Teoria interacionista do desvio, que advém do Interacionismo Simbólico.
Muda-se o foco no indivíduo para um foco na interação social, pois esta determina e produzem as regras, exigindo o seu cumprimento. Trata do processo de imposição de rótulos, para aqueles que são considerados desviantes. Segundo Becker, regras, desvios e rótulos são sempre construídos por processos políticos, nos quais alguns grupos conseguem impor os seus pontos de vista como mais legítimos que outros. O desvio ele não é inerente ao ato e nem aos indivíduos que os praticam. O desvio é definido ao longo dos processos de julgamento, que envolvem disputas em torno de objetivos de grupos específicos. Na sociedade se tem grupos dominantes e grupos desviantes, assim como tipos diferentes de desvio. O autor propõe um modelo sequencial para pensar o desvio, que possui base no interacionismo simbólico. Becker analisa que há uma adesão dos indivíduos em relação a padrões de comportamentos desviantes, em uma perspectiva sequencial, a qual envolve não somente a atos isolados ou eventuais acusações, mas aprendizados específicos. Existem carreiras desviantes, que se apresentam como alternativas para carreiras convencionais. Os exemplos que ele cita, são os usuários de maconha e os músicos de casa noturna. As regras não funcionam automaticamente, elas precisam ser impostas e essa imposição é sempre um empreendedorismo que dependem de interesses e iniciativas de atores, do sentido de tornar pública a infração. Os chamados empreendedores morais, que criam e impõe regras de acordo com os seus interesses e valores e que auferem vantagens por fazê-lo. Modelo sequencial: usuário de maconha. Ele não se torna um maconheiro da noite para o dia, tem toda uma sequência lógica de significados e de semânticas no meio social que ele vive para se tornar um usuário regular. Ele tem várias experiencias antes de se tornar um desviante, em que este indivíduo se orienta por outro, sendo este outro aquele que determina como deve ser o seu comportamento. Modelo simultâneo: base etiológica, em que há uma causa para o comportamento desviante e em que se indaga o porquê de determinado indivíduo se desviar. O componente principal para se analisar é a interação social entre aquele que impõe a regra (empreendedor moral) e quem a infringe (estigmatizado). Modelo dos quatro tipos de desvio Apropriado: não viola a regra e é percebido socialmente como tal. Desviante puro: desvia-se da regra e é percebido pela sociedade como desviante. Falsamente acusado: não pratica o ato de desvio, mas é percebido pela sociedade como violador de regras. Desviante secreto: viola as normas, porém, não é percebido pela sociedade como desviante.
Baratta, Alessandro – Criminologia crítica
Aduz sobre dois tipos de perspectivas utilizadas no momento em que se realiza uma análise. Microssociologia: discurso construído com base em dados empíricos, metodologias experimentais, acompanhados por uma função crítica em face de ideologias e da realidade social que se estuda. Macrossociologia: possui um discurso universalista, especulativo e apriorístico. Corresponde, portanto, ao objeto da sociologia em geral, que coincide com toda estrutura social-econômica. A Ideologia da Defesa Social era ideologia comum à escola clássica e à escola positiva, já que, tanto a Escola Clássica quanto a Escola Positiva realizam um modelo de ciência penal integrada, ou seja, um modelo no qual ciência jurídica e concepção geral do homem e da sociedade estão estritamente ligadas. A ideologia da defesa social, ou do fim, nascem contemporaneamente à revolução burguesa, e, enquanto a ciência e a codificação penal se impunham somo elemento essencial do sistema jurídico burguês. O conteúdo dessa ideologia é sumariamente reconstruível na seguinte série de princípios: a) Princípio da Legitimidade: O Estado está legitimado para reprimir a criminalidade por meio de indivíduos, que representam instâncias, os quais reprovam e condenam o comportamento desviante individual e à reafirmação dos valores e das normas sociais; b) Princípio do Bem e do Mal: Delito como dano, delinquente como elemento negativo, desvio criminal é o mal, sociedade constituída é o bem; c) Princípio da Culpabilidade: O delito é expressão de uma atitude interior reprovável, porque contrária aos valores e às normas, presentes na sociedade antes mesmo de serem sancionadas pelo legislador; d) Princípio da Finalidade ou Prevenção: A pena não tem, ou não tem somente, a função de retribuir, mas sim de prevenir o crime; e) Princípio da Igualdade: A criminalidade é a violação da lei penal, é o comportamento de uma minoria. A reação penal se aplica de modo igual aos autores dos delitos; f) Princípio do Interesse Social e do Delito Natural: O delito como uma ofensa aos interesses fundamentais comuns a todos cidadãos. As diferenças entre as escolas positivistas e a escola clássica residem na própria tarefa da criminologia que, na criminologia positivista, é reduzida à explicação causal do comportamento criminoso, baseando-se na diferença fundamental entre indivíduos criminosos e não-criminosos. Já na Escola Clássica, avalia-se mais que o criminoso, o próprio crime. Não obstante, essas teorias advêm sobre um ponto: o relativo à atitude interior do delinquente, ou seja, a culpabilidade. A ideologia da defesa social, na ciência do direito penal, apresenta um notável atraso com relação à interpretação que desta matéria se faz hoje no âmbito das ciências sociais. Baratta afirma que se faz necessário situar os elementos de uma Teoria do Desvio, dos “comportamentos socialmente negativos”, e da criminalização, dentro de uma específica estrutura econômico-social, mostrando como os princípios que integram a ideologia da defesa social encontram uma direta confrontação crítica nas teorias sociológicas contemporâneas sobre a criminalidade. Essas novas teorias inseridas no campo da sociologia criminal burguesa se caracterizam por uma atitude racionalista, reformista e, geralmente, progressista. Uma teoria adequada da criminalidade, sobre a qual se pretende hoje basear um novo modelo integrado de ciência do direito penal, é caracterizada por elementos antiéticos à ideologia da defesa social. Um grupo de teorias sobre criminalidade desenvolveu, em uma perspectiva declaradamente macrossociológica, o elemento de conflito como princípio explicativo fundamental dos processos de criminalização, entendidos como processos de definição e de atribuição do status de criminoso. Estas teorias são conhecidas sob o nome de teorias do conflito, ou teorias conflituais da criminalidade. As teorias conflituais da criminalidade negam o princípio do interesse social e do delito natural, afirmando que os interesses que estão na base da formação e da aplicação do direito penal são os interesses dos grupos que tem poder e, ainda, que a criminalidade é uma realidade social criada através do processo de criminalização. As teorias conflituais pretendem mostrar a relação do direito penal com interesses de grupos de poder. A luta por valores como poder, status, recursos distingue os conflitos em realísticos e não realísticos. O crime, para estas teorias, é um fenômeno político, e o criminoso, um membro de grupos minoritários induzido a agir contra a lei, porque grupos majoritários instrumentalizariam o Direito e o Estado para criminalizar comportamentos contrários. O processo de criminalização significa, na verdade, um conflito entre os que detêm o poder e os que são submetidos a este, ou seja, aqueles que recebem das instâncias oficiais o status de criminosos. Neste paradigma, Alessandro Baratta indica uma confusão entre atores do processo econômico e os sujeitos reais desse processo, que seriam, ainda: o capital e a massa trabalhadora marginalizada. A perspectiva macrossociológica do conflito social representaria um progresso da criminologia liberal, aplicando o enfoque da reação social às estruturas da sociedade. As teorias integrantes da criminologia liberal contemporânea inverteram a relação de criminologia com a ideologia e a dogmática penal. Elas sustentaram o caráter normal e funcional da criminalidade, a sua dependência de mecanismos de socialização, e deslocaram cada vez mais a atenção do comportamento do criminoso para a função punitiva e para o direito penal. O ponto de partida da investigação da criminologia, nas teorias liberais contemporâneas, é em relação ao comportamento criminalizado, que constitui uma espécie, dentro de um gênero, em uma concepção global do sistema social. A ideia de integração dos sistemas penal e de controle social em um modelo racional de controle do crime, sob a égide de uma criminologia liberal, não daria certo, iria levar a um reforço das relações de desigualdade, dando maior ênfase aos crimes contra a propriedade, valorizando o capital, e menor ênfase aos crimes do colarinho branco, como os crimes ambientais. Um novo modelo integrado de ciência penal e ciência social não seria viável, portanto, o autor acredita ser necessário surgir, no lugar do clássico modelo integrado de ciência penal, um novo modelo, em que a relação entre ciência social e discurso dos juristas não é mais uma relação entre duas ciências, mas uma relação entre ciência e técnica. Quando falamos em “criminologia crítica”, colocamos o trabalho que se está fazendo para a construção de uma teoria materialista, ou seja, econômico-política, do desvio e dos comportamentos socialmente negativos da criminalização. Na perspectiva da criminologia crítica, a criminalidade não é mais uma qualidade ontológica de determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, principalmente, como um status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: dos bens protegidos penalmente e dos indivíduos estigmatizados. A criminalidade é um “bem negativo”, distribuído desigualmente conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema sócio-econômico e conforme a desigualdade social entre os indivíduos. Passando por uma construção de uma teoria materialista do desvio, dos comportamentos socialmente negativos e da criminalização, o labeling approach dá um salto qualitativo. O autor desenha uma criminologia crítica, expondo as diferenças desta para a criminologia tradicional. A criminologia crítica desloca o enfoque teórico para as condições objetivas, estruturais, institucionais, mudando o interesse das causas para o interesse de como construir uma realidade social diferente. A criminologia crítica define o status do sujeito através dos bens protegidos nos tipos penais e dos indivíduos estigmatizados no processo de criminalização. O grande ganho da criminologia crítica estaria na passagem da descrição para a interpretação da desigualdade do direito penal, mostrando a relação dos mecanismos seletivos do processo de criminalização com a estrutura e as leis de desenvolvimento da formação econômico social.