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H NO TEMPO
• BC
Li'
DE JESU&
PESQUISAS DE HISTÓRIA
ECONÔMICO SOCIAL
NO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO
J O A Q U I M JEREMIAS
J e r e m i a s , J o a c h i m , 1900-
J54j J e r u s a l é m n o t e m p o d e Tesus: pesquisa d e história
economico-social no p e r í o d o n e o t e s t a m e n t á r í o / J o a c h i m
J e r e m i a s ; [ t r a d u ç ã o d e M. Cecília d e M. D u p r a t ; revi-
são de H o n ó r i o D a l b o s c o ] . — São P a u l o : Edições
P a u l i n a s , 1983.
( N o v a coleção bíblica; 16)
1. B í b l i a . N . T . — História de fatos c o n t e m p o r â -
neos 2 . J e r a u s a l é m — V i d a social e c o s t u m e s I. Tí-
tulo.
CDD-225.95
-309. 133
82-1831 -330.933
JERUSALÉM
índices para catálogo sistemático:
N O TEMPO DE JESUS
1. J e r u s a l é m : P a l e s t i n a antiga — Condições econômicas
330.933
2. Jerusalém: Palestina antiga: Condições sociais
P e s q u i s a s de história econômico-social
309.133 no período neotestamentário
3. Jerusalém: Palestina antiga: História económica
330.933
4. Jerusalém: Palestina antiga: História social
309.133
5. Novo T e s t a m e n t o : História de fatos contemporâneos
225.95
mente, veremos as profissões que se referem à construção. Foi sinal de g r a n d e liberalidade e c o n t a d o como tal, o fato
de Hillel e S h a m m a i , n u m a discussão, terem a d m i t i d o o
t e s t e m u n h o de dois h o n r a d o s tecelões de Jerusalém . Al- 13
salém, vendia-se lã n u m dos bazares da cidade. 'Er. X 9 O m o n u m e n t o dito do Pisoeiro constituía o ângulo nor-
conta: " H . Yosé dizia que tal venda aconteceu no beco deste da m u r a l h a mais s e t e n t r i o n a l . E m 62 d . C , os j u d e u s
16
rios em b r o n z e e f e r r o " q u e t r a b a l h a r a m (em dias semi- a tür zêta, quer dizer, "montanha das Olivas" . Dificilmente 31
"olivas", "oliveiras" nas zonas mais afastadas de Jerusalém, lugares, organizados em corporação na " r u a dos açouguei-
consultar Smith, I, p . 300, n. 3.
r o s " . H a v i a ainda, na cidade, u m a loja d e vendedores
4 1
lém e nas p r o x i m i d a d e s da cidade. Segundo Men. V I I I 3 , Fala-se t a m b é m de u m ateniense que fazia vir ovos
é de Peréia que se i m p o r t a v a u m a parte do óleo necessá- e queijos do m e r c a d o de Jerusalém . 43
c. Artigos de luxo
em instalar lagares de óleo nos m u r o s da cidade. C o n v é m ,
p o r t a n t o , supor que se trata não da cidade de Jerusalém A preparação de bálsamos e de resinas aparece tam-
p r o p r i a m e n t e dita, mas do distrito u r b a n o mais extenso , 51
b é m como u m a atividade d e Jerusalém. Conta-se que os
ou q u e os lagares de óleo sejam evocados somente a tí- comerciantes (ou fabricantes) de a r ô m a t a s em Jerusalém 45
4 2 . 'Er X 9.
dos padeiros de J e r u s a l é m . Conforme esse último texto
39
4 3 . iam. R. I, 10 s o b r e I, I ( 2 1 1 ) . b
4 4 . B.j. V 9, § 410.
32. J e r ô n i m o , In Hieremian I I 45 s o b r e Jr 7,30-31 ( C C L 74,83s). 45. Pattamtm; assim t r a d u z D a l m a n , Handwörterbuch, 331 b
(ele
33. j . Hag. I I I 4, 79^ 3 ( I V / t , 2 9 8 ) . t r a d u z i a " f a b r i c a n t e s de a r ô m a t a s " e m s u a p r i m e i r a e d i ç ã o . "Apoticá-
34. Mc 14,32; M t 26,36; L c 22,39. r i o s " , s e g u n d o Levy, Wörterbuch. I V , 27 a.
35. G. D a l m a n , Grammatik des jüdisch-palästinischen Aramäisch , 1
46. /. Yoma I V 5, 4 1 37 ( I I 1 / 2 , 2 0 9 ) . E n c o n t r a - s e o m e s m o ter-
( l
Leipzig, 1905 (reimpresso D a r m s t a d t , 1960), 191, m o pattamtm e m 'Er. X 9 e j . Sota V I U 3, 2 2 16, p a r . j . Sheq. V I
c
d e H e r o d e s , o G r a n d e , contribuiu p a r a o desenvolvimento
espécie de figuras impressas, com exceção de rostos hu-
dessas profissões.
m a n o s (parsüpôt do grego prósopon)".
As profissões de luxo foram as que mais prósperas se
A profissão de copista t a m b é m fazia p a r t e das pro-
t o r n a r a m devido à corte h e r o d i a n a . C o n v é m lembrar, em
fissões de arte. Em b . B. B. I , é descrita a atividade dos
a
c h a m a d o y rüsalayim
e
d 'dah ba,
L ü
isto é, " J e r u s a l é m de 1) A s construções
o u r o " . Discute-se p a r a saber se as m u l h e r e s , aos sábados,
55
— Construção, no mesmo local, das três torres de riador não p o u p a elogios à solidez dessa m u r a l h a . T i n h a ,
H e r o d e s : H i p p i c u s , Fasael, M a r i a n a . 62
segundo dizem, 10 côvados de espessura, construída em
— D o m i n a n d o o T e m p l o , do lado norte, a fortaleza cantaria de 20 côvados de c o m p r i m e n t o e 10 de largura.
A n t ô n i a erguia-se no lugar o n d e , em nossa opinião, erigia¬ Convém dizer aqui uma palavra sobre o côvado, medida
-se outrora a fortaleza do T e m p l o c h a m a d a Birah e Ba- de extensão então em uso e que iremos utilizar para os cál-
ris .63
culos (ver especialmente infra, p . l l ó s s ) . Não há uma opinião
— O suntuoso túmulo que Herodes fez construir concorde sobre o comprimento do côvado palestino daquela
p a r a s i , não utilizado, porém, por ter sido o rei enter-
M
época. É preciso lembrar que diferentes côvados estavam em
r a d o no H e r o d i u m . uso ao mesmo tempo, dentro de Jerusalém. Lemos em Kel.
XVIÍ 9: numa sala do Templo "havia dois côvados, um no
— O teatro construído por H e r o d e s , em Jerusalém . 65
d a d o s topográficos q ü c se c o r r e s p o n d e m . O n o m e a í u a l d a r u a , h â r e t
el-Meidân, r u a d o h i p ó d r o m o ( g e r a l m e n t e tais t r a d i ç õ e s são g a r a n t i - 70. 6105 m — 33 e s t á d i o s , p e r í m e t r o total d a c i d a d e s e g u n d o B. j .
d a s ) , p e r m i t e p r o c u r a r o h i p ó d r o m o n a c i d a d e alta. É, p o i s , possível, V 4, 3, § 159, m e n o s 2575 m a p r o x i m a d a m e n t e -—lados oeste, sul e
a l é m e s m o c e r t o , q u e H e r o d e s seja o c o n s t r u t o r deste h i p ó d r o m o . leste, d a t a n d o d o p e r í o d o a n t e r i o r a A g r i p a I.
Q u a n t o ao " m u i t o g r a n d e a n f i t e a t r o c o n s t r u í d o n a p l a n í c i e " (Ant. X V 7 1 . F. R u i t s c h , Griechische und römische Metrologie, 2* ed. rev=
8, I, § 2 6 8 ) , p o d e r í a m o s p r o c u r a r sua c o l o c a ç ã o n a p l a n í c i e d e Jericó Berlim, 1882, 4 4 1 .
(Ant. X V I I 8, 2 § 194; B.j. 1 3 3 , 8 § 6 6 6 ) . 72. A s s i m K r a u s s , Talm. Arch., I I , 388ss s e g u n d o F . L ü b k e r ,
68. Ver infra, p . 2 5 . Reallcxikon des classischen Alterhums, 7* ed., L e i p z i g , 1891.
69. Ant. X V I 7, I, § 182; cf, V I I 15, 3 § 394 . 7 3 . Vita 76, § 422.
R o m a ; pode-se, pois, realmente, esperar dele que se utilize
74
romano não o substituiu. Esse dado vale igualmente para o t r u ç ã o , mas a u m e n t o u o palácio: "Erigiu uma obra de
período anterior a Juliao de Ascalao; Dídimo de Alexandria g r a n d e vulto no palácio de Jerusalém perto do Xisto. Esse
(fim do século I antes de nossa era) o indica para o Egito. palácio fora outrora construído pelos a s m o n e u s " . D e todo84
Segundo Dídimo, o côvado egípcio da época romana valia 1,5 m o d o , deste palácio — o que não era antes o caso — o
pés ptolemaico = 525 mm, isto é, o comprimento já corrente rei gozava de u m a visão de conjunto da esplanada do
no Egito no século III antes de nossa e r a . Por conseguinte, 77
que é também a do côvado filitariano de 525 mm. egípcias e como o confirma 2Rs 9,30, referindo-se ao pa-
lácio de Acab e de J e z a b e l . Segundo B. j . TI 17, 6, §
87
u m a das duas m e n c i o n a d a s ; se situarmos o traçado da en- n a " ; Ani. X X 4, 3, § 95 "nas três pirâmides que sua m ã e
costa mais setentrional no local da m u r a l h a norte atual , m
fizera construir a três estádios da c i d a d e " . U m a cornija 10S
temos a possibilidade de identificar as três cavernas. Se- com guirlandas de frutos e folhagens em forma de volutas,
g u n d o Para II 3, " s o b o m o n t e do T e m p l o e sob o adro está parcialmente conservada. D i a n t e da e n t r a d a que con-
havia uma c a v e r n a " . Os subterrâneos da cidade represen- duz à instalação funerária, acham-se restos de colunas en-
t a r a m g r a n d e papel por ocasião da t o m a d a de Jerusalém; tre as quais se viam capitéis jónicos e dóricos, meias colu-
m u i t o tempo ainda após a q u e d a da cidade, os habitan- nas e pilastras de ângulo. I m e d i a t a m e n t e acima dos capi-
tes ali se m a n t i n h a m escondidos. téis, vê-se u m friso d e c o r a d o ; a trave mestra é dórica. N o
t ú m u l o de T i a g o , há colunas de capitéis dóricos encima-
Certo Simão, da cidade de Siknin, q u e perfurava fon- das por u m friso dórico com tríglifos . N o túmulo de m
tes, poços e subterrâneos, é localizado n a Jerusalém antes Zacarias p o d e m o s ver capitéis jónicos. Esses q u a t r o mo-
da destruição em 70 d . C . . M e n c i o n a m t a m b é m u m insta-
104
anterior a 70 d.C.
rico em obras raras de arte. Na decoração externa e in-
terna, na escolha dos materiais e sua execução, na riqueza
107. Supra, p . 2 9 .
108. Cf. B.j. V 2, 2, § 5 5 ; 3, 3, § 119.
102. Tanhuma, bemidbar, § 9, 485, 7; c l . Billerbeck, I I , 592ss. 109. D e v e m o s d e t e r m i n a r a d a t a destes m o n u m e n t o s s e g u n d o os
103. V e r infra, p . 2 1 . d a d o s da história da a r t e . O t ú m u l o d e A b s a l ã o e a p i r â m i d e d e Za-
104. Qoh. R. 4, 8 s o b r e 4, 17 ( 9 1 1 2 ) .
b
carias são m e n c i o n a d o s , pela p r i m e i r a vez, e m 333 d . C . (Itin. Burdi-
105. Lam. R. 1, 15 s o b r e 1, 1 ( 2 3 9 ) .
a
galense 595, e d . P . Geyer, Iíinera hierosolymitana saeculi III-VIII,
106 B.j. V 4, 4, § 176ss. CSEL 3 9 , 1898, 2 3 , linhas 10-13). E n t r e t a n t o , n ã o h á d ú v i d a s de q u e
esses m o n u m e n t o s são a n t e r i o r e s a r u í n a de J e r u s a l é m d e 70 d . C .
Manutenção das construções lhe tomou o n o m e . A i n d a hoje, levam p a r a lá e n t u l h o s ,
carniças e resíduos de toda espécie.
A o lado de operários e artistas e r a m ainda necessá- É preciso m e n c i o n a r aqui a existência dos esgotos,
rias pessoas p a r a a m a n u t e n ç ã o das construções. cujas instalações estão à altura das de nossa época. Bliss
Com o tesouro do T e m p l o p a g a v a m a conservação os mencionou em diversas ocasiões. T i n h a m , interiormen-
do " c a n a l das á g u a s " , dos m u r o s , das torres e de t u d o
110
te, 1,78 a 2,36 m d e a l t u r a , 0 , 7 6 a 0,91 m d e largura. E r a m ,
q u a n t o a cidade n e c e s s i t a v a . A b r a n g i a t a m b é m o t r a t o
111
ao que parece, providos de orifícios p a r a receber a água
dos poços e das cisternas, limpeza e vigilância das r u a s . das r u a s , e mesmo de bueiros p a r a a l i m p e z a . 118
e. As outras profissões
segundo R. Shemaya bas Zeéra, as ruas de Jerusalém 1 U
T e r i a , pois, u t i l i z a d o os f u n d o s d o T e m p l o c o m o d e v e r i a .
111. Sheq. I V 2 . 118. P. T h o m p s e n , Denkmäler Palästinas aus der Zeit Jesu, Leipzig,
112. Cf. b . B. Q. 9 4 . b
1916, 2 5 .
113. Cf. b . Pes. 7 . a
cidade (excetuando-se as relacionadas com o T e m p l o ) n a norte do bairro de Acra, além da colina sudeste (Ofel).
época anterior a 70 d.C. Mas o q u a d r o não está c o m p l e t o . Devido à extensão do T e m p l o , o vale do T i r o p e o n era a
A i n d a hoje, no O r i e n t e , as profissões são rigorosamente única ligação entre o bairro norte e o b a i r r o sul, e de
4, 4 ( 5 7 9 ) ; ver infra, p . 7 1 .
b
148. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
142. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 ) . a
149. B.j. ibid.; 'Er. X 9; b . 'Er. 1 0 1 . a
143. b . B. M. 8 8 ; b . Hul. 5 3 .
a a
150. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
144. j . Pea I 6, 16^ 47 " ( H / l , 2 8 ) ; Sifre D t 14,22, § 105 ( 4 2 165, a
151. Supra, p . 18.
3 3 ) ; cf. infra, p . . . . 152. j . Sheq. V I I I 1, 5 1 20 ( I I I / 2 , 3 1 9 ) .
a
2 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
profissão idêntica instalavam-se no m e s m o b a i r r o ; era cos- dizem os judeus a Jesus (cf. Jo 2,20) p o r volta do ano
t u m e , mas tais a g r u p a m e n t o s profissionais p o d i a m t a m b é m 27. Nesta data, o trabalho n ã o estava a i n d a concluído.
ser o resultado de certa necessidade de organização cor- Herodes começara novas construções em 20-19 antes de
porativa. nossa era °. Somente em 62-64 d . C , n o tempo do go-
16
" f á b u l a s dos pisoeiros e das r a p o s a s " . Delitzsch conclui t e r m i n a d o . Eis as alterações: elevação do edifício do San-
q u e a organização de profissões "constituía u m meio de tuário de 60 p a r a 100 côvados; restauração do a d r o sa-
v i d a ; cada u m t i n h a suas idéias, traçadas de m o d o parti- grado interior; construção de u m a g r a n d e p o r t a entre o
cular, e somente aqueles a q u e m elas eram familiares po- átrio das mulheres e o dos israelitas; a m p l i a ç ã o do adro
d i a m compreendê-las" . Essa opinião é fácil de conce-
i56
exterior p a r a o norte e p a r a o sul, graças a gigantescos
b e r em função do contexto. Como vimos a c i m a , os , 5 7
e m b a s a m e n t o s ; decoração c o m pórticos em torno de toda
médicos de Jerusalém t i n h a m seus métodos pessoais de as- a esplanada do T e m p l o . Pouco tempo após o término
m
sistência aos doentes. Aqueles que p r e p a r a v a m p a r a o das novas construções e ainda antes do início da revolta
T e m p l o os pães da proposição e os perfumes a q u e i m a r 158
de 66, foi e m p r e e n d i d a u m a n o v a série de trabalhos, tal-
p o s s u í a m certos segredos de fabricação conservados de ma- vez por solicitude social em relação aos operários do
neira muito estrita. T e m p l o , desempregados . O edifício do santuário deve-
m
gravar as placas de advertência: e r a m colocadas de dis- Penetremos mais a i n d a . N o átrio das mulheres vemos
tância em distância sobre a b a l a u s t r a d a externa; redigidas l a m p a d á r i o s de ouro, encimados por q u a t r o taças do mes-
em grego e latim, advertiam todos os não-judeus de q u e mo m a t e r i a l . E m u m a das t e s o u r a r i a s , p o d e m o s ver
175 176
não p o d i a m , sob p e n a de m o r t e , transpor aquela balaus- as taças e os utensílios sacros de ouro e de prata . Algu- 17T
trada °. J7
mas dessas taças (b zikin) n ã o t i n h a m p é ; sinal de q u e
e 17S
o maior luxo. Segundo Josefo, a fachada, de 100 côvados mos, finalmente, o Santo dos santos q u e está vazio; suas
q u a d r a d o s ( ~ 27,5 m ) era recoberta de placas de o u r o ;
2
p a r e d e s são recobertas de o u r o . O o u r o era, dizem, tão
m
sas como u m dinar de o u r o " . Sobre o telhado, setas do pela m e t a d e do seu antigo p r e ç o " !
m e s m o metal p a r a afugentar os passarinhos, " p r o t e ç ã o U m artesão de arte que inventou u m m e c a n i s m o p a r a
c o n t r a os c o r v o s " . No vestíbulo, correntes de ouro c a í a m
181
as vascas do T e m p l o , é explicitamente citado em Tamid
das traves do teto . Viam-se aí duas mesas, u m a de már-
m
I 4 ; I I I 8; Yoma I I I 10 e b . Yoma 3 7 . a
8, 3 , § 3 8 8 . E n c i m a n d o a e n t r a d a q u e levava do vestí-
b u l o ao Santo, estendia-se u m a vinha de ouro ; era in- m
b. O culto
cessantemente enriquecida graças aos dons de novos or-
n a t o s que os sacerdotes se e n c a r r e g a v a m de p e n d u r a r .
m
A c i m a dessa e n t r a d a havia u m espelho que refletia os raios D u r a n t e os oitenta e dois a oitenta e q u a t r o anos da
do sol nascente através da p o r t a principal (que não tinha restauração do T e m p l o , o culto n u n c a foi i n t e r r o m p i d o ,
m
O Santo, situado atrás do vestíbulo, c o n t i n h a peças lia estava i n c u m b i d a de fazer os doces de forno p a r a a
raras de arte que se t o r n a r a m mais t a r d e a p a r t e mais oferenda cotidiana do sumo sacerdote . A fabricação dos m
p e s a n d o dois talentos, e a mesa maciça dos pães da pro- com a r e t o m a d a do t r a b a l h o depois q u e o salário foi do-
b r a d o . P o d e m o s , p o r t a n t o , deduzir q u e se tratava de u m a
greve p a r a reajuste salarial.
180. B. j . V 5, 4, § 207ss.
181. Mid. I V 6; B.j. V 5, 6, § 224.
182. Mid. I I I 8. 192. C. Ap. I 22. § 198; B.j. V I 8, 3 , § 3 8 8 ; V I I 5, 5, § 148;
183. Men. X I 7. b . Men. 9 8 ; v e r o a r c o d o t r i u n f o d e T i t o n a sacra via de R o m a .
b
o q u a n t o e r a m necessários.
essas cortinas encontravam-se p e n d u r a d a s em treze lugares
diferentes. Cada uma delas era tecida com 72 tranças de
24 fios e em 6 cores . Segundo a M i s h n a , 82 jovens
2110 201
mesmo no inverno. Adoeciam, p o r t a n t o , com freqüência. tempo depois, dessa nova iniciativa, deve ter sido pelo
m e s m o m o t i v o . Graças às condições favoráveis de sa-
m
5 1 13 ( I I I / 2 , 3 2 0 ) .
b Pertencer a d e t e r m i n a d a s corporações dedicadas ao
202. P a r a a crítica, ver infra, p . 54, n . 4 8 . culto do T e m p l o fortalece o privilégio d e algumas famí-
203. Ex 30,13; M t 17,24-27; Ant. I I I 8, 2, § 194; X V I I I 9. 1. §
3 1 2 ; B.j. V 5, 1 § 187; V I I 6, 6, § 218; M í s h n a e Tosefta, t r a t a d o
Sheqaiim, Fílon, De spec. leg. I, § 77s e passim. 208. Sheq. V 1; j . Sheq. V 2, 4 8 26 d
(II1/2. 293).
204. Sheq. I 6s. 209. Kel. X V I I I 9; cf. supra, p . . . .
205. Sheq. V , 1. 210. Supra, p . 40.
206. Sheq. V 1; Sheq. V 2, 4 8 26 ( I I I / 2 , 2 9 3 ) .
d 211. Ant. X X 9, 7, § 220.
207. 'Er. X 13s. 212. Supra, p. 2 3 .
213. Supra, p . 24.
lias; as profissões se t r a n s m i t i a m de pai p a r a filho: e n t r e 2 ) Importância política e religiosa da cidade
essas, a p r e p a r a ç ã o dos pães da proposição e a dos per-
fumes p a r a q u e i m a r . m
A despeito dessa situação desfavorável, o Pseudo¬
- Aristeu, § 114, diz que a cidade era " r i c a em profissões";
com razão dá-lhe esse qualificativo. Precisamente por cau-
sa de suas condições desfavoráveis, Jerusalém, cidade no
tempo de Jesus com 2 5 . 0 0 0 habitantes a p r o x i m a d a m e n t e
B. INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS (ver mais abaixo, na p . 120s), precisava estabelecer u m
DE JERUSALÉM SOBRE AS PROFISSÕES
comércio ativo visto ter de i m p o r t a r as matérias-primas.
Jerusalém m a n t i n h a , pois, menores transações com países
longínquos do que com as regiões v i z i n h a s .
1) A situação da cidade D e que meios, de que recursos d i s p u n h a a cidade
p a r a financiar este comércio? P r o c u r a r e m o s reunir os
principais elementos.
Jerusalém foi vista por nós 2 b
como integrada à pro-
víncia da Síria, na medida em q u e as principais profissões a) E m primeiro lugar figuram as imensas receitas do
dessa província t a m b é m figuravam entre as mais impor- T e m p l o . CompÕem-se de dons q u e afluem do m u n d o in-
tantes daquela cidade. teiro, de taxas previstas pela Lei sob forma do imposto
E n t r e t a n t o , a Cidade Santa se distinguia de m a n e i r a da d i d r a c m a , do comércio das vítimas, do c u m p r i m e n t o
211
f u n d a m e n t a l de todas as outras grandes cidades d a pro- dos votos, da entrega da lenha e t c , além dos rendimentos
víncia: situava-se n u m a região realmente desfavorável às de seus imóveis. E m c o n t r a p a r t i d a , as despesas e r a m imen-
profissões. A pedra era a única matéria-prima e n c o n t r a d a sas, d e m o d o especial no tocante aos t r a b a l h o s da cons-
c o m a b u n d â n c i a nas cercanias. N a s m o n t a n h a s da Judéia, trução do T e m p l o .
os rebanhos forneciam lã e peles, e os oliveirais, m a d e i r a
e azeitonas. A p e n a s isso. A m a i o r i a das matérias-primas b) O afluxo d e estrangeiros h a b i l i t a v a a cidade c o m
faltava. A carência dos metais e minérios ricos era total o u t r a fonte de renda e p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e por oca-
e de m á q u a l i d a d e a argila fornecida pela r e d o n d e z a . Fal- sião das peregrinações d u r a n t e as festas. T o d o israelita
t a v a , sobretudo, água. Jerusalém d i s p u n h a de u m a ú n i c a piedoso tinha de gastar e m Jerusalém u m decido do ren-
fonte de certa i m p o r t â n c i a , a de Siloé, no sul da c i d a d e . d i m e n t o de sua terra; é o que se c h a m a v a o segundo dí-
N a época da seca, precisavam c o m p r á - l a 216
dos v e n d e d o - zimo . 218
g e n , 1911.
2. G . S c h m o l l e r , Grundriss der allgemeinem Volkswirtschaftslehre,
I I , Leipzig, 1904.
3 . R. E l e a z a r ( b e n S a d o c ) , o A n c i ã o , d e v e ter n a s c i d o p o u c o de-
p o i s d e 35 a.C. E r a , c o m efeito, m u i t o j o v e m n o t e m p o de A g r i p a I
(41-44) e e s t u d a v a a T o r á p o r ocasião d a fome q u e grassou e n t r e 45
e 50 (ver infra, p . 170). A b b a S h a u l b e n Batnit vivia i g u a l m e n t e em
J e r u s a l é m antes d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ; assim se d e d u z q u e , d a d a
a sua reta c o n s c i ê n c i a , ele e n t r e g a v a a e s p u m a d o v i n h o ao t e s o u r e i r o
d o T e m p l o ( b . Besa 2 9 b a r . ) .
a
época primitiva, existia u m plano de defesa c o n t r a o povo Além de tudo, essa m e d i d a do qab tinha, manifestamente,
do deserto; Paul Karge o observou . Sob T r a j a n o , os ro-s u m valor particular; em todo caso, b . Yoma 4 4 refere-se b
ouvimos falar de alguns que teriam ocorrido, e da neces- nos p o d i a m trocar nos cambistas o dinheiro estrangeiro
15
j . Yoma I V , 4 1 4 9 ( I I I / 2 , 201) o s u p õ e .
b 20
u m caso sucedido em Jerusalém: " U m a m u l h e r disse ao
m a r i d o : pega u m colar ou u m a argola de nariz; vai ao mer-
A polícia vigiava pela ordem do comércio. O T a l m u d e cado e traz-nos em troca q u a l q u e r coisa p a r a c o m e r " . 2a
dos preços da p a r t e de Shimeon, filho de G a m a l i e l I, particulares fizessem suas transações comerciais. Certa vez,
mestre de P a u l o (At 2 2 , 3 ) ; esse Shimeon era conhecido u m alfaiate de Jerusalém c o m p r o u no leilão de u m a ca-
no tempo da guerra judaica como m e m b r o i m p o r t a n t e do r a v a n a , g r a n d e q u a n t i d a d e de p i m e n t a p a r a revendê-la a
u m colega d e t r a b a l h o que se encarregou de distribuí-la . 30
58 e p l . X 143.
18. L. G o l d s c h m i d t , Der babylonische Talmud neu übertragen, vol. m e r c a d o r e s ambulantes em Jerusalém que v e n d i a m especia-
V I I , Berlim, 1933 = 1964, 337, n. 103.
Í 9 . / t n í . X I I 3, 4, § 146; v e r infra, p . 6 8 . 25. D e v e ter h a v i d o influência d a assembléia g o v e r n a m e n t a l : Vita
20. Cf. Levy, Wörterbuch, I I , 369 b e m kesep, e infra, p . 7 1 . 38s, § 189ss.
2 1 . j . B. B. V 11, 1 5 61 ( V I / 1 , 1 9 4 ) ; T o s . Kel. B. Q. V I 19
a
26. Ker. I 7.
(576, 3 1 ) ; j . Demay II I, 22= 21 ( I I / l , 1 4 0 ) . 27. K r a u s s . Talm. Arch., II, 351, com provas.
22. b . 'A. Z. 5 8 ; b . B. Q. 9 8 .
a a
2 8 . Lcm. R. 2, 20 s o b r e 2, 12 ( 4 8 I ) . a
23. b . B. B. 8 9 . a
2 9 . T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) .
24. B. B, V 2. 3 0 . Lam. R. I, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 4 ) .
b
rias; em passagem paralela b . Pes. 1 1 6 , são c h a m a d o s a
da Judéia era p r e d o m i n a n t e , temos de perceber, no perío-
tagg rê hãrak, " m e r c a d o r e s de grãos t o r r a d o s " .
e 31
do antes de 70 d . C , a influência estrangeira c o n c e n t r a d a
Há t a m b é m os grandes negociantes; p o d e m o s vê-los principalmente e m Jerusalém. De certo m o d o , foi a corte
como homens que t i n h a m empregados e viajavam. E r a m de H e r o d e s que a i n t r o d u z i u n a c i d a d e .
eles, p r i n c i p a l m e n t e , que se serviam em Jerusalém do ves- À guisa de minúcias sobre o comércio com a G r é c i a ,
tíbulo para o acerto das contas . E v i d e n t e m e n t e , aí tam-
32
não podemos deixar de assinalar que n a época de H i r c a n o
b é m eram feitas transações de g r a n d e vulto. Após o tér- II (76-67, 63-40 a . C ) , muitos m e r c a d o r e s atenienses vi-
mino de altos negócios, acontecia, conforme dizem, q u e , viam em Jerusalém. Tal fato explica, sem dúvida, o sen-
no ajuste das especulações, u m deles saía p e r d e n d o toda tido da frase que lemos, segundo a q u a l alguns atenienses
a sua fortuna . 33
achavam-se em Jerusalém p a r a assuntos privados e não so-
Os mercadores de Jerusalém mostravam-se m u i t o pru- mente a título oficial. Essa circunstância deve ter estabe-
dentes na hora de acertar as contas; n a d a assinavam antes lecido relações d u r a d o u r a s e u m intenso tráfico; sem isso,
de saber quais e r a m os c o n s i g n a t á r i o s . 34 H i r c a n o II não teria recebido como presente a coroa de
o u r o de Atenas em sinal de r e c o n h e c i m e n t o , e sua estátua
não teria sido erigida naquela cidade . Segundo os teste- 3Ò
o T e m p l o , v e r t a m b é m Mid. I I I 8; I V 5.
inteira". N ã o p o d e m o s a t r i b u i r n e n h u m v a l o r h i s t ó r i c o a essa espe-
4 1 . S c h ü r e r , I I , 8 1 , n . 229.
culação.
42. b . Shab. 1 4 ; j . Shab. I 7, 3 37 ( I I I / l , 2 0 ) ; cf. j . Ket.
b d
VIII
34. Iam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 (57-- 8 ) . 1
SEMH^AíiSü CONCORDIA^
Já e n c o n t r a m o s vendedores de peixes e outros mer-
43
largamente e m p r e g a d o na liturgia do D i a d a E x p i a ç ã o ;
cadores de Tiro; comerciavam suas mercadorias no n o r t e entre o sacerdote e o povo estendiam-se m e t r o s de b i s s o . S1
d a cidade. C o m o Sídon, T i r o era afamada pelos seus vidros H a v i a a i n d a no T e m p l o grandes reservas d e tecidos d e
preciosos e pela p ú r p u r a . p ú r p u r a e escarlate p a r a as c o r t i n a s . Lc 16,19 m e n c i o n a
52
Avalia-se por vezes a m o e d a de Jerusalém segundo o a p ú r p u r a e o bisso como trajes d e pessoas d e posses.
valor da m o e d a de T i r o , o que faz supor relações co-
44
O t i r a n o S i m ã o , em Jerusalém, por ocasião de sua tenta-
merciais entre as duas cidades. Segundo Tos. Ket. X I I I tiva de f u g a , revestiu-se de u m m a n t o d e p ú r p u r a c o m
53
u m a p e d r a onde os e x p u n h a m p a r a a v e n d a pública . N ã o 45
Q u a n t o às relações com a Pérsia, temos u m a indica-
r a r o , Josefo fala de escravos dos dois sexos, especialmente ç ã o n o baixo-relevo da p o r t a oriental do T e m p l o ; por curio-
a propósito da corte de H e r o d e s , o G r a n d e . T a m b é m a li- so que pareça, representava a cidade d e Susa ; podemos 37
t e r a t u r a rabínica faz deles freqüentes referências; lemos, supor q u e se tratasse de u m presente votivo.
p o r exemplo, que u m ateniense c o m p r o u u m escravo e m O T e m p l o importava tecidos até m e s m o da índia. " N a
Jerusalém . 46
noite [do Dia da expiação] o sumo sacerdote apresentava¬
Por ocasião de u m a fome que grassou na Palestina, -se vestido d e tecido das í n d i a s . 5 3
4 3 . Supra, p. 3 3 ; N e 13,16.
44. Supra, p . 49; T o s . Ket. X I I I 3 (275, 22) e passim.
4 5 . Sijra Lv 42 (55 c 220, 1 6 ) ; Sifre D t 3,23, § 26 ( 3 1 124, 1 1 ) ; c
51. Yoma I I I 4,
K r a u s s Talm. Arch., I I , 362. 52. B. j . VI 8, 3, § 390.
4 6 . Lam. R. 1, 13 s o b r e 1, 1 ( 2 2 1). a
53. Supra, p. 2 5 .
47. Ant. X X 2, 5, § 5 1 . 54. B. j . V I I 2, 2 , § 29.
48. B. /'. V 5, 4, § 212s; essa i n d i c a ç ã o é m a i s digna de fé d o q u e 55. V e r supra, p. 5 1 , n . 3 Í .
os relatos t a l m ú d i c o s s o b r e a confecção desses v é u s e m J e r u s a l é m p o r 56. Lam. R. \, 2 s o b r e 1. 1, (18* 2 9 ) .
82 j o v e n s , cf. Supra, p. 40. Pode-se, p o r é m , p e n s a r e m r e p a r a ç õ e s o u 57. Kel. X V I I 9.
o u t r o s t r a b a l h o s feitos n o local. 58. Yoma I I I 7.
49. B, j . V 5, 7, § 2 3 5 . 59. P s e u d o - A r i s t e u , § 114.
50. Ibid., § 2 2 9 . 60. I s 60,6; Jr 6,20.
no T e m p l o v i n h a m , e m grande p a r t e , do d e s e r t o . O ci- 61 3 . O comércio c o m as regiões p r ó x i m a s
n a m o m o e a cássia são indicados como perfumes p a r a o
T e m p l o em B. } . VI 8, 3 , § 3 9 0 ; são d u a s plantas de clima O u t r o r a , como hoje, o comércio com regiões p r ó x i m a s
tropical e sub-tropical. O Pseudo-Aristeu, § 1 1 9 , men- visava especialmente ao reabastecimento d a g r a n d e cidade.
ciona a importação de cobre e ferro d a Arábia. Quais as principais m e r c a d o r i a s i m p o r t a d a s ? Sobre o as-
Herodes organizava, e m Jerusalém, lutas de feras ; 62
sunto temos duas informações.
p a r a isso precisava fazer vir do deserto árabe leões e ou-
Pouco depois de 150 antes de nossa e r a , E u p o l e m o
tros animais selvagens. N o século II antes de nossa e r a ,
redigiu seu t r a b a l h o Sobre a profecia de Elias. Contém
E u p o l e m o m e n c i o n a entregas de carne provindas da Ará-
u m a carta fictícia dirigida p o r Salomão a o rei de T i r o , n a
b i a " ; para c o m p r e e n d e r esse texto, p o r é m , é preciso levar
qual trata d a alimentação dos operários enviados p o r esse
em conta o q u e será dito mais a d i a n t e sobre a extensão
último à Judeia. " D e i instruções n a Galileia, Samaria,
do reino nabateu n a época d e E u p o l e m o . M
aquele q u e A n t i p a s , filho de H e r o d e s , o G r a n d e , fazia vir fatos enquadram-se nos dois séculos q u e seguem a época
do Egito. Segundo j . Sota I 6, 1 7 19 ( I V / 2 ) , a m a r r a v a m ,
a
de E u p o l e m o .
c o m cordas egípcias, na esplanada d o T e m p l o , a m u l h e r
suspeita de adultério. A literatura rabínica fornece o u t r a informação rela-
tiva às principais necessidades de p r o d u t o s alimentares e m
O comércio com países distantes representou, pois,
Jerusalém. Segundo b . Git. 5 6 , q u a n d o explodiu a re- a
5,1-10). Josefo m e n c i o n a os c a m p o s q u e possuía em Jeru- nas ((7,390 km) a leste de B e t e i . Sendo exata essa loca-
80
qual o feixe da apresentação, formado de espigas de trigo, território s a m a r i t a n o , o que seria totalmente inadmissí-
S2
deve vir das redondezas d e Jerusalém. Bik. I I 2 estende¬ vel, visto tratar-se de farinha p a r a o T e m p l o . Mas como
-se sobre a questão de c o m o se deve proceder c o m o trigo o lugar se situa " n a p l a n í c i e " , é preciso ler, seguramente,
das primícias misturado ao trigo c o m u m , no caso d e ter H a f a r a i m e, por conseguinte, p r o c u r a r a terceira localidade
sido semeado em Jerusalém; ainda a q u i , Jerusalém deve 7 4
bülew tes
e
= bouleutés.
8 1 . A s s i m i g u a l m e n t e e m l M c 11,34; Ant. X I I I 4, 9, § 127.
73. Vita 76, § 422. 82. N e u b a u e r , Géogr., 155, situava-o e m t e r r i t ó r i o s a m a r i t a n o .
74. V e r supra, p . 16.
A respeito do comércio de trigo e m Jerusalém, sabe-
n o limite ocidental d a fértil planície d e Esdreíon. É, p o i s ,
mos da existência de u m m e r c a d o deste cereal cujas tran-
principalmente da Judéia que se fazia vir a farinha p a r a
sações e r a m consideráveis e a venda da farinha começava
90
F o r m u l a m o s t a m b é m aqui u m a p e r g u n t a : q u e enten-
apresentação e dos dois pães do T e m p l o , diz b . Men. 8 5 : a
Jerusalém antiga?
Kephar-Akim se esses lugares fossem mais próximos de
O solo calcáreo das cercanias da cidade convém so-
J e r u s a l é m " . Essas duas localidades são certamente Cora-
b r e t u d o às oliveiras e, n u m grau menor, à cultura do trigo
z i m , p e r t o de C a f a r n a u m , e a p r ó p r i a C a f a r n a u m . Se-
8 8 89
dizer, da região do norte. O b o s q u e deve, porém, ter bro- ção: u m roseiral, d a t a n d o da época dos profetas . E m ,a3
t a d o ou a d e r r u b a d a não foi total. C o m efeito, por ocasião M. Sh. I I I 7, discute-se o caso de u m a árvore p l a n t a d a
d o cerco de 70 d . C , os r o m a n o s d e s b a s t a r a m , p a r a c o m e - d e n t r o do limite de Jerusalém, cujos frutos caíam p a r a
çar, a região diante da cidade '' , e depois o c a m p o , n u m
6
o l a d o da cidade. É impossível e n c o n t r a r árvores na mu-
raio de 90 estádios (isto é, 16,650 k m ) ; enfim, n u m raio 9 7
ralha da encosta ou sobre ela; é preciso, p o r t a n t o , supor
d e 100 estádios ( 1 8 , 5 0 0 k m ) ; assim sendo, d e s b a s t a r a m
9 S
q u e nessa passagem o n o m e " J e r u s a l é m " i n d i q u e o períme-
u m a área o u t r o r a rica e m árvores e j a r d i n s d e lazer tro u r b a n o e não a cidade p r o p r i a m e n t e dita. E n c o n t r a m o s
E n t r e esses, viam-se belos vinhedos; é o q u e Ta'an co- caso análogo a propósito dos lagares p a r a o óleo . ltw
leste e ao oeste do vale do J o r d ã o . Sem d ú v i d a , dois gran- os seguintes p o n t o s : ainda hoje há algumas palmeiras em
des cercos c o n t r i b u í r a m p a r a o desflorestamento das cer- Jerusalém e o Pseudo-Aristeu, § 1 1 2 , cita t â m a r a s na lista
canias d a cidade (Pompeu em 63 a . C ; H e r o d e s em 37 dos produtos da c i d a d e . Por conseguinte, a informação
1 0 6
vorável aos oliveirais e b e m menos à v i n h a . P o d e m o s , 101 passam de p u r a s teorias. H a v i a lá, com efeito, u m roseiral,
o n d e se e n c o n t r a v a m , igualmente, f i g u e i r a s e palmeiras.
108
101. V e r supra, p . 6 1 .
A p ó s essa exposição, façamos o circuito da c i d a d e . salém, e m Betânia, situado a este, vemos belo a r v o r e d o . 113
Na torre noroeste da encosta mais setentrional, a torre ta-se, evidentemente, de u m a figueira d e s t a c a d a das outras
Pséfinus, Tito se viu em situação difícil p o r ocasião de árvores ao longo deste c a m i n h o . Neste m e s m o percurso,
uma p a t r u l h a ; com efeito, os jardins com seus muros e entre Jerusalém e Betânia, achava-se Betfagé; segundo as
incontáveis cercas criaram-lhe obstáculos "°. O u t r o r a , t o d a indicações que possuímos, deve-se t r a d u z i r este n o m e p o r
a p a r t e norte abrangia u m a região de jardins (mais exata- "casa dos figos v e r d e s " . Se nos dirigirmos p a r a o sudes-
1 1 5
mente, de p o m a r e s ) . Antes da construção d a terceira en- te, chegamos ao curso inferior do C é d r o n . Nesse local, o
costa setentrional por Agripa I ( 4 1 - 4 4 d . C ) , já existiam ali vale favorecia a construção de jardins e o p r ó p r i o vale do
alguns jardins que a encosta em questão englobou por fim. Cédron é u m w a d i . C o m água apenas no inverno , mas m
O n o m e da p o r t a que constitui o ponto de partida da se- com u m afluxo artificial, o sangue das vítimas que descia
g u n d a encosta b e m o e x p r i m e : Porta dos Jardins (Gen- do T e m p l o . Isso dava-lhe e x t r a o r d i n á r i a fertilidade. A es-
náth) . Contamos com uma única referência a respeito
111
p l a n a d a do T e m p l o , calçada, era ligeiramente inclinada,
d e sua situação: achava-se na primeira encosta setentrio- a fim de que pudessem lavar o sangue das vítimas . A en- 117
n a l . Q u a n t o ao mais, sua posição é discutida e mantém-se t r a d a do canal que o escoava achava-se junto ao altar ; !1S
q u e s t ã o a r d e n t e p a r a os estudiosos cristãos e m suas pes- nele jogavam diretamente o sangue dos animais impró-
quisas sobre a topografia da Jerualém antiga. C o m efeito, prios p a r a os sacrifícios . Esse canal de escoamento sub-
m
a posição dessa Porta dos J a r d i n s , quer dizer, do começo t e r r â n e o , chegava até o vale do Cédron . Dos tesoureiros m
tentrional ter incluído no p e r í m e t r o d a cidade os j a r d i n s encosta, Weill descobriu três p a t a m a r e s em forma de ter-
situados d i a n t e da segunda encosta, sabemos q u e h a v i a
jardins ao n o r t e . C o m seu exército, T i t o a v a n ç o u a p a r t i r 113. M t 21,8; M c 11,8.
do monte Scopus, situado ao norte de Jerusalém, e alcan- 114. M c 11,13-14; M t 21,18-22.
çou j a r d i n s , plantações de árvores e recantos guarnecidos 115. O u t r a s hipóteses s o b r e o d e r i v a d o d a p a l a v r a e m D a l m a n ,
lünéraires, 352 e n . 2 .
de árvores selecionadas " . 2
3 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
O COMÉRCIO
raços, c o m vestígios de m u r o s , u m m u r o transversal de
40 m . de c o m p r i m e n t o e u m torreão; segundo D a l m a n , mude apresentam a Judéia c o m o a região d e vinhatei-
131
m o s da Judéia e a q u a l i d a d e do terreno
134
confirmam 135
p a r a o T e m p l o v i n h a d e T é c u a n a Judéia e de R a g a b na
Nesses jardins é q u e se e n c o n t r a v a m os lagares reais , 127
I X 5 ( 5 2 6 , 5) m e n c i o n a G o s h H a l a b ( = Giscala em Jo-
O s dados gerais relativos às plantações de frutas e sefo) n a Galileia, como terceiro lugar de p r o d u ç ã o ; p o d e
legumes situadas nas cercanias de Jerusalém c o n f i r m a m a ser, p o r é m , q u e , na base dessa última afirmação o autor
existência do varejo. Tais plantações forneciam, suficien- t e n h a q u e r i d o realçar n ã o tanto u m f a t o histórico q u a n t o
temente, legumes, azeitonas, u v a s , figos e grão-de-bico. a necessidade de fazer u m a e n u m e r a ç ã o completa das três
Além das frutas trazidas das redondezas, faziam vir, partes d a Palestina judaica. Um único texto menciona 138
guindo o texto da Mishna, vemos que as outras regiões sas frutas constituía a a l i m e n t a ç ã o d o p i e d o s o S a d o c ; en-
da Palestina teriam p o d i d o igualmente fornecer v i n h o p a r a t r e t a n t o , d i s p u n h a d e mais d e cem p o r dia. N a Páscoa,
o T e m p l o , o q u e nos permite p r o c u r a r as cinco localida- devido a o g r a n d e n ú m e r o de peregrinos, forçoso era tra-
des em questão, todas n a Judéia, de acordo c o m a locali- zer p a r a o m e r c a d o , g r a n d e q u a n t i d a d e d e legumes e de-
zação aceita. Acrescentemos a essas indicações três grupos terminados condimentos, necessários à celebração ritual
de dados: freqüentes topónimos da Judéia confirmam a d a ceia pascal. A alface, por exemplo, era obrigatória ; 141
cultura d a vinha; subsistem numerosos vestígios de laga- 131. Klein, loc. cit„ 389-392.
res de uva; finalmente, o Antigo T e s t a m e n t o e o Tal-
m
132. S u p r o , p . 57.
v e i r a 133.
s " . § 112; v e r supra, p. 61: "inteiramente plantada com oli-
123. Cf. Z c 14,10; v e r u m p o u c o mais a d i a n t e . 134. S m i t h , I, 300, n. 3.
124. B. V 9, 4, § 410.
125. Ant. V I I 14, 4, § 347. 135. S u p r a , p . 62.
126. I R s 1,9. 136. Ant. X I I I 15, 5, § 3 9 8 ; h o j e Rãgib, a identificar c e r t a m e n t e
c o m E r g a , m e n c i o n a d a a 15 m i l h a s a o o e s t e d e G e r a s a ( E u s é b i o ,
127. Z c 14,10. Esse d a d o d e v e i n d i c a r o limite m e r i d i o n a l d a Onomasticon 216 (GCS I I . \, 1 6 ) .
cidade. 137. Ver supra, p . 15.
128. B. /. V 12, 2, § 507. 138. Ma'as. II 3 .
129. S o b r e a localização, v e r N e u b a u e r , Géogr., S2ss e S. K l e i n 139. Maas. I I 5.
em Festschrifí Schwarz, 391.
140. Iam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 (29^ 1 1 ) .
130. S m i t h , I, 303 e n. 2.
141. Pes. X 3 .
p e r m i t i a m , p o r é m , a chicória, o agrião, o b r e d o , ervas têm licença de comer. Além disso, n ã o é p e r m i t i d o deixar
amargas . N a Páscoa, o m e r c a d o d e Jerusalém devia
142 entrar a pele desses animais n e m fazer criação deles na
t a m b é m expor condimentos, v i n h o e vinagre; m i s t u r a d o s cidade. Somente são autorizados os q u e vão servir nos
às frutas esmagadas formavam a massa ritual (hãrôset) : 143 sacrifícios tradicionais, necessários p a r a aplacar a ira d e
o v i n h o , como b e b i d a , fazia igualmente parte d a refeição D e u s " . Essa ordem limitou, pois, a importação de ani-
w
143. Pes. X 3 .
144. Pes. X 1.
147. Ant. X I I 3 , 4, § 146.
145. Lam. R. 2, s o b r e 2, 2, ( 4 4 4 ) , cf. j . Ta'na.
a
I V 8, 6 9 37a
148. § 112.
( I V / 1 , 1 9 1 ) ; r e s u l t a d o fato d e o c o n t e x t o a p r e s e n t a r essa e x p o r t a -
149. P a r a a localização, v e r A t 9,35.
ção de v i n h o c o m o u m m é r i t o d o m o n t e de S i m e ã o . Assim t a m b é m ,
150. Supra, p . 147.
o p a r a l e l i s m o c o m o m o n t e das O l i v e i r a s (ibid.), o n d e se e n c o n t r a -
1 5 1 . Sheq. V I I 2 . Essa p a s s a g e m d e i x a s u p o r q u e aí se c o m p r a v a
v a m as lojas d o s v e n d e d o r e s d e a n i m a i s p a r a os sacrifícios, i n d i c a u m a a m a i o r p a r t e dos a n i m a i s c o m " o d i n h e i r o d o d í z i m o " . C a d a israelita
utilização d o v i n h o p a r a as n e c e s s i d a d e s cultuais. p i e d o s o era, c o m efeito, o b r i g a d o a d i s p e n d e r e m J e r u s a l é m , o d é c i m o
146. V e r supra, p . 57.
2 . O u t r o comerciava animais cevados, sendo explici- ritualmente puros p a r a os sacrifícios , e oitenta de tece- ,5S
t a m e n t e u m m e r c a d o de carne . Aí se v e n d i a m galinhas
152 lões t r a b a l h a n d o e m lã fina . N e u b a u e r situa essa locali-
15É
V 4, cf. Tamid V 4, cf. Tamid I 2 e Yoma I 8 ) . U m a só v e z a renta anos antes da ruína de J e r u s a l é m , o Sinédrio — di-
M i s h n a m e n c i o n a u m galo dc J e r u s a l é m e assim m e s m o n u m c o n t e x t o zem — estabelece sua sede. (Esse d a d o é manifestamente
l e n d á r i o . R. Y u d a b e n Baba, s e g u n d o 'Ed. VI 1, d e c l a r o u : " A p e d r e -
j a r a m u m galo e m J e r u s a l é m , p o r q u e ele m a t a r a u m h o m e m " ( d i z e m u m a representação figurada da a n u l a ç ã o da p e n a de mor¬
q u e com o bico, furara o crâneo de u m a c r i a n ç a ) . E m suma, podemos m u r o s o b e a t é o m o n t e das O l i v e i r a s e " e n g l o b a a colina até o ro-
afirmar q u e se c r i a v a m galinhas c m J e r u s a l é m . A p r e t e n s a p r o i b i ç ã o
c h e d o c h a m a d o ' R o c h e d o d o p o m b a l ' " . Seu n o m e p r o v é m certamente
de criá-las n ã o é mais digna de c r e n ç a do q u e as o u t r a s p r o i b i ç õ e s
m e n c i o n a d a s nessa p a s s a g e m d e b . B. Q. 82 b
(cf. supra, p p . 16 e 6 3 ) . das c a v i d a d e s feitas n a r o c h a o n d e se a b r i g a m os p o m b o s .
T o s . B. Q . V I I I 10 ( 3 6 1 , 29) traz u m a c o n f i r m a ç ã o : a criação d a q u e l a s
aves é p e r m i t i d a se, p a r a ciscar, elas t i v e r e m u m j a r d i m ou u m m o n t e 155. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 8 ) . a
d. Matérias-primas e mercadorias
draxe 163
m e n c i o n a é indiscutível, já q u e , como citam ex-
plicitamente os textos do T a l m u d e , o Sinédrio n ã o se m
e " m e r c a d o r i a s " : m a d e i r a , p e d r a , lã, cerâmica, escravos; o p o n t o central da terra inteira . D e v i d o a sua localiza-
l92
177. Cani. R. 1, 55 s o b r e 1, 12 ( 2 1 2 ) . a
189. P s e u d o - A r i s t e u , § 8 3 ; B. j . I I I 3 , 5, § 52.
182. Para I I I 10. 190. j . Hag. I 1, 7 6 47 ( I V / 1 , 2 6 0 ) .
a
lações m a r í t i m a s fáceis pelos portos d e Ascalon, Jafa, G a z a Assim q u e a revolta n a cidade m a n i e t o u as autorida-
e Acra. U m p o n t o de particular importância: Jerusalém des de Jerusalém, os saques r e c r u d e s c e r a m no país . U m 195
situa-se a igual distância de todos esses p o r t o s . O c u p a , tribunal particular teria q u e julgar casos de p i l h a g e m 196
a d q u i r i d o importância através de u m cruzamento com li- cômico pelo motivo q u e o autor — d e c l a r a d a m e n t e judeu
gação oeste-leste. Eoi j u s t a m e n t e aí q u e a natureza p o u c o apresentou — : os habitantes da planície devem p e n a r , p o r
favoreceu Jerusalém. O p r i n c i p a l interesse da via norte-sul u m a questão de pedagogia, a fim de estimular o pessoal
era religar o sul da Palestina a Jerusalém. A cidade repre- da m o n t a n h a a trabalhar; observa, p o r é m , a situação com
sentou, p o i s , u m m a i o r p a p e l p a r a a região d a s estepes d o acerto: a cidade necessita i m p o r t a r provisões. A que p o n t o
sul palestino do q u e p a r a a Samaria ao norte; e n t r e t a n t o , isto era imprescindível p o d e m o s constatar na p e n ú r i a que so-
a Samaria era mais civilizada do q u e o sul palestino e sua freu Antíoco em Jerusalém d u r a n t e a l u t a dos m a c a b e u s , m
E m conseqüência de sua situação geográfica, a cida- Jerusalém, c a r r e g a n d o dois odres, u m cheio de vinho, o
d e era carente não só de gêneros essenciais, mas t a m b é m outro, de vinagre. Tratando-se de u m caso jocoso no texto,
d e riquezas de necessidade vital, como matérias-primas, es- não podemos tirar daí conclusões radicais sobre a exporta-
pecialmente metais. Assim sendo, devia i m p o r t a r as ma- ção da cidade santa.
térias-primas, em p a r t e da Palestina , em p a r t e de países
204
e n t r e os p r o d u t o s d e seu solo, trigo, azeite e v i n h o , somente T e m p l o em esplendor. Ao material de luxo trazido pelo
o v i n h o , ao que parece, era e x p o r t a d o em g r a n d e q u a n t i - comércio com países distantes, acrescentavam-se produções
d a d e . N o q u e concerne a Jerusalém em particular, a ex-
m
da civilização estrangeira. Herodes dizia " s i m p a t i z a r mais
p o r t a ç ã o do trigo apresentava-se impraticável. N ã o encon- com gregos do que com j u d e u s " ' . Essa preferência se
2 5
cala, na Galileia setentrional, 80 sesteiros de óleo n ã o va- ginário d a cidade d e Fichola, estabeleceu-se e m Jerusalém;
liam mais do que 4 d r a c m a s , ao passo que, 30 quilôme- daí dirigia o recolhimento das taxas da Síria, Fenícia, Ju-
tros a nordeste, em Cesaréia de Filipe, no vale do Her- déia e Samaria . Manteve-se nessa atividade d u r a n t e 22
21S
m o m , 2 sesteiros custavam 1 d r a c m a , q u e r dizer, dez vezes a n o s . Possuía u m depósito em A l e x a n d r i a ; cada vez que
mais . É, pois, razoável que se exportasse óleo de Jeru-
212
seu i n t e n d e n t e recebia ordem, dali retirava as quantias p a r a
os pagamentos da administração das finanças reais. Muitas
203. Ver supra, p . 6 8 . vezes esses h o m e n s se estabeleciam t a m b é m como banquei-
204. Ver supra, p . 7 3 . ros na capital. Desde tempos remotos (Is 5,8; M q 2,1-5),
205. V e r supra, p . 56.
206. G u t h e , Griech.-rõm. Stadte, 40. o c a m p o n ê s , impelido pela necessidade, via-se obrigado a
207. Ver supra, p . 4 3 .
208. Ver supra, p . 57.
209. Ver supra, p . 5 8 . 213. S m i t h , I, 15 e 3 3 5 .
214. B. j . V 4, 4, § 178.
210. V e r supra, p . 15: oliveirais e p r e p a r a ç ã o das a z e i t o n a s n a s
cercanias de J e r u s a l é m . 215. Ant. X I X 7, 3, § 329.
211. B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 1 ; Vita 13, § 74s. 216. V e r supra, p . 4 8 .
212. Vita 13, § 7 5 ; B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 2 : 8 vezes m a i s caros. 217. Ant. X I I 4, l s s , § 160ss.
218. Ant. X I I 4, 4, § 175.
hipotecar suas terras e sua c o l h e i t a . Depositava o di-
219
tivos: e x p i a ç ã o d e n u m e r o s a s transgressões, r e p a r a ç ã o , a ç ã o
demos reconhecer tais pessoas como fortes n e g o c i a n t e s . 221
Atraía-o p a r a Jerusalém, favorecendo as transações comer- sua visita a Jerusalém, Marcos Agripa, genro de Augusto,
ciais. Por o u t r o lado dava saída às m e r c a d o r i a s : as pes- "sacrificou u m a h e c a t o m b e " . O n ú m e r o de sacrifícios
228
soas abastadas p o d i a m exceder-se no luxo de seus trajes, a u m e n t a v a sobretudo d u r a n t e as festas: " D e acordo com
adornos e t c , e era sobretudo o comércio c o m os países as prescrições da Lei, todos os dias e especialmente por
distantes q u e deveria satisfazê-lo. ocasião das assembléias e das festas, oferecem-se inúmeros
sacrifícios, cada u m p a r a si, p a r t i c u l a r m e n t e e p a r a todo
Imensa foi a q u a n t i d a d e de material d e v o r a d o p e l o o povo, de m o d o p ú b l i c o " . 22<)
q u e o n ú m e r o se elevava a milhares.
Era o T e m p l o , p o r t a n t o , o responsável pela impor-
tância do comércio de Jerusalém. Pela concentração d o te-
souro do T e m p l o ao qual cada j u d e u devia pagar anual- A. INFLUÊNCIA DO ESTRANGEIRO NA CIDADE 1
a. As viagens a Jerusalém
1. P a r a f o r m a r u m q u a d r o c o m p l e t o , m e n c i o n a m o s a q u i t o d a s as
pessoas q u e n ã o são h i e r o s o l i m i t a n a s ( i n c l u i n d o , p o i s , p o r e x e m p l o , gru-
pos estrangeiros).
232. B. j . V I 9, 3 , § 424. 2. Ta-an. I 3 .
u m a das festas, aproveitavam a ocasião p a r a levar à cida- b u r r o ; p o r isso lemos, n a p a s s a g e m c i t a d a , o d i t o irônico
d e santa as suas " t a x a s " (segundo o costume da é p o c a , l a n ç a d o por u m h o m e m q u e passava m o n t a d o n u m asno
incluímos neste termo o segundo dízimo que não era en- a Hillel q u e estava a p é . N u m j u m e n t o é que Jesus fez
tregue, p o r é m gasto de m o d o p a r t i c u l a r na p r ó p r i a Jerusa- sua e n t r a d a em Jerusalém (Mc 11,1-10. R a r a m e n t e utili-
l é m , onde deviam consumi-lo). zava-se de u m meio de locomoção p a r a ir a Jerusalém o u
Eis as " t a x a s " obrigatórias: o imposto da d i d r a c m a , de lá voltar; foi o caso do ministro das finanças da etíope
os bikkürim (primícias; em geral, cada u m a das vinte e Cândace (At 8,27-39). As viagens a pé constituíam uso ge-
q u a t r o seções as enviava a g r u p a d a s p a r a Jerusalém) e o 1
ral p a r a as peregrinações, conclui-se d e Hag I 1. A l é m do
segundo dízimo. Ant. X V I I I 9, 1, § 3 1 3 , m e n c i o n a " n u - mais, consideravam-nas como meritórias.
merosas m i r í a d e s " que a c o m p a n h a v a m os impostos em di- O s c a m i n h o s e r a m geralmente m a u s . O Sinédrio, en-
6
a massa sem ser, todavia, obrigatório; p o d i a m oferecê-lo Herodes esforçou-se por garantir sua segurança. Instalou
ao sacerdote l o c a l . De q u a l q u e r forma, cada israelita le-
4
em Batanéia o j u d e u babilónico Z a m a r i s ; era ele q u e pro-
v a v a consigo, p a r a Jerusalém, em p r o d u t o s ou e m di- tegia, contra os ataques dos ladrões de T r a c o n i t e s , as cara-
n h e i r o , seu segundo dízimo \ vanas d e festa q u e v i n h a m d a Babilônia . 1Z
n í o s , os fariseus, os cristãos e r a m recebidos pelos amigos. peregrinos era, pois, obrigado a erguer tendas em torno
O s habitantes de Cirene, de Alexandria, das províncias da cidade. (Passar a noite ao relento seria impraticável,
d a Cilicia e da Ásia desciam até Ofel p a r a a h o s p e d a r i a pelo menos no tempo de Páscoa, q u a n d o as m a d r u g a d a s
a n e x a d a à sua sinagoga . R. Weill aí encontrou u m a ins-
l4
e r a m a i n d a frias). Ant. X V I Í 9, 3 , § 2 1 7 o confirma e
crição; diz expressamente que naquele lugar foram insta- refere-se a peregrinos p a r a a Páscoa, a r m a n d o suas ten-
lados " q u a r t o s e feitas distribuições de águas, a fim de das; segundo o paralelo de B, /. II 1, 3 , § 12, faziam-no
servir de albergue àqueles que [vindos] do estrangeiro, na " p l a n í c i e " , expressão q u e designa, p r o v a v e l m e n t e , o
viessem a necessitar" . E m dias de festa, b e m mais difícil
15
c a m p o diante da atual Porta de D a m a s c o .
se tornava e n c o n t r a r alojamento. Poucos estrangeiros pos- A q u e l e , p o r é m , que participava da Páscoa, era obri-
suíam casa p r ó p r i a em Jerusalém. Por esse motivo, os prín- gado a passar a noite pascal (noite de 14 p a r a 15 nisân)
cipes herodianos estrangeiros, vindos p a r a as grandes fes- em Jerusalém. A cidade p r o p r i a m e n t e dita não podia con-
tas (Herodes A n t i p a s , tetrarca da Galileia e da Peréia [Lc ter o afluxo de peregrinos. Para facilitar a observância
2 3 , 7 ] ; Agripa I I ) , p r o v i d e n c i a r a m u m a m o r a d a perma- desta prescrição, estendera-se o distrito u r b a n o tão longe
nente no palácio dos m a c a b e u s , logo acima do Xisto; os que englobava até m e s m o Betfagé . 21
tra, última rainha do Egito que se suicidara em 30 a.C. p a r e c e m ligados à sinagoga citada em At 6,9 ("da sina-
Essa g u a r d a era composta de quatrocentos gauleses '\ Di- 2
goga c h a m a d a dos L i b e r t o s " ) . O s judeus de R o m a que
33
zem que Herodes o r d e n o u aos soldados gauleses que afo- v i n h a m em peregrinação p a r a as festas (At 2,10) aloja-
gassem seu c u n h a d o , Jonatas (somente aqui é c h a m a d o vam-se, sem dúvida, na h o s p e d a r i a contígua a essa sina-
por este n o m e ; Aristóbulo nas demais referências), em Je- goga. At 2 8 , 2 1 supõe relações regulares, através de cartas
ricó, d u r a n t e u m b a n h o . Na descrição do cortejo fúne-
29
e p o r contatos pessoais, entre os judeus de R o m a e a su-
bre de H e r o d e s , ao lado de trácios e gauleses, mencionam¬ p r e m a a u t o r i d a d e judaica, o Sinédrio.
-se, igualmente, os germanos, m e m b r o s de sua g u a r d a . ? 0
28. B. j . I 20, 3 § 397. Pode-se t r a t a r de gauleses ou de g á l a t a s . 31. Ani. X X 8, 1 1 , § 193ss; Vita 3, § 13ss e passim.
Mas, como o d e m o n s t r a o e m p r e g o desse t e r m o Galátai e m B. /'. II 16,
32. Fílon, Leg. ad Caium § 155.
4, § 364. 371 e V I I 4, 2, § 76 (cf. C. A p , I 12, § 6 7 ) , d e v e m o s n o s
33. V e r injra, p . 9 5 .
ater s o m e n t e ao s e n t i d o d e " g a u l ê s " .
34. Ant. X I V 8, 5, § 149ss; Ver supra, p . 5 3 .
29. B. j . I 22, 2, § 437.
35. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
50. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
36. B. /. I 2 6 , 1-4, § 513ss.
ceira viagem missionária de P a u l o é u m a p r o v a das rela-
méia, Laodicéia, A d r u m e t o e P é r g a m o , F l a c o s , p r o c ô n s u l
ções entre Jerusalém e a Grécia. D e volta de sua terceira
da Ásia em 62-61 a . C , m a n d a confiscar o dinheiro des-
viagem, e n c o n t r a m o s , a c o m p a n h a n d o - o p a r a o c a m i n h o d e
tinado a o T e m p l o . É o que nos conta Cícero . 37
tes países:
37. Pro Ftacco 2 8 .
1. A província da Ásia, Mencionam-se juntos, j u d e u s 58. Ant. X I V 7, 2, § 112.
da província da Ásia e outros helenistas pertencentes a 39. B. i. I 4 , 3 , § 8 8 .
u m a m e s m a sinagoga (At 6,9). Entre os mensageiros p a r a 40. T o s . Meg. I l l 6 (224, 2 6 ) ; j , Meg. I I I 1, 7 3 35 ( I V / I , 2 3 6 ) .
d
p o r T e o d o t o , filho de Veíenos, sacerdote e presidente da n a v a no início d e nossa era, chamava-se "o Babilônio";
sinagoga; u m a hospedaria e instalação de b a n h o s foram- conforme c o n t a m , ele foi a p é de Babilônia a Jerusalém
-íhe a n e x a d a s . O n o m e do pai, Vetenos e a m e n ç ã o da (ver supra, p . 8 6 ) .
hospedaria contígua à sinagoga levaram o Pe. V i n c e n t , 43
Cidade s a n t a . 43
para se informarem acerca do Rei do m u n d o (Mt 2,1-6),
d o m e s m o m o d o q u e uma e m b a i x a d a do povo p a r t o vai
f. Mesopotâmia em 66 d . C , até junto de N e r o , a fim de lhe t e s t e m u n h a r
honras divinas. E r a m igualmente b a b i l ô n i o s , sem d ú v i d a
Desde a deportação dos judeus pelos assírios (722 pagãos e n ã o fiéis zelosos q u e , com gritos de mofa, ar-
a.C.) e os babilônios (597 a 5 8 7 a.C.) havia u m a n u m e - r a n c a v a m pêlos do b o d e expiatório, no D i a das expiações
rosa c o m u n i d a d e judaica na Mesopotâmia; sabemo-lo atra- e n q u a n t o o c o n d u z i a m ao local do sacrifício . Posterior-
52
de origem do T a l m u d e de Babilônia.
Estamos informados de que peregrinos da Mesopotâ-
Intenso intercâmbio reinava, p o r t a n t o , entre Jerusa-
mia, encaminhando-se p a r a as festas, reuniam-se aos mi-
lém e a Mesopotâmia. Anauel, juiz b a b i l ô n i o , foi sumo sa-
lhares em N e a r d a e Ntsíbe; levavam consigo p a r a o Tem-
cerdote em 37-36 a . C , e depois, a partir de 3 4 , pela se-
p l o , as q u a n t i a s oferecidas pela c o m u n i d a d e judaica m e -
gunda vez . Para I I I 5 fala de u m H a n a m e e l , s u m o sa-
47
I I I 1, 7 3 32 ( I V / l , 2 3 6 ) ; isso t o r n a p r o v á v e l o fato de q u e o n o m e
d reza ritual, n ã o e r a m e n t r e t a n t o aceitos dons de primícia
d a sinagoga v a r i a v a . Assim p o d e r í a m o s e x p l i c a r i g u a l m e n t e a e n u m e - (animais ou frutos) provenientes de B a b i l ô n i a . 57
r a ç ã o p a r t i c u l a r de At 6,9.
42. T e x t o em CU I I , n . 1404. 4 9 . Men. X I 7.
4 3 . L. H . V í n c e n t , Découverte de la "Synagogue des Affranchis" 50. B. j . 11 19, 2, § 520; I I I 2, 1-2, § 11.19.
à Jerusalém, em RB 30 ( 1 9 2 1 ) , 127-277. 5 1 . 'Ed. V 6.
44. V e r supra, p . 9 3 . 52. Yoma V I 4.
45. B. j . I 25, 1-6, § 499ss; cf. I 2 3 , 4, § 456; 26, 4, § 530; 2 7 , 2, 53. Naz. V 5.
§ 538. 54. Ant. X V I I I 9 , 1, § 310-313, v e r s u p r a , p . 8 6 ; cf. Ta'an. I 3,
46. Ant. X I 5, 2, § 131ss; X V 2, 2, § 14; 3, 1, § 39; Fílon, Leg. v e r supra, p . 87, Ned. V 4-5.
ad Caium, 282. 55. Ant. X V I I 2, 2, § 26.
47. Ant. X V 2, 4, § 22; 3, 1, § 39, 3 , 3 , § 5 6 .
48. V e r infra, p. 100. 56. Sheq. I I 4 ; Ant. XV11I 9, 1, § 312s.
57. Halla ÍV II.
4 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
deus . Com efeito, existia entre a Síria e a Palestina forte
65
O rei de A d i a b e n a d e p e n d i a do rei dos p a r t o s . A fa- também relações ativas, sobretudo com A n t i o q u i a , capital
mília real achegara-se ao judaísmo e reatara relações com da Síria . U m prosélito d a q u e l a cidade foi m e m b r o da
1,1
m e m b r o s da família real de A d i a b e n a , e n c o n t r a m o s em
Jerusalém, G r a p t é que ali possuía u m p a l á c i o ; tam-
6 0 bls
tra os r o m a n o s em 66 e 70 d.C. As lutas c o n t r a Cestius Relações políticas u n i a m aos árabes os reis judaicos
Gallus em 6 6 , nas quais t o m a r a m p a r t e os príncipes de do século I a.C. C o m freqüência o rei dos árabes prestava
A d i a b e n a , citados em B. j . I I , 19, 2, § 5 2 0 , t i v e r a m iní- a sua colaboração, enviando tropas e auxílios particula-
cio na época da festa da Páscoa; é, p o r t a n t o , p a r a se su- res . Na corte de H e r o d e s encontramos u m guarda-costas
72
presentava i m p o r t a n t e papel no m o v i m e n t o dos estrangei- pureza legal, não era, e n t r e t a n t o , aceita. Esses fatos mos-
ros em Jerusalém. O s egípcios q u e m o r a v a m nessa cidade tram-nos q u e o culto não se c o n c e n t r a v a de m o d o algum
e r a m , c o m outros helenistas, incorporados a u m a m e s m a no templo de Onias p a r a todos os j u d e u s e g í p c i o s \ In- 8
sinagoga (At 6,9). Por causa deles, é por vezes c h a m a d a formações particulares relativas a esse t e m p l o conferem¬
"sinagoga dos a l e x a n d r i n o s " . Herodes investiu no sumo
76
-lhe a m e s m a imagem. J o s e f o observa q u e , a começar pe-
85
sacerdócio a Simão, filho de u m judeu egípcio, o alexan- las suas dimensões, o templo era p e q u e n o e p o b r e com-
drino Boetos, a fim de p o d e r desposar sua filha M a r i a n a . p a r a d o c o m o de Jerusalém. Men. X I I I descreve as ordens
Depois, s e t e outros m e m b r o s dessa família tornaram-se
77
dos doutores da Cidade santa, concernentes aos sacrifícios
igualmente sumos sacerdotes. Segundo Para I I I 5 , u m de- e aos sacerdotes daquele templo de Leontópolis. Segundo
les, A n a u e l , originário de Babilônia (ver supra, p . 96)
7 8
suas recomendações, os sacerdotes que oficiavam lá não
era e g í p c i o . U m escriba hierosolimitano, H a n n a b e n
79
p o d i a m exercer seu ministério no T e m p l o de Jerusalém.
Abishalom, m e m b r o de u m tribunal de Jerusalém , t i n h a 80
bilônios — c o m o o fato de t e r e m d a d o u m s u m o s a c e r d o t e — i m p u t a -
r e essa d i g n i d a d e a u m egípcio (Para I I I 5 ) . O s c o m e n t á r i o s a res- milagre messiânico, tornar-se senhor da C i d a d e s a n t a . 87
E m r e s u m o : os estrangeiros v i n h a m a Jerusalém d e
dica o tráfico existente com o Egito. Sob A l e x a n d r e Ja-
quase todo o m u n d o então c o n h e c i d o , a t r a í d o s , antes de
n e u (103-76 a . C ) , R. Yoshna b e n Perahia foge de Jeru-
t u d o , por motivos religiosos; em segundo lugar por razões
salém p a r a a Alexandria com u m aluno c h a m a d o J e s u s . 90
k. Cirene
3 . M o v i m e n t o de estrangeiros
Foi e n c o n t r a d o o t ú m u l o de u m a família judaica de provenientes de regiões próximas
Cirene, no vale do C é d r o n , Simão, aquele a q u e m os
91
soldados r o m a n o s obrigaram a levar a cruz de Jesus ao Desde s e m p r e , a circulação interna da Palestina re-
Gólgota era dessa localidade. O s cireneus que m o r a v a m
92
sinagoga. Parte desse povo passou p a r a o cristianismo; forçava os habitantes da Palestina meridional, a v i r e m a
unidos aos cristãos de Chipre, esses cristãos de Cirene ou- Jerusalém. D e toda a Palestina a Judéia era a q u e mais
saram, em A n t i o q u i a , pregar o evangelho até mesmo a ligada estava a Jerusalém. O país fora dividido pelos ro-
não-judeus (At 11,20). m a n o s em onze t o p a r q u í a s judaicas com b a s e , sem dú-
95
t a m b é m c o n f i r m a a c r o n o l o g i a do T a l m u d e .
93. B. }. V I 2, 2, § 114.
9 1 . N . A v i g a d , " A d e p o s i t o r y of I n s c r i b e d O s s u a r i e s in t h e K i d r o n
94. Ver supra, 77s.
V a l l e y " em Israel Exploration Journal 12 (1962) 1-12.
95. B. ]. I l l 3, 5, § 54.
92. Mc 15,21; M t 27,32; Lc 23,26.
96. Ver mira. 374.
tas. O u v i m o s dizer q u e u m a c i d a d e inteira d a importân-
sentava o p a p e l de tribunal s u p r e m o ; nos casos duvidosos, cia e t a m a n h o de Lida , t o m a v a p a r t e na festa das Ten-
l0í
vir praticar seu culto no santuário, aos sábados. As teste- comércio, faziam as outras regiões da Palestina p a r t i c i p a r
m u n h a s q u e iam a n u n c i a r a lua nova à comissão compe- do m o v i m e n t o rumo a Jerusalém. Excetuavam-se somente
tente, composta de sacerdotes, eram n a t u r a l m e n t e da ci- os s a m a r i t a n o s cujo culto se c o n c e n t r a v a no G a r i z i m (Jo
d a d e , ou pelo m e n o s , de muito perto . A maioria dos sa-9S
em Jerusalém. Ali residiam, por exemplo, os sumos sacer- de Filipe (66 d . C ; nessa data já deveria estar divorciada
dotes, o sacerdote S a d o c J o s e f o °. Já o sacerdote Za-
10
vinte e q u a t r o seções, alternando-se no serviço do santuá- m o v i m e n t o messiânico tinha como fito alcançar Jerusalém.
rio; a que estava em exercício m a n d a v a p a r a o T e m p l o A sede principal das correntes anti-romanas e das idéias
seus sacerdotes e levitas, com alguns r e p r e s e n t a n t e s do messiânicas era a Galileia. É difícil acreditar q u e a ati-
povo . 102 tude de Pilatos no s a n t u á r i o , contra os peregrinos vindos
da Galileia p a r a a Páscoa (Lc 1 3 , 1 ) , não tivesse motivo
A província da Judéia, graças, a distâncias m e n o r e s , c o n c r e t o . Foi n a Galileia q u e se desenvolveu o p a r t i d o
tinha a possibilidade de se fazer representar em n ú m e r o dos zelotas; com o t e m p o , teve nas m ã o s a sorte do povo
mais considerável nas peregrinações por ocasião das fes- inteiro. J u d a s , cuja revolta c o n t r a os r o m a n o s (6-7 d.C.)
d e u o i m p u l s o decisivo à f o r m a ç ã o d o m o v i m e n t o zelota,
97. Pea II 6.
98. R. H. I 7.
99. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1. 16 ( 3 5 2 2 ) , o n d e ele é c h a m a d o
a
103. E r a a sede d e u m a t o p a r q u í a (B. /. I I I 3 , 5, § 5 5 ) .
kôhen gadôl, chefe dos s a c e r d o t e s . ( S o b r e o s u m o s a c e r d o t e e chefe 104. B. /". I I 19, I, íj 515s: e m 66 d . C .
dos s a c e r d o t e s v e r infra, p p . 243-248). 105. V e r supra, p . 6 1 .
100. Vita 2, § 7. 106. B. h I I 15, 1, § 3 1 3 .
101. Comm. in Mt 2, 4s, X V I 17 (GCS 40, 5 3 1 s ) . 107. B. /. I I 3 , (, § 4 3 .
102. Ta'an. I V 2; Bik. I I I 2; Para I I I 11.
era originário da Galileia; seu p a i Ezequias já chefiava m a v a m p a r t e ativa ou passiva n o s jogos esportivos pessoas
u m m o v i m e n t o partidarista q u e n a Galileia lutou c o n t r a vindas de fora, muitos intelectuais e outros de formação
H e r o d e s . E m 6 6 , M e n a é m , filho de Judas, foi u m d o s helenística e r a m hóspedes da corte d e H e r o d e s . Acrescen-
principais chefes d a revolta contra os r o m a n o s . As p e -m
m u n d o inteiro e n v i a v a m suas ofertas à c o m u n i d a d e de Je- "israelita" tem por perífrase " a q u e l e que vai a J e r u s a l é m " .
rusalém. A prática corresponderia à teoria? E m Lc 2 , 4 1 , le-
mos q u e os pais de Jesus " s u b i r a m a Jerusalém p a r a a
A expectativa religiosa prendia-se a Jerusalém; p o r
festa de Páscoa, segundo o c o s t u m e " . Podemos, p o r t a n t o ,
isso, todos os movimentos messiânicos, m u i t o numerosos
concluir: 1. os pobres — segundo Lc 2 , 2 4 , os pais de Je-
n a época, voltavam-se p a r a ela. M u i t a gente ali se estabe-
sus servem-se do privilégio dos pobres d e apenas oferecer
lecia, a fim de m o r r e r naquele local santo e ser e n t e r r a d o
dois p o m b o s — ou aqueles q u e , m o r a n d o muito distante,
lá onde se realizarão a ressurreição e o juízo final.
se p e r m i t i a m fazer, d u r a n t e cada ano somente a viagem
Acima de t u d o , p o r é m , havia o T e m p l o . Jerusalém pascal; 2. as mulheres t o m a v a m parte nas viagens p a r a as
era a pátria do culto judaico, lugar da presença divina n a festas, se b e m que n ã o fossem obrigadas " . Lemos em Lc 3
terra. Ali v i n h a m p a r a rezar, pois, as orações c h e g a v a m 2 , 4 2 : " Q u a n d o Jesus completou doze a n o s " , seus pais le-
mais diretamente aos ouvidos do Senhor. N o T e m p l o , o
nazir, após o c u m p r i m e n t o de seu voto, e o não-judeu
¡ 1 3 . ÍCer. I I 1; b . Ker. 81'
desejoso de se tornar prosélito integrado, v i n h a m oferecer 114. Uag. I 1.
115. íbid.
trangeiros vindos para o culto d i v i n o " . E m todos esses
varam-no com eles, a Jerusalém, por ocasião d a Páscoa. casos, trata-se d e u m a p a r t i c i p a ç ã o livre.
P o d e m o s , pois, supor: 3 . q u e era costume, p a r a os de fora, É essa, p o r t a n t o , a síntese das prescrições e das nar-
trazer os filhos q u a n d o já tivessem completado seu 12" rativas com seus casos p a r t i c u l a r e s : t o d o israelita e todo
a n o . O sacerdote Josefo levava consigo seus filhos m e n o - prosélito i n t e g r a d o d e sexo m a s c u l i n o , e m condições de
res e as pessoas de sua casa p a r a a segunda Páscoa (em viajar, era obrigado a tomar p a r t e nas peregrinações anuais
certos casos de i m p e d i m e n t o , p o d i a m celebrar a Páscoa p a r a as festas; e n t r e t a n t o , algumas concessões foram in-
u m mês depois ) . Mas impediram-no, a fim de não criar
116
deveria atingi-las a partir do ano seguinte. cluir q u e a p o p u l a ç ã o da cidade era considerável. Entre-
D a diáspora chegavam t a m b é m peregrinos p a r a as tanto, segundo Vita 6 5 , § 3 5 4 , somente dois mil h o m e n s
festas; além de Josefo e informações acima citadas, p p . de Tiberíades achavam-se em Jerusalém entre os sediados,
9 2 , temos o t e s t e m u n h o de Fílon: " C o m efeito, miríades isto é, entre os que celebravam a Páscoa do ano 7 0 .
121
Era esse t a m b é m o caso do ministro das finanças da etíope 22), Agripa (mais exatamente, Agripa II, ver n. 2) mandou
Cândace. E m B. j . VI 9, 3 , § 4 2 7 , Josefo m e n c i o n a "es- deixar de lado um rim de cada vítima pascal. Eis o resultado
quanto ao número das vítimas pascais: " O dobro do número
116. Pes. I X .
117. Halla I V 11. 120. B. j . II 2 1 , 9, § 6 4 1 .
118. Fílon, De spec. leg. I 12, § 69.
119. Cf. G l 5,3; P a u l o r e p r o d u z a p r e s c r i ç ã o judaica. 121. B. j . V I , 9, 3, § 4 2 1 .
daqueles que saíram do Egito (600.000 segundo Ex 12,37), os judeus se dividiam em 3 grupos para imolar as vítimas: "O
sem contar as pessoas impuras e aquelas que estavam ausen- primeiro grupo entrou e encheu o adro; as portas foram fe-
tes, em viagens; e nenhum cordeiro pascal era dividido por chadas e a trombeta soou d e m o r a d a m e n t e . . . " ; V 7: "Saído
menos de 10 pessoas" (segundo Lam, R. o número daque-
122
o primeiro grupo, entrou o segundo; à saída do segundo, o
les que comiam uma vítima podia variar de 10 a 100). Temos, terceiro e n t r o u . . . " esse último, não é, entretanto, tão nume-
por conseguinte: 6 0 0 . 0 0 0 X 2 X 10 — 12 milhões de pe- roso quanto os dois precedentes.
regrinos para a Páscoa. Sabemos que no tempo de Jesus, as vítimas eram imola-
2. Narra-nos Josefo que, por ocasião de uma Páscoa
123
das no Templo e não em casa. Já sc evidencia pelo fato de
entre 63 e 66 d.C. contaram-se as vítimas; chegou-se a 2 5 5 . 6 0 0 ser o cordeiro pascal uma vítima; seu sangue devia ser utili-
(variante: 256.500) vítimas e a 2 . 7 0 0 . 0 0 0 pessoas celebrando zado ritualmente (derramado sobre o altar, 2Cr 35,11) . 121
mortos 1.100.000 ( 5 . / . VI 9, 3, § 420) lativa aos sacrifícios de menor santidade , exigem que a imo-
m
prisioneiros 9 7 . 0 0 0 (B.). VI 9, 3, § 420) lação se realize no Templo. É o que os relatos igualmente mos-
fugiram para a ravina tram sobre a maneira de contar os ossos ou os rins dos cor-
arborizada de Jarde 3-000 (B. j . VII 6, 5, § 210ss) deiros da Páscoa; só se poderia fazer este cômputo se a imo-
lação fosse executada unicamente no Templo. É, finalmente,
Total 1 . 2 0 0 . 0 0 0 participantes da Páscoa o que atestam todos os textos segundo os quais a imolação
deveria ser feita por leigos, como nos diz Fílon . Concorda ü 0
122. b . Pes. 64 .
b 127. Cf. H . L . Strack, P*sahim, Leipzig, 1911, 6 ' .
123. B. j . V I 9, 3 , § 422ss. 128. Cf. lubileus X U X 19$.
124. B. /'. II 14, 3, § 280. 129. Zeb. V 8.
125. Hist. V 13. 130. De v/ta Mosis II [ I I I ] , § 2 2 4 ; De decálogo. § 159; De spec.
126. B. j . V 13, 7, § 569.
leg. I I , § 145.
A Mishna fala de 10 degraus de santidade; foram construí-
131 O ÁTRIO INTERIOR
dos em círculos concêntricos em torno do Santo dos santos: (Círculos VI-X) segundo os dados da Mishna e de Josefo.
I. O país de Israel. Esboço do autor.
II. A cidade de Jerusalém.
O
III. A montanha do Templo.
IV. O bel, terraço com uma balaustrada que o separava
do resto da esplanada do Templo; essa balaustrada
demarcava o limite que os pagãos não podiam ul-
trapassar (ver supra, p. 36).
V. O átrio das mulheres.
VI. O átrio dos israelitas.
VII. O átrio dos sacerdotes.
VIII. O espaço entre o altar dos holocaustos e o edifício
do Templo.
IX. O edifício do Templo.
X. O Santo dos santos.
Conforme essa divisão, o adro interior em questão com-
preende os círculos de santidade VI e VII: átrio dos israeli-
tas e átrio dos sacerdotes. Sem dúvida, os círculos VIII, IX e
X fazem igualmente parte do adro interior, mas em caso al-
gum os leigos podiam aí penetrar. Em compensação, o espaço
situado atrás de cada lado do edifício do Templo não pertencia
ao domínio fechado, em princípio, para os leigos . l32
lheres; é o círculo IV (ver supra, p . 115). Um grupo poderia, onde podiam se agrupar, segundo Pes. V 10, todos aqueles
pois, manter-se no IV. Qual era a sua superfície? que teriam ocupado antes o átrio interior para imolar seus ani-
mais pascais . 135
133. Mid. II 3; B. j . V 5, 2, § 197. Quantos homens podiam ocupar esse espaço? Mantinham-
134. O a d r o interior n ã o era d i r e t a m e n t e c o n t í g u o ao t e r r a ç o ; -se bem rentes um ao outro. Entre os dez milagres que se rea-
h a v i a e n t r e os dois, as alas de edifícios. Josefo e a M i s h n a r e s s a l t a m
essa m i n ú c i a . Mid. I 1 c h a m a de edifícios as p o r t a s q u e l e v a m d o
a d r o interior ao bêl (Mid. I 5 ) . Isso é c o n f i r m a d o pela d e s c r i ç ã o m a i s Esses d a d o s n ã o d e i x a m m a r g e m a d ú v i d a s : havia alas q u e liga-
d e t a l h a d a d o s edifícios d a s p o r t a s , e s p e c i a l m e n t e a q u e l e c h a m a d o " n i - v a m os edifícios das p o r t a s . C i r c u n d a v a m a á r e a sagrada ao n o r t e ,
c h o d a l a r e i r a " (I 6-9) e o u t r o q u e t e m o s de identificar com u m a d a s a leste e ao sul. A largura seria de 40 c ô v a d o s , c o r r e s p o n d e n d o às
p o r t a s i n d i c a d a s em I I 7. Esses "edifícios das p o r t a s " t i n h a m u m a salas d o átrio das m u l h e r e s .
ê x e d r a , p ó r t i c o circular c o m assentos e, e m cima, u m q u a r t o (Mid. E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o dos israelitas n ã o existia, ao q u e
p a r e c e , n e n h u m a c o n s t r u ç ã o . É o q u e Mid, II 7 d e i x a entender quan-
1 5, B. j . V 5, 3, § 2 0 3 ) ; essa ê x e d r a m e d i a 30 c ô v a d o s d e l a r g u r a
d o se refere às salas a b a i x o d o átrio dos israelitas, a b e r t a s d o lado
(B. j . ibid.). M a s , e n t r e o bêl e o a d r o interior n ã o h a v i a a p e n a s os
d o átrio d a s m u l h e r e s .
edifícios das p o r t a s , p o r q u e as alas os l i g a v a m e n t r e si. N a s alas n o r t e
e sul d o a d r o interior achavam-se, s e g u n d o B. j . V 5 2, § 200, as salas 135. É possível q u e o s e g u n d o g r u p o t e n h a p o d i d o , a l e m d o ter-
d o t e s o u r o ; s e g u n d o Mid. V 3-4, seis salas t i n h a m f u n ç ã o c u l t u a ] ou r a ç o , d i s p o r das escadas desse t e r r a ç o . S e g u n d o Josefo (B. ]. V 5, 2,
q u a l q u e r o u t r o d e s t i n o a n á l o g o . E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o bêl, § 195, 198) e n t r e o átrio dos gentios ( l i m i t a d o p o r u m a b a l a u s t r a d a
h a v i a t a m b é m edifícios d e p o r t a s e o u t r a s c o n s t r u ç õ e s . D e m o d o par- de p e d r a ) c o t e r r a ç o , h a v i a 14 d e g r a u s , e 5 c n l r e o t e r r a ç o e os átrios
t i c u l a r , fala-se d e 4 salas, d e 40 c ô v a d o s q u a d r a d o s n o s 4 c a n t o s d o c e n t r a i s . Mid. i l 3 m e n c i o n a a p e n a s 12 d e g r a u s d e 0,5 c ô v a d o s d c
á t r i o das m u l h e r e s (Mid. 11 5 ) . N á o se deve p r o c u r a r essas salas n o a l t u r a ; a l a r g u r a não é i n d i c a d a . Se fizermos o c á l c u l o dessas esca-
p r ó p r i o átrio das m u l h e r e s ; com efeito, a p o r t a de N í e a u o r , os 15 d e - d a s , t e r e m o s , s e g u n d o Josefo, u m a superfície de a p r o x i m a d a m e n t e
g r a u s e m semicírculo d a escada q u e p a r a lá c o n d u z i a m e as salas in- 6 . 6 0 0 m . Esses cálculos elevados p o d e r i a m i g u a l m e n t e c o n f i r m a r os
2
dução tanaíta que indica uma época anterior a 200 d . C ] : ja- de 125-000 peregrinos para a Páscoa. Devemos, talvez, dimi-
mais qualquer pessoa ficou esmagada no adro do Templo, sal- nuir ou aumentar esse número em pouco mais da metade.
vo numa Páscoa, no tempo de Hilel, durante a qual um velho O m o v i m e n t o dos estrangeiros era tão considerável
foi pisado. Por esse motivo chamaram-na 'Páscoa dos esma- em Jerusalém q u e , d u r a n t e as festas, seu n ú m e r o superava
gados' ". Josefo refere-se também a essa falta de lugar: Por
largamente o dos h a b i t a n t e s . Esse fator é que conferia
ocasião de uma Páscoa, entre 4 8 a 52 d.C. — o 4 ' dia da 1
festa e não no próprio dia do sacrifício durante um pânico maior importância à vida econômica da cidade.
ocorrido, 3 0 . 0 0 0 homens ficaram esmagados . 137
Lancemos u m olhar retrospectivo. A pesquisa levou¬
Visto a estreiteza do lugar, podemos contar dois homens -nos a u m a cidade na m o n t a n h a , p o b r e em água; seus ar-
por metro quadrado, cada um com uma vítima, raramente rabaldes c o m precária p r o d u ç ã o de matérias-primas p a r a
d u a s . Seriam, então, 6-400 homens. Por conseguinte, havia
138
as profissões; sua situação desfavorável ao comércio e à
mais ou menos 6 . 4 0 0 vítimas em cada grupo. As informações circulação. E no e n t a n t o , essa cidade c o n t é m , dentro de
de Josefo a respeito da Páscoa do ano 4 a.C. a elas corres- seus m u r o s , profissões prósperas e estabeleceu u m comér-
pondem: durante os sacrifícios, 3.000 homens foram mortos cio q u e se estende p a r a m u i t o longe. Conta, sobretudo,
pelos soldados de Arquelau ; os outros conseguiram fugir.
m
como exemplos, mesas comuns de 5, 10 e 12 pessoas. Se a Para tentar calcular o n ú m e r o d e peregrinos vindos
última ceia de Tesus foi uma refeição pascal, nela tomaram p a r a a Páscoa, os escritores da antigüidade, visto o seu
parte Jesus e os doze apóstolos, isto é, treze pessoas. Josefo , l4í
exagero, n ã o nos fornecem ajuda m a i o r : só contamos, por-
o Talmude e o Midraxe
144
concordam quando supõem uma
145
142. Pes. V I I I 7.
143. B. } . V I 9. 3, § 4 2 3 .
144. b . Pes. 6 4 \ 146. P a r a c a l c u l a r a p o p u l a ç ã o d e J e r u s a l é m , os escritores d a an-
145. Iam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 9 2 ) . a t i g ü i d a d e i ã o falhos ( P s c u d o - H e c a t e u [em C. Ap. I 22, § 1 9 7 ] , q u a n -
Hoje, eu fixaria esses n ú m e r o s ainda mais p a r a b a i x o .
Q u a n t o ao cálculo (pp. 116-121) d o espaço disponível
Para começar, no q u e diz respeito à p o p u l a ç ã o de Jerusa-
p a r a as pessoas q u e v i n h a m oferecer seu sacrifício, consi-
lém , remeto os leitores a meu artigo Die
14S
Einwohnerzahl
deramo-lo certo. Hoje, eu faria apenas u m a p e r g u n t a : de-
Jerusalém zur Zeit Jesu . Nesse estudo, p a r t o , c o m o
14y
4 •'' 4 ••"
q ü e n t a a n o s , a d e n s i d a d e d a p o p u l a ç ã o , n a c i d a d e e a r r e d o r e s era, a p r o -
x i m a d a m e n t e , dc 1 h a b i t a n t e p o r 30 m . A antiga c i d a d e limitava-se
2
ao interior dos m u r o s ; n ã o i n c o r r e m o s , p o r t a n t o , em e r r o , s u p o n d o
u m a dcníjidadc um p o u c o m a i o r : l h a b i t a n t e p o r 25 m . D a m o s , en- 2
tão, p a t a a ferusalém a n t i g a , u m a p o p u l a ç ã o dc a p r o x i m a d a m e n t e
5 5 . 0 0 0 ou 95.0Ü0 h a b i t a n t e s . O n ú m e r o inferior é mais s e g u r o (ver,
e n t r e t a n t o , a b a i x o , p . 119).
147. Supra, p. 118.
148. ibid.
149. E m Z D P V 66 (1943), 24-51 (reimpress-o em 1. J e r e m i a s . Ahba.
Studicn zur neulestamenUichen Theülogie und Zeitgeschicfite, Gõlt in-
geri, 1966, 335 541.
SEGUNDA PARTE
A SITUAÇÃO SOCIAL
A. RICOS E POBRES
Cap. 1 - Os ricos
Cap. II - A cîasse média
C a p . I I I - O s pobres
C a p . IV - Fatores determinantes para o desenvolvimento
das condições econômicas dos h a b i t a n t e s de
Jerusalém
CAPÍTULO I
OS RICOS
A. A CORTE
tos da g u a r d a do c o r p o . H e r o d e s vivia, c o m r a z ã o , n u m
p e r p é t u o receio dos próprios súditos e, por isso, m a n t i n h a
forte segurança p e s s o a l . Certa vez, m a n d o u quinhentos
5
1. V e r supra, p . 19.
2 . Ant. X V 8, 1 § 268.
3. 6 4 1 d.C.; 44-66 d.C.
4. P a r a e s b o ç a r o q u a d r o q u e s e g u e , b a s e a m o - n o s n a situação d a
c o r t e d e H e r o d e s , o G r a n d e , p o r ser a q u e m a i s c o n h e c e m o s .
5. Doruphóroi, somatophúlakes. Deve-se distinguir esses ú l t i m o s
dos oficiais d a c â m a r a real q u e t r a z e m o m e s m o título.
6. Ant. X V 9, 3, § 317.
7. Ant. X V I 7, 1, § 182; X V I I 7, 1, § 187; v e r a n o t a seguinte.
8. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
soai d e Cleópatra, r a i n h a do Egito; só esses já se eleva- h á b i t o das cortes helenísticas segundo o q u a l os filhos dos
v a m a quatrocentos h o m e n s . 9 maiorais são educados com os p r í n c i p e s . At 1 3 , 1 , m e n c i o n a ,
O s p o r t e i r o s i n d a g a m o que desejamos. Fazem p a r t e
10 na pessoa d e M a n a é n , u m súntrofos do príncipe H e r o d e s
do serviço doméstico q u e c o m p r e e n d e q u i n h e n t a s pessoas ; 11 A n t i p a s , e d u c a d o na corte d e Jerusalém. O " g u a r d a d o
a maioria se compõe de escravos, em p a r t e , t a m b é m , de c o r p o " , Corinto, conduz-nos agora aos aposentos reais. É cha-
l i b e r t o s ' . Entre esses domésticos, alguns e u n u c o s . A q u e -
2 13 m a d o somatojúlax, mas dois fatos nos i m p e d e m d e contá¬
les q u e Herodes enviou a A r q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a , -lo e n t r e os guardas do c o r p o : tratava-se d e u m dos fun-
eram escravos; os três oficiais da c â m a r a real citados mais cionários da corte mais íntimos de H e r o d e s 24
e sobretudo
a b a i x o , pertenciam, sem dúvida, ao grupo dos libertos.
14 ele era u m súntrofos de H e r o d e s (devemos l e m b r a r aqui
25
D o serviço doméstico fazem parte ainda os copeiros reais, que Corinto tinha origem á r a b e , assim c o m o a m ã e dc
sob as ordens do mestre da copa e, sem dúvida t a m b é m ,
15 H e r o d e s , K y p r o s ) . D e preferência precisamos considerar
os barbeiros da corte e médicos p e s s o a i s . Da época do
16 l7 esse título de somatofúlax c o m o u m título n a h i e r a r q u i a da
rei A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , o T a l m u d e confirma a corte, c o r r e s p o n d e n d o , talvez, ao de oficial d a c â m a r a real
existência do t r a n ç a d o r de coroas reais . H a v i a a i n d a os
ls q u e t a m b é m e n c o n t r a m o s nas cortes helenísticas . O t t o 26 27
carrascos que t i n h a m tão dolorosas incumbências, especial- foi q u e m , em primeiro lugar, c h a m o u a atenção sobre este
mente nos últimos anos de H e r o d e s . 19 p o n t o ; observou q u e dois outros " g u a r d a s do c o r p o " , [u-
cundus e T i r a n o 2 8
são c h a m a d o s , em p a s s a g e m paralela
D e n t r o do próprio palácio encontramos funcionários d a Guerra judaica, c o m a n d a n t e s da cavalaria . Três ou- 2y
da corte. H á o secretário do rei, em cujas m ã o s passa toda tros oficiais da c â m a r a real de H e r o d e s , seu escanção,
a correspondência . É o tesoureiro Josefo q u e dirige os
20
Seus filhos são súntrofoi dos príncipes A l e x a n d r e e Aris- q u e o c u p a v a o m e s m o p o s t o n a corte de Jerusalém sob
tóbulo; e n c o n t r a m o s , com efeito, na corte de H e r o d e s , u m Agripa l. serviu de m e d i a d o r , talvez e m 44 d . C , na con-
clusão do t r a t a d o de paz entre seu senhor e as cidades d e
9. B. /'. I 20, 3, § 397. T i r o e Sidónia (At 1 2 , 2 0 ) .
10. Ant. X V I I 5, 2, § 90.
11. Ani. X V I I 8, 3, § 199; B. j . I 3 3 , 9, § 673.
Nos a p a r t a m e n t o s reais e n c o n t r a m o s , em torno do so-
12. B. h I, 3 3 , 9, § 673.
13. B. j . I 25, 6, § 5 1 1 , v e r t a m b é m Ant. X V I I 2, 4, § 44. b e r a n o , algumas pessoas íntimas, " p r i m o s e a m i g o s " . De
14. Infra, p . 129. m o d o algum o termo " p r i m o " designa u n i c a m e n t e o grau
15. Ant. X V I 10, 3, § 316.
16. B. j . I 27, 5-6, § 547ss (no p l u r a l ) ; cf. Ant. X V I 11, 6-7, §
d e p a r e n t e s c o . Esses " p r i m o s e a m i g o s " são os primeiros
387ss.
37. Ant. X V 7, 7, § 246; X V I I 6, 5, § 172; B. j . I 3 3 , 5, § 657. 24. Ant. X V I I 3. 2, § 55$.
18. b . B, B. 1 3 3 •— E m a l g u m a s m o e d a s , os i m p e r a d o r e s r o m a -
b
25. B. j . 1 2 9 , 3, § 576.
n o s u s a m coroa. P o r z o m b a r i a , os soldados r o m a n o s c o l o c a m s o b r e a 26. O t t o , Herodes, col. 87 n.
c a b e ç a de Jesus u m a c o r o a real t r a n ç a d a de e s p i n h o s ( M c 15,17; Mt 27. O. c. col. 86-87, e 87 n.
27,29; Jo 19,2.5). 28. Ant. X V I 10, 3, § 314.
19. B. j . I 30, 5, § 592; 32, 3 , § 635 e passim. 29. B. j . 1 2 6 , 3 . § 527.
2 0 . Ant. X V I 10, 4 , § 3 1 9 ; B. j . I 2 6 , 3 , § 5 2 9 .
2 1 . Ant. X V 6, 5, § 185. 30. Ant. X V I 8, !, § 230; B. j . I 24, 7, § 4 8 8 , cf. Ant. X V 7, 4,
22. b . B. B. 1 3 3 .b
§ 226.
23. Ant. X V I 8, 3-4, § 242ss. 3 1 . Ant. X V I 8, 1, § 230.
5 - Jerusalém no tempo de J e s u s
colocados n a h i e r a r q u i a da corte, segundo o m o d e l o de tos 4 8
de Cós, M e l a s , e n v i a d o do rei da Capadócia. Na
49
masco, h o m e m sábio e culto, filósofo e historiador da cor- cede-lhe dezoito mulheres n o m á x i m o ' ; o T a l m u d e men-
5
ler 3 6
e o reitor grego I r e n e u . De muitos outros "ami-
37
N ã o é, pois, de a d m i r a r q u e o u ç a m o s f a l a r , de passa- 53
g o s " de Herodes conhecemos apenas os nomes. É talvez gem, das concubinas do rei A l e x a n d r e J a n e u (103-76 a . C ) .
na corte que devamos p r o c u r a r o c o m a n d a n t e das tropas Q u a n d o A n t í g o n o , último rei asmoneu quis, em 40 a . C ,
sob H e r o d e s , Arquelau
3S
e Agripa í , e n q u a n t o é cer-
39 4 0
é p o c a , do q u a r t o d o s i m p o s t o s . É preciso, p o r t a n t o , ava-
68
Herodes.
palácio. Segundo o costume (cf. Pr 3 1 , 1 ) , as crianças, du-
A renda de Agripa I chegava a doze milhões de drac-
rante seus primeiros anos, e r a m educadas p e l a m ã e , por-
mas ; trata-se d e d r a c m a s d e p r a t a áticas, m o e d a d a q u a l
b9
cortes de menores proporções. Encontramo-las igualmente que a cota de seus impostos era b e m m a i o r do q u e a de
e m palácio: pelo menos as dos príncipes reais A l e x a n d r e , Herodes.
Aristóbulo, A n t i p a t e r (12 a . C ) , e a de Peroras, i r m ã o de
H e r o d e s . T i n h a m sua p r ó p r i a entourage
65
("amigos") e H e r o d e s c o m 1 . 0 0 0 talentos d e r e n d a , Agripa í c o m 71
talentos.
p o r t a n t e receita. Finalmente, os presentes, ou m e l h o r , as
L e v a n d o e m conta os dados sobre a r e n d a de Agripa
I, podemos optar pela q u a n t i a mais alta. As cidades de 68. Ant. X V I I 11, 4, § 319; B. j . II 6, 3, § 96.
G a z a , G a d a r a , H i p o s faziam t a m b é m parte do d o m í n i o 69. Ant. XIX 8, 2, § 352.
real; após a m o r t e de H e r o d e s , foram anexadas à provín- 70. Ant. X I X 5, 1, § 275; B. j . I I 1 1 , 5, § 2 1 5 .
7 1 . O v a l o r d o talento q u e serve d e base aos cáicuíos é o ta-
l e n t o h e b r a i c o q u e e q u i v a l e a 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s d e p r a t a áticas. Pode-
60. B, ;. I 25, 6, § 5 1 1 . m o s mostrá-lo d e d u a s maneiras: a) comparando Ant. X V Í I 6, 1, §
6 1 . A p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu p r i m e i r o m a r i d o (35 ou 146 e I I , 5 , § 3 2 1 s . c o m 8, 7 , § 190: n o t e s t a m e n t o d e H e r o d e s , u m
34 a . C . ) , a t é o seu s e g u n d o c a s a m e n t o c o n t r a í d o d e p o i s de 30 (em l e g a d o d e 1.500 t a l e n t o s t r a n s c r i t o 15 m i l h õ e s d e d r a c m a s , p o r t a n t o ,
30 ela a i n d a fazia p a r t e d a c o r t e de J e r u s a l é m , Ant. X V 6, 5, § 1 8 4 ) , u m t a l e n t o v a l e 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s ; b) c o m p a r a n d o as r e n d a s d e H e r o -
assim c o m o a p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu s e g u n d o m a r i d o , a c o n - des c o m as de A g r i p a I. P a r a avaliar as s o m a s das r e n d a s das q u a i s
tecida e m 2 5 . t r a t a m o s é preciso m e n c i o n a r os seguintes fatos: H e r o d e s d e u a sua
62. Ant. X V 6, 5, § 183ss. filha u m d o t e de 300 t a l e n t o s (B. /. I 24, 5. § 4 8 3 ) ; seu i r m ã o Féro-
6 3 . Ani. X V 7, 4, § 226. ras s a c a v a t o d o a n o 100 t a i e n t o s de suas posses, além dos subsídios
64. Ant. X V I I 5, 3, § 9 3 . de sua t e t r a r q u i a de Peréia (B. } . , i b i d . ) ; Z e n ó d o r o v e n d e u a A u r a -
65. O i t o , Herodes, col. 87s; cf. B. j . I 2 3 , 5, § 457ss. nítíde aos á r a b e s p o r 50 t a l e n t o s (Ant. X V 10, 2, § 3 5 2 ) .
66. E m p r e g a d o s de A l e x a n d r e e de A r i s t ó b u l o Ant. X V I 4, 1, § 72. O t t o , Herodes, col. 91s.
97; u m l i b e r t o de A n t i p a t e r Ant. X V I I 4, 3 , § 79; l i b e r t o s d e Fero* 73. Ant. X V I I 11, 2, § 307.
ras X V I I 4, I, § 6 1 ; m u l h e r e s escravas d e F é r o r a s X V I 7, 3, § 194. 74. Ant. X V I 4, 5, § 128; n ã o s a b e m o s , c o m c e r t e z a , se H e r o d e s
cf. X V I I 4 . 1-2. § 61ss; B. j . I 30, 2. § 584. recebeu i o d a a mina e a m e t a d e l i b e r a d a d o a r r e n d a m e n t o ou s o m e n t e
67. Ant. X V I I 11, 4-5, § 317ss; B. j . II 6, 3, § 93ss. a metade como renda líquida da arrecadação.
gratificações cobriam, com certeza, alguns r o m b o s das fi- v a s . Era costume contratar u m cozinheiro por u m sa-
8 1
n a n ç a s do r e i .
7 5
u m a indicação a este respeito: a r a i n h a Helena de Adia- talvez p a r a não ser i n c o m o d a d o ao comer. U m véu sus-
b e n a , de q u e m Josefo c o m p r o v a a visita a J e r u s a l é m , 79
penso do lado de fora da casa indicava às pessoas que ainda
possuía em Lida u m a t e n d a conforme às prescrições ri- seriam acolhidas. Esse véu era retirado após ser servida
tuais para a festa do mesmo n o m e . so
a terceira e n t r a d a . Segundo u m relato digno de fé , os
9Ü 91
8 3 . Lam. R. 4, 5 s o b r e 4, 2 ( 5 7 I ) . b
quintadas. 8 5 . Lam. R . 4 . 4 s o b r e 4 , 2 ( 5 7 8 ) . a
86. Lam. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 2 5 ) . a
de um segundo convite).
88. Mitteis-Wilcken, 1 / 1 , 419.
75. Ver, p o r ex., Ant. XVIII 11, 2, § 308. 89. Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 10). Cf. j . Demay I V 6, 2 4 53
a a
76. b . Shab. 3 0 - 3 1
b a
bar. ( H / 1 , 173).
77. Sukka I I I 8. 90. T o s . Ber. I V 10 {10, 1 9 ) ; Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 1 3 ) ; a
da r u a . E m certas ocasiões da vida política, " t o d a a po- meiro casamento das m u l h e r e s . Se p a r a o segundo casa-
p u l a ç ã o " de Jerusalém era convidada p a r a u m a refeição, m e n t o , como é provável, aproveitaram-se da licença da
c o m o o fez M a r c o s Agripa por ocasião de sua visita à Ci- escola de S h a m a i , de se casar com o c u n h a d o , teríamos
9 7
q u e consiste o levirato: se o m a r i d o m o r r e sem deixar fi- concubinas ao lado de u m a esposa legítima . Sabemos de 99
p o d e desposar essa que é sua filha. E o q u e acontece existência de poligamia na alta sociedade de Jerusalém,
c o m as outras mulheres? A escola de S h a m m a i autorizava mas sem ser de regra.
semelhante casamento p a r a satisfazer a lei. do levirato; a Nesses meios, as jovens recebiam grandes q u a n t i a s
escola de Hilel, proíbia-o. A esse respeito, o levita R. p o r dote. N o contrato do casamento de M i r i a m , p o r exem-
Y o s h u a b e n H a n a n y a conta que d u a s famílias hierosolimi- plo, filha de Nicodemos ( N a q d e m o n b e n G o r i o n ) constava
tanas de elevado nível, das quais se o r i g i n a r a m alguns su- u m m i l h ã o de denários de o u r o , aos quais o sogro acres-
m o s pontífices e m exercício, d e s c e n d i a m dessas "concubi- centou algo mais . Assim s e n d o , as pretensões dessas jo-
101
96. N ã o é d i t o q u e as d u a s m u l h e r e s , p e l o seu p r i m e i r o c a s a m e n t o ,
92. Ant. X V I 2, 1, § 14; 2, 4, § 5 5 . e r a m as e s p o s a s d o m e s m o m a r i d o ; c e r t a m e n t e , trata-se de dois casos
93. Ant. X V I I 8, 4 . § 2 0 0 ; B. /. II 1. 1, § 1. análogos.
94. J. Leipoldt, Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921, 44-49 e n o t a s 97. Cf. os casos n a r r a d o s e m b . Yeb. 1 5 1 6 p o r R. T a r p h o n e
a a
J o s e f o Q a b i ( = K a b i ) q u e , s e g u n d o )osefo {Ant. X X 8, I I , § 1 9 6 ) ,
efeito, s e g u n d o o q u e s a b e m o s , Séforis n ã o fazia p a r t e do d o m í n i o
e r a filho do s u m o s a c e r d o t e S i m ã o c exerceu suas funções até 62 d.C.
de A g r i p a I I . N e r o d e u T i b e r í a d e s a A r g i p a I I , Ant. X X 8, 4, § 159;
( P a r a clareza d o t e x t o t r a n s c r e v e m o s a q u i Q a y a p h a [ N . T . , Josefo]
B. j . II 13, 2, § 252.
c o m u m Q , visto esse n o m e d e r i v a r d e qayyaph d o h e b r a i c o m i x n a i c o ;
o m e s m o c o m Q a b i , com Q ) . 101. b . Ket. 66 . b
102. Ibid.
prichos e luxo: perfumes e vestuário , e n f e i t e s , dentes m l04
de imóveis, arrendatários de impostos e pessoas q u e v i v i a m
postiços reforçados por fios de o u r o e prata etc. A ques- 105
de r e n d a s . m
tão discutida, p o r é m é saber se o uso desse décimo era- E n c o n t r a m o s alguns representantes dessa classe entre
-lhes p e r m i t i d o cada ano ou somente no primeiro. os m e m b r o s do Sinédrio. O conselheiro Nicodemos era 113
n a hora de estabelecer sua subvenção de viúva, fixaram¬ reinante em sua casa, seu vasto p r o g r a m a de beneficência,
-na somente em 4 0 0 denários de ouro p a r a suas despesas n e m sempre isento de certa a m b i ç ã o , e a perda de suas
supérfluas . N ã o é, pois, de a d m i r a r que M a r t a não t e n h a
108 riquezas: d u r a n t e a confusão que p r e c e d e u a destruição
resistido à g r a n d e fome decorrente do assédio de Jerusa- de Jerusalém, segundo Josefo d u r a n t e o inverno de 69-70,
lém em 70 d.C. N a hora de sua m o r t e , atirou à r u a t u d o a p o p u l a ç ã o incendiou seus celeiros repletos de trigo e
o que tinha em o u r o e prata; compreendia, t a r d e demais, c e v a d a ' . José de Arimatéia, m e m b r o do Sinédrio, é u m
16
p a r a aliviar os condenados conduzidos à execução, man- rico (Mt 2 7 , 5 7 ) ; possuía, ao norte da c i d a d e , u m jardim
d a v a m dar-lhes v i n h o m i s t u r a d o com incenso . Segundo n o c o m u m t ú m u l o de família talhado na rocha (Jo 1 9 , 4 1 ;
A b b a Shaul, teriam igualmente g a r a n t i d o a m a n u t e n ç ã o cf. 2 0 , 1 5 ) . É bem provável q u e todos os seus bens se en-
das mulheres que e d u c a v a m seus filhos p a r a o rito da no- contrassem n a sua pátria. E v i d e n t e m e n t e , o terreno de Je-
vilha vermelha . , n
112. V e r supra, p p . 8 1 , 5 2 , 6 1 ; S m i t h , I, 3 6 7 .
113. Jo 7,50;3,1; cf. 12,42.
114. V e r supra, p . 58.
2 . O s representantes da classe rica 115. Será o m e s m o N i c o d e m o s do e v a n g e l h o d e J o ã o ? Josefo cita
u m n o t á v e l d e J e r u s a l é m , m u i t o c o n s i d e r a d o , cujo n o m e é G o r i o n (B. /.
E m todos os tempos, Jerusalém atraiu o capital na- I V 3, 9, § 159) ou G u r i o n (6, 1, § 3 5 8 ) . Se é o m e s m o pai de Naq-
d e m o n , havia, pois, p o r volta de 70 d . C , c o m o m e m b r o s vivos da
cional do país: altos negociantes, grandes proprietários família: G o r i o n , seu filho N a q d e m o n , assim c o m o a filha desse últi-
m o (cf. supra, p . 137; essa filha a i n d a vive p o r volta d o a n o 70,
103. b . Yoma 39 . b
que pertenciam à casa. O t ú m u l o de A n á s , ao sudeste da de b a i x o pessoal, espécie de túnica colante q u e descia até
cidade, devia ser u m g r a n d e m o n u m e n t o , d o m i n a n d o a re- os tornozelos . Segundo o costume, era a m ã e que lhe
m
Segundo o que nos transmite a t r a d i ç ã o , reinava gran- e n c o m e n d o u u m a que custou 2 0 . 0 0 0 — minas, devemos
de luxo nas residências das famílias pontifícias . Eis o I26
completar, de acordo c o m o contexto, mas n a realidade,
que se conta de M a r t a , pertencente à família dos Boetos.
127
trata-se de denários ( 2 0 . 0 0 0 denários = 2 talentos). Essa
N o Dia das expiações, todos deviam ir ao T e m p l o a p é . túnica era tecida com material tão t r a n s p a r e n t e que os sa-
O r a , q u a n d o M a r t a desejava ver o m a r i d o Y o s h u a b e n cerdotes n ã o a aceitaram depois . m
Gamaliel oficiar nessa festa, fazia estender u m t a p e t e en- A p r ó p r i a função de s u m o sacerdote exigia recursos.
tre sua casa e a p o r t a do santuário . Os homicidas que 12B
Basta p e n s a r m o s nas vítimas do D i a das expiações que o
e n c o n t r a r a m asilo n u m a das cidades de refúgio, só p o d i a m sumo sacerdote deveria p a g a r por conta própria . Conta¬ l34
2 6 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 54s.
o nome de Marta. 134. Ant. I I I 10, 3, § 242; cf. Lv 16,3.
128. Lam. R. 1, 16 ( 3 5 2 ) . b
s a n t u á r i o . Acrescentemos u m paralelo t o m a d o n a Pales-
l44
possuíam grandes r e n d a s e n q u a n t o os p a d r e s do c a m p o ,
que reinou de 103 a 76 a.C. figura aqui intencionalmente os á r a b e s , viviam muito p o b r e m e n t e . D u r a n t e a Primeira
pelo de Agripa I I ; a literatura rabínica sempre envolve G u e r r a M u n d i a l essa situação levou-os a sustentar uma
Agripa c o m u m juízo muito favorável).
138
vítimas que lhes cabiam. À tarde, distribuíam-nas aos sa- c o m o os sacerdotes c o m u n s e r a m r o u b a d o s e de outros atos
cerdotes em exercício naquele dia na seção do serviço (ha- d e violência e corrupção
149
140. Ant. X X 9, 2, § 207; cf. 8, 8, § 181. 152. 'Ammarkai; SchÜrer, I I , 326s: f u n c i o n á r i o d o t e s o u r o , ver
141. b . Pes. 5 7 b a r .
a infra, p . 230s.
142. Kohen hedyôt em o p o s i ç ã o a g dôlê
e
k hünnah.
e
153. Ant. X X 6, 2 , § 1 3 1 ; cf. B. j . I I 12, 6 § 2 4 3 .
143. Ver a n o t a p r e c e d e n t e . 154. S gan c
ha-kôhanim; cf. S c h ü r e r , I I , 320s.
155. B. j . II 17, 2, § 409; Ant. X X 9. 3 , § 208.
CAPÍTULO II riam recebido, p o r dia, p r i m e i r o 12, depois 24 (e até 4 8 ,
segundo R. Yuda) minas ( = a p r o x i m a d a m e n t e 1 / 8 , 1 / 4 ,
8
p e q u e n o comerciante que explora sua loja n u m dos merca- d ú v i d a , usufruir dos grandes benefícios do T e m p l o era tido
dos '. Além desses, os artesãos, q u a n d o proprietários d e por falta grave. Mas é certo, t a m b é m , q u e o T e m p l o tinha
oficinas e n ã o t r a b a l h a n d o como a s s a l a r i a d o s , fazem par- 2
vistas largas na maneira de conduzir os assuntos e assu-
te dessa classe média. N a d a encontramos sobre explora- m i r a m e d i d a s d e caráter social ; tal a t i t u d e o dignifica.
11
ção industrial. E m b o r a estejamos nos referindo à Jerusa- O comércio hoteleiro era m a n t i d o , quase exclusiva-
12
lém do t e m p o de Jesus, isto vale, de m o d o geral, p a r a a m e n t e , pelos peregrinos. Na maioria das vezes, alojavam¬
Jerusalém jordânica atual. -se em grandes áreas análogas às dos kans atuais, o n d e ha-
São escassos os d a d o s precisos sobre a situação fi- via lugar p a r a os animais de carga e de tiro. N a primeira
n a n c e i r a dessa classe. N a d a p o d e m o s deduzir de certos Páscoa , segundo opinião d o m i n a n t e , n a segunda
13
tam- 14
exageros que lemos. Por exemplo: u m c i d a d ã o de Jerusa- b é m , — festa das T e n d a s — e q u a n d o traziam as pri-
J í
n o m i a s na c o m p r a de coifas e enfeites ; já n a q u e l a é p o - 7
n u a n t e n ã o era válida p a r a o oitavo dia da festa das Ten-
ca, era costume furar moedas e com elas fazer a d o r n o s das (servia apenas p a r a q u a n d o se traziam as primícias),
p a r a a cabeça. Concluímos, sem a m e n o r dúvida, que essa de q u a l q u e r forma, ao que p a r e c e , os peregrinos t o m a v a m
classe gozava de maiores o p o r t u n i d a d e s na m e d i d a e m a refeição pascal na própria c i d a d e . 18
deitar. D e que m o d o p r o c e d i a m , p o d e m o s ver pela conti- pos d e vinho , as ervas amargas ~ , as geléias, o pão ázi-
25 ü
n u a ç ã o do texto: " O s estalajadeiros t o m a v a m compulso- m o . As despesas extras feitas pelos p e r e g r i n o s com alimen-
riamente a pele dos animais oferecidos em sacrifício [pelos tação e r a m ainda maiores do que essas despesas exigidas
seus hóspedes] ". Diz A b b a y é : " P o d e m o s concluir ser uso pelos deveres religiosos. C o m palavras entusiásticas, Fílon
deixar o c â n t a r o e a pele ao seu h o t e l e i r o " . A b b a y é re- 20
enaltece os dias d e festa na C i d a d e santa: no m e i o d e u m a
vive o costume de seu t e m p o (após 300 d . C ) , o direito existência agitada, são m o m e n t o s de trégua q u e p e r m i t e m
de os estalajadeiros hierosolimitanos g u a r d a r e m a pele das às pessoas libertarem-se de q u a l q u e r p r e o c u p a ç ã o e disten-
vítimas. À custa delas, g a n h a v a m grandes q u a n t i a s , por- derem-se u m p o u c o . M a s , p a r a que o prazer fosse com-
2 7
que a pele, pelo menos a da ovelha egípcia, valia de 4 a 5 pleto, e r a m precisas fartas refeições, a b u n d a n t e m e n t e re-
sela', isto é, de 16 a 20 d e n á r i o s . A título de compara-
21
g a d a s d e b o m v i n h o . " B a n q u e t e a v a m - s e d u r a n t e sete dias
ção, será útil dizer que o serviço de u m diarista valia, e n ã o r e c u a v a m diante das maiores d e s p e s a s " ; é assim que
em média, 1 dcnário por dia. Eventualmente, podia-se par- Josefo descreve a festa pascal do povo . C o n v é m acres- :N
ticipar da refeição pascal de seu hospedeiro, em troca de centar que essa espécie de luxo era n ã o só justificada, mas
p a g a m e n t o ; se o 14 nisân caía n u m s á b a d o , deixava-se a obrigatória. Trata-se d a q u e l e dever, já m e n c i o n a d o , de gas-
capa como garantia e ajustavam-se as contas após a festa , n
tar e m Jerusalém todo o dinheiro do segundo dízimo; de
acordo c o m a Eei (Dt 14,26) devia-se c o m p r a r , c o m tal
l é m , m a s , e m Meti. V I I 3 e a l h u r e s , o t e r m o designa o c o n t r a f o r t e , i m p o r t â n c i a , gado, bebida fermentada e t u d o q u a n t o se
c e r t a m e n t e fictício de líetfagé. E talvez p e r m i t i s s e m t a m b é m c o m e r desejasse. A M i s h n a diz q u e o segundo dízimo deve ser
29
19. Pode-se t r a t a r de Eleazar, o A n c i ã o , ver S t r a c k , Einleitung, (cf. H i r s c h e n s o h n , 1 3 3 ) : " c o m e r c i a n t e s d e treliças p a r a j a n e l a s " , es-
124 e 130. p e r a r í a m o s o p l u r a l bãrakkin. N o t e m p o da P á s c o a , os v e n d e d o r e s de
20. b . Yoma 1 2 bar.; b . Meg. 2 6
a a
g u l o s e i m a s t o r r a d a s ou de o u t r a s espécies, q u e a i n d a h o j e fazem p a r t e
2 1 . K r a u s s , Taltn. Arch., I I , 113; s o b r e o g r a n d e valor das peles, d o c e n á r i o d e J e r u s a l é m , a c r e s c e n t a v a m o vencia de especiarias.
v e r Fílon, De spec. leg. I, § 151. 2 7 . De spec. leg. I, § 69; cf. Ant. X V 3 , 3 , § 50 e passim.
22. Shab. X X I I I I; s e g u n d o b . Shab. 1 4 8 , só p o d e r i a ser a d m i s í -
b
2 8 . Ani. X I 4 , 8, § 110.
sível o sentido q u e a c a b a m o s de e n u n c i a r .
2 9 . M. Sh. I I 1.
3 0 . Ani. I V 8, 8, § 2 0 5 ; 8, 2 2 , § 240.
e n t r e os á r a b e s cie nossos dias: " E n q u a n t o d u r o u o santuá- mes (alho , alforva , cigirão ) e c o n d i m e n t o s p a r a coc-
45 46 47
de prata p a r a o holocausto da festa (os holocaustos d a q u e - zes na p r ó p r i a Cidade santa. Supõe-se q u e os peregrinos
les q u e n ã o d i s p u n h a m de dinheiro p a r a oferecê-lo e que levavam p a r a casa muitas recordações de Jerusalém . 53
n ã o p o d i a m ser pagos com o segundo dízimo) e 1 ma'ah Além disso, a generosidade traduzia-se e m presentes p a r a
de prata p a r a o sacrifício da c o m u n h ã o ; os hilelitas inver- o T e m p l o ; levavam objetos relacionados c o m as profissões
tiam essas duas q u a n t i a s . Por 1 ma'ah ( = 1/6 de denã-
35 exercidas na cidade.
r i o ) , n ã o se conseguia u m a n i m a l inteiro. As famílias
36
E n t r e os da classe m é d i a , devem-se m e n c i o n a r os sa-
q u e c o n t a v a m c o m inúmeros comensais viam-se obrigadas cerdotes comuns. A maioria deles m o r a v a em diferentes
a oferecer mais sacrifícios de c o m u n h ã o ; em c o n t r a p a r t i d a , partes do país, divididos em vinte e q u a t r o classes sacer-
o n d e h a v i a p o u c a s b o c a s e maior riqueza, ofereciam m a i o r dotais. D e n t r e esses, aqueles que residiam n a p r ó p r i a cida-
n ú m e r o de h o l o c a u s t o s C o m o b e d i d a , c o m p r a v a m vi- de p a r e c e m ter sido pessoas abastadas e cultas. Josefo per-
n h o q u e a d o c i c a v a m c o m m e l , p o r vezes, e z u r r a p a .
38 3 9 4P
tencia a uma rica família sacerdotal, residente de Jerusa-
D e s p e n d i a m o segundo dízimo t a m b é m em p e i x e , azei- 41
lém há várias g e r a ç õ e s . Era razoavelmente elevado o
54
32. M. Sh. I 3 . 4; t i l 11
33. M. Sh. I 5, 4; Ani. I V 8, 8, § 205. 45. ibid. I I 1.
34. Pes. V I 3 . 46. M. Sh. II 3 .
35. Hag. I 2-3. 47. Ibid. I I 4.
36. Billerbeck, I, 293. 48. Ibid. II 1.
37. Hag. I 5. 49. b . Pes. 1 0 8 - 1 0 9 b a r .
b a
Hircano 57
(90, a p r o x i m a d a m e n t e ) ; Gozoros, fariseu e sa-
sacerdotes t i n h a m excelentes condições de v i d a . Quais
cerdote q u e , " e m 66-67 fez p a r t e de u m a e m b a i x a d a na
eram, p o r é m , as q u a n t i a s efetivamente p e r c e b i d a s ? O s fiéis
G a l i l e i a ; R. Shimeon b e n N a t h a n a e l e o sacerdote Yosé,
58
e m p a r t e , escribas. E m c o n t r a p a r t i d a , q u a n t o ao s u m o sa-
sacerdotes ou consagração de p r o d u t o s p a r a eles ; Fílon 68 69
e não n a prática. Por Josefo sabemos com certeza q u e o pelo fato de o dízimo n ã o ser mais p a g o aos levitas.
dízimo pertencente aos levitas, segundo a p r e s c r i ç ã o mo-
saica ( N m 18,21-32), era d a d o aos sacerdotes já antes d o Fílon alude a u m dízimo p a r a os s a c e r d o t e s , mas 89
início da guerra judaico-romana em 6 6 d.C. Fornece-nos suas informações nos c o n f u n d e m seriamente. A o lado da-
ele as seguintes informações: p o r diversas vezes os sacer- quele, destinado aos sacerdotes, apresenta o u t r o p a r a os
levitas; além disso, sustenta que os dízimos dos sacerdo-
tes, acrescentados aos p r o d u t o s do solo, estendem-se igual-
71. l C o r 9,13; cf. 10,18; H b 13,10.
72. Ani. I l l 9, 3, § 230. m e n t e ao gado . 90
73. Shab. X X I I I 2.
74. V e r supra, p. 4 1 .
80. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.
7 5 . ARN A c a p . 35, 1 0 5 a
2 4 ; N e u b a u e r . Géogr., 145. 8 1 . Vita 12, § 6 3 ; 15, § 80.
76. b . Pes. 57 a
bar.; cf. b . B. Q . 1 0 9 M 1 0 ; b . Tem.
b
20 . b
82. C i t a d o p o r Josefo, C. Ap. I 22, § 188.
77. Bik. III 1-9. 83. Aí. Sh. V 9; Ter. I V 2 e passim.
84. b . Yeb. 8 6 ; cf. Sota 4 7 - 4 8 .
a b a
De spec. leg. I § 131-161; Halla I V 9-11, e a a d i ç ã o a Halla I V 11 n o 87. Aí. Sh. V 15 = Sota I X 10.
ms d e M u n i q u e d o T a l m u d e ( e n c o n t r a m o s v a r i a n t e s e m L. G o l d s c h m i d t . 88. b . Sota 4 7 - 4 8 .
b a
viviam °. 10
os sacerdotes s e g u n d o Fílon, a r r e c a d a ç ã o t a m b é m s o b r e o g a d o : De
virt., § 9 5 . É i n t e r e s s a n t e c o m p a r a r De spec. leg. I § 131-144 c o m a
p a s s a g e m citada n a n o t a p r e c e d e n t e . E m a m b o s os casos temos u m a
lista dos r e n d i m e n t o s dos s a c e r d o t e s ;
De spec leg. I , § 131-144 De virt., § 95
Arrecadação sobre a massa
T a x a s o b r e as posses Primícias dos produtos colhidos
em p r o d u t o s c o l h i d o s
Primogênitos dos animais Primogênitos dos animais
Taxa sobre a produção D í z i m o dos p r o d u t o s c o l h i d o s 94. Vita 15, § 80.
de colheitas e do g a d o e do gado 95. Vita 2, § 7ss.
A c o m p a r a ç ã o m o s t r a q u e a taxa s o b r e as posses c o r r e s p o n d e aos 96. Vita 53, § 274.
bikkurím; o d í z i m o ( " p a r a os s a c e r d o t e s " , n a r e a l i d a d e o s e g u n d o dí- 97. Vita 76, § 422; após a d e s t r u i ç ã o de J e r u s a l é m , n a p a r t e oeste
z i m o [ver infra, p . 157]) é c o n s i d e r a d o c o m o u m a taxa s o b r e a p r o -
d a c i d a d e e n o s a r r e d o r e s , e n c o n t r a v a - s e o c a m p o d a 10- legião (B. /'.
d u ç ã o . Conclui-se, enfim, q u e Fílon d e s c o n h e c e a e
t rúmah.
V I I 1, 2, § 5) d e q u e se refere Vita 76, § 422.
9 1 . T o s , Sota X I I I 10 (230, 3 ) , Schlatter, foch. b. Zak., 29, n . 2 .
98. Vita I. § 2.
92. M. Sh. V 15 = Sota I X 10.
93. C o m o u t r a s p a l a v r a s , caso n ã o se tratasse de p r o d u t o s e
d may. 9 9 . Ant. X X S, 8, § 1 8 1 ; 9, 2 , § 2 0 7 .
100. De spec. leg. 1, § 153-155.
CAPÍTULO III ó b u l o da viúva: u m c o n h e c i m e n t o s o b r e n a t u r a l permite
reconhecer o valor do dom feito pela viúva. A respeito
OS POBRES d e p o b r e s , n ã o temos à nossa disposição elementos garan-
tidos. E n t r e t a n t o , mesmo q u e gostássemos de ter maiores
indicações, as fontes são suficientes p a r a esboçar u m qua-
dro de como viviam as c a m a d a s p o b r e s .
Entre essas, é preciso distinguir aqueles que g a r a n t i a m
N ã o possuímos n e n h u m p a p i r o p a l e s t i n e n s e ' . P a r a sua subsistência pelo t r a b a l h o e os que viviam, em parte
conhecer as c a m a d a s pobres da p o p u l a ç ã o , ficamos, pois, ou totalmente, da ajuda alheia.
reduzidos às fontes literárias. O r a , tudo o que se refere à
transmissão de p o r m e n o r e s , deixa muito a desejar. Sem
dúvida ouvimos falar de u m a viúva p o b r e de Jerusalém,
cujos meios de subsistência não passam de 2 lepia (= 1/4 A. ESCRAVOS E DIARISTAS
de asse), isto é, de alguns centavos que não deviam bastar
p a r a sua m a n u t e n ç ã o diária ; deitou-os no cofre do T e m -
2
plo . O u t r a , só d i s p u n h a de u m p o u c o de farinha p a r a a
3
Muitos papiros confirmam o comércio de escravos
oferta alimentar, fato esse q u e motivou comentário desai- n a Palestina d o século I I I antes d e nossa e r a ; o estrado 7
roso por p a r t e do sacerdote em exercício \ O u t r o p o b r e de pedra p a r a a venda pública dos escravos é uma prova 8
p r o c u r a v a pegar todo dia q u a t r o rolas e levava duas ao p a r a a Jerusalém do t e m p o de Jesus. O s escravos não re-
T e m p l o . Assim fez até mesmo no dia em q u e o rei Agripa presentaram g r a n d e papel na economia r u r a l ; é o que de-
quis oferecer mil sacrifícios e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , p r o i b i u d u z i m o s das informações rabínicas e n e o t e s t a m e n t á r i a s , ,;
cidade desses relatos. Possuímos, com efeito, u m texto sobretudo na cidade, como domésticos: m e s m o aí não são
budista análogo que se relaciona sobretudo com a histó- m u i t o n u m e r o s o s , salvo, por exemplo, na corte de H e r o d e s .
ria do óbulo da viúva; outro texto muito se assemelha à A M i s h n a menciona u m e u n u c o hierosolimitano "; era tal-
história do p o b r e que pegava as rolas . N o segundo caso, 6
vez u m servo de h a r é m . Diversas vezes se e n c o n t r a m es-
u m sonho esclarece o sacerdote sobre o valor da oferta cravos libertos. " T u a filha é núbil, liberta teu escravo e
alimentar da m u l h e r ; no terceiro caso, igualmente, u m so- casa-o c o m e l a " , é o q u e repetem c o m o u m p r o v é r b i o
n h o informa ao rei o valor das rolas oferecidas. O r a , é local . n
e delimita sua situação jurídica em relação à dos escravos dia de 1 d e n á r i o , c o m refeição \ O p o b r e q u e vivia a
14 2
Para penetrarmos naquele contexto, devemos observar rola e m JerusaJém , r e p r e s e n t a u m g a n h o diário de 1/4
21
vítimas pascais nos átrios dos sacerdotes; u m a por si e ou- A alta percentagem da p o p u l a ç ã o que vivia princi-
tra p o r seu senhor . De o u t r o m o d o , a vida em c o m u m
12
p a l o u totalmente de auxílios constituí u m a característica
d e Jerusalém. Convém m e n c i o n a r , e m p r i m e i r o lugar, os
14. 'Ed. v 6. escribas. Era-lhes proibido receber q u a l q u e r r e m u n e r a ç ã o
15. K r a u s s , Talm. Arch., I I , 8 3 . pela sua atividade . O s evangelhos m o s t r a m que essa pres-
<0
r e s ; o e s c r a v o p a g ã o aos filhos m e n o r e s (B. Aí. I 5; 'Ar. VIIT 4s; 2 4 . M t 20.2.9; cf. T b 5,15: o c o m p a n h e i r o d e viagem d e Tobias
M. Sh. I V 4 ) .
19. Ant. X V I 1, 1, § l s s . r e c e b e u 1 d r a c m a p o r dia, a l é m d o s u s t e n t o .
20. T i n h a m u m a n o p a r a reflexão; em caso d e r e c u s a e r a m re- 2 5 . Cf. B. M. V I I 1.
v e n d i d o s a n ã o - j u d e u s , cf. E. R i c h m , Handwörterbuch des biblischen 26. Ver supra, p . 156.
Altertums 2 .' ed., t. I I , Leipzig e Bielefeld, 1894, 1524 a.
1
2 1 . Ber. I I I 3 . 2 7 . Ker I 7.
2 2 . Pes. V I I I 2. 28. b. Yoma 35 b
bar.
29. Ihid.
30. P. A. I 1 3 ; Bek. I V 6; b . Ned. 37 . 62 .
a a
[e n ã o os leveis] n o s vossos c i n t o s . N ã o tomeis alforje
31
p a r a o c a m i n h o , n e m duas túnicas, n e m sandálias, n e m São Paulo exercia u m a profissão d u r a n t e sua atividade mis-
cajados! Pois o o p e r á r i o é digno de seu s a l á r i o " . A M í s h n a 3J
q u e tais mestres não ministravam suas lições gratuitamen- Eleazar b e n S a d o c e A b b a Shaul b e n B a t n i t , lecionavam
4 2 43
v i d a d e do escriba (Eclo 38,24-39 II) e mais t a r d e , até o hospitalidade ao escriba e fazê-lo participar dos r e c u r s o s 46
iodos referentes a Jerusalém — m o s t r a m que nessa é p o c a assuntos seculares (isto é, da p r e o c u p a ç ã o d e sua subsis-
já havia escribas q u e exerciam profissões. S h a m a t afastou tência). O s evangelhos confirmam q u e essas disposições
c o m sua vara de carpinteiro u m p a g ã o q u e q u e r i a se t o r n a r vigoravam. N o que diz respeito à hospitalidade oferecida
prosélito . Hilel que viveu t a m b é m p o r volta d o início d e
39
t e i r o , a r q u i t e t o ou f e r r e i r o ) ; d e v e m o s l e m b r a r q u e e r a c o s t u m e fazer
31. U m a longa echarpe que servia também para guardar o di- c o m q u e o filho a p r e n d e s s e o ofício d o p a i , e q u e J e s u s se c o m p r a z
nheiro. e m u s a r a i m a g e m da c o n s t r u ç ã o de u m a casa.
32. M t 10,8*10; cf. M c 6,8; Lc 9,3, 40. b . Yoma 3 5 b a r . b
34. b . Yoma 3 5 b
bar. s o b r e 50, 14; S c h l a t t e r , Joch. b. Zak., 9.
35. S c h ü r e r , I I , 380. 42. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 5 ) ; H i r s c h e n s o h n , 133; cf. supra, p. 47.
36. b . Kel. 105»; Pesiqta de Rab Kahana X X V I I I 4, e d . S. B u b e r , e t a m b é m T o s . Pes. X 10 (173, 7 ) .
L y c k , 1868, 1 7 8 ) 7 ; P. W e b e r , Jüdische
a
Theologie auf Grund des 43. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) ; b . Bem 2 9 bar. a
Talmud und verwandter Schriften 2" ed., Leipzig, 1897, 130. 44. Talmidê hãkamim.
37. Delitzsch. }üd. Bandwerkerleben, 75, dá-nos i n ú m e r o s exem- 4 5 . D e l i t z s c h , Jud. Handwerleben, 78s,
plos. W e b e r , Religionssoziologie, I I I , 410-411. 46. b . Ber. 6 3 . b
38. b . Ber. 3 5 . b
47. b . Ber. 3 4 . b
e aos discípulos d u r a n t e sua vida e r r a n t e " . Q u a n t o ao pe- As informações tradicionais sobre a situação finan-
ríodo anterior a 70 d . C , n ã o p u d e m o s nos certificar da ceira dos escribas c o n c o r d a m c o m o q u e p r e c e d e . N ã o é
existência dc coletas p a r a os doutores . As pessoas não pro- 54
se v e n d i a v i n h o , q u e ele r e c u p e r a v a , p a r a o tesouro d o
fazia-os ambicionar as vantagens dessa terra e não as da T e m p l o , a espuma que se f o r m a v a ao e n c h e r os recipien-
o u t r a vida; é o que d e m o n s t r a o contexto d a cena, muitas tes, pois essa e s p u m a a n i n g u é m p e r t e n c i a ; desse m o d o ,
vezes citada, mas hoje parcialmente incompreensível, refe- conseguia encher trezentos barris de v i n h o . T a l exagero 63
lidade de sumo s a c e r d o t e . É5
-na a l t e r n a d a m e n t e p a r a s a i r ; seis d e seus alunos p o s s u í a m
76
com o dinheiro do imposto anual daquele santuário. D i z e m lhou c o m o diarista p o r u m frop-pct'tq, isto é, p o r meio de-
que alguns doutores t i n h a m p o r função ensinar aos sacer- n á r i o . A p ó s p a g a r o g u a r d i ã o d a escola, só lhe restava u m
dotes as regras d o s a n g r a m e n t o ; o u t r o s , de ensiná-los a fa- q u a r t o d e d e n á r i o p a r a s u a m a n u t e n ç ã o e a d e sua famí-
zer as ofertas alimentares segundo as p r e s c r i ç õ e s . D a mes- 67
lia . Conta-se q u e u m d i a n ã o e n c o n t r o u t r a b a l h o ; deixou,
19
laciona o fato de u m doutor n ã o ter necessidade de mendi- Citemos dois outros casos d e pobreza e n t r e os escribas d e
gar ao princípio segundo o qual ele n ã o se e m p o b r e c e . 11
Jerusalém. R. Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a , vive misera-
O T a l m u d e muitas vezes menciona a mulher, j a m a i s as 7 2
v e l m e n t e d e p ã o seco d u r a n t e u m p e r í o d o de estiagem '" . 4
mulheres de u m doutor; a principal razão consiste, sem dú- C o n t r a a v o n t a d e d e seu p a i , R. Eliézer b e n H i r c a n o s de-
vida, mais n a pobreza de condição d o q u e n u m a estima d a cidiu e s t u d a r ; vive e m meio a grandes privações, a t é q u e
monogamia. Citemos alguns exemplos dessa pobreza n o seu mestre R a b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i constata a fome ' ,s
século II de nossa era. Dois alunos de R a b b a n G a m a l i e l d o discípulo. P a r a confirmar o q u e foi d i t o , podemos men-
II, cuja ciência era tão g r a n d e q u e chegava a " p o d e r con- c i o n a r a p o b r e z a d e Jesus. V e i o de u m a família p o b r e
tar as gotas d o m a r " , n ã o t i n h a m u m p e d a ç o de p ã o p a r a ( p a r a o sacrifício d e purificação, M a r i a serviu-se d o privilé-
comer, n e m u m a peça de r o u p a p a r a vestir . R. A q i b a , o
73
gio dos p o b r e s : oferecer d u a s rolas'' ); s u a existência apre-
6
77. b . Sanh. 2 0 . a
78. V e r supra, p. 8 6 .
65. V e r supra, p . 141. n. 132. 79. b . Yoma 3 5 b a r . b
66. V e r supra, p . 149. 80. Ibid. E l e estava coberto d e n e v e ; a c o n t e c e cair neve e m Je-
67. b . Ket. 1 0 6 .
a
68. b . Ket. 1 0 5 . a
rusalém, mas raramente.
69. Ibiã.; Ket. X I I I I s s ; b . B. Q. 5 8 .
b
8 1 . b . B. B. 1 3 4 . a
70. b . Ket. 1 0 5 . a
71. b , Shab. 1 5 1 . b
72. J. Bergel, Die Eheverhãltnisse der alten fuden, Leipzig, Í 8 8 1 , 10. 8 3 . F . Detitzsch, \esus und Hitel, 3 . ed., Francfort-sur-le-Maín.
73. b . Hor. 1 0 .
a 1875, 3 5 .
84. b . Yeb. 6 7 . b
bida; p a r a protegerem-se das intempéries, sentavam-se s o b Assim, pois, os aleijados em condições de mover-se por si
as portas, consideradas como ainda n ã o fazendo p a r t e da mesmos com u m a muleta t i n h a m a b e r t a m e n t e o direito de
cidade p r o p r i a m e n t e dita ' . B
entrar na p a r t e do s a n t u á r i o proibido aos pagãos; em con-
E m Jerusalém, a mendicância concentra-se em t o r n o t r a p a r t i d a , não o p o d i a m aqueles que não estavam em
dos lugares santos; por conseguinte, naquela época, e m estado de se m o v e r sozinhos (completamente estropiados,
torno do T e m p l o . Os mendigos não t i n h a m acesso a todos entre outros os q u e n ã o t i n h a m as d u a s pernas) e que
os lugares do T e m p l o . N o texto de 2Sm 5,8, r e p r o d u z i n d o deviam se sentar n u m a cadeira estofada n a q u a l e r a m
t r a n s p o r t a d o s , O coxo q u e n ã o conseguia a n d a r por si
87. Ml 8,20; Lc 9,58. m e s m o , m e n c i o n a d o nos Atos dos apóstolos (3,2), p o d e
88. M t 17,24-27. Cf. M c 12,13-17; M t 22,15-22; Lc 20,20-26. ser u m exemplo disso. Deixa-se ficar junto à " P o r t a For-
89. Lc 8,1-3. É p r e c i s o reconhecei' q u e e x i s t e m , e x t e r i o r m e n t e , n u -
m e r o s o s p a r a l e l o s na m a n e i r a d e viver e n t r e os e s c r i b a s e Jesus ro- m o s a " , a Porta de N i c a n o r q u e liga o á t r i o dos israelitas
d e a d o pelos seus d i s c í p u l o s ; n ã o i m p e d e , p o r e m , q u e Jesus tenha-se ao átrio das m u l h e r e s , m a s (At 3,8) a i n d a nesse átrio. Esse
o p o s t o ao g r u p o d e e s c r i b a s d e SL*U t e m p o . coxo m e n d i g a (At 3,2.3,10); seus amigos o colocam lá
90. Cf. W e b e r , Religionsoziologie, I I I , 4 0 9 : " U m m e i o de intelec-
tuais p l e b e u s " . A . Büchler, The Politica! and Social Leaders of lhe nas h o r a s de oração q u a n d o o fluxo e refluxo das pes-
fewhh Cotnmunity o / S e p p / i o n s , L o n d r e s , 1909, 5: " E m geral, os p r ó - soas é especialmente g r a n d e no T e m p l o . Talvez seja no
prios rabis e r a m pessoas d o p o v o " . Cf. K r a u s s , Ta/m. Arch.. til, 66. pátio dos pagãos q u e devamos p r o c u r a r os cegos e aleija-
9 1 . b . Pes. 1 1 5 . a
do aos escribas viverem assim c o m o parasitas. L'enterrement des criminels d'après le Talmud et le Midrash, em RE}
46 (1903), 76.
96. Meg. I 3 , cf. b . Meg. 3 .
b
98. B. j . I I 14, 1, § 2 7 5 .
97, T r a t a d o Semahot X I I ; T o s . Meg. I V 15 {226, 1 3 ) ; A, B ü c h l e r , 99. B. j . V 10, 5, § 4 4 3 .
100. B. j . II 17, 6, § 4 2 7 .
CAPÍTULO IV questão. O c a m p o do oleiro, c o m p r a d o pela administração
do T e m p l o de Jerusalém , deve ter custado trinta moedas
5
vimos Jerusalém como uma cidade m o n t a n h o s a , p o b r e de o pai de u m a hierosolimitana recebia por ocasião do noi-
água, carente de matérias-primas p a r a as profissões, com vado de u m futuro esposo não da c i d a d e , era, ao que di-
localização pouco favorável p a r a o comércio e ao tráfico. zem, s o b r e m a n e i r a elevado; igualmente, o dote que a noiva
Esse fato acarretava u m custo de vida muito alto. estrangeira trazia a seu noivo de Jerusalém. " O h a b i t a n t e
de uma cidade q u e desposasse u m a nativa de Jerusalém
dava-lhe [como q u a n t i a devida ao c a s a m e n t o ] o peso dela
cm o u r o ; a jovem de u m a cidade p e q u e n a que desposasse
1. O c u s t o d e v i d a e m t e m p o n o r m a l
u m h o m e m de ferusalém entregava-Jhe [como dote ou
bens parafernais] o peso dele em o u r o " . D e acordo c o m u
lugar a i m p o r t â n c i a das quantias necessárias ao c a s a m e n t o : q u e se relaciona e x a t a m e n t e com essa fome que assolava
a g r a n d e estima q u e geralmente se dedicava ao T e m p l o , o país. De acordo com o relato, Eleazar b e n S a d o c , estu-
à cidade e as enormes perspectivas q u e p r o p o r c i o n a v a a dante da T o r á em Jerusalém, viu seu m e s t r e R. Y o h a n a ,
cada u m . Nessas quantias reflete-se, igualmente, o fato de filho da h a u r a n i t a , comer u m p e d a ç o de p ã o seco. Seu
ser o custo de vida mais alto em Jerusalém. pai, R. Sadoc, enviou azeitonas p a r a o mestre. Esse re-
cusou-as devido a sua u m i d a d e ; aceitou-as somente após
R. Sadoc ter-lhe g a r a n t i d o que a conservação fora feita
conforme as prescrições.
2 . O custo de vida e m época de calamidade
D u r a n t e esses períodos, os preços s u b i a m assustado-
ramente. O especulador aproveitava-se da situação de de-
E m épocas de calamidade ' \ a desfavorável situação sespero: " A n u v e m [ t r a z e n d o a c h u v a ] é a desgraça dos
económico-geográfica de Jerusalém fazia-se sentir e m t o d a especuladores [literalmente: aqueles q u e fixam os preços
a sua crueza, antes de tudo sob a forma de carência d e d o m e r c a d o ] " . O s d a d o s sobre o p r e ç o d o trigo permi-
1S
com todas essas adversidades; é o que mostram as infor- v a g a b u n d o , recebe da caixa de beneficência u m a ração —
mações sobre a fome que grassou d u r a n t e o r e i n a d o de sem d ú v i d a cotidiana — de u m p e d a ç o de p ã o , custando
Cláudio. E m A n t i o q u i a , os cristãos organizaram u m a co- 2 asses = 1/12 de d e n á r i o . Esse p ã o , pelo q u e sabemos,
20
leta, a fim de socorrer os irmãos da Judéia (At 11,28-30), é feilo com trigo ou f a r i n h a , dos quais 4 s 'ah — apro- e 7]
(At 11,28). D a m e s m a forma, o relato do auxílio organi- m a ç õ e s : l , o preço do trigo ou da farinha era de 1 de-
y
zado pela r a i n h a Helena de A d i a b e n a por ocasião dessa nário por 1 s 'ah = mais ou menos 13 litros; 2 , a quan-
e 9
3,94 litros por 4 d r a c m a s , quase 1 litro por 1 d r a c m a . O s des v i s a v a ' , a o mesmo t e m p o , desenvolver as condições
3
d e outra forma n ã o teria p o d i d o suportar os imensos dis- d i t a . Se, ao mesmo t e m p o que constatamos o volume de
41
2 5 a . C , e de algumas isenções de impostos, não temos na m ã o , e q u e , pouco tempo depois, d i s p u n h a de tão enor-
a i n d a o direito de considerar exageradas as queixas do mes meios, podemos d a r todo crédito às queixas erguidas
povo transmitidas a R o m a após sua m o r t e . A o lado d a s 33 contra ele.
despesas internas — o que acabamos de ver — h a v i a as O etnarca Arquelau não tratou m e l h o r o seu p o v o ;
despesas no estrangeiro; eram mais consideráveis e n ã o em 6 d . C , o imperador Augusto o depôs p o r causa da
c o n t r i b u í a m p a r a o b e m do p o v o . O u v i m o s referências so- sua crueldade e o exilou; seus bens pessoais foram con-
b r e dádivas, construções utilitárias e construção de apa- fiscados . 43
r a t o , por vezes e m grandes d i m e n s õ e s , oferecidas às se- Agripa í herdou de seu avô H e r o d e s o amor ao faus-
guintes cidades e ilhas estrangeiras: ilhas de Cios, Cós, to " ; dono de tendências perdulárias, os lucros de seu ex-
4
R o d e s ; cidades de Laodicéia, Tripoli, Biblos, Beirute, Sí- tenso reino não lhe forneciam o n e c e s s á r i o . A seu res- 45
d o n , T i r o , Ptolemaida, Ascalen; Nicópolis, O l í m p i a ; Es- peito n ã o ouvimos queixas; pelo c o n t r á r i o , parece ter sido
p a r t a , Atenas, P é r g a m o , Antioquia, D a m a s c o . 34
a m a d o pelo p o v o . T u d o faz crer q u e sabia cobrir as
4fi
t e n c e a é p o c a de H e r o d e s , o G r a n d e , e d e A r q u e l a u , já e x p r e s s a r a
H e r o d e s , a seus parentes e " a m i g o s " , assim c o m o aos co- sua o p i n i ã o s o b r e a m a n e i r a d e e s c a p a r d a a l f â n d e g a g r a ç a s a u m
letores de impostos e demais encarregados desse serviço 36
p a u o c o q u e p e r m i t e fazer o c o n t r a b a n d o (cf. Kel. X V I I , 1 6 ) . S e g u n d o
e a seus s u b o r d i n a d o s — a confiscação de bens e impo-
37
a Tosefta, R. Y o h a n a n b e n Z a k k a i q u e e n s i n a v a em Jerusalém nos
a n o s a n t e r i o r e s a 70 d . C , p r o n u n c i o u - s e i g u a l m e n t e ; fazia u m claro
sições extraordinárias devem ter pesado e n o r m e m e n t e so- a p e l o a o e n s i n o t r a d i c i o n a l (Schlatter, Joch. b. Zak., 3 0 ) . E m Kil. I X
b r e o p o v o . Queixou-se esse, c o m a m a r g u r a , d o m o d o 2, discute-se a r e s p e i t o do c o n t r a b a n d o p r a t i c a d o graças a diversas
p e ç a s de r o u p a s enfiadas u m a na o u t r a ; em Ned. I I I 4 e b . Ned. 2 7 , b
c o m o comunas inteiras foram prejudicadas consoante pro- fala-se d e o u t r o s p r a t i c a d o s a t r a v é s de falsas d e c l a r a ç õ e s ; ver, aliás,
Billerbeck, I, 379s.
32. Q u a n t o a Jerusalém, v e r supra. p p . 44s, 81s, 106s. 4 1 . B. j . II 6, 2, § 87.
3 3 . O t t o , Herodes, col. 95. 4 2 . O fato deve ter o c o r r i d o antes d a c o n f i s c a ç ã o q u e se proces-
34. Md., col. 75-77. sou e n t ã o {Ant. X V 1, 2, § 5 ) , s u p o n d o q u e n ã o se trate de u m a
35. Ant. X V I 5, 4, § 153. r e p e t i ç ã o d o relato da f u n d i ç ã o de objetos preciosos p e r t e n c e n t e s ao
rei q u e se d e u mais t a r d e {Ant. X V 9, 2, § 3 0 6 ) .
36. N a o p o d e m o s r e s o l v e r a q u e s t ã o : a d m i n i s t r a ç ã o ou a r r e n d a -
m e n t o e s t a r i a m e m uso sob H e r o d e s ? Cf. O t t o , Herodes, col. 97. 4 3 . Ant. X V I I 13, 2, § 342ss; B. j . I I 7, 3, § 111.
37. Pelo q u e se p o d e c o n c l u i r d o t e x t o a l t e r a d o d e Ani. X V I I 1 1 , 44. Ant. X I X 7, 3, § 4 2 8 ; B. j . I I 11, 6, § 218.
2 § 308. 45. Ant. X I X 8, 2, § 352.
4 6 . Ibid., § 349.
N u m dos casos, trata-se de u m a dívida de mais de u m 2 . Lutas e saques
m i l h ã o de d r a c m a s de p r a t a á t i c a s . Mesmo como rei,
47
agiu assim p a r a obter as quantias ^ almejadas. N a situação política confusa da é p o c a , Jerusalém teve
N o t e m p o do domínio r o m a n o ( 6 - 4 1 , 44-46 d . C ) , o de sofrer p a r t i c u l a r m e n t e e n q u a n t o capital dos j u d e u s e
nível dos impostos manteve-se mais ou menos i n a l t e r a d o , cidade de seu s a n t u á r i o . D u r a n t e o r e i n a d o de H e r o d e s ,
isto é, subiu a 600 talentos p a r a a província da Judéia . w
gozou de certa trégua, mas após sua m o r t e e especialmente
E m 6 6 , as autoridades de Jerusalém p e r c e b e r a m 4 0 talen- sob o domínio r o m a n o , as angústias da guerra reapare-
tos de impostos atrasados ; se se trata do imposto a n u a l
50
ceram.
d a t o p a r q u i a de Jerusalém, seria u m a confirmação, pois é
b e m provável q u e a mais i m p o r t a n t e das onze t o p a r q u i a s
pagasse essa taxa, não incluídos os direitos alfandegários.
Tácito mostra-nos até que p o n t o o povo se ressentia do C. R E L I G I Ã O E CULTO
peso das taxas: no ano 17 d . C , as províncias da Síria e
d a Judéia solicitaram uma r e d u ç ã o . D u r a n t e o cerco d e
3l
avaliar os subsídios e gratificações pagos às autoridades e paixão do próximo é sinal que permite reconhecer a des-
serviços administrativos. " A ninguém molesteis com ex- cendência de A b r a ã o . E m Jerusalém corre este d i t a d o :
5,1
torsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos c o m " O sal da riqueza, é a prática da c a r i d a d e (hesed)" . 55
vosso s o l d o " (Lc 3,14); tal é a exortação de João Batista N u n c a se deve s u b e s t i m a r o papel q u e a prática da
aos soldados, em sua "pregação profissional". Mateus (Mt caridade representa na pregação de Jesus. " V e n d e i vossos
2 8 , 1 2 ) m e n c i o n a u m caso de corrupção entre soldados ro- b e n s e d a i e s m o l a " (Lc 12,33). " Q u a l q u e r de vós q u e n ã o
m a n o s em Jerusalém. Por c o r r u p ç ã o ou c o m p r a , o quiliar- r e n u n c i a r a tudo o que possui, não p o d e ser meu discí-
ca Cláudio Lísias, c o m a n d a n d o a praça de Jerusalém, ad- p u l o " (Lc 1 4 , 3 3 ) . Sem dúvida esses são trechos característi-
quiriu o direito de cidadania r o m a n a (At 2 2 , 2 8 ) . A cor- cos de são Lucas, que a m a os pobres, no e n t a n t o , não po-
r u p ç ã o atingiu os postos mais elevados. Basta ver as n u m e - demos considerá-los secundários. Com efeito, a perícope
rosas queixas relativas à venalidade dos p r o c u r a d o r e s ; do moço rico figura nos três sinóticos . D e t u r p a m o s porM
dessa censura n e m P i l a t o s 52
ficou isento: Félix reteve vezes essa perícope ao d a r u m a explicação errônea do
P a u l o em Cesaréia na esperança de obter dele gratifica- " p e r f e i t o " e d e " t e u s b e n s " (Mt: " o que possuis", M c :
ções (At 2 4 , 2 6 ) , mas é sobretudo Josefo q u e , nesse cam- " t u d o o q u e p o s s u i s " ; L c ) . Vejamos como interpretá-la:
5 7
tura da época b e m o d e m o n s t r a .
so: q u a n d o se dirigia p a r a sua escola, estendia pelo cami-
Segundo a Mishna , deve-se dedicar ao santuário p o r
fi0
n h o q u e percorria, m a n t a s de lã; atrás dele, os pobres
a n á t e m a , somente u m a parte das próprias riquezas; as dis- p o d i a m apanhá-las . C o n v é m t a m b é m salientar a genero-
65
posições que p r e v ê e m q u a l q u e r acréscimo não são válidas. sidade da família real. Agripa I era tido como muito ca-
Usa-se essa passagem como p r o v a de que t a m b é m deve ha- ridoso e muito louvado foi o vasto p r o g r a m a q u e Hero-
66
ver u m limite à prática da caridade. N o século I de nossa des pôs em prática d u r a n t e a g r a n d e fome de 25-24 (23)
era, já estava em vigor a p r e s c r i ç ã o q u e proibia dispor de a.C. N a q u e l e m o m e n t o , o rei não r e c u o u diante de sacri-
mais de u m quinto da fortuna pessoal p a r a fins beneficentes. fícios pessoais: m a n d o u fundir todos os ornamentos em
Z a q u e u , chefe dos publícanos, p r o m e t e distribuir a m e t a d e p r a t a e o u r o de seu palácio, sem excluir peças preciosas
de seus bens em esmolas e ainda r e p a r a r os danos causa- ou objetos de a r t e " . Conta-nos J o s e f o
6 7 68
as medidas to-
dos (Lc 19,8); Jesus louva-lhe o intento e declara-o bem¬ madas por Herodes:
-aventurado. À expressão " v e n d e r todos os seus b e n s " 62
não pode, pois, ser sempre t o m a d a ao p é da letra. Esses à) Inicialmente, após pesquisa minuciosa, distribuiu
u
testemunhos mostram até o n d e , na prática, podia-se em- trigo a todos aqueles q u e estavam em condições de prepa-
pregar os bens com fitos caritativos. Em c o n t r a p a r t i d a , rar pessoalmente o seu alimento.
sabemos de u m h o m e m — R. Y o h a n a n — q u e c u m p r i u
6) E n t r e t a n t o , a velhice ou q u a l q u e r enfermidade dei-
o preceito ao pé da letra: vendeu tudo o q u e possuía
x a v a inúmeras pessoas sem p o d e r fazer o p r ó p r i o pão.
como propriedades imobiliárias p a r a consagrar-se ao es-
P r o c u r o u então prover às suas necessidades, e m p r e g a n d o
tudo da T o r a ; n a d a reservou p a r a manter-se na velhice . 6Í
65. b . Ket. 6 6 - 6 7 b a r .
b a
sem perigo, pois a falta de tecidos e de roupa fazia-sc Izates de A d i a b e n a interveio, igualmente, r e m e t e n d o certa
t a m b é m sentir [juntamente com a fome] ". q u a n t i a em d i n h e i r o . Segundo o T a l m u d e , todo o tesouro
77
menos 3 1 5 . 2 0 0 hectolitros™ de trigo, distribuídos no reino E r a de uso corrente que os peregrinos praticassem
de H e r o d e s , dá uma idéia de q u ã o amplas foram as me- a caridade em Jerusalém. Esse h á b i t o se deduz do que
didas tomadas. Josefo nos diz: em Jerusalém gastava-se e m beneficências
73
peregrinação; se a praticasse na própria Jerusalém, o ato mencionar o texto do Sinaiticus e m T b 1,6-8: supõe, evi-
seria especialmente meritório. N ã o é por acaso que o men- d e n t e m e n t e , q u e o dízimo dos p o b r e s do terceiro e sexto
digo cego de Jericó fica sentado à beira do c a m i n h o dos
71
Paulo chega a Jerusalém para a festa de Pentecostes (At em que tivesse sido pago.
20,16) recomendam-lhe pagar as despesas que o voto de
nazireato exige de q u a t r o cristãos de Jerusalém (At 2 1 , 2 4 ) ; I n t e r m e d i á r i a entre a beneficência p r i v a d a e p ú b l i c a ,
(trata-se de sacrifícios a o f e r e c e r ) . N ã o era essa u m a
73
existia a beneficência das comunidades religiosas. Podemos
forma desusada de caridade: Shimeon ben Shctah, assim comprová-lo, o b s e r v a n d o o q u e se p a s s a e n t r e os essênios:
nos c o n t a m , convenceu A l e x a n d r e Janeu (103-76 a.C.) a em cada cidade, p o r t a n t o , em Jerusalém t a m b é m , havia
encarregar-se das despesas de cento e cinqüenta nazireus ; 74
u m funcionário p a r t i c u l a r d a ordem, e n c a r r e g a d o de pro-
q u a n d o atingiu o p o d e r , Agripa 1 (41-44 d.C.) " m a n d o u ver de roupas e outras coisas necessárias, os irmãos em
b a r b e a r e cortar os cabelos de g r a n d e n ú m e r o de nazireus, t r â n s i t o . C o n s t a t a m o s igualmente essa ajuda na comuni-
82
possível. Mesmo p a r a q u e m vê no relato dos Atos dos Após- cluímos, com certeza: essas instituições serviram de certo
tolos sobre essa c o m u n i d a d e de bens u n i c a m e n t e u m ideal m o d o como modelos à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a . A distribui-
apresentado por u m a história, reconhecerá sem dificuldade, ção cotidiana de subsídios r e m e t e ao tamhüy, como a seu
a extensão dos benefícios prestados pela c o m u n i d a d e pri- m o d e l o ; assim t a m b é m , o recebimento de víveres por pes-
mitiva que se provia de meios na v e n d a das p r o p r i e d a d e s . soas domiciliadas no lugar (trata-se, antes de t u d o , das
A distribuição era feita a partir de u m a central (dos Após- viúvas) remete à qüppah. É possível que os auxílios aos
tolos) (At 4,37;5,2) através de colaboradores voluntários p o b r e s , entre os j u d e u s , só se tenha organizado em duas
(At 6,1-6). Temos informações mais precisas na p a r t e do direções em época mais tardia e, p r i m i t i v a m e n t e , t e n h a m
livro dos Atos relativa à instituição das sete pessoas en- sido, como a ajuda cristã, distribuídos todos os dias tam-
carregadas dos pobres (ib.). Segundo esse relato, vigorava b é m às pessoas m o r a d o r a s do lugar. É mais provável, po-
u m "serviço de m e s a s " (At 6,2); a c o m u n i d a d e alimentava rém, q u e , d i a r i a m e n t e , a refeição em c o m u m da comuni-
os que não t i n h a m recursos. d a d e primitiva constituísse, p o r si m e s m a , u m a distribui-
ção cotidiana de esmolas aos m e m b r o s desfavorecidos.
Para melhor c o m p r e e n d e r como se processava essa
ajuda, será útil fazer uma c o m p a r a ç ã o entre as duas ins- Seja c o m o for, eis como p o d e m o s c o m p r e e n d e r a ma-
tituições judaicas correspondentes: o tamhüy ( " p r a t o dos n u t e n ç ã o dos pobres pelos cristãos:
p o b r e s " ) e a qüppah ("cesta dos p o b r e s " ) . Vejamos o q u e
a) feita in natura (pelo que se d e p r e e n d e dos próprios
distinguia u m a da outra. O tamhüy era distribuído todos
At 6,2);
os dias aos pobres em trânsito; compunha-se de alimento
(pão, favas, frutas; n a Páscoa era acrescentado o v i n h o b) garantia e subsistência por vinte e q u a t r o horas
prescrito). A qüppah, distribuída todas as semanas aos p o - (— duas r e f e i ç õ e s ) ; 87
e x p l i c a d a se a c o m u n h ã o d e b e n s se e s t e n d e a p e n a s às p r o p r i e d a d e s c) p r o v a v e l m e n t e , a distribuição centralizava-se n u m
i m o b i l i á r i a s . — A q u e l e q u e p õ e c m d ú v i d a a existência d a c o m u n i - único lugar. Podemos esboçar o seguinte q u a d r o : todos os
d a d e de b e n s d e v e , a n t e s de t u d o , e x p l i c a r a o r i g e m dos r e l a t o s dos dias os cristãos de Jerusalém se r e u n i a m n u m a c a s a , 8S
o a u t o r dos Atos i m p r i m i u , de si p r ó p r i o , à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a , u m
ideal diferente. — E m p a g a , deve-se salientar q u e u m a c o m u n h ã o d e doze apóstolos (At 6 , 2 ; 2 , 4 2 ) . C o m os donativos recebidos
b e n s é c o m p r e e n s í v e l se l e v a r m o s e m c o n t a três fatos, a) C o m o v i m o s serviam os pobres — as viúvas em p r i m e i r o lugar — e
(p. 179s), Jesus exigiu, p o r diversas vezes, q u e se r e n u n c i e aos p r ó - eles recebiam, ao m e s m o tempo, alimento p a r a o dia se-
p r i o s b e n s e m favor dos p o b r e s ; b) Jesus e os discípulos d e r a m o
e x e m p l o ; v i v i a m à custa de u m a caixa c o m u m e h a v i a m a b a n d o n a d o
seus b e n s (Jo 13,29; 12,6; Mt 19,29 e p a r . ) ; c) h á t a m b é m o e x e m p l o 8 6 . Pea V I I I 7; b . B. B. 8 b a r ; b . B. M. 3 8 ; T o s . B. M. I I I
b a
Com o correr do tempo, as coletas feitas nas comu- (por exemplo, o feixe esquecido) " , grãos que c a e m du- ,u
primitiva p a r a a sua ação caritativa. Por ocasião da gran- t a m b é m há queixas de q u e as prescrições não são obser-
de fome q u e grassou entre 47 e 49 d . C , fez-se, talvez pela vadas ( m a s , conforme vemos em alguns trechos, os po-
m
primeira vez, u m a coleta desse gênero em Antioquia, c o m bres sabiam fazer valer os seus direitos.
o fito de amenizar a situação desesperadora da comuni-
dade de Jerusalém (At 1 1 , 2 7 - 3 0 ; 1 2 , 2 5 ) . E m seguida, re- d) Assinalemos ainda u m a série de prescrições so-
petiram-se as coletas para a Cidade santa, pelo menos u m a ciais m e n c i o n a d a s no T a l m u d e , e q u e r e m o n t a m , segun-
104
vez, por ocasião da terceira viagem missionária de Pardo do dizem, a Josué. Dc acordo com essas disposições pode-
d u r a n t e a qual o apóstolo organizou u m serviço de auxí- riam t a m b é m levar a pastar o gado em campos alheios,
lios'' . A n a l i s a n d o tais coletas, K, H o l l associou à obri-
2 9 3 cortar lenha nas matas de outros, ceifar q u a l q u e r pasto,
gação da m a n u t e n ç ã o dos " p o b r e s " , com a qual Paulo (Gl salvo nos campos de feno grego,, e pescar à vontade no
2,10) e os apóstolos estão de acordo, a existência de u m a lago de G e n e s a r é .
taxa regular das c o m u n i d a d e s pagãs p a r a Jerusalém; é di- Q u e instilLiiçÕes públicas vemos nós em Jerusalém
fícil, porém, aceitar que tenha razão. no c a m p o da beneficência? O que jã dissemos da manu-
tenção dos pobres pela c o m u n i d a d e cristã primitiva le-
Vejamos agora qual a prática da beneficência pública. vou-nos a crer na existência, dentro do j u d a í s m o , de ins-
N ã o nos cabe descrever a legislação veterotestamentária tituições semelhantes anteriores. Com efeito, delas ouvi-
e rabínica no setor social. Ä guisa de i n t r o d u ç ã o , lembre- mos falar, por e x e m p l o , a propósito de u m a questão de
mos apenas as principais prescrições: a) o ano sabático, direito, discutida entre H a n a n b e n A b i s h a l o m , juiz cm
d u r a n t e o qual se deviam anular todas as dívidas ; o uso 94
Jerusalém e os sacerdotes chefes, c sobre a qual R. Yoha-
da cláusula c h a m a d a prosbole, i n t r o d u z i d a por H i l e l , 9 5
n a n ben Z a k k a i expõe sua opinião. Ficamos sabendo que
permitia escapar dessa obrigação, b) o dízimo dos po- uma m u l h e r cujo m a r i d o partiu p a r a o estrangeiro pode
bres : no terceiro e sexto ano, o fiel devia d a r aos po-
%
pedir subsídios à c o m u n i d a d e ; deve recebê-los do "cesto
105
bres, após ter deduzido as taxas já prescritas, u m décimo do p o b r e " (qüppah). A M i s h n a prevê a i n d a que u m po-
do que restava dos produtos colhidos. A Mishna lastima b r e deve receber do " p r a t o dos p o b r e s " (tamhüy) os 4 co-
que tantas vezes esse dízimo deixe de ser pago; ao q u e pos de vinho prescritos p a r a a Páscoa, no caso de não
tudo indica, vêem nessa negligência a causa d a manifes- p o d e r obtê-los de outra maneira ; esse costume remonta,
106
lenciosos' [em o u t r a fonte: dos p e c a d o r e s ] ; a outra, ' S a l a pessoas p o d i a m t a m b é m colocar seu d i n h e i r o em lugar se-
dos utensílios'. N a Sala dos silenciosos [ou dos p e c a d o r e s ] , guro, no T e m p l o ; conta-se que as viúvas e órfãos ser-
li5
qualquer m o d o , era proibido gastar o segundo dízimo nou- somente pagá-lo no p r i m e i r o , segundo, q u a r t o e q u i n t o
tro lugar q u e n ã o a c i d a d e santa. O t r a t a d o m í s h n i c o ano da semana de anos ; no sétimo ano o solo deveria
123
Ma'aser sem "segundo d í z i m o " expõe todas as questões ficar totalmente de pousio.
q u e se levantam sobre o assunto. E n c o n t r a m o s o u t r a interpretação na forma de texto
As prescrições sobre o segundo dízimo p a s s a r a m por mais recente {Alexandrinus-Vaticanus) da passagem de To-
diversos processos evolutivos. O mais antigo t e s t e m u n h o bias há pouco citada, texto que fala de três dízimos. C o m o
de u m segundo dízimo ao lado daquele que se era obri- fosefo explica , considerava-se como taxa a u t ô n o m a o
m
gado a d a r aos funcionários d o culto, encontra-se n a Se- dízimo para os pobres do terceiro e sexto ano. Além do
tenta, em Dt 2 6 , 1 2 , o livro dos jubileus X X X I I , 8-14 e mais, o segundo dízimo devia ser p a g o nos seis primeiros
T b 1,6-8 °, segundo a mais antiga das d u a s recensões
l2 anos da semana de anos. E m c o n t r a p a r t i d a , a literatura
existentes, a do Sinaiticus . De acordo com essa mais an-
121 rabínica m
parece defender a antiga m o d a l i d a d e , isto é, a
transformação, no terceiro e sexto a n o , do segundo dízimo
em dízimo p a r a os pobres. (Para Fílon , enfim, o segun- m
7 - Jerusalém no tempo de J e s u s
se trata de dinheiro utilizado em p r i m e i r o l u g a r na 1 3 9
Excurso I
c o m p r a de gado. A outra indicação é u m p o r m e n o r for-
necido por R a b b a n Shiméon b e n Gamaliel ( I I ) : distribuíam¬
-se em Jerusalém as colheitas do q u a r t o ano aos vizinhos,
parentes e conhecidos " p a r a decorar os bazares de Jerusa- A historicidade de Mateus 27,7
l é m " , a fim de que u m a oferta de aparência ostensiva
l4l)
avaliado para as terras. Em 'Ar. VIII 1, há uma exceção, mas A exposição seguinte abrange o período de 169 a.C. (pri-
trata-se de um exemplo de casuística: o preço do campo é de meira tomada de Jerusalém por Antíoco Epifanes) a 70 d.C.
um asse — 1/14 de denãrio . 'Ar. IX 2 menciona 1 e 2 mi-
144 (destruição de Jerusalém); exclui os casos que concernem uni-
nas, isto é, 100 e 200 denários; 'Ar. VIII 2 fala de um campo camente aos eventos militares.
pelo qual oferecem 10, 20, 30, 40, 50 seqel, de 4 denários 1. Na época de Antíoco V Eupator, Jerusalém foi asse-
cada u m , quer dizer, 40, 80, 120, 160, 200 denários. O pre-
145
obteve, graças às suas orações, a chuva tão ardentemente de- banhos foram dizimados ou transformados em alimento; a lã
sejada . Trata-se, com certeza, do mesmo fato narrado pela
w
deixou, pois, de existir, assim como outras matérias necessárias
literatura rabínica: passado o semi-adar (início de março) que à tecelagem" . 154
3. Depois da Páscoa de 64 a . C , um tufão destruiu as toútois for tomado como um masculino conforme pede a tradu-
colheitas em todo o p a í s . l49
foi particularmente devastadora. Processou-se por etapas: ocupava o cargo nessa data . Só conhecemos de maneira apro-
I58
a) Começou com uma seca persistente que tornou o país ximada a data do fim da procuradoria de Tibério Alexandre.
improdutivo e nele planta alguma brotava, b) A falta de gêneros Sua deposição é contada imediatamente antes da morte do rei
acarretou uma transformação nas condições de vida; como con- Herodes de Caleis que ocorreu no 8? ano (24 de janeiro 48-24
seqüência, diversas enfermidades e uma epidemia se espalha- de janeiro 49) do governo de Cláudio; temos, portanto, de si-
ram. Os infortúnios se agravaram reciprocamente porque a falta tuar essa deposição no ano 48 . Por conseguinte, a mudança
159
ramente, de maneira conjunta, a história familiar dos descen- deriam ter sido estas: o verão de 47 fez perder as colheitas;
dentes de Herodes e os acontecimentos de Roma, antes de se o ano sabático (outono 47-outono 48) agrava a fome e a pro-
voltar para a situação na Palestina. Em contrapartida, um fato longa até a colheita seguinte, verão de 49.
é certo: Ishmael foi entronizado antes da nomeação de Pórcio d) É possível que a literatura rabínica mencione também
Festo como governador da Judeia , portanto, no tempo do
m
coa de 54 é que esteja em causa. Mas essa possibilidade não bido a instrução extremamente jovem, pois Agripa I, em cujo
entra tampouco em cogitação se dermos fé à cronologia dos reinado Eleazar seria ainda uma criança, só ocupou o trono
Atos. Segundo esses, Paulo chegou a Jerusalém por volta do durante três anos.
Pentecostes de 55, e, nessa data, por conseguinte, Ananias exer-
cia ainda as suas funções (At 23,2;24,1). Um engano deve ter-se 9. Devemos situar pouco antes de 6 6 d . C , a penúria de
água em Jerusalém que se deu durante uma das três festas de
160. Ibid. 8, 8, § 179. peregrinação. A alusão ao comandante romano e o fato de ci-
161. Ibiã. 8, 1-3, § 148ss.
1Õ2. Ibid. 8, 9, § 182, 168. Sota V I I 8 p r o v a a o b s e r v â n c i a d o a n o sabático de 40-41,
163. T á c i t o , Ann. X I I 54. ver m e u artigo Sabbathjahr, e m Z N W 27 ( 1 9 2 8 ) , 100, n. 9.
164. Ant. X X 7, 1, § 137; B. /. II 12, 8, § 2 4 7 .
169. b . Yeb. 1 5 ; T o s . Sukka
b
I I 3 (193, 2 7 ) ; T o s . -Ed. II 2 (457,
165. T á c i t o , Ann. X I I 54.
14).
166. Ant. X X 5, 2-4, § 100-117.
167. Ant. X X 7, 1, § 138; B. /. I I 12, 8, § 247. 170. S c h l a í t e r , Tage, 80s.
1 7 1 . Ver infra, p . 246, n. 222.
tarem Naqdemon ben Goríon como homem de notoriedade,
indicam que se trata de um período anterior a 66; esse Naqde-
mon, durante a guerra judeu-romana, era um dos homens mais
ricos de Jerusalém . Casos semelhantes de falta de chuva nos
m
10. Foi sem dúvida no fim do verão do ano 69 que se B. A ALTA E A BAIXA CAMADA
deu a seca mencionada por Josefo: "Antes de sua chegada (a
de Tito), como o sabeis, a fonte de Siloé estava seca assim
como todas as outras, situadas diante da cidade devia-se, pois,
I Seção: As classes altas
comprar a água na ânfora" . Aliás, o período compreendido
174
174. B. j . V 9. § 410.
175. S c h ü r e r , I, 3 5 .
176. b . Hul. 6 5 . N a p r i m a v e r a d e 1915, p r e s e n c i e i a m a n e i r a c o m o
a
AS CLASSES ALTAS
Cap. I - O clero
Cap. II - A nobreza leiga
Cap. I I I - O s escribas
C a p . IV - Apêndice: os fariseus
CAPÍTULO I
O CLERO
A. O DETENTOR DA PRIMAZIA
O C o m a n d a n t e do Templo
C. OS SACERDOTES
2 4 seções h e b d o m a d á r i a s
c o m p r e e n d e n d o , c a d a u m a , 4 a 9 seções diárias
com 7 . 2 0 0 sacerdotes a p r o x i m a d a m e n t e
D. OS LEVITAS (CLERUS M I N O R )
1. Cantores e músicos
2 . Funcionários e guardas do T e m p l o
com 9 . 6 0 0 levitas a p r o x i m a d a m e n t e
A. O SUMO SACERDOTE 1
u m a dessas oito peças expiava p e c a d o s d e t e r m i n a d o s . As- 1
que nos o c u p a r e m o s agora, e n q u a n t o mais alta persona- u m decreto assinado de p r ó p r i o p u n h o com data de 2 8 de
gem do clero e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , do povo t o d o . j u n h o d e 45 d . C . C o m p r e e n d e m o s e n t ã o que a luta pela
O papel de chefe, representado pelo sumo sacerdote veste do sumo sacerdote foi, p a r a os j u d e u s , u m a luta re-
repousava no caráter de natureza cultual, a " s a n t i d a d e eter- ligiosa.
n a " (q düssat 'ôlam ,
e
character indelebilis),
s
q u e a função U m fato exprime b e m o caráter de n a t u r e z a cultual
lhe conferia e habilitava a c u m p r i r a expiação pela comu- que a função conferia ao sumo sacerdote: sua morte pos- y
com que era h o n r a d o o sumo sacerdote nesse Santo dos n h a licença de escolher p a r a si: 1) u m sacrifício pelo pe-
santos. Simão, o justo (por volta de 2 0 0 a.C.) e João 14
cado (animais ou a v e s ) ; 2 ) u m sacrifício de r e p a r a ç ã o ;
22 23 24
mente geral ao sumo sacerdote, a faculdade de profetizar. dos dois pães de primícias (fermentados) p a r a a festa de
A mínima falha nas regras litúrgicas acarretaria u m a sen-
tença de Deus ; era, pois, com tremor q u e o sumo sacer-
18
e Nb. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 ( 3 7 2 0 ) , i n d i c a 4 e n t r a d a s e a t é m e s m o 5,
a gio estendia-se a t o d o s os sacrifícios; cf. j . Yoma 1 2, 3 9 23 ( I I I / 2 ,
a
crime, teria de submeter-se somente à decisão do G r a n d e Entre as obrigações financeiras do sumo sacerdote
Sinédrio . 29
b . Yoma 17 .
b
ções. A i n d i c a ç ã o de Josefo e m B. j . V 5, 7, § 230 é m u i t o e x a t a : o
28. j . Yoma I 2, 38 » 63-69 3 ( I 1 I / 2 , 167). b . Pes. 57" b a r . e T o s .
1 a
s u m o s a c e r d o t e oficiava " a o s s á b a d o s , n a s n e o m ê n i a s , n a s festas an-
Zeb. X I 16 (497, 2-3) falam do r o u b o das peles pelos " m a i o r a i s d o cestrais [isto é, t r a d i c i o n a i s ] e n a s o u t r a s a s s e m b l é i a s p ú b l i c a s a n u a i s " .
c l e r o " ; essas opiniões c o n s t i t u e m d u a s i n f o r m a ç õ e s a m a i s , p o i s , tra- Essa i n f o r m a ç ã o c o n c o r d a p l e n a m e n t e com o q u e diz R. Y o s h u a b e n
ta-se d e u m a b u s o d o direito d o s u m o s a c e r d o t e d e escolher em pri- Levi (250 d.C.) n a r r a d o p o r R. U q b a : o s u m o s a c e r d o t e oficiava a o s
m e i r o lugar. s á b a d o s e nos dias de festa (j. Yoma I 2, 3 9 25 ( I I I / 2 , 168s). a
29. Sin. 1 5. 34. Lv 6,12-16; Ani. I I I 10. 7, § 257; L X X l C r 9,31; Eclo 45,14;
30. Para I I I 5 e passim. Fílon, De spec. leg. I, ] 256; Yoma II 3 ; I I I 4, e passim na M i s h n a ,
3 1 . A r e g u l a m e n t a ç ã o s o b r e a novilha v e r m e l h a acha-se em N i n 19. a o f e r e n d a se c o m p u n h a , ao t o d o , de u m d é c i m o d o 'epah ( 3 , 9 4 ' ) d e
32. Yoma I 2: " A o longo dos sete dias, a) ele e s p a r g i a o s a n g u e flor d e f a r i n h a m i s t u r a d a c o m óleo q u e se fazia c o z i n h a r ; cortavam¬
[do h o l o c a u s t o c o t i d i a n o , de m a n h ã e à t a r d e , n o altar dos h o l o c a u s - -se e m p e d a ç o s os b o l o s assim o b t i d o s e e r a m a i n d a r e g a d o s c o m
tos] ; b) oferecia o sacrifício dos p e r f u m e s [sobre o altar dos perfu- óleo. D e m a n h ã e à t a r d e , a m e t a d e era o f e r t a d a ( S c h ü r e r . I I , 3 4 8 ) .
m e s n o S a n t o ] ; c) p r e p a r a v a as l â m p a d a s [do c a n d e l a b r o de sete bra- 35. P a g a m e n t o p e l o s u m o s a c e r d o t e : Ant. I l l 10, 7, § 257, cf.
ços no S a n t o ] e d) oferecia a c a b e ç a e o q u a r t o d o a n i m a l [ h o l o c a u s t o Sheq. V I I 6, O f e r e n d a c o t i d i a n a pela seção d e s a c e r d o t e s em serviço:
d i á r i o , o b r i g a t ó r i o , m a n h ã e n o i t e , no a l t a r dos h o l o c a u s t o s ] " . Yoma II 3-5; Tamid I I I 1; I V 3 .
33. Ant. X V I I , 4, § 4 0 8 : antes de u m a festa ( X V I I I 4, 3, § 9 4 : 36. Ant. I I I 10, 3 , § 242;Hor. III 4.
antes das três festas d e p e r e g r i n a ç ã o e a n t e s do D i a das e x p i a ç õ e s ) , 37. j . Sheq. IV 3 , 4 8 35 ( I I I / 2 , 2 8 5 ) . S e m d ú v i d a , Sheq. I V 2
a
núcia faz c o m p r e e n d e r todo o seu rigor. Para os outros m e n t o d o sumo sacerdote d u r a n t e a noiíe, n o correr d a
sacerdotes tal determinação deixaria de ser prescrita no s e m a n a que precedia o Dia das expiações, foi talvez de-
caso de familiares: esposa, pais, filhos, irmãos, irmãs sol- cretado por volta do ano 20 d . C , após uma m a n c h a con-
teiras que m o r a v a m na casa do irmão . Para o sumo sa- 42
traída pelo sumo sacerdote S h i m e o n , filho d e K a m i t h
cerdote havia u m a única exceção: dizia respeito ao " m o r - (17-18 d . C ) . N a véspera d o D i a d a s expiações, ao cair
to de p r e c e i t o " , isto é, não deixando n e n h u m p a r e n t e .
43
da t a r d e , ele recebeu o escarro de u m árabe e viu-se, por
Q u e m encontrasse seu corpo devia prestar-lhe os últimos conseguinte, inapto p a r a o f i c i a r no D i a das e x p i a ç õ e s ' .
50 5
de semelhante caso de impureza levítica antes d a q u e l e t u í d a " c o m p r e e n d i a a prosélita, a escrava liberta e a de-
Dia. H a v i a ainda u m terceiro meio p a r a defender o sumo florada (como, por exemplo, a prisioneira de g u e r r a ) . 5S
sacerdote de q u a l q u e r nódoa antes dessa festa: na noite Assim, pois, a exegese rabínica reforçava a prescrição
q u e a precedia, m a n t i n h a m - n o d e s p e r t o p a r a evitar-lhe
52
p a r a o casamento do sumo sacerdote; só podia tomar p a r a
a i m p u r e z a prevista no final de Lv 2 2 , 4 . m u l h e r , u m a jovem, virgem, de 12 a 12 anos e meio, nas-
cida de u m sacerdote, de u m levita o u de u m israelita de
Essas regras de pureza t i n h a m por finalidade preser-
descendência legítima.
var a aptidão ritual do sumo sacerdote prestes a oficiar,
mas tornava-se ainda necessário garantir à sua descendên- Fílon, guiado pelo texto de Lv 2 1 , 1 3 segundo a Se-
cia a p u r e z a de origem, p o r q u e , segundo a Lei, sua fun- tenta , limita à filha de sacerdote a possibilidade de ca-
59
ção era hereditária. N o intuito de garantir tal p u r e z a , o samento com u m sumo sacerdote, e x c l u i n d o , pois, a filha
pontífice submetia-se a diversas prescrições ligadas a seu de levita e a filha de israelita . Fílon faz-se eco, sem dú-
6()
casamento. Segundo o Antigo T e s t a m e n t o , o sumo sacer- vida, não da prescrição em vigor n a Palestina, mas do
dote devia desposar uma jovem virgem; n ã o podia aceitar costume ali reinante; e m todo caso, b e m o sabemos, di-
n e m u m a viúva, n e m u m a divorciada, n e m uma r e p u d i a d a , versos sumos sacerdotes tiveram c o m o esposas, filhas de
n e m u m a prostituta (Lv 21,13-15). A exegese rabínica ex- sacerdotes ''. E m c o n t r a p a r t i d a , eis os raros casos de mu-
f
plicava essa prescrição, limitando o termo " j o v e m " àquela lheres de sumos sacerdotes que não e r a m de descendência
que tivesse doze anos e doze anos e m e i o ; por o u t r o 5 3 sacerdotal: a esposa de A l e x a n d r e Janeu, sumo sacerdote
lado, reforçava as proibições: por " v i ú v a " entendia tam- asmoneu , c a dc Pinhas de H a b t a , que os zelotas no-
bl
2 6 ) ; Nm. R. 2, 22 s o b r e 3, 4 ( I I 3 3 ) ; Tanhuma,
b
'aharê môt, § 7, 57. Sifra Lv 21,14 (47' 188, 1 ) . 1
Eleazar e r a b i S h i m e o n , rejeitava essa l i m i t a ç ã o d o t e r m o m o ç a à q u e - família pontifícia dos Boetos (Yeb. V 4; b . Yoma 1 8 ; cf. s u p r a , p .
a
submetido publicamente à mesma admoestação; e n q u a n t o t a m que M a r t a dera ao rei Agripa II u m a vultosa quan-
7 1
filho •— é provável que se tratasse de neto — de u m a tia p a r a fazer com que seu noivo fosse n o m e a d o sumo
prisioneira de guerra, não lhe foi permitido exercer a fun- sacerdote. Desse relato deduzimos q u e o casamento pro-
ção de sumo sacerdote. Mais ainda: o povo exaltou-se d e jetado c o m u m a viúva, casamento ilegal para u m sumo
tal maneira que o b o m b a r d e o u , por ocasião de u m a festa sacerdote, ameaçava impedir a n o m e a ç ã o de Yoshua ao
das T e n d a s , com os 'êtrôgím (cidras-limões) q u e todos os soberano pontificado. Podemos concluir q u e , t a m b é m nessa
israelitas traziam nas m ã o s , assim como o íülab (ramo d a circunstância, o desprezo d a Lei causou indignação a o povo
festa) d u r a n t e a celebração da m a n h ã , no T e m p l o . A ad- 67
e aos círculos fariseus. Só posteriormente (Yeb. V I 4) ten-
t a r a m legalizar o caso.
6 ) , os s u m o s s a c e r d o t e s ter-se-iam c a s a d o , de p r e f e r ê n c i a , c o m j o v e n s
d a tribo de A s e r ; trata-se de u m jogo de p a l a v r a s sem valor h i s t ó r i c o Entre as obrigações q u e a f u n ç ã o i m p u n h a a o s u m o
s o b r e G n 49,20.
64. Ant. X I I I 10, 5, § 288ss. Exigiu-se de João H i r c a n o r e n u n c i a r sacerdote, constava t a m b é m u m cerimonial correspondente
t a m b é m à função d e s u m o s a c e r d o t e a favor dos d e s c e n d e n t e s ; t a l à sua posição; esse cerimonial que o envolvia não se li-
fato é d e d u t í v e l d a s suas r e p e t i d a s c e n s u r a s dirigidas ao filho. Josefo m i t a v a , de m o d o a l g u m , às funções litúrgicas. Por exem-
d e m o n s t r a q u e e r a m sem f u n d a m e n t o . O T a l m u d e refere-se ao caso
e m b . Qid. 6 6 : u m fariseu idoso exige q u e A l e x a n d r e f a n e u r e n u n -
a plo: p a r a apresentar condolências, aproximava-se com cor-
cie ao p o n t i f i c a d o pois sua m ã e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a . D e m o d o tejo p o m p o s o . À sua direita mantinha-se sempre o coman-
geral, esse relato c o n c o r d a c o m o de Josefo, m a s c o n f u n d e as p e r s o -
n a g e n s : João H i r c a n o é t r a n s f o r m a d o c m A l e x a n d r e J a n e u e o fariseu
dante do T e m p l o . Se era o p r ó p r i o sacerdote que estava
E l e a z a r torna-se u m i n i m i g o dos fariseus. de l u t o , à sua esquerda ficava o chefe da seção dos sacer-
65. Supra, p . 216. dotes em exercício n a q u e l e dia. Se, pelo contrário, o sumo
66. C. Ap. I 7, § 3 5 .
67. Ant. X I I I 13, 5, § 371s. — T o s . Sukka I I I 16 (197, 2 2 ) , cf. 68. Sobre a ilegitimidade d o s a c e r d ó c i o a s m o n e u , ver infra, p . 250ss.
M i s h n a Sukka I V 9, c o n t a c o m o o p o v o a t a c o u u m s u m o s a c e r d o t e 69. Yeb. V I 4. — Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1) c h a m a a b
c u l a r m e n t e c u i d a d a ; dizem ser de uso o "corte j u l i a n o " pidas as suas funções, sua m o r t e c o n s e r v a v a u m a virtude
p a r a o cabelo, quer dizer, o cabelo b e m curto . 74 expiatória p a r a os criminosos que se e n c o n t r a v a m nas ci-
dades de r e f ú g i o . "A única diferença entre u m sumo
83
M e s m o após sua deposição, o sumo sacerdote con- sacerdote em exercício e u m deposto consiste no [paga-
servava o título e o prestígio. A i n d a mais: se, após u m a m e n t o e oferenda do] novilho no Dia das expiações e no
impureza ritual, o sumo sacerdote não pudesse oficiar no [ p a g a m e n t o ] do d é c i m o 'épha [de fina flor d e farinha a
Dia das expiações, outro sacerdote o substituía na ceri- ser q u e i m a d a todos os dias] " . M e s m o após a sua depo-
83
72. T o s . Sanh. I V 1 (420, 1 3 ) , cf. M i s h n a Sanh. I I 1. p o r q u ê , — a u n ç ã o prescrita pela Lei (Ex 29,7;30,22-33)
73. T o s . Sanh. I V 1 (420, 14). deixara de vigorar; a consagração do sumo sacerdote fa-
74. b . Sanh. 2 2 ; b . Ned. 5 1 (Bilíerbeck, I I I , 440, n . 1 ) .
b a
não contribuía p a r a a u m e n t a r o crédito inerente à função. quistas abusivas , transgressões das prescrições em vigor
9i
Para destruir a importância da função pontifical, H e r o - do T e m p l o , talvez mesmo falta de formação teológica
9 5
sacerdotes e, desprezando os privilégios da antiga aristo- do povo submetidas à influência dos fariseus, contribuíram
cracia dos sumos sacerdotes sadoquitas; chegou a n o m e a r p a r a diminuir o prestígio da função pontifical. Nesse pon-
sumo sacerdote qualquer m e m b r o de família sacerdotal to, p o r é m , é preciso n ã o exagerar.
c o m u m ; assim sendo, mesmo sob os r o m a n o s , o cargo Por outro lado, no século I de nossa era, a importân-
deixou de ser vitalício e hereditário. Herodes alcançou cia do sumo sacerdote via-se reforçada de m o d o conside-
seu fito, pelo menos em p a r t e . U m a total d e p e n d ê n c i a dos rável. C o m efeito, e n q u a n t o chefe do Sinédrio e primeiro
sumos sacerdotes em relação aos chefes políticos, alguns representante do p o v o , neste período em q u e não havia
casos de sintonia e a rivalidade dos chefes dos sacerdo-
90
38 ( I I I / 2 , 1 6 2 ) , e passim.
9 1 . Eis o texto de j . Yoma I 1, 3 8 43 ( 1 I I / 2 , 162s) relativo aos
ü d e s c o b r e a a r m a d i l h a (par. e m T o s . Yoma I 4 [180, 1 6 ] ; j . Hor. I I I
c a n d i d a t o s ao cargo de pontífice; c a d a u m excede o o u t r o n a s grati- 5, 4 7 7 [ n ã o t r a d u z i d o e m V I / 2 , 2 7 4 ] ) .
d
ficações. V e r t a m b é m j . Yoma I 1, 3 8 ( 1 I I / 2 , 1 6 4 ) : em 5 a . C , no
d
92. Supra, p . 144s.
D i a das e x p i a ç õ e s , Josefo, filho de E l l e m , s u b s t i t u i seu p a r e n t e M a t i a s , 9 3 . Supra, p . 141s.
filho de Teófilo, q u e u m a i m p u r e z a ritual i m p e d e d e oficiar. N e s s a 94. Supra, p . 218s.
ocasião, Josefo tenta afastar de seu c a r g o o s u m o s a c e r d o t e l e g í t i m o . 9 5 . V e r supra, p . 72.
A p r e s e n t a ao rei ( H e r o d e s ) u m a d ú v i d a a p a r e n t e m e n t e i n o c e n t e , m a s 96. Yoma I 6: p a r a manter-se a c o r d a d o d u r a n t e a noite q u e pre-
q u e , na v e r d a d e , constituía u m a c i l a d a : " O n o v i l h o [do sacrifício p e l o c e d e o Dia das e x p i a ç õ e s , o s u m o s a c e r d o t e q u e estava h a b i t u a d o
p e c a d o ] e o c a r n e i r o [do h o l o c a u s t o ] d e v e m ser pagos p o r m i m ou a ler, lia a l g u m a s p a s s a g e n s d o A n t i g o T e s t a m e n t o ; se, p e l o c o n t r á r i o ,
pelo s u m o s a c e r d o t e [em exercício] ?" Josefo espera q u e o rei r e s p o n - n ã o estava h a b i t u a d o a isso, a l g u é m fazia-lhe a l e i t u r a : " Z a c h a r y a b e n
da " p o r t i " , e assim o c o n f i r m a c o m o s u m o s a c e r d o t e ; m a s H e r o d e s Q e b u t a l dizia: M u i t a s vezes li Daniel p a r a e l e " ; cf. Hor. I I I 8.
miciliados p o r todo o país, só t i n h a m serviço n o T e m p l o
B. OS CHEFES DOS SACERDOTES
E OS CHEFES DOS LEVITAS u m a s e m a n a em 2 4 , e mais as três festas anuais de pere-
grinação.
O sacerdote d e grau mais elevado depois d o s u m o sa-
"a) O sumo sacerdote, ungido com o óleo da u n ç ã o 97
c e r d o t e , era o comandante do Templo (s"gan ha-kòha-
102
hiroü] m
. Sua função era u m a daquelas que se encontra-
cerdote diferençado pela investidura precede o sacerdote v a m ligadas por t o d o o ano ao culto do T e m p l o e pertencia
ungido p a r a a guerra (Dt 20,2-4);
a u m único titular.
b) aquele que é ungido p a r a a guerra [ p r e c e d e ] o A posição privilegiada d o c o m a n d a n t e do T e m p l o ma-
comandante do Templo (sugan) ; 99
a s e g u i n t e : s u m o s a c e r d o t e , katholikós, vigilante do T e m p l o , t e s o u r e i r o .
sembléia d o clero. Passamos a analisá-los. A esse respeito, 104. Ant. X X 6, 2, § 131 e passim- At 4,1;5,24.26.
convém observar que as funções de c o m a n d a n t e d o Tem- 105. Yoma I I I 9; I V 1; Tamid V I I 3 ; j . Yoma I I I 8, 4 1 4
a
plo, de vigilante e de tesoureiro (b, e, f) achavam-se tão ( I I 1 / 2 , 1 9 7 ) . Cf. V I I 1; Sota V I I 7-8. Q u a n d o o s u m o s a c e r d o t e apre-
senta s u a s c o n d o l ê n c i a s , o c o m a n d a n t e do T e m p l o m a n t é m - s e à s u a
intimamente ligadas ao culto do santuário que s u p u n h a m d i r e i t a , T o s . Sanh. I V 1 (420, 13) b . Sanh. 19» b a r .
uma presença p e r m a n e n t e de seus titulares em Jerusalém; 106. Yoma I V 1: p o r ocasião d o sorteio dos dois b o d e s p a r a o
em compensação, os sacerdotes investidos da função de s u m o s a c e r d o t e , n o D i a das E x p i a ç õ e s , o c o m a n d a n t e d o T e m p l o à sua
d i r e i t a o u o chefe d o s s a c e r d o t e s d a s e ç ã o , f a z e n d o o s e r v i ç o coti-
chefe das 24 seções sacerdotais h e b d o m a d á r i a s (c, d) do- d i a n o , e q u e se m a n t i n h a à e s q u e r d a , devia c o n v i d a r o s u m o s a c e r d o t e
a e r g u e r a m ã o n a qual a sorte " p a r a I a h w e h " caíra, e m o s t r a r o
resultado da sorte a todo o povo. Aqiba opina que nos defrontamos
97. O rito da c o n s a g r a ç ã o do s u m o s a c e r d o t e p r e s c r i t o pela Lei, aí com u m a m e d i d a de p r e c a u ç ã o c o n t r a os s a d u c e u s (b. Yoma 40 ;
b
mas q u e n ã o estava mais e m uso na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a . cf. T o s . Yoma 111 2 [185, 1 1 ] ; B ü c h l e r , Priesíer, 110s); ao q u e t u d o
98. R i t o d a c o n s a g r a ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e q u e eslava e m uso indica, e r a u m a q u e s t ã o d i s c u t i d a : o s u m o s a c e r d o t e deveria segurar
na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a . E m lugar do s u m o s a c e r d o t e i n v e s t i d o , a sorte " p a r a I a h w e h " na m ã o e s q u e r d a n o caso e m q u e a e x t r a ç ã o
j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V l / 2 , 278) m e n c i o n a " o p r o f e t a " .
b
dessa sorte a fazia cair nessa m ã o {opinião d o s fariseus) ? O u deve-
99. b . Táan, 3 1 b a r . coloca o c o m a n d a n t e d o T e m p l o a c i m a d o
a
ria ele, n e s s e c a s o , fazer p a s s a r d a m ã o e s q u e r d a p a r a a direita (opi-
sacerdote u n g i d o p a r a a g u e r r a . Em j . Hor. 111 9, 4 8 34 ( V I / 2 , 278)
b
n i ã o dos s a d u c e u s ) ? E r g u e r a m ã o era u m a m e d i d a d e p r e c a u ç ã o
falta o c o m a n d a n t e d o T e m p l o . c o n t r a os s a d u c e u s ; isso é c o n f i r m a d o p o r u m a regra s e m e l h a n t e n a
100. T o s . Hor. II 10 (476, 2 7 ) ; j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V I / 2 , 2 7 8 ) .
b
cerimônia da libação d e á g u a , p o r ocasião da festa das T e n d a s (Sukka
101. E n c o n t r a m o s h i e r a r q u i a s e m e l h a n t e e m Q u m r â n e m 1 QM I V 9 ) . O s s a d u c e u s r e j e i t a v a m a l i b a ç ã o de á g u a c o m o n ã o b í b l i c a ; p o r
II 1-4: s u m o s a c e r d o t e , seu s u b s t i t u t o , 12 chefes d e s a c e r d o t e s , os c a u s a d i s s o , u m s u m o s a c e r d o i e s a d u c e u , c e r t o a n o , d e r r a m o u a água
chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de s a c e r d o t e s , 12 chefes d e levitas s o b r e seus pés (ver infra, p . 218, n . 6 7 ) . P o r c o n s e g u i n t e , ao erguer
c os chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de levitas ( i n d i c a ç ã o d e G . a m ã o , o s u m o s a c e r d o t e d e v i a t o r n a r visível, o mais longe possível,
Kiinzing).
8 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
do D i a das expiações, substituto do sumo sacerdote, no T e m p l o e m 5 2 d . C ; o o u t r o , Eleazar , e m 6 6 . O u t r o fato
li0
caso em q u e surgisse algum empecilho e esse não pudesse n o s p r o v a que se nomeava c o m a n d a n t e do T e m p l o u m dos
exercer sua função . Finalmente, a importância deste posto
107
sacerdote n ã o seria n o m e a d o sumo sacerdote se não tivesse mear assim os dois filhos d e A a r ã o " c o m a n d a n t e s d o T e m -
sido, antes, c o m a n d a n t e do T e m p l o " .
p l o " , o M i d r a x e r e m e t e ao p a s s a d o u m título e u m a con-
Na v e r d a d e , essa afirmação apenas possui u m valor dição de época tardia. Devemos m e n c i o n a r , enfim, os casos
geral; com efeito, desde o início do reinado de H e r o d e s , o de substituição efetiva do sumo sacerdote. O sumo sacer-
G r a n d e , a n o m e a ç ã o do sumo sacerdote foi com freqüência
dote Shímeon, filho d e K a m i t h (17-18 d . C , a p r o x i m a d a -
arbitrária e d e t e r m i n a d a , p u r a e simplesmente, por consi-
m e n t e ) , substituído p o r seu i r m ã o n o D i a das Expia-
derações políticas. E n t r e t a n t o , essa indicação podia-se ve-
ções ; o sumo sacerdote Matias, filho de Teófilo entre
m
s gan ha-kôhãním
c
indica, o dos sacerdotes e m serviço. As
H a n a n y a , c o m a n d a n t e d o T e m p l o dizia: P o r q u e postava-se o c o m a n -
d a n t e d o T e m p l o à sua direita [à direita d o s u m o s a c e r d o t e p a r a o informações relativas a o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , Eleazar,
sorteio dos dois b o d e s , Yoma I V 1, ver a n . p r e c e d e n t e ] ? A fim d e d e q u e m vamos nos o c u p a r , confirmam esse p o n t o , assim
q u e , se a c o n t e c e r ao s u m o s a c e r d o t e tornar-se i n a p t o p a r a c u m p r i r suas
funções, o c o m a n d a n t e d o T e m p l o o s u b s t i t u a " . A q u i , h á u m a volta
ao p a s s a d o : é o p r ó p r i o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , o sábio H a n a n y a q u e 110. Ant. X X 9, 3, § 2 0 8 ; B. j . I I 17, 2, § 409.
relata essa t r a d i ç ã o . M a s é sem d ú v i d a a Tosefta q u e cita o verda- 111. Lv. R. 20, 2 s o b r e 16, I ( 5 1 2 2 ) ; Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1
b
v e r n a d o r da I d u m é i a . Dificilmente p o d e r í a m o s encon-
11B
P o r t a d o a d r o (mais i n t e r i o r ) . P o r c o n s e g u i n t e , a P o r t a de N i c a n o r
c a e n t r a d a d o a d r o q u e se a c h a m a i s p a r a d e n t r o . E n f i m , e sobre-
trar algo que ilustrasse m e l h o r a p l e n i t u d e de p o d e r de i u d o , c o n v é m o b s e r v a r q u e o á t r i o d a s m u l h e r e s era acessível a todos
que gozava o c o m a n d a n t e como senhor do T e m p l o , e de aqueles q u e só t i n h a m c o m o ú l t i m o rito d e p u r i f i c a ç ã o u m sacrifí-
cio a o f e r e c e r {Kel. I 8; T o s . Kel. B. Q. I 10 [ 5 7 0 , 1 ] ) ; era o c a s o ,
que prestígio era revestido.
p o r e x e m p l o , d o l e p r o s o q u e , a n t e s d a d e c l a r a ç ã o final de p u r e z a ,
d e v i a b a n h a r - s e n o hall d o s l e p r o s o s , s i t u a d o n o á t r i o d a s m u l h e r e s .
Após o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , v i n h a m , em o r d e m D e v e m o s , p o i s , a f i r m a r q u e a P o r i a de N i c a n o r , local d e d e c l a r a ç ã o
h i e r á r q u i c a , os chefes das seções sacerdotais hebdomadá- d a p u r e z a , é a p a s s a g e m q u e liga o á t r i o d a s m u l h e r e s a o á t r i o i n t e -
rior. Essa é t a m b é m a o p i n i ã o de D a l m a n , Itinéraires, 392 e n . 6, e
rias, e m n ú m e r o de 2 4 , e os chefes das seções cotidianas, mais r e c e n t e m e n t e , a p ó s u m e x a m e m i n u c i o s o d e t o d a s as fontes, a d e
a b r a n g e n d o cerca de 156, pois, cada seção h e b d o m a d á r i a K. Stauffer. Das Tor des Nikanor em ZNW 44 (1952-1953). 44-66.
fiilíerbeck, I I , 622-624, é de o p i n i ã o d i f e r e n t e ; situa a P o r t a d e N i c a -
era dividida em 4 a 9 seções d i á r i a s . Esses sacerdotes 119
n o r a leste d o á t r i o d a s m u l h e r e s .
viviam dispersos na Judéia e n a Galileia; exceto n a s três
121. Tamid V 6: " O chefe d a estação [ n o m e coletivo q u e desig-
festas anuais de p e r e g r i n a ç ã o , só estavam presentes em n a v a o s r e p r e s e n t a n t e s d o s leigos q u e c o m p u n h a m u m a s e ç ã o h e b d o -
Jerusalém u m a semana em 2 4 , q u a n d o lhes tocava a vez m a d á r i a , s u b i n d o a J e r u s a l é m ] c o l o c a v a os i m p u r o s n a s p o r t a s orien-
Inís [ = P o r t a d e N i c a n o r q u e , a l é m d o p ó r t i c o p r i n c i p a l , c o m p r e e n -
de fazer o serviço sacrificai. D u r a n t e aquela s e m a n a de dia, s e g u n d o Mid. II 6, d u a s p e q u e n i n a s p o r t a s , e d a í , o p l u r a l ] . Nm.
serviço, d e v i a m c u m p r i r as funções d e t e r m i n a d a s p a r a o K. 9, 11 s o b r e 5, 16 ( 5 0 1 9 ) : * " D i a n t e d e I a h w e h ' , ( N m 5,16) [isto
a
crificai. Sabemos por diferentes informações q u e ele se q u e faziam? As sete chaves do átrio [dos israelitas e do
colocava à esquerda do sumo sacerdote, e n q u a n t o esse ofe- átrio dos sacerdotes] estavam sob sua g u a r d a e, se u m
recia o sacrifício . E n t r e t a n t o , eram o c o m a n d a n t e do
m
deles quisesse [pela m a n h ã ] a b r i r , n ã o podia fazê-lo antes
T e m p l o e u m de seus s u b o r d i n a d o s , o "designado a tirar que lodos estivessem r e u n i d o s " . E v i d e n t e m e n t e , essa
U 1
c i t a d o supra, p . 2 2 4 s .
124. T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) .
125. S c h ü r e r , I I , 327. T a m b é m H . G r á t z , Topographische und 130. Sheq. V 2 ; T o s . Sheq. I I 15 (177, 6 ) , ver, e n t r e t a n t o , supra,
historische Streifzüge, I : Die letzten Tempelbeamten vor der Tempel- n. 126; j . Sheq. V 3 , 4 9 30 ( I I I / 2 , 2 9 5 ) .
a
funcionários sob seu controle. a administração das reservas do T e m p l o e de seu te- 145
pagava:
Sobre os vigilantes e tesoureiros do T e m p l o dos quais
1. O equivalente [ao que era dedicado ao T e m p l o , acabamos de tratar, possuímos informações mais minucio-
mas em d i n h e i r o ] ;
sas em duas listas de excepcional, valor, relativas aos "che-
2. os a n á t e m a s [dons p a r a o T e m p l o sem q u e a pes- fes ". Comecemos pela mais antiga ( T o s . Sheq. II 14;
soa pudesse p a g á - l o ] ; 177,2) . 147
152. N o m s . d e V i e n a e n a e d i ç ã o o r i g i n a l , os n o m e s de 5 a 6
foram invertidos.
°6. Binyamin, e n c a r r e g a d o da fabricação da oferen- c i n q ü e n t a anos, os levitas teriam de r e n u n c i a r ao seu tra-
da do sumo sacerdote cozida no carvão ,
1S3 b a l h o . É provável q u e Y o h a n a n — se depois de t u d o
,fi0
paralela do Sifre sobre Dt 1,16, esse texto falava primiti- dia t r a n s p o r t a r q u a l q u e r objeto de u m domínio p r i v a d o
v a m e n t e não de Y o h a n a n b e n G u d g e d a , mas de Y o h a n a n p a r a u m domínio público; t r a z i a m , pois, os lülab desde a
b e n N u r i . D e o u t r o lado, b e m o sabemos, Y o h a n a n b e n
1 5 S
sexta-feira, a fim de entregá-los aos servos (levitas) d o
G u d g e d a o c u p a v a seu cargo algum tempo antes d a des- Templo que os e m p i l h a v a m no pórtico do átrio exter-
164
1 6 1 . V e r n . 159.
m e s m o t e m p o , e r a c o n t e m p o r â n e o d e Y o h a n a n ben N u r i ; s o m e n t e esse
162. O o i t a v o dia d a festa, q u e era a festa d o e n c e r r a m e n t o , era
ú l t i m o n o m e se e n q u a d r a n o c o n t e x t o . Bacher, Ag. Tann., I, 368 n. 4,
c o n s i d e r a d o c o m o u m a festa p a r t i c u l a r ; n e s s e dia, o lülab da festa fi-
G . KJltel, Sifre zu Deuteronomium, S t u t t g a r t , 1922, 24, n. 4, e o u t r o s ,
cava suprimido,
p e n s a m i g u a l m e n t e q u e a i n f o r m a ç ã o original é a d o Sifre.
163. Sukka I V 1-2.
159. S e g u n d o b . 'Ar. l l , ele instrui o levita Y o s h u a b e n H a n a -
b
lista, é o filho de Arza que aparece como p r i m e i r o chefe [TÜ.] Ben Arza, primeiro chefe de músicos , m
172. S o b r e o sorteio das funções dos sacerdotes v e r infra, p . 275ss. 179. L i t e r a l m e n t e : " m a n e j a v a os c í m b a l o s " , q u e r dizer q u e , du-
Esse f u n c i o n á r i o era s a c e r d o t e . Isso se d e d u z , c l a r a m e n t e , d e Tamid r a n t e b serviço litúrgico, d a v a a o s levitas o sinal d o início d o c a n t o ,
1 3 e I V 3 : ele linha acesso ao átrio dos s a c e r d o t e s . A f u n ç ã o d o v i b r a n d o os c í m b a l o s . T u d o faz crer q u e fosse u m levita.
e n c a r r e g a d o d o sorteio era a de p r o c e d e r a t o d o s os sorteios dos 180. =Hógdos.
serviços; além disso, devia fiscalizar e dirigir t o d a a c e l e b r a ç ã o do 181. P r o v a v e l m e n t e u m levita, c o m o o d e m o n s t r a seu p a t r ô n i m o
c sua a t i v i d a d e : o c a n t o era e x c l u s i v a m e n t e e x e c u t a d o p e l o s levitas,
°12. A família [sacerdotal] de G a r m u se responsabi- nicas e faixas dos sacerdotes,..grande q u a n t i d a d e de púr-
lizava pela fabricação dos pães de proposição , U2
pura e de escarlate reservada p a r a u m a eventual r e p a r a ç ã o
"13. A família [sacerdotal] de Abtinas , responsável m
do véu do T e m p l o , assim como g r a n d e q u a n t i d a d e d e
pela fabricação dos perfumes para queimar , m
c i n a m o m o , cássia e a b u n d â n c i a d e o u t r o s a r ô m a t a s q u e
°14. Eleazar era encarregado das cortinas e m
iriam servir na mistura p a r a o sacrifício dos perfumes.
_^15. P i n h a s , das vestes dos sacerdotes . m
-Barqai . m
por conta do T e m p l o .
P a r a tanto, evocava B. j . V I 2 , 2 , § 1 1 4 ; A t 4 , 6 e dois
O desenrolar d a liturgia, a administração das finan- textos d a Mishna (Ket. X I I I 1-2; Ohal. X V I I 5 ) .
ças, a vigilância d o T e m p l o , tais e r a m os três campos de P o d e m o s desde já constatar, conforme veremos mais
atividade o n d e os chefes dos sacerdotes e os chefes dos adiante, q u e Schürer n ã o traduziu corretamente esses
levitas exerciam sua a u t o r i d a d e . dois textos da Mishna. N a passagem d a Guerra, Jo-
sefo c o n t a : " E n t r e eles [os tránsfugas] encontravam¬
Nesta p a r t e consagrada aos chefes dos sacerdotes, con- -se os sumos sacerdotes José e Jesus e os filhos; sumos
v é m estudar o i m p o r t a n t e emprego do termo archiereús, sacerdotes: três de Ismael, d e c a p i t a d o e m Cirene, q u a t r o
kôhen gadôl, q u e aparece n o N o v o T e s t a m e n t o , e m Flávio de Matias e u m de outro Matias q u e , conforme foi con-
Josefo e n o T a l m u d e . Só o N o v o Testamento cita 6 4 vezes tado, fugiu logo depois de seu pai e três de seus filhos
archiereís n o p l u r a l , q u a n d o , entretanto, h a v i a u m só s u m o terem sido c o n d e n a d o s à m o r t e p o r S i m ã o , filho de Gio-
sacerdote e m exercício; emprega mesmo de b o m g r a d o u m a ras. C o m os archiereís fugiram a i n d a muitos outros dig-
frase feita: "os archiereís e os a n c i ã o s " . P o d e r í a m o s pen- nitários ". Conforme pensa Schürer, p o d e m o s realmente
sar q u e esse plural sc explica pelo fato de a p a l a v r a de- ver juntos nos archiereís d a última frase, os dois sumos
signar n ã o somente o sumo sacerdote em exercício {kôhen sacerdotes depostos h á pouco m e n c i o n a d o s e os oito fi-
nfsammes) m a s , freqüentemente, t a m b é m u m sumo sacer- lhos dos sumos sacerdotes; assim s e n d o , o termo archie-
dote demitido (kôhen se'abar) . Essa solução n ã o é, po-
2m
Schürer, u m a p r o v a irrefutável.
Jesus, filho de Safias, " u m dos archiereís" , o archiereúsm
204. F r a g m e n t o d e u m p a p i r o d e O x i r i n c o e m B. P . Grenfcll e
Jesus p o r ter p e n e t r a d o n o santuário sem ter o b s e r v a d o as A . S. H u n t , The Oxyrhynchus Papyri V, L o n d r e s , 1908, n. 840.
205. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1 4 ) ; n o relato p a r a l e l o di-
a
1 9 9 . Supra, p . 2 3 1 .
b i s
206. b . Pes. 5 7 b a r . A l é m d o m a i s , é preciso citar a q u i o relato
a
migg düllatô.
E
exercício n ã o p r e c i s a v a submeter-se a o sorteio d o s serviços (Yoma l 2).
2 0 1 . Vita 39, § 197. 207. A. S c h l a t t e r faz u m a e x c e ç ã o , c o m o constatei depois (ver
202. B. j . II 20, 4, § 566. infra, p . 2 4 5 . n. 2 1 7 ) .
2 0 3 . B. j . I V 9, 11, § 574: V 13, 1, § 527-531; V I 2, 2 , § 114. 208. S c h ü r e r , I I , 275-277.
Schürer apela, c o m maior r a z ã o , p a r a At 4,6 o n d e t o m a r e m decisões e m m a t é r i a de direito c i v i l e recebe- 214
" m e m b r o s das famílias dos sumos s a c e r d o t e s " a p a r e c e m r e m cartas do estrangeiro . S c h ü r e r , tão seguro, comete,
21J
bros das famílias pontifícias fossem c h a m a d a s archiereís. passagens, de m o d o p a r t i c u l a r algumas variantes textuais,
Podemos nos p e r g u n t a r , com razão, se seria por m o t i v o m o s t r a m q u e a expressão bme kôhãnim g''dôlím não desig-
de sua origem, como Schürer vê-se obrigado a supor, que na, conforme pensa Schürer, os "filhos dos sumos sacer-
os m e m b r o s das famílias pontifícias citadas em A t 4,6 d o t e s " , m a s os kôhãnim g ãôüm; t
do mesmo m o d o , no An-
t i n h a m voz ativa no Sinédrio ou antes, por m o t i v o d e sua tigo T e s t a m e n t o ( l R s 2 0 , 3 5 e c o m u m e n t e ) os profetas são
função . 209 c h a m a d o s "filhos dos p r o f e t a s " ; no N o v o T e s t a m e n t o (Mt
12,27) os escribas são c h a m a d o s "filhos dos e s c r i b a s " .
F a l t a m , pois, provas a favor no sentido q u e Schürer
Com o u t r a s p a l a v r a s , o termo " f i l h o " designa não a des-
sustenta; mais a i n d a : p o d e m o s d u v i d a r seriamente dessa
cendência mas o sistema . Servimo-nos desse elemento
217
kôhãnim g dôlím, c
isto é, os kôhãnim gdôlim constituíam
gadôl . 211
Será que antes de 70 d.C. m e m b r o s das famí-
u m tribunal que tomava decisões em matéria de direito
lias pontifícias reinantes já m o r a v a m na Galileia? É m u i t o
civil a respeito dos sacerdotes. N o u t r o trecho relatam-nos
pouco provável! Segundo Schürer, os " m e m b r o s das fa-
u m a decisão dessa instância: no D i a das Expiações so-
mília sacerdotais" teriam a t u a d o no S i n é d r i o , h a v e r i a 212
3 (658, 5 ) ; ver S c h l a ü e r , Joch. b. Zak., 27, n . 1. O s p a p i r o s Z e n o n kôhãnim g^dôlim, p o r " c h e f e d e s a c e r d o t e s " (Ket. X I I I 1-2).
m e n c i o n a m t a m b é m u m Bait(Í) a n a t a na Galileia (Papiri greci e latini
[Pubblicazioni delia Società italiana], vol. V I , F l o r e n ç a , 1920, n . 594, 218. Yoma V I 3 . A i n f o r m a ç ã o " d e c i s ã o dos s a c e r d o t e s " em vez
linha 1 8 ) . de " d e c i s ã o dos chefes dos s a c e r d o t e s " (ed. p r í n c i p e , N á p o l e s , 1492;
ed. d e V e n e z a , 1609; m s . d e C a m b r i d g e , e d . W . H . Lov/e, C a m b r i d g e ,
2 1 1 . ARN rec. A ch. 12, 5 6 9; rec. B ch. 2 7 , 5 6 29 ( R a m a t
a a
como o demonstra t a m b é m a sua teologia saducéia ; for- 223 p o r q u e se m e n c i o n a m n o m e s d e archiereís q u e não cons-
m a m u m colégio a u t ô n o m o e exercem a u t o r i d a d e nas de- tam da lista dos sumos sacerdotes e m exercício, por que
cisões a respeito dos sacerdotes e nas questões cultuais; um kôhen gadôl, archiereús p o d e m o r a r n a Galileia, por
trata-se, pois, de u m clero superior do T e m p l o de Jeru- que p o d e submeter-se ao sorteio , p o r q u e o sumo sacer-
221
os chefes dos s a c e r d o t e s e os a n c i ã o s ) ; ]o 12,10. b e r d a d e Josefo conta q u e os servidores dos chefes dos sa-
232. M t 27,6; ver supra, p . 198. cerdotes r o u b a r a m das eiras dos camponeses o dízimo des-
233. M c 1 4 , 1 0 4 1 ; M t 26,14-15; Lc 22,4-5.
234. Mt 28.11; é difícil i m a g i n a r q u e os g u a r d a s d o s e p u l c r o fos-
sem soldados r o m a n o s ; esses, com efeito, n ã o t e r i a m o u s a d o acusar-se 235. T r a t a - s e , e v i d e n t e m e n t e , de u m g r o s s e i r o a b u s o d o d i r e i t o d o
d e q u e h a v i a m d o r m i d o d u r a n t e a g u a r d a ( 2 8 , 1 3 ) . Assim t a m b é m , o s u m o s a c e r d o t e de escolher a n t e s dos o u t r o s ; esse direito é d e s c r i t o
aviso aos chefes dos sacerdoles deixa e n t e n d e r q u e se t r a t a d a p o l í c i a supra, p . 2 1 3 .
do T e m p l o (28,11). P o r c o n s e g u i n t e , c o n v é m t o m a r o ¡léchete de M t 2 3 6 . b . Pes. 5 7 b a r . ; T o s . Zeb. X I 16 (497, 2-3).
a
27.65 c o m o indicativo e n ã o c o m o i m p e r a t i v o .
tinado aos s a c e r d o t e s . Essas diferenças sociais e n t r e os
2Í7
igualmente, sem u m a falta sequer, até o século IV antes Onias II Até 175 filho do sumo sacerdote sucessão
de nossa era. E m suas Antiguidades, Josefo lhe dá pros- Simão
seguimento, desde essas referências até o sumo sacerdote Jesus (Jasão) 175-172 filho do sumo sacerdote Antíoco
Simão IV
Menelau (172-162 a.C.) q u e , segundo seu p o n t o de vista
242
Epifanes
certamente falso (ver a b a i x o , p . 2 5 4 ) , foi o último s u m o Antíoco
Menelau 172-162 sacerdote não sadoquita
sacerdote sadoquita l e g í t i m o . Contamos 14 gerações de
243
IV
Epifanes
237. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206s. Yakim (Alei- 162-159 sacerdote ilegítimo Antíoco
238. At 4,6; Ant. X V 3, 1, $ 39. mo) V
239. 2 S m 8,17; 15,24 e passim; l R s 1,8 e passim. e s p e c i a l m e n t e 2.35. Eupator
240. Na v e r d a d e , o direito dos s a d o q u i t a s ao s a c e r d ó c i o n ã o re-
m o n t a , p e l o m e n o s ao q u e s a b e m o s , senão a t é a é p o c a d e S a l o m ã o , v e r (?)
W e l h a u s e n , Pharisäer, p p . 47ss.
2 4 1 . A t é a época de S a l o m ã o figura u m a lista p a r a l e l a , l C r 6,35-38, 2 4 4 . l C r 5,29-36; Tosefo, Ant. X X 10, 1 § 228, conta t r e z e .
de a c o r d o c o m a p r i m e i r a . 245. j . Yoma I 1, 3 8 37 ( I I I / 2 1 6 2 ) ; Ant. X X 10, 2, § 2 3 1 .
c
Como sabemos, existe uma divergência de opiniões quan- em um dos livros dos Macabeus, mas ambos partem de cál-
to ao início da era selêucida que, nesses dois livros, serve de culos diferentes para situar a era selêucida. Estão de acordo so-
base à cronologia; se na primavera (1? nisan) 311 a.C. ou 249
bre se a campanha se realizou no outuno 163 a.C. Na realidade,
312 a.C. , ou no outono (1? tishri) 312 a . C . " ; ou até mesmo,
250 2
esse outono, segundo a cronologia do judaísmo empregada por
se não há, no 1" livro dos Macabeus, uma dupla cronologia, 2Mc, pertence ainda ao ano 149 da era selêucida (— primavera
correspondendo, realmente, aos dois cômputos diferentes, o da 163-primavera 162); em contrapartida, segundo a cronologia
Babilônia e o da Síria-Macedônia: a) uma cronologia para os sírio-macedônica utilizada por IMc para os eventos políticos,
eventos políticos, começando no outono de 312; b) uma cro- esse outono 163 a.C. já pertence ao ano 150 da era selêucida
nologia para os eventos "eclesiais" da vida interna judaica, co- (— outono 163-outono 162).
meçando na primavera de 311. Baseando-se na lista dos selêu-
cidas, British Museum 35 603 publicada pela primeira v e z 252
2. Uma análise dos acontecimentos do ano 160 da era
em 1954, J. Schaumberger propôs essa última solução. Real-
253
selêucida contados por IMc 10,1-21 mostra que IMc calcula
mente, essa hipótese de dupla cronologia no 1"? livro dos Ma- também os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica
cabeus poderia ser exata, pois explica melhor as diferenças a partir da primavera (311 a . C ) ; uma vez Alexandre Balas
entre o 1? e o 2? livro dos Macabeus na cronologia dos acon- tornado rei (IMc 10,1), Demétrio Soter esforça-se por anga-
tecimentos políticos. riar a amizade dos judeus (10,2-7) que, a essa altura, forti-
ficam Jerusalém (10,8-14). Então, Alexandre Balas também faz
A a r ã o (ver supra, n . 241) n e m i m a g i n a r o chefe dos s a c e r d o t e s do propostas aos judeus (10,15-20). Nessa situação política favo-
T e m p l o de J e r u s a l é m , a n t e s do exílio, i n v e s t i d o d o p r i m a d o s o b r e o rável, Jonatas, na festa das Tendas, reveste-se a si mesmo dos
clero d a m e s m a m a n e i r a q u e após o exílio. P a r a a crítica m a i s m i n u - paramentos de sumo sacerdote (10,21). — Os judeus celebra-
ciosa ver infra, p . 254, n. 256.
vam a festa das Tendas do 15 ao 21 tishri. Se a era selêucida
249. S e g u n d o a lista dos selêucidas British Museum 35 603 p u b l i -
c a d a p o r A. \. Sachs e D . J. W i s e m a n e m íraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212, tivesse começado no outono, todos os acontecimentos prece-
a m o r t e d e A n t í o c o I V deu-se e n t r e 19 de n o v e m b r o e 19 de d e z e m b r o dentes do ano 160 dessa era deveriam ter acontecido do \°- ao
160 a.C. A m e s m a d a t a em I M c 6,16: o a n o d a m o r t e de A n t í o c o 14 tishri. É absolutamente impossível. Em contrapartida, todas
I V e o a n o 149 d a era selêucida = d o o u t o n o 164 ao o u t o n o 163. as dificludades desapareceriam se, para esse acontecimento da
249. W . K o l b e , Beiträge zur syrischen und jüdischen Geschichte,
Stuttgart, 1926, 47-57.
vida interna judaica, o ano 160 da era selêucida fosse contada
250. S c h ü r e r , I, 32-38, q u e retrata sua o p i n i ã o a n t e r i o r e m u i t a s a partir da primavera (311 a . C ) ; nesse caso, o ano 160 da
outras. era selêucida teria sido da primavera 152 à primavera 151.
2 5 1 . M e y e r , Ursprung, I I , 2 4 8 , n . 1, e o u t r a s . S e g u n d o S. Z e i t í í n , Sucede, pois, que IMc utiliza duplo cálculo da era selêucida:
Megillat Taanit as a Source for Jewish Chronology and History in the
Hellenistic and Roman Periods, em JQR n. s. 9 (1918-1919), 8 1 , ao
o u t o n o 313 a . C ; é impossível. n h a r t , Untersuchungen zur israeiítisch-jüdischen Chronologie, BZAW
252. A . J. Sachs e D . W i s e m a n , A Babylonian King List of the 88, Berlim, 1964, 49-96.
Hellenistic Period, em Iraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212. 254. E m 2 M c os fatos s ã o m a i s simples já q u e , c o m e x c e ç ã o das
2 5 3 . Die neue SeleukidenUste B. M. 35 603 und die makkabaische d u a s c a r t a s d o c a p . I I , as d a t a s são d a d a s s e g u n d o o cálculo d a v i d a
Chronologie, e m Bibblica 36 ( 1 9 5 5 ) , 423-435; cf. R. H a n h a r t , " Z u r interna judaica.
Z e i t r e c h n u n g des I u n d II M a k k a b a e r b u c h e s " , e m A. Jepsen-R. Ha- 255. Art. cit., 429s.
os acontecimentos políticos são contados a partir do outono Jasão, p o r é m , n ã o desfrutou por m u i t o t e m p o dessa
312 a . C , os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica função ilegalmente c o n q u i s t a d a . E m 1 7 2 , após três anos
a partir da primavera de 311.
de pontificado (2Mc 4,23), Antíoco IV destituiu-o e o subs-
Retomemos agora a lista dos últimos s u m o s sacerdo- tituiu por u m não sadoquita — ofensa aos sentimentos mais
tes apresentada um pouco a c i m a . Segundo a o p i n i ã o certa- sagrados do povo — M e n e l a u , da classe sacerdotal de
mente exata do livro d e Daniel ( 9 , 2 5 - 2 6 ; l l , 2 2 ) , O n i a s I í Bilga, que p r o m e t e r a ao rei impostos ainda mais eleva-
foi o último sumo sacerdote legítimo na sucessão s a d o q u i t a dos . A justo título, o povo considerava O n i a s I I , ainda
219
l e g a l . A m a n d o d e A n t í o c o IV. e m 1 7 5 a . C .
256
substi- 357 vivo, como o s u m o sacerdote legítimo °; pela violação da 26
tuíu-o seu i r m ã o Jesus (helenizara seu n o m e p a r a Jasão) fé j u r a d a , Menelau condenou-o à morte em fins de 172 —
q u e , e m troca, p r o m e t e r a a o rei altas quantias e a intro- início de 171 a . C . . 261
a Lei, e n t r e t a n t o , Onias I I tinha direito vitalício à sua p a r a sempre sucessor legítimo do pontificado, declarou
função, e seu filho que t a m b é m se c h a m a v a Onias ( I I I ) guerra. Em 170 conquistou Jerusalém n u m ataque ines-
seria o sucessor mais p r ó x i m o n o soberano pontificado . 258
p e r a d o e seguro, com exceção da fortaleza o n d e Mene- 263
e m p a í s p a g ã o e, mais ainda, encontrou, p a r a executar seu essa apresentação é exata, a tolerância deles só p o d e ser
p l a n o , m u i t o s sacerdotes e levitas, u m a c o m u n i d a d e , e os explicada pela imensa deferência p a r a c o m a dignidade d o
meios necessários, realmente consideráveis. Enfim, esse sumo sacerdote. Para c o m p r e e n d e r a atitude pacífica dos
templo rival subsistiu e m país pagão d u r a n t e 2 4 3 anos, Macabeus e m relação a M e n e l a u , tal c o m o chegamos a
até a s u a destruição, pelos r o m a n o s , e m 7 3 d.C. Essas cir- deduzi-la d a n a r r a ç ã o d e Josefo, p o d e r í a m o s t a m b é m levar
cunstâncias seriam a b s o l u t a m e n t e incompreensíveis, se n ã o em conta q u e o legítimo sucessor d o pontificado, Onias
soubéssemos c o m q u e força vivia, n o p o v o , a convicção ( I I I ) p e r d e r a seus direitos ao construir u m templo rival,
de q u e Onias I I I era o sucessor legítimo p a r a o pontifi- no Egito, e, d e o u t r o l a d o , q u e os M a c a b e u s n ã o e r a m
cado, e n q u a n t o filho d e Onias I I , último sumo sacerdote ainda, de m o d o algum, os senhores poderosos da situação
sadoquita legítimo \ A legitimidade d o sumo sacerdote e
2 W
e tiveram, p o r exemplo, d e aceitar, e m 162 a . C , q u e o
rei d a Síria nomeasse o sumo sacerdote. N ã o é certo, po-
Antiguidades é d e t u r p a d a d e m o d o t e n d e n c i o s o visto q u e o relato d e
Ani. X l l 5, 1. § 237ss é d o m i n a d o p e l a p r e o c u p a ç ã o d e e s c o n d e r al- rém, q u e os Macabeus t e n h a m tolerado como sumo sacer-
g u m a i r r e g u l a r i d a d e n a sucessão d o s s u m o s s a c e r d o t e s (ver supra, p . dote o c o l a b o r a d o r Menelau, q u a n t o mais q u e I M c 4 , 4 2
254s, n , 258-259-261). É p o r isso q u e , s e g u n d o Ant,, foi o a n t i g o s u m o
s a c e r d o t e Jasão, e n ã o O n i a s 111 q u e e m p r e e n d e u o a t a q u e a Jerusa- declara: " J u d a s escolheu sacerdotes sem m á c u l a , pratican-
l é m e m 170 a . C . tes d a L e i " . Podemos somente afirmar q u e , até 1 6 2 a . C ,
264, S e g u n d o I M c l , 2 0 s e Ant. V I I 5, 3 , § 246, d e v o l t a d e s u a Menelau foi, n o m i n a l m e n t e , s u m o s a c e r d o t e . 268
9 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
(Alcimo) que os sírios alçaram então (162 a.C.) ao sumo r a n c e m o s d e n o v o u m o l h a r retrospectivo sobre a se-
sacerdócio ™, n ã o era, com efeito, descendente do último
2
qüenrin dos sumos sacerdotes d u r a n t e os q u i n z e anos es-
s u m o sacerdote legítimo Onias I I , m a s , pelo m e n o s , sa- tudados (175-159 a . C ) .
doquita , e o fato de ter h a v i d o de n o v o , após Menelau,
m
Depois d a destituição d e O n i a s I I , último s u m o sa-
u m sadoquita como sumo sacerdote, foi o suficiente p a r a cerdote legítimo da família d e Sadoc, vemos, sucessiva-
despertar as esperanças. Os assideus a b a n d o n a r a m os Ma- meiiíc, c o m o s u m o s sacerdotes: 1? um u s u r p a d o r sadoquita,
cabeus e se coligaram a Y a k i m ( l M c 7, 12-15) que de- Jesus ( l a s ã o ) , 175-172; 2' u m sacerdote d a classe d e Belga
1
r a m e n t e , a intensidade dessa confusão: de 159 a 152 a . C , tas ( 1 6 1 - 1 4 3 / 2 ) , revestiu-se das vestes pontificais. A t é en-
no dizer de Josefo, o cargo de sumo sacerdote dos judeus tão, o bêí hasmônay e r a , d e n t r o da classe sacerdotal de
277
tos. A oposição deles visava aos filhos da prisioneira de ná-lo; i m e d i a t a m e n t e após essa festa deu ordens p a r a afo-
guerra, e, s o b r e t u d o , dos descendentes d e u m a família sa- gá-lo n u m a piscina de Jericó . Aristóbulo foi o último
m
não muito tempo após o fim do exílio: " E [os profetas A t o m a d a de Jerusalém em 37 a.C. m a r c a o início
de Jerusalém] entretiveram-se assim c o m eles [as 24 clas- de u m terceiro período: a supressão do soberano pontifi-
ses sacerdotais h e b d o m a d á r i a s ] : ' M e s m o que Y e h o y a r i b cado vitalício e, ao m e s m o t e m p o , a cessação do princí-
[família sacerdotal à qual p e r t e n c e m os asmoneus] deva pio d e h e r e d i t a r i e d a d e . Salvo d u a s exceções — o babilô-
voltar do exílio, n e n h u m de vós [de vossas seções h e b d o -
m a d á r i a s ] deve-se afastar em benefício dela, m a s , sim, in- 2 8 1 . Ani. X V 3 , 3 , § 50-52; B. j . I 2 2 , 2, § 437.
tegrá-la [uma d e vossas seções h e b d o m a d á r i a s ] ' ". Segun- 2 8 2 . Ant. X V 3 , 3 , § 53-56; B. j . I 22, 2, § 437.
do esse texto, p o r conseguinte, os asmoneus n ã o t ê m se- 2 8 3 . H e r o d e s mandem assassinar os filhos de Babas; i n i c i a l m e n t e
e s c o n d i d o s p o r u m ilustre i d u m e u , C o s t o b a r , f o r a m vítimas d a juris-
quer o direito de serem m e m b r o s de u m a seção sacerdotal d i ç ã o c r i m i n o s a d e H e r o d e s c m 28 ou 27 a.C. D e v i a m ser p a r e n t e s
afastados do r a m o a s m o n e u r e i n a n t e , p o i s s e u n o m e n ã o a p a r e c e e m
n e n h u m o u t r o l u g a r . E n t r e t a n t o , H e r o d e s n ã o os p o u p o u . E r a m os úl-
278. T o s . Ta'an. I I 2 (216, 1 7 ) ; /. Ta'an. IV 2, 6 8 a
14 (IV/l, timos r e p r e s e n t a n t e s d e s e x o m a s c u l i n o d a família a s m o n é i a (Ant.
178) : 5 a 9 seções cotidianas. X V 7, 10, § 260-266).
279. Ver supra, p . 218. 284. Ant. X V 7, 10, § 266; " d e m a n e i r a q u e n ã o sobreviveu nin-
280. T o s . Ta'an. I I 1 (216, 15) p a r . j . Ta'an. I V 2, 6 8 a
842 (IV/1,
178); b. Ta'an. 2 7 ;b
b . 'Ar. 1 3 .
a g u é m d a família d e H i r c a n o " . E x t e r m i n a ç ã o c o m p l e t a d o s a s m o n e u s
em b . B. B. 3 i g u a l m e n t e .
b
nio A n a n e l 285
e o asmoneu Aristóbulo h á p o u c o citado — Intersacerdo- a) O sacerdote Alci-
Herodes só n o m e o u sumos sacerdotes " m e m b r o s d a s fa- tium mo 1 3
mílias sacerdotais c o m u n s " ; instituía e destituía sumos
2 8 6
b) Período sem sumo
sacerdotes a seu bel-prazer. Essa situação a n á r q u i c a con- sacerdote •— 7
tinuou até a destruição d o T e m p l o e m 70 d . C ) , de tal 2? período:
forma q u e , e m 106 anos (37 a . C . — 70 d . C ) , h o u v e 2 8 asmoneus 8 113 290
mílias de o n d e , desde 37 a . C , saíam os sumos sacerdo- rodes t a m b é m representou, neste p o n t o , o papel de guar-
tes; delas ainda falaremos com mais m i n ú c i a s . Os zelotas da da tradição, ao n o m e a r sumo sacerdote, e m lugar dos
t i n h a m r a z ã o ; tratava-se de famílias sacerdotais c o m u n s " u s u r p a d o r e s " a s m o n e u s , u m d e s c e n d e n t e d a família sa-
e consideradas ilegítimas. Para substituí-las, os novos di- doquita legítima. M a s , c o m o os zelotas mais t a r d e , escolheu
rigentes, servindo-se de um velho costume, i n t r o d u z i r a m p r u d e n t e m e n t e u m h o m e m sem q u a l q u e r p r o j e ç ã o . 299
fícia. N a o é p o r a c a s o q u e se c h a m a v a S a d o c !
rodes (22-5 a . C ) ; notemos a d u r a ç ã o de seu pontificado:
rie, c o m o vimos, pertenciam a u m a família legítima; o
17 anos! ; essa família a i n d a conseguiu investir das fun-
307
política da força, em p a r t e b r u t a l ( p a u l a d a s , m u r r o s ) , em
Aí de mim por causa da família de Qatros (Tos.: Qadros; é p a r t e intrigante ( m u r m u r a ç õ e s , c a l a m o s ) . Essa política per-
[Kantheras), mitia-lhe obter as principais funções do T e m p l o , assim
ai de mim por causa de seu cálama! 319
lista p o r causa de sua idade e influência; b) seu g e n r o política da assembléia do p o v o . E m 6 6 , com efeito, u m
3 3 1
Caifás, sumo sacerdote em exercício (18-37 ap.); c) Jona- dos dois governantes de Jerusalém foi o ex-sumo sacer-
tas, filho de Anás q u e , alguns anos após o evento n a r r a d o dote A n a n ; u m dos dois da I d u m é i a foi o chefe dos sa-
por At 4,1-22, sucedeu a Caifás como sumo sacerdote cerdotes, o o u t r o , o filho do s u m o sacerdote A n a n ; além
(37) 327
e q u e , segundo t u d o indica , era, na época, co- 328
mílias sacerdotais na m e d i d a em que o c u p a v a m os postos seu nepotismo, a aristocracia sacerdotal conseguiu ter nas
de chefes de sacerdotes no T e m p l o de Jerusalém. mãos não somente a força política, m a s t a m b é m a admi-
nistração dos fundos do T e m p l o , que é igualmente impor-
3 2 3 . N a m a i o r i a dos mss. lê-se íoánnes. E m c o n t r a p a r t i d a , em tante. "Seus filhos são t e s o u r e i r o s . . . e seus servos mal-
D d g p lê-se Ionãthas. João a p a r e c e cerca d e 135 vezes no N o v o T e s - t r a t a m o p o v o com p a u l a d a s " , lemos h á pouco no lamento
t a m e n t o , e n q u a n t o J o n a t a s n ã o é e n c o n t r a d o em l u g a r a l g u m ; a l é m
do m a i s , a i n t e r v e n ç ã o desses dois n o m e s encontra-se n o u t r o l u g a r . de A b b a Shaul. A queixa a respeito das brutalidades dos
( T h . Z A H N , Die Aposíelgeschichte T, 3? ed., Leipzig, 1922, 167, n . 8 8 ) . servos faz p e n s a r nos casos, acima n a r r a d o s , de apropria-
Razões de crítica i n t e r n a p e r m i t e m , pois, sem d ú v i d a , d e c i d i r a f a v o r
da v e r s ã o J o n a t a s das t e s t e m u n h a s ocidentais q u e a c a b a m d e ser c i t a d a s . ção b r u t a l e ilegal das taxas e porções de vítimas desti-
324. C o m p a r a r o v. 8 c o m o v. 2 3 ! —• O m e s m o e m p r e g o d o n a d a s aos sacerdotes das 24 seções h e b d o m a d á r i a s . N a
t e r m o se e n c o n t r a já, talvez, e m l M c 1,26 " A r c o n t e s e a n c i ã o s " c o m realidade, p o d e m o s constatar q u e a m a i o r i a das famílias,
7,33 e 11,23 " s a c e r d o t e s e a n c i ã o s " . D e o u t r o m o d o e m 14,28, o n d e
" s a c e r d o t e s , a r c o n t e s d o p o v o e a n c i ã o s do p a í s " e n c o n t r a m - s e u n s a o da n o v a h i e r a r q u i a , assim como os Boetos, A n á s , Fiabi,
l a d o dos o u t r o s . d i s p u n h a m de grandes recursos . 333
va-se a m u l t i d ã o dos sacerdotes. N o meio do povo j u d e u , plo dessa divisão, sob a forma do bêt hasmônay, seção co-
0 clero constituía u m a c o m u n i d a d e tribal fortemente or- tidiana que fazia p a r t e da seção h e b d o m a d á r i a de Joiarib.
ganizada que fazia r e m o n t a r sua genealogia até A a r ã o , E n c a b e ç a n d o u m a seção h e b d o m a d á r i a achava-se o rôs-ha-
e d e n t r o da qual o sacerdócio se transmitia por h e r a n ç a . -mismar; e n c a b e ç a n d o u m a seção cotidiana, o rôs bêt'ab . m
Segundo u m a distribuição m u i t o antiga, o clero era V e m o s , pois. que o conjunto dos sacerdotes se c o m p u n h a
dividido em classes sacerdotais. Já em 4 5 5 a.C., por oca- d e 2 4 seções h e b d o m a d á r i a s , divididas em a p r o x i m a d a m e n t e
sião da assinatura solene da Lei, contavam-se 2 1 classes 156 seções cotidianas.
sacerdotais, seções p a r a o serviço (Ne 10,3-9). N o século N a presente pesquisa não nos toca descrever a ati-
I V , cerca do fim do período persa, aparece u m a segunda vidade litúrgica dos sacerdotes. E m compensação, ligado
lista q u e m e n c i o n a 2 2 ; cinco das classes antigas desapa- ao que expusemos sobre a sua distribuição social, devemos
receram, seis novas lhes foram acrescentadas (Ne 1 2 , 1 . 7 . p r o c u r a r saber o n ú m e r o dos sacerdotes j u d e u s .
12-21). O primeiro livro das Crônicas cita, pela p r i m e i r a C o m exagero i n c o m u m , o T a l m u d e afirma que a me-
vez, 24 classes de sacerdotes; de novo doze antigas clas- nor das seções h e b d o m a d á r i a s com sede em Shihin, na
ses desapareceram, catorze novas surgem ( l C r 2 4 , 1 - 1 9 ) . Galileia, contava com 8 5 . 0 0 0 jovens sacerdotes . Opos- 343
E m l C r 2 4 , 7 , a família sacerdotal d e Joiarib à qual per- t a m e n t e , segundo o Pseudo-Hecateu , o n ú m e r o não ex- í44
tenciam os M a c a b e u s ( l M c 2 , 1 ; 14,29) é citada em pri- cedia a 1.500 . N e m m e s m o esse n ú m e r o deve ser le-
34S
meiro lugar, e n q u a n t o não figura em Ne 10,3-9 e a p a r e c e v a d o em consideração conforme deduziu Büchler ; talvez m
n u m posto s u b o r d i n a d o e m Ne 12,1-7.12-21. Conclui-se, esse n ú m e r o correspondesse apenas aos sacerdotes que ha-
pois, q u e essa terceira lista só p o d e ter sido redigida no
tempo dos M a c a b e u s . 335
p r i n d o a l t e r n a d a m e n t e , segundo sua condição, u m a se- ter, Gesch. Isr., 136; B ü c h l e r , Priester. 196-202.
m a n a de t r a b a l h o e m Jerusalém, de sábado a sábado — 336
339. Mistnar ( g u a r d a ) , Josefo, Vila 1, § 2: ephemerís, patriá Lc
e por isso as classes se c h a m a v a m t a m b é m seções h e b d o - 1,5-8: ephemeria.
340. Bêt'ab; Josefo, Vita, § 2 : phulé. D e m o d o c u r i o s o , Josefo in-
m a d á r i a s — estava em vigor n o t e m p o de Jesus . Essas 337
q u e z a s os o u t r o s s a c e r d o t e s . 3 4 1 . Supra, p . 259.
334. Kôhen hedyôt. 342. Supra, p p . 228ss.
35. O texto d a Tosefta, c i t a d o supra, p . 260, m o s t r a i g u a l m e n t e 3 4 3 . j . Ta-an. I V S, 6 9 53 ( I V / 1 , 1 9 2 ) .
a
pertino). N ã o p o d e m o s , pois, concluir, desses n ú m e r o s , q u e tes assistentes, r e n o v a v a m as duas taças de incenso sobre
cada dia 2 7 + 29 sacerdotes diferentes estivessem de ser- a mesa dos pães de proposição e os doze pães . Como 358
três festas de peregrinação p o r q u e , b e m o sabemos, as 2 4 depois esfolar a vítima e dividi-la em quartos ~'" . A ofe- <i
l h i d o p a r a purificar o altar dos h o l o c a u s t o s (cf. Tamíd I 4 ) . A dife- bitante dos sacrifícios privados oferecidos no T e m p l o , sa-
r e n ç a e n t r e essas d u a s i n f o r m a ç õ e s explica-se p e l o fato d e o altar d o s bendo q u e as hecatombes foram, por diversas vezes, ofe-
h o l o c a u s t o s só ser p u r i f i c a d o u m a vez p o r dia, pela m a n h ã . C o m efeito,
o t r a t a d o Tamíd descreve o serviço litúrgico m a t u t i n o q u a n d o , c o m
e v i d ê n c i a , R. Y u d a t e m em m e n t e o serviço d a t a r d e . S o m e n t e à t a r d e 355. Sukka V 7.
era preciso p e d i r a u m s a c e r d o t e q u e exercesse a função d e a s s i s t e n t e
356. O s n ú m e r o s r e s u l t a m de Yoma II 3-5.
p a r a o sacrifício dos p e r f u m e s , já q u e à t a r d e n ã o era feito o sorteio
357. Yoma II 5.
p a r a o serviço de p u r i f i c a ç ã o d o a l t a r dos h o l o c a u s t o s . — A l é m d i s s o ,
dois s a c e r d o t e s t o c a v a m a t r o m b e t a de p r a t a q u a n d o os levitas inter- 358. Men. X I 7.
r o m p i a m o c a n t o c o m e ç a d o n a libação q u e e n c e r r a v a a oferta d o 359. Zeb. I I I 1; b . Zeb, 3 2 ; Sifra Lv 1,5 ( 4 14, 3 2 ) ; Billerbeck,
a b
3 7 0 . Supra, p . 274.
5 ) ; Oráculos sibilinos 111 576 e 626. 3 7 1 . £ a u m r e s u l t a d o s e m e l h a n t e q u e L. H e r z f e l d chega, m a s
363. V e r supra, p . 228, n . 119. p o r o u t r o c a m i n h o : Geschichte des Volhes Jisrael, I I I , N o r d h a u s e n ,
364. Sheq. V I I I 5. 1857. 193. P a r a o clero ele dá u m total dc 2 4 . 0 0 0 , baseando-se e m
365. Mid. I I I 8. três d o c u m e n t o s : a) o texto do j . Ta'an. I V 2, 6 7 46 (não t r a d u z i d o
d
festas anuais de peregrinação. Os sacerdotes viviam em seu estado sacerdotal , ora por causa de sua formação
390
suas casas 10 a 11 meses (conforme a distância entre o de escribas, na medida em q u e e r a m categorizados ou, 391
domicílio e Jerusalém, a viagem de ida e volta, feita cinco enfim, p a r a c u m p r i r o preceito bíblico. Com efeito, quan-
vezes por a n o , exigia tempo de d u r a ç ã o diversa). Só m u i t o to à estimação nas questões de votos, por exemplo, con-
ocasionalmente exerciam u m a atividade sacerdotal. E r a o forme o preceito bíblico que confiava a apreciação ao sa-
sacerdote, p o r exemplo, que declarava p u r o u m leproso cerdote, esse devia, n o r m a l m e n t e , c o m p a r e c e r ao tribu-
após a sua c u r a , antes que esse fosse a Jerusalém; lá,
3 8 i
nal 392
p a r a defender os interesses d o T e m p l o , ao qual
após ter oferecido o sacrifício de purificação prescrito, convergia o equivalente das coisas dedicadas a D e u s , q u e r
seria definitivamente declarado p u r o . O s dízimos e outras dizer, ao T e m p l o . A o lado dos sacerdotes do c a m p o
3 9 3
taxas particulares constituíam a renda dos sacerdotes, mas providos de u m a formação escriturística a p r o f u n d a d a e
insuficientes p a r a permitir-lhes levar, no resto do a n o , Lima que, c o m o conta Fílon, viam-se encarregados do serviço
vida ociosa . Pelo contrário, os sacerdotes e r a m obriga-
384
sinagogal \ a leitura e a explicação da Lei , havia os
l 9 395
o ofício de carpinteiro e canteiro, mil sacerdotes; por oca- contrastes entre a g r a n d e massa dos sacerdotes e os che-
sião da reconstrução do T e m p l o empregou-os no átrio dos
sacerdotes e p a r a a construção do santuário, só p o d i a m ser 387. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 6 ) . A c o m p a r a ç ã o d e s t e texto c o m
b . Besa 2 9 b a r . p e r m i t e s u p o r se t r a t a r de u m c o m é r c i o de azeite.
a
um. dos doze patriarcas das tribos de Israel; a relação de- tocadores de flauta n a Páscoa e na festa das Tendas , 407
les com os sacerdotes era assim r e p r e s e n t a d a : esses, en- colocavam-se sobre u m estrado q u e formava a separação
q u a n t o descendentes de A a r ã o , o levita, f o r m a v a m a clas- entre o átrio dos sacerdotes e o dos israelitas; achava-se
se privilegiada no seio dos descendentes de Levi; por sua a u m côvado acima do átrio dos israelitas, a u m côvado e
vez, os sumos sacerdotes legítimos, e n q u a n t o descendentes meio abaixo do átrio dos sacerdotes . D u r a n t e as alegres
408
de Sadoc, o aaronita, f o r m a v a m a classe privilegiada no cerimônias n o t u r n a s que faziam parte da festa das T e n d a s ,
seio do sacerdócio. Os levitas, e n q u a n t o clerus minor e r a m , u m -considerável coro d e levitas cantava, de pé, nos quin-
pois, inferiores aos sacerdotes e, como tais, não participa- ze degraus que levavam do átrio das mulheres ao dos is-
v a m do serviço sacrificai; encarregavam-se somente da raelitas . Jamais, p o r é m , os levitas músicos o c u p a v a m
409
música do T e m p l o e dos serviços inferiores do s a n t u á r i o . lugar no átrio dos sacerdotes exclusivamente p a r a eles re-
U m fato é característico de sua posição: como aos leigos, servado; apenas p o d i a m , como q u a l q u e r leigo, e n t r a r nesse
era-lhes proibido, sob pena de m o r t e , p e n e t r a r no edifí- átrio dos sacerdotes p a r a oferecer u m sacrifício °. 41
r e t i r a v a m as túnicas [ b r a n c a s , de l i n h o ] " . A j u d a v a m
4 1 1
grada . Além disso, a polícia do T e m p l o , constituída por
420
t a m b é m e m outras circunstâncias; nos dias de festa pre- levitas, era c h a m a d a p a r a diversas operações policiais.
p a r a v a m o livro da Lei p a r a a leitura b í b l i c a e empi-
412
Mantinha-se à disposição do Sinédrio que se reunia na
l h a v a m os lülab na festa das T e n d a s , q u a n d o o p r i m e i r o Sala das p e d r a s t a l h a d a s , u m dos cômodos a sudeste do
dia dessa festa caía n u m s á b a d o . Além disso, esses ser-
413
átrio dos s a c e r d o t e s . Sob as o r d e n s dos vigilantes do
421
dotes se e n c a r r e g a v a m . Os levitas só p o d i a m p e n e t r a r
41s
des infligidas.
nele p a r a oferecer u m sacrifício , Constituíam ainda, p o r
4I6
Se nos lembrarmos de que o Sinédrio funcionava no
fim, a polícia do T e m p l o . T e m p l o , n ã o podemos d u v i d a r de q u e a seção proposta
Fílon descreve, d e t a l h a d a m e n t e , as suas funções: " E n - p o r essa a u t o r i d a d e p a r a p r e n d e r Jesus (Mc 1 4 , 4 3 ; Mt
tre eles [os levitas] u n s , porteiros, mantêm-se junto às 2 6 , 4 7 ; Lc 2 2 , 4 7 ; Jo 18,3.12) e c o m a n d a d a pelos chefes
portas, n a p r ó p r i a soleira; outros, do lado de dentro [da da g u a r d a d o T e m p l o (Lc 2 2 , 5 2 ) era c o m p o s t a p o r essa
esplanada do T e m p l o ] , no p r o n a u s [no m u r o , hêl, q u e polícia levítíca, reforçada pela corte do sumo sacerdote
delimita a p a r t e da esplanada o n d e os pagãos n ã o p o d e m em exercício (Mc 14,17 par.) e t a m b é m , segundo João,
p e n e t r a r ] ; interceptam a e n t r a d a a q u a l q u e r pessoa q u e por soldados romanos (Jo 18,3.12). De m o d o muito exato
sem o direito de transpô-la o faça intencionalmente ou Jo 18,18 distingue, pois, os guardas [do sumo sacerdote]
n ã o . O u t r o s fazem a patrulha ao redor. O [serviço p a r a e os servidores [polícia levítica do T e m p l o ] . Além disso,
o] dia e a noite é sorteado, segundo u m a o r d e m [deter- as palavras repletas de censura de Jesus, ao dizer no mo-
m i n a d a de molde a serem os guardas divididos] em guar- m e n t o d e sua prisão, q u e ele ali estava todos os dias n o
das do dia e guardas da n o i t e " . Dessa descrição suges-
4 1 7
átrio [exterior] do T e m p l o a ensiná-los sem q u e o tives-
tiva, completada por Mid. I 1, deduz-se q u e a vigilância sem p r e n d i d o (Mc 14,18), só são compreensíveis se tiver
do T e m p l o , assegurada pelos levitas d u r a n t e o dia c o m o sido preso pela polícia do T e m p l o . É preciso considerar
d u r a n t e a noite, compunha-se de três grupos: a) porteiros t a m b é m , como polícia levítíca do T e m p l o , os guardas já
das portas externas do T e m p l o ; b) guardas da " m u r a l h a " ; antes enviados pelo Sinédrio p a r a p r e n d e r Jesus (Jo 7,32.
c) p a t r u l h a s do átrio dos gentios e, de dia, sem d ú v i d a , 4 5 . 4 6 ) . O m e s m o se dá c o m as pessoas q u e , sob a o r d e m
t a m b é m do átrio das mulheres. À noite, os levitas serven-
tes do T e m p l o fechavam as portas sob a vigilância do 4 1 9 . Mid. I 1. D e d u z - s e de Tamid I 3 q u e , à n o i t e , o átrio das
porteiro-chefe . E m seguida, os guardas da noite ocupa-
41S m u l h e r e s n o q u a l se e n c o n t r a v a a p a d a r i a o n d e e r a m p r e p a r a d o s os
bolos na cinza p a r a a oferta d o s u m o s a c e r d o t e estava f e c h a d a e fazia
v a m seus postos, em n ú m e r o de 2 1 , todos situados na p a r t e d o setor g u a r d a d o pelos s a c e r d o t e s .
420. Mid. I 1; Tamid I 1.
4 2 1 . C o n f o r m e a M i s h n a , d e m o d o m u i t o p r e c i s o (Mid. V 5; cf.
4 1 1 . Tamid V 3 . Sin. X I 2 ; Tamid I I 5; I V 3 f i m ) . S e g u n d o b. 'A. Z, 8 , p a r b . Shab.
b
SÊffllNAfUO KORUORDIft.
" d o s sacerdotes e do c o m a n d a n t e do T e m p l o , assim como do Templo, contrariamente ao que sempre se supôs '. Birah 427
dos s a d u c e u s " (At 4 , 1 ) , p r e n d e m os apóstolos p a r a fazê-los é a fortaleza ao norte do Templo, a Antônia, e A. Schlatter
c o m p a r e c e r d i a n t e d o Sinédrio (At 4 , 5 . 1 2 ; 5 , 1 7 - 1 8 ) , q u e bem viu que esta personagem, no tempo da independência,
vigiam os apóstolos na prisão (5,23 p a r t i c u l a r m e n t e v. 24) sob Agripa I (41-44 d . C ) , comandava a fortaleza Antônia . 428
e que lhes b a t e m com varas (5,40). Finalmente, os h o m e n s Com isso, concorda o fato de ser contemporâneo de Rabban
q u e , por ocasião do levante p o p u l a r i n d u z i n d o a prisão Gamaliel I; como sabemos pelos Atos dos Apóstolos (At 5,34¬
d e P a u l o , arrastam-no fora do " s a n t u á r i o " , isto é, d o Tem- -39), esse doutor estava em plena atividade nos anos 30 e 40,
e talvez ainda nos anos 40 a 50 de nossa era . O 'is ha-bírat 429
vinha inspecioná-los todas as noites; cada c o m p o n e n t e d a que essa passagem descreve um evento do reino de Agripa I,
guarda devia saudá-lo com o c u m p r i m e n t o da paz p a r a portanto, de uma época onde havia judeus comandantes mi-
mostrar-lhe que não d o r m i a . Se o chefe encontrasse u m litares e funcionários de Estado. No Oriente, é óbvio que esses
deles a d o r m e c i d o , batia-lhe com seu bastão; tinha m e s m o comandantes vêm, com os chefes dos sacerdotes, à frente da
o direito de despertá-lo b r u t a l m e n t e , a t e a n d o fogo e m sua procissão. Em 1913, vi o pachá turco, em companhia das su-
roupa . Sem dúvida, é o m e s m o funcionário que a p a r e c e
m
midades religiosas muçulmanas, ir ao encontro dos peregrinos
no relato onde Josefo nos conta que certa noite, d u r a n t e da festa de Nébi-Musa que entravam em Jerusalém.
a festa da Páscoa de 66 d . C , os levitas guardas do Tem-
plo avisaram a seu vigilante (íô sírategô) que a P o r t a de D o p o n t o de vista social h a v i a u m abismo entre os músicos
N i c a n o r encontrava-se aberta . É-nos d a d o supor q u e esse
424
e servidores do T e m p l o , o q u e se explica pela evolução
chefe dos corpos levíticos da noite é idêntico ao chefe-por- histórica. A i n d a no t e m p o de E s d r a s , n e m os " c a n t o r e s "
t e i r o . Enfim, convém seguramente ver t a m b é m os chefes
425
n e m os " p o r t e i r o s " faziam p a r t e d a corporação dos levi-
dos levitas guardas do T e m p l o nos stralegoí com os q u a i s ,
segundo Lc 2 2 , 4 , a p r i s ã o de Jesus é decidida e sob o 427. S c h ü r e r , I I , 3 3 1 , atribui-lhe a vigilância d o T e m p l o i n t e i r o .
m a n d o dos qLiais, segundo Lc 2 2 , 5 2 , Jesus é l e v a d o . Com 428. S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 271 e n . 2 4 3 .
429. S e g u n d o M . Mielziner, Introduction to the Talrnud, 3° ed.,
efeito, conforme acabamos de ver, Josefo designa o chefe N o v a I o r q u e , 1925, 24, G a m a l i e l m o r r e u 18 anos antes d a d e s t r u i ç ã o
da guarda levítica da noite pelo termo strategós. d o T e m p l o , p o r t a n t o e m 52 d . C ; Bilíerbeck, I I , 636 situa sua ativi-
d a d e e m 25-50 d . C .
Em contrapartida, o Ts ha-bírah, comandante da Fortaleza 430. E x p l i c a ç ã o de M a i m ô n i d e s : " o s pahôt são s ganime
sacerdotes";
J. T. R a b e , Mischnah, t. I. O n o l z b a c h , 1760, 2 6 5 : "os s a c e r d o t e s m a i s
do Templo , nada tem a ver com os funcionários vigilantes
426
10 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
tas , pois n ã o pertenciam a famílias levíticas . Os can-
432 433
n h a m esses, em 6 2 , e n v i a d o u m a e m b a i x a d a ao i m p e r a d o r
tores foram os primeiros a obter sua integração n a cor- q u e lhes dera razão na sua luta contra o rei . C o m o 438
p o r a ç ã o dos levitas (Ne l l , 1 7 . 2 2 - 2 3 ; 1 2 , 8 - 9 . 2 4 - 2 5 ) e, di- acordo d o Sinédrio, Agripa II c o n c e d e u , pois, aos levitas,
ferentemente dos porteiros, a d q u i r i r a m , desde e n t ã o , o ní- o que pleiteavam. O povo considerou, p o r é m , c o m o u m a
vel superior entre os levitas. O abismo que separava os infração à lei dos antepassados essa n o v a organização da
dois grupos no t e m p o de Jesus é b e m definido n a seguinte o r d e m social dos levitas. Vemos de n o v o confirmado que
frase: "Possuímos uma tradição reconhecida segundo a os músicos constituíam a c a m a d a superior dos levitas; lu-
q u a l u m músico é passível de p e n a de morte se faz o ser- t a r a m p o r obter igualdade com os sacerdotes, e n q u a n t o os
viço das p o r t a s p a r a seus c o m p a n h e i r o s [levitas] " *. N a 4J
porteiros aspiravam a ser iguais aos músicos. A atmosfera
p r á t i c a , é v e r d a d e , o rigor n ã o era tão g r a n d e . Eis o q u e revolucionária dos anos 60 lhes concedeu, por u m b r e v e
relata u m a baraíta inserida na mesma passagem: " U m dia, período de seis anos, a satisfação parcial de seus desejos.
R. Yoshua b e n H a n a n y a [levita e escriba] quis ajudar Contamos com escassas informações a respeito da for-
Y o h a n a n b e n G u d g e d a [levita, porteiro-chefe] a fechar m a ç ã o dos levitas. O levita José B a r n a b é , u m dos mem-
as p o r t a s . Y o h a n a n disse-lhe: ' M e u filho, volta, pois tu bros dirigentes da cristandade primitiva como profeta, dou-
pertences [à classe] dos músicos e não à dos servidores tor e missionário, era h o m e m de valor n o c a m p o intelec-
do T e m p l o [literalmente: dos p o r t e i r o s ] ' " . 4 3 S
tual e possuía b o a formação bíblica ; originário de Chipre
439
usar d a í por diante a veste de linho b r a n c o dos sacerdo- çarem u m esquema da situação social dessa fração inferior
tes — até e n t ã o os levitas não t i n h a m u m traje oficial —; 436 do clero.
q u a n t o aos levitas servidores do T e m p l o , r e i v i n d i c a r a m o
direito " d e p o d e r aprender os h i n o s " , neste caso o p o d e r
de ficarem em pé de igualdade com os levitas músicos . 437
N o T e m p l o de Jerusalém havia uma espécie de ar- antes de permitir-lhe ser o r d e n a d o . Somente após conside-
quivo onde as genealogias do clero eram sempre atualiza- rado apto era admitido ao sacerdócio : (depois de u m 452
v a m na Páscoa e na festa das T e n d a s , diz-se que suas fi- ções mais precisas. Se a esposa era d e família sacerdotal,
lhas p o d i a m casar-se com sacerdotes, p o r t a n t o , que seus examinavam-se as q u a t r o gerações anteriores do lado pa-
pais e r a m de origem pura . Essas duas informações per-
460
terno e do lado m a t e r n o ; as cinco, se era filha de levita
m i t e m concluir que não se exigia a prova de pureza da ou d e israelita . Para as filhas de sacerdotes e levitas mú-
lbi
família p a r a as funções inferiores dos levitas. sicos em exercício, assim como p a r a as esposas cujo pai
Sob q u e condições u m sacerdote ou u m levita músico era m e m b r o de u m corpo constituído (por exemplo, mem-
era considerado de origem p u r a a p o n t o de não existir obs- bro do Sinédrio, juiz, e n c a r r e g a d o dos óbolos), ficava dis-
táculo à sua participação no culto? Q u a n d o tivesse nascido p e n s a d o o exame de origem; nesses casos, c o m efeito, o
de u m sacerdote ou de u m levita com u m a m u l h e r de p a i já p r o v a r a , a o t o m a r posse d e seu cargo, a legitimidade
igual condição de p u r e z a legal. Se u m sacerdote ou u m le- de sua origem . 465
vita cantor se casava, era, pois, necessário e x a m i n a r a ge- Lv 21,7 formulava assim a prescrição p a r a a escolha
nealogia da esposa, a fim de que u m nascimento legítimo de u m a esposa de sacerdote: ' N ã o t o m a r ã o por m u l h e r
!
cer sua função e a filha de u m cidadão israelita estavam, p r o í b e t a m b é m aos sacerdotes desposar u m a viúva, salvo
pois, em condição de contrair m a t r i m ô n i o regular com u m a viúva de outro sacerdote. E somente ao sumo sacerdote
sacerdote . m
q u e o Levítico p r o í b e o c a s a m e n t o c o m u m a viúva (Lv
Todavia, dentro desse círculo de famílias legítimas, 2 1 , 1 4 ) ; em c o n t r a p a r t i d a , silencia a respeito da interdição
outras mulheres se a c h a v a m excluídas , a m u l h e r repudia- -
aos outros sacerdotes de desposarem u m a viúva. O perío-
da , a hãlüsah (isto é, a m u l h e r q u e , após a morte de
470
do posterior não seguiu as normas d e Ezequiel. J o s e f o m
g u m do Pseudo-Tônatas a Lv 2 1 , 7 ; Ant. I I I 12, 2 § 2 7 6 ) , a t a b e r n e i r a peliam seus genros aos postos lucrativos do T e m p l o , o que
ou h o s p e d e i r a (Ant. ibid.), a m u l h e r q u e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a
(Ant., C. Ap. I 7, § 3 5 ; cf. supra, p . 218ss, os a t a q u e s c o n t r a os su- faz supor que esses últimos fossem sacerdotes. Conhece-
m o s sacerdotes f o ã o H i r c a n o e A l e x a n d r e J a n e u ) . Discu lia-se p a r a mos inúmeros sumos sacerdotes q u e , de seu l a d o , e r a m
saber se u m a j o v e m judia a q u e m u m israelita de o r i g e m legítima genros d e sumos sacerdotes em exercício. Citemos, em pri-
v i o l e n t a r a , e n t r a v a nessa categoria d. E m Ket. I 10, permitia-se a essa
j o v e m casar-se c o m u m s a c e r d o t e . M a s , c o n f o r m e a e x p l i c a ç ã o d o rabi meiro lugar, o sumo sacerdote M a t i a s , filhos de Teófilo e
Eliézer (por volta de 90 d . C ) , é preciso considerá-la c o m o u m a " p r o s - t a m b é m Caifás . Além disso, duas famílias da aristocracia
477
lhos. U m casamento levirático com o p r ó p r i o p a i era, evi- uma irmã do rabi Shimeão b e n Shetah. O sacerdote e es-
d e n t e m e n t e , impensável. Mas u m a questão excitou os es- criba Shimeão ben N a t a n a e l t i n h a p o r mulher uma filha *' 4
de Jerusalém, u m a jovem tenha se casado com o i r m ã o de depois sumo sacerdote (em 67 d.C.), R. H a n a n y a , fi-
seu pai, concluindo que os dois esposos t e n h a m sido de lho de Gamaliel I I , chama-o p a r e n t e por aliança . Por- 490
famílias sacerdotais de alto nível. H á outro caso a i n d a : o tanto, três sacerdotes casaram-se c o m jovens da casa d e
casamento de M a r t a , da família pontifícia de Boetos, com G a m a l i e l . Assim, entre as famílias de leigos, os sacer-
o sumo sacerdote Yoshua b e n Gamaliel I, de q u e m já fa- dotes, pelo que parece, preferiam as dos escribas. Eis u m
lamos ; nesse caso t a m b é m , os dois esposos p e r t e n c i a m
4S0
último exemplo. O sacerdote R. Sadoc, célebre escriba, ti-
a famílias sacerdotais de alta posição. O s outros sacerdo- nha como mulher uma benjaminíta, cuja família p a t e r n a
tes igualmente desposavam, de preferência, filhas de sacer- pertencia às famílias de notáveis i n c u m b i d a s de trazer a
dotes. Por exemplo, o sumo sacerdote Z a c a r i a s , da classe lenha para o a l t a r ' " . Os enlaces entre sacerdotes e filhas
4
sacerdotal de Abia, desposou Isabel, filha de sacerdote (Lc de leigos d e nível elevado não foram r a r o s , p o r t a n t o , se
1,5). R. Tarfon, ele próprio s a c e r d o t e , tinha, em J e m -481
b e m q u e o T a l m u d e , q u a n d o a ocasião se oferece, trace
salém, u m tio m a t e r n o c h a m a d o Shimeão ou Shim- 482
u m juízo desfavorável sobre tais uniões . N ã o temos ne- 492
bendito, purifica as tribos, purifica, em primeiro lugar, a da assembléia judaica nos dá a resposta. A p ó s o exílio, os
tribo de L e v i " . 5 I 2 reorganizadores do p o v o , doravante sem rei, basearam-se
na antiga composição em famílias, p r o c e d e n t e s d a divisão
d o p o v o e m tribos, e n u n c a t o t a l m e n t e caída n o esqueci-
m e n t o , n e m mesmo depois do sedentarismo em C a n a ã .
d á esta definição (b. Ket. 1 4 b a r . ) : " Q u e é u m a v i ú v a 'issah? A q u e l a
b Talvez já em exílio, q u e r dizer, com a extinção d a realeza,
c o m q u e m , e v e n t u a l m e n t e uniu-se u m filho ilegítimo de s a c e r d o t e os chefes das linhagens e das famílias mais importantes
(balai). Esse texto n ã o tem s e n t i d o . C e r t a m e n t e , a p a l a v r a " v i ú v a " foi a s s u m i r a m a chefia do p o v o , dirigindo, individualmente,
i n t r o d u z i d a p o r i n a d v e r t ê n c i a a p a r t i r de 'Ed. V I I I 3 q u e fala d a v i ú v a
'issah, e isso a c a r r e t o u o e r r o . Se p u d e r m o s riscar a p a l a v r a " v i ú v a " a instalação das famílias em Babilônia e governando-as a
em b . Ket. 1 4 bar., o s e n t i d o torna-se c l a r o ; u m a família 'issah é u m a
b
título d e guias e juízes . A p ó s a volta d o exílio, esses che-
2
reflete a situação pós-exílica, é elucidativa; a a u t o r i d a d e táveis" "os p o d e r o s o s " , "os poderosos e notáveis d o
I2
ciãos no Sinédrio: são os chefes das famílias leigas mais m e n t e uma parte dos chefes das famílias de notáveis, p o r
influentes , 6
r e p r e s e n t a n d o a " n o b r e z a leiga" do povo neste assim dizer como representantes de sua classe, t i n h a m voz
conselho s u p r e m o . no Sinédrio. U m estudo c o m p a r a d o de dois textos de Jo-
de nobreza leiga. Por ocasião de seu acesso ao p o d e r em dos israelitas . E m c o m p e n s a ç ã o , os filhos menores dos
21
37 a.C. Herodes c o n d e n o u à morte, segundo Ant. X J V 9, "hierosolimitanos de classe a l t a " t i n h a m o direito de par-
2 2
cipais membros da nobreza leiga, partidários dos asmo- D e g r a n d e importância a informação d a d a pelo após-
neus, t i n h a m voz ativa no Sinédrio. U m a segunda sinoní- tata Elisha ben A b u y a , nascido em Jerusalém antes de
mia é ainda mais clara. Aqueles que B. j . II 12, 5, § 237 70 d.C. " M e u pai A b u y a era u m dos grandes de Jerusa-
chama de representantes " d o s magistrados [árcontes] de lém . N o dia de m i n h a circuncisão, ele convidou todos
24
J e r u s a l é m " são c h a m a d o s , na passagem paralela dos Ant. os outros grandes de Jerusalém " e instalou-os n u m quar-
X X 6, 1, § 1 2 3 , "os principais habitantes de Jerusalém t o " . Esse convite faz-nos ver o pai, n o b r e de Jerusalém,
2 6
formam u m grupo restrito. O relato lendário do M i d r a x e m a d o s ora como "três ricas p e r s o n a g e n s " ; ora como 28
segundo o qual Vespasiano locupleta três barcos com "os " g r a n d e s de I s r a e l " ou " g r a n d e s d a c i d a d e " , ora "con-
29 3Ü
28. b. Gii. 6 5 . a
b a r r a c a s colocadas n o c a m i n h o , aquele q u e deveria levar com e l a , os sacerdotes, os levitas e todos aqueles sobre
o bode Azazel a o deserto . Ressalta, enfim, d a c o m p a r a -
34
cuja origem p a i r a v a u m a incerteza % [isto é ] , os filhos
4 43
ção d e dois textos midráxicos, q u e as designações "gran- de ladrões d e folhas [ o u : de morteiros] e os filhos dos 4 4
dos anciãos compunha-se de chefes das famílias patrícias 8. e m 20 elul, a família d e A d i m , d a tribo d e J u d á ; 4 6
Táan. 28*.
45. Cf. Esd 2,6;8,4;1Ú,30; Ne 3,11;7,11; 10,15.
37. Cf. E s d 2,5; N m 7,10.
46. Cf. E s d 2,15;8,6: N e 7.20,10.17.
4 7 . Hist. cccl. I I 2 3 , 4-18.
vemos, o relato t a l m ú d i c o é exato. Segundo esse p a i n e l ,
48
excelentes condições financeiras. Foi o caso de José de Ari-
o privilégio de trazer a lenha é u m a antiga perrogativa matéia e dois dos três influentes negociantes de Jerusalém
que r e m o n t a à época da reorganização da c o m u n i d a d e ju- dos quais já falamos na p . 3 0 7 .
daica após o exilio de Babilonia; as familias privilegiadas Uma passagem do M i d r a x e , cujo sentido é difícil de
conservaram-na com tenacidade d u r a n t e séculos. T e m o s , captar, t a m b é m faz p a r t e deste contexto. Eis o que nos
p o r t a n t o , todos os motivos p a r a crer que essa lista conser- conta. Os conselheiros de Jerusalém, com muita astúcia,
vou os nomes das familias patricias eminentes, cujo cri- teriam obrigado certos ricos h a b i t a n t e s d e Bitter a aceitar
tério de o r d e m repousava em privilégios antiquíssimos. postos de conselheiros e, p a r a tanto, lhes teriam r o u b a d o
Conforme m o s t r a m as entregas em espécie p a r a o as propriedades . T a n t o q u a n t o esse relato exagerado o
M
T e m p l o , conclui-se que essas famílias privilegiadas e r a m , d e m o n s t r a , os membros leigos d o Sinédrio em geral tiniram
p r i m i t i v a m e n t e , famílias de proprietários agrícolas; d a í de- fortuna, e sua função — é esse que parece ser o núcleo
corre o fato de, na época de Jesus, a n o b r e z a leiga com- histórico •— p o d i a exigir sacrifícios p e c u n i á r i o s .
por-se especialmente de famílias abastadas. N o M i d r a x e , a Algumas declarações de Josefo nos informam sobre
frase: " F u l a n o é rico; façamo-lo c o n s e l h e i r o " é a t r i b u í d a 49
a posição intelectual e religiosa da nobreza leiga. " S u a
aos funcionários r o m a n o s . C o m p r e e n d e m o s essa frase se d o u t r i n a é seguida a p e n a s p o r u m p e q u e n i n o n ú m e r o , mas
tivermos em mente os hábitos do p r o c u r a d o r . Era entre são os primeiros em d i g n i d a d e " , diz ele dos s a d u c e u s . 55
eles, os " a n c i ã o s " do Sinédrio, que h a b i t u a l m e n t e os pro- N o u t r a p a s s a g e m conta que os saduceus só conseguiam
56
Esse fato prova que os chefes das famílias patrícias, na A opinião ainda m u i t o difundida segundo a qual os
medida em que pertenciam ao Sinédrio, e r a m pessoas de saduceus e r a m u m partido clerical q u e se recrutava, não
de R a b José [ t 3 3 3 ] , isso designa os c o n s e l h e i r o s [büla'ót, v e r a este 12: "E eles [os s a d u c e u s c os boetusianos") serviam-se d i a r i a m e n t e d e
respeito Bacher, Ag. Tann., I, 52, n. 6] de J u d e i a " . Nesse t e x t o , utensílios de p r a t a e o u r o " ( p o r q u e n e g a v a m a r e s s u r r e i ç ã o dos mor-
i g u a l m e n t e , os conselheiros são pessoas ricas. tos e q u e r i a m , assim gozar o m a i s possível d o s b e n s da v i d a t e r r e n a ) .
É c e r t o q u e os p a r t i d á r i o s dos s a d u c e u s p e r t e n c i a m aos meios afor-
50. B. /'. II 17, 1 § 405; arcontes e c o n s e l h e i r o s r e c o l h e m os im-
p o s t o s ; § 407: a r c o n t e s e patrícios são a p r e s e n t a d o s ao p r o c u r a d o r t u n a d o s . L e m b r e m o - n o s , enfim, de q u e as influências helcnísticas se
t e n d o em vista a n o m e a ç ã o dos f u n c i o n á r i o s p a r a os i m p o s t o s . d i s t i n g u e m n a teologia dos s a d u c e u s e no seu j u l g a m e n t o s o b r e a
5 1 . Ant. X X 8, 1 1 , § 194. v i d a ; isso t a m b é m indica os meios mais a f o r t u n a d o s , pois foram esses
52. S o b r e o e n c a r g o dos d e c a p r o t o s : C. G . B r a n d i s art. Dekáprotoi os m a i s atingidos pela c u l t u r a helenística.
cm Pauly-Wissoma, Real-Encydopàdie I V ( 1 9 0 1 ) , col. 2417-2422; O . Seeck, 57. A bibliografia s o b r e os s a d u c e u s e n c o n t r a - s e mais a d i a n t e , no
" D e c e m p r i m a t u n d D e k a p r o t i e " , c m Beiträge zur alten Geschichte, ed. c a p . I V c o n s a g r a d o aos fariseus. Citemos a q u i W e l l h a u s e n , Pharisaer;
de C. F . L e h m a n n , I, Leipzig, 1902; Mitteis-Wileken, 11, 218. S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 165-170; R. Lcszynsky, Die Sadáuziier, Berlim,
53. Este t e r m o designa u m cargo oficial ao q u a l se era o b r i g a d o 1912.
de m o d o legal. 58. Ant. X I I I 16, 2, § 4 1 1 ; B. /. I 5, 3 , § 114.
exclusiva, mas principalmente nos círculos d e sacerdotes Além do m a i s , é v e r d a d e q u e esses sacerdotes de nível
de alta classe, precisa ser corrigida. É b e m v e r d a d e q u e elevado e r a m os dirigentes dos s a d u c e u s ; os Atos dos Após-
os últimos asmoneus e as familias da aristocracia pontifi- tolos designam os saduceus como p a r t i d á r i o s do sumo sa-
cia ilegítima, ao contrario da m u l t i d ã o dos sacerdotes, con- cerdote (At 5,17; cf. 2 1 ) , e u m g r u p o de saduceus, talvez
servavam, e m g r a n d e p a r t e , idéias saducéias "; vemos, por 5
mesmo o conjunto dos s a d u c e u s , chamavam-se "Boetu- 68
exemplo, João H i r c a n o (134-104 a . C ) , sumo sacerdote e s i a n o s " , segundo o s u m o sacerdote S i m ã o , filho de Boe-
príncipe dos judeus q u e , no início de seu reinado m a n t i - tos . N ã o significa, p o r é m , de m o d o algum, q u e os sadu-
ò9
nha-se do lado dos fariseus e coligou-se a seguir aos sadu- ceus t e n h a m contato u n i c a m e n t e ou p e l o menos em maio-
ceus ; assim A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , sumo sacer-
bD
ria, c o m sacerdotes entre seus m e m b r o s .
dote e r e i ; assim, também, o sumo sacerdote S i m ã o , fi-
6 1
d u c e u em Lc 10,25-37.
lugar d e s a d u c e u ) , v e r supra, p . 216, n . 5 1 .
religião" — clérigos entre os saduceus, teólogos entre os d a . T i n h a m , além do mais, seu p r ó p r i o código p e n a l
7 6 7 7
fariseus — forneciam os chefes. do qual inúmeros dados dão a conhecer a extrema severi-
Os saduceus c o n s u m i a m um grupo o r g a n i z a d o ; essa 71
d a d e . Já tivemos ocasião de e n c o n t r a r
78
u m tribunal sa-
7y
obervação é especialmente elucidativa p a r a se conhecer a duceu de chefes de sacerdotes q u e se referem muitas vezes
idéia q u e as famílias patrícias faziam de si mesmas c o m o a sentenças proferidas segundo o direito saduceu . Esses ao
da Escritura, que os membros deviam seguir como diretriz provas ainda de que as famílias patrícias saducéias forma-
de vida. v a m u m g r u p o g r a n d e m e n t e o r g a n i z a d o , c o m u m a tradição
O caráter exclusivo do grupo dos saduceus ressalta teológica e u m a d o u t r i n a e l a b o r a d a ; apegavam-se estrita-
ainda mais claramente q u a n d o Josefo os aproxima dos fa- mente ao texto da Escritura, o que m o s t r a o caráter con-
riseus e dos essênios. Conta ele, em sua Autobiografia, de servador desses círculos.
que m o d o p r a t i c o u , sucessivamente, as observancias d o s G r a ç a s às suas relações com a p o d e r o s a n o b r e z a sa-
fariseus, dos saduceus e dos essênios, p a r a adquirir u m co- cerdotal, as ricas famílias patrícias r e p r e s e n t a v a m u m fator
nhecimento prático dessas três tendências, e, finalmente, m u i t o influente n a vida da n a ç ã o . Sob os asmoneus em
agregou-se aos f a r i s e u s . Sabemos, com certeza, q u e os
71
p a r t i c u l a r , até a vinda da r a i n h a A l e x a n d r a (76 a . O ) ,
fariseus e os essênios constituíam c o m u n i d a d e s organiza- t i n h a m nas m ã o s o poderio político. Com os sacerdo-
das, com condições para admitir novos m e m b r o s e com ob- tes de alta classe constituíam o Sinédrio; por conse-
servancias firmemente estabelecidas. Conclui-se, por conse- guinte, possuíam, ao l a d o do s o b e r a n o , o p o d e r judiciá-
guinte, que o mesmo acontecia q u a n t o aos saduceus. N ã o rio e a a u t o r i d a d e g o v e r n a m e n t a l . O declínio de seu po-
era, pois, q u a l q u e r que podia penetrar no seu círculo. der d a t a da época da r a i n h a A l e x a n d r a ; sob seu reino, os
A "teologia" saducéia é t a m b é m esclarecedora e faz fariseus ingressaram no Sinédrio e a m u l t i d ã o chegou-se
conhecer o conservadorismo institucional da nobreza leiga. cada vez mais a eles. O s saduceus l u t a r a m com H e r o d e s ,
Atinha-se estritamente à letra da T o r á , p a r t i c u l a r m e n t e74
o G r a n d e , de m o d o especial d u r a n t e o longo pontificado
às suas prescrições sobre o culto e o sacerdócio; via-se, do sumo sacerdote Simão (22-5 a . C ) , filho de Boetos de
pois, em nítida oposição com os fariseus e sua halaka o r a l q u e m a d v é m o cognome Boetusianos; isso permitiu-lhes, ao
q u e declaravam obrigatórias, m e s m o p a r a o círculo de lei-
gos piedosos, as prescrições acerca da p u r e z a relativa aos 76.Cf. M t 16,12: "a d o u t r i n a dos s a d u c e u s " .
77. Megillat ía'anit 10, ao 14 t a m m u z (ed. H . Lichtenstein em
sacerdotes \ Os saduceus consignaram essa teologia n u m a
7
sua exposição sejam, cies t a m b é m , c o n t e s t á v e i s . É falso, p o r e x e m p l o , 8 1 . Ant. XV11I 1, 4, § 16. — Cf. a i n d a A t 2 3 , 9 : " a l g u n s escribas
c h a m a r os lariseus e os s a d u c e u s de " s e i t a s " , pois esses dois g r u p o s d o p a r t i d o dos f a r i s e u s " ; M c 2,16 p a r . Lc 5,30: "escribas dos fariseus".
não rejeitaram a c o m u n i d a d e do p o v o ; t a m b é m é e r r ô n e o c o n t e s t a r o Essas expressões fazem p e n s a r q u e h a v i a , de m o d o inverso, escribas
c a r á t e r aristocrático dos s a d u c e u s . s a d u c e u s . S o b r e esses ú l t i m o s v e r Billerbeck, I, 250; I V , 343-352;
72. Ant. X V I I I 1, 4 § 17. Meyer, Ursprung, I I , 286ss; S c h ü r e r , I I , 380s, 457; G . F. M o o r e em
73. Vita 2, § lOss. HThR 17 ( 1 9 2 4 ) , 350s; L. Baeck, Die Pharisaer, e m 44. Bericht der
Hochschule für die Wissenschaft des Judeníums in Berlim, Berlim,
74. R. Leszynsky. Die Sadduzaer, Berlim, 1912, deu-lhe a p r o v a . 1927, 70, n . 87.
75. Ver infra, p. 357, no c a p í t u l o d e d i c a d o aos fariseus.
que parece, cerrar suas fileiras, mas n ã o p u d e r a m conter CAPÍTULO III
a evolução. O declínio da importância política dos sumos
sacerdotes na primeira m e t a d e d o p r i m e i r o século de nossa
era teve como conseqüência o declínio da n o b r e z a leiga, OS ESCRIBAS
e os fariseus, apoiando-se no grande n ú m e r o de seus par-
tidários entre o p o v o , souberam fazer prevalecer c a d a vez
mais fortemente a sua v o n t a d e no Sinédrio . sz
critor Flávio fosefo pertencente à primeira seção hebdo- ras c o m u n i d a d e s cristãs (At 1 3 4 ) ; r a b i Eliézer b e n Y a c o b ,
m a d á r i a , a de Yehoyarib . 9
Ao lado dos membros da aristocracia sacerdotal, sim- escribas procedentes dos círculos de famílias patriarcais
ples sacerdotes u s a v a m a túnica dos escribas: o sacerdote que e l a b o r a r a m a tradição saducéia.
R. Yosé ben Yoezer, extremamente consciencioso nas ques- V ê m em seguida — e é a g r a n d e massa dos escri-
tões de pureza ; os sacerdotes em cujas famílias se trans-
10
bas — pessoas de todas as outras c a m a d a s do p o v o ; esses
mitia por h e r a n ç a o posto de chefe da sinagoga helenís- outros escribas de Jerusalém constituem, segundo as suas
tica de J e r u s a l é m : o sacerdote R. Yosé, discípulo de
11
profissões, u m q u a d r o v a r i a d o e multicolor. Citemos Yoezer,
Y o h a n a n b e n Z a k k a i ; R. Eliézer ben H i r c a n o s . sacer-
, 2
c o m a n d a n t e da fortaleza do T e m p l o sob Agripa I, u m sha-
dote de alta cultura que vivia em Jerusalém antes da des- m a í t a ; aparecem diversos m e r c a d o r e s , entre os quais
2 4 25
denados escribas, pois os textos não lhes d ã o o título de g r a n d e escala — pertencia às c a m a d a s n ã o abastadas da
rabi. p o p u l a ç ã o . Entre os escribas de Jerusalém, e n c o n t r a m o s ,
31
c o n s i d e r a d o d e s c e n d e n t e d e p r o s é l i t o ; é falso.
do lado m a t e r n o : R. Y o h a n a n , "filho da h a u r a n i t a " (cerca como m e m b r o legítimo " d o u t o r o r d e n a d o " (hakam). Es-
de 40 d . C . ) e A b b a Shaul, "filho da b a t a n é i a " (cerca
3 4 tava e n t ã o a u t o r i z a d o a resolver por si m e s m o as questões
d e 60 d . C . ) . Esses cognomes estranhos só p o d e m ser
35 de legislação religiosa e r i t u a l , a ser juiz em processos
41
explicados da seguinte m a n e i r a : suas mães e r a m respecti- criminais e d a r pareceres nos processos civis, seja como
42
4 2 8 ) . É claro, p o r t a n t o , que se todos esses escribas repre- Passava a merecer o título de rabi, pois, tal título já
sentavam u m papel importante, sua influência, porém, não era de uso para os escribas do t e m p o de Jesus . Aliás, 44
se m e d i a pela nobreza nem pela sua profissão. m e s m o outros, os que não h a v i a m seguido o ciclo regular
de f o r m a ç ã o , c u l m i n a n d o n a o r d e n a ç ã o , e r a m t a m b é m
O saber é o único e exclusivo fator do poder dos es-
c h a m a d o s rabi; Jesus d e N a z a r é é um e x e m p l o . O fato se
cribas. Q u e m desejasse agregar-se à corporação dos escri-
explica: esse título, no início do século I de nossa era,
bas pela o r d e n a ç ã o , seguia u m ciclo regular de estudos
passava p o r u m a e v o l u ç ã o ; inicialmente título honorífico
de alguns anos. O jovem israelita, desejoso de consagrar
geral, iria ser exclusivamente r e s e r v a d o aos escribas. De
sua vida à sábia atividade de escriba começava o ciclo
todo m o d o , u m h o m e m d e s p r o v i d o d a f o r m a ç ã o rabínica
de sua formação como discípulo (Iatmid). Diversos exem-
completa passava por grámmata mè memathekos (Jo 7,
plos m o s t r a m que o ensino começava, h a b i t u a l m e n t e , des-
1 5 ) ; n ã o desfrutava dos privilégios d e u m d o u t o r o r d e n a d o .
de tenra idade. É o que nos conta Josefo, e m b o r a n ã o le-
vemos em conta boa parte de seu elogio pessoal por fazê¬ Somente os doutores o r d e n a d o s t r a n s m i t i a m e criavam
-lo com prodigalidade, na sua Autobiografia ; desde os 36
a tradição d e r i v a d a d a T o r a q u e , s e g u n d o o e n s i n a m e n t o
catorze anos, d o m i n a v a p l e n a m e n t e a exegese da Lei. É o dos fariseus recebido pela massa do p o v o , colocava-se em
q u e mostra t a m b é m o retrato relativo a R. íshmael ben pé d e igualdade c o m a Lei escrita até m e s m o acima
Elisha que já possuía u m sólido conhecimento da Escri- d e l a . Suas decisões t i n h a m o poder de "ligar" e "desli-
46
leigo e u m escriba p a r a o posto d e ancião da c o m u n i d a d e , sem dúvida o nome divino sagrado, d o t a d o de u m a virtude
de arqui-sinagogo ou juiz, supõe-se q u e , de m o d o geral, mágica dele fazia parte igualmente — e os segredos das
58
dava preferência ao escriba. Significa que u m g r a n d e nú- maravilhas da criação . As conversações e r a m particula-
59
m e r o de postos i m p o r t a n t e s , ocupados antigamente por sa- res, entre mestre e discípulo e v e r s a v a m sobre teosofia e
cerdotes e leigos de alta c l a s s e " , e r a m , n o século I d e cosmogonia, tais como foram consignadas por escrito no
nossa era, passados totalmente ou em g r a n d e parte p a r a primeiro capítulo do livro de Ezequiel e do Gênesis. Fala-
as mãos desses doutores. va-se em tom baixo e ao a b o r d a r a sacrossanta visão do
O q u e vimos a i n d a n ã o levou, p o r é m , a concluir o carro, c o b r i a m ainda a c a b e ç a p o r temor reverenciai
60
motivo decisivo da influência d o m i n a n t e dos escritas so- diante do segredo do ser divino.
b r e o p o v o . O fator definitivo dessa influência n ã o con-
O final do texto que acaba de ser citado poderia ser
sistia e m os escribas serem os senhores da totalidade da
explicado por u m a polêmica antignóstica. Esse final vai
tradição no domínio da legislação religiosa e p o d e r e m , por
mais longe ainda, i n t e r d i t a n d o q u a l q u e r especulação 1)
47. N o N o v o T e s t a m e n t o , o g r u p o farisaico d o S i n é d r i o é geral-
sobre a topografia cósmica com suas afirmações relativas
m e n t e d e s i g n a d o c o m o "os f a r i s e u s " ou "os e s c r i b a s " (cf. p o r e x . Mt ao m u n d o celeste e o s u b t e r r â n e o , 2) sobre a eternidade,
21,45: " o s s u m o s s a c e r d o t e s e os f a r i s e u s " c o m o p a r a l e l o Lc 2 0 , 1 9 :
"os escribas c os s u m o s s a c e r d o t e s " ) ; e m c o n t r a p a r t i d a , j a m a i s lari-
seus c escribas a p a r e c e m u n s ao l a d o dos o u t r o s c o m o g r u p o s do 54. Q u a n t o à t r a d i ç ã o esotérica n o b a i x o j u d a i s m o e n o cristia-
Sinédrio. n i s m o , v e r m i n h a e x p o s i ç ã o d e s e n v o l v i d a e m Die Abendmahlsworte
Jesu, 4- ed., G ò t t i n g e n , 1967, 118-130. A e x p o s i ç ã o q u e segue a p e n a s
48. Cf. M t 26,57-66; At 5,34-40; Ani. X I V 9,4, § 172 e a a b u n - p o d e e s b o ç a r o essencial.
dante documentação rabínica.
55. T a l m u d e de J e r u s a l é m , V e n e z a , 1523, e m s . de C a m b r i d g e :
49. Ani. X I V 9, 4, § 172.
ratüy. A lição ra'üy ê u m a c o r r e ç ã o , Billerbeck, I, 989, n. 1.
50. Vita 38, § 190: c o m p a r a r c o m B. } . II 2 1 , 7, § 627. 56. Hag. II 1; T o s . H a g , II 1 (233, 24) e I I 7 (234, 2 2 ) .
5 1 . Sanh. V 2. 57. Ma'aseh merkabah, Ez 1 e 10.
52. Kct. X I I I l s s ; b . B. Q. 5 8 . b 58. I Enoc L X I X 14-25: efeitos m a r a v i l h o s o s d o n o m e s a g r a d o
53. S a c e r d o t e s c o m o juízes, a n t e s e d e p o i s do exílio: D t 17,9-13; p e l o q u a l D e u s criou o m u n d o , e revelação do segredo aos h o m e n s .
21.5; Ez 44.24. S a c e r d o t e s q u e e n s i n a m : D t 33,10; Jr 18.18; Ml 2,7: A b u n d a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m Billerbeck, 11, 302-333, ver a i n d a m e u
Eclo 45,17. Levitas c o m o juízes: l C r 23,4;26,29. S a c e r d o t e s levitas e Golgolha, Leipzig, 1926, 5 1 .
chefes de famílias c o m o j u í z e s : 2Cr 19,5-11, ver s u p r a , p . 304. 59. Ma'aseh b resit, G n 1.
s
60. b . Yeb. 6 .
b
antes d a criação d o m u n d o , e sobre os fins ú l t i m o s . N a 6 1
v e r d a d e , o apocalíptico, tal como os escritos pseudepigrá- rias exotéricas. Todos os e n s i n a m e n t o s da literatura apoca-
ficos do baixo judaísmo nô-lo conservaram, c o m suas des- líptica dos escritos pseudepigráficos, estranhos à tradição
crições dos acontecimentos escatológicos e da topografia t a l m ú d i c a ou que nela só figuram e s p o r a d i c a m e n t e , per-
cósmica do m u n d o celeste e s u b t e r r â n e o , fazia p a r t e d a t e n c e m ao e n s i n a m e n t o esotérico; assim, por e x e m p l o , o
tradição esotérica dos escribas. Podemos concebê-lo p e l o e n s i n a m e n t o sobre o Salvador, bar nasa ("Filho do ho-
fato de, nesses escritos, encontrar-se de maneira repetida m e m " ) ; esse fato é de suma i m p o r t â n c i a p a r a compreen-
u m a descrição d a visão sacrossanta do carro de E z e q u i e l 62
der a mensagem de Jesus. É o c o n h e c i m e n t o do caráter
e do relato da c r i a ç ã o . Mas não faltam t e s t e m u n h a s
63
esotérico do apocalipse q u e permite, antes de t u d o , expli-
diretas. car o liame orgânico que existe entre a literatura apocalíp-
tica e a literatura talmúdica; observemo-lo à guisa d e
O 4° livro de Esdras termina com a o r d e m d a d a apêndice.
ao Pseudo-Esdras d e publicar os 2 4 livros precedente-
m e n t e redigidos p o r ele, os 24 escritos canónicos do An- Afirmações como as de Bousset, segundo q u e m a li-
tigo T e s t a m e n t o , " p a r a aqueles que são dignos e p a r a aque- teratura apocalíptica c o n t i n h a a religião do p o v o , e a li-
les q u e n ã o são dignos de os l e r " . Mas o texto conti- M teratura talmúdica a teologia dos escribas, p r o v o c a m a mais
n u a : " Q u a n t o aos 70 últimos [ l i v r o s ] , tu os g u a r d a r á s
6 3 completa confusão . 66
e os darás [somente] aos sábios de teu p o v o , pois, esses Alguns ensinamentos esotéricos de o r d e m exegético-
livros fazem correr a fonte da inteligência, o jato d a sa- -jurídica juntam-se aos ensinamentos esotéricos teosóficos,
b e d o r i a e fluir o rio d a ciência". Trata-se dos escritos eso- cosmogónicos e apocalípticos. Alguns foram mantidos ocul-
téricos apocalípticos aos quais a massa do p o v o n ã o deve tos d a d o a sua santidade; é exato especialmente q u a n t o
ter acesso. São inspirados como livros do cânone, mas aos "fundamentos da T o r á " , isto é, as razões q u e levaram
superam-nos em valor e santidade. Deus a estabelecer as prescrições legais p a r t i c u l a r e s ; 67
Salomão rec. C, XIII 13s (ed. C. C. M a C o w n , Leipzig, 1922, 8 7 ) , e 68. Supra, p . 323, Hag. I I 1.
s o b r e esse p o n t o , m e u Golgotha, Leipzig, 1926, 5 1 , n . 4.
descrever a Ressurreição; H b 6,íss onde toda a parte 6,5-10,18
de dois ouvintes. Assim t a m b é m se explicam as prescri-
apresenta-se como o ensinamento perfeito que se deve revelar
ções relativas à leitura de certas histórias ou expressões es-
somente àqueles que são capazes de comprendê-lo [Hb 5,14];
cabrosas do Antigo T e s t a m e n t o , d u r a n t e o serviço sinagogal. cf. Cl 2,2); b) o esoterismo estende-se aos segredos do ser di-
Algumas não p o d i a m m e s m o ser lidas em hebraico; o u t r a s vino (2Cor 12,1-7, especialmente v. 4) e de seu plano de sal-
só deviam ser lidas n a q u e l e idioma, sem t r a d u ç ã o e m ara- vação (Rm 11,25 e passim), em particular aos segredos do
m a i c o , a língua p o p u l a r ; enfim algumas expressões cho- plano de salvação escatológica (ICor 2,6-3,2; 11,51; todo o
cantes deviam ser substituídas por outras mais a m e n a s . m
Apocalipse joânico segundo Ap 10,7; 17,5-7); c) começou-se
Considerações pedagógicas explicam t a m b é m p o r que desde o século I a preservar da profanação as palavras da 16
esoterismo nos escritos neotestamentários. Antes de tudo, no mas devia ser transmitida só o r a l m e n t e , de mestre a dis-
que concerne a pregação de Jesus, os sinólicos conservaram cípulo, pois era preciso n ã o confundir escritura e tradi-
uma lembrança talvez muito exata, quando distinguem as pala- ção . Foi somente no século I I d e nossa era q u e a l u t a
78
são d o Antigo T e s t a m e n t o e m a r a m a i c o . O relato q u e con- veio do Egito a Jerusalém o n d e mais t a r d e foi juiz , e da 83
nos esotéricos no sentido estrito, mas t a m b é m ao conjunto escribas dirigentes e aos quais o p r ó p r i o Hilel foi devedor
da tradição oral, até m e s m o ao texto da Bíblia, é q u e po- da base de sua formação de escriba . T o d a v i a , por mais sè
demos c o m p r e e n d e r a posição social desses escribas. D o importantes que fossem essas casas de estudos babilóni-
p o n t o de vista social eles são, e n q u a n t o possuidores da cos, n ã o p o d i a m competir c o m as de Jerusalém. Dizem que
ciência secreta de D e u s , os herdeiros imediatos e sucesso- só ele, Hilel, reuniu em torno de si oitenta discípulos . 87
res dos profetas. "A q u e m são c o m p a r a d o s o profeta e o Era n a vida cotidiana, como nos estabelecimentos de estu-
escriba? A dois enviados d e u m único e m e s m o r e i " , diz dos que os alunos se instruíam j u n t o aos mestres; as ati-
o T a l m u d e da Palestina . Como os profetas, os escribas
80
dos n ã o em razão de sua origem como os sacerdotes, mas cípulos conservavam o q u e a p r e n d i a m como u m b e m pre-
simplesmente pelo seu conhecimento da v o n t a d e d i v i n a cioso e transmitiam os benéficos ensinamentos, inserindo-
q u e a n u n c i a m ao ensinar, ao serem juízes e ao p r e g a r . os na cadeia da t r a d i ç ã o .
Pode acontecer q u e u m escriba seja de origem m u i t o du-
vidosa, até mesmo de origem não israelita; n a d a altera o C o m p r e e n d e m o s , pois, que o p o v o t e n h a venerado
seu prestígio. Pode acontecer ainda q u e seja miserável os escribas como o u t r o r a os profetas, com respeito ilimita-
c o m o Hilel, o diarista originário d e Babilônia; sua ciência
faz dele u m h o m e m universalmente célebre. 82. ARN rec. A c a p . 12, 5 5 14; rec. B c a p . 2 7 , 5 5 3 3 ; cf. supra,
a b
p . 86s.
8 3 . Ket. X I I I 1-9; b , Ket. 1 0 5 . a
afluía a Jerusalém p a r a sentar-se aos pés dos mestres q u e 85. Seu n o m e v e m , i n d u b i t a v e l m e n t e , d a colônia de Batira e m
ensinavam c o m uma r e p u t a ç ã o m u n d i a l no j u d a í s m o de Batanéia, e s t a b e l e c i m e n t o de j u d e u s b a b i l ó n i c o s c r i a d a p o r Z a m a r i s de
Babilônia c o m a p e r m i s s ã o de H e r o d e s , o G r a n d e (Ani. X V I I 2, 1-2,
então. N o t e m p o d e H e r o d e s , Hilel veio d e Babilônia p a r a § 23ss; S t r a c k , Einléiíung, 1 1 8 ) . A r g u m e n t o s a favor dessa e x p l i c a ç ã o :
ouvir Shemaya e A b t a l i ã o , sem recuar diante de u m a
81
R. Y u d a b e n Bethyra, q u e vivia n a época e m q u e o T e m p l o a i n d a
existia, t i n h a sua escola e m N i s i b e n a Babilônia (b. Pss. 3 ) ; nessa b
8 1 . b . Yoma 55 .
b
88. P o r ex., Sukka I I I 9.
89. P o r ex., Yeb. X V I 7.
do e u m temor reverenciai, como a detentores e mestres Apesar do perigo mortal a que iam se expor, os dois ze-
da ciência esotérica sagrada; suas p a l a v r a s revestiam-se de losos escribas instigaram seus discípulos a a r r a n c a r e m - n a . M
risaicas que obedeciam, incondicionalmente, aos escribas escriba c h a m a d o Simão ousou excitar p u b l i c a m e n t e o povo
fariseus. Esses constituíam o maior n ú m e r o . Se os ensina- contra o rei Agripa 1. Lemos q u e , p o r ocasião de u m as-
mentos dos escribas saduceus d e s a p a r e c e r a m em g r a n d e sassínio, R. Sadoc, escriba m u i t o c o n s i d e r a d o , dirigiu aos
p a r t e d a tradição, deve-se ao fato de o papel dos saduceus sacerdotes, dos degraus d o vestíbulo d o T e m p l o , u m enér-
ter-se encerrado com a ruína de Jerusalém e de a tradi- gico apelo à p e n i t ê n c i a . Nos primeiros anos da revolta
96
ção chegada até nós, fixada por escrito somente a p a r t i r de 66-70 d.C. e n c o n t r a m o s , à testa do m o v i m e n t o , alguns
do século I I , ter v i n d o , exclusivamente, de seus inimigos escribas fariseus tais c o m o Shimeon, filho de Gamaliel 197,
fariseus. H á outro fator ainda: já antes da destruição do e o escritor Flávio Josefo.
T e m p l o , os escribas saduceus exerceram na vida pública Nossas fontes fornecem-nos u m a série d e p e q u e n i n o s
u m p a p e l muito menos considerável do q u e os escribas fa- casos típicos q u e r e a l ç a m o prestígio dos escribas aos olhos
riseus . O s m e m b r o s das sociedades farisaicas g a r a n t i r a m
yü
do h o m e m do p o v o . Vemo-lo levantar-se respeitosamente
aos ensinamentos dos escribas sua g r a n d e influência sobre à passagem de u m escriba, dispensados disso .somente os
o povo. operários d u r a n t e seu t r a b a l h o . Ouvimo-lo saudar o es-
9S
Incontáveis provas atestam o prestígio dos escribas no criba em primeiro lugar , d e m a n e i r a pressurosa, c h a m a n -
w
relato do T a l m u d e , n u m d e t e r m i n a d o a n o , na n o i t e do
9 1 sua túnica de escriba em forma de filactérios, caindo até
103
Para se ter, p o r é m , u m a idéia exata da v e n e r a ç ã o vamos ver, e r a m eles, n a maioria, pessoas do p o v o , sem
com q u e o p o v o cercava os escribas, e da ousadia q u e re- formação de escriba. T o d a v i a , m a n t i n h a m elos estreitos
presentou o a t a q u e de Jesus contra eles, é preciso e s t u d a r
as tradições talmúdicas relativas aos túmulos dos santos 1. A d o c u m e n t a ç ã o r a b í n i c a s o b r e os fariseus é a p r e s e n t a d a de
m o d o e x c e l e n t e p o r Billerbeck. I I , 494-519 e I V , 334-352. S c h l a t t e r ,
n a Palestina ; é preciso inteirar-se das informações p a r a
1M
vida são eles oriundos do m e s m o tronco q u e os fariseus; severidade as prescrições relativas aos tecidos de fios mistu-
as severas prescrições rituais dos essênios e seu esforço rados . 15
inferir o caráter comunitário dos fariseus. E n t r e os textos na expressão mais sucinta "santa comunidade" do Talmude
essênios, é sobretudo o Documento de Damasco q u e apre- de Jerusalém e do Midraxe. Trata-se, pois, apenas de uma
senta importantes paralelos com a organização farisaica; abreviatura. Büchler retomava a explicação do Midraxe e via
disso teremos q u e falar longamente mais a d i a n t e (p. 3 5 0 ) .
7. j . M. Sh. I I 10, 5 3 2 ( H / 2 , 2 1 8 ) .
d
10. Ibid. 1 1 5 7. a
que Deus escolheu dentre o povo da salvação, portanto, exa- Os hãbürôt de Jerusalém de que fala o texto da Tosefta
tamente da mesma maneira como os fariseus chamavam-se "os estão, incontestavelmente ligados a essas associações beneficen-
separados", quer dizer, "os santos" . 22
era, a Assunção de Moisés, censura aos fariseus o serem pes- r a n t e o qual o postulante devia dar provas de sua aptidão
soas que "a qualquer hora do dia gostam de banquetear-se c
p a r a seguir as prescrições rituais. Josefo conta-nos, por
fartar-se" e que "da manhã à noite se aprazem em dizer: que-
e x e m p l o , ter-se s u b m e t i d o sucessivamente às prescrições
remos ter festins e abundância, comer e b e b e r " . Essas cen- 33
suras forçam-nos a procurar nos fariseus — se não os quiser- dos fariseus, dos saduceus e dos essênios; finalmente, aos
mos catalogar como puros beberrões e glutões — costumes se- dezenove anos, aderiu aos f a r i s e u s . Esse exemplo preciso 37
melhantes àqueles de que fala nosso texto da Tosefta, referin- confirma a existência desse t e m p o p r e p a r a t ó r i o p a r a ser
do-se às "comunidades" de Jerusalém. admitido a u m a c o m u n i d a d e farisaica.
Temos de levar em consideração uma última referência. U m a vez t e r m i n a d o o p e r í o d o experimental, o can-
Nas fontes talmúdicas, encontramos "os filhos da sinagoga"
didato comprometia-se a observar o regulamento da comu-
(b nê ha-k neset) , que observavam, como uma obrigação, em
e e M
ocasiões oportunas, as regras litúrgicas e participavam das ce- n i d a d e ; na época antiga, a única q u e nos ocupa a q u i , esse
rimônias fúnebres (litúrgicas). Trata-se, pois, de uma organi- compromisso se realizava diante de u m m e m b r o da comu-
zação semelhante às associações caridosas citadas acima. Zabim
III 2 supõe que essas associações sinagogais sigam as prescri- 36. A o século I de n o s s a era é q u e n o s c o n d u z a divergência d a
ções farisaicas de pureza para a preparação dos alimentos ; 35 o p i n i ã o e n t r e s h a m a í t a s e hilelilas a r e s p e i t o d a d u r a ç ã o d o l e m p o de
p r o v a ç ã o em T o s . Demay II 12 (48, S) •. ' ' N o fim de q u a n l o t e m p o
[de p r o v a ç ã o ] aceitar-se-á [o c a n d i d a t o ] ? O s s h a m a í t a s exigiam trinta
30. T a m b é m A . Büchler, o.c, 208-212. d i a s p a r a o s l í q u i d o s [trata-se d o s s e t e ' l í q u i d o s q u e t o r n a m aptos à
3 1 . Por ex... T o s . Demay II 14 (48, 11) e passim. i m p u r e z a ' : o r v a l h o , á g u a , v i n h o , azeite, s a n g u e , leite, m e l de a b e l h a s ;
32. P a r a m o s t r a r a i m p o r t â n c i a q u e os fariseus a t r i b u í a m às o b r a s q u a n d o os a l i m e n t o s sólidos ou secos e n t r a v a m em c o n t a t o c o m a l g u m a
s u p e r e r r o g a t ó r i a s , c i t a m o s aqui s o m e n t e , e n t r e os a b u n d a n t e s d o c u m e n t o s , coisa i m p u r a , n ã o se t o r n a v a m i m p u r o s a n ã o s e r q u e tivessem s i d o
alguns e x e m p l o s e x t r a í d o s d o N o v o T e s t a m e n t o . D í z i m o s u p e r e r r o g a t ó - antes m o i n a d o s p o r u m desses sete l í q u i d o s . O c a n d i d a t o devia p r o v a r
r i o : Ml 23,23; Lc 18,12; prescrições de p u r e z a : M t 15,1-2; M c 7,1-4; q u e p r e s t a r a a t e n ç ã o a essas regras e as h a v i a o b s e r v a d o , e q u e con-
Mt 23,26 e p a r . ; j e j u n s : Lc 18,12; Mt 9,14 e par.; o r a ç ã o ; M t 6,5-8 s e r v a r a esses sete l í q u i d o s afastados d e s u a s frutas e l e g u m e s e o u t r o s
(este trecho é dirigido c o n t r a os fariseus, ver infra, p . 3 4 3 , e s m o l a s : a l i m e n t o s secos] e d o z e m e s e s p a r a as vestes [as vestes t o r n a v a m - s e
M l 6,2-4. i m p u r a s p o r p r e s s ã o ou c o n t a t o da p a r t e dc a l g u é m em c o n d i ç ã o le-
33. A s s u n ç ã o de Moisés V I I 4.7-8. Trata-se dos fariseus; o con- v i l i c a m e n t e i m p u r a , o q u e o fariseu p r o c u r a v a e v i t a r ] . M a s os hele-
texto é e v i d e n t e . I is las se c o n t e n t a v a m , p a r a as d u a s [ p r o v a s ] c o m trinta d i a s " . V e r ,
34. Bek. V 5; Zabim I I I 2; b . M. Q. 2 2 bar.; Semahot b
XI. M í h r c este p o n t o , Billcrbeck, I I , 505s.
35. A. B ü c h l e r , Der galildische 'Am-ha' Ares, 74, n. 2. 37. Vita 2, § lOss.
n i d a d e q u e fosse e s c r i b a . O recém-admitido p r o m e t i a ob-
38 c o m p a r a ç ã o , citemos a l g u n s outros n ú m e r o s . A p o p u l a ç ã o
servar as prescrições farisaicas sobre a p u r e z a e o d í z i m o . 39
de Jerusalém era de 25 a 30 mil h a b i t a n t e s ; o total dos 47
lho da h a u r a n i t a , que se alimentava segundo as regras de (sic!). E m Lc 1 1 , 4 5 , u m escriba diz a Jesus após a sua re-
pureza levítica e R. Sadoc, sacerdote célebre que ingeriu
66 p r i m e n d a aos fariseus: " M e s t r e , falando assim tu nos in-
igualmente seus alimentos segundo as regras d e p u r e z a le- sultas t a m b é m ! " Esse escriba defende igualmente os fari-
vítica , pelo ano 6 0 . Josefo , sacerdote e escritor, e Shi-
67 6S seus sem se colocar diretamente no n ú m e r o deles. Se em
meon, filho de Gamaliel I " ; n a época da destruição do
9 semelhantes casos pode-se, sem hesitação, supor que o es-
T e m p l o o filho desse Shimeon, R a b b a n Gamaliel 11 q u e , criba, defendendo opiniões farisaicas, pertença igualmente
assim dizem, alimentava-se segundo as prescrições farisai- a u m a c o m u n i d a d e farisaica, não se deve d e m o d o algum
cas de pureza levítica e conservava sempre as suas vestes subestimar o n ú m e r o dos doutores n ã o pertencentes a u m a
em estado de s u p r e m a pureza l e v í t i c a , e Yoezer, sacer-
70 hãbürah farisaica. E m todo caso, é consideravelmente mais
dote e s c r i b a . 71 elevado do que o p r e t e n d e a tradição talmúdica, redigida
de u m p o n t o de vista u n i l a t e r a l m e n t e farisaico.
60. Hag. II 7.
O exemplo de Shimeon ben N e t h a n a e l é, a meu ver,
6 1 . Ánt. X V 1, 1, § 3 ; 10, 4, § 370. p a r t i c u l a r m e n t e elucidativo. Shimeon que vivia p o r volta
62. P o d e m o s deduzi-lo do a c o n t e c i m e n t o ('Er V I 2) q u e G a m a l i e l do ano 70 d . C , era sacerdote e discípulo de R a b b a n Yoha-
c o n t a dc seu p a i . O p a i de G a m a l i e l I era H i l e l ; o S h i m e o n m e n c i o -
n a d o s o m e n t e em b . Shab. 1 5 bar., ao q u e se p r e t e n d e p r e s i d e n t e d o
a nan ben Z a k k a i 7 3
cujas idéias farisaicas constatamos há
Sinédrio d e p o i s d c Hilel e antes de G a m a l i e l I, n ã o é c i t a d o e m ne-
n h u m o u t r o lugar, c de q u a l q u e r m o d o n ã o c dito ser pai d e G a m a - antes dc 70 d. C , c o m o o c o n f i r m a m os d a d o s q u e se s e g u e m . T o s .
liel I. E n t r e t a n t o , n ã o s a b e m o s se o relato de 'Er. V I 2 v e m d e R. Sanh. II 6 (416, 2 4 ) : nos d e g r a u s d a e s p l a n a d a d o T e m p l o , ele es-
G a m a l i e l I ou d e R. G a m a l i e l I I ; é s o m e n t e no p r i m e i r o caso q u e c r e v e u m a o r d e m p a r a a Galileia (com Billerbeck, I, 154 e G . Dal-
se p o d e tirar u m a d e d u ç ã o q u a n t o a H i l e l . m a n , Die Worte jesu. I, 2- ed., Leipzig, 3 ; é preciso atribuir essa
p a s s a g e m a G a m a l i e l I I ) ; Pes. V I I 2; m a n d a assar em Jerusalém o
6 3 . M c 2,16; Lc 5,30; Mt 15,1-9; M c 7,1-13. O s fariseus q u e dis- c o r d e i r o p a s c a l p e l o seu e s c r a v o T a b i (o n o m e d o e s c r a v o é conhe-
c u t e m c o m Jesus d a exegese do D t 24,1 (Mt 19,3; M c 10,2) são igual- cido; m o s t r a q u e se t r a t a de G a m a l i e l I I ) ; Sukka I I I 9 (pode acon-
m e n t e teólogos. tecer ser p r e c i s o , j u n t a m e n t e c o m Billerbeck, I I , 788 e, situar esse
64. At 5,34; T o s . 'A. Z. I I I 10 (464, 6 ) . a c o n t e c i m e n t o n a liturgia do T e m p l o , antes de 70, p o r t a n t o ) ; o fato
65. At 23,6. P a u l o era u m escriba f o r m a d o . A t 26,10 o n d e ele faz, p o i s , s u p o r q u e R a b b a n G a m a l i e l I I já era nessa é p o c a u m a au-
fala de sua a t i v i d a d e de juiz, dá-nos esta certeza. loridade reconhecida.
66. b . Yeb. 1 5 e p a r .
b
profano, conformando-se às prescrições farisaicas sobre a bros do clero se s u b m e t i a m às exigências farisaicas sobre
pureza e, p o r ocasião de seu c a s a m e n t o , foi obrigado a a p u r e z a : "Yose ben Yoezer [antes d e 162 a . C ] era, en-
p r o m e t e r expressamente não exigir de sua m u l h e r que pre- tre os sacerdotes, u m h o m e m piedoso e suas vestes con-
parasse alimentos puros em sua casa (já q u e , de certa ma- sideradas como midras [impuras somente por contato] p a r a
neira, ele não tinha observado a pureza r i t u a l ) . E n t r e os 7Ó
fa c o n s u m a ç ã o ] das coisas santas. Y o h a n a n ben G u d g e d a
escassos dizeres que dele chegaram até nós, u m critica a [cerca de 40 d.C.j d u r a n t e a sua vida inteira só se alimen-
determinação de tornar-se a oração "algo b e m regulamen- tou dentro [das regras] da pureza das coisas santas, de
t a d o " , pois a intimidade da oração viria a sofrer com isso . 11
sorte que sua veste era considerada c o m o midras [impura
E v i d e n t e m e n t e , Shimeon critica o estabelecimento de h o r a s somente por contato] pela [aspersão da água d a ] pu-
fixas p a r a orar ao que os fariseus d a v a m tão g r a n d e im- rificação".
portância . 7S
N o u t r a circunstância t o m a m o s c o n h e c i m e n t o de u m sacer-
mento de evangelho apócrifo cita Levi, sacerdote-chefe fa- dote, Shimeon b e n N e t h a n a e l , que recusou submeter-se à
riseu ; finalmente, devemos mencionar o levita Y o h a n a n
80
ziam p a r t e em 67 d.C. de u m a e m b a i x a d a na Galileia, diz que fosse necessário. Muitas vezes, porém, mostravam-se
serem fariseus e l e i g o s . O " p o v o de J e r u s a l é m " q u e es-
84
rante os anos da revolta em 66-70 d.C. — para os sub- crições das leis religiosas dos escribas fariseus e p e r a n t e
trair aos sicários e se p r e o c u p o u c o m sua p u r e z a ritual os quais os fariseus se consideravam c o m o o v e r d a d e i r o
até que os escribas o tranqüilizou , são fariseus d e Jeru-
ífS
Israel . 95
p r o d u z o " ; ou b) " d e t u d o q u a n t o g a n h o d o u 1 0 % p a r a as o b r a s de
nesse caso, trata-se talvez de fariseus e assim s e n d o , pen-
87
b e n e f i c ê n c i a " , ver Billerbeck, I I , 244s. E m n o s s a t r a d u ç ã o , e s c o l h e m o s
sar-se-ia, antes de t u d o , em leigos piedosos. o s e n t i d o c s e g u n d o o qual o h o m e m se g a b a de p a g a r o dízimo d e
t u d o o q u e c o m p r a e n ã o s o m e n t e d o q u e ete p r ó p r i o p r o d u z ( p o r q u e
H á ainda em Jerusalém aqueles mercadores d e v i n h o n ã o s a b e c o m certeza se o v e n d e d o r , m e s m o q u e o afirme, já d e s o n e -
rou-se d o d í z i m o ) . Essa ú l t i m a asserção é a m a i s p r o v á v e l , pois, en-
e azeite q u e , n a delicadeza de sua consciência, e n c h e r a m cerra, d e m a n e i r a m u i t o clara, u m e l e m e n t o característico dos fariseus
300 odres com a espuma do v i n h o d u r a n t e a venda e 300 (Demay II 2 [ 4 7 , 1 0 ] ) .
com o azeite q u e sobrou nas vasilhas de m e d i d a ; entrega- 92. Demay II 2-3; V I 6; T o s . Ma'as. I I I 13 (85,19), e passim.
9 3 . É b o m n o t a r q u e q u a n d o Jesus d i s c u t e c o m os fariseus s o b r e
ram-nos aos tesoureiros do T e m p l o por n ã o c o n s i d e r a r e m q u e s t õ e s exegéticas (Mt 22,41-46 e par.) c s o b r e o u t r a s questões teó-
esses restos p r o p r i e d a d e deles ; trata-se, ao q u e t u d o in-
88
ricas, é c o m os chefes, c o m os escribas q u e o f a z .
94. N o singular, a e x p r e s s ã o significa, a o p é d a letra " p o v o d o
país [de I s r a e l ] " . P r i m i t i v a m e n t e , d e s i g n a v a a vasta m u l t i d ã o p o p u -
8 3 . b . Qid. 6 6 .
a
g a d a p a r a designar a q u e l e q u e n ã o c o n h e c i a a Lei, e s p e c i a l m e n t e o
38 (IV/1, 30). não-fariseu.
87. Cf. a e x p o s i ç ã o d e t a l h a d a supra, p p . 336-338.
95. Q u a n t o ao s e n t i d o do t e r m o " f a r i s e u " , ver supra, n. 2.
88. b . Besa 2 9 bar.
a
Analogias c o m o c a r á t e r e a organização das comu-
56
sélitos ( X I V 3ss). Algumas prescrições r e g u l a m e n t a m , por-
n i d a d e s farisaicas tal como acabamos de descrever, apa- m e n o r i z a d a m e n t e , a admissão na c o m u n i d a d e . Somente
recem no Documento de Damasco p u b l i c a d o em 1910,
91
" a d u l t o s " p o d e m ser recebidos d e n t r e aqueles que são exa-
e, recentemente, em p r o p o r ç ã o m e n o r , na Regra da Co- m i n a d o s " (X 1-2, cf. X V 5-6). Como p o d e m o s ver em N m
munidade ( 1 Q S ) , p u b l i c a d a em 1 9 5 1 . Antes das desco-
9 8
1,3 a regra fixa em 20 anos a i d a d e m í n i m a p a r a o in-
bertas de Q u m r ã , considerava-se geralmente o Doe. Dam. gresso de q u a l q u e r p r e t e n d e n t e . lü2
como u m texto fariseu (a primeira redação dessa p a r t e em Previamente, o c a n d i d a t o submete-se a u m exame fei-
1929 compartilhava t a m b é m dessa opinião). Depois d a pu- to pelo escriba vigilante (Doe. Dam. X I I I 11-12; X V 11)
blicação dos textos de Q u m r ã , tivemos a certeza d e ser que tão-somente possui o direito de admiti-lo ( X I I I 12¬
ele de origem essênia. A p r o v a nos foi d a d a pelas seme- 13) 103
e a q u e m o postulante deve apresentar-se (XV 7-8).
lhanças de base e pelo fato de os fragmentos do Doe. Dam. O vigilante dá-lhe logo a conhecer as disposições jurídicas
terem sido encontrados em Q u m r ã secretas 104
da c o m u n i d a d e (XV 10-11); o c a n d i d a t o presta
T o d a v i a , a origem essênia do Doe. Dam. n a d a m u d a o j u r a m e n t o de e n t r a d a (XV 6), e é incluído na lista dos
ao fato de p o d e r ser ele de g r a n d e ajuda p a r a se compre- m e m b r o s ( X I I I 12). Segue-se, então, segundo a Regra (1QS
ender a organização das c o m u n i d a d e s farisaicas; c o m efei- V I 13ss; cf. V I I 19ss, V I I I 24s), u m período de prova-
to, fariseus e essênios tiveram a m b o s , sem sombra d e dú- ção q u e dura dois anos. Faltas graves são p u n i d a s por u m a
vida, sua origem no m o v i m e n t o dos assideus, na época exclusão t e m p o r á r i a ou definitiva (Doe. Dam. X X 1-13;
macabaica °, o que mostra muitas semelhanças e n t r e os
I0 ver t a m b é m as disposições penitenciais n a Regra, 1QS V I
dois movimentos. A p a r e c e m com maior nitidez no Doe. 24-VII 2 5 ) .
Dam. do q u e na Regra. O Doe. Dam. estabelecido prova- Essas informações estão perfeitamente de acordo com
velmente p a r a grupos essênios dispersos no país, supõe for- o resultado da análise das c o m u n i d a d e s farisaicas feita aci-
mas de c o m u n i d a d e semelhantes àquelas que as regras fa- m a ; torna-se especialmente claro se p e n s a r m o s que a sina-
risaicas p r e v ê e m : em compensação, a Regra organiza a vida goga, ao contrário desses dois movimentos n ã o adota ex-
severa de Q u m r ã , centro monástico. clusões e só aceita adultos em caso de conversões de pagãos.
Se e x a m i n a r m o s a organização das c o m u n i d a d e s es- N o q u e concerne ao governo, u m viligante (m baqqer) e
sênias, vemos, de imediato, que se trata de grupos rigoro- q u e não deve ter menos de trinta anos n e m mais de 50
samente organizados. M a n t ê m m e m b r o s (Doc. Dam. X I I I1 0 1 (Doe. Dam. X I V 8s) chefia cada " c a m p o " . É u m escriba
12, cf. X 2) estabelecidos segundo a o r d e m igualmente q u e informa sobre o sentido exato da Lei ( X I I I 7s). É a
válida p a r a as reuniões: sacerdotes, levitas, israelitas, pro- ele q u e se devem c o m u n i c a r as faltas cometidas (IX 18s,
2 2 ) , U n i c a m e n t e ele tem o direito d e admitir u m candi-
96. Ver supra, ibid. dato na c o m u n i d a d e ( X I I I 12s); e x a m i n a e instrui os no-
97. S. S c h e c h t e r , Documents of Jewish Sectaries, vol. I, Cam- vos recrutas ( X I I I l i s ; cf. X V 8,11). É ainda o pai es-
bridge, 1910.
98. M. Burrows-J. C. T r e v e r - W . H . B r o w n l e e , The Dead Sea Scrolls
piritual da c o m u n i d a d e ; " c o m o u m p a i , compadece-se de
of St. Mark's Monastery I I / 2 , N e w H a v e n , 1951. — A Regie de la seus filhos" ( X I I I 9). Suas relações c o m a c o m u n i d a d e são
congregation (1 Q Sa), a n e x o da Regie de la communauté, foi p u b l i - descritas sob a figura do pastor e do r e b a n h o (ibid.). Por
c a d a p o r D . B a r t h é l e m y e m Qumran Cave I (Discoveries in the ]u-
daean Desert, t. 1), O x f o r d , 1955, 109-111.
102. 1 Q Sa I 8 indica e x p r e s s a m e n t e o limite d a i d a d e de v i n t e
99. N a g r u t a 4 (J. T . Milik, RB 63 [ 1 9 5 6 ] , 61) e a g r u t a 6 ( M . anos.
Baillet, ibid., 513-523). 103. Apresenta-se d i f e r e n t e m e n t e e m 1 Q S V 8.20ss o n d e os sa-
100. Ver supra, p . 334. c a r d e o t e s e os m e m b r o s c o m direitos de c i d a d a n i a p r o c e d e m j u n t o s
101. 1 Q S V 2 3 , V I ( 1 0 ) 2 2 ( 2 6 ) , V I I 2 . 2 1 , V I I I 19, I X 2 ; cf. à admissão.
1 Q Sa I 2 1 . 104. Aplica-se a justiça s e g u n d o as regras j u r í d i c a s específicas.
esse m o t i v o , ao "desligar os elos de suas c o r r e n t e s " ( X I I I esse ú l t i m o , como se sabe, aparece pela primeira vez em
10) , cuida p a r a que ninguém d a c o m u n i d a d e seja opri-
105 Inácio de A n t i o q u i a .
mido ou fisicamente atingido. Com os juízes, recebe da Eis c o m o se deve r e s p o n d e r . É muitíssimo duvidoso
que o Doe. Dam. conheça a função m o n á r q u i c a de u m
c o m u n i d a d e dons caritativos e vigia a sua distribuição ( X I V
" vigilante-chefe ". A expressão decisiva, nfbaqqer l kol ha-
e
13).
-mahanôt ( X I V 8-9), p o d e apresentar diferentes significa-
A o levar em conta a correspondência de organização dos. A t r a d u ç ã o "vigilante de cada c a m p o " concorda com
e s t u d a d a acima entre as c o m u n i d a d e s essênias e farisaicas, o sentido do trecho; com efeito, as regras que seguem,
podemos imaginar as funções dos ârchontes fariseus (Lc X I V 9ss, n ã o se p o d e m aplicar a u m vigilante-chefe ú n i c o .
14,1), sobre os quais as fontes nos dão poucas informa- Como o mostra IX 17ss, aplicam-se m e l h o r ao vigilante
ções como análogas às funções d o nfbaqqer essênio. O fato de cada c a m p o .
deste nfbaqqer m a n t e r t a m b é m contatos com o bispo cris-
E m r e s u m o , convém dizer que p o d e m o s levar em
tão concorre p a r a essa a p r o x i m a ç ã o . T u d o q u a n t o foi ex-
consideração os dados sobre a organização dos " c a m p o s "
plicado até agora q u a n t o à origem dessa última função (a
essênios, mas c o m a maior p r e c a u ç ã o , p a r a d a r contornos
saber, o termo episcopo designava os m e m b r o s das comis-
mais acentuados às raras e ocasionais informações acerca
sões c o m u n a i s de construção nas cidades sírias , o u o 106
fia, aparecesse no Doe. Dam. ao lado do vigilante de cada aquela data c o m p r e e n d i a exclusivamente representantes da
c a m p o . Seria, c o m efeito, inverossímil q u e as c o m u n i d a d e s aristocracia religiosa e leiga, e a b a n d o n a r a m sua oposição
cristãs da época neotestamentária tivessem r e t o m a d o a fun- à família reinante. A l e x a n d r a governou, mas e n q u a n t o mu-
ção dos episkopoi das c o m u n i d a d e s particulares (observe-se lher, não p ô d e ser, ao m e s m o t e m p o sumo sacerdote; essa
o plural em Fl 1,1) e não esse episcopo m o n á r q u i c o . O r a , circunstância deve ter facilitado a coligação dos fariseus.
Apoiados n o p o d e r da r a i n h a , tornaram-se, e n t ã o , os ver-
105. " L i g a r " e " d e s l i g a i " , cf. Mí 16,19. dadeiros chefes de estado . m
q u a n t o , pelo m e s m o motivo, m a n d o u executar o u t r a s pes- sus é , substancialmente, obra dos fariseus ; é difícil dar- m
É n a força dos fariseus q u e devemos, de m o d o espe- sobre a política e a administração d a justiça n a Palestina,
cial, p r o c u r a r a razão d a indulgência do rei. M e s m o u m antes de 6 6 d . C , n ã o deve ser e x a g e r a d a . Bem dife- m
H e r o d e s tinha de reconhecer q u e os fariseus c o n t a v a m rente era o q u e acontecia n o domínio religioso. Nesse pon-
com o p o v o . W e l l h a u s e n n ã o tem razão ao dizer q u e
U B t o , os fariseus levavam vantagem sobre os saduceus. Assim
"os fariseus tiveram sua época de p r o s p e r i d a d e s o b H e - sendo, encont r am os t o d a a vida religiosa, especialmente a
rodes" 119
— situa-se ela, com efeito, após 70 d . C — m a s
u m fato é certo: e n q u a n t o as famílias sacerdotais d a n o v a
h i e r a r q u i a ilegítima d e p e n d i a m d a s b o a s graças d e H e r o -
120. Ani. XVII 2, 4, § 36-46; B. j . I 2 9 , 1, § 569-571.
des de m a n e i r a total e indigna, os fariseus mantiveram-se
121. M c 3,6; Lc ¡ 3 , 5 1 ; M c 12,13 p a r . M t 22,15-16.
tranqüilos; t i n h a m , então, r e a d q u i r i d o sua influência n o
122. A t 5,34-39;23,6.
123. Jo 7,32.45-52;! 1,46; 12.42; cf. " o s j u d e u s " e m 7,13;9,22; 19,38:
113. Ant. X I V 3, 2, § 4 1 ; c o m r a z ã o supõe-se, g e r a l m e n t e , q u e a
20,19.
e m b a i x a d a foi o r g a n i z a d a pelos fariseus.
124. A t 9,l-4;22,3-8;25,9-14. Q u a n t o à d a t a ç ã o : s e g u n d o G a l 1,18;
114. B. j . I 8, 5, § 170.
2 , 1 , a c o n v e r s ã o d e P a u l o se deu dezessete a n o s — q u e r dizer, quin-
115. Ant. X V I, 1-2, § 3ss. O s fariseus t i n h a m a c o n s e l h a d o a ren-
ze, c o n f o r m e nossa m a n e i r a m o d e r n a d e c o n t a r — a n t e s d o concílio
dição d e J e r u s a l é m a H e r o d e s .
a p o s t ó l i c o q u e se r e a l i z o u n o fim d e 48 d . C , p o r t a n t o , e m 33 (ver
116. É p r o v á v e l , c o n f o r m e e x p ô s O t t o , Herodes, c o l . 6 4 n., n a m e u artigo Sabbatlyahr, e m ZNW 2 7 ( 1 9 2 8 ) , 98-103.
trilha d e W e l l h a u s e n , q u e os dois relatos d e Josefo, Ant. X V 10, 4, § 125. A p a r t i r d e 66 d . C , a s i t u a ç ã o m u d o u c o m p l e t a m e n t e . V e r
368-370 e X V I I 2 , 4 , § 42, c o n t e n h a m o m e s m o c a s o , m a s s e g u n d o d u a s a abolição cio c ó d i g o p e n a l cujo a n i v e r s á r i o será c e l e b r a d o a l e g r e m e n t e ,
fontes, u m a desfavorável aos fariseus ( X V § 3 6 8 ) , a o u t r a simpati- s e g u n d o Megillat táanií 10, e m 14 t a m m u z ( e d . H . L i c h t e n s t e i n , e m
z a n t e a H e r o d e s e oposta aos fariseus ( X V I I § 4 2 , s e m d ú v i d a Ni- UUCA 8-9 (1931-1932), 319, n . 1 2 ) . Essa a b o l i ç ã o n ã o se d e u n e m
colau d e D a m a s c o ) . M»b A l e x a n d r a (76-67 a.C.) n e m s o b A g r i p a I (41-44 d . C ) . m a s n o
117. Ant. X V Í 1 2, 4 , § 41ss, cf. X V 1, 1, § 3 5 . linimento e m q u e e s t o u r o u a revolta c o n t r a os r o m a n o s (66 d . C ) . C o m
118. Ant. X V I I 2, 4 , § 4 1 : e s t a v a m m e s m o p r o n t o s a d e c l a r a r H i ' i l o , a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d a filha d e u m s a c e r d o t e , sob A g r i p a I,
guerra a o rei e a prejudicá-lo. r e n d a d a supra, p . 2 4 6 , n. 2 2 2 a, foi p r o n u n c i a d a s e g u n d o o d i r e i t o
119. W e l l h a u s e n , Pharisaer, 109. '..idlliTll.
liturgia , regrada segundo as prescrições farisaicas. O úl-
m d o p o d e r i o dos fariseus. N o T a l m u d e , vemos u m s u m o
m
imolassem os cordeiros d a Páscoa m e s m o n o dia d e sába- O t e s t e m u n h o de Josefo concorda perfeitamente com essas
do e assim abolira a prática saducéia até então em uso . m
indicações. Eis o que conta dos saduceus : " Q u a n d o se m
O fato que vamos n a r r a r mostra até o n d e ia a i n a p t i d ã o elevam às magistraturas, é c o n t r a sua v o n t a d e e por ne-
dos saduceus. T e n t a r a m , certa vez, por meio f r a u d u l e n t o , cessidade que se c o n f o r m a m às prescrições dos fariseus,
fixar o calendário conforme sua datação da festa d e Pen- p o i s , d e o u t r o m o d o , o p o v o n ã o os s u p o r t a r i a " . C o m o
tecostes; p a r a tanto, t e n t a r a m induzir e m e r r o , através d e v e m o s , a massa p o p u l a r segue incondicionalmente os fa-
falsas testemunhas, a comissão do calendário no Siné- riseus; Josefo, em p a r t i c u l a r , n ã o se cansa de realçar este
drio . 115
fato . 139
A antiga geração dos saduceus revelou total resigna- P a r a c o m p r e e n d e r tal evolução, é preciso ver que o
ção, pois, c o m p r e e n d i a b e m a impossibilidade de triunfar m o v i m e n t o farisaico desenvolveu-se p o r oposição a o movi-
m e n t o s a d u c e u . N o clero, essa o p o s i ç ã o formou-se n o sé-
126. Ant. X V I I I 1, 3, § 15. c u l o IJ a . C , isto é, sob a d o m i n a ç ã o selêucida antes do
127. Ant. X I X 7, 3, § 3 3 1 ; S c h ü r e r , I, 554ss. Cf. o j u í z o favorá- começo das lutas m a c a b a i c a s , q u a n d o u m grupo de sa-
l40
39 a
46 ( I I I / 2 , 1 7 0 ) . — Billerbeck, I I , 78s e 84Ss.
trata-se de u m a o r d e m dos p r i m e i r o s p r o f e t a s . R. Y u d a b e n Bethyra
(cerca de 110 d.C.) e R, A q i b a (f a p ó s 135), b . Ta'an. b
2 , assim 137. T o s . Nidda V 3 ( 6 4 5 , 2 6 ) ; b . Nidda 3 3 bar.
b
m i n a r os representantes da nova tradição. A luta assumiu agudo nos anos e m q u e João H i r c a n o (134-104 a.C.) pu-
p a r t i c u l a r acuidade pelo fato de u m a oposição social jun- blicou sua célebre o r d e m sobre o d í z i m o , visando a im-
tar-se à oposição religiosa: a velha nobreza conservadora, pedir a negligência n o p a g a m e n t o d o dízimo dos p r o d u t o s
isto é, a n o b r e z a clerical, como a nobreza leiga, opunha¬ agrícolas ; b e m depressa assumiu as dimensões d e u m a
147
-se à nova classe d o m i n a n t e dos intérpretes d a Escritura s e p a r a ç ã o d e casta da p a r t e dos fariseus. Comércio ca- H 8
3
em todos os meios, especialmente n a p e q u e n a burguesia; peito — até prova contrária — de ser i m p u r o , foram, se
submetia-se de b o m grado às regulamentações dos sacer- n ã o completamente p r o i b i d o s , pelo m e n o s sujeitos à limi-
dotes e p r e p a r a v a assim o c a m i n h o p a r a u m sacerdócio tações muito precisas.
universal. O povo não se p e r t u r b o u c o m a situação. É certo
Esses fatos c o m p r o v a m q u e , religiosa e socialmente, que n ã o faltaram manifestações de ira contra a nova clas-
os fariseus constituíam o p a r t i d o do p o v o ; r e p r e s e n t a v a m se superior; certo t a m b é m que f r e q ü e n t e m e n t e se mani-
a massa em face da aristocracia tanto d o p o n t o de vista festou u m intenso desejo d e se libertar do jugo da indi-
religioso q u a n t o social. Sua p i e d a d e que era respeitada — ferença religiosa. É preciso, pelo menos e m p a r t e , explicar
p r e t e n d i a m ser o Israel verdadeiro — e sua o r i e n t a ç ã o so- através desse desejo o g r a n d e m o v i m e n t o dos "infelizes"
e dos " a f l i t o s " , dos " p u b l i c a n o s " e dos " p e c a d o r e s " q u e
141. E m T o s , 'A. Z. 111 10 (464, 9 ) , r a b i Meir (cerca d e 150 a c o m p a n h a r a m Jesus. D e m o d o geral, e n t r e t a n t o , o p o v o
d.C.) assim definiu o não-fariseu: a l g u é m q u e " n ã o toma seu a l i m e n t o
p r o f a n o s e g u n d o a p u r e z a levítica [prescrita p a r a os s a c e r d o t e s n a 145. Jo 7.49; Lc 18,9-14. - B ü l e r b e c k , I I , 505ss; S c h ü r e r , I I , 468s.
T o r a ] " . — Schlatter, Gesch. Isr., 138, d i z d e m a n e i r a clara e p r e c i s a : 146. V e r supra, p . 151.
" O T e m p l o e o clero c o n s t i t u í a m o foco d o m o v i m e n t o e é o direito
s a c e r d o t a l q u e esse m o v i m e n t o se esforçava p o r i n c u t i r " . Cf. I. A b r a - 147. b . Sota 48^ b a r . ; c{. Tos. Sota XIII 10 (320, 4 ) . B ü l e r b e c k ,
h a m s , Studies in Pharisaism and the Gospels II, C a m b r i d g e , 1924; I. II. 500.
E l b o g e n , '"Einige n e u e r e T h e o r i e n ü b e r d e n U r s p r u n g der P h a r i s ä e r 148. T o s . Mas'as. I I I 13 (85, 1 9 ) : " N a o se p o d e m v e n d e r [cereais
u n d S a d d u z ä e r " , e m Jewish Studies in Memory of Israel Abrahams,
(salvo f r u m e n t o ) , u v a s c a z e i t o n a s ] s e n ã o a u m haher [fariseu] s u b -
N o v a I o r q u e , 1927, 137; L. Baeck, Die Pharisäer, Berlim, 1927, 5 8 .
m e t e n d o - s e às regras de p u r e z a " . Demay I I 3 p r o í b e v e n d e r ao n ã o -
142. É o s e n t i d o d a p a l a v r a " f a r i s e u " , v e r supra, n. 2. -fariseu legumes e frutas ú m i d a s e secas, e dele c o m p r a r o m e s m o .
143. Josefo, Ant. X I I I 1, 3 , § 12, insiste n o c a r á t e r i n t r a t á v e l e 149. E x c e ç ã o : T o s . 'A. Z. í f l 10, ( 4 6 4 , 7 ) , v e r supra, p . 346.
fanático dos fariseus. 150. M c 2,16; M t 9 , 1 1 ; Lc 5,30; cf. Lc 15,2. — Demay I I 3 p r o í b e
144. Josefo, Ant. X I I I 10, 6, § 287s, r e a l ç a c l a r a m e n t e a o p o s i ç ã o : ser r e c e b i d o c o m o h ó s p e d e n a casa de u m 'am ha-'ares e recebê-lo
Lei escrita — Lei n ã o escrita. c o m o h ó s p e d e q u a n d o usa sua p r ó p r i a v e s t e .
considerava os fariseus q u e se obrigavam v o l u n t a r i a m e n t e
a praticar obras suplementares c o m o modelos da p i e d a d e
e realizadores deste ideal de vida q u e os escribas h a v i a m
concebido; os escribas, esses h o m e n s da ciência divina e
da ciência esotérica. D a p a r t e d e Jesus foi u m a a u d á c i a
sem p a r , b r o t a d a d o p o d e r q u e a consciência de sua sobe-
rania lhe dava, o ter dirigido, àquela gente, p u b l i c a m e n t e
e sem receio, o apelo à penitência; tal audácia o levou à
SEGUNDA SEÇÃO
cruz.
era de ordem religiosa: a pertença à comunidade religiosa 8. Escravos do 7. Escravos do 7. Escravos liber-
pesava mais do que a origem. Templo Templo tos
9 De pai desço- 8. Bastardos
ir
nhecido 9. Castrados"
10 Crianças ex-
postas
10. Tumlôm s
1 1 . Andróginos
Essas três formas da lista q u e o leitor é c o n v i d a d o Essa divisão tripartida está na b a s e de cada u m a das
a c o m p a r a r c o m atenção se igualam somente no início três disposições da lista. Existe a p e n a s , na lista I I I , inter-
(1-3) o n d e são citados os israelitas de origem legítima; q u a n - versão dos grupos B e C; essa forma julga, p o i s , m u i t o
to ao restante, p a r e c e m divergir totalmente. Na r e a l i d a d e , desfavoravelmente os prosélitos e os escravos libertos, co-
a concordância é b e m maior. Concerne, sobretudo, à divi- locando-os socialmente abaixo dos b a s t a r d o s israelitas, por
são tripartida da sociedade segundo a origem, divisão que causa d e sua origem pagã. Talvez se b a s e i e m n u m a antiga
está na base de cada u m a das três disposições da lista. tradição.
Qib. IV 1 diz i m e d i a t a m e n t e após ter a p r e s e n t a d o a A lista dos repatriados em Esd 2,2-63 par. Nra 7,7¬
primeira lista:
-65 d á , c o m efeito, esta c o n t i n u a ç ã o :
"Sacerdotes, levitas e israelitas que gozam de todos
A) Famílias de ori-
os direitos de cidadania p o d e m se casar entre si. gem pura: Leigos: Esd 2,2-35 par. Nm 7,7-38
Levitas, israelitas, filhos ilegítimos de sacerdotes, pro- Sacerdotes: Esd 2,36-39 par. Nm 7,39-42
sélitos e escravos libertos p o d e m se casar entre si. Levitas: Esd 2,40-42 par. Nm 7,43-45
Prosélitos, escravos libertos, bastardos, escravos do
T e m p l o , filhos de pai desconhecido e crianças e x p o s t a s 7
B) Servidores do
p o d e m se casar entre s i " . Templo: Esd 2,43-54 par. Nm 7,46-56
Esse texto divide a sociedade em três grupos a saber: Escravos do rei: Esd 2,55-58 par. Nm 7,57-60
A) as famílias de origem legítima: sacerdotes, levitas e is-
raelitas com todos os direitos de cidadania; somente essas Apêndice: Israeli-
famílias t i n h a m o direito de contrair m a t r i m ô n i o com sa- tas e sacerdotes
cerdotes. B) em seguida, vêm as famílias d e origem ilegí- sem genealogia: Esd 2,59-63 par. Nm 7,61-65
tima, atingidas somente por u m a m a n c h a leve; não t i n h a m , Pode ser que a lista I I I t e n h a sido constituída dire-
evidentemente, o direito de se casar com sacerdotes, mas t a m e n t e desse esquema ou d e u m e s q u e m a antigo análogo,
p o d i a m unir-se com levitas e israelitas legítimos. C) Final- a c r e s c e n t a n d o os prosélitos e os escravos libertos. O u t r a
m e n t e , v ê m as famílias de origem ilegítima lesadas por explicação, p o r é m , parece-me mais p r o v á v e l . Com o cres-
cimento das c o m u n i d a d e s cristãs, a atitude do j u d a í s m o
Viena, Alfasi), Zuckermandel deixou escapar, diante de "israelitas" o em face da missão e dos prosélitos p a s s a a ter u m sentido
" e " q u e s e p a r a o p r i m e i r o g r u p o . — D u a s o u t r a s p a r a l e l a s se e n c o n -
t r a m em T o s . Men. X 13 (628, 7s) e X 17 (528. 1 4 s ) ; n ã o falta, en- desfavorável. Desde a destruição de Jerusalém, julgam-se
fim, a n ã o ser o tumtóm e o a n d r ó g i n o . Nessas d u a s p a s s a g e n s , igual- mais severamente os prosélitos, s o b r e t u d o depois q u e , p o r
m e n t e , as divisões d a lista são claras.
3. A p a l a v r a hãlalím falta e m T o s . R. H. I V 1 m s . de E r f u r t ; volta da guerra de Bar-Kokba (132-135 [ 6 ] d . C ) , cessa a
foi e n t r e t a n t o e n c o n t r a d a n o m s . de V i e n a e e m Alfasi. intensa atividade missionária do j u d a í s m o , tal como se re-
4. Citam-se q u a t r o espécies d e e u n u c o s .
flete no N o v o T e s t a m e n t o \ U m a m u d a n ç a análoga se pro-
5. A l g u é m cujas p a r t e s sexuais são i n d e f i n i d a s .
6. P a r . T o s . Hor. I I 10 (476, 30) e passim. d u z n o j u l g a m e n t o sobre os p a g ã o s ; começa desde a época
7. A r e s p e i t o de crianças de pai d e s c o n h e c i d o e c r i a n ç a s enjeita-
d a s , R. Eliézer (cerca d e 90 d.C.) d e f e n d e u m p o n t o de vista dife- 8. b , Ket. 3 , e s o b r e e s t e p o n t o Billerbeck, I I I , 3 4 3 b.
a
r e n t e : p o r causa d a incerteza existente a respeito de sua o r i g e m , é-lhes 9. M t 23,15, e antes de t u d o as i n f o r m a ç õ e s dos Atos dos Após-
p r o i b i d o u n i r e m - s e e n t r e si (Qid. I V 3 ) . tolos s o b r e o s proséliíOs e semi p r o s é l i t o s n a d i á s p o r a . Cf. G . R o s e n ,
F. R o s e n e G . B e r t r a m . Juden und Phönizier, T ü b i n g e n , 1929.
pré-cristã e se c o m p r o v a e m seguida no a g r a v a m e n t o das a esse respeito n ã o p o d e m o s omitir q u e , além da origem,
prescrições da legislação religiosa a respeito da i m p u r e z a outros fatores e r a m igualmente d e t e r m i n a n t e s na posição
levítica dos pagãos. A lista I I I poderia refletir essa situa- social (cap. V I I ) . E m seguida, é preciso tratar dos grupos
ção t a r d i a , q u a n d o modifica a o r d e m do e s q u e m a das lis- do p o v o atingidos p o r u m a n ó d o a leve ou grave em sua
tas I e II p a r a colocar o b a s t a r d o antes do prosélito . 10
Para exercer os direitos cívicos mais i m p o r t a n t e s , e r a m Essas disposições i n d u z e m a crer que c a d a israelita conhe-
obrigados a p r o v a r sua origem legítima. Esse fato, por si cia ao menos as últimas gerações d e seus antepassados . s
mente o sacerdote admitido a exercer seu cargo q u e sem A l g u m a s referências confirmam esses d a d o s gerais.
exceçãcr-, preocupava-se com sua genealogia: mesmo o sim- As mais n u m e r o s a s são a s indicações q u e concernem à
ples israelita conhecia seus antepassados mais p r ó x i m o s e p e r t e n ç a à tribo de Judá e, entre elas, especialmente as
9
podia dizer de qual das doze tribos p r o v i n h a . Após a volta qLie dizem respeito à p e r t e n ç a à família davídica. E é com-
do exílio, as famílias p u r a s separaram-se daquelas q u e se preensível. E . Sellin m o s t r o u a p r o b a b i l i d a d e d o seguinte
h a v i a m c o n t a m i n a d o c o m os pagãos (Esd 9,1-10,44); des- fato: m e s m o depois da q u e d a d e Z o r o b a b e l , a gens davi-
de essa época, por conseguinte, a p r o v a da origem legítima dica p e r m a n e c e u , no judaísmo pós-exílico, a principal fa-
tornou-se o verdadeiro f u n d a m e n t o da c o m u n i d a d e do p o v o mília leiga; de seu m e i o , é verossímil, escolhia-se o chefe
r e s t a u r a d a . As famílias de p u r a cepa, e tão-somente elas, supremo d o S e n a d o . A l é m d o m a i s , a esperança messiâ-
!0
constituíam o verdadeiro Israel. Os dados genealógicos dos nica estava presa a essa família real; p o r tal r a z ã o , a tra-
livros bíblicos de Esdras e de N e e m i a s , especialmente as dição tantas vezes mencionava a origem davídica.
genealogias minuciosas das doze tribos ( l C r 1-9) refletem
o interesse q u e d e s p e r t a r a m no período pós-exílico. N a s 4. Supra, p . 3 0 6 s : Ta'an. I V 5 .
épocas seguintes, essas informações assentaram-se sobre 5. CL a i n d a os d a d o s genealógicos d e u m m e m b r o de u m a dessas
bases que p e r m i t i r a m estabelecê-las. famílias, infra, p . 381s.
6. Supra, p . 2 9 5 , Qid. I V 4.
Esse interesse manifesta-se t a m b é m pelo fato de, n o
7. Supra, p . 295, Qid. I V 5 .
período pós-exílico ter-se começado a usar, c o m o n o m e s
8. A i n d a h o j e é n o r m a l p a r a u m p a l e s t i n e n s e c o n h e c e r t o d a a li-
próprios, os nomes dos patriarcas das doze tribos e a ex- 3
n h a d e seus a n c e s t r a i s . P . K a h l e , Die Sumaritaner im Jahre 1909 (A.
primir assim, já pelo n o m e , a pertença à tribo. H . 1 3 2 7 ) , e m PJB 26 ( 1 9 3 0 ) , 89,103, o d e m o n s t r o u a o p u b l i c a r s u a s
i n f o r m a ç õ e s a r e s p e i t o das genealogias dos s a m a r i t a n o s a i n d a vivos
t . Billerbeck, I, L 6 ; I V , 792ss; A. Büchler, " F a m i l i e n r e i n h e i t u n d e m 1909 ( e x i s t i a m 1 7 3 ) .
F a m i l i e n m a k e l in Terusalem v o r d e n Tahre 7 0 " , em Festschrift Schwarz, 9. Cf. a lista d e Ta'an I V 5 impressa supra, p . 308, q u e atestat a
133-164; L. F r e u n d , Uber Genealogien und Familienreinheit in biblischer existência de seis famílias j u d a i c a s n o p e r í o d o a n t e r i o r a 70 d.C.
und Talmudischer Zeit, ibid., 163-192; G. Kittel, Die genealogiai: der 10. E . Sellin, Geschichte des israelitisch-judhchen Volkes I I , Leip-
Pastoralbriefe, em ZNW 20 ( 1 9 2 1 ) , 49-69; A. Bücheler, Familienreinheit zig, 1932, 82ss, 121, e s p e c i a l m e n t e 168s. U m a c o n s t a t a ç ã o reforça o
und Sittlichkeit in Sepphoris im zweiten Jahrhundert, e m MGWJ 78 q u e Sellin d e m o n s t r o u : c o m o logo v a m o s v e r , os exiliarcas e r a m , se-
( 1 9 3 4 ) , 126-164; S. Klein, Kleine Beiträge zur Erklärung der Chronik g u n d o t u d o indica, d a v í d i c o s . V e r a i n d a G. D a l m a n , Die Worte fesu
Dibre ha-jamim, e m MGWJ 80 ( 1 9 3 6 ) , 195-206. I , 2? ed., Leipzig, 1930, 266, q u e r e m e t e a o Breviarium temporum pseu-
2. Supa, p . 291s. d o f i l o n i a n o q u e d á u m a série d e p r í n c i p e s (duces) d a v í d i c o s , c h e g a n d o
3. P r o v a s , p . 3 9 5 . até aos a s m o n e u s .
SERfflíNARíO CONCORDIA
Sobre este p o n t o c o n v é m l e m b r a r q u e , segundo o tes- m a l a , filho de H i s q i y y a . D u r a n t e mais de cem anos, a
21
judaico, ele devia, legalmente , ser considerado filho da- 12 b é m t o r n a m provável que fosse d e descendência real.
vídico de José de N a z a r é , da mesma tribo. Além do m a i s , A o l a d o dos j u d a í t a s , são m e n c i o n a d o s os benjamini-
conforme Eusébio que segue Hegésipo (cerca de 180 d . C ) , tas. O V- livro das Crônicas e n u m e r a as famílias benjami-
os imperadores Vespasiano , Domiciano 13
e Trajano te- 14 15 nitas de seu tempo ( l C r 7 , 6 - l l ; 8 ; 9 , 7 - 9 ) . Certo M e n e l a u ,
riam perseguido o ramo davídico p a r a que não subsistisse ilegalmente e n t r o n i z a d o sumo sacerdote em 172 antes de
n e n h u m descendente d e linhagem real; infere-se daí q u e o nossa era e executado dez anos depois \ n ã o era benja-
23 2
18. j . Kil. I X 4, 3 2 57 ( I I / l , 3 1 7 ) .
b
E m c o n t r a a p r t i d a é s e m valor a i n f o r m a ç ã o q u e a t r i b u i u m a o r i g e m
19. j . Ber. II 4, 5 18 (I, 41s) e p a r .
a
Tobias c o m o descendente da tribo de Neftali (Tb 1,1-2); Asei e Asei, l C r transmite listas genealógicas; ao lado de
Judite deve proceder da tribo de Simeão (Jd 8 , 1 ; 9 , 2 ) ; a sacerdotes e levitas, trata-se exclusivamente, de informa-
profetisa A n a , filha de F a n u e l , da tribo de Aser (Le 2 , 3 6 ) . ções sobre as famílias benjaminitas e j u d a í t a s . Confirma,
Falamos h á p o u c o (p. 309) de u m a família recabita (cf. pois, que nas tradições genealógicas, as informações sobre
também Nm 3 , 1 4 ) de u m período anterior à r u í n a do
3 2
as famílias dessas d u a s tribos c o n s t i t u í a m a totalidade dos
T e m p l o ; mas é d u v i d o s o q u e R. Yose b e n Halafta, cé-
33
elementos.
lebre d o u t o r e artesão de couro (150 d . C ) , tenha sido re- O q u e p r e c e d e permite-nos n ã o nos a d m i r a r m o s c o m
c a b i t a . Hegésipo refere-se a u m sacerdote r e c a b i t a . Se
34 35
cabitas (2Rs 1 0 , 1 5 . 2 3 ; Jr 35,2-19; l C r 2,55) terem sido, Q u a n t o à época antiga, o relato do Cronista alusivo
n u m período posterior, considerados como família sacer- ao registro de todo o povo por ocasião da volta do exí-
40
dotal . 37
sentavam suas famílias q u a s e exclusivamente como sendo nomes dos chefes de cada família, com a indicação de
das tribos de Judá e de Benjamim; tal asserção correspon- seus ancestrais ; assim se c o n s t i t u í r a m as genealogias
43
dos
de à imagem q u e resulta de l C r 1-9, p a r t i c u l a r m e n t e do leigos. Q u a n t o aos outros m e m b r o s d e cada família, somente
c a p . 9 e d o conteúdo da lista citada acima (p. 3 0 8 ) , m a s , o n ú m e r o foi i n d i c a d o , e n t r e t a n t o , assinalaram-se, par-
44
sobretudo, da situação histórica; essas duas tribos, com ticularmente, as famílias cuja origem israelita era incer-
os sacerdotes e levitas, constituíram, o nodulo do j u d a í s m o t a e os israelitas casados com pagãs (Esd 10,18-44), ten-
4 5
pós-exílico. O texto seguinte nos mostra a extensão dessas d o , p o r t a n t o , d e i x a d o alguma m a n c h a em seus descenden-
tradições genealógicas: " M a r Z u t r a [ I I , t 4 1 7 ] dizia: En- tes ( 1 0 , 4 4 ) . Além da correlação c o m as genealogias dos
sacerdotes, c o n t i n u a d a s c o m c u i d a d o , temos u m p o n t o d e
30. É o n ú m e r o c o r r e n t e , 4 Esd. X I I I 39ss e passim: Billerbeck
I V , 903-906.
3 1 . Baruc siriaco L X X V I I 17ss, L X X V I I I l s s .
38. b . Pes. 62 . b
ç ã o d e Jesus ver H . L. S t r a c k , Jesus, die Haretiker und die Christen, sibilidade d e p r o v a r , através de d o c u m e n t o s públicos, que
Leipzig, 1910, 2 6 " , n. 2] n o q u a l se a c h a v a ; " B a í a ã o , o m a n c o , tinha ele descendia de patriarcas ou [de prosélitos e] daque- 57
lógicas.
do tesouro é baseada em Júlio, o Africano E m b . Pes.
6 2 , conta-se: " R a m m i bar R a b Y u d a diz e m n o m e de
b A notícia de Júlio, o Africano, sobre a destruição
R a b (j* 247 d . C ) : Desde o dia em que o livro das ge- pelo fogo das genealogias encontra-se isolada. É v e r d a d e
nealogias foi escondido, a força d o s sábios declinou e seu que n ã o se p o d e com certeza a t r i b u i r u m a excessiva im-
olhar tornou-se t u r v o " . Essa passagem não constitui u m a
&1 portância ao silêncio de Josefo. Esse silêncio sobre u m a
prova, pois o contexto tanto antecedente q u a n t o subse- r e d u ç ã o a cinzas das genealogias o r d e n a d a por Herodes
qüente mostra q u e R a s h i tinha r a z ã o ao ver neste "li-
6 2 pode-se explicar pelo fato de Josefo, e m sua história do
vro das genealogias" os livros bíblicos das Crônicas . Essa 63 reino, seguir a m p l a m e n t e Nicolau d e D a m a s c o , historió-
passagem do T a l m u d e babilónico refere-se, p o r t a n t o , ao grafo da corte e panegirista do rei. H e r o d e s teria sido to-
m o m e n t o e m q u e a interpretação t r a d i c i o n a l de l C r foi 64 talmente capaz de semelhante d e s t r u i ç ã o ; sabemos, com
incluída nos elementos e s o t é r i c o s — nignaz, "ser ocul- 65 certeza, q u e ele p r o c u r o u esconder sua origem . Além do 66
( 1 9 2 1 ) , 52.
62. Ele c o n s i d e r a nossa p a s s a g e m c o m o e x p l i c a ç õ e s orais d o livro gar a inscrição das famílias israelitas e, e m seguida, a dos
das Crônicas. prosélitos. Podemos deduzir q u e esse registro feito na co-
6 3 . O e l o e n t r e b . Pes. 6 2 e a i n f o r m a ç ã o d e Júlio, o Afri-
b
Strack, Einleitung, 12 e Billerbeck, I, 6 aí r e c o n h e c e m os livros das tratar-se-ia dos arquivos secretos do T e m p l o ) . É preciso, 6 S
Crônicas.
64. Cf. a p e n ú l t i m a n.
66. Ant. X I V 1, 3, § 9.
65. Ver supra, p . 3 2 5 . — A explicação d o " l i v r o das g e n e a l o g i a s "
67. Doe. Dam. X I V 4-6.
fazia p a r t e dos e l e m e n t o s esotéricos dos escribas; é o q u e n o s diz,
68. R u f i n o e m s u a t r a d u ç ã o latina de a Hist. eccl. de E u s é b i o , I
e x p l i c i t a m e n t e , b . Pes. 6 2 : R. Y o h a n a n ( i 279 d.C.) o u s o u m o s t r a r
b
dos mestiços saídos do Egito com os judeus, de R u t e , a assim como das declarações de dívidas e outros documen-
m o a b i t a , e de Aquior, o amonita conhecido através d o li- tos conservados nos a r q u i v o s , cujas indicações genealó-
74
vro de Judite, mostra q u e a lenda devia d a r forte colorido gicas p o d i a m servir d e base às famílias leigas, p a r a for-
ao c o n t e ú d o . m u l a r a lista de seus antepassados.
Nesse contexto encontramos ainda u m d a d o de Jo- T o d o esse contexto g a r a n t e , pois, para as famílias lei-
sefo; infelizmente, seu valor é d i m i n u í d o pela interpreta- gas, a existência de tradições genealógicas orais e escri-
ção incerta d a palavra-chave. E m seu C. Ap. I 6, § 2 9 , Jo- tas, d e caráter privado e público. Ergue-se e n t ã o u m a per-
sefo fala do c u i d a d o com q u e seu povo conserva os do- g u n t a : qual é o seu valor histórico?
cumentos públicos; diz ainda (I 7, § 3 0 s ) : " N ã o nos con-
tentamos e m confiar, desde o começo, esse c u i d a d o [o de
organizar os documentos] a pessoas capacitadas e cheias
de zelo pelo culto; tomaram-se ainda medidas p a r a q u e a
B. VALOR HISTÓRICO DAS GENEALOGIAS
casta dos sacerdotes se mantivesse isenta de miscigenação DOS LEIGOS, PARTICULARMENTE
e sem m á c u l a . [ 3 1 ] C o m efeito, aquele q u e p a r t i c i p a do AS DE MATEUS 1,1-17 E LUCAS 3,23-38
sacerdócio deve, p a r a gerar, unir-se com u m a m u l h e r de
sua p r ó p r i a nação e, sem considerar a fortuna ou outras
distinções, fazer u m a pesquisa sobre a família [da n o i v a ] , As genealogias das famílias de sacerdotes eram, e m
extraindo dos arquivos [é sem d ú v i d a a b o a lição] os 70
ascendentes de seus pais e a p r e s e n t a n d o numerosas teste- nos p a r a u m o u dois séculos precedentes. É fato indubi-
m u n h a s " . Se, pois, ek tôn archeion é o conselho certo,
11
imaginemos q u e Josefo fale de u m registro sistemático de sas pré-nupciais sobre a pureza da família de suas futuras
todo o p o v o . Ele pensa muito mais nas genealogias d e sa- esposas, sobretudo se n ã o e r a m d e família s a c e r d o t a l . 77
guinte texto : 7S
2. Ben [a família] Yasaf [Yasa], de Asaf; dos genealógicos do Antigo T e s t a m e n t o favoreciam am-
3. Ben [a família] Sisit ha-kassat [cerca de 70 d . C ] , de p l a m e n t e semelhantes deduções genealógicas, graças a jo-
Abner; gos de p a l a v r a s e significado dos n o m e s . 8 7
m a descender dos filhos de Senaah (sic! E m Esd 2 , 3 5 ; N e ben Sadoc pertencia à família benjaminita pelo lado ma-
3 , 3 ; 7 , 3 8 ; Ta'an IV 5: Senaa), da tribo de Benjamim, u m a terno. Essa conclusão torna-se a i n d a mais esclarecedora
das famílias que teve o privilégio de trazer lenha p a r a o pelo fato de Eleazar m e n c i o n a r sua origem benjaminita
T e m p l o . Conta ele que o 10 a b , dia festivo em q u e essa
8 3
não relacionando-a com u m a afirmação genealógica e sem
família devia trazer a l e n h a , coincidiu, certo a n o , com
9 0
intenção especial, por ocasião de informações acerca da
o aniversário da destruição de Jerusalém, o 9 a b , a d i a d o celebração do 10 ab. N ã o temos, p o r t a n t o , como rejeitar
n a q u e l a vez, p a r a o 10. N a q u e l e a n o , com efeito, o 9 ab os dados relativos à sua origem.
caiu n u m sábado e quiseram evitar fazer do s á b a d o u m
O segundo caso diz respeito à origem do patriarca
dia de luto em Jerusalém . 91
a u m a família de benjaminitas de alta classe. D i a n t e disso de Benjamim, e, da tribo de Judá , somente do lado ma- %
encontramos a indicação segundo a qual seu pai, R. Sa- terno. 2", o r i u n d o da tribo de J u d á , isto é, de D a v i . y,; 1 0 0
Sadoc dirigiu aos sacerdotes e ao p o v o , do vestíbulo do minita e n ã o p o d e descender d a tribo de Judá senão pelo
T e m p l o , u m enérgico apelo à penitência. U m leigo não l a d o m a t e r n o . Esse t e s t e m u n h o autobiográfico é autên-
103
podemos ter certeza de que R. Sadoc era sacerdote. Essas exiliarcas; p o r outro lado, não se p o d e pôr em dúvida a
duas informações sobre a origem de Eleazar c o n t ê m ele-
mentos absolutamente autênticos. É, pois, b e m provável 95. Tosafot s o b r e 'Er. 4 1 . M e s m a c o n c l u s ã o e m Billerbeck, I, 5;
a
I V / 1 , 195). S o b r e este p o n t o , v e r J. N . E p s t e i n , Die Zeiten des Hol¬ I V 2, 6 8 46 ( V / 1 , 180) e p a r . , ver supra, p . 380.
a
Davi.
do de R. Hiyya p o r trinta dias e a r u p t u r a t e m p o r á r i a
entre os dois h o m e n s . 3. P a r a l e l a m e n t e à idéia de relacionar patriarcas e
O fato fornece a chave dos dados contraditórios so- exiliarcas, a c o m p a r a ç ã o de R. Y u d a com R. Hiyya, o
bre a origem de R. Y u d a I. Para não mostrar a família Ancião, foi d e t e r m i n a n t e no processo da t r a d i ç ã o . Pareceu
dos patriarcas palestinenses como inferior a dos exiliarcas intolerável que R. Hiyya fosse de origem mais ilustre do
babilônios, a tradição, pela primeira vez em b . Sanh. 5 6 a
q u e o patriarca pertencente à tribo d e Benjamim. Saíram
onde é transmitida por Rab ( t 2 4 7 ) , discípulo de R. Y u d a dignamente do cenário, d a n d o u m passo a mais; não so-
e s o b r i n h o d e R. Hiyya, atribuiu u m a origem davídica a mente fizeram de R. Y u d a I u m davídico, mas transferi-
R. Y u d a I. A conclusão pareceu muito possível visto o r a m , p u r a e simplesmente p a r a ele, a genealogia de R.
p a t r i a r c a ser, c o m efeito, d e s c e n d e n t e d a t r i b o d e J u d á , se Hiyya e t o r n a r a m o p a t r i a r c a u m descendente de Sa-
1 1 3
p . 380, n . 80.
113. S u p o n d o q u e essa seja d a d a c o m e x a t i d ã o e m j . Ta'an. IV
110. Cf. b . H o r . I I ; b . Sanh. 3 8 .
1 5 a
2, 6 8 4 8 ( I V / 1 , 1 8 0 ) , v e r supra, p . 380.
a
13 - Jerusalém no tempo de J e s u s
origem benjaminita. O s elementos da tradição genealógica transmitiram a seus filhos e a seus discípulos u m a ú n i c a
e r a m sólidos demais p a r a p o d e r e m ser s u m a r i a m e n t e su- vez em sete anos [ e m s e g r e d o ] " " . 9
A força foi d a d a a essas tradições pelo rigor — aci- D e c i d i u - s e , então — não sabemos q u a n d o , mas certa-
I22
mos ou de descendentes de sacerdotes cuja legitimidade vro das Crônicas e colocá-lo entre os elementos d a tradi-
de origem era duvidosa. Esses esforços levaram os sacer- ção esotérica . m
dotes a m a n t e r e m firmemente a tradição p a r a saber quais Eis, p o r t a n t o , o q u e constatamos nessa segunda par-
famílias de sacerdotes e r a m legítimas e quais e r a m duvi- te: h á , sem d ú v i d a , falsificações históricas nas genealogias,
dosas (as c h a m a d a s famílias Issah) . Por o u t r o l a d o , em
m
mas não se p o d e m construir genealogias imaginárias, ao
muitos casos, os escribas n ã o a p r o v a v a m a severidade e bel-prazer, pois, existem meios de controle. E n c o n t r a m o s
os pontos de vista do clero; foram assim levados a con- assim u m a regra para julgar as genealogias neotestamen-
servar tradições sobre famílias que os sacerdotes erronea-
mente d e c l a r a r a m ilegítimas ou legítimas. 119. Cf. b . Qid. 7 1 bar.-. " H a v i a a i n d a o u t r a [família c o m p u l -
a
s o r i a m e n t e d e c l a r a d a l e g í t i m a , R a s h í In loco] e os d o u t o r e s n ã o q u i -
U m a tradição de R a b b a n Y o h a n a n ben Z a k k a i ( f cer- s e r a m d e n u n c i á - l a p u b l i c a m e n t e , m a s os d o u t o r e s o [seu n o m e ] reve-
ca de 80 d . C ) , evidentemente do tempo em que o T e m - l a r a m a seus filhos e discípulos u m a vez e m sete a n o s " . E x e m p l o s de
u m a t r a d i ç ã o esotérica a r e s p e i t o d e famílias ilegítimas e m b . Qid. 7 0 . b
plo existia, n a r r a : " U m a família de n o m e Bet Serifa vivia 120. S o b r e a a m p l i d ã o d a s t r a d i ç õ e s g e n e a l ó g i c a s , cf. b . Pes. 6 2 b
guida, as informações de Hegésipo que escreve p o r volta n u a m por dois filhos diferentes d e Z o r o b a b e l (Mt 1,13;
de 180, e x p l o r a n d o a tradição palestinense: os netos de A b i u d ; Lc 3,27: Ressa). 4" As listas só se e n c o n t r a m no-
Judas, irmão do Senhor, foram denunciados a D o m i c i a n o v a m e n t e no m o m e n t o de citar o carpinteiro J o s é ' " ; diver-
como descendentes de Davi e r e c o n h e c e r a m , d u r a n t e o in- g e m , p o i s , desde já q u a n t o ao avô de Jesus: chama-se Jacó
terrogatório, sua origem d a v í d i c a . D o m e s m o m o d o ,
127
zes os historiadores foram levados a considerar essas duas Haer. I I I 2 2 , 3 apresentava apenas 7 2 . É , p o r é m , m u i t o
listas como invenções sem valor. O curso de nossa pes- provável q u e no texto corrente d e 77 n o m e s , os nomes se-
quisa n ã o justifica tal ceticismo, mas impõe-nos o dever guintes n ã o sejam originais: Lc 3,27 Ressa (originaria-
de e x a m i n a r se u m a das listas n ã o é preferível à o u t r a .
mente n ã o nome próprio, mas atributo de Zorobabel [ = o
U m a c o m p a r a ç ã o entre a m b a s , do p o n t o de vista da príncipe] v. 3 1 Meléia ou M e n á (ditografia) ; v. 33 m
Lc, segundo o texto de K L T sa. bo., dá 77 n o m e s , v. 24 n ã o leu os dois nomes (voltando ao v. 29) . P o r m
incluindo o de Jesus. Pode ser que se fundamente n u m conseguinte, na genealogia de Lc p o d e , d e início, só ter
simbolismo dos n ú m e r o s semelhante àquele que ex- constado 7 2 n o m e s . Duvida-se, s o b r e t u d o , de que Lc t e n h a
pusemos na nota 134, isto é, u m a divisão da história do feito a conta dos n o m e s . E m todo caso, se Lc dá u m sen-
m u n d o em 12 períodos : Jesus situa-se no fim da décima
135
tido simbólico a o n ú m e r o dos ancestrais de Jesus, seria de
primeira s e m a n a do m u n d o , à qual segue a semana mes- se e s p e r a r igualmente n e l e u m a o b s e r v a ç ã o q u e corres-
siânica . E n t r e t a n t o , essa hipótese só m u i t o dificilmente
m
pondesse a M t 1,17.
se justifica. P r i m e i r a m e n t e , é preciso observar que a tra- 2 . Mt acrescenta à sua genealogia os nomes d e qua-
dição textual não é uniforme . B N U e outros manuscritos
-
mes J o a q u i m e Joakim, o primeiro desses dois reis foi p u r a e simplesmente i n v e n t a d a ; n a falta de elementos exa-
omitido m
em Mt 1,11. c) C o n t r a r i a m e n t e ao que Mt 1,17 tos, o p r i m e i r o evangelho serviu-se de dados de o u t r a lista
afirma, o terceiro grupo de nomes (Mt 1,12-16) c o n t é m 13 davídica.
e não 14; Joakim é m e n c i o n a d o duas vezes, a p r i m e i r a , T a i s comentários n ã o resolvem a i n d a a questão do
a c e r t a d a m e n t e , como último m e m b r o do segundo g r u p o , e valor absoluto da lista genealógica de Lc. C o n t a m o s , a q u i ,
a outra, e r r o n e a m e n t e , como último m e m b r o do terceiro com dois pontos de apoio p a r a a crítica: p r i m e i r a m e n t e ,
g r u p o . M t , ou sua fonte, não elaborou com precisão ou a diferença entre Lc e l C r ; depois, u m a pesquisa sobre
então deixou-se influenciar p o r dados inexatos sugeridos os nomes da lista l u c a n a .
pelo esquema baseado no n ú m e r o 14. A diferença entre te e lCr é tríplice: 1- segundo Lc,
Z o r o b a b e l era filho de Salatiel (Lc 3,27), segundo o texto
5 . Mt cita 12 nomes p a r a o período q u e vai de Zo- h e b r e u de l C r , filho de Fadaías ( l C r 3,19); 2° segundo
robabel (incluído) a Jesus (incluído). É u m a cifra m u i t o Lc, Z o r o b a b e l descendia de D a v i p o r N a t ã (Lc 3,27-31),
fraca p a r a 6 0 0 anos, em n ú m e r o s redondos ( Z o r o b a b e l segundo l C r por Salomão ( l C r 3,10-19); 3" Lc indica,
nasceu p o r volta de 570 a . C . ) d a n d o a m é d i a d e 50
150
1 como filho de Z o r o b a b e l u m Ressa (Lc 3,27) q u e , em
anos por geração. A lista n ã o terá sido a b r e v i a d a pelo pra- l C r 3,19-20 falta entre os filhos d e Z o r o b a b e l . Se Lc di-
zer do princípio do n ú m e r o 1 4 ? — A b r a n g e n d o o m e s m o fere de l C r . não q u e r dizer que tenha rejeitado — talvez
p e r í o d o , Lc, segundo o texto original (ver u m p o u c o aci- por possuir elementos melhores — os dados d e l C r ; é
antes p o r q u e o autor da genealogia d e Lc (diversamente
146. A c a n o n i z a ç ã o dos livros das C r ô n i c a s deu-se n a P a l e s t i n a
e n t r e 20 a.C. (terminus post quem) e 60 d.C. (terminas ante quem), cf. 151. C o m p a r e m o s essa i n d i c a ç ã o c o m os n ú m e r o s e n c o n t r a d o s supra,
Schlattcr, Theologie 131, n. 2. p . 263s, a r e s p e i t o dos s u m o s s a c e r d o t e s : s e g u n d o os cálculos d e To-
147. V e r infra, p . 395 e a d i v e r g ê n c i a total, e s t u d a d a n a q u e l e sefo, t e m o s , p a r a c a d a g e r a ç ã o u m a d u r a ç ã o média de 26 anos n o
lugar, das genealogias de Lc 3 e l C r 3 . p e r í o d o do p r i m e i r o T e m p l o , de 27 anos e 6 meses no do s e g u n d o
148. O e r r o p o d e r i a r e m o n t a r à forma semítica p r i m i t i v a ( q u e se T e m p l o a t é 168 a . C .
deve s u p o r , v e r n. seguinte) d a genealogia: n o texto h e b r a i c o de
152. I s t o h o j e é a m p l a m e n t e r e c o n h e c i d o . K. B o r n h a u s e r Die
2Cr 22,6 ( c o m o n a genealogia d e M t ) , ' A h a z y a h ü e ' A z a r y a h ü são
Geburts- und Kindheitsgeschichte ]esu, G ü t e r s l o h , 1930, 28 ( e n q u a n t o
i g u a l m e n t e c o n f u n d i d o s {Ch. C. T o r r e y , The Four Gospels, Londres,
a genealogia d e M t é d e t e r m i n a d a p e l o p o n t o de vista da sucessão n a
1933, 2 8 9 ) . É mais p r o v á v e l , p o r é m , q u e a a d m i s s ã o dos três n o m e s
família r e a l a genealogia d e L c r e p o u s a " n o p a r e n t e s c o e o n s a g ü í n e o
tenha-se d a d o n a h o r a d a t r a d u ç ã o d a genealogia p a r a o grego.
dc seus m e m b r o s ) ; A. Schlatter, Das Evangeiium des Lukas, de Mt
149. E r r o q u e r e m o n t a ao original semítico. p o r ser " m a i s c o m p r o v a d a " ; C h . C. T o r r e y , The Four Gospels, Lon-
150. E. Sellin, Geschichie des israelilisch-füdischen Volkes II, d r e s , 1933, 305 (Lc inseriu u m a genealogia " q u e ele c o n s i d e r a v a au-
Leipzig, 1392, 89. têntica, c o n t r a r i a m e n t e ao c a r á t e r m u i t o artificial d a de M t ) ; K. H .
Rengstorf, Das Evangeiium nach Lukas (N. T . Deutsch 3 ) , GõtLingen,
1965, 62 (segue B o r n h a u s e r ) .
de " Z o r o b a b e l , o p r í n c i p e " = H a n a n i a s , filho de Z o r o -
de Mt q u e conhecia com certeza l C r ) não conheceu os
1 5 3
de 2 3 m e m b r o s q u e , segundo a M i s l m a , t i n h a m o
1 7 1 m
"famílias de j u í z e s " .
serviço do altar em Jerusalém . V e m o s , de novo o elo
167
te 177
m e m b r o do Sinédrio, descendia, assim dizem, d e pro- R. H a n a n i a prende-se a u m t e m p o em que h a v i a n a q u e l e
sélitos ™. castelo u m a tropa judaica a serviço de u m dos prínci-
190
foris, t r o p a em q u e os oficiais ou os g r a d u a d o s — é a
do reino de H e r o d e s A n t i p a s : " R . Yose [por volta d e 150 esses q u e a indicação de R. H a n a n i a p o d e r á limitar-se —
d . C ] disse: ' M e s m o aquele que foi reconhecido [como 186
tabelece c o m o chefe da c o m u n i d a d e a l g u é m ' q u e n ã o seja teu i r m ã o ' era a regra n u m a cidade judaica, mas a i n d a p a r a obter
[ D t 1 7 , 1 5 ] " . S e g u n d o b . B. B. 3 , esta e x p r e s s ã o exclui o p r o s é l i t o . u m p o s t o n a guarnição do lugar.
b
m a função d e juiz no tribunal e não aceitavam convite " O p a i merece p a r a seu filho beleza, força, riqueza, sa-
algum sem se garantirem da q u a l i d a d e dos consignatários, bedoria, longos anos de v i d a " . "A oração de u m justo, 2 0 4
dos colegas do tribunal ou dos comensais; sem d ú v i d a pro- filho d e u m justo, n ã o é igual à o r a ç ã o d e u m j u s t o , filho
c u r a v a m saber assim, entre outras coisas, se esses israeli- de u m m a l v a d o " . 205
sem d ú v i d a , e m p r i m e i r o lugar, à s i t u a ç ã o de J e r u s a l é m .
197. b . Qid. 7 6 . b
204. j . Qid. I 7, 6 1 a
27s ( V / 2 , 2 3 4 ) ; p a r . 'Ed. II 9.
198. b . Sanh. 2 3 bar. e p a r . Cf. a i n d a Git. I X 8 a p r o p ó s i t o d o
a
205. b . Yeb, 64*. /
c u i d a d o c o m q u e as pessoas d e J e r u s a l é m faziam e a s s i n a v a m os 2 0 6 . Cf. J. J e r e m i a s , a r t . Elias, e m Theol. Wörterbuch zum N.T.
processos de d i v ó r c i o .
II ( 1 9 3 5 ) , 930-943.
199. Cf. a i n d a b . Sanh. 1 9 b a r . : conta-se o c i ú m e existente e n t r e
a
s o b r e a vida v i r t u o s a ; ele é g u i a d o p o r ideias h e l e n í s t i c a s , em parti- lit: sappar, sappan ( m a r u j o , b a r b e i r o ) ; n a M i s h n a Qid. I V 14, Stettin,
cular p e l o ideal estoico d o s á b i o c o m o ú n i c o n o b r e (cf. L. C o h n , Die 1865, h á , i g u a l m e n t e , i n t e r v e n ç ã o . É , s e m d ú v i d a , u m a ditografia, p o i s ,
Werke Philos von Alexandria in deutscher Uebersetzung I I , Breslau, o b a r b e i r o n a d a tem a v e r c o m os t r a n s p o r t a d o r e s . O b a r b e i r o falta,
1910 (reimpresso e m Berlim, 1962), 367, n . 1. pois, c o m r a z ã o , n o nosso t e x t o (ver a n o t a p r e c e d e n t e ) e n o d a
Mishna d o T a l m u d e babilônio, Leipzig. 1861.
II III IV Se olharmos superficialmente essas q u a t r o listas, tere-
Qid. IV 14 2
Ket. V I I b . Qid. 8 2 b a r " a
b . Sanh. 2 5 is b m o s a impressão de q u e sobra p o u c o lugar p a r a profissões
10 9
3. Curtidor 3. C o r t a d o r de pe- 3. O r g a n i z a d o r de
3. M a r u j o cila as profissões a q u e u m pai não deve incentivar n u m
3
d e peles 1 0
d r a s p a r a moi- concursos de
nhos pombos 1 9 filho, pois são "profissões de l a d r õ e s " , isto é, profissões 2 4
5. Pastor 20
6. Coletor de im-
postos 2 i
7. Lavandeiro 16
7. Publicano 22
11. As profissões 1-7 e n c o n t r a m - s e t a m b é m e m T o s . Qid. V 14
8. Açougueiro s
2. A s s e d a d o r d e l i n h o ( i n t e r p r e t a r c o m b . Qid. 8 2 b a r . : ha-
a
e
-s riq'un);
4. O texto da M í s h n a d o T a l m u d e p a l e s t i n e n s e q u a n t o à nossa 3. T e c e l ã o ;
p a s s a g e m (j. Qid. I V 11, 6 5 40 [ V / 2 , 287] e o d a M i s h n a d o T a l -
a
4. M a s c a t e ;
m u d e b a b i l ô n i o , L e m b c r g , 1861, c i t a m o qaddar ( c o m e r c i a n t e de ce-
5. C a n t e i r o de p e d r a s e m ó s ;
r â m i c a ) cuja m e n ç ã o entre pessoas q u e t r a b a l h a m e m t r a n s p o r t e s nos
s u r p r e e n d e . Nosso texto (ver a p e n ú l t i m a n.) dá-nos a s o l u ç ã o ; fala 6. A l f a i a t e ;
d e qarar, qaddar ( c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a , c a r r e t e i r o ) . O c o n t e x t o 7. B a r b e i r o ;
indica q u e " c a r r e t e i r o " é o original; " c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a " v e i o , 8. L a v a n d e i r o .
i g u a l m e n t e , n o texto p o r ditografia. — C a r r e t e i r o s e m J e r u s a l é m , v e r 12. U m c o m e r c i a n t e de l í n h o e m J e r u s a l é m , j . B. M. II 5, 8 18 C
supra, p . 4 8 . ( V I / 1 , 9 3 ) , v e r infra, n . 6 8 .
13. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 18s, 2 8 , 3 3 , 40.
5. P a s t o r e s a serviço de h i e r o s o l i m i t a s : s e g u n d o b . Ket. 6 2 , R. b
20. V e r supra, n . 5 .
r y o n de S í d o n disse em n o m e de A b b a S h a u m " . •— Lojistas e m Je-
2 1 . E m J e r u s a l é m : v e r supra, p . 179.
i-usalém, ver supra, p p . 12ss, 5 1 , 161, 318.
22. E m J e r u s a l é m , ver supra, p . 4 8 ; L c 18,10-14. O s n n . 5-7 são
7. E m J e r u s a l é m , v e r supra, p . 29.
a c r e s c e n t a d o s e m Sanh. 2 5 b a r . D a m e s m a m a n e i r a , T o s . Sanh. V 5
b
dinheiro.
102); b. Ket. 7 7 . a
2 3 . Ver supra, n . 6,
24. Qid. I V 14.
SEWIINARÍC CONCQKDIA
d e mensageiro, sem d ú v i d a por ele ser utilizado somente p a r a julgamentos contrários sobre as profissões " d e l a d r õ e s "
p e q u e n a s distâncias e p o d e r ser s u b m e t i d o mais facilmente citados nessa lista. Assim, p o r t a n t o , ouvimos falar d e u m
a vigilância. Suspeita semelhante pesa sobre os pastores (5) tropeiro (1) versado n a E s c r i t u r a , q u e R. Y o n a t h a n ( 2 2 0
que n ã o gozavam de b o a r e p u t a ç ã o . Conforme p r o v a v a a25
d.C.) h o n r a c o m p a l a v r a s e c o m a t o s . R . Y u d a (cerca
3 5
experiência, n a maioria das vezes e r a m desonestos e gatu- d e 150 d.C.) declara c o n t r a A b b a Shaul (cerca d e 150
nos; p a s t o r e a v a m seus r e b a n h o s em p r o p r i e d a d e s alheias 26
d.C.) q u e se p o d e fiar n a m a i o r i a dos c o n d u t o r e s de ca-
e, o q u e ainda é mais grave, e x t o r q u i a m a r e n d a dos reba- melos (2) e q u e os marujos ( 3 ) , p o r causa dos perigos
nhos. Por esse motivo foi p r o i b i d o c o m p r a r deles lã, leite constantes a q u e estão expostos, são n a m a i o r i a piedosos . 36
pois e r a m suspeitos de d a r preferência aos ricos e descui- m é d i c o s (7), é preciso l e m b r a r o elogio que lhes traça o
darem-se dos pobres que p a g a v a m m a l . Q u a n t o aos açou- 3 0
livro d o Sirácida (38,1-15); T e n d a s , médico de Lida, 3 8
médico.
30. R a s h i s o b r e b . Qid. 8 2 b a r . ( T a l m u d e de Babilônia, e d . de
a
b. Pes. 5 0 b
bar. b. Pes. 5 0 b
bar. 48
fios de p ú r p u r a 49
4 3 . C o m e r c i a n t e s de espetos de c a r v a l h o e de â n f o r a s a p a r e c e m
5 1 . As pessoas q u e t r a t a m do c o m é r c i o m a r í t i m o n ã o são perti-
c o m o p r i m e i r o g r u p o em b . Pes. 5 0 b a r . Esses n ã o r e c e b e m a b ê n ç ã o
b
n e n t e s ao c o n t e x t o .
p o r q u e a q u a l i d a d e de sua m e r c a d o r i a atrai s o b r e eles o m a u o l h a d o .
5 2 . A lista I c, t e r m i n a c o m estas p a l a v r a s : " M a s q u a n d o se de-
Essa s u p e r s t i ç ã o n ã o p e r t e n c e à nossa n a r r a ç ã o q u e d e v e t r a t a r de
d i c a m a esses negócios p e l o interesse q u e s u s c i t a m [e n ã o p o r a t r a ç ã o
profissões d e s p r e z í v e i s .
ao d i n h e i r o ] , eles vêem [sinais d e b ê n ç ã o s ] " . R. Meír (cerca de 150
4 3 . ' . A s profissões verificadas em Jerusalém são i m p r e s s a s em
b s
tido n o c o n t e x t o .
c o r c h a d o r : " E s c o r c h a u m a n i m a l n a r u a e r e c e b e teu s a l á r i o " (o q u e
46. J e r u s a l é m ; b. B. B. 1 4 ; Soferim
a
I V 1 = j . Meg. T 9, 7 1 ^ 57 sinifica: n ã o h á t r a b a l h o d e s o n r o s o ; o m a i s h u m i l d e t r a b a l h o v a l e
( I V / 1 , 2 1 8 ) . E m nossa p a s s a g e m , trata-se d e copistas d e rolos d a T o r a . mais d o q u e a m e n d i c i d a d e ) .
47. E m J e r u s a l é m ; ver supra, p . 3 1 .
54. Cf. a diferença e n t r e u m c o m e r c i a n t e d e especiarias e u m
48. P a r . T o s . Bik. II 15 (102, 10). c u r t i d o r e m b. Qid. 8 2 b a r .
b
q u a n t i a q u e lhe fora p r o m e t i d a n o contrato de c a s a m e n t o seu respeito: " N ã o se escolha entre eles rei ou sumo sa-
p a r a o caso em que a m a n d a s s e m e m b o r a ou em caso de cerdote , n ã o p o r serem inaptos ao serviço, mas p o r q u e
ú5
ia tão longe que podia exigir o divórcio m e s m o se, n o cerdote são citados somente a título de exemplo de fun-
m o m e n t o d o c a s a m e n t o , soubesse q u e o m a r i d o exercia ção pública. É o que mostra, p r i m e i r a m e n t e , u m a senten-
uma das três profissões em questão, e tivesse se casado ça de R. Yose (cerca de 150 d . C ) : " S a n g r a d o r , curtidor
c o m a condição explícita de que ele não a b a n d o n a r i a aque- e encarregado dos b a n h o s [cf. lista I I I , n . 8 - 1 0 ] , entre
la atividade. Nesse caso p o d i a explicar, pelo m e n o s se- eles n ã o se escolherá chefe de c o m u n i d a d e " . Segundo 6 7
g u n d o a o p i n i ã o d e R. Meir (cerca de 150 d . C ) : " E u pen- essa sentença, até mesmo o posto de chefe da comunida-
sava poder suportar, mas reconheço agora q u e não con- de ficava interditado àqueles que exerciam tais profissões;
sigo m a i s " . Por outro lado, a m u l h e r , a partir dos treze
5 Í
é o q u e lemos, e m segundo lugar, n u m texto que declara
anos só t i n h a licença p a r a exigir o divórcio se o m a r i d o
5 8
ser i n c o m u m admitir tecelões c o m o t e s t e m u n h a s . Confor-
a obrigasse a compromissos abusivos à sua dignidade ou 59
m e vemos, aqueles que exerciam profissões suspeitas de
se o m a r i d o fosse a t a c a d o de l e p r a ou de pólipos ;
6 0 6 1 a
imoralidade p a s s a v a m a ser m a r c a d o s p o r u m a n ó d o a em
nos outros c a s o s , o direito d o divórcio cabia exclusiva-
6Í
sua vida legal pública, não de jure, é v e r d a d e , — de jure
m e n t e a ele. Se p e n s a r m o s e m todas essas condições, po- seus m e m b r o s e r a m " a p t o s " a aceder às funções públicas
demos avaliar até q u e p o n t o aqueles que p r a t i c a v a m as e a ser testemunhas — mas de facto.
profissões citadas n a lista II e r a m destituídos de seus di-
N ã o é por acaso q u e , entre o g r a n d e n ú m e r o de es-
reitos cívicos. U m a observação aqui se i m p õ e : n ã o se tra-
cribas que exerciam u m artesanato ou u m a profissão, não
tava de n e n h u m a n ó d o a m o r a l .
haja u m do qual possamos dizer c o m certeza ter exer-
6 8
Os que exerciam as profissões citadas na lista I I I so- cido u m a das funções profissionais citadas n a lista I I I .
friam de m a n e i r a a i n d a mais sensível. O s t r a b a l h a d o r e s Os tecelões (5) e os curtidores (10) sempre foram os mais
e n u m e r a d o s l i d a v a m c o m mulheres e e r a m suspeitos d e m a r c a d o s p o r essa ignomínia. P a r a os tecelões, além da
i m o r a l i d a d e ; p o r essa r a z ã o se diz q u e n ã o se deve deixá- suspeita de i m o r a l i d a d e acrescentava-se o fato daquela pro-
posição social dessa classe, e m Jerusalém: os escribas re- coletores de impostos e p u b l í c a n o s fazer p e n i t ê n c i a ! " O mo-
c o n h e c e r a m o t e s t e m u n h o de dois tecelões hierosolimitas tivo é jamais saberem a q u a n t o s lesaram o u l u d i b r i a r a m
(que, além de t u d o , m o r a v a m perto da Porta do M o n t u r o p a r a p o d e r e m fazer r e p a r a ç ã o .
q u e d a v a passagem p a r a o vale denegrido do H i n o m ) ; 7 0
imoralidade, o fato de sua profissão ser tida como repug- e prostitutas (Mt 2 1 , 3 1 - 3 2 ) ; ladrões, t r a p a c e i r o s , adúlte- 32
n a n t e (ver lista I I , n. 3). " A i daquele que é c u r t i d o r ! " , ras e p u b l í c a n o s (Lc 18,11); assassinos, ladrões e publí-
exclamava R a b i ( | 217 d . C . ) . A esse respeito não deve¬72
78. Tohorot V I I 6.
prezo pela p r o p r i e d a d e alheia de que e r a m acusados os 79. B. Q. X 2; b . Shebu. 39« b a r . Cf. Lc 18,11; Ned. I l l 4; Derek
'eres 2.
pastores (5). A experiência t a m b é m m o s t r a r a que os co-
' 80. Derek 'eres 2.
letores de impostos (6) e os titulares dos postos de publí- 8 1 . M c 2,15-16; Mt 9,10-11; Lc 5,30; M t 11,19 (par. Lc 7,34);
canos (7) arrendados aos que ofereciam mais altas im- Lc 15,1-2. C o m p a r a r M t 5,46: " C o m efeito, se amais aos q u e vos
portâncias, assim como seus s u b o r d i n a d o s , q u a s e sempre a m a m , q u e r e c o m p e n s a t e n d e s ? N ã o fazem t a m b é m os p u b l í c a n o s a
m e s m a c o i s a ? " c o m o p a r a l e l o L c 6,32; " S e a m a i s os q u e vos a m a m ,
q u e g r a ç a a l c a n ç a i s ? A t é m e s m o os p e c a d o r e s a g e m a s s i m ! "
69. Ant. X V I I I 9, 1, § 314. Cf. B. /. I 24, 3, § 4 7 9 : A l e x a n d r e e 82. N o c o n t e x t o de Lc 18,11, àdikoi t e m este s e n t i d o preciso, cf.
A r i s t ó b i d o p r e p a r a m as m u l h e r e s d a família p a r a a é p o c a em q u e che- E. K l o s t e r m a n n , Das Lukasevangelium, 2" ed., T ü b i n g e n , 1929, in loco.
gassem ao p o d e r , d o t r a b a l h o f o r ç a d o à profissão d e t e c e l a g e m . 8 3 . Ned. I I I 4.
70. Ver supra, p p . 18 e 29; cf. Billerbeck, I V , 1030, n . 1. 84. B. Q, X 1. — " M a s pode-se aceitar [ d i n h e i r o ] de sua casa
7 1 . 'Ed. I 3 . ou n a r u a [ c o m o e s m o l a ] " , ibid.
72. b . Qid. 82 bar., p a r . b . Pes. 6 5 b a r .
h a
85. T o s . Demay H l 4 ( 4 9 , 1 5 ) ; j . Demay I I 3 , 2 3 10 { I I / l , 151).
a
76. Supra, p . 406; v e r t a m b é m infra, n n . 86 e 87. 87. T o s . B. M. II 33 (375, 2 7 ) : " N ã o se r e t i r a [de u m a cisterna]
oficialmente ilegais e p r o i b i d a s . Q u e m exercesse q u a l q u e r dados do T a l m u d e sobre o preço do escravo judeu tam-
u m a delas, n u n c a mais p o d e r i a ser juiz, e a impossibili- b é m c o r r e s p o n d e m a algumas condições concretas. Esse
dade de prestar t e s t e m u n h o igualava-o ao escravo . Di-
83 M p r e ç o era de 1 a 2 minas , segundo outra informação, de
92
zendo melhor, ele próprio via-se privado dos direitos cí- 5 a 10 m i n a s ; por o u t r o lado, o escravo p a g ã o valia até
9 3
aquele q u e , como o b a s t a r d o , tinha uma origem seria- das circunstâncias; explica-se pelo fato de seu t e m p o de
mente m a c u l a d a . Essa realidade permite avaliar o escân- serviço só d u r a r seis anos, diversamente da servidão per-
d a l o q u e foi o fato d e Jesus c h a m a r u m p u b l i c a n o p a r a p é t u a do escravo p a g ã o . O n ú m e r o dos escravos judeus
ser seu discípulo de maneira tão íntima (Mt 9,9 e par.; na Palestina, na realidade não se elevava m u i t o . Sua si-
10,3) e a n u n c i a r a Boa-nova aos publícanos e aos "peca- t u a ç ã o harmonizava-se c o m as prescrições h u m a n i t á r i a s do
d o r e s " sob o símbolo d a comensalidade. Antigo T e s t a m e n t o .
U m judeu podia tornar-se escravo de três m a n e i r a s .
1. Podia descer à escravidão ex furto, o q u e parece
ter sido a maneira mais freqüente. Trata-se do caso de
B . "ESCRAVOS" J U D E U S 90
Entre as pessoas socialmente o p r i m i d a s , deve c o n s t a r submetidos apenas os israelitas adultos de sexo masculi-
o escravo j u d e u . N a época neotestamentária eles existiam no , só p o d i a ser feita a j u d e u s . E n t r e t a n t o , p a r a liberar
91 98
na Palestina e é só desses que vamos tratar por o r a . Já o o país de toda espécie de pessoas marginalizadas, Hero-
mostramos antes (p. 157ss) na exposição c o n s a g r a d a aos des decidiu, em oposição ao direito em vigor, q u e os la-
escravos e diaristas; Bíllerbeck defendeu, igualmente, com drões d e v e r i a m ser vendidos t a m b é m no estrangeiro e a
energia, esse p o n t o de v i s t a . O b s e r v e m o s ainda q u e os
91
devemos imaginar que essa p a r á b o l a reflete u m a situação de-se atribuir a u m a c a p t u r a (captura c o m o refém).
alheia à Palestina. O estado de servidão e m face d e u m senhor j u d e u
2 . U m judeu podia t a m b é m tornar-se escravo ex con- d u r a v a seis anos completos , sem ir além , a menos que 112 u 3
v e n d a a não-judeus, mas impunha-se aos pais o direito de Tal caso sucedia sobretudo q u a n d o o escravo judeu tinha
resgate , A maioria das vezes tratava-se de u m gesto de
m
filhos de u m a escrava n ã o israelita, p e r t e n c e n t e a seu se-
desespero de u m endividado sem q u a l q u e r esperança. n h o r , e n ã o quisesse separar-se dela e de seus filhos " .
l16 7
3 . Até aqui (salvo a propósito de Mt 18,25), falamos escravo podia terminar antes do t e r m o dos seis anos atra-
somente da v e n d a de israelitas adultos do sexo masculino. vés da alforria ou resgate, ou se ele próprio se resgatas-
E n t r e t a n t o , podiam-se t a m b é m vender jovens israelitas, des- se . A escrava judia ficava liberada se o d o n o morres-
119
se 120
— sucedia o oposto ao escravo h o m e m q u e passava 121
d a v a ao pai judeu o direito de vender suas filhas m e n o r e s anos . E n t r e t a n t o , segundo o uso corrente, o d o n o ou o
12J
t a d o 'Abadim II 9, D i f e r e n t e m e n t e e m Git. I V 9.
116. S o b r e este p o n t o v e r o final d a alínea seguinte.
107. Mek. E x 21,7 ( 2 9 7 ) ; Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 3 ) .
a c
v e n d e r seus filhos (Mek., ibid.). Difere em Gil. I V 9; " S e a l g u é m se 119. N ã o se l e v e m em conta as p r e s c r i ç õ e s s o b r e o a n o jubilar,
v e n d e ou v e n d e seus filhos [banaw] a u m não-israeíita, n ã o será res- pois, n ã o e s t a v a m e m vigor,
g a t a d o " ; trata-se a q u i , p o r é m , de u m m o d o de agir legal. É t a m b é m a 120. Mek. E x 21,6 ( 1 9 6 ) ; Qid. I 2 e
a
passim.
r a z ã o pela q u a l n ã o existe o r e s g a t e ; só se r e s g a t a m as c r i a n ç a s a p ó s 121. Mek. Ex 21,6 ( 2 9 5) e a
passim.
a m o r t e d o p a i (Git. I V , 9 ) . A p ó s a volta do exílio h o u v e p e r í o d o s 122. N i n g u é m mais t i n h a , e n t r e t a n t o , o d i r e i t o de h e r d a r o es-
de a d v e r s i d a d e , c o n f o r m e indica N e 5,2.5, em q u e os pais v e n d i a m cravo!
seus filhos e filhas c o m o e s c r a v o s . 123. Qid. I 2; b . Qid. 4 , 1 6 - ; t r a t a d o 'Abadim
a a b
I 4 e passim:
"à a p a r i ç ã o dos sinais d a p u b e r d a d e " .
110. T r a t a d o 'Abadim I 10s.
124. Mek. Ex 21,8 ( 2 9 4 ) . T r a t a d o 'Abadim
b
I 7-10 e passim.
14 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
essas prescrições sempre o b s e r v a d a s ? É o u t r a q u e s t ã o . N ã o
nos esqueçamos de que Eclo 7,21 insiste no dever d e não dia ser escrava de u m j u d e u , deu-se à esta passagem o se-
iludir a escrava q u a n t o à sua libertação. guinte sentido: o amo tinha o direito d e dar u m a escrava
N o q u e diz respeito à situação jurídica d o escravo ju- pagã como m u l h e r ao escravo judeu , m e s m o contra sua m
deu, c o n v é m l e m b r a r q u e seu encargo n ã o era tido como vontade ; q u a n d o da libertação do escravo, ela e os fi-
133
desonroso, e seu senhor devia poupá-lo dos d e p r i m e n t e s lhos ficavam de posse do senhor.
trabalhos d e u m escravo , Juridicamente igual ao filho
1Z5
A d u r a realidade mostrava-se m u i t a s vezes mais r u d e
mais velho da família, o escravo judeu tinha direito ao do que a legislação r a b í n i c a ; disso temos p r o v a através da
m e s m o t r a t a m e n t o q u e seu senhor: boa a l i m e n t a ç ã o , b o a o r d e m de Herodes segundo a qual os ladrões deviam ser
roupa, u m lugar à mesa e local p a r a d o r m i r . Diferen- m
vendidos no estrangeiro . Q u a n d o a o p o r t u n i d a d e se apre-
l34
temente do escravo pagão, podia apossar-se de bens acha- sentava, c o m total falta de escrúpulo desprezava-se a Lei;
dos 137
ou doados m
e oferecer u m resgate p a r a d i m i n u i r é o q u e mostra a atitude de M a c a b e u Antígono: e m 40
seu t e m p o d e serviço. T a m b é m diversamente d o escravo a . C , além de 1.000 talentos, ele p r o m e t e u aos p a r t o s , 5 0 0
pagão, seu senhor não podia condená-lo à interdição ; m
m u l h e r e s , se o ajudassem a apoderar-se do trono . T i n h a 135
Tem. V I 2.
129. 'Ar. V I I I 5.
134. Ant. X V I 1, 1, § l s s .
130. Mek. Ex 21,3 ( 2 8 36) e
c
passim. 135. Ant. X I V 13, 3, § 3 3 1 ; 13, 5, § 3 4 3 ; 13, 10, § 3 6 5 ; B. j . I
131. Billerbeck, I V , 709. — L. G u l k o w i t s c h , " D e r kleine Talmud¬ 13, 1, § 2 4 8 ; 13, 4, § 2 5 7 ; 13, 1 1 , § 2 7 3 .
t r a k t a t ü b e r die S k l a v e n " , e m Angelos 1 ( 1 9 2 5 ) , 88, a f i r m a q u e o 136. B. f. I 13, 4, § 257.
e s c r a v o j u d e u não tinha o direito de ser t e s t e m u n h a . É u m e r r o ; o 137. b . Qid. 2 0 , 2 2 e
a a
passim.
t e x t o que ele m e n c i o n a , b . B. Q. 8 8 , fala do e s c r a v o p a g ã o .
b
tas e cidadãos israelitas. Sua posição social apresentava-se, casamento com u m filho ilegítimo d e sacerdote, tornou-se
pois, nitidamente rebaixada; a exclusão das alianças c o m ilegítima e sua p r ó p r i a origem legítima n a d a alterava à
11
famílias sacerdotais era u m a privação não somente social, situação. Essas prescrições severas confirmam (ver supra,
m a s , em última análise, religiosa. Além disso, esses gru- p p . 299-302) a intransigência com q u e os sacerdotes zela-
pos d a p o p u l a ç ã o viam-se p r i v a d o s d e direitos cívicos im- v a m pela p u r e z a de sua condição e por afastar os mem-
portantes: não p o d i a m fazer parte de certas assembléias bros ilegítimos.
e tribunais e o acesso a q u a l q u e r cargo honorífico era- 1
3 . b . Qid. 7 7 - .
a b
lado, os escribas não a p r o v a v a m a atitude rigorosa dos sa- sacerdotes d e c i d i a m , por p r i n c í p i o , acentuando-lhes a gra-
cerdotes n a questão de casamento com descendentes ile- vidade . 19
gítimos de sacerdotes, especialmente no caso em que a ile- C o n v é m salientar q u e o n ú m e r o das famílias ilegíti-
gitimidade de u m filho de sacerdote n ã o fosse p r o v a d a , mas d e sacerdotes n ã o parece ter sido muito g r a n d e . 2u
da legitimidade de origem para u m (ou mais) m e m b r o s . israelitas marcados por m á c u l a leve; e r a m b e m mais n u m e -
Descobri u m endosso dessa conclusão ao verificar que o rosos do q u e os halalim. Trata-se d e prosélitos integrais,
mesmo sentido do termo 'íssah já era aceito pelos tosafis-
tas , assim como por Mairnônides e O b a d i a h di Bertino-
15 s a c e r d o t e s vos e s c u t a r ã o [ s o m e n t e ] q u a n d o se tratar d e afastar, n ã o
de a p r o x i m a r " . — T o s . 'Ed. I I I 2 (459, 23) diz c l a r a m e n t e , a p r o p ó -
r o . Os escribas de tendência hilelita p r e t e n d i a m trans-
1 6
sito das d u a s p r i m e i r a s frases d e s t a m i s h n a : " E m seguida u m t r i b u n a l
formar em casos de consciência os casos duvidosos acerca e n s i n o u : [ A p r ó p r i a p a l a v r a ] "issah 6 digna de fé [ne' menet] e
p a r a se
m a n i f e s t a r a r e s p e i t o do p u r o e d o i m p u r o , p a r a d e f e n d e r e p a r a per-
da legitimidade de filhos de sacerdotes, isto é, estavam m i t i r [o c a s a m e n t o ] , p a r a a p r o x i m a r - s e [dos s a c e r d o t e s ] e p a r a [deles]
prontos a aceitar as declarações da família 'issah em ques- se afastar. M a s eles n ã o c u i d a r a m d a v i ú v a "issah". Essa ú l t i m a frase
t ã o , desde que fossem p r o n u n c i a d a s de b o a fé, e, p o r t a n t o , m o s í r a , d e m a n e i r a g a r a n t i d a , q u e a p a l a v r a " v i ú v a " e m 'Ed. V I I I 3
n ã o p e r t e n c e à t r a d i ç ã o original (o q u e já h a v í a m o s antes verificado
decididos a legitimar as crianças daquela f a m í l i a . Mas 17
niais, sem se converterem totalmente ao j u d a í s m o . Legal- u m a discussão entre shamaítas e hilelitas, pertence ao pe-
m e n t e , eram considerados pagãos. ríodo anterior do ano 30 de nossa era. Os shamaítas de-
claravam lícito o b a n h o do prosélito n o dia de sua circun-
N o século I de nossa era, objeto deste estudo, cessou,
cisão; os hilelitas, p o r seu lado, exigiam u m intervalo de
n a realidade, a época das conversões f o r ç a d a s ao judaís- 26
den ersten vier jahrhunderten, G õ l t i n g e n , 1958, 29-34. ções s o b r e Hilel e s o b r e o p r o s é l i t o Ben H e H e ( b . Hag. 9 , cf. Ma¬ b
rodiana. As mães de dois escribas de Jerusalém de origem É à província r o m a n a d a Síria q u e dirige a m e n ç ã o de Ni-
p a g ã (mencionados supra, p . 3 1 9 ) , R. Y o h a n a n , filho d a colau, prosélito originário de A n t i o q u i a , m e m b r o d a co-
h a u r a n i t a (cerca de 40 d.C.) e A b b a Shaul, filho da ba-
43
m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém (At 6,5). A dis-
tanéia (cerca de 60 d . C ) , e r a m originárias, respectivamen- cussão p a r a saber se alguns c a r d u a n o s a r m ê n i o s e pal- 49
te, da A u r a n í t i d e e da Batanéia. Depois de 2 3 a.C. essas mirianos p o d i a m ser aceitos c o m o prosélitos — os hileli- 50
dois sexos p o d e m casar-se com judeus logo após a con- que mostra a m e n ç ã o de certa M i r i a m de Palmira q u e
v e r s ã o . N ã o se t r a t a v a e n t ã o somente de debates teóri-
45 ofereceu em Jerusalém o sacrifício do n a z i r e a t o , sendo, 52
segundo a qual se deve considerar o pagão convertido " d e conforme vemos pela literalidade deste princípio, seu em-
todo p o n t o de vista, como u m i s r a e l i t a " , não significa 57
prego na passagem mais antiga e a existência de expres- 65
que o prosélito desfrutasse os mesmos direitos que o israe- sões análogas na literatura rabínica e neotestamentária , 6h 67
lita c o m todos os seus privilégios de cidadania. Significa significavam que " D e u s p e r d o a ao prosélito todos os seus
q u e o prosélito era, como q u a l q u e r j u d e u , obrigado a ob- pecados [no m o m e n t o de sua conversão] " . A compara- 68
forme sua m ã e : "eles não têm p a i " . 64. b . Yeb. 4 8 bar., 2 2 , 6 2 , 9 7 ; t r a t a d o Gerim I I 6, ed. Polster,
b a a b
e m Angelos 2 ( 1 9 2 6 ) , 6s.
5 4 . V e r as e x p l i c a ç õ e s e c o m e n t á r i o s s u p r a , p p . 24, 39, 54, 5 6 , 98, 65. b . Yeb. 4 8 bar.; Gerim
b
I I 6.
134, 182. E m J e r u s a l é m , n u m sarcófago dos t ú m u l o s c h a m a d o s túmu- 66. Pesiqta rabbati 16, 8 4 8; Cant. R. 8, 1 s o b r e S, 2 ( 7 4 3 0 ) .
a a
vezes e s t u d a d a , p o r e x e m p l o , S. Klein, o.c, 2 6 ; Cif I I , n . 138S1. 4 8 b a r . o n d e R. Yose (cerca de 150 d.C.) rejeita, de m o d o explícito,
b
ca, por conseguinte, recusou-se t a m b é m ao prosélito as re- ter-se entregue à prostituição; ora, segundo Lv 2 1 , 7 , a
lações de parentesco c o m sua m ã e . Essa rigidez, não isenta " p r o s t i t u t a " n ã o tem o direito de se casar com s a c e r d o t e . 79
de ligação c o m o isolamento do judaísmo causado pela N o século II de nossa era, tentou-se a m e n i z a r essa severa
difusão do cristianismo, exprime-se de diversas m a n e i r a s , prescrição. R . Shimeon b e n Y o h a i (cerca d e 150) ensinava
aliás s e m e l h a n t e s ; a expressão de R . H e l b o (cerca de
71
a título de exceção: " U m a prosélita q u e se converte antes
3 0 0 ) é característica: os prosélitos são, p a r a Israel, tão d e completar três anos e u m dia p o d e casar-se c o m sacer-
prejudiciais q u a n t o a lepra . M a s , conforme acabamos de
12
d o t e " . Além do mais, no século I I , discutia-se até que
80
prosélito n ã o r e p r e s e n t a r a m p a p e l i m p o r t a n t e ; a origem
Sinaiticus, ver supra, p . 190) mostra que essa prescrição
pagã era " m á c u l a l e v e " . Segundo o Documento
m
de Da-
era efetivamente observada, c) Para terminar, tinha direito
masco , os essênios o b s e r v a v a m a regra segundo a qual
135
conta que u m prosélito fazia p a r t e do colégio dos sete ao estar em c o n t r a d i ç ã o com Josefo q u e atribui a A n t i p a t e r
qual foi confiada a assistência aos pobres. origem de alta classe™. P o r t a n t o , se a informação, c o m o
A família real herodiana pertencia igualmente a este é b e m provável, r e m o n t a a Ptolomeu de Ascalão (início
grupo da p o p u l a ç ã o que abrangia os prosélitos. H e r o d e s , do século I de nossa era) , a d a t a é u m a r g u m e n t o a fa-
152
o G r a n d e , não tinha sangue judeu nas veias. Seu p a i , An¬ vor de sua autenticidade.
tipater, era de família i d u m é i a s u a m ã e , Cipros, descen- D e s c e n d e n d o d e prosélitos talvez m e s m o d e escravos
dia de u m a família de u m xeque árabe ' . Em vão H e r o - l4
u m u s u r p a d o r ilegítimo; p o d e ter sido esse o m o t i v o es- buição a Agripa I é m u i t o mais provável . Seja qual for m
voz então se fez ouvir: N ã o temas, Agripa, tu és nosso 163. Pelas seguintes r a z õ e s : a) O r e l a t o d e Sota V I I 8 está d e
a c o r d o c o m os c o n s t a n t e s esforços d e A g r i p a I a favor dos círculos
irmão, nosso i r m ã o , sim, tu és nosso i r m ã o ! " . Os 155
p a r a despertar o clamor comovente e cheio de p i e d a d e : dente do escravo (Ex 21,26-27) ou o mutilava n u m a das 176
no direito r o m a n o . Os escravos libertos constituíam o ter- filhos concebidos após a conversão, e) Finalmente, u m es-
ceiro g r u p o da p o p u l a ç ã o que fazia p a r t e dos israelitas cravo q u e não se tivesse ainda t o r n a d o p r o p r i e d a d e total
m a r c a d o s por mácula leve. Trata-se de pagãos (homens e de seu mestre — o que acontecia através do " b a n h o p a r a
mulheres) d e nascença q u e , t o r n a d o s escravos, servos a
165
ser e s c r a v o " — podia por si m e s m o p r o c u r a r a liber-
183
165. O s escravos j u d e u s submetiam-se a o u t r o direito, ver supra, 176. b . Qid. 2 4 bar.: d e d u ç ã o de Ex 21,26-27 c o m o auxílio d a
a
como grupo particular, dos outros prosélitos integrais e deu, aliás, escravo liberto . O s ossuários de u m cemité-
195
seus filhos e r a m t a m b é m distintos, como escravos li- rio muito primitivo descoberto e m Shafat a 3 k m ao norte
bertos, dos outros descendentes de prosélitos , se b e m m de Jerusalém, apresentavam inscrições em h e b r a i c o , em
q u e , de acordo com a opinião d o m i n a n t e , n ã o deveria ha- p a l m i r i a n o e em grego . Aí e n c o n t r a m o s , entre outros,
m
ver distinção do p o n t o de vista legal. A r a z ã o dessa dife- 0 n o m e do escravo Epíteto, assim c o m o os nomes Aphrei-
rença p r o v é m do fato de, p a r a eles, à m a n c h a de sua ori- canos Phouleios, Phouleia Aphricana ; é possível, mas
197
gem pagã, acrescentar-se a m a n c h a de sua antiga servidão. n ã o certo, que os mortos fossem, em p a r t e , escravos li-
bertos , m
u m a prática real respondiam afirmativamente. Josefo men- Nm. R. 9 s o b r e 5, 3Í ( 5 6 7 ) . S o b r e esse texto ver Billerbeck, I V ,
b
aos grupos que passaremos agora a estudar . Essa inter- 203 da severidade de A q i b a ir além do p r ó p r i o texto da lei
dição, apoiada em Dt 2 3 , 2 - 3 , afastava da "assembléia de bíblica: declara igualmente bastardos os filhos de u m ca-
I a h w e h " (ibid.) os israelitas m a r c a d o s com m á c u l a grave; samento proibido somente pelos r a b i n o s . D a r e m o s alguns
e r a m " o lixo da c o m u n i d a d e " . 204 exemplos. Considera como b a s t a r d o o filho d a união c o m
m o se a E s c r i t u r a n ã o m e n c i o n a o castigo ( c o n d e n a ç ã o à m o r t e ou
202. V e r s u p r a , n . 146. extermínio). Assim, por exemplo, segundo Aqiba, a criança é bastarda
q u a n d o u m m a r i d o torna a aceitar s u a m u l h e r d i v o r c i a d a , m e s m o q u e ,
2 0 3 . Qid. I V 1 (ver supra, p . 3 6 5 ) ; I I I 12; Yeb. I I 4; V I I I 3,
n e s t e í n t e r i m , ela t e n h a c o n t r a í d o o u t r o c a s a m e n t o (cf. infra, n . 2 1 5 ) ;
I X 2-3; Mak. I I I 1 ( s e g u n d o o texto d a e d . p r í n c i p e , N á p o l e s , 1492,
D t 2 4 , 1 4 p r o í b e essa u n i ã o s e m m e n c i o n a r castigo n o caso de trans-
e o d a M i s h n a n a e d . p r í n c i p e d o T a l m u d e d e Babilônia, V e n e z a ,
gressão d a o r d e m .
1520ss).
204. P sülê
e
qahal. 2 0 9 . b . Qid. 6 4 , 68*; b . Ket. 2 9 : ele d e c l a r a os filhos
a b
hãlalim
e n ã o mamzérim. S e g u n d o T o s . Yeb. V I 8 (248, 1 5 ) , A q i b a teria ex-
205. P r i m i t i v a m e n t e , a p a l a v r a mamzer d e s i g n a v a a p o p u l a ç ã o mes-
c l u í d o t a m b é m os d e s c e n d e n t e s n a s c i d o s d o m a t r i m ô n i o de u m sacer-
clada da planície filistéia n a época p e r s a ( S . I. Feigín, e m The Ame-
dote c o m u m a d i v o r c i a d a o u u m a hâlúsah ( s o b r e essa ú l t i m a , ver d u a s
rican Journal of Semitic Languages and Literature 43 [ 1 9 2 6 ] , 53-60;
n o t a s a b a i x o ) , e m b o r a essa u n i ã o t a m b é m fosse p r o i b i d a , ver supra,
M . N o t h , e m ZAW 45 [ 1 9 2 7 ] , 2 1 7 ) . — S o b r e o s e n t i d o desse t e r m o
p. 297.
n a antiga l i t e r a t u r a r a b í n i c a , ver A. Büchler, Familienreinheit und Fa¬
milienmakel in Jerusalem vor dem Jahre 70, em Festschrift Schwarz, 2 1 0 . " E l e n ã o p r o f a n a r á " , ló y hallel;
e
as c r i a n ç a s são, p o i s hãlalim
140ss; V . A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats im jüdischen Schrifttum, e não mamzérim.
E x c u r s u s I I : Das Kind einer Jüdin von einem Nicht judeu, e m HU CA
a hãlüsah , com parentes da hãlüsah ,
211
com u m a m u l h e r 1X1
a g r u p a m e n t o d a s 3 6 faltas a m e a ç a d a s d e e x t e r m í n i o , tra- m
trazia a assinatura d e u m escravo em vez da de u m a tes- c) A terceira opinião a respeito do sentido de mam~
temunha etc. .
2 1 4 215
zer, defendida por R. Y o s h u a , considera c o m o b a s t a r d o s
somente os filhos nascidos d e u m a u n i ã o a m e a ç a d a , n a T o r á ,
b) A segunda opinião sobre o sentido do termo mam- de pena de morte legal. O a g r u p a m e n t o , e m Sanh. V I I
zer parte do que já foi dito sobre as uniões p r o i b i d a s n a 4 — X I 6, dos delitos a m e a ç a d o s d a s q u a t r o p e n a s d e
T o r á : a m e a ç a d a s ora c o m a p e n a de extermínio, ora com m o r t e legais ( l a p i d a ç ã o , c o m b u s t ã o , degolação, estrangu-
a p e n a de m o r t e ; (por ex., Lv 2 0 , 1 0 - 1 6 ; p e n a de m o r t e ; l a m e n t o ) mostram-nos q u e , segundo essa terceira opinião,
2 0 , 1 7 - 2 1 : p e n a de extermínio): Shimeon, o temanita, cuja alguns casos determinados de incesto e a i n d a d e adulté-
opinião foi d u r a n t e o século I elevada a nível de direito r i o , faziam igualmente c o m que os filhos fossem bas-
2 1 9
15 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
t o ; além d o m a i s , era transmitida p o r Hilel (cerca de
m
D e v e m o s supor m u i t o n u m e r o s o , p o r conseguinte, o gru-
20 a.C.) e pelos doutores de seu tempo , e é igualmente m
po d a p o p u l a ç ã o q u e , c o m seus descendentes, e r a designa-
admitida por H b 12,8. do p o r este termo, Reconheciam-se facilmente as pessoas
Se e x a m i n a r m o s de novo as três opiniões divergentes m a r c a d a s c o m a m á c u l a grave d o mamzer , embora pro-
m
d u z i d o e m V / l , 60 q u e r e m e t e a o p a r . I V / 2 , 2 0 0 ] ; b . B. M. 1 0 4 a
à c o m u n i d a d e d e Israel, q u e r dizer, a u n i ã o sexual] e sua
b a r . ) : a p ó s o n o i v a d o (e antes d o c a s a m e n t o ) m u l h e r e s h e b r é i a s e m interdição é u m a interdição eterna [ v á l i d a ] t a n t o p a r a os
A l e x a n d r i a são s e q ü e s t r a d a s e v i o l a d a s . Hilel infere d o fato d e q u e
n ã o são a i n d a c a s a d a s p a r a rejeitar a o p i n i ã o dos d o u t o r e s d e seu h o m e n s c o m o p a r a as m u l h e r e s " . Essa cláusula inter-
225
v e r a este r e s p e i t o A . Geiger, Urschrift und Übersetzungen der Bibel, 2 2 5 . Yeb. V I I I 3 , cf. Sifre Dt 2 3 , 3 , § 2 4 8 ( 5 0 5 3 s s ) . b
sempre e d e m o d o indelével, e que se chegava m e s m o a Js 9,27 conta que Josué colocou (literalmente " d e u " ,
debater c o m a r d o r p a r a saber se as famílias de b a s t a r d o s wayyiifnem) os gabaonitas como r a c h a d o r e s de lenha e
p a r t i c i p a r i a m da libertação final de Israel , c o m p r e e n d e -m
seguinte e x p l i c a ç ã o : " S e a l g u é m m e a p r e s e n t a s s e u m a b a s t a r d a n a ter- Sobre os "sem pai" (homens cujo pai é desconhecido)
c e i r a g e r a ç ã o , e u a c o n s i d e r a r i a [ d e ] [ o r i g e m ] p u r a " . T u d o íaz crer
q u e R. Eliézer l i m i t a v a a i n t e r d i ç ã o d e a d m i t i r b a s t a r d o s n a c o m u n i - e as crianças enjeitadas (encontradas) n ã o contamos c o m
d a d e ( D t 2 3 , 3 ) ; os b a s t a r d o s de sexo m a s c u l i n o . E m c o n t r a p a r t i d a , o m i n ú c i a s dignas de serem m e n c i o n a d a s . N ã o p o d i a m se ca-
e n s i n o d o m i n a n t e no século I I e s t e n d i a t a m b é m D t 2 3 , 3 , aos b a s t a r d o s
e sua d e s c e n d ê n c i a .
sar c o m israelitas de origem p u r a ou c o m filhos ilegítimos
235. T o s . Yeb. I I I 3 ( 2 4 3 . 26) e s o b r e e s t e p o n t o K . H . R e n g -
storf, em Rabbinísche Texíe, Erste R e i h e ; Die Tosejta, B a n d I I I , Stutt¬ 2 4 0 . b . Qid. 2 8 b a r .
a
OS ESCRAVOS PAGÃOS 1
que foi dito encontra-se n u m fato n a r r a d o n a M i s h n a . 253 R e a l m e n t e , da Palestina do tempo de Jesus n a d a sabemos
sobre a existência d e indústrias q u e ocupassem g r a n d e nú-
P a r a resumir devemos dizer q u e os israelitas atingi-
m e r o de escravos. T a m b é m n ã o existiam latifúndio- com
dos por m á c u l a grave em sua origem c o m p r e e n d i a m bas-
amplos s e r v i ç o s p a r a aquela categoria de pessoas. Encon-
4
n e n h u m a influência s o b r e a s i t u a ç ã o .
2 5 1 . T o s . Sanh. V I I 5 (426, 7 ) .
252. V e r supra, p p . 128s, 132. 4. A s p a r á b o l a s e p a l a v r a s d e Jesus q u e se s e r v e m da i m a g e m d a
2 5 3 . Yeb. V I I I 4: " R . Y o h a n a n b e n Bethyra d e c l a r o u a r e s p e i t o a g r i c u l t u r a m e n c i o n a m , é v e r d a d e , p o r diversas vezes, os escravos (Mt
d e b e n M e g u s a t q u e ele vivia em J e r u s a l é m c o m o a l g u é m q u e foi 13,27-30; L c 17,7-10; 1 5 ^ 2 ) , m a s s o b r e t u d o os diaristas (Mt 9.37-38;
c a s t r a d o p o r h o m e n s e q u e Jdepois de sua m o r t e j [seu i r m ã o ] con- 20,1-16; Lc 10,2;15,17-19; Jo 4 , 3 6 ) .
t r a t o u o c a s a m e n t o Íevirático c o m sua m u l h e r " . 5. V e r supra, p . 127ss. — E s c r a v o s n a c o r t e d o rei, n o N . T . : M t
18.23-35:22,3-10; Lc 19,12-27.
casas da n o b r e z a sacerdotal, o n d e os escravos e r a m n u m e -
soai d e H e r o d e s . E m s u m a , a A r á b i a teria p o d i d o for-
1 4
m e n t e . H o r á c i o cita u m a oscilação de 5 0 0 d r a c m a s a
p o r t a r m o s a u m dito d e Hilel q u e , sem d ú v i d a , tem em
1 0 0 . 0 0 0 sestércios (segundo o valor ptolemaico-sírio da
m e n t e a situação de Jerusalém, ao p r o n u n c i a r a seguinte
m o e d a representava d e 5 a 152,8 m i n a s ) , e M a r c i a l , de 6 0 0
advertência: " M u i t a s escravas m u l h e r e s , m u i t a impudicí-
denários a 2 0 0 . 0 0 0 sestércios (de 3 a 305,6 minas) . N o 16
mercadores de escravos, trazendo sua " m e r c a d o r i a " p a r a sérias alterações. D u r a n t e as guerras rnacabaicas, Nicanor,
venda em Jerusalém , t e n h a m vindo sobretudo da Fení-
12
doüloi e huperétai); 18,26. S o b r e Jo 18,10 v e r infra, n . 13. I V 5 , m e n c i o n a c o m o p r e ç o d e escravo 0,25 a 100 minas 21
escravos d e luxo, h o m e n s (eunucos, pessoas instruídas) e e as escravas m u l h e r e s , sumetidas aos desejos sexuais de
mulheres (tocadoras de cítara, heteras) pelas quais se pa- seu p a t r ã o \ E n t r e t a n t o , a sorte dos escravos era, em geral,
J
gavam preços mais altos, r e p r e s e n t a v a m papel b e m m e n o r . mais h u m a n a do que noutros lugares do m u n d o antigo: con-
O preço médio de 15 a 2 0 minas, q u e p o d e m o s concluir forme vimos , certas mutilações causadas pelo senhor no
34
da Mishna B. Q. IV 5, é confirmado por Josefo: segundo seu escravo e m presença de testemunhas acarretavam a 35
lugar o n d e existissem escravos, essa situação fazia-se sen- s a b e m o s q u a l é a mais antiga t r a d i ç ã o . — Cf. t a m b é m Lc 12,46-48,
tir, sobretudo, pelo fato de os h o m e n s serem entregues sem 3 3 . T o s . Hor. II 11 (477, 6 ) ; Yeb. V I 5; P . A. I I 7; Nm. R. 10
s o b r e 6, 2 ( 6 4 2 1 ) ; Ket. I 4 e
b
passim.
34. P. 4 3 3 .
22. L X X G n 37,28: eíkosi chrusonl 35. Essa era c e r t a m e n t e exigida, pelo m e n o s s e g u n d o R. Y o s h u a
(cerca d e 90 d . C ) , b . B. Q. 7 4 . b
2 3 . Ant. II 3, 5, § 3 3 .
36. Billerbeck, I V , 729-731 e 735-737. N ã o se p o d e , p o r é m , afir-
24. Josefo t e r m i n o u sua Antigüidades p o r volta d e 94 d.C.
m a r , a p a r t i r d a í q u e " t o d a lesão c o r p o r a l a c a r r e t a v a , i m e d i a t a m e n t e ,
25. P o r a r r i s c a d a q u e seja u m a c o m p a r a ç ã o c o m a situação a t u a l ,
a l i b e r t a ç ã o " ( L . G u l k o w i t s c h , e m Angelos 1 [1925], 89).
p o d e m o s dizer q u e a posse de u m e s c r a v o c o r r e s p o n d i a à d e u m
c a r r o de l u x o nos dias de hoje. 37. Billerbeck, I V , 737-739.
26. B. M. I 5. 38. V e r supra, o b a n h o " p a r a tornar-se l i v r e " .
27. j . Qid. I 3 , 6 0 28 ( V / 2 , 2 2 0 ) .
a 39. Billerbeck, I, 1054s.
28. b . B. B. 5 1 . a 40. T a r g u m Y e r u s h a l m i I em Dt 21,13 a r e s p e i t o d a p r i s i o n e i r a
29. Gn. R. 67, 5 s o b r e 77, 37 ( 1 4 3 " 1 0 ) . de g u e r r a ; " E deves fazer c o m q u e t o m e u m b a n h o e torná-la p r o -
30. Git. I V 4. sélita".
3 1 . 'Ar. V I U 4. 4 1 . G n 17, 12-13; Jubileus X V (cerca d e 120 a . C ) .
d a c o m u n i d a d e d a nova aliança] não deve lhes [aos pa-
e ao pôr do sol ( p o r t a n t o , e m m o m e n t o s d e t e r m i n a d o s ) ,
gãos] v e n d e r seu escravo, h o m e m e mulher, por terem in-
assim como a de usar f i l a c t é r i o s ; l i b e r a d o t a m b é m da
49
O escravo p a g ã o vivia como escravo, mas circunci- t a n t o d i s p u n h a da t a r d e inteira " a t é a n o i t e " , e devia 5 5
e m q u e se encontrava. Pela circuncisão era "filho da alian- mas as obrigações religiosas às quais o escravo se via obri-
ç a " , mas e n q u a n t o n ã o fosse liberto, n ã o pertencia à co-
45
I s b m a e l ( | 135 d . C ) . H á , e n t r e t a n t o , u m a d ú v i d a , p o i s . b . Yeb. 4 8 b
5 3 . T o s . R. H. I V 1 (212, 1 0 ) .
b a r . m e n c i o n a R. A q i b a c o m o a u t o r n o lugar de R. Eliézer. 54. Ber. I I I 3 .
44. Pirqe de R. Eliézer 29; b . Yeb. 4 8 . b
55. Ber. I V 1.
4 5 . Mek. Ex 20, 10 ( 2 6 5 1 ) . b
56. Ber. I I I 3 . — S e g u n d o b , Men. 4 3 b a r . , ele era i g u a l m e n t e
a
lativo ao m a t r i m ô n i o . U m escravo — h o m e m o u m u l h e r —
n ã o possuía as qualidades requeridas p a r a o c a s a m e n t o
c o m u m israelita fosse qual fosse , mesmo c o m a l g u m no-
69
n a s c i d a d e u m a u n i ã o i n v á l i d a t o m a a c o n d i ç ã o d a m ã e . G l 4,21-23
32ss). s u p õ e q u e esse p r i n c í p i o de d i r e i t o estava e m vigor. T a l c o n c e i t o ju-
60. Doe. Dam. X I I 10-11, v e r s u p r a , p . 459. rídico é, aliás, c o n f i r m a d o p o r Jo 8,41: Jesus c h a m o u seus o u v i n t e s
6 1 . Ê difícil crer q u e a p r e s c r i ç ã o fosse o b s e r v a d a de m o d o geral; escravos (do p e c a d o ) , 8,34 e n e g o u q u e fossem d e s c e n d e n t e s (espiri-
o u v i m o s falar d a p e n h o r a e d a v e n d a d e escravos p a r a p a g ã o s , b . tuais) de A b r a ã o 8,39; eles p r o t e s t a m c o n t r a a c e n s u r a de t e r e m nas-
Gil. 4 3 M 4 . a
p a r a com seus vizinhos, os samaritanos, povo judeu-pagão no do a s m o n e u João H i r c a n o (134-104 a.C.) que as ten-
mesclado, passou por fortes variações e por vezes mostrou¬ sões a s s u m i r a m m a i o r e s p r o p o r ç õ e s ; p o u c o depois da m o r t e
-se n a d a comedida. O s antigos enunciados sobre o assunto de Antíoco V I I (em 129), H i r c a n o apoderou-se de Siquém
não o o b s e r v a r a m , resultando deles u m a imagem falsa. e destruiu o templo d e G a r i z i m . N ã o é d e a d m i r a r q u e ,
5
-se da c o m u n i d a d e judaica e construíram seu templo sobre U m a trégua passageira se deu pelo fim do século I
o G a r i z i m (no mais t a r d a r ao longo do século IV antes antes d e nossa era. H e r o d e s desposou u m a s a m a r i t a n a (ver
de nossa e r a ) , sérias tensões surgiram e n t r e j u d e u s e sa-
2
infra, p . 4 7 1 ) ; Schlatter daí conclui q u e o rei tentara — e
m a r i t a n o s . D o começo do século II antes de nossa e r a , te- foi o ú n i c o — fazer desaparecer a a n i m o s i d a d e existente
mos o t e s t e m u n h o das p a l a v r a s cheias de ódio de Eclo 5 0 , entre as duas c o m u n i d a d e s . Poder-se-ia l e m b r a r , em fa-
1
t r e t a n t o , falsas q u a n t o ao século I de nossa era, e válidas s o m e n t e certamente de u m ato de vingança sobre o qual Josefo,
p a r a o século I I q u a n d o a s i t u a ç ã o é d i f e r e n t e ) ; S c h l a t t e r , Theologie,
75-79; J. J e r e m i a s , Die Passahfeier der Samaritaner, BZAW 5 9 , Gies¬ n u m gesto significativo, preferiu calar-se. Esta grave pro-
sen, 1932. fanação do T e m p l o q u e acarretou u m a i n t e r r u p ç ã o da festa
2. A t r a d i ç ã o s a m a r i t a n a situa a c o n s t r u ç ã o d o T e m p l o n a é p o c a de Páscoa, proveu de u m novo combustível o velho r a n c o r .
d o s e g u n d o r e t o r n o d o exílio, p o r t a n t o n o século V a n t e s d e nossa
era (Et-taulida, e d . A. N e u b a u e r , em Journal asiaüque, 6" série, 14 A p a r t i r d e e n t ã o a h o s t i l i d a d e tornou-se cada vez
[ 1 8 6 9 ] , 4 0 1 , linhas 16-18; Líber Josuae, ed. T h . G . J. J u y n b o l l , L e y d e , mais implacável, é o q u e nos m o s t r a m , de m a n e i r a plena-
1848, c a p . 4 5 ; Abu'1-fath, ed. E . V i l m a r , Abulfathi annales samaritani,
G o t h a , 1965, 61ss d o texto á r a b e ; Chronique samarHaine, ed. E. N .
A d l e r e M . Seligsohn, em REJ 44 [ 1 9 0 2 ] , 2 1 8 s ) . — D i a n t e d e s t a tra- 3. S e g u n d o o t e x t o h e b r a i c o .
d i ç ã o s a m a r i t a n a e n c o n t r a - s e a i n d i c a ç ã o diferente de Josefo, d a t a n d o
a c o n s t r u ç ã o d e s t e t e m p l o e m 322 a.C. (Ant. X I 8, 4, § 324; cf. X I I I 4. Ant. X I I I 3, 4, § 74ss, cf. X I I 1, 1, § 10.
9, 1, § 2 5 6 ) . E . Sellin, Geschichte des israelitisch-jüdischen Volkes II, 5. Ant. X I I I 9, 1, § 255s.
Berlim, 1932, 169-171 i n t e r v e i o a favor d a e x a t i d ã o desta ú l t i m a in- 6. Test. de Levi V I I 2 : " A p a r t i r d e h o j e [isso é d i t o a p r o p ó -
f o r m a ç ã o . A . Alt, Zur Geschichte der Grenze zwischen Judáa und Sa- sito d e G n 34,25-29], S i q u é m será c h a m a d a a c i d a d e dos idiotas, por-
maria, e m PJB 31 ( 1 9 3 5 ) , 106-111 ( r e i m p r e s s o em seus Kleine Schrijten q u e nós z o m b a m o s d e l e s c o m o se z o m b a d e u m l o u c o " .
I I , M u n i q u e , 1953, 357-362), coloca a c o n s t r u ç ã o d o T e m p l o s o b r e o 7. Schlatter, Theologie, 75.
G a r i z i m nos ú l t i m o s t e m p o s do p e r í o d o p e r s a , p o u c o a n t e s d a e n t r a d a 8. Ant. X V I I I 2 , 2 , § 30.
de A l e x a n d r e n a Ásia, p o r t a n t o , e m m e a d o s d o século I V . 9. Ibid., § 29s.
m e n t e c o n c o r d e s , os d a d o s d o N o v o T e s t a m e n t o , o des-
p r e z o c o m que Josefa fala dos samaritanos e a severidade t a r d e o judaísmo p r o i b i u totalmente a conversão d e sama-
c o m q u e o antigo direito rabínico os trata (ver infra, p . ritanos . 15
tivas da legislação religiosa farisaica" , e somente e m re- i3 m o s , por essas e o u t r a s , c o m q u e desprezo os judeus con-
2U
lação a outros aspectos foram tratados como não israelitas. sideravam essa p o p u l a ç ã o m e s c l a d a .
Essa tendência à a m e n i d a d e assocía-se, p r i n c i p a l m e n t e , à A s m u d a n ç a s freqüentes, assim descritas, nas relações
a u t o r i d a d e de R. A q i b a . O Pe, Billerbeck supôs q u e Aqi- 14
entre judeus e s a m a r i t a n o s a c a r r e t a r a m , é mais do q u e
ba, por sua atitude amigável, visara, q u a n d o da revolta evidente, m u d a n ç a s correspondentes nas disposições da le-
de Bar-Kokba (132-135 [ 6 ] ) , fazer com q u e os samarita- gislação religiosa judaica relativas aos s a m a r i t a n o s . Sendo
nos participassem do combate contra os r o m a n o s . D e s d e na m a i o r i a escritas p o s t e r i o r m e n t e , é, p o r t a n t o , difícil de-
antes de 2 0 0 , o julgamento em relação aos s a m a r i t a n o s tor- finir quais as leis em vigor no século I de nossa era. Te-
nou-se de novo severo e, p o r volta do ano 3 0 0 , a r u p t u r a m o s , p o r é m , vários recursos. Além dos dados do N o v o
foi completa; p a s s a r a m depois p o r pagãos . A oposição l5
T e s t a m e n t o e de Josefo, são especialmente os comentários
era tão total q u e , segundo u m a informação d e Epifanes, de R. Eliézer (cerca d e 90 d.C.) q u e nos ajudam a escla-
os samaritanos, convertendo-se ao j u d a í s m o , d e v i a m sub- recer os fatos, pois, a respeito dos s a m a r i t a n o s , como nas
meter-se a nova circuncisão; os s a m a r i t a n o s r e s p o n d e r a m o u t r a s questões, ele defende energicamente a antiga tra-
a essa d e t e r m i n a ç ã o , t o m a n d o m e d i d a ' semelhante. M a i s
6
dição, e m u i t o s outros doutores tanaítas unem-se a ele
neste p o n t o . 21
12. U m fato é c a r a c t e r í s t i c o ; (osefo a ele se refere p o r c a u s a das te a d m i r e s , leitor; isto a c o n t e c e . C o m efeito, os j u d e u s q u e se reti-
9
n a c i o n a l , e v i d e n t e m e n t e , q u e se inflama c o m justa i n d i g n a ç ã o c o n t r a
a violação do direito hospitaleiro.
O s samaritanos d a v a m g r a n d e importância — c o m o I de nossa era, foram postos, do ponto de vista cultual e
hoje ainda — ao fato de descenderem de p a t r i a r c a s ju- ritual, em pé de igualdade com os pagãos. Conforme vi-
deus . Esse atributo foi-lhes n e g a d o ; e r a m " c u t i a n o s " ,
22 B
da mais pela sua origem do q u e p e l o culto n o G a r i z i m . no domínio cultual e ritual é igualmente c o m p r o v a d a atra-
N ã o h o u v e , p o r exemplo, q u a l q u e r r u p t u r a c o m a comu- vés de u m a p a l a v r a de R. Y u d a b e n Elai (cerca de 150
n i d a d e j u d a i c a d o Egito, apesar d a existência do t e m p l o d . C , representante da antiga t r a d i ç ã o relativa aos samari-
d e Leontópolis, p o r n ã o existirem lá i m p e d i m e n t o s aná- t a n o s ) : u m samaritano não deve circuncidar u m j u d e u ,
logos . 30
pois, dirigiria sua intenção p a r a a m o n t a n h a do Gari-
34
Esse p r e c o n c e i t o e m relação aos s a m a r i t a n o s fazia sur- de R. Eliézer aos s a m a r i t a n o s (cerca de 90 d.C.) de comer
gir u m a primeira conseqüência: desde o início do século pães sem fermento, feitos por u m s a m a r i t a n o , na Páscoa,
" p o r q u e os samaritanos n ã o estão a p a r das precisões dos
2 1 . R. I s h m a e l ( | 135 d . C ) , R. Y u d a b e n Elai ( c e r t a de 1 5 0 ) , R. m a n d a m e n t o s " , e a d e comer u m animal m o r t o por u m
36
28. O P e n t a t e u c o constituía a b a s e d a religião dos s a m a r i t a n o s ; 3 6 . b . Qid. 7 6 bar.; b . Hul. 4 bar.; T o s . Pes. I 15 (156,_ 1 7 ) .
a a
a Páscoa o p ã o f e r m e n t a d o e as massas dos s a m a r i t a n o s (j. 'Orla II Pelo menos na p o r ç ã o do povo q u e observava as prescri-
7, 6 2 5 5 . 62^ lss [ I I / 2 , 3 4 2 ] ) ; j . Shebiti V I I I 10, 3 8 60 ( I I / l , 4 0 9 ) ;
b b
" m e n s t r u a d a s d e s d e o b e r ç o " e seus m a r i d o s c o m o p e r p e t u a m e n t e ma- 47. Segundo Schüier, II, 23, os samaritanos eram, no ponto de
c u l a d o s pelas m e n s t r u a d a s (cf. Lv 15,24), Nidda I V 1, T o s . Nidda V vista d a legislação religiosa, c o l o c a d o s no m e s m o p l a n o dos s a d u c e u s .
I (645, 2 1 ) . P o r causa desta d i s p o s i ç ã o , q u a l q u e r lugar o n d e tivesse Essa c o n c l u s ã o r e p o u s a e m p a s s a g e n s d a M i s h n a q u e refletem as dis-
s e n t a d o ou r e p o u s a d o u m s a m a r i t a n o e r a c o n s i d e r a d o l e v i t i c a m e n t e posições favoráveis aos s a m a r i t a n o s em l a r g o s círculos n o século 11
i m p u r o (ibid.); a i m p u r e z a se c o m u n i c a v a aos a l i m e n t o s e b e b i d a s d e n o s s a e r a , c o n t r a d i z e n d o o q u e sc a i r i b u í a a o s é c u l o I.
q u e tocassem esse local. P o r t a n t o , a q u e l e q u e , d u r a n t e u m a v i a g e m
t a : os " j u d e u s n ã o se dão com os s a m a r i t a n o s " . S o m e n t e
4 E
CAPÍTULO XI
conhecendo o cenário da situação c o n t e m p o r â n e a assim
descrita podemos apreciar d e v i d a m e n t e a posição no N o v o APÊNDICE
T e s t a m e n t o em relação aos samaritanos e, p o r e x e m p l o ,
m e d i r até q u e p o n t o as palavras de Jesus devem ter pa-
recido d u r a s a seus ouvintes: colocou sob os o l h o s d e seus
compatriotas u m samaritano como modelo, h u m i l h a n t e p a r a
eles, da gratidão (Lc 17,17-19) e do amor ao p r ó x i m o que A SITUAÇÃO SOCIAL D A MULHER 1
N o O r i e n t e , a m u l h e r n ã o p a r t i c i p a da vida pública;
o m e s m o acontecia n o j u d a í s m o do t e m p o de Jesus, pelo
menos entre as famílias judaicas fiéis à Lei. Q u a n d o a
m u l h e r saía de casa, trazia o rosto e s c o n d i d o p o r u m man-
to, p e ç a de p a n o dividida em duas p a r t e s , u m a cobrindo-
-lhe a cabeça (espécie de couffieh d e hoje), e a outra, cin¬
gindo a fronte e caindo até o q u e i x o , tipo de rede c o m
cordões e n ó s . Desta forma, não se podia reconhecer os
traços de seu r o s t o . Certa vez, u m s u m o sacerdote de
2
u m a recompensa d e Deus pela sua austeridade; " C a i a m mulheres casadas, como limite, a p o r t a do p á t i o " . As mu-
sobre m i m [isto ou aquilo] se as traves de m i n h a casa lheres judaicas de A l e x a n d r i a , diz F í l o n n o u t r o lugar,
17
4. T o s . Sota V 9 (302, 7 s ) .
5. Ket. V I I 6.
do T e m p l o , " a s jovens q u e estavam r e t i d a s em casa acor-
6. Ver supra, p . 268.
7. j . Meg. I 12, 7 2 53 (não t r a d u z i d o e m I V / 2 , 2 7 4 ) ; j . Yoma
a
ii. 73s, e p . 4 8 4 .
8. Ket. II 1.
9. P. A. I 5. V e r a história c o n t a d a e m b . 'Er. 5 3 e a o b s e r v a ç ã o
b 15 De apee. ieg. I I I § 169.
de (osefo, B. j . I 24, 2, § 4 7 5 : C o m S a l o m é , A n t i p a t e r ter-se-ia " e n t r e - 16. P i l o u tinha e m m e n t e u m a casa h e l e n i s t a ,
tido c o m o se ela fosse sua m u l h e r " . 17. In riaccum 11, § 89. Q u a n t o a Fílon, v e r I. H e i n e m a n n , Philons
10. Qid. I V 12; b . Qid. 8 1 ; To 4, 27. a
outras debruçavam-se às j a n e l a s " e as mulheres cingidas Palestina, as moças das melhores famílias t a m b é m parti-
de tecido grosseiro aglomeravam-se nas ruas (2Mc 3,19). cipavam desses festejos . 21
levada p a r a d e n t r o " , a descrição da vida retirada das mu- menos rigor, p o d e m o s concluir t a m b é m da descrição das
lheres, n ã o saindo de seus aposentos . C o m o vemos, a jo- 22
festas p o p u l a r e s q u e se realizavam n o átrio das m u l h e r e s ,
v e m de u m a família de notáveis de Jerusalém, o b s e r v a n d o d u r a n t e as noites da festa das T e n d a s : a m u l t i d ã o aí se
estritamente a Lei tinha o hábito de ficar o mais possível via tão descontraída q u e foi necessário construir galerias
em casa, antes de seu casamento; a m u l h e r casada, de só p a r a as m u l h e r e s , a fim de separá-las dos h o m e n s . Além 25
dra q u e , d u r a n t e nove anos (76-67 a . C ) , com p r u d ê n c i a observassem de m o d o tão estrito no c a m p o , como na cida-
e energia, m a n t e v e nas mãos as rédeas do poder, n ã o se de, o h á b i t o de cobrir a cabeça; p e l o contrário, existia,
distinguindo, em n a d a , das princesas dos ptolomeus o u dos sem d ú v i d a , nesse sentido, entre a cidade e o c a m p o , u m a
selêucidas ; ou na irmã de Antígono (último rei m a c a b e u
24 diferença semelhante à q u e l a q u e vemos na p o p u l a ç ã o ára-
40-37 a . C ) , defendendo a fortaleza de H i r c â n i a c o n t r a as be da Palestina atual. U m a m u l h e r n ã o deveria, e n t r e t a n t o ,
tropas de H e r o d e s , o G r a n d e . Lembremo-nos t a m b é m de
25 ficar sozinha no c a m p o e n ã o é c o m u m , m e s m o ali, u m
34
lhas vinha após o dos meninos; sua formação limitava-se quer assunto l e g a l ; a aceitação ou recusa de u m p e d i d o
4Í
especialmente; t o m a v a m conta dos irmãos e irmãs m e n o - ou ao de u m representante seu . Até a idade de 12 anos 4S
do e cobri-lo, ajudá-lo a e n t r a r e sair, q u a n d o se tornasse d i s f o r m e . Mais ainda: o pai tinha o direito de vender
47
p o r é m , os mesmos direitos que os irmãos; do p o n t o de até aos doze anos. A filha maior (acima de 12 e meio) é
vista da sucessão, por exemplo, os filhos h o m e n s e seus a u t ô n o m a ; seu noivado p o d e ser decidido sem o consenti-
d e s c e n d e n t e s p a s s a v a m à frente .
18 39
m e n t o p a t e r n o . E n t r e t a n t o , m e s m o q u e a filha seja maior,
4 9
O pátrio poder era g r a n d e m e n t e exercido sobre as fi- a q u a n t i a p a r a o c a s a m e n t o , que o noivo p a g a v a por oca-
lhas menores até se casarem; dele d e p e n d i a m t o t a l m e n t e . sião do n o i v a d o , pertence ao p a i . Esse autoritarismo tão
5 0
Para maior precisão, vejamos como as distinguias: 1- a me- dilatado do pai levava-o n a t u r a l m e n t e a considerar as fi-
nor (cfiannah, m e n i n a até a idade de " d o z e anos e u m lhas, sobretudo as menores, como aptas ao t r a b a l h o e fon-
d i a " ) ; 2" a moça (na'ãrah, entre 12 anos e 12 a n o s e te de r e n d a ; "alguns casam a filha e c o n t r a e m grandes dí-
meio); e 3 , a maior (bôgeret, acima de doze anos e m e i o ) .
9
Daí t i n h a o direito d e a n u l a r o c a s a m e n t o , d e c l a r a n d o q u e o r e c u s a v a ,
este a s s u n t o , ver V. A p t o w i t z e r Spuren des Matriarchats im jüdischen
Yeb. X I I I 1-2.
Schrifttum, e m HUCA 5 ( 1 9 2 8 ) , 283-289 ( E x c u r s o 5: o direito suces-
sorial das filhas e n t r e os s a d u c e u s . 46. Basta q u e ela e x p r i m a o desejo de p e r m a n e c e r n a casa pa-
terna a t é crescer, isto é, a t é atingir a p u b e r d a d e .
40. A m e n o s q u e a filha já n ã o seja, c o m o m e n o r , n o i v a e se-
47. b . Ket. 4 0 . P o d i a m e s m o a c o n t e c e r q u e u m pai d i s t r a í d o ti-
b
p a r a d a ; o c a s a m e n t o d i s p e n s a , e n t ã o , d a a u t o r i d a d e p a t e r n a (por exem-
vesse se e s q u e c i d o c o m q u e m c o m p r o m e t e r a a filha. Qid. I I I 7.
plo b . Ket. 4 0 a a
passim).
4 8 . Supra, p . 416. — N ã o t e m mais o d i r e i t o d e v e n d e r a na'arah
4 1 . Ket. I V 4; b . Ket. 4 0 . e passim.
b
Ê t a m b é m ao pai q u e per-
(entre d o z e anos e doze a n o s e meio) e a filha m a i o r , Ket. I I I 8.
t e n c e o d i n h e i r o d e p u n i ç ã o , d e h u m i l h a ç ã o , d e d e g r a d a ç ã o e d e in-
4 9 . b . Qid. 2 , 7 9 .
b a
u m a frase l a c ô n i c a . 51
meio de notáveis onde o conhecimento das jovens torna- preferência e até m e s m o c o m o o b r a p i a ; diversas ve-
62 6 3
va-se difícil pelo fato d e viverem muito à p a r t e , excluídas zes, pois, ouvimos dizer que um r a p a z contrai m a t r i m ô n i o
do m u n d o . O u v i m o s dizer, p o r exemplo, q u e u m pai e com a filha de sua i r m ã . N ã o r a r o , t a m b é m , o casamento
6 4
u m a mãe discutiram acerbamente p o r q u e cada u m queria com a filha d o irmão . Já vimos acima que tais casamen-
bh
Q u a n d o na falta de filhos, as filhas e r a m herdeiras, a pró- A violenta polêmica d o Doe. Damasco contra o casamento
pria T o r á ordenatfa q u e se casassem com parentes ( N m 3 6 , com a sobrinha, q u e r se trate da filha do i r m ã o , quer da
1-12). O livro de Tobias (6,10-13;7,11-12) mostra-nos u m filha da i r m ã , confirma a freqüência dessas uniões. FÍ-
ò í
caso em que tal prescrição foi aplicada; aliás, seu uso vi-
gora até hoje n a Palestina , Os sacerdotes, p a r t i c u l a r m e n t e ,
57
o n d e a entrega d a filha m e n o r ao noivo é c h a m a d a " v e n d a d a filha 61. S. Krauss, Die Ehe zwischen Onkel und Nichte, em Studies
p a r a o m a t r i m ô n i o " , e x p r e s s ã o q u e c o n s e r v a traços de u m a n t i g o direito. hsueâ in Honour oj Proj. K. Kohler. B e r l i m , 1913, 165-175: A. B ü c h l e r ,
52. S o b r e o a s p e c t o jurídico, v e r J. N e u b a u e r , Beitrage zur Ge¬ cm JQR n. s. 3 (1912-1913), 437-442; S. S c h e c h t e r , em JQR n. s. 4
schichte des biblisch-talmudischen Eheschliessungsrechts I-II, Leipzig, (1913-1914), 454s; V . A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats, em HÜCA
1920; Billerbeck, I I , 384ss; A. G u l a k , Das Urkundenwesen im Tatmud, 4 ( 1 9 2 7 ) , 232ss.
Jerusalém, 1935. 62. T o s . Qid. I 4 (334, 3 2 ) : " Q u e u m h o m e m n ã o t o m e u m a
5 3 . Billerbeck, I I , 374. m u l h e r antes q u e a filha de s u a i r m ã seja a d u l t a " .
54. V e r supra, n. 40. — E n q u a n t o viveu, A g r i p a I fez d u a s fi- 6 3 . b . Sanh. 7 6 b a r . ; b . Yeb. 6 2 : u m c a s a m e n t o c o m a filha d a
b b
to e r a m usuais as alianças entre parentes; a maioria das (qtnyan) d a noiva pelo noivo, e, assim, a conclusão válida
uniões m e n c i o n a d a s por Josefo são com p a r e n t e s , isto é, d o c a s a m e n t o ; a noiva passa a se c h a m a r " e s p o s a " , p o d e
com a sobrinha (filha do irmão ou da irmã ) a p r i m a 69 70 71
ficar viúva, é r e p u d i a d a p o r u m libelo de divórcio e cas-
e a prima em segundo g r a u . 7 2
tigada d e morte e m caso d e adultério . È característico d a 1A
172, são i n s u s t e n t á v e i s ; n o Doe. Damasco, d i z e m , a i n t e r d i ç ã o d o ca- situação legal da n o i v a que "a a q u i s i ç ã o " da m u l h e r e
7 5
68. Cf. a á r v o r e genealógica d a família de H e r o d e s n o final d o q u a l se responde negativamente : " H á , pois, p o r acaso, n
e s t u d o de O t t o , Herodes.
69. D e s p o s a r a m : a l g u m a diferença entre a aquisição de u m a m u l h e r e a
Elerodes, o G r a n d e a filha ( n o m e d e s c o n h e c i d o ) de de u m e s c r a v o ? "
|~um i r m ã o
H e r o d e s (filho d e H e r o d e s , o Gr.) — H e r o d í a d e s (neta de H e r o d e s , T o d a v i a , era c o m o casamento — geralmente reali-
[o G r a n d e )
z a d o u m ano após o n o i v a d o — q u e a m o ç a passava de-
79
H e r o d e s A n t i p a s (filho de H e r o d e s , — H e r o d í a d e s (neta de H e r o d e s ,
[o Gr.) [o Gr.) finitivamente do p o d e r do pai. ao do m a r i d o . O jovem e ü
n a casa d a sogra.
82. E m p r i n c í p i o , as disposições legais s u p õ e m q u e a sogra (da e r a m t a m b é m d e t e r m i n a d a s pela obediência q u e a m u l h e r
esposa) e suas filhas, a c o n c u b i n a , a c u n h a d a ( p o r a l i a n ç a ) e a n o r a devia a seu m a r i d o ; os filhos t i n h a m de colocar o respeito
(filha d o e s p o s o e d e o u t r a m u l h e r ) t e n h a m ciúmes d a e s p o s a , Yeb. ao p a i acima d o respeito à m ã e , pois essa, por seu l a d o ,
X V 4; Sota V I 2 ; Gil. I I 7 — Cf. G r a n q v i s t o. c, I I , 145ss.
83. Q u a n t o aos b e n s p a r a f e r n a i s , v e r supra, n . 73. D u r a n t e a v i d a devia p r e s t a r respeito s e m e l h a n t e e m relação ao pai de seus
conjugal p o d i a m ser a u m e n t a d o s p o r dotes ou h e r a n ç a , Billerbeck, I I ,
384s. G e r a l m e n t e (exceções e m b . 6 . B. 5 1 ) o m a r i d o p o d i a aprovei-
b
86. b . Ket. 7 7 , 1 0 7 .
a a
94. P o r causa d e N m 30,7-9.
87. Ket. I V 4.8-9; T o s . Ket. I V 2 (264, 7 ) . 95. Yeb. X 1.
96. Josefo, C. Ap. I I 24, § 2 0 1 .
97. Ket. V I I l s s , v e r supra, p. 4 1 0 .
f i l h o s . N o caso de perigo de m o r t e era necessário pri-
98
os shamaítas discutiam c o m os hilelitas sobre a exegese de
m e i r o salvar a m ã e . 9 9
Dt 24,1 q u e m e n c i o n a , c o m o justo m o t i v o p a r a o h o m e m
Dois fatos são p a r t i c u l a r m e n t e característicos do grau r e p u d i a r a esposa, o caso em que ele e n c o n t r e nela "qual-
de dependência da mulher do esposo. quer coisa de v e r g o n h o s o " , 'erwat dabar. C o n t r a r i a m e n t e
à exegese dos shamaítas, a n u i n d o a o sentido do texto, os
a) A poligamia era permitida . A esposa devia, por- m
108. Ned. I X 9.
102. H . G r a n q v i s t , Marriage Condiíions In a Palestinian Village
I I , H e l s i n k , 1935, 2 0 5 . 109. b . Yed. 8 9 , 6 3 ; b . Pes. 1 1 3 . — Gn. R. 17, 3 s o b r e 2, 18
a b b
SEMINADO CüiíPjHDIA
p o n t o de vista hilelita revelava g r a n d e degradação d a mu- Sendo m ã e , a m u l h e r via-se valorizada; d e r a ao m a r i d o o
lher. E n t r e t a n t o , se, a partir das disposições legais, tirar- mais precioso p r e s e n t e .
mos conclusões relativas à prática q u a n t o ao n ú m e r o de C o m o viúva, a m u l h e r p e r m a n e c i a e v e n t u a l m e n t e li-
divórcios p o r exemplo, c o n v é m g u a r d a r m o s extrema reser- gada a seu m a r i d o , isto é, n o caso e m q u e ele morresse
va. H . G r a n q v i s t constatou q u e na cidade de Artas, p e r t o sem deixar filho (Dt 2 5 , 5 - 1 0 ; cf. M c 12,18-27). Nessa
de Belém, de 2 6 4 casamentos realizados e m cem a n o s , de circunstância, a viúva deveria esperar, sem p o d e r sugerir
1830, a p r o x i m a d a m e n t e , a 1 9 2 7 , somente 1 1 , isto é 4 % d e forma a l g u m a , q u e o o u os i r m ã o s d o falecido m a r i d o
t e r m i n a r a m em separação . Tais dados garantem c o n t r a
m
contraíssem com ela o casamento levirático ou lhe mani-
u m a subestima do n ú m e r o de divórcios. Se, como c o n v é m festassem a recusa, sem a qual ela n ã o p o d i a t o r n a r a se
supor , e m caso de divórcio os filhos ficam com o p a i ,
m
casar " . 5
essa solução constituía a p r o v a ç ã o mais intensa p a r a a es- A s condições descritas refletem nas prescrições da le-
posa que se divorciava. gislação religiosa da época. Do ponto de vista religioso
P o d i a a m u l h e r ser considerada p r o p r i e d a d e d o ma- t a m b é m , especialmente por sua posição em face d a T o r á , l l é
rido a p o n t o de ser v e n d i d a como escrava p a r a acobertar a m u l h e r n ã o era igual a o h o m e m . Devia sujeitar-se a to-
u m furto cometido por ele? Conforme vimos supra (p. 4 1 5 ) , das as proibições da T o r á e a t o d o o rigor d a legislação
117
m a n d a m e n t o s d a T o r á , e m c o m p e n s a ç ã o , eis o q u e vigo-
D e n t r o de seus limites, a situação da m u l h e r v a r i a v a ,
certamente, de acordo com os casos particulares. Dois fa- dez a n o s d e vida conjugal sem filhos, é p e r m i t i d o ao marido tomar
tores rep res en tam certa i m p o r t â n c i a : de u m lado, a mu- outra mulher.
lher e n c o n t r a v a grande apoio j u n t o de seus p a r e n t e s con- 115. A prática d a " r e c u s a " (hãlisah, " d e s c a l ç a r " , cf. D t 25,9-10)
é m u i t a s vezes r e p e t i d a ( K . H . Rengstorf, febamot (col. Die Mischna),
sanguíneos, sobretudo seus irmãos; tal fato era capital p a r a
G l e s s e n , 1929, 3 1 s ) . Q u a n t o à p r ó p r i a c o n c l u s ã o de u m casamento
a sua posição n a vida conjugal. Recomenda-se c o m o lou- l e v i rá tic o n a J e r u s a l é m d o t e m p o d e J e s u s , é c o m p r o v a d o e m t r ê s
vável o casamento c o m u m a sobrinha (ver supra, p . 4 8 1 ) ; casos (Yeb. V I I I 4; T o s . Yeb. I 10 [ 2 4 t . 2 4 ] , cf. Theol. Literatur-
zeitung 54 [1929] col. 5 8 3 ) . A c o m p a n h a n d o J. W e l l h a u s e n (Das Evan-
relaciona-se ao fato de a m u l h e r e n c o n t r a r aí m a i o r pro- gelium Marci, 2? ed., Berlim, 1909, 9 5 ) , K. H . Rengstorf (Die Tosefta.
teção por causa de seu parentesco com o m a r i d o . D e m
Seder Naschim, Rabbinische Texte I 3 , fase. t , S t u t t g a r t , 1933, 18ss)
outro lado, o ter filhos, especialmente filhos h o m e n s , assu- s u p õ e , p e l o c o n t r á r i o , q u e o c a s a m e n t o levirático estava completa-
m e n t e fora d e uso n a é p o c a d e J e s u s ; sua d e m o n s t r a ç ã o n ã o m e c o n -
mia g r a n d e importância p a r a a m u l h e r . A falta de filhos v e n c e u . S e g u n d o Rengstorf, o ben m güsat e
m e n c i o n a d o e m Yeb. V I I I 4
era tida como desonra, até m e s m o como castigo divino . m
é u m p r o s é l i t o , pois é c h a m a d o c o m o n o m e d a m ã e ; a lei d o l e v í r a t o
n ã o v a l e u , p o r t a n t o , p a r a s u a v i ú v a . Essa e x p l i c a ç ã o n ã o é g a r a n t i d a ;
n a d a i m p e d e d e considerá-la, c o m D a l m a n , Handwörterbuch, 224 a,
das famílias p r i n c i p e s c a s h e r o d i a n a s era f r e q ü e n t e a m u l h e r d e i x a r o megüsat c o m o n o m e p r ó p r i o m a s c u l i n o . E s o b r e t u d o , Rengstorf d e v e
m a r i d o . P o r e x e m p l o : H e r o d í a d e s d e i x o u H e r o d e s (Ant. XVT1I 5, 4, t o m a r o v e r b o yibbem, e m Yeb. V I I I 4 n o s e n t i d o geral, " d e s p o s a r
§ 136; M c 6,17 o n d e , p o r e r r o , Filipe é m e n c i o n a d o n o lugar d e H e - a c u n h a d a " ; c o n t r a r i a o u s o estabelecido (cf. Rengstorf, ele p r ó p r i o ,
r o d e s ) . T a m b é m as três filhas de A g r i p a I a b a n d o n a r a m seus m a r i d o s : e m s u a e d i ç ã o d e Jebamot [col. Die Mischna], G i e s s e n , 1929, 3) e o
Berenice d e i x o u P o l e m ã o de Cilicia (Ant. X X 7, 3, § 1 4 6 ) ; D r u s i l a , c o n t e x t o d e Yeb. V I I I 4, o n d e yibbem t e m o sentido técnico o r d i n á r i o ,
Azizos de E m é s i o ( X X 7, 2, § 1 4 2 ) ; M a r i a n a , Júlio A r q u e l a u (XX " c o n t r a i r c a s a m e n t o levirático c o m a v i ú v a d e u m i r m ã o m o r t o sem
7, 3, § 147). L e m b r e m o - n o s de q u e , nos dois ú l t i m o s casos tratava-se descendente masculino".
de n o i v a d o s d e c r i a n ç a s (ver supra, n. 5 4 ) . Cf. t a m b é m supra, n . 103. 116. P a r a o q u e s e g u e , v e r Billerbeck, I I I , 558-562.
111. H . G r a n q v i s t , o.c, I I , 268. 117. S a l v o três i n t e r d i ç õ e s , c o n c e r n i n d o s o m e n t e aos h o m e n s , Lv
112. É o q u e se passa, a t u a l m e n t e , e n t r e os á r a b e s da P a l e s t i n a , ibid.,
1 9 2 7 Ö ; 1 9 , 2 7 D ; 2 1 , 1 - 2 (Qid. I 7 ) .
I I , 287.
;
17 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
rava: " O s h o m e n s são obrigados a seguir todos os man- litúrgicas, era igualmente acessível às m u l h e r e s ; e m con-
damentos ligados a u m t e m p o d e t e r m i n a d o ; as m u l h e r e s trapartida, o outro l a d o , destinado às instruções dos escri-
ficam i s e n t a s dessa o b r i g a ç ã o " . Por motivo dessa fór-
120
bas, só se abria p a r a os h o m e n s e m e n i n o s , conforme o
m u l a q u e não é inteiramente exata , cita-se u m a série de m
p r ó p r i o n o m e indica. E n t r e t a n t o , nas famílias d e classe
m a n d a m e n t o s aos quais a m u l h e r n ã o se obriga: ir e m pe- alta, dava-se às jovens u m a f o r m a ç ã o p r o f a n a , e n s i n a n d o -
regrinação a Jerusalém p a r a as festas da Páscoa, de Pen- -lhes, p o r exemplo, o grego, "pois era u m a d o r n o p a r a
tecostes e das T e n d a s , abrigar-se nas tendas
1 2 2
e agitar 123
elas"' . 3 1
ensina-lhe a devassidão [ela fará m a u uso do que apren- p o d i a m p e n e t r a r n e m m e s m o n o átrio dos gentios . N ã o m
d e t e r m i n a d o , p o r e x e m p l o , o de e s t u d a r a T o r á , o q u e v a m o s men-
cionar logo a seguir. 134. Ant. X V 1 1 , 5 , § 4 1 8 s ; B. j . V 5 , 2, § 199. S e g u n d o T o s .
122. Häg. I 1. F r e q ü e n t e m e n t e , aliás, as m u l h e r e s delas p a r t i c i p a m 'Ar. II 1 (544, 1 4 ) , elas p o d i a m t a m b é m e n t r a r n o átrio i n t e r n o , m a s
v o l u n t a r i a m e n t e ( s o b r e t u d o a p e r e g r i n a ç ã o d a P á s c o a ) , Lc 2 , 4 1 ; T o s . s o m e n t e p a r a oferecer u m sacrifício, cf. G . D a l m a n , em PJB 5 ( 1 9 0 9 ) ,
Ned. V I (280, 1 4 ) ; b . R. H. 6 , e t a m b é m b . 'Er. 9 6 b a r . S o b r e a
b a
34, e s e u s Uinéraires, 387 e n. 5.
tentativa de h a r m o n i z a r teoria e p r á t i c a , v e r Billerbeck, I I , 141s. 135. Lv 12,2-5; Billerbeck, I I , 119s.
123. Sukka I I 8; T o s . Qid. I 10 (335, 2 9 ) . 136. Josefo, C. Ap. I I 8, § 133; Kel. I 8.
124. T o s . Qid. I 10 (335, 2 9 ) .
125. T o s . R. H. I V 1 (212, 1 0 ) . 137. T o s . Men. X 13 (528, 8 ) : n ã o é d e u s o . S e g u n d o a M i s h n a
126. T o s . Meg. I I 7 (224, 1 ) . Men. I X 8, n ã o é p e r m i t i d o .
127. Ber. I I I 3 ; 1 $ ma' c o m p u n h a - s e d e D t 6 , 4 - 9 ; l l , 1 3 - 2 1 ; N m
e
138. T o s . Men. X 17 (528, 1 5 ) : n ã o é d e u s o . A i m o l a ç ã o p o r
15,37-41. u m a m u l h e r (o q u e t a m b é m n ã o é c o s t u m e ) é v á l i d a s e g u n d o Zeb.
128. Sota I I I 4 . — V e r o u t r a s e n t e n ç a deste d o u t o r : " M a i s vale I I I 1.
q u e i m a r a T o r á d o q u e transmiti-la às m u l h e r e s " , j . Sota I I I 4, 1 9 7 a
139. b . H a g . 16*.
(IV/2, 261). 140. b . Hag. 3 b a r . , e p a r . j . Hag. I 1, 7 4 3 5 ( I V / 1 , 2 5 7 ) e
a d
129. Ned. I V 3 . — Sota I I I 4, frase d e Ben A z z a i (cerca d e 110 passim. T a m b é m F í l o n , De spec. leg. I I I , § 1 7 1 ; De vita cont., § 69.
d . C ) . Cf. t a m b é m b . Qid. 2 9 , 3 4 ; b . Sanh. 9 4 .
b a b
P o r e x e m p l o , os j u d e u s d e S a r d e s r e ú n e m - s e n o seu local s a g r a d o
130. K r a u s s , Talm. Arch. I I , 468, n. 373 e. " c o m m u l h e r e s e c r i a n ç a s " , Ant. X I V 10, 2 4 , § 2 6 0 .
131. M . S. Z u c k e r m a n d e l , Die Befreiung der Frauen von bestimmten 1 4 1 . A sinagoga m e s o p o t â m j c a d e D u r a - E u r o p o s , t r a z i d a à luz
religiösen Pflichten, Breslau, 1911, 22. em 1932, d a t a d e 245 d . C ; n ã o t e m t r i b u n a . S e g u n d o C. H . K r a e l i n g ,
132. Ant. X V I 6, 2, § 164. e m the Buli. of the American Schools of Oriental Research, n. 54, abril
d e 1934, 19, v e m o s a í u m t i p o d e s i n a g o g a m a i s a n t i g o d o q u e o d a s
sinagogas d a Galileia c o n s t r u í d a s d o s séculos I I I ao V I I . — C. W a t -
t r i b u n a c o m e n t r a d a particular. N o serviço litúrgico, a mu- A situação d a m u l h e r n a legislação religiosa d e m o d o
lher c o m p a r e c i a somente p a r a escutar. N ã o se n e g a q u e , geral é expressa, e d a m e l h o r m a n e i r a , pela fórmula cons-
em época muito antiga, tenham-se c h a m a d o mulheres p a r a t a n t e m e n t e r e p e t i d a : " M u l h e r e s , escravos [ p a g ã o s ] e fi-
ler a T o r á ; já na época tanaíta p o r é m , esse costume tinha lhos [ m e n o r e s ] " ; c o m o o e s c r a v o não-judeu e o filho
1 4 9
do primeiro m a r i d o . 1 4 S
d e u m a m e n i n a é a c o m p a n h a d o d e indiferença, até m e s m o
d e tristeza .. T e m o s a impressão d e q u e o j u d a í s m o do
l55
;
n a s de c a d a l a d o ) .
142. T o s . Meg. I V 1 (226, 4 ) : " T o d o s são tidos c o m o p e r t e n c e n d o
a o n ú m e r o dos sete [que d e v e m ler a T o r á nas m a n h ã s d o s á b a d o ] , 149. Ber. Í I I 3 ; R. H. I 8 ; B. M. I 5 e passim.
mesmo um menor, mesmo u m a mulher. [Mas] não é permitido a u m a 150. b . Qid. 3 0 , Billerbeck, I I I , 562.
b
208
conscientemente os costumes, deixando que algumas o si- ANTIGO TESTAMENTO 283
29 293
gam. Por assim p r o c e d e r é que exige dos discípulos a ati- 29,7 221
(jênesis
t u d e de pureza que supera q u a l q u e r desejo: " Q u e m olhar 29,30 ( T a r g ) 290
p a r a u m a m u l h e r [casada] com desejo libidinoso já co- 1,27 486, 494 30,10 2Uo
494 30,13 40
meteu adultério c o m ela em seu c o r a ç ã o " (Mt 5,28). Jesus 2 24
486 30,22-23 221
?'?4 (LXX)
não se contenta de elevar a m u l h e r acima do nível e m q u e 5,24 324 34,25 113
a tradição a m a n t i n h a ; e n q u a n t o Salvador, e n v i a d o a todos 17Ç 435
1/ 459 Levítico
(Lc 7,36-50), coloca-a em p é de igualdade com o h o m e m
1R 17-13
17 1 'í 492
(Mt 2 1 , 3 1 - 3 2 ) . l o , 1J 481 1,5 277
162 2,3 211
Além do mais, a posição de Jesus a respeito d o ca- 34,2-5
IA. 9=í-99 465 5,7-13 1 on
189
samento representa n o v i d a d e í m p a r . N ã o se contenta c o m X% 91 83 6,12-16 213
JJ,Zl 290 8 293
insistir a favor da m o n o g a m i a ; p r o í b e , categoricamen-
158
36 5
XFi 14 290 10 211
te 159
o divórcio a seus discípulos (Mc 10,9) e n ã o hesita JD, l t -