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Unidade: Arquitetura Clássica – Civilizações Grega e Romana
Apresentação
Um dos grandes momentos da arquitetura mundial é, sem dúvida, a
arquitetura produzida pelas civilizações grega e romana. As obras construídas
no estilo que denominamos “clássico” foram responsáveis pela consolidação de
uma linguagem arquitetônica que dominou o cenário ocidental por pelo menos
5 séculos, sendo facilmente encontradas ainda nos dias de hoje, mesmo nos
tempos de nanotecnologia, viagens espaciais e internet (GLANCEY, 2001, p.
25). Ao longo deste curso, você verá a presença da arquitetura clássica em
muitas das próximas unidades, embora sempre com variações importantes. A
marca do clássico é sua atemporalidade.
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No cotidiano, usamos a expressão “clássico” para nos referirmos a
determinadas manifestações culturais que são consideradas o apogeu de seu
estilo ou época. Com isso, adquirem um status de qualidade, de
atemporalidade. Por exemplo, ouve-se falar que determinado carro é um
clássico, ou que Elvis Presley é um clássico, ou que tal filme é um clássico.
Neste sentido, o que se quer dizer é que aquele carro, cantor ou filme
consistem no que há de melhor em suas respectivas épocas e estilos, e
acabaram rompendo as barreiras de tempo e espaço, sendo apreciados por
diversas gerações. Estas manifestações culturais nada têm a ver com o sentido
que estamos usando aqui, embora também se possa afirmar que outros tipos
de construções que não sejam greco-romanas, como as pirâmides egípcias,
sejam um clássico da arquitetura. Não há dúvida de que todos reconhecem sua
importância estética e histórica para a arquitetura.
Mas clássico no contexto da arte e da arquitetura possui outro sentido, e,
neste caso, uma pirâmide egípcia, embora seja um clássico, não é uma
construção clássica. Conforme John Summerson, em seu livro A Linguagem
Clássica da Arquitetura,
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arquitetura que nos permitem dizer que o objetivo da arquitetura clássica
sempre foi alcançar uma harmonia inteligível entre as partes. Tal harmonia foi
vista como parte integrante dos edifícios da Antiguidade” (ibidem). Construir
segundo os preceitos da arquitetura greco-romana é muito mais complexo do
que possa parecer à primeira vista, e certamente vai muito além da mera
utilização de elementos como colunas e frontões – e é isso o que veremos nas
próximas páginas deste texto.
Contextualização
Antes de procurarmos definir, afinal, o que são as cinco ordens
clássicas, ou mesmo o que são as tais “colunas” e “frontões” e outros
elementos arquitetônicos tidos como clássicos, é necessário contextualizarmos
no tempo as civilizações grega e romana, e entendermos como tudo começou.
A Grécia Antiga se iniciou por volta de 1.900 a.C., enquanto que,
segundo a lenda, a cidade de Roma teria sido fundada em 753 a.C. Portanto, a
civilização grega é mais antiga que a romana – e muito da cultura grega foi
apropriada pelos romanos durante o processo de formação de sua própria
cultura, fruto de uma fusão entre o saber dos gregos e dos povos etruscos, os
quais habitavam a península itálica antes do domínio romano. É fácil perceber
esta continuidade cultural em muitos aspectos, como por exemplo na mitologia:
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Grécia Antiga
Situada na região sul da Península Balcânica, o território da Grécia
Antiga não corresponde exatamente à abrangência da Grécia atual, e
correspondia a três regiões: a Grécia Continental, a Grécia Central e a Grécia
Insular. Esta última diz respeito a diversas ilhas que estão espalhadas pelo Mar
Egeu. Além desta região mais concentrada, os gregos estabeleceram
assentamentos e colônias em muitas áreas próximas, como é possível
perceber no mapa a seguir.
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Egeu. É o caso das civilizações Cretense ou Minoica, na ilha de Creta, e a
Micênica (continental), com sede na cidade de Micenas, ao sul de Atenas. O
povo cretense só é conhecido por nós a partir de 1870, quando o pesquisador
alemão Heinrich Schliemann encontrou vestígios da antiga cidade de Troia. As
ruínas das cidades de Micenas e Tirinto, da civilização micênica, só foram
encontradas em 1876.
Estas duas civilizações não são, ainda, o povo que dará origem à
civilização helênica, mas sim seus antecessores. Entre os anos 1.100 a 700
a.C., que são narrados nos versos do poeta Homero, em suas obras Ilíada e
Odisseia, houve uma série de invasões de povos como os dóricos, jônicos e
aqueus, formando o que mais tarde seria a civilização conhecida por nós como
sendo da Grécia Antiga. É nesta época, por exemplo, que ocorre a famosa
guerra contra Troia, narrada por este mesmo poeta. Supõe-se que os inimigos
de Troia não tenham sido os gregos, mas sim os povos micênicos, pois os
locais descritos por Homero são bastante semelhantes aos locais onde mais se
encontram vestígios da civilização micênica.
O período da Grécia Antiga abrange de cerca de 1.000 a.C. até a morte
de Alexandre, o Grande, no ano de 323 a.C. Este período é dividido em dois:
Apesar dos gregos antigos terem vivido há mais de 2.000 anos, a sua
importância para a cultura ocidental é enorme. Além de seu indiscutível legado
arquitetônico e artístico, os gregos também contribuíram com a filosofia
(Sócrates, Platão, Aristóteles), a lógica, a retórica, a democracia, avanços
matemáticos significativos (lembram do teorema de Pitágoras?), as primeiras
reflexões científicas (o primeiro modelo de átomo é grego: de Demócrito e
Leucipo, por exemplo); o desenvolvimento da Medicina (Hipócrates); as
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Olimpíadas e as práticas esportivas; a criação do teatro; a valorização do ser
humano e seu potencial intelectual para compreender o mundo. Sem dúvida,
podemos afirmar que os gregos são a raiz de toda a cultura que se
desenvolveu no mundo ocidental posteriormente.
Arquitetura Grega
O teórico Nikolaus Pevsner afirma, logo nas primeiras frases de seu livro
Panorama da Arquitetura Ocidental, que “o templo grego é o exemplo mais
perfeito já alcançado de uma arquitetura que se realiza na beleza plástica”
(PEVSNER, 2002, p. 6). O mais importante e conhecido dos templos gregos, o
Partenon, é certamente conhecido como o edifício mais influente de todos os
tempos, inspirando cópias e versões ao longo da história, e ao redor do mundo.
E, certamente, representa o paradigma das realizações dos gregos na
arquitetura (GLANCEY, 2001).
Os gregos nos trouxeram diversas inovações importantes no campo da
arquitetura, já em termos de reflexão teórica. A primeira delas, segundo José
Ramón Pereira, é a delimitação de seu território própriodentro das artes.
Enquanto que no Egito as artes costumavam ser produzidas de forma unívoca
(por exemplo, a pintura e os alto-relevos murais não eram considerados à parte
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primeira vez na história um instrumento de controle que estipula todo o
processo de produção de arquitetura. Já foi dito que uma ordem é “a
disposição regular e perfeita das partes, que concorrem para a composição de
um conjunto belo” (PEREIRA, ibidem). Esta é a essência de todo o
pensamento grego, que busca a realização de seu ideal de beleza – e para
atingir este objetivo decodifica a arquitetura em uma série de elementos
necessários para que ela obtenha a harmonia, a proporção e a combinação de
elementos de modo que ela seja, de fato, uma bela arquitetura. Estes
elementos são basicamente compostos por colunas e o entablamento, sendo
que este último, funciona como uma estrutura horizontal que sustenta o
telhado, como uma viga.
Mas antes de definirmos quais são estes elementos construtivos, e quais
são as ordens gregas, é necessário entender que os gregos eram notáveis pela
tendência de compreender o mundo através da razão, e não se limitavam às
explicações meramente espirituais para os fenômenos que observavam. Os
gregos eram o que se chama de humanistas, pois celebravam o homem e sua
capacidade racional, de entender e interpretar o mundo através da lógica e da
filosofia. Com relação a este fato, Pereira nos conta que:
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Como vocês já devem conhecer, uma escala é um sistema de medidas,
uma relação entre diferentes dimensões, de modo a manter uma relação de
proporção. A escala humana parte das relações do próprio corpo humano: a
medida dos pés em relação às pernas, a medida de um polegar, a altura em
relação às dimensões da cabeça. Partindo do princípio de Delfos – “conhece-te
a ti mesmo” – os gregos passaram a medir o corpo humano e a estipular uma
relação de proporções entendida como harmoniosa e bela. É a partir deste
raciocínio que surge o sistema de medida que mede as coisas por polegadas
ou palmos, ou a distância em pés, passos ou jardas. Os edifícios passam a ser
medidos e construídos a partir da mesma relação dimensional do corpo
humano, passam a se adaptar às medidas do homem:
2 A seção áurea também poderá ser denominada proporção áurea, razão áurea, razão de ouro,
divina proporção, proporção em extrema razão, divisão de extrema razão, dependendo do
autor. (Wkipédia – verbete Proporção áurea).
3 Para saber mais sobre estas relações matemáticas da seção áurea, e todos os desdobramentos deste
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de proporção no corpo humano, e afirmou que a imagem de um homem
perfeitamente proporcional, segundo estas leis matemáticas, poderia estar
perfeitamente circunscrito em um círculo e um quadrado – as duas formas
geométricas consideradas perfeitas matematicamente.
Quando o texto de Vitruvius foi redescoberto quinze séculos depois, não
havia uma figura no texto que demonstrasse essas relações matemáticas, mas
Leonardo da Vinci realizou os cálculos corretos e conseguiu ilustrar o Homem
Vitruviano, como esta famosa imagem ficou conhecida.
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Fig. 4:Doríforo, de Policleto (c. 440 a.C.). A altura de um ser humano
proporcional deve equivaler a 7 vezes o comprimento da cabeça.
Fonte: http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensfundamental/artes/greek2.jpg
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O entablamento é composto por três elementos: a arquitrave, que é o
elemento horizontal que se apoia diretamente sobre o capitel da coluna; o friso,
que é a faixa em que as vigas transversais se apoiam para sustentar o telhado.
O friso poderá ser uma faixa contínua, decorada com altos-relevo, ou poderá
ser uma alternância de elementos chamados tríglifos (correspondente às vigas
transversais que se apoiam sobre a arquitrave) e métopas (que é o espaço
entre estas vigas). Por cima do friso, há um último elemento chamado cornija,
que sustenta o telhado e avança um pouco para escoar as águas pluviais. É
correspondente aos beirais de um telhado. Como os telhados são sempre de
duas águas, os seus ângulos formam um espaço triangular na parte frontal,
chamado frontão, que costuma ser ricamente decorados com relevos
escultóricos. Nos fundos, este mesmo espaço é chamado de tímpano.
Sob as colunas, no caso da arquitetura não ser implantada diretamente
no chão, há uma base ou plataforma sobre a qual se ergue a edificação,
chamada estilobata. Para fazer a conexão e o acabamento entre a coluna e a
estilobata, é colocada a base sob o fuste da coluna. Da mesma maneira, o
capitel funciona como um elemento de ligação entre a coluna e o
entablamento, de forma a garantir um encaixe e acabamento perfeito entre os
elementos arquitetônicos.
Para entender melhor estes elementos e como eles se encaixam uns
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São três as ordens gregas: a dórica, a jônica e a coríntia. Cada uma
destas ordens surgiu em locais diversos, e portanto trazem o mesmo nome de
alguns dos povos oriundos destas mesmas regiões. Cada uma destas ordens
tem sua estética distinta. Nós podemos reconhecer as ordens facilmente por
suas colunas, ou, mais especificamente, pelo capitel das colunas – mas todos
os outros elementos (arquitraves, frisos, cornijas, bases, etc.) também têm
configurações diferentes de acordo com a ordem a que pertencem.
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Quando o arquiteto opta por uma das ordens para compor seu edifício,
todos estes elementos já são pré-determinados. Não se pode usar uma coluna
dórica com um entablamento jônico. Não se pode usar um capitel coríntio num
fuste com dimensões dóricas. As ordens são relativamente rígidas e servem
como orientação para a composição, resultando numa economia de tempo e
energia, pois as escolhas de detalhes já foram feitas – e, ao mesmo tempo,
não deixam de oferecer uma margem de liberdade para se adaptar a cada caso
particular.
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De forma simplificada, a principal diferença reside nas colunas – a
relação entre a altura da coluna e o diâmetro de seu fuste. É principalmente
esta razão que vai determinar se tal edifício pertence ao sintagma dórico ou
jônico, sendo que a ordem coríntia é uma variação do sintagma jônico.
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menina”, e posteriormente sofreu diversas associações até contraditórias:
enquanto alguns teóricos consideravam a ordem coríntia “virginal”, outros já a
consideravam “lasciva”, “ataviada como uma cortesã” – talvez em virtude da
associação de Corinto – região que dá o nome a esta ordem – com
imoralidade. De qualquer forma, Serlio recomendava que a coríntia era a
ordem mais adequada para igrejas mais femininas, como as consagradas à
Virgem Maria (SUMMERSON, ibidem).
É importante ressaltar que essas associações de gênero não são regras,
mas apenas interpretações arbitrárias – encontramos edificações dóricas
dedicadas a deusas, como o próprio caso do Partenon, dedicado à deusa
Palas Atenas; assim como construções coríntias consagradas a santos
masculinos.
Fig. 7:
Fonte:
http://lh4.ggpht.com/_5ZVfrqNx7ZM/SyAH7rUhJzI/AAAAAAAAO5k/weG9Uz6_F
9g/s640/Arquitetura%20Grega.jpg
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Principais construções
As principais edificações gregas são cívicas, destinadas a uso público,
como os templos, os anfiteatros, as pinacotecas. Devido ao calor excessivo da
região mediterrânea, o homem grego passa a maior parte do tempo fora de
casa, circulando pela pólis (a cidade grega), socializando e discutindo política,
celebrando seus deuses e filosofando. Tanto que o interior dos templos gregos
não eram espaços de reunião de pessoas para um culto, como são as igrejas
cristãs. Os gregos costumavam realizar seus ritos religiosos em suas casas,
mas se encontravam no templo para as procissões públicas e festividades
nacionais. Havia um espaço determinado para essas congregações: um
espaço circundante, em torno do templo, chamado temenos – o templo era
apenas um recinto sagrado para guardar a imagem divina, acessado apenas
de maneira processual para depositar as oferendas e louvar as estátuas que
representavam os deuses. Mesmo o altar ficava no lado de fora da construção.
É por esta razão que se costuma afirmar que a arquitetura produzida pelos
gregos tem um foco maior na sua composição externa do que nos espaços
internos.
Os temenos não eram destinados apenas a fins religiosos, mas também
políticos, e, assim como os templos mais notáveis, situam-se numa região da
cidade grega denominada de acrópole.
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megaron4, inclusive com uma muralha extensa e várias edificações de cunho
religioso e civil. No período arcaico, foi erigido nesta colina um templo dedicado
a Palas Atenas, que é a deusa padroeira da cidade, em meados do séc. VI a.C.
Um novo templo em mármore, o "Antigo Partenon", foi iniciado ao fim da
Batalha de Maratona, em 490 a.C. Para acomodá-lo, a porção sul do planalto
foi liberada de obstáculos antigos e nivelada com a adição de cerca de 8.000
blocos de pedra do Pireu, em alguns locais com 11 metros de profundidade,
formando um muro de arrimo cheio com terra batida. O portão micênico foi
substituído pelo "Propileu Antigo", colunata monumental com propósito mais
cerimonial que defensivo. No entanto, com as invasões persas em 480 a.C, a
maior parte das construções arcaicas da Acrópole foram destruídas.
4Um mégaron é uma construção simples, composta de uma sala retangular precedida de um pórtico de
colunas, típica dos Micênicos.
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e o Erecteion (também conhecido como Erecteu), e parte do Propileu e do
templo de Atena Niké. No entanto, as prospecções arqueológicas tornaram
possível a identificação das seguintes edificações na Acrópole em ruínas:
Fig. 9.Fonte:
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Acrópole de Atenas, o Partenon é o principal templo da cidade de Atenas,
dedicado à deusa padroeira da cidade, Palas Atenas e é o melhor exemplo das
ideias gregas a respeito de arquitetura, sendo talvez um dos edifícios mais
imitados ao longo de toda a história, por ser modelo do ápice da linguagem
clássica.
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chamada peristilo. Em algumas cidades muito ricas, o peristilo chegou a ser
formado por duas séries de colunas em torno do núcleo do templo”
(PROENÇA, 2000, p. 30).
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Fig. 11: Planta do
Partenon. Nota-se a
composição de dois
retângulos: o externo é
o peristilo, e a caixa
interna é composta por
colunas nas extremidades, e paredes nas laterais, formando o naos. No interior
do naos, mais colunas para garantir a sustentação.
Fonte: http://www.xtec.cat/~jarrimad/grecia/partenon%20planta.png
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Fig. 13: Esquema em
3D mostrando a
composição do Partenon.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/img/pericles3.jpg
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exigia não apenas grande raciocínio matemático dos arquitetos, mas também
imensa habilidade dos pedreiros” (GLANCEY, ibidem).
Pereira explica o processo, que pode ser observado na figura 14.
Fonte: http://saberporsaber.files.wordpress.com/2008/11/9-
curvatura_partenon.jpg
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a cúpula em forma de bulbo brotando incongruentemente do teto” (GLANCEY,
op.cit., p. 26), em 1458, depois em uma igreja católica no fim do séc. VI, e por
fim fora convertido em um armazém de pólvora. Em 1687, após ataque dos
venezianos, o Partenon explodiu e acabou se fragmentando na ruína que
conhecemos hoje. Porém o maior dano é provocado pela poluição industrial
dos últimos anos – as toxinas emitidas pelas indústrias, em contato com a
umidade, se transformam em ácidos que corroem lentamente o mármore do
monumento. Literalmente, o Partenon está derretendo diante dos nossos olhos
(GLANCEY, ibidem).
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Fig. 15: O
Erecteion hoje.
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colunas foram substituídas por cariátides, que são estátuas representando
mulheres que fazem o papel estrutural das colunas, sustentando a arquitraves
com suas cabeças. Se as esculturas fossem masculinas, seriam denominadas
atlantes. As cariátides são impressionantes e também foram muito imitadas ao
longo da história da arquitetura.
11
Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/_NDE3cTJyInk/SSrlbvnR4xI/AAAAAAAAA_w/NLEOce
omkkU/s400/atenas.jpg
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“O grupo [de esculturas] representa a luta entre os deuses e os gigantes.
É um trabalho suntuoso (...) O artista pretendeu, obviamente, obter fortes
efeitos teatrais (...) Para tornar o efeito ainda mais impressionante, o relevo
deixou de ser achatado contra o plano de fundo para se compor de figuras
quase soltas, as quais, em sua luta, parecem transbordar para os degraus do
altar” (GOMBRICH, 2008, p. 108).
11
Fig. 17:
O Altar de Zeus montado no museu em Berlim.
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elaboradas para construir os anfiteatros independentemente da topografia,
muitas vezes os teatros ficavam afastados da cidade.
No período clássico, era dada muita importância ao coro (que
representavam a ação de um povo ou de grupos humanos), ou seja, à
representação de grupos de atores. Já no período helenístico, que preconizava
um individualismo maior em detrimento da coletividade, os atores individuais
são mais valorizados, e seu desempenho é objeto de observação e análise
constante dos espectadores. Isso levou a algumas importantes modificações
de ordem técnica na construção dos locais de encenação desses espetáculos.
No período clássico, o teatro grego era composto por três partes
principais:
a orquestra: local onde o coro e os atores representados, que era um
grande espaço circular disposto no centro;
a arquibancada: assentos colocados em forma semicircular, na
encosta de uma colina, onde os espectadores se sentavam;
o palco: local ao fundo da orquestra,onde os atores se preparavam
para entrar no palco, e onde eram guardados os cenários e figurinos.
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cerca de 14.000 espectadores, acomodados em 55 degraus encostado em
uma colina. A sua acústica era considerada perfeita na época, e ainda hoje é
utilizado.
Roma Antiga
A civilização romana é outro grande momento da história mundial. Suas
contribuições culturais têm parentesco direto com a cultura que se originou na
Europa a partir daí – e, por conseguinte, a nossa. Vieram de Roma antiga a
maior parte das nossas palavras e mesmo a base do nosso idioma, que é de
origem latina. Os romanos tiveram realizações incomparáveis na área jurídica,
militar, artística, política, dentre muitas outras.Roma é o berço do Cristianismo,
que a princípio foi duramente combatido, e que, já no fim do Império, foi
estabelecida como religião oficial pelo Imperador convertido Constantino –
tanto que a sede da Igreja Católica, o Vaticano, se situa dentro do perímetro
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11
Fig. 18:
Mapa
demonstra
ndo as
regiões que faziam parte do Império Romano à época do nascimento de Cristo.
Fonte: http://scriptures.lds.org/pt/biblemaps/map8.jpg
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que o termo “urbano” deriva de urbe, palavra latina que designa a cidade.
Veremos um pouco destas práticas urbanísticas a seguir.
A arte produzida pelos romanos sofre duas influências bastante
diversas: por um lado, a forte influência da arte grega e seu ideal de beleza e
harmonia; por outro lado, a inclinação aos princípios etruscos de praticidade e
expressão da realidade. De fato, os romanos, descendentes dos etruscos,
tinham personalidade diferente dos gregos, e eram um povo mais prático,
menos voltado às questões teóricas. Essa diferença é facilmente notável em
sua arquitetura.
Arquitetura romana
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se poderosamente do espaço externo e interno produzido pela construção –
rompendo os limites morfológicos anteriores.
Isto foi em grande parte ocasionado pelo desenvolvimento de novas
técnicas construtivas, herdada dos etruscos: o arco, e, por consequência, a
abóbada. Esta tecnologia possibilita que as forças exercidas pelo peso das
pedras e das estruturas que o arco suporta (como as coberturas e vigas
transversais do pórtico grego) sejam distribuídas uniformemente pelo arco e os
pilares. Quando o arco se desdobra em vários, formando uma espécie de
“túnel”, ele se transforma numa abóbada, que faz as vezes de teto. O
mecanismo de distribuição de forças é o mesmo, possibilitando a ampliação da
distância entre os elementos verticais de sustentação. Estes elementos
permitiam que os romanos construíssem amplos espaços internos, livres dos
excessos de colunas, típico dos gregos.
“Antes da invenção do arco, o vão entre uma coluna e outra era limitado pelo
tamanho da travessa. E esse tamanho não podia ser muito grande, pois quanto
maior a viga, maior a tensão sobre ela. E a pedra, que era o material mais
resistente usado nas construções, não suporta grandes tensões. É por isso que
os templos gregos eram repletos de colunas, o que reduzia muito o espaço de
circulação” (PROENÇA, op.cit., p.37)
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“Foram os romanos que usaram o concreto pela primeira vez, misturando areia
vulcânica com calcário e outro material, muitas vezes ladrilhos quebrados. O
concreto permitia que fizessem grandes estruturas – como cúpulas – cobrindo
vastas áreas sem sustentação direta. O concreto romano não era reforçado
como o equivalente moderno e, portanto, não podia sustentar carga direta. Sua
invenção, porém, revolucionou a forma e as possibilidades da arquitetura”
(GLANCEY, op.cit., p. 30).
Diante dessas inovações técnicas, o sistema construtivo de colunas e
dintel, no qual se baseava a arquitetura clássica, se torna obsoleto e deixa
claro os limites dos sistemas compositivos e de controle da arquitetura grega.
As ordens gregas, neste caso, perdiam o peso de seu caráter normativo – pois
as colunas acabam sendo incorporadas aos arcos, porém com uma função
mais estética do que estrutural. Como o concreto era amplamente utilizado
pelos romanos, construindo cúpulas e abóbadas, e portanto necessitavam
menos de colunas para exercer a função estrutural, os romanos muitas vezes
usavam as colunas como elementos decorativos em templos, banhos e arenas.
Acabaram por desenvolver uma coluna plana ou meia-coluna embutida no
elemento vertical do arco, à qual chamamos de pilastra(GLANCEY, op.cit., pp.
31-32). Longe de perderem importância, a linguagem clássica da arquitetura
ganhou maior fôlego e qualidade plástica. Os romanos, portanto, não
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Os romanos acrescentaram às ordens dórica, jônica e coríntia mais duas
ordens próprias: a toscana (uma ordem similar à dórica, mais simplificada e
robusta, vinda dos etruscos), e a compósita, que é uma combinação das
ordens jônica e coríntia, e que, na antiguidade romana, só aparece no Coliseu.
Portanto, as ordens clássicas que conhecemos são cinco – e continuarão a ser
utilizadas muitos e muitos séculos depois. Além disso, as abóbadas, domos
(colunas semiesféricas) e pilastras também passam a incorporar o repertório da
linguagem clássica da arquitetura.
O Tratado de Vitruvius
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firmitas, utilitas e venustas são os componentes vitruvianos da arquitetura e
até hoje continuam presentes na forma como entendemos arquitetura.
Firmitas se refere à materialidade, a natureza técnica da construção –
sua estabilidade, suas condições ambientais e de conforto, o material
construtivo, suas soluções tecnológicas. Utilitas se refere ao fato de que a
arquitetura, ao contrário de outros tipo de arte, tem sempre uma função, uma
utilidade. Ou seja, a utilitas é a capacidade da obra arquitetônica realizar
perfeitamente a função a que se destina. Por fim, venustas é a forma, a
volumetria, a aparência estética, enfim, o caráter artístico inerente à obra de
arquitetura. Toda boa arquitetura é entendida, ainda hoje no séc. XXI, à luz da
tríada vitruviana – estes três elementos devem estar em equilíbrio. “Uma
obra carente de venustas pode ser uma edificação, mas nunca arquitetura.
Uma obra carente de utilitas será escultura ou macroescultura, mas não
poderemos nos referir a ela como arquitetura propriamente dita. Uma obra que
desdenhe a firmitas não passará de uma arquitetura de papel” (PEREIRA,
op.cit., p. 73).
Principais construções
“O Panteão está para Roma antiga assim como o Parthenon está para a
Grécia antiga” (GLANCEY, op.cit., p. 30). Com esta frase, Glancey apresenta o
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bruto. Por quê? Porque para os romanos a arquitetura era algo muito mais
prático que para os gregos” (GLANCEY, op.cit., p. 30).
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Fig.21: Vista do Panteão
atualmente.
Fonte:
http://1.bp.blogspot.com/_4syvkRx
rivk/Ss-
CXFXXbJI/AAAAAAAACrQ/Nypcv
8ALkCk/s400/Pante%C3%A3o+(R
oma+-+It%C3%A1lia).JPG
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Os edifícios públicos são de extrema importância para os romanos, que
também valorizavam o convívio fora de suas casas. Os edifícios cívicos eram
importantíssimos e costumavam ser agrupados em fóruns. O mais soberbo
deles é o Fórum de Trajano, inaugurado em 112 d.C., construído pelo arquiteto
principal do imperador, Apolodoro. Enquanto que os gregos concebiam a
arquitetura com regularidade matemática apenas nos edifícios isolados, os
romanos aplicavam os critérios de desenho também nos espaços externos.
Assim, o Fórum de Trajano combina princípios da arquitetura grega com uma
imponente organização axial e simétrico. Os edifícios eram acessados através
de um propileu arqueado, que dava entrada a uma praça quadrada de 126m de
cada lado, rodeada de pórticos com colunatas e presidida pelo monumento ao
imperador. De cada lado da praça, dois semicírculos prolongavam o espaço,
destacando, ao fundo, a Basílica Ulpia.
A basílica romana não é, como já foi dito, uma igreja – visto que a Igreja
Católica ainda era incipiente nesta época. A basílica era um edifício cívico,
laico, que costumava ser usado principalmente para o comércio e a justiça.
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eram fundadas pela iniciativa privada, mas seus serviços eram gratuitos e
frequentados por multidões. As termas romanas tinham uma série de serviços:
“nas termas romanas existiam também o frigidarium (ou piscina de água fria), o
tepidarium (ou sala com calefação), o caldarium (dedicado a banhos de água
quente e vapor) e as salas de massagem, além do estádio e do alojamento
para atletas, inclusive salas de reunião e biblioteca” (PEREIRA, op.cit., p. 79).
Pode-se afirmar que as termas romanas são a versão romana dos clubes de
hoje em dia, e podem ser considerados os edifícios mais complexos de toda a
antiguidade.
Outros equipamentos de lazer são os destinados a espetáculos, como
os teatros, anfiteatros e circos. O teatro é similar aos gregos, embora os
romanos tenham dado menos importância ao coro e, por conta disso,
diminuíram a orquestra, como já havia ocorrido no período helenístico. Os
circosnão são a mesma coisa que os circos atuais, mas sim espaços abertos
retangulares, com arquibancadas em ambos os lados maiores, destinados a
corridas e competições de atletismo, correspondentes ao estádio grego.
Mas o edifício para espetáculo mais paradigmático da arquitetura
romana é o anfiteatro, destinado a combates, lutas e outros espetáculos
similares.O povo romano apreciava muito as lutas de gladiadores, que poderia
ser apreciado de qualquer ângulo. Assim, os romanos deixaram de dispor a
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eixos da elipse medem 190m (o mais longo) e 155m, e 48 metros de altura. O
Coliseu tinha capacidade para cerca de 40.000 pessoas sentadas, e mais
5.000 em pé.
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Fig. 25: Vista aérea do Coliseu e suas arcadas concêntricas.
Fonte:
http://api.ning.com/files/1d1SYnz7BhJ2Lc2CjOjMM1N8Bh3AuPqv*S45*sfpSPI_
/RomaANtigaColiseu.jpg
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inspiraram muitas construções a partir de sua forma simétrica e bem resolvida
de composição.
Fonte:
http://historiadaarte.pbworks.co
m/f/800px-
RomeForumRomanumArchofS
eptimiusSeverus01.jpg
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dos gregos transformou o pátio aberto como o espaço mais importante da
casa. A beleza da casa romana reside nessa transição entre ambientes abertos
e fechados. As casas em Pompeia e Herculano nos mostram que a maior parte
dos cômodos eram decorados com pinturas murais
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construídas em concreto à prova de fogo. Estas edificações, como se pode
notar, formaram a base do moderno edifício de apartamentos.
As villas, por estar disposta livremente num terreno, tinham uma maior
variedade de plantas e formas, e costumavam estar mais voltadas para a área
externa. Os exemplos mais luxuosos, as casas de campo de famílias
abastadas, tinham uma arquitetura mais elaborada, adornadas por pórticos e
colunatas e cômodos voltados para a contemplação da paisagem em torno.
As cidades romanas, as urbes, são, como se pode notar, relativamente
bem planejadas. Enquanto que os gregos se preocupavam com a expressão
perfeita dos edifícios isolados, o modo com que os edifícios eram dispostos no
espaço urbano da cidade do período clássico costumava ser mais caótica, sem
uma ordenação tão racional quanto a que orientava a construção de seus
edifícios. Somente com Hipódamo de Mileto, no séc. V a.C., os gregos
demonstraram alguma preocupação com um plano da cidade, que deveria,
segundo este filósofo e arquiteto, representar e dar forma à ordem social.
Hipódamo então principa a ordenação urbana sobre uma retícula ortogonal.
Os romanos, por sua vez, se apropriaram destas ideias urbanísticas e
as desenvolveram, dando maior atenção ao desenho urbano. As urbes são
normalmente orientadas em torno de uma piazza, ou praça, circundada pelas
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Referências
Fontes na Internet:
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Responsável pelo Conteúdo:
Profª. Ms. Priscila Henning
Revisão Textual:
Profª. Esp. Denise Jarcovis
www.cruzeirodosul.edu.br
Campus Liberdade
01506-000
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