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A obra oferece uma visão panorâmica da condição

político-socioeconómica de Jerusalém no século I


d.C. O autor divide a tratação em duas partes: na
primeira, examina a situação econômica da cidade
de Jerusalém sob a dominação romana até à sua
destruição (6 a 70 d.C). Na segunda parte analisa a LO
situação social da cidade: as classes sociais (ricos,
classe média, pobres), os fatores determinantes
para o desenvolvimento das condições econômicas
dos habitantes de Jerusalém, a relação dos partidos O
religiosos com essas classes sociais, a situação dos
escravos e da mulher. o
o

UE
H NO TEMPO
• BC

Li'
DE JESU&
PESQUISAS DE HISTÓRIA
ECONÔMICO SOCIAL
NO PERÍODO NEOTESTAMENTÁRIO
J O A Q U I M JEREMIAS

J e r e m i a s , J o a c h i m , 1900-
J54j J e r u s a l é m n o t e m p o d e Tesus: pesquisa d e história
economico-social no p e r í o d o n e o t e s t a m e n t á r í o / J o a c h i m
J e r e m i a s ; [ t r a d u ç ã o d e M. Cecília d e M. D u p r a t ; revi-
são de H o n ó r i o D a l b o s c o ] . — São P a u l o : Edições
P a u l i n a s , 1983.
( N o v a coleção bíblica; 16)
1. B í b l i a . N . T . — História de fatos c o n t e m p o r â -
neos 2 . J e r a u s a l é m — V i d a social e c o s t u m e s I. Tí-
tulo.
CDD-225.95
-309. 133
82-1831 -330.933
JERUSALÉM
índices para catálogo sistemático:
N O TEMPO DE JESUS
1. J e r u s a l é m : P a l e s t i n a antiga — Condições econômicas
330.933
2. Jerusalém: Palestina antiga: Condições sociais
P e s q u i s a s de história econômico-social
309.133 no período neotestamentário
3. Jerusalém: Palestina antiga: História económica
330.933
4. Jerusalém: Palestina antiga: História social
309.133
5. Novo T e s t a m e n t o : História de fatos contemporâneos
225.95

NOVA COLEÇÃO BÍBLICA

1. A s parábolas de Jesus, ]oachiin Jeremias


7. lonna e exi;>,£ netas do N.T.. \. S c h r e i n e r - G . D a u t z o n b e r g (coords.)
5. 'l'i'o1o<íiu do \ovo Tesliitticmo II" parle), | . Jeremias
4. A interpretação do quarto Evangelho. C. H . D o d d
5. Introdução ao A.T. (vol. 1), E. Sellin-G. F ü h r e r
6. Introdução ao A.T. (vol. 2). E. Sellin-G. F o h r e r
7. História de Israel, J o h n Bright
8. Palavra e mensagem, )osef Schreiner (coord.)
9. As migens do Novo Testamento, C. F. D . M o u l e
10. A importância da literatura apocalíptica, H . H . Rowley
11. Introdução aos livros apócrifos c pseudepigrafos do Antigo Testa
mento c aos manuscritos de Quniian. L e o n h a r d Rost
12. O Anúncio cie Cristo nos Evangelhos sináticos, W o l f g a n g Trilling
15 Introdução ao Novo Testamento, Werner Georg Kümmel
14 As estruturas teológicas fundamentais do A.T., G . Fohrer
15, História da religião de Israel. G. F o h r e r
16. Jerusalém no tempo de Jesus, J. Jeremias EDIÇÕES P A U L I N A S
EDIÇÕES UTILIZADAS
Tftulo original
Jerusalem zur Z e i t Jesu
© V a n d e n h o e c k & Ruprecht in G ü t t i n g e n , Göttingen, 1969 M i s h n a : Stettin, 1865. E m caso de d ú v i d a , n a ed. p r í n c i p e d o T a l m u d e
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ä
de
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M . C e c í l i a de M . Duprat
c o l u n a a-d, n ú m e r o da l i n h a ) .
Revisão de Sifra L v : c d . p r í n c i p e , V e n e z a , 1545 (citações: v e r s í c u l o b í b l i c o , folio
H. D albo sco c o m a c o l u n a a-d; n ú m e r o da c o l u n a e d a l i n h a ) .
Sifré N m e D t : cd. p r í n c i p e , V e n e z a , 1545 ( c i t a ç õ e s : versículo b í b l i c o ,
folio c o m a c o l u n a a-d, n ú m e r o da c o l u n a e d a U n h a ) .
T a l m u d Y e r s u s h a í m i : e d . p r í n c i p e , V e n e z a , 1523 .
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Se
'^árh Concore versículo bíblico, folio c o m a c o l u n a a-d, n ú m e r o d a l í n h a ) .
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© EDIÇÕES P A U L I N A S - SÃO P A U L O , 1983


PUBLICAÇÕES MODERNAS
ABREVIATURAS

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N e u b a u e r , Géogr. = A . N e u b a u e r , La géographie du Talmud, Paris,
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RB = Revue biblique, P a r i s , 1892ss.
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Schlatter, Gesch. Isr. — A. Schlatter, Geschichte Israels von Alexander
dem Grossen bis Hadrian, 3- ed., S t u t t g a r t , 1925.
Schlatter, Joch. b. Zok. = A. Schlatter, Jochanan ben Zakkai, der Sob a denominação romana
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G ü t e r s l o h , 1897 ( r e i m p r e s s o em A. S c h l a t t e r , Synagoge und Kirche
bis zum Bar-Kochba-Aufstand, S t u t t g a r t , Î 9 6 6 , 9-97).
Schiatter, Theologie = A. Schlatter, Die Theologie des Judentums
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d e p o i s Berlin, 1881ss.
ZDPV = Zeitschrift des Deutschen Palästina-Vereins, Leipzig, d e p o i s
W i e s b a d e n , 1878ss.
ZNW — Zeitschrift für die neutestamentliche Wissenschaft, Giessen,
depois Berlin, Í900ss.

Para obtermos um quadro completo da economia de


uma cidade do Antigo Oriente, procuramos saber quais as
profissões existentes, seu comércio, o movimento de estran-
geiros etc. Por desejarmos ainda salientar as características
da cidade, foi necessário após ter examinado a situação,
pesquisar-lhe as causas.
merciante) de c e v a d i n h a , curtidor, copista, fabricante d e
CAPÍTULO I
sandálias, a r q u i t e t o , comerciante de b e t u m e , a l f a i a t e . 4

Sabemos, p o r é m , da existência de profissões tidas


AS PROFISSÕES como desprezíveis; a de tecelão, por e x e m p l o , e muitas
outras \ As razões desse desprezo são diversas: considera-
das como sujas, baseadas notoriamente n a fraude, reser-
vadas às mulheres. Mais adiante as e x a m i n a r e m o s . ò

Depois desta r á p i d a visão sobre a i m p o r t â n c i a das


N a q u e l a época, a forma típica de atividade profissio- profissões no judaísmo de então, voltamo-nos p a r a a cidade
nal é o a r t e s a n a t o . E m tal gênero de e m p r e e n d i m e n t o , o de Jerusalém.
p r o d u t o r , c o n t a n d o com todos os meios necessários, fabrica
suas peças e, sem outra forma de transação, vende-as, ele
mesmo, aos consumidores, a seus clientes.
N o j u d a í s m o de e n t ã o , as profissões e r a m altamente A. AS PROFISSÕES EM JERUSALÉM
valorizadas. " Q u e m n ã o ensina u m a profissão ao filho, é E SUA ORGANIZAÇÃO
como se lhe ensinasse o b a n d i t i s m o " \ N o q u e diz respeito
a Jerusalém, temos u m testemunho particular: " R . Y o h a n a n
dizia três coisas em n o m e do povo daquela cidade: . . . A n - E m primeiro lugar, examinemos aqui a situação exis-
tes faze de teu sábado u m dia da semana, do que recorrer tente. Q u e profissões encontramos em Jerusalém e qual
aos h o m e n s " . A prática correspondia a essa teoria. Bik.
2 a sua o r g a n i z a ç ã o ? M o s t r a m as fontes que o T e m p l o , du-
I l l 3 descreve a e n t r a d a em Jerusalém das procissões de rante a sua construção e u m a vez em f u n c i o n a m e n t o , cons-
primícias: os mais altos funcionários do T e m p l o iam a tituía por si só u m centro de atividades muito v a r i a d a s ;
seu e n c o n t r o ; nota-se, como p a r t i c u l a r i d a d e , que os pró- temos, p o r é m , de considerá-lo à p a r t e , fora das páginas
prios artífices de Jerusalém levantavam-se à passagem da dedicadas às profissões que c o r r e s p o n d i a m às necessidades
procissão p a r a saudá-la. Tal atitude representava extraor- gerais.
dinário sinal de respeito, e assim deviam s a u d a r os dou-
tores, pondo-se de p é ; e n t r e t a n t o , d u r a n t e o t r a b a l h o , os
operários n ã o eram obrigados a seguir esse c o s t u m e . 3
1. Profissões de interesse geral
A alta consideração inspirada pelos artífices e pelo que
faziam decorre t a m b é m do fato de, naquela época, a maio- Geograficamente, a província da Judeia pertencia à
ria dos escribas exercer u m a profissão. Paulo, que estudou província da Síria, assim como do p o n t o de vista da civi-
em Jerusalém (At 2 2 , 3 ) , era skenopoiós (At 18,3): fabri- lização e da política (é difícil d e t e r m i n a r a situação do
cava tendas (R. Knopf), segundo outros, tecia tapetes ( H . governador r o m a n o da Síria em relação ao da Judéia, o
Achelis) ou toldos p a r a as tendas (J. Leipoldo). D e n t r e q u e , aliás, n a d a altera; na realidade, esse último parece
as profissões que os mais antigos doutores mencionados ter sido s u b o r d i n a d o ao p r i m e i r o ) . N a Síria de e n t ã o , os
no T a l m u d e exerciam, podemos ver: fabricantes de pre- principais p r o d u t o s fabricados d e n t r o da província e r a m
gos, comerciantes de linho, padeiros, fabricante (ou co-
4. Cf. Billerbeck, I I , 745s.
5. V e r infra, p . 12.
1. fa. Qid. 2 9 . a
6. Infra, p . 404. As profissões r e c o n h e c i d a s e m J e r u s a l é m são, na-
2. b . Pes. 1 1 3 e p a r .
a
q u e l e local, i m p r e s s a s e m itálico.
3 . Cf. b . Qid. 3 3 . a
artigos de lã, c o m o tapetes, cobertas e tecidos, unguentos entre os indígenas (da M e s o p o t â m i a ) , n ã o é desonroso
e resina p e r f u m a d a . E n c o n t r a m o s , igualmente, esses arti-
7
p a r a os h o m e n s t r a b a l h a r e m t a m b é m a l ã " . N a r e a l i d a d e ,
gos c o m o p r o d u t o s de Jerusalém. se h o m e n s se dedicassem à tecelagem, a o c u p a ç ã o passava
V a m o s t r a t a r e m p r i m e i r o lugar da? profissões liga- a ser desprezível. Na Palestina, u m tecelão não p o d i a ser
das à fabricação de artigos domésticos, em seguida, profis- sumo sacerdote. O recinto dos tecelões se e n c o n t r a v a e m
sões relativas à alimentação e aos artigos de luxo; final- Jerusalém, no b a i r r o desprezível da Porta Esterquilínia . 12

mente, veremos as profissões que se referem à construção. Foi sinal de g r a n d e liberalidade e c o n t a d o como tal, o fato
de Hillel e S h a m m a i , n u m a discussão, terem a d m i t i d o o
t e s t e m u n h o de dois h o n r a d o s tecelões de Jerusalém . Al- 13

a. Artigos domésticos guns desses são talvez confirmados, em Jerusalém, n a pes-


soa dos tarsiyyim \ l

Em B. Q. X 9, está escrito; " E n t r e t a n t o , pode-se com- A função de pisoeiro relaciona-se i n t i m a m e n t e c o m


p r a r de m u l h e r e s , artigos de lã na Judéia e artigos de li- a de tecelão. Pela feltragem dos pêlos, o pisoeiro devia
n h o da G a l i l e i a " . De acordo com esse texto, o trabalho tornar impermeável o tecido vindo da tecelagem. E r a m
da lã era u m a especialidade da Judéia, Ket V 5 o men- eles, na maioria, não-judeus; seu bairro situava-se na ci-
ciona como t r a b a l h o imposto à m u l h e r casada. E m Jeru- d a d e a l t a , e alguns, t a m b é m vistos fora de Jerusalém.
1S

salém, vendia-se lã n u m dos bazares da cidade. 'Er. X 9 O m o n u m e n t o dito do Pisoeiro constituía o ângulo nor-
conta: " H . Yosé dizia que tal venda aconteceu no beco deste da m u r a l h a mais s e t e n t r i o n a l . E m 62 d . C , os j u d e u s
16

dos c a r d a d o r e s de l ã ' e Levy traduz do mesmo m o d o :


1 8 9

l a n ç a r a m do alto do pináculo do T e m p l o , Tiago, o Justo,


" O comercio dos vendedores de l ã " ; c o m efeito, a m e s m a irmão de Jesus; foi u m pisoeiro q u e , com seu bastão,
palavra indica aquele que p r e p a r a u m artigo e aquele que desferiu-lhe o golpe m o r t a l . 1 1

o v e n d e . B. j . V 8, 1 § 331 conta-nos que o comercio das


Depois de passar por esse profissional, o tecido era
lãs de Jerusalém realizava-se no bairro c h a m a d o " c i d a d e
e n c a m i n h a d o p a r a o alfaiate. N o M i d r a s h há referências 18

n o v a " . Após a cardagem era preciso fiar a lã; encontrava-


-sc e n t ã o p r o n t a para a tecelagem.
12. 'Er. I 3 .
Em Jerusalém teciam t a m b é m os fios. N o Apocalipse 13. Ibid.
siríaco de Baruc, composto pouco depois de 70 d.C., inter- 14. E m b . Meg. 2 6 , trata-se d a sinagoga dos tarsiyyim
a
em Jeru-
pelam-se as jovens de Jerusalém: " E vós, jovens que te- salém. Essa p a l a v r a designa ou a p e r t e n ç a à c i d a d e de T a r s o , ou
u m a profissão. Se n ã o se t r a d u z i r essa p a l a v r a p o r " h a b i t a n t e s d e T a r -
ceis fios de linho e d e seda c o m o o u r o de O f i r " . Essa1J

s o " (cm n o s s a o p i n i ã o seria a boa t r a d u ç ã o ) , consideram-se essas pes-


indicação, acrescentada ao fato de se tratar de oitenta jo- soas c o m o f u n d i d o r e s de c o b r e (Delitzsch, Jüd. Handwerkerleben, 38;
S c h ü r e r , I I , 524, n . 77, cf. 87, n. 2 4 7 ) , tecelões ou m i n e i r o s (Levy,
vens que teciam artisticamente no T e m p l o , e uma obser-
11

Wörterbuch, I I , 193 b ) , tecelões de arte ou artífices d e m e t a l (Dal-


vação de Flávio Josefo p o d e r i a m levar-nos à conclusão de m a n , Handwörterbuch, 177 a, q u e , a p a r desses dois s e n t i d o s , indica
que a tecelagem eram u m ofício exclusivamente feminino i g u a l m e n t e " h a b i t a n t e s d e T a r s o " ) , ou m e l h o r , f a b r i c a n t e s d e trajes
tarsos ( K r a u s s , Talm. Arch., I I , 625, n. 6 7 ) . C. W e s s e l y , Studien zur
Com efeito, em Ani. X V I I I 9, 1, § 3 1 4 , Josefo fala de Paläographie und Papyruskunde, Leipzig, 1901, 2s., m o s t r o u q u e esse
dois judeus babilónicos que aprendiam a tecer, " p o r q u e , ú l t i m o s e n t i d o era, r e a l m e n t e , p a r a a d e s i g n a ç ã o d e tarsikários, em di-
versos p a p i r o s . R e m e t e ao " E d i t o d o m á x i m u m " de D i o c l e c i a n o , c a p .
26-28, o n d e t r a t a d e artigos de l i n h o t a r s o - a l e x a n d r i n o s .
7. G u t h , Griech.-röm. Städte, 40.
8. Cf. b . 'Er. 1 0 1 .
a 15. V e r infra, p . 31.
9. Levy, Wörterbuch, I V , 200 a. 16. B. /'. V 4, 2 § 147.
10. Betruch syriaque X 19. 17. E u s é b i o , Hist. eccl. II 23,18; cf. Ant. X X 9, 1, § 200.
11. Ver infra, p . 40. 18. Lam. R. I, 2 s o b r e I ( 1 8 3 1 ) ; 1, 9 s o b r e I, I ( 2 1 1 7 ) .
a a
aos alfaiates de Jerusalém. Um comércio de r o u p a s é mos-
" E m Jerusalém, eles r e c o m p u s e r a m . . . m u i t a s m á q u i n a s
trado na c i d a d e nova . 19

de guerra, e, em toda a cidade, forjaram armas d e arre-


A indústria do couro serve t a m b é m p a r a a vestimenta.
messo e couraças c o m p l e t a s " * .
N ã o se p o d e dizer com certeza se havia centros de curtu-
Pelo que dizem, n ã o podia h a v e r olarias em Jerusa-
m e em Jerusalém. Segundo B. B. II 9, t i n h a m de ser ins-
lém por causa de fumaça; é o que ensina o T a l m u d e . N o 11

talados a c i n q ü e n t a côvados de u m a (ou: da) cidade e


e n t a n t o , Jr 18,2-3 indica a casa de u m oleiro em Jerusa-
somente a leste. Como Jerusalém é a cidade, p u r a e sim-
lém, e Mt 27,7 fala do c a m p o do oleiro; esses dados pe-
plesmente , tal prescrição no começo lhe concernia, sem
20

sam mais do que a tradição rabínica. É v e r d a d e que so-


dúvida a l g u m a ; p o d e m o s pelo menos constatar q u e a pres-
mente o primeiro texto constitui u m testemunho indiscutí-
crição desse m e s m o texto da M i s h n a a respeito dos túmu-
vel; com efeito, conforme o v e r e m o s , Mt 27,7 p o d e r i a 28

los era o b s e r v a d o em Jerusalém. E m b o r a , no princípio, a


ter sido influenciado por Jr 18,2-3.
prescrição p a r a os curtumes dissesse respeito a Jerusalém,
havia lá curtidores, mas suas oficinas sempre fora dos
m u r o s . M a t e r i a l não lhes faltava. Segundo R. H a n a n y a , 21

chefe do clero, a pele da vítima, em cada sacrifício, vol- b. A alimentação


tava p a r a os sacerdotes, m e s m o n u m sacrifício realizado
após golpe i m p u r o . O s estalajadeiros de Jerusalém ti-
2 2
Entre os produtos alimentícios deve ser mencionado em
n h a m o h á b i t o de tirar compulsoriamente dos peregrinos, primeiro lugar o óleo. Eupolemo e o Pseudo-Aristeu contam
as peles das vítimas santas — trata-se antes de tudo da
23 que os arredores de Jerusalém eram ricos em oliveirais. O Pseu-
do-Aristeu, § 112. cita oliveiras em primeiro lugar dentre as
vítima pascal que fora imolada pelo seu proprietário e
árvores e plantas da cidade e seus arredores. Realmente, o solo
cuja pele n ã o pertencia ao sacerdote. A m e n ç ã o de mer-
lhes é propício e os oliveirais eram, no tempo de Jesus, mais
cadores de sandálias em Jerusalém é exata . 24

extensos do que hoje, porque em toda a Palestina, em conse-


O u v i m o s falar de algumas outras profissões q u e , de qüência da má exploração do governo turco, o número de ár-
m o d o especial, garantiam as necessidades domésticas. B. j . vores se encontra extraordinariamente reduzido em relação às
V 8, 1 § 3 3 1 menciona o b a z a r dos ferreiros. Esse arte- épocas anteriores. Em Jerusalém, diferentes topónimos, advin-
dos de "óleo" e "olivas", "oliveiras", constituem uma indica-
sanato t i n h a sua sede n a cidade nova. São m e n c i o n a d o s
ção neste sentido. A leste da cidade se encontra o "monte das
em M.Sh. V 15 e Sota I X 10, os ferreiros como "operá- Oliveiras" , ou "monte do Oliveiral" ; o Talmude refere-se
29 30

rios em b r o n z e e f e r r o " q u e t r a b a l h a r a m (em dias semi- a tür zêta, quer dizer, "montanha das Olivas" . Dificilmente 31

f e s t i v o s , d u r a n t e os quais se p r o i b i a m os trabalhos rui-


25
teria sido dado este nome àquela colina se as plantações de
dosos) até q u e o sumo sacerdote Y o h a n a n (João H i r c a n o , oliveiras não tivessem atingido uma extensão particularmente
1 3 4 4 0 4 a.C.) os interditou. D u r a n t e a G u e r r a judaica notável em relação às das redondezas, e se as azeitonas não
contra os r o m a n o s (66-70 d . C ) , esse artesanato foi, ao q u e fossem importantes para a economia da cidade. O Talmude
parece, r a p i d a m e n t e convertido e m indústria de guerra: confirma a cultura no monte das Oliveiras: segundo b. Pes.

19. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 . 26. B.j. I I 2 2 , I, § 648s; cf. VI 6, 2, § 327.


20. P o r ex., Sanh. I 5: " N ã o se a c r e s c e n t a n a d a à c i d a d e n e m ao 27. b . B. Q, 8 2 ; b . Zeb. 96 . Essas p r e s c r i ç õ e s rituais r e u n i d a s
b a

a d r o do T e m p l o " . q u a n t o à J e r u s a l é m n ã o são d i g n a s d e fé, ver infra, p . 66 ( j a r d i n s ) e


2 Í . M u i t o s m s s t ê m a lição Hanina. p . 70, n. 153 ( g a l i n h a s ) .
22. 'Ed. II 2 . 28. V e r infra, p . 197.
2 3 . b . Yoma a
12 . 29. M t 21,1;24,3 e passim.
24. Lam. R. I, 14 s o b r e I, í (22 b
4). 3 0 . Le 19.29;21,37; A t 1,12; Ani. V I I 9, 2 § 202.
25. T o s . Sola X I I I 10 (320, 4). 3 1 . O T a r g u m (cf. Billerbeck, I, 8 4 0 ) ; j . Ta'an. I V 8, 6 9 35 a

( V / l , 1 9 1 ) , cf. G u t h e , PRE V I I I , 667.


14 , na época do último Templo, ali arava-se a terra. Quanto
a
indica, a existência dessa profissão n ã o era ó b v i a , p o r q u e
ao sul da cidade, Jerônimo refere-se às oliveiras no vale do o p ã o costumava ser feito em casa.
H i n n o m . Sobre os nomes de lugares originados de "óleo" e
32

O s açougueiros de Jerusalém estavam, como noutros 40

"olivas", "oliveiras" nas zonas mais afastadas de Jerusalém, lugares, organizados em corporação na " r u a dos açouguei-
consultar Smith, I, p . 300, n. 3.
r o s " . H a v i a ainda, na cidade, u m a loja d e vendedores
4 1

O a p r o v e i t a m e n t o das azeitonas dava-se em Jerusa- de aves domésticas em p o n t o de consumo . 42

lém e nas p r o x i m i d a d e s da cidade. Segundo Men. V I I I 3 , Fala-se t a m b é m de u m ateniense que fazia vir ovos
é de Peréia que se i m p o r t a v a u m a parte do óleo necessá- e queijos do m e r c a d o de Jerusalém . 43

rio ao T e m p l o . H a v i a , p o r é m , u m p r o b l e m a : como con- Vejamos, por fim, a profissão de carregador de água,


ciliar a santidade do óleo com o transporte em território tão curiosa hoje p a r a nós. Josefo confirma o comércio de
p a g ã o ? O T a l m u d e nos responde: ia-se buscar as azeitonas água d u r a n t e os anos de seca: " A n t e s de sua chegada (a
na Peréia, mas somente em Jerusalém e r a m p r e n s a d a s . i3
de T i t o ) , como sabeis, a fonte de Siloé secara, assim como
Com efeito, muitos lagares foram encontrados no norte todas as o u t r a s situadas diante da cidade; precisava-se
da c i d a d e . Além do mais, lemos no N o v o T e s t a m e n t o : " E então c o m p r a r água na â n f o r a " . M c 14,13 refere-se a 44

foram a u m lugar cujo n o m e é G e t s ê m a n i " ; " h a v i a lá 34


u m p o r t a d o r de água ("ide à cidade; ali encontrareis u m
u m j a r d i m " , diz Jo 18,1 a propósito do lugar. Getsêmani h o m e m l e v a n d o u m a bilha de á g u a " ) ; p o d e m o s m e n c i o n a r
significa lagar, m á q u i n a o n d e se espremem uvas, azeitonas, esse texto neste parágrafo, a menos que se tratasse de u m
prensa p a r a b á l s a m o s . A Mishna dá explicações a res-
3j
empregado.
peito das prensas de óleo que têm "suas portas dentro (da
c i d a d e ) , suas salas f o r a . Dificilmente ter-se-ia p e n s a d o
36

c. Artigos de luxo
em instalar lagares de óleo nos m u r o s da cidade. C o n v é m ,
p o r t a n t o , supor que se trata não da cidade de Jerusalém A preparação de bálsamos e de resinas aparece tam-
p r o p r i a m e n t e dita, mas do distrito u r b a n o mais extenso , 51
b é m como u m a atividade d e Jerusalém. Conta-se que os
ou q u e os lagares de óleo sejam evocados somente a tí- comerciantes (ou fabricantes) de a r ô m a t a s em Jerusalém 45

tulo de exemplo de casuística. P e r m a n e c e , p o r é m , a cer- diziam: "Se acrescentássemos u m p o u c o de m e l aos perfu-


teza d e q u e esta passagem da M i s h n a supõe lagares de mes a q u e i m a r , o odor seria tão forte que o m u n d o inteiro
óleo p a r a Jerusalém. Mostram-nos t a m b é m q u e os negó- não o poderia suportar" . 46

cios e n t r e comerciantes de azeite e de v i n h o , em Jerusa- D e n t r o do contexto convém l e m b r a r u m a lenda do


lém e r a m consideráveis . 38
T a l m u d e : " O s bosques de Jerusalém eram formados de
Jr 3 7 , 2 1 presume haver u m a loja de padeiros na épo- 40. Cf. infra, p . 404.
ca antiga. A propósito de u m a fome q u e grassara, fala-se 4 1 . T o s . Nidda V I 17 (648, 2 1 ) ; b . Nidda 57 . b

4 2 . 'Er X 9.
dos padeiros de J e r u s a l é m . Conforme esse último texto
39

4 3 . iam. R. I, 10 s o b r e I, I ( 2 1 1 ) . b

4 4 . B.j. V 9, § 410.
32. J e r ô n i m o , In Hieremian I I 45 s o b r e Jr 7,30-31 ( C C L 74,83s). 45. Pattamtm; assim t r a d u z D a l m a n , Handwörterbuch, 331 b
(ele
33. j . Hag. I I I 4, 79^ 3 ( I V / t , 2 9 8 ) . t r a d u z i a " f a b r i c a n t e s de a r ô m a t a s " e m s u a p r i m e i r a e d i ç ã o . "Apoticá-
34. Mc 14,32; M t 26,36; L c 22,39. r i o s " , s e g u n d o Levy, Wörterbuch. I V , 27 a.
35. G. D a l m a n , Grammatik des jüdisch-palästinischen Aramäisch , 1
46. /. Yoma I V 5, 4 1 37 ( I I 1 / 2 , 2 0 9 ) . E n c o n t r a - s e o m e s m o ter-
( l

Leipzig, 1905 (reimpresso D a r m s t a d t , 1960), 191, m o pattamtm e m 'Er. X 9 e j . Sota V I U 3, 2 2 16, p a r . j . Sheq. V I
c

36. M . Sh. I I I 7. 1, 4 9 ¿111/2, 3 0 0 ) ; é possível q u e se trate t a m b é m a q u i de fabricantes


c

37. V e r infra, p p . 63 e 89; ef. Billerbeck, I, 840. [ c o m e r c i a n t e s ] de a r ô m a t a s . C o m u m e n t e t r a d u z e m - s e essas p a s s a g e n s ,


38. b . Besa 2 9 .
a d a n d o à p a l a v r a o o u t r o s e n t i d o r e c o n h e c i d o : " c o m e r c i a n t e d e gado
39. Ant. X V 9, 2, § 309. gordo".
entre os adornos da cabeça . Segundo ARN rec. B c a p .
56

c i n a m o m o s ; q u a n d o queimados exalavam u m agradável


12, 3 0 10 e passim, as nobres e r a m as únicas a u s a r e m
b

p e r f u m e " . De a c o r d o com tal lenda, g r a n d e q u a n t i d a d e


47

este atavio. Conclui-se, pois que essa " J e r u s a l é m de o u r o "


d e cinamomos teriam sido plantados em Jerusalém; essa
era u m enfeite feminino de alto preço. Temos de vê-lo
asserção foi c o m p l e t a m e n t e excluída. U m a coisa, p o r é m ,
como u m a espécie de d i a d e m a c r e n a d o . S e g u n d o t u d o in-
é certa: empregavam-se suas folhas entre os perfumes quei-
dica — o próprio n o m e leva a essa suposição — esse ador-
m a d o s no T e m p l o . 4B

no era a princípio fabricado em Jerusalém. Nos nossos


A venda de bálsamos é conhecida em Jerusalém. Fala¬ dias, a m a n u f a t u r a das lembranças locais constitui u m
-se das mulheres de Galileia presentes aos pés da cruz de r a m o especialmente florescente do a r t e s a n a t o artístico na
Jesus que " c o m p r a r a m arômatas (misturadas aos bálsamos) cidade. E m Éfeso, tal indústria só aparece na época do
p a r a ungir o M e s t r e " ; e conta-se que Nicodemos veio
4 9

apóstolo P a u l o . At 19,23-40 conta o m o t i m dos ourives


ao sepulcro " t r a z e n d o u m a mistura de mirra e aloés de do lugar ( 1 9 , 2 4 : " u m fabricante de templos de Á r t e m i s " ) .
a p r o x i m a d a m e n t e 100 libras ( r o m a n a s " ) , (Jo 19,39). Se levarmos em conta a e n o r m e i m p o r t â n c i a das festas
N a q u e l a época já se fabricava, em Jerusalém, u m óleo anuais de peregrinação p a r a a cidade santa, concluímos
de rosa. Segundo b . B. Q. 8 2 , n ã o se permitia fazer jar-
b
que se c o m p r a v a m muitas vezes estes enfeites como re-
dins na cidade , m a s , excepcionalmente temos u m a men-
50
cordação de Jerusalém.
ção expressa do r o s e i r a l . Na literatura talmúdica, os co-
51

A fabricação de sinetes c o m figuras c u n h a d a s é de


merciantes de bálsamos r e p r e s e n t a m p a p e l i m p o r t a n t e . 52

m o d o indireto c o m p r o v a d a p o r R. Eleazar ben Sadoc (cer-


C o m seu fausto ostensivo e seu cortejo de m u l h e r e s , a corte
ca de 100 d.C.) que c o n t a : " H a v i a e m Jerusalém toda
57

d e H e r o d e s , o G r a n d e , contribuiu p a r a o desenvolvimento
espécie de figuras impressas, com exceção de rostos hu-
dessas profissões.
m a n o s (parsüpôt do grego prósopon)".
As profissões de luxo foram as que mais prósperas se
A profissão de copista t a m b é m fazia p a r t e das pro-
t o r n a r a m devido à corte h e r o d i a n a . C o n v é m lembrar, em
fissões de arte. Em b . B. B. I , é descrita a atividade dos
a

primeiro lugar, o artesanato artístico. T i n h a sua sede n a


copistas de Jerusalém pelo e n r o l a m e n t o dos m a n u s c r i t o s . 58

cidade alta. Já na época de Pompeia, sabemos da exis-


tência de u m a peça rara, em o u r o , vinda de Jerusalém;
" v i n h e d o ou j a r d i m , esse trabalho era c h a m a d o ter polé
(prazer dos o l h o s ) " , conta o capadócio E s t r a b ã o . 53 d. Os edifícios
Ouvimos por vezes falar de u m enfeite 'ir sèl zahab,
q u e r dizer, " c i d a d e de o u r o " . Esse a d o r n o é igualmente
5 4

c h a m a d o y rüsalayim
e
d 'dah ba,
L ü
isto é, " J e r u s a l é m de 1) A s construções
o u r o " . Discute-se p a r a saber se as m u l h e r e s , aos sábados,
55

p o d e m usar tais enfeites, e colocam a " J e r u s a l é m de o u r o " O s príncipes da família h e r o d i a n a p r i m a v a m pelo


gosto de construir; outros foram levados a imitá-los. Sob
47. b . Shab. 63*. seu domínio e no período que se seguiu, a indústria de
48. B.j V I 8, 3, § 390. construção teve grande e x p a n s ã o em Jerusalém. Mencio-
49. Mc 16,1; cf. Lc 23,56-57. nemos as principais construções.
50. P a r a a crítica deste d a d o v e r infra, p . 62.
51. Ma'as. II 5; T o s . N e g . V I 2 (626, 15).
52. K r a u s s , Talm. Arch., I, 242. 56. T o s . Shab. I V 6 (115, 1 9 ) .
53. C i t a d o p o r Josefo, Ani. X I V 3, 1, § 35. 57. T o s . 'A. Z. V 2 (468, 1 5 ) ; o p a r . j . 'A. Z. Ill 1, 4 2 58 ( V I / 2 ,
c

54. Kel. X I 8; Shab. V I 1; Sola I X 16, 2 4 6 ( I V / 2 , 3 4 1 s ) .


c 209) m e n c i o n a R. E l e a z a r b . S h i m e o n (cerca de 180 d.C.) c o m o autor.
55. b . Shab. I V 6 (115, 19). 58. S o b r e a c o n s t r u ç ã o artística, ver infra, p . 25ss.
Herodes, o Grande (37-4 a . C ) . Agripa I (41-44 d . C ) . Segundo B.j. II 1 1 , 6, §
— R e s t a u r a ç ã o do T e m p l o (20-19 a.C. a 62-64 d . C ) .
59
2 1 8 ; Ani. X I X 7, 2, § 3 2 6 ; B.j. V 4 , 2 , § 1 4 8 . 1 5 2 - 1 5 5 ,
— Construção do palácio de H e r o d e s , perto da mu- Agripa í construiu a m u r a l h a mais setentrional de Jerusa-
ralha oeste, ao lado da Porta Ocidental que d a v a ingresso lém q u e englobava uma z o n a considerável. Media cerca
a L i d a , hoje Porta de J a i V ' .
6 0 1
de 3 . 5 3 0 m . de c o m p r i m e n t o , segundo Josefo. O histo-
70

— Construção, no mesmo local, das três torres de riador não p o u p a elogios à solidez dessa m u r a l h a . T i n h a ,
H e r o d e s : H i p p i c u s , Fasael, M a r i a n a . 62
segundo dizem, 10 côvados de espessura, construída em
— D o m i n a n d o o T e m p l o , do lado norte, a fortaleza cantaria de 20 côvados de c o m p r i m e n t o e 10 de largura.
A n t ô n i a erguia-se no lugar o n d e , em nossa opinião, erigia¬ Convém dizer aqui uma palavra sobre o côvado, medida
-se outrora a fortaleza do T e m p l o c h a m a d a Birah e Ba- de extensão então em uso e que iremos utilizar para os cál-
ris .63
culos (ver especialmente infra, p . l l ó s s ) . Não há uma opinião
— O suntuoso túmulo que Herodes fez construir concorde sobre o comprimento do côvado palestino daquela
p a r a s i , não utilizado, porém, por ter sido o rei enter-
M
época. É preciso lembrar que diferentes côvados estavam em
r a d o no H e r o d i u m . uso ao mesmo tempo, dentro de Jerusalém. Lemos em Kel.
XVIÍ 9: numa sala do Templo "havia dois côvados, um no
— O teatro construído por H e r o d e s , em Jerusalém . 65

canto nordeste, outro no canto sudeste. O primeiro era mais


— Q u a n t o ao h i p ó d r o m o da cidade , talvez conve- 66

longo que metade da largura de um dedo que o primeiro


n h a remontá-lo ao reino de Herodes . bl

(portanto mais comprido que a largura de um dedo do côvado


— Construção de u m a q u e d u t o . 68
de Moisés). Encomendava-se o trabalho aos operários segundo
— M o n u m e n t o acima da e n t r a d a do t ú m u l o de o côvado de Moisés e entregavam-no segundo o côvado mais
Davi . m
longo, isto é, segundo o côvado meia polegada mais longo se
as encomendas eram em prata ou em ouro; conforme o côva-
59. Ver infra, p . 3 4 . do, uma polegada mais longo para as outras encomendas. Os
60. Lam. R. I, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 9 5 ) . b

rabinos distinguiam 6 côvados: a) côvado para as construções;


6 1 . B.j. V 4, 4, § 176ss.
62. B.j. V 4, 3-4, § 1 6 l s s . b) côvado para os utensílios; c) côvado para a base do altar;
63. B.j. V 5, 8, § 238ss. d) côvado para a circunferência do altar; e) côvado mosaico;
64. B.j. V 3, 2, § 108 e passim: " a t é o t ú m u l o de H e r o d e s " . f) côvado real. O Templo foi construído segundo o côvado
65. Ant. X V 8, 1, § 268. para as construções . 71

66. Ani. X V I I 10, 2, § 255; B.j. II 3 , 1, § 44.


67. Isso n ã o é possível se d e v e m o s c o n s i d e r a r c o m o u m e s t á d i o ,É de se notar que os dados de Josefo sobre as medidas
o " g i n á s i o " e o " l u g a r de exercícios" de q u e falam l M c 1,14; 2 M c do Templo concordam com as do tratado Middot da Mishna,
4,9.12.14, e identificá-lo ao h i p ó d r o m o ( D a l m a n , Orle und Wege,
G ü t c r s l o h , 1924, 2 9 3 , n . 5 ) ; o p i n i ã o diferente e m Itinéraires; ver u m
como por exemplo, para a largura e altura do frontão do san-
p o u c o a b a i x o , n a p r e s e n t e n o t a . Nesse c a s o , o h i p ó d r o m o teria s i d o tuário. Josefo pode ter utilizado dois côvados:
c o n s t r u í d o e m 174-171 a.C. M a s 2 M c 4,14 fala palaístra. O ginásio se- a) O côvado romano (cubitus) de 6 palmi (largura da
ria, pois, ao q u e p a r e c e , u m a p a l e s t r a . P o r c o n s e g u i n t e , p o d e ser q u e mão) de 74 mm — 444 mm de comprimento . Certo é que 72

p r e c i s e m o s identificá-lo c o m Xyste ( G u t h e , PRE V I I I , 684; D a l m a n ,


Itinéraires, 359, c o m reservas e m sua n o t a 5 ) ; a q u i , são a n t e s d e t u d o Josefo possuía terras na Judéia , mas viveu e escreveu em
73

d a d o s topográficos q ü c se c o r r e s p o n d e m . O n o m e a í u a l d a r u a , h â r e t
el-Meidân, r u a d o h i p ó d r o m o ( g e r a l m e n t e tais t r a d i ç õ e s são g a r a n t i - 70. 6105 m — 33 e s t á d i o s , p e r í m e t r o total d a c i d a d e s e g u n d o B. j .
d a s ) , p e r m i t e p r o c u r a r o h i p ó d r o m o n a c i d a d e alta. É, p o i s , possível, V 4, 3, § 159, m e n o s 2575 m a p r o x i m a d a m e n t e -—lados oeste, sul e
a l é m e s m o c e r t o , q u e H e r o d e s seja o c o n s t r u t o r deste h i p ó d r o m o . leste, d a t a n d o d o p e r í o d o a n t e r i o r a A g r i p a I.
Q u a n t o ao " m u i t o g r a n d e a n f i t e a t r o c o n s t r u í d o n a p l a n í c i e " (Ant. X V 7 1 . F. R u i t s c h , Griechische und römische Metrologie, 2* ed. rev=
8, I, § 2 6 8 ) , p o d e r í a m o s p r o c u r a r sua c o l o c a ç ã o n a p l a n í c i e d e Jericó Berlim, 1882, 4 4 1 .
(Ant. X V I I 8, 2 § 194; B.j. 1 3 3 , 8 § 6 6 6 ) . 72. A s s i m K r a u s s , Talm. Arch., I I , 388ss s e g u n d o F . L ü b k e r ,
68. Ver infra, p . 2 5 . Reallcxikon des classischen Alterhums, 7* ed., L e i p z i g , 1891.
69. Ant. X V I 7, I, § 182; cf, V I I 15, 3 § 394 . 7 3 . Vita 76, § 422.
R o m a ; pode-se, pois, realmente, esperar dele que se utilize
74

do côvado romano. Agripa II (50-53, rei de Caleis; 5 3 - 1 0 0 , rei de Bata-


néia, T r a c o n í t i d e , G a u l a n í t i d a , Abilínia e de u m territó-
b) O côvado do sistema filitariano. Esse sistema assim rio ao pé do L í b a n o , c h a m a d o e p a r q u i a de Varus) . 82

chamado segundo o sobrenome dos reis de Pérgamo (filétairos), a) A u m e n t o u o palácio dos a s m o n e u s ( M a c a b e u s ) .


era de uso corrente no império, desde a fundação da provín-
Esse edifício situava-se na e x t r e m i d a d e nordeste da colina,
cia da Ásia em 133 a.C. O côvado filitariano tinha 525mm
de comprimento , e era usado na Palestina e no Egito, como
75 a b r a n g e n d o a cidade alta, a oeste do T e m p l o e acima do
nos mostra Julião de Ascalao (autor bizantino) ; o côvado 7fi X i s t o " . Agripa II certamente n ã o ergueu u m a nova cons-
3

romano não o substituiu. Esse dado vale igualmente para o t r u ç ã o , mas a u m e n t o u o palácio: "Erigiu uma obra de
período anterior a Juliao de Ascalao; Dídimo de Alexandria g r a n d e vulto no palácio de Jerusalém perto do Xisto. Esse
(fim do século I antes de nossa era) o indica para o Egito. palácio fora outrora construído pelos a s m o n e u s " . D e todo84

Segundo Dídimo, o côvado egípcio da época romana valia 1,5 m o d o , deste palácio — o que não era antes o caso — o
pés ptolemaico = 525 mm, isto é, o comprimento já corrente rei gozava de u m a visão de conjunto da esplanada do
no Egito no século III antes de nossa e r a . Por conseguinte, 77

T e m p l o . O s sacerdotes fizeram construir u m m u r o p a r a


podemos supor que o côvado filitariano era de uso também interceptar a vista. As querelas que se seguiram c h e g a r a m
na Palestina do século I de nossa era. Conclui-se, pois, que o
até N e r o . Neste palácio havia talvez u m a janela p a r a
8 a

côvado da literatura rabínica é de 525 mm. Vimos há pouco


que Josefo dá ao côvado o mesmo comprimento que a Mishna as a u d i ê n c i a s ' , como se vê em antigas representações
S(

que é também a do côvado filitariano de 525 mm. egípcias e como o confirma 2Rs 9,30, referindo-se ao pa-
lácio de Acab e de J e z a b e l . Segundo B. j . TI 17, 6, §
87

4 2 7 , o povo encolerizado incendiou o edifício no início


Por conseguinte, as cantarias da m u r a l h a de Agripa I
da insurreição.
teriam 10,50 m de comprimento e 5,25 m de largura; a
p r ó p r i a m u r a l h a teria 5,25 m de espessura. b) O término dos trabalhos do T e m p l o (entre 62 e
N o v e n t a sólidas torres a protegiam . A mais impor-78 64 d.C.) incentivou Agripa II p a r a o u t r o e m p r e e n d i m e n t o .
tante era a torre Pséfinus, octagonal, ao nordeste e que Mais de 18.000 operários achavam-se sem t r a b a l h o . O rei
tinha, como dizem , 70 côvados de altura, isto é, 3 6 , 7 5 m .
79 podia usar o tesouro do T e m p l o ; estimulado pela maioria
Por u m a denúncia de C. Víbio M a r s o , g o v e r n a d o r d a Sí- da p o p u l a ç ã o de Jerusalém, pôs-se, n u m ato de solidarie-
ria, o i m p e r a d o r Cláudio interditou a construção desta d a d e social, a favorecer t r a b a l h o àquela gente. Para exter-
m u r a l h a . Somente no começo da revolta (66 d.C.) foi
80 m i n a r a miséria em que viviam, m a n d o u , às custas do te-
terminada . 81 souro do T e m p l o , calçar as ruas de Jerusalém com p e d r a s
b r a n c a s (provavelmente c a l c á r e a s ) .
S8

74. V e r suas relações c o m os s o b e r a n o s r o m a n o s , Vita 76, § 422ss;


Descobriu-se em Jerusalém u m a rua assim calçada;
S h ü r e r , I, 76. seguiram-lhe o traçado ao longo do m u r o ocidental e de
75. H u l t s c h , op. cit. 597; O . H o l t z m a n n , Neutestamentliche Zeitge¬ u m a parte do m u r o meridional da e s p l a n a d a do T e m p l o .
schichte, Fribourg-en-Brisgau, 1895, 118 e sua e d i ç ã o d o t r a t a d o mish-
n a i c o Middoth (col. Die Mischna), G i e s s e n , 1913, 12-15. Esse calçamento de p e d r a , a 13 m abaixo do nível atual,
76. E d . F . H u l t s c h , Metrologicorum scriptorum reliquiae (col.
T e u b n e r ) t. 1, Leipzig, 1864, 54s e 200s. 82. B.j. I I 12, 8, § 247; Ant. X X 7, 1, § 138; cf. S c h ü r e r , I, 587.
77. O . H o l t z m a n n , Middoth, 14. 8 3 . Ant. X I V 1, 2, § 7; B.j. I 6, 1, § 122; Ant. X I V 4, 2, § 59;
78. B. /'. V 4, 3, § 158. B.j. I 7, 2, § 143; cf. L c 23,7-11.
79. Ibid., § J59s. 84. Ant. X X 8, 11, § 189ss.
80. Ant. X I X 7, 2, § 326s. 85. Ani. X X 8, 11, § 194s.
8 1 . B.j. II 20, 3, § 563; V . 4, 2, § 152-155; V I 6, 2, § 3 3 1 . 86. B.j. I I 16, 3, § 344; 17, 1, § 406.
87. H . G r e s s m a n n , Der Messias, G o t t i n g e n , 1929, 45ss.
88. Ant. X X 9, 7, § 222.
nas deste m o n u m e n t o ; segundo Pausanias , sua magnifi- %

sustentava as aduelas do " a r c o de R o b i n s o n " (assim cha-


cência igualava-se à do t ú m u l o de M a u s o l o em Halicar-
mavam-se os vestígios de u m arco descoberto por Robin-
nasso. Era, pois, p a r a a época, u m a construção particular-
son; ligava antigamente a esplanada do T e m p l o à cidade
mente i m p o n e n t e .
alta); indica o período anterior a 70 de nossa e r a . A o 8 9

n o r t e da piscina de Siloé, Bliss descobriu o u t r a r u a cal- Entre os trabalhos de construção de g r a n d e enverga-


ç a d a , nalguns lugares com 7,50 m de largura. Era, talvez, a d u r a , deve-se m e n c i o n a r a de u m a q u e d u t o p o r Pôncio
c o n t i n u a ç ã o da primeira, há p o u c o m e n c i o n a d a . Vêem-se Pilatos . Para essa obra muniu-se do dinheiro do tesouro
71

as nítidas marcas da passagem p a r a pedestres. Essa rua d o T e m p l o , o q u e provocou a revolta do p o v o . P a r a acal-


c o n t i n u a v a pela p a r t e sul da cidade q u e , desde o t e m p o m a r a m u l t i d ã o desenfreada, Pilatos teve de enviar solda-
do i m p e r a d o r A d r i a n o , deixou de estar incluída no re- dos que distribuíram cacetadas. O a q u e d u t o era, sem dú-
cinto das fortificações. Por conseguinte, essa p a v i m e n t a ç ã o vida, como aquele descrito pelo Pseudo-Aristeu, § 9 0 , re-
poderia ser anterior à destruição de Jerusalém e m 7 0 . vestido de c h u m b o e argamassa.
É possível, pois, que tenhamos, nesses dois locais, restos Encontraram-se, perto de Jerusalém os restos de dois
do calçamento e m p r e e n d i d o sob Agripa I I . a q u e d u t o s que traziam água à c i d a d e . O c o n d u t o "supe-
98

r i o r " era r o m a n o (segundo u m a inscrição de 165 d . C ) .


c) E n t r e t a n t o , essa obra não se prolongou. P a r a evi-
O c o n d u t o "inferior" é mais antigo; sua técnica corres-
tar o desemprego q u e de novo a m e a ç a v a os operários do
p o n d e à do a q u e d u t o construído por H e r o d e s , p a r a levar
T e m p l o , Agripa I I , antes de 66, de acordo com os sacer-
água ao m o n t e dos Francos (perto de Belém) o n d e se en-
dotes em exercício e o p o v o , e m p r e e n d e u novos trabalhos
contrava a fortaleza de H e r o d i u m q u e ele m a n d o u cons-
de construção no santuário . 90

truir . T u d o faz crer que o c o n d u t o inferior é o que Pi-


w

Os príncipes de Adiabena, reino situado na fronteira


latos instalou.
d o império r o m a n o e p a r t o , e r g u e r a m outros grandes edi-
f í c i o s ' . O u v i m o s falar de u m palácio do rei M o n o b a z e ;
9 n O u v i m o s falar, finalmente, d e n t r o do período que es-
o contexto leva-nos a situá-lo na p a r t e meridional da co- t u d a m o s , da construção ou da r e s t a u r a ç ã o , sobre o Ofel,
lina oriental. E m B. j . V I 6, 3 § 3 5 5 , Josefo m e n c i o n a o de u m a sinagoga com h o s p e d a r i a p a r a estrangeiros e u m a
palácio da r a i n h a H e l e n a de A d i a b e n a . Achava-se no cen- instalação de b a n h o s °. ,0

tro de Acra, p o r t a n t o , igualmente sobre a colina oriental \ 9

A posição exata do palácio da princesa G r a p t é de Adia- 2) O p e r á r i o s d a s construções


b e n a não nos é confirmada. O contexto leva a situá-lo
n ã o muito longe do T e m p l o , e o p r o c u r a m o s igualmente A construção comum
n a colina o r i e n t a l . A r a i n h a H e l e n a determinou a cons-
94

A p e d r a era o material mais e m p r e g a d o . Para a res-


t r u ç ã o , a três estádios ao norte de Jerusalém, de u m t ú m u l o
t a u r a ç ã o do T e m p l o , H e r o d e s m a n d o u p r e p a r a r 1.000
e m forma de três pirâmides. E u s é b i o 95
refere-se às colu-
carriolas destinadas a trazer as p e d r a s n e c e s s á r i a s 101
. B.j.
V I I 2, 2, § 2 6 conta a evasão de u m chefe dos judeus
89. P . T h o m s e n , Denkmäler Palästinas aus der Zeit Jesu, Leipzig,
1916, 29ss.
90. V e r infra, p . 34. 96. Descr. Graeciae V I I I 16.
9 1 . B.j. II 19, 2, § 520; V I 6, 4, § 356; Naz. I I I 6; j . Sukka I 97. B.j. II 9, 4, § 175; Ani. X V I I I 3 , 2, § 6 0 .
1, 5 1 22 e 25 ( I V / 1 , 2 ) ; j . Naz. I I I 6, 5 2 38 ( V / 2 , 1 1 6 ) .
b d
98. G u t h e , PRE V I I I , 682 e 686.
92. ß . /". V G, 1, § 252, 99. Ant. X V 9, 4, § 323ss.
9 3 . ß. /. V 4, 1, § 137. 100. S e g u n d o u m a i n s c r i ç ã o d e s c o b e r t a p o r R. Weilrj texto em
94. ß . ;. I V 9, 11, § 567. CIJ I I , n . 1404.
95. Hist. eccl. I I 12, 3 . 101. Ant. X V 11, 2, § 390.
revoltados, Simão, que tentou fugir c o m sua escolta por
das variedades e no requinte de p o r m e n o r e s , as profissões
u m túnel; serviam-se de empreiteiros com os instrumentos
artísticas rivalizavam-se; segundo B. j . V 4, 4 § 178ss, es-
necessários. As cavernas reais m e n c i o n a d a s em B. }. V 4,
cultores, tecelões artísticos, instaladores de r e p u x o s e pro-
2, § 147, ao longo das quais mais tarde passou a terceira
jetistas de jardins aprazíveis, artífices p a r a o t r a b a l h o de
galeria, a setentrional, segundo Josefo, devem ter servido
o u r o e prata foram c o n t r a t a d o s .
d u r a n t e muito t e m p o como passagem. A i n d a hoje, existe
uma enorme gruta c h a m a d a " C a v e r n a do a l g o d ã o " ; for- De m o d o especial n u n c a faltava serviço p a r a os es-
ma o subsolo de uma p a r t e da cidade e se estende, a par- cultores de Jerusalém, conforme verificamos nas constru-
tir da encosta atual, a 196 m em direção sul. Sua e n t r a d a ções daquela época, cuja notícia chega até n ó s . Os princi-
situa-se acima do m u r o norte atual. E m b . 'Er. 6 l , fala-se b pais são os c h a m a d o s " t ú m u l o s dos r e i s " e os três monu-
da C a v e r n a de Sedecias como de u m a caverna especial- mentos funerários do vale do Cédron, hoje t ú m u l o de Absa-
m e n t e a m p l a e deserta; segundo o M i d r a x e Tanhuma , m lão, de Tiago e de Z a c a r i a s .
tinha 12 milhas de extensão (milhas egípcias de 1 . 5 7 5 m ) , O s " t ú m u l o s dos r e i s " são o de H e l e n a de Adiabe-
isto é, 1 8 , 9 0 0 quilômetros. Essa caverna é, talvez, igual a na ; B. j . V 4, 2, § 147 " e m frente ao t ú m u l o de Hele-
107

u m a das duas m e n c i o n a d a s ; se situarmos o traçado da en- n a " ; Ani. X X 4, 3, § 95 "nas três pirâmides que sua m ã e
costa mais setentrional no local da m u r a l h a norte atual , m
fizera construir a três estádios da c i d a d e " . U m a cornija 10S

temos a possibilidade de identificar as três cavernas. Se- com guirlandas de frutos e folhagens em forma de volutas,
g u n d o Para II 3, " s o b o m o n t e do T e m p l o e sob o adro está parcialmente conservada. D i a n t e da e n t r a d a que con-
havia uma c a v e r n a " . Os subterrâneos da cidade represen- duz à instalação funerária, acham-se restos de colunas en-
t a r a m g r a n d e papel por ocasião da t o m a d a de Jerusalém; tre as quais se viam capitéis jónicos e dóricos, meias colu-
m u i t o tempo ainda após a q u e d a da cidade, os habitan- nas e pilastras de ângulo. I m e d i a t a m e n t e acima dos capi-
tes ali se m a n t i n h a m escondidos. téis, vê-se u m friso d e c o r a d o ; a trave mestra é dórica. N o
t ú m u l o de T i a g o , há colunas de capitéis dóricos encima-
Certo Simão, da cidade de Siknin, q u e perfurava fon- das por u m friso dórico com tríglifos . N o túmulo de m

tes, poços e subterrâneos, é localizado n a Jerusalém antes Zacarias p o d e m o s ver capitéis jónicos. Esses q u a t r o mo-
da destruição em 70 d . C . . M e n c i o n a m t a m b é m u m insta-
104

n u m e n t o s são, p a r a nós, o único t e s t e m u n h o da contri-


lador de fornos . m

buição de Jerusalém à escultura m o n u m e n t a l , antes da


destruição pelos r o m a n o s .
As construções artísticas
Entre as profissões artísticas ligadas à construção é
preciso assinalar a i n d a os fabricantes de mosaicos. E m di-
As construções antes indicadas (pp. 19ss) são, na maio-
versos pontos de Jerusalém, p o r exemplo, no sudeste do
ria, m o n u m e n t o s estilizados; as profissões de arte t i n h a m ,
Cenáculo, encontraram-se calçamentos dessas p e q u e n a s pe-
p o i s , u m vasto c a m p o de atividade. De m o d o especial o
dras variegadas; p o d e r i a m datar, em p a r t e , do período
palácio de H e r o d e s , segundo a descrição de Josefo , era m

anterior a 70 d.C.
rico em obras raras de arte. Na decoração externa e in-
terna, na escolha dos materiais e sua execução, na riqueza
107. Supra, p . 2 9 .
108. Cf. B.j. V 2, 2, § 5 5 ; 3, 3, § 119.
102. Tanhuma, bemidbar, § 9, 485, 7; c l . Billerbeck, I I , 592ss. 109. D e v e m o s d e t e r m i n a r a d a t a destes m o n u m e n t o s s e g u n d o os
103. V e r infra, p . 2 1 . d a d o s da história da a r t e . O t ú m u l o d e A b s a l ã o e a p i r â m i d e d e Za-
104. Qoh. R. 4, 8 s o b r e 4, 17 ( 9 1 1 2 ) .
b
carias são m e n c i o n a d o s , pela p r i m e i r a vez, e m 333 d . C . (Itin. Burdi-
105. Lam. R. 1, 15 s o b r e 1, 1 ( 2 3 9 ) .
a
galense 595, e d . P . Geyer, Iíinera hierosolymitana saeculi III-VIII,
106 B.j. V 4, 4, § 176ss. CSEL 3 9 , 1898, 2 3 , linhas 10-13). E n t r e t a n t o , n ã o h á d ú v i d a s de q u e
esses m o n u m e n t o s são a n t e r i o r e s a r u í n a de J e r u s a l é m d e 70 d . C .
Manutenção das construções lhe tomou o n o m e . A i n d a hoje, levam p a r a lá e n t u l h o s ,
carniças e resíduos de toda espécie.
A o lado de operários e artistas e r a m ainda necessá- É preciso m e n c i o n a r aqui a existência dos esgotos,
rias pessoas p a r a a m a n u t e n ç ã o das construções. cujas instalações estão à altura das de nossa época. Bliss
Com o tesouro do T e m p l o p a g a v a m a conservação os mencionou em diversas ocasiões. T i n h a m , interiormen-
do " c a n a l das á g u a s " , dos m u r o s , das torres e de t u d o
110
te, 1,78 a 2,36 m d e a l t u r a , 0 , 7 6 a 0,91 m d e largura. E r a m ,
q u a n t o a cidade n e c e s s i t a v a . A b r a n g i a t a m b é m o t r a t o
111
ao que parece, providos de orifícios p a r a receber a água
dos poços e das cisternas, limpeza e vigilância das r u a s . das r u a s , e mesmo de bueiros p a r a a l i m p e z a . 118

U m a passagem de b . Besa 2 9 bar. corresponde a essas a


Segundo K r a u s s , a existência de guarda de túmulos
informações: u m b e m que n ã o se deve adjudicar n e m ao é p r o v á v e l ; p a r a assim afirmar apóia-se na m e n ç ã o de
119

T e m p l o n e m a proprietários é dispensado pelos tesoureiros um q u a r t o de dormir no t ú m u l o de A b s a l ã o . 12D

do T e m p l o p a r a as necessidades públicas, a saber: p o ç o s ,


cisternas, subterrâneos ou seja, o fornecimento de água n a
cidade . b . B. M. 2 6 m e n c i o n a talvez os varredores de ruas;
m a

e. As outras profissões
segundo R. Shemaya bas Zeéra, as ruas de Jerusalém 1 U

e r a m varridas diariamente. Essa informação sobre a lim- Hoje, a profissão m é d i c a n ã o é c o n s i d e r a d a artesa-


peza u r b a n a concorda com o fato de ser o vale do H i n o m nal, mas antigamente, conforme vamos p r o v a r , o médico
o local o n d e e r a m lançados o lixo e descargas. Josefo era tido c o m o u m artífice, no sentido p r ó p r i o da p a l a v r a
menciona u m lugar c h a m a d o Besou (variante
114
Beehsô); n a época. Artesanato se diz 'ümmanüt = artesanato, pro-
conforme a etimologia proposta por N e u b a u e r , esse n o m e fissão, destreza; u m 'ãmman ('ümmana) é u m artífice, u m
significa "lugar do l i x o " . A i n d a segundo Josefo, situa-
U 5

artista, u m sangrador, u m cirurgião, u m b a n h i s t a , aquele


va-se entre a T o r r e H i p p i c u s e a Porta dos Essênios, n o q u e circuncida. E m outras palavras: o substantivo que sig-
sul. Perto do vale do H i n o m encontrava-se, igualmente, a nifica artífice designa t a m b é m o m é d i c o . Por conseguinte,
p o r t a de Jerusalém, c h a m a d a Porta E s t e r q u i l i n a . U m 116

devemos falar da profissão dos médicos entre as demais


fato concorda com esses dados. D e s d e os tempos antigos, profissões.
o vale do H i n o m era depreciado; ligavam-no a o culto d e
D e acordo com o T a l m u d e , havia médicos em cada
Moloc ; passava p o r ser o lugar da G e e n a (inferno) q u e
117

cidade e e m cada p o v o a ç ã o . B. Q. V I I I 1 prescreve q u e ,


p a r a golpes e ferimentos, o responsável deve pagar os
110. S e g u n d o J. J. R a b e , Mischnah, t. 2, O n o l z b a c h , 1 7 6 1 , 147 so- honorários do m é d i c o . N o século I de nossa era, podemos
b r e Sheq, I V 2, tratar-se-ia d o c a n a l q u e levava d o a d r o e x t e r i o r ao
v a l e d o C é d r o n (ver infra, p . 6 5 ) . M a s pode-se pf-asar t a m b é m n o verificar a existência d e médico em P e g a e Lida
1 2 1
. m

a q u e d u t o i n d i c a d o supra, p . 24. A p o d e r a n d o - s e do t e s o u r o d o T e m p l o A p ó s u m a q u e d a de cavalo, Josefo 123


fez-se tratar por médi-
p a r a c o n s t r u i r o a q u e d u t o , Pilatos teria, p o í s , p o r u m a a t i t u d e a u t o - cos em K e p h a r n o k o s (sem dúvida = K e p h a r n o m o s =
ritária, castigado a negligência d a a d m i n i s t r a ç ã o c o m u n a l d e J e r u s a l é m ,
o S i n é d r i o , q u e n ã o c u m p r i a s u a s obrigações d e m a n e i r a satisfatória. K e p h a r n a u i n = C a f a r n a u m ) . N u m lugar à beira do lago
l24

T e r i a , pois, u t i l i z a d o os f u n d o s d o T e m p l o c o m o d e v e r i a .
111. Sheq. I V 2 . 118. P. T h o m p s e n , Denkmäler Palästinas aus der Zeit Jesu, Leipzig,
112. Cf. b . B. Q. 9 4 . b
1916, 2 5 .
113. Cf. b . Pes. 7 . a

119. K r a u s s , Talm. Arch., I I , 80ss.


114. B.j. V 4, 2, § 145. 120. 'Er. V 1; b . 'Er. 5 1 ; T o s . 'Er. V I 5 (144, 2 5 ) .
a

115. N e u b a u e r , Géogr., 139ss. 121. T o s . Yeb. V I 7 (248, 6 ) .


116. 'Ed. I 3 ; cf. supra, p . 13, c o l o c a ç ã o das tecelagens, profis- 122. T o s . Ohal. I V 2 (600, 2 9 ) .
são desprezível. 123. Vita 72, § 403s.
117. 2Rs 23,10; Jr 2,23 e passim. 124. B. i. I I I 10, 8, § 519.
organizadas. Era o mesmo caso h á mil e novecentos anos.
de G e n e s a r é , C a f a r n a u m , seguramente, u m a m u l h e r veio Para completar o q u a d r o , devemos, pois, e x p o r a organi-
p r o c u r a r Jesus; " m u i t o sofrera nas mãos de muitos médi- zação de cada profissão.
cos, tendo gasto tudo o que possuía, sem n e n h u m resulta-
d o " . U m médico, T o b i a s , é expressamente citado em Je-
125

rusalém ; Herodes tinha médicos particulares . A M i s h n a


U b 121

f. A organização interna de cada profissão


c o n t é m informação interessante a respeito dos médicos de
Jerusalém: t i n h a m processos especiais que lhes p e r m i t i a m
tratar dos doentes nos dias de festa sem se t o r n a r e m levi-
t i c a m e n t e i m p u r o s : " E r a assim que faziam, em Jerusalém, A disposição da cidade
as pessoas vitimadas pela úlcera. Na noite de Páscoa iam
p r o c u r a r u m médico. Esse retalhava o local da ferida até A cidade dividia-se em d u a s partes que o vale do Ti-
a deixar do t a m a n h o de u m grão de cevada; depois fixava ropeon separava: a oeste, a cidade alta (süq
133
ha-'elyon)
[a úlcera] n u m a espinha. O doente p u x a v a (para que a a leste a cidade baixa (süq ha-tahtôn — Acra) . O n o m e
134

úlcera se desprendesse). Ele e o m é d i c o p o d i a m , e n t ã o , grego " m e r c a d o do alto e do b a i x o " , c o m o o n o m e in-


155

celebrar a P á s c o a " . 12S dígena, são característicos. E m á r a b e , süq designa, ainda


hoje, bazar. Na cidade alta e na cidade baixa achavam-se
H a v i a barbeiros em Jerusalém; é o q u e nos leva a os dois bazares principais. O fato é confirmado pelo cha-
concluir Ez 5,1 . Trifão, barbeiro da corte é m e n c i o n a d o
m

m a d o Mapa de M a d a b a , mosaico do século V I de nossa


em B. j . I 2 7 , 5s, § 5 4 7 - 5 5 1 ; Ant. X V I 1 1 , 6 § 387s. era, ainda visível n u m a igreja grega de M a d a b a . Particular-
A lavagem da r o u p a era n o r m a l m e n t e o c u p a ç ã o das mente neste d o m í n i o , o Oriente é conservador; entre 70
m u l h e r e s ; entretanto, havia t a m b é m lavandeiros profissio- d.C. e o século V I , por conseguinte, a situação pouco mu-
nais . m
d o u . Neste m a p a , duas ruas de colunatas atravessam a ci-
Finalmente, em relação ao T e m p l o encontra-se men- d a d e : a g r a n d e rua do m e r c a d o e a p e q u e n a . O traçado da
ção expressa de trocadores . D e v i a m t a m b é m represen-
131
primeira c o r r e s p o n d e ao süq Bâb el-'Amüd atual (bazar
tar algum papel no tráfico do dinheiro profano; podemos da p o r t a de Damasco) e o seu p r o l o n g a m e n t o ao hâret
facilmente vê-los graças ao que será dito, mais adiante , 132
en-Hebí D â ü d ; atravessava os arrabaldes e a cidade alta.
acerca dos diferentes dinheiros. A segunda r u a de colunatas corresponde à r u a el-Wâd
Concluímos, pois, que as principais atividades de Je- atual; seguia mais ou menos o fundo do vale do Tiropeon.
r u s a l é m eram o artesanato de arte, a construção de estilo, D e acordo c o m Josefo , o segundo cinto de m u r a l h a s
136

a construção c o m u m , a tecelagem e a fabricação do óleo. setentrional continha a p a r t e norte do b a i r r o de Acra


T e m o s , assim, u m p a n o r a m a das profissões daquela ( = cidade baixa) ; confirma, assim, a extensão para o
137

cidade (excetuando-se as relacionadas com o T e m p l o ) n a norte do bairro de Acra, além da colina sudeste (Ofel).
época anterior a 70 d.C. Mas o q u a d r o não está c o m p l e t o . Devido à extensão do T e m p l o , o vale do T i r o p e o n era a
A i n d a hoje, no O r i e n t e , as profissões são rigorosamente única ligação entre o bairro norte e o b a i r r o sul, e de

125. M c 5, 26; cf. Lc 8, 4 3 .


126. R. H. 1 7; b . R. H. 2 2 . a 133. B.j. V 4, 1, § 136ss; T o s . Hul. I l l 23 (505, 2 8 ) ; T o s . Sanh.
XIV 14 (437, 2 8 ) ; Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 24) e
a
passim.
127. B.j. I 33, 5, § 657.
128. Ker. I I I 8. 134. B.j. V 4, 1, § 137.
129. Cf. infra, p . 4 1 . 135. Ibid.
136. B. j . V 4, 2, § 146.
130. T o s . Migw. I V 10 (656, 3 6 ) .
131. Billerbeck, I, 761ss. 137. B. j . V 4, 1, § 137.
132. Cf. infra, p . 4 9 .
A c r a . O bairro atravessado pela p e q u e n a r u a de colunatas das r o u p a s " , segundo J o s e f o , localizar-se no a r r a b a l d e
m

faz parte a i n d a da cidade baixa. setentrional, "a cidade n o v a " . Aí se a c h a v a m igualmente


I n ú m e r a s ruas transversais com início no leste e no o b a z a r dos comerciantes de lã suq sei sammarim e o 149

oeste e atravessando o vale do T i r o p e o n ligavam as duas b a z a r dos ferreiros °. l3

principais ruas c o m e r c i a i s . A mais i m p o r t a n t e era a


m

Seguramente, na cidade alta é que se instalavam os


transversal que ia do palácio de H e r o d e s até o T e m p l o , e
profissionais de arte . Além do mais, ali m o r a v a m os
111

chegava a esse pela p o n t e de Xisto. O tariq Bâb es-Silsileh,


pisoeiros p a g ã o s ; por isso, o escarro d e u m h a b i t a n t e
l í 2

u m dos principais bazares atuais, a ele corresponde.


da cidade alta era tido c o m o i m p u r o . 153

A isso se acrescentam dados veterotestamentários. Sf í,


A distribuição das profissões na cidade 10-11 implora a maldição sobre a parte setentrional da íeru-
salém de então: Porta dos Peixes, cidade nova, colinas, maklésh
(sentido incerto, primitivamente, "mortífero"); indica assim
N a s ruas encontravam-se as lojas (hanüyôt) dos arte- que o inimigo vem do norte. No versículo 11 é dito: "Cla-
sãos. As procissões festivas com molhos de primícias pas- mem, habitantes do norte, pois, todo o povo de Canaã está
savam seguramente pela p e q u e n a r u a de colunatas, o n d e aniquilado". Essas últimas palavras designam, sem dúvida, os
se encontrava o m e r c a d o da cidade baixa, até a p o n t e de comerciantes fenícios identificados em Jerusalém por Ne 13,16.
Xisto e de lá se e n c a m i n h a v a m p a r a o T e m p l o . N o b a z a r Como podemos observar num rápido olhar sobre o mapa, é,
d a cidade baixa, nós o sabemos , os artesãos trabalha- m
antes de tudo, o nordeste que está em jogo. A Porta dos Pei-
v a m sentados em oficinas que d a v a m para a r u a . N a J 4 0 xes, situada na junção do segundo muro setentrional e do
vale do Tiropeon , deve seu nome aos comerciantes de peixes
l54

e s p l a n a d a do T e m p l o havia lojas t a m b é m . N ã o muito


141

de Tiro; é uma confirmação a mais da presença de pagãos no


distante encontravam-se as lojas do m o n t e das Oliveiras 142

norte da cidade. O costume segundo o qual os artesãos e co-


e as de Beth H i n o , assim como as do Benê H a n u n ou
l43

merciantes pagãos habitavam no nordeste da cidade teria sido


H a n a n . Conforme vimos , a fabricação e a v e n d a dos
l44 ,45

mantido até o tempo de Jesus.


p r o d u t o s se faziam nessas lojas.
Deduzimos que cada profissão tinha suas lojas n u m A desprezada profissão dos tecelões t i n h a sua sede
m e s m o q u a r t e i r ã o da cidade , e explorava o seu b a z a r
m
na p a r t e meridional da cidade b a i x a , n a Porta Esíerqui-
(süq).^ lina .
155

Às portas da cidade encontrava-se, ao que parece, o


beco dos alfaiates. O M í d r a x e assim supõe no caso de
147
A organização de cada profissão
Jerusalém e T i r o ; concorda com o fato de o " c o m é r c i o
Q u a n t o a este p o n t o os dados que temos são poucos.
138. Ibiã., § 140. P o d e m o s , e n t r e t a n t o , supor u m a organização pelo fato de
139. V e r supra, p . 10.
140. Bik. 111 3 ; b . Qid. 3 3 .
a ser, cada profissão, localmente a g r u p a d a . O s operários de
141. b . R. H. 3 1 ; b . Shab. 1 5 ; b . 'A. Z. 8 ; Lam. R. 4, 7 s o b r e
a a b

4, 4 ( 5 7 9 ) ; ver infra, p . 7 1 .
b
148. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
142. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 ) . a
149. B.j. ibid.; 'Er. X 9; b . 'Er. 1 0 1 . a

143. b . B. M. 8 8 ; b . Hul. 5 3 .
a a
150. B.j. V 8, 1, § 3 3 1 .
144. j . Pea I 6, 16^ 47 " ( H / l , 2 8 ) ; Sifre D t 14,22, § 105 ( 4 2 165, a
151. Supra, p . 18.
3 3 ) ; cf. infra, p . . . . 152. j . Sheq. V I I I 1, 5 1 20 ( I I I / 2 , 3 1 9 ) .
a

145. Supra, p . 10. 153. Sheq. V I I I 1.


146. Supra, p . 12. 154. N e 3 , 3 ; 12,39; So í, 10; 2Cor 33,14.
147. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 3 1 ) . a
155. V e r supra, p p . 13 e 2 8 .

2 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
profissão idêntica instalavam-se no m e s m o b a i r r o ; era cos- dizem os judeus a Jesus (cf. Jo 2,20) p o r volta do ano
t u m e , mas tais a g r u p a m e n t o s profissionais p o d i a m t a m b é m 27. Nesta data, o trabalho n ã o estava a i n d a concluído.
ser o resultado de certa necessidade de organização cor- Herodes começara novas construções em 20-19 antes de
porativa. nossa era °. Somente em 62-64 d . C , n o tempo do go-
16

E m b . Sukkci 2 8 e b.B. B. 1 3 4 , faz-se m e n ç ã o de


a a
vernador A l b i n o , é que o T e m p l o ficou definitivamente
161

" f á b u l a s dos pisoeiros e das r a p o s a s " . Delitzsch conclui t e r m i n a d o . Eis as alterações: elevação do edifício do San-
q u e a organização de profissões "constituía u m meio de tuário de 60 p a r a 100 côvados; restauração do a d r o sa-
v i d a ; cada u m t i n h a suas idéias, traçadas de m o d o parti- grado interior; construção de u m a g r a n d e p o r t a entre o
cular, e somente aqueles a q u e m elas eram familiares po- átrio das mulheres e o dos israelitas; a m p l i a ç ã o do adro
d i a m compreendê-las" . Essa opinião é fácil de conce-
i56
exterior p a r a o norte e p a r a o sul, graças a gigantescos
b e r em função do contexto. Como vimos a c i m a , os , 5 7
e m b a s a m e n t o s ; decoração c o m pórticos em torno de toda
médicos de Jerusalém t i n h a m seus métodos pessoais de as- a esplanada do T e m p l o . Pouco tempo após o término
m

sistência aos doentes. Aqueles que p r e p a r a v a m p a r a o das novas construções e ainda antes do início da revolta
T e m p l o os pães da proposição e os perfumes a q u e i m a r 158
de 66, foi e m p r e e n d i d a u m a n o v a série de trabalhos, tal-
p o s s u í a m certos segredos de fabricação conservados de ma- vez por solicitude social em relação aos operários do
neira muito estrita. T e m p l o , desempregados . O edifício do santuário deve-
m

Se os tarsiyyím figuravam e m Jerusalém c o m o te-


L w ria ser provido de novos e m b a s a m e n t o s e alteado em 20
celões de arte o u e n t ã o como fundidores de cobre ou ainda côvados. A madeira p a r a a construção já tinha sido tra-
c o m o fabricantes de vestes de T a r s o (o q u e nos parece in- zida do L í b a n o e p r e p a r a d a , q u a n d o , e m 6 6 , a revolta
1M

viável na passagem q u e se refere a eles, entretanto não explodiu contra os r o m a n o s .


podemos d u v i d a r de que a p a l a v r a existisse com esses sig-
nificados), u m a sinagoga endossa esta profissão em Jeru- Segundo o cálculo que nos chega, mais de 1 8 . 0 0 0
salém. t r a b a l h a d o r e s viram-se sem recursos no fim das obras (62¬
-64) . N o começo da construção foram c o n t r a t a d o s 10.000
l65

A organização das profissões exprimia-se, antes de


t u d o , pelo seu a g r u p a m e n t o local; tudo faz crer que daí operários leigos e 1.000 sacerdotes t r a n s f o r m a d o s em ar-
resultava u m a organização corporativa. tesãos. Mesmo que se dê a Josefo o desconto de seu per-
m a n e n t e exagero b e m oriental, certo é q u e u m exército de
operários pôs-se à o b r a .
2 . Organização de profissões dedicadas Especialmente canteiros, carpinteiros e artífices em
à construção d o t e m p l o e para o culto o u r o , p r a t a e bronze ali t r a b a l h a v a m . P a r a a construção
dos edifícios sagrados, interditados aos leigos, foi preciso

a. A construção do Templo 160. S e g u n d o Ant. X V 1, 1, § 380, o 18? a n o d e seu r e i n o ; se-


g u n d o B, j . I 2 1 , 1, § 4 0 1 , o 15" a n o . H e r o d e s , o G r a n d e , foi n o m e a -
d o rei d a fudéia e m 40 a . C ; m a s só e m 37, com a t o m a d a de Jeru-
" Q u a r e n t a e seis anos foram precisos p a r a se cons- salém é q u e , e f e t i v a m e n t e , c o m e ç o u a exercer seu p o d e r . D e a c o r d o
t r u i r este T e m p l o , e tu pretendes levantá-lo em três d i a s ! " , c o m esses d a d o s , havia u m a d u p l a m a n e i r a d e c a l c u l a r os anos de
seu r e i n a d o (B. j . I 3 3 , 8, § 665; Ant. X V I I 8, 1, § 190s).
161. Ant. X X 9, 7, § 219.
156. Delitzsch, Jüd. Handwerkerleben, 37.
162. Schlatter, Gesch. Isr., 240.
157. Supra, p . 29.
163. Supra, p . 23,
158. Yoma 111 2.
164. B.j. V 1, 5, § 36.
159. Supra, p . 13. n . 14. 165. Supra, p , 2 3 .
formar sacerdotes ; ensinavam a uns a talha ou l a p i d a ç ã o
m

bios disseram-lhe: Deixe-o como está; é mais belo assim;


das pedras, a outros, o ofício de carpinteiro.
assemelha-se às ondas do m a r " . Q u a n d o Josefo fala do as-
m

Os canteiros deviam, de início, retirar seu material


pecto do T e m p l o , acha b o m observar: " M e s m o o n d e não
das pedreiras; dava-se mais valor aos blocos de maiores
estava recoberto de o u r o " , diz ele explicitamente, "brilha-
t a m a n h o s . N ã o podemos crer, p o r é m , em Josefo "' , q u a n d o 7

va de m o d o a cegar" . E m b o r a aceitando as informações


m

nos fala de p e d r a s com 4 5 côvados ( 2 3 . 6 2 5 m ) de com-


de Josefo c o m a reserva crítica necessária, u m fato não
p r i m e n t o , 5 côvados (2,625 m) de altura e 6 côvados
deixa d ú v i d a s : o T e m p l o foi construído c o m a maior os-
(3,15 m ) de largura. O m a t e r i a l era em parte precioso.
tentação possível e abriu u m vasto c a m p o de atividade ao
Segundo b . Sukka 5 1 , o T e m p l o foi construído e m már-
b

artesanato de arte, tanto no trabalho do o u r o c o m o no


more amarelo, preto e branco. A esplanada igualmente
da p r a t a e do b r o n z e .
calçada com diferentes pedras . Muitos escultores m
contri-
b u í r a m t a m b é m c o m seu t r a b a l h o . T i v e r a m de esculpir os P a r a ter acesso ao T e m p l o , não i m p o r t a por que lado
capitéis das cento e sessenta e duas colunas coríntias d a se viesse, era necessário passar sob pórticos recobertos de
galeria m e r i d i o n a l , d i t a " r e a l " , talhar as b a l a u s t r a d a s
m
o u r o e p r a t a . U m único fazia exceção, conforme nos re-
de p e d r a : u m a s , com três côvados de altura, s e p a r a v a m o lata a M i s h n a , segundo Josefo: " T o d a s as portas e r a m
a d r o interno do a d r o externo, somente acessível aos p a - recobertas de ouro, menos a Porta de N i c a n o r por ter-se
gãos; as outras, com u m côvado de altura, s e p a r a v a m , no aí realizado u m m i l a g r e " ; segundo o u t r o s , p o r q u e seu
adro interno os sacerdotes e o p o v o . Foi preciso t a m b é m b r o n z e brilhava (como o ouro) . l74

gravar as placas de advertência: e r a m colocadas de dis- Penetremos mais a i n d a . N o átrio das mulheres vemos
tância em distância sobre a b a l a u s t r a d a externa; redigidas l a m p a d á r i o s de ouro, encimados por q u a t r o taças do mes-
em grego e latim, advertiam todos os não-judeus de q u e mo m a t e r i a l . E m u m a das t e s o u r a r i a s , p o d e m o s ver
175 176

não p o d i a m , sob p e n a de m o r t e , transpor aquela balaus- as taças e os utensílios sacros de ouro e de prata . Algu- 17T

trada °. J7
mas dessas taças (b zikin) n ã o t i n h a m p é ; sinal de q u e
e 17S

Os carpinteiros deviam p r e p a r a r o m a d e i r a m e n t o . g u a r d a v a m u m a antiga tradição. Q u a n t o aos objetos que


U m a parte era de cedro e os troncos v i n h a m do L í b a n o .
171 serviam no D i a das Expiações, o s t e n t a v a m alças de ouro;
O s pórticos que rodeavam a e s p l a n a d a do T e m p l o e r a m o rei N o n o b a z e de A d i a b e n a encomendou-os . 179

recobertos de lambris da m e s m a madeira. T a m b é m o ce-


dro foi utilizado p a r a o e m b a s a m e n t o do santuário, 172. b . Sukka b
51 .
173. B. j . V 5, 6, § 2 2 3 .
Nos relatos de Josefo, mais a i n d a do que nos d a 174. Mid. II 3 ; cf. B.j. V 5, 3 , § 2 0 1 . R e a l m e n t e , a P o r t a de Ni-
Mishna, o T e m p l o inteiro resplandecia de o u r o . O Tal- c a n o r , e n t r e o átrio das m u l h e r e s e o dos israelitas, era de b r o n z e d e
m u d e adverte q u a n t o a esses dados: " A l é m do mais, ele C o r i n t o (b. Yoma a
3 8 ; T o s . Yoma II 4 [ 1 8 3 , 2 0 ] ) . At 3, 2 dá-nos
o n o m e dessa p o r t a : " P o r t a F o r m o s a " ; c o n f i r m a o fato de represen-
[Herodes] queria recobri-lo [o T e m p l o ] de o u r o . O s sá- tar algo especial. A essas indicações c o r r e s p o n d e a descrição de Jo-
sefo (B. j . V 5, 3s, § 2 0 1 s s ) ; n o v e p o r t a s , alizares e denteis i n c l u í d o s ,
166. Ant. X V 11, 2, § 390. i n t e i r a m e n t e r e c o b e r t a s dc o u r o e p r a t a ; u m a só era de b r o n z e de
167. B.j. V 5, 6, § 224. C o r i n t o e s o b r e p u j a v a as o u t r a s e m valor (B, j . V 5, 3, § 2 0 1 ) . Por
168. B.j. V. 5, 2, § 192. o c a s i ã o d o i n c ê n d i o das p o r t a s d u r a n t e a t o m a d a d o T e m p l o , seu re-
169. Ant. X V l í , 5, § 414. v e s t i m e n t o fundiu e as p a r t e s de m a d e i r a f o r a m t a m b é m atingidas pelas
c h a m a s (B. j . V I 4, 2, § 2 3 2 ) .
170. U m a dessas esteias d e p e d r a c o m i n s c r i ç ã o foi e n c o n t r a d a
e m 1871; ver. C h . C l e r m o n t - G a n n e a u , " U n e stèle du T e m p l e d e Jeru- 175. Sukka V 2.
s a l é m " , n a Revue archéologique, n. s. 23 ( 1 8 7 2 ) , 214-234 e 290-296; 176. M c 12,41; Lc 2 1 , 1 .
o u t r a foi p u b l i c a d a e m 1936, ver Cl} I I , n. 1400. 177. Yoma I V 4 e passim.
171. Mid. I I I 5. 8; IV 5. 178. Pes. V 5; b . Pes. 6 4 . a

179. Yoma III 10,


O p r ó p r i o edifício do T e m p l o e seu interior exibiam posição, p e s a n d o , igualmente, muitos talentos . Alcança- m

o maior luxo. Segundo Josefo, a fachada, de 100 côvados mos, finalmente, o Santo dos santos q u e está vazio; suas
q u a d r a d o s ( ~ 27,5 m ) era recoberta de placas de o u r o ;
2
p a r e d e s são recobertas de o u r o . O o u r o era, dizem, tão
m

igualmente a p a r e d e e a porta entre o vestíbulo e o san- a b u n d a n t e em Jerusalém e especialmente n o T e m p l o q u e ,


to . T o s . Men. X I I I 19 (535,27) mostra não haver exa-
1S0
após a t o m a d a da cidade, u m a imensa oferta desse metal
gero nessa descrição: o vestíbulo era inteiramente reco- invadiu toda a província da Síria (!); aconteceu q u e , no
b e r t o de placas áureas " d e 100 côvados q u a d r a d o s , gros- dizer de Josefo , " a libra de o u r o passou a ser v e n d i d a
m

sas como u m dinar de o u r o " . Sobre o telhado, setas do pela m e t a d e do seu antigo p r e ç o " !
m e s m o metal p a r a afugentar os passarinhos, " p r o t e ç ã o U m artesão de arte que inventou u m m e c a n i s m o p a r a
c o n t r a os c o r v o s " . No vestíbulo, correntes de ouro c a í a m
181
as vascas do T e m p l o , é explicitamente citado em Tamid
das traves do teto . Viam-se aí duas mesas, u m a de már-
m
I 4 ; I I I 8; Yoma I I I 10 e b . Yoma 3 7 . a

m o r e e outra de ouro , o u r o maciço, conforme B. j . V I


!83

8, 3 , § 3 8 8 . E n c i m a n d o a e n t r a d a q u e levava do vestí-
b u l o ao Santo, estendia-se u m a vinha de ouro ; era in- m

b. O culto
cessantemente enriquecida graças aos dons de novos or-
n a t o s que os sacerdotes se e n c a r r e g a v a m de p e n d u r a r .
m

A c i m a dessa e n t r a d a havia u m espelho que refletia os raios D u r a n t e os oitenta e dois a oitenta e q u a t r o anos da
do sol nascente através da p o r t a principal (que não tinha restauração do T e m p l o , o culto n u n c a foi i n t e r r o m p i d o ,
m

batentes) ; doação da rainha H e l e n a de A d i a b e n a . N o


m IS7 por u m a hora sequer.
vestíbulo achavam-se, sem d ú v i d a , outras ofertas. E m tem- Entre os artesãos q u e g a r a n t i a m as necessidades do
pos idos, Augusto e sua m u l h e r ofereceram crateras de culto, m e n c i o n e m o s , em primeiro lugar, aqueles que pre-
bronze m
e outros dons ; seu genro Marcos Agripa tam-
189 p a r a v a m os pães da proposição e os perfumes a serem
b é m presenteara largamente . 190 queimados. A p r e p a r a ç ã o dos pães da proposição era
confiada à família de G a r m o ; além dos pães, a famí-
1 %

O Santo, situado atrás do vestíbulo, c o n t i n h a peças lia estava i n c u m b i d a de fazer os doces de forno p a r a a
raras de arte que se t o r n a r a m mais t a r d e a p a r t e mais oferenda cotidiana do sumo sacerdote . A fabricação dos m

brilhante do cortejo triunfal de Tito , e a seguir depo-


m
perfumes p a r a q u e i m a r era hereditária n a família de En-
sitadas n u m templo de R o m a , ao lado dos mais belos obje- tinos . Chega a nosso c o n h e c i m e n t o u m a greve dessas duas
198

tos do m u n d o . E r a m o maciço candelabro de sete braços, famílias; o relato é composto de fragmentos . T e r m i n a m

p e s a n d o dois talentos, e a mesa maciça dos pães da pro- com a r e t o m a d a do t r a b a l h o depois q u e o salário foi do-
b r a d o . P o d e m o s , p o r t a n t o , deduzir q u e se tratava de u m a
greve p a r a reajuste salarial.
180. B. j . V 5, 4, § 207ss.
181. Mid. I V 6; B.j. V 5, 6, § 224.
182. Mid. I I I 8. 192. C. Ap. I 22. § 198; B.j. V I 8, 3 , § 3 8 8 ; V I I 5, 5, § 148;
183. Men. X I 7. b . Men. 9 8 ; v e r o a r c o d o t r i u n f o d e T i t o n a sacra via de R o m a .
b

184. B.j. V 5, 4, § 210. 193. Mid. I V 1; Sheq. I I I 6 (178, 7 ) , cf. M i s h n a Sheq. I V 4 .


185. Mid. I I I 8. 194. B.j. V I 6, 1, 3 Í 7 .
186. b . Yoma 3 7 .
b
195. V e r supra, p . 34.
187. Yoma I I I 10. 196. Yoma I I I , 1 1 ; Sheq. V , 1; Tamid I I I 3 .
188. B.j. V 13, 6, § 562. 197. Men. X I 3 ; Tamid I 3 ; cf. T o s . Yoma I I 5 (183, 2 5 ) ; T o s .
189. Fílon, Leg. ad Caium, § 156 e 312ss, Men. I X 2 (525, 3 1 ) ; b . Zeb. 9 6 ; Mid. I 6.
a

190. Ibiã., § 296. 198. Sheq. V I; Yoma I 5; I I I 1 1 ; Sheq. I V 5.


191. B.j. V I I 5, 5, § 148s, 199. b . Yoma 38 . a
A i n d a se tornava necessário u m c u i d a d o c o n s t a n t e
Além do m a i s , alimentavam-se c o n s t a n t e m e n t e de carne e
c o m as cortinas do Templo. " E l e a z a r era o e n c a r r e g a d o
só b e b i a m água, pois o v i n h o lhes era i n t e r d i t a d o ; todas
d e [ m a n d a r confeccionar novasl cortinas [ q u a n d o pre-
essas circunstâncias causavam-lhes sérias perturbações na
c i s o ] d i z e m em Sheq. V 1, n u m a lista de altos funcio-
saúde . 203

nários do T e m p l o . Todos os anos determinados tecelões


Era ainda indispensável a presença de barbeiros no
de arte e fabricantes de malhas deviam confeccionar d u a s
T e m p l o . A cerimônia dos votos de nazír, da consagração
das cortinas do santuário, com 20 côvados de largura p o r
dos levitas e da purificação após a cura da lepra supõem
40 de c o m p r i m e n t o . Segundo b . Yoma 5 4 e b . Ket. 1 0 6 ,
a a

o q u a n t o e r a m necessários.
essas cortinas encontravam-se p e n d u r a d a s em treze lugares
diferentes. Cada uma delas era tecida com 72 tranças de
24 fios e em 6 cores . Segundo a M i s h n a , 82 jovens
2110 201

confeccionam cada ano duas c o r t i n a s . 2Ü2


c. A organização dos operários no Templo
Alguns ourives tiveram trabalho d u r a n t e a c o n s t r u ç ã o
do T e m p l o e depois, foram c o n t i n u a m e n t e solicitados. Segun- O T e m p l o constituía assim o centro de u m a colônia
d o Sheq. IV 4, c o m p r a v a m placas de OLiro c o m o excedente de profissões, especialmente d u r a n t e a sua reconstrução,
d a taxa cada a n o paga pelos judeus do m u n d o inteiro sob mas t a m b é m d u r a n t e o serviço litúrgico c o n t í n u o ; com o
a forma de i m p o s t o da d i d r a c m a ; segundo T o s . Sheq.
m
tempo, sólidas tradições se t i n h a m constituído. O trabalho
I S (174, 13), o mesmo emprego era reservado ao suple- era feito por e m p r e i t a d a . Uma m e d i d a d e p r e c a u ç ã o devia
m e n t o que se devia pagar no m o m e n t o em que se t r o c a v a proteger o santuário contra os abusos; utilizavam-se duas
d i n h e i r o p a r a outros fins alheios às p r e s c r i ç õ e s . Essas 2M
medidas diferentes de c u m p r i m e n t o , u m a na distribuição
placas de o u r o serviam p a r a o revestimento do Santo dos dos trabalhos, a outra na sua entrega . 2 W

santos. Os salários e r a m altos; a propósito da greve por


Um encarregado das fontes era responsável pelo
205
u m a u m e n t o , citam-se algarismos fantásticos. O s operários
210

fornecimento da água no T e m p l o . sempre e r a m pagos no ato, mesmo q u a n d o tivessem traba-


Precisamos mencionar t a m b é m o médico do Tem- lhado apenas u m a h o r a . O tesouro do T e m p l o era obri-
2 1 1

plo . Devia intervir q u a n d o os sacerdotes se feriam du-


2D6
gado a suprir as necessidades dos operários vítimas do
r a n t e o serviço . Dois fatos indicam q u ã o intenso deve-
m
desemprego. Foi certamente com esta finalidade q u e , após
ria ser seu t r a b a l h o . Os sacerdotes t i n h a m de c a m i n h a r , os t r a b a l h o s de restauração do T e m p l o , empreendeu-se a
pés descalços, sobre as lajes da esplanada do T e m p l o , p a v i m e n t a ç ã o das ruas de J e r u s a l é m . A decisão, p o u c o
212

mesmo no inverno. Adoeciam, p o r t a n t o , com freqüência. tempo depois, dessa nova iniciativa, deve ter sido pelo
m e s m o m o t i v o . Graças às condições favoráveis de sa-
m

200. Sheq. V t ; b . Yoma 7 1 ; T o s . Sheq. I I I 13 (178, 2 0 ) . —


b
lário, os operários do T e m p l o e r a m os q u e gozavam me-
B.j. V 5, 4, § 2 l 2 s : 4 cores. lhor posição dentre os t r a b a l h a d o r e s da cidade.
2 0 1 . Sheq. VIU 5; ( v a r i a n t e s ) , cf. b . Ket. 1 0 6 ; j . Sheq. V I I I 4 ,
a

5 1 13 ( I I I / 2 , 3 2 0 ) .
b Pertencer a d e t e r m i n a d a s corporações dedicadas ao
202. P a r a a crítica, ver infra, p . 54, n . 4 8 . culto do T e m p l o fortalece o privilégio d e algumas famí-
203. Ex 30,13; M t 17,24-27; Ant. I I I 8, 2, § 194; X V I I I 9. 1. §
3 1 2 ; B.j. V 5, 1 § 187; V I I 6, 6, § 218; M í s h n a e Tosefta, t r a t a d o
Sheqaiim, Fílon, De spec. leg. I, § 77s e passim. 208. Sheq. V 1; j . Sheq. V 2, 4 8 26 d
(II1/2. 293).
204. Sheq. I 6s. 209. Kel. X V I I I 9; cf. supra, p . . . .
205. Sheq. V , 1. 210. Supra, p . 40.
206. Sheq. V 1; Sheq. V 2, 4 8 26 ( I I I / 2 , 2 9 3 ) .
d 211. Ant. X X 9, 7, § 220.
207. 'Er. X 13s. 212. Supra, p. 2 3 .
213. Supra, p . 24.
lias; as profissões se t r a n s m i t i a m de pai p a r a filho: e n t r e 2 ) Importância política e religiosa da cidade
essas, a p r e p a r a ç ã o dos pães da proposição e a dos per-
fumes p a r a q u e i m a r . m
A despeito dessa situação desfavorável, o Pseudo¬
- Aristeu, § 114, diz que a cidade era " r i c a em profissões";
com razão dá-lhe esse qualificativo. Precisamente por cau-
sa de suas condições desfavoráveis, Jerusalém, cidade no
tempo de Jesus com 2 5 . 0 0 0 habitantes a p r o x i m a d a m e n t e
B. INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS (ver mais abaixo, na p . 120s), precisava estabelecer u m
DE JERUSALÉM SOBRE AS PROFISSÕES
comércio ativo visto ter de i m p o r t a r as matérias-primas.
Jerusalém m a n t i n h a , pois, menores transações com países
longínquos do que com as regiões v i z i n h a s .
1) A situação da cidade D e que meios, de que recursos d i s p u n h a a cidade
p a r a financiar este comércio? P r o c u r a r e m o s reunir os
principais elementos.
Jerusalém foi vista por nós 2 b
como integrada à pro-
víncia da Síria, na medida em q u e as principais profissões a) E m primeiro lugar figuram as imensas receitas do
dessa província t a m b é m figuravam entre as mais impor- T e m p l o . CompÕem-se de dons q u e afluem do m u n d o in-
tantes daquela cidade. teiro, de taxas previstas pela Lei sob forma do imposto
E n t r e t a n t o , a Cidade Santa se distinguia de m a n e i r a da d i d r a c m a , do comércio das vítimas, do c u m p r i m e n t o
211

f u n d a m e n t a l de todas as outras grandes cidades d a pro- dos votos, da entrega da lenha e t c , além dos rendimentos
víncia: situava-se n u m a região realmente desfavorável às de seus imóveis. E m c o n t r a p a r t i d a , as despesas e r a m imen-
profissões. A pedra era a única matéria-prima e n c o n t r a d a sas, d e m o d o especial no tocante aos t r a b a l h o s da cons-
c o m a b u n d â n c i a nas cercanias. N a s m o n t a n h a s da Judéia, trução do T e m p l o .
os rebanhos forneciam lã e peles, e os oliveirais, m a d e i r a
e azeitonas. A p e n a s isso. A m a i o r i a das matérias-primas b) O afluxo d e estrangeiros h a b i l i t a v a a cidade c o m
faltava. A carência dos metais e minérios ricos era total o u t r a fonte de renda e p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e por oca-
e de m á q u a l i d a d e a argila fornecida pela r e d o n d e z a . Fal- sião das peregrinações d u r a n t e as festas. T o d o israelita
t a v a , sobretudo, água. Jerusalém d i s p u n h a de u m a ú n i c a piedoso tinha de gastar e m Jerusalém u m decido do ren-
fonte de certa i m p o r t â n c i a , a de Siloé, no sul da c i d a d e . d i m e n t o de sua terra; é o que se c h a m a v a o segundo dí-
N a época da seca, precisavam c o m p r á - l a 216
dos v e n d e d o - zimo . 218

res ambulantes e m e s m o em tempos normais o uso da á g u a


das cisternas tinha de ser parcimonioso ou fazê-la vir d e c) C a b e a i n d a m e n c i o n a r o r e n d i m e n t o dos impostos,
longe pelos a q u e d u t o s . U m fato p r o v a a que p o n t o a si- pelo menos d u r a n t e os períodos em q u e os senhores in-
t u a ç ã o de Jerusalém mostrava-se pouco propícia ao desen- dependentes residiam em Jerusalém (até 6 d . C , A r q u e l a u ;
volvimento das profissões: ao longo de sua história n ã o 41-44 d . C , Agripa I ) . Segundo Josefo, A r q u e l a u arreca-
encontramos u m a única profissão cujos p r o d u t o s seriam d a v a , a n u a l m e n t e , da í d u m é i a , Judéia e Samaria seis mi-
u m a especialidade local. lhões de dracmas {Ant. X V I I I I , 4 § 3 2 0 ) ; de seu reino,
m u i t o maior, Agripa recolhia doze milhões de dracmas
214. Supra, 39.
215. Supra, p p . 11-19. 217. Supra, p . 40.
216. Supra, p . 17. 218. Ma'ãsér séní, d. infra, p . 6 9 , n . 151.
( X I X 8, 2, § 3 5 2 ) . A p a r t e mais substancial dessas quan- cessidades p a r a sua vida de pessoas civilizadas; favore-
tias p o d e certamente ter sido e m p r e g a d a em Jerusalém
219
ciam assim as profissões que fabricavam artigos de luxo.
no sustento d a corte e p a r a as construções.
Mais do que a i m p o r t â n c i a política, prevalecia a im-
d) Precisamos lembrar ainda que Jerusalém atraía ho- p o r t â n c i a religiosa: Jerusalém era a cidade do T e m p l o .
m e n s que possuíam grandes capitais; importantes negocian- O fato de residir na cidade santa i m p u n h a , sem dúvida,
tes, coletores de impostos, judeus da diáspora que se tor- d e t e r m i n a d a s obrigações. Observavam-se aí, de m o d o mais
n a r a m ricos; mais de u m aí se fixavam por convicção re- escrupuloso do que em q u a l q u e r outro lugar, as severas
ligiosa. prescrições relativas à observância do s á b a d o (ver o tra-
t a d o Shabbaí da Mishna) que excluía q u a l q u e r t r a b a l h o .
Esses sólidos rendimentos b a s t a v a m p a r a assegurar as
E em Jerusalém as prescrições de pureza legal, q u e acar-
importações. Por sua vez, a p r ó p r i a cidade fabricava, além
retavam tantos inconvenientes p a r a a vida d i á r i a , re- 221

de artigos de uso diário, produtos de luxo como unguen-


p r e s e n t a r a m u m papel diferente do das cidades o n d e vi-
tos e mercadorias semelhantes. O "frasco de alabastro
viam muitos pagãos.
c o n t e n d o u m n a r d o de alto p r e ç o " , m e n c i o n a d o por oca-
sião da u n ç ã o de Jesus em Betânia (Mc 14,3) continha, E n t r e t a n t o , as vantagens que o T e m p l o oferecia aos
sem dúvida, u m p r o d u t o da cidade. t r a b a l h a d o r e s pesavam i n c o m p a r a v e l m e n t e mais. Com os
Este r á p i d o esboço nos mostra que a i m p o r t â n c i a po- fundos do T e m p l o pagava-se a m a n u t e n ç ã o dos edifícios
lítica e sobretudo a função religiosa é que d e r a m desen- da cidade , os cuidados c o m sua l i m p e z a " , a pavimen-
222 2

volvimento às profissões de toda espécie. tação das ruas 224


e talvez t a m b é m o serviço de água . 225

E m todas as épocas — ver as narrativas do Antigo A importância do T e m p l o fazia-se p o r é m sentir além


T e s t a m e n t o relativas ao rei Salomão — , o prazer de cons- dos limites da cidade. Desde a reforma do rei Josias (621
truir e a v a i d a d e da ostentação desenvolveram a indústria a.C.) que centralizou o culto em Jerusalém, segundo as
da construção e as profissões de arte n a capital. D u r a n t e prescrições do D e u t e r o n ô m i o , o único s a n t u á r i o dos judeus
esse período de q u e nos o c u p a m o s , Jerusalém foi capital achava-se em Jerusalém. A importância do templo de
a p e n a s por p o u c o t e m p o : de 4 1 a 44 d . C , sob Agripa I. Onias e m Leontópolis (170 a.C. — 73 d.C.) foi tão in-
M a s os m e m b r o s da família h e r o d i a n a (por e x e m p l o , He- significante q u e , r e a l m e n t e , o T e m p l o d e Jerusalém con-
rodes Antipas [Lc 2 3 , 7 ] e Agripa II) v i n h a m à cidade tinuou sendo o único santuário judaico d o m u n d o . O s pe-
p o r ocasião das festas, visto nela n ã o h a b i t a r e m p e r m a n e n - regrinos de todo o orbe lá iam três vezes por ano. Entre
t e m e n t e . Sentiam-se, p o r é m , pertencentes a Jerusalém;
m
esses peregrinos encontravam-se pessoas ricas c o m o o mi-
a p r o v a está no fato de Agripa II fazer novas construções nistro das finanças da r a i n h a de Etiópia (At 8,27), e mem-
no palácio dos asmoneus. bros da família real de A d i a b e n a , cujos enormes projetos
de construção 226
tanto favoreceram esse gênero de ativi-
O pessoal da corte e os detentores do capital nacio-
d a d e . O s peregrinos constituíam u m a g r a n d e fonte de ren-
n a l estabelecidos e m Jerusalém criaram u m a série de ne-
d a . A o c o m p r a r e m presentes p a r a o T e m p l o , d a v a m pos-
219. P a r a avaliar o p o d e r de a q u i s i ç ã o destas q u a n t i a s , v e r a d i a n t e
os d a d o s s o b r e os salários dos o p e r á r i o s (p. 159) e o p r e ç o dos g ê n e r o s 221. M i s h n a , os 12 t r a t a d o s d a V I p a r t e , Tohorot.
( p p . 170-175). 222. Supra, p. 27.
220. B.j. I V 3, 4, § 140s indica, q u a n t o a J e r u s a l é m , dois h o m e n s 223. Supra, p . 28.
d a família r e a l ; já B. j . ibid., refere-se a uni h o m e m d a família real 224. Supra, p. 23.
a q u e m , visto o seu prestígio, h a v i a m confiado as finanças p ú b l i c a s ;
225. Supra, p . 2 8 .
cf. Fílon, Leg. ad Caium, § 278.
225. Supra, p . 24.
sibilidades d e g a n h o aos seus a r t í f i c e s . E r a m esses pere-
227
CAPÍTULO II
grinos que faziam viver a indústria de lembranças l o c a i s . m

Mas o fator principal media-se pelo T e m p l o , c o m o O COMÉRCIO


centro de u m a colônia de profissões. U m exército de ope-
rários t r a b a l h o u na sua construção; o culto m a n t i n h a in-
cessantemente u m grupo de pessoas a seu serviço. Curioso
o resultado desta circunstância: a situação da cidade era
inteiramente desfavorável ao desensolvimento das profis- A. INFORMAÇÕES SOBRE O COMÉRCIO
sões; e n t r e t a n t o , d a d a a sua i m p o r t â n c i a econômica, polí- D E JERUSALEM
tica e religiosa, conseguiu incentivá-las tornando-as prós-
peras.
í. Generalidades

O nível atingido p o r Jerusalém antes de 70 d.C. no


desenvolvimento da circulação dos p r o d u t o s , é, em geral,
o de u m a economia u r b a n a . Temos de aceitar essa expres-
são no sentido em que a apresenta Bücher (etapa em que 1

os bens passam diretamente da p r o d u ç ã o econômica aos


c o n s u m i d o r e s ) , e no sentido q u e lhe d á Schmoller (etapa 2

em que a cidade é detentora da organização econômica).


A profissão de comerciante foi sempre altamente va-
lorizada. Os próprios sacerdotes c o m e r c i a v a m : Tos. Terum.
X 9 ( 4 3 , 4) e j . Pea I 6, 1 6 5 3 ( 1 1 / 1, 28) falam de u m a
c

loja m a n t i d a por u m deles. N o q u e se refere a Jerusalém,


T o s . Besa I I I 8 ( 2 0 5 , 26) m e n c i o n a dois doutores, Eleazar
b e n Sacloc e A b b a Shaul, filhos da Batanéia, que ali fo-
r a m comerciantes " d u r a n t e toda a sita v i d a " . A família 3

pontifícia t a m b é m p r a t i c a v a u m comércio florescente \


T e n t a r e m o s esboçar a trajetória de u m p r o d u t o comer-
cial em direção a Jerusalém e no interior da cidade.

1. C. B ü c h e r , Die Entstehung der Volkswirtschaft, 8 ed., Tübin¬


?

g e n , 1911.
2. G . S c h m o l l e r , Grundriss der allgemeinem Volkswirtschaftslehre,
I I , Leipzig, 1904.
3 . R. E l e a z a r ( b e n S a d o c ) , o A n c i ã o , d e v e ter n a s c i d o p o u c o de-
p o i s d e 35 a.C. E r a , c o m efeito, m u i t o j o v e m n o t e m p o de A g r i p a I
(41-44) e e s t u d a v a a T o r á p o r ocasião d a fome q u e grassou e n t r e 45
e 50 (ver infra, p . 170). A b b a S h a u l b e n Batnit vivia i g u a l m e n t e em
J e r u s a l é m antes d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ; assim se d e d u z q u e , d a d a
a sua reta c o n s c i ê n c i a , ele e n t r e g a v a a e s p u m a d o v i n h o ao t e s o u r e i r o
d o T e m p l o ( b . Besa 2 9 b a r . ) .
a

227. Supra, p. 3 8 . 4. Infra, p . 71s.


228. Supra, p. 18.
C a r a v a n a s de camelos, p o r vezes importantes \ tra- das contribuições. E n t r e t a n t o , u m alijamento se p r o d u z i u
ziam de longe, para aquela c i d a d e , artigos comerciais. a partir do ano 37 d . C : o governador Vitélio suprimiu as
P a r a o comércio c o m as regiões p r ó x i m a s , utilizavam-se taxas sobre a venda das colheitas . 12

jumentos como animais de c a r g a V i s t o o habitual m a u Após ter pago a alfândega, encaminhavam-se p a r a o


estado dos c a m i n h o s , os carrinhos de mão só eram utili- bazar correspondente à m e r c a d o r i a em q u e s t ã o . H a v i a di-
zados p a r a curtas distâncias. Herodes m a n d o u fabricar mil, versos m e r c a d o s : o de cereais, de frutas e legumes, de
a fim de transportar as pedras destinadas à construção d o gado, de madeira. Existia u m m e r c a d o de gado gordo e
T e m p l o . O s camponeses t r a z i a m , eles mesmos, para a ci-
7
m e s m o u m estrado de pedra p a r a a v e n d a pública de es-
d a d e , os produtos das cercanias. cravos onde eram expostos até aparecer algum c o m p r a d o r .
A segurança das estradas era questão vital p a r a o co- O s mercadores atraíam a clientela, e x a l t a n d o seus produ-
mércio. Herodes tomara medidas enérgicas, com o intuito tos e a levavam a c o m p r a r , a p r e g o a n d o em altas vozes; no
de reprimir o banditismo que reinava então. Cuidara d e que diz respeito a Jerusalém, b . Pes. 116 confirma esse
garantir a tranqüilidade no interior do país e rechaçar p a r a fato de m o d o explícito. N o m o m e n t o da c o m p r a toda a
suas fronteiras as tribos do deserto que constituíam per- atenção no peso era pouca, pois, Jerusalém tinha seu sis-
m a n e n t e ameaça. Nos decênios seguintes o governo r o m a n o tema próprio. N a q u e l a cidade, contava-se, de preferência,
t a m b é m se p r e o c u p o u com a proteção do comércio. Já e m por qab e n ã o , como noutros lugares, por " d é c i m o s " . B

época primitiva, existia u m plano de defesa c o n t r a o povo Além de tudo, essa m e d i d a do qab tinha, manifestamente,
do deserto; Paul Karge o observou . Sob T r a j a n o , os ro-s u m valor particular; em todo caso, b . Yoma 4 4 refere-se b

manos o r e t o m a r a m , erguendo os limes . E n t r e t a n t o , a li-


9 ao qab de Jerusalém. A medida de c a p a c i d a d e superior, a
teratura rabínica menciona r e p e t i d a m e n t e as façanhas d o s s 'ah, era, n a capital, u m q u i n t o m a i o r do que a " d o de-
c

salteadores , o que nos dá idéia de q u ã o freqüentes e r a m


l0 serto"; em c o n t r a p a r t i d a , u m sexto m e n o r que o s°'ah de
os casos de b a n d i t i s m o . N o que diz respeito a Jerusalém, Séforis . Para o ajuste das contas, m e r c a d o r e s e peregri-
14

ouvimos falar de alguns que teriam ocorrido, e da neces- nos p o d i a m trocar nos cambistas o dinheiro estrangeiro
15

sidade de combater os assaltantes. que traziam. Ao q u e se diz, Jerusalém tinha, igualmente,


uma m o e d a p r ó p r i a . Tos. M. Sh. II 4 (88,16) fala de ma'ah
Chegado são e salvo ao m e r c a d o de Jerusalém, o co- de Jerusalém; j . Kei. 1 2, 2 5 " 10 ( V / l , 7s) de sela' de
merciante devia e n t ã o pagar sua taxa ao c o b r a d o r encar- Jerusalém. Bek V I I I 7 e T o s . Ket. X I I I 3 (275-22) esta-
regado da alfândega do mercado de Jerusalém . Esses co- u
belecem a equivalência entre u m a m o e d a de prata de Jeru-
bradores e r a m , na maioria, judeus, conforme nos m o s t r a m salém e u m a de T i r o . É estranho à primeira vista. O fato
os evangelhos. Exigiam de m o d o inexorável o p a g a m e n t o se explica q u a n d o se lê a seguinte observação tanaíta: " Q u e
vem a ser u m a m o e d a de Jerusalém? (Uma m o e d a q u e
5. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 29) m e n c i o n a u m a c a r a v a n a d e
a

mostra) D a v i e S h l ô m ô (Salomão) de u m lado, Jerusalém


2 0 0 c a m e l o s dirigindo-se p a r a J e r u s a l é m , p a s s a n d o p o r T i r o .
6. Demay I V 7. do o u t r o " Trata-se d e moedas de p r a t a c u n h a d a s em Je-
7. Ant. X V I I , 2, § 390. rusalém no q u a r t o ano da Primeira Revolta ( 6 8 / 6 9 d . C ) .
8. P a u l K a r g e , Rephaim, Collecíanca Hierosolymitana 1, Pader¬ T r a z no anverso sheqel Yisrü'el shd, n o reverso " Jerusalém
b o r n , 1917.
9. G u t h e , Griech.-rõm. Stadie, 33ss.
10. Ber. I 3 ; Shab. II 5; B. Q. V I 1 e passim; cf. L e v y . WÔrter-
12. Ant. X V I 1 Í 4, 3, § 90.
buch, I I , 5035 e S. K r a u s s . Griechische und lateinische Lehnwõrler im
Tcúmud. Midraach und Targum I I , Berlim, 1S99 ( r e i m p r e s s o , H i l d e s h e i m , 13. Meti. V I I 1-2; T o s . Meti. V I I I 16 (524, 16).
1 9 6 4 ) , 315s. 14. Men. V I I 1; b . 'Er. 8 3 - ; T o s . 'Ed. I 2 (454, 3 1 ) .
a b

11. Ant. X V I I 8, 4, § 205: " A alfândega c o b r a d a s o b r e c o m p r a s 15. 'Ed I 9-10; Sheq. I 3.


e vendas". 16. b . B. Q . 9 7 .
b
[cidade] s a n t a " . T o m a v a m shd no sentido de " S h ( l ô m ô
1 7 e
S i n é d r i o . " U m a vez em Jerusalém, dois qinním
25
[ninhos;
e) D(avid e m vez de sh nat 'arba' " a n o q u a t r o " .
e ,8
neste caso dois pássaros p a r a o sacrifício, cf. p o r exem-
plo, Lc 2 , 2 4 , apresentação de Jesus n o T e m p l o ] c h e g a r a m
Além das prescrições relativas à santificação do sá-
a custar u m denário de ouro [cada u m ] . E n t ã o , R a b b a n
b a d o , válidas de m o d o geral, e das prescrições sobre as
Shimeon, filho de Gamaliel, declarou: ' P o r esta m o r a d a [o
relações comerciais com os pagãos, certos convênios par-
T e m p l o ] ! N ã o dormirei esta noite antes de tê-los feito
ticulares estavam em vigor em Jerusalém p a r a as transa-
baixar a u m denário [de p r a t a ] ' . E n c a m i n h o u - s e , pois. p a r a
ções comerciais; b . B. Q. 8 2 cita u m deles, relativo à ven-
b

o tribunal e d e t e r m i n o u : em certos casos, é suficiente, em


da de casas. Exerciam, antes de t u d o , uma rígida vigilân-
lugar de cinco sacrifícios de pássaros, trazer u m só [temia
cia q u a n t o à importação de gado i m p u r o , de carne e de
ele que os p o b r e s , em conseqüência do preço elevado, não
peles i m p u r a s . Da época i m e d i a t a m e n t e posterior a 198
pudessem oferecer sacrifícios]. N o m e s m o dia os dois
a.C. conservamos u m edito do rei selêucida Antíoco I I I , o
qinním b a i x a r a m p a r a í / 4 de d e n á r i o [de p r a t a ] cada
G r a n d e . Q u a n d o não houvesse i m p e d i m e n t o de o r d e m
19

u m " \ U m denário de ouro vale 25 denários de p r a t a ; se-


cultual p a r a a transação comercial, era preciso então fixar


g u n d o este relato da M i s h n a , a decisão do Sinédrio acar-
o preço. C i d a d e g r a n d e , Jerusalém m a n t i n h a preços altos.
retou, pois, uma diminuição de 100 p a r a 1.
Ma'as II 5 apresenta-nos u m caso significativo. Segundo
esse texto, compravam-se em Jerusalém três ou q u a t r o fi- Vejamos a i n d a o próprio m e r c a d o r ! Os produtos das
gos por u m as. E m compensação, fora da cidade, podia-se cidades vizinhas passavam d i r e t a m e n t e do p r o d u t o r aos
obter 10 ou 20 pelo m e s m o preço (Ma'as II 6 ) . Nos arre- consumidores. E, na Palestina de e n t ã o , praticava-se, mes-
dores de Jerusalém os terrenos e r a m especialmente caros; mo com freqüência, o sistema de troca . O M i d r a x e conta11

j . Yoma I V , 4 1 4 9 ( I I I / 2 , 201) o s u p õ e .
b 20
u m caso sucedido em Jerusalém: " U m a m u l h e r disse ao
m a r i d o : pega u m colar ou u m a argola de nariz; vai ao mer-
A polícia vigiava pela ordem do comércio. O T a l m u d e cado e traz-nos em troca q u a l q u e r coisa p a r a c o m e r " . 2a

cita os encarregados do m e r c a d o , os que fixam as taxas


21 22
N ã o p o d e m o s , todavia, tirar u m a conclusão segura desse
e seus v i g i a s . Chega a nós, vinda de Jerusalém, u m a de-
21
relato; trata-se, com efeito, de u m a situação particular
cisão de u m dos três "juízes c r i m i n a i s " sobre u m a ques-
24
d u r a n t e o cerco dos r o m a n o s em 70 d.C.
tão de direito comercial: tratava-se de saber se, por ocasião Surgem ainda circunstâncias diversas q u a n d o , por
da venda de u m asno, o arreio estava incluído. Contam¬ exemplo, existe u m único i n t e r m e d i á r i o ; nesse caso os lo-
-nos ainda u m caso de fixação, de m o d o indireto, do teto jistas o u os vendedores a varejo. Acontecia mesmo que
39

dos preços da p a r t e de Shimeon, filho de G a m a l i e l I, particulares fizessem suas transações comerciais. Certa vez,
mestre de P a u l o (At 2 2 , 3 ) ; esse Shimeon era conhecido u m alfaiate de Jerusalém c o m p r o u no leilão de u m a ca-
no tempo da guerra judaica como m e m b r o i m p o r t a n t e do r a v a n a , g r a n d e q u a n t i d a d e de p i m e n t a p a r a revendê-la a
u m colega d e t r a b a l h o que se encarregou de distribuí-la . 30

17. A . R e i f e n b e r g , Ancient Jewish Coins, 2* ed., J e r u s a l é m , 1947, E m j . Pes. X 3, 3 7 9 ( I I I / 2 , 1 5 0 ) , h á referências a


d

58 e p l . X 143.
18. L. G o l d s c h m i d t , Der babylonische Talmud neu übertragen, vol. m e r c a d o r e s ambulantes em Jerusalém que v e n d i a m especia-
V I I , Berlim, 1933 = 1964, 337, n. 103.
Í 9 . / t n í . X I I 3, 4, § 146; v e r infra, p . 6 8 . 25. D e v e ter h a v i d o influência d a assembléia g o v e r n a m e n t a l : Vita
20. Cf. Levy, Wörterbuch, I I , 369 b e m kesep, e infra, p . 7 1 . 38s, § 189ss.
2 1 . j . B. B. V 11, 1 5 61 ( V I / 1 , 1 9 4 ) ; T o s . Kel. B. Q. V I 19
a

26. Ker. I 7.
(576, 3 1 ) ; j . Demay II I, 22= 21 ( I I / l , 1 4 0 ) . 27. K r a u s s . Talm. Arch., II, 351, com provas.
22. b . 'A. Z. 5 8 ; b . B. Q. 9 8 .
a a

2 8 . Lcm. R. 2, 20 s o b r e 2, 12 ( 4 8 I ) . a

23. b . B. B. 8 9 . a

2 9 . T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) .
24. B. B, V 2. 3 0 . Lam. R. I, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 4 ) .
b
rias; em passagem paralela b . Pes. 1 1 6 , são c h a m a d o s a
da Judéia era p r e d o m i n a n t e , temos de perceber, no perío-
tagg rê hãrak, " m e r c a d o r e s de grãos t o r r a d o s " .
e 31
do antes de 70 d . C , a influência estrangeira c o n c e n t r a d a
Há t a m b é m os grandes negociantes; p o d e m o s vê-los principalmente e m Jerusalém. De certo m o d o , foi a corte
como homens que t i n h a m empregados e viajavam. E r a m de H e r o d e s que a i n t r o d u z i u n a c i d a d e .
eles, p r i n c i p a l m e n t e , que se serviam em Jerusalém do ves- À guisa de minúcias sobre o comércio com a G r é c i a ,
tíbulo para o acerto das contas . E v i d e n t e m e n t e , aí tam-
32
não podemos deixar de assinalar que n a época de H i r c a n o
b é m eram feitas transações de g r a n d e vulto. Após o tér- II (76-67, 63-40 a . C ) , muitos m e r c a d o r e s atenienses vi-
mino de altos negócios, acontecia, conforme dizem, q u e , viam em Jerusalém. Tal fato explica, sem dúvida, o sen-
no ajuste das especulações, u m deles saía p e r d e n d o toda tido da frase que lemos, segundo a q u a l alguns atenienses
a sua fortuna . 33
achavam-se em Jerusalém p a r a assuntos privados e não so-
Os mercadores de Jerusalém mostravam-se m u i t o pru- mente a título oficial. Essa circunstância deve ter estabe-
dentes na hora de acertar as contas; n a d a assinavam antes lecido relações d u r a d o u r a s e u m intenso tráfico; sem isso,
de saber quais e r a m os c o n s i g n a t á r i o s . 34 H i r c a n o II não teria recebido como presente a coroa de
o u r o de Atenas em sinal de r e c o n h e c i m e n t o , e sua estátua
não teria sido erigida naquela cidade . Segundo os teste- 3Ò

2. O comércio c o m países distantes m u n h o s concordes de Josefo e do T a l m u d e , a p o r t a mais


valiosa do T e m p l o era de bronze de Corinto . 37

Após esse esboço, examinaremos, sucessivamente, os


Pouco antes de 6 6 d . C , Agripa I I , de acordo com
diferentes artigos comerciais. De início, trataremos do co-
o povo e os sacerdotes em exercício, resolveu construir
mércio com países distantes, a começar pela Grécia.
novos e m b a s a m e n t o s no santuário e levantá-lo 20 côvados.
A influência da Grécia, d i r e t a m e n t e o u p o r intermé-
Com g r a n d e despesa importou a m a d e i r a do Líbano, exi-
dio da civilização helenística em geral sobre o comércio
gindo que só m a n d a s s e m troncos b e m retos . T a m b é m do 3S

palestinense, sempre se mostrou e x t r e m a m e n t e forte. Te-


Líbano veio a madeira de cedro p a r a os lambris dos pór-
mos a prova no grande n ú m e r o de palavras e m p r e s t a d a s
ticos e dos m a t a d o u r o s .
39 40

do grego, já contidas na Mishna; referem-se a todos os


setores da vida cotidiana e, em p r i m e i r o lugar, aos do A principal indústria de Sídon era a v i d r a r i a . Kel. 41

comércio. E n c o n t r a m o s t a m b é m , mas em m e n o r n ú m e r o , IV 3 menciona os pratos e copos de Sídon. U m hieroso-


palavras latinas . Como a influência de Jerusalém d e n t r o
i5 limitano, Yosé b e n Y o h a n a n , decretou, com Yosé b e n
Yoézer de Serada. que os utensílios d e vidro seriam sus-
3 1 . Cl', infra, p . 147, n . 26. N u m a v a r i a n t e se lê tagg rê e
ha-dak, cetíveis de tornarem-se ritualmente i m p u r o s . Esses dois A2

" m e r c a d o r e s dc p r o d u t o s m o í d o s " , l i m a conjectura a s s i n a l a d a p o r K r a u s s , h o m e n s figuram, p o r volta de 150 a . C , entre os mais an-


7'a/m. Arch. I I , 688. n . 314 p r o p õ e taggerê barun " n e g o c i a n t e s d e H a - tigos escribas m e n c i o n a d o s no T a l m u d e ; a importação do
r a n " . Nesse c a s o , trata-se d a p r e s e n ç a , c m Jerusalém, de m e r c a d o r e s
v i n d o s de H a r a n , na M e s o p o t â m i a (os r o m a n o s c h a m a v a m a c i d a d e vidro em Jerusalém começou, p o r t a n t o , muito cedo.
C a r r h a e ) ; i m p o r t a v a m , sem d ú v i d a , especiarias d a M e s o p o t â m i a .
32. Pesiqtu rabbali 4 1 , 173 7. H

36. Ani. X I V 8, 5, § 153.


35. Ex. R. 54, 4 s o b r e 39, 32 ( 1 1 6 17). S e g u n d o este t e x t o , •
b

37. Supra, p . 37.


c o n s t r u ç ã o situava-se fora de J e r u s a l é m , a fim de q u e n ã o h o u v e s s e 38. B. j . V I, 5, § 36.
confusões d e n t r o d a c i d a d e em caso de g r a n d e s p e r d a s . E m Jerusa- 39. B. /'. V 5, 2, § 190.
l é m , c o m efeito, é preciso ser alegre. — M e s m a coisa em Lam. R. 2,
40. Mid. I I I 5; q u a n t o à m a d e i r a de c e d r o c o m o m a t e r i a l para
24 sobre 2, 15 4 8 12). com a l u s ã o ao SI 4 8 . 3 : "Alegria p a r a a t e r r a
b

o T e m p l o , v e r t a m b é m Mid. I I I 8; I V 5.
inteira". N ã o p o d e m o s a t r i b u i r n e n h u m v a l o r h i s t ó r i c o a essa espe-
4 1 . S c h ü r e r , I I , 8 1 , n . 229.
culação.
42. b . Shab. 1 4 ; j . Shab. I 7, 3 37 ( I I I / l , 2 0 ) ; cf. j . Ket.
b d
VIII
34. Iam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 (57-- 8 ) . 1

11, 32^ 4 V / l , 110).


35. S c h ü r e r . I I , 71ss.

SEMH^AíiSü CONCORDIA^
Já e n c o n t r a m o s vendedores de peixes e outros mer-
43
largamente e m p r e g a d o na liturgia do D i a d a E x p i a ç ã o ;
cadores de Tiro; comerciavam suas mercadorias no n o r t e entre o sacerdote e o povo estendiam-se m e t r o s de b i s s o . S1

d a cidade. C o m o Sídon, T i r o era afamada pelos seus vidros H a v i a a i n d a no T e m p l o grandes reservas d e tecidos d e
preciosos e pela p ú r p u r a . p ú r p u r a e escarlate p a r a as c o r t i n a s . Lc 16,19 m e n c i o n a
52

Avalia-se por vezes a m o e d a de Jerusalém segundo o a p ú r p u r a e o bisso como trajes d e pessoas d e posses.
valor da m o e d a de T i r o , o que faz supor relações co-
44
O t i r a n o S i m ã o , em Jerusalém, por ocasião de sua tenta-
merciais entre as duas cidades. Segundo Tos. Ket. X I I I tiva de f u g a , revestiu-se de u m m a n t o d e p ú r p u r a c o m
53

3 (275, 22) e, freqüentemente, o p a d r ã o m o n e t á r i o de Je- o fito d e a m e d r o n t a r os soldados r o m a n o s . N a cena d o


54

rusalém correspondia ao de T i r o . A p r e d o m i n â n c i a do pa- evangelho q u e descreve as zombarias dos soldados roma-


d r ã o de Tiro explica-se pelas relações comerciais intensas, nos, lemos que esses jogaram sobre Jesus u m a c a p a (a capa
m a s t a m b é m pelo fato de somente o valor de T i r o ter escarlate d e M t 2 7 , 2 8 ) . C o n v é m o b s e r v a r q u e n ã o era d e
curso no T e m p l o . p ú r p u r a , e sim, de cor escarlate.
Escravos de ambos os sexos v i n h a m p r i n c i p a l m e n t e Se, em b . Pes. 1 1 6 , a retificação d e Krauss é exata ,
a 55

d a Síria, p a s s a n d o p o r T i r o ; muitas vezes c h e g a v a m d e importavam-se especiarias da M e s o p o t â m i a . Confere com


mais longe e passavam, como m e r c a d o r i a em trânsito, p e l o u m d a d o fornecido pelo M i d r a x e : u m a c a r a v a n a de du-
g r a n d e m e r c a d o de escravos em T i r o . A importação dessa zentos camelos passa p o r T i r o e segue p a r a Jerusalém
classe representou papel considerável: havia em Jerusalém c o m u m carregamento de p i m e n t a . 56

u m a p e d r a onde os e x p u n h a m p a r a a v e n d a pública . N ã o 45
Q u a n t o às relações com a Pérsia, temos u m a indica-
r a r o , Josefo fala de escravos dos dois sexos, especialmente ç ã o n o baixo-relevo da p o r t a oriental do T e m p l o ; por curio-
a propósito da corte de H e r o d e s , o G r a n d e . T a m b é m a li- so que pareça, representava a cidade d e Susa ; podemos 37

t e r a t u r a rabínica faz deles freqüentes referências; lemos, supor q u e se tratasse de u m presente votivo.
p o r exemplo, que u m ateniense c o m p r o u u m escravo e m O T e m p l o importava tecidos até m e s m o da índia. " N a
Jerusalém . 46
noite [do Dia da expiação] o sumo sacerdote apresentava¬
Por ocasião de u m a fome que grassou na Palestina, -se vestido d e tecido das í n d i a s . 5 3

a r a i n h a H e l e n a de A d i a b e n a m a n d o u vir de Chipre gran- F o r a m sempre m u i t o intensas as relações comerciais


d e carga de figos frescos . 47
c o m o O r i e n t e , sobretudo com a Arábia: " O s árabes tra-
A Babilônia fornecia tecidos valiosos: jacinto, escar- zem p a r a o país g r a n d e q u a n t i d a d e d e a r ô m a t a s [mais
late, bisso, p ú r p u r a . Utilizavam-nos, p o r e x e m p l o , p a r a o e x a t a m e n t e , matérias-primas p a r a a fabricação dos perfu-
v é u do Santo e p a r a a tiara do sumo s a c e r d o t e . As ves-
4S 49
mes e m Jerusalém, c o m o c o m e n t a m o s a c i m a , p . 1 7 ] , d e
tes do sacerdote em exercício e r a m de b i s s o , m a t e r i a l 50
p e d r a s preciosas e de o u r o . Já no Antigo T e s t a m e n t o ,
3 9

h á alusão ao incenso d a A r á b i a . O s perfumes queimados


60

4 3 . Supra, p. 3 3 ; N e 13,16.
44. Supra, p . 49; T o s . Ket. X I I I 3 (275, 22) e passim.
4 5 . Sijra Lv 42 (55 c 220, 1 6 ) ; Sifre D t 3,23, § 26 ( 3 1 124, 1 1 ) ; c
51. Yoma I I I 4,
K r a u s s Talm. Arch., I I , 362. 52. B. j . VI 8, 3, § 390.
4 6 . Lam. R. 1, 13 s o b r e 1, 1 ( 2 2 1). a
53. Supra, p. 2 5 .
47. Ant. X X 2, 5, § 5 1 . 54. B. j . V I I 2, 2 , § 29.
48. B. /'. V 5, 4, § 212s; essa i n d i c a ç ã o é m a i s digna de fé d o q u e 55. V e r supra, p. 5 1 , n . 3 Í .
os relatos t a l m ú d i c o s s o b r e a confecção desses v é u s e m J e r u s a l é m p o r 56. Lam. R. \, 2 s o b r e 1. 1, (18* 2 9 ) .
82 j o v e n s , cf. Supra, p. 40. Pode-se, p o r é m , p e n s a r e m r e p a r a ç õ e s o u 57. Kel. X V I I 9.
o u t r o s t r a b a l h o s feitos n o local. 58. Yoma I I I 7.
49. B, j . V 5, 7, § 2 3 5 . 59. P s e u d o - A r i s t e u , § 114.
50. Ibid., § 2 2 9 . 60. I s 60,6; Jr 6,20.
no T e m p l o v i n h a m , e m grande p a r t e , do d e s e r t o . O ci- 61 3 . O comércio c o m as regiões p r ó x i m a s
n a m o m o e a cássia são indicados como perfumes p a r a o
T e m p l o em B. } . VI 8, 3 , § 3 9 0 ; são d u a s plantas de clima O u t r o r a , como hoje, o comércio com regiões p r ó x i m a s
tropical e sub-tropical. O Pseudo-Aristeu, § 1 1 9 , men- visava especialmente ao reabastecimento d a g r a n d e cidade.
ciona a importação de cobre e ferro d a Arábia. Quais as principais m e r c a d o r i a s i m p o r t a d a s ? Sobre o as-
Herodes organizava, e m Jerusalém, lutas de feras ; 62
sunto temos duas informações.
p a r a isso precisava fazer vir do deserto árabe leões e ou-
Pouco depois de 150 antes de nossa e r a , E u p o l e m o
tros animais selvagens. N o século II antes de nossa e r a ,
redigiu seu t r a b a l h o Sobre a profecia de Elias. Contém
E u p o l e m o m e n c i o n a entregas de carne provindas da Ará-
u m a carta fictícia dirigida p o r Salomão a o rei de T i r o , n a
b i a " ; para c o m p r e e n d e r esse texto, p o r é m , é preciso levar
qual trata d a alimentação dos operários enviados p o r esse
em conta o q u e será dito mais a d i a n t e sobre a extensão
último à Judeia. " D e i instruções n a Galileia, Samaria,
do reino nabateu n a época d e E u p o l e m o . M

M o a b e A m o n p a r a q u e essas regiões lhes fornecessem o


D u r a n t e u m a g r a n d e fome, H e r o d e s , o G r a n d e , fez v i r necessário: todo mês 1 0 . 0 0 0 kor de t r i g o . . . Q u a n t o ao
trigo do E g i t o ' ; Helena de A d i a b e n a procedeu da m e s m a
5

óleo e outras m e r c a d o r i a s , é a Judéia q u e p r o v e r á ; a Ará-


forma e m igual c i r c u n s t â n c i a . T o s Maksh
66
III 4 (675, bia entregará os animais a b a t i d o s " . Conforme esses da- 6M

2 2 ) fala do frumento do Egito i m p o r t a d o p o r Jerusalém. dos, as principais mercadorias i m p o r t a d a s e m Jerusalém


D o leste do delta do Nilo vinha linho de Pelússia, q u e e r a m o trigo, o óleo e a c a r n e . A Judéia fornecia o óleo
o s u m o sacerdote usava n a m a n h ã d o D i a d a s expiações . 61
ou as azeitonas. O resto da Palestina m a n d a v a o trigo.
N a fúnebre história d a família de H e r o d e s , o veneno re- O gado v i n h a d a T r a n s j o r d â n i a . S e m d ú v i d a alguma Eu-
69

presentou g r a n d e papel; B. j . I 3 0 , 5 § 5 9 2 m e n c i o n a polemo reflete a situação de seu t e m p o . E n t r e t a n t o , os 70

aquele q u e A n t i p a s , filho de H e r o d e s , o G r a n d e , fazia vir fatos enquadram-se nos dois séculos q u e seguem a época
do Egito. Segundo j . Sota I 6, 1 7 19 ( I V / 2 ) , a m a r r a v a m ,
a
de E u p o l e m o .
c o m cordas egípcias, na esplanada d o T e m p l o , a m u l h e r
suspeita de adultério. A literatura rabínica fornece o u t r a informação rela-
tiva às principais necessidades de p r o d u t o s alimentares e m
O comércio com países distantes representou, pois,
Jerusalém. Segundo b . Git. 5 6 , q u a n d o explodiu a re- a

g r a n d e papel p a r a Jerusalém, se b e m q u e as fontes das


volta contra os r o m a n o s , três conselheiros (provavelmente
71

quais dispomos sejam devidas ao acaso. A parte q u e o


T e m p l o ocupava no comércio de Jerusalém era especial-
68. R e l a t o d e A l e x a n d r e P o l y h i s t o r , cerca d e 4 0 a , C , t r a n s m i t i d o
m e n t e importante; tratava-se, aliás, de produtos alimenta- p o r E u s é b i o , Praep. ev- I X 3 3 , 1 (GCS 4 3 , 1, 5 4 0 s ) .
res, metais preciosos, artigos de luxo, e tecidos. 69. N o q u e d i z r e s p e i t o à entrega d e a n i m a i s d a A r á b i a , c o n v é m
fazer u m a o b s e r v a ç ã o . N a época e m q u e E u p o l e m o escrevia, as tribos
dos n a b a t e u s n ã o e s t a v a m c o n f i n a d a s à região d e P e t r a . T i n h a m es-
t e n d i d o seu d o m í n i o s o b r e u m a p a r t e d a T r a n s j o r d â n i a . P o u c o t e m p o
d e p o i s , s u a s i n c u r s õ e s faziam t r e m e r egípcios e sírios ( l M c 5,25 e
9,35; J u s t i n o , Hist. Philippíc. X X X I X 5, 5-6). P o r c o n s e g u i n t e , q u a n -
d o se fala d e a n i m a i s d e corte i m p o r t a d o s da A r á b i a , trata-se e m gran-
de p a r t e d e a n i m a i s v i n d o s dessas regiões d a T r a n s j o r d â n i a ; n a é p o c a
61. B. /. V 5 , 5, § 2 1 8 . em q u e E u p o l e m o escrevia, e r a m essas h a b i t a d a s p o r j u d e u s , m a s
submetidas aos árabes.
62. Ant. X V 8, 1. § 2 7 3 .
63. E u s é b i o , Praep. ev. I X 3 3 , 1 (GCS 43, 1, 5 4 0 s ) . 70. S m i t h , I, 3 1 5 .
64. V e r infra, p . 57, n . 69. 7 1 . M e s m o n ú m e r o e m Gn. R. 4 2 , 1 s o b r e 14, 1 ( 8 5 4 ) . E m con-
a

65. Ant. X V 9, 2 , § 3 0 7 . t r a p a r t i d a , Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 5) fala d e q u a t r o , c e r t a m e n t e


b

66. Ant. X X 2, 5, § 5 1 . devido a algum equívoco.


67. Yoma Í I Í 7.
m e m b r o s do S i n é d r i o ) d e c l a r a r a m q u e iriam garantir o
72
U m a questão p r e l i m i n a r ergue-se a q u i : esses " c a m -
abastecimento da cidade d u r a n t e vinte e u m anos. O pri- p o s " , " d o m í n i o s " , " p r o p r i e d a d e s " não c o m p r e e n d i a m tam-
meiro entregaria a farinha e a cevada, o segundo, o v i n h o , b é m os vergéis? Além do mais, o Pseudo-Aristeu, no con-
o sal e o óleo; o terceiro se incumbiria da lenha. Nessas texto da passagem h á pouco citada, diz-nos que os produ-
disposições, observar-se-á q u e não h á m e n ç ã o de a n i m a i s . tos do solo v i n h a m p r i n c i p a l m e n t e da S a m a r i a e da "pla-
nície q u e confina com a I d u m é i a " . É preciso a i n d a lem-
75

brar que o solo pedregoso e calcáreo dos montes da Judéia


e r a m pouco favoráveis à cultura do trigo. Segundo Ar I I I
a. Trigo
2, o terreno q u e cerca Jerusalém é n o t o r i a m e n t e p o b r e e
Com muito acerto os dois documentos citados men- os nomes dos vilarejos o confirmam. S a b e m o s , por exem-
cionam o trigo em primeiro lugar. D a importação do trigo plo, q u e inúmeras cidades devem seus nomes aos produ-
dependia inteiramente a sobrevivência da c i d a d e ; em épo- tos agrícolas que lhes são peculiares. O r a , a t u a l m e n t e , n u m
cas de p e n ú r i a , era especialmente o trigo q u e faltava. raio de 18 quilômetros em torno de Jerusalém, encontra-se
C o m o p o d e m o s deduzir, a maior p a r t e das i m p o r t a ç õ e s apenas u m a vez u m n o m e composto de " t r i g o " . Se acres- 7 6

de m e r c a d o r i a s consistia nesse cereal. D e o n d e o faziam centarmos a isso os dados de E u p o l e m o relativos à impor-


vir? tação de trigo em J e r u s a l é m , ficaremos convencidos de
77

que as cercanias da cidade e a Judéia não p o d i a m aten-


Cultivava-se o trigo nos arredores de Jerusalém. Se- der, senão de m o d o p r e c á r i o , ao c o n s u m o daquele cereal.
g u n d o o Pseudo-Aristeu, § 112, os campos d e Jerusalém
e r a m inteiramente cultivados e via-se q u a n t i d a d e de oli- A farinha p a r a o T e m p l o devia ser de primeira qua-
veiras, cereais e legumes secos. S i m ã o d e Cirene chega à lidade. Segundo Men. V I I I , faziam-na vir de Micmas e de
cidade pelo norte ou pelo oeste, q u a n d o o o b r i g a m a car- Z a n o á , em segundo lugar de Efraim " n a p l a n í c i e " (Ha-
regar a cruz d e Jesus; voltava " d o c a m p o " (Mc 1 5 , 2 1 ; Lc f a r a i m ? ) . M i c m a s situava-se no nordeste de Jerusalém,
78

2 3 , 2 6 ) . N a c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém, ha- Z a n o á no sudeste, a m b a s na Judéia, Se o terceiro lugar se


via proprietários d e grandes extensões d e terra (At 4 , 3 4 - 3 7 ; identifica c o m Aifraim , localizamo-lo a 5 milhas roma-
19

5,1-10). Josefo m e n c i o n a os c a m p o s q u e possuía em Jeru- nas ((7,390 km) a leste de B e t e i . Sendo exata essa loca-
80

salém" . Me/2. X 2 transcreve a prescrição segundo a


73 lização, deveria achar-se em território judaico , e não em 81

qual o feixe da apresentação, formado de espigas de trigo, território s a m a r i t a n o , o que seria totalmente inadmissí-
S2

deve vir das redondezas d e Jerusalém. Bik. I I 2 estende¬ vel, visto tratar-se de farinha p a r a o T e m p l o . Mas como
-se sobre a questão de c o m o se deve proceder c o m o trigo o lugar se situa " n a p l a n í c i e " , é preciso ler, seguramente,
das primícias misturado ao trigo c o m u m , no caso d e ter H a f a r a i m e, por conseguinte, p r o c u r a r a terceira localidade
sido semeado em Jerusalém; ainda a q u i , Jerusalém deve 7 4

designar o distrito da cidade. Demay V I 4 apresenta o caso 75. P s e u d o - A r i s t e u , § 107.


76. S m i t h , I, 298.
de u m c a m p o n ê s q u e arrendou a m e t a d e do c a m p o de u m 77. Supra, p . 57.
habitante de Jerusalém. E m b . B. M. 9 0 , h á u m a refe- a
78. Men. V I I I 1. S e g u n d o I. K a h a n , seria H a p h a r a i m p e r t o de
rência à d e b u l h a do tribo no interior de Betfagé. Séforis (Js 19,19); H a p h a r a i m é a i n f o r m a ç ã o de m u i t o s mss, cf. R.
N . R a b b i n o w i c z , Sepher diqdüqê sôph rtm
e
(em h e b r a i c o = Variae
lectiones in Mischnam et Talmud Babylonicum), t. X V , M u n i c h , 1886,
s o b r e Men. V I I I 1.
72. Cf. Gii. R. 4 2 , 1 s o b r e 14. 1 ( 8 5 4 ) : " g r a n d e s d a c i d a d e " .
a

79. E u s é b i o , Onomasticon 223 {CCS 1 1 , 1, 2 8 ) .


Qoh. R. 7, 18 s o b r e 7, 11 ( 1 0 4 9 ) ; Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 5 ) ;
a b

8 0 . Cf. fo 11,54; b . Men. 8 5 . a

bülew tes
e
= bouleutés.
8 1 . A s s i m i g u a l m e n t e e m l M c 11,34; Ant. X I I I 4, 9, § 127.
73. Vita 76, § 422. 82. N e u b a u e r , Géogr., 155, situava-o e m t e r r i t ó r i o s a m a r i t a n o .
74. V e r supra, p . 16.
A respeito do comércio de trigo e m Jerusalém, sabe-
n o limite ocidental d a fértil planície d e Esdreíon. É, p o i s ,
mos da existência de u m m e r c a d o deste cereal cujas tran-
principalmente da Judéia que se fazia vir a farinha p a r a
sações e r a m consideráveis e a venda da farinha começava
90

o T e m p l o . E n t r e t a n t o , não se deve avaliar a i m p o r t a n c i a


logo após a oferta do feixe da a p r e s e n t a ç ã o em 16 N i s a . 91

da Judéia pela cota d e trigo enviada a Jerusalém; tratava¬


É curioso observar que são muito escassos os detalhes
-se, com efeito, de trigo p a r a o T e m p l o e, neste caso, a
sobre a c o m p r a do trigo p a r a Jerusalém. Talvez seja esta
Samaria e a Peréia estavam excluídas . 83

a razão: o trigo vinha de regiões longínquas. Q u a n d o se


A m a i o r p a r t e de trigo seria fornecido pela Transjor-
tratava de p r o d u t o s da circunvizinhança, o p e q u e n o co-
d â n i a . O H a u r a n passava p o r celeiro d e trigo da Pales-
8J

merciante trazia pessoalmente a sua m e r c a d o r i a ; em con-


tina e da Síria. Herodes c u i d a r a de garantir a segurança
trapartida, o transporte das cargas v i n d a s de longe ficava
d a T r a n s j o r d â n i a . C e r t a m e n t e , n ã o alcançou o r e s u l t a d o es-
reservado às c a r a v a n a s . Os grandes negociantes, muitas ve-
p e r a d o , e n v i a n d o 3 . 0 0 0 idumeus à T r a c o n í t i d e mas a se-
zes desonestos, e n c o n t r a v a m nesse comércio u m c a m p o de
gurança se deu após o estabelecimento, na região d a Ba-
atividade que lhes convinha sobremodo . Assim hoje, como 92

tanéia, a oeste da T r a c o n í t i d e , do valoroso Z a m a r i s , ju-


85

o foi e m tempos remotos, conforme no-lo m o s t r a m as pré-


deu babilónico e de seus p a r t i d á r i o s . Essa m e d i d a foi to-
dicas sociais dos profetas no Antigo T e s t a m e n t o . Apesar
m a d a nos últimos anos antes d o início de nossa era. Co-
d e sua importância, o comércio d e trigo em Jerusalém não
meçou a p a r t i r daí a ascensão da T r a n s j o r d â n i a .
se efetuava às claras. E r a assunto de b a s t i d o r e s . . .
Entre as regiões produtoras de trigo, E u p o l e m o cita,
ao lado da Transjordânia, a Samaria e a Galileia. Da ci-
b . Frutas e legumes
dade de Samaria Herodes fez vir trigo, vinho, óleo e g a d o
no m o m e n t o em q u e fazia o cerco d e Jerusalém e q u a n d o
E m segundo lugar, b . Git. 5 6 e E u p o l e m oa 93
mencio-
as tropas r o m a n a s enviadas em reforço, queixavam-se d a
n a m a importação de frutas e produtos derivados.
carência d e víveres . A propósito d o feixe d e espigas d a
86

F o r m u l a m o s t a m b é m aqui u m a p e r g u n t a : q u e enten-
apresentação e dos dois pães do T e m p l o , diz b . Men. 8 5 : a

demos por cultura de frutas e legumes nos arredores da


"Ter-se-ia feito vir t a m b é m o trigo d e C o r a z i m e de 8 7

Jerusalém antiga?
Kephar-Akim se esses lugares fossem mais próximos de
O solo calcáreo das cercanias da cidade convém so-
J e r u s a l é m " . Essas duas localidades são certamente Cora-
b r e t u d o às oliveiras e, n u m grau menor, à cultura do trigo
z i m , p e r t o de C a f a r n a u m , e a p r ó p r i a C a f a r n a u m . Se-
8 8 89

e da vinha. E m sua descrição dos a r r e d o r e s , o Pseudo-


g u n d o essa asserção, o trigo da Galileia passava e m Jeru-
-Aristeu, § 1 1 2 , observa a seguinte o r d e m : " A região é
salém p o r ser d e primeira q u a l i d a d e , e, p o r t a n t o , utilizá-
toda p l a n t a d a de oliveiras, cereais, legumes secos, [rica]
vel no T e m p l o . M a s , por causa do transporte e m território
t a m b é m em vinhedos e a b u n d â n c i a de m e l ; q u a n t o às ou-
pagão, não podia servir p a r a aquele s a n t u á r i o , sendo so-
tras frutas e tâmaras não se poderia descrever". D e modo
mente aproveitado p a r a a p o p u l a ç ã o da cidade.
mais geral apoiamo-nos, de preferência, nos dados do li-
vro de E n o c (I Enoc) e de Josefo. O livro de E n o c , redi-
8 3 . Cf. supra. p . 16. gido após a invasão dos partos em 48-38 a . C , assim se
84. Cf. E u p o l e m o , supra, p . 57.
85. Ani. X V I I , 2, 1-3, § 23ss. e x p r i m e , o p o n d o os arredores de Jerusalém ao vale do
8 6 . B. j . I 15, 6 § 297ss.
87. V a r i a n t e s : Barziyin, K a r w i s . T o s . Men. I X 2 (525, 3 4 ) : B a r h a i m ; 90. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 b
16).
cf. R a b b i n o w i c z , Variae ¡ectíones (citado supra, n. 7 8 ) . 91. Men. X 5 ; b . Git. 5 6 .
a

88. Mt 11,21; Lc 10,13. 92. Ver supra, p. 52.'


89. T a m b é m L. G o l d s c h m i d t . Der babvlonische Talmud, t. V I U , 93. V e r supra, p . 57.
Leipzig, 1909 = La H a y e , 1933, 705, n . 79.
H i n o m : " P o r q u e será essa terra tão a b e n ç o a d a e farta- p o r t a n t o , supor u m reflorestamento mais denso do q u e o
m e n t e a r b o r i z a d a , e n q u a n t o a r a v i n a , no centro, é amal- de hoje.
diçoada?" . 9 4

Indicações minuciosas v ê m confirmar este resultado.


Conta Josefo que H e r o d e s , d u r a n t e o cerco d e 3 7 Segundo b . B. Q. 82", dentro da p r ó p r i a Jerusalém não
a . C , m a n d o u cortar todas as árvores da r e g i ã o , a b e m 95
podia haver jardins. O T a l m u d e cita u m a única exce-
1 0 2

dizer, da região do norte. O b o s q u e deve, porém, ter bro- ção: u m roseiral, d a t a n d o da época dos profetas . E m ,a3

t a d o ou a d e r r u b a d a não foi total. C o m efeito, por ocasião M. Sh. I I I 7, discute-se o caso de u m a árvore p l a n t a d a
d o cerco de 70 d . C , os r o m a n o s d e s b a s t a r a m , p a r a c o m e - d e n t r o do limite de Jerusalém, cujos frutos caíam p a r a
çar, a região diante da cidade '' , e depois o c a m p o , n u m
6
o l a d o da cidade. É impossível e n c o n t r a r árvores na mu-
raio de 90 estádios (isto é, 16,650 k m ) ; enfim, n u m raio 9 7
ralha da encosta ou sobre ela; é preciso, p o r t a n t o , supor
d e 100 estádios ( 1 8 , 5 0 0 k m ) ; assim sendo, d e s b a s t a r a m
9 S
q u e nessa passagem o n o m e " J e r u s a l é m " i n d i q u e o períme-
u m a área o u t r o r a rica e m árvores e j a r d i n s d e lazer tro u r b a n o e não a cidade p r o p r i a m e n t e dita. E n c o n t r a m o s
E n t r e esses, viam-se belos vinhedos; é o q u e Ta'an co- caso análogo a propósito dos lagares p a r a o óleo . ltw

m e n t a (IV 8) e o n d e R. Shimeon ben Gamaliel se refere


à g r a n d e festa p o p u l a r de 15 a b : sob as vinhas, as j o v e n s Segundo Jo 12,13 " a m u l t i d ã o t o m o u ramos de pal-
d e Jerusalém d a n ç a v a m d i a n t e dos r a p a z e s . meira e saiu ao encontro de J e s u s " , h a v e r i a então palmei-
Conforme vimos há pouco °, o Pseudo-Aristeu deve
10 ras na cidade. E m relato paralelo dos sinóticos, não são
exagerar em suas informações acerca de u m a a b u n d a n t e as multidões provindas de Jerusalém ao encontro de Jesus
cultura d e trigo. D e v e m o s t a m b é m aceitar, c o m reservas, que lhe p r e s t a m h o m e n a g e m , e sim os peregrinos, vindos
suas outras indicações a respeito da p r o d u ç ã o de frutas nos p a r a a festa, em cujo cortejo Jesus se i n c o r p o r a , encami-
arrabaldes de Jerusalém. Q u e m se impressionou pelos es- nhando-se p a r a a cidade. Nessa n a r r a t i v a cios sinóticos,
tragos que a m á exploração dos turcos acarretou p a r a o além do mais, não se trata de p a l m a s colhidas em Jerusa-
reflorestamento, irá supor, d e imediato, q u e a região e r a , lém que servem p a r a o r n a m e n t a r o c a m i n h o de Jesus, mas
antigamente, mais reflorestada do que hoje. Podemos, c o m de galhos folhudos cortados das árvores entre Betânia ou
efeito, c o m p r o v a r essa asserção no que diz respeito a o Betfagé e Jerusalém . Levemos, p o r é m , em consideração
105

leste e ao oeste do vale do J o r d ã o . Sem d ú v i d a , dois gran- os seguintes p o n t o s : ainda hoje há algumas palmeiras em
des cercos c o n t r i b u í r a m p a r a o desflorestamento das cer- Jerusalém e o Pseudo-Aristeu, § 1 1 2 , cita t â m a r a s na lista
canias d a cidade (Pompeu em 63 a . C ; H e r o d e s em 37 dos produtos da c i d a d e . Por conseguinte, a informação
1 0 6

a . C ; é provável que somente em p a r t e ) ; f o r a m , p o r é m , de João integra o domínio das possibilidades. Concluímos


rapidamente reflorestados e, d e 3 7 a.C. até 6 6 d.C. n ã o daí t a m b é m 107
q u e as proibições e n u m e r a d a s em b . B. Q.
h o u v e o u t r o cerco. Acrescentemos a isso, que o solo é fa- 8 2 , tendo, ao q u e se diz, força de lei p a r a Jerusalém, não
b

vorável aos oliveirais e b e m menos à v i n h a . P o d e m o s , 101 passam de p u r a s teorias. H a v i a lá, com efeito, u m roseiral,
o n d e se e n c o n t r a v a m , igualmente, f i g u e i r a s e palmeiras.
108

94. I Enoc XXVII 1, cf. X X V I 1; s o b r e o v a l e d o H i n n o n , v e r


supra, p . 128. 102. b . B. Q. 82*; Ma'as. II 5; T o s . Neg. V I 2 (625, 1 4 ) .
9 5 . 8. j . I 17, 8, § 344, 103. V e r supra, p . 18.
96. B. /'. V 6, 2, § 264. 104. Supra, p . 16.
97. B. } . V 12, 4 , § 5 2 3 ; V I 1, I, § 5 . 105. M c 11,1.8; M t 21,1-8.
98. B. j . V I 2, 7, § 151. 106. V e r supra, p . 6 1 .
99. B. /'. V I 1, 1, § 6. 107. V e r supra, p . 15 e infra, p . 70, n . 153.
100. Supra, p . 58. 108. Ma as. II 5.
1

101. V e r supra, p . 6 1 .
A p ó s essa exposição, façamos o circuito da c i d a d e . salém, e m Betânia, situado a este, vemos belo a r v o r e d o . 113

Já c o m p r o v a m o s a existência de oliveiras a leste e ao sul . m


O s evangelhos falam da maldição de u m a figueira ; tra- 114

Na torre noroeste da encosta mais setentrional, a torre ta-se, evidentemente, de u m a figueira d e s t a c a d a das outras
Pséfinus, Tito se viu em situação difícil p o r ocasião de árvores ao longo deste c a m i n h o . Neste m e s m o percurso,
uma p a t r u l h a ; com efeito, os jardins com seus muros e entre Jerusalém e Betânia, achava-se Betfagé; segundo as
incontáveis cercas criaram-lhe obstáculos "°. O u t r o r a , t o d a indicações que possuímos, deve-se t r a d u z i r este n o m e p o r
a p a r t e norte abrangia u m a região de jardins (mais exata- "casa dos figos v e r d e s " . Se nos dirigirmos p a r a o sudes-
1 1 5

mente, de p o m a r e s ) . Antes da construção d a terceira en- te, chegamos ao curso inferior do C é d r o n . Nesse local, o
costa setentrional por Agripa I ( 4 1 - 4 4 d . C ) , já existiam ali vale favorecia a construção de jardins e o p r ó p r i o vale do
alguns jardins que a encosta em questão englobou por fim. Cédron é u m w a d i . C o m água apenas no inverno , mas m

O n o m e da p o r t a que constitui o ponto de partida da se- com u m afluxo artificial, o sangue das vítimas que descia
g u n d a encosta b e m o e x p r i m e : Porta dos Jardins (Gen- do T e m p l o . Isso dava-lhe e x t r a o r d i n á r i a fertilidade. A es-
náth) . Contamos com uma única referência a respeito
111
p l a n a d a do T e m p l o , calçada, era ligeiramente inclinada,
d e sua situação: achava-se na primeira encosta setentrio- a fim de que pudessem lavar o sangue das vítimas . A en- 117

n a l . Q u a n t o ao mais, sua posição é discutida e mantém-se t r a d a do canal que o escoava achava-se junto ao altar ; !1S

q u e s t ã o a r d e n t e p a r a os estudiosos cristãos e m suas pes- nele jogavam diretamente o sangue dos animais impró-
quisas sobre a topografia da Jerualém antiga. C o m efeito, prios p a r a os sacrifícios . Esse canal de escoamento sub-
m

a posição dessa Porta dos J a r d i n s , quer dizer, do começo t e r r â n e o , chegava até o vale do Cédron . Dos tesoureiros m

da segunda encosta setentrional, d e p e n d e em parte da lo- do T e m p l o os jardineiros c o m p r a v a m o sangue e o utiliza-


calização da colina do Gólgota e, p o r t a n t o , da autentici- v a m como a d u b o ; aquele que o usasse sem pagar, r o u b a v a
dade do local da igreja atual do Santo Sepulcro. O j a r d i m do T e m p l o . 121

de José de Arimatéia, m e m b r o do Sinédrio (Jo 2 0 , 1 5 ; N a colina ocidental do vale do Cédron, ao sul da


19,41), situava-se na vizinhança d a segunda encosta seten- esplanada do T e m p l o , os vinhedos e r a m sem d ú v i d a cul-
trional; foi incluído na cidade após a construção da ter- tivados. D a l m a n mostrou essa p r o b a b i l i d a d e , baseando-se
ceira encosta (41,44 d . C ) . Um jardineiro c u i d a v a desse nas escavações de R. W e i l l , de 5 de n o v e m b r o de 1913
j a r d i m (Jo 2 0 , 1 5 ) . Mesmo depois de a terceira encosta se- a 8 de m a r ç o de 1 9 1 4 , n a vertente oriental do O f e l . Na 12Z

tentrional ter incluído no p e r í m e t r o d a cidade os j a r d i n s encosta, Weill descobriu três p a t a m a r e s em forma de ter-
situados d i a n t e da segunda encosta, sabemos q u e h a v i a
jardins ao n o r t e . C o m seu exército, T i t o a v a n ç o u a p a r t i r 113. M t 21,8; M c 11,8.
do monte Scopus, situado ao norte de Jerusalém, e alcan- 114. M c 11,13-14; M t 21,18-22.
çou j a r d i n s , plantações de árvores e recantos guarnecidos 115. O u t r a s hipóteses s o b r e o d e r i v a d o d a p a l a v r a e m D a l m a n ,
lünéraires, 352 e n . 2 .
de árvores selecionadas " . 2

116. Ant. V I I I 1, 5, § 17; Jo 18,1.


117. P s e u d o - A r i s t e u , § 88 e 90.
Chegamos à leste da cidade. Segundo Jo 1 8 , 1 , existia 118. Mid. I I I 2.
u m jardim perto do lagar do G e t s ê m a n i , n a área superior 119. Zeb. V I I I 7.
120. Tamid I V 1; Mid. I I I 2 ; Yoma V 6; Pes. V 8; Me'i!a I I I
do vale do Cédron. Era, seguramente, u m oliveiral, con- e passim.
forme o indica o lagar p a r a o óleo. N o c a m i n h o de Jeru- 121. Yoma V 6. — T r a t a v a - s e de u m a g r a n d e q u a n t i d a d e de san-
g u e , s o b r e t u d o d u r a n t e as festas; b . Pes. 6 5 o faz v e r q u a n d o diz:
b

" E r a o o r g u l h o dos filhos de A a r ã o m e r g u l h a r os p é s , até o t o r n o z e l o ,


109. V e r supra, p . 15. n o s a n g u e [das v í t i m a s ] " (esse texto fala da q u a n t i d a d e de s a n g u e
1.10. fí. j . V 2, 2, § 57. n o átrio d o s s a c e r d o t e s e n ã o n o c a n a l ) .
111. B. j . V 4, 2, § 146. 122. Cf. ZDPV 45 ( 1 9 2 2 ) , 2 7 .
112. B. /. V 3, 2, § 107.

3 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
O COMÉRCIO
raços, c o m vestígios de m u r o s , u m m u r o transversal de
40 m . de c o m p r i m e n t o e u m torreão; segundo D a l m a n , mude apresentam a Judéia c o m o a região d e vinhatei-
131

ros p o r excelência. P o d e m o s afirmar, p o r t a n t o , q u e a Ju-


todos faziam p a r t e de u m a v i n h a . 1 B

déia fornecia v i n h o e u v a p a r a Jerusalém.


Mais ao sul, em direção da piscina de Siloé, a " f o n t e "
d e Siloé (na realidade a fonte b r o t a mais ao norte = fonte As azeitonas constituíam a principal p r o d u ç ã o frutí-
de Gion) alimentara com suas águas os jardins do v a l e fera da Judéia; E u p o l e m o e o Pseudo-Aristeu
132
estão 133

de a c o r d o neste p o n t o . A existência d e inúmeros topóni-


d o Cédron . N a confluência dos vales do Cédron e do
m

m o s da Judéia e a q u a l i d a d e do terreno
134
confirmam 135

H i n o n , floresciam, já em épocas remotas, os jardins reais.


as informações. Segundo Men. V1ÍI 3 o óleo necessário
U m a fonte aí b r o t a v a , E n Rogel, segundo a t r a d i ç ã o .
m m

p a r a o T e m p l o v i n h a d e T é c u a n a Judéia e de R a g a b na
Nesses jardins é q u e se e n c o n t r a v a m os lagares reais , 127

Peréia . De acordo com j . Hag. I I I 4, 7 9 3 ( 1 V / 1 , 2 9 8 ) ,


136 t

A sudeste d a cidade, o n o m e do vilarejo Erebínthom a Peréia m a n d a v a azeitonas m a s n ã o o a z e i t e . T o s . Men. 137

oíkos indica a cultura de grão-de-bico . m

I X 5 ( 5 2 6 , 5) m e n c i o n a G o s h H a l a b ( = Giscala em Jo-
O s dados gerais relativos às plantações de frutas e sefo) n a Galileia, como terceiro lugar de p r o d u ç ã o ; p o d e
legumes situadas nas cercanias de Jerusalém c o n f i r m a m a ser, p o r é m , q u e , na base dessa última afirmação o autor
existência do varejo. Tais plantações forneciam, suficien- t e n h a q u e r i d o realçar n ã o tanto u m f a t o histórico q u a n t o
temente, legumes, azeitonas, u v a s , figos e grão-de-bico. a necessidade de fazer u m a e n u m e r a ç ã o completa das três
Além das frutas trazidas das redondezas, faziam vir, partes d a Palestina judaica. Um único texto menciona 138

sobretudo da Judéia, azeitonas (óleo) e u v a ( v i n h o ) . o transporte d e frutas da Galileia p a r a venda em Jeru-


O v i n h o servia, no T e m p l o , p a r a as libações. Segun- salém.
d o Men V I I I , 6, vinha sobretudo de Quiriat-Jearim (si-
t u a d a seguramente no w a d i F a r ' a h ao norte de Jericó) Caminhemos agora até o m e r c a d o de frutas e legu-
e de A t u l a i m (ao norte de Guilgal); a p r e c i a v a m m e n o s o mes da cidade santa. Conforme o q u e a c a b a m o s d e cons-
vinho p r o d u z i d o em Bet-Rema e Bet-Labão, a m b a s situa- t a t a r , ali e n c o n t r a m o s figos q u e se p o d e r i a c o m p r a r igual-
das na m o n t a n h a , e de G u e f a r Segana na planície \ Se- l 2 m e n t e n o roseiral , e frutas de sicômoro . U m a só des-
m m

guindo o texto da Mishna, vemos que as outras regiões sas frutas constituía a a l i m e n t a ç ã o d o p i e d o s o S a d o c ; en-
da Palestina teriam p o d i d o igualmente fornecer v i n h o p a r a t r e t a n t o , d i s p u n h a d e mais d e cem p o r dia. N a Páscoa,
o T e m p l o , o q u e nos permite p r o c u r a r as cinco localida- devido a o g r a n d e n ú m e r o de peregrinos, forçoso era tra-
des em questão, todas n a Judéia, de acordo c o m a locali- zer p a r a o m e r c a d o , g r a n d e q u a n t i d a d e d e legumes e de-
zação aceita. Acrescentemos a essas indicações três grupos terminados condimentos, necessários à celebração ritual
de dados: freqüentes topónimos da Judéia confirmam a d a ceia pascal. A alface, por exemplo, era obrigatória ; 141

cultura d a vinha; subsistem numerosos vestígios de laga- 131. Klein, loc. cit„ 389-392.
res de uva; finalmente, o Antigo T e s t a m e n t o e o Tal-
m
132. S u p r o , p . 57.
v e i r a 133.
s " . § 112; v e r supra, p. 61: "inteiramente plantada com oli-
123. Cf. Z c 14,10; v e r u m p o u c o mais a d i a n t e . 134. S m i t h , I, 300, n. 3.
124. B. V 9, 4, § 410.
125. Ant. V I I 14, 4, § 347. 135. S u p r a , p . 62.
126. I R s 1,9. 136. Ant. X I I I 15, 5, § 3 9 8 ; h o j e Rãgib, a identificar c e r t a m e n t e
c o m E r g a , m e n c i o n a d a a 15 m i l h a s a o o e s t e d e G e r a s a ( E u s é b i o ,
127. Z c 14,10. Esse d a d o d e v e i n d i c a r o limite m e r i d i o n a l d a Onomasticon 216 (GCS I I . \, 1 6 ) .
cidade. 137. Ver supra, p . 15.
128. B. /. V 12, 2, § 507. 138. Ma'as. II 3 .
129. S o b r e a localização, v e r N e u b a u e r , Géogr., S2ss e S. K l e i n 139. Maas. I I 5.
em Festschrifí Schwarz, 391.
140. Iam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 (29^ 1 1 ) .
130. S m i t h , I, 303 e n. 2.
141. Pes. X 3 .
p e r m i t i a m , p o r é m , a chicória, o agrião, o b r e d o , ervas têm licença de comer. Além disso, n ã o é p e r m i t i d o deixar
amargas . N a Páscoa, o m e r c a d o d e Jerusalém devia
142 entrar a pele desses animais n e m fazer criação deles na
t a m b é m expor condimentos, v i n h o e vinagre; m i s t u r a d o s cidade. Somente são autorizados os q u e vão servir nos
às frutas esmagadas formavam a massa ritual (hãrôset) : 143 sacrifícios tradicionais, necessários p a r a aplacar a ira d e
o v i n h o , como b e b i d a , fazia igualmente parte d a refeição D e u s " . Essa ordem limitou, pois, a importação de ani-
w

ritual; m e s m o os mais pobres d e v e r i a m b e b e r p e l o m e n o s mais, só p e r m i t i n d o a dos que iam servir p a r a o culto.


q u a t r o taças . O s trezentos tonéis de v i n h o trazidos do
144 Revela u m a i m p o r t a ç ã o em g r a n d e escala n o início do
m o n t e de Simeão serviam, ao q u e parece, p a r a esse uso século II antes de nossa era.
ou p a r a q u a l q u e r outra necessidade c u l t u a l . l45

Recapitulemos o q u e as informações nos f o r n e c e m De onde faziam vir os animais?


acerca do cultivo nos a r r a b a l d e s d a cidade e d a importa-
ç ã o d o trigo, frutas e legumes. Fazia-se vir a maior p a r t e " G r a n d e v a r i e d a d e de animais ali e n c o n t r a v a pasta-
do trigo de outras regiões da Palestina, sobretudo da gens a b u n d a n t e s " , diz o P s e u d o - A r i s t e u . Com efeito,143

a região das estepes dos montes da Judéia é propícia às


T r a n s j o r d â n i a e n ã o só da Judéia. A Galileia e a Sama-
pastagens, mas u n i c a m e n t e p a r a os r e b a n h o s de carneiros
ria o c u p a v a m o segundo lugar no fornecimento desse ce-
e cabras. A essa informação do Pseudo-Aristeu correspon-
real. O abastecimento d e frutas e legumes p a r a a c i d a d e
de e x a t a m e n t e o q u a d r o d a d o por b . Men. 8 7 , c o m a fór- a

era d e m o d o especial g a r a n t i d o pela p r o d u ç ã o das cer-


mula de introdução tanaíta ("Nossos mestres e n s i n a r a m " ) ,
canias (vinho, figos, legumes) e pela Judéia (azeitonas e
indicando u m a data anterior a 2 0 0 d.C. Trata-se das ne-
uvas).
cessidades do T e m p l o : " P r o c u r a v a m - s e carneiros e m M o a b ,
cordeiros no H e b r o n , novilhos em S a r o n , p o m b o s n a ..Mon-
c. Gado tanha r e a l " . Saron era a planície costeira entre Jafa e
Lida , g r a n d e m e n t e propícia à criação de bois. A Mon-
1W

A o l a d o da i m p o r t a ç ã o d e trigo e azeitonas, E u p o - tanha real são os montes da Judéia.


lemo m e n c i o n a a d e g a d o . Conforme conta Josefo, An-
146
Se a isso acrescentarmos a indicação d e E u p o l e m o , 1S0

tíoco, o G r a n d e (príncipe da Palestina p r o v i s o r i a m e n t e em segundo a q u a l os animais de corte v i n h a m da A r á b i a , ou


219-217 a . C , e depois, definitivamente em 1 9 8 ) , procla- melhor, da T r a n s j o r d â n i a , temos o seguinte q u a d r o : os
m o u p a r a todo o seu reino, u m a o r d e m relativa à importa- montes da Judéia forneciam carneiros, cabras e p o m b a s ;
ção d e animais e m Jerusalém: " A s s i m t a m b é m fica proi- a T r a n s j o r d â n i a , animais cevados, especialmente carneiros;
bida a i n t r o d u ç ã o na cidade de carne de cavalo, de m u a - na planície costeira, vitelos.
res, onagros ou de asnos domésticos, p a n t e r a , r a p o s a , le- Jerusalém contava c o m diversos m e r c a d o s de animais,
bre e, em geral, de q u a l q u e r animal q u e os j u d e u s n ã o uns p a r a os profanos e outros p a r a o destinados aos sa-
crifícios.
142. Pes. I 6. 1. U m deles só vendia animais v i v o s . 151

143. Pes. X 3 .
144. Pes. X 1.
147. Ant. X I I 3 , 4, § 146.
145. Lam. R. 2, s o b r e 2, 2, ( 4 4 4 ) , cf. j . Ta'na.
a
I V 8, 6 9 37a

148. § 112.
( I V / 1 , 1 9 1 ) ; r e s u l t a d o fato d e o c o n t e x t o a p r e s e n t a r essa e x p o r t a -
149. P a r a a localização, v e r A t 9,35.
ção de v i n h o c o m o u m m é r i t o d o m o n t e de S i m e ã o . Assim t a m b é m ,
150. Supra, p . 147.
o p a r a l e l i s m o c o m o m o n t e das O l i v e i r a s (ibid.), o n d e se e n c o n t r a -
1 5 1 . Sheq. V I I 2 . Essa p a s s a g e m d e i x a s u p o r q u e aí se c o m p r a v a
v a m as lojas d o s v e n d e d o r e s d e a n i m a i s p a r a os sacrifícios, i n d i c a u m a a m a i o r p a r t e dos a n i m a i s c o m " o d i n h e i r o d o d í z i m o " . C a d a israelita
utilização d o v i n h o p a r a as n e c e s s i d a d e s cultuais. p i e d o s o era, c o m efeito, o b r i g a d o a d i s p e n d e r e m J e r u s a l é m , o d é c i m o
146. V e r supra, p . 57.
2 . O u t r o comerciava animais cevados, sendo explici- ritualmente puros p a r a os sacrifícios , e oitenta de tece- ,5S

t a m e n t e u m m e r c a d o de carne . Aí se v e n d i a m galinhas
152 lões t r a b a l h a n d o e m lã fina . N e u b a u e r situa essa locali-
15É

também. dade nos arredores de T i b e r í a d e s S e r i a m , pois, obriga-


dos a transportar, através de u m território p a g ã o , os ani-
Aos m e r c a d o s de animais profanos acrescentavam-se
mais p a r a os sacrifícios; essa afirmação de N e u b a u e r pa-
os mercados d e animais p a r a os sacrifícios . 153

rece-nos, p o r t a n t o , duvidosa. H a v e r i a , talvez, nas cerca-


3 . N o m o n t e das Oliveiras, havia dois cedros. Sob
nias de Jerusalém u m lugar com esse n o m e . Segundo o
uma dessas árvores achavam-se " q u a t r o lojas o n d e ven-
M i d r a x e . , u m servente da sinagoga p r e p a r a v a neste lo-
158

d i a m o q u e era necessário aos sacrifícios de p u r i f i c a ç ã o " ;


cal as lâmpadas p a r a o s á b a d o , ia r e z a r no T e m p l o e ti-
essas palavras indicam especialmente p o m b o s , cordeiros,
n h a t e m p o de voltar p a r a acender as l â m p a d a s ; conclui¬
carneiros, óleo e farinha. "Sob outro cedro, v i n h a m bus-
-se, pois, que essa localidade ficava m u i t o p r ó x i m a de Je-
car, todo mês, 40 s "ah d e rolas p a r a os sacrifícios \ N ã o
l ! 5

rusalém. Aceitemos, e n t r e t a n t o , essa informação com algu-


sabemos, e x a t a m e n t e , o n d e fica situado Migdal Seboaya
m a reserva, já que o contexto n a r r a fato análogo c o m mu-
((variante: Sabbaaya) = Migdal dos tintureiros; h a v i a lá,
lheres de Lida.
segundo dizem, trezentas lojas de comerciantes de animais
N o T e m p l o , em Jerusalém, somente u m comércio de
d o l u c r o de sua terra e talvez t a m b é m d e seus a n i m a i s (a isso se animais p a r a os sacrifícios nos é c o n f i r m a d o . Jesus chega
c h a m a v a s e g u n d o d í z i m o ) . O s fiéis u s a v a m g r a n d e p a r t e d e s s e d i n h e i r o à e s p l a n a d a do T e m p l o , d e r r u b a as "mesas dos cambis-
p a r a os sacrifícios pacíficos e sacrifícios de ação de g r a ç a s , isto é, sa-
crifícios q u e p o d i a m ser c o n s u m i d o s após t e r e m d a d o aos s a c e r d o t e s tas" 159
e " a s cadeiras dos que v e n d i a m p o m b o s " ; se- 1 6 0

a p a r t e q u e lhes c a b i a . A l é m d o m a i s , a M i s h n a deixa s u p o r q u e g u n d o Jo 2 , 1 4 , tratava-se de " v e n d e d o r e s de bois, de ove-


t o d o a n o c o m p r a s eram feitas c o m o d i n h e i r o do s e g u n d o d í z i m o , por-
t a n t o , q u e as p e s s o a s d o c a m p o d e i x a v a m esse d i n h e i r o p a r a seus lhas e de p o m b o s " .
amigos de J e r u s a l é m . E m u i t o i m p o r t a n t e p a r a a s i t u a ç ã o social da Mais de u m a vez a exatidão dessas asserções foi posta
c i d a d e (ver supra, p . 4 3 ) .
em d ú v i d a . N ã o h á motivo, p o r é m . Já Z c 14,21 (quer
152. S o b r e os d i f e r e n t e s s e n t i d o s d a p a l a v r a pattamítn, ver supra,
p . 17; Levy, Wòrterbuch, I V , 27 b. dizer, o Deuterozacarias, séculos Í V / I I I antes de nossa
153. S e g u n d o B. Q. V I I 7; T o s . B. Q. V I I I 10 ( 3 6 1 , 2 9 ) ; b . B. Q . era) fala d a presença de m e r c a d o r e s no Santuário. Sheq.
S 2 , a c r i a ç ã o dc g a l i n h a s era p r o i b i d a em J e r u s a l é m . T e m i a - s e , c o m
b

I 3 e Tos. Sheq. I 6 (174, 6) g a r a n t e m , igualmente, a


efeito, q u e as galinhas, ao ciscar, p u s e s s e m à luz coisas i m p u r a s . E m
c o n t r a p a r t i d a , e n c o n t r a m o s referência d e u m g a l o e m J e r u s a l é m ; c a n t o u existência de cambistas na e s p l a n a d a d o T e m p l o . C o n v é m
n a h o r a da n e g a ç ã o de P e d r o ( M c 14,72; M t 26,74; Lc 22,60; Jo talvez p r o c u r a r , nessa e s p l a n a d a , as lojas situadas ao longo
18,27). S e g u n d o a M i s h n a , o c a n t o d o galo seria, n o T e m p l o , c o m o
p o n t o d e r e f e r ê n c i a : " A o c a n t o d o g a l o , t o c a v a m as t r o m b e t a s " (Sukka
do a q u e d u t o . Correspondiam, pois, às lojas onde, qua-
l61

V 4, cf. Tamid V 4, cf. Tamid I 2 e Yoma I 8 ) . U m a só v e z a renta anos antes da ruína de J e r u s a l é m , o Sinédrio — di-
M i s h n a m e n c i o n a u m galo dc J e r u s a l é m e assim m e s m o n u m c o n t e x t o zem — estabelece sua sede. (Esse d a d o é manifestamente
l e n d á r i o . R. Y u d a b e n Baba, s e g u n d o 'Ed. VI 1, d e c l a r o u : " A p e d r e -
j a r a m u m galo e m J e r u s a l é m , p o r q u e ele m a t a r a u m h o m e m " ( d i z e m u m a representação figurada da a n u l a ç ã o da p e n a de mor¬
q u e com o bico, furara o crâneo de u m a c r i a n ç a ) . E m suma, podemos m u r o s o b e a t é o m o n t e das O l i v e i r a s e " e n g l o b a a colina até o ro-
afirmar q u e se c r i a v a m galinhas c m J e r u s a l é m . A p r e t e n s a p r o i b i ç ã o
c h e d o c h a m a d o ' R o c h e d o d o p o m b a l ' " . Seu n o m e p r o v é m certamente
de criá-las n ã o é mais digna de c r e n ç a do q u e as o u t r a s p r o i b i ç õ e s
m e n c i o n a d a s nessa p a s s a g e m d e b . B. Q. 82 b
(cf. supra, p p . 16 e 6 3 ) . das c a v i d a d e s feitas n a r o c h a o n d e se a b r i g a m os p o m b o s .
T o s . B. Q . V I I I 10 ( 3 6 1 , 29) traz u m a c o n f i r m a ç ã o : a criação d a q u e l a s
aves é p e r m i t i d a se, p a r a ciscar, elas t i v e r e m u m j a r d i m ou u m m o n t e 155. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 1 8 ) . a

de esterco. M e n c i o n a m a esse r e s p e i t o , a existência d e j a r d i n s e m Je- 156. j . Ta'an I V 8, 6 9 42 ( I V / 1 , 1 9 1 ) .


a

r u s a l é m (supra, p . 6 2 ) ; c o n f i r m a , pois, a i n v e r o s s í m i l b a n ç a d e b . 157. N e u b a u e r , Géogr., 217s; cf. F . B u h l , Geographie des alten


B. Q. 8 2 e p a s s a g e n s p a r a l e l a s .
b Palästina, Fribourg-en-Bisgau e Leipzig, 1896, 2 2 6 .
158. Lam. R. 3 , 9 s o b r e 3 , 9 ( 5 0 2 3 s s ) .
b

154. Lam R. 2, 5 s o b r e 2, 2] ( 4 4 2 ) ; cf. j . Ta'an. I V 8, 6 9 36


a a
159. M c 11,15; M t 21,12; cf. t a m b é m Jo 2,14.
( I V / 1 , 1 9 1 ) . A esse r e s p e i t o é p r e c i s o m e n c i o n a r u m texto d e fosefo 160. M c 11,15; M t 21,12.
q u e d e s c r e v e o m u r o d o c e r c o d e T i t o (B. j . V 12, 2 , § 5 0 5 ) . E s t e 161. Lam. R. 4, 7 s o b r e 4, 4 ( 5 7 8 ) ; cf. supra, p . 24.
b
t e ' ) . A correspondência dessas lojas àquelas q u e o Mi-
6 2

d. Matérias-primas e mercadorias
draxe 163
m e n c i o n a é indiscutível, já q u e , como citam ex-
plicitamente os textos do T a l m u d e , o Sinédrio n ã o se m

1. P a r a a construção das casas, empregava-se espe-


instalou " n a c i d a d e " senão mais t a r d e . Devemos, p o i s ,
cialmente a p e d r a ; as cercanias da cidade p o d i a m forne-
p r o c u r a r aqui os vendedores de p o m b o s p a r a os sacrifí-
cê-la . As p e d r a s p a r a o altar e sua r a m p a v i e r a m de
m

cios, o que já c o m e n t a m o s acima, à p . 5 1 .


Betacarém . m

M c 11,15 e Mt 21,12 m e n c i o n a m somente os vende-


2 . E m p r e g a v a m t a m b é m a m a d e i r a , sobretudo traves
dores de p o m b o s . Mas antes, ambos falam de " v e n d e d o r e s
p a r a a construção do teto . T o s . 'Ed. I I I 3 ( 4 5 9 , 25) e
m

e c o m p r a d o r e s " ; esses termos talvez p r e t e n d a m designar


b . Zeb 1 1 3 m e n c i o n a m explicitamente u m entreposto, em
a

os comerciantes de animais (Jo 2,14). R e a l m e n t e , u m a tra-


Jerusalém, p a r a o m a d e i r a m e , o n d e foram encontrados res-
dição rabínica alude a u m comércio de animais no recinto
tos de ossos. Lam. R. 1, 2 sobre 1, 1 ( 1 8 13) deixa su- b

do T e m p l o . Segundo j . Besa II 4, 6 l 13 ( I V / 1 , 119), c

por q u e as casas de lá teriam c o m u m e n t e três a n d a r e s . Se


R. Baba b . Buta, c o n t e m p o r â n e o de H e r o d e s , o G r a n d e ,
assim era, a necessidade de m a d e i r a de construção terá
fez vir três mil cabeças de animais de p e q u e n o p o r t e e
sido considerável. A n t i g a m e n t e , os arredores de Jerusalém
os pôs à v e n d a na m o n t a n h a do T e m p l o , p a r a os holocaus-
e r a m mais arborizados do que o são hoje ; a região pró- m

tos e sacrifícios pacíficos . A l é m disso, como vimos na


165

xima fornecia, pois, a maior p a r t e da m a d e i r a de constru-


p . 3 2 , havia lojas, Benê H a n u n o u H a n a n ; é possível q u e
ção. E m todo caso, os campos diante d a cidade g a r a n t i a m
t e n h a m o s de reconhecê-las como as lojas de Beth H i n o e,
o abastecimento de lenha p a r a a q u e c i m e n t o ; é o que nos
talvez, como as que foram acima indicadas, p . 7 0 , 3 . T a i s
mostra o relato do c o m p o r t a m e n t o de Simão, chefe dos
lojas p e r t e n c i a m , certamente, à família do sumo sacerdo-
s a l t e a d o r e s . Cada pessoa buscava e m Mosa as folhas
m

te . Acrescentemos ao fato dois outros dados. J o s e f o


166 167

de salgueiro usadas na festa das T e n d a s ; encontramos este


classifica o sumo sacerdote A n a n i a s (em função de 4 7 a
lugar na região da atual Kolonieh, a oeste de Jerusalém,
55 d . C , a p r o x i m a d a m e n t e ) como " u m h o m e m de negó-
n a estrada d e Jafa. R. Yosé, o Galileu, exige q u e se asse
cios, finório e a s t u t o " ; p o r o u t r o l a d o , segundo Tosefta , 168

o cordeiro pascal com o auxílio de u m espeto de m a d e i r a


o amor de M a m o n e o ódio m ú t u o foram, como dizem,
de romãzeira ™; sendo tal prescrição o b s e r v a d a , u m a enor-
as causas da ruína do T e m p l o . Podemos, pois, concluir
m e q u a n t i d a d e dessa madeira seria utilizada por ocasião
q u e , no átrio dos Gentios, a despeito da santidade do re-
da Páscoa p a r a as milhares de vítimas.
cinto p o d e ter h a v i d o u m comércio florescente de animais
p a r a os sacrifícios. Talvez fosse a influente família ponti- A p a r desses usos profanos, a m a d e i r a tinha t a m b é m
fical de Anás q u e o exercia. a sua utilidade no T e m p l o . Para a c o n s t r u ç ã o do santuá-
rio foi e m p r e g a d o sobretudo o cedro do L í b a n o . Se- 175

g u n d o o M i d r a x e , a arca da aliança teve de ser fabri-


176

cada com. a m a d e i r a da acácia que Jacó t r o u x e r a de Migdal


169. V e r supra, p . 30.
170. Mid. I I I 4. S i t u a d o n a Judéia, Jr 6,1 e N e 3,14; s e g u n d o Je-
r ô n i m o , In Hieremiam II 8 s o b r e 6, 1 (CCL 74, 6 3 ) , s o b r e a colina
162. b . R. H. 3 1 ; b . Sanh. 4 1 ; b . Shab. 1 5 ; b . 'A. Z.
a a a
8 .
b
entre Jerusalém e Técua.
163. V e r n . 161. 171. Ohal. X I I 5s; T o s . Ohal. V 5 (602, 1 6 ) .
164. V e r n. 162. 172. V e r supra, p . 6 1 .
165. Cf. T o s . Hag. I I 11 (236, 6 ) ; Billerbeck, I, 851s. 173. Ü. /. IV 9, 8, § 5 4 1 .
166. É t a m b é m a o p i n i ã o d e D e r e n b o u r g , Essai, 4 5 9 . 174. Pes. V I I í .
167. Ant X X 9, 2, § 2 0 5 . 175. V e r supra, p . 5 3 .
168. T o s . Men. X I I I 22 (534, 2 ) . 176. Gn. R. 94, 4 s o b r e 46, 1 ( 2 0 2 1 3 ) .
a
Seboaya ou Sabbaaya . Para o sacrifício diário, serviam¬
171 tudo isso, salvo o que o T e m p l o não p o d i a prescindir,
-se da m a d e i r a da figueira, da nogueira e do p i n h o resi- vinha em g r a n d e parte da Judéia.
noso; a m a d e i r a de oliveira e os sarmentos e r a m impró- R e s u m i n d o : o comércio com as regiões p r ó x i m a s de-
prios p a r a tal uso . O braseiro onde se assava a novilha
m via sobretudo suprir às necessidades de Jerusalém com
vermelha no m o n t e das Oliveiras era feito de madeira d e produtos alimentares. E m segundo lugar, fornecia matérias¬
c e d r o , l o u r o , cipreste e figueira . m -primas às diferentes profissões da c i d a d e .
O T e m p l o fora construído da maneira mais grandiosa
possível e, n o culto conservaram com tenacidade, antigas
tradições. Esses dois motivos explicam a preferência p e l o
cedro, e m b o r a obrigados a fazê-lo vir d e regiões distantes. B. INFLUÊNCIAS DAS CARACTERÍSTICAS
DE JERUSALÉM SOBRE O COMÉRCIO
E m c o n t r a p a r t i d a era proibido empregar a m a d e i r a de oli-
veira, muito mais a b u n d a n t e nas vizinhanças.
Josefo menciona u m m e r c a d o de madeira na p a r t e se-
1. A situação da cidade
tentrional da cidade , o n d e se e n c o n t r a v a m as q u e po-
i m

d i a m servir p a r a usos profanos.


E m conseqüência do desenvolvimento da proteção mi-
3. Os h o m e n s do c a m p o iam a Jerusalém p a r a v e n d e r litarm
e da política colonizadora do império r o m a n o , a
lã. Por vezes v i n h a m de longe, como podemos deduzir do zona civilizada síria estendia-se mais a leste do que hoje.
que lemos: " u m mercador foi até Jerusalém p a r a v e n d e r N a T r a n s j o r d â n i a , uma civilização florescente se expan-
l ã " . Usava-se a lã de p ú r p u r a q u a n d o era q u e i m a d a a
181
dia. Com efeito, a província da Síria da qual d e p e n d i a
novilha vermelha . 182
então a província da J u d é i a , " o c u p a v a , ao lado do Egi-
187

to, o p r i m e i r o lugar entre as províncias do império ro-


4 . Os objetos de cerâmica trazidos de Modiit (27 k m
m a n o no que concerne ao comércio e às p r o f i s s õ e s " . 188

de Jerusalém) ou de mais p e r t o , e vendidos n a q u e l a ci-


Q u a n t o às condições de civilização, a situação apresenta-
d a d e , p a s s a v a m p o r ritualmente p u r o s . Se viessem d e m a i s
va-se, pois, favorável p a r a o comércio d e Jerusalém.
longe, consideravam-nos i m p u r o s . 183

Voltemos nosso olhar p a r a a p r ó p r i a cidade. Sua po-


5. Escravos dos dois sexos faziam p a r t e das "mer- sição central salta aos olhos. Já na época, causava forte
c a d o r i a s " , n o sentido específico da época. C o n f o r m e vi- impressão aos escritores. Jerusalém situa-se b e m no meio
mos , existia u m a pedra na cidade onde e r a m eles ex-
m
da Judéia . Siloé — b e m e n t e n d i d o pars pro toto, é, di-
1S9

postos e destinados à venda pública . m


gamos, p a r a Jerusalém, o p o n t o central d e todo Israel °. 19

A Palestina fornecia, p o r t a n t o , como matérias-primas Mais ainda: Jerusalém é o centro do m u n d o h a b i t a d o , 191

e " m e r c a d o r i a s " : m a d e i r a , p e d r a , lã, cerâmica, escravos; o p o n t o central da terra inteira . D e v i d o a sua localiza-
l92

ção, a cidade é designada como u m b i g o do m u n d o ; os 19i

177. Cani. R. 1, 55 s o b r e 1, 12 ( 2 1 2 ) . a

178. Tamirí I I 3. 186. V e r supra, p. 60.


179. Para I I I 10. 187. V e r supra, p. 11.
180. B. j . II 19, 4, § 530. 188. G u t h e , Griech.-ròm. Stàdte, 40s.
181. Lam. R. 2, 24 s o b r e 2 . 15 ( 4 8 1 6 ) .
b

189. P s e u d o - A r i s t e u , § 8 3 ; B. j . I I I 3 , 5, § 52.
182. Para I I I 10. 190. j . Hag. I 1, 7 6 47 ( I V / 1 , 2 6 0 ) .
a

183. Hag. I I I 5. 191. E z ' 5 , 5 ; cf. G o t t h e i l , JE V I I , 129.


184. Supra, p . 54. 192. 1 Enoc X X V I 1.
185. S o b r e a q u e s t ã o dos escravos, ver infra, pp. 157s, 414ss, 193. Ez, 38,12; B. j . I I I 3, 5, § 52.
442ss; 455SS.
pagãos e Satanás subirão até a superfície da terra ( A p 2 0 , T e m p l o tinha p o r dever intervir c o n t r a os b a n d i d o s . Dois
9). Jubileus V I I I 19 enfatiza a expressão referente à mon- ladrões foram crucificados c o m Jesus (Mc 15,27). Segun-
t a n h a de Sião, chamando-a de " o umbigo da t e r r a " . do Jo 18,40, Barrabás, a princípio c o n d e n a d o à m o r t e , era
Além de sua posição, a cidade beneficiava-se de re- u m assaltante . m

lações m a r í t i m a s fáceis pelos portos d e Ascalon, Jafa, G a z a Assim q u e a revolta n a cidade m a n i e t o u as autorida-
e Acra. U m p o n t o de particular importância: Jerusalém des de Jerusalém, os saques r e c r u d e s c e r a m no país . U m 195

situa-se a igual distância de todos esses p o r t o s . O c u p a , tribunal particular teria q u e julgar casos de p i l h a g e m 196

p o r t a n t o , u m a posição central e m relação a eles, como b e m e, ao m e s m o t e m p o , tomar medidas policiais contra os


observa o Pseudo-Aristeu, § 115. culpados.
Todavia, cometeríamos u m erro se concluíssemos des- T o d a v i a , p a r a Jerusalém, a falta de vias pesava mais
sas constatações que as relações comerciais se processavam do que o perigo de ataques pelos g a t u n o s . C o m o mostra
c o m o d a m e n t e . D e que adiantaria a Jerusalém ser o centro o m a p a , altas m o n t a n h a s cercam a cidade q u e se situa
da província, ter comércio p r ó s p e r o e fáceis ligações ma- n u m contraforte sul-sudeste da linha d e divisão das águas,
rítimas, se p e r m a n e c i a u m a cidade isolada, na m o n t a n h a ? contraforte guarnecido de profundas ravinas a leste, ao
' Tal era o caso. sul e a oeste. U m a conclusão se i m p õ e : a posição natural
E m todos os tempos e a i n d a e m nossos dias, as mon- desta cidade sobre este contraforte, o u melhor, esta for-
tanhas da Judéia, com suas grutas e escaninhos sem con- taleza, não favorece u m núcleo comercial.
ta, constituem terreno favorável à atividade dos b a n d i d o s ,
Em Jerusalém, n e n h u m a via atravessa a linha divi-
apesar da g r a n d e vigilância do governo. Por volta d o fi-
sória das águas no sentido leste-oeste; a mais p r ó x i m a se
nal do século passado, vilarejos inteiros, como A b u - G o s h
e n c o n t r a muito ao N o r t e . A ligação d e Jerusalém com o
entre Jafa e Jerusalém e Abu-Dis ao sudeste da c i d a d e ,
oeste, e sobretudo com o leste, é difícil e p o u c o acessível.
e r a m ainda antros de criminosos b e m conhecidos. C o m
Por essa r a z ã o , Jerusalém n u n c a teve possibilidades de ser
efeito, de períodos anteriores a 70 d . C , ouvimos falar de
local de acesso p a r a os p r o d u t o s da rica T r a n s j o r d â n i a ,
casos de b a n d i t i s m o ou de sua ameaça nas estradas que
em e x p a n s ã o naquela época, o u de constituir u m centro
levavam a Jerusalém. Sheq. II 1 n a r r a o caso de pessoas
comercial p a r a as tribos n ô m a d e s do deserto. Por conse-
que traziam à Capital a taxa p a r a o T e m p l o e e r a m ata-
guinte, o v a u do Jordão em Jericó ficou inteiramente dis-
cadas no c a m i n h o ; em R. H. I 9, trata-se de testemunhas
t a n c i a d o ; o mesmo aconteceu com aquele q u e , não longe
q u e v i n h a m informar em Jerusalém ter visto a lua n o v a .
da foz do Jaboc, estabeleceu a ligação c o m a Samaria (Se-
Jesus conta (Lc 10,30-37) — é v e r d a d e que somente baste) pelo w a d i F a r ' a h . As principais transações da Trans-
em p a r á b o l a — a história de u m viajante agredido na es- j o r d â n i a c o m o m a r e r a m feitas pelo J o r d ã o , quase ime-
t r a d a que ia de Jerusalém a Jericó, r o u b a d o e largado d i a t a m e n t e ao sul do lago de G e n e s a r é , pela estrada Ga-
semimorto (a p a r á b o l a leva-nos à conclusão de q u e três dara-Tiberíades, ou 20 k m mais ao sul, pela estrada Ga-
viajantes fazem, sem escolta, o mesmo c a m i n h o ) . C o n v é m dara-Citópolis. Podiam t a m b é m t r a n s p o r o Jordão no vau
ainda l e m b r a r u m relato de Josefo o n d e se n a r r a o caso situado a 12 k m ao norte do lago de Genesaré, no p o n t o
de u m escravo imperial atacado e assaltado n a estrada
q u e vai p a r a Jerusalém por Bet-Horon. O s r o m a n o s vinga-
194. O s sinóticos c h a m a m - n o de r e v o l u c i o n á r i o e assassino; fazem,
ram-se cruelmente, s a q u e a n d o os vilarejos vizinhos. Jesus p o r t a n t o , p e n s a r n a l g u m m e m b r o do p a r t i d o dos Sicários, inimigos
dirige esta censura ao g u a r d a do T e m p l o q u e v e m prendê¬ dos r o m a n o s .
195. B. j . I V 7, 2, § 406ss.
-lo: " C o m o a u m ladrão, saístes p a r a p r e n d e r - m e com es- 196. Ket. X I I I 1 s e g u n d o a v a r i a n t e g zeloí;
c
é assim q u e lê b .
padas e p a u s ! " (Mc 14,48). Deduz-se q u e a g u a r d a do Ket. 1 0 5 .
a
Djisr Benât Y a q u b ; e i a a via maris, antigo c a m i n h o das A despeito dessa situação geográfica desfavorável ao
c a r a v a n a s , u n i n d o D a m a s c o à planície d e Esdrelon. Essa comércio, Jerusalém desfrutou de u m comércio i m p o r t a n t e .
averiguação prova que as mercadorias p r o v i n d a s da Ará- A que se deve o fato?
bia por Bosra e G a d a r a e utilizando as d u a s passagens
do Jordão dos itinerários G a d a r a - T i b e r í a d e s e Gadara-Ci-
tópolis d e v i a m íazer u m a volta considerável. 2 . A importância política e religiosa da cidade
U m único c a m i n h o n a t u r a l passa pelas cercanias d e
Jerusalém. Trata-se da via norte-sul q u e segue a linha di- U m a p a r t e do país " é p l a n a na região d e n o m i n a d a
visória das águas; vai de N a b l u s (Neápolis, Siquém) a Samaria e n a que pertence à I d u m é i a , mas a p a r t e do
H e b r o m . N a v e r d a d e , é u m a das mais insignificantes p a r a centro é m o n t a n h o s a " . É preciso, p o r t a n t o , "cultivar a
o comércio palestino. Apresenta interesse apenas p a r a o terra com u m c u i d a d o c o n t í n u o , a fim de que t a m b é m eles
tráfico interno. Q u a l q u e r comércio c o m lugares distantes [os habitantes das m o n t a n h a s ] possam obter colheita abun-
devía convergir p a r a o m a r ; esse eixo norte-sul só teria d a n t e " . Esse texto do Pseudo-Aristeu pode-nos parecer
11)8

a d q u i r i d o importância através de u m cruzamento com li- cômico pelo motivo q u e o autor — d e c l a r a d a m e n t e judeu
gação oeste-leste. Eoi j u s t a m e n t e aí q u e a natureza p o u c o apresentou — : os habitantes da planície devem p e n a r , p o r
favoreceu Jerusalém. O p r i n c i p a l interesse da via norte-sul u m a questão de pedagogia, a fim de estimular o pessoal
era religar o sul da Palestina a Jerusalém. A cidade repre- da m o n t a n h a a trabalhar; observa, p o r é m , a situação com
sentou, p o i s , u m m a i o r p a p e l p a r a a região d a s estepes d o acerto: a cidade necessita i m p o r t a r provisões. A que p o n t o
sul palestino do q u e p a r a a Samaria ao norte; e n t r e t a n t o , isto era imprescindível p o d e m o s constatar na p e n ú r i a que so-
a Samaria era mais civilizada do q u e o sul palestino e sua freu Antíoco em Jerusalém d u r a n t e a l u t a dos m a c a b e u s , m

p o p u l a ç ã o mais numerosa. C o n s e q ü e n t e m e n t e , a ligação a fome q u e grassava n a cidade d u r a n t e os cercos 200


e a
q u e a c o m p a n h a v a a l i n h a divisória das águas apenas per- situação d u r a n t e a escassez a l i m e n t a r , muitas vezes repe-
m i t i u a Jerusalém ser o c e n t r o d o comércio n a t u r a l d a tida no t e m p o de H e r o d e s e de C l á u d i o . A cidade tinha
Palestina meridional. de alimentar n ã o somente a sua p o p u l a ç ã o , mas t a m b é m
as multidões de peregrinos q u e , três vezes por ano afluíam,
A b e m dizer, criou-se, assim, a partir d e Jerusalém,
n u m e r o s a s , p a r a as grandes festas. E m c o m p a r a ç ã o com tais
ligações em direção do leste e do oeste. Foi-lhes d a d a m a i o r
necessidades, as primícias n a d a r e p r e s e n t a v a m p a r a o rea-
atenção em virtude da importância de Jerusalém e das ne-
cessidades dessa grande cidade. E n t r e t a n t o , isso em n a d a bastecimento de Jerusalém. Algumas passagens da litera-
alterou o fato d e a cidade ter importância apenas p a r a o tura rabínica permitem-nos questionar até que p o n t o e r a m
comércio i n t e r n o . Jerusalém foi u m centro comercial so- efetivamente q u i t a d a s . A d e m a i s , p e r t e n c i a m aos sacerdo-
mente p a r a o sul da Palestina. tes . Q u a n t o às outras taxas em gêneros, p o d i a m ser en-
2C1

tregues ao sacerdote do lugar o n d e m o r a v a m .


Josefo explica essa situação d e m a n e i r a m u i t o c l a r a :
O u t r a circunstância tornava a situação ainda mais pe-
" N ã o moramos n u m a região m a r í t i m a e n ã o desfrutamos
d o alto comércio n e m das relações com os estrangeiros nosa: as cercanias n ã o a p r e s e n t a v a m condições favoráveis
q u e dele r e s u l t a m . . . em compensação, recebemos u m país à cultura do trigo e lá não se desenvolvia a criação d e
202

fértil e o c u l t i v a m o s " . A Judeia n ã o d e s e m p e n h o u o me-


197

198. P s e u d o - A r i s t e u , § 107, cf. § 108-112.


n o r papel no comércio m u n d i a l . 199. B. /. I 1, 5, § 4 6 .
200. B. j . I 18, 1, § 347. — Ani. X I V 16, 2, § 4 7 1 : e m 37 a.C.
197. C. Ap. I 12, § 60. 201 Bik. I I 1.
202. V e r supra, p . 58.
g a d o \ D e m o d o geral, a Palestina podia satisfazer às ne-
2 0
salém, c o m o p e n s a m alguns h i s t o r i a d o r e s . E n t r e t a n t o ,
m

cessidades da cidade com p r o d u t o s alimentares. S o m e n t e não existe u m a p r o v a . O único d a d o q u e possuo sobre a


p o r ocasião de total p e n ú r i a ou após as guerras é que se exportação de Jerusalém, encontra-se e m Lam. R. 1, 13
t o r n a v a imperioso comerciar com países longínquos. sobre I, I ( 2 2 5 ) : trata-se de u m camelo que volta de
a

E m conseqüência de sua situação geográfica, a cida- Jerusalém, c a r r e g a n d o dois odres, u m cheio de vinho, o
d e era carente não só de gêneros essenciais, mas t a m b é m outro, de vinagre. Tratando-se de u m caso jocoso no texto,
d e riquezas de necessidade vital, como matérias-primas, es- não podemos tirar daí conclusões radicais sobre a exporta-
pecialmente metais. Assim sendo, devia i m p o r t a r as ma- ção da cidade santa.
térias-primas, em p a r t e da Palestina , em p a r t e de países
204

A importância política da cidade exerceu sobre o


distantes . 205

comércio dupla influência: direta e indireta.


De que produtos de exportação o comércio d i s p u n h a A influência direta: o nível de vida faustoso dos reis
p a r a suas transações com tais países? i m p u n h a gastos consideráveis. Q u a n d o Herodes construiu
Observemos, de início, q u e era muito densa a p o p u - seu palácio, fez vir do inundo inteiro o mais precioso ma-
lação da Síria, a Palestina incluída. Como conseqüência, terial . N o dizer de Josefo, esse palácio sobrepujava o
m

e n t r e os p r o d u t o s d e seu solo, trigo, azeite e v i n h o , somente T e m p l o em esplendor. Ao material de luxo trazido pelo
o v i n h o , ao que parece, era e x p o r t a d o em g r a n d e q u a n t i - comércio com países distantes, acrescentavam-se produções
d a d e . N o q u e concerne a Jerusalém em particular, a ex-
m
da civilização estrangeira. Herodes dizia " s i m p a t i z a r mais
p o r t a ç ã o do trigo apresentava-se impraticável. N ã o encon- com gregos do que com j u d e u s " ' . Essa preferência se
2 5

tramos n e n h u m p r o d u t o fabricado em Jerusalém q u e ti-


207
traduzia especialmente na e q u i p a g e m d e sua corte.
vesse sido u m a p r o d u ç ã o característica do artesanato d a A influência indireta: desde s e m p r e , o centro político
cidade. Em compensação, E u p o l e m o e o Pseudo-Aris-
2 0 J
constituíra u m pólo de atração p a r a as riquezas nacionais.
teu 209
m e n c i o n a m o óleo à frente dos produtos da Judéia Encontravam-se em Jerusalém os encarregados da alfân-
o u das cercanias de Jerusalém . Acrescentemos que a de-
21ü
dega, do comércio e os dos distritos alfandegários mais
216

m a n d a de óleo na Síria s e t e n t r i o n a l era p o r vezes tão


211
desenvolvidos. T e m o s u m exemplo, no século II antes de
g r a n d e que os preços se elevavam e n o r m e m e n t e . E m Gis- nossa era, com o responsável dos impostos, J o s é . Ori- 217

cala, na Galileia setentrional, 80 sesteiros de óleo n ã o va- ginário d a cidade d e Fichola, estabeleceu-se e m Jerusalém;
liam mais do que 4 d r a c m a s , ao passo que, 30 quilôme- daí dirigia o recolhimento das taxas da Síria, Fenícia, Ju-
tros a nordeste, em Cesaréia de Filipe, no vale do Her- déia e Samaria . Manteve-se nessa atividade d u r a n t e 22
21S

m o m , 2 sesteiros custavam 1 d r a c m a , q u e r dizer, dez vezes a n o s . Possuía u m depósito em A l e x a n d r i a ; cada vez que
mais . É, pois, razoável que se exportasse óleo de Jeru-
212
seu i n t e n d e n t e recebia ordem, dali retirava as quantias p a r a
os pagamentos da administração das finanças reais. Muitas
203. Ver supra, p . 6 8 . vezes esses h o m e n s se estabeleciam t a m b é m como banquei-
204. Ver supra, p . 7 3 . ros na capital. Desde tempos remotos (Is 5,8; M q 2,1-5),
205. V e r supra, p . 56.
206. G u t h e , Griech.-rõm. Stadte, 40. o c a m p o n ê s , impelido pela necessidade, via-se obrigado a
207. Ver supra, p . 4 3 .
208. Ver supra, p . 57.
209. Ver supra, p . 5 8 . 213. S m i t h , I, 15 e 3 3 5 .
214. B. j . V 4, 4, § 178.
210. V e r supra, p . 15: oliveirais e p r e p a r a ç ã o das a z e i t o n a s n a s
cercanias de J e r u s a l é m . 215. Ant. X I X 7, 3, § 329.
211. B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 1 ; Vita 13, § 74s. 216. V e r supra, p . 4 8 .
212. Vita 13, § 7 5 ; B. j . I I 2 1 , 2, § 5 9 2 : 8 vezes m a i s caros. 217. Ant. X I I 4, l s s , § 160ss.
218. Ant. X I I 4, 4, § 175.
hipotecar suas terras e sua c o l h e i t a . Depositava o di-
219

fício expiatório . Alguns sacrifícios p r i v a d o s cotidianos


226

nheiro no T e m p l o ; segundo 4 Mac. IV 3, " m i l h a r e s d e


e r a m igualmente oferecidos. C o r r e s p o n d i a m a vários mo-
fortunas particulares aí se e n c o n t r a v a m r e u n i d a s " . Po-
220

tivos: e x p i a ç ã o d e n u m e r o s a s transgressões, r e p a r a ç ã o , a ç ã o
demos reconhecer tais pessoas como fortes n e g o c i a n t e s . 221

de graças: esses sacrifícios p e r m i t i a m r e c u p e r a r a p u r e z a


Muitos se r e t i r a v a m p a r a Jerusalém, a fim de ali gastar o
ritual. E m circunstâncias especiais, ofereciam-se hecatom-
seu capital, mas t a m b é m p a r a m o r r e r n u m lugar s a n t o .
bes. Por exemplo, p a r a celebrar o término do T e m p l o , He-
Esse capital exercia dupla influência no c o m é r c i o . r o d e s m a n d o u sacrificar trezentos bois . P o r ocasião d e
227

Atraía-o p a r a Jerusalém, favorecendo as transações comer- sua visita a Jerusalém, Marcos Agripa, genro de Augusto,
ciais. Por o u t r o lado dava saída às m e r c a d o r i a s : as pes- "sacrificou u m a h e c a t o m b e " . O n ú m e r o de sacrifícios
228

soas abastadas p o d i a m exceder-se no luxo de seus trajes, a u m e n t a v a sobretudo d u r a n t e as festas: " D e acordo com
adornos e t c , e era sobretudo o comércio c o m os países as prescrições da Lei, todos os dias e especialmente por
distantes q u e deveria satisfazê-lo. ocasião das assembléias e das festas, oferecem-se inúmeros
sacrifícios, cada u m p a r a si, p a r t i c u l a r m e n t e e p a r a todo
Imensa foi a q u a n t i d a d e de material d e v o r a d o p e l o o povo, de m o d o p ú b l i c o " . 22<)

T e m p l o d u r a n t e os oitenta e dois anos de sua r e s t a u r a ç ã o !


O Pseudo-Aristeu, § 8 8 , fala dos sacrifícios ofereci-
A dignidade da Casa Santa exigia o maior brilho — b a s t a
dos por dezenas de milhares nos dias festivos. U m p e q u e n o
pensarmos na profusão de o u r o utilizado — e m a t e r i a l
d a d o mostra o volume da i m p o r t a ç ã o d e animais p a r a os
de primeira q u a l i d a d e . Citemos apenas os m á r m o r e s p r e t o ,
sacrifícios: considerava-se destinado a eles todo o gado que
amarelo e b r a n c o , assim como a m a d e i r a de c e d r o .
222

se encontrasse nas cercanias de Jerusalém, n u m raio que


É compreensível, pois, que, na descrição do comércio c o m
correspondesse à distância de M i d g a l - E d e r . m

os países distantes, o T e m p l o represente a p a r t e mais im-


N ã o nos referimos, p o r é m , a i n d a a o essencial. Três
p o r t a n t e das transações . 223

vezes por ano, o T e m p l o atraía a Jerusalém enormes mul-


Para o culto do santuário, igualmente, a lenha, o vi- tidões de peregrinos. Os judeus chegavam de todas as par-
n h o , o óleo, o trigo e o incenso deviam ser de primeira tes do m u n d o , especialmente p a r a a Páscoa. Era preciso
q u a l i d a d e . Buscavam até na í n d i a o tecido p a r a as vestes alimentar essa massa h u m a n a . Sem d ú v i d a já providas em
que o sumo sacerdote usaria no dia das expiações; as doze p a r t e pelo segundo d í z i m o , isto é, o décimo de todos
231

p e d r a s de seu peitoral ostentavam-se como as mais pre-


224
os p r o d u t o s colhidos e talvez, t a m b é m dos animais que
ciosas do m u n d o . E que q u a n t i d a d e de vítimas — novi- seria preciso comer em Jerusalém, m a s o transporte de
lhos, bezerros, carneiros, c a b r a s , rolas — o culto recla- gêneros só era possível das regiões mais p r ó x i m a s .
m a v a ! Todos os dias ofereciam-se vítimas b e m determina- Aqueles q u e m o r a v a m longe viam-se obrigados a trocar
das como sacrifícios públicos da c o m u n i d a d e . D u r a n t e
225
p o r dinheiro o dízimo dos p r o d u t o s recolhidos e, confor-
a festa da Páscoa, diariamente, dois vitelos, u m carneiro m e as prescrições, gastar a q u a n t i a em Jerusalém.
e sete cordeiros serviam de holocausto; u m b o d e de sacri- À alimentação dos peregrinos acrescentava-se p a r a a
p e r e g r i n a ç ã o d a Páscoa, a d e m a n d a d e animais pascais.
219. V e r supra, p . 61.
220. Cf. B. j . V I 5, 2, § 282. 226. Ant. I I I 10, 5, § 249.
221. V e r supra, p . 52. 227. Ant. X V 11, 6, § 422.
222. b . Sukka 51 .
b

228. Ant. X V I 2, 1, § 14.


223. V e r supra, p . 56. 2 2 9 . Fílon, De vita Mosis I I , § 159.
224. B. /. V 5, 7, § 234. 230. Sheq. V I I 4 [Migdal-Eder, cf. G n 35, 2 1 , encontra-se perto
225. Ant. I I I 10, 1 § 237. de B e l é m . N . d o T . j .
2 3 1 . Ver supra, p . 69, n . 151.
Desde a reforma cultual de Josias, em 6 2 1 a . C , s o m e n t e CAPÍTULO III
e m Jerusalém se podia imolar o cordeiro pascal. Josefo
exagera, certamente, q u a n d o fala de 2 5 5 . 6 0 0 (outra vez: O MOVIMENTO DE ESTRANGEIROS
2 5 6 . 5 0 0 ) vítimas pascais . N ã o resta d ú v i d a , p o r é m , d e
232

q u e o n ú m e r o se elevava a milhares.
Era o T e m p l o , p o r t a n t o , o responsável pela impor-
tância do comércio de Jerusalém. Pela concentração d o te-
souro do T e m p l o ao qual cada j u d e u devia pagar anual- A. INFLUÊNCIA DO ESTRANGEIRO NA CIDADE 1

m e n t e a sua cota, os judeus do m u n d o inteiro c o n t r i b u í a m


p a r a o comércio da Cidade Santa.
1. Generalidades

a. As viagens a Jerusalém

Se dispuséssemos de meios p a r a levantar u m a estatís-


tica sobre entradas e saídas de estrangeiros em Jerusalém,
constataríamos grandes oscilações, p e r m a n e c e n d o , entre-
t a n t o , quase constantes o ano t o d o .
O b s e r v a r í a m o s que a época das viagens começa por
volta de fevereiro-março. Tal fato relaciona-se c o m fato-
res climáticos. Esses meses m a r c a m o fim do período das
chuvas e somente e n t ã o começa-se a p e n s a r nas viagens;
a n t e r i o r m e n t e , os caminhos e n c h a r c a d o s constituíam u m
g r a n d e o b s t á c u l o . " P e d i p a r a que vossa fuga não acon-
2

teça no i n v e r n o " (Mt 2 4 , 2 0 ) . P o r t a n t o , Jerusalém recebia


os estrangeiros d u r a n t e os meses secos, q u e r dizer, de mar-
ço a setembro. D u r a n t e esses meses a leva de estrangeiros,
três vezes p o r a n o , era de g r a n d e vulto n a ocorrência das
três grandes peregrinações que atraíam fiéis do m u n d o in-
teiro: Páscoa, Pentecostes, festa das T e n d a s (Dt 16, 1-16),
mas a da Páscoa intensificava-se ao m á x i m o .
Sigamos u m viajante a c a m i n h o de Jerusalém. U m a
vez passado o período das c h u v a s , c o m e ç a v a m os prepa-
rativos. O comerciante a p r o n t a v a a sua m e r c a d o r i a . O s que
p a r t i a m p a r a Jerusalém p o r motivo religioso, talvez p a r a

1. P a r a f o r m a r u m q u a d r o c o m p l e t o , m e n c i o n a m o s a q u i t o d a s as
pessoas q u e n ã o são h i e r o s o l i m i t a n a s ( i n c l u i n d o , p o i s , p o r e x e m p l o , gru-
pos estrangeiros).
232. B. j . V I 9, 3 , § 424. 2. Ta-an. I 3 .
u m a das festas, aproveitavam a ocasião p a r a levar à cida- b u r r o ; p o r isso lemos, n a p a s s a g e m c i t a d a , o d i t o irônico
d e santa as suas " t a x a s " (segundo o costume da é p o c a , l a n ç a d o por u m h o m e m q u e passava m o n t a d o n u m asno
incluímos neste termo o segundo dízimo que não era en- a Hillel q u e estava a p é . N u m j u m e n t o é que Jesus fez
tregue, p o r é m gasto de m o d o p a r t i c u l a r na p r ó p r i a Jerusa- sua e n t r a d a em Jerusalém (Mc 11,1-10. R a r a m e n t e utili-
l é m , onde deviam consumi-lo). zava-se de u m meio de locomoção p a r a ir a Jerusalém o u
Eis as " t a x a s " obrigatórias: o imposto da d i d r a c m a , de lá voltar; foi o caso do ministro das finanças da etíope
os bikkürim (primícias; em geral, cada u m a das vinte e Cândace (At 8,27-39). As viagens a pé constituíam uso ge-
q u a t r o seções as enviava a g r u p a d a s p a r a Jerusalém) e o 1
ral p a r a as peregrinações, conclui-se d e Hag I 1. A l é m do
segundo dízimo. Ant. X V I I I 9, 1, § 3 1 3 , m e n c i o n a " n u - mais, consideravam-nas como meritórias.
merosas m i r í a d e s " que a c o m p a n h a v a m os impostos em di- O s c a m i n h o s e r a m geralmente m a u s . O Sinédrio, en-
6

n h e i r o de N e a r d a e Nisibe (na Mesopotâmia) a Jerusalém; q u a n t o suprema a u t o r i d a d e indígena deles devia se o c u p a r ,


ficamos assim s a b e n d o que se utilizavam as caravanas q u e m a s p o u c o fez p a r a melhorá-los. A p r o v a está n a sua ne-
se formavam por ocasião das festas, pelo menos a das re- gligência, q u a n t o ao a q u e d u t o de J e r u s a l é m ; o n d e as
9

giões afastadas, a fim de t r a n s p o r t a r o dinheiro do T e m - estradas estavam sob a responsabilidade dos r o m a n o s , a


p l o . Halla IV 10-11 discute o caso de transporte de pri- situação era b e m melhor. Desde s e m p r e , e n t r e t a n t o , parece
mícias por particulares; isso confirma que o traziam tam- terem c u i d a d o m u i t o mais da estrada dos peregrinos em
b é m p r i v a d a m e n t e . V i n h a p a r a Jerusalém o fermento p a r a direção a Babilônia (saindo de Jerusalém p a r a o norte " ) .
lu

a massa sem ser, todavia, obrigatório; p o d i a m oferecê-lo Herodes esforçou-se por garantir sua segurança. Instalou
ao sacerdote l o c a l . De q u a l q u e r forma, cada israelita le-
4
em Batanéia o j u d e u babilónico Z a m a r i s ; era ele q u e pro-
v a v a consigo, p a r a Jerusalém, em p r o d u t o s ou e m di- tegia, contra os ataques dos ladrões de T r a c o n i t e s , as cara-
n h e i r o , seu segundo dízimo \ vanas d e festa q u e v i n h a m d a Babilônia . 1Z

Entre os preparativos figurava igualmente a escolha Semelhante viagem, sobretudo se e m p r e e n d i d a em gran-


dos companheiros de c a m i n h a d a . Com efeito, d i a n t e d a d e c a r a v a n a , devia contar com atrasos e p a r a d a s ; Ta'an.
constante ameaça de s a l t e a d o r e s , ninguém ousava em-
6
I 3 fornece-nos alguns dados a respeito de sua d u r a ç ã o .
preender sozinho a viagem. N a época das festas, grandes R a b b a n Gamaliel ordena que se dê início às orações p a r a
c a r a v a n a s se organizavam. Ant. XVIII 9, I § 313 refere¬ a chuva em 7 m a r c h e s c h v a n somente. (Apoia essa o r d e m
-se a milhares de pessoas que se r e u n i a m em Babilônia; no fato de ser o 15" dia após a festa de tisri); deste m o d o ,
sem dúvida alguma, tratava-se de caravanas p a r a as fes- os peregrinos têm a possibilidade de chegar ao Eufrates
tas. Lc 2,44 fala da caravana do povo de N a z a r é ; paren- sem se m o l h a r e m . A distância entre Jerusalém e o Eufrates
tes e conhecidos dos país de Jesus nela t o m a v a m p a r t e . é d e mais d e 6 0 0 k m . G a m a l i e l calcula p a r a a c a r a v a n a
A caravana das festas na qual Jesus subiu até Jerusalém etapas diárias de 4 5 k m a p r o x i m a d a m e n t e , avaliação essa
pela última vez passou por Jericó (Mc 10,46). u m tanto exagerada p a r a g r u p o tão n u m e r o s o .
E m geral, viajava-se a p é . Hillel, o A n c i ã o , assim fez,
c o m o dizem, a peregrinação de Babilônia a J e r u s a l é m . 7

Evidentemente ia-se m u i t o mais depressa no l o m b o de u m


3. Bik. I I I 2ss.
4. Halla I V 10. 8. V e r supra, p . 8 5 .
5. Ver supra, p . 69, n . 151. 9. V e r supra, p . 2 8 , ri. 110.
6. V e r supra, p . 76s. 10. K r a u s s , Talm. Arch., II 3 2 3 .
7. ARN B c a p . 27, 5 5 3 3 , cf.
b
A cap. 12, 5 5 a
14; v e r Krauss, 11. V e r supra, p . 78.
Talm. Arch. I I , 677, n . 161. 32. Ant. X V I I 2, 2-3, § 26ss.
centes ao T e m p l o , ofereciam abrigo aos peregrinos. Mes-
I9

b . A hospedagem em Jerusalém m o que se leve e m conta tal possibilidade, compreende-


mos ser totalmente impossível àquelas imensas multidões
Chegado são e salvo a Jerusalém, forçoso seria pro- terem como se alojar d e n t r o dos m u r o s . U m a p a r t e das
c u r a r u m alojamento. E m tempos comuns não havia difi- pessoas p o d i a ainda e n c o n t r a r abrigo nos p o v o a d o s exis-
c u l d a d e p a r a e n c o n t r a r a c o m o d a ç ã o n u m dos albergues tentes nos arredores da cidade, c o m o , por exemplo, Bet-
q u e J e r u s a l é m , c o m o todos os burgos (Lc 2 , 7 : Belém)
13
fagé ou Betânia. Nesse local Jesus p e r m a n e c e u p o r ocasião
possuía. Os m e m b r o s das c o m u n i d a d e s religiosas, os esse- de sua última estada em Jerusalém . O maior n ú m e r o de
20

n í o s , os fariseus, os cristãos e r a m recebidos pelos amigos. peregrinos era, pois, obrigado a erguer tendas em torno
O s habitantes de Cirene, de Alexandria, das províncias da cidade. (Passar a noite ao relento seria impraticável,
d a Cilicia e da Ásia desciam até Ofel p a r a a h o s p e d a r i a pelo menos no tempo de Páscoa, q u a n d o as m a d r u g a d a s
a n e x a d a à sua sinagoga . R. Weill aí encontrou u m a ins-
l4
e r a m a i n d a frias). Ant. X V I Í 9, 3 , § 2 1 7 o confirma e
crição; diz expressamente que naquele lugar foram insta- refere-se a peregrinos p a r a a Páscoa, a r m a n d o suas ten-
lados " q u a r t o s e feitas distribuições de águas, a fim de das; segundo o paralelo de B, /. II 1, 3 , § 12, faziam-no
servir de albergue àqueles que [vindos] do estrangeiro, na " p l a n í c i e " , expressão q u e designa, p r o v a v e l m e n t e , o
viessem a necessitar" . E m dias de festa, b e m mais difícil
15
c a m p o diante da atual Porta de D a m a s c o .
se tornava e n c o n t r a r alojamento. Poucos estrangeiros pos- A q u e l e , p o r é m , que participava da Páscoa, era obri-
suíam casa p r ó p r i a em Jerusalém. Por esse motivo, os prín- gado a passar a noite pascal (noite de 14 p a r a 15 nisân)
cipes herodianos estrangeiros, vindos p a r a as grandes fes- em Jerusalém. A cidade p r o p r i a m e n t e dita não podia con-
tas (Herodes A n t i p a s , tetrarca da Galileia e da Peréia [Lc ter o afluxo de peregrinos. Para facilitar a observância
2 3 , 7 ] ; Agripa I I ) , p r o v i d e n c i a r a m u m a m o r a d a perma- desta prescrição, estendera-se o distrito u r b a n o tão longe
nente no palácio dos m a c a b e u s , logo acima do Xisto; os que englobava até m e s m o Betfagé . 21

príncipes e princesas de A d i a b e n a fizeram o m e s m o nos


moldes de seus palácios, na colina o r i e n t a l . 16
Segundo Mc 11,11-12 e Mt 21,17, Jesus e seus discípu-
los, nos últimos dias antes de sua morte, passaram a noite em
O n d e se alojava a m u l t i d ã o de peregrinos? Constituía Betânia. Já Lc 21,37 diz: "Passavam-se as noites ao relento,
u m dos dez milagres de Deus no santuário, terem todos no monte chamado das Oliveiras". Na realidade, não há con-
o n d e se abrigar, e, jamais u m a pessoa disse a outra: " O tradição nisso, pois Betânia encontra-se no perímetro do monte
p o v o é n u m e r o s o , não encontro o n d e d o r m i r na c i d a d e " ' .
7
das Oliveiras, mas, no contexto do evangelho de Lucas, o co-
Parte dos peregrinos podia alojar-se na própria Jerusalém; mentário suscita uma dificuldade. Com efeito, Lc 22,39 em-
n u m único lugar n e m sequer deviam pensar instalar-se: prega a mesma expressão ("dirigiu-se ao monte das Oliveiras")
n a esplanada do T e m p l o , o n d e u m a inscrição rezava: " A para designar o Getsêmani. Mas Lc 21,37 não passa, eviden-
n i n g u é m é permitido e n t r a r na esplanada do T e m p l o com temente, de um resumo da tradição de Marcos (Mc 11,11;
17,19) redigida pelo próprio Lucas. Deve-se, então, concluir
seu bastão, suas sandálias, seu alforje ou a poeira nos
que Lucas, não conhecendo a posição geográfica do lugar em
p é s " . Podemos, p o r é m , supor q u e construções perten-
, 8

que prenderam Jesus, isto é, o Getsêmani, considerou-a, de


modo inexato, como sendo o lugar em que, ordinariamente
13. Lam. R. I, 2 s o b r e !, 1 ( 1 8 a
24). Jesus passava a noite. Em contrapartida, a informação conce-
14. Ver supra, p . 9 5 .
15. Cl] I I , n. 1404, lig. 6-8.
16. Ver supra, p . 24. 19. P r o p r i e d a d e d o T e m p l o , cf. supra, p . 4 3 .
17. P. A. V 5. 20. M c 11,11-12; M t 21,17.
18. Ber. I X 5; b . Yeb. 6 . b 2 1 . O texto mais claro é Men, X I 2; cf. N e u b a u e r , Géogr., 147ss;
D a l m a n , Itinéraires, 329-333; v e r supra, p p . 16 e 62.
dida por Lc 22,39 vem da fonte lucana especial, conforme o o comércio, t r a t a r e m o s , p r i m e i r a m e n t e , dos países distan-
demonstra a expressão "segundo seu costume" . É perfeita- 22
tes e, depois, das regiões p r ó x i m a s .
mente exata; porque "segundo seu costume" refere-se não ao P o d e m o s ler em At 2 , 9 - 1 1 , inserida n o relato do mi-
fato de passar a noite, mas ao fato de Jesus ir, com seus dis-
lagre de Pentecostes, u m a lista de " h o m e n s piedosos de
cípulos, a lugar determinado do monte das Oliveiras; Jo 18,2
todas as nações, que estavam e m J e r u s a l é m " . Trata-se de
confirma a explicação. Esse lugar é, certamente, o jardim do
Getsêmani . À diferença de Betânia, o Getsêmani, sobre a
23 judeus e prosélitos q u e ali estavam c o m o peregrinos p a r a
vertente ocidental do monte das Oliveiras, encontrava-se ainda a festa. Nessa e n u m e r a ç ã o e n c o n t r a m o s representantes de
dentro do distrito da Grande Jerusalém que não se deveria dei- quase todos os países então conhecidos; trata-se de " p a r t o s ,
xar durante a noite pascal . 24
medos e elamitas, habitantes da M e s o p o t â m i a , da Judeia
e Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília,
D e acordo c o m a distribuição das diferentes seções do Egito e da p a r t e da Líbia limítrofe d e Cirene, r o m a n o s
da p o p u l a ç ã o nos quarteirões da cidade, cada grupo de adventícios, judeus e prosélitos, cretenses e á r a b e s " .
peregrinos p a r a a festa tinha seu lugar de a c a m p a m e n t o 25

A verificação desses dados será feita mais adiante,


fixo. Baseando-nos no fato de que Jesus tinha o h á b i t o de
q u a n d o e x a m i n a m o s as relações de Jerusalém c o m o es-
passar a noite em Betânia, podemos supor q u e o acampa-
trangeiro, país por país; sendo utilizada a lista de At 2,
m e n t o dos peregrinos galileus encontrava-se a leste da
9-11 só a p o d e m o s aceitar n a m e d i d a em que suas indica-
cidade.
ções forem confirmadas por outras t e s t e m u n h a s . A título,
p o r é m , de c o m p a r a ç ã o , devemos assinalar, desde já, duas
outras e n u m e r a ç õ e s :
2. M o v i m e n t o de estrangeiros
provenientes de países distantes 1" U m trecho de At (6,9), n u m contexto visivelmente
não estilizado e muito b e m informado ( 6 , l s s ) que descreve
sobriamente os fatos. Diz, por exemplo, em relação a Jeru-
A c a b a m o s de evocar a c a m i n h a d a de u m viajante r u m o
salém: " V i e r a m então alguns da sinagoga c h a m a d a dos
a Jerusalém e seu alojamento na cidade santa. L a n c e m o s
Libertos , dos cireneus e dos alexandrinos, dos da Cilicia
26

agora u m olhar sobre o m o v i m e n t o de estrangeiros, segun-


e da Á s i a " . Trata-se de judeus residentes em Jerusalém.
do seu país de origem. A q u i t a m b é m , c o m o acima, p a r a
Possuíam u m a sinagoga c o m u m , c o m albergues p a r a os
estrangeiros ; a passagem indica q u e , e n q u a n t o helenistas,
11

22. A m e u ver, L u c a s n ã o c o m p ô s seu e v a n g e l h o i n s p i r a n d o - s e n o


e v a n g e l h o de M a r c o s e d a fonte dos logia ( Q ) , c o n f o r m e o q u e r a m o r a v a m juntos, no m e s m o q u a r t e i r ã o , semelhante aos
teoria das d u a s fontes e m sua f o r m a clássica. A base d e L u c a s é sua quarteirões dos diferentes grupos judaicos em Jerusalém no
"fonte especial", e v a n g e l h o cujo a u t o r d e s c o n h e c i d o h a v i a a m a l g a m a d o
m a t é r i a s p a r t i c u l a r e s c o m a l g u n s logia (extraídos d a t r a d i ç ã o o r a l e
início deste século.
n ã o d e u m a fonte escrita ' Q ' ) e o r e l a t o d a P a i x ã o . N e s s e e s c r i t o ,
L u c a s inseriu a l g u n s itens escolhidos e m M a r c o s (ver J. J e r e m i a s , 2 U m texto de Fílon, Leg. ad Caium, § 281s, refe-
9

" P e r i k o p e n - U m s t e l l u n g e n bei L u k a s ? " e m New Testament Studies 4


(1957-1958) 115-119 = e m J. J e r e m i a s , Abba. Studien zur neutesta- re-se a u m a carta de Agripa l a Calígula, onde diz, ao
menilichen Theologie und Zeitgeschichte, G ö t t i n g e n , 1966, 93-97). Seja falar de Jerusalém: é a capital dos j u d e u s da Judeia, mas
q u a l for a visão d o fato, parece-me q u e o relato l u c a n o d a P a i x ã o , t a m b é m dos j u d e u s do Egito, Fenícia, Síria, Celessíria, Pan-
a p a r t i r d e Lc 22,14, n ã o é e x t r a í d o de M a r c o s , m a s p r o v é m d e u m a
t r a d i ç ã o i n d e p e n d e n t e . É o q u e nos interessa n o m o m e n t o a p r o p ó - fília, Cilicia, Ásia, Bitínia, P o n t o , E u r o p a , Tessália, Beócia,
sito do versículo 22,39. M a c e d ó n i a , Eólia, Ática, Argos, Corinto, Peloponeso, ilhas
2 3 . M c 14,26,32; M t 26,30.36.
24. V e r supra, p . 89. 2 6 . V e r supra, p. 93.
25. V e r a inscrição c i t a d a supra, p . 88.
2 7 . V e r infra, p . 95.
de E u b é i a , C h i p r e , Creta, países do Transeufrates, Babilô- freqüentes. Já antes ouvimos falar das viagens de H e r o d e s
nia e suas satrapias vizinhas. Essa lista, é v e r d a d e , n ã o e de seus filhos a R o m a ; de Agripa II àquela c i d a d e ; 31

m e n c i o n a , d e m o d o explícito, as viagens a Jerusalém, m a s fala-se t a m b é m de r o m a n o s que v ê m a Jerusalém, na maio-


estão implicitamente incluídas, já q u e a peregrinação ao ria das vezes em missão oficial. E m c o n t r a p a r t i d a , n a
T e m p l o era obrigatória p a r a todo judeu adulto. guarnição de Jerusalém, como a cidade fazia p a r t e de u m a
Vejamos agora o m o v i m e n t o de estrangeiros prove- província p r o c u r a t ó r i a , n e m m e s m o os oficiais e r a m roma-
nientes de cada país em particular. nos (At 2 2 , 2 8 ) . Mas e m Cesaréia, sede do p r o c u r a d o r ,
encontrava-se a "coorte c h a m a d a itálica" (At 10,1). O pro-
a. Gália e Germânia c u r a d o r p e r m a n e c i a regularmente em Jerusalém por oca-
sião da festa de Páscoa, com u m destacamento de solda-
Os muros da Jerusalém antiga a b r i g a r a m gauleses e dos; essas tropas de Cesaréia certamente dele faziam p a r t e .
g e r m a n o s . O i m p e r a d o r Augusto (29 a.C. — 14 d.C.) en- D e R o m a voltou a maior p a r t e dos " l i b e r t o s " , aprisiona-
viara a H e r o d e s , o G r a n d e , a guarda pessoal de Cleópa- dos n a c a m p a n h a de P o m p e u e e m seguida libertados *' ; 2

tra, última rainha do Egito que se suicidara em 30 a.C. p a r e c e m ligados à sinagoga citada em At 6,9 ("da sina-
Essa g u a r d a era composta de quatrocentos gauleses '\ Di- 2
goga c h a m a d a dos L i b e r t o s " ) . O s judeus de R o m a que
33

zem que Herodes o r d e n o u aos soldados gauleses que afo- v i n h a m em peregrinação p a r a as festas (At 2,10) aloja-
gassem seu c u n h a d o , Jonatas (somente aqui é c h a m a d o vam-se, sem dúvida, na h o s p e d a r i a contígua a essa sina-
por este n o m e ; Aristóbulo nas demais referências), em Je- goga. At 2 8 , 2 1 supõe relações regulares, através de cartas
ricó, d u r a n t e u m b a n h o . Na descrição do cortejo fúne-
29
e p o r contatos pessoais, entre os judeus de R o m a e a su-
bre de H e r o d e s , ao lado de trácios e gauleses, mencionam¬ p r e m a a u t o r i d a d e judaica, o Sinédrio.
-se, igualmente, os germanos, m e m b r o s de sua g u a r d a . ? 0

Após a m o r t e de H e r o d e s , seu filho, o etnarca A r q u e l a u c. Grécia


(4 a.C. — 6 d . C ) , encarregou-se dessas tropas, mas de-
pois de sua deposição (6 d . C ) , foram os r o m a n o s q u e Entre outras, a influência helenística é sensível na
dela se e n c a r r e g a r a m . É duvidoso, p o r é m , q u e as t e n h a m q u a n t i d a d e de palavras gregas transpostas p a r a a literatu-
deixado na Palestina, após o ano 6. ra rabínica. É a civilização e não a política que condicio-
na essa influência. Por tal motivo, é mais i m p o r t a n t e do
que a influência exercida por R o m a .
b. Roma
Já no t e m p o de H i r c a n o II (76-67, 63-40 a . C ) , en-
c o n t r a m o s atenienses em Jerusalém; assuntos oficiais as-
Desde o ano 6 d . C , a Judéia era província r o m a n a ; sim como particulares davam-lhes o p o r t u n i d a d e de esta-
tinha u m governador r o m a n o , assim como soldados e fun- belecer intensa circulação entre as duas cidades *. Herodes 3

cionários. E m Jerusalém, havia u m destacamento r o m a n o , tinha mercenários trácios em sua g u a r d a p e s s o a l ; Euri- 35

isto é, u m a cohors miliaria equiíata, sob o c o m a n d o d e cles, u m l a c e d e m ô n i o , representou papel i m p o r t a n t e na


u m t r i b u n o . C o n s e q ü e n t e m e n t e , as relações com R o m a e r a m corte de H e r o d e s . O q u e c h a m a m o s de segunda e ter-
36

28. B. j . I 20, 3 § 397. Pode-se t r a t a r de gauleses ou de g á l a t a s . 31. Ani. X X 8, 1 1 , § 193ss; Vita 3, § 13ss e passim.
Mas, como o d e m o n s t r a o e m p r e g o desse t e r m o Galátai e m B. /'. II 16,
32. Fílon, Leg. ad Caium § 155.
4, § 364. 371 e V I I 4, 2, § 76 (cf. C. A p , I 12, § 6 7 ) , d e v e m o s n o s
33. V e r injra, p . 9 5 .
ater s o m e n t e ao s e n t i d o d e " g a u l ê s " .
34. Ant. X I V 8, 5, § 149ss; Ver supra, p . 5 3 .
29. B. j . I 22, 2, § 437.
35. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
50. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
36. B. /. I 2 6 , 1-4, § 513ss.
ceira viagem missionária de P a u l o é u m a p r o v a das rela-
méia, Laodicéia, A d r u m e t o e P é r g a m o , F l a c o s , p r o c ô n s u l
ções entre Jerusalém e a Grécia. D e volta de sua terceira
da Ásia em 62-61 a . C , m a n d a confiscar o dinheiro des-
viagem, e n c o n t r a m o s , a c o m p a n h a n d o - o p a r a o c a m i n h o d e
tinado a o T e m p l o . É o que nos conta Cícero . 37

Jerusalém, mensageiros p a r a as coletas, u m da comunida-


de cristã de Beréia e dois da de Tessalônica (At 2 0 , 4 ) . N o 2. A ilha de Cós, Everato de Cós acha-se em Jerusa-
relato de Lam. R. 1, 5-14 sobre 1, 1 ( 2 0 - 2 2 ) , as rela- a b
lém n o p e r í o d o q u e seguiu o dos p r í n c i p e s h e r o d i a n o s .
ções com Atenas representam relevante papel: trata-se d e Dessa ilha e r a m enviadas grandes q u a n t i a s p a r a o T e m -
híerosolímítanos, dirigindo-se p a r a Atenas e de atenienses, p l o ; lá t a m b é m Mitridates deu ordens p a r a confiscarem
fixando-se em Jerusalém, o dinheiro destinado ao T e m p l o . M

3 . A província da Galácia. G a i o de D e r b e e Timó-


d. Chipre
teo de Listra encaminham-se p a r a Jerusalém com P a u l o
(At 20,4 cf. 16.1-8). O s missionários j u d a i z a n t e s q u e a
O u v i m o s falar, em Jerusalém, de alguns cipriotas (At Epístola aos G á l a t a s censura v i n h a m , p r o v a v e l m e n t e , de
11,20); são judeu-cristãos obrigados, pela perseguição aos Jerusalém.
seguidores de Cristo, a deixar a cidade e partir p a r a
a A n t i o q u i a . Lã a n u n c i a r a m o E v a n g e l h o aos gregos, 4. Pisídia. E m B. j . I 4, 3 , § 88, vemos gente da
p o r t a n t o , a não-judeus; é u m progresso de relevada im- Pisídia em Jerusalém, no exército de mercenários de Ale-
portância. B a r n a b é , levita originário de C h i p r e , possuía x a n d r e Janeu.
um c a m p o nas redondezas de Jerusalém (At 4,36-37; Gl
2,1 e t c ) . Podemos contar t a m b é m com M n a s o n , de Chi- 5 . Cilicia. H o m e n s da Cilicia s e r v i a m n o exército d e
p r e , "discípulo dos primeiros d i a s " (At 2 1 , 1 6 ) , entre os mercenários de A l e x a n d r e J a n e u . P a u l o , originário de
i 9

membros da c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém. T a r s o , estudou em Jerusalém (At 2 2 , 3 ) . Esses h o m e n s es-


tabelecidos e m Jerusalém, assim como outros helenistas,
p e r t e n c e m a Lima c o m u n i d a d e c o m sinagoga c o m u m (At
e. Ásia Menor
6,9: "Alguns v i e r a m da sinagoga c h a m a d a dos Libertos,
cireneus e alexandrinos, e outros da Cilicia e da Á s i a " ) .
Existia, na Ásia M e n o r , uma i m p o r t a n t e diáspora ju- E n c o n t r a m o s igualmente referência a essa sinagoga n a li-
daica. E n c o n t r a m o s , em Jerusalém, representantes de to- teratura talmúdica; ora chamavam-na de sinagoga dos Ale-
das as regiões da Ásia Menor. São habitantes dos seguin- xandrinos , ora, sinagoga dos T a r s i o t a s
40
( = pessoas de 41

tes países:
37. Pro Ftacco 2 8 .
1. A província da Ásia, Mencionam-se juntos, j u d e u s 58. Ant. X I V 7, 2, § 112.
da província da Ásia e outros helenistas pertencentes a 39. B. i. I 4 , 3 , § 8 8 .
u m a m e s m a sinagoga (At 6,9). Entre os mensageiros p a r a 40. T o s . Meg. I l l 6 (224, 2 6 ) ; j , Meg. I I I 1, 7 3 35 ( I V / I , 2 3 6 ) .
d

as coletas que a c o m p a n h a m P a u l o , há dois asiáticos. Al- 4 1 . b . Meg. 2 6 . — Verificamos q u e , n a v a r i a n l e d e b. Meg. 2 6 .


3 a

" T a r s i o t a s " (tarsiyyím) designa os h a b i t a n t e s de T a r s o . Tratar-se-ia


guns j u d e u s da Ásia, presentes em Jerusalém p a r a a festa a n t e s d e o p e r á r i o s (SchÜrer, I I , S7, n, 2 4 7 ; 524, n. 77 6 o u t r o s , cf.
de Pentecostes reconhecem P a u l o no T e m p l o e q u e r e m supra, p p . 13 e 34. S ã o p a r a o sentido geográfico: D e r e n b o u r g , Essai,
2 6 3 ; N e u b a u e r , Géogr., 293 n . 5 e 315; G o t l h e i ) , }E V J I , J 2 9 ) . C o n t r a
linchá-lo (At 2 1 , 2 7 ) . São, de m o d o verossímil, pessoas de essa i n t e r p r e t a ç ã o é p r e c i s o , e n t r e t a n t o , dizer: 1" b . Meg. 7 e m p r e g a a mes-
Éfeso, pois v i r a m , em c o m p a n h i a de P a u l o , Trófimo de m a p a l a v r a " T a r s i o t a s " ; d a d o o c o n t e x t o , o s e n t i d o é u m só, pois,
Éfeso a q u e m conheciam. D a província da Ásia, traziam¬ trata-se d e p e s s o a s q u e f a l a m n a sua língua m a t e r n a . 2° D e resto, n ã o
se p o d e c o m p r o v a r a existência, em Jerusalém, de sinagogas d e cor-
-se a Jerusalém somas vultosas p a r a o T e m p l o . E m A p a - p o r a ç õ e s profissionais. 3 em b . Meg. 2 6 , " T a r s i o t a s " é u m a v a r i a n t e
? a

d e " A l e x a n d r i n o s " q u e figura em T o s . Meg. Ill 6 (224, 26), e j . Meg.


Cilicia). É, sem dúvida, essa sinagoga que R. Weill des- Conta-se q u e os sacerdotes de Jerusalém, originários
cobriu no Ofel. Por ocasião das escavações de 1913-1914 de Babilônia, comiam, crua, no dia das expiações, a carne
ele e n c o n t r o u , entre vestígios de construção, várias inscri- do sacrifício suplementar; n ã o sentiam, com isso, n e n h u m a
ções ; u m a delas indicava: essa sinagoga foi construída
42
repugnância . Hillel, o escriba b e m c o n h e c i d o , q u e ensi-
w

p o r T e o d o t o , filho de Veíenos, sacerdote e presidente da n a v a no início d e nossa era, chamava-se "o Babilônio";
sinagoga; u m a hospedaria e instalação de b a n h o s foram- conforme c o n t a m , ele foi a p é de Babilônia a Jerusalém
-íhe a n e x a d a s . O n o m e do pai, Vetenos e a m e n ç ã o da (ver supra, p . 8 6 ) .
hospedaria contígua à sinagoga levaram o Pe. V i n c e n t , 43

Além de sacerdotes e escribas, e n c o n t r a m o s ainda ou-


a c o m p a n h a d o por R. Weill e G. D a l m a n , a deduzir q u e tros babilônios n a C i d a d e s a n t a . Josefo, Vita l í , § 4 7 , es-
se tratava da sinagoga dos Libertos (At 6 , 9 ) . S e g u n d o 4 4

creve: "Alguns b a b i l ô n i o s . . . encontrando-se em Jerusa-


nossas conclusões, essa sinagoga é a dos alexandrinos ou l é m " . O b a b i l ô n i o Silas é u m chefe n o t á v e l d a revolta
dos tarsiotas. contra R o m a . U m a m u l h e r de Carquemis m o r a e m Je-
50

6. Capadócia. A r q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a , visitou a r u s a l é m . " M a g o s d o O r i e n t e " teriam i d o a Jerusalém


51

Cidade s a n t a . 43
para se informarem acerca do Rei do m u n d o (Mt 2,1-6),
d o m e s m o m o d o q u e uma e m b a i x a d a do povo p a r t o vai
f. Mesopotâmia em 66 d . C , até junto de N e r o , a fim de lhe t e s t e m u n h a r
honras divinas. E r a m igualmente b a b i l ô n i o s , sem d ú v i d a
Desde a deportação dos judeus pelos assírios (722 pagãos e n ã o fiéis zelosos q u e , com gritos de mofa, ar-
a.C.) e os babilônios (597 a 5 8 7 a.C.) havia u m a n u m e - r a n c a v a m pêlos do b o d e expiatório, no D i a das expiações
rosa c o m u n i d a d e judaica na Mesopotâmia; sabemo-lo atra- e n q u a n t o o c o n d u z i a m ao local do sacrifício . Posterior-
52

vés de informações d i r e t a s e pelas relações ativas, no


46

mente à q u e d a de Jerusalém (70 d . C ) , alguns babilônios


domínio d o espírito, entre a Palestina e a Babilônia, país vieram à C i d a d e santa, trazidos p o r u m voto de nazireato . 53

de origem do T a l m u d e de Babilônia.
Estamos informados de que peregrinos da Mesopotâ-
Intenso intercâmbio reinava, p o r t a n t o , entre Jerusa-
mia, encaminhando-se p a r a as festas, reuniam-se aos mi-
lém e a Mesopotâmia. Anauel, juiz b a b i l ô n i o , foi sumo sa-
lhares em N e a r d a e Ntsíbe; levavam consigo p a r a o Tem-
cerdote em 37-36 a . C , e depois, a partir de 3 4 , pela se-
p l o , as q u a n t i a s oferecidas pela c o m u n i d a d e judaica m e -
gunda vez . Para I I I 5 fala de u m H a n a m e e l , s u m o sa-
47

sopotâmica, e faziam juntos a viagem a J e r u s a l é m . Za- 54

cerdote o r i u n d o do Egito; sob seu pontificado, foi quei-


m a r i s , j u d e u estabelecido n a região da Batanéia, zelava
m a d a u m a novilha vermelha. Se, como é provável, trata¬
pela segurança da c a r a v a n a . Esses j u d e u s entregavam,
55

-se da m e s m a pessoa, preferimos as informações de Josefo . 48

c o m o taxa. o imposto da d i d r a e m a . P o r questões d e pu-


56

I I I 1, 7 3 32 ( I V / l , 2 3 6 ) ; isso t o r n a p r o v á v e l o fato de q u e o n o m e
d reza ritual, n ã o e r a m e n t r e t a n t o aceitos dons de primícia
d a sinagoga v a r i a v a . Assim p o d e r í a m o s e x p l i c a r i g u a l m e n t e a e n u m e - (animais ou frutos) provenientes de B a b i l ô n i a . 57

r a ç ã o p a r t i c u l a r de At 6,9.
42. T e x t o em CU I I , n . 1404. 4 9 . Men. X I 7.
4 3 . L. H . V í n c e n t , Découverte de la "Synagogue des Affranchis" 50. B. j . 11 19, 2, § 520; I I I 2, 1-2, § 11.19.
à Jerusalém, em RB 30 ( 1 9 2 1 ) , 127-277. 5 1 . 'Ed. V 6.
44. V e r supra, p . 9 3 . 52. Yoma V I 4.
45. B. j . I 25, 1-6, § 499ss; cf. I 2 3 , 4, § 456; 26, 4, § 530; 2 7 , 2, 53. Naz. V 5.
§ 538. 54. Ant. X V I I I 9 , 1, § 310-313, v e r s u p r a , p . 8 6 ; cf. Ta'an. I 3,
46. Ant. X I 5, 2, § 131ss; X V 2, 2, § 14; 3, 1, § 39; Fílon, Leg. v e r supra, p . 87, Ned. V 4-5.
ad Caium, 282. 55. Ant. X V I I 2, 2, § 26.
47. Ant. X V 2, 4, § 22; 3, 1, § 39, 3 , 3 , § 5 6 .
48. V e r infra, p. 100. 56. Sheq. I I 4 ; Ant. XV11I 9, 1, § 312s.
57. Halla ÍV II.
4 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
deus . Com efeito, existia entre a Síria e a Palestina forte
65

g. As regiões do império parto


relacionamento. A o contrário do que estava estabelecido
situadas a leste da Mesopotâmia p a r a a B a b i l ô n i a , aceitavam as primícias vindas d a Sí-
66

ria . I n ú m e r o s mensageiros e r a m enviados de Jerusalém


67

N a q u e l a época, somente u m a p e q u e n a p a r t e d a Me- p a r a a Síria, a fim de a n u n c i a r o início d a nova lua que


sopotâmia — a região nordeste — pertencia ao império d e t e r m i n a v a as datas das festas . N a época da conversão
68

r o m a n o . O restante e a z o n a que abrangia sua fronteira de Paulo, o Sinédrio comunicava-se c o m as sinagogas de


oriental p e r t e n c i a m ao império p a r t o . D a m a s c o ; a c o m u n i d a d e cristã de Jerusalém m a n t i n h a
M

O rei de A d i a b e n a d e p e n d i a do rei dos p a r t o s . A fa- também relações ativas, sobretudo com A n t i o q u i a , capital
mília real achegara-se ao judaísmo e reatara relações com da Síria . U m prosélito d a q u e l a cidade foi m e m b r o da
1,1

Jerusalém. O rei M o n o b a z e , assim como sua m ã e , a


5 8

c o m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém (At 6,5). Mi-


r a i n h a H e l e n a , possuía u m palácio em J e r u s a l é m . Se- 59

riam, judia de Palmira, cidade da Síria reconhecida autô-


g u n d o a M i s h n a , Helena viera a Jerusalém q u a n d o estava n o m a pelos r o m a n o s , é m e n c i o n a d a por ocasião dos sacri-
p a r a expirar u m nazireato de sete a n o s . Entre outros 6 0

fícios q u e ela oferece como n a z i r . 71

m e m b r o s da família real de A d i a b e n a , e n c o n t r a m o s em
Jerusalém, G r a p t é que ali possuía u m p a l á c i o ; tam-
6 0 bls

b é m parentes do rei M o n o b a z e e filhos e irmãos do rei


6 1 i . Arábia {reino nabaíeu)
I z a t e s ' . Esses príncipes c o m b a t e r a m do l a d o j u d a i c o con-
( 2

tra os r o m a n o s em 66 e 70 d.C. As lutas c o n t r a Cestius Relações políticas u n i a m aos árabes os reis judaicos
Gallus em 6 6 , nas quais t o m a r a m p a r t e os príncipes de do século I a.C. C o m freqüência o rei dos árabes prestava
A d i a b e n a , citados em B. j . I I , 19, 2, § 5 2 0 , t i v e r a m iní- a sua colaboração, enviando tropas e auxílios particula-
cio na época da festa da Páscoa; é, p o r t a n t o , p a r a se su- res . Na corte de H e r o d e s encontramos u m guarda-costas
72

por q u e esses príncipes encontravam-se em Jerusalém por á r a b e . Depois de u m a tentativa de assassínio de H e r o d e s ,


ocasião da peregrinação pascal. E m 7 0 , Chageiras de Adia- dois outros árabes são presos com o criminoso. O primeiro
b e n a c o m b a t e u do lado judaico . 63 é u m amigo d e Siícos, ministro d e Aretas IV, rei dos ára-
bes; o outro é o xeque de u m a t r i b o á r a b e " . Q u a n d o
D a Média era originário o escriba N a u m , o M e d o ; M

Paulo foi obrigado a fugir de D a m a s c o p a r a J e r u s a l é m , 74

conforme b . Ket. 1 0 5 , fazia p a r t e de u m t r i b u n a l d e Je-


a

aquela cidade encontrava-se a p a r e n t e m e n t e em p o d e r de


75

rusalém. u m etnarca desse Aretas I V ( " e t n a r c a " tanto p o d e desig-


n a r u m g o v e r n a d o r q u a n t o u m e n v i a d o ; mas esse h o m e m
h. Síria parece ter tido em m ã o o p o d e r militar). Pouco t e m p o antes

De todos os países, fora da Palestina, era a Síria q u e ,


65. B. j . V I I 3, 3, § 4 3 .
p r o p o r c i o n a l m e n t e , contava com o maior n ú m e r o d e ju- 66 Supra, p. 97.
67. Halla I V 1 1 .
58. B. j V 6, 1, § 252. 68. R. H. I 4 .
59. B. j . V I 6, 3, § 355. Q u a n t o a seus p r e s e n t e s p a r a o T e m p l o , 69. A t 9,2.
ver supra, p. 3 8 ; s o b r e a a t i v i d a d e social de H e l e n a d u r a n t e u m a 70. A t 11,27. — Coletas e m A n t i o q u i a p a r a J e r u s a l é m : At 11,29-
crise de a u m e n t o s e m J e r u s a l é m , v e r supra, p . 54. -30;12.25. — G l 1,18-21; At 15, e s p e c i a l m e n t e 15,2.4.30; G l 2,11-12.
60. Naz. I I I 6. 7 1 . Naz. VI 11.
6 0 . B. J. I V , 9, 11, § 567.
b i s
72. B. j . 1 6. 2. § 124ss; 9, 3 , § 187.
6 1 . B. j . I I , 19, 2, § 520. 7 3 . B. /". ( 2 9 , 3, § 5 7 7 .
62. B. } . V I 6, 4, § 356. 74. A t 9,26; C l 1,18.
6 3 . B. j . V 1 1 , 5, § 474. 75. 2 C o r 11,32; At 9,24-25.
64. Shab. I I 1; Naz. V 4; B. B. V 2; b . 'A. Z. 7 . b
da conversão de P a u l o , D a m a s c o teria p a s s a d o da sobe- C o m o muitos judeus egípcios, Fílon p e r e g r i n o u a Je-
rania de R o m a , sob a qual fez p a r t e da Síria, à dos á r a b e s . rusalém . 8J

Por ocasião do casamento dos sacerdotes que habita-


v a m no Egito, esses p r o c u r a v a m verificar, conforme as
j. O Egito
prescrições, a genealogia de sua futura e s p o s a . P o r ou- 82

tro l a d o , trazia-se de Alexandria p a r a Jerusalém a " a r r e -


C o m sua n u m e r o s a c o m u n i d a d e judaica, o Egito re- cadação da m a s s a " (Hallah) , q u e , devido às regras de
83

presentava i m p o r t a n t e papel no m o v i m e n t o dos estrangei- pureza legal, não era, e n t r e t a n t o , aceita. Esses fatos mos-
ros em Jerusalém. O s egípcios q u e m o r a v a m nessa cidade tram-nos q u e o culto não se c o n c e n t r a v a de m o d o algum
e r a m , c o m outros helenistas, incorporados a u m a m e s m a no templo de Onias p a r a todos os j u d e u s e g í p c i o s \ In- 8

sinagoga (At 6,9). Por causa deles, é por vezes c h a m a d a formações particulares relativas a esse t e m p l o conferem¬
"sinagoga dos a l e x a n d r i n o s " . Herodes investiu no sumo
76
-lhe a m e s m a imagem. J o s e f o observa q u e , a começar pe-
85

sacerdócio a Simão, filho de u m judeu egípcio, o alexan- las suas dimensões, o templo era p e q u e n o e p o b r e com-
drino Boetos, a fim de p o d e r desposar sua filha M a r i a n a . p a r a d o c o m o de Jerusalém. Men. X I I I descreve as ordens
Depois, s e t e outros m e m b r o s dessa família tornaram-se
77
dos doutores da Cidade santa, concernentes aos sacrifícios
igualmente sumos sacerdotes. Segundo Para I I I 5 , u m de- e aos sacerdotes daquele templo de Leontópolis. Segundo
les, A n a u e l , originário de Babilônia (ver supra, p . 96)
7 8
suas recomendações, os sacerdotes que oficiavam lá não
era e g í p c i o . U m escriba hierosolimitano, H a n n a b e n
79
p o d i a m exercer seu ministério no T e m p l o de Jerusalém.
Abishalom, m e m b r o de u m tribunal de Jerusalém , t i n h a 80

M e s m o p a r a os judeus egípcios, Jerusalém era o cen-


o cognome de " o E g í p c i o " . tro religioso. Disso temos u m a p r o v a : u m egípcio foi o
incentivador de u m dos muitos m o v i m e n t o s messiânicos
q u e q u e r i a m alcançar Jerusalém. R e u n i u em torno de si
76. T o s . Meg. I I I 6 (224, 2 6 ) ; j . Meg. I I I 1, 7 3 * 32 ( I V / 1 , 2 3 6 ) .
77. Ver infra, p . 266, n. 303. g r a n d e m u l t i d ã o : segundo At 2 1 , 3 8 , q u a t r o mil zelotas
78. Ant. X V 2, 4, § 22; Para I I I 5; H a n a m e l . (membros do p a r t i d o fanaticamente revolucionário); se-
79. Existe u r a fato c u r i o s o , cujas c a u s a s n ã o são c l a r a s : de m o d o g u n d o B. j . II 1 3 , § 2 6 1 , trinta mil p a r t i d á r i o s . Pretendia
m a n i f e s t o , n a P a l e s t i n a , os j u d e u s d e Babilônia n ã o e r a m a p r e c i a d o s .
E m c o m p e n s a ç ã o , d e m o n s t r a v a m g r a n d e a p r e ç o aos j u d e u s d o E g i t o . ele, no m o n t e das Oliveiras, mostrar a seus partidários o
E m t o d o caso, q u a n d o q u e r e m c o n t a r algo elogioso a r e s p e i t o dos ba- d e s m o r o n a m e n t o das m u r a l h a s de Jerusalém e, após esse
86

bilônios — c o m o o fato de t e r e m d a d o u m s u m o s a c e r d o t e — i m p u t a -
r e essa d i g n i d a d e a u m egípcio (Para I I I 5 ) . O s c o m e n t á r i o s a res- milagre messiânico, tornar-se senhor da C i d a d e s a n t a . 87

peito dos b a b i l ô n i o s n ã o são e s p e c i a l m e n t e f a v o r á v e i s : os s a c e r d o t e s F i n a l m e n t e , temos t a m b é m no T a l m u d e provas de in-


babilônios c o m e m c a r n e c r u a , o q u e c o n s t i t u í a u m a a b o m i n a ç ã o p a r a
os j u d e u s ; p o r o u t r o l a d o , os b a b i l ô n i o s z o m b a m d o b o d e e x p i a t ó r i o t e r c â m b i o entre o Egito e Jerusalém. N o T e m p l o , por oca-
(supra, p . 9 7 ) . O r a , nesses dois ú l t i m o s casos, o T a l m u d e de Babi- sião d e u m a greve dos fabricantes de perfumes p a r a quei-
lônia afirma q u e se t r a t a v a d e a l e x a n d r i n o s . Eis em q u e t e r m o s ele m a r e de pães da p r o p o s i ç ã o , fizeram vir do Egito, p a r a
c o m e n t a a c e n a irônica d o b o d e e x p i a t ó r i o (Yoma VI 4 ) ; (Rabba b.
Bar-Hana d i z : " N ã o se t r a t a d e b a b i l ô n i o s e sim d e a l e x a n d r i n o s ; e
c o m o os palestinos o d i a v a m os b a b i l ô n i o s , d e s i g n a v a m a q u e l e s [os ale- 8 1 . F r a g m e n t o d o De providentia e m E u s é b i o , Praep. ev. V I I I 14,
x a n d r i n o s q u e , n o dizer d o T a l m u d e de Babilônia, i n s u l t a v a m o b o d e 64 (GCS 4 3 , 1, 4 7 7 ) .
expiatório] d e a c o r d o c o m esses [os b a b i l ô n i o s i n o c e n t e s , s e g u n d o o
82. C. Ap. I 7, § 30-33; cf. infra, p p . 295 e 3 7 8 .
m e s m o r e l a t o ] " ( b . Yoma 6 6 ) . O m e s m o e m Men. X I 7 {supra,
b
p.
8 3 . Baila V 10.
9 6 ) . P o r t a n t o , o T a l m u d e de Babilônia p r o c u r a , a b e r t a m e n t e , salvar
a h o n r a dos b a b i l ô n i o s . A ú n i c a c e r t e z a q u e p o d e m o s o b t e r desses 84. V e r supra, p . 4 5 .
c o m e n t á r i o s d o T a l m u d e p a r e c e ser a de q u e , n a P a l e s t i n a , os b a b i - 85. Ant. X I I 9, 7, § 3 8 8 ; X I I I 3 , 1-3, § 62ss; 10, 4, § 2 8 5 ; X X
lónios n ã o e r a m f a v o r a v e l m e n t e j u l g a d o s . 10, 3 , § 236s; B. j . I 1, 1, § 3 3 ; V I I 10, 2-4, § 421ss.
86. Ant. X X 8, 6, § 169s.
80. Ket. XIII 1-9; b . Ket. 1 0 5 ; v e r supra,
a
p . 77. 87. B. j . I I 13, 5, § 262.
substituí-los, pessoas que lá exerciam essas profissões. U m sumo sacerdote, Ismael, foi d e c a p i t a d o em Cire-
A tentativa fracassou, p o r é m , p o r q u e n ã o t i n h a m a com- ne ; desconhecemos os motivos.
93

petência n e c e s s á r i a . Experiências igualmente desastrosas


8S

as que tiveram com os artífices de Alexandria q u e deve- 1. Etiópia


r i a m reparar, no T e m p l o , o címbalo de b r o n z e e os q u e M e s m o da Etiópia alguns estrangeiros v i n h a m a Je-
v i e r a m p a r a r e p a r a r a peça de cobre na qual se tritura- r u s a l é m . E m At 8,27-39, vemos o ministro das finanças
v a m os a r ô m a t a s p a r a os perfumes a q u e i m a r e q u e es- d a etíope C â n d a c e r e t o r n a n d o d e Jerusalém o n d e estivera
tava r a c h a d a . E m ambos os casos foi preciso refazer o
por motivos religiosos.
t r a b a l h o executado p o r e l e s . U m a última informação in-
89

E m r e s u m o : os estrangeiros v i n h a m a Jerusalém d e
dica o tráfico existente com o Egito. Sob A l e x a n d r e Ja-
quase todo o m u n d o então c o n h e c i d o , a t r a í d o s , antes de
n e u (103-76 a . C ) , R. Yoshna b e n Perahia foge de Jeru-
t u d o , por motivos religiosos; em segundo lugar por razões
salém p a r a a Alexandria com u m aluno c h a m a d o J e s u s . 90

de natureza política ou econômica. E r a m , especialmente,


U m a carta de Jerusalém tê-lo-ia convocado a voltar.
sírios, babilônios, egípcios e gente d a Ásia Menor.

k. Cirene
3 . M o v i m e n t o de estrangeiros
Foi e n c o n t r a d o o t ú m u l o de u m a família judaica de provenientes de regiões próximas
Cirene, no vale do C é d r o n , Simão, aquele a q u e m os
91

soldados r o m a n o s obrigaram a levar a cruz de Jesus ao Desde s e m p r e , a circulação interna da Palestina re-
Gólgota era dessa localidade. O s cireneus que m o r a v a m
92

presentava a maior parte do tráfico v o l t a d o para Jerusa-


e m Jerusalém pertenciam à sinagoga m e n c i o n a d a em At lém. Conforme vimos, o comércio d a c i d a d e atraía sobre-
6,9. O s peregrinos q u e v i n h a m de Cirene p a r a a festa — m o d o os h a b i t a n t e s das regiões mais p r ó x i m a s . O m e s m o
mais exatamente da Líbia cirenaica, com Cirene por capi- acontecia por motivos comerciais, conforme p o d e m o s per-
tal — alojavam-se, talvez, na hospedaria contígua a essa ceber pelas interligações de estradas \ já q u e a natureza
9

sinagoga. Parte desse povo passou p a r a o cristianismo; forçava os habitantes da Palestina meridional, a v i r e m a
unidos aos cristãos de Chipre, esses cristãos de Cirene ou- Jerusalém. D e toda a Palestina a Judéia era a q u e mais
saram, em A n t i o q u i a , pregar o evangelho até mesmo a ligada estava a Jerusalém. O país fora dividido pelos ro-
não-judeus (At 11,20). m a n o s em onze t o p a r q u í a s judaicas com b a s e , sem dú-
95

vida, n a divisão da Palestina em v i n t e e q u a t r o distritos


88. b . Yoma 38 -*>. a

s a c e r d o t a i s ; v i n h a m a Jerusalém pagar seus impostos. As


96

89. b . 'Ar. 1 0 bar.; cf. Billerbeck, I I I , 450.


b

90. b . Sanh. 1 0 7 ; b . Sola 4 7 . — Billerbeck, I, 85, q u a n t o a o


b a medidas policiais concernentes à Judéia r e p o u s a v a m em
n o m e d o rei, deixa s u p o r u m a confusão c o m H e r o d e s q u e , s e g u n d o Ant. parte sobre os o m b r o s das autoridades de Jerusalém e da
X I V 9, 4, § 175, m a n d o u m a s s a c r a r e m 37 a.C. os m e m b r o s d o Si- g u a r d a do T e m p l o à sua disposição. E m d e t e r m i n a d o s ca-
n é d r i o c o m e x c e ç ã o de S h e m a y a , Essa h i p ó t e s e , e n t r e t a n t o , n ã o se im-
p õ e . C o m efeito, o T a l m u d e fala m u i t a s vezes d a p e r s e g u i ç ã o d e Shi- sos, os tribunais d a província d a Judéia i a m a Jerusalém
m e o n ben S h e t a h , o e s c r i b a , p o r A l e x a n d r e J a n e u e Josefo faz-nos co- pedir u m a decisão. O s casos especialmente difíceis e r a m
n h e c e r as lutas s a n g r e n t a s desse rei, d u r a n t e longos a n o s , c o n t r a o
p o v o d o m i n a d o pela influência farisaica. O p a r a l e l o , cm j . Hag. II 2 , apresentados ao Sinédrio d e Jerusalém q u e então repre-
7 7 30 (TV/l, 2 7 7 s ) , coloca Y u d a b e n T a b b a i n o lugar d e Y o s h u a ; isso
d

t a m b é m c o n f i r m a a c r o n o l o g i a do T a l m u d e .
93. B. }. V I 2, 2, § 114.
9 1 . N . A v i g a d , " A d e p o s i t o r y of I n s c r i b e d O s s u a r i e s in t h e K i d r o n
94. Ver supra, 77s.
V a l l e y " em Israel Exploration Journal 12 (1962) 1-12.
95. B. ]. I l l 3, 5, § 54.
92. Mc 15,21; M t 27,32; Lc 23,26.
96. Ver mira. 374.
tas. O u v i m o s dizer q u e u m a c i d a d e inteira d a importân-
sentava o p a p e l de tribunal s u p r e m o ; nos casos duvidosos, cia e t a m a n h o de Lida , t o m a v a p a r t e na festa das Ten-
l0í

o escriba vinha do c a m p o — de Masfa, por e x e m p l o — 9 7

das, de tal forma que a p e n a s u m a s c i n q ü e n t a pessoas fi-


até Jerusalém, p a r a aí obter melhores informações. c a v a m e m casa . T a l fato só p o d e o c o r r e r n a J u d é i a . . .
l w

A província da Judéia t a m b é m participava mais do À m e d i d a q u e as distâncias a u m e n t a v a m , o comércio


culto de Jerusalém do que o resto da Palestina. Somente era feito, d e preferência, pelas c a r a v a n a s e grandes nego-
q u e m estava domiciliado nos arredores da cidade podia ciantes ; p o r t a n t o , os deveres religiosos, mais do q u e o
105

vir praticar seu culto no santuário, aos sábados. As teste- comércio, faziam as outras regiões da Palestina p a r t i c i p a r
m u n h a s q u e iam a n u n c i a r a lua nova à comissão compe- do m o v i m e n t o rumo a Jerusalém. Excetuavam-se somente
tente, composta de sacerdotes, eram n a t u r a l m e n t e da ci- os s a m a r i t a n o s cujo culto se c o n c e n t r a v a no G a r i z i m (Jo
d a d e , ou pelo m e n o s , de muito perto . A maioria dos sa-9S

4,20-21). E n c o n t r a m o s e m Jerusalém, o carpinteiro José


cerdotes m o r a v a na Judéia. Segundo Ned I I , 4, os galileus com M a r i a e Jesus, vindos d e N a z a r é p o r ocasião de u m a
não conheciam o costume de consagrar alguma oferenda festa (Lc 2,41-44). Assim t a m b é m , a r a i n h a Berenice, fi-
em proveito dos sacerdotes, por ser muito p e q u e n o o nú- lha d o rei Agripa I e irmã do rei Agripa I I , veio à Cidade
m e r o desses em sua terra. Na Judéia, n e m todos m o r a v a m santa p a r a u m nazireato ; veio c e r t a m e n t e , d e Cesaréia
m

em Jerusalém. Ali residiam, por exemplo, os sumos sacer- de Filipe (66 d . C ; nessa data já deveria estar divorciada
dotes, o sacerdote S a d o c J o s e f o °. Já o sacerdote Za-
10

de seu m a r i d o Polemon da Cilicia). O dever religioso


carias m o r a v a , segundo a tradição, em Ain K a r i m , n a re- atraía à C i d a d e santa ricos e p o b r e s .
gião m o n t a n h o s a da Judéia (Lc 1,39). O sacerdote Mata-
rias, antepassado dos m a c a b e u s , residia em M o d i n ( l M c Quando um movimento perturbava a nação, o número
2,1). N a p a r á b o l a do b o m s a m a r i t a n o , vemos u m sacer- de peregrinos p a r a as festas crescia e n o r m e m e n t e . N ã o é
dote que passa, indo de Jerusalém a Jericó (Lc 1 0 , 3 1 ) . preciso d i z e r q u e o a j u n t a m e n t o das m u l t i d õ e s e m Jerusa-
Segundo Orígenes , Betfagé era u m a cidade de sacerdo-
101 lém adquiria t a m b é m uma i m p o r t â n c i a política; variados
tes. Finalmente, Terum II 4 prescreve q u e , o n d e m o r a r exemplos o d e m o n s t r a m . Foi assim, p o r razões políticas
u m sacerdote, deve-se dar-lhe o " a r r e c a d a d o " . Essas ex- q u e n o a n o 6 d . C , reuniu-se em Jerusalém u m a " m u l t i d ã o
plicações p e r m i t e m considerar como verossímeis os dados i n c o n t á v e l " de judeus a r m a d o s , vindos da Galileia, Idu-
q u e temos, segundo os quais a Palestina era dividida em méia, Jericó, Peréia e sobretudo d a J u d é i a . Q u a l q u e r 107

vinte e q u a t r o seções, alternando-se no serviço do santuá- m o v i m e n t o messiânico tinha como fito alcançar Jerusalém.
rio; a que estava em exercício m a n d a v a p a r a o T e m p l o A sede principal das correntes anti-romanas e das idéias
seus sacerdotes e levitas, com alguns r e p r e s e n t a n t e s do messiânicas era a Galileia. É difícil acreditar q u e a ati-
povo . 102 tude de Pilatos no s a n t u á r i o , contra os peregrinos vindos
da Galileia p a r a a Páscoa (Lc 1 3 , 1 ) , não tivesse motivo
A província da Judéia, graças, a distâncias m e n o r e s , c o n c r e t o . Foi n a Galileia q u e se desenvolveu o p a r t i d o
tinha a possibilidade de se fazer representar em n ú m e r o dos zelotas; com o t e m p o , teve nas m ã o s a sorte do povo
mais considerável nas peregrinações por ocasião das fes- inteiro. J u d a s , cuja revolta c o n t r a os r o m a n o s (6-7 d.C.)
d e u o i m p u l s o decisivo à f o r m a ç ã o d o m o v i m e n t o zelota,
97. Pea II 6.
98. R. H. I 7.
99. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1. 16 ( 3 5 2 2 ) , o n d e ele é c h a m a d o
a
103. E r a a sede d e u m a t o p a r q u í a (B. /. I I I 3 , 5, § 5 5 ) .
kôhen gadôl, chefe dos s a c e r d o t e s . ( S o b r e o s u m o s a c e r d o t e e chefe 104. B. /". I I 19, I, íj 515s: e m 66 d . C .
dos s a c e r d o t e s v e r infra, p p . 243-248). 105. V e r supra, p . 6 1 .
100. Vita 2, § 7. 106. B. h I I 15, 1, § 3 1 3 .
101. Comm. in Mt 2, 4s, X V I 17 (GCS 40, 5 3 1 s ) . 107. B. /. I I 3 , (, § 4 3 .
102. Ta'an. I V 2; Bik. I I I 2; Para I I I 11.
era originário da Galileia; seu p a i Ezequias já chefiava m a v a m p a r t e ativa ou passiva n o s jogos esportivos pessoas
u m m o v i m e n t o partidarista q u e n a Galileia lutou c o n t r a vindas de fora, muitos intelectuais e outros de formação
H e r o d e s . E m 6 6 , M e n a é m , filho de Judas, foi u m d o s helenística e r a m hóspedes da corte d e H e r o d e s . Acrescen-
principais chefes d a revolta contra os r o m a n o s . As p e -m

tam-se ainda n u m e r o s a s relações oficiais m a n t i d a s p o r H e -


regrinações p o r ocasião das festas e m Jerusalém ajudavam rodes e p o r Agripa I, q u e t r a z i a m a Jerusalém emissários,
tais movimentos a estabelecer u m elo com a Cidade santa. mensageiros e guardas de corpo estrangeiros. Já vimos 110

de q u e maneira a capital, e m b o r a no interior do país, cons-


tituía u m centro de atração p a r a m u i t o s , sobretudo p a r a
B . INFLUÊNCIAS DAS CARACTERÍSTICAS os detentores d a riqueza n a c i o n a l .
DE JERUSALÉM SOBRE O MOVIMENTO Jerusalém era t a m b é m a sede do supremo tribunal:
D E ESTRANGEIROS nela o Sinédrio estava sediado. Sendo a sua origem e na-
tureza, esse Sinédrio era a primeira assembléia d o país;
por tal característica, sua atribuição estendia-se aos j u d e u s
1. Situação da cidade do m u n d o inteiro. E m princípio assim era; seu prestígio
de s u p r e m a instância garantia-lhe ser o u v i d o por todos,
O q u e dissemos nas p p . 75-79 d a situação geográfica m a s , c o n c r e t a m e n t e , pouco podia usar de a u t o r i d a d e fora
da cidade e m relação ao comércio, vale p a r a o m o v i m e n t o da Judeia. P a u l o recebe cartas p a r a as sinagogas de Da-
de estrangeiros. masco, com o r d e m de p r e n d e r os cristãos e entregá-los ao
Sinédrio (At 9,2). Os judeus de R o m a dizem a P a u l o n ã o
terem recebido, a seu respeito, instruções escritas d a Ju-
2 . Importância política e religiosa da cidade deia (At 2 8 , 2 1 ) . D e n t r o d o país a influência do Sinédrio
fazia-se sentir mais forte. D e s d e q u e a Judeia tornara-se
A situação econômica da cidade tinha influência n o província r o m a n a , em 6 d . C , o Sinédrio impôs-se c o m o a
tráfico dos estrangeiros n a m e d i d a e m q u e fazia vir p a r a mais alta representação política. U m a d e suas comissões
Jerusalém mercadores do m u n d o inteiro, especialmente da constituía a assembléia financeira p a r a as onze t o p a r q u í a s
J u d e i a e d o resto d a Palestina. j u d a i c a s , divisões q u e os r o m a n o s t i n h a m imposto ao
111

país. N a q u e l a época, o Sinédrio era, além do mais, nos


Jerusalém era ainda o centro da vida política j u d a i c a .
assuntos da c o m u n a a s u p r e m a instância judiciária judaica
T r ê s características d a cidade justificam o g r a n d e atrativo
p a r a a província.
q u e exercia sobre os estrangeiros: era a antiga capital, a
sede d o s u p r e m o t r i b u n a l , a m e t a d a s peregrinações p a r a D a d a a sua importância, o Sinédrio entretinha rela-
as festas. ções c o m os judeus do m u n d o inteiro e, dentro d a Ju-
Jerusalém era a antiga capital. A corte de H e r o d e s , deia, u n i a a d m i n i s t r a t i v a m e n t e todos os vilarejos de Je-
o n d e o espírito helenista reinava com influência total, a rusalém.
l u t a das feras, os jogos dos ginásios e das m u s a s , os es- N o T e m p l o , três festas de peregrinações e r a m celebra-
petáculos, as corridas de bigas q u e Herodes organizava das cada a n o . E m conseqüência d a i m p o r t â n c i a política
n o h i p ó d r o m o e n o teatro 109
constituíam p a r a os estran-
3
dos a g r u p a m e n t o s para as festas, já vimos 112
como as ca-
geiros u m poderoso centro de a t r a ç ã o . C o m o t a m b é m to- r a v a n a s cresciam nos anos de agitações.
110. Supra, p . 8 1 .
]()8. B. j . II 17, Ss, § 433ss.
111. B. j . I I I 3, 5 , § 54.
109. Ant. X V 8, 1, § 268ss.
112. V e r p . 105.
Desde o ano ó d . C , Jerusalém era u m a cidade roma-
seus s a c r i f í c i o s ; l e v a v a m p a r a o j u l g a m e n t o de D e u s a
113

na de província, còm guarnição de tropa, m a s tal fato não


sôtah, m u l h e r suspeita de adultério. A o T e m p l o traziam¬
teve senão influência m í n i m a na circulação dos es-
-se as primícias; ali, após cada n a s c i m e n t o , as mães se
trangeiros. P a r a a festa de Páscoa, certamente de m o d o
h a b i t u a l , o p r o c u r a d o r r o m a n o v i n h a d e Cesaréia p a r a purificavam pelo sacrifício prescrito e os judeus do m u n d o
Jerusalém c o m u m a forte escolta de soldados e aí exercia inteiro p a r a lá e n v i a v a m suas taxas. C a d a u m p o r sua
a justiça. vez, os grupos de sacerdotes, levitas e israelitas se reveza-
vam; ao T e m p l o , três vezes por a n o , afluía o judaísmo
Assim sendo, d a d a a importância de Jerusalém c o m o disperso por todas as nações.
centro da vida política judaica, o p o v o afluía, e m g r a n d e
É difícil formarmos u m a idéia da imensidão desses
n ú m e r o , p a r a assuntos públicos ou p r i v a d o s .
a g r u p a m e n t o s por ocasião das três festas a n u a i s , sobretudo
Enfim, a importância religiosa d a cidade foi absolu- d u r a n t e a Páscoa. Vamos tentar fazê-lo, e x a m i n a n d o as
tamente decisiva na atração que exercia sobre os estran- prescrições relativas à participação e sua observância; de-
geiros. pois, p r o c u r a r e m o s calcular o n ú m e r o dos peregrinos.
Jerusalém era, e m primeiro lugar, u m dos centros
N a s três festas principais, "todos estão obrigados a
mais i m p o r t a n t e s p a r a a formação religiosa dos j u d e u s .
comparecer [diante de D e u s = no T e m p l o ] , exceto o sur-
Atraía sábios da Babilônia e do Egito e a r e p u t a ç ã o m u n -
d o , o débil m e n t a l , o m e n o r , o h o m e m c o m órgãos obstruí-
dial de seus h o m e n s doutos fazia acorrer os a l u n o s . G o z a v a
de prestígio entre as mais diversas correntes religiosas. dos [ = sexo d u v i d o s o ] , o a n d r ó g i n o , as m u l h e r e s , os es-
N e l a se a c h a v a o p o n t o de convergência d a v i d a farisaica; cravos n ã o libertos, o coxo, o cego, o enfermo, o ancião
nela se encontrou, d u r a n t e muito tempo, o centro da cris- e aquele que estiver impedido de subir a p é [à m o n t a n h a
tandade m u n d i a l (cf. Gl 2,1-10); lá estão t a m b é m os es- do T e m p l o ] ". A escola de Shamai assim define o termo
sênios. P a r a os cristãos, os lugares santos — é impensável " m e n o r " : " a q u e l e que n ã o p o d e [ a i n d a ] m o n t a r a cavalo
q u e assim n ã o t e n h a sido desde o início — e a p r e s e n ç a nos o m b r o s do pai p a r a subir a Jerusalém, à m o n t a n h a
das mais antigas testemunhas do evangelho c o n s t i t u í r a m do T e m p l o ' ; a escola de Hilel diz: " a q u e l e que não p o d e
u m centro p e r m a n e n t e de atração. Conforme m o s t r a m Gl [ainda] d a r a m ã o ao pai p a r a subir a Jerusalém, à mon-
2 , 1 0 ; I C o r 16,1-3; 2Cor 8-9 (cf. At 2 0 , 4 ) , os cristãos d o t a n h a do T e m p l o " " . Conforme essas indicações, o termo
4

m u n d o inteiro e n v i a v a m suas ofertas à c o m u n i d a d e de Je- "israelita" tem por perífrase " a q u e l e que vai a J e r u s a l é m " .
rusalém. A prática corresponderia à teoria? E m Lc 2 , 4 1 , le-
mos q u e os pais de Jesus " s u b i r a m a Jerusalém p a r a a
A expectativa religiosa prendia-se a Jerusalém; p o r
festa de Páscoa, segundo o c o s t u m e " . Podemos, p o r t a n t o ,
isso, todos os movimentos messiânicos, m u i t o numerosos
concluir: 1. os pobres — segundo Lc 2 , 2 4 , os pais de Je-
n a época, voltavam-se p a r a ela. M u i t a gente ali se estabe-
sus servem-se do privilégio dos pobres d e apenas oferecer
lecia, a fim de m o r r e r naquele local santo e ser e n t e r r a d o
dois p o m b o s — ou aqueles q u e , m o r a n d o muito distante,
lá onde se realizarão a ressurreição e o juízo final.
se p e r m i t i a m fazer, d u r a n t e cada ano somente a viagem
Acima de t u d o , p o r é m , havia o T e m p l o . Jerusalém pascal; 2. as mulheres t o m a v a m parte nas viagens p a r a as
era a pátria do culto judaico, lugar da presença divina n a festas, se b e m que n ã o fossem obrigadas " . Lemos em Lc 3

terra. Ali v i n h a m p a r a rezar, pois, as orações c h e g a v a m 2 , 4 2 : " Q u a n d o Jesus completou doze a n o s " , seus pais le-
mais diretamente aos ouvidos do Senhor. N o T e m p l o , o
nazir, após o c u m p r i m e n t o de seu voto, e o não-judeu
¡ 1 3 . ÍCer. I I 1; b . Ker. 81'
desejoso de se tornar prosélito integrado, v i n h a m oferecer 114. Uag. I 1.
115. íbid.
trangeiros vindos para o culto d i v i n o " . E m todos esses
varam-no com eles, a Jerusalém, por ocasião d a Páscoa. casos, trata-se d e u m a p a r t i c i p a ç ã o livre.
P o d e m o s , pois, supor: 3 . q u e era costume, p a r a os de fora, É essa, p o r t a n t o , a síntese das prescrições e das nar-
trazer os filhos q u a n d o já tivessem completado seu 12" rativas com seus casos p a r t i c u l a r e s : t o d o israelita e todo
a n o . O sacerdote Josefo levava consigo seus filhos m e n o - prosélito i n t e g r a d o d e sexo m a s c u l i n o , e m condições de
res e as pessoas de sua casa p a r a a segunda Páscoa (em viajar, era obrigado a tomar p a r t e nas peregrinações anuais
certos casos de i m p e d i m e n t o , p o d i a m celebrar a Páscoa p a r a as festas; e n t r e t a n t o , algumas concessões foram in-
u m mês depois ) . Mas impediram-no, a fim de não criar
116

troduzidas em favor dos que viviam no exterior. Disso


precedentes p a r a a celebração da segunda Páscoa. Esse possuímos p r o v a , com o endosso de n ú m e r o s em Vita 6 5 ,
simples fato revela q u a n t o Josefo era zeloso Aliás, al- § 3 5 4 ; essa informação é mais digna d e fé do que qual-
guns textos do T a l m u d e indicam o décimo terceiro a n o quer outra, visto Josefo, nessa passagem erguer polêmica
como a idade a partir da qual o israelita fica obrigado a contra Justo, de T i b e r í a d e s e d a r , a b e r t a m e n t e , g r a n d e im-
submeter-se aos preceitos da Lei; esse dado não c o n t r a d i z portância à precisão. Trata-se de T i b e r í a d e s que se tornou
Lc 2 , 4 2 ; era hábito começarem a levar as crianças de doze capital da Galileia sob H e r o d e s A n t i p a s . Seu conselho
anos às peregrinações, p a r a habituá-las ao preceito q u e compunha-se d e seiscentos m e m b r o s , o q u e permite con-
m

deveria atingi-las a partir do ano seguinte. cluir q u e a p o p u l a ç ã o da cidade era considerável. Entre-
D a diáspora chegavam t a m b é m peregrinos p a r a as tanto, segundo Vita 6 5 , § 3 5 4 , somente dois mil h o m e n s
festas; além de Josefo e informações acima citadas, p p . de Tiberíades achavam-se em Jerusalém entre os sediados,
9 2 , temos o t e s t e m u n h o de Fílon: " C o m efeito, miríades isto é, entre os que celebravam a Páscoa do ano 7 0 .
121

chegavam de miríades de cidades para cada festa no T e m -


plo, uns p o r via terrestre, outros por m a r , do O r i e n t e e
cio O c i d e n t e , do Setentrião e das regiões a u s t r a i s " . Sem ll8

dúvida, esses peregrinos da diáspora que v i n h a m p a r a as


Excurso
festas p o d i a m desfrutar da concessão indicada acima (cf.
Lc 2,41), que permitia fazer somente u m a viagem por a n o .
É mesmo possível q u e t e n h a m p o d i d o , e m circunstâncias
difíceis, gozar de u m a dispensa a i n d a maior, análoga, p o r O número de peregrinos para a Páscoa
exemplo, à que existe no Islã, e fazer a viagem u m a só
vez na vida. Conseguimos o b t e r , d e q u a t r o fontes, informações
acerca da m u l t i d ã o daqueles q u e p a r t i c i p a v a m da Páscoa,
D e n t r e os prosélitos, os que já eram prosélitos inte-
grados deviam vir em p e r e g r i n a ç ã o , p a r a as festas En- quer dizer, do n ú m e r o de peregrinos p a r a a festa e da po-
c o n t r a m o s , igualmente, em Jerusalém p a r a a m e s m a fina- p u l a ç ã o d c Jerusalém. Pelo q u e lemos, parece-nos que tal
lidade, os semiprosélitos: " h a v i a lá alguns gregos, entre os cálculo p a r a os peregrinos se baseia no n ú m e r o das víti-
que t i n h a m subido p a r a a d o r a r , na festa" (Jo 12,20); tra- mas pascais.
ta-se aqui de pagãos incircuncisos, os " t e m e n t e s de" D e u s " . 1. S e g u n d o b . Pes. 6 4 e b
Iam. R. 1, 2 sobre 1, 1 ( 1 8 b

Era esse t a m b é m o caso do ministro das finanças da etíope 22), Agripa (mais exatamente, Agripa II, ver n. 2) mandou
Cândace. E m B. j . VI 9, 3 , § 4 2 7 , Josefo m e n c i o n a "es- deixar de lado um rim de cada vítima pascal. Eis o resultado
quanto ao número das vítimas pascais: " O dobro do número
116. Pes. I X .
117. Halla I V 11. 120. B. j . II 2 1 , 9, § 6 4 1 .
118. Fílon, De spec. leg. I 12, § 69.
119. Cf. G l 5,3; P a u l o r e p r o d u z a p r e s c r i ç ã o judaica. 121. B. j . V I , 9, 3, § 4 2 1 .
daqueles que saíram do Egito (600.000 segundo Ex 12,37), os judeus se dividiam em 3 grupos para imolar as vítimas: "O
sem contar as pessoas impuras e aquelas que estavam ausen- primeiro grupo entrou e encheu o adro; as portas foram fe-
tes, em viagens; e nenhum cordeiro pascal era dividido por chadas e a trombeta soou d e m o r a d a m e n t e . . . " ; V 7: "Saído
menos de 10 pessoas" (segundo Lam, R. o número daque-
122
o primeiro grupo, entrou o segundo; à saída do segundo, o
les que comiam uma vítima podia variar de 10 a 100). Temos, terceiro e n t r o u . . . " esse último, não é, entretanto, tão nume-
por conseguinte: 6 0 0 . 0 0 0 X 2 X 10 — 12 milhões de pe- roso quanto os dois precedentes.
regrinos para a Páscoa. Sabemos que no tempo de Jesus, as vítimas eram imola-
2. Narra-nos Josefo que, por ocasião de uma Páscoa
123
das no Templo e não em casa. Já sc evidencia pelo fato de
entre 63 e 66 d.C. contaram-se as vítimas; chegou-se a 2 5 5 . 6 0 0 ser o cordeiro pascal uma vítima; seu sangue devia ser utili-
(variante: 256.500) vítimas e a 2 . 7 0 0 . 0 0 0 pessoas celebrando zado ritualmente (derramado sobre o altar, 2Cr 35,11) . 121

a festa. Quando Josefo fala de três milhões de participantes,


124
A vííima pascal é explicitamente chamada de sacrifício em Ex
trata-se, provavelmente, de número redondo. 12,27;34,25; Nm 9,7,13; Ant. II 14, 6, § 312s; IIÍ 10, 5, §
3. Eis os números fornecidos por Josefo a propósito do 2 4 8 ; B. j . V I 9, 3 , § 4 2 3 (thusía); Fílon, De Vita Mosis I I ,
cerco que começou repentinamente por ocasião da Páscoa de § 224 (Ihúein); no Novo Testamento: Mc 14,12; Lc 22,7; ICor
70 d . C : 5,7 {ihueín, thúesthai). Além disso, as prescrições de Dt 16,
2.6, a regulamentação de 2Cr 35,5-6 e a regra rabínica re-
128

mortos 1.100.000 ( 5 . / . VI 9, 3, § 420) lativa aos sacrifícios de menor santidade , exigem que a imo-
m

prisioneiros 9 7 . 0 0 0 (B.). VI 9, 3, § 420) lação se realize no Templo. É o que os relatos igualmente mos-
fugiram para a ravina tram sobre a maneira de contar os ossos ou os rins dos cor-
arborizada de Jarde 3-000 (B. j . VII 6, 5, § 210ss) deiros da Páscoa; só se poderia fazer este cômputo se a imo-
lação fosse executada unicamente no Templo. É, finalmente,
Total 1 . 2 0 0 . 0 0 0 participantes da Páscoa o que atestam todos os textos segundo os quais a imolação
deveria ser feita por leigos, como nos diz Fílon . Concorda ü 0

4. T á c i t o fornece-nos uma quarta indicação; segundo


125 com Pes. V ò onde está escrito: "Um israelita degolou e o sa-
seu parecer, um total de 6 0 0 . 0 0 0 homens devem ter ficado cerdote recolheu o sangue". No Antigo Testamento, Lv 1,5
confinados em Jerusalém, no ano 70. Devemos ter certa reserva prescreve a imolação de uma vítima por leigos. Todas essas
quanto a esse número, porque Tácito seguramente se baseou minúcias indicam que o ato cultual se realizava no Templo.
em Josefo, e n e s s e encontra-se o seguinte dado: os tráns-
126

O tratado Middot da Mishna e Josefo fazem-nos conhecer


fugas contaram que o número de cadáveres dos pobres lan- as dimensões do Templo. Torna-se, pois, possível avaliar, pelo
çados fora das portas totalizavam 6 0 0 . 0 0 0 ; quanto ao número
menos de modo aproximativo, o espaço ocupado pelos três
de outros mortos, é impossível avaliar.
grupos e daí deduzir o número dos participantes da festa.
É provável que Tácito, tomando por engano este número
como sendo do conjunto de assediados, o tenha utilizado. Que espaço poderia ocupar um grupo que entrou para
Esses quatro textos apresentam cifras tão vultosas que não imolar as vítimas?
podemos considerá-las verídicas.
Um grupo é admitido no "adro"; deve-se entender como
Devemos então desistir de encontrar o número real dos sendo o espaço a oeste da Porta de Nicanor, o "adro interior"
peregrinos de Páscoa? Não, porque uma passagem da Mishna onde se encontravam o local da imolação e o altar dos holo-
vem em nosso auxílio. Lemos em Pes. V 5 que, em 14 nisân, caustos. Imaginemos as divisões da esplanada do Templo.

122. b . Pes. 64 .
b 127. Cf. H . L . Strack, P*sahim, Leipzig, 1911, 6 ' .
123. B. j . V I 9, 3 , § 422ss. 128. Cf. lubileus X U X 19$.
124. B. /'. II 14, 3, § 280. 129. Zeb. V 8.
125. Hist. V 13. 130. De v/ta Mosis II [ I I I ] , § 2 2 4 ; De decálogo. § 159; De spec.
126. B. j . V 13, 7, § 569.
leg. I I , § 145.
A Mishna fala de 10 degraus de santidade; foram construí-
131 O ÁTRIO INTERIOR
dos em círculos concêntricos em torno do Santo dos santos: (Círculos VI-X) segundo os dados da Mishna e de Josefo.
I. O país de Israel. Esboço do autor.
II. A cidade de Jerusalém.
O
III. A montanha do Templo.
IV. O bel, terraço com uma balaustrada que o separava
do resto da esplanada do Templo; essa balaustrada
demarcava o limite que os pagãos não podiam ul-
trapassar (ver supra, p. 36).
V. O átrio das mulheres.
VI. O átrio dos israelitas.
VII. O átrio dos sacerdotes.
VIII. O espaço entre o altar dos holocaustos e o edifício
do Templo.
IX. O edifício do Templo.
X. O Santo dos santos.
Conforme essa divisão, o adro interior em questão com-
preende os círculos de santidade VI e VII: átrio dos israeli-
tas e átrio dos sacerdotes. Sem dúvida, os círculos VIII, IX e
X fazem igualmente parte do adro interior, mas em caso al-
gum os leigos podiam aí penetrar. Em compensação, o espaço
situado atrás de cada lado do edifício do Templo não pertencia
ao domínio fechado, em princípio, para os leigos . l32

A Mishna dá-nos as seguintes medidas: o espaço do cír-


culo VI (a no desenho, átrio dos israelitas) media 135 X 11
côv. — 1.485 côv. . Ignoramos o espaço do círculo VII (b,
2

átrio dos sacerdotes), mas podemos conhecê-lo de modo indi-


reto, porque o espaço total dos círculos VII + VIII (espaço
entre c, o altar dos holocaustos e o edifício do Templo) +
I X / X (edifício do Templo) mediam 135 X 176 côv. = 2 3 . 7 6 0
côv. . Dessas três unidades conhecemos as duas últimas. O cír-
2
0 10 20 30 40
culo VIII media 32 X (19 + 3) côv. = 704 côv. , os círculos
2

I X / X mediam 100 X 22 (/, vestíbulo) + 80 X 70 (edifício Explicações do esboço


principal) côv. = 7 . 8 0 0 côv. . Subtraindo então VIII + I X / X
2

do total de VII + VIII + I X / X : 2 3 . 7 6 0 - (704 + 7.800) a = átrio dos israelitas círculo VI


= 15-256 côv. . É o espaço do círculo VIL Dessa superfície,
2

b — átrio dos sacerdotes


o altar (c, 32 X 32 côv. = 1-024 côv. ) e seus degraus (d,
2

c = altar dos holocaustos


32 X 16 côv. = 512 côv. ) eram interditados aos leigos que
2

d — degraus do altar círculo VII


vinham imolar os animais pascais; é preciso, portanto, sub- e = lavabo para as abluçÕes dos sacerdotes
/ = vestíbulo > círculo IX
g — Santo
131. Kel. I 6-9.
h = Santo dos santos círculo X
132, B. /". V 5, 6, § 226.

As medidas são i n d i c a d a s em côvados.


traí-los. Nosso número, para o círculo VII desce, por conse- O lado maior do perímetro interior compõe-se, pois, da se-
guinte a 13-720 côv. . Com o círculo VI, de 1.485 côv. (ver
2 2
guinte maneira: lado maior do adro interior + lado maior do
supra) temos um espaço de 15.205 côv. ( isto é, 1 côv. equi- 2 2
átrio das mulheres + largura da ala, portanto 1 8 7 + 135 +
valendo a 0,276 m (ver supra, p. 22), de 4.196,58 m \ Isso
2
40 = 362 côv.; o lado menor, por sua vez: lado menor dos
representa o espaço que os leigos tinham, ou quase, à sua dis- átrios + largura das alas norte e sul, portanto 155 + 40 +
posição para imolar em VI e VII. Teríamos ainda de subtrair 40 = 215 côv. O perímetro interior do hêl mede, pois (2 x
a superfície que não conhecemos, do lavabo das abluções (e), 362) + (2 X 215) = 1-154 côv. Obtemos seu perímetro
das colunas etc. Por conseguinte, podemos calcular um espaço exterior, acrescentando a largura do hêl dc 10 côvados a cada
de aproximadamente 4.000 m , para um grupo admitido com
l
extremidade dos dois lados, maior e menor, do perímetro in-
0 fito de sacrificar. terior; o perímetro exterior mede, portanto, 2 X (362 + 10
Estamos em condições de controlar esse número. + 10) 4 - 2 X (215 + 10 4- 10) = 1.234 côvados. Para
Pes. V 10 discute o caso em que o 14 nisân cai num sá- chegar à superfície do hêl é preciso multiplicar sua largura pela
bado, interditando as pessoas de voltarem para casa imediata- metade de seus dois perímetros interior e exterior adicionados,
mente após a imolação; dizem que o segundo grupo esperava 1154 X 1234
então o cair da tarde no hêl. isto é, no terraço que enqua- portanto, X 10 = 11-940 côv. , isto é, 1 côv. 2 2

drava a parte central da esplanada do Templo, a saber, o con- 2


junto do adro interior, com o santuário, e do átrio das mu- equivalendo a 0,276 m , 3-295,44 m . É esse o espaço do hêl
2 2

lheres; é o círculo IV (ver supra, p . 115). Um grupo poderia, onde podiam se agrupar, segundo Pes. V 10, todos aqueles
pois, manter-se no IV. Qual era a sua superfície? que teriam ocupado antes o átrio interior para imolar seus ani-
mais pascais . 135

Segundo a Mishna e Josefo , a largura do bêl era de 10


m

No adro interior, era naturalmente necessário haver lugar


cevados. Conhecemos, aliás, seu perímetro interior que é idên-
para imolar os animais; além disso, os sacerdotes dispostos cm
tico ao perímetro da parte central da esplanada; essa parte
filas, também ocupavam lugar. O fato diminui aproximada-
comprendia, repetimos, além do adro interior, o átrio das mu-
mente de 1/5 o espaço disponível para os leigos. Finalmente,
lheres e, ao norte, a leste e ao sul, as alas laterais do edifício . 134

os resultados se correspondem. Um grupo exigia mais ou me-


nos um espaço de 3-200 m quando não imolava. 2

133. Mid. II 3; B. j . V 5, 2, § 197. Quantos homens podiam ocupar esse espaço? Mantinham-
134. O a d r o interior n ã o era d i r e t a m e n t e c o n t í g u o ao t e r r a ç o ; -se bem rentes um ao outro. Entre os dez milagres que se rea-
h a v i a e n t r e os dois, as alas de edifícios. Josefo e a M i s h n a r e s s a l t a m
essa m i n ú c i a . Mid. I 1 c h a m a de edifícios as p o r t a s q u e l e v a m d o
a d r o interior ao bêl (Mid. I 5 ) . Isso é c o n f i r m a d o pela d e s c r i ç ã o m a i s Esses d a d o s n ã o d e i x a m m a r g e m a d ú v i d a s : havia alas q u e liga-
d e t a l h a d a d o s edifícios d a s p o r t a s , e s p e c i a l m e n t e a q u e l e c h a m a d o " n i - v a m os edifícios das p o r t a s . C i r c u n d a v a m a á r e a sagrada ao n o r t e ,
c h o d a l a r e i r a " (I 6-9) e o u t r o q u e t e m o s de identificar com u m a d a s a leste e ao sul. A largura seria de 40 c ô v a d o s , c o r r e s p o n d e n d o às
p o r t a s i n d i c a d a s em I I 7. Esses "edifícios das p o r t a s " t i n h a m u m a salas d o átrio das m u l h e r e s .
ê x e d r a , p ó r t i c o circular c o m assentos e, e m cima, u m q u a r t o (Mid. E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o dos israelitas n ã o existia, ao q u e
p a r e c e , n e n h u m a c o n s t r u ç ã o . É o q u e Mid, II 7 d e i x a entender quan-
1 5, B. j . V 5, 3, § 2 0 3 ) ; essa ê x e d r a m e d i a 30 c ô v a d o s d e l a r g u r a
d o se refere às salas a b a i x o d o átrio dos israelitas, a b e r t a s d o lado
(B. j . ibid.). M a s , e n t r e o bêl e o a d r o interior n ã o h a v i a a p e n a s os
d o átrio d a s m u l h e r e s .
edifícios das p o r t a s , p o r q u e as alas os l i g a v a m e n t r e si. N a s alas n o r t e
e sul d o a d r o interior achavam-se, s e g u n d o B. j . V 5 2, § 200, as salas 135. É possível q u e o s e g u n d o g r u p o t e n h a p o d i d o , a l e m d o ter-
d o t e s o u r o ; s e g u n d o Mid. V 3-4, seis salas t i n h a m f u n ç ã o c u l t u a ] ou r a ç o , d i s p o r das escadas desse t e r r a ç o . S e g u n d o Josefo (B. ]. V 5, 2,
q u a l q u e r o u t r o d e s t i n o a n á l o g o . E n t r e o átrio das m u l h e r e s e o bêl, § 195, 198) e n t r e o átrio dos gentios ( l i m i t a d o p o r u m a b a l a u s t r a d a
h a v i a t a m b é m edifícios d e p o r t a s e o u t r a s c o n s t r u ç õ e s . D e m o d o par- de p e d r a ) c o t e r r a ç o , h a v i a 14 d e g r a u s , e 5 c n l r e o t e r r a ç o e os átrios
t i c u l a r , fala-se d e 4 salas, d e 40 c ô v a d o s q u a d r a d o s n o s 4 c a n t o s d o c e n t r a i s . Mid. i l 3 m e n c i o n a a p e n a s 12 d e g r a u s d e 0,5 c ô v a d o s d c
á t r i o das m u l h e r e s (Mid. 11 5 ) . N á o se deve p r o c u r a r essas salas n o a l t u r a ; a l a r g u r a não é i n d i c a d a . Se fizermos o c á l c u l o dessas esca-
p r ó p r i o átrio das m u l h e r e s ; com efeito, a p o r t a de N í e a u o r , os 15 d e - d a s , t e r e m o s , s e g u n d o Josefo, u m a superfície de a p r o x i m a d a m e n t e
g r a u s e m semicírculo d a escada q u e p a r a lá c o n d u z i a m e as salas in- 6 . 6 0 0 m . Esses cálculos elevados p o d e r i a m i g u a l m e n t e c o n f i r m a r os
2

d i c a d a s cm Mid I 7, a b a i x o d o átrio dos israelitas o c u p a v a m t o d a a r e s u l t a d o s d a p . 116: p o d e r í a m o s s u p o r , e n t ã o , q u e ficassem m e n o s


p a r t e o c i d e n t a l do átrio das m u l h e r e s , a b r a n g e n d o 150 c ô v a d o s . p r e m i d o s no hêl do q u e n o á t r i o .
lizava no Templo, o oitavo era que houvesse lugares suficien- Por conseguinte, obtemos, como número de participantes
tes . Entretanto, nem sempre terminava tudo bem. Lemos
!36
à Páscoa; 18.000 X 10 = 180-000. Subtraindo alguns 5 5 . 0 0 0
em b. Pes. 64 : "Os rabis ensinavam [é a fórmula de intro-
b
habitantes de Jerusalém , obtemos um número aproximativo
!4É

dução tanaíta que indica uma época anterior a 200 d . C ] : ja- de 125-000 peregrinos para a Páscoa. Devemos, talvez, dimi-
mais qualquer pessoa ficou esmagada no adro do Templo, sal- nuir ou aumentar esse número em pouco mais da metade.
vo numa Páscoa, no tempo de Hilel, durante a qual um velho O m o v i m e n t o dos estrangeiros era tão considerável
foi pisado. Por esse motivo chamaram-na 'Páscoa dos esma- em Jerusalém q u e , d u r a n t e as festas, seu n ú m e r o superava
gados' ". Josefo refere-se também a essa falta de lugar: Por
largamente o dos h a b i t a n t e s . Esse fator é que conferia
ocasião de uma Páscoa, entre 4 8 a 52 d.C. — o 4 ' dia da 1

festa e não no próprio dia do sacrifício durante um pânico maior importância à vida econômica da cidade.
ocorrido, 3 0 . 0 0 0 homens ficaram esmagados . 137
Lancemos u m olhar retrospectivo. A pesquisa levou¬
Visto a estreiteza do lugar, podemos contar dois homens -nos a u m a cidade na m o n t a n h a , p o b r e em água; seus ar-
por metro quadrado, cada um com uma vítima, raramente rabaldes c o m precária p r o d u ç ã o de matérias-primas p a r a
d u a s . Seriam, então, 6-400 homens. Por conseguinte, havia
138
as profissões; sua situação desfavorável ao comércio e à
mais ou menos 6 . 4 0 0 vítimas em cada grupo. As informações circulação. E no e n t a n t o , essa cidade c o n t é m , dentro de
de Josefo a respeito da Páscoa do ano 4 a.C. a elas corres- seus m u r o s , profissões prósperas e estabeleceu u m comér-
pondem: durante os sacrifícios, 3.000 homens foram mortos cio q u e se estende p a r a m u i t o longe. Conta, sobretudo,
pelos soldados de Arquelau ; os outros conseguiram fugir.
m

com u m a vaga de estrangeiros que c h e g a m de todos os


Havia ali três grupos: o último não era tão numeroso países do m u n d o então conhecido e q u e , por m o m e n t o s ,
quanto os dois outros, pois todo o mundo acorria para tomar supera o n ú m e r o de seus h a b i t a n t e s . A razão consiste em
parte nos dois primeiros. Alcançamos, assim, um total de 18.000
encontrar-se nela o santuário dos judeus do m u n d o inteiro.
vítimas pascais.
Quantos peregrinos havia, no total, para a Páscoa? Cada
vítima era prevista para uma mesa comum . Qual era a im- 140

portância? Discutia-se a possibilidade de um particular imolar


para ele somente uma vítima . A respeito do limite máximo,
1-11
E p í l o g o ( 1 9 6 6 ) da enumeração
eis o que dizem: "Para uma comunidade de 100 pessoas, cal- dos peregrinos para a Páscoa
cula-se que cada uma receba o equivalente, em tamanho, a
uma azeitona". Esse número não era aceito . Pes IX lOs, cita, 142

como exemplos, mesas comuns de 5, 10 e 12 pessoas. Se a Para tentar calcular o n ú m e r o d e peregrinos vindos
última ceia de Tesus foi uma refeição pascal, nela tomaram p a r a a Páscoa, os escritores da antigüidade, visto o seu
parte Jesus e os doze apóstolos, isto é, treze pessoas. Josefo , l4í
exagero, n ã o nos fornecem ajuda m a i o r : só contamos, por-
o Talmude e o Midraxe
144
concordam quando supõem uma
145

tanto, c o m u m a via possível: partir d o espaço disponível


média de 10 participantes. Devemos nos ater a esse número. para aqueles que sacrificam o cordeiro pascal. Por esse
motivo, ainda hoje (1966) considero como justificado, do
136. P. A. V 5 .
137. B. j . I I 12, I, § 227.
p o n t o de vista metodológico, o c a m i n h o que segui em
138. Pes. V I I I 2. 1923. Q u a n t o ao resultado, posso igualmente prender-me a
139. B. j . I I 1, 3, § 12s; Ani. X V I I 9, 3, § 218. ele; com efeito, após ter chegado ao n ú m e r o de 1 2 5 . 0 0 0
140. Fratria, hãbürah, Pes. V I I 3 . peregrinos, tive por sorte, a p r u d ê n c i a de acrescentar que
141. Pes. V I I I ; interdito s e g u n d o B. /. V I 9, 3 , § 4 2 3 . se deveria talvez reduzir esse n ú m e r o à m e t a d e . 147

142. Pes. V I I I 7.
143. B. } . V I 9. 3, § 4 2 3 .
144. b . Pes. 6 4 \ 146. P a r a c a l c u l a r a p o p u l a ç ã o d e J e r u s a l é m , os escritores d a an-
145. Iam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 9 2 ) . a t i g ü i d a d e i ã o falhos ( P s c u d o - H e c a t e u [em C. Ap. I 22, § 1 9 7 ] , q u a n -
Hoje, eu fixaria esses n ú m e r o s ainda mais p a r a b a i x o .
Q u a n t o ao cálculo (pp. 116-121) d o espaço disponível
Para começar, no q u e diz respeito à p o p u l a ç ã o de Jerusa-
p a r a as pessoas q u e v i n h a m oferecer seu sacrifício, consi-
lém , remeto os leitores a meu artigo Die
14S
Einwohnerzahl
deramo-lo certo. Hoje, eu faria apenas u m a p e r g u n t a : de-
Jerusalém zur Zeit Jesu . Nesse estudo, p a r t o , c o m o
14y

vemos levar em conta, realmente, todo o espaço o c u p a d o ,


acima, n. 1.46 da dimensão da c i d a d e ; mas chego a u m
a superfície de trás incluída, e de c a d a lado do edifício
n ú m e r o menos expressivo. Com efeito: a) de dentro das
do T e m p l o o n d e aqueles q u e v i n h a m imolar se compri-
m u r a l h a s , no tempo de Jesus, subtraio o espaço i n a b i t a d o :
m i a m ? C o m o , porem, representá-los assim, comprimidos
T e m p l o , m o n u m e n t o s e t c ; b) levo em conta, apoiado nos
u m ao o u t r o , trazendo nos o m b r o s a vítima que iam ofe-
resultados das pesquisas, o fato d e ser menos populoso o
recer? (p. 118). Assim s e n d o , não estará t a m b é m no to-
espaço o u t r o r a situado fora da cidade e a ela a n e x a d o de-
tal de 1 8 0 . 0 0 0 participantes à festa incluída à p o p u l a ç ã o
pois pelo m u r o setentrional de Agripa I (41-44 d . C ) ; c)
local? U m fato, p o r é m , n ã o deixa d ú v i d a s : por ocasião
baseando-me nos d a d o s relativos à d e n s i d a d e d a popula-
da Páscoa, o afluxo de peregrinos, vindos do i n u n d o in-
ção de Jerusalém em 1 8 8 1 , fixo para a cidade do t e m p o
teiro, era muito g r a n d e ; seu n ú m e r o s u p e r a v a , várias ve-
de Jesus, dentro dos m u r o s , a d e n s i d a d e d a p o p u l a ç ã o
zes, a p o p u l a ç ã o de Jerusalém.
de 1 habitante por 35 m (e não de 1 por 25 n v ) . N a época
2

de Jesus, podemos contar com u m a p o p u l a ç ã o a p r o x i m a d a


de 2 0 . 0 0 0 habitantes dentro do recinto da cidade, e de 5
a 1 0 . 0 0 0 fora dos muros. Esse n ú m e r o de 25 a 3 0 . 0 0 0
poderia representar o limite m á x i m o .

to à época a n t e r i o r a 100 a . C : 1 2 0 . 0 0 0 h a b i t a n t e s ; Lam.Jl. 1, 2 so-


b re 1. I, ['18 141 cila n ú m e r o s q u e e l e v a m a 9,5 bilhões d e h a b i -
h

tantes) . S o m o s , pois, o b r i g a d o s a c a l c u l a r o n ú m e r o dos h a b i t a n t e s


de a c o r d o com a superfície de J e r u s a l é m . C o m o vimos supra (p. 2 1 ,
n. 70, os três lados o c i d e n t a l , m e r i d i o n a l e o r i e n t a l d o c o n t r a f o r t e an-
terior a Agripa I m e d i a m , ao t o d o , mais ou m e n o s 2 . 5 7 5 m ; a isso
acrescer) ta-sc u terceiro c o n t r a í orle setentrional c o m e ç a d o sob A g r i p a
I. Se a c o m p a r a r m o s com a m u r a l h a setentrional a l u a i , cia d e v e r i a
ler 2 . 0 2 5 m. de c o m p r i m e n t o ; m a s , se d e r m o s c r é d i t o às i n f o r m a ç õ e s
dc Juü<:fo, citadas supra (p. 2 1 ) , c h e g a m o s a 3 , 5 3 0 m. a p r o x i m a d a -
m e n t e . l ' o r í a t i t o , o p e r í m e t r o d a c i d a d e e r a mais ou m e n o s ou d c
4 . 6 0 0 m. ou de 6 . 1 0 5 m.; sua superfície seria, p o r c o n s e g u i n t e o u
Í' 4.600 \ 2
/ 6.105\ z
•\ - —i = 1 . 3 2 2 . 0 0 0 m , ou .* •—
2
= 2 . 3 2 9 . 0 0 0 m . H á cin-
2

4 •'' 4 ••"
q ü e n t a a n o s , a d e n s i d a d e d a p o p u l a ç ã o , n a c i d a d e e a r r e d o r e s era, a p r o -
x i m a d a m e n t e , dc 1 h a b i t a n t e p o r 30 m . A antiga c i d a d e limitava-se
2

ao interior dos m u r o s ; n ã o i n c o r r e m o s , p o r t a n t o , em e r r o , s u p o n d o
u m a dcníjidadc um p o u c o m a i o r : l h a b i t a n t e p o r 25 m . D a m o s , en- 2

tão, p a t a a ferusalém a n t i g a , u m a p o p u l a ç ã o dc a p r o x i m a d a m e n t e
5 5 . 0 0 0 ou 95.0Ü0 h a b i t a n t e s . O n ú m e r o inferior é mais s e g u r o (ver,
e n t r e t a n t o , a b a i x o , p . 119).
147. Supra, p. 118.
148. ibid.
149. E m Z D P V 66 (1943), 24-51 (reimpress-o em 1. J e r e m i a s . Ahba.
Studicn zur neulestamenUichen Theülogie und Zeitgeschicfite, Gõlt in-
geri, 1966, 335 541.
SEGUNDA PARTE

A SITUAÇÃO SOCIAL
A. RICOS E POBRES

Cap. 1 - Os ricos
Cap. II - A cîasse média
C a p . I I I - O s pobres
C a p . IV - Fatores determinantes para o desenvolvimento
das condições econômicas dos h a b i t a n t e s de
Jerusalém
CAPÍTULO I

OS RICOS

A. A CORTE

Como capital, sob os soberanos da dinastia herodia¬


na, Jerusalém conheceu u m esplendor indescritível. Luxuo-
sas construções foram erguidas na Cidade santa a cada
q u a t r o anos H e r o d e s organizava festas c o m jogos espeta-
culares ; no santuário recém-construído, o culto se desen-
2

rolava c o m brilho n u n c a visto. M a s , pelo gênero de vida


faustoso da corte é que a riqueza dos soberanos se exibia
à p o p u l a ç ã o de Jerusalém de maneira mais significativa.
A corte regia a vida oficial; m e s m o na época da do-
m i n a ç ã o estrangeira de R o m a , as cortes principescas ali
3

r e p r e s e n t a r a m g r a n d e p a p e l , se b e m que seu brilho n ã o fos-


se senão u m resquício do q u e fora n o u t r o s tempos. Visi-
temos o palácio . À porta, temos de passar diante dos pos-
4

tos da g u a r d a do c o r p o . H e r o d e s vivia, c o m r a z ã o , n u m
p e r p é t u o receio dos próprios súditos e, por isso, m a n t i n h a
forte segurança p e s s o a l . Certa vez, m a n d o u quinhentos
5

destes h o m e n s da g u a r d a p a r a ajudar o i m p e r a d o r Augus-


to . U m segundo caso, permite-nos calcular-lhe a impor-
6

tância: além de sua g u a r d a p e s s o a l , trata-se de " t r o p a s


7

trácias, germânicas e g a u l e s a s " . Antes de ingressar no


8

serviço d e H e r o d e s , os gauleses constituíram a g u a r d a pes-

1. V e r supra, p . 19.
2 . Ant. X V 8, 1 § 268.
3. 6 4 1 d.C.; 44-66 d.C.
4. P a r a e s b o ç a r o q u a d r o q u e s e g u e , b a s e a m o - n o s n a situação d a
c o r t e d e H e r o d e s , o G r a n d e , p o r ser a q u e m a i s c o n h e c e m o s .
5. Doruphóroi, somatophúlakes. Deve-se distinguir esses ú l t i m o s
dos oficiais d a c â m a r a real q u e t r a z e m o m e s m o título.
6. Ant. X V 9, 3, § 317.
7. Ant. X V I 7, 1, § 182; X V I I 7, 1, § 187; v e r a n o t a seguinte.
8. Ant. X V I I 8, 3, § 198; B. j . I 3 3 , 9, § 672.
soai d e Cleópatra, r a i n h a do Egito; só esses já se eleva- h á b i t o das cortes helenísticas segundo o q u a l os filhos dos
v a m a quatrocentos h o m e n s . 9 maiorais são educados com os p r í n c i p e s . At 1 3 , 1 , m e n c i o n a ,
O s p o r t e i r o s i n d a g a m o que desejamos. Fazem p a r t e
10 na pessoa d e M a n a é n , u m súntrofos do príncipe H e r o d e s
do serviço doméstico q u e c o m p r e e n d e q u i n h e n t a s pessoas ; 11 A n t i p a s , e d u c a d o na corte d e Jerusalém. O " g u a r d a d o
a maioria se compõe de escravos, em p a r t e , t a m b é m , de c o r p o " , Corinto, conduz-nos agora aos aposentos reais. É cha-
l i b e r t o s ' . Entre esses domésticos, alguns e u n u c o s . A q u e -
2 13 m a d o somatojúlax, mas dois fatos nos i m p e d e m d e contá¬
les q u e Herodes enviou a A r q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a , -lo e n t r e os guardas do c o r p o : tratava-se d e u m dos fun-
eram escravos; os três oficiais da c â m a r a real citados mais cionários da corte mais íntimos de H e r o d e s 24
e sobretudo
a b a i x o , pertenciam, sem dúvida, ao grupo dos libertos.
14 ele era u m súntrofos de H e r o d e s (devemos l e m b r a r aqui
25

D o serviço doméstico fazem parte ainda os copeiros reais, que Corinto tinha origem á r a b e , assim c o m o a m ã e dc
sob as ordens do mestre da copa e, sem dúvida t a m b é m ,
15 H e r o d e s , K y p r o s ) . D e preferência precisamos considerar
os barbeiros da corte e médicos p e s s o a i s . Da época do
16 l7 esse título de somatofúlax c o m o u m título n a h i e r a r q u i a da
rei A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , o T a l m u d e confirma a corte, c o r r e s p o n d e n d o , talvez, ao de oficial d a c â m a r a real
existência do t r a n ç a d o r de coroas reais . H a v i a a i n d a os
ls q u e t a m b é m e n c o n t r a m o s nas cortes helenísticas . O t t o 26 27

carrascos que t i n h a m tão dolorosas incumbências, especial- foi q u e m , em primeiro lugar, c h a m o u a atenção sobre este
mente nos últimos anos de H e r o d e s . 19 p o n t o ; observou q u e dois outros " g u a r d a s do c o r p o " , [u-
cundus e T i r a n o 2 8
são c h a m a d o s , em p a s s a g e m paralela
D e n t r o do próprio palácio encontramos funcionários d a Guerra judaica, c o m a n d a n t e s da cavalaria . Três ou- 2y

da corte. H á o secretário do rei, em cujas m ã o s passa toda tros oficiais da c â m a r a real de H e r o d e s , seu escanção,
a correspondência . É o tesoureiro Josefo q u e dirige os
20

aquele que deitava vinho n a taça e a apresentava ao rei,


assuntos materiais , como, p o r exemplo, a c o m p r a de uma
21

e seu c a m a r e i r o , e r a m e u n u c o s . Josefo m o s t r a q u e esses


i0

pérola preciosa p a r a o tesouro r e a l . Dois h o m e n s estão


22

camareiros reais eram pessoas influentes; o terceiro, que


absortos n u m a conversa. São A n d r ô m a c o e G e m e l o , pre- e n t r a v a no q u a r t o de d o r m i r do rei, era o e n c a r r e g a d o dos
ceptores e c o m p a n h e i r o s de viagem dos príncipes r e a i s . 2 3

mais i m p o r t a n t e s assuntos d o g o v e r n o . Q u a n t o a Blasto,


31

Seus filhos são súntrofoi dos príncipes A l e x a n d r e e Aris- q u e o c u p a v a o m e s m o p o s t o n a corte de Jerusalém sob
tóbulo; e n c o n t r a m o s , com efeito, na corte de H e r o d e s , u m Agripa l. serviu de m e d i a d o r , talvez e m 44 d . C , na con-
clusão do t r a t a d o de paz entre seu senhor e as cidades d e
9. B. /'. I 20, 3, § 397. T i r o e Sidónia (At 1 2 , 2 0 ) .
10. Ant. X V I I 5, 2, § 90.
11. Ani. X V I I 8, 3, § 199; B. j . I 3 3 , 9, § 673.
Nos a p a r t a m e n t o s reais e n c o n t r a m o s , em torno do so-
12. B. h I, 3 3 , 9, § 673.
13. B. j . I 25, 6, § 5 1 1 , v e r t a m b é m Ant. X V I I 2, 4, § 44. b e r a n o , algumas pessoas íntimas, " p r i m o s e a m i g o s " . De
14. Infra, p . 129. m o d o algum o termo " p r i m o " designa u n i c a m e n t e o grau
15. Ant. X V I 10, 3, § 316.
16. B. j . I 27, 5-6, § 547ss (no p l u r a l ) ; cf. Ant. X V I 11, 6-7, §
d e p a r e n t e s c o . Esses " p r i m o s e a m i g o s " são os primeiros
387ss.
37. Ant. X V 7, 7, § 246; X V I I 6, 5, § 172; B. j . I 3 3 , 5, § 657. 24. Ant. X V I I 3. 2, § 55$.
18. b . B, B. 1 3 3 •— E m a l g u m a s m o e d a s , os i m p e r a d o r e s r o m a -
b

25. B. j . 1 2 9 , 3, § 576.
n o s u s a m coroa. P o r z o m b a r i a , os soldados r o m a n o s c o l o c a m s o b r e a 26. O t t o , Herodes, col. 87 n.
c a b e ç a de Jesus u m a c o r o a real t r a n ç a d a de e s p i n h o s ( M c 15,17; Mt 27. O. c. col. 86-87, e 87 n.
27,29; Jo 19,2.5). 28. Ant. X V I 10, 3, § 314.
19. B. j . I 30, 5, § 592; 32, 3 , § 635 e passim. 29. B. j . 1 2 6 , 3 . § 527.
2 0 . Ant. X V I 10, 4 , § 3 1 9 ; B. j . I 2 6 , 3 , § 5 2 9 .
2 1 . Ant. X V 6, 5, § 185. 30. Ant. X V I 8, !, § 230; B. j . I 24, 7, § 4 8 8 , cf. Ant. X V 7, 4,
22. b . B. B. 1 3 3 .b
§ 226.
23. Ant. X V I 8, 3-4, § 242ss. 3 1 . Ant. X V I 8, 1, § 230.
5 - Jerusalém no tempo de J e s u s
colocados n a h i e r a r q u i a da corte, segundo o m o d e l o de tos 4 8
de Cós, M e l a s , e n v i a d o do rei da Capadócia. Na
49

todas as cortes h e l e n í s t i c a s . Além dos p r i m o s , sobrinhos,


32
maioria das vezes essas importantes pessoas d e i x a v a m a
c u n h a d o s e outros parentes do r e i e r a m os notáveis gre-
3 1
c o r t e d e Jerusalém c a r r e g a d a s d e preciosos presentes ofe-
gos q u e , na corte de H e r o d e s , faziam p a r t e dessa catego- recidos pelo anfitrião.
ria. Com efeito, q u a n d o após a m o r t e do soberano, o p o v o Por mais helenística que a corte se apresentasse no
exigiu o afastamento dos gregos, não cogitava de hóspe- seu funcionamento exterior, n ã o deixava, na sua essência,
des, m a s de pessoas de sua entourage p e r m a n e n t e . O mais 34

de ser oriental. E o q u e vamos mostrar ao falar agora d o


conhecido desses familiares de H e r o d e s é Nicolau de Da- h a r é m . A lei permitia ao rei a poligamia . A M í s h n a con- M

masco, h o m e m sábio e culto, filósofo e historiador da cor- cede-lhe dezoito mulheres n o m á x i m o ' ; o T a l m u d e men-
5

te; a seu lado encontra-se seu irmão Ptolomeu . Citemos 3S

ciona vinte e q u a t r o a q u a r e n t a e oito, seguindo dois en-


t a m b é m o u t r o Ptolomeu, ministro das finanças e chance- sinamentos diferentes dos tanaítas, p o r t a n t o , antigos '' . 2

ler 3 6
e o reitor grego I r e n e u . De muitos outros "ami-
37

N ã o é, pois, de a d m i r a r q u e o u ç a m o s f a l a r , de passa- 53

g o s " de Herodes conhecemos apenas os nomes. É talvez gem, das concubinas do rei A l e x a n d r e J a n e u (103-76 a . C ) .
na corte que devamos p r o c u r a r o c o m a n d a n t e das tropas Q u a n d o A n t í g o n o , último rei asmoneu quis, em 40 a . C ,
sob H e r o d e s , Arquelau
3S
e Agripa í , e n q u a n t o é cer-
39 4 0

c o m o auxílio dos partos, apoderar-se d o t r o n o , ele lhes


t a m e n t e na corte que encontramos V o l ú m n i o , c o m a n d a n t e p r o m e t e u , entre outros " d o n s " , q u i n h e n t a s j u d i a s ; p o r 54

de c a m p o . Por causa de seu n o m e , O t t o se p e r g u n t a se


41

esse n ú m e r o referia-se ao cortejo de mulheres pertencentes


não se trata de u m oficial de instrução r o m a n a . Foi envia- 42

à corte, q u e r dizer, a H i r c a n o , o e t n a r c a dos j u d e u s em


do a C é s a r como mensageiro, j u n t a m e n t e com O l i m p o ,
43

exercício, assim como das de dois outros tetrarcas da Ju-


" a m i g o " de H e r o d e s , e u m a e s c o l t a . E n c o n t r a m o s , fi-
44

deia, residentes t a m b é m em Jerusalém, H e r o d e s e seu 5 5

n a l m e n t e , com bastante freqüência outros hóspedes de He- irmão Fasael . 56

rodes: Marcos Agripa , genro do i m p e r a d o r A u g u s t o , Ar-


4:5

quelau , rei da Capadócia, E u r i c l e s de Esparta, Evara-


tó 47
H e r o d e s , o G r a n d e (37-4 a.C.) teve dez m u l h e r e s , 57

sendo que pelo menos n o v e — as q u e se e n c o n t r a v a m


com vida em 7-6 — a o m e s m o tempo \ Na v e r d a d e , so- s

32. O t t o , Herodes, col. 86. m e n t e M a r i a n a , a asmonéia, parece ter m e r e c i d o o título


3 3 . C f . , p o r ex., Ant. X V J I 9, 3 , § 219ss; B. j . I I 2, 1, § 15. de r a i n h a . O h a r é m de H e r o d e s deveria, p o r é m , ser mais
59

34. N i c o l a u de D a m a s c o , F r a g m e n t o 136, 8, ed. F . ] a c o b y , Die


Fragmente der griechischen I-Hstoriker, 2. Teil A, Berlim, 1926 (reim-
p r e s s o L e y d e , 1957), 424; cf. Ant. XVII 9, I, 207; B. j . [I I, 2, § 7. 48. Ant. X V I 10, 2, § 312; B. /. I 26. 5, § 552.
35. Ant. X V I I 9, 4, § 2 2 5 ; B. j . I I 2, 3, § 2 1 . 49. Ant. X V I 10, 6-7, § 325ss.
36. Ant. X V I 7, 2, § 1 9 1 ; X V I I 8, 2, § 195; B. j . I 33, 8, § 667. 50. D t 17,17; cf. Ant. I V 8, 17, § 224.
37. Ant. X V I I 9, 4, § 226; B. j . II 2, 3 , § 2 1 . 51. Sanh. I I 4 .
38. Ani. X V I I 6, 3, § 156; B. j . I 53, 3 , § 652. 52. b . Sanh. 21» bar.
39. B. j . I ) 3, 3 , § 8; Josefo, oficial nomeado em Ant. X V I Í 10, 5 3 . Ant. X Í I I 14, 2 . § 380; B. } . I 4, 6, § 9 7 .
9, § 294 e B. j . II 5, 2, § 74, p r i m o d e A r q u e l a u e s o b r i n h o de H e - 54. Ant. X I V 13, 3, § 3 3 1 ; 13, 5, § 3 4 3 ; 13, 10 § 365; B. j . I 13,
r o d e s , é talvez o c o m a n d a n t e chefe. 1, § 2 4 8 ; .13, 4, § 2 5 7 ; 13, 1 1 , § 2 7 3 .
40. Ant. X I X 7, 1, § 517; 8, 3, § 353. 55. O f u t u r o rei.
4 1 . E r a , talvez, c o m a n d a n t e da c a s e r n a s i t u a d a ao l a d o d o pala- 56. S e g u n d o lí. j . I 13, 4, § 2 5 7 , trata-se d a p r o m e s s a d e " a maio-
cio e dele f a z e n d o p a r t e (B. j . II 15, 5, § 329; 17, 8, § 4 4 0 . ria das m u l h e r e s q u e lhes [ H i r c a n o e Fasael] p e r t e n c i a m " ; s e g u n d o
42. O t t o , Herodes, col. 60. Ant. XIV 1 3 , 10, § 365, f o r a m e s s a s m u l h e r e s q u e f u g i r a m c o m H e -
4 3 . Ant. X V I 10, 7, § 317; 8, 3, § 353. r o d e s , t e n d o esse salvo toda a c o r t e .
44. Ant. X V I 10, 9, § 354. 57. Ant. X V I I 1, 3 . § 19; B. j . I 2 8 , 4, § 5 6 2 ; cf. Ant. X V 9, 3,
45. Ant. X V I 2, 1, § 13s; 2, 4, § 55s; Fílon, Leg. ad Caium, § 294. § 319ss; X V I I 1, 2, § 14; B. j . I 24, 2, § 477.
4 6 . Ant. X V I 8, 6, § 261s; B. j . I 25, 6, § 5 1 1 . 58. B. I I 2 8 . 4, § 562.
47. Ant. X V I 10, 1, § 3 0 1 ; B. /. I 26, 1, § 513; 26, 4, § 530. 59. B. /. I 24, 6, § 4 8 5 .
n u m e r o s o , c o m o o prova o envio de u m a c o n c u b i n a a Ar- cia da Síria. A d e m a i s , a Samaria ficou isenta, na m e s m a
q u e l a u , rei da C a p a d ó c i a . C o n v é m lembrar q u e a m ã e
m

é p o c a , do q u a r t o d o s i m p o s t o s . É preciso, p o r t a n t o , ava-
68

de H e r o d e s , t e m p o r a r i a m e n t e , sua irmã S a l o m é e Ale- 6 1

liar, em mais de 1 . 0 0 0 talentos a receita dos impostos de


x a n d r a , m ã e da rainha M a r i a n a , m o r a v a m t a m b é m no
bl

Herodes.
palácio. Segundo o costume (cf. Pr 3 1 , 1 ) , as crianças, du-
A renda de Agripa I chegava a doze milhões de drac-
rante seus primeiros anos, e r a m educadas p e l a m ã e , por-
mas ; trata-se d e d r a c m a s d e p r a t a áticas, m o e d a d a q u a l
b9

tanto ficavam no h a r é m . Esse setor da corte d i s p u n h a tam-


Josefo se serve, como noutras passagens p a r a seus cálculos.
b é m de vultoso corpo de e m p r e g a d o s ; sabemos da existên-
O domínio de Agripa I era maior do q u e o de H e r o d e s —
cia de u m eunuco da r a i n h a M a r i a n a , de escravos de 63

tendo Agripa recebido as posses de Cláudio na zona mon-


Dóris, m u l h e r de Herodes . M

tanhosa do L í b a n o e o reino d e Lisânias, isto é, a região


A o l a d o da corte do soberano, havia ainda o u t r a s de Abiía, perto do Líbano . P o d e m o s , p o r t a n t o , imaginar
70

cortes de menores proporções. Encontramo-las igualmente que a cota de seus impostos era b e m m a i o r do q u e a de
e m palácio: pelo menos as dos príncipes reais A l e x a n d r e , Herodes.
Aristóbulo, A n t i p a t e r (12 a . C ) , e a de Peroras, i r m ã o de
H e r o d e s . T i n h a m sua p r ó p r i a entourage
65
("amigos") e H e r o d e s c o m 1 . 0 0 0 talentos d e r e n d a , Agripa í c o m 71

criadagem p a r t i c u l a r . M 1 . 2 0 0 não p o d i a m enfrentar todas as d e s p e s a s , mas H e - 72

rodes possuía a mais, u m a considerável fortuna particular.


Josefo dá-nos algumas informações sobre as r e n d a s q u e
É o que se conclui dos legados de seu t e s t a m e n t o . As cen-
p e r m i t i a m aos soberanos arcar c o m tão fabulosas despesas,
suras lançadas c o n t r a ele, expressas e m R o m a pelos j u d e u s
Calcula as rendas dos sucessores de Herodes q u e teriam
em 4 a.C., parecem bem f u n d a d a s : conseguiu obter vul-
dividido entre si o seu d o m í n i o . Segundo tais cálculos,
67

tosas riquezas, apoderando-se dos bens d e altas persona-


Herodes Antipas recebia 2 0 0 talentos de impostos, Filipe,
gens da realeza, após m a n d a r executá-las . Além do mais, 73

100, A r q u e l a u 400 (B. /'.) ou 6 0 0 (Ani.), Salomé 6 0 ; ao


o i m p e r a d o r Augusto cedeu-lhe, e m 12 a . C , as m i n a s d e
todo, o domínio de Herodes recolhia, pois 7 6 0 ou 960
cobre de Solí, em C h i p r e ; tal gesto beneficiou-o com im-
74

talentos.
p o r t a n t e receita. Finalmente, os presentes, ou m e l h o r , as
L e v a n d o e m conta os dados sobre a r e n d a de Agripa
I, podemos optar pela q u a n t i a mais alta. As cidades de 68. Ant. X V I I 11, 4, § 319; B. j . II 6, 3, § 96.
G a z a , G a d a r a , H i p o s faziam t a m b é m parte do d o m í n i o 69. Ant. XIX 8, 2, § 352.
real; após a m o r t e de H e r o d e s , foram anexadas à provín- 70. Ant. X I X 5, 1, § 275; B. j . I I 1 1 , 5, § 2 1 5 .
7 1 . O v a l o r d o talento q u e serve d e base aos cáicuíos é o ta-
l e n t o h e b r a i c o q u e e q u i v a l e a 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s d e p r a t a áticas. Pode-
60. B, ;. I 25, 6, § 5 1 1 . m o s mostrá-lo d e d u a s maneiras: a) comparando Ant. X V Í I 6, 1, §
6 1 . A p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu p r i m e i r o m a r i d o (35 ou 146 e I I , 5 , § 3 2 1 s . c o m 8, 7 , § 190: n o t e s t a m e n t o d e H e r o d e s , u m
34 a . C . ) , a t é o seu s e g u n d o c a s a m e n t o c o n t r a í d o d e p o i s de 30 (em l e g a d o d e 1.500 t a l e n t o s t r a n s c r i t o 15 m i l h õ e s d e d r a c m a s , p o r t a n t o ,
30 ela a i n d a fazia p a r t e d a c o r t e de J e r u s a l é m , Ant. X V 6, 5, § 1 8 4 ) , u m t a l e n t o v a l e 1 0 . 0 0 0 d r a c m a s ; b) c o m p a r a n d o as r e n d a s d e H e r o -
assim c o m o a p ó s a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d e seu s e g u n d o m a r i d o , a c o n - des c o m as de A g r i p a I. P a r a avaliar as s o m a s das r e n d a s das q u a i s
tecida e m 2 5 . t r a t a m o s é preciso m e n c i o n a r os seguintes fatos: H e r o d e s d e u a sua
62. Ant. X V 6, 5, § 183ss. filha u m d o t e de 300 t a l e n t o s (B. /. I 24, 5. § 4 8 3 ) ; seu i r m ã o Féro-
6 3 . Ani. X V 7, 4, § 226. ras s a c a v a t o d o a n o 100 t a i e n t o s de suas posses, além dos subsídios
64. Ant. X V I I 5, 3, § 9 3 . de sua t e t r a r q u i a de Peréia (B. } . , i b i d . ) ; Z e n ó d o r o v e n d e u a A u r a -
65. O i t o , Herodes, col. 87s; cf. B. j . I 2 3 , 5, § 457ss. nítíde aos á r a b e s p o r 50 t a l e n t o s (Ant. X V 10, 2, § 3 5 2 ) .
66. E m p r e g a d o s de A l e x a n d r e e de A r i s t ó b u l o Ant. X V I 4, 1, § 72. O t t o , Herodes, col. 91s.
97; u m l i b e r t o de A n t i p a t e r Ant. X V I I 4, 3 , § 79; l i b e r t o s d e Fero* 73. Ant. X V I I 11, 2, § 307.
ras X V I I 4, I, § 6 1 ; m u l h e r e s escravas d e F é r o r a s X V I 7, 3, § 194. 74. Ant. X V I 4, 5, § 128; n ã o s a b e m o s , c o m c e r t e z a , se H e r o d e s
cf. X V I I 4 . 1-2. § 61ss; B. j . I 30, 2. § 584. recebeu i o d a a mina e a m e t a d e l i b e r a d a d o a r r e n d a m e n t o ou s o m e n t e
67. Ant. X V I I 11, 4-5, § 317ss; B. j . II 6, 3, § 93ss. a metade como renda líquida da arrecadação.
gratificações cobriam, com certeza, alguns r o m b o s das fi- v a s . Era costume contratar u m cozinheiro por u m sa-
8 1

n a n ç a s do r e i .
7 5

lário elevado; se não se saísse b e m n a sua i n c u m b ê n c i a ,


devia, p o r u m a penitência p r o p o r c i o n a l ao prestígio do
dono da casa e de seus c o n v i d a d o s , r e p a r a r o v e x a m e q u e
ocasionou a seu a m o . E m Jerusalém bebia-se o v i n h o
u

B. A CLASSE RICA de mesa em copos de cristal sem misturar-lhe á g u a . 8 3

Criado o a m b i e n t e festivo, todos c e r t a m e n t e d a n ç a v a m —


faz-nos p e n s a r nas rondas de h o m e n s , semelhantes àque-
1. O luxo
las q u e se exibiam em festas religiosas — ao bater das
mãos como o fizeram, por exemplo, os " g r a n d e s " de Je-
N o primeiro capítulo deste estudo, comentamos di-
rusalém por ocasião da festa da circuncisão de Elisha Ben
versos aspectos do luxo nas casas, nos trajes e na criada-
A b u y a , cujo pai pertencia à alta sociedade . H á b i t o s b e m 84

gem, assim como os inúmeros sacrifícios, os presentes ao


estabelecidos regiam os convites. A pessoa convidada es-
T e m p l o , os m o n u m e n t o s funerários das pessoas ricas de
perava que lhe fossem c o m u n i c a d o s os n o m e s dos outros
Jerusalém. Fomos e x t r a i n d o , ocasionalmente, de,fontes di-
convivas c q u e , i n d e p e n d e n t e m e n t e do p r i m e i r o convite,
gs

versas, as características deste luxo. Dois h o m e n s aposta-


algum emissário a chamasse no p r ó p r i o dia do b a n q u e t e . 86

r a m 400 züz (denários) p a r a ver q u e m conseguia encole-


Esse costume parece ter vigorado igualmente na Palestina 67

rizar H i l e l . Rabi Meir conta que alguns ricaços d e Je-


76

e no Egito * . Com efeito, os convites por escrito, encontra-


s

rusalém a m a r r a v a m com cordões de ouro seu lülab (ramos)


dos em papiros egípcios, foram em geral enviados somente
p a r a a cerimônia da festa das T e n d a s . O hierosolimitano 77

na véspera da festa ou no p r ó p r i o dia, o que confirma


rico tem sua casa de c a m p o ; assim, p o r exemplo, o mi-
tratar-se, r e a l m e n t e , de u m a segunda solicitação.
nistro das finanças de H e r o d e s , Ptolomeu, a q u e m per-
tence o vilarejo de A r u s . O u t r a informação fornece-nos
7 S
O c o n v i d a d o d o b r a v a as largas mangas de sua veste , Ê9

u m a indicação a este respeito: a r a i n h a Helena de Adia- talvez p a r a não ser i n c o m o d a d o ao comer. U m véu sus-
b e n a , de q u e m Josefo c o m p r o v a a visita a J e r u s a l é m , 79
penso do lado de fora da casa indicava às pessoas que ainda
possuía em Lida u m a t e n d a conforme às prescrições ri- seriam acolhidas. Esse véu era retirado após ser servida
tuais para a festa do mesmo n o m e . so
a terceira e n t r a d a . Segundo u m relato digno de fé , os
9Ü 91

F o r a m os b a n q u e t e s dos ricos que exerceram u m a 8 1 . hum. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 2 6 ) . a

g r a n d e função, com suas características especiais, todas 82. Ibid.; H i r s c h e n s o h n , 133; b . B. B. 9 3 . b

8 3 . Lam. R. 4, 5 s o b r e 4, 2 ( 5 7 I ) . b

nascidas em Jerusalém. Significa que aquela cidade ser-


84. j . Hag. II 1. 7 7 33 ( I V / 1 , 2 7 2 ) ; Billerbeck, 1, 682. O p a i :
b

via de modelo p a r a outros países por suas m a n e i r a s re- Qoh. R. 7, 18 s o b r e 7, 8 ( 1 0 4 9 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 2 5 .


a

quintadas. 8 5 . Lam. R . 4 . 4 s o b r e 4 , 2 ( 5 7 8 ) . a

86. Lam. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 2 5 ) . a

T a m b é m lá, u m anfitrião podia distinguir-se de m o d o 87. M t 22,3 e s o b r e t u d o Lc 14,16-17. O p r ó p r i o t e x t o desta pas-


espetacular pelo g r a n d e n ú m e r o de c o n v i d a d o s , ou d e s a g e m e d e M t 22,1 Is, assim c o m o as analogias r a b í n i c a s (por ex.. b .
m o d o mais real pelo tratamento dispensado a seus convi- Shab. 1 5 3 , cf. Qoh. R. 9, 6 s o b r e 9, 8 [ H 4 7 ] , m o s t r a m q u e se t r a t a
a b

de um segundo convite).
88. Mitteis-Wilcken, 1 / 1 , 419.
75. Ver, p o r ex., Ant. XVIII 11, 2, § 308. 89. Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 10). Cf. j . Demay I V 6, 2 4 53
a a

76. b . Shab. 3 0 - 3 1
b a
bar. ( H / 1 , 173).
77. Sukka I I I 8. 90. T o s . Ber. I V 10 {10, 1 9 ) ; Lam. R. 4, 4 s o b r e 4, 2 ( 5 7 1 3 ) ; a

78. Ant. X V I I 10, 9, § 289; B. j . II 5, 1, § 69. b . B. B. 9 3 . R e l a t o q u e p r o v é m d e R a b b a n S h i m e o n b e n G a m a l i e l I I .


b

79. Ant. X X 2, 5, § 49. 9 1 . Pes. I X 1 1 ; c o n f i r m a d o p e l a H a g a d a d e P á s c o a (ha iafpma).


80. j . Sukka I 1, 5 1 d
22 ( I V / 1 , 2 ) ; cf. N e u b a u e r , Gêogr., 11. A i n d i c a ç ã o a r e s p e i t o d a h o s p i t a l i d a d e d e b e n K a l b a S h a b u a , conse-
hierosolimitanos c o n v i d a v a m , p a r a a ceia pascal, os p o b r e s c a s o s de poligamia em Jerusalém, pelo menos do pri-
96

da r u a . E m certas ocasiões da vida política, " t o d a a po- meiro casamento das m u l h e r e s . Se p a r a o segundo casa-
p u l a ç ã o " de Jerusalém era convidada p a r a u m a refeição, m e n t o , como é provável, aproveitaram-se da licença da
c o m o o fez M a r c o s Agripa por ocasião de sua visita à Ci- escola de S h a m a i , de se casar com o c u n h a d o , teríamos
9 7

d a d e santa , e A r q u e l a u na m o r t e de seu pai Herodes .


92 9i

maiores informações sobre essas famílias, p e l o fato de se


U m a segunda p a r t e i m p o r t a n t e d a s despesas relacio- terem t o r n a d o sumos sacerdotes os descendentes das duas
nava-se com as mulheres. N a q u e l a época, a poligamia era mulheres. P o r q u e os segundos esposos seriam irmãos dos
p e r m i t i d a aos j u d e u s . N u m a casa onde havia diversas
9 i
primeiros e ambos pertenceriam, p o r conseguinte, à famí-
m u l h e r e s , a m a n u t e n ç ã o representava tal sobrecarga finan- lias de sumos sacerdotes. T e r í a m o s , p o r t a n t o , nesse caso,
ceira que, de m o d o geral, só e n c o n t r a m o s a poligamia nos u m a p r o v a de poligamia e m Jerusalém em q u a t r o famílias
a m b i e n t e s d e alto nível econômico. de sumos sacerdotes.
É a círculos ricos de Jerusalém q u e nos c o n d u z b . E m Josefo encontramos outros exemplos de poliga-
Yeb. 1 5 . A discussão concentra-se n u m p o n t o controver-
ü
mia em famílias da alta sociedade. Ele conta que Tobias
tido a respeito do casamento levirático. Todos s a b e m e m José tinha duas m u l h e r e s e A l e x a n d r e Janeu, diversas
98

q u e consiste o levirato: se o m a r i d o m o r r e sem deixar fi- concubinas ao lado de u m a esposa legítima . Sabemos de 99

l h o , o irmão do defunto é obrigado a casar-se com a viú- u m funcionário da administração do rei A g r i p a t a m b é m


v a . Q u e acontece se o falecido deixou diversas m u l h e r e s , casado com duas m u l h e r e s ; u m a m o r a v a em Tiberíades,
sendo uma, a própria sobrinha? Sem dúvida, o irmão não a o u t r a em Séforis . Esses casos fazem-nos constatar a
m

p o d e desposar essa que é sua filha. E o q u e acontece existência de poligamia na alta sociedade de Jerusalém,
c o m as outras mulheres? A escola de S h a m m a i autorizava mas sem ser de regra.
semelhante casamento p a r a satisfazer a lei. do levirato; a Nesses meios, as jovens recebiam grandes q u a n t i a s
escola de Hilel, proíbia-o. A esse respeito, o levita R. p o r dote. N o contrato do casamento de M i r i a m , p o r exem-
Y o s h u a b e n H a n a n y a conta que d u a s famílias hierosolimi- plo, filha de Nicodemos ( N a q d e m o n b e n G o r i o n ) constava
tanas de elevado nível, das quais se o r i g i n a r a m alguns su- u m m i l h ã o de denários de o u r o , aos quais o sogro acres-
m o s pontífices e m exercício, d e s c e n d i a m dessas "concubi- centou algo mais . Assim s e n d o , as pretensões dessas jo-
101

n a s da filha" . Por conseguinte, ouvimos falar de dois


95

vens senhoras e r a m consideráveis. T i n h a m o direito de gas-


tar u m d é c i m o de seu dote u n i c a m e n t e p a r a seus ca-
102
3
l h e i r o d e Jerusalém q u e a l i m e n t a v a os f a m i n t o s é s i m p l e s m e n t e u m a
i n t e r p r e t a ç ã o de seu n o m e (b. Git. 5 6 ) .a

96. N ã o é d i t o q u e as d u a s m u l h e r e s , p e l o seu p r i m e i r o c a s a m e n t o ,
92. Ant. X V I 2, 1, § 14; 2, 4, § 5 5 . e r a m as e s p o s a s d o m e s m o m a r i d o ; c e r t a m e n t e , trata-se de dois casos
93. Ant. X V I I 8, 4 . § 2 0 0 ; B. /. II 1. 1, § 1. análogos.
94. J. Leipoldt, Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921, 44-49 e n o t a s 97. Cf. os casos n a r r a d o s e m b . Yeb. 1 5 1 6 p o r R. T a r p h o n e
a a

fornecem-nos i n ú m e r a s p r o v a s . R a b b a n G a m a l i e l assim c o m o o p r ó p r i o texto q u e r e l a t a a controvér-


95. U m a dessas famílias chama-se "família d e Q u p h a é " ; I. K a h a n sia n o t e m p o d e R. D o s a b e n A r k i n o s ( 1 6 ) , o n d e são e x p r e s s a m e n t e
a

a p r o x i m a esse n o m e d o n o m e d o s u m o s a c e r d o t e Joséfo, c h a m a d o m e n c i o n a d o s dois i r m ã o s q u e t i v e r a m de d e s p o s a r c o n c u b i n a s . É assim


Q a y a p h a ( C a i f á s ) , c o n h e c i d o através d o N o v o T e s t a m e n t o . Excetuan¬ q u e A. B u c h l c r , " F a m i l i e n r e i n h e i t u n d F a m i l i e n m a k d in J e r u s a l é m v o r
do-se esse Q a y a p h a , o s u m o s a c e r d o t e d a família de Q u p h a é só p o d e d e m J a h r e 7 0 " , e m Festschrift Schwarz, 136, e x p l i c a a p a s s a g e m .
ser u m dos dois s a c e r d o t e s s e g u i n t e s : ou E l i o n a i o s , filho de K a n t h p e -
98. Ant. X I I 4, 6, § 186ss.
r a s s e g u n d o Josefo (Ant. X I X 8, I, § 342, em exercício p e l o a n o 44
99. B. j . I 4, 6, § 97; Ant. X I I I 14, 2, § 380.
d . C ) , c h a m a d o b e n h a - Q a y y a p h em Para I I I 5; ou o s u m o s a c e r d o t e
100. b . Sukka 2 7 . — T r a t a - s e , sem d ú v i d a , d e A g r i p a I. C o m
a

J o s e f o Q a b i ( = K a b i ) q u e , s e g u n d o )osefo {Ant. X X 8, I I , § 1 9 6 ) ,
efeito, s e g u n d o o q u e s a b e m o s , Séforis n ã o fazia p a r t e do d o m í n i o
e r a filho do s u m o s a c e r d o t e S i m ã o c exerceu suas funções até 62 d.C.
de A g r i p a I I . N e r o d e u T i b e r í a d e s a A r g i p a I I , Ant. X X 8, 4, § 159;
( P a r a clareza d o t e x t o t r a n s c r e v e m o s a q u i Q a y a p h a [ N . T . , Josefo]
B. j . II 13, 2, § 252.
c o m u m Q , visto esse n o m e d e r i v a r d e qayyaph d o h e b r a i c o m i x n a i c o ;
o m e s m o c o m Q a b i , com Q ) . 101. b . Ket. 66 . b

102. Ibid.
prichos e luxo: perfumes e vestuário , e n f e i t e s , dentes m l04
de imóveis, arrendatários de impostos e pessoas q u e v i v i a m
postiços reforçados por fios de o u r o e prata etc. A ques- 105
de r e n d a s . m

tão discutida, p o r é m é saber se o uso desse décimo era- E n c o n t r a m o s alguns representantes dessa classe entre
-lhes p e r m i t i d o cada ano ou somente no primeiro. os m e m b r o s do Sinédrio. O conselheiro Nicodemos era 113

Considerava-se o m u n d o das grandes d a m a s de Jeru- rico; dizem q u e levou ao t ú m u l o de Jesus, p a r a ungi-lo.


salém como u m m u n d o cercado de mimos e cuidados. Mar- 100 libras r o m a n a s de m i r r a e aloés (Jo 1 9 , 3 9 ) . A litera-
ta , viúva do sumo sacerdote R. Y o s h u a , d i s p u n h a — as-
m tura r a b í n i c a 114
m e n c i o n a híerosolimitanos, altos comer-
sim contam — p a r a a sua m a n u t e n ç ã o diária, de duas por- ciantes de trigo, v i n h o , óleo e l e n h a , fazendo parte do Con-
ções de v i n h o fixadas pelos doutores; a nora de N a q d e m o n selho entre 66 e 70 d.C. A tradição refere-se particular-
ben G o r i o n , de dois s 'ah (mais de 26 litros de v i n h o p a r a
e mente a u m dentre esses, N i c o d e m o s ( N a q d e m o n ben Go-
u m a semana . A filha dele amaldiçoou os doutores q u e ,
,ÜT rion) , i m p o r t a n t e negociante de trigo. Comenta o luxo
m

n a hora de estabelecer sua subvenção de viúva, fixaram¬ reinante em sua casa, seu vasto p r o g r a m a de beneficência,
-na somente em 4 0 0 denários de ouro p a r a suas despesas n e m sempre isento de certa a m b i ç ã o , e a perda de suas
supérfluas . N ã o é, pois, de a d m i r a r que M a r t a não t e n h a
108 riquezas: d u r a n t e a confusão que p r e c e d e u a destruição
resistido à g r a n d e fome decorrente do assédio de Jerusa- de Jerusalém, segundo Josefo d u r a n t e o inverno de 69-70,
lém em 70 d.C. N a hora de sua m o r t e , atirou à r u a t u d o a p o p u l a ç ã o incendiou seus celeiros repletos de trigo e
o que tinha em o u r o e prata; compreendia, t a r d e demais, c e v a d a ' . José de Arimatéia, m e m b r o do Sinédrio, é u m
16

q u e a fortuna de n a d a serve , É interessante observar


m euschémon (Mc 15,43): os papiros nos m o s t r a r a m que
q u e alguns deveres relativos à sua condição tinham-se in- esse termo parece designar o rico p r o p r i e t á r i o de imó-
troduzido entre as grandes d a m a s da cidade. Por e x e m p l o , veis . Sabemos, com efeito, q u e se tratava de u m h o m e m
l17

p a r a aliviar os condenados conduzidos à execução, man- rico (Mt 2 7 , 5 7 ) ; possuía, ao norte da c i d a d e , u m jardim
d a v a m dar-lhes v i n h o m i s t u r a d o com incenso . Segundo n o c o m u m t ú m u l o de família talhado na rocha (Jo 1 9 , 4 1 ;
A b b a Shaul, teriam igualmente g a r a n t i d o a m a n u t e n ç ã o cf. 2 0 , 1 5 ) . É bem provável q u e todos os seus bens se en-
das mulheres que e d u c a v a m seus filhos p a r a o rito da no- contrassem n a sua pátria. E v i d e n t e m e n t e , o terreno de Je-
vilha vermelha . , n

112. V e r supra, p p . 8 1 , 5 2 , 6 1 ; S m i t h , I, 3 6 7 .
113. Jo 7,50;3,1; cf. 12,42.
114. V e r supra, p . 58.
2 . O s representantes da classe rica 115. Será o m e s m o N i c o d e m o s do e v a n g e l h o d e J o ã o ? Josefo cita
u m n o t á v e l d e J e r u s a l é m , m u i t o c o n s i d e r a d o , cujo n o m e é G o r i o n (B. /.
E m todos os tempos, Jerusalém atraiu o capital na- I V 3, 9, § 159) ou G u r i o n (6, 1, § 3 5 8 ) . Se é o m e s m o pai de Naq-
d e m o n , havia, pois, p o r volta de 70 d . C , c o m o m e m b r o s vivos da
cional do país: altos negociantes, grandes proprietários família: G o r i o n , seu filho N a q d e m o n , assim c o m o a filha desse últi-
m o (cf. supra, p . 137; essa filha a i n d a vive p o r volta d o a n o 70,
103. b . Yoma 39 . b

S c h l a t t e r , Joch. b. Zok., 67, n. 2 ) . M a s n a q u e l e a n o , G o r i o n a i n d a


104. V e r supra, p . 18; Kel X I I 7. p a r t i c i p a d a v i d a p ú b l i c a ; é, pois, difícil q u e t e n h a n a s c i d o antes d o
105. Shab. V I 5. c o m e ç o de n o s s a era. N a é p o c a de Jesus, seu filho N i c o d e m o s n ã o
106. V e r infra, p . 2 1 7 , n . 6 1 . p o d i a já ser h o m e m feito, m e m b r o d o S i n é d r i o .
107. Lam. R. 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 5 ) ; b . Ket. 6 5 .
b a

116. b . Git. 5 6 . O i n c ê n d i o pelos zelotas, n a J e r u s a l é m e m re-


a

108. b . Ket. 6 6 ; Lam. R. 1, 51 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1 3 ) : 500 d e n á r i o s .


b b

volta, das reservas dos cereais são b e m c o m p r o v a d o s pela t r a d i ç ã o : B. j .


109. b . Git. 5 6 . a

V 1, 4, § 2 5 ; T á c i t o , Hist. V 12; Lam. R. 1, 32 s o b r e 1, 5 ( 2 8 7 ) ; b

110. b . Sank. 4 3 b a r . Cf. as "filhas de J e r u s a l é m " q u e a c o m p a -


a

Qoh. R. 7, 24 s o b r e 7, 11 ( 1 0 5 2 6 ) ; Schlatter, Joch. b. Zak., 62.


a

n h a v a m Jesus a t é o local d a crucifixão (Lc 23,27-31); p o d e ser, p o r -


117. V e r a d i s c u s s ã o d e J. L e i p o l d t , e m Theolog. Literaturblatt 39
t a n t o , que elas t e n h a m oferecido o v i n h o m i s t u r a d o c o m m i r r a e
(1918) col. 180s, s o b r e os p a p i r o s d e Basiléia p u b l i c a d o s p o r E. R a b e l
a p r e s e n t a d o a Jesus antes d e ser p r e g a d o n a c r u z ( M c 15,23; M t 2 7 , 3 4 ) .
e m Abhandlungen der königlichen Gesellschaft der Wissenschaften zu
111. b . Ket. 1 0 6 . a

Göttingen. Phil.-hist. K l a s s e , n. s. 16, 3 , Berlim, 1917.


rusalém pertencia à família há pouco t e m p o , visto o tú- exercício; a fim de impedi-los de rezar p a r a pedir a mor-
m u l o ter sido recentemente t a l h a d o . te dos sumos sacerdotes, as mães desses se e n c a r r e g a v a m
A nobreza sacerdotal fazia p a r t e dos meios ricos. Na de toda a alimentação e vestimenta daqueles condena-
129

cidade alta residiam o sumo sacerdote A n a n i a s , o chefe 118


dos. Falava-se t a m b é m das despesas feitas pelas mães dos
dos sacerdotes, Sadoc e, segundo a tradição, os sumos
119
sumos sacerdotes p a r a o Dia das expiações. C o m efeito,
sacerdotes A n á s e Caifás. Segundo o relato de João ( 1 8 , nesse dia, o sumo sacerdote se revestia com trajes brancos
1 3 ) , Jesus, após sua prisão, foi conduzido à casa onde d u r a n t e a p a r t e da cerimônia c h a m a d a " c u l t o p ú b l i c o "
Anás residia e n q u a n t o ex-sumo sacerdote e sogro do s u m o que c o m p r e e n d i a o serviço no Santo dos Santos; d u r a n t e
sacerdote em exercício. N a q u e l e palácio h a v i a u m g r a n d e o "serviço p r i v a d o " , ostentava os p a r a m e n t o s de sumo sa-
pátio (Jo 18,15); u m porteiro (Jo 18,16) e outros servos 120
cerdote . T i n h a t a m b é m o privilégio de usar u m a r o u p a
130

que pertenciam à casa. O t ú m u l o de A n á s , ao sudeste da de b a i x o pessoal, espécie de túnica colante q u e descia até
cidade, devia ser u m g r a n d e m o n u m e n t o , d o m i n a n d o a re- os tornozelos . Segundo o costume, era a m ã e que lhe
m

gião . Caifás, o sumo sacerdote e m exercício, à casa de


121
oferecia essa peça. Tal túnica passava em seguida para a
q u e m levaram Jesus, m o r a v a n u m lugar que d i s p u n h a de c o m u n i d a d e que pagara 30 minas, c o n t r i b u i n d o p a r a as
local p a r a q u a l q u e r sessão e x t r a o r d i n á r i a do Sinédrio . l22
despesas de sua confecção. A genitora do sumo sacerdote
A p r o p r i e d a d e contava, com efeito, com u m a construção rabi Ishmael ben Phiabi (em função até 6 1 d.C.) deu-lhe
na e n t r a d a 123
e elevado n ú m e r o de servos e servas p a r a
124
uma túnica no valor de 100 minas, isto é, u m talento.
o serviço . 12S

A m ã e do sumo sacerdote rabi Eleazar ben H a r s o m 132

Segundo o que nos transmite a t r a d i ç ã o , reinava gran- e n c o m e n d o u u m a que custou 2 0 . 0 0 0 — minas, devemos
de luxo nas residências das famílias pontifícias . Eis o I26
completar, de acordo c o m o contexto, mas n a realidade,
que se conta de M a r t a , pertencente à família dos Boetos.
127
trata-se de denários ( 2 0 . 0 0 0 denários = 2 talentos). Essa
N o Dia das expiações, todos deviam ir ao T e m p l o a p é . túnica era tecida com material tão t r a n s p a r e n t e que os sa-
O r a , q u a n d o M a r t a desejava ver o m a r i d o Y o s h u a b e n cerdotes n ã o a aceitaram depois . m

Gamaliel oficiar nessa festa, fazia estender u m t a p e t e en- A p r ó p r i a função de s u m o sacerdote exigia recursos.
tre sua casa e a p o r t a do santuário . Os homicidas que 12B
Basta p e n s a r m o s nas vítimas do D i a das expiações que o
e n c o n t r a r a m asilo n u m a das cidades de refúgio, só p o d i a m sumo sacerdote deveria p a g a r por conta própria . Conta¬ l34

r e c u p e r a r a l i b e r d a d e após a m o r t e d o sumo sacerdote e m -se q u e Y o s h u a ben Gamaliel (63-65 d.C.) c o m p r o u a fun-


ção d e s u m o sacerdote e q u e isso se repetiu diversas ve-
118. R, j . I I 17, 6, § 426.
119. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 2 3 ) . a

120. Jo 18,18 q u e inclui, sem d ú v i d a , o d e s t a c a m e n t o q u e pren- 129. Mak. II 6.


d e u Jesus. 130. S o b r e esses o r n a m e n t o s , v e r Ant. I I I 7, 4-7, § 159ss; o u t r o s
121. B. j . V 12, 2, § 506. textos e m S c h ü r e r , I I , 319, n. 6.
122. M t 26,57; M c 14,53; Lc 22,66. 131. D e s c r i t o em Ant. I I I 7, 2, § 353s; cf. 7, 4, § 159.
123. M t 26,71; M c 14,68. 132. Lam. R. 2, 5 s o b r e 2, 2 ( 4 4 6 ) o c i t a c o m o u m r i c o es-
a

124. M t 26,51; M c 14,47; Lc 22,50; Jo 18,10.26: a j u d a n t e s do criba d o t e m p o de A d r i a n o ; Josefo dá-nos o u t r a genealogia q u a n t o


s u m o s a c e r d o t e q u e p a r t i c i p a r a m d a p r i s ã o de Jesus. V e r t a m b é m M t aos s u m o s s a c e r d o t e s de a n t e s de 70 d . C , d e n o m e E l e a z a r . Essas
26,58; Mc 14,54; Lc 22,55. d u a s i n f o r m a ç õ e s c o n f e r e m a i d e n t i d a d e — aliás t a m b é m estabelecida
125. A j u d a n t e s dos chefes dos s a c e r d o t e s em T o s . Men. X I I I 21 p o r S c h l a t t e r , Tage, 54-56 — c o m " E l e a z a r , o s a c e r d o t e " , s u m o sacer-
(533, 3 6 ) ; Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206. dote d a r e v o l t a de Bar K o k b a c o n h e c i d o p e l a s m o e d a s dessa r e v o l t a
126. Q u a n t o à p o l i g a m i a , v e r supra, p . . . . (132-135 [6] d . C ) .
127. Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1) a c h a m a M i r i a m ; p o r
b

133. S o b r e a t ú n i c a , b . Yoma 5 5 b a r . e T o s . Yoma


b
\ 21s (182,
o u t r o l a d o , Ycb. V I 4 e b . Yeb. 6 1 , assim c o m o b . Git, 5 6 d ã o - l h e
a a

2 6 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 54s.
o nome de Marta. 134. Ant. I I I 10, 3, § 242; cf. Lv 16,3.
128. Lam. R. 1, 16 ( 3 5 2 ) . b
s a n t u á r i o . Acrescentemos u m paralelo t o m a d o n a Pales-
l44

zes °. Para obter tal função, sua m u l h e r M a r t a ou M i r i a m


13

tina m o d e r n a . D e n t r o do clero da igreja grega, os mem-


pagou — assim dizem — 3 qab (de 2,02 l i t r o s ) d e de- 136

bros do convento do Santo Sepulcro, n a maioria gregos,


nários ao rei Janeu (provavelmente o n o m e de faneu,
137

possuíam grandes r e n d a s e n q u a n t o os p a d r e s do c a m p o ,
que reinou de 103 a 76 a.C. figura aqui intencionalmente os á r a b e s , viviam muito p o b r e m e n t e . D u r a n t e a Primeira
pelo de Agripa I I ; a literatura rabínica sempre envolve G u e r r a M u n d i a l essa situação levou-os a sustentar uma
Agripa c o m u m juízo muito favorável).
138

greve d u r a n t e vários anos . Esses d a d o s permitem-nos su-


145

I g n o r a m o s quais p o d i a m ser os salários regulares dos p o r q u e a n o b r e z a sacerdotal tirava do tesouro do T e m p l o


sumos sacerdotes. N o dizer de Josefo, d u r a n t e os anos de q u a n t i a s regulares. Devemos m e n c i o n a r ainda as rendas
agitação que p r e c e d e r a m a guerra j u d e u - r o m a n a d e 66 particulares. É d e crer q u e uma p a r t e das famílias t e n h a
d . C , " a impudência e a audácia dos chefes dos sacerdo- sido p r o p r i e t á r i a de imóveis. Eleazar ben H a r s o m , por
tes foram tais que ousaram enviar seus escravos às eiras e x e m p l o , q u e pertencia talvez a essa nobreza sacerdotal , m

p a r a furtar os dízimos reservados aos sacerdotes" . " D e s s a 39


h e r d o u , a o q u e dizem, d e seu p a i , mil vilarejos e mil bar-
forma, os sacerdotes, antes sustentados pelos dízimos, che- cos e tinha tantos escravos q u e esses n e m chegavam a co-
g a r a m a m o r r e r de fome" °. A isso podemos acrescentar
14
n h e c e r o a m o . T a m b é m n ã o n o s esqueçamos d o comér-
147

Lima informação tanaíta : p r i m i t i v a m e n t e , os sacerdotes


141
cio d e animais p a r a os sacrifícios d o q u a l se encarregava
conservavam no T e m p l o , na sala da casa Parva, peles das a família pontifícia d e A n á s , e da m a n e i r a a c i m a citada
l48

vítimas que lhes cabiam. À tarde, distribuíam-nas aos sa- c o m o os sacerdotes c o m u n s e r a m r o u b a d o s e de outros atos
cerdotes em exercício naquele dia na seção do serviço (ha- d e violência e corrupção
149

via vinte e q u a t r o seções que se revezavam cada s e m a n a ) . E n c o n t r a m o s a i n d a forte n e p o t i s m o nas n o m e a ç õ e s


Pessoas violentas chegaram, os " m a g n o s do s a c e r d ó c i o " , p a r a os postos mais lucrativos e mais influentes dos 151

termo que designa, de acordo com o contexto, os m e m b r o s funcionários do T e m p l o , c o m o os d e tesoureiros e d e co-


das famílias pontifícias e r o u b a r a m as peles. Esses dois
m a n d a n t e s do T e m p l o . E m 52 d.C, 152
A n a n , filho d o
depoimentos concordes permitem tirar u m a c o n c l u s ã o : a
sumo sacerdote A n a n i a s , é c o m a n d a n t e d o T e m p l o — m

n o b r e z a pontifícia não p a r t i c i p a v a do que era destinado


título esse d a d o ao chefe dos sacerdotes — , q u e substi-
aos simples sacerdotes . 142

tuía i m e d i a t a m e n t e o sumo sacerdote d e n t r o d a o r d e m hie-


De o n d e , então, extraía seus recursos? O b s e r v e m o s , r á r q u i c a . Eleazar, o u t r o filho de A n a n i a s , o c u p a o mes-
154

de início, que os bens da nobreza s a c e r d o t a l são fabu-


143
mo cargo , em 6 6 d.C.
,55

losos c o m p a r a d o s com a situação miserável dos sacerdotes


c o m u n s . C o n v é m t a m b é m l e m b r a r que essa nobreza pa- 144. b . Pes. 57* bar,; T o s . Meu. X I I I 21 (533, 36).
rece interessar-se sobremaneira pelo tesouro do T e m p l o , 145. I n f o r m a ç ã o de meu pai.
colocando seus descendentes nos postos de tesoureiros do 146. V e r supra, p. 1 4 1 , n . 132.
147. b . Yoma 35 b
bar.; cf. Iam. R. 2, 5 s o b r e 2 , 2 (44 a
6).

135. Por ex., 2 M c 4,7-10.24.32. 148. V e r supra, p . 72.


136. D a l m a n , Handwòrterbuck, 368 b n a p a l a v r a qab, 149. O caso d o r o u b o d e t r o n c o s d e s k ô m o r o e m Jericó, c o n t a d o
137. b . Yeb. 6 1 . a
p o r b . Pes. 5 7 b a r . , faz p a r t e desses atos d e violência, c o n f o r m e de-
a

138. O T a l m u d e n ã o faz distinção e n t r e A g r i p a I e A g r i p a II; monstra o contexto.


talvez só c o n h e ç a u m desses dois reis. 150. P o r ex., Vita 3 9 , § 195.
139. Ant. X X 8, 8, § 181; cf. 9, 2, § 206. 1 5 1 . b . Pes. 5 7 b a r . ; T o s . Men. X I I I 21 (533, 3 6 ) .
a

140. Ant. X X 9, 2, § 207; cf. 8, 8, § 181. 152. 'Ammarkai; SchÜrer, I I , 326s: f u n c i o n á r i o d o t e s o u r o , ver
141. b . Pes. 5 7 b a r .
a infra, p . 230s.
142. Kohen hedyôt em o p o s i ç ã o a g dôlê
e
k hünnah.
e
153. Ant. X X 6, 2 , § 1 3 1 ; cf. B. j . I I 12, 6 § 2 4 3 .
143. Ver a n o t a p r e c e d e n t e . 154. S gan c
ha-kôhanim; cf. S c h ü r e r , I I , 320s.
155. B. j . II 17, 2, § 409; Ant. X X 9. 3 , § 208.
CAPÍTULO II riam recebido, p o r dia, p r i m e i r o 12, depois 24 (e até 4 8 ,
segundo R. Yuda) minas ( = a p r o x i m a d a m e n t e 1 / 8 , 1 / 4 ,
8

A CLASSE MÉDIA 1/2 talento).


Era de p r a x e não entregar o salário no fim do dia
a n ã o ser q u e fosse exigido; n o r m a l m e n t e , entregavam-no
d e n t r o das doze o u vinte e q u a t r o h o r a s após o término
do t r a b a l h o . E m c o n t r a p a r t i d a , no T e m p l o , seguiam es-
9

A o lado do alto negociante que importa de longe as c r u p u l o s a m e n t e a prescrição veterotestamentária (Dt 2 4 ,


m e r c a d o r i a s e as estoca em grandes entrepostos, temos o 15) q u e o r d e n a v a pagar o salário no m e s m o dia . Sem 10

p e q u e n o comerciante que explora sua loja n u m dos merca- d ú v i d a , usufruir dos grandes benefícios do T e m p l o era tido
dos '. Além desses, os artesãos, q u a n d o proprietários d e por falta grave. Mas é certo, t a m b é m , q u e o T e m p l o tinha
oficinas e n ã o t r a b a l h a n d o como a s s a l a r i a d o s , fazem par- 2
vistas largas na maneira de conduzir os assuntos e assu-
te dessa classe média. N a d a encontramos sobre explora- m i r a m e d i d a s d e caráter social ; tal a t i t u d e o dignifica.
11

ção industrial. E m b o r a estejamos nos referindo à Jerusa- O comércio hoteleiro era m a n t i d o , quase exclusiva-
12

lém do t e m p o de Jesus, isto vale, de m o d o geral, p a r a a m e n t e , pelos peregrinos. Na maioria das vezes, alojavam¬
Jerusalém jordânica atual. -se em grandes áreas análogas às dos kans atuais, o n d e ha-
São escassos os d a d o s precisos sobre a situação fi- via lugar p a r a os animais de carga e de tiro. N a primeira
n a n c e i r a dessa classe. N a d a p o d e m o s deduzir de certos Páscoa , segundo opinião d o m i n a n t e , n a segunda
13
tam- 14

exageros que lemos. Por exemplo: u m c i d a d ã o de Jerusa- b é m , — festa das T e n d a s — e q u a n d o traziam as pri-
J í

lém enchera u m celeiro de denários ; u m alfaiate da ci-


3 4
mícias , era-se obrigado a passar a noite na p r ó p r i a Je-
,b

d a d e d i s p u n h a de 2 kor (mais ou menos 790 l i t r o s ) d e 5


rusalém, mas certas dificuldades técnicas levaram a for-
d e n á r i o s . O u t r a informação n ã o nos esclarece muito m a i s :
6
mar "a g r a n d e J e r u s a l é m " : Betfagé foi englobada no dis-
c o m o podemos seguramente afirmar, gastavam-se as eco- trito o n d e se p o d i a passar a noite . N a v e r d a d e , essa ate-
l7

n o m i a s na c o m p r a de coifas e enfeites ; já n a q u e l a é p o - 7
n u a n t e n ã o era válida p a r a o oitavo dia da festa das Ten-
ca, era costume furar moedas e com elas fazer a d o r n o s das (servia apenas p a r a q u a n d o se traziam as primícias),
p a r a a cabeça. Concluímos, sem a m e n o r dúvida, que essa de q u a l q u e r forma, ao que p a r e c e , os peregrinos t o m a v a m
classe gozava de maiores o p o r t u n i d a d e s na m e d i d a e m a refeição pascal na própria c i d a d e . 18

q u e estava ligada ao T e m p l o e aos peregrinos. N o T e m p l o ,


funcionários e operários recebiam alta r e m u n e r a ç ã o ; po- 8. b . Y orna 3 8 . a

demos nos lembrar do relato — um tanto e x a g e r a d o , tal- 9. B. At. I X 1 1 4 2 ; Billerbeck, I, 832.


vez ~— segundo o qual os padeiros que faziam os pães d a 10. Ánt. X X 9, 7, § 220.
1 1 . V e r supra, p . 23 e 4 1 .
proposição e os fabricantes de perfume p a r a q u e i m a r , te- 12. V e r supra, p . 8 8 .
13. b . Pes. 9 5 e passim; cf. D a l m a n , Itinêraires,
b
330.
14. T o s . Pes. V I I I 8 (168, 3 0 ) ; p a r a a s e g u n d a P á s c o a , v e r supra,
1. O s p a p i r o s egípcios d i s t i n g u e m os hémporoi (altos n e g o c i a n t e s )
e os kápetoi ( p e q u e n o s c o m e r c i a n t e s ) , Mitteis-Wilcken, 1/1, 268. p . 110.
15. b . Sukka 47 . a

2. Igual d i s t i n ç ã o e n t r e os egípcios d a q u e l a é p o c a , M i t t e i s - W i l c k e n , 16. b . Sukka 4 7 bar. b

1 / 1 , 260. 17. V e r supra, p . 89.


3. •iinta. 18. Mak III 3 o r d e n a q u e flagelem a q u e l e q u e " c o m e ' s a n t i d a d e s
4. b. B. B. 1 3 3 . b

leves' fora dos m u r o s [de J e r u s a l é m ] " ; a P á s c o a fazia p a r t e dessas


5. Ver infra, p . 182, n . 70. "coisas s a g r a d a s t e m p o r á r i a s " . P a r a explicar tal p r e s c r i ç ã o , n ã o é ne-
6. Lam. R. 1, 2 s o b r e 1, 1 ( 1 8 6 ) . b

cessário s u p o r a existência real desses m u r o s ; 'Ed V I I I 6 confirma¬


7. Kel. X I I 7; cf. Lam. R. 2, 20 s o b r e 2, 12 ( 4 8 a
2). -nos. S e m d ú v i d a , bômah designa o c o n t r a f o r t e d a c i d a d e d e Jerusa-
U m a prescrição proibia alugar casas em Jerusalém, A vinda d e peregrinos constituía i m p o r t a n t e fonte de
p o r serem p r o p r i e d a d e comum de todo Israel; essa inter- r e n d a p a r a o comércio de gêneros alimentícios e p a r a as
dição devia ser observada pelo menos por aqueles q u e ti- profissões responsáveis pelo reabastecimento. C o n v é m lem-
n h a m a convicção de que Jerusalém não fora distribuída b r a r , em primeiro lugar, os sacrifícios que o peregrino de-
às tribos, mas mantinha-se p r o p r i e d a d e c o m u m de Israel. veria oferecer; v a r i a v a m conforme o fito d e c a d a peregri-
Mais ainda: segundo diz R. Eleazar b e n Sadoc, e d u c a d o n a ç ã o . Para a festa Pascal, era o cordeiro p a s c a l e os 23

em Jerusalém , não se podia sequer alugar lugares p a r a


19
sacrifícios e s p o n t â n e o s ; a esses, juntavam-se os q u a t r o co-
24

deitar. D e que m o d o p r o c e d i a m , p o d e m o s ver pela conti- pos d e vinho , as ervas amargas ~ , as geléias, o pão ázi-
25 ü

n u a ç ã o do texto: " O s estalajadeiros t o m a v a m compulso- m o . As despesas extras feitas pelos p e r e g r i n o s com alimen-
riamente a pele dos animais oferecidos em sacrifício [pelos tação e r a m ainda maiores do que essas despesas exigidas
seus hóspedes] ". Diz A b b a y é : " P o d e m o s concluir ser uso pelos deveres religiosos. C o m palavras entusiásticas, Fílon
deixar o c â n t a r o e a pele ao seu h o t e l e i r o " . A b b a y é re- 20
enaltece os dias d e festa na C i d a d e santa: no m e i o d e u m a
vive o costume de seu t e m p o (após 300 d . C ) , o direito existência agitada, são m o m e n t o s de trégua q u e p e r m i t e m
de os estalajadeiros hierosolimitanos g u a r d a r e m a pele das às pessoas libertarem-se de q u a l q u e r p r e o c u p a ç ã o e disten-
vítimas. À custa delas, g a n h a v a m grandes q u a n t i a s , por- derem-se u m p o u c o . M a s , p a r a que o prazer fosse com-
2 7

que a pele, pelo menos a da ovelha egípcia, valia de 4 a 5 pleto, e r a m precisas fartas refeições, a b u n d a n t e m e n t e re-
sela', isto é, de 16 a 20 d e n á r i o s . A título de compara-
21
g a d a s d e b o m v i n h o . " B a n q u e t e a v a m - s e d u r a n t e sete dias
ção, será útil dizer que o serviço de u m diarista valia, e n ã o r e c u a v a m diante das maiores d e s p e s a s " ; é assim que
em média, 1 dcnário por dia. Eventualmente, podia-se par- Josefo descreve a festa pascal do povo . C o n v é m acres- :N

ticipar da refeição pascal de seu hospedeiro, em troca de centar que essa espécie de luxo era n ã o só justificada, mas
p a g a m e n t o ; se o 14 nisân caía n u m s á b a d o , deixava-se a obrigatória. Trata-se d a q u e l e dever, já m e n c i o n a d o , de gas-
capa como garantia e ajustavam-se as contas após a festa , n
tar e m Jerusalém todo o dinheiro do segundo dízimo; de
acordo c o m a Eei (Dt 14,26) devia-se c o m p r a r , c o m tal
l é m , m a s , e m Meti. V I I 3 e a l h u r e s , o t e r m o designa o c o n t r a f o r t e , i m p o r t â n c i a , gado, bebida fermentada e t u d o q u a n t o se
c e r t a m e n t e fictício de líetfagé. E talvez p e r m i t i s s e m t a m b é m c o m e r desejasse. A M i s h n a diz q u e o segundo dízimo deve ser
29

a vítima pascal n o p e r í m e t r o da " g r a n d e J e r u s a l é m " ; c o m efeito, l e m o s


e m b . Pes. 9 1 : imola-se u m c o r d e i r o p a r a u m prisioneiro q u e está e m
a e m p r e g a d o p a r a comer, beber e perfumar-se. Josefo acres-
p r i s ã o pagã e c o m a g a r a n t i a dc sair dela (cf. Pes. V I I I 6 ) , n o caso centa: p a r a " b a n q u e t e a r " . De m o d o particular, ouvimos
30

e m q u e essa p r i s ã o esteja d e n t r o dos " m u r o s " de Betfagé. M a s n ã o


era d e regra c o m e r a vítima pascal fora do c o n t r a f o r t e de J e r u s a l é m .
dizer q u e se d a v a i m p o r t â n c i a m a i o r à c a r n e , c o m o a i n d a
S a b e m o s m e s m o q u e os e s c r u p u l o s o s o b s e r v a d o r e s d a Lei (os " c o m -
p a n h e i r o s " , baberim) c o m i a m as " s a n t i d a d e s l e v e s " n ã o e m J e r u s a l é m
em geral, m a s n u m a p a r t e s o m e n t e ; das d u a s z o n a s d a c i d a d e cha- 23. Q u a n t o ao n ú m e r o das v í t i m a s p a s c a i s , ver supra, p . 118.
m a d a s "os dois bis'ín", eles rejeitavam a p a r t e s u p e r i o r e c o n s i d e r a - 2 4 . H o l o c a u s t o s e sacrifícios d e c o m u n h ã o , Hag. I 3.
v a m s o m e n t e c o m o válida a p a r t e inferior ( T o s . Sanh. I I I 4; 418, 2 1 ) .
N o q u e diz r e s p e i t o à p r á t i c a , atemo-nos, pois, e c o m r a z ã o , à refei- 25. Pes. X I .
ção pascal de Jesus (os Sinóticos a p r e s e n t a m a Ceia c o m o u m a re- 26. O s c o m e r c i a n t e s a c i m a citados ( p . 51) g r i l a v a m às p e s s o a s :
feição p a s c a l ) ; Jesus t o m o u - a d e n t r o de Jerusalém, se b e m q u e t e n h a " I d e ! c o m p r a i as especiarias c o n f o r m e a L e i " ( j . Pes. X 3 . 3 7 9 I H / 2 , d

p a s s a d o a n o i t e n o distrito d a " g r a n d e J e r u s a l é m " (ver supra, p . 8 9 s ) . 150). S e g u n d o a explicação m u i t o clara d c I . K a h a n , é preciso v e r


n o s íagg rê hàrak n e g o c i a n t e s de grãos t o r r a d o s ; n a e x p l i c a ç ã o de R a s h i
e

19. Pode-se t r a t a r de Eleazar, o A n c i ã o , ver S t r a c k , Einleitung, (cf. H i r s c h e n s o h n , 1 3 3 ) : " c o m e r c i a n t e s d e treliças p a r a j a n e l a s " , es-
124 e 130. p e r a r í a m o s o p l u r a l bãrakkin. N o t e m p o da P á s c o a , os v e n d e d o r e s de
20. b . Yoma 1 2 bar.; b . Meg. 2 6
a a
g u l o s e i m a s t o r r a d a s ou de o u t r a s espécies, q u e a i n d a h o j e fazem p a r t e
2 1 . K r a u s s , Taltn. Arch., I I , 113; s o b r e o g r a n d e valor das peles, d o c e n á r i o d e J e r u s a l é m , a c r e s c e n t a v a m o vencia de especiarias.
v e r Fílon, De spec. leg. I, § 151. 2 7 . De spec. leg. I, § 69; cf. Ant. X V 3 , 3 , § 50 e passim.
22. Shab. X X I I I I; s e g u n d o b . Shab. 1 4 8 , só p o d e r i a ser a d m i s í -
b

2 8 . Ani. X I 4 , 8, § 110.
sível o sentido q u e a c a b a m o s de e n u n c i a r .
2 9 . M. Sh. I I 1.
3 0 . Ani. I V 8, 8, § 2 0 5 ; 8, 2 2 , § 240.
e n t r e os á r a b e s cie nossos dias: " E n q u a n t o d u r o u o santuá- mes (alho , alforva , cigirão ) e c o n d i m e n t o s p a r a coc-
45 46 47

r i o , n ã o h a v i a alegria sem c a r n e " . As pessoas se p r o v i a m


3 l

ção . C o m o gulodices, davam-se às crianças nozes e amên-


48

d e caça, especialmente d e veados ou carnes de a ç o u g u e , n

doas t o r r a d a s . Podia acontecer que trouxessem o segundo


49

p o d i a m escolher à v o n t a d e entre u m a m a t a n ç a profana o u dízimo parcialmente em gêneros; e n t r e t a n t o , era de regra


oferecer u m sacrifício d e c o m u n h ã o , n o q u a l as partes gor-
trazê-lo em dinheiro e despendê-lo em Jerusalém . Muitas 50

durosas e r a m levadas ao altar e o a n i m a l ficava p a r a o


vezes depositavam-no n u m p e q u e n o r e s t a u r a n t e ou loja
proprietário . 33

o n d e se c o m p r a v a m pratos feitos, e gastava-se o equiva-


lente . 51

Teria sido costume, por exemplo, oferecer t a m b é m ,


na noite de Páscoa, u m sacrifício de festa (sacrifício d e As outras profissões da cidade eram favorecidas igual-
c o m u n h ã o ) ; comiam-no antes ou depois, se as rações da mente em seus negócios graças à presença dos peregrinos.
vítima pascal fossem muito pequenas, Deixava, p o r é m , de Para c u m p r i r o preceito que r e c o m e n d a v a alegria d u r a n t e
ser uso, se a vítima pascal desse fartamente de comer . 34 a festa, necessário se t o r n a v a dar t a m b é m prazer às mu-
Com freqüência, os fiéis se r e u n i a m p a r a c o m p r a r , j u n t o s , lheres. Para a Páscoa, os j u d e u s de Babilônia ofereciam
u m animal. Somente assim p o d e m o s explicar u m trecho às esposas vestidos multicores, e os da Palestina, vestidos
da Mishna: a escola de S h a m m a i exige que se gaste 2 ma'ah de linho b r a n c o . Essas c o m p r a s se efetuavam muitas ve-
52

de prata p a r a o holocausto da festa (os holocaustos d a q u e - zes na p r ó p r i a Cidade santa. Supõe-se q u e os peregrinos
les q u e n ã o d i s p u n h a m de dinheiro p a r a oferecê-lo e que levavam p a r a casa muitas recordações de Jerusalém . 53

n ã o p o d i a m ser pagos com o segundo dízimo) e 1 ma'ah Além disso, a generosidade traduzia-se e m presentes p a r a
de prata p a r a o sacrifício da c o m u n h ã o ; os hilelitas inver- o T e m p l o ; levavam objetos relacionados c o m as profissões
tiam essas duas q u a n t i a s . Por 1 ma'ah ( = 1/6 de denã-
35 exercidas na cidade.
r i o ) , n ã o se conseguia u m a n i m a l inteiro. As famílias
36
E n t r e os da classe m é d i a , devem-se m e n c i o n a r os sa-
q u e c o n t a v a m c o m inúmeros comensais viam-se obrigadas cerdotes comuns. A maioria deles m o r a v a em diferentes
a oferecer mais sacrifícios de c o m u n h ã o ; em c o n t r a p a r t i d a , partes do país, divididos em vinte e q u a t r o classes sacer-
o n d e h a v i a p o u c a s b o c a s e maior riqueza, ofereciam m a i o r dotais. D e n t r e esses, aqueles que residiam n a p r ó p r i a cida-
n ú m e r o de h o l o c a u s t o s C o m o b e d i d a , c o m p r a v a m vi- de p a r e c e m ter sido pessoas abastadas e cultas. Josefo per-
n h o q u e a d o c i c a v a m c o m m e l , p o r vezes, e z u r r a p a .
38 3 9 4P
tencia a uma rica família sacerdotal, residente de Jerusa-
D e s p e n d i a m o segundo dízimo t a m b é m em p e i x e , azei- 41
lém há várias g e r a ç õ e s . Era razoavelmente elevado o
54

t e , frutas (azeitonas, u v a s , nozes, a m ê n d o a s ) , legu-


42 4 3 eA
n ú m e r o de sacerdotes hierosolimitanos q u e , como os es-
cribas, possuíam u m a boa c u l t u r a . Podemos citar R. Sadoc
3 1 . b . Pes. 109 a
bar. (por volta de 50 d.C.) e seu filho E l e a z a r ; H a n a n y a ,
55 56

32. M. Sh. I 3 . 4; t i l 11
33. M. Sh. I 5, 4; Ani. I V 8, 8, § 205. 45. ibid. I I 1.
34. Pes. V I 3 . 46. M. Sh. II 3 .
35. Hag. I 2-3. 47. Ibid. I I 4.
36. Billerbeck, I, 293. 48. Ibid. II 1.
37. Hag. I 5. 49. b . Pes. 1 0 8 - 1 0 9 b a r .
b a

38. M. Sh. 1 3 , 4 ; I I I 12; b . P e s . 1 0 9 b a r .


a 50. M. Sh. I 5-6.
39. Aí. Sh. II 1. 51. Ibid. I I 9-10.
40. Jbid. I 3 . 52. b . Pes. 1 0 9 b a r .
a

41. Ibiã. I I 1. 53. V e r supra, p . 18.


42. Pes. V I I 3 . 54. Vita I, § 1.6, ver infra, p , 155.
43. Aí. Sh. I 4. 55. Ver infra, p . 382.
44. Jbid. I 3 . 56. Pes. I 6 e passim.
c o m a n d a n t e d o T e m p l o (mais o u menos 7 0 ) ; Eliézer b e n
sumo de S c h ü r e r ; esse q u a d r o levaria a p e n s a r q u e os
63

Hircano 57
(90, a p r o x i m a d a m e n t e ) ; Gozoros, fariseu e sa-
sacerdotes t i n h a m excelentes condições de v i d a . Quais
cerdote q u e , " e m 66-67 fez p a r t e de u m a e m b a i x a d a na
eram, p o r é m , as q u a n t i a s efetivamente p e r c e b i d a s ? O s fiéis
G a l i l e i a ; R. Shimeon b e n N a t h a n a e l e o sacerdote Yosé,
58

observadores da Lei, nós o sabemos, p a g a v a m muito es-


a l u n o s de R. Y o h a n a n b e n Z a k k a i . T a l v e z d e v a m o s tam-
5 0

c r u p u l o s a m e n t e certas taxas, mas constituíam u m n ú m e r o


b é m ver sacerdotes-escribas na familia hierosolimitana,
r e d u z i d o . Q u a l a atitude do povo em g e r a l ? Às altas taxas
c h a m a d a R a b b a n Y o h a n a n . C o n t a m que havia u m a famí-
do E s t a d o acrescentemos as pesadas e i n ú m e r a s contribui-
lia em Jerusalém cujos filhos m o r r i a m ao atingir 18 anos.
ções p a r a o culto e os sacerdotes. Concluídos os cálculos,
Aconselharam-se c o m Y o h a n a n b e n Z a k k a i ; ele s u p ô s tra-
reconhecemos improvável que a m a i o r i a do povo tenha
tar-se de descendentes de Heli nos quais se c u m p r i a a mal-
pago tais taxas, conforme as prescrições. Com efeito, temos
dição lançada sobre esse sacerdote ( I S m 2,33). Recomen-
conhecimento de i n ú m e r a s queixas a este r e s p e i t o . U m 64

dou-lhes dedicarem-se à Lei; tal atitude afastaria a maldição.


tratado inteiro da Mishna é consagrado aos produtos co-
65

P a r a desviá-la, definitivamente, a família t o m o u o n o m e


lhidos d may, isto é, produtos colhidos sobre os quais paira
c

de Y o h a n a n . O r a , Heli, sacerdote de Silo ( I S m 1,9),


6 0

u m a d ú v i d a : teriam a r r e c a d a d o o dízimo dos sacerdotes 66

pertencia à família a a r ô n i d a ; seus descendentes e r a m sa-


61

e o segundo dízimo? N a Galileia, conhecia-se, evidente-


cerdotes e, se dermos crédito ao que acabamos de saber,
m e n t e , os dízimos , mas n ã o o a n á t e m a e m benefício dos
6T

e m p a r t e , escribas. E m c o n t r a p a r t i d a , q u a n t o ao s u m o sa-
sacerdotes ou consagração de p r o d u t o s p a r a eles ; Fílon 68 69

cerdote Yoshna b e n G a m a l i e l ter sido r a b i , n ã o nos


62

parece ignorar c o m p l e t a m e n t e a a r r e c a d a ç ã o p a r a os sa-


parece provável, visto o que conhecemos dos sumos sacer-
cerdotes e a expressão que designa as pessoas n ã o instruí-
70

dotes; a fonte dessa afirmação poderia ser u m a falsa iden-


das, 'am ha-'ares, indica aqueles dos quais não se pode
tificação-entre seu p a i e Gamaliel, o conhecido escriba (At
esperar u m a obediência p o n t u a l às prescrições da Lei. Es-
5,34-39;22,3). Q u a n t o aos levitas, e n c o n t r a m o s t a m b é m al-
ses dados todos já nos fazem ver que a obediência às pres-
guns que se distinguiam pela fortuna ou cultura, c o m o
crições legais não é, de m o d o algum, generalizada.
Y o h a n a n b e n G u d g e d a , chefe dos levitas, e Y o s h u a ben
H a n a n y a . P o d e b e m ser q u e o levita B a r n a b é (At 4,36-37), U m fato de g r a n d e importância nos mostra o valor
c o m p a n h e i r o de Paulo e organizador d a primeira v i a g e m das prescrições teóricas: é somente de determinados tribu-
missionária, fizesse igualmente p a r t e desse g r u p o . tos que p o d e m o s constatar com certeza o p a g a m e n t o (nem
assim sabemos em q u e p r o p o r ç ã o ele se e f e t u a v a . . . ) .
A respeito dos emolumentos dos sacerdotes, c o n v é m 1. A q u a n t i d a d e de vítimas que os sacerdotes, ofician-
fazer u m a nítida distinção entre as prescrições e a p r á t i c a . do de tempos em tempos em Jerusalém, recebiam. " N ã o
Q u a n t o às prescrições, p o d e m o s remeter a o excelente re- sabeis que aqueles que d e s e m p e n h a m funções no T e m p l o ,
vivem dos rendimentos do santuário, e aqueles que servem
57. j . Sota I I I 4, 1 9 a
28 ( I V / 2 , 2 6 1 ) . ao altar têm p a r t e no q u e é sobre ele oferecido? fquer
58. Vita 39. § 196s; seu n o m e é, p o r vezes, Y o z a r o s .
59. P. A. II 8. 63. S c h ü r e r , II, 301-312.
60. b. R. H. 1 8 . a 64. P o r ex., P. A. V 8s; Uek. Ex 19,1 ( 2 5 25ss) epar., Schlat¬
c

6 1 . Seu n e t o A q u i t o l ( I S m 14,3) t i n h a u m filho A q u i m e l e t ( I S m ter, Joch. b. Zak., 67 e n . 2.


2 2 , 2 0 ) ; esse ú l t i m o é t i d o c o m o d e s c e n d e n t e de l t a m a r ( l C r 2 4 , 3 ) , 65. D may. e

filho m a i s m o ç o d e A a r ã o ( l C r 2 4 , 1 ; Ex 6 . 2 3 ) . C o n v é m o b s e r v a r 66. O u seja, 1 % d a c o l h e i t a .


q u e , p a r a o l e v a n t a m e n t o das genealogias, o t e s t e m u n h o escriturístico 67. Vita 12, § 6 3 ; 15, § 80.
e r a suficiente p a r a os c o n t e m p o r â n e o s d e Jesus. N ã o c o g i t a v a m de re- 68. Ned, I I 4.
flexões histórico-críticas s o b r e o v a l o r desse t e s t e m u n h o . 69. V e r infra, p . 153, n. 9 0 .
62. V e r supra, p. 142. 70. T rúmah,
e
q u e r dizer, a p r o x i m a d a m e n t e 2% d a colheita,
dizer, as suas v í t i m a s ] ? " , afirma são P a u l o . D o s dois 7 1

dotes chefes fizeram seus servos r e t i r a r e m o dízimo per-


p o m b o s oferecidos por M a r i a e m Jerusalém (Lc 2 , 2 4 ) , o
tencente aos sacerdotes ; na Galileia, seus c o m p a n h e i r o s
80

q u e e r a destinado ao sacrifício expiatório reverteu, c o m o


de e m b a i x a d a r e c e b e r a m o dízimo q u e , como sacerdotes,
s e m p r e , p a r a o s a c e r d o t e . Algumas p e q u e n a s informa-
11

era-lhes d e v i d o ; ele p r ó p r i o , e m b o r a fosse sacerdote, re-


ções colhidas aqui e acolá, têm, inegavelmente, u m c u n h o
nunciou a tal dízimo . A epístola aos H e b r e u s confirma
81

d e historicidade, como, p o r exemplo, as que dizem res-


o q u e sabemos sobre o dízimo sacerdotal: " O r a , os filhos
peito ao sorteio das porções de vítimas p a r a os sacerdo-
d e Levi, c h a m a d o s ao sacerdócio, devem, segundo a Lei,
tes , à intervenção do médico do T e m p l o nos casos d e
B

estabelecer o dízimo p a r a o p o v o " ( H b 7,5). E o Pseudo-


doenças a b d o m i n a i s e o recurso à água do Geon p a r a
7 4

-Hecateu de A b d e r o refere-se aos sacerdotes dos judeus


u

facilitar a digestão dos sacerdotes, q u a n d o ingeriam ex-


como sendo aqueles " q u e recebem o dízimo dos produ-
cessiva q u a n t i d a d e de carne . As peles dos sacrifícios p e l o
7j

tos c o l h i d o s " . F r e q ü e n t e m e n t e o T a l m u d e enfatiza o pa-


p e c a d o , dos sacrifícios de r e p a r a ç ã o e dos holocaustos tam-
g a m e n t o do dízimo aos levitas e n ã o aos s a c e r d o t e s . Ex- 83

b é m valiam c o m o porções das v í t i m a s ; possuímos d a d o s


plica-se através de considerações exegéticas sobre a pres-
concretos de sua distribuição . 76

crição veterotestamentária. N ã o se trata d e índices da prá-


2. Ofereciam-se, igualmente, as primícias d o s p r o d u - tica corrente, pois, noutras passagens o T a l m u d e dá a en-
tos colhidos; é o q u e m o s t r a a descrição sugestiva da p r o - tender q u e , n a realidade, pagava-se o dízimo aos sacerdo-
cissão o r g a n i z a d a n a q u e l a o c a s i ã o , e, antes d e t u d o , o
77

tes. Discutem o motivo por q u e os levitas teriam sido cas-


relato segundo o q u a l o rei Agripa t o m a v a p a r t e nessa
oferenda . 73 tigados c o m a supressão do d í z i m o . N o u t r a passagem 84

falam da arrecadação do dízimo pelo sacerdote Rabi Elea-


3. A terceira taxa p a r a os sacerdotes que p o d e m o s zar b e n Azarya, c o n t e m p o r â n e o de R. A q i b a ; comen- 8 S

notificar é o dízimo dos produtos agrícolas. M a s , fato t a m p r o v e r b i a l m e n t e sobre o sacerdote q u e p e r a m b u l a pe-


curioso, é totalmente omitida nos compêndios da época las e i r a s . C o n t a m , finalmente, que o sumo sacerdote

sobre os emolumentos dos s a c e r d o t e s . Eis o motivo: es- 79


Y o h a n a n (João H i r c a n o , 134-104 a.C.) aboliu a declara-
ses sumários basearam-se u n i c a m e n t e na legislação mosaica ção do d í z i m o ; a explicação rabínica é r a z o á v e l : foi
87 88

e não n a prática. Por Josefo sabemos com certeza q u e o pelo fato de o dízimo n ã o ser mais p a g o aos levitas.
dízimo pertencente aos levitas, segundo a p r e s c r i ç ã o mo-
saica ( N m 18,21-32), era d a d o aos sacerdotes já antes d o Fílon alude a u m dízimo p a r a os s a c e r d o t e s , mas 89

início da guerra judaico-romana em 6 6 d.C. Fornece-nos suas informações nos c o n f u n d e m seriamente. A o lado da-
ele as seguintes informações: p o r diversas vezes os sacer- quele, destinado aos sacerdotes, apresenta o u t r o p a r a os
levitas; além disso, sustenta que os dízimos dos sacerdo-
tes, acrescentados aos p r o d u t o s do solo, estendem-se igual-
71. l C o r 9,13; cf. 10,18; H b 13,10.
72. Ani. I l l 9, 3, § 230. m e n t e ao gado . 90

73. Shab. X X I I I 2.
74. V e r supra, p. 4 1 .
80. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.
7 5 . ARN A c a p . 35, 1 0 5 a
2 4 ; N e u b a u e r . Géogr., 145. 8 1 . Vita 12, § 6 3 ; 15, § 80.
76. b . Pes. 57 a
bar.; cf. b . B. Q . 1 0 9 M 1 0 ; b . Tem.
b
20 . b
82. C i t a d o p o r Josefo, C. Ap. I 22, § 188.
77. Bik. III 1-9. 83. Aí. Sh. V 9; Ter. I V 2 e passim.
84. b . Yeb. 8 6 ; cf. Sota 4 7 - 4 8 .
a b a

78. Bik. I I I 4 ; A g r i p a I ou A g r i p a I I ? 85. b . Yeb. 8 6 . a

79. Ani. I V 4, 4, § 69ss; 8, 2 2 , § 240ss; I I I 9, 1-4, § 224ss; F í l o n , 86. b . Ket. 1 0 5 . b

De spec. leg. I § 131-161; Halla I V 9-11, e a a d i ç ã o a Halla I V 11 n o 87. Aí. Sh. V 15 = Sota I X 10.
ms d e M u n i q u e d o T a l m u d e ( e n c o n t r a m o s v a r i a n t e s e m L. G o l d s c h m i d t . 88. b . Sota 4 7 - 4 8 .
b a

Der babyionische Talmud, t. I, Berlim, 1897 = H a i a , 1933, 310) - b .


S. Q . 1 1 0 . O u t r o s textos r a b í n i c o s em S c h ü r e r , I I , 3 0 1 , n. 6.
b 89. De virt, § 95.
90. Dízimo para os levitas-. De spec. leg. I § 156. D í z i m o para
Por coneguinte, esse dízimo dos sacerdotes, no dizer Podemos, p o r t a n t o , levar em consideração somente
de Fílon, só p o d e ser o segundo do qual fazia p a r t e o dí- essas três espécies de benefício aos sacerdotes. S a b e m o s
zimo dos animais. T a n t o q u a n t o sei, até agora não se de- que grandes c a m a d a s do povo não p a g a v a m , ou faziam¬
finiu o fato. O r a , esse segundo dízimo sempre foi gasto -no de m o d o insuficiente; assim sendo, as taxas destinadas
pelo seu p r o p r i e t á r i o , em Jerusalém. N ã o p o d e m o s , por- aos sacerdotes e muitas outras não e r a m sequer entregues.
t a n t o , atribuir q u a l q u e r valor histórico a essa informação As informações q u e temos da situação financeira deles,
de Fílon. Com efeito; prendia-se ele ao p r ó p r i o texto da confirma essas observações.
Escritura e tudo ignorava q u a n t o à prática. Para julgar d e v i d a m e n t e tal contexto, cometeríamos
u m erro se nos baseássemos na condição do s a c e r d o t e 94

A existência do dízimo dos sacerdotes é, pois, confir-


Flávio Josefo, o escritor. Esse h o m e m recebeu, d u r a n t e
m a d a , mas resta-nos saber desde q u a n d o é pago. A aboli-
muitos anos, esmerada e completa e d u c a ç ã o , quase sem-95

ção do dízimo é a t r i b u í d a ao rabino Y o h a n a n b e n Z a k -


p r e e m Tiberíades ; era p r o p r i e t á r i o de imóveis e pos-
%

k a i — o q u e nos leva às últimas décadas anteriores a


9 1

suía terras em Jerusalém, certamente a oeste da c i d a d e . 97

70 d.C. — e ao sumo sacerdote João H i r c a n o . O fato 91

E já pela sua origem, pertencia à mais alta linhagem, na


de, antes de 100 a . C , o Pseudo-Hecateu falar do dízimo
p r i m e i r a das 2 4 classes sacerdotais ; deste m o d o , Josefo
%

dos sacerdotes é u m argumento em favor da segunda in-


não serve de exemplo p a r a a condição geral dos sacerdo-
formação (João H i r c a n o ) . Como sabemos, os fiéis obser-
tes c o m u n s . A g r a n d e m a i o r i a vivia p o b r e m e n t e . Q u a n d o
vadores da Lei e n t r e g a v a m o dízimo m u i t o escrupulosa-
suas eiras foram p i l h a d a s , u m a p a r t e deles m o r r e u de
m e n t e ; pagavam-no até m e s m o das plantas mais insignifi-
fome segundo o relato talvez u m pouco exagerado de
cantes como a hortelã, e n d r o , c o m i n h o etc. (Mt 2 3 , 2 3 ; Lc
losefo. C o m termos escolhidos, Fílon pinta as grandes ren-
11,42). Assim como de todas as suas c o m p r a s (Lc 1 8 , 1 2 ;
das dos sacerdotes p a r a realçar a excelência da Lei mo-
em produtos do solo, é b o m acrescentar). Conhecemos essa
saica. Ele mesmo, e n t r e t a n t o , deveria reconhecer: os sa-
última cláusula pela oração do fariseu n a p a r á b o l a do fa-
cerdotes gozariam até do supérfluo, se todos os fiéis pa-
riseu e do p u b l i c a n o ; vigorava, sem d ú v i d a , pois, n e m
gassem regularmente suas taxas; mas a indiferença de u m a
sempre se podia saber se o p r o d u t o r já p a g a r a , na forma
p a r t e do povo foi s e m p r e a causa d a p o b r e z a e m q u e
prescrita, o dízimo sobre os produtos c o l h i d o s . 93

viviam °. 10

os sacerdotes s e g u n d o Fílon, a r r e c a d a ç ã o t a m b é m s o b r e o g a d o : De
virt., § 9 5 . É i n t e r e s s a n t e c o m p a r a r De spec. leg. I § 131-144 c o m a
p a s s a g e m citada n a n o t a p r e c e d e n t e . E m a m b o s os casos temos u m a
lista dos r e n d i m e n t o s dos s a c e r d o t e s ;
De spec leg. I , § 131-144 De virt., § 95
Arrecadação sobre a massa
T a x a s o b r e as posses Primícias dos produtos colhidos
em p r o d u t o s c o l h i d o s
Primogênitos dos animais Primogênitos dos animais
Taxa sobre a produção D í z i m o dos p r o d u t o s c o l h i d o s 94. Vita 15, § 80.
de colheitas e do g a d o e do gado 95. Vita 2, § 7ss.
A c o m p a r a ç ã o m o s t r a q u e a taxa s o b r e as posses c o r r e s p o n d e aos 96. Vita 53, § 274.
bikkurím; o d í z i m o ( " p a r a os s a c e r d o t e s " , n a r e a l i d a d e o s e g u n d o dí- 97. Vita 76, § 422; após a d e s t r u i ç ã o de J e r u s a l é m , n a p a r t e oeste
z i m o [ver infra, p . 157]) é c o n s i d e r a d o c o m o u m a taxa s o b r e a p r o -
d a c i d a d e e n o s a r r e d o r e s , e n c o n t r a v a - s e o c a m p o d a 10- legião (B. /'.
d u ç ã o . Conclui-se, enfim, q u e Fílon d e s c o n h e c e a e
t rúmah.
V I I 1, 2, § 5) d e q u e se refere Vita 76, § 422.
9 1 . T o s , Sota X I I I 10 (230, 3 ) , Schlatter, foch. b. Zak., 29, n . 2 .
98. Vita I. § 2.
92. M. Sh. V 15 = Sota I X 10.
93. C o m o u t r a s p a l a v r a s , caso n ã o se tratasse de p r o d u t o s e
d may. 9 9 . Ant. X X S, 8, § 1 8 1 ; 9, 2 , § 2 0 7 .
100. De spec. leg. 1, § 153-155.
CAPÍTULO III ó b u l o da viúva: u m c o n h e c i m e n t o s o b r e n a t u r a l permite
reconhecer o valor do dom feito pela viúva. A respeito
OS POBRES d e p o b r e s , n ã o temos à nossa disposição elementos garan-
tidos. E n t r e t a n t o , mesmo q u e gostássemos de ter maiores
indicações, as fontes são suficientes p a r a esboçar u m qua-
dro de como viviam as c a m a d a s p o b r e s .
Entre essas, é preciso distinguir aqueles que g a r a n t i a m
N ã o possuímos n e n h u m p a p i r o p a l e s t i n e n s e ' . P a r a sua subsistência pelo t r a b a l h o e os que viviam, em parte
conhecer as c a m a d a s pobres da p o p u l a ç ã o , ficamos, pois, ou totalmente, da ajuda alheia.
reduzidos às fontes literárias. O r a , tudo o que se refere à
transmissão de p o r m e n o r e s , deixa muito a desejar. Sem
dúvida ouvimos falar de u m a viúva p o b r e de Jerusalém,
cujos meios de subsistência não passam de 2 lepia (= 1/4 A. ESCRAVOS E DIARISTAS
de asse), isto é, de alguns centavos que não deviam bastar
p a r a sua m a n u t e n ç ã o diária ; deitou-os no cofre do T e m -
2

plo . O u t r a , só d i s p u n h a de u m p o u c o de farinha p a r a a
3
Muitos papiros confirmam o comércio de escravos
oferta alimentar, fato esse q u e motivou comentário desai- n a Palestina d o século I I I antes d e nossa e r a ; o estrado 7

roso por p a r t e do sacerdote em exercício \ O u t r o p o b r e de pedra p a r a a venda pública dos escravos é uma prova 8

p r o c u r a v a pegar todo dia q u a t r o rolas e levava duas ao p a r a a Jerusalém do t e m p o de Jesus. O s escravos não re-
T e m p l o . Assim fez até mesmo no dia em q u e o rei Agripa presentaram g r a n d e papel na economia r u r a l ; é o que de-
quis oferecer mil sacrifícios e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , p r o i b i u d u z i m o s das informações rabínicas e n e o t e s t a m e n t á r i a s , ,;

que houvesse o u t r o s . N ã o é garantida, p o r é m , a histori-


5
assim como dos papiros e g í p c i o s . E n c o n t r a m o s escravos,
10

cidade desses relatos. Possuímos, com efeito, u m texto sobretudo na cidade, como domésticos: m e s m o aí não são
budista análogo que se relaciona sobretudo com a histó- m u i t o n u m e r o s o s , salvo, por exemplo, na corte de H e r o d e s .
ria do óbulo da viúva; outro texto muito se assemelha à A M i s h n a menciona u m e u n u c o hierosolimitano "; era tal-
história do p o b r e que pegava as rolas . N o segundo caso, 6
vez u m servo de h a r é m . Diversas vezes se e n c o n t r a m es-
u m sonho esclarece o sacerdote sobre o valor da oferta cravos libertos. " T u a filha é núbil, liberta teu escravo e
alimentar da m u l h e r ; no terceiro caso, igualmente, u m so- casa-o c o m e l a " , é o q u e repetem c o m o u m p r o v é r b i o
n h o informa ao rei o valor das rolas oferecidas. O r a , é local . n

u m tema que ressalta de m o d o especialmente claro na tra- U m escravo liberto t r a b a l h a p a r a T o b i a s , médico de


d u ç ã o chinesa do texto b ú d i c o , semelhante ao relato do Jerusalém ' \ n o tempo de Shemaya e A b t a l i ã o , d u r a n t e o

7. Papiri greci e latini (Pubblicazioni delia Società italiana per la


1. Trata-se de d e s c o b e r t a s em Q u m r ã e n o w a d i M u r a b b a ' â t , as-
sim c o m o n o l a d o sudeste do m a r M o r t o e n o w a d i F a r ' a h . Infeliz- ricerca dei papiri greci et latini in Egitto), v o l . I V , F l o r e n ç a , 1917,
m e n t e n ã o n o s fornecem indicações s o b r e a J e r u s a l é m a n t e r i o r a 70 n. 406.
d.C. 8 . V e r supra, p. 5 4 .
2. A r a ç ã o de p ã o d i á r i a d i s t r i b u í d a aos p o b r e s , g a r a n t i n d o - l h e s 9. N a s p a r á b o l a s de Jesus q u e se p a s s a m n o c a m p o , os emprega-
e s t r i t a m e n t e o i n d i s p e n s á v e l , já c u s t a v a 2 asses (ver infra, p . 1 7 3 ) . dos e r a m , c o m o o m o s t r a M t 20,1-16, o p e r á r o s a l u g a d o s p o r u m tem-
3. M c 12,41-44; Lc 21,1-4. p o b a s t a n t e longo (cf. B. M. I X 11-12).
4. hv. R. 3, 5 s o b r e 2, 1 ( 9 1 8 ) . a
10. M i t t e i s - W i l c k e n , 1/1, 260 e 274.
5. Ibiã. 9 5.
a
J l , Yeb. V I I I 4 .
6. H . H a a s , " D a s Scherflein der Witwe" und seine Entsprechung 12. b . Pes. 1 1 3 . a

im Tripitaka, Leipzig, 1922. 13. R. H. I 7.


reinado de H e r o d e s , o G r a n d e . D ã o de beber as águas da d o a m o e do escravo não teria sido possível p a r a os j u d e u s
maldição (Nm 5,11-31) a u m escravo hierosolimitano, li- observantes. Só m u i t o s u m a r i a m e n t e p o d e r í a m o s considerar
berto . Afirmou-se q u e , já d u r a n t e o segundo p e r í o d o do
14
os libertos c o m o prosélitos, salvo, p o r e x e m p l o , na corte
estado judaico (a p a r t i r da época m a c a b a i c a ) , era impos- o n d e p o u c o se p r e o c u p a v a m c o m considerações religiosas.
sível p a r a u m judeu de nascença tornar-se escravo de o u t r o É o que p r o v a m os fatos acima n a r r a d o s : aconselhar q u e
judeu ' . E n t r e t a n t o , os textos invocados nesse sentido são,
5 16
se case a filha c o m u m escravo liberto. P o r t a n t o , n a maio-
manifestamente, afirmações teóricas; n ã o h o u v e escravos ria dos casos torna-se impossível a constatação d a origem
j u d e u s , p r e t e n d e m elas, a n ã o ser e n q u a n t o durou o ano d o escravo o q u e , ao final das c o n t a s , p o u c o i m p o r t a .
jubilar. O b s e r v a m o s que o Antigo T e s t a m e n t o leva em con- O s diaristas e r a m mais n u m e r o s o s que os escra-
sideração a escravidão dos judeus de nascença ; q u e a li- 17
vos. É diarista aquele h o m e m alugaâo p o r u m rico hiero-
teratura r a b í n i c a fala freqüentemente de escravos j u d e u s solimitano c o m o c u r s o r . O s diaristas g a n h a v a m u m a mé-
23

e delimita sua situação jurídica em relação à dos escravos dia de 1 d e n á r i o , c o m refeição \ O p o b r e q u e vivia a
14 2

pagãos . N a d a disso prova ainda que a situação no t e m p o


1S
caçar p o m b o s pegava, c a d a dia, 4 rolas. D i a r i a m e n t e ofe-
de fesus correspondesse a esses dados. recia d u a s e m sacrifício . O preço de 1/8 d e d e n á r i o a
2o

Para penetrarmos naquele contexto, devemos observar rola e m JerusaJém , r e p r e s e n t a u m g a n h o diário de 1/4
21

que Josefo supõe em vigor, p a r a a época de H e r o d e s , o d e d e n á r i o . Considerava-se esse g a n h o c o m o n o t o r i a m e n t e


G r a n d e , a prescrição veterotestamentária (Ex 2 2 , 2 ) , segun- f r a c o . Catastrófica a situação d e u m diarista,
28
quando
do a qual podia-se vender como escravo o judeu ladrão que não e n c o n t r a v a t r a b a l h o ; foi o que aconteceu a HUel, e m
n ã o estivesse e m condições de fazer a restituição d e v i d a . Jerusalém . 29

Josefo confirma, efetivamente, a ratificação pelo r e i des- 1 9

sa p e n a l i d a d e . Além do mais, convém dizer que é secun-


dária a questão de saber se havia escravos de o r i g e m
judaica, pois, na maior parte das vezes, os escravos pa- B A PARTE DA POPULAÇÃO
gãos recebiam a circuncisão e, por conseguinte, tornavam¬ AMPARADA P O R AUXÍLIO PUBLICO
-se j u d e u s . Foi então d e t e r m i n a d o o tipo de imolação
20

imposto aos e s c r a v o s ' . Encontramo-los a oferecer d u a s


2

vítimas pascais nos átrios dos sacerdotes; u m a por si e ou- A alta percentagem da p o p u l a ç ã o que vivia princi-
tra p o r seu senhor . De o u t r o m o d o , a vida em c o m u m
12
p a l o u totalmente de auxílios constituí u m a característica
d e Jerusalém. Convém m e n c i o n a r , e m p r i m e i r o lugar, os
14. 'Ed. v 6. escribas. Era-lhes proibido receber q u a l q u e r r e m u n e r a ç ã o
15. K r a u s s , Talm. Arch., I I , 8 3 . pela sua atividade . O s evangelhos m o s t r a m que essa pres-
<0

16. b . 'Ar. 2 9 e p a r . ( b . Qid. 6 9 ; b . Git. 6 5 ) .


a a a

crição vigorava n o t e m p o de Jesus: " d e graça recebestes,


17. Ex 21,2; Lv 25,39.47 ( i s r a e l i t a ) ; Ex 21,3 ( e s p o s a ) ; 21,6 (jo-
v e m ) ; 22,2 ( l a d r ã o ) . d e graça d a i . N ã o procureis o u r o n e m p r a t a , nem cobre
18. O e s c r a v o j u d e u é c h a m a d o 'ebed c o m o o e s c r a v o p a g ã o . D o
p o n t o de vista j u r í d i c o , o escravo j u d e u é c o m p a r a d o aos filhos m a i o - 2 3 . b . Ket. 6 7 b a r .
b

r e s ; o e s c r a v o p a g ã o aos filhos m e n o r e s (B. Aí. I 5; 'Ar. VIIT 4s; 2 4 . M t 20.2.9; cf. T b 5,15: o c o m p a n h e i r o d e viagem d e Tobias
M. Sh. I V 4 ) .
19. Ant. X V I 1, 1, § l s s . r e c e b e u 1 d r a c m a p o r dia, a l é m d o s u s t e n t o .
20. T i n h a m u m a n o p a r a reflexão; em caso d e r e c u s a e r a m re- 2 5 . Cf. B. M. V I I 1.
v e n d i d o s a n ã o - j u d e u s , cf. E. R i c h m , Handwörterbuch des biblischen 26. Ver supra, p . 156.
Altertums 2 .' ed., t. I I , Leipzig e Bielefeld, 1894, 1524 a.
1

2 1 . Ber. I I I 3 . 2 7 . Ker I 7.
2 2 . Pes. V I I I 2. 28. b. Yoma 35 b
bar.
29. Ihid.
30. P. A. I 1 3 ; Bek. I V 6; b . Ned. 37 . 62 .
a a
[e n ã o os leveis] n o s vossos c i n t o s . N ã o tomeis alforje
31

nossa era, foi diarista p e l o m e n o s d u r a n t e seus e s t u d o s . 40

p a r a o c a m i n h o , n e m duas túnicas, n e m sandálias, n e m São Paulo exercia u m a profissão d u r a n t e sua atividade mis-
cajados! Pois o o p e r á r i o é digno de seu s a l á r i o " . A M í s h n a 3J

sionária (At 18,3); t o r n a d o apóstolo conservou o h á b i t o de


atribui essa prescrição a u m mestre de Jerusalém, Hilel, e g a n h a r a vida c o m o rabi de Jerusalém. A s informações se-
R. Sadoc, r a b i n a q u e l a cidade antes de 7 0 d . C , o confir- guintes nos c o n d u z e m aos últimos decênios antes da destrui-
m a . Hilel p a g a v a p a r a e n t r a r na "escola de Shemaya e de
33

ção de Jerusalém. R. Y o h a n a n b e n Z a k k a í , p e l o menos no


A b t a l i ã o ; Schürer apoia-se nessa informação p a r a concluir
34

início de seus estudos , trabalhava n o setor comercial; R.


41

q u e tais mestres não ministravam suas lições gratuitamen- Eleazar b e n S a d o c e A b b a Shaul b e n B a t n i t , lecionavam
4 2 43

te \ mas se esquece de que n ã o se trata de m o d o algum d e


3

e m a n t i n h a m lojas n a cidade. C o m freqüência, p o r t a n t o , os


u m salário: a q u a n t i a entregue pelos alunos revertia p a r a escribas do t e m p o de Jesus exerciam u m a profissão ao l a d o
o guardião da " e s c o l a " . Somente mais tarde, a n u l a d a a do ensino, mas era sobretudo de auxílios q u e v i v i a m . Antes
prescrição, permitiu-se ao escriba, se exercesse u m a profis- da Segunda G u e r r a M u n d i a l , a condição de v i d a , n a Pales-
são, indenizar-se pelo tempo dedicado ao ensino ou c o m o tina, dos conhecedores da T o r a , levam a tal conclusão, e as
juiz, atividades essas q u e ele podia c o m p r o v a r . 3fi

fontes o confirmam q u a n t o ao período antigo. Segundo


De que viviam os escribas? Entre os rabinos citados Franz Delitzsch, "os doutores ou 'os alunos dos sábios" '' 1

no T a l m u d e , mais de 100 t i n h a m uma profissão e e r a m [sem n a d a h a v e r de fixo, n e m m e s m o p a r a o ensino] . . .


conhecidos pelos nomes das p r o f i s s õ e s , A maioria, é ver- 37
ficavam reduzidos à gratidão espontânea de seus a l u n o s . . .
d a d e , p e r t e n c e a uma época mais tardia. Em c o n t r a p a r t i d a , à consideração deles q u a n d o da distribuição dos dízimos
o livro do Siráeida (início do século II a.C.) p õ e e m dú- p a r a os pobres e, em certos casos, t a m b é m aos subsídios
vida a compatibilidade de uma profissão secular com a ati- da caixa do T e m p l o " . Dizia-se q u e era meritório oferecer
4 5

v i d a d e do escriba (Eclo 38,24-39 II) e mais t a r d e , até o hospitalidade ao escriba e fazê-lo participar dos r e c u r s o s 46

século II de nossa era, discute-se essa c o m p a t i b i l i d a d e . 38


de que a pessoa d i s p u n h a ou gerir os negócios em seu lu-
Tal fato p o d e suscitar dúvida: seria já c o s t u m e , n o t e m p o g a r . Além do mais, segundo N e h o n y a b e n H a - q a n a ,
4 7 48

d e Jesus, a c u m u l a r o estudo da Lei e o exercício d e o u t r a mestre na época do segundo T e m p l o , destituem-se os dou-


profissão? N o e n t a n t o , os testemunhos q u e possuímos •— tores do jugo do governo (quer dizer dos i m p o s t o s ) e de 49

iodos referentes a Jerusalém — m o s t r a m que nessa é p o c a assuntos seculares (isto é, da p r e o c u p a ç ã o d e sua subsis-
já havia escribas q u e exerciam profissões. S h a m a t afastou tência). O s evangelhos confirmam q u e essas disposições
c o m sua vara de carpinteiro u m p a g ã o q u e q u e r i a se t o r n a r vigoravam. N o que diz respeito à hospitalidade oferecida
prosélito . Hilel que viveu t a m b é m p o r volta d o início d e
39

t e i r o , a r q u i t e t o ou f e r r e i r o ) ; d e v e m o s l e m b r a r q u e e r a c o s t u m e fazer
31. U m a longa echarpe que servia também para guardar o di- c o m q u e o filho a p r e n d e s s e o ofício d o p a i , e q u e J e s u s se c o m p r a z
nheiro. e m u s a r a i m a g e m da c o n s t r u ç ã o de u m a casa.
32. M t 10,8*10; cf. M c 6,8; Lc 9,3, 40. b . Yoma 3 5 b a r . b

3 3 . P. A. IV 5; 1 13. 4 1 . b. Sanh. 4 1 ; Sifre D t 3 4 , 7 ; § 357 (63"= 26); Gn. R. 100, 11


a

34. b . Yoma 3 5 b
bar. s o b r e 50, 14; S c h l a t t e r , Joch. b. Zak., 9.
35. S c h ü r e r , I I , 380. 42. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 5 ) ; H i r s c h e n s o h n , 133; cf. supra, p. 47.
36. b . Kel. 105»; Pesiqta de Rab Kahana X X V I I I 4, e d . S. B u b e r , e t a m b é m T o s . Pes. X 10 (173, 7 ) .
L y c k , 1868, 1 7 8 ) 7 ; P. W e b e r , Jüdische
a
Theologie auf Grund des 43. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 7 ) ; b . Bem 2 9 bar. a

Talmud und verwandter Schriften 2" ed., Leipzig, 1897, 130. 44. Talmidê hãkamim.
37. Delitzsch. }üd. Bandwerkerleben, 75, dá-nos i n ú m e r o s exem- 4 5 . D e l i t z s c h , Jud. Handwerleben, 78s,
plos. W e b e r , Religionssoziologie, I I I , 410-411. 46. b . Ber. 6 3 . b

38. b . Ber. 3 5 . b

47. b . Ber. 3 4 . b

39. b . Shab. 3 1 . Cf.


a
Mc 6,3: Jesus é c h a m a d o tékíon ícarpin- 48. P. A. I I I 5 .
4 9 . Cf. b . B. B. 8.

6 - Jerusalém no t e m p o de Jesus SEJVMAfôSO &0NC0RDKA


ao mestre, lembramo-nos das palavras d e Jesus; " O operá- tíficações d a s mulheres de F é r o r a s , i r m ã o de H e r o d e s ; o 5 9

rio é digno de seu a l i m e n t o " ; ("seu s a l á r i o " em Lc 10,7).


50 evangelho afirma que eles " a m a m o d i n h e i r o " (Lc 16,14)
A o invocar u m a prescrição de Jesus ( I C o r 9,14), P a u l o e os escribas são censurados p o r explorar as v i ú v a s . Con- m

considera que essa p a l a v r a vale p a r a q u e m ensina (cf. G l


51
forme m o s t r a o próprio texto dessa ú l t i m a passagem ("eles
6,6). Lembremo-nos, igualmente, do aviso de Jesus aos dis- d e v o r a m as casas das v i ú v a s " ) ; é difícil p e n s a r q u e se trata,
cípulos de se fazerem acolher e receber como convidados p a r a os escribas, d e c o b r a r , d e m o d o ilícito, as consultas
d u r a n t e o t r a b a l h o de evangelização (Lc 9 , 4 ; 1 0 , 7 - 8 ) , da jurídicas ou de n ã o reconhecer às viúvas seus direitos, oti
maneira pela qual Jesus era recebido como hóspede em Be- e n t ã o q u e se trata da prosboíe d e Hilel (que permitia al-
tânia, na casa das duas i r m ã s . l 2
terar a Lei sobre a quitação das dívidas p o r ocasião d o ano
N o que toca às pessoas abastadas que s u b v e n c i o n a v a m sabático) que despejaria d e suas casas as viúvas endivida-
as necessidades do Mestre, c o n v é m lembrar as m u l h e r e s d a s . Provavelmente, o texto refere-se aos escribas p a r a s i t a s ,
que o a c o m p a n h a v a m ; p u n h a m seus bens à disposição dele. exploradores da hospitalidade d e pessoas p o u c o afortu-
Por outro lado, diversas espórtulas foram oferecidas a Jesus nadas .6Í

e aos discípulos d u r a n t e sua vida e r r a n t e " . Q u a n t o ao pe- As informações tradicionais sobre a situação finan-
ríodo anterior a 70 d . C , n ã o p u d e m o s nos certificar da ceira dos escribas c o n c o r d a m c o m o q u e p r e c e d e . N ã o é
existência dc coletas p a r a os doutores . As pessoas não pro- 54

certo q u e n o t e m p o de Jesus houvesse em Jerusalém mui-


cediam sempre dc m o d o correto ao aceitar os subsídios; ve- tos escribas ricos. Segundo o T a l m u d e , S h i m é o n b e n She-
rificamos tal fato r e p e t i d a m e n t e . Dizem, por exemplo, que tah era c u n h a d o d o rei A l e x a n d r e Janeu e i r m ã o d a rainha
o rei Alexandre Jancu (103-76 a.C.) em seu leito de morte A l e x a n d r a ' ' ; Trata-se d e uma lenda q u e deve sua origem
2

preveniu a esposa contra os falsos devotos que exterior-


55

ao fato d e ser a r a i n h a amiga dos fariseus. E m compensa-


mente se assemelham aos fariseus , mas que, na r e a l i d a d e , 5Í>

ção, conta-se d e A b b a S h a u l , p r o p r i e t á r i o d e u m loja o n d e


são m a u s h o m e n s , ávidos de l u c r o s . Essa sede d e lucro 57

se v e n d i a v i n h o , q u e ele r e c u p e r a v a , p a r a o tesouro d o
fazia-os ambicionar as vantagens dessa terra e não as da T e m p l o , a espuma que se f o r m a v a ao e n c h e r os recipien-
o u t r a vida; é o que d e m o n s t r a o contexto d a cena, muitas tes, pois essa e s p u m a a n i n g u é m p e r t e n c i a ; desse m o d o ,
vezes citada, mas hoje parcialmente incompreensível, refe- conseguia encher trezentos barris de v i n h o . T a l exagero 63

rindo-se às sete espécies de fariseus . A isso se acrescentam sa

deve a p e n a s caracterizar sua delicadeza d e consciência. R a b i


outras informações. Dizem q u e os fariseus r e c e b e r a m gra- E l e a z a r b e n Sadoc, seu c o m p a n h e i r o d e t r a b a l h o , c o m p r o u
para si a sinagoga helenista d e Jerusalém; e r a , entretanto.,
50. M l 10,10; "seu s a l á r i o " s e g u n d o Lc 10,7. O c a r á t e r p r i m i t i v o u m a c o n s t r u ç ã o pequenina \ Se rabi E l e a z a r b e n H a r s o n ,
6

do texto de Mt é g a r a n t i d o pelas analogias r a b í n i c a s assim c o m o p o r


P a u l o q u e as r e t o m a de m a n e i r a livre em ICor 9,14.
sumo sacerdote, g r a n d e proprietário d e imóveis, pertenceu
5 1 . I C o r 9.3-18; 2 C o r 11,8-9; Fl 4,10-20.
52. Lc 1 0 , 3 8 4 2 ; Jo 11,1,
53. Lc 8,1-3; M c 15,41; Jo 12,6. 59. B. j . 1 29, 2 , § 5 7 1 .
54. j . Mor. I I I 7, 4 8 40 ( V l / 2 . 2 7 6 ) ; o e n s i n a m e n t o s e g u n d o o
a

qual a l g u n s r a b i n o s j u n t a v a m c o n t r i b u i ç õ e s p a r a s u s t e n t a r os d o u t o - 60. M c 12,40; Lc 20,47. Essa p a l a v r a foi pronunciada cm Jeru-


res refere-sc ao p e r í o d o cm t o r n o d o a n o 100 d.C.
55. Ant. X I I I 15, 5, § 400-402. salém.
56. A m a i o r i a dos escribas era de fariseus, 6 1 . Cf. Assunção de Moisés V I I 6: comealores, glutões.
57. b . Sota 22^. 6 2 . b . Sota 47 a
e passim.
58. b . Sota 22 bar.; p a r a l e l o s e m D e r e n b o u r g , Essai, 3 e n . 1. Cf.
b

em b . Sota 22 o p r i m e i r o n o m e a d o , o parus sikmi:


h
s u a p r á t i c a reli- 6 3 . b . Besa 29" b a r .
giosa era g u i a d a p o r m o t i v o s i m p u r o s , à s e m e l h a n ç a de S i q u é m ( G n 6 4 . T o s . Meg. I l l 6 (224, 2 6 ) ; S c h l a t t e r , Tage, 8 1 . — Edifício
34,2-5). p e q u e n i n o , b . Meg. 2 6 ; o m s d e M u n i q u e d o T a l m u d e (ver L. Gold-
a

s c h m i d t , Der bubytonische Talmud, t. 111, Berlim, 1899 = H a i a , 1933,


643) i n d i c a , c o m o c o m e r a d o r , E l e a z a r b e n A z a r y a ; n ã o se p o d e cons-
t a t a r a existência dessa p e r s o n a g e m e m J e r u s a l é m .
a Jerusalém, foi somente n o período de A d r i a n o , e n a qua- n a M i s h n a , tinha u m a ú n i c a capa; ele e a m u l h e r usavam¬
7S

lidade de sumo s a c e r d o t e . É5
-na a l t e r n a d a m e n t e p a r a s a i r ; seis d e seus alunos p o s s u í a m
76

Por o u t r o lado, sabemos com certeza q u e u m a p a r t e u m só casaco p a r a se c o b r i r e m . 11

dos escribas, aqueles, p o r exemplo, q u e e r a m s a c e r d o t e s , 66


Voltemos nossa a t e n ç ã o p a r a Jerusalém. Antes d e t u d o
p e r c e b i a m salários fixos. Os escribas q u e exerciam u m a fun- lembremo-nos d e Hihl. Nascido e m Babilônia, de u m a p o -
ção n o T e m p l o gozavam d o mesmo sistema; pagavam-nos b r e família d e exilados, veio a p é p a r a J e r u s a l é m . T r a b a - 78

com o dinheiro do imposto anual daquele santuário. D i z e m lhou c o m o diarista p o r u m frop-pct'tq, isto é, p o r meio de-
que alguns doutores t i n h a m p o r função ensinar aos sacer- n á r i o . A p ó s p a g a r o g u a r d i ã o d a escola, só lhe restava u m
dotes as regras d o s a n g r a m e n t o ; o u t r o s , de ensiná-los a fa- q u a r t o d e d e n á r i o p a r a s u a m a n u t e n ç ã o e a d e sua famí-
zer as ofertas alimentares segundo as p r e s c r i ç õ e s . D a mes- 67
lia . Conta-se q u e u m d i a n ã o e n c o n t r o u t r a b a l h o ; deixou,
19

m a forma, três ou q u a t r o doutores, juízes q u e constituíam


68
p o i s , de p a g a r a entrada n o estabelecimento e m q u e estu-
u m tribunal de Jerusalém inúmeras vezes citado, , e r a m w
d a v a . Apesar d o rigor d o i n v e r n o , ficou d o l a d o d e fora a
pagos pelo T e m p l o ; recebiam, conforme afirmam, 99 m i n a s ouvir pela janela; foi e n c o n t r a d o s e m i - e n r e g e l a d o . So- m

(1 talento, a p r o x i m a d a m e n t e ) ; lastimamos q u e n ã o n o s di- mente q u a n d o se t o r n o u u m mestre célebre, com oitenta


g a m e m q u e período . 70
a l u n o s e m d e t e r m i n a d o s m o m e n t o s , é q u e conseguiu m e -
8 1

Esses casos de rendas fixas n ã o p o d e m induzir-nos ao l h o r a r s u a situação. Estaria e m condições d e alugar, e m


erro: os escribas pertenciam, e m sua maioria, à classe po- benefício d e u m rico e m p o b r e c i d o , c a v a l o e c u r s o r , o u n

bre. Visto a sua situação real, o T a l m u d e de Babilônia re- de m a n d a r sangrar u m b o i p a r a si, n o á t r i o d o T e m p l o \ s

laciona o fato de u m doutor n ã o ter necessidade de mendi- Citemos dois outros casos d e pobreza e n t r e os escribas d e
gar ao princípio segundo o qual ele n ã o se e m p o b r e c e . 11
Jerusalém. R. Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a , vive misera-
O T a l m u d e muitas vezes menciona a mulher, j a m a i s as 7 2
v e l m e n t e d e p ã o seco d u r a n t e u m p e r í o d o de estiagem '" . 4

mulheres de u m doutor; a principal razão consiste, sem dú- C o n t r a a v o n t a d e d e seu p a i , R. Eliézer b e n H i r c a n o s de-
vida, mais n a pobreza de condição d o q u e n u m a estima d a cidiu e s t u d a r ; vive e m meio a grandes privações, a t é q u e
monogamia. Citemos alguns exemplos dessa pobreza n o seu mestre R a b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i constata a fome ' ,s

século II de nossa era. Dois alunos de R a b b a n G a m a l i e l d o discípulo. P a r a confirmar o q u e foi d i t o , podemos men-
II, cuja ciência era tão g r a n d e q u e chegava a " p o d e r con- c i o n a r a p o b r e z a d e Jesus. V e i o de u m a família p o b r e
tar as gotas d o m a r " , n ã o t i n h a m u m p e d a ç o de p ã o p a r a ( p a r a o sacrifício d e purificação, M a r i a serviu-se d o privilé-
comer, n e m u m a peça de r o u p a p a r a vestir . R. A q i b a , o
73
gio dos p o b r e s : oferecer d u a s rolas'' ); s u a existência apre-
6

célebre d o u t o r d a Lei e sua mulher, em pleno inverno ti-


n h a m de se deitar sobre p a l h a , e A q i b a n u n c a conseguiu
dinheiro suficiente p a r a oferecer à esposa a alegria de u m 7 5 . M a i s d e 600 vezes.
76. b . Ned. 49 -5Ü=.
b

enfeite . R. Y u d a b e n Elai, o doutor tantas vezes c i t a d o


n

77. b . Sanh. 2 0 . a

78. V e r supra, p. 8 6 .
65. V e r supra, p . 141. n. 132. 79. b . Yoma 3 5 b a r . b

66. V e r supra, p . 149. 80. Ibid. E l e estava coberto d e n e v e ; a c o n t e c e cair neve e m Je-
67. b . Ket. 1 0 6 .
a

68. b . Ket. 1 0 5 . a
rusalém, mas raramente.
69. Ibiã.; Ket. X I I I I s s ; b . B. Q. 5 8 .
b

8 1 . b . B. B. 1 3 4 . a

70. b . Ket. 1 0 5 . a

82. b . Ket. 6 7 bar.


b

71. b , Shab. 1 5 1 . b

72. J. Bergel, Die Eheverhãltnisse der alten fuden, Leipzig, Í 8 8 1 , 10. 8 3 . F . Detitzsch, \esus und Hitel, 3 . ed., Francfort-sur-le-Maín.
73. b . Hor. 1 0 .
a 1875, 3 5 .
84. b . Yeb. 6 7 . b

74. b . Ned. 50«. 85. ARN 3 0 ; S c h l a t i e r , }ock. b. Zak., 2 3 .


86. L c 2 , 2 4 ; cf. L v 12,8.
senta tantas privações que não tem o n d e repousar a cabe- o provérbio "cegos e coxos n ã o e n t r a r ã o na c a s a " , a L X X
ça ' ; pessoalmente, não traz dinheiro consigo (a história do
8

acrescenta " d o S e n h o r " . Mas no átrio dos israelitas e n o


estáter e d o " t r i b u t o a César" o d e m o n s t r a m ' ) e ele aceita 3

dos sacerdotes, encontravam-se sacerdotes m a n c o s e vítimas


esmolas . Podemos, p o r t a n t o , de u m m o d o geral, colocar
89

de defeitos físicos . Faremos b e m , p o r t a n t o , em não con-


M

os rabinos entre as camadas p o b r e s da p o p u l a ç ã o . 90

cluir da L X X , 2 S m 5,8 q u e havia ali certas discriminações.


Q u a n d o a t r a d i ç ã o diz q u e os hierosolimitanos têm u m a Com efeito, os estropiados p o d i a m p e n e t r a r no a d r o inte-
v a i d a d e d e p o b r e s , é u m a h o m e n a g e m que lhes presta . N a y i
rior, mas somente sob certas condições. Eis a prescrição: "Se
v e r d a d e , Jerusalém já n o í e m p o d e Jesus, apresentava-se a p e r n a de pau tem u m a cavidade p a r a receber pedaços
c o m o u m centro d e mendicância. A distribuição das es- de p a n o [ q u e i m p e d e m o atrito do coto do m e m b r o ampu-
m o l a s era c o n s i d e r a d a p a r t i c u l a r m e n t e meritoria se feita na t a d o ! , ela p o d e tornar-se i m p u r a . [E n a v e r d a d e ] , as mu-
C i d a d e santa, q u e m a n t i n h a essa m e n d i c â n c i a . N ã o é de letas p o d e m se tornar i m p u r a s por compressão [se o estro-
a d m i r a r q u e já e n t ã o houvesse pessoas q u e simulavam ce- p i a d o que delas se serve é i m p u r o , ele transmite sua im-
gueira, fingiam-se d e surdas, estropiadas, hidrópicas, coxas 92
p u r e z a às m u l e t a s ] ; pode-se [entretanto] pegá-las p a r a sair
etc. A semelhança entre hoje e a n t i g a m e n t e é tão g r a n d e n u m dia de s á b a d o , assim como para e n t r a r no a d r o . U m
q u e , ainda h á u m a d e z e n a d e anos, encontravam-se lepro- suporte ou muletas p o d e m [ t a m b é m ] ficar impuros por
sos, p e d i n d o esmolas nos seus lugares habituais, n o c a m i - compressão [ver supra]; não é p e r m i t i d o , e n t r e t a n t o , tomá¬
n h o do G e t s ê m a n i . A e n t r a d a n a C i d a d e santa era-lhes p r o i - -los p a r a sair em dia de s á b a d o o u p a r a p e n e t r a r no a d r o " . 9 5

bida; p a r a protegerem-se das intempéries, sentavam-se s o b Assim, pois, os aleijados em condições de mover-se por si
as portas, consideradas como ainda n ã o fazendo p a r t e da mesmos com u m a muleta t i n h a m a b e r t a m e n t e o direito de
cidade p r o p r i a m e n t e dita ' . B
entrar na p a r t e do s a n t u á r i o proibido aos pagãos; em con-
E m Jerusalém, a mendicância concentra-se em t o r n o t r a p a r t i d a , não o p o d i a m aqueles que não estavam em
dos lugares santos; por conseguinte, naquela época, e m estado de se m o v e r sozinhos (completamente estropiados,
torno do T e m p l o . Os mendigos não t i n h a m acesso a todos entre outros os q u e n ã o t i n h a m as d u a s pernas) e que
os lugares do T e m p l o . N o texto de 2Sm 5,8, r e p r o d u z i n d o deviam se sentar n u m a cadeira estofada n a q u a l e r a m
t r a n s p o r t a d o s , O coxo q u e n ã o conseguia a n d a r por si
87. Ml 8,20; Lc 9,58. m e s m o , m e n c i o n a d o nos Atos dos apóstolos (3,2), p o d e
88. M t 17,24-27. Cf. M c 12,13-17; M t 22,15-22; Lc 20,20-26. ser u m exemplo disso. Deixa-se ficar junto à " P o r t a For-
89. Lc 8,1-3. É p r e c i s o reconhecei' q u e e x i s t e m , e x t e r i o r m e n t e , n u -
m e r o s o s p a r a l e l o s na m a n e i r a d e viver e n t r e os e s c r i b a s e Jesus ro- m o s a " , a Porta de N i c a n o r q u e liga o á t r i o dos israelitas
d e a d o pelos seus d i s c í p u l o s ; n ã o i m p e d e , p o r e m , q u e Jesus tenha-se ao átrio das m u l h e r e s , m a s (At 3,8) a i n d a nesse átrio. Esse
o p o s t o ao g r u p o d e e s c r i b a s d e SL*U t e m p o . coxo m e n d i g a (At 3,2.3,10); seus amigos o colocam lá
90. Cf. W e b e r , Religionsoziologie, I I I , 4 0 9 : " U m m e i o de intelec-
tuais p l e b e u s " . A . Büchler, The Politica! and Social Leaders of lhe nas h o r a s de oração q u a n d o o fluxo e refluxo das pes-
fewhh Cotnmunity o / S e p p / i o n s , L o n d r e s , 1909, 5: " E m geral, os p r ó - soas é especialmente g r a n d e no T e m p l o . Talvez seja no
prios rabis e r a m pessoas d o p o v o " . Cf. K r a u s s , Ta/m. Arch.. til, 66. pátio dos pagãos q u e devamos p r o c u r a r os cegos e aleija-
9 1 . b . Pes. 1 1 5 . a

dos q u e se e n c o n t r a m c o m Jesus no s a n t u á r i o e lhe pe-


92. Pea V I I I 9 ; b . Keí. 67^-68.
93. b . Pes. 8 5 . E m b . Sanh. 9 8 , d i z q u e o M e s s i a s e n c o n t r a - s e
b a d e m a c u r a (Mt 2 1 , 1 4 ) .
e m R o m a , às p o r t a s da cidade, e n t r e os doentes e gente miserável,
e cura suas feridas. S e g u n d o b . Sanh. 9 8 , p e l o m e n o s s e g u n d o a in-
b
H a v i a , p o r é m , muitos mendigos fora desse local; ve-
f o r m a ç ã o hiwwara, a e n f e r m i d a d e d o M e s s i a s é a l e p r a ; m e s m a opi- mo-los às portas externas da esplanada do T e m p l o . N u m a
n i ã o em R a s h i s o b r e Is 53,4-5 (Bitlerbeck, I, 4 8 1 , n. 2 ) . C e r t a m e n t e
t r a n s p o r t a r a m p a r a R o m a a s i t u a ç ã o d a Palestina o n d e os l e p r o s o s 94. Mid. TI 5; j . Yoma I 1, 38<< ( I H / 2 , 1 6 5 ) ; b . Sukka 44 ;
a
cf.
ficavam s e n t a d o s às p o r t a s d a c i d a d e ; b . Sanh. 9 8 c o n f i r m a , pois, a
a
B i l l e r b e c k I I , 795s.
i n d i c a ç ã o de b . Pes. relativa aos leprosos d e J e r u s a l é m . 95. Shab. V I 8.
dessas p o r t a s meridionais é que se deve p r o c u r a r o men- Constatamos, com e s p a n t o , o n ú m e r o d e pessoas des-
digo p o b r e d e nascença (Jo 9,1-8) cuja cura p o r Jesus o sa categoria que surgiram nos últimos a n o s antes d a des-
evangelho nos conta. A cena precedente (Jo 8,58-59) de- truição; alguns b a n d o s se f o r m a r a m e n t ã o , a m e d r o n t a n d o
senrola-se no T e m p l o , mais precisamente, no átrio dos toda a J e r u s a l é m , e a seguir, t r o u x e r a m a g u e r r a civil p a r a
98

gentios, onde p o d e r i a m existir p e d r a s p a r a as reparações a c i d a d e . I n d u b i t a v e l m e n t e , h a v i a , e n t r e esses revolucio-


do T e m p l o e q u e os inimigos d e Jesus t o m a m nas m ã o s nários, alguns ardorosos patriotas e h o m e n s repletos de
com o intuito de lapidá-lo. entusiasmo religioso, mas t a m b é m m u i t a gente q u e Josefo
Sem d ú v i d a , a cura n a r r a d a i m e d i a t a m e n t e após esse a p o n t a , com r a z ã o , como escravos, pessoas sem eira n e m
incidente não p o d e ter-se d a d o tão logo; é provável q u e beira, escória do p o v o . 9 9

o redator tivesse e m mente u m fator d e o r d e m local, pois, U m fato nos m o s t r a , d e m o d o p a r t i c u l a r m e n t e escla-


se Jesus envia o cego à piscina de Siloé (Jo 9,7) é p o r recedor, a que p o n t o , no m o v i m e n t o zelota, o fator social
tê-lo e n c o n t r a d o a o sul do T e m p l o . Podemos t a m b é m con- foi i m p o r t a n t e : a exaltação c o m q u e esses libertadores d o
siderar como mendigos, os enfermos, os cegos, os coxos p o v o , e m 66 d . C , i n c e n d i a r a m os a r q u i v o s d e Jerusalém
e paralíticos presentes à piscina d e Bezata (Jo 5,2-3); se- p a r a d e s t r u i r as provas d e dívidas q u e ali estavam guar-
g u n d o relato análogo em At 3,2-8 (cf. Jo 9,1-7), é fácil
d a d a s °.
10

supor que a troca d e palavras entre Jesus e o enfermo (Jo


5,6), deu-se q u a n d o esse último lhe pediu esmola. Essa
piscina foi lugar sempre freqüentado p a r a pedir graças e
curas (provam-no suficientemente os objetos doados, en-
contrados d u r a n t e escavações; m e s m o após 70 era tida
c o m o curativa); os enfermos t i n h a m , pois, inúmeras oca-
siões p a r a m e n d i g a r .
N ã o é, p o r é m , somente nos mendigos que se deve
pensar para justificar a impressão de que Jerusalém, já n o
t e m p o de Jesus, era a cidade dos v a g a b u n d o s e q u e u m
n u m e r o s o p r o l e t a r i a d o , vivendo da importância religiosa
da Cidade santa, era-lhe u m a das particularidades mais
singulares. A noção de cidade, dizem, incluía o fato de
nela existirem pelo menos dez "pessoas o c i o s a s " , isto é, 96

pessoas que r e n u n c i a r a m a u m a o c u p a ç ã o pessoal p a r a


consagrar-se t o t a l m e n t e à participação do culto. Jerusa-
lém contava com esses t a m b é m ; R. Eleazar ben Sadoc
fala das confrarias q u e visitavam as famílias e n l u t a d a s e
que t o m a v a m parte nas refeições de núpcias e nas festas
de circuncisão, assim como n a cerimônia de r e u n i r os
ossos (sem d ú v i d a em casos de r e i n u m a ç ã o ) ; era proibi- 9 7

do aos escribas viverem assim c o m o parasitas. L'enterrement des criminels d'après le Talmud et le Midrash, em RE}
46 (1903), 76.
96. Meg. I 3 , cf. b . Meg. 3 .
b
98. B. j . I I 14, 1, § 2 7 5 .
97, T r a t a d o Semahot X I I ; T o s . Meg. I V 15 {226, 1 3 ) ; A, B ü c h l e r , 99. B. j . V 10, 5, § 4 4 3 .
100. B. j . II 17, 6, § 4 2 7 .
CAPÍTULO IV questão. O c a m p o do oleiro, c o m p r a d o pela administração
do T e m p l o de Jerusalém , deve ter custado trinta moedas
5

FATORES DETERMINANTES de p r a t a , quer dizer, uns 120 denários r o m a n o s ou drac-


PARA O DESENVOLVIMENTO mas de p r a t a á t i c a s ; essa q u a n t i a é confirmada como
6

DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS preço m é d i o de u m c a m p o . 7

D O S HABITANTES D E JERUSALÉM Baseando-nos n u m caso específico , sabemos que as 8

frutas c u s t a v a m , em Jerusalém, três a seis vezes mais do


que no c a m p o . Devido à imensa d e m a n d a de p o m b o s p a r a
os sacrifícios, o especulador, na c i d a d e , fazia o preço su-
bir até cem vezes o preço corrente \ O s artigos de luxo !

A. A SITUAÇÃO ECONÓMICO-GEOGRÁFICA vendidos na g r a n d e cidade, a l c a n ç a v a m preços altos, con-


forme deduzimos da c o m p a r a ç ã o de seu preço com os do
c a m p o há pouco citados. U m exemplo é o perfume c o m
_ A situação de Jerusalém constituía g r a n d e obstáculo que Jesus foi ungido em Betânia e q u e custou mais de
á v i d a econômica da cidade. N a primeira p a r t e (p. 1 1 9 ) , 300 denários . A q u a n t i a p a r a o c a s a m e n t o mohar q u e
,0

vimos Jerusalém como uma cidade m o n t a n h o s a , p o b r e de o pai de u m a hierosolimitana recebia por ocasião do noi-
água, carente de matérias-primas p a r a as profissões, com vado de u m futuro esposo não da c i d a d e , era, ao que di-
localização pouco favorável p a r a o comércio e ao tráfico. zem, s o b r e m a n e i r a elevado; igualmente, o dote que a noiva
Esse fato acarretava u m custo de vida muito alto. estrangeira trazia a seu noivo de Jerusalém. " O h a b i t a n t e
de uma cidade q u e desposasse u m a nativa de Jerusalém
dava-lhe [como q u a n t i a devida ao c a s a m e n t o ] o peso dela
cm o u r o ; a jovem de u m a cidade p e q u e n a que desposasse
1. O c u s t o d e v i d a e m t e m p o n o r m a l
u m h o m e m de ferusalém entregava-Jhe [como dote ou
bens parafernais] o peso dele em o u r o " . D e acordo c o m u

D e m o d o geral, sabemos q u e gado e p é r o l a s , produ- l

tos colhidos e vinho , alcançavam preços mais altos n a ci-


2

d a d e do que no c a m p o . M e n c i o n a r e m o s dados minuciosos 5. V e r o e x c u r s o c o n s a g r a d o à h i s t o r i c i d a d e de M t 27,7, infra,


a respeito dos preços em Jerusalém. " O país de Israel foi p. 195ss.
6. M u i t a s vezes se diz, e r r o n e a m e n t e , q u e as 30 m o e d a s de p r a t a
dividido [entre as tribos] c o m base em três critérios: se- (argúria) q u e c o n s t i t u e m o p r e ç o d a traição d e J u d a s v a l e m 60 d e n á -
gundo a sorte, segundo o U r i m e o T u m i m [a consulta rios. N a r e a l i d a d e argúrion p o d e ter s o m e n t e dois v a l o r e s : l O de-
v

p o r oráculos] e segundo o valor e m d i n h e i r o " , d i z o T a l - n á r i o r o m a n o d e p r a t a = u m a d r a c m a de p r a t a ática q u e era, n a


é p o c a a m o e d a de p r a t a c o r r e n t e n a P a l e s t i n a ; é o q u e diz Josefo.
m u d e ; se a interpretação r e t o m a d a por Levy é exata \ o
3
2? U m a e q u i v a l ê n c i a d o kesep d o A n t i g o T e s t a m e n t o = 1 seqel d e
terceiro critério, q u a n d o à repartição do país, seria a con- p r a t a . N o T a l m u d e , e m Fílon, Josefo, O r í g e n e s , D í o n Cássio, o seqel
é a v a l i a d o em 4 d e n á r i o s . — O s e g u n d o v a l o r é m a i s p r o v á v e l , p o i s :
sideração do maior valor do terreno nas cercanias de Je- a) u m a citação do A n t i g o T e s t a m e n t o (Zc 11,13), f u n d a m e n t a a q u a n -
rusalém. O único d a d o que conheço a respeito do preço tia de 30 m o e d a s d e p r a t a (Mt 26,15;27,3.5-6.9); b) a mais antiga exe-
de u m terreno e m Jerusalém, é o d e Mt 2 7 , 6 - 7 ; na reali- gese (Codex Bezae Cantabrigiensis = D , c i n c o m a n u s c r i t o s d a Vetus
latina, d o i s m i n ú s c u l o s , E u s é b i o , a t r a d u ç ã o d e O r í g e n e s d ã o argúrion
dade, a informação não indica a superfície do c a m p o em p o r siater) s u p õ e m esse valor.
7. Ver infra, p . 196.
t. 'Ar. V I 5. 8. Ma'as. I I 5s., cf. supra, p . 50.
2. M. Sh. I V 1. 9. Ker. I 7, cf. supra, p . 5 1 .
3. j . Y orna I V 1, 49 ( I I I / 2 , 2 0 1 ) . 10. M c 14,5; | o 12,3.
4. Levy, Wörterbuch, I I , 369 b. 1 1 . Lam. R. 4, 2 s o b r e 4, 2 ( 5 6 a
2 3 ) ; H i r s c h e n s o h n , 134.
esse texto, u m a r a z ã o d e t e r m i n a n t e explica e m p r i m e i r o teratura r a b í n i c a , e n c o n t r a m o s u m e x e m p l o individual
17

lugar a i m p o r t â n c i a das quantias necessárias ao c a s a m e n t o : q u e se relaciona e x a t a m e n t e com essa fome que assolava
a g r a n d e estima q u e geralmente se dedicava ao T e m p l o , o país. De acordo com o relato, Eleazar b e n S a d o c , estu-
à cidade e as enormes perspectivas q u e p r o p o r c i o n a v a a dante da T o r á em Jerusalém, viu seu m e s t r e R. Y o h a n a ,
cada u m . Nessas quantias reflete-se, igualmente, o fato de filho da h a u r a n i t a , comer u m p e d a ç o de p ã o seco. Seu
ser o custo de vida mais alto em Jerusalém. pai, R. Sadoc, enviou azeitonas p a r a o mestre. Esse re-
cusou-as devido a sua u m i d a d e ; aceitou-as somente após
R. Sadoc ter-lhe g a r a n t i d o que a conservação fora feita
conforme as prescrições.
2 . O custo de vida e m época de calamidade
D u r a n t e esses períodos, os preços s u b i a m assustado-
ramente. O especulador aproveitava-se da situação de de-
E m épocas de calamidade ' \ a desfavorável situação sespero: " A n u v e m [ t r a z e n d o a c h u v a ] é a desgraça dos
económico-geográfica de Jerusalém fazia-se sentir e m t o d a especuladores [literalmente: aqueles q u e fixam os preços
a sua crueza, antes de tudo sob a forma de carência d e d o m e r c a d o ] " . O s d a d o s sobre o p r e ç o d o trigo permi-
1S

víveres, t a m b é m de tecidos p a r a as r o u p a s e conseqüente 1 3

tem-nos confirmar o q u e foi d i t o , através de n ú m e r o s .


alta de preços. O u v i m o s falar de u m a seca p r o l o n g a d a , O texto s e g u i n t e fornece-nos o preço n o r m a l : " A u m
19

de u m tufão, de u m abalo sísmico, de epidemias, u m a p o b r e , u m v a g a b u n d o , n ã o se dá menos [do ' p r a t o dos po-


delas agravada pelo longo período sem chuvas. A todas b r e s ' que dispõe de víveres p a r a o socorro cotidiano dos
essas c a l a m i d a d e s , juntam-se combates na cidade e os necessitados] do que um p e d a ç o de p ã o que custa u m
cercos. dupondius (= 2 asses), [feito com trigo ou f a r i n h a ] , por-
Jerusalém sofreu, de m o d o p a r t i c u l a r m e n t e p e n o s o , tanto 4 s 'ah valem 1 selá' ". Nesse caso, o indigente, o
e

com todas essas adversidades; é o que mostram as infor- v a g a b u n d o , recebe da caixa de beneficência u m a ração —
mações sobre a fome que grassou d u r a n t e o r e i n a d o de sem d ú v i d a cotidiana — de u m p e d a ç o de p ã o , custando
Cláudio. E m A n t i o q u i a , os cristãos organizaram u m a co- 2 asses = 1/12 de d e n á r i o . Esse p ã o , pelo q u e sabemos,
20

leta, a fim de socorrer os irmãos da Judéia (At 11,28-30), é feilo com trigo ou f a r i n h a , dos quais 4 s 'ah — apro- e 7]

isto é, para a c o m u n i d a d e de Jerusalém , e m b o r a a ca- 14


x i m a d a m e n t e 5 2 , 5 litros p o d e m ser c o m p r a d o s por 1 sela'
rência de gêneros e a fome atingissem o m u n d o inteiro = 4 denários . Nosso texto fornece-nos, pois, duas infor-
11

(At 11,28). D a m e s m a forma, o relato do auxílio organi- m a ç õ e s : l , o preço do trigo ou da farinha era de 1 de-
y

zado pela r a i n h a Helena de A d i a b e n a por ocasião dessa nário por 1 s 'ah = mais ou menos 13 litros; 2 , a quan-
e 9

crise, mostra q u e Jerusalém estava p a r t i c u l a r m e n t e neces-


sitada . A esse respeito, narra-nos Josefo que n a q u e l e
15

m o m e n t o era ainda possível dispor de g r a n d e q u a n t i d a d e 17. b . Yeb. 1 5 ; T o s . Sukka


b
I I 3 (193, 2 7 ) = T o s . 'Ed. II 2
(457, 1 3 ) , Schfatter, Tagc, 80s.
de cereais p a r a as necessidades cultuais; em c o n t r a p a r t i d a , 18. Gn. R. 13, 11 s o b r e G n 2, 5 ( 2 8 1 8 ) . P a l a v r a p o r p a l a v r a :
b

os sacerdotes viam-se desprovidos de a l i m e n t o s . N a li- 16


" A n u v e m q u e a n i q u i l a [sôber] os maléficos desígnios ['êdan] da-
q u e l e s q u e fixam os p r e ç o s d o m e r c a d o " . M a s , a s s i m o indica I. K a h a n ,
c o n v é m abolir t a n t o sôber c o m o 'êdan. E m a m b o s os casos, o sentido
12. Ver o e x c u r s o d e d i c a d o às c a l a m i d a d e s e m J e r u s a l é m , infra, é a q u e l e q u e i n d i c a m o s em n o s s o t e x t o .
p . 197ss. 19. Pea V I I I 7.
13. Ant. X V 9, 2, § 310. 2 0 . S e g u n d o o cálculo d o s r a b i n o s , cf. Billerbeck, I, 2 9 1 .
14. C o n f o r m e v e m o s e m At 12,25; cf. 11,1 c o m 11,2; 11,27-28 c o m 2 1 . S e g u n d o Ant. I X 4, 5, § 85, 1 o s 'ah e
c o r r e s p o n d e a 1,5
21,10 e passim. moáius itálico. O r a 1 modius = 8,751; p o r t a n t o , 1 s 'ah e
= 13,125 1
15. Ant. X X 2, 5, § 5 1 . aproximadamente.
16. Ant. I I I 15, 3, § 3 2 1 . 22. M. Sh. II 9 e passim.
tidade m í n i m a de p ã o necessário por u m dia equivalia a A cidade teve de suportar sofrimentos p a r t i c u l a r m e n t e
1/12 de denãrio e representava u m a q u a n t i d a d e de trigo grandes nesses períodos de necessidades p r e m e n t e s , conse-
de 1 3 / 1 2 — a p r o x i m a d a m e n t e 1 litro. qüência de sua posição económico-geográfica desfavorável.
O cálculo dos discípulos de J e s u s concorda com
23

essas informações; no relato neotestamentário (Mc 6,44),


os discípulos calculam que seria preciso gastar 2 0 0 de-
nários p a r a fornecer pão a toda aquela m u l t i d ã o . C o n t a m , B. A SITUAÇÃO P O L Í T I C A
200
pois, p a r a cada u m = 1/25 de denário, quer di-
5.000 E m 6 d . C , c o m a deposição do e t n a r c a A r q u e l a u , a
zer, o preço normal da m e t a d e de uma ração diária. As Judéia p e r d e u , em proveito dos r o m a n o s , a i n d e p e n d ê n c i a
informações da época, fora da Palestina, c o n c o r d a m exa- política que possuía desde a época d e j u d a s M a c a b e u
tamente com os n ú m e r o s obtidos. Segundo C í c e r o , 12 24

(165-161 a . C ) , em p a r t e essa p e r d a foi efetiva e em al-


choenix 25
= 1 3 . 1 2 8 litros de frumento c u s t a v a m 1 dená- gumas ocasiões somente ilusória. Uma ú n i c a vez, antes do
rio. De acordo com A t e n e u , a r a ç ã o diária p a r a u m ho-
26

d e s a p a r e c i m e n t o do Estado j u d a i c o , a história viu u m rei


m e m era de 1 choenix = 1,094 litros de frumento. O p r e - dos judeus na pessoa de Agripa I (41-44 d . C ) . Em que
ço do trigo e a q u a n t i d a d e de p ã o necessária por dia m e d i d a a situação política influiu na c o n d i ç ã o material
correspondem aos dados rabínicos.
dos h a b i t a n t e s da c a p i t a l ?
Quais seriam os preços em tempos de calamidade pú-
blica? E m 64 a . C , u m tufão varreu toda a colheita " a pon-
to de o modius de trigo ser v e n d i d o por 11 d r a c m a s " . 2 7

P o r t a n t o , p o r 11 dracmas conseguia-se 8,752 litros, p o r 1 1. A s taxas


d r a c m a 0,796 litro. E m tempos c o m u n s , obtinham-se 13 li-
tros por 1 d r a c m a . Os preços multiplicados por 16. U m li- O Estado manifestou desde o início o seu poder, co-
tro, q u a n t i d a d e , diária necessária p a r a u m h o m e m , custava b r a n d o taxas.
1,25 denários (em tempo c o m u m passava, c o m o a c a b a m o s Sob Herodes, o Grande, recolhiam-nas de modo in-
de ver, a 1/12 de denário, p o r t a n t o , mais do que o salário flexível. Para suas imensas despesas, o rei tinha necessi-
diário médio [ver acima, p . 1 5 9 ] ) . dade de recursos incessantemente n o v o s : " C o m o despen-
J o s e f o fornece-nos t a m b é m os preços d u r a n t e a fome
28
dia muito acima de suas posses, era obrigado a mostrar-se
q u e grassou sob Cláudio. " O 'issarôn valia 4 d r a c m a s " . e m p e d e r n i d o em relação a seus s ú d i t o s " , impondo-lhes
Ura 'issarôn 19
equivale a 3,94 litros; obtinham-se, p o r t a n t o , altos impostos, no dizer de J o s e f o . Sem d ú v i d a , Hero-
30

3,94 litros por 4 d r a c m a s , quase 1 litro por 1 d r a c m a . O s des v i s a v a ' , a o mesmo t e m p o , desenvolver as condições
3

preços se multiplicavam, pois, por 1 3 . de progresso, o q u e onerava as forças econômicas do país:


segurança através de fortalezas e postos d e colonos; cria-
ç ã o p o r esses colonos de z o n a s de progresso cultural; de-
23. M c 6,37; cf. Jo 6,7,10.
24. In Verren I I I 8 1 .
25. D e 1,994 1. (= 'épah, E z 4 5 , 1 1 ; b . Men, 7 7 ) = 72 s e x t á r i o s d e
a
0,547 I. P o r t a n t o
26. I I I 20. o 'épah = 72 sextários = 39.4 1 = 3 s?'ah. Assim também, segundo
27. Ant. X I V 2, 2, § 2 8 . b . Men. 77- e o T a r g u m d e O n q u e l o s em Ex 16,36.1
1
'épah = 3 s 'ah. e

28. Ani. I I I 15, 3 , § 320. Por c o n s e g u i n t e , 1 'issarôn = 1/10 de 'épah = 3,94 1,


29. E m N m 15,4 p a r a o 'issarôn d o T e x t o m a s s o r é t í c o , a S e t e n t a 30. Ant. X V I 5, 4, § 154.
lit: 1/10 oifí ('épah). O r a , s e g u n d o Ant. V I I I 2, 9, § 57, u m bat 3 1 . O t l o , Herodes, col. 93-95.
senyolvimento econômico do país pela disposição de cida- cedimentos t i r â n i c o s , da dilapidação do dinheiro de u m a
3S

des e construção de portos, pelo n ú m e r o de profissões e p o p u l a ç ã o sugada ao e x t r e m o . Ao m o r r e r , lemos ainda


39

a u m e n t o do c o m é r c i o , e, sobretudo, pela edificação do


32

em Josefo, Herodes deixou u m povo t o t a l m e n t e arruina-


T e m p l o . T o d o esse conjunto favoreceu a grandeza d o p a í s ; d o , de m o r a l arrasada , submetido a t o d a espécie de des-
A0

d e outra forma n ã o teria p o d i d o suportar os imensos dis- d i t a . Se, ao mesmo t e m p o que constatamos o volume de
41

pêndios de H e r o d e s . suas despesas, lembrarmo-nos de q u e H e r o d e s , ao alcançar


Mesmo que se leve em conta a sua intervenção e m o poder, era tão p o b r e q u e foi obrigado a derreter objetos
favor do povo d u r a n t e a fome que se declarou pelo ano preciosos de seus bens pessoais p a r a ter dinheiro líquido 42

2 5 a . C , e de algumas isenções de impostos, não temos na m ã o , e q u e , pouco tempo depois, d i s p u n h a de tão enor-
a i n d a o direito de considerar exageradas as queixas do mes meios, podemos d a r todo crédito às queixas erguidas
povo transmitidas a R o m a após sua m o r t e . A o lado d a s 33 contra ele.
despesas internas — o que acabamos de ver — h a v i a as O etnarca Arquelau não tratou m e l h o r o seu p o v o ;
despesas no estrangeiro; eram mais consideráveis e n ã o em 6 d . C , o imperador Augusto o depôs p o r causa da
c o n t r i b u í a m p a r a o b e m do p o v o . O u v i m o s referências so- sua crueldade e o exilou; seus bens pessoais foram con-
b r e dádivas, construções utilitárias e construção de apa- fiscados . 43

r a t o , por vezes e m grandes d i m e n s õ e s , oferecidas às se- Agripa í herdou de seu avô H e r o d e s o amor ao faus-
guintes cidades e ilhas estrangeiras: ilhas de Cios, Cós, to " ; dono de tendências perdulárias, os lucros de seu ex-
4

R o d e s ; cidades de Laodicéia, Tripoli, Biblos, Beirute, Sí- tenso reino não lhe forneciam o n e c e s s á r i o . A seu res- 45

d o n , T i r o , Ptolemaida, Ascalen; Nicópolis, O l í m p i a ; Es- peito n ã o ouvimos queixas; pelo c o n t r á r i o , parece ter sido
p a r t a , Atenas, P é r g a m o , Antioquia, D a m a s c o . 34
a m a d o pelo p o v o . T u d o faz crer q u e sabia cobrir as
4fi

excessivas despesas pessoais sem sacrificar seus súditos de


D i a n t e dessa e n u m e r a ç ã o p o d e m o s crer em J o s e f o 35

m o d o desmedido; defendia-se, c o n t r a i n d o dívidas; já o fi-


q u a n d o nos diz que u m insaciável orgulho constituía o zera antes m e s m o de se t o r n a r rei, em diferentes ocasiões.
traço fundamental da personalidade do m o n a r c a ; era a
m o l a de seu c o m p o r t a m e n t o i m b u í d o d e grandeza. Os im-
3 8 . B. j . I I 6, 2, § 84-91; Ant. X V I I 11, 2, § 304-310.
postos e alfândegas, relativamente aceitáveis, só em fraca 39. B. j . I 26, 2, § 524; II 6, 2, § 84-86.
m e d i d a conseguiam cobrir as despesas. As d á d i v a s — a 40. B. j . I I 6, 2, § 85s. Ant. X V I I I 11, 2, § 304ss. H i l c l q u e per-
;

t e n c e a é p o c a de H e r o d e s , o G r a n d e , e d e A r q u e l a u , já e x p r e s s a r a
H e r o d e s , a seus parentes e " a m i g o s " , assim c o m o aos co- sua o p i n i ã o s o b r e a m a n e i r a d e e s c a p a r d a a l f â n d e g a g r a ç a s a u m
letores de impostos e demais encarregados desse serviço 36
p a u o c o q u e p e r m i t e fazer o c o n t r a b a n d o (cf. Kel. X V I I , 1 6 ) . S e g u n d o
e a seus s u b o r d i n a d o s — a confiscação de bens e impo-
37
a Tosefta, R. Y o h a n a n b e n Z a k k a i q u e e n s i n a v a em Jerusalém nos
a n o s a n t e r i o r e s a 70 d . C , p r o n u n c i o u - s e i g u a l m e n t e ; fazia u m claro
sições extraordinárias devem ter pesado e n o r m e m e n t e so- a p e l o a o e n s i n o t r a d i c i o n a l (Schlatter, Joch. b. Zak., 3 0 ) . E m Kil. I X
b r e o p o v o . Queixou-se esse, c o m a m a r g u r a , d o m o d o 2, discute-se a r e s p e i t o do c o n t r a b a n d o p r a t i c a d o graças a diversas
p e ç a s de r o u p a s enfiadas u m a na o u t r a ; em Ned. I I I 4 e b . Ned. 2 7 , b

c o m o comunas inteiras foram prejudicadas consoante pro- fala-se d e o u t r o s p r a t i c a d o s a t r a v é s de falsas d e c l a r a ç õ e s ; ver, aliás,
Billerbeck, I, 379s.
32. Q u a n t o a Jerusalém, v e r supra. p p . 44s, 81s, 106s. 4 1 . B. j . II 6, 2, § 87.
3 3 . O t t o , Herodes, col. 95. 4 2 . O fato deve ter o c o r r i d o antes d a c o n f i s c a ç ã o q u e se proces-
34. Md., col. 75-77. sou e n t ã o {Ant. X V 1, 2, § 5 ) , s u p o n d o q u e n ã o se trate de u m a
35. Ant. X V I 5, 4, § 153. r e p e t i ç ã o d o relato da f u n d i ç ã o de objetos preciosos p e r t e n c e n t e s ao
rei q u e se d e u mais t a r d e {Ant. X V 9, 2, § 3 0 6 ) .
36. N a o p o d e m o s r e s o l v e r a q u e s t ã o : a d m i n i s t r a ç ã o ou a r r e n d a -
m e n t o e s t a r i a m e m uso sob H e r o d e s ? Cf. O t t o , Herodes, col. 97. 4 3 . Ant. X V I I 13, 2, § 342ss; B. j . I I 7, 3, § 111.
37. Pelo q u e se p o d e c o n c l u i r d o t e x t o a l t e r a d o d e Ani. X V I I 1 1 , 44. Ant. X I X 7, 3, § 4 2 8 ; B. j . I I 11, 6, § 218.
2 § 308. 45. Ant. X I X 8, 2, § 352.
4 6 . Ibid., § 349.
N u m dos casos, trata-se de u m a dívida de mais de u m 2 . Lutas e saques
m i l h ã o de d r a c m a s de p r a t a á t i c a s . Mesmo como rei,
47

agiu assim p a r a obter as quantias ^ almejadas. N a situação política confusa da é p o c a , Jerusalém teve
N o t e m p o do domínio r o m a n o ( 6 - 4 1 , 44-46 d . C ) , o de sofrer p a r t i c u l a r m e n t e e n q u a n t o capital dos j u d e u s e
nível dos impostos manteve-se mais ou menos i n a l t e r a d o , cidade de seu s a n t u á r i o . D u r a n t e o r e i n a d o de H e r o d e s ,
isto é, subiu a 600 talentos p a r a a província da Judéia . w
gozou de certa trégua, mas após sua m o r t e e especialmente
E m 6 6 , as autoridades de Jerusalém p e r c e b e r a m 4 0 talen- sob o domínio r o m a n o , as angústias da guerra reapare-
tos de impostos atrasados ; se se trata do imposto a n u a l
50
ceram.
d a t o p a r q u i a de Jerusalém, seria u m a confirmação, pois é
b e m provável q u e a mais i m p o r t a n t e das onze t o p a r q u i a s
pagasse essa taxa, não incluídos os direitos alfandegários.
Tácito mostra-nos até que p o n t o o povo se ressentia do C. R E L I G I Ã O E CULTO
peso das taxas: no ano 17 d . C , as províncias da Síria e
d a Judéia solicitaram uma r e d u ç ã o . D u r a n t e o cerco d e
3l

Jerusalém, em 70 d . C , a recusa do imposto, segundo B. j . 1. A beneficência


V 9, 4 , § 4 0 5 , é a única causa da guerra. Visto dessa for-
m a , deduzimos ser falso, mas característico do papel q u e A esmola representa g r a n d e papel na piedade judaica.
as taxas r e p r e s e n t a v a m . Seria a b s o l u t a m e n t e impossível " M u i t a s esmolas, muita p a z " , ensinava Hilel. T e r com-
5 3

avaliar os subsídios e gratificações pagos às autoridades e paixão do próximo é sinal que permite reconhecer a des-
serviços administrativos. " A ninguém molesteis com ex- cendência de A b r a ã o . E m Jerusalém corre este d i t a d o :
5,1

torsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos c o m " O sal da riqueza, é a prática da c a r i d a d e (hesed)" . 55

vosso s o l d o " (Lc 3,14); tal é a exortação de João Batista N u n c a se deve s u b e s t i m a r o papel q u e a prática da
aos soldados, em sua "pregação profissional". Mateus (Mt caridade representa na pregação de Jesus. " V e n d e i vossos
2 8 , 1 2 ) m e n c i o n a u m caso de corrupção entre soldados ro- b e n s e d a i e s m o l a " (Lc 12,33). " Q u a l q u e r de vós q u e n ã o
m a n o s em Jerusalém. Por c o r r u p ç ã o ou c o m p r a , o quiliar- r e n u n c i a r a tudo o que possui, não p o d e ser meu discí-
ca Cláudio Lísias, c o m a n d a n d o a praça de Jerusalém, ad- p u l o " (Lc 1 4 , 3 3 ) . Sem dúvida esses são trechos característi-
quiriu o direito de cidadania r o m a n a (At 2 2 , 2 8 ) . A cor- cos de são Lucas, que a m a os pobres, no e n t a n t o , não po-
r u p ç ã o atingiu os postos mais elevados. Basta ver as n u m e - demos considerá-los secundários. Com efeito, a perícope
rosas queixas relativas à venalidade dos p r o c u r a d o r e s ; do moço rico figura nos três sinóticos . D e t u r p a m o s porM

dessa censura n e m P i l a t o s 52
ficou isento: Félix reteve vezes essa perícope ao d a r u m a explicação errônea do
P a u l o em Cesaréia na esperança de obter dele gratifica- " p e r f e i t o " e d e " t e u s b e n s " (Mt: " o que possuis", M c :
ções (At 2 4 , 2 6 ) , mas é sobretudo Josefo q u e , nesse cam- " t u d o o q u e p o s s u i s " ; L c ) . Vejamos como interpretá-la:
5 7

p o , conta-nos fatos desagradáveis.


a) É inadmissível considerar " p e r f e i t o " como desig-
nação de u m grupo p a r t i c u l a r de pessoas sem defeitos ou

47. Ani. X V I I I 6, 3-4, § 157 e 163. 5 3 . P. A. U 7.


48. Ani. X I X 8, 2, § 352. 54. b . Besa 3 2 . b

49. Ani. X V I I 11, 4, § 320; B. /. II 6, 3, § 97. 55. b . Ket. 6 6 bar.;


b
o u t r a forma, ibid.; " O sal d a r i q u e z a é a
50. B. j . II 17, 1, § 405.
51. TáciLo, Annal. S c h ü r e r , I, 474, n . 96. economia baset)".
52. Fílon, Leg. ad Caium, § 302. 56. M t 19,16-30; M c 10,17-31; Lc 18,18-30.
57. M c 10,21; M t 19,21; Lc 18,22.
d e pessoas q u e t e n d e m à perfeição, às quais Jesus p e d e D e v e m o s , pois, aceitar a i n t e r p r e t a ç ã o segundo a qual
d e t e r m i n a d a s atitudes. Sem d ú v i d a , no e n t e n d i m e n t o hele- " v e n d e r t u d o " não deve ser t o m a d o literalmente, mas
nístico " p e r f e i t o " poderia ter esse s e n t i d o , m a s , na com-
58
como expressando, de m o d o e m p o l g a n t e , a exigência da
p r e e n s ã o d o b a i x o j u d a í s m o , perfeito é o justo que observa caridade. Mesmo nesse caso, certo é q u e tal exigência re-
fielmente a T o r á . Q u a n d o Jesus diz: "Se queres ser per-
5 9
presentou papel considerável na p r e g a ç ã o de Jesus.
feito", não introduz, pois, n e n h u m termo n o v o ; a p e n a s Após esse p a n o r a m a do valor da caridade na época,
exprime, de m o d o diferente, a idéia contida em Mt 1 9 , 1 7 : vejamos agora a situação de Jerusalém e, inicialmente, a
"Se queres e n t r a r p a r a a V i d a " , forma q u e retomou n a beneficência exercida por particulares.
questão do m o ç o rico (Mt 19,16). C o n s e q ü e n t e m e n t e , n a O piedoso herosolimitano q u e freqüentava o T e m p l o
idéia de Jesus, a utilização das riquezas com o fito de d a r e cruzava, talvez com u m m e n d i g o , paralítico de nascença,
esmolas faz p a r t e do c u m p r i m e n t o dos m a n d a m e n t o s . à p o r t a do santuário c h a m a d a " P o r t a F o r m o s a " (At 3,2¬
-10), dava-lhe, e v i d e n t e m e n t e , u m a esmola. Se visse u m
b) Se há nesse texto uma p a l a v r a cujo sentido d e v a
p o b r e , doente ou louco, diante de sua casa, dava-lhe de
ser t o m a d o com prudência, é a p a l a v r a " t u d o " ; a litera-
comer . N a q d e m o n b e n G o r i o n usava u m processo curio-
64

tura da época b e m o d e m o n s t r a .
so: q u a n d o se dirigia p a r a sua escola, estendia pelo cami-
Segundo a Mishna , deve-se dedicar ao santuário p o r
fi0
n h o q u e percorria, m a n t a s de lã; atrás dele, os pobres
a n á t e m a , somente u m a parte das próprias riquezas; as dis- p o d i a m apanhá-las . C o n v é m t a m b é m salientar a genero-
65

posições que p r e v ê e m q u a l q u e r acréscimo não são válidas. sidade da família real. Agripa I era tido como muito ca-
Usa-se essa passagem como p r o v a de que t a m b é m deve ha- ridoso e muito louvado foi o vasto p r o g r a m a q u e Hero-
66

ver u m limite à prática da caridade. N o século I de nossa des pôs em prática d u r a n t e a g r a n d e fome de 25-24 (23)
era, já estava em vigor a p r e s c r i ç ã o q u e proibia dispor de a.C. N a q u e l e m o m e n t o , o rei não r e c u o u diante de sacri-
mais de u m quinto da fortuna pessoal p a r a fins beneficentes. fícios pessoais: m a n d o u fundir todos os ornamentos em
Z a q u e u , chefe dos publícanos, p r o m e t e distribuir a m e t a d e p r a t a e o u r o de seu palácio, sem excluir peças preciosas
de seus bens em esmolas e ainda r e p a r a r os danos causa- ou objetos de a r t e " . Conta-nos J o s e f o
6 7 68
as medidas to-
dos (Lc 19,8); Jesus louva-lhe o intento e declara-o bem¬ madas por Herodes:
-aventurado. À expressão " v e n d e r todos os seus b e n s " 62

não pode, pois, ser sempre t o m a d a ao p é da letra. Esses à) Inicialmente, após pesquisa minuciosa, distribuiu
u

testemunhos mostram até o n d e , na prática, podia-se em- trigo a todos aqueles q u e estavam em condições de prepa-
pregar os bens com fitos caritativos. Em c o n t r a p a r t i d a , rar pessoalmente o seu alimento.
sabemos de u m h o m e m — R. Y o h a n a n — q u e c u m p r i u
6) E n t r e t a n t o , a velhice ou q u a l q u e r enfermidade dei-
o preceito ao pé da letra: vendeu tudo o q u e possuía
x a v a inúmeras pessoas sem p o d e r fazer o p r ó p r i o pão.
como propriedades imobiliárias p a r a consagrar-se ao es-
P r o c u r o u então prover às suas necessidades, e m p r e g a n d o
tudo da T o r a ; n a d a reservou p a r a manter-se na velhice . 6Í

p a d e i r o s " . Essa última m e d i d a apresenta, de m a n e i r a ca-


racterística, a situação das zonas u r b a n a s e faz-nos logo
58. Ver, p o r ex., Poimandrés I V 4, o n d e " p e r f e i t o " significa "ini-
ciado". p e n s a r em Jerusalém.
59. Saddiq gamúr, cf. Billerbeck, I, 816.
60. 'Ar. V l l l 4.
64. B. j . V I 5, 3 , § 307.
61. j . Pea I 1, 1 5 23 ( I I / l , 5 ) .
b

65. b . Ket. 6 6 - 6 7 b a r .
b a

62. Makar koi mah séyyes lô, b . Pes. 4 9 b a r . a

66. Ant. X I X 7, 3, § 328 e 330; cf. 6. 1, § 293s.


63. Pesiqía de Rab Kahana X X V I I I 13, ed. S. Buber, Lyck, 1868, 67. Ant. X V 9, 2, § 306.
1 7 8 5.
b

68. Ibiã., § 309.


11
c) T o m o u , finalmente, as providências indispensá- q u a n t i d a d e de trigo em Alexandria; enviou outros súditos
veis p a r a que a p o p u l a ç ã o pudesse atravessar o inverno a C h i p r e para trazerem v o l u m o s a carga d e figos s e c o s " . 76

sem perigo, pois a falta de tecidos e de roupa fazia-sc Izates de A d i a b e n a interveio, igualmente, r e m e t e n d o certa
t a m b é m sentir [juntamente com a fome] ". q u a n t i a em d i n h e i r o . Segundo o T a l m u d e , todo o tesouro
77

A q u a n t i a , digna de fé , de 8 0 . 0 0 0 kor = mais ou


6y

real teria sido e m p r e g a d o para tal fim . 7S

menos 3 1 5 . 2 0 0 hectolitros™ de trigo, distribuídos no reino E r a de uso corrente que os peregrinos praticassem
de H e r o d e s , dá uma idéia de q u ã o amplas foram as me- a caridade em Jerusalém. Esse h á b i t o se deduz do que
didas tomadas. Josefo nos diz: em Jerusalém gastava-se e m beneficências
73

certa p a r t e do segundo dízimo e o p r o d u t o das árvores e


O peregrino piedoso exercia a caridade d u r a n t e a sua v i n h a s de q u a t r o a n o s . Vista essa afirmação, parece útil
so

peregrinação; se a praticasse na própria Jerusalém, o ato mencionar o texto do Sinaiticus e m T b 1,6-8: supõe, evi-
seria especialmente meritório. N ã o é por acaso que o men- d e n t e m e n t e , q u e o dízimo dos p o b r e s do terceiro e sexto
digo cego de Jericó fica sentado à beira do c a m i n h o dos
71

ano da semana de anos fosse distribuído em Jerusalém aos


peregrinos. Q u a n d o Judas afasta-se do círculo dos discí- p o b r e s , viúvas e prosélitos. E n t r e t a n t o , n ã o exclui q u e fos-
pulos, após a última ceia, u m a inadvertência fê-lo crer sem em geral os pobres do lugar o n d e a pessoa residia
que Jesus encarregara-o de distribuir e s m o l a s . Q u a n d o 72

q u e recebessem o terceiro dízimo , na m e d i d a , é evidente,


31

Paulo chega a Jerusalém para a festa de Pentecostes (At em que tivesse sido pago.
20,16) recomendam-lhe pagar as despesas que o voto de
nazireato exige de q u a t r o cristãos de Jerusalém (At 2 1 , 2 4 ) ; I n t e r m e d i á r i a entre a beneficência p r i v a d a e p ú b l i c a ,
(trata-se de sacrifícios a o f e r e c e r ) . N ã o era essa u m a
73
existia a beneficência das comunidades religiosas. Podemos
forma desusada de caridade: Shimeon ben Shctah, assim comprová-lo, o b s e r v a n d o o q u e se p a s s a e n t r e os essênios:
nos c o n t a m , convenceu A l e x a n d r e Janeu (103-76 a.C.) a em cada cidade, p o r t a n t o , em Jerusalém t a m b é m , havia
encarregar-se das despesas de cento e cinqüenta nazireus ; 74
u m funcionário p a r t i c u l a r d a ordem, e n c a r r e g a d o de pro-
q u a n d o atingiu o p o d e r , Agripa 1 (41-44 d.C.) " m a n d o u ver de roupas e outras coisas necessárias, os irmãos em
b a r b e a r e cortar os cabelos de g r a n d e n ú m e r o de nazireus, t r â n s i t o . C o n s t a t a m o s igualmente essa ajuda na comuni-
82

a r c a n d o com a despesa . D u r a n t e a fome que grassou en-


75
dade cristã de Jerusalém. D e n t r o da c o m u n i d a d e primitiva,
tre 47 e 4 9 , a ingerência da r a i n h a Helena foi particular- vemos u m a c o m u n i d a d e d e bens voluntária \ que se
83
f
s

mente eficiente. " A o chegar a Jerusalém, a fome dizimava


a cidade e a falta de gêneros provocava a morte de inúme- 76. Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
ros habitantes. O r d e n o u , pois, q u e fosse c o m p r a d a g r a n d e 77. Ibiã., § 5 3 .
78. b . B. B. l l L l
b a r . É p o r e r r o q u e esse relato do T a l m u d e re-
fere-sc a M o n o b a z e de A d i a b e n a , p o r q u e trata-se, s e g u n d o t o d a veros-
69. N o fim d o século p a s s a d o , a Bélgica era o b r i g a d a a i m p o r t a r , s i m i l h a n ç a , do m e s m o fato.
a n u a l m e n t e , 6 m i l h õ e s de hectolitros de trigo p a r a a p a n i f i c a ç ã o . 79. Ant. I V 8, 19, § 227.
70. 1 kor = 30 s"'ah = 3,94 hectolitros ( s e g u n d o Josefo, 1 kor 8 0 . V e r infra, p. . . .
= 10 m e d i m n e s áticas d e 5 1 , 84 1 c a d a [ A n i . X V 9, 2, § 314; cf. F .
8 1 . Cf. Dl 2 6 , l 2 ; 1 4 , 2 8 s .
L ü b k e r , Reallexikon des classischen Aheríums, 8- ed., Leipzig, 1914,
82. B. j . II 8, 4, § 125.
11481)•
8 3 . A t 2.44-45;4,^2-37;5,1-11. M u i t a s v e z e s se t e m c o n t e s t a d o essa
7 1 . M c 10,46 p a r . Lc 18,35. — M t 20,30 (cf. 9,27) fala d e dois c o m u n h ã o de b e n s d a c o m u n i d a d e p r i m i t i v a . O s m o t i v o s i n v o c a d o s
cegos. p a r a negá-la não m e p a r e c e m c o n v i n c e n t e s , se o b s e r v a r m o s q u e os
72. Jo 13,29; cf. M t 26,9; Mc 14,5; Jo 12,5. c r i s t ã o s p e r m a n e c i a m livres d c p a r t i c i p a r o u n ã o dessa posse e m co-
7 3 . At 21,26; cf. 24,17: " o b l a ç õ e s " . m u m . A m a n e i r a p a r t i c u l a r de salientar o e x e m p l o d e B a r n a b é (At
74. S c h ü r e r , I, 279s.; Billerbeck, I I , 755s. 4.36-37), explica-se, pois, pela i m p o r t â n c i a desta pessoa. A casa. n u m a
75. Ant. X I X 6, I, § 294. p r o p r i e d a d e p r i v a d a (12,12-13) e r a , o b v i a m e n t e , o l u g a r c m q u e a
c o m u n i d a d e se r e u n i a . A p r e s e n ç a de p o b r e s n a c o m u n i d a d e (6,1) é
estendia às p r o p r i e d a d e s prediais e tornava o benefício
85
bres d a cidade, compunha-se de alimento e r o u p a s . Con- 8 6

possível. Mesmo p a r a q u e m vê no relato dos Atos dos Após- cluímos, com certeza: essas instituições serviram de certo
tolos sobre essa c o m u n i d a d e de bens u n i c a m e n t e u m ideal m o d o como modelos à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a . A distribui-
apresentado por u m a história, reconhecerá sem dificuldade, ção cotidiana de subsídios r e m e t e ao tamhüy, como a seu
a extensão dos benefícios prestados pela c o m u n i d a d e pri- m o d e l o ; assim t a m b é m , o recebimento de víveres por pes-
mitiva que se provia de meios na v e n d a das p r o p r i e d a d e s . soas domiciliadas no lugar (trata-se, antes de t u d o , das
A distribuição era feita a partir de u m a central (dos Após- viúvas) remete à qüppah. É possível que os auxílios aos
tolos) (At 4,37;5,2) através de colaboradores voluntários p o b r e s , entre os j u d e u s , só se tenha organizado em duas
(At 6,1-6). Temos informações mais precisas na p a r t e do direções em época mais tardia e, p r i m i t i v a m e n t e , t e n h a m
livro dos Atos relativa à instituição das sete pessoas en- sido, como a ajuda cristã, distribuídos todos os dias tam-
carregadas dos pobres (ib.). Segundo esse relato, vigorava b é m às pessoas m o r a d o r a s do lugar. É mais provável, po-
u m "serviço de m e s a s " (At 6,2); a c o m u n i d a d e alimentava rém, q u e , d i a r i a m e n t e , a refeição em c o m u m da comuni-
os que não t i n h a m recursos. d a d e primitiva constituísse, p o r si m e s m a , u m a distribui-
ção cotidiana de esmolas aos m e m b r o s desfavorecidos.
Para melhor c o m p r e e n d e r como se processava essa
ajuda, será útil fazer uma c o m p a r a ç ã o entre as duas ins- Seja c o m o for, eis como p o d e m o s c o m p r e e n d e r a ma-
tituições judaicas correspondentes: o tamhüy ( " p r a t o dos n u t e n ç ã o dos pobres pelos cristãos:
p o b r e s " ) e a qüppah ("cesta dos p o b r e s " ) . Vejamos o q u e
a) feita in natura (pelo que se d e p r e e n d e dos próprios
distinguia u m a da outra. O tamhüy era distribuído todos
At 6,2);
os dias aos pobres em trânsito; compunha-se de alimento
(pão, favas, frutas; n a Páscoa era acrescentado o v i n h o b) garantia e subsistência por vinte e q u a t r o horas
prescrito). A qüppah, distribuída todas as semanas aos p o - (— duas r e f e i ç õ e s ) ; 87

e x p l i c a d a se a c o m u n h ã o d e b e n s se e s t e n d e a p e n a s às p r o p r i e d a d e s c) p r o v a v e l m e n t e , a distribuição centralizava-se n u m
i m o b i l i á r i a s . — A q u e l e q u e p õ e c m d ú v i d a a existência d a c o m u n i - único lugar. Podemos esboçar o seguinte q u a d r o : todos os
d a d e de b e n s d e v e , a n t e s de t u d o , e x p l i c a r a o r i g e m dos r e l a t o s dos dias os cristãos de Jerusalém se r e u n i a m n u m a c a s a , 8S

A t o s . A l g u m a s expressões dos Atos são u m eco d o ideal c o m u n i t á r i o


helenístico ( P l a t ã o ; J a m b b l i q u e , Vida de Pitágoras; ver E. Preuschen, casa d a reunião, talvez à noite , p a r a u m a refeição que
8S

Die Apostelgeschichte, T ü b i n g e n , 1912, 2 8 ) ; m a s n ã o b a s t a p r o v a r q u e se desenrolava n u m q u a t r o litúrgico , sob a direção dos w

o a u t o r dos Atos i m p r i m i u , de si p r ó p r i o , à c o m u n i d a d e p r i m i t i v a , u m
ideal diferente. — E m p a g a , deve-se salientar q u e u m a c o m u n h ã o d e doze apóstolos (At 6 , 2 ; 2 , 4 2 ) . C o m os donativos recebidos
b e n s é c o m p r e e n s í v e l se l e v a r m o s e m c o n t a três fatos, a) C o m o v i m o s serviam os pobres — as viúvas em p r i m e i r o lugar — e
(p. 179s), Jesus exigiu, p o r diversas vezes, q u e se r e n u n c i e aos p r ó - eles recebiam, ao m e s m o tempo, alimento p a r a o dia se-
p r i o s b e n s e m favor dos p o b r e s ; b) Jesus e os discípulos d e r a m o
e x e m p l o ; v i v i a m à custa de u m a caixa c o m u m e h a v i a m a b a n d o n a d o
seus b e n s (Jo 13,29; 12,6; Mt 19,29 e p a r . ) ; c) h á t a m b é m o e x e m p l o 8 6 . Pea V I I I 7; b . B. B. 8 b a r ; b . B. M. 3 8 ; T o s . B. M. I I I
b a

dos essênios q u e t i n h a m , c o m o a c o m u n i d a d e p r i m i t i v a , refeições em 9 (376, 20) (favos e f r u t o s ) ; M i s h n a Pes. X 1 ( v i n h o ) .


c o m u m (B. j . I I 8, 5 § 129s). — At 5,1-11 é u m a p r o v a formal da 87. Cf. Pea V I I I 7.
c o m u n h ã o de b e n s ; c o m efeito, o p e c a d o de A n a n i a s n ã o é o d e ter 88. E m At 2,46 kat' Otkon opÕe-se " a o T e m p l o " , n o sentido, de
m a n t i d o , m a s o de ter s u b t r a í d o algo de u m b e m c o n s a g r a d o a D e u s ; "à c a s a " c o m o e m F m 2. Isso n ã o significa dizer " e m c a d a c a s a " ,
cf. 5,2 ("ele s o n e g o u " ) e 5,3 (pseúdesthai com o acusativo: "enganar"; c o n f o r m e o d e m o n s t r a a p r e s e n ç a de t o d o s os apóstolos assim c o m o
v e r B l a s - D e b r u n n e r , Grammatik des neutest. Griechisch, 12" ed., G õ t - as p a s s a g e n s d e A t 12,12-2,1-2; 1,Í5 o n d e se e n c o n t r a toda a c o m u n i d a d e
tingen, 1965, § 187, 4; m e s m o em At 5,4, o v e r b o p o d e r i a ter esse í-eunida.
s e n t i d o , a p e s a r d e o d a t i v o ser, sem d ú v i d a a q u i , u m s e m i t i s m o (cf. 89. E m At 12,12, a c o m u n i d a d e reúne-se a i n d a d u r a n t e a n o i t e
klbeí £
l ). (12,6).
84. A t . 5,4;2,45;4,32. 90. At 2,42-46; fração d o p ã o (essa e x p r e s s ã o designa a refeição
85. At 2 , 4 5 ; 4 , 3 4 . 3 6 - 3 7 ; 5 , l - l l . v e s p e r t i n a ; é, p r o p o s i t a d a m e n t e i m p r e c i s a , l e v a d a em conta a disciplina
do m i s t é r i o .
guinte. O s Atos cios Apóstolos descrevem assim essa festa tação crescente da peste cada q u a t r o e sétimo ano da se-
diária: "Eles se m o s t r a v a m assíduos ao e n s i n a m e n t o dos mana de anos, p o r q u e sucedem o terceiro e sexto ano que
apóstolos, à c o m u n h ã o fraterna [isto é: repartição dos são os determinados p a r a o dízimo dos p o b r e s c ) Os
bens] , à fração do pão e às o r a ç õ e s " (At 2 , 4 2 ) .
9I

direitos regulares do c a m p o \ respiga ° , o que é deixado


9 9

Com o correr do tempo, as coletas feitas nas comu- (por exemplo, o feixe esquecido) " , grãos que c a e m du- ,u

nidades do exterior a u m e n t a r a m os meios da c o m u n i d a d e rante a vindima e rebusca das v i n h a s . A esse respeito


m m

primitiva p a r a a sua ação caritativa. Por ocasião da gran- t a m b é m há queixas de q u e as prescrições não são obser-
de fome q u e grassou entre 47 e 49 d . C , fez-se, talvez pela vadas ( m a s , conforme vemos em alguns trechos, os po-
m

primeira vez, u m a coleta desse gênero em Antioquia, c o m bres sabiam fazer valer os seus direitos.
o fito de amenizar a situação desesperadora da comuni-
dade de Jerusalém (At 1 1 , 2 7 - 3 0 ; 1 2 , 2 5 ) . E m seguida, re- d) Assinalemos ainda u m a série de prescrições so-
petiram-se as coletas para a Cidade santa, pelo menos u m a ciais m e n c i o n a d a s no T a l m u d e , e q u e r e m o n t a m , segun-
104

vez, por ocasião da terceira viagem missionária de Pardo do dizem, a Josué. Dc acordo com essas disposições pode-
d u r a n t e a qual o apóstolo organizou u m serviço de auxí- riam t a m b é m levar a pastar o gado em campos alheios,
lios'' . A n a l i s a n d o tais coletas, K, H o l l associou à obri-
2 9 3 cortar lenha nas matas de outros, ceifar q u a l q u e r pasto,
gação da m a n u t e n ç ã o dos " p o b r e s " , com a qual Paulo (Gl salvo nos campos de feno grego,, e pescar à vontade no
2,10) e os apóstolos estão de acordo, a existência de u m a lago de G e n e s a r é .
taxa regular das c o m u n i d a d e s pagãs p a r a Jerusalém; é di- Q u e instilLiiçÕes públicas vemos nós em Jerusalém
fícil, porém, aceitar que tenha razão. no c a m p o da beneficência? O que jã dissemos da manu-
tenção dos pobres pela c o m u n i d a d e cristã primitiva le-
Vejamos agora qual a prática da beneficência pública. vou-nos a crer na existência, dentro do j u d a í s m o , de ins-
N ã o nos cabe descrever a legislação veterotestamentária tituições semelhantes anteriores. Com efeito, delas ouvi-
e rabínica no setor social. Ä guisa de i n t r o d u ç ã o , lembre- mos falar, por e x e m p l o , a propósito de u m a questão de
mos apenas as principais prescrições: a) o ano sabático, direito, discutida entre H a n a n b e n A b i s h a l o m , juiz cm
d u r a n t e o qual se deviam anular todas as dívidas ; o uso 94
Jerusalém e os sacerdotes chefes, c sobre a qual R. Yoha-
da cláusula c h a m a d a prosbole, i n t r o d u z i d a por H i l e l , 9 5
n a n ben Z a k k a i expõe sua opinião. Ficamos sabendo que
permitia escapar dessa obrigação, b) o dízimo dos po- uma m u l h e r cujo m a r i d o partiu p a r a o estrangeiro pode
bres : no terceiro e sexto ano, o fiel devia d a r aos po-
%
pedir subsídios à c o m u n i d a d e ; deve recebê-los do "cesto
105

bres, após ter deduzido as taxas já prescritas, u m décimo do p o b r e " (qüppah). A M i s h n a prevê a i n d a que u m po-
do que restava dos produtos colhidos. A Mishna lastima b r e deve receber do " p r a t o dos p o b r e s " (tamhüy) os 4 co-
que tantas vezes esse dízimo deixe de ser pago; ao q u e pos de vinho prescritos p a r a a Páscoa, no caso de não
tudo indica, vêem nessa negligência a causa d a manifes- p o d e r obtê-los de outra maneira ; esse costume remonta,
106

p r o v a v e l m e n t e , à época em que se celebrava ainda a Pás-


9 1 . Q u e r dizer, a p r á t i c a d a c a r i d a d e (koinonía), cf. R m 15,26;
Fl 1,5;4,14-16. 97. P. A. V 9.
92. G a l 2,10; I C o r 16,1-4; 2Cor 8,9; R m 15,25-32; At 24,17. 98. Pea I l s s .
93. " D e r Kirchenbegriff des P a u l u s in seinem V e r h ä l t n i s z u d e m 99. Pea I V 10ss.
der U r g e m e l n d e " e m Sitzungsberichte der Preussischen Akademie der 100. Pea V 7ss.
Wissenschaften, Berlin, 1921, 920-947. 101. Pea V I I 3 .
94. Ver o t r a t a d o m i s h n a i c o Shebiit. 102. Pea V I I 5s.
95. Shebiit X 4. 103. P. A. V 9.
96. Pea V I I I 2-9; M. Sh. V 6. 9-10; e passim. V e r infra, p . 189ss, 104. b . B. Q. 8 0 - 8 1
b a
bar.
o p r o c e s s o do s e g u n d o d í z i m o . 105. Ket. X I I I 1-2.
106. Pes. X 1
coa em Jerusalém. H á uma instituição que só se e n c o n t r a pio, n o caso dos sacrifícios pelo p e c a d o , em lugar de u m a
aí: a caixa de auxílio p a r a a p o b r e z a e n v e r g o n h a d a . " H a - ovelha podia oferecer duas rolas, e na c o n d i ç ã o de po-
via duas salas no T e m p l o : u m a se c h a m a v a 'Sala dos si- breza extrema, até m e s m o u m a oferenda a l i m e n t a r . As 114

lenciosos' [em o u t r a fonte: dos p e c a d o r e s ] ; a outra, ' S a l a pessoas p o d i a m t a m b é m colocar seu d i n h e i r o em lugar se-
dos utensílios'. N a Sala dos silenciosos [ou dos p e c a d o r e s ] , guro, no T e m p l o ; conta-se que as viúvas e órfãos ser-
li5

as pessoas, temendo o p e c a d o , depositavam [suas d á d i v a s ] viam-se dessa possibilidade (2Mc 3,10).


em silêncio [ = secretamente] e os pobres d e b o a s famí- C o n v é m m e n c i o n a r a i n d a u m a m e d i d a social q u e ,
lias [ p o b r e z a e n v e r g o n h a d a ] e r a m atendidos e m segre- p r i m i t i v a m e n t e , dizia respeito apenas a Jerusalém. Trata¬
d o " . É provável que Jesus tivesse em m e n t e essa prá-
J07
-se da situação da viúva. E m Jerusalém, era costume pre-
tica q u a n d o m e n c i o n o u a esmola "feita em s e g r e d o " (Mt ver, por testamento, q u e continuaria a m o r a r na casa de
6,4), em oposição à c a r i d a d e p r a t i c a d a p u b l i c a m e n t e , ao seu m a r i d o d u r a n t e a viuvez, e viver dos bens p o r ele dei-
som da t r o m b e t a . Essa caixa achava-se no T e m p l o ; p o d e - xados. Tal m e d i d a tornou-se u m direito p a r a a viúva is-
mos, pois, supor que outras instituições de auxílio estives- raelita; poderia desfrutá-lo mesmo q u e não existisse u m a
sem t a m b é m n a q u e l e s a n t u á r i o , t a n t o mais que H a n a n , o disposição testamentária expressa . 116

juiz há pouco m e n c i o n a d o que decide uma questão de


subsídio, fazia p a r t e dos escribas mantidos pelo T e m p l o ; 2. O m o v i m e n t o de peregrinos
sabe-se, igualmente, q u e os sacerdotes chefes p o d i a m opi- como fonte de rendas
nar nesses assuntos.
Poderíamos obter u m a imagem aproximativa das des-
Ligadas t a m b é m ao culto no T e m p l o e n c o n t r a m o s
pesas dos peregrinos se pudéssemos d e m o n s t r a r a sua real
certas medidas s o c i a i s . Para prestar serviços no santuá-
I08

observância das prescrições segundo as quais, conforme a


rio, algumas aptidões físicas tornavam-se imprescindíveis,
interpretação rabínica de alguma passagens da Lei mo-
ficando o Sinédrio i n c u m b i d o de comprová-las . Aos sa- 109

saica, cada israelita estaria obrigado a gastar em Jerusa-


cerdotes, portadores de q u a l q u e r tara, não lhes era per-
lém sua p a r t e da renda a n u a l . Trata-se do segundo dízi-
mitido oficiar, mas t i n h a m acesso a o s a n t u á r i o o n d e e r a m
m o , do dízimo do gado e dos p r o d u t o s das árvores e das
e n c a m i n h a d o s p a r a outros t r a b a l h o s . I n c u m b i a m - n o s , por'
vinhas de q u a t r o anos . w

exemplo, de, na sala nordeste do átrio das mulheres, se-


pararem a madeira bichada d a m a d e i r a sã. R a b i T a r f o n i
110 Existia u m a diferença entre as disposições da Lei re-
viu seu tio, m a n c o de u m a p e r n a , soar a trombeta, c o m o lativas aos dízimos dos p r o d u t o s do solo e dos frutos des-
sacerdote, no adro , e assim fazia n u m a festa das T e n -
m tinados aos funcionários do culto . Essa diferença levou
l l s

das . Nesses serviços, os sacerdotes em questão t i n h a m


112 a exegese a aí e n c o n t r a r a prescrição d e doís dízimos: u m
direito a u m salário correspondente a sua origem, isto é, primeiro, de d o a ç ã o obrigatória, e u m segundo que o pro-
conforme sua p e r t e n ç a à família sacerdotal, revezando-se prietário deveria gastar em Jerusalém. Se n ã o quisessem
no serviço . Para os pobres, o culto concedia, em casos
m levar esse segundo dízimo in natura, p o d e r i a m trocá-lo por
determinados, algumas atenuantes i m p o r t a n t e s . Por exem- 114. Lv 5,7-13; Ant. I I I 9, 3, § 230.
115. 2 M c 3,4-6.10-15; 4 Mac. I V 1-3.7; B. j . V I 5, 2, § 282. A i n d a
e m nossos dias, n a P a l e s t i n a , usam-se os s a n t u á r i o s c o m o lugares se-
107. Sheq. V 6. g u r o s p a r a d e p ó s i t o s . E m 1914, vi n o t ú m u l o de u m s a n t o (weli)
108. Ver supra, p . 23s ( o p e r á r i o s d o T e m p l o ) . grandes moedas empilhadas.
109. Mid. V 4. 116. Kel. I V 12.
110. Mid. II 5. 117. I n d i c a ç ã o dos textos e bibliografia e m S c h ü r e r , I I , 306, n . 22
111. j . Yoma I 1, 3 8 32 ( I I I / 2 , 165).
d
n? 1-3.
112. T o s . Sota V I I 16 (308, 8 ) . 118. N m 18,20-32 e Lv 27,30-31; D t 14,22-26.
113. B. j . V 5 , 7 , § 2 2 8 .
dinheiro, m a s nesse caso, a pessoa via-se o b r i g a d a a acres- tiga concepção, as pessoas deviam, no terceiro e no sexto
centar-lhe u m q u a r t o se não usasse de algum estratagema, ano da semana de anos, transformar o segundo dízimo
exposto na M i s h n a , p a r a eximir-se d e tal a c r é s c i m o . D e
m n u m dízimo p a r a os pobres . Por conseguinte, deviam
122

qualquer m o d o , era proibido gastar o segundo dízimo nou- somente pagá-lo no p r i m e i r o , segundo, q u a r t o e q u i n t o
tro lugar q u e n ã o a c i d a d e santa. O t r a t a d o m í s h n i c o ano da semana de anos ; no sétimo ano o solo deveria
123

Ma'aser sem "segundo d í z i m o " expõe todas as questões ficar totalmente de pousio.
q u e se levantam sobre o assunto. E n c o n t r a m o s o u t r a interpretação na forma de texto
As prescrições sobre o segundo dízimo p a s s a r a m por mais recente {Alexandrinus-Vaticanus) da passagem de To-
diversos processos evolutivos. O mais antigo t e s t e m u n h o bias há pouco citada, texto que fala de três dízimos. C o m o
de u m segundo dízimo ao lado daquele que se era obri- fosefo explica , considerava-se como taxa a u t ô n o m a o
m

gado a d a r aos funcionários d o culto, encontra-se n a Se- dízimo para os pobres do terceiro e sexto ano. Além do
tenta, em Dt 2 6 , 1 2 , o livro dos jubileus X X X I I , 8-14 e mais, o segundo dízimo devia ser p a g o nos seis primeiros
T b 1,6-8 °, segundo a mais antiga das d u a s recensões
l2 anos da semana de anos. E m c o n t r a p a r t i d a , a literatura
existentes, a do Sinaiticus . De acordo com essa mais an-
121 rabínica m
parece defender a antiga m o d a l i d a d e , isto é, a
transformação, no terceiro e sexto a n o , do segundo dízimo
em dízimo p a r a os pobres. (Para Fílon , enfim, o segun- m

119. M. Sh. I V 4-5.


120. O livro dos jubileus dafa dc 100 a . C , a p r o x i m a d a m e n t e (cf. do dízimo é uma taxa destinada aos sacerdotes, e n q u a n t o
O . Eissfeldt, Einleilimg in das Alie Testaivent, J
3 ed., T ü b i n g e n , 1964, o primeiro dízimo destina-se ¿tos levitas). Essas profundas
8 2 4 ) , o de T o b i a s é, s e g u r a m e n t e , p r é - m a c a b a i c o (o.c. 793). m u d a n ç a s já p e r m i t e m , por si mesmas, d u v i d a r de que o
121. T b 1,6-8. C o m p r o v a n d o a a n t e r i o r i d a d e , q u a n t o ao livro de
T o b i a s , do Sinaiticus cm relação ao Alexandrinus-Vaticanus, Schürcr, segundo dízimo tenha sido u m costume religioso praticado
I I I . 2 4 3 , i n v o c a , com m o t i v o justo, dois fatos: p a r a Sin.. o d í z i m o do de m o d o geral. Tais dúvidas se reforçam pelo fato de u m
g a d o em 1,6 é a i n d a u m a taxa d a d a aos s a c e r d o t e s , o q u e Alex. refuta,
c o n f o r m e a p r e s c r i ç ã o p o s t e r i o r ; e m c o n t r a p a r t i d a , em Alex. o estilo
foi b u r i l a d o . U m e x a m e mais a c u r a d o de T b 1,6-8 c o n f i r m a a m a i o r Sanh. a p r e s e n t a u m s e n t i d o c l a r o : os versículos 6-7 a citam as taxas
a n t i g u i d a d e d e Sin.: d e v i d a s aos s a c e r d o t e s ; 7b, a dos levitas; 7 c-8, as o u t r a s p r e s t a ç õ e s .
Alexandrinus-V alicanus E m c o n t r a p a r t i d a , Alax.-Vat. n ã o e x p õ e u m s e n t i d o c l a r o : A) E m
Sinaiticus 6-7 a, a p e s a r da c o n c l u s ã o " e u os d a v a aos s a c e r d o t e s " , as taxas
p a r a esses s a c e r d o t e s n ã o foram c i t a d a s . P o r q u e , e n t r e as primícias e
" Apressava-mc em ir a Jerusalém
b "b
E u ia a J e r u s a l é m c o m as
o p r o d u t o d a t o s q u i a das o v e l h a s oferecidas aos s a c e r d o t e s , figuram
com as p r i m í c i a s , os p r i m o g ê n i t o s primícias e "os d í z i m o s dos p r o d u t o s c o l h i d o s " . Já q u e , n a c o n t i n u a ç ã o , Alex-Vat.
dos a n i m a i s , os d í z i m o s do g a d o e a os d í z i m o s dos p r o d u t o s c o l h i d o s e a cita o dízimo p a r a os levitas, o s e g u n d o e o terceiro d í z i m o s n ã o se p o d e
primeira t o n s u r a das ovelhas 7
e p r i m e i r a de t o d a s as o v e l h a s e eu
7

tratar de o u t r o d í z i m o dos p r o d u t o s colhidos a ser d a d o s aos sacerdotes.


oferecia-os a o s s a c e r d o t e s , filhos d e os d a v a aos s a c e r d o t e s , filhos de B) E m 6, trata-se, a n t e s , do c o n j u n t o das t a x a s q u e T o b i a s traz a Je-
A a r ã o [que oficiam] no altar. A a r ã o [que oficiam] no a l t a r . r u s a l é m . A c o n c l u s ã o , e m 7 a ("eu as d a v a aos s a c e r d o t e s " ) não t e m
E o dízimo d o trigo, d o v i n h o , E de lodos os p r o d u t o s c o l h i d o s s e n t i d o . C) Eis a e x p l i c a ç ã o desse fato. Alex-Vat. queria suprimir o
d o ó l e o , das r o m ã s , dos figos e eu d a v a o d í z i m o d í z i m o do g a d o , c i t a d o c m Sanh., c o m o taxa p a r a os sacerdotes. Por
outras frutas, dava-os aos filhos de •os esse m o t i v o , e m lugar de " o dízimo d o g a d o " ( o n d e o p l u r a l é filo-
Levi q u e se d e d i c a v a m ao serviço filhos de Levi q u e se d e d i c a m ao l ó g i c a m e n t e admissível) ele pôs de m a n e i r a m a q u i n a i "os dízimos dos
do altar cm J e r u s a l é m . serviço e m J e r u s a l é m . p r o d u t o s c o l h i d o s " ( e m b o r a n e m o singular n e m o plural p a r a o dí-
O s e g u n d o d í z i m o , eu o c o n v e r t i a O s e g u n d o d í z i m o , eu o v e n d i a z i m o dos p r o d u t o s colhidos c o n c o r d e m c o m o c o n t e x t o ) . N o livro de
em d i n h e i r o seis a n o s s e g u i d o s e ia e T o b i a s , Shan, é, p o i s , o texto mais a n t i g o .
gastá-lo e m Jerusalém todo a n o ia gastá-lo e m J e r u s a l é m
todo ano. 122. Remete-se a Dt 14,28-29;26,12.
s
e eu o d a v a aos órfãos e às 123. O livro jubileus é t a m b é m dessa o p i n i ã o ; isso se conclui d a
v i ú v a s e levava-os aos prosélitos q u e
8
E o terceiro d í z i m o eu o d a v a
àqueles a q u e m se d e s t i n a v a " . é p o c a em q u e foi redigido e d o fato de só c o n h e c e r dois dízimos.
se u n i r a m aos israelitas e eu lhes 124. Ant. IV 8, 22, § 240.
dava n o terceiro a n o e o comíamos
125. M. Sh. V 9.
s e g u n d o as prescrições.
126. Ver supra, p . 153, n . 90.
t r a t a d o inteiro da M i s h n a , o t r a t a d o D may, determinar
e
As variantes d i z e m respeito s o b r e t u d o às relações en-
o que deve ser feito dos produtos colhidos dos q u a i s n ã o tre o dízimo do gado e o p r i m e i r o e segundo dízimos.
se sabe se o p r o d u t o r pagou o previsto p a r a os sacerdo- Levando em conta o silêncio de Josefo, chegamos a u m a
tes e o segundo dízimo. conclusão: é difícil que essa taxa do dízimo do gado t e n h a
Primitivamente, o dízimo sobre o gado t a m b é m fazia sido efetivamente q u i t a d a . 131

p a r t e das taxas destinadas aos funcionários do culto . i27

D e acordo com a Lei (Lv 19,23-25), não se devia


A literatura rabínica o inclui no n ú m e r o das taxas que o
colher fruto das árvores e das vinhas nos três primeiros
proprietário deve consumir em Jerusalém. Com efeito, se-
anos; o q u a r t o ano seria consagrado a D e u s . Fílon repete
g u n d o a M i s h n a , podia-se, no caso de animais p u r o s , dei-
simplesmente esta prescrição . Segundo o livro dos jubi-132

xar de pagá-la , mas era preciso levá-la in natura a Je-


i2B

leus devia-se depositar sobre o altar u m a parte da colheita


rusalém; lá estrangulavam-se os animais em sacrifício de
d o q u a r t o a n o e d a r a o u t r a aos funcionários d o culto . 133

c o m u n h ã o (com a única diferença de que se omitia a im-


Por outro lado, Josefo e a Mishna
134
estão de acordo
135

posição das mãos) , e o p r o p r i e t á r i o podia consumi-las


m

em concluir que o proprietário devia gastar o equivalente


após ter d a d o aos sacerdotes as partes q u e lhes c a b i a m .
dessa colheita do q u a r t o a n o , em Jerusalém.
As próprias prescrições relativas ao dízimo do g a d o pas-
saram por muitas m u d a n ç a s , conforme no-lo mostra a lista Expressamos dúvidas sobre a o b s e r v a ç ã o geral des-
seguinte : 130
sas prescrições. E n t r e t a n t o , i n ú m e r o s círculos deviam obser-
vá-las q u a n t o ao segundo dízimo e às rendas do q u a r t o
a n o : essa conclusão ressalta das d u a s informações seguin-
Dízimo Primeiro Segundo tes q u e conservaram, visivelmente, alguns elementos histó-
do gado dízimo dízimo ricos: " m o e d a s e n c o n t r a d a s diante de [lojas dos] comer-
Dízimo Dízimo ciantes de gado são sempre consideradas como dinheiro
(dos (dos do dízimo; [se o e n c o n t r a r e m ] em Jerusalém, na h o r a d e
produtos produtos u m a festa, é dinheiro do dízimo; e m outras ocasiões, tra-
colhidos) colhidos) ta-se de dinheiro p r o f a n o " . P o r t a n t o , em Jerusalém, qual-
m

quer dinheiro e n c o n t r a d o p o r ocasião de u m a festa, pas-


sava por dízimo. Mas o primeiro dízimo era d a d o , n a
Tobias (Siri) . . . . sacerdotes levitas proprietário h o r a , aos sacerdotes d o local , in natura 13T
. O r a , trata-se
J3S

Tobias {Alex) . . . levitas proprietário aqui de u m dízimo trazido p a r a Jerusalém, sobretudo e m


Livro dos Jubileus sacerdotes sacerdotes proprietário
período de festa, e transformado e m dinheiro; só pode
Josefo sacerdotes proprietário
ser o segundo dízimo. A isso c o r r e s p o n d e o fato de que
Talmude proprietário sacerdotes proprietário
Fílon sacerdotes levitas (lev.) sacerdotes
131. P o d e i g u a l m e n t e valer p a r a o p e r í o d o mais antigo, I . Benzin¬
ger, Hebräische Archäologie 2? ed., T ü b i n g e n , 1907, 385 o p i n a q u e o
127. C o n c l u s ã o e x t r a í d a d e Lv 27,32-33. d í z i m o do g a d o , c o m o s u b v e n ç ã o p a r a os f u n c i o n a r i o s do culto e r a ,
128. M. Sh. I 2. " c o m efeito, s i m p l e s m e n t e i m p r a t i c á v e l " .
129. Hag. I 4; Zeb. V 8: " S a n t i d a d e m é d i a " designa o d í z i m o 132. De virt., § 159.
do g a d o . 133. Jubileus V I I 36.
130. T b 1,6-8; — Jubileus X X X H 15, cf. 2. 8 ; X I I I 26; — Bek. 134. Am. I V 8, 19, § 227.
I X 1-8 e passim; -— q u a n t o a Fílon, ver supra, p . 153, n. 190. T e m o s 135. Pea V I I 7; M. Sh. V 1-5; o t r a t a d o 'Orla inteiro,
p o u c o o q u e a p r o v e i t a r das i n f o r m a ç õ e s d e Fílon; c o m efeito, ele n ã o 136. Sheq. V I I 2 .
descreve a situação real, m a s e x p r i m e , ao q u e p a r e c e , s u a s p r ó p r i a s 137. Vita 12, § 6 3 ; 15 § 80.
idéias a r e s p e i t o das prescrições da Lei. 138. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206.

7 - Jerusalém no tempo de J e s u s
se trata de dinheiro utilizado em p r i m e i r o l u g a r na 1 3 9

Excurso I
c o m p r a de gado. A outra indicação é u m p o r m e n o r for-
necido por R a b b a n Shiméon b e n Gamaliel ( I I ) : distribuíam¬
-se em Jerusalém as colheitas do q u a r t o ano aos vizinhos,
parentes e conhecidos " p a r a decorar os bazares de Jerusa- A historicidade de Mateus 27,7
l é m " , a fim de que u m a oferta de aparência ostensiva
l4l)

em p r o d u t o s colhidos fizesse baixar os p r e ç o s . 141


Os chefes dos sacerdotes compraram o campo de um
Podemos, p o r t a n t o , dizer que as prescrições em ques- oleiro com o preço da traição de Judas. Esse dado parece-nos
tão c o n t r i b u í r a m p a r a a u m e n t a r a importância do movi- duvidoso. Com efeito:
m e n t o de peregrinos como fonte de renda p a r a Jerusalém. 1. talvez resulte da passagem de Zc 11,13 considerada
como uma profecia: "E tomei trinta siclos de prata e lancei¬
-os na Casa de Iahweh, ao oleiro" (texto massor);
3 . Lucros tributados à cidade pelo culto 2. esse dado só é encontrado em Mt (segundo At 1,18¬
-19); o próprio Judas teria comprado o campo.
O culto constituía a principal fonte de r e n d a p a r a Não podemos deixar de citar quatro grupos de fatores.
a cidade. G a r a n t i a o meio de vida da n o b r e z a sacerdotal,
a) A indicação segundo a qual Judas traz o dinheiro para
dos sacerdotes e dos funcionários do T e m p l o . As enormes
o santuário, passa erroneamente por ter sido tomada da pro-
despesas do tesouro do s a n t u á r i o (basta lembrar a sua re- fecia. Esse texto é explicado da seguinte maneira: Mt procura le-
construção) e o que os piedosos fiéis d a v a m p a r a o culto var em consideração tanto o yôser do texto massorético de Zc
(sacrifícios, presentes) p r o p o r c i o n a v a m diferentes possibi- 11,13 ("e lancei-os na Casa de Iahweh, ao oleiro") quanto do
lidades de benefícios às profissões e ao comércio da cidade. ensinamento 'ôsar admitido pela tradução siríaca do Antigo
Testamento ( — tesouro; "e lancei-os na Casa de Iahweh, no
Para terminar, vejamos a característica de Jerusalém tesouro"); por esse motivo, Mt chama o campo "campo do
q u a n t o a situação financeira dos h a b i t a n t e s : oleiro" (Mt 27,7) e traz Judas ao Templo para que ele traga
o dinheiro no intento de fazê-lo chegar ao tesouro do Templo,
a) n a g r a n d e parte da população que vive de cari- conforme podemos deduzir de Mt 27,6. Portanto, concluímos
dade; nós, nem a qualificação do campo como campo do oleiro, nem
a passagem segundo a qual Judas traz dinheiro ao Templo
b) na tensão resultante das oposições sociais entre
poderiam ser dados históricos.
essas c a m a d a s pobres de u m lado, a presença da corte
e a nobreza sacerdotal de o u t r o ; Essa explicação supõe que o mesmo homem que atribui
a citação a Jeremias em vez de a Zacarias (Mt 27,9) possui
c) no fato de a cidade dever à i m p o r t â n c i a religiosa conhecimentos de crítica textual sem impor-se, porém. Parece
sua p r o s p e r i d a d e . mais provável que Mt tenha lido yôser com o texto massoré-
tico, conforme o demonstra 27,10; o fato de Judas levar o
139. O d i n h e i r o e n c o n t r a d o a q u a l q u e r m o m e n t o do a n o , p r ó x i -
dinheiro ao Templo é decorrente do costume e, sem dúvida,
m o aos c o m e r c i a n t e s de g a d o era c o n s i d e r a d o c o m o d i n h e i r o d o dí- histórico.
zimo, isso deve, p o i s , e x p r e s s a r a " p o s s i b i l i d a d e m a i s e s t r i t a " . C o m A Mishna descrevemos um hábito já em uso antes do
efeito, é s u m a m e n t e viável q u e , m e s m o nesse caso, se cogitasse d o
d i n h e i r o do s e g u n d o d í z i m o .
tempo de Jesus. Em certos casos, aquele que possuía primiti-
140. T o s . M. Sh. V 14 (96, 1 0 ) ; b . Besa 5 ; b . R. H. 3 1 .
a b vamente o dinheiro, evitava retomá-lo; traziam então a quantia
141. R. S h i m e o n b e n Y o h a i é d e o p i n i ã o d i f e r e n t e ; m a s essa ao Templo e ela podia, assim, anular a compra. 'Ar. IX 4: se
o p i n i ã o só c o n c e r n e à q u e s t ã o seguinte: deve-se levar a f e r u s a l é m os alguém deseja fazer uso de seu direito de recuperar a casa
p r o d u t o s c o l h i d o s in natura ou s u a e q u i v a l ê n c i a e m d i n h e i r o ? vendida, dentro de doze meses, e se, para impedi-lo o com-
prador se esconde, deve, segundo Hilel, o Ancião, lançar o ço médio de um campo é, portanto, de 120 denários, aproxi-
dinheiro na sala do tesouro do Templo. O comprador pode, madamente.
se o desejar, vir buscar seu dinheiro. É provável que tenha
acontecido caso análogo, baseando-nos em Mt 27,5; Judas traz d) Não foi a profecia que levou a chamar o campo Ha-
o dinheiro ao Templo, não com o intuito de fazê-lo chegar ao keldama (At 1,19; cf. Mt 27,8), e sua utilização como lugar
tesouro do santuário, mas para anular uma transação já efe- de sepultamento para os estrangeiros. Realmente; o nome Ha-
tuada; nesse caso, com efeito, não se traía de uma casa, como keldama, então de emprego geral para o campo significava,
na passagem da Misfina citada há pouco, mas da própria pes- primitivamente, "cemitério"; se assim é, podemos concluir que,
soa de Jesus que foi comprada. O processo é o seguinte: o na verdade, a administração do Templo o utilizava para os
comprador, chefe dos sacerdotes e anciãos, isto é, o Sinédrio sepultamentos.
(Mt 27,3), recusa retomar o dinheiro. Judas o traz ao Templo Por conseguinte, considero perfeitamente plausível que
para assim anular a compra. No Templo, considera-se o di- Judas tenha trazido a quantia de dinheiro ao Templo para
nheiro como um bem abandonado; os chefes dos sacerdotes anular a compra, e que a administração daquele santuário te-
têm competência para decidir sobre seu uso (Mt 27,6). Con- nha utilizado esse dinheiro para adquirir um cemitério. Em
vém observar o seguinte: Mt 27,3 refere-se aos sumos sacer- seguida, alguns aspectos foram determinados pelo texto de Zc
dotes como membros do Sinédrio; 27,6, porém, menciona-os 11,13, visto como uma profecia: a designação do campo como
em sua missão específica, como corpo administrativo do Tem- um campo do oleiro, quando o nome mais corrente era o de
plo. Chegamos, pois, à seguinte conclusão: o trecho, segundo Hakeldama; sua localização pela tradição no vale do Hinom,
o qual Judas traz o dinheiro ao Templo não é condicionado localização que talvez tenha a sua origem numa fusão da pas-
pela profecia; justifica o fato de, na citação de Mt 27,9-10, sagem de Zacarias com os textos de Jeremias (Jr 19,1-2; 18,
não haver referência ao Templo. 2-3). No que diz respeito ao preço da traição, nenhum juízo
é possível.
b) Os sumos sacerdotes, com escrúpulo de depositar o
dinheiro no tesouro do Templo, decidem comprar com aquela
quantia um cemitério para o sepultamento dos estrangeiros
(isto é, dos peregrinos); essa passagem é, igualmente, digna
de fé. Conforme reza o Talmude, os bens adquiridos de ma-
Excurso I I
neira ilegal ou não pertencendo a ninguém (por exemplo, obje-
to roubado cujo dono não se consegue mais encontrar) não
eram colocados no tesouro do Templo; utilizavam-nos para
as necessidades públicas (decantação da água de Jerusalém,
por exemplo) . m As calamidades em Jerusalém
c) O campo custou 120 denários ; é o preço médio m

avaliado para as terras. Em 'Ar. VIII 1, há uma exceção, mas A exposição seguinte abrange o período de 169 a.C. (pri-
trata-se de um exemplo de casuística: o preço do campo é de meira tomada de Jerusalém por Antíoco Epifanes) a 70 d.C.
um asse — 1/14 de denãrio . 'Ar. IX 2 menciona 1 e 2 mi-
144 (destruição de Jerusalém); exclui os casos que concernem uni-
nas, isto é, 100 e 200 denários; 'Ar. VIII 2 fala de um campo camente aos eventos militares.
pelo qual oferecem 10, 20, 30, 40, 50 seqel, de 4 denários 1. Na época de Antíoco V Eupator, Jerusalém foi asse-
cada u m , quer dizer, 40, 80, 120, 160, 200 denários. O pre-
145

diada (163 a . C ) ; os campos estavam de pousio, pois era o


142. b . Besa 2 9 bar.; b . B. Q . 9 4 ; e t a m b é m Billerbeck, I , 37
a b ano sabático (164-163), o que agravou a situação de fome.
s o b r e D t 23,19. Os assediados foram os que mais sofreram, porque as provi-
143. Ver supra, p . 171, n . 6. sões da cidade esgotaram-se logo, mas os sitiadores não foram
144. Billerbeck, 1, 2 9 1 ; q u a n t o a essa q u a n t i a , tinha-se 2 (Mt 10, menos poupados . 14fi

29 ou 2,5 (Lc 12,6) a v e z i n h a s !


145. E m 'Ar. I I I 3, u m seqel d o A n t . T e s t . v a l e 1 sela' = 4
denários. 146. Ant. XII 9, 5, § 3 7 8 ; cf. lMc 6,49.53-54.
2. Uma seca violenta ocorreu algum tempo antes de 65 e a vontade de viver aos que restavam, pois não encontravam
a.C. (antes que Hircano II e Aretas, rei dos árabes tivessem meios para combater o mal. c) A segunda colheita foi também
assediado Aristóbulo II no Templo). Um homem piedoso, Onias, muito fraca . d) Havia também falta de roupas porque os re-
>5i

obteve, graças às suas orações, a chuva tão ardentemente de- banhos foram dizimados ou transformados em alimento; a lã
sejada . Trata-se, com certeza, do mesmo fato narrado pela
w
deixou, pois, de existir, assim como outras matérias necessárias
literatura rabínica: passado o semi-adar (início de março) que à tecelagem" . 154

marca, geralmente, o fim do período das chuvas, não havia


8. Sob o imperador Cláudio (24 de janeiro 41-13 de outu-
ainda caído uma gota de água; foi então que a oração de
bro 54) houve outra grande fome na Palestina. O vasto noticiá-
Honi, o "fazedor de círculos" atraiu a chuva. A eficácia da
rio consagrado a esse fato permite-nos avaliar a sua amplitude.
oração foi tão grande, assim contam, que o povo se viu obri-
gado a refugiar-se na esplanada do Templo, porque o agua- a) Grassava violenta fome em Jerusalém quando Helena
ceiro provocou enorme inundação. Vemos, pois, que o fato de Adiabena ali foi em peregrinação \ Temos informações mais
15

se deu em Jerusalém . 148


precisas de sua data em Ant. XX 5, 2, § J 0 1 : a menção desse
período desastroso é introduzida por epi toútois . Se esse epí m

3. Depois da Páscoa de 64 a . C , um tufão destruiu as toútois for tomado como um masculino conforme pede a tradu-
colheitas em todo o p a í s . l49

ção latina e, como tal, adapta-se ao contexto, significa que a


4. O cerco de Jerusalém por Herodes em 37 a.C. aconte- fome ocorreu sob os dois procuradores Cúspio Fado e Tibério
ceu no ano sabático de 38-37; a fome grassou com violência Alexandre. Se, pelo contrário, tomarmos este epi toútois como
na cidade. Os próprios invasores sofreram a penúria, porque um neutro, será preciso situar o período da fome somente du-
seus adversários haviam saqueado toda a redondeza . !50 rante a procuradoria de Tibério Alexandre; é assim que com-
preendo o Abrégé (Epiíomé) des Antiquités judaiques e pode
5. No 7" ano de Herodes (contando a partir da tomada ser que seja esse o único sentido exato. Por questão lingüística,
de Jerusalém em 37 e não de sua investidura à realeza em Josefo, para as datas, emprega sempre epi com o genitivo e
40 a . C ) , um tremor de terra matou, no campo, grande quan- nunca com o dativo. De qualquer modo, a fome ocorreu sob
tidade de r e s e s . 1M
Tibério Alexandre.
6. Após a morte da rainha Mariana, em 29 a . C , uma Eis o que sabemos a respeito da data da procuradoria
peste assolou o p a í s . 152 desses dois homens. Cúspio Fado tomou posse de suas funções
após a morte de Agripa I, portanto, após a Páscoa do ano 44
7. Outra grande fome grassou no 13? ano de Herodes e de nossa e r a ; um edito do ano 45 deixa supor que ainda
1S7

foi particularmente devastadora. Processou-se por etapas: ocupava o cargo nessa data . Só conhecemos de maneira apro-
I58

a) Começou com uma seca persistente que tornou o país ximada a data do fim da procuradoria de Tibério Alexandre.
improdutivo e nele planta alguma brotava, b) A falta de gêneros Sua deposição é contada imediatamente antes da morte do rei
acarretou uma transformação nas condições de vida; como con- Herodes de Caleis que ocorreu no 8? ano (24 de janeiro 48-24
seqüência, diversas enfermidades e uma epidemia se espalha- de janeiro 49) do governo de Cláudio; temos, portanto, de si-
ram. Os infortúnios se agravaram reciprocamente porque a falta tuar essa deposição no ano 48 . Por conseguinte, a mudança
159

de cuidados e de alimentos fez piorar as más condições de


saúde e a enfermidade, espécie de peste, matava violentamente. 153. Ibiã. 9, 1, § 299s.
A morte daqueles que eram atingidos por ela, tirava a alegria 154. Ibid. 9, 2, § 310.
155. Ant. X X 2, 5, § 5 1 .
156. I n f o r m a ç ã o de t o d o s os m s s ; igual referência e m E u s é b i o ,
147. Ant. X I V 2, 1, § 22, Hist. eccl. I I 12, 1 q u e cita a p a s s a g e m , e n a t r a d u ç ã o l a t i n a : horum
148. Ta'an. I l l 8; b . Ta'an. 2 3 b a r .
a

temporibus; e n c o n t r a m o s o singular s o m e n t e n o Abrégé (Epiíomé) des


149. Ant. X I V 2, 2, § 2 8 . Antiquités judaiques, ed. B. N i e s e , Berlin, 1896, 352.
150. Ant. X I V 16, 2, § 4 7 1 ; X V 1, 2, § 7; B. /". I 18, 1, § 347. 157. Ibid. 1, 1, § l s .
151. B. /', I 19, 3 , § 370s; Ant. X V 5, 2, § 121. 158. Ibid. 1, 2, § 14.
152. Ant. X V 7, 7, § 2 4 3 . 159. Ibid. 5, 2, § 103s.
de procurador aconteceu em 46 ou 47, e a fome sobreveio entre insinuado em Josefo em Ant. III 15, 3, § 320, já que Ishmael
46 e 48. não era sumo sacerdote sob Cláudio. Nb quadro da narrativa
b) Em Ant. III, 15, 3, § 320, há menção de uma fome de Cláudio, Josefo não se refere à fome acima citada que ocor-
que se propagou no tempo de Cláudio (24 de janeiro 48-13 de reu entre 46 e 48; devemos, portanto, colocar, no lugar de
outubro 54) e do sumo sacerdote Ishmael: atingiu especialmente Ishmael um de seus dois predecessores, Josefo ou Ananias,
a cidade de Jerusalém. De que fome se trata? A resposta de- e reportar Ant. III 15, 3, § 320 à mesma família.
pende do pontificado do sumo sacerdote Ishmael. De início,
poderíamos situar este pontificado posteriormente a 54; com c) Inspirando-nos no ciclo do ano sabático, é possível
efeito, Josefo narra a instalação de Ishmael somente após o
160 obter outras informações sobre a fome durante o reinado de
advento de Nero , sucessor de Cláudio em 54. Não precisa-
161 Cláudio, à qual se reporta igualmente a predição de Àgabo
mos, porém, dar maior importância a essa ordem do relato, (At 11,28). Como sabemos, o ano entre o outono de 47 e o
pois, em Ant. XX 7, 1-8, 4, § 137ss, Josefo descreve primei- outono de 48 foi um ano sabático . As etapas da fome po-
16B

ramente, de maneira conjunta, a história familiar dos descen- deriam ter sido estas: o verão de 47 fez perder as colheitas;
dentes de Herodes e os acontecimentos de Roma, antes de se o ano sabático (outono 47-outono 48) agrava a fome e a pro-
voltar para a situação na Palestina. Em contrapartida, um fato longa até a colheita seguinte, verão de 49.
é certo: Ishmael foi entronizado antes da nomeação de Pórcio d) É possível que a literatura rabínica mencione também
Festo como governador da Judeia , portanto, no tempo do
m

essa fome sob Cláudio. Eleazar, o Ancião, filho de R. Sadoc


governador Antonio Félix. Foi após a revogação de Ventídio descreve uma lembrança de sua juventude. Enquanto aprendia
Cumano , no fim de 52 d . C , que Antonio Félix tornou-se
!63

a Tora junto de R. Yohanan, filho da hauranita, viu seu mes-


governador da província da Judéia . Anteriormente, apenas
164

tre comer um simples pedaço de pão "porque eram anos de


administrara a província de Samaria , enquanto a província
,65

seca" . Schlater tira dessa frase a conclusão seguinte °; é


m 17

da Judéia, como a Galileia, estava submetida a C u m a n o . ,66

mais fácil deduzir-se que se trata da fome sob Cláudio do que


As informações de Josefo confirmam a data de fins de 52 para a do cerco de Jerusalém em 70. É também nesse período do
a nomeação de Antonio Félix como governador da Judéia: a reinado de Cláudio que as informações particulares, relativas
ampliação do território de Agripa II no início de 53 foi pos- a Eleazar, antes de tudo Tos. Sanh. IX, 11 (429, 30) o situam;
terior à nomeação de Félix . Vemos, porém, através de At
167

segundo essa passagem, Eleazar, ainda criança, montado nos


23,2;24-l que Ananias, predecessor do sumo sacerdote Ishmael, ombros de seu pai. foi testemunha da condenação à morte,
ocupava ainda o cargo sob Félix e isso (At 20,16) por ocasião por fogo, da filha de um sacerdote. Esse acontecimento supõe
de um Pentecostes, portanto, Pentecostes de 53. Segundo Ant. uma época em que os judeus podiam decretar julgamentos cri-
III, 15, 3, § 320 a fome castigou no tempo de Ishmael, por minosos, sem entraves; o fato se coaduna melhor ao período
ocasião de uma Páscoa; é portanto mais provável que a Pás- do reino de Agripa 1 . É verdade que Eleazar deve ter rece-
1 7 1

coa de 54 é que esteja em causa. Mas essa possibilidade não bido a instrução extremamente jovem, pois Agripa I, em cujo
entra tampouco em cogitação se dermos fé à cronologia dos reinado Eleazar seria ainda uma criança, só ocupou o trono
Atos. Segundo esses, Paulo chegou a Jerusalém por volta do durante três anos.
Pentecostes de 55, e, nessa data, por conseguinte, Ananias exer-
cia ainda as suas funções (At 23,2;24,1). Um engano deve ter-se 9. Devemos situar pouco antes de 6 6 d . C , a penúria de
água em Jerusalém que se deu durante uma das três festas de
160. Ibid. 8, 8, § 179. peregrinação. A alusão ao comandante romano e o fato de ci-
161. Ibiã. 8, 1-3, § 148ss.
1Õ2. Ibid. 8, 9, § 182, 168. Sota V I I 8 p r o v a a o b s e r v â n c i a d o a n o sabático de 40-41,
163. T á c i t o , Ann. X I I 54. ver m e u artigo Sabbathjahr, e m Z N W 27 ( 1 9 2 8 ) , 100, n. 9.
164. Ant. X X 7, 1, § 137; B. /. II 12, 8, § 2 4 7 .
169. b . Yeb. 1 5 ; T o s . Sukka
b
I I 3 (193, 2 7 ) ; T o s . -Ed. II 2 (457,
165. T á c i t o , Ann. X I I 54.
14).
166. Ant. X X 5, 2-4, § 100-117.
167. Ant. X X 7, 1, § 138; B. /. I I 12, 8, § 247. 170. S c h l a í t e r , Tage, 80s.
1 7 1 . Ver infra, p . 246, n. 222.
tarem Naqdemon ben Goríon como homem de notoriedade,
indicam que se trata de um período anterior a 66; esse Naqde-
mon, durante a guerra judeu-romana, era um dos homens mais
ricos de Jerusalém . Casos semelhantes de falta de chuva nos
m

anos que precederam a destruição do Templo é que nos fazem


pensar no relato segundo o qual Yohanan ben Zakkai consegue
fazer chover após uma seca persistente . 1B

10. Foi sem dúvida no fim do verão do ano 69 que se B. A ALTA E A BAIXA CAMADA
deu a seca mencionada por Josefo: "Antes de sua chegada (a
de Tito), como o sabeis, a fonte de Siloé estava seca assim
como todas as outras, situadas diante da cidade devia-se, pois,
I Seção: As classes altas
comprar a água na ânfora" . Aliás, o período compreendido
174

entre o outono de 68 e o outono de 69 foi um ano sabático . 175


TI Seção: A preservação da pureza do povo
A título de complemento, observemos que o nome "gafa-
nhoto de Jerusalém" podia muito bem fazer alusão a ocasio-
nais pragas de gafanhotos . I76

172. b,Ta'an í g ^ O * bar.


173. j . Ta-an I I I 13, 6 7 ( I V / 1 , 1 7 5 ) .
a

174. B. j . V 9. § 410.
175. S c h ü r e r , I, 3 5 .
176. b . Hul. 6 5 . N a p r i m a v e r a d e 1915, p r e s e n c i e i a m a n e i r a c o m o
a

Jerusalém foi infestada p o r p e s a d a s n u v e n s de g a f a n h o t o s .


PRIMEIRA SEÇÃO

AS CLASSES ALTAS

Cap. I - O clero
Cap. II - A nobreza leiga
Cap. I I I - O s escribas
C a p . IV - Apêndice: os fariseus
CAPÍTULO I

O CLERO

A. O DETENTOR DA PRIMAZIA

O sumo sacerdote em exercício

B. OS CHEFES DOS SACERDOTES

O C o m a n d a n t e do Templo

1. Culto 2 . Vigilância 3 . Finanças


O s chefes das 24 do T e m p l o do T e m p l o
seções h e b d o m a d á -
rias e de suas seções Vigilantes 3. Tesoureiros
cotidianas do T e m p l o

C. OS SACERDOTES

2 4 seções h e b d o m a d á r i a s

c o m p r e e n d e n d o , c a d a u m a , 4 a 9 seções diárias
com 7 . 2 0 0 sacerdotes a p r o x i m a d a m e n t e

D. OS LEVITAS (CLERUS M I N O R )

24 seções h e b d o m a d á r i a s , cada u m a dividida em:

1. Cantores e músicos
2 . Funcionários e guardas do T e m p l o
com 9 . 6 0 0 levitas a p r o x i m a d a m e n t e
A. O SUMO SACERDOTE 1
u m a dessas oito peças expiava p e c a d o s d e t e r m i n a d o s . As- 1

sim sendo, tal veste constituía, p a r a os j u d e u s , u m sím-


bolo de sua religião; somente assim p o d e r e m o s compre-
" E m outros povos, critérios diferentes d e t e r m i n a m a ender os fatos que vamos n a r r a r . P a r a se preservar das
nobreza; entre nós, é a posse do sacerdócio a p r o v a de agitações dos judeus, H e r o d e s , o G r a n d e , A r q u e l a u e, de-
origem ilustre"; assim se exprime Josefo em sua Auto- pois dele, os r o m a n o s , não c o n h e c e r a m meio mais eficaz
biografia . C o m efeito, no t e m p o de fesus, Israel é p u r a -
2
do que colocar as vestes do sumo sacerdote sob sua g u a r d a
mente u m a teocracia. Assim, é o clero que, em p r i m e i r o na fortaleza Antônia. Só as devolviam para uso do sumo
lugar, c o m p õ e a nobreza e, no período em q u e n ã o h á pontífice nos dias de festa. Assim se explica a luta tenaz
rei, o pontífice em exercício é a personagem mais impor- m a n t i d a pelos j u d e u s p a r a recuperarem-nas, luta só termi-
tante do p o v o . É, pois, do sumo sacerdote ikôhen gadôl) n a d a q u a n d o o i m p e r a d o r Cláudio r e s t i t u í u - a s através de 8

que nos o c u p a r e m o s agora, e n q u a n t o mais alta persona- u m decreto assinado de p r ó p r i o p u n h o com data de 2 8 de
gem do clero e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , do povo t o d o . j u n h o d e 45 d . C . C o m p r e e n d e m o s e n t ã o que a luta pela
O papel de chefe, representado pelo sumo sacerdote veste do sumo sacerdote foi, p a r a os j u d e u s , u m a luta re-
repousava no caráter de natureza cultual, a " s a n t i d a d e eter- ligiosa.
n a " (q düssat 'ôlam ,
e
character indelebilis),
s
q u e a função U m fato exprime b e m o caráter de n a t u r e z a cultual
lhe conferia e habilitava a c u m p r i r a expiação pela comu- que a função conferia ao sumo sacerdote: sua morte pos- y

nidade , e n q u a n t o m a n d a t á r i o de D e u s . Esse caráter,


4 5
suía uma virtude expiatória. Q u a n d o m o r r i a u m s u m o sa-
oriundo de sua função, era-lhe conferido pela investidura, cerdote, todos os homicidas q u e , diante da vingança do
a tradição dos p a r a m e n t o s pontificais compostos de oito sangue t i n h a m fugido p a r a as cidades de refúgio , viam¬ 10

p e ç a s . Essa veste possuía u m a virtude expiatória; cada


6
-se livres no m e s m o dia; p o d i a m voltar p a r a casa , e até u

m e s m o retomar sua profissão anterior, segundo a opinião


1. A r e s p e i t o d o clero, i m p o r t a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m S c h ü r e r I I , d o m i n a n t e dos doutores. Em virtude do caráter de natu-
12

267-363; u m a ú n i c a ressalva: S c h ü r e r , infelizmente, n ã o leva em con-


s i d e r a ç ã o os textos d o T a l m u d e t r a n s m i t i d o s fora d a M i s h n a . V e r a i n d a , V 5, 7, § 231ss; Ant. I I I 7, 4-7, § 159ss; F í l o n , De vita Mosis I I , §
A. Büchler, Die Priester und der Cultus im letzten Jehrzehnt des 1 0 9 4 3 5 ; De spec. leg. I, § 84-91; Yoma V I I 5 e passim.
jerusalemischen Tempets, V i e n a , 1895. S u a tese básica é a de u m g r a n - 7. A e n u m e r a ç ã o d a v i r t u d e e x p i a t ó r i a d a s oito p a r t e s dos para-
d e t u m u l t o n o T e m p l o em 62 d.C. e n o s anos seguintes (vitória d o s m e n t o s d o s u m o s a c e r d o t e encoolra-se e m Caní. R. 4, 7 s o b r e 4, 2
fariseus s o b r e os s a d u c e u s ) ; a b e m dizer, ele falha n a sua d e m o n s t r a - ( 4 7 2 ) e b . Zeb. 88 . F o r n e c e m - n o s a i n d a o u t r a s i n f o r m a ç õ e s . Se-
a h

ç ã o , p o r q u e n ã o h á o m e n o r e l e m e n t o c o n c r e t o nesse s e n t i d o . P a r a g u n d o T o s . Pes. VI 5 (165,7) o d i a d e m a de o u r o expia a i m p u r e z a d o


a descrição d o T e m p l o h e r o d i a n o , ver a excelente p e s q u i s a de G . s a n g u e d a v í t i m a e a d o fiel q u a n d o ele o f e r e c e a vítima, m a s , p a r a
D a l m a n , Der zweite Tempel zu Jerusalém e m PJB 5 ( 1 9 0 9 ) , 29-57. os sacrifícios de n a z i r a t o e o da P á s c o a , e x p i a s o m e n t e a i m p u r e z a
W . Bousset-H. G r e s s m a n n , Die Religion des Judentums im spaíhel- d o s a n g u e d a vítima e a m a n c h a d o o f e r t a n t e c a u s a d a p o r u m "tú-
lenitischen Zeitalter, 3? ed., T ü b i n g e n 1926 ( r e i m p r e s s o em 1960) m u l o d o a b i s m o " ( m a n c h a d e s c o n h e c i d a , v i n d a de u m c a d á v e r ) ; cf. j .
s u b e s t i m a c o n s i d e r a v e l m e n t e a i m p o r t â n c i a do c u l t o e d o clero, e o m i t e Yoma 1 2, 3 9 26 ( 1 I I / 2 . 1 6 9 ) .
a

a m a i o r i a das q u e s t õ e s de q u e v a m o s t r a t a r nas p á g i n a s s e g u i n t e s . 8. Ant. X V I I I 4, 3, § 90ss; ver t a m b é m X V 11, 4, § 403ss. A veste


2. Vita I, § 1. ficou e n t r e as m ã o s dos r o m a n o s de 6 a 37 d.C. (restituição p o r
3. Naz. V I I 1. V i t é l í o ) . E m 44, o p r o c u r a d o r C ú s p i o F a d o quis de n o v o apossar-se
4. Ex 30,10; Lv 16. d a veste p a r a tê-la sob sua g u a r d a ; u m a d e l e g a ç ã o j u d a i c a o b t e v e
5. b . Qid 2 3 : q u a n d o oferece sacrifícios, o s a c e r d o t e é m a n d a -
b e n t ã o em R o m a q u e o e d i t o d e C l á u d i o i m p e d i s s e tal m e d i d a e q u e
tário de D e u s . a r e s t i t u i ç ã o p o r Vitélio fosse c o n f i r m a d a .
6. C o m p u n h a m - s e das q u a t r o p e ç a s d a v e s t i m e n t a dos s a c e r d o t e s : 9. Q u a n t o à v i r t u d e e x p i a t ó r i a d a o f e r e n d a a l i m e n t a r c o l i d i a n a d o
túnica de bisso, calção de bisso, t u r b a n t e , cinto e, a l é m dessas, q u a t r o s u m o s a c e r d o t e , v e r B i ü e r b e c k , I I I , 697 e.
p e ç a s p a r t i c u l a r e s : p e i t o r a l , o efó (larga faixa de f a z e n d a m u n i d a d e 10. N r a 35,9-34; Dt 19,1-13; cf. Ex 2 1 , 2 3 .
alças) a túnica d e b a i x o c o m c a p u z , o d i a d e m a de o u r o ( c o l o c a d o 1 1 . N m 35,25; Mak. I I 6.
s o b r e o t u r b a n t e ) . Ex 28-29; Eclo 45,6-13; P s e u d o - A r i s t e u § 96-99; B. /'. 12. Mak. II 8.
reza cultual que lhe conferia o cargo, o sumo sacerdote, dote c u m p r i a suas funções no lugar sacrossanto, sombrio,
por sua m o r t e , expiava as faltas de homicídios cometidos vazio e silencioso, q u e se e n c o n t r a v a p o r trás do d u p l o véu.
por negligência.
E m segundo lugar m e n c i o n a r e m o s os privilégios do
Esse caráter conferido a o s u m o sacerdote, pela sua sumo sacerdote no c a m p o cultual. G o z a , antes de t u d o ,
função, acarretava privilégios e deveres d e t e r m i n a d o s , de da permissão de t o m a r p a r t e n a oferta de u m sacrifício cada
natureza especial. vez que o desejar . T a m b é m é direito seu oferecer u m
l9

O privilégio mais i m p o r t a n t e permitia-lhe, e somente sacrifício, e m b o r a estando de luto, prática p r o i b i d a aos


a ele entre os mortais, penetrar no Santo dos santos u m outros sacerdotes . Além do mais, n o m o m e n t o de distri-

dia por a n o . A tríplice e n t r a d a neste recinto, no Dia das


L<
buir as "coisas santas do T e m p l o " e n t r e os sacerdotes em
expiações, significava a e n t r a d a diante do Deus propício; serviço, o sumo sacerdote podia selecionar, e m primeiro
tal dignidade traduzia-se nas aparições divinas particulares lugar, aquilo que d e s e j a s s e . D u r a n t e essa separação, ti-
21

com que era h o n r a d o o sumo sacerdote nesse Santo dos n h a licença de escolher p a r a si: 1) u m sacrifício pelo pe-
santos. Simão, o justo (por volta de 2 0 0 a.C.) e João 14
cado (animais ou a v e s ) ; 2 ) u m sacrifício de r e p a r a ç ã o ;
22 23 24

H i r c a n o (134-104 a.C.) o u v i r a m vozes celestes, v i n d a s


,5
3) u m a p o r ç ã o das oferendas alimentares (tiradas do q u e 25

do Santo dos santos. O m e s m o Simão, o Justo , e Ishmael 16


havia sido separado p a r a ser oferecido no altar); 4) qua-
(I a p r o x i m a d a m e n t e 15-16, ou II 55-61 d.C.) tiveram 17
tro ou cinco (até seis, segundo outros) dos doze pães de
visões neste lugar, e ] o 1 1 , 5 1 , atribui, de m o d o absoluta- proposição (ázimos) distribuídos c a d a s e m a n a ; 5) u m 25

mente geral ao sumo sacerdote, a faculdade de profetizar. dos dois pães de primícias (fermentados) p a r a a festa de
A mínima falha nas regras litúrgicas acarretaria u m a sen-
tença de Deus ; era, pois, com tremor q u e o sumo sacer-
18

7 1 ) ; lá, ele c o n t i n u a a festa c o m seus a m i g o s " p o i s t u d o t e r m i n o u a


b

c o n t e n t o " (Yoma VII 4).


13. Yomci V 1-4. D e m o d o curioso T o s . Kel. B. Q. I 7 (569, 32) 19. Yoma I 2; Tamid V I I 3 . S e g u n d o b . Yoma 1 7 , esse privilé-
b

e Nb. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 ( 3 7 2 0 ) , i n d i c a 4 e n t r a d a s e a t é m e s m o 5,
a gio estendia-se a t o d o s os sacrifícios; cf. j . Yoma 1 2, 3 9 23 ( I I I / 2 ,
a

s e g u n d o R. Y o s é (Nb. R., ibid.). 168) o n d e se c o n t a q u e o s u m o s a c e r d o t e n a s e m a n a q u e p r e c e d e o


14. b . Sot 3 3 b a r . e p a r . — O b r i l h a n t e t r a b a l h o d e G . F . M o o r e ,
a D i a das e x p i a ç õ e s o f e r e c e r a , i g u a l m e n t e , os sacrifícios pelos votos e
" S i m e o n t h e R i g h t e o u s " em fewish Sludies in Memory of Israel Abra¬ sacrifícios v o l u n t á r i o s .
hams, N o v a I o r q u e , 1927, 348-464, d e m o n s t r o u q u e S i m ã o , o J u s t o , 2 0 . tíor. I I I 5; deduzia-se a p o s i ç ã o p a r t i c u l a r d o s u m o sacer-
vivia d e p o i s de 200 a . C , e q u e o p r e t e n s o S i m ã o 1, q u e teria v i v i d o dote d e Lv 10 o n d e A a r ã o , a p e s a r d a m o r t e de dois filhos, oferece
(Ani. X I I 2, 5 § 157) no t e m p o d e P t o l o m e u I (323 [306]-285 a . C ) , o b o d e e m sacrifício e x p i a t ó r i o e s o m e n t e r e c u s a c o m e r a c a r n e d o
deve sua existência a Joselo q u e d e s d o b r o u tal p e r s o n a g e m . H . G u t h e , sacrifício (Lv 10,19).
Geschichte des Volkes Israel, 3- ed., T ü b i n g c n 1910, 318, já r e c o n h e - 2 1 . Yoma I 2; T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; j . Yoma I 2, 3 8 6 3 - 6 9 d a

cera essa d u b l a g e m de Simeão, m a s c o n s i d e r a v a c o m o h i s t ó r i c o o Si- 4 ( I I I / 2 , 1 6 7 ) ; b . Yoma 1 7 ; Sljra Lv 2, 3 ( 6 24, 1 8 ) ; Sifra Lv 24,


b d

m ã o do T e m p o de P t o l o m e u I. 8 ( 5 3 209, 2 6 ) . D o texto d e Lv 2, 3 " q u a n t o a A a r ã o e seus filhos,


a

15. b . Sota 3 3 b a r . e p a r . ; Ant. X I I I 10. 3, § 282; cf. § 300 e 322.


a r a b i Y u d a I ( | 217) c o n c l u i u q u e o s u m o s a c e r d o t e tinha direito à
16. b . Yoma 3 9 - b a r . e p a r . A b a r a í t a v e m de T o s . Sota X I I I 8
a b m e t a d e das p o r ç õ e s r e s e r v a d a s aos s a c e r d o t e s ( T o s . Yoma I 5 [180,
(319, 22) o n d e , e n t r e t a n t o , o n o m e d e S i m ã o n ã o é c i t a d o . 2 0 ] ) . T r a t a - s e aí de u m p o n t o d e vista t e ó r i c o q u e n a d a t e m a v e r
c o m a p r á t i c a n a é p o c a em q u e o T e m p l o existia. Essa p r á t i c a ape-
17. b . Ber. 7 bar.; essa p a s s a g e m c o n f u n d e u m s u m o s a c e r d o t e
a

nas c o n h e c i a o direito d o s u m o s a c e r d o t e de ser o p r i m e i r o a escolher.


I s h m a e l c o m R. I s h m a e l b . Elisha e x e c u t a d o cerca d e 135 d.C. (Biller¬
b e c k , I I , 79, n. 1 ) . 22. T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; b . Yoma b
17 .
18. b. Yoma 1 9 b a r . d e s c r e v e a p u n i ç ã o de u m s u m o s a c e r d o t e
b 2 3 . Sifra Lv 2, 3 ( 6 24, 2 7 ) . d

s a d u c e u . E m Yoma V 1 e j - Yoma V 2 , 4 2 17 ( I H / 2 , 2 1 8 ) , está pres-


c 24. T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; b . Yoma b
17 .
crito q u e o s u m o s a c e r d o t e deve fazer s o m e n t e u m a o r a ç ã o b e m c u r t a 25. j . Yoma I 2, 3 9 II ( I I I / 2 , 1 6 8 ) ; Sifra Lv 2, 3 ( 6 24, 18).
a d

n o Santo dos santos, a fim d e q u e o p o v o n ã o se assuste e n ã o che- 2 6 . Q u a t r o ou c i n c o p ã e s : T o s . Yoma I 5 (180, 2 0 ) ; b . Yoma


gue a recear q u e l h e t e n h a s u c e d i d o alguma desgraça. U m a vez ter- 1 7 . — Seis p ã e s : j . Yoma I 2, 3 8 64 ( I I I / 2 , 167). — D i r e i t o d e es-
b d

m i n a d o de m o d o feliz o serviço do D i a das expiações, t o d a a m u l t i - colher em p r i m e i r o lugar, sem i n d i c a ç ã o d o n ú m e r o de p ã e s : Sifra Lv


d ã o r e c o n d u z s o l e n e m e n t e o s u m o s a c e r d o t e a t é sua casa (b. Yoma 24, 9 ( 5 3 209, 2 6 ) .
a
Pentecostes (Lv 23,17) ; 6) u m couro dos h o l o c a u s t o s .
27 28
filhos" fazer, na m a n h ã e na t a r d e de sua u n ç ã o , u m a ofe-
Entre os outros privilégios é b o m realçar a presidência do r e n d a alimentar cozida sobre u m a c h a p a ; n a época que
grande conselho (Sinédrio), suprema assembléia dos j u d e u s e s t u d a m o s , essa oferta era feita todos os d i a s . O sumo 3 4

no c a m p o administrativo e judiciário, e sobre o princípio sacerdote, e n t r e t a n t o , não precisava oferecê-la d i a r i a m e n t e ,


d e direito segundo o qual o s u m o sacerdote, e m caso d e mas somente pagá-la . 35

crime, teria de submeter-se somente à decisão do G r a n d e Entre as obrigações financeiras do sumo sacerdote
Sinédrio . 29

figurava o p a g a m e n t o de u m novilho i m o l a d o em sacrifí-


cio pelo pecado, no D i a das expiações (Lv 1 6 , 3 ) e a 3 6

O b v i a m e n t e , os deveres inerentes ao cargo de s u m o


quitação das despesas p a r a a c o n s t r u ç ã o da p o n t e sobre
sacerdote e r a m de natureza principalmente cultual. A Lei
o vale do Cédron. Segundo u m relato digno de fé, em-
de m o d o expresso prescrevia u m ú n i c o dever para o s u m o
b o r a exagerado em seus detalhes, d e v i a m construir essa
sacerdote: o de oficiar no Dia das expiações (Lv 16), m a s
p o n t e e n q u a n t o u m a novilha vermelha fosse q u e i m a d a (Nm
os costumes foram-lhe acrescentando outras obrigações li-
19,1-10) no M o n t e das O l i v e i r a s . D i z e m que d u r a n t e os
37

túrgicas. Segundo a Mishna , deveria participar da ceri-


três últimos séculos antes da ruína do T e m p l o , tal só se


mônia na qual era q u e i m a d a u m a novilha vermelha e 31

deu u m a s cinco ou seis vezes . 3S

executar seu serviço d u r a n t e a semana q u e precedia o D i a


das expiações , a fim de c u m p r i r as prescrições dos es-
32 O u t r o s deveres do cargo pontifício t i n h a m por fina-
cribas fariseus relativas à celebração litúrgica daquele D i a . lidade preservar n o sumo sacerdote sua aptidão ritual p a r a
Segundo Josefo e o T a l m u d e , h a v i a a i n d a u m c o s t u m e e m oficiar; trata-se das prescrições de pureza. O contato com
vigor que obrigava o sumo sacerdote a oficiar aos s á b a d o s , u m cadáver tornava-o i m p u r o ; N m 19,11-16 exigia u m a
nas neomênias, nas três festas de peregrinação (Páscoa- cerimônia purificatoria d e sete dias antes de o sacerdote
-rnossôt, Pentecostes, festa das Tendas) e por ocasião das p o d e r exercer de novo sua função. A fim de evitar-lhe
assembléias p o p u l a r e s . A Lei ordenava a " A a r ã o e a seus
a tão g r a n d e impureza, era-lhe proibido manchar-se c o m o
contato de u m m o r t o (Lv 2 1 , 1 1 ) . A Lei n ã o lhe permi-
27. T o s . Yoma I 5 (180, 1 9 ) ; j . Yoma I 2, 3 8 63 ( I I I / 2 , 1 6 7 ) ;
d

b . Yoma 17 .
b
ções. A i n d i c a ç ã o de Josefo e m B. j . V 5, 7, § 230 é m u i t o e x a t a : o
28. j . Yoma I 2, 38 » 63-69 3 ( I 1 I / 2 , 167). b . Pes. 57" b a r . e T o s .
1 a
s u m o s a c e r d o t e oficiava " a o s s á b a d o s , n a s n e o m ê n i a s , n a s festas an-
Zeb. X I 16 (497, 2-3) falam do r o u b o das peles pelos " m a i o r a i s d o cestrais [isto é, t r a d i c i o n a i s ] e n a s o u t r a s a s s e m b l é i a s p ú b l i c a s a n u a i s " .
c l e r o " ; essas opiniões c o n s t i t u e m d u a s i n f o r m a ç õ e s a m a i s , p o i s , tra- Essa i n f o r m a ç ã o c o n c o r d a p l e n a m e n t e com o q u e diz R. Y o s h u a b e n
ta-se d e u m a b u s o d o direito d o s u m o s a c e r d o t e d e escolher em pri- Levi (250 d.C.) n a r r a d o p o r R. U q b a : o s u m o s a c e r d o t e oficiava a o s
m e i r o lugar. s á b a d o s e nos dias de festa (j. Yoma I 2, 3 9 25 ( I I I / 2 , 168s). a

29. Sin. 1 5. 34. Lv 6,12-16; Ani. I I I 10. 7, § 257; L X X l C r 9,31; Eclo 45,14;
30. Para I I I 5 e passim. Fílon, De spec. leg. I, ] 256; Yoma II 3 ; I I I 4, e passim na M i s h n a ,
3 1 . A r e g u l a m e n t a ç ã o s o b r e a novilha v e r m e l h a acha-se em N i n 19. a o f e r e n d a se c o m p u n h a , ao t o d o , de u m d é c i m o d o 'epah ( 3 , 9 4 ' ) d e
32. Yoma I 2: " A o longo dos sete dias, a) ele e s p a r g i a o s a n g u e flor d e f a r i n h a m i s t u r a d a c o m óleo q u e se fazia c o z i n h a r ; cortavam¬
[do h o l o c a u s t o c o t i d i a n o , de m a n h ã e à t a r d e , n o altar dos h o l o c a u s - -se e m p e d a ç o s os b o l o s assim o b t i d o s e e r a m a i n d a r e g a d o s c o m
tos] ; b) oferecia o sacrifício dos p e r f u m e s [sobre o altar dos perfu- óleo. D e m a n h ã e à t a r d e , a m e t a d e era o f e r t a d a ( S c h ü r e r . I I , 3 4 8 ) .
m e s n o S a n t o ] ; c) p r e p a r a v a as l â m p a d a s [do c a n d e l a b r o de sete bra- 35. P a g a m e n t o p e l o s u m o s a c e r d o t e : Ant. I l l 10, 7, § 257, cf.
ços no S a n t o ] e d) oferecia a c a b e ç a e o q u a r t o d o a n i m a l [ h o l o c a u s t o Sheq. V I I 6, O f e r e n d a c o t i d i a n a pela seção d e s a c e r d o t e s em serviço:
d i á r i o , o b r i g a t ó r i o , m a n h ã e n o i t e , no a l t a r dos h o l o c a u s t o s ] " . Yoma II 3-5; Tamid I I I 1; I V 3 .
33. Ant. X V I I , 4, § 4 0 8 : antes de u m a festa ( X V I I I 4, 3, § 9 4 : 36. Ant. I I I 10, 3 , § 242;Hor. III 4.
antes das três festas d e p e r e g r i n a ç ã o e a n t e s do D i a das e x p i a ç õ e s ) , 37. j . Sheq. IV 3 , 4 8 35 ( I I I / 2 , 2 8 5 ) . S e m d ú v i d a , Sheq. I V 2
a

vai-se b u s c a r a veste do s u m o s a c e r d o t e n a fortaleza A n t ô n i a . I M e e n s i n a q u e a p o n t e era p a g a c o m os d e n á r i o s do T e m p l o , mas A b b a


10,21; Ant. X I I I 13, 5, § 372; X V 3, 3 , § 51 ( J o n a t a n , A l e x a n d r e Ta- S h a u l c o n t e s t a o f a t o e g a r a n t e q u e os s a c e r d o t e s c u s t e a v a m a cons-
n e u e A r i s t ó b u l o o f i c i a r a m n u m a festa d a s T e n d a s ) c o n f i r m a m igual- trução.
m e n t e q u e o s u m o s a c e r d o t e n ã o oficiava s o m e n t e n o D i a das expia- 38. Para I I I 5. R a b i M e i r : . 5 v e z e s ; os r a b i n o s : 7 vezes.
tia tocar n u m cadáver n e m e n t r a r n u m a casa m o r t u á r i a ; tes, mais e x a t a m e n t e , logo após o fim do holocausto ves-
nos enterros, não podia c a m i n h a r i m e d i a t a m e n t e atrás do pertino no c ô m o d o que lhe estava reservado no Tem-
c a i x ã o . Proibiam-lhe t a m b é m
39
deixar crescer os cabelos
4 0
plo, d o l a d o sul do átrio dos s a c e r d o t e s e aí passar a 47

em desalinho e rasgar as vestes em sinal de luto . A proi- 4I


noite ; desse m o d o o s u m o s a c e r d o t e protegia-se contra
48

bição de se macular ao contato de u m cadáver n ã o sofria q u a l q u e r possibilidade de contágio d a impureza levítica,


exceção n e m no caso d e u m parente p r ó x i m o ; essa mi- p r o v e n i e n t e , em particular, d e sua m u l h e r . Esse isola- 4 9

núcia faz c o m p r e e n d e r todo o seu rigor. Para os outros m e n t o d o sumo sacerdote d u r a n t e a noiíe, n o correr d a
sacerdotes tal determinação deixaria de ser prescrita no s e m a n a que precedia o Dia das expiações, foi talvez de-
caso de familiares: esposa, pais, filhos, irmãos, irmãs sol- cretado por volta do ano 20 d . C , após uma m a n c h a con-
teiras que m o r a v a m na casa do irmão . Para o sumo sa- 42
traída pelo sumo sacerdote S h i m e o n , filho d e K a m i t h
cerdote havia u m a única exceção: dizia respeito ao " m o r - (17-18 d . C ) . N a véspera d o D i a d a s expiações, ao cair
to de p r e c e i t o " , isto é, não deixando n e n h u m p a r e n t e .
43
da t a r d e , ele recebeu o escarro de u m árabe e viu-se, por
Q u e m encontrasse seu corpo devia prestar-lhe os últimos conseguinte, inapto p a r a o f i c i a r no D i a das e x p i a ç õ e s ' .
50 5

serviços. Assim mesmo, essa exceção era discutida. Os fa-


riseus aceitavam-na, colocando a misericórdia acima do 46. j . Yoma I 2, 3 9 22 ( I I T / 2 , 168), relato de R. Y o s h u a b e n
a

c u m p r i m e n t o estrito do preceito de pureza pelo sumo sa- Levi ( a p r o x i m a d a m e n t e , 250 d . C ) .


cerdote; mas os saduceus, os indefectíveis defensores da 47. Yoma I 1 da a esse c o m p a r t i m e n t o o n o m e de liskat parhedrin
( T o s . Yoma I 1 (180, 3 e passim: liskat parhedrin) = câmara dos
letra da Bíblia, afastavam até m e s m o essa ú n i c a exceção . 44
próedroi = c â m a r a dos p r e s i d e n t e s do T r i b u n a l . É e r r a d o i n t e r p r e t a r
essa expressão no s e n t i d o de c â m a r a dos páredroi = q u a r t o d o s as-
Para o Dia das expiações, o sumo sacerdote devia re- sessores d o T r i b u n a l (assim Levi: Worterbuch I V , 105 b ) . Falso igual-
m e n t e o n o m e d a d o p o r R. Y u d a : liskat palwatm = c â m a r a dos
vestir-se da mais alta pureza levítica. Na s e m a n a prece- bouleutai ( T o s . Yoma 1 1, 180, 5 ) , p o i s , e v i d e n t e m e n t e , essa c â m a r a
dente, era obrigado a submeter-se, d u r a n t e sete dias, à ce- e m o p o s i ç ã o à sala das sessões (liskat ha-gazít) n ã o se d e s t i n a v a a
l o d o s o s m e m b r o s d o S i n é d r i o , m a s s o m e n t e ao s u m o sacerdote q u e
rimônia de purificação prescrita em N m 19,11-16, a fim o c u p a v a a p r e s i d ê n c i a . A b a r a í t a de b . Yoma 8 c o n s i d e r a c o m o mar-
b

de apagar alguma eventual impureza ritual contraída ao c a d e d e s p r e z o o f a l o d c o s u m o s a c e r d o t e ser c h a m a d o p r e s i d e n t e


contato com u m c a d á v e r . Além disso, d u r a n t e a q u e l a
4S do T r i b u n a l : desde q u e os s u m o s s a c e r d o t e s e x e r c i a m sua função
n ã o m a i s p a r a s e m p r e , p o r é m , s o m e n t e p o r d o z e m e s e s (em m é d i a )
semana, a p a r t i r do 3 tisri, devia instalar-se p o r sete noi- à m a n e i r a dos p r e s i d e n t e s das a s s e m b l é i a s , ter-se-ia c h a m a d o o seu
e s c r i t ó r i o d e c â m a r a d o s p r e s i d e n t e s d o T r i b u n a l . N ã o h á nisto ne-
n h u m d e s p r e z o . Mid. V 4 diz-nos q u e o escritório do s u m o sacer-
39. Sanh. II 1 (no dizer de R. M e i r ) . d o t e achava-se n a p a r t e sul d o a d r o d o s s a c e r d o l e s ; u m m e s m o teto
4 0 . Lv 21,10;10,6. r e c o b r i a esse escritório e a sala vizinha, a Sala das p e d r a s t a l h a d a s .
4 1 . A o s o u t r o s s a c e r d o t e s era p r o i b i d o s o m e n t e c o r t a r os c a b e l o s Essa ú l t i m a era a sala d a s sessões d o S i n é d r i o ; m e i a d e e n c o n t r a v a - s e
e a p o n t a d a b a r b a e se t a t u a r e m (Lv 21,5-6) e m sinal de l u t o ; e m d o m í n i o s a g r a d o e m e t a d e em d o m í n i o p r o f a n o (b. Yoma 25 ).a

s e g u n d o Ez 44,20 era-lhes i g u a l m e n t e p r o i b i d o d e i x a r crescer o c a b e l o O escritório d o s u m o s a c e r d o t e , s i t u a d o a o l a d o d a sala d a s sessões,


em d e s a l i n h o , c o m o sinal de l u t o . devia o seu n o m e ao fato d e o s u m o s a c e r d o t e ser o p r e s i d e n t e d o
42. Lv 2 Í , l - 4 ; E z 44,25-27. O texto n ã o fala de e s p o s a , m a s , se- G r a n d e C o n s e l h o , o q u e se justificava p l e n a m e n t e .
g u n d o os r a b i n o s (Sijra Lv 21,2) ( 4 6 184, 3 9 ) , ela e r a i n d i c a d a n o
d

t e r m o s 'erô "sua p a r e n t a mais p r ó x i m a " . S e g u n d o Sijra Lv 21,3 ( 4 7


e a
4 8 . Yoma I 1.
185, 25) a m u l h e r de José, s a c e r d o t e q u e vivia n a é p o c a d o s e g u n d o 4 9 . T o s . Yoma I 1 (180, 2 ) - : proteger-se c o n t r a u m a i m p u r e z a d e
T e m p l o , m o r r e u n o dia d a p r e p a r a ç ã o d a festa d e P á s c o a . José n ã o niddah, pois ela t e r m i n a v a t o r n a n d o - o i m p u r o p o r sete dias.
q u e r i a macular-se e m c o n t a t o c o m o c a d á v e r de sua m u l h e r ; dessa 50. Trata-se de u m a t r a n s p o s i ç ã o d a i m p u r e z a ritual d e niddah, cf.
forma, os r a b i n o s fizeram-no c o n t r a i r a q u e l a i m p u r e z a ritual c o n t r a s o b r e este p o n t o A. Büchler. The Levitical Impurity oj the Gentile
a sua v o n t a d e . in Palestine bejore the Year 70, e m }QR, n . s. 17 (1926-1927), 1-81,
4 3 . b . Naz, 4 7 . b
e s p e c i a l m e n t e 8.
44. Naz, V I I I 1, " o n d e os d o u t o r e s " r e p r e s e n t a m o p o n t o d e v i s t a 5 1 . b . Yoma 4 7 : e s c a r r o de u m á r a b e . T o s . Yoma I V 20 (189,
a

saduceu. 1 3 ) ; j . Yoma I . 1. 3 S 6 ( I 1 I / 2 , 1 6 4 ) ; j . Meg. I 12, 7 2 49 (não tra-


d a

45. Para I I I 1; Fílon, De somniis I, § 214. d u z i d o e m I V / 1 , 220 q u e r e m e t e ao p a r . I U / 2 , 1 6 4 ) ; j . Hor, I I I 5,


Devia-se, pois, evitar, tanto q u a n t o possível, a repetição de u m sacerdote casado i l e g a l m e n t e ; o t e r m o "prosti- 57

de semelhante caso de impureza levítica antes d a q u e l e t u í d a " c o m p r e e n d i a a prosélita, a escrava liberta e a de-
Dia. H a v i a ainda u m terceiro meio p a r a defender o sumo florada (como, por exemplo, a prisioneira de g u e r r a ) . 5S

sacerdote de q u a l q u e r nódoa antes dessa festa: na noite Assim, pois, a exegese rabínica reforçava a prescrição
q u e a precedia, m a n t i n h a m - n o d e s p e r t o p a r a evitar-lhe
52
p a r a o casamento do sumo sacerdote; só podia tomar p a r a
a i m p u r e z a prevista no final de Lv 2 2 , 4 . m u l h e r , u m a jovem, virgem, de 12 a 12 anos e meio, nas-
cida de u m sacerdote, de u m levita o u de u m israelita de
Essas regras de pureza t i n h a m por finalidade preser-
descendência legítima.
var a aptidão ritual do sumo sacerdote prestes a oficiar,
mas tornava-se ainda necessário garantir à sua descendên- Fílon, guiado pelo texto de Lv 2 1 , 1 3 segundo a Se-
cia a p u r e z a de origem, p o r q u e , segundo a Lei, sua fun- tenta , limita à filha de sacerdote a possibilidade de ca-
59

ção era hereditária. N o intuito de garantir tal p u r e z a , o samento com u m sumo sacerdote, e x c l u i n d o , pois, a filha
pontífice submetia-se a diversas prescrições ligadas a seu de levita e a filha de israelita . Fílon faz-se eco, sem dú-
6()

casamento. Segundo o Antigo T e s t a m e n t o , o sumo sacer- vida, não da prescrição em vigor n a Palestina, mas do
dote devia desposar uma jovem virgem; n ã o podia aceitar costume ali reinante; e m todo caso, b e m o sabemos, di-
n e m u m a viúva, n e m u m a divorciada, n e m uma r e p u d i a d a , versos sumos sacerdotes tiveram c o m o esposas, filhas de
n e m u m a prostituta (Lv 21,13-15). A exegese rabínica ex- sacerdotes ''. E m c o n t r a p a r t i d a , eis os raros casos de mu-
f

plicava essa prescrição, limitando o termo " j o v e m " àquela lheres de sumos sacerdotes que não e r a m de descendência
que tivesse doze anos e doze anos e m e i o ; por o u t r o 5 3 sacerdotal: a esposa de A l e x a n d r e Janeu, sumo sacerdote
lado, reforçava as proibições: por " v i ú v a " entendia tam- asmoneu , c a dc Pinhas de H a b t a , que os zelotas no-
bl

b é m aquela cujo noivo tivesse m o r r i d o " ; a noiva, cujo


54 m e a r a m sumo sacerdote em 67 d . C , e q u e o Rabi H a n a -
noivado tivesse sido rompido era t a m b é m considerada c o m o nya b e n Gamaliel II (por volta d e 120) chama "nosso
d i v o r c i a d a ; " r e p u d i a d a " designava, assim dizem, a filha
56 g e n r o " , quer dizer, p a r e n t e por a l i a n ç a . Esse último caso, 63

transmitido p o r u m a tradição digna de fé, p o u c o significa,

47 11 (não t r a d u z i d o em V I / 2 , 2 7 4 ) ; Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1-2 ( 5 3


ú b

2 6 ) ; Nm. R. 2, 22 s o b r e 3, 4 ( I I 3 3 ) ; Tanhuma,
b
'aharê môt, § 7, 57. Sifra Lv 21,14 (47' 188, 1 ) . 1

433, 2 4 : escarro de u m x e q u e ("rei") á r a b e . b . Yoma a


4 7 : escarro 58. Yeb. V I 5.
d e u m " g r a n d e s e n h o r " ( n ã o j u d e u ) . — A v a r i a n t e : escarro d e u m 59. "Ele d e v e casar-se c o m u m a v i r g e m de sua parentela. Essas
s a d u c e u (b. Nidda 3 3 bar.; T o s . Nidda V 3 [645, 2 4 ] ) é, manifesta-
b
três ú l t i m a s p a l a v r a s (ek toü génous) são u m a c r é s c i m o da L X X .
m e n t e , u m a c o r r e ç ã o anti-saducéia; n ã o se c o n c e b e q u e u m s u m o 60. De spec. leg. I, § 110.
sacerdote tenha-se c o n s i d e r a d o c o m o m a c u l a d o p e l o e s c a r r o de u m 6 1 . a) S e g u n d o Ani. X V I I 6, 4, § 164, o s u m o sacerdote M a t i a s ,
s a d u c e u a p o n t o d e n ã o m a i s p o d e r oficiar n o D i a d a s e x p i a ç õ e s , filho de Teófilo (5-4 a . C ) , era c u n h a d o d o s u m o s a c e r d o t e Y o z a r (4
t a n t o mais q u e os s a d u c e u s o b s e r v a v a m m u i t o r i g o r o s a m e n t e a Lei -— a . C . ) ; sua m u l h e r e Y o z a r e r a m filhos d o s u m o sacerdote S i m ã o
m a s , é claro, s e g u n d o a exegese s a d u c é i a do texto d a Bíblia — os { c h a m a d o Boetos, 22 a p r o x . - 5 ) . 6) O s u m o s a c e r d o t e Caifás (cerca de
próprios sumos sacerdotes eram saduceus. 18-37 d.C.) d e s p o s a r a u m a filha d o s u m o s a c e r d o t e A n á s , (6-15 d . C ) ,
52. Yoma I 6-7. Jo 18,13. c) o s u m o s a c e r d o t e Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (63 a p . 6 5 ) ,
53. Yeb. V I 4; o u t r a i n t e r p r e t a ç ã o (ibid.). sustentada por rabi casara-se c o m M a r t a (Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 [ 3 5 1 ] : M i r i a m ) d a
b

Eleazar e r a b i S h i m e o n , rejeitava essa l i m i t a ç ã o d o t e r m o m o ç a à q u e - família pontifícia dos Boetos (Yeb. V 4; b . Yoma 1 8 ; cf. s u p r a , p .
a

las q u e t i n h a m e n t r e doze anos e doze e m e i o . A j o v e m q u e tivesse 1 4 2 ) . — Essas esposas e r a m t o d a s de famílias pontifícias; p o d e m o s , p o i s ,


p e r d i d o a v i r g i n d a d e p o r u m infeliz a c a s o , via-se t a m b é m e x c l u í d a c o n c l u i r q u e os s u m o s s a c e r d o t e s p r e f e r i a m c o n t r a i r m a t r i m ó n i o c o m
(ibid.). m o ç a s de d e s c e n d ê n c i a s a c e r d o t a l .
54. Yeb. V I 4. 62. E m b . Ber. 4 8 e passim
a
diz-se q u e A l e x a n d r e J a n e u era ca-
55. A i n t e r d i ç ã o do c a s a m e n t o Ievírático (desposar a v i ú v a de s a d o c o m u m a i r m ã d o r a b i S h i m e o n b e n S h e t a h q u e n ã o era sacer-
u m irmão q u e m o r r e u sem deixar f i l h o s ) , Sanh. II 1, já estava con- d o t e . I n f e l i z m e n t e n ã o p u d e m o s verificar a a u t e n t i c i d a d e dessa infor-
tida n o p r ó p r i o t e x t o d e L v 21,14 ( 4 7 18S,1).
d
m a ç ã o , Ê dificilmente m e r e c e d o r a de c r é d i t o .
56. Fílon, De spec. leg. I, § 107.
J
6 3 . T o s . Yoma I 6 (180, 2 6 ) ; Sifra L v 21,10 ( 4 7 187, 10). — c

S e g u n d o Gn. R. 98, 22 s o b r e 4 9 , 20 (214» 5) e 7 1 , 13 s o b r e 30 ( 1 5 5 b


aliás, p o r q u e , antes de se tornar sumo sacerdote, P i n h a s vertência a A l e x a n d r e Janeu, a n t e r i o r m e n t e já dirigida a
foi simples sacerdote do c a m p o e canteiro, seu pai, assim como a transmissão dos dois fatos t a n t o por
As prescrições p a r a o casamento de u m sumo sacer- Josefo como pelo T a l m u d e , b e m d e m o n s t r a m a g r a n d e im-
dote t i n h a m de ser observadas. Q u a n d o u m deles infrin- p o r t â n c i a atribuída à transgressão desse preceito relativo
gia a regra, provocava indignação nos círculos farisaicos, ao m a t r i m ô n i o do sumo sacerdote. O s fariseus n ã o tiveram
estendendo m e s m o essa indignação ao povo todo. Assim, receio de manifestar em público a sua d e s a p r o v a ç ã o , e até
o asmoneu João H i r c a n o (134-104 a.C.) teve de ouvir do mesmo lançá-la à face do soberano, apesar do perigo evi-
fariseu Eleazar severa admoestação: ele era u m sumo sa- dente q u e essa a t i t u d e representava p a r a a vida deles.
cerdote ilegítimo e deveria r e n u n c i a r a seu cargo, ele e seus Mais ainda: com base nessa advertência, rejeitaram o so-
descendentes, pois, sua m ã e , a m u l h e r do sumo sacerdote b e r a n o pontificado asmoneu ilegítimo . èi

Simão ( 1 4 2 / 1 - 1 3 4 a.C.) fora prisioneira de guerra sob An-


P o d e m o s citar a i n d a o u t r o caso de transgressão da
tíoco IV Epifanes e, por conseguinte, deixara de ser, des-
regra relativa ao casamento do sumo sacerdote. Na oca-
de aquela época, a esposa legítima do sumo sacerdote ; 64

sião em que Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (63-65 d . C , apro-


como já vimos , a escrava de guerra era igualada à re-

x i m a d a m e n t e ) foi n o m e a d o sumo sacerdote, estava noivo


p u d i a d a ; seus filhos tidos por filhos ilegítimos de sacer-
de u m a viúva, M a r t a , da família dos B o e t o s . U m a vez 6S

dotes, inaptos ao sacerdócio . 66

sumo sacerdote, casou-se; tal decisão era-lhe permitida


A l e x a n d r e Janeu (103-76), filho de João H i r c a n o foi como sacerdote, mas não como s u m o s a c e r d o t e . Con- 70

submetido publicamente à mesma admoestação; e n q u a n t o t a m que M a r t a dera ao rei Agripa II u m a vultosa quan-
7 1

filho •— é provável que se tratasse de neto — de u m a tia p a r a fazer com que seu noivo fosse n o m e a d o sumo
prisioneira de guerra, não lhe foi permitido exercer a fun- sacerdote. Desse relato deduzimos q u e o casamento pro-
ção de sumo sacerdote. Mais ainda: o povo exaltou-se d e jetado c o m u m a viúva, casamento ilegal para u m sumo
tal maneira que o b o m b a r d e o u , por ocasião de u m a festa sacerdote, ameaçava impedir a n o m e a ç ã o de Yoshua ao
das T e n d a s , com os 'êtrôgím (cidras-limões) q u e todos os soberano pontificado. Podemos concluir q u e , t a m b é m nessa
israelitas traziam nas m ã o s , assim como o íülab (ramo d a circunstância, o desprezo d a Lei causou indignação a o povo
festa) d u r a n t e a celebração da m a n h ã , no T e m p l o . A ad- 67
e aos círculos fariseus. Só posteriormente (Yeb. V I 4) ten-
t a r a m legalizar o caso.
6 ) , os s u m o s s a c e r d o t e s ter-se-iam c a s a d o , de p r e f e r ê n c i a , c o m j o v e n s
d a tribo de A s e r ; trata-se de u m jogo de p a l a v r a s sem valor h i s t ó r i c o Entre as obrigações q u e a f u n ç ã o i m p u n h a a o s u m o
s o b r e G n 49,20.
64. Ant. X I I I 10, 5, § 288ss. Exigiu-se de João H i r c a n o r e n u n c i a r sacerdote, constava t a m b é m u m cerimonial correspondente
t a m b é m à função d e s u m o s a c e r d o t e a favor dos d e s c e n d e n t e s ; t a l à sua posição; esse cerimonial que o envolvia não se li-
fato é d e d u t í v e l d a s suas r e p e t i d a s c e n s u r a s dirigidas ao filho. Josefo m i t a v a , de m o d o a l g u m , às funções litúrgicas. Por exem-
d e m o n s t r a q u e e r a m sem f u n d a m e n t o . O T a l m u d e refere-se ao caso
e m b . Qid. 6 6 : u m fariseu idoso exige q u e A l e x a n d r e f a n e u r e n u n -
a plo: p a r a apresentar condolências, aproximava-se com cor-
cie ao p o n t i f i c a d o pois sua m ã e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a . D e m o d o tejo p o m p o s o . À sua direita mantinha-se sempre o coman-
geral, esse relato c o n c o r d a c o m o de Josefo, m a s c o n f u n d e as p e r s o -
n a g e n s : João H i r c a n o é t r a n s f o r m a d o c m A l e x a n d r e J a n e u e o fariseu
dante do T e m p l o . Se era o p r ó p r i o sacerdote que estava
E l e a z a r torna-se u m i n i m i g o dos fariseus. de l u t o , à sua esquerda ficava o chefe da seção dos sacer-
65. Supra, p . 216. dotes em exercício n a q u e l e dia. Se, pelo contrário, o sumo
66. C. Ap. I 7, § 3 5 .
67. Ant. X I I I 13, 5, § 371s. — T o s . Sukka I I I 16 (197, 2 2 ) , cf. 68. Sobre a ilegitimidade d o s a c e r d ó c i o a s m o n e u , ver infra, p . 250ss.
M i s h n a Sukka I V 9, c o n t a c o m o o p o v o a t a c o u u m s u m o s a c e r d o t e 69. Yeb. V I 4. — Lam. R. 1, 50 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1) c h a m a a b

b o e t ú s i o ( s a d u c e u ) a golpes de 'etrôgi p o r q u e , diziam eles, p o r o c a s i ã o noiva, Miriam.


d a festa das T e n d a s , esse s u m o s a c e r d o t e d e r r a m o u a l i b a ç ã o s o b r e 70. A p e s a r d a p r o i b i ç ã o da Lei, A l e x a n d r e J a n e u p a r e c e ter-se
seus pés (os s a d u c e u s r e j e i t a v a m esse rito c o m o n ã o b í b l i c o ) . P o d e , t a m b é m c a s a d o c o m sua c u n h a d a v i ú v a , A l e x a n d r a (Schürer, I, 277,
p r o v a v e l m e n t e , tratar-se do caso q u e pôs A l e x a n d r e J a n e u c m c e n a . n. 2 ) .
7 1 . b . Yoma, 1 8 ; b . Yeb. 6 1 , cf. p . 142.
a a
sacerdote é que apresentava suas condolências, seu prede- A p ó s sua deposição, o s u m o sacerdote conservava não
cessor no cargo pontifício colocava-se à sua e s q u e r d a . 11 somente u m a g r a n d e p a r t e d e seu prestígio, mas t a m b é m
As prescrições seguintes faziam igualmente p a r t e desse o caráter que sua função lhe conferia. A prescrição que
cerimonial: " N i n g u é m p o d e vê-lo nu; não se p o d e vê-lo limitava a escolha d a m u l h e r p a r a o c a s a m e n t o , assim
e n q u a n t o corta os cabelos ou t o m a seu b a n h o " . Enfim, 73 como a proibição de manchar-se em contato c o m os mor-
esperava-se do sumo sacerdote u m a apresentação parti- tos, v i g o r a r a m , p a r a ele, como a n t e s . E m b o r a interrom-
81

c u l a r m e n t e c u i d a d a ; dizem ser de uso o "corte j u l i a n o " pidas as suas funções, sua m o r t e c o n s e r v a v a u m a virtude
p a r a o cabelo, quer dizer, o cabelo b e m curto . 74 expiatória p a r a os criminosos que se e n c o n t r a v a m nas ci-
dades de r e f ú g i o . "A única diferença entre u m sumo
83

M e s m o após sua deposição, o sumo sacerdote con- sacerdote em exercício e u m deposto consiste no [paga-
servava o título e o prestígio. A i n d a mais: se, após u m a m e n t o e oferenda do] novilho no Dia das expiações e no
impureza ritual, o sumo sacerdote não pudesse oficiar no [ p a g a m e n t o ] do d é c i m o 'épha [de fina flor d e farinha a
Dia das expiações, outro sacerdote o substituía na ceri- ser q u e i m a d a todos os dias] " . M e s m o após a sua depo-
83

mônia , fato freqüentemente repetido . O r a , esse sacer-


15 76

sição, como podemos n o t a r , o sumo sacerdote conserva,


dote que substituía o sumo sacerdote passava a constar em character indelebilis, o caráter conferido pelo seu car-
n a lista dos sumos sacerdotes, e m b o r a só tivesse exercido go que o torna primeira pessoa da teocracia. Possui u m a
a função, como substituto, d u r a n t e algumas h o r a s . "santidade eterna" *. 8

O b s e r v a m o s , c o n t i n u a m e n t e , a influência dos sumos


sacerdotes depostos. Pensemos no papel que representou Esse caráter de natureza cultual conferido pelo car-
Anás (em exercício de 6 a 15) no processo de J e s u s . 77
go de sumo sacerdote era o f u n d a m e n t o incontestado d e
Lembremo-nos no sumo sacerdote Jonatas, filho de A n á s sua posição privilegiada na c o m u n i d a d e , mas o q u a d r o
(em exercício da Páscoa a Pentecostes de 3 7 ) ; em 5 2 di- ficaria incompleto se não formulássemos u m a pergunta:
rigiu u m a i m p o r t a n t e e m b a i x a d a judaica junto ao gover- em q u e m e d i d a a situação histórica influenciava a posição
n a d o r da Síria, Umídio Q u a d r a t o , e foi enviado, c o m do sumo pontífice? C o n v é m lembrar, em primeiro lugar,
A n a n i a s , o sumo sacerdote em exercício, ao i m p e r a d o r q u e , toda uma série d e fatos que t e n d i a m a m i n i m i z a r a im-
sob seu desejo, confiou o governo da Palestina a Félix . 7S
p o r t â n c i a do sumo sacerdote. A extensão progressiva do
O s sumos sacerdotes depostos, A n a n , filho de A n a n (em p o d e r político era dos mais radicais. S e g u n d o uma antiga
exercício em 62 d . C . ) , e Y o s h u a , filho de G a m a l i e l (em
79
t r a d i ç ã o , o sumo sacerdote q u e recebera a unção assumia
exercício de 63 a 6 5 , a p r o x i m a d a m e n t e ) , r e p r e s e n t a r a m
80
o compromisso p a r a o resto d e sua v i d a e transmitia o pon-
papel d e t e r m i n a n t e no início da revolta contra os r o m a n o s . tificado como h e r a n ç a , a seus descendentes. N a época
h e r o d i a n a e r o m a n a — não sabemos d e s d e q u a n d o nem 85

72. T o s . Sanh. I V 1 (420, 1 3 ) , cf. M i s h n a Sanh. I I 1. p o r q u ê , — a u n ç ã o prescrita pela Lei (Ex 29,7;30,22-33)
73. T o s . Sanh. I V 1 (420, 14). deixara de vigorar; a consagração do sumo sacerdote fa-
74. b . Sanh. 2 2 ; b . Ned. 5 1 (Bilíerbeck, I I I , 440, n . 1 ) .
b a

zia-se por i n v e s t i d u r a . Esse fato já lhe diminuía o pres-


8fi

75. T o s . Yoma I 4 (180, 12).


76. Era 5 a . C , Josefo, filho d e E l l e m , substituiu M a t i a s , filho de
Teófilo ( A n i . XVII 6, 4, § 166; T o s . Yoma I 4 [180, 1 4 ] ; b . Yoma 8 1 . Hör. I I I 4.
12^; j . Yoma I 1, 5 8 1 [ I I I / 2 , 1 6 4 ] . S h i m e o n , filho d e K a m i t h (17-18
d
82. Mak. II 6; Hör. I I I 4 .
d . C ) , foi o b r i g a d o a se deixar substituir, ver supra, p . 2 1 5 . 8 3 . Hör. I I I 4 ; Meg. I 9.
77. Jo 18,13.24; cf. At 4,6; Lc 3,2. 84. Naz. V I I 1.
78. B. /. II 12, 5-6, § 240ss; Ani. X X 8, 5, § 162. 85. S e g u n d o u m a t r a d i ç ã o r a b í n i c a (b. Yoma 5 2 ) , desde o tem-
b

79. B. j . I I 20, 3, § 5 6 3 ; 22, 1-2, § 648-654; I V 3, 7ss, § 151ss; p o d o rei Josias q u e e s c o n d e u — d i z e m — o ó l e o s a n t o p a r a a u n ç ã o .


Vita 38, § 193s; 39, § 195ss; 44, § 216ss. 8 6 . Q u e r dizer, pela i m p o s i ç ã o d a s q u a t r o p a r t e s d a v e s t e d o
80. B. j . I V 3 , 9, § 160; 4, 3, § 238ss; Vita 38, § 193; 41 § 2 0 4 . s u m o s a c e r d o t e , v e r supra, p . 208, n . 6.
tígio. O s chefes políticos n ã o d a v a m importância a certas fazer calar suas vozes e opiniões no Sinédrio; e no Tem-
prescrições; H e r o d e s , por exemplo, instituiu A r i s t ó b u l o , plo precisavam c u m p r i r os ritos segundo a tradição fari-
o último sumo sacerdote asmoneu (35 a . C . ) , com dezes- 87
saica. N ã o se p o d e dizer que os s u m o s sacerdotes se te-
sete anos , q u a n d o a idade canónica p a r a os sacerdotes
8ÍÍ
n h a m eximido de q u a l q u e r responsabilidade no declínio
era, n o r m a l m e n t e , vinte anos " . T a l ocorrência t a m b é m
9
de sua influência. Casos de n e p o t i s m o , eventuais con- 92

não contribuía p a r a a u m e n t a r o crédito inerente à função. quistas abusivas , transgressões das prescrições em vigor
9i

U m fato n o v o , porém, abalou p r o f u n d a m e n t e a situação. p a r a seu m a t r i m ô n i o , prática do comércio na esplanada


94

Para destruir a importância da função pontifical, H e r o - do T e m p l o , talvez mesmo falta de formação teológica
9 5

des ousou n o m e a r ou destituir a seu bel-prazer os s u m o s do pontífice ; esses fatores, p r i n c i p a l m e n t e nas c a m a d a s


9b

sacerdotes e, desprezando os privilégios da antiga aristo- do povo submetidas à influência dos fariseus, contribuíram
cracia dos sumos sacerdotes sadoquitas; chegou a n o m e a r p a r a diminuir o prestígio da função pontifical. Nesse pon-
sumo sacerdote qualquer m e m b r o de família sacerdotal to, p o r é m , é preciso n ã o exagerar.
c o m u m ; assim sendo, mesmo sob os r o m a n o s , o cargo Por outro lado, no século I de nossa era, a importân-
deixou de ser vitalício e hereditário. Herodes alcançou cia do sumo sacerdote via-se reforçada de m o d o conside-
seu fito, pelo menos em p a r t e . U m a total d e p e n d ê n c i a dos rável. C o m efeito, e n q u a n t o chefe do Sinédrio e primeiro
sumos sacerdotes em relação aos chefes políticos, alguns representante do p o v o , neste período em q u e não havia
casos de sintonia e a rivalidade dos chefes dos sacerdo-
90

mais rei, o sumo sacerdote representava o povo judeu dian-


tes foram as conseqüências das novas disposições.
tJl

te dos r o m a n o s . E entre os sumos sacerdotes da época,


Além do mais, a influência crescente dos fariseus fa- h o u v e homens eminentes q u e , graças a sua personalidade,
zia-se sentir, sobretudo no Sinédrio, mas t a m b é m no culto. tiveram poder e prestígio, como, por e x e m p l o , A n á s , Cai-
Os sumos sacerdotes de idéias saducéias tiveram, pois, de fás e os sumos sacerdotes q u e no início da revolta en-
t r a r a m em cena contra os r o m a n o s . É preciso observar o
87. Aliás, p o u c o t e m p o d e p o i s , m a n d o u - o m a t a r , v e r infra, p . 2 6 1 . seguinte: o caráter de natureza cultual conferido pela fun-
88. Ant. X V 3, 3, § 5 1 . ção pontifícia, que permitia ao sumo sacerdote e a ele só
89. E m b . Hul. 2 4 - ( T o s . Zeb. X I 6 [ 4 9 6 , 3 ] , c o m v a r i a n t e s ) te-
a b

m o s três p o n t o s de vista: a) U m s a c e r d o t e e n c o n t r a - s e a p t o ao serviço entre os mortais, a e n t r a d a no Santo dos santos, exaltava-o


d e s d e q u e se m a n i f e s t a m os p r i m e i r o s sinais d a p u b e r d a d e , b) A p a r - de tal m o d o acima de seus semelhantes que a situação his-
tir da i d a d e de v i n t e anos (por analogia c o m Esd 3,8 q u e e s t a b e l e c e tórica n e n h u m a importância representava p a r a a sua posi-
essa i d a d e c o m o i d a d e c a n ó n i c a dos l e v i t a s ) , c) " D e s d e q u e surjam
os p r i m e i r o s sinais d e p u b e r d a d e , u m s a c e r d o t e está a p t o ao serviço, ção. P o r q u e " n i n g u é m arroga a si m e s m o a h o n r a [de
m a s seus i r m ã o s , os s a c e r d o t e s , n ã o o d e i x a m oficiar a n t e s d e seu ser sumo s a c e r d o t e ] ; é c h a m a d o p o r D e u s , exatamente
vigésimo a n o " . — Esse terceiro p o n t o de vista r e p r e s e n t a a p r á t i c a
c o r r e n t e , já q u e o m i d r a x e t a n a í t a Sifra Lv 2 1 , 17 ( 4 7 188, 29) t e m
d como A a r ã o " ( H b 5,4).
a p e n a s essa t r a d i ç ã o p a r a i n f o r m a r .
90. Ver supra, p . 219; a i n d a b . Yoma 8 - 9 bar.; j . Yoma I 1, 3 8
b ;i c

38 ( I I I / 2 , 1 6 2 ) , e passim.
9 1 . Eis o texto de j . Yoma I 1, 3 8 43 ( 1 I I / 2 , 162s) relativo aos
ü d e s c o b r e a a r m a d i l h a (par. e m T o s . Yoma I 4 [180, 1 6 ] ; j . Hor. I I I
c a n d i d a t o s ao cargo de pontífice; c a d a u m excede o o u t r o n a s grati- 5, 4 7 7 [ n ã o t r a d u z i d o e m V I / 2 , 2 7 4 ] ) .
d

ficações. V e r t a m b é m j . Yoma I 1, 3 8 ( 1 I I / 2 , 1 6 4 ) : em 5 a . C , no
d
92. Supra, p . 144s.
D i a das e x p i a ç õ e s , Josefo, filho de E l l e m , s u b s t i t u i seu p a r e n t e M a t i a s , 9 3 . Supra, p . 141s.
filho de Teófilo, q u e u m a i m p u r e z a ritual i m p e d e d e oficiar. N e s s a 94. Supra, p . 218s.
ocasião, Josefo tenta afastar de seu c a r g o o s u m o s a c e r d o t e l e g í t i m o . 9 5 . V e r supra, p . 72.
A p r e s e n t a ao rei ( H e r o d e s ) u m a d ú v i d a a p a r e n t e m e n t e i n o c e n t e , m a s 96. Yoma I 6: p a r a manter-se a c o r d a d o d u r a n t e a noite q u e pre-
q u e , na v e r d a d e , constituía u m a c i l a d a : " O n o v i l h o [do sacrifício p e l o c e d e o Dia das e x p i a ç õ e s , o s u m o s a c e r d o t e q u e estava h a b i t u a d o
p e c a d o ] e o c a r n e i r o [do h o l o c a u s t o ] d e v e m ser pagos p o r m i m ou a ler, lia a l g u m a s p a s s a g e n s d o A n t i g o T e s t a m e n t o ; se, p e l o c o n t r á r i o ,
pelo s u m o s a c e r d o t e [em exercício] ?" Josefo espera q u e o rei r e s p o n - n ã o estava h a b i t u a d o a isso, a l g u é m fazia-lhe a l e i t u r a : " Z a c h a r y a b e n
da " p o r t i " , e assim o c o n f i r m a c o m o s u m o s a c e r d o t e ; m a s H e r o d e s Q e b u t a l dizia: M u i t a s vezes li Daniel p a r a e l e " ; cf. Hor. I I I 8.
miciliados p o r todo o país, só t i n h a m serviço n o T e m p l o
B. OS CHEFES DOS SACERDOTES
E OS CHEFES DOS LEVITAS u m a s e m a n a em 2 4 , e mais as três festas anuais de pere-
grinação.
O sacerdote d e grau mais elevado depois d o s u m o sa-
"a) O sumo sacerdote, ungido com o óleo da u n ç ã o 97
c e r d o t e , era o comandante do Templo (s"gan ha-kòha-
102

precede [na h i e r a r q u i a ] o sumo sacerdote, diferençado [dos mim) ,m


Josefo e o N o v o T e s t a m e n t o : strategòs [toü
outros sacerdotes] somente pela investidura ; o s u m o sa- 9S

hiroü] m
. Sua função era u m a daquelas que se encontra-
cerdote diferençado pela investidura precede o sacerdote v a m ligadas por t o d o o ano ao culto do T e m p l o e pertencia
ungido p a r a a guerra (Dt 20,2-4);
a u m único titular.
b) aquele que é ungido p a r a a guerra [ p r e c e d e ] o A posição privilegiada d o c o m a n d a n t e do T e m p l o ma-
comandante do Templo (sugan) ; 99

nifestava-se d a seguinte m a n e i r a : nas cerimônias solenes era


c) esse [precede] o chefe da seção sacerdotal hebdo- o assistente do s u m o sacerdote e o c u p a v a , à sua direita, o
madária (nós ha-misinar); lugar d e h o n r a ; talvez tivesse, a o m e s m o t e m p o , d e cui-
10S

d) esse, o chefe da seção sacerdotal cotidiana (ros d a r p a r a q u e o s u m o sacerdote cumprisse corretamente os


bêt 'ab); ritos . E r a a i n d a costume designá-lo, u m a semana antes
m

e) esse, o vigilante do Templo Cammarkal);


f) esse, o tesoureiro (gizbar); 102. S c h ü r e r , I I , 320s; Billerbeck, I I , 628-630.
g) esse, o sacerdote comum (kôhen hedyôt); 103. P. A. Ul 2 e passim = c h e f e d o c l e r o . P o r s u a vez, j . Sheq.
V 3, 49 a
30-36 ( 1 I I / 2 , 295) p õ e qftilikôs ( v a r i a n t e k«talikos) =
h) esse, o levita " (continuação desta lista, p . 3 6 4 ) .
1 0 3 101
katholikós e s u p õ e , e r r o n e a m e n t e , a p o i a n d o - s e e m 2Cr 31,12, q u e h a -
via d u a s p e s s o a s d e s s a c o n d i ç ã o , q u a n d o os d e z h o m e n s n o m e a d o s
O q u a d r o demonstra q u e havia, além da função do em 2Cr 31,13 d e v e m designar os três t e s o u r e i r o s e os sete vigilantes
sumo sacerdote, cinco postos principais (b-f) d e n t r o da as- d o T e m p l o . S e g u n d o j . Sheq. V 3 , 4 9 3 3 ( H I / 2 , 295) a h i e r a r q u i a é
a

a s e g u i n t e : s u m o s a c e r d o t e , katholikós, vigilante do T e m p l o , t e s o u r e i r o .
sembléia d o clero. Passamos a analisá-los. A esse respeito, 104. Ant. X X 6, 2, § 131 e passim- At 4,1;5,24.26.
convém observar que as funções de c o m a n d a n t e d o Tem- 105. Yoma I I I 9; I V 1; Tamid V I I 3 ; j . Yoma I I I 8, 4 1 4
a

plo, de vigilante e de tesoureiro (b, e, f) achavam-se tão ( I I 1 / 2 , 1 9 7 ) . Cf. V I I 1; Sota V I I 7-8. Q u a n d o o s u m o s a c e r d o t e apre-
senta s u a s c o n d o l ê n c i a s , o c o m a n d a n t e do T e m p l o m a n t é m - s e à s u a
intimamente ligadas ao culto do santuário que s u p u n h a m d i r e i t a , T o s . Sanh. I V 1 (420, 13) b . Sanh. 19» b a r .
uma presença p e r m a n e n t e de seus titulares em Jerusalém; 106. Yoma I V 1: p o r ocasião d o sorteio dos dois b o d e s p a r a o
em compensação, os sacerdotes investidos da função de s u m o s a c e r d o t e , n o D i a das E x p i a ç õ e s , o c o m a n d a n t e d o T e m p l o à sua
d i r e i t a o u o chefe d o s s a c e r d o t e s d a s e ç ã o , f a z e n d o o s e r v i ç o coti-
chefe das 24 seções sacerdotais h e b d o m a d á r i a s (c, d) do- d i a n o , e q u e se m a n t i n h a à e s q u e r d a , devia c o n v i d a r o s u m o s a c e r d o t e
a e r g u e r a m ã o n a qual a sorte " p a r a I a h w e h " caíra, e m o s t r a r o
resultado da sorte a todo o povo. Aqiba opina que nos defrontamos
97. O rito da c o n s a g r a ç ã o do s u m o s a c e r d o t e p r e s c r i t o pela Lei, aí com u m a m e d i d a de p r e c a u ç ã o c o n t r a os s a d u c e u s (b. Yoma 40 ;
b

mas q u e n ã o estava mais e m uso na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a . cf. T o s . Yoma 111 2 [185, 1 1 ] ; B ü c h l e r , Priesíer, 110s); ao q u e t u d o
98. R i t o d a c o n s a g r a ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e q u e eslava e m uso indica, e r a u m a q u e s t ã o d i s c u t i d a : o s u m o s a c e r d o t e deveria segurar
na é p o c a h e r o d i a n a e r o m a n a . E m lugar do s u m o s a c e r d o t e i n v e s t i d o , a sorte " p a r a I a h w e h " na m ã o e s q u e r d a n o caso e m q u e a e x t r a ç ã o
j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V l / 2 , 278) m e n c i o n a " o p r o f e t a " .
b
dessa sorte a fazia cair nessa m ã o {opinião d o s fariseus) ? O u deve-
99. b . Táan, 3 1 b a r . coloca o c o m a n d a n t e d o T e m p l o a c i m a d o
a
ria ele, n e s s e c a s o , fazer p a s s a r d a m ã o e s q u e r d a p a r a a direita (opi-
sacerdote u n g i d o p a r a a g u e r r a . Em j . Hor. 111 9, 4 8 34 ( V I / 2 , 278)
b
n i ã o dos s a d u c e u s ) ? E r g u e r a m ã o era u m a m e d i d a d e p r e c a u ç ã o
falta o c o m a n d a n t e d o T e m p l o . c o n t r a os s a d u c e u s ; isso é c o n f i r m a d o p o r u m a regra s e m e l h a n t e n a
100. T o s . Hor. II 10 (476, 2 7 ) ; j . Hor. I I I 9, 4 8 33 ( V I / 2 , 2 7 8 ) .
b
cerimônia da libação d e á g u a , p o r ocasião da festa das T e n d a s (Sukka
101. E n c o n t r a m o s h i e r a r q u i a s e m e l h a n t e e m Q u m r â n e m 1 QM I V 9 ) . O s s a d u c e u s r e j e i t a v a m a l i b a ç ã o de á g u a c o m o n ã o b í b l i c a ; p o r
II 1-4: s u m o s a c e r d o t e , seu s u b s t i t u t o , 12 chefes d e s a c e r d o t e s , os c a u s a d i s s o , u m s u m o s a c e r d o i e s a d u c e u , c e r t o a n o , d e r r a m o u a água
chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de s a c e r d o t e s , 12 chefes d e levitas s o b r e seus pés (ver infra, p . 218, n . 6 7 ) . P o r c o n s e g u i n t e , ao erguer
c os chefes das seções h e b d o m a d á r i a s de levitas ( i n d i c a ç ã o d e G . a m ã o , o s u m o s a c e r d o t e d e v i a t o r n a r visível, o mais longe possível,
Kiinzing).

8 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
do D i a das expiações, substituto do sumo sacerdote, no T e m p l o e m 5 2 d . C ; o o u t r o , Eleazar , e m 6 6 . O u t r o fato
li0

caso em q u e surgisse algum empecilho e esse não pudesse n o s p r o v a que se nomeava c o m a n d a n t e do T e m p l o u m dos
exercer sua função . Finalmente, a importância deste posto
107

m e m b r o s da aristocracia sacerdotal: os dois filhos de A a r ã o ,


aparece n u m d a d o do T a l m u d e da P a l e s t i n a : " O sumo 108

N a d a b e Abiú, são c h a m a d o s s 'ganê k hünnah l


; ao no-
e m

sacerdote n ã o seria n o m e a d o sumo sacerdote se não tivesse mear assim os dois filhos d e A a r ã o " c o m a n d a n t e s d o T e m -
sido, antes, c o m a n d a n t e do T e m p l o " .
p l o " , o M i d r a x e r e m e t e ao p a s s a d o u m título e u m a con-
Na v e r d a d e , essa afirmação apenas possui u m valor dição de época tardia. Devemos m e n c i o n a r , enfim, os casos
geral; com efeito, desde o início do reinado de H e r o d e s , o de substituição efetiva do sumo sacerdote. O sumo sacer-
G r a n d e , a n o m e a ç ã o do sumo sacerdote foi com freqüência
dote Shímeon, filho d e K a m i t h (17-18 d . C , a p r o x i m a d a -
arbitrária e d e t e r m i n a d a , p u r a e simplesmente, por consi-
m e n t e ) , substituído p o r seu i r m ã o n o D i a das Expia-
derações políticas. E n t r e t a n t o , essa indicação podia-se ve-
ções ; o sumo sacerdote Matias, filho de Teófilo entre
m

rificar em inúmeros casos; tornava-se facilmente o p r i m e i r o


5-12 de m a r ç o de 4 a . C foi substituído n o D i a das Ex-
chefe dos sacerdotes como sucessor de u m sumo sacerdote
piações do ano 5 por u m p a r e n t e d e n o m e José, filho d e
deposto.
Eílem " ; já Aristóbulo I (104-103 a . C ) , e n f e r m o p o r oca-
3

N ã o resta dúvida, p o r é m , de que o c o m a n d a n t e do


sião d e u m a festa das T e n d a s , fora t a m b é m substituído
T e m p l o era escolhido entre as famílias da aristocracia sa-
por seu irmão Antígona . m

cerdotal. O exemplo dos dois filhos do sumo sacerdote Ana-


De m o d o h a b i t u a l , como vimos acima, o c o m a n d a n t e
nias no-lo d e m o n s t r a . U m , A n a n , foi c o m a n d a n t e do
1 0 9

d o T e m p l o era designado substituto do sumo sacerdote


p a r a o D i a das Expiações. P o r t a n t o , p e l o m e n o s n o s dois
o rito c o r r e t a m e n t e c u m p r i d o c o n f o r m e a h a l a k a farisaica. Por tal mo-
tivo p o d e m o s c o n c l u i r q u e , s e g u n d o Yoma I V 1, o c o m a n d a n t e do primeiros casos de substituição para o citado Dia. pode-
T e m p l o devia fiscalizar o s u m o s a c e r d o t e n o d e s e n r o l a r d a c e r i m ô n i a mos supor, m e s m o sem ter sido explicitado, q u e o substi-
do sorteio.
tuto foi o c o m a n d a n t e do T e m p l o . Conclui-se, pois, ser
107. T o s . Yoma I 4 (180, 1 2 ) : " R . H a n a n y a b e n G a m a l i e l I I (por
volta de 120 d.C.) dizia: O c o m a n d a n t e d o T e m p l o é d e s i g n a d o p a r a d e uso escolher o c o m a n d a n t e do T e m p l o e n t r e os p a r e n t e s
s u b s t i t u i r o s u m o s a c e r d o t e [ n o D i a das E x p i a ç õ e s ] n o caso em q u e p r ó x i m o s e m e s m o m u i t o p r ó x i m o s do sumo sacerdote.
lhe a c o n t e ç a a l g u m a i r r e g u l a r i d a d e q u e o t o r n e i n a p t o ao serviço [ L v
22,4 f i m ] " . O t e s t e m u n h o de R. H a n a n y a a d q u i r e m a i o r i m p o r t â n c i a 0 c o m a n d a n t e do T e m p l o devia fiscalizar, permanente-
p o r ser ele p a r e n t e de P i n h a s , o ú l t i m o s u m o s a c e r d o t e {supra, p . 217, m e n t e , todo o serviço de culto e, conforme o próprio n o m e
n . 6 3 ) . M e s m a t r a d i ç ã o e m b . Yoma 3 9 bar.; b . Soía 4 2 b a r . : " R .
a a

s gan ha-kôhãním
c
indica, o dos sacerdotes e m serviço. As
H a n a n y a , c o m a n d a n t e d o T e m p l o dizia: P o r q u e postava-se o c o m a n -
d a n t e d o T e m p l o à sua direita [à direita d o s u m o s a c e r d o t e p a r a o informações relativas a o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , Eleazar,
sorteio dos dois b o d e s , Yoma I V 1, ver a n . p r e c e d e n t e ] ? A fim d e d e q u e m vamos nos o c u p a r , confirmam esse p o n t o , assim
q u e , se a c o n t e c e r ao s u m o s a c e r d o t e tornar-se i n a p t o p a r a c u m p r i r suas
funções, o c o m a n d a n t e d o T e m p l o o s u b s t i t u a " . A q u i , h á u m a volta
ao p a s s a d o : é o p r ó p r i o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , o sábio H a n a n y a q u e 110. Ant. X X 9, 3, § 2 0 8 ; B. j . I I 17, 2, § 409.
relata essa t r a d i ç ã o . M a s é sem d ú v i d a a Tosefta q u e cita o verda- 111. Lv. R. 20, 2 s o b r e 16, I ( 5 1 2 2 ) ; Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1
b

d e i r o r e l a t o r ; vê-se b e m d e q u e m o d o , através de u m a t r a d i ç ã o rela-


( 5 3 1 4 ) ; Tanhuma,
a
'aharê môt, § 1, 4 2 7 , 12.
tiva a o serviço d o T e m p l o e t r a z e n d o o n o m e d e u m H a n a n y a foi
112. O s t e x t o s são c i t a d o s supra, p . 108, n . 5 1 .
fácil a t r i b u i r ao c o m a n d a n t e d o T e m p l o q u e levava o m e s m o n o m e .
113. R e l a t o c o n c o r d e d e ]osc£o, Ant. X V I I 6, 4, § 166, e d a li-
D i v e r s a m e n t e ao q u e p e n s a S c h ü r e r , I I , 3 2 1 , n ã o c o n s i g o e n c o n t r a r
t e r a t u r a r a b í n í c a . T o s . Yoma í 4 (180, 1 4 ) ; b . Yoma 1 2 ; j . Yoma
b
I
c o n t r a d i ç ã o e n t r e essas i n f o r m a ç õ e s e a de Yoma I 1 s e g u n d o a q u a l ,
1 3 8 1 ( I H / 2 , 1 6 4 ) . Q u a n t o à i n v e s t i d u r a d e M a t i a s em m e a d o s do
d

7 dias antes d o D i a das E x p i a ç õ e s , designava-se o s u b s t i t u t o d o s u m o


a n o 5 a . C , ver Ant. X V I I 4, 2, § 7 8 : após a m o r t e d e F é r o r a s , Des-
s a c e r d o t e ; a n o m e a ç ã o solene, c a d a a n o , n ã o exclui de m o d o algum
t i t u i ç ã o , s e g u n d o Ant. X V I I 6, 4, § 167. n a v é s p e r a do eclipse par-
o fato d e a s u b s t i t u i ç ã o d o s u m o s a c e r d o t e ter sido u m privilégio d o
cial d a l u a e m 13 de m a r ç o de 4 a.C. O D i a das E x p i a ç õ e s caía e m
comandante do Templo.
s e t e m b r o - o u t u b r o ; a s u b s t i t u i ç ã o deu-se, p o i s e m 5.
108. j . Yoma I I I 8. 4 1 5 ( I I I / 2 , 197).
a
114. Ant. I I I 11, 1, § 304. B ü c h l e r , Priester, 109, n. 1, c o n s t a t o u
109. Ant. X X 6, 2, § 1 3 1 ; B. j . II 12, 6, § 2 4 3 . q u e se t r a t a v a d o p a p e l d e s u b s t i t u t o r e a l i z a d o p o r A n t í g o n a .
como as q u e nos foram fornecidas p o r H a n a n y a , c h a m a d o e as m u l h e r e s p a r t u r i e n t e s q u e , t e n d o t e r m i n a d o seu tem-
de C o m a n d a n t e d o T e m p l o e relativos aos costumes obser- po de purificação, h a v i a m sido d e c l a r a d a s p u r a s n a Porta
vados no desenrolar do culto. Por e x e m p l o : " E m t o d a a de N i c a n o r . Foi, pois, o chefe dos sacerdotes da seção
m i n h a vida, jamais vi u m a pele [de vítima i m p r ó p r i a ao h e b d o m a d á r i a e m serviço q u e , n a P o r i a d e N i c a n o r , p o r t a
sacrifício] trazida p a r a ser i n c i n e r a d a " ; essas p a l a v r a s
1!5
d e c o m u n i c a ç ã o entre o átrio das m u l h e r e s com o dos
supõem u m a longa familiaridade com a liturgia d o san- israelitas , recebeu o sacrifício da m ã e de Jesus (Lc 2,24)
m

tuário. " q u a n d o os [ 4 0 ] dias de sua purificação, prescritos pela


Além d a fiscalização d o culto, o c o m a n d a n t e d o Tem- Lei d e Moisés, se c o m p l e t a r a m " ( L c 2 , 2 2 ) . E r a , igual-
plo d i s p u n h a de toda a força policial. A tal título efe- m e n t e , n a Porta de N i c a n o r q u e o chefe da seção hebdo-
tuava as prisões que quisesse; foi u m deles q u e p r e n d e u m a d á r i a , para c u m p r i r o ordálio, devia fazer a m u l h e r
os apóstolos no adro externo d o T e m p l o . D e m o n s t r e - l16 suspeita de adultério , b e b e r as águas amargas .
m lzz

mos, com u m e x e m p l o , q u a l a extensão dos p o d e r e s des-


ses h o m e n s . N o sagan do a n o 66 d . C , Eleazar decidiu su- 120. E m Mid. I 4 , a P o r t a do Leste só p o d e ser a passagem en-
tre o á t r i o dos israelitas e o d a s m u l h e r e s , c o n f o r m e o d e m o n s t r a a
p r i m i r o sacrifício p a r a o i m p e r a d o r ; tal o r d e m r e p e r c u t i u c o m p a r a ç ã o c o m B. j . V 5, 2, § 198ss; é p r e c i s o , p o i s , e n t e n d e r Mid.
como u m a declaração de guerra aos r o m a n o s e ocasião II 6 n o m e s m o s e n t i d o . A l é m do m a i s , d e v e m o s levar e m c o n t a de
Nm. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 {37» 2 8 ) e T o s . Kel. B. Q. 1 12 (570, 1 3 ) , se-
imediata de início da guerra d o extermínio . Nos fins l17

g u n d o os q u a i s o " c a m p o dos l e v i t a s " se e s t e n d i a até a Porta de Ni-


desse a n o 6 6 , os chefes da revolta n o m e a r a m Eleazar go- c a n o r ; ora, s e g u n d o Sifre N m 5,3 § 1 ( 2 7, 2 0 ) , estendia-se a t é a
C

v e r n a d o r da I d u m é i a . Dificilmente p o d e r í a m o s encon-
11B
P o r t a d o a d r o (mais i n t e r i o r ) . P o r c o n s e g u i n t e , a P o r t a de N i c a n o r
c a e n t r a d a d o a d r o q u e se a c h a m a i s p a r a d e n t r o . E n f i m , e sobre-
trar algo que ilustrasse m e l h o r a p l e n i t u d e de p o d e r de i u d o , c o n v é m o b s e r v a r q u e o á t r i o d a s m u l h e r e s era acessível a todos
que gozava o c o m a n d a n t e como senhor do T e m p l o , e de aqueles q u e só t i n h a m c o m o ú l t i m o rito d e p u r i f i c a ç ã o u m sacrifí-
cio a o f e r e c e r {Kel. I 8; T o s . Kel. B. Q. I 10 [ 5 7 0 , 1 ] ) ; era o c a s o ,
que prestígio era revestido.
p o r e x e m p l o , d o l e p r o s o q u e , a n t e s d a d e c l a r a ç ã o final de p u r e z a ,
d e v i a b a n h a r - s e n o hall d o s l e p r o s o s , s i t u a d o n o á t r i o d a s m u l h e r e s .
Após o c o m a n d a n t e d o T e m p l o , v i n h a m , em o r d e m D e v e m o s , p o i s , a f i r m a r q u e a P o r i a de N i c a n o r , local d e d e c l a r a ç ã o
h i e r á r q u i c a , os chefes das seções sacerdotais hebdomadá- d a p u r e z a , é a p a s s a g e m q u e liga o á t r i o d a s m u l h e r e s a o á t r i o i n t e -
rior. Essa é t a m b é m a o p i n i ã o de D a l m a n , Itinéraires, 392 e n . 6, e
rias, e m n ú m e r o de 2 4 , e os chefes das seções cotidianas, mais r e c e n t e m e n t e , a p ó s u m e x a m e m i n u c i o s o d e t o d a s as fontes, a d e
a b r a n g e n d o cerca de 156, pois, cada seção h e b d o m a d á r i a K. Stauffer. Das Tor des Nikanor em ZNW 44 (1952-1953). 44-66.
fiilíerbeck, I I , 622-624, é de o p i n i ã o d i f e r e n t e ; situa a P o r t a d e N i c a -
era dividida em 4 a 9 seções d i á r i a s . Esses sacerdotes 119

n o r a leste d o á t r i o d a s m u l h e r e s .
viviam dispersos na Judéia e n a Galileia; exceto n a s três
121. Tamid V 6: " O chefe d a estação [ n o m e coletivo q u e desig-
festas anuais de p e r e g r i n a ç ã o , só estavam presentes em n a v a o s r e p r e s e n t a n t e s d o s leigos q u e c o m p u n h a m u m a s e ç ã o h e b d o -
Jerusalém u m a semana em 2 4 , q u a n d o lhes tocava a vez m a d á r i a , s u b i n d o a J e r u s a l é m ] c o l o c a v a os i m p u r o s n a s p o r t a s orien-
Inís [ = P o r t a d e N i c a n o r q u e , a l é m d o p ó r t i c o p r i n c i p a l , c o m p r e e n -
de fazer o serviço sacrificai. D u r a n t e aquela s e m a n a de dia, s e g u n d o Mid. II 6, d u a s p e q u e n i n a s p o r t a s , e d a í , o p l u r a l ] . Nm.
serviço, d e v i a m c u m p r i r as funções d e t e r m i n a d a s p a r a o K. 9, 11 s o b r e 5, 16 ( 5 0 1 9 ) : * " D i a n t e d e I a h w e h ' , ( N m 5,16) [isto
a

culto cotidiano e o sacerdote chefe da seção h e b d o m a d á - é j na P o r t a de N i c a n o r [o s a c e r d o t e coloca a m u l h e r a c u s a d a de


a d u l t é r i o ] ; p o r essa r a z ã o se diz [Tamid V 6 ] : O chefe d a estação
ria realiza as cerimônias de purificação p a r a os leprosos ii>loc;iva os i m p u r o s n a P o r t a d e N i c a n o r " . Q u e m é " o chefe d a es-
l a ç ã o " ? O s " i m p u r o s " q u e ele c o l o c a v a à P o r t a d e N i c a n o r d e s i g n a m ,
de m o d o m a i s p r e c i s o , a s p e s s o a s desejosas d e s e r e m d e c l a r a d a s p u r a s ,
115. 'Ed. I I , 2 . • •orno l e p r o s o s , p a r t u r i e n t e s e m u l h e r e s s u s p e i t a s de a d u l t é r i o (Soía
116. A t 5,24,26; cf. 4 , 1 . Cf. i g u a l m e n t e a tradução d e sagan por 1 Nm. R. 9 , 11 s o b r e 5, 16 ( 5 0 1 9 ) ; Sifra L v 14,11 ( 3 5 138, 2 1 ) .
a b

strategós. r nm s a c e r d o t e q u e d e v e fazer a c e r i m ô n i a de p u r i f i c a ç ã o dessas pes-


117. B. j . I I 17, 2, § 409s. •,Dii;. s e g u n d o Lv 14,11 ( l e p r o s o s ) L v 12,6 ( m u l h e r e s q u e d e r a m à l u z ) ,
118. B. /'. II 20, 4, § 566. Nm 5,16 ( m u l h e r suspeita d e a d u l t é r i o ) . S a b e m o s , p o r t a n t o , q u e é u m
119. T o s . Ta'an. I I 2 (216, 1 7 ) . — j . Ta'an. I V 2, 6 8 14 ( I V / 1 , a
M U v i •dote q u e p r e s i d e a p u r i f i c a ç ã o e isso é e x p r e s s a m e n t e d i t o e m
178): 5 a 9 seções c o t i d i a n a s . — b . Men. 1 0 7 ; 6 seções c o t i d i a n a s .
b
particular d e " c h e f e dos s a c e r d o t e s " . A s fontes i n d i c a m ,
O chefe dos sacerdotes da seção cotidiana devia, no claramente, q u a l a função d o s 'ammark lin. c
Citemos, e m
dia de serviço de sua seção, estar presente à oferenda sa- p r i m e i r o lugar, o texto p r i n c i p a l , " O s [sete] 'ammarkHín
126

crificai. Sabemos por diferentes informações q u e ele se q u e faziam? As sete chaves do átrio [dos israelitas e do
colocava à esquerda do sumo sacerdote, e n q u a n t o esse ofe- átrio dos sacerdotes] estavam sob sua g u a r d a e, se u m
recia o sacrifício . E n t r e t a n t o , eram o c o m a n d a n t e do
m
deles quisesse [pela m a n h ã ] a b r i r , n ã o podia fazê-lo antes
T e m p l o e u m de seus s u b o r d i n a d o s , o "designado a tirar que lodos estivessem r e u n i d o s " . E v i d e n t e m e n t e , essa
U 1

a s o r t e " q u e dirigiam o culto realizado por seções q u e se informação é e s q u e m a t i z a d a ; c o m b i n a o n ú m e r o dos sete


a l t e r n a v a m , m u d a n d o cada semana. 'ammarkHín c o m as sete chaves d o á t r i o i n t e r n o d e sorte
O s dois últimos postos ocupados pelos chefes dos sa- a d a r , a cada 'ammarkHín u m a das chaves do átrio . l28

cerdotes encontravam-se estreitamente ligados u m ao ou- E n t r e t a n t o , toda essa passagem n ã o r e p o u s a , necessaria-


tro; ambos eram postos p e r m a n e n t e s do T e m p l o . Seus ti- m e n t e , n u m a p u r a invenção; nessa informação é sem dú-
tulares são citados juntos muitas vezes; são eles, por exem- vida exalo q u e os 'ammarkHín d e t i n h a m as chaves d o
plo, q u e , de acordo, a n u n c i a m sua nomeação ao sacerdote T e m p l o e fiscalizavam o s a n t u á r i o . É o q u e Bik. I I I 3
Pinhas, canteiro, designado sumo sacerdote de m a n e i r a tu- deixa supor. E m geral os 'ammarkHín são n o m e a d o s d e
multuosa . Trata-se, V dos 'ammarkHín e 2-, dos gizbarim,
i24
a c o r d o com os tesoureiros , mas e m Bik. I I I 3 , os s ganim
m e

tesoureiros. apareciam e m seu lugar ao l a d o dos tesoureiros. Os 'am-


O sentido de 'ammarkHín é discutido. Segundo Schü¬ markHín são, p o r t a n t o , os vigilantes do Templo ( N . T . [ L c
rer, seriam tesoureiros como os gizbarim p o r q u e , em persa, 2 2 , 4 . 3 2 ] e Josefo stralegoí); o estudo q u e faremos mais
a p a l a v r a significa, mais ou m e n o s , "conselheiro d o tri- adiante sobre as d u a s listas d e funcionários d o T e m p l o
b u n a l de c o n t a s " . Essa a p r o x i m a ç ã o não é, p o r é m , con-
m
confirmará essa conclusão. S e g u n d o a t r a d i ç ã o rabínica,
cludente; com efeito, conforme nos mostra o T a r g u m , essa n ã o deveria h a v e r m e n o s d e sete 'ammarkHín . m

p a l a v r a extraída do persa, tinha em aramaico o sentido N a o r d e m hierárquica, os gizbarim v i n h a m após os


geral de "chefe do p o v o " ; adquiriu a seguir, o sentido vigilantes do T e m p l o ; não deviam ser menos de três . m

E r a m os tesoureiros. As finanças d o santuário compreen-


o u t r a p a s s a g e m (Sifra Lv 14,11 ( 3 5 138, 2 1 ) : " o s a c e r d o t e q u e ia
b

d i a m imóveis, grandes q u a n t i a s m o n e t á r i a s e jóias, admi-


p r o c e d e r à c e r i m ô n i a d a p u r i f i c a ç ã o c o l o c a v a o h o m e m [ l e p r o s o ] a ser
d e c l a r a d o p u r o . . . [138, 30] ' d i a n t e d e l a h w e h ' (Lv 14,11) [a s a b e r ] nistração das taxas e d a s ofertas, assim c o m o capitais par-
d i a n t e da T e n d a ; [ q u e r dizer q u e ] colocava-o n a P o r t a d e N i c a n o r , ticulares ali depositados. A p r o v i s ã o e m gêneros e em pro-
as costas v o l t a d a s p a r a o leste, o r o s t o p a r a o o e s t e " . O c h e f e d a
estação era, p o i s , c e r t a m e n t e , u m s a c e r d o t e {O. H o l t z m a n n , Tamid
[col. Die Mischna], Giessen, 1928, 6 3 , e m Tamid V 6 v e m o s , incor- 126. Falta o n ú m e r o n o m a n u s c r i t o d e V i e n a d a Tosefta ( V i e n a ,
r e t a m e n t e , q u e esse título "chefe d a e s t a ç ã o " p o d e r i a " d e s i g n a r a fun- Nalionalbibl. H e b r . 2 0 ) ; e m c o n t r a p a r t i d a , figura n o m s . d e E r f u r t
ção d e t e r m i n a d a [ ! ] , n o T e m p l o , de u m levita [!] ou [!] de u m sa- (agora em B e r l i m , Staatsbibl. M s . o r . 2- 1220) e nas antigas e d i ç õ e s .
c e r d o t e " ) . D e v e e n t ã o ser idêntica ao chefe d a seção s a c e r d o t a l h e b - 127. T o s . Sheq. II 15 ( 1 7 7 , 6 ) .
domadária. 128. E m c o n s e q ü ê n c i a , a m e s m a fonte de t r a d i ç ã o q u e , n o total
122. Yoma I I I 9; I V 1. Cf. T o s . Sin. I V 1 (420, 1 3 ) : q u a n d o o das p o r t a s , c o n t a t a m b é m as d o átrio d a s m u l h e r e s e fala, p o i s , ( q u a n -
s u m o s a c e r d o t e , a p ó s u m f a l e c i m e n t o e m sua família, recebia as con- to ao interior d o T e m p l o ) d e treze p o r t a s (Mid. I I 6; Sheq. V I 3 :
dolências, o chefe d a seção d i á r i a em serviço m a n t i n h a - s e , i g u a l m e n t e , A b b a Y o s é b e n H a n a n ) s u p õ e q u e h o u v e s s e t a m b é m treze gizbarim
à sua e s q u e r d a .
(b. Tamid 27*: R. N a t h a n ) .
123. Tamid I 2-3; I I I 1-3; V 1-2; V I 3 . F a l a r e m o s c o m m a i s mi-
129. Sheq. V 2 ; T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) ; b . Pes. 5 7 bar.; Sifra a

n ú c i a infra, p . 274, do sorteio das funções p a r a o h o l o c a u s t o c o t i d i a n o


da c o m u n i d a d e (tamid) de manhã e à tarde. Lv 21,10 ( 4 7 187, 9) e n a lista d e T o s . Ror. II 10 (476, 27) e p a r .
c

c i t a d o supra, p . 2 2 4 s .
124. T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) .
125. S c h ü r e r , I I , 327. T a m b é m H . G r á t z , Topographische und 130. Sheq. V 2 ; T o s . Sheq. I I 15 (177, 6 ) , ver, e n t r e t a n t o , supra,
historische Streifzüge, I : Die letzten Tempelbeamten vor der Tempel- n. 126; j . Sheq. V 3 , 4 9 30 ( I I I / 2 , 2 9 5 ) .
a

zerstorung und die Tempelamter, e m MGWf 34 ( 1 8 8 5 ) , 193. Í 3 1 . Sheq. V 2; T o s , Sheq. I I 15 (177, 4 ) .


dutos necessários ao culto, a fiscalização da v e n d a das
aves e o u t r o s gêneros p a r a os sacrifícios, a d m i n i s t r a d a n o d r a c m a q u e cada israelita devia p a g a r a n u a l m e n t e (Mt
T e m p l o e o c u i d a d o na conservação e reparação dos obje- 17,24). Além das r e n d a s do T e m p l o , os tesoureiros admi-
tos de o u r o e prata, dos quais 93 e r a m utilizados n u m n i s t r a v a m as despesas: c o m p r a v a m a l e n h a , e x a m i n a v a m
1 4 2

ú n i c o serviço diário, p r o p o r c i o n a v a m aos tesoureiros um 132 o v i n h o p a r a as libações e a farinha p a r a os dois pães


143

vasto c a m p o de atividade e exigiam u m grupo g r a n d e de de primícias de Pentecostes . Era t a m b é m função deles


144

funcionários sob seu controle. a administração das reservas do T e m p l o e de seu te- 145

souro, do qual a veste do s u m o sacerdote constituía a


" Q u e faziam os três tesoureiros? A eles é q u e se
p a r t e mais sagrada . m

pagava:
Sobre os vigilantes e tesoureiros do T e m p l o dos quais
1. O equivalente [ao que era dedicado ao T e m p l o , acabamos de tratar, possuímos informações mais minucio-
mas em d i n h e i r o ] ;
sas em duas listas de excepcional, valor, relativas aos "che-
2. os a n á t e m a s [dons p a r a o T e m p l o sem q u e a pes- fes ". Comecemos pela mais antiga ( T o s . Sheq. II 14;
soa pudesse p a g á - l o ] ; 177,2) . 147

3. as [outras] coisas consagradas ao T e m p l o ;


4. o s e g u n d o dízimo
133
[podia ser-lhes p a g o ] ;
134
" E i s os 'chefes do T e m p l o
5 1 4 8
:
5. [em s u m a ] , ocupavam-se de todas as operações * LLT] Y o h a n a n b e n G u d g e d a era chefe 149
porteiro,
[financeiras]" . l35

* 1 2.j Ben Totephet, encarregado das chaves,


E r a m , pois, as rendas do T e m p l o que os chefes dos * [ 37| Ben D i p h a i fiscalizava o lülab para a festa das
tesoureiros d e v i a m , em p r i m e i r o lugar, a d m i n i s t r a r . C o m o Tendas,
sabemos, recebiam o trigo oferecido no s a n t u á r i o ; pa- 136

* |._47| Arza , primeiro chefe de música


150
, 1S1

gavam-lhe o equivalente ; os produtos colhidos , a mas-


137 ,3S

"5. S h e m u e l , e n c a r r e g a d o dos fornos,


152

sa ofertada ; decidiam d o emprego dos objetos d o a d o s


IW m

e exerciam a alta gerência dos i m p o s t o s , a q u e l a d u p l a 141


( I I I / 2 , 278s) b a r . : os t e s o u r e i r o s d o T e m p l o fiscalizavam a q u e l e q u e
fazia a a r r e c a d a ç ã o p a r a o t e s o u r o d o T e m p l o (o q u e a c o n t e c i a q u i n z e
dias a n t e s d e c a d a u m a das três festas d e p e r e g r i n a ç ã o ) .
132. S o b r e os tesouros d o T e m p l o e os depósitos p a r t i c u l a r e s de 142. Me'ila I I I 8.
d i n h e i r o n o s a n t u á r i o , ver, p o r ex., Ant. X I V 7, 1, § 106ss; B. j . V I 143. Men. V I I I 7.
8, 3, § 390ss; Billerbeck, I I , 37-45. O s 93 utensílios: Tamid III 4. 144. Men. V I I I 2. Q u a n t o à data (70 dias a n t e s d a P á s c o a é pre-
C u i d a d o s d o s utensílios p r e s t a d o s p e l o s t e s o u r e i r o s : Sheq. V 6. ciso s e m e a r o trigo q u e f o r n e c e r á a f a r i n h a ) , sou l e v a d o a crer, p o r
133. I n f o r m a ç ã o do m s . d e V i e n a e das edições. assimilação c o m V I I I 1, q u e n ã o se trata d a farinha p a r a a oferta
134. V e r supra, p . . . . a l i m e n t a r em geral, m a s u n i c a m e n t e d a q u e l a p a r a os dois p ã e s d e
135. T o s . Sheq, I I 15 (177, 4 ) . primícias.
136. Pea 11 8. 145. V e r p . 143, n . 132.
137. Pea I 6. 146. Ant. X V 11, 4, § 4 0 8 ; X V I I I 4, 3, § 9 3 ; cf. supra, p . 208.
138. Pea I V 8; Halla I I I 4. 147. Sigo o m s . d e Erfurt (agora e m B e r l i m , Staatsbibl. M s . or.
139. Halla I I I 3 . 2"- 1 2 2 0 ) .
140. Sheq. V I 6. 148. O s n ú m e r o s e n q u a d r a d o s i n d i c a m os levitas; os n ú m e r o s
141. Sheq. I I 1: se o d i n h e i r o fosse p e r d i d o ou r o u b a d o , n o caso s u b l i n h a d o s , os s a c e r d o t e s * = vigilantes; • = t e s o u r e i r o s .
em q u e o d e p ó s i t o p r é v i o já tivesse sido feito no t e s o u r o d o T e m p l o 149. Ele era levita, b . 'Ar. 1 1 . a

(a p a r t i r d a p r i m e i r a a r r e c a d a ç ã o colocada n o t e s o u r o , q u i n z e d i a s 150. I n f o r m a ç ã o do m s . de Erfurt. E m c o m p e n s a ç ã o , n o ms. d e


a n t e s da P á s c o a , o total do i m p o s t o d o T e m p l o d o a n o em c u r s o tor- Viena ( V i e n a Nationalbibl. H e b r . 20) e a e d i ç ã o original de V e n e z a ,
nava-se, de d i r e i t o , posse d o T e m p l o ) ; os e n v i a d o s d e v i a m p r e s t a r 1521 d.: Ben A r z a .
c o n t a s aos tesoureiros d o T e m p l o , s o b r e a c a u s a do p r e j u í z o ; se fos- 151. L i t e r a l m e n t e : "ele era chefe d o dúkkan", q u e r dizer, do es-
se possível p r o v a r q u e os emissários n ã o e r a m r e s p o n s á v e i s , o t e s o u r o i r a d o s o b r e o q u a l p e r m a n e c i a m os levitas c a n t o r e s e m ú s i c o s .
d o T e m p l o a r c a v a c o m o p r e j u í z o . ( V e r a i n d a j . Sheq. I I I 2, 4 7 31 c

152. N o m s . d e V i e n a e n a e d i ç ã o o r i g i n a l , os n o m e s de 5 a 6
foram invertidos.
°6. Binyamin, e n c a r r e g a d o da fabricação da oferen- c i n q ü e n t a anos, os levitas teriam de r e n u n c i a r ao seu tra-
da do sumo sacerdote cozida no carvão ,
1S3 b a l h o . É provável q u e Y o h a n a n — se depois de t u d o
,fi0

f7. Ben Maqlit, do sal *, 15 sobreviveu à destruição do T e m p l o — não estivesse mais


exercendo sua função. A presença desse n o m e em nossa
^CK Ben Pelak, das reservas de lenha . 155

lista não c o m p r o v a que r e m o n t e aos últimos anos antes


Temos pontos de referência garantidos p a r a determi- de 7 0 ; remete-nos, antes, a u m a época a n t e r i o r . 161

n a r a época à qual remonta essa lista. Segundo D. Hoff- E m c o n t r a p a r t i d a , o n. 3 da lista dá-nos u m p o n t o


mann data do período imediatamente anterior à des- de referência p a r a a data. C o m efeito, e n q u a n t o existiu o
truição d o T e m p l o , pois, m e n c i o n a , c o m o chefe p o r t e i r o T e m p l o , levavam p a r a lá o lülab d u r a n t e os seis dias úteis
(n. 1) Y o h a n a n ben G u d g e d a q u e ainda vivia a p ó s a des- d a festa das T e n d a s cuja d u r a ç ã o era de sete dias , exce- m

truição do T e m p l o . Esse a r g u m e n t o é sedutor, mas não tuando-se o s á b a d o . E n t r e t a n t o , d u r a n t e os primeiros anos


convincente. Com efeito, a afirmação segundo a qual Yoha- de nossa era, q u a n d o o p r i m e i r o dia da festa caía n u m
n a n viveu a i n d a após o a n o 7 0 r e p o u s a n u m a i n f o r m a ç ã o s á b a d o , agitava-se o lülab no T e m p l o d u r a n t e os sete
do T a l m u d e de Babilônia ; conforme mostra a p a s s a g e m
ÍS?
d i a s , e, p o r t a n t o , no sábado t a m b é m . Era proibido nesse
l ó i

paralela do Sifre sobre Dt 1,16, esse texto falava primiti- dia t r a n s p o r t a r q u a l q u e r objeto de u m domínio p r i v a d o
v a m e n t e não de Y o h a n a n b e n G u d g e d a , mas de Y o h a n a n p a r a u m domínio público; t r a z i a m , pois, os lülab desde a
b e n N u r i . D e o u t r o lado, b e m o sabemos, Y o h a n a n b e n
1 5 S
sexta-feira, a fim de entregá-los aos servos (levitas) d o
G u d g e d a o c u p a v a seu cargo algum tempo antes d a des- Templo que os e m p i l h a v a m no pórtico do átrio exter-
164

truição do T e m p l o . D o m o m e n t o que completassem seus


m
no . N a m a n h ã seguinte, atiravam-nos à m u l t i d ã o e cada
165

pessoa a p a n h a v a u m . Esse costume provocou confusões


153. E v i d e n t e m e n t e s a c e r d o t e , s e g u n d o Tamid \ 3 : os p a d e i r o s q u e
com risco p a r a a vida dos assistentes; o t r i b u n a l decidiu
p r e p a r a v a m a o f e r e n d a assada ao forno e r a m c h a m a d o s p a r a o tra- e n t ã o q u e n u n c a mais ( p o r t a n t o n e m m e s m o q u a n d o o pri-
b a l h o a n t e s d o n a s c e r d o sol (cf. I l l 2 ) , n a é p o c a c m q u e sua sala, meiro dia da festa caísse n u m sábado) se agitaria o lülab
situada ao l a d o d a P o r t a d e N i c a n o r {ver supra, p . 229, n. 120) só
era acessível aos s a c e r d o t e s (ver infra, p . 287, n. 4 1 9 ) . no T e m p l o , mas sempre em casa . N o n. 3 da lista, Ben
m

154. S a c e r d o t e , sem a m e n o r d ú v i d a : a C â m a r a P a r w a ( a o l a d o D i p h a i devia fiscalizar a r u m a dos lülab no T e m p l o ; ele


da Câmara d o sal, n a p a r t e n o r t e d o átrio dos s a c e r d o t e s ) , o n d e se vivia, p o r t a n t o , n u m a época em que o t r i b u n a l não tinha
salgavam as peles das v í t i m a s (Mid. V 3 ) , achava-se em t e r r i t ó r i o sa-
g r a d o {Yoma I I I 3 ) . ainda decidido a reforma dessa cerimônia. V a m o s verifi-
155. S a c e r d o t e , sem d ú v i d a : a C â m a r a d a lenha (Mid. V 4) acha-
va-se n o território s a g r a d o , acessível s o m e n t e aos s a c e r d o t e s , a o l a d o
d a P o r t a d o c o m b u s t í v e l , n a p a r t e s u d o e s t e d o átrio d o s s a c e r d o t e s ; a d m i t i d o s ao serviço. O r a , Y o s h u a b e n H a n a n y a , a i n d a antes d a des-
a l é m d o m a i s , h a v i a , n a p a r t e n o r d e s t e d o átrio das m u l h e r e s u m t r u i ç ã o d o T e m p l o , era, e n t r e ós d o u t o r e s de J e r u s a l é m , u m a l u n o
local d e s t i n a d o à l e n h a o n d e e x a m i n a v a m as a c h a s p a r a s a b e r s e n ã o c o n c e i t u a d o (j. Hag. II 1, 71 34 [ I V / 1 , 2 7 2 ] ; é, pois, de se s u p o r
b

estavam bichadas. q u e o e p i s ó d i o n a r r a d o p o r b . 'Ar. I I situa-se algum t e m p o antes d e


b

70. N e s s a ocasião, Y o h a n a n b e n G u d g e d a já era porteiro-chefe, p o r -


156. E m Magazin für die Wissenschajt des Judenthums 9 (í882),
t a n t o , u m h o m e m de i d a d e m a d u r a ; seu ingresso n o serviço situa-se,
96ss.
p o r c o n s e g u i n t e , a i n d a na p r i m e i r a m e t a d e d o século I.
157. b . Hor. 10 ".
a

160. N m 8,25; cf. 4,3,23.30.35.39.43.47; j . Ber. I V 1, 7 63 ( 1 , 7 4 ) .


b

158. Sifre D l 1, 16, § 16 ( 3 0 120, 3 5 ) . E l e a z a r hsm', c i t a d o ao


d

1 6 1 . V e r n . 159.
m e s m o t e m p o , e r a c o n t e m p o r â n e o d e Y o h a n a n ben N u r i ; s o m e n t e esse
162. O o i t a v o dia d a festa, q u e era a festa d o e n c e r r a m e n t o , era
ú l t i m o n o m e se e n q u a d r a n o c o n t e x t o . Bacher, Ag. Tann., I, 368 n. 4,
c o n s i d e r a d o c o m o u m a festa p a r t i c u l a r ; n e s s e dia, o lülab da festa fi-
G . KJltel, Sifre zu Deuteronomium, S t u t t g a r t , 1922, 24, n. 4, e o u t r o s ,
cava suprimido,
p e n s a m i g u a l m e n t e q u e a i n f o r m a ç ã o original é a d o Sifre.
163. Sukka I V 1-2.
159. S e g u n d o b . 'Ar. l l , ele instrui o levita Y o s h u a b e n H a n a -
b

n y a p a r a o serviço; n a é p o c a , esse ú l t i m o era a i n d a i n e x p e r i e n t e n o 164. Levitas hazzanim.


t r a b a l h o , q u e r dizer, m a l tinha c o m p l e t a d o a i d a d e c a n ó n i c a de v i n t e 165. Sukka I V 4.
anos (Esd 3,8; ver supra, p . 2 2 2 , n.o 89) q u a n d o e n t ã o o s l e v i t a s e r a m 166. Ibid.
car, u m p o u c o a d i a n t e , na segunda lista, que não se trata ^4. P e t a h i a , encarregado dos sacrifícios de
mais daquele ofício. aves , m
, m

O u t r a característica pleiteia a favor de u m a origem °5. Ben Ahia, médico do Templo \ n

mais antiga dessa lista da Tosefta: apresenta u m n ú m e r o 6. N e h u n i a , encarregado das fontes , m

mais restrito de funções. Finalmente, convém l e m b r a r q u e , ZI G e b i n i , arauto,


no m a n u s c r i t o de Erfurt da Tosefta, o principal chefe da I "g.l Ben G e b e r , chefe de portaria , 171

música chama-se A r z a ; em compensação, na segunda


1 6 7
l~97] Ben Bebai, esbirro , m

lista, é o filho de Arza que aparece como p r i m e i r o chefe [TÜ.] Ben Arza, primeiro chefe de músicos , m

de música. Se a informação do manuscrito de Erfurt é a Cl 171 Hugdas ben Levi, cerimoniário


1 8 0
do coro dos
original — o manuscrito de Viena e a primeira edição levitas ,1SI

de V e n e z a em 1521 dão igualmente o n o m e de Ben Arza


n a lista da Tosefta — foi p o r q u e , nesse ínterim, o filho c e r i m o n i a l d e oferta do sacrifício p ú b l i c o d i á r i o (tamid) pela m a n h ã
h e r d o u o posto do p a i . Aliás, esse Arza é pessoa t o t a l m e n t e e à n o i t e (Tamid I 2-3; I I I 1^3; VI 1-2; V I 3 ) .
173. Ele s u p e r v i s i o n a v a o p a g a m e n t o e q u i v a l e n t e a o t e r c e i r o d o s
desconhecida; o fato torna-se a r g u m e n t o para afirmar que treze recipientes e m forma de t r o m b e t a (ef. " o t r o m b e t e a r " e m Mt
a informação do manuscrito de Erfurt é o r i g i n a l . 168
6,2; essa e x p r e s s ã o t e m p o r o r i g e m a f o r m a d o s cofres n o T e m p l o ;
t i n h a m o feitio d e u m a t r o m b e t a , estreitos e m c i m a e largos e m bai-
T u d o o q u e precede leva a dizer que a lista d e To- xo, p a r a protegê-los c o n t r a os l a d r õ e s ) esses r e c i p i e n t e s e n c o n t r a v a m ¬
sefta r e m o n t a a alguns decênios antes da destruição do -se n u m a das saías q u e c e r c a v a m o átrio d a s m u l h e r e s . O e n c a r r e g a d o
Templo. a i n d a vigiava a j u s t a entrega d o s p o m b a s . E r a s a c e r d o t e ( T o s . Sheq.
I I I 2, 177, 2 4 ) .
A segunda lista 169
encontra-se em Sheq. V 1-2: 174. H á , nesse local d o t e x t o , u m a a n o t a ç ã o m a r g i n a l : " P e t a h i a
é [um a p e l i d o de] m a r d o q u e u . Por q u e l h e d e r a m tal a l c u n h a de
" V 1. Eis quais e r a m os 'chefes' no T e m p l o : P e t a h i a ? P o r q u e ele abria (patah) as p a l a v r a s , d a n d o - l h e s a s u a inter-
p r e t a ç ã o ; sabia, c o m efeito. 70 i d i o m a s " .
°1. Yohanan ben Pinhas, chanceler' , 70 175. L i t e r a l m e n t e ; " e n c a r r e g a d o d a s d o e n ç a s d o v e n t r e " . A ali-
m e n t a ç ã o dos s a c e r d o t e s era e x t r e m a m e n t e rica em c a r n e ; a l é m disso,
°2. Ahia, encarregado das libações , 171
n ã o p o d i a m b e b e r v i n h o e m d i a s de serviço ( L v 10,9; E z 4 4 , 2 1 . Se-
* 3. M a t t h i a b e n Shemuel, encarregado dos g u n d o Ta'an II 7, q u a n t o à s e ç ã o h e b d o m a d á r i a a p r o i b i ç ã o vigorava
sorteios ,
m d u r a n t e o dia, m a s n ã o à noite; q u a n t o à s e ç ã o c o t i d i a n a d o serviço,
vigorava noite e d i a ) . As d o e n ç a s a b d o m i n a i s e r a m , p o i s , f r e q ü e n t e s
(é assim q u e explica, de m o d o e x a t o , j . Sheq. V 2, 4 8 26 ( I I I / 2 , d

167. V e r supra, p. 2 3 3 , n . 150. 293s).


168. Bem e n t e n d i d o , é possível q u e o m s . de Erfurt t e n h a , p o r 176. L i t e r a l m e n t e : " p o c e i r o " , o p e r á r i o q u e a b r e p o ç o s ; e n c a r r e g a -
e r r o , e s q u e c i d o bn. d o d a m a n u t e n ç ã o d o a q u e d u t o e das c i s t e r n a s d o T e m p l o e fiscali-
169. Cf. supra, p. 233, n . 148._ zação dos b a n h o s ( H . G r á t z , Topographische und historische Streifzüge
170. O T e m p l o regia as libações e o u t r o s sacrifícios ( v e r infra, cm MCWf 34 [ 1 8 8 5 ] , 2 0 4 destacou b e m este ú l t i m o p o n t o ) .
p . 237, n . 173). A q u e l e q u e quisesse oferecer u m a l i b a ç ã o p a g a v a o 177. L e v i t a .
p r e ç o a Y o h a n a n q u e l h e d a v a u m selo c o m o r e c i b o (Sheq. V 4). 178. " E n c a r r e g a d o d o s a ç o i t e s " . T o c a v a a ele m a n d a r açoitar os
0 escritório de Y o h a n a n era a " C â m a r a d a c h a n c e l a " (Tamid III 3), s a c e r d o t e s q u e t e n t a v a m t r a p a c e a r n a h o r a d o sorteio (b. Yoma 23 ),
a

p a r t e n o r d e s t e d a C a s a do fogo d o a l t a r q u e se e n c o n t r a v a n o â n g u l o Outra tradução diz: "era encarregado [da fabricação e colocação]


n o r o e s t e d o átrio dos s a c e r d o t e s ; p r o v a v e l m e n t e a C â m a r a d a c b a m das m e c h a s " (j. Sheq. V 2, 48^ 46 [ n ã o t r a d u z i d o e m I I I / 2 , 294 q u e
cela se a c h a v a em t e r r i t ó r i o p r o f a n o . remete a o p a r , I l / i , 1 1 2 ] } , f a b r i c a d a s c o m as faixas e calções n ã o
171. C o n t r a o selo de r e c i b o (ver n . p r e c e d e n t e ) , ele oferecia a mais e m u s o pelos s a c e r d o t e s (Sukka V 3 ) . A b b a y a s u s t e n t o u essa
libação c o r r e s p o n d e n t e . s e g u n d a e x p l i c a ç ã o ; r e t r a t o u - s e e s p o n l a n e a m e n t e ( b . Yoma 23 ).
a

172. S o b r e o sorteio das funções dos sacerdotes v e r infra, p . 275ss. 179. L i t e r a l m e n t e : " m a n e j a v a os c í m b a l o s " , q u e r dizer q u e , du-
Esse f u n c i o n á r i o era s a c e r d o t e . Isso se d e d u z , c l a r a m e n t e , d e Tamid r a n t e b serviço litúrgico, d a v a a o s levitas o sinal d o início d o c a n t o ,
1 3 e I V 3 : ele linha acesso ao átrio dos s a c e r d o t e s . A f u n ç ã o d o v i b r a n d o os c í m b a l o s . T u d o faz crer q u e fosse u m levita.
e n c a r r e g a d o d o sorteio era a de p r o c e d e r a t o d o s os sorteios dos 180. =Hógdos.
serviços; além disso, devia fiscalizar e dirigir t o d a a c e l e b r a ç ã o do 181. P r o v a v e l m e n t e u m levita, c o m o o d e m o n s t r a seu p a t r ô n i m o
c sua a t i v i d a d e : o c a n t o era e x c l u s i v a m e n t e e x e c u t a d o p e l o s levitas,
°12. A família [sacerdotal] de G a r m u se responsabi- nicas e faixas dos sacerdotes,..grande q u a n t i d a d e de púr-
lizava pela fabricação dos pães de proposição , U2
pura e de escarlate reservada p a r a u m a eventual r e p a r a ç ã o
"13. A família [sacerdotal] de Abtinas , responsável m
do véu do T e m p l o , assim como g r a n d e q u a n t i d a d e d e
pela fabricação dos perfumes para queimar , m

c i n a m o m o , cássia e a b u n d â n c i a d e o u t r o s a r ô m a t a s q u e
°14. Eleazar era encarregado das cortinas e m
iriam servir na mistura p a r a o sacrifício dos perfumes.
_^15. P i n h a s , das vestes dos sacerdotes . m

Apresentou-lhes ainda outros objetos preciosos e muitos


V 2 . N ã o deve haver menos de sete 'ammarkflin e p a r a m e n t o s s a c r o s " . N ã o nos resta d ú v i d a d e q u e esse
de três tesoureiros. E, (em matéria financeira ) n ã o se iS7

"Finéias, tesoureiro do T e m p l o " é o m e s m o " P i n h a s , en-


confie a u t o r i d a d e sobre a c o m u n i d a d e a menos de dois, carregado das vestes do sumo sacerdote, citado no n. 15
exceto p a r a Ben Ahia, o médico (n. 5) e Eleazar, o encar- da segunda l i s t a . Conclui-se que estava e m serviço n o
193

regado das cortinas (n. 14) porqtie a c o m u n i d a d e encar- m o m e n t o d a destruição do T e m p l o e, p o r t a n t o , q u e a se-


regou-se d e l a s " . , 8 8

gunda lista cita os últimos altos funcionários do T e m p l o


Essa segunda lista data de época mais tardia do que antes de sua destruição.
a p r i m e i r a . O que torna provável tal asserção é, em pri- A indicação de Josefo confirma outra conclusão im-
meiro lugar, o fato de ter sido suprimida na segunda lista, p o r t a n t e . Designa c o m o "tesoureiro d o T e m p l o " aquele já
a função n. 3 e acrescidas muitas outras. A isso, devemos citado no n. 15 de nossa lista; n o u t r a o c a s i ã o , deu 191

anexar o que nos conta Josefo : em 70 d . C , "Finéias, I89


igualmente este título de "tesoureiro do T e m p l o " ao en-
tesoureiro do T e m p l o " foi preso alguns dias depois da carregado das vestes do sumo s a c e r d o t e " , citado no n. 15
destruição do santuário; " m o s t r o u " aos r o m a n o s " a s tú- mos a i n d a q u e essa segunda lista t e r m i n a com u m a obser-
vação segundo a qual não deveria h a v e r no santuário me-
e O g d o o s tinha atribuições p a r t i c u l a r e s n o c a n t o (Yoma III 11; b . nos de sete vigilantes e de três tesoureiros. Conclui-se,
Yoma b
3 8 epassim). E n t r e t a n t o , ao l a d o da e x p r e s s ã o "seus i r m ã o s , pois, q u e essa segunda lista d ê os n o m e s e as funções dos
os l e v i t a s " (Cant. R. 3, 9 s o b r e 3, 6 ( 4 0 I I ) , e n c o n t r a m o s t a m b é m a
a

vigilantes e dos tesoureiros do T e m p l o ; o mesmo se dá


e x p r e s s ã o "seus i r m ã o s , os s a c e r d o t e s " ( b . Yoma 3 8 ; j . Sheq. V 2,
b

48<i 53 ( I I I / 2 2 9 4 ) . com a primeira lista, já que a m b a s c o n c o r d a m na enume-


182. Trata-se d e s a c e r d o t e s ; deduz-se c o m c e r t e z a p e l o f a t o d e
estar a "sala d a q u e l e s q u e f a b r i c a m os p ã e s d a p r o p o s i ç ã o " {câmara
s u d e s t e da Casa d o fogo d o a l t a r q u e se situa n o â n g u l o n o r o e s t e 190. N ã o se p o d e p r o v a r q u e n o m e s fixos, i n d e p e n d e n t e s d o n o m e
d o átrio dos sacerdotes) em território s a g r a d o acessível s o m e n t e aos p r ó p r i o dos titulares sucessivos, se tivessem i n t r o d u z i d o p a r a algumas
s a c e r d o t e s (Mid. I 6 ) . funções e, nesse c a s o , o e n c a r r e g a d o d a s vestes d o s s a c e r d o t e s se c h a -
183. Euthúnoos ou Eúthinos. masse s e m p r e P i n h a s . Existia, sem d ú v i d a , u m a " C â m a r a de P i n h a s ,
184. Família s a c e r d o t a l , pois, c m seu local dc t r a b a l h o os sacer- e n c a r r e g a d o d a s v e s t e s " (Mid. I 4 ) , ao l a d o d a P o r t a d e N i c a n o r . M a s
dotes m o n t a v a m g u a r d a d u r a n t e a n o i t e {Mid. I 1; Tamid I 1, Supõe¬ essa d e s i g n a ç ã o n ã o d e r i v a , n e c e s s a r i a m e n t e , do fato de o e n c a r r e g a d o
-se, p o r t a n t o , q u e esse local se e n c o n t r a v a n o átrio dos s a c e r d o t e s , de tal função c h a m a r - s e s e m p r e P i n h a s . P o d e explicar-se p o r ter o úl-
d o n d e , e m t e r r i t ó r i o s a g r a d o (cf. Yoma I 5). timo titular desse cargo ficado m u i t o t e m p o n o p o s t o e ser u m a
185. O e n c a r r e g a d o das c o r t i n a s era s a c e r d o t e (Ant. X I V 7, 1, § p e r s o n a l i d a d e e s p e c i a l m e n t e c o n h e c i d a . E m 54 a . C , q u a n d o Licínia
1.06s). S o b r e as c o r t i n a s , ver supra, p . 182. Crasso s a q u e o u o lesouro do T e m p l o , o e n c a r r e g a d o das cortinas cha-
186. Mid. I, 4 ; B. j . V I 8, 3, § 390. mava-se E l e a z a r (Ant. X I V 7, I, § 1 0 6 s ) ; t r a z i a o m e s m o n o m e 120
187. Falta n o texto da M i s h n a d a e d i ç ã o p r í n c i p e d o Y e r u s h a l m i , anos d e p o i s em nossa s e g u n d a lista (n. 1 4 ) . N ã o é de a d m i r a r p o r q u e
Veneza, 1523. E m c o m p e n s a ç ã o , essa e x p r e s s ã o figura na e d . d e Riva o n o m e Eleazar era m u i t o f r e q ü e n t e . E m 70 d.C. Jesus, filho d e T h e -
di T r e n t o , 1559, assim c o m o no m s . de C a m b r i d g e d a M i s h n a , e d . W . b o u i h i , e n t r e g o u dois c a n d e l a b r o s , d u a s m e s a s , utensílios d o T e m p l o ,
H . L o w e , C a m b r i d g e , 1883, e em Sheq. V 3, 49» 37 ( I I I / 2 , 2 9 5 ) . as c o r t i n a s , a veste do s u m o s a c e r d o t e e o u t r o s tesouros (B. j . V I 8,
188. O s o u t r o s " c h e f e s " c i t a d o s t i n h a m , pois, pelo m e n o s u m au- § 387-389). N ã o é tido c o m o t e s o u r e i r o (nesse caso deveria o c u p a r o
xiliar a seu l a d o , e n q u a n t o m u i t o s t r a b a l h a v a m sós, c o m o , p o r exem- lugar n. 14 d a s e g u n d a lista, e a divergência de n o m e dos titulares
plo, nn. 1 e 2. seria e s p a n t o s a ) ; Josefo designa-o c o m o " u m dos s a c e r d o t e s " .
189. B. j . V I 8, 3, § 390s. 191. Ant. X I V 7. 1, § 106s.
ração dos principais ofícios, apenas com p e q u e n a s dife-
servos do T e m p l o . N a lista I I , q u a n t o ao médico (n. 5)
renças nas especificações.
e ao encarregado das cortinas (n. 14), temos o testemu-
D e v e m o s e x a m i n a r essas listas c o m maior atenção e
n h o do p r ó p r i o texto (Sheq. V 2) segundo o qual eles
observar q u e a m b a s citam inúmeros levitas. N a lista I en-
exerciam " u m a a u t o r i d a d e em m a t é r i a financeira"; o pri-
contramos como levitas: certamente, o chefe dos portei-
meiro estava, efetivamente, ligado às finanças do T e m p l o
ros (n. 1); sem d ú v i d a t a m b é m o p r i m e i r o chefe dos mú-
na m e d i d a em que o T e m p l o fornecia os medicamentos e
sicos que fiscalizava os levitas cantores (n. 4 ) , e o fun-
sobretudo o v i n h o \ Dos 14 e 15 temos o t e s t e m u n h o de
19

cionário q u e fiscalizava os levitas servidores do T e m p l o


Josefo, afirmando serem eles tesoureiros . Além do mais,
1%

p o r ocasião da festa das T e n d a s e, c o m certeza, e m o u t r a s


o chanceler ( n . l ) , o encarregado das libações (n. 2), o
circunstâncias (n. 3). P r o v a v e l m e n t e , t a m b é m , o encarre-
responsável pelos sacrifícios de aves (n. 4 ) , aqueles que
g a d o das chaves citado e n t r e esses três levitas (n. 2 ) . 192

se i n c u m b i a m da fabricação dos pães da proposição (n.


Na lista II são levitas: o chefe dos porteiros (n. 8 ) , o pri-
12) e da p r e p a r a ç ã o dos perfumes p a r a q u e i m a r (n. 13)
meiro chefe de música (n. 10), o mestre do coro (n. 11).
lidavam com o dinheiro e reservas do T e m p l o ; perten-
D e n o v o , e n t r e esses três chefes levitas figura o u t r a fun-
ciam, pois, ao grupo dos que exerciam " u m a a u t o r i d a d e
ção, a de esbirro (n. 9). Com suficiente certeza p o d e m o s
em matéria financeira". Os outros funcionários da lista
nele reconhecer o chefe do vigilante da lista I (n. 3); foi
(nn. 3, 6, 7, 9, 10, 11) dos quais n ã o podemos encontrar
preciso, n a lista 11, d a r o u t r o n o m e a essa função já q u e
n e n h u m a relação com as finanças do T e m p l o , são sete, o
a decisão do t r i b u n a l fizera cair de uso o e m p i l h a m e n t o
193

que demonstra termos diante de nós os sete 'ammarkHín


dos lülab. Falaremos desses q u a t r o chefes levitas que exer-
que constam no fim dessa lista I I . O fato confirma que
ciam a função de vigilantes (nn. 8-11) n a p a r t e consagra-
essas sete personagens são funcionários que exercem u m
da, mais adiante, (p. 284) aos levitas. O s outros funcio-
posto de vigilância, o q u e c o r r e s p o n d e a nossas conside-
nários citados nas d u a s listas deveriam ser, na maioria,
rações precedentes sobre o sentido da p a l a v r a 'ammarkal . ,97

sacerdotes, pois, era em suas mãos q u e se a c h a v a m as fi-


Afirmamos, de n o v o , ser inadmissível a opinião que de-
nanças do T e m p l o . Com efeito, na maioria dos casos po-
clara os 'ammarkHín c o m o funcionários das f i n a n ç a s . 19s

d e m o s assegurar, — atendo-nos a seu lugar d e traba-


lho m
— que fossem sacerdotes. Podemos ainda apresentar dados mais precisos sobre
os vigilantes e tesoureiros do T e m p l o . Entre os vigilantes
As próprias listas d e m o n s t r a m , entre os funcionários achavam-se o sacerdote (lista I I , n. 3) q u e , todos os dias,
citados, quais e r a m tesoureiros e quais e r a m 'animar kHín, dirigia o sorteio das funções da seção cotidiana de serviço
vigilantes. N a lista I, os n n . 5-8 ocupam-se das finanças; e, conforme nos mostra o t r a t a d o Tamid , m
o conjunto
p o r o u t r o l a d o , os n n . 1-4 fiscalizam os levitas músicos e do culto diário, pela m a n h ã e à t a r d e ; além desses, o en-
carregado das fontes (II 6 ) , q u e cuidava dos b a n h o s e da
192. N a lista 11 c o n s t a m dois chefes d e levitas m ú s i c o s ( n n . 10 e
11) e dois chefes de levitas f u n c i o n á r i o s d o T e m p l o ( n u . 8 e 9 ) . Po- m a n u t e n ç ã o das cisternas e do a q u e d u t o ; depois o a r a u t o
de-se pois facilmente i m a g i n a r q u e a lista I, a o l a d o de dois vigi- (II 7) que c h a m a v a p a r a o culto sacerdotes, levitas e fiéis;
lantes dos levitas funcionários d o T e m p l o ( n n . 1 e 3) m e n c i o n a tam- finalmente, os q u a t r o levitas chefes (lista I 1-4; II 8-11)
b é m dois chefes de m ú s i c o s . Isso se c o n f i r m a n o n . 4 . Assim s e n d o ,
pode-se s u p o r q u e o e n c a r r e g a d o das c h a v e s (n. 2) c o n s e r v a v a c o n s i g o supervisionando os levitas músicos e os guardas do T e m p l o .
as c h a v e s das salas c o n s t r u í d a s sob o átrio dos israelitas, d a n d o p a r a
o átrio das m u l h e r e s , salas essas o n d e se g u a r d a v a m h a r p a s , c í t a r a s ,
c í m b a l o s e o u t r o s i n s t r u m e n t o s d e m ú s i c a d o s levitas (Mid. \\ 6 ) . 195. j . Sheq. V 2, 4 8 (I1T/2, 2 9 4 ) .
3

193. V e r supra, p . 191. 196. V e r supra, 238.


197. V e r supra, 231.
198. V e r supra, 229.
194. V e r supra. p. 234, n . 153-155; p . 236, n . I 7 2 s ; p. 238, n. 182, 199. V e r supra, 236, n. 172.
184s.
prescrições farisaicas sobre a p u r e z a ; os kôhãnim g dôlim
m e

N o q u e concerne t a m b é m aos tesoureiros, a idéia aci-


citados n o T a l m u d e , c o m o S a d o c e l z a c a r de Kephar-
2 0 5

m a obtida , extraída de fontes q u e deles fazem men-


m b l s

-Barqai . m

ção, confirma-se a m p l a m e n t e : além d a administração das


E. Schürer, cujo papel pioneiro no c a m p o d a histó-
rendas do T e m p l o , suas principais funções e r a m a gestão
ria neotestamentária b e m c o n h e c e m o s , tentou resolver o
das reservas d o santuário e seu emprego no culto (I 5-8;
enigma e todos os m o d e r n o s o s e g u i r a m . Via nesses 2Ü7

II 5 , 12-13), a gestão das riquezas do T e m p l o (II 14-15)


kôhãnim g dôlim, archiereís m e m b r o s d e famílias ilustres
K

e do comércio das libações e outros sacrifícios (II 1, 2 , 4)


no seio das quais se escolhiam os sumos sacerdotes" . 208

por conta do T e m p l o .
P a r a tanto, evocava B. j . V I 2 , 2 , § 1 1 4 ; A t 4 , 6 e dois
O desenrolar d a liturgia, a administração das finan- textos d a Mishna (Ket. X I I I 1-2; Ohal. X V I I 5 ) .
ças, a vigilância d o T e m p l o , tais e r a m os três campos de P o d e m o s desde já constatar, conforme veremos mais
atividade o n d e os chefes dos sacerdotes e os chefes dos adiante, q u e Schürer n ã o traduziu corretamente esses
levitas exerciam sua a u t o r i d a d e . dois textos da Mishna. N a passagem d a Guerra, Jo-
sefo c o n t a : " E n t r e eles [os tránsfugas] encontravam¬
Nesta p a r t e consagrada aos chefes dos sacerdotes, con- -se os sumos sacerdotes José e Jesus e os filhos; sumos
v é m estudar o i m p o r t a n t e emprego do termo archiereús, sacerdotes: três de Ismael, d e c a p i t a d o e m Cirene, q u a t r o
kôhen gadôl, q u e aparece n o N o v o T e s t a m e n t o , e m Flávio de Matias e u m de outro Matias q u e , conforme foi con-
Josefo e n o T a l m u d e . Só o N o v o Testamento cita 6 4 vezes tado, fugiu logo depois de seu pai e três de seus filhos
archiereís n o p l u r a l , q u a n d o , entretanto, h a v i a u m só s u m o terem sido c o n d e n a d o s à m o r t e p o r S i m ã o , filho de Gio-
sacerdote e m exercício; emprega mesmo de b o m g r a d o u m a ras. C o m os archiereís fugiram a i n d a muitos outros dig-
frase feita: "os archiereís e os a n c i ã o s " . P o d e r í a m o s pen- nitários ". Conforme pensa Schürer, p o d e m o s realmente
sar q u e esse plural sc explica pelo fato de a p a l a v r a de- ver juntos nos archiereís d a última frase, os dois sumos
signar n ã o somente o sumo sacerdote em exercício {kôhen sacerdotes depostos h á pouco m e n c i o n a d o s e os oito fi-
nfsammes) m a s , freqüentemente, t a m b é m u m sumo sacer- lhos dos sumos sacerdotes; assim s e n d o , o termo archie-
dote demitido (kôhen se'abar) . Essa solução n ã o é, po-
2m

reús englobaria os parentes mais próximos dos sumos sa-


rém, a m e l h o r ; com efeito, e m todas as fontes e de m a - cerdotes. M a s archiereús pode igualmente designar ape-
neira repetida, e n c o n t r a m o s , com o n o m e kôhen gadôl, nas os dois s u m o s sacerdotes depostos, citados n o início
archiereús, pessoas q u e n ã o figuram n a lista completa dos do texto. Neste caso, archiereús n a d a mais significaria d o
sumos sacerdotes d a d a p o r Josefo. Assim Sceva, " u m ar- que " s u m o sacerdote n ã o mais e m exercício". Essa passa-
chiereús dos j u d e u s " , cujos sete filhos são exorcistas em gem de Josefo n ã o constitui, pois, d o p o n t o de vista d e
Éfeso (At 1 9 , 1 4 ) . Simão, " d o n ú m e r o dos archiereís" ; 201

Schürer, u m a p r o v a irrefutável.
Jesus, filho de Safias, " u m dos archiereís" , o archiereúsm

Matias, filho de Boetos ; archiereús Levi q u e censurava


203

204. F r a g m e n t o d e u m p a p i r o d e O x i r i n c o e m B. P . Grenfcll e
Jesus p o r ter p e n e t r a d o n o santuário sem ter o b s e r v a d o as A . S. H u n t , The Oxyrhynchus Papyri V, L o n d r e s , 1908, n. 840.
205. Lam. R. 1, 49 s o b r e 1, 16 ( 3 5 1 4 ) ; n o relato p a r a l e l o di-
a

ferente, b . Gil. 5 8 , temos Ishmael ben Eíisha.


a

1 9 9 . Supra, p . 2 3 1 .
b i s
206. b . Pes. 5 7 b a r . A l é m d o m a i s , é preciso citar a q u i o relato
a

200. I-Ior. I I I 4. — D e m o d o m a i s p r e c i s o , o s u m o s a c e r d o t e des- a r e s p e i t o d o kôhen gadôl q u e a sorte e s c o l h e p a r a fazer b e b e r as


t i t u í d o chama-se, e m T o s . Sanh, I V 1 {420, 1 3 ) , ha-kôhen se'abar á g u a s a m a r g a s (Pesiqla rabbati 26, 129 5 ) ; o sumo sacerdote em
b

migg düllatô.
E
exercício n ã o p r e c i s a v a submeter-se a o sorteio d o s serviços (Yoma l 2).
2 0 1 . Vita 39, § 197. 207. A. S c h l a t t e r faz u m a e x c e ç ã o , c o m o constatei depois (ver
202. B. j . II 20, 4, § 566. infra, p . 2 4 5 . n. 2 1 7 ) .
2 0 3 . B. j . I V 9, 11, § 574: V 13, 1, § 527-531; V I 2, 2 , § 114. 208. S c h ü r e r , I I , 275-277.
Schürer apela, c o m maior r a z ã o , p a r a At 4,6 o n d e t o m a r e m decisões e m m a t é r i a de direito c i v i l e recebe- 214

" m e m b r o s das famílias dos sumos s a c e r d o t e s " a p a r e c e m r e m cartas do estrangeiro . S c h ü r e r , tão seguro, comete,
21J

como u m g r u p o no Sinédrio, q u a n d o , no e n t a n t o , o N o v o e n t r e t a n t o , u m erro filológico ao p e n s a r em "filhos dos


T e s t a m e n t o chama-os, simplesmente "os archiereís", O tex- sumos sacerdotes" q u e , por tal título, " s ã o pessoas provi-
to t a m p o u c o prova, de maneira convincente, q u e os mem- das d e prestígio e de a u t o r i d a d e " . C o m efeito, outras
216

bros das famílias pontifícias fossem c h a m a d a s archiereís. passagens, de m o d o p a r t i c u l a r algumas variantes textuais,
Podemos nos p e r g u n t a r , com razão, se seria por m o t i v o m o s t r a m q u e a expressão bme kôhãnim g''dôlím não desig-
de sua origem, como Schürer vê-se obrigado a supor, que na, conforme pensa Schürer, os "filhos dos sumos sacer-
os m e m b r o s das famílias pontifícias citadas em A t 4,6 d o t e s " , m a s os kôhãnim g ãôüm; t
do mesmo m o d o , no An-
t i n h a m voz ativa no Sinédrio ou antes, por m o t i v o d e sua tigo T e s t a m e n t o ( l R s 2 0 , 3 5 e c o m u m e n t e ) os profetas são
função . 209 c h a m a d o s "filhos dos p r o f e t a s " ; no N o v o T e s t a m e n t o (Mt
12,27) os escribas são c h a m a d o s "filhos dos e s c r i b a s " .
F a l t a m , pois, provas a favor no sentido q u e Schürer
Com o u t r a s p a l a v r a s , o termo " f i l h o " designa não a des-
sustenta; mais a i n d a : p o d e m o s d u v i d a r seriamente dessa
cendência mas o sistema . Servimo-nos desse elemento
217

solução. Y o h a n a n ben Z a k k a i encontra em Bet-Rama (ou


p a r a a leitura das fontes. O u v i m o s dizer que os b°ne
R a m a t Bene Anat) provavelmente na Galileia , u m kôhen m

kôhãnim g dôlím, c
isto é, os kôhãnim gdôlim constituíam
gadôl . 211
Será que antes de 70 d.C. m e m b r o s das famí-
u m tribunal que tomava decisões em matéria de direito
lias pontifícias reinantes já m o r a v a m na Galileia? É m u i t o
civil a respeito dos sacerdotes. N o u t r o trecho relatam-nos
pouco provável! Segundo Schürer, os " m e m b r o s das fa-
u m a decisão dessa instância: no D i a das Expiações so-
mília sacerdotais" teriam a t u a d o no S i n é d r i o , h a v e r i a 212

mente u m sacerdote ou u m levita p o d e r á levar ao deserto


lugar p a r a todos nesse colégio de 71 m e m b r o s ? E m caso
o b o d e A z a z e l . Conforme d e m o n s t r a m as questões ana-
218

negativo, segundo que critério seria feita u m a escolha da


lisadas, é do mesmo tribunal que se trata ao falar de u m
qual n u n c a ouvimos falar? Mas a d ú v i d a m a i o r pro- 2 1 3

vém do fato de ser contrário à filologia o sentido con-


firmado por Schürer. Kôhen gadôl, archiereús significa 214. Ket. X I I I 1-2.
215. Ohal. X V I I 5.
arcipreste e n a d a mais; como p o d e r i a m u m leitor grego 2 1 6 . S c h ü r e r , I I , 276.
em archiereús, u m leitor j u d e u em kôhen gadôl chegar a 217. E m j . Sheq. I V 3, 48- 35 ( I I I / 2 , 2 8 5 ) , os s u m o s s a c e r d o t e s
1

c o m p r e e n d e r , sem outra explicação, que se t r a t a v a de u m em exercício, q u e r e a l i z a r a m o rito da n o v i l h a v e r m e l h a ( d e s d e 200


a.C. são em n ú m e r o de c i n c o , s e g u n d o Para I I I 5) c h a m a v a m - s e , glo-
" m e m b r o de família s a c e r d o t a l ? " b a l m e n t e , "os filhos dos s u m o s s a c e r d o t e s " . E m ARN rec. A c a p . 4,
2 4 Í 0 , t e m o s os " s u m o s s a c e r d o t e s " ; a rec. B c a p . 7, 2 1 33 diz "os
a b

Os dois textos da M i s h n a p o d e m nos ajudar a escla- filhos dos s u m o s s a c e r d o t e s " . As d u a s e x p r e s s õ e s se m e s c l a m , pois.


recer o fato; vemos aí os "filhos" dos kôhãriim g dôltm E
Sífra Lv 2,3 ( 6 24, 2 1 ) : " A s s i m c o m o o s u m o s a c e r d o t e A a r ã o c o m e
d

Jsua p a r l e da oferenda a l i m e n l a r ] sem c o n t e s t a ç ã o [ p o r q u e ele t e m


p r i o r i d a d e n a e s c o l h a ] , t a m b é m os b nê kôhãnim
c e
g dôt'tm c o m e m sem
209. V e r infra, p . 268-271: a discussão s o b r e A t 4,6 e o q u e foi ex-
c o n t e s t a r " . Esse texto p õ e em p a r a l e l o o p r i m e i r o s u m o sacerdote e
p o s t o s o b r e o n e p o t i s m o q u e a h i e r a r q u i a ilegítima p r a t i c a v a ao o c u p a r
seus s u c e s s o r e s , os s u m o s s a c e r d o t e s e m e x e r c í c i o d e s d e A a r ã o ; é evi-
os postos de chefes dos s a c e r d o t e s .
d e n t e q u e se trata, t a m b é m lá, dos s u m o s - s a c e r d o t e s e n ã o dos filhos
210. Bet A n a t está, sem d ú v i d a , n a Galileia e m T o s . Miqw. VI deles. — E e x a t a a t r a d u ç ã o , em Schlatter, Joch. b. Zak., 25, d e b nê e

3 (658, 5 ) ; ver S c h l a ü e r , Joch. b. Zak., 27, n . 1. O s p a p i r o s Z e n o n kôhãnim g^dôlim, p o r " c h e f e d e s a c e r d o t e s " (Ket. X I I I 1-2).
m e n c i o n a m t a m b é m u m Bait(Í) a n a t a na Galileia (Papiri greci e latini
[Pubblicazioni delia Società italiana], vol. V I , F l o r e n ç a , 1920, n . 594, 218. Yoma V I 3 . A i n f o r m a ç ã o " d e c i s ã o dos s a c e r d o t e s " em vez
linha 1 8 ) . de " d e c i s ã o dos chefes dos s a c e r d o t e s " (ed. p r í n c i p e , N á p o l e s , 1492;
ed. d e V e n e z a , 1609; m s . d e C a m b r i d g e , e d . W . H . Lov/e, C a m b r i d g e ,
2 1 1 . ARN rec. A ch. 12, 5 6 9; rec. B ch. 2 7 , 5 6 29 ( R a m a t
a a

1883; m s . d e Berlim, Staatsbibl. M s . o r . 5 6 7 , 4- ed.; ed. p r í n c i p e d o


benê A n a í ) .
Y m i s b a l m i , V e n e z a , 1523) r e s u l t a de u m a c o r r e ç ã o ou da omissão
212. S c h ü r e r , I I , 276; c o n c l u s ã o a p a r t i r de A t 4,6. a c i d e n t a l de a
g dôlitn.
2 1 3 . O b s e r v a r , i g u a l m e n t e , supra, p . 2 4 3 , a n. 206.
" t r i b u n a l de sacerdotes" diante do q u a l surgiam, igual-
t o s ] " , q u e é " c o n s a g r a d o p o r i n v e s t i d u r a " " , colocam¬
224 2

mente, assuntos de direito sacerdotal (direito m a t r i m o n i a l


-se os outros b ne kohãním
¿
g dôlím,
e
os chefes dos sacer-
dos s a c e r d o t e s ) e das questões de culto (audição do ca-
219

lendário) °; em compensação, o t r i b u n a l , q u e sob Agri-


22 221 dotes . m

pa I c o n d e n a à morte u m a filha de sacerdote c u l p a d a de Essa explicação filológicamente incontestável permite


adultério, é o Sinédrio . Q u e m são os " a r c i p r e s t e s " que
222 decifrar todos os textos. C o m p r e e n d e m o s , então, p o r que
c o m p õ e m esse t r i b u n a l ? São sacerdotes de nível mais alto, se p o d e falar dos kôhdním g dôlim. archiereís no p l u r a l ,
e

como o demonstra t a m b é m a sua teologia saducéia ; for- 223 p o r q u e se m e n c i o n a m n o m e s d e archiereís q u e não cons-
m a m u m colégio a u t ô n o m o e exercem a u t o r i d a d e nas de- tam da lista dos sumos sacerdotes e m exercício, por que
cisões a respeito dos sacerdotes e nas questões cultuais; um kôhen gadôl, archiereús p o d e m o r a r n a Galileia, por
trata-se, pois, de u m clero superior do T e m p l o de Jeru- que p o d e submeter-se ao sorteio , p o r q u e o sumo sacer-
221

salém. dote P i n h a s , que os zelotas elegeram por sorteio, era, sem


d ú v i d a , descendente de u m a família pontifícia, mas n ã o
Temos a solução do enigma. As palavras kôhen gadôl fazia p a r t e dos archiereís , m
e por qtte, no Sinédrio, havia
designam o arcipreste, o sacerdote cuja posição ergue-se lugar p a r a os archiereís. E m todos esses casos trata-se de
acima da m u l t i d ã o de sacerdotes e n a d a mais. E m sentido chefes d e sacerdotes do T e m p l o .
estrito, o arcipreste é p u r a e simplesmente o sumo sacer- Essa explicação esclarece s o b r e t u d o os trechos do N o v o
dote; em sentido lato, os arciprestes são os chefes dos sa- T e s t a m e n t o — há pelo menos 64 — q u e falam dos archie-
cerdotes, elevados a u m nível superior aos demais. A o lado reís. Na maior parte das vezes, são textos em que eles
do kôhen gadôl que "faz o serviço [no Santo dos san- a p a r e c e m como m e m b r o s do Sinédrio, ao lado dos escri-
bas e anciãos. O s archiereís, na q u a l i d a d e de m e m b r o s
219. Ket. 1 5 : o T r i b u n a l fixou cm 400 d e n á r i o s (o d o b r o d a do Sinédrio, p a r t i c i p a m do processo de Jesus e de sua
tarifa c o m u m ) o m o n t a n t e d a kHübbah ( c o n t r a t o d e c a s a m e n t o ) de c o n d e n a ç ã o ; mais tarde, do processo dos apóstolos e do
u m a j o v e m de família s a c e r d o t a l ou q u e se c a s o u c o m u m s a c e r d o t e .
220. R. H. I 7. Esse t e x t o se refere a d u a s i n s t â n c i a s q u e fixam
interrogatório de P a u l o . São os chefes dos sacerdotes q u e
o c a l e n d á r i o : o colégio dos s a c e r d o t e s e o S i n é d r i o . Explica-se por- o c u p a m u m posto p e r m a n e n t e no T e m p l o e q u e , por mo-
q u e , p r i m i t i v a m e n t e , os s a c e r d o t e s t i n h a m a u t o r i d a d e nesse d o m í n i o ; tivo dessa função, têm voz ativa no Sinédrio o n d e cons-
m a s c o m o e r a m de o p i n i ã o saducéia, o S i n é d r i o o a s s u m i u p a r a i m p o r
o p o n t o de vista fariseu. Essas m e s m a s d u a s i n s t â n c i a s a p a r e c e m tam- tituem u m grupo b e m definido. S a b e m o s , com efeito, que
b é m em Yoma I 5: ao l a d o dos " a n c i ã o s do T r i b u n a l " , m a n t ê m - s e os o c o m a n d a n t e do T e m p l o e u m tesoureiro
229 230
e r a m mem-
"anciãos do clero". b r o s do Sinédrio. O n ú m e r o m í n i m o (só conhecemos esse)
2 2 1 . b . Sanh. 52 .
b

222. A respeito deste c a s o , eis o q u e é c e r t o , a) U m t r i b u n a l ju- era de 1 (sumo sacerdote) . + 1 ( c o m a n d a n t e do T e m p l o )


daico p o d e ocupar-se, sem e m b a r a ç o s , desse j u l g a m e n t o c r i m i n a l ; isso + 1 (vigilante do T e m p l o , sacerdote) + 3 (tesoureiros) =
indica a é p o c a de A g r i p a I (Schlatter, Tage, 8 0 s ) . Essa d a t a é con- 6 ; ao n ú m e r o m í n i m o acrescentavam-se os sumos sacer-
f i r m a d a p e l o fato de R. E l e a z a r b e n S a d o c , c r i a n ç a , ter t e s t e m u n h a d o
a e x e c u ç ã o dessa s e n t e n ç a ( T o s . Sanh. I X 11; 429, 30) ver supra, p.
200. b) A decisão foi t o m a d a n ã o s e g u n d o o d i r e i t o farisaico {Sanh. 224. Hor. I I I 4 ; Meq. I 9.
V I I 2: " N a q u e l a é p o c a , o t r i b u n a l n ã o era i n s t r u í d o [na L e i ] " , m a s , 225. Hor. I I I 4; Mak. II 6; Meg. I 9; Sifra Lv 21,12 (47^ 187,
s e g u n d o o direito s a d u c e u (b. Sanh. 5 2 ) . C o m efeito, c o n f o r m e o
b
4 3 ) ; j . Yoma I 1. 3 8 39 ( H l / 2 , 1 6 6 ) , e
d
passim.
e n s i n a m e n t o dos fariseus, a p e n a de m o r t e p o r fogueira p r e s c r i t a pela 226. I Q M I I 1 (ver supra, p . 224, n. 101) cita u m ao l a d o do
Lei em Lv 21,9 era infligida c o m c h u m b o d e r r e t i d o d e r r a m a d o pela o u t r o s u m o s a c e r d o t e {kôhen harás) e chefes de s a c e r d o t e s {rase ha-
b o c a , q u e r dizer, i n t e r n a m e n t e ; e m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o o ensina- -kôlulním).
m e n t o dos s a d u c e u s , era preciso q u e i m a r os c u l p o s o s n u m a fogueira,
p o r t a n t o , e x t e r i o r m e n t e . Foi s e g u n d o o sistema s a d u c e u q u e se p u n i u 227. Pesiqta rabbati 26, 1 2 9 5: v e r supra p . 242, n. 206.
b

a filha d o s a c e r d o t e e m q u e s t ã o . 228. B. j . I V 3, 8, § 155.


223. V e r supra, n . 220. 229. At 4,5-6; s o b r e essa p a s s a g e m v e r infra, p . 270, e s p e c i a l m e n t e
a n. 528.
2 3 0 . Ant. X X 8, 11, § 189ss.
quia, ocupava o posto mais alto, i m e d i a t a m e n t e após o
dotes depostos, assim c o m o os sacerdotes vigilantes e te-
sumo sacerdote. Depois dele v e m , em o r d e m h i e r á r q u i c a ,
soureiros. Temos aí u m total que está em relação prová-
o chefe da seção h e b d o m a d á r i a que regula o r e v e z a m e n t o ;
vel c o m os 7 1 m e m b r o s d o Sinedrio.
depois, os chefes das q u a t r o a nove seções diárias q u e
E n c o n t r a m o s ainda, no N o v o T e s t a m e n t o , algumas
fazem p a r t e dessa seção semanal. A m a n u t e n ç ã o da o r d e m
passagens que falam dos chefes dos sacerdotes ou dos che-
externa está nas m ã o s dos sete vigilantes p e r m a n e n t e s , dos
fes dos sacerdotes e dos chefes dos guardas (vigilantes)
quais q u a t r o são chefes de levitas; os três tesoureiros per-
(Lc 22,4) ou dos chefes dos sacerdotes e de seus parti-
manentes g a r a n t e m , c o m seus auxiliares, a administração
dários (At 5,17-21). Trata-se aqui dos chefes dos sacer-
das finanças. O s chefes dos sacerdotes, c o n t i n u a m e n t e de
dotes e n q u a n t o autoridades a u t ô n o m a s do T e m p l o , judi-
serviço, f o r m a m u m colegiado bem definido; possuem ju-
ciárias e administrativas . Conforme vimos acima, à p .
m

risdição sobre os sacerdotes e seus m e m b r o s o p i n a m no


2 4 7 , de acordo com fontes talmúdicas, os chefes dos sa-
Sinédrio.
cerdotes constituíam u m colégio a u t ô n o m o , c o m atribui-
ções p a r a os assuntos do T e m p l o e do clero. E n q u a n t o O fato de os chefes dos sacerdotes de Jerusalém cons-
corpo de administração, os chefes dos sacerdotes decidem tituírem tal colegiado assume i m p o r t â n c i a , acrescida pela
o emprego do dinheiro da traição, trazido ao T e m p l o por indicação de At 4,6 segundo a qual os chefes dos sacer-
Judas, d e c l a r a n d o q u e o " p r e ç o d o s a n g u e " n ã o p o d e ser dotes e r a m m e m b r o s da aristocracia sacerdotal. N ã o se-
depositado no tesouro do santuário . A u t o r i d a d e s da po- m ria, p o r t a n t o , q u a l q u e r sacerdote q u e tinha acesso a tais
lícia do T e m p l o projetam com Judas a prisão de Jesus , 233 postos. O fato demonstra q u e , do p o n t o de vista social,
anteriormente decidida pelo Sinédrio (Mt 26-3-4 e p a r . ) , existiam grandes diferenças dentro do clero; outras infor-
dão ordens de prender os apóstolos no átrio do T e m p l o mações o confirmam. Entre os chefes dos sacerdotes de
(At 5,17.2.1), recebem a notícia dos guardas do sepulcro Jerusalém (os archiereís do N o v o Testamento) e os outros
a respeito da ressurreição de Jesus e dos guardas da pri-
234 sacerdotes, vivas oposições se c r i a r a m nos tempos que pre-
são, a n u n c i a n d o que os apóstolos e s c a p a r a m à vigilância c e d e r a m de perto a destruição do T e m p l o ; o T a l m u d e e
da polícia do T e m p l o (At 5,24); é ainda nessa q u a l i d a d e Josefo no-lo c o n t a m e m perfeito a c o r d o . O T a l m u d e quei-
q u e concedem a o fanático fariseu Saulo u m d e s t a c a m e n t o xa-se dos atos de violência dos chefes dos sacerdotes; apro-
da polícia do T e m p l o p a r a perseguir os cristãos (At 2 6 , 1 2 ; priavam-se compulsoriamente dos couros das vítimas q u e ,
cf. 9 , 1 4 . 2 1 ; 2 6 , 1 0 ) . todas as noites, n u m a das salas do T e m p l o , eram reparti-
das entre os sacerdotes da seção c o t i d i a n a do serviço . 235

Eis o q u a d r o o b t i d o : o c o m a n d a n t e do T e m p l o , res- N a sua atitude violenta, os chefes dos sacerdotes n e m se-


ponsável pelo culto e pela o r d e m e x t e r n a , e n c a b e ç a os quer aceitaram a medida defensiva dos sacerdotes que con-
chefes dos sacerdotes, e n q u a n t o sacerdote q u e , na hierar- sistia, simplesmente, em dividir m u t u a m e n t e as peles u m a
2 3 1 . Fazem e x c e ç ã o as p a s s a g e n s nas q u a i s , c o n f o r m e o m o s t r a m vez por s e m a n a na presença da seção h e b d o m a d á r i a com-
o c o n t e x t o e os p a r a l e l o s , "chefes dos s a c e r d o t e s " é u m a d e s i g n a ç ã o pleta. Além desses fatos, a literatura rabínica queixa-se de
a parte poiiori d o S i n é d r i o : M c 15,3 (cf. Mt 26,12; os chefes dos
s a c e r d o t e s e os a n c i ã o s ) ; 15,10 (cf. M c 1 5 , 1 ) ; 15,11 (cf. p a r . M t 2 7 , 2 0 : sua política de força e do seu n e p o t i s m o . Com total li- 236

os chefes dos s a c e r d o t e s e os a n c i ã o s ) ; ]o 12,10. b e r d a d e Josefo conta q u e os servidores dos chefes dos sa-
232. M t 27,6; ver supra, p . 198. cerdotes r o u b a r a m das eiras dos camponeses o dízimo des-
233. M c 1 4 , 1 0 4 1 ; M t 26,14-15; Lc 22,4-5.
234. Mt 28.11; é difícil i m a g i n a r q u e os g u a r d a s d o s e p u l c r o fos-
sem soldados r o m a n o s ; esses, com efeito, n ã o t e r i a m o u s a d o acusar-se 235. T r a t a - s e , e v i d e n t e m e n t e , de u m g r o s s e i r o a b u s o d o d i r e i t o d o
d e q u e h a v i a m d o r m i d o d u r a n t e a g u a r d a ( 2 8 , 1 3 ) . Assim t a m b é m , o s u m o s a c e r d o t e de escolher a n t e s dos o u t r o s ; esse direito é d e s c r i t o
aviso aos chefes dos sacerdoles deixa e n t e n d e r q u e se t r a t a d a p o l í c i a supra, p . 2 1 3 .
do T e m p l o (28,11). P o r c o n s e g u i n t e , c o n v é m t o m a r o ¡léchete de M t 2 3 6 . b . Pes. 5 7 b a r . ; T o s . Zeb. X I 16 (497, 2-3).
a

27.65 c o m o indicativo e n ã o c o m o i m p e r a t i v o .
tinado aos s a c e r d o t e s . Essas diferenças sociais e n t r e os
2Í7

sumos sacerdotes da casa de Sadoc d e s d e a construção do


chefes dos sacerdotes e o resto do clero, de acordo com T a b e r n á c u l o até a do primeiro T e m p l o . 9 sumos sacer- 244

o q u e os textos nos revelam, n ã o nos serão compreensí- dotes sadoquitas ( l C r 5 , 3 6 - 4 1 ; 18 segundo o T a l m u d e e


veis a não ser que procuremos conceber, c o m clareza, a Josefo) 245
q u e se sucederam r e g u l a r m e n t e devem ter exer-
situação da aristocracia sacerdotal. cido sua função no primeiro T e m p l o (salomónico); 15
do exílio a M e n e l a u (inclusive) no segundo T e m p l o (pós-
-exílico) . 246

N ã o nos cabe e x a m i n a r aqui a autenticidade dessas


C. A ARISTOCRACIA SACERDOTAL
listas , salvo p a r a os últimos m e m b r o s da série. Basta-nos
247

constatar o conceito histórico do século I de nossa era,


segundo o qual h o u v e , sem i n t e r r u p ç ã o , u m a sucessão de
O sumo sacerdote e a maioria dos chefes dos sacer- sumos sacerdotes sadoquitas desde A a r ã o até a época do se-
dotes de Jerusalém e r a m m e m b r o s de "famílias pontifí- lêucida Antíoco IV Epifanes (175-164 a . C . ) ; a interven- 24S

c i a s " , q u e r dizer, da aristocracia sacerdotal. Nesse do-


2 3 5
ção desse rei na n o m e a ç ã o do sumo sacerdote e sua per-
mínio existem muitas idéias inexatas, até mesmo falsas; seguição religiosa d e r a m fim ao pontificado sadoquita.
somente u m olhar na história permite esclarecê-las. São estes os últimos sumos sacerdotes deste período
Segundo o conceito histórico do judaísmo c o n t e m p o - sadoquita:
râneo de Jesus, a família pontifícia sadoquita — o n o m e
lhe vem d e S a d o c , s u m o sacerdote c m exercício sob Sa-
lomão e D a v i — tinha d a d o , desde o t e m p o de A a r ã o ,
2 i 9
Duração Origem Instalado
muitos sumos sacerdotes que se sucederam sem i n t e r r u p - do pon- por
ção . Desses temos a lista, sem n e n h u m a l a c u n a , de A a r ã o
m
tificado
até o e x í l i o , em l C r 5 , 2 9 - 4 1 . N e 12,10-11 apresenta-a,
241

igualmente, sem u m a falta sequer, até o século IV antes Onias II Até 175 filho do sumo sacerdote sucessão
de nossa era. E m suas Antiguidades, Josefo lhe dá pros- Simão
seguimento, desde essas referências até o sumo sacerdote Jesus (Jasão) 175-172 filho do sumo sacerdote Antíoco
Simão IV
Menelau (172-162 a.C.) q u e , segundo seu p o n t o de vista
242

Epifanes
certamente falso (ver a b a i x o , p . 2 5 4 ) , foi o último s u m o Antíoco
Menelau 172-162 sacerdote não sadoquita
sacerdote sadoquita l e g í t i m o . Contamos 14 gerações de
243

IV
Epifanes
237. Ant. X X 8, 8, § 1 8 1 ; 9, 2, § 206s. Yakim (Alei- 162-159 sacerdote ilegítimo Antíoco
238. At 4,6; Ant. X V 3, 1, $ 39. mo) V
239. 2 S m 8,17; 15,24 e passim; l R s 1,8 e passim. e s p e c i a l m e n t e 2.35. Eupator
240. Na v e r d a d e , o direito dos s a d o q u i t a s ao s a c e r d ó c i o n ã o re-
m o n t a , p e l o m e n o s ao q u e s a b e m o s , senão a t é a é p o c a d e S a l o m ã o , v e r (?)
W e l h a u s e n , Pharisäer, p p . 47ss.
2 4 1 . A t é a época de S a l o m ã o figura u m a lista p a r a l e l a , l C r 6,35-38, 2 4 4 . l C r 5,29-36; Tosefo, Ant. X X 10, 1 § 228, conta t r e z e .
de a c o r d o c o m a p r i m e i r a . 245. j . Yoma I 1, 3 8 37 ( I I I / 2 1 6 2 ) ; Ant. X X 10, 2, § 2 3 1 .
c

242. Ant. X I 8, 7, § 347 a X I I 5, 1, § 239. Q u a n t o à crítica, ver 246. Ant. X X 10, 2, § 2 3 4 .


infra, p . 254, n. 256 e supra, p . 2 1 2 , n . 14. 247. A historiografia do b a i x o j u d a í s m o (Josefo) afirma q u e
243. Ant. X X 10, 3, § 2 3 5 . Josefo d á e m Ant. X X 10, 1-5, § a família s a d o q u i t a c o n t r i b u i u com s u m o s s a c e r d o t e s s e g u n d o sucessão
224-251 u m p a n o r a m a s u m á r i o de todos os s u m o s s a c e r d o t e s d e s d e regular. Essa a f i r m a ç ã o é v e r d a d e i r a p a r a a é p o c a q u e vai do exílio
A a r ã o a t é a d e s t r u i ç ã o do T e m p l o . a O n i a s I I . C o n v é m , p o r é m , n ã o p r o c u r a r r e m o n t a r a genealogia até
Excurso Dois exemplos podem ilustrar essa dupla cronologia no
IV livro dos Macabeus : o primeiro diz respeito a um acon-
254

tecimento político; o segundo, a um acontecimento "eclesial"


da vida interna judaica.
A cronologia dos livros dos Macabeus
1. Em IMc 6,20-63 como em 2Mc 13,1 é narrada a cam-
Antes de explicar esta lista, é necessário, para justificar panha de Antíoco V Eupator contra a Judéia. Segundo IMc
as datas ali indicadas, dizer uma palavra sobre o cálculo da aconteceu em 150 da era selêucida, segundo 2Mc no ano 149
era selêucida nos dois livros dos Macabeus. dessa era. Se seguirmos Schaumberger , não se trata de erro 255

Como sabemos, existe uma divergência de opiniões quan- em um dos livros dos Macabeus, mas ambos partem de cál-
to ao início da era selêucida que, nesses dois livros, serve de culos diferentes para situar a era selêucida. Estão de acordo so-
base à cronologia; se na primavera (1? nisan) 311 a.C. ou 249
bre se a campanha se realizou no outuno 163 a.C. Na realidade,
312 a.C. , ou no outono (1? tishri) 312 a . C . " ; ou até mesmo,
250 2
esse outono, segundo a cronologia do judaísmo empregada por
se não há, no 1" livro dos Macabeus, uma dupla cronologia, 2Mc, pertence ainda ao ano 149 da era selêucida (— primavera
correspondendo, realmente, aos dois cômputos diferentes, o da 163-primavera 162); em contrapartida, segundo a cronologia
Babilônia e o da Síria-Macedônia: a) uma cronologia para os sírio-macedônica utilizada por IMc para os eventos políticos,
eventos políticos, começando no outono de 312; b) uma cro- esse outono 163 a.C. já pertence ao ano 150 da era selêucida
nologia para os eventos "eclesiais" da vida interna judaica, co- (— outono 163-outono 162).
meçando na primavera de 311. Baseando-se na lista dos selêu-
cidas, British Museum 35 603 publicada pela primeira v e z 252
2. Uma análise dos acontecimentos do ano 160 da era
em 1954, J. Schaumberger propôs essa última solução. Real-
253
selêucida contados por IMc 10,1-21 mostra que IMc calcula
mente, essa hipótese de dupla cronologia no 1"? livro dos Ma- também os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica
cabeus poderia ser exata, pois explica melhor as diferenças a partir da primavera (311 a . C ) ; uma vez Alexandre Balas
entre o 1? e o 2? livro dos Macabeus na cronologia dos acon- tornado rei (IMc 10,1), Demétrio Soter esforça-se por anga-
tecimentos políticos. riar a amizade dos judeus (10,2-7) que, a essa altura, forti-
ficam Jerusalém (10,8-14). Então, Alexandre Balas também faz
A a r ã o (ver supra, n . 241) n e m i m a g i n a r o chefe dos s a c e r d o t e s do propostas aos judeus (10,15-20). Nessa situação política favo-
T e m p l o de J e r u s a l é m , a n t e s do exílio, i n v e s t i d o d o p r i m a d o s o b r e o rável, Jonatas, na festa das Tendas, reveste-se a si mesmo dos
clero d a m e s m a m a n e i r a q u e após o exílio. P a r a a crítica m a i s m i n u - paramentos de sumo sacerdote (10,21). — Os judeus celebra-
ciosa ver infra, p . 254, n. 256.
vam a festa das Tendas do 15 ao 21 tishri. Se a era selêucida
249. S e g u n d o a lista dos selêucidas British Museum 35 603 p u b l i -
c a d a p o r A. \. Sachs e D . J. W i s e m a n e m íraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212, tivesse começado no outono, todos os acontecimentos prece-
a m o r t e d e A n t í o c o I V deu-se e n t r e 19 de n o v e m b r o e 19 de d e z e m b r o dentes do ano 160 dessa era deveriam ter acontecido do \°- ao
160 a.C. A m e s m a d a t a em I M c 6,16: o a n o d a m o r t e de A n t í o c o 14 tishri. É absolutamente impossível. Em contrapartida, todas
I V e o a n o 149 d a era selêucida = d o o u t o n o 164 ao o u t o n o 163. as dificludades desapareceriam se, para esse acontecimento da
249. W . K o l b e , Beiträge zur syrischen und jüdischen Geschichte,
Stuttgart, 1926, 47-57.
vida interna judaica, o ano 160 da era selêucida fosse contada
250. S c h ü r e r , I, 32-38, q u e retrata sua o p i n i ã o a n t e r i o r e m u i t a s a partir da primavera (311 a . C ) ; nesse caso, o ano 160 da
outras. era selêucida teria sido da primavera 152 à primavera 151.
2 5 1 . M e y e r , Ursprung, I I , 2 4 8 , n . 1, e o u t r a s . S e g u n d o S. Z e i t í í n , Sucede, pois, que IMc utiliza duplo cálculo da era selêucida:
Megillat Taanit as a Source for Jewish Chronology and History in the
Hellenistic and Roman Periods, em JQR n. s. 9 (1918-1919), 8 1 , ao
o u t o n o 313 a . C ; é impossível. n h a r t , Untersuchungen zur israeiítisch-jüdischen Chronologie, BZAW
252. A . J. Sachs e D . W i s e m a n , A Babylonian King List of the 88, Berlim, 1964, 49-96.
Hellenistic Period, em Iraq 16 ( 1 9 5 4 ) , 202-212. 254. E m 2 M c os fatos s ã o m a i s simples já q u e , c o m e x c e ç ã o das
2 5 3 . Die neue SeleukidenUste B. M. 35 603 und die makkabaische d u a s c a r t a s d o c a p . I I , as d a t a s são d a d a s s e g u n d o o cálculo d a v i d a
Chronologie, e m Bibblica 36 ( 1 9 5 5 ) , 423-435; cf. R. H a n h a r t , " Z u r interna judaica.
Z e i t r e c h n u n g des I u n d II M a k k a b a e r b u c h e s " , e m A. Jepsen-R. Ha- 255. Art. cit., 429s.
os acontecimentos políticos são contados a partir do outono Jasão, p o r é m , n ã o desfrutou por m u i t o t e m p o dessa
312 a . C , os acontecimentos "eclesiais" da vida interna judaica função ilegalmente c o n q u i s t a d a . E m 1 7 2 , após três anos
a partir da primavera de 311.
de pontificado (2Mc 4,23), Antíoco IV destituiu-o e o subs-
Retomemos agora a lista dos últimos s u m o s sacerdo- tituiu por u m não sadoquita — ofensa aos sentimentos mais
tes apresentada um pouco a c i m a . Segundo a o p i n i ã o certa- sagrados do povo — M e n e l a u , da classe sacerdotal de
mente exata do livro d e Daniel ( 9 , 2 5 - 2 6 ; l l , 2 2 ) , O n i a s I í Bilga, que p r o m e t e r a ao rei impostos ainda mais eleva-
foi o último sumo sacerdote legítimo na sucessão s a d o q u i t a dos . A justo título, o povo considerava O n i a s I I , ainda
219

l e g a l . A m a n d o d e A n t í o c o IV. e m 1 7 5 a . C .
256
substi- 357 vivo, como o s u m o sacerdote legítimo °; pela violação da 26

tuíu-o seu i r m ã o Jesus (helenizara seu n o m e p a r a Jasão) fé j u r a d a , Menelau condenou-o à morte em fins de 172 —
q u e , e m troca, p r o m e t e r a a o rei altas quantias e a intro- início de 171 a . C . . 261

d u ç ã o d e costumes gregos em Jerusalém. D e a c o r d o com Onias III , revoltado c o m . o assassínio do pai e


262

a Lei, e n t r e t a n t o , Onias I I tinha direito vitalício à sua p a r a sempre sucessor legítimo do pontificado, declarou
função, e seu filho que t a m b é m se c h a m a v a Onias ( I I I ) guerra. Em 170 conquistou Jerusalém n u m ataque ines-
seria o sucessor mais p r ó x i m o n o soberano pontificado . 258
p e r a d o e seguro, com exceção da fortaleza o n d e Mene- 263

Com a n o m e a ç ã o ilegítima de Jasão ao pontificado e m 1 7 5 ,


a confusão se introduziu na sucessão dos sumos sacerdo- 259. 2 M c 4,23-24. D e s c e n d ê n c i a n ã o s a d o q u i t a , 4,23, cf. 3,4 tradu-
ção latina e a r m ê n i a . Josefo esforça-se p o r e s c o n d e r a ilegitimidade
tes; o povo tinha o sentido do q u e era certo e, a seus de M e n e l a u , e x p l i c a n d o q u e ele é i r m ã o de O n i a s II e de Jasão e
olhos, o fato de Jasão t a m b é m ter o sangue d e s u m o sa- d i z e n d o q u e ele se c h a m a , i g u a l m e n t e , O n i a s (Ant. X I I 5, 1, § 238s;
cerdote nas veias, n a d a m u d a v a à ilegalidade d e sua h o n r a X V , 3, 1, § 4 1 , X I X 6, 2, § 298; X X 10, 3 § 2 3 5 ) , m a s é absoluta-
m e n t e inverossímil q u e o s u m o s a c e r d o t e S i m ã o t e n h a t i d o dois filhos
u s u r p a d a (ver o julgamento d e D n 9 , 2 ó - 2 7 ; l l , 2 2 ) . com o m e s m o n o m e : O n i a s II e " O n i a s M e n e l a u " . A l é m disso, o
c a r á t e r t e n d e n c i o s o d a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo, q u e já o b s e r v a m o s na
n . p r e c e d e n t e , é e v i d e n t e . Suas i n f o r m a ç õ e s s o b r e a o r i g e m d e M e n e -
256. S e g u n d o a n u m e r a ç ã o de Joscfo, é o terceiro de igual n o m e . lau são " u m a falsificação grosseira d e s t i n a d a a legitimar o u s u r p a d o r
N a r e a l i d a d e , este O n i a s é o filho d o s u m o s a c e r d o t e S i m ã o (o J u s t o , M e n e l a u " (Meyer, Ursprung, I I , 133).
d e p o i s d e 200 a . C . ) . Por e r r o , Josefo d e s d o b r o u O n i a s , c o m o o fez 260. Q u a n t o ao j u l g a m e n t o p r o n u n c i a d o p e l o p o v o , ver, p o r ex.,
p a r a S i m ã o , cf. supra, p . 210, n . 14 e H . G u t h e , Geschichte des Volkes Assunção de Moisés V 4: pessoas " q u i n o n s u n t s a c e r d o t e s sed servi
Israel, 3-, T ü b i n g e n . 1914, 318. P a r a o q u e segue, v e r l M c ; 2 M c ; a servis n a t i " .
Ant. X I I 5, 1-11, 2, § 237-435; B. j . I 1, 1-6, § 31-47. A i n d a O . Holtz- 2 6 1 . 2 M c 4,34. Essa i n d i c a ç ã o d e 2 M c é preferível à a p r e s e n t a -
m a n n . Ncutest. Zeitgeschichte, 2- ed., T ü b i n g e n , 1906, 27-29; S c h ü r e r , ção d e fosefo e m Ant. X I I 5, 1, § 237, s e g u n d o a q u a l O n i a s I I mor-
I. 194-226; B. Stade e A. Bertholet, Biblische Thcologie des A.T. II, r e u d e m o r t e n a t u r a l em 175 a.C. C o m efeito, D n 9,26; 11,22, e talvez
T ü b i n g e n , 1911, 203-207; 276-279; H . G u t h e , O. c, 318, 322-327; S. t a m b é m Z c 12,10-14, c o n f i r m a m a m o r t e v i o l e n t a d e O n i a s I I . D n
ZeitÜn, Megülal Taanit as a Source for ]ewish Chronology and Hlsto- 9,26-27 d á a d a t a d o assassínio de O n i a s I I : s e g u n d o esse texto, acon-
ry in tthe Hellcnistic and Roman Periods e m }GR n . s. 9 (1918-1919), teceu n o início d a s e m a n a de a n o s q u e vai d e d e z e m b r o 171 a de-
7-102; 10 (1919-1920), 49-80. 237-290; e e s p e c i a l m e n t e M e y e r , Urspruag, z e m b r o 164 a.C.
I I , 131-166, 205-252; Schlatter, Gesch. isr., 102-129. 262. Ê p o r e n g a n o q u e Josefo e m B. j . I 1. 1, § 31 e V I I 10, 2,
257. Q u a n t o à d a t a : Jasão foi instituído s u m o s a c e r d o t e p o r An- § 423 fala de O n i a s I I , pois esse já h a v i a m o r r i d o . Ver a n . prece-
t í o c o I V E p i f a n e s , feito rei em 174 a . C , e p o r três a n o s e x e r c e u a dente.
função ( 2 M c 4 . 2 3 ) . S e g u n d o D n 9, 26-27 (ver infra, p . 2 5 5 , n. 2 6 1 ) , 2 6 3 . C o n v é m sem reserva preferir a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo e m sua
M e n e l a u já era s u m o s a c e r d o t e n o fim de 172 a . C . (assassínio d e Guerra judaica I 1, 1, § 31s, v i n d o sem d ú v i d a d e N i c o l a u d e Da-
O n i a s I I ) . Jasão foi, p o r t a n t o , s u m o s a c e r d o t e de 175 a 172. m a s c o , h i s t o r i ó g r a f o d a c o r t e de H e r o d e s , à q u e l a d a Antiguidade, que
258. 2 M c 4,7-22. O relato de Josefo em Ant. X I I , 5, 1, § 237 é d e t u r p a d a ; e n t r e t a n t o , d e v e m o s utilizar as p r ó p r i a s i n f o r m a ç õ e s de
tenta esconder a irregularidade da sucessão de Jasão, fazendo m o r r e r Guerra c o m p r e c a u ç ã o e crítica (ver n . 262 e n . 2 6 4 ) . S e g u n d o Ant.
O n i a s de m o r t e n a t u r a l desde 175 a . C . e a c r e s c e n t a n d o q u e s e u filho X I I 5, 1, § 239s e 2 M c 5,5-iO, foi o a n t i g o s u m o s a c e r d o t e J a s ã o q u e
O n i a s 1(1 p o r ocasião da m o r t e do pai era a i n d a m e n o r . Essa a p r e - teria a t a c a d o J e r u s a l é m . M a s a i n d i c a ç ã o de 2 M c 5,8, s e g u n d o a q u a l
s e n t a ç ã o é visivelmente t e n d e n c i o s a . A m o r t e violenta de O n i a s I I é, Jasão fora o b r i g a d o a fugir p a r a o E g i t o , p e r m i t e s u p o r q u e se tra-
a l é m d o m a i s c o n f i r m a d a p o r D n 9,26; 11,22, o q u e c o n f i r m a a apre- tava p r i m i t i v a m e n t e de O n i a s I I I q u e fugiu p a r a o Egito e f u n d o u
s e n t a ç ã o de 2 M c .
o t e m p l o de L e o n t ó p o l i s . A l é m do m a i s , a a p r e s e n t a ç ã o de Josefo em
lau se refugiara (2Mc 5 , 5 ) . E n t r e t a n t o , O n i a s ( I I I ) n ã o o fato d e o T e m p l o d e Jerusalém ter sido p r o f a n a d o pelos
conseguiu manter-se n a luta contra Antíoco I V ; o r e i r e - sírios r e d u z i a m a silêncio todas as objeções q u e o caráter
tomou Jerusalém e m 169 , e Onias teve d e fugir, en-
2 M
não sagrado desse novo templo podia despertar.
q u a n t o Menelau e r a reinvestido n o sumo sacerdócio. Em Nesse ínterim caiu sobre a Palestina o raio d a per-
situação desesperadora, O n i a s ( I I I ) voltou-se p a r a o Egito seguição religiosa ( 1 6 9 o u 167-164) e os M a c a b e u s se
cuja c o m u n i d a d e judaica distinguia-o c o m o s u m o sacerdote sublevaram. E m d e z e m b r o 1 6 4 a . C , o T e m p l o d e Jerusa-
legítimo. Obteve de Ptolomeu V I Filometor ( 1 8 1 - 1 4 5 a.C.) lém q u e fora p r o f a n a d o , recebeu nova consagração. A o
e d e sua esposa Cleópatra a permissão d e construir o tem- ler Josefo temos a impressão d e q u e os M a c a b e u s n a d a
p l o d e Leontópolis *. O n i a s decidira construir u m templo
2i
alteraram d a situação d o sumo sacerdote M e n e l a u . Se 267

e m p a í s p a g ã o e, mais ainda, encontrou, p a r a executar seu essa apresentação é exata, a tolerância deles só p o d e ser
p l a n o , m u i t o s sacerdotes e levitas, u m a c o m u n i d a d e , e os explicada pela imensa deferência p a r a c o m a dignidade d o
meios necessários, realmente consideráveis. Enfim, esse sumo sacerdote. Para c o m p r e e n d e r a atitude pacífica dos
templo rival subsistiu e m país pagão d u r a n t e 2 4 3 anos, Macabeus e m relação a M e n e l a u , tal c o m o chegamos a
até a s u a destruição, pelos r o m a n o s , e m 7 3 d.C. Essas cir- deduzi-la d a n a r r a ç ã o d e Josefo, p o d e r í a m o s t a m b é m levar
cunstâncias seriam a b s o l u t a m e n t e incompreensíveis, se n ã o em conta q u e o legítimo sucessor d o pontificado, Onias
soubéssemos c o m q u e força vivia, n o p o v o , a convicção ( I I I ) p e r d e r a seus direitos ao construir u m templo rival,
de q u e Onias I I I era o sucessor legítimo p a r a o pontifi- no Egito, e, d e o u t r o l a d o , q u e os M a c a b e u s n ã o e r a m
cado, e n q u a n t o filho d e Onias I I , último sumo sacerdote ainda, de m o d o algum, os senhores poderosos da situação
sadoquita legítimo \ A legitimidade d o sumo sacerdote e
2 W
e tiveram, p o r exemplo, d e aceitar, e m 162 a . C , q u e o
rei d a Síria nomeasse o sumo sacerdote. N ã o é certo, po-
Antiguidades é d e t u r p a d a d e m o d o t e n d e n c i o s o visto q u e o relato d e
Ani. X l l 5, 1. § 237ss é d o m i n a d o p e l a p r e o c u p a ç ã o d e e s c o n d e r al- rém, q u e os Macabeus t e n h a m tolerado como sumo sacer-
g u m a i r r e g u l a r i d a d e n a sucessão d o s s u m o s s a c e r d o t e s (ver supra, p . dote o c o l a b o r a d o r Menelau, q u a n t o mais q u e I M c 4 , 4 2
254s, n , 258-259-261). É p o r isso q u e , s e g u n d o Ant,, foi o a n t i g o s u m o
s a c e r d o t e Jasão, e n ã o O n i a s 111 q u e e m p r e e n d e u o a t a q u e a Jerusa- declara: " J u d a s escolheu sacerdotes sem m á c u l a , pratican-
l é m e m 170 a . C . tes d a L e i " . Podemos somente afirmar q u e , até 1 6 2 a . C ,
264, S e g u n d o I M c l , 2 0 s e Ant. V I I 5, 3 , § 246, d e v o l t a d e s u a Menelau foi, n o m i n a l m e n t e , s u m o s a c e r d o t e . 268

p r i m e i r a c a m p a n h a egípcia, e m 143 d a era s e l ê u c i d a = o u t o n o 170-


- o u t o n o 169. S e g u n d o B. j. I l , 1, § 31ss e 2 M c 5,1-10, d e volta de D e u m a coisa temos certeza: e m 1 6 2 , s o b a instiga-
sua s e g u n d a c a m p a n h a egípcia, e m 168 a . C ; c o n t r á r i a a essa, v e r
a cronologia n a n . seguinte.
ção d e seu tutor e primeiro ministro Ltsias, Antíoco Eu-
265. B. j. 1 1, 1, § 33. A i n d a B. /. V I í 10, 4 , § 43Ó ( o u s o m e n t e p a t o r , c o m dez anos d e i d a d e , m a n d o u executar Mene-
em V I I 10, 2, § 423 O n i a s I I I é p o s t o n o lugar d e seu p a i O n i a s I I ) : lau 2 6 9
p a r a atrair a simpatia dos judeus. O sacerdote Y a k i m
0 t e m p l o d e L e o n t ó p o l i s foi d e s t r u í d o e m 7 5 d . C , 3 4 3 ( l e r 2 4 3 ) a n o s
a p ó s sua c o n s t r u ç ã o . A f u n d a ç ã o se d e u , p o i s , e m 170 o u 169 a.C. —
S e g u n d o Ant. X I I 9, 7 , § 387; X X 10, 2, § 236, foi somente após o 267. S e g u n d o Ant. X I I 9, 7, § 382ss, e s p e c i a l m e n t e § 3 8 5 , M e -
assassínio d o s u m o s a c e r d o t e M e n e l a u e a instituição d e A l c i m o (162) n e l a u foi s u m o s a c e r d o t e d u r a n t e d e z a n o s , a t é o início d e 162 a.C.
q u e O n i a s 111 teria fugido p a r a p Egito. Essa data tardia n ã o m e r e c e ( t r a t a d o d e p a z e n t r e A n t í o c o I V e os j u d e u s ) .
n e n h u m c r é d i t o , p o i s o u t r a s p a s s a g e n s n o s m o s t r a r a m q u e a apresen- 268. S c h ü r e r , (, 215, n . 16 s u p õ e q u e M e n e l a u " d u r a n t e a domi-
t a ç ã o d e Ant. é suspeita (supra, p . 2 5 4 , n . 258-259, 261-262). A l é m n a ç ã o efetiva d e J u d a s n ã o p ô d e exercer n o r m a l m e n t e as funções d e
disso, a f u n d a ç ã o d e u m t e m p l o rival é mais c o m p r e e n s í v e l n o s anos s u m o s a c e r d o t e " . O p i n i ã o s e m e l h a n t e e m S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 116.
de crise religiosa q u e c o m e ç a m e m 169 d o q u e e m 162, dois anos Por o u t r o l a d o M e y e r , ürsprung, I I , 2 1 1 , 2 1 4 , 2 2 4 , 233 s u p õ e q u e
d e p o i s d o fim dessa crise. F i n a l m e n t e , a i n d i c a ç ã o q u e a c a b a d e ser M e n e l a u p e r m a n e c e u no posto. I n f e l i z m e n t e n e n h u m a fonte nos indica
c i t a d a , relativa à d u r a ç ã o d o t e m p l o d e L e o n t ó p o l i s é c o n t r á r i a à s in- c l a r a m e n t e q u a l foi a a t i t u d e d o s M a c a b e u s e m r e l a ç ã o a M e n e l a u .
f o r m a ç õ e s d e Ant. 269. Ant. X I I , 9, 7, g 3 8 5 ; X X 10, 3 , § 2 3 5 ; 2 M c 13,3-8. D a t a
desta e x e c u ç ã o : s e g u n d o a a p r e s e n t a ç ã o d e Josefo foi u m a c o n s e q ü ê n -
266. V e r e m B. j. V I I 10, 2-3. § 423-432 a e s p e r a n ç a d e O n i a s I I I
de a t r a i r p a r a si a t o t a l i d a d e d o p o v o j u d e u pela c o n s t r u ç ã o desse cia d a p a z c o n c l u í d a e m 162 ajC. e n t r e A n t í o c o V E u p a t o r e os
templo. j u d e u s . S e g u n d o 2 M c essa e x e c u ç ã o se d e u a n t e s d a c a m p a n h a q u e

9 - Jerusalém no t e m p o de Jesus
(Alcimo) que os sírios alçaram então (162 a.C.) ao sumo r a n c e m o s d e n o v o u m o l h a r retrospectivo sobre a se-
sacerdócio ™, n ã o era, com efeito, descendente do último
2
qüenrin dos sumos sacerdotes d u r a n t e os q u i n z e anos es-
s u m o sacerdote legítimo Onias I I , m a s , pelo m e n o s , sa- tudados (175-159 a . C ) .
doquita , e o fato de ter h a v i d o de n o v o , após Menelau,
m
Depois d a destituição d e O n i a s I I , último s u m o sa-
u m sadoquita como sumo sacerdote, foi o suficiente p a r a cerdote legítimo da família d e Sadoc, vemos, sucessiva-
despertar as esperanças. Os assideus a b a n d o n a r a m os Ma- meiiíc, c o m o s u m o s sacerdotes: 1? um u s u r p a d o r sadoquita,
cabeus e se coligaram a Y a k i m ( l M c 7, 12-15) que de- Jesus ( l a s ã o ) , 175-172; 2' u m sacerdote d a classe d e Belga
1

cepcionou a m a r g a m e n t e aqueles q u e nele d e p o s i t a r a m sua Menelau, 1 7 2 - 1 6 2 ; 3 u m sadoquita sem l i n h a g e m legítima,


?

esperança , e sua m o r t e , em maio de 159, p ô s termo a


272
Yakim (Alcimo) 162-159. Q u a n t o a Ornas I I Í , o legítimo
seu pontificado \ 2 7
herdeiro s a d o q u i t a d o pontificado, fugiu p a r a o Egito o n d e
A situação de Jerusalém era então confusa por causa fundou o t e m p l o rival d e Leontópolis. E m 1 5 9 , Jerusalém
das intervenções arbitrárias dos reis sírios n a sucessão viu-se sem s u m o sacerdote. Essa vacância d u r o u sete anos.
dos sumos sacerdotes e da partida p a r a o Egito de Onias N o outono d e 152 a . C , p o r ocasião da festa d a s Ten-
I I I , herdeiro legítimo do pontificado. U m fato revela, cla- d a s , o chefe dos j u d e u s n a época \ o asmoneu Jona-
275 2 7

r a m e n t e , a intensidade dessa confusão: de 159 a 152 a . C , tas ( 1 6 1 - 1 4 3 / 2 ) , revestiu-se das vestes pontificais. A t é en-
no dizer de Josefo, o cargo de sumo sacerdote dos judeus tão, o bêí hasmônay e r a , d e n t r o da classe sacerdotal de
277

ficou vacante . 274


Y e h o y a r i b , uma família c o m u m , u m d o s grupos diários,
c o m o h a v i a , e m n ú m e r o d e 4 a 9, em cada classe sacer-
A n t í o c o V e m p r e e n d e u c o n t r a a Judéia n o fim d o v e r ã o de 163; isso
parece menos provável. pontificado de Judas e p o r q u e Judas, segundo a cronologia certamente
2 7 0 . S e g u n d o Ant. X I I 9, 7, § 385 e X X 10, 3 , § 2 3 5 , A l c i m o foi exata d e I M c 9,3 m o r r e u n o p r i m e i r o m ê s , q u e r dizer, n o nisan d o
a l ç a d o a s u m o s a c e r d o t e p o r A n t í o c o V E u p a t o r (163. o u t o n o 1 6 2 ) ; a n o 152 d a e r a selêucida = a b r i l 160 a.C. ( C o m esse c á l c u l o , supo-
era c o m p e n s a ç ã o , s e g u n d o l M c 7,5-21 e 2 M c 14,3-13, foi D e m é t r i o I mos q u e os a n o s d a e r a s e l ê u c i d a correm de primavera a primavera
Soter ( o u t o n o 162-150) q u e o instituiu. M a s , s e g u n d o 2 M c 13,3-8, [ver s u p r a , p . 2 5 2 s ] , p o r t a n t o , q u e o a n o 152 d a era s e l ê u c i d a vai d a
c o m o s e g u n d o Josefo (ver n. p r e c e d e n t e ) , M e n e l a u , o p r e d e c e s s o r d e p r i m a v e r a 160 à p r i m a v e r a 159. M e s m o q u e c o n t e m o s o a n o s e l ê u c i d a
A l c i m o , fora e x e c u t a d o já n o r e i n a d o de A n t í o c o V em 162 a . C ; e a p a r t i r d o o u t o n o , e nesse caso o a n o 152 d a era s e l ê u c i d a d o ou-
s e g u n d o 2 M c 14,3-7, A l c i m o tinha sido n o m e a d o s u m o s a c e r d o t e an- t o n o 160 a o o u t o n o 159 [ e n t ã o a m o r t e d e J u d a s e m n i s a n 152 d a
tes d o r e i n a d o de D e m é t r i o . A l é m d o m a i s , a m u d a n ç a do s u m o sa-
e r a s e l ê u c i d a , cai e m abril de 1 5 9 ] ; J u d a s t e r i a a i n d a m o r r i d o a n t e s
c e r d o t e foi c o n s e q ü ê n c i a d o t r a t a d o d e p a z e n t r e A n t í o c o V e os
d a m o r t e d e A l c i m o q u e , s e g u n d o I M c 9,54 m o r r e u s o m e n t e n o a n o
j u d e u s n o início de 162 (Ant. X I I 9, 7, § 3 8 2 s s ) . A s s i m , pois, a da-
t a ç ã o de Josefo é c e r t a m e n t e exata ( o u t r a s o l u ç ã o em S c h ü r e r , I I , 216, seguinte, 153 d a e r a selêucida. V e r a n. p r e c e d e n t e ) .
n . 2 3 , que n ã o se j u s t i f i c a ) ; a escolha de A l c i m o já se d e r a n o início 275. I M c 10,21: " N o sétimo m ê s í t i s h r i ] d o a n o 160, n a festa
do a n o 162 a.C. e n ã o s o m e n t e n o o u t o n o . d a s T e n d a s " . 160 d a e r a s e l ê u c i d a — p r i m a v e r a 152-primavera 151 a.C.
O s é t i m o m è s é tishri ( s e t e m b r o - o u t u b r o ) ; a festa d a s T e n d a s cele-
2 7 1 . Ani. X X 10, 3 , § 2 3 5 : " d a raça de A a r ã o " , m a s n ã o d a fa- brava-se d e 15 a 22 tishri. P o r t a n t o , início d e o u t u b r o 152.
mília d e s u m o s s a c e r d o t e s r e i n a n t e s , Ant. X I I 9, 7, § 3 8 7 : " E l e n ã o
276. Só mais tarde os a s m o n e u s t o m a r a m o t í t u l o d e r e i : s e g u n d o
p e r t e n c i a à família dos s u m o s s a c e r d o t e s " . I M c 7,14: " u m s a c e r d o t e
d a r a ç a de A a r ã o " . E m 2 M c 14,7, A l c i m o , d i a n t e de D e m é t r i o I rei- Josefo (B. j . I 3 , 1, § 70, Ant. X I Í I I I , 1, § 301) c o m A r i s t ó b u l o I
v i n d i c a s u a d i g n i d a d e d e s u m o s a c e r d o t e , progonikè dóxa. (104-103 a . C ) ; s e g u n d o o t e s t e m u n h o d a s m o e d a s e d e S t r a b o n X V I
272. I M c 7,16-18;9,54-57; 2 M c 14; Ant. X I I 10, 2-3, § 395ss. 2, 40, s o m e n t e c o m A l e x a n d r e J a n e u (103-76 a . C ) . Essas d u a s infor-
2 7 3 . D a t a s e g u n d o l M c 9,54: 153 d a era selêucida = p r i m a v e r a m a ç õ e s n ã o s ã o c o n t r a d i t ó r i a s ; u m e m p r e g o i n t e r n o d o título d e rei
159-primavera 158 a . C , n o s e g u n d o mês, p o d e ter p r e c e d i d o a p r o c l a m a ç ã o oficial.
274. Ant. X X 10, 3, § 237. E m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o Ant. X I I 2 7 7 . T a r g u m d o P s e u d o - J ô n a t a s e m I S m 2,4: hasmannay. — Ant.
10, 6, § 414 e 1 1 , 2 , § 434, o p o v o , após a m o r t e d e A l c i m o , acon- X I I 6, 1, § 265 c h a m a Matatias, o s a c e r d o t e v a l o r o s o pai dos c i n c o
tecida ao q u e d i z e m , e m 161 a . C , teria t r a n s m i t i d o o p o n t i f i c a d o a m a c a b e u s : filho d e J o ã o , ídho d e S i m ã o , filho d e A s a m o n a i o s " . B. j .
J u d a s M a c a b e u q u e teria sido s u m o s a c e r d o t e d u r a n t e três anos (161¬ I , 1, 3 , § 3 6 . e m c o m p e n s a ç ã o , c h a m a M a t a t i a s " f i l h o d e A s a m o n a i o s " .
- 1 5 8 ) . D e a c o r d o c o m esses d a d o s , Ant. X I I I 2, 3 , § 46 c o n t a n ã o C o n f o r m e m o s t r a a c o m p a r a ç ã o d e s s a s três i n f o r m a ç õ e s , talvez n ã o
sete, m a s q u a t r o anos d e intersacerdotium. T a l p a r e c e r é visivelmente tenha sido o antepassado de Matatias que tinha o n o m e d e Asmo-
t e n d e n c i o s o e, aliás, impossível, s i m p l e s m e n t e p o r q u e I M c ignora u m n a i o s (hasmônay); esse n o m e p e r t e n c e à f a m í l i a .
dotal (seção h e b d o m a d á r i a ) . Os sírios ofereceram o pon-
m
e, com mais razão ainda, não têm o direito d e se torna-
tificado aos asmoneus; esses consideraram-se em condições rem sumos sacerdotes.
de aceitá-lo em vista dos serviços que p r e s t a r a m ao p o v o , T o d a v i a , os asmoneus s o u b e r a m arrostar c o m a situa-
livrando-o do perigo de decadência religiosa d u r a n t e a ção. D e Jonatas, primeiro titular do pontificado, essa nova
perseguição síria. Mas pesou t a m b é m o fato de os o n í a d a s , dignidade passou a seu i r m ã o S i m ã o ( 1 4 2 / 1 - 1 3 4 ) e, a
herdeiros legítimos do pontificado, estarem em exercício partir desse m o m e n t o , p e r m a n e c e u h e r e d i t á r i o n a família
em Leontópolís, no templo d e O n i a s , n ã o r e c o n h e c i d o e m asmonéia. O s asmoneus f o r a m sumos sacerdotes sem in-
Jerusalém. terrupção d u r a n t e 1 1 5 a n o s , até a t o m a d a d e Jerusalém
E n t r e t a n t o , a origem da família asmonéia n ã o fora por H e r o d e s , o G r a n d e , e o g o v e r n a d o r r o m a n o d a Síria
esquecida. E m c o n t r a p a r t i d a , os fariseus mantiveram-se C. Sósio, e m julho de 3 7 a . C ; d u r a n t e esse p e r í o d o h o u v e
n u m a atitude de desconfiança diante dos sumos sacerdotes oito sumos sacerdotes a s m o n e u s . A seguir, H e r o d e s exter-
e príncipes a s m o n e u s , por terem saído de u m a família sa- m i n o u os a s m o n e u s ; o parvenú i d u m e u considerava, c o m
cerdotal c o m u m . Contestaram-lhes o direito ao pontifica- razão, os asmoneus c o m o o m a i o r perigo pava a sua do-
d o , b a s e a n d o sua objeção relativa a João H i r c a n o (134¬ m i n a ç ã o . E m 35 a.C. h o u v e a i n d a u m s u m o sacerdote as-
-104) e a A l e x a n d r e Janeu (103-76) no fato de a m ã e de m o n e u , A r i s t ó b u l o , c o m dezessete a n o s , instituído p o r seu
João H i r c a n o ter sido prisioneira de guerra, decidiram que c u n h a d o H e r o d e s . Q u a n d o A r i s t ó b u l o , em 3 5 , subiu ao
os asmoneus deviam renunciar ao pontificado . N ã o po- m
a l t a r p a r a a festa das T e n d a s , o p o v o o aclamou com tu-
demos esquecer, p o r é m , de que essa justificação da queixa multuosas manifestações de alegria e c o m lágrimas d e emo-
dos fariseus representa apenas u m a parte de seus protes- ç ã o . Aos olhos de H e r o d e s , foi o suficiente p a r a elimi-
2 8 1

tos. A oposição deles visava aos filhos da prisioneira de ná-lo; i m e d i a t a m e n t e após essa festa deu ordens p a r a afo-
guerra, e, s o b r e t u d o , dos descendentes d e u m a família sa- gá-lo n u m a piscina de Jericó . Aristóbulo foi o último
m

cerdotal c o m u m que u s u r p o u u m a dignidade q u e n ã o lhe sumo sacerdote de sua família. H e r o d e s multiplicou os


era devida. A passagem seguinte da T o s e f t a mostra a 280
crimes, c o n d e n o u igualmente à morte os parentes afasta-
que p o n t o estavam conscientes da ilegitimidade dos sumos dos 283
da família asmonéia, a fim de que não sobrevivesse
sacerdotes asmoneus originários de u m a família sacerdotal n e n h u m em condições de tornar-se chefe e, conseqüente-
c o m u m , q u e , além do mais, não voltara a sua p á t r i a se- m e n t e , sumo sacredote . m

não muito tempo após o fim do exílio: " E [os profetas A t o m a d a de Jerusalém em 37 a.C. m a r c a o início
de Jerusalém] entretiveram-se assim c o m eles [as 24 clas- de u m terceiro período: a supressão do soberano pontifi-
ses sacerdotais h e b d o m a d á r i a s ] : ' M e s m o que Y e h o y a r i b cado vitalício e, ao m e s m o t e m p o , a cessação do princí-
[família sacerdotal à qual p e r t e n c e m os asmoneus] deva pio d e h e r e d i t a r i e d a d e . Salvo d u a s exceções — o babilô-
voltar do exílio, n e n h u m de vós [de vossas seções h e b d o -
m a d á r i a s ] deve-se afastar em benefício dela, m a s , sim, in- 2 8 1 . Ani. X V 3 , 3 , § 50-52; B. j . I 2 2 , 2, § 437.
tegrá-la [uma d e vossas seções h e b d o m a d á r i a s ] ' ". Segun- 2 8 2 . Ant. X V 3 , 3 , § 53-56; B. j . I 22, 2, § 437.
do esse texto, p o r conseguinte, os asmoneus n ã o t ê m se- 2 8 3 . H e r o d e s mandem assassinar os filhos de Babas; i n i c i a l m e n t e
e s c o n d i d o s p o r u m ilustre i d u m e u , C o s t o b a r , f o r a m vítimas d a juris-
quer o direito de serem m e m b r o s de u m a seção sacerdotal d i ç ã o c r i m i n o s a d e H e r o d e s c m 28 ou 27 a.C. D e v i a m ser p a r e n t e s
afastados do r a m o a s m o n e u r e i n a n t e , p o i s s e u n o m e n ã o a p a r e c e e m
n e n h u m o u t r o l u g a r . E n t r e t a n t o , H e r o d e s n ã o os p o u p o u . E r a m os úl-
278. T o s . Ta'an. I I 2 (216, 1 7 ) ; /. Ta'an. IV 2, 6 8 a
14 (IV/l, timos r e p r e s e n t a n t e s d e s e x o m a s c u l i n o d a família a s m o n é i a (Ant.
178) : 5 a 9 seções cotidianas. X V 7, 10, § 260-266).
279. Ver supra, p . 218. 284. Ant. X V 7, 10, § 266; " d e m a n e i r a q u e n ã o sobreviveu nin-
280. T o s . Ta'an. I I 1 (216, 15) p a r . j . Ta'an. I V 2, 6 8 a
842 (IV/1,
178); b. Ta'an. 2 7 ;b
b . 'Ar. 1 3 .
a g u é m d a família d e H i r c a n o " . E x t e r m i n a ç ã o c o m p l e t a d o s a s m o n e u s
em b . B. B. 3 i g u a l m e n t e .
b
nio A n a n e l 285
e o asmoneu Aristóbulo h á p o u c o citado — Intersacerdo- a) O sacerdote Alci-
Herodes só n o m e o u sumos sacerdotes " m e m b r o s d a s fa- tium mo 1 3
mílias sacerdotais c o m u n s " ; instituía e destituía sumos
2 8 6
b) Período sem sumo
sacerdotes a seu bel-prazer. Essa situação a n á r q u i c a con- sacerdote •— 7
tinuou até a destruição d o T e m p l o e m 70 d . C ) , de tal 2? período:
forma q u e , e m 106 anos (37 a . C . — 70 d . C ) , h o u v e 2 8 asmoneus 8 113 290

sumos sacerdotes, dos quais 2 5 oriundos de famílias sa- 3? período:


cerdotais c o m u n s . Esse n ú m e r o p o d e ser c o m p a r a d o a ou- época hero¬
diana e ro-
t r o : d u r a n t e u m período mais longo, isto é, d u r a n t e 115
mana
anos, os asmoneus só instituíram 8 sumos sacerdotes.
(37 a.C. —
Resumiremos a situação c o m o auxílio de n ú m e r o s ,
seguindo os dados fornecidos p o r Josefo . C o n v é m n o t a r
287
70 d.C.) 28 107 m

que ele conta Menelau como décimo q u i n t o s a d o q u i t a e m


exercício n o segundo T e m p l o ; c o m efeito, os nove anos Total . . . 83 1.791
d u r a n t e os quais ocupou o cargo devem ser c o n t a d o s n o
Esse p a n o r a m a histórico permite-nos c o m p r e e n d e r me-
intersacerdotium p o r q u e M e n e l a u n ã o era sadoquita. Josefo
lhor o conceito de aristocracia sacerdotal. N o século I de
conta 8 3 sumos sacerdotes 288
desde A a r ã o até a destrui-
nossa e r a h a v i a dois g r u p o s d e famílias pontifícias: as q u e
ção do T e m p l o .
e r a m legítimas e as q u e n ã o e r a m . As famílias legítimas
c o m p u n h a m - s e u n i c a m e n t e d e s a d o q u i t a s e m serviço no
LISTA COMPLETA DOS SUMOS SACERDOTES T e m p l o de Onias e m Leontópolis e as famílias oriundas
SEGUNDO JOSEFO desse r a m o dirigente; os ilegítimos e r a m as famílias d e
cujo seio o acaso e a política t i n h a m , desde 37 a . C , ele-
Número
de sumos Duração v a d o u m o u diversos m e m b r o s à dignidade s u p r e m a .
sacerdotes ( Q u a n t o aos a s m o n e u s , e n t ã o já extintos, teriam constituí-
do u m intermediário entre os dois; descendiam de u m a
1? período: a) Da saída do Egi- família sacerdotal c o m u m , m a s h a v i a m entretanto detido
sadoquitas t o até a constru-
2 8 9
o pontificado d u r a n t e mais de u m século, antes de serem,
ção do primeiro exterminados). T a l é o q u a d r o fornecido pelas fontes.
Templo 13 612 N o I V livro d e s u a Guerra judaica, Josefo conta
b) No primeiro Tem-
c o m o o chefe dos zelotas, João de Giscala, apossou-se de
plo (salomónico) 18 466 V2
O exílio — 70 Jerusalém p o r volta d o início d e n o v e m b r o d e 67 d . C ,
c) No segundo Tem- e de q u e m a n e i r a os zelotas estabeleceram, após u m a nova
plo (Menelau in-
cluído) 15 412 ç ã o d o T a l m u d e , j . Yoma 1 1, 3 8 39 ( I I 1 / 2 , 1 6 2 ) : n o s e g u n d o T e m -
c

p l o ( d o exílio até 70 d.C.) e s t a r i a m e x e r c e n d o suas funções 80 s u m o s


s a c e r d o t e s ; s e g u n d o o u t r o s , 8 1 , 8 2 , 8 3 . 84 o u 85.
46 1 • 560 V2 289. Ant. X X 10, 1, § 2 3 0 : Josefo c o n t a a p a r t i r d a saída d o
285. V e r infra, 272s. Egito e n ã o a p a r t i r d a c o n s t r u ç ã o d o T a b e r n á c u l o .
286. Ant. XX 10, 5, § 2 4 7 ; T o s . Yoma I 7 (180, 2 8 ) . 2 9 0 . F e s t a d a s T e n d a s 152-julho 3 7 a . C , p o r t a n t o , n a r e a l i d a d e ,
287. Ant. X X 10, I s s , § 224ss. 114 anos e 9 m e s e s .
288. Ant. X X 10, 1, § 227. Q u a n t o a este n ú m e r o , v e r a i n d i c a - 2 9 1 . J u l h o 3 8 a.C.-10 a b (cerca d e agosto) 70 d . C , p o r t a n t o , n a
r e a l i d a d e , 106 anos e 1 m ê s .
instância, a escolha do sumo sacerdote. Esses benfeitores d o q u i t a , se fizermos abstração d o sumo sacerdote E l e a z a r ,
do povo p a r a cujo a u m e n t o de p o d e r t u d o contribuía, ex- d u r a n t e o l e v a n t a m e n t o d e Bar K o k b a .
p l o r a v a m c o m suas maneiras os sentimentos da p o p u l a - E n i a q u i n não era a ú n i c a " t r i b o " s a d o q u i t a . O u t r a fa-
ção fiel à Lei; p o d e ser q u e , em p a r t e , t e n h a m agido com mília sacerdotal, procedente do r a m o pontifício legítimo,
seriedade. Inicialmente, " d e c l a r a r a m inválidos os direitos vivia em Babilônia; dela saiu o sumo sacerdote A n a n e l ,
das famílias no seio das q u a i s , a l t e r n a d a m e n t e , escolhiam¬ p r i m e i r o s u m o sacerdote n o m e a d o p o r H e r o d e s a p ó s a
-se sempre os sumos sacerdotes" . Trata-se daquelas fa- 293

tomada de Jerusalém em 37 a . C . . C o m o os zelotas, He- Z9S

mílias de o n d e , desde 37 a . C , saíam os sumos sacerdo- rodes t a m b é m representou, neste p o n t o , o papel de guar-
tes; delas ainda falaremos com mais m i n ú c i a s . Os zelotas da da tradição, ao n o m e a r sumo sacerdote, e m lugar dos
t i n h a m r a z ã o ; tratava-se de famílias sacerdotais c o m u n s " u s u r p a d o r e s " a s m o n e u s , u m d e s c e n d e n t e d a família sa-
e consideradas ilegítimas. Para substituí-las, os novos di- doquita legítima. M a s , c o m o os zelotas mais t a r d e , escolheu
rigentes, servindo-se de um velho costume, i n t r o d u z i r a m p r u d e n t e m e n t e u m h o m e m sem q u a l q u e r p r o j e ç ã o . 299

o sorteio p a r a a escolha do sumo sacerdote. E m conse-


D o que precede, chegamos à conclusão d e que h a v i a ,
qüência, c o n v o c a r a m u m a das tribos pontifícias, a de Enia-
no século I antes d e nossa era e n o século I a p ó s , famí-
quin e sortearam u m sumo sacerdote . De propósito, Jo- 293

lias sacerdotais descendentes d o r a m o sadoquita legítimo ; m

sefo escolhe a p a l a v r a " t r i b o " (phulê) como a única q u e


o p r i m e i r o e o último dos sumos sacerdotes em exercício
convém aqui. U m a " t r i b o pontifícia" só p o d e designar
entre 37 a.C. e 70 d . C , foram de origem sadoquita. O fato
uma família o r i u n d a da família pontifícia sadoquita legíti-
é m u i t o ilustrativo; e m b o r a as famílias s a d o q u i t a s n ã o go-
m a que fornecera os sumos sacerdotes em lerusalém, até
zassem d e influência política, a consciência p o p u l a r colo-
172 a . C , e, depois, cm Leontópolis. Essa tribo pontifícia
cava-as b e m acima das influentes famílias pontifícias ile-
vivia no c a m p o . E x t e r i o r m e n t e , n a d a a distinguia das ou-
gítimas. N o Oriente, a descendência pesou sempre mais
tras famílias sacerdotais, nem m e s m o a educação de seus
do q u e o p o d e r p o r q u e é a t r i b u í d a à v o n t a d e de D e u s ;
m e m b r o s ; o s u m o sacerdote escolhido p o r sorteio, F a n i ,
muitas vezes teremos a i n d a ocasião d e constatá-lo.
do vilarejo de Aftía , era u m canteiro > totalmente in-
294 m

culto . T o d a v i a , essa tribo tinha a v a n t a g e m de ser des-


29& S e m d ú v i d a , influência e p o d e r encontravam-se do
cendente de sadoquitas; foi por esse motivo q u e os ze- 297 lado das famílias pontifícias ilegítimas, p o r t a n t o daquelas
lotas p e n s a r a m nela, r e a t a n d o assim com o p a s s a d o . O úl- q u e , desde 37 a . C legaram os sumos sacerdotes, menos
timo sumo sacerdote da história judaica foi, pois, u m sa- três. E n t r e os 28 últimos sumos sacerdotes j u d e u s e m exer-
cício d e 3 7 a.C. a 70 d . C . — foi a p e n a s d u r a n t e a guerra
de Bar-Kokba q u e apareceu a i n d a u m a vez u m sumo sa-
292. B. j . I V 3, 6, § 148, cf. 3, 7, § 153, cerdote, Eleazar — somente o p r i m e i r o e o último d a sé-
2 9 3 . B. j . I V 3, 8, § 155.
294. P i n h a s de H a b t a n a t r a d i ç ã o r a b í n i c a .
295. S e g u n d o T o s . Yoma I 6 (180, 2 5 ) ; Lv. R. 26, 8 s o b r e 2 6 , 8 2 9 8 . Ant. X V 3 , 1, § 40, cf. 2 , 4, § 22 ( s e g u n d o Para I I I 5, ele
s o b r e 2 1 , 10 ( 7 ! 2 8 ) ; Sijra Lv 21,10 (47^ 1 8 7 , 8 ) os s a c e r d o t e s envia-
b
era egípcio.
dos p a r a buscá-lo t r o u x e r a m - n o da p e d r e i r a a J e r u s a l é m . A p o i a n d o - s e 2 9 9 . Ant. X V 2, 4, § 2 2 diz q u e H e r o d e s n o m e o u n ã o u m sa-
e m l R s 19,19, seu p a r e n t e H a n a n y a b e n G a m a l i e l I I ( p o r v o l t a d e c e r d o t e d o p a í s . h o m e m influente, m a s u m e s t r a n g e i r o insignificante.
120 d.C.) afirma q u e o t r o u x e r a m de sua c h a r r u a à n o v a d i g n i d a d e E m c o n t r a d i ç ã o c o m Josefo, i n t e r p r e t o u - s e essa i n d i c a ç ã o d a s e g u i n t e
( T o s . Yoma I 6 ( 1 8 0 , _ 2 7 ) ; Sijra Lv 21,10 ( 4 7 189. 1 0 ) ; n ã o se t r a t a
c

m a n e i r a , q u e é c o m p l e t a m e n t e falsa: A n a n e l era " d e origem sacerdo-


senão de u m a a d a p t a ç ã o s e g u n d o l R s 19,19. tal c o m u m " ( S c h ü r e r , I I , 269; o p i n i ã o s e m e l h a n t e e m O t t o , Herodes,
293. B. j . I V 3, 8, § 155. col. 38. P r e c i s a m e n t e o q u e ele n ã o era!
297. S c h ü r e r , I, 618: " E r a u m h o m e m d o p o v o , e isso é essen- 300. É a u m a dessas famílias q u e p e r t e n c i a R. S a d o c , s a c e r d o t e
cial". Essa o p i n i ã o n ã o leva e m c o n t a o fato p r i n c i p a l , isto é, a ori- c é l e b r e q u e m i n i s t r a v a a u l a s em J e r u s a l é m , antes de 70 d.C. ARN rec.
g e m familiar do s u m o s a c e r d o t e e s c o l h i d o p o r sorteio. A c a p . 16 6 3 25 refere-se a ele c o m o s e n d o da d e s c e n d e n c i a ponti-
a

fícia. N a o é p o r a c a s o q u e se c h a m a v a S a d o c !
rodes (22-5 a . C ) ; notemos a d u r a ç ã o de seu pontificado:
rie, c o m o vimos, pertenciam a u m a família legítima; o
17 anos! ; essa família a i n d a conseguiu investir das fun-
307

b a b i l ô n i o A n a n e l (sumo sacerdote em 37-36 [ 5 ] , e a par-


ções pontifícias sete de seus m e m b r o s . U m fato m o s t r a
tir de 37 a.C. pela segunda vez) e Pinhas de H a b t a , o
t a m b é m o p o d e r de sua influência: u m a p a r t e dos saduceus
canteiro (67 [ 8 ] d . C ) ; além disso, u m a s m o n e u foi a i n d a
e até mesmo todo esse p a r t i d o é c h a m a d o " B o e t ú s i o s " . m

u m a vez sumo sacerdote na pessoa de Aristóbulo (35


Mais tarde a família de Boetos foi s u p l a n t a d a pela do sumo
a . C ) . Os 2 5 outros p r o c e d i a m de famílias sacerdotais co-
sacerdote A n á s (6-15 d . C , no cargo, p o r t a n t o , d u r a n t e 9
m u n s . Essas famílias assim enobrecidas de u m m o m e n t o
a n o s ) , de q u e m cinco filhos assim c o m o o genro Caifás
309

p a r a o u t r o , vindas, em p a r t e , do estrangeiro , e em par- 301

(18, a p r o x i m a d a m e n t e , — 3 7 , 19 anos em exercício!) 310

te da p r o v í n c i a , formavam r a p i d a m e n t e uma nova hie-


3DZ

e o neto Matias (65) foram sumos sacerdotes. Segundo as


r a r q u i a , ilegítima, sem d ú v i d a , mas p o d e r o s a . Compunha¬
informações de Josefo, a família de Kanit, como a de Fiabi
-se, especialmente, de q u a t r o famílias; cada uma delas se
deu três sumos sacerdotes; m a s , segundo a lenda do Tal-
esforçava por conservar, o mais tempo possível, o ponti-
m u d e , d e u sete q u e e r a m , dizem, todos irmãos e dos quais
ficado. Entre os 25 sumos sacerdotes ilegítimos da época
somente u m ou dois d e v e m ter oficiado como substitutos
h e r o d i a n a e r o m a n a , n ã o menos de 22 p e r t e n c e m a essas
de seu irmão impedido por alguma i m p u r e z a r i t u a l . 311

q u a t r o famílias, isto é, aos Boetos (8) , A n á s (8), Fiabi 303

(3) e K a m i t h (3); q u a n t o aos três outros sumos sacerdo-


tes , podemos supor que lhes estavam ligados.
m 307. Q u a n t o a estas d a t a s : S i m ã o foí c i t a d o após o fim d a fome
(Ant. X V 9, 3, § 3 1 9 s s ) . B a s c a n d o - n o s na c r o n o l o g i a dos anos sabá-
Entre essas famílias a mais i m p o r t a n t e na origem foi ticos, d e v e m o s situar essa fome e m 24-22 a . C ; ver m e u artigo Sabbath-
jahr, e m ZNW 27 ( 1 9 2 8 ) , 98s.
a de Boetos , procedente de A l e x a n d r i a . Seu p r i m e i r o
305

308. T o s . Sukka I I I 1 ( 1 9 5 , 1 9 ) ; b . Sukka b


4 3 ; cf. T o s . Yoma I
representante foi o sumo sacerdote Simão , sogro de He- 306
8 (181, 3) e passim.
309. Lc 3,2; At 4,6; Jo 18,13.24.
310. F r e q ü e n t e m e n t e n o N o v o T e s t a m e n t o ; v e r t a m b é m supra, p .
3 0 1 . A família d e Boetos era originária de A l e x a n d r i a . 266, n . 302. N ã o nos d e v e m o s p r e n d e r à d a t a de 36 d . C , c o r r e n t e -
302. O s u m o s a c e r d o t e (osé, filho de Ellem, q u e oficiou e m 5 m e n t e aceita p a r a a d e s t i t u i ç ã o d e Caifás. S e g u n d o Ant. X V I I I 4, 2,
a.C. no Dia das E x p i a ç õ e s , n o l u g a r do s u m o s a c e r d o t e e, p o r conse- § 89, Vitélio, g o v e r n a d o r da Síria, e n v i o u Pilatos a R o m a p a r a se jus-
q ü ê n c i a , figura n a lista dos 28 s u m o s s a c e r d o t e s , era o r i g i n á r i o de tificar, d e p o i s veio a Jerusalém p a r a a P á s c o a e, nesta ocasião, des-
Séforis ( T o s . Yoma I 4 (180, 1 4 ) ; b . Yoma 12»; j . Yoma I 1, 38<> tituiu Caifás (§ 9 5 ) . Pilatos só c h e g o u a R o m a após a m o r t e de Ti-
1 ( I I I / 2 , 164). A família pontifical bêfalôbay (].: 'anôbay) era origi- b é r i o , a c o n t e c i d a e m 16 d e m a r ç o de 37; n ã o foi, pois, d e s t i t u í d o
nária de s biyyím
e
(}.: bêt s bõ"ime
a família pontifical bêt qayyapha antes d o fim de 36, p r o v a v e l m e n t e no início d e 37. Por c o n s e g u i n t e ,
(].: neqíphí), de bêt m qoses e
(j.: bêt qôses): T o s . Yeb. I 10 ( 2 4 1 , 2 5 ) ; Vitélio e n c o n t r a v a - s e em J e r u s a l é m n a P á s c o a d e 37 e foi e n t ã o q u e
]. Yeb. I 6, 3 47 ( I V / 2 , 18) (desses n o m e s de lugares b . Yeb.
a
15» Caifás foi r e v o g a d o (cf. O t t o , Herodes, col. 193ss n. O t t o c o m e t e ape-
faz n o m e s de f a m í l i a s ) . A ú l t i m a família c i t a d a p o d e r i a ser a d o nas o e r r o d e c o n f u n d i r essa p r i m e i r a visita d e Vitélio c o m a s e g u n d a ,
s u m o sacerdote Caifás, cf. supra, p . 136, n . 9 5 . c o n t a d a c m Ant. X V I I I 5, 3 , § 122ss. É a b s o l u t a m e n t e impossível,
3 0 3 . Aos seis m e m b r o s d a família de Boetos citados p o r S c h ü r c r , pois p o r ocasião dessa s e g u n d a visita, o d e s t i t u í d o foi o s u m o sacer-
II, 275, é preciso a c r e s c e n t a r d o i s : M a t i a s , filho de T e ó f i l o (5-4 a.C.) dote J o n a t a s , sucessor de Caifás. D u r a n t e s u a s e g u n d a visita, Vitélio
q u e , s e g u n d o Ant. X V I I 6, 4 § 164, era genro de S i m ã o , c h a m a d o r e c e b e u a notícia d a m o r t e de T i b é r i o . O r a , p a r a chegar à Palestina,
Boetos (22-5 a . C ) , e José, filho de E l l e m (5 a . C ) . Esse ú l t i m o pa- as notícias l e v a v a m de u m a três meses, c o n f o r m e os v e n t o s fossem
r e n t e de M a t i a s , e visivelmente p a r e n t e m u i t o p r ó x i m o , p o i s , subs- favoráveis ou n ã o . Essa s e g u n d a visita realizou-se, p o i s , c e r t a m e n t e , n o
tituiu-o u m a vez (Ant. X V I I 6, 4, § 1 6 4 ) ; c o n v é m , pois, contá-lo en- P e n t e c o s t e s de 37. P o r c o n s e g u i n t e , J o n a t a s , sucessor do s u m o sacer-
tre os m e m b r o s d a família de Boetos. d o t e Caifás, ficou n o c a r g o a p e n a s 50 dias, d a P á s c o a até Pentecostes
304. São eles: Jesus, filho de See (até 6 d . C ) ; A n a n i a s , filho de 37).
N e b e d e u (a p a r t i r de 4 7 , a p r o x i m a d a m e n t e ) ; Jesus, filho de D a m n é i a 3 1 1 . S e g u n d o b . Yoma 4 7 , os i r m ã o s q u e oficiavam c o m o subs-
a

{cerca d e 62-63). titutos f o r a m Y e s h é b a b e Josefo. A p a s s a g e m p a r a l e l a T o s . Yoma IV


305. E m b . Pes. 5 7 bar., ela é c i t a d a em p r i m e i r o l u g a r ; e m se-
a

20 (189, 14) m e n c i o n a a p e n a s u m i r m ã o s u b s t i t u t o ; chama-se J u d a s


guida v e m a família de Q a t r o s ( K a n t e r a s ) q u e l h e é a p a r e n t a d a . e m Lv. R. 20, 7 s o b r e 16, 1-2 ( 5 3 2 6 ) ; j . Yoma
b
I 1, 3 8 6 ( I I I / 2 ,
d

306. C h a m a m - n o p o r vezes Boetos, s e g u n d o o n o m e de sua famí- 164); j . Meg. I 12, 7 2 49 ( n ã o t r a d u z i d o e m I V / 1 , 220 q u e r e m e t e


a

lia, p o r ex., Ant. X I X 6, 2, § 297. ao p a r . I I I / 2 , 1 6 4 ) ; T a n h u m a , 'abaré môt, § 7, 4 3 3 , 24 e passim.


Sobre q u e r e p o u s a v a o p o d e r dessas poucas famílias?
Essa l a m e n t a ç ã o q u e nos revela d e m a n e i r a caracte-
E n c o n t r a m o s a resposta no lamento p r o n u n c i a d o contra
312

rística o estado de espírito do povo e do baixo clero con-


a n o v a h i e r a r q u i a p o r Abba S h a u l , filho d a b a t a n é i a ( q u e
tra a nova h i e r a r q u i a ilegítima, c o n t é m excelente material
vivia em Jerusalém antes de 70 d . C . e m i n i s t r a n d o seus
3 , 3

histórico. O autor, assim c o m o aquele que n a r r a a tradi-


e n s i n a m e n t o s até q u a s e 100), e m n o m e d e A b b a José í M

ção, p e r t e n c e m ainda à Jerusalém de antes da destruição


ben H a n i n (antes de 7 0 , em Jerusalém):
3 1 5

do T e m p l o , e o texto cita as três famílias pontifícias (Boe-


Ai de mim por causa da família de Baithos [Boetos], tos, A n á s , Fiabi; o sumo sacerdote S h i m e o n K a n t h e r a s
ai de mim por. causa de sua lança 1 316 era filho de Boetos, sua família p e r t e n c e , pois, à família
Ai de mim por causa da família de Hanin (Tos.: Elhanan; é dos Boetos) q u e , como já p u d e m o s ver pelos escritos de
Josefo, m a n t i n h a as rédeas. Essas maldições nos m o s t r a m
[Anás) ' , 3 7

q u e a influência da nova aristocracia r e p o u s a v a sobre a


ai de mim por causa de suas murmurações ! 3,a

política da força, em p a r t e b r u t a l ( p a u l a d a s , m u r r o s ) , em
Aí de mim por causa da família de Qatros (Tos.: Qadros; é p a r t e intrigante ( m u r m u r a ç õ e s , c a l a m o s ) . Essa política per-
[Kantheras), mitia-lhe obter as principais funções do T e m p l o , assim
ai de mim por causa de seu cálama! 319

como as taxas e os fundos. Q u a n t o às funções, trata-se


[Ai de mim por causa da família de Elisha, dos postos fixos de chefes d e sacerdotes em Jerusalém:
ai de mim por causa de seu punho! — acrescentado em Tos.] o de c o m a n d a n t e do T e m p l o — conforme vimos nas p p .
Ai de mim por causa da família de hhmael ben Fiabi, 277s, era h a b i t u a l m e n t e p r e e n c h i d o pelos amigos íntimos
ai de mim por causa de seu punho! 320

e pelos mais próximos p a r e n t e s do s u m o sacerdote — e


Por que eles são sumos sacerdotes, tesoureiros são os seus os de vigilantes do T e m p l o que v i n h a m logo a seguir, as-
filhos, os genros, vigilantes do T e m p l o , e seus servos mal- 321

sim como os postos de tesoureiros. Segundo o texto dessa


tratam o povo [Tos.-, nós] com p a u l a d a s . m

queixa era, pois, costume escolher todos os chefes dos sa-


312. b . Pes. 57* b a r . ; T o s . Meu. X I I I 2 1 ( 5 3 3 , 3 3 ) . cerdotes entre os filhos e os genros dos sumos sacerdotes
313. Ressalta de b. Besa 1 9 bar. q u e ele vivia e m J e r u s a l é m a i n d a
a
e dos antigos sumos sacerdotes.
antes d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o .
314. T o s . : " e " .
315. T o s . : " A b b a Y o s é b e n Y o h a n a n , m o r a d o r de J e r u s a l é m " . O N u m a passagem freqüentemente i n t e r p r e t a d a erronea-
n o m e é o m e s m o ; somente a transtiteração é diferente. Pode-se dar, m e n t e , o N o v o T e s t a m e n t o afirma este n e p o t i s m o da nova
p o r é m , q u e a Tosefta, p o r e n g a n o , tome-o p e l o d o u t o r d o m e s m o h i e r a r q u i a . At 4,5-6 descreve assim a c o n v o c a ç ã o de u m a
n o m e , m e n c i o n a d o e m P. A. 1 4 e q u e vivia p o r volta d e 150 a.C.
316. O u " p o r causa de sua m a l d i ç ã o " . seção do Sinédrio: " N o dia seguinte, reuniram-se em Je-
5

317. A lição de Bablt é a m e l h o r : H a n i n . rusalém os chefes dos judeus, os anciãos e os e s c r i b a s . Es- 6

318. = m a l e d i c ê n c i a s . — T o s , : " . . . ai d e m i m p o r c a u s a d a fa-


mília e m u r m u r a ç õ e s " . t a v a m presentes o sumo sacerdote A n á s , [o ancião] Caifás
319. = decretos.
320. Essas o i t o ú l t i m a s p a l a v r a s í a l t a m n a T o s . q u e Já as c o l o c o u
n a frase anterior.
p o d e ser u m dos dois s u m o s s a c e r d o t e s p o r t a d o r e s d o m e s m o n o m e
3 2 1 . 'Ammark [in,
c
ver supra, p . 23ss. I s h m a e l ( I s h m a e l b e n P h i a b i I, cerca de 15-16 d . C , e I s h m a e l b e n
322. O texto da Tosefta á m e n o s b o m (ver supra, p . 268, n . 314s, P h i a b i I I , a t é 6 1 ) , q u e foi c o n f u n d i d o c o m o c é l e b r e R. I s h m a e l b e n
318. É de a d m i r a r q u e nesse texto d a Tosefta a p a r e ç a o u t r a família, Elisha ( e x e c u t a d o em 135 d . C ) ; c) e m T o s . Halla I 10 (98, 10), R.
a d e Elisha. N a lista c o m p l e t a q u e Josefo n o s d á dos s u m o s sacer- I s h m a e l b e n Elisha j u r a pelas vestes pontificais d e seu 'abba. N ã o d e v e
dotes nos 100 últimos anos a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o , n ã o c o n s t a estar se r e f e r i n d o a seu p a i , já q u e n ã o existe n e n h u m s u m o sacer-
n e n h u m sacerdote com o n o m e Elisha ou filho d e Elisha. Q u a n t o à dote com o n o m e Elisha; trata-se, p o r t a n t o , d e u m a n t e p a s s a d o , p r o -
t r a d i ç ã o r a b í n i c a : a) nesse texío ela cila u m a família pontifícia de v a v e l m e n t e o s u m o s a c e r d o t e I s h m a e l b e n P h i a b i I I . — É de se s u p o r
Elisha; b) em Ber. 7 b a r . e b . Gil. 5 8 , o u v i m o s falar de r a b i (sic!)
a a

que o texto d a Tosefta designe p o r família d e Elisha, a família de


I s h m a e l b e n Elisha, s u m o s a c e r d o t e , o f i c i a n d o n o S a n t o d o s s a n t o s ; s ó P h i a b i q u e se e n c o n t r a assim d u a s vezes m e n c i o n a d a .
e Jonatas , A l e x a n d r e e todos os m e m b r o s das famílias
m

At 4,5-6 confirma, pois, os dados talmúdicos segundo


dos sumos sacerdotes". os quais a nova h i e r a r q u i a se conluiava p a r a d a r a seus
O versículo 5 cita os três grupos conhecidos q u e for- m e m b r o s os postos influentes do T e m p l o : n ã o somente o
m a m o Sinédrio: chefes de sacerdotes, anciãos e escribas. genro do antigo sumo sacerdote A n á s é sumo sacerdote
A p a l a v r a "chefes" archontes aí figura no lugar de archie- e m exercício e u m de seus filhos c o m a n d a n t e s do T e m -
reís, termo preferido alhures; o mesmo acontece no ver- plo, mas a família pontifícia r e i n a n t e , a de A n á s , d e t é m
sículo 8 e com freqüência em Josefo . O v. 6 n ã o men-
324 32s

outros postos, na realidade, todos os outros postos-chave!


ciona o u t r o grupo de m e m b r o s do Sinédrio; conforme o A composição do governo em 66 d . C , q u a n d o estourou
d e m o n s t r a a i n a d e q u a ç ã o do nominativo na c o n s t r u ç ã o , ele a revolta c o n t r a os r o m a n o s , permite-nos avaliar de que
especifica os membros do primeiro g r u p o , o mais impor- p o d e r d i s p u n h a a nova h i e r a r q u i a , e c o m o tinha entre as
tante, isto é, o dos archieréis, q u e r dizer , chefes dos sa- 326

mãos não somente o T e m p l o , o culto, a jurisdição sobre


cerdotes de Jerusalém. São estes: a) o antigo sumo sacer- os sacerdotes , u m n ú m e r o considerável de cadeiras n a
m

dote Anás (em exercício de 6 a 15 d . C ) , e n c a b e ç a n d o a assembléia s u p r e m a , o Sinédrio , mas t a m b é m a direção


m

lista p o r causa de sua idade e influência; b) seu g e n r o política da assembléia do p o v o . E m 6 6 , com efeito, u m
3 3 1

Caifás, sumo sacerdote em exercício (18-37 ap.); c) Jona- dos dois governantes de Jerusalém foi o ex-sumo sacer-
tas, filho de Anás q u e , alguns anos após o evento n a r r a d o dote A n a n ; u m dos dois da I d u m é i a foi o chefe dos sa-
por At 4,1-22, sucedeu a Caifás como sumo sacerdote cerdotes, o o u t r o , o filho do s u m o sacerdote A n a n ; além
(37) 327
e q u e , segundo t u d o indica , era, na época, co- 328

desses, três sacerdotes r e c e b e r a m o c o m a n d o na Galileia,


m a n d a n t e do T e m p l o ; d) A l e x a n d r e q u e não é conhecido mas ignoramos a origem dos outros q u a t r o governantes, os
de m a n e i r a mais precisa, aliás; e) outros m e m b r o s das fa- de Jericó, Peréia, T a m a e Gofua c o m A c r a b a t a . Pelo 332

mílias sacerdotais na m e d i d a em que o c u p a v a m os postos seu nepotismo, a aristocracia sacerdotal conseguiu ter nas
de chefes de sacerdotes no T e m p l o de Jerusalém. mãos não somente a força política, m a s t a m b é m a admi-
nistração dos fundos do T e m p l o , que é igualmente impor-
3 2 3 . N a m a i o r i a dos mss. lê-se íoánnes. E m c o n t r a p a r t i d a , em tante. "Seus filhos são t e s o u r e i r o s . . . e seus servos mal-
D d g p lê-se Ionãthas. João a p a r e c e cerca d e 135 vezes no N o v o T e s - t r a t a m o p o v o com p a u l a d a s " , lemos h á pouco no lamento
t a m e n t o , e n q u a n t o J o n a t a s n ã o é e n c o n t r a d o em l u g a r a l g u m ; a l é m
do m a i s , a i n t e r v e n ç ã o desses dois n o m e s encontra-se n o u t r o l u g a r . de A b b a Shaul. A queixa a respeito das brutalidades dos
( T h . Z A H N , Die Aposíelgeschichte T, 3? ed., Leipzig, 1922, 167, n . 8 8 ) . servos faz p e n s a r nos casos, acima n a r r a d o s , de apropria-
Razões de crítica i n t e r n a p e r m i t e m , pois, sem d ú v i d a , d e c i d i r a f a v o r
da v e r s ã o J o n a t a s das t e s t e m u n h a s ocidentais q u e a c a b a m d e ser c i t a d a s . ção b r u t a l e ilegal das taxas e porções de vítimas desti-
324. C o m p a r a r o v. 8 c o m o v. 2 3 ! —• O m e s m o e m p r e g o d o n a d a s aos sacerdotes das 24 seções h e b d o m a d á r i a s . N a
t e r m o se e n c o n t r a já, talvez, e m l M c 1,26 " A r c o n t e s e a n c i ã o s " c o m realidade, p o d e m o s constatar q u e a m a i o r i a das famílias,
7,33 e 11,23 " s a c e r d o t e s e a n c i ã o s " . D e o u t r o m o d o e m 14,28, o n d e
" s a c e r d o t e s , a r c o n t e s d o p o v o e a n c i ã o s do p a í s " e n c o n t r a m - s e u n s a o da n o v a h i e r a r q u i a , assim como os Boetos, A n á s , Fiabi,
l a d o dos o u t r o s . d i s p u n h a m de grandes recursos . 333

325. V e r as p r o v a s de S c h ü r e r , I I , 252, n . 41 e 42.


326. V e r supra, 245s, A nova h i e r a r q u i a p o d i a exibir riquezas e p o d e r i o ;
327. Ant. X V I I I 4, 3, § 9 5 . S o b r e seu c u r t o p o n t i f i c a d o de ape- n a d a substituía a legitimidade que lhe faltava.
nas 50 dias, ver supra. p . 267, n. 310.
328. j . Yoma I I I 8, 4 1 ( I H / 2 , 1 9 7 ) : " O s u m o s a c e r d o t e n ã o era
a

n o m e a d o p a r a tal d i g n i d a d e se já n ã o tivesse sido c o m a n d a n t e d o


T e m p l o " ; s o b r e essa q u e s t ã o , v e r supra, p . 227. Ê p r o v a v e l m e n t e o 329. Supra, p p . 245s.
q u e se d á a q u i , t a n t o mais q u e a família de A n á s está em exercício, 330. Supra, p . 247.
família q u e desfrutava e n t ã o de p o d e r p a r t i c u l a r m e n t e g r a n d e ; ne- 3 3 1 . São q u a s e s e m p r e os s a c e r d o t e s dirigentes q u e t o m a m parte
n h u m o u t r o s u m o s a c e r d o t e d o século I m a n t e v e - s e t a n t o t e m p o n o n a s e m b a i x a d a s , p o r ex., An¡. X X 8, 11, § 194 e passim.
exercício d e s u a s funções q u a n t o Caifás. 332. E. j . I I , 20, 3 s., § 562ss; Galileia: Vita 7, § 29.
3 3 3 . R e u n i as p r o v a s supra, p . 139ss. Cf. a p r e s c r i ç ã o de T o s . Yoma
persos na Judéia e na Galileia . C a d a u m a dessas clas- 338

D, O S S A C E R D O T E S "COMUNS" ses sacerdotais (seções h e b d o m a d á r i a s ) dividia-se em 4


339

a 9 famílias de sacerdotes (seções cotidianas) °, oficiando, 34

a l t e r n a d a m e n t e , d u r a n t e os sete dias da s e m a n a de servi-


P a r a l e l a m e n t e a essa aristocracia sacerdotal encontra- ço de sua seção h e b d o m a d á r i a . Já e n c o n t r a m o s u m exem- 341

va-se a m u l t i d ã o dos sacerdotes. N o meio do povo j u d e u , plo dessa divisão, sob a forma do bêt hasmônay, seção co-
0 clero constituía u m a c o m u n i d a d e tribal fortemente or- tidiana que fazia p a r t e da seção h e b d o m a d á r i a de Joiarib.
ganizada que fazia r e m o n t a r sua genealogia até A a r ã o , E n c a b e ç a n d o u m a seção h e b d o m a d á r i a achava-se o rôs-ha-
e d e n t r o da qual o sacerdócio se transmitia por h e r a n ç a . -mismar; e n c a b e ç a n d o u m a seção cotidiana, o rôs bêt'ab . m

Segundo u m a distribuição m u i t o antiga, o clero era V e m o s , pois. que o conjunto dos sacerdotes se c o m p u n h a
dividido em classes sacerdotais. Já em 4 5 5 a.C., por oca- d e 2 4 seções h e b d o m a d á r i a s , divididas em a p r o x i m a d a m e n t e
sião da assinatura solene da Lei, contavam-se 2 1 classes 156 seções cotidianas.
sacerdotais, seções p a r a o serviço (Ne 10,3-9). N o século N a presente pesquisa não nos toca descrever a ati-
I V , cerca do fim do período persa, aparece u m a segunda vidade litúrgica dos sacerdotes. E m compensação, ligado
lista q u e m e n c i o n a 2 2 ; cinco das classes antigas desapa- ao que expusemos sobre a sua distribuição social, devemos
receram, seis novas lhes foram acrescentadas (Ne 1 2 , 1 . 7 . p r o c u r a r saber o n ú m e r o dos sacerdotes j u d e u s .
12-21). O primeiro livro das Crônicas cita, pela p r i m e i r a C o m exagero i n c o m u m , o T a l m u d e afirma que a me-
vez, 24 classes de sacerdotes; de novo doze antigas clas- nor das seções h e b d o m a d á r i a s com sede em Shihin, na
ses desapareceram, catorze novas surgem ( l C r 2 4 , 1 - 1 9 ) . Galileia, contava com 8 5 . 0 0 0 jovens sacerdotes . Opos- 343

E m l C r 2 4 , 7 , a família sacerdotal d e Joiarib à qual per- t a m e n t e , segundo o Pseudo-Hecateu , o n ú m e r o não ex- í44

tenciam os M a c a b e u s ( l M c 2 , 1 ; 14,29) é citada em pri- cedia a 1.500 . N e m m e s m o esse n ú m e r o deve ser le-
34S

meiro lugar, e n q u a n t o não figura em Ne 10,3-9 e a p a r e c e v a d o em consideração conforme deduziu Büchler ; talvez m

n u m posto s u b o r d i n a d o e m Ne 12,1-7.12-21. Conclui-se, esse n ú m e r o correspondesse apenas aos sacerdotes que ha-
pois, q u e essa terceira lista só p o d e ter sido redigida no
tempo dos M a c a b e u s . 335

338. Sacerdotes n a G a l i l e i a : Shihin n a Galileia: j . Ta'an. I V 8,


6 9 53 ( I V / 1 , 1 9 2 ) ; Séforis: v e r supra, p . 256, n . 302; T o s . Sota X I I I
a

As divisão do clero em 24 classes sacerdotais, cum-


8 (319. 2 0 ) ; j . Yoma VI 3, 43^ 59 ( 1 I I / 2 , 2 3 4 ) ; b , Yoma 3 9 , Schlat¬ a

p r i n d o a l t e r n a d a m e n t e , segundo sua condição, u m a se- ter, Gesch. Isr., 136; B ü c h l e r , Priester. 196-202.
m a n a de t r a b a l h o e m Jerusalém, de sábado a sábado — 336
339. Mistnar ( g u a r d a ) , Josefo, Vila 1, § 2: ephemerís, patriá Lc
e por isso as classes se c h a m a v a m t a m b é m seções h e b d o - 1,5-8: ephemeria.
340. Bêt'ab; Josefo, Vita, § 2 : phulé. D e m o d o c u r i o s o , Josefo in-
m a d á r i a s — estava em vigor n o t e m p o de Jesus . Essas 337

verte os t e r m o s gregos e d e n o m i n a a seção h e b d o m a d á r i a , "seção co-


24 classes sacerdotais a b r a n g i a m todos os sacerdotes dis- t i d i a n a " (ephemerís) e d e s i g n a a s e ç ã o c o t i d i a n a p e l o t e r m o geral d e
" t r i b o " (phulé). E n c o n t r a m o s o n ú m e r o das seções c o t i d i a n a s de u m a
seção h e b d o m a d á r i a em T o s . Ta'an II 1-2 (216, 1 2 ) : 4 a 9 seções
1 6 {180, 23) s e g u n d o a q u a l o s u m o s a c e r d o t e d e v e s u p e r a r e m ri- c o t i d i a n a s , e em j . Ta'an I V 2, 6 8 14 ( I V / 1 , 1 7 8 ) ; 5 a 9.
a

q u e z a s os o u t r o s s a c e r d o t e s . 3 4 1 . Supra, p . 259.
334. Kôhen hedyôt. 342. Supra, p p . 228ss.
35. O texto d a Tosefta, c i t a d o supra, p . 260, m o s t r a i g u a l m e n t e 3 4 3 . j . Ta-an. I V S, 6 9 53 ( I V / 1 , 1 9 2 ) .
a

q u e a divisão de l C r 2 4 , 7 4 8 q u e coloca a classe de Y e h o y a r i b e m 3 4 4 . Q u a n t o à a t r i b u i ç ã o d a n o t a c i t a d a n . 347, p . 274, n o P s e u d o -


p r i m e i r o lugar, deve ser de d a t a r e c e n t e . - H e c a l e u q u e se d e v e situar n o fim do s é c u l o II a . C . v e r a e x p o s i ç ã o
336. C. Ap. II 8, § 108; Ant. V I I 14, 7, § 365; Lc 1,8. d e B. S c h a l l e r , Hekataios von Abdera über die juden, e m ZNW 54
337. Ant. V I I 14, 7, § 365s; Vita 1, § 2; T o s . Ta'an II 1 (216, ( 1 9 6 3 ) , 15-31.
12) e p a r . (ver supra, p . 260, n . 2 7 9 ) ; L c 1,5-8; Cant. R. 3 , 12 s o b r e 345. C i t a d o p o r Josefo, C. Ap. I 22, § 188.
í, 7 ( 4 0 31) e passim.
a 346. Büchler, Priester, 48ss.
SEMINÁRIO CONCÓRDIA
b i t a v a m Jerusalém . A indicação de N e 11,10-19 segundo
347
mais tardia que l C r 12,26-28 evoca, ao falar de mais de
a qual em 4 4 5 a . C , 1 . 1 9 2 sacerdotes se estabeleceram em 3 . 7 0 0 sacerdotes e 4 . 6 0 0 levitas ( 8 . 3 0 0 sacerdotes e
351

Jerusalém, concorda com essa explicação . E m contra- 348


levitas). O a u m e n t o do n ú m e r o dos levitas é explicável
partida, podemos utilizar a indicação da carta do Pseudo- p o r q u e , no intervalo, os cantores e porteiros, a i n d a distin-
-Aristeu, escrita nas últimas décadas do século II antes tos dos levitas em Esd 2 , 4 1 - 5 8 , foram elevados a levitas,
de nossa era ; por ocasião de sua visita ao T e m p l o , 7 0 0
349
e p o r q u e , ao mesmo t e m p o , u m g r a n d e n ú m e r o d e sacer-
sacerdotes em exercício estão presentes, " a l é m de u m a dotes dos antigos postos altos tiveram de voltar de Babi-
g r a n d e m u l t i d ã o q u e oferece v í t i m a s " . N o seu m o d o de
350
lônia. E m c o m p e n s a ç ã o , a q u e d a d o n ú m e r o dos sacerdo-
interpretar, o n ú m e r o 7 0 0 representa o conjunto de sacer- tes explica-se pelo fato de certas pessoas, contadas no nú-
dotes e de levitas da seção h e b d o m a d á r i a em serviço. Aliás, m e r o dos sacerdotes em Esd 2,36-39 e paralelas, serem,
aqueles q u e oferecem as vítimas, acrescentados pelo Pseu- em nossa lista, colocadas no n ú m e r o dos levitas. Se levar-
do-Aristeu, representam os m e m b r o s da seção cotidiana mos em consideração o intervalo de tempo entre a reda-
que executam o serviço. As informações do Pseudo-Aristeu ção do livro das Crônicas (antes de 300 a . C ) , podemos
levam, pois, a u m total de a p r o x i m a d a m e n t e 7 5 0 X 24 = ter como digna de crença a avaliação em n ú m e r o s do con-
1 8 . 0 0 0 sacerdotes e levitas. j u n t o d o clero, 8 . 3 0 0 (livro das Crônicas) a 1 8 . 0 0 0 (Pseu-
A relação entre esse n ú m e r o e os dados veterotesta- do-Aristeu).
mentários inspira confiança. Segundo Esd 2,36-39 — N e F a ç a m o s u m segundo cálculo p a r a e n c o n t r a r a tota-
7,39-42, voltaram do exílio com Z o r o b a b e l e Josué q u a t r o lidade do clero. Segundo Yoma II 1-5, na m a n h ã dos dias
famílias de sacerdotes, c o m p r e e n d e n d o 4 . 2 8 9 h o m e n s , d e serviços o r d i n á r i o s , tirava-se a sorte, em q u a t r o opera-
além de (Esd 2,40-42; Ne 7,43-45) 74 levitas; 128 ( N e : ções com intervalos, 1 + 13 + 1 + 9 — 24 serviços.
148) cantores e 139 (Ne: 138) porteiros. Isso representa Escolhiam-se assim os sacerdotes que deviam colaborar n a
4 . 6 3 0 ( N e : 4 . 6 4 9 ) sacerdotes e levitas. As condições his- p r e p a r a ç ã o e na oferta do sacrifício público cotidiano da
tóricas explicam p o r q u e o n ú m e r o de levitas é b a i x o . C o m m a n h ã ; compunha-se do sacrifício dos perfumes, do holo-
efeito, os sacerdotes de postos altos, reduzidos pelo Deu- causto de u m cordeiro, da oferta alimentar, d a oferta do
teronômio à categoria de levitas, não tiveram — e o com- s u m o sacerdote, cozida nas cinzas e da libação. A esses
p r e e n d e m o s b e m — n e n h u m prazer em voltar do exílio e 24 serviços juntavam-se três outros que não e r a m sor-
352

só o fizeram aos poucos p a r a Jerusalém. É u m a época


3 5 ) . E m c o m p e n s a ç ã o , o n ú m e r o 3 8 . 0 0 0 levitas e m l C r 23,3-5, é
u m exagero inconseqüente.
347. O P s e u d o - H e c a t e u diz: " O n ú m e r o de s a c e r d o t e s j u d e u s q u e
352. P a r a a oferta d o sacrifício dos p e r f u m e s , era preciso q u e dois
r e c e b e m o d í z i m o dos p r o d u t o s e a d m i n i s t r a m os negócios p ú b l i c o s
s a c e r d o t e s a j u d a s s e m o s a c e r d o t e s o r t e a d o p a r a esta f u n ç ã o (cf. Lc
é, n o m á x i m o de 1.500". A l é m d a r e d u ç ã o do n ú m e r o , a m e n ç ã o dc
1,9). C o m u m a p á de p r a t a , o p r i m e i r o ia a t é o altar dos h o l o c a u s t o s
u m a a t i v i d a d e a d m i n i s t r a t i v a faz p e n s a r , i g u a l m e n t e , c m J e r u s a l é m .
b u s c a r os c a r v õ e s acesos e trazia-os p a r a d e n t r o do T e m p l o , no S a n t o ,
348. O s n ú m e r o s estão e m perfeito a c o r d o . Visto o e s p a ç o do t e m - s o b r e o a l t a r d o s p e r f u m e s (Tamid V 5; VI 2; VII 2 ) . O segundo
p o de 300 a n o s a p r o x i m a d a m e n t e , o n ú m e r o dos s a c e r d o t e s d e Jeru- r e c e b i a d o s a c e r d o t e q u e q u e i m a v a os p e r f u m e s a bacia n a qual se
salém cresceu r e l a t i v a m e n t e p o u c o . É explicável se p e n s a r m o s q u e a c h a v a a capela c o n t e n d o os a r o m a s {Tamid, V I 3 ; V I I 2) até q u e
m u i t a s famílias p r e f e r i r a m se estabelecer no c a m p o (cf. N e 11,2). As- fossem o f e r t a d o s . O s a c e r d o t e i n c u m b i d o de oferecer o sacrifício
sim, pois, os s a c e r d o t e s da família de Y e h o y a r i b r e s i d i a m e m Jerusa- dos p e r f u m e s e s c o l h i d a , ele p r ó p r i o , o s e g u n d o p r i m e i r o assistente. S e g u n d o
l é m s e g u n d o N e 11,10; em c o m p e n s a ç ã o , s e g u n d o I M c 2,1.18-20.70; R. Y u d a ( b e n Elai, p o r volta de 150 d . C ) , o p r ó p r i o s a c e r d o t e q u e
13,25, h a b i t a v a m , em p a r t e , M o d i n . oferecia o sacrifício dos p e r f u m e s o escolhia ( T o s . Yoma I 11; 181,
349. É difícil p r e c i s a r a d a t a da c a r t a do P s e u d o - A r i s t e u , m a s h á 16). L e m o s o o p o s t o n o t r a t a d o Tamid o n d e o p r i m e i r o assistente é
u m a t e n d ê n c i a c o m u m hoje e m dia a p e n s a r q u e ela n ã o é c e r t a m e n t e " a q u e l e a q u e m [ p o r ocasião d a d i s t r i b u i ç ã o dos serviços] c o u b e a
p o s t e r i o r a 100 a.C. A p r e s e n t a ç ã o f u n d a m e n t a l : E . B i c k e r m a n n , Zur p á " (Tamid V 5 ; VI 2 ) . O p r i m e i r o assistente é, p o r t a n t o , igual ao
Datierung des Pseudo-Aristeas em ZNW 29 ( 1 9 3 0 ) , 280-298. s a c e r d o t e q u e , p o r ocasião d o p r i m e i r o dos q u a t r o sorteios, foi esco-
350. P s e u d o - A r i s t e u § 95.
teados, de m o d o a ser 27 o total. À tarde, os mesmos sa- Jerusalém p a r a essas festas, e as seções que não estavam
crifícios e r a m repetidos. A purificação do altar dos holo- em exercício e r a m e n t ã o c h a m a d a s p a r a ajudar as seções
caustos, q u e u m sacerdote devia garantir de m a n h ã , pa- h e b d o m a d á r i a s designadas p a r a o serviço Não vamos
rece ter sido suprimida à tarde; mas essa supressão foi nos deter nas outras festas, n e o m ê n i a s , A n o n o v o , Dia das
c o m p e n s a d a pelo fato de, no sacrifício vespertino, ser de- expiações, pois pode ter-se d a d o q u e a seção cotidiana
signado u m segundo assistente p a r a o sacrifício dos perfu- em função tivesse sido, naqueles dias, ajudada pelas ou-
mes. Além disso, à tarde, e r a m necessários dois outros sa- tras seções cotidianas da seção h e b d o m a d á r i a . Limitamo-
cerdotes p a r a trazer a lenha ao altar dos holocaustos . 353
nos ao sabat. Naquele dia, além do tamíd da m a n h ã e da
Para o sacrifício público da noite, havia, p o r t a n t o , 29 ser- tarde, imolava-se em sacrifício público dois outros cor-
viços. U m único sacerdote, é v e r d a d e , podia ser i n c u m b i d o deiros; era preciso u m sacerdote p a r a matá-los, outro p a r a
de diversas funções no mesmo dia, pelos sorteios e pela espargir o sangue, e oito p a r a oferecer o sacrifício - . 3 6

distribuição dos serviços (mesmo sendo difícil crer q u e A i n d a na m a n h ã do s á b a d o , no q u a r t o sorteio, designa-


o sorteio feito de m a n h ã fosse válido p a r a o sacrifício ves- vam-se dois outros sacerdotes " , q u e c o m os seis sacerdo-
3

pertino). N ã o p o d e m o s , pois, concluir, desses n ú m e r o s , q u e tes assistentes, r e n o v a v a m as duas taças de incenso sobre
cada dia 2 7 + 29 sacerdotes diferentes estivessem de ser- a mesa dos pães de proposição e os doze pães . Como 358

viço. Sabemos, p o r é m \ que os sacerdotes da seção coti-


3 5
e p o d e v e r n o dia d e s á b a d o , 2 8 o u t r o s serviços e r a m
diana em serviço, sobre q u e m , pela m a n h ã , a sorte n ã o acrescentados aos serviços cotidianos.
tivesse caído, viam-se livres e tiravam suas vestes sagradas; Além dos sacrifícios públicos q u e acabamos de men-
essa informação permite concluir q u e , em geral, u m a se- cionar, h a v i a i n ú m e r o s outros sacrifícios particulares a ofe-
ção cotidiana ocupava mais de 30 sacerdotes. recer d i a r i a m e n t e . Dividiam-se em holocaustos, sacrifícios
T o d a v i a é b o m l e m b r a r que os sábados e dias de festa pelos p e c a d o s , sacrifícios de r e p a r a ç ã o e sacrifícios de co-
exigiam u m n ú m e r o b e m mais elevado de sacerdotes do m u n h ã o . Cada israelita devia custear esses sacrifícios en-
que em dias c o m u n s . N a q u e l e s dias, com efeito, além d o q u a n t o os sacrifícios, segundo a o p i n i ã o farisaica domi-
holocausto m a t u t i n o e o vespertino que a c a b a m o s de co- n a n t e , e r a m geralmente pagos pelos fundos do T e m p l o .
m e n t a r ( c h a m a d o tamíd, o " p e r f e i t o " ) , havia outros sacri- Os sacrifícios privados não d a v a m ensejo ao sorteio para
fícios públicos; no primeiro dia das festas das T e n d a s atin- os serviços; pelo contrário, e r a m os p r ó p r i o s leigos que
giam o n ú m e r o mais elevado. N ã o nos cabe falar aqui das d e v i a m , cora base no Lv 1,5, encarregar-se de imolar e 359

três festas de peregrinação p o r q u e , b e m o sabemos, as 2 4 depois esfolar a vítima e dividi-la em quartos ~'" . A ofe- <i

seções sacerdotais h e b d o m a d á r i a s encontravam-se todas e m r e n d a do sacrifício p r o p r i a m e n t e dita era deixada à deci-


são dos sacerdotes . P o d e m o s i m a g i n a r o n ú m e r o exor-
361

l h i d o p a r a purificar o altar dos h o l o c a u s t o s (cf. Tamíd I 4 ) . A dife- bitante dos sacrifícios privados oferecidos no T e m p l o , sa-
r e n ç a e n t r e essas d u a s i n f o r m a ç õ e s explica-se p e l o fato d e o altar d o s bendo q u e as hecatombes foram, por diversas vezes, ofe-
h o l o c a u s t o s só ser p u r i f i c a d o u m a vez p o r dia, pela m a n h ã . C o m efeito,
o t r a t a d o Tamíd descreve o serviço litúrgico m a t u t i n o q u a n d o , c o m
e v i d ê n c i a , R. Y u d a t e m em m e n t e o serviço d a t a r d e . S o m e n t e à t a r d e 355. Sukka V 7.
era preciso p e d i r a u m s a c e r d o t e q u e exercesse a função d e a s s i s t e n t e
356. O s n ú m e r o s r e s u l t a m de Yoma II 3-5.
p a r a o sacrifício dos p e r f u m e s , já q u e à t a r d e n ã o era feito o sorteio
357. Yoma II 5.
p a r a o serviço de p u r i f i c a ç ã o d o a l t a r dos h o l o c a u s t o s . — A l é m d i s s o ,
dois s a c e r d o t e s t o c a v a m a t r o m b e t a de p r a t a q u a n d o os levitas inter- 358. Men. X I 7.
r o m p i a m o c a n t o c o m e ç a d o n a libação q u e e n c e r r a v a a oferta d o 359. Zeb. I I I 1; b . Zeb, 3 2 ; Sifra Lv 1,5 ( 4 14, 3 2 ) ; Billerbeck,
a b

tamíd (Tamid V I I 3 ) . P o r t a n t o , aos s a c e r d o t e s d e s i g n a d o s p e l o sor- I I . 193. — Supra, p . 113, citei as p r o v a s q u e m o s t r a m c o m o os p r ó -


teio, acrescentavam-se três sacerdotes de m a n h ã , e q u a t r o à t a r d e . prios leigos i m o l a v a m a v í t i m a p a s c a l .
360. Yoma I I 7.
3 5 3 . Yoma II 5. 3 6 1 . Ibid.
354. Tamíd V 3.
recidas nesse s a n t u á r i o . Podemos t a m b é m deduzir que
m

vável que esse n ú m e r o c o m p r e e n d a o conjunto de levitas


a seção cotidiana de serviço, em tais circunstâncias, era
porteiros e guardiões em serviço no q u a d r o d e u m a seção
ajudada p a r a a oferta dos sacrifícios particulares, p o r ou-
h e b d o m a d á r i a . A esses g u a r d a s do T e m p l o juntavam-se os
tras seções cotidianas da mesma seção h e b d o m a d á r i a .
levitas cantores e músicos. Seu n ú m e r o e r a , i g u a l m e n t e ,
Se recapitularmos a d o c u m e n t a ç ã o e, em p r i m e i r o lu-
m u i t o elevado; podemos fixá-lo em 2 0 0 , já q u e , segundo
gar, as indicações n u m é r i c a s , concernentes aos serviços
a tradição de l C r 2 3 , 5 , o n ú m e r o de levitas porteiros e o
cotidianos p a r a a oferta dos sacrifícios públicos, n ã o caí-
de levitas cantores é o m e s m o . Chegamos, p o r t a n t o , a u m
m o s em exagero ao estimarmos em 50 o n ú m e r o dos sa-
n ú m e r o r e d o n d o de 4 0 0 X 24 — 9 . 6 0 0 levitas.
cerdotes de u m a seção cotidiana. U m a seção h e b d o m a d á -
Q u e esses n ú m e r o s — 7 . 2 0 0 sacerdotes e 9 . 6 0 0 le-
ria c o m p r e e n d i a , em média, seis seções c o t i d i a n a s ; te- m

vitas — sejam exatos, disso temos p r o v a evidente ao ve-


mos assim, a p r o x i m a d a m e n t e , 300 sacerdotes p a r a u m a
rificar a relação dos dois grupos graças aos n ú m e r o s for-
seção h e b d o m a d á r i a . Esse n ú m e r o apóia-se em dados c o m o
necidos por l C r 12,26-28. Conforme vimos , esse texto 369

este: o véu diante do Santo tendo-se m a n c h a d o , deve ser


m e n c i o n a 3 . 7 0 0 sacerdotes e 4 . 6 0 0 levitas; o n ú m e r o de
lançado n u m b a n h o , sendo necessária a presença de 300
levitas excedeu, pois, o dos sacerdotes q u a n d o , no início,
s a c e r d o t e s ' ; ou ainda: u m a vez, 300 sacerdotes trabalha-
3 4

após o exílio, constituíam visível m i n o r i a . Segundo l C r ,


r a m na vinha de o u r o que encimava a e n t r a d a do Santo . 365

p o r conseguinte, a p r o p o r ç ã o entre sacerdotes e levitas é


Essas duas indicações provêm de testemunhas b e m infor-
de 37 p a r a 4 6 . Para 9 6 0 0 levitas, o cálculo nos dá 7 . 7 2 2
m a d a s . A primeira p r o v é m de Shimeon, filho do coman-
sacerdotes, n ú m e r o p r ó x i m o , p o r t a n t o , dos 7 . 2 0 0 q u e obti-
dante do T e m p l o ; a segunda é atribuída a Eleazar ben
366

vemos p o r u m a informação t o t a l m e n t e diferente. Lembre-


Sadoc, sacerdote, escriba e negociante que vivia em Jeru-
mo-nos, enfim, de q u e , p a r t i n d o dos dados da carta do
salém, q u a n d o o T e m p l o ainda e x i s t i a . O n ú m e r o 300
36T

Pseudo-Aristeu, chegamos a u m total de 1 8 . 0 0 0 sacerdo-


não é, pois, inventado. Convém aí ver a m é d i a a p r o x i m a d a
tes e levitas , q u a n d o nosso segundo cálculo dá 7 . 2 0 0 +
370

de u m a seção h e b d o m a d á r i a , e teremos nossos cálculos


9 . 6 0 0 — 1 6 . 8 0 0 . C r e m o s ter a l c a n ç a d o , com a ajuda das
confirmados. Como havia 24 seções h e b d o m a d á r i a s , o nú-
fontes hoje disponíveis, a certeza histórica, difícil de se
m e r o total se elevava a 24 X 300 = 7 . 2 0 0 sacerdotes.
obter. N o t e m p o de Jesus havia, e n t r e os j u d e u s , u m clero
A esses se acrescentem os levitas.
q u e , no total, c o m p r e e n d i a , em n ú m e r o s r e d o n d o s , 1 8 . 0 0 0
O n ú m e r o de levitas, igualmente distribuídos e m 24 sacerdotes e l e v i t a s . 371

seções, era considerável. Segundo Josefo, teriam sido ne-


De propósito, somente agora cito u m texto de Josefo.
cessários 2 0 0 p a r a fechar as portas do T e m p l o \ é pro- 3 6

N ã o é u m texto claro, o q u e o t o r n a , p o r t a n t o , discutível,


362. Ant. X V f 2, 1 § 14 ( M a r c o s A g r i p a , o u t o n o 15 a . C . ) ; X V
11, 6, § 422 ( H e r o d e s , 10 a . C ) ; Fílon, Leg. ad Caium, § 356 (três 369 Supra, p p . 274s.
h e c a t o m b e s sob o r e i n a d o d e C a l í g u l a ) ; Lv. R. 3 , 5 s o b r e 1, 16 ( 9 a

3 7 0 . Supra, p . 274.
5 ) ; Oráculos sibilinos 111 576 e 626. 3 7 1 . £ a u m r e s u l t a d o s e m e l h a n t e q u e L. H e r z f e l d chega, m a s
363. V e r supra, p . 228, n . 119. p o r o u t r o c a m i n h o : Geschichte des Volhes Jisrael, I I I , N o r d h a u s e n ,
364. Sheq. V I I I 5. 1857. 193. P a r a o clero ele dá u m total dc 2 4 . 0 0 0 , baseando-se e m
365. Mid. I I I 8. três d o c u m e n t o s : a) o texto do j . Ta'an. I V 2, 6 7 46 (não t r a d u z i d o
d

366. Sheq. V I I I 5 (ed. p r í n c i p e do T a l m u d e de J e r u s a l é m , Ve- em I V / 1 , 178 q u e r e m e t e ao p a r . I I I / 2 , 4 7 ) b a r . , s e g u n d o o qual a


n e z a , 1523); Men. X I 9 ( v a r i a n t e : -f R a b b i ) S h i m e o n b e n ha-sagan. — " e s t a ç ã o " (leiga) de Jerusalém c o m p r e e n d i a 2 4 . 0 0 0 pessoas, a de Je-
b . Hul. 9 0 : R a b b i S h i m e o n ha-sagan. C o n v é m rejeitar essa ú l t i m a
b

ricó 1 2 . 0 0 0 ; b) u m a c a r t a apócrifa d e u m cônsul M a r c o s relativa à


v e r s ã o , pois é a m e n o s b e m c o m p r o v a d a e p o u c o p l a u s í v e l .
c e l e b r a ç ã o d o D i a das e x p i a ç õ e s fala de 2 4 . 0 0 0 sacerdotes; c) o texto
367. V e r Supra, p p . 161, 163, 2 0 1 . d e C. Ap. II 8, § 108 q u e vai ser i m e d i a t a m e n t e d i s c u t i d o . — B ü c b l e r ,
368. C. Ap. I I 9, § 119. Priester, 4 9 s ; b a s e a n d o - s e e m C. Ap. I I 8, § 108 e o P s e u d o - A r i s t e u ,
§ 95, c o n t a 2 0 . 0 0 0 s a c e r d o t e s .
exílio com Josué e Z o r o b a b e l constituíam ao todo u m dé-
m a s , p r e s e n t e m e n t e , não se p o d e duvidar de sua legitimi-
cimo do conjunto da c o m u n i d a d e ; essa p r o p o r ç ã o é per-
375

d a d e . N u m a passagem de seu Contra Apion, passagem con-


feitamente plausível. P o r t a n t o , segundo o nosso cálculo,
servada somente em latim, Josefo exprime-se assim : " H á 372

a Palestina do tempo de Jesus tinha u m a p o p u l a ç ã o ju-


quatro tribos de sacerdotes; cada u m a c o m p r e e n d e mais d e
daica de 10 X 5 0 . 0 0 0 [ou 6 0 . 0 0 0 ] = a p r o x i m a d a m e n t e
5 . 0 0 0 m e m b r o s . T o d a v i a , estão em serviço u m só dia;
5 0 0 a 6 0 0 . 0 0 0 . N a m i n h a opinião, esse n ú m e r o é mais
depois, outros os s u b s t i t u e m " . N ã o há d ú v i d a de q u e as
provável do q u e o milhão muitas vezes admitido \ Assim, 3 7

últimas palavras se referem às seções h e b d o m a d á r i a s . Po-


por exemplo, segundo os n ú m e r o s oficiais do governo 377

demos, pois, supor q u a n t o ao " q u a t r o " u m a c o r r u p ç ã o


do m a n d a t o britânico para 1 9 2 6 , a Palestina contava com
textual e a conjetura de que existia, p r i m i t i v a m e n t e , " v i n t e
8 6 5 . 0 0 0 h a b i t a n t e s . Nesse total estão incluídos a Trans-
e q u a t r o " , p o r t a n t o , que fosefo p r e t e n d e u fazer crer a
j o r d â n í a , a Samaria e outros territórios q u e , na época de
seus leitores — n u m de seus exageros — que havia 24 X
Jesus, e r a m habitados principal ou exclusivamente por não-
5 . 0 0 0 = 1 2 0 . 0 0 0 sacerdotes . Nosso resultado prece-
373

-judeus, assim como 1 0 3 . 0 0 0 b e d u í n o s n ô m a d e s . A hipó-


dente convida, p o r é m , a u m a delimitação e n ã o p e r m i t e
tese de u m milhão de j u d e u s na Palestina no t e m p o de
rejeitar p r e c i p i t a d a m e n t e o n ú m e r o 4 X 5 . 0 0 0 = 2 0 . 0 0 0 .
Jesus faria, pois, deduzir que a Palestina daquela época
E m todo caso, podemos supor que Josefo nesta passagem
era d u a s vezes mais p o v o a d a do que em 1 9 2 6 . É absolu-
t e n h a em mira uma divisão q u a d r i p a r t i d a do clero; o ter-
t a m e n t e inverossímil. Pelo c o n t r á r i o , u m a p o p u l a ç ã o ju-
mo " t r i b o " (tribus), que ele não e m p r e g o u em n e n h u m
daica de 5 0 0 a 6 0 0 . 0 0 0 c o r r e s p o n d e à densidade da po-
outro lugar p a r a designar a seção h e b d o m a d á r i a , confirma
p u l a ç ã o da Palestina após a Primeira G u e r r a m u n d i a l . 378

essa hipótese. C o m efeito, Tos. Ta'an. II 1 (216-12) mos-


Esse fato constitui u m novo e definitivo conjirmatur do
tra como as q u a t r o seções de sacerdotes, de volta do exílio,
n ú m e r o 1 8 . 0 0 0 obtido q u a n t o ao total do clero, excluindo¬
segundo Esdras-Neemias 374
teriam sido repartidas em 24
-se mulheres e crianças.
seções h e b d o m a d á r i a s pelos profetas de Jerusalém; em se-
guida, ter-se-iam f o r m a d o , por sorteio, q u a t r o grupos, com- N a s 24 semanas e ainda nas três festas anuais de pe-
p r e e n d e n d o , cada u m , 6 seções semanais. Essa indicação regrinação, cada seção sacerdotal h e b d o m a d á r i a , contan-
permite supor que a antiga divisão q u a d r i p a r t i d a do clero do seguramente com 3 0 0 sacerdotes e 400 levitas e à qual
conservou-se até o século I de nossa era n a t r a d i ç ã o sa- se j u n t a v a u m g r u p o de representantes leigos de seu dis-
cerdotal, como esquema de distribuição do conjunto do trito subia a Jerusalém p a r a exercer sua função de u m
clero. Se isso é exato, o n ú m e r o 2 0 . 0 0 0 , d e d u z i d o desse sábado a outro. A seção entregava-lhe solenemente as cha-
texto, confirma o nosso resultado. ves do T e m p l o e os 93 objetos necessários p a r a o sacrifí-
cio . Foi assim que, nos últimos anos do r e i n a d o de He-
3S0

O conhecimento que temos do n ú m e r o de elementos


que constituíam o clero é m u i t o i m p o r t a n t e p a r a avaliar 375. Esd 2,36-42, c o m p a r a d o com 2,64 ( = N e 7,39-45.66).
a p o p u l a ç ã o palestinense na época de Jesus; vejamo-la p e l o 376. P o r e x e m p l o , R. K n o p f e H . W e i n e t , Einführuitg in das N.T.,
menos a título de c o m p l e m e n t o . Os sacerdotes e os levitas, 2- ed., G i e s s e n 1923, 182: " n a estimativa mais plausível, a Transjor-
d à n i a i n c l u í d a , n ã o c h e g a v a a u m m i l h ã o de j u d e u s " .
com mulheres e filhos, deviam representar algo como 50 3 7 7 . ZDPV 51 ( 1 9 2 8 ) , 238.
ou 6 0 . 0 0 0 pessoas. O s sacerdotes e os levitas de volta do 378. A . v. H a r n a c k , Die Mission und Ausbreitung des Christentums,
4- ed., I, Leipzig, 1924, 12, calcula, c o m r a z ã o , cerca de 5 0 0 . 0 0 0 ju-
d e u s n a P a l e s t i n a d o t e m p o de Jesus.
372. C. Ap. II 8, § 108. 379. Cf. cm Bik. 2 o relato d a viagem a Jerusalém p a r a levar as
373. S c h ü r e r , I I , ?,88s. Leia-se tribus quattuor (scil. viginti). p r i m í c i a s ; p o r vezes, t o d a a p o p u l a ç ã o d e u m d i s t r i t o d e u m a s e ç ã o
374. S e g u n d o Esd 2,36-39 = N e 7,39-42, q u a t r o famílias s a c e r d o - s a c e r d o t a l h e b d o m a d á r i a se dirigia c o m ela p a r a J e r u s a l é m .
tais v o l t a r a m do exílio c o m Z o r o b a b e l e Josué. A i n d a n a é p o c a de
Esd 10.18-22, elas f o r m a v a m o c o n j u n t o d o clero. 380. C. Ap. I I 8, § 108.
rodes, a seção h e b d o m a d á r i a de Abia, que tinha o oitavo
indica, u m comércio de ó l e o , u m sacerdote de Jerusa-
3S7

lugar, p a r t i u da m o n t a n h a da Judéia ao T e m p l o . N o dia


381

lém do q u a l e n c o n t r a r e m o s mais a d i a n t e (p. 300) u m fi-


de serviço de sua seção cotidiana, o sacerdote Z a c a r i a s
lho Z a c a r i a s , era açougueiro n a C i d a d e s a n t a ; o sa- 338

fora designado p a r a a função privilegiada d a oferta do sa-


cerdote Eleazar ben Azarias era criador de g a d o ; final-
crifício dos perfumes, ou mais exatamente, do tamíd da
m e n t e , p o d e r í a m o s t o r n a r a falar de u m g r a n d e n ú m e r o
tarde . Foi nesse m o m e n t o que o Anjo do Senhor lhe
382

de sacerdotes que e r a m escribas.


apareceu no Santo.
E m muitos lugares, os sacerdotes t i n h a m u m a função
As funções cultuais dos sacerdotes achavam-se, p o i s , nos tribunais de justiça, sem d ú v i d a q u a s e sempre a título
p r a t i c a m e n t e limitadas a duas semanas por a n o , e às três h o n o r á r i o . O r a , ali e r a m c h a m a d o s e m consideração a
m

festas anuais de peregrinação. Os sacerdotes viviam em seu estado sacerdotal , ora por causa de sua formação
390

suas casas 10 a 11 meses (conforme a distância entre o de escribas, na medida em q u e e r a m categorizados ou, 391

domicílio e Jerusalém, a viagem de ida e volta, feita cinco enfim, p a r a c u m p r i r o preceito bíblico. Com efeito, quan-
vezes por a n o , exigia tempo de d u r a ç ã o diversa). Só m u i t o to à estimação nas questões de votos, por exemplo, con-
ocasionalmente exerciam u m a atividade sacerdotal. E r a o forme o preceito bíblico que confiava a apreciação ao sa-
sacerdote, p o r exemplo, que declarava p u r o u m leproso cerdote, esse devia, n o r m a l m e n t e , c o m p a r e c e r ao tribu-
após a sua c u r a , antes que esse fosse a Jerusalém; lá,
3 8 i
nal 392
p a r a defender os interesses d o T e m p l o , ao qual
após ter oferecido o sacrifício de purificação prescrito, convergia o equivalente das coisas dedicadas a D e u s , q u e r
seria definitivamente declarado p u r o . O s dízimos e outras dizer, ao T e m p l o . A o lado dos sacerdotes do c a m p o
3 9 3

taxas particulares constituíam a renda dos sacerdotes, mas providos de u m a formação escriturística a p r o f u n d a d a e
insuficientes p a r a permitir-lhes levar, no resto do a n o , Lima que, c o m o conta Fílon, viam-se encarregados do serviço
vida ociosa . Pelo contrário, os sacerdotes e r a m obriga-
384
sinagogal \ a leitura e a explicação da Lei , havia os
l 9 395

dos a exercer u m a profissão o n d e residiam; tratava-se prin- que e r a m incultos e isso se c o m p r e e n d e .


396

cipalmente de t r a b a l h o m a n u a l . Herodes e n c a m i n h o u , p a r a Conforme m e n c i o n a m o s a c i m a , havia profundos J 9 7

o ofício de carpinteiro e canteiro, mil sacerdotes; por oca- contrastes entre a g r a n d e massa dos sacerdotes e os che-
sião da reconstrução do T e m p l o empregou-os no átrio dos
sacerdotes e p a r a a construção do santuário, só p o d i a m ser 387. T o s . Besa I I I 8 (205, 2 6 ) . A c o m p a r a ç ã o d e s t e texto c o m
b . Besa 2 9 b a r . p e r m i t e s u p o r se t r a t a r de u m c o m é r c i o de azeite.
a

contratados os q u e e r a m sacerdotes . Já e n c o n t r a m o s 385


388. Ket, II 9.
Fani, sacerdote talhador de p e d r a s ; rabi Eleazar b e n m
389. b. Yona 26 .
a

390. C. Ap. I I 2 1 , § 187.


Sadoc m a n t i n h a u m comércio em Jerusalém, e ao que t u d o
391. b . Yoma 2 6 . Visto os textos v e t e r o t e s t a m e n t ã r i o s c o m o Dt
a

17,9-13;21,5; Ez 44,24; l C r 23,4 cf. 26,29; Ecl 45,17, s e g u n d o os q u a i s


os juízes s a í a m d o c l e r o ; é m u i t o p r o v á v e l q u e , a i n d a mais t a r d e , se
381. C o m C h . C. T o r r e y e m HThR 17 ( 1 9 2 4 ) , 83ss, c o n s i d e r o em n o m e a s s e m s a c e r d o t e s p a r a a função de juízes. M a s nos ú l t i m o s sé-
Lc 1,39 eis polin Ioúda c o m o u m erro d e t r a d u ç ã o ; p o r i n a d v e r t ê n c i a culos a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o , é a f o r m a ç ã o de escribas q u e
m dlnah
e
foi t r a d u z i d o p o r " c i d a d e " e m vez d e " p r o v í n c i a " . d e t e r m i n a v a a h a b i l i t a ç ã o à função de juiz.
382. Lc 1,5.8.9. — Lc 1,10 c o m p a r a d o c o m At 3,1 d á a e n t e n d e r 392. Sanh. I 3 ; c o m b a s e n a p r e s c r i ç ã o d e Lv 27,12.
q u e se t r a t a d o sacrifício v e s p e r t i n o . 393. D i f e r e n t e d o " b a n h o " (herem), q u a n d o a oferta devia ser
383. M t 8,4; L c 17,14. O l e p r o s o devia de i m e d i a t o apftesentar-se e n t r e g u e in natura.
ao s a c e r d o t e local. Essa p r e s c r i ç ã o se e n c o n t r a e m T o s . Neg. V I I I 2 394. Billerbeck, I V , 153ss.
(628, 7 ) ; j . Sota II 2, 1 8 11 ( I V / 3 , 2 4 6 ) , a l é m de Sifra
a
Lv H , 3 ( 3 4 c

395. A p a s s a g e m de Fílon é c i t a d a p o r E u s é b i o . Proep. ev. V I I I


135, 20) e passim. 7, 12-13 (GCS 4 3 , I 4 3 1 s ) .
384. Cf. supra, pp. 154s. 396. S e g u n d o Josefo (B. /. I V 3, 8, § 1 5 5 ) , F a n i q u e os zelotas
385. A n t . X V 1, 2, § 390. e l e g e r a m s u m o s a c e r d o t e p o r sorteio era t ã o r u d e q u e n ã o sabia se-
386. Supra, p. 264, n. 295. q u e r e m q u e consistia a f u n ç ã o de s u m o s a c e r d o t e .
397. Supra, p p . 249s.
fes dos sacerdotes pertencentes, em sua m a i o r i a , à aristo- tas, isto é, dois vigilantes-chefes dos levitas músicos (um
cracia sacerdotal. N ã o é, pois, de a d m i r a r que a multi- p r i m e i r o chefe e u m mestre de coro) e dois vigilantes-
dão de sacerdotes, de acordo com a jovem m e n t a l i d a d e in- -chefes dos levitas servidores do T e m p l o (um chefe por-
sensata da aristocracia — totalmente diversa do resto do teiro e u m g u a r d i ã o , outrora c h a m a d o vigia dos lülab
clero que compreendia verdadeiras notabilidades — te-
398
p a r a a festa das T e n d a s ) . Isso correspondia à divisão dos
nha-se m a n c o m u n a d o c o m o p o v o , q u a n d o e m 6 d.C. es- levitas em músicos e servidores do T e m p l o ; esses dois
tourou a revolta contra os r o m a n o s . grupos e r a m quase iguais em n ú m e r o . 404

O s cantores e os músicos constituíam a classe supe-


rior dos levitas; somente p a r a eles era exigida a p r o v a
de u m a origem sem m á c u l a , q u a n d o desejavam ser no-
E. OS LEVITAS (CLERUS M I N O R ) meados p a r a o p o s t o . T i n h a m p o r função o acompa-
40s

n h a m e n t o musical do culto diário, c a n t a n d o e tocando


i n s t r u m e n t o s , p e l a m a n h ã e à tarde, e por ocasião de fes-
Os levitas, descendentes dos sacerdotes de postos al- tas particulares.
tos, destituídos pelo D e u t e r o n ô m i o , constituíam o b a i x o N o serviço cotidiano, o chefe do coro dos levitas e
clero. Em. princípio, p a s s a v a m por descendentes de Levi, os levitas músicos e cantores , assim como dois a doze
406

um. dos doze patriarcas das tribos de Israel; a relação de- tocadores de flauta n a Páscoa e na festa das Tendas , 407

les com os sacerdotes era assim r e p r e s e n t a d a : esses, en- colocavam-se sobre u m estrado q u e formava a separação
q u a n t o descendentes de A a r ã o , o levita, f o r m a v a m a clas- entre o átrio dos sacerdotes e o dos israelitas; achava-se
se privilegiada no seio dos descendentes de Levi; por sua a u m côvado acima do átrio dos israelitas, a u m côvado e
vez, os sumos sacerdotes legítimos, e n q u a n t o descendentes meio abaixo do átrio dos sacerdotes . D u r a n t e as alegres
408

de Sadoc, o aaronita, f o r m a v a m a classe privilegiada no cerimônias n o t u r n a s que faziam parte da festa das T e n d a s ,
seio do sacerdócio. Os levitas, e n q u a n t o clerus minor e r a m , u m -considerável coro d e levitas cantava, de pé, nos quin-
pois, inferiores aos sacerdotes e, como tais, não participa- ze degraus que levavam do átrio das mulheres ao dos is-
v a m do serviço sacrificai; encarregavam-se somente da raelitas . Jamais, p o r é m , os levitas músicos o c u p a v a m
409

música do T e m p l o e dos serviços inferiores do s a n t u á r i o . lugar no átrio dos sacerdotes exclusivamente p a r a eles re-
U m fato é característico de sua posição: como aos leigos, servado; apenas p o d i a m , como q u a l q u e r leigo, e n t r a r nesse
era-lhes proibido, sob pena de m o r t e , p e n e t r a r no edifí- átrio dos sacerdotes p a r a oferecer u m sacrifício °. 41

cio do T e m p l o e chegar até o altar . m

Os serventes do Templo incumbiam-se das funções


Os levitas, em n ú m e r o a p r o x i m a d o de 1 0 . 0 0 0 °, 40
inferiores de sacristãos; consistiam e m toda espécie de
achavam-se, como os sacerdotes, repartidos em 24 seções serviços anexos ao culto. D e v i a m , p o r exemplo, ajudar os
h e b d o m a d á r i a s ; revezavam-se a cada semana p a r a o ser-
401
sacerdotes a vestir e despir suas vestes sacerdotais: "Eles
viço e cada u m a tinha s e u ' c h e f e . Conforme vimos ,
402 403
[os sacerdotes q u e n ã o t i n h a m sido designados pelo sor-
existiam no T e m p l o q u a t r o postos p e r m a n e n t e s de levi-
4 0 4 . Cf. supra, p . 2 7 8 .
398. B. j . I I 17, 2ss, § 408ss. 405. V e r n a p a r t e seguinte, s o b r e o caráter hereditário do sacer-
399. N m 18,3; Nm. R. 7, 8 s o b r e 5, 2 ( 3 7 1 6 ) .
a dócio, as p p . . . .
400. Cf. supra, p . 279. 406. 'Ar. II 6. N ã o d e v e r i a h a v e r m e n o s d o q u e doze cantores.
401. Ant. V I I 14, 7, § 367; Ta'an. I V 2; T o s . Ta'an. IV 2 (219, 4 0 7 . 'Ar. I I 3-4; Sukka V 1; T o s . 'Ar. I 15 (544, 7 ) .
408. Mid. II 6, B. j . V 5, 6, § 226.
402. l C r 15, 4-12. 409. Sukka V 4.
403. Supra, p . 240. 4 1 0 . Kel. I 8.
teio ao serviço e que se v i a m , por conseguinte, livres] en- zona profana, isto é, nas portas externas e n o átrio dos
tregavam-nas aos hazzantm [serventes do T e m p l o ] que lhes g e n t i o s ; e r a m os sacerdotes que g u a r d a v a m a zona sa-
4l9

r e t i r a v a m as túnicas [ b r a n c a s , de l i n h o ] " . A j u d a v a m
4 1 1
grada . Além disso, a polícia do T e m p l o , constituída por
420

t a m b é m e m outras circunstâncias; nos dias de festa pre- levitas, era c h a m a d a p a r a diversas operações policiais.
p a r a v a m o livro da Lei p a r a a leitura b í b l i c a e empi-
412
Mantinha-se à disposição do Sinédrio que se reunia na
l h a v a m os lülab na festa das T e n d a s , q u a n d o o p r i m e i r o Sala das p e d r a s t a l h a d a s , u m dos cômodos a sudeste do
dia dessa festa caía n u m s á b a d o . Além disso, esses ser-
413
átrio dos s a c e r d o t e s . Sob as o r d e n s dos vigilantes do
421

ventes c u i d a v a m da limpeza , mas aí t a m b é m , com ex-


414
T e m p l o , essa polícia t i n h a a u t o r i d a d e p a r a p r e n d e r e, s o b
ceção do átrio dos sacerdotes do qual os próprios sacer- a orientação do g u a r d a , levava à execução as penalida-
m

dotes se e n c a r r e g a v a m . Os levitas só p o d i a m p e n e t r a r
41s
des infligidas.
nele p a r a oferecer u m sacrifício , Constituíam ainda, p o r
4I6
Se nos lembrarmos de que o Sinédrio funcionava no
fim, a polícia do T e m p l o . T e m p l o , n ã o podemos d u v i d a r de q u e a seção proposta
Fílon descreve, d e t a l h a d a m e n t e , as suas funções: " E n - p o r essa a u t o r i d a d e p a r a p r e n d e r Jesus (Mc 1 4 , 4 3 ; Mt
tre eles [os levitas] u n s , porteiros, mantêm-se junto às 2 6 , 4 7 ; Lc 2 2 , 4 7 ; Jo 18,3.12) e c o m a n d a d a pelos chefes
portas, n a p r ó p r i a soleira; outros, do lado de dentro [da da g u a r d a d o T e m p l o (Lc 2 2 , 5 2 ) era c o m p o s t a p o r essa
esplanada do T e m p l o ] , no p r o n a u s [no m u r o , hêl, q u e polícia levítíca, reforçada pela corte do sumo sacerdote
delimita a p a r t e da esplanada o n d e os pagãos n ã o p o d e m em exercício (Mc 14,17 par.) e t a m b é m , segundo João,
p e n e t r a r ] ; interceptam a e n t r a d a a q u a l q u e r pessoa q u e por soldados romanos (Jo 18,3.12). De m o d o muito exato
sem o direito de transpô-la o faça intencionalmente ou Jo 18,18 distingue, pois, os guardas [do sumo sacerdote]
n ã o . O u t r o s fazem a patrulha ao redor. O [serviço p a r a e os servidores [polícia levítica do T e m p l o ] . Além disso,
o] dia e a noite é sorteado, segundo u m a o r d e m [deter- as palavras repletas de censura de Jesus, ao dizer no mo-
m i n a d a de molde a serem os guardas divididos] em guar- m e n t o d e sua prisão, q u e ele ali estava todos os dias n o
das do dia e guardas da n o i t e " . Dessa descrição suges-
4 1 7
átrio [exterior] do T e m p l o a ensiná-los sem q u e o tives-
tiva, completada por Mid. I 1, deduz-se q u e a vigilância sem p r e n d i d o (Mc 14,18), só são compreensíveis se tiver
do T e m p l o , assegurada pelos levitas d u r a n t e o dia c o m o sido preso pela polícia do T e m p l o . É preciso considerar
d u r a n t e a noite, compunha-se de três grupos: a) porteiros t a m b é m , como polícia levítíca do T e m p l o , os guardas já
das portas externas do T e m p l o ; b) guardas da " m u r a l h a " ; antes enviados pelo Sinédrio p a r a p r e n d e r Jesus (Jo 7,32.
c) p a t r u l h a s do átrio dos gentios e, de dia, sem d ú v i d a , 4 5 . 4 6 ) . O m e s m o se dá c o m as pessoas q u e , sob a o r d e m
t a m b é m do átrio das mulheres. À noite, os levitas serven-
tes do T e m p l o fechavam as portas sob a vigilância do 4 1 9 . Mid. I 1. D e d u z - s e de Tamid I 3 q u e , à n o i t e , o átrio das
porteiro-chefe . E m seguida, os guardas da noite ocupa-
41S m u l h e r e s n o q u a l se e n c o n t r a v a a p a d a r i a o n d e e r a m p r e p a r a d o s os
bolos na cinza p a r a a oferta d o s u m o s a c e r d o t e estava f e c h a d a e fazia
v a m seus postos, em n ú m e r o de 2 1 , todos situados na p a r t e d o setor g u a r d a d o pelos s a c e r d o t e s .
420. Mid. I 1; Tamid I 1.
4 2 1 . C o n f o r m e a M i s h n a , d e m o d o m u i t o p r e c i s o (Mid. V 5; cf.
4 1 1 . Tamid V 3 . Sin. X I 2 ; Tamid I I 5; I V 3 f i m ) . S e g u n d o b. 'A. Z, 8 , p a r b . Shab.
b

412. Yoma V I I 1; Sota V I I 7-8. 1 5 ; b . Sanh. 4 1 , o S i n é d r i o se transferiu "40 a n o s " ( n ú m e r o redon-


a a

4 1 3 . Sukka I V 4 ; cf. supra, p . 235s, a m o d i f i c a ç ã o deste r i t o . d o ) a n t e s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o d a Sala d a s p e d r a s t a l h a d a s p a r a


414. Fílon, De spec. leg. I, § 156: " O u t r o s v a r r e m os p ó r t i c o s e u m Bazar. Se j o s e f o p e n s a q u e a boulê (ou o bouleutérion) encostado
as p a r t e s d a e s p l a n a d a q u e ficam ao r e l e n t o " . ao S a n t u á r i o ao l a d o d o oeste (B. j . V 4, 2, § 144; V I 6, 3, § 354)
415. Pes. V 8. é o S i n é d r i o , s u p õ e essa m u d a n ç a c o m o já r e a l i z a d a ; assim, t a m b é m ,
416. Kel. I 8. p r o v a v e l m e n t e , At 23,10. N ã o d i s p o m o s , p o r é m , de n e n h u m a r g u m e n -
417. De spec. leg. I, § 156. to p a r a dizer se essa transferência já estava feita n a é p o c a d e ] e s u s .
418. C. Ap. I I 9, § 119, B. /', 5, 3, § 294; b . 'Ar. l l . b

422. V e r supra, p . 237, n. 238 e p . 2 4 1 .

SÊffllNAfUO KORUORDIft.
" d o s sacerdotes e do c o m a n d a n t e do T e m p l o , assim como do Templo, contrariamente ao que sempre se supôs '. Birah 427

dos s a d u c e u s " (At 4 , 1 ) , p r e n d e m os apóstolos p a r a fazê-los é a fortaleza ao norte do Templo, a Antônia, e A. Schlatter
c o m p a r e c e r d i a n t e d o Sinédrio (At 4 , 5 . 1 2 ; 5 , 1 7 - 1 8 ) , q u e bem viu que esta personagem, no tempo da independência,
vigiam os apóstolos na prisão (5,23 p a r t i c u l a r m e n t e v. 24) sob Agripa I (41-44 d . C ) , comandava a fortaleza Antônia . 428

e que lhes b a t e m com varas (5,40). Finalmente, os h o m e n s Com isso, concorda o fato de ser contemporâneo de Rabban
q u e , por ocasião do levante p o p u l a r i n d u z i n d o a prisão Gamaliel I; como sabemos pelos Atos dos Apóstolos (At 5,34¬
d e P a u l o , arrastam-no fora do " s a n t u á r i o " , isto é, d o Tem- -39), esse doutor estava em plena atividade nos anos 30 e 40,
e talvez ainda nos anos 40 a 50 de nossa era . O 'is ha-bírat 429

plo (At 2 1 , 3 0 ) , levando-o do átrio dos gentios ao das mulhe-


é, pois, um comandante militar e não um dos chefes dos sa-
res, são evidentemente policiais do T e m p l o , ou m e l h o r , cerdotes ou um dos chefes dos levitas. É igualmente errado,
corpos de guarda levíticos estacionados, d u r a n t e o dia, ao como tantas vezes se repete ™, ver os pahôt como chefes dos
pé d a " m u r a d a " . sacerdotes ou vigilantes do Templo. Para tanto, apoiamo-nos
Além do porteiro-chefe e do g u a r d i ã o , cita-se como em Bik. III 3 onde é dito que os pahôt, com os vigilantes do
chefe dos levitas servidores do T e m p l o o 'ís har ha-bayit, Templo e os chefes dos tesoureiros, vêm ao encontro das pro-
" o homem da m o n t a n h a do T e m p l o " . Segundo a M i s h n a . 21 cissões das primícias à sua entrada em Jerusalém. Por toda a
parte e sempre, no Antigo Testamento como noutros lugares,
corpos d e vigia d a seção levítíca h e b d o m a d á r i a m o n t a v a m
a palavra pehah designa apenas o pachá, o comandante que
guarda no átrio externo. " O h o m e m da m o n t a n h a do T e m p l o " dispõe do poder militar. O contexto de Bik. III 3 mostra 43i

vinha inspecioná-los todas as noites; cada c o m p o n e n t e d a que essa passagem descreve um evento do reino de Agripa I,
guarda devia saudá-lo com o c u m p r i m e n t o da paz p a r a portanto, de uma época onde havia judeus comandantes mi-
mostrar-lhe que não d o r m i a . Se o chefe encontrasse u m litares e funcionários de Estado. No Oriente, é óbvio que esses
deles a d o r m e c i d o , batia-lhe com seu bastão; tinha m e s m o comandantes vêm, com os chefes dos sacerdotes, à frente da
o direito de despertá-lo b r u t a l m e n t e , a t e a n d o fogo e m sua procissão. Em 1913, vi o pachá turco, em companhia das su-
roupa . Sem dúvida, é o m e s m o funcionário que a p a r e c e
m
midades religiosas muçulmanas, ir ao encontro dos peregrinos
no relato onde Josefo nos conta que certa noite, d u r a n t e da festa de Nébi-Musa que entravam em Jerusalém.
a festa da Páscoa de 66 d . C , os levitas guardas do Tem-
plo avisaram a seu vigilante (íô sírategô) que a P o r t a de D o p o n t o de vista social h a v i a u m abismo entre os músicos
N i c a n o r encontrava-se aberta . É-nos d a d o supor q u e esse
424
e servidores do T e m p l o , o q u e se explica pela evolução
chefe dos corpos levíticos da noite é idêntico ao chefe-por- histórica. A i n d a no t e m p o de E s d r a s , n e m os " c a n t o r e s "
t e i r o . Enfim, convém seguramente ver t a m b é m os chefes
425
n e m os " p o r t e i r o s " faziam p a r t e d a corporação dos levi-
dos levitas guardas do T e m p l o nos stralegoí com os q u a i s ,
segundo Lc 2 2 , 4 , a p r i s ã o de Jesus é decidida e sob o 427. S c h ü r e r , I I , 3 3 1 , atribui-lhe a vigilância d o T e m p l o i n t e i r o .
m a n d o dos qLiais, segundo Lc 2 2 , 5 2 , Jesus é l e v a d o . Com 428. S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 271 e n . 2 4 3 .
429. S e g u n d o M . Mielziner, Introduction to the Talrnud, 3° ed.,
efeito, conforme acabamos de ver, Josefo designa o chefe N o v a I o r q u e , 1925, 24, G a m a l i e l m o r r e u 18 anos antes d a d e s t r u i ç ã o
da guarda levítica da noite pelo termo strategós. d o T e m p l o , p o r t a n t o e m 52 d . C ; Bilíerbeck, I I , 636 situa sua ativi-
d a d e e m 25-50 d . C .
Em contrapartida, o Ts ha-bírah, comandante da Fortaleza 430. E x p l i c a ç ã o de M a i m ô n i d e s : " o s pahôt são s ganime
sacerdotes";
J. T. R a b e , Mischnah, t. I. O n o l z b a c h , 1760, 2 6 5 : "os s a c e r d o t e s m a i s
do Templo , nada tem a ver com os funcionários vigilantes
426

e m i n e n t e s " ; A. S a m m t e r , Mischnajoth, t. I, Berlim, 1887, 192: "os re-


p r e s e n t a n t e s dos s a c e r d o t e s " ; K . A í b r e c h t , Bikkurim (col. Die Mischna),
423. Mid. I 1-2. G i e s s e n , 1922, 4 3 : "os r e p r e s e n t a n t e s dos s a c e r d o t e s " ; S c h ü r e r , I I , 322
e Bilíerbeck, I I , 6 3 1 : "os chefes dos s a c e r d o t e s " ; Bilíerbeck, I V , 644:
4 2 4 . B. j . V I 5, 3 , § 2 9 4 . "os chefes dos s a c e r d o t e s [ ? c o m a n d a n t e s ] " . Esse p a r ê n t e s e c o n t é m a
425. O u ao esbirro (opinião d e I. M. Jost, Geschichte des juden¬ solução exata.
thums und seiner Seden I, Leipzig, 1857, 151s e 152, n . 4. 4 3 1 . Bik. I I I 4 .
426. 'Orla II 12.

10 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
tas , pois n ã o pertenciam a famílias levíticas . Os can-
432 433
n h a m esses, em 6 2 , e n v i a d o u m a e m b a i x a d a ao i m p e r a d o r
tores foram os primeiros a obter sua integração n a cor- q u e lhes dera razão na sua luta contra o rei . C o m o 438

p o r a ç ã o dos levitas (Ne l l , 1 7 . 2 2 - 2 3 ; 1 2 , 8 - 9 . 2 4 - 2 5 ) e, di- acordo d o Sinédrio, Agripa II c o n c e d e u , pois, aos levitas,
ferentemente dos porteiros, a d q u i r i r a m , desde e n t ã o , o ní- o que pleiteavam. O povo considerou, p o r é m , c o m o u m a
vel superior entre os levitas. O abismo que separava os infração à lei dos antepassados essa n o v a organização da
dois grupos no t e m p o de Jesus é b e m definido n a seguinte o r d e m social dos levitas. Vemos de n o v o confirmado que
frase: "Possuímos uma tradição reconhecida segundo a os músicos constituíam a c a m a d a superior dos levitas; lu-
q u a l u m músico é passível de p e n a de morte se faz o ser- t a r a m p o r obter igualdade com os sacerdotes, e n q u a n t o os
viço das p o r t a s p a r a seus c o m p a n h e i r o s [levitas] " *. N a 4J
porteiros aspiravam a ser iguais aos músicos. A atmosfera
p r á t i c a , é v e r d a d e , o rigor n ã o era tão g r a n d e . Eis o q u e revolucionária dos anos 60 lhes concedeu, por u m b r e v e
relata u m a baraíta inserida na mesma passagem: " U m dia, período de seis anos, a satisfação parcial de seus desejos.
R. Yoshua b e n H a n a n y a [levita e escriba] quis ajudar Contamos com escassas informações a respeito da for-
Y o h a n a n b e n G u d g e d a [levita, porteiro-chefe] a fechar m a ç ã o dos levitas. O levita José B a r n a b é , u m dos mem-
as p o r t a s . Y o h a n a n disse-lhe: ' M e u filho, volta, pois tu bros dirigentes da cristandade primitiva como profeta, dou-
pertences [à classe] dos músicos e não à dos servidores tor e missionário, era h o m e m de valor n o c a m p o intelec-
do T e m p l o [literalmente: dos p o r t e i r o s ] ' " . 4 3 S
tual e possuía b o a formação bíblica ; originário de Chipre
439

(At 4 , 3 6 ) , seu pai era, e v i d e n t e m e n t e , u m daqueles levi-


Nesse contexto, u m a luta de classes que os levitas
tas que n ã o exerciam seu serviço em Jerusalém, ao q u e ,
em 64 d.C. e m p r e e n d e r a m com sucesso é ilustrativa. L a n ç a
aliás, ninguém se via o b r i g a d o . Sabemos que muitos le-
luz sobre a separação no seio dos levitas, mas t a m b é m
vitas e r a m escribas , como, por e x e m p l o , Y o s h u a b e n
440

sobre o ressentimento desses contra os sacerdotes e sobre


H a n a n y a q u e , em sua vida p a r t i c u l a r , como profissional,
a atmosfera revolucionária dos anos agitados que prece-
fabricava pregos, e o porteiro-chefe Y o h a n a n ben G u d g e d a .
d e r a m a revolta r o m a n a . Os levitas músicos, os " c a n t o r e s
dos s a l m o s " , diz Josefo, exigiram do rei Agripa I I , a q u e m C o m o dissemos, as informações sobre os levitas são
os r o m a n o s t i n h a m confiado a vigilância do T e m p l o , p o d e r m u i t o e s p o r á d i c a s ; suficientes, e n t r e t a n t o , p a r a nos tra-
441

usar d a í por diante a veste de linho b r a n c o dos sacerdo- çarem u m esquema da situação social dessa fração inferior
tes — até e n t ã o os levitas não t i n h a m u m traje oficial —; 436 do clero.
q u a n t o aos levitas servidores do T e m p l o , r e i v i n d i c a r a m o
direito " d e p o d e r aprender os h i n o s " , neste caso o p o d e r
de ficarem em pé de igualdade com os levitas músicos . 437

Agripa I I estava então em conflito com os sacerdotes; ti- F. O CARÁTER H E R E D I T Á R I O D O SACERDÓCIO

432. Esd 2,40-42;7,7.24; 10,23-24; N e 10,29 e passim.


4 3 3 . O s c o r a í t a s , p o r e x e m p l o , e r a m , p r i m i t i v a m e n t e , de descen- A c a b a m o s de esboçar u m q u a d r o do clero de Jerusa-
dência e d o m i t a s e g u n d o C n 36,5.14-18; l C r 1,35. D e s c e n d i a m de Ca- lém, segundo a sua estrutura social. Seria incompleta se,
leb s e g u n d o l C r 2,42-43. E m a m b o s os casos e r a m , pois, não-israelitas.
E m c o n t r a p a r t i d a , s e g u n d o l C r 12,6, e r a m b e n j a m i n i t a s . F o r a m em- p a r a terminar, n ã o disséssemos a l g u m a s palavras sobre o
p r e g a d o s , i n i c i a l m e n t e , c o m o p o r t e i r o s ( l C r 26,í.19;9,19; 2Cr 3 1 , 1 4 ) , caráter hereditário do sacerdócio,
d e p o i s c o m o c a n t o r e s (2Cr 20,19; SI 4 2 4 9 ; 8 4 - 8 5 ; 8 7 - 8 8 ) .
434. b . 'Ar. t l . b

435. ibid. 438. Ant. X X 8, 11, § 189ss.


456. Cf. o T a r g u m d o P s e u d o - J ô n a t a s e m Ex 29,30. 439. At 9,27;11,22-26;12,25;13,1-15,39; Í C o r 9,6; G l 2,1-10; Cl 4,10.
437. Ant. X X 9, 6, § 216ss. 440. Cf. Doe. Damasco X 5.
441. O n o m e de Levi e r a c o m u m e n t r e os levitas, p o r e x e m p l o .
A dignidade de sacerdote e de levita transmitia-se p o r res de sacerdotes não t i n h a m sido prisioneiras de guerra;
herança e n ã o p o d i a ser a d q u i r i d a por o u t r a via; era, p o i s , com efeito, após ter estado e m cativeiro, elas n ã o p o d i a m
da m á x i m a importância conservar a pureza da descendên- mais ser consideradas esposas legítimas dos sacerdotes, e
cia. Para tanto exigia-se, de início, u m levantamento mi- seus descendentes, a partir da época do cativeiro da m ã e
nucioso d a s genealogias, n o r m a s estritas p a r a os m a t r i m ô - não p o d i a m mais exercer suas funções sacerdotais.
nios. Se u m sacerdote não podia p r o v a r sua origem legí- Q u a n d o u m filho de sacerdote atingia a idade canó-
tima, p e r d i a p a r a si e p a r a seus descendentes, o direito nica de vinte anos , o Sinédrio, sediado no T e m p l o de
m

à função e às r e n d a s do sacerdócio; se contraísse u m ca- Jerusalém n a Sala das p e d r a s t a l h a d a s , do lado sul do


samento ilegítimo, os filhos nascidos dessa u n i ã o n ã o po- átrio dos sacerdotes, examinava-o q u a n t o às suas condi-
449

d i a m h e r d a r o cargo. ções físicas e q u a n t o à legitimidade


450
de sua origem , 451

N o T e m p l o de Jerusalém havia uma espécie de ar- antes de permitir-lhe ser o r d e n a d o . Somente após conside-
quivo onde as genealogias do clero eram sempre atualiza- rado apto era admitido ao sacerdócio : (depois de u m 452

das . E n c o n t r a m o s diversas vezes na tradição, árvores ge-


442
b a n h o de purificação), i m p u n h a m - l h e a veste sacerdotal
nealógicas que indicam os antepassados de sacerdotes . 44i
(veste longa de bisso, calção do m e s m o tecido, faixa e tur-
É assim que Josefo, sacerdote, dá sua genealogia do lado bante) e oferecia-se u m a série de sacrifícios aos quais se
p a t e r n o , a b r a n g e n d o u m período d e 250 a n o s , aproxi- 444
acrescentavam cerimônias particulares; ao todo, esse ato
m a d a m e n t e , "tal como a encontrou consignada nos regis- solene d u r a v a sete dias.
tros p ú b l i c o s " , c o m a indicação das datas de n a s c i m e n t o
w 5

Sabemos q u e p a r a os levitas, músicos, procedia-se a


d e seus a n c e s t r a i s . O m e s m o Josefo afirma, expressa-
446

igual exame de sua origem legítima antes de admiti-lo na


m e n t e , que após grandes guerras, como sob Antíoco Epifa-
sua n o v a f u n ç ã o . T a m b é m p a r a esses existia u m a idade
453

nes, P o m p e u , Quintílio V a r o , Vespasiano e T i t o , os sacer


canónica. O Antigo T e s t a m e n t o fala de trinta , vinte e 454

dotes sobreviventes, estabeleceram novas genealogias com


cinco ( N m 8,23-26) e vinte anos ; trinta anos represen- 455

o auxílio dos antigos documentos . Essa m e d i d a visa aos 447

tava, ao q u e parece, a prática corrente no tempo de Je-


casos em q u e as genealogias desapareceram nas confusões
da guerra, e t a m b é m a necessidade de verificar se mulhe¬
448. Ver supra, p . 222, n. 89.
R. Y o s h u a b e n Levi q u e , s e g u n d o j . M. Sh. V 5, 5 6 h
37 (11/2, 2 5 3 ) , 449. Mid. V 4.
opinava favoravelmente em relação aos levitas. E x c e ç õ e s (talvez so- 450. A ciência dos r a b i n o s d e s e n v o l v e u Lv 21,16-23, a p o n t o de
distinguir 142 defeitos físicos q u e os p o d i a m t o r n a r i n a p t o s ao serviço,
m e n t e a p a r e n t e s ) : em B. j . I V 3, 4, § 141, a p a r e c e u m Levi q u e é d e S c h ü r e r , I I , p p . 283s. O s s a c e r d o t e s i n a p t o s ao serviço e m conse-
família real (herodiana) segundo [osefo, e o n o m e Levi volta duas q ü ê n c i a d e deficiências físicas t i n h a m acesso ao átrio dos s a c e r d o t e s ,
vezes n a genealogia d o D a v i de Josefo, Lc 3,24-29. c o m e x c e ç ã o do e s p a ç o c o m p r e e n d i d o e n t r e o altar e o vestíbulo d o
T e m p l o (Kel. I 9) o n d e só p o d i a m p e n e t r a r d u r a n t e a p r o c i s s ã o dos
442. Sifre N m 18,7, § 116 ( 1 8 70, 9 ) ; v e r injra, p . 294, n . 457.
b

á l a m o s em r e d o r do altar d o s h o l o c a u s t o s p o r ocasião d a festa das


443. N o Antigo T e s t a m e n t o ver as listas de í e 2 C r . Esd. N e . T e n d a s (j. Sukka I V 5, 5 4 3 [ I V / 1 , 3 4 ] ; b . Sukka 4 4 ) . Esses sacer-
c a

S o b r e a geenalogia dos s u m o s s a c e r d o t e s , ver supra, p . 249ss. d o t e s t i n h a m o direito de r e c e b e r os h o n o r á r i o s dos s a c e r d o t e s , m a s


444. D e d u a s gerações a t é a r e d a ç ã o de sua Vita ( d e p o i s d e 100 não podiam usar a túnica sacerdotal (8. V 5, 7, § 2 2 8 ) . Sobre suas
d.C).
funções e n q u a n t o os o u t r o s sacerdotes e x e c u t a v a m o serviço, v e r supra,
445. Vita 1, § 6. p . 188. — O caso d o s u m o s a c e r d o t e H i r c a n o I I (76-67, 63-40 a.C.)
446. Esta lista c o n t é m a l g u m a s i n e x a t i d õ e s . Explicam-se m u i t o é c é l e b r e ; A n t í g o n o (40-37 a.C.) m u t i l o u - o , c o r t a n d o - l h e as orelhas
b e m pela omissão de dois i n t e r m e d i á r i o s : visto o g r a n d e e s p a ç o de ( A n i . X I V 13, 10, § 366) o u a r r a n c a n d o - a s c o m os d e n t e s (B. j . I 13,
t e m p o q u e separa " M a t i a s , o c o r c u n d a " (nascido em 135-154 a.C.) de 9, § 2 4 0 ) , a fim de torná-lo i n a p t o às funções s a c e r d o t a i s .
Josefo (nascido em 67 a . C . ) , e este ú l t i m o de M a t i a s ( n a s c i d o e m 6
d . C ) , deve h a v e r , c a d a vez, u m i n t e r m e d i á r i o . S c h ü r e r , 1, p . 77, n . 4, 451. Ver n . 457, p . 294.
d á u m a explicação d i f e r e n t e , s u p o n d o u m a falha textual ( o u u m a ne- 452. Ex 29; Lv 8.
gligencia) e u m e r r o d o a u t o r . 453. Qid. I V 5.
447. C. Ap. I 7, § 34s. 454. N m 4,3.23.30.35.39.43.47; l C r 23,3.
455. Esd 3,8; l C r 23,24-27; 2Cr 31,17.
sus . O exame do jovem levita era feito na Sala das pe-
456
garantisse aos descendentes a d i g n i d a d e sacerdotal ou le-
dras talhadas. Lá "eles se assentavam e e x a m i n a v a m as ge- vítica. Esse e x a m e pré-nupcial da o r i g e m d a m u l h e r só se
nealogias dos sacerdotes e dos levitas" . T a l e x a m e , é 457
fazia na Palestina. Conforme afirma Josefo, os sacerdotes
v e r d a d e , parece ter sido limitado aos levitas músicos e so- que m o r a v a m no Egito, em Babilônia ou n o u t r o lugar " m a n -
mente assim podemos compreender os fatos que vamos d a v a m p a r a Jerusalém u m relatório, c o n t e n d o o n o m e da
narrar. esposa 461
e de seus antepassados do lado p a t e r n o , assim
De u m a filha de levita cujo pai ocupava lugar no c o m o o n o m e das testemunhas [ p a r a as informações par-
estrado (dos levitas cantores e músicos) , dizem que sua 45S
ticulares] " ; tais providências d e m o n s t r a m o c u i d a d o exi-
462

origem foi considerada como legítima sem outro e x a m e ; 459


gido. Segundo Fílon, devia-se e x a m i n a r se os p a i s , avós e
a propósito dos locadores de charamela que aí se coloca- bisavós e r a m de sangue p u r o . A M i s h n a fornece indica-
4bJ

v a m na Páscoa e na festa das T e n d a s , diz-se que suas fi- ções mais precisas. Se a esposa era d e família sacerdotal,
lhas p o d i a m casar-se com sacerdotes, p o r t a n t o , que seus examinavam-se as q u a t r o gerações anteriores do lado pa-
pais e r a m de origem pura . Essas duas informações per-
460
terno e do lado m a t e r n o ; as cinco, se era filha de levita
m i t e m concluir que não se exigia a prova de pureza da ou d e israelita . Para as filhas de sacerdotes e levitas mú-
lbi

família p a r a as funções inferiores dos levitas. sicos em exercício, assim como p a r a as esposas cujo pai
Sob q u e condições u m sacerdote ou u m levita músico era m e m b r o de u m corpo constituído (por exemplo, mem-
era considerado de origem p u r a a p o n t o de não existir obs- bro do Sinédrio, juiz, e n c a r r e g a d o dos óbolos), ficava dis-
táculo à sua participação no culto? Q u a n d o tivesse nascido p e n s a d o o exame de origem; nesses casos, c o m efeito, o
de u m sacerdote ou de u m levita com u m a m u l h e r de p a i já p r o v a r a , a o t o m a r posse d e seu cargo, a legitimidade
igual condição de p u r e z a legal. Se u m sacerdote ou u m le- de sua origem . 465

vita cantor se casava, era, pois, necessário e x a m i n a r a ge- Lv 21,7 formulava assim a prescrição p a r a a escolha
nealogia da esposa, a fim de que u m nascimento legítimo de u m a esposa de sacerdote: ' N ã o t o m a r ã o por m u l h e r
!

uma d e s o n r a d a ou u m a vil prostituta, n e m a que foi re-


456. T o s . Sheq. I I I 26 (179, 17). p u d i a d a p o r seu m a r i d o " . Essa passagem tão i m p o r t a n t e
457. T o s . Sheq. I I I 26 (179, 17). era interpretada da seguinte maneira : por " r e p u d i a d a " 466

458. Ver supra, p . 285.


459. Qid. I V 5. (hãlalah), compreendia-se a jovem nascida do casamento
460. E m 'Ar. II 4, e n c o n t r a m o s diversos p o n t o s de vista s o b r e a ilegítimo de u m sacerdote (casamento com uma das mu-
o r i g e m dos tocadores de c h a r a m e l a : "a) e r a m escravos dos s a c e r d o t e s ,
dizia R. Meier; b) m a s r a b i Y o s é d e c l a r a v a : eram as [ d u a s ] famílias
lheres de condição de pureza legal inferior, proibido em
bêt h a - P g a r i m e bêt Sipparyyaa d e E m a ú s , cujas [filhas] p o d i a m ca-
e
Lv 2 1 , 7 ) ; p o r ' ' p r o s t i t u t a " , a prosélita, a escrava libertada
sar-se c o m s a c e r d o t e s ; c) q u a n t o a rabi H a n a n y a , filho de A n t í g o n o ,
assim o p i n a v a : e r a m levitas". N ã o se deve levar cm c o n t a o p o n t o
de vista a p o r q u e esses escravos do T e m p l o n ã o d e v e m a sua exis- 4 6 1 . L a u r c n t i a n u s : tês gegramménes. L a t i m : n u p t a e . Essa ú l t i m a in-
tência senão à c o n c l u s õ e s teóricas t i r a d a s de passagens v e t e r o t e s t a m e n - f o r m a ç ã o é a m e l h o r ; deve-se ler tês gametés.
tárias. Os outros dois p o n t o s de vista n ã o se e x c l u e m . R a b i Y o s é (b) 462. C. Ap. I 7, § 3 3 .
rejeita a o p i n i ã o de r a b i Meir, servindo-se de d a d o s históricos irrecusá- 4 6 3 . Fílon, De spec. leg. I, § 101.
veis de o n d e se d e d u z q u e n ã o se trata de e s c r a v o s , m a s de israelitas 4 6 4 . Qid. I V 4 . Q u a n t o às filhas d e s a c e r d o t e s e x a m i n a v a m - s e o i t o
livres, de p u r a d e s c e n d ê n c i a . A d e c l a r a ç ã o de r a b i Y o s é é c o m p l e t a d a ancestrais de sexo f e m i n i n o , em relação à p u r e z a de sua o r i g e m : a) a
p o r r a b i H a n a n y a (c) q u e era, ele p r ó p r i o , s a c e r d o t e e, s e g u n d o T o s . m ã e . b) as d u a s a v ó s , c) as d u a s b i s a v ó s d o l a d o p a t e r n o e u m a bi-
'Ar. I 15 (544, 10) t i n h a a i n d a c o n h e c i d o p e s s o a l m e n t e levitas q u e s a v ó d o l a d o m a t e r n o , d) u m a trisavô d o l a d o p a t e r n o e u m a do
t o c a v a m flauta n o altar. O s dois p o n t o s de vista b e c t o m a d o s jun- l a d o m a t e r n o . N o s o u t r o s casos acrescentava-se a i n d a u m a geração
tos c o n t ê m a v e r d a d e i r a s o l u ç ã o : e r a m levitas de d e s c e n d ê n c i a p u r a , D e q u e m o d o explicar este e s q u e m a que d á a i m p r e s s ã o de ser to-
m e m b r o s de d u a s famílias de notáveis de E m a ú s q u e t o c a v a m a cha- talmente arbitrário?
r a m e l a s o b r e o e s t r a d o dos levitas p o r ocasião da P á s c o a e d a festa 465. Qid. I V 5.
das T e n d a s .
4 6 6 . P a r a o q u e segue, v e r Billerbeck, I, 2-3.
e a deflorada . H a v i a , pois, u m a p a r t e b e m d e t e r m i n a d a
467
seu m a r i d o , libertara-se do casamento levirático pela ceri-
da p o p u l a ç ã o que não p o d i a casar c o m sacerdotes, isto é, m ô n i a do "tirar o c a l ç a d o " (Dt 2 5 , 9 ) , colocada no m e s m o
todas as israelitas que n ã o eram de origem p u r a . So- 4 6 S
n í v e l , e a m u l h e r estéril c o m q u e m u m sacerdote podia
471

m e n t e a filha de u m sacerdote ou de u m levita apto a exer- se casar s o m e n t e se já tivesse m u l h e r e filho . E z 4 4 , 2 2


472

cer sua função e a filha de u m cidadão israelita estavam, p r o í b e t a m b é m aos sacerdotes desposar u m a viúva, salvo
pois, em condição de contrair m a t r i m ô n i o regular com u m a viúva de outro sacerdote. E somente ao sumo sacerdote
sacerdote . m
q u e o Levítico p r o í b e o c a s a m e n t o c o m u m a viúva (Lv
Todavia, dentro desse círculo de famílias legítimas, 2 1 , 1 4 ) ; em c o n t r a p a r t i d a , silencia a respeito da interdição
outras mulheres se a c h a v a m excluídas , a m u l h e r repudia- -
aos outros sacerdotes de desposarem u m a viúva. O perío-
da , a hãlüsah (isto é, a m u l h e r q u e , após a morte de
470
do posterior não seguiu as normas d e Ezequiel. J o s e f o m

diz expressamente que todos os sacerdotes, salvo o sumo


467. Sifra Lv 21,7 ( 4 7 186, 2 2 ) ; Yeb. V I 5. D e t a l h a d a m e n t e te-
b
sacerdote, p o d e m contrair m a t r i m ô n i o com viúvas. Essas
m o s : a) a hãlalah: sem d ú v i d a , ela n ã o p o d e se casar com u m sacer- regulamentações n ã o se destinavam aos levitas; interdita-
d o t e , m a s n o caso de se casar com u m israelita, a filha n a s c i d a d e s t e
c a s a m e n t o p o d e d e s p o s a r u m sacerdote (Qid. I V 6 ) . b) A p r o s é l i t a : vam-nos somente de desposar israelitas ilegítimas, portado-
p o r causa de sua origem p a g ã , n ã o p o d e se casar com u m s a c e r d o t e , ras d e i m p u r e z a grave m
(bastarda, escrava d o T e m p l o , fi-
m a s se se casar c o m u m israelita, a filha n a s c i d a desta u n i ã o p o d e se
casar c o m u m s a c e r d o t e ( o p i n i ã o de R. Y u d a ben Elai, p o r volta de lha de pai desconhecido e criança enjeitada ) . 4 7 5

150 d . C ; R. Eliézer b e n Y a c o b , cerca de 150 d . C , só a u t o r i z a o ca-


s a m e n t o c o m u m s a c e r d o t e à filha n a s c i d a d o c a s a m e n t o de u m p r o - Após esse exame de prescrições, vejamos a prática.
sélito c o m u m a israelita; R. Yosc ben H a l a f l a , 150 d . C , o a u t o r i z a Com freqüência, u m sacerdote casava-se com u m a filha de
m e s m o à filha nascida d o c a s a m e n t o de u m prosélito c o m u m a pro- sacerdote; ocorria, p a r t i c u l a r m e n t e , nos círculos da aristo-
s é l i t a ) . Qid. I V 6s; m e s m o p o n t o de vista c m Bik. 1 5. U m a voz i s o l a d a
(R. S h i m e o n p o r volta de 150 d.C.) invoca N m 31,18 p a r a p e r m i t i r cracia sacerdotal e entre os sacerdotes d e Jerusalém cujo
0 c a s a m e n t o c o m u m s a c e r d o t e à prosélita q u e se c o n v e r t e u ao ju- prestígio e formação elevavam a u m nível superior. So-
d a í s m o a n t e s da i d a d e de três anos e u m dia (j. Qid. I V 6, 6 6 10 b r e t u d o as famílias pontifícias c a s a v a m suas filhas de pre-
a

[não t r a d u z i d o em V / 2 , 284 q u e r e m e t e ao p a r . I I / 2 3 6 3 ] ) . c) A es-


crava liberta: c o m o b. d) A q u e l a q u e foi deflorada p o r u m a t o de ferência com sacerdotes. T a l fato já se d e d u z d a qtteíxa
p r o s t i t u i ç ã o ; a esse g r u p o p e r t e n c e m , e n t r e o u t r a s , a p r o s t i t u t a (Tar- e s t u d a d a acima , segundo a qual os sumos sacerdotes im-
476

g u m do Pseudo-Tônatas a Lv 2 1 , 7 ; Ant. I I I 12, 2 § 2 7 6 ) , a t a b e r n e i r a peliam seus genros aos postos lucrativos do T e m p l o , o que
ou h o s p e d e i r a (Ant. ibid.), a m u l h e r q u e foi p r i s i o n e i r a d e g u e r r a
(Ant., C. Ap. I 7, § 3 5 ; cf. supra, p . 218ss, os a t a q u e s c o n t r a os su- faz supor que esses últimos fossem sacerdotes. Conhece-
m o s sacerdotes f o ã o H i r c a n o e A l e x a n d r e J a n e u ) . Discu lia-se p a r a mos inúmeros sumos sacerdotes q u e , de seu l a d o , e r a m
saber se u m a j o v e m judia a q u e m u m israelita de o r i g e m legítima genros d e sumos sacerdotes em exercício. Citemos, em pri-
v i o l e n t a r a , e n t r a v a nessa categoria d. E m Ket. I 10, permitia-se a essa
j o v e m casar-se c o m u m s a c e r d o t e . M a s , c o n f o r m e a e x p l i c a ç ã o d o rabi meiro lugar, o sumo sacerdote M a t i a s , filhos de Teófilo e
Eliézer (por volta de 90 d . C ) , é preciso considerá-la c o m o u m a " p r o s - t a m b é m Caifás . Além disso, duas famílias da aristocracia
477

t i t u t a " , e, p o r c o n s e g u i n t e , n ã o p o d e sc casar c o m u m s a c e r d o t e (Sifra


Lv 21,7 ( 4 7 186, 2 4 ) ; b . Yeb,
b b
6í b a r . ) . O r a , esse d o u t o r r e p r e -
sacerdotal d e r a m s u m o s sacerdotes q u e d e s e m p e n h a r a m
senta, em geral, a t r a d i ç ã o antiga; resulta, pois, daí q u e na é p o c a em
q u e o T e m p l o existia, aplicava-se, g e r a l m e n t e , o p o n t o de vista m a i s
estrito. 4 7 1 . Yeb. II 4; Qid. I l l 12; Mak. I I I 1: Sota I V 1; V I I I 3; T a r -
g u m d o P s c u d o - I ô n a t a s e m Lv 2 1 , 7 ; Sifra Lv 21,7 ( 4 7 186, 27) e
h

468. Disso f a l a r e m o s m i n u c i o s a m e n t e n o c a p . V I I I : O s israelitas


ilegítimos, ver infra, p . 420ss. passim.
469. Qid. I I I 12. 4 7 2 . Yeb. V I 5. R. Y u d a b e n Elai (cerca d e 150 d.C.) p r o í b e o
470. Lv 21,7; Ez 44,22; Qid. I I I 12; Mak. I 1; I I I 1; Ter. V I I I c a s a m e n t o em t o d o s os casos (Sifra Lv 2 1 , 7 [ 4 7 186, 2 5 ] ) .
b

1 e passim. A m u l h e r cujo m a r i d o foi d e c l a r a d o m o r t o e q u e t o r n a 4 7 3 . Ani. I I I 12, 2, § 277.


a se casar, deve, se o p r i m e i r o m a r i d o v o l t a r à casa, a c o m p a n h á - l o 4 7 4 . Qid. I V 1.
de n o v o . N ã o é tida c o m o d i v o r c i a d a do s e g u n d o m a r i d o , p o i s esse 4 7 5 . V e r infra, p p . 446s.
s e g u n d o c a s a m e n t o tornou-se l e g a l m e n t e i n v á l i d o (Yeb, X 3, Sifra Lv 4 7 6 . P p . 268s.
21,7 <47 186, 3 5 ) .
b
477. Ver as c o m p r o v a ç õ e s supra, p . 217, n . 6 1 .
suas funções, sendo u m , talvez, o sumo sacerdote Caifás ; m
cante de pregos, que viveu ainda até depois da tomada da
aconteceu — assim nos contam — que u m a jovem casou¬ c i d a d e , casara-se c o m u m a filha d e sacerdote. Eis alguns
-se com u m tio p a t e r n o . O caso suscitou discussões acalo- exemplos de alianças com leigos. O sumo sacerdote Ale-
r a d a s , p o r q u e as duas mulheres ficaram viúvas e sem fi- x a n d r e Janeu, como já vimos , desposou — dizem —
m

lhos. U m casamento levirático com o p r ó p r i o p a i era, evi- uma irmã do rabi Shimeão b e n Shetah. O sacerdote e es-
d e n t e m e n t e , impensável. Mas u m a questão excitou os es- criba Shimeão ben N a t a n a e l t i n h a p o r mulher uma filha *' 4

píritos dos hiJelitas e dos shamaítas : poderia o pai con- 479


de R a b b a n Gamaliel I, célebre mestre de Jerusalém e
sumar u m casamento levirático com a concubina de seu m e m b r o do Sinédrio . O b e m conhecido doutor Eliézer
4Í7

g e n r o ? O que nos interessa aqui é tão-somente constatar ben H i r c a n o , s a c e r d o t e , casou-se c o m u m a filha de


4K8

q u e , em duas grandes famílias da aristocracia pontifícia Gamaliel l . Q u a n t o a Pinhas de H a b t a , sacerdote e


W 9

de Jerusalém, u m a jovem tenha se casado com o i r m ã o de depois sumo sacerdote (em 67 d.C.), R. H a n a n y a , fi-
seu pai, concluindo que os dois esposos t e n h a m sido de lho de Gamaliel I I , chama-o p a r e n t e por aliança . Por- 490

famílias sacerdotais de alto nível. H á outro caso a i n d a : o tanto, três sacerdotes casaram-se c o m jovens da casa d e
casamento de M a r t a , da família pontifícia de Boetos, com G a m a l i e l . Assim, entre as famílias de leigos, os sacer-
o sumo sacerdote Yoshua b e n Gamaliel I, de q u e m já fa- dotes, pelo que parece, preferiam as dos escribas. Eis u m
lamos ; nesse caso t a m b é m , os dois esposos p e r t e n c i a m
4S0
último exemplo. O sacerdote R. Sadoc, célebre escriba, ti-
a famílias sacerdotais de alta posição. O s outros sacerdo- nha como mulher uma benjaminíta, cuja família p a t e r n a
tes igualmente desposavam, de preferência, filhas de sacer- pertencia às famílias de notáveis i n c u m b i d a s de trazer a
dotes. Por exemplo, o sumo sacerdote Z a c a r i a s , da classe lenha para o a l t a r ' " . Os enlaces entre sacerdotes e filhas
4

sacerdotal de Abia, desposou Isabel, filha de sacerdote (Lc de leigos d e nível elevado não foram r a r o s , p o r t a n t o , se
1,5). R. Tarfon, ele próprio s a c e r d o t e , tinha, em J e m -481
b e m q u e o T a l m u d e , q u a n d o a ocasião se oferece, trace
salém, u m tio m a t e r n o c h a m a d o Shimeão ou Shim- 482
u m juízo desfavorável sobre tais uniões . N ã o temos ne- 492

s h ã o , t a m b é m s a c e r d o t e ; os pais desse rabi p e r t e n c i a m ,


483 484
n h u m a informação a respeito da origem das mulheres dos
pois, a famílias sacerdotais. levitas; a c a b a m o s de v e r o c a s a m e n t o d o levita Y o s h u a
c o m u m a filha de sacerdote, e já f a l a m o s " da legitimi- 4

E n t r e t a n t o , de m o d o algum, as famílias de sacerdotes


dade das duas famílias de levitas d e E m a ú s que tocam
se casavam u n i c a m e n t e entre elas; havia t a m b é m uniões
a charamela.
entre descendentes de sacerdotes, e descendentes de levitas
ou de israelitas. Assim, o levita cantor R. Y o s h u a , fabri- Q u a n d o u m sacerdote ou u m levita músico desposava
u m a m u l h e r que a Lei proibia , era p u n i d o com impie-
494

47S. V e r supra, p . 266, n. 302; cf. p . 136, n. 9 5 .


479. E m b . Yeb. 1 5 (ver supra, p . 136s), o caso e m d i s c u s s ã o re-
b

laciona-se c o m u m d e b a t e s o b r e a p o l i g a m i a em J e r u s a l é m n o t e m p o 4 8 5 . Supra, p . 2 1 7 , n. 62.


d e Jesus. 486. O ms. de Erl'urt, a g o r a e m Berlim, Staatsbibl. M s . or. 2 ?

480. Supra, 219. 1220, diz "filha". Razões c r o n o l ó g i c a s t o r n a m essa i n f o r m a ç ã o inad-


4 8 1 . j . Yoma I I I 7, 4 0 57 ( I I I / 2 , 196) e passim; T o s . Neg. V I I I
d missível; v e r M a c h e r , Ag. Tann., I, 75, n. 3 .
2 (628,9). 487. T o s . 'A. Z. I l l 10 (464, 6 ) ,
482. T a m b é m em j . Hor. I I I 5, 4 7 37 (não t r a d u z i d o e m V I / 2 ,
d 4S8. j . Sola III 4, 1 9 3ss ( I V / 2 , 2 6 1 ) .
a

274). 489. b , SÍiab. 1 1 6 e a


passim.
4 8 3 . T a m b é m e m Qoh. R. 15 s o b r e 3, 11 ( 8 5 1 0 ) .
a 490. Sifra Lv 21,10 (47^ 187. 10).
484. j . Yoma I 1, 3 8 82 ( I I I / 2 , 1 6 5 ) ; j . Hor. I I I 5 4 7 37 ( n ã o
d d 4 9 1 . V e r infra, p . 3 8 1 .
t r a d u z i d o e m V I / 2 , 274: e m b o r a este tio fosse m a n c o , ele, c o m o sa- 4 9 2 . b . Pcs. 4 9 bar.; b . Pes. 4 9 .
a a

c e r d o t e , tocou a t r o m b e t a p o r ocasião de u m a das festas das T e n d a s . 4 9 3 . Supra, p . 294, n. 4 6 0 .


Qoh. R. 3, 15 s o b r e 3 , 11 ( 8 5 1 0 ) : coloca-se e m c o m p a n h i a d o so-
a 494. Isso acontecia. O escritor Josefo é u m e x e m p l o ; p r i s i o n e i r o
b r i n h o s o b r e o e s t r a d o do átrio. dos r o m a n o s , casou-se e n l r e 67 e 69 d . C , sob o r d e m de V e s p a s i a n o ,
dosa severidade; o casamento declarado ilegítimo e os 495

Ele não p o d e r á c o n t i n u a r a viver c o m u m a esposa q u e ,


filhos p r i v a d o s do direito do sacerdócio. Esse filho cha-
m e s m o sem ter sido prisioneira, viveu n u m a cidade to-
mava-se halal (profano) e fazia p a r t e do g r u p o dos israe-
m a d a e o c u p a d a pelo inimigo, não tendo condições de
litas ilegítimos; seus filhos, como ele, também n ã o p o d i a m
p r o v a r sua integridade através de t e s t e m u n h a s desinteres-
exercer o sacerdócio. As filhas de u m m a t r i m ô n i o ilegíti-
sadas ; se mantiver tal aliança, será considerada concubi-
504

m o de sacerdote não p o d i a m se casar com u m sacerdote . m

n a t o e os filhos dessa u n i ã o são ilegítimos. Semelhante


Esses princípios p e r m a n e c i a m e m vigor. Já no t e m p o
regra é aplicada de m a n e i r a inexorável, mesmo q u e o
d e Esdras , três famílias sacerdotais foram excluídas cio
m

próprio m a r i d o ateste, sob j u r a m e n t o , que a m u l h e r n ã o


sacerdócio, p o r q u e não p u d e r a m exibir a sua genealogia;
teve relações com pagãos. Mais a i n d a : os m e m b r o s de
os sumos sacerdotes asmoneus v i r a m contestada pelos fa-
u m a família, evidentemente família de sacerdotes, foram
riseus a legitimidade d e seu sacerdócio, p o r q u e a m ã e d e
tão longe q u e recusaram o direito d e desposar u m sacer-
João H i r c a n o foi, dizem, prisioneira de guerra sob Antíoco
dote c o m u m a jovem m e n o r q u e fora d a d a em p e n h o r a
W Epifanes ; e m seguida, por diversas vezes o u v i m o s
498

Ascalon (ou q u e lhe fora levada c o m o refém); e n t r e t a n t o ,


falar de processos p a r a a deposição de determinados sa-
h a v i a testemunhas p a r a afirmar que n ã o tivera relações
cerdotes do direito de exercer sua f u n ç ã o . T a i s exem- m

( " q u e ela não tinha sido presa [com u m h o m e m ] n e m


plos d e m o n s t r a m o rigor com que se agia p a r a p r e s e r v a r
d e f l o r a d a " ) , e os escribas decidiram q u e esse d e p o i m e n t o
a pureza do c l e r o . " R . Z a c a r i a s , filho do açougueiro,
m

não era. j u s t i f i c a d o . P o r t a n t o , nesse caso, não somente


505

diz: [eu j u r o ] pelo T e m p l o ! Sua m ã o [a m ã o de m i n h a


se põe a jovem d a d a em p e n h o r em p é de igualdade c o m
m u l h e r ] não largou a minha desde que os pagãos entra-
a prisioneira de guerra, o que de m o d o algum seria
r a m em Jerusalém [sem d ú v i d a por ocasião da tomada da
óbvio , mas a p r ó p r i a família decide, no caso de u m de
5 %

cidade em 1 3 3 / 4 d . C , d u r a n t e a gLierra de Bar-Kokba] , íni

seus m e m b r o s , t o r n a n d o a regra a i n d a mais intransigente,


até sua p a r t i d a . — Responderam-lhe: n i n g u é m p o d e tes-
a fim de afastar dela q u a l q u e r suspeita de m a n c h a . São,
t e m u n h a r em causa p r ó p r i a " . 502

pois, os próprios sacerdotes q u e , p o r vezes, apesar mes-


Um sacerdote não p o d e contrair m a t r i m ô n i o c o m u m a m o dos protestos dos escribas, a s s u m e m o c u i d a d o de apli-
israelita q u e foi prisioneira de guerra, pois n ã o lhe pode- car, inexoravelmente, as prescrições sobre a pureza das fa-
rá d a r filhos legítimos, aptos a exercerem o sacerdócio . 505
mílias sacerdotais.
N ã o é, p o r é m , u n i c a m e n t e tal jovem que lhe será negada.
N ã o se trata de exceção, mas tornou-se regra que os
c o n f o r m e diz. e c o n t r a a p r e s c r i ç ã o d a Lei (ver supra, p . 296, n. 467 p r ó p r i o s sacerdotes, contra as decisões dos escribas, dêem
d), c o m u m a judia, p r i s i o n e i r a de g u e r r a , Vita 75, § 414.
4 9 5 . b . Keí. 3-', e s o b r e este p o n t o Billcrbeck. I Í I , 543 b.
p r o v a de implacável rigidez. Assim s e n d o , ouvimos dizer
496. Qid. I V 6. Cf. supra, p . 296, n . 467 a. q u e os escribas p e r m i t i a m às filhas d e famílias 'issah (isto
497. Esd 2,61-63; N e 7,63-65. é, famílias de sacerdotes sobre as quais h a v i a , em relação
498. V e r supra, p p . 2 1 8 e 260.
499. G e n e r a l i d a d e s e m Ma/c. I 1; Mid V 4. I n t e r p r e t a ç ã o n a con- a u m dos m e m b r o s , certa d ú v i d a sobre a legitimidade de
t i n u i d a d e de nossa e x p o s i ç ã o . sua o r i g e m ) , casarem-se c o m sacerdotes. O s sacerdotes,
501

500. P a r a o q u e segue ver A . Büchler, " F a m i U e n r e i n h c i l u n d


F a m i l i e n m a k e l in J e r u s a l é m v o r d e n J a h r e " 70, em Festschrift Sehwarz,
133-162. 504. N e s t e caso permitia-se t a m b é m a u m e s c r a v o , h o m e m ou mu-
lher, t e s t e m u n h a r , Ket. II 9; m a s n ã o h a v i a p e r m i s s ã o p a r a o pró-
5 0 1 . Q u a n t o à d a t a deste r a b i . v e r Scblatter, Tage, 4 1 ; deve-se prio marido.
d a t a r a g u e r r a de Bar K o k b a dos anos 132-135 (6) d.C., v e r C. H .
H u n z i n g e r , art. Q u m r a n 6 em Die Religion in Geschichte und Gegen¬ 505. 'Ed. V I I I 2 .
wart, 3? ed., V ( 1 9 6 1 ) , col. 754s. 506. Ket. I I 9 : " O c a s a m e n t o c o m u m a m u l h e r p r i s i o n e i r a d e
502. Keí. II 9. pagãos por questões pecuniárias [como refém] é permitido".
507. O t e r m o 'issah significa massa, m i s t u r a . N ã o p o d e m o s pre-
503. V e r supra, p . 296, n. 467. cisar, c o m certeza, o s e n t i d o m e t a f ó r i c o . R. M e i r (cerca d e 150 d.C.)
CAPÍTULO II
p o r é m , n ã o a d m i t i a m q u a l q u e r concessão ; bastava-lhes 508

a mais leve suspeita p a r a se m a n t e r e m afastados das filhas


A NOBREZA LEIGA
de famílias 'íssah. Vemos assim justificada a queixa le-
v a n t a d a por R a b b a n Y o h a n a n ben Z a k k a i , p o r t a n t o , p o r
u m h o m e m que exercia sua função em Jerusalém antes
da destruição do T e m p l o : os sacerdotes não seguem as
decisões dos escribas a n ã o ser que se declarem essas pes-
soas inaptas às funções sacerdotais ou ao casamento c o m A o l a d o da nobreza sacerdotal, existia em Jerusalém
sacerdotes; por outro lado, eles as desprezam se os escri- uma aristocracia leiga. Sua i m p o r t â n c i a foi infinitamente
bas cedem, a t e n u a n d o . Os mesmos sacerdotes q u e , sob
509

mais fraca, como c o m p r o v a a escassez d e provas e teste-


A g r i p a I (41-44 d . C ) , q u a n d o os j u d e u s p o d i a m exercer
munhas.
a justiça criminal, fizeram q u e i m a r publicamente em Je-
E x a m i n e m o s , de início, como era formado o Sinédrio.
rusalém u m a filha de sacerdote acusada de adultério , m

Segundo lemos no N o v o T e s t a m e n t o , essa assembléia ju-


zelavam pela p u r e z a das famílias sacerdotais com inexorá-
daica s u p r e m a , que c o m p r e e n d i a 7 1 m e m b r o s , compunha¬
vel severidade. C o m efeito, os sacerdotes ofereciam os sa-
-se d e três g r u p o s : os chefes dos sacerdotes q u e , repre-
crifícios como investidos não pelo povo, mas por Deus ; 51í

sentados na pessoa do sumo sacerdote, escolhiam o presi-


por esse motivo, constituíam a fração santa do povo ins-
tituída p o r Deus. N o fim dos tempos, formariam, c o m dente, os escribas e os anciãos.
perfeição, a linhagem santa: " Q u a n d o o Santo, seja ele Q u e m fazia p a r t e d o g r u p o dos anciãos? A história 1

bendito, purifica as tribos, purifica, em primeiro lugar, a da assembléia judaica nos dá a resposta. A p ó s o exílio, os
tribo de L e v i " . 5 I 2 reorganizadores do p o v o , doravante sem rei, basearam-se
na antiga composição em famílias, p r o c e d e n t e s d a divisão
d o p o v o e m tribos, e n u n c a t o t a l m e n t e caída n o esqueci-
m e n t o , n e m mesmo depois do sedentarismo em C a n a ã .
d á esta definição (b. Ket. 1 4 b a r . ) : " Q u e é u m a v i ú v a 'issah? A q u e l a
b Talvez já em exílio, q u e r dizer, com a extinção d a realeza,
c o m q u e m , e v e n t u a l m e n t e uniu-se u m filho ilegítimo de s a c e r d o t e os chefes das linhagens e das famílias mais importantes
(balai). Esse texto n ã o tem s e n t i d o . C e r t a m e n t e , a p a l a v r a " v i ú v a " foi a s s u m i r a m a chefia do p o v o , dirigindo, individualmente,
i n t r o d u z i d a p o r i n a d v e r t ê n c i a a p a r t i r de 'Ed. V I I I 3 q u e fala d a v i ú v a
'issah, e isso a c a r r e t o u o e r r o . Se p u d e r m o s riscar a p a l a v r a " v i ú v a " a instalação das famílias em Babilônia e governando-as a
em b . Ket. 1 4 bar., o s e n t i d o torna-se c l a r o ; u m a família 'issah é u m a
b
título d e guias e juízes . A p ó s a volta d o exílio, esses che-
2

família da q u a l se p e r g u n t a se u m dos m e m b r o s é de o r i g e m ilegíti-


m a ; (aliás, em 'Ed. V I I I 3 i g u a l m e n t e , a p a l a v r a " v i ú v a " é u m a glosa, 1. N o N o v o T e s t a m e n t o (Ml 21,23;26,3.47;27,1-3.12.20;28,11-12; L c
ver infra, p . 422, n . 17). As explicações de B ü c h l e r em Festschrifi 22,52; A t 4,25;25,15; c í . 24,1) a s s i m c o m o n a l i t e r a t u r a r a b í n i c a (Yoma
Schwarz, 155-160 n ã o levam e m c o n s i d e r a ç ã o essa s o l u ç ã o s i m p l e s e
I 5; Para I I I , 7; cf. T o s . Para I I I 8 (632, 1 8 ) : os a n c i ã o s a p a r e c i a m
n ã o c o n s e g u e m c o n v e n c e r . P o r 'issah ele e n t e n d e as famílias ilegíti-
c o m o r e p r e s e n t a n t e s d o S i n é d r i o e g u a r d i õ e s d a t r a d i ç ã o farisaica n o s
m a s a p e n a s m a r c a d a s p o r u m a falha leve (ver infra, p . 4 2 0 s s ) , p o r t a n t o :
p r o f a n a s (halalim), prosélitas, escravas l i b e r t a s . ritos a o b s e r v a r n o D i a das e x p i a ç õ e s e p a r a q u e i m a r a novilha ver-
m e l h a ) ; a p a l a v r a i n d i c a , e m a m p l o s e n t i d o , t o d o s os sinedrilas n ã o
508. 'Ed. V I I I 3. s a c e r d o t e s . É preciso distinguir esse a m p l o s e n t i d o da p a l a v r a , incluin-
509. fbid. — ' E d . V I I I 7 c o n t a o caso de certo Ben Sion (sem d o os dois g r u p o s d o S i n é d r i o (escribas e anciãos em s e n t i d o res-
d ú v i d a antes de 70 d.C. já q u e a t r a d i ç ã o r e m o n t a a Y o h a n a n b e n t r i t o ) , d o s e n t i d o restrito q u e v a m o s e x a m i n a r , e q u e designa os an-
Z a k k a i ) : s u c e s s i v a m e n t e ele tinha, de m o d o injusto e arbiLrário, "afas- ciãos c o m o u m g r u p o do S i n é d r i o d i s t i n t o d o s chefes dos s a c e r d o t e s
tado e a p r o x i m a d o " u m a família — visto o c o n t e x t o , trata-se de sa- e d o s escribas.
cerdotes •— isto é, declarara-se ilegítima e legítima.
2. Ez 8 , l ; 2 0 , l . Ver I. Benzinger, Hebräische Archäologie, 3- ed,,
510. Sanh. V I I 2; b . Sanh. 5 2 . M i n ú c i a s supra, p . 246, n . 2 2 2 .
b

5 1 í . b. Qid, 2 3 \ Leipzig, 1927, 269 c a d i s s e r t a ç ã o de O . S e e s e m a n n , Die Ältesten im


512. b. Qid. 7 0 71». b AT., Leipzig, 1895.
fes de famílias, os "anciãos dos j u d e u s " (sabe y húdayê) e
O N o v o T e s t a m e n t o , t a m b é m Josefo e a literatura tal-
a p a r e c e m como representantes do povo com os quais o m ú d i c a a d m i t e m essa n o b r e z a leiga. N o N o v o T e s t a m e n t o ,
governador persa discute (Esd 5,9-16) e q u e , unidos ao "os chefes do p o v o " (Lc 19,47) a p a r e c e m uma vez no
" g o v e r n a d o r dos j u d e u s " , dirigem a reconstrução do T e m - lugar dos " a n c i ã o s " , como terceiro g r u p o do Sinédrio;
plo (Esd 5 , 5 . 9 ; 6 , 7 . 8 . 1 4 ) . Dessa m a n e i r a o Sinédrio, assem- essa expressão sinônima é e x t r e m a m e n t e esclarecedora.
bléia suprema do judaísmo pós-exílico, formou-se da reu- Como representante desse g r u p o e n c o n t r a m o s José de Ari-
nião desses chefes de família n ã o sacerdotes, dirigentes m a t é i a , rico (Mt 27,57) p r o p r i e t á r i o .
7 8

que r e p r e s e n t a v a m a " n o b r e z a " leiga, c o m a aristocracia


3
E m Josefo, ao lado dos chefes dos sacerdotes, apa-
sacerdotal. A esse respeito, a descrição da reforma judiciá- recem como personagens mais influentes de Jerusalém: " a s
ria de fosafá pelo Cronista (2Cr 19,5-11) descrição que autoridades da c i d a d e " , " o s chefes do p o v o " , "os no-
9 1 0

reflete a situação pós-exílica, é elucidativa; a a u t o r i d a d e táveis" "os p o d e r o s o s " , "os poderosos e notáveis d o
I2

judiciária s u p r e m a de Jerusalém compunha-se de levitas, p o v o " \ São os mesmos " a n c i ã o s " do N o v o T e s t a m e n t o ;


l

de sacerdotes e de chefes de f a m í l i a s . É, pois. um senado 4


temos esta certeza através de u m texto de Josefo onde
aristocrático composto de representantes da aristocracia sa- a p a r e c e , igualmente, a divisão tríplice do Sinédrio, cor-
cerdotal e leiga q u e , nas épocas persa e grega, alcançou rente no Novo T e s t a m e n t o . O s três grupos aí são chama-
a chefia do povo judeu. Somente mais tarde, talvez no dos "os poderosos, os sacerdotes-chefes c os notáveis fa-
tempo da r a i n h a A l e x a n d r a (76-67 a . C ) , de p e n d o r fari- riseus" ; ressalta, pois, sem equívoco, a identidade dos " p o -
14

saico , os escribas fariseus foram admitidos nessa assem-


5
d e r o s o s " de Josefo e dos " a n c i ã o s " d o Novo T e s t a m e n t o ,
bléia suprema até então p u r a m e n t e aristocrática. Não p o d e , E m outras passagens, os " p o d e r o s o s " aparecem ao lado
pois, haver d ú v i d a q u a n t o à composição do g r u p o dos an- dos m e m b r o s d o conselho s u p r e m o ; v e m o s , pois, q u e so-
1S

ciãos no Sinédrio: são os chefes das famílias leigas mais m e n t e uma parte dos chefes das famílias de notáveis, p o r
influentes , 6
r e p r e s e n t a n d o a " n o b r e z a leiga" do povo neste assim dizer como representantes de sua classe, t i n h a m voz
conselho s u p r e m o . no Sinédrio. U m estudo c o m p a r a d o de dois textos de Jo-

3. E m p r e g o esta p a l a v r a p a r a e x p r i m i r o p r i n c í p i o d a h e r e d i t a - 7. M c 15,43; M t 27,57; L c 23,50-51; J o 19,38-42. N ã o é desig-


riedade. n a d o n e m c o m o s a c e r d o t e n e m c o m o escriba; d e v e m o s , pois, tomá-lo
4. Cf. a i n d a : l M c , o n d e s a c e r d o t e s e anciãos do p o v o (7.33-11,23) c o m o p e r t e n c e n t e ao g r u p o dos " a n c i ã o s " d o S i n é d r i o .
a p a r e c e m c o m o r e p r e s e n t a n t e s d o p o v o , e e s p e c i a l m e n t e 14,28, o n d e 8 . A o n o r t e d o s e g u n d o c i r c u i t o s e t e n t r i o n a l , n o p r ó p r i o lugar d a
a assembléia d o p o v o q u e toma as decisões assim se c o m p õ e : epi a t u a l igreja d o S a n t o S e p u l c r o (ver m e u Colgota, Leipzig, 1926, 1-33),
sinagogês niegáles ton ieréon kái laoü kcú árehonton éthnous kui tôn ele p o s s u í a u m a p r o p r i e d a d e c o m jardim (Jo 19,41;20,15; Mt 27,60 e
presbutéron tês choras. N o b r e z a clerical e n o b r e z a leiga (ãrchontes p a r . ) . A l é m d o m a i s . c o n f o r m e faz s u p o r o e m p r e g o d e euschémon
éthnous) dirigem o p o v o ; os a n c i ã o s da c o m u n i d a d e (presbúteoi tês nos p a p i r o s , esse t e r m o ( M c 1 5 , 4 3 ) , designa, talvez, o rico proprietá-
choras) e a m u l t i d ã o do p o v o agregam-se a esses dirigentes p a r a a rio d e imóveis (cf. J. L e i p o l d t c m Thcoíogisches Literaturhlatt 39
assembléia d o p o v o . 11918], col. I 8 0 s ) .
5. E n c o n t r a m o s sinedritas fariseus pela p r i m e i r a vez e m Ani. XIII 9. Vita 2, § 9.
16, 5, § 4 2 8 . C o n f o r m e m o s t r a o c o n t e x t o , a q u e l e s q u e a p a s s a g e m 10. Vita 3 8 , § 194.
cita c o m o " a n c i ã o s dos j u d e u s " (sinedritas) são c e r t a m e n t e fariseus 1 1 . B. /". II 17, 2, § 4 1 0 e passim.
desta casta. 12. B. j . II 15, 2 § 316 e passim.
6. Foi o q u e b e m o b s e r v o u E. Meyer, Die Entstehung des fuden- 13. B. j . II 14, 8. § 3 0 1 .
thums, H a l l e , 1896, e Ursprung, I I , 12 c 2 9 . Ver a i n d a | . W e l l h a u s e n , 14. B. /. II 17, 3 , § 4 1 1 : sunelihóntcs goun hoi dunatoi toís archie-
Das Evangelíwn Marci, Berlim, 1909, 6 5 : "a n o b r e z a leiga de Jerusa- inisin eis tautò kái tois tôn Pharisaíon Gnorímois. C l . II 14, 8, §
l é m " ; Billerbeck, 1 1 , 6 3 1 : " o s m e m b r o s leigos d o G r a n d e C o n s e l h o " . — 301: oí te archiereis kai dunatoà tú te gnorimótaton tês póieos.
S c h ü r e r , I I , 252, d i z : " O s m e m b r o s q u e p e r t e n c i a m a u m a dessas duas 15. B. j . II 16. 2. § 336: " O s chefes dos sacerdofes dos j u d e u s
categorias especiais [archiereis e grammateís] c h a m a v a m - s e simples- iMin os p o d e r o s o s e o c o n s e l h o " ; II 2 1 , 7, § 627: " O s p o d e r o s o s e
m e n t e presbíteroi"; u m b o m e x p e d i e n t e p a r a sair-se b e m . .iljuins dos a r c o n t e s " .
sefo confirma que os " a n c i ã o s " são os chefes das famílias N m 1 9 ] " . O s filhos m e n o r e s não p o d i a m p e n e t r a r no átrio
2 0

de nobreza leiga. Por ocasião de seu acesso ao p o d e r em dos israelitas . E m c o m p e n s a ç ã o , os filhos menores dos
21

37 a.C. Herodes c o n d e n o u à morte, segundo Ant. X J V 9, "hierosolimitanos de classe a l t a " t i n h a m o direito de par-
2 2

4, § 4 7 5 " t o d o s os m e m b r o s do S i n é d r i o " ; de acordo com


1 6
ticipar no canto dos levitas d u r a n t e o sacrifício cotidiano;
Ant. X V 1, 2, § 6 c o n d e n o u "os 45 principais m e m b r o s p a r a a circunstância o c u p a v a m lugar no átrio dos israeli-
do partido de Antígono frei e sumo s a c e r d o t e ] " . Confor- tas, aos pés do estrado, colocado entre o átrio dos israelitas
m e nos mostra a c o m p a r a ç ã o desses dois textos, os prin- e o dos sacerdotes , o n d e ficam os levitas.
11

cipais membros da nobreza leiga, partidários dos asmo- D e g r a n d e importância a informação d a d a pelo após-
neus, t i n h a m voz ativa no Sinédrio. U m a segunda sinoní- tata Elisha ben A b u y a , nascido em Jerusalém antes de
mia é ainda mais clara. Aqueles que B. j . II 12, 5, § 237 70 d.C. " M e u pai A b u y a era u m dos grandes de Jerusa-
chama de representantes " d o s magistrados [árcontes] de lém . N o dia de m i n h a circuncisão, ele convidou todos
24

J e r u s a l é m " são c h a m a d o s , na passagem paralela dos Ant. os outros grandes de Jerusalém " e instalou-os n u m quar-
X X 6, 1, § 1 2 3 , "os principais habitantes de Jerusalém t o " . Esse convite faz-nos ver o pai, n o b r e de Jerusalém,
2 6

pela dignidade e nascimento; de n o v o , a c o m p a r a ç ã o des- como u m h o m e m a b a s t a d o . A p a l a v r a " t o d o s " e a infor-


ses dois textos mostra que os chefes das famílias patrícias m a ç ã o segundo a qual pôde-se colocar juntos " t o d o s " os
e r a m ouvidos no Sinédrio. grandes da cidade n u m m e s m o c ô m o d o , m o s t r a m que os
O exame da literatura rabíníca leva à m e s m a con- chefes das famílias hierosolimitanos de alta classe forma-
clusão, pois, fala t a m b é m dos representantes da n o b r e z a v a m u m grupo restrito.
leiga como de u m grupo do Sinédrio. O b t e m o s , assim, to- Fazem parte desse g r u p o os três sólidos mercadores
tal certeza histórica sobre a característica dos " a n c i ã o s " , de Jerusalém q u e u m relato b e m conhecido p r o c u r a real-
Diversas vezes, na literatura rabínica aparecem "os gran- ç a r . P o r ocasião da revolta contra os r o m a n o s , eles se
des da g e r a ç ã o " , "os grandes de J e r u s a l é m " , " a s pessoas c o m p r o m e t e r a m — assim dizem — a reabastecer a cidade
de Jerusalém de alto n í v e l " . A e n u m e r a ç ã o mostra que c o m víveres e l e n h a , d u r a n t e vinte e u m anos ; são cha- 27

formam u m grupo restrito. O relato lendário do M i d r a x e m a d o s ora como "três ricas p e r s o n a g e n s " ; ora como 28

segundo o qual Vespasiano locupleta três barcos com "os " g r a n d e s de I s r a e l " ou " g r a n d e s d a c i d a d e " , ora "con-
29 3Ü

grandes de Jerusalém" e deporta-os já faz p a r t e deste


17

contexto. O u t r a s informações situam-se sob u m a luz his- 20. b . Kei. 106 . a

tórica. " R . Sadoc era u m ' g r a n d e da g e r a ç ã o ' " . " U n s hie-


18
2 1 . 'Ar. II 6; T o s . 'Ar. I I 1 (544, 1 4 ) .
rosolimitanos da alta classe, t i n h a m o costume de dar gra- 22. T o s . T o s . 'Ar. II 2 (544, 1 6 ) .
tuitamente a bebida anestésica p a r a os c o n d e n a d o s à mor- 2 3 . S e g u n d o T o s . 'Ar. I I 2 (544. 14), m a n t i n h a m - s e n o átrio das
m u l h e r e s . M a s , c o m o b e m d e m o n s t r a II 1 (544, 1 4 ) , a M i s h n a 'Ar.
t e " . " A b b a Shaul [cerca de 150 d . C ] dizia: 'Uns hieroso-
19
II 6 é q u e c o n s e r v o u a l e m b r a n ç a e x a t a : "Eles se c o l o c a v a m n ã o
limitanos de nível alto' c u i d a v a m da m a n u t e n ç ã o [das mães s o b r e o e s t r a d o , m a s n o c h ã o , de m o l d e a q u e suas c a b e ç a s ficassem
n a a l t u r a dos pés dos levitas [colocados n o e s t r a d o e r g u i d o a u m
que e d u c a v a m seus filhos p a r a o rito da novilha v e r m e l h a , c ò v a d o e m e i o = 75 cm. acima d o átrio dos i s r a e l i t a s ] " . G. D a l m a n ,
Der zweite Tempcl zu Jerusalém e m PJB 5 ( 1 9 0 9 ) , 4 5 , n . 6 rejeita
16. N ã o t o m a r ao p é d a letra; o S i n é d r i o c o n t a v a c o m 7] m e m - i g u a l m e n t e a localização d e T o s . 'Ar. II 2 (544, 16).
bros. S. F u n k , Die Mãnner der grossen Versammlung und die Ge- 24.. V a r i a n t e : " u m dos g r a n d e s da g e r a ç ã o " em Qoh. R. e Rute R.
richlsòfe im nachexilischen Judentum, em MGWJ 55 ( 1 9 1 1 ) , 37-39 ti- 25. Qoh. R.: "e todos os g r a n d e s d a g e r a ç ã o " .
n h a em m e n t e o p e q u e n o Sinédrio c o m p o s t o , c o n f o r m e diz, d e 45 26. j . Hag. II 1. 77^ 33 ( I V / 1 , 272) e p a r . : Rute R. 6, 6 s o b r e
m e m b r o s . É difícil dar-lhe r a z ã o . 3 , 13 ( 1 7 1 4 ) ; Qoh. R. 7 , 18 s o b r e 7. 8 ( 1 0 4 9 ) . As ú l t i m a s pala-
b a

vras faltam nas p a r a l e l a s .


17. Lam. R. 1, 48 s o b r e 1, 16 ( 3 4 19). a

27. V e r supra, 57 e 139.


18. ARN rec. A c a p . 16, 6 3 19.
a

28. b. Gii. 6 5 . a

19. b . Sanh. 4 3 bar.; ver supra, 140.


a

29. ARN rec. A c a p . 6, 3 1 2 3 .


a
selheiros" . Pode ser q u e esse relato c o n t e n h a particulari-
31 2 . e m 2 0 t a m u z , a família d e D a v i d a t r i b o d e J u d á
dades lendárias, mas encerra u m sólido n ó d u l o h i s t ó r i c o ; 32
(cf. Esd 8,2);
dele d e p r e e n d e m o s q u e " o s grandes da c i d a d e " faziam 3. e m 5 a b , a família d e Parosh d a tribo d e J u d á ; 3 8

p a r t e d o Sinédrio. T u d o isso se evidencia pelo fato d e sa- 4 . e m 7 a b , a família d e Y o n a d a b , d a tribo d e R e c a b ; 39

bermos q u e " a s principais personagens d e J e r u s a l é m " exer-


5. e m 10 a b , a família d e Senaa, d a tribo d e Benja-
ciam, n o D i a d a s expiações, u m a função oficial n o qua-
mim ; w

dro da liturgia d a festa: a título de m e m b r o s do Sinédrio


e v i d e n t e m e n t e , a c o m p a n h a v a m a t é a primeira das dez
33 6. em 15 a b , a família d e Z e t u a , d a tribo de Judá e, 41

b a r r a c a s colocadas n o c a m i n h o , aquele q u e deveria levar com e l a , os sacerdotes, os levitas e todos aqueles sobre
o bode Azazel a o deserto . Ressalta, enfim, d a c o m p a r a -
34
cuja origem p a i r a v a u m a incerteza % [isto é ] , os filhos
4 43

ção d e dois textos midráxicos, q u e as designações "gran- de ladrões d e folhas [ o u : de morteiros] e os filhos dos 4 4

des d a c i d a d e " ( " d a g e r a ç ã o " e " a n c i ã o s " ) p a r e c e m sinôni- cortadores d e figos;


mas . Fechamos, assim, o círculo: no Sinédrio, o g r u p o
3S
7. e m 2 0 a b , a família F a a t - M o a b , da tribo d e J u d á ; 4 5

dos anciãos compunha-se de chefes das famílias patrícias 8. e m 20 elul, a família d e A d i m , d a tribo d e J u d á ; 4 6

de Jerusalém. 9 . e m 1" tebet, a família d e P a r o s h , pela segunda


N o e m p e n h o d e d e t e r m i n a r a composição do Sinédrio, vez".
descobrimos a existência incontestável d e u m a n o b r e z a É s u r p r e e n d e n t e e n c o n t r a r nessa lista a m e n ç ã o de
leiga e m Jerusalém. Trata-se agora d e saber se p o d e m o s u m a família recabita; a última informação histórica sobre
obter constatações mais precisas dessa casta. Ta'an. I V 5 os recabitas encontra-se, c o m efeito, e m N m 3,14 e l C r
fornece-nos u m a lista preciosa das famílias privilegiadas , 36

2 , 5 5 , pois p o d e m o s d u v i d a r seriamente d a indicação d e


aptas a trazer a lenha p a r a o altar: Higésipo, r e p r o d u z i d a p o r Eusébio , segundo a qual T i a g o ,
47

irmão d e Jesus foi c o n d e n a d o à m o r t e p o r u m sacerdote


" N o v e dias fpor a n o ] os sacerdotes e leigos traziam
recabita (sic!). Além d o m a i s , é de a d m i r a r q u e ao l a d o
a lenha [conforme a o r d e m s e g u i n t e ] :
da família recabita sejam citadas a p e n a s as famílias men-
1. e m 1" nisan, a família d e Area da tribo d e J u d á ; 3 7

cionadas n o s livros d e Esdras e d e N e e m i a s . Essas duas


observações são concordes e permitem, dizer q u e a lista
30. Gn. R. 4 2 , 1 s o b r e 14, 1 ( 8 5 4 ) ; ARN r c c . B c a p . 13, 3 1
a b

d a t a d e u m a época u m p o u c o posterior à volta d o exílio;


2 1 ; Pirge de R. Eliézer 2.
3 1 . Qoh. R. 7, 2 5 s o b r e 7, 11 ( 1 0 5 2 9 ) ; Lam. R. 1, 32 s o b r e
b indiscutivelmente, p r o v é m d i r e t a m e n t e do relato d e N e 1 0 ,
1, 5 ( 2 8 5 ) . Neste ú l t i m o texto trata-se d e q u a t r o p e s s o a s , pois N a q -
b
3 5 - 3 7 ; 1 3 , 3 1 sobre o sorteio d a s entregas d a l e n h a . C o m o
d e m o n b e n G o r i o n foi, p o r e r r o , d i v i d i d o e m dois n o m e s .
32. V e r supra, p . 139, n . 116.
33. Cf. Yoma I 5. 3 8 . Cf. E s d 2,3;8,3;10,25; N e 3.25;7,S;10,15.
34. Yoma VI 4. 39. Cf. 2 R s 10,15.23; Jr 3 5 , 8 ; l C r 2 , 5 5 .
3 5 . Lv. R. 3 0 , 7 s o b r e 2 3 , 40 ( 8 2 23) e n u m e r a : a) os g r a n d e s
b 4 0 . Cf. E s d 2 , 3 5 ; N e 3,3;7,38;11,9.
d a c i d a d e ( d a g e r a ç ã o ) ; b) as pessoas p a r t i c u l a r e s ; c) h o m e n s , m u - 4 1 . Cf. Z a t t u : E s d 2,8; 10,27; N e 7,13;10,15.
lheres, crianças. Cant. R. 6, 11 s o b r e 6, 5 ( 6 4 7) cita; a) as p e s s o a s
a
4 2 . P r o v á v e l e u f e m i s m o p a r a "cuja o r i g e m n ã o e r a a b s o l u t a m e n t e
p a r t i c u l a r e s ; b) as c r i a n ç a s ; c) os z qenim.
P
A c o m p a r a ç ã o desses d o i s pura".
textos p e r m i t e dizer q u e z qenim
e
designa, r e a l m e n t e , n ã o a i d a d e m a s 4 3 . A i n d i c a ç ã o d a t r i b o falta p a r a os d o i s p s e u d ô n i m o s seguin-
a d i g n i d a d e . S o b r e este p o n t o v e r A . Büchler, The Politicai and Social
tes; esses nomes c o n s t i t u e m , p o r t a n t o , a e p i x e g e s e d a o b s e r v a ç ã o p r e -
Leaders as the Jewish Community of Sepphoris, L o n d r e s , 1909, 10.
cedente.
36. N e e m i a s fizera a escolha p o r sorteio (Ne 10, 3 5 ) , cf. b .
4 4 . I n f o r m a ç ã o d e b . Ta'an. 2 8 . a

Táan. 28*.
45. Cf. Esd 2,6;8,4;1Ú,30; Ne 3,11;7,11; 10,15.
37. Cf. E s d 2,5; N m 7,10.
46. Cf. E s d 2,15;8,6: N e 7.20,10.17.
4 7 . Hist. cccl. I I 2 3 , 4-18.
vemos, o relato t a l m ú d i c o é exato. Segundo esse p a i n e l ,
48
excelentes condições financeiras. Foi o caso de José de Ari-
o privilégio de trazer a lenha é u m a antiga perrogativa matéia e dois dos três influentes negociantes de Jerusalém
que r e m o n t a à época da reorganização da c o m u n i d a d e ju- dos quais já falamos na p . 3 0 7 .
daica após o exilio de Babilonia; as familias privilegiadas Uma passagem do M i d r a x e , cujo sentido é difícil de
conservaram-na com tenacidade d u r a n t e séculos. T e m o s , captar, t a m b é m faz p a r t e deste contexto. Eis o que nos
p o r t a n t o , todos os motivos p a r a crer que essa lista conser- conta. Os conselheiros de Jerusalém, com muita astúcia,
vou os nomes das familias patricias eminentes, cujo cri- teriam obrigado certos ricos h a b i t a n t e s d e Bitter a aceitar
tério de o r d e m repousava em privilégios antiquíssimos. postos de conselheiros e, p a r a tanto, lhes teriam r o u b a d o
Conforme m o s t r a m as entregas em espécie p a r a o as propriedades . T a n t o q u a n t o esse relato exagerado o
M

T e m p l o , conclui-se que essas famílias privilegiadas e r a m , d e m o n s t r a , os membros leigos d o Sinédrio em geral tiniram
p r i m i t i v a m e n t e , famílias de proprietários agrícolas; d a í de- fortuna, e sua função — é esse que parece ser o núcleo
corre o fato de, na época de Jesus, a n o b r e z a leiga com- histórico •— p o d i a exigir sacrifícios p e c u n i á r i o s .
por-se especialmente de famílias abastadas. N o M i d r a x e , a Algumas declarações de Josefo nos informam sobre
frase: " F u l a n o é rico; façamo-lo c o n s e l h e i r o " é a t r i b u í d a 49
a posição intelectual e religiosa da nobreza leiga. " S u a
aos funcionários r o m a n o s . C o m p r e e n d e m o s essa frase se d o u t r i n a é seguida a p e n a s p o r u m p e q u e n i n o n ú m e r o , mas
tivermos em mente os hábitos do p r o c u r a d o r . Era entre são os primeiros em d i g n i d a d e " , diz ele dos s a d u c e u s . 55

eles, os " a n c i ã o s " do Sinédrio, que h a b i t u a l m e n t e os pro- N o u t r a p a s s a g e m conta que os saduceus só conseguiam
56

curadores escolhiam os funcionários p a r a os impostos , os 5Ü


atrair os ricos e não e r a m seguidos p e l o p o v o . O q u a d r o
" d e c a p r o t o s " . Encarregavam-se esses de repartir e n t r e os
51
histórico de Josefo corrobora, dc m a n e i r a convincente, es-
cidadãos sujeitos ao fisco, o tributo imposto pelos roma- sas indicações segundo as quais os m e m b r o s da n o b r e z a
nos à Judéia; respondiam pelo p a g a m e n t o exato com seu leiga eram, em grande p a r t e , s a d u c e u s . Descreve, por 57

próprio d i n h e i r o . Para o c u p a r esse cargo dito "litúrgi-


52
exemplo, os saduceus como os mais considerados e as
co" 5 3
de decaproto, era preciso ter consideráveis recursos, principais personagens d e n t r e as q u e c e r c a v a m o rei Ale-
antes de t u d o , bens imobiliários, c o m o acontecia no Egito. x a n d r e Janeu (103-76 a.C.) que t i n h a idéias saducéias . 5S

Esse fato prova que os chefes das famílias patrícias, na A opinião ainda m u i t o difundida segundo a qual os
medida em que pertenciam ao Sinédrio, e r a m pessoas de saduceus e r a m u m partido clerical q u e se recrutava, não

48. b . Ta'an. 2 8 ; T o s . Ta'an. I V 5 (219, 2 4 ) ; j . Ta'an. I V 2 , 6 8


a a

54. Iam. R. 2, 5 sobre 2 , 2 (43" 1 9 ) ; 4, 22 s o b r e 4, IS ( 6 0 1 0 ) ; a

38 (não t r a d u z i d o cm 1 V / 1 , 183 q u e r e m e t e ao p a r . 111/2, 280.


j . Ta'an IV 8, 6 9 22 ( I V / 1 , 190).
a

49. Gn. R. 76, 5 s o b r e 32, 12 (_164 2 4 ) ; cf. a l é m de b . Gil. 3 7 :


b a

55. Ant. X V I I I 1, 4, § 17.


" R a b H i s d a [f 309] dizia: 'Bulé, sao os ricos', pois está e s c r i t o [Lv
2 6 , 1 9 ] : ' Q u e b r a r e i a s o b e r b a d c vossa d u r e z a ' ; s e g u n d o a e x p l i c a ç ã o 56. Ant. X I I I 10, 6, § 298. Ver a i n d a ARN rec. A c a p . 5, 2 6 a

de R a b José [ t 3 3 3 ] , isso designa os c o n s e l h e i r o s [büla'ót, v e r a este 12: "E eles [os s a d u c e u s c os boetusianos") serviam-se d i a r i a m e n t e d e
respeito Bacher, Ag. Tann., I, 52, n. 6] de J u d e i a " . Nesse t e x t o , utensílios de p r a t a e o u r o " ( p o r q u e n e g a v a m a r e s s u r r e i ç ã o dos mor-
i g u a l m e n t e , os conselheiros são pessoas ricas. tos e q u e r i a m , assim gozar o m a i s possível d o s b e n s da v i d a t e r r e n a ) .
É c e r t o q u e os p a r t i d á r i o s dos s a d u c e u s p e r t e n c i a m aos meios afor-
50. B. /'. II 17, 1 § 405; arcontes e c o n s e l h e i r o s r e c o l h e m os im-
p o s t o s ; § 407: a r c o n t e s e patrícios são a p r e s e n t a d o s ao p r o c u r a d o r t u n a d o s . L e m b r e m o - n o s , enfim, de q u e as influências helcnísticas se
t e n d o em vista a n o m e a ç ã o dos f u n c i o n á r i o s p a r a os i m p o s t o s . d i s t i n g u e m n a teologia dos s a d u c e u s e no seu j u l g a m e n t o s o b r e a
5 1 . Ant. X X 8, 1 1 , § 194. v i d a ; isso t a m b é m indica os meios mais a f o r t u n a d o s , pois foram esses
52. S o b r e o e n c a r g o dos d e c a p r o t o s : C. G . B r a n d i s art. Dekáprotoi os m a i s atingidos pela c u l t u r a helenística.
cm Pauly-Wissoma, Real-Encydopàdie I V ( 1 9 0 1 ) , col. 2417-2422; O . Seeck, 57. A bibliografia s o b r e os s a d u c e u s e n c o n t r a - s e mais a d i a n t e , no
" D e c e m p r i m a t u n d D e k a p r o t i e " , c m Beiträge zur alten Geschichte, ed. c a p . I V c o n s a g r a d o aos fariseus. Citemos a q u i W e l l h a u s e n , Pharisaer;
de C. F . L e h m a n n , I, Leipzig, 1902; Mitteis-Wileken, 11, 218. S c h l a t t e r , Gesch. Isr., 165-170; R. Lcszynsky, Die Sadáuziier, Berlim,
53. Este t e r m o designa u m cargo oficial ao q u a l se era o b r i g a d o 1912.
de m o d o legal. 58. Ant. X I I I 16, 2, § 4 1 1 ; B. /. I 5, 3 , § 114.
exclusiva, mas principalmente nos círculos d e sacerdotes Além do m a i s , é v e r d a d e q u e esses sacerdotes de nível
de alta classe, precisa ser corrigida. É b e m v e r d a d e q u e elevado e r a m os dirigentes dos s a d u c e u s ; os Atos dos Após-
os últimos asmoneus e as familias da aristocracia pontifi- tolos designam os saduceus como p a r t i d á r i o s do sumo sa-
cia ilegítima, ao contrario da m u l t i d ã o dos sacerdotes, con- cerdote (At 5,17; cf. 2 1 ) , e u m g r u p o de saduceus, talvez
servavam, e m g r a n d e p a r t e , idéias saducéias "; vemos, por 5
mesmo o conjunto dos s a d u c e u s , chamavam-se "Boetu- 68

exemplo, João H i r c a n o (134-104 a . C ) , sumo sacerdote e s i a n o s " , segundo o s u m o sacerdote S i m ã o , filho de Boe-
príncipe dos judeus q u e , no início de seu reinado m a n t i - tos . N ã o significa, p o r é m , de m o d o algum, q u e os sadu-
ò9

nha-se do lado dos fariseus e coligou-se a seguir aos sadu- ceus t e n h a m contato u n i c a m e n t e ou p e l o menos em maio-
ceus ; assim A l e x a n d r e Janeu (103-76 a . C ) , sumo sacer-
bD
ria, c o m sacerdotes entre seus m e m b r o s .
dote e r e i ; assim, também, o sumo sacerdote S i m ã o , fi-
6 1

Essa possibilidade já se acha excluída pela inexistên-


lho de Boetos (cerca de 22 a . C . ) ; assim, o sumo sacer- ñ2

cia d e tal p r o n u n c i a m e n t o na apresentação dos saduceus


dote José, c o g n o m i n a d o Caifás (18-37 d . C . ) ; assim A n a n , 6 3

por Josefo; a distinção apresentada nos Atos dos apósto-


o jovem, filho de A n a n (62 d.C.) ; e assim ainda dois 64

los, entre os sacerdotes (de idéias saducéias) e os sadu-


sumos sacerdotes s a d u c e u s dos quais fala a t r a d i ç ã o rabí- ceus t o m o u o mesmo r u m o . É At 2 3 que m o s t r a a ver-
70

nica, mas sem lhes mencionar os n o m e s ; podemos identi- d a d e i r a situação. C o m p a r e c e n d o d i a n t e do Sinédrio, P a u l o


ficar u m deles c o m o sendo Ishmael ben Fiabi I I (até 6 1 sabe q u e a assembléia se divide em dois grupos, os sadu-
d.C.) . 65

ceus e os fariseus. Ele declara: "Sou fariseu, filho de fa-


T a m b é m os chefes dos sacerdotes e r a m , em geral riseus. É por causa de nossa esperança, a ressurreição dos
sadticeus; ainda no tempo de Agripa I, seu tribunal p a r e - m o r t o s , que sou s u b m e t i d o a j u í z o " (At 23,6); essas pa-
ce ter proferido uma sentença segundo o direito saduceu . 6T
lavras ligam-no ao grupo dos fariseus. N o dia seguinte, u m
complô fanático é a r m a d o contra a v i d a do Apóstolo e
59. As m e d i d a s de p r e c a u ç ã o cm Yoma 1 5 ; IV I e Sukka I V 9, o b t é m o acordo dos "chefes dos sacerdotes e dos a n c i ã o s "
são explicadas de m a n e i r a exata p o r b . Yoma 1 9 : desconfíava-se q u e
h

o s s u m o s s a c e r d o t e s tivessem idéias s a d u c é i a s . (At 2 3 , 1 2 - 1 4 ) . Já que os fariseus a p r o v a m as atitudes de


60. Ani. X I I I 10, 5-6, § 288ss; b . Ber. 2 9 . a
Paulo, vemos que só p o d e tratar-se d o grupo saduceu do
6 1 . Ani. X I I I 13, 5, § 371s, c o m p a r a d o c o m b. Sukka 4 8 onde Sinédrio.
b

o s u m o s a c e r d o t e c h a m a d o " u m certo s a d u c e u " é A l e x a n d r e ] a n e u .


62. Ver infra, n. 6 8 . Verificamos, p o r t a n t o , que os chefes dos sacerdotes,
63. At 5,17 c h a m a os s a d u c e u s " t o d o o seu p a r t i d o " ( d o s u m o a n o b r e z a sacerdotal e a nobreza leiga formam o partido
s a c e r d o t e ) . Trata-se d e Caifás e n t ã o s u m o s a c e r d o t e (At 4 , 6 ) .
64. Ant. X X 9, 1, § 199. dos saduceus. As famílias patrícias acham-se, pois, em re-
65. T r a t a - s e : 1" de u m s u m o s a c e r d o t e s a d u c e u q u e , n o D i a d a s lação à nobreza sacerdotal, do m e s m o m o d o que os fari-
expiações ofereceu o sacrifício dos perfumes s e g u n d o o rito s a d u c e u ,
b . Y orna 1 9 bar.; j . Yoma I 5, 3 9 45 ( I H / 2 , 1 7 0 ) : T o s . Yoma
b a
I 8
seus em face aos escribas. E m ambos os casos, os leigos
(181, 6 ) ; 2" dc u m s u m o s a c e r d o t e s a d u c e u q u e q u e i m o u a n o v i l h a f o r m a m a g r a n d e massa dos p a r t i d á r i o s ; os " h o m e n s d a
v e r m e l h a , T o s . Para I I I 8 (632, 1 8 ) , e isso e m p r e s e n ç a d e R a b b a n
Y o b a n a n b e n Z a k k a i . R e s u l t a , pois, daí, q u e este s e g u n d o e v e n t o 68. A l g u m a s passagens p a r a l e l a s e m p r e g a m m u i t a s vezes u m p o r
n ã o p o d e ter a c o n t e c i d o m u i t o t e m p o a n t e s de 70 d.C. O r a , s e g u n d o o u t r o os t e r m o s s a d u c e u s e b o e t u s i a n o s . E m ARN rec. A c a p . 5 2 6 a

Para I I I 5, n o s é c u l o I d e n o s s a era, s o m e n t e dois s u m o s s a c e r d o t e s 4, rec. B c a p . 10, 2 6 3, a d i s t i n ç ã o e n t r e s a d u c e u s e b o e t u s i a n o s é


b

p r e p a r a r a m u m a novilha v e r m e l h a : Elíonaios, filho d e K a n t e r a s (cerca artificial.


de 44 d.C.) e Ishmael, filho de Fiabi (até 61 d . C ) . Só p o d e , p o i s .
tralar-se de I s h m a e l . 69. T o s . Sukka I I I 1 (195, 1 9 ) ; b . Sukka b
4 3 ; T o s . Yoma I 8
(181, 3 ) ; T o s . R. H. I 15 (210, 1 0 ) ; b . Shab. 1 0 8 ; b . Men. 6 5 ; ARN
a a

66. E p r o v á v e l q u e d e n t r e os s a c e r d o t e s d e alto nível h o u v e s s e rec. A c a p . 5, 2 6 II e passim;


a
Billerbeck, I I , 849s e 599 a.
t a m b é m a l g u n s fariseus (ver infra, p . 347, n o c a p í t u l o d e d i c a d o a o s 70. At, 4 , 1 . — U m a d i s t i n ç ã o c o r r e s p o n d e n t e e n t r e u m s u m o sa-
f a r i s e u s ) ; m a s não era de regra.
c e r d o t e e u m s a d u c e u e n c o n t r a - s e em R o s . Nidda V 3 (645, 2 4 ) ; b .
67. Ver supra. p. 246, n. 222. T a l v e z t a m b é m u m sacerdote sa- Nidda. 3 3 , Q u a n t o ao t e x t o p r i m i i t v o d a p a s s a g e m ( x e q u e á r a b e em
b

d u c e u em Lc 10,25-37.
lugar d e s a d u c e u ) , v e r supra, p . 216, n . 5 1 .
religião" — clérigos entre os saduceus, teólogos entre os d a . T i n h a m , além do mais, seu p r ó p r i o código p e n a l
7 6 7 7

fariseus — forneciam os chefes. do qual inúmeros dados dão a conhecer a extrema severi-
Os saduceus c o n s u m i a m um grupo o r g a n i z a d o ; essa 71
d a d e . Já tivemos ocasião de e n c o n t r a r
78
u m tribunal sa-
7y

obervação é especialmente elucidativa p a r a se conhecer a duceu de chefes de sacerdotes q u e se referem muitas vezes
idéia q u e as famílias patrícias faziam de si mesmas c o m o a sentenças proferidas segundo o direito saduceu . Esses ao

detentoras da tradição. O fato sobressai por ser restrito 72


fatos conferem total garantia sobre a existência de escribas
o n ú m e r o dos saduceus, como conclui Josefo, e de possuí- saduceus, e n u n c a deveriam ser contestados, pois, as fon-
rem u m a liülaka (tradição) que r e p o u s a v a n u m a exegese tes m e n c i o n a m expressamente a sua e x i s t ê n c i a . Temos 81

da Escritura, que os membros deviam seguir como diretriz provas ainda de que as famílias patrícias saducéias forma-
de vida. v a m u m g r u p o g r a n d e m e n t e o r g a n i z a d o , c o m u m a tradição
O caráter exclusivo do grupo dos saduceus ressalta teológica e u m a d o u t r i n a e l a b o r a d a ; apegavam-se estrita-
ainda mais claramente q u a n d o Josefo os aproxima dos fa- mente ao texto da Escritura, o que m o s t r a o caráter con-
riseus e dos essênios. Conta ele, em sua Autobiografia, de servador desses círculos.
que m o d o p r a t i c o u , sucessivamente, as observancias d o s G r a ç a s às suas relações com a p o d e r o s a n o b r e z a sa-
fariseus, dos saduceus e dos essênios, p a r a adquirir u m co- cerdotal, as ricas famílias patrícias r e p r e s e n t a v a m u m fator
nhecimento prático dessas três tendências, e, finalmente, m u i t o influente n a vida da n a ç ã o . Sob os asmoneus em
agregou-se aos f a r i s e u s . Sabemos, com certeza, q u e os
71
p a r t i c u l a r , até a vinda da r a i n h a A l e x a n d r a (76 a . O ) ,
fariseus e os essênios constituíam c o m u n i d a d e s organiza- t i n h a m nas m ã o s o poderio político. Com os sacerdo-
das, com condições para admitir novos m e m b r o s e com ob- tes de alta classe constituíam o Sinédrio; por conse-
servancias firmemente estabelecidas. Conclui-se, por conse- guinte, possuíam, ao l a d o do s o b e r a n o , o p o d e r judiciá-
guinte, que o mesmo acontecia q u a n t o aos saduceus. N ã o rio e a a u t o r i d a d e g o v e r n a m e n t a l . O declínio de seu po-
era, pois, q u a l q u e r que podia penetrar no seu círculo. der d a t a da época da r a i n h a A l e x a n d r a ; sob seu reino, os
A "teologia" saducéia é t a m b é m esclarecedora e faz fariseus ingressaram no Sinédrio e a m u l t i d ã o chegou-se
conhecer o conservadorismo institucional da nobreza leiga. cada vez mais a eles. O s saduceus l u t a r a m com H e r o d e s ,
Atinha-se estritamente à letra da T o r á , p a r t i c u l a r m e n t e74
o G r a n d e , de m o d o especial d u r a n t e o longo pontificado
às suas prescrições sobre o culto e o sacerdócio; via-se, do sumo sacerdote Simão (22-5 a . C ) , filho de Boetos de
pois, em nítida oposição com os fariseus e sua halaka o r a l q u e m a d v é m o cognome Boetusianos; isso permitiu-lhes, ao
q u e declaravam obrigatórias, m e s m o p a r a o círculo de lei-
gos piedosos, as prescrições acerca da p u r e z a relativa aos 76.Cf. M t 16,12: "a d o u t r i n a dos s a d u c e u s " .
77. Megillat ía'anit 10, ao 14 t a m m u z (ed. H . Lichtenstein em
sacerdotes \ Os saduceus consignaram essa teologia n u m a
7

HUCA 8-9 (1931-1932), 319, n. 1 2 ) ; ver os escólios e m Megillat ta'anit


halaka perfeitamente elaborada e exegeticamente funda- 10 (ed. L i c h t e n s t e i n , ibid., 3 3 1 , n . 12.
78. P s . Salomon I V 2; Ant. X X , 9, 1, § 199; Billerbeck, I V ,
7 1 . S o b r e este p o n t o B . D . E e t d m a n s , Farizeèn cn Sadduceên. em 349-352.
Theologish Tijdschriji 48 ( 1 9 1 4 ) , 1-26 e 223-230 (opondo-se a W e l - 79. P p . 245s.
Ihausen, Pharisaer) viu a c e r t a d a m e n t e , se b e m q u e certos d e t a l h e s de 80. Ant. X X 9, 1, § 199; b . Sanh. 5 2 . b

sua exposição sejam, cies t a m b é m , c o n t e s t á v e i s . É falso, p o r e x e m p l o , 8 1 . Ant. XV11I 1, 4, § 16. — Cf. a i n d a A t 2 3 , 9 : " a l g u n s escribas
c h a m a r os lariseus e os s a d u c e u s de " s e i t a s " , pois esses dois g r u p o s d o p a r t i d o dos f a r i s e u s " ; M c 2,16 p a r . Lc 5,30: "escribas dos fariseus".
não rejeitaram a c o m u n i d a d e do p o v o ; t a m b é m é e r r ô n e o c o n t e s t a r o Essas expressões fazem p e n s a r q u e h a v i a , de m o d o inverso, escribas
c a r á t e r aristocrático dos s a d u c e u s . s a d u c e u s . S o b r e esses ú l t i m o s v e r Billerbeck, I, 250; I V , 343-352;
72. Ant. X V I I I 1, 4 § 17. Meyer, Ursprung, I I , 286ss; S c h ü r e r , I I , 380s, 457; G . F. M o o r e em
73. Vita 2, § lOss. HThR 17 ( 1 9 2 4 ) , 350s; L. Baeck, Die Pharisaer, e m 44. Bericht der
Hochschule für die Wissenschaft des Judeníums in Berlim, Berlim,
74. R. Leszynsky. Die Sadduzaer, Berlim, 1912, deu-lhe a p r o v a . 1927, 70, n . 87.
75. Ver infra, p. 357, no c a p í t u l o d e d i c a d o aos fariseus.
que parece, cerrar suas fileiras, mas n ã o p u d e r a m conter CAPÍTULO III
a evolução. O declínio da importância política dos sumos
sacerdotes na primeira m e t a d e d o p r i m e i r o século de nossa
era teve como conseqüência o declínio da n o b r e z a leiga, OS ESCRIBAS
e os fariseus, apoiando-se no grande n ú m e r o de seus par-
tidários entre o p o v o , souberam fazer prevalecer c a d a vez
mais fortemente a sua v o n t a d e no Sinédrio . sz

A i n d a u m a vez, a sorte pareceu colocar a n o b r e z a à


testa do p o v o : em 66 d . C , q u a n d o estourou a revolta con-
tra os r o m a n o s , os jovens nobres t o m a r a m entre as mãos P a r a l e l a m e n t e à antiga classe superior constituída pela
o destino d o p o v o . Mas foi d e p o u c a d u r a ç ã o . D e s d e 6 7 , n o b r e z a hereditária do clero e do laicato, formou-se nos
os zelotas se apossaram do c o m a n d o ; o declínio do E s t a d o últimos séculos antes de nossa era, u m a nova classe supe-
determinou a decadência da nobreza leiga e da corrente rior: a dos escribas. D u r a n t e o período q u e e s t u d a m o s ,
saducéia resultante da u n i ã o entre a n o b r e z a sacerdotal e século I de nossa era até a destruição do T e m p l o , a luta
a nobreza leiga. A nova e poderosa classe superior, a dos pela supremacia, entre a antiga e a nova classe superior,
escribas, tinha e m todos os sentidos s u p e r a d o a antiga clas- atingiu o seu paroxismo e o p r a t o da b a l a n ç a pendia a
se da nobreza sacerdotal e leiga fundada no privilégio de pouco e pouco a favor da nova classe. Como tal se d e u ?
origem. E m que círculos essa nova classe superior se r e c r u t o u ? E m
que força e prestígio essas pessoas r e p o u s a v a m p a r a ousa-
r e m competir com a n o b r e z a h e r e d i t á r i a instalada desde
épocas r e m o t a s ? São essas as perguntas que formulamos
agora.
P a r a responder a elas é preciso, desde logo, exami-
n a r a c o r p o r a ç ã o dos escribas em J e r u s a l é m S e procurar-
mos a origem desses escribas, u m a i m a g e m variegada apre-
senta-se a n ó s . E m Jerusalém até 70 d . C , p o d e m o s cons-
tatar a existência de g r a n d e n ú m e r o de sacerdotes com
formação de escribas . 2

Entre eles encontram-se os sacerdotes da alta classe


como o c o m a n d a n t e do T e m p l o R. H a n a n i a ; o chefe dos 3

sacerdotes, Simão , o u t r o Simão, filho de u m c o m a n d a n t e


4

do T e m p l o , Ishmael b e n Elisha, n e t o de u m sumo sa¬


3

I. É aos escribas e fariseus, e n q u a n t o fatores e c o n ô m i c o s , q u e se


a p l i c a a e x p o s i ç ã o cie M. W e b e r , Religionssoziologie, III: Das antike
Judentum, Nachtrag: Die P h a r i s ä e r . E. L o h m e y e r , Soziale Fragen im
Urchristentum, Leipzig, 1921, segue-o a m p l a m e n t e .
2. G e n e r a l i d a d e s supra, p . 282s e infra, p . 330, n. 93.
3. P. A. I I I e p a s s i m .
4. Vita 39, § 197.
5. Referências supra, p . 278, n . 366. O título de r a b i só se en-
c o n t r a n u m a p a r t e dos t e s t e m u n h o s .
82. Ant, X V I I I I, 4, § 17
cerdote em exercício ; R. Sadoc \ sacerdote n o b r e o r i u n d o
6

r o s ; rabi Y o s h u a b e n H a n a n y a , levita cantor q u e é fa-


2 0

de u m a família pontifícia e seu filho R. E l e a z a r ; o es- fi

bricante de pregos ; o levita profeta e doutor das primei-


21

critor Flávio fosefo pertencente à primeira seção hebdo- ras c o m u n i d a d e s cristãs (At 1 3 4 ) ; r a b i Eliézer b e n Y a c o b ,
m a d á r i a , a de Yehoyarib . 9

sobrinho de u m levita . H a v i a a i n d a , como v i m o s , os


22 2 J

Ao lado dos membros da aristocracia sacerdotal, sim- escribas procedentes dos círculos de famílias patriarcais
ples sacerdotes u s a v a m a túnica dos escribas: o sacerdote que e l a b o r a r a m a tradição saducéia.
R. Yosé ben Yoezer, extremamente consciencioso nas ques- V ê m em seguida — e é a g r a n d e massa dos escri-
tões de pureza ; os sacerdotes em cujas famílias se trans-
10
bas — pessoas de todas as outras c a m a d a s do p o v o ; esses
mitia por h e r a n ç a o posto de chefe da sinagoga helenís- outros escribas de Jerusalém constituem, segundo as suas
tica de J e r u s a l é m : o sacerdote R. Yosé, discípulo de
11
profissões, u m q u a d r o v a r i a d o e multicolor. Citemos Yoezer,
Y o h a n a n b e n Z a k k a i ; R. Eliézer ben H i r c a n o s . sacer-
, 2
c o m a n d a n t e da fortaleza do T e m p l o sob Agripa I, u m sha-
dote de alta cultura que vivia em Jerusalém antes da des- m a í t a ; aparecem diversos m e r c a d o r e s , entre os quais
2 4 25

truição do T e m p l o ' ; o sacerdote Yoezer e seu pai


3
o
14
u m m e r c a d o r de v i n h o ; artesãos d e diferentes ofícios:
2 6

sacerdote R. Tarfon que, em sua j u v e n t u d e participou ain- u m carpinteiro , u m c a r d a d o r de l i n h o , u m fabricante


27 28

da do culto d o T e m p l o ; n ã o sabemos se os sacerdotes


,6
de t e n d a s , e há mesmo u m operário, Hilel, posterior-
29

Zacaria ben Qebutal e Shimeon, o Virtuoso , foram or-


i7 1S
m e n t e célebre d o u t o r . A maioria desses plebeus — e em
30

denados escribas, pois os textos não lhes d ã o o título de g r a n d e escala — pertencia às c a m a d a s n ã o abastadas da
rabi. p o p u l a ç ã o . Entre os escribas de Jerusalém, e n c o n t r a m o s ,
31

ao lado de pessoas de família antiga como P a u l o , até 32

Entre os escribas q u e viviam cm Jerusalém antes da m e s m o h o m e n s sem descendência israelita — a continua-


destruição d o T e m p l o , encontramos a i n d a m e m b r o s do ção de nossa pesquisa m o s t r a r á o q u e isso q u e r dizer —
baixo clero : Y o h a n a n ben G u d g e d a , chefe dos portei-
í9

assim como Shemaya e A b t a l i o n , os célebres doutores dos


m e a d o s do século I antes de nossa e r a q u e , conforme di-
6. E m T o s . Halla I 10 (98, 10) ele j u r a p e l a s v e s t e s d e s e u an-
cestral Vabba). N ã o p o d e ser o p a i p o r q u e , n o século I de nossa era, zem, descendiam de p r o s é l i t o s . Dois outros mestres de 3Í

n ã o h a v i a s u m o s a c e r d o t e de n o m e Elisha; trata-se, c e r t a m e n t e , d o Jerusalém parecem t a m b é m ter sangue pagão, pelo menos


a v ô I s h m a e l b e n P h i a b i II (até 61 d . C ) , v e r supra, p . 268, n . 322.
Foi em J e r u s a l é m , antes dc 70, q u e I s h m a e l b e n Elisha c o m e ç o u a
receber as bases de sua c u l t u r a bíblica, a n t e s q u e os r o m a n o s o levas- 20. Q u a n t o à sua função v e r supra, p p . 187s, 290. E r a r a b i s e g u n d o
sem, a i n d a a d o l e s c e n t e , ao cativeiro. Y eh. X I V 3 ; Git. V 5; b . 'Ar. í l " ; b . Gil. 5 5 . S e g u n d o b . Hor. 1 0 - ,
a a b

7. Ver supra, p . 2 6 5 , n. 300. teria c o n h e c i m e n t o s m a t e m á t i c o s f a b u l o s o s . M a s o p a r a l e l o Sifra D t


8. V e r supra, p . 278, n. 367, p . 283, n. 387. 1, 16, § 16 (30d 120, 35) fala, em seu lugar, de R. Y o h a n a n b e n
9 . Vita I, § Iss. N u r i , o q u e é c e r t a m e n t e e x a t o ; v e r supra, p . 234, n . 158.
10. Hag. II 7. 2 1 . b . 'Ar. I I ; j . Ber. I V 1, l
b á
19 (I, 7 9 ) ; b . Ber. 2 8 .
a

11. V e r supra, 95. 22. Mid. I 2.


12. P. A. II 8 e passim. 2 3 . Supra, p . 3 1 5 , n. 8 1 .
13. D e p r e e n d e - s e de j . Soía I I I 4, 1 9 3ss ( I V / 2 , 261) q u e ele
a
2 4 . 'Orla II 12; v e r supra, p . 287s.
era s a c e r d o t e . 25. Supra, p. 1 6 1 : R a b b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i .
14. Vila 39, § 197: o Lózoros ( v a r i a n t e Lázaros). A forma e x a t a 26. Ibid. A b b a S h a u l , filho d a b a t a n é i a .
d o nome e n c o n t r a - s e na p a s s a g e m p a r a l e l a B. j . II 2 1 , 7, § 6 2 8 : lóes- 27. Ibid.: Shammai.
dros = Yoezer. 28. S h i m e o n b e n S h a t a h , j . B. M. I I 4, 8 18 ( V I / 1 , 9 3 ) .
C

15. B. I II 2 1 , 7 , § 6 2 8 . 2 9 . P a u l o : A t 18,3; cf. supra, p. 10.


16. Ele era s a c e r d o t e . T o s . Neg. VII1 2 (628, 9 ) . 30. V e r supra, 1 6 1 .
17. Yoma I 6. 3 1 . V e r supra, 160-166.
18. T o s . Kel. B. Q. I 6 (569, 2 2 ) . 32. Fl 3,5; R m 11,1.
19. G e n e r a l i d a d e s supra, p . 2 9 1 . 3 3 . b . Yoma 7 1 ; b . Git. 5 7 . Mais t a r d e , R. A q i b a t a m b é m foi
b b

c o n s i d e r a d o d e s c e n d e n t e d e p r o s é l i t o ; é falso.
do lado m a t e r n o : R. Y o h a n a n , "filho da h a u r a n i t a " (cerca como m e m b r o legítimo " d o u t o r o r d e n a d o " (hakam). Es-
de 40 d . C . ) e A b b a Shaul, "filho da b a t a n é i a " (cerca
3 4 tava e n t ã o a u t o r i z a d o a resolver por si m e s m o as questões
d e 60 d . C . ) . Esses cognomes estranhos só p o d e m ser
35 de legislação religiosa e r i t u a l , a ser juiz em processos
41

explicados da seguinte m a n e i r a : suas mães e r a m respecti- criminais e d a r pareceres nos processos civis, seja como
42

v a m e n t e prosélitas h a u r a n i t a s e batanéias (ver infra, p . m e m b r o de u m a corte de justiça, seja i n d i v i d u a l m e n t e . 43

4 2 8 ) . É claro, p o r t a n t o , que se todos esses escribas repre- Passava a merecer o título de rabi, pois, tal título já
sentavam u m papel importante, sua influência, porém, não era de uso para os escribas do t e m p o de Jesus . Aliás, 44

se m e d i a pela nobreza nem pela sua profissão. m e s m o outros, os que não h a v i a m seguido o ciclo regular
de f o r m a ç ã o , c u l m i n a n d o n a o r d e n a ç ã o , e r a m t a m b é m
O saber é o único e exclusivo fator do poder dos es-
c h a m a d o s rabi; Jesus d e N a z a r é é um e x e m p l o . O fato se
cribas. Q u e m desejasse agregar-se à corporação dos escri-
explica: esse título, no início do século I de nossa era,
bas pela o r d e n a ç ã o , seguia u m ciclo regular de estudos
passava p o r u m a e v o l u ç ã o ; inicialmente título honorífico
de alguns anos. O jovem israelita, desejoso de consagrar
geral, iria ser exclusivamente r e s e r v a d o aos escribas. De
sua vida à sábia atividade de escriba começava o ciclo
todo m o d o , u m h o m e m d e s p r o v i d o d a f o r m a ç ã o rabínica
de sua formação como discípulo (Iatmid). Diversos exem-
completa passava por grámmata mè memathekos (Jo 7,
plos m o s t r a m que o ensino começava, h a b i t u a l m e n t e , des-
1 5 ) ; n ã o desfrutava dos privilégios d e u m d o u t o r o r d e n a d o .
de tenra idade. É o que nos conta Josefo, e m b o r a n ã o le-
vemos em conta boa parte de seu elogio pessoal por fazê¬ Somente os doutores o r d e n a d o s t r a n s m i t i a m e criavam
-lo com prodigalidade, na sua Autobiografia ; desde os 36
a tradição d e r i v a d a d a T o r a q u e , s e g u n d o o e n s i n a m e n t o
catorze anos, d o m i n a v a p l e n a m e n t e a exegese da Lei. É o dos fariseus recebido pela massa do p o v o , colocava-se em
q u e mostra t a m b é m o retrato relativo a R. íshmael ben pé d e igualdade c o m a Lei escrita até m e s m o acima
Elisha que já possuía u m sólido conhecimento da Escri- d e l a . Suas decisões t i n h a m o poder de "ligar" e "desli-
46

tura, q u a n d o os r o m a n o s o levaram, ainda r a p a z , p a r a o g a r " (cf. Mt 1 6 , 1 9 ; 18,18) p a r a sempre os j u d e u s do mun-


cativeiro . 37
do inteiro. Àquele q u e estudara, que freqüentara círculos
acadêmicos, abriam-se por conseguinte, como ao detentor
O aluno tinha convivência pessoal com seu mestre e
deste saber e desse p o d e r i o , as posições-chave do direito,
ouvia seus ensinamentos. Q u a n d o tivesse a p r e n d i d o a do-
da administração e do ensino. "Profissões a c a d ê m i c a s " en-
minar toda a matéria tradicional e o método h a l a q u i t a a
tão surgiram; os escribas as exerciam ao lado de seu ma-
ponto de p o d e r resolver por si m e s m o questões de legis-
gistério didático e de sua profissão civil.
lação religiosa e ritual, tornava-se " d o u t o r não o r d e n a d o "
(talmid hakam). Mas somente q u a n d o atingisse a i d a d e C o m exceção dos chefes dos sacerdotes e dos mem-
canónica p a r a a o r d e n a ç ã o , fixada em 40 anos, segundo bros das famílias patriarcais, o escriba era o único a po-
u m a informação pós-tanaíta , é que p o d i a , pela o r d e n a ç ã o
3S
der ingressar n a assembléia suprema, o Sinédrio; o par-
(s mikak) ,
e 39
ser recebido na c o r p o r a ç ã o dos d o u t o r e s , 40
tido fariseu do Sinédrio compunha-se inteiramente de es-

40. Cf. as " g u i l d a s dos e s c r i b a s " ( I C r 2.55 misp hôt),


e
"a associa-
34. Sukka II 7 e passim.
35. b . Besa 2 9 e passim. T a l v e z N a h u m , o M e d o (cerca d e 50
a ç ã o dos e s c r i b a s " ( I M c 7,12 sunagogé) e passim.
d . C ) , Shab. II 1 e passim, p e r t e n c e m t a m b é m a essa categoria. 4 1 . b . Sanh. 5 . a

36. Vita 2, § 9. 42. Ibiã. 3 . a

37. b . Git. 5 8 b a r . e p a r . S o b r e este p o n t o ver Bacher, Ag.


a
Tann., 4 3 . Ibid. 4 b a r .
b

I, 166, n, 1. ' 4 4 . Mt 23,7-8. G . D a l m a n , Die Worte fesu I, 2? ed., Leipzig, 1930


38. b . Sota 2 2 . b
( r e i m p r e s s o D a r m s t a d t , 1 9 6 5 ) , 274, e Jesu-feschua, Leipzig, 1922, 12.
39. O c o s t u m e c o r r e s p o n d e n t e d o c r i s t i a n i s m o p r i m i t i v o (At 6,6 e 45. BiJlerbcck. 1, 81s.
passim) g a r a n t e i vetustez do r i t o .
46. ibid., 691ss.
11 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
cribas . Esse Sinédrio não era apenas u m a assembléia go-
47

esse c o n h e c i m e n t o , atingir os postos-chave; consistia, sim,


v e r n a m e n t a l ; constituía, e m p r i m e i r o lugar, u m a c o r t e d e
no fato, m u i t o pouco n o t a d o , de serem p o r t a d o r e s de u m a
j u s t i ç a . O r a , o conhecimento da exegese escríturística
4S

ciência secreta, a tradição esotérica . 54

era obrigatório nas sentenças judiciárias. Acrescentemos a


" N ã o se deve explicar p u b l i c a m e n t e as leis sobre o
g r a n d e influência q u e o g r u p o fariseu do Sinédrio conse-
incesto diante de três auditores, n e m a história da criação
guira ter em sua atividade administrativa. Essas condições
do m u n d o diante de dois, n e m a visão do carro de Eze-
permitem-nos avaliar o privilégio dos escribas q u e os au-
quiel d i a n t e de u m só, a menos que ele seja sábio e cri-
torizava a fazer parte dos 7 1 . É assim q u e e n c o n t r a m o s
terioso. Para q u e m especula q u a t r o coisas, melhor fora s5

no Sinédrio os principais escribas: Shemaya , N i c o d e m o s 49

não ter vindo ao m u n d o [isto é, p r i m e i r a m e n t e ] o q u e é


(fo 3 , 1 ; 7 , 5 0 ) , R a b b a n Gamaliel I (At 5,34) e seu filho
do Alto, [em segundo lugar] o que é da terra, [em ter-
S h i m e o n . O u t r o s escribas eram m e m b r o s de t r i b u n a i s :
5tl

ceiro lugar] o que existia antes, [em q u a r t o lugar] o q u e


Yohanan ben Z a k k a i e P a u l o (At 26,10-11) participa-
5 1

será d e p o i s " . O e n s i n a m e n t o esotérico, e m sentido es-


56

r a m , como juízes, em processos criminais; três o u t r o s es-


trito, tinha, pois, como objeto, conforme muitos outros
cribas formavam u m tribunal civil em Jerusalém , 52

testemunhos o d e m o n s t r a m t a m b é m , os ensinamentos mais


Q u a n d o u m a c o m u n i d a d e devia escolher e n t r e u m secretos e ocultos sobre o ser divino (a visão do c a r r o ) — 5 7

leigo e u m escriba p a r a o posto d e ancião da c o m u n i d a d e , sem dúvida o nome divino sagrado, d o t a d o de u m a virtude
de arqui-sinagogo ou juiz, supõe-se q u e , de m o d o geral, mágica dele fazia parte igualmente — e os segredos das
58

dava preferência ao escriba. Significa que u m g r a n d e nú- maravilhas da criação . As conversações e r a m particula-
59

m e r o de postos i m p o r t a n t e s , ocupados antigamente por sa- res, entre mestre e discípulo e v e r s a v a m sobre teosofia e
cerdotes e leigos de alta c l a s s e " , e r a m , n o século I d e cosmogonia, tais como foram consignadas por escrito no
nossa era, passados totalmente ou em g r a n d e parte p a r a primeiro capítulo do livro de Ezequiel e do Gênesis. Fala-
as mãos desses doutores. va-se em tom baixo e ao a b o r d a r a sacrossanta visão do
O q u e vimos a i n d a n ã o levou, p o r é m , a concluir o carro, c o b r i a m ainda a c a b e ç a p o r temor reverenciai
60

motivo decisivo da influência d o m i n a n t e dos escritas so- diante do segredo do ser divino.
b r e o p o v o . O fator definitivo dessa influência n ã o con-
O final do texto que acaba de ser citado poderia ser
sistia e m os escribas serem os senhores da totalidade da
explicado por u m a polêmica antignóstica. Esse final vai
tradição no domínio da legislação religiosa e p o d e r e m , por
mais longe ainda, i n t e r d i t a n d o q u a l q u e r especulação 1)
47. N o N o v o T e s t a m e n t o , o g r u p o farisaico d o S i n é d r i o é geral-
sobre a topografia cósmica com suas afirmações relativas
m e n t e d e s i g n a d o c o m o "os f a r i s e u s " ou "os e s c r i b a s " (cf. p o r e x . Mt ao m u n d o celeste e o s u b t e r r â n e o , 2) sobre a eternidade,
21,45: " o s s u m o s s a c e r d o t e s e os f a r i s e u s " c o m o p a r a l e l o Lc 2 0 , 1 9 :
"os escribas c os s u m o s s a c e r d o t e s " ) ; e m c o n t r a p a r t i d a , j a m a i s lari-
seus c escribas a p a r e c e m u n s ao l a d o dos o u t r o s c o m o g r u p o s do 54. Q u a n t o à t r a d i ç ã o esotérica n o b a i x o j u d a i s m o e n o cristia-
Sinédrio. n i s m o , v e r m i n h a e x p o s i ç ã o d e s e n v o l v i d a e m Die Abendmahlsworte
Jesu, 4- ed., G ò t t i n g e n , 1967, 118-130. A e x p o s i ç ã o q u e segue a p e n a s
48. Cf. M t 26,57-66; At 5,34-40; Ani. X I V 9,4, § 172 e a a b u n - p o d e e s b o ç a r o essencial.
dante documentação rabínica.
55. T a l m u d e de J e r u s a l é m , V e n e z a , 1523, e m s . de C a m b r i d g e :
49. Ani. X I V 9, 4, § 172.
ratüy. A lição ra'üy ê u m a c o r r e ç ã o , Billerbeck, I, 989, n. 1.
50. Vita 38, § 190: c o m p a r a r c o m B. } . II 2 1 , 7, § 627. 56. Hag. II 1; T o s . H a g , II 1 (233, 24) e I I 7 (234, 2 2 ) .
5 1 . Sanh. V 2. 57. Ma'aseh merkabah, Ez 1 e 10.
52. Kct. X I I I l s s ; b . B. Q. 5 8 . b 58. I Enoc L X I X 14-25: efeitos m a r a v i l h o s o s d o n o m e s a g r a d o
53. S a c e r d o t e s c o m o juízes, a n t e s e d e p o i s do exílio: D t 17,9-13; p e l o q u a l D e u s criou o m u n d o , e revelação do segredo aos h o m e n s .
21.5; Ez 44.24. S a c e r d o t e s q u e e n s i n a m : D t 33,10; Jr 18.18; Ml 2,7: A b u n d a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m Billerbeck, 11, 302-333, ver a i n d a m e u
Eclo 45,17. Levitas c o m o juízes: l C r 23,4;26,29. S a c e r d o t e s levitas e Golgolha, Leipzig, 1926, 5 1 .
chefes de famílias c o m o j u í z e s : 2Cr 19,5-11, ver s u p r a , p . 304. 59. Ma'aseh b resit, G n 1.
s

60. b . Yeb. 6 .
b
antes d a criação d o m u n d o , e sobre os fins ú l t i m o s . N a 6 1

v e r d a d e , o apocalíptico, tal como os escritos pseudepigrá- rias exotéricas. Todos os e n s i n a m e n t o s da literatura apoca-
ficos do baixo judaísmo nô-lo conservaram, c o m suas des- líptica dos escritos pseudepigráficos, estranhos à tradição
crições dos acontecimentos escatológicos e da topografia t a l m ú d i c a ou que nela só figuram e s p o r a d i c a m e n t e , per-
cósmica do m u n d o celeste e s u b t e r r â n e o , fazia p a r t e d a t e n c e m ao e n s i n a m e n t o esotérico; assim, por e x e m p l o , o
tradição esotérica dos escribas. Podemos concebê-lo p e l o e n s i n a m e n t o sobre o Salvador, bar nasa ("Filho do ho-
fato de, nesses escritos, encontrar-se de maneira repetida m e m " ) ; esse fato é de suma i m p o r t â n c i a p a r a compreen-
u m a descrição d a visão sacrossanta do carro de E z e q u i e l 62
der a mensagem de Jesus. É o c o n h e c i m e n t o do caráter
e do relato da c r i a ç ã o . Mas não faltam t e s t e m u n h a s
63
esotérico do apocalipse q u e permite, antes de t u d o , expli-
diretas. car o liame orgânico que existe entre a literatura apocalíp-
tica e a literatura talmúdica; observemo-lo à guisa d e
O 4° livro de Esdras termina com a o r d e m d a d a apêndice.
ao Pseudo-Esdras d e publicar os 2 4 livros precedente-
m e n t e redigidos p o r ele, os 24 escritos canónicos do An- Afirmações como as de Bousset, segundo q u e m a li-
tigo T e s t a m e n t o , " p a r a aqueles que são dignos e p a r a aque- teratura apocalíptica c o n t i n h a a religião do p o v o , e a li-
les q u e n ã o são dignos de os l e r " . Mas o texto conti- M teratura talmúdica a teologia dos escribas, p r o v o c a m a mais
n u a : " Q u a n t o aos 70 últimos [ l i v r o s ] , tu os g u a r d a r á s
6 3 completa confusão . 66

e os darás [somente] aos sábios de teu p o v o , pois, esses Alguns ensinamentos esotéricos de o r d e m exegético-
livros fazem correr a fonte da inteligência, o jato d a sa- -jurídica juntam-se aos ensinamentos esotéricos teosóficos,
b e d o r i a e fluir o rio d a ciência". Trata-se dos escritos eso- cosmogónicos e apocalípticos. Alguns foram mantidos ocul-
téricos apocalípticos aos quais a massa do p o v o n ã o deve tos d a d o a sua santidade; é exato especialmente q u a n t o
ter acesso. São inspirados como livros do cânone, mas aos "fundamentos da T o r á " , isto é, as razões q u e levaram
superam-nos em valor e santidade. Deus a estabelecer as prescrições legais p a r t i c u l a r e s ; 67

D e u s fez saber, através do silêncio da Escritura sobre es-


O s escritos apocalípticos d o j u d a í s m o t a r d i o conti-
ses " f u n d a m e n t o s da T o r á " , que era v o n t a d e sua deixar
n h a m , pois, os ensinamentos esotéricos dos escribas; o co-
a g r a n d e m u l t i d ã o no desconhecimento das razões pelas
nhecimento desse fato permite descobrir, de i m e d i a t o , a
quais ele estabelecera exigências legais particulares.
extensão e o valor q u e se lhes atribuía. O s ensinamentos
esotéricos não são ensinamentos teológicos isolados, m a s O u t r o s ensinamentos particulares de o r d e m exegético-
grandes sistemas teológicos, grandes construções doutrinais -jurídica não foram divulgados ao p o v o por razões pedagó-
cujo conteúdo é atribuído à inspiração divina. gicas, a fim de evitar m a u uso deles. Assim se explica a
prescrição m e n c i o n a d a no início deste relato , segundo o 6S

Estamos agora e m condições d e fazer a distinção, n a


q u a l só se p o d e m explicar as leis sobre o incesto diante
tradição rabínica, entre as matérias esotéricas e as m a t é -
61. S o b r e a reserva da literatura t a l m ú d i c a n a d e s c r i ç ã o d o p a r a í - 66. W . Bousset, Die Religion des Judentums in späthellenislischen
so celeste e d a felicidade de seus h a b i t a n t e s , ver Billcrbeck, I V , 1146. Zeitalter, V ed., T ü b i n g e n , 1902; 3? ed. p o r H . G r e s s m a n n , T ü b i n g e n ,
62. I Enoc X I V 9ss. L X X I 5ss; 2 Enoc X X - X X I Í . O texto do 1926 ( r e i m p r e s s o em 1 9 6 6 ) . C o n t r a o c o n c e i t o de Bousset e de Gress-
livro h e b r a i c o d e E n o c e d i t a d o p o r H . O d e b e r g , 3 Enoch or the Hebrew m a n n ver, e n t r e o u t r o s , G . Kittel, Die Probleme des palästinischen und
Book oj Enoch, C a m b r i d g e , 1928, c o m e ç a q u a n d o D e u s o l e v o u d a das Urchristentum, S t u t t g a r t , 1926, l i s . A l i t e r a t u r a apocalíptica n a d a
t e r r a ( G n 5,24) e c o n t i n u a : " R a b i I s h m a e l diz: Q u a n d o subi às al- mais é do que o midraxe e a h a b a d á criados a partir da Escritura;
t u r a s p a r a c o n t e m p l a r a visão d o c a r r o . . . " { O d e b e r g , 3 ) . é o q u e A. Schlatter s e m p r e a c e n t u o u c o m m u i t o a c e r t o . M a s s o m e n t e
63. Jubileus II 1,22; 1 Enoc L I X 16-25; 4 E s d . V I 38-56. a precisão midraxe "esotérico", hagadá "esotérica" torna perfeitamente
c o m p r e e n s í v e l a d i s t i n ç ã o e n t r e l i t e r a t u r a a p o c a l í p t i c a e l i t e r a t u r a tal-
64. 4 Esd. X I V 4 5 . múdica.
65. 4 Esd. X I V 45-46. Q u a n t o ao fato d e m a n t e r secretos os es-
c r i t o s apocalípticos, v e r t a m b é m Assunção de Moisés I 17; Tesl. de 67. b . Pes. 1 1 9 ; b . Sanh. 2Y° e p a s s i m .
a

Salomão rec. C, XIII 13s (ed. C. C. M a C o w n , Leipzig, 1922, 8 7 ) , e 68. Supra, p . 323, Hag. I I 1.
s o b r e esse p o n t o , m e u Golgotha, Leipzig, 1926, 5 1 , n . 4.
descrever a Ressurreição; H b 6,íss onde toda a parte 6,5-10,18
de dois ouvintes. Assim t a m b é m se explicam as prescri-
apresenta-se como o ensinamento perfeito que se deve revelar
ções relativas à leitura de certas histórias ou expressões es-
somente àqueles que são capazes de comprendê-lo [Hb 5,14];
cabrosas do Antigo T e s t a m e n t o , d u r a n t e o serviço sinagogal. cf. Cl 2,2); b) o esoterismo estende-se aos segredos do ser di-
Algumas não p o d i a m m e s m o ser lidas em hebraico; o u t r a s vino (2Cor 12,1-7, especialmente v. 4) e de seu plano de sal-
só deviam ser lidas n a q u e l e idioma, sem t r a d u ç ã o e m ara- vação (Rm 11,25 e passim), em particular aos segredos do
m a i c o , a língua p o p u l a r ; enfim algumas expressões cho- plano de salvação escatológica (ICor 2,6-3,2; 11,51; todo o
cantes deviam ser substituídas por outras mais a m e n a s . m
Apocalipse joânico segundo Ap 10,7; 17,5-7); c) começou-se
Considerações pedagógicas explicam t a m b é m p o r que desde o século I a preservar da profanação as palavras da 16

se m a n t i n h a m secretas as fórmulas mágicas de efeitos ma- Ceia.


ravilhosos utilizadas pelos rabinos , assim como as pres-
70

A c a b a m o s d e falar dos ensinamentos esotéricos dos es-


crições destinadas a atenuar as leis relativas à pureza , ao 71

cribas e m sentido estrito, aqueles q u e n ã o se deviam trans-


t r a b a l h o nos dias de festa intermediária , à santificação
11

mitir às pessoas incompetentes. T o d a v i a , não p o d e m o s es-


do sábado , etc. Razões pedagógicas, enfim, determina-
73

quecer u m fato mais i m p o r t a n t e ; n a época que agora nos


v a m m a n t e r ocultas as tradições genealógicas de m o l d e a
o c u p a , o conjunto da tradição oral, a h a l a k a em particular,
desacreditar p u b l i c a m e n t e as famílias de notáveis . 74

era uma d o u t r i n a esotérica na m e d i d a em q u e , b e m ensi-


Somente à guisa de apêndice, lembremos, para mostrar a n a d a nos estabelecimentos d e estudos e sinagogas, n ã o po-
exatidão das páginas que precedem, o papel representado pelo dia ser difundida p o r escrito, sendo o "segredo de D e u s " , 77

esoterismo nos escritos neotestamentários. Antes de tudo, no mas devia ser transmitida só o r a l m e n t e , de mestre a dis-
que concerne a pregação de Jesus, os sinólicos conservaram cípulo, pois era preciso n ã o confundir escritura e tradi-
uma lembrança talvez muito exata, quando distinguem as pala- ção . Foi somente no século I I d e nossa era q u e a l u t a
78

vras de Jesus à multidão, de suas palavras aos discípulos, e


c o n t r a o cânone n e o t e s t a m e n t á r i o levou os j u d e u s a lhe
sua pregação antes da confissão de Pedro em Cesaréia de Fi-
lipe daquela que segue tal evento. O quarto evangelho o con- o p o r e m u m a i n t e r p r e t a ç ã o paralela do A n t i g o T e s t a m e n t o
firma. K. Bornhãuse bem viu que Nicodemos veio encontrar
75 sob a forma de u m escrito da T o r á oral, tornada assim,
Jesus à noite (Jo 3,lss) para receber dele, durante um coló- acessível a todos. Desse m o d o , o conjunto das matérias en-
quio secreto, alguns ensinamentos a respeito dos últimos se- sinadas ficou despojado de sua característica d e tradição
gredos do Reino de Deus (3,3), da regeneração (3,3-10) e da esotérica.
salvação (3,13ss). No sermão de despedida do quarto evange- Enfim, os p r ó p r i o s escritos sagrados d o Antigo Tes-
lho, Jesus revela o sentido supremo de sua missão e de seus t a m e n t o n ã o se a p r e s e n t a v a m acessíveis à massa; eram,
sofrimentos durante a conversa íntima que manteve com seus
com efeito, redigidos n a "língua s a g r a d a " , a hebraica,
discípulos (cap. 13 a 17).
O lugar ocupado pelo esoterismo é ainda maior no cris- 76. S o b r e o c o n j u n t o desta p a r t e , ver m e u Die Abendmahlsworte
tianismo primitivo. Compreende: á) os últimos segredos da Cris- fesu*, G o l U n g e n , 1967, 123-130.
tología (o silêncio do segundo Evangelho sobre as aparições do 7 7 . Pesiqta rabbati 5, 1 4 3 ; Tanhuma,
b
ivayyar'. § 5, 65, 30;
Ressuscitado; o fato de todos os relatos evangélicos evitarem Tanbuma, ki tisía, § 34, 529, 4 .
78. Ex. R. 4 7 , 1 s o b r e 34, 27 (108* 2 9 ) . S o b r e a " i n t e r d i ç ã o de
69. Meg. I V 10; T o s . Meg. I V 31ss (228, 5 ) . p ô r p o r e s c r i t o " , ver S t r a c k , Einleitung, § 2, 9-16. N u m p o n t o c o n v é m
70,b. Hag. 1 3 ; cf. supra, p . 323, n . 5 8 .
a
c o m p l e t a r a e x c e l e n t e e x p o s i ç ã o d e S t r a c k , 14: o c a r á t e r e s o t é r i c o d a
7 1 . b . Ber. 22* b a r . ciência dos escribas aí n ã o é r e c o n h e c i d o d e m o d o suficientemente es-
7 2 . j . Besa I 1 1 , 6 0 64 ( I V / 1 , 1 1 4 ) .
d
trito c o m o m o t i v o d e t e r m i n a n t e d a i n t e r d i ç ã o d e d i f u n d i r p o r e s c r i t o
7 3 . b . Hul. 15 . a
a t r a d i ç ã o oral. — A isso p o d e m o s c o m p a r a r a c e n s u r a feita p o r Je-
74. b . Qid. 7 0 - 7 1 , cf. b . Pes. 6 2 .
b a b
sus aos e s c r i b a s : t o m a s t e s a " c h a v e da c i ê n c i a " (Lc 11,52 p a r . M t
75. Das fohannesevangelium, G ü t e r s l o h , 1928, 26. 2 3 , 1 3 ) e assim fecharam aos homens o acesso ao Reino de Deus.
q u a n d o a língua p o p u l a r e r a a a r a m a i c a . A i n d a n o século
I de nossa era, os doutores dirigentes c o m b a t e r a m a difu- viagem de muitas s e m a n a s a pé; H a n a n b e n A b i s h a l o m
8 2

são d o Antigo T e s t a m e n t o e m a r a m a i c o . O relato q u e con- veio do Egito a Jerusalém o n d e mais t a r d e foi juiz , e da 83

cerne a R a b b a n Gamaliel I (cerca de 30 d.C.) é elucida- M é d i a chegou N a h u m , seu colega n o m e s m o t r i b u n a l ; 84

tivo q u a n t o a Jerusalém. Na e s p l a n a d a do T e m p l o , trouxe- de T a r s o n a Silícia, são P a u l o encaminhou-se p a r a Jerusa-


ram-lhe u m a t r a d u ç ã o aramaica, u m targum do livro de lém o n d e deveria a p r e n d e r tanto c o m G a m a l i e l (At 22,3).
Jó; ele, desviando do conhecimento público, o m a n d o u es- Com efeito, no t e m p o de Jesus, Jerusalém constituía
conder como p r o d u t o proibido . 19
a cidadela da ciência teológica e jurídica do j u d a í s m o . Já
n a q u e l a época, os estabelecimentos d e estudos de Babilô-
Somente após ter reconhecido o caráter esotérico do nia e r a m importantes; deles é q u e saíram, por exemplo,
e n s i n a m e n t o dos escribas aplicados n ã o somente aos ensi- os benê Bethyra q u e , até os tempos de Hilel foram os
85

nos esotéricos no sentido estrito, mas t a m b é m ao conjunto escribas dirigentes e aos quais o p r ó p r i o Hilel foi devedor
da tradição oral, até m e s m o ao texto da Bíblia, é q u e po- da base de sua formação de escriba . T o d a v i a , por mais sè

demos c o m p r e e n d e r a posição social desses escribas. D o importantes que fossem essas casas de estudos babilóni-
p o n t o de vista social eles são, e n q u a n t o possuidores da cos, n ã o p o d i a m competir c o m as de Jerusalém. Dizem que
ciência secreta de D e u s , os herdeiros imediatos e sucesso- só ele, Hilel, reuniu em torno de si oitenta discípulos . 87

res dos profetas. "A q u e m são c o m p a r a d o s o profeta e o Era n a vida cotidiana, como nos estabelecimentos de estu-
escriba? A dois enviados d e u m único e m e s m o r e i " , diz dos que os alunos se instruíam j u n t o aos mestres; as ati-
o T a l m u d e da Palestina . Como os profetas, os escribas
80

tudes, até m e s m o os mais simples gestos dos instrutores s s

são os servos d e D e u s , ao l a d o d o clero; c o m o os profe- e r a m vigiados e deles se extraíam regras p a r a as questões


tas congregam em torno de si muitos discípulos aos quais religiosas. As decisões e ensinamentos desses docentes se
transmitem sua d o u t r i n a ; como os profetas, são qualifica- i r r a d i a v a m muito além dos limites da Palestina . Os dis- S9

dos n ã o em razão de sua origem como os sacerdotes, mas cípulos conservavam o q u e a p r e n d i a m como u m b e m pre-
simplesmente pelo seu conhecimento da v o n t a d e d i v i n a cioso e transmitiam os benéficos ensinamentos, inserindo-
q u e a n u n c i a m ao ensinar, ao serem juízes e ao p r e g a r . os na cadeia da t r a d i ç ã o .
Pode acontecer q u e u m escriba seja de origem m u i t o du-
vidosa, até mesmo de origem não israelita; n a d a altera o C o m p r e e n d e m o s , pois, que o p o v o t e n h a venerado
seu prestígio. Pode acontecer ainda q u e seja miserável os escribas como o u t r o r a os profetas, com respeito ilimita-
c o m o Hilel, o diarista originário d e Babilônia; sua ciência
faz dele u m h o m e m universalmente célebre. 82. ARN rec. A c a p . 12, 5 5 14; rec. B c a p . 2 7 , 5 5 3 3 ; cf. supra,
a b

p . 86s.
8 3 . Ket. X I I I 1-9; b , Ket. 1 0 5 . a

D e todos os cantos do m u n d o , a j u v e n t u d e j u d a i c a 84. Shab. I I 1; Naz. V 4 ; B. B. V 2; b . 'A. Z. 7 . b

afluía a Jerusalém p a r a sentar-se aos pés dos mestres q u e 85. Seu n o m e v e m , i n d u b i t a v e l m e n t e , d a colônia de Batira e m
ensinavam c o m uma r e p u t a ç ã o m u n d i a l no j u d a í s m o de Batanéia, e s t a b e l e c i m e n t o de j u d e u s b a b i l ó n i c o s c r i a d a p o r Z a m a r i s de
Babilônia c o m a p e r m i s s ã o de H e r o d e s , o G r a n d e (Ani. X V I I 2, 1-2,
então. N o t e m p o d e H e r o d e s , Hilel veio d e Babilônia p a r a § 23ss; S t r a c k , Einléiíung, 1 1 8 ) . A r g u m e n t o s a favor dessa e x p l i c a ç ã o :
ouvir Shemaya e A b t a l i ã o , sem recuar diante de u m a
81
R. Y u d a b e n Bethyra, q u e vivia n a época e m q u e o T e m p l o a i n d a
existia, t i n h a sua escola e m N i s i b e n a Babilônia (b. Pss. 3 ) ; nessa b

c i d a d e , u m d o u t o r de igual n o m e exercia seu m i n i s t é r i o no t e m p o d a


79. b . Shab. 115 . a
perseguição de A d r i a n o <b. Yeb. 1 0 8 ; Sifre
b
D t 12,29, § 80 (4Ü d

80. j . Ber. I 7, 3 56 (J. 17). O c o n t e x t o d e s e n v o l v e a idéia d e


b
160, 3 0 ) .
q u e o escriba t e m a u t o r i d a d e m a i o r d o q u e o profeta p o r n ã o p r e c i s a r 86. Bacher, Ag. Tatin., I, 2s.
ser a u t e n t i f i c a d o . 87. b . Sukka 2 8 bar.
a

8 1 . b . Yoma 55 .
b
88. P o r ex., Sukka I I I 9.
89. P o r ex., Yeb. X V I 7.
do e u m temor reverenciai, como a detentores e mestres Apesar do perigo mortal a que iam se expor, os dois ze-
da ciência esotérica sagrada; suas p a l a v r a s revestiam-se de losos escribas instigaram seus discípulos a a r r a n c a r e m - n a . M

soberana a u t o r i d a d e . E r a m sobretudo as c o m u n i d a d e s fa- Algumas dezenas de anos mais tarde, conta J o s e f o , u m 95

risaicas que obedeciam, incondicionalmente, aos escribas escriba c h a m a d o Simão ousou excitar p u b l i c a m e n t e o povo
fariseus. Esses constituíam o maior n ú m e r o . Se os ensina- contra o rei Agripa 1. Lemos q u e , p o r ocasião de u m as-
mentos dos escribas saduceus d e s a p a r e c e r a m em g r a n d e sassínio, R. Sadoc, escriba m u i t o c o n s i d e r a d o , dirigiu aos
p a r t e d a tradição, deve-se ao fato de o papel dos saduceus sacerdotes, dos degraus d o vestíbulo d o T e m p l o , u m enér-
ter-se encerrado com a ruína de Jerusalém e de a tradi- gico apelo à p e n i t ê n c i a . Nos primeiros anos da revolta
96

ção chegada até nós, fixada por escrito somente a p a r t i r de 66-70 d.C. e n c o n t r a m o s , à testa do m o v i m e n t o , alguns
do século I I , ter v i n d o , exclusivamente, de seus inimigos escribas fariseus tais c o m o Shimeon, filho de Gamaliel 197,
fariseus. H á outro fator ainda: já antes da destruição do e o escritor Flávio Josefo.
T e m p l o , os escribas saduceus exerceram na vida pública Nossas fontes fornecem-nos u m a série d e p e q u e n i n o s
u m p a p e l muito menos considerável do q u e os escribas fa- casos típicos q u e r e a l ç a m o prestígio dos escribas aos olhos
riseus . O s m e m b r o s das sociedades farisaicas g a r a n t i r a m

do h o m e m do p o v o . Vemo-lo levantar-se respeitosamente
aos ensinamentos dos escribas sua g r a n d e influência sobre à passagem de u m escriba, dispensados disso .somente os
o povo. operários d u r a n t e seu t r a b a l h o . Ouvimo-lo saudar o es-
9S

Incontáveis provas atestam o prestígio dos escribas no criba em primeiro lugar , d e m a n e i r a pressurosa, c h a m a n -
w

meio do p o v o ; citaremos alguns exemplos. Segundo o


9 1 do-o " R a b i " * , " P a i " , " M e s t r e " , q u a n d o passa c o m
1 1 0 1 1 0 2

relato do T a l m u d e , n u m d e t e r m i n a d o a n o , na n o i t e do
9 1 sua túnica de escriba em forma de filactérios, caindo até
103

D i a das expiações, e n q u a n t o u m a m u l t i d ã o a c o m p a n h a v a os pés e m u n i d a de longas franjas (Mt 2 3 , 5 ) . Q u a n d o os


o sumo sacerdote até onde residia, A b t a l i o n e S h e m a y a notáveis de Jerusalém oferecem u m b a n q u e t e , é u m a hon-
se a p r o x i m a r a m ; a m u l t i d ã o a b a n d o n o u e n t ã o o s u m o sa-
naoü B. j . I 3 3 , 3, § 6 5 1 : katlümésantes sphàs auioús apò toü têgous.
cerdote — causando-lhe g r a n d e mágoa — p a r a acompa- Se se trata d a e n t r a d a tio s a n t u á r i o , os a u t o r e s , discípulos dos d o u t o -
n h a r os escribas muito a m a d o s . Nos últimos dias antes do res, d e v i a m ser s a c e r d o t e s , p o i s s o m e n t e o s s a c e r d o t e s p o d i a m s u b i r
eclipse da lua (noite de 12 p a r a 13 de março) do a n o 4 ao teto d o s a n t u á r i o .
a . C , Herodes lutava contra uma enfermidade m o r t a l que 94. Ant. X V I I 6, 2-3, § 149ss; B. /. I 3 3 , 2-3, § 648ss.
o levaria três semanas depois. H a v i a então dois escribas 95. Ant. X I X 7, 4, § 332ss.
96. T o s . Yoma I 12 ( 1 8 1 , 2 0 ) ; j . Yoma U 2, 5 9 13 ( I I I / 2 , 1 7 9 ) ;
d

"tidos como grandes conhecedores especialmente da Lei


b . Yoma 2 3 ; T o s . Shebu. I 4 (466, 6 ) ; Sifre N m 35, 34, § 161 ( 2 8
a c

dos patriarcas e aos quais o p o v o reverenciava de m o d o III, 18).


p a r t i c u l a r " ; a eles "afluíam todos os jovens do local, quan- 97. Veta 3 8 , § 191 e passim.
do explicavam a Lei, e ficavam p o r eles cercados todos 98. b. Qid. 3 3 . a

99. M c 12,38; Mt 23,7; Lc 20,46; j . Ber. I I 1, 4 24 (I. 3 0 ) . b

os d i a s " . Entre as obras profanas de H e r o d e s , m a n d a r a 100. 5 2 1 .


ele colocar e consagrar u m a águia de o u r o de e n o r m e ta- 101. Mt 23,9. — Billerbeck, I, 918s d á , p a r a a é p o c a antiga, exem-
plos d e 'abba c o m o título honorífico u s a d o de m o d o p e r m a n e n t e p o r
m a n h o e valor inestimável sobre o pórtico do T e m p l o . 9J

certos d o u t o r e s . S e g u n d o A . B ü c h l e r , Der galilãische 'Am-ha' Ares des


zweiten fahrhunderts, V i e n a , 1906, 332ss, 'abba seria o título dos d o u -
tores f o r m a d o s nas escolas galiléias. T a l v e z seja e x a t o , m a s não exclui
90. Ant. X V I I I 1, 4, § 17. p o r isso, c o m o o d e m o n s t r a b . Mak. 24", o e m p r e g o d o título 'abi
9 1 . Referindo-se à m u l t i d ã o , diz Josefo (Ant. X X 12, I, § 2 6 4 ) : para outros doutores.
Reconheceu-se c o m o sábios s o m e n t e a q u e l e s q u e p o s s u e m u m c o n h e - 102. b . Mak. 2 4 (mari). — Kathegtés
a
(Mt 23,10) n ã o possui equi-
c i m e n t o e x a t o d a Lei e são c a p a z e s d e i n t e r p r e t a r t o d a a f o r ç a das
v a l e n t e , c o m o título, n a l i t e r a t u r a r a b í n i c a ; m a s o c o r r e s p o n d e n t e
Sagradas Escrituras.
oáegós a p a r e c e em Mt 23,16 c o m certeza c o m o título. O título Katlie-
92. b . Yoma 71 .
b

gelés-odcgós é s u f i c i e n t e m e n t e a t e s t a d o p o r M L 23,10.16 e R m 2,19.


93. Ant. X V I I 6. 2, § 1 5 1 : húper toü megálou pulônos toü
103. M c 12,38; Lc 20,46. Billerbeck, I I , 31-33; I V , 228 b.
ra contar c o m a presença de alunos de escribas e futuros CAPÍTULO IV
doutores c o m o Eliézer ben H i r c a n o e Yoshua ben H a n a -
n y a . O s primeiros lugares são reservados aos escribas
m

(Mc 12,39 e par.) e o rabi merece mais honrarias q u e os


h o m e n s de idade mais a v a n ç a d a e até m e s m o mais que
os próprios pais. T a m b é m na sinagoga, ocupava lugar de APÊNDICE: OS FARISEUS 1

h o n r a ; sentava-se de costas p a r a o a r m á r i o da T o r á , olhan-


do a assistência e visível a todos (ibid.). F i n a l m e n t e , só Sociologicamente, n ã o se deve situar os fariseus na
em caso excepcional contraíam m a t r i m ô n i o com filhas de classe superior. Fariseu significa "os s e p a r a d o s " , quer di-
pessoas que desconhecessem a L e i . 1 0 5
zer, os santos, a verdadeira c o m u n i d a d e d e I s r a e l . C o m o 2

Para se ter, p o r é m , u m a idéia exata da v e n e r a ç ã o vamos ver, e r a m eles, n a maioria, pessoas do p o v o , sem
com q u e o p o v o cercava os escribas, e da ousadia q u e re- formação de escriba. T o d a v i a , m a n t i n h a m elos estreitos
presentou o a t a q u e de Jesus contra eles, é preciso e s t u d a r
as tradições talmúdicas relativas aos túmulos dos santos 1. A d o c u m e n t a ç ã o r a b í n i c a s o b r e os fariseus é a p r e s e n t a d a de
m o d o e x c e l e n t e p o r Billerbeck. I I , 494-519 e I V , 334-352. S c h l a t t e r ,
n a Palestina ; é preciso inteirar-se das informações p a r a
1M

Gesch. Isr.. 137-153 é u m perfeito c o n h e c e d o r d a o r i g e m d o farisaís¬


ver como, ao lado dos túmulos dos patriarcas e profetas, m o . O b r i l h a n t e e s t u d o d e J. W e l l h a u s e n , Die Pharisäer und die Saddu-
são os túmulos dos rabinos q u e , envoltos em lendas e "sa- cäer, G r e i f s w a i d , 1874, c o n t i n u a i n s t r u t i v o e sugestivo; ver a i n d a
M e y e r . Ursprung, I I , 282-319. G . F. M o o r e , The Rise of Normative
gas", encontram-se por toda p a r t e venerados e conserva- judaism, HThR 17 ( 1 9 2 4 ) , 307-373 e 18 ( 1 9 2 5 ) , 1-38, a p r e s e n t a , c o m
dos com u m temor supersticioso . Perceberemos, e n t ã o , 107
c l a r e z a , a e v o l u ç ã o histórica. 8. D . E e r d m a n s , Farizeen en Sadduceen,
e m Theologlscha Tijdschrift 48 ( 1 9 1 4 ) , 1-26, 223-230, b e m definiu o
até certo p o n t o , como foi possível à aristocracia j u d a i c a c a r á t e r c o m u n i t á r i o dos fariseus. A. B ü c h l e r , Der galiläische 'Am-ha
suportar a concorrência da aristocracia intelectual e, após 'Ares des zweiten Jahrhunderts, V i e n a , 1906, fornece-nos a b u n d a n t e
a destruição de Jerusalém, deixar-se finalmente s u p e r a r d o c u m e n t a ç ã o . Sua tese d e base é q u e as c o m u n i d a d e s farisaicas só
a p a r e c e m d e p o i s d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ; essa tese, c o m efeito, n ã o
p o r essa última. T ú m u l o de rabinos e t ú m u l o de profetas se c r e d e n c i a d i a n t e dos d o c u m e n t o s n e o t e s t a m e n t á r i o s i g n o r a d o s p o r
l a d o a l a d o ; é aí que se e n c o n t r a a solução do enigma Büchler. O t r a b a l h o de L. Baeck, Die Pharisäer em 44. Bericht der
Hochschule für die Wissenschaft des Judentums in Berlin, Berlim, 1927,
diante do qual nos colocamos desde o início do capítulo I I I . 33-71, c o n t é m o b s e r v a ç õ e s i n t e r e s s a n t e s , m a s ele d e s c o n h e c e c o m p l e t a -
m e n t e a característica c o m u n i t á r i a dos fariseus e erra p o r n ã o distin-
guir os fariseus dos escribas. O e s t u d o de R. T . H e r f o r d , The Pharisees,
L o n d r e s , 1924 é a i n d a m e n o s satisfatório; o a u t o r n ã o p e r c e b e u a dis-
t i n ç ã o e n t r e escribas e fariseus — p a r a ele, os fariseus são " i n s t r u t o r e s
d a T o r á " — e i g n o r o u t o t a l m e n t e a o r i g e m d o farisaísmo assim c o m o
d e sua característica c o m u n i t á r i a . — S o b r e o c o n j u n t o d o p r o b l e m a ,
ver agora R. Meyer, " T r a d i t i o n u n d N e u s c h ö p f u n g im a n t i k e n J u d e n -
t u m . Dargestellt a n d e r G e s c h i c h t e des P h a r i s ä i s m u s " e m Sitzungsberichte
der sächsischen Akademie der Wissenschaften zu Leipzig, filolog-hist.
KL, vol. 110, fasc. 2, Berlim, 1965. 7-88; L. F i n k e l s t e i n , The Pharisees.
The Sociological Background of their Faith, 3- ed., 2 vol., Filadélfia,
1966.

2. L. Baeck, Die Pharisäer. 34-41 f o r n e c e u disso a p r o v a convin-


c e n t e . Baeck d e m o n s t r a q u e , n o s m i d r a x e s t a n a í t a s . parüs e gados são
s i n ô n i m o s ; ver os textos infra, n. 2 3 . — D o m e s m o m o d o , a c o m u n i -
104. j . Hag. I i I, 7 7 b
34 ( I V / 1 , 2 7 2 ) . d a d e essênia se define c o m o a c o m u n i d a d e d a " n o v a a l i a n ç a " (Doe.
105. Billerbeck, I I , 378. Dam. V I 19, V I I I 2 1 , X I X 33s, X X 1 2 ) , c o m o o " r e s t o " (Doe. Dam.
106. Ver ). J e r e m i a s , Heiligengräber in Jesu Umwelt, Göttingen, 1 4 ; 1 Q M X I I I 8, X I V 8-9; I QH V I 8 ) , c o m o os " s o b r e v i v e n t e s "
1958. (Doe. Dam. II 1 1 ) ; seus m e m b r o s d e v e m se " s e p a r a r " (bdl: I QS V
107. Ibid., 141. 10, V I I I 13, I X 20; Doe. Dam. V I 1 4 ) .
c o m os escribas a p o n t o de n ã o os podermos separar, t a n t o Da santa comunidade de Jerusalém é que, inicialmente,
mais q u e a ascensão dos escribas m a r c o u , ao m e s m o tem- precisamos falar neste contexto. O Talmude palestinense men-
p o , sua p r ó p r i a ascensão. Assim sendo, faremos u m co- ciona uma vez "a santa comunidade" ; no Midraxe, rabi Yuda 7

m e n t á r i o a título de apêndice. I, redator da Mishna (cerca de 200 d . C ) , transmite uma tra-


dição que nela foi incluída . 8

N o q u e segue, p r o c u r a r e m o s analisar a organização


De acordo com a interpretação tardia que o Midraxe dá
das c o m u n i d a d e s farisaicas (habúrôt) de Jerusalém e des-
3

à denominação "santa comunidade", trata-se, ao que se supõe,


crever sua situação n o q u a d r o da sociedade. A esse res- de dois doutores R. Yosé ben Meshullam e R. Shimeon ben
peito, convém q u e se diga, logo de início, tratar-se de co- Menasia que viveram por volta de 180 d . C , em Séforis, pro-
munidades fechadas. C o m efeito, os fariseus n ã o são sim- vavelmente. Ambos consagravam, segundo contam, um terço
plesmente pessoas q u e vivem segundo os m a n d a m e n t o s de seu dia ao estudo, um terço à oração e um terço ao traba-
religiosos dos escribas fariseus ou segundo as prescrições lho manual; por esse motivo receberam o cognome de "santa
sobre o dízimo e a p u r e z a ; s ã o m e m b r o s d e associações comunidade" ''. Mais tarde, R. Ishac ben Eleazar (280 d.C.)
religiosas q u e visam a essa meta. aplicou o nome de "santa comunidade" a R. Yoshua, filho de
R. Timai e a R. B o r q u a l . ,0

N a primeira aparição dos fariseus, n o século II antes


Nos dois casos, a limitação da expressão "santa comuni-
de nossa era, já os vemos como u m grupo o r g a n i z a d o ; tal- dade" constituída por duas pessoas, devido a uma interpreta-
vez se prendessem aos assideus q u e l M c 2,42 c h a m a de ção evidentemente errônea do Talmude palestinense há pouco
"associação d e JLtdeus piedosos [sunagogè Asidoíon] de- citado, já mostra que essa explicação não se impõe como exa-
n o d a d o s homens de Israel, e x t r e m a m e n t e d e v o t a d o s à ta ; as informações do Talmude de Babilônia tornam a con-
11

L e i " *. clusão absolutamente clara. Esse Talmude, com efeito, chama


a mesma associação "santa comunidade de Jerusalém e lhe
12 13

Foi, igualmente, n o século I I antes de nossa e r a q u e


atribui, por diversas vezes, algumas tradições. Entre outras, ou-
se constituiu o grupo dos essênios \ E m b o r a t e n h a m so- vimos dizer que os membros da associação tinham hábitos de-
frido influências estrangeiras em sua formação, sem dú- terminados para a oração e que explicavam com particular
14

vida são eles oriundos do m e s m o tronco q u e os fariseus; severidade as prescrições relativas aos tecidos de fios mistu-
as severas prescrições rituais dos essênios e seu esforço rados . 15

p a r a a separação b e m o d e m o n s t r a m . Podemos, p o i s , ins¬


6
Que significa a expressão "santa comunidade de Jerusa-
pirando-nos na vida estritamente comunitária dos essênios, lém?" Bacher queria suprimir "de Jerusalém" , baseando-se 16

inferir o caráter comunitário dos fariseus. E n t r e os textos na expressão mais sucinta "santa comunidade" do Talmude
essênios, é sobretudo o Documento de Damasco q u e apre- de Jerusalém e do Midraxe. Trata-se, pois, apenas de uma
senta importantes paralelos com a organização farisaica; abreviatura. Büchler retomava a explicação do Midraxe e via
disso teremos q u e falar longamente mais a d i a n t e (p. 3 5 0 ) .
7. j . M. Sh. I I 10, 5 3 2 ( H / 2 , 2 1 8 ) .
d

N o século I de nossa era existiram, somente em Jerusalém, 8. Qoh. R. 9, 7, s o b r e 9, 9 ( 1 1 5 2 ) . a

diversas c o m u n i d a d e s farisaicas. 9. Ibid. 1 1 5 4 .


a

10. Ibid. 1 1 5 7. a

11. L. Baeck, Die Pharísaer, 39.


3. O t e r m o " c o m u n i d a d e " é preferível ao t e r m o " s o c i e d a d e " o u 12. Bacher, Ag. Tann., I I , 490, n. 2.
"associação". 13. b . Bem 14b ( = b . Yoma 6 9 - ; b . Tamid
a b
21\ 6 1 b ) ; b. Besa
4. Cf. l M c 7,13; 2 M c 14.6. 27"; b . R. H. 1 9 ; b . Ber. 9> (cf. Billerbeck, I I , 6 9 2 ) . Aqueles q u e
b

5. P r i m e i r a m e n ç ã o p o r volta de 150 a . C , Ani. XIII 5, 9, § 172. I r a n s m i t e m estas t r a d i ç õ e s p e r t e n c e m ao s é c u l o II de nossa era, à se-


d e p o i s , cerca d e 104, Ant. X I I I 11, 2, § 3 1 1 ; B. /. I 3, 5, § 7 8 . c u n d a m e t a d e deste século p a r a a m a i o r i a .
6. A a p a r i ç ã o c u r i o s a d a e x p r e s s ã o hbwe ysr'1 c o m o d e s i g n a ç ã o 14. b . Ber. 9 . T i n h a m o h á b i t o d e r e c i t a r , d e m a n h ã , as D e z o i t o
b

d a c o m u n i d a d e e s s ê n i a e m Doe. Dam. X I I 8 p o d e r i a , t a m b é m e l a , in- lu'iiçaos i m e d i a t a m e n t e d e p o i s do s ma'.


c

dicar essa o r i g e m c o m u m . 15. b . Besa 1 4 e p a r . (ver supra, n. 1 3 ) . — L v 19,19; D t 22,9-11.


b

16. Bacher, Ag. Tann., I I , 490, n. 6.


nessa associação um grupo de hierosolimitas que fugiram, após a oração era precisamente tida como sinal distintivo dos fa-
a queda de Jerusalém, para a Galileia, especialmente para Sé- riseus . Todos esses fatos levam-nos a concluir que, provavel-
25

foris '. Sem dúvida, a estada de hierosolimitas em Séforis após


17

mente, a "santa comunidade de Jerusalém" era uma comunida-


a queda da cidade santa é bem confirmada ' , mas, como vi- 8

de farisaica da Cidade santa no século 1 de nossa era.


mos um pouco acima, não convém nos atermos excessivamente É igualmente à época anterior à destruição do Templo
à explicação da expressão "santa comunidade" do Midraxe que nos leva a seguinte informação da Tosefta: "R. Eleazar
que designa dois doutores da Galileia. Com toda razão, pois, ben S a d o c disse: Eis o costume das hãbürôt [comunidades]
26

Baeck e Marmorstein sustentam a expressão "santa comu-


iy 20

em Jerusalém: alguns [dentre os membros de uma hãbürah]


nidade de Jerusalém". O primeiro aí via uma designação do iam a um banquete de núpcias, outros a um banquete de noi-
conjunto da comunidade de Jerusalém; o segundo, a designa- vado, outros a uma festa de circuncisão, outros à reunião dos
ção de um grupo organizado já existente na época dos gran- ossos [visando à sepultura definitiva] ; uns iam a uma ceia 2T

des tanaítas. festiva enquanto outros a uma sala mortuária" . 28

Nas cartas do apóstolo P a u l o , a comunidade cristã pri-


21
De que natureza eram essas associações da Cidade santa?
mitiva de Jerusalém é chamada "os santos''; Baeck nisso se Diversas vezes encontramos, na literatura rabínica, a partir do
apoia para a sua explicação. Essa designação cristã opõe-se à século II de nossa era, associações de interesse público (beber
sua maneira de ver e justifica a de Marmorstein. Com efeito, 'ir) em certas regiões do país; tinham como obrigatório con-
os membros da comunidade primitiva chamam-se "os santos" sagrar-se às obras caridosas de toda espécie, entre outras, àque-
em oposição categórica ao conjunto da comunidade, enquanto las que estão indicadas nesse texto da Tosefta e observar as
são a verdadeira comunidade messiânica da salvação, o "resto" prescrições litúrgicas . 29

que Deus escolheu dentre o povo da salvação, portanto, exa- Os hãbürôt de Jerusalém de que fala o texto da Tosefta
tamente da mesma maneira como os fariseus chamavam-se "os estão, incontestavelmente ligados a essas associações beneficen-
separados", quer dizer, "os santos" . 22

tes: constituem a mais antiga organização dessa categoria refe-


Chegamos assim a um ponto em que a maneira de ver de rida nas fontes. É verdade que nem nesse texto, nem em ou-
Marmorstein também exige um complemento. Qadôs (santo) e
parus (separado, designação dos fariseus) são empregados como 25. b . Ber. 4 7 b a r . : " Q u e é u m 'am ha-'ares
b
[um não fariseu]?
A q u e l e q u e n ã o recita o s ma' e
de m a n h ã e à t a r d e . P a l a v r a s de R.
sinônimos nos midraxes t a n a í t a s . Convém ainda levar em
B

Eliézer [cerca de 90 d . C , o r e p r e s e n t a n t e da antiga t r a d i ç ã o e n t r e os


conta os hábitos de vida e das tradições da "santa comunida- d o u t o r e s d e seu t e m p o ] ".
de", de modo particular de sua fidelidade que todos estão de 26. C o n f o r m e o c o n t e x t o d e m o n s t r a , trata-se de R. E l e a z a r I, nas-
acordo em l o u v a r , na observância das horas fixadas para as
24
cido p o u c o depois d e 35 d.C. em J e r u s a l é m e ali t e n d o v i v i d o a t é a
orações; é preciso aproximar essa minúcia ao fato de que, no d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o (ver supra, p . 2 0 1 ) .
27. Se o c a d á v e r estivesse d e p o s t o n u m t ú m u l o c a v a d o na ro-
século I de nossa era, a observância das horas fixadas para c h a , recolhiam-se os ossos n u m o s s u á r i o cerca de u m a n o após o se-
pultamento.
Í7. Büchler, Priester, 39-41. 2 8 . T o s . Meg. I V 15 (226, 1 3 ) ; Semahot XII.
18. b. Ket. 7 7 e passitn.
b
2 9 . S o b r e estas associações, ver A. B ü c h l e r , Der galilaische 'Am-ha
19. L. B a c c k , Die Pharisäer, 39. 'Ares des zweiten fahrhunderts, V i e n a , 1906, 207-221; J. H o r o v i t z , hbr
20. A . M a r r a o r s t e i n , " E i n e angebliche V e r o r d n u n g Hadrians", em "ir, Francfort-sur-de-Main, 1916; Billerbeck, I V , 607-610. D e v e r e m o s
Jeschurun, Berlim, II ( 1 9 2 4 ) , 152s, vocalizar beber 'ir (associação d e interesse p ú b l i c o da c i d a d e ) ou hãber
"ir ( d o u t o r da c i d a d e , ou m e m b r o de u m a associação de interesse pú-
2 1 . i C o r 16,1; 2 C o r 8,4;9,1.12; R m 15,25-31.
blico)? Apesar da oposição de Horovitz, a questão, atualmente, pende
22. V e r supra, n. 2. a favor d a p r i m e i r a a s s e r ç ã o (A. Geiger, Urschrift und Überselzungen
23. L. Barck, Die Pharisäer, 36s. Sifra Lv 19,2 ( 4 4 174); ' " S e d e b
der Bibel, Breslau, 1857, 122s; Levy, Wõrterbuch, I I , 9 b; Eliézer b e n
qedôiím', q u e r dizer, p^rünm": Sifra Lv 11,44 ( 2 9 115, 3 2 ) ; " ' S e d e
a
Y c h u d a , Thesaurus totius hebraitatis I I I , B e r l i m , 1911, sub verbo, 1433:
q dôsim
e
p o r q u e eu sou qadôs', q u e r dizer: c o m o eu s o u qadôs, assim II. C r a t z , Geschichte der fuden I I I / l , 5? ed., Leipzig, 1905, 77, n.;
d e v e i s ser q dôsim;
e
c o m o sou partis, assim deveis ser p^rãsim". Mesma A. Büchler, o.c., 210-212; S c h ü r e r , I I , 503, n . 10; D a l m a n , Handwort-
coisa e m Sifra Lv 11,45 ( 2 9 113, 3 9 ) ; Sifra Lv 20,26 (46* 184, 1 3 ) ;
a
rrbuch, discussão T o s . Meg. I V 29 (228, 2 ) . Q u a i s as relações e n t r e
Lv. R. 24, 4 s o b r e 19, 2 ( 6 4 15). b
essas associações de interesse p ú b l i c o e as c o m u n i d a d e s farisaicas?
24. Qoh. R. 9, 7 sor 9, 9 ( 1 1 5 4 s s ) ; b . Ber. 9 . V e r supra, n . 14.
a b
A q u e s t ã o a i n d a n ã o foi esclarecida.
tras passagens que citam o beber ir, mencionam-se obrigações !
aqui se encontra, pois, claramente expresso, o elo entre fari-
dos membros, semelhantes às que deviam cumprir os membros seus e as associações de interesse público que provêm às ne-
das comunidades farisaicas quanto à pureza e ao dízimo; con- cessidades das sinagogas.
tinua provável que esse texto da Tosefta refira-se também às A existência, em Jerusalém, de associações caritativas de
associações caritativas privadas que deviam existir em Jeru- interesse comum, mas que teriam sido puramente privadas, nun-
salém . 30
ca nos foi confirmada; toda a documentação estudada obriga-
Entretanto, podemos nos indagar se os fatos eram assim mos a concluir que os habürôí de que fala o texto da Tosefta
tão simples. Antes de mais nada, é preciso observar que pre- acima citado têm relação com as comunidades farisaicas, su-
cisamente esse texto não emprega a expressão beber 'ir, mas pondo que essas não lhes sejam absolutamente idênticas.
o termo habürah que, além de associações e colégios de outra
natureza, indica também as comunidades farisaicas . Convém 31 As c o m u n i d a d e s farisaicas d e Jerusalém, muitas das
ainda lembrar que os fariseus davam grande importância às q u a i s , como acabamos de ver, são conhecidas, observavam
obras supererogatorias e às boas obras. Além do mais, a rea- regras precisas para a admissão dos membros; esse fato
lização das opera superem gationis eram parte integrante da demonstra, mais u m a vez, seu caráter de comunidades par-
essência do farisaísmo e de seu conceito de mérito- . Outro 12
ticulares. Antes de admitir q u a l q u e r p r e t e n d e n t e , havia o
fato é digno de nota: uma fonte do início do século I de nossa período de p r o v a ç ã o que durava u m mês ou u m ano , du- 36

era, a Assunção de Moisés, censura aos fariseus o serem pes- r a n t e o qual o postulante devia dar provas de sua aptidão
soas que "a qualquer hora do dia gostam de banquetear-se c
p a r a seguir as prescrições rituais. Josefo conta-nos, por
fartar-se" e que "da manhã à noite se aprazem em dizer: que-
e x e m p l o , ter-se s u b m e t i d o sucessivamente às prescrições
remos ter festins e abundância, comer e b e b e r " . Essas cen- 33

suras forçam-nos a procurar nos fariseus — se não os quiser- dos fariseus, dos saduceus e dos essênios; finalmente, aos
mos catalogar como puros beberrões e glutões — costumes se- dezenove anos, aderiu aos f a r i s e u s . Esse exemplo preciso 37

melhantes àqueles de que fala nosso texto da Tosefta, referin- confirma a existência desse t e m p o p r e p a r a t ó r i o p a r a ser
do-se às "comunidades" de Jerusalém. admitido a u m a c o m u n i d a d e farisaica.
Temos de levar em consideração uma última referência. U m a vez t e r m i n a d o o p e r í o d o experimental, o can-
Nas fontes talmúdicas, encontramos "os filhos da sinagoga"
didato comprometia-se a observar o regulamento da comu-
(b nê ha-k neset) , que observavam, como uma obrigação, em
e e M

ocasiões oportunas, as regras litúrgicas e participavam das ce- n i d a d e ; na época antiga, a única q u e nos ocupa a q u i , esse
rimônias fúnebres (litúrgicas). Trata-se, pois, de uma organi- compromisso se realizava diante de u m m e m b r o da comu-
zação semelhante às associações caridosas citadas acima. Zabim
III 2 supõe que essas associações sinagogais sigam as prescri- 36. A o século I de n o s s a era é q u e n o s c o n d u z a divergência d a
ções farisaicas de pureza para a preparação dos alimentos ; 35 o p i n i ã o e n t r e s h a m a í t a s e hilelilas a r e s p e i t o d a d u r a ç ã o d o l e m p o de
p r o v a ç ã o em T o s . Demay II 12 (48, S) •. ' ' N o fim de q u a n l o t e m p o
[de p r o v a ç ã o ] aceitar-se-á [o c a n d i d a t o ] ? O s s h a m a í t a s exigiam trinta
30. T a m b é m A . Büchler, o.c, 208-212. d i a s p a r a o s l í q u i d o s [trata-se d o s s e t e ' l í q u i d o s q u e t o r n a m aptos à
3 1 . Por ex... T o s . Demay II 14 (48, 11) e passim. i m p u r e z a ' : o r v a l h o , á g u a , v i n h o , azeite, s a n g u e , leite, m e l de a b e l h a s ;
32. P a r a m o s t r a r a i m p o r t â n c i a q u e os fariseus a t r i b u í a m às o b r a s q u a n d o os a l i m e n t o s sólidos ou secos e n t r a v a m em c o n t a t o c o m a l g u m a
s u p e r e r r o g a t ó r i a s , c i t a m o s aqui s o m e n t e , e n t r e os a b u n d a n t e s d o c u m e n t o s , coisa i m p u r a , n ã o se t o r n a v a m i m p u r o s a n ã o s e r q u e tivessem s i d o
alguns e x e m p l o s e x t r a í d o s d o N o v o T e s t a m e n t o . D í z i m o s u p e r e r r o g a t ó - antes m o i n a d o s p o r u m desses sete l í q u i d o s . O c a n d i d a t o devia p r o v a r
r i o : Ml 23,23; Lc 18,12; prescrições de p u r e z a : M t 15,1-2; M c 7,1-4; q u e p r e s t a r a a t e n ç ã o a essas regras e as h a v i a o b s e r v a d o , e q u e con-
Mt 23,26 e p a r . ; j e j u n s : Lc 18,12; Mt 9,14 e par.; o r a ç ã o ; M t 6,5-8 s e r v a r a esses sete l í q u i d o s afastados d e s u a s frutas e l e g u m e s e o u t r o s
(este trecho é dirigido c o n t r a os fariseus, ver infra, p . 3 4 3 , e s m o l a s : a l i m e n t o s secos] e d o z e m e s e s p a r a as vestes [as vestes t o r n a v a m - s e
M l 6,2-4. i m p u r a s p o r p r e s s ã o ou c o n t a t o da p a r t e dc a l g u é m em c o n d i ç ã o le-
33. A s s u n ç ã o de Moisés V I I 4.7-8. Trata-se dos fariseus; o con- v i l i c a m e n t e i m p u r a , o q u e o fariseu p r o c u r a v a e v i t a r ] . M a s os hele-
texto é e v i d e n t e . I is las se c o n t e n t a v a m , p a r a as d u a s [ p r o v a s ] c o m trinta d i a s " . V e r ,
34. Bek. V 5; Zabim I I I 2; b . M. Q. 2 2 bar.; Semahot b
XI. M í h r c este p o n t o , Billcrbeck, I I , 505s.
35. A. B ü c h l e r , Der galildische 'Am-ha' Ares, 74, n. 2. 37. Vita 2, § lOss.
n i d a d e q u e fosse e s c r i b a . O recém-admitido p r o m e t i a ob-
38 c o m p a r a ç ã o , citemos a l g u n s outros n ú m e r o s . A p o p u l a ç ã o
servar as prescrições farisaicas sobre a p u r e z a e o d í z i m o . 39
de Jerusalém era de 25 a 30 mil h a b i t a n t e s ; o total dos 47

D a í por diante, tornava-se m e m b r o de u m a associação. sacerdotes e dos levitas elevava-se a 1 8 . 0 0 0 a p r o x i m a d a -


Tais associações t i n h a m seus chefes e suas assembléias , 40 41
mente ; os essênios c o n t a v a m com 4 . 0 0 0 m e m b r o s .
4ff 4 9

essas, ao que p a r e c e , caracterizavam-se p o r u m a refeição Aliás, tais n ú m e r o s confirmam q u e , j u n t a m e n t e c o m os fa-


e m c o m u m , especialmente às sextas-feiras à noite, p a r a
4 2
riseus, estamos d i a n t e d e u m grupo p a r t i c u l a r , e a impor-
a abertura do s á b a d o . T u d o indica que as associações
43
tância desses n ú m e r o s indica q u e , e m Jerusalém do século
farisaicas ingeriam-se publicamente em ocasiões especiais, I de nossa e r a , devia haver diversas c o m u n i d a d e s fari-
como, p o r exemplo, p a r a exprimir condolências ou p a r a saicas .
festas alegres . Possuíam sua p r ó p r i a justiça interna; en-
44
N ã o c o n t a m o s c o m elementos elucidativos a respeito
tre as decisões deliberadas p o d i a m pronunciar-se sobre a da composição das c o m u n i d a d e s farisaicas, que são freqüen-
exclusão de u m de seus c o m p o n e n t e s . 45
t e m e n t e confundidas c o m os e s c r i b a s . H á m u i t o s motivos
50

P r u d e n t e m e n t e não queremos subestimar o n ú m e r o p a r a isso. P r i m e i r a m e n t e , o fato de o termo Haber, desig-


dos m e m b r o s das hãburôt farisaicas. De u m d a d o merece- n a n d o o m e m b r o d e u m a c o m u n i d a d e farisaica ser, após o
dor de fé, transmitido por Josefo q u e o extraiu, sem dú- período neotestamentário, a designação do d o u t o r não for-
vida alguma, de Nicolau de D a m a s c o , conselheiro íntimo m a d o ("colega dos d o u t o r e s " ) , m a s , s o b r e t u d o , o fato de
e historiógrafo da corte de H e r o d e s , o G r a n d e , p o r t a n t o , M t e L c englobarem muitas vezes, m i m a única fórmula,
fonte semi-oficial, temos "mais de 60 mil fariseus na época "escribas e fariseus". Mt, nos discursos d e Jesus, e Lc nas
de H e r o d e s , na assembléia de seu r e i n o . A título de 4 6 n a r r a t i v a s d e seu evangelho, e m p r e g a m freqüentemente essa
expressão . M c e Jo , em c o m p e n s a ç ã o , não a mencio-
5I 52 53

38. E m b . Bek. 3 0 b a r . (par. T o s . Demay


b
II 13 [48,11] s e g u n d o
o m s . de V i e n a e a e d . p r í n c i p e ) , o c o m p r o m i s s o , s e g u n d o A b b a S h a u l
(cerca de 150 d.C.) era p r e s t a d o d i a n t e de u m m e m b r o da c o m u n i - certas d ú v i d a s a respeito deste n ú m e r o 6 . 0 0 0 : a) trata-se s o m e n t e dos
d a d e q u e fosse escriba. Mais t a r d e , a a d m i s s ã o se p r o c e s s a v a d i a n t e fariseus q u e r e c u s a r a m j u r a m e n í o a H e r o d e s , b) o n ú m e r o 6 . 0 0 0 en-
de três fariseus ( b . Bek. 3 0 b a r ) . Billerbeck, I I , 506 t i n h a t o d a ra-
b contra-ae t a m b é m e m Ant. X I I I 13, 5, § 3 7 3 e 14, 2, § 379. N ã o
zão de ver, nesse dizer de A b b a S h a u l a descrição d a antiga p r á t i c a ; p o s s o c o m p a r t i l h a r dessas d ú v i d a s . C o m efeito, d) e m Ant. X V I I 2,
é c o n f i r m a d o p e l a p r á t i c a a n á l o g a dos essênios d a q u a l f a l a r e m o s 4 § 4 2 , parece-nos q u e Josefo s u p õ e q u e t o d o s os fariseus r e c u s a r a m
infra, p . 3 5 1 , cf. Doc. Dam. X I I I 11-13; XV 7ss: r e c e p ç ã o p e l o vigi- o j u r a m e n t o ; b) as d u a s o u t r a s p a s s a g e n s q u e c i t a m o n ú m e r o 6 . 0 0 0
l a n t e ; esse é escriba, X I I I 6. t r a í a m d c a c o n t e c i m e n t o s d e u n s 80 a n o s a n t e r i o r e s . — O s evange-
lhos m o s t r a m q u e h a v i a m u i t o s fariseus n a Galileia, M t 9,11.14 e
39. Q u a n t o às prescrições de p u r e z a , v e r M t 15,1-2; M c 7,1-4; M t passim. S e g u n d o Lc 5,17 " v i n d o s d e t o d a s as aldeias d a Galileia, da
23,25-26; Lc 11,39-41. Q u a n t o às prescrições do d í z i m o : Lc 18,12; M t Judeia e d e J e r u s a l é m " . E m A t 23,6, P a u l o d e T a r s o se d i z Pharisaias
23,23; Lc 11,42. uiós Pharisaíon. M a s essas d u a s ú l t i m a s p a l a v r a s p o d e m i g u a l m e n t e
40. Ant. X V 10, 4, § 370; B. j . I I 17, 3 , § 4 1 1 ; L c 1 4 , 1 : " u m significar (cf. s u p r a , p . 2 4 5 ) que ele e r a d i s c í p u l o d e m e s t r e s fariseus
chefe fariseu", e passim. ou m e m b r o d e u m a associação farisaica.
4 1 . M t 22,15 e par.; cf. 12,14;22,41.
4 2 . b . Pes. 1 0 1 - 1 0 2 , se os b ne haburâh
b a €
citados aqui e em b . 47. V e r supra, p . 1 2 1 .
'Er. 8 5 são m e m b r o s de u m a c o m u n i d a d e farisaica. V e r Le 14,1 ; 7 ,
b 48. V e r supra, 27-280.
3 6 - 5 0 ; l l , 3 7 - 3 8 . T a l v e z se d e v a t a m b é m c o n s i d e r a r c o m o refeição e m 49. Ant. X V I I I 1, 5, § 20.
c o m u m , as refeições d o s fariseus e m J e r u s a l é m dos q u a i s A b b a S h a u l 50. V e r supra, n . 1 e infra, n. 5 9 .
m e n c i o n a d o supra, n . 38 (Tos. Sanh. I I I 4 (418, 2 0 ) ; j . Sanh. I 2, 5 1 . M t 5,20;12,38 (Lc 11,29: as m u l t i d õ e s ) ; 15,1 ( M c 7 , 1 : os fa-
1 9 57 ( V I / 1 , 2 3 9 ) ; b . Shebu, 1 6 - b a r , ) . L e m b r e m o - n o s , a n t e s de t u d o ,
b a
riseus e a l g u n s escribas v i n d o s de J e r u s a l é m ) ; 23,2.13.1523.25.27.29;
das refeições de c o m u n i d a d e ''entre os essêniqs. — L c 5,17.21 (Mt 9,3; M c 2,6: alguns e s c r i b a s ) ; 5,30 (Mt 9,11: os
43. b . 'Er. v e r a n . p r e c e d e n t e . fariseus; M c 2,16: os escribas f a r i s e u s ) ; 6,7 (Mt 12,10; Mc 3,2: e l e s ) ;
44. V e r supra, p . 337. 7,50; 11,53; 14,3; 15,2.
45. b. Bek. 3 1 b a r .a
5 2 . E m M c 7,5, o artigo r e m e t e ao q u e p r e c e d e ; n ã o é e m p r e g a d o
46. Ant. X V I I 2, 4, § 42. I. E l b o g e n ("Einige n e u e r e T h e o r i e n de m o d o geral.
ü b e r d e n U r s p r u n g d e r P h a r i s ä e r u n d S a d d u z ä e r " e m Jewish Studies 5 3 . Salvo em Jo 8,3 q u e faz p a r t e d a p e r í c o p e d a " m u l h e r adúl-
in Memory of Israel Abrahams, N o v a I o r q u e , 1927, 135-148) e m i t i u
tera", inserida no quarto evangelho.
n a m . É lamentável que especialmente Mt conserve q u a s e
As censuras q u e , segundo Lc, Jesus dirige aos fari-
sempre essa designação global d o s dois grupos até mes-
54

seus (Lc 11,39-42,44) são de o u t r a natureza. Ei-ías: a)


mo nas p a l a v r a s que reúne em seu c a p . 2 3 contra os es-
hipocrisia no c u m p r i m e n t o das prescrições de p u r e z a , q u a n -
cribas e os fariseus. C o m efeito, M t introduz do m e s m o
do eles mesmos são interiormente i m p u r o s ; b) hipocrisia
m o d o , p o r "ai de vós, escribas e fariseus!", as p a l a v r a s
no p a g a m e n t o do dízimo p a r a os legumes verdes e os le-
contra a v a i d a d e e o desejo de honrarias entre os douto-
gumes secos isentos do dízimo segundo a Lei, ao passo
res, e as p a l a v r a s contra a hipocrisia dos fariseus na ob-
que negligenciavam as exigências religiosas e morais d a
servância das prescrições da legislação religiosa sobre a
m e s m a Lei. Como se vê, essas críticas não têm n e n h u m a
pureza e o dízimo; assim sendo, ele elimina a diferença
relação com u m a formação teológica; dirigem-se a pessoas
e n t r e os dois grupos. D e m o d o mais feliz, a t r a d i ç ã o p a r a -
que c o n d u z e m sua vida segundo as exigências das leis re-
lela de Lo permite evitar conclusões errôneas; Lc estabe-
ligiosas dos escribas fariseus.
lece u m a nítida separação entre u m discurso de Jesus con-
tra os teólogos q u e são os e s c r i b a s , e u m d i s c u r s o d e
55 Lc mostra-nos, claramente e e m perfeito acordo com
Jesus aos " h o m e n s da p r á t i c a " que são os f a r i s e u s . 56 os dados das fontes c o n t e m p o r â n e a s , q u e o discurso pa-
ralelo de Jesus em Mt 23 divide-se e m duas partes: a pri-
Percebemos de modo especialmente claro a separação meira (vv. l - 2 2 ; 2 9 - 3 6 ) é dirigida c o n t r a os escribas; a se-
t r a ç a d a e n t r e os dois, se nos l e m b r a r m o s das censuras di- g u n d a (vv. 23-28) contém as censuras lançadas aos fari-
rigidas por Jesus, segundo Lc, a cada u m a das duas cate- seus. N o p r ó p r i o texto de Mt esse fato aparece c o m cla-
gorias. Aos e s c r i b a s eis o que ele censura: a) i m p o r e m
57
reza por diversas vezes, como, por exemplo, q u a n d o ele
às pessoas certas leis religiosas e x t r e m a m e n t e p e s a d a s , en- introduz os cinco " A i ! " (Mt 23,25-26) pela apóstrofe " A i
q u a n t o eles próprios não as c u m p r e m ; b) constroem túmu- de vós, escribas e fariseus!", e n q u a n t o continua (v. 26)
los aos profetas, e n q u a n t o eles próprios estão p r o n t o s a pela única apóstrofe; " T u , fariseu c e g o " .
c o n d e n a r à m o r t e os enviados d e D e u s ; c) m a n t ê m o c u l t a Assim, t a m b é m , os dois primeiros capítulos do Ser-
a sua ciência e fecham assim à m u l t i d ã o o acesso ao Rei- m ã o da m o n t a n h a contêm u m discurso contra os escribas
no de D e u s , e n q u a n t o eles mesmos n ã o utilizam os seus e u m contra os fariseus. E m Mt 5,20, os dois grupos são
conhecimentos; d) ambição de a p a r ê n c i a , de h o n r a r i a s e citados no início, encabeçados por escribas. Mas logo a
atenções, em particular o desejo do primeiro lugar n a s si- seguir, em 5,21-48 vem o discurso c o n t r a os escribas q u e
nagogas. C o m o se vê, são censuras relacionadas com sua t r a n s m i t e m e explicam a " t r a d i ç ã o dos a n c i ã o s " . Depois
sábia formação de escribas e com os direitos q u e dela de- 6,1-18 volta-se contra os " h i p ó c r i t a s " (no primeiro evan-
correm na vida social. gelho esse termo designa, salvo nalguns c a s o s , os fari- 58

seus); esses versículos são dirigidos n ã o mais contra a tra-


54. C o m e x c e ç ã o de 23.26. dição d o u t r i n a l , mas contra as pessoas que a c u m u l a m obras
55. Lc 11,46-52;20,46 (cf. 11,43). supererrogatórias (esmola, oração, jejum, cf. Lc 18,12).
56. Lc 11,39-44. E m l i , 4 3 s o m e n t e , u m e r r o insínuou-se n a tradi- É preciso, p o r t a n t o , estabelecer u m a nítida distinção
ção l u c a n a ; u m a t r a d i ç ã o p a r a l e l a , p o r é m , d e n t r o d e s t e terceiro e v a n -
gelho e em M c , p e r m i t e corrigi-la c o m p l e t a m e n t e de m o d o incontestá- entre escribas e fariseus, e rejeitar a idéia completamente
vel. C o m efeito, em Lc 20,46, c o m q u e m M c 12,38-39 está d e a c o r d o , falsa segundo a q u a l os fariseus, c o m o tais, e r a m escribas . j9

é aos escribas q u e se dirige, c o m r a z ã o , a c e n s u r a d o desejo a m b i c i o s o


de ter os p r i m e i r o s lugares nas sinagogas e r e c e b e r , em p r i m e i r o lu- 58. E m M t 23,13-29 ( p r o v a v e l m e n t e t a m b é m 2 3 , 1 5 ) , os h i p ó c r i t a s
gar, as s a u d a ç õ e s nos b a z a r e s ; em c o n t r a p a r t i d a , em Lc 11,43 a cen- são os escribas; em 24,51, os sem-deus; e m 7,5 pessoas h i p ó c r i t a s .
s u r a é, p o r erro, dirigida aos fariseus. 59. Por ex., W . Bousset-H. G r e s s m a n n , Die Religion des Juden¬
57. Lc l l , 4 6 - 5 2 ; 2 0 , 4 6 ; cf. 11,43. G u a n l o a 11,43, v e r a n . p r e c e - tums im spatheÜenistischen Zeitalter, 3? ed., T ü b i n g e n , 1926, 187: " O s
dente. fariseus são pessoas c u l t a s " , É u m j u l g a m e n t o t o t a l m e n t e falso, m a s
muito difundido.
C o m o v e m o s , a lista não é extensa. A b e m dizer, só
U m ú n i c o p o n t o é indiscutível: os chefes e os mem-
conhecemos n o m i n a l m e n t e u m a ínfima p a r t e de escribas
bros influentes das c o m u n i d a d e s farisaicas eram escribas,
q u e p e r t e n c i a m a u m a c o m u n i d a d e farisaica; o n ú m e r o ,
A tradição nos mostra que os escribas que vamos men-
p o r é m , era m u i t o m a i o r . C o n v é m a i n d a observar que mui-
cionar pertenciam a u m a c o m u n i d a d e farisaica ou confor-
tos escribas, opostos aos doutores saduceus, defendiam
m a v a m sua vida às prescrições farisaicas: antes de 162
idéias farisaicas sem que nos seja expressamente confir-
a.C. Yose b e n Yoezer ; por volta d e 5 0 , A b t a l i ã o e She-
M

m a d a a sua pertença à hãbürah.


m a y a ; cerca de 2 0 , talvez H i l e l ; em 30 d . C , no tem-
6 1 62

p o de Jesus e da c o m u n i d a d e cristã primitiva, N i c o d e m o s Y o h a n a n b e n Z a k k a i , por e x e m p l o , em Yab. IV 6,


(Jo 3 , l s s ) , ainda o rabi a n ô n i m o a q u e m Jesus interroga sustenta contra os saduceus a o p i n i ã o farisaica segundo a
a respeito do maior m a n d a m e n t o (Mc 12,28), diversos ou- qual os livros santos m a n c h a m as m ã o s , ele fala, p o r é m ,
tros escribas q u e e n t r a r a m em contato c o m Jesus , R a b - 63 dos fariseus na terceira pessoa, t a n t o q u e , baseando-se
b a n 1 e Sattlo de Tarso ; por volta de 5 0 , Y o h a n a n , fi-
6 4 65 nesse texto, c o n s i d e r o u - s e Y o h a n a n com u m saduceu
72

lho da h a u r a n i t a , que se alimentava segundo as regras de (sic!). E m Lc 1 1 , 4 5 , u m escriba diz a Jesus após a sua re-
pureza levítica e R. Sadoc, sacerdote célebre que ingeriu
66 p r i m e n d a aos fariseus: " M e s t r e , falando assim tu nos in-
igualmente seus alimentos segundo as regras d e p u r e z a le- sultas t a m b é m ! " Esse escriba defende igualmente os fari-
vítica , pelo ano 6 0 . Josefo , sacerdote e escritor, e Shi-
67 6S seus sem se colocar diretamente no n ú m e r o deles. Se em
meon, filho de Gamaliel I " ; n a época da destruição do
9 semelhantes casos pode-se, sem hesitação, supor que o es-
T e m p l o o filho desse Shimeon, R a b b a n Gamaliel 11 q u e , criba, defendendo opiniões farisaicas, pertença igualmente
assim dizem, alimentava-se segundo as prescrições farisai- a u m a c o m u n i d a d e farisaica, não se deve d e m o d o algum
cas de pureza levítica e conservava sempre as suas vestes subestimar o n ú m e r o dos doutores n ã o pertencentes a u m a
em estado de s u p r e m a pureza l e v í t i c a , e Yoezer, sacer-
70 hãbürah farisaica. E m todo caso, é consideravelmente mais
dote e s c r i b a . 71 elevado do que o p r e t e n d e a tradição talmúdica, redigida
de u m p o n t o de vista u n i l a t e r a l m e n t e farisaico.

60. Hag. II 7.
O exemplo de Shimeon ben N e t h a n a e l é, a meu ver,
6 1 . Ánt. X V 1, 1, § 3 ; 10, 4, § 370. p a r t i c u l a r m e n t e elucidativo. Shimeon que vivia p o r volta
62. P o d e m o s deduzi-lo do a c o n t e c i m e n t o ('Er V I 2) q u e G a m a l i e l do ano 70 d . C , era sacerdote e discípulo de R a b b a n Yoha-
c o n t a dc seu p a i . O p a i de G a m a l i e l I era H i l e l ; o S h i m e o n m e n c i o -
n a d o s o m e n t e em b . Shab. 1 5 bar., ao q u e se p r e t e n d e p r e s i d e n t e d o
a nan ben Z a k k a i 7 3
cujas idéias farisaicas constatamos há
Sinédrio d e p o i s d c Hilel e antes de G a m a l i e l I, n ã o é c i t a d o e m ne-
n h u m o u t r o lugar, c de q u a l q u e r m o d o n ã o c dito ser pai d e G a m a - antes dc 70 d. C , c o m o o c o n f i r m a m os d a d o s q u e se s e g u e m . T o s .
liel I. E n t r e t a n t o , n ã o s a b e m o s se o relato de 'Er. V I 2 v e m d e R. Sanh. II 6 (416, 2 4 ) : nos d e g r a u s d a e s p l a n a d a d o T e m p l o , ele es-
G a m a l i e l I ou d e R. G a m a l i e l I I ; é s o m e n t e no p r i m e i r o caso q u e c r e v e u m a o r d e m p a r a a Galileia (com Billerbeck, I, 154 e G . Dal-
se p o d e tirar u m a d e d u ç ã o q u a n t o a H i l e l . m a n , Die Worte jesu. I, 2- ed., Leipzig, 3 ; é preciso atribuir essa
p a s s a g e m a G a m a l i e l I I ) ; Pes. V I I 2; m a n d a assar em Jerusalém o
6 3 . M c 2,16; Lc 5,30; Mt 15,1-9; M c 7,1-13. O s fariseus q u e dis- c o r d e i r o p a s c a l p e l o seu e s c r a v o T a b i (o n o m e d o e s c r a v o é conhe-
c u t e m c o m Jesus d a exegese do D t 24,1 (Mt 19,3; M c 10,2) são igual- cido; m o s t r a q u e se t r a t a de G a m a l i e l I I ) ; Sukka I I I 9 (pode acon-
m e n t e teólogos. tecer ser p r e c i s o , j u n t a m e n t e c o m Billerbeck, I I , 788 e, situar esse
64. At 5,34; T o s . 'A. Z. I I I 10 (464, 6 ) . a c o n t e c i m e n t o n a liturgia do T e m p l o , antes de 70, p o r t a n t o ) ; o fato
65. At 23,6. P a u l o era u m escriba f o r m a d o . A t 26,10 o n d e ele faz, p o i s , s u p o r q u e R a b b a n G a m a l i e l I I já era nessa é p o c a u m a au-
fala de sua a t i v i d a d e de juiz, dá-nos esta certeza. loridade reconhecida.
66. b . Yeb. 1 5 e p a r .
b

67. Sukka II 5 . 7 1 . Vita 39, § 197. Q u a n t o à forma d e s t e n o m e , v e r supra, n . 14,


68. Vita 2, § 12. 72. B. D . E e r d m a n s , " F a r i z e è n e n S a d d u c e é n " , e m Theologisch
'1'ijdschrift 48 ( 1 9 1 4 ) , 9ss. G r a n d e e r r o ! O u t r a s passagens t a m b é m (b.
69. Vita 38, § 191. S u p o n d o q u e o relato d e 'Er. VI 2 v e n h a de
Mcn. 6 5 e p a s s i m ) m o s t r a m , sem e q u í v o c o , q u e Y o h a n a n b e n Z a k k a i
a

C a m a l i e l I I (ver supra, n. 62) diz r e s p e i t o t a m b é m a seu p a i , R. Shi-


o c u p a v a , sem d ú v i d a , u m a p o s i ç ã o c a t e g o r i c a m e n t e anti-saducéia.
m e o n ben G a m a l i e l I.
73. P. A. I I 8.
70. T o s . Hag. I l l 2 (236, 18). G a m a l i e l II já estava em a t i v i d a d e
pouco e desposou u m a neta do fariseu R a b b a n G a m a -
7 i
D e m o d o esclarecedor o texto q u e vamos transcre-
liel 1 . E n t r e t a n t o , Shimeon recusava tomar seu alimento
7 5
ver mostra-nos o grau de consciência com que os mem-
&2

profano, conformando-se às prescrições farisaicas sobre a bros do clero se s u b m e t i a m às exigências farisaicas sobre
pureza e, p o r ocasião de seu c a s a m e n t o , foi obrigado a a p u r e z a : "Yose ben Yoezer [antes d e 162 a . C ] era, en-
p r o m e t e r expressamente não exigir de sua m u l h e r que pre- tre os sacerdotes, u m h o m e m piedoso e suas vestes con-
parasse alimentos puros em sua casa (já q u e , de certa ma- sideradas como midras [impuras somente por contato] p a r a
neira, ele não tinha observado a pureza r i t u a l ) . E n t r e os 7Ó
fa c o n s u m a ç ã o ] das coisas santas. Y o h a n a n ben G u d g e d a
escassos dizeres que dele chegaram até nós, u m critica a [cerca de 40 d.C.j d u r a n t e a sua vida inteira só se alimen-
determinação de tornar-se a oração "algo b e m regulamen- tou dentro [das regras] da pureza das coisas santas, de
t a d o " , pois a intimidade da oração viria a sofrer com isso . 11
sorte que sua veste era considerada c o m o midras [impura
E v i d e n t e m e n t e , Shimeon critica o estabelecimento de h o r a s somente por contato] pela [aspersão da água d a ] pu-
fixas p a r a orar ao que os fariseus d a v a m tão g r a n d e im- rificação".
portância . 7S

Segundo esse texto, Yose b e n Yoezer, mesmo fora do


Esse caso particular mostra-nos que é preciso n ã o su-
T e m p l o , na vida cotidiana, observava com tal consciência
bestimar n e m valorizar o n ú m e r o dos escribas não fari-
as regras de pureza válidas p a r a os sacerdotes, de m o d o
seus, e que somente u m a p a r t e — na realidade mais im-
p a r t i c u l a r preservava suas vestes da i m p u r e z a com tama-
portante do que a outra — dos escribas pertencia às co-
n h o c u i d a d o que podia, cm q u a l q u e r ocasião, comer a
m u n i d a d e s farisaicas.
primícia reservada aos sacerdotes sem m u d a r as vestes; só
Os m e m b r o s das hãbúrôt, na maioria, não e r a m es- tinha de trocá-las q u a n d o fosse comer a carne das vítimas.
cribas. Sabemos que inúmeros sacerdotes e r a m fariseus. Q u a n t o a Y o h a n a n b e n G u d g e d a , i m p u n h a a si próprio
Entre os escribas fariseus que citamos há p o u c o , encon- u m grau de p u r e z a a i n d a mais severo, u l t r a p a s s a n d o o tex-
tramos os seguintes sacerdotes: Yose ben Yoezer, R. Sa- to da prescrição farisaica sobre a p u r e z a . E m b o r a fosse
doc, Josefo e Yoezer. A esses p o d e m o s acrescentar mem- levita, observava em toda a sua alimentação o grau de
bros do clero q u e , sem serem providos de u m a f o r m a ç ã o pureza exigido p a r a a carne dos sacrifícios; assim sendo,
de escriba, e r a m fariseus. Conta-nos Josefo que João Hir- se tivesse sido sacerdote, teria tido o direito de comer a
cano (134-104 a . C ) , sumo sacerdote e príncipe dos j u d e u s , carne dos sacrifícios c o m suas vestes diárias e só teria de
foi, no princípio de seu reinado, "discípulo dos fariseus mudá-las p a r a a aspersão da água da purificação ( N m 19).
que o estimavam e n o r m e m e n t e " ; além disso u m frag-
79

N o u t r a circunstância t o m a m o s c o n h e c i m e n t o de u m sacer-
mento de evangelho apócrifo cita Levi, sacerdote-chefe fa- dote, Shimeon b e n N e t h a n a e l , que recusou submeter-se à
riseu ; finalmente, devemos mencionar o levita Y o h a n a n
80

prescrição farisaica sobre a pureza; o fato faz-nos, pois,


ben G u d g e d a que já encontramos como porteiro-chefe do c o m p r e e n d e r que a obediência dos sacerdotes a tal prescri-
Templo . B1

ção não era de m o d o algum óbvia.

74. Ver supra, p . 2 9 9 , n . 4 8 6 .


O s sacerdotes t o m a r a m g r a n d e p a r t e no m o v i m e n t o
75. T o s . 'A. Z. I I I 10 (464, 6 ) . farisaico. É explicável pelo fato de esse m o v i m e n t o ter seu
76. Ibid. 464, 7. núcleo no T e m p l o ; p r o c u r a v a erguer a nível de n o r m a ge-
77. P. A. I I 13.
78. V e r supra, n . 25 e passim. ral, válida igualmente p a r a aqueles q u e não e r a m sacer-
79. Ant. X I I I 10. 5, § 289; b . Ber. 2 9 . a
dotes, as prescrições d e pureza que a Escritura i m p u n h a
80. E. P. Grenfell e A. S. H u n t , The Oxyrhynchus Papyri, t. V.
L o n d r e s , 1908, n. 8 4 0 . S o b r e o s e n l i d o d o ( e r m o archiereús, ver supra, 82. Hag. II 7. Cf. A. B ü c h l e r , Der galüais-che 'Am-ha' Ares, Viena,
p p . 242-248.
1906.
8 1 . V e r supra. p p . 234s, 290, 318.
aos sacerdotes q u a n d o do c o n s u m o da a r r e c a d a ç ã o que dica, de fariseus. O s fabricantes d e aromas dos quais se 89

lhes era reservada. fala a propósito de u m debate sobre a santificação do sá-


O s escribas que a c a b a m de ser citados, sacerdotes e bado 90
p r o v a v e l m e n t e são t a m b é m fariseus. É u m deles
levitas, constituíam a p e n a s a p a r t e dirigente dos fariseus. q u e , e m Lc 18,9-14 se vangloria de jejuar d u a s vezes p o r
Os leigos que se agregavam às c o m u n i d a d e s farisaicas e se semana e pagar o dízimo de tudo o que a d q u i r e (como
c o m p r o m e t i a m a observar as suas prescrições sobre o dí- p r o d u t o c o l h i d o ) ; temos de considerá-lo como u m leigo,
91

zimo e sobre a pureza eram muito mais n u m e r o s o s . já que n e n h u m título lhe é a t r i b u í d o .


É o que já verificamos, pela constante citação no As incontáveis prescrições sobre relações comerciais
Novo T e s t a m e n t o , de "escribas e fariseus" lado a l a d o . entre fariseus e não-fariseus fazem-nos conhecer melhor os
Conforme d e m o n s t r a essa expressão, havia, junto aos che- círculos q u e formavam a g r a n d e massa dessa seita . Esses y2

fes q u e e r a m os escribas, a g r a n d e massa p o p u l a r despro- textos n ã o d e i x a m a m e n o r d ú v i d a : e r a m sobretudo os


vida da formação que aqueles possuíam. O T a l m u d e acen- mercadores, artífices e camponeses q u e faziam p a r t e da
tua expressamente, a respeito de u m fariseu que se voltou hãbürah. E m r e s u m o : a c o m u n i d a d e farisaica compunha-se,
contra A l e x a n d r e Janeu, que era u m "simples israelita" ; 83

especialmente, de plebeus, gente do p o v o sem formação


Josefo, referindo-se a duas pessoas de alta classe q u e fa- de escriba , honestos, sérios e p r o n t o s a se dedicarem ao
93

ziam p a r t e em 67 d.C. de u m a e m b a i x a d a na Galileia, diz que fosse necessário. Muitas vezes, porém, mostravam-se
serem fariseus e l e i g o s . O " p o v o de J e r u s a l é m " q u e es-
84

severos e orgulhosos em relação à g r a n d e multidão, os


condeu na água seus doces de figos — c e r t a m e n t e du- 'ammê ha-'ares q u e n ã o observavam, como eles, as pres-
94

rante os anos da revolta em 66-70 d.C. — para os sub- crições das leis religiosas dos escribas fariseus e p e r a n t e
trair aos sicários e se p r e o c u p o u c o m sua p u r e z a ritual os quais os fariseus se consideravam c o m o o v e r d a d e i r o
até que os escribas o tranqüilizou , são fariseus d e Jeru-
ífS

Israel . 95

salém, gente simples do p o v o , sem formação ou c u l t u r a .


N o u t r o lugar, vemos "gente de J e r u s a l é m " c u m p r i r c o m 89. A p a l a v r a t a m b é m p o d e designar m e r c a d o r de a n i m a i s . Se-
zelo seus deveres religiosos p a r a a festa das Tendas:, par- g u n d o R. Y o s e , írata-se de m e r c a d o r e s de lã ('Er X, 9 ) .
ticipação no culto sinagogal, visitas d e c o n d o l ê n c i a s , . v i s i - 90. 'Er. X 9.
9 1 . Pode-se t a m b é m t r a d u z i r : a) " p a g o o d í z i m o d e t u d o o q u e
tas a enfermos, freqüência às escolas, o r a ç ã o ; t a m b é m SÉ

p r o d u z o " ; ou b) " d e t u d o q u a n t o g a n h o d o u 1 0 % p a r a as o b r a s de
nesse caso, trata-se talvez de fariseus e assim s e n d o , pen-
87
b e n e f i c ê n c i a " , ver Billerbeck, I I , 244s. E m n o s s a t r a d u ç ã o , e s c o l h e m o s
sar-se-ia, antes de t u d o , em leigos piedosos. o s e n t i d o c s e g u n d o o qual o h o m e m se g a b a de p a g a r o dízimo d e
t u d o o q u e c o m p r a e n ã o s o m e n t e d o q u e ete p r ó p r i o p r o d u z ( p o r q u e
H á ainda em Jerusalém aqueles mercadores d e v i n h o n ã o s a b e c o m certeza se o v e n d e d o r , m e s m o q u e o afirme, já d e s o n e -
rou-se d o d í z i m o ) . Essa ú l t i m a asserção é a m a i s p r o v á v e l , pois, en-
e azeite q u e , n a delicadeza de sua consciência, e n c h e r a m cerra, d e m a n e i r a m u i t o clara, u m e l e m e n t o característico dos fariseus
300 odres com a espuma do v i n h o d u r a n t e a venda e 300 (Demay II 2 [ 4 7 , 1 0 ] ) .
com o azeite q u e sobrou nas vasilhas de m e d i d a ; entrega- 92. Demay II 2-3; V I 6; T o s . Ma'as. I I I 13 (85,19), e passim.
9 3 . É b o m n o t a r q u e q u a n d o Jesus d i s c u t e c o m os fariseus s o b r e
ram-nos aos tesoureiros do T e m p l o por n ã o c o n s i d e r a r e m q u e s t õ e s exegéticas (Mt 22,41-46 e par.) c s o b r e o u t r a s questões teó-
esses restos p r o p r i e d a d e deles ; trata-se, ao q u e t u d o in-
88
ricas, é c o m os chefes, c o m os escribas q u e o f a z .
94. N o singular, a e x p r e s s ã o significa, a o p é d a letra " p o v o d o
país [de I s r a e l ] " . P r i m i t i v a m e n t e , d e s i g n a v a a vasta m u l t i d ã o p o p u -
8 3 . b . Qid. 6 6 .
a

lar de Israel; d e p o i s , foi u s a d a p a r a a p o p u l a ç ã o m e s c l a d a j u d e u - p a g ã


84. Vita 3 9 , § 197.
o r i u n d a d o p o v o a m e n t o d a P a l e s t i n a pelos p a g ã o s d u r a n t e o exílio de
85. Maksh. I 6.
Habilônia; enfim d e p o i s d o século II antes de nossa era, foi e m p r e -
86. b . Sukka 4 1 ; T o s . Sukka I I 10 (195, 6 ) ; j . Sukka
b
III 14, 5 4 a

g a d a p a r a designar a q u e l e q u e n ã o c o n h e c i a a Lei, e s p e c i a l m e n t e o
38 (IV/1, 30). não-fariseu.
87. Cf. a e x p o s i ç ã o d e t a l h a d a supra, p p . 336-338.
95. Q u a n t o ao s e n t i d o do t e r m o " f a r i s e u " , ver supra, n. 2.
88. b . Besa 2 9 bar.
a
Analogias c o m o c a r á t e r e a organização das comu-
56
sélitos ( X I V 3ss). Algumas prescrições r e g u l a m e n t a m , por-
n i d a d e s farisaicas tal como acabamos de descrever, apa- m e n o r i z a d a m e n t e , a admissão na c o m u n i d a d e . Somente
recem no Documento de Damasco p u b l i c a d o em 1910,
91
" a d u l t o s " p o d e m ser recebidos d e n t r e aqueles que são exa-
e, recentemente, em p r o p o r ç ã o m e n o r , na Regra da Co- m i n a d o s " (X 1-2, cf. X V 5-6). Como p o d e m o s ver em N m
munidade ( 1 Q S ) , p u b l i c a d a em 1 9 5 1 . Antes das desco-
9 8
1,3 a regra fixa em 20 anos a i d a d e m í n i m a p a r a o in-
bertas de Q u m r ã , considerava-se geralmente o Doe. Dam. gresso de q u a l q u e r p r e t e n d e n t e . lü2

como u m texto fariseu (a primeira redação dessa p a r t e em Previamente, o c a n d i d a t o submete-se a u m exame fei-
1929 compartilhava t a m b é m dessa opinião). Depois d a pu- to pelo escriba vigilante (Doe. Dam. X I I I 11-12; X V 11)
blicação dos textos de Q u m r ã , tivemos a certeza d e ser que tão-somente possui o direito de admiti-lo ( X I I I 12¬
ele de origem essênia. A p r o v a nos foi d a d a pelas seme- 13) 103
e a q u e m o postulante deve apresentar-se (XV 7-8).
lhanças de base e pelo fato de os fragmentos do Doe. Dam. O vigilante dá-lhe logo a conhecer as disposições jurídicas
terem sido encontrados em Q u m r ã secretas 104
da c o m u n i d a d e (XV 10-11); o c a n d i d a t o presta
T o d a v i a , a origem essênia do Doe. Dam. n a d a m u d a o j u r a m e n t o de e n t r a d a (XV 6), e é incluído na lista dos
ao fato de p o d e r ser ele de g r a n d e ajuda p a r a se compre- m e m b r o s ( X I I I 12). Segue-se, então, segundo a Regra (1QS
ender a organização das c o m u n i d a d e s farisaicas; c o m efei- V I 13ss; cf. V I I 19ss, V I I I 24s), u m período de prova-
to, fariseus e essênios tiveram a m b o s , sem sombra d e dú- ção q u e dura dois anos. Faltas graves são p u n i d a s por u m a
vida, sua origem no m o v i m e n t o dos assideus, na época exclusão t e m p o r á r i a ou definitiva (Doe. Dam. X X 1-13;
macabaica °, o que mostra muitas semelhanças e n t r e os
I0 ver t a m b é m as disposições penitenciais n a Regra, 1QS V I
dois movimentos. A p a r e c e m com maior nitidez no Doe. 24-VII 2 5 ) .
Dam. do q u e na Regra. O Doe. Dam. estabelecido prova- Essas informações estão perfeitamente de acordo com
velmente p a r a grupos essênios dispersos no país, supõe for- o resultado da análise das c o m u n i d a d e s farisaicas feita aci-
mas de c o m u n i d a d e semelhantes àquelas que as regras fa- m a ; torna-se especialmente claro se p e n s a r m o s que a sina-
risaicas p r e v ê e m : em compensação, a Regra organiza a vida goga, ao contrário desses dois movimentos n ã o adota ex-
severa de Q u m r ã , centro monástico. clusões e só aceita adultos em caso de conversões de pagãos.
Se e x a m i n a r m o s a organização das c o m u n i d a d e s es- N o q u e concerne ao governo, u m viligante (m baqqer) e

sênias, vemos, de imediato, que se trata de grupos rigoro- q u e não deve ter menos de trinta anos n e m mais de 50
samente organizados. M a n t ê m m e m b r o s (Doc. Dam. X I I I1 0 1 (Doe. Dam. X I V 8s) chefia cada " c a m p o " . É u m escriba
12, cf. X 2) estabelecidos segundo a o r d e m igualmente q u e informa sobre o sentido exato da Lei ( X I I I 7s). É a
válida p a r a as reuniões: sacerdotes, levitas, israelitas, pro- ele q u e se devem c o m u n i c a r as faltas cometidas (IX 18s,
2 2 ) , U n i c a m e n t e ele tem o direito d e admitir u m candi-
96. Ver supra, ibid. dato na c o m u n i d a d e ( X I I I 12s); e x a m i n a e instrui os no-
97. S. S c h e c h t e r , Documents of Jewish Sectaries, vol. I, Cam- vos recrutas ( X I I I l i s ; cf. X V 8,11). É ainda o pai es-
bridge, 1910.
98. M. Burrows-J. C. T r e v e r - W . H . B r o w n l e e , The Dead Sea Scrolls
piritual da c o m u n i d a d e ; " c o m o u m p a i , compadece-se de
of St. Mark's Monastery I I / 2 , N e w H a v e n , 1951. — A Regie de la seus filhos" ( X I I I 9). Suas relações c o m a c o m u n i d a d e são
congregation (1 Q Sa), a n e x o da Regie de la communauté, foi p u b l i - descritas sob a figura do pastor e do r e b a n h o (ibid.). Por
c a d a p o r D . B a r t h é l e m y e m Qumran Cave I (Discoveries in the ]u-
daean Desert, t. 1), O x f o r d , 1955, 109-111.
102. 1 Q Sa I 8 indica e x p r e s s a m e n t e o limite d a i d a d e de v i n t e
99. N a g r u t a 4 (J. T . Milik, RB 63 [ 1 9 5 6 ] , 61) e a g r u t a 6 ( M . anos.
Baillet, ibid., 513-523). 103. Apresenta-se d i f e r e n t e m e n t e e m 1 Q S V 8.20ss o n d e os sa-
100. Ver supra, p . 334. c a r d e o t e s e os m e m b r o s c o m direitos de c i d a d a n i a p r o c e d e m j u n t o s
101. 1 Q S V 2 3 , V I ( 1 0 ) 2 2 ( 2 6 ) , V I I 2 . 2 1 , V I I I 19, I X 2 ; cf. à admissão.
1 Q Sa I 2 1 . 104. Aplica-se a justiça s e g u n d o as regras j u r í d i c a s específicas.
esse m o t i v o , ao "desligar os elos de suas c o r r e n t e s " ( X I I I esse ú l t i m o , como se sabe, aparece pela primeira vez em
10) , cuida p a r a que ninguém d a c o m u n i d a d e seja opri-
105 Inácio de A n t i o q u i a .
mido ou fisicamente atingido. Com os juízes, recebe da Eis c o m o se deve r e s p o n d e r . É muitíssimo duvidoso
que o Doe. Dam. conheça a função m o n á r q u i c a de u m
c o m u n i d a d e dons caritativos e vigia a sua distribuição ( X I V
" vigilante-chefe ". A expressão decisiva, nfbaqqer l kol ha-
e

13).
-mahanôt ( X I V 8-9), p o d e apresentar diferentes significa-
A o levar em conta a correspondência de organização dos. A t r a d u ç ã o "vigilante de cada c a m p o " concorda com
e s t u d a d a acima entre as c o m u n i d a d e s essênias e farisaicas, o sentido do trecho; com efeito, as regras que seguem,
podemos imaginar as funções dos ârchontes fariseus (Lc X I V 9ss, n ã o se p o d e m aplicar a u m vigilante-chefe ú n i c o .
14,1), sobre os quais as fontes nos dão poucas informa- Como o mostra IX 17ss, aplicam-se m e l h o r ao vigilante
ções como análogas às funções d o nfbaqqer essênio. O fato de cada c a m p o .
deste nfbaqqer m a n t e r t a m b é m contatos com o bispo cris-
E m r e s u m o , convém dizer que p o d e m o s levar em
tão concorre p a r a essa a p r o x i m a ç ã o . T u d o q u a n t o foi ex-
consideração os dados sobre a organização dos " c a m p o s "
plicado até agora q u a n t o à origem dessa última função (a
essênios, mas c o m a maior p r e c a u ç ã o , p a r a d a r contornos
saber, o termo episcopo designava os m e m b r o s das comis-
mais acentuados às raras e ocasionais informações acerca
sões c o m u n a i s de construção nas cidades sírias , o u o 106

da organização das c o m u n i d a d e s farisaicas.


chefe da sinagoga entre os judeus , não nos satisfaz. Im-
lo:

A influência que as c o m u n i d a d e s farisaicas e seus


põe-se u m a dupla observação : o título nfbaqqer
m
corres-
chefes, os escribas, s o u b e r a m exercer é r e a l m e n t e admirá-
p o n d e literalmente ao grego episkopos. De outro lado, a
vel e, à primeira vista, enigmática.
posição e as funções do nfbaqqer são idênticas às do b i s p o
n a Didascaiia siríaca. Esses fatos levam-nos a i n d a g a r se E m nosso conhecimento de historiador, o primeiro
a função de chefe de u m a c o m u n i d a d e essênia, função tal g r a n d e sucesso que a l c a n ç a r a m situa-se nos seis anos de
como a conhecemos pelos dados do Doe, Dam. sobre o tumultos sangrentos e de guerras civis sob A l e x a n d r e Ja-
nfbaqqer, não terá sido o modelo do episkopos cristão n e u (103-76 a . O ) ; a g r a n d e massa p o p u l a r se uniu aos
(caberia u m a segunda p e r g u n t a : a influência não se fez fariseus que contestavam a legitimidade dos sumos sacer-
antes sentir p o r intermédio dos fariseus do q u e p e l o dos dotes asmoneus . Diversas vezes à beira d a ruína, Ale-
m

essênios?). x a n d r e Janeu conseguiu estabelecer a p a z , mas a preço


n o

de u m doloroso b a n h o de sangue. E n t r e t a n t o , os fariseus


H o u v e objeções contra a hipótese de tais d e p e n d ê n - obtiveram a vitória. E m seu leito de m o r t e , o rei aconse-
cias: que u m "vigilante de todos os c a m p o s " (Doe. Dam. lhou à esposa A l e x a n d r a (76-67) que se unisse aos fari-
X I V 8-9), p o r t a n t o , u m a a u t o r i d a d e m o n á r q u i c a n a che- seus . Fizeram então a sua e n t r a d a n o Sinédrio q u e , até
m

fia, aparecesse no Doe. Dam. ao lado do vigilante de cada aquela data c o m p r e e n d i a exclusivamente representantes da
c a m p o . Seria, c o m efeito, inverossímil q u e as c o m u n i d a d e s aristocracia religiosa e leiga, e a b a n d o n a r a m sua oposição
cristãs da época neotestamentária tivessem r e t o m a d o a fun- à família reinante. A l e x a n d r a governou, mas e n q u a n t o mu-
ção dos episkopoi das c o m u n i d a d e s particulares (observe-se lher, não p ô d e ser, ao m e s m o t e m p o sumo sacerdote; essa
o plural em Fl 1,1) e não esse episcopo m o n á r q u i c o . O r a , circunstância deve ter facilitado a coligação dos fariseus.
Apoiados n o p o d e r da r a i n h a , tornaram-se, e n t ã o , os ver-
105. " L i g a r " e " d e s l i g a i " , cf. Mí 16,19. dadeiros chefes de estado . m

106. A. Schlattcr, Geschichte der ersten Christenheit, Gütersloh,


109. V e r supra, p p . 219s, 259.
1926, 95; M . D i b e l i u s , An die Phüipper, 3 ed., T ü b i n g e n , 1957, a
3

110. Ani. X I I I 13, 5 4 4 , 2, § 372-382; B. ;. I 4, 3-6, § 88-98.


FI 1, 1. 111. Ant. X I I I 16, 5, § 401-404.
107. K. G . G o e t z , Petrus, Leipzig, 1927, 49ss. I 12. B. j . I 5, 2, § 110s.
108. G . H o l s c b e r , era ZNW 28 ( 1 9 2 9 ) , 39.
12 - .Inrusalém no tempo de J e s u s
A p ó s a morte de A l e x a n d r a e sob Aristóbulo I (67-63 Sinédrio. Foi somente e m 6 a . C , dois anos antes de sua
a . C ) , a força dos fariseus d i m i n u i u . R e t o m a r a m sua velha m o r t e q u e H e r o d e s , e m conluio com as intrigas d a corte,
oposição à família reinante e, e m 6 3 , c o n v e n c e r a m o p o v o rompeu com os fariseus . 130

a enviar u m a e m b a i x a d a a P o m p e u , a fim de p e d i r a su-


pressão d a realeza nacional " ; n ã o esconderam seu rego-
3
N a época seguinte, até o início da Primeira Revolta
zijo pelo sucesso d o projeto . Foi sobretudo d u r a n t e o
m
(66 d . C ) , os fariseus tiveram p o u c a influência na vida po-
reinado de H e r o d e s , o G r a n d e (37-4 a . C ) , q u e se mani- lítica d o p o v o judeu. C o n t i n u a v a m a ter representantes n a
festou a extensão do seu p o d e r . A s c e n d e n d o ao t r o n o , H e - Assembléia s u p r e m a , m a s é a aristocracia sacerdotal e lei-
rodes fez perecer os dirigentes d a nobreza leiga, seus ini- ga, de observância saducéia, q u e ali representava papel
migos mais influentes no Sinédrio; e m c o m p e n s a ç ã o , pou- d e t e r m i n a n t e . Os fariseus, m e m b r o s do Sinédrio, sempre
p o u os chefes fariseus e conferiu-lhes todas as h o n r a s . l15
s o u b e r a m fazer-se o u v i r d u r a n t e as sessões e t i n h a m rela-
Q u a n d o mais tarde os fariseus recusaram, u n a n i m e m e n t e , ções com H e r o d e s A n t i p a s , tetrarca da Galileia ; pelo 121

prestar j u r a m e n t o de fidelidade a H e r o d e s e a César, o m e n o s é a o p i n i ã o d o s evangelhos e d o s Atos d o s Apósto-


rei contentou-se e m impor-lhes u m a multa p e c u n i á r i a , en- los ; (segundo o q u a r t o evangelho, a c o n d e n a ç ã o de Je-
122

q u a n t o , pelo m e s m o motivo, m a n d o u executar o u t r a s pes- sus é , substancialmente, obra dos fariseus ; é difícil dar- m

soas . N a corte de Jerusalém os fariseus t i n h a m suas pe-


116
-Ihe razão). N ã o causa estranheza q u e o fariseu Saulo te-
quenas e grandes o p o r t u n i d a d e s e exerciam p r o f u n d a in- n h a sido i n c u m b i d o de representar p a p e l ativo na perse-
fluência n o h a r é m e entre os domésticos . 117
guição aos cristãos . E n t r e t a n t o , a influência dos fariseus
m

É n a força dos fariseus q u e devemos, de m o d o espe- sobre a política e a administração d a justiça n a Palestina,
cial, p r o c u r a r a razão d a indulgência do rei. M e s m o u m antes de 6 6 d . C , n ã o deve ser e x a g e r a d a . Bem dife- m

H e r o d e s tinha de reconhecer q u e os fariseus c o n t a v a m rente era o q u e acontecia n o domínio religioso. Nesse pon-
com o p o v o . W e l l h a u s e n n ã o tem razão ao dizer q u e
U B t o , os fariseus levavam vantagem sobre os saduceus. Assim
"os fariseus tiveram sua época de p r o s p e r i d a d e s o b H e - sendo, encont r am os t o d a a vida religiosa, especialmente a
rodes" 119
— situa-se ela, com efeito, após 70 d . C — m a s
u m fato é certo: e n q u a n t o as famílias sacerdotais d a n o v a
h i e r a r q u i a ilegítima d e p e n d i a m d a s b o a s graças d e H e r o -
120. Ani. XVII 2, 4, § 36-46; B. j . I 2 9 , 1, § 569-571.
des de m a n e i r a total e indigna, os fariseus mantiveram-se
121. M c 3,6; Lc ¡ 3 , 5 1 ; M c 12,13 p a r . M t 22,15-16.
tranqüilos; t i n h a m , então, r e a d q u i r i d o sua influência n o
122. A t 5,34-39;23,6.
123. Jo 7,32.45-52;! 1,46; 12.42; cf. " o s j u d e u s " e m 7,13;9,22; 19,38:
113. Ant. X I V 3, 2, § 4 1 ; c o m r a z ã o supõe-se, g e r a l m e n t e , q u e a
20,19.
e m b a i x a d a foi o r g a n i z a d a pelos fariseus.
124. A t 9,l-4;22,3-8;25,9-14. Q u a n t o à d a t a ç ã o : s e g u n d o G a l 1,18;
114. B. j . I 8, 5, § 170.
2 , 1 , a c o n v e r s ã o d e P a u l o se deu dezessete a n o s — q u e r dizer, quin-
115. Ant. X V I, 1-2, § 3ss. O s fariseus t i n h a m a c o n s e l h a d o a ren-
ze, c o n f o r m e nossa m a n e i r a m o d e r n a d e c o n t a r — a n t e s d o concílio
dição d e J e r u s a l é m a H e r o d e s .
a p o s t ó l i c o q u e se r e a l i z o u n o fim d e 48 d . C , p o r t a n t o , e m 33 (ver
116. É p r o v á v e l , c o n f o r m e e x p ô s O t t o , Herodes, c o l . 6 4 n., n a m e u artigo Sabbatlyahr, e m ZNW 2 7 ( 1 9 2 8 ) , 98-103.
trilha d e W e l l h a u s e n , q u e os dois relatos d e Josefo, Ant. X V 10, 4, § 125. A p a r t i r d e 66 d . C , a s i t u a ç ã o m u d o u c o m p l e t a m e n t e . V e r
368-370 e X V I I 2 , 4 , § 42, c o n t e n h a m o m e s m o c a s o , m a s s e g u n d o d u a s a abolição cio c ó d i g o p e n a l cujo a n i v e r s á r i o será c e l e b r a d o a l e g r e m e n t e ,
fontes, u m a desfavorável aos fariseus ( X V § 3 6 8 ) , a o u t r a simpati- s e g u n d o Megillat táanií 10, e m 14 t a m m u z ( e d . H . L i c h t e n s t e i n , e m
z a n t e a H e r o d e s e oposta aos fariseus ( X V I I § 4 2 , s e m d ú v i d a Ni- UUCA 8-9 (1931-1932), 319, n . 1 2 ) . Essa a b o l i ç ã o n ã o se d e u n e m
colau d e D a m a s c o ) . M»b A l e x a n d r a (76-67 a.C.) n e m s o b A g r i p a I (41-44 d . C ) . m a s n o
117. Ant. X V Í 1 2, 4 , § 41ss, cf. X V 1, 1, § 3 5 . linimento e m q u e e s t o u r o u a revolta c o n t r a os r o m a n o s (66 d . C ) . C o m
118. Ant. X V I I 2, 4 , § 4 1 : e s t a v a m m e s m o p r o n t o s a d e c l a r a r H i ' i l o , a c o n d e n a ç ã o à m o r t e d a filha d e u m s a c e r d o t e , sob A g r i p a I,
guerra a o rei e a prejudicá-lo. r e n d a d a supra, p . 2 4 6 , n. 2 2 2 a, foi p r o n u n c i a d a s e g u n d o o d i r e i t o
119. W e l l h a u s e n , Pharisaer, 109. '..idlliTll.
liturgia , regrada segundo as prescrições farisaicas. O úl-
m d o p o d e r i o dos fariseus. N o T a l m u d e , vemos u m s u m o
m

timo rei j u d e u , Agripa I (41-44 d . C ) , vivia como fariseu . m


sacerdote saduceu presidir o sacrifício dos perfumes n o
O s sumos sacerdotes saduceus eram obrigados, m e s m o Dia das expiações segundo o rito saduceu; derramou-os so-
c o n t r a a v o n t a d e , a realizar as cerimônias litúrgicas se- b r e os carvões acesos e n q u a n t o estava a i n d a no S a n t o e
g u n d o a explicação farisaica da T o r á , assim como o sor- não após ingressar no S a n t o dos santos c o m o exigiam os
teio dos dois bodes e a oferenda do sacrifício dos per-
128
fariseus. Seu pai disse-lhe e n t ã o : " M e u filho, e m b o r a se-
fumes no D i a das expiações, a libação da água n a festa
129
jamos saduceus, tememos os fariseus fe conformamo-nos
das T e n d a s °, o rito da novilha vermelha ; o m e s m o
13 m
com seu m o d o de v e r ] E m o u t r a passagem, u m a t r a d i ç ã o
acontecia q u a n t o aos ritos q u e , c o m o o d a libação d a água t a n a í t a descreve o c o m p o r t a m e n t o das m u l h e r e s dos saduceus.
na festa das T e n d a s , não t i n h a m fundamento bíblico . 132
O b s e r v a v a m , assim dizem, as prescrições farisaicas sobre
O calendário em geral, especialmente a festa d e Pen- a p u r e z a pois, de outro m o d o , os fariseus teriam-nas con-
tecostes, era fixado conforme a datação farisaica . Cerca 133
siderado m a c u l a d a s d a impureza d a s m u l h e r e s menstrua-
do ano 20 a . C , Hilel já conseguira fazer aceitar q u e se das q u e t o r n a v a m seus m a r i d o s c o n t i n u a m e n t e i m p u r o s . 137

imolassem os cordeiros d a Páscoa m e s m o n o dia d e sába- O t e s t e m u n h o de Josefo concorda perfeitamente com essas
do e assim abolira a prática saducéia até então em uso . m
indicações. Eis o que conta dos saduceus : " Q u a n d o se m

O fato que vamos n a r r a r mostra até o n d e ia a i n a p t i d ã o elevam às magistraturas, é c o n t r a sua v o n t a d e e por ne-
dos saduceus. T e n t a r a m , certa vez, por meio f r a u d u l e n t o , cessidade que se c o n f o r m a m às prescrições dos fariseus,
fixar o calendário conforme sua datação da festa d e Pen- p o i s , d e o u t r o m o d o , o p o v o n ã o os s u p o r t a r i a " . C o m o
tecostes; p a r a tanto, t e n t a r a m induzir e m e r r o , através d e v e m o s , a massa p o p u l a r segue incondicionalmente os fa-
falsas testemunhas, a comissão do calendário no Siné- riseus; Josefo, em p a r t i c u l a r , n ã o se cansa de realçar este
drio . 115
fato . 139

A antiga geração dos saduceus revelou total resigna- P a r a c o m p r e e n d e r tal evolução, é preciso ver que o
ção, pois, c o m p r e e n d i a b e m a impossibilidade de triunfar m o v i m e n t o farisaico desenvolveu-se p o r oposição a o movi-
m e n t o s a d u c e u . N o clero, essa o p o s i ç ã o formou-se n o sé-
126. Ant. X V I I I 1, 3, § 15. c u l o IJ a . C , isto é, sob a d o m i n a ç ã o selêucida antes do
127. Ant. X I X 7, 3, § 3 3 1 ; S c h ü r e r , I, 554ss. Cf. o j u í z o favorá- começo das lutas m a c a b a i c a s , q u a n d o u m grupo de sa-
l40

vel d e q u e é o objeto n o T a l m u d e (Billerbeck, I I , 7 0 9 s ) .


128. V e r supra, p . 226, n. 106. cerdotes, o grupo fariseu, operou u m a grande transforma-
129. T o s . Yoma 1 8 ( 1 8 1 , 6 ) ; b. Yoma 1 9 bar.; j . Yoma I 5, 3 9
b a
ção: p a r a os sacerdotes em serviço, a T o r á p r o m u l g a r a
46 ( I I Í / 2 , 170).
prescrições d e pureza e alguns r e g u l a m e n t o s sobre a ali-
130. V e r supra, p . 225, n . 106.
131. T o s . Para I I I 8 (632, 18). S o b r e csie p o n t o v e r A. B ü c h l e r , m e n t a ç ã o ; o g r u p o fariseu tornou-as n o r m a s válidas igual-
D a s Synedrion in Jerusalém, V i e n a , 1902, 67s ç 9 5 .
132. b . Ta'an. 3 r e m o n t a o rito a u m a h a l a k a de Moisés no Si-
a

136. b . Yoma 1 6 bar.; T o s . Yoma


b
I 8 ( 1 8 1 , 8 ) ; j . Yoma I 5,
n a i ; s e g u n d o j . Shebu. 1 9, 3 3 50 (não t r a d u z i d o e m V I / 2 , 1 0 8 ) ,
b

39 a
46 ( I I I / 2 , 1 7 0 ) . — Billerbeck, I I , 78s e 84Ss.
trata-se de u m a o r d e m dos p r i m e i r o s p r o f e t a s . R. Y u d a b e n Bethyra
(cerca de 110 d.C.) e R, A q i b a (f a p ó s 135), b . Ta'an. b
2 , assim 137. T o s . Nidda V 3 ( 6 4 5 , 2 6 ) ; b . Nidda 3 3 bar.
b

c o m o R. N a t h a m (cerca de 160), b . Ta'an. 3 bar., t e n t a r a m encon-


a
138. Ant. X V I I I 1, 4 , § 17.
trar u m a p r o v a escriturística. 159. Ant. X í I I ÍO, 5, § 2 8 8 (o p o v o c r ê n o s fariseus m e s m o se
133. O cálculo farisaico d a d a t a de Pentecostes e n c o n t r a - s e e m d i s s e r e m algo c o n t r a u m rei ou u m s u m o s a c e r d o t e ) ; X I I I 10, 6, §
p r i m e i r o lugar na Setenta Lv 23,11. N o século I de nossa era, Fílon, 298 (a m u l t i d ã o é sua a l i a d a ) ; X V I I 2 , 4 , § 4 1 s , ver supra, n . 115;
De spec. leg. I I , § 176; De decálogo,. § 160, e Josefo, Ant. I I I 10, 5B, X V I I I 1, 3, § 15 (o c u l t o , em seu c o n j u n t o , é c e l e b r a d o s e g u n d o as
250ss, a t e s t a m a i m p o r t â n c i a da o b s e r v â n c i a farisaica q u a n t o à fixação regras f a r i s a i c a s ) ; X V 1 I 1 1, 4, § 17.
da d a t a do P e n t e c o s t e s . 140. Cf. supra. p . 334, os fariseus já e x i s í i a m n o t e m p o d a s l u l a s
134. T o s . Pes. I V 1-2 (162, 2 1 ) . m a r a b a i c a s , cerca de 162 a.C. ( I M e 2 , 4 2 ) . M e s m a coisa supra, p . 3 4 7 :
135. T o s . R. H. I 15 (210, 1 0 ) . Yose b e n Yoeser, m e n c i o n a d o e m Hag. I I 7, viveu a t é 162 a . C .
ciai, visando a s u p r i m i r as diferenças d e classes, fizeram
m e n t e p a r a a vida diária do sacerdote e, ao mesmo t e m p o , deles o p a r t i d o d o p o v o e a p o u c o e p o u c o garantiram-
do p o v o . O s fariseus q u e r i a m , deste m o d o , f o r m a r a
1 4 1

verdadeira " c o m u n i d a d e s a n t a " de I s r a e l . E m troca, o 142 -Ihes a vitória.


grupo dos saduceus conservadores pensava q u e , conforme A m a n e i r a incondicional como a m u l t i d ã o seguia os
o texto da Escritura, o direito sacerdotal era limitado aos fariseus contém algo impressionante. Os fariseus sustenta-
sacerdotes e ao culto. v a m dupla frente de batalha: opunham-se aos saduceus e,
e n q u a n t o Israel v e r d a d e i r o , t r a ç a v a m u m a nítida separa-
O conflito entre fariseus e saduceus nasceu dessa opo-
sição. D o m i n o u a evolução religiosa profunda do j u d a í s m o ção entre eles próprios e a g r a n d e massa, os 'ammê ha-'ares
desde as lutas macabaicas até a destruição de Jerusalém; que não observavam, as prescrições dos escribas fariseus
podemos julgar a sua agudeza ao ler os Salmos de Salo- sobre o dízimo e a pureza . Essa oposição entre os mem-
145

mão . O s representantes das antigas teologia e da tradi-


m bros das c o m u n i d a d e s farisaicas e os 'ammê ha-'ares re-
ção ortodoxas que eram os defensores inflexíveis da letra pousava, especialmente, n o a b a n d o n o das obrigações d o
do texto da Bíblia, refutaram a lei não escrita , p a r a do- l44
dízimo peio p o v o . O conflito tornou-se especialmente
1 4 6

m i n a r os representantes da nova tradição. A luta assumiu agudo nos anos e m q u e João H i r c a n o (134-104 a.C.) pu-
p a r t i c u l a r acuidade pelo fato de u m a oposição social jun- blicou sua célebre o r d e m sobre o d í z i m o , visando a im-
tar-se à oposição religiosa: a velha nobreza conservadora, pedir a negligência n o p a g a m e n t o d o dízimo dos p r o d u t o s
isto é, a n o b r e z a clerical, como a nobreza leiga, opunha¬ agrícolas ; b e m depressa assumiu as dimensões d e u m a
147

-se à nova classe d o m i n a n t e dos intérpretes d a Escritura s e p a r a ç ã o d e casta da p a r t e dos fariseus. Comércio ca- H 8
3

e dos m e m b r o s das c o m u n i d a d e s . Essa última se recrutava samento I4y


e comensalidade com o não-fariseu, sus-
150

em todos os meios, especialmente n a p e q u e n a burguesia; peito — até prova contrária — de ser i m p u r o , foram, se
submetia-se de b o m grado às regulamentações dos sacer- n ã o completamente p r o i b i d o s , pelo m e n o s sujeitos à limi-
dotes e p r e p a r a v a assim o c a m i n h o p a r a u m sacerdócio tações muito precisas.
universal. O povo não se p e r t u r b o u c o m a situação. É certo
Esses fatos c o m p r o v a m q u e , religiosa e socialmente, que n ã o faltaram manifestações de ira contra a nova clas-
os fariseus constituíam o p a r t i d o do p o v o ; r e p r e s e n t a v a m se superior; certo t a m b é m que f r e q ü e n t e m e n t e se mani-
a massa em face da aristocracia tanto d o p o n t o de vista festou u m intenso desejo d e se libertar do jugo da indi-
religioso q u a n t o social. Sua p i e d a d e que era respeitada — ferença religiosa. É preciso, pelo menos e m p a r t e , explicar
p r e t e n d i a m ser o Israel verdadeiro — e sua o r i e n t a ç ã o so- através desse desejo o g r a n d e m o v i m e n t o dos "infelizes"
e dos " a f l i t o s " , dos " p u b l i c a n o s " e dos " p e c a d o r e s " q u e
141. E m T o s , 'A. Z. 111 10 (464, 9 ) , r a b i Meir (cerca d e 150 a c o m p a n h a r a m Jesus. D e m o d o geral, e n t r e t a n t o , o p o v o
d.C.) assim definiu o não-fariseu: a l g u é m q u e " n ã o toma seu a l i m e n t o
p r o f a n o s e g u n d o a p u r e z a levítica [prescrita p a r a os s a c e r d o t e s n a 145. Jo 7.49; Lc 18,9-14. - B ü l e r b e c k , I I , 505ss; S c h ü r e r , I I , 468s.
T o r a ] " . — Schlatter, Gesch. Isr., 138, d i z d e m a n e i r a clara e p r e c i s a : 146. V e r supra, p . 151.
" O T e m p l o e o clero c o n s t i t u í a m o foco d o m o v i m e n t o e é o direito
s a c e r d o t a l q u e esse m o v i m e n t o se esforçava p o r i n c u t i r " . Cf. I. A b r a - 147. b . Sota 48^ b a r . ; c{. Tos. Sota XIII 10 (320, 4 ) . B ü l e r b e c k ,
h a m s , Studies in Pharisaism and the Gospels II, C a m b r i d g e , 1924; I. II. 500.
E l b o g e n , '"Einige n e u e r e T h e o r i e n ü b e r d e n U r s p r u n g der P h a r i s ä e r 148. T o s . Mas'as. I I I 13 (85, 1 9 ) : " N a o se p o d e m v e n d e r [cereais
u n d S a d d u z ä e r " , e m Jewish Studies in Memory of Israel Abrahams,
(salvo f r u m e n t o ) , u v a s c a z e i t o n a s ] s e n ã o a u m haher [fariseu] s u b -
N o v a I o r q u e , 1927, 137; L. Baeck, Die Pharisäer, Berlim, 1927, 5 8 .
m e t e n d o - s e às regras de p u r e z a " . Demay I I 3 p r o í b e v e n d e r ao n ã o -
142. É o s e n t i d o d a p a l a v r a " f a r i s e u " , v e r supra, n. 2. -fariseu legumes e frutas ú m i d a s e secas, e dele c o m p r a r o m e s m o .
143. Josefo, Ant. X I I I 1, 3 , § 12, insiste n o c a r á t e r i n t r a t á v e l e 149. E x c e ç ã o : T o s . 'A. Z. í f l 10, ( 4 6 4 , 7 ) , v e r supra, p . 346.
fanático dos fariseus. 150. M c 2,16; M t 9 , 1 1 ; Lc 5,30; cf. Lc 15,2. — Demay I I 3 p r o í b e
144. Josefo, Ant. X I I I 10, 6, § 287s, r e a l ç a c l a r a m e n t e a o p o s i ç ã o : ser r e c e b i d o c o m o h ó s p e d e n a casa de u m 'am ha-'ares e recebê-lo
Lei escrita — Lei n ã o escrita. c o m o h ó s p e d e q u a n d o usa sua p r ó p r i a v e s t e .
considerava os fariseus q u e se obrigavam v o l u n t a r i a m e n t e
a praticar obras suplementares c o m o modelos da p i e d a d e
e realizadores deste ideal de vida q u e os escribas h a v i a m
concebido; os escribas, esses h o m e n s da ciência divina e
da ciência esotérica. D a p a r t e d e Jesus foi u m a a u d á c i a
sem p a r , b r o t a d a d o p o d e r q u e a consciência de sua sobe-
rania lhe dava, o ter dirigido, àquela gente, p u b l i c a m e n t e
e sem receio, o apelo à penitência; tal audácia o levou à
SEGUNDA SEÇÃO
cruz.

A PRESERVAÇÃO D A PUREZA D O POVO


CAPÍTULO V
Numa dimensão até agora não suficientemente ava-
liada, a classificação, do ponto de vista social do judaísmo OS GRUPOS D A C O M U N I D A D E D O POVO
no tempo de Jesus era guiada pela idéia fundamental da
preservação da pureza do sangue no povo. Enquanto che-
fes religiosos do povo, os sacerdotes velavam, meticulosa-
mente, pela legitimidade das famílias sacerdotais e afasta-
vam de seu meio todos os descendentes de sacerdotes nas-
U m a lista de i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l p a r a a pes-
cidos de uma união ilegítima \ Mas não eram os únicos:
quisa que segue, informa-nos sobre os critérios segundo os
na teoria e na prática da legislação religiosa, no tempo de
quais se dividia a c o m u n i d a d e do p o v o j u d e u , no t e m p o
Jesus, a comunidade total do povo, também essa, era clas-
sificada segundo a pureza de sua origem. Somente os is-
I. Qid IV 1 II. Tos. Meg. II 7 III. Hor. III 8 6

raelitas de origem legítima formavam o Israel puro; ex-


(223, 2 3 ) 2

cluíam-se do núcleo impoluto da comunidade do povo to-


das as famílias em cuja origem se podia encontrar mácula. 1. Sacerdotes
A) 1. Sacerdotes 1. Sacerdotes
Como para o sacerdócio, a razão era de ordem religiosa: 2. Levitas 2. Levitas
2. Levitas
a Nação, considerada como um dom de Deus, e sua pure- 3. Israelitas com 3. Israelitas com
3. Israelitas com
za como imposta por ele; as promessas do fim dos tempos direitos de ci- direitos de ci- direitos de ci-
eram válidas para o núcleo ilibado do povo. dadania. dadania. dadania
Já que, como dissemos, a classificação do povo, do
B) 4. Filhos ilegíti- 4. Prosélitos 4. Bastardos
ponto de vista social, era inteiramente comandada pela
idéia da conservação da pureza na Nação, a mera distor- mos de sacer-
ção desse princípio assumia proporções muito graves. Tra- dotes
5. Prosélitos 5. Escravos li- 5. Escravos do
tava-se dos pagãos que se convertiam ao judaísmo. Certa- Templo
6. Escravos liber- bertos
mente, não faziam parte do núcleo puro do povo israelita,
tos
mas eram, sem dúvida, recebidos na comunidade do povo 6. Filhos ilegí- 6. Prosélitos
C) 7. Bastardos
em geral e tinham o direito de se casar com israelitas de timos de sa-
origem pura, não sacerdotes. Também nesse caso, a razão cerdotes 3

era de ordem religiosa: a pertença à comunidade religiosa 8. Escravos do 7. Escravos do 7. Escravos liber-
pesava mais do que a origem. Templo Templo tos
9 De pai desço- 8. Bastardos
ir
nhecido 9. Castrados"
10 Crianças ex-
postas
10. Tumlôm s

1 1 . Andróginos

2. T e x t o d o m s . de Erfurt, agora e m Berlim, Staatsbibl. M s . or. 2¬


1220; p a r . T o s . Ber. V 14 (12,14ss) e T o s . R. H. I V 1 (212, 6 s s ) .
Esses três textos, e de m a n e i r a e s p e c i a l m e n t e c l a r a T o s . Meg. e T o s .
R. H. d i v i d e m a lista e m q u a t r o p a r t e s (1-3.4-5,0-8.9.11) E m T o s . R. H.,
n a e d i ç ã o de M. S. Z u c k e r m a n d e l , 2 1 2 . l i n h a 6, essa divisão n ã o so-
bressai p o r q u e , c o n t r a todos os t e s t e m u n h o s ( m s s . d e Erfurt e d e
í . V e r supra, p p . 291-302.
de Jesus. Essa lista chegou a nós através de diferentes re- m a n c h a g r a v e ; de m o d o algum p o d i a m se u n i r , pelo casa-
dações; vejamos, inicialmente, que forma de tradição deve m e n t o , c o m famílias legítimas, pois, o c a s a m e n t o passava
ser considerada como a mais antiga. p o r ilegítimo, isto é, p o r c o n c u b i n a t o . B

Essas três formas da lista q u e o leitor é c o n v i d a d o Essa divisão tripartida está na b a s e de cada u m a das
a c o m p a r a r c o m atenção se igualam somente no início três disposições da lista. Existe a p e n a s , na lista I I I , inter-
(1-3) o n d e são citados os israelitas de origem legítima; q u a n - versão dos grupos B e C; essa forma julga, p o i s , m u i t o
to ao restante, p a r e c e m divergir totalmente. Na r e a l i d a d e , desfavoravelmente os prosélitos e os escravos libertos, co-
a concordância é b e m maior. Concerne, sobretudo, à divi- locando-os socialmente abaixo dos b a s t a r d o s israelitas, por
são tripartida da sociedade segundo a origem, divisão que causa d e sua origem pagã. Talvez se b a s e i e m n u m a antiga
está na base de cada u m a das três disposições da lista. tradição.
Qib. IV 1 diz i m e d i a t a m e n t e após ter a p r e s e n t a d o a A lista dos repatriados em Esd 2,2-63 par. Nra 7,7¬
primeira lista:
-65 d á , c o m efeito, esta c o n t i n u a ç ã o :
"Sacerdotes, levitas e israelitas que gozam de todos
A) Famílias de ori-
os direitos de cidadania p o d e m se casar entre si. gem pura: Leigos: Esd 2,2-35 par. Nm 7,7-38
Levitas, israelitas, filhos ilegítimos de sacerdotes, pro- Sacerdotes: Esd 2,36-39 par. Nm 7,39-42
sélitos e escravos libertos p o d e m se casar entre si. Levitas: Esd 2,40-42 par. Nm 7,43-45
Prosélitos, escravos libertos, bastardos, escravos do
T e m p l o , filhos de pai desconhecido e crianças e x p o s t a s 7
B) Servidores do
p o d e m se casar entre s i " . Templo: Esd 2,43-54 par. Nm 7,46-56
Esse texto divide a sociedade em três grupos a saber: Escravos do rei: Esd 2,55-58 par. Nm 7,57-60
A) as famílias de origem legítima: sacerdotes, levitas e is-
raelitas com todos os direitos de cidadania; somente essas Apêndice: Israeli-
famílias t i n h a m o direito de contrair m a t r i m ô n i o com sa- tas e sacerdotes
cerdotes. B) em seguida, vêm as famílias d e origem ilegí- sem genealogia: Esd 2,59-63 par. Nm 7,61-65
tima, atingidas somente por u m a m a n c h a leve; não t i n h a m , Pode ser que a lista I I I t e n h a sido constituída dire-
evidentemente, o direito de se casar com sacerdotes, mas t a m e n t e desse esquema ou d e u m e s q u e m a antigo análogo,
p o d i a m unir-se com levitas e israelitas legítimos. C) Final- a c r e s c e n t a n d o os prosélitos e os escravos libertos. O u t r a
m e n t e , v ê m as famílias de origem ilegítima lesadas por explicação, p o r é m , parece-me mais p r o v á v e l . Com o cres-
cimento das c o m u n i d a d e s cristãs, a atitude do j u d a í s m o
Viena, Alfasi), Zuckermandel deixou escapar, diante de "israelitas" o em face da missão e dos prosélitos p a s s a a ter u m sentido
" e " q u e s e p a r a o p r i m e i r o g r u p o . — D u a s o u t r a s p a r a l e l a s se e n c o n -
t r a m em T o s . Men. X 13 (628, 7s) e X 17 (528. 1 4 s ) ; n ã o falta, en- desfavorável. Desde a destruição de Jerusalém, julgam-se
fim, a n ã o ser o tumtóm e o a n d r ó g i n o . Nessas d u a s p a s s a g e n s , igual- mais severamente os prosélitos, s o b r e t u d o depois q u e , p o r
m e n t e , as divisões d a lista são claras.
3. A p a l a v r a hãlalím falta e m T o s . R. H. I V 1 m s . de E r f u r t ; volta da guerra de Bar-Kokba (132-135 [ 6 ] d . C ) , cessa a
foi e n t r e t a n t o e n c o n t r a d a n o m s . de V i e n a e e m Alfasi. intensa atividade missionária do j u d a í s m o , tal como se re-
4. Citam-se q u a t r o espécies d e e u n u c o s .
flete no N o v o T e s t a m e n t o \ U m a m u d a n ç a análoga se pro-
5. A l g u é m cujas p a r t e s sexuais são i n d e f i n i d a s .
6. P a r . T o s . Hor. I I 10 (476, 30) e passim. d u z n o j u l g a m e n t o sobre os p a g ã o s ; começa desde a época
7. A r e s p e i t o de crianças de pai d e s c o n h e c i d o e c r i a n ç a s enjeita-
d a s , R. Eliézer (cerca d e 90 d.C.) d e f e n d e u m p o n t o de vista dife- 8. b , Ket. 3 , e s o b r e e s t e p o n t o Billerbeck, I I I , 3 4 3 b.
a

r e n t e : p o r causa d a incerteza existente a respeito de sua o r i g e m , é-lhes 9. M t 23,15, e antes de t u d o as i n f o r m a ç õ e s dos Atos dos Após-
p r o i b i d o u n i r e m - s e e n t r e si (Qid. I V 3 ) . tolos s o b r e o s proséliíOs e semi p r o s é l i t o s n a d i á s p o r a . Cf. G . R o s e n ,
F. R o s e n e G . B e r t r a m . Juden und Phönizier, T ü b i n g e n , 1929.
pré-cristã e se c o m p r o v a e m seguida no a g r a v a m e n t o das a esse respeito n ã o p o d e m o s omitir q u e , além da origem,
prescrições da legislação religiosa a respeito da i m p u r e z a outros fatores e r a m igualmente d e t e r m i n a n t e s na posição
levítica dos pagãos. A lista I I I poderia refletir essa situa- social (cap. V I I ) . E m seguida, é preciso tratar dos grupos
ção t a r d i a , q u a n d o modifica a o r d e m do e s q u e m a das lis- do p o v o atingidos p o r u m a n ó d o a leve ou grave em sua
tas I e II p a r a colocar o b a s t a r d o antes do prosélito . 10

origem ( c a p . V I I I ) . E , finalmente, d e v e m o s apresentar —


As diferenças entre as listas I e I I , em c o m p a r a ç ã o , intermediários entre j u d e u s e pagãos — os escravos pagãos
são m u i t o menos i m p o r t a n t e s . Se fizermos a b s t r a ç ã o de e os samaritanos (cap. X ) . U m capítulo final tratará, à
minúcias sem v a l o r , limitam-se aos diferentes critérios
u

guisa d e apêndice, d a posição social d a m u l h e r (cap. X I ) .


de apreciação a respeito dos filhos ilegítimos dos sacer-
dotes: a lista I coloca o filho ilegítimo do sacerdote (4)
antes do prosélito (5) e o escravo pagão liberto ( 6 ) ; na
lista I I , em compensação, os descendentes ilegítimos de
sacerdotes v ê m depois dos pagãos que se c o n v e r t e r a m ao
judaísmo e ao l a d o dos bastardos desprezados.
N ã o h á dúvidas na explicação dessa diferença. C o m o
já vimos , existe u m a profunda divergência entre sacer-
l2

dotes e escribas n a apreciação dos filhos ilegítimos de sa-


cerdotes, pois, esses m a n t i n h a m u m a posição de rigorismo
inflexível p a r a conservar a pureza de sangue na sua clas-
se. Esse fato recomenda a hipótese segundo a qual a lista
I, contendo u m julgamento mais favorável sobre os filhos
ilegítimos d e sacerdotes, tenha sido redigida nos círculos
de escribas e a lista I I , q u e os julga mais severamente,
em círculos de sacerdotes. Fora dessa diferença de pontos
de vista sobre os descendentes ilegítimos de sacerdotes, as
listas I e I I estão p l e n a m e n t e de acordo na classificação
da c o m u n i d a d e do povo segundo a origem. D e v e m o s aí re-
conhecer u m a sólida tradição antiga; u m a informação in-
tenta m e s m o dizer q u e a divisão em dez grupos q u e se
encontra na lista I r e m o n t a a H i l e l . 13

E x p u s e m o s , assim, o processo de nosso t r a b a l h o . D e


início, descreve o núcleo legítimo do povo (cap. V I ) ; m a s

10. M e s m a o p i n i ã o e m L . G i n z b e r g , Eine unbekannie jüdische


Sekte, e m MGWf 56 ( 1 9 1 2 ) , 667s.
11. A lista I coloca o b a s t a r d o a n t e s d o natin (escravo d o T e m -
p l o ) , e n q u a n t o v e m o s o inverso n a lista I I ; é sem i m p o r t â n c i a p o r -
q u e , n o t e m p o de Jesus, o e s c r a v o do T e m p l o era u m e l e m e n t o p u -
r a m e n t e teórico (ver infra, p . 4 5 3 ) . A lista I cita, n o final, os filhos
de p a i d e s c o n h e c i d o e as crianças e n j e i t a d a s , e n q u a n t o a lista I I cita
ainda u m q u a r t o g r u p o ( c a s t r a d o s e t c . ) ; n ã o é d i g n o d e a t e n ç ã o .
12. Supra, pp, 299-302.
13. b . Yeb. 3 7 ; b . Qid. 75".
a
CAPÍTULO VI N o tocante à época d e Jesus, já vimos q u e algumas 4

famílias da n o b r e z a leiga t i n h a m o privilégio d e entregar


OS ISRAELITAS DE O R I G E M PURA a l e n h a no T e m p l o em dias d e t e r m i n a d o s ; esse fato con- 5

firma q u e a tradição genealógica era b e m conservada den-


tro d a nobreza leiga. T o d a v i a , n o t e m p o de Jesus, o u t r a s
famílias d e p u r a cepa t a m b é m c o n h e c i a m sua origem. Por-
A. A O R I G E M L E G Í T I M A 1 tanto — e t a m b é m isso já vimos — t o d a israelita, e m b o r a
m o r a n d o no estrangeiro, q u e quisesse casar-se c o m u m sa-
cerdote devia levar em consideração cinco g e r a ç õ e s d e sua 6

Com o clero (sacerdotes e levitas), os israelitas de ori- genealogia, e q u a l q u e r c a n d i d a t o a u m p o s t o p ú b l i c o de-


gem p u r a constituíam o Israel íntegro. via passar, igualmente, pela prova de sua l e g i t i m i d a d e . 7

Para exercer os direitos cívicos mais i m p o r t a n t e s , e r a m Essas disposições i n d u z e m a crer que c a d a israelita conhe-
obrigados a p r o v a r sua origem legítima. Esse fato, por si cia ao menos as últimas gerações d e seus antepassados . s

só, confirma u m a conclusão: como já vimos , n ã o era so- 2

mente o sacerdote admitido a exercer seu cargo q u e sem A l g u m a s referências confirmam esses d a d o s gerais.
exceçãcr-, preocupava-se com sua genealogia: mesmo o sim- As mais n u m e r o s a s são a s indicações q u e concernem à
ples israelita conhecia seus antepassados mais p r ó x i m o s e p e r t e n ç a à tribo de Judá e, entre elas, especialmente as
9

podia dizer de qual das doze tribos p r o v i n h a . Após a volta qLie dizem respeito à p e r t e n ç a à família davídica. E é com-
do exílio, as famílias p u r a s separaram-se daquelas q u e se preensível. E . Sellin m o s t r o u a p r o b a b i l i d a d e d o seguinte
h a v i a m c o n t a m i n a d o c o m os pagãos (Esd 9,1-10,44); des- fato: m e s m o depois da q u e d a d e Z o r o b a b e l , a gens davi-
de essa época, por conseguinte, a p r o v a da origem legítima dica p e r m a n e c e u , no judaísmo pós-exílico, a principal fa-
tornou-se o verdadeiro f u n d a m e n t o da c o m u n i d a d e do p o v o mília leiga; de seu m e i o , é verossímil, escolhia-se o chefe
r e s t a u r a d a . As famílias de p u r a cepa, e tão-somente elas, supremo d o S e n a d o . A l é m d o m a i s , a esperança messiâ-
!0

constituíam o verdadeiro Israel. Os dados genealógicos dos nica estava presa a essa família real; p o r tal r a z ã o , a tra-
livros bíblicos de Esdras e de N e e m i a s , especialmente as dição tantas vezes mencionava a origem davídica.
genealogias minuciosas das doze tribos ( l C r 1-9) refletem
o interesse q u e d e s p e r t a r a m no período pós-exílico. N a s 4. Supra, p . 3 0 6 s : Ta'an. I V 5 .
épocas seguintes, essas informações assentaram-se sobre 5. CL a i n d a os d a d o s genealógicos d e u m m e m b r o de u m a dessas
bases que p e r m i t i r a m estabelecê-las. famílias, infra, p . 381s.
6. Supra, p . 2 9 5 , Qid. I V 4.
Esse interesse manifesta-se t a m b é m pelo fato de, n o
7. Supra, p . 295, Qid. I V 5 .
período pós-exílico ter-se começado a usar, c o m o n o m e s
8. A i n d a h o j e é n o r m a l p a r a u m p a l e s t i n e n s e c o n h e c e r t o d a a li-
próprios, os nomes dos patriarcas das doze tribos e a ex- 3
n h a d e seus a n c e s t r a i s . P . K a h l e , Die Sumaritaner im Jahre 1909 (A.
primir assim, já pelo n o m e , a pertença à tribo. H . 1 3 2 7 ) , e m PJB 26 ( 1 9 3 0 ) , 89,103, o d e m o n s t r o u a o p u b l i c a r s u a s
i n f o r m a ç õ e s a r e s p e i t o das genealogias dos s a m a r i t a n o s a i n d a vivos
t . Billerbeck, I, L 6 ; I V , 792ss; A. Büchler, " F a m i l i e n r e i n h e i t u n d e m 1909 ( e x i s t i a m 1 7 3 ) .
F a m i l i e n m a k e l in Terusalem v o r d e n Tahre 7 0 " , em Festschrift Schwarz, 9. Cf. a lista d e Ta'an I V 5 impressa supra, p . 308, q u e atestat a
133-164; L. F r e u n d , Uber Genealogien und Familienreinheit in biblischer existência de seis famílias j u d a i c a s n o p e r í o d o a n t e r i o r a 70 d.C.
und Talmudischer Zeit, ibid., 163-192; G. Kittel, Die genealogiai: der 10. E . Sellin, Geschichte des israelitisch-judhchen Volkes I I , Leip-
Pastoralbriefe, em ZNW 20 ( 1 9 2 1 ) , 49-69; A. Bücheler, Familienreinheit zig, 1932, 82ss, 121, e s p e c i a l m e n t e 168s. U m a c o n s t a t a ç ã o reforça o
und Sittlichkeit in Sepphoris im zweiten Jahrhundert, e m MGWJ 78 q u e Sellin d e m o n s t r o u : c o m o logo v a m o s v e r , os exiliarcas e r a m , se-
( 1 9 3 4 ) , 126-164; S. Klein, Kleine Beiträge zur Erklärung der Chronik g u n d o t u d o indica, d a v í d i c o s . V e r a i n d a G. D a l m a n , Die Worte fesu
Dibre ha-jamim, e m MGWJ 80 ( 1 9 3 6 ) , 195-206. I , 2? ed., Leipzig, 1930, 266, q u e r e m e t e a o Breviarium temporum pseu-
2. Supa, p . 291s. d o f i l o n i a n o q u e d á u m a série d e p r í n c i p e s (duces) d a v í d i c o s , c h e g a n d o
3. P r o v a s , p . 3 9 5 . até aos a s m o n e u s .
SERfflíNARíO CONCORDIA
Sobre este p o n t o c o n v é m l e m b r a r q u e , segundo o tes- m a l a , filho de H i s q i y y a . D u r a n t e mais de cem anos, a
21

t e m u n h o u n â n i m e do N o v o T e s t a m e n t o , Jesus Cristo per-


n família de Hisqiyya fez-se notar de m a n e i r a sempre reno-
tencia à tribo de Davi, já q u e , segundo o direito familiar v a d a p o r conflitos e pretensões a o t r o n o ; tais fatos tam- 22

judaico, ele devia, legalmente , ser considerado filho da- 12 b é m t o r n a m provável que fosse d e descendência real.
vídico de José de N a z a r é , da mesma tribo. Além do m a i s , A o l a d o dos j u d a í t a s , são m e n c i o n a d o s os benjamini-
conforme Eusébio que segue Hegésipo (cerca de 180 d . C ) , tas. O V- livro das Crônicas e n u m e r a as famílias benjami-
os imperadores Vespasiano , Domiciano 13
e Trajano te- 14 15 nitas de seu tempo ( l C r 7 , 6 - l l ; 8 ; 9 , 7 - 9 ) . Certo M e n e l a u ,
riam perseguido o ramo davídico p a r a que não subsistisse ilegalmente e n t r o n i z a d o sumo sacerdote em 172 antes de
n e n h u m descendente d e linhagem real; infere-se daí q u e o nossa era e executado dez anos depois \ n ã o era benja-
23 2

n ú m e r o daqueles que se dizem da família de D a v i n ã o era m i n i t a ; e m c o n t r a p a r t i d a , M a r d o q u e u , o herói do livro


a

p e q u e n o . Diz o T a l m u d e q u e R. Hiyya, o Ancião (por de E s t e r , assim como o apóstolo P a u l o e seu mestre


26 2 7

volta de 2 0 0 d . C ) , p r o v i n h a de D a v i . O sábio exilarca 1 6 R a b b a n G a m a l i e l 1 , o e r a m , c e r t a m e n t e . N a época an-


2S

R a b H u n a , chefe da c o m u n i d a d e judaica da Babilônia, vi- terior à destruição do T e m p l o em 70 d . C , a família ben-


vendo t a m b é m pelos anos 2 0 0 , era judeu e, talvez, da 17 jaminita de Senaá, d e alta classe é reconhecida . 29

mesma origem; é o que mostra, entre outras, a informa-


ção segundo a qual ele fazia p a r t e da família de R. Hiyya, 2 1 . Cf. m e u artigo Erlöser und Erlösung im Spatjudentum und
im Urchristentum, cm Deutsche Theologie, G ö t t i n g e n , 2 ( 1 9 2 9 ) . 116s.
o Ancião, há p o u c o m e n c i o n a d o . 18

22. E m 47 a . C , H e r o d e s m a n d o u e x e c u t a r o " a s s a l t a n t e " E z e q u i a s


( H i z q i y v a ) ; essa decisão a u m e n t o u c o n s i d e r a v e l m e n t e a h o s t i l i d a d e do
Por fim, parece que entre os pretendentes messiâni- S i n é d r i o c o n t r a H e r o d e s (Ant. X I V 9. 2, § 159; B. j . I 10, 5, § 2 0 4 ) .
cos, do século I de nossa era, h a v i a pelo menos u m a fa- E m 4 a . C , revolta de seu filho J u d a s q u e a s p i r a v a à c o r o a {Ant.
mília que atribuía a si u m a descendência davídica; em X V I I 10, 5, § 271s; B. j . II 4, 1, § 56.
E m 6 d . C , n o v o m o t i m de J u d a s (Ant. X V I I I 1, 1, § I s s ; B. j .
todo caso, é o que explica, de maneira mais esclarecedora II 8, 1, § 117ss; At 5.37). T r a t a - s e , com certeza, d o m e s m o J u d a s ,
a b e m conhecida narrativa lendária que transfere p a r a Be- c o n f o r m e se p o d e s u p o r p e l o q u e diz S c h l a t t e r , Theologie, 8 2 , n. 2.
lém, cidade de D a v i , o nascimento da criança messiânica Cerca de 47 d . C , e x e c u ç ã o dos dois filhos de J u d a s , Tiago e Si-
m ã o , pelo p r o c u r a d o r T i b é r i o A l e x a n d r e (Ant. XX 5, 2, § 1 0 2 ) .
M e n a h e m b e n Hisqiyya — trata-se do chefe da revolta
19

E m 66, M e n a h e m , filho de J u d a s tornou-se s e n h o r d e J e r u s a l é m


que aparece em 66 d.C., M e n a h e m , filho de Judas de Ga- 2 0
e r e i v i n d i c o u o t i t u l o d e rei (B. j . I I 17, 8-9. § 433ss; cf. j . Ber. II
4, 5 14ss ( I , 4 1 s ) . — E m 7 3 , E l e a z a r , p a r e n t e e sucessos de M e n a h e m ,
a

dirigiu a defesa de M a s a d a (B. j . V I I 8, l s s ; § 253ss; cf. II 17, 9,


11. V e r infra, p . 388ss. § 447.
12. P o r ex., d o p o n t o de vista da h e r a n ç a . 2 3 . Supra, 2 5 5 .
13. E u s é b i o , Hist. ecd. Ill 12. 2 4 . Supra, 257.
14. Ibiã., I I I 19-20. 25. C o n s t a , p o r e r r o , n a L X X de 2 M c 3,4; i n f o r m a ç ã o exata n a
15. lbid., I I I 3 2 , 3-4.
t r a d u ç ã o l a t i n a e a r m é n i a , ver supra, p . 2 5 4 , n. 258.
16. b . Ket. 62"; cf. j . Ta'an. I V 2, 6 8 48 ( I V / 1 , 180) e p a r .
a

26. Est 2,5; acréscimos d a L X X e m Esi 1,1; Ani. X I 6, 2, § 198.


17. j . Kil. ÍX 4, 3 2 30 ( I I / l , 317) e p a r . Esse t e s t e m u n h o é ga-
b

r a n t i d o p e l o fato de p r o v i r de R. Y u d a I, o p a t r i a r c a p a l e s t i n e n s e e 27. R m 11,1; Fl 3,5. A d ú v i d a c o m p l e t a m e n t e injustificada q u e K.


c o n c o r r e n t e do exiliarca q u e , n o m e s m o c o n t e x t o , reconhece-se, c o m o K o h l e r , / £ X I ( 1 9 0 4 ) , 79 e x p r i m i u a r e s p e i t o d e s s e d a d o d o a p ó s t o l o
benjaminita, de d e s c e n d ê n c i a m e n o s ilustre d o q u e o exiliarca. V e r foi c o m r a z ã o rejeitada p o r W . G . K ü m m e l , Römer 7 und die Be-
a i n d a b . Sanh. 5 ; b . Hor. l l
a b
bar., o n d e a p r o m e s s a d e G n 49,10: kehrung des Paulus, Leipzig, 1929, 112, n . 1: " P a u l o n ã o teria inventa-
" O cetro n ã o será tirado de J u d á " é a p l i c a d a aos exiliarcas; eles pas- do isto!"
s a v a m , pois, p o r j u d e u s . O r í g e n e s , De princ. IV 1, 3 (GCS 22, 297) 28. V e r infra, p . 3 8 5 . G a m a l i e l é u m a n t e p a s s a d o d e R. Y u d a cuja
c o n h e c e u a t r a d i ç ã o s e g u n d o a q u a l os exiliarcas e r a m j u d e u s e G n origem benjaminita é b e m a t e s t a d a .
49,10 referia-se a eles. 29. Ta'an. I V 5 (ver supra, p . 3 0 9 ) ; b . Ta'an. 1 2 , ver infra, 381s. —
a

18. j . Kil. I X 4, 3 2 57 ( I I / l , 3 1 7 ) .
b
E m c o n t r a a p r t i d a é s e m valor a i n f o r m a ç ã o q u e a t r i b u i u m a o r i g e m
19. j . Ber. II 4, 5 18 (I, 41s) e p a r .
a

b e n j a m i n i t a a Ben Sisit ha-kassat, forte n e g o c i a n t e de Jerusalém q u e


20. B. j . II 17, 8-9, § 433ss. Cf. S c h ü r e r , I, 487. viveu n a é p o c a d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o ( j . Ta'an. I V 2 6 8 46 { I V / 1a

180] e p a r . ) , v e r infra, p . 380.


A atribuição de origem a u m a das d e z tribos ou 3 0
ire Asei [ l C r 8,37-38] e Asei ( l C r 9,43-44) ele [ = R a b ,
das n o v e tribos e m e i a de Israel que estão " p e r d i d a s " ,
3 1
t 2 4 7 ] ele [ = R a m m i b a r Y u d a ] impôs explicações es-
certamente só é e n c o n t r a d a de m o d o esporádico. I n d i c a m criturísticas" equivalentes à carga d e 4 0 0 camelos. Entre
38

Tobias c o m o descendente da tribo de Neftali (Tb 1,1-2); Asei e Asei, l C r transmite listas genealógicas; ao lado de
Judite deve proceder da tribo de Simeão (Jd 8 , 1 ; 9 , 2 ) ; a sacerdotes e levitas, trata-se exclusivamente, de informa-
profetisa A n a , filha de F a n u e l , da tribo de Aser (Le 2 , 3 6 ) . ções sobre as famílias benjaminitas e j u d a í t a s . Confirma,
Falamos h á p o u c o (p. 309) de u m a família recabita (cf. pois, que nas tradições genealógicas, as informações sobre
também Nm 3 , 1 4 ) de u m período anterior à r u í n a do
3 2
as famílias dessas d u a s tribos c o n s t i t u í a m a totalidade dos
T e m p l o ; mas é d u v i d o s o q u e R. Yose b e n Halafta, cé-
33
elementos.
lebre d o u t o r e artesão de couro (150 d . C ) , tenha sido re- O q u e p r e c e d e permite-nos n ã o nos a d m i r a r m o s c o m
c a b i t a . Hegésipo refere-se a u m sacerdote r e c a b i t a . Se
34 35

u m fato: n ã o somente ouvimos falar e m geral de tradições


aceitarmos a versão de u m a origem recabita, a m e n ç ã o genealógicas das famílias leigas, m a s , ao l a d o das genea-
a Hegésipo é certamente falsa; em n e n h u m outro l u g a r , 36

logias de sacerdotes deixadas por escrito e que estudamos


com efeito, encontramos q u a l q u e r alusão ao fato de os re- a c i m a , encontramos outras iguais p a r a os leigos.
3y

cabitas (2Rs 1 0 , 1 5 . 2 3 ; Jr 35,2-19; l C r 2,55) terem sido, Q u a n t o à época antiga, o relato do Cronista alusivo
n u m período posterior, considerados como família sacer- ao registro de todo o povo por ocasião da volta do exí-
40

dotal . 37

lio e d a reinstalação dos exilados e m sua p á t r i a ' , confir- 11

D e m o d o geral podemos crer que os leigos t a m b é m m a o que dissemos, com u m a p r o v a i m p o r t a n t e . Baseando¬


possuíam tradições sobre sua origem. Essas tradições apre- -se e m d o c u m e n t o s mais antigos , anotaram-se, e n t ã o , os
42

sentavam suas famílias q u a s e exclusivamente como sendo nomes dos chefes de cada família, com a indicação de
das tribos de Judá e de Benjamim; tal asserção correspon- seus ancestrais ; assim se c o n s t i t u í r a m as genealogias
43
dos
de à imagem q u e resulta de l C r 1-9, p a r t i c u l a r m e n t e do leigos. Q u a n t o aos outros m e m b r o s d e cada família, somente
c a p . 9 e d o conteúdo da lista citada acima (p. 3 0 8 ) , m a s , o n ú m e r o foi i n d i c a d o , e n t r e t a n t o , assinalaram-se, par-
44

sobretudo, da situação histórica; essas duas tribos, com ticularmente, as famílias cuja origem israelita era incer-
os sacerdotes e levitas, constituíram, o nodulo do j u d a í s m o t a e os israelitas casados com pagãs (Esd 10,18-44), ten-
4 5

pós-exílico. O texto seguinte nos mostra a extensão dessas d o , p o r t a n t o , d e i x a d o alguma m a n c h a em seus descenden-
tradições genealógicas: " M a r Z u t r a [ I I , t 4 1 7 ] dizia: En- tes ( 1 0 , 4 4 ) . Além da correlação c o m as genealogias dos
sacerdotes, c o n t i n u a d a s c o m c u i d a d o , temos u m p o n t o d e
30. É o n ú m e r o c o r r e n t e , 4 Esd. X I I I 39ss e passim: Billerbeck
I V , 903-906.
3 1 . Baruc siriaco L X X V I I 17ss, L X X V I I I l s s .
38. b . Pes. 62 . b

32. S o b r e N m 3,14 v e r E. Sellin Geschichte des israelitisch-jü¬


dischen Volkes I I , Leipzig, 1932, 7. 3 9 . Supra, 291ss.
3 3 . Este d a d o faz p a r t e das genealogias t r a n s m i t i d a s p o r R. Levi 40. W . R o t h s t e i n e J. H a n e l , Kommentar zum ersten Buch der
(cerca d e 300 d . C . ) . P a r a a crítica dessas g e n e a l o g i a s , ver Israel Levi Chronik, L e i p z i g , 1927, X X V I I I e 188 ( s o b r e l C r 9 , 1 a).
em RE} 31 ( 1 8 9 5 ) , 209ss ("urna fantasía p o p u l a r " ) e infra, p . 380, 4 1 . N e 7,6-7 p a r . Esd 2,1-2; N e 11,3; E s d 8,1.
34. j . Ta'an. I V 2, 6 8 48 ( I V / 1 , 180) e p a r .
a
42. N e 7,64 p a r . Esd 2,62. As genealogias de l C r 1-7 p r e n d e m - s e
35. E u s é b i o , Hist. eccl. I I 2 3 , 4-18. aos d a d o s genealógicos d e G n , E x , N m , | o s . 1 e 2 S m , l R s , R t .
36. N ã o se o u s o u s e q u e r c o n c l u i r de Jr 35,19 ( o n d e l a h w e h pro- 4 3 . Esd 8,1-14; cf. N e 7,6-69 par. Esd 2,1-67. — N e 11,3-24 for-
m e t e aos r e c a b i t a s q u e n ã o lhes faltarão d e s c e n d e n t e s q u e e s t e j a m nece i n f o r m a ç õ e s s o b r e os chefes das famílias i n s t a l a d a s , após o exí-
s e m p r e d i a n t e dele) q u e fossem s a c e r d o t e s . Sifre N m 10, 2 9 , § 78, lio, e m J e r u s a l é m . A lista p a r a l e l a l C r 9,1-17 q u e , s e g u n d o 9,1-3, p r o -
aplica esse v e r s í c u l o aos d e s c e n d e n t e s de filhas d e r e c a b i t a s c a s a d a s c u r a d a r a i m p r e s s ã o de r e m o n t a r à é p o c a real deve ser c o n s i d e r a d a
c o m sacerdotes. c o m o p o s t e r i o r a N e 11,1-3.
37. S. Klein e m MGWJ 70 ( 1 9 2 6 ) , 413 e 80 ( 1 9 3 6 ) , 200, m a n i - 44. E s d 8,3-14; N e 7,6-69 p a r . E s d 2,1-67.
festa m a i o r c o n f i a n ç a n a h i s t o r i c i d a d e dos d a d o s relativos aos r e c a b i t a s . 45. N e 7,61-65 p a r . Esd 2,59-63.
apoio que nos permite dizer q u e as genealogias assim cons- O relato seguinte dá-nos a i n d a o u t r a p r o v a : " R a b i
tituídas, pelo menos em p a r t e , tiveram c o n t i n u i d a d e : l C r [Yuda I, por volta de 2 0 0 d . C ] ocupava-se [com os pro-
3,1-24 transmite a genealogia da casa de D a v i sob u m a jetos d e casamento] d e seu filho R. Hiyya [o A n c i ã o ] ;
forma q u e vai até a época do Cronista; t a m b é m l C r 2, na ocasião de assinar o contrato de c a s a m e n t o , a noiva
34-41 prossegue a genealogia dos shemasita, u m r a m o do faleceu. R a b i p r o n u n c i o u e n t ã o estas palavras: Valha-me
grupo de Caleb , talvez até a época do Cronista.
46

D e u s ! N ã o haveria oculta alguma i m p u r e z a [e, então Deus


N o que concerne ao período posterior, a existência i m p e d i u o casamento] ? — R e u n i r a m - s e , pois, e fizeram
p o r escrito de genealogias de leigos nos é muitas vezes u m a pesquisa nas [genealogias d a s ] famílias; [ d e s c o b r i r a m
a p r e s e n t a d a . Para começar devemos citar aqui as d u a s ge- que] Rabi descendia de Safatia, filho de Abital [2Sm 3,4:
nealogias de J e s u s transmitidas em Mt 1,1-17 e Lc 3,
47
filhos d e D a v i ] e R. Hiyya d e Semei [sic. E m 2 S m 1 3 , 3 :
23-28; Mt prende-se à l C r . Shimeon b e n Azzai (cerca4 8
S e m a a ] , irmão de D a v i " . 52

de 110 d.C.) encontrou em Jerusalém u m rolo de genealo-


É, p o r t a n t o , certa a existência de genealogias d e lei-
gias ; segundo a tradição p o s t e r i o r , trata-se t a m b é m de
49 50

gos consignadas p o r escrito, mas é preciso ainda averi-


dados genealógicos ligados sobretudo a famílias leigas.
guar a v e r a c i d a d e da existência de genealogias de leigos
Convém a i n d a citar u m comentário de Júlio, o Africano
registradas p u b l i c a m e n t e . Júlio, o Africano, afirma, c o m
(cerca de 160-240), médico cristão. Eis o que ele observa
efeito, em sua Carta a Aristides , t r a n s m i t i d a por Eusé-
5l

a respeito da pretensa destruição pelo fogo das genealo-


bio : " A t é agora [a época d e H e r o d e s ] encontravam-se
54

gias o r d e n a d a por H e r o d e s (ver u m p o u c o mais a d i a n t e ) :


consignadas nos arquivos [em p r i m e i r o lugar] as famílias
" A l g u m a s pessoas cuidadosas g u a r d a m em seu p o d e r suas
hebraicas e [em segundo lugar] as famílias daqueles cuja
próprias genealogias, q u e r as t e n h a m reconstituído d e me-
origem r e m o n t a v a a prosélitos, como A q u i o r , o a m o n i t a ,
55

mória, quer t e n h a m se apossado das cópias [ c o n s e r v a d a s ] ;


e R u t e , a m o a b i t a , o u a m e s t i ç o s saídos do Egito ao
56

elas se vangloriam de ter m a n t i d o a l e m b r a n ç a de sua ori-


m e s m o t e m p o [ q u e os j u d e u s ] . H e r o d e s q u e n ã o tinha
gem isenta de i m p u r e z a " . 51

sangue israelita nas veias, excitado pela consciência de


46. W . R o t h s t e i n e J. H ã n e l , Kommentar zum Buch der Chronik, sua origem o b s c u r a , o r d e n o u que fossem q u e i m a d o s os
Leipzig, 1927, L I I s e 27s. d o c u m e n t o s dessas famílias; passaria — pensava ele —
47. É à genealogia de Lucas q u e se a t r i b u i a i n d i c a ç ã o o d i o s a de por ser de origem n o b r e , pois, n i n g u é m mais teria a pos-
b . Sanh, 1 0 6 : " V i u m a crônica d e Baíaão [sobre Balaão c o m o designa-
b

ç ã o d e Jesus ver H . L. S t r a c k , Jesus, die Haretiker und die Christen, sibilidade d e p r o v a r , através de d o c u m e n t o s públicos, que
Leipzig, 1910, 2 6 " , n. 2] n o q u a l se a c h a v a ; " B a í a ã o , o m a n c o , tinha ele descendia de patriarcas ou [de prosélitos e] daque- 57

trinta e três a n o s q u a n d o P i n h a s lista'a [ P ô n c i o Pilatos] o m a t o u " .


c

Essa i n f o r m a ç ã o r e m o n t a , sem d ú v i d a , a Lc 3,23. les q u e se c h a m a m geiôrai , os m e s t i ç o s " .


5S

48. M t 1,2-6 a: l C r 2,1-15; M t 1,6 Ò-12: l C r 3-5,19. E m M t 1,12,


Salatiel (no h e b r a i c o de l C r 3,19: P e d a y a ) é o pai de Z o r o b a b e l ; ex-
plica-se pela utilização d a L X X cujos m s s . A e B d ã o e m l C r 3,19 a 52. b . Ket. 6 2 ; ver infra, p . 380.
b

i n f o r m a ç ã o Salathiel, r e c e n s ã o d e L u c i a n o : Phadaias). Essa c o n s t a t a - 53. Ed. Reichardt, 61.


ção n ã o exclui a existência de u m a f o r m a p r i m i t i v a semítica d a ge- 5 4 . Hist. eccl. I 7, 13.
nealogia de M t (ver infra, p . 392, n.o 1 4 9 ) , pois foi o t r a d u t o r q u e p ô d e 55. E m v e z d e os Achiór, T E R M D l ê e m héos Achiór, "até
se utilizar d a L X X de l C r . Aquior",
49. Yeb. I V 13: " S h i m e o n b e n Azzai dizia: E n c o n t r e i e m Jeru- 56. P a r a os epímiktoi, cf. a L X X em E x 12,38 e N m 11,4.
salém u m r o l o genealógico [m^gillat yühasin] o n d e estava e s c r i t o : N . 57. C o m E. S c h w a r t z e W . R e i c h a r d t c o n v é m c o n s i d e r a r proselú-
N. é bastardo de uma mulher casada". tous te e toús epímiktous c o m o glosas a n t e r i o r e s a E u s é b i o . F o r a m
50. j . Ta'an. I V 2, 6 8 54ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) ; ver infra, p . 380.
a
o c a s i o n a d a s pela p a l a v r a estrangeira geiôrai que u m primeiro copista
5 1 . Júlio, o A f r i c a n o , em sua Carta a Aristides, ed. W. Reichardt, interpretou corretamente "prosélitos", e u m segundo, erroneamente,
Die Briefe des Sextus Julius Africanas an Aristides und Origenes (Texte "mestiços".
und Untersuckungen X X X I V 3 ) , Leipzig, 1909, 6 1 , l i n h a s 17ss. 58. É o a r a m a i c o giyyôra, " p r o s é l i t o " , isto é, prosélito c o m p l e t o ;
cf. a L X X em E x 12,19 e Is 14,1: giúras.
t o " é o t e r m o técnico p a r a dizer q u e certos elementos são
M e r e c e r á crença tal n a r r a ç ã o ? A gruta do tesouro, es-
afastados da tradição ensinada p u b l i c a m e n t e — e l a m e n t a
crito siríaco cujo conteúdo r e m o n t a a 3.50 confirma que
a confusão causada por essa m e d i d a nas tradições genea-
Herodes destruiu pelo fogo as g e n e a l o g i a s ; mas A gruta 59

lógicas.
do tesouro é baseada em Júlio, o Africano E m b . Pes.
6 2 , conta-se: " R a m m i bar R a b Y u d a diz e m n o m e de
b A notícia de Júlio, o Africano, sobre a destruição
R a b (j* 247 d . C ) : Desde o dia em que o livro das ge- pelo fogo das genealogias encontra-se isolada. É v e r d a d e
nealogias foi escondido, a força d o s sábios declinou e seu que n ã o se p o d e com certeza a t r i b u i r u m a excessiva im-
olhar tornou-se t u r v o " . Essa passagem não constitui u m a
&1 portância ao silêncio de Josefo. Esse silêncio sobre u m a
prova, pois o contexto tanto antecedente q u a n t o subse- r e d u ç ã o a cinzas das genealogias o r d e n a d a por Herodes
qüente mostra q u e R a s h i tinha r a z ã o ao ver neste "li-
6 2 pode-se explicar pelo fato de Josefo, e m sua história do
vro das genealogias" os livros bíblicos das Crônicas . Essa 63 reino, seguir a m p l a m e n t e Nicolau d e D a m a s c o , historió-
passagem do T a l m u d e babilónico refere-se, p o r t a n t o , ao grafo da corte e panegirista do rei. H e r o d e s teria sido to-
m o m e n t o e m q u e a interpretação t r a d i c i o n a l de l C r foi 64 talmente capaz de semelhante d e s t r u i ç ã o ; sabemos, com
incluída nos elementos e s o t é r i c o s — nignaz, "ser ocul- 65 certeza, q u e ele p r o c u r o u esconder sua origem . Além do 66

m a i s , ao destruir os documentos genealógicos, teria p o d i d o


refrear a esperança messiânica ligada à família davídica,
59. A gruta do tesouro (ed. C. Bezold, Die Schatzhöhle aus dem
syrischen Texte dreier unedirten Handschriften in's Deutsche ubersetzt, esperança que c o n t i n u a m e n t e a m e a ç a v a sua a u t o r i d a d e so-
Leipzig, 18S3, 53) distingue três d e s t r u i ç õ e s p e l o fogo: a) n a é p o c a berana.
de A n t í o c o ( I V E p i f a n e s ) ; b) l a c u n a n o t e x t o ; s e g u n d o O livro de
AdÜo, o etíope (Das christliche Adambuch des Morgenlandes aus dem Se, e n t r e t a n t o , n ã o conseguimos aqui nos desvenci-
Äthiopischen mit Bemerkungen übersetzt p o r A. D i l l m a n n , G ö t t i n g e n , lhar do domínio das possibilidades, o u t r a observação leva-
1853, 1 3 3 ) , é p r e c i s o , talvez, c o m p l e t a r : p o r o c a s i ã o d a d e s t r u i ç ã o d e
Jerusalém ( ? ) ; " n o s dias de H e r o d e s , q u a n d o J e r u s a l é m foi des- mos mais longe. Segundo Júlio, o Africano, encontravam¬
truída". -se registrados nos arquivos, p r i m e i r a m e n t e as famílias he-
60. A. G ö t z e , Die Schatzhöhle. Überlieferung und Quellen (Sitz- bréias, depois, as prosélitas. A prescrição do Doe. Dam.
ungsberichte der Heidelberger Akademie der Wissenschaften, philos.-
-hist. Klasse 13, fas. 4 ) , H e i d e l b e r g , 1922, 80-85 e 91 m o s t r o u q u e a
concorda totalmente com essa indicação; seria preciso re-
c r o n o l o g i a da A gruta do tesouro r e p o u s a s o b r e a d e Júlio, o A f r i c a n o . gistrar os m e m b r o s da c o m u n i d a d e da nova aliança da
6 1 . H á u m a ligação e n t r e b . Pes. 6 2 e a i n f o r m a ç ã o d e )úlio,
o
seguinte m a n e i r a : " T o d o s d e v e m ser inscritos pelo seu
o Africano, s e g u n d o M . S a c h s , Beiträge zur Sprach- und Alterthums-
forschung aus jüdischen Quellen I I , Berlim, 1854, 155ss; F . R o s e n t h a l ,
n o m e , u m após o o u t r o , p r i m e i r a m e n t e os sacerdotes, de-
Über 'issah, era MGWf 30 ( 1 8 8 1 ) , 118ss; K r a u s s . Talm. Arch., II, pois os levitas, os israelitas e m terceiro lugar, e os prosé-
434, n . 9 1 ; G . K i t t e l , Die genealogiai der Pastoralbriefe. e m ZNW 20 litos em q u a r t o " . T a m b é m aqui temos em primeiro lu-
61

( 1 9 2 1 ) , 52.
62. Ele c o n s i d e r a nossa p a s s a g e m c o m o e x p l i c a ç õ e s orais d o livro gar a inscrição das famílias israelitas e, e m seguida, a dos
das Crônicas. prosélitos. Podemos deduzir q u e esse registro feito na co-
6 3 . O e l o e n t r e b . Pes. 6 2 e a i n f o r m a ç ã o d e Júlio, o Afri-
b

m u n i d a d e de D a m a s c o v e m a ser u m a r e p r o d u ç ã o ; tal in-


c a n o , é c o n t e s t a d a p o r L. F r e u n d , " Ü b e r G e n e a l o g i e n u n d F a m i l i e n -
r e i n h e i t " , e m Festschrift Schwarz, 173, n. 3 , e 187ss. F r e u n d , assim ferência i m p e d e considerar fábula a notícia de Júlio, se-
c o m o L. G i n z b e r g , MGWf 56 ( 1 9 1 2 ) , 665, n. 4 e L. G o l d s c h m i d t , Der g u n d o a qual havia nos arquivos algumas listas genealó-
babylonische Talmud I I , Berlim, 1930, 496, n. 72, a p r o x i m a r a m os gicas semelhantes àquelas de que fala. (Segundo Rufino
d a d o s de b . Pes. 6 2 aos das genealogias p r o f a n a s . — C o m r a z ã o ,
b

Strack, Einleitung, 12 e Billerbeck, I, 6 aí r e c o n h e c e m os livros das tratar-se-ia dos arquivos secretos do T e m p l o ) . É preciso, 6 S

Crônicas.
64. Cf. a p e n ú l t i m a n.
66. Ant. X I V 1, 3, § 9.
65. Ver supra, p . 3 2 5 . — A explicação d o " l i v r o das g e n e a l o g i a s "
67. Doe. Dam. X I V 4-6.
fazia p a r t e dos e l e m e n t o s esotéricos dos escribas; é o q u e n o s diz,
68. R u f i n o e m s u a t r a d u ç ã o latina de a Hist. eccl. de E u s é b i o , I
e x p l i c i t a m e n t e , b . Pes. 6 2 : R. Y o h a n a n ( i 279 d.C.) o u s o u m o s t r a r
b

7 13 (GCS 9, 1, 6 1 , linhas 3-4), o b s e r v a a r e s p e i t o d a i n f o r m a ç ã o de


a R. Simlaí (cerca de 260) o "livro das g e n e a l o g i a s " .
porém, prevenir-se p a r a n ã o tomar esse informe como u m a c e r d o t e s q u e se e n c o n t r a v a m nos a r q u i v o s d o T e m p l o
72

situação geral d a p o p u l a ç ã o . É mais provável tratar-se


69

(contendo igualmente dados sobre as esposas d o s sacer-


de escritos referentes às tradições genealógicas. A m e n ç ã o dotes q u e t i n h a m v i n d o , e m p a r t e , de famílias leigas);
75

dos mestiços saídos do Egito com os judeus, de R u t e , a assim como das declarações de dívidas e outros documen-
m o a b i t a , e de Aquior, o amonita conhecido através d o li- tos conservados nos a r q u i v o s , cujas indicações genealó-
74

vro de Judite, mostra q u e a lenda devia d a r forte colorido gicas p o d i a m servir d e base às famílias leigas, p a r a for-
ao c o n t e ú d o . m u l a r a lista de seus antepassados.
Nesse contexto encontramos ainda u m d a d o de Jo- T o d o esse contexto g a r a n t e , pois, para as famílias lei-
sefo; infelizmente, seu valor é d i m i n u í d o pela interpreta- gas, a existência de tradições genealógicas orais e escri-
ção incerta d a palavra-chave. E m seu C. Ap. I 6, § 2 9 , Jo- tas, d e caráter privado e público. Ergue-se e n t ã o u m a per-
sefo fala do c u i d a d o com q u e seu povo conserva os do- g u n t a : qual é o seu valor histórico?
cumentos públicos; diz ainda (I 7, § 3 0 s ) : " N ã o nos con-
tentamos e m confiar, desde o começo, esse c u i d a d o [o de
organizar os documentos] a pessoas capacitadas e cheias
de zelo pelo culto; tomaram-se ainda medidas p a r a q u e a
B. VALOR HISTÓRICO DAS GENEALOGIAS
casta dos sacerdotes se mantivesse isenta de miscigenação DOS LEIGOS, PARTICULARMENTE
e sem m á c u l a . [ 3 1 ] C o m efeito, aquele q u e p a r t i c i p a do AS DE MATEUS 1,1-17 E LUCAS 3,23-38
sacerdócio deve, p a r a gerar, unir-se com u m a m u l h e r de
sua p r ó p r i a nação e, sem considerar a fortuna ou outras
distinções, fazer u m a pesquisa sobre a família [da n o i v a ] , As genealogias das famílias de sacerdotes eram, e m
extraindo dos arquivos [é sem d ú v i d a a b o a lição] os 70

g e r a l , autênticas e essa a u t e n t i c i d a d e garantida pelo me-


75

ascendentes de seus pais e a p r e s e n t a n d o numerosas teste- nos p a r a u m o u dois séculos precedentes. É fato indubi-
m u n h a s " . Se, pois, ek tôn archeion é o conselho certo,
11

tável desde q u e se leve e m conta a hereditariedade do sa-


as famílias leigas d a época, n o dizer de Josefo, encontra- cerdócio estritamente m a n t i d a e d o e x a m e cuidadoso das
v a m nos arquivos os elementos básicos q u e lhes permi- genealogias, antes da consagração sacerdotal, assim c o m o
tiam controlar sua origem de maneira irrefutável. A i n d a a distribuição d o clero e m linhagens e famílias sacerdo-
a q u i , podemos d a r crédito a essa indicação, desde q u e n ã o tais . T a m b é m é certo q u e os sacerdotes faziam pesqui-
76

imaginemos q u e Josefo fale de u m registro sistemático de sas pré-nupciais sobre a pureza da família de suas futuras
todo o p o v o . Ele pensa muito mais nas genealogias d e sa- esposas, sobretudo se n ã o e r a m d e família s a c e r d o t a l . 77

O conjunto dessas informações exclui c o m p l e t a m e n t e qual-


Júlio, o A f r i c a n o ; Q u o d p e r idem l e m p u s o m n e s H e b r a e o r u m genera- quer idéia de q u e as tradições genealógicas das famílias
ü o n e s d e s c r i p t a e in archivis t e m p l i s e c r e t i o r i b u s h a b e b a n t u r . leigas, d a s quais constatamos a existência ( p p . 3 6 8 s ) , se-
69. O Protoevangelho de Tiago I 3 m e n c i o n a u m " r e g i s t r o d a s d o z e
t r i b o s " ; n ã o designa, d e m o d o a l g u m , u m c ô m p u t o c o m p l e t o d a po-
jam p u r a s invenções.
p u l a ç ã o , m a s , s e g u n d o p a r e c e l C r 1-9.
70. E m vez d e ek tôn archaíon ( " d e s d e as antigas f a m í l i a s " ? ) , A . 72. V e r supra. p . 291ss.
G u t s c h m i d , Kleine Schriften I V , Leipzig, 1893, 398, p r o p ô s ler ek tôn 73. 2 C r 5 1 , 18; Josefo, Vita I, § 4 .
archeion " d o s a r q u i v o s " . Essa conjectura, cujo s e n t i d o se r e c o m e n d a , 74. B. j . 11 17, 6, § 4 2 7 .
a p r e s e n t a m e n o r dificuldade, visto q u e o texto dessa p a s s a g e m r e p o u s a
75. C o n v é m c o n t a r c o m a l g u m a s i n e x a t i d õ e s no gênero daquelas
s o b r e u m só m s . , o Laurentianus p l u t . 69, G o d . 22, d o século X I .
É, pois, c o m r a z ã o , q u e T h . R e i n a c h , Flavius Josèphe, Contre Apion, i n d i c a d a s supra, p. 292, n . 4 4 6 .
P a r i s , 1930 a i n t r o d u z i u n o t e x t o . 76. Supra, 223s.
7 1 . V e r o s e g u i m e n t o d a citação supra, p . 2 9 5 . 77. V e r as partes s o b r e a aristocracia s a c e r d o t a l legitima e ilegí-
tima (supra, p p . 250-272) e s o b r e o c a r á t e r h e r e d i t á r i o d o sacerdócio
(supra, p p . 291-302).
I para fazerem suas lamentações nos lugares santos b) O s
dados genealógicos dos n n . 2 e 5 resultam de u m jogo de
N a v e r d a d e , n u m a tradição q u e é, conforme se sus- palavras; a indicação do n, 10 p r o v é m de u m a i d e n t i d a d e
tenta, genealógica, encontram-se, q u a n d o a ocasião se apre- de nomes; a do n . 1 aparecerá u m p o u c o a d i a n t e como 82

senta, jogos de palavras destituídos de q u a l q u e r valor, le- u m a falsificação histórica.


v a n d o à conclusões genealógicas a partir d a significação Por conseguinte, essa genealogia q u e se julga ter sido
dos n o m e s , segundo a etimologia p o p u l a r . Trata-se do se- e n c o n t r a d a em Jerusalém, é u m a p r o d u ç ã o fantasista que 83

guinte texto : 7S

surgiu em Séforis pelo ano 250 de nossa e r a . É igual- 8 4

m e n t e impossível salvar os cinco primeiros m e m b r o s na B 5

"R. Levi [cerca de 300 d . C ] diz: Encontrou-se em Je-


hipótese de u m a lista e n c o n t r a d a e m Jerusalém antes de
rusalém uma genealogia na qual se podia ler:
1. Hilel [cerca de 20 a . C ] descende de Davi; 70 d . C e completada mais t a r d e . N a t u r a l m e n t e os da-
8 6

2. Ben [a família] Yasaf [Yasa], de Asaf; dos genealógicos do Antigo T e s t a m e n t o favoreciam am-
3. Ben [a família] Sisit ha-kassat [cerca de 70 d . C ] , de p l a m e n t e semelhantes deduções genealógicas, graças a jo-
Abner; gos de p a l a v r a s e significado dos n o m e s . 8 7

4. Ben [a família] Qobesin [Kobshin], de Acab; Esse c o n h e c i m e n t o n ã o p r o v a q u e todas as tradições


5. Ben [a família] Kalba Shabua [cerca de 70 d . C ] , de genealógicas sejam destituídas de valor histórico; incita¬
Caleb;
-nos, p o r é m , à p r u d ê n c i a e a u m e x a m e crítico das tradi-
6. R. [a família] Yanar [cerca de 225 d . C ] , de EU; ções. Por exemplo, devemos aceitar com certa reserva as
7. B e n [a família] Yehud [Yahn], de Séforis;
79

informações genealógicas de T b 1,1; Jd 8 , 1 ; Est 2,5. Fa-


8. R. Híyya Rabba [cerca de 200 d . C ] , de Shefatia,
zem p a r t e , ao q u e p a r e c e , do estilo desses romances his-
filho de Abital [2Sm 3,4];
tóricos.
9. R. Yose bar Halafta [cerca de 200 d . C ] , de Ionadab
ben Recab [2Rs 10,15];
10. R. Nehemia [cerca de 150 d . C ] , de Neemias, o
tirsata [Nm 8 , 9 ] " . II
U m a dupla observação é suficiente p a r a caracterizar
E m dois casos possuímos elementos que nos permi-
esta lista: a) supõe-se q u e t e n h a sido e n c o n t r a d a e m Je-
tem fazer u m exame crítico dos dados genealógicos do
rusalém, o n d e veio a lume no século I I I de nossa era —
T a l m u d e , relativos a famílias leigas. N o primeiro caso,
R. Y a n a i (6) exercia suas atividades pelo ano 2 2 5 apro-
trata-se de R. Eleazar b e n Sadoc, escriba hierosilomita
x i m a d a m e n t e . Ora, a p ó s a guerra de Bar-Kokba {132¬
-135 [ 6 ] ) , Jerusalém tornou-se colônia r o m a n a , Aélia ca-
8 1 . O r í g e n e s , In Librum Jesu Nave X V I I 1; Itin. Burdigalense
pitolina, e a e n t r a d a na C i d a d e santa foi p r o i b i d a aos ju- 591 (ed. P . G e y e r , Itinera hierosolymilana saeculi III1-VIII, CSEL 39,
deus sob p e n a de morte . P o d i a m e n t r a r na cidade ape-
80
1898, 2 2 ) ; J e r ô n i m o , In Soph. I 15ss; S c h ü r e r , I, 703s; m e u Golgotha,
20, n. 13.
nas em 9 a b , dia do aniversário da t o m a d a de Jerusalém,
8 2 . V e r infra, p p . 382-386.
8 3 . I. Levi, L'Origine davidique de Hillel, e m RE} 31 ( 1 8 9 5 ) ,
78. j . Tu'an. I V 2 m 6 8 45ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) ; Gn. R. 98, 13 s o b r e
a
209ss.
49, 10 ( 2 1 1 12ss). j . Ta'an. d á a m a i s antiga t r a d i ç ã o , p o r q u e a p e n a s
b
84. D e m o n s t r a ç ã o de A. Büchler, Priester, 42.
este texto c o n s e r v a o jogo d e p a l a v r a s Y a s a p h - A s a p h . A l g u m a s va- 8 5 . Foi s o m e n t e n o século I I I q u e se a f i r m o u a o r i g e m davídica
r i a n t e s i m p o r t a n t e s da t r a d i ç ã o p a r a l e l a em Gn. R. são i n d i c a d a s e n t r e dos hilelitas, v e r infra, p . 384.
colchetes; a o r d e m é diferente em Gn. R. 86. C o n t r a Büchler, Priester, 42.
79. É assim q u e se d e v e ler, e m vez d e min. 8 7 . G . Kittel d á a l g u m a s p r o v a s em Die genealogíai der Pastoral¬
80. V e r m e u Golgotha, L e i p z i g , 1926, 19s. briefe, ZNW 20 ( 1 9 2 1 ) , 59-67; v e r t a m b é m b . Pes. 4 .
em atividade antes da destruição da cidade . Eleazar afir- 88
que os tosafistas tivessem razão ao concluir que Eleazar
95

m a descender dos filhos de Senaah (sic! E m Esd 2 , 3 5 ; N e ben Sadoc pertencia à família benjaminita pelo lado ma-
3 , 3 ; 7 , 3 8 ; Ta'an IV 5: Senaa), da tribo de Benjamim, u m a terno. Essa conclusão torna-se a i n d a mais esclarecedora
das famílias que teve o privilégio de trazer lenha p a r a o pelo fato de Eleazar m e n c i o n a r sua origem benjaminita
T e m p l o . Conta ele que o 10 a b , dia festivo em q u e essa
8 3
não relacionando-a com u m a afirmação genealógica e sem
família devia trazer a l e n h a , coincidiu, certo a n o , com
9 0
intenção especial, por ocasião de informações acerca da
o aniversário da destruição de Jerusalém, o 9 a b , a d i a d o celebração do 10 ab. N ã o temos, p o r t a n t o , como rejeitar
n a q u e l a vez, p a r a o 10. N a q u e l e a n o , com efeito, o 9 ab os dados relativos à sua origem.
caiu n u m sábado e quiseram evitar fazer do s á b a d o u m
O segundo caso diz respeito à origem do patriarca
dia de luto em Jerusalém . 91

palestinense R. Y u d a I (135 até depois de 2 0 0 ) , descen-


C o m o se vê, trata-se de dados tão concretos q u e é d e n d o de H i l e l . Existem informações contraditórias quan-
y6

impossível d u v i d a r da pertença de R. Eleazar b e n Sadoc to à sua o r i g e m : 1", do lado p a t e r n o ele p r o v é m da tribo


97

a u m a família de benjaminitas de alta classe. D i a n t e disso de Benjamim, e, da tribo de Judá , somente do lado ma- %

encontramos a indicação segundo a qual seu pai, R. Sa- terno. 2", o r i u n d o da tribo de J u d á , isto é, de D a v i . y,; 1 0 0

doc, era de origem p o n t i f í c i a , isto é, de origem ponti-


92

3" O u t r a tradição acrescenta que ele descende de Safatias,


fícia legítima, como sadoquita \ Poderíamos ser t e n t a d o s
9

filho de D a v i e de Abital (2Sm 3,4) . H á pois, completa m

a tomar esse último d a d o por u m a conclusão genealógica c o n t r a d i ç ã o ; na realidade, o caso é a b s o l u t a m e n t e claro.


sem valor, extraída de seu n o m e , Sadoc. Mas é impossível:
u m relato digno de fé, a m p l a m e n t e confirmado conta-nos 94
1. Y u d a I diz que o exiliarca b a b i l ô n i o Rab H u n a é
que u m dia, por ocasião de u m assassínio no T e m p l o , R. de origem mais ilustre do q u e ele , pois Y u d a é benja- 102

Sadoc dirigiu aos sacerdotes e ao p o v o , do vestíbulo do minita e n ã o p o d e descender d a tribo de Judá senão pelo
T e m p l o , u m enérgico apelo à penitência. U m leigo não l a d o m a t e r n o . Esse t e s t e m u n h o autobiográfico é autên-
103

teria p o d i d o p e n e t r a r naquele recinto; c o n s e q ü e n t e m e n t e , tico . C o m efeito, o p a t r i a r c a aqui se coloca abaixo dos


104

podemos ter certeza de que R. Sadoc era sacerdote. Essas exiliarcas; p o r outro lado, não se p o d e pôr em dúvida a
duas informações sobre a origem de Eleazar c o n t ê m ele-
mentos absolutamente autênticos. É, pois, b e m provável 95. Tosafot s o b r e 'Er. 4 1 . M e s m a c o n c l u s ã o e m Billerbeck, I, 5;
a

V. A p t o w i t z e r , e m HUCA 4 ( 1 9 2 7 ) , 238; S. Klein Zur jüdischen Al-


tertumskunde, e m MGW} 77 ( 1 9 3 3 ) , 192.
88. Q u a n t o às d a t a s , v e r a e x p o s i ç ã o d e t a l h a d a s u p r a , p- 2 0 1 . 96. N ã o é a b s o l u t a m e n t e c o m p r o v a d o q u e a família de G a m a l i e l
Ele era a i n d a m u i t o jovem d u r a n t e o r e i n a d o d e A g r i p a I (41-44 d . C ) ; d e s c e n d a de Hilel, m a s é p r o v á v e l .
d u r a n t e a fome q u e grassou n o r e i n a d o de C l á u d i o (47-49, v e r m e u 97. O s textos c i t a d o s nas q u a t r o n o t a s seguintes f o r a m traduzi-
artigo Sabbathjahr e m ZNW 27 [ 1 9 2 8 ] , 98-103), já era u m d i s c í p u l o das em Billerbeck, I, 4-5.
de R. Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a . N a s c e u , p o i s , no fim dos anos 30-40. 98. j . KU. I X 4, 32" 30 ( H / 1 , 3 1 7 ) ; Gn. R. 3 3 , 3 s o b r e 8, 1
89. V e r supra, 308s. ( 6 6 18s). E d i ç ã o crítica e m G . D a l m a n , Aramäische
a
Dialektproben,
90. Táan. Í V 5. 2- ed., Leipzig, 1927 ( r e i m p r e s s a D a r m s t a d t , 1960) 27s.
9 1 . b . Ta'an. 1 2 ; b . 'Er, 4 1 ; j . Ta'an. IV 6, 6 8 44 ( I V / 1 , 1 9 5 ) ;
a a b

99. b . Sank 5 ; b . Hör. l l


a b
bar.
j . Meg. I 6, 7 0 13 (não t r a d u z i d o e m I V / 1 , 205 q u e r e m e t e a o p a r .
c

100. R. Y u d a I d a v í d i d a ; b . Shab. 5 6 . Hilel d a v i d i d a : j . Ta'an.


a

I V / 1 , 195). S o b r e este p o n t o , v e r J. N . E p s t e i n , Die Zeiten des Hol¬ I V 2, 6 8 46 ( V / 1 , 180) e p a r . , ver supra, p . 380.
a

zopfers, e m MGWJ 78 ( 1 9 3 4 ) , 97-103; ele conclui q u e esta p a s s a g e m 1.01. b . Ket. 6 2 , v e r supra, p . 3 7 5 .


b

(em o p o s i ç ã o a Ta'an. IV 5) c o n s i d e r a o 9 ab c o m o o dia em q u e a 102. Ele e r a p r o v a v e l m e n t e d a v í d i d a , v e r supra, p . 370.


família S e n a a e n t r e g a v a a l e n h a .
103. V e r supra, p . 3 8 3 , n . 9 8 .
92. ARN rec. A c a p . 16, 6 3 2 5 . a

104. I. Levi, ¿'origine davidique de Hilel, e m REI 31 ( 1 8 8 5 ) ,


93. Ver supra, p . 265, n . 300. 209ss, a p r e s e n t o u a d e m o n s t r a ç ã o c o n v i n c e n t e . Insiste, antes d e t u d o ,
94. T o s . Yoma I 12 (181, 2 0 ) ; T o s . Shebu. I 4 (446, 6 ) ; Sifre no fato d e a afirmação d a o r i g e m d a v í d i c a d a família de Hilel n ã o
N m 35, 34, § 161 ( 2 8 I I I , 1 8 ) ; j . Yoma I I 2, 3 9 13 ( I I I / 2 , 179 bar.;
c d

se e n c o n t r a r antes de 200 d.C.


b . Yoma 2 3 b a r .a
informação segundo a qual a família de R. Y u d a I pos- é apenas " s o c i a l m e n t e " que se deseja c o l o c a r - o s patriar-
suía anotações genealógicas \ 1 0
cas no m e s m o nível dos exiliarcas; q u e r e m atribuir-lhes,
do m e s m o m o d o que aos exiliarcas, u m a participação n a
2 . M a s , como o p r ó p r i o texto indica, era penoso p a r a promessa de G n 49,10 e assim, possivelmente, u m a pre-
R. Y u d a I ouvir l e m b r a r q u e o exiliarca b a b i l ô n i o per- tensão legítima ao domínio messiânico. M u i t o esclarece-
tencia à família mais n o b r e do que a sua . Logo depois m

dor o fato de o baraíta não estabelecer u m a igualdade to-


do t e s t e m u n h o autobiográfico de R. Y u d a , conta-se o se- tal entre os dois; o escrito exprime c l a r a m e n t e a superio-
guinte: " C e r t o dia, R. Hiyya, o Ancião [descendente de ridade dos exiliarcas que " r e i n a m sobre Israel com seu
Davi 1 0 7
e que queria fazer com que R. Y u d a I tomasse c e t r o " , em relação aos patriarcas q u e " t ê m o poder de
consciência da inferioridade de sua o r i g e m ] , e n t r o u em ensinar publicamente em I s r a e l " . P a r a reforçar a falsifi-
casa dele e disse-lhe: R a b H u n a [o exiliarca d e e n t ã o , pa- cação histórica, a tradição palestinense, no século I H de
rente de R. Hiyya] , está lã fora. —• Rabi [ Y u d a I]
108

nossa era , a transferiu p a r a Hilel, o antepassado de R.


ll2

empalideceu. Ele [ R a b i H i y y a ] diz-lhe: T r o u x e r a m seu Y u d a I, colocando sobre ele o sinal de descendente de


esquife" . O incidente teve como conseqüência o degre-
m

Davi.
do de R. Hiyya p o r trinta dias e a r u p t u r a t e m p o r á r i a
entre os dois h o m e n s . 3. P a r a l e l a m e n t e à idéia de relacionar patriarcas e
O fato fornece a chave dos dados contraditórios so- exiliarcas, a c o m p a r a ç ã o de R. Y u d a com R. Hiyya, o
bre a origem de R. Y u d a I. Para não mostrar a família Ancião, foi d e t e r m i n a n t e no processo da t r a d i ç ã o . Pareceu
dos patriarcas palestinenses como inferior a dos exiliarcas intolerável que R. Hiyya fosse de origem mais ilustre do
babilônios, a tradição, pela primeira vez em b . Sanh. 5 6 a
q u e o patriarca pertencente à tribo d e Benjamim. Saíram
onde é transmitida por Rab ( t 2 4 7 ) , discípulo de R. Y u d a dignamente do cenário, d a n d o u m passo a mais; não so-
e s o b r i n h o d e R. Hiyya, atribuiu u m a origem davídica a mente fizeram de R. Y u d a I u m davídico, mas transferi-
R. Y u d a I. A conclusão pareceu muito possível visto o r a m , p u r a e simplesmente p a r a ele, a genealogia de R.
p a t r i a r c a ser, c o m efeito, d e s c e n d e n t e d a t r i b o d e J u d á , se Hiyya e t o r n a r a m o p a t r i a r c a u m descendente de Sa-
1 1 3

b e m que somente do lado m a t e r n o . fatias, filho de D a v i e de Abital. Q u a n t o a R. Hiyya, fi-


O motivo dessa falsificação histórica é especialmente cou sendo descendente, não de D a v i , mas d e u m r a m o
clara em b . Sanh, T (bar.) , baraíta já conhecido de
n o
colateral da família real; Shimea, i r m ã o de D a v i , confor-
Orígenes , o n d e G n 49,10 a " o cetro não será tirado de
m
m e dizem, foi seu antepassado . 1W

J u d á " é aplicado aõs exilarcas, e 49,10 b: " n e m o prín-


Essas constatações são p a r t i c u l a r m e n t e instrutivas, n ã o
cipe de sua d e s c e n d ê n c i a " aos patriarcas palestinenses.
pelo fato de termos aí u m caso o n d e se tentou, d u r a n t e
Conforme nos demonstra essa passagem do T a l m u d e , não
o século I I I de nossa era, u m a falsificação histórica p a r a
a m a i o r glória da família dos p a t r i a r c a s palestinos, m a s
105. b . Ket. 6 2 . A i n d a í o s e f o ; Vita 3 8 , § 1 9 1 : R. S h i m e o n b e n
b

G a m a l i e l 1 (o b i s a v ô de R. Y u d a I) descendia d e u m a "família m u i t o p o r q u e a v e r d a d e i r a tradição n ã o foi suprimida. Todos os


ilustre", p o r t a n t o , de u m a família q u e t i n h a u m a g a r a n t i d a t r a d i ç ã o esforços p a r a p r o v a r a origem davídica da família de Hilel
genealógica.
106. Cf. t a m b é m b . Hor, l l . b n ã o p u d e r a m impedir que continuasse conhecida a sua
107. V e r supra, p . 370.
108. Sbiá. 112. A t e s t e m u n h a mais antiga é R. L e v i (cerca d e 300 d . C . ) :
109. ]'. Kil. I X 4, 3 2 31 ( I I / l , 317) e p a r . (ver esses p a r . supra,
b

j . Ta'an, I V 2, 6 8 45ss ( I V / 1 , 1 8 0 ) . V e r o t e x t o supra, p . 380.


a

p . 380, n . 80.
113. S u p o n d o q u e essa seja d a d a c o m e x a t i d ã o e m j . Ta'an. IV
110. Cf. b . H o r . I I ; b . Sanh. 3 8 .
1 5 a

2, 6 8 4 8 ( I V / 1 , 1 8 0 ) , v e r supra, p . 380.
a

111. Cf. supra, p . 370, n. 17. 114. b . Ket. 6 2 . b

13 - Jerusalém no tempo de J e s u s
origem benjaminita. O s elementos da tradição genealógica transmitiram a seus filhos e a seus discípulos u m a ú n i c a
e r a m sólidos demais p a r a p o d e r e m ser s u m a r i a m e n t e su- vez em sete anos [ e m s e g r e d o ] " " . 9

primidos pelas falsificações. C o m o t e m p o , tais t r a d i ç õ e s , a p r e s e n t a d a s através da


O fato de os círculos de doutores t r a n s m i t i r e m as explicação dos dados genealógicos d o 1" livro das Crôni-
tradições sobre a legitimidade ou ilegitimidade de certas cas, assumiram tal i m p o r t â n c i a q u e se temeu p u d e s s e m
120

famílias c o n t r i b u i u essencialmente p a r a essa solidez da ser desacreditadas e m p ú b l i c o , as famílias d o s notáveis,


tradição genealógica. caso fosse divulgada alguma d e s o n r a em sua o r i g e m . 131

A força foi d a d a a essas tradições pelo rigor — aci- D e c i d i u - s e , então — não sabemos q u a n d o , mas certa-
I22

m a descrito (pp. 299-302) c o m q u e os sacerdotes se esfor- mente antes da época de R. Y o h a n a n ( 1 9 9 aproximada-


çavam em conservar sua classe p u r a de elementos ilegíti- mente-279) — proibir a i n t e r p r e t a ç ã o pública d e 1" li-
123

mos ou de descendentes de sacerdotes cuja legitimidade vro das Crônicas e colocá-lo entre os elementos d a tradi-
de origem era duvidosa. Esses esforços levaram os sacer- ção esotérica . m

dotes a m a n t e r e m firmemente a tradição p a r a saber quais Eis, p o r t a n t o , o q u e constatamos nessa segunda par-
famílias de sacerdotes e r a m legítimas e quais e r a m duvi- te: h á , sem d ú v i d a , falsificações históricas nas genealogias,
dosas (as c h a m a d a s famílias Issah) . Por o u t r o l a d o , em
m
mas não se p o d e m construir genealogias imaginárias, ao
muitos casos, os escribas n ã o a p r o v a v a m a severidade e bel-prazer, pois, existem meios de controle. E n c o n t r a m o s
os pontos de vista do clero; foram assim levados a con- assim u m a regra para julgar as genealogias neotestamen-
servar tradições sobre famílias que os sacerdotes erronea-
mente d e c l a r a r a m ilegítimas ou legítimas. 119. Cf. b . Qid. 7 1 bar.-. " H a v i a a i n d a o u t r a [família c o m p u l -
a

s o r i a m e n t e d e c l a r a d a l e g í t i m a , R a s h í In loco] e os d o u t o r e s n ã o q u i -
U m a tradição de R a b b a n Y o h a n a n ben Z a k k a i ( f cer- s e r a m d e n u n c i á - l a p u b l i c a m e n t e , m a s os d o u t o r e s o [seu n o m e ] reve-
ca de 80 d . C ) , evidentemente do tempo em que o T e m - l a r a m a seus filhos e discípulos u m a vez e m sete a n o s " . E x e m p l o s de
u m a t r a d i ç ã o esotérica a r e s p e i t o d e famílias ilegítimas e m b . Qid. 7 0 . b

plo existia, n a r r a : " U m a família de n o m e Bet Serifa vivia 120. S o b r e a a m p l i d ã o d a s t r a d i ç õ e s g e n e a l ó g i c a s , cf. b . Pes. 6 2 b

na T r a n s j o r d â n i a ; ben Sion afastou-a c o m p u l s o r i a m e n t e c i t a d o supra, p . 3 7 3 .


[declarou-a i l e g í t i m a ] . O u t r a família então aí vivia; b e n 1 2 1 . b . Qid. 7 1 p a r . j . Qid. I V 1. 6 5 54 [ n ã o t r a d u z i d o e m V / 2 ,
a c

Sion do m e s m o m o d o a a p r o x i m o u [declarou-a legíti- 281 q u e r e m e t e ao p a r . I V / 2 , 1 2 4 ] ; j . Yeb. V I I I 3 , 9¿ I I [ Í V / 2 , 1 2 4 ] ;


" R , Y o h a n a n ( t 279) d i z : " P e l o T e m p l o ! n ó s s a b e m o s d e q u e fa-
m a ] " . Podemos supor tratar-se de famílias sacerdotais
m

mília se t r a t a [tratara-se a n t e s d e sua i l e g i t i m i d a d e ] , m a s q u e posso


e que as decisões tomadas por b e n Sion e não a p r o v a d a s fazer? C o m o p o d e i s v e r , os g r a n d e s d o s é c u l o estão u n i d o s a e l a " .
pelos escribas 117
foram julgamentos p r o n u n c i a d o s p e l o tri- Ibid.: " N o s dias d e R. P i n h a s (b. H a m a , c e r c a d e 360 d . C ) , p r o c u r a -
va-se c o n s i d e r a r Babilônia ' m a s s a ' , ['íssah d e s i g n a ç ã o d e o r i g e m du-
bunal de sacerdotes já m e n c i o n a d o (pp. 2 4 5 s ) . Q u e po- v i d o s a , v e r supra, p. 301] em c o m p a r a ç ã o c o m a P a l e s t i n a . Ele [ P i h a s ,
sição assumiam os escribas e m semelhantes casos? A con- q u e q u e r i a i m p e d i - l o ] , disse a seus s e r v o s : ' A s s i m q u e eu tiver p r o -
tinuação do texto na Tosefta no-lo m o s t r a : " E os dou- 118 n u n c i a d o d u a s sentenças n a E s c o l a , r e t i r e m - m e na m i n h a liteira, o m a i s
d e p r e s s a p o s s í v e l ' ! — Ele e x p ô s s e u p e n s a m e n t o : 1. ' O estrangula-
tores não quiseram revelar p u b l i c a m e n t e o caso; eles os m e n t o r i t u a l d a s aves n ã o está p r e s c r i t o n a T o r á ' . E n q u a n t o os ou-
[os nomes das famílias e r r o n e a m e n t e declaradas legítimas] vintes s e n t a d o s refletiam s o b r e o p r o n u n c i a m e n t o , ele c o n t i n u o u : 2 .
' T o d o s os países são u m a m a s s a em r e l a ç ã o à P a l e s t i n a , e a P a l e s t i n a
é a m a s s a e m r e l a ç ã o à B a b i l ô n i a ' . E l e s [ o s s e r v o s ] e r g u e r a m a lfteira
115. V e r supra, p . 3 0 ! , e s p e c i a l m e n t e n . 507 e ss. e saíram a correr. O s [ouvintes] o perseguiram, mas não conseguiram
116. 'Ed. V I I I 7; 'Ed. I I I 4 (459, 3 0 ) ; j . Yeb. V I I I 3 , 9* 8 ( I V / 2 , alcançá-lo. S e n t a r a m - s e d e n o v o p a r a e x a m i n a r m e l h o r [as t r a d i ç õ e s
124); j . Qid. I V 1, 6 5 51 (não t r a d u z i d o e m V / 2 , 281 q u e r e m e t e
c
genealógicas] até c h e g a r e m ao perigo [de d e s c o b r i r o r i g e n s i m p u r a s ] .
ao p a r . 1 V / 2 , 1 2 4 ) ; b . Qid. 7 1 b a r .
a

S e p a r a r a m - s e e n t ã o " , Cf. Billerbeck, I, 1.


117. Este R a b b a n Y o h a n a n b e n Z a k k a i a q u e m r e m o n t a n o s s a tra- 122. b . Pes. 6 2 . v e r supra, p p . 376 e 3 2 5 .
b

d i ç ã o queixou-se d o rigor dos s a c e r d o t e s , ver supra, p . 3 0 1 .


118. T o s . 'Ed. I I I 4 (459, 3 1 ) ; j . Qid. I V 1, 6 5 53 (não t r a d u z i d o
c
123. b . Pes. 6 2 , cf.
b
a q u e i x a d e s t e d o u t o r citado na antepenúl-
e m V / 2 , 281 q u e r e m e t e ao p a r . I V / 2 , 124). tima nota.
124. S o b r e esses e l e m e n t o s esotéricos, ver supra. p p . 323-326.
tárias de Jesus, a única q u e , fora dos documentos d o pró- do t e m p o de Jesus e dos apóstolos, q u a l q u e r contestação
prio N o v o T e s t a m e n t o , está a nossa disposição. sobre a origem davídica de Jesus . O r a , para contestar ü 0

o c a r á t e r messiânico d e Jesus, a p o l ê m i c a judaica dificil-


m e n t e teria d e i x a d o escapar este a r g u m e n t o q u e podia exer-
III cer forte míluència sobre o p o v o .
T o d a v i a , as d u a s genealogias d e Jesus diferem com-
Q u a l o valor histórico das genealogias de Jesus? Mt pletamente uma da o u t r a . D e A b r a ã o a D a v i , elas se equi-
(1,1-17) e Lc (3,23-38) transmitem cada u m a sua. Am- p a r a m , p o r q u e a m b a s a c o m p a n h a m o Antigo T e s t a m e n t o
bas 125
dão os antepassados do carpinteiro José, e a m b a s (Rt 4,12.18-22; l C r 2,1-14). A seguir, a p a r e c e m as dife-
q u e r e m mostrar a sua origem davídica. renças: V Mt continua a genealogia por S a l o m ã o , Lc por
D e v e m o s aceitar essa afirmação da origem davídica N a t ã , filho d e D a v i . 2" D e maneira admirável, as listas
de José. Poderíamos supor, sem dúvida, q u e , mais t a r d e , estão de acordo no m o m e n t o do exílio de Babilônia quan-
baseando-se no caráter messiânico de Jesus, ter-se-ia feito to a o n o m e d e Salatiel, m a s atribuem-lhe pais diferentes
de José u m descendente de D a v i . Mas há, contra essa hi- (Mt 1,12: ]econias [cf. l C r 3,17] ; L c 3 , 2 7 : N e r i ) . V A
,31

pótese, o testemunho u n â n i m e do Novo T e s t a m e n t o , 126


partir de Z o r o b a b e l , q u e as d u a s listas indicam c o m o fi-
segundo o qual Jesus pertencia àquela linhagem; e m se- l h o d e S a l a t i e l , divergem, d e n o v o , t o t a l m e n t e . Conti-
m

guida, as informações de Hegésipo que escreve p o r volta n u a m por dois filhos diferentes d e Z o r o b a b e l (Mt 1,13;
de 180, e x p l o r a n d o a tradição palestinense: os netos de A b i u d ; Lc 3,27: Ressa). 4" As listas só se e n c o n t r a m no-
Judas, irmão do Senhor, foram denunciados a D o m i c i a n o v a m e n t e no m o m e n t o de citar o carpinteiro J o s é ' " ; diver-
como descendentes de Davi e r e c o n h e c e r a m , d u r a n t e o in- g e m , p o i s , desde já q u a n t o ao avô de Jesus: chama-se Jacó
terrogatório, sua origem d a v í d i c a . D o m e s m o m o d o ,
127

s e g u n d o M t 1,16, Eli, segundo Lc 3 , 2 3 .


Simeão, p r i m o de Jesus e sucessor de Tiago na chefia da F r a c a s s a r a m as n u m e r o s a s tentativas — a começar
c o m u n i d a d e de Jerusalém, foi d e n u n c i a d o c o m o d e ori- p o r Júlio, o Africano — p a r a h a r m o n i z a r as listas genea-
gem davídica e messias, e depois c r u c i f i c a d o . Júlio, o 128

lógicas tão totalmente diÍQrQiites uma d a outra. Muitas ve-


Africano, confirma que os pais de Jesus se v a n g l o r i a v a m 130. A p o l ê m i c a l e v a n t a d a pelos j u d e u s i n c r é d u l o s e m Jo 7,42 di-
da sua origem d a v í d i c a . A essas diferentes informações
129
rige-se c o n t r a Jesus, e n q u a n t o galileu. D a v i é m e n c i o n a d o p u r a e sim-
acresce o fato de n ã o p o d e r m o s e n c o n t r a r entre os j u d e u s p l e s m e n t e p a r a reforçar q u e o M e s s i a s v i r á d e B e l é m . — Ulla (cerca
d e 280 d.C.) diz q u e Jesus e s t a v a " p r ó x i m o d o r e i n o " (qarôb c
l malkut,)
b. Sanh. 4 3 . H á g r a n d e p r o p e n s ã o em ver aí u m r e c o n h e c i m e n t o , p e l o
a

125. As antigas e m o d e r n a s tentativas p a r a v e r n u m a dessas d u a s T a l m u d e , da filiação d a v í d i c a de Jesus ( D e r e n b o u r g , Essai, 349; F .


genealogias a de M a r i a n ã o o b t i v e r a m r e s u l t a d o . D e l i t z c h , Jesus und Hillel, Francfort-sur-le M a i n , 1875, 13; S. K r a u s s ,
126. R m 1,3; 2 T m 2,8; H b 7,14; M t 1,1-17,20; Lc 1,27-32; 2,4;3, Das Leben Jesu nach jüdischen Quellen, B e r l i m , 1902, 2 0 5 , e passim).
23-38; At 2,25-31; 13,23.34-37; 15,16; A p 5,5;22,16; cf. 3,7. A l é m d o m a i s , M a s H . L . S t r a c k , Jesus, die Häretiker und die Christen, L e i p z i g , 1910,
é preciso c i t a r a q u i o título de "filho de D a v i " d a d o a Jesus ( M c 18*, n . 8 ergueu-se, c o m r a z ã o , c o n t r a esta i n t e r p r e t a ç ã o , r e m e t e n d o
10,47-48 e par.; M t 9,27;15,22;2Í,9.15; cf. M c 11,10; M t 12,23. S e m dú- a b . B. Q. 8 3 : e m a m b o s os casos, estar " p r ó x i m o do r e i n o " significa
a

vida, é, antes d e t u d o , u m título m e s s i â n i c o , m a s a f i r m a ao m e s m o " t e r relações cora o g o v e r n o p a g ã o " .


t e m p o a origem davídica ( G . D a l m a n , Die Worte Jesu I, 2- ed., Leip- 131. C o m r a z ã o , M t i n t e r p r e t o u ou c o l o c o u o artigo d i a n t e d e
zig, 1930, 2 6 2 ) . — E m M c 12,35-37 e p a r . Jesus luta c o n t r a o ideal 'assir ( l C r 5 , 1 7 ) ; c o m p r e e n d e u , p o i s , e s s e t e r m o , c o m o u m a t r i b u t o
messiânico político, i n v o c a n d o o SI 110; este discurso de c o n t r o v é r s i a d c l^conias ( " o p r i s i o n e i r o " ) e n ã o c o m o n o m e p r ó p r i o , assim c o m o
n ã o significa d e m o d o a l g u m q u e Jesus t e n h a r e n e g a d o sua origem o fazem, erroneamente, a Massora e a Setenta.
davídica.
132. Mt 1,12; L c 3,27.
127. E u s é b i o , Hist. eccl. I I I 19-20, 1-6. 133. É possível q u e eles já se e n c o n t r e m q u a n t o a o a v ô d e José
128. Ibid. I I I 32, 3-6. ( M t 1,15-16: Matã-Jacó-José; L c 3,23-24; M a t a t - H e l i - J o s é ) , cf. K. H .
129. W . R e i c h a r d t , Die Briefe des S. J. Africanus an Aristides und Rengstorf, Das Evangelium nach Lukas W ed., G ö t t i n g e n , 1965, 60. M a s
Origenes, Leipzig, 1909; Carta a Aristides, 6 1 , linhas 20s. n ã o é c e r t o q u e o n o m e de M a t a t seja o r i g i n á r i o em L c ; ver infra, p . 3 9 1 .
OS ISRAELITAS DE O R I G E M PURA 391

dão somente 7 6 n o m e s ; s y . ' c o n t é m 7 3 ; Irineu Aáv,


s,n w

zes os historiadores foram levados a considerar essas duas Haer. I I I 2 2 , 3 apresentava apenas 7 2 . É , p o r é m , m u i t o
listas como invenções sem valor. O curso de nossa pes- provável q u e no texto corrente d e 77 n o m e s , os nomes se-
quisa n ã o justifica tal ceticismo, mas impõe-nos o dever guintes n ã o sejam originais: Lc 3,27 Ressa (originaria-
de e x a m i n a r se u m a das listas n ã o é preferível à o u t r a .
mente n ã o nome próprio, mas atributo de Zorobabel [ = o
U m a c o m p a r a ç ã o entre a m b a s , do p o n t o de vista da príncipe] v. 3 1 Meléia ou M e n á (ditografia) ; v. 33 m

autenticidade, d á - n o s , o s seguintes resultados: A m i n a d a b (falta, c o m r a z ã o , e m B e sy. -; u m glosador sin

1. E m 1,17 Mt diz, explicitamente, que sua lista se acrescentou esse n o m e , apoiando-se n a L X X d e l C r 2 , 1 0


divide em 3 X 14 n o m e s . Esses n ú m e r o s têm u m a signi- e em R u t e 4^19-20; n ã o p e r c e b e u q u e , e m Lc 3 , 3 3 , o
ficação simbólica; há u m a gematria (atribuição de valo- n o m e seguinte, A d m i n , o u t r a coisa n ã o era d o q u e a for-
res numéricos às letras), baseada no fato de o n o m e D a v i m a a b r e v i a d a d e A m i n a d a b ) °. A l é m do m a i s , n o v. 2 4 ,
14

ter, em hebraico, o valor 4 - f 6 + 4 = 14. E m Jesus se os nomes d e M a t a t á e Levi são d u v i d o s o s , p o r q u e Júlio,


perfaz, pela terceira e última vez, o n ú m e r o de Davi . B 4
o Africano 141
(e Irineu t a m b é m , provavelmente) , nesse 142

Lc, segundo o texto de K L T sa. bo., dá 77 n o m e s , v. 24 n ã o leu os dois nomes (voltando ao v. 29) . P o r m

incluindo o de Jesus. Pode ser que se fundamente n u m conseguinte, na genealogia de Lc p o d e , d e início, só ter
simbolismo dos n ú m e r o s semelhante àquele que ex- constado 7 2 n o m e s . Duvida-se, s o b r e t u d o , de que Lc t e n h a
pusemos na nota 134, isto é, u m a divisão da história do feito a conta dos n o m e s . E m todo caso, se Lc dá u m sen-
m u n d o em 12 períodos : Jesus situa-se no fim da décima
135
tido simbólico a o n ú m e r o dos ancestrais de Jesus, seria de
primeira s e m a n a do m u n d o , à qual segue a semana mes- se e s p e r a r igualmente n e l e u m a o b s e r v a ç ã o q u e corres-
siânica . E n t r e t a n t o , essa hipótese só m u i t o dificilmente
m
pondesse a M t 1,17.
se justifica. P r i m e i r a m e n t e , é preciso observar que a tra- 2 . Mt acrescenta à sua genealogia os nomes d e qua-
dição textual não é uniforme . B N U e outros manuscritos
-

t r o m u l h e r e s (Mt 1.3 T a m a r ; 1,5 R a a b e R u t e ; 1,6 Betsa-


béia), c o m o tipos d e M a r i a , n a m e d i d a em que o poder de
134. P o d e ser q u e haja o u t r o s e n t i d o s i m b ó l i c o n a o r i g e m d e Mt
1,17. C o m o p o d e m o s ver e m I Enoc X C I I I 1-10, 12-17, já n a p r i m e i r a D e u s se manifestou a elas . Lc n a d a de semelhante apre-
144

m e t a d e d o século II a n t e s de nossa era, dividia-se a história d o m u n - senta.


d o d a criação ao fim dos t e m p o s , e m dez s e m a n a s de sete g e r a ç õ e s
cada u m a . Baseando-se nas listas de famílias n o G ê n e s i s , s e g u n d o as 3 . Q u a n t o à sua primeira p a r t e , d e A b r a ã o a Z o r o -
quais A b r a ã o p e r t e n c i a à vigésima g e r a ç ã o h u m a n a d e s d e a c r i a ç ã o ,
p u n h a m - s e as três p r i m e i r a s s e m a n a s p o r conta do p e r í o d o pré-israe- b a b e l , M t segue l C r . E m c o n t r a p a r t i d a , a fonte de Lu-
1 4 5

lita d a h u m a n i d a d e (I Enoc X C I I I 3-5). R e s t a v a m , pois, sete sema-


nas p a r a a história israelita; a ú l t i m a s e m a n a c o m p r e e n d i a o p e r í o d o 137. E x a t a m e n t e 72 mais uma lacuna, d e i x a n d o lugar para um
messiânico ( X C I 15-17). Se Mt 1-17 p e n s o u nesse e s q u e m a , a d i v i s ã o
da história h u m a n a , de A b r a ã o a Jesus, em 3 x 14 gerações q u e r i a só nome.
dizer q u e a sexta das sete s e m a n a s c ó s m i c a s da história israelita ter- 138. V e r infra, p . 3 9 4 .
139. A . S c h l a t t e r , Das Evangelium des Lukas, S t u t t g a r t , 1 9 3 1 , 2 1 8 .
m i n a com Jesus; a s e m a n a cósmica messiânica segue-a c o m o s é t i m a e
ú l t i m a s e m a n a . Billerbeck, J., 44s., e c o m m a i o r s e g u r a n ç a , K. Born- 140. Cf. G . K u h n , Die Geschiechtsregisler Jesu bei Lukas und
h ã u s e r , Die Geburts- und Kindheitsgeschichie Jesu, G ü t e r s l o h , 1930, Matthäus nach ihrer Herkunft untersucht, em ZNW 22 ( 1 9 2 3 ) , 217,
16ss, c o n s e r v a m essa p o s s i b i l i d a d e . Concede-se a p o s s i b i l i d a d e d e u m a n. 2.
a l u s ã o a este e s q u e m a , m a s e n t ã o nos p e r g u n t a m o s p o r q u e M t 1,17
n ã o e x p r i m e , mais c l a r a m e n t e , essa a l u s ã o . 141. C i t a d o p o r E u s é b i o , Hist. eccl. 1 7, 5 .
142. Já q u e c o n t a s o m e n t e 72 n o m e s .
135. Baruc síriaco LIII-LXXH, t r a d u ç ã o latina e á r a b e de 4 E s d .
143. A. S c h l a t e r , D o s Evangelium des Lukas, Stuttgart, 1931, 218.
X I V 11; cf. Apocalipse de Abraão X X I X ; Billerbeck, I V , 986s.
136. K. B o r n h ã u s e r , o.c, 22; C h . K a p l a n , " S o m e N e w T e s t a m e n t 144. Cf. E. K l o s t e r m a n n , Das Matthäusevangelium, 2* ed., T ü b i n -
Problems in t h e Light of t h e R a b b i n i c s a n d t h e P s e u d e p i g r a p h a " , e m gen, 1927, 2; A . Schlatter, Der Evangelist Matthäus, S t u t t g a r t , 1929,
Bibíiotheca sacra, D a l l a s , 87 ( 1 9 3 0 ) , 465-471; K. H . Rengstorf, o.c. 6 1 . 2s. — O p i n i ã o diferente e m G . Kittel, a r t . Thamar ktl e m Theo!.
Wörterbuch zum N. T. I I I ( 1 9 3 8 ) , l s .
145. V e r supra, n . 4 8 .
cas n ã o reconhece ainda os livros das C r ô n i c a s como 146

Escritura sagrada '. Representa, p o r t a n t o , u m a forma mais


147
m a , no n . 1), cita 18 n o m e s , o que dá, p a r a cada geração,
antiga da t r a d i ç ã o . o n ú m e r o , d i g n o d e fé, d e 3 3 a n o s . 1S1

4 . U m tríplice erro se insinuou em Mt ou e m sua 6. Mt, finalmente, — e essa o b s e r v a ç ã o é especial-


fonte, a) Na lista dos reis depois de Davi, em 1,8-9, Mt mente i m p o r t a n t e — r e m o n t a a genealogia de Jesus a
omite três n o m e s . Conforme demonstra a c o m p a r a ç ã o se- D a v i pelo r a m o reinante dos d a v í d i d a s (Salomão). L c , d e
guinte, é certamente em conseqüência de u m e r r o . M t 1, seu lado, por u m r a m o n ã o reinante ( N a t ã ) .
8-9: loram — Ozias — loaiham. l C r 3,11-12: Joram —
Ozias (A V ; Ozeia B; Ochozia[s] plurimi) — loas — T o d a s essas observações levam a u m a m e s m a con-
Amazias — Ozias (recensão de Luciano; Azarias A; Aza- clusão: em relação a Mt, Lc apresenta uma tradição mais
ria B) — loatham . b) Por causa da semelhança dos no-
14S segura . É pouco provável que a lista de Mt t e n h a sido
m

mes J o a q u i m e Joakim, o primeiro desses dois reis foi p u r a e simplesmente i n v e n t a d a ; n a falta de elementos exa-
omitido m
em Mt 1,11. c) C o n t r a r i a m e n t e ao que Mt 1,17 tos, o p r i m e i r o evangelho serviu-se de dados de o u t r a lista
afirma, o terceiro grupo de nomes (Mt 1,12-16) c o n t é m 13 davídica.
e não 14; Joakim é m e n c i o n a d o duas vezes, a p r i m e i r a , T a i s comentários n ã o resolvem a i n d a a questão do
a c e r t a d a m e n t e , como último m e m b r o do segundo g r u p o , e valor absoluto da lista genealógica de Lc. C o n t a m o s , a q u i ,
a outra, e r r o n e a m e n t e , como último m e m b r o do terceiro com dois pontos de apoio p a r a a crítica: p r i m e i r a m e n t e ,
g r u p o . M t , ou sua fonte, não elaborou com precisão ou a diferença entre Lc e l C r ; depois, u m a pesquisa sobre
então deixou-se influenciar p o r dados inexatos sugeridos os nomes da lista l u c a n a .
pelo esquema baseado no n ú m e r o 14. A diferença entre te e lCr é tríplice: 1- segundo Lc,
Z o r o b a b e l era filho de Salatiel (Lc 3,27), segundo o texto
5 . Mt cita 12 nomes p a r a o período q u e vai de Zo- h e b r e u de l C r , filho de Fadaías ( l C r 3,19); 2° segundo
robabel (incluído) a Jesus (incluído). É u m a cifra m u i t o Lc, Z o r o b a b e l descendia de D a v i p o r N a t ã (Lc 3,27-31),
fraca p a r a 6 0 0 anos, em n ú m e r o s redondos ( Z o r o b a b e l segundo l C r por Salomão ( l C r 3,10-19); 3" Lc indica,
nasceu p o r volta de 570 a . C . ) d a n d o a m é d i a d e 50
150
1 como filho de Z o r o b a b e l u m Ressa (Lc 3,27) q u e , em
anos por geração. A lista n ã o terá sido a b r e v i a d a pelo pra- l C r 3,19-20 falta entre os filhos d e Z o r o b a b e l . Se Lc di-
zer do princípio do n ú m e r o 1 4 ? — A b r a n g e n d o o m e s m o fere de l C r . não q u e r dizer que tenha rejeitado — talvez
p e r í o d o , Lc, segundo o texto original (ver u m p o u c o aci- por possuir elementos melhores — os dados d e l C r ; é
antes p o r q u e o autor da genealogia d e Lc (diversamente
146. A c a n o n i z a ç ã o dos livros das C r ô n i c a s deu-se n a P a l e s t i n a
e n t r e 20 a.C. (terminus post quem) e 60 d.C. (terminas ante quem), cf. 151. C o m p a r e m o s essa i n d i c a ç ã o c o m os n ú m e r o s e n c o n t r a d o s supra,
Schlattcr, Theologie 131, n. 2. p . 263s, a r e s p e i t o dos s u m o s s a c e r d o t e s : s e g u n d o os cálculos d e To-
147. V e r infra, p . 395 e a d i v e r g ê n c i a total, e s t u d a d a n a q u e l e sefo, t e m o s , p a r a c a d a g e r a ç ã o u m a d u r a ç ã o média de 26 anos n o
lugar, das genealogias de Lc 3 e l C r 3 . p e r í o d o do p r i m e i r o T e m p l o , de 27 anos e 6 meses no do s e g u n d o
148. O e r r o p o d e r i a r e m o n t a r à forma semítica p r i m i t i v a ( q u e se T e m p l o a t é 168 a . C .
deve s u p o r , v e r n. seguinte) d a genealogia: n o texto h e b r a i c o de
152. I s t o h o j e é a m p l a m e n t e r e c o n h e c i d o . K. B o r n h a u s e r Die
2Cr 22,6 ( c o m o n a genealogia d e M t ) , ' A h a z y a h ü e ' A z a r y a h ü são
Geburts- und Kindheitsgeschichte ]esu, G ü t e r s l o h , 1930, 28 ( e n q u a n t o
i g u a l m e n t e c o n f u n d i d o s {Ch. C. T o r r e y , The Four Gospels, Londres,
a genealogia d e M t é d e t e r m i n a d a p e l o p o n t o de vista da sucessão n a
1933, 2 8 9 ) . É mais p r o v á v e l , p o r é m , q u e a a d m i s s ã o dos três n o m e s
família r e a l a genealogia d e L c r e p o u s a " n o p a r e n t e s c o e o n s a g ü í n e o
tenha-se d a d o n a h o r a d a t r a d u ç ã o d a genealogia p a r a o grego.
dc seus m e m b r o s ) ; A. Schlatter, Das Evangeiium des Lukas, de Mt
149. E r r o q u e r e m o n t a ao original semítico. p o r ser " m a i s c o m p r o v a d a " ; C h . C. T o r r e y , The Four Gospels, Lon-
150. E. Sellin, Geschichie des israelilisch-füdischen Volkes II, d r e s , 1933, 305 (Lc inseriu u m a genealogia " q u e ele c o n s i d e r a v a au-
Leipzig, 1392, 89. têntica, c o n t r a r i a m e n t e ao c a r á t e r m u i t o artificial d a de M t ) ; K. H .
Rengstorf, Das Evangeiium nach Lukas (N. T . Deutsch 3 ) , GõtLingen,
1965, 62 (segue B o r n h a u s e r ) .
de " Z o r o b a b e l , o p r í n c i p e " = H a n a n i a s , filho de Z o r o -
de Mt q u e conhecia com certeza l C r ) não conheceu os
1 5 3

babel, l C r 3,19. Somente a partir d a q u i é que Lc e l C r


livros das Crônicas q u e , m e s m o na Palestina, só foram
154

divergem: Ioda (Lc 3,26) não figura entre os filhos de


aceitos, como canónicos, no correr do século I d e nossa
H a n a n i a s ( l C r 3,21),
era .155

Em c o m p e n s a ç ã o , uma pesquisa sobre os nomes leva


Q u e dizer dessas diferenças? 1" P o d e m o s verificar a
a julgar muito desfavoravelmente a p a r t e pré-exílica. R.
p r i m e i r a . Graças ao t e s t e m u n h o concorde de Ag 1,1.12.14;
Fruin lül
mostrou q u e o costume de empregar os nomes
2 , 2 . 2 3 ; Esd 3,2.8;5,2; N m 1 2 , 1 , ao q u a l se p r e n d e tam-
dos pais das doze tribos c o m o nomes de pessoas só se
b é m a L X X A* B l C r 3,19; Josefo, Ani. X I 3,10, § 7 3 ;
introduziu depois do exílio. C o m efeito, q u a n t o ao n o m e
Mt 1,12 é a b s o l u t a m e n t e certo q u e Lc está c o m a razão,
de José, as primeiras provas encontram-se em Esd 10,42;
opondo-se a l C r : Z o r o b a b e l era filho de Salatiel , N ã o l56

N m 12,14; l C r 2 5 , 2 . 9 ; q u a n t o ao n o m e de Judas, em Esd


p r o v a , p o r é m , que a genealogia de Lc seja a u t ê n t i c a ; ele
3,9; 1 0 , 2 3 ; N m 11,9 e passim; q u a n t o ao de Simão, em
se contenta em seguir o t e s t e m u n h o dos livros q u e co-
Esd 1 0 , 3 1 . O n o m e de Levi, c o m o n o m e p r ó p r i o , só se
nhece. 2" Q u a n t o à segunda diferença entre Lc e l C r u m
encontra n a época m a c a b a i c a e neotestamentária .
162 m

fato fala a favor de Lc: l C r descende Z o r o b a b e l d o r a m o


Q u a n t o ao período real antigo, Lc cita, u m após o u t r o ,
davídico reinante , ao passo que Lc o faz descender de
157

os nomes de José, Judas, Simão, Levi, que teriam sido atri-


u m r a m o não r e i n a n t e . O r a , em p a r t e alguma do Antigo
buídos aos descendentes de D a v i , do sexto ao n o n o ; 364

T e s t a m e n t o é dito que Z o r o b a b e l era, conforme afirma


constatamos u m anacronismo revelador de que a parte pré-
l C r 3,17-19, neto do rei Joakim levado e m exílio. Teria
-exílica da genealogia de Lc não possui valor histórico.
l C r , e r r o n e a m e n t e , considerado como neto do último rei,
o r e s t a u r a d o r d o T e m p l o sobre q u e m se c o n c e n t r o u du- É pouco provável dever-se estender esse juízo a t o d a
r a n t e algum t e m p o a esperança política, e à descendência a p a r t e pós-exílica da genealogia d e Lucas. Se p e n s a r m o s
do q u a l se p r e n d e u ainda n u m a época tardia, a esperança que essa genealogia lucana foi tida como superior à de
m e s s i â n i c a ? 3" A terceira diferença é apenas a p a r e n t e .
158
Ml; se considerarmos depois o q u e constataremos mais
Lc cita Resá c o m o filho d e Z o r o b a b e l , e loanám c o m o fi- adiante, q u a n t o ao valor, no domínio civil e religioso da
lho de Resá (3,27). Assim, como já o constatara A . Her- fidelidade à tradição a respeito da legitimidade de origem;
vey , Ressa n a d a mais é do q u e o aramaico resa ~ che-
159
se considerarmos que o carpinteiro José pertencia não so-
fe, príncipe; p r i m i t i v a m e n t e , essa palavra era a t r i b u t o de mente a uma das famílias que t i n h a o privilégio de tra-
Z o r o b a b e l ° ; assim sendo, loanám era citado c o m o Filho
I6
zer a lenha p a r a o altar (supra, p . 3 9 6 ) , mas ainda a uma
família real cuja tradição era c u i d a d o s a m e n t e conservada,
153. V e r supra, n. 4 8 .
154. T h . Z a b n , Das Evangelium des Lukas 3-4, Leipzig, 1920. 218. 161. " O u d c h r i s t e l i j k e S t u d i e n " , e m Nieuw Theologisch Tijdschrift
155. S c h l a t t e r , Theologie, 131, n . 2 : e n t r e 2 0 a.C. e 6 0 d . C . 20 ( 1 9 3 1 ) , 222. Cf. a o b s e r v a ç ã o de F . D e l i t z c h , em R i c h m , Hand-
156. A p ó s o u t r o s , E. Sellin, Geschichte des israelilisch-jüdischen wörterbuch des biblischen Altertums, 2" ed., I, Bielefeld-Leipzig, 1893,
Volkes I I , Leipzig, 1932, 83s, m o s t r o u a i n e x a t i d ã o d a i n d i c a ç ã o de 919 b; R. d e V a u x , Binjamim-Minjamin, e m R B 45 ( 1 9 3 6 ) , 402.
l C r 3,19 s e g u n d o a q u a l Z o r o b a b e l é filho de P e d a y a , 162. P s e u d o - A r i s t e u ( r e d i g i d o e n t r e 1945 e 100 a . C , v e r supra,
157. T a m b é m Mt 1,1-17 q u e segue o C r o n i s t a . 274, n. 349, § 4 8 : Levis. M e s m a f o r m a d o n o m e e m 3 Esd. I X 14.
158. V e r Tanhuma, tôledòt, § 14, 4 8 9 s : " E d e q u e m [ d e q u a l
b 163. M c 2,14 (par. Lc 5,27-29). Levi é a i n d a o n o m e d o pai d e
d e s c e n d ê n c i a ] n a s c e r á [o M e s s i a s ] ? D e Z o r o b a b e l " . dois c o n t e m p o r â n e o s de Josefo: o pai de João de Giscala (B. j . I I 20,
159. The Geneaiogies of Christ, C a m b r i d g e , 1853. 6, § 575 e passim) c o pui d e João de T i b e r í a d e s (Vita 2 6 , § 131). N o
160. E n t r e os q u e s e g u i r a m H e r v e y , p o d e m o s c i t a r e n t r e o u t r o s século I d e nossa era, i g u a l m e n t e , o n o m e se e n c o n t r a s o b r e u m os-
A. P l u m m e r , The Gospel according to S. Luke, 5? ed., E d i m b u r g o , s u á r i o de J e r u s a l é m (Clj I I , n . 1340).
1922, in loco; C h . C. T o r r e y , The Four Cospels, Londres, 1953, 306; 164. Toü Meleà toü Menná (Lc 3,31} é, e v i d e n t e m e n t e , u m a di-
F. H a u c k , Das Evangelium des Lukas, Leipzig, 1934, 57. tografia, e c o n t a , pois, c o m o u m n o m e só.
como o d e m o n s t r a m provas garantidas; se, enfim, valori-
todas as dignidades, todos os postos d e confiança e todos
zarmos a conclusão obtida na p . 4 0 0 a respeito do valor
os postos públicos i m p o r t a n t e s e r a m reservados aos cida-
das genealogias leigas c o n t e m p o r â n e a s , não hesitaremos em
dãos i s r a e l i t a s . A p r o v a da p u r e z a de sua origem era
168

considerar possível que Lc, ou sua fonte, t e n h a conser-


exigida p a r a se t o r n a r e m m e m b r o s dos tribunais supre-
v a d o — pelo menos p a r a as últimas gerações antes de
m o s , c o m o o Sinédrio
169
ou u m d o s t r i b u n a i s criminais
170

José — elementos a u t ê n t i c o s . 165

de 2 3 m e m b r o s q u e , segundo a M i s l m a , t i n h a m o
1 7 1 m

direito de aplicar sentenças capitais. U m a fonte mais tar-


dia afirma q u e essa regra estendeu-se aos escrivães de
17í

justiça e aos introdutores dos t r i b u n a i s . A p r o v a de u m a


C. DIREITOS CÍVICOS DO CIDADÃO ISRAELITA origem sem deslize era a i n d a exigida dos funcionários da
comunidade m
— c o n v é m lembrar, antes de t u d o , do con-

A c o m p r o v a ç ã o da pureza de origem de u m a famí-


lia graças a tradições e notas genealógicas n ã o t i n h a so- 168. A p a s s a g e m mais i m p o r t a n t e , Qid. I V 5, assim se e x p r i m e :
m e n t e valor teórico; ela garantia à família em questão os " N ã o se b u s c a m [os ancestrais d a esposa d e u m s a c e r d o t e ou d e u m
levita m ú s i c o ] , p a r t i n d o do a l t a r [se o pai d a esposa é s a c e r d o t e em
direitos cívicos q u e os cidadãos israelitas possuíam. O pri- exercício, a l e g i t i m i d a d e d e sua o r i g e m está g a r a n t i d a ] , n e m do e s t r a d o
vilégio mais i m p o r t a n t e exprimia-se na designação dos is- [dos levitas c a n t o r e s ] , n e m d o S i n é d r i o . E t o d o s a q u e l e s cujos pais
são c o n h e c i d o s c o m o s e r v i d o r e s p ú b l i c o s e c o l e t o r e s de e s m o l a s t ê m
raelitas legítimos como aqueles "que [ p o d e m ] casar [suas o direito de casar [suas filhas] c o m s a c e r d o t e s , sem q u e u m e x a m e
filhas] com sacerdotes" . Somente mães israelitas de ori-
m
de sua o r i g e m seja n e c e s s á r i o " .
gem p u r a p o d i a m dar à luz filhos dignos de exercerem o 169. A s s i m se explica t a m b é m q u e b. Skab. 139 possa falar de
a

"famílias de j u í z e s " .
serviço do altar em Jerusalém . V e m o s , de novo o elo
167

170. Qid. I V 5; b . Qid. 7 6 . M e s m a coisa e m Hor. I 4: prosé-


b

íntimo entre a estratificação social e a religião. Só faziam lito, b a s t a r d o e e s c r a v o d o T e m p l o n ã o p o d e m fazer p a r t e d o t r i b u -


parte do Israel verdadeiro as famílias que conservassem nal (trata-se d o S i n é d r i o [Hor. 1 5 ] ) . — T o s . Sanh. I V 7 ( 4 2 1 , 19s)
constitui o u t r a p r o v a ; eis o q u e se c o n t a : o e x e m p l a r p r i v a d o d a
a pureza de origem do p o v o , q u e r i d a por D e u s , tal qual T o r á q u e o rei d e v e p o s s u i r , s e g u n d o D t 17,18-19, e n o q u a l ele deve
Esdras a restabelecera pela sua reforma. fazer a l e i t u r a n o T e m p l o p o r o c a s i ã o d e u m a festa d a s T e n d a s q u e
segue u m a n o s a b á t i c o , foi c o r r i g i d o p e l o " t r i b u n a l dos s a c e r d o t e s , dos
T o d a v i a , o direito de contrair m a t r i m ô n i o com sacer- levitas e dos israelitas q u e p o d e m c a s a r [suas filhas] c o m s a c e r d o t e s " .
dotes não era o privilégio único das famílias legítimas: E m j . Sanh. II 7, 2 0 48 ( V I / 1 , 252) substitui-se p o r : " o t r i b u n a l dos
c

d o s 7 1 " . S o m e n t e o s israelitas d e o r i g e m p u r a p o d i a m , pois, ser m e m -


bros d o S i n é d r i o .
165. Ê a u m r e s u l t a d o s e m e l h a n t e , e m b o r a p o r c a m i n h o total-
171. Sanh. I V 2, cf. b . Sanh. 3 6 ; b . Qid. 7 6 .
b b

m e n t e diferente q u e c h e g a G . K u h n Die Geschlechtsregister Jesu, e m


ZNW 22 ( 1 9 2 3 ) , 206-228, e s p e c i a l m e n t e 209 e 222. — K u h n r e m o n t a 172. G . A l l o n , Zur Erforschung der Halacha ei Philon, em Tarbis
a antigos d o c u m e n t o s " q u e p a s s a v a m de u m a g e r a ç ã o a o u t r a n a fa- 5 (5694 = 1933-1934), 28-36 e 241-246 d e f e n d e o p o n t o d e vista se-
mília d c J e s u s " (p. 222) a lista de Lc 3,23-26 (de Jesus a M a t a t i a s ) g u n d o o q u a l , c o n f o r m e p e n s a Fílon, s o m e n t e o G r a n d e S i n é d r i o de
com a q u a l , a seu ver, c o n c o r d a v a p r i m i t i v a m e n t e a lista de Lc 3,29-31 Jerusalém p o d i a p r o n u n c i a r s e n t e n ç a s capitais.
(de Jesus a M a t a t i a s ) . N ã o posso aceitar a análise de K u h n e as suas 173. j . Qid. I V 5, 6 5 " 49 ( V / 2 , 2 8 3 ) .
d e d u ç õ e s p o r vezes o u s a d a s (há e n t r e o u t r a s dificuldades o f a l o de 174. Qid. I V 5; j . Qid. I V 5, 6 5 4 8 ( V / 2 , 2 8 3 ) . É v e r d a d e q u e ,
d

q u e Júlio, o A f r i c a n o , s e g u n d o E u s é b i o Hist. eccl. I 7, 9-10.16, n ã o s e g u n d o b . Qid. 7 6 , isso valia e x c l u s i v a m e n t e p a r a J e r u s a l é m . —


b

i n t e r p r e t o u os n o m e s de M a t a t e d e Levi e m Lc 3,24; seus p r i n c i p a i s Q u a n d o R. S h i m e o n b e n Y o s a d a q (cerca de 225 d.C.) r e c o m e n d a , b .


p o n t o s de apoio p a r a a r e c o n s t r u ç ã o d a d u p l a lista c o n j e c t u r a d a p o r Yoma 2 2 , n ã o estabelecer c o m o chefe d a c o m u n i d a d e a não ser u m
b

K u h n ) . M a s estou p e r f e i t a m e n t e d e a c o r d o c o m ele q u a n t o a a p r e c i a - h o m e m q u e t e m p r e s a a si " u m a cesta de r é p t e i s " ( q u e r dizer, q u e


ção positiva d o início d a genealogia de L c . tem m á c u l a s n a série de seus a n t e p a s s a d o s ) , trata-se aí de u m remé-
dio r a d i c a l c o n t r a a p r e s u n ç ã o ; a o m e s m o t e m p o , deve-se d a r à co-
166. Qid. I V 5; Sanh. I V 2; 'Ar. II 4 e passim. m u n i d a d e , a o p o r t u n i d a d e de se d e s e m b a r a ç a r d e seus chefes desa-
167. V e r supra, p p . 291 e 299, S o b r e o e x a m e das genealogias das gradáveis — o q u e significa q u e n o r m a l m e n t e u m p u r e z a r e g u l a m e n t a r
noivas dos s a c e r d o t e s , supra, p p . 295-302. d a origem é a c o n d i ç ã o p a r a ser c h a m a d o a essa f u n ç ã o .
selho diretor local de sete m e m b r o s das c o m u n i d a d e s ju- m e m b r o ] n o antigo governo de Séforis [passa, sem o u t r a
daicas 175
— e dos h o m e n s de confiança, encarregados pela exigência, por israelita de origem p u r a ] ' . R. H a n a n i a 1 S 7

c o m u n i d a d e do c u i d a d o das esmolas . E m todos essesm


b e n A n t í g o n a sentenciou: ' M e s m o aquele que foi recru-
casos examinavam-se as genealogias antes de conferir u m tado p a r a o c a m p o do r e i " . Esse " c a m p o do r e i " é, sem
cargo. Chegou até nós u m a única exceção e assim mes- d ú v i d a , o m e s m o que o " v e l h o castelo de Séforis" men-
m o , duvidosa: os dois escribas célebres Shemaya e Abta- cionado n o u t r a passagem ; temos, p o r t a n t o , que p r o c u r a -
m

lion (cerca de 50 a . C ) , visto que o p r i m e i r o , certamen- d o t a m b é m em Séforis . Assim s e n d o , a informação de


189

te 177
m e m b r o do Sinédrio, descendia, assim dizem, d e pro- R. H a n a n i a prende-se a u m t e m p o em que h a v i a n a q u e l e
sélitos ™. castelo u m a tropa judaica a serviço de u m dos prínci-
190

A l é m do mais, R a b b a n Shimeon b e n Gamaliel II (por pes h e r o d i a n o s .


volta de 140 d.C.) afirma q u e , em época anterior, os con-
Infelizmente, estamos m u i t o p o u c o informados p a r a
tratos de casamento das mulheres (de origem p u r a ) , m

dizer até q u e p o n t o , sob os p r í n c i p e s h e r o d i a n o s , os ju-


e r a m assinados u n i c a m e n t e por sacerdotes, levitas ou is-
deus p r e s t a v a m seu serviço a o exército. Sabemos q u e a
raelitas de origem p u r a °. C o n t r a r i a m e n t e aos hilelitas, os
18

lei do s á b a d o , p r o i b i n d o q u a l q u e r a t a q u e neste dia, limi-


shamaítas só a d m i t i a m , dizem, em seus estabelecimentos
tava e n o r m e m e n t e a utilização dos j u d e u s no exército. En-
de ensino, filhos de boas f a m í l i a s . Enfim, c o n v é m men-
181

tretanto, sabemos t a m b é m q u e H e r o d e s , o G r a n d e , insta-


cionar que os essênios inscreviam, de a c o r d o com sua ori-
lou colonos militares judeus n a Batanéia . Por outro l a d o , 191

gem , os m e m b r o s recém-chegados e a t r i b u í a m t o d a im-


m

o c o m a n d a n t e do exército de Agripa I, cujo domínio com-


p o r t â n c i a à o r d e m fixada segundo a origem . 183

p r e e n d i a Séforis, chamava-se Silas = Sh°'íla ; esse n o m e m

H a v i a lugares da Palestina o n d e se desfrutava de de- leva a p e n s a r que o c o m a n d a n t e p o d i a perfeitamente ser


t e r m i n a d a exclusividade e o n d e os privilégios dos israeli- u m j u d e u . N ã o é, pois, impossível q u e , em d a d o m o m e n t o ,
tas legítimos e r a m a i n d a mais consideráveis do q u e os sob H e r o d e s , o G r a n d e , H e r o d e s A n t i p a s ou H e r o d e s
1 9 3

que constatamos até aqui. Eis o q u e se conta d e Séfo- 184

Agripa I, u m a tropa judaica tenha sido a q u a r t e l a d a em Sé-


ris que foi, sem dúvida, a capital da Galileia no início 185

foris, t r o p a em q u e os oficiais ou os g r a d u a d o s — é a
do reino de H e r o d e s A n t i p a s : " R . Yose [por volta d e 150 esses q u e a indicação de R. H a n a n i a p o d e r á limitar-se —
d . C ] disse: ' M e s m o aquele que foi reconhecido [como 186

deviam d a r p r o v a d e u m a origem legítima. E m Séforis, a


prova de u m a descendência p u r a m e n t e israelita teria, pois,
175. S o b r e esse c o n s e l h o , cf. S c h ü r e r , I I , 224-226; Billerbeck, I I , sido exigida não somente p a r a se t o r n a r magistrado, como
641s e I V , 145. — Sifre D t 17,15, § 157 ( 4 5 17S, 4 6 ) : " N ã o se es-
a

tabelece c o m o chefe da c o m u n i d a d e a l g u é m ' q u e n ã o seja teu i r m ã o ' era a regra n u m a cidade judaica, mas a i n d a p a r a obter
[ D t 1 7 , 1 5 ] " . S e g u n d o b . B. B. 3 , esta e x p r e s s ã o exclui o p r o s é l i t o . u m p o s t o n a guarnição do lugar.
b

176. Qid. I V 5; j . Qid. I V 5, 6 5 48 ( V / 2 , 2 8 3 ) ; b . Pes. 4 9 b a r .


d b

177. Ant. X V I 9, 4, § 172-176; X V 1, 1, § 4 . Samaías c i t a d o e m


Ani. X V 1, 1, § 4 é s e g u r a m e n t e S h e m a y a e n ã o S h a m m a i ( S c h ü r e r ,
I I , 422-424; S c h l a t t e r , Theologie, 199, n . 1. 187. S c h ü r e r , I I , 2 1 1 , n . 495 d e u a e x p l i c a ç ã o e x a t a d a p a s s a g e m .
178. Ver s u p r a , 319. 188. 'Ar. I X 6; T o s . Shab. X I I I 9 (129, 2 7 ) .
189. B ü c h l e r , Priester, 198, n. 2,
179. Este a d e n d o enconíra-se e m j . Sank. I 2, 19= 9 ( V I / 1 , 240) b a r .
190. G u a r n i ç ã o p a g ã n o castelo de Séforis: T o s . Shab. XIII 9
180. T o s . Sank. V I I 1 (425, 1-2).
(129, 2 7 ) .
181. ARN r e c . B. c a p . 4, Í 4 2 5 .
b

182. Doc. Dam. X I V 3ss. 191. Ant. X V I I 1, 1-2, § 23-28.


183. Ibid. X I V 6. 192. Ani. X I X 6, 3 , § 299; 7, 1, § 317ss. Josefo m e n c i o n a q u a t r o
pessoas c o m este m e s m o n o m e ; todos são j u d e u s .
184. Qid. I V 5.
185. S c h ü r e r , I I , 211 e n. 4 9 6 . 193. J. W e l l h a u s e n , Das Evangelium Matthaei, Berlim, 1904, 3 5 .
" É possível q u e os s o l d a d o s d e A n t i p a s sejam i g u a l m e n t e j u d e u s " .
186. C o m os m e l h o r e s m s s . c o n v é m s u p r i m i r a p a l a v r a 'ed.
C o m Séforis na Galileia e E m a ú s - N i c ó p o l i s , é so-
194 ;9S
que faltam em cada pessoa, expiar as c u l p a s , aplacar a
b r e t u d o Jerusalém a elogiada pelo zelo com que protegia cólera de D e u s e s u s p e n d e r seus castigos, salvar d o gêhin-
os direitos dos israelitas de origem p u r a ; e c o m justa ra- nôm e conceder a participação no reino eterno de Deus . 2ül

zão . Conta-se que na C i d a d e santa, todos os funcioná-


m
b) A l é m do m a i s , c a d a israelita p a r t i c i p a v a dos méritos
rios públicos gozavam dessa q u a l i d a d e . Segundo o u t r a 197
de seus próprios antepassados, se houvesse justos entre
informação, as "pessoas de coração n o b r e em J e r u s a l é m " eles ; i n v e r s a m e n t e , a escolha d e u m a m u l h e r sem a
202

n ã o assinavam n e n h u m d o c u m e n t o , não exerciam nenhu- mesma condição d e p u r e z a , seria v i n g a d a nos f i l h o s . m

m a função d e juiz no tribunal e não aceitavam convite " O p a i merece p a r a seu filho beleza, força, riqueza, sa-
algum sem se garantirem da q u a l i d a d e dos consignatários, bedoria, longos anos de v i d a " . "A oração de u m justo, 2 0 4

dos colegas do tribunal ou dos comensais; sem d ú v i d a pro- filho d e u m justo, n ã o é igual à o r a ç ã o d e u m j u s t o , filho
c u r a v a m saber assim, entre outras coisas, se esses israeli- de u m m a l v a d o " . 205

tas e r a m de origem i r r e p r e n s í v e l . Podemos perceber


m
C o m t u d o isso, p o r é m , a ú l t i m a p a l a v r a a i n d a n ã o
com que exclusivismo as famílias hierosolimitanas legíti- foi dita. O profeta Elias devia p r e c e d e r ao Messias p a r a
mas se isolavam, até mesmo p o r causa de insignificâncias p ô r em o r d e m a c o m u n i d a d e , p a r a r e s t a u r a r Israel em sua
da vida cotidiana . 199
pureza primitiva, a fim de que o povo estivesse interior
Alguns privilégios cívicos muito importantes e r a m , e e x t e r i o r m e n t e , p r e p a r a d o p a r a receber a salvação . 206

pois, reservados aos cidadãos israelitas °; e n t r e t a n t o , não 20


O principal dever desse restabelecimento de Israel con-
mostramos a i n d a a principal v a n t a g e m dessas famílias de sistia e m "restabelecer as tribos d e J a c ó " (Eclo 4 8 , 1 0 ) ,
origem impoluta. Situava-se n o domínio religioso. G r a ç a s q u e r dizer, segundo a exegese rabínica: " d e c l a r a r i m p u r o "
a essa origem sem jaça, p o d i a m participar dos méritos dos e " d e c l a r a r p u r o " , " a f a s t a r " e " a p r o x i m a r " as famílias
ancestrais que se transmitiam aos filhos e t i n h a m u m a fun- q u e , e r r o n e a m e n t e foram d e c l a r a d a s legítimas ou ilegíti-
ção substitutiva. Essa participação se realizava de d u p l a mas . Somente as famílias israelitas impolutas p o d i a m
201

forma, a) segundo o e n s i n a m e n t o geral, todo Israel parti-


cipava dos méritos dos patriarcas, de A b r a ã o e m parti- 2 0 1 . D o c u m e n t a ç ã o em Billerbeck. I, 116-120; F. W e b e r , Jüdische
Theologie auf Grund des Talmud, a
I - ed., L e i p z i g , 1897, 292-294 e 296s.
cular. Esses méritos deviam atender às suas preces, pro- 202. F . W e b e r , o.e. 294-297. C i t e m o s dois e x e m p l o s . R- E l e a z a r
teger no perigo, assistir na guerra, substituir os méritos b e n A z a r y a , d e s c e n d e n t e de E s d r a s em 10" g r a u , foi i n c u m b i d o da di-
r e ç ã o d a Escola de [ á m n i a p o r c a u s a " d o s m é r i t o s d e seus antepassa-
d o s " (b. Ber. 2 7 ) . — R. Y o s h u a , de i n í c i o , afastou R a b b a n G a m a l i e l
b

194. Qid. I V 5, 11 q u e lhe p e d i a p e r d ã o ; m a s q u a n d o esse ú l t i m o lhe r e n o v o u o


195. 'Ar. II 4 (sobre essa p a s s a g e m ver supra, p . 294, n. 4 6 0 ) ; p e d i d o , a c r e s c e n t a n d o : " P r o c e d o assim e m h o n r a de m e u s antepassa-
hoje A m o u a s , ao s u d e s t e d e Lida. d o s " , R. Y o s h u a d e i x o u d e l a d o a sua i n t r a n s i g ê n c i a ( b . Ber. 2 8 ) .a

196. A p a s s a g e m d e Qid. I V 5 a c i m a e s t u d a d o , 397s, c o n c e r n e ,


2 0 3 . b . Qid. 70 .
a

sem d ú v i d a , e m p r i m e i r o lugar, à s i t u a ç ã o de J e r u s a l é m .
197. b . Qid. 7 6 . b
204. j . Qid. I 7, 6 1 a
27s ( V / 2 , 2 3 4 ) ; p a r . 'Ed. II 9.
198. b . Sanh. 2 3 bar. e p a r . Cf. a i n d a Git. I X 8 a p r o p ó s i t o d o
a
205. b . Yeb, 64*. /
c u i d a d o c o m q u e as pessoas d e J e r u s a l é m faziam e a s s i n a v a m os 2 0 6 . Cf. J. J e r e m i a s , a r t . Elias, e m Theol. Wörterbuch zum N.T.
processos de d i v ó r c i o .
II ( 1 9 3 5 ) , 930-943.
199. Cf. a i n d a b . Sanh. 1 9 b a r . : conta-se o c i ú m e existente e n t r e
a

207. Ed. V I I I 7. N e s t e texto, o p a p e l d e Elias limita-se aos casos


duas famílias de Terusalém q u e , e m ocasião de a p r e s e n t a r c o n d o l ê n c i a s ,
em q u e a l g u m a s famílias f o r a m d e c l a r a d a s c o m p u l s o r i a m e n t e legítimas
u m a q u e r i a p a s s a r à frente da o u t r a .
ou ilegítimas; essa l i m i t a ç ã o se a p r e s e n t a c o m o a exegese p o s t e r i o r de
200. Fazia-se e x c e ç ã o p a r a os h o m e n s q u e n ã o t i n h a m filhos. Mes-
u m a antiga t r a d i ç ã o q u e a i n d a n ã o conhecia tal l i m i t a ç ã o . — N o m e i o
m o se fossem de origem p u r a , p r o i b i a m - l h e s serem m e m b r o s d o Si-
n é d r i o (Hor. I 4; b . Sanh. 3 6 bar.; s e g u n d o T o s . Sanh. V I I 5 [426,
b d o século I I , d u a s t e n d ê n c i a s se o p u s e r a m : u m a t e n d ê n c i a mais ri-
7 ] , i n t e r d i ç ã o s e m e l h a n t e p a r a o t r i b u n a ! criminal d e 23 m e m b r o s ) , gorosa s e g u n d o a q u a l Elias só d e v i a afastar as famílias ilegítimas;
p o r q u e o fato de n ã o ter filho p a s s a v a p o r m á c u l a e p u n i ç ã o d i v i n a , u m a t e n d ê n c i a mais c l e m e n t e (e q u e v e n c e u ) s e g u n d o a qual devia
cf. Protoevangelho de Tiago I 2. s o m e n t e a c o l h e r de n o v o as famílias d e c l a r a d a s , e r r o n e a m e n t e , ilegíti-
m a s , Billerueck, I V , 792-794.
ter certeza de participar da salvação messiânica , pois, 208
CAPÍTULO VII
somente a elas o mérito da legitimidade de o r i g e m " aju-
daria . E n c o n t r a m o s assim o sentido mais p r o f u n d o do
m
PROFISSÕES DESPREZÍVEIS.
c o m p o r t a m e n t o das famílias p u r a m e n t e israelitas, sentido -ESCRAVOS" JUDEUS
que as fazia zelar c o m ansiedade pela m a n u t e n ç ã o da pu-
reza do sangue e, antes do casamento dos filhos, exami-
n a r as genealogias de seus futuros genros e n o r a s . Da 2 I 0

pureza de origem dependia não somente a posição social


dos descendentes, mas t a m b é m a certeza e participação A. PROFISSÕES DESPREZÍVEIS
definitivas da salvação por vir de I s r a e l . E n t r e t a n t o , 211

n ã o era assim aos olhos do Batista, que exigia dos filhos


legítimos de A b r a ã o t a m b é m a penitência como condição
indispensável p a r a participar do reino de Deus (Mt 3,9 A p u r e z a d e origem d e t e r m i n o u c e r t a m e n t e , e em lar-
par. Lc 3,8); n e m o era p a r a Jesus, que mostrou a seus ga escala, a posição social d o j u d e u d a época neotestamen-
compatriotas que arrogavam p a r a si a descendência de tária, d e n t r o da c o m u n i d a d e d e seu p o v o . E n t r e t a n t o , com-
A b r a ã o (Jo 8,33.39) que o único caminho p a r a se salva- p r e e n d e r í a m o s i n d e v i d a m e n t e os capítulos V e VI se de-
rem era a libertação através do Filho (Jo 8,36). les concluíssemos q u e a origem era o único fator determi-
n a n t e . Conforme tivemos ocasião d e ver no capítulo I I I ,
u m a origem inferior p e l o sangue o u p e l o nível social n ã o
p r e j u d i c a r a d e m o d o algum a posição social dos escribas.
I n v e r s a m e n t e , c o n v é m m o s t r a r nas páginas seguintes que
havia circunstâncias — igualmente independentes d a ori-
gem deste ou d a q u e l e — que os d e s o n r a v a m aos olhos d a
208. b . Qid. 7 0 : " R . H a m a b . R. H a n í n a (cerca d e 260 d.C.) o p i n i ã o p ú b l i c a . Trata-se a q u i , a n t e s d e t u d o , d o fato de
b

disse: " D e u s n a o fará r e p o u s a r sua S h e k i n a [na é p o c a m e s s i â n i c a ] a


n ã o ser s o b r e as famílias israelitas de d e s c e n d ê n c i a legitima, pois está u m a série de profissões serem tidas como desprezíveis; de
escrito [Tr 3 1 , 1 ] : ' N a q u e l e t e m p o , o r á c u l o de Y a h w e h , c u serei o D e u s m o d o mais ou menos inexorável, r e b a i x a v a m socialmente
de t o d a s as famílias de Israel'. N ã o foi d i t o : de todos os israelitas, aqueles q u e as e x e r c i a m ' . P o r diversas vezes foram redi-
m a s : de t o d a s as famílias". S e g u n d o b . Qid. 7 0 , Elias a n o t a n u m li-
a

v r o , no m o m e n t o d o c a s a m e n t o , a q u e l e s q u e d e s p o s a m u m a m u l h e r gidas listas dessas m e n c i o n a d a s profissões. R e p r o d u z i r e m o s


q u e n ã o lhes é s e m e l h a n t e do p o n t o de vista d a p u r e z a . as q u a t r o principais 1
. b l s

209. Midrash SI 20, § 3, ed. S. Buber, V i l n a , 1891, 1 7 5 4 : " N a - a

q u e l e t e m p o , teu p o v o será salvo [do j u l g a m e n t o d o gêhínnom], isto


é, q u e m q u e r q u e esteja inscrito n o livro [ D n 1 2 , 1 ] . P o r q u a l m é r i t o 1. P a r a o q u e segue, ver m e u artigo Zõllner und Sünder, e m ZNW
[será ele s a l v o ? ] . . . R. S h e m u e l b . N a h m a n [cerca de 260 d . C ] disse: 3 0 ( 1 9 3 1 ) , 293-300.
' P e l o m é r i t o da legitimidade de sua o r i g e m ' . Pois foi d i t o [no v e r s í c u l o 1 . As profissões c o m p r o v a d a s e m J e r u s a l é m são i m p r e s s a s e m
b i s

escriturístico c i t a d o , D n 1 2 , 1 ] : Q u e m q u e r q u e esteja inscrito n o li-


itálico.
vro [ g u a r d a d o p o r Elias s o b r e a l e g i t i m i d a d e dos c a s a m e n t o s ] " . V e r
n. precedente. 2 . T r a n s c r e v o o início d a lisla (1-6) s e g u n d o a m e l h o r t r a d i ç ã o
210. E x e m p l o e m b . Qid. 7 1 . b e n c o n t r a d a e m j . Qid. I V 1, 6 6 25ss ( V / 2 , 289) q u e cita nossa m i s h n a
b

211. N u m a linha diferente, Fílon, e m seu t r a t a d o s o b r e a n o b r e z a como baraíta anônima.


(De nobilitate) ao De viríutibus, § 187-227, d e f e n d e , e n e r g i c a m e n t e , a 3 . O texto d o T a l m u d e p a l e s t i n o p a r a essa p a s s a g e m (ed. prínci-
idéia de q u e a v e r d a d e i r a n o b r e z a n ã o r e p o u s a s o b r e a o r i g e m , m a s p e ) , j . Qid. I V 11, 6 5 4 0 ( V / 2 , 287, t r a d u z s o m e n t e " m a r i n h e i r o " )
a

s o b r e a vida v i r t u o s a ; ele é g u i a d o p o r ideias h e l e n í s t i c a s , em parti- lit: sappar, sappan ( m a r u j o , b a r b e i r o ) ; n a M i s h n a Qid. I V 14, Stettin,
cular p e l o ideal estoico d o s á b i o c o m o ú n i c o n o b r e (cf. L. C o h n , Die 1865, h á , i g u a l m e n t e , i n t e r v e n ç ã o . É , s e m d ú v i d a , u m a ditografia, p o i s ,
Werke Philos von Alexandria in deutscher Uebersetzung I I , Breslau, o b a r b e i r o n a d a tem a v e r c o m os t r a n s p o r t a d o r e s . O b a r b e i r o falta,
1910 (reimpresso e m Berlim, 1962), 367, n . 1. pois, c o m r a z ã o , n o nosso t e x t o (ver a n o t a p r e c e d e n t e ) e n o d a
Mishna d o T a l m u d e babilônio, Leipzig. 1861.
II III IV Se olharmos superficialmente essas q u a t r o listas, tere-
Qid. IV 14 2
Ket. V I I b . Qid. 8 2 b a r " a
b . Sanh. 2 5 is b m o s a impressão de q u e sobra p o u c o lugar p a r a profissões
10 9

dijuias, já q u e e n u m e r a m tantas consideradas suspeitas. Po-


1. T r o p e i r o 1. Coletor de 1. O u r i v e s ( T o s . :
excremen- fabricante de
1- J o g a d o r d e da- de-nos parecer que cada lista é o r g a n i z a d a de m o d o fanta-
dos
to de cães crivos) sista, de u m p o n t o de vista i n t e i r a m e n t e subjetivo. Dá-se o
2. C a m e l e i r o 2. F u n d i d o r 2. Assedador de 2. A g i o t a contrário, e n t r e t a n t o .
de c o b r e linho 12

N a lista I, nn. 1-6, A b b a Shaul (cerca de 150 d . C ) 2 3

3. Curtidor 3. C o r t a d o r de pe- 3. O r g a n i z a d o r de
3. M a r u j o cila as profissões a q u e u m pai não deve incentivar n u m
3

d e peles 1 0
d r a s p a r a moi- concursos de
nhos pombos 1 9 filho, pois são "profissões de l a d r õ e s " , isto é, profissões 2 4

4. Carreteiro 4 4. Mascate 4. M e r c a d o r que, de m o d o ingente levam à desonestidade e é evidente


de p r o d u t o s do nas profissões 1-4 que concernem aos transportes e carre-
ano de pousio tos. É g r a n d e a tentação de subtrair algo das mercadorias
5. Pastor 5 5. Tecelão 15

5. Pastor 20

( + T o s . : Í/Í- confiadas. A lista cita, com efeito, todas as formas de


/aw/e) » transporte existentes n a época, com exceção da profissão
6. Lojista 6 6. Barbeiro 1 5

6. Coletor de im-
postos 2 i

10. E m J e r s u a l é m , v e r supra, p . 14.


7. Médico 7

7. Lavandeiro 16

7. Publicano 22
11. As profissões 1-7 e n c o n t r a m - s e t a m b é m e m T o s . Qid. V 14
8. Açougueiro s

8. Sangrador (343,8) c o m as seguintes d i f e r e n ç a s : o f a b r i c a n t e de crivos a p a r e c e e m


9. E n c a r r e g a d o p r i m e i r o l u g a r , e o alfaiate é c o l o c a d o n o s e x t o lugar; a o r d e m é di-
dos banhos ferente:
1. F a b r i c a n t e d e crivos;
10. Curtidor 17

2. A s s e d a d o r d e l i n h o ( i n t e r p r e t a r c o m b . Qid. 8 2 b a r . : ha-
a

e
-s riq'un);
4. O texto da M í s h n a d o T a l m u d e p a l e s t i n e n s e q u a n t o à nossa 3. T e c e l ã o ;
p a s s a g e m (j. Qid. I V 11, 6 5 40 [ V / 2 , 287] e o d a M i s h n a d o T a l -
a

4. M a s c a t e ;
m u d e b a b i l ô n i o , L e m b c r g , 1861, c i t a m o qaddar ( c o m e r c i a n t e de ce-
5. C a n t e i r o de p e d r a s e m ó s ;
r â m i c a ) cuja m e n ç ã o entre pessoas q u e t r a b a l h a m e m t r a n s p o r t e s nos
s u r p r e e n d e . Nosso texto (ver a p e n ú l t i m a n.) dá-nos a s o l u ç ã o ; fala 6. A l f a i a t e ;
d e qarar, qaddar ( c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a , c a r r e t e i r o ) . O c o n t e x t o 7. B a r b e i r o ;
indica q u e " c a r r e t e i r o " é o original; " c o m e r c i a n t e de c e r â m i c a " v e i o , 8. L a v a n d e i r o .
i g u a l m e n t e , n o texto p o r ditografia. — C a r r e t e i r o s e m J e r u s a l é m , v e r 12. U m c o m e r c i a n t e de l í n h o e m J e r u s a l é m , j . B. M. II 5, 8 18 C

supra, p . 4 8 . ( V I / 1 , 9 3 ) , v e r infra, n . 6 8 .
13. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 18s, 2 8 , 3 3 , 40.
5. P a s t o r e s a serviço de h i e r o s o l i m i t a s : s e g u n d o b . Ket. 6 2 , R. b

14. E m J e r u s a l é m : ver supra, p p . 13, 3 2 , 4 1 .


A q i b a , q u a n d o Jovem, era p a s t o r e t r a b a l h a v a p a r a b e n K a l b a Sha- 15. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 30, 4 1 .
b u a , rico n e g o c i a n t e de J e r u s a l é m .
16. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p . 32 ( p i s o e i r o ) .
6. Q u a n t o ao a u t o r da p r i m e i r a p a r t e d a lista I ( n n . 1-6), o 17. L e r ha-bürsi e m vez d e ha-bürs qê e
( c u r t i ç ã o ) , Billerbeck, I I ,
texto da M i s h n a do T a l m u d e b a b i l ô n i o e a M i s h n a de Stettin 1865 695. E m J e r u s a l é m , v e r supra, n . 10. — As profissões 8 e 10 são acres-
d i z e m : " A b b a G o r y a n [ p o r volta de 180 d.C.?, Billerbeck I, 187] disse c e n t a d a s e m b . Qid. 8 2 b a r .
a

e m n o m e de A b b a G o r i y a " . D e n o v o u m caso d e ditografia! A b o a 18. As q u a t r o p r i m e i r a s profissões, Sanh. I I I 3 = R. H. I 8.


explicação é d a d a pelo texto d a M i s h n a d o T a l m u d e p a l e s t i n e n s e ,
19. Jogo de a z a r (jogo c o m a p o s t a s ) .
ed. p r í n c i p e , q u e diz, j . Qid. I V 11, 6 5 39 ( V / 2 , 2 8 7 ) : " A b b a G o -
a

20. V e r supra, n . 5 .
r y o n de S í d o n disse em n o m e de A b b a S h a u m " . •— Lojistas e m Je-
2 1 . E m J e r u s a l é m : v e r supra, p . 179.
i-usalém, ver supra, p p . 12ss, 5 1 , 161, 318.
22. E m J e r u s a l é m , ver supra, p . 4 8 ; L c 18,10-14. O s n n . 5-7 são
7. E m J e r u s a l é m , v e r supra, p . 29.
a c r e s c e n t a d o s e m Sanh. 2 5 b a r . D a m e s m a m a n e i r a , T o s . Sanh. V 5
b

8. E m J e r u s a l é m : v e r supra, p p . 16 e 300. — A s profissões e 8 (423, 25) a c r e s c e n t a c o m o nn. 5-8; 5. S a l t e a d o r e s , 6. Pastores, 7. Au-


foram a c r e s c e n t a d a s p o r R. Y u d a (cerca de 150 d . C ) , Qid. I V 14. tores de atos d e violência, 8. O s q u e são suspeitos em assuntos d e
9. Cf. T o s . Ket. V I I 11 (269, 2 7 ) ; j , Ket. V I I 11, 3 1 22 • ( V / l . ( l

dinheiro.
102); b. Ket. 7 7 . a

2 3 . Ver supra, n . 6,
24. Qid. I V 14.

SEWIINARÍC CONCQKDIA
d e mensageiro, sem d ú v i d a por ele ser utilizado somente p a r a julgamentos contrários sobre as profissões " d e l a d r õ e s "
p e q u e n a s distâncias e p o d e r ser s u b m e t i d o mais facilmente citados nessa lista. Assim, p o r t a n t o , ouvimos falar d e u m
a vigilância. Suspeita semelhante pesa sobre os pastores (5) tropeiro (1) versado n a E s c r i t u r a , q u e R. Y o n a t h a n ( 2 2 0
que n ã o gozavam de b o a r e p u t a ç ã o . Conforme p r o v a v a a25
d.C.) h o n r a c o m p a l a v r a s e c o m a t o s . R . Y u d a (cerca
3 5

experiência, n a maioria das vezes e r a m desonestos e gatu- d e 150 d.C.) declara c o n t r a A b b a Shaul (cerca d e 150
nos; p a s t o r e a v a m seus r e b a n h o s em p r o p r i e d a d e s alheias 26
d.C.) q u e se p o d e fiar n a m a i o r i a dos c o n d u t o r e s de ca-
e, o q u e ainda é mais grave, e x t o r q u i a m a r e n d a dos reba- melos (2) e q u e os marujos ( 3 ) , p o r causa dos perigos
nhos. Por esse motivo foi p r o i b i d o c o m p r a r deles lã, leite constantes a q u e estão expostos, são n a m a i o r i a piedosos . 36

ou cabritos . N o que diz respeito ao lojista ou feirante (6)


11
N o q u e se refere aos pastores ( 5 ) . sua imagem simpática
facilmente se v i a m tentados a explorar seus clientes. R. q u e conhecemos através d a p r e g a ç ã o de Jesus é certamente
Y u d a (cerca de 150 d.C.) acrescenta u m juízo severo con- u m fato isolado; a literatura r a b í n i c a c o n t é m , quase sem-
tra os médicos (7) e os açougueiros (8): " O m e l h o r mé- p r e , o p i n i ã o desfavorável a eles, c o m exceção dos textos
dico só serve p a r a o inferno e o mais honesto dos açou- q u e , d e s e n v o l v e n d o passagens d o Antigo T e s t a m e n t o , apre-
gueiros é u m associado dos a m a l e c i t a s " . O s m é d i c o s , so- 28
sentam Y a h w e h , o Messias, Moisés, D a v i , como pastores.
b r e os quais ouvimos outras opiniões com razão desfavo- P o r o u t r o l a d o , e n c o n t r a m o s em Jerusalém, c o m o lojistas
ráveis \ são mencionados ao lado da profissão de ladrões,
2
ou feirantes (6) escribas m u i t o c o n c e i t u a d o s . Q u a n t o aos 37

pois e r a m suspeitos de d a r preferência aos ricos e descui- m é d i c o s (7), é preciso l e m b r a r o elogio que lhes traça o
darem-se dos pobres que p a g a v a m m a l . Q u a n t o aos açou- 3 0
livro d o Sirácida (38,1-15); T e n d a s , médico de Lida, 3 8

gueiros, supõem-se que não sejam honestos pela t e n t a ç ã o a p a r e c e na M i s h n a como responsável de u m a t r a d i ç ã o . 39

de vender p a r a c o n s u m o , carne de frepah , quer dizer, 31


N o q u e concerne os açougueiros (8), R a b i , p o r exemplo
segundo a interpretação rabínica do termo frepah , carne 22
( f 2 1 7 d . C ) , recusa energicamente formular u m juízo, ba-
de animais com defeitos físicos mortais \ 3
seando-se n u m só caso em d e t r i m e n t o de toda a c l a s s e . 40

E n a d a nos diz que as profissões citadas n a lista I t e n h a m


Por mais difundidos fossem os critérios contidos na
34

sido nocivas q u a n t o a sua posição social, desde que fa-


lista I, n ã o podemos esquecer, e n t r e t a n t o , a existência de
ç a m o s a b s t r a ç ã o do pastor q u e aparece de novo na lista
25. O b s e r v e m o s q u e os pastores r e a p a r e c e m n a lista I V ; v e r infra, I V . Pelo c o n t r á r i o , sabemos que inúmeros rabinos e r a m
p p . 412s, as a n o t a ç õ e s s o b r e esta lista.
26. b . Sanh. 2 5 , Biílerbeck, I I , 114.
b lojistas ( 6 ) . E soubemos, o c a s i o n a l m e n t e , q u e T o b i a s , 41

27. B. Q. X 9; T o s . B. Q. X I 9 (370, 2 4 ) . m é d i c o (7) em Jerusalém, foi m e s m o aceito p a r a testemu-


28. Qid. I V 14. n h a r a nova lua e que certa vez pediu-se a opinião de to-
29. L X X Is 26, 14: iatrói ou mè anantrésosin e L X X SI 87 (88)
11: iatroi anantrésosin [ d e n t r e os m o r t o s ] kat exomologésontaí soi; dos os médicos d e Lida antes d e se tomar uma decisão
b. Pcs. 1 1 3 p r e v i n e c o n t r a a p e r m a n ê n c i a n u m a c i d a d e cujo chefe é
a
em d e t e r m i n a d a questão de p u r e z a r i t u a l . Devemos, por-
42

médico.
30. R a s h i s o b r e b . Qid. 8 2 b a r . ( T a l m u d e de Babilônia, e d . de
a

L e m b e r g , 1861, c o m e n t á r i o de Rashi, l i n h a 53) cita três m o t i v o s p a r a


j u l g a r d e s f a v o r a v e l m e n t e os m é d i c o s ; a) i l u d e m t r a n q ü i l a m e n t e os doen- 3 4 . V e r supra, n. 25, 2 7 , 2 9 . 3 1 .
tes e os m a n t ê m , assim, longe d a p r o c u r a d e D e u s ; b) c a r r e g a m mui- 35. Gn. R, 32 s o b r e 7 , 19 (64 a
24ss).
tas vidas h u m a n a s n a c o n s c i ê n c i a ; c) descuidam-se dos p o b r e s . O ter-
ceiro m o t i v o c o a d u n a - s e m e l h o r ao c o n t e x t o . 36. Qid. I V 14.
3 1 . b . Sanh. 2 5 . a 37. V e r supra, p . 161 e 319.
32. S e n t i d o b í b l i c o : " d i l a c e r a d o " , isto é, a n i m a l m o r t o p o r u m a 38. C h a m a - s e T e o d o r o e m T o s . Ohai. IV 2 (600, 2 9 ) .
fera. 3 9 . Bek. I V 4 ; b . Sanh. 9 3 b a r . a

33. É i n d i f e r e n t e q u e o a n i m a l t e n h a m o r r i d o desse defeito físico


( m o r t e n a t u r a l ou c a u s a d a p o r u m h o m e m ou a n i m a l feroz) ou t e n h a 4 0 . b . Hul. 9 4 . — E n c o n t r a m o s s u p r a , p . 300, u m r a b i de Jerusa-
b

sido e s t r a n g u l a d o . l é m q u e era filho d e u m a ç o u g u e i r o .


4 1 . R. H. I 7.
4 2 . T o s . Ohal. IV 2 (600, 2 9 ) .
m e n t o do ano sabático (Ex 2 3 , 1 0 - 1 1 ; Lv 23,1-7) a proibi-
tanto, convencer-nos de que temos, na e n u m e r a ç ã o das ção rabínica de m a n d a r o gado m i ú d o pastar nas terras
"profissões de l a d r õ e s " da lista I, u m julgamento de valor de Israel, com exceção das regiões de estepes (B. Q. V I I
pessoal de A b b a Shaul, prendendo-se, é certo, a idéias al- 7), ou a lei bíblica sobre a p r o t e ç ã o das árvores (Dt 2 0 ,
t a m e n t e difundidas, mas d e m o d o algum, generalizadas. 19-20). As pessoas citadas nas listas I b e í c ocupam-se
O m e s m o acontece c o m algumas listas menores, citan- de assuntos sacrossantos: o escriba que exige p a g a m e n t o
do profissões q u e jamais a t r a e m " u m sinal de b ê n ç ã o " , q u e r p a r a a trancrição dos livros s a g r a d o s ; o intérprete q u e
dizer, a m e n o r bênção . Citemo-las como a p ê n d i c e
43
. 4J b í s
cobra o seu t r a b a l h o e, além do mais, parece aceitar u m
salário s a b á t i c o ; aquele q u e efetua negócios com o di-
50

I a. I b. I c. nheiro dos órfãos, tentado a lesar esses infelizes protegi-


b. Pes. 5 0 bar. b 44
dos p o r D e u s ; finalmente (lista I c ) , os fabricantes e co-
5 1

b. Pes. 5 0 b
bar. b. Pes. 5 0 b
bar. 48

merciantes de objetos rituais. Essas listas I a e Ic t a m b é m


1. Mercadores de não são documentos jurídicos; q u e m exerce u m a das pro-
produtos do ano 1. Copistas 46
1. Copistas de li- fissões citadas nas listas b e c não deve ser proscrito so-
de pousio 45

cialmente . Urge considerar essas listas como u m a adver-


52

2. Criadores de ga- 2. Intérpretes 2. C o p i s t a s de tência à delicadeza de consciência, advertência q u e , na


do miúdo fphillin
v e r d a d e , repousa sobre experiências concretas desagradá-
3. Pessoas que cor- 3. Pessoas que ne- 3. C o p i s t a s de
veis.
tam árvores fru- gociam com o di- e nfzüzôt
tíferas nheiro de órfãos A lista II cita três profissões que na v e r d a d e n ã o
4. Aqueles que fa- 4. Comerciantes de eram consideradas desonestas e sim, repugnantes , espe- S3

zem comércio l i v r o s , tyjhillin


46
cialmente por causa do mau cheiro p r o d u z i d o por tais ati-
marítimo 47
e m süzôtc

vidades . Coletor de excrementos e curtidor de peles es-


54

5. Vendedores de tão ligados u m a o u t r o , p o r q u e o primeiro a p a n h a e


5 5

fios de p ú r p u r a 49

junta os excrementos p a r a o pisoar do couro e a curtição.


Se algum h o m e m exercia u m a das três profissões citadas
As pessoas citadas n a lista I a. são suspeitas de trans-
p o r essa lista, sua esposa tinha o direito d e exigir o divór-
gredir prescrições definidas de leis religiosas: o m a n d a -
50. T a m b é m b . Pes. 5 0 . b

4 3 . C o m e r c i a n t e s de espetos de c a r v a l h o e de â n f o r a s a p a r e c e m
5 1 . As pessoas q u e t r a t a m do c o m é r c i o m a r í t i m o n ã o são perti-
c o m o p r i m e i r o g r u p o em b . Pes. 5 0 b a r . Esses n ã o r e c e b e m a b ê n ç ã o
b

n e n t e s ao c o n t e x t o .
p o r q u e a q u a l i d a d e de sua m e r c a d o r i a atrai s o b r e eles o m a u o l h a d o .
5 2 . A lista I c, t e r m i n a c o m estas p a l a v r a s : " M a s q u a n d o se de-
Essa s u p e r s t i ç ã o n ã o p e r t e n c e à nossa n a r r a ç ã o q u e d e v e t r a t a r de
d i c a m a esses negócios p e l o interesse q u e s u s c i t a m [e n ã o p o r a t r a ç ã o
profissões d e s p r e z í v e i s .
ao d i n h e i r o ] , eles vêem [sinais d e b ê n ç ã o s ] " . R. Meír (cerca de 150
4 3 . ' . A s profissões verificadas em Jerusalém são i m p r e s s a s em
b s

d.C.) exercia a profissão de c o p i s t a , b . 'Er. 1 5 " ; o n d e se diz q u e as


itálico. pessoas citadas n a lista I c estão livres d e t o d o s os m a n d a m e n t o s
44. Par. T o s . Bik. II 16 (102, 13). m e n c i o n a d o s n a T o r á , pois, sua profissão já significa o c u m p r i m e n t o
45. Ler c o m T o s . ed. A. S c h w a r z , Vilna, 1890, tagg^rê l^mitiah, dos m a n d a m e n t o s .
e m vez de tagg rê e e
sèm ta, " c o m e r c i a n t e s de r u a s " , q u e n ã o t e m sen-
5 3 . C o m o profissão r e p u g n a n t e , b . P e s . 1 1 3 cita a i n d a a de es-
a

tido n o c o n t e x t o .
c o r c h a d o r : " E s c o r c h a u m a n i m a l n a r u a e r e c e b e teu s a l á r i o " (o q u e
46. J e r u s a l é m ; b. B. B. 1 4 ; Soferim
a
I V 1 = j . Meg. T 9, 7 1 ^ 57 sinifica: n ã o h á t r a b a l h o d e s o n r o s o ; o m a i s h u m i l d e t r a b a l h o v a l e
( I V / 1 , 2 1 8 ) . E m nossa p a s s a g e m , trata-se d e copistas d e rolos d a T o r a . mais d o q u e a m e n d i c i d a d e ) .
47. E m J e r u s a l é m ; ver supra, p . 3 1 .
54. Cf. a diferença e n t r e u m c o m e r c i a n t e d e especiarias e u m
48. P a r . T o s . Bik. II 15 (102, 10). c u r t i d o r e m b. Qid. 8 2 b a r .
b

49. E m p r e g a v a m - s e lios de p ú r p u r a n a f a b r i c a ç ã o d e b o r l a s nsíf.


55. Identificam-se em T o s . Ket. V I I 11 (269, 2 7 ) ; c o m efeito, o
o p a r . T o s . Bik. II 15 cita em q u a r t o lugar aqueles q u e "se o c u p a m d a
c u r t i d o r m u i t a s vezes tinha t a m b é m de r e c o l h e r os e x c r e m e n t o s .
c o b r a n ç a do d i n h e i r o " .
cio d i a n t e do t r i b u n a l , reivindicando o p a g a m e n t o d a -los sozinhos c o m mulheres . Eis o q u e estava previsto a
M

q u a n t i a q u e lhe fora p r o m e t i d a n o contrato de c a s a m e n t o seu respeito: " N ã o se escolha entre eles rei ou sumo sa-
p a r a o caso em que a m a n d a s s e m e m b o r a ou em caso de cerdote , n ã o p o r serem inaptos ao serviço, mas p o r q u e
ú5

m o r t e de seu m a r i d o . Mais ainda, o direito da m u l h e r


5 6
sua profissão é d e s p r e z í v e l " . Nesta frase, rei e sumo sa-
66

ia tão longe que podia exigir o divórcio m e s m o se, n o cerdote são citados somente a título de exemplo de fun-
m o m e n t o d o c a s a m e n t o , soubesse q u e o m a r i d o exercia ção pública. É o que mostra, p r i m e i r a m e n t e , u m a senten-
uma das três profissões em questão, e tivesse se casado ça de R. Yose (cerca de 150 d . C ) : " S a n g r a d o r , curtidor
c o m a condição explícita de que ele não a b a n d o n a r i a aque- e encarregado dos b a n h o s [cf. lista I I I , n . 8 - 1 0 ] , entre
la atividade. Nesse caso p o d i a explicar, pelo m e n o s se- eles n ã o se escolherá chefe de c o m u n i d a d e " . Segundo 6 7

g u n d o a o p i n i ã o d e R. Meir (cerca de 150 d . C ) : " E u pen- essa sentença, até mesmo o posto de chefe da comunida-
sava poder suportar, mas reconheço agora q u e não con- de ficava interditado àqueles que exerciam tais profissões;
sigo m a i s " . Por outro lado, a m u l h e r , a partir dos treze
5 Í
é o q u e lemos, e m segundo lugar, n u m texto que declara
anos só t i n h a licença p a r a exigir o divórcio se o m a r i d o
5 8
ser i n c o m u m admitir tecelões c o m o t e s t e m u n h a s . Confor-
a obrigasse a compromissos abusivos à sua dignidade ou 59
m e vemos, aqueles que exerciam profissões suspeitas de
se o m a r i d o fosse a t a c a d o de l e p r a ou de pólipos ;
6 0 6 1 a
imoralidade p a s s a v a m a ser m a r c a d o s p o r u m a n ó d o a em
nos outros c a s o s , o direito d o divórcio cabia exclusiva-

sua vida legal pública, não de jure, é v e r d a d e , — de jure
m e n t e a ele. Se p e n s a r m o s e m todas essas condições, po- seus m e m b r o s e r a m " a p t o s " a aceder às funções públicas
demos avaliar até q u e p o n t o aqueles que p r a t i c a v a m as e a ser testemunhas — mas de facto.
profissões citadas n a lista II e r a m destituídos de seus di-
N ã o é por acaso q u e , entre o g r a n d e n ú m e r o de es-
reitos cívicos. U m a observação aqui se i m p õ e : n ã o se tra-
cribas que exerciam u m artesanato ou u m a profissão, não
tava de n e n h u m a n ó d o a m o r a l .
haja u m do qual possamos dizer c o m certeza ter exer-
6 8

Os que exerciam as profissões citadas na lista I I I so- cido u m a das funções profissionais citadas n a lista I I I .
friam de m a n e i r a a i n d a mais sensível. O s t r a b a l h a d o r e s Os tecelões (5) e os curtidores (10) sempre foram os mais
e n u m e r a d o s l i d a v a m c o m mulheres e e r a m suspeitos d e m a r c a d o s p o r essa ignomínia. P a r a os tecelões, além da
i m o r a l i d a d e ; p o r essa r a z ã o se diz q u e n ã o se deve deixá- suspeita de i m o r a l i d a d e acrescentava-se o fato daquela pro-

5 6 . T o s . Ket. V I I 11 (270, 2 ) , 64. Qid. I V 14; T o s . Qid. V 14 ( 3 4 3 , 8 ) ; b . Qid. 8 2 b a r . N o a

57. Ket. V I I 10. q u e c o n c e r n e e s p e c i a l m e n t e à d e s c o n f i a n ç a c o n t r a os m a s c a t e s (co-


58. Se d e s s e m u m n o i v o à filha ou a casassem m e n o r (ela era m e r c i a n t e s a m b u l a n t e s de e s p e c i a r i a s ) , ver A. B ü c h l e r , Familienreinheit
q tannah
e
até a i d a d e d e 12 a n o s e u m d i a , b . Yeb. 1 0 0 ) ; p o d i a , even-
b und Sittlichkeit in Sepphoris im zweiten Jahrhundert, e m MGWJ 78
t u a l m e n t e , e x p l i c a n d o a sua r e c u s a , a n u l a r o n o i v a d o o u o c a s a m e n t o : ( 1 9 3 4 ) , 138, n . 2.
a) d u r a n t e a v i d a d o p a i , s o m e n t e se já tivesse s i d o d e s p e d i d a p o r u m 65. O b s e r v e m o s a n a t u r a l i d a d e c o m q u e se s u p õ e q u e os sacer-
libelo de d i v ó r c i o {Yeb, X I I I 6; o c a s a m e n t o p r e c e d e n t e tinha-a sub- dotes e x e r ç a m u m a p r o f i s s ã o .
t r a í d o d o p o d e r d o p a i ) ; b) a p ó s a m o r t e d o p a i , se tivesse c o n t r a í d o 66. b . Qid. 8 2 b a r .
a

n o i v a d o o u se c a s a d o pela m ã e o u os i r m ã o s {Yeb. X I I I 2 ; o casa- 67. Derek 'eres zúta 6 (Billerbeck, I I , 6 4 2 ) . Essa p a s s a g e m n ã o


m e n t o r e a l i z a d o sem o pai d a m e n o r só é v á l i d o s o b c o n d i ç õ e s ) . figura n a ed. de A . T a w r o g i , K o n i g s b e r g , 1885 (dissertação de Königs-
berg) .
59. Billerbeck, I, 318s.
68. Conta-se q u e R. S h i m e o n b e n S h e t a h " o c u p a v a - s e d o l i n h o " ,
60. Ket. V I I 11 (270, 1.3). j . B. M. I I 5, 8 18 ( V I / 1 , 93 t r a d u z : " e s t a v a o c u p a d o e m seus traba-
C

6 1 . C o n f o r m e c o n c l u i ] . P r e u s s , BibUsch-talmudische Medizin, Ber- lhos [fatigantes] de f i a ç ã o " ) . Essa e x p r e s s ã o p o d e designar o asseda-


lim, 1911, 399s a p a r t i r de b . Ket. 2 0 ; Ker. I I I 7; b . Ta'an.
b
21 ,
a
d o r de l i n h o (lista I I I , n . 2) o u o c o m e r c i a n t e deste t e c i d o . O con-
mâkkeh s hín é o p o r t a d o r de u m a lepra q u e m u t i l a .
e
texto m o s t r a c o m o seus a l u n o s l h e o f e r e c e m u m asno p a r a q u e se
62. S o b r e esta d o e n ç a , v e r ] . P r e u s s , o.c., 340. latigue m e n o s ; é preferível, p o i s , p e n s a r n u m m e r c a d o r de l i n h o , em-
63. S e g u n d o i n d i c a ç õ e s m a i s t a r d i a s , a i m p o s s i b i l i a d d e em q u e se b o r a seja possível q u e t e n h a e x e r c i d o os dois ofícios, c o m o acontecia
vê o m a r i d o p a r a m a n t e r sua m u l h e r é t a m b é m u m a r a z ã o p a r a anu- m u i t a s vezes n a é p o c a .
lar o c a s a m e u i o , b . Ket. 7 7 . a
fissão, n a Palestina, ser considerada como u m t r a b a l h o de aproveitavam-se desses cargos p a r a enriquecerem-se inde-
m u l h e r e s . Citemos u m fato especialmente significativo da
69
v i d a m e n t e . Disse a l g u é m : " É difícil p a r a os pastores,
77

posição social dessa classe, e m Jerusalém: os escribas re- coletores de impostos e p u b l í c a n o s fazer p e n i t ê n c i a ! " O mo-
c o n h e c e r a m o t e s t e m u n h o de dois tecelões hierosolimitas tivo é jamais saberem a q u a n t o s lesaram o u l u d i b r i a r a m
(que, além de t u d o , m o r a v a m perto da Porta do M o n t u r o p a r a p o d e r e m fazer r e p a r a ç ã o .
q u e d a v a passagem p a r a o vale denegrido do H i n o m ) ; 7 0

É característico o costume de associar coletores d e


ora, a t r a d i ç ã o conservou esse fato como e x t r a o r d i n á r i o e impostos e l a d r õ e s ; publícanos e ladrões ; chefes de co-
78 79

como p r o v a de especial liberalidade p o r p a r t e dos escri- b r a n ç a , ladrões, cambistas e p u b l í c a n o s ; p u b l í c a n o s e


80

b a s . Q u a n t o aos curtidores, acrescentava-se à p e c h a de


7 1

p e c a d o r e s ; publícanos e pagãos (Mt 18,17); publícanos


81

imoralidade, o fato de sua profissão ser tida como repug- e prostitutas (Mt 2 1 , 3 1 - 3 2 ) ; ladrões, t r a p a c e i r o s , adúlte- 32

n a n t e (ver lista I I , n. 3). " A i daquele que é c u r t i d o r ! " , ras e p u b l í c a n o s (Lc 18,11); assassinos, ladrões e publí-
exclamava R a b i ( | 217 d . C . ) . A esse respeito não deve¬72

canos . O h á b i t o levava a c h a m a r os publícanos catego-


83

mos deixar de lado At 9,43 q u e diz, de m a n e i r a m u i t o ricamente d e p e c a d o r e s (Lc 19,7). E r a p r o i b i d o aceitar,


simples, talvez mesmo não enfatizando a última p a l a v r a : proveniente da caixa de impostos de barreira e dos con-
" P e d r o ficou em Jope por mais t e m p o , na casa de u m certo fiscos dos coletores de impostos , o d i n h e i r o das trocasM

Simão, o c u r t i d o r " . ou das esmolas p a r a a caixa dos p o b r e s , p o r q u e a injus-


Exercer u m a das profissões citadas na lista IV indi- tiça i m p r e g n a v a esse dinheiro. Se, antes de receber seu
cava i m p u r e z a maior; q u e m praticava u m a delas p e r d i a cargo o u seu a r r e n d a m e n t o , os coletores de impostos e pu-
os direitos cívicos e políticos. Essa lista reúne as profis- blícanos fizessem parte de u m a c o m u n i d a d e farisaica, e r a m
sões diretamente baseadas na t r a p a ç a e, por causa disto, dali expulsos e não p o d i a m se reabilitar a não ser que
passavam por c o n d e n a d a s de jure. As q u a t r o p r i m e i r a s de abandonassem o p o s t o que ocupavam. 8 5

sete profissões desta lista são citadas pela M i s h n a ; as 7 3

N ã o era, p o r é m , somente no espírito do público que


três últimas foram acrescentadas por uma. baraíta \ Jo- 7

as profissões da lista I V apresentavam-se categoricamente


gadores de dados, u s u á r i o s , organizadores de jogos de
75

d e s p r e z í v e i s , até m e s m o o d i a d a s ; de jure t a m b é m eram


Sè 87

azar e traficantes de p r o d u t o s do ano sabático (1-4) são,


77. b . B. Q, 9 4 b
bar.
com efeito, charlatães notórios. Já m e n c i o n a m o s o des- 76

78. Tohorot V I I 6.
prezo pela p r o p r i e d a d e alheia de que e r a m acusados os 79. B. Q. X 2; b . Shebu. 39« b a r . Cf. Lc 18,11; Ned. I l l 4; Derek
'eres 2.
pastores (5). A experiência t a m b é m m o s t r a r a que os co-
' 80. Derek 'eres 2.
letores de impostos (6) e os titulares dos postos de publí- 8 1 . M c 2,15-16; Mt 9,10-11; Lc 5,30; M t 11,19 (par. Lc 7,34);
canos (7) arrendados aos que ofereciam mais altas im- Lc 15,1-2. C o m p a r a r M t 5,46: " C o m efeito, se amais aos q u e vos
portâncias, assim como seus s u b o r d i n a d o s , q u a s e sempre a m a m , q u e r e c o m p e n s a t e n d e s ? N ã o fazem t a m b é m os p u b l í c a n o s a
m e s m a c o i s a ? " c o m o p a r a l e l o L c 6,32; " S e a m a i s os q u e vos a m a m ,
q u e g r a ç a a l c a n ç a i s ? A t é m e s m o os p e c a d o r e s a g e m a s s i m ! "
69. Ant. X V I I I 9, 1, § 314. Cf. B. /. I 24, 3, § 4 7 9 : A l e x a n d r e e 82. N o c o n t e x t o de Lc 18,11, àdikoi t e m este s e n t i d o preciso, cf.
A r i s t ó b i d o p r e p a r a m as m u l h e r e s d a família p a r a a é p o c a em q u e che- E. K l o s t e r m a n n , Das Lukasevangelium, 2" ed., T ü b i n g e n , 1929, in loco.
gassem ao p o d e r , d o t r a b a l h o f o r ç a d o à profissão d e t e c e l a g e m . 8 3 . Ned. I I I 4.
70. Ver supra, p p . 18 e 29; cf. Billerbeck, I V , 1030, n . 1. 84. B. Q, X 1. — " M a s pode-se aceitar [ d i n h e i r o ] de sua casa
7 1 . 'Ed. I 3 . ou n a r u a [ c o m o e s m o l a ] " , ibid.
72. b . Qid. 82 bar., p a r . b . Pes. 6 5 b a r .
h a
85. T o s . Demay H l 4 ( 4 9 , 1 5 ) ; j . Demay I I 3 , 2 3 10 { I I / l , 151).
a

73. Sanh. I I I 3 = R. H. I 8. 86. V e r t a m b é m Midrash SI 2 3 , § 2, ed. B. Buber, Vilna, 1891,


74. b . Sanh. 2 5 b a r . b
9 9 12: " N ã o h á profissão m a i s d e s p r e z í v e l d o q u e a d e p a s t o r " ; Fí-
b

75. T r a n s g r e d i a m a i n t e r d i ç ã o v e t e r o t e s t a m e n t á r i a do i n t e r e s s e , Ex lon, de agricultura, § 6 1 : ocupar-se das c a b r a s e c a r n e i r o s passa p o r


22,24; Lv 25, 36-37; Dt 23,20-21. " p o u c o glorioso e h u m i l d e " , b . Yeb. 16 .
a

76. Supra, p . 406; v e r t a m b é m infra, n n . 86 e 87. 87. T o s . B. M. II 33 (375, 2 7 ) : " N ã o se r e t i r a [de u m a cisterna]
oficialmente ilegais e p r o i b i d a s . Q u e m exercesse q u a l q u e r dados do T a l m u d e sobre o preço do escravo judeu tam-
u m a delas, n u n c a mais p o d e r i a ser juiz, e a impossibili- b é m c o r r e s p o n d e m a algumas condições concretas. Esse
dade de prestar t e s t e m u n h o igualava-o ao escravo . Di-
83 M p r e ç o era de 1 a 2 minas , segundo outra informação, de
92

zendo melhor, ele próprio via-se privado dos direitos cí- 5 a 10 m i n a s ; por o u t r o lado, o escravo p a g ã o valia até
9 3

vicos e políticos atribuídos a q u a l q u e r israelita, m e s m o 100 m i n a s . O preço inferior d o escravo judeu p r o v é m


9 4

aquele q u e , como o b a s t a r d o , tinha uma origem seria- das circunstâncias; explica-se pelo fato de seu t e m p o de
mente m a c u l a d a . Essa realidade permite avaliar o escân- serviço só d u r a r seis anos, diversamente da servidão per-
d a l o q u e foi o fato d e Jesus c h a m a r u m p u b l i c a n o p a r a p é t u a do escravo p a g ã o . O n ú m e r o dos escravos judeus
ser seu discípulo de maneira tão íntima (Mt 9,9 e par.; na Palestina, na realidade não se elevava m u i t o . Sua si-
10,3) e a n u n c i a r a Boa-nova aos publícanos e aos "peca- t u a ç ã o harmonizava-se c o m as prescrições h u m a n i t á r i a s do
d o r e s " sob o símbolo d a comensalidade. Antigo T e s t a m e n t o .
U m judeu podia tornar-se escravo de três m a n e i r a s .
1. Podia descer à escravidão ex furto, o q u e parece
ter sido a maneira mais freqüente. Trata-se do caso de
B . "ESCRAVOS" J U D E U S 90

u m ladrão n ã o estar em condições d e restituir o equiva-


lente ao furto. L e v a n d o em conta Ex 2 2 , 2 , o tribunal
95

o vendia c o m p u l s o r i a m e n t e . A v e n d a , à qual estavam


%

Entre as pessoas socialmente o p r i m i d a s , deve c o n s t a r submetidos apenas os israelitas adultos de sexo masculi-
o escravo j u d e u . N a época neotestamentária eles existiam no , só p o d i a ser feita a j u d e u s . E n t r e t a n t o , p a r a liberar
91 98

na Palestina e é só desses que vamos tratar por o r a . Já o o país de toda espécie de pessoas marginalizadas, Hero-
mostramos antes (p. 157ss) na exposição c o n s a g r a d a aos des decidiu, em oposição ao direito em vigor, q u e os la-
escravos e diaristas; Bíllerbeck defendeu, igualmente, com drões d e v e r i a m ser vendidos t a m b é m no estrangeiro e a
energia, esse p o n t o de v i s t a . O b s e r v e m o s ainda q u e os
91

não-israelitas . Podemos nos indagar se u m a g r a v a m e n t o


99

ainda maior do direito p e n a l não se terá introduzido nesta


os goyim, os pastores cie a n i m a i s m i ú d o s e o s c r i a d o r e s d e a n i m a i s
época. C o m efeito, a halaka desconhece a v e n d a da es-
m i ú d o s " ( q u e c r i a v a m t a m b é m p o r c o s , Billerbeck, I V , 359; n ã o são
citados n o p a r . b . 'A. Z. 2 6 - b a r ) .a b posa e da filha a d u l t a ; ora, e m Mt 1 8 , 2 5 , n u m a pa-
100 101

88. E m Sanh. I I I 3, p a r . R. H. I 8, essa i m p o s s i b i l i d a d e se es-


t e n d e às q u a t r o p r i m e i r a s profissões d a lista I V ; às três o u t r a s e m b .
Sanh. 2 4 . A c o m u n i d a d e j u d a i c a d e Cesaréia m a r í t i m a c o n f i o u sua
b |ior S. Z u c r o w , Women, Slaves and the ígnorant in Rabblnic Literature
r e p r e s e n t a ç ã o ao a d m i n i s t r a d o r j u d e u d a a l f â n d e g a p o r t u á r i a (B. ¡. I I and also the Dignity of Man, B o s t o m , 1932.
14. 4, § 2 8 7 ) ; era u m caso a b s o l u t a m e n t e fora d o c o m u m . S c h l a t t e r , 92. b . 'Ar. 3 0 bar.; t r a t a d o 'Abadim
a
I I 10.
Theologie, 18(5, explica o s u c e d i d o pelo f a t o d e a c o m u n i d a d e n ã o se 9 3 . b . Qid. 1 8 b a r . a

a c h a r sob d i r e ç ã o farisaica. 94. B. Q. I V 5. Ver infra, p . 453s, d e t a l h e s s o b r e este p o n t o .


89. R. H. I 8. 95. S e g u n d o Ani. X V I , 1, 1, § 3, o l a d r ã o teria de restituir q u a t r o
90. A d e s i g n a ç ã o " e s c r a v o " n ã o c o r r e s p o n d e , t o t a l m e n t e , à si- vezes o m o n t a n t e d o r o u b o ; essa a f i r m a t i v a é p r o v a v e l m e n t e u m a ge-
t u a ç ã o jurídica, n a m e d i d a e m q u e n ã o se trata d e u m a s e r v i d ã o . — neralização e r r ô n e a de E x 21,37b. E m Lc 19,8, trata-se d e u m a u m e n t o
O p e q u e n i n o t r a t a d o t a l m ú d i c o s o b r e os escravos foi e d i t a d o p o r R. voluntário.
K i r c h h e i m , Septem libri talmudici parvi hierosolymitani, Francfort-sur¬ 96. Mek. E x 21,7 (28^ 17,20); Sifre D t 15,12 (43* 3 2 ) .
-le-Main, 1 8 5 1 , 25,30. e t r a d u z i d o p o r L. G u l k o w i t s c h , em Angelas, 97. Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 2 ) . c

Leipzig, I ( 1 9 2 5 ) , 89-95. A i n t r o d u ç ã o d e G u l k o w i t s c h deixa a desejar 9 8 . Ant. X V I 1, 1, § 3 ; Sifre D t 15,12 ( 4 3 3 2 ) . a

p e l o fato d e c o n f u n d i r i n ú m e r a s vezes as p r e s c r i ç õ e s s o b r e o trata- 99. Ant. X V I , 1, 1, § l s .


m e n t o dos escravos j u d e u s e os escravos p a g ã o s . — Billerbeck, I V , 100. BÜlerbeck, I, 798. A m u l h e r n ã o p o d i a ser v e n d i d a p o r u m
698-716 a p r e s e n t a e m seu e x c u r s u s 26 u m q u a d r o a d m i r á v e l das de- luí (o q u e tivesse c o m e t i d o , Sota I I I 8.
clarações r a b í n i c a s a respeito dos escravos j u d e u s . 101. Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 3 ) ; Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 0 s s ) .
c a

9 1 . Billerbeck, I V , 6 8 9 . E s t e p o n t o d e vista foi d e n o v o c o n t e s t a d o


rábola de Jesus, supõe-se a venda da m u l h e r e dos filhos moça m e n o r — e isso a pagãos! — é-nos c o m p r o v a d o n u m
p o r causa do desvio de fundos pelo m a r i d o . Nesse caso, caso concreto já c o m e n t a d o ; e n t r e t a n t o , literalmente, po-
1 U

devemos imaginar que essa p a r á b o l a reflete u m a situação de-se atribuir a u m a c a p t u r a (captura c o m o refém).
alheia à Palestina. O estado de servidão e m face d e u m senhor j u d e u
2 . U m judeu podia t a m b é m tornar-se escravo ex con- d u r a v a seis anos completos , sem ir além , a menos que 112 u 3

cessu, vendendo-se, v o l u n t a r i a m e n t e (Lv 2 5 , 3 9 - 4 3 ) . Entre- o escravo h o m e m — as escravas não t i n h a m o direito — 114

tanto, somente os israelitas adultos , e u n i c a m e n t e e m caso


m
renunciasse livremente à sua libertação e transformasse
de extrema p o b r e z a , t i n h a m o direito de se v e n d e r e m ,
l03 1M
seu serviço de seis anos em serviço p e r p é t u o (Ex 21,5-6;
o q u e era proibido às mulheres israelitas . Aceitava-se a 105
Dt 15,16-17), só findando com a m o r t e do p r o p r i e t á r i o . 115

v e n d a a não-judeus, mas impunha-se aos pais o direito de Tal caso sucedia sobretudo q u a n d o o escravo judeu tinha
resgate , A maioria das vezes tratava-se de u m gesto de
m
filhos de u m a escrava n ã o israelita, p e r t e n c e n t e a seu se-
desespero de u m endividado sem q u a l q u e r esperança. n h o r , e n ã o quisesse separar-se dela e de seus filhos " .
l16 7

Esse fato poucas vezes sucedeu, p o r é m . O serviço do 1 1 S

3 . Até aqui (salvo a propósito de Mt 18,25), falamos escravo podia terminar antes do t e r m o dos seis anos atra-
somente da v e n d a de israelitas adultos do sexo masculino. vés da alforria ou resgate, ou se ele próprio se resgatas-
E n t r e t a n t o , podiam-se t a m b é m vender jovens israelitas, des- se . A escrava judia ficava liberada se o d o n o morres-
119

de que fossem menores , e até a idade de 12 a n o s .


i07 m

se 120
— sucedia o oposto ao escravo h o m e m q u e passava 121

L e v a n d o em conta, n o v a m e n t e , Ex 2 1 , 7 , a pátria poteslas então ao p o d e r do filho — o u se atingisse seus doze


122

d a v a ao pai judeu o direito de vender suas filhas m e n o r e s anos . E n t r e t a n t o , segundo o uso corrente, o d o n o ou o
12J

a u m judeu . Neste caso, n a prática, a venda da jovem


m

filho, nesse último caso, desposava a e s c r a v a . Seriam J24

significava, na maioria das vezes, q u e estava destinada a


ser mais t a r d e , m u l h e r do c o m p r a d o r ou de seu filho . n o

111. 'Ed. V I I I 2, v e r supra, p . 300.


Ressalta de Josefo (Ant. X V I 1, 1, § lss) e do N o v o 112. Ex 21,2; Dt 15,12; cf. Jo 8,35: " O e s c r a v o n ã o fica n a casa
T e s t a m e n t o (Mt 18,25), ambos de acordo neste p o n t o , que p a r a s e m p r e " . V e r a i n d a Ani. I V 8, 29, § 2 7 3 ; X V I 1, 1, § 3 , e a
h a l a k a em Billerbeck, I V , 701 s.
especialmente a v e n d a compulsória por causa de r o u b o ,
113. A f i r m a ç ã o c u r i o s a em b . Q_id. H h
b a r . : " Q u e m v e n d e a si
citado em 1, não era i n c o m u m . O compromisso de u m a m e s m o p o d e vender-se p o r seis a n o s e p o r mais de seis a n o s " . R.
Eliézer (cerca de 90 d . C ) , o d e f e n s o r i n q u e b r a n t á v e l d a antiga tra-
d i ç ã o rejeita, e n t r e t a n t o , essa p o s s i b i l i d a d e (ibid.). Se u m e s c r a v o fu-
102. Cf. supra, p . 415, n . 97. gisse, deveria d e p o i s servir d u r a n t e u m t e m p o c o r r e s p o n d e n t e à du-
103. Sifra Lv 25,39 ( 5 5 3 5 ) . c

r a ç ã o de sua a u s ê n c i a , Billerbeck, I V , 702s.


104. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 7 ) . a

114. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 32) e a


passim.
105. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 2 4 . 2 8 ) .
a

115. N e s t e caso, o filho d o p r o p r i e t á r i o n ã o h e r d a v a o e s c r a v o ,


106. Lv 25,47-52; b . B. B. 8 ; b . B. M. 7 1 bar.; 'Ar. 3 0 ; tra-
b a b

Mek. Ex 21,6 ( 2 9 1. 6 ) ; Qid. 1 2; b . Qid. 1 7 b a r . , e passim.


a b

t a d o 'Abadim II 9, D i f e r e n t e m e n t e e m Git. I V 9.
116. S o b r e este p o n t o v e r o final d a alínea seguinte.
107. Mek. E x 21,7 ( 2 9 7 ) ; Mek. Ex 21,20 ( 3 0 4 3 ) .
a c

117. E x 2 1 , 5 ; Ant. I V 8, 28, § 2 7 3 .


108. A j o v e m devia ser e m seguida l i b e r t a d a n o caso d e n e m o
a m o n e m seu filho q u e r e r e m desposá-la (ver infra, p . 417, n . 1 2 4 ) . 118. As p r e s c r i ç õ e s r a b í n i c a s p r o c u r a r a m a g r a v á - l o , Billerbeck, I V
707.
109. Mek. Ex 21,7 ( 2 9 19ss), cf. Sota I I I 8. O pai n ã o p o d i a
a

v e n d e r seus filhos (Mek., ibid.). Difere em Gil. I V 9; " S e a l g u é m se 119. N ã o se l e v e m em conta as p r e s c r i ç õ e s s o b r e o a n o jubilar,
v e n d e ou v e n d e seus filhos [banaw] a u m não-israeíita, n ã o será res- pois, n ã o e s t a v a m e m vigor,
g a t a d o " ; trata-se a q u i , p o r é m , de u m m o d o de agir legal. É t a m b é m a 120. Mek. E x 21,6 ( 1 9 6 ) ; Qid. I 2 e
a
passim.
r a z ã o pela q u a l n ã o existe o r e s g a t e ; só se r e s g a t a m as c r i a n ç a s a p ó s 121. Mek. Ex 21,6 ( 2 9 5) e a
passim.
a m o r t e d o p a i (Git. I V , 9 ) . A p ó s a volta do exílio h o u v e p e r í o d o s 122. N i n g u é m mais t i n h a , e n t r e t a n t o , o d i r e i t o de h e r d a r o es-
de a d v e r s i d a d e , c o n f o r m e indica N e 5,2.5, em q u e os pais v e n d i a m cravo!
seus filhos e filhas c o m o e s c r a v o s . 123. Qid. I 2; b . Qid. 4 , 1 6 - ; t r a t a d o 'Abadim
a a b
I 4 e passim:
"à a p a r i ç ã o dos sinais d a p u b e r d a d e " .
110. T r a t a d o 'Abadim I 10s.
124. Mek. Ex 21,8 ( 2 9 4 ) . T r a t a d o 'Abadim
b
I 7-10 e passim.

14 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
essas prescrições sempre o b s e r v a d a s ? É o u t r a q u e s t ã o . N ã o
nos esqueçamos de que Eclo 7,21 insiste no dever d e não dia ser escrava de u m j u d e u , deu-se à esta passagem o se-
iludir a escrava q u a n t o à sua libertação. guinte sentido: o amo tinha o direito d e dar u m a escrava
N o q u e diz respeito à situação jurídica d o escravo ju- pagã como m u l h e r ao escravo judeu , m e s m o contra sua m

deu, c o n v é m l e m b r a r q u e seu encargo n ã o era tido como vontade ; q u a n d o da libertação do escravo, ela e os fi-
133

desonroso, e seu senhor devia poupá-lo dos d e p r i m e n t e s lhos ficavam de posse do senhor.
trabalhos d e u m escravo , Juridicamente igual ao filho
1Z5
A d u r a realidade mostrava-se m u i t a s vezes mais r u d e
mais velho da família, o escravo judeu tinha direito ao do que a legislação r a b í n i c a ; disso temos p r o v a através da
m e s m o t r a t a m e n t o q u e seu senhor: boa a l i m e n t a ç ã o , b o a o r d e m de Herodes segundo a qual os ladrões deviam ser
roupa, u m lugar à mesa e local p a r a d o r m i r . Diferen- m
vendidos no estrangeiro . Q u a n d o a o p o r t u n i d a d e se apre-
l34

temente do escravo pagão, podia apossar-se de bens acha- sentava, c o m total falta de escrúpulo desprezava-se a Lei;
dos 137
ou doados m
e oferecer u m resgate p a r a d i m i n u i r é o q u e mostra a atitude de M a c a b e u Antígono: e m 40
seu t e m p o d e serviço. T a m b é m diversamente d o escravo a . C , além de 1.000 talentos, ele p r o m e t e u aos p a r t o s , 5 0 0
pagão, seu senhor não podia condená-lo à interdição ; m
m u l h e r e s , se o ajudassem a apoderar-se do trono . T i n h a 135

se fosse casado, o a m o era obrigado a m a n t e r a m u l h e r e assim e m vista " a m a i o r i a das m u l h e r e s se e n c o n t r a v a m


os filhos . E m suma, a situação jurídica d o escravo ju-
130
perto deles [seus inimigos H i r c a n o , Fasael e H e r o d e s ] " , 1 3 6

deu era r e g u l a m e n t a d a segundo a prescrição do Antigo p o r t a n t o , h e b r é i a s . N o geral, c o n v é m dizer q u e , em tem-


T e s t a m e n t o : ele deve estar e m tua casa " c o m o u m merce- pos n o r m a i s , a legislação do Antigo T e s t a m e n t o , prote-
n á r i o " (Lv 2 5 , 4 0 ) . E r a " u m o p e r á r i o q u e alugava, p o r gendo tão fortemente os escravos j u d e u s , fechou as portas
seis anos, a u m senhor d e t e r m i n a d o sua c a p a c i d a d e d e tra- a u m excessivo absolutismo da p a r t e dos senhores. É b e m
b a l h o , contra u m salário pago a n t e c i p a d a m e n t e sob forma expressivo o tão conhecido d i t a d o : " Q u e m c o m p r a u m a
d e p r e ç o d e custo, por u m p e r í o d o d e igual d u r a ç ã o " . 131
escrava h e b r é i a , a d q u i r e u m a m o " . Q u a n t o à p a l a v r a
137

de Jesus: " O discípulo n ã o é maior d o q u e o mestre, n e m


Sob u m único aspecto via-se p r i v a d o de seu direito;
o servo m a i o r do q u e seu senhor; b a s t a q u e o discípulo
isso concernia, exclusivamente, ao escravo h o m e m . Apoia-
se torne como o mestre e o servo c o m o seu s e n h o r " , é 13B

vam-se n a exegese r a b í n i c a d e E x 2 1 , 4 o n d e a Lei pres-


preciso, igualmente, considerá-la c o m o o reflexo de u m
creve: " M a s , se o senhor lhe [o escravo j u d e u ] tiver d a d o
t r a t a m e n t o caridoso aos escravos j u d e u s .
m u l h e r e ela tiver filhos e filhas, a m u l h e r e sua prole
serão de seu s e n h o r " . C o m o u m a h e b r é i a a d u l t a n ã o po-

125. Mek. Ex 2 1 , 2 ( 2 8 4 2 s s ) , p o r e x e m p l o , l a v a r os pés do a m o ,


b

calçar-lhe as s a n d á l i a s etc. V e r a i n d a Sifra L v 25,39 ( 5 5 4 0 ) ;


c
'Abadim
II 1. — T a m p o u c o se d e v i a p e d i r - l h e serviços q u e o m o s t r a s s e m , pu-
blicamente, como escravo. 132. D e a c o r d o c o m a o p i n i ã o s e g u r a m e n t e antiga, a p r e s e n t a d a p o r
126. Mek. Ex 2 1 , 5 <28<» 2 2 ) ; Sifra Lv 25,39 ( 5 5 4 5 ) ; t r a t a d o
c R. Eliézer (cerca de 90 d.C.) essa regra valia t a n t o p a r a o e s c r a v o
'Abadim II 2 e passim. — Cf. M t 10,24-25! v e n d i d o ex concessu q u a n t o p a r a a q u e l e v e n d i d o ex furto ( b . Qid,
127. B. M. I 5. J 4 b ) . — A limitação p a r a u m e s c r a v o já c a s a d o ( c o m u m a h e b r é i a )
só a p a r e c e n o século I V ( b . Qid. 2 0 ) . a

128. E m c o m p e n s a ç ã o , a r e n d a de seu t r a b a l h o d e e s c r a v o per-


tencia t o t a l m e n t e a seu a m o (cf. M t 25,14-30; L c 19,13-27). 133. b . Qid. 1 4 , o p i n i ã o de R. Eliézer (cerca d e 90 d . C ) ; cf.
b

Tem. V I 2.
129. 'Ar. V I I I 5.
134. Ant. X V I 1, 1, § l s s .
130. Mek. Ex 21,3 ( 2 8 36) e
c
passim. 135. Ant. X I V 13, 3, § 3 3 1 ; 13, 5, § 3 4 3 ; 13, 10, § 3 6 5 ; B. j . I
131. Billerbeck, I V , 709. — L. G u l k o w i t s c h , " D e r kleine Talmud¬ 13, 1, § 2 4 8 ; 13, 4, § 2 5 7 ; 13, 1 1 , § 2 7 3 .
t r a k t a t ü b e r die S k l a v e n " , e m Angelos 1 ( 1 9 2 5 ) , 88, a f i r m a q u e o 136. B. f. I 13, 4, § 257.
e s c r a v o j u d e u não tinha o direito de ser t e s t e m u n h a . É u m e r r o ; o 137. b . Qid. 2 0 , 2 2 e
a a
passim.
t e x t o que ele m e n c i o n a , b . B. Q. 8 8 , fala do e s c r a v o p a g ã o .
b

138. M t 10,24-25; Jo 13,16;15,20.


CAPÍTULO V I I Í pusemos m i n u c i o s a m e n t e ( p p . 293) os casos em que o
casamento de u m sacerdote era considerado p r o i b i d o e
ISRAELITAS ILEGÍTIMOS sua descendência ilegítima. Conforme Esd 2,61-63 e N m
7,63-65 tal filho ilegítimo de sacerdote, assim como seus
descendentes, não p o d i a m vir a exercer a função sacer-
dotal (ver supra, p . 300) ; era-lhe a i n d a proscrito casar-se
4

com filha de s a c e r d o t e . Se u m filho ilegítimo de sacer-


5

A. ISRAELITAS MARCADOS COM MANCHA LEVE dote t i n h a u m meio-irmão de origem legítima , n ã o p o d i a , 6

no caso desse último vir a m o r r e r sem deixar filho, con-


trair m a t r i m ô n i o levirático c o m a viúva de seu irmão ; 7

N e s t a p a r t e d e nosso t r a b a l h o , v a m o s e x a m i n a r três p o r q u e , visto a sua origem ilegal, n ã o estava em condições


grupos da p o p u l a ç ã o dentre os quais os prosélitos consti- de p e r p e t u a r , através de u m filho, o " n o m e " (Dt 25,6) d e
t u e m a p a r t e mais n u m e r o s a . O s m e m b r o s desses grupos u m sacerdote legítimo. A filha ilegítima de u m sacerdote
t ê m e m c o m u m o fato de sua união com levitas e israeli- não podia desposar u m sacerdote l e g í t i m o , m e s m o em 8

tas d e origem p u r a ser r e c o n h e c i d a c o m o legítima. N ã o casamento l e v i r á t i c o . Mais ainda: a viúva de u m halal,


9

p o d i a m , p o r é m , unir-se às famílias sacerdotais pelo ma- e m b o r a d e descendência legítima, n ã o p o d i a , segundo o


trimônio; tal privilégio pertencia exclusivamente aos levi- direito sacerdotal em vigor, desposar u m sacerdote ; pelo l0

tas e cidadãos israelitas. Sua posição social apresentava-se, casamento com u m filho ilegítimo d e sacerdote, tornou-se
pois, nitidamente rebaixada; a exclusão das alianças c o m ilegítima e sua p r ó p r i a origem legítima n a d a alterava à
11

famílias sacerdotais era u m a privação não somente social, situação. Essas prescrições severas confirmam (ver supra,
m a s , em última análise, religiosa. Além disso, esses gru- p p . 299-302) a intransigência com q u e os sacerdotes zela-
pos d a p o p u l a ç ã o viam-se p r i v a d o s d e direitos cívicos im- v a m pela p u r e z a de sua condição e por afastar os mem-
portantes: não p o d i a m fazer parte de certas assembléias bros ilegítimos.
e tribunais e o acesso a q u a l q u e r cargo honorífico era- 1

-lhes v e d a d o . M e s m o os círculos farisaicos mais condescendentes 12

r e c o m e n d a v a m , em princípio, excluir do estado sacerdotal


4. T a m p o u c o p o d i a p r o n u n c i a r a b ê n ç ã o d o s a c e r d o t e n o serviço
sinagogal, b . Sota 3 8 e 4 0 ,b a

1. O s descendentes ilegítimos de sacerdotes 5. Qid. I V 1. — O p i n i ã o i n d u l g e n t e de Y u d a (cerca d e 150 d . C . ) :


" P r o s é l i t o , e s c r a v o l i b e r t o e halal p o d e m d e s p o s a r u m a filha d e sa-
c e r d o t e " ( T o s . Qid. V 2 ( 3 4 1 , 2 2 ) , m a s q u e n ã o c o r r e s p o n d e ao di-
E n t r e estes israelitas m a r c a d o s por n ó d o a leve acha- reito a n t i g o .
vam-se, p r i m e i r a m e n t e , os "profanos" (halal , hãlalah, Lv
2 6. O i r m ã o é filho d o m e s m o p a i ( s a c e r d o t e ) e de o u t r a m u l h e r
de igual c o n d i ç ã o de p u r e z a q u e o p a i .
2 1 , 7 . 1 4 ) , isto é, filhos ilegítimos de sacerdotes. Trata-se 7. Yeb. I X 1.
de crianças nascidas d e u m sacerdote c o m u m m u l h e r q u e 8. Qid. I V 6; T o s . Qid. V 3 ( 3 4 1 , 2 7 ) .
não compartilha da mesma condição de p u r e z a ou c o m 9. Yeb. I X 2.
10. b . Qid. 7 5 : " R . H i s d a [f 309 d . C ] d i z : N ã o r e c o n h e c e m to-
a

q u e m ele n ã o p o d e se casar por outros m o t i v o s . Já ex- 3


dos q u e a v i ú v a 'íssah, [ s o b r e issah v e r a a l í n e a seguinte] está legal-
m e n t e i m p e d i d a d e [casar-se c o m ] u m s a c e r d o t e ? " O q u e valia p a r a
o caso d a v i ú v a 'issah, c o l o c a d a e m nível inferior d o p o n t o de vista
1. A s funções c o r r e s p o n d e n t e s são citadas supra, p . 397. da pureza.
2. t e r m o técnico b a s e a d o e m Lv 21,15 11. Cf. a disposição a n á l o g a p a r a os p r o s é l i t o s , b . Qid. 7 9 : " O a

3 . b . Qid. 7 7 - .
a b

prosélito t o r n a [ u m a j o v e m israelita l e g í t i m a ] i n a p t a [ao c a s a m e n t o


com um sacerdote], tendo coabitado [com e l a ] " .
12. P . 3 0 1 .
em sua intransigência, os sacerdotes, à primeira vista, re-
os descendentes ilegítimos de sacerdotes, e não h e s i t a v a m
jeitavam as famílias 'issah e, se houvesse mera descon-
em exigir que sumos sacerdotes, tais como João H i r c a n o
fiança, não desposavam as jovens q u e a elas p e r t e n c i a m . 1S

e A l e x a n d r e Janeu renunciassem às suas funções; consi-


E m todos os casos relativos à origem dos descendentes d e
deravam-nos filhos ilegítimos de sacerdotes . Por outro 13

lado, os escribas não a p r o v a v a m a atitude rigorosa dos sa- sacerdotes d e c i d i a m , por p r i n c í p i o , acentuando-lhes a gra-
cerdotes n a questão de casamento com descendentes ile- vidade . 19

gítimos de sacerdotes, especialmente no caso em que a ile- C o n v é m salientar q u e o n ú m e r o das famílias ilegíti-
gitimidade de u m filho de sacerdote n ã o fosse p r o v a d a , mas d e sacerdotes n ã o parece ter sido muito g r a n d e . 2u

mas apenas suposta. Trata-se das famílias 'issah , já men- l4

cionadas, p . 3 0 1 , às quais os sacerdotes não q u e r i a m aliar¬


-se. Com base em conjecturas de crítica textual, dei acima 2 . O s prosélitos
(p. 3 0 1 , n. 5 0 7 ) a solução do problema a respeito de 'íssah:
são famílias de sacerdotes sobre as quais paira a incerteza O s p r o s é l i t o s faziam igualmente p a r t e do g r u p o d e
21

da legitimidade de origem para u m (ou mais) m e m b r o s . israelitas marcados por m á c u l a leve; e r a m b e m mais n u m e -
Descobri u m endosso dessa conclusão ao verificar que o rosos do q u e os halalim. Trata-se d e prosélitos integrais,
mesmo sentido do termo 'íssah já era aceito pelos tosafis-
tas , assim como por Mairnônides e O b a d i a h di Bertino-
15 s a c e r d o t e s vos e s c u t a r ã o [ s o m e n t e ] q u a n d o se tratar d e afastar, n ã o
de a p r o x i m a r " . — T o s . 'Ed. I I I 2 (459, 23) diz c l a r a m e n t e , a p r o p ó -
r o . Os escribas de tendência hilelita p r e t e n d i a m trans-
1 6
sito das d u a s p r i m e i r a s frases d e s t a m i s h n a : " E m seguida u m t r i b u n a l
formar em casos de consciência os casos duvidosos acerca e n s i n o u : [ A p r ó p r i a p a l a v r a ] "issah 6 digna de fé [ne' menet] e
p a r a se
m a n i f e s t a r a r e s p e i t o do p u r o e d o i m p u r o , p a r a d e f e n d e r e p a r a per-
da legitimidade de filhos de sacerdotes, isto é, estavam m i t i r [o c a s a m e n t o ] , p a r a a p r o x i m a r - s e [dos s a c e r d o t e s ] e p a r a [deles]
prontos a aceitar as declarações da família 'issah em ques- se afastar. M a s eles n ã o c u i d a r a m d a v i ú v a "issah". Essa ú l t i m a frase
t ã o , desde que fossem p r o n u n c i a d a s de b o a fé, e, p o r t a n t o , m o s í r a , d e m a n e i r a g a r a n t i d a , q u e a p a l a v r a " v i ú v a " e m 'Ed. V I I I 3
n ã o p e r t e n c e à t r a d i ç ã o original (o q u e já h a v í a m o s antes verificado
decididos a legitimar as crianças daquela f a m í l i a . Mas 17

a t r a v é s d e o u t r a s c o n j e c t u r a s , v e r supra, p . 3 0 1 , n. 507. A p r ó p r i a fa-


mília "issah é, pois, a q u e l a a q u e m , s e g u n d o a h a l a k a , recusa-se o tes-
t e m u n h o d e l e g i t i m i d a d e ou i l e g i t i m i d a d e p a r a u m de seus m e m b r o s
cuja o r i g e m é d u v i d o s a . — R o s e n t h a l n a p. 43 d e seu artigo c i t a d o
13. P . 218. supra, p , 4 2 2 , n . 14, a p r e s e n t a u m a h i p ó t e s e sugestiva: n a sua o p i n i ã o ,
14. Bibliografia: F . R o s e n t h a l , Über "issah. Ein Beitrag zur Sitten- o t r e c h o d a Tosefta indica q u e , p r i m i t i v a m e n t e , n a p r i m e i r a frase d e
geschichte der Juden vor und nach der Zerstörung des zweiten Tem- 'Ed. V l l f 5, havia n ã o 'Imnt 'ysh, m a s n'mnt 'ysh. A falsa a f i r m a ç ã o
pels, e m NGWf 30 ( 1 8 8 1 ) , 38-48, 113-123, 162-171, 207-217; A . B ü e h l e r . e m 'Ed. V I I I 3 criou m u i t a c o n f u s ã o p a r a o s e n t i d o d o t e r m o 'issah.
Familienreinheit und Familienmakel in Jerusalém vor dem Jahre 70,
18. 'Ed. V I I I 3; ver a n. precedente.
e m Festschrift Schwarz, 133-162; v e r a crítica da o p i n i ã o d e B ü c b l e r
supra, p . 3 0 1 , n. 507. 19. Ver supra, p . 296, o final d a n . 467 e p . 3 0 1 .
15. S o b r e b . Ket. 1 4 : " U m a família n a q u a l se i n t r o m e t e r a m
a
2 0 . T o s . Qid. V 2 {341, 2 6 ) p a r . b . Ket. 1 4 b a r . : O s israelitas
b

[ q u e r dizer, se i m i s c u í r a m ] u m ou diversos halalim". r e c o n h e c e m os nHinlm (escravos d o T e m p l o , v e r infra, p . 453) e os


16. S o b r e 'Ed. V I I I 3 : " U m a família n o m e i o d a q u a l talvez se b a s t a r d o s d e n t r e eles, m a s n ã o o s halalim. " A Büchler, e m MGWJ 78
t e n h a i m i s c u í d o u m halal, d e m a n e i r a que c a d a u m dos filhos seja ( 1 9 3 4 ) , 159ss. cita a l g u m a s m e n ç õ e s de halalim n o século II de nossa
suspeito de ser este e v e n t u a l filho i l e g í t i m o " . era; v e r t a m b é m j . OU. 1 2, 4 3 39 (Biílerbeck, I I , 377.
c

17. 'Ed. V I I I 3 : " R . Y o s h u a [cerca d e 90 d . C ] e R. Y u d a b e n 2 1 . Bibliografia: t r a t a d o Gerlm, ed. G . P o l s t e r (Text, Übersetzung,


Bethyra [depois d e 100 d . C ] o p i n a r a m a r e s p e i t o d a ['almanat, viúva; Bemerkungen), em Angelas 2 ( 1 9 2 6 ) , 1-58- — Biílerbeck, I I , 715-725;
é preciso riscar esta p a l a v r a , de a c o r d o c o m a p a s s a g e m d a Tosefta I. Levi, Le prosélytisme fuif. em REf 50 ( 1 9 0 5 ) , 1-9; 51 ( 1 9 0 6 ) , 1-31, —
q u e v a m o s logo citar] d a "issah ser a p t a [ d a d o o c a s o ] a [se casar Bigliografia mais antiga em S c h ü r e r , I I I , 150, n. 1. O p r ó p r i o S c h ü r e r ,
c o m ] sacerdotes. P o r q u e a 'issah é c a p a z de justificar-se [ela p r ó p r i a ] 150-188 t r a t a d o sucesso do proselitismo j u d a i c o e das diversas cate-
q u a n t o ao p u r o e o i m p u r o , a [se] a p r o x i m a r [dos s a c e r d o t e s ] e a gorias d e prosélitos; 186s, a b o r d a as q u e s t õ e s q u e v a m o s t r a t a r , m a s
[se] afastar deles. R. G a m a l i e l ( I I , antes de 110 d.C. d i z : A c e i t a m o s de m o d o superficial e insuficiente, pois, n ã o utiliza, c o m o fonte, se-
o vosso t e s t e m u n h o . M a s q u e d e v e m o s f a z e r ? Pois Y o h a n a n b e n não a Mishna.
Z a k k a l o r d e n o u q u e n ã o se r e c o r r e s s e aos t r i b u n a i s p a r a tais c a s o s . O s
"prosélitos da justiça" , isto é, de pagãos convertidos ao
72

j u d a í s m o , submetendo-se à circuncisão, ao b a n h o ritual e 2 3


É p a r a a Jerusalém das últimas décadas antes de
à oferta do s a c r i f í c i o . É preciso distingui-los dos "temen-
24
nossa era que nos conduz o relato da conversão ao judaís-
tes a D e u s " que aceitavam somente a profissão de fé mo-
25
mo de três pagãos rejeitados por S h a m a i , mas acolhidos
noteísta e a observância de u m a parte das leis cerimo- p o r H i l e l . Além desse, u m caso p a r t i c u l a r , objeto de
33

niais, sem se converterem totalmente ao j u d a í s m o . Legal- u m a discussão entre shamaítas e hilelitas, pertence ao pe-
m e n t e , eram considerados pagãos. ríodo anterior do ano 30 de nossa era. Os shamaítas de-
claravam lícito o b a n h o do prosélito n o dia de sua circun-
N o século I de nossa era, objeto deste estudo, cessou,
cisão; os hilelitas, p o r seu lado, exigiam u m intervalo de
n a realidade, a época das conversões f o r ç a d a s ao judaís- 26

sete dias entre a circuncisão e o b a n h o , pois, a t r i b u í a m 3 4

mo como foram freqüentes no tempo dos m a c a b e u s , espe-


ao p a g ã o a impureza do cadáver. O texto acrescenta u m
cialmente sob João H i r c a n o na I d u m é i a e sob Aristó-
2 7

relato que ilustra a antiga prática, a dos s h a m a í t a s . " H a - 35

bulo I n o reino d a I t u r é i a . Mesmo n a d i á s p o r a , neste


2S

via e m Jerusalém alguns soldados c o m o guardas das por- 36

século I, a julgar por Mt 2 3 , 1 5 tudo indica que g a n h a r


tas; [no 14 nisân] t o m a r a m o b a n h o ritual e ao entarde-
u m verdadeiro prosélito n ã o era tarefa fácil, o que n ã o é
cer c o m e r a m sua Páscoa [ e m b o r a circuncidados naquele
de admirar, levando em conta a difusão de correntes anti¬
dia] " . Infelizmente, n a d a mais sabemos dessa história e
3 7

-semitas no m u n d o greco-romano . Schürer tem r a z ã o de


29

ignoramos de que soldados se trata. U m a ú n i c a coisa é


p e n s a r q u e " as conversões formais ao j u d a í s m o n ã o d e v e m
certa: são pagãos que se c o n v e r t e r a m ao j u d a í s m o , e o 38

ter sido tão freqüentes q u a n t o a livre adesão sob a forma


fato se deu antes de 3 0 , pois, conforme mostra o N o v o
d e sebómenoí" . E n t r e t a n t o , o b a n h o dos prosélitos n a
30

T e s t a m e n t o , o critério shamaíta n ã o servia mais de re-


39

piscina de Siloé em Jerusalém não era u m acontecimento


gra no t e m p o de Jesus. Entre 30 e 33 e n c o n t r a m o s , em Je-
r a r o ; sobretudo, é fácil conceber que muitos pagãos te-
rusalém, Nicolau, prosélito originário de A n t i o q u i a que se
n h a m v i n d o a Jerusalém p a r a sua conversão ao j u d a í s m o , 31

agregou à c o m u n i d a d e cristã primitiva (At 6,5). Finalmente,


ou apenas c o m o intuito de oferecer o sacrifício previsto
no que diz respeito aos prosélitos hierosolimitanos, con-
p a r a tal ocasião . 32

vém l e m b r a r que já e n c o n t r a m o s mestres célebres da Ci-


dade santa, descendentes de p r o s é l i t o s . U m " J u d a s , fi-40

22. Gerim = gere sedeq.


23. Q u a n t o à a n c i a n i d a d e do b a t i s m o dos prosélitos c o m o a t o d e
iniciação, v e r Billcrbeck, 1, 102-108, e m e u livro Die Kindertatife in 3 3 . b , Shab. 31° bar.; ARN rec. A c a p . 15, 6 1 1. — As tradi-
a

den ersten vier jahrhunderten, G õ l t i n g e n , 1958, 29-34. ções s o b r e Hilel e s o b r e o p r o s é l i t o Ben H e H e ( b . Hag. 9 , cf. Ma¬ b

24. Q u a n t o às m u l h e r e s , s o m e n t e b a n h o e oferta d o sacrifício. c h e r , Ag. Tann., I, 8s) fazem i g u a l m e n t e p a r t e deste c o n t e x t o .


25. Yir'e samayim. N . T., L X X , Josefo: proboúmenõi (sebómanoi) 34. Pes. V I I I 8; 'Ed. V 2; T o s . Pes. V I I 13 (167, 2 0 ) .
tom ihêon. 35. T o s . Pes. V I I 13 (167, 2 1 ; j . Pes. VITI 8, 3 6 47 ( I I I / 2 , 1 3 4 ) .
b

26. Cf. Nidda V I I 3 : h a regiões p o v o a d a s s o b r e t u d o p o r prosé- 36. T a m b é m e m j . Pes. V I I I 8, 3 6 47 ( I I I / 2 , 134). — E m T o s .


b

litos. Pes. V I I 13 (167, 2 1 ) : " e " .


27. Ant. X I I I 9, 1, § 257. 37. É preciso c o m p l e t a r c o m este i m p o r t a n t e a c r é s c i m o ; isso se
28. Ant. X I I I 11, 3, § 318. N o § 319, Tosefo apóía-se n a o b r a conclui de Pes. V I I I 8 e b . Pes. 9 2 b a r . a

histórica de E s t r a b ã o ( q u e n ã o c h e g o u a t é nós) d a q u a l faz u m a ci- 38. S e g u n d o o c o n t e x t o da p a s s a g e m .


tação p r o p r i a m e n t e dita. 39. V e r m e u artigo Der Ursprung der Johannestaufe, e m ZNW 28
29. Cf. S c h ü r e r , I I I , 126s e 150ss; J. L e i p o l d t , Antisemitismus in ( 1 9 2 9 ) , 312-320; a i n d a ]o 18,28, cf. M t 8,8; as casas pagãs e r a m con-
der alten Wett, Leipzig, 1933. s i d e r a d a s , n o t e m p o de Jesus, c o m o m a n c h a d a s p o r u m a i m p u r e z a de
30. S c h ü r e r , I I I , 177. c a d á v e r . M e s m a coisa em Ant. X V I I I 4, 3 . § 94.
3 1 . Pirqe de R. Eliézer 10. 40. Ver supra, p . 319. Cf. t a m b é m T o s . Sukka I í (192, 1 1 ) ;
32. b . Ker. 8 1 = 9 ; Gerim
a a
11 5. O sacrifício consistia, q u a s e j . Sukka 1 1, 5 1 24 ( I V / 1 , 2 ) : os sete filhos d a r a i n h a H e l e n a de
d

s e m p r e , e m u m casal de p o m b o s . A d i a b e n a , c o n v e r t i d a ao j u d a í s m o , foram t o d o s escribas (talmidê hãka-


mím), s e g u n d o d i z e m . V e r a i n d a infra, n . 138, a explicação de D t
10,18 p o r R. Y o s h u a .
lho do prosélito L a g a n i o n " e u m a prosélita Maria
41
são 42
cos. É o que m o s t r a o relato segundo o q u a l , no t e m p o
m e n c i o n a d o s nos ossuários d e Jerusalém. de R a b b a n Gamaliel II (Após 90 d . C ) , u m prosélito amo-
Vejamos o que se passa q u a n t o à origem dos prosé- nita, c h a m a d o Y u d a , foi a d m i t i d o à conversão n a escola
litos palestinos, em particular os de Jerusalém. A maioria de Y a b u e , assim como a informação segundo a q u a l , en-
A a

v i n h a das regiões situadas no limite do território h a b i t a d o tre os discípulos de R. A q i b a , encontrava-se u m prosélito


pelos j u d e u s . A I d u m é i a era a pátria da família real he¬ egípcio, M i n j a m i n , casado com u m a prosélita egípcia .
47 4S

rodiana. As mães de dois escribas de Jerusalém de origem É à província r o m a n a d a Síria q u e dirige a m e n ç ã o de Ni-
p a g ã (mencionados supra, p . 3 1 9 ) , R. Y o h a n a n , filho d a colau, prosélito originário de A n t i o q u i a , m e m b r o d a co-
h a u r a n i t a (cerca de 40 d.C.) e A b b a Shaul, filho da ba-
43
m u n i d a d e cristã primitiva de Jerusalém (At 6,5). A dis-
tanéia (cerca de 60 d . C ) , e r a m originárias, respectivamen- cussão p a r a saber se alguns c a r d u a n o s a r m ê n i o s e pal- 49

te, da A u r a n í t i d e e da Batanéia. Depois de 2 3 a.C. essas mirianos p o d i a m ser aceitos c o m o prosélitos — os hileli- 50

duas regiões fizeram p a r t e do domínio de H e r o d e s , o tas o p i n a v a m a favor; os shamaítas o p u n h a m - s e — era


G r a n d e ; de 4 a 34 d . C , da tetrarquia d e Filipe; e a par- p r o v o c a d a p o r casos concretos. É o q u e m o s t r a m os ossuá-
tir de 5 3 , do domínio do rei Agripa I I . rios e n c o n t r a d o s em Shafat, a 3 quilômetros ao norte de
Além do mais, com base em Dt 23,8-9, discute-se a Jerusalém, que p e r t e n c i a m , sem d ú v i d a , a u m cemitério
possibilidade d e admitir a m o n i t a s e m o a b i t a s à conver- p a r a a diáspora judaica; a p r e s e n t a m n o m e s palmirianos
são e se p e r g u n t a m se prosélitos edomitas e egípcios dos
44 escritos, em p a r t e , em língua p a l m i r i a n a . É t a m b é m o51

dois sexos p o d e m casar-se com judeus logo após a con- que mostra a m e n ç ã o de certa M i r i a m de Palmira q u e
v e r s ã o . N ã o se t r a t a v a e n t ã o somente de debates teóri-
45 ofereceu em Jerusalém o sacrifício do n a z i r e a t o , sendo, 52

talvez, prosélita . D e u m a região a i n d a mais afastada, o


53

4 1 . Cl} I I , n . 1385, inscrição grega.


reino p a r t o , v i n h a m prosélitos de A d i a b e n a , à frente dos
4 2 . Cif I I , n. 1390, i n s c r i ç ã o h e b r a i c a . quais achavam-se m e m b r o s da família real de A d i a b e n a
4 3 . I n t e r p r e t o " R a b i Y o h n a n b e n h a - h ô r ô n i t " c o m T o s . Sukka II q u e e n c o n t r a m o s em Jerusalém nas últimas décadas antes
3 (193, 2 7 ) ms. d e Erfurt; T o s . 'Ed. I I 2 (457, 14) m s . d e E r f u r t ;
Sukka II 7 n a ed. p r í n c i p e do Babli, V e n e z a , 1522, e o m s . de M u n i q u e
d o Babli. E n t r e t a n t o , a i n f o r m a ç ã o " Y o h a n a n b e n h a - b ô r ô n í " é igual- coes de prosélitos e d o m i t a s e egípcios — c o n t a d o s a p a r t i r d a con-
m e n t e bem c o m p r o v a d a , cf. H . B o r n h á u s e r , Sukka (col. Die M i s c h n a ) , v e r s ã o , T o s . Qid. V 4 (342, 7) — n ã o p o d i a m c o n t r a i r m a t r i m ô n i o
Berlim, 1935, 69s, q u e deixa a q u e s t ã o e m a b e r t o . c o m j u d e u s (Yeb. V I I I 3 ) . C o n f o r m e d e m o n s t r a m T o s . Yad. I I 17
44. D t . 23,4 p r o í b e aceitar a m o n i t a s e m o a b i t a s na c o m u n i d a d e d e (683, 34) e T o s . Qid. V 4 (342, 9 ) , cerca de 90 d . C , limitava-se igual-
Israel, C o m o esse v e r s í c u l o n ã o faz m e n ç ã o explícita das m u l h e r e s m e n t e essa regra aos t e m p o s idos; n ã o a c o n s i d e r a v a m mais e m vigor.
a m o n i t a s e m o a b i t a s , conclui-se q u e a i n t e r d i ç ã o n ã o as atingia (Yeb. 46. Yad. I V 4; T o s . Yad. I I 17s (683, 2 6 ) ; b . Ber. 2 8 b a r . A de-
a

V I I I 3 ) ; explicou-se q u e a c e n s u r a feita aos a m o n i t a s e aos m o a b i t a s cisão q u a n t o à m a i o r i d a d e foi t o m a d a c o n t r a o sufrágio de G a m a l i e l .


e m Dt 23,5 valia s o m e n t e p a r a os h o m e n s e n ã o p a r a as m u l h e r e s 47. M s . de V i e n a e antigas edições (diferentes e m Z u c k e r m a n d e l ) :
(j. Yeb. V I I I 3 , 9 9 ( I V / 2 , 199-120); b . Yeb. 7 7 ; Sifre D l 23,4, §
C a

Benjamin. R. d e V a u x , Binjamin-Minjamin, e m RB 45 ( 1 9 3 6 ) , 400-402,


249 (5c 199, 4 ) , ou e n t ã o concluí-se d a história de Rute, a m o a b i t a , p e n s a (sem c o n h e c e r nossa p a s s a g e m ) , q u e M i n j a m i n é o u t r a forma
e de N a a m a , a a m o n i t a ( l R s 14, 2 1 ) , q u e D e u s " r o m p e u os g r i l h õ e s " de B i n j a m i n . D e seu p o n t o d e vista, o n o m e Minjamin-Binjamin expri-
(SI 116,16). q u e e n c e r r a v a m as m u l h e r e s m o a b i t a s e a m o n i t a s ( b . m e a p e r t e n ç a à t r i b o d e Benjamin. N o s s a p a s s a g e m , ao fazer-nos co-
Yeb. 7 7 ) , F o r a m mais longe a i n d a . Yad. I V 4 m o s t r a q u e , p o r volta
n

n h e c e r u m a prosélita egípcia d e n o m e M i n j a m i n , restringe o alcance


d e 90 d . C , já n ã o se c o n s i d e r a v a e m vigor a t o t a l i d a d e d a i n t e r d i ç ã o dessa o p i n i ã o .
d e D t 23,4; limitavam-na aos a m o n i t a s e aos m o a b i t a s d e a n t i g a m e n t e .
Cf. K. H . Rengstorf, Jebamot (col. D i e Misiina). G i e s s e n , 1929, 104¬ 48. T o s . Qid. V 4 (342, 6 ) .
-106; Billerbeek, I V , 378ss. 49. C a r d u a n o s designa o A r a r a t b í b l i c o ,
50. b . Yeb. 1 6 a b
bar.; j . Yeb. I 6, 3 59ss ( I V / 2 , 19-20) e passim.
a

45. S e g u n d o D t 23,8-9, foi s o m e n t e n a terceira g e r a ç ã o q u e des- 5 1 . F. M . A b e l , e m RB n . s. 10 ( 1 9 1 3 ) , 262-277, e Cl} I I , n n .


c e n d e n t e s de e d o m i t a s e de egípcios p u d e r a m p e r t e n c e r à c o m u n i d a d e 1214-1239.
d e Israel. Aplicava-se essa regra aos h o m e n s e às m u l h e r e s ( a q u i t a m - 52. Naz. V I 1 1 ; T o s . Naz. I V 10 (299, 1 ) .
b é m R. S h i m e o n [cerca de 150 d . C ] exclui as m u l h e r e s : Yeb. VIII
5 3 . S. Klein, Jüdisch-palästinisches Corpus inscriptionnum, Viena
3 ; Sifre D t 2 3 , 9 § 253 [ 5 0 199, 4 1 J ) , e explicava-se q u e d u a s gera-
c

e Berlim, 1920, 25, n . 5.


de 70 d.C. e d u r a n t e os anos da revolta (66-70) *. D e mais 5
Foi seguramente b e m mais tarde, a i n d a no p e r í o d o
longe ainda, a leste, p r o v i n h a o escriba N a u m , o m e d o tanaíta q u e se deixou de reconhecer os elos de parentesco
(cerca de 50 d . C . ) . N ã o sabemos, p o r é m , se ele descen-
55
do prosélito com sua genitora, no caso em que ela fosse
dia de judeus que m o r a v a m na M é d i a ou de M e d a o ; a pagã q u a n d o ele nasceu. Invocava-se o princípio segundo
primeira hipótese é a mais p r o v á v e l . 56
o q u a l , " q u a n d o de sua conversão [ao j u d a í s m o ] , o pro-
Q u a l era a situação jurídica dos prosélitos? A regra sélito era como u m a criança recém-nascida" . E n t r e t a n t o , 64

segundo a qual se deve considerar o pagão convertido " d e conforme vemos pela literalidade deste princípio, seu em-
todo p o n t o de vista, como u m i s r a e l i t a " , não significa 57
prego na passagem mais antiga e a existência de expres- 65

que o prosélito desfrutasse os mesmos direitos que o israe- sões análogas na literatura rabínica e neotestamentária , 6h 67

lita c o m todos os seus privilégios de cidadania. Significa significavam que " D e u s p e r d o a ao prosélito todos os seus
q u e o prosélito era, como q u a l q u e r j u d e u , obrigado a ob- pecados [no m o m e n t o de sua conversão] " . A compara- 68

servar a totalidade da Lei (Gl 5 , 3 ) . Q u a n t o à situação 58


ção do prosélito com o recém-nascido tem, pois, original-
jurídica do " e s t r a n g e i r o " (ger = prosélito), o principio m e n t e , u m sentido religioso; exprime de forma figurada
'ên 'ab l gôy " o pagão não tem p a i " era d e t e r m i n a n t e .
e 59
os bens da salvação atraídos pela conversão ao j u d a í s m o .
Nesse princípio jurídico, fundamental p a r a o antigo di- O tertium comparationis é a inocência da criança recém-
reito relativo aos prosélitos, reflete-se o julgamento extre- -nata. Q u a n d o Paulo diz que os h o m e n s se t o r n a m pelo
m a m e n t e pessimista do judaísmo rabínico sobre o paga- 60
batismo u m a " n o v a c r i a t u r a " (Gl 6 , 1 5 ; 2Cor 5,17), quan-
nismo, em particular sobre a vida moral: q u a l q u e r pagã, do l P d 2,2 c o m p a r a os batizados c o m "crianças recém¬
mesmo uma esposa, está sujeita à suspeita de ter prati- -nascidas", temos nos dois textos a m e s m a imagem igual- 69

cado a p r o s t i t u i ç ã o ; por princípio põe-se em d ú v i d a que


01
mente inspirada no sentido religioso.
o pagão possa conhecer seu v e r d a d e i r o pai " . Assim se 2

N ã o foi senão mais t a r d e q u e essa c o m p a r a ç ã o do


explica que os escribas de origem pagã como R. Y o h a n a n ,
prosélito com o recém-nascido tornou-se u m princípio ju-
"filho da h a u r a n i t a " (cerca de 40 d.C.) e A b b a S h a u l , "fi-
rídico; queria dizer então q u e era preciso considerar o pa-
lho da b a t á n e l a " (cerca de 60 d.C.) sejam n o m e a d o s con-
63

forme sua m ã e : "eles não têm p a i " . 64. b . Yeb. 4 8 bar., 2 2 , 6 2 , 9 7 ; t r a t a d o Gerim I I 6, ed. Polster,
b a a b

e m Angelos 2 ( 1 9 2 6 ) , 6s.
5 4 . V e r as e x p l i c a ç õ e s e c o m e n t á r i o s s u p r a , p p . 24, 39, 54, 5 6 , 98, 65. b . Yeb. 4 8 bar.; Gerim
b
I I 6.
134, 182. E m J e r u s a l é m , n u m sarcófago dos t ú m u l o s c h a m a d o s túmu- 66. Pesiqta rabbati 16, 8 4 8; Cant. R. 8, 1 s o b r e S, 2 ( 7 4 3 0 ) .
a a

los dos reis, s e p u l t u r a da família real de A d i a b e n a , e n c o n t r a m o s a ins- 67. Ver a l g u m a s linhas a d i a n t e .


crição " R a i n h a S a d d a " ( I n s c r i ç ã o bilingüe, h e b r a i c a e siríaca m u i t a s 68. j . Bik. I I I 3, 65 - 61 (11/2, 3 8 6 ) . — V e r p r i n c i p a l m e n t e b . Yeb.
L

vezes e s t u d a d a , p o r e x e m p l o , S. Klein, o.c, 2 6 ; Cif I I , n . 138S1. 4 8 b a r . o n d e R. Yose (cerca de 150 d.C.) rejeita, de m o d o explícito,
b

55. Shab. II 1 e passim. a t e o r i a s e g u n d o a q u a l os sofrimentos e v e x a m e s q u e c a e m s o b r e os


56. P o r q u e , ao q u e p a r e c e , chamava-se os d e s c e n d e n t e s d e p r o - prosélitos são a p u n i ç ã o d a q u i l o q u e eles n ã o o b s e r v a r a m antes de
sélito pelo n o m e d a m ã e (ver supra, p. 319) m o t i v a d o p e l o princí- s u a c o n v e r s ã o , os m a n d a m e n t o s n o á q u i c o s aos q u a i s os p a g ã o s de-
pio de d i r e i t o j u d a i c o s e g u n d o o q u a l o p a g ã o n ã o t i n h a pai legítimo v e m o b e d e c e r . R. Y o s e {Gerim I I 6: R. Y u d a cerca d e 150 d.C.) a p o i a
(ver infra, n. 5 9 ) . sua rejeição n o p r i n c í p i o : " N o m o m e n t o d e sua c o n v e r s ã o , o prosé-
57. b . Yeb. 4 7 . b
lito apresenta-se c o m o u m r e c é m - n a s c i d o " . P o r t a n t o , s e g u n d o R. Yose,
58. Mek. Ex 12, 49 (7<= 44-48). o s e n t i d o desse p r i n c í p i o m o s t r a q u e as faltas c o m e t i d a s antes d a
59. Ruth R. 2, 14 s o b r e 1 , 8 ( 8 8 ) , p a l a v r a d e R. Meir (cerca
a
c o n v e r s ã o são p e r d o a d a s aos prosélitos (Gerim II 6: [ D e u s ] l h a s
de 150 d . C ) . b . Yeb. 9 8 ; Pesiqía rabbati 23-24. 122* 11.
a
remete").
60. Eillerbeck, I I I , 62-74. 69. Já e m P a u l o ( R m 6,2ss e passim) c o n s t a t a m o s influências he-
6 1 . Cf. Yeb. V I 5: " C o n s i d e r a s e c o m o ' p r o s t i t u t a ' (Lv 21,7) a lenísticas n a explicação do b a t i s m o cristão. Não' p o d e m o s , p o r é m , n o s
prosélita, a escrava liberta e a q u e l a q u e [israelita d e n a s c e n ç a ] sofreu e s q u e c e r de q u e são s e c u n d á r i a s . Cf. m e u artigo Der Ursprung der
u m a relação de p r o s t i t u i ç ã o " . Johannestaufe, e m ZNW 28 ( 1 9 2 9 ) , 312-320 q u e m o s t r a a d e p e n d ê n -
62. Billerbeck, I, 7 ) 0 , n . 1. cia d e I C o r 10,lss em r e l a ç ã o ao e n s i n a m e n t o b a t i s m a l d o j u d a í s m o
63. Ver supra, 317s e 422. tardio e do cristianismo primitivo.
gão q u e se convertia como recentemente criado, isto é, a) As filhas de prosélitos n ã o têm i d o n e i d a d e p a r a
"sem p a i , sem m ã e , sem [outro] p a r e n t e " . N a q u e l a épo- 70
se casar com sacerdotes . Antes de sua conversão, p o d e m
7S

ca, por conseguinte, recusou-se t a m b é m ao prosélito as re- ter-se entregue à prostituição; ora, segundo Lv 2 1 , 7 , a
lações de parentesco c o m sua m ã e . Essa rigidez, não isenta " p r o s t i t u t a " n ã o tem o direito de se casar com s a c e r d o t e . 79

de ligação c o m o isolamento do judaísmo causado pela N o século II de nossa era, tentou-se a m e n i z a r essa severa
difusão do cristianismo, exprime-se de diversas m a n e i r a s , prescrição. R . Shimeon b e n Y o h a i (cerca d e 150) ensinava
aliás s e m e l h a n t e s ; a expressão de R . H e l b o (cerca de
71
a título de exceção: " U m a prosélita q u e se converte antes
3 0 0 ) é característica: os prosélitos são, p a r a Israel, tão d e completar três anos e u m dia p o d e casar-se c o m sacer-
prejudiciais q u a n t o a lepra . M a s , conforme acabamos de
12
d o t e " . Além do mais, no século I I , discutia-se até que
80

dizer, o significado jurídico da c o m p a r a ç ã o entre o pro- p o n t o a impossibilidade d e unir-se c o m famílias d e sacer-


sélito e o recém-nascido é t a r d i o ; era ainda discutido no
73
dotes valia t a m b é m p a r a os descendentes de p r o s é l i t a s ; 81

século I V e R . N a h m a n , por exemplo, não o reconhe-


7 4
a tendência m e n o s rigorosa triunfou ( R . Yose b e n H a -
82

c i a . Sobre o velho princípio jurídico segundo o qual " o


75
lafta, cerca de 150: permitiu à filha d e u m prosélito e de
p a g ã o não tem p a i " é que se edificou o antigo direito
7 6
u m a prosélita casar-se c o m s a c e r d o t e ) . E n t r e t a n t o , os sa-
relativo aos prosélitos, c o m o , por exemplo, as leis sobre cerdotes o p u s e r a m u m a resistência passiva a essas tran- 83

o incesto válidas p a r a os prosélitos . 77


sigências d a prescrição; eles e suas filhas mantiveram-se 84

o mais possível afastados dos prosélitos e dos seus descen-


A antiga legislação p a r a os prosélitos desenvolveu-se dentes \ p

a partir desse fundamento jurídico. Concernia, principal-


m e n t e , ao direito matrimonial; eis o que c o n v é m explicitar b) Q u a n t o ao mais, os prosélitos dos dois sexos po-
a este respeito. d i a m casar-se sem restrição c o m m e m b r o s d e todos os ou-

78. T o s . Qid. V 3 ( 3 4 1 , 2 9 ) ; j . Yeb. V I I I 3 , 9 2 9 ( I V / 2 , 1 1 9 ) ;


b

70. R a s h i s o b r e b . Sanh. 5 7 bar., Biilerbeck, I I I , 354, n. 1.


b Josefo, C. Ap. I 7, § 3 1 .
7 1 . M a s n ã o faltaram t e n d ê n c i a s c o n t r á r i a s , favoráveis aos p r o s é - 79. Yeb. V I 5; Sifra Lv 21.7 (47» 186, 2 2 ) ; v e r supra, p . 2 9 5 .
litos, c o m o p o d e m o s verificar nas p p . 423ss. P o d e ser q u e essa sentença d e i m o r a l i d a d e q u e p e s a s o b r e a prosélita
72. b . Nidda 1 3 e par.
b
f u n d a m e n t e o e n s i n a m e n t o de R. A q a b y a b e n M e h a l a l e l (cerca de 70
7 3 . A idéia de q u e o prosélito n ã o " t e m m ã e " acha-se i n s i n u a d a , d.C.) q u e q u e r i a excluir a p r o s é l i t a e a e s c r a v a liberta d o p r o c e s s o
pela p r i m e i r a vez na b a r a í t a b . Sanh. 5 7 - 5 8 s e g u n d o a q u a l o p r o -
b a
prescrito c m N m 5,11-29 p a r a a m u l h e r s u s p e i t a d e a d u l t é r i o . É ver-
sélito n ã o t e m , d o l a d o m a t e r n o , p a r e n t e s c o s e g u n d o a c a r n e a n ã o d a d e q u e ele n ã o tinha a d e p t o s e foi c o n d e n a d o p o r n ã o q u e r e r re-
ser q u e sua m ã e se t e n h a c o n v e r t i d o d u r a n t e a g r a v i d e z : " U m p r o - n u n c i a r a essa o p i n i ã o rigorista {Sifre N m 5,12, § 7 [ 3 38ss] e p a r . ) .
b

sélito cuja c o n c e p ç ã o n ã o se d e u e m e s t a d o d e s a n t i d a d e [ a m b o s os 8 0 . j . Qid. I V 6, 6 6 10 ( n ã o t r a d u z i d o e m V / 2 , 284 q u e remete


a

p a i s eram p a g ã o s ] e cujo n a s c i m e n t o a c o n t e c e u em s a n t i d a d e [ e n t r e ao p a r . I I / 2 , 3 6 3 ) . Invoca-se a E s c r i t u r a c o m o p r o v a : " ' N ã o conser-


u m fato e o u t r o os pais, ou a m ã e se c o n v e r t e r a m ) o b t é m u m a fa- vareis a vida senão às m e n i n a s [ m a d i a n f t a s ] q u e a i n d a n ã o c o a b i t a m
mília s e g u n d o a c a r n e do l a d o m a t e r n o , m a s n ã o d o l a d o p a t e r n o " . c o m h o m e m e elas serão p a r a v ó s ' [ N m 3 1 , 1 8 ] . E P i n h a s [o sacer-
P o r t a n t o , é s o m e n t e n o caso de a m ã e d e u m prosélito ter-se c o n v e r - d o t e ] estava e n t r e eles [ q u e r dizer, e n t r e as p e s s o a s citadas e m N m
tido antes d o n a s c i m e n t o q u e se r e c o n h e c e u m p a r e n t e s c o s e g u n d o a 31.18; p o r t a n t o o ' p a r a v ó s ' d a E s c r i t u r a refere-se t a m b é m aos sacer-
c a r n e d o l a d o m a t e r n o . Q u e r dizer q u e , se a m ã e é a i n d a p a g ã n o d o t e s ] . P a r . b, Yeb. b . Qid. 7 8 . Cf. a i n d a j . Bik. I 5, 6 4 31 ( I I / 2 ,
a a

m o m e n t o d o n a s c i m e n t o , o prosélito é c o n s i d e r a d o " s e m pai n e m m ã e " . 363) e passim.


T o s . Yeb. X I I 2 (254, 22) c o n f i r m a a j u s t e z a dessa e x p l i c a ç ã o .
S I . Qid. I V 6-7; cf. Bik I 5. A m i n ú c i a das o p i n i õ e s é citada
74. b . Yeb. 2 2 , 2 7 .
a b

supra, p , 296, n. 467.


75. b . Yeb. 2 2 . a

82. b . Qid. 7 8 : a h a l a k a era s e g u n d o a o p i n i ã o d e R . Y o s e .


b

76. D e a c o r d o c o m isto é q u e se d e v e corrigir a e x p l i c a ç ã o de


K. H . Rengstorf, a r t . gennão ktl e, Theol. Wõrterbuck zum N. T. I 8 3 . V e r supra, p . 3 0 1 ; cf. e m p a r t i c u l a r 'Ed. V I I I 3 .
( 1 9 3 3 ) , 666, linhas 14ss. 84. P o n t o d e vista d e R. Y u d a (cerca d e 150 d . C ) : " P r o s é l i t a ,
77. S o b r e estas leis v e r Biilerbeck, I I I , 353-358. escrava liberta e balai p o d e m d e s p o s a r u m a filha de s a c e r d o t e " . ( T o s .
Qid. V 2 [ 3 4 1 , 2 2 ] ; b . Qid. 72 b a r . ) n ã o
b
c o r r e s p o n d e a o a n t i g o di-
reito n e m a o u s o .
tros grupos d a p o p u l a ç ã o (levitas, israelitas d e origem
86

O direito sucessorial prende-se, em íntima conexão,


p u r a , israelitas com m á c u l a leve ou g r a v e em sua ori-
s7 8 8

ao direito m a t r i m o n i a l . D u a s questões se l e v a n t a m a esse


gem) . A s interdições bíblicas sobre o incesto só valiam
89

respeito: 1" que direito tem o prosélito à h e r a n ç a do pai


p a r a eles na medida em q u e se tratasse de consangüini- p a g ã o ? 2- q u e direito têm à h e r a n ç a do seu pai, os filhos
d a d e do l a d o m a t e r n o ; as interdições rabínicas, chama-
9 0

dos prosélitos concebidos antes de sua c o n v e r s ã o ?


das de segundo grau de p a r e n t e s c o , não lhes e r a m apli- 91

N o que diz respeito à primeira p e r g u n t a , o prosélito


cadas . N o direito q u e o prosélito gozava de contrair ma-
91

tinha a permissão de apropriar-se, c o m o descendente de


trimônio válido com u m a bastarda ou c o m sua p r ó p r i a pai p a g ã o , exclusivamente dos objetos q u e , como o dinhei-
irmã u t e r i n a exprimia-se a " s a n t i d a d e m e n o r " dos pro-
n 9 4

ro e os produtos colhidos, n ã o estavam relacionados com


sélitos, diferenciando da " s a n t i d a d e m a i o r " dos israelitas o culto dos ídolos. "Se u m prosélito e u m p a g ã o [que são
de origem p u r a , rigorosamente separados . 95

irmãos] h e r d a m de seu pai pagão, ele [o prosélito] p o d e


85. b . Qid. 7 8 ; j . Bit
b
I 5, 64* 27 ( U / 2 , 3 6 3 ) . dizer: toma o culto [o que serve ao culto] dos ídolos, e
86. Qid. I V 1; v e r supra, p . 365. eu, o dinheiro; tu, o v i n h o [por causa das libações que
87. E n t r e t a n t o , n ã o faltavam vozes p a r a dizer: " O s p r o s é l i t o s . . . talvez t e n h a m sido oferecidas] e eu, os p r o d u t o s da co-
n ã o p o d e m ingressar n a c o m u n i d a d e [ q u e r dizer, n ã o p o d e m unir-se
e m c a s a m e n t o c o m israelitas l e g í t i m a s ] " , T o s . Qid. V 1 (341, 1 5 ) .
lheita" . N a v e r d a d e , o prosélito n ã o tinha o direito de
%

88. M a i s t a r d e , sustentou-se a o p i n i ã o q u e p r o i b i a o c a s a m e n t o aproveitar-se n e m direta n e m i n d i r e t a m e n t e , c o m o no exem-


de u m prosélito c o m u m a b a s t a r d a ( t a m b é m R. Yucía cerca d e 150 plo citado, da parte da herança do pai p a g ã o , parte em-
d . C , b . Qid. 6 7 bar.; 7 2 b a r .
a b

89. S e g u n d o Yeb. V I I I 2, o c a s a m e n t o de u m a prosélita c o m u m p r e g a d a ou passível de emprego no culto dos ídolos. En-


h o m e m , m e s m o q u e tivesse os testículos e s m a g a d o s , era v á l i d o ; seme- tretanto, p a r a não d a r ensejo aos prosélitos de voltar ao
l h a n t e u n i ã o era p r o i b i d a às h e b r é i a s dc n a s c e n ç a p o r causa de Dt 23,2
9 0 . Billerbeck. I I I , 353 358. paganismo, permitiam-lhes aproveitar-se, indiretamente, des-
9 1 . As p r o i b i ç õ e s do incesto, Lv 18, c o n t r a q u a l q u e r t r a n s g r e s s ã o sa h e r a n ç a . 97

p a r a p r o t e g e r os r a b i n o s a c r e s c e n t a r a m aos graus dc p a r e n t e s c o proi-


b i d o , u m n o v o grau de c a d a l a d o . Esses oito g r a u s r a b í n i c o s (não N o que concerne à segunda questão l e v a n t a d a , é o
bíblicos) d e p a r e n t e s c o p r o i b i d o (s niyyôt) a
são e n u m e r a d o s em T o s . princípio segundo o qual o pagão " n ã o tem p a i " que pre-
Yeb. I I I 1 (243, 1 4 ) ; b . Yeb. 2 1 bar. a

92. b . Yeb. 2 2 . a valecia. Os filhos dos prosélitos concebidos antes da con-


93. O c a s a m e n t o e r a p e r m i t i d o q u a n d o i r m ã o e i r m ã e r a m , am- versão n ã o p o d i a m , pois, reivindicar n e n h u m a p a r t e da
b o s , p r o s é l i t o s , q u a n d o t i n h a m p a i s e m ã e s diferentes. N e s t e c a s o , ir- sucessão, m e s m o q u e se tivessem convertido j u n t a m e n t e
m ã o e i r m ã n ã o e r a m p a r e n t e s , visto o p r o s é l i t o " n ã o ter p a i " .
com o p a i . Por e x e m p l o : " A q u e l e q u e t o m o u e m p r e s t a d o
94. P a r a a e x p r e s s ã o , cf. b . Yeb. 2 2 . a

95. D o q u e a c a b a m o s de dizer c o l h e m o s , q u a n t o ao direito ma- de u m prosélito cujos filhos se c o n v e r t e r a m com ele ao


t r i m o n i a l , a l g u m a s i n f o r m a ç õ e s p a r t i c u l a r e s : dois i r m ã o s , d e s d e q u e j u d a í s m o , não está obrigado [caso o prosélito venha a fa-
u m foi c o n c e b i d o antes d a c o n v e r s ã o da m ã e , n ã o são o b r i g a d a s ao lecer] a pagar aos f i l h o s a dívida c o n t r a í d a " . Segundo
98

c a s a m e n t o levirático (Yeb. X I 2 ) , p o i s , j u r i d i c a m e n t e , n ã o t ê m o mes-


m o pai; c o m m u i t o mais r a z ã o q u a n d o dois i r m ã o s n a s c e r a m a n t e s os princípios rabínicos, a esposa, n o r m a l m e n t e , não tem o
d a c o n v e r s ã o d a m ã e (Yeb. X ! 2 ) . — Q u a n t o à prosélita concebida direito à h e r a n ç a , p o r t a n t o , os b e n s do prosélito que
99

ou nascida antes d a c o n v e r s ã o da m ã e , n o caso d e o m a r i d o acusá-la


d e q u e n ã o era v i r g e m q u a n d o a despo&ou, n ã o p o d e m utilizar n e m " m o r r e u sem deixar h e r d e i r o s " , isto é, sem deixar filhos
a p r e s c r i ç ã o p a r a o p a g a m e n t o do i n d e n i z a ç ã o a seu pai ( D t 2 2 , 1 9 :
se a a c u s a ç ã o era f a l s a ) , n e m a p r e s c r i ç ã o q u e o r d e n a levá-la até 96. Demay V I 10; T o s . Demay V I 22 (57, 1 5 ) . A c o n t e c e u , p o -
d i a n t e da casa d o pai para a l a p i d a ç ã o ( D t 2 2 , 2 1 : se a a c u s a ç ã o fosse r é m , q u e os prosélitos e s p e c i a l m e n t e e s c r u p u l o s o s a g i r a m c o m o Á q u i l a ,
v e r d a d e i r a ) , Ket. I V 3 ; c o m efeito, j u r i d i c a m e n t e , ela n ã o t e m p a i . — o t r a d u t o r da Bíblia (cerca de 120 d . C ) , q u e " p o r si m e s m o decidiu
Cf. a i n d a Ket. I 2. 4; I I I 1-2: q u a n t o ao m o n t a n t e do c o n t r a t o d e t o r n a r m a i s grave o caso e a t i r o u sua p a r t e [ d a h e r a n ç a do p a i pagão]
c a s a m e n t o e t c , s o m e n t e as p r o s é l i t a s q u e n ã o t i n h a m 3 a n o s e u m no m a r M o r t o " . T o s . Demay V I 13 (57, 1 6 ) .
dia n a ocasião de sua c o n v e r s ã o e r a m p o s t a s e m pé de i g u a l d a d e c o m 9 7 . W . Bauer, Demay (col. Die Mischna), G i e s s e n , 1931, p p . 50s.
as h e b r é i a s de n a s c e n ç a . A p e n a s nesse caso p e n s a v a m estar seguros
9 8 . Shebiit X 9.
d e que eram virgens.
9 9 . B. B. V I I I I.
gerados após a conversão, ficam sem p r o p r i e t á r i o ! Nesses m e m b r o s diante do qual se realizava a hàlisah . E m con- U 6

" b e n s " , estão incluídos as t e r r a s , o g a d o , os escra-


m 101 1 0 2
t r a p a r t i d a , era-lhe p e r m i t i d o t o m a r u m a decisão nos lití-
vos m
e os direitos do defunto e m assuntos pecuniários ; m
gios relativos a bens, c o m o m e m b r o d e u m t r i b u n a l de três
a p e n a s se exclui a p a r t e dos b e n s a t r i b u í d a ao d e v e r d e membros . l í 7

p a g a m e n t o a u m credor ou à viúva por motivo da quan-


105
Convém finalmente realçar q u e a falta de u m a ge-
tia convencionada no contrato de casamento e c a b e n d o à nealogia autenticamente israelita a c a r r e t a v a , p a r a os pro-
viúva no caso de morte do c ô n j u g e . Q u a l q u e r pessoa 106
sélitos, conseqüências n ã o somente jurídicas mas t a m b é m
pode-se a p r o p r i a r desses bens sem p r o p r i e t á r i o ; q u e m 107
religiosas. O prosélito que exercesse u m a função de su-
consegue e m primeiro lugar a " t o m a d a d e p o s s e " é tido 103
plente 118
não participava de m o d o algum dos méritos de
como privilegiado. Assim, escravos maiores de idade po- A b r a ã o , pois, esses e r a m reservados aos descendentes do
dem-se declarar l i v r e s , e apropriarem-se, por exemplo,
109
patriarca segundo a carne . P a r a ser justificado, o prosé-
119

dos r e b a n h o s que já p a s t o r e a v a m , t a m b é m a viúva p o d e


m
lito contava, u n i c a m e n t e , c o m os méritos p r ó p r i o s . 120

praticar a " t o m a d a de p o s s e " de u m b e m sem dono . m


E m compensação, no que toca ao direito dos pobres,
Vejamos agora o q u e diz respeito ao direito de ocupar os prosélitos igualavam-se t o t a l m e n t e aos israelitas indi-
postos oficiais. gentes . A generosa legislação social do Antigo Testa-
m

Era p r o i b i d o ao prosélito ser m e m b r o do G r a n d e Si- m e n t o obrigava a dar t a m b é m ao ger ("estrangeiro") ne-


nédrio e do t r i b u n a l de 2 3 m e m b r o s , p r o n u n c i a n d o pe-
112
cessitado o auxílio destinado aos p o b r e s , mas a exegese
nas capitais ; a participação de u m prosélito n u m a de-
113
rabínica limitou o sentido primitivo d a p a l a v r a ger, vendo
cisão desses tribunais tornava a decisão n u l a . O prosé- I14
nesse termo a designação do prosélito.
lito t a m b é m não podia fazer p a r t e do tribunal de três
115
O prosélito p o b r e tinha, pois, os seguintes direitos:
a) P o r ocasião da colheita, podia receber a p a r t e destina-
100. b . Git. 3 9 ; Gerim 111 8. E m Gerim I I I 8-13, trata-se d o pro-
a
d a q u e obriga a " c o n s i d e r a r a d e s q u a l i f i c a ç ã o dos prosélitos para as
sélito integral, d i v e r s a m e n t e de I I I lss q u e fala d o semi-prosélito (ger
tôsab). funções públicas como uma halaka antiga". Há uma verdade nisto,
101. b . Git. 3 9 * Gerim
; I I I 9-10. ver supra, p . 398.
102. B. Q. I V 7; Gerim I I I 13. 116. O d e s c a l ç a r c o m o recusa ao c a s a m e n t o l e v i r á t i c o . D t 25,9-10.
103. Gerim I I I 8.13. 25,9-10.
104. Shebiit X 9; B. Q. I V 11. 117. Sanh. I V e O b a d i a h di B e r t i n o r o s o b r e esta p a s s a g e m ; b .
105. Gerim I H 11-12. Sanh. 3 6 , E m a l g u n s l u g a r e s , é v e r d a d e , o prosélito p a r e c e ter sido
b

106. KHübbáh (Gerim I I I 11). E n t r e t a n t o , o c r e d o r e a v i ú v a c o m p l e t a m e n t e e x c l u í d o das funções p ú b l i c a s , b . Qid. 7 6 . b

d e v e m a p r e s e n t a r s u a s reivindicações a t e m p o . 118. Nm. R. 8, 10 s o b r e 5, 10 ( 4 3 1 2 s s ) . b

107. Gerim I H ( o n d e se deve. ler q tanim c


c o m b . Git. 3 9 ) : " S e
a
119. Billerbeck, I, 117ss. — O p r o s é l i t o n ã o p a r t i c i p a disso, Bik.
os s e r v i d o r e s são [ a i n d a ] m e n o r e s , p o d e m o s adquiri-los, t o r n a n d o - o s I 4 . O p o n t o de vista o p o s t o , s e g u n d o o q u a l o prosélito p o d e ao
nossos [assim se realiza a a p r o p r i a ç ã o l e g a l m e n t e v á l i d a , p o r exem- i n v o c a r G n 17,5 incluir-se e n t r e os d e s c e n d e n t e s de A b r a ã o , n ã o apa-
plo, q u a n d o se c o n c l u i u u m n e g ó c i o ] " Gerim I I I 9-13. rece antes do século II. T o s . Bik. I 2 (100, 4 ) , l i m i t a d o aos q u e n i t a s
108. G e r i m I I I 9-10. 13. e d e p o i s g e n e r a l i z a d o , j . Bik. I 4, 6 4 15 ( H / 2 3 6 2 ) .
a

109. Gerim I I I 13; I I I 8; cf. b . Git. 3 9 ; b . Qid. 2 3 .


a a
120. b . Qid. 7 0 : " R a b b a b a r R a b H u n a [cerca de 300 d . C ] d i z :
b

110. Gerim I I I 13. Eis a s u p e r i o r i d a d e . dos israelitas [legítimos, ver o c o n t e x t o ] em re-


111. Gerim I I I 1 1 . l a ç ã o aos p r o s é l i t o s : e n q u a n t o é dito dos israelitas [sem c o n d i ç õ e s ]
112. Hor. I 4-5, ver supra, p . 397. ' E u serei seu D e u s e eles s e r ã o m e u p o v o ' []r 3 1 , 3 3 ] , diz-se dos p r o -
113. Sanh. I V 2; b . Sanh. 3 6 . b sélitos [com a i n d i c a ç ã o d e u m a c o n d i ç ã o ] ' Q u e m tiver c o r a g e m de
114. Hor. I 4. a p r o x i m a r - s e de m i m , esses serão o m e u p o v o e eu serei o seu D e u s '
[Jr 3 0 , 2 1 - 2 2 ] " .
115. Sijre Dt 25, 10, § 291 ( 5 3 209, 17ss); Midrash
a
hagadol so-
b r e D t 25, 10, ed. D . H o f f m a n n , Midrash Tannaim, Berlim, 1908-1909, 121. A c o n t e c e u , e n t ã o , q u e os p a g ã o s se c o n v e r t i a m u n i c a m e n t e
167. A p r o i b i ç ã o foi e x t r a í d a das p a l a v r a s " e m I s r a e l " de Dt 25,10, p a r a se beneficiar do auxílio dos p o b r e s , isto é, " p a r a s e r e m t r a t a d o s
p o i s as m e s m a s p a l a v r a s , e m D t 25,7 e x c l u e m o p r o s é l i t o . — L. G i n z - c o m o u m p o b r e [ i s r a e l i t a ] " , Yalqut Shimeoni I § 645 s o b r e Lv 23,22
b e r , Eine unbekannte jüdische Sekte I, N o v a I o r q u e , 1922, 126, d ú v i - (ed. de Z o l k i e w , 1858, 4 7 1 , 4 6 ) .
da aos p o b r e s , quer dizer, "segar a messe até o limite
dolorosa contingência de emigrar. Como o m o n t a n t e do
extremo do c a m p o " (de acordo com Lv 1 9 , 1 0 ; 2 3 , 2 2 ) , se-
auxílio foi, conforme dizem, e x t r e m a m e n t e alto , essa fa- 131

gar a messe na terra (Lv 2 3 , 2 2 ) , v i n d i m a r a v i n h a (Lv


mília deve ter sido a n t e r i o r m e n t e m u i t o rica e considera-
19,10; D t 24,21) e retirar os feixes esquecidos (Dt 2 4 ,
da . A tradição posterior
m
qualificou-a como prosélita,
133

19); todos esses textos bíblicos falam explicitamente d o


o q u e d e m o n s t r a que eles t a m b é m p o d i a m se beneficiar
ger . m
b) Além do mais, com base em Dt 1 4 , 2 9 ; 2 6 , 1 2 , o
da assistência aos p o b r e s .
prosélito p o b r e e r a l e v a d o em conta q u a n d o da distribui-
N a vida prática, as limitações públicas impostas ao
ção do dízimo p a r a os pobres ; T b 1,6-8 (informação do
123

prosélito n ã o r e p r e s e n t a r a m p a p e l i m p o r t a n t e ; a origem
Sinaiticus, ver supra, p . 190) mostra que essa prescrição
pagã era " m á c u l a l e v e " . Segundo o Documento
m
de Da-
era efetivamente observada, c) Para terminar, tinha direito
masco , os essênios o b s e r v a v a m a regra segundo a qual
135

à assistência p r e s t a d a aos indigentes . U m relato muitas m

em cada estabelecimento da seita deviam-se registrar os


vezes transmitido , a u m e n t a d o é v e r d a d e , d e m o d o len-
l25

m e m b r o s conforme a o r d e m d e t e r m i n a d a pela origem: sa-


dário, dá-nos u m exemplo, enfocando u m a família de no-
cerdotes, levitas, israelitas, p r o s é l i t o s . E v i d e n t e m e n t e ,
136

táveis d e Jerusalém: " U m a família N e b a l a t (Antebila , 1 2 6 127

essa o r d e m não pretendia realçar a posição inferior dos


Nabtela vivia em Jerusalém; sua genealogia ascendia a
128

prosélitos n a seita; queria antes m a r c a r u m a separação vi-


A r a ú n a , o jebuseu [eram, p o r t a n t o , prosélitos] . Os dou- m

sível entre os prosélitos e os israelitas m a r c a d o s de man-


tores lhe c o n c e d e r a m [ q u a n d o a família se viu na penú-
cha grave, " o lixo da c o m u n i d a d e " , da qual ainda fa- 137

ria] 6 0 0 seqel de ouro [ c o m o a u x í l i o ] ; eles [os douto-


laremos nas p p . 4 4 6 s s . Q u a n t o à situação social dos
res] não q u e r i a m que a família saísse de J e r u s a l é m " °. I3

Podemos perceber u m p e q u e n o fato histórico na simpli-


cidade desse relato: graças à ajuda assistencial, u m a famí- 131. S u p o n d o q u e o p e s o d e u m seqel seja de 16,36 g r a m a s , estes
600 seqel r e p r e s e n t a v a m e m n ú m e r o s r e d o n d o s 20 l i b r a s de o u r o .
lia de Jerusalém, e x t r e m a m e n t e necessitada, livrou-se da 132. S e g u n d o u m p r i n c í p i o d a a ç ã o c a r i t a t i v a , a assistência devia
ser c o n f o r m e à c o n d i ç ã o d a pessoa s o c o r r i d a , isto é, q u e c o r r e s p o n -
desse ao a n t i g o nível e g ê n e r o d e v i d a d a q u e l e q u e ficou p o b r e , cf.
122. Sifra, Lv 10, 10 ( 4 4 176, 28) a f i r m a q u e , nestas p a s s a g e n s ,
d
Billerbeck, I, 346s e I V , 538, 544s.
ger designa o p r o s é l i t o integral. 133. A i n d i c a ç ã o s e g u n d o a q u a l trata-se de d e s c e n d e n t e s de A r a ú -
123. A r e s p e i t o d o d í z i m o dos p o b r e s , Sijre D t 14, 29, § 110 (42= n a , p o r t a n t o , de prosélitos, falta n u m a p a r t e d a t r a d i ç ã o (ver supra,
26) afirma a m e s m a coisa q u e a n o t a p r e c e d e n t e . n. 1 2 5 ) . Sua e x a t i d ã o é, de m o d o j u s t o , c o n t e s t a d a p o r S. Klein, Zur
124. b . 'A, Z. 2 0 . a

jüdischen Altertumskunde e m MGWJ 77 (1933) 189-193. S u p õ e ele


125. T o s . Pea I V 11 (23,30) e, c o m a l g u m a s divergências, j . Pea q u e se t r a t a s s e o r i g i n a r i a m e n t e de d e s c e n d e n t e s dos b e n é A r n a m e n -
V I I I 8, 2 1 44 ( I I / t , 114), S e m a i n d i c a ç ã o genealógica s o b r e a ori-
a
c i o n a d o s e m l C r 3,21, p o r t a n t o , d e s c e n d e n t e s d e Z o r o b a b e l . M e s m o
gem d a família: Sijre D t 14,29, § 110 (42^ 3 0 ) ; Sijre D t 26,12, § 303 q u e seja e x a t o , no m a i s t a r d a r n o século I I de n o s s a era, tal con-
( 5 3 2 6 ) ; Midrash ha-gadôl s o b r e D t 26,12, ed. D . H o f f m a n n ,
d
Midrasch c l u s ã o foi a p l i c a d a à família de p r o s é l i t o s .
Tannaim, Berlim, 1908-1909, 179. 134. Q u a n d o a ocasião se oferece, Tosefo c h a m a os prosélitos
126. I n f o r m a ç ã o d a Tosefta m s . de Erfurt. Baseando-se e m N e Ioudaíoi (Ant. X I I I 9, 1, § 2 5 8 ) , cf. W . G u t b r o d , art. Israel /cr/, em
11,34 q u e m e n c i o n a N e b a l l a t c o m o n o m e d e lugar, S. K l e i n , e m MGWJ Theol. Wõrterbuch zum N.T, I I I ( 1 9 3 6 ) , 372s. P a r t i n d o das idéias
77 ( 1 9 3 3 ) , 189s p r o n u n c i a - s e a f a v o r dessa i n f o r m a ç ã o . H . S. H o r o v i t z a s s i n a l a d a s supra, p . 402, n . 2 1 1 , Fílon d e m o n s t r a pelos prosélitos u m a
e L. Finkelstein, Siphre zu Deuteronomium (em o Corpus Tannaiticum g r a n d e estima e m De Virt., § 187-227 e passim; Abraão que passou
I I I , 3) Breslau, 1936, 171, 9 ( § 1 1 0 s o b r e D t 14,29) o a d o t a m igual- d o p o l i t e í s m o ao m o n o t e í s m o , é " p a r a t o d o s os prosélitos regra d e
mente. n o b r e z a " , § 219. — P a r a dizer a v e r d a d e , c e r t o d e s c r é d i t o a p a r e c e
127. I n f o r m e d o Y e r u s h a l m i ; H . G r á t z , Eine angesehene Proselyten- n o juízo q u e a l i t e r a t u r a r a b í n i c a faz d o s prosélitos, p o r e x e m p l o ,
familie Agalrobulos in Jerusalém, e m MGWJ 30 ( 1 8 8 1 ) , 289-294, de- n a p r e s c r i ç ã o q u e lhes p r o í b e a d q u i r i r u m escravo j u d e u b . B. M.
d u z q u e A n t e b i a c o r r e s p o n d e a A g a t ó b u l o s . É difícil dar-lhe r a z ã o . 7 1 bar.) ou n o p r i n c í p i o q u e p r o i b i a l e m b r a r aos prosélitos o seu
a

128. Tosefta m s , de V i e n a , e Sijre D t 26,12, § 3 0 5 . p a s s a d o (B. M. I V 1 0 ) .


129. A i n d i c a ç ã o genealógica falta em Sijre D t , § 110 e 3 0 3 , a s s i m 135. V e r supra, p . 4 5 1 .
c o m o n o Midrash ha-gadôl, v e r s u p r a . n. 125. 136. Doe. Dam X I V 3-6.
130. T o s . Pea I V 11 ( 2 3 , 3 0 ) . 137. L. G i n z b e r g , Eine unbekannte jüdische Sekte I, N o v a I o r q u e .
1922, 124s.
prosélitos antes da destruição do T e m p l o , dois fatos são Babilônia . Na v e r d a d e , teria H e r o d e s sido u m escravo
14S

elucidativos: encontramos escribas cuja m ã e era proséli- ( l i b e r t o ) , ou melhor, n e t o de u m h i e r ó d u l o do s a n t u á r i o


146

ta ; aliás, fala-se c o m muito orgulho da família real de


!i8
d e A p o l o em Ascalão , c o m o p r e t e n d e m alguns historia-
147

A d i a b e n a convertida ao judaísmo . A c o m u n i d a d e cristã


139
d o r e s ? N ã o se p o d e d a r com certeza uma resposta afir-
primitiva rejeitou, totalmente, entre os irmãos, q u a l q u e r m a t i v a . Insinua-se talvez aí m a l d o s a invenção de u m a tra-
julgamento desfavorável a respeito dos prosélitos; At 6,5 dição j u d a i c a , s a m a r i t a n a
148
o u c r i s t ã , sobretudo p o r
w 150

conta que u m prosélito fazia p a r t e do colégio dos sete ao estar em c o n t r a d i ç ã o com Josefo q u e atribui a A n t i p a t e r
qual foi confiada a assistência aos pobres. origem de alta classe™. P o r t a n t o , se a informação, c o m o
A família real herodiana pertencia igualmente a este é b e m provável, r e m o n t a a Ptolomeu de Ascalão (início
grupo da p o p u l a ç ã o que abrangia os prosélitos. H e r o d e s , do século I de nossa era) , a d a t a é u m a r g u m e n t o a fa-
152

o G r a n d e , não tinha sangue judeu nas veias. Seu p a i , An¬ vor de sua autenticidade.
tipater, era de família i d u m é i a s u a m ã e , Cipros, descen- D e s c e n d e n d o d e prosélitos talvez m e s m o d e escravos
dia de u m a família de u m xeque árabe ' . Em vão H e r o - l4

libertos, H e r o d e s n ã o tinha direito algum ao t r o n o real


des tentou esconder sua descendência de prosélito, em dos j u d e u s ; Dt 17,15 proibira expressamente: " É u m de
vão p r o c u r o u ocultar que era, o que Josefo c h a m a , u m teus irmãos que estabelecerás como rei sobre t i " . A exe-
"semi-judeu" . Propagava pelo seu historiógrafo da corte,
142

gese r a b í n i c a desse texto excluía t a m b é m o prosélito da


Nicolau de D a m a s c o , descender dos primeiros j u d e u s re- realeza; é o que vemos e m b . B. B. 3 b : " E l e [ H e r o d e s ]
patriados do exílio de B a b i l ô n i a ; teria m e s m o p r o c u r a d o
143

diz: ' Q u e m interpreta Dt 1 7 , 1 5 ? ' O s rabinos [explicaram-


atribuir-se uma origem sacerdotal, segundo diz E s t r a b ã o , ,44

- I h e ] . Ele e n t ã o levantou-se e m a n d o u m a t a r todos os ra-


e da família real dos asmoneus, segundo o T a l m u d e de binos [ p o r q u e a sua exegese não lhe c o n v i n h a ] , O s fa- 153

riseus n ã o aceitaram de H e r o d e s o j u r a m e n t o de fidelida-


138. V e r uspra, p . 319s. Cf. t a m b é m Gn. R. 70 s o b r e 2 8 , 2 0 :
R. Y o s h u a (cerca d e 90 d.C.) vê n o v e s t u á r i o q u e D e u s , s e g u n d o Dt
10,38 p r o m e t e d a r ao prosélito (é assim q u e o M i d r a x e c o m p r e e n d e 145. b . B. B. 3 " , 4 ; cf. b . Qid.
a
70 .
b

s e m p r e a p a l a v r a ger) o m a n t o de h o n r a (dos d o u t o r e s ) , Billerbeck, 146. b . B. B. 3 : b


" E s c r a v o d a família d o s a s m o n e u s " , cf. b . Qid.
II, 843. 70 b
e passim.
139. V e r supra, n . 54; S c h ü r e r , I I I , 169. 147. }úlio, o A f r i c a n o , e m s u a Carta a Aristides, ed. W . R e i c h a r d t ,
140. Ani. X I V 1, 3 , § 8; B. /. I 6, 2, § 123. Ver t a m b é m Ant. Texte und Unters. X X X I V 3 , Leipzig, 1909, 60, linhas 15ss.
15, 2, § 4 0 3 .
141. B. j . I 8, 9, § 181: toúto gêmanti gunáika tôn episémon ech 148. V e r a p e n ú l t i m a n .
Arábias Kúpron íoúnoma. Ant. X I V 7, 3, § 121 é d i s c u t i d o ; c o m a 149. Ver a crônica e d i t a d a p o r E . N . A d l e r e M . Séligsohn, Une
m a i o r i a dos m s s . é p r e c i s o ler: pleístou tale áchios ên ( A n t i p a t e r ) kai nouvelle chronique samaritaine, em RE} 4 5 ( 1 9 0 2 ) , 7 6 , linhas 14-15:
par' Idoumaíois (lição de oito t e s t e m u n o s ; s o m e n t e o Palatinas Vati- " E H e r o d e s era b a s t a r d o " . S o b r e esta c r ô n i c a , v e r m e u e s t u d o Die
cunus gr. 14 lê: louâaíon oí, par' ôn ágetai gunatka ton episémon ech Passahfeier der Samaritano; BZAW 59, G i e s s e n , 1932, 57.
Arábias Kúpron ãnoma. H . Willrich, Das Haus des Herodes, Heidelberg, 150. S c h ü r e r , I 292, n . 3 .
1929, p r o n u n c i a - s e a favor da o r i g e m j u d a i c a de K y p r o s ; m a s a va- 151. B. ;. I 6, 2, § 123. É v e r d a d e q u e Ant. X I V 16, 4, § 491
riante é p o b r e m e n t e c o m p r o v a d a p a r a p o d e r ser c o n s i d e r a d a c o m o o é d i f e r e n t e : [he árchè] mctebe'eis Heroden tòu Antipátrou oíkias ónta
texto original. Baseando-se n a p a s s a g e m de B. j . I 8, 9, § 181 c i t a d o
demotikés kai génous idiotikoü kai upakoúontos toís basileúsin. Cf.
n o início desta n o t a , Schlatter, Theologie, 185, n. 1, conjectura c o m o
texto p r i m i t i v o : para tots Nabatatois. t a m b é m supra, p . 377, n . 66.
152. E u s é b i o , Hist. eccl. T 7, 12 c o n t a q u e Júlio, o Africano, dis-
142. Ant. X I V 15, 2, § 4 0 3 . sera de s u a i n d i c a ç ã o s o b r e a o r i g e m d e H e r o d e s (ver supra, a n o t a
143. Ant. X I V 1, 3, § 9. C o m r a z ã o Josefo rejeita esta a f i r m a ç ã o , 1 4 7 ) : kai taúta mèn koinà kai tais Hellenon tstoríais. Ora, sabemos
tendo-a c o m o falsa. V e r a i n d a supra, p . 374s, a i n f o r m a ç ã o s o b r e a q u e P t o l o m e u de A s c a l ã o (no início de seu t r a b a l h o s o b r e H e r o d e s )
d e s t r u i ç ã o p e l o fogo dos registros genealógicos j u d a i c o s o r d e n a d a s p o r falara da origem d o s j u d e u s e dos i d u m e u s ( S c h ü r e r , I, 4 8 s ) . É, p o i s .
Herodes. fácil s u p o r q u e Túlio, o A f r i c a n o , ao i n d i c a r "a historiografia belenís-
144. Historikà hupomnémata X V I 765. — Assunção de Moisés t i c a " p e n s e n a o b r a d e P t o l o m e u de A s c a l ã o , e q u e tal t r a b a l h o t e n h a
V I 2 afirma q u e H e r o d e s n ã o é de o r i g e m s a c e r d o t a l . l h e s e r v i d o de f o n t e .
153. A i m p o s s i b i l i d a d e p a r a o p r o s é l i t o de t o r n a r s e rei encontra¬
-se i g u a l m e n t e expressa n o u t r o l u g a r , p o r e x e m p l o , b . B. Q. 8 8 . a
a Agripa 1 ou Agripa I I ; no s e g u n d o caso, a cena
1 6 0 1 6 1

de \ Segundo a Lei devia-se considerar H e r o d e s c o m o


S5
ter-se-ia p a s s a d o em 15 tishri 5 5 ou 6 2 d.C. . Mas a atri- m

u m u s u r p a d o r ilegítimo; p o d e ter sido esse o m o t i v o es- buição a Agripa I é m u i t o mais provável . Seja qual for m

sencial daquela recusa. a d a t a , é p a r t i c u l a r m e n t e característica do m o d o como o


povo julgava a família real. O s p r ó p r i o s herodianos sa-
Agripa I, neto de H e r o d e s , teve de suportar q u e u m
b i a m , de maneira precisa, n ã o possuir, como descendentes
rabi, c h a m a d o Simeão, reunisse o povo de Jerusalém e o
de prosélitos, q u a l q u e r direito ao t r o n o e deviam levar
excitasse contra ele, exigindo que "lhe proibissem o acesso
em conta a opinião p ú b l i c a ; as lágrimas do rei que re-
ao T e m p l o [mais precisamente, a o átrio das m u l h e r e s e
dos i s r a e l i t a s ] , pois tal acesso só era permitido às pes-
160. D . H o f f m a n n , Die erste Mischna, Berlim, 1882, 15ss, e e m
soas do p a í s " . Agripa I, descendendo de prosélitos, é
lsS

Magazin für die Wissenschaft des Judenthum 9 ( 1 8 8 2 ) , 96ss; Schaller,


tido c o m o não-judeu; neste exageio há u m a c e n t u a d o e Gesch. Isr., 4 3 5 , n . 2 4 4 ; Theologie, 8 3 , n . 1 e 135, n . 1; Billerbeck, I I ,
acerbo desdém que b e m mostra o desprezo c o m que o povo 709s; J. J e r e m i a s , Sabbathjahr e m ZNW 27 ( 1 9 2 8 ) , 100, n. 9; V. A p t o -
w i t z e r , Spuren des Matriarchats im jüdischen Schrifttum, em HUCA
considerava a origem dos príncipes herodianos. A M i s h n a 5 ( 1 9 2 8 ) , 277-280.
conservou-nos u m relato de como Agripa I p r o c u r o u , de 161. D e r e n b o u r g , Essai, 217; M . B r a n n , Biographie Agrippa's II,
maneira calculada, acalmar o â n i m o do povo através de e m MGWJ 19 ( 1 8 7 9 ) , 541-548; B ü c h l e r , Priester, l 2 s s . — Büchler in-
voca a) l Sota V I I 7, 2 2 31 ( I V / 2 , 309-310) b a r . : " R . H a n a n i a s b e n
a

u m a h u m i l d a d e levada à exibição. Dt 31,10-13 prescreveu G a m a l i e l [cerca de 120 d . C ] d i z i a : M u i t o s foram m o r t o s n a q u e l e dia


que se devia ler a Lei no fim do primeiro dia ( p o r t a n t o , p o r q u e eles o e l o g i a r a m " . C o m o n ã o h o u v e r e v o l t a c o m p r o v a d a em 41
d . C , a i n d i c a ç ã o deste fato d e v e referir-se a A g r i p a I I . E n t r e t a n t o ,
em 15 tisbri) da festa das Tendas q u e segue u m a n o sa- B ü c h l e r n ã o viu q u e o c o n t e x t o se refere à festa dc P á s c o a ; eviden-
bático ; r e a l m e n t e , sob os asmoneus, ao m e s m o t e m p o
1=6
t e m e n t e essa p a s s a g e m visa ao cálculo dos a n i m a i s q u e A g r i p a II apre-
reis e sumos sacerdotes, estabeleceu-se o costume de o rei, sentou p o r ocasião de u m a P á s c o a ( T o s . Pes. I V 3 [163, 4 ] ; cf. B. j .
V I 9, § 424) o n d e m u i t o s f o r a m e m p r e n s a d o s . A esse fato acrescen-
sentado n a q u e l a ocasião n u m estrado de m a d e i r a erguido tou-se d e m o d o l e n d á r i o o caso n a r r a d o p o r Sota V I I 8 q u e m e n c i o n a ,
no átrio das mulheres , fazer a leitura da L e i . O ano
157 l 5 8
c o m efeito, A g r i p a I I . A i n d i c a ç ã o n ã o p o s s u i , p o r t a n t o , valor históri-
de pousio 40-41 terminou em 1" tishri do ano 4 1 ; e m 15 co, b) invoca a seguir T o s . Sota V I I 16 (308, 9 ) : "Eles disseram em
n o m e de R. N a t a [cerca de 160 d . C . ] : O s israelitas t o r n a r a m - s e cul-
tishri Agripa 1 devia, pois, ler a Lei. Fez a leitura d e pé; p a d o s , sujeitos à p e n a , p o r t e r e m elogiado A g r i p a " . A n t e r i o r m e n t e foi
tal atitude já devia mostrar ao povo sua h u m i l d a d e , mas feita m e n ç ã o d e u m a festa d a s T e n d a s à q u a l t o m o u p a r t e R. T a r f o n
q u e era a i n d a u m r a p a z q u a n d o d a d e s t r u i ç ã o d o T e m p l o em 70 d . C ;
o u t r a circunstância iria realçá-la muito mais: " G u a n d o só p o d e tratar-se, pois, d o a n o 62. — N ã o é dito, p o r é m , q u e a obser-
chegou na [ f r a s e ] ; ' N ã o poderás n o m e a r sobre ti [ c o m o v a ç ã o d e R . N a t ã se r e p o r t e à m e s m a festa d a q u a l p a r t i c i p o u R.
rei] u m estrangeiro' [Dt 17,15] ele se pôs a chorar. U m a Tarfon.

voz então se fez ouvir: N ã o temas, Agripa, tu és nosso 163. Pelas seguintes r a z õ e s : a) O r e l a t o d e Sota V I I 8 está d e
a c o r d o c o m os c o n s t a n t e s esforços d e A g r i p a I a favor dos círculos
irmão, nosso i r m ã o , sim, tu és nosso i r m ã o ! " . Os 155

fiéis à Lei (At 12,3 e passim). b) E m 62 d.C. h o u v e sério conflito


historiadores discutem p a r a esclarecer se o relato se refere e n t r e A g r i p a II e os chefes d o p o v o u n i d o s ao clero (Ant. X X 8, 11,
§ 1 8 9 s s ) . O conflito se d e u antes de A l b i n o , c e r t a m e n t e e m exercício
n a festa das T e n d a s d e 62, ter a s s u m i d o o c a r g o (Ant. X X 9, 1, §
154. Ant. X V 10, 4, § 370; X V I I 2, 4, § 42. 197). N e s t a situação tensa u m a m a n i f e s t a ç ã o de simpatia ao rei, d a
355. Ant. X I X 7, 4, § 332. p a r t e d o p o v o , era p o u c o p r o v á v e l , c) S e g u n d o Josefo, Ant. I V S, 12,
156. Sobre este a s s u n t o , ver m e u artigo Sabbathjahr, e m ZNW 27 § 209, o s u m o s a c e r d o t e d e v e fazer a l e i t u r a n a festa das T e n d a s . Por-
(1928) 98-103. t a n t o , teria s i d o assim n o ú l t i m o p e r í o d o a n t e s d a r u í n a d o T e m p l o ;
157. Sota V I I 8. tal p r á t i c a , o p r ó p r i o Josefo p r e s e n c i o u a o assistir à festa d o a n o 62,
158. D t . 1,1 -6;6,4-9; 11,13-21; 14,22-29;26,12-15; a p a r t e s o b r e o rei q u a n d o era e n t ã o u m j o v e m s a c e r d o t e de 24 a n o s (a m u d a n ç a n o r i t o ,
17,14-20,27,l-26;28,1-69 (Sota V I I 8, com v a r i a n t e s n o s m s s . e n a s tra- s e g u n d o a q u a l a leitura seria feita n ã o m a i s p e l o rei m a s pelo s u m o
dições p a r a l e l a s ) . s a c e r d o t e , deu-se, sem d ú v i d a , n o a n o 48 [festa das T e n d a s a p ó s o
a n o de p o u s i o d e 47-48] q u a n d o n ã o h a v i a r e i ) . E m Sota V I I 8, é o
159. Sota V I I 8 e par.; Sifre D t 17,15, § 157 ( 4 5 , 178, 4 7 ) : Mi-
a

rei q u e m faz a leitura; o fato situa-se, p o i s , antes d e 62.


drasch Tannaim s o b r e D t 17,15, ed. D . H o f f m a n n , Berlim, 1908-1909,
104.
conheceu p u b l i c a m e n t e sua inferioridade foi o suficiente em presença de testemunhas , a r r a n c a v a u m olho ou u m
17S

p a r a despertar o clamor comovente e cheio de p i e d a d e : dente do escravo (Ex 21,26-27) ou o mutilava n u m a das 176

'ahinü 'attah . 164


" 2 4 extremidades dos m e m b r o s " ; a alforria podia igual-
177

mente ser o b t i d a por meia-libertação , mas nesse caso, 17S

o escravo deveria assinar u m d o c u m e n t o , obrigando-o a


3 . O s escravos p a g ã o s l i b e r t o s pagar a m e t a d e do seu valor . d) Conforme vimos , ob-
m m

tinha a liberdade pela morte do seu senhor, no caso de


A instituição d a alforria dos escravos foi i n s p i r a d a ser esse u m prosélito, não d e i x a n d o , como herdeiros , l82

no direito r o m a n o . Os escravos libertos constituíam o ter- filhos concebidos após a conversão, e) Finalmente, u m es-
ceiro g r u p o da p o p u l a ç ã o que fazia p a r t e dos israelitas cravo q u e não se tivesse ainda t o r n a d o p r o p r i e d a d e total
m a r c a d o s por mácula leve. Trata-se de pagãos (homens e de seu mestre — o que acontecia através do " b a n h o p a r a
mulheres) d e nascença q u e , t o r n a d o s escravos, servos a
165
ser e s c r a v o " — podia por si m e s m o p r o c u r a r a liber-
183

serviço de u m j u d e u , submeteram-se ao se tornarem pro- d a d e , t o m a n d o u m " b a n h o p a r a ficar l i v r e " . E m resu- 1 8 4

p r i e d a d e do seu amo j u d e u , à circuncisão e ao b a n h o (ba- m o , é preciso dizer que as possibilidades p a r a os escravos


n h o dos escravos) , e em seguida libertos "' .
m 7
pagãos de se t o r n a r e m livres eram m u i t o p e q u e n a s .
A libertação podia-se fazer: a) p o r livre decisão
168
Se o escravo liberto tomara o b a n h o " p a r a tornar-se
do proprietário q u e tinha a possibilidade de se exprimir
m
l i v r e " prescrito em todos os casos, toda e q u a l q u e r potestas
t a m b é m sob a forma de reconhecimento tácito ™, d e so- do antigo amo cessava; d o r a v a n t e o liberto era juridica-
lene liberação sacral na s i n a g o g a , de disposição testa-
171
mente igual aos outros prosélitos integrais. E n t r e t a n t o , os
m e n t á r i a , de indicação d a d a no leito de morte . b) Por
m m
tribunais saduceus de sacerdotes c r i a r a m distinções. Por
183

resgate c o m o auxílio de outras p e s s o a s , c) H a v i a liber- 174


exemplo, d e t e r m i n a d o tribunal não p e r m i t i u ao escravo li-
tação forçada, por decisão do t r i b u n a l , q u a n d o u m a m o ,
p a g ã o a u m p a g ã o ou em p a í s e s t r a n g e i r o , o escravo p a g ã o devia ser
r e s g a t a d o e d e p o i s , l i b e r t a d o . Gil. I V 6.
164. Essa e x c l a m a ç ã o p a r e c e presa a D t 23,8: " N ã o a b o m i n e s o
e d o m i t a , pois ele é teu i r m ã o . 175. b . B. Q. 7 4 . b

165. O s escravos j u d e u s submetiam-se a o u t r o direito, ver supra, 176. b . Qid. 2 4 bar.: d e d u ç ã o de Ex 21,26-27 c o m o auxílio d a
a

p 414ss. regra h e r m e n ê u t i c a binyan 'ab.


177. D e d o s d a m ã o , d e d o s do p é , p o n t a d o nariz, m e m b r o viril
166. S o b r e este b a n h o , ver b , Yeb. 4 6 - 4 7 bar., e Billerbeck, I
a b

ou bico dos seis d a m u l h e r , Neg. V I 7; b . Qid. 2 5 bar.; t r a t a d o a

1054s; I V , 724, 744.


'Abadim I I I 4.
167. S o m e n t e os escravos pagãos q u e foram c i r c u n c i d a d o s (sobre
a c i r c u n c i s ã o dos escravos p a g ã o s , ver infra, p p . 459ss.) p o d i a m se 178. Esse caso se a p r e s e n t a v a q u a n d o , p o r e x e m p l o , se d u a s (ou
t o r n a r libertos no s e n t i d o do direito j u d a i c o . diversas) pessoas h e r d a v a m u m escravo em c o m u m , u m a lhe conce-
desse a l i b e r d a d e .
168. Billerbeck, I V , 739-744; K r a u s s , Taím. Ardi., I I , 98-101.
169. b . Gli. 3 8 e passitn. Contestava-se, e n t r e t a n t o , q u e o a m o ti-
b 179. O u os 2 / 3 etc. O caso d e p e n d i a d o n ú m e r o de d o n o s q u e
vesse a seu bel-prazer o direito de libertar seus escravos, cf. b . a i n d a tivessem direito à p r o p r i e d a d e e do n ú m e r o d a q u e l e s q u e , pela
B. O. 7 4 . b l i b e r t a ç ã o , t i n h a m r e n u n c i a d o à sua p a r t e .
180. Gíí. I V 5. E r a o p r o p r i e t á r i o l e s a d o pela l i b e r t a ç ã o q u e re-
170. A seguir, este r e c o n h e c i m e n t o tácito de libertação e r a con-
cebia o d o c u m e n t o .
s i d e r a d o c o m o c o n c e d i d o q u a n d o o a m o obrigava o escravo a fazer
atos d e u m h o m e m livre, Billerbeck, I V , 740, 742s. 181. Ver supra, p . 434.
182. Neste c a s o , os escravos — na v e r d a d e s o m e n t e os a d u l t o s —
171. Ver as p r o v a s epigráficas em S c h ü r e r , I I I , 25s, 93s; A . Deis-
p o d i a m , eles p r ó p r i o s se d e c l a r a r e m livres (a título de b e m sem pro-
s m a n n . Licht vom Osten, 4? ed.. T ü b i n g e n . 1923, 2 7 1 .
p r i e t á r i o ) , Gerim I I I 13. — b . Qid. 2 3 inclui, i g u a l m e n t e , os escravos
a

172. Pea I I I 8 e passim. menores.


173. b . Gil. 4 0 e passim.
a

183. Ver supra, n. 166.


174. Qid, í 3; t r a t a d o 'Abadim I I I 4. A o e s c r a v o p a g ã o era proi-
184. Mek. Ex 12,48 ( 7 3 6 s s ) ; b . Yeb. 4 5 , 4 6 .
C b a

b i d o possuir b e n s ou adquiri-los. — Se u m j u d e u v e n d i a seu e s c r a v o


185. V e r s u p r a , p . 245 e 314,
berto de Tobias, médico de Jerusalém, t e s t e m u n h a r ter p a r t e dos funerais d e H e r o d e s , o G r a n d e . N o q u e diz 193

visto a nova lua ; colocou-o, p o r t a n t o , no m e s m o p é de


m
respeito, especialmente, a Jerusalém, a literatura rabínica
igualdade do escravo servo , inapto p a r a esse t e s t e m u n h o .
187
situa e m m e a d o s d o século I antes d e nossa e r a , u m a es-
O s escravos libertos dos dois sexos viviam s e p a r a d o s , crava liberta, c h a m a d a K a r k e m i t , casada c o m u m ju-
m

como grupo particular, dos outros prosélitos integrais e deu, aliás, escravo liberto . O s ossuários de u m cemité-
195

seus filhos e r a m t a m b é m distintos, como escravos li- rio muito primitivo descoberto e m Shafat a 3 k m ao norte
bertos, dos outros descendentes de prosélitos , se b e m m de Jerusalém, apresentavam inscrições em h e b r a i c o , em
q u e , de acordo com a opinião d o m i n a n t e , n ã o deveria ha- p a l m i r i a n o e em grego . Aí e n c o n t r a m o s , entre outros,
m

ver distinção do p o n t o de vista legal. A r a z ã o dessa dife- 0 n o m e do escravo Epíteto, assim c o m o os nomes Aphrei-
rença p r o v é m do fato de, p a r a eles, à m a n c h a de sua ori- canos Phouleios, Phouleia Aphricana ; é possível, mas
197

gem pagã, acrescentar-se a m a n c h a de sua antiga servidão. n ã o certo, que os mortos fossem, em p a r t e , escravos li-
bertos , m

Especialmente p a r a uma escrava liberta, esse fato, represen-


U m dito corrente em Jerusalém, é característico da
tava algo m o r a l m e n t e penoso: n ã o se podia cogitar que
situação social dos libertos: " T u a filha já se tornou pú-
u m a escrava pagã pudesse não ter sido p r o f a n a d a . P o r esse
bere [passou dos doze anos e m e i o ] , liberta teu escravo
motivo, juridicamente, a palavra " p r o s t i t u t a " em Lv 21,7
e dá-o à tua filha [ e m c a s a m e n t o ] " , o q u e significa: se
m

é explicada da seguinte m a n e i r a : "Considera-se como 'pros-


tua filha ultrapassou a idade n o r m a l p a r a o n o i v a d o , m

tituta' a prosélita, a escrava liberta e aquela q u e foi de-


não hesites em casá-la com teu escravo liberto. A q u i , o
florada pela p r o s t i t u i ç ã o " ; q u a l q u e r escrava liberta pas-
189

liberto é m e n c i o n a d o c o m o m e m b r o do grupo inferior da


sava, pois, ipso facto, por prostituta! Sob este enfoque, ela
p o p u l a ç ã o com o q u a l o casamento era ainda permitido
se achava ainda abaixo da prosélita: " P o r q u e p e d e m em
a u m a israelita de origem p u r a ; sim, p o r q u e , na hierar-
casamento u m a prosélita e não u m a escrava l i b e r t a ? Por-
quia social, i m e d i a t a m e n t e após, v ê m os israelitas marca-
que se admite que a prosélita tenha-se preservado [ d e re-
dos por m a n c h a grave em sua origem aos quais os israe-
lações sexuais] , ao passo que a escrava liberta é, em
190

litas legítimos n ã o p o d i a m se aliar. Vê-se e n t ã o que o es-


geral, u m a p r o s t i t u t a " . 191

cravo liberto era t r a t a d o c o m g r a n d e d e s d é m . A voz 201

O n ú m e r o de escravas libertas n ã o era elevado, e por 193. B. j. I 3 3 , 9, § 6 7 3 : 500 escravos e l i b e r t o s . — L i b e r t a d o s


volta do fim do século I de nossa era, os rabinos discutiam n a c o r t e de F é r o r a s ( A n i . X V I I 4, 1, § 6 1 ) ; E u t i c o , liberto d e A g r i p a
p a r a saber se a libertação era, em última análise, permi- 1 (Ant. X V I I I 6, 5, § 1 6 8 ) ; Filipe, filho d e Y a k í m , oficial s u p e r i o r
d e A g r i p a I I , possui libertos em seu serviço (Vila I I , § 48 e 5 1 ) .
tida . É certo, e n t r e t a n t o , que u m direito d o m i n a n t e e
m

194. 'Ed. V 6; Sijre N m 5, 12, § 7 ( 3 3 9 ) ; b . Ber. 1 9 bar.;


b a

u m a prática real respondiam afirmativamente. Josefo men- Nm. R. 9 s o b r e 5, 3Í ( 5 6 7 ) . S o b r e esse texto ver Billerbeck, I V ,
b

ciona escravos libertos da corte h e r o d i a n a q u e t o m a r a m 309s; S. M e n d e l s o h n e m RE] 41 ( 1 9 0 0 ) , 32; K. G . K u h n , Sijre zu


Numeri (Rabbinische Texte II 3 ) , S t u t t g a r t , 1959, 33 ( d á u m a biblio-
grafia m a i s a m p l a ) .
186. R. H. í 7. 195. R. H. I 7.
187. R. H. I 8. 196. F . M . A b e l , e m RB n. s. 10 ( 1 9 1 3 ) , 262-277; Cl] II, nn.
188. T o s . Qid. I V 15 ( 3 4 1 , 12). 1214-1239.
189. Yeb. V I 5; Sifra Lv 21,7 ( 4 7 186, 2 2 ) ; ver supra, p . 2 9 5 .
b
197. = F u r i u s A f r i c a n u s , F ú r i a A f r i c a n a , A b e l , Art. cit. n n . 3 e
190. Se a i n d a fosse p e q u e n i n a p o r ocasião d a c o n v e r s ã o d o s p a i s . 4, 272s; Cl] II, n. 1227 a e b.
191. T o s . Hor. I I 11 (477, 5 ) . P a r . j . Hor. I I I 9, 4 8 " 56 ( V I / 2 , 198. F . B l e c k m a n n , e m ZDPV 38 ( 1 9 1 5 ) , 239.
279). 199. b . Pes. 1 3 3 a

192. Discutia-se p a r a saber se, n a frase d o Lv 25,46; "Tê-los-eis 2 0 0 . Billerbeck, II, 3 7 4 ; d o z e a n o s a d o z e a n o s e m e i o .


p e r p e t u a m e n t e c o m o e s c r a v o s " , era p r e c i s o ou n ã o v e r u m a i n t e r d i ç ã o 2 0 1 . j . Hor. I I I 9, 48» 58 ( V I / 2 , 2 7 9 ) : " R . Y o h a n a n (f 279) di-
da alforria, b . Git. 3 8 . b
zia: N ã o te fies a u m e s c r a v o j u d e u a t é a sexta g e r a ç ã o [após a sua
libertação]".
p o p u l a r exprimia profundo desprezo q u a n d o colocava os trar', p a l a v r a s de R. A q i b a [ f depois de 135 d . C ] . b) Shi-
m e m b r o s da família real h e r o d i a n a neste g r u p o da popu- m e o n , o temanita [cerca de 110 d . C ] , dizia: T o d o s [os
lação . E t o d a a h u m i l d a d e do cristianismo de P a u l o re-
203 descendentes de u m a u n i ã o ] sobre a qual cai o castigo da
side n o fato de c h a m a r o cristão " u m liberto de C r i s t o " exterminação pela m ã o de Deus — e a h a l a k corres- 206

( I C o r 7,22) q u a n d o , no domínio do c o n h e c i m e n t o e das p o n d e à sua opinião, c) R. Y o s h u a [ben H a n a n i a s , cerca


questões de fé, o cristão não é escravo de u m h o m e m , de 9 0 d . C ] assim d e c l a r a v a : "todos [os descendentes de
m e s m o q u a n d o faz p a r t e de escravos ( I C o r 7,23). u m a u n i ã o ] sobre a q u a l cai a p e n a de m o r t e [ p r o n u n -
ciada] pelo tribunal [da terra] " . Conforme p o d e m o s 201

ver, os doutores do início do século I de nossa era n ã o


estavam de acordo q u a n t o ao c o n t e ú d o jurídico do con-
ceito d e b a s t a r d o . Três opiniões se defrontavam.
B. ISRAELITAS MARCADOS POR MANCHA GRAVE

a) R. A q i b a representa a o p i n i ã o mais estrita. De-


A c a b a m o s de estudar os grupos da p o p u l a ç ã o mar- clara bastardos todos os descendentes de u m a união proi-
cados a p e n a s p o r m á c u l a leve, aos quais só era i n t e r d i t a d a bida na Tora (incesto, adultério e t c . ) , e exclui somente 2 m

a aliança c o m famílias sacerdotais. Em c o n t r a p a r t i d a , o os descendentes da u n i ã o (proibida por Lv 21,14) entre


casamento c o m levitas, israelitas de origem legítima e des- o sumo sacerdote e u m a viúva , exceção à qual o pró- 209

cendentes ilegítimos de sacerdotes era t a m b é m p r o i b i d o prio texto de Lv 2 1 , 1 5 o conduziu. É u m a característica


210

aos grupos que passaremos agora a estudar . Essa inter- 203 da severidade de A q i b a ir além do p r ó p r i o texto da lei
dição, apoiada em Dt 2 3 , 2 - 3 , afastava da "assembléia de bíblica: declara igualmente bastardos os filhos de u m ca-
I a h w e h " (ibid.) os israelitas m a r c a d o s com m á c u l a grave; samento proibido somente pelos r a b i n o s . D a r e m o s alguns
e r a m " o lixo da c o m u n i d a d e " . 204 exemplos. Considera como b a s t a r d o o filho d a união c o m

6 ( 1 9 2 8 ) , 267-277; A. B ü c h l e r , Famüienreinheit und Sittlichkeit in Sep-


phoris im zweiten Jahrhundert, e m MGWJ 78 ( 1 9 3 4 ) , 126-164.
1. O s bastardos 206. O d i r e i t o e m vigor.
2 0 7 . Yeb. I V 13. M a i o r e s d e t a l h e s , Sifre D t 23,2, § 248 (50* 4 4 s s ) ;
Trata-se, inicialmente, dos bastardos, mamzérim . 205
j . Qid. I I I 14, 64c 4 4 ( y / 2 , 275-276. Ver a i n d a T o s . Yeb. I 10 [ 2 4 1 ,
27ss] ( o p i n i ã o de R. S h i m e o n ) ; j . Yeb. V I I 6, 8 l s s [ I V / 2 , 107] (opi-
C

" Q u e é u m manzer? a) Todos fos descendentes] de uma n i ã o d e R. Y o s h u a ) . Cita-se m u i t a s vezes a o p i n i ã o de R. A q i b a .


u n i ã o proibida [na Escritura] pelo ' T u n ã o deves en- 2 0 8 . b . Qid. 6 4 , 6 8 , 7 6 . S e g u n d o A q i b a , o filho é b a s t a r d o mes-
a a a

m o se a E s c r i t u r a n ã o m e n c i o n a o castigo ( c o n d e n a ç ã o à m o r t e ou
202. V e r s u p r a , n . 146. extermínio). Assim, por exemplo, segundo Aqiba, a criança é bastarda
q u a n d o u m m a r i d o torna a aceitar s u a m u l h e r d i v o r c i a d a , m e s m o q u e ,
2 0 3 . Qid. I V 1 (ver supra, p . 3 6 5 ) ; I I I 12; Yeb. I I 4; V I I I 3,
n e s t e í n t e r i m , ela t e n h a c o n t r a í d o o u t r o c a s a m e n t o (cf. infra, n . 2 1 5 ) ;
I X 2-3; Mak. I I I 1 ( s e g u n d o o texto d a e d . p r í n c i p e , N á p o l e s , 1492,
D t 2 4 , 1 4 p r o í b e essa u n i ã o s e m m e n c i o n a r castigo n o caso de trans-
e o d a M i s h n a n a e d . p r í n c i p e d o T a l m u d e d e Babilônia, V e n e z a ,
gressão d a o r d e m .
1520ss).
204. P sülê
e
qahal. 2 0 9 . b . Qid. 6 4 , 68*; b . Ket. 2 9 : ele d e c l a r a os filhos
a b
hãlalim
e n ã o mamzérim. S e g u n d o T o s . Yeb. V I 8 (248, 1 5 ) , A q i b a teria ex-
205. P r i m i t i v a m e n t e , a p a l a v r a mamzer d e s i g n a v a a p o p u l a ç ã o mes-
c l u í d o t a m b é m os d e s c e n d e n t e s n a s c i d o s d o m a t r i m ô n i o de u m sacer-
clada da planície filistéia n a época p e r s a ( S . I. Feigín, e m The Ame-
dote c o m u m a d i v o r c i a d a o u u m a hâlúsah ( s o b r e essa ú l t i m a , ver d u a s
rican Journal of Semitic Languages and Literature 43 [ 1 9 2 6 ] , 53-60;
n o t a s a b a i x o ) , e m b o r a essa u n i ã o t a m b é m fosse p r o i b i d a , ver supra,
M . N o t h , e m ZAW 45 [ 1 9 2 7 ] , 2 1 7 ) . — S o b r e o s e n t i d o desse t e r m o
p. 297.
n a antiga l i t e r a t u r a r a b í n i c a , ver A. Büchler, Familienreinheit und Fa¬
milienmakel in Jerusalem vor dem Jahre 70, em Festschrift Schwarz, 2 1 0 . " E l e n ã o p r o f a n a r á " , ló y hallel;
e
as c r i a n ç a s são, p o i s hãlalim
140ss; V . A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats im jüdischen Schrifttum, e não mamzérim.
E x c u r s u s I I : Das Kind einer Jüdin von einem Nicht judeu, e m HU CA
a hãlüsah , com parentes da hãlüsah ,
211
com u m a m u l h e r 1X1
a g r u p a m e n t o d a s 3 6 faltas a m e a ç a d a s d e e x t e r m í n i o , tra- m

divorciada cuja carta de divórcio, d o b r a d a e c o s t u r a d a , m


ta-se de filhos nascidos d e casos precisos de i n c e s t o . 218

trazia a assinatura d e u m escravo em vez da de u m a tes- c) A terceira opinião a respeito do sentido de mam~
temunha etc. .
2 1 4 215
zer, defendida por R. Y o s h u a , considera c o m o b a s t a r d o s
somente os filhos nascidos d e u m a u n i ã o a m e a ç a d a , n a T o r á ,
b) A segunda opinião sobre o sentido do termo mam- de pena de morte legal. O a g r u p a m e n t o , e m Sanh. V I I
zer parte do que já foi dito sobre as uniões p r o i b i d a s n a 4 — X I 6, dos delitos a m e a ç a d o s d a s q u a t r o p e n a s d e
T o r á : a m e a ç a d a s ora c o m a p e n a de extermínio, ora com m o r t e legais ( l a p i d a ç ã o , c o m b u s t ã o , degolação, estrangu-
a p e n a de m o r t e ; (por ex., Lv 2 0 , 1 0 - 1 6 ; p e n a de m o r t e ; l a m e n t o ) mostram-nos q u e , segundo essa terceira opinião,
2 0 , 1 7 - 2 1 : p e n a de extermínio): Shimeon, o temanita, cuja alguns casos determinados de incesto e a i n d a d e adulté-
opinião foi d u r a n t e o século I elevada a nível de direito r i o , faziam igualmente c o m que os filhos fossem bas-
2 1 9

em v i g o r , só declara bastardos os filhos nascidos de


m
tardos.
uma u n i ã o a m e a ç a d a de extermínio, na Escritura, isto é, A questão que nos interessa é saber qual a opinião
segundo a explicação rabínica, pelo julgamento divino de mais antiga. A q u e m se considerava b a s t a r d o , n a Jerusa-
u m a morte antecipada. Conforme mostra em Ker. I 1, o l é m anterior à destruição d o T e m p l o ?
A s informações fornecidas pela t r a d i ç ã o permitem-nos
2 1 1 . ( = M u l h e r d o i r m ã o falecido, sem filho, à q u a l o c u n h a d o tão somente constatar o seguinte: Yeb. IV 13 conta: " R .
r e c u s o u o c a s a m e n t o levirático) Yeb. I V 12; T o s . Yeb. V I 5 ( 2 4 7 , 1 6 ) ; S h i m e o n b e n Azzai [cerca de 120 d . C ] dizia: E n c o n t r e i
b . Yeb. b
4 4 . A q i b a apóia-se e m D t 25,9: lô yibneh (K. Rengstorf,
Jebatnot [col. Die Mtschna], G i s s e n , 1929, 6 4 ) . em Jerusalém u m rolo genealógico n o q u a l estava inscrito:
212. Yeb. I V 12; T o s . Yeb. V I 5 (247, 1 6 ) ; b . Yeb. 4 4 . A q i b a b
N . N . é b a s t a r d o de u m a m u l h e r c a s a d a " . Por conseguinte,
p õ e a hãlüsah n o m e s m o p l a n o q u e a m u l h e r d i v o r c i a d a , e aplica-lhe em Jerusalém, declararam-se b a s t a r d o s os filhos concebi-
Lv 18,18.
2 1 3 . O p r o c e s s o de divórcio era feito d e m a n e i r a c o m p l i c a d a . Ha- dos e m adultério. U m fato reforça essa constatação: R.
via, a l t e r n a d a m e n t e , u m a linha escrita e o u t r a em b r a n c o ; nas linhas Eliézer (cerca d e 9 0 d . C ) , o p e r p é t u o r e p r e s e n t a n t e d a
vazias, o p r o c e s s o era d o b r a d o e c o s t u r a d o . D e s t e m o d o , h a v i a u m a
série d e p r e g a s ; d o l a d o d e fora de c a d a p r e g a , p e l o m e n o s u m a
Antiga t r a d i ç ã o , expõe diversas vezes o m e s m o concei-
t e s t e m u n h a deveria assinar. Esse m é t o d o c o m p l i c a d o d e v i a g a r a n t i r
t r a n q ü i l i d a d e e r e c o n c i l i a ç ã o aos m a r i d o s i m p e t u o s o s . 2 1 7 . T r a d u ç ã o era Billerbeck, I , 2 7 2 .
214. b . Glt. 8 1 b a r . — O p r o c e s s o de d i v ó r c i o é i n v á l i d o ; os fi-
a
218. E x e m p l o s q u a n t o a o p i n i ã o de S h i m e o n : é b a s t a r d a a crian-
lhos são, pois c o n c e b i d o s n o a d u l t é r i o . ç a n a s c i d a d a s relações c o m a c u n h a d a (Yeb. X 3 4 ; cf. L v 18,16).
215. O u t r o s c a s o s : Yeb. I V 12; T o s . Yeb. V I 5 ( 2 4 7 , 1 6 ) ; j . Yeb. C o m a i r m ã da m u l h e r d i v o r c i a d a (Yeb. I V 12; cf. Lv. 18,18).
X 1, 10= 62 ( I V / 2 , 1 3 8 ) ; b . Yeb. 4 4 : se a l g u é m , a p e s a r d a inter-
b

P a r a a m b o s os casos, o* castigo p o r e x t e r m í n i o é i n d i c a d o e m L v 18,


d i ç ã o de D t 24,1-4, r e t o m a s u a m u l h e r d i v o r c i a d a a p ó s te-rse c a s a d o 29. — S h i m e o n n ã o c o n t a c o m o b a s t a r d o s os filhos c o n c e b i d o s du-
de n o v o n e s t e i n t e r v a l o , o filho, s e g u n d o A q i b a , é b a s t a r d o . — Yeb. r a n t e o p e r í o d o d e i m p u r e z a m e n s a l ( T o s . Yeb. VI 9 [248, 1 6 ] ) , se
X 1: se, d e p o i s d a notícia falsa da m o r t e de seu m a r i d o , u m a mu- b e m q u e o c a s o , s e g u n d o Ker. I 1 ( p e n a d e e x t e r m í n i o ) faça p a r t e
lher c o n t r a i n o v a s n ú p c i a s , seu filho é b a s t a r d o , p o u c o i m p o r t a ser deste c o n j u n t o ; a l é m disso, s e g u n d o Yeb, I V 13, S h i m e o n p a r e c e n ã o
d o p r i m e i r o ou d o s e g u n d o m a r i d o . A q u i , A q i b a n ã o é e x p l i c i t a m e n t e
ter também contado como bastarda a criança concebida n o adultério,
i n d i c a d o c o m o a u t o r , m a s c o m o b e m o viu K. H . Rengstorf, jebamoí
e m b o r a o a d u l t é r i o p e r t e n ç a à lista das faltas m e n c i o n a d a s e m Ker.
(col. Die Mischna), Giessen, 1929, in loco, esse p o n t o d e v i s t a só
c o r r e s p o n d e às suas idéias. — Yeb. X 3 ; T o s . Yeb. X I , 6 (253, 8 s s ) : I 1. A s d u a s coisas se e x p l i c a m , s e m d ú v i d a , p e l o f a t o de a o p i n i ã o
o u t r o s casos de notícias falsas n o q u e c o n c e r n e às c i r c u n s t â n c i a s ime- de S h i m e o n limitar-se às p r o i b i ç õ e s d o incesto a m e a ç a d a s d a p e n a
diatas da m o r t e d o m a r i d o : os filhos são b a s t a r d o s . — j . Yeb. X 1, d e e x t e r m í n i o ( T o s . Yeb. I 10 [ 2 4 1 , 2 7 ] ; T o s . Qid. I V 16 [ 3 4 1 , 1 3 ] ;
1 0 61 ( I V / 2 , 1 3 8 ) : s e g u n d o A q i b a , a c r i a n ç a n a s c i d a d a u n i ã o de
c b . Quid. 75 ).
b

u m m a r i d o c o m sua m u l h e r suspeita d e a d u l t é r i o , é b a s t a r d o . — O u - 219. S e g u n d o R . Y o s h u a , o s filhos c o n c e b i d o s e m a d u l t é r i o e r a m


tros c a s o s : Yeb. X 4 ; T o s . Yeb. X I 6 (253, 17ss); T o s . Git. V I I I 6 b a s t a r d o s ; Yeb. I V 13 o d e m o n s t r a e x p r e s s a m e n t e . — S e g u n d o Sanh.
(332, 2 9 ) ; b . Qid. 6 4 e p a r . ; b . Yeb. 4 9 .
a a
V I I 4 - X I 6, estava t a m b é m a m e a ç a d a d a p e n a d e m o r t e legal a u n i ã o
c o m a n o i v a de o u t r o , Sanh. V I I 5 et alii:- A. Büchler, Familienreinheit
216. Yeb. IV 13. and Sittlichkeit, e m MGWJ 7 8 ( 1 9 3 4 ) , 140 cíta o u t r o s casos.

15 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
t o ; além d o m a i s , era transmitida p o r Hilel (cerca de
m
D e v e m o s supor m u i t o n u m e r o s o , p o r conseguinte, o gru-
20 a.C.) e pelos doutores de seu tempo , e é igualmente m
po d a p o p u l a ç ã o q u e , c o m seus descendentes, e r a designa-
admitida por H b 12,8. do p o r este termo, Reconheciam-se facilmente as pessoas
Se e x a m i n a r m o s de novo as três opiniões divergentes m a r c a d a s c o m a m á c u l a grave d o mamzer , embora pro-
m

a respeito do termo b a s t a r d o , vemos q u e esse conceito c u r a s s e m , o q u e se c o m p r e e n d e , e s c o n d e r sua m a n c h a ; 224

corresponde à opinião de R. A q i b a e de R. Yoshua; e m é o q u e m o s t r a a o b s e r v a ç ã o d o registro genealógico d e


c o m p e n s a ç ã o , n ã o corresponde à opinião de R. S h i m e o n , Jerusalém, m e n c i o n a d o n a alínea p r e c e d e n t e .
o tanaíta, elevada, d u r a n t e o século I, a nível de direito Q u a l e r a a situação jurídica d o s b a s t a r d o s n a socie-
em vigor. Ressalta, pois, q u e a época antiga g u a r d a v a u m d a d e ? A Bíblia prescrevera: " N e n h u m b a s t a r d o e n t r a r á n a
conceito mais rigoroso do termo bastardo do q u e o sé- assembléia d e Y a h w e h ; e seus d e s c e n d e n t e s t a m b é m n ã o
culo I I ; e n c o n t r a m o s , aliás, os índices dessa afirmação. 222
p o d e r ã o e n t r a r n a assembléia d e Y a h w e h a t é a décima
g e r a ç ã o " ( D t 2 3 , 3 ) . A explicação r a b í n i c a f o r m u l a assim
220. b . Nidda 1 0 b a r . (filhos d a m u l h e r d e u m i m p o t e n t e são
a
esta p r e s c r i ç ã o : " O s mamzerim e os rfútúm [escravos do
b a s t a r d o s ) . A i n d a b . Ned. 2 0 - . a b

T e m p l o , v e r infra, p . 4 5 3 ] ficam p r o i b i d o s [ d e admissão


221. T o s . Ket. I V 9; 264, 29 ( p a r . j . Ket. I V 8, 2 8 61 [ n ã o tra- d

d u z i d o e m V / l , 60 q u e r e m e t e a o p a r . I V / 2 , 2 0 0 ] ; b . B. M. 1 0 4 a
à c o m u n i d a d e d e Israel, q u e r dizer, a u n i ã o sexual] e sua
b a r . ) : a p ó s o n o i v a d o (e antes d o c a s a m e n t o ) m u l h e r e s h e b r é i a s e m interdição é u m a interdição eterna [ v á l i d a ] t a n t o p a r a os
A l e x a n d r i a são s e q ü e s t r a d a s e v i o l a d a s . Hilel infere d o fato d e q u e
n ã o são a i n d a c a s a d a s p a r a rejeitar a o p i n i ã o dos d o u t o r e s d e seu h o m e n s c o m o p a r a as m u l h e r e s " . Essa cláusula inter-
225

t e m p o q u e c o n s i d e r a v a m os filhos c o m o b a s t a r d o s : " E l e [Hilel] lhes ditava aos b a s t a r d o s o c a s a m e n t o , e t a m b é m o casamento


[aos filhos] d i z : T r a g a m - m e o c o n t r a t o de c a s a m e n t o d e suas m ã e s . — levirático 226
n a s famílias d e sacerdotes, levitas, israelitas e
T r o u x e r a m - n o [e v i r a m o q u e ] estava escrito: D e s d e q u e tiveres en-
t r a d o e m m i n h a casa [ p o r t a n t o , a p a r t i r d o c a s a m e n t o e n ã o d o noi- filhos ilegítimos d e s a c e r d o t e s ; os b a s t a r d o s p o d i a m so-
221

v a d o , Billerbeck, I I , 3 9 2 ] , tu serás m i n h a m u l h e r s e g u n d o a Lei d e m e n t e se casar n a s famílias d e prosélitos, escravos liber-


Moisés e d e I s r a e l " . Hilel sabe q u e , p o r ocasião d o n o i v a d o , os ju-
d e u s d e A l e x a n d r i a t ê m c o s t u m e d e d a r , s e g u n d o u m m o d e l o egípcio tos e israelitas g r a v e m e n t e m a n c h a d o s . Se a filha de u m
(I. H e i n e m a n n , Philons griechische und jüdische Bildung, Breslau, 1932 sacerdote, d e u m levita ou de u m israelita legítimo se
[ r e i m p r e s s ã o D a r m s t a d t , 1 9 6 2 ] , 298 e 3 0 1 s ) , p r o m e s s a s escritas d e ca- une 2 2 8
a u m b a s t a r d o , fica para s e m p r e i n a p t a ao casa-
2 2 9

s a m e n t o ( H e i n e m a n n dá, 3 0 1 , u m e x e m p l o d e libelo) cuja r e d a ç ã o é


diferente d o s c o n t r a t o s m a t r i m o n i a i s (h tübbah)
e
p a l e s t i n o s (cf. F í l o n , m e n t o c o m u m sacerdote . Se é u m a filha de sacerdote,
m

De spec. leg. I I I , § 7 2 ) . C o m o n o caso p r e c e d e n t e , t i n h a m - s e d a d o n ã o p o d e r á mais comer d a arrecadação destinada aos sa-


s o m e n t e p r o m e s s a s d e c a s a m e n t o deste g ê n e r o , e n ã o c o n t r a t o s defi-
nitivos; o c a s a m e n t o n ã o h a v i a a i n d a c o m e ç a d o c o m o n o i v a d o ; os
cerdotes n a casa p a t e r n a . O filho de q u a l q u e r união
m

filhos n ã o e r a m , p o i s , c o n c e b i d o s n o a d u l t é r i o . Essa história f a z ver


q u e Hilel e os d o u t o r e s d e seu t e m p o d e c l a r a v a m b a s t a r d o o filho HUCA 5 ( 1 9 2 8 ) , 266s n ã o é c o n v i n c e n t e e sua e x p l i c a ç ã o é p a r t i c u l a r -
concebido no adultério. m e n t e a f e t a d a . C o n t r a e l e , A . B ü c h í e r , e m MGWJ 78 ( 1 9 3 4 ) , 134, n . 4 .
222. A Setenta m o s t r a u m conceito m u i t o e x t e n s o ( p o r t a n t o rigo- 2 2 3 . T o s . Qid. V 2 ( 3 4 1 , 2 6 ) : " O s israelitas c o n h e c e m os escra-
roso) d o t e r m o q u a n d o , e m D t 23,3 t r a d u z e m p o r èk pórnes a pala- vos d o T e m p l o e os b a s t a r d o s n o m e i o d e l e s " .
v r a manzer q u e figura s o m e n t e d u a s vezes n o A . T . ( Z a 9,6: allogenés 224. Cf, o episódio c o n t a d o e m Lv. R. 3 2 sobre 2 4 , 10 ( 8 8 2 5 s s ) . b

v e r a este r e s p e i t o A . Geiger, Urschrift und Übersetzungen der Bibel, 2 2 5 . Yeb. V I I I 3 , cf. Sifre Dt 2 3 , 3 , § 2 4 8 ( 5 0 5 3 s s ) . b

Breslau, 1857, 5 2 - 5 5 ) . — U m a i n d i c a ç ã o , aliás s i n g u l a r , p a r e c e m e s m o 2 2 6 . Yeb. I X 1: " S e u m israelita d e s p o s a u m a israelita e t e m


s u p o r q u e n o século I d e nossa e r a , considerou-se c o m o b a s t a r d a a c o m o i r m ã o u m b a s t a r d o , se u m b a s t a r d o casa-se c o m u m a b a s t a r d a
c r i a n ç a n a s c i d a d a u n i ã o d e u m j u d e u e d e u m a p a g ã . R. S a d o c , pri- e t e m c o m o i r m ã o u m israelita [ l e g í t i m o ] , e l a s [ a s m u l h e r e s e m q u e s -
sioneiro e m R o m a após a t o m a d a d e J e r u s a l é m e m 70, d e s p e d i u u m a t ã o j s ã o c o n c e d i d a s [ e m c a s a m e n t o ] a seus m a r i d o s , m a s p r o i b i d a s
escrava, a l e g a n d o ser ele d e o r i g e m pontifícia e n ã o q u e r e r a u m e n t a r a seus c u n h a d o s [em c a s a m e n t o l e v i r á t i c o ] " . O u t r o s casos e m I X 2.
o n ú m e r o dos b a s t a r d o s (ARN r e c . A c a p . 16, 6 3 19ss). C o m ra- a

zão A . Büchler, Familienreinheit und Familienmakel, em Festchrift 2 2 7 . Qid. I V 1, ver supra, p . 3 6 5 .


Schwarz, 146, e n c o n t r a aqui o p r o l o n g a m e n t o d o t e r m o b a s t a r d o à 2 2 8 . U m c a s a m e n t o legítimo n ã o é p o s s í v e l .
c r i a n ç a nascida d a u n i ã o d e u m j u d e u c o m u m a p a g ã . A o p o s i ç ã o d e 2 2 9 . Q u a i s q u e r q u e fossem as c i r c u n s t â n c i a s desta u n i ã o . Yeb. V I 2 .
V . A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats im jüdischen Schriftum em
230. Yeb. VI 2.
2 3 1 . Yeb. V I I 5.
deste g ê n e r o é bastardo ; o m e s m o acontece a q u a l q u e r
232 2 3 3

descendente seu; a época remota p a r e c e ter julgado com m o s q u e a p a l a v r a b a s t a r d o t e n h a constituído u m a das


mais indulgência os descendentes de bastardos . 234 piores injúrias; aquele q u e a e m p r e g a v a era c o n d e n a d o
N o q u e concerne a o direito de herança, verificamos ao castigo de 39 chicotadas . 240

q u e n o fim do século I, discutiam-se os direitos d o bas-


t a r d o , c o m o herdeiro . N ã o tinha acesso às dignidades
235

públicas; sua participação n u m a decisão do Sinédrio ou 2 . Escravos d o t e m p l o ,


de u m T r i b u n a l de 2 3 m e m b r o s tornava-a nula . Permi- 23fr
filhos de pai desconhecido
tiam-lhe a p e n a s ser juiz n a s decisões de direito civil n u m crianças enjeitadas, e u n u c o s
t r i b u n a l de três m e m b r o s . 237

Se p e n s a r m o s no fato de que a m á c u l a do b a s t a r d o D o g r u p o dos israelitas m a r c a d o s em sua origem por


m a r c a v a todos os descendentes do sexo m a s c u l i n o para 238

m á c u l a g r a v e , faziam p a r t e os escravos do T e m p l o , n tinim. e

sempre e d e m o d o indelével, e que se chegava m e s m o a Js 9,27 conta que Josué colocou (literalmente " d e u " ,
debater c o m a r d o r p a r a saber se as famílias de b a s t a r d o s wayyiifnem) os gabaonitas como r a c h a d o r e s de lenha e
p a r t i c i p a r i a m da libertação final de Israel , c o m p r e e n d e -m

carregadores de água a serviço do povo e do s a n t u á r i o .


O r a , visto que nos livros pós-exílicos do Antigo Testamen-
232. Qid. I I I 12: " E o n d e q u e r haja n o i v a d o s [possíveis, q u e r
dizer, n ã o p r o i b i d o s p e l a lei d o incesto] m a s o n d e u m a t r a n s g r e s s ã o to são m e n c i o n a d o s , p o r diversas vezes, os escravos dos
[ a í ] se [ a c r e s c e n t a ] , a c r i a n ç a toma a c o n d i ç ã o d a q u e l e [dos dois p a i s ] levitas (Esd 8,20), n tinim ( " d o a d o s " ) conclui-se, pois, que
e

marcado por uma mancha".


esses escravos do T e m p l o e r a m descendentes dos gabaoni-
233. S o m e n t e mais t a r d e foi estabelecida a seguinte r e g r a : " A es-
crava [pagã] é u m b a n h o d e purificação para todos aqueles q u e estão tas. O q u e a literatura rabínica nos diz dos escravos do
i n c a p a c i t a d o s [os q u e estão m a r c a d o s p o r u m a n ó d o a grave e m sua T e m p l o se limita a explicar a p r o i b i ç ã o , tirada de 2 S m
o r i g e m ] " . T o s . Qid. V 3 (342, 1 ) . Significa q u e , n u m a u n i ã o e n t r e 21,2 ( " O s gabaonitas n ã o faziam p a r t e dos israelitas"),
u m b a s t a r d o e u m a escrava ( p a g ã ) , o filho segue a c o n d i ç ã o d a m ã e ,
e vê-se, p o r c o n s e g u i n t e , e s c r a v o ; m a s a escrava p o d e ser l i b e r t a d a e de ter relações sexuais c o m eles; d e q u a l q u e r m o d o , n ã o
faz e n t ã o p a r t e (ver supra, p . 442) d o g r u p o d o s israelitas m a r c a d o s e n c o n t r a m o s em p a r t e alguma o m e n o r i n d í c i o , permi- 241

de n ó d o a leve q u e p o d e m se u n i r a israelitas legítimas. Assim ensi-


n a v a R . T a r p h o n (cerca d e 100 d . C . ) : " A l g u n s mamzerim podem-se tindo dizer q u e no t e m p o de Jesus, e m Jerusalém ou nou-
t o r n a r p u r o s . C o m o ? Se u m b a s t a r d o d e s p o s a u m a escrava [ p a g a ] , o tro lugar q u a l q u e r do território j u d e u , houvesse ainda es-
filho é e s c r a v o . Se a t o r n a liberta, o filho d o [ b a s t a r d o ] torna-se cravos do T e m p l o . H á , sem dúvida, i n ú m e r a s menções dos
h o m e m l i v r e " . A p e r s p e c t i v a antiga era, p o r é m , d i f e r e n t e . O t e x t o
c o n t i n u a ; " R . Eliézer [cerca d e 90 d . C , o r e p r e s e n t a n t e d a antiga tra- "servidores do T e m p l o " , i n c u m b i d o s dos serviços infe-
2 4 2

d i ç ã o ] dizia: Veja, é u m e s c r a v o b a s t a r d o [a m a n c h a d o b a s t a r d o riores do santuário; m a s , conforme ressalta de u m a indi-


p e r m a n e c e e m q u a l q u e r c i r c u n s t â n c i a ] ' ' . Qid. I I I 13.
cação d e Fílon , trata-se dos neokóroi, isto é, dos levitas.
243

234. S e g u n d o b . Yeb. 7 8 , R . Eliézer (cerca d e 9 0 d . C ) d e u a


b

seguinte e x p l i c a ç ã o : " S e a l g u é m m e a p r e s e n t a s s e u m a b a s t a r d a n a ter- Sobre os "sem pai" (homens cujo pai é desconhecido)
c e i r a g e r a ç ã o , e u a c o n s i d e r a r i a [ d e ] [ o r i g e m ] p u r a " . T u d o íaz crer
q u e R. Eliézer l i m i t a v a a i n t e r d i ç ã o d e a d m i t i r b a s t a r d o s n a c o m u n i - e as crianças enjeitadas (encontradas) n ã o contamos c o m
d a d e ( D t 2 3 , 3 ) ; os b a s t a r d o s de sexo m a s c u l i n o . E m c o n t r a p a r t i d a , o m i n ú c i a s dignas de serem m e n c i o n a d a s . N ã o p o d i a m se ca-
e n s i n o d o m i n a n t e no século I I e s t e n d i a t a m b é m D t 2 3 , 3 , aos b a s t a r d o s
e sua d e s c e n d ê n c i a .
sar c o m israelitas de origem p u r a ou c o m filhos ilegítimos
235. T o s . Yeb. I I I 3 ( 2 4 3 . 26) e s o b r e e s t e p o n t o K . H . R e n g -
storf, em Rabbinísche Texíe, Erste R e i h e ; Die Tosejta, B a n d I I I , Stutt¬ 2 4 0 . b . Qid. 2 8 b a r .
a

g a r t , 1933, 34, n . 2 1 . 2 4 1 . 'Ar. I I 4, p a r . T o s . 'Ar. I 15 (544, 8 ) , n a d a t e m a v e r a q u i ,


236. Hor. I 4 ; b . Sanh. 3 6 . b c o n f o r m e d e m o n s t r a m o s supra, p . 294, n . 4 6 0 . V e r t a m b é m as passa-
gens c i t a d a s p o r A. Büchler, Familienreinheit und Familienmakel, em
237. b . Sanh. 36 .b

Festschrift Schwartz, 153 e 154s.


238. S o b r e a d e s c e n d ê n c i a de sexo feminino, v e r supra, n. 234. 2 4 2 . V e r supra, p . 2 8 5 .
239. Billerbeck, I V , 792ss. 2 4 3 . De spec. leg. I , § 156, cf. supra, p . 286, n . 4 1 4 .
CAPÍTULO IX
de sacerdotes \ pois, seu pai ou seus pais e r a m desconhe-
2 4

cidos, e eles, tidos c o m o b a s t a r d o s ; p o r outro lado, seria


2i5

OS ESCRAVOS PAGÃOS 1

preciso excluir a possibilidade de, sem o saber, c o n t r a í r e m


c o m p a r e n t e u m casamento p r o i b i d o . 246

Segundo Dt 2 3 , 2 os eunucos t a m b é m n ã o p o d i a m ser


admitidos na c o m u n i d a d e de Israel, quer dizer que u m ca-
samento com israelitas legítimas era i m p e n s á v e l ; en-
247 24S

O g r u p o da p o p u l a ç ã o q u e v a m o s analisar agora, des-


tretanto, a explicação rabínica limitava essa interdição
cendo a escala social, é o dos escravos pagãos. Esse gru-
àqueles q u e t i n h a m sido castrados pelos h o m e n s . Era- 249

po o c u p a v a uma posição i n t e r m e d i á r i a m u i t o especial:


-lhes proibido ser m e m b r o s do Sinédrio ou do t r i b u n a l 250

c r i m i n a l . As discussões a respeito da situação jurídica


251 m a n t i n h a relações estreitas c o m a c o m u n i d a d e j u d a i c a , em-
dos eunucos deixaram de ser p u r a s controvérsias acadêmi- bora sem dela fazer p a r t e .
cas; ressalta do fato de serem numerosos, p a r t i c u l a r m e n t e P r e t e n d e u q u e a escravidão "estivera e m u s o " n o ju-
na corte do rei e no seu h a r é m . U m a confirmação do 252 daísmo apenas no t e m p o do segundo e s t a d o " ; é f a l s o . 2 3

que foi dito encontra-se n u m fato n a r r a d o n a M i s h n a . 253 R e a l m e n t e , da Palestina do tempo de Jesus n a d a sabemos
sobre a existência d e indústrias q u e ocupassem g r a n d e nú-
P a r a resumir devemos dizer q u e os israelitas atingi-
m e r o de escravos. T a m b é m n ã o existiam latifúndio- com
dos por m á c u l a grave em sua origem c o m p r e e n d i a m bas-
amplos s e r v i ç o s p a r a aquela categoria de pessoas. Encon-
4

tardos e e u n u c o s . Apoiando-se em Dt 2 3 , 2 - 3 , a legislação


t r a m o s , p o r é m , u m a infinidade de escravos domésticos de
rabínica c u i d a v a , energicamente, por m a n t e r a c o m u n i d a d e ,
origem p a g ã , nas casas dos notáveis d e Jerusalém. Con-
o clero, em particular, afastados desses elementos, impri-
v é m l e m b r a r , d e i m e d i a t o , a corte h e r o d í a n a e a i n d a as 5

mindo-lhes a m a r c a de u m a casta p r i v a d a d e direitos.


1. R. K i r c h h e i m , Septem libri talmudici parvi hierosolymitani,
Francfort-sur-ie-Main, 1851, 25-30: t r a t a d o d e 'Abadim; Billerbeck, I V ,
716-744. — J. W i n t e r , Die Stellung der Sklaven bei den Juden in
rechtlicher und gesellschaftlicher Beziehung nach talmudischen Quellen,
244. Qid. I V 1, ver supra, p . 3 6 5 . H a l l e , 1886: R . G r u n f e l d , Die Stellung der Sklaven bei den Juden nach
245. Cf. Ket. I 8-9. biblischen und talmudischen Quellen I ( d i s s e r t a ç ã o d e l e n a ) , 1886 (ü-
246. b . Qid. 7 3 . a
mita-se às d e c l a r a ç õ e s b í b l i c a s ) ; K r a u s s , Talm. Arch., I I , 83-111; G .
247. P o d e m - s e casar c o m prosélitas e escravas l i b e r t a s (Yeb. X I I I F. M o o r e , Judaism in the First Centuries of the Christian Era I I , Cam-
2 ) , assim c o m o c o m b a s t a r d a s , p o i s , as p r i m e i r a s n ã o fazem p a r t e , b r i d g e , 1927, 135ss; I. H e i n e m a n n , Philons griechische und jüdische
n a o r i g e m , d a c o m u n i d a d e de Israel, e os b a s t a r d o s n ã o fazem p a r t e Bildung, Breslau, 1932, 329-345. A o b r a de R. S a l o m o n , L'esclavage en
de m o d o d u r a d o u r o ( D t 2 3 , 3 ) . droit compare juif et romain, Paris, 1931, é sem valor (pois p a r a a
248. Bem e n t e n d i d o , o c a s a m e n t o íevirático i g u a l m e n t e , Yeb. VIII d o c u m e n t a ç ã o r a b í n i c a , ele d e p e n d e , t o t a l m e n t e d e Z . K a h n , L'escla-
4; T o s . Yeb. I I 6 (243, 11) e I I 6 (243, 12). vage selon la Bible et le Talmud, Paris, 1967).
249. Deduz-se d e Yeb. V I I I 6: " U m s a c e r d o t e e u n u c o d e nas- 2 . L. G u í k o w i t s c h , Der kleine Talmudtraktat über die Sklaven,
c e n ç a q u e d e s p e s a u m a israelita torna-a a p t a a c o m e r o q u e foi ar- em Angelos 1 ( 1 9 2 5 ) , 89.
r e c a d a d o p a r a os s a c e r d o t e s " . Significa q u e o c a s a m e n t o é v á l i d o , p o i s , 3 . A rejeição d a e s c r a v a t u r a p e l o s e s s ê n i o s ( F í l o n , Quod omnis
a m u l h e r ilegítima d e u m s a c e r d o t e n ã o t e m o direito d e c o m e r o ar-
probus, § 79; Josefo, Ant. X V I I I 1, 5, § 2 1 , ver, e n t r e t a n t o , infra,
r e c a d a d o n a casa de seu m a r i d o , Yeb. V I 2-3.
p . 4 5 9 ) e o s T e r a p e u t a s ( F í l o n , De vita contemplativa, § 70) n ã o t e v e
250. b . Sanh. 3 6 b a r .
b

n e n h u m a influência s o b r e a s i t u a ç ã o .
2 5 1 . T o s . Sanh. V I I 5 (426, 7 ) .
252. V e r supra, p p . 128s, 132. 4. A s p a r á b o l a s e p a l a v r a s d e Jesus q u e se s e r v e m da i m a g e m d a
2 5 3 . Yeb. V I I I 4: " R . Y o h a n a n b e n Bethyra d e c l a r o u a r e s p e i t o a g r i c u l t u r a m e n c i o n a m , é v e r d a d e , p o r diversas vezes, os escravos (Mt
d e b e n M e g u s a t q u e ele vivia em J e r u s a l é m c o m o a l g u é m q u e foi 13,27-30; L c 17,7-10; 1 5 ^ 2 ) , m a s s o b r e t u d o os diaristas (Mt 9.37-38;
c a s t r a d o p o r h o m e n s e q u e Jdepois de sua m o r t e j [seu i r m ã o ] con- 20,1-16; Lc 10,2;15,17-19; Jo 4 , 3 6 ) .
t r a t o u o c a s a m e n t o Íevirático c o m sua m u l h e r " . 5. V e r supra, p . 127ss. — E s c r a v o s n a c o r t e d o rei, n o N . T . : M t
18.23-35:22,3-10; Lc 19,12-27.
casas da n o b r e z a sacerdotal, o n d e os escravos e r a m n u m e -
soai d e H e r o d e s . E m s u m a , a A r á b i a teria p o d i d o for-
1 4

rosos . Aliás, n ã o nos faltam informações minuciosas a


6

necer o contingente principal de escravos pagãos possuí-


respeito, R. Eliézer b e n Sadoc, e d u c a d o e m Jerusalém,
dos pelos j u d e u s da Palestina; afirmam-nos q u e foi m u i t o
cita este costume; na festa das T e n d a s , o hierosolimitano
elevado o n ú m e r o dos prisioneiros d e guerra árabes reu-
tinha o h á b i t o , q u a n d o visitava a Escola, de fazer seu es-
nidos pelos j u d e u s . 1S

cravo levar o lülab p a r a casa \ O u v i m o s falar de u m a jo-


O preço dos escravos variava conforme a i d a d e , o
v e m q u e (certamente em Jerusalém) foi aprisionada com
sexo, as qualidades o u defeitos físicos e espirituais. A si-
suas dez escravas . N u m ossuário descoberto em Shafat, a
8

tuação do m o m e n t o exercia t a m b é m sua influência: os pe-


3 quilômetros de Jerusalém, encontra-se o n o m e do escravo
ríodos d e guerra faziam subir as ofertas e os preços bai-
E p í t e t o ; assim t a m b é m R o d e , serva m e n c i o n a d a e m At
9

x a v a m , em tempo de p a z , elevavam-se. N o império ro-


1 2 , 1 3 , na casa p a t e r n a de João M a r c o s , era u m a escrava,
m a n o , sob Augusto, os preços a u m e n t a r a m consideravel-
conforme o p r ó p r i o n o m e indica . Enfim, convém nos re-
J0

m e n t e . H o r á c i o cita u m a oscilação de 5 0 0 d r a c m a s a
p o r t a r m o s a u m dito d e Hilel q u e , sem d ú v i d a , tem em
1 0 0 . 0 0 0 sestércios (segundo o valor ptolemaico-sírio da
m e n t e a situação de Jerusalém, ao p r o n u n c i a r a seguinte
m o e d a representava d e 5 a 152,8 m i n a s ) , e M a r c i a l , de 6 0 0
advertência: " M u i t a s escravas m u l h e r e s , m u i t a impudicí-
denários a 2 0 0 . 0 0 0 sestércios (de 3 a 305,6 minas) . N o 16

cia; muitos escravos h o m e n s , m u i t a p i l h a g e m " . n

século í antes d e nossa e r a , o p r e ç o m é d i o era, pois, apro-


Os escravos de ambos os sexos e r a m c o m p r a d o s ou x i m a d a m e n t e , de 20 minas e, no século I de nossa era de
e n t ã o nascidos nas casas das famílias. É provável q u e os 30 m i n a s . N a Palestina, i g u a l m e n t e , os p r e ç o s sofriam
17

mercadores de escravos, trazendo sua " m e r c a d o r i a " p a r a sérias alterações. D u r a n t e as guerras rnacabaicas, Nicanor,
venda em Jerusalém , t e n h a m vindo sobretudo da Fení-
12

em 166-165 a . C , certo d e sua vitória, p r o p ô s aos fenícios,


cia (Mc 8,11). Como seu n o m e indica, Malco, escravo do mercadores de escravos, vender-lhes 90 judeus por u m ta-
sumo sacerdote (Jo 18,10) era originário d a A r á b i a naba- lento ; era u m preço derrisório se nos l e m b r a r m o s d e
18

teana , de o n d e v i n h a , igualmente, Corinto, g u a r d a pes-


13

q u e , algumas dezenas de anos antes , H i r c a n o , filho do


l9

palestinense José, encarregado dos impostos, pagara a Ale-


6. Ant. X X 8, 8, § 181; 9, 2, § 20õs; b . Pes. 5 7 p a r . T o s . Men. a

XIII 21 (533, 36) e a m e n ç ã o d e escravos dos s u m o s s a c e r d o t e s n a


x a n d r i a u m talento correspondente a cada escravo h o m e m
história d a P a i x ã o , e s p e c i a l m e n t e M c 14,57 e par.; Jo 18,18 ( d i s t i n g u e ou m u l h e r (selecionado, é v e r d a d e ) . A M i s h n a , B. Q.
20

doüloi e huperétai); 18,26. S o b r e Jo 18,10 v e r infra, n . 13. I V 5 , m e n c i o n a c o m o p r e ç o d e escravo 0,25 a 100 minas 21

7. T o s . Sukka II 10 (195, 12) p a r . b . Sukka 4 1 . b

8. ARN rec. A c a p . 17, 6 6 1. U m a das escravas c o n t a a seu


a (de 100 denários); em c o m p a r a ç ã o c o m o preço corrente
n o v o s e n h o r q u e a m ã e da j o v e m tinha 500 escravas m u l h e r e s . fora d a Palestina, tal p r e ç o r e p r e s e n t a valor b e m mais bai-
9. F . M . A b e l , e m RB n . s. 10 ( 1 9 1 3 ) , 276, n . 16, e Cl} I I , n.
1238: ...s Pheidonos os kdl Epiktetos Koma tou Setou.
10. S o b r e R o d e c o m o n o m e de escrava, v e r E. P r e u s c h e n , Die 14. B. ;. I 29, 3, § 576s; Ant. X V I I 3 , 2, § 55-57.
Apostelgeschichte, T ü b i n g e n , 1912, 78. 15. B. /". I 19, 4, § 376.
11. P. A, II 7. 16. O . Roller, M u n z e n , Geld und Vermogensverhaltnisse in den
12. V e r supra, p . 54.
13. Este n o m e é c o m u m nas Inscrições n a b a t é i a s e p a l m i r i a n a s ; Evungelien, K a r l s r u h e , 1929, 14 e n . 17.
H . W u t h n o w , Eine palmyrenische Büste, e m Orientalische Studien, E. 17. Ibid., 15.
Littmann überreicht, L e y d e , 1935, 63-69, f o r n e c e n u m e r o s a s p r o v a s , es- 18. 2 M c 8,11. I n f e l i z m e n t e n ã o d i z e m q u a l o v a l o r d o talento
p e c i a l m e n t e q u a n t o a P a l m i r a . Dois reis n a b a t e u s t r a z e m este n o m e : cilado.
M a l c o I (50-28 a . C , mais ou m e n o s ) e M a l c o II (cerca de 40-71 d . C . ) . 19. Q u a n t o à d a t a d o fato n a é p o c a a n t e r i o r a 198 a . C , ver
I n s c r i ç ã o de H a u r a n : RB 41 ( 1 9 3 2 ) , 403 e 578. V e r t a m b é m o I n d e x S c h ü r e r , I, 183. n . 4 .
de Josefo. Encontra-se t a m b é m o n o m e n a Síria; Le Bas e W a d d i n g t o n , 2 0 . Ani. X I I 4, 9, § 209.
Inscriptions grecques et latines recueillies en Grèce et en Asie mineure
2 1 . A i n f o r m a ç ã o do T a l m u d e d a P a l e s t i n a (0.25 a 1 m m a ) q u e
I I I , P a r i s . 1870, d ã o 28 p r o v a s epigráficas da Síria.
Btllerbeck d e f e n d e , I V , 716s, n ã o p o d e s e r aceita p o r q u e r e s u l t a r i a
num preço muito baixo.
xo. C e r t a m e n t e , deve-se ao fato de q u e , na Palestina, os apelação a toda sorte de m a u s tratos, castigos, s e v í c i a s , 32

escravos d e luxo, h o m e n s (eunucos, pessoas instruídas) e e as escravas m u l h e r e s , sumetidas aos desejos sexuais de
mulheres (tocadoras de cítara, heteras) pelas quais se pa- seu p a t r ã o \ E n t r e t a n t o , a sorte dos escravos era, em geral,
J

gavam preços mais altos, r e p r e s e n t a v a m papel b e m m e n o r . mais h u m a n a do que noutros lugares do m u n d o antigo: con-
O preço médio de 15 a 2 0 minas, q u e p o d e m o s concluir forme vimos , certas mutilações causadas pelo senhor no
34

da Mishna B. Q. IV 5, é confirmado por Josefo: segundo seu escravo e m presença de testemunhas acarretavam a 35

G n 3 7 , 2 8 , José é v e n d i d o pelos seus irmãos por 2 0 m o e d a s libertação do escravo c o m base na exegese d e Ex 2 1 , 2 6 - 2 7 ,


de prata (seqel); apoiando-se na S e t e n t a , Josefo avalia 22
m u i t o liberal na época ; além do mais — seria esse, pelo
36

em 20 minas , l e v a n d o em conta, n a t u r a l m e n t e , o preço


23
m e n o s , o direito teoricamente em vigor — a execução pre-
dos escravos e m sua época, quer dizer, no fim do século I m e d i t a d a de u m escravo devia ser castigada como assas-
de nossa era \ T e r e m o s uma idéia da i m p o r t â n c i a dessa
2
sínio pela c o n d e n a ç ã o à m o r t e , se o escravo morresse no
quantia, a o compará-la c o m o salário m é d i o de u m dia- espaço de vinte e q u a t r o h o r a s . 1 1

rista da época que equivalia a u m d e n á r i o . O p r e ç o de O s escravos pagãos de ambos os sexos, que p a s s a v a m


20 minas ( = 2 . 0 0 0 denários) por u m escravo correspon- a ser p r o p r i e d a d e de u m j u d e u , e r a m obrigados a t o m a r
d i a , p o r conseguinte, a 2 . 0 0 0 vezes o salário diário d e u m um banho ritual " p a r a se t o r n a r e s c r a v o " . Se fosse
38 39

operário . U m escravo, h o m e m ou m u l h e r , representava,


2S

m u l h e r , esse b a n h o significava a conversão ao judaísmo ; 40

p o r t a n t o , valor considerável. os escravos h o m e n s d e v i a m efetuar essa conversão, sub-


metendo-se a i n d a à c i r c u n c i s ã o . 41

P o d e m o s c o m p r e e n d e r a situação social dos escravos


pagãos por sabermos q u e e r a m p r o p r i e d a d e total d e seu O Doe. Damasco X I I 10-11 m o s t r a q u ã o óbvia era
senhor. O escravo não podia possuir b e m algum; o amo essa conversão dos escravos p a g ã o s . " E ele [o m e m b r o
era o dono da r e n d a do seu t r a b a l h o , e t a m b é m d o que
ele encontra , do que lhe dão , do que recebe sob forma
2b 11
32. Cf. os enérgicos c o n s e l h o s d a d o s p o r Eclo 30,33-38 ( = L X X
33, 25-30 e m R a h l f s ) : t o r t u r a s , m a l t r a t o s e grilhões nos pés p a r a os
de indenização p o r ferimento ou por h u m i l h a ç ã o sofrida , 28

escravos d e s o b e d i e n t e s , — Sevícias: t r a t a d o 'Abadim I I I 5; b . Qid.


em suma, " t u d o o q u e é seu [até os próprios filhos] per- 2 5 e passim. — E s c r a v o s m u t i l a d o s : Billerbeck, I V , 730ss; K r a u s s ,
a

tencem a seu s e n h o r " . Como q u a l q u e r objeto p o d e ser


29 Talm. Arch., I, 246, I I , 86, 95s. — I n s t r u m e n t o s de castigo e t o r t u r a :
Billerbeck, I V , 734; K r a u s s , Talm. Arch., II, 95s. — R a b b a n G a m a -
v e n d i d o , d a d o , entregue como p e n h o r , destinado a aná-
30
liel cujo c o m p o r t a m e n t o e m r e l a ç ã o a seu e s c r a v o era tido c o m o exem-
tema , e constitui p a r t e de h e r a n ç a . C o m o em q u a l q u e r plar, danificou-lhe u m o l h o ( b . B. Q. 7 4 ) ; m a s , s e g u n d o o p a r . j .
3! b

Ket. I I I 10, 2 8 13 ( V / í , 46) a p e n a s lhe q u e b r o u u m d e n t e e n ã o


a

lugar o n d e existissem escravos, essa situação fazia-se sen- s a b e m o s q u a l é a mais antiga t r a d i ç ã o . — Cf. t a m b é m Lc 12,46-48,
tir, sobretudo, pelo fato de os h o m e n s serem entregues sem 3 3 . T o s . Hor. II 11 (477, 6 ) ; Yeb. V I 5; P . A. I I 7; Nm. R. 10
s o b r e 6, 2 ( 6 4 2 1 ) ; Ket. I 4 e
b
passim.
34. P. 4 3 3 .
22. L X X G n 37,28: eíkosi chrusonl 35. Essa era c e r t a m e n t e exigida, pelo m e n o s s e g u n d o R. Y o s h u a
(cerca d e 90 d . C ) , b . B. Q. 7 4 . b

2 3 . Ant. II 3, 5, § 3 3 .
36. Billerbeck, I V , 729-731 e 735-737. N ã o se p o d e , p o r é m , afir-
24. Josefo t e r m i n o u sua Antigüidades p o r volta d e 94 d.C.
m a r , a p a r t i r d a í q u e " t o d a lesão c o r p o r a l a c a r r e t a v a , i m e d i a t a m e n t e ,
25. P o r a r r i s c a d a q u e seja u m a c o m p a r a ç ã o c o m a situação a t u a l ,
a l i b e r t a ç ã o " ( L . G u l k o w i t s c h , e m Angelos 1 [1925], 89).
p o d e m o s dizer q u e a posse de u m e s c r a v o c o r r e s p o n d i a à d e u m
c a r r o de l u x o nos dias de hoje. 37. Billerbeck, I V , 737-739.
26. B. M. I 5. 38. V e r supra, o b a n h o " p a r a tornar-se l i v r e " .
27. j . Qid. I 3 , 6 0 28 ( V / 2 , 2 2 0 ) .
a 39. Billerbeck, I, 1054s.
28. b . B. B. 5 1 . a 40. T a r g u m Y e r u s h a l m i I em Dt 21,13 a r e s p e i t o d a p r i s i o n e i r a
29. Gn. R. 67, 5 s o b r e 77, 37 ( 1 4 3 " 1 0 ) . de g u e r r a ; " E deves fazer c o m q u e t o m e u m b a n h o e torná-la p r o -
30. Git. I V 4. sélita".
3 1 . 'Ar. V I U 4. 4 1 . G n 17, 12-13; Jubileus X V (cerca d e 120 a . C ) .
d a c o m u n i d a d e d a nova aliança] não deve lhes [aos pa-
e ao pôr do sol ( p o r t a n t o , e m m o m e n t o s d e t e r m i n a d o s ) ,
gãos] v e n d e r seu escravo, h o m e m e mulher, por terem in-
assim como a de usar f i l a c t é r i o s ; l i b e r a d o t a m b é m da
49

gressado com ele na aliança de A b r a ã o " . N o século I I I de


obrigação de ir em peregrinação a Jerusalém, nas festas
nossa era (R. Y o s h u a b e n Levi, cerca de 2 5 0 ) , concedia¬
de Páscoa, de Pentecostes e das T e n d a s ( p o r t a n t o , de n o v o ,
-se ao escravo doze meses p a r a refletir; se recusasse a con-
em circunstâncias d e t e r m i n a d a s ) , n a festa das T e n d a s ,
50

versão ficava-se obrigado a revendê-lo a n ã o judeus . E m 42

de h a b i t a r em t e n d a s e agitar o lülab , assim c o m o a


5 1 52

c o n t r a p a r t i d a , a época anterior parece ter exigido a cir-


de tocar o shofar na festa de A n o N o v o . E m compensa- 5 3

cuncisão imediata; baseava essa exigência no fato de o


43

ção, cabia-lhe a tarefa de proferir as orações após a refei-


pagão p o d e r c o n t a m i n a r r i t u a l m e n t e alimentos p u r o s . 4 4

ção e recitar diariamente as " D e z o i t o b ê n ç ã o s " ; p a r a 5 4

O escravo p a g ã o vivia como escravo, mas circunci- t a n t o d i s p u n h a da t a r d e inteira " a t é a n o i t e " , e devia 5 5

d a d o ; explica-se assim a situação p a r t i c u l a r m e n t e equívoca colocar na p o r t a os rrfzüzot . D e m o d o geral, e r a m míni-


e m q u e se encontrava. Pela circuncisão era "filho da alian- mas as obrigações religiosas às quais o escravo se via obri-
ç a " , mas e n q u a n t o n ã o fosse liberto, n ã o pertencia à co-
45

gado. Tratava-se de tarefas t a m b é m exigidas da m u l h e r ;


m u n i d a d e de I s r a e l . Tinha sido " s e p a r a d o da comuni-
46

neste p o n t o estava e m p é de igualdade com o escravo p o r


d a d e dos pagãos, mas não entrara na c o m u n i d a d e de Is- ter, do mesmo m o d o , u m a m o superior a ela . 51

r a e l " . Essa situação a m b í g u a d e t e r m i n a v a seus deveres


47

O s direitos religiosos e cívicos q u e o escravo o b t i n h a


religiosos e seus direitos; uns e outros e r a m limitados, le-
pela sua conversão ao j u d a í s m o e r a m , c o m o seus deveres
vando-se em conta os direitos de seu p r o p r i e t á r i o .
religiosos, limitados pela p r ó p r i a servidão; vemos aí o re-
P a r a começar, vejamos os deveres religiosos impostos
verso da m e d a l h a , u m a situação m u i t o séria. As vantagens
ao escravo pela sua conversão. Regia a d e t e r m i n a ç ã o de
das leis religiosas judaicas só seriam concedidas ao escra-
seus deveres o princípio segundo o qual o escravo devia
vo na m e d i d a em que n ã o lesassem os direitos de seu d o n o .
obedecer somente às prescrições n ã o ligadas a u m mo-
D e início e essencialmente, c o m base em E x 2 0 , 1 0 ; Dt 5,
m e n t o d e t e r m i n a d o , pois não era dono de seu t e m p o . Es-
w

14, o servo pagão tinha, c o m o q u a l q u e r israelita, direito


tava liberado d a obrigação d e recitar o s ma' d o q u a l o e
r
ao r e p o u s o sabático; além do mais, podia p a r t i c i p a r da
israelita não p o d i a se dispensar, todos os dias, ao nascer
festa de Páscoa, incluindo a refeição p a s c a l . A seu a m o 5B

42. b . Yeb. 4 8 . b n ã o era permitido vendê-lo a u m p a g ã o . Conforme vi- 59

4 3 . E m Mek. Ex 12, 44 ( 7 2 5 s s ) , R. Eliézer (cerca de 90 d.C.)


b

q u e , em discussões, realça de m o d o c o n v i n c e n t e a antiga t r a d i ç ã o ; de-


fende essa o p i n i ã o (em 7 20ss, ed. p r í n c i p e de V e n e z a , 1545, atri-
b
49. Ber. I I I 3 .
bui-lhe a o p i n i ã o c o n t r á r i a p e l o fato de a l g u m a s p a l a v r a s t e r e m sido 50. Hag. I 1.
o m i t i d a s ; m a s , s e g u n d o a i n f o r m a ç ã o exata do Yalqut Shimeoni I, § 5 1 . Sukka I I 1, 8.
2 1 1 , e d . de V i e n a , 1898, 134 14, essa o p i n i ã o c o n t r á r i a é a d e R.
a

52. b . Qid. 3 3 b a r . S o b r e o agitar d o lúlab v e r Billerbeck, I I , 784s,


b

I s b m a e l ( | 135 d . C ) . H á , e n t r e t a n t o , u m a d ú v i d a , p o i s . b . Yeb. 4 8 b

5 3 . T o s . R. H. I V 1 (212, 1 0 ) .
b a r . m e n c i o n a R. A q i b a c o m o a u t o r n o lugar de R. Eliézer. 54. Ber. I I I 3 .
44. Pirqe de R. Eliézer 29; b . Yeb. 4 8 . b
55. Ber. I V 1.
4 5 . Mek. Ex 20, 10 ( 2 6 5 1 ) . b
56. Ber. I I I 3 . — S e g u n d o b , Men. 4 3 b a r . , ele era i g u a l m e n t e
a

46. b . B. Q. 8 8 : " O e s c r a v o n ã o é feito p a r a e n t r a r n a c o m u -


a
o b r i g a d o a u s a r b o r l a s n o seu v e s t u á r i o d e b a i x o .
nidade". 57. " M u l h e r e s , escravos e m e n o r e s " são m u i t a s vezes citados jun-
47. b . Sanh. 5 8 . b
tos; p o r e x e m p l o , Ber. I l l 3 ; Sukka I I 8 e passim. M u l h e r e s e escra-
48. Billerbeck, I I I , 562 e I V , 722s; o p r i n c i p i o é v á l i d o s o m e n t e vos j u n t o s , R. H. 18 e passim.
c o m o regra geral e n ã o c o b r e t o d a a s i t u a ç ã o , p o i s , h á u m a série de 58. Ceia p a s c a l : Ex 12,44; b . Pes. 8 8 b a r . ; T o s . Pes. V I I 4 (166,
a

m a n d a m e n t o s aos q u a i s o escravo ( c o m o a m u l h e r ) n ã o estava obri- 2 1 ) . C o n f o r m e Lv 22,11, o e s c r a v o p a g ã o cujo a m o era s a c e r d o t e


g a d o , e m b o r a a eles estivessem p r e s o s n u m d e t e r m i n a d o m o m e n t o , cf. p o d i a c o m e r a a r r e c a d a ç ã o feita p a r a os s a c e r d o t e s . Yeb. V I I 1.
Billerbeck, 111, 559 ( p o r e x e m p l o , a o b r i g a ç ã o de e s t u d a r a T o r á e t c ) . 59. Git. I V 6. Essa p a s s a g e m c h e g a v a m e s m o a p r o i b i r a v e n d a
d o e s c r a v o a u m j u d e u q u e vivesse fora d a P a l e s t i n a . E n c o n t r a v a m o
m o s , o Documento de Damasco insistia, especialmente, C o n v é m ter em mente esta situação social q u e fazia
nessa prescrição *°; p o d e m o s , pois, concluir q u e , e m tem- da p a l a v r a " e s c r a v o " u m a das piores injúrias, p u n i d a s c o m
DOS idos, a prescrição impunha-se como Lei pelo m e n o s o a n á t e m a , para c o m p r e e n d e r a revolta dos ouvintes
11

nos círculos d e seus estritos o b s e r v a d o r e s . Consistiam 61

q u a n d o Jesus os c h a m o u de escravos (Jo 8,32-35).


mais o u menos nisso os direitos que o escravo o b t i n h a pela
sua conversão N ã o d i s p u n h a de outros e é o que v a m o s
ver, c o m e ç a n d o pelo p o n t o de vista religioso: não p o d i a ,
no T e m p l o , i m p o r as mãos (sobre a cabeça da vítima) ou
balançar (as porções da v í t i m a ) ; n a sinagoga, não podia
63

ser c o n t a d o p a r a completar o n ú m e r o de dez presenças,


m í n i m o prescrito p a r a a oração pública n e m ser chama-
do p a r a fazer a l e i t u r a ; à mesa, era afastado das pes-
65

soas convidadas a proferirem a bênção após a refeição . 66

Além do mais, n ã o lhe era permitido depor como testemu-


n h a ; salvo em casos excepcionais , não o c o n s i d e r a v a m
67

idôneo p a r a o ato . Enfim, cortaram-lhe todo direito re-


6S

lativo ao m a t r i m ô n i o . U m escravo — h o m e m o u m u l h e r —
n ã o possuía as qualidades requeridas p a r a o c a s a m e n t o
c o m u m israelita fosse qual fosse , mesmo c o m a l g u m no-
69

toriamente lesado por m á c u l a grave; a criança nascida da


u n i ã o de u m israelita c o m u m a escrava era (como a mãe)
escrava e pertencia a u m d o n o . N o que diz respeito ao
70

direito m a t r i m o n i a l , os escravos dos dois sexos, e m b o r a


convertidos ao j u d a í s m o , eram considerados p a g ã o s .
Eliézer 36 e passim. segundo o princípio jurídico de que a criança
f u n d a m e n t o escriturístico e m D t 23,16, cf. Sifre D t 2 3 , 16, § 259 ( 5 0 d

n a s c i d a d e u m a u n i ã o i n v á l i d a t o m a a c o n d i ç ã o d a m ã e . G l 4,21-23
32ss). s u p õ e q u e esse p r i n c í p i o de d i r e i t o estava e m vigor. T a l c o n c e i t o ju-
60. Doe. Dam. X I I 10-11, v e r s u p r a , p . 459. rídico é, aliás, c o n f i r m a d o p o r Jo 8,41: Jesus c h a m o u seus o u v i n t e s
6 1 . Ê difícil crer q u e a p r e s c r i ç ã o fosse o b s e r v a d a de m o d o geral; escravos (do p e c a d o ) , 8,34 e n e g o u q u e fossem d e s c e n d e n t e s (espiri-
o u v i m o s falar d a p e n h o r a e d a v e n d a d e escravos p a r a p a g ã o s , b . tuais) de A b r a ã o 8,39; eles p r o t e s t a m c o n t r a a c e n s u r a de t e r e m nas-
Gil. 4 3 M 4 . a

cido ek pornêias. Esses j u d e u s s u p õ e m em vigor o p r i n c í p i o d e d i r e i t o


62. P a r a ser b e m e x a t o c o n v é m dizer q u e ele t i n h a o d i r e i t o de s e g u n d o o q u a l o filho d e u m israelita e d e u m a escrava é e s c r a v o .
fazer v o t o s , d e s d e q u e isso n ã o p r e j u d i c a s s e seu a m o , q u e , n e s t e c a s o , É s o m e n t e n o caso de os p r e s s u p o s t o s d e s s e p r i n c í p i o de direito se-
deveria estar d e a c o r d o , Billerbeck, I V 723s. rem v e r d a d e i r o s n o q u e lhes toca, q u e Jesus, s e g u n d o o p i n a m , teria
63. T o s . Men. X 13-17 (528, 9.16). tido o direito de fazer tal c e n s u r a . — I n v e r s a m e n t e , s e g u n d o o a n t i g o
64. U m a vez, R. Eliézer l i b e r t o u seu e s c r a v o p a r a c o m p l e t a r a d i r e i t o , a c r i a n ç a nascida d a u n i ã o de u m e s c r a v o e de u m a israelita,
lista d e dez, b . Git. 3 8 b . p a s s a v a p o r h e b r é i a . A i n d a a q u i , trata-se, s e m d ú v i d a , de u m a u n i ã o
65. Ressalta d e b . Git. 4 0 . a
i n v á l i d a n a q u a l a c r i a n ç a t o m a a c o n d i ç ã o da m ã e ( p r o v a s em V.
66. Ber. V I I 2 . A p t o w i t z e r , em HUCA 5 [ 1 9 2 8 ] , 267ss; A . Büchler, em MGW) 78
67. P o d i a , p o r e x e m p l o , t e s t e m u n h a r q u e , n u m a c i d a d e t o m a d a [1934] 143ss). V. A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats im jiidischen
p o r p a g ã o s , u m a m u l h e r de s a c e r d o t e n ã o fora t o c a d a , Ket. II 9; Rashi Schrifttum, em HUCA 4 ( 1 9 2 7 ) , 207-240; 5 ( 1 9 2 8 ) , 261-297 m o s t r o u ,
c m R. H. I 8 d á dois o u t r o s e x e m p l o s (cf. Billerbeck, I I I , 560, n o de m a n e i r a c o n v i n c e n t e , q u e os dois p r i n c í p i o s de direito citados ao
fim do § c). l o n g o desta n o t a são vestígios de u m a n t i g o direito m a í r i a r c a l ; esses
68. Ant. I V 8, 15, § 219; .R. H. 1 8. restos são e s p e c i a l m e n t e i n t e r e s s a n t e s p o r q u e , e m t o d a a legislação o
69. Oid. I I I 12; Git. I V 2 e m u i t o f r e q ü e n t e m e n t e . d i r e i t o p a t r i a r c a l , desde a é p o c a bíblica, a s u p e r o u .
70. Qid. I I I 12; b.' Qid. 6 8 ; Yeb. b
1 7 , 2 2 , 2 3 ; Pirqe de R.
a b a
7 1 . b . Qid. 2 8 b a r .
a
CAPÍTULO X 2 5 - 2 6 : " H á d u a s nações q u e m i n h a alma detesta e u m a
terceira que n e m sequer é nação [cf. D t 3 2 , 2 1 ] : os habi-
OS SAMARITANOS 1
tantes d a m o n t a n h a d e Seir, os filisteus e o p o v o e s t ú p i d o
[cf. Dt 32,31] que m o r a em S i q u é m " \ N o que diz res-
peito ao período i m e d i a t a m e n t e anterior a 150 a . C , Jo-
sefo n o s fala de u m a disputa religiosa entre os j u d e u s do
Egito e os samaritanos, apresentada a Ptolomeu Filometor
D e s c e n d o ao último degrau, chegamos aos samarita- ( 1 8 1 - 1 4 5 a . C ) : tratava-se d a rivalidade e n t r e os dois san-
nos. D u r a n t e o período pós-bíblico, a atitude dos judeus tuários de Jerusalém e do G a r i z i m . Foi d u r a n t e o gover-
4

p a r a com seus vizinhos, os samaritanos, povo judeu-pagão no do a s m o n e u João H i r c a n o (134-104 a.C.) que as ten-
mesclado, passou por fortes variações e por vezes mostrou¬ sões a s s u m i r a m m a i o r e s p r o p o r ç õ e s ; p o u c o depois da m o r t e
-se n a d a comedida. O s antigos enunciados sobre o assunto de Antíoco V I I (em 129), H i r c a n o apoderou-se de Siquém
não o o b s e r v a r a m , resultando deles u m a imagem falsa. e destruiu o templo d e G a r i z i m . N ã o é d e a d m i r a r q u e ,
5

/ Desde o m o m e n t o em q u e os samaritanos separaram¬ a seguir, o ambiente se t e n h a m a n t i d o carregado de ó d i o . b

-se da c o m u n i d a d e judaica e construíram seu templo sobre U m a trégua passageira se deu pelo fim do século I
o G a r i z i m (no mais t a r d a r ao longo do século IV antes antes d e nossa era. H e r o d e s desposou u m a s a m a r i t a n a (ver
de nossa e r a ) , sérias tensões surgiram e n t r e j u d e u s e sa-
2
infra, p . 4 7 1 ) ; Schlatter daí conclui q u e o rei tentara — e
m a r i t a n o s . D o começo do século II antes de nossa e r a , te- foi o ú n i c o — fazer desaparecer a a n i m o s i d a d e existente
mos o t e s t e m u n h o das p a l a v r a s cheias de ódio de Eclo 5 0 , entre as duas c o m u n i d a d e s . Poder-se-ia l e m b r a r , em fa-
1

vor dessa hipótese, o fato de os s a m a r i t a n o s n o reino d e


1. C o m p i l a ç ã o f u n d a m e n t a l d e fontes e m Billerbeck, I, 538-560. H e r o d e s terem tido acesso a o átrio interior d o T e m p l o de
P a r a n o s s o e s t u d o , e n c o n t r a m o s p o u c o s d a d o s s o b r e os s a m a r i t a n o s n o J e r u s a l é m . M a s , sem d ú v i d a , já t e r i a m p e r d i d o este di-
s

p e q u e n o t r a t a d o t a l m ú d i c o Kutim, pois reflete s o b r e t u d o u m a s i t u a ç ã o


p o s t e r i o r ; foi e d i t a d o p o r R. K i r c h h e i m , Septem libri talmudici parvi reito doze anos após a morte d e H e r o d e s , q u a n d o , sob o
hierosolymitani, Francfort-sur-le-Main, 1851, 31-37, e t r a d u z i d o p o r L . G u l - p r o c u r a d o r Copônio (6-9 d . C ) alguns samaritanos, por oca-
k o w i t s c h , e m Angelos I ( 1 9 2 5 ) , 48-56. — J. A. M o n t g o m e r y , The Sa¬
maritans, Filadélfia, 1907; S c h ü r e r , I I , 18ss (suas o b s e r v a ç õ e s s o b r e
sião de uma Páscoa, e s p a l h a r a m , d u r a n t e a noite, ossos
a situação dos s a m a r i t a n o s e m m a t é r i a de legislação religiosa s ã o , en- h u m a n o s nos pórticos d o T e m p l o e n o s a n t u á r i o . Trata-se
9

t r e t a n t o , falsas q u a n t o ao século I de nossa era, e válidas s o m e n t e certamente de u m ato de vingança sobre o qual Josefo,
p a r a o século I I q u a n d o a s i t u a ç ã o é d i f e r e n t e ) ; S c h l a t t e r , Theologie,
75-79; J. J e r e m i a s , Die Passahfeier der Samaritaner, BZAW 5 9 , Gies¬ n u m gesto significativo, preferiu calar-se. Esta grave pro-
sen, 1932. fanação do T e m p l o q u e acarretou u m a i n t e r r u p ç ã o da festa
2. A t r a d i ç ã o s a m a r i t a n a situa a c o n s t r u ç ã o d o T e m p l o n a é p o c a de Páscoa, proveu de u m novo combustível o velho r a n c o r .
d o s e g u n d o r e t o r n o d o exílio, p o r t a n t o n o século V a n t e s d e nossa
era (Et-taulida, e d . A. N e u b a u e r , em Journal asiaüque, 6" série, 14 A p a r t i r d e e n t ã o a h o s t i l i d a d e tornou-se cada vez
[ 1 8 6 9 ] , 4 0 1 , linhas 16-18; Líber Josuae, ed. T h . G . J. J u y n b o l l , L e y d e , mais implacável, é o q u e nos m o s t r a m , de m a n e i r a plena-
1848, c a p . 4 5 ; Abu'1-fath, ed. E . V i l m a r , Abulfathi annales samaritani,
G o t h a , 1965, 61ss d o texto á r a b e ; Chronique samarHaine, ed. E. N .
A d l e r e M . Seligsohn, em REJ 44 [ 1 9 0 2 ] , 2 1 8 s ) . — D i a n t e d e s t a tra- 3. S e g u n d o o t e x t o h e b r a i c o .
d i ç ã o s a m a r i t a n a e n c o n t r a - s e a i n d i c a ç ã o diferente de Josefo, d a t a n d o
a c o n s t r u ç ã o d e s t e t e m p l o e m 322 a.C. (Ant. X I 8, 4, § 324; cf. X I I I 4. Ant. X I I I 3, 4, § 74ss, cf. X I I 1, 1, § 10.
9, 1, § 2 5 6 ) . E . Sellin, Geschichte des israelitisch-jüdischen Volkes II, 5. Ant. X I I I 9, 1, § 255s.
Berlim, 1932, 169-171 i n t e r v e i o a favor d a e x a t i d ã o desta ú l t i m a in- 6. Test. de Levi V I I 2 : " A p a r t i r d e h o j e [isso é d i t o a p r o p ó -
f o r m a ç ã o . A . Alt, Zur Geschichte der Grenze zwischen Judáa und Sa- sito d e G n 34,25-29], S i q u é m será c h a m a d a a c i d a d e dos idiotas, por-
maria, e m PJB 31 ( 1 9 3 5 ) , 106-111 ( r e i m p r e s s o em seus Kleine Schrijten q u e nós z o m b a m o s d e l e s c o m o se z o m b a d e u m l o u c o " .
I I , M u n i q u e , 1953, 357-362), coloca a c o n s t r u ç ã o d o T e m p l o s o b r e o 7. Schlatter, Theologie, 75.
G a r i z i m nos ú l t i m o s t e m p o s do p e r í o d o p e r s a , p o u c o a n t e s d a e n t r a d a 8. Ant. X V I I I 2 , 2 , § 30.
de A l e x a n d r e n a Ásia, p o r t a n t o , e m m e a d o s d o século I V . 9. Ibid., § 29s.
m e n t e c o n c o r d e s , os d a d o s d o N o v o T e s t a m e n t o , o des-
p r e z o c o m que Josefa fala dos samaritanos e a severidade t a r d e o judaísmo p r o i b i u totalmente a conversão d e sama-
c o m q u e o antigo direito rabínico os trata (ver infra, p . ritanos . 15

4 6 9 ) . Q u a n d o os j u d e u s d a Galileia se e n c a m i n h a v a m p a r a C o n t i n u a n d o a analisar o século I d e nossa era, ve-


Jerusalém, especialmente p a r a as festas, era h á b i t o , n o sé- mo-nos n u m a época de relações tensas e n t r e j u d e u s e sa-
c u l o I d e nossa era, fazer o percurso, atravessando a Sa- m a r i t a n o s . Q u a n d o Jesus atravessa a Samaria, n ã o encon-
m a r i a ; s e m p r e , porém, ocorriam incidentes
l0
p o r vezes, tra asilo por estar a c a m i n h o do detestado T e m p l o de Je-
até m e s m o choques s a n g r e n t o s . N o século lf de nossa
12 rusalém (Lc 9,52-53); negam-lhe até m e s m o água p a r a
era, as relações m e l h o r a r a m de n o v o . Conforme nos mos- b e b e r (Jo 4,9). Esses fatos revelam a ira dos s a m a r i t a n o s
t r a a M i s h n a n a regulamentação das relações com os sa- c o n t r a os judeus; o s a n t u á r i o destruído de G a r i z i m reani-
m a r i t a n o s , esse p o v o foi julgado de m o d o mais tolerante mava-a incessantemente. De seu l a d o , os judeus c h e g a r a m
d o que n o século I; faziam-no "passar por israelitas em a c h a m a r os samaritanos de " c u t i a n o s " , e " s a m a r i t a n o s "
, s

toda p a r t e onde seu c o m p o r t a m e n t o correspondia às dire- tornou-se u m a grave injúria n a b o c a de u m j u d e u . Ve- 19

tivas da legislação religiosa farisaica" , e somente e m re- i3 m o s , por essas e o u t r a s , c o m q u e desprezo os judeus con-
2U

lação a outros aspectos foram tratados como não israelitas. sideravam essa p o p u l a ç ã o m e s c l a d a .
Essa tendência à a m e n i d a d e assocía-se, p r i n c i p a l m e n t e , à A s m u d a n ç a s freqüentes, assim descritas, nas relações
a u t o r i d a d e de R. A q i b a . O Pe, Billerbeck supôs q u e Aqi- 14
entre judeus e s a m a r i t a n o s a c a r r e t a r a m , é mais do q u e
ba, por sua atitude amigável, visara, q u a n d o da revolta evidente, m u d a n ç a s correspondentes nas disposições da le-
de Bar-Kokba (132-135 [ 6 ] ) , fazer com q u e os samarita- gislação religiosa judaica relativas aos s a m a r i t a n o s . Sendo
nos participassem do combate contra os r o m a n o s . D e s d e na m a i o r i a escritas p o s t e r i o r m e n t e , é, p o r t a n t o , difícil de-
antes de 2 0 0 , o julgamento em relação aos s a m a r i t a n o s tor- finir quais as leis em vigor no século I de nossa era. Te-
nou-se de novo severo e, p o r volta do ano 3 0 0 , a r u p t u r a m o s , p o r é m , vários recursos. Além dos dados do N o v o
foi completa; p a s s a r a m depois p o r pagãos . A oposição l5
T e s t a m e n t o e de Josefo, são especialmente os comentários
era tão total q u e , segundo u m a informação d e Epifanes, de R. Eliézer (cerca d e 90 d.C.) q u e nos ajudam a escla-
os samaritanos, convertendo-se ao j u d a í s m o , d e v i a m sub- recer os fatos, pois, a respeito dos s a m a r i t a n o s , como nas
meter-se a nova circuncisão; os s a m a r i t a n o s r e s p o n d e r a m o u t r a s questões, ele defende energicamente a antiga tra-
a essa d e t e r m i n a ç ã o , t o m a n d o m e d i d a ' semelhante. M a i s
6
dição, e m u i t o s outros doutores tanaítas unem-se a ele
neste p o n t o . 21

10. Ant. X X 6, 1, § 118; B. }. I I 12, 3 , § 2 3 2 . C o n f i r m a d o e m l x d o u t o r s a m a r i t a n o , uniu-se aos j u d e u s . N ã o e r a e s t i m a d o p o r seus


9.51-55; To 4,4-42.
11. L c 9,53; l o 4.9. c o m p a t r i o t a s ; d o e n t e de a m b i ç ã o pelo p o d e r , vivia e x a s p e r a d o c o n t r a
seus c o n c i d a d ã o s , T o r n o u - s e p r o s é l i t o e foi d e n o v o c i r c u n c i d a d o . N ã o
e

12. U m fato é c a r a c t e r í s t i c o ; (osefo a ele se refere p o r c a u s a das te a d m i r e s , leitor; isto a c o n t e c e . C o m efeito, os j u d e u s q u e se reti-
9

afastadas c o n s e q ü ê n c i a s políticas q u e a c a r r e t o u (B. /. I I 12, 3-7, § 232¬ r a r a m p a r a j u n t o dos s a m a r i t a n o s . . . são de n o v o c i r c u n c i d a d o s , assim


-246; Ant. XX 6, 1-3, § 118-136): e m 52 d . C , g r u p o s j u d a i c o s irregu- c o m o os s a m a r i t a n o s q u e se j u n t a m aos j u d e u s " (é m u i t o incerto q u e
lares a t a c a r a m c i d a d e s s a m a r i t a n a s p a r a vingar o assassínio d e u m S í m a c o fosse s a m a r i t a n o ; s e g u n d o E u s é b i o , Hist. ecl. V I 17, ele e r a
(B. /.) o u d i v e r s o s (Ant.) p e r e g r i n o s galileus q u e , i n d o e m peregri- ebionita).
n a ç ã o a J e r u s a l é m p a r a a festa, q u i s e r a m t o m a r o c a m i n h o q u e a t r a -
17. Tanbuma, wayyeseb, % 2, 117, 3 8 ; Pirqe de R. Eliézer, 3 8 .
vessava o território s a m a r i t a n o e foram a t a c a d o s n a fronteira n o r t e
d a S a m a r i a , n a c i d a d e fronteiriça de G i n a é , islo é, D j e n i n . 18. Cf. infra, n n . 23-25.
13. Billerbeck, I, 539. 19. fo 8, 48; b. Sota 22*.
14. Jbid., I, 538. 20. E m L c 10,37, o e s c r i b a evita p r o n u n c i a r a p a l a v r a " s a m a r i -
15. Ibiã., I, 552s. t a n o " . Usa de u m s u b t e r f ú g i o : " a q u e l e q u e u s o u de m i s e r i c ó r d i a p a r a
c o m e l e " . — Q u a n d o o filho d e Z e b e d e u , L c 9,54, q u e r e n d o fazer
16. E p i f â n i o . De mens. et pond. X V I 7-9 (ed. P. de L a g a r d e , Sym- descer o fogo d o c é u s o b r e a inóspita c i d a d e s a m a r i t a n a , é o ódio
micta I I , GÕttingen, 1880, 168s) c o n t a : " N o t e m p o de V e r u s , S í m a c o ,
7

n a c i o n a l , e v i d e n t e m e n t e , q u e se inflama c o m justa i n d i g n a ç ã o c o n t r a
a violação do direito hospitaleiro.
O s samaritanos d a v a m g r a n d e importância — c o m o I de nossa era, foram postos, do ponto de vista cultual e
hoje ainda — ao fato de descenderem de p a t r i a r c a s ju- ritual, em pé de igualdade com os pagãos. Conforme vi-
deus . Esse atributo foi-lhes n e g a d o ; e r a m " c u t i a n o s " ,
22 B

mos , o acesso aos átrios interiores do T e m p l o , desde o


31

descendentes de colonos p e r s a - m e d o s , estranhos ao po- 24

ano V era-lhes p r o i b i d o . A essa interdição c o r r e s p o n d e u m


vo . Era essa a concepção judaica p r e d o m i n a n t e no sé-
75

dispositivo n i t i d a m e n t e a n t i g o d a M i s h n a : ela proíbe


32

culo I de nossa e r a , chegando a negar aos samaritanos


2 6

aceitar dos samaritanos o imposto do T e m p l o , sacrifício


q u a l q u e r elo de sangue com o judaísmo . E m b o r a reco- 21

pelo p e c a d o ou de r e p a r a ç ã o , assim c o m o sacrifício de


nhecessem a Lei mosaica e observassem suas prescrições
23

aves (para a purificação depois do p a r t o e por ocasião da


com zelo meticuloso, n a d a m u d a v a à sua exclusão da co-
munidade de Israel, p o i s , e r a m suspeitos d e culto idólatra i m p u r e z a mensal), e só permite aceitar ofertas por ocasião
p o r causa da veneração n o G a r i z i m c o m o m o n t a n h a sa- de votos e dons voluntários q u e t a m b é m e r a m aceitos dos
g r a d a . E n t r e t a n t o , a exclusão dos s a m a r i t a n o s era causa-
29 pagãos . Essa similitude dos s a m a r i t a n o s com os pagãos
33

da mais pela sua origem do q u e p e l o culto n o G a r i z i m . no domínio cultual e ritual é igualmente c o m p r o v a d a atra-
N ã o h o u v e , p o r exemplo, q u a l q u e r r u p t u r a c o m a comu- vés de u m a p a l a v r a de R. Y u d a b e n Elai (cerca de 150
n i d a d e j u d a i c a d o Egito, apesar d a existência do t e m p l o d . C , representante da antiga t r a d i ç ã o relativa aos samari-
d e Leontópolis, p o r n ã o existirem lá i m p e d i m e n t o s aná- t a n o s ) : u m samaritano não deve circuncidar u m j u d e u ,
logos . 30
pois, dirigiria sua intenção p a r a a m o n t a n h a do Gari-
34

zim . D e n t r o da m e s m a linha e n c o n t r a m o s a proibição


35

Esse p r e c o n c e i t o e m relação aos s a m a r i t a n o s fazia sur- de R. Eliézer aos s a m a r i t a n o s (cerca de 90 d.C.) de comer
gir u m a primeira conseqüência: desde o início do século pães sem fermento, feitos por u m s a m a r i t a n o , na Páscoa,
" p o r q u e os samaritanos n ã o estão a p a r das precisões dos
2 1 . R. I s h m a e l ( | 135 d . C ) , R. Y u d a b e n Elai ( c e r t a de 1 5 0 ) , R. m a n d a m e n t o s " , e a d e comer u m animal m o r t o por u m
36

S h í m e o n b e n Y o h a i (cerca d e 1 5 0 ) , cf. Billerbeck, I, 538ss.


s a m a r i t a n o , " p o r q u e a intenção do samaritano [ d u r a n t e
37

22. Jo 4, 12;' Ant. I X 14, 3, § 2 9 1 ; X I 8, 6, §_34l-344 ( n a s d u a s


passagens, Josefo insiste no falo d e q u e , p o r q u e s t ã o de o p o r t u n i s m o , 0 s a n g r a m e n t o ] está geralmente v o l t a d o p a r a o culto dos
os s a m a r i t a n o s o r a a f i r m a m seu p a r e n t e s c o com os j u d e u s , ora o ne-
g a m ; é u m a a p r e s e n t a ç ã o c e r t a m e n t e p a r c i a l ) : Gn. R. 94, 6 s o b r e 46, ídolos" . 38

8ss ( 2 0 3 7 ) : " R . Meir viu u m s a m a r i t a n o e disse-lhe: D e q u e m ex-


a

trais l u a o r i g e m ? — Ele r e s p o n d e u : D a d e s c e n d ê n c i a de J o s é " . D a d a essa extensa assimilação dos samaritanos c o m


2 3 . O a p e l a t i v o " c u t i a n o s " p a r a os s a m a r i t a n o s n ã o figura n o An- os pagãos, c o m p r e e n d e m o s q u e n ã o se podia cogitar de
tigo T e s t a m e n t o , n e m m e s m o n a s p a r t e s a r a m a i c a s . V e m o - l o p e l a pri-
meira vez em (osefo Koulhaíoi, u m a vez (Ant. X I I I 9, 1, § 2 5 6 , va-
riantes) Kouthaíoi ao l a d o de Samareítai, Samarets, mais f r e q ü e n t e ) .
3 1 . V e r supra, 4 6 2 .
N a M i s h n a , kútim já é o c o g n o m e exclusivo dos s a m a r i t a n o s .
32. D a t a p r o v a v e l m e n t e d a é p o c a e m q u e o T e m p l o a i n d a existia.
24. Lc 17,18: allógenes — estranho ao povo.
3 3 . Sheq. I 5. S o b r e as o f e r e n d a s n ã o s a n g r e n t a s q u e se a c e i t a v a m
25. " O p o v o d e C u t a " (2Rs 17,30, cf. 17,24) era u m a das t r i b o s d a p a r t e dos p a g ã o s , v e r Billerbeck, I I , 549-551; S c h ü r e r , I I , 357-363.
instaladas c o m o c o l o n o s n a S a m a r i a pelos assírios no século V I U an-
3 4 . Ele c i r c u n c i d o u l sôm (= e m n o m e d e = d i r i g i n d o s u a i n t e n ç ã o
e

tes d e n o s s a era. (osefo explica q u e sua p á t r i a é o p a í s dos m e d o s e


dos p e r s a s (Ant. X I I 5, 5, § 257; cf. Ant. I X 14, 3 , § 2 8 8 ; f o r a m p a r a ) a m o n t a n h a de G a r i z i m . D e m a n e i r a c o r r e s p o n d e n t e é p r e c i s o ,
t r a n s p l a n t a d o s d o país de C u t a , n a Pérsia, p a r a a S a m a r i a , n o b a t i s m o n e o t e s t a m e n t á r l o , c o m p r e e n d e r o " e m n o m e d e " c o m o ex-
p r i m i n d o a i n t e n ç ã o ligada ao b a t i s m o .
26. Q u a n t o a d a t a v e r supra, n n . 23 e 24.
35. T o s . 'A. Z. I I I 13 (464, 1 8 ) ; b . ' A . Z. 2 7 b a r . : t r a t a d o
a
Kutim
27. Ant. X I S, 6, § 3 4 1 .
1 9 . b

28. O P e n t a t e u c o constituía a b a s e d a religião dos s a m a r i t a n o s ; 3 6 . b . Qid. 7 6 bar.; b . Hul. 4 bar.; T o s . Pes. I 15 (156,_ 1 7 ) .
a a

não reconheciam, no cânone judaico, n e n h u m outro escrito sacro. N e s t a ú l t i m a p a s s a g e m deve-se e n t e n d e r de a c o r d o c o m a ed. p r í n c i p e


29. Hul. II 7 (ou c o m o texto do T a l m u d e d a Babilônia, e d . de d a Tosefta p o r Alfas i " R . E l i é z e r " , e n ã o " R . E l e a z a r ' ' c o m o nos m s s .
Franctort-sur-le-Main, 1721, e de L e m b c r g , 1861, c o n v é m i n t e r p r e t a r de V i e n a e d e E r f u r t .
t kâti,
e
cf. Billerbeck, I , 538) o p i n i ã o d e R. Eliézer (cerca d e 9 0 d . C ) .
37. S o b r e a i n f o r m a ç ã o " S a m a r i t a n o " , v e r supra, n. 29.
30. Schlatler, Theologie, 79. 38. Hul. I I 7.
casamento c o m e l e s . Neste p o n t o , os judeus e r a m infle-
39
a v o n t a d e d e i m p e d i r os c a s a m e n t o s e n t r e j u d e u s e sama-
xíveis. Segundo u m a informação t a r d i a , m a s m e r e c e d o r a 40
r i t a n o s . U m a ú n i c a vez d u r a n t e o p e r í o d o pós-bíblico, isto
de f é , nas últimas décadas antes da ruína do T e m p l o
4 1 4 2
é, no caso d e H e r o d e s , o G r a n d e , o u v i m o s falar q u e u m
foi posta em vigor u m a i m p o r t a n t e d e t e r m i n a ç ã o segundo j u d e u t e n h a d e s p o s a d o u m a samaritana**; p o d e ser q u e
a qual os samaritanos e r a m considerados "desde o b e r ç o " H e r o d e s tenha sido levado a este c a s a m e n t o pelo zelo —
(portanto, sempre) impuros em mais alto grau e p o r t a d o - já m e n c i o n a d o por nós — e m estabelecer u m a p o n t e en-
í 5

res de impurezas ; o q u e d e t e r m i n o u essa disposição foi


43
tre j u d e u s e s a m a r i t a n o s . C o n v é m n o t a r , aliás, q u e esse
casamento realizou-se antes que tivesse t o m a d o corpo a
39. E n c o n t r a m o s m u i t a s vezes e x p r e s s a essa i n t e r d i ç ã o d o casa- animosidade das relações acima descritas (p. 4 6 6 ) .
m e n t o : Qid. I V 3 ; T o s . Quid. V Is ( 3 4 1 , 1 9 ) ; b . Qid. 7 4 - 7 6 ; trata- b b

d o Kutim I 6; I I 9 e passim. — S e g u r a m e n t e , Sheiit V I I I 10 t a m b é m P o r t a n t o , antes de 70 d . C , a atitude dos j u d e u s em


faz p a r t e deste c o n t e x t o : " A l é m d o m a i s , dizia-se em sua [ R . A q i b a , relação aos samaritanos não se diferençava fundamental-
f d e p o i s d e 135 d . C ] p r e s e n ç a : R. Eliézer [cerca de 90 d . C ] e n s i n o u : mente da que t i n h a m em relação aos pagãos. Eles " n ã o
A q u e l e q u e c o m e o p ã o de u m s a m a r i t a n o [assim se deve e n t e n d e r
c o m Billerbeck, I I , 420, n . 1 e I V , 1 1 8 3 ] , é c o m o se c o m e s s e u m possuem m a n d a m e n t o s , n e m m e s m o o vestígio d e u m man-
p o r c o . — Disse-lhes ele e n t ã o : Calai-vos, n ã o q u e r o vos dizer o q u e d a m e n t o ; são, p o r t a n t o , desprezíveis e p e r v e r t i d o s " , de- 40

R. Eliézer e n s i n o u s o b r e este p o n t o " . S e g u n d o essa t r a d i ç ã o , R. Eliézer


teria p r o i b i d o r a d i c a l m e n t e c o m e r p ã o feito p o r s a m a r i t a n o s . M a s os clarou R. Shimeon b e n Yohai (cerca d e 150 d.C.) que re-
t r a n s m i s s o r e s mais diferentes nos c o n t a m q u e ele p e r m i t i u c o m e r após presenta a antiga t r a d i ç ã o a respeito dos s a m a r i t a n o s ' . r>

a Páscoa o p ã o f e r m e n t a d o e as massas dos s a m a r i t a n o s (j. 'Orla II Pelo menos na p o r ç ã o do povo q u e observava as prescri-
7, 6 2 5 5 . 62^ lss [ I I / 2 , 3 4 2 ] ) ; j . Shebiti V I I I 10, 3 8 60 ( I I / l , 4 0 9 ) ;
b b

c o n s i d e r a v a ele, de m o d o diferente, o p a o á z i m o dos s a m a r i t a n o s , v e r ções farisaicas sobre a p u r e z a , as relações c o m os samari-


supra, n. 3 6 ) . Sua sentença a p r e s e n t a d a e m Shebüt V I I I 10 d e v e , pois, tanos e r a m , antes de 7 0 , tão difíceis q u a n t o com os pa-
ter o u t r o s e n t i d o , c o n f o r m e indica i g u a l m e n t e a réplica d e s c o n t e n t e
d e A q i b a . A s s i m R. Y o s e (cerca d e 350 d.C.) p r o v a v e l m e n t e t e m ra-
gãos. A constatação do antigo glosador d e Jo 4,9 é exa-
zão de dizer (j. Shebüt V I I I 10, 3 8 59 [ I I / l , 4 0 9 ] ) q u e " c o m e r o
b

p ã o " , na s e n t e n ç a d e R. Eliézer, é u m s u b t e r f ú g i o e u f ê m i c o p a r a de- através d o território s a m a r i t a n o , deles aceitasse a l i m e n t o ou b e b i d a ,


signar o m a t r i m ô n i o . n u n c a p o d e r i a m vir a saber se eles e s t a r i a m ou n ã o i m p u r o s . A l é m
40. R. N a h m a n b a r I s h a q (f 356 d . C ) , b . Shab. 16 -17 .
b a
d o m a i s , p o r c a u s a desta d i s p o s i ç ã o , o e s c a r r o dos s a m a r i t a n o s era
4 1 . Nidda I V 1 e Tohorot V 8 m o s t r a m q u e a regra e s t a v a em t i d o c o m o i m p u r o : se, p o i s , h o u v e s s e n a c i d a d e u m a ú n i c a s a m a r i -
vigor n o s é c u l o I I . O r a , c o n f o r m e vimos supra, p . 466, o s é c u l o I I tana, todos os escarros e r a m c o n s i d e r a d o s i m p u r o s , Tohorot V 8. —
era favorável aos s a m a r i t a n o s ; é, p o i s , difícil q u e essa regra só t e n h a P e l a r a z ã o i n d i c a d a na p e n ú l t i m a n o t a , u m a d i s p o s i ç ã o a n á l o g a t r a n s -
v i n d o à luz n o século I I . m i t i d a p e l a M í s h n a p e r t e n c e , s e g u r a m e n t e , ao século I : desconfiava-se
42. R. N a h m a n g a r a n t e , b . Shab. 1 6 - 1 7 q u e essa regra e r a u m a
b a de q u e os s a m a r i t a n o s se d e s c a r t a v a m d o feto e m caso de a b o r t o nas
das D e z o i t o o r d e n s p r o m u l g a d a s n o p r i m e i r o estágio d o t e m p o de " c a s a s i m p u r a s " (bêt ha-tum'ôt " g a b i n e t e " ) - A s s i m s e n d o , esses luga-
H a n a n y a b e n H i z q i y y a b e n G a r o n após m ú t u a d e l i b e r a ç ã o e n t r e hile- res e n o d o a v a m c o m i m p u r e z a c a d á v e r a q u e l e q u e n e l e s entrasse
lítas e s h a m a í t a s . Essa d e l i b e r a ç ã o a c o n t e c e u a n t e s de 48 d.C. ( P o u c o (Nidda V I I 4 ) . -— P o d e m o s realizar e c o m p r e e n d e r o rigor ferino
t e m p o antes de sua m o r t e e m 23 d e d e z e m b r o d e 1932, P a u l Biller- dessas disposições, l e m b r a n d o - n o s d e q u e , se os s a m a r i t a n o s (o q u e
beck explicou-me, dc viva voz, q u e ele s i t u a v a , c o m o eu, essas célebres é c e r t o , ver supra, p . 4 6 5 ) , até o a n o 8 d . C . m a i s o u m e n o s , t i n h a m
decisões a n t e s d o Concílio a p o s t ó l i c o ( 4 8 ) . S e g u n d o M . H e n g e l , Die a c e s s o a o s á t r i o s i n l e r n o s d o T e m p l o , n ã o existia até esta d a t a ne-
Zelotem, L e y d e e Cologne, 1961, 207 e n. 4, as f a m o s a s D e z o i t o or- n h u m a r a z ã o levítica p a r a sua e x c l u s ã o d a q u e l e s a n t u á r i o .
dens só foram p r o m u l g a d a s no t e m p o d a p r i m e i r a r e v o l t a c o n t r a os 44. M a l t a c e . B. /. I 28, 4, § 5 6 2 : Samareítis. Ant. X V I I 1, 3 , §
r o m a n o s . M e s m o neste caso, c o n v é m levar e m c o n t a u m a p o s s i b i l i d a d e : 2 0 : n ã o h a v i a , até a q u e l a d a t a , r a z ã o levítica p a r a a s u a e x c l u s ã o d o
essas o r d e n s já p o d i a m ter sido, e m p a r t e , o b s e r v a d a s , a n t e s de t e r e m
sido elevadas a nível de u m a h a l a k a o b r i g a t ó r i a ) . Templo.
4 5 . V e r supra, p . 465s.
4 3 . Trata-se d a regra s e g u n d o a q u a l c o n s i d e r a m - s e as s a m a r i t a n a s . 4 6 . j . Fes. I t , 2 7 51 ( I Í I / 2 , 5 ) .
b

" m e n s t r u a d a s d e s d e o b e r ç o " e seus m a r i d o s c o m o p e r p e t u a m e n t e ma- 47. Segundo Schüier, II, 23, os samaritanos eram, no ponto de
c u l a d o s pelas m e n s t r u a d a s (cf. Lv 15,24), Nidda I V 1, T o s . Nidda V vista d a legislação religiosa, c o l o c a d o s no m e s m o p l a n o dos s a d u c e u s .
I (645, 2 1 ) . P o r causa desta d i s p o s i ç ã o , q u a l q u e r lugar o n d e tivesse Essa c o n c l u s ã o r e p o u s a e m p a s s a g e n s d a M i s h n a q u e refletem as dis-
s e n t a d o ou r e p o u s a d o u m s a m a r i t a n o e r a c o n s i d e r a d o l e v i t i c a m e n t e posições favoráveis aos s a m a r i t a n o s em l a r g o s círculos n o século 11
i m p u r o (ibid.); a i m p u r e z a se c o m u n i c a v a aos a l i m e n t o s e b e b i d a s d e n o s s a e r a , c o n t r a d i z e n d o o q u e sc a i r i b u í a a o s é c u l o I.
q u e tocassem esse local. P o r t a n t o , a q u e l e q u e , d u r a n t e u m a v i a g e m
t a : os " j u d e u s n ã o se dão com os s a m a r i t a n o s " . S o m e n t e
4 E
CAPÍTULO XI
conhecendo o cenário da situação c o n t e m p o r â n e a assim
descrita podemos apreciar d e v i d a m e n t e a posição no N o v o APÊNDICE
T e s t a m e n t o em relação aos samaritanos e, p o r e x e m p l o ,
m e d i r até q u e p o n t o as palavras de Jesus devem ter pa-
recido d u r a s a seus ouvintes: colocou sob os o l h o s d e seus
compatriotas u m samaritano como modelo, h u m i l h a n t e p a r a
eles, da gratidão (Lc 17,17-19) e do amor ao p r ó x i m o que A SITUAÇÃO SOCIAL D A MULHER 1

v e n c e o ódio nacional h á t a n t o t e m p o enraizado (Lc 10,


30-37).

N o O r i e n t e , a m u l h e r n ã o p a r t i c i p a da vida pública;
o m e s m o acontecia n o j u d a í s m o do t e m p o de Jesus, pelo
menos entre as famílias judaicas fiéis à Lei. Q u a n d o a
m u l h e r saía de casa, trazia o rosto e s c o n d i d o p o r u m man-
to, p e ç a de p a n o dividida em duas p a r t e s , u m a cobrindo-
-lhe a cabeça (espécie de couffieh d e hoje), e a outra, cin¬
gindo a fronte e caindo até o q u e i x o , tipo de rede c o m
cordões e n ó s . Desta forma, não se podia reconhecer os
traços de seu r o s t o . Certa vez, u m s u m o sacerdote de
2

1. E n t r e a a b u n d a n t e l i t e r a t u r a , c i t e m o s : K r a u s s , Talm. Arch., II;


M. S. Z u c k e r m a n d e l , Die Befreiung der Frauen von bestimmten reli-
giösen Pflichten nach Tosejta und Mischna (suplemento do Festschrift
zu Israel Lewys 70. Geburtstag), Breslau, 1911; S. K r a u s s , Die Ehe
zwischen Onkel und Nichte, e m Studies in Jewish Literature, issued
in Honour of Prof. K. Kohler, Berlim, 1 9 1 3 , 165-175; I. N e u b a u e r ,
Beitrage zur Geschichte des hiblisch-talmudischen Eheschliessungsrechts.
Eine rechtsvergleichend-historische Studie (Mitteilungen der vordera-
siatischen Gesellschaft, 24--25" anos) I-II, L e i p z i g , 1920; J. L e i p o l d t ,
Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921; V . A p t o w i t z e r , Spuren des Ma-
triarchats im jüdischen Schrifttum, e m HUCA 4 ( 1 9 2 7 ) , 207-240, 5
( 1 9 2 8 ) , 261-297, e s p e c i a l m e n t e 4, 232ss ( c a s a m e n t o c o m u m a s o b r i n h a )
e 281ss (direito d e c o m p r a , direito s u c e s s o r i a l , e n d o g a m i a ) ; Billerbeck,
I V ( 1 9 2 8 ) , I n d e x a " F r a u " ; S. Bialoblocki, Materialien zum islamischen
und jüdischen Eherecht, G i e s s e n , 1928; M . F r i e d m a n n , Mitwirkung
von Frauen beim Gottesdienst,- e m HUCA 8-9 (1931-1932), 511-527;
1. H e i n e m a n n , Philons griechische und jüdische Bildung, Breslau, 1932,
231-329; Schlatter, Theologie, 162-170; S. Z u c r o w , Women, Slaves and
the Ignorant in Rabbinic Literature, B o s t o n , Mass., 1932; A. G u l a k ,
Das Urkundenwesen im Talmud im Lichte der griechisch-ägyptischen
Papyri und des griechischen und römischen Rechts, J e r u s a l é m , 1935,
J. L e i p o l d t , Die Frau in der antiken Welt und im Urchristentum, Leip-
zig, 1955. — Q u a n t o a P a l e s t i n a a t u a l , H , G r a n q v i s t , Marriage Condi¬
tion in a Palestinian Vitlage I - I I , H e l s i n k i , 1931-1935 (dá u m a biblio-
grafia m a i s a b u n d a n t e ) .

2. Billerbeck, I I I , 427-434; cf. D n 13,32; I C o r 11,5; Ant. III 11,


48. Esta frase falta n o N * Dabde, 6, § 270.
Jerusalém não reconheceu a p r ó p r i a m ã e , q u a n d o lhe apli- sem receber o p a g a m e n t o previsto n o c o n t r a t o de casa-
cou a sentença prescrita p a r a a m u l h e r acusada de adulté-
mento . !4

rio \ A m u l h e r que saía de casa sem ter a cabeça c o b e r t a ,


quer dizer, sem o véu que ocultava o rosto, faltava de tal Preferia-se q u e a m u l h e r , especialmente a moça antes
m o d o aos bons costumes que o m a r i d o tinha o direito, até de seu casamento, não saísse de casa. Eis o q u e diz Fí-
mais, tinha o dever de despedi-la sem ser obrigado a pa-
4 lon : "Negócios, conselhos, t r i b u n a i s , procissões festivas,
15

gar a q u a n t i a q u e , no caso de divórcio, pertencia à esposa, r e u n i ã o d e m u i t o s h o m e n s , em s u m a , toda a vida p ú b l i c a


em virtude do contrato m a t r i m o n i a l . H a v i a mulheres tão
5 com suas discussões e assuntos, em t e m p o de paz ou de
rigorosas que não se descobriam n e m mesmo em casa, guerra, é feita p a r a h o m e n s . As j o v e n s d e v e m p e r m a n e c e r
c o m o aquela Q i m h i t que viu — assim c o n t a m — sete 6 nos cômodos afastados, fixando c o m o limite a p o r t a de
filhos se t o r n a r e m sumos sacerdotes o que foi c o n s i d e r a d o c o m u n i c a ç ã o [com os a p a r t a m e n t o s d o s h o m e n s ] " ; e as ,ó

u m a recompensa d e Deus pela sua austeridade; " C a i a m mulheres casadas, como limite, a p o r t a do p á t i o " . As mu-
sobre m i m [isto ou aquilo] se as traves de m i n h a casa lheres judaicas de A l e x a n d r i a , diz F í l o n n o u t r o lugar,
17

v i r a m os m e u s c a b e l o s " * Somente no dia do casamento


7 são m a n t i d a s e m reclusão: " N ã o p a s s a m além d a p o r t a d o
a esposa, se fosse virgem e não viúva, aparecia de cabeça p á t i o . Q u a n t o às moças, ficam confinadas nos quartos das
descoberta no cortejo \ mulheres e, por p u d o r , evitam o olhar dos h o m e n s , m e s m o
de parentes p r ó x i m o s " . I n ú m e r a s p r o v a s nos d e m o n s t r a m
E m conformidade com tais regras, as m u l h e r e s , em
que essa reclusão da m u l h e r , desconhecida n a época bí-
público, deviam passar despercebidas. O u v i m o s falar da
blica, era usual m e s m o fora do j u d a í s m o alexandrino. " E u
sentença de u m dos mais antigos escribas que c o n h e c e m o s ,
era u m a jovem casta q u e não passava além da soleira da
Yose b e n Y o h a n a n de Jerusalém (cerca de 150 a . C ) : " N ã o
casa p a t e r n a " , diz a m ã e dos sete mártires a seus filhos . w

converse muito com u m a m u l h e r " ; — acrescentaram de-


pois: " [Isso vale] no caso de tua m u l h e r e mais ainda em O s dados seguintes nos levam a Jerusalém e nos mos-
relação à m u l h e r do p r ó x i m o " . As regras do decoro proi-
9
tram o estrito costume observado nas casas dos notáveis.
b i a m ' encontrar-se sozinho com u m a m u l h e r , olhar p a r a 10
Q u a n d o P t o l o m e u IV Filopator quis, e m 2 1 7 a . C , pene-
u m a m u l h e r casada , e até mesmo cumprimentá-la . Seria
n 11
trar n o Santo dos santos, " a s jovens confinadas em seus
vergonhoso p a r a u m aluno de escriba falar c o m u m a mu- aposentos precipitaram-se p a r a fora c o m suas m ã e s ; co-
lher na rua . A q u e l a que conversasse c o m alguém n a rua
13
b r i r a m a cabeça com cinza e pó e e n c h e r a m as ruas com
ou ficasse do lado de fora de sua casa p o d i a ser r e p u d i a d a suas l a m e n t a ç õ e s " . Semelhantes manifestações d e grande
l9

excitação se repetem em 176 a . C ; s a b e n d o que H e l i o d o r o ,


3. Pesiqta rabbati 26, 1 2 9 . ministro do rei Seleuco IV tentava apoderar-se do tesouro
b

4. T o s . Sota V 9 (302, 7 s ) .
5. Ket. V I I 6.
do T e m p l o , " a s jovens q u e estavam r e t i d a s em casa acor-
6. Ver supra, p . 268.
7. j . Meg. I 12, 7 2 53 (não t r a d u z i d o e m I V / 2 , 2 7 4 ) ; j . Yoma
a

14. Ket. V i l 6, s o b r e o c o n t r a t o d e c a s a m e n t o , v e r infra, p . 483s,


I l , 3 8 9 ( I I I / 2 , 164).
d

ii. 73s, e p . 4 8 4 .
8. Ket. II 1.
9. P. A. I 5. V e r a história c o n t a d a e m b . 'Er. 5 3 e a o b s e r v a ç ã o
b 15 De apee. ieg. I I I § 169.
de (osefo, B. j . I 24, 2, § 4 7 5 : C o m S a l o m é , A n t i p a t e r ter-se-ia " e n t r e - 16. P i l o u tinha e m m e n t e u m a casa h e l e n i s t a ,
tido c o m o se ela fosse sua m u l h e r " . 17. In riaccum 11, § 89. Q u a n t o a Fílon, v e r I. H e i n e m a n n , Philons
10. Qid. I V 12; b . Qid. 8 1 ; To 4, 27. a

i'tiechische und jüdiscbe Bildung, 233-235.


11. BÜlerbeck, I, 299-301; Schlatter, Gesch. ísr. .1618 e n . 145 ( 4 1 7 ) ; 18. 4 Mac. X V I I I 7. Cf. o p s e u d o - P b o c y l i d e 215 (ed. R. D i e h l ,
Schlatter, Der Evangelist Maíthaus, S t u t t g a r t , 1929, 175s. Authologia lyrica gracca (col. T e u b n c r ) , 3 ' e d . . fase. 2, Leipzig, 1950,
12. b . Qid. 7 0 - . a b

107): " C o n s e r v e a j o v e m e m seus a p a r t a m e n t o s b e m fechada à c h a v e " .


13. b . Ber. 4 3 b a r .
b

Ij-uial r e c o m e n d a ç ã o em Ecl 26,10;42,11-12.


19. 3 Mc. I 18, cf. 19.
riam, u m a s às portas, outras, p o r sobre os m u r o s ; e a i n d a se exibiam diante dos r a p a z e s . S e g u n d o o T a l m u d e da
26

outras debruçavam-se às j a n e l a s " e as mulheres cingidas Palestina, as moças das melhores famílias t a m b é m parti-
de tecido grosseiro aglomeravam-se nas ruas (2Mc 3,19). cipavam desses festejos . 21

Foi u m espetáculo absolutamente sem precedente , quan- 2Ü


T o d a v i a , as mulheres dos meios p o p u l a r e s n ã o p o d i a m
do, e m 29 a . C , sem levar e m conta os bons costumes, a levar u m a vida totalmente retirada c o m o as da alta classe,
rainha-mãe Alexandra correu às ruas de Jerusalém p a r a rodeadas de domésticos, e isso, p r i n c i p a l m e n t e por razões
invectivar, em altos b r a d o s , sua filha M a r i a n a , c o n d e n a d a econômicas. E m muitos casos, por e x e m p l o , a m u l h e r pre-
à m o r t e . D e m o d o análogo, o T a l m u d e vê nas p a l a v r a s
2 1
cisava ajudar o m a r i d o em sua profissão, talvez m e s m o
do salmo 4 5 , 1 4 : "Vestida c o m brocados a filha do rei é como c o m e r c i a n t e . Q u e nos meios mais simples havia
2S

levada p a r a d e n t r o " , a descrição da vida retirada das mu- menos rigor, p o d e m o s concluir t a m b é m da descrição das
lheres, n ã o saindo de seus aposentos . C o m o vemos, a jo- 22
festas p o p u l a r e s q u e se realizavam n o átrio das m u l h e r e s ,
v e m de u m a família de notáveis de Jerusalém, o b s e r v a n d o d u r a n t e as noites da festa das T e n d a s : a m u l t i d ã o aí se
estritamente a Lei tinha o hábito de ficar o mais possível via tão descontraída q u e foi necessário construir galerias
em casa, antes de seu casamento; a m u l h e r casada, de só p a r a as m u l h e r e s , a fim de separá-las dos h o m e n s . Além 25

sair com o rosto oculto pelo véu \ 2


do mais, relações mais livres r e i n a v a m no c a m p o . Ali, a
E n t r e t a n t o , p a r a sermos b e m exatos, n ã o devemos ge- jovem vai à fonte , a m u l h e r dedica-se, j u n t a m e n t e com
30

neralizar. N a s cortes governamentais p o u c o se preocupa- o m a r i d o e filhos, ao t r a b a l h o agrícola , v e n d e azeitonas


31

.vam c o m o costume. Basta p e n s a r m o s na r a i n h a Alexan- à p o r t a , serve à m e s a . N a d a indica q u e as mulheres


3 2 3 3

dra q u e , d u r a n t e nove anos (76-67 a . C ) , com p r u d ê n c i a observassem de m o d o tão estrito no c a m p o , como na cida-
e energia, m a n t e v e nas mãos as rédeas do poder, n ã o se de, o h á b i t o de cobrir a cabeça; p e l o contrário, existia,
distinguindo, em n a d a , das princesas dos ptolomeus o u dos sem d ú v i d a , nesse sentido, entre a cidade e o c a m p o , u m a
selêucidas ; ou na irmã de Antígono (último rei m a c a b e u
24 diferença semelhante à q u e l a q u e vemos na p o p u l a ç ã o ára-
40-37 a . C ) , defendendo a fortaleza de H i r c â n i a c o n t r a as be da Palestina atual. U m a m u l h e r n ã o deveria, e n t r e t a n t o ,
tropas de H e r o d e s , o G r a n d e . Lembremo-nos t a m b é m de
25 ficar sozinha no c a m p o e n ã o é c o m u m , m e s m o ali, u m
34

Salomé, d a n ç a n d o diante dos visitantes de H e r o d e s Anti- h o m e m m a n t e r conversa c o m u m a e s t r a n h a . 3S

pas (Mc 6 , 2 2 ; M t 14,6). Aliás, m e s m o o n d e se conservava 2 6 . Ta'an. I V 8; b . Ta'an. 3 1 b a r . — R. Eisler, em Archiv


a
für
rigorosamente o uso, havia exceções. D u a s vezes p o r a n o , Religionswissenschajt, 27 ( 1 9 2 9 ) , 171ss q u e r i a c o n s i d e r a r estas d a n ç a s
em 15 ab e no D i a das expiações, realizavam-se algumas c o m o u m a s o b r e v i v ê n c i a de ritos dos m i s t é r i o s d i o n i s í a c o s ; W . Witter¬
k i n d t , ibid. 28 ( 1 9 3 0 ) , 385-392, o p i n o u c o n t r a , d i z e n d o q u e essas dan-
danças nos vinhedos das cercanias de Jerusalém; as jovens ças n o m e i o dos v i n h e d o s e r a m u m a r e m i n i s c ê n c i a dos ritos d a festa
do c a s a m e n t o de M a r d u c , c e l e b r a d a em Babilônia p o r ocasião d a festa
20. Ant. X V 7, 5, § 232s. do A n o N o v o .
2 1 . Cf. t a m b é m Actus vercellenses (= Atos de Pedro), c a p . 17 27. j . Ta'an. I V 11, 6 9 47 ( I V / 1 , 1 9 7 ) : m e s m o a filha d o rei e
c

(ed. L. V o u a u x Les Actes de Fierre, P a r i s , 1922, 3 3 1 ) : a n o b r e E u b o l a do siimo s a c e r d o t e .


j a m a i s a p a r e c e r a e m p ú b l i c o ; assim s e n d o , sua p r i m e i r a a p a r i ç ã o cau- 2 8 . Ket. I X 4.
sou g r a n d e sensação. A história se passa n a Judeia, q u e r dizer, e m 2 9 . T o s . Sukka I V 1 (198, 6 ) . — A b i n (cerca de 325 d.C.) di-
J e r u s a l é m ; n ã o é p o r é m , suficiente p a r a fazer-nos c o n h e c e r a s i t u a ç ã o zia: " A p r a g a do a n o [do p o n t o de vista m o r a l ] é a festa", b . Qid. 8 1 . a

n a Palestina. 30. Ket. I 10; Gn. R. 49 s o b r e 18, 20 (103b g ) .


22. b . Yeb. 7 7 . O m e s m o texto b í b l i c o é a p l i c a d o a Q i m h i t (so-
a
3 1 . B. M . I 6. — U m a m u l h e r " c h e g a d a c o l h e i t a " , Yeb. X V 2;
b r e essa v e r supra, p . 474) e m j . Yoma I 1 3 8 11 ( I I I / 2 , 164).
d
'Jid. I 12.
23. Este c o s t u m e estrito p e r m i t e c o m p r e e n d e r , c o m I. H e i n e m a n n , 52. b . B. Q. 1 1 9 . a

o.c. 235, p o r q u e o T a l m u d e julga t ã o d e s f a v o r a v e l m e n t e "o o r g u l h o " 3 3 . M c 1, 31 e p a r . ; L c 10,38-42; Jo 12,2.


das profetisas D é b o r a e H u i d a , b , Meg. 14 .
b
34. b . Ber. 3 . b

24. H . W i l l r i c h , Das Haus des Herodes, H e i d e l b e r g , 1929, 4 9 . 35. É o q u e e x p l i c a a a d m i r a ç ã o dos d i s c í p u l o s d e Jesus q u a n d o


25. B. j . I 19, 1, § 364. u v ê e m c o n v e r s a n d o c o m a S a m a r i t a n a , Jo 4,27.
A situação da mulher em casa correspondia a essa menos de 12 anos e meio t a m b é m n ã o dispõe de si mes-
exclusão da vida p ú b l i c a . Na casa p a t e r n a , o lugar d a s fi- m a : o p a i p o d e anular seus votos ; representa-a e m qual-42

lhas vinha após o dos meninos; sua formação limitava-se quer assunto l e g a l ; a aceitação ou recusa de u m p e d i d o

ao a p r e n d i z a d o dos trabalhos domésticos, costura e fiação, de casamento pertence e x c l u s i v a m e n t e ao p o d e r p a t e r n o


44

especialmente; t o m a v a m conta dos irmãos e irmãs m e n o - ou ao de u m representante seu . Até a idade de 12 anos 4S

res ' . Para com o pai t i n h a m , c e r t a m e n t e , os mesmos de-


b
e m e i o , u m a jovem não tem direito d e recusar o casamen-
veres que os filhos: alimentá-lo e dar-lhe de beber, vesti- to decidido pelo g e n i t o r , m e s m o q u e o escolhido seja
46

do e cobri-lo, ajudá-lo a e n t r a r e sair, q u a n d o se tornasse d i s f o r m e . Mais ainda: o pai tinha o direito de vender
47

velho, lavar-lhe o rosto, as mãos e os pés . N ã o t i n h a m , 37


sua filha como escrava, conforme vimos , mas somente 4S

p o r é m , os mesmos direitos que os irmãos; do p o n t o de até aos doze anos. A filha maior (acima de 12 e meio) é
vista da sucessão, por exemplo, os filhos h o m e n s e seus a u t ô n o m a ; seu noivado p o d e ser decidido sem o consenti-
d e s c e n d e n t e s p a s s a v a m à frente .
18 39
m e n t o p a t e r n o . E n t r e t a n t o , m e s m o q u e a filha seja maior,
4 9

O pátrio poder era g r a n d e m e n t e exercido sobre as fi- a q u a n t i a p a r a o c a s a m e n t o , que o noivo p a g a v a por oca-
lhas menores até se casarem; dele d e p e n d i a m t o t a l m e n t e . sião do n o i v a d o , pertence ao p a i . Esse autoritarismo tão
5 0

Para maior precisão, vejamos como as distinguias: 1- a me- dilatado do pai levava-o n a t u r a l m e n t e a considerar as fi-
nor (cfiannah, m e n i n a até a idade de " d o z e anos e u m lhas, sobretudo as menores, como aptas ao t r a b a l h o e fon-
d i a " ) ; 2" a moça (na'ãrah, entre 12 anos e 12 a n o s e te de r e n d a ; "alguns casam a filha e c o n t r a e m grandes dí-
meio); e 3 , a maior (bôgeret, acima de doze anos e m e i o ) .
9

Até a idade de doze anos e meio, a a u t o r i d a d e do p a i é


soberana . A filha n a d a p o d e possuir; a renda de seu tra-
4D
42. Sifre N m 30,4, § 153 ( 2 6 3 7 s s ) , cf. K, G . H u n h , Sifre
a
zu
balho e o q u e encontra, pertencem a e l e . A filha com 4 1 Numeri, 616ss.
4 3 . I. N e u b a u e r , Beitrage zur Geschichte des bibiish-talmudischen
Eheschliessungsrechts I I , 159ss,
36. b . B. B. 1 4 1 ; b . Nidda 4 8 b a r .
a b

4 4 . " S e , e n q u a n t o o pai viver, u m a m e n o r [g lannah, e


a b a i x o de
37. T o s . Qid. I 11 (336, 3 ) . doze a n o s ] ficar n o i v a ou se casar, o n o i v a d o n ã o é c o n s i d e r a d o noi-
38. B. B. V I I I 2; Sifre N m 27, 4, § 133 ( 2 3 41) e s o b r e este c

v a d o , n e m o c a s a m e n t o será t i d o c o m o c a s a m e n t o [ a m b o s são inváli-


p o n t o K. G . K u h n , Sifre zu Numeri, Rabbinische Texte II 3, S t u t t g o r t , d o s ] " , T o s . Yeb. X I I I 2 (256, 2 7 ) . V e r u m a e x c e ç ã o supra, n. 40.
1959, 539, n. 44, 542, n . 18.
45. Ket. I V 4 ; Qid. I I 1 — Se o pai m o r r e s s e , o d i r e i t o era trans-
39. Se houvesse filhos, eles e r a m os ú n i c o s h e r d e i r o s . Cabia-lhes
ferido p a r a os p a r e n t e s m a i s p r ó x i m o s , em g e r a l à m ã e ou aos i r m ã o s .
u n i c a m e n t e a o b r i g a ç ã o de s u s t e n t a r , c o m a h e r a n ç a p a t e r n a , a t é o ca-
É, p o r e x e m p l o , a situação p r e v i s t a e m Ct 8,8-10 o n d e v e m o s os ir-
s a m e n t o , suas i r m ã s solteiras, B. B. I X 1, e pagar-lhes u m d o t e , Ket.
m ã o s d i s c u t i r e m p a r a s a b e r c o m o p o d e r ã o aproveitar-se m e l h o r d o
VI 6. Esse direito das i r m ã s era p r i o r i t á r i o ; p o r isso dizia-se q u e , se
c a s a m e n t o de s u a i r m ã (cf. S. K r a u s s , Die Rechtslage im biblischen
os bens são escassos, as m o ç a s d e v e m ser s u s t e n t a d a s a i n d a q u e os
Hohenliede, e m MGWjf 80 [ 1 9 3 6 ] , 330-339); v e r a i n d a Tosefo, C. Ap.
filhos sejam o b r i g a d o s a m e n d i g a r nas r u a s , B. B. I X 1. — O s sadu-
II 24, § 200 e Ant. X X 7, 1, § 140; A g r i p a I I d á (cerca d e 53 a.C.)
ceus, é v e r d a d e , p r e t e n d e r a m exigir q u e a filha d o falecido fosse co-
sua i r m ã M a r i a n a a A r q u e l a u "a q u e m seu p a i A g r i p a I [ m o r t o e m
locada em p é de i g u a l d a d e p e l o m e n o s com a filha de seu filho (por-
44] a t i n h a c o m p r o m e t i d o a n t e s c o m o n o i v a " . M a s a m e n o r a q u e m
t a n t o , com a n e t a d o defunto) n o q u e dizia r e s p e i t o ao d i r e i t o su-
a m ã e ou os i r m ã o s fizeram ficar n o i v a ou casar-se após a m o r t e do
cessorial, b . B. B. 1 1 5 ; neste p o n t o , p o r é m , n ã o v e n c e r a m . Q u a n t o a
b

Daí t i n h a o direito d e a n u l a r o c a s a m e n t o , d e c l a r a n d o q u e o r e c u s a v a ,
este a s s u n t o , ver V. A p t o w i t z e r Spuren des Matriarchats im jüdischen
Yeb. X I I I 1-2.
Schrifttum, e m HUCA 5 ( 1 9 2 8 ) , 283-289 ( E x c u r s o 5: o direito suces-
sorial das filhas e n t r e os s a d u c e u s . 46. Basta q u e ela e x p r i m a o desejo de p e r m a n e c e r n a casa pa-
terna a t é crescer, isto é, a t é atingir a p u b e r d a d e .
40. A m e n o s q u e a filha já n ã o seja, c o m o m e n o r , n o i v a e se-
47. b . Ket. 4 0 . P o d i a m e s m o a c o n t e c e r q u e u m pai d i s t r a í d o ti-
b

p a r a d a ; o c a s a m e n t o d i s p e n s a , e n t ã o , d a a u t o r i d a d e p a t e r n a (por exem-
vesse se e s q u e c i d o c o m q u e m c o m p r o m e t e r a a filha. Qid. I I I 7.
plo b . Ket. 4 0 a a
passim).
4 8 . Supra, p . 416. — N ã o t e m mais o d i r e i t o d e v e n d e r a na'arah
4 1 . Ket. I V 4; b . Ket. 4 0 . e passim.
b
Ê t a m b é m ao pai q u e per-
(entre d o z e anos e doze a n o s e meio) e a filha m a i o r , Ket. I I I 8.
t e n c e o d i n h e i r o d e p u n i ç ã o , d e h u m i l h a ç ã o , d e d e g r a d a ç ã o e d e in-
4 9 . b . Qid. 2 , 7 9 .
b a

d e n i z a ç ã o p o r ter v i o l a d o a filha, D t 22,29; Ket. I V 1; I I I 8; b . Ket.


2 9 , 4Ú e
a b
passim. 50. b . Ket. 4 6 ; b . Qid. 3 .
b b
vidas; outros a casam e recebem dinheiro p o r e l a " ; diz t i n h a m o costume, c o m o já v i m o s , d e escolher suas es- 5S

u m a frase l a c ô n i c a . 51

posas nas famílias sacerdotais; c a s a m e n t o de leigos com


Os noivados realizados em idade e x t r e m a m e n t e pre-
52
parentes são c o m p r o v a d o s , p o r e x e m p l o , e m T b 1,9;4,12;
coce, segundo nosso m o d o de ver, mas aceitável no Orien- }d 8,1-2. O livro dos jubileus p a r e c e r e c o m e n d a r o casa-
te, p r e p a r a v a m a transferência da jovem de sob o poder m e n t o c o m a p r i m a ; f r e q ü e n t e m e n t e , c o m efeito, ele c o n t a ,
do pai p a r a a submissão ao esposo. A idade n o r m a l p a r a p a s s a n d o por cima do relato bíblico, q u e os patriarcas, an-
o noivado era entre 12 e 12 anos e m e i o , mas noivados 5 3
tes e após o dilúvio, d e s p o s a r a m filhas d a i r m ã ou d o ir- SQ

e casamentos ainda mais precoces são comprovados . Mui- H


mão 6U
de seu pai. O período posterior apresentou o ca-
to freqüente o noivado entre parentes e isso não só no 55
s a m e n t o c o m a s o b r i n h a , isto é, c o m a filha d a irmã, d e
61

meio de notáveis onde o conhecimento das jovens torna- preferência e até m e s m o c o m o o b r a p i a ; diversas ve-
62 6 3

va-se difícil pelo fato d e viverem muito à p a r t e , excluídas zes, pois, ouvimos dizer que um r a p a z contrai m a t r i m ô n i o
do m u n d o . O u v i m o s dizer, p o r exemplo, q u e u m pai e com a filha de sua i r m ã . N ã o r a r o , t a m b é m , o casamento
6 4

u m a mãe discutiram acerbamente p o r q u e cada u m queria com a filha d o irmão . Já vimos acima que tais casamen-
bh

casar a filha com u m r a p a z de sua p r ó p r i a p a r e n t e l a . 56


tos se realizavam nas famílias sacerdotais de alto n í v e l . M

Q u a n d o na falta de filhos, as filhas e r a m herdeiras, a pró- A violenta polêmica d o Doe. Damasco contra o casamento
pria T o r á ordenatfa q u e se casassem com parentes ( N m 3 6 , com a sobrinha, q u e r se trate da filha do i r m ã o , quer da
1-12). O livro de Tobias (6,10-13;7,11-12) mostra-nos u m filha da i r m ã , confirma a freqüência dessas uniões. FÍ-
ò í

caso em que tal prescrição foi aplicada; aliás, seu uso vi-
gora até hoje n a Palestina , Os sacerdotes, p a r t i c u l a r m e n t e ,
57

58. Supra, p . 217, n . 6 1 , e p . 297.


59. Jubileus IV 15. 16. 2 0 . 27. 28. 3 3 ; X I 14.
60. Ibid., V I I I 6; X I 7.
5 1 . j . Ket. V I 6, 301 ( / l , 87) cf. t a m b é m b. Qid. 1 8 bar., b
3 6 V

o n d e a entrega d a filha m e n o r ao noivo é c h a m a d a " v e n d a d a filha 61. S. Krauss, Die Ehe zwischen Onkel und Nichte, em Studies
p a r a o m a t r i m ô n i o " , e x p r e s s ã o q u e c o n s e r v a traços de u m a n t i g o direito. hsueâ in Honour oj Proj. K. Kohler. B e r l i m , 1913, 165-175: A. B ü c h l e r ,
52. S o b r e o a s p e c t o jurídico, v e r J. N e u b a u e r , Beitrage zur Ge¬ cm JQR n. s. 3 (1912-1913), 437-442; S. S c h e c h t e r , em JQR n. s. 4
schichte des biblisch-talmudischen Eheschliessungsrechts I-II, Leipzig, (1913-1914), 454s; V . A p t o w i t z e r , Spuren des Matriarchats, em HÜCA
1920; Billerbeck, I I , 384ss; A. G u l a k , Das Urkundenwesen im Tatmud, 4 ( 1 9 2 7 ) , 232ss.
Jerusalém, 1935. 62. T o s . Qid. I 4 (334, 3 2 ) : " Q u e u m h o m e m n ã o t o m e u m a
5 3 . Billerbeck, I I , 374. m u l h e r antes q u e a filha de s u a i r m ã seja a d u l t a " .
54. V e r supra, n. 40. — E n q u a n t o viveu, A g r i p a I fez d u a s fi- 6 3 . b . Sanh. 7 6 b a r . ; b . Yeb. 6 2 : u m c a s a m e n t o c o m a filha d a
b b

lhas ficarem n o i v a s : M a r i a n a (nascida e m 34-35) e D r u s i l a (nascida irmã tem p o r c o n s e q ü ê n c i a q u e a o r a ç ã o seja a t e n d i d a .


em 38-39), Ant, X I X 9, 1, § 354. C o m o ele m o r r e u e m 44, M a r i a n a 64. Ned. V I I I 7 d i s c u t e o caso d a q u e l e q u e é o b r i g a d o a casar-se
tinha n o m á x i m o 10 anos p o r ocasião d e seu n o i v a d o e D r u s i l a , n o lom a filha d e sua i r m ã . I X 10: após u m a p r i m e i r a recusa, R . i s h m a e l
m á x i m o seis. ( t cerca d e 135 d.C.) i n d u z um h o m e m a d e s p o s a r a filha de s u a
irmã. S e g u i n d o os c o n s e l h o s d e sua m ã e , R . Eliézer en H i r c a n o (cerca
55. O c a s a m e n t o d e n t r o d a tribo e da família é n o r m a l é desejá-
de 90 d.C.) casou-se c o m a filha de sua i r m ã (j. Yeb. X I I I 2, Í 3 50; C

vel, j . Ket. I 5, 2 5 34 ( V / l , 14); j.Qid. IV 4, 65^ 46 ( V / 2 , 2 8 2 ) . Le-


c

ARN r e c . A c a p . 16, 6 3 3 3 ) . T a m b é m R. Y o s e , o galileu (antes d e


a

v a n d o s e g u r a m e n t e em c o n s i d e r a ç ã o N m 36,1-12, Fílon d e c l a r a que


135 d . C ) , Gíi. R. 17, 3 s o b r e 2, 18 ( 3 5 9 ) . a

aquele q u e t e m a u t o r i d a d e deve casar c o m p a r e n t e s as filhas dos fa-


65. A b b a casou-se c o m a filha de seu i r m ã o R a b b a n G a m a l i e l I I ,
lecidos. S e g u n d o seu C. Ap. II 24, § 200 (de a c o r d o c o m a m a i o r i a das
li. Yeb. 1 5 . V e r a i n d a as discussões em b . Yeb. 1 5 1 6 , particular-
a b a

t e s t e m u n h a s ) Josefo diz q u e , c o n f o r m e a p r e s c r i ç ã o d a Lei, a q u e l e q u e


m e n t e n o início d e 1 6 . V. A p t o w i t z e r , art. cit. 21 Is i n d i c a a i n d a b .
a

q u e r se casar d e v e p e d i r "sua [a d a n o i v a ] m ã o àquele q u e d i s p u n h a


Suidi. 5 8 q u e i n t e r p r e t a assim G n 20,12 ( A b r a ã o diz q u e Sara é s u a
b

d o p o d e r de dá-la e [pedir] a q u e l a q u e c o n v é m p e l o seu p a r e n t e s c o "


c o n s a n g u í n e a ) : " E l a era filha d e seu i r m ã o " . Q u a n t o à q u e s t ã o da an-
(ms. L: tèn epitédeion. E u s é b i o . Praep. ev. V I I I 8, 33 [GCS 4 8 , 1, 438]
c u n i d a d e do c a s a m e n t o c o m a s o b r i n h a , e s p e c i a l m e n t e c o m a filha
ms. I : epitédeion. Latim: o p o r t u n a m . — I n f o r m a ç ã o dos mss. B O N :
ilo i r m ã o , a o b s e r v a ç ã o d e S. K r a u s s , o.c, 169 é m u i t o i m p o r t a n t e :
epitédeion, "àquele q u e é qualificado pelo parentesco").
I I N h e b r a i c o , "tio p a t e r n o " se d i z dôd, isto é, " b e m - a m a d o " .
56. b . Qid. 4 5 . b

66. Supra, p . 297s; cf. p . 136, n . 9 5 .


57. H . G r a n q v i s t , Marriage Condiüons I, H e l s i n k i , 1931, 76ss.
67. Doe. Damasco V 7ss baseia a p r o i b i ç ã o , a p l i c a n d o às m u l b e -
I R S interdições do incesto, Lv 18. — As a f i r m a ç õ e s d e S. K r a u s s , o. c,
LI; Jerusalém no t e m p o de Jesus
n a l m e n t e , os dados fornecidos p o r Josefo a respeito dos O n o i v a d o q u e p r e c e d i a o p e d i d o em c a s a m e n t o e a
casamentos na família real de Herodes , m o s t r a m o q u a n - 68
execução do seu c o n t r a t o , expressavam " a a q u i s i ç ã o "
73

to e r a m usuais as alianças entre parentes; a maioria das (qtnyan) d a noiva pelo noivo, e, assim, a conclusão válida
uniões m e n c i o n a d a s por Josefo são com p a r e n t e s , isto é, d o c a s a m e n t o ; a noiva passa a se c h a m a r " e s p o s a " , p o d e
com a sobrinha (filha do irmão ou da irmã ) a p r i m a 69 70 71
ficar viúva, é r e p u d i a d a p o r u m libelo de divórcio e cas-
e a prima em segundo g r a u . 7 2
tigada d e morte e m caso d e adultério . È característico d a 1A

172, são i n s u s t e n t á v e i s ; n o Doe. Damasco, d i z e m , a i n t e r d i ç ã o d o ca- situação legal da n o i v a que "a a q u i s i ç ã o " da m u l h e r e
7 5

s a m e n t o c o m a s o b r i n h a v e m de c í r c u l o s s a d u c e u s ; foram l e v a d o s a a do escravo sejam postas em paralelo: "Adquire-se a mu-


i m p o r tal p r o i b i ç ã o p o r causa de u m a lei r o m a n a d e 49 d.C. q u e per- l h e r pelo d i n h e i r o c o n t r a t o e relações s e x u a i s " ; assim 76

mitia a u m a m u l h e r casar-se c o m o i r m ã o d e seu p a i , m a s p r o i b i n d o


q u e o fizesse c o m o i r m ã o d e sua m ã e . Esta c o n s t r u ç ã o d e K r a u s s " a d q u i r e - s e " também o escravo p a g ã o por d i n h e i r o , con-
apóia-se n o j u l g a m e n t o e r r ô n e o , f a z e n d o do Doe. Damasco u m escrito trato e t o m a d a d e posse (hazaqah, consistindo p a r a o es-
s a d u c e u (ver supra, p p . 166, c o n t r a essa o p i n i ã o ) , e de o u t r o l a d o
s o b r e u m a d a t a ç ã o t a r d i a d e m a i s d e s t e t e x t o (ver supra, ibid.: data, c r a v o e m fazer, p a r a o n o v o p a t r ã o , u m serviço inerente
a p r o x i m a d a m e n t e de 100 a n t e s de nossa e r a ) . aos deveres do e s c r a v o ) . Assim se formula a p e r g u n t a à
77

68. Cf. a á r v o r e genealógica d a família de H e r o d e s n o final d o q u a l se responde negativamente : " H á , pois, p o r acaso, n

e s t u d o de O t t o , Herodes.
69. D e s p o s a r a m : a l g u m a diferença entre a aquisição de u m a m u l h e r e a
Elerodes, o G r a n d e a filha ( n o m e d e s c o n h e c i d o ) de de u m e s c r a v o ? "
|~um i r m ã o
H e r o d e s (filho d e H e r o d e s , o Gr.) — H e r o d í a d e s (neta de H e r o d e s , T o d a v i a , era c o m o casamento — geralmente reali-
[o G r a n d e )
z a d o u m ano após o n o i v a d o — q u e a m o ç a passava de-
79

H e r o d e s A n t i p a s (filho de H e r o d e s , — H e r o d í a d e s (neta de H e r o d e s ,
[o Gr.) [o Gr.) finitivamente do p o d e r do pai. ao do m a r i d o . O jovem e ü

H e r o d e s Filipe (filho de H e r o d e s , -— S a l o m é (neta de H e r o d e s , o


[o Gr.) [Gr.)
H e r o d e s d e Caleis ( n e t o d e H e r o - — Berenice (bisneta de H e r o d e s , 73. A i m p o r t â n c i a f u n d a m e n t a l d o c o n t r a t o d e c a s a m e n t o consis-
[des, o Gr.) [o Gr.) tia na r e g u l a m e n t a ç ã o das relações j u r í d i c a s e n t r e cônjuges p a r a as
70. H e r o d e s , o G r a n d e d e s p o s o u u m a filha ( n o m e d e s c o n h e c i d o ) q u e s t õ e s f i n a n c e i r a s . S u a s p r i n c i p a i s d i s p o s i ç õ e s e r a m : a) D e t e r m i n a -
de sua irmã S a l o m é . — N o c a s a m e n t o e n t r e José, tio de H e r o d e s , o ção d o q u e o pai d a noiva devia p a g a r : bens p a r a f e r n a i s (ntksé m / o g ) £

G r a n d e , c o m sua s o b r i n h a S a l o m é , n ã o s a b e m o s se essa ú l t i m a era = b e n s d e u s u f r u t o , isto é, b e n s cuja p r o p r i e d a d e ficava p a r a a m u -


filha d o i r m ã o de José o u de s u a i r m ã . lher e cujo m a r i d o tinha o u s u f r u t o ) o dote (niksê sòn barsel = b e n s
71. Desposaram: e m m o e d a , q u e r dizer, b e n s q u e se t o r n a v a m p r o p r i e d a d e d o m a r i d o ,
F a s a e l ( s o b r i n h o de H e r o d e s , o S a l a m p s i o (filha de H e r o d e s , m a s cujo e q u i v a l e n t e devia ser g a r a n t i d o à m u l h e r n o caso de rom-
[Gr.) [o Gr.) p i m e n t o d o c a s a m e n t o ) , b) E s t a b e l e c i m e n t o d o c o n t r a t o d o c a s a m e n t o ,
A r i s t ó b u l o (filho de H e r o d e s , o Berenice ( s o b r i n h a d e H e r o d e s , k'-'tübbah, isto é, d a q u a n t i a d e v o l v i d a à m u l h e r em caso de s e p a r a ç ã o
[Gr.) [o Gr.) ou m o r t e d o m a r i d o . — Cf. Billerbeck, I I , 384-393: S. Bialoblocki. Ãía-
A n t i p a t e r ( s o b r i n h o de H e r o d e s , C i p r o s (filha d e H e r o d e s , o teriaiicn zum islamischen und jüdischen Eherecht; A. G u l a k , Das Ur¬
[o Gr.) [Gr.) kundenwesen im Talmud (a d i s t i n ç ã o de G u l a k entre o a t o d o noiva-
José ( s o b r i n h o de H e r o d e s , o G r . ) O l i m p i a (filha de H e r o d e s , o d o , 36ss, e o c o n t r a t o d e c a s a m e n t o , 52ss, n ã o se aplica à P a l e s t i n a
[Gr.) do t e m p o d e l e s u s ) .
U m filho de F é r o r a s ( s o b r i n h o d e R o s a n a (filha de H e r o d e s , o 74. B ü l e r b e c k , I I , 393ss.
[ H e r o d e s , o Gr.) [Gr.) 75. S. Bialoblocki, o. c., 26s.
U m filho d e F é r o r a s ( s o b r i n h o de S a l o m é (filha d e H e r o d e s , o
76. Qid. I 3 . N a é p o c a d a M i s h n a , o n o i v a d o se e f e t u a v a g e r a l m e n t e
[Herodes, o Gr.) [Gr.)
A r i s t ó b u l o (bisneto d e H e r o d e s , o S a l o m é (bisneta d e H e r o d e s , pela entrega do p r e s e n t e oferecido p e l o n o i v o .
[Gr.) [o Gr.) 77. Qid. I 3 . E m t e r c e i r o l u g a r consta, p a r a a m u l h e r c o m o p a r a
72. D e s p o s a r a m : a escrava, u m a a ç ã o q u e faz p a r t e dos n o v o s d e v e r e s d a q u e l e ou da-
Agripa I (neto de Herodes, o Gr.) C i p r o s (neta d e F a s a e l , i r m ã o quela que é adquirida.
[de H e r o d e s , o Gr.) 78. j . Ket V 4 , 2 9 52; j . Shebiit V I I I 8, 3 8 " 51 ( I I / l , 4 0 9 ) .
d

H e r o d e s d e Caleis ( n e t o de H e - M a r i a n a (neta d e José, i r m ã o


79. Ket. V 2.
r o d e s o Gr.) [de H e r o d e s , o Gr.)
80. Ned. X 5.
casal ia m o r a r , quase sempre, com a família do m a r i d o , 8 1
videnciar-lhe m e d i c a m e n t o s necessários q u a n d o d o e n t e , M

o q u e representava p a r a a recém-casada, n a m a i o r i a das e sepultura p o r ocasião do falecimento: até mesmo o mais


vezes a i n d a muito jovem, o á r d u o e penoso dever de in- p o b r e tinha d e providenciar pelo m e n o s dois tocadores de
gressar n u m a c o m u n i d a d e familiar que lhe era e s t r a n h a e flauta e u m a carpideira. A i n d a m a i s : o n d e e r a costume ha-
q u e n ã o escondia, em relação a ela, seus sentimentos hos- ver discurso fúnebre no enterro das m u l h e r e s , ele teria de
tis . Juridicamente, a esposa se distinguia de u m a escrava:
82
providenciar . 89

em l lugar, por p o d e r conservar o direito de possuir (mas


9

Os deveres da esposa consistiam, especialmente, em


não de dispor) bens que trouxera consigo como b e n s pa-
a t e n d e r às necessidades d o lar. D e v i a m o e r , cozinhar, la-
rafernais ; em 2" lugar, pela garantia que lhe d a v a o con-
83

var, a m a m e n t a r os filhos, fazer a c a m a do m a r i d o e, p a r a


trato de c a s a m e n t o , k tübbah: fixava a q u a n t i a que se de-
c

c o m p e n s a r sua m a n u t e n ç ã o , fiar e tecer a l ã ; outras


90 9 1

via pagar à mulher, em caso de separação ou m o r t e do


acrescentavam aos deveres d e esposa, p r e p a r a r a bacia p a r a
m a r i d o . " Q u a l a diferença entre u m a esposa e u m a con-
S4

o m a r i d o , lavar-lhe o rosto, as mãos e os p é s . A situação 9 2

c u b i n a ? R. Meir [cerca de 150 d . C ] respondia: A esposa


de serva em que se e n c o n t r a v a a m u l h e r d i a n t e d o m a r i d o
dispõe de u m contrato de c a s a m e n t o , a c o n c u b i n a não o
já se e x p r i m e suficientemente nessas prescrições, mas os
possui" . es

direitos do esposo iam mais longe a i n d a . Ele podia requi-


N a vida conjugai, quer dizer, depois de efetuado o sitar o que ela encontrasse \ assim c o m o a r e n d a d e seu
9

c a s a m e n t o , a m u l h e r tinha o direito de ser m a n t i d a pelo t r a b a l h o m a n u a l , e t i n h a o direito de lhe anular os vo-


94

m a r i d o e p o d i a exigir a aplicação de tal direito d i a n t e do tos \ A m u l h e r era o b r i g a d a a obedecer ao m a r i d o c o m o


9

t r i b u n a l . Cabia ao m a r i d o provê-la de alimento, vestuá-


S6

a seu senhor — ele se c h a m a v a rab — e essa obediência


rio, h a b i t a ç ã o e c u m p r i r o dever conjugal; era t a m b é m revestia-se de dever r e l i g i o s o . Tal dever de obediência ia
96

obrigado a resgatá-la em caso de eventual cativeiro , pro- a7

tão longe que o m a r i d o podia exigir da m u l h e r a profis-


8 1 . K r a u s s , Tuim. Arch., I I , 40. É USO a i n d a hoje, H . G r a n q v i s t , são d e votos, mas os votos q u e colocassem a m u l h e r n u m a
Marriage Conditions in a Palestinian Village I I , H e l s i n k i , 1935, 141ss. situação indigna, conferiam-lhe o direito de exigir a sepa-
Mc 1,29-31 dificilmente pode-se c o m p r e e n d e r u m a h a b i t a ç ã o d e P e d r o ração perante o t r i b u n a l . As relações e n t r e filhos e pais
97

n a casa d a sogra.
82. E m p r i n c í p i o , as disposições legais s u p õ e m q u e a sogra (da e r a m t a m b é m d e t e r m i n a d a s pela obediência q u e a m u l h e r
esposa) e suas filhas, a c o n c u b i n a , a c u n h a d a ( p o r a l i a n ç a ) e a n o r a devia a seu m a r i d o ; os filhos t i n h a m de colocar o respeito
(filha d o e s p o s o e d e o u t r a m u l h e r ) t e n h a m ciúmes d a e s p o s a , Yeb. ao p a i acima d o respeito à m ã e , pois essa, por seu l a d o ,
X V 4; Sota V I 2 ; Gil. I I 7 — Cf. G r a n q v i s t o. c, I I , 145ss.
83. Q u a n t o aos b e n s p a r a f e r n a i s , v e r supra, n . 73. D u r a n t e a v i d a devia p r e s t a r respeito s e m e l h a n t e e m relação ao pai de seus
conjugal p o d i a m ser a u m e n t a d o s p o r dotes ou h e r a n ç a , Billerbeck, I I ,
384s. G e r a l m e n t e (exceções e m b . 6 . B. 5 1 ) o m a r i d o p o d i a aprovei-
b

tar-se d o u s u f r u t o desses b e n s , m a s a m u l h e r p e r m a n e c i a a ú n i c a pro-


p r i e t á r i a , S. Bialoblocki, Materialien zum islamischen und jüdischen 8 8 . Ket. I V 9.
Eherect, 2 5 . 89. T o s . Ket. I V 2 (264, 7 ) ; Ket. I V 4.
84. Billerbeck, I I , 387-392. A q u a n t i a c o m p r e e n d i a , ao l a d o de u m a
taxa de base (com s u p l e m e n t o s ) , o dote d a m u l h e r t r a z i d o p o r ela 9 0 . b . Ket. 5 8 . b

(não c o n f u n d i r c o m os bens p a r a f e r n a i s , ver supra, n. 7 3 ) . L a n ç a n d o 9 1 . Ket. V 5. — E m V 9 prescreve-se até m e s m o u m a m e d i d a se-


u m a h i p o t e c a geral s o b r e t o d o s os seus b e n s , o m a r i d o devia respon- m a n a l d e t e c e d u r a q u e a m u l h e r d o p o b r e d e v e e x e c u t a r ; só é dimi-
d e r pela q u a n t i a fixada n o c o n t r a t o d o c a s a m e n t o , b . Ket. 8 2 b
bar.; nuída quando a mulher amamenta.
Ket. I V 7; Yeb. V I I 1. Essa r e g u l a m e n t a ç ã o foi sem d ú v i d a influen- 9 2 . b . Ket. 6 1 " , cf, 4 , 9 6 .
h a

ciada pelo direito helenístico ( p r o v a s q u a n t o ao Egito da é p o c a píole-


9 3 . B. B. I 5: neste p o n t o , a m u l h e r se iguala c o m o escravo pa-
m a i c a e r o m a n a e m A. G u l a k , Urkundenwesen im Talmud, 57s).
g ã o , v e r supra, p. 4 5 8 .
85. j . Ket. V 2, 29^ 16 ( V / l , 6 9 ) , cf. b . Sanh., 2 1 . a

86. b . Ket. 7 7 , 1 0 7 .
a a
94. P o r causa d e N m 30,7-9.
87. Ket. I V 4.8-9; T o s . Ket. I V 2 (264, 7 ) . 95. Yeb. X 1.
96. Josefo, C. Ap. I I 24, § 2 0 1 .
97. Ket. V I I l s s , v e r supra, p. 4 1 0 .
f i l h o s . N o caso de perigo de m o r t e era necessário pri-
98
os shamaítas discutiam c o m os hilelitas sobre a exegese de
m e i r o salvar a m ã e . 9 9
Dt 24,1 q u e m e n c i o n a , c o m o justo m o t i v o p a r a o h o m e m
Dois fatos são p a r t i c u l a r m e n t e característicos do grau r e p u d i a r a esposa, o caso em que ele e n c o n t r e nela "qual-
de dependência da mulher do esposo. quer coisa de v e r g o n h o s o " , 'erwat dabar. C o n t r a r i a m e n t e
à exegese dos shamaítas, a n u i n d o a o sentido do texto, os
a) A poligamia era permitida . A esposa devia, por- m

hilelitas explicavam essa passagem da seguinte m a n e i r a :


tanto tolerar a presença de concubinas a seu lado.' Sem dú-
1' u m a impudicícia ('erwat) da m u l h e r e 2"', q u a l q u e r coisa
vida alguma, temos de admitir q u e , p o r questões pecuniá-
(dabar) q u e desagradasse ao m a r i d o davam-lhe o direito
rias, a posse de muitas mulheres n ã o era freqüente. E m
de afastar de casa a m u l h e r . C o m o vemos, o p o n t o de
m

todo caso, ouvimos falar d e maridos que a d m i t i a m u m a


vista hilelita reduzia a u m a total fantasia o direito unila-
segunda m u l h e r q u a n d o não se entendia b e m com a pri-
teral d e divórcio que o m a r i d o d e t i n h a . D e Fílon e de 105

meira e não podia repudiá-la devido à alta q u a n t i a men-


Josefo , q u e só c o n h e c e m o critério hilelita e o defendem,
m

cionada no contrato do casamento . U m a constatação ser- 101

deduzimos q u e esse prevaleceu desde a primeira m e t a d e do


ve de estatística p a r a d e t e r m i n a r a freqüência da poliga-
século í de nossa era. A r e u n i ã o dos esposos separados po-
mia: em 1 9 2 7 , n a cidade de Artas, perto de Belém, den-
dia acontecer . D e c o r r e n t e do divórcio, u m a i m p u r e z a
107

tre 112 h o m e n s casados, doze t i n h a m diversas m u l h e r e s ,


pública podia ser atribuída ao m a r i d o , assim como à mu-
p o r t a n t o , e m n ú m e r o s r e d o n d o s , 1 0 % : onze t i n h a m d u a s ,
lher e às filhas . D e o u t r o lado, e m caso de divórcio, o
m

e u m tinha três . Evidentemente, é preciso t o m a r esses


m

m a r i d o era obrigado a entregar à m u l h e r a fiança prescrita


n ú m e r o s como pontos de referência e n ã o transpô-los, le-
no contrato de casamento. Na prática, esses dois motivos
vianamente, à época de Jesus.
m u i t a s vezes criavam obstáculo ao r e p ú d i o precipitado da
esposa . Q u a n t o à m u l h e r , podia e v e n t u a l m e n t e fazer jus-
109

b) O direito de divórcio achava-se exclusivamente ' ia

tiça a si m e s m a e voltar à casa p a t e r n a no caso, por exem-


do lado do h o m e m ; os raros casos em que a m u l h e r tinha
p l o , de injúrias recebidas . A despeito de t u d o isso, o
110

o direito de requerer a anulação jurídica do c a s a m e n t o já


foram m e n c i o n a d o s (p. 4 1 0 ) . Na época d e Jesus (Mt 19,3)
104. Sifre D t 24, t , § 269 ( 5 1 * 2 3 ) ; b . Git. 9 0 b a r . a

98. b . Qid. 3 1 , frase d e R. Eliézer (cerca de 90 d . C . ) ; Ker, V I 9.


a 105. De spec. leg. I I I , § 30.
99. Hor. I I I 7. Faz-se u m a exceção se a c a s t i d a d e d a m u l h e r es- 106. Ant. I V 8, 2 3 , § 2 5 3 . Cf, a p r ó p r i a a t i t u d e de Josefo q u e
tiver a m e a ç a d a (ibid.). d e s p e d i u sua m u l h e r p o r estar " d e s c o n t e n t e c o m sua c o n d u t a " , Vita
76, § 426.
100. V e r supra, p p . 131, 136s, p r o v a s d a p o l i g a m i a c m J e r u s a l é m . Cf.
107. T o s . Yeb. V I 4 (247, 8 ) : " A r e p u d i a d a p o d e v o l t a r p a r a
Schlatter. Theulogie, 165. A luta violenta c o n t r a a p o l i g a m i a e n t r e os
seu m a r i d o " ; M. Q. I 7 e passim. Isso, p o r é m , n ã o era p e r m i t i d o se,
essênios e m i g r a d o s d e Jerusalém (Doe. Damasco I V 21 e passim) tam-
n e s t e í n t e r i m , ela se tivesse c a s a d o d e n o v o ( D t 24,1-4; Jr 3 , 1 ; Yeb.
b é m c o n f i r m a a s u a existência e m J e r u s a l é m . E m Mc 10.6-9, Jesus
V I 5 ) , ou se o d i v ó r c i o se tivesse p r o c e s s a d o pelo fato d e ser estéril
p a r e c e visar a p o l i g a m i a e rejeitá-la: e m M c 10,6: M t 19,4 c i e cita
(Git. I V 8 ) , p o r q u e fora s u s p e i t a d a de a d u l t é r i o ou p o r q u e freqüente-
G n 1,27, isto é, a p r ó p r i a p a s s a g e m s o b r e a q u a l o Doe. Dam. baseia
m e n t e fizera v o t o s c o n t r a a v o n t a d e d o m a r i d o (Git. V I I 7 ) . Entre-
sua r e p u l s a à p o l i g a m i a ; e m M c 10,8; M t 19,5, ele cita G n 2,24 sob
t a n t o , os d o u t o r e s n ã o e s t a v a m de a c o r d o s o b r e t o d o s estes p o n t o s , p o r
sua forma a n t í p o l i g â m í c a , q u e r dizer c o m as p a l a v r a s oi dúo q u e se
e x e m p l o , q u a n t o aos v o t o s (Billerbeck, I, 3 1 0 s ) . — Deduz-se d o q u e
e n c o n t r a m s o m e n t e n a L X X , Eclo, V u l g a t a e T a r g u m d o Pseudo-Jô-
foi d i t o supra, p . 2 9 7 , q u e os s a c e r d o t e s n ã o t i n h a m o direito de aceitar
n a t a s , e J. L e i p o l d t , Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921, 60,
n o v a m e n t e a esposa r e p u d i a d a .
101. b, Yeb. 6 3 . V e r a i n d a infra, n . 114.
b

108. Ned. I X 9.
102. H . G r a n q v i s t , Marriage Condiíions In a Palestinian Village
I I , H e l s i n k , 1935, 2 0 5 . 109. b . Yed. 8 9 , 6 3 ; b . Pes. 1 1 3 . — Gn. R. 17, 3 s o b r e 2, 18
a b b

( 3 5 lOss) é c a r a c t e r í s t i c o : R. Yose, o galileu (antes de 135 d.C.) ti-


a

103. G u a n d o Salomé, i r m ã de H e r o d e s , o G r a n d e , e n v i o u o líbelo


n h a u m a m u l h e r m á , m a s n ã o p o d i a r e p u d i á - l a p o r q u e a q u a n t i a fi-
d e divórcio a s e u m a r i d o C o s t a b a r o (Atit. X V 7, 19. § 2 5 9 s ) , e l a agia,
x a d a n o c o n t r a t o d e c a s a m e n t o fora m u i t o e l e v a d a . Seus discípulos
c o n f o r m e c o n s t a t a Josefo, e m c o n t r a d i ç ã o c o m as leis j u d a i c a s q u e só
t r o u x e r a m - l h e , e n t ã o , o d i n h e i r o necessário.
c o n c e d i a m ao m a r i d o este direito.
110. T o s . Yeb. V I 6 (247, 1 8 ) , b . Ket. 5 7 . — N o m e i o h e l e n i z a d o
b

SEMINADO CüiíPjHDIA
p o n t o de vista hilelita revelava g r a n d e degradação d a mu- Sendo m ã e , a m u l h e r via-se valorizada; d e r a ao m a r i d o o
lher. E n t r e t a n t o , se, a partir das disposições legais, tirar- mais precioso p r e s e n t e .
mos conclusões relativas à prática q u a n t o ao n ú m e r o de C o m o viúva, a m u l h e r p e r m a n e c i a e v e n t u a l m e n t e li-
divórcios p o r exemplo, c o n v é m g u a r d a r m o s extrema reser- gada a seu m a r i d o , isto é, n o caso e m q u e ele morresse
va. H . G r a n q v i s t constatou q u e na cidade de Artas, p e r t o sem deixar filho (Dt 2 5 , 5 - 1 0 ; cf. M c 12,18-27). Nessa
de Belém, de 2 6 4 casamentos realizados e m cem a n o s , de circunstância, a viúva deveria esperar, sem p o d e r sugerir
1830, a p r o x i m a d a m e n t e , a 1 9 2 7 , somente 1 1 , isto é 4 % d e forma a l g u m a , q u e o o u os i r m ã o s d o falecido m a r i d o
t e r m i n a r a m em separação . Tais dados garantem c o n t r a
m
contraíssem com ela o casamento levirático ou lhe mani-
u m a subestima do n ú m e r o de divórcios. Se, como c o n v é m festassem a recusa, sem a qual ela n ã o p o d i a t o r n a r a se
supor , e m caso de divórcio os filhos ficam com o p a i ,
m
casar " . 5

essa solução constituía a p r o v a ç ã o mais intensa p a r a a es- A s condições descritas refletem nas prescrições da le-
posa que se divorciava. gislação religiosa da época. Do ponto de vista religioso
P o d i a a m u l h e r ser considerada p r o p r i e d a d e d o ma- t a m b é m , especialmente por sua posição em face d a T o r á , l l é

rido a p o n t o de ser v e n d i d a como escrava p a r a acobertar a m u l h e r n ã o era igual a o h o m e m . Devia sujeitar-se a to-
u m furto cometido por ele? Conforme vimos supra (p. 4 1 5 ) , das as proibições da T o r á e a t o d o o rigor d a legislação
117

é muito duvidoso. civil e p e n a l , p e n a de m o r t e incluída " . Q u a n t o aos


l i 8 9

m a n d a m e n t o s d a T o r á , e m c o m p e n s a ç ã o , eis o q u e vigo-
D e n t r o de seus limites, a situação da m u l h e r v a r i a v a ,
certamente, de acordo com os casos particulares. Dois fa- dez a n o s d e vida conjugal sem filhos, é p e r m i t i d o ao marido tomar
tores rep res en tam certa i m p o r t â n c i a : de u m lado, a mu- outra mulher.
lher e n c o n t r a v a grande apoio j u n t o de seus p a r e n t e s con- 115. A prática d a " r e c u s a " (hãlisah, " d e s c a l ç a r " , cf. D t 25,9-10)
é m u i t a s vezes r e p e t i d a ( K . H . Rengstorf, febamot (col. Die Mischna),
sanguíneos, sobretudo seus irmãos; tal fato era capital p a r a
G l e s s e n , 1929, 3 1 s ) . Q u a n t o à p r ó p r i a c o n c l u s ã o de u m casamento
a sua posição n a vida conjugal. Recomenda-se c o m o lou- l e v i rá tic o n a J e r u s a l é m d o t e m p o d e J e s u s , é c o m p r o v a d o e m t r ê s
vável o casamento c o m u m a sobrinha (ver supra, p . 4 8 1 ) ; casos (Yeb. V I I I 4; T o s . Yeb. I 10 [ 2 4 t . 2 4 ] , cf. Theol. Literatur-
zeitung 54 [1929] col. 5 8 3 ) . A c o m p a n h a n d o J. W e l l h a u s e n (Das Evan-
relaciona-se ao fato de a m u l h e r e n c o n t r a r aí m a i o r pro- gelium Marci, 2? ed., Berlim, 1909, 9 5 ) , K. H . Rengstorf (Die Tosefta.
teção por causa de seu parentesco com o m a r i d o . D e m
Seder Naschim, Rabbinische Texte I 3 , fase. t , S t u t t g a r t , 1933, 18ss)
outro lado, o ter filhos, especialmente filhos h o m e n s , assu- s u p õ e , p e l o c o n t r á r i o , q u e o c a s a m e n t o levirático estava completa-
m e n t e fora d e uso n a é p o c a d e J e s u s ; sua d e m o n s t r a ç ã o n ã o m e c o n -
mia g r a n d e importância p a r a a m u l h e r . A falta de filhos v e n c e u . S e g u n d o Rengstorf, o ben m güsat e
m e n c i o n a d o e m Yeb. V I I I 4
era tida como desonra, até m e s m o como castigo divino . m
é u m p r o s é l i t o , pois é c h a m a d o c o m o n o m e d a m ã e ; a lei d o l e v í r a t o
n ã o v a l e u , p o r t a n t o , p a r a s u a v i ú v a . Essa e x p l i c a ç ã o n ã o é g a r a n t i d a ;
n a d a i m p e d e d e considerá-la, c o m D a l m a n , Handwörterbuch, 224 a,
das famílias p r i n c i p e s c a s h e r o d i a n a s era f r e q ü e n t e a m u l h e r d e i x a r o megüsat c o m o n o m e p r ó p r i o m a s c u l i n o . E s o b r e t u d o , Rengstorf d e v e
m a r i d o . P o r e x e m p l o : H e r o d í a d e s d e i x o u H e r o d e s (Ant. XVT1I 5, 4, t o m a r o v e r b o yibbem, e m Yeb. V I I I 4 n o s e n t i d o geral, " d e s p o s a r
§ 136; M c 6,17 o n d e , p o r e r r o , Filipe é m e n c i o n a d o n o lugar d e H e - a c u n h a d a " ; c o n t r a r i a o u s o estabelecido (cf. Rengstorf, ele p r ó p r i o ,
r o d e s ) . T a m b é m as três filhas de A g r i p a I a b a n d o n a r a m seus m a r i d o s : e m s u a e d i ç ã o d e Jebamot [col. Die Mischna], G i e s s e n , 1929, 3) e o
Berenice d e i x o u P o l e m ã o de Cilicia (Ant. X X 7, 3, § 1 4 6 ) ; D r u s i l a , c o n t e x t o d e Yeb. V I I I 4, o n d e yibbem t e m o sentido técnico o r d i n á r i o ,
Azizos de E m é s i o ( X X 7, 2, § 1 4 2 ) ; M a r i a n a , Júlio A r q u e l a u (XX " c o n t r a i r c a s a m e n t o levirático c o m a v i ú v a d e u m i r m ã o m o r t o sem
7, 3, § 147). L e m b r e m o - n o s de q u e , nos dois ú l t i m o s casos tratava-se descendente masculino".
de n o i v a d o s d e c r i a n ç a s (ver supra, n. 5 4 ) . Cf. t a m b é m supra, n . 103. 116. P a r a o q u e s e g u e , v e r Billerbeck, I I I , 558-562.
111. H . G r a n q v i s t , o.c, I I , 268. 117. S a l v o três i n t e r d i ç õ e s , c o n c e r n i n d o s o m e n t e aos h o m e n s , Lv
112. É o q u e se passa, a t u a l m e n t e , e n t r e os á r a b e s da P a l e s t i n a , ibid.,
1 9 2 7 Ö ; 1 9 , 2 7 D ; 2 1 , 1 - 2 (Qid. I 7 ) .
I I , 287.
;

118. A p e n a s u m p o n t o é d u v i d o s o : n ã o s a b e m o s se, n a é p o c a an-


113. Ibid., I, 67ss. A m u l h e r , v i n d a de l o n g e , r e c e b e a m a i s fraca
p r o t e ç ã o , I, 94. Cf. a i n d a I I , 144, 218ss. •— V e r - a i n d a , supra. tiga, a m u l h e r era v e n d i d a p o r c a u s a de u m r o u b o , ver supra, pp.
114. b . Pes. 113b; 5 ; 4 Esd. I X 4 5 . — Cf. Lc 23,29. — A p ó s 415ss; a M i s h n a p r o í b e v e n d ê - l a , Softa I I I 8.
L c 1 ] 2

119. b . Qid. 3 5 ; b . Pes. 4 3 .


a a

17 - J e r u s a l é m no t e m p o de Jesus
rava: " O s h o m e n s são obrigados a seguir todos os man- litúrgicas, era igualmente acessível às m u l h e r e s ; e m con-
damentos ligados a u m t e m p o d e t e r m i n a d o ; as m u l h e r e s trapartida, o outro l a d o , destinado às instruções dos escri-
ficam i s e n t a s dessa o b r i g a ç ã o " . Por motivo dessa fór-
120
bas, só se abria p a r a os h o m e n s e m e n i n o s , conforme o
m u l a q u e não é inteiramente exata , cita-se u m a série de m
p r ó p r i o n o m e indica. E n t r e t a n t o , nas famílias d e classe
m a n d a m e n t o s aos quais a m u l h e r n ã o se obriga: ir e m pe- alta, dava-se às jovens u m a f o r m a ç ã o p r o f a n a , e n s i n a n d o -
regrinação a Jerusalém p a r a as festas da Páscoa, de Pen- -lhes, p o r exemplo, o grego, "pois era u m a d o r n o p a r a
tecostes e das T e n d a s , abrigar-se nas tendas
1 2 2
e agitar 123
elas"' . 3 1

o lülab p o r ocasião desta festa , tocar o shofar n o dia do m


O s direitos religiosos d a m u l h e r e r a m t ã o limitados
A n o N o v o , ler a rrfgillah (o livro de Ester) na festa de
I2S
q u a n t o seus deveres religiosos. S e g u n d o Josefo, n o T e m p l o
P u r i m , recitar diariamente o s ma'
126
etc. Dispensavam¬
e 127
só íhes era p e r m i t i d o p e n e t r a r n o á t r i o d o s gentios e n o
-na t a m b é m de estudar a T o r á ; R. Eliézer (cerca de 190 das m u l h e r e s ; d u r a n t e os dias d e purificação mensal e,
134

d.C), enérgico representante da antiga tradição, l a n ç o u a além desses, n o p e r í o d o d e 4 0 dias a p ó s o nascimento de


seguinte sentença: " A q u e l e que ensina a Lei à sua filha, u m filho (cf. L c 2 , 2 2 ) , de 8 0 dias s e fosse m e n i n a " , n ã o 5

ensina-lhe a devassidão [ela fará m a u uso do que apren- p o d i a m p e n e t r a r n e m m e s m o n o átrio dos gentios . N ã o m

deu] " . A idéia d e que se devia ensinar t a m b é m a T o r á


128
era h á b i t o as m u l h e r e s i m p o r e m as m ã o s sobre as cabeças
às m o ç a s e q u e somente era proibido transmitir-lhes a
129
das vítimas 137
e sacudirem as porções do sacrifício ; quan- m

tradição o r a l n ã o representa, de m o d o algum, o direito


1 3 0
d o ocasionalmente se m e n c i o n a ter sido permitido às mu-
antigo. E m todo caso, as escolas lá estavam u n i c a m e n t e lheres i m p o r a m ã o , logo se acrescenta: " N ã o que seja de
p a r a os meninos e vedadas às m e n i n a s . D a s duas repar- m
u s o p a r a as m u l h e r e s , mas p a r a a c a l m á - l a s " " . Segundo o
9

tições da sinagoga m e n c i o n a d a s na lei de Augusto, sabba- Dt 3 1 , 1 2 , as mulheres p o d i a m , c o m o os h o m e n s e as crian-


teíon e andrón , a primeira reservada p a r a as cerimônias
132
ças, p e n e t r a r n a p a r t e da sinagoga utilizada p a r a o culto , m

m a s estacas e grades s e p a r a v a m o local q u e i r i a m o c u p a r .


120. Qid. I 7, cf. Sota I I 8 (295, 1 4 ) . Mais t r d e , chegou-se m e s m o a construir p a r a elas u m a
m

121. Billerbeck, I I I , 559; v e r supra, n . 4 8 . H á m a n d a m e n t o s dos


q u a i s a m u l h e r está isenta, e m b o r a n ã o estejam presos a u m t e m p o
133. j . Pea I 1, 1 5 16 (U/í, 8 ) .
c

d e t e r m i n a d o , p o r e x e m p l o , o de e s t u d a r a T o r á , o q u e v a m o s men-
cionar logo a seguir. 134. Ant. X V 1 1 , 5 , § 4 1 8 s ; B. j . V 5 , 2, § 199. S e g u n d o T o s .
122. Häg. I 1. F r e q ü e n t e m e n t e , aliás, as m u l h e r e s delas p a r t i c i p a m 'Ar. II 1 (544, 1 4 ) , elas p o d i a m t a m b é m e n t r a r n o átrio i n t e r n o , m a s
v o l u n t a r i a m e n t e ( s o b r e t u d o a p e r e g r i n a ç ã o d a P á s c o a ) , Lc 2 , 4 1 ; T o s . s o m e n t e p a r a oferecer u m sacrifício, cf. G . D a l m a n , em PJB 5 ( 1 9 0 9 ) ,
Ned. V I (280, 1 4 ) ; b . R. H. 6 , e t a m b é m b . 'Er. 9 6 b a r . S o b r e a
b a
34, e s e u s Uinéraires, 387 e n. 5.
tentativa de h a r m o n i z a r teoria e p r á t i c a , v e r Billerbeck, I I , 141s. 135. Lv 12,2-5; Billerbeck, I I , 119s.
123. Sukka I I 8; T o s . Qid. I 10 (335, 2 9 ) . 136. Josefo, C. Ap. I I 8, § 133; Kel. I 8.
124. T o s . Qid. I 10 (335, 2 9 ) .
125. T o s . R. H. I V 1 (212, 1 0 ) . 137. T o s . Men. X 13 (528, 8 ) : n ã o é d e u s o . S e g u n d o a M i s h n a
126. T o s . Meg. I I 7 (224, 1 ) . Men. I X 8, n ã o é p e r m i t i d o .
127. Ber. I I I 3 ; 1 $ ma' c o m p u n h a - s e d e D t 6 , 4 - 9 ; l l , 1 3 - 2 1 ; N m
e
138. T o s . Men. X 17 (528, 1 5 ) : n ã o é d e u s o . A i m o l a ç ã o p o r
15,37-41. u m a m u l h e r (o q u e t a m b é m n ã o é c o s t u m e ) é v á l i d a s e g u n d o Zeb.
128. Sota I I I 4 . — V e r o u t r a s e n t e n ç a deste d o u t o r : " M a i s vale I I I 1.
q u e i m a r a T o r á d o q u e transmiti-la às m u l h e r e s " , j . Sota I I I 4, 1 9 7 a
139. b . H a g . 16*.
(IV/2, 261). 140. b . Hag. 3 b a r . , e p a r . j . Hag. I 1, 7 4 3 5 ( I V / 1 , 2 5 7 ) e
a d

129. Ned. I V 3 . — Sota I I I 4, frase d e Ben A z z a i (cerca d e 110 passim. T a m b é m F í l o n , De spec. leg. I I I , § 1 7 1 ; De vita cont., § 69.
d . C ) . Cf. t a m b é m b . Qid. 2 9 , 3 4 ; b . Sanh. 9 4 .
b a b
P o r e x e m p l o , os j u d e u s d e S a r d e s r e ú n e m - s e n o seu local s a g r a d o
130. K r a u s s , Talm. Arch. I I , 468, n. 373 e. " c o m m u l h e r e s e c r i a n ç a s " , Ant. X I V 10, 2 4 , § 2 6 0 .
131. M . S. Z u c k e r m a n d e l , Die Befreiung der Frauen von bestimmten 1 4 1 . A sinagoga m e s o p o t â m j c a d e D u r a - E u r o p o s , t r a z i d a à luz
religiösen Pflichten, Breslau, 1911, 22. em 1932, d a t a d e 245 d . C ; n ã o t e m t r i b u n a . S e g u n d o C. H . K r a e l i n g ,
132. Ant. X V I 6, 2, § 164. e m the Buli. of the American Schools of Oriental Research, n. 54, abril
d e 1934, 19, v e m o s a í u m t i p o d e s i n a g o g a m a i s a n t i g o d o q u e o d a s
sinagogas d a Galileia c o n s t r u í d a s d o s séculos I I I ao V I I . — C. W a t -
t r i b u n a c o m e n t r a d a particular. N o serviço litúrgico, a mu- A situação d a m u l h e r n a legislação religiosa d e m o d o
lher c o m p a r e c i a somente p a r a escutar. N ã o se n e g a q u e , geral é expressa, e d a m e l h o r m a n e i r a , pela fórmula cons-
em época muito antiga, tenham-se c h a m a d o mulheres p a r a t a n t e m e n t e r e p e t i d a : " M u l h e r e s , escravos [ p a g ã o s ] e fi-
ler a T o r á ; já na época tanaíta p o r é m , esse costume tinha lhos [ m e n o r e s ] " ; c o m o o e s c r a v o não-judeu e o filho
1 4 9

caído, e n ã o e r a m mais solicitadas p a r a tal m i s t e r . O en- I42


m e n o r , a m u l h e r conta c o m u m h o m e m superior a ela,
sino t a m b é m lhes era vedado . E m casa, à mesa, n ã o pro-
m
c o m o s e n h o r ; tal fato limita i g u a l m e n t e a sua l i b e r d a d e
IS0

nunciavam a bênção e n ã o t i n h a m o direito de prestar


144
n o serviço d i v i n o . P o r esse m o t i v o , d o p o n t o d e vista reli-
t e s t e m u n h o , pois, consideravam-na mentirosa , confor-
m 146
gioso, acha-se inferior a o h o m e m . 151

m e interpretação de G n 18,15. Aceitava-se seu t e s t e m u n h o A t u d o o q u e foi d i t o acrescentemos o fato d e n ã o


somente em alguns casos excepcionais precisos, e, nos mes- faltarem sobre a m u l h e r opiniões d e s d e n h o s a s ; é im- m

mos c a s o s , o de u m escravo p a g ã o com igual direito; por


l47
pressionante o q u a n t o essas s u p e r a m os julgamentos favo-
exemplo, p a r a o novo casamento de u m a viúva contenta- ráveis q u e , n o e n t a n t o , n ã o lhes f a l t a m \ É característica 1 S

vam-se com o t e s t e m u n h o de u m a m u l h e r acerca da m o r t e a alegria ao n a s c e r u m m e n i n o , e n q u a n t o o n a s c i m e n t o


IS4

do primeiro m a r i d o . 1 4 S

d e u m a m e n i n a é a c o m p a n h a d o d e indiferença, até m e s m o
d e tristeza .. T e m o s a impressão d e q u e o j u d a í s m o do
l55
;

zinger, Denkmäler Palästinas I I , Leipzig, 1935, 108 r e m o n t a à é p o c a t e m p o d e Jesus t a m b é m a l i m e n t a v a p o u c a consideração


helenística o tipo de sinagoga c o m t r i b u n a s . Apóia-se n a d e s c r i ç ã o q u e
o T a l m u d e faz d a g r a n d e sinagoga de A l e x a n d r i a c h a m a d a " d i p l o s - p a r a c o m a m u l h e r ; situação c o m u m n o O r i e n t e , o n d e ela
t o o n " , t e r m o q u e , s e g u n d o W a t z i n g e r , significaria " d e dois a n d a r e s " , é valorizada antes d e t u d o pela s u a f e c u n d i d a d e e vê-se
q u e r dizer, c o m t r i b u n a s nas n a v e s l a t e r a i s " . M a s , assim c o m o m o s t r a
o p r ó p r i o texto d o T a l m u d e (trata-se d e T o s . Sukka I V 6; 198, 2 0 ) ,
afastada tanto q u a n t o possível d o m u n d o exterior, sub-
a p a l a v r a diplostôn significa " d u p l a c o l u n a t a " e q u e r a p r e s e n t a r a si- missa a o p o d e r d o p a i o u d o m a r i d o , e o n d e , do p o n t o
n a g o g a c o m o u m a c o n s t r u ç ã o de cinco naves ( d u a s fileiras d e colu- de vista religioso, n ã o é igual a o h o m e m . 156

n a s de c a d a l a d o ) .
142. T o s . Meg. I V 1 (226, 4 ) : " T o d o s são tidos c o m o p e r t e n c e n d o
a o n ú m e r o dos sete [que d e v e m ler a T o r á nas m a n h ã s d o s á b a d o ] , 149. Ber. Í I I 3 ; R. H. I 8 ; B. M. I 5 e passim.
mesmo um menor, mesmo u m a mulher. [Mas] não é permitido a u m a 150. b . Qid. 3 0 , Billerbeck, I I I , 562.
b

m u l h e r a p r o x i m a r - s e p a r a ler [a T o r á ] e m p ú b l i c o " . P a r . b . Meg, 2 3 a


151. Eis a o r a ç ã o q u e r e c o m e n d a v a m recitar t o d o s os d i a s : " L o u -
b a r . I . E l b o g e n , Der jüdische Gottesdienst in seiner geschichtlichen v a d o [seja D e u s ] q u e n ã o m e c r i o u m u l h e r " , T o s . Ber. V I I 18 (16,
Entwicklung, 3" ed., Francfort-sur-le-Main, 1931 ( r e i m p r e s s ã o H i l d e s h e i m , 2 2 . 2 4 ) . }. L e i p o l d t Jesus und Paulus, L e i p z i g , 1936, 37 r e p e t e u m a
1962), 170, em Billerbeck, I I I , 467 c o n s i d e r a , p e l o c o n t r á r i o , q u e se o b s e r v a ç ã o d e R. M e y e r : n e m o A n t i g o T e s t a m e n t o n e m a M i s h n a ti-
c h a m a v a m as m u l h e r e s p a r a ler a T o r á u n i c a m e n t e c o m o urna reve-
n h a m f o r m a f e m i n i n a p a r a os adjetivos h e b r a i c o s basíd (piedoso),
rencia a elas, m a s q u e , n a p r á t i c a , n ã o e x e r c i a m esta f u n ç ã o . — So-
m e n t e n a d i á s p o r a , a c o n t e c e u , e m c o n s e q ü ê n c i a de influências estran- saddíq ( j u s t o ) , gados (santo).
geiras q u e a l g u m a s m u l h e r e s r e c e b e s s e m o t í t u l o d e archisunágogos, 152. }. L e i p o l d t , Jesus und die Frauen, Leipzig, 1921, 3ss. A b u n -
S c h ü r e r , I I , 512. d a n t e d o c u m e n t a ç ã o e m Billerbeck, ver o I n d e x , I V , 1226s. N o s seus
julgamentos sobre a mulher, Fílon é ainda mais severo d o q u e o
143. Qid. I V 13. — 2 T m 3,14 d e d u z q u e T i m ó t e o t e n h a s i d o ins- Talmude.
t r u í d o n a E s c r i t u r a desde a m a i s t e n r a i d a d e , p o r t a n t o , p e l a m ã e e
a v ó p i e d o s a s ( 1 , 5 ) . T r a t a - s e , p o r é m , n e s t e caso, d e u m e n s i n a m e n t o 153. Billerbeck, ibid.
domiciliar; era d e r e s t o u m a situação especial, p o i s , o pai d e T i m ó t e o 154. Jr 20,15. Mek. E x 12,6 ( 3 49) d á c o m o e x e m p l o d e u m a
C

era p a g ã o ( A t 16,3). " b o a n o v a " o a n ú n c i o d o n a s c i m e n t o d e u m filho; b . Nidda 3 1 . b

144. Ber. V I I 2 . 155. b . Nidda 3 1 . — b . Qid. 8 2


b b
( p a r . b . Pes. 65« b a r ) : "AÍ
145. Shebu, I V 1; Sifre D t 19,17, § 190 ( 4 6 5 2 ) ; b . B. Q. 8 8 ;
d a d a q u e l e s cujos filhos são m u l h e r e s ! " — A p a l a v r a de R. H i s d a : " A s
Ant. I V 8, 15, § 219. filhas m e são mais c a r a s d o q u e os f i l h o s " ( b . B. B. 1 4 1 ) p a r e c e u t ã o
a

146. Yalqut Shimeoni I, § 82, e d . d e Vilna, 1898, 4 9 e m b a i x o . —


a i n c o m p r e e n s í v e l aos c o m e n t a r i s t a s p o s t e r i o r e s q u e r e c o r r e r a m a expli-
Josefo, Ant, I V 8, 15, § 2 Í 9 : " p o r c a u s a da l e v i a n d a d e e t e m e r i d a d e cações r e a l m e n t e c u r i o s a s : ele foi m a i s feliz com as filhas p o r q u e os
do sexo d e l a s " . filhos h o m e n s m o r r e r a m ( R a s h i ) ; suas filhas t e r i a m se c a s a d o c o m
147. R. H. I 8. d o u t o r e s e m é r i t o s ( s e g u n d o o s íosafistas) e t c , cf. S. Z u c r o w , Women,
148. Yeb. X V I 7. Slaves and the Ignorant, B o s t o n , 1932, 34s.
156. C. Ap. I I 24, § 2 0 1 : " A m u l h e r é e m t u d o inferior [cheíron]
ao h c m e m " .
Somente a partir desta perspectiva da época é q u e ÍNDICES
p o d e m o s apreciar d e v i d a m e n t e a posição de Jesus e m face
da m u l h e r (Lc 8,1-3); M c 15,41 e p a r . (cf. Mt 2 0 , 2 0 ) fa-
lam das mulheres q u e a c o m p a n h a v a m Jesus; trata-se de I. Í N D I C E B Í B L I C O
u m fato sem p r e c e d e n t e na história da época. O Batista
p r e g o u às mulheres (Mt 21,32) e batizou-as ; Jesus altera 157

208
conscientemente os costumes, deixando que algumas o si- ANTIGO TESTAMENTO 283
29 293
gam. Por assim p r o c e d e r é que exige dos discípulos a ati- 29,7 221
(jênesis
t u d e de pureza que supera q u a l q u e r desejo: " Q u e m olhar 29,30 ( T a r g ) 290
p a r a u m a m u l h e r [casada] com desejo libidinoso já co- 1,27 486, 494 30,10 2Uo
494 30,13 40
meteu adultério c o m ela em seu c o r a ç ã o " (Mt 5,28). Jesus 2 24
486 30,22-23 221
?'?4 (LXX)
não se contenta de elevar a m u l h e r acima do nível e m q u e 5,24 324 34,25 113
a tradição a m a n t i n h a ; e n q u a n t o Salvador, e n v i a d o a todos 17Ç 435
1/ 459 Levítico
(Lc 7,36-50), coloca-a em p é de igualdade com o h o m e m
1R 17-13
17 1 'í 492
(Mt 2 1 , 3 1 - 3 2 ) . l o , 1J 481 1,5 277
162 2,3 211
Além do mais, a posição de Jesus a respeito d o ca- 34,2-5
IA. 9=í-99 465 5,7-13 1 on
189
samento representa n o v i d a d e í m p a r . N ã o se contenta c o m X% 91 83 6,12-16 213
JJ,Zl 290 8 293
insistir a favor da m o n o g a m i a ; p r o í b e , categoricamen-
158

36 5
XFi 14 290 10 211
te 159
o divórcio a seus discípulos (Mc 10,9) e n ã o hesita JD, l t -

290 10,6 214


em criticar a T o r á por p e r m i t i r o divórcio por causa da JO, 1R
lo 458 10,9 237
37 28 10,19 O
211il
dureza do coração h u m a n o (Mc 10,5) °. O c a s a m e n t o é 16
37',28 (LXX) 458
¿q m 12,2-5 à m
491
370, 384, 385
p a r a ele tão indissolúvel que considera adultério n o v o ca- ty,iu 217 12,6 229
samento dos divorciados, h o m e m ou m u l h e r , pois o pri- 161 49,20 12,8 165
Êxodo 14,11 229
meiro casamento subsiste. Pelo valor q u e atribui ao matri- 15,24 470
m ô n i o e p o r essa m a n e i r a de santificá-lo q u e não t e m pre- 6 9"í 150 16 208, 212
cedentes,'Jesus leva a sério a p a l a v r a da Escritura q u e de- 375 16,3 141, 213
19 19 (I X X )
113 18 432, 481
clara ser o casamento u m a disposição criadora de D e u s . m
12,27
375 18,16 a ac\
449
19'38 (LXX)
1 9 44 461 18,18 449
157. Evangelho dos Nazireus; E c c e m a t e r d o m i n i et frates ejus 1 ¿,'T T
t
18,29 449
175
d í c e b a n t e i : J o a n n e s Baptista b a p t i z a t in r e m i s s i o n e m paccatorum; 1fi %f\ (Tare) 19,10 436
9f! in 461
e a m u s et b a p t i z e m u r a b eo ( J e r ô n i m o , Dial. adv. Pelag. I I I 2 [ P . L. ¿\¡, 1U 158, 417 19,19 335
23, col. 5 7 0 ] , S o b r e este p o n t o v e r J. L e i p o l d t , ¡esus und die Frauen, 91 9 19,23-25 193
91 'í 158
Leipzig, 1921, 15s. ¿. 1 ,j 19,27 487
418
158. V e r supra, n . 100. 21,4 417 20,10-16 A AO
44o
159. A e x c e ç ã o parektòs lógou porneías encontra-se somente em Mt 2L5-6
21 5 417 20,17-21 AAO
44o
(5,32, cf. 1 9 , 9 ) ; e m c o m p e n s a ç ã o n ã o figura e m M c 10,11, n e m e m 21,14 214
91 7 158, 416
Lc 16,18. Já q u e t a m p o u c o P a u l o c o n h e c e esta l i m i t a ç ã o , d e v e m o s con- ¿ 1, / 21,1-2 489
209
siderá-la s e c u n d á r i a . 21,23 21,5-6 214
2L26-27 443, 459
160. b . Sanh. 9 9 b a r . é talvez u m eco desta p a l a v r a d e J e s u s :
a

21,7 295, 296, 420, 42«, w


91 ^ 7 415
" M e s m o q u e a l g u é m diga: ' T o d a a T o r á p e r t e n c e ao céu c o m e x c e ç ã o ¿l,j/ 21,7 ( T a r g )
158, 415 "IAC
deste [único] v e r s í c u l o q u e c o m os p r ó p r i o s lábios Moisés p r o n u n - 22,2 21,9
99 94. 412
ciou e n ã o D e u s ' , a este se aplica [o t e x t o ] : ' E l e d e s p r e z o u as p a l a v r a s 21,10 214
23,10-11 409
do Senhor' [Nm 15,31]".
161. M t 5,32;19,9; M c 10,11-12; L c 16,18.
162. G n 1,27;2,24; M c 10,6-7.
[ND1CES 497
21,11 213 5,14 461 28,1-69 440 2,1-14 389
21,13-15 216 6,4-9 440, 490 31,10-13 440 2,10 ( L X X ) 391
21,13 ( L X X ) 217 10,18
21,14 425, 438 31,12 491 2,34-41 290
216, 2 9 7 , 420, 447 11,13-21 440, 490
21,15 32,21 465 2,42-43 290
420, 447 14,22-29 440 33,10 322 2,55
21,16-23 309, 308, 3 2 1 , 372
293 14,22-26 189 3,1-24
22,4 374
216, 226 14,26 147 3,5-19
22,11 Josué 374
461 14,28-29 183, 191 3,10-19
22,11 ( L X X ) 393
356 14,29 436 9,27 453 3,11-12
23,17 392
212 15,12 417 19,19 59 3,17-19 394
23,22 436 15,16-17
25,1-7 417 3,17 389
409 16,1-16 85 Rute 3,19-20 393, 394
25,36-37 412 16,2
25,39-43 113 3,19 374, 3 9 3 , 394
416 16,6 113 4,12 389 3,19 ( L X X ) 395
25,39 158 17,9-13
25,40 2 8 3 , 322 4,18-22 389 3,21 395, 437
418 17,14-20 440 4,19-20 5,29-41
25,46 391 250
444 17,15 398, 4 3 9 , 435 5,29-36 251
25,47-52 416 17,17
25,47 131 1 Samuel 5,36-41 251
158 17,18-19 397 6,35-38 250
26,19 283 19,1-13
27,12 209 1,9 150 7,6-11 371
283 20,2-4 224 2,4 ( T a r g ) 259 8 371
27,30-31 189 20,19-20
27,32-33 409 2,33 150 8,37-38 373
192 21,5 2 8 3 , 322 14,3 150 9 372
21,13 ( T a r g ) 459 22,20 150 9,1-17 373
Números 22,9-11 335 9,1-3 373
22,19 432 2 Samuel 9,1 373
1,3 346 22,21
4,3-47 432 9,7-9 371
235, 293 22,29 478 3,4 375, 380, 383 9,19 290
5,11-31 158 23,2-3
5,11-29 4 4 6 , 454 5,8 166 9,31 ( L X X ) 213
431 23,2 432, 454 5,8 ( L X X ) 9,43-44
5,16 366 173
229 23,3 8,17 12,6
8,23-26 4 5 0 , 452 250 290
293 23,3 ( L X X ) 13,3
8,25 450 375 12,26-28 275, 279
235 23,4-9
9,7 426 15,24 250 15,4-12 284
113 23,4
9,13 426 21,2 453 23,3-5 275
113 23,5
11,4 ( L X X ) 426 23,3 293
375 23,8-9
15,4 ( L X X ) 174 426 í Reis 23,4 283, 322
23,8 442 23,5 279
15,31 494 23,16 462 1,8 250 23,24 293
15,37-41 490 23,19 196 2,35 250 23,27 293
18,3 284
23,20-21 412 14,21 426 24,1-19 272
18,20-32 189
24,1-4 447, 4 4 8 , 487 19,19 264 24,1 150
18,21-32 152
24,1 3 4 4 , 487 20,35 245 24,3 150
19 212
24,19 436 24,7-18 272
19,1-10 213
213, 214 24,21 436 2 Reis 24,7 272
19,11-16 25,5-10
30,7-9 481 489 25,2 393
296, 431 25,9-10 4 3 5 , 489 10,15 309, 372, 380 25,9 393
31,18 26,6
209 422 10,23 309, 372 26,1 290
35,9-34 25,7
209 434 17,24 468 26,19 290
35,25 25,9
480 2 9 7 , 448 17,30 468 26,29 283, 322
36,1-12 25,10 434 23,10 28
26,12-15 440
Deuteronômio 26,12 1 Crônicas 2 Crônicas
183, 190, 436
26,12 ( L X X ) 190 1,35 290
1,1-6,3 440 27,1-26 440 2,1-15 374 19,5-11 304, 322
498 JERUSALÉM NO TEMPO DE

20,19 290 10,25 33 5,5 75


308 12,39 303
22,6 392 10,27 309 13,16 33 8,1
31,12 225 309 10 323
10,30 309 13,31
31,13 225 20,1 303
10,31 395
31,14 38,12 75
290 10,42 395 Ester
31,17 44,20 214
293 10,44 373
371 44,21 275
31,18 379 1,1 (LXX)
44,22 296, 297
33,14 33 Neemias 2,5 3 7 1 , 381
44,24 283, 322
35,5-6 113
44,25-27 214
33,11 113 3,3 309 Salmos
45,11 175
3,11 309
Esdras 3,14 73, 309, 372 45,14 476
3,25 48,3 52 Daniel
309
2,1-67 373 5,2 309 87 (88),11 ( L X X ) 406
2,1-2 373 5,5 388 9,25-26 254
416 110
2,2-63 365 7,6-69 426 9,26-27 254, 255
373 116,16
2,3 309 7,6-7 373 9,26 ' 254
2.5 308 7,8 309 Provérbios 11,22 254, 255
2.6 309 7,10 509 12,1 402
2,8 309 7,11 309 31,1 132 13,32 473
2,15 309 7,13 309
2,35 309, 382 7,20 309 Cântico Miquéias
2,36-42 281 7,28 2,1-5 81
309, 382
2,36-39 274, 275, 280 7,39-45 8,8-10 479 Sofonias
289
2,40-42 274, 290 7,39-42 274, 280
2,41-58 275 7,43-45 Isaías 1,10-11 33
274 33
2,59-63 373 7,61-65 373 1,10
2,61-63 300, 421 7,63-65 5,8 81 1,11 33
300, 421
2,62 281 7,64 14,1 ( L X X ) 375
373
2,64 281 7,66 26,14 ( L X X ) 406 Ageu
281
3,2 394 8,9 53,4-5 165
375
3.8 234, 222, 2 9 3 , 294 10,3-9 272 60,6 55
3.9 595 10,15 309 1,1 394
5.2 594 10,17 309 Jeremias 1,12 394
5.5 304 10,29 290 1,14 394
5,9-16 304 10.35-37 309 2,23 28 2,2 394
5,9 304 10,35 309 3,1 487 2,23 394
6.7 304 11,1-3 309 6,1 73
6.8 304 11,2 274 6,20 52 Zacarias
6,14 304 11,3-24 309 18,2-3 197
7,7 290 11,3 309 18,18 322 9,6 ( L X X ) 450
7,24 290 11,9 309, 393 19,1-2 197 11,13 171, 195
8,1-14 373 11,10-19 274 20,15 493 12,10-14 255
8,1 373 11,10 274 20,21-22 435 14,10 66
8,3-14 373 11,17 290 31,1 402 14,21 71
8.3 309 1,22-23 290 31,33 435
8.4 309 11,34 436 35,2-19 372
35,8 309 Malaquias
8.6 309 12,1-7 272
8,20 453 12,1 293 35,19 372
37,21 2,7 322
9,1-10,44 368 12,8-9 290 16
10,18-44 373 12,10-1 250
10,18-22 280 12,12-11 272 Ezequiel Tobias
10,23-24 290 12,14 394
10,23 395 12,24-25 290 31 1,1-2 372
5,1
1,1 321 3,4 371 1,12-16 392 18,25 415, 416
1,6-8 183, 190, 192 3,4 (lat. A r m . ) 255, 371 1,12 374, 389 19,3 344, 486
1,9 481 3,10-15 189 1,13 389 19,4 486
4,12 481 3,10 189 1,15-16 389 19,5 486
5,15 159 3,19 476 1,16 389 19,9 494
6,10-13 480 4,7-22 254
480 1,17 390, 3 9 1 , 392 19,16-30 179
7,11-12 4,7-10 142
1,20 388 19,16 180
4,9 20
2,1-6 97 19,17 180
Judite 4,11 20
3,9 402 19,21 179
4,14 20
4,23-24 5,20 3 4 1 , 343 19,20 184
8,1-2 481 255
4,23 5,21-48 343 20,1-16 157, 455
8,1 372, 381 254, 255
4,24 5,28 494 20,2 159
9,2 372 142
4,32 142 5,32 494 20,9 159
4,34 255 5,46 413 20,20 494
1 Macabeus 343 20,30 182
5,1-10 256 6,1-8
5,5-10 233 6,2-4 338 21,1 63
1,14 20 237 21,8 6 3 , 65
5,5 255 6,2
1,20-21 256 188 21.9 388
5,8 456, 255 6,4
1,26 270 338 21,12 7 1 , 72, 157
8,11 457 6,5-8
2,1 104, 272 274
11 253 7,5 343 21,14 167
2,18-20 274 282 21,15 388
8,4
2,42 334, 357 13,1 253 425 21,17 89
8,8
2,70 274 13,3-8 2 5 7 , 258 166 21,18-22 65
8,20
4,42 257 14 258 341 21,23 303
9,3
5,25 57 14,1-13 258 9,9 414 21,31-32 4 1 3 , 494
6,16 252 14,3 258
253 9,10-11 413 21,32 494
6,20-63 14,6 334 9,11 345, 3 4 1 , 359 21,45 322
6,49 197 14,7 258
197 9,14 338, 341 22,3-10 455
6,53-54 9,27 182, 388 22,3 135
7,5 258 Eclesiástico
258 9,37-38 455 22,11-12 135
7,12-15 10,3 414 22,15-22 166
7,12 321 7,21 418 10,8-10 160, 162 22,15-16 355
7,13 334 26,16
£58 475 10,24-25 418 22,15 340
7,14 33,25-30 ( L X X ) 459 10,29 196 22,41-46 349
7,16-18 258
38,1-15 407 11,19 413 22,41 340
7,21 258
38,24-39,11 160 11,21 60 23 342, 343
270, 304
7,33 42,11-12 475 12,10 341 23,1-22 343
258
9,3 45,6-13 208 12,14 340 23,2 341
57
9,35 45,14 213 12,23 388 23,5 331
258
9,54-57 258 45,17 2 8 3 , 322 12,27 245 23,7-8 321
9,54 253 48,10 401 12,38 341 23,7 331
10,1-21 253 50,25-26 464 13,27-30 455 23,9 331
10,1 253 14,6 476 23,10 331
10,2-7 253 NOVO TESTAMENTO 15,1-9 344 23,13 322, 3 4 1 , 343
10,8-14 253 15,1-2 3 3 8 , 340 23,15 3 4 1 , 343, 365, 424
10,15-20 253, 259 Mateus 15,1
10,21 341 23,16 331
304 15,22 388 23,23-28 343
11,23 59 1,1-17 374, 3 8 8 , 394 16,12
11,34 315 23 154, 338, 340, 341
274 1,2-6 374 16,19
13,25 3 2 1 , 352 23,25-26 340, 343
270, 304 1,3 391 17,24-27
14,28 166 23,25 341
272 1,6-12 374 17,24
14,29 233 23,26 338, 342, 343
1,6 391 18,17
18,18 413 23,27 341
2 Macabeus 1,8-9 391 321 23,29-36 343
3,4-6 189 1,11 393 18,23-25
455 23,29 3 4 1 , 343
24,3 15 6,8 14,68 140 6,32 413
24,20 160
85 6,17 488 14,72 70 7,30 341
24,51 343 6,22 15,1 248 7,34 413
476
25,14-30 418 6,37 15,3 248 7,36-50 340, 494
174
26,3-4 248 6,44 15,10 248 8,1-3 162, 166, 494
174
26,3 303 7,1-13 15,11 248 8,43 30
344
26,9 182 7,1-4 15,21 102 9,3 160
338, 340
26,14-15 248 7,1 341 15,23 139 9,4 162
26,15 171 7,5 341 15,27 77 9,51-55 466
26,30 90 10,2 344 15,41 4Q4 9,52-53 466
26,36 16, 90 10,5 494 15,43 305 9,54 467
26,47 287, 303 10,6-9 486 16,1 18 9,58 166
26,51 140 10,6-7 494 10,2 448
26,57-66 322 Lucas
10,6 486 10,7-8 162
26,57 140 486 1,5 298 10,7 162
10,8
26,58 140 494 10,60 60
10,9 1,8 282
26,71 140 494 10,25-27
10,11-12 1,9 282 312
26,74 70 178
10,17-31 1,10 282 10,30-37 76, 472
27,1 303 179
10,21 1,25 488 10,31 104
27,3 171, 196, 303 10,46 86, 182 1,27 388 10,37 467
27,5-6 171 10,47-48 388 1,32 388 10,38-42 162, 477
27,5 196 11,1-10 87 1,39 282 11,29 341
27,6-7 170 11,1 63 2,4 388 11,37-38 340
27,6 195, 248 11,8 68 2,7 88 11,39-44 342
27,7 65. 388
16, 171, 195 11,10 2,22 299 11,39-41 340
27,8 197 89 2,24 51, 229 11,42 154, 339
11,11-12
27,9-10 196 11,11 2,36 372 11,43 342
27,9 171, 195 11,13-14 2,41-44 105 11,44 343
27,10 195 65
11,15 71,72 2,41 109, 490 11,45 345
27,12 248, 303 11,17 2.42 110 11,46-52 342
27,20 248, 303 89
11,19 89 2,44 86 11,52 327
27,28 59 3,2 267 11,53 341
12,13-17 166
27,32 102 3,8 402 12,6 196
12,13 355
27,34 139 3,14 178 12,33 179
139, 305 12,18-27 489
27,57 12,28 3,23-38 388 12,46-48 459
305 344
27,60 12,35-37 388 3,23-26 396 13,1 105
27,65 248
12,38-39 342 3,23-24 389 13,31 355
28,11-12 303
12,38 331 3,23 389 14,1 340, 351
28,11 248
12,39 332 3,24 292, 396 14,3 341
28,12 178
12,40 163 3,26 395 14,16-17 135
27,13 248
12,41-44 156 3,27-31 393 14,33 179
14,3 44 3,27 389, 3 9 1 , 3 9 3 , 376 14,33 179
Marcos 14,5 3,29-31 390 15,1-2 413
171, 182
14,10-11 248 3,29 391 15,2 338, 359
1,19-31 484 14,12 3,31 395 15,17 455
1,31 113
477 14,13 17 3,33 391 15,19 455
2,6 341 14,17 5,17 341 15,22 455
287
2,14 395 14,18 5,21 341 16,14 163
287
2,15-16 413 14,26 5,27 395 16,18 494
90
2,16 3 1 5 , 3 4 1 , 344, 359 14,32 16, 90 5,29 395 17,7-10 455
3,2 341 14,43 287 5,30 315, 413 17,14 282
3,6 355 14,47 140, 456 6,7 341 17,17-19 472
5,26 30 14,48 76 18,10-14 405 17,18 468
6,3 160 14,53 140 18,9-14 359 14,54 140
18,11 413 7,32
18,12 154, 338, 340, 343 287, 355 20,19 355 6,2 184, 185
7,42 389 6,5 99, 4 2 5 , 427, 4 3 8
18,18-30 179 Atos dos Apóstolos
7,45-52 6,9 9 1 , 9 3 , 94s, 96
18,22 179 355
7,45 1,12 15 8,27-39
18,35 287 87, 103
182 7,46
19,7 287 1,15 185 8,27 45
413 7,49
19,8 359 1,18-19 195 9,1-4 355
180, 415 7,50
19,12-27 139, 322 1,19 197 9,2 99,107
455 8,3
19,13-17 341 2,1-2 185 9,14 248
418 8,32-35
19,20 465 2,9-11 91 9,21 248
16 8,33
19,47 402 2,10 93 9,24-25 99
305 8,34
20,19 463 2,25-31 388 9,26 99
322 8,35
20,20-26 417 2,42 185, 186 9,27 291
166 8,36
20,46 402 2,44-45 183 9,35 69
3 3 1 , 342 8,39
20,47 402, 463 2,45 183, 184 9,43 412
163 8,41
21,1-4 463 2,46 185 10,1 93
156 8,48
21,37 467 3,1 282 11,1 172
16, 89 8,58-59
22,4-5 168 3,2-10 181, 182 11,2 172
248 9,167
22,4 168 3,2-8 168 11,20 94, 102
2 3 1 , 248, 288 9,1
22,7 168 3,2 37 11,22-26 291
113 9,7
22,14 168 3,3 167 11,27-30 186
90 9,8
22,39 168 3,8 167 11,27-28 172
16, 189, 390 9,22
22,47 355 3,10 167 11,27 99
287 11,1
22,50 162 4,1-22 270 11,28-30 172
140 11,46
20,52 2 3 1 , 287, 288, 303 355 4,1 225, 228, 288, 313 11,28 172, 200
11,51 4,5-12 288 11,29-30 99
20,55 140 210
11,54 4,5-66 247, 269 12,3 441
20,60 59
70 12,2 4,6 218, 244, 249, 267, 2 7 1 , 312
20,66 477 12,6 185
140 32,5 4.8 270
23,7-11 171, 182 12,12-13 183
23 12,6 4,23
23,7 162, 184 270, 303 12,12 185
44, 12,10 183 12,13
23,26 248 4,32-37 456
102 12,13 4,32 183 12,20
23,27-31 63 128
138 12,20 4,34
23,29 110 58, 184 12,25 99, 172, 186 291
488 12,42
23,50-51 139, 355 4,36-37 94, 150, 183, 184 13,15 291
305 13,16
23,56-57 419 4,36 291 13,1 127
18 13,29
182, 184 4,37 58, 184 13,23 388
15,20
João 419 5,1-11 183, 184 13,34-37 388
18,1
2,14 18,3 64 5,1-10 58 15 99
71 5,2 183, 184 15,2 99
2,20 18,10 287
35 5,3 184 15,4 99
3,1-21 18,12 140, 456
326, 344 5,4
3,1 18,13 287 184 - 15,16 388
139, 322 140. 217, 220, 267
3,3-10 18,15 5,17-18 288 15,30 99
326
3,13-21 18,16 140 5,17 248, 313 16,1-8 95
326
4,4-42 18,18 140 5,21 248, 313 16,3 492
466
4,9 18,24 287, 456 5,23 288 18,13 10, 161,319
466, 467,471 5,24
4,12 18,26 2 2 0 , 267 224, 2 2 8 , 288 19,14 242
468
4,20-21 18,27 140, 456 5,26 228 19,23-40 19
105
4,27 474, 477 18,28 70 5,34-40 322 19,24 19
4,36 455 18,40 425 5,34-39 150, 289, 355 20,4 94, 95, 108
5,2-3 168 19,38-42 77 5,34 322, 344 20,16 182, 200
5,6 168 19,38 305 5,37 371 21,10 122
6,7 174 19,39 355 5,40 288 21,16 94
6,10 174 19,41 18, 130 6,lss 91 21,24 182
7,13 355 20,15 64, 139, 305 6,1-6 184 21,26 182
64, 130, 305 6,1 183, 185 21,27 94
II. ÍNDICE DE NOMES E DE MATÉRIAS

'abba, 3 3 1 . Betfagé, 64, 8 9 , 104, 145.


Acra, 3ls. bisso, 54.
A ç o u g u e i r o , 17, 282, 300, 404, 407. boetusianos, 267, 313.
A d i o b e n e , 24, 38, 102, 134, 172, bolsa, 88.
a d o r n o s p a r a a c a b e ç a , 18, 144,
cabeleireiro, 473.
473,
Caifás, ver I I I . Índice,
128, 427. calçamento, 231,
A d u l t é r i o , 228, 449.
c a m p o do oleiro, 15, 171, 194-197.
águas a m a r g a s ( o u de m a l d i ç ã o ) ,
c a m p o ( p r e ç o d e u m ) , 196.
158, 229, 474. c a n d e l a b r o de sete b r a ç o s , 3 8 , 212.
a l b e r g u e ( h o t e l a r i a ) , 88, 145.
Ver lampadário,
alfaiate, 1.3, 32, 5 1 , 404.
c a n t o r e s , 285, 289.
A l f o r i a d o , 157, 442, 446.
c a r a v a n a s , 4 8 , 86-87.
a l f a n d e g a , 4 8 , 8 1 , 176.
c a r p i n t e i r o , 36s, 161, 319.
'um ha-arós, 151, 3 3 3 , 337, 349,
c a r r e g a d o r d e á g u a , 17.
359. Carriola, 2 6 , 3 6 , 7 3 .
'ammarkal, 230s, 2 4 1 . castrado, ver eunuco,
a n o s a b á t i c o , 186, 197, 404, 412 cavernas, 26.
440 .
" C a v e r n a d o a l g o d ã o " , 26.
S

Anás, sumo sacerdote, ver índice


c e d r o ( m a d e i r a d e ) , 36, 5 3 .
III.
C e d r o n , 65, 2 1 3 .
a n á t e m a , 232. cidade baixa, 3 1 .
a n c i ã o s , 3 0 1 , 308. c i d a d e alta, 3 1 , 34, 140.
a n i m a i s : d í z i m o , 189, 191s; im-
cidade nova, 33.
p o r t a ç ã o , 72s; m e r c a d o , 69-72.
c i d a d e s d e refúgio, 209, 2 2 1 .
A n t ô n i a , 2 0 , 209, 2 8 9 . coletas, 162, 172, 185s.
a p o c a l í p t i c a , 324.
c o l h e i t a s , 189, 193.
a q u e d u t o , 25s. c o m é r c i o , 4 3 , 47-84.
"arca de Robínson", 23.
c o m u n i d a d e cristã p r i m i t i v a , 183,
a r c o n t e s , 270, 306. 185, 437.
aristocracia, ver s a c e r d o t e s : p o b r e -
C o m u n i d a d e ( " S a n t a — d e Jeru-
za sacerdotal; anciãos.
s a l é m " ) , 335s.
a r o m a s , 17s, 5 5 . c o m u n i d a d e s farisaicas, 334-338.
a r t e ( p r o f i s s õ e s ) , 18, 26s, 36.
c o m u n i d a d e de b e n s , 183.
A s m o n e u s , 269-261, 2 7 3 .
C o n s e l h o ( g r a n d e ) , ver S i n é d r i o .
A s s o c i a ç õ e s , .537, conselheiro, 307, 311.
associações profissionais, 33s, 42. c o n s t r u ç ã o , 19-25.
c o u t o , 14.
c o n s t r u ç ã o ( o p e r á r i o d a ) , 25-28.
A z a z e l , 245, 308.
contrato de casamento, ver matri-
a z e i t o n a s , 15, 57, 65, 6 6 . mônio.
c o p i s t a , 19, 4 0 8 .
b a n h o de p u r i f i c a ç ã o , 424, 4 4 3 ,
C o r a í t a s , 289.
459.
c o r t a d o r d e p e d r a s , 36.
b a n q u e t e , 134s.
costureiro, 319.
b a r b e i r o , 5 0 . 4 1 , 404.
criança enjeitada, 364, 4 5 3 , 157¬
B a r n a b é , 150, 2 9 Í .
159; j u d e u s , 414-419; p a g ã o s ,
b a s t a r d o , 427-431.
455-463.
b a z a r , 3 l s , 49.
cronologia, ver datação.
beneficência, 179-189. V e r t a m b é m
c u r í í d o r , 19, 404, 409, 4 1 1 .
esmola,
benjaminitas, 371. danças, 135, 476.
o f e r e n d a s c u l t u a i s , 3 9 , 21 l s , 2 7 5 .
g a l i n h a s (criação d e ) , 70. lagar, 16, 64s. oleiro, 15, 7 4 .
d a t a ç ã o , 252-254, 2 5 8 s , 2 6 7 , 3 5 5 .
l a m p a d á r i o , 37. Ver c a n d e l a b r o d e
D a v i d i d a s , 369-371. G a m a l i e l I, v e r I V í n d i c e . ó l e o , 16s, 8 0 .
d e c a p r o t e s , 310. Garizim, 465. sete b r a ç o s ,
legítima ( o r i g e m ) , 293s, 364, 386. Onias (templo d e ) , ver Leontó-
diarista, 145s, 157-159, 165, 319. g e n e a l o g i a s , 292, 294, 368-396; fa- polis.
d i á s p o r a , 9 1 , 94-96, 110. mília de H e r o d e s , 438-441; Je- 400. " o p e r a s u p e r e r o g a t i o n i s " , 338, 3 4 3 .
d i d r a c m a , 4 3 , 8 6 , 9 7 , 109, 232. sus, 388-396. leigos, v e r n o b r e z a leiga. o r a ç ã o (hora p a r a a ) , 167, 336,
distrito u r b a n o d e Jerusalém, 62, G e t s ê m a n i , 64, 89s, 166. L e o n t ó p o l i s , 45, 101, 2 5 6 , 260, 346.
89, 145. G o l g a t h a , 64. 468. origem ilegítima, ver ilegítima
divórcio, 486-488, 494s. grão-sacerdote, 208-223, 242-247, l e p r o s o , 166, 230. (origem).
d i v o r c i a d a s , 216, 486-488. 249-271 (ver sacerdote-chefe); I e v i r a t o , 136, 2 9 7 s , 4 8 9 . o r i g e m legítima, v e r legítima (ori-
Documento de Damasco, 333, 350¬ i d a d e c a n ó n i c a , 222; c e r i m o n i a l , l e v i t a s , 274s, 278. 284-290, 291s, gem).
219; d e p o s i ç ã o , 2 2 0 ; i n v e s t i d u - 363-365. D í z i m o d o s — , 153,
353, 377, 389, 437s, 4 8 1 , 486. o s s u á r i o s , 4 2 5 , 427, 4 4 5 .
d í z i m o , 4 3 , 142, 152s, 339, 359. ra, 2 2 1 ; l e g i t i m i d a d e , 2 6 5 ; lista 193. O u r o e prata (trabalho d e ) , 37,
S e g u n d o — , 69, 86, 147, 154, dos —, 259, 262, e III Índice; linho, 56. 40s, 4 0 4 .
c a s a m e n t o , 216-218, 297; u n ç ã o , lojas, 315, 72.
182, 190-192, 232. T e r c e i r o — ,
186. 2 2 1 , 224; ornamentos, 141s, lua ( n o v a ) , v e r n e o m ê n i a s .
p a d e i r o , 16, 39.
d o a ç õ e s ao T e m p l o , 39, 3 3 5 . 208. l u t o , 213s. pães d a proposição, 39, 238.
d r a c m a ( d u p l a ) , ver d i d r a c m a . g u a r d a s pessoal, 92, 128. pai desconhecido (nascido d e ) ,
M a c a b e u s (palácio d o s ) , 2 3 , 8 8 .
364, 428s, 453s.
habârôt, ver c o m u n i d a d e s farisai- Madaba (mapa de), 31.
e m p r e i t e i r o , 26. V e r c o r t a d o r de p a l m e i r a s , 63.
cas. m a d e i r a , 73s, 308s.
pedras. P á s c o a , 68, 82s, 111-121, 147, 4 6 1 .
H a c é l d a m a , ver c a m p o d o oleiro. mamzer, v e r b a s t a r d o . p a s t o r , 404-406.
En Rogel, 66.
halal, 300, 420s, 447. matriarcado, 462. pátria potestas, 416, 478.
e p í s c o p o , 352.
halúsah, 296, 448, 489. m é d i c o , 2 9 , 4 1 , 404, 406. patriarca (do século I d e nossa
escravos, 54, 75.
h a r é m , 13 l s . m a t r i m o n i o , 483-492; c o m u m p a -
escribas, 159-166, 317-332; a l u n o s r e n t e , 480-482; c o n t r a t o , 137. era), 383.
dos —•, 321s; o r d e n a ç ã o , 320; helenistas, 9 1 . Paulo, ver IV Índice,
H e r o d e s , corte, 129-133; f a m í l i a , 4 7 5 , 4 8 3 , 484; i m p o r t â n c i a p a g a
— e fariseus, 341-345. V e r copis- p e r e g r i n a g e m (as três festas a n u a i s
18, 131s, 438-441, 482; p a l á c i o , p e l o — , 170. 479.
tas. d e ) , 4 7 , 8 3 . 85s, 109-111, 214,
20, 26; prosélitos h e r o d i a n o s , m e d i d a s , 21-23, 36, 3 8 , 4 9 , 116¬
e s m o l a s , 166, 179s. V e r benefi- 28 ls.
cência. 438-442. 118, 1 4 í s , 174. p e r f u m e s p a r a q u e i m a r , 17, 39s,
esotérico ( e n s i n a m e n t o ) , 323-327. H i n o m (vale d o ) , 16, 2 8 , 6 6 , 412. m e n d i g o s , 166-168. 55, 2 3 8 .
espigas de a p r e s e n t a ç ã o , 58. hipódromo, 20. menores (crianças), 307, 416, 478s, p j s o e i r o , 13.
essênios, 183, 334, 350-353, 398, hotelaria, ver albergues. 480. p o b r e s ( d í z i m o p a r a o s ) , os 186, .
437, 485. messiânicas (sublevações), 101, 1 9 1 ; d i r e i t o , 186, 435s; p r a t o
ilegítima ( o r i g e m ) , 299s 364, 420¬
estela de aviso, 36. 105. d o s — , 176. 184; e n t r e t e n i m e n -
454.
estrangeiros ( m o v i m e n t o d e ) , 85¬ m o ç a , 216, 475s. t o , 184, 18s.
i m o l a ç ã o das vítimas ( l o c a l i z a ç ã o ) ,
121. m o e d a s (valor d a s ) , 49s, 53s, 133, p o l i g a m i a , 1 3 1 , 137, 4 8 5 s .
113-118.
estradas de tráfico, 76s, 86. 144, 148, 156, 171, 173s, 196, P ô n c i o P i l a t o s , 25, 267.
i m p o s t o s , 40, 43s, 81s, 176.
e u n u c o s , 128, 129, 132, 157, 454. 458. Ver t r o c a d o r de m o e d a s . p o p u l a ç ã o (total) d e J e r u s a l é m ,
i m p o t e n t e s ( s a c e r d o t e s ) , 167, 188,
Exilarca, 370, 383. m o n t e d a s O l i v e i r a s , 15, 3 2 , 7 0 , 119, 120s; d a Palestina, 280.
E x p i a ç ã o (dia d a ) , 141, 210, 213s, 293. p o r t a s d e j a r d i n s , 64; d o s p e i x e s ,
74, 89, 2 1 3 .
2 2 5 , 277. i m p u r e z a levítica, 2 1 5 , 3 6 6 . "morte de m a n d a m e n t o " , 214. 3 3 s ; e s t e r q u i l í n i a , 13, 28, 412.
i m p u r e z a leve, 364, 420-446; gra- mosaicos, 27. p o r t a s d e J e r u s a l é m , 3 2 , 64.
ve, 364, 446-454. m u l h e r , 473-492.
famílias ( o r g a n i z a ç ã o e m ) , 303s, p r i m í c i a s , 10, 86, 145, 152, 2 8 1 ,
i n c e n s o , ver p e r f u m e s p a r a quei- m u r o (terceiro), 2 1 , 64.
308s, 183, 198-202. 289.
mar.
fariseus, 333-360; e sacerdotes, n e o m ê n i a s , 212. prisioneira d e guerra, 218, 293,
347; e e s c r i b a s , 341-345 incesto, 430, 4 3 1 , 449. N i c o d e m o s , 18, 139, 320, 344. 3 0 1 , 4 5 7 , 459.
figueira, figos, 50, 6 3 , 64, 67. N i c o l a u d e D a m a s c o , 130, 3 7 7 , profecia, 210.
j a r d i n s , 64-66.
fomes, 54, 56, 172-174. 43S. p r o f i s s õ e s , 10-46. 160; despreza-
José de A r i m a t é í a , 139, 3 0 5 , 3 1 1 .
forjador, 14. n o b r e z a clerical, ver s a c e r d o t e s , d a s , 403-414. V e r artes (profis-
Josefo F l á v i o , 29, 155, 2 9 2 , 2 9 9 ,
fração d o p ã o , 186. n o b r e z a leiga, 303-315. sões d a ) .
3 1 8 , 344, 487.
f r u t a s , ver colheitas, n o i v a d o , 480-483. p r o s é l i t o s , 110, 295, 3 6 5 , 3 7 7 , 4 2 3 ¬
juiz, 2 8 3 , 2 9 5 .
funcionários d a c o r t e de H e r o d e s , 441; banho para a conversão,
Üfel, 25.
128-131. lã, 12, 32.
424s; d i r e i t o d e sucessão, 4 4 3 ; 270, 305s, 316, 3 2 1 , 3 9 7 . III. OS GRÃO-SACERDOTES
•— h e r o d i a u o s , 438-441. sinetes, 19. de 2 0 0 a.C. a 70 d.C. (lista completa)
p u b l i c a n o , 404, 4 1 3 .
p u r e z a d e o r i g e m , 362, 368-402, taxas, 151-153, 175-178.
420s. t e m p l o , a r q u i v o s , 292, 3 7 5 , 379; S i m ã o , o Justo (cerca de 200 a . C ) , 2 5 5 , 259.
pureza ritual ( p r e s c r i ç ã o ) , 213¬ c o m a n d a n t e , 224, 225-228, 248; M e n e l a u (172-162), 2 5 1 , 254, 255,
210. 254.
2 1 5 , 357. c o r t i n a s , 4 0 , 54s; e s c r a v o s , 453; 2 5 7 , 258, 259, 262, 3 7 1 .
O n i a s H (até 1 7 5 ) , 2 5 1 , 254, 258,
p u r i f i c a ç ã o , v e r b a n h o de — sa- i m p o s t o , ver d i d r a e m a ; m é d i c o , J a q u i m (Alcimo) (162-159), 2 5 1 ,
262
crifício d e — , 70, 165. 40, 237; m ú s i c o s , 237, 285, 290; 256, 2558, 259.
l e s u s ' ( J a s o n ) (175-172), 2 5 1 , 254,
púrpura, 55. á t r i o , 35s, 37, 65, 118, 167, 287,
288, 307; polícia, 248, 287s; por- O s 8 grão-sacerdotes m a c a b e u s (152-37 a.C.)
Rabi (título), 321. ta de N i c a n o r , 2 7 , 173, 2 2 9 ,
r e c a b i t a s , 309, 372. 2 8 8 ; r e c o n s t r u ç ã o , 19, 2 3 , 34¬ 128, 131, 137, 142, 162, 163,
fona tas (152-143/2), 212, 252,
resina, 17. 38; s e r v i d o r e s , 2 8 5 ; vigilantes, 182 212, 2 1 7 , 218-219, 2 5 9 , 260,
231-242, 247, 288s; t e s o u r o , 2 3 , 259, 2 6 1 . 296, 3 1 2 , 3 4 8 , 3 5 3 , 422.
r e n d a s d o s g r ã o s - s a c e r d o t e s , 141s; S i m ã o ( 1 4 2 / 1 - 1 3 4 ) . 218, 2 6 1 .
dos s a c e r d o t e s , 150-154; dos 28, 32, 71s, 162, 188, 2 3 3 ; tesou- H i r c a n o I I (76-67; 63-40), 5 3 , 9 3 ,
João H i r c a n o I (134-104), 5 4 , 153,
p r í n c i p e s , 132s. reiro, 224, 231 s, 247. 131 198, 2 9 3 , 4 1 9 .
154, 210, 2 1 8 , 2 6 0 . 2 9 6 , 346,
rolos, 19, 408. T e n d a s (festa d a s ) , 73, 87, 134, 359, 4 2 2 , 424, 4 6 5 . A r i s t ó b u l o II (67-63), 198, 354.
212, 225, 235, 286, 3 5 6 , 4 4 1 . Ai-isróbulo 1 (104-103). 212, 227, A n t í g o n o (40-37), 131, 2 9 3 , 3 0 6 ,
s á b a d o , 276, 382. Frâmah. 151. 259, 424. 4 1 9 , 476.
s a c e r d o t e s , a n á t e m a em seu b e n e - teatro, 20. A l e x a n d r e faneu (103-76), 102,
fício, 151; a p t i d õ e s físicas exi- tecelão, l l s s , 34, 40, 4 0 4 , 412.
gidas do s a c e r d o t e , 188, 2 9 3 ; T i b e r í a d e s , 111, 137. O s 2 8 grão-sacerdotes de 3 7 a.C. a 7 0 d.C.
c a r á t e r h e r e d i t á r i o , 291-302; di- T i r o p e o n , 32.
reito, 245, 294-502; direito ma- t o p a r q u i a s , 103, 107. (14) J o s é Caifás (18 c e r c a de
( I ) A n a n e l (37-36) d e n o v o a
t r i m o n i a l . 245, 297, 294, 295, t o r r e s de Jerusalém, 2 0 , 22. 3 7 ) , 136, 140, 217. 223, 266,
p a r t i r de 3 4 ) . 96, 100, 262,
299, 450s; c r i a n ç a s , 296, 421¬ 267, 270, 297, 312.
tráfico, ver e s t r a d a s 265, 266.
4 2 3 ; profissões, 282, 4 1 1 ; n o - t r i b u n a l , 245s, 282, 397, 4 3 5 ; pre- (15) J o n a t a s , filho d e A n á s (Pás-
(21 A r i s t ó b u l o 111, ú l t i m o des-
b r e z a s a c e r d o t a l , 139-141, 249¬ s i d e n t e , 2 1 5 ; — dos s a c e r d o t e s , coa-Pentecostes 3 7 ) , 220, 270.
c e n d e n t e dos m a c a b e u s ( 3 5 ) ,
2 7 1 ; c o n t r i b u i ç ã o p a r a seu be- 244, 247, 444; dos s a d u c e u s , 315. (16) T e ó f i l o , filho d e A n á s (a
2 1 2 , 2 2 2 , 262, 2 6 6 .
nefício, 151; taxas p a r a eles, trigo, 58-61, 174. p a r t i r d e 3 7 ) , 267.
(3) Jesus, filho de F i a b i (até
151-154, 191s; seções (ciasses) T r o c a d o r de m o e d a s , 3 0 , 7 1 , V e r (17) S i m e ã o C a n t e r a s , filho de
cerca d e 2 2 ) , 267.
sacerdotais, 104. 142, 155, 272ss; m o e d a s (valor d a s ) . B o e t o s (a p a r t i r d e 4 1 ) , 2 6 9 ,
(4) S i m ã o , filho de Boetos (cer-
vestimentas, 293. t ú m u l o , 2 7 s , 3 3 2 ; de H e r o d e s , 2 0 ; (18) M a t i a s , filho de A n á s , 267.
ca de 22 a . C ) , 100, 217,
sacerdote-chefe, 224-230, 242-248. dos s a n t o s , 332. (19) E l i o n a i o s , filho d e C a n t e r a s
266, 267, .309, 312, 3 1 5 .
Ver s u m o s a c e r d o t e . (cerca d e 4 4 ) , 136, 3 1 2 .
(5) M a t i a s , filho de Teófilo (5
sacrifício. 82s, 2 1 3 , 275-277. V e r V a c a v e r m e l h a , 74, 212-213. (20) José, filho de C a m i , 200.
a.C-12 de m a r c o a . C ) , 217,
vítimas sacrificais. v a l e dos queijos, ver T i r o p e o n . (21) A n a n i a s , filho d e N e b e d e u
220. 222. 327, 266, 297.
sacrifício de c o m u n h ã o , 148, 191. v a s o s de v i n h o , 178. (47 até pelo m e n o s 5 5 ) . 7 3 .
(6) José, filho d e Elem (5 a . C ) ,
s a d o q u i t a s , 250-266. vestes ( m e r c a d o d a s ) , 3 3 . 140, 143, 200, 220, 227, 266.
220, 2 2 2 . 2 2 7 , 266.
s a d u c e u s , 208, 215, 218, 225, 311¬ "via m a r i s " , 78, (22) I s m a e l b e n F i a b i I I ( a l é 6 1 ) ,
(7) í o a z a r , filho de Boetos (4
316, 356-358, 475, 4 8 1 . v i d r o , 53. 141, 200, 210, 268, 312, 318.
a . C ) , 217.
S a n t o dos s a n t o s , 3 8 , 2 1 0 . (25) José C a b t (até 6 2 ) , 138.
v í t i m a s sacrificais, 7 0 , S2s, 146, (8) E l e a z a r , filho de Boetos (a
s a m a r i t a n o s , 369, 465-472. (24) A n a n . filho de A n a n ( 6 2 ) ,
152. V e r sacrifício, p a r t i r d e 4 a.C.) ( 2 6 7 ) .
salteadores, 48, 76. 220, 270, 312.
viúvas ( d i r e i t o ) , 189, 2 1 6 , 489. (9) Jesus, filho d e See (até 6
253. u n g u e n t o s , 17. (25) Jesus, filho d e D a m n e (cer-
d . C ) , 267. ca d e 62-63), 266.
s i c ó m o r o , 67. (10) A n á s (6-15), 140, 143, 2 1 7 .
Siioé, 17. 2 4 , 66. xisto, 20, 2 3 , 32. (26) Y o s h u a b e n G a m a l i e l (63
220, 2 2 3 , 267, 270, 2 7 1 .
simonía, 142. 222. cerca d e 6 5 ) , 139, 140, 142,
( I I ) I s m a e l , b e n Fiabi I {cerca
sinagoga, 95s. J00, 163, 4 9 1 . 153, 217, 219, 220, 2 9 8 .
Z a q u e u , 180. de 15-16), 210, 268.
S i n e d r i o , 7 1 , 107, 196, 2 1 5 , 2 4 8 , (27) M a t i a s , filho de Teófilo (65¬
zeíotas, 101, 105, 139, 169, 247, (12) Eleazar, filho d e A n á s (cer-
6 7 ) , 267.
ca d e 16-17), ( 2 6 7 ) .
(28) P i n h a s de H a b t a (67/81-70)
(13) S i m e a o , filho de K a m i t h (17¬
2 1 8 , 2 2 6 , 247, 2 6 6 , 2 8 2 , 2 9 9 .
1 8 ) , 2 1 5 , 220, 2 2 7 .
IV. O S E S C R I B A S D E JERUSALÉM ÍNDICE GERAL

Y o s é b e n Y o e z e r (séc. II a . C . ) , 177, 186, 196, 319, 3 2 9 , 344,


53, 318, 344, 346, 347. 356, 380, 4 2 4 . 450.
Y o s é b e n Y o h a n a n (see. I I a . C ) , S h a m a i (cerca de 20 a . C ) , 13,
5 Publicações modernas
57, 474. 161, 319, 4 2 5 .
Y o s h u a b e n P e r a h i a (cerca de 110 R a b b a n G a m a l i e l I (cerca de 30 PRIMEIRA PARTE
a . C ) . 107. d . C ) , 50, 150. 289, 2 9 9 , 322,
Yudaben Tabbai (cerca dc 90 328. 329. 344, 346, 3 7 1 .
A SITUAÇÃO ECONÔMICA
a . C ) , 107. S a u l o - P a u l o (cerca de 30 d . C . ) , DA CIDADE DE JERUSALÉM
S h i m e o n b e n S h e t a h (cerca d e 90 10, 95, 99, 107, 161, 3 1 7 , 322,
a . C ) . 107, 163, 182, 217, 299, 329, 344, 3 7 1 ,
319, 4 1 1 . Yoezer, comandante da fortaleza 10 C a p . I — As profissões
S h e m a y a (cerca de 50 a . C ) , 102, d o T e m p l o (41-44), 3 1 9 . 11 A. As profissões e m Jerusalém e sua organização
158, 160, 319, 322, 328. 344, Y o h a n a n , filho d a h a u r a n i t a (cer-
398. ca d e 50 d . C ) , 165, 173, 2 0 1 , 22 1. Profissões em geral
A b t a l y o n (cerca de 50 a . C ) , 157, 319, 345, 382, 426, 4 2 9 . 54 2 . O r g a n i z a ç ã o de profissões dedicadas à
160, 319, 328, 344. 398. N a h u m da M é d i a , 98, 320, 329,
O s b°ne Bethyra (cerca d e 30 428. construção do templo e para o culto
a . C ) , 329. H a n a n b . A b i s h a l o m , 100, 329. 42 B. Influência das características de Jerusalém
Baba b e n Buía (cerca de 20 a . C . ) , Y o h a n a n b e n G u d g c d a , chefe dos
72. levitas (cerca d e 50 d . C ) , 150,
sobre as profissões
HileI (cerca de 20 a . C ) , 18, 86. 233, 234. 2 3 5 . 290, 2 9 1 , 319,
96, 134, 159. 160, 163. 164. 165, 347. 47 C a p . II — O comércio
47 A. Informações sobre o comércio de Jerusalém
Exerceram sua atividade em Jerusalém
47 1. G e n e r a l i d a d e s
nos últimos anos antes de 70 d . C : 52 2 . O comércio com países distantes
S a d o c , s a c e r d o t e , 67, 104, 149, 160, A b b a J o s e p h b e n H a n i n , 268. 57 3 . O comércio c o m as regiões próximas
173, 2 0 1 , 265, 299, 306, 318, E l e a z a r ben S a d o c , s a c e r d o t e (nasc. 75 B. Influências das características de Jerusalém
331, 344, 382, 450. cerca de 35 d . C . ) . 19, 4 7 . 146.
.Rabban Y o h a n a n b e n Z a k k a i , 150, 147, 161, 163, 168, 173, 2 0 1 , sobre o comércio
154, 161, 165, 177, 187, 202, 246, 278, 282, 318, 3 3 7 , 382, 75 1. A situação da cidade
244, 302. 312, 318, 310, 322, 456.
345, 386, 422. A b b a S h a u l , filho d a b a t a n é i a , 47, 79 2. A importância política e religiosa da cidade
Rabban Shimeon I ben Gamaliel 161, 163, 268, 2 7 1 , 3 1 9 , 320,
I, 50-51, 62, 322, 3 3 1 . 344, 384. 426, 428. 85 C a p . I I I — O movimento de estrangeiros
Hananya, comandante do Templo, Rabban G a m a l i e l I I , 137, 164,
14, 149, 2 2 6 . 2 2 8 , 3 1 7 . 299, 344, 4 2 2 , 4 2 7 , 4 5 9 , 4 8 1 . 85 A. Influência do estrangeiro na cidade
85 1. Generalidades
E s t u d a r a m em Jerusalém cerca de 70 d . C :
90 2 . M o v i m e n t o d e estrangeiros provenientes
Eliézer b e n H y r k a n o s , s a c e r d o t e , Y o s h u a b e n H a n a n y a , l e v i t a , 136, de países distantes
419, 165, 299, 318, 332, 336, 150, 234, 290, 2 9 1 , 2 9 8 , 318, 103 3 . M o v i m e n t o d e estrangeiros provenientes
417, 419, 449, 452, 460, 467, 319, 332.
468, 469s, 4 8 1 , 490. S h i m e o n ben N h e t a n a e l , sacerdo- de regiões próximas
t e , 150, 299, 3 4 5 . 106 B. Influência das características de Jerusalém
sobre o m o v i m e n t o de estrangeiros
106 1. Situação da cidade
106 2. I m p o r t â n c i a política e religiosa da cidade
1.11 Excurso
SEGUNDA PARTE 224 B. Os chefes dos sacerdotes e os chefes dos levitas
A SITUAÇÃO SOCIAL 250 C. A aristocracia sacerdotal
252 Excurso
125 A. R I C O S E P O B R E S 272 D . Os sacerdotes " c o m u n s "
284 E. Os levitas (clerus niinor)
127 C a p . I — Os ricos
291 F. O caráter hereditário do sacerdócio
127 A. A corte
303 C a p . II — A nobreza leiga
134 B. A classe rica
134 1. O luxo 317 Cap. III —- O s escribas
333 Cap. IV — Apêndice: os fariseus
138 2 . O s representantes das classes ricas
144 C a p . II — A classe média SEGUNDA SEÇÃO

156 C a p . I I I — Os pobres A PRESERVAÇÃO DA PUREZA DO POVO *


157 A. Escravos e diaristas
363 Cap. V — Os grupos da comunidade do povo
159 B. A p a r t e da p o p u l a ç ã o a m p a r a d a por auxílio
público 368 C a p . VI — Os israelitas de origem pura
170 C a p . I V - — Fatores determinantes para o 368 A. A origem legítima
desenvolvimento das condições econômicas 379 B. Valor histórico das genealogias dos leigos
dos habitantes de Jerusalém p a r t i c u l a r m e n t e as de M a t e u s 1,1-17
170 A. A situação econômico-geográfica e Lucas 3,23-38
170 1. O custo de vida em tempo normal 396 C. Direitos cívicos do c i d a d ã o israelita
172 2 . O custo de vida em época de c a l a m i d a d e 403 Cap. VII — Profissões desprezíveis:
175 B. A situação política "Escravos" judeus
175 1. As taxas 403 A. Profissões desprezíveis
179 2. Lutas e saques
414 B. " E s c r a v o s " judeus
179 C. Religião e culto
179 1. A beneficência 420 Cap. V I I I — Israelitas ilegítimos
191 2. O m o v i m e n t o de peregrinos com fonte 420 A. Israelitas m a r c a d o s com m a n c h a leve
de rendas 320 1. Os descendentes ilegítimos dos sacerdotes
194 3 . Lucros tributados à cidade pelo culto 324 2. Os prosélitos
195 Excurso I 442 3 . Os escravos pagãos libertos
197 Excurso II 446 B. Israelitas m a r c a d o s por m a n c h a leve
205 D. A ALTA E A BAIXA CAMADA 446 1. Os bastardos
453 2. Escravos do templo, filhos de pai
PRIMEIRA SEÇÃO
desconhecido, crianças enjeitadas, eunucos
AS CLASSES A L T A S 455 Cap. I X — Os escravos pagãos
464 C a p . X —- Os samaritanos
207 Cap. I — O clero
473 C a p . X I —'- A_situação social da mulher
208 A. O sumo sacerdote

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