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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0000749-25.2014.8.05.0256


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL SA

:
Recorrido(s) : HELDER MASCARENHAS DE SOUZA
:
Origem : 1ª VARA JUIZADOS ESPECIAIS DE TEIXEIRA DE
FREITAS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. BANCO.


COBRANÇA DE TARIFA BANCÁRIA DE MANUTENÇÃO,
APÓS SOLICITAÇÁO DE ENCERRAMENTO DA CONTA
CORRENTE. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DO
AUTOR NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DANOS MORAIS IN RE IPSA. QUANTUM
ARBITRADO DE ACORDO COM PARÃMETROS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
SENTENÇA MANTIDA

ACÓRDÃO
Acordam as Senhoras Juízas da 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, MARIA AUXILIADORA
SOBRAL LEITE – Relatora, CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ, presidente
e LEÔNIDES BISPO DOS SANTOS, em proferir a seguinte decisão: RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO . UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento. Custas e
honorários advocatícios pela recorrente , que fixo em 20% sobre o valor da condenação.

Salvador, Sala das Sessões, 24 de Setembro de 2015.

BELA. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

BELA. CÉLIA MARIA CARDOZO DOS REIS QUEIROZ


Juíza Presidente
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Processo Nº. : 0000749-25.2014.8.05.0256


Classe : RECURSO INOMINADO
Recorrente(s) : BANCO DO BRASIL SA

:
Recorrido(s) : HELDER MASCARENHAS DE SOUZA
:
Origem : 1ª VARA JUIZADOS ESPECIAIS DE TEIXEIRA DE
FREITAS
Relatora Juíza : MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE

EMENTA

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR.BANCO.


COBRANÇA DE TARIFA BANCÁRIA DE MANUTENÇÃO,
APÓS SOLICITAÇÁO DE ENCERRAMENTO DA CONTA
CORRENTE. INSCRIÇÃO INDEVIDA DO NOME DO
AUTOR NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DANOS MORAIS IN RE IPSA. QUANTUM
ARBITRADO DE ACORDO COM PARÃMETROS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
SENTENÇA MANTIDA

RELATÓRIO

Dispensado o relatório nos termos da Lei n.º 9.099/95.


Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,
saliento que o Recorrente BANCO DO BRASIL, pretende a reforma da sentença lançada
nos autos que julgou procedente em parte os pedidos formulados pela exordial para :
“reconhecer a inexigibilidade do débito objeto do apontamento, determinando que a ré o cancele,
abstendo-se de qualquer espécie de cobrança, sob pena de multa diária de R$ 100,00 ( cem reais)

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bem como para condená-la ao pagamento de indenizaçãopor danos morais no valor de R$ 7.200,00
( sete mil e duzentos reais ) corrigidos monetariamente a partir do arbitramento,acrescidos de juros
moratórios de 1% ao mês a partir da citação.

Em suas razões recursais, a empresa recorrente alega inexistir danos


morais in casu, bem como sustenta que o valor fora arbitrado em valor excessivo.
Em contrarrazões, a recorrida pugna pela manutenção da sentença.
Os autos foram distribuídos à 2ª Turma Recursal, cabendo-me a função de
Relatora.
Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,
apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, que submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Sem preliminares, passo ao exame do mérito.

Trata-se de ação na qual o autor alega ter solicitado o encerramento de sua

conta corrente, que mantinha junto ao banco réu, no mês de novembro de 2012. Na

ocasião, o autor realizou todos os procedimentos atinentes ao encerramento da conta, e

ao se dirigir ao atendimento pessoal, fora-lhe informado por preposto do banco que o

sistema de informática não estaria funcionando, motivo pelo qual não lhe fornecera o

comprovante do encerramento.

No mês de julho de 2013, passou o autor a receber cobranças referentes à suposto débito

oriundo de tarifa de manutenção de conta, e em 10/09/2013, tivera o seu nome

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negativado, por dívida no valor de R$ 100,22 ( cem reais e vinte e dois centavos ), por

solicitação do banco réu.

O exame dos autos evidencia que o ilustre a quo examinou com acuidade a
demanda posta à sua apreciação no que concerne à cobrança indevida, tendo em vista
que a empresa recorrente deixou de trazer elementos probatórios que refutassem as
alegações da parte autora, não apresentando elementos que legitimassem a cobrança da
tarifa de encerramento. Ao revés, a alegação da parte autora, de que solicitara o
encerramento da conta, é dotada de verossimilhança, e não fora impugnada por
elementos probatórios idôneos.

Assim, caberia à empresa trazer aos autos elementos que indicassem a


efetiva prestação de serviços no período que a parte autora alega não terem sido
prestados, bem como o funcionamento regular da conta corrente, o que em tese
justificaria a manutenção da conta e a legitimidade das tarifas.

.. Mas se assim não o fez, precluída esta a oportunidade, restando-lhe


suportar o ônus da sua inabilidade processual.
Por outro lado, o autor junta com a exordial, no evento projudi 01, a
certidão da CDL que atesta o apontamento indevido , por solicitação da
demandada, desincumbindo-se assim do ônus de provar o fato constitutivo de seu
direito , nos termos do art.333, Ido CPC. É cediço na jurisprudência pátria que a
negativação do nome do consumidor nos cadastros de proteção ao crédito por
cobrança indevida gera dano moral in re ipsa, que prescinde de comprovação.
Nesse sentido :

RECURSO INOMINADO. CONSUMIDOR. TELEFONIA. AUSÊNCIA


DE PROVA DA CONTRATAÇÃO. DÉBITO INEXISTENTE.
INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO
CRÉDITO. DANO MORAL IN RE IPSA. 1. Diante da alegação do autor
no sentido de que jamais realizou algum tipo de contratação com a
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requerida, incumbia à re apresentar as provas da contratação, seja por


contrato assinado pela parte e os documentos apresentados no momento da
instalação, seja a gravação pelo Call Center, caso tenha sido realizado via
telefone. 2. Todavia, nenhuma prova neste sentido veio aos autos e as telas
de sistema apresentadas pela ré são documentos unilaterais que podem ser
facilmente manipulados pela parte interessada, não servindo como único
meio de prova para comprovar as alegações da requerida. 3. A requerida
sustenta que a dívida refere-se a um terminal fixo de telefone, instalado em
02/05/2012 e retirado em 06/01/2013, por inadimplência. Tratando-se de
terminal fixo, mais fácil ainda era a comprovação de suas alegações, pois,
nestes casos, os prepostos da ré comparecem ao local de instalação e
solicitam a assinatura do cliente na ordem de serviço. No entanto, nenhum
documento foi apresentado aos autos. 4. Não havendo prova da
contratação, nem provas de que a ré tenha tomado as devidas providências
para evitar a contratação fraudulenta em nome do autor, o débito deve ser
declarado inexistente e a inscrição junto aos órgãos de inscrição ao crédito
considerada indevida. 5. A situação dos autos gerou ao autor angústias,
aborrecimentos, frustrações e abalo em sua paz psíquica, transtornos que
extrapolam os meros aborrecimentos do cotidiano. 6. O quantum arbitrado
pelo Juízo de origem (R$ 5.000,00) não comporta minoração, uma vez que
está abaixo dos parâmetros utilizados pelas Turmas Recursais em casos
semelhantes, sendo o patamar mínimo para atingir o caráter pedagógico,
evitando que a recorrente volte a praticar os mesmos erros novamente.
Ademais, deve-se considerar as peculiaridades do caso em apreço,
observando-se que o autor teve negado a renovação do seu crédito agrícola,
situação que por si só já configura a existência de danos extrapatrimoniais.
RECURSO IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. (TJ-RS - Recurso
Cível: 71004824850 RS , Relator: Glaucia Dipp Dreher, Data de
Julgamento: 27/06/2014, Quarta Turma Recursal Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 03/07/2014).

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Logo, vislumbrada a necessidade de reparação do dano moral decorrente da


cobrança indevida, conjugada com a negativação do nome do autor, passo a discutir o
quantum fixado.
Nesta seara obtempera Des. Luiz Gonzaga Hofmeister do TJ-RS no proc.
595032442:
O critério de fixação do valor indenizatório, levará em conta
tanto a qualidade do atingido, como a capacidade financeira
do ofensor, de molde a inibi-lo a futuras reincidências,
ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame
patrimonial.

Diz ainda Wilson Melo Da Silva, em “O Dano Moral e sua Reparação”,


obra basilar sobre a matéria:

É preponderante, na reparação dos danos morais, o papel


do juiz. A ele, a seu prudente arbítrio, compete medir as
circunstâncias, ponderar os elementos probatórios, inclinar-
se sobre as almas e perscrutar as coincidências em busca
da verdade, separando sempre o joio do trigo, o lícito do
ilícito, o moral do imoral, as aspirações justas das miragens
do lucro, referidas por DERNBURG. E após tudo, decidindo
com prudência, deverá, depois, determinar, em favor do
ofendido, se for o caso, uma moderada indenização por
danos morais. (Forense, pg. 630/631).
O valor da indenização fixado pelo juiz sentenciante, a título de danos
morais, guarda compatibilidade com o comportamento do recorrente e com a repercussão
do fato na esfera pessoal da vítima e, ainda, está em harmonia com os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, devendo ser mantida.
Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER DO
RECURSO e NEGAR-LHE PROVIMENTO, confirmando, consequentemente, todos
os termos da sentença hostilizada. Não logrando êxito em seu recurso, condeno a
recorrente ao pagamento das custas processuais bem como honorários advocatícios,

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estes fixados em 20% sobre o valor da condenação.

Salvador, 24 de setembro de 2015

Bela. MARIA AUXILIADORA SOBRAL LEITE


Juíza Relatora

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