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Enviada em 15 de fevereiro de
Após voltarem das viagens na costa, a tripulação, que conta com em média cinco
pescadores, entrege o produto para o atravessador e este negocia com os
compradores do exterior. Além dos pescadores, os atravessadores de grude
empregam diretamente cerca de 20 pessoas, que cuidam dos depósitos, descarregam
a produção e embalam o que será exportado.
O lucro desse mercado não costuma ser revelados e os compradores de grude também
não gostam de dar entrevistas. Quem se dispõe a contar o quanto já ganhou com o
mercado de grude faz a exigência de não ser identificado. A explicação é simples: ‘ a
cidade é pequena e revelar essas coisas chama muita atenção’, conta o segundo maior
revendedor de grude da cidade. Nas ruas, quando a população vigiense é questionada
sobre as pessoas que mais têm dinheiro na cidade, sempre respondem que ’são
aqueles que mexem com peixe’.
O empresário diz ainda que o número de assaltos na cidade aumentou nos últimos três
anos, ‘e quem tem família, não pode dar mole de ficar divulgando o dinheiro que tem’.
Ele já foi vítima de oito assaltos. Hoje, os carros que saem para levar o produto até
Belém, de onde segue de navio para exterior, são escoltados por segurança particular.
Os compradores de Vigia pagam, em média, R$ 80 reais pelo quilo do grude aos donos
dos barcos e vendem até pelo triplo ao mercado externo. Como exportam cerca de
três toneladas mensalmente, para países como China e Inglaterra, o faturamento pode
chegar a mais de R$ 200 mil. Contudo, a crise internacional abalou o mercado do grude,
que hoje está quase sem procura, mesmo quando a oferta ainda é alta. Há dois anos,
conta o empresário, já foi possível vender o quilo do grude a R$ 250 e mais de dez
empresários trabalhavam no ramo, concorrência que encolheu para apenas quatro.
Ao contrário do que ocorre no estado do Amapá, o Pará não tem legislação específica
para a pesca da gurijuba. Não existe aqui um período de defeso, o que compromete a
reprodução da espécie, segundo levantamento feito pelo Centro de Pesquisa e Gestão
de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte (Cepnor) e pela Universidade Federal Rural da
Amazônia (Ufra), sob a coordenação da engenheira de pesca Rosália Cotrim Souza.
A gurijuba tem, ainda, uma peculiaridade: Joga poucos ovócitos para a fecundação e é
um peixe de baixa fertilidade. Além disso, protege os filhotes na boca, um risco se
capturada antes do tempo. Para Rosália Cotrim, é necessário investimento em uma
campanha que estimule a preservação da espécie. A equipe de pesquisadores continua
monitorando o comércio, medindo e pesando os peixes.
‘Acredito que não há exploração dentro desse mercado. O pescador que trabalha com
grude tem uma margem de lucro muito maior que os demais. Já é rentável para eles,
mesmo quando o atravessador ganha o valor quadriplicado’, diz Rosália Cotrim.
Fonte: O Liberal