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ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

Cultura, liderança e recrutamento


em organizações religiosas – o caso
da Igreja Universal do Reino de Deus*

Culture, leadership and recruting in


religion organizations: the case of IURD

LEONILDO SILVEIRA CAMPOS**

RESUMO
As organizações religiosas fazem parte de uma área evita-
da por muitos pesquisadores. Primeiro, porque elas são
consideradas fonte de questiúnculas domésticas e de
informações irrelevantes para o conhecimento científico
das organizações; segundo, porque se sentem desenco-
rajados diante das peculiaridades institucionais e do pudor
clerical em expor publicamente seus bastidores. Trabalha-
mos aqui com dois pressupostos: primeiro, uma análise
desses fenômenos organizacionais pode contribuir para
uma avaliação mais ampla das organizações “profanas”,
também conhecidas como “lucrativas” ou “empresariais”.
Segundo, neste começo de século assistimos o surgimento

* Uma versão preliminar deste texto foi apresentada no 21º Enanpad, realizado em Rio das
Pedras, RJ, de 21 a 24 de abril de 1997, na área temática “Organizações”. Esta versão
definitiva incorpora modificações e acréscimos relacionados a algumas discussões
posteriores do tema e novas publicações sobre o objeto aqui enfocado.
** O autor é Mestre em Administração de Empresas e Doutor em Ciências da Religião pela
Universidade Metodista de São Paulo. Foi docente na Pós-Graduação em Administração
até 1999 e a partir dessa data trabalha no Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Religião, ministrando disciplinas na área de Sociologia das Organizações e Instituições
Religiosas. Escreveu Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento
neopentecostal e diversos artigos em revistas especializadas.

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CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

de empreendimentos religiosos governados pelas leis e


regras do mercado, que empregam o marketing e a oti-
mização de resultados, possibilitando assim tanto a
comparação como até a confusão entre religião e empresa,
territórios até então supostamente muito bem delimitados.
Palavras-chave: organizações religiosas; fenômenos
organizacionais; marketing; empreendedorismo.

ABSTRACT
The religious organizations are part of an area prevented for
many researchers, first, because they consider them source
of little domestic questions and irrelevant information for
the scientific knowledge of the organizations, and
entrepreneurship; second, because they felt discouraged to
go ahead in the institutional peculiarities and the clerical
modesty in displaying its embroidery frames in public. We
work here with two presupposes: an analysis of these
organizational phenomena can contribute for a better
evaluation of “the profane” organizations, also known as
“lucrative” or “entrepreneurial”. Second, in this first
decade of XXI century, we attend the “boom” of religious
enterprises governed by the laws and rules of the market, in
such a way, with the use of marketing for the optimization
of the results, thus making possible the comparison, as until,
the confusion between, religion and company, territories till
then, supposedly, very well delimited.
Key-words: religious organizations; organizational
phenomena; marketing; entrepreneurship.

INTRODUÇÃO

A inspiração para a pesquisa, da qual este texto é apenas uma


parte, veio de várias direções. Entre outras, em primeiro lugar, de
Max Weber (1981, 1991), que partindo de preocupações econômicas
acabou se interessando por organizações, éticas e valores religiosos,
especialmente na ligação entre economia e religião. Com isso Weber
transformou a sua incursão nessa área em uma fonte valiosa para o
estudo de todas as demais organizações. Houve uma segunda fonte
de inspiração vinda de textos de J. F. McCann (1993), R. P. Scherer
(1980, 1972) e Reed E. Nelson (1983, 1985, 1993) que analisaram

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ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

movimentos e seitas originárias dos Estados Unidos, que se


tornaram organizações multinacionais. Uma terceira motivação está
ligada à leitura de autores como Norman Shwachuck, Philip Kotler
et al. (1993) em um estudo sobre a aplicação do marketing às
organizações religiosas.
Um quarto estímulo para essa pesquisa se originou da leitura
de textos de Robert B. Ekelund et al. (1996), que analisaram a Igreja
Católica medieval como uma empresa econômica; e de escritos
reunidos por N. J. Demerath III, Peter Dobkin Hall, Terry Schmitt e
Rhys H. Williams (1998) sob o título Sacred Companies: Organizational
Aspects of Religion and Religious Aspects of Organizations. Esses
autores nos estimularam a pensar que, a despeito das alegadas
experiências de fé, “irredutíveis” aos olhares das ciências mais
positivas, os atores das organizações religiosas decidem com os pés
em terra, firmemente plantados no ambiente terreno, lócus de onde
retiram os argumentos racionais e fundamentam seus interesses e
estratégias gerenciais.
Do ponto de vista teórico buscamos apoio em alguns autores
norte-americanos, que têm abordado as organizações religiosas a partir
de metáforas oriundas do mercado ou do campo econômico, tais como:
“competição”, “demanda”, “trocas”, “produção”, “distribuição” e
“consumo” de “bens religiosos”. Em um excelente, mas pouco
conhecido texto, Lemuel Dourado Guerra (2003), da Universidade
Federal de Campina Grande, aponta para as origens dessa forma de
abordar o fenômeno religioso, na qual há insistência na abordagem da
economia dos bens simbólicos sob a ótica da idéia de mercado e da
escolha racional. Baseado nelas é que se dá o enraizamento do
compromisso individual com as modernas organizações religiosas.
Destaca Guerra a importância das obras de Peter Berger (1985), de
Rodney Stark (1985), R. Stark, Roger Finke e L. Iannaccone (1992,
1993). Recebemos também influências das teorias sociológicas de Pierre
Bourdieu (1982, 1983, 1990 e 2002) a respeito da formação dos campos
de produção simbólica, inclusive o campo religioso.
No entanto, como não poderia deixar de ser, pesquisas desse
tipo enfrentam dificuldades, porque os integrantes dessas organi-
zações atribuem as suas motivações a um mundo transcendental.
Por esse motivo, todos que tentam fazer da Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD) um objeto de estudo, encontram uma enorme
má vontade por parte de seus pastores e bispos. As negativas e
indisposições para com pesquisadores e jornalistas têm sido inter-

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pretadas pela imprensa como um sinal evidente de que há algo


escondido e escandaloso por trás dos bastidores. Sejam então, por
esses motivos ou não, a IURD se retrai, procurando esconder dos
olhares “profanos” aqueles “segredos” organizacionais, cuja preser-
vação é tida como fundamental para a sobrevivência organizacional
desse empreendimento, que em 2007 comemora o seu 30º aniver-
sário de fundação.
Na metade dos anos 90 entrevistamos o pastor José Cabral, 1
que até o final daquela década foi uma importante autoridade
iurdiana 2. Em um trecho de sua entrevista Cabral afirmou:

Aqui na Igreja Universal não há nada escondido. Não existe essa


idéia de que há especialistas de marketing por detrás de tudo. Tudo
isso é feito às claras, de uma forma simples e objetiva. Porém, existem
as coisas que eu considero ‘mistérios’, que não podem ser reveladas
a estranhos. Aliás, esse é um comportamento normal em qualquer
organização. Elas reservam para si próprias, coisas relacionadas com
o seu próprio interesse. Entre essas coisas não estão abertas para o
público as questões relacionadas à administração dos bens da Igreja.
Isso leva a imprensa secular a imaginar que grandes coisas estão
escondidas. Isso é fantasia. Não há nada escondido.

Ainda sobre a IURD, Cabral afirmou que “a Igreja Universal é


um grande movimento que não quer se tornar uma instituição e que
vai lutar sempre para isso, pelo menos enquanto o bispo Macedo
viver”. Para ele, o sonho de Edir Macedo, já naquela época dirigente
máximo do empreendimento, era o de manter a Igreja na categoria
de movimento, desestimulando assim o aparecimento de uma
burocracia eclesiástica que viesse gerar problemas. Porém, gostem

1
Essa entrevista que fizemos com o pastor J. Cabral, falecido alguns anos depois, aconteceu
no seu local de trabalho, Editora Gráfica Universal, no Rio de Janeiro, em 20/7/95. Na
época, Cabral, uma espécie de superintendente da casa publicadora da IURD, também era
visto como “teólogo” e “intelectual” da IURD, que não somente gerenciava a Editora mas
também estava pessoalmente envolvido com a redação dos livros de Edir Macedo.
2
Usamos aqui o termo “iurdiano” para designar os fiéis e membros da Igreja Universal do
Reino de Deus, fundada em 1977, no Rio de Janeiro, entre outros por Romildo R. Soares,
Roberto Augusto Lopes e Edir Macedo de Bezerra. Essa Igreja rapidamente cresceu e se
tornou um império religioso e mediático, com profundos vínculos com a política por
meio de seus representantes no Congresso Nacional. Analisamos em 1997 essa Religião-
Empresa (CAMPOS, 1997) e vários aspectos de seu crescimento foram estudados em Ari
Pedro Oro, André Corten e Jean-Pierre Dozon (2003).

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ou não os fundadores dos movimentos religiosos, todo eles, mais


cedo ou mais tarde, historicamente se defrontam com o dilema:
institucionalizar ou desaparecer. No entanto, o processo de institucio-
nalização, embora não seja objeto deste artigo, não pode ser deixado
de lado, dada a sua importância na criação contínua de uma
realidade social dinâmica e aberta a mudanças. Esse desafio para a
análise organizacional foi profundamente discutido nos textos
editados por Walter W. Powell e Paul J. DiMaggio (1991),
intitulados The new institutionalism in organizational analysis3.
Uma das formas de se interpretar as intenções das pessoas
envolvidas em uma organização é a observação dos propósitos,
explícitos ou não, que orientaram um determinado projeto desde o
seu início. P. Selznick (1971, p. 5) afirma sobre as organizações que
uma organização pode ser entendida como

um instrumento técnico para a mobilização das energias humanas


que visam uma finalidade já estabelecida. Atribuímos tarefas, dele-
gamos autoridade, encaminhamos as comunicações e encontramos
algum modo de coordenar tudo o que foi decidido e parcelado. Tudo
é formulado como um exercício de engenharia e subordinado aos
ideais de racionalidade e disciplina.

Mas, o que há, além dos ideais de racionalidade e que movem


uma organização? Que propósitos provocaram a fundação e diri-
giram o processo de institucionalização desta corporação religiosa
autodenominada “Igreja Universal do Reino de Deus”? Que filosofia
perpassa sua cultura organizacional gerada “em nome de Deus e do
Espírito Santo”? Que estilo e problemas administrativos brotam de
um movimento religioso ao se transformar em uma gigantesca
organização? Como se dá a multiplicação de objetivos, o estabele-
cimento de mecanismos de controle, o aparecimento de uma buro-
cracia e a separação entre os que “consomem” e os que “produzem”,
dentro desse espaço social? De que maneiras os recursos humanos,
destinados a manter e expandir o empreendimento desenhado pelos
seus fundadores, são atraídos e treinados? Podemos aceitar, sem

3
Partindo de uma análise de Walter Powell, Paul J. DiMaggio (1991) e de P. Selznick
(1971), Marcelo Marinho Aidar (2003) analisou em sua tese de doutoramento o papel
desempenhado pela institucionalização da gestão e do desempenho organizacional por
meio do “Prêmio Nacional de Qualidade”.

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maiores discussões, a afirmação de Edir Macedo (Folha Universal,


9.7.95) que: “A direção da obra [IURD] vem do Espírito Santo, não do
homem (...)” e que “o mundo é um campo de batalha”?
As respostas a tais perguntas passam por considerações que
envolvem um exame das estruturas internas e dos procedimentos
usuais dessa organização para a consecução dos objetivos assumi-
dos. Também convém observar que na construção de uma história
organizacional entram tanto elementos internos como externos.
Selzick (1971, p. 14) registra que uma “estrutura social (leia-se
cultura) é assim resultante de respostas desenvolvidas e padrões
sociais cristalizados” ao longo do tempo.
Adotamos neste texto o conceito de Parsons usado por Etzioni
(1974, p. 9): “as organizações são unidades sociais (...) inten-
cionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos
específicos”. Nesse sentido, as várias instâncias, divisões do tra-
balho específico, formas de exercício do poder e de comunicação,
maneiras de gerir os recursos humanos, são algumas das dimensões
resultantes do esforço mobilizado para a consecução dos objetivos
propostos e que, por isso mesmo, devem merecer a nossa atenção.
Por isso, na análise da IURD como organização religiosa, o
analista ganha em compreensão se levar em conta a sugestão da
teoria sistêmica de que não devemos subestimar as forças do am-
biente. Isso porque são elas que agem sobre as organizações,
inclusive nas religiosas, gerando uma espécie de script, que atuam
como orientadores da conduta dos atores sociais. O campo religioso,
no sentido dado por Bourdieu (1982, p. 27), com suas organizações,
instituições e agentes, principalmente com seus estilos de autoridade,
não é uma ilha. Muito pelo contrário, uma organização religiosa ou
um determinado campo, integra um cenário que, segundo E.Trist
(1976), faz parte de uma “ecologia organizacional”. Daí o acerto da
expressão de Amitai Etzioni (1974, p. 17): “quase todas as organiza-
ções são menos autônomas do que parecem, à primeira vista”.

A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E A PASSAGEM DE


MOVIMENTO À ORGANIZAÇÃO

As organizações de tipo “igreja” começam como movimento ou


“seita”, quando então predomina nelas um comportamento de recusa
das demais organizações ou da própria sociedade. Depois, progres-

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sivamente, devido ao êxito alcançado, elas se institucionalizam. Essa


terminologia foi empregada tanto por Weber como por seu parceiro
de estudos, Ernst Troeltsch (1865-1923) para se referirem aquele
estágio de desenvolvimento no qual um movimento religioso se
burocratiza, constituindo uma hierarquia religiosa, assumindo como
caráter distintivo um conjunto de doutrinas racionalizadas4.
A IURD teve o seu início na forma de um movimento religioso
autônomo, como uma pequena “seita” pentecostal que, tal como
dezenas de outras, diariamente surgem nas grandes cidades
brasileiras. Todavia, a sua transformação em uma organização
religiosa tipo “igreja”, embora tenha se dado rapidamente, ocorreu
em condições históricas e sociais, que devidamente analisadas,
podem iluminar muitas de suas atuais estratégias5.
Ora, no momento histórico de seu surgimento e desenvolvi-
mento, segunda metade dos anos 70, a situação social na cidade do
Rio de Janeiro apresentava os primeiros sinais de um processo de
deterioração da qualidade de vida e de esgarçamento do tecido
social. Esses fenômenos já vinham sendo observados desde a
transferência da capital federal para Brasília, em 1960. No entanto,
com a crise econômica dos anos 80 e 90, tais problemas sociais se
estenderiam para outras metrópoles brasileiras. Em conseqüência
disso, nos anos 60 e 70, houve no Rio de Janeiro uma migração em
massa da força de trabalho da antiga para a nova capital federal.
Essa mobilidade teria gerado lacunas sociais e a perda da im-
portância da cidade como capital política e administrativa do país.
A violência, o comércio de drogas e a criminalidade cresceram,
provocando uma diminuição no fluxo de turistas, a principal fonte
de renda da região.
Esse possível esvaziamento do Rio de Janeiro, e a instalação de
uma crise social e econômica em outras partes do Brasil acabaram
criando espaços para as massas experimentarem, inicialmente, um
processo de desencanto. Logo mais adiante esse sentimento de

4
Ernst Troeltsch foi um teólogo e filósofo alemão, amigo próximo de Max Weber. A sua
contribuição ao estudo sociológico das organizações religiosas se deu por intermédio de
seu livro The social teaching of the Christian Churches, de 1911 e Protestantism and Progress,
de 1912. A ênfase inicial nessa tipologia vem de Max Weber e seu texto clássico A ética
protestante e o espírito do capitalismo (1981).
5
Veja Ricardo Mariano (in ORO, 2004) a respeito da expansão pentecostal no Brasil e Ari
Pedro Oro (2004) sobre a “exportação” brasileira de religiões para o mundo. Ambos os
artigos tomam a IURD como objeto de análise.

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prostração teria gerado uma reação social propícia para o apare-


cimento de um quadro de reencantamento e de busca de sentido
para a vida 6 . Nesse aspecto também podemos apresentar como
reação ao desencantamento, o integrismo católico-romano, o funda-
mentalismo protestante, a opção pelas religiões afro-brasileiras, ao
lado da explosão de novos movimentos sincréticos, alguns pente-
costais, dos quais a Igreja de Edir Macedo é um bom exemplo7.
Politicamente também se desenvolveu no Rio de Janeiro
práticas políticas marcadas pelo renascimento do populismo. Nesse
contexto pontificaram durante algum tempo nomes como os de
Carlos Lacerda, Tenório Cavalcanti, Chagas Freitas, Miro Teixeira,
Leonel Brizola e, mais recentemente, Anthony Garotinho. Caminho
esse que talvez esteja inspirando o bispo Marcelo Crivela, sobrinho
e suposto herdeiro de Edir Macedo, hoje Senador da República e
candidato a governador do Rio de Janeiro nas eleições de 2006.
Toda essa situação sociocultural refletiu na explosão da demanda
por produtos simbólicos não ofertados pelas instituições religiosas
tradicionais, criando condições para o aparecimento de novos
movimentos religiosos. Por isso, essa demanda por bens religiosos
emigrou das organizações tradicionais para movimentos religiosos ou
semi-religiosos como New Age. Tais movimentos, por serem
alternativos e aparentemente distantes das religiões tradicionais,
parecem aos olhares dos fiéis serem mais dinâmicos, por isso mais
atraentes. A essa população, a IURD ofereceu novos espaços para
contato, ritos de estimulação e encorajamento, formas de canalização
do descontentamento e de minimização da baixa auto-estima.
Assim, o templo da IURD assumiu, ao lado da televisão, um
papel de centro distribuidor de bens simbólicos. O templo, como
espaço de um “espetáculo de fé”, tornou-se uma espécie de su-
permercado, onde os consumidores recolhem os bens simbólicos

6
“Reencantamento” é uma expressão empregada para designar a busca humana por um
mundo simbólico que lhe dá sentido e que esteja além do mundo natural ou físico. Na
literatura da sociologia da religião, “desencantamento” é um termo empregado por
Max Weber (ver PIERUCCI, 2003) sobre o uso do conceito de desencantamento do
mundo, por Weber, para designar o avanço da racionalização, da secularização e o
advento de uma sociedade em que novas formas de reencantamento poder acontecer,
agora longe da religião.
7
Dos 52 movimentos religiosos catalogados pelo ISER, no Censo Institucional Evangélico
(FERNANDES, 1992), 50% deles surgiram no Rio de Janeiro depois de 1960, incluindo-se aqui
a própria IURD e a sua meio-irmã, a Igreja Internacional da Graça de Deus.

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que lhes interessam, enquanto transitam pelos corredores internos,


como se estivessem no interior de um shopping center. Surge então
uma religião à la carte ou em sua versão brasileira, uma “religião
por quilo”. Nelas, novas formas de pagamento são usadas para esse
intercâmbio entre os fiéis e o especialista religioso8. Nesses templos
as pessoas encontram uma ideologia propulsora de ação social e, ao
mesmo tempo, discursos apropriados para a mistificação das causas
que teriam gerado tanta doença, pobreza e miséria. É perceptível
entre os seus freqüentadores a presença de uma difusa percepção de
que as coisas estão caminhando de mal a pior, que está em operação
um vertiginoso descenso socioeconômico até o “fundo do poço”.
Nessa situação acredita-se mais facilmente em uma intervenção
sobrenatural, que vem na forma de milagre alterar a trajetória em
direção ao abismo.
Para atender essa demanda, terreiros de Umbanda e de
Candomblé, centros kardecistas e templos pentecostais funcionam
como “pronto-socorro”, onde se trabalham com valores típicos da
cultura popular brasileira e de seus mitos no combate às aflições.
Nesses templos, um formidável processo sincrético se apresenta ao
analista, parecendo ser locais de magia, onde intermediários
culturais desempenham as funções de pajé, curandeiro, profeta,
sacerdote ou pregador da salvação divina. Em um desses espaços a
IURD retoma antigos argumentos que atribuem ao diabo e aos
maus espíritos a causalidade única por todos os males. Houve,
portanto, uma reintrodução da busca de instrumentos mágicos para
se lidar com os maus agouros, falta de sorte e outros sintomas de
“sofrimento” e de “carência social”.
Em outras grandes e médias cidades brasileiras, assim como
em São Paulo, a Igreja Universal encontrou uma classe média
baixa às voltas com os riscos do desemprego ou do subemprego,
que vem desde o início dos anos 80, período esse conhecido como
a “década perdida” da história econômica e social do país. Cura,
exorcismo e prosperidade se tornaram assim uma tríade, que viria
alicerçar a reorganização da vida de milhões de brasileiros sob a
bandeira da IURD.
Mas, mesmo assim, não se pode dizer que a Igreja Universal seja
portadora de uma mensagem utópica, centrada na transformação
radical das relações sociais geradoras dos infortúnios acima citados.
8
Cf. Reginaldo Prandi e Antonio F. Pierucci (1997).

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Para usarmos as categorias “ideologia” e “utopia”, empregadas por


Karl Mannheim (1976), a IURD prega uma mensagem ideológica,
circunscrita às estruturas da sociedade de consumo, isso porque ela
propõe um milênio terreno, atrelado ao ideal do mercado. Trata-se de
um processo ideológico, aqui entendido como um conjunto de “todas
aquelas idéias adotadas por ou para aqueles que exercem a auto-
ridade nas empresas econômicas e que buscam explicar e justificar
essa autoridade”, afirma Reinold Bendix (1962, p. 529).
Temos nos referido (CAMPOS, 1987) à posição ocupada pelos
atores nas organizações religiosas análogas a um campo de batalha
em que “anjos da Igreja” (eufemismo usado pelos protestantes para
designar seus pastores) praticam uns contra os outros atos de
guerra ou guerrilhas, em uma autêntica “batalha de anjos”. Por isso,
ganha destaque a expressão de Macedo: “o mundo é um campo de
batalha”, pois a sua Igreja nasce em um contexto de pluralidade e
de concorrência, onde é fundamental desenvolver estratégias
missiológicas de uma “guerra espiritual”. Entretanto, não é somente
o mundo, mas a própria organização religiosa dele e de outros
agasalham disputas pela ocupação de posições de mando. Buscam-
se assim na ideologia aquelas estruturas mentais apropriadas para
mascarar interesses pessoais, devidamente protegidas, é claro, por
um escudo protetor, um “dossel sagrado” que, segundo Peter
Berger (1985), é construído ao redor de algo apresentado como de
origem divina.
A essa altura, a IURD já é um empreendimento religioso dotado
de um dinamismo tal que se mostra capaz de se antepor às
estratégias de outras organizações e movimentos recém-organizados.
Conseqüentemente, a IURD, ao penetrar no campo religioso como o
brasileiro, desde há muito tempo em funcionamento, precisou travar
batalhas para desalojar concorrentes, até porque um de seus objetivos
era assumir um papel que fosse o mais hegemônico possível em sua
área de atuação. Sem dúvida, o seu sucesso está atrelado ao
pluralismo e à competitividade da pós-modernidade, ambiente
dentro do qual ela desenvolveu suas estratégias de marketing.
Assim, ao deixar de ser movimento e assumir uma postura de
organização, a IURD passou a enfrentar novos dilemas e a testar um
estilo administrativo centralizador, estruturado de cima para baixo,
ao redor de uma liderança carismática. Por sua vez, esse estilo,
nascido em condições sociais propícias, forçosamente tende a se

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ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

reestruturar para realizar seus objetivos dentro de novos contextos


não menos desafiadores. Mas, que reflexos todo esse clima impõe
sobre a reprodução e continuidade da mesma cultura organizacional
dos tempos das origens?

A CULTURA ORGANIZACIONAL DA
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Cultura organizacional é um conceito recente no vocabulário


dos analistas das organizações. As ciências sociais empregam o
termo cultura para se referir àquele conjunto de pressupostos
básicos, que um grupo desenvolveu ao longo de sua história para se
relacionar com o ambiente externo, motivar os membros, criar
formas corretas de agir, perceber o mundo, moldar e ensinar as
novas gerações (SHEIN, 1985). Marco Oliveira (1988, p. 33) usa uma
metáfora interessante ao considerar a cultura como sendo uma
espécie de “cheiro” que exala ou um “lubrificante” que atua em
uma determinada organização. Esse odor, segundo Maurice
Thevenet (1990, p. 20), “está em tudo aquilo que a empresa criou
para funcionar e assegurar a sua perenidade”.
É por isso que a passagem de movimento a organização afeta tão
intensamente a cultura de um determinado grupo, isto é a sua
visão, valores e objetivos para a ação. A rigor, nenhuma orga-
nização passa sem alterações por esse processo, sobretudo quando
a institucionalização coincide com a sucessão dos primeiros líderes
ou da substituição da geração de empreendedores iniciais. Embora
a influência primeira dos empreendedores continue forte e moldan-
do novas gerações, na maioria das vezes, ela tende a se diluir com
a passagem do tempo. Muitos anos depois deles não se tem mais
uma idéia nítida. Em outras palavras, os fundadores passam a fazer
parte muito mais do estoque idealizado, ou da mitologia de uma
organização. A lembrança e a memória deles são então depositadas
no imaginário social daquele grupo ou organização.
Mesmo assim, o impacto da personalidade do empreendedor é
importante para se estudar a cultura de quaisquer organizações.
Liliana Segnini (1988) estudou a influência que Amador Aguiar,
fundador do Bradesco, exerceu nessa organização bancária e em sua
cultura organizacional, mostrando que as organizações acumulam
histórias sobre o seu herói fundador. Assim, sobre o “herói

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CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

civilizador” projetam-se características míticas e sobre-humanas,


que tornam esse personagem, real ou inventado não importa, um
modelo exemplar de crença e conduta.
Para os seus seguidores, Edir Macedo é o pastor modelar, um
homem que mantém intimidade com Deus, um empresário de
sucesso. E que conseguiu expandir a sua Igreja a despeito de ter sido
perseguido, preso e humilhado. Aliás, esse sofrimento é visto como
mais uma marca de seu carisma, pois ele foi perseguido como
também o próprio Jesus Cristo o foi. Para eles, a biografia de Macedo
resume a trajetória de vida de milhares deles, até no trânsito
religioso, pois eles pensam que Macedo teria saído do catolicismo,
tido algumas experiências com a Umbanda carioca, até finalmente se
converter ao pentecostalismo na Igreja de Nova Vida nos anos 60.
Na mente do fiel da IURD está bem claro que o bispo Macedo é
alguém que “saiu do nada” antes de conseguir “muita coisa na vida”.
Agora, para eles, Macedo “humildemente” se dedica à pregação do
Evangelho de Jesus Cristo. O resultado desse tipo de raciocínio é que
de nada valem os argumentos divulgados pela mídia, atribuindo a
Macedo uma vida milionária, graças ao dinheiro dos fiéis. Pois, a
lógica dos enredados pelo herói sempre se repete diante de
afirmações como estas: “O bispo Macedo é um escolhido de Deus,
portanto merece viver bem”. Por sua vez, o herói civilizador
responde reafirmando sempre a sua humildade: “sou o estrume do
cavalo do bandido; um monte de nada” (Folha Universal, 31.12.95).
A presença de Edir Macedo na cultura organizacional iurdiana,
já no final da terceira década de organização, ainda é muito forte,
apesar do processo de institucionalização em andamento. É possível
também que essa presença venha a se tornar menos influente à
medida que subculturas começam a aparecer no interior do
empreendimento e a gerar subsistemas de valores e objetivos, bem
como novos heróis. Não analisamos aqui possíveis efeitos da
sucessão do empreendedor Macedo. Aparentemente, o bispo
Marcelo Crivela, filho de uma de suas irmãs, hoje Senador pelo
Estado do Rio de Janeiro, esteja sendo preparado para substituir
Macedo, que não tem filhos do sexo masculino.
Daí, a validade de perguntas como estas: até quando várias
sub-culturas organizacionais coexistirão sem maiores conflitos
dentro da Igreja Universal? Interessaria a esses grupos um herói
vivo e atuante como Macedo? Como se dá a manutenção de uma
cultura organizacional em um contexto de conflitos? Que papel a

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ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

repressão a líderes carismáticos emergentes representam na


manutenção desse consenso ao redor de Macedo? Que tarefas
desafiantes exigem de Macedo uma capacidade superior para
administrar a cultura de sua organização?
Para responder tais questões aceitamos a sugestão de Osmar
Carlos Bertero (1989, p. 29-43), ao afirmar que o estudo das orga-
nizações, inclusive as religiosas, não pode ser feito sem se levar em
conta as relações entre cultura organizacional e instrumentalização
do poder. Em outras palavras, a cultura também é uma forma de
luta pela hegemonia dentro de um determinado espaço social,
inclusive de uma Igreja. Por outro lado, uma cultura organizacional
nunca está pronta e acabada, mas está sempre sujeita às refor-
mulações que acontecem enquanto atores sociais constroem as suas
estratégias de liderança e dominação.
Maria Tereza Leme Fleury (1989, p. 19-24) faz referência às
formas usadas pelos antropólogos para descrever organizações
antigas e tribais, comparando-as com as organizações complexas.
Na descrição de uma determinada cultura, a Antropologia sugere
observar os ritos de passagem, de degradação, de confirmação, de
reprodução, formas de redução de conflito e, especialmente, os ritos
de integração. No entanto, o uso de uma etnografia semelhante para
o estudo da IURD implicaria na observação de sua história, do
processo de socialização dos novos membros, na verificação de sua
política de comunicação e de recursos humanos. Tudo isso exigiria
muito mais espaço do que os limites de um artigo.

LIDERANÇA, DOMINAÇÃO E CONFLITO NA IGREJA UNIVERSAL DO


REINO DE DEUS
A Igreja Universal do Reino de Deus nasceu da associação de
um pequeno grupo de pessoas oriundas de vários outros
movimentos pentecostais, como Romildo Ribeiro Soares, Roberto
Augusto Lopes e Edir Macedo de Bezerra, cujos processos
posteriores de ajustamento e luta pelo poder provocaram uma
definitiva separação entre eles9. Esse início de organização reproduz
9
O pentecostalismo surgiu como movimento religioso nos Estados Unidos, no início do
século XX. A sua inauguração se deu sob a liderança de um pastor protestante negro,
filho de ex-escravos, que se estabeleceu há 100 anos em um templo abandonado pelos
metodistas, na Azusa Street, na cidade de Los Angeles, em 1906. Desde então, o
movimento não somente foi crescendo, como também se fragmentou em milhares de
outros movimentos, com características próprias e tendências diversas.

114 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

o modelo sugerido por E. H. Schein (1985) para explicar como se dá


tal origem e ressaltar que o líder empreendedor é o verdadeiro
criador da cultura de uma organização, ele oferece as seguintes
etapas para o surgimento de uma organização: alguém teve a idéia
de um novo empreendimento, reuniu ao seu redor um pequeno
número de pessoas com a mesma visão. Algum tempo depois, após
alguns exames e análises, concluíram que valeria a pena arriscar e
trabalhar juntos, lançando as bases do empreendimento. Enquanto
isso, outras pessoas se juntaram ao grupo e a história começou.

a) Liderança e autoridade
A Igreja Universal crê ter sido edificada “sobre e pelo Espírito
Santo”, por intermédio de pastores “escolhidos por Deus” com a
missão de curar, exorcizar os demônios e promover uma vida
próspera para seus adeptos, ainda neste mundo. Esse
empreendimento se autodefine como uma Igreja “que não pára de
crescer em todo o mundo, superando inclusive as perseguições, pois
ela é dirigida pelo Espírito Santo” (Folha Universal, 14.5.95). Além do
mais, ela tem tanto o “Espírito Santo como líder” como também o
“bispo Macedo como administrador” (Folha Universal, 19.2.95).
Edir Macedo parece ter conseguido de seus liderados uma adesão
que se explica pela existência de uma liderança visionária, eficiente,
que produz resultados na vida dos fiéis. Nesse aspecto, Macedo seduz
os liderados e com eles mantém uma interação simbólica capaz de
provocar mudanças na conduta dos que se acercam dele. A esses
elementos podemos ainda acrescentar, seguindo a metáfora empregada
por Thomas Wood Jr (2001) – organizações espetaculares –, que a IURD
exige um tipo de liderança capaz de administrar a distribuição e
atribuição de sentido para a vida cotidiana de seus fiéis.
Foi assim que, em 1997, depois de uma longa conversa que
tivemos com o autor de Organizações Espetaculares, a respeito de Edir
Macedo e de sua forma de gestão dos negócios religiosos, que
surgiu uma bem apropriada expressão de Thomas Wood Jr: “escola
Macedo de gestão empresarial”. Para ele, a maneira “macediana” de
gerenciar uma organização hierocrática engloba formas modernas
de gerenciamento, que podem ser aplicadas com sucesso em quais-
quer outras organizações. Isso porque Macedo trabalha com nicho
de mercado, tem foco no cliente, pratica a learning organization, o
empowerment, a centralização, a produtividade, a remuneração por
resultados, o job-rotation e o treinamento on the job (2001, p. 113).

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 115


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

As relações entre o líder e seus liderados, praticadas por


Macedo, nos recolocam na trilha aberta por Weber (1991, p. 139-198)
ao propor três tipos ideais para explicar os diferentes estilos de
liderança e de dominação: dominação tradicional, carismática e
racional-legal. Segundo Weber (1991, p. 158-159), em muitos mo-
vimentos prevalece o carisma que é

uma qualidade pessoal considerada extra-cotidiana (...) em virtude


da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobre-
naturais, sobre-humanos (...) ou então se a toma como enviada por
Deus, como exemplar.

Mas, como todo acontecimento inusitado, o excepcional se


inclina a voltar a fazer parte da rotina. No entanto, ao acontecer isso
surge a necessidade de modificações na forma de liderança da
organização. R. Bendix (1986, p. 235) registrou que, quando os
seguidores conseguem aquilo que desejam do líder, “desenvolvem-
se regras e tradições que desnaturam o carisma que eles conscien-
temente pretendiam servir”. Essa situação antecipa modificações no
sistema de dominação originalmente estabelecido.
Nesse contexto, uma nova “constelação de interesses” emerge ao
lado de demandas oriundas interna ou externamente à organização
religiosa10. A partir de então, a alternativa para a organização não
desaparecer do mapa é tornar tradicional ou racional a forma de
dominação, surgindo assim o que Max Weber (1991, p. 162) chamou
de “rotinização” ou “despersonalização” do carisma. Por meio desse
processo, a instituição se fortalece e se torna menos vulnerável a
possíveis acidentes biográficos na vida do líder carismático ou de seus
empreendedores iniciais. Isso apareceu de uma maneira bem clara em
uma manchete de um número extra de a Folha Universal (31.12.94): “a
Igreja está acima do bispo”11. Essa “rotinização do carisma” implica na
transferência do carisma do empreendedor inicial para a organização.
10
Cf. Thomas O´Dea (1989). Nesse texto, ao escrever sobre os dilemas do processo de
institucionalização, o autor ressalta a fusão entre os anseios do ator religioso, o clérigo
por exemplo, e os desafios burocráticos da organização. É nesse ponto que o “profeta”
dá lugar ao “sacerdote” para se usar.
11
Essa manchete do jornal Folha Universal, um semanário com mais de dois milhões de
exemplares, foi estampada durante uma verdadeira guerra que fora mantida pela Rede
Globo de Televisão no final de 1995. Naquele contexto, pareceu aos responsáveis pelo
jornal que a liderança de Macedo poderia virar pó diante de tantas perseguições. O
raciocínio era este: “mesmo que destruam o líder não conseguirão atingir a Igreja”,
pressupondo que àquela altura a IURD já era maior que o líder fundador.

116 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Na IURD a passagem de movimento para organização religiosa de


sucesso provocou um esforço para manter a centralização do poder
na mão de um só líder: Edir Macedo. O primeiro round terminou
com a saída, três anos após a fundação da Igreja, de Romildo R.
Soares, que dizia discordar da forma autoritária de seu cunhado
Macedo gerenciar a instituição. Com a sua saída, ficaram apenas
dois dos fundadores mais influentes, Macedo e Roberto Augusto
Lopes que, em 1981, se consagraram mutuamente bispos. Lopes
fundou a Igreja em São Paulo e se elegeu deputado constituinte, em
1986. A partir daí, o espaço eclesiástico foi tornando-se pequeno
demais para uma dupla liderança carismática. A lógica do poder
tornou difícil a continuidade de Lopes, que voltou para a Igreja de
Nova Vida, no meio do exercício de seu mandato de deputado
federal. A partir de então, Macedo se tornou o único líder.
Em 1986, Macedo se mudou para os Estados Unidos e de lá
passou a administrar a Igreja. Até o final de 1993 a gerência da
IURD no Brasil se deu por meio de um intermediário de Macedo, o
então bispo Renato Suhett. Essa retirada estratégica do líder
carismático, atribuída ao cumprimento de uma “ordem divina”,
ajudou Macedo a se manter afastado dos desgastes diários de um
processo de institucionalização por ele administrado a distância.
No segundo semestre de 1993, Macedo consagrou mais bispos
e delegou parte de seu poder, até então absoluto ou compartilhado
com Renato Suhett, ao “colégio de bispos” (Folha Universal, 26.9.93).
A situação anterior, diante do crescimento do empreendimento,
gerava a possibilidade de uma perda do controle dos destinos da
Igreja por parte de Macedo. No entanto, a sua decisão reforça o que
escreveu Joaquim Wach (1990:187) sobre esse tipo de risco em que
a liderança, “eventualmente a autoridade carismática é parcialmente
ou totalmente eclipsada pela função eclesiástica”12.

12
Essa nova realidade não foi assimilada por Renato Suhett, que alguns meses depois se
despediu do Brasil e seguiu para os EUA. Em uma carta de despedida (Folha Universal,
21-11-93), Suhett afirmou que as novas funções a serem assumidas no exterior eram
decorrentes de ordens do Espírito Santo (sic). Assim, ele terminou a sua “carta de
despedida”: “vou fazer o mesmo trabalho, em Los Angeles, cumprir a carreira
administrativa que Deus nos deu”, antes solicitando “que as pessoas não se esqueçam
que as coisas são colocadas pelo Espírito Santo (...). E que toda mudança ocorre para o
bem do povo de Deus.”.

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 117


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

b) Sistema de dominação
Os mecanismos de dominação são necessários para a sobre-
vivência de qualquer tipo de organização. Reed Nelson (1985, 1993)
estudou os mecanismos colocados em prática pelos protestantes
tradicionais, pentecostais e até mesmo pelos mórmons norte-
americanos. Em vários de seus textos, Nelson mostrou que a do-
minação entre os protestantes históricos, presbiterianos, metodistas,
luteranos, congregacionais e outros, se dá por meio de um quadro
administrativo burocrático, no qual todas as manifestações de
carisma são eliminadas ou, no mínimo, abafadas. Entre eles pre-
valece a “autoridade institucional”, cuja competência se estabelece
por regras racionalmente elaboradas.
A chave para a compreensão das organizações eclesiásticas está
na maneira como se dão o estabelecimento e a manutenção de uma
divisão entre “clero” e “laicato”. Isso exige, na maioria das deno-
minações religiosas, uma qualificação e um treinamento profissional
para o exercício da função clerical.
Nesse contexto, os leigos buscam satisfazer, de forma religiosa
ou simbólica, as suas necessidades de sentido para a vida. Por sua
vez, o clero busca nas suas relações com os leigos o reconhecimento
e a remuneração. A sua segurança está atrelada à consecução das
metas da organização. Da fusão dessas duas dimensões surge a
percepção de firmeza e solidez nos rumos da organização. Essa
dimensão nos faz encarar o surgimento de uma burocracia eclesiás-
tica, com o seu rol de normas e regras – os cânones –, que dão ao
clérigo a sensação de nunca estar sozinho diante de seus superiores
hierárquicos, e que sempre tem a quem apelar, principalmente ao se
sentir injustiçado. Por sua vez, o comprometimento com a organi-
zação depende de uma ligação psicológica estável e profunda entre
o agente e a organização religiosa a qual o clérigo serve.
Em pesquisas, temos observado que o comprometimento, visto
como “um estado psicológico que caracteriza a ligação dos indi-
víduos à organização”, como caracteriza Armênio Rego (2003, p. 26),
sofre de sérias deficiências na IURD. Isso porque essa Igreja tem
tratado os pastores de uma forma tal que há um significativo
número de pastores abandonando as funções ministeriais. Isso
ocorre, principalmente, com os pastores mais velhos. Pois, a cons-
tante mobilidade, a instabilidade na ocupação, os riscos de ser
expulso da Igreja por falta de produtividade, acabam prejudicando
o comprometimento organizacional. É possível que o esquema

118 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

favoreça pastores jovens, solteiros ou casados sem filhos ou com


filhos abaixo da idade escolar. Mario Justino (1995) apontou em seu
livro, que é uma espécie de acerto de contas com a IURD, a exis-
tência de um clima de terrorismo implantado pelos bispos sobre os
pastores. Pois, estes exigiam cada vez mais produtividade dos
pastores. Caso não conseguissem atingir as cotas havia o risco da
demissão sumária, fundamentada às vezes, denunciava Justino, em
cartas forjadas com denúncias de práticas de atos incompatíveis à
condição de pastor.
Na IURD os pastores são treinados no próprio trabalho, não há
segurança alguma na carreira escolhida, há um clima competitivo
que reina entre eles, impedindo a formação de um espírito de corpo
ou até mesmo de um grupo unido pelos mesmos interesses e
reivindicações. Por outro lado, a grande qualidade, devido à
centralização da autoridade, é a obediência incontestável e a
lealdade às ordens de Edir Macedo. Sobre a sua autoridade, J.
Cabral nos afirmou:

A Igreja Universal está estruturada ao redor do bispo Macedo. Ele é


um homem que tem tudo nas mãos, dentro da Igreja. Ele vive e
respira há Igreja 24 horas por dia (...) todo mundo adora o bispo
Macedo. Ele dá uma ordem aqui e lá no extremo do Brasil, mesmo na
igreja (templo) mais distante, a ordem é conhecida e obedecida. A
unidade da IURD é garantida pela autoridade única e centralizada do
bispo Macedo. Assim temos uma Igreja que é mais unida do que a
própria Igreja Católica (...). Macedo é uma espécie de líder
autoritário, que pratica o ‘autoritarismo’ no bom sentido da palavra.

Nessa Igreja, os milhões de seguidores reconhecem tal auto-


ridade por causa dos resultados de sua atividade profética. Repe-
tindo Weber (1991, p. 159-160), “o reconhecimento é um dever”,
pois a sua ação simbólica traz “bem-estar aos dominados” continua-
mente, preenchendo-se assim uma das exigências para o sistema de
aprovação do carisma. Graças a tais estratégias há uma fase de
crescimento organizacional, mesmo que isso seja à custa da satis-
fação psíquica dos pastores. Segundo Al Ries e Jack Trout (1989, p.
191), teóricos do marketing de guerra,

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 119


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

as empresas que experimentam um crescimento rápido, normalmente


são centralizadas. E, logo após um grande sucesso, decidem
descentralizar (...) é quando o crescimento diminui.

Alguns desses problemas surgiram na IURD porque, com o


passar do tempo e devido ao rápido crescimento, o poder que
estava concentrado em Macedo passou a ser compartilhado, embora
ainda de forma desigual, com um corpo administrativo. Sobre isso
há casos na literatura sociológica em que, mais cedo ou mais tarde,
pessoas com inspiração aristocrática, que sempre se aproveitaram
do carisma do fundador, podem estabelecer uma tradição possível
de ser usada em um período posterior. A partir dessa ganância por
poder, elas procuram reivindicar poderes mais amplos ainda e até
alguma autonomia em relação ao próprio líder fundador.
Na década de 90, o quadro administrativo da IURD era
composto por alguns profissionais que atuavam nas empresas
ligadas à Igreja, como emissoras de rádio e televisão, banco, gráfica,
indústria de móveis etc. Porém, muitos deles insistiam que são total
e absolutamente leais a Macedo. Fragmentos de uma entrevista
(J.Cabral, 20.7.95) explicitam bem tal estratégia:

O bispo [Macedo] possui uma visão de coisas grandiosas a fazer.


Quando tomei conhecimento de alguns de seus planos, até pensei que
ele havia ficado paranóico. Mas ele não está! A sua visão é arrojada
e corajosa. Ele pensa em coisas grandes. As suas decisões são rápidas
e inquestionadas na Igreja. Ele falou e está falado (...). Ao me atribuir
um trabalho, ele me disse: ‘Fulano, você presta conta direto a mim de
seu trabalho e a ninguém mais’. O bispo é assim, quando ele manda
alguém fazer alguma coisa, ele deixa o indivíduo à vontade para
trabalhar. O limite é a sua vontade como dirigente máximo da Igreja.

Na verdade, o modelo administrativo de Macedo se comporta


como um pêndulo, que sai periodicamente do tipo carismático e se
aproxima dos modelos de dominação tradicional ou racional-legal.
Um exemplo disso está no fato de que, para Macedo, o seu
patrimônio se confunde com o da Igreja. Em entrevistas dadas por
ocasião da compra da Rede Record, perguntado sobre seus bens
particulares, o bispo assim se expressou:

120 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Não tenho dúvida. Materialmente, eu sou rico pela minha família (...).
Todos os meus bens são da igreja, tudo o que eu uso é da igreja (...)
uso o carro da Igreja (...) [a casa, o apartamento] está (sic) em nome
da igreja (...). Ganho muito bem, mas o meu ganho é revertido para
a igreja, eu devolvo à igreja (...) [O senhor não tem nenhum bem no
seu nome?] Só a Record (IstoÉ/Senhor, 20.6.90).
Tal modelo faz da IURD prisioneira de uma pessoa física, pois,
em sua expansão ela precisa de meios de comunicação de massa
funcionando para atrair clientela para os seus templos. Ora, se tal
sistema de comunicação se encontra majoritariamente em nome de
Macedo, é fácil concluirmos que o processo de institucionalização
tende a passar obrigatoriamente pela pessoa dele. Essa dependência
gera um círculo vicioso, pois Macedo controla a mídia enquanto
dela recebe permanente reforço para a manutenção de seu carisma
e essa mídia para sobreviver precisa reforçar o carisma de Macedo.
Também a quantidade de elogios a Macedo no jornal de sua
Igreja permite-nos suspeitar estar em funcionamento dentro dela
uma espécie de “engenharia simbólica”, voltada à fabricação do
líder e à manutenção de sua imagem pública. Isso nos faz recordar
os mecanismos de criação e manutenção do carisma de Luis XIV, na
França, cuja imagem de estadista foi construída e retocada por um
grupo de especialistas da pintura, arquitetura, filosofia, história etc.
conforme análise de Peter Burke (1994), em A fabricação do rei.

c) Poder e conflitos
A construção de um carisma, bem como a formulação dos
mecanismos de sua passagem para a organização, acontece num
cenário marcado por conflitos. Daí, porque Macedo percebe o
mundo como “um campo de batalha”. Mas, como evitar que as
guerras externas causem batalhas e desgastes internos entre os
membros de sua aguerrida organização? Talvez por isso esteja em
curso na Igreja Universal, aparentemente com o consentimento do
próprio Macedo, um processo de fortalecimento institucional e a
adoção de estratégias de transferência do seu carisma, e dos demais
pastores e bispos, para a instituição eclesiástica.
Edir Macedo experimentou, nos anos posteriores, um período
de relativa calma após os conflitos iniciais com os demais
empreendedores. Porém, com a expansão da Igreja nos anos 80 e a
aquisição de emissoras de rádio e de televisão, houve um abrupto

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 121


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

aumento dos cargos disponíveis e das oportunidades de trabalho


para milhares de obreiros, obreiras, pastores e bispos, dentro das
empresas ligadas à organização religiosa. Conseqüentemente,
multiplicaram-se os apetites de pastores e leigos, especialmente
depois que a própria IURD aumentou o número de bispos e efetuou
uma nova redistribuição territorial deles, em março de 199213.
Repetiu-se então, na IURD, a regra: quando há mais demanda
do que oferta de cargos uma ou outra manifestação de discordância
acaba por acontecer. Por exemplo, em 1991, Carlos Magno de
Miranda, frustrado em suas expectativas políticas, pois pretendia
sair candidato a deputado pela Igreja, abandonou a IURD,
provocando um grande barulho, cujo eco ainda se fez notar na
mídia no final de 1995. Aliás, o ano de 1995 foi marcado por vários
fatos: o escândalo do “chute à santa”; o acirramento dos conflitos
com a Rede Globo; a deserção do bispo Renato Suhett e a
publicação de um livro de denúncias de Mário Justino, um ex-
pastor, negro, aidético, viciado em drogas e homossexual, que
denunciou a Igreja por ter-lhe criado oportunidade de se drogar,
prostituir e contrair AIDS, ainda como pastor. Que dificuldades e
conflitos essas deserções tornaram manifestas?
Hoje, já no início da segunda metade da primeira década do
século XXI é possível observar que a força de Edir Macedo tem sido
suficiente para abafar descontentamentos individuais. Isso significa
que os mecanismos normativos e jurídicos têm se mostrado
produtivos. Assim, a proibição de pastores pregarem em outros
templos, a absorção de todo o tempo disponível deles no templo
local, o isolamento de cada um deles em suas respectivas áreas de
trabalho, ou o rodízio permanente, são normas que impedem a
formação de grupos de descontentes, neutralizando possíveis atos de
rebeldia, permitindo a individualização do conflito. Assim, a Igreja
Universal se tornou “uma associação hierocrática compulsória”
graças à sua “organização contínua”, sob a autoridade de um homem
só ou de um pequeno grupo que mantém autoritariamente o mono-
pólio dessa coerção (WEBER, 1991, p. 109-110). É por isso que a
obediência, conseguida por coerção ou persuasão, é o alicerce sobre
o qual repousa a IURD como instituição religiosa. A necessidade de
obediência foi exposta por Macedo (1991, p. 76) da seguinte forma:
13
Em abril de 1992 a Folha Universal publicou “A IURD não pára de crescer em todo o
mundo. Mais três Bispos consagrados: Paulo Roberto Gomes (Rio), Alfredo Paulo
(S.Paulo) e Valdemiro Santiago (Recife), juntando-se aos que se encontram no exterior.”.
Renato Suhete já não era o bispo único da IURD no Brasil.

122 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Ninguém tem o direito de se voltar contra a autoridade instituída por


Deus, pois é o próprio Deus que tem que tomar as devidas
providências para fazê-lo sair ou permanecer na condição de
autoridade espiritual (...). Ninguém deve nem pensar em se colocar
no lugar de Deus e procurar tomar providências contra o ungido do
Senhor! E muito menos tecer comentários negativos a respeito
daquela autoridade espiritual.

Todavia, até quando esses mecanismos controladores, que têm


se mostrado tão eficientes na manutenção da paz e unidade da
IURD, ou pelo menos na ocultação das desavenças do público, se
manterão eficientes? Que conseqüências tais conflitos trazem para
o recrutamento e treinamento de novos agentes?

AS FUNÇÕES DO PASTOR E O SEU RECRUTAMENTO NA IGREJA


UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Segundo Weber (1991, p. 310ss.), um profeta que consegue


êxito atrai seguidores permanentes, que se tornam responsáveis pela
cotidianização do sagrado e se organizam na forma de congregação.
Essa nova situação exige dirigentes encarregados da distribuição
dos bens simbólicos ou de salvação. A liderança não é, portanto,
uma opção que se coloca diante de uma congregação, mas uma
exigência da própria associação de crentes.
Assim surgiu no protestantismo a figura do pastor em substi-
tuição ao sacerdote católico14. O pentecostalismo, a despeito da ênfase
no carisma distribuído pela divindade, também herdou a função do
pastor/líder da comunidade ou dos fiéis que se reúnem em templo.
Ele sintetiza em si mesmo alguns papéis que Weber distribuía entre
vários líderes religiosos. O pastor pentecostal é profeta, sacerdote,
mago, curandeiro e outros mais. Entretanto, em todos os papéis ele
procura estabelecer as ligações do povo com a divindade.
Não existe, no entanto, uma só forma de exercer o ofício de
pastor no pentecostalismo. Por exemplo, na IURD o pastor ocupa o
status de “homem de Deus”. Como tal, ele atua em nível local,
gerenciando o culto e todas as atividades de um templo, coor-

14
Para uma análise sociológica do pastor no protestantismo tradicional veja: Jean-Paul
Willaime (1992) especialmente o capítulo 7, “Le pasteur comme type spécifique de clere”;
Profission:pasteur (1986).

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 123


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

denando a equipe de auxiliares, obreiros e obreiras, mantendo um


status de relações pública com os fiéis, sempre sob a observação
contínua de um bispo.
Além dessas atividades, o pastor na IURD deve atuar no palco-
altar como ator, pregar, curar, atender pessoas no local de culto.
Deve estar à disposição do setor de publicidade da Igreja,
administrar o templo, liderar o público durante o culto, distribuir os
sacramentos, contar as ofertas, elaborar mapas de freqüência aos
cultos, relatórios financeiros. Além do mais, tem outras tarefas
determinadas pelo “pastor regional” ou bispo e, acima de tudo,
deve estar disponível a ser transferido, a qualquer hora, para o
lugar que a Igreja (leia-se Edir Macedo) lhe determinar.
O Regimento Interno da IURD (s/d. p. 116-119) consagra aos
deveres e atribuições dos pastores seis longos artigos. O artigo 32 é
composto por dez parágrafos e dispõe sobre tudo o que o pastor não
pode fazer. Entre eles: exercer, sem autorização, atividades estranhas
ao ministério; realizar trabalhos em outras igrejas, sem prévio
consentimento do supervisor regional; apanhar vales do movimento
de sua Igreja; assumir responsabilidades financeiras além de suas
próprias condições; alugar ou vender imóveis da Igreja, bem como
comprar em seu nome, móveis ou imóveis, para uso da Igreja;
movimentar contas bancárias em seu nome com dinheiro da Igreja;
aceitar donativos de fiéis para si ou para seus familiares; pregar ou
ensinar doutrinas que contrariem os princípios da Igreja.
O recrutamento e treinamento dos líderes religiosos, sacerdotes,
pastores ou profetas é um dos temas mais desafiantes na análise
sociológica das organizações religiosas e sobre ele trabalhamos em
1987, quando analisamos o clero de uma denominação pertencente
ao protestantismo histórico 15 . A forma de recrutamento e a sua
explicação derivada do conceito de vocação permite a visualização
das maneiras pelas quais os determinismos sociais se tornam
“escolhas” pessoais. No discurso religioso, de um modo geral,
prevalecem as palavras “vocação” e “chamado divino” para
designar a “conversão” à carreira. Mas, de onde saem os pastores
iurdianos e, em que sentido, tais origens sociais determinam a forma
de comportamento e a visão de mundo desses agentes?

15
Sobre esse tema veja nosso artigo (CAMPOS, 2003) sobre o estudante de teologia que é
candidato a pastor: contribuições das ciências sociais para uma análise da formação do
futuro clero protestante brasileiro.

124 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Na IURD os pastores, quase na totalidade são homens, recru-


tados do corpo de obreiros. Alguns deles vêm de uma experiência
religiosa anterior de envolvimento com o kardecismo ou cultos afro-
brasileiros. Um grande número diz ter sido católico nominal e
poucos passaram pelo exercício do pastorado em outras deno-
minações religiosas. É comum afirmarem que se converteram em
um determinado dia, iniciando-se assim, durante essa experiência
matricial, uma atração irresistível para um trabalho religioso mais
ativo na Igreja: “ganhar almas para Cristo”.
A observação da postura corporal, linguagem, nível de racio-
cínio e aspirações expressas pelos pastores, indicam procederem das
camadas mais pobres da sociedade, espaço onde se localiza o celeiro
das vocações pastorais dessa Igreja, como também pudemos encon-
trar entre pastores das denominações protestantes tradicionais,
conforme nossa pesquisa na metade dos anos 80 (CAMPOS, 1987).
O polêmico testemunho de Mário Justino (1995, p. 59) lança
algumas pistas sobre as origens sociais de alguns desses pastores:
As primeiras reuniões de pastores, que Rodrigues [responsável na
época pelas igrejas da Bahia] realizou, foram basicamente uma
enxurrada de ameaças e baixarias. A mensagem foi curta e grossa: O
pastor que não atingisse a meta de oferta, que ele havia estipulado
levaria um chute no traseiro (prefiro usar esta palavra). Sabendo de
nossa origem humilde, ele prometeu fazer cada um de nós voltar à antiga
vida dura de pedreiros, garis e padeiros, caso não levantássemos o
dinheiro que ele queria (os grifos são nossos).
Mas, como a Igreja consegue transformar essa massa tão hetero-
gênea de homens em um conjunto harmônico em procedimentos,
maneiras e retórica, pelo menos aparentemente? Como foi dito
acima, o treinamento do futuro pastor acontece em um templo
determinado, e pouca ou nenhuma ênfase se dá a uma formação
escolar sistematizada, objeto de desconfiança de Edir Macedo (Folha
Universal, 5.6.94). Segundo ele:
A Igreja do Senhor Jesus Cristo hoje, é fruto do trabalho dos servos
do Espírito Santo feito nos discípulos formados ontem. A Igreja (...)
de amanhã vai depender do trabalho que está sendo executado pelos
servos do Espírito Santo nos discípulos que estão em formação hoje.
Essa formação de discípulos somente pode ser realizada pelos verdadeiros
discípulos (...) e não por um simples leigo, seguidor, pregador ou instrutor
teológico (os grifos são nossos).

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 125


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

Desta forma, é no cotidiano que o futuro pastor assimila, não


somente um universo simbólico, mas sobretudo as melhores
técnicas de como trabalhar o público, tirar uma boa coleta, dar um
bom conselho, realizar milagres e fazer exorcismo. Ora, a teoria
elaborada por Pierre Bourdieu (1983, p. 94; 1990, p. 21-98) sobre o
habitus lança algumas luzes sobre as maneiras pelas quais se dá a
construção de uma espécie de ponte entre indivíduo e organização.
Para ele, “habitus são sistemas de disposições adquiridas pela
aprendizagem implícita ou explícita, que funciona como um sistema
de esquemas geradores (...)”. Dentro desse raciocínio, é possível
afirmar que é graças ao processo de aprendizagem que os agentes
sociais interiorizam os motivos geradores de suas respectivas ações.
Na IURD, a inculcação do habitus no pastor não resulta do fato
dele ter passado por uma instituição escolar legítima, embora
alguns tenham cursado algum curso rápido dentro da própria
Igreja. Dessa forma, ao contrário de outras igrejas, o candidato ao
pastorado não se despoja de suas raízes sócio-culturais que
motivaram a sua vida até recentemente, garantindo assim que o
processo de treinamento não ocorra por ruptura e sim por
continuidade. Conseqüentemente, o pastor assume papéis que
estiveram anteriormente em alta, mas ele os assume dentro de um
novo contexto, agora reformulados, tais como xamã, exorcista, pai-
de-santo etc.
Observamos também que quase todos os pastores iurdianos
experimentaram em sua vida pregressa episódios de falência social
múltipla, pois se não foram empregados subalternos, tiveram
envolvimento com drogas, criminalidade ou transitaram por
inúmeras religiões antes de aportarem na IURD. Todavia, a
programação do novo papel exige a combinação das exigências da
organização religiosa, das expectativas do público e das
necessidades pessoais e familiares de cada um. O pastor da IURD
experimenta na carne o dilema do ator que, no ato cênico, está entre
o público e o autor do roteiro dramatúrgico. É dentro dessa estreita
faixa que ele terá de atuar com flexibilidade, até para criar novas
soluções e dirigir teatralmente o ritual do culto como se ele fosse o
diretor do evento. Por outro lado, cada pastor tem suas expectativas
próprias. O problema é como conciliar na sua atuação tantas
demandas. Daí, a quantidade de deserções que pudemos observar,
porém, não quantificar. A deserção é temida porque significa a
volta às origens, e a carreira pastoral, por mais problemas que

126 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

tenha, ainda é melhor, se comparada com a situação que existia nas


origens desses pastores, conforme escrito de Mario Justino.
Há também o desafio da expansão da IURD nos Estados
Unidos, África e Europa, crescimento esse desigual, mas que tem
criado problemas de caráter cultural e organizacional para a sua
direção. Principalmente porque falta aos seus quadros de obreiros
uma formação social, cultural e lingüística apropriada para competir
com experts locais. No dizer de Stephan H. Rhinesmith (1996), quem
trabalha em contexto de globalização deve saber no mínimo gerir a
competitividade, a complexidade, a adaptabilidade, a incerteza e a
integração, até porque isso faz parte de um quadro mental
apropriado à globalização.
Textos e matérias publicados no jornal oficial da Igreja
demonstram a incapacidade desses “pastores-missionários” de
compreenderem as culturas que os acolhem, a não ser por meio do
prisma da demonização de suas práticas religiosas. Além do mais,
o pastor iurdiano em outras terras, tal como executivos de
multinacionais analisados por Max Pagés et al. (1987, p. 73-94, 119-
124), guardando-se as devidas proporções, é sempre um expatriado,
um indivíduo desterritorializado, sozinho diante da organização
onipotente e dona de sua carreira e destino. Pelo que temos
observado a falta aos pastores da IURD, que são missionários fora
do Brasil, aquela percepção da alteridade exigida pelas organizações
de quem atua no exterior, para se usar aqui a linguagem e as
contribuições de Allain Joly (1992).
Essas dificuldades de adaptação têm acontecido com freqüência
no pastoreio dos florescentes templos iurdianos na África do Sul,
Angola, Moçambique e em outros países africanos. Pastores
enviados para lá, saídos do centro-sul brasileiro, não têm se
adaptado com facilidade à dura realidade africana. A IURD
experimentou com sucesso pastores de origem nordestina, que
talvez em função da cultura menos urbana e industrializada do
nordeste brasileiro, têm dado melhores resultados nos campos
missionários da África.
Há também reclamações de que além de todas as demais
exigências para o exercício do pastorado na IURD, acrescenta-se
ainda a obrigatoriedade da vasectomia do pastor antes da viagem
missionária para o exterior. É possível que isso seja um artifício com
o objetivo de diminuir as despesas da Igreja com o remanejamento
e sustento dos pastores fora do país. Assim como pode ser uma

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 127


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

forma de aumentar o grau de comprometimento do pastor com a


organização, dentro de um esquema semelhante que levou a Igreja
Católica a adotar o celibato para o seu clero. A IURD, assim como
outras instituições estudadas por Lewis Coser (1978), são
instituições vorazes, que desejam levar o comprometimento do
agente com elas até as últimas conseqüências.
Como resultado de tantas pressões, a deserção do pastorado é
um caminho procurado por muitos pastores, o que exige da IURD
que se alargue a porta de entrada para o ministério pastoral.
Verificamos que há muitos casos de abandono do pastorado devido
às tradicionais “tentações” do sexo, dinheiro e disputa de poder.
Mas, poucos pastores deixaram a Igreja para montar seus próprios
“negócios” religiosos, e os que fizeram isso nem sempre têm
demonstrado muito sucesso. Mesmo assim têm surgido “igrejas
clones” da IURD, que usam o mesmo discurso, estratégias e
metodologias de trabalho. Em São Paulo, na Avenida Celso Garcia,
bem próximo do templo da IURD (Avenida Celso Garcia, 399) há o
templo da “Igreja Mundial do Poder de Deus”, fundada por um
pastor dissidente de Macedo, Valdemiro Santiago, que também tem
um programa de televisão nas manhãs de sábado.
Um outro dissidente dos anos 90 é Carlos Magno Miranda, que
hoje possui apenas um templo em Recife, com algumas centenas de
membros, isso mais de dez anos após o abandono da IURD. Na
metade dos anos 90, Miranda foi acusado de fazer chantagem para
conseguir dinheiro da IURD ou da mídia, vendendo fitas de vídeos
de “alto interesse jornalístico”, segundo a Rede Globo (Folha de
S.Paulo, 7.1.96). Essas fitas acabaram se transformando em um
grande “escândalo nacional”, em dezembro de 1995.
Nesse conjunto de cisões, talvez somente a Igreja Internacional
da Graça de Deus, organizada em 1980 pelo cunhado de Edir
Macedo e ex-fundador da IURD, missionário Romildo R. Soares,
teve maior sucesso. R. R. Soares, como é conhecido, controla menos
de mil templos no Brasil e pouquíssimos no exterior. Porém, a sua
presença na mídia tem crescido ultimamente, ocupando um horário
nobre, todas as noites na Rede Bandeirantes, tendo também em
UHF a sua própria emissora de televisão, a RIT – Rede Internacional
de Televisão, cujos programas principais são legendados em inglês,
dublados e transmitidos para o exterior. R. R. Soares está lançando
um sistema de televisão a cabo para evangélicos com 36 canais, e
com preço bem compatível (cerca de R$ 50,00 por mês).

128 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

A IURD tem enfrentado também algumas dificuldades com a


mão de obra feminina. Há notícias de que apenas algumas pastoras
estão na ativa. Em alguns lugares e época houve maior abertura
para a participação de mulheres no pastorado, especialmente nos
primeiros tempos da Igreja. Atualmente, prevalece uma cultura
machista que limita a participação das mulheres somente como
“obreiras”, uma auxiliar voluntária do pastor. Essas mulheres, ao
lado dos “obreiros”, são pessoas indispensáveis na coreografia
religiosa iurdiana e no atendimento inicial das pessoas que
procuram seus templos.
A retórica da Igreja, na palavra do pastor Sidney Marques (TV
Record, 9.6.96), tenta convencer aos que permanecem sobre o perigo
da deserção:

A comunhão com Deus é a única coisa que impede o diabo de lhe


destruir. De nada adiantou tudo o que você fez na Igreja, quando
você não tiver mais fidelidade. Pode ser pastor, obreiro ou qualquer
outra coisa. Ele não é mais fiel a Deus (...). Você quando é firme, não
sai da Igreja, mesmo que saia um pastor ou até um bispo (...)
perseverança é noventa por cento da fé.

Nesse caso, como ocorre em todas as organizações religiosas, a


obediência à hierarquia 16 institucional se torna a visualização e a
exteriorização de uma fidelidade incondicional à divindade. É certo
que toda ênfase na burocracia e na hierarquia provoca o surgimento
de rígidos mecanismos de controle social, núcleos de poder, que
acabam por optar nos momentos de crise pela inquisição,
perseguição dos dissidentes e exclusão dos diferentes.

OS DESAFIOS ORGANIZACIONAIS DA EXPANSÃO INTERNACIONAL DA


IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS

Que conseqüências o rápido processo de crescimento no Brasil,


na América Latina e no mundo todo, pode provocar internamente
em uma organização religiosa e, externamente, no campo religioso,
palco de sua atuação?

16
Observem que na raiz da palavra “hierarquia” está o termo grego “hieros”, usado para
transmitir a noção de santo, de divindade ou de manifestação do sagrado na vida humana.
O poder, religioso ou não, tem assim uma fundamentação ou uma legitimação divina.

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 129


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

No Brasil, os números do crescimento Universal são


contraditórios e variam de uma fonte para outra. Por exemplo: a
revista Veja (17.7.91) atribuía, no ano da compra da Record, l,5
milhão de seguidores e um total de 2,7 mil pastores, enquanto a
revista IstoÉ (17.11.93) informava, dois anos depois, que era cinco
milhões o número de membros e 1.435 o de pastores. Em 9.8.95 a
Veja publicava outros números: três milhões de seguidores, dois mil
templos no Brasil e sete mil pastores. Essa desinformação é
retroalimentada pelo ufanismo da Igreja, estampado nas manchetes
de seu jornal que alardeiam: “Minas e Pará ganham novas igrejas”;
“em S. José dos Campos, a maior IURD da América Latina”; “em
Salvador, a Catedral da Fé” etc. (Folha Universal, 25.2.96, 26.5.96).
Tomando-se esses números, mesmo como referência limitada,
podemos perceber que a quantidade de templos iurdianos no Brasil
pulou de 1435 (Veja, 93) ou 1876 (IstoÉ, 94) para 2014 (Jornal da
Tarde, 95), o que representa um crescimento de 40,34% na estimativa
desse período. Se, porém, tomarmos o dado do Instituto Evangélico
de Pesquisa, que calculava em 800 os templos da IURD em 1989,
essa porcentagem seria muito maior.
A expansão externa começou na metade dos anos 80, época em
que os primeiros templos foram inaugurados no Paraguai (1985) e
Estados Unidos (1987). O crescimento da Igreja Universal, fora de
seu país de origem, tem sido objeto de matérias em inúmeras
publicações. A imprensa diz estar havendo uma “expansão do
império universal”, “invasão dos países africanos”, “fé sem
fronteiras” ou uma nova “multinacional da fé”. Algumas manchetes
publicadas na Folha Universal (31.12.95; 17.12.95; 25.11.95; 28.1.96;
19.3.95; 5.3.95) expressam o grau de euforia e ufanismo provocados
por tais avanços:

A Universal se agiganta em todos os continentes; O coração da África


é vermelho e tem no seu interior uma pombinha branca [símbolo da
Igreja]; Madson Square Garden se transformou num grande templo
onde milhares de pessoas foram abençoadas e curadas; A IURD não
pára de crescer na França; Templo em Joanesburgo com instalações
para 5 mil; Apesar das perseguições a IURD cresce em Portugal.

Podemos mensurar a expansão da IURD em vários países e


continentes, durante o decênio 1985-1995, da seguinte forma, em

130 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

número de templos e porcentagem deles do total de 236: América


Latina, 79 templos (33,4%); África, 52 (22,0%); América do Norte, 24
(10,2%); Ásia, 8 (3,5%); Europa, 73 (30,9%). Esses números indicam
que, nesse período, foram abertos no exterior l,96 templos/ mês,
enquanto no Brasil, desde 1977, a Igreja Universal consagrou 2014
templos; uma média de 9,32 templos/mês 17.
Contudo, o crescimento se dá mais em países cuja cultura
facilita o sincretismo da matriz original: protestantismo pentecostal,
catolicismo popular, religiões africanas e kardecismo. Na edição da
Folha Universal, de 9-7-2006, e nas demais próximas a essa data,
encontramos uma página dedicada à expansão internacional da
IURD. Naquele número, a manchete era: “Mulheres consagradas em
Angola”. Cabe observar que em Angola e Moçambique, a IURD tem
mantido um significativo crescimento. Em ambos os países já há nas
capitais um suntuoso templo intitulado “Catedral da Fé” e uma
presença forte nos meios de comunicação de massa com suas
próprias emissoras de rádio ou de televisão 18.
Mesmo assim, os números que coletamos na segunda metade
dos anos 90 não informam tudo a esse respeito, porque alguns
países concentravam um elevado número de templos iurdianos, o
que provocava distorções na média por regiões 19. Por exemplo, a
Argentina possuía 27,8% dos templos abertos na América Latina;
Portugal, 72,6% dos templos europeus e 30,9% da totalidade dos
templos da Igreja Universal no exterior; a África do Sul, 32,6% e os
países africanos de fala portuguesa, 36,5%, de um total de 52
templos instalados naquele continente.
Sobre o tipo de seguidores existentes, na maioria desses países,
temos informações que os fiéis da IURD são emigrantes luso-

17
Números tirados das revistas Veja (19-4-95); IstoÉ (14-12-94) e dos jornais Correio
Brasiliense (25-3-94) e Jornal da Tarde (4-8-95). O Censo do IBGE de 1991 apontou para
apenas 269 mil fiéis. Já o Censo de 2000 afirma que a IURD passou para 2,1 milhões de
fiéis, totalizando somente ela, 12% dos pentecostais brasileiros.
18
Sobre o crescimento da IURD em várias partes do mundo, sugerimos o exame da
coletânea organizada por Ari Pedro Oro, André Corten e Jean-Pierre Dozon (2003).
19
Esses números apresentados referem-se a templos que a IURD tinha há dez anos. Não
temos dados recentes. Porém, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e
outras capitais brasileiras, estão surgindo as “Catedrais da Fé”, que são mega-templos
com capacidade para mais de dez mil pessoas. Em compensação, pequenos tempos
(talvez onerosos e pouco produtivos) de periferias, estão sendo fechados para que as
pessoas participem mais das cerimônias religiosas nos mega-templos.

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 131


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

brasileiros, latino-americanos ou de outras nacionalidades e muitos


deles vivem uma situação imigratória irregular. A IURD, habituada
a atender os excluídos sociais no Brasil, exporta seu know how,
criando “ilhas de reencantamento” entre imigrantes pertencentes às
classes médias e pobres nas grandes metrópoles mundiais. Como se
trata de uma identificação com parcelas relativamente “invisíveis”
da população desses países, a própria IURD acaba incorporando um
pouco dessa invisibilidade organizacional.
Essa expansão gerou problemas quanto aos recursos humanos,
agravados pelo fato de que, aparentemente, Edir Macedo não vê
com bons olhos o emprego de pastores nativos para administrar
essas igrejas, talvez por temer riscos de futura desagregação do
empreendimento. Isso explica porque, pelo menos para os postos
mais importantes como pastorado efetivo dos maiores templos,
administração dos jornais, estações de rádio e programas de
televisão, assim como para o bispado, têm-se nomeado brasileiros.
Por outro lado, emprega-se o rodízio contínuo de pastores e a
estratégia de desterritorialização dos recursos humanos,
aumentando-se assim a dependência dos pastores em relação à
organização, diminuindo-se significativamente a sua independência
na construção de sua própria carreira.
A IURD optou por um modelo episcopal de governo, e tem um
bispo responsável em cada país, região ou grupo de templos.
Porém, a manutenção dessa unidade organizacional exige, com
certeza, uma notável capacidade de administrar eficientemente as
demandas originárias de culturas diferentes, bem como de
tendências conflitantes, isso se ela quiser evitar a fragmentação, um
fenômeno bastante comum nos meios pentecostais e protestantes.
Possivelmente, uma maior dose de liberdade e de flexibilização
doutrinária, ritual e pastoral, poderão atenuar os efeitos da
centralização administrativa. Porém, isso pode aumentar, por outro
lado, o risco das cisões.
Há também outras dificuldades para a Igreja Universal fora do
Brasil. Por exemplo, a IURD somente se dá bem em um contexto no
qual ela pode localizar, visualizar inimigos, declarando-lhes uma
“guerra santa”. Entretanto, ao fazer isso, essa Igreja se torna refém
de sua própria cultura e estratégias. Até porque, para criar uma
identidade específica, ela tende a se isolar e a batalhar em muitas
frentes. Isso acaba provocando alterações na configuração do campo
religioso, que provocarão em longo prazo um esvaziamento de suas

132 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

atuais estratégias de crescimento. Em outras palavras, ao introduzir


novas estratégias, uma organização pode se tornar vítima de seu
próprio feitiço.
Por outro lado, a IURD também poderá sofrer as conseqüências
do processo de racionalização e de institucionalização desencadeado
por ela mesma. Recordamos aqui de Bourdieu (1982, p. 60), ao
afirmar que qualquer “seita que alcança êxito tende a tornar-se Igreja,
depositária e guardiã de uma ortodoxia, identificada com as suas
hierarquias e seus dogmas, e, por essa razão, fadada a suscitar uma
nova reforma”. Até o momento, as rígidas medidas de segurança
contra “carismas” perigosos têm sido refreadas com sucesso pela
hierarquia centralizada em Edir Macedo. Resta perguntar: até quando
esses mecanismos de controle funcionarão a contento?
A introdução de reformas internas nas organizações religiosas
esbarra em situações e privilégios cristalizados e na conseqüente
distribuição interna de poder. Macedo mantém os leigos afastados
da gestão dos bens simbólicos e materiais acumulados. A
manipulação do capital simbólico acumulado está reservada a uma
limitada oligarquia, o que certamente dificulta até mesmo o
questionamento interno das diretrizes adotadas e das decisões sobre
o destino desses bens. Por outro lado, o rígido controle estabelecido
pelo líder carismático sobre o conjunto da organização poderá levá-
la a uma perda do dinamismo e da flexibilidade, elementos
indispensáveis a uma religião que procura colocar em primeiro
lugar as necessidades de um mercado devidamente segmentado.
Resta saber até quando o clima sociocultural estimulará o rápido
crescimento de empreendimentos como o da Igreja Universal do
Reino de Deus, cuja mola mestra de expansão repousa em
estratégias de comunicação e marketing, como temos demonstrado
em outras publicações (COBRA, BORGES; CAMPOS, 1996).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos neste texto que a IURD nos permite observar um


fenômeno muito peculiar de mistura de religião com comércio, de
negócios com fé, de administração de organizações empresariais
lucrativas (ou só aparentemente não-lucrativas) com movimentos
religiosos. Consideramos ser essa movimentação e convergência
sociocultural muito típica do capitalismo mais avançado. Porque
nele as lógicas empresariais e capitalistas acabaram por invadir um

Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006 133


ORGANIZAÇÕES EM CONTEXTO

espaço até então considerado monopólio inacessível ao comércio, o


território sagrado, o campo da fé. Com isso, o capitalismo permite
que o mercado se torne, com toda a sua força, um agente de
secularização cultural. As forças culturais da modernidade e da pós-
modernidade oferecem, portanto, à própria religião cristã, uma
espécie de efeito bumerangue, fazendo retornar a religião àquilo
que sob o impacto da religião foi gerado.
Essas transformações afetam tanto o processo de institucio-
nalização das novas religiões como o desequilíbrio das organizações
religiosas mais antigas. Há no final deste artigo a questão da
formação do clero ou dos especialistas colocados a serviço da
manutenção ou da continuidade de uma determinada religião
organizada. Isso nos levou a uma discussão sobre os processos de
treinamento e de formação de pastores de todas as igrejas que
operam no Brasil, neste momento. Por sua vez, a IURD reagiu,
chegando ao paroxismo de simplesmente optar pela dispensa de
não manter uma formação teológica regular de seus pastores. Aliás,
como afirmou Edir Macedo para o pastor J. Cabral, que nos deu
entrevista em 1995, é na companhia de outros pastores mais
experimentados que um pastor neófito (pastor auxiliar) tem todos
os elementos para aprender a tirar uma boa coleta, pedir a Deus por
um milagre e realizar um exorcismo. Para que então uma formação
teológica com aulas de hebraico, grego, exegese e hermenêutica se
algumas aulas de práticas de oratória, etiqueta e gerência financeira
de um templo bastam20?
Em uma pesquisa realizada em 2004, o psicólogo Rogério
Rodrigo da Silva, da UNB, demonstrou que enquanto entre os
evangélicos históricos, o percentual de pastores com mestrado e
doutorado é de 17%, nos ramos neopentecostais esse número baixa
para 5%. Juliana Linhares 21, em sua matéria, afirma que na Igreja
Católica a formação de um padre leva dez anos e inclui dois
diplomas de graduação, um em teologia e outro em um curso na
área de humanas. Por isso, essa Igreja forma somente 900 padres
por ano. Enquanto isso, um único centro pentecostal de formação de

20
A esse respeito, a revista Veja, n. 1964, ano 39, n. 27, de 12-7-06 publicou uma matéria de
capa intitulada “Os novos pastores”, da qual participamos ajudando com informações.
Nessa reportagem foi enfatizado que “com menos ênfase no sobrenatural e mais
investimento em técnicas de auto-ajuda, a nova geração de pregadores evangélicos
multiplica o rebanho protestante e aumenta a sua penetração na classe média”.
21
Juliana Linhares, revista Veja, op. cit.

134 Organizações em contexto, Ano 2, n. 3, junho 2006


CULTURA , LIDERANÇA E RECRUTAMENTO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

pastores, o Instituto Bíblico das Assembléias de Deus, forma 210


novos pastores por ano. O uso da psicologia, do marketing, da
mídia, tem diminuído o tempo de formação dos futuros dirigentes
de seus milhares de templos no país. Para esse novo estilo de
pastor, exigem-se novas formas de recrutamento mas, princi-
palmente outras maneiras de selecionar os recursos humanos para
o funcionamento das organizações religiosas do tipo igreja-
empreendimento-empresarial.

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Recebido para publicação em: 06/05/06


Aceito em: 26/05/06

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