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D - Torção Pura

O fato de a tensão tangencial necessariamente ter a direção tangente ao contorno, tanto


externo, como interno, no caso das barras de parede fina nos leva a admitir que o seu valor se
distribui uniformemente ao longo da espessura da parede.
O torque T na seção será obtido (Fig. 4.7.2 a)
pela integral curvilínea fechada (Fig. 4.7.2 b):

τ T=
∫ τ e ds ρ sen β .......... (4.7.1)

Uma simplificação importante tornará


T exeqüível a realização de tal integração sem maiores
dificuldades, qual seja, a da invariância do produto
(chamado fluxo cisalhante) τ x e ao longo do perímetro
da seção do duto (ver nota abaixo).
Realmente: a análise do equilíbrio de esforços
(a) atuantes no elemento assinalado na figura 4.7.2 (c),
τ segundo o eixo x do duto, nos permite escrever:

ds τ1 e1 dx = τ2 e2 dx.,
β
que, levada em 4.14, fornece:
ρ

e
β T= τe
∫ ds sen β ρ.

ds
Observando, na fig. 4.7.2(b), que
(b) ½ ds sen β ρ vem a ser a área do
ρ triângulo assinalado ao lado,
e1 pode-se concluir que a integral
e2 @

τ1 τ2
∫ ds sen β ρ = 2 @
computa o dobro da área @ limitada pela linha média
dx
da espessura da parede do duto.
Podemos finalmente escrever:

τ = T / 2 e @ ............................ (4.7.2).

Nota: a invariância do produto τ xe (fluxo cisalhante)


(c) indica uma interessante analogia com a equação da
continuidade para o escoamento de fluidos incompressíveis,
x quanto à vazão Q = V x A (a velocidade cresce quando a
área da canalização diminui, da mesma forma que a tensão
Fig. 4.7.2 – Tensões em dutos de tangencial será maior nos trechos de menor espessura do
parede fina torcidos. duto, como se as tensões “escoassem” ao longo da parede).

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Quanto às deformações, mais uma vez, utilizaremos os conceitos de energia para
determinação do ângulo δθ de torção do duto em função do torque T que lhe é aplicado (o trabalho
realizado pelo torque será armazenado sob a forma de energia potencial elástica no duto torcido).

W = ½ T δθ = Ud = ∫ ud dV,
sendo ud = ½ τ2 / G a energia específica de distorção, por
unidade de volume V (equação 1.8.2).
Considerando o volume dV assinalado na figura ao lado
ds L (dV = e dx ds), onde a tensão tangencial é dada por 4.7.2,
podemos escrever:

s e
dV Ud = ∫ ud dV = ∫ ( ½ τ2 / G)dV =
=∫ ∫ (1/2G)[T/2e@]2 (e ds dx).
x δθ
Na primeira integração,ao longo de s,
teremos como constantes G, T, @ e
dx dx, permitindo escrever:

2
Ud = ∫(1/2G)[T/2@] dx ∫ ds/e).

T No caso de um duto de seção e


material uniformes, submetido a um
torque constante ao longo de sua
extensão, a segunda integração nos
leva a:

Ud = (1/2G)[T/2@]2 L ∫ ds/e)= ½ T
Fig.4.7.3 – Deformação de dutos de parede fina torcidos. δθ
Teremos portanto:

δθ = [(Τ L) / 4 G @2] ∫ ds/e .................................. (4.7.3)


No caso simples de dutos com espessura de parede uniforme (e constante), a integral
curvilínea se converte na relação adimensional perímetro/espessura da seção.
No caso comum de dutos formados pela união de chapas, de espessuras distintas, mas que se
mantêm uniformes na extensão de cada chapa, a integral se converte em um somatório, podendo ser
reescrita sob a forma:
b1
δθ = [(Τ L) / 4 G @2] Σ si /ei ................ (4.7.4)
e1
b2 b2
e2 e2 (é o que ocorre, por exemplo, no casco de uma
e3 embarcação, cujo chapeamento do convés tem espessura
diferente das chapas do costado e do fundo), ficando no
caso:
b3
∫ ds/e = b1/e1 + 2b2/e2 + b3/e3..
Fig. 4.7.4 –Seção transversal do casco resistente de uma
embarcação
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Exemplo 4.7.1 – Mostrar que, no cálculo das tensões e deformações de um duto de parede fina de
seção circular, os resultados são convergentes para ambas as teorias estudadas (em 4.6 e em 4.2).
Realmente: para um duto circular de diâmetro d e espessura de parede e, teremos:
Jp = (π d e) (d/2)2 = π e d3 / 4, portanto, de (4. 2.2):
τ = (T/Jp)(d/2) = 2T / π e d2. e
Por outro lado, de 4.6.2 obtemos, com @ = π d2 /4:
τ = (T / 2 e @) = 2T / π e d2. d/2
Da mesma forma, de 4. 2.8 e 4. 6.4, obteremos, sucessivamente:
δθ = T L / G Jp = 4 T L / G π e d3 = [T L / 4 G @2] πd/e

2 mm Exemplo 4.672 – A seção transversal da fuselagem de um


avião, próxima à cauda, construída em alumínio (G =28
GPa), tem as dimensões mostradas na figura. Adotando
R=450 os valores admissíveis para a tensão tangencial τ = 90
MPa e para a deformação por torção como sendo 1º / m
de comprimento, pede-se determinar o máximo torque T a
900 que a fuselagem pode ser submetida.
Solução: Para a seção temos @ = 0,9 x 0,8 + 2π 0,45 2/ 2
2
2,5 mm 800 @ = 1,356 m (nota: utilizando as dimensões internas do
duto, obtemos um valor inferior para @,, a favor da segurança
2,5 mm para o cálculo das tensões e deformações).
De 4.6.2 ⇒ τmax = 90x106= T / 2x0,002x1,356
e Tmax = 488 kN.m.

R=450 De 4.6.4 ⇒ δθ/L = 1 / 57,3 = [T /4x28x109x(1,356)2] x


x [( π x 450/2) + 2 x (800/2,5) + ( π x 450/3);
3 mm
e Tmax = 1977 kN.m.
Portanto = Resp.: Tmax = 488 kN.m.

Problema proposto: dispondo-se de uma chapa (a) de comprimento L, largura b e espessura e,


deseja-se confeccionar um duto dobrando a chapa, com costura nas bordas. Para as opções (b) e (c)
assinaladas pede-se determinar as relações entre as tensões máximas e os ângulos de torção, para
um dado torque T aplicado.

costuras

L
e

b (a) (b) (c)

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