre e estanho) excedia os 75 bazarucos por
tanga272.
Na verdade, como a economia de Goa não tinha suficiente escala e estava
muito dependente dos abastecimentos do exterior (sobretudo durante o período da
monção), o governo continuava a não dispor de mecanismos para evitar de modo
eficaz a excessiva drenagem de moeda de cobre para os territórios circunvizinhos e
a frequente (re)introdução desse metal na cidade sob a forma de moeda contrafeita,
de acordo com as flutuações de preços dos mercados cambiais e de metais. Quando
pelo alvará de 29-10-1583 o vice-rei D. Francisco Mascarenhas proibia a exportação
de várias moedas em circulação na cidade, incluindo os bazarucos de cobre, fazia-o
reconhecendo que a cidade tinha sido praticamente esvaziada das abundantes
emissões de bazarucos de cobre recentemente efectuadas com metal importado da
China273. Com efeito, o Estado da Índia era um exportador crónico de moeda de
cobre e essa exportação era vista até certo ponto, por alguns sectores, como um
fenómeno económico positivo274.
Aparentemente, só em 1587 o governo da Índia voltou a intervir na moeda de
cobre. De acordo com um auto de contrato de 17-02-1587, o valor do quintal de cobre
amoedado fora drasticamente reduzido para 25,6 pardaus (19,2 cruzados) com o
propósito de sanear a circulação monetária275. Tal medida significava um forte reforço
intrínseco dos bazarucos e simultaneamente a eliminação, ainda que transitória, de
grande parte da distorção de preços do cobre para a qual tendia tradicionalmente a
política monetária do Estado da Índia desde a década de 1540.
Em 1588, como observado, a produção de moeda de cobre em Goa foi cedida
por arrendamento e a Fazenda régia esperava arrecadar com essa operação 37 000
pardaus, correspondentes a 700 quintais de cobre amoedado (41,1 t). No entanto,

271
Aragão, 1875-1880, 3: 480-481 (doc. n.º 16).
272
Aragão, 1875-1880, 3: 481 (doc. n.º 17). Portanto, o bazaruco valia menos de 0,8 reais.
273
Aragão, 1875-1880, 3: 482 (doc. n.º 17).
274
BPE, cód. CXII/2-11d, fls. 270 v. – 271 r.
275
Aragão, 1875-1880, 3: 483 (doc. n.º 19).
João Pedro Vieira
148

este rendimento afigurava-se nitidamente inferior aos 50  000 a 60  000 pardaus
anuais que habitualmente se produziam com recurso a cobre importado da China por
conta da Fazenda276. A esta produção acresciam ainda as produções efectuadas em
Goa por conta de privados através de licenças concedidas pelo governo, o que seria
expressamente proibido pela carta régia de 06-02-1588277. Ainda assim, o contrato
de arrendamento da moeda de cobre celebrado em 1588 assegurava 3,7% dos
rendimentos totais do Estado da Índia, que ascendiam então a 1 000 141 pardaus278.
Todavia, o cobre estava a perder gradualmente terreno para o estanho na
economia monetária do Estado da Índia. Os dados do orçamento de 1588 sugerem
que a amoedação de cobre estivera suspensa nos anos anteriores, enquanto o estanho
continuara a ser convertido em moeda a 31 ou 32 xerafins por quintal (23 ¼ - 24
cruzados), através de licenças concedidas pelo governo a particulares279.
Em 1592, continuavam as emissões de moeda divisionária nos dois metais,
circulando os bazarucos de cobre por um valor nominal 25% superior ao dos
bazarucos de estanho. Como a moeda divisionária de cobre já não representava o
estrato mais baixo da circulação monetária, a insuficiente oferta de moeda de estanho
tinha um impacto inflacionário nos preços, planeando-se por isso a emissão de 25
quintais (1,5 t) a 33 xerafins por quintal (24 ¾ cruzados)280. Em Junho de 1593, a
Câmara de Goa tinha lavrados 322 quintais de estanho (18,9 t) a 28 pardaus por
quintal (21 cruzados), mas a subvalorização do estanho relativamente aos territórios
circunvizinhos provocara a drenagem dos bazarucos, motivara a imposição de
limitações à sua exportação, em Abril, e levara ao aumento do estanho amoedado
para 34 pardaus281.
Esse aumento deveria ser temporário, mas a confiar nas informações fornecidas
pelo alvará de 01-07-1600, o vice-rei Matias de Albuquerque autorizou em 1595
a cunhagem de bazarucos de estanho a 35 xerafins o quintal (26 ¼ cruzados),
desencadeando com essa sobrevalorização uma inundação da circulação monetária
com contrafações provenientes do exterior282.
Durante a restante década de 1590, são várias as referências à importância das
emissões de bazarucos de cobre para as despesas correntes do Estado da Índia com
o pagamento dos oficiais da Ribeira e o aprovisionamento das armadas, mas muito
escassa a informação referente à sua cunhagem efectiva e aos volumes de emissão.
Um assento da Câmara de Goa de 13-08-1597 dava uma vez mais conta da intensa
drenagem dos bazarucos de cobre para a «terra firme». Teriam sido aparentemente

276
AHU, cód. 500, f. 2 v. In Matos, 2004: 235.
277
Aragão, 1875-1880, 3: 485 (doc. n.º 22).
278
AHU, cód. 500, f. 117 r., 118 v. In Matos, 2004: 338, 340.
279
AHU, cód. 500, f. 2 v. In Matos, 2004: 235-236.
280
Aragão, 1875-1880, 3: 489-490 (doc. n.º 26).
281
Aragão, 1875-1880, 3: 491-492 (doc. n.os 28-29).
282
Aragão, 1875-1880, 3: 500 (doc. n.º 41).
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
149

cunhados com o valor de 60 por tanga, pois a Câmara de Goa considerava esse valor
desfavorável aos interesses da população e pedia agora a desvalorização para 75
bazarucos por tanga (bazaruco = 0,8 reais), caso se optasse pela amoedação de cobre.
Quanto aos bazarucos de estanho, a oferta era ainda adequada e não havia, portanto,
necessidade de emissões adicionais283.
Durante o vice-reinado de D. Francisco da Gama (Maio de 1597 – Dezembro
de 1600), o governo da Índia voltou a conceder uma licença de amoedação de cobre
a privados. Segundo um relatório de Matias de Albuquerque, o vice-rei autorizara
D. Fernando de Noronha a adquirir todo o cobre disponível em Goa e a convertê-
lo em moeda por sua conta, no que obtivera um lucro de 10  000 xerafins. Não é
conhecido o preço do quintal amoedado, mas o lucro supostamente gerado aponta
para a produção de algumas centenas de quintais284.
A produção da Casa da Moeda de Goa deverá ter aumentado significativamente,
pois para além do aumento das importações de cobre da China (a partir de 1597), o
parecer anónimo de Julho de 1603 lembrava que de uma oficina com 4 forjas a casa
monetária passara a contar com duas oficinas equipadas com 9 forjas. A Câmara
de Goa pediu a recolha dos bazarucos de estanho, mas o aumento significativo da
oferta de cobre barato estimulou a drenagem do metal em barra para os territórios
muçulmanos envolventes e acabou por estancar a exportação dos bazarucos de cobre,
meio de pagamento essencial no abastecimento alimentar da cidade285.
Em Julho de 1600, o vice-rei voltava a prover sobre a moeda divisionária de
estanho e atribuía a origem das perturbações monetárias à sobrevalorização dessa
moeda determinada durante o governo de Matias de Albuquerque. O valor nominal
do bazaruco foi conservado (75 por tanga), mas o preço do quintal amoedado foi
corrigido para 25 xerafins e 3 tangas (19,2 cruzados), ou seja, uma redução nominal
de 27%286. Em Maio de 1605, no contexto de novas perturbações monetárias,
a Câmara de Goa notava a ausência de cobre para amoedação287. O governo não
conseguia controlar a importação de contrafações e a hemorragia da moeda de
cobre. Consequentemente, em 23-02-1606, um alvará régio ordenava a suspensão da
cunhagem de cobre, sob pena de morte e de confisco de bens, e a recolha de toda a
moeda já produzida nesse metal288.
A inexistência de cobre e de estanho em Goa obrigou ao recurso a um terceiro
metal igualmente de importação chinesa: a tutanaga (liga de zinco)289. Em 21-06-1606,

283
Aragão, 1875-1880, 3: 496-497 (doc.. n.º 36).
284
BM, Ms. Add. 28 432, f. 110 r. In Sá, 1954-1988, 6: 413.
285
BPE, cód. CXXII/2-11d, fls. 271 r. – 271 v.
286
Aragão, 1875-1880, 3: 500-501 (doc. n.º 41).
287
Aragão, 1875-1880, 3: 504 (doc. n.º 46).
288
Aragão, 1875-1880, 3: 504 (doc. n.º 47).
289
Dalgado, 1919-1921, 2: 394 (s. v. «tutanaga»). Bedini, 1994: 109. Estão ainda por realizar análises de composição elementar
sobre as cunhagens efectuadas nesta liga metálica.
João Pedro Vieira
150

perante nova crise de escassez de moeda divisionária, a Câmara de Goa aconselhava a


realização de emissões nesse metal290. Simultaneamente, considerando que o Estado
da Índia estava gravemente necessitado de artilharia e que a hemorragia da moeda
de cobre a partir de Goa estaria a alimentar a produção de artilharia das potências
inimigas, o governo do reino reforçou a proibição de cunhagem de bazarucos de
cobre por carta de 18-01-1607291.
Do ponto de vista militar e comercial, o Estado da Índia atravessava uma
conjuntura adversa que ajuda a compreender a escassez de cobre. A Companhia
das Índias Orientais holandesa (VOC) intensificava a pressão militar com vários
bloqueios navais a Goa, em 1604, 1607 e 1608, e com o cerco de Malaca, em 1606292.
Por outro lado, as autoridades imperiais chinesas retomaram, entre 1599 e 1606,
uma política monetária expansionista que resultou certamente num aumento da
procura interna de cobre; à procura oficial se juntaria muito rapidamente a procura
da economia paralela — e endémica — da contrafação de moeda293.
A execução dessa política exigia avultados fornecimentos de cobre. Embora
fora do período crítico, alguns dados referentes às décadas de 1600 e 1620 sugerem
a dimensão possível desses fornecimentos. Em 1606, as autoridades imperiais
contrataram a mercadores o fornecimento de 600 000 jin de cobre (360 t) destinados
às oficinas monetárias de Pequim. E em 1622-1623, um consórcio de mercadores
entregava à administração imperial um volume de cobre superior a 1,35 milhões de
jin (810 t)294.
No Natal de 1608, a Câmara de Goa escrevia ao rei e resumia as perturbações
monetárias e económicas que afligiam a cidade desde pelo menos 1605. A interrupção
do abastecimento de cobre da China comprometera a emissão de bazarucos e forçara
o recurso à tutanaga, igualmente importada da China. A Câmara de Goa assumira
a responsabilidade pelas emissões de moeda divisionária de tutanaga, evitando os
efeitos negativos das fortes oscilações de preço do cobre, mas o governo da Índia não
tardara a explorar estas emissões de recurso como fonte de financiamento, colocando
em circulação a tutanaga amoedada por quase o dobro do valor de mercado do metal
(12 pardaus). Além disso, o governo retomara a prática da concessão de licenças de
amoedação, inundando a circulação monetária da cidade com bazarucos de tutanaga
depreciados295.
Por isso, os representantes da cidade pediam o regresso às emissões de
bazarucos de cobre. Porém, a utilização monetária do cobre continuava o seu gradual
refluxo, apesar da apreciação do provedor-mor dos Contos de Goa em 1612 sugerir

290
Aragão, 1875-1880, 3: 505 (doc. n.º 48).
291
Pato et al., 1880-1982, 1: 96.
292
Murteira, 2011: 180-182.
293
Glahn, 1996: 161-170.
294
Glahn, 1996: 178.
295
Aragão, 1875-1880, 3: 507 (doc. n.º 50).
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
151

o contrário. Pyrard de Laval, que permaneceu em Goa entre 1608 e Janeiro de


1610, já não refere este metal entre as importações de vulto provenientes da China,
contrariamente ao estanho296. Durante pelo menos parte desse período, as cunhagens
de cobre estiveram aparentemente suspensas ou não passaram de níveis residuais,
pois o governador Aleixo de Meneses comunicara ao reino, em 1609, a inexistência
do rendimento dos bazarucos de cobre297.
É curiosamente nesta fase de refluxo da utilização monetária do cobre que se
diversificam os centros de emissão no Estado da Índia. Entre Agosto de 1611 e Maio
de 1613, Damão recebeu autorização do governo da Índia para cunhar bazarucos de
cobre em preço ajustado ao preço de mercado do metal. Pouco tempo antes, Baçaim
gozara de idêntica autorização, embora se desconheça o seu período de vigência298.
Por sua parte, Goa estava bem abastecida de bazarucos para o comércio, pois em
Agosto de 1612 a Câmara de Goa pronunciara-se favoravelmente à suspensão do
fabrico e o vice-rei despachara a questão favoravelmente299. Às emissões destas
novas casas monetárias acresciam ainda as emissões efectuadas no Ceilão, em data
incerta mas situável entre 1594 e 1612300.
Perante os frequentes problemas de aprovisionamento de cobre, qual seria a
origem do metal usado na amoedação, sobretudo no caso das praças do Norte?
Também neste capítulo se produziram transformações conjunturais de relevo que
serão adiante analisadas. Regressemos, por isso, à relação de Francisco Pais.

6.2. Cobre do Japão

Na sua relação de 1612, o provedor-mor dos Contos de Goa identificara a


China como a principal fonte de aprovisionamento de cobre. Não obstante, Pais
acrescentava explicitamente uma outra fonte, cuja oferta julgava ser igualmente
abundante: o Japão. Segundo o provedor-mor, só muito recentemente o Japão
se tornara um exportador internacional de relevo no que ao cobre se reporta. Se
a qualidade do cobre japonês parecia ser inferior e desadequada à produção de
artilharia, seria aparentemente óptima para a produção de moeda301.
A Relação do Estado da Índia, datável de c. 1603, corrobora a percepção
de Francisco Pais quanto à recente relevância do cobre japonês, pelo menos na
perspectiva dos interesses comerciais portugueses, uma vez que não inclui o cobre
entre as mercadorias de retorno extraídas do Japão, contrariamente ao caso da

296
Laval, 1619: 185-186.
297
Pato et al., 1880-1982, 1: 287.
298
Aragão, 1875-1880, 3: 509-511 (docs. n.os 53 e 55).
299
Aragão, 1875-1880, 3: 510 (doc. n.o 54).
300
Aragão, 1875-1880, 3: 536-537 (doc. n.o 84, carta missiva de 09-12-1634).
301
ANTT, Miscelâneas manuscritas do Convento da Graça, tomo 6F, fls. 35 r. – v.
João Pedro Vieira
152

China302. Pyrard de Laval também não inclui no seu relato qualquer menção ao cobre
do Japão, mas aqui o cobre da China está igualmente omisso303. Aliás, são várias as
fontes deste período e mesmo da década de 1620 que excluem referências ao cobre
do Japão — e por vezes até mesmo ao da China —, concentrando a sua atenção nos
abundantes caudais de prata304.
A presença do cobre japonês no comércio marítimo da Ásia Oriental está
historicamente bem estabelecida. Em 1433, a expedição comercial japonesa
destinada à China transportava cerca de 2,6 t de cobre e em 1453 a quantidade de
cobre aportada foi superior a 90 t305. Durante a primeira metade do século XVI,
perante as limitações impostas pelas autoridades chinesas ao comércio com o Japão,
a sua importação para a China era realizada através da mediação comercial dos
mercadores de Ryukyu, como testemunhado por Tomé Pires c. 1515. Todavia, no
terceiro quartel do século XVI, há indícios de que a economia japonesa se tornara
deficitária em cobre, pois este metal constava das cargas transportadas anualmente
para o Japão pelos mercadores chineses do Fukien306.
Nas últimas décadas do século XVI, as disponibilidades de cobre na economia
japonesa começaram a aumentar com o ressurgimento da actividade mineira. Iniciou-
se a exploração de novos depósitos cupríferos em Kawakami, Akazawa e Gamo, e
em 1601 foram abertas as minas de Ashio, que se tornariam o principal produtor de
cobre no Japão durante a maior parte do século XVII307.
No que respeita a exportação do cobre japonês, sabe-se que este metal abastecia
com regularidade os estabelecimentos espanhóis nas Filipinas durante os finais
do século XVI e inícios do século XVII308. Em 1613, os navios de Ryukyu, sob
o domínio de Satsuma desde 1609, carregaram para a China 10 000 kin de cobre
(6 t)309. É precisamente a partir deste momento que a VOC vai surgir como um
importante veículo de transmissão do cobre japonês para os mercados indianos e
para a Pérsia. A partir de 1614, a VOC exporta cobre japonês para o Coromandel e
na década de 1620 iniciam-se inclusivamente remessas para a Europa: cerca de 22,9
t em 1624, 60,5 t em Fevereiro de 1626 e mais de 147,6 t entre Novembro de 1627
e Janeiro de 1628310. Em Novembro de 1623, a VOC introduzia na Pérsia 3,5 t de
cobre japonês; a operação comercial foi bem sucedida e continuou a ser reproduzida

302
BNE, Mss/3015, fls. 100 r. – v. In Rego et al., 1963-1967, 2: 114.
303
Laval, 1619: 182-186.
304
Para além das já citadas, veja-se p. e. a Alegacion en favor de la Compañia de la India Oriental (Solis, 1628) e os memoriais de
Jacques de Coutre (BNE, Mss/2780, fls. 260 v. – 261 r.).
305
Glahn, 1996: 90-91.
306
Renchuan, 1990: 181.
307
Tang, 1995: 71.
308
Boxer, 1967: 242.
309
Sakai, 1964: 393.
Glamann, 1981: 170. Os valores foram calculados assumindo a equivalência 1 pico = 125 ponds e 1 pico = 1 quintal e 6 arráteis
310

portugueses (i. e. 61,506 kg). Vd. infra nota n.º 320.


As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
153

nas décadas seguintes311.


Em 1635, no seu Livro das plantas de todas as fortalezas, António Bocarro
testemunhava de modo enfático a ascensão do cobre japonês no comércio marítimo
asiático. Dizia Bocarro que «a riqueza deste reino [i. e. Japão] é tão grande que
estão muitas minas de prata e cobre continuamente emanando estes dois metais há
muitos anos sem nunca esgotarem nem se sentir diminuição alguma neles»312. Os
mercadores japoneses exportavam grandes quantidades de cobre para o Vietname,
donde os portugueses o transportavam para Macau313. O cobre japonês chegava
também em grandes quantidades a Malaca e a Macau. Neste último caso, o metal
era carregado tanto pelos mercadores japoneses como pelos navios portugueses que
asseguravam a ligação China-Japão. Em Macau, o cobre era alocado à produção de
artilharia ou reexportado para Cochim314.

6.3. O ocaso da moeda de cobre e a diversificação dos abastecimentos

Apesar da emergência do cobre japonês nos mercados asiáticos, os dados


apurados sugerem uma dificuldade cada vez maior do governo da Índia em garantir
um aprovisionamento adequado desse metal. Nos anos subsequentes à relação de
Francisco Pais, o aprovisionamento de cobre no Estado da Índia parece ter sofrido
novas perturbações, a julgar pela carta régia de 18-03-1615 ao vice-rei Jerónimo
de Azevedo. Atrasos no pagamento do cobre importado da China afastaram os
mercadores desse negócio, daí resultando a falta de artilharia315. Paralelamente, em
Junho de 1615, a escassez de cobre afectou a produção da Casa da Moeda de Goa,
que voltou por isso a recorrer à tutanaga chinesa316.
Em 1616-1617, reeditavam-se as perturbações monetárias na cidade e
a proliferação de contrafações de proveniência externa, e o Estado sofria de
necessidades extremas de artilharia. Em reacção às perturbações monetárias, as
autoridades do reino proíbem por carta de 20-03-1617 a utilização de qualquer metal
que não seja cobre na cunhagem de bazarucos317. Nos inícios de 1619, o governo
da Índia procurava suprir a escassez de cobre alocando o rendimento do 1% à sua
aquisição, contratando a aquisição junto de mercadores e recuperando o pagamento
de direitos alfandegários em cobre sobre importações da China318.

311
Matthee et al., 2013: 47-48.
312
BPE, cód. CXV/2-1, f. 160 v.
313
BPE, cód. CXV/2-1, f. 151 r.
314
BPE, cód. CXV/2-1, fls. 90 v., 151 r, 159 v, 162 r.
315
Aragão, 1875-1880, 3: 514 (doc. n.º 58).
316
Aragão, 1875-1880, 3: 515 (doc. n.º 59).
317
Aragão, 1875-1880, 3: 515-516 (doc. n.º 60).
318
Pato et al., 1880-1982, 5: 159-160 (alvará de D. João Coutinho, de 21-01-1619); 6: 36-37 (carta régia a D. João Coutinho, de
08-03-1619).
João Pedro Vieira
154

Aparentemente, as importações de cobre a partir da Ásia oriental deixaram de


ser suficientes para satisfazer as necessidades do Estado. Em Fevereiro de 1620, para
além de informar que o cobre adquirido na China tinha sido mais caro e de qualidade
inferior, o governador Fernão de Albuquerque indicava que decorriam paralelamente
aquisições de retalho nos territórios circunvizinhos de Goa319. Em 1623, Jacques de
Coutre testemunhou a penúria de cobre e de artilharia vivida pelo Estado da Índia,
confirmando as diligências de Fernão de Albuquerque (o cobre chegara então a ser
pedido casa a casa). As importações de cobre da China estavam interrompidas pelo
persistente bloqueio do Estreito de Singapura e as autoridades viam-se forçadas a
promover a aquisição de cobre proveniente do Balagate, adulterado com latão320.
Quinze anos mais tarde, o Estado da Índia tinha retidos em Macau 4000 quintais
de cobre (235 t) e também artilharia por motivo da ameaça naval holandesa. Não
obstante, o vice-rei conseguira garantir a produção de artilharia na Índia desde
meados de 1634 através da aquisição de quase 2000 quintais de cobre (117,5 t) no
Balagate e em Cambaia por preço não superior a 47 xerafins (35 ¼ cruzados) o
quintal. Além disso, esperava-se ainda a obtenção de um fornecimento adicional de
cobre a partir de Surrate por meio dos ingleses321. Já em 1608-1610 Pyrard de Laval
testemunhara a importância da ligação entre Goa, Surrate e Cambaia para a obtenção
de cobre322.
A partir da década de 1620, a questão da alocação de cobre à produção monetária
sai de cena na documentação compulsada. Entre as raras evidências da continuidade
das cunhagens de cobre contam-se as emissões de Diu datadas de 1626, 1627 e 1628,
em nome de Filipe III e do então capitão da cidade, António Teles de Meneses323.
Com efeito, é a preocupação constante com a fundição de artilharia que monopoliza
as referências ao cobre na correspondência entre o reino e o Estado da Índia, que
atravessava um período de profunda crise sob a crescente pressão comercial e
militar inglesa e sobretudo holandesa. Paralelamente, a presença portuguesa no
Brasil adquiria cada vez maior peso na economia da estrutura imperial, relegando a
vertente oriental para segundo plano324.

319
Pato et al., 1880-1982, 6: 37.
320
BNE, Mss/2780, fls. 263 v. – 264 r.
321
Biker, 1881: 266-267 (carta de 09-02-1635). De acordo com o Livro das plantas de todas as fortalezas, de António Bocarro,
estavam em Macau 4000 picos (246 t) e não quintais, sendo que cada pico pesava 1 quintal e 6 arráteis, i. e. 61,506 kg (BPE, cód.
CXV/2-1, f. 90 v.). O peso atribuído ao pico da China por Bocarro é muito próximo do registado no Livro dos pesos em 1554: 133
⅓ arráteis, ou seja, uma diferença de ⅔ de arrátel.
322
Laval, 1619: 260-261.
323
Gomes, 2013: 562. Rebello, 1985. Vd. exemplares constantes da colecção numismática da Casa da Moeda, n.os 25 549 (1627);
25 548 e 25 550 (1628). Fenelon Rebello considera que as cunhagens de Diu se terão iniciado ainda durante o reinado de D. João
III ou de D. Sebastião. Vd. considerações tecidas na secção final do presente artigo. Em 1623, Cochim recebeu licença para cunhar
bazarucos para serviço do povo, mas desconhece-se o metal em causa (Pato et al., 1880-1982, 9: 3).
324
Subrahmanyam, 2012: 153-186. Murteira, 2011.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
155

7. Proveniências e circuitos alternativos

Discutidas as questões das principais proveniências do cobre, dos seus agentes


de transmissão, seus fluxos e da sua utilização económica e monetária entre c. 1500
e 1640, importa ainda mencionar, sem preocupações de exaustividade, a existência
de outras proveniências e fontes de aprovisionamento que poderão ter contribuído
directa ou indirectamente para o abastecimento de cobre do Estado da Índia e, logo,
para a produção de moeda.
À primeira vista, a historiografia e a documentação consultada sugerem que
estas proveniências terão desempenhado um papel menor, irrelevante, ou que terão
estado totalmente ausentes dos fluxos de cobre destinados ao Estado da Índia ou por
ele captados.

7.1. Índia

Embora a Índia pareça ter sido estruturalmente deficitária em cobre durante o


período sob análise, havia depósitos cupríferos dispersos pelo centro-norte e norte
do território, p. e. no Rajastão. É bastante provável que o Estado da Índia se tenha
abastecido com este cobre endógeno, particularmente a partir da década de 1600,
quando as crises de escassez se começaram a manifestar de modo mais agudo e
prolongado. O cobre importado do Balagate em 1622-1623 e 1634 enquadrar-se-ia
nesta origem endógena, mas os casos de importações a partir de Cambaia e Surrate,
relativamente a 1608-1610 e 1634, são problemáticos, dada a elevada exposição
destes mercados aos grandes tráfegos comerciais euro-asiáticos e, em consequência,
ao cobre de proveniência externa, nomeadamente da China e do Japão. Igualmente
problemático se afigura o caso do Sinde, onde em 1612 era possível obter cobre
barato e de boa qualidade325.

7.2. As remessas do Estreito: Suécia e Turquia

Nesta época, há muito que os fluxos de cobre através da rota do Cabo tinham
sido interrompidos. No entanto, poderá assumir-se idêntica evolução para os fluxos
do Estreito? Como observado, o comércio do Estreito ressurgira nas décadas de 1550
e 1560, e fora acompanhado pela retoma dos fluxos de cobre com destino à Índia.
Dada a continuidade deste comércio nas décadas seguintes326, é provável que o cobre
continuasse a participar desse circuito comercial. Qual a proveniência desse cobre?
A Hungria surge como uma das fontes prováveis a considerar, assim como o
Tirol. Quanto à Hungria, a sua produção continuava a chegar a Veneza em grandes

325
Pato et al., 1980-1982, 2: 144 (carta missiva do vice-rei D. Jerónimo de Azevedo, de 26-01-1612).
326
Vd. Casale, 2006.
João Pedro Vieira
156

quantidades. Entre 1581 e 1600, a feitoria dos alemães em Veneza recebeu quase
4000 t de cobre327, o que correspondia a mais de ¼ da produção da região de
Banská Bystrica durante o mesmo período328. No entanto, os registos alfandegários
apontam para a exportação de apenas 170 migliara de cobre (81,1 t) com destino a
Alexandria329. Além disso, as autoridades otomanas tinham adoptado uma política
restritiva relativamente à exportação de metais estratégicos como o cobre pela via
do Mar Vermelho, embora esses metais continuassem a transitar clandestinamente330.
Embora num período mais recuado, para Alexandria seguia também cobre de
uma antiga proveniência asiática: as minas de Kastamonu (Turquia). Nos séculos
XIV e XV, esta era uma das proveniências que alimentava o comércio de cobre com
destino a Alexandria, especialmente através da intermediação comercial veneziana331.
Em 1507, com o fim de auxiliar a luta contra os portugueses, os otomanos enviaram
para a Alexandria uma remessa de 800 miera de cobre de Kastamonu (381,6 t)332.
Apesar disso, é provável que a maior parte da produção de Kastamonu e de outras
minas na Anatólia fosse destinada a consumo interno durante o século XVI.
No respeita às proveniências ocidentais, é obrigatória a referência ao cobre da
Suécia, que se começou a afirmar nos mercados europeus a partir dos finais do século
XVI. Entre 1582 e 1640, as minas da região de Falun terão produzido um volume
total de 42 000 t de cobre, metade do qual no período entre 1625 e 1640. Boa parte
deste cobre foi exportada para Lubeque, Hamburgo e Amesterdão, daí irradiando
pelos mercados da Europa Ocidental333. Mas uma vez mais, parece pouco provável
que a irradiação deste cobre tenha alcançado os mercados do Índico; pelo contrário,
era o cobre japonês que chegava à Europa durante a década de 1620, através da VOC.

7.3. Portugal

Pela sua relevância no caso português, refira-se ainda o caso do cobre do


Alentejo. Os recursos metálicos da chamada Faixa Piritosa são bem conhecidos e a
sua exploração na parte portuguesa remonta pelo menos à época romana334. A partir
de 1516, a Coroa deu um novo impulso à prospecção e exploração de metais em
Portugal, nomeando Aires do Quintal feitor-mor dos metais do reino e estabelecendo
o regimento do ofício335. Cerca de dois anos depois, o rei instruía Silvestre Nunes a

327
Tucci, 1977: 111.
328
Vlachović, 1977: 171.
329
Tucci, 1977: 112.
330
Winter, 1992: 201.
331
Braunstein, 1977: 85-86.
332
Sanudo, 1879-1903, 7: 163.
333
Kumlien, 1977.
334
Domergue, 1987: 495-508.
335
Regimento d’aires do quintall. Em Agosto de 1519, o feitor-mor recebia 120 000 reais pelo exame de cobre efectuada em Olivença
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
157

angariar fundidores alemães para o reino, pois tinham sido recentemente descobertas
minas de cobre no país de que se esperava obter uma quantidade apreciável de
metal336.
Em 1524 ou data anterior próxima, foram descobertos depósitos de cobre e
mercúrio na região de Beja, cuja exploração foi concedida por D. João III a Rui Lopes,
conselheiro régio e vedor da Casa Real, por carta régia de 08-09-1524337. Os depósitos
de cobre descobertos seriam significativos, pois em 14-07-1525 o rei concedia licença
para a cunhagem de 1000 quintais de cobre (58,8 t) em ceitis na oficina monetária
de Beja338, cujo estabelecimento fora igualmente concedido em Setembro de 1524. A
exploração das minas de cobre continuava em 1532, uma vez que em Agosto desse
ano D. João III concedia licença a Rui Lopes para instalar um martinete destinado ao
lavramento do cobre339. Não é de excluir a possibilidade de este cobre ter participado
nas remessas para a Índia, embora seja mais provável a sua retenção total no reino, face
aos elevados volumes de cobre contratados em Antuérpia.

7.4. A via do Pacífico

Embora pouco significativo, merece especial menção o influxo de cobre europeu


no Sudeste Asiático pela via do Pacífico, realizado pelos espanhóis durante a década
de 1520. Uma boa parte deste cobre acabou por alimentar a produção de moeda
efectuado pelos portugueses nas Molucas.
Efectivamente, através de uma carta de missiva de 15-02-1523, sabe-se que Rui
Gago fez fundir caixas de cobre em Java e especialmente nas Molucas, em 1522-
1523340. Nesta última região, as amoedações de caixas foram efectuadas em Ternate
a partir de Outubro de 1522 e decorriam ainda em Fevereiro de 1523. Para tal, Rui
Gago fazia uso de 120 quintais de cobre (7,1 t) tomados aos castelhanos em Tidore.
Se no caso de Java é bastante provável que o cobre fosse de proveniência
europeia, no caso de Ternate essa proveniência era certa. O cobre usado nas
amoedações constituía parte dos 187 quintais, 1 arroba e 20 libras de cobre do peso
castelhano (8,6 t) deixados pelos espanhóis sob tutela do rei de Tidore para aquisição
de cravo341. Ao todo, a armada espanhola de Fernão de Magalhães teria trazido de
Sevilha 200 quintais castelhanos de cobre342.

(ANTT, CC-1-25-24).
336
ANTT, Fragmentos 3-1-36.
337
ANTT, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 37, f. 128 v. In Viterbo, 1896: 50-51.
338
ACM, Registo Geral, liv. antigo, f. 7 r. In Fernandes, 1878: 4 (doc. n.º 13).
339
ANTT, Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 18, f. 99 r. In Viterbo, 1896: 53.
340
ANTT, Gavetas 18-6-6. In Rego, 1962-1977, 8: 603-611.
AGI, Contaduría, 425, N. 1, R. 1, f. 107 r. Segundo o documento, o cobre deixado em Tidore formava um conjunto de 611 peças
341

constituído por 343 pieças de quadrado e 268 pieças de redondo.


342
Medina Zavala, 1920: 19.
João Pedro Vieira
158

7.5. África

No continente africano, os portugueses tinham também notícia da existência


de depósitos de cobre em Marrocos343 e especialmente no Congo e no Reino do
Monomotapa. Nestas duas últimas regiões, os portugueses procuraram o acesso e
exploração das áreas de mineração, embora sem sucesso. Nos finais de 1535, D.
João III enviava para o Congo um feitor e fundidores com o propósito de explorar as
minas de cobre locais, os quais foram recebidos com grande suspeição344. A cedência
das minas ao rei de Portugal fora prometida pelo rei Afonso I do Congo, mas em
1566 não havia qualquer progresso345, situação que se mantinha em inícios do século
XVII346. Quanto à região do Monomotapa, em 1622 ainda se procurava conquistar
as áreas de mineração347.

8. Considerações finais

Do ponto de vista quantitativo, fica patente a existência de extensas lacunas de


informação que é necessário procurar preencher através de uma prospecção heurística
mais alargada e exaustiva, particularmente no que se refere ao período pós-1560. De
notar que a grande rarefacção de dados quantitativos relativos aos volumes de cobre
importados pelo Estado da Índia se começa a fazer sentir com grande veemência
com a viragem para fontes de aprovisionamento orientais e a transferência para o
governo da Índia da gestão do processo de aquisição de cobre.
Para além do necessário investimento de natureza heurística, as grandes lacunas
de informação verificadas podem ser também parcialmente supridas com o recurso
a técnicas de análise científica à composição elementar das moedas de cobre. Se
relativamente às emissões de cobre no reino existe pelo menos um estudo de largo
espectro, que incide sobre as emissões de ceitis348, quanto ao Estado da Índia não
existem ainda quaisquer estudos de caracterização elementar que versem sobre a
moeda de cobre — contrariamente ao que sucede com as emissões de calaim349.
A aplicação de técnicas de carácter não destrutivo, como a espectroscopia de
fluorescência de raios-X (XRF) e a emissão de raios-X induzida por partículas
(PIXE), permitirá verificar os conhecimentos atuais e reexaminar a questão das

ANTT, Gavetas 15-19-14 (carta de c. 1500). In Rego, 1962-1977, 5: 268) e 20-5-32 (carta de 04-06-1514. In Rego, 1962-1977,
343

10: 442).
344
ANTT, Gavetas 20-5-24. In Rego, 1962-1977, 10: 428-429.
345
Vd. carta de António Vieira a D. Catarina de Áustria, de 08-04-1566 (ANTT, CC-1-107-120).
346
Vd. carta do bispo do Congo ao rei, de 07-09-1619 (AHU, Conselho Ultramarino, Angola, Cx. 1, n.º 112).
347
ANTT, Livros das Monções, liv. 16, f. 63 r. In Pato et al., 1880-1982, 8: 34.
348
Magro et al., 1994.
349
Magro et al., 2000.
As amoedações de cobre do Estado da Índia: Proveniências, fontes de aprovisionamento (...)
159

proveniências e do seu contributo relativo para as produções monetárias luso-


indianas. Adicionalmente, os dados gerados contribuirão activamente para o reexame
de várias atribuições de emissões a reinados e/ou casas monetárias propostas com
base em critérios numismáticos, mas desprovidas de suficiente fundamentação
documental. Por fim, não é de somenos importância o contributo destas técnicas
para a detecção de falsificações contemporâneas.

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