Você está na página 1de 236

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA

SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE


DEPARTAMENTO DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DA FAUNA
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA

Organização:

Maristela Zamoner
Márcia Arzua
Adelinyr Azevedo de
Moura Cordeiro

2012
Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Organização:
Maristela Zamoner
Márcia Arzua
Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro
1

FAUNA
CURITIBANA DE
INTERESSE À
SAÚDE
1ª Edição

CURITIBA
COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE LTDA.
2012

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Copyright © 2012 by Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro; Cláudia Staudacher; Dayana Kososki; Deni
Lineu Schwartz Filho; Diogo da Cunha Ferraz; Eric Koblitz; Gisélia Burigo Guimarães Rubio; Juliana
Margarida Martins; Juliano Ribeiro; Julio Cesar de Moura Leite; Marcelo L. Vettorello; Márcia Arzua;
Márcia Rocha Saad; Maristela Zamoner; Odete Lopez Lopes; Patrícia Weckerlin e Silva Trindade; Pedro
Scherer Neto; Simone do Rocio Ferreira Gusi; Solange Regina Malkowski; Tomaz Fumio Takeuchi;
Vinícius Abilhoa; Vivien Midori Morikawa.
. 2

Direitos desta edição: Museu de História Natural Capão da Imbuia.

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que
mencionados os créditos e que não objetive venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos
direitos autorais de textos e imagens desta obra é de cada um dos autores.

1ª edição – 2012

Elaboração e distribuição
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA

Endereço
Rua Benedito Conceição, 407 – Capão da Imbuia
Curitiba Paraná

Produção editorial
Organização: Maristela Zamoner; Márcia Arzua; Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro.
Autores: Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro; Cláudia Staudacher; Dayana Kososki; Deni Lineu
Schwartz Filho; Diogo da Cunha Ferraz; Eric Koblitz; Gisélia Burigo Guimarães Rubio; Juliana Margarida
Martins; Juliano Ribeiro; Julio Cesar de Moura Leite; Marcelo L. Vettorello; Márcia Arzua; Márcia Rocha
Saad; Maristela Zamoner; Odete Lopez Lopes; Patrícia Weckerlin e Silva Trindade; Pedro Scherer Neto;
Simone do Rocio Ferreira Gusi; Solange Regina Malkowski; Tomaz Fumio Takeuchi; Vinícius Abilhoa;
Vivien Midori Morikawa.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

F264 Fauna curitibana de interesse à saúde / organizado por Maristela


Zamoner, Márcia Arzua e Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro.
___ Curitiba: COMFAUNA CONSERVAÇÃO E MANEJO DE FAUNA
SILVESTRE LTDA.
2012.
236 p.; Il.

ISBN: 978-85-66017-00-7

1. Animais Sinantrópicos – Curitiba. 2. Animais – Saúde


Humana – Curitiba 3. Fauna – Curitiba – Estudos. I. Arzua,
Márcia. II. Cordeiro, Adelinyr Azevedo de Moura. III. Zamoner,
Maristela.

CDD: 590.981621

Ficha catalográfica elaborada por Filomena N. Hammerschmidt – CRB9/850

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA


SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DA FAUNA
MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA

PREFEITO
Luciano Ducci

SECRETÁRIA
Marilza do Carmo de Oliveira Dias

DIRETOR DO DEPARTAMENTO
Alfredo Vicente de Castro Trindade

CHEFIA DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Márcia Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

AUTORES

Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro


Cláudia Staudacher
Dayana Kososki
4
Deni Lineu Schwartz Filho
Diogo da Cunha Ferraz
Eric Koblitz
Gisélia Burigo Guimarães Rubio
Juliana Margarida Martins
Juliano Ribeiro
Julio Cesar de Moura Leite
Marcelo Vettorello
Márcia Arzua
Márcia Saad
Maristela Zamoner
Odete Lopez Lopes
Patricia Weckerlin e Silva Trindade
Pedro Scherer Neto
Simone do Rocio Ferreira Gusi
Solange Regina Malkowski
Tomaz Fumio Takeuchi
Vinícius Abilhoa
Vivien Morikawa

Os autores são integralmente responsáveis pelos


textos e imagens de seus capítulos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Fauna curitibana de
interesse à saúde

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prefácio

A Biologia é um universo de informações sobre os seres


vivos, animais e vegetais, onde aprendemos a compreender a sua
existência passada e atual, como também os mecanismos de
adaptação que a natureza criou para garantir sua existência futura.
Devido a esta singela definição, escolhi seguir estes caminhos e 6
creio que também muitos dos autores deste livro.
É importante salientar que alguns destes seres podem oferecer
certo tipo de risco ao homem. Como profissionais da área do
serviço público, em especial da área de Vigilância em Saúde,
devemos saber como reconhecê-los e nos casos pertinentes,
garantir a notificação dos eventuais acidentes/agravos,
desencadeando assim as medidas cabíveis de intervenção. Uma de
nossas atribuições é realizar a educação em saúde e neste momento
temos a oportunidade de dividir com a comunidade os
conhecimentos adquiridos em nossa formação e experiência
prática.
Ao realizarmos palestras educativas, devemos fornecer
orientações técnicas sobre controle de alguns grupos de animais
que possam representar problemas ao cidadão, neste caso, devemos
levar em conta que após cada trabalho realizado, crescemos como
profissionais e como pessoa, pois o público também acrescenta
informações preciosas. É preciso, pois, ter humildade em ouvir as
experiências que a comunidade pode oferecer e tentar da maneira
menos traumática possível desmistificar algumas crendices
seculares, especialmente no caso dos acidentes por animais
peçonhentos.
Esta obra certamente irá contribuir para esclarecimentos, pois
foi elaborada de uma maneira acessível e de fácil compreensão.

Todos os animais participam ativamente do equilíbrio


ecológico e alguns são de grande utilidade no controle de
pragas. Devemos aprender a conviver em harmonia com os
animais, respeitando seu ecossistema, evitando assim graves
acidentes.

Gisélia Burigo Guimarães Rubio


Bióloga, Chefe da Divisão de Zoonoses e Intoxicações da
Secretaria Estadual de Saúde do Paraná

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Palavra das organizadoras


7
Curitiba, capital do Estado do
Paraná, importante cidade do sul do
Brasil, é uma das capitais em que há
registro de diversas espécies
faunísticas vivendo em ambientes
utilizados também pela população. A
produção de materiais escritos que
agreguem informações sobre a fauna
curitibana de interesse à saúde é rara
embora necessária, especialmente
considerando que a Prefeitura
Municipal de Curitiba conta com
técnicos especialistas que conhecem
profundamente tais questões.
Objetiva-se por meio desta
produção, disponibilizar, de forma
ampla, um material agregador de
grupos importantes da fauna curitibana
que impliquem em algum interesse
para a saúde humana. Não se objetiva
abranger todos os grupos da fauna
desta cidade, mas, agregar parte
significativa deles.
Almejamos abrir a vertente das
produções que aglutinam
conhecimentos importantes adquiridos
e produzidos por técnicos do município
e colaboradores, unindo setores e
somando resultados. Esperamos
principalmente, contribuir para a
disseminação do conhecimento e
proteção da saúde de nossos cidadãos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Agradecimentos

Esta obra tornou-se realidade porque se acreditou nela.


O apoio recebido por algumas pessoas e instituições, essenciais para a
concretização ou qualidade do trabalho final, é digno de destaque, por isto,
agradecemos aqui, além dos autores: 8

Ao Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria


Municipal de Meio Ambiente de Curitiba pela seleção do projeto deste livro
apresentado à Carteira de Projetos.

Aos autores servidores do Centro de Saúde Ambiental e do Centro de


Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.

À bibliotecária Filomena N. Hammerschmidt, pela elaboração da Ficha


Catalográfica.

Aos autores de imagens:


César Arzua; Denise Maria Candido; Dr. Pratt; Hudson Garcia;
James Gathany; Jim Kalisch; João Justi Junior; José Zorzenon
Francisco; Magno Segalla; Marcelo C. Pereira; Raul Braga; Sérgio
Augusto Abrahão Morato; Stephen Ausmus; Terezinha Aparecida de
Lima; Wilson Uieda.

Às instituições:
Universidade de São Paulo; Instituto Biológico; Fiocruz – Fundação
Oswaldo Cruz; United States Department of Agriculture; Centers for Desease
Control and Prevention; University of Nebraska – Department of
Entomology; Centers for Disease Control and Prevention.

À COMFAUNA Conservação e Manejo de Fauna Silvestre Ltda.,pelo apoio


dado ao viabilizar a edição deste livro conforme a Política Nacional do
Livro (Lei LEI No 10.753, DE 30 DE OUTUBRO DE 2003).

A organização

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

A participação do cidadão 9
Quando iniciamos o trabalho com este livro e
discutimos algumas ideias com colegas, recebemos
valiosas opiniões e contribuições. Dentre estes
colegas, destacamos Anna Maria Boiczuk Rego,
assessora da direção do Centro de Saúde Ambiental,
que nos lembrou da importância que há na
participação do cidadão nos assuntos de todos os
capítulos deste livro.

Neste sentido, dedicamos este breve texto a lembrar de


que cada um de nós tem responsabilidade ao assumir
hábitos que favorecem ou dificultam a vida de certos
animais. É fundamental que cada cidadão pense sobre
quais de suas ações diárias podem ajudar animais
indesejados a permanecer em locais de uso humano,
alimentando-se, abrigando-se, hidratando-se e com
condições favoráveis à reprodução. Isto abrange desde
as atitudes mais simples, como acondicionar
corretamente os resíduos alimentares, até detalhes
arquitetônicos das construções que planejemos.

Cada um dos capítulos discute brevemente formas de


evitar situações que não desejamos nos ambientes que
habitamos, justamente, para que cada cidadão tenha
conhecimento sobre sua participação no processo de
cuidados com a saúde em relação à fauna sinantrópica.
A partir do momento que temos conhecimento, é
preciso responsabilidade consigo e com toda a
população, adotando os comportamentos mais seguros
para todos.

A organização

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Sumário

FAUNA SINANTRÓPICA .............................................................................................. 11


ANIMAIS QUE INJETAM TOXINAS ............................................................................ 12
10
Abelhas e vespas........................................................................................................ 13
Anfíbios e répteis ........................................................................................................ 27
Aranhas ........................................................................................................................ 50
Centopeias ................................................................................................................... 62
Escorpiões ................................................................................................................... 68
Formigas ...................................................................................................................... 78
Lagartas urticantes ..................................................................................................... 84
ANIMAIS QUE TRANSMITEM/VEICULAM DOENÇAS......................................... 101
Aves ............................................................................................................................ 102
Baratas ....................................................................................................................... 116
Cães e gatos.............................................................................................................. 127
Ectoparasitas ............................................................................................................. 137
Moluscos .................................................................................................................... 157
Morcegos.................................................................................................................... 174
Moscas ....................................................................................................................... 188
Mosquitos ................................................................................................................... 195
Percevejos ................................................................................................................. 204
Roedores .................................................................................................................... 213
OUTROS ANIMAIS DE INTERESSE À SAÚDE ..................................................... 223
Peixes ......................................................................................................................... 224
Dados dos autores ....................................................................................................... 232

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

FAUNA SINANTRÓPICA
Por Eric Koblitz

11
Durante o processo natural da vida, cada ser precisa satisfazer
necessidades permanentes de alimentação, hidratação, abrigo ou mesmo
defesa contra inimigos naturais.
A aquisição de nutrientes é uma exigência de todos os seres vivos,
implicando na geração de restos que acabam por participar de mecanismos
vitais de outros seres vivos, até mesmo como fonte de alimentação.
Ao longo do tempo, a humanidade descobriu formas de adquirir
alimentos mantendo-se em agrupamentos. Esta estratégia gera acúmulo
crescente de resíduos, o que não ocorria na vida nômade. São exemplos deste
processo a agricultura e a criação de animais domésticos como cabras, porcos,
vacas, galinhas entre outros. Os restos de alimentos humanos configuraram-se
como fonte de nutrientes para outros animais que obtém vantagens para sua
sobrevivência ao manterem-se próximos. O modo de vida humana permite
ainda acúmulos de água, que também são indispensáveis para vida de
animais.
Ao organizar seu ambiente, não é comum o homem pensar em formas
de evitar o acesso de animais indesejáveis, que acabam, muitas vezes, por não
encontrar obstáculos ao entrar em casas, indústrias, edificações, bueiros etc..
Muitas construções e modificações ambientais humanas originam abrigos para
esta fauna, que, próxima ao homem, vive mais protegida de seus inimigos
naturais.
Desta forma, acumulando alimentos e restos, disponibilizando água,
favorecendo abrigos e permitindo o acesso de animais que obtêm vantagens
ao viver juntamente com o homem, constitui-se o que chamamos de fauna
sinantrópica (do grego: sýn = com, junto, juntamente; e ánthropos = homem).
Diferente de animais domésticos para produção de carne, leite, peles e
outros derivados, ou animais de estimação, a fauna sinantrópica é indesejável
e precisa ser controlada. Afinal, ela é responsável não só por incômodos como
a produção de sujeira, mas também por inutilização de alimentos, materiais e
risco de transmitir doenças.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

12

ANIMAIS QUE INJETAM TOXINAS

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Abelhas e vespas
Por Solange Regina Malkowski
e Deni Lineu Schwartz Filho

13

Lista de espécies de interesse à saúde

Abelhas

Nome científico: Apis mellifera


Nome vulgar: Abelha-africanizada

Nome científico: Bombus sp.


Nome vulgar: Mamangava

Vespas

Nome científico: Agelaia multipicta


Nome vulgar: Cassununga

Nome científico: Brachygastra lecheguana


Nome vulgar: Lecheguana, lichiguana

Nome científico: Polistes sp.


Nome vulgar: Marimbondo

Nome científico: Polybia Ignobilis


Nome vulgar: Marimbondo

Nome científico: Polybia occidentalis


Nome vulgar: Marimbondo

Nome científico: Polybia scutellaris


Nome vulgar: Marimbondo

Nome científico: Synoeca cyanea


Nome vulgar: Vespa-tatu

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

As abelhas são insetos da ordem Hymenoptera, assim como as vespas e


formigas. Constituem um grupo (Apiformes) com mais de 17.500 espécies descritas.
Entre essas espécies, a grande maioria tem comportamento solitário, ou seja, não
formam colônias organizadas, nem possuem castas como ocorre com as espécies
sociais. Das espécies sociais, a abelha africanizada (Apis mellifera), é a mais conhecida
do público por ser amplamente criada para a produção de mel, cera, própolis e outros
produtos de interesse humano. Também é a espécie que causa mais acidentes. A Apis
mellifera não é uma espécie nativa do Brasil, tendo (a variedade europeia) sido 14
introduzida em 1839, pelo jesuíta Padre Antonio Carneiro Aureliano. A variedade
africana da espécie, muito mais agressiva que a europeia, foi trazida da África em 1956
a pedido do então presidente Jucelino Kubitschek, com o objetivo de “melhorar”
geneticamente as abelhas da variedade europeia existentes no Brasil, para o aumento da
produção de mel no país. No entanto, um erro de manejo no apiário onde as rainhas
africanas estavam enclausuradas causou a enxameação acidental de 26 enxames. Esse
fato deu início a uma série de cruzamentos naturais entre as abelhas europeias e
africanas, dando origem a um híbrido conhecido como “abelha africanizada”. Essa
abelha mostrou-se bastante produtiva no Brasil, tendo se adaptado perfeitamente às
nossas condições naturais. No entanto, devido ao seu alto grau de agressividade, causou
grande número de acidentes, inclusive fatais, com homens e animais, principalmente nas
décadas de 1960 e 1970. A partir de então, os apicultores adaptaram-se às abelhas
africanizadas, adotando novas técnicas de manejo, o que permitiu controle da
agressividade e aumento da produção do mel.
Infelizmente, poucas pessoas conhecem a grande variedade de abelhas
sociais nativas do Brasil. Várias dessas espécies produzem mel de excelente qualidade e
possuem o ferrão atrofiado (Meliponina ou meliponídeos), ou seja, são incapazes de
ferroar como a sua prima Apis mellifera. Outras espécies sociais nativas do Brasil como
as mamangavas (Bombus sp.), apesar de terem ferrão funcional e provocarem ferroadas
bastante doloridas, não causam muitos acidentes, pois suas colônias são pouco
populosas e seu raio de ataque é pequeno, ocorrendo, geralmente, quando uma pessoa
pisa ou se aproxima muito dos seus ninhos. A ferroada das mamangavas se diferencia
da de Apis mellifera, por não deixar o ferrão preso na pele da “vítima”, podendo ferroar
várias vezes em sequência.
As vespas, conhecidas também como marimbondos ou morimbondos,
constituem um grupo de insetos bastante diversificado, com mais de 800 espécies
sociais ou subsociais. Todas as vespas sociais pertencem à família Vespidae, que é
subdividida em subfamílias. No Brasil, existem mais de 400 espécies de vespas sociais,
que fazem parte da subfamília Polistinae, destacando-se as tribos Polistini e Polybiini.
Assim como as abelhas africanizadas, as vespas também possuem ferrão e são
responsáveis por vários acidentes, podendo inclusive ferroar várias vezes, pois
geralmente, não perdem o ferrão.
O hábito alimentar das vespas é diferente das abelhas, pois, além de coletar
o néctar das flores, favorecendo assim a polinização das plantas, também caçam outros
insetos para servirem de alimento às crias nos ninhos, o que contribui, de certa forma,
para um controle natural de insetos em geral.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Abelhas

Dados

O habitat das abelhas Apis mellifera é bastante diversificado e inclui savana,


florestas tropicais, deserto, regiões litorâneas e montanhosas. Essa grande variedade de 15
climas e vegetações acabou originando diversas subespécies ou raças de abelhas, com
diferentes características e adaptadas às diversas condições ambientais. Suas colônias
apresentam uma rainha, alguns zangões e milhares de operárias. O comportamento
agressivo das abelhas africanizadas (introduzidas no Brasil) é influenciado por vários
fatores, inclusive pelas condições climáticas.
A Apis mellifera (abelha africanizada) apresenta colônias bastante
populosas, podendo chegar até 120.000 indivíduos, e pelo processo de enxameação
(divisão natural) pode produzir até 8 colônias filhas por ano. Durante esse processo, há a
formação de uma nova rainha, sendo que metade das abelhas da colônia, juntamente
com a velha rainha, saem em um enxame migratório em busca de um novo local para
nidificação. Também, pode acontecer de haver escassez de alimento, obrigando as
abelhas a abandonar o local onde estão instaladas e procurar outro mais favorável. Nesta
situação, comumente, as abelhas ficam muito agressivas podendo causar acidentes,
inclusive fatais.
Esses dois processos, enxameação e abandono (migração), contribuem
significativamente para o acréscimo do número de acidentes sofridos por animais e
pessoas. Uma curiosidade que vale a pena aqui ressaltar é que a A. mellifera ao ferroar
perde o seu ferrão ficando assim mutilada, morrendo algum tempo depois. Porém o
ferrão perdido fica exalando um odor que atrai outras abelhas que continuarão o ataque.
O processo de divisão da colônia (enxameação) depende do trabalho de abelhas
campeiras especializadas, denominadas batedoras, que rastreiam a área de abrangência à
procura de um local propício para a instalação do enxame. Tal procura pode ter a
duração aproximada de 3 dias, período no qual as abelhas permanecem agrupadas umas
às outras, totalmente vulneráveis às condições climáticas, em locais como: galhos de
árvores, pontos de ônibus, lixeiras, portões, telefones públicos, etc. Os enxames,
finalmente, encontram um local para se instalarem definitivamente, geralmente,
cavidades em que as colônias possam permanecer abrigadas.
As mamangavas (Bombus sp.), são abelhas de porte grande, nativas das
Américas e que formam colônias organizadas, ou seja, tem comportamento social,
apresentando uma única rainha, várias operárias e zangões. Em geral, as colônias são
pouco numerosas e se abrigam em pequenas cavidades como buracos no solo, em muros
de pedra e sob a palha ou folhiço na floresta. São muito importantes para a polinização
de certas plantas e vivem em todos os biomas brasileiros. Só atacam pessoas que se
aproximam muito do ninho.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

16

Abelha – Apis melifera.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

17

Ninho aberto – Apis melifera.


FOTOS: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

18

Enxame migratório de abelhas-africanizadas em lixeira.


FOTO: Solange Regina Malkowski

Enxame migratório de abelhas-africanizadas em árvore.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

19

Enxame de abelhas-africanizadas em oco de árvore.


FOTO: Solange Regina Malkowski

Enxame de abelhas-africanizadas em poste da iluminação pública.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vespas

Dados

As vespas são bastante frequentes em áreas urbanizadas, podendo ser


encontrados em uma grande diversidade de locais, como: beirais, forros e paredes 20
externas de edificações, ocos de troncos de árvores, galhos de árvores, etc. Destacam-se
os ninhos de Synoeca cyanea, popularmente conhecida como vespa tatu, cujo invólucro
é bastante característico, e Brachygastra leccheguana, que parece ter preferência por
nidificar em coroa de cristo. Quase todos os ninhos possuem invólucro, isto é, uma
camada protetora para os favos, mas, algumas espécies, assim como Polistes sp.,
constroem seus ninhos simples, sem proteção, presos apenas por um pedúnculo e um só
favo.

Ninho de vespas em árvore.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

21

Ninho de vespas em árvore.


FOTO: Solange Regina Malkowski

Ninho de vespas em beiral de edificação.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

22

Ninho de vespa-tatu em árvore.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

23

Ninho de vespas em coroa de cristo.


FOTO: Solange Regina Malkowski

Ninhos de Polistes sp. em beiral.


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Uma colônia de abelhas africanizadas (Apis mellifera) pode ter de 30.000 a


80.000 indivíduos. Parte das operárias tem a função de defender a colmeia. Quando
essas sentinelas detectam uma possível ameaça, que pode ser uma pessoa ou animal,
imediatamente atacam o “agressor”. Os ferrões permanecem aderidos à pele 24
continuamente, expelindo a toxina e outras substâncias químicas que atraem novas
abelhas, podendo causar um ataque em massa.
Pessoas alérgicas podem, com uma única picada de abelhas, dependendo do
grau de sensibilidade, sofrer um edema de glote severo e vir a óbito por asfixia. As
pessoas não alérgicas, por mais fortes que sejam, não resistem a 800 ferroadas.
O ataque de abelhas é um sério problema no Brasil, principalmente, nas
áreas urbanas, onde há grande concentração de enxames que ocupam espontaneamente
beirais, forros e paredes de edificações, ocos de árvores, cavidades em postes de
energia, bueiros, tambores, latas, pneus, caixas de esgoto, etc. Tal fato tem causado
grande número de acidentes, inclusive fatais, sendo que a Apis mellifera é o animal
(exceto o homem) que mais mata seres humanos.
O nível de agressividade das vespas é bastante variável entre as espécies em
questão. Algumas só atacam quando incomodadas pela aproximação, outras quando
seus ninhos são tocados. Assim, todas as espécies defendem muito bem suas colônias e
podem atacar em “bandos”, causando graves acidentes.

Prevenção

A atividade de criação de abelhas africanizadas (apicultura) não deve ser


realizada em áreas urbanizadas, pois essas abelhas possuem um raio de ataque de até
500 metros, o que pode provocar graves acidentes.
Pessoas alérgicas a abelhas ou vespas, jamais devem se aproximar de
colmeias/ colônias destes insetos.
Nunca se deve mexer com os ninhos de abelhas ou vespas, a menos que seja
habilitado para essa atividade.
Os enxames e colônias instaladas próximos a moradias, como em forros ou
telhados, devem ser retirados por pessoal qualificado ou empresa especializada.
Qualquer trabalho de retirada de enxames ou de manejo de abelhas próximo
a habitações, deve sempre ser realizado no período noturno.
Mel, doces, copos com restos de refrigerantes, sucos, caldo de cana, devem
ficar fora do alcance de abelhas ou vespas, inclusive depois de serem descartados no
lixo.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O que fazer em caso de acidentes

Procurar se afastar rapidamente das proximidades do enxame ou do local


onde as abelhas ou vespas estão atacando. Sair do raio de ataque. Se abrigar num local
bem fechado (carro, casa etc.).
Nunca ficar parado no local do ataque, pois poderá sofrer um ataque em
massa.
Tentar retirar imediatamente, com movimento de raspagem, os ferrões que 25
estiverem cravados na pele. Lavar o local com água para diluir os odores exalados do
ferrão, que podem atrair novas abelhas.
Nunca esmagar abelhas e vespas, pois o cheiro dos exemplares esmagados
atrairá mais abelhas /vespas.
No caso de acidentes, principalmente com pessoas alérgicas, procurar
imediatamente o serviço médico.

Referências

CAMARGO, J. M. F. de 1972. Manual de apicultura. Ed. Agronômica Ceres Ltda, São


Paulo, 252 p.
CARDOSO, J.L.C. et al. 2002. Animais peçonhentos no Brasil, Biologia, Clínica e
Terapêutica dos Acidentes. Ed. Sarvier, São Paulo, SP, 467 p.
IMPERATRIZ-FONSECA, V.L. 1998. O apicultor e a conservação de abelhas sem
ferrão. Anais do XII Congresso Brasileiro de Apicultura, Mini-Conferência 11,
Salvador, BA, p. 79-82.
MALKOWSKI , S.R. 2000. Occurrence of swarms of africanized bees and wasp nests
in the metropolitan region of Curitiba, state of Parana, Brazil. Annals of the XXI
International Congress of Entomology, Foz do Iguaçu, PR, Abstracts, Book II, p.
887.
MALKOWSKI, S.R. & SCHWARTZ-FILHO, D.L. 2009. Abelha africanizada (Apis
mellifera). Plano de Controle de Espécies Exóticas Invasoras No Estado do Paraná,
IAP, Projeto Paraná Biodiversidade, p. 48-56.
MICHENER, C. D. 2007. The Bees of the World, 2nd ed. 953 pp. Baltimore: Johns
Hopkins University Press.
SOARES, A. E. E. 1998. Manejo de caixas iscas e suas implicações com a prevenção de
acidentes. Anais do XII Congresso Brasileiro de Apicultura, Mini-Conferência 04,
Salvador, BA, p. 61-65.

Agradecimento: Prof. Dr. Benedito B. dos Santos, Dept. de Biologia Geral, ICB,
Universidade Federal de Goiás, pela identificação das vespas (Hymenopera, Vespidae).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

26

Dados dos autores

Solange Regina Malkowski

Graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná


(1985) e mestre em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do
Paraná (1992). Bióloga do Museu de História Natural Capão da Imbuia em Curitiba-PR,
Laboratório de Entomologia. Curadora da coleção entomológica, com experiência em
entomologia urbana.

Deni Lineu Schwartz Filho

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (1986) e mestre em


Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná (1990).
Atualmente, é consultor e empreendedor na área de conservação e manejo de fauna nativa e
exótica. Tem experiência na área de biogeografia, ecologia, conservação e manejo das
abelhas neotropicais, bem como no manejo e uso econômico da fauna nativa e exótica.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Anfíbios e répteis
Por Julio Cesar de Moura Leite e
Gisélia Burigo Guimarães Rubio

27

Lista de animais de interesse à saúde

Sapo

Nome vulgar: sapo, sapo-cururu


Nome científico: Rhinella icterica

Cobras

Nome vulgar: jararaca, jararaca-comum


Nome científico: Bothropoides jararaca

Nome vulgar: jararaca-pintada


Nome científico: Bothropoides neuwiedi

Nome vulgar: cobra-coral, coral-verdadeira


Nome científico: Micrurus altirostris

Nome vulgar: cobra-coral, coral-verdadeira


Nome científico: Micrurus corallinus

Nome vulgar: cobra-verde


Nome científico: Philodryas olfersii

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Anfíbios e répteis são animais tradicionalmente malquistos pela população.


O medo e a repulsa que permeiam essa relação pouco amistosa estão associados ao 28
pouco e deturpado conhecimento que a maioria das pessoas tem sobre aspectos básicos
de tais animais. De natureza ectotérmica (o que vulgarmente se chama de “animais de
sangue frio”), anfíbios e répteis dependem do calor do ambiente para regular a
temperatura corpórea. Isso determina um estilo de vida e hábitos muito diferentes
daqueles observados em mamíferos e aves, que são endotérmicos (ou seja, geram e
mantêm a temperatura estável através de reações metabólicas). Assim, o seu período de
maior atividade se restringe aos meses mais quentes do ano (primavera e verão). O
aspecto geral desses animais, muito diferente do nosso, bem como os seus peculiares
hábitos de viverem escondidos a maior parte do tempo ajudam a criar a aura de mistério
sobre eles. No entanto, a maioria deles é completamente inofensiva, preferindo a rápida
fuga ao enfrentamento de seres humanos.
Esses animais representam uma parcela significativa da grande diversidade
faunística verificada em nosso país. Atualmente, são reconhecidas 877 espécies de
anfíbios e 732 espécies de répteis ocorrentes no Brasil. Mais de 20% dos anfíbios e
répteis brasileiros foram registrados em território paranaense.
Anfíbios e répteis desempenham papéis importantes na estruturação das
comunidades biológicas, agindo como controladores de populações de diversos grupos
animais e ajudando a manter o equilíbrio dos ecossistemas. Com isso, é muito
importante prezar sua conservação.
Os diferentes grupos de répteis apresentam o corpo coberto por escamas e
placas – o que evita a desidratação e permite a esses animais viver em locais mais secos
e muitas vezes apresentar hábitos diurnos. Já o grupo dos anfíbios apresenta a pele lisa,
o que, geralmente, os leva a restringir sua atividade ao período noturno.
Provavelmente, o fator mais importante a influenciar na difícil relação entre
esses animais e as pessoas seja a ocorrência de acidentes com animais peçonhentos. Ao
contrário do que muita gente pensa, os anfíbios não são agressivos, muito menos
peçonhentos. Algumas espécies de sapos apresentam toxinas secretadas pela pele, é
verdade, mas carecem de estruturas para inocular esse veneno, como dentes
especializados ou ferrões. Assim, são considerados venenosos, porém não peçonhentos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

29
Já os répteis variam bastante em relação ao seu comportamento, podendo ser
inofensivos ou agressivos. O comportamento agressivo dos répteis nem sempre está
associado à presença de veneno. A maioria dos répteis não é peçonhenta nem venenosa
(o que inclui todos os jacarés, quelônios e quase todos os lagartos). No entanto, cerca de
um quarto das espécies de serpentes do mundo apresentam interesse médico, por
causarem os chamados acidentes ofídicos ou ofidismo. Os acidentes mais graves
ocorrem com serpentes proteróglifas (corais verdadeiras da Família Elapidae) ou
solenóglifas (jararacas e cascavéis da Família Viperidae), que apresentam dentes
especializados na inoculação de veneno, situados na região anterior da boca. Elapídeos e
viperídeos correspondem a cerca de 15% apenas das espécies de serpentes brasileiras.
No entanto, várias outras espécies de serpentes brasileiras (cerca de 30 % das espécies
ditas “não venenosas”) apresentam algum tipo de toxina na saliva, geralmente,
acompanhada de dentes maiores, localizados no fundo da boca (dentição opistóglifa).
Cada grupo de serpentes apresenta um tipo diferente de veneno, que demanda um tipo
específico de tratamento. No caso onde houver inoculação de veneno, apenas os soros
antipeçonhentos são eficazes como tratamento. Esses soros são específicos, ou seja,
existe um soro anti-botrópico (específico para mordeduras de “jararacas”), um soro anti-
elapídico (para acidentes com corais) e um soro anti-crotálico (utilizado nos acidentes
com cascavéis). No caso das serpentes opistóglifas, os envenenamentos raramente são
graves, demandando apenas acompanhamento e medicação sintomática. De qualquer
maneira, a maioria dos acidentes ofídicos ocorre em áreas rurais, situadas na periferia
das grandes cidades. Com isso, poucos acidentes acontecem nos limites da nossa
capital, sendo mais comuns, no entanto, na região metropolitana.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O impacto gerado pelo acelerado processo de urbanização de nossa cidade,


nas últimas décadas, determinou o desaparecimento da maioria das espécies que aqui
viviam. A descaracterização ambiental representada não somente pela destruição de
bosques e áreas florestadas, mas, principalmente pela drenagem de várzeas e
aterramento de áreas banhadas, foi o fator preponderante nesse processo. Com isso, a
distribuição da maioria das espécies de anfíbios e répteis, em Curitiba, encontra-se hoje
restrita às áreas verdes representadas por parques urbanos como o Barigui e o Tanguá,
bem como áreas particulares de várzeas e bosques localizadas na periferia do município
e região metropolitana. É nessas áreas que se concentra o maior risco. O número de
acidentes com serpentes no município de Curitiba tem diminuído consideravelmente: em 30
média, ocorreram 8,5 acidentes por ano no último quadriênio, sendo um quarto deles
causados por espécies não peçonhentas (Tabela I). Chama a atenção o fato de que
apenas metade dos acidentes tiveram o agente causador devidamente identificado. Já o
envenenamento por sapos pode ser considerado muito raro, tendo sido registrado na
cidade apenas um caso nos últimos cinco anos.

Tabela I. Acidentes Ofídicos Ocorridos em Curitiba (período de 2007 a 2010)

Tipo de acidente 2007 2008 2009 2010 Total

Ignorado 5 3 5 4 17

Botrópico 1 4 2 1 8

Por não peçonhenta 4 1 4 0 9

Total 10 8 11 5 34

Fonte: Secretaria Estadual da Saúde

Referências

BÉRNILS, R.S. & COSTA, H.C. 2011. Brasilian reptiles – Listo f species. Accessible
at http://www.sbherpetologia.org.br/. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Acesso
em novembro de 2011
BÉRNILS, R.S.; MORATO, S.A.A. & MOURA-LEITE, J.C. 2004. Répteis. In:
MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S. (Eds.). Livro vermelho da Fauna Ameaçada no
Estado do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, p.497-540.
SBH. 2010. Brazilian amphibians – List of species. Accessible at:
http://www.sbherpetologia.org.br. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Acesso em
novembro de 2011.
SEGALLA, M.V. & LANGONE, J.A. 2004. Anfíbios. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS,
R.S. (Eds.). Livro vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba:
Instituto Ambiental do Paraná, p.537-577.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: sapo, sapo-cururu


Nome científico: Rhinella icterica (Spix, 1824)

31

FOTO: Raul Braga

Dados

O sapo é um anfíbio anuro de médio porte, podendo atingir até 14 cm.


Apresenta o dorso rugoso, castanho-avermelhado, amarelado ou oliváceo e bastante
manchado (fêmeas e jovens) ou sem manchas (machos). Um par de grandes glândulas
(as parotóides) se destaca atrás dos olhos. Esta espécie é nativa, amplamente distribuída
no Brasil através da Floresta Atlântica, desde a Bahia e Goiás até o Rio Grande do Sul,
além de Misiones, na Argentina. Ocupa tanto áreas florestadas quanto abertas, incluindo
terrenos baldios, bosques e plantações. Em Curitiba, pode ser encontrado em qualquer
lugar onde existam riachos e coleções de água parada (poças d’água, banhados, brejos e
lagoas). É considerada uma espécie de interesse à saúde por apresentar toxinas na pele e
ser causadora de acidentes com pessoas e animais domésticos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

As glândulas parotóides armazenam um verdadeiro coquetel de substâncias


tóxicas (o chamado “leite do sapo”), entre elas as bufoteninas e bufofaginas. Entre os
sintomas tradicionais do envenenamento por essas substâncias estão: enjoos, salivação
intensa e vômitos. As toxinas agem sobre o sistema nervoso (neurotóxicas) e sobre o
sistema circulatório, determinando variações de pressão sanguínea e taquicardia, 32
podendo evoluir para convulsões violentas e parada cardíaca. Os acidentes são mais
comuns com animais domésticos do que com pessoas. Ocorrem se o veneno entra em
contato com mucosas da boca e dos olhos. Quando as glândulas parotóides são
pressionadas (durante o manuseio dos sapos, ao se pisar neles ou mediante agressão
com algum objeto como, por exemplo, uma enxada ou pedaço de pau), espirram o
veneno a distâncias consideráveis, através de inúmeros poros distribuídos na sua
superfície. Envenenamentos também se dão através da mucosa bucal, quando esses
animais são mordidos por animais domésticos ou colocados na boca por crianças.

Prevenção de acidentes

Evitar o contato direto de animais domésticos e crianças com esses animais.


Os sapos não têm condições de esguichar veneno ativamente. Desta maneira, são
inofensivos se não forem molestados.

O que fazer em caso de acidente

Procurar imediatamente uma unidade básica de saúde, centro de urgências


médicas 24h ou pronto-socorro, de preferência levando o animal causador do acidente
para identificação. Neste local, o paciente deverá receber drogas neutralizantes do
veneno ministradas por um médico, de acordo com as circunstâncias e a gravidade do
acidente.
Informações sobre como proceder em caso de acidentes com esses animais
(bem como envenenamentos em geral) podem ser obtidas junto ao Centro de Controle
de Envenenamentos, pelo número de telefone 0800 410148.

Informações adicionais

Esta espécie esteve, durante muito tempo, associada ao gênero Bufo.


Posteriormente, foi transferida para o gênero Chaunus e em 2007 passou a pertencer ao
gênero Rhinella. Com isso, essa espécie é mencionada na literatura científica anterior a
esta última revisão sob as combinações Bufo ictericus e Chaunus ictericus.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

33

Referências

BRAUN, P.C. & BRAUN, C.A.S. 1977. O veneno dos Sapos. Natureza em Revista, 3:
28-32.
CHAPARRO, J. C., PRAMUK, J.B. & GLUESENKAMP, A.G. 2007. A new species of
arboreal Rhinella (Anura: Bufonidae) from cloud forest of southeastern Peru.
Herpetologica, 63: 203-212.
FROST, D. R. 2011. Amphibian Species of the World: an Online Reference. Version
5.5 (31 January, 2011). Disponível em: http://research.amnh.org/
vz/herpetology/amphibia/ ,American Museum of Natural History, New York, USA.
FROST, D. R., T. GRANT, J. FAIVOVICH, R. H. BAIN, A. HAAS, C. F. B.
HADDAD, R. O. DE SÁ, A. CHANNING, M. WILKINSON, S. C. DONNELLAN,
C. J. RAXWORTHY, J. A. CAMPBELL, B. L. BLOTTO, P. E. MOLER, R. C.
DREWES, R. A. NUSSBAUM, J. D. LYNCH, D. M. GREEN, AND W. 2006. The
amphibian tree of life. Bulletin of the American Museum of Natural History, 297: 1-
370. Disponível em: http://digitallibrary.amnh.org/dspace/handle/2246/5781 ].
KWET, A. & DI-BERNARDO, M. 1999. Pró-Mata. Anfíbios – Amphibien -
Amphibians. Porto Alegre, EDIPUCRS. 107p.
SEBBEN, A.; SCHWARTZ, C.A. & CRUZ, J.S. 1993. A defesa química dos anfíbios.
Ciência Hoje, 15 (87): 25-33.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: jararaca, jararaca-comum


Nome científico: Bothropoides jararaca (Wied, 1824)

34

FOTO: Hudson Garcia

Dados

A jararaca é uma espécie de médio porte, com um padrão de desenho


malhado em tons de marrom, com manchas em forma de “V” invertido, escuras, sobre
fundo mais claro e distribuídas homogeneamente em ambos os lados do tronco. Pode ser
reconhecida pelo formato triangular da cabeça e, especialmente, pela presença das
fossetas loreais, ou seja, um par de aberturas localizadas entre os olhos e as narinas, as
quais representam a exteriorização de um aparato termorreceptor (responsável pela
percepção de calor emanado pelo ambiente e por outros animais). Esta espécie é nativa,
amplamente distribuída no Brasil, desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, além
do Paraguai e Argentina. Ocupa diferentes ambientes, podendo ser encontrada no
interior de matas, florestas e também em áreas abertas, incluindo terrenos baldios e
plantações. Em Curitiba, tem sido registrada nos últimos anos apenas nos bairros mais
periféricos da cidade. É considerada uma espécie de interesse à saúde por ser
peçonhenta e causadora de acidentes graves. No Brasil, nove entre dez acidentes
ofídicos são causados pela jararaca e espécies proximamente aparentadas, como a
jararaca-pintada, a cotiara, o urutu, o jararacussu e o jararacão, entre outras.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Esta serpente é muito agressiva e desfere botes extremamente rápidos


quando se sente ameaçada, inoculando através de dentes maxilares especializados, um
veneno poderosíssimo, com ações proteolítica, coagulante e vasculotóxica
(hemorrágica). Os sintomas clássicos do envenenamento botrópico incluem dor intensa
e edema (inchaço) no local da picada, irradiando-se para a periferia do ferimento. 35
Equimoses (manchas avermelhadas) e sangramentos locais podem também aparecer.
Em acidentes mais graves ocorre o aparecimento de bolhas e a necrose dos tecidos, caso
não se proceda a soroterapia, ou seja, o tratamento com soro antibotrópico.

Prevenção de acidentes

Utilização de botas de cano alto (ou, pelo menos, botinas) em áreas onde
possam ocorrer serpentes (por exemplo, ao percorrer trilhas no interior da mata ou em
piqueniques e pescarias); ao percorrer áreas de matas, terrenos baldios e plantações,
observar atentamente onde se pisa e onde se coloca a mão; vedar frestas de portas de
casas localizadas em áreas mais isoladas ou próximas a terrenos baldios; proteger a
fauna que costuma se alimentar de serpentes, como é o caso de gaviões e gambás, nas
áreas mais urbanizadas. Evitar o acúmulo de lixo orgânico próximo a residências: este
lixo atrai roedores e outros pequenos vertebrados, que constituem itens alimentares das
jararacas.

O que fazer em caso de acidente

Manter o acidentado calmo. Retirar anéis, relógios, pulseiras, sapatos ou


outros objetos que possam impedir a circulação do sangue em caso de inchaço do
membro afetado. Não ministrar nenhum tipo de remédio ou bebida. Não fazer torniquete
ou garrote. Não proceder a sucção da ferida. Não cortar, perfurar ou queimar o local
atingido pela picada, o que apenas agravaria o acidente. Procurar imediatamente uma
unidade básica de saúde, centro de urgências médicas 24h ou pronto-socorro. Caso seja
possível, levar de forma segura o animal causador do acidente para identificação. Neste
local, o paciente deverá receber injeções de um soro neutralizante, no caso, o soro anti-
botrópico. Note-se que somente os soros antiofídicos têm poder curativo comprovado
no caso de mordeduras por serpentes peçonhentas. Estes soros são específicos para cada
tipo de veneno – e devem ser ministrados por profissionais da área de saúde em
ambiente hospitalar. Por este motivo, os diferentes tipos de soros antiofídicos não são
vendidos em farmácias.
Informações sobre como proceder em caso de acidentes com animais
peçonhentos (bem como envenenamentos em geral) podem ser obtidas junto ao Centro
de Controle de Envenenamentos, pelo número de telefone 0800 410148.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

36
Informações adicionais

Esta espécie esteve incluída no gênero Bothrops durante muito tempo e em


2009 passou ao gênero Bothropoides. Com isso, essa espécie é mencionada na literatura
científica anterior à revisão sob a combinação Bothrops jararaca.

Referências

ALVES, A.L.; MELGAREJO-GIMENEZ, A.R.; VENTURA, D.V.R.; MORAES,


F.L.B.; BELLUOMINI, H.E.;CANTER, H.M.; STACIARINI, I.; FEDERSONI
JUNIOR, P.A.; SANTOS, R.Q. & LEITE, S.G.F. 1989. Cartilha de Ofidismo
(Cobral). Ed. Revisada, 2ª reimpressão. Brasília: Ministério da Saúde, 32 p.
BARRAVIERA, B. & PEREIRA, P.C.M. 1999. Acidentes por Serpentes do Gênero
Bothrops. Cap. 19, p. 261-280, in: BARRAVIERA, B. Venenos: aspectos clínicos e
terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. Rio de Janeiro: EPUB, 411 p.
CAMPBELL, J.A. & LAMAR, W.W. 1989. The Venemous Reptiles of Latin America.
Ithaca, Cornell Univ. Press, 414 p.
FENWICK, A.M., GUTBERLET Jr., R.L., EVANS, J.A. & PARKINSON, C.L. 2009.
Morphological and molecular evidence for phylogeny and classification of South
American pitvipers, genera Bothrops, Bothriopsis, and Bothrocophias (Serpentes:
Viperidae). Zool. J. Linn. Soc. 156(3):617-640.
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. 2001. Manual de Diagnóstico e Tratamento de
acidentes por animais peçonhentos. 2ª Ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde,
132 p. Disponível em: http://www.ivb.rj.gov.br/palestras/manu_peconhentos.pdf

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: jararaca-pintada


Nome científico: Bothropoides neuwiedi (Wagler, 1824)

37
Dados

A jararaca-pintada é uma espécie de pequeno porte, se comparada com B.


jararaca. Apresenta um padrão de desenho malhado em tons de marrom, com manchas
em forma de “V” invertido, em que as duas pontas são marginadas por manchas
menores no mesmo tom escuro, arredondadas ou ovaladas, sobre fundo mais claro e
distribuídas homogeneamente em ambos os lados do tronco. A cabeça é triangular e
apresenta fossetas loreais, ou seja, um par de aberturas localizadas entre os olhos e as
narinas, as quais representam a exteriorização de um aparato termorreceptor
(responsável pela percepção de calor emanado pelo ambiente e por outros animais). Esta
espécie é nativa, amplamente distribuída no Brasil, nos estados da Bahia, Goiás, Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e talvez a porção setentrional
do Rio Grande do Sul. Ocupa diferentes ambientes, podendo ser encontrada na borda de
matas e florestas, sendo mais comum em áreas abertas. Pode também ser vista em
terrenos baldios e plantações. Em Curitiba, tem sido registrada nos últimos anos apenas
nos bairros do Pinheirinho, Campo de Santana e na Cidade Industrial de Curitiba. É
considerada uma espécie de interesse à saúde por ser peçonhenta e causadora de
acidentes graves. No Brasil, nove entre dez acidentes ofídicos são causados pela
jararaca-pintada e espécies proximamente aparentadas, como a jararaca comum, a
cotiara, o urutu, o jararacussu e o jararacão, entre outras.

Interesse à saúde

Esta serpente é muito agressiva e desfere botes extremamente rápidos


quando se sente ameaçada, inoculando através de dentes maxilares especializados um
veneno poderosíssimo, com ações proteolítica, coagulante e vasculotóxica
(hemorrágica). Os sintomas clássicos do envenenamento botrópico incluem dor intensa
e edema (inchaço) no local da picada, irradiando-se para a periferia do ferimento.
Equimoses (manchas avermelhadas) e sangramentos locais podem também aparecer.
Em acidentes mais graves, há o aparecimento de bolhas e a necrose dos tecidos, caso
não se proceda a soroterapia, ou seja, o tratamento com soro antibotrópico.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção de acidente

Utilização de botas de cano alto (ou, pelo menos, botinas) em áreas onde
possam ocorrer serpentes (por exemplo, ao percorrer trilhas no interior da mata ou em
piqueniques e pescarias); ao percorrer áreas de matas, terrenos baldios e plantações, 38
observar atentamente onde se pisa e onde se coloca a mão; vedar frestas de portas de
casas localizadas em áreas mais isoladas ou próximas a terrenos baldios; proteger a
fauna que costuma se alimentar de serpentes, como é o caso de gaviões e gambás, nas
áreas mais urbanizadas. Evitar o acúmulo de lixo orgânico próximo a residências: este
lixo atrai roedores e outros pequenos vertebrados, que constituem itens alimentares das
jararacas.

O que fazer em caso de acidente

Manter o acidentado calmo. Retirar anéis, relógios, pulseiras, sapatos ou


outros objetos que possam impedir a circulação do sangue em caso de inchaço do
membro afetado. Não ministrar nenhum tipo de remédio ou bebida. Não fazer torniquete
ou garrote. Não proceder a sucção da ferida. Não cortar, perfurar ou queimar o local
atingido pela picada, o que apenas agravaria o acidente. Procurar imediatamente uma
unidade básica de saúde, centro de urgências médicas 24h ou pronto-socorro. Caso seja
possível, levar o animal causador do acidente de forma segura para identificação.
Neste local, o paciente deverá receber injeções de um soro neutralizante, no caso, o soro
anti-botrópico. Note-se que somente os soros antiofídicos têm poder curativo
comprovado no caso de mordeduras por serpentes peçonhentas. Estes soros são
específicos – um único para cada tipo de veneno – e devem ser ministrados por
profissionais da área de saúde em ambiente hospitalar. Por este motivo, os diferentes
tipos de soros antiofídicos não são vendidos em farmácias.
Informações sobre como proceder em caso de acidentes com animais
peçonhentos (bem como envenenamentos em geral) podem ser obtidas junto ao Centro
de Controle de Envenenamentos, pelo número de telefone 0800 410148.

Informações adicionais

Esta espécie esteve incluída no gênero Bothrops durante muito tempo, até
que em 2009 passou ao gênero Bothropoides. Com isso, essa espécie é mencionada na
literatura científica anterior à revisão sob a combinação Bothrops neuwiedi e, em nível
subespecífico, Bothrops neuwiedi paranaensis.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

39
Referências

ALVES, A.L.; MELGAREJO-GIMENEZ, A.R.; VENTURA, D.V.R.; MORAES,


F.L.B.; BELLUOMINI, H.E.;CANTER, H.M.; STACIARINI, I.; FEDERSONI
JUNIOR, P.A.; SANTOS, R.Q. & LEITE, S.G.F. 1989. Cartilha de Ofidismo
(Cobral). Ed. Revisada, 2ª reimpressão. Brasília: Ministério da Saúde, 32 p.
BARRAVIERA, B. & PEREIRA, P.C.M. 1999. Acidentes por Serpentes do Gênero
Bothrops. Cap. 19, p. 261-280, in: BARRAVIERA, B. Venenos: aspectos clínicos e
terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. Rio de Janeiro: EPUB, 411 p.
FENNWICK, A.M.; GUTBERLET JR., R.L.; EVANS, J.A. & PARKINSON, C.L.
2009. Morphological and molecular evidence for phylogeny and classification of
South American pitvipers, genera Bothrops, Bothriopsis, and Bothrocophias
(Serpentes: Viperidae). Zool. J. Linn. Soc., 156: 617-640.
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. 2001. Manual de Diagnóstico e Tratamento de
acidentes por animais peçonhentos. 2ª Ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde,
132 p. Disponível em: http://www.ivb.rj.gov.br/palestras/manu_peconhentos.pdf
SILVA, V.X. & RODRIGUES, M.T. 2008. Taxonomic revision of the Bothrops
neuwiedi complex Serpentes, Viperidae), with description of a new species.
Phyllomedusa, 7 (1): 45-90.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: cobra-coral, coral-verdadeira


Nome científico: Micrurus altirostris (Cope, 1859)

40

FOTO: Hudson Garcia

Dados

A cobra-coral é uma espécie de pequeno a médio porte, com um padrão de


desenho característico, composto por anéis regulares nas cores preto e branco (ou
amarelo), separados por interespaços maiores na cor vermelha. Nesta espécie, os anéis
pretos são arranjados em conjuntos de três (tríades). Corais têm a cabeça ovalada e não
apresentam fosseta loreal. A espécie M. altirostris é nativa, amplamente distribuída no
sul do Brasil, desde o Paraná até o Rio Grande do Sul, além do Uruguai e nordeste da
Argentina. Ocupa diferentes ambientes, podendo ser encontrada no interior de matas,
florestas e também em áreas abertas, incluindo terrenos baldios e plantações, onde,
geralmente, se alimenta de outras serpentes. Em Curitiba, é de raro encontro, tendo sido
registrada para os bairros do Bacacheri, Barreirinha, Cajuru, Pinheirinho, Tatuquara,
Campo de Santana e na Cidade Industrial de Curitiba. O último registro para a cidade de
Curitiba data de 2004 (Pinheirinho). É considerada uma espécie de interesse à saúde por
ser peçonhenta e causadora de acidentes graves. O envenenamento por cobras corais é
muito raro, correspondendo a menos de 1% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Esta serpente não é agressiva e tende a fugir em contato com o ser humano.
Os acidentes normalmente ocorrem quando são pisadas acidentalmente ou agredidas.
Inoculam, através de dentes maxilares especializados, um veneno poderosíssimo, com
ação neurotóxica. Os sintomas clássicos do envenenamento elapídico incluem dor
discreta no local da picada, muitas vezes acompanhada de parestesia, ou seja, calor e 41
formigamento, seguido por um quadro de fraqueza muscular progressiva, dificuldade de
deglutição, dores musculares localizadas ou generalizadas, paralisação dos músculos do
olho e pálpebras caídas (ptose palpebral), podendo evoluir para a insuficiência
respiratória aguda. O acidente com corais é quase sempre muito grave.

Prevenção de acidentes

Utilização de botas de cano alto (ou, pelo menos, botinas) em áreas onde
possam ocorrer serpentes (por exemplo, ao percorrer trilhas no interior da mata ou em
piqueniques e pescarias); ao percorrer áreas de matas, terrenos baldios e plantações,
observar atentamente onde se pisa e onde se coloca a mão; vedar frestas de portas de
casas localizadas em áreas mais isoladas ou próximas a terrenos baldios; proteger a
fauna que costuma se alimentar de serpentes, como é o caso de gaviões e gambás, nas
áreas mais urbanizadas.

O que fazer em caso de acidente

Manter o acidentado calmo. Retirar anéis, relógios, pulseiras, sapatos ou


outros objetos que possam impedir a circulação do sangue em caso de inchaço do
membro afetado. Não ministrar nenhum tipo de remédio ou bebida. Não fazer torniquete
ou garrote. Não proceder a sucção da ferida. Não cortar, perfurar ou queimar o local
atingido pela picada, o que apenas agravaria o acidente. Procurar imediatamente uma
unidade básica de saúde, centro de urgências médicas 24h ou pronto-socorro. Caso seja
possível e com segurança, levar o animal causador do acidente para identificação.
Neste local, o paciente deverá receber injeções de um soro neutralizante, no caso, o soro
anti-elapídico. Note-se que somente os soros antiofídicos têm poder curativo
comprovado no caso de mordeduras por serpentes peçonhentas. Estes soros são
específicos – um para cada tipo de veneno – e devem ser ministrados por profissionais
da área de saúde em ambiente hospitalar. Por este motivo, os diferentes tipos de soros
anti-ofídicos não são vendidos em farmácias. Informações sobre como proceder em caso
de acidentes com animais peçonhentos (bem como envenenamentos em geral) podem
ser obtidas junto ao Centro de Controle de Envenenamentos, pelo número de telefone
0800 410148.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

42

Informações adicionais

Esta coral, até a revisão de SILVA JR. & SITES JR. (1999), era considerada
uma subespécie de Micrurus frontalis (Duméril, Bibron & Duméril, 1854). Com isso,
na literatura anterior a 1999, aparece como Micrurus frontalis altirostris.

Referências

ALVES, A.L.; MELGAREJO-GIMENEZ, A.R.; VENTURA, D.V.R.; MORAES,


F.L.B.; BELLUOMINI, H.E.;CANTER, H.M.; STACIARINI, I.; FEDERSONI
JUNIOR, P.A.; SANTOS, R.Q. & LEITE, S.G.F. 1989. Cartilha de Ofidismo
(Cobral). Ed. Revisada, 2ª reimpressão. Brasília: Ministério da Saúde, 32 p.
BARRAVIERA, B. 1999. Acidentes por Serpentes dos Gêneros “Crotalus” e
Micrurus”. Cap. 20, p. 281-296, in: BARRAVIERA, B. Venenos: aspectos clínicos e
terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. Rio de Janeiro: EPUB, 411 p.
CAMPBELL, J.A. & LAMAR, W.W. 1989. The Venemous Reptiles of Latin America.
Ithaca, Cornell Univ. Press, 414 p.
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. 2001. Manual de Diagnóstico e Tratamento de
acidentes por animais peçonhentos. 2ª Ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde,
132 p. Disponível em: http://www.ivb.rj.gov.br/palestras/manu_peconhentos.pdf
SILVA JR., N. J. da & SITES JR., J. W. 1999. Revision of the Micrurus
frontalis complex (Serpentes: Elapidae). Herpetological Monographs, 13:142-194.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: cobra-coral, coral-verdadeira


Nome científico: Micrurus corallinus (Merrem, 1820)

43

FOTOS: Sérgio Augusto Abrahão Morato

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Dados

A cobra-coral é uma espécie de pequeno a médio porte, com um padrão de


desenho característico, composto por anéis regulares nas cores preto e branco (ou
amarelo), separados por interespaços maiores na cor vermelha. Nesta espécie, os anéis 44
pretos são arranjados em mônades (ou seja, de um em um), marginados pelos dois lados
de anéis mais estreitos, brancos ou amarelos). Corais têm a cabeça ovalada e não
apresentam fosseta loreal. A espécie M. corallinus é nativa, amplamente distribuída no
sul e sudeste do Brasil, desde o Espírito Santo até Santa Catarina, atingindo o nordeste
da Argentina. Ocupa preferencialmente ambientes florestais, onde, geralmente, se
alimenta de outras serpentes. Em Curitiba, é de raro encontro, tendo sido registrada
entre as décadas de 1980 e 1990 para os bairros do Atuba, Santa Felicidade e Umbará.
O último registro para a cidade de Curitiba data de 1992 (Atuba). É considerada uma
espécie de interesse à saúde por ser peçonhenta e causadora de acidentes graves. O
envenenamento por cobras corais é muito raro, correspondendo a menos de 1% dos
acidentes ofídicos registrados no Brasil.

Interesse à saúde

Esta serpente não é agressiva e tende a fugir em contato com o ser humano.
Os acidentes normalmente ocorrem quando são pisadas acidentalmente ou agredidas.
Inoculam, através de dentes maxilares especializados, um veneno poderosíssimo, com
ação neurotóxica. Os sintomas clássicos do envenenamento elapídico incluem dor
discreta no local da picada, muitas vezes acompanhada de parestesia, ou seja, calor e
formigamento, seguido por um quadro de fraqueza muscular progressiva, dificuldade de
deglutição, dores musculares localizadas ou generalizadas, paralisação dos músculos do
olho e pálpebras caídas (ptose palpebral), podendo evoluir para a insuficiência
respiratória aguda. O acidente com corais é quase sempre muito grave.

Prevenção de acidentes

Utilização de botas de cano alto (ou, pelo menos, botinas) em áreas onde
possam ocorrer serpentes (por exemplo, ao percorrer trilhas no interior da mata ou em
piqueniques e pescarias); ao percorrer áreas de matas, terrenos baldios e plantações,
observar atentamente onde se pisa e onde se coloca a mão; vedar frestas de portas de
casas localizadas em áreas mais isoladas ou próximas a terrenos baldios; proteger a
fauna que costuma se alimentar de serpentes, como é o caso de gaviões e gambás, nas
áreas mais urbanizadas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O que fazer em caso de acidente

Manter o acidentado calmo. Retirar anéis, relógios, pulseiras, sapatos ou


outros objetos que possam impedir a circulação do sangue em caso de inchaço do
membro afetado. Não ministrar nenhum tipo de remédio ou bebida. Não fazer torniquete 45
ou garrote. Não proceder a sucção da ferida. Não cortar, perfurar ou queimar o local
atingido pela picada, o que apenas agravaria o acidente. Procurar imediatamente uma
unidade básica de saúde, centro de urgências médicas 24h ou pronto-socorro. Caso seja
possível e com segurança, levar o animal causador do acidente para identificação.
Neste local, o paciente deverá receber injeções de um soro neutralizante, no caso, o soro
anti-elapídico. Note-se que somente os soros antiofídicos têm poder curativo
comprovado no caso de mordeduras por serpentes peçonhentas. Estes soros são
específicos – um para cada tipo de veneno – e devem ser ministrados por profissionais
da área de saúde em ambiente hospitalar. Por este motivo, os diferentes tipos de soros
antiofídicos não são vendidos em farmácias. Informações sobre como proceder em caso
de acidentes com animais peçonhentos (bem como envenenamentos em geral) podem
ser obtidas junto ao Centro de Controle de Envenenamentos, pelo número de telefone
0800 410148.

Referências

ALVES, A.L.; MELGAREJO-GIMENEZ, A.R.; VENTURA, D.V.R.; MORAES,


F.L.B.; BELLUOMINI, H.E.;CANTER, H.M.; STACIARINI, I.; FEDERSONI
JUNIOR, P.A.; SANTOS, R.Q. & LEITE, S.G.F. 1989. Cartilha de Ofidismo
(Cobral). Ed. Revisada, 2ª reimpressão. Brasília: Ministério da Saúde, 32 p.
BARRAVIERA, B. 1999. Acidentes por Serpentes dos Gêneros “Crotalus” e
Micrurus”. Cap. 20, p. 281-296, in: BARRAVIERA, B. Venenos: aspectos clínicos e
terapêuticos dos acidentes por animais peçonhentos. Rio de Janeiro: EPUB, 411 p.
CAMPBELL, J.A. & LAMAR, W.W. 1989. The Venemous Reptiles of Latin America.
Ithaca, Cornell Univ. Press, 414 p.
FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. 2001. Manual de Diagnóstico e Tratamento de
acidentes por animais peçonhentos. 2ª Ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde,
132 p. Disponível em: http://www.ivb.rj.gov.br/palestras/manu_peconhentos.pdf
HOGE, A.R. & ROMANO-HOGE, S.A.R.W.L. 1980. Sinopse das serpentes
peçonhentas do Brasil. 2ª. Edição. Memórias do Instituto Butantan, 40/41: 373-507.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: cobra-verde


Nome científico: Philodryas olfersii (Lichtenstein, 1823)

46

FOTOS: Magno Segalla

Dados

A cobra-verde é uma espécie de médio porte, com o dorso verde, sem


manchas, mas, geralmente, com uma faixa dourada vertebral e estreita que estende da
nuca à cauda. O dorso da cabeça também é dourado, e pequenas faixas escuras
geralmente são vistas atrás dos olhos. Esta espécie é nativa, e encontra-se amplamente
distribuída na América do Sul. Ocupa diferentes ambientes, sendo mais frequentemente
encontrada no interior de matas e florestas, onde geralmente se alimenta de pequenos
vertebrados. Em Curitiba, é comum, especialmente nos parques municipais e outras
áreas verdes. Embora tradicionalmente considerada como inteiramente inofensiva (diz-
se: “cobras-verdes não têm veneno”), é uma espécie de interesse à saúde por,
eventualmente, causar acidentes ofídicos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

47
Interesse à saúde

Esta serpente é pouco agressiva e tende a fugir em contato com o ser


humano. Os acidentes normalmente ocorrem quando são manuseadas inadvertidamente
ou agredidas. Inoculam, através de dentes maxilares sulcados e localizados no fundo da
boca, um veneno de ação proteolítica - menos potente, porém de ação similar ao das
jararacas - mordendo de forma contínua, sem largar (não desferem botes). Entre os
sintomas do envenenamento por esta espécie estão a dor (discreta a intensa) no local da
picada, inchaço, vermelhidão e equimoses, podendo evoluir em casos graves para a
necrose de tecidos na região afetada.

Prevenção de acidentes

Utilização de botas e cano alto (ou, pelo menos, botinas) em áreas onde
possam ocorrer serpentes (por exemplo, ao percorrer trilhas no interior da mata ou em
piqueniques e pescarias); ao percorrer áreas de matas, terrenos baldios e plantações,
observar atentamente onde se pisa e onde se coloca a mão; vedar frestas de portas de
casas localizadas em áreas mais isoladas ou próximas a terrenos baldios; proteger a
fauna que costuma se alimentar de serpentes, como é o caso de gaviões e gambás, nas
áreas mais urbanizadas. Não manusear serpentes consideradas inofensivas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O que fazer em caso de acidente


48
Os acidentes, geralmente, são leves ou moderados, sem grandes
complicações. Em caso de acidente mais grave, manter o acidentado calmo. Retirar
anéis, relógios, pulseiras, sapatos ou outros objetos que possam impedir a circulação do
sangue em caso de inchaço do membro afetado. Não ministrar nenhum tipo de remédio
ou bebida. Não fazer torniquete ou garrote. Não proceder a sucção da ferida. Não cortar,
perfurar ou queimar o local atingido pela picada, o que apenas agravaria o acidente.
Procurar imediatamente uma unidade básica de saúde, centro de urgências médicas 24h
ou pronto-socorro. Caso seja possível e com segurança, levar o animal causador do
acidente para identificação. Neste local, o paciente receberá tratamento sintomático,
não existe tratamento específico (soroterapia).
Informações sobre como proceder em caso de acidentes com animais
peçonhentos (bem como envenenamentos em geral) podem ser obtidas junto ao Centro
de Controle de Envenenamentos, pelo número de telefone 0800 410148.

Informações adicionais

Várias outras espécies, geralmente consideradas inofensivas, apresentam


veneno ou secreções salivares tóxicas, inoculadas por dentes existentes no fundo da
boca (dentição opistóglifa). A ação dessas substâncias sobre seres humanos e animais
ainda não é bem conhecida. Geralmente, são pouco agressivas, o que seguramente está
associado ao baixo índice de acidentes. Muitas dessas serpentes ainda são encontradas
no município de Curitiba, especialmente, nos parques da cidade ou em outras áreas
verdes. Entre as espécies reconhecidamente causadoras de acidentes figuram pelo
menos mais algumas. Este é o caso da papa-pinto, Philodryas patagoniensis, que se
diferencia de P. olfersii por apresentar uma coloração marrom-olivácea, ao invés de
verde e das cobras-espada Thamnodynastes spp. e Tomodon dorsatus, de cores pardas e
hábitos mais agressivos, sendo frequentemente confundidas com as jararacas do gênero
Bothropoides. Ademais, outras espécies opistóglifas podem ser encontradas em nosso
município, como a falsa-coral Oxyrhopus clathratus, esta última geralmente inofensiva.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. 2001. Manual de Diagnóstico e Tratamento de 49


acidentes por animais peçonhentos. 2ª Ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde,
132 p. Disponível em: http://www.ivb.rj.gov.br/palestras/manu_peconhentos.pdf
RIBEIRO, L. A.; PUORTO, G. & JORGE, M.T. 1994. Acidentes por serpentes do
gênero Philodryas: avaliação de 132 casos. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, 27 (Supl.1): 87.
RIBEIRO, L.A.; PUORTO, G. & JORGE, M.T. 1999. Bites by colubrid snake
Philodryas olfersii: a clinical and epidemiological study of 43 cases. Toxicon, 37:
943-948.
ROCHA, M.M.T. & FURTADO, M.F.D. 2007. Análise das atividades biológicas dos
venenos de Philodryas olfersii (Lichtenstein) e P. patagoniensis (Girard) (Serpentes,
Colubridae). Revista Brasileira de Zoologia 24 (2): 410–418.
ROCHA, M.M.T.; TRAVAGLIA-CARDOSO, S.R. & SATO, C. 2003. Reports of
Human Snake Accidents Caused by Philodryas olfersii. Memórias do Instituto
Butantan 60: 142.

Dados dos autores

Julio Cesar de Moura Leite

Doutor em Zoologia (2001) pela UFPR. Curador da coleção herpetológica do Museu de


História Natural Capão da Imbuia (Prefeitura Municipal de Curitiba) desde 1990 e
Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Vice-coordenador do
Curso de Especialização em Ecologia Urbana (PUCPR), participou da elaboração de
listas de espécies ameaçadas em nível nacional e regional.

Gisélia Burigo Guimarães Rubio

Bióloga formada pela Univ. Católica do Paraná em 1984. Chefe da Divisão de


Zoonoses e Intoxicações da Secretaria de Estado da Saúde e Coordenadora do Centro de
Envenenamentos de Curitiba.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Aranhas
Por Marcelo Vettorello e
Maristela Zamoner

50

Lista de animais de interesse à saúde

Aranhas

Três gêneros de aranhas são especialmente importantes do


ponto de vista da saúde no Brasil: Loxosceles; Phoneutria
e Latrodectus, sendo que esta última não ocorre em
Curitiba.

Nome vulgar: Aranha-marrom


Nome científico: Loxosceles sp.

Nome vulgar: Aranha-armadeira, aranha-da-bananeira


Nome científico: Phoneutria sp.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Por Maristela Zamoner


51
Ao estudo das aranhas denominamos: Aracnologia. São artropodos
pertencentes a Ordem Araneae, classificados na Classe Arachnida, juntamente com
escorpiões, ácaros e carrapatos. Alguns autores consideram que, depois da Ordem
Acari, a Ordem Araneae é a segunda maior ordem dos Aracnideos, contando com cerca
de 40.000 espécies.
As aranhas, às vezes, são confundidas com insetos, mas, as principais
características que as distinguem são:

1 – Têm quatro pares de pernas;


2 – São desprovidas de asas ou antenas;
3 – Têm o corpo dividido em apenas duas partes, um cefalotórax e um
abdome.

Seu corpo é revestido pelo exoesqueleto, rígido. Possuem seu corpo


dividido em duas partes, um prossoma, também chamado cefalotórax (fusão de cabeça e
tórax) e um opistossoma, que pode ser denominado abdome. A ligação entre o
cefalotórax e o abdome se dá por uma haste estreita denominada pedúlio.
Sobre seus olhos, conforme a espécie, podem variar de zero (espécies
cavernícolas) a 8 olhos simples.
O cefalotórax tem dois pares de apêndices, as quelíceras e os pedipalpos. As
aranhas são predadoras, utilizam suas quelíceras para inocular o veneno em suas presas
e os pedipalpos para manipulá-las. Justamente por serem predadoras, desempenham um
papel ecológico importante, controlando as populações de suas presas.
Todas as espécies de aranhas são capazes de produzir seda para várias
finalidades: captura de alimentos, caça, abrigo, confecção de ninhos, defesa, orientação
e segurança. A seda é excretada pelas glândulas sericígenas e produzida na forma
líquida, solidificando-se no meio externo, adquirindo propriedades elásticas e de
resistência.
Constituem um grupo importante do ponto de vista da saúde tendo em vista
que ocorrem acidentes com três gêneros no Brasil: Loxosceles (aranha-marrom);
Phoneutria (aranha-armadeira) e Latrodectus (viúva-negra). Em Curitiba, consideram-
se as duas primeiras como sendo de interesse à saúde.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Aranha-marrom


Nome científico: Loxosceles sp.

Por Marcelo Vettorello

52

FOTO: Marcelo Vettorello

Dados

As aranhas do gênero Loxosceles estão distribuídas na América do Sul,


Central e do Norte, e na área mediterrânea da Europa e África. No Brasil, existem desde
a Amazônia até o Rio Grande do Sul.
A Loxosceles adulta mede em média de 1 a 2 cm de corpo e 3 a 4 cm de
comprimento total. As patas longas, delgadas e cobertas de pelos finos, permitem que se
mova com grande velocidade. Trata-se de uma aranha sinantrópica, sedentária e de
hábitos noturnos. Constrói teias irregulares de seda branca, formada por fios grosseiros
e pegajosos, com o aspecto de algodão esfiapado, com a qual recobre a superfície dos
substratos presentes em ambientes naturais e domésticos. Seus habitats preferenciais são
lugares escuros e tranquilos, e no interior de casas, são encontradas dentro de armários,
atrás de quadros, móveis, frestas e rachaduras. No ambiente extradomiciliar habita
árvores ocas, pilhas de tijolos e telhas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Não são agressivas, atacando somente se molestadas, como no momento de


alguém se vestir, ou na cama, quando são comprimidas contra o corpo.
Existem cerca de 104 espécies descritas para o gênero e 30 são relativas à
América do Sul. No Brasil encontram-se oito espécies: L. amazonica, L. adelaida, L.
similis, L. puortoi L. gaucho, L. hirsuta, L.laeta e L. intermedia. As quatro últimas se
encontram no Paraná e em Curitiba predominam as espécies Loxosceles intermedia e
Loxosceles laeta. 53

Interesse à saúde

O loxoscelismo, termo utilizado para designar o envenenamento por aranhas


do gênero Loxosceles e todas as suas consequências, quer a nível epidemiológico ou
patológico, é considerado uma forma importante de envenenamento no Brasil. A
maioria dos acidentes por Loxosceles notificados se concentram nos estados do Sul,
particularmente, no Paraná e Santa Catarina, caracterizando-se em Curitiba e Região
Metropolitana como um problema de saúde pública. O acidente loxoscélico é um agravo
de destacada importância no município de Curitiba, que apresenta, anualmente, cerca de
2000 casos de acidentes ocasionados por aranhas do gênero Loxosceles.

Série Histórica dos Acidentes Loxoscélicos


Coef. de Incidência / 1.000 habitantes
Curitiba 1993 - 2010

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Coef./1000 hab.

FONTE: SMS/CE/CVE – Sinan

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Na cidade, observa-se que 62,5% dos acidentes ocorrem com pessoas do


sexo feminino. Há ainda uma concentração na faixa etária de 16 a 46 anos,
representando 62% dos casos.
A avaliação da distribuição dos acidentes segundo local da picada revela
que, por ordem de frequência, os locais mais afetados são: coxa (23%), tronco (16,7%),
braço (14%) e perna (13%). Visto que a picada é indolor, na maioria dos casos (94%)
não há identificação das circunstâncias do acidente.
Quanto à gravidade dos casos observa-se que 61% são classificados como
leves, 38% como moderados e apenas 1% como casos graves. 54

Quadro Clínico

A picada da Loxosceles é praticamente imperceptível e raramente se


evidencia lesão imediata. Os sintomas locais evoluem lentamente, e nas primeiras horas
lembram uma picada de inseto, sendo, por isso, pouco valorizados tanto pelo paciente
quanto pelo profissional de saúde. A picada pode evoluir para duas formas clínicas:

1) Forma cutânea

Em Curitiba representa 99% dos casos. De instalação lenta e progressiva, o


início do envenenamento é caracterizado por dor em queimação, edema endurado e
eritema no local da picada que são pouco valorizados pelo paciente.
Os sintomas locais se acentuam nas primeiras 24 a 72 horas após o acidente,
podendo variar sua apresentação:

 Lesão incaracterística: bolha de conteúdo seroso, edema, rubor e prurido,


com ou sem dor em queimação;
 Lesão sugestiva: equimose, enduração e dor em queimação;
 Lesão característica: ponto de necrose, necrose, bolha hemorrágica,
isquemia (nas primeiras horas), placa marmórea (lesões hemorrágicas
focais mescladas com áreas pálidas de isquemia).

Acompanhando o quadro local, alterações do estado geral têm sido


descritas, sendo os mais comumente referidos: cefaleia, astenia, mialgia, febre alta nas
primeiras 24 horas, rash cutâneo, petéquias, náusea, vômito, visão turva, diarreia,
sonolência, obnubilação, irritabilidade e coma. Estes sintomas podem acompanhar tanto
as formas moderadas como as de envenenamento grave.

2) Forma cutâneo-visceral (hemolítica)

Raramente evidenciada em Curitiba. Além do comprometimento cutâneo,


observam-se manifestações clínicas em virtude de hemólise intravascular como anemia,
icterícia e hemoglobinúria que se instalam, geralmente, nas primeiras 36 horas. Estes
quadros podem ser acompanhados de petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação
intravascular disseminada (CIVD). Esta forma é descrita com frequência variável de 1 a
13% dos casos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Os casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, de etiologia


multifatorial (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e CIVD), principal causa
de óbito no loxoscelismo.

Estadiamento

Com base nas alterações clínico-laboratoriais e na identificação do agente 55


causal, o acidente loxoscélico pode ser classificado em:

 Leve: observa-se lesão incaracterística, sugestiva ou característica (ponto


necrótico), sem alterações clínicas ou laboratoriais. A identificação da
aranha causadora do acidente é fundamental nestes casos para
confirmação do envenenamento, exceto quando presente o ponto de
necrose. O paciente deve ser acompanhado diariamente durante pelo
menos 72 horas, uma vez que mudanças nas características da lesão ou
presença de manifestações sistêmicas exigem reclassificação do
envenenamento.
 Moderado: o critério fundamental baseia-se na presença de lesão
sugestiva acompanhada de rash cutâneo, ou lesão característica com
menos de 3cm de diâmetro, mesmo sem a identificação do agente causal,
podendo ou não haver alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo,
cefaleia, mialgia e outros.
 Grave: caracteriza-se pela presença de lesão característica com mais de 3
cm de diâmetro (forma cutânea grave), e/ou alterações clínico-
laboratoriais indicativas de hemólise intravascular (palidez, icterícia e
anemia aguda que se evidencia 36 ou 72 horas depois do acidente),
caracterizando a forma cutânea-visceral.

Tratamento

1) Soroterapia

A indicação do soro é controvertida na literatura. O soro é heterólogo, de


origem equina, e, portanto, não é um tratamento isento de riscos. Sua indicação depende
da gravidade e da avaliação do risco/benefício de cada caso. As recomendações para
utilização do antiveneno dependem da classificação de gravidade (estadiamento).
O soro tem como finalidade neutralizar o veneno circulante e não tem
benefício quando o veneno já se fixou nos receptores da membrana celular, portanto, o
paciente deve ser reavaliado a cada 12 horas, nas primeiras 36 horas, período onde a
soroterapia traz benefícios.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

2) Corticoterapia

Tem sido utilizada a corticoterapia dependendo da gravidade do caso. Está


especialmente indicada na forma cutânea moderada, sendo, também, indicada nas
formas cutâneas graves, associada à soroterapia. Ressalta-se que a maior eficácia da
corticoterapia ocorre se indicada precocemente, de preferência, até 48 horas após o 56
acidente.

Prevenção

Uma parcela significativa dos acidentes ocorridos em Curitiba guarda


relação direta com o manuseio negligente de objetos de uso pessoal, e com hábito de
acumular, no domicílio e nas proximidades, materiais em desuso, como livros, caixas,
materiais de construção, entre outros.
Para prevenir os acidentes, alguns cuidados tornam-se necessários:

 Observar roupas e calçados antes de vesti-los;


 Vistoriar roupas de cama e de banho antes de usá-las;
 Limpar periodicamente espaços atrás e embaixo de sofás, armários e
outros móveis, bem com atrás de quadros, painéis e objetos pendurados;
 Eliminar teias, onde se encontram ovos e filhotes, usando aspirador,
vassoura ou pano (cuidando para não tocar nas aranhas);
 Vedar frestas e buracos das paredes, assoalhos e vãos entre o forro e as
paredes;
 Evitar o acúmulo desnecessário de caixas, jornais e revistas; na
necessidade de mantê-los, fazer limpeza periódica;
 Evitar, na área peridomiciliar, o acúmulo de materiais de construção,
principalmente, tijolos e telhas;
 Preservar os inimigos naturais das aranhas, como lagartixas, sapos e aves.

O uso inadequado de produtos químicos pode provocar a intoxicação de


crianças, animais de estimação e o extermínio dos predadores naturais das aranhas.
Ainda não se conhece, oficialmente, um produto químico eficaz para o combate à
Loxosceles. O mais apropriado, até o momento, é prevenir sensibilizando as pessoas por
meio de programas intensos sobre os problemas causados pelo acidente loxoscélico e
como evitá-lo, conforme descrito nas orientações acima.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

57

O que fazer em caso de acidente

O início do tratamento deve ser o mais breve possível, portanto, na suspeita


de acidente, o paciente deve procurar o quanto antes uma Unidade Municipal de Saúde
próxima de sua residência. Todas as Unidades de Saúde do município são
periodicamente capacitadas para atender a estes casos de acidente. Se possível, levar a
aranha para que possa ser identificada por um profissional capacitado, facilitando o
diagnóstico.

Referências

BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por


Animais Peçonhentos, Brasília, 1998.
BRASIL, Ministério da Saúde. Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica,7.ed.,
Brasília, 2010.
FISCHER, M.L. Levantamento das espécies do Gênero Loxosceles no município de
Curitiba, Paraná, Brasil. Estudos de Biologia, ano 3, n.38, 1994.
LUHM, K.R., VETTORELLO, M.L., ENTRES, M., CAMPOS,E.A.B Acidentes
Loxoscélicos - Protocolo Técnico e Fluxo de Atenção em Curitiba, 2006.
VETTORELLO, M.L. A influência da temperatura, umidade relativa do ar e radiação
solar na incidência dos acidentes loxoscélicos em Curitiba, 1998 a 2001, UFPr, 2002.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Aranha-armadeira, aranha-da-bananeira.


Nome científico: Phoneutria sp.

Por Marcelo Vettorello

58

FOTO: Marcelo Vettorello

Dados

São conhecidas popularmente como aranhas armadeiras pelo fato de, ao


assumirem comportamento de defesa, apoiarem-se nas pernas traseiras, erguerem as
dianteiras e os palpos e abrirem as quelíceras tomando os ferrões bem visíveis. São
extremamente agressivas e, quando muito irritadas, algumas espécies podem saltar até,
aproximadamente, 60 centímetros para atacar a vítima. Podem atingir de 3 a 4 cm de
corpo e até 15 cm de envergadura de pernas. Não constroem teia geométrica, sendo
animais errantes que caçam, principalmente, à noite. Apresentam corpo coberto de pelos
curtos de coloração marrom-avermelhada. No dorso do abdome possuem um desenho
formado por uma faixa longitudinal de manchas pares mais claras e faixas laterais
oblíquas. As quelíceras apresentam um revestimento de pelos avermelhados ou
alaranjados.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Estão descritas 8 espécies do gênero Phoneutria, sendo que, no Brasil,


encontram-se 4 delas: P. fera e P. reidyi (região Amazônica); P. nigriventer (Goiás,
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São
Paulo e Santa Catarina); P. keyserlingi (Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina). Alguns autores ainda citam a
presença da espécie P. bahiensis em alguns locais do país.
P. nigriventer é a principal espécie encontrada em Curitiba, e tem hábito de 59
frequentar locais úmidos e escuros, como bananeiras e bromélias.
Os acidentes ocorrem frequentemente dentro das residências e nas suas
proximidades, ao se manusearem materiais de construção, entulhos, lenha ou calçando
sapatos.

Interesse à saúde

O município de Curitiba registra em média 30 acidentes com Phoneutria por


ano, que raramente levam a um quadro grave.

Quadro Clínico

Geralmente, os sintomas são locais. A dor imediata é o sintoma mais


frequente. Sua intensidade é variável, podendo ser somente no local da picada ou se
espalhar até a base do membro acometido. Outras manifestações são: edema (inchaço),
eritema (região avermelhada), parestesia (perda da sensibilidade) e sudorese no local da
picada, onde diferentemente dos acidentes com Loxosceles, podem ser visualizadas as
marcas de dois pontos de inoculação. Não evolui para necrose.
Os acidentes são classificados em:

a) Leves: correspondem a cerca de 91% dos casos. Os pacientes apresentam,


predominantemente, sintomas no local da picada. A aceleração dos
batimentos cardíacos (taquicardia) e agitação, eventualmente presentes,
podem ser secundárias à dor;
b) Moderados: ocorrem em aproximadamente 8,5% do total de acidentes
por Phoneutria. Associadas às manifestações locais, aparecem alterações
sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta,
agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais;
c) Graves: são raros, aparecendo em torno de 0,5% do total, sendo,
praticamente, restritos às crianças. Além das alterações citadas nas
formas leves e moderadas, há a presença de uma ou mais das seguintes
manifestações clínicas: sudorese profusa, sialorreia (aumento da
salivação), vômitos frequentes, diarreia, priapismo (ereção involuntária e
dolorosa do pênis), hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e
edema pulmonar agudo.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Tratamento

a) Sintomático: a dor local deve ser tratada com infiltração anestésica


local ou troncular à base de lidocaína a 2% sem vasoconstritor. 60
Havendo recorrência da dor, pode ser necessário aplicar nova
infiltração, em geral, a intervalos de 60 a 90 minutos. A dor local pode
também ser tratada com um analgésico sistêmico. Outro procedimento
auxiliar, útil no controle da dor, é a imersão do local afetado em água
morna ou o uso de compressas quentes.
b) Específico: a soroterapia tem sido formalmente indicada nos casos
com manifestações sistêmicas em crianças e em todos os acidentes
graves.

Prevenção

Indica-se a limpeza periódica do peridomicílio, evitando-se acúmulo de


materiais como lenha, tijolos e pedras, para evitar alojamento e proliferação das
aranhas. São importantes os cuidados de higiene das residências e manejo adequado do
lixo para evitar a proliferação insetos, que servem de alimento para as aranhas. É bom
lembrar de ter cuidado ao manusear plantas como bananeiras e bromélias.

O que fazer em caso de acidente

Procurar com urgência uma Unidade Municipal de Saúde para avaliação e


tratamento. Se possível, levar a aranha, tomando os devidos cuidados durante a captura,
para identificação.

Referências

BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por


Animais Peçonhentos, Brasília, 1998.
BRASIL, Ministério da Saúde. Guia Brasileiro de Vigilância Epidemiológica,7.ed.,
Brasília, 2010.
SCHVARTSMAN, S. Plantas venenosas e animais peçonhentos. 2aed. São Paulo:
Savier; 1992
LUHM, K.R., VETTORELLO, M.L., ENTRES, M., GABARDI, B. M., CAMPOS,
E.A.B Acidentes Loxoscélicos - Protocolo Técnico e Fluxo de Atenção em Curitiba,
2006.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

61

Dados dos autores

Marcelo L. Vettorello

Biólogo, formado pela PUC-Pr, especialista em Epidemiologia de Vetores pela UFPr,


responsável técnico pela Epidemiologia dos Acidentes por Animais Peçonhentos no
Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba. Fotógrafo
atuante na área macrofotografia, fotografia de natureza e processamento digital de
imagens.

Maristela Zamoner

Mestre em Zoologia, Especialista em Educação Ambiental, Licenciada em Biologia,


bióloga atuante no Museu de História Natural Capão da Imbuia, experiência docente em
cursos de graduação e pós-graduação, autora de 8 livros dentre os quais destaca-se o
livro “Biologia Ambiental”, Editora Protexto, 2007.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Centopeias
Por Odete Lopez Lopes

62

Lista de animais de interesse à saúde

Centopeias

Nome vulgar: lacraia, centopeia


Nomes científicos: Dinocryptops miersii
Scolopocryptops inversus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Os miriápodos possuem o corpo constituído por uma cabeça e um tronco


alongado, com muitos segmentos portadores de pernas. Estes animais vivem debaixo de
rochas, madeiras e em meio à serapilheira, no solo dos bosques e jardins.
Alguns artrópodos, como Chilopoda e Diplopoda produzem compostos
repelentes que os protegem de predadores. Substâncias tóxicas também podem ser 63
produzidas com a mesma função.
O corpo das centopeias (Chilopoda) é achatado e de cada segmento do corpo
sai um par de patas. No primeiro segmento há um par de presas capaz de injetar veneno.
O veneno que este carnívoro, utiliza durante a caça, pode também ser utilizado como
defesa contra predadores, no caso, o ser humano.
Os piolhos-de-cobra (Diplopoda) apresentam dois pares de patas em cada
segmento. Para afastar predadores, substâncias repugnantes são exsudadas lentamente
por orifícios localizados nas laterais do corpo do animal.

Chilopoda

Nome vulgar: lacraia, centopeia

Dados

Espécies nativas são comumente encontradas em Curitiba, em solo de


bosques, sob troncos ou sob folhas da serapilheira. Também são comuns em ambiente
urbano, onde podem ser encontradas próximas à jardins ou dentro de residências e
escritórios.
Os acidentes podem ocorrer quando os animais ficam expostos em seus
refúgios naturais durante a remoção ou deslocamento de pedras, galhos e folhas ou
quando estes exemplares adentram em residências.

Nome científico: Dinocryptops miersii (Newport, 1845)


Distribuição geográfica: Argentina, Guiana, Martinica, Trinidad e Tobago, Venezuela.
No Brasil: Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e São Paulo. No Paraná: Curitiba, Foz do Jordão, Piraí do Sul, Uraí.

Nome científico: Scolopocryptops inversus (Chamberlin, 1921)


Distribuição geográfica: Guiana Britânica, Guiana Francesa. No Brasil: Bahia, Espírito
Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e
Santa Catarina. No Paraná: Curitiba, Palmeira e Porto Amazonas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde
64
Acidentes com lacraias são esporádicos e o principal sintoma relatado é dor.
O veneno da maioria das espécies, entretanto, não é suficientemente tóxico para ser letal
às pessoas ou até mesmo crianças pequenas. Dos acidentes, os que envolvem
exemplares de Cryptops, Otostigmus e Scolopendra tendem a ser mais frequentes. No
local da picada ficam visíveis os dois pontos em que as presas perfuraram a pele, onde
pode ocorrer eritema e edema. Eventualmente, em consequência ao acidente são
relatados cefaleia, mal-estar, ansiedade e vertigens.

FOTO: César Arzua.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O que fazer em caso de acidente

A maioria dos sintomas desaparece espontaneamente em pouco tempo e 65


raramente são relatadas complicações clínicas. Os acidentados por Scolopendra e
Otostigmus requerem tratamento terapêutico.

Informações adicionais

O número de acidentes nas áreas urbanas tende a aumentar durante o


período mais chuvoso e mais quente do ano.

Referências

CARDOSO, J. L. C., FRANÇA, F. O. S., FAN, H. W., MALAQUE, C. M. S.,


HADDAD JR, V. Animais Peçonhentos no Brasil. Biologia, Clínica e Terapêutica
dos Acidentes. Ed. Sarvier / Fapesp, São Paulo, 2003, 469 p.
KNISAK, I.; MARTINS, R.; BERTIM, C. R. 1998. Epidemiological aspects of
centipede (Scolopendromorphae: Chilopoda) bites registered in Greater S. Paulo, SP,
Brazil. Revista de Saúde Pública. São Paulo, 32 (6), p. 514-518.
NEVES, D. P.; MELO, A. L.; GENARO, O.; LINARDI, P. M. Parasitologia humana. 9.
ed. Belo Horizonte: Atheneu, 1995.
RUPPERT, E. E.; BARNER, R. D. Zoologia de Invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca,
1996.
CHAGAS-JÚNIOR, A. Revisão das espécies neotropicais de Scolopocryptopinae
(Chilopoda: Scolopendromorpha: Scolopocryptopidae). Rio de Janeiro, 2003.
Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Diplopoda

Nome vulgar: Piolho-de-cobra, milepés


Nome científico: Diplopoda.

Espécies nativas encontradas nas áreas florestadas, sempre em locais 66


úmidos, sob folhas da serapilheira ou nos troncos das árvores. Em áreas urbanas podem
ser encontrados em jardins, bosques e praças, ou dentro de domicílios.
Ocasionalmente, diplópodas podem provocar acidentes em seres humanos
quando o animal é comprimido contra a pele, o que pode ocorre durante uma troca de
roupa ou ao calçar um sapato.

Interesse à saúde

Estes animais não possuem presas inoculadoras de veneno. Ao atingir a pele


humana, substâncias repugnantes exsudadas do corpo dos Diplopoda podem provocar
eritema, edema, formação de vesículas e produzir pigmentações marrons ou negras.
Posteriormente, pode ocorrer diminuição na coloração da pele (hipocromia residual) ou
lesões escurecidas que podem persistir por meses (lesões hipercrômicas).

Prevenção

Verificar a presença de exemplares de Diplopoda antes de vestir roupas ou calçados.

O que fazer em caso de acidente

Na pele, as lesões inflamatórias agudas, geralmente, não causam grandes


repercussões. Lesões oculares devem ser lavadas com energia e o paciente deve ser
encaminhado a um oftalmologista, pois, dependendo da gravidade, o quadro clínico
pode evoluir para cegueira.

Informações adicionais

Algumas espécies de piolho-de-cobra podem descarregar substâncias


repugnantes como um spray ou como um jato que pode atingir de 20 a 30 cm de
distância.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

67

Referências bibliográficas

CARDOSO, J. L. C., FRANÇA, F. O. S., FAN, H. W., MALAQUE, C. M. S.,


HADDAD JR, V. Animais Peçonhentos no Brasil. Biologia, Clínica e Terapêutica
dos Acidentes. Ed. Sarvier / Fapesp, São Paulo, 2003, 469 p.
RUPPERT, E. E.; BARNER, R. D. Zoologia de Invertebrados. 6. ed. São Paulo: Roca,
1996.

Dados da autora

Odete Lopez Lopes

Curadora das coleções científicas Crustacea e Miriapoda do Museu de História Natural


Capão da Imbuia, Curitiba, Paraná. Licenciada em Ciências Biológicas pela
Universidade Federal do Paraná, Especialização em Educação Ambiental, Mestrado e
Doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná. Autora do livro:
“Coletânea de Atividades Interpretativas em Educação Ambiental”.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Escorpiões
Por Cláudia Staudacher

68

Lista de animais de interesse à saúde

Em Curitiba, várias espécies são encontradas anualmente.


Entre estas, as que ocorrem com maior frequência e que
podemos destacar em ordem crescente de importância
médica: Bothriurus sp., Tityus costatus, Tityus bahiensis,
Tityus stigmurus e Tityus serrulatus.

Escorpiões

Nome vulgar: Escorpião-preto


Nome científico: Bothriurus sp.

Nome vulgar: Escorpião-marrom


Nome científico: Tityus costatus

Nome vulgar: Escorpião-marrom


Nome científico: Tityus bahiensis

Nome vulgar: Escorpião-amarelo-do-Nordeste


Nome científico: Tityus stigmurus

Nome vulgar: Escorpião-amarelo


Nome científico: Tityus serrulatus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Embora não sejam tão facilmente vistos quanto as aranhas, a presença de 69


escorpiões, que também são aracnídeos, é cada dia maior nos centros urbanos. A alta
capacidade de “adaptação” (alta plasticidade) de algumas espécies, em especial da
família Buthidae, justifica sua presença em ambientes modificados pelo homem,
principalmente em áreas urbanas.
Quanto à biologia, podemos dizer que os escorpiões são, em sua maioria,
animais de hábito noturno e, por essa razão, não são vistos com tanta frequência quanto
os demais animais que compõe a fauna urbana. Além disso, passam a maior parte do
tempo escondidos ou debaixo da terra nos quintais, principalmente durante o inverno –
são mais ativos nos meses mais quentes do ano (em particular no período das chuvas).
Muitas vezes só são descobertos quando o jardim ou a casa passa por reforma,
desalojando e obrigando-os a fugir para locais que julguem mais seguros. Nestas
situações podem acabar entrando nas casas: são flagrados dentro de sapatos, por entre
roupas, ou, simplesmente, caminhando nos cantos de um cômodo qualquer da casa. Já
foram vistos até mesmo subindo pelas paredes (desde que não sejam muito lisas).
Costumam ficar próximos de locais onde possam encontrar alimento com
facilidade. São carnívoros, comem principalmente insetos (como as baratas, grilos e
cupins) ou então, aranhas e outros escorpiões, colaborando portanto, com o controle
destes animais em nossas casas.
Um dos alimentos preferidos nos centros urbanos são as baratas.
Abundantes e facilmente encontradas, ocupam galerias de esgoto, caixas de gordura,
frestas, depósitos, forros, enfim, estão espalhadas por todos os cantos, principalmente
próximas a fontes de alimento e, portanto, próximas ao homem. É muito comum
encontrar baratas e escorpiões dividindo o mesmo espaço, uma como presa outro como
predador. Em ambiente urbano, os escorpiões podem servir de alimento para
camundongos, sapos, corujas, morcegos, galinhas, algumas aranhas, formigas, lacraias e
mesmo outros escorpiões.
Quanto à reprodução, são vivíparos, ou seja, não botam ovos, seus filhotes
nascem já desenvolvidos. As fêmeas carregam os filhotes por alguns dias sobre o dorso,
onde eles fazem a primeira troca de pele (ecdise). Após um período variável de acordo
com a espécie, abandonam a mãe vivendo independentemente. Passam por um número
limitado de mudas até a maturidade sexual, então param de crescer.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Escorpião-marrom


Nome científico: Tityus costatus
70

FOTO: Denise Maria Candido

Este escorpião possui variação de tonalidades castanho-amareladas, sendo


característica marcante a presença de três faixas longitudinais mais escuras no dorso. As
pernas costumam apresentar-se manchadas. Seu tamanho varia entre 5 e 7 cm.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Escorpião-preto


Nome científico: Bothriurus sp.

71

FOTO: Denise Maria Candido

São mais escuros em relação aos anteriormente descritos, com coloração


geralmente marrom, podendo haver variação de tons, chegando ao preto. Em relação ao
tamanho, podem chegar a medir 4 cm. Os acidentes causados por estes animais são
considerados de pouca gravidade, pois seu veneno não é muito tóxico ao homem.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Escorpião-marrom


Nome científico: Tityus bahiensis

72

FOTO: Denise Maria Candido

Com o corpo medindo entre 6 e 7 cm, são conhecidos como escorpiões


marrons. Tem o tronco escuro e a cauda marrom-avermelhada. Nesta espécie machos e
fêmeas participam da reprodução. São produzidos cerca de 20 filhotes por parto, sendo
em média dois partos por ano, com uma produção de aproximadamente 160 filhotes
durante toda vida do indivíduo. Em geral, sua picada causa acidentes moderados com
pouca gravidade.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Escorpião-amarelo-do-Nordeste


Nome científico: Tityus stigmurus

73

FOTO: Denise Maria Candido

Amarelos, apresentam uma faixa escura longitudinal que se destaca no


dorso e uma mancha triangular e escura na parte anterior (cefalotórax). Seu
comprimento pode variar entre 6 e 7 cm.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Escorpião-amarelo


Nome científico: Tityus serrulatus

74

FOTO: Denise Maria Candido

Conhecido popularmente como escorpião amarelo, pois possui a maior parte


do corpo de coloração amarela (pernas e cauda), pode medir até 7 cm de comprimento.
Seu nome é devido a uma serrilha presente nos 3° e 4° anéis da cauda. Este aracnídeo
tem a particularidade de se reproduzir por partenogênese (desenvolvimento do óvulo
sem fecundação), ou seja, não há participação de um macho nesse processo. Cada fêmea
é capaz de ter dois partos por ano, com cerca de 20 filhotes cada. Durante a vida, é
capaz de produzir cerca de 160 filhotes. Seu veneno é muito tóxico, podendo levar a
vítima a morte.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

São, aproximadamente, 1.600 espécies de escorpiões conhecidas no mundo,


das quais somente cerca de 25 podem ser consideradas de interesse para a saúde. Destes,
destacam-se os do gênero Tityus, cuja característica mais marcante, entre outras, é a
presença de um espinho sob o ferrão.
Os escorpiões picam somente para capturar a presa (alimentação) ou para se
defenderem, quando se sentem ameaçados. De modo geral, a picada causa dor, variável
de acordo com a espécie e do local onde houve a picada. Esta característica contribui 75
positivamente, pois a dor serve de alerta fazendo com que a pessoa procure auxílio
médico, investigando a situação sem demora. A gravidade da picada depende de alguns
fatores: espécie e tamanho do escorpião, quantidade de veneno inoculado (injetado),
massa corporal do acidentado e a sensibilidade de cada paciente a ação do veneno.
O Escorpionismo no ser humano pode ser leve, moderado ou grave. Esta
classificação é feita levando-se em consideração a intensidade dos sintomas
apresentados pelas pessoas acidentadas.

Prevenção

Animais de pequeno porte são facilmente transportados de um lado para


outro, de um Estado para outro, em caixas de frutas ou verduras, em mudanças, no meio
de roupas, em carregamentos de madeira. Muitas vezes é dessa maneira que estes
animais chegam às nossas casas. Quando não são detectados por nenhum predador
(animal ou humano) assim que chegam, tratam logo de buscar abrigo. E isto é tarefa
fácil para o escorpião: escondem-se em frestas, por baixo de calçamentos soltos, pedras,
entulhos, utilizando ralos e aberturas de interruptores de luz, verdadeiras “avenidas” que
lhes conferem livre acesso. Em geral, se espalham rapidamente pela cidade utilizando
essas vias.
Assim como a maioria dos animais pertencentes à fauna sinantrópica
(animais da fauna urbana que vivem muito próximos do ser humano), a presença destes
animais entre nós está diretamente ligada a fatores como: oferta de alimento e água,
acesso e abrigo. Na medida em que estes itens são eliminados ou diminuídos, assim
também acontece com a espécie animal que se pretende controlar.
É importante comentar, novamente, que escorpiões alimentam-se,
principalmente, de insetos como as baratas. Estas, costumam estar presentes em caixas
de gordura, bueiros, locais com acúmulo de lixo e entulhos. Portanto, para evitar a
presença de baratas ou afins e consequentemente de escorpiões em casa, o lixo deverá
ser sempre bem acondicionado e despachado corretamente, com a devida frequência,
evitando seu acúmulo. Entulhos, restos de construção e material sem uso também
devem ser eliminados, impedindo assim a utilização de mais um local para abrigo destes
animais.
Em residências que possuem caixas de gordura, recomenda-se que sejam
mantidas limpas como possível e bem vedadas. As tampas dos ralos comuns, de pias e
de tanques deverão possuir tela, ou serem substituídas por modelos mais modernos, com
dispositivo de abertura e fechamento, evitando assim o, acesso de animais indesejados.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vale lembrar que alguns espaços considerados pelo ser humano como
estreitos e pequenos podem servir, perfeitamente, de passagem para animais achatados.
Nestes casos, as frestas de janelas e soleiras das portas poderão ser vedadas com
material emborrachado (tipo veda portas) ou então com rolos de areia (“cobrinhas de
areia”). Pontos de energia e telefone sem tampa também acabam servindo para o
deslocamento dos animais de um ponto da casa a outro, além de oferecer riscos
elétricos. Batentes de porta soltos ou com folga poderão ser vedados com silicone ou
material similar.
Nas residências onde o aparecimento de aracnídeos é frequente recomenda- 76
se tomar alguns cuidados diários com roupas e calçados, vistoriando-os sempre antes do
uso. O mesmo aplica-se a lençóis e toalhas. Nos locais da casa que exijam reparos e que
possam servir de esconderijo (frestas e buracos) é importante o uso de luvas de
proteção, preferencialmente de raspas de couro, evitando assim as picadas.
Recomenda-se que sejam preservados animais que possam alimentar-se de
escorpiões como o caso de algumas aves (por exemplo, as corujas) e sapos.

O que fazer em caso de acidente

Em caso de acidente é aconselhável que o animal causador da picada seja


levado junto, seguramente acondicionado dentro de um frasco ou pote,
preferencialmente plástico, com tampa, e então, encaminhado para que seja feita a
identificação por profissionais capacitados para tal. Esta atitude contribui enormemente
com o diagnóstico, qualificando o tratamento do paciente que fica mais rápido e
eficiente.
A participação do cidadão é, portanto, indispensável como contribuição para
o manejo destas espécies. Um trabalho preventivo e eficiente é alcançado mantendo-se
as casas limpas, sem entulhos ou lixo, em bom estado de conservação e com recursos
que impeçam o acesso e presença permanente destes animais.

Informações adicionais

Em Curitiba, é comum que alguns escorpiões venham transportados em


caixas de frutas, como banana e mamão. A maioria desses alimentos dá entrada na
cidade através do CEASA – Centro de Abastecimento do Paraná. Há poucos relatos, dos
trabalhadores do CEASA, de que caminhões chegam com cargas vindas de diferentes
regiões do Brasil trazendo escorpiões, cuja presença, geralmente, só é percebida quando
ocorrem acidentes por picadas. Também não são todas as cargas que oferecem abrigo
ideal para estes animais, tudo depende do tipo de carga (frutas, legumes ou verduras) e
de como vem acondicionado o produto (envolto em papel, papelão ou palha, como a
palha de arroz). Na maioria das vezes, escorpiões transportados que entram em nossa
cidade dessa forma, saem das caixas quando chegam ao comércio varejista. Há relatos
de donos de mercados que, quando começam a descarregar o produto para revenda,
encontram exemplares no meio da palha ou no meio do papel, ainda dentro das caixas
de madeira. É incomum uma pessoa levar o animal para casa, pois são interceptados
antes e as frutas são vendidas em unidades, fora das caixas originais.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Desde 2005, no bairro Portão são coletados Tityus stigmurus, aracnídeos


que não são originais da região de Curitiba. Através de algumas investigações foi
possível supor que vieram com cargas trazidas para este bairro. Fato é que, anualmente,
em geral nos meses mais quentes do ano, os moradores têm encontrado exemplares
deste escorpião, nas calçadas, em canis, dentro de casa em lavanderias.
Por outro lado, no bairro Boa Vista, em um fundo de vale circundado por
residências, são encontrados, com frequência, Tityus bahiensis, espécie natural do
Paraná e que ocorre em pequena quantidade na cidade de Curitiba. Muitos moradores
têm encontrado exemplares dentro e fora das casas, próximos a ralos e lavanderias. 77
No Jardim Los Angeles, bairro Seminário, uma espécie comumente
encontrada é Tityus costatus. No local, há muitas casas que possuem lareiras em que os
moradores utilizam madeira e nós de pinho. Vários jardins são ricamente enfeitados
com vegetação, madeira e pedras, num paisagismo que propicia muitos esconderijos
para diversos tipos de artrópodos, inclusive aranhas e escorpiões.

Referências

BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Controle de Escorpiões. Brasília, 2009.


BRASIL, Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. Manual de Diagnóstico e
Tratamento por Animais Peçonhentos. Brasília, 1998.
CARDOSO, J.L.C.; FRANÇA, F.O.S.; WEN, F.H.; MÁLAQUE, C.M.S.; HADDAD,
V. Jr. Animais Peçonhentos no Brasil . Biologia, Clínica e Terapêutica dos
Acidentes.São Paulo: Sarvier, 2003.
Documentos Internos do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores. Filipeta de Tityus
stigmurus. Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.
Documentos Internos da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Folder de Escorpião.
LUCCHETTI RF. Como Eliminar Pragas Domésticas. São Paulo: Editora Escala, 2001.
ZOZERNON JF; JUSTI JJr. Manual Ilustrado de Pragas Urbanas e Outros Animais
Sinantrópicos. Instituto Biológico. São Paulo, 2006.

Dados da autora

Cláudia Staudacher

Chefe de Fauna Sinantrópica - Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores -


Centro de Saúde Ambiental - Secretaria Municipal de Saúde – Prefeitura Municipal de
Curitiba. Bacharelado e Licenciatura em Biologia pela Universidade Católica do Paraná.
Especialização em Epidemiologia de Vetores Importantes em Saúde Pública –
Universidade Federal do Paraná.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Formigas
Por Tomaz Fumio Takeuchi

78

Lista de animais de interesse à saúde

Formigas

Nome vulgar: Formiga-lava-pés ou formiga-de-fogo


Nome científico: Solenopsis sp.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

79
Introdução

Os registros fósseis sugerem que as primeiras formigas surgiram há mais de


120 milhões de anos. São insetos da Ordem Hymenoptera, mesmo grupo das vespas e
abelhas, que têm como característica a antena em forma de cotovelo e a presença de
uma “cintura”. Possuem metamorfose completa, passando pelos estágios de ovo, larva,
pupa e adulto.
Estima-se que existam 21.000 espécies no planeta, sendo que,
aproximadamente, 12.500 já foram descritas, 3.000 no Brasil. Das espécies brasileiras,
cerca de 20 podem ser consideradas pragas urbanas.
São extremamente benéficas ao homem, pois dispersam e promovem a
germinação de sementes, aeram e incorporam matéria orgânica ao solo, tornando-o fértil
e são predadoras de diversos invertebrados, muitos deles pragas agrícolas.
A maioria alimenta-se de sucos vegetais, seiva das plantas, néctar de flores,
substâncias açucaradas, líquidos adocicados que são excretados por certos insetos;
algumas são carnívoras e se alimentam de animais mortos ou vivos e outras de fungos
cultivados a partir de folhas vegetais.
São insetos sociais, e cada colônia é constituída por três formas distintas:
rainhas, machos e operárias. As rainhas são maiores que os demais indivíduos da
colônia e são aladas - rainhas de saúvas podem viver até 20 anos, enquanto as rainhas de
formigas domésticas vivem, aproximadamente, de 2 a 4 anos.
Os machos também são alados e consideravelmente menores que as
rainhas. Têm vida curta e morrem após o acasalamento. As operárias são as formigas
que estamos acostumados a ver. Elas são todas fêmeas, não possuem asas e são estéreis;
desempenham várias funções dentro da colônia, também chamado formigueiro. Dentre
estas funções citam-se: escavação e limpeza do ninho, procura de alimento, alimentação
das larvas e rainha(s), alimentação de outras operárias, defesa da colônia, etc. As
operárias vivem de dois a três meses e durante toda sua vida trabalham em prol da
colônia.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

80

Machos e rainhas são produzidos em grande número, geralmente, na


primavera, quando saem dos ninhos e realizam o voo nupcial. Logo após o
acasalamento, o macho morre e a rainha tenta iniciar uma nova colônia ou retorna a uma
já estabelecida. Ela elimina suas asas após o voo, encontra um local para construir o
ninho e colocar os ovos. Esta primeira cria é alimentada pela rainha e é formada
exclusivamente por operárias.
Depois que as operárias surgem, passam a realizar todo o trabalho da
colônia. A partir daí, a função da rainha passa a ser unicamente a postura de ovos.
A maioria dos acidentes acontece quando o homem pisa ou manuseia o
ninho, sendo alvo da defesa de destemidas formigas, que atacam vorazmente o invasor,
independente do seu tamanho.
Vários estudos apontam a formiga como um potencial veiculador de micro-
organismos patogênicos em ambientes hospitalares, sendo importante o seu manejo e
controle nesse tipo de ambiente.
O controle consiste na manutenção de um ambiente limpo e organizado.
Evitar entulhos, restos de comida, lixeira sem tampa, frestas em portas, janelas e manter
o gramado aparado, sem a presença de restos vegetais, são formas de reduzir sua
presença em nossas residências.
O sucesso do manejo de formigas pragas está na utilização, por empresas
especializadas, de iscas formuladas com produtos de ação lenta que atinjam, através de
trofolaxia, todos os indivíduos da colônia, inclusive as rainhas. A trofolaxia é a ingestão
de dejetos orais e anais uns dos outros, forma pela qual as larvas, ninfas e rainhas,
geralmente, se alimentam.
Em Curitiba, as formigas que podem causar risco à saúde são do gênero
Solenopsis, que, além da picada com suas mandíbulas, possuem um ferrão com veneno.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Formiga-lava-pés ou formiga-de-fogo


Nome científico: Solenopsis sp.

CLASSE: Insecta
ORDEM: Hymenoptera
FAMÍLIA: Formicidae
SUBFAMÍLIA: Myrmicinae

81

FOTO: Stephen Ausmus. Solenopsis geminata 1

Dados

As formigas lava-pés são nativas da América do Sul, sendo uma espécie


exótica nos Estados Unidos, Austrália, China e diversas outras regiões no mundo, onde
ocasionou danos à agricultura, saúde pública e à diversidade local, pelo desalojamento
de espécies nativas.
Seu ninho é formado por terra solta, tem inúmeras aberturas e a grama
próxima não é atacada, podendo haver folhas de permeio à terra da colônia. Geralmente,
localizam-se nos campos, quintais, jardins, ou fazem galerias em frestas de muros,
pedras, etc.
As formigas-de-fogo adotam postura defensiva e atacam em grande número
se o formigueiro for perturbado.

1
Esta imagem encontra-se em domínio público nos Estados Unidos por ser uma obra do Governo
Federal dos EUA nos termos do Título 17, Capítulo 1, Secção 105 do US Code. Disponível em:
http://www.ars.usda.gov/is/graphics/photos/dec04/k11622-1.htm.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde 82

A ferroada é muito dolorosa e uma formiga pode ferroar 10-12 vezes,


prendendo as mandíbulas na pele e ferroando várias vezes em torno desse eixo,
provocando uma lesão dupla pequena no centro de várias lesões pustulosas.
Imediatamente após a picada, há um inchaço de 0,5 a 1,0 cm no local. A dor
passa em algumas horas e inicia uma coceira. Pode haver infecção secundária causada
pela ruptura da pústula ao coçar. Processos alérgicos podem ocorrer em diferentes
graus, sendo inclusive causa de óbito.

Prevenção

Utilizar botas e luvas ao lidar com jardinagem. Evitar circular em locais


com presença de formigueiros.

O que fazer em caso de acidente

Para aliviar a dor e a coceira é recomendada a aplicação de compressas frias


no local da picada. Procurar um serviço médico aos primeiros sintomas alérgicos
(urticárias, inchaço dos lábios, língua, garganta, náusea, vômitos, dor abdominal,
diarreia, falta de ar, queda da pressão, convulsões e perda de consciência).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

BUENO O. C.; CAMPOS-FARINHA A. E. C. 1999. As formigas domésticas, p.135-


180. In Mariconi F. A. M., (coord) Insetos e outros invasores de residências.
Piracicaba, FEALQ, 460p. 83
FARINHA, A.E.C. Formigas: biologia e comportamento. Disponível em:
http://www.pragas.com.br/pragas/formiga/formiga_biologia_e_comportamento.php.
Acessado em 22/06/11
GRIMALDI, D.; ENGEL, M. S. 2005. Evolution of the insects. New York:
CambridgeUniversity, 755p.
MANUAL DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE ACIDENTES POR ANIMAIS
PEÇONHENTOS. 2001. 2ª ed. - Brasília: Fundação Nacional de Saúde: 65-66pp
PANIZZI, A. R.; PARRA, J. R. P. (editores técnicos). 2009. Bioecologia e nutrição de
insetos: base para manejo integrado de pragas. Brasília-DF: EMBRAPA Informação
Tecnológica. 323-356pp.
PEREIRA, R.S. & UENO, M. 2008. Formigas como veiculadoras de microorganismo
em ambiente hospitalar. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
41(5): 492-495pp.
PREFEITURA DE SÃO PAULO. Controle de Zoonoses. Disponível em:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/contro
le_de_zoonoses/animais_sinantropicos/index.php?p=4510. Acessado em 09/06/11
ZARZUELA M.F.M., RIBEIRO M.C.C., CAMPOS-FARINHA A.E.C. 2002.
Distribuição de formigas urbanas em um hospital da região sudeste do Brasil.
Arquivos do Instituto Biológico (São Paulo) 69: 85-87pp.
ZORZENON, F. J.; JUSTI JUNIOR, J. 2006. Manual ilustrado de pragas urbanas e
outros animais sinantrópicos. São Paulo: Instituto Biológico. 39-66pp.

Dados do autor

Tomaz Fumio Takeuchi

Biólogo da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba desde 2007, formado em


Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná em 2006.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Lagartas urticantes
Por Solange Regina Malkowski

84

Lista de animais de interesse à saúde

Lagartas

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Lonomia obliqua

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Hylesia sp.

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Dirphia Curitiba

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Automeris illustris

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Hyperchiria incisa

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Hylesia sp.

Nome vulgar: bicho-cachorrinho, taturana-gatinho


Nome científico: Megalopyge sp.

Nome popular: lagarta-lesma


Nome científico: Sibine sp.

Nome vulgar: lagarta-aranha


Nome científico: Phobetron sp.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

85
As lagartas urticantes são formas imaturas de mariposas da ordem
Lepidoptera, na qual estão também inseridas as borboletas. Essa ordem é uma das
maiores entre os insetos, possuindo aproximadamente 180.000 espécies que vivem nos
mais variados habitats. A denominação Lepidoptera foi assim designada devido a
presença de revestimento de escamas nas asas (lepido significa escamas e ptera
significa asa). As borboletas e as mariposas possuem diferenças morfológicas, mas, a
característica que mais as distinguem está relacionada ao hábito de voar, já que a
maioria das borboletas voa durante o período diurno e as mariposas no noturno.
Também é importante ressaltar a contribuição dos Lepidoptera na polinização das
plantas, além de outros benefícios, assim, a maioria das espécies interage positivamente
no ambiente em que vive.
Os Lepidoptera adultos possuem aparelho bucal sugador, com espiro-tromba
longa, com exceção da família Micropterygidae que apresenta aparelho bucal
mastigador, e ainda alguns possuem o aparelho bucal atrofiado não se alimentando na
fase adulta. Alimentam-se do néctar das flores e substâncias açucaradas de frutas, etc.
As mariposas e as borboletas se desenvolvem através de metamorfose completa ou
holometabolia, consistindo nas fases de ovo, o período de incubação, larva, o período
larval e o período de pupa seguido pela emergência do adulto (ovo-lagarta-pupa-adulto).
As lagartas são cilíndricas, apresentando 13 segmentos no corpo e a cabeça
é bem desenvolvida. Os três primeiros segmentos são os torácicos e possuem um par de
patas em cada um e do 3º ao 6º e o 10º abdominais apresentam falsas patas ou
pseudópodos. O aparelho bucal das lagartas é do tipo mastigador. Alimentam-se,
principalmente, de folhas, por isso, são chamadas de desfolhadoras, e em muitos casos,
algumas espécies são consideradas pragas de culturas pelos danos que causam.
O corpo das lagartas urticantes possui estruturas com glândulas secretoras
de toxinas, que podem ter a forma de pelos, setas ou cerdas. Nos representantes da
família Saturniidae a cerda é constituída por um eixo central com ramificações laterais,
com glândulas de veneno no ápice. Estas cerdas, ou scolus, são semelhantes a pequenos
“pinheiros”. Já nos Megalopygidae as lagartas possuem dois tipos de cerdas, as
verdadeiras que são pontiagudas e contém as glândulas basais secretoras de toxina e as
cerdas longas, que são inofensivas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

A postura dos ovos é feita pela fêmea após o acasalamento, e podem ser
dispostos isoladamente ou em grupos sob ou sobre as folhas ou outras estruturas da 86
planta hospedeira. Bastante comum é encontrar a postura em grupos na página inferior
das folhas, como uma estratégia de defesa. As lagartas, assim que eclodem dos ovos, já
começam a se alimentar das folhas. Quase sempre se alimentam no período noturno e
durante o dia, permanecem aderidas aos troncos. Durante a fase larval podem ocorrer 6
ou 7 trocas de pele (ecdises), ao longo de aproximadamente 3 meses. Depois que já se
desenvolveram há a formação da pupa, que pode ou não estar com envoltório de seda
e/ou folhas. O ciclo de vida é, então, finalizado com a emergência do inseto adulto, o
que aqui no caso se trataria de uma mariposa.
Os Lepidoptera que representam algum risco de causar danos, podendo ser
considerados prejudiciais à saúde, são bem poucos. Basicamente, tais danos podem ser
caracterizados por acidentes que ocorrem, quando inadvertidamente há o contato direto
com as estruturas que adornam o corpo das lagartas urticantes, as quais contém toxinas
que provocam queimaduras na pele e outras reações adversas. Dependendo da espécie
causadora de acidentes, estes podem evoluir de pequena irritação até hemorragia grave,
ocasionando óbito. Geralmente, a gravidade do acidente é diretamente proporcional a
quantidade de estruturas atingidas por ocasião do contato.
As espécies que causam acidentes, no Brasil, são representantes das famílias
Arctiidae, Limacodidae, Megalopygidae e Saturniidae. A espécie Premolis semirufa,
popularmente conhecida como pararama, pertence a família Arctiidae, e é a única
espécie dessa família que causa acidentes graves, com registro de ocorrências somente
na região amazônica, onde provoca a pararamose ou reumatismo dos seringueiros.
Apesar das espécies mais frequentes de interesse à saúde no município de
Curitiba estarem aqui contempladas, salienta-se que muitas outras também com o
mesmo potencial, principalmente outras Lonomia, Dirphia, Automeris, fazem parte
dessa relação, pois apresentam o mesmo padrão de estruturas urticantes aqui relatado.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Lonomia obliqua Walker, 1855 (LEPIDOPTERA, SATURNIIDAE)

87

Lonomia obliqua Walker, 1855 (macho) – em coleção científica


FOTO: Solange Regina Malkowski

Lonomia obliqua Walker, 1855 (fêmea) – em coleção científica


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

88

Colônia de Lonomia obliqua Walker, 1855


FOTO: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

89

Macho adulto de Lonomia obliqua Walker, 1855 – na natureza


FOTO: Deni Lineu Schwartz Filho

Fêmea adulta de Lonomia obliqua Walker, 1855 – na natureza


FOTO: Cláudia Staudacher

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Dados 90

Espécie nativa, com registro de ocorrência do estado do Rio Grande do Sul


até o estado da Bahia. Trata-se de uma espécie que habita florestas, geralmente,
encontrada em clareiras dentro da mata ou em bosques com sub-bosques alterados.
Também é comumente encontrada nos pomares em árvores frutíferas próximo a
residências e outros locais. No entanto, quando às vezes se dispersam, podem aparecer
dentro de sapatos, em muros, cercas, cadeiras, bancos, etc. Assim, como uma espécie
generalista, alimenta-se de várias espécies de plantas, podendo ser encontrada em
aroeira, ariticum, bugreiro, cedro, ipê, pereira, abacateiro, pessegueiro, figueira,
caquizeiro, etc. Como a maioria dos saturnídeos, L. obiqua tem hábito gregário,
permanecendo em colônias, confundindo-se com os troncos das árvores, o que
proporciona aspecto de difícil visualização. Tal comportamento é responsável pela
maioria dos acidentes, quando há o contato involuntário da pele sobre as lagartas,
tocando nas estruturas veiculadoras de toxina, que derrama sobre a pele causando a
queimadura.

Informações adicionais

Os gêneros Lonomia e Periga, com várias espécies descritas, apresentam


distribuição geográfica que abrange a América do Sul, América Central indo até o
México, e constituem o grupo de saturnídeos com ocorrências de acidentes mais graves.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Dirphia curitiba Draudt, 1930 (LEPIDOPTERA, SATURNIIDAE)

91

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

Espécie nativa, presente na região Sul do Brasil, habita florestas, bastante


comum na arborização pública do município de Curitiba, Paraná, geralmente,
encontrada em árvores de grande porte como: falso-barbatimão, aroeira, acer, angico,
dedaleiro, sibipiruna e tipuana. As lagartas de D. curitiba possuem hábito gregário,
permanecendo em grupos nos troncos das árvores, onde pela sua coloração camufla com
manchas de liquen, o que confunde a visibilidade, favorecendo a ocorrência de
acidentes por contato através da pele.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Automeris illustris (Walker, 1855)
92

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

Espécie nativa que ocorre amplamente nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil,
com registros para alguns estados das outras regiões e para outros países da América do
Sul (Argentina, Bolívia e Uruguai) e Central. Apresenta várias plantas hospedeiras
podendo ser encontrada em acácia, jacarandá, pata-de-vaca, eucalipto, pereira,
bananeira, caquizeiro, abacateiro, magnólia, roseira entre outras. Da mesma forma,
como acontece com as outras lagartas urticantes, o acidente se dá pelo contato.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Hyperchiria incisa (Walker, 1855) (LEPIDOPTERA,
SATURNIIDAE) 93

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

Brasil, Bolívia, Argentina, Peru e Paraguai. Encontrada em florestas e


outros ambientes alterados. Bastante comum em Acer negundo, eucalipto. O acidente
ocorre através do contato com as cerdas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: taturana


Nome científico: Hylesia sp. (LEPIDOPTERA, SATURNIIDAE)

94

FOTOS: Solange Regina Malkowski

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

95

Dados

Espécie nativa da região Neotropical, pode ser encontrada em aroeira,


eucalipto. As lagartas possuem hábito gregário. Durante a revoada, as mariposas do
gênero Hylesia liberam cerdas do abdômen, que em contato com a pele, causam
dermatites. A peculiaridade dos representantes desse gênero se refere ao fato de que,
além das lagartas, também os adultos causam acidentes.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: bicho cachorrinho, taturana-gatinho


Nome científico: Megalopyge sp. (LEPIDOPTERA, MEGALOPYGIDAE) 96

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

A grande maioria das espécies dessa família (Megalopygidae) é encontrada


na região neotropical, com poucos representantes na América do Norte e África.
Geralmente é encontrada em abacateiro e outras árvores frutíferas, porém não são
gregárias. Essas lagartas possuem dois tipos de cerdas, as verdadeiras que são
pontiagudas e contém as glândulas basais secretoras de toxina e as cerdas longas que
são inofensivas. O acidente ocorre após o contato com as cerdas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome popular: lagarta-lesma


Nome científico: Sibine sp. (LEPIDOPTERA, LIMACODIDAE)

97

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

Geralmente é encontrada em limoeiro e outros cítricos. Como todo


Limacodidae, não possui as falsas pernas e as patas torácicas são pequenas,
locomovendo-se por rastejamento. O acidente ocorre através do contato com as cerdas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: lagarta-aranha


Nome científico: Phobetron sp. (LEPIDOPTERA, LIMACOCIDAE)
98

FOTO: Solange Regina Malkowski

Dados

O nome vulgar que é atribuído a esta lagarta tem a ver com as projeções
laterais que lembram estruturas do corpo das aranhas O revestimento do tegumento
deixa um aspecto que parece veludo apresentando várias setas que se assemelham a
minúsculos alfinetes. Alimentam-se de palmeira, eucalipto, árvores frutíferas e
ornamentais.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Nos acidentes com Lonomia, após a queimadura, a região afetada torna-se


avermelhada, com inchaço, calor, há dor de cabeça, náuseas e vômito. Até 72 horas
depois do acidente podem ocorrer hemorragias, através de hematomas, sangramento
pelo nariz, gengivas, urina, em feridas abertas ou recentemente cicatrizadas. A evolução 99
do quadro pode se agravar conduzindo a uma insuficiência renal aguda seguida de óbito.
Nos demais acidentes, com as outras espécies, há a queimação, vermelhidão,
inchaço, podendo evoluir para dor de cabeça e náuseas. As mariposas, quando em
revoadas, batem-se uma nas outras liberando cerdas do abdômen que causam dermatites
(coceiras).

Prevenção

 Observar: a presença de galhos com folhas ausentes e fezes no chão são


indicações da presença de lagartas no local;
 Verificar a base dos troncos e a grama próxima, pois podem conter
lagartas, inclusive prestes a se transformar em pupas;
 Tomar cuidado quando estiver trabalhando na lavoura, colhendo frutos,
etc., sempre observando antes de manusear as plantas;
 Evitar permanecer próximo a postes de iluminação ou qualquer outra luz
acesa, quando houver revoada de mariposas (Hylesia sp.). Não deixar,
nesse período, luzes acesas fora da casa.
 Limpar qualquer objeto ou superfície que possa conter cerdas da
mariposa.

O que fazer em caso de acidente

Em caso de acidente, coletar a(s) lagarta(s) sem tocá-las, colocando-as com


o máximo cuidado (utilizar pinças e luvas) em um recipiente fechado e juntamente
dirigir-se a um posto de saúde ou hospital mais próximo. Também se recomenda lavar
com água corrente e passar gelo ou água fria no local, porém, nenhum produto deve ser
aplicado na queimadura. Lavar as mãos caso tenha havido algum contato com a
mariposa

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

BORROR, D.J. & DeLONG, D.M. 1988. Introdução ao estudo dos insetos. São Paulo:
Edgard Blucher Ltda., 653 p
FELIX, G.C.S. & FREITAS, E.F. 2004. Ocorrência de Hylesia sp. (Saturniidae: 100
Hemileuciinae) em região agrourbana e região preservada do cerrado. XXV
Congresso Brasileiro de Zoologia, Resumos, Brasília, p. 175.
LEMAIRE, C. 1972. Revision du genre Lonomia Walker (Lepidoptera:Attacidae). Ann.
Soc. Ent. Fr. (N.S.) 8(4): 767-861
LIMA, A.M. da C. 1945. Insetos do Brasil. Lepidópteros. Tomo 5, 1ªParte. Rio de
Janeiro, Escola Nacional de Agronomia, 379 p.
LIMA, A.M. da C. 1950. Insetos do Brasil. Lepidópteros. Tomo 6. 2ª Parte. Rio de
Janeiro, Escola Nacional de Agronomia, 420 p.
LORINI, L.M. 1999. A taturana. Aspectos biológicos e morfológicos da Lonomia
obliqua. Passo Fundo, RS, EDIUPF, 67 p.
MORAES, R.H.P. 2002. Lepidópteros de importância médica. In: CARDOSO, J. L. et
al. Animais peçonhentos no Brasil, Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes.
Editora Sarvier, São Paulo, FAPESP, 467 p.
SPECHT, A., FORMENTINI, A.C. & CORSEUIL, E. 2006. Biologia de Automeris
illustris (Walker) (Lepidoptera, Saturniidae, Hemileucinae). Revista Brasileira de
Zoologia, Curitiba, 23(2):537-546.
URBAN, D. & OLIVEIRA, B.L. de 1982. Sobre a biologia de Hyperchiria incisa
(Walker, 1855) (Lepidoptera, Saturniidae, Hemileucinae). Dusenia: 12(4) p. 109-
113.

Agradecimento: Prof. Olaf Mielke, Dept. de Zoologia, Universidade Federal do Paraná,


pela identificação das mariposas (Lepidoptera).

Dados da autora

Solange Regina Malkowski

Graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná


(1985) e mestre em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do
Paraná (1992). Bióloga do Museu de História Natural Capão da Imbuia em Curitiba-PR,
Laboratório de Entomologia. Curadora da coleção entomológica. Com experiência em
entomologia urbana.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

101

ANIMAIS QUE TRANSMITEM/VEICULAM DOENÇAS

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Aves
Por Cláudia Staudacher e
Pedro Scherer Neto

102

Lista de animais de interesse à saúde

Pombo

Nome vulgar: Pombo-doméstico


Nome científico: Columba livia

Urubu

Nome vulgar: Urubu-de-cabeça-preta


Nome científico: Coragyps atratus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

103

Introdução

Das diversas espécies animais que compõe a fauna urbana, há uma


quantidade considerável de aves. Entre elas, se destacam algumas com interesse à
saúde, como é o caso dos pombos e dos urubus. Ambas as aves são cosmopolitas,
vivendo entre os seres humanos atraídas pelas condições favoráveis ofertadas,
principalmente, pelo próprio homem.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Pombo-doméstico


Nome científico: Columba livia

104

FOTO: Cláudia Staudacher

Dados

O pombo-doméstico, Columba livia, é uma ave que descende do pombo-


bravo ou pombo das rochas, o qual já era criado há cerca de 500 anos pelos asiáticos no
Mediterrâneo europeu. Estas aves tinham o hábito de construir seus ninhos nos rochedos
e penhascos, daí relaciona-se o comportamento destes com o dos pombos das cidades,
que apesar de um pouco ariscos, encontram nas construções civis um local similar ao
dos seus ancestrais para construírem seus ninhos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

São aves que se acostumam, facilmente, ao convívio com pessoas,


respondendo prontamente quando há alimento sendo oferecido. Alguns meses de
alimentação diária bastam para que os pombos caminhem rente aos nossos pés ou
mesmo passem a comer das nossas mãos. Foram, provavelmente, as primeiras aves
selvagens domesticadas pelo homem. Isto é verificado em inúmeras citações folclóricas
e de ordem religiosa que existem em pergaminhos antigos e lendas. A própria história
de Noé mostra quão antiga é essa ligação do homem com o pombo.
Estas aves foram introduzidas no Brasil no século XVI, trazidas pelos
imigrantes europeus como animais de estimação. Escapando das gaiolas ou sendo 105
deliberadamente soltas, passaram a se reproduzir facilmente e próximo a ambientes
urbanizados, visto a grande plasticidade (capacidade de adaptação) da espécie em obter
comida e abrigo.
A Columba livia, pertence à Ordem dos Columbiformes, família
Columbidae, representada por pombos, juritis, rolas e afins.
Formam casais monogâmicos, reproduzem-se de três a cinco vezes ao ano,
podendo variar estes números, dependendo das condições oferecidas para tal. O período
de incubação dos ovos está em torno de 17 dias. Aos seis meses de idade estão
sexualmente ativas e podem se reproduzir por quatro anos ou mais.

FOTO: Cláudia Staudacher

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

106

FOTO: Vinícius Abilhoa

Em cativeiro vivem muitos anos. Soltos nas grandes cidades seu tempo de
vida é reduzido (3 a 4 anos), pois passam muito tempo competindo entre os de sua
própria colônia por comida e abrigo e contra os seres humanos que, em sua maioria,
tentam desalojá-los quando procuram refúgio em suas residências. Além desta situação
de stress, a alimentação, geralmente, é inadequada. Existe ainda, mesmo que pouca, a
ação de predadores. O tamanho das colônias varia de acordo com a oferta de alimento,
sendo que os bandos, raramente, se misturam.
São aves de hábito oportunista devido à facilidade de adaptação ao meio
urbano, servindo-se de nossas construções para abrigarem-se e construírem seus ninhos,
além da enorme oferta de alimento proporcionado pelo homem, causando aumento no
número de aves das colônias urbanas.
A interferência humana possibilita o crescimento desordenado e desenfreado
destas colônias de pombos. Na fartura de alimento, as aves encontram predisposição
para aumentar suas proles, necessitando cada vez mais de espaço para seus ninhos,
invadindo residências, produzindo enorme quantidade de dejetos (fezes) e penas velhas.
Além do dano estrutural causando prejuízo econômico, onde as fezes ácidas mancham
carros, paredes, inutilizam forros e telhados, o problema passa a ser de ordem sanitária,
pois o acúmulo de fezes e penas possibilita a veiculação de doenças.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Os pombos urbanos são responsáveis pela veiculação de agentes que


desencadeiam alergias, vinculadas as suas penas, plumas, excrementos ou ainda pela 107
presença de ectoparasitos (ácaros, piolhos, carrapatos, moscas e pulgas). Além disso, os
pombos estão associados a doenças como: histoplasmose, criptococose, salmonelose e
psitacose.
Histoplasmose e Criptococose são ambas infecções causadas por inalação de
esporos suspensos no ar. É importante saber que os agentes causadores destas doenças
são respectivamente, fungos dimórficos e leveduras saprófitas. Estes agentes se
desenvolvem sobre fezes envelhecidas, sobcondições favoráveis de temperatura,
luminosidade, umidade. Por este motivo, não somente de pombos, mas também fezes de
outras aves e mesmo outros animais (por exemplo, de morcegos, gambás, gatos,
frequentando os forros das casas) podem servir para o desenvolvimento de fungos e
bactérias, colocando os pombos não como transmissores e sim veiculadores das
doenças acima citadas.
As salmonelas, de origem animal, causam no homem uma infecção
intestinal, com período de incubação de 6 a 72 horas depois da ingestão do alimento
contaminado. Geralmente, a salmonelose tem uma evolução benigna, e a recuperação
clínica leva de 2 a 4 dias. As salmonelas têm uma grande variedade de hóspedes
animais, tanto domésticos quanto silvestres.
A psitacose, ornitose ou clamidiose aviária é uma doença causada por
Chlamydia psittaci, micro-organismo que pode estar presente no sangue, fezes e penas
de aves. A infecção também ocorre pela inalação de micro partículas provenientes das
fezes secas contaminadas ou pela manipulação direta das aves.
Os ácaros e piolhos que vivem entre as penas das aves podem causar
desconforto, alergias e algumas vezes dermatites no ser humano. Na maioria das vezes
essa situação está diretamente ligada à instalação permanente das aves na casa. Os
piolhos e ácaros tomam os ninhos, e quando a infestação é alta, tendem a descer do
forro para toda a casa. É importante esclarecer que sem os ninhos, normalmente não há
problemas com estes ácaros e piolhos. São animais muito frágeis que não costumam
abandonar o corpo da ave para ficar em ambiente que não ofereça um mínimo de
segurança e abrigo, logo, a presença destes parasitas infestando casas está diretamente
ligada à presença de ninhos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção 108

A permanência de pombos nos centros urbanos está vinculada fortemente à


oferta de abrigo e alimento que os cidadãos disponibilizam de forma direta ou não.
Diariamente, são vistas pessoas que oferecem alimento às aves deliberadamente, em
praças públicas ou mesmo em casa.
Podem ser considerados exemplos indiretos de oferta de alimento:

 deixar exposto o alimento do cão de estimação, seja ração ou comida


caseira, permitindo assim que aves, inclusive pombos, sirvam-se desta
fonte de alimento;
 deixar espalhados grãos/ farelos em áreas de transporte ou estocagem,
como os centros de distribuição – C.A.s (muito comum em áreas
portuárias e empresas graneleiras);
 não acondicionar correta e imediatamente sobras de lanche após o
recreio das crianças em escolas.

Em relação ao abrigo, os pombos têm o hábito de utilizar locais com


facilidade de acesso para construção dos ninhos. Uma das situações mais comuns é
quando se alojam nos forros das casas, encontrando espaço abundante, tranquilidade e
proteção contra chuva, frio, sol e também de alguns predadores (aves maiores que não
conseguem acessar o local). Estes forros, geralmente são ocupados pelos pombos
quando os telhados e beirais estão em mau estado de conservação. Quando não podem
se servir de forros, utilizam calhas semi cobertas e largas ou ainda espaços no telhado
parcialmente cobertos (quando há duas meias águas). Demais situações caracterizam-se
por pousos temporários, onde as aves empoleiram-se: beirais, tubos de coleta de água de
chuva, parapeitos de janelas, sacadas, vigas aparentes de sustentação.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nestas situações podem-se aplicar métodos físicos de impedimento para que


os pombos não consigam acessar tais locais.
Estes métodos podem ser:

 fios tencionados de nylon, serpentina (arame liso helicoidal), espículas 109


(hastes metálicas verticais): atrapalham o pouso e/ou permanência das
aves em beirais e vigas, tubos de coleta de água de chuva, calhas,
parapeitos. O objetivo destes materiais é eliminar o espaço vago onde
normalmente as aves pousariam;
 gel repelente: normalmente é comercializado por casas de material de
construção ou casas agropecuárias, tem o objetivo de causar
desconforto no momento em que o animal pousa sobre o produto,
dando a sensação de repelência ao toque com os pés da ave;
 repelentes granulados: não são muito eficazes, pois o efeito do produto
é por sensibilização de odores e pombos possuem o olfato pouco
aguçado;
 equipamentos de ultrassom: pouco utilizados, seu efeito é bastante
discutido uma vez que alteram inclusive a rotina de outras espécies de
aves que frequentam o mesmo local;
 fios de baixa voltagem: método muito utilizado em outros países com
sucesso e dentro dos tramites legais locais. Causam um choque apenas
irritativo no animal quando pousa sobre a placa eletrificada, sem causar
danos ou morte.

De acordo com os exemplos acima citados entende-se que instrumentos


capazes de impedir e/ou dificultar o pouso e a instalação das aves, bloqueando o acesso
a locais possíveis de serem usados como abrigo, são recursos a serem considerados para
manejo de pombos. É importante lembrar que a oferta de alimento deverá ser suspensa,
preferencialmente, de maneira gradativa, diminuindo-se a oferta pouco a pouco todos os
dias. Isto obriga os animais a buscarem o alimento em outros locais sem o sofrimento de
terem o alimento suspenso de maneira radical. Quando a alimentação é cortada de
imediato, os pombos ficam agitados e por vezes entram nas casas em busca desesperada
pela comida antes fácil e abundante. Não havendo alimento disponível, a tendência é de
que as colônias se mantenham estáveis ou pelo menos não aumentem de maneira
descontrolada.
Estudos feitos na cidade de Curitiba mostram que as reclamações em
relação a pombos provém, em maior quantidade, do centro da cidade, de locais onde
existem edificações antigas, restauradas ou não, com arquitetura muito favorável para as
aves. Afinal, são encontrados em praticamente todas as praças onde há oferta de
alimento. Nos demais bairros, é notada a presença dos animais próximos a escolas,
estádios de futebol e parques, atraídos pelos mesmos motivos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Urubu-de-cabeça-preta


Nome científico: Coragyps atratus

110

FOTO: Terezinha Aparecida de Lima

Dados

Os urubus são consumidores de carne em decomposição, portanto,


desempenham importante papel saneador, mas, como os pombos, causam incômodos
em áreas urbanas.
Aparentemente, são monogâmicos, ou seja, escolhem um parceiro formando
assim um casal que ficará unido pelo resto da vida. O tempo de incubação e
permanência dos filhotes no ninho é longo, 49 dias aproximadamente. As fêmeas botam
de dois a três ovos salpicados e manchados.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

111

FOTO: Terezinha Aparecida de Lima

FOTO: Terezinha Aparecida de Lima

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Costumam viver próximos da área onde o alimento é mais acessível. Como


tem o hábito de ingerir carne em putrefação de diversas origens, além de restos de
comida, é comum serem vistos em grandes grupos, próximos a lixões. Quando são
alimentados com carne fresca são limpos e não tem mau cheiro.
Na época de reprodução, aproximam-se dos centros urbanos, onde, com
certa facilidade, encontram locais apropriados, em edifícios altos. Podem utilizar 112
floreiras, sacadas de prédios ou qualquer espaço que descubram com segurança para os
filhotes até que possam voar e acompanhar os pais.
Quando os forros têm abertura grande o suficiente para permitir sua entrada,
ocupam também estes espaços. Torres de igrejas, casas de máquinas de elevadores que
tenham janelas ou portas abertas também são comumente escolhidos. A presença do ser
humano frequentando o local pode incomodar, porém, em muitos casos, não é suficiente
para intimidá-los ou convencê-los a procurar espaços mais isolados. São comuns relatos
de moradores tentando afugentar casais de suas sacadas ou floreiras ou ao contrário,
muitas vezes cedendo a persistência destes animais, assistindo pacificamente o
desenvolvimento dos filhotes até o momento de acompanharem os pais voando para
longe dali. Em algumas situações, as aves ficam tão mansas que chegam a aceitar a
aproximação e até comida das mãos do morador. Há informações de que, por anos
consecutivos e na mesma época, casais de urubus ocuparam o mesmo espaço, criando a
hipótese de que alguns destes casais retornam ano após ano na área escolhida para
criarem seus filhotes.

FOTO: Terezinha Aparecida de Lima

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O comportamento de urubus parados em frente a vidros espelhados é


curioso e frequentemente comentado por pessoas que têm ou já tiveram estas aves como
visitantes/inquilinos. O fato de alguns vidros serem espelhados ou, simplesmente
bastante refletivos, pode ser motivo de atração para estes animais que passam por vezes
horas esboçando um comportamento nada amistoso contra o vidro, bicando e abrindo as
asas de forma ameaçadora. A interpretação mais cabível é de que este comportamento 113
seja de defesa de território, onde acontece o confronto da ave com um oponente, mesmo
que seja a própria imagem refletida no espelho ou vidro de alta reflexão.

Interesse à saúde

As doenças veiculadas por urubus são as mesmas associadas a pombos,


alergias em razão das penas, ácaros e piolhos, salmonelose e aspiração de fungos
presentes nas fezes. Além disso, quando estão criando filhotes e trazendo alimento para
eles, há muitas vezes, presença de moscas.

Prevenção

Os locais utilizados para pouso e nidificação (confecção de ninhos) poderão


ser indisponibilizados da mesma maneira como é feito com pombos. Em caso de
utilização de fios tencionados, deverão ser mais grossos, resistentes e instalados em
altura compatível com as pernas da ave. O ideal é que a presença dos urubus seja
detectada antes da sua instalação em algum lugar propício à nidificação, para que se
possam tomar as medidas cabíveis de manejo. Destaca-se, são aves que tem por hábito
regurgitar (vomitar) sua comida, tanto para alimentar sua prole quanto para defendê-la.
Quando se sentem muito incomodados, vomitam e sopram fortemente.

Informações Adicionais

Entende-se, portanto, que a presença de aves nos centros urbanos de


maneira desordenada e em quantidades que causam transtornos ao ser humano seja
consequência da busca destas espécies pela sua manutenção. Deslocados de seu hábitat
original, são animais admiráveis, visto a alta capacidade de sobreviver no ambiente
turbulento das grandes cidades, mostrando sempre mudanças de comportamento
utilizadas para sua perpetuação e sustento. Tornaram-se animais, muitas vezes,
indesejados, resultado, principalmente, da enorme disponibilidade de abrigo e alimento
ofertados pelo próprio ser humano. Por essa razão, e para que deixem de ser um
problema seja sob o ponto de vista econômico, estrutural ou de saúde pública, é
necessária uma reformulação de pensamentos e atitudes por parte da população.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

114
Referências

ACHA, P.N. & SZYFRES, B. 1989. Zoonosis e enfermedades transmisibiles comunes


al hombre y a los animales. 2ª Ed. OMS/OPAS.Publicação científica n° 503, 989 p.
ALMEIDA, J.F. 1995. versão traduzida em português. Bíblia de Estudo Pentecostal.
Florida, EUA,cap. 08 versículos 07 – 12. 2030p. Life Publishers.
AUSTIN JR., O.A. 1975. Birds of The World, London, 316 p..
CARVALHO, D. & RIZZO, M. 1998. Os perigos do Símbolo da Paz. Controle de
Pragas. São Paulo, 3, p.10-11.
DETHIER, V.G. & STELLAR, E. 1973. Comportamento Animal. Editor Edgard
Blucher Ltda – Editora da Universidade de São Paulo, 151p.
HAAG-WACKERNAGEL, D. 1993. Street Pigeon In Basel. Nature. 361: 200.
HALLIDAY, T. 1994. Animal Behaviour. UK: Ed. Blandford Book 134, 144 p.
JUNIOR, J.J. & ZORZENON, F.J. 2006. Manual Ilustrado de Pragas Urbanas e Outros
Animais Sinantrópicos. São Paulo: Instituto Biológico.
LUCCHETTI, R.F. 2001. Como Eliminar Pragas Domésticas, São Paulo, 2001.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 1987. Principais Zoonoses de Interesse em Saúde Pública
Urbana. Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Divisão Nacional de
Zoonoses. ED. Brasília, Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 58 p.
NORONHA, M.L. 2001. Pombos Urbanos. Ed. Prefeitura do Rio- Secretaria Municipal
de Saúde. 26p.
NORONHA, M.L. 2002. O Impacto dos Pombos como Praga nas áreas Urbanas.
Controle de Pragas Urbanas, ASTRAL – Saúde Ambiental. N°49, p.23. São Paulo.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, v 2. 62 p. 1997
STAUDACHER, C. 2002. Distribuição de Pombos Urbanos (Columba livia Gmélin,
1789) em Curitiba, Paraná, Brasil. Monografia apresentada como requisito parcial à
obtenção do título de Especialista, pelo Curos de Especialização em Epidemioloia de
Vetores Importantes em Saúde Pública, do Departamento de patologia Básica da
Universidade Federal do Paraná.
TINBERGEN, N. 1964. Social Behaviour in Animals. Chapman and Hall Editors, 2ª ed.
150p.London.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

115

Dados dos autores

Cláudia Staudacher

Chefe de Fauna Sinantrópica - Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores -


Centro de Saúde Ambiental - Secretaria Municipal de Saúde – Prefeitura Municipal de
Curitiba. Bacharel e Licenciatura em Biologia pela Universidade Católica do Paraná.
Especialização em Epidemiologia de Vetores Importantes em Saúde Pública –
Universidade Federal do Paraná

Pedro Scherer Neto M. Sc.

Engenheiro Agrônomo / Ornitólogo. Mestre em Zoologia / Universidade Federal do


Paraná. Pesquisador voluntário no Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna /
Museu de História Natural Capão da Imbuia / Zoológico de Curitiba.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Baratas
Por Dayana Kososki

116

Lista de animais de interesse à saúde

Baratas

Nome popular: barata-de-esgoto, barata-cascuda


Nome científico: Periplaneta americana

Nome popular: Barata-de-cozinha, barata-alemã,


francesinha
Nome científico: Blatella germanica

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

117

Introdução

Baratas são animais bem conhecidos por estarem presentes onde as pessoas
vivem. São insetos chamados cosmopolitas porque ocupam quase todos os lugares do
mundo. Espécies domésticas de baratas foram transportadas para todos os continentes
viajando em navios, onde conseguiram se alimentar e reproduzir, descendo em terra
firme nas bagagens dos passageiros e nas cargas vindas de várias partes do mundo. A
maioria das pessoas sente repulsa e até medo ao encontrar com uma barata e
imediatamente sente vontade de eliminá-la. Talvez isso se deva ao fato de as baratas
circularem em todo tipo de lixo, material podre, esgoto. Porém menos de 1% de todas as
espécies de baratas existentes vive em contato com o homem, o restante é composto de
espécies silvestres. O principal interesse relacionado à saúde humana está no hábito das
baratas de circular em vários ambientes contaminados e na capacidade que possuem de
transportar, em seus corpos, vários agentes causadores de doenças. São, portanto,
transmissoras mecânicas de agentes infecciosos. Além dos riscos sanitários, as baratas
também podem causar prejuízos econômicos, porque podem provocar alguns danos
materiais, como roer e sujar papéis, tecidos e defecar sobre alimentos, sendo necessária
a sua inutilização.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

São conhecidas mais de 4.000 espécies de baratas no mundo, mas a maioria


vive em ambientes silvestres e faz parte da cadeia alimentar normal das comunidades 118
naturais. Baratas domésticas possuem hábitos preferencialmente noturnos, ficando
escondidas durante o dia e permanecendo a maior parte do tempo em descanso. Por isso,
quase não são vistas e isso dificulta a eliminação de uma infestação. Quando as baratas
aparecem durante o dia pode significar que a infestação já tomou grandes proporções
ocupando muitos esconderijos. A literatura diz que para cada barata avistada durante o
dia há pelo menos 50 indivíduos que sairão à noite para alimentar-se. São animais com
grande capacidade de adaptação, pois podem alimentar-se de tudo, por exemplo,
alimentos ricos em amido, açúcar e gordura, celulose, fezes, sangue, insetos mortos e
resíduos em lixo e esgoto. Tem capacidade de sobreviver sem alimentar-se por vários
dias.

Características das baratas

De coloração quase sempre escura, geralmente variam entre tons de marrom


e preto. O corpo tem formato elíptico ou oval e achatado. O tamanho pode ser de 3 mm
a 10 cm, dependendo da espécie. A cabeça é triangular com antenas longas e aparelho
bucal mastigador. Os machos são menores que as fêmeas.
A reprodução com grande potencial é uma característica das baratas. A
frequência da colocação dos ovos – oviposição - é rápida, poucos dias após, o animal
pode colocar mais ovos. O número de descendentes por animal vai de centenas a
milhares em um ano. Nas espécies urbanas mais comuns a formação dos ovos ocorre
dentro de uma cápsula, ou estojo – ooteca – fora do corpo da fêmea, e o número de ovos
dentro de cada um desses estojos podem variar entre 4 a 50 ovos dependendo da
espécie. A ooteca é depositada em local protegido como fendas de portas, frestas,
armários e gavetas. Este inseto sofre uma metamorfose incompleta em seu
desenvolvimento, passando pelos estágios de ovo, ninfa e adulto realizando mudas, que
são trocas de pele para que o corpo cresça.
Consideradas pragas domésticas, aqui no Brasil, duas espécies se destacam
por serem as mais conhecidas: a Periplaneta americana e a Blatella germanica.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome popular: barata de esgoto, barata cascuda.


Nome científico: Periplaneta americana

Classe Insecta
Ordem Dictyoptera
Família Blattidae
119

Periplaneta americana adulta

Oooteca de Periplaneta americana


FOTOS: Centers for Desease Control and Prevention e Instituto Biológico.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

120

Dados

Gostam de locais mais quentes, úmidos, escuros e sem ventilação. São


encontradas em bueiros, galerias de esgoto, caixas de gordura, ralos, lixeiras e são
excelentes voadoras. Possuem coloração marrom e podem medir até 4 ou 5 cm de
comprimento. A ooteca – estojo com ovos - é depositada horas depois da sua formação,
próximo a fontes de alimentos, possuindo de 14 a 28 ovos cada. Uma fêmea pode
produzir de 10 a 15 ootecas durante sua vida, que dura, em média, 14 meses. As baratas
jovens desta espécie passam por várias trocas de pele – mudas – até chegar a fase
adulta. Alimentam-se, preferencialmente, de matéria orgânica em decomposição, mas,
também são atraídas por substâncias doces e amargas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome popular: Barata-de-cozinha, barata-alemã, francesinha.


Nome científico: Blatella germanica

Classe Insecta
Ordem Dictyopera
Família Blattidae

121

Blatella germanica adulta


FOTO: Centers for Desease Control and Prevention e Instituto Biológico.

Dados

São mais encontradas em locais onde se preparam alimentos e podem


infestar todos os lugares de uma cozinha, armários, fornos, geladeira, interruptores de
luz, eletrodomésticos, batentes de porta, rodapés, fiação elétrica, sótãos, depósitos, etc.
Esses insetos entram nos ambientes transportados por materiais que carregam adultos ou
ovos, como caixa de papelão ou madeira. Também podem entrar através de canalizações
pluviais, elétricas ou de esgoto, frestas de portas e janelas. Encontrando condições de
abrigo e alimento, rapidamente se instalam e começam a se reproduzir, infestando o
local. Esta espécie é atraída por alimentos fermentados e resíduos de bebidas como
cerveja e leite. Medem cera de 1,5 cm de comprimento, possuem duas faixas mais
escuras nos escudos da cabeça. As fêmeas carregam a ooteca quase até o momento da
eclosão dos ovos, quando ocorre o nascimento de 28 a 30 novas baratas jovens. O seu
desenvolvimento passa por 7 estágios, com mudas, até chegar a fase adulta. A vida
desta espécie de barata dura em média 200 dias.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

122

Blatella germanica adulta com a ooteca conectada a seu corpo


FOTOS: Centers for Desease Control and Prevention e Instituto Biológico.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

123

Ooteca de Blatella germanica separada do corpo da fêmea


FOTOS: Centers for Desease Control and Prevention e Instituto Biológico.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

As espécies de baratas que vivem em ambientes urbanos sobrevivem graças


aos recursos proporcionados pelo homem. Nas cidades elas encontram alimento e abrigo
para sua manutenção e reprodução e estão presentes no lixo, redes de esgotos, pluviais e
habitações humanas. O contato com as fezes ou mesmo as “cascas” das suas mudas, as
exúvias, podem causar ou agravar alergias. Foi observado, em vários experimentos, que
as baratas podem transportar em seus corpos diversos patógenos causadores de doenças 124
nos seres humanos. Com o hábito de andar em todos os lugares para encontrar alimento,
servem de carreadoras. Por exemplo, em uma noite vão do esgoto ao lixo, do lixo para a
cozinha onde andam sobre alimentos, sobre os talheres e as louças. Vírus, bactérias,
fungos, protozoários e helmintos são transportados pelas baratas. Tais germes
encontram-se espalhados pela superfície do corpo, nas peças bucais, nas pernas e no
interior do aparelho digestório destes insetos. Pelo contato com o corpo, pelas dejeções
e vômitos, é possível a contaminação alimentos e objetos. Além disso, podem morder a
pele das pessoas diretamente e alimentar-se de secreções oculares, nasais e restos
alimentares na boca. Esse contato pode transmitir agentes patogênicos.
Alguns patógenos foram isolados de baratas demonstrando que elas são
potenciais transmissoras. O vírus da poliomielite e cerca de 40 bactérias patogênicas,
causadoras de infecções intestinais – Salmonella sp, Escherichia coli e bactérias
causadoras da peste e hanseníase foram encontradas em baratas. Duas espécies de
fungos causadores de micoses foram isoladas do conteúdo intestinal de baratas e um
grande número de protozoários, muitos patogênicos, como Entamoeba histolytica,
angente da amebíase; Giardia intestinalis, agente da giardíase; além de Toxoplasma
gondii e Balantidium coli. Podem agir como veiculadoras ou hospedeiras intermediárias
de agentes causadores de verminoses – Ascaris lumbricoides, Ancylostoma duodenale,
Necator americanus e Trichuris trichiura.

Prevenção

As medidas de controle de uma infestação por baratas podem ser feitas por
meio de aplicação de produtos químicos, que nunca deve ser realizado por leigos, pois o
contato desses produtos com pessoas ou animais pode causar intoxicações. Existem no
mercado vários tipos de produtos que podem ser utilizados contra baratas, como,
inseticidas aerossóis, pulverizadores residuais e iscas. No entanto, a eficiência do
controle depende do modo de aplicação, quantidade, escolha do produto mais adequado
e dos locais corretos de aplicação. Por isso, recomenda-se que esse tipo de controle seja
realizado por equipe capacitada e especializada. Além disso, o uso indiscriminado de
substâncias químicas pode provocar a resistência da população de baratas que se quer
eliminar.
As baratas possuem predadores naturais como a lagartixa, que pode auxiliar
no controle, se estiver presente no local infestado. Porém, as baratas atraem alguns
predadores que podem trazer riscos aos humanos, por exemplo, escorpiões, aranhas e
serpentes, que são causadores de acidentes.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

125

Mesmo que um controle de infestação seja realizado com sucesso, medidas


de prevenção contra uma nova infestação são indispensáveis para a resolução definitiva
do problema. Um manejo ambiental com o objetivo impedir a entrada e a instalação
desses insetos inclui a retirada de toda fonte de alimento e inutilização dos abrigos de
baratas. Dependendo do nível da infestação apenas o manejo do ambiente pode resolver
o problema. Então, é importante fazer uma vistoria no local e eliminar frestas, fendas e
buracos que possam servir de abrigo, vedar com borracha ou rolinhos de areia as
soleiras das portas, colocar telas nas janelas, nos ralos ou usar ralos do tipo abre-fecha,
manter o lixo bem acondicionado em sacos plásticos, retirando-os com frequência,
mantendo a lixeira limpa e tampada. Nunca deixar alimentos ou resíduos sobre
bancadas e pias, limpando sempre os eletrodomésticos e utensílios. Higienizar com
frequência dentro do forno, lavar garrafas e vidros antes de guardar. Procurar não
armazenar jornais velhos, papelão e papéis sem uso, pois podem servir de abrigo para as
baratas. Manter sempre vedadas e limpas as caixas de gordura e esgoto.
Concluindo, com o surgimento da civilização esses animais encontraram
mais ambientes para ocupar e se estabelecer com facilidade, já que o modo de vida do
ser humano proporciona tudo o que necessitam para sobreviver. Hoje, as baratas
convivem no mesmo ambiente que as pessoas, por isso, cuidados devem ser tomados,
principalmente, com relação ao ambiente, para evitar os riscos que a circulação das
baratas representa para a saúde humana. Realizar o manejo ambiental como forma de
evitar a proliferação desses insetos é o que compete ao ser humano para proteção da sua
própria saúde.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

CARVALHO, C. Neto. 1999. Manual de biologia e controle dos insetos domésticos.


São Paulo: Novartis Saúde Animal. 126
CARVALHO, C. Neto. O manejo de pragas em estabelecimentos alimentícios. Série
Guias Técnicos Operacionais. Server Química Ltda.
CARREIRA, M. 1991. Insetos de interesso médico e veterinário. Curitiba: Ed. da
UFPR.
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE. Documentos internos do Centro de
Controle de Zoonoses e Vetores. Boletim Informativo: Baratas. Secretaria Municipal
da Saúde de Curitiba.
LIMOEE M. 2011. Insecticide resistance and synergism of three fieldcollected strains
of the German cockroach Blattella germanica (L.) (Dictyoptera: Blattellidae) from
hospitals in Kermanshah, Iran.Tropical Biomedicine. Vol 28 Abril.
LEUNG, T.F.; WONG, Y.S.; CHAN, I.H.; YUNG, E.; SY, H.Y.; LAM, C.W.; WONG,
G.W. 2011. Domestic exposure to aeroallergens in Hong Kong families with
asthmatic children. Pediatric Pulmonoly.
PRADO, M.A. 2002. Enterobactérias isoladas de baratas (Periplaneta americana)
capturadas em um hospital brasileiro. Revista Panamericana de Saúde Pública.
Vol.11 no.2. Fev
SARINHO, E. 2004. There are more asthmatics in homes with high cockroach
infestation. Brazilian Journal of Medical and Biological Research: Vol.37 no.4. Abril
VIANA, E.E.S. 2000. Performance reprodutiva de periplaneta americana Linnaeus,
1758 (blattodea: blattidae). Arquivos do Instituto Biológico. Vol. 67. Novembro.
ZORZENON, J.F.; JUSTI, J. Jr. 2006. Manual ilustrado de pragas urbanas e outros
animais sinantrópicos. Instituto Biológico. São Paulo.

Dados da autora

Dayana Kososki

Bióloga do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores – Setor de Fauna Sinantrópica,


Secretaria Municipal da Saúde. Especialista em microbiologia.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Cães e gatos
Por Juliano Ribeiro e
Vivien Morikawa

127

Lista de animais de interesse à saúde

Cães

Nome vulgar: Cão, cachorro, vira-lata, guapeca e Totó.


Nome científico: Canis familiaris

Gatos

Nome vulgar: Gato.


Nome científico: Felis silvestris catus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução
128
Muito se discute sobre a origem do cão, Canis familiaris Linnaeus, 1758,
pois as suposições, quanto sua origem, baseiam-se em ocorrências de milhares de anos.
Os crescentes estudos mostram estes animais em diferentes ambientes e tempos,
conforme a datação dos fósseis. Contudo, cães e seres humanos se relacionam há no
mínimo 14 mil anos, desde o ancestral do cão doméstico, o lobo. A oportunidade de
conseguir alimento a partir de restos de comida ofertados pelos homens trouxe o lobo
para mais perto dos acampamentos humanos, onde podem ter servido como eficiente
sistema de alarme. A partir daí, tornaram-se parceiros de caça e animais de companhia.
Assim, teve início a domesticação dos cães, o que, ao longo de muitos milhares de anos
de criação seletiva, levou a mudanças significativas em seu comportamento e atributos
físicos.
As raças caninas como são conhecidas por nós só vieram a se estabelecer de
maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas, antes disso, o homem já
selecionava cães para funções específicas. Há pelo menos 12 mil anos, quando nossos
distantes ancestrais passaram a viver em habitações permanentes, o cão primitivo sofreu
pressões ambientais naturais. Consequentemente, sua forma começou a mudar para um
corpo e cavidade cerebral menores, com dentes mais compactos. Após muitas gerações
de cruzamento seletivo, uma diversidade de raças começou a evoluir. Há mais de 5 mil
anos, havia, no Tibete, cães de guarda, ancestrais dos rottweilers e bulldogs. Mais
recentemente, na Itália, datando de 1.700 anos, foram encontrados lébreis, ancestrais
dos atuais basset hound e dachshund. Spaniels de água e retrievers apareceram na
Europa há 1.300 anos. Os terriers, só 100 anos mais tarde. Assim como antes, a
evolução do cão por todo o mundo continua com toda a força.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Os gatos (Felis silvestris catus Linnaeus, 1758.) foram domesticados


primeiramente no Oriente Médio, nas primeiras vilas que praticavam a agricultura.
Entretanto, os sinais mais antigos de associação entre homens e gatos datam de 9.500
anos atrás, encontrados na ilha de Chipre. 129
Quando o homem deixou de ser nômade, passou a depender da agricultura.
A produção e armazenamento de cereais atraiu roedores e a convivência com os gatos
começou a ter utilidade para o ser humano. Estes animais contribuíam com a sociedade
humana, eliminando ratos e camundongos que surgiam em busca dos alimentos
armazenados. No Egito, existem registros da convivência entre o homem e os gatos em
gravuras, pinturas e estátuas de gatos, datando de 5.000 anos.
Gatos são exímios caçadores, auxiliam no controle de pragas, por isto
tiveram privilégios até a Idade Média. A partir de então, começaram a ser vistos
associados a espíritos maus, sendo, muitas vezes, queimados com pessoas acusadas de
bruxaria. Até hoje, há quem relacione o gato à bruxaria, mas, em alguns lugares
acredita-se que trazem sorte. Quando a Idade Média chega ao final, os gatos começam a
ser aceitos em residências e embarcações onde controlavam populações de roedores.
As raças puras, com pedigree, começaram devido a melhoramentos
genéticos visando a participação de gatos em exposições. Assim, criaram-se raças como
a Persa, uma das primeiras.
Hoje, os gatos são animais de companhia e tanto agricultores quanto
navegadores os veem como uma forma barata de controlar roedores. Durante o processo
evolutivo da espécie, pode-se dizer que sua domesticação é recente, desta forma,
retornam com facilidade à vida selvagem, vivendo em colônias e caçando juntos nos
ambientes silvestres.
O convívio do homem com cães e gatos, relatado desde os primórdios da
humanidade, é visto como um dos vínculos mais estreitos entre as espécies. Nos dias de
hoje, a relação homem e animal se intensificou, ocorrendo uma mudança de valores.
Desta forma, há a recomendação de novas posturas, ressaltando a ética no tratamento
com todas as formas de vida, salvaguardada a saúde pública.
Atualmente, os cães preenchem as necessidades humanas, atuando como
facilitadores na melhoria da saúde mental e nas interações sociais, contribuindo na
integração do indivíduo na comunidade em que vive. Esses animais têm uma grande e
comprovada importância no meio social, integrando e convivendo intimamente com a
família, trazendo inquestionáveis benefícios ao bem estar humano, incluindo as
atividades terapêuticas. Com relação aos gatos, a interação com o homem tem mudado
ao longo do tempo, observando-se, em alguns países europeus, que o número de gatos
ultrapassou a população de cães.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

130

Vivemos em uma época na qual se busca o equilíbrio entre a saúde humana,


animal e meio ambiente. Entretanto, devido à artificialidade dos grandes centros
urbanos, diferentes populações podem desempenhar diversos papéis na produção e
intensificação de variados agravos, seja à saúde humana ou animal. Desta forma, nessas
metrópoles há uma grande preocupação com o tamanho e possível aumento da
população canina, bem como com o grande número de cães presentes em vias e
logradouros públicos. Nestes ambientes, podem causar agravos envolvendo pessoas ou
animais, acidentes de trânsito, transmissão de zoonoses e doenças a outros animais,
contaminação ambiental e danos à propriedade pública ou particular.
O controle destas populações representa um desafio constante para todas as
sociedades, independentemente do grau de desenvolvimento socioeconômico. Envolve
uma série de ações, visando harmonizar a relação entre a população humana, os animais
domésticos e o meio ambiente, com o objetivo de minimizar o risco de ocorrência de
agravos à saúde humana e animal.
Neste sentido, os aspectos éticos tem grande importância, especialmente
quando nos referimos às representações e funções de cães e gatos em nossas
comunidades urbanas. A discussão ética sobre o controle das populações de cães e gatos
vem focando esses animais como potenciais zoonóticos, mas, também como parte das
famílias e comunidades.
Os problemas resultantes dessa população de cães que acessam ou estão na
rua são significativos, entre eles a disseminação da raiva e ferimentos resultantes de
mordidas. Há também sérios comprometimentos do bem-estar de cães e gatos: fome,
frio, doenças e medo gerado por interações agressivas com seres humanos e outros
animais. Por essas razões – e também porque os animais nas ruas têm muita visibilidade
– essas populações são fonte de preocupação, tanto para os governos, quanto para os
grupos de bem estar animal.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Cão, cachorro, vira-lata, guapeca e Totó.


Nome científico: Canis familiaris Linnaeus, 1758.

131

FOTO: Juliano Ribeiro.

Dados

Os cães, em sua maioria, são nativos da região em que se encontram, porém,


consideram-se exóticas muitas raças criadas pelo homem. São encontrados por todo o
mundo e vivem em habitações juntamente com os humanos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Gato.


Nome científico: Felis silvestris catus Linnaeus, 1758.

132

FOTO: Marcelo Vettorello

Dados

A maioria dos gatos é nativa da região em que se encontra, porém, muitas


raças criadas pelo homem são consideradas exóticas. São encontrados em várias regiões
do planeta. Vivem em habitações juntamente com os humanos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Cães e gatos estão relacionados às questões de saúde, positiva ou


negativamente. Esta relação pode ser tanto pela prevenção de zoonoses e agravos ao 133
indivíduo e a coletividade, estabilização de suas populações , quanto para o bem estar
deles próprios.
Desde a pré-história são relatados casos de zoonoses, doenças ou mesmo
infecções que se transmitem entre animais e homens. Estes registros coincidem com a
domesticação de animais e início da agricultura. A expansão das zoonoses se deu na
Idade Média, devido aos processos de urbanização que levavam a formação de
aglomerados humanos que produzem alimentos e resíduos atrativos para animais que se
tornaram sinantrópicos.
Atualmente, segundo a Organização Mundial de Saúde, 60% das doenças
que acometem o homem são de origem animal, portanto, zoonoses. Considera-se que a
ocorrência da maioria das inúmeras zoonoses, de maior ou menor gravidade, que
atingem a população humana, se deve à falta de utilização de medidas simples e
disponíveis de controle sanitário e populacional de animais. O fato se agrava quando se
observa que a população em geral não tem conhecimento dessas medidas. Devido a isto,
observa-se, nas áreas de exclusão social, um número maior de animais nas ruas,
reproduzindo-se de forma descontrolada e gerando sérios problemas de contaminação
ambiental, risco de transmissão de zoonoses, agravos por mordeduras, acidentes de
trânsito comprometendo a saúde e o bem estar animal e humano.
A expressão “Animal na rua” vem sendo utilizada para designar qualquer
animal que seja encontrado solto nas ruas. Estes animais tornam-se dependentes das
pessoas para terem suas necessidades atendidas, mantendo-se próximos à elas. As
razões que levam os animais a configurarem-se como problemas nas ruas incluem:
disseminação de doenças, acidentes de transito, ataque a pessoas, danos ao meio
ambiente. As doenças que podem transmitir são várias, dentre elas, destacamos:

• Raiva;
• Leishmaniose visceral;
• Leishmaniose Tegumentar Americana;
• Toxoplasmose;
• Bicho geográfico;
• Alergias;
• Doença da Arranhadura do Gato – DAG.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Desta forma, as atividades voltadas ao monitoramento de populações de 134


cães e gatos realizadas no Brasil objetivam, em sua maioria, o controle de zoonoses de
relevância, como a raiva e a leishmaniose visceral. No entanto, é internacionalmente
reconhecido que a prática de captura e sacrifício de cães e gatos errantes não é eficaz no
que se refere ao controle populacional e de zoonoses. Conforme a Organização Mundial
de Saúde, não há comprovação de que a retirada isolada de cães das ruas impacte
significativamente na redução populacional ou de disseminação da raiva. Descobriu-se
que há uma compensação, devido a um aumento na taxa de sobrevivência, mantendo as
populações com aproximadamente o mesmo tamanho.
Desta forma, para os gestores, permanece o desafio do manejo urbano das
populações de cães e gatos. Entretanto, sabe-se que o enfrentamento eficiente desta
problemática passa pelo envolvimento da sociedade, o que exige ações promotoras dos
comportamentos favorecedores da vigilância em saúde. Assim, é a educação ambiental
que entra em cena como potencial promovedora da mudança de hábitos necessária para
controlar a disponibilidade de alimentos, abrigos e o que mais favoreça o
estabelecimento inadequado de populações caninas.
Como medida eficaz, porém a longo prazo, a educação para a guarda
responsável é a forma de atuação mais recomendável. Por ela, o guardião de um animal
de companhia aceita e assume deveres centrados no atendimento das necessidades
físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenção de riscos
(potencial de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que o animal possa
causar à comunidade ou ao ambiente. É a forma de atuação mais recomendável de
acordo com a legislação pertinente e o público mais receptivo é de crianças do ensino
fundamental. Nestas crianças está em formação o aspecto intelectual, a capacidade de
socialização e a construção de valores, como respeito, responsabilidade com animais e o
entendimento da necessidade de mantê-los dentro do quintal, para evitar doenças e crias
indesejadas. Portanto, um controle efetivo da população de cães e gatos atua
beneficamente na relação homem-animal, prevenindo a ocorrência de zoonoses e
diminuindo o abandono desses animais.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

ALDERTON, D. 2002. Cães: um guia ilustrado com mais de 300 raças de cães de todo
o mundo. Brasil: Ediouro.
FOGLE, B. 2009. Cães. 1 ed. Brasil: Jorge Hazar.
MACPHERSON, C. N. L; MESLIN, F. X & WANDELER, A. I. 2000. Dogs, Zoonoses
and Public Health. Estados Unidos: Cabi. Capítulo: 3
BRISBIN, L.; RISCH, T. S. 1997. Primitive dogs, their ecology and behavior: Unique 135
opportunities to study the early development of the human-canine bond. JAVMA 210
(8): 1122-1123.
LANTZMAN, M. 2000. Agressão Canina. Disponível em: http://www.pet.vet.br.
BRIDGETT, M.; VonHOLDT, et al. 2009. Genome-wide SNP and haplotype analyses
reveal a rich history underlying dog domestication, Nature 464: 898-902.
FRIEDMANN, E.; THOMAS, S. A.; EDDY, T. J. 2000. Companion animals and human
health: physical and cardiovascular influences. In: PODBERSCEK, A. L.; PAUL, E.
S.; SERPELL, J. A. (Ed.),: Companion animals and us: exploring the relationships
188 between people and pets. 1. ed., New York, Cambridge University Press. p.125-
142.
GARCIA, R. C. M. 2006. Controle populacional de cães e gatos e a Promoção da
Saúde. VIII Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal. Araçatuba.
GARCIA, R. C. M. 2009. Estudo da dinâmica populacional canina e felina e avaliação
de ações para o equilíbrio dessas populações em área da cidade de São Paulo –
Brasil. 265p. Tese (Doutorado). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia.
Universidade de São Paulo, São Paulo.
GATO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2011.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gato&oldid=27832416.
Acesso em: 12 dez. 2011.
MALDONADO, N. A. C. 2005. Etologia canina e felina. I Curso de Formação de
Oficiais de Controle Animal. Guarulhos.
MARCHAND, C.; MOORE, A. 1991. Pet populations and ownership around the world.
Waltham Internacional Focus, v. 1, p. 14-15.
O'BRIEN, et al. "A evolução dos gatos". 2007. Scientific American Brasil 63.OMS,
Organização Mundial de Saúde. 2005. 8º Informe Técnico, cap. 9, item 4, p.59.
PARANHOS, N. T. 2002. Estudo das populações canina e felina em domicílio,
Município de São Paulo. 83f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Saúde Púlica,
Universidade de Sao Paulo, São Paulo.
SCHOENDORFER, L. M. P. 2001. Interação homem animal de estimação na cidade de
São Paulo – O manejo inadequado e as consequências em Saúde Pública. Dissertação
(Mestrado). Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. São Paulo.
DISCROLL, C.A. et al. "The Near-Eastern Origin of Cat Domestication". 2007. Science
317: 519-523.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

136

Dados dos autores

Juliano Ribeiro

Possui graduação em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Positivo (2002) e


Mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (2006). Biólogo da
Prefeitura Municipal de Curitiba desde 2006, ocupando a função de Coordenador do
Centro de Controle de Zoonoses e Vetores de Curitiba.

Vivien Midori Morikawa

Graduada em Medicina Veterinária, UNESP Botucatu, 2001. Especialista em Radiodiagnóstico


Veterinário, Instituto Veterinário de Imagem/IVI, São Paulo/SP. Doutoranda em Ciências
Veterinárias, UFPR. Coordena a Divisão de Monitoramento e de Proteção Animal do
Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna, SMMA. Atua em Medicina Veterinária,
com ênfase em Saúde Pública, Zoonoses e Manejo de Fauna Urbana.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Ectoparasitas
Por Márcia Arzua e
Patricia Weckerlin e Silva Trindade

137

Lista de animais de interesse à saúde

Carrapatos

Nome vulgar: carrapato-amarelo-do-cão


Nome científico: Amblyomma aureolatum
Nome vulgar: carrapato-estrela
Nome científico: Amblyomma cajennense
Nome vulgar: carrapato-da-capivara
Nome científico: Amblyomma dubitatum
Nome vulgar: carrapato-vermelhinho-do-cão
Nome científico: Rhipicephalus sanguineus

Pulgas

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Pulex irritans
Nome vulgar: pulga
Nome científico: Ctenocephalides felis e C. canis
Nome vulgar: pulga
Nome científico: Xenopsylla cheopis
Nome vulgar: pulga
Nome científico: Poligenis spp.
Nome vulgar: pulga
Nome científico: Tunga penetrans

Piolhos

Nome vulgar: piolho


Nome científico: Pediculus capitis
Nome vulgar: chato
Nome científico: Pthirus pubis

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Ectoparasitos são organismos que habitam o corpo de outros organismos,


denominados hospedeiros, por um determinado período de tempo. Eles podem ter
dependência total ou parcial para sua sobrevivência e ter efeito prejudicial na saúde
destes. Muitas espécies são de importância médico-veterinária.
Entende-se que estes animais são semi-independentes, pois, vivem na
superfície do hospedeiro, mas, apresentam a faculdade de poder viver fora deles por um
curto ou longo período, ou ainda, mover-se de um hospedeiro para outro. Como
exemplos de ectoparasitos de importância para a saúde humana citam-se os carrapatos, 138
as pulgas e os piolhos.

Carrapatos

Ordem Ixodida
Família: Ixodidae

Os carrapatos são aracnídeos ectoparasitos hematófagos obrigatórios, ou


seja, se alimentam exclusivamente do sangue dos seus hospedeiros e são de importância
médica. São descritas aproximadamente 870 espécies de carrapatos em todo mundo. A
maioria delas pertence à família Ixodidae, que conta com 683 espécies. No Brasil,
dentro desta família de interesse para a saúde, são ressaltados os seguintes gêneros:
Rhipicephalus com duas espécies e Amblyomma com 33 espécies.
Nos ixodídeos, os machos são bem diferentes das fêmeas: são menores em
tamanho e apresentam um escudo recobrindo toda a área dorsal. Nas fêmeas, o escudo
ocupa somente a porção anterior, correspondendo a um terço do comprimento total.
No ciclo biológico dos carrapatos, além dos ovos, apresentam três estágios:
larvas, ninfas e adultos. As larvas diferem muito dos demais estágios, possuem três
pares de pernas, enquanto que ninfas e adultos apresentam quatro pares. Porém, no
estágio ninfal não possuem abertura genital e são muito semelhantes aos adultos. Em
cada um desses estágios sugam sangue durante alguns dias, antes de uma ecdise (troca
de pele para crescer), cópula ou do início da postura de milhares de ovos. Ao final da
oviposição, as fêmeas morrem.
Os carrapatos diferem dos insetos pela ausência de mandíbulas, de antenas e
de um segmento corporal definido como cabeça e por apresentarem um par de
quelíceras (estruturas cortantes), compondo o sistema de ingestão de alimentos. O corpo
dos adultos pode variar de 2 a 30 mm de comprimento.
Os carrapatos são menos específicos em relação aos hospedeiros e podem
ser encontrados em: mamíferos, aves, répteis ou anfíbios. Quando comparados a outros
grupos de acarinos, constituem um dos mais importantes grupos hematófagos parasitos
de animais domésticos, silvestres e do homem. Os carrapatos, por se alimentarem de
sangue, transmitem ao homem numerosos agentes patogênicos, incluindo vírus,
bactérias e protozoários.
A seguir apresentamos algumas espécies relacionadas com a saúde humana:
Amblyomma aureolatum, Amblyomma cajennense, Amblyomma dubitatum e
Rhipicephalus sanguineus.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: carrapato-amarelo-do-cão


Nome científico: Amblyomma aureolatum

FAMÍLIA: Ixodidae 139

São carrapatos que parasitam aves, roedores, bois, cabras, veados, gambás e
o homem. Ocorrem na Argentina, Brasil, Guiana Francesa, Paraguai, Suriname e
Uruguai.

Amblyomma aureolatum (macho e fêmea, dorsal).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: carrapato-estrela


Nome científico: Amblyomma cajennense

FAMÍLIA: Ixodidae

São carrapatos que parasitam um grande número de espécies entre 140


mamíferos e aves, incluindo o homem. Ocorrem da Argentina ao sul do México, além
do Caribe e Região Neártica. Suas larvas são conhecidas por “micuins” e atacam o
homem severamente.

Amblyomma cajennense (macho, detalhe do escudo dorsal).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: carrapato-da-capivara


Nome científico: Amblyomma dubitatum

FAMÍLIA: Ixodidae

São carrapatos que parasitam principalmente a ordem Rodentia,


especialmente as capivaras, além de ser encontrado em morcego, anta e no homem.
Como em Curitiba é comum à presença de capivaras nos Parques 141
Municipais, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente em pareceria com a
Universidade Federal do Paraná realizaram um estudo para verificar a existência do
agente etiológico da Febre Maculosa, Rickettsia rickettsii nos carrapatos encontrados
nas capivaras. O resultado apresentou-se negativo.

Amblyomma dubitatum (fêmea).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: carrapato-vermelhinho-do-cão


Nome científico: Rhipicephalus sanguineus

FAMÍLIA: Ixodidae

São carrapatos que tem o cão como principal hospedeiro. Apresentam


coloração castanha ou castanha avermelhada. É muito comum no Brasil, principalmente
em áreas urbanas. Já houve casos de estar parasitando o homem. No México, suspeita-se 142
que R. sanguineus seja um vetor mais importante que A. cajennense na disseminação da
Febre Maculosa. Diferente dos outros carrapatos, ao sair do hospedeiro, procura lugares
altos, de preferência perto do ambiente onde os hospedeiros ficam e dormem, como
frestas na parede e forro do telhado da casinha do cão ou canil.

Rhipicephalus sanguineus (macho).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse á saúde

Febre Maculosa

A Febre Maculosa é uma doença causada por um microrganismo


transmitido pela picada de algumas espécies de carrapatos do gênero Amblyomma,
ocorrendo desde o Canadá até a América do Sul. É uma enfermidade de difícil
diagnóstico nos estágios iniciais, sendo, consequentemente, fatal na maioria dos casos.
Os roedores silvestres são reservatórios primários e o agente etiológico, Rickettsia 143
rickettsii, circula nos focos naturais. Os carrapatos se infectam alimentando-se em
animais contaminados, fazendo a transmissão sucessiva aos hospedeiros suscetíveis.
O carrapato estrela (A. cajennense) é o principal vetor na região
Neotropical. Entretanto, as espécies A. aureolatum e A. dubitatum, foram encontradas
naturalmente infectadas com microrganismos do grupo R. rickettsi em áreas endêmicas
da doença nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, juntamente com outros gêneros de
carrapatos.
Os ixodídeos desempenham um importante papel não só como vetores
biológicos, mas também como reservatórios, transmitindo o microrganismo à progênie
de forma vertical (transmissão transovariana, a fêmea transfere a bactéria para os ovos
que darão origem a larvas infectadas) e horizontal (transmissão transestadial, em que o
agente etiológico é transmitido para o estágio seguinte atuando como reservatório na
natureza). O homem adquire a infecção ao penetrar áreas infestadas por carrapatos
infectados ou por meio de cães infestados, que transportam os vetores infectados para os
domicílios em áreas rurais e urbanas.

Sintomas

Febre, náuseas, cefaleia, mialgia e máculas, são clássicas da doença. Porém


nem sempre são suficientes para um diagnóstico preciso. As máculas, inicialmente
rosadas e pequenas, aparecem entre o segundo e o quinto dia após o início de febre, e à
medida que a doença avança, as manchas vão progredindo em número, atingindo
palmas das mãos, sola dos pés, tórax e abdome. Quando as petéquias (machas
vermelhas pequenas) surgem, em geral depois do sexto dia, a doença encontra-se muito
avançada geralmente levando a óbito.

Doença de Lyme-simile no Brasil

A doença de Lyme ou borreliose de Lyme é causada pela bactéria Borrelia


burgdorferi que é transmitida pela picada de carrapatos ixodídeos.
Apesar de presente no Brasil, a doença de Lyme ainda é pouco conhecida e
diagnosticada.
Do ponto de vista epidemiológico, a doença existe em todo território
nacional, e é adquirida em áreas com existência de matas e animais silvestres
(reservatórios). Animais domésticos atuam como transportadores de carrapatos para o
ambiente domiciliar e o vetor transmissor provável ao homem no Brasil é o carrapato
estrela.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

As primeiras investigações tiveram início no final dos anos 80, quando foi
criado um laboratório para estudo dessa enfermidade na Faculdade de Medicina da USP
em 1992, tornando-se posteriormente centro de referência no país.
Em um condomínio residencial localizado no município de Itapevi, SP,
foram descobertos os dois primeiros casos humanos da enfermidade, os quais
apresentavam aspecto clínico e sorológico compatíveis com a Doença Lyme, até então,
conhecida somente do Hemisfério Norte. Tratava-se de duas crianças que foram picadas 144
por carrapatos nas áreas verdes do condomínio.
Na ocasião, dois outros casos brasileiros foram relatados no Rio de Janeiro e
em Manaus, porém, ambos exclusivamente com manifestações cutâneas, tendo apenas
diagnóstico clínico.
Os pacientes adquirem a enfermidade visitando áreas com vegetação
preservada e existência de animais silvestres, incluindo regiões litorâneas ou zonas
rurais, sendo que 50% dos pacientes lembram-se de picadas ou de terem tido contato
com carrapatos. Alguns indivíduos, como veterinários, geólogos, botânicos, pescadores
e frequentadores de trilhas, têm maior predisposição para contrair a infecção.
No Brasil, pesquisas de campo realizadas em áreas de risco mostraram que
gambás e roedores silvestres participam como animais reservatórios, contribuindo na
manutenção da doença na natureza, enquanto os carrapatos das espécies Ixodes
loricatus, Ixodes didelphidis e Amblyomma cajennense seriam os vetores responsáveis
pela transmissão da zoonose entre os animais silvestres e o homem. As formas imaturas
de carrapatos, especialmente as larvas e ninfas, de tamanho diminuto, são os principais
responsáveis pela infecção, razão pela qual nem todos os pacientes recordam- se de
picadas. Animais domésticos, além de contraírem a infecção, atuam como
transportadores de vetores para o ambiente peridomiciliar.
A doença de Lyme evolui em estágios. O aspecto distintivo na fase inicial é
a lesão de pele denominada eritema migratório e, nas recidivas clínicas, observam-se
lesões cutâneas secundárias e/ou complicações sistêmicas articulares, cardíacas ou
neurológicas.
O diagnóstico da borreliose baseia-se na presença dos sintomas clínicos,
história epidemiológica compatível e sorologia positiva para Borrelia burgdorferi. O
agente etiológico ainda não foi isolado no Brasil, mas, as manifestações clínicas são
semelhantes às observadas nos Estados Unidos e Europa, incluindo a presença do
eritema migratório e as complicações osteoarticulares e neurológicas, ambas com
frequências aproximadamente semelhantes (30% dos casos).
A enfermidade é raramente fatal, porém, se não diagnosticada e tratada
precocemente com antibióticos é de grande morbidade, devido às recorrências e
complicações clínicas progressivas, motivos pelos quais a doença deve ser de
conhecimento da classe médica brasileira.
Devido às particularidades do agente etiológico, no Brasil, que é diferente
das conhecidas em outros continentes, a enfermidade deveria ser chamada de doença de
Lyme-símile.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

145

Prevenção

No animal:
 Banhos carrapaticidas;
 Animais de pelos longos devem ser tosados no verão;
 Uso de produtos carrapaticidas de longa duração.

No ambiente:
 Uso de carrapaticidas: canis, casinha dos cães, em plantas e canteiros, atentando
para frestas nas paredes ou pisos e ralos. O forro da casa não deve ser esquecido;
 Em canis de alvenaria recomenda-se “vassoura de fogo”;
 Fechar todas as frestas existentes nos canis ou paredes dos quintais, assim como
no piso.

No humano:
 Quando visitar áreas com vegetação preservada e presença de animais silvestres,
atentar à presença e picada de carrapatos, preferencialmente coletando o animal
em caso de picada.
.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Pulgas

Ordem Siphonaptera

São insetos pequenos que pertencem à ordem Siphonaptera (siphon=tubo;


aptera=sem asas) que compreende, aproximadamente, 3.000 espécies de pulgas 146
distribuídas no mundo todo. Pouco mais de 250 espécies ocorrem na América do Sul e
50 espécies no Brasil. As pulgas “voam” com as pernas, devido à existência de uma
proteína elástica nas pernas, chamada de resilina, permitindo que saltem cerca de 20 cm.
As características principais das pulgas são: podem variar de 1 a 3 mm; cor
castanho-escuro; geralmente, apresentam em todo o corpo numerosas cerdas, de grande
importância taxonômica; possuem três pares de patas; o corpo é divido em cabeça, tórax
e abdômen; o aparelho bucal é adaptado para picar e sugar; seu corpo é comprimido
lateralmente, sendo apropriado para vida parasitária.
São hematófagas obrigatórias na fase adulta. As larvas, que vivem no solo
(frestas de assoalho) ou ninhos de animais, alimentam-se de dejetos ressecados (sangue
e fezes semidigeridos) das pulgas adultas. Na fase adulta são ectoparasitos de aves e
mamíferos, em especial destes últimos, enquanto que na fase larval têm vida livre.
Algumas espécies apresentam especificidade de hospedeiro. Quase todas as ordens de
mamíferos já foram encontradas parasitadas por pulgas. Do ponto de vista
epidemiológico, os roedores são os hospedeiros mais importantes, pelo fato de suas
espécies serem indicadas como reservatórios de várias infecções (peste, tularemia, tifo
murino). Em relação à duração do parasitismo ou tempo de associação com o
hospedeiro, às pulgas podem viver sobre um determinado hospedeiro ou fora dele,
geralmente em seu ninho. A maioria das espécies vive sobre a pelagem de seus
hospedeiros e neles alimentam-se intermitentemente (ex: Xenopsylla spp.,
Ctenocephalides spp., Polygenis spp.). Ou então, penetram sob a pele dos hospedeiros
(Ex. bicho-de-pé), aí se alimentando permanentemente (fêmeas fertilizadas de Tunga
spp.). Outras espécies não vivem sobre o hospedeiro, só o procuram para exercer a
hematofagia (Pulex irritans).
Das oito famílias de pulgas existentes no Brasil, apenas três apresentam
espécies de importância médica: Pulicidae, Rhopalopsyllidae e Tungidae.

Interesse á saúde

As pulgas provocam irritação da pele devido à picada, ocasionando


dermatite e reações alérgicas de intensidade variada, por exemplo, o prurido de Hebra
(um tipo de reação generalizada, no homem, a partir de uma única picada).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Pulex irritans

FAMÍLIA: Pulicidae

As pulgas desta família são as que mais frequentemente se alimentam no


homem. Entretanto, podem também atacar outros hospedeiros. São encontradas em
locais como cinemas ou casas velhas frequentemente, mesmo assim, são consideradas
cosmopolitas. Em algumas pessoas a picada destas pulgas provoca a pulicose, uma
reação generalizada na pele. Em relação à transmissão da peste bubônica, estes animais 147
não são considerados importantes.

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Ctenocephalides felis e Ctenocephalides canis

FAMÍLIA: Pulicidae

São pulgas de animais domésticos (cães e gatos), podendo ser encontradas


em roedores, são cosmopolitas. Podem picar o homem. Das quatro subespécies de C.
felis existentes no mundo, apenas uma ocorre no Brasil: C. felis felis.

Ctenocephalides felis (macho).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Xenopsylla cheopis

FAMÍLIA: Pulicidae
148

É a pulga dos ratos domésticos e comensais. Cosmopolita, é a principal


espécie transmissora da peste bubônica entre os roedores domésticos, podendo passar
destes para o homem. Xenopsylla cheopis é espécie prevalente sobre X. brasiliensis, em
todo o Brasil, com exceção do Estado de São Paulo.

Xenopsylla cheopis (macho).


FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Poligenis spp.

FAMÍLIA: Rhopalopsyllidae

Estas pulgas, de roedores silvestres, são responsáveis pela manutenção da


peste silvestre nas Américas. P. bohlsi e P. tripus são as espécies mais encontradas no
nordeste e parte do sudeste brasileiros (zona de peste endêmica).
149

Interesse á saúde

Riquetsioses

O tifo murino é causado pela Rickettsia, uma bactéria que provoca febre e
uma erupção cutânea. Ela vive em pulgas que se alimentam em ratos, ratazanas e outros
roedores, podendo ser transmitida, por estes animais, ao homem. O tifo murino é
transmitido aos homens quando ocorre uma infestação significativa em roedores,
levando as pulgas (Xenopsylla cheopis) a procurarem outras fontes de alimento,
encontrando então, o homem. Com a peste, ocorre da mesma forma. Riquetsioses são
comuns em muitas ilhas e áreas de portos de vários pontos do planeta. Em relação ao
Brasil, há registro em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Sintomas e tratamento
Entre 6 e 18 dias após a transmissão aparecem os sintomas, calafrios,
tremores, dor de cabeça, febre, que duram em torno de 12 dias. Ao final do quarto ou
quinto dia, em 80% dos casos, aparece uma discreta erupção cutânea, um pouco
saliente, rosada, difícil de ver, afetando uma parte reduzida do corpo e desaparecendo
até o oitavo dia. O tratamento de riquetsioses é baseado na administração de antibióticos
e permitem recuperação total. Raras exceções evoluem para óbito, em geral, idosos e
pessoas debilitadas ou com deficiências do sistema imune.

Verminoses

As pulgas podem transmitir o verme Dypilidium caninum, com evolução no


cão (ou acidental no homem) e também o Hymenolepis nana e Hymenolepis diminuta,
que se desenvolvem posteriormente no homem e/ou roedores. Parasitam,
principalmente, a pulga dos ratos (X.cheopis). No interior das pulgas infectadas os ovos
destes vermes dão origem aos cisticercóides. Quando ingeridas, as pulgas liberam as
larvas no tubo digestório do cão ou outro vertebrado, completando o ciclo que também
se completa caso as pulgas sejam esmagadas e o produto posteriormente ingerido ou
lambido.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

150

Peste Bubônica

A peste é uma doença causada pela bactéria Yersinia pestis. No Brasil, a


peste chegou pelo Porto de Santos, no ano de 1899, disseminando-se pelo litoral e
interior. Passou a ser uma enzootia urbana, rural e silvestre. Com a atuação do governo
no combate sistemático contra as pulgas (Xenopsylla cheopis) e contra os ratos
reservatórios (Rattus norvegicus - rato de esgoto; Rattus rattus - rato de telhado e Mus
musculus - camundongos), restringiu-se a duas áreas, uma entre o Ceará e a região
norte de Minas Gerais e outra abrangendo os municípios de Teresópolis, Sumidouro e
Nova Friburgo, na Serra dos Órgãos.
A bactéria Yersinia pestis é um bacilo Gram-negativo, com considerável
ação patogência para diversos roedores, macacos e homens. É capaz de sobreviver em
fezes de pulga, solo e ninho de animais por 5 a 16 meses.
Há indícios de que animais de estimação sejam transmissores, por abrigarem
pulgas de roedores infectados. Felinos podem contrair a doença ingerindo animais
infectados.
A doença em humanos ocorre, geralmente, após haver um surto na
população murina, o que pode ser sinalizado pela aparição de muitos ratos mortos,
abandonados por pulgas que saem em busca de outros hospedeiros. Animais silvestres,
portadores da peste, podem ser atraídos para áreas urbanas onde contaminam animais
domésticos e de estimação com suas pulgas Xenopsylla cheopis que podem infectar o
homem.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

151

Forma bubônica

Ao alcançar a via linfática, as bactérias são levadas aos linfonodos regionais


provocando uma dolorosa inflamação, o bubão. A partir daí, podem atingir na corrente
sanguínea, chegando a outros órgãos.

Forma pneumônica

A aquisição pode ser como da forma bubônica, ou inalando-se partículas


contaminadas que vieram de um paciente que tenha lesões em seus pulmões e apresenta
tosse. É forma mais grave, tendo uma letalidade que se aproxima a 100%.

Forma ambulatória (ou pesteminor)

É abortiva na forma bubônica, não é muito dolorosa e, em geral, resulta na


cura completa.

Outras formas

Existem outras formas como: septicêmica - pouco frequente, ocorrendo ao


final da forma peste bubônica ou pulmonar;

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: pulga


Nome científico: Tunga penetrans

FAMÍLIA: Pulicidae
152

Os exemplares desta família são conhecidos por “bichos-de-pé”. Embora os


machos e fêmeas sejam hematófagos, só a fêmea insere-se na pele do hospedeiro. Das
espécies conhecidas, é a menor, sendo que seu tamanho atinge 1 mm. Acredita-se que a
espécie originou-se nas Américas e a partir delas, tenha chegado à África. Cães, gatos,
porcos e o homem são os hospedeiros mais comuns. Em homens, a sola dos pés é a
parte do corpo preferida para a penetração, em especial, o calcanhar e cantos de dedos.
Entretanto, eventualmente, também se depositam nos cantos dos dedos das mãos.
Ambientes secos, frequentados por animais hospedeiros e montes de esterco
são locais onde permanecem. Disseminam-se por dois mecanismos:
1) em qualquer fase do desenvolvimento, no esterco utilizado para
adubação, que pode, inclusive, ser comercializado, espalhando-se por
novas localidades;
2) cães e gatos que tenham o parasita em fase reprodutiva, disseminando
seus ovos.
A fêmea penetra no hospedeiro após realizar a cópula, mantendo o corpo
todo dentro dos tecidos, exceto estigmas respiratórios e aberturas anal e genital. Desta
forma posicionada, alimenta-se do sangue do hospedeiro. Em poucos dias tem seu
abdome distendido devido à presença de cerca de uma centena de ovos que, em torno do
décimo quinto dia são ejetados para fora. Os novos indivíduos nascem após passarem-se
entre 20 e 30 dias.

Interesse á saúde

Tunga penetrans provoca lesões nos locais em que se instala, havendo


possibilidade de veiculação das bactérias causadoras do tétano e de gangrenas gasosas.
Esporos de fungos patogênicos também podem ser veiculados desta forma. A presença
deste parasita define a doença chamada tungíase, frequente em nosso país nos meses de
menor umidade e maior calor. Quando não é tratada, pode manter o indivíduo com
dificuldades para locomover-se. Em casos mais graves, pode levar à perda dos dedos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Em animais domésticos (cães e gatos) 153


 Catar manualmente o ectoparasito;
 Lavar a pelagem;
 Escovar/pentear;
 Varrer os locais frequentados por animais portadores e queimar os resíduos
recolhidos.

No interior das habitações


 Varrer a casa e queimar os resíduos recolhidos;
 Utilizar aspirador de pó;
 Lavar o chão e a cama do animal.

Informações adicionais

A longevidade das pulgas varia conforme a espécie, atividade, alimentação e


condições ambientais. De qualquer forma, experimentos mostram que esta variação
encontra-se entre 38 e 513 dias. Estes animais podem ficar imóveis, reduzindo seu gasto
de energia após emergirem do estágio de pupa, aguardando a passagem de um
hospedeiro.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012
Piolhos

Ordem Phtiraptera
Subordem: Anoplura

Os Piolhos são insetos sem asas e seu corpo tem um achatamento


dorsoventral. Seu ciclo é vivido completamente no hospedeiro, por isto, são entendidos
como ectoparasitos permanentes. Suas vítimas incluem mamíferos, aves e o homem,
sendo ainda, vetores de doenças.
São conhecidas 532 espécies. No Brasil registraram-se 33 delas e destas, 17
são consideradas cosmopolitas. Alguns piolhos parasitam somente o homem. São
insetos hematófagos obrigatórios durante toda sua vida, independente de seu sexo. Uma 154
picada dura entre 3 e 10 minutos e ocorre duas vezes no intervalo de um dia. Seu
tamanho é de 3mm. A cabeça, incluindo o aparelho bucal picador sugador, é mais
estreita que o tórax. O corpo é achatado, possui 6 patas e alguns se referem a eles como
“insetos alpinistas” devido a uma garra que viabiliza a fixação em fios de cabelo e a
locomoção. Seus ovos, de coloração branco-amarelada, são chamados de lêndeas,
medem cerca de 0,8mm e a fêmea os deposita nos fios de cabelo. Todo o ciclo dura
entre 20 e 25 dias e a longevidade ao chegar à fase adulta é de 40 dias. As fêmeas
ovipositam em torno de 200 ovos durante toda sua vida, fazendo uma média de 4 a 10
deles a cada dia. A sobrevivência fora do hospedeiro dura poucas horas,
comprometendo também as lêndeas. Diz-se que o homem parasitado por piolhos tem
pediculose, independente de qualquer uma das 3 espécies que possam afetá-lo:
 Pediculus capitis - deposita ovos em cabelos, habitando a cabeça;
 Pediculus humanus – localiza-se em pelos do corpo, depositando ovos em
fibras das vestes, é chamado de muquirana;
 Pthirus pubis - piolho que parasita a região púbica, conhecido como chato, é
a menor das três espécies. Transmite-se em contatos sexuais, uso
compartilhado de roupas, tolhas e até mesmo por assentos de vasos sanitários.

Pediculus capitis.
FOTO: César Arzua

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: piolho


Nome científico: Pediculus capitis

FAMÍLIA: Pediculidae

Este parasita é conhecido simplesmente como “piolho da cabeça”, em razão


da parte do corpo que habita. É diferente “muquirana”, que habita o corpo humano, 155
ovipositando nas roupas. Tanto um quanto outro é cosmopolita. São vetores de doenças
que afetam o homem.

Interesse á saúde

O “piolho-cabeça” pode transmitir doenças, entre elas, a febre das


trincheiras. Esta moléstia foi assim denominada por surgir nas grandes guerras
mundiais, em campos de refugiados onde houveram epidemias deste parasita. Outra
doença que pode ser transmitida por este parasita é o tifo, que leva à morte quando não
tratado. Esta doença é caracterizada por febre e irritação na pele. Relata-se ainda a
possibilidade de anemia quando o hospedeiro tem carência de vitaminas em sua
alimentação. Entretanto, é considerado como agravo mais comum a coceira que pode
levar à ferimentos no couro cabeludo, favorecendo infecções secundárias e interferindo
no sono. A transmissão se dá pelo contato com outras pessoas parasitadas ou
compartilhamento de escovas, pentes, artefatos de cabeça ou mesmo travesseiros.

Sintomas e tratamento

A coceira atinge mais evidentemente a parte de trás da cabeça e até o


pescoço. Notam-se pontos avermelhados parecidos como picadas de mosquitos.
O tratamento é feito com a lavagem do cabelo com medicamento na forma
de xampu ou sabonete e a utilização de pente fino de metal.

Prevenção

 Não utilizar objetos próprios para a cabeça de pessoas que possam estar
infestadas;
 Examinar a cabeça periodicamente e utilizar pente fino de metal;
 Manter os cabelos presos em locais onde há pessoas parasitadas;
 Utilizar pediculicida ou água quente (60 graus), para desinfecção objetos sob
suspeita de estarem infestados;
 Usar aspirador de pó nos locais fora do corpo em que os piolhos podem estar.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. Disponível em:


http://www.apm.org.br.consultado. Acesso em 11/07/2011
BAGGIO, D. 1988. Estudos Sistemáticos e Morfológicos dos Principais Grupos de
Ácaros de Interesse Médico e Veterinário no Brasil. Apostila. Departamento
Parasitologia do Instituto Científico Biomédico da Universidade de São Paulo. 139p.
BARROS-BATTESTI, D. M.; ARZUA, M.; BECHARA; G.H. 2006. Carrapatos de 156
Importância para Identificação de Espécies. São Paulo, Vox/ICTTD
3/Butatantan.223 p.
CARVALHO NETO, C. 1995. Manual de Biologia e Controle dos Insetos Doméstico.
São Paulo/SP: CIBA GEIGY.60p.
FIOCRUZ. Invivo. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br. Acesso em
01/07/2011
GUIMARÃES, J. H.; TUCCI, E. C.; BARROS-BATTESTI, D. M. 2001. Ectoparasitas
de Importância Veterinária. São Paulo, Plêiade/FAPESP. 213p.
HOPLA, C. E., DURDEN, L. A. & KEIRANS, J.E. 1994. Ectoparasites and
classification. Rev. Sci. Tech. Off. Int. Epiz., 13 (4): 985-1017.
LINARDI, P. M. & GUIMARÃES, L. R. 2000. Sifonápteros do Brasil. São paulo,
Museu de Zoologia USP/FAPESP. 291p.
MARCONDES, C. B. 2001. Entomologia Médica e Veterinária. Rio de Janeiro,
Atheneu. 432p.
MERCK, BIBLIOTECA MÉDICA ON-LINE. Disponível em:
http://www.manualmerck.net. Acesso em 01/07/2011
NEVES, D. P.; MELO, A. L.; GENARO, O.; LINARDI, P. M. 1995. Parasitologia
Médica. São Paulo: Editora Atheneu. 524p.

Dados das autoras

Márcia Arzua

É bióloga e pesquisadora do laboratório de Parasitologia e Curadora da Coleção


Ectoparasitológica do Museu de História Natural Capão da Imbuia. É Mestre e Doutora
em Zoologia, área de concentração em Entomologia, pela UFPR. Especialista em
Acarologia, tem como foco principal a pesquisa com carrapatos de animais silvestres.

Patrícia Weckerlin e Silva Trindade

É bióloga e pesquisadora do laboratório de Parasitologia do Museu de História Natural


Capão da Imbuia. É Mestre em Microbiologia pelo Departamento de Ciências do Solo/
Agronomia da UFPR. Especialista em atividades de Educação ambiental Formal e Não
Formal e produção de material didático.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Moluscos
Por Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro
e Odete Lopez Lopes

157

Lista de animais de interesse à saúde

Moluscos

Nome vulgar: caramujo


Nome científico: Biomphalaria sp.
Nome vulgar: caramujo
Nome científico: Lymnaea columella
Nome vulgar: caracol-de-jardim
Nome científico: Bradybaena similaris
Nome vulgar: escargot
Nome científico: Helix aspersa
Nome vulgar: lesma-lixa
Nome científico: Belocaulus angustipes
Nome vulgar: semi-lesma
Nome científico: Deroceras laeve
Nome vulgar: semi-lesma
Nome científico: Limacus flavus
Nome vulgar: lesma-leopardo, espécie de semi-lesma
Nome científico: Limacus maximus
Nome vulgar: lesma-lixa
Nome científico: Phyllocaulis variegatus
Nome vulgar: lesma-lixa
Nome científico: Sarasinula linguaeformis
Nome vulgar: lesma-lixa
Nome científico: Sarasinula plebeia
Nome vulgar: caramujo-africano
Nome científico: Achatina fulica

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

158

Introdução

Doenças parasitárias transmitidas por vermes como a esquistossomose, a


fasciolose e a angiostrongilose abdominal são endêmicas no Brasil, consideradas como
um grave problema de saúde pública com um número expressivo de formas graves e
óbitos ao ano.
Espécies de Mollusca estão envolvidas na transmissão dessas doenças e são
indispensáveis para a sua instalação em uma localidade. Um grande número de espécies
de vetores é nativo, podendo ser endêmicos. Outras são exóticas e foram introduzidas
pela ação humana. A falta de levantamentos da diversidade deste filo em diferentes
ambientes e a consequente ausência de informações sobre a distribuição geográfica,
bem como da biologia destas espécies, dificulta a elaboração de programas de controle e
monitoramento destes vetores.
Espécies de Mollusca que habitam os ambientes das águas continentais e
terrestres podem apresentar mecanismos de proteção para a sobrevivência durante
períodos de seca. Nesta situação podem emigrar da água, retrair-se na concha,
interromper seu crescimento ou permanecer em diapausa até o retorno das condições
propícias. Em presença de condições ambientais favoráveis, repovoam as coleções de
água sazonais. Este processo que garante a sobrevivência dos Mollusca assegura
também a sobrevivência das formas larvares dos parasitos, o que torna difícil o controle
das endemias.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vetores da esquistossomose

159
Nome vulgar: caramujo
Nome científico: Biomphalaria sp.

São caramujos planorbídeos nativos que habitam coleções de água doce em


ambientes lóticos com pouca correnteza (riachos) ou em ambientes lênticos (remansos).
Áreas com presença de caramujos infectados pelo Schistosoma mansoni Sambon, 1907
constituem-se em locais de risco para se adquirir a esquistossomose quando utilizados
para atividades profissionais ou de lazer, como banhos, pescas, lavagem de roupa e
louça ou plantio de culturas irrigadas. A esquistossomose, transmitida pelo S. mansoni,
é uma doença adquirida por pessoas que entram em contato direto com a água de
banhado, lagoa, rio ou riacho, em regiões onde o saneamento básico é inadequado. Para
a transmissão da doença é necessária a presença do homem infectado, que excreta os
ovos do verme pelas fezes e a presença dos caramujos do gênero Biomphalaria. O
homem atua com hospedeiro definitivo do S. mansoni e os caramujos atuam como
hospedeiros intermediários que liberam as larvas infectantes nas coleções hídricas,
utilizadas pelos seres humanos susceptíveis à doença.

Biomphalaria glabrata (Say, 1818)


Distribuição geográfica: No Brasil: Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo,
Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe.

Biomphalaria tenagophila (d’Orbigny, 1835)


Distribuição geográfica: No Brasil: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina
e São Paulo.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

160

Exemplar de Biomphalaria tenagophila (d’Orbigny, 1835). Escala – mm.


FOTO: César Arzua.

Interesse à saúde

O homem adquire a esquistossomose através da penetração, na pele, de uma


larva denominada cercária. As cercárias migram, via circulação sanguínea e linfática,
até atingirem o fígado, onde evoluem para as formas adultas. Os ovos são eliminados
com as fezes e quando atingem o ambiente aquático, o miracídio eclode dos ovos. Os
miracídios localizam os caramujos e penetram através de sua pele. Dentro do molusco,
os miracídios desenvolvem-se em cercárias e após quatro a sete semanas os hospedeiros
intermediários começam a eliminá-las por até um ano.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Na maioria dos portadores, a doença é assintomática. Entre o período de


penetração das cercárias e a instalação dos vermes adultos podem ser relatados sintomas
como: astenia, cefaleia, anorexia, mal-estar e náusea. Na fase inicial, correspondente à
penetração das cercárias através da pele, pode ocorrer dermatite cercariana com
micropápulas eritematosas e pruriginosas, semelhantes a picadas de inseto e eczema de 161
contato. Após três a sete semanas de exposição pode ocorrer linfodenopatia, febre,
cefaleia, anorexia, dor abdominal, diarreia, náuseas, vômitos e tosse seca. Na fase
tardia, cerca de seis meses após a infecção, há comprometimento de diversos órgãos,
chegando a atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal,
ascite, ruptura de varizes do esôfago. Podem existir outras formas clínicas com menos
frequência que atingem os órgãos genitais femininos, testículos, pele, retina, tireoide e
coração, podendo aparecer em qualquer órgão ou tecido do corpo humano.

Prevenção

Evitar o contato com a água de riachos, córregos e rios em regiões sem


saneamento básico.

O que fazer em caso de doença

Encaminhamento para atendimento médico. A esquistossomose é doença de


notificação compulsória nas áreas não endêmicas, segundo a Portaria SVS/MS nº 5, de
21 de fevereiro de 2006. O Paraná é considerado área endêmica com focos isolados,
onde se recomenda que todas as formas graves sejam notificadas. Em Curitiba a na
Região Metropolitana, os casos de esquistossomose registrados, foram originados de
outras regiões.

Informações adicionais

Em Curitiba há registro da presença de Biomphalaria tenagophila, embora


Biomphalaria glabrata já tenha sido registrado na cidade há décadas atrás. B. glabrata
foi eliminado por ações de combate e, principalmente, por intensa urbanização da
cidade, retificação e/ou cobertura de leitos dos rios ou mesmo eliminação de diversas
coleções hídricas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

162

Referências

AGUDO-PADRÓN, A. I. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais


correntes no Estado de Santa Catarina, Brasil. Comunicaciones de la Sociedad
Malacológica del Uruguay. 9 (91), p. 147-179.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Vigilância e controle
de moluscos de importância epidemiológica. Diretrizes Técnicas: programas de
vigilância e controle de Esquistossomose. Série A. Normas e Manuais Técnicos. 2.
ed. Brasilia: Ministério da Saúde, 2007.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
Guia de Vigilância Epidemiológica: Esquistossomose. CID.10: B65. Caderno 10, p.
19-29.
NEVES, D. P., MELO, A. J. GENARO, O., LINARDI, P. M. 1995. Parasitologia
humana. Atheneu. 9ª. Edição, Belo Horizonte, 524p.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vetores da Fasciolose Hepática

No Brasil, das três espécies de Lymnaea apenas Lymnaea columella Say,


1817 e Lymnaea viatrix d’Orbigny, 1835 são hospedeiros intermediários naturais de
fasciolose hepática. Em Curitiba registrou-se, até o momento, apenas a espécie Lymnaea
columella Say, 1817.

Nome vulgar: Caramujo 163


Nome científico: Lymnaea columella Say, 1817
Espécie nativa comum em águas lênticas, em banhados ou áreas alagadiças.
Distribuição geográfica: México, Jamaica, Porto Rico, Guatemala, Costa Rica, Equador,
Panamá, Argentina, Uruguai. No Brasil: Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso,
Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo.

Exemplar de Lymnaea columella Say, 1817. Escala – mm.


FOTO: César Arzua.

Interesse à saúde

A fasciolose hepática é uma doença adquirida pelo contato direto com a


água em regiões com saneamento ambiental inadequado, onde ocorre consumo de
plantas aquáticas pelo homem ou pelos animais. Transmitida pela Fasciola hepatica
Linnaeus, 1758, parasita o fígado e os canais biliares de bovinos, ovinos, caprinos,
suínos, bubalinos. Ocasionalmente, o ser humano pode ser infectado. Os vetores
intermediários da fasciolose são caramujos do gênero Lymnaea.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Os ovos da Fasciola hepática são eliminados pelas fezes. O miracídio


eclode dos ovos e infecta o caramujo vetor. As metacercárias ao saírem dos caramujos,
encistam e ficam no fundo das coleções aquáticas ou sobre as estruturas vegetais das
plantas aquáticas. Ao comer verduras, ou beber água contaminada, as metacercárias
podem ser ingeridas pelo homem ou pelos demais animais.
A fasciolose hepática constitui um processo inflamatório do fígado e dos 164
dutos biliares. No homem, as lesões provocadas pelas formas imaturas no parênquima
hepático, podem levar a necrose parcial ou total dos lóbulos hepáticos. Lesões causadas
pelos vermes adultos, nas vias biliares, podem conduzir à diminuição do fluxo biliar e
consequente cirrose e insuficiência hepática.

Prevenção

Beber água filtrada ou de cisterna bem construída, evitando água


proveniente de alagadiços ou córregos. Não plantar agrião em áreas que possam estar
contaminadas por fezes de ruminantes, nem consumir estes vegetais provenientes de
regiões onde esta helmintose tiver prevalência. Evitar o consumo de plantas aquáticas
em locais sem saneamento básico.

O que fazer em caso de doença

O tratamento requer o uso de substâncias específicas, portanto o paciente


deverá ser encaminhado para atendimento especializado.

Informações adicionais

A presença de Lymnea em áreas contaminadas pode constituir fator de risco.


Os roedores podem disseminar o parasito pelas áreas alagadiças.
A longevidade da metacercária (larva infectante da fasciolose), na vegetação
aquática, pode ser de até um ano.
Em Curitiba, casos isolados de fasciolose humana foram localizados nas
proximidades de criação de gado bovino em áreas próximas a córregos suscetíveis a
enchentes. As pessoas infectadas tinham o hábito de comer agrião (Nasturdium
officinale R. Br. In Aiton) que crescia nas margens destes corpos d’água.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

165

Referências

AGUDO-PADRÓN, A. I. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais


correntes no Estado de Santa Catarina, Brasil. Comunicaciones de la Sociedad
Malacológica del Uruguay. 9 (91), p. 147-179.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Vigilância e controle
de moluscos de importância epidemiológica. Diretrizes Técnicas: programas de
vigilância e controle de Esquistossomose. Série A. Normas e Manuais Técnicos. 2.
ed. Brasilia: Ministério da Saúde, 2007.
NEVES, D. P., MELO, A. J. GENARO, O., LINARDI, P. M. 1995. Parasitologia
humana. Atheneu. 9ª. Edição, Belo Horizonte, 524p.
PARAENSE, W. L. 1982. Lymnaea viatrix and Lymnaea columella in the neotropical
region: a distributional outline. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro,
77 (2), p. 181-188.
PREPELITCHI , L.; KLEIMAN , F.; PIETROKOVSKY , S. M.; MORIENA, R. A.;
RACIOPPI, O.; ALVAREZ, J.; WISNIVESKY-COLLI, C. 2003. First Report of
Lymnaea columella Say, 1817 (Pulmonata: Lymnaeidae) Naturally Infected with
Fasciola hepatica (Linnaeus,1758) (Trematoda: Digenea) in Argentina. Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 98(7), p. 889-891.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vetores de angiostrongilose abdominal


166
Nome vulgar: caracol-de-jardim, espécie exótica invasora.
Nome científico: Bradybaena similaris (Férussac, 1821)
Distribuição geográfica: Cosmopolita, originário da Ásia. No Brasil: São Paulo, Paraná
e Rio de Janeiro.

Exemplar de Bradybaena similaris (Férussac, 1821). Escala – mm.


FOTO: César Arzua.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: escargot, espécie exótica invasora. 167


Nome científico: Helix aspersa Muller, 1774
Distribuição geográfica: África, América, Argentina, Ásia, Califórnia, Europa,
Mediterrâneo, Nova Zelândia, Reino Unido. No Brasil: na região costeira, do Amapá ao
Rio Grande do Sul.

Exemplar de Helix aspersa Muller, 1774. Escala – mm.


FOTO: César Arzua.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: lesma-lixa, espécie nativa


Nome científico: Belocaulus angustipes (Heynemann, 1885)
Distribuição geográfica: Argentina, Estados Unidos e Uruguai. No Brasil: Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.

Nome vulgar: semi-lesma, espécie exótica invasora


Nome científico: Deroceras laeve (Muller, 1774) 168
Distribuição geográfica: Cosmopolita. Na Ásia: China, Paquistão e Taiwan. Na Europa:
Eslováquia, Holanda, Ilhas Britânicas, Polônia, República Tcheca, Suécia, Suiça. Nas
Américas: Califórnia, Colômbia, República Dominicana e Venezuela. No Brasil:
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Nome vulgar: semi-lesma, espécie exótica invasora


Nome científico: Limacus flavus (Linnaeus, 1758)
Distribuição geográfica: Nativa da Europa e do norte da África. Encontrada na
Dinamarca, Grã Bretanha e Escandinávia, Irlanda e País de Gales. Foi introduzido na
África do Sul, nas Américas do Norte e do Sul, na Austrália, na China, no Japão, em
Madagascar, na Nova Zelândia e em Santa Helena. No Brasil: Paraná e São Paulo.

Nome vulgar: lesma-leopardo, espécie de semi-lesma exótica


Nome científico: Limacus maximus (Linnaeus, 1758)
Distribuição geográfica: África (sudeste), Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica,
Canadá, Estados Unidos (leste), Grã Bretanha, Holanda, Ilha da Madeira, Irlanda, Nova
Zelândia, Tasmânia. No Brasil: Sul e Sudeste.

Nome vulgar: lesma-lixa, espécie nativa


Nome científico: Phyllocaulis variegatus (Semper, 1885)
Distribuição geográfica: Argentina, Paraguai, Uruguai. No Brasil: Sul e Sudeste

Nome vulgar: lesma-lixa, espécie nativa


Nome científico: Sarasinula linguaeformis (Semper, 1885)
Distribuição geográfica: Amplamente distribuída na região neotropical. No Brasil: Sul e
Sudeste.

Nome vulgar: lesma-lixa, espécie nativa


Nome científico: Sarasinula plebeia (Fischer, 1868)
Distribuição geográfica: Cuba, Estados Unidos (sudoeste) Jamaica, San Martin,
República Dominicana e do México ao Panamá. Na região Australiana, desde a
Indonésia até o arquipélago Tuamotu. Na região neotropical é amplamente distribuída.
No Brasil: pode ser encontrada desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

A angiostrongilose abdominal é transmitida pelo verme terrestre


Angiostrongylus costaricensis Morera & Céspedes, 1971 que parasita o sistema
circulatório de roedores. As larvas de A. costaricensis são eliminadas nas fezes dos
roedores e são ingeridas pelos caracóis e lesmas. A doença é adquirida pela ingestão de
vegetais que contenham secreção mucosa de caracóis, lesmas ou pela ingestão acidental
de exemplares crus destes Mollusca. Ocasionalmente, o ser humano pode ser infectado, 169
porém, não atua na dispersão desta enfermidade.
Os sintomas da angiostrongilose abdominal simulam apendicite, ocorrendo
predominantemente em crianças. São relatadas dores abdominais e dor branda na fossa
ilíaca direita, febre, anorexia, náuseas, vômitos, mal estar e alterações do funcionamento
intestinal, diarreia e/ou prisão de ventre, rigidez abdominal, presença de massa
semelhante a tumor no quadrante direito inferior e dor ao exame retal. Pode ocorrer
perfuração intestinal e hemorragia abdominal.

Prevenção

Evitar contato direto entre a pele e o muco do caracol ou lesma. Ao


manuseá-los proteger as mãos com luvas.
O controle de roedores é essencial para impedir a disseminação da doença.
Vegetais com presença de moluscos devem ser desprezados.

O que fazer em caso de doença

Encaminhamento para atendimento médico. O diagnóstico laboratorial de


angiostrongilíase abdominal é feito por microscopia e comparações com outros parasitas
intestinais. No diagnóstico em tecidos removidos, podem ser identificados ovos e larvas.
Em diagnóstico positivo para a doença providenciar notificação e investigação
epidemiológica imediata.

Informações adicionais

Os nematódeos Angiostrongylus costaricensis transmissores da doença


angiostrongilose abdominal têm como hospedeiros definitivos a ratazana Rattus
norvegicus (Berkenhout, 1769), o rato-do-telhado Rattus rattus (Linneus, 1758), o
camundongo, Mus musculus (Linneus, 1758), o rato do arroz Oryzomys nigripes
(Olfers, 1818) e Oryzomys ratticeps (Hensel, 1873). As regiões sudoeste do Paraná,
oeste de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul são áreas endêmicas da
doença. Em Curitiba, nenhum caso de angiostrongilose abdominal foi registrado até o
momento, entretanto, o molusco ocorre na região.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012
Referências

ALTENA, C. O. 1966. Notes on land slugs, Arionidae, Milacidae and Limacidae from
South Africa (Mollusca, Gastropoda Pulmonata). Zoologische Mededelingen.
Leiden, 41 (20), p. 269-300.
AGUDO, A. I. 2006a. Preliminary Notes on the Freshwater and Terrestrial Gastropod
Mollusks of the Paraná State, Southern Brazil.
AGUDO. 2006b. Intermediate host mollusks (Gastropoda: Pulmonata) of parasitic
diseases in Santa Catarina's State, Southern Brazil, with inclusion of new records to add
to regional inventory. Ellipsaria, The newsletter of the Freshwater and Terrestrial
Mollusk Conservation Society. 8(3), p. 9-12.
AGUDO-PADRÓN, A. I. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais 170
correntes no Estado de Santa Catarina, Brasil. Comunicaciones de la Sociedad
Malacológica del Uruguay. 9 (91), p. 147-179.
ARAÚJO, J. L. B. 1989. Moluscos de importância econômica no Brasil. I. Xanthonychidae:
Bradybaena similaris (Férussac, 1821), (Mollusca, Gastropoda, Pulmonata,
Stylommatophora). Revista Brasileira de Zoologia. Curitiba, 6(4), p.583-592.
AYALA, M. A. R.., 1987. Angiostrongilose abdominal. Seis casos observados no
Paraná e Santa Catarina, Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 82, p.29-36.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Vigilância e controle
de moluscos de importância epidemiológica. Diretrizes Técnicas: programas de
vigilância e controle de Esquistossomose. Série A. Normas e Manuais Técnicos. 2.
ed. Brasilia: Ministério da Saúde, 2007.
GOMES, S. R. Filogenia morfológica de Veronicellidae, filogenia molecular de
Phillocaulis Colosi e descrição de uma nova espécie para a família (Mollusca,
Gastropoda, Pulmonata).
GRAEFF-TEIXEIRA, C.; ÁVILA-PIRES, F. D.; MACHADO, R. C. C.; CAMILLO-
COURA, L.; ZENZI, H. L. 1990. Identificação de roedores silvestres como
hospedeiros do Angiostrongylus costaricensis no Sul do Brasil. Revista do Instituto
de Medicina Tropical de São Paulo . São Paulo, 32 (3), p. 147-150.
Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental. Disponível em:
http://www.institutohorus.org.br. Consultado em 16/06/2011.
MORRETES, F. L. 1949. Ensaio de catálogo de moluscos do Brasil. Separata do Museu
Paranaense. Curitiba, 7 (1), p. 5-216.
NEVES, D. P., MELO, A. J. GENARO, O., LINARDI, P. M. 1995. Parasitologia
humana. Atheneu. 9ª. Edição, Belo Horizonte, 524p.
SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ. Lista de Municípios com
registro de ocorrência de Achatina fulica. Curitiba. 2011.
THOMAS, A. K. I. Impacto f dietary diversification on invasive slugs and biological
control with notes on slug species of Kentuchy. Kentuchy, 2010. Tese (Mestrado em
Ciências) - College of Agriculture da Universidade de Kentucky.
THOMÉ, J. W.; GOMES, S. R.; PICANÇO, J. B. 2006. Os caracóis e as lesmas dos
bosques e jardins. Pelotas: USEB, 2006. 123 p.
WALLS, J. G. Just a plain Black slug: Belocaulus angustipes. American conchologist.
37 (1), p. 28-29.
ZANOL, J.; FERNANDEZ, M. A.; OLIVEIRA, A. P. M.; RUSSO, C. A. M.;
THIENGO, S. C. 2010. O caramujo exótico invasor Achatina fulica
(Stylommatophora, Mollusca) no Estado do Rio de Janeiro (Brasil): situação atual.
Biota Neotropica, 10 (3), p. 447-451.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Vetores de angiostrongilose abdominal e meningite eosinofílica

Nome vulgar: Caramujo-africano, espécie exótica invasora.


Nome científico: Achatina fulica Bowdich, 1822
Distribuição geográfica: É nativo do leste da África e sua distribuição original tem
limite ao sul em Natal (África do Sul) e ao norte na Somália. Atualmente, sua
distribuição abrange África, Américas, Ásia (leste e sul) e Oceania. No Brasil ocorre no
Distrito Federal em 24 dos 26 estados (sem registro apenas no Acre e Amapá).

171

Exemplar de Achatina fulica Bowdich, 1822. Escala – mm.


FOTO: César Arzua.

Interesse à saúde

A angiostrongilose abdominal é transmitida pelo nematódeo terrestre


Angiostrongylus costaricensis. Os sintomas desta doença são: dor abdominal, febre
prolongada, anorexia e vômitos, podendo causar perfuração intestinal e hemorragia
abdominal. O diagnóstico laboratorial de angiostrongilíase abdominal é feito por
microscopia e comparações com outros parasitas intestinais. No diagnóstico em tecidos
removidos podem ser identificados ovos e larvas.
Angiostrongilíase meningoencefálica também denominada de meningite
eosinofílica é provocada por Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935). Os sintomas
são dor de cabeça forte e constante rigidez na nuca, podendo causar cegueira, paralisia e
distúrbios do sistema nervoso central. O diagnóstico da meningite eosinofílica é feito
pela análise do líquor cerebrospinal.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

172
Prevenção

Evitar contato direto entre a pele e o muco do caramujo. Ao manusear os


exemplares desta espécie proteger as mãos com luvas. O controle de roedores é
essencial para impedir a disseminação das doenças. Em diagnóstico positivo
providenciar notificação e investigação epidemiológica imediata.

Informações adicionais

Achatina fulica pode atuar como praga agrícola ou levar a perda da


biodiversidade local em razão do seu potencial competitivo, predatório, ou pela
transmissão de doenças para animais silvestres. A espécie põe em risco o caramujo
nativo Megalobulimus sp., pela competição por espaço e alimento, bem como,
interferência na cadeia alimentar dessas espécies.
Os nematódeos Angiostrongylus costaricensis transmissores da doença
angiostrongilose abdominal têm como hospedeiros definitivos a ratazana Rattus
norvegicus (Berkenhout, 1769), o rato-do-telhado Rattus rattus (Linneus, 1758), o
camundongo, Mus musculus (Linneus, 1758), o rato do arroz Oryzomys nigripes
(Olfers, 1818) e Oryzomys ratticeps (Hensel, 1873).
No Brasil, a doença angiostrongilíase meningoencefálica já foi registrada no
Estado do Espírito Santo e em Pernambuco. Em Curitiba, embora haja ocorrência do
molusco, nenhum caso de angiostrongilose abdominal ou de angiostrongilíase
meningoencefálica foi registrado até o momento.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências
173
AGUDO-PADRÓN, A. I. 2008. Listagem sistemática dos moluscos continentais
correntes no Estado de Santa Catarina, Brasil. Comunicaciones de la Sociedad
Malacológica del Uruguay. 9 (91), p. 147-179.
GRAEFF-TEIXEIRA, C.; ÁVILA-PIRES, F. D.; MACHADO, R. C. C.; CAMILLO-
COURA, L.; ZENZI, H. L. 1990. Identificação de roedores silvestres como
hospedeiros do Angiostrongylus costaricensis no Sul do Brasil. Revista do Instituto
de Medicina Tropical de São Paulo. São Paulo, 32 (3), p. 147-150.
SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ. Lista de Municípios com
registro de ocorrência de Achatina fulica. Curitiba. 2011.
ZANOL, J.; FERNANDEZ, M. A.; OLIVEIRA, A. P. M.; RUSSO, C. A. M.;
THIENGO, S. C. 2010. O caramujo exótico invasor Achatina fulica
(Stylommatophora, Mollusca) no Estado do Rio de Janeiro (Brasil): situação atual.
Biota Neotropica., 10 (3), p. 447-451.

Dados das autoras

Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro

Curadora da Coleção Malacológica do Museu de História Natural Capão da Imbuia


(MHNCI), licenciada em História Natural pela Universidade Católica do Paraná, com
especialização em Ecologia de Águas Continentais pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná.

Odete Lopez Lopes

Curadora das coleções científicas Crustacea e Miriapoda do Museu de História Natural


Capão da Imbuia, Curitiba, Paraná. Licenciada em Ciências Biológicas pela
Universidade Federal do Paraná, Especialização em Educação Ambiental, Mestrado e
Doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná. Autora do livro:
“Coletânea de Atividades Interpretativas em Educação Ambiental”.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Morcegos
Por Dayana Kososki

174

Lista de animais de interesse à saúde

Morcegos

Todas as espécies de morcegos são de interesse à


saúde por serem potencialmente transmissoras de
raiva. Como a quantidade de espécies é grande,
abrangemos seus nomes científicos na forma de
famílias, citando as principais.

Nome vulgar: Morcego


Nome científico:
Famílias:
Molossidae;
Phyllostomidae;
Vespertilionidae.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

175
Introdução

Morcegos ocorrem em todo território brasileiro, onde são conhecidas cerca


de 166 espécies. No mundo foram catalogadas aproximadamente 1200 espécies. São
animais peculiares e chamam a atenção por apresentarem modificações nos membros
anteriores. Braço, antebraço e dedos são ligados por uma membrana formando as asas.
São os únicos mamíferos capazes de voar e iniciam o voo jogando-se do alto dos
abrigos e batendo as asas. Seus membros inferiores não suportam o peso do corpo em
pé, porque são adaptados para voar. Suas pernas e pés mantém seus corpos pendurados
de cabeça para baixo.
Possuem um sistema de ecolocalização, ou seja, emitem som de alta
frequência que atinge a superfície dos objetos e retornam. Esse mecanismo serve para
identificar obstáculos, por isso um morcego que voa próximo às pessoas dificilmente
esbarrará nelas. A ecolocalização também serve para o morcego encontrar suas presas
em vôo.
Considerados animais indesejáveis e temidos por muitos, despertam reações
diversas nas populações humanas pelo desconhecimento e superstições em torno de seus
hábitos e sua biologia. Morcegos não são ratos com asas, como muitos acreditam.
Possuem hábitos noturnos, ou seja, é durante a noite que realizam suas atividades de
alimentação, por isso, não são vistos com frequência pelas pessoas.
Os hábitos alimentares dos morcegos permitem classificá-los de acordo com
o tipo de alimento predominante em sua dieta:

 Insetívoros: alimentam-se de insetos como mosquitos de Culex sp e Aedes sp.,


vespas, moscas, percevejos, baratas, besouros, mariposas, grilos, etc.;
 Frugívoros: alimentam-se de frutos. É comum ver morcegos fazendo voos
rasantes durante a noite em quintais com árvores frutíferas ou que tenham ceva
para passarinhos;
 Nectarívoros: alimentam-se de néctar das flores;
 Carnívoros: alimentam-se de peixes, anfíbios, pássaros e pequenos mamíferos
incluindo outros morcegos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

176

Artibeus lituratus comendo fruto.


FOTO: Wilson Uieda

Morcegos também capturam aracnídeos, como aranhas e escorpiões, para


alimentarem-se. A preferência por um tipo de alimentação varia de acordo com a
espécie, mas, podem ingerir mais de um tipo. Essa variedade demonstra a importância
da presença desses animais em ambientes urbanos, pois retiram do ambiente centenas de
insetos por noite. O controle natural de pragas evita a utilização de produtos químicos
para combater insetos, o que seria muito mais prejudicial para a saúde humana e para o
ambiente. Estudos mostram o importante papel dos morcegos na recuperação de áreas
de mata degradadas, através da dispersão de sementes e polinização das flores.
Apesar de parecer inusitada, há convivência entre populações humanas e de
morcegos. Existem numerosas colônias instaladas com milhares de morcegos numa
cidade como Curitiba, realizando funções importantes. As plantas utilizadas na
arborização urbana são potencial fonte de alimento e a iluminação pública atrai
morcegos insetívoros, já que concentra insetos ao seu redor. Nas cidades, se abrigam em
forros, sótãos, casas abandonadas, porões, juntas de dilatação de prédios, folhagens,
cascas, troncos e ocos de árvores, postes de iluminação, pontes e viadutos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Algumas espécies formam colônias de poucos a centenas de indivíduos em


abrigos bem protegidos das intempéries e dos predadores. Dentro das colônias os
morcegos se reproduzem e os filhotes são cuidados por várias fêmeas além da mãe. A
maioria das espécies gera apenas um filhote por gestação em certas épocas do ano, mas
há espécies que se reproduzem, independentemente da estação, durante o ano todo. Nas
colônias instaladas em forros, na época do nascimento dos filhotes, é possível ouvir
muitos ruídos causados pela movimentação e pelos gritos que os filhotes emitem para 177
que suas mães possam localizá-los no meio de outros filhotes. A época em que há
filhotes nas colônias é recomendável não realizar nenhum tipo de manejo ou exclusão
da colônia porque os filhotes mais novos ainda não aprenderam voar. Quando
acontecem adentramentos em casas ou apartamentos, quando o morcego invade o
interior da residência e tem dificuldades de encontrar a saída, geralmente, é devido ao
fato de serem morcegos jovens, que começam a sair da colônia para alimentar-se e
acabam entrando por engano nas casas. Nesses casos pode ficar voando dentro de casa,
tentando encontrar uma saída, então basta abrir as janelas ou portas com acesso ao
exterior para que consiga sair. Morcegos também podem entrar em casa para caçar
insetos ou buscar um abrigo alternativo para se esconder de tempestades e ventos fortes.
Nas cidades, a presença de morcegos é muito comum, adaptaram-se às
construções humanas em substituição aos seus abrigos naturais. O espaço entre o forro e
o telhado é um tipo de abrigo bastante escolhido por várias espécies de morcegos
insetívoros e frugívoros; edificações abandonadas também podem ser habitadas por
algumas espécies; juntas de dilatação podem abrigar colônias bastante numerosas;
elementos de fachada e decorativos em edifícios também podem servir de abrigo.
Projetos arquitetônicos raramente levam em consideração a convivência com a fauna
urbana e a manutenção adequada das edificações, muitas vezes, é negligenciada. Então,
morcegos encontram facilmente locais apropriados para a instalação de suas colônias.
Acessam o abrigo através de frestas estreitas identificáveis por manchas causadas pela
oleosidade dos pelos. Morcegos nectarívoros, e alguns frugívoros, utilizam abrigos mais
amplos, como porões e sótãos pouco frequentados, acessando-os ao voar por espaços
maiores, sem deixar manchas. Espécies frugívoras também utilizam copas e ocos de
árvores como abrigo.
A presença de colônias nas edificações pode causar algum incomodo devido
ao acúmulo de fezes e urina com odores desagradáveis. Detritos acumulados em
grandes quantidades nos forros podem danificar a estrutura, manchar as paredes por
onde escorrem e cair no chão, sendo necessário limpar os cômodos várias vezes ao dia.
No telhado com espaços entre a cumeeira e as telhas com acesso ao abrigo é necessário
fazer um bom acabamento, fechando bem as extremidades. Beirais sem manutenção
deixam aberturas por onde os morcegos acessam o telhado.
Nos edifícios, geralmente, as juntas de dilatação não possuem vedação ou
apresentam muitas falhas que servem de acesso. Dutos de ventilação, sem vedação com
telas, podem servir de abrigos com acesso facilitado. É comum morcegos utilizarem
caixas de persianas e de ar condicionado como abrigos. Por isto, devem receber
manutenção frequente ou serem retiradas se não estiverem sendo utilizadas.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Família Molossidae

Nesta família as espécies que demandam mais ações da Coordenação de 178


Controle de Zoonoses e Vetores do município de Curitiba, por serem comuns são:
Molossus molossus, Promops nasutus, Tadarida brasiliensis e Nyctinomops
laticaudatus. Podem ser encontrados abrigando-se em forros, sótãos, caixas de persianas
ou de ar condicionado, juntas de dilatação de prédios, galerias pluviais, sótãos, ocos de
árvores, pontes. A entrada e a saída dos abrigos, normalmente, ocorre por frestas
estreitas onde é possível perceber manchas escuras ao redor das aberturas. Podem
formar colônias muito numerosas e são predominantemente insetívoros.

Molossus molossus.
FOTO: Claudia Staudacher

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

179

Nyctinomops laticaudatus.
FOTO: Claudia Staudacher

Promops nasutus.
FOTO: Dayana Kososki

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Família Phyllostomidae

São comuns em Curitiba Artibeus lituratus, Carollia perspicillata, Sturnira


lilium e Glossophaga sorcina. É um grupo que se alimenta de frutos, partes florais, 180
néctar, pólen e insetos. Abrigam-se em ocos e folhagens de árvores, túneis, bueiros,
casas abandonadas. É comum observar as revoadas de Artibeus lituratus em torno das
árvores frutíferas de quintais ou árvores das vias públicas. Glossophaga sorcina pode
visitar bebedouros de beija-flor deixados durante a noite.

Carollia perspicillata carregando filhote.


FOTO: Wilson Uieda

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

181

Artibeus lituratus, colônia abrigando-se em árvore.


FOTO: Claudia Staudacher

Sturnira lilium.
FOTO: Wilson Uieda

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Família Vespertilionidae

Epitesicus brasiliensis, Myotis nigricans, Histiotus velatus, Lasiurus 182


cinereus e L. blossevillii já foram registrados na Coordenação de Controle de Zoonoses
e Vetores de Curitiba. Formam colônias pequenas e podem coabitar com outras espécies
como Molossus molossus, por exemplo. Myotis nigricans formam grupamentos de
fêmeas e seus filhotes, ficando os machos, separados. Lasiurus sp apresenta densa
pelagem, mistura castanho escuro e acinzentado, com traços de branco que produzem
efeito grisalho. Podem dar a luz a mais de um filhote por gestação. Possuem hábito
alimentar insetívoro.

Lasiurus blossevillii.
FOTO: Dayana Kososki

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

183

Histiotus velatus.
FOTO: Claudia Staudacher

Muitas espécies de morcegos são animais pertencentes à fauna brasileira,


protegidos por lei, sendo proibidas sua manipulação e eliminação. No entanto, é
possível realizar o desalojamento gradativo de colônias instaladas em telhados ou juntas
de dilatação, sem a manipulação direta dos morcegos, nem eliminação dos animais com
os seguintes procedimentos:

 Observar onde os animais estão alojados e no crepúsculo identificar por


onde os morcegos estão saindo. Geralmente os animais utilizam a mesma
abertura para entrar e sair.
 Vedar todas as aberturas secundárias que possam ser usadas como
alternativa e deixar a abertura principal aberta.
 Esperar a saída dos morcegos no início da noite, então, vedar a entrada
principal. Os morcegos que saírem não conseguirão retornar ao abrigo.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

No entanto, nem todos os morcegos saem numa noite, sendo necessário


abrir a saída principal na noite seguinte e aguardar que mais morcegos saiam. Após
algum tempo vedar novamente. Repetir a operação de abrir e fechar a entrada principal
durante alguns dias, até que todos os morcegos sejam desalojados. Após o
desalojamento é necessário vedar definitivamente as aberturas que possam servir de 184
entrada. É importante verificar se a colônia não está com filhotes, porque, por não
conseguirem voar, acabam permanecendo dentro do forro e morrendo.
Apesar de ser um método indicado para uma colônia que está causando
transtornos e está muito próxima às pessoas, desalojar morcegos ainda é um desafio
porque pouco se sabe a respeito do comportamento das colônias de diversas espécies
após o desalojamento. Acredita-se que a mudança de abrigo e o tempo que os animais
levarão para encontrar outro local, pode causar estresse físico com alteração de seu
estado imunológico. O contato corporal de morcegos desalojados com indivíduos de
outras colônias pode aumentar as chances de transmissão da raiva. Desalojar colônias de
morcegos pode representar dispersão de zoonoses se estiverem presentes e o problema
será transferido para a vizinhança. Além disto, algumas espécies são fiéis aos seus
abrigos e desalojadas, procuram voltar para o mesmo local. Pesquisadores indicam que
manter colônias em telhados amplos e altos, em que os morcegos não tenham contato
físico com os moradores, pode contribuir para o conhecimento sobre comportamento,
biologia e saúde animal.
Nunca é indicado usar inseticida para eliminar morcegos, isso pode causar
desorientação no animal fazendo com que aumente as chances de invadirem o interior
da residência causando transtornos. O uso de gel repelente para afastar morcegos
também é um método equivocado, pois o gel envolve todo o corpo do animal como um
grude. Não causando morte imediata o morcego fica “colado” e não consegue mais abrir
as asas, muito tempo depois morre por inanição e desidratação. Além de caracterizar
maus tratos a estes animais, o uso de gel repelente também agrava o risco a saúde das
pessoas e animais domésticos que terão contato com esse animal vulnerável e
estressado, aumentando a probabilidade de acidentes por mordedura.

Morcegos hematófagos

Apenas três espécies de morcegos alimentam-se de sangue e são raros os


registros de ocorrência dentro do município de Curitiba. Circulam, principalmente, em
áreas rurais, onde rebanhos de gado, porco, criações de galinhas e outras aves servem de
repasto. Quando um morcego hematófago chega até o animal para alimentar-se,
geralmente, não causa alarde. Faz um pequeno ferimento com os incisivos e suga o
sangue extravasado. No entanto, em algumas áreas urbanas brasileiras já foi registrada a
presença de morcegos hematófagos que se alimentaram de animais de estimação,
galinhas e porcos, animais de zoológico e até seres humanos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

A principal doença vinculada por morcegos, e que pode ser transmitida ao 185
homem, é a raiva. Uma doença infecciosa aguda causada por um vírus do gênero
Lyssavirus, que compromete o Sistema Nervoso Central, sendo fatal em quase todos os
casos. Todas as espécies de mamíferos são suscetíveis à infecção pelo vírus da raiva.
Animais domésticos, principalmente cão e gato, animais silvestres como macaco, lobo,
gato do mato, graxaim, raposa, gambá e todas as espécies de morcegos podem transmitir
a raiva se estiverem contaminados.
A raiva é transmitida pela inoculação do vírus presente na saliva do animal
infectado, em geral, por mordida, mais raramente documentada por arranhadura ou
lambedura de mucosas ou pele com ferimentos abertos. A transmissão por aerossol e
transplantes de córnea e de órgãos também são muito raras, mas, já foram registradas no
mundo.
O vírus presente em morcegos caracteriza o ciclo aéreo da raiva. Todas as
espécies de morcegos podem transmitir a raiva se estiverem contaminados,
independentemente de seu hábito alimentar. Ainda pouco se conhece sobre a biologia da
raiva em morcegos, mas, acredita-se que a doença faz parte do controle natural dessas
populações, pois nem todos os morcegos são hospedeiros assintomáticos, alguns
desenvolvem os sintomas da doença e isso os leva a morte. Por outro lado, estudos
mostram que muitos morcegos infectados em uma colônia são capazes de se recuperar e
tornarem-se imunes ao vírus. Quando encontrados caídos no chão, mortos ou vivos com
paralisia sem agressividade pode configurar um indicativo de que manifestaram a raiva.
Mas, morcegos doentes tornam-se mais vulneráveis e animais de estimação podem
capturá-los sendo contaminados com o vírus da raiva. Por isso, é importante vacinar os
animais domésticos contra a raiva, anualmente.
A Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores de Curitiba encaminhou
para exame da raiva 155 morcegos coletados em situações suspeitas, entre 2008 e
setembro de 2011. Destes, cinco estavam contaminados com o vírus da raiva, o que foi
constatado pelos testes de imunofluorescência direta e prova biológica em
camundongos, realizados pelo Laboratório Central do Estado do Paraná.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Deve-se evitar qualquer contato com morcegos, porque não é possível saber
se o animal está ou não contaminado com o vírus da raiva apenas com a observação
visual. Somente o exame laboratorial pode confirmar uma infecção. Morcegos nunca 186
devem ser manuseados por pessoas não treinadas e não vacinadas e nunca devem ser
mantidos como animal de estimação.
Cães e gatos podem capturar morcegos sem que seu proprietário saiba, por
isso os animais de estimação devem ser vacinados contra a raiva anualmente.
Sempre que um morcego for encontrado caído ou pendurado recomenda-se
que o animal seja isolado evitando-se contato e que o serviço de vigilância do município
seja avisado imediatamente. Em Curitiba o número telefônico para contatar o CCZV é o
156, uma equipe irá até o local coletar o animal e esclarecer sobre os procedimentos
mais seguros em cada situação.
Quando ocorre contato de uma pessoa ou animal de estimação com um
morcego, a equipe de vigilância encaminha o morcego para o exame da raiva. No caso
de acidente com mordida ou arranhão por morcego é importante lavar o local com água
e sabão e procurar atendimento médico o mais rápido possível.
Às vezes a mordida de um morcego pode ser confundida com outro tipo de
ferimento ou nem ser percebida. Se a pessoa estava dormindo e, ao acordar, percebeu no
mesmo cômodo a presença de um morcego, ou nos quartos de crianças com pouca
idade, ou pessoa com deficiência mental, ou intoxicada, a identificação da mordida ou
arranhão fica mais difícil. Nesses casos é preciso realizar o exame da raiva no morcego
e encaminhar a pessoa para atendimento médico.
Profissionais que tenham contato com mamíferos silvestres frequentemente
ou de criação e estudantes de Medicina Veterinária, Biologia e áreas afins que
manipulem animais com risco de estarem contaminados devem realizar pré-exposição
contra raiva através do esquema vacinal recomendado pelo Ministério da Saúde. A
vacina é a principal forma de prevenção.
Locais fechados, com acúmulo de fezes de morcegos, podem propiciar o
crescimento de fungos causadores de doenças em humanos. Para realizar a limpeza
desses locais deve-se sempre proteger as vias respiratórias com máscara, usar luvas de
borracha e procurar não levantar poeiras, molhando as fezes com água sanitária antes de
retirá-las, nunca varrer a seco.

O que fazer em caso de acidente

Caso encontre algum morcego ligue para o número telefônico 156 da


Prefeitura Municipal de Curitiba. Nunca jogar fora os morcegos mortos, mesmo que não
tenham causado nenhum acidente. Em havendo contato do morcego com alguma
pessoa, ela deve ser encaminhada ao serviço de saúde.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Informações adicionais

Para mais informações sobre morcegos e a raiva:


Ministério da Saúde http://portal.saude.gov.br/portal/saude
Centers for Desease Control and Prevention - http://www.cdc.gov/rabies 187
Bat Conservation International - http://www.batcon.org

Referências

BAT CONSERVATION INTERNATIONAL, INC. 2011. Disponível em:


http://www.batcon.org/.
CDC. Centers for Disease Control and Prevention. 2011. Disponível em:
http://www.cdc.gov/.
DIMITROV DT, et al. 2007. Integrative models of bat rabies immunology,
epizootiology and disease demography. Journal of theoretical biology Apr
7;245(3):498-509.
KOTAIT, I.; CARRIERI, M.L.; TAKAOKA, N.Y. 2009. Raiva – Aspectos gerais e
clínica. São Paulo, Instituto Pasteur (Manuais,8) 49p.
MANUAL DE ZOONOSE. 2009. Programa de Zoonoses Região Sul. Volume I; 1ª
Edição.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2011. Disponível em: http://www.saude.gov.br/
PACHECO, S.M. et al. 2010. Morcegos urbanos: status do conhecimento e plano de
ação para a conservação no Brasil. Chiroptera Neotropical 16(1).
REIS, N.R. dos; PERCCHI, A.L.; PEDRO, W.A.; LIMA, I.P. de. 2007. Morcegos do
Brasil. Londrina.
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE. Documentos internos do Centro de
Controle de Zoonoses e Vetores. Boletim Informativo: Morcegos em áreas urbanas e
Folder sobre morcegos. Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.
STEECE, R; ALTENBACH, J. S. 1989. Prevalence of rabies specific antibodies in the
Mexican free-tailed bat (Tadarida brasiliensis mexicana) at Lava Cave, New Mexico.
Journal of Wildlife Deseases 25(4):490-6.
UIEDA, W.; CHAVES, M. E.; SANTOS, C. F. 2008. Guia das principais espécies de
morcegos brasileiros. Botucatu.

Dados da autora

Dayana Kososki

Bióloga do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores – Setor de Fauna Sinantrópica,


Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Moscas
Por Juliana Margarida Martins

188

Lista de animais de interesse à saúde

Moscas

Nome vulgar: mosca-doméstica


Nome científico: Musca domestica

Varejeiras

Nome vulgar: moscas-varejeiras


Nome científico: Chrysomya spp.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

189

Introdução

As moscas são insetos que pertencem à Ordem Diptera. Possuem apenas um


par de asas anteriores membranosas, pois o segundo par transformou-se em reduzidas
estruturas chamadas de halteres ou balancins, os quais estão relacionados ao equilíbrio
do inseto durante o voo. Apresentam cabeça móvel e claramente distinta, dotada de dois
grandes olhos facetados.
Estes insetos realizam metamorfose completa, isto é, passam pelas fases de
ovo, larva e pupa até atingirem a fase adulta (inseto alado). Em geral, as fêmeas
fecundadas buscam resíduos orgânicos em decomposição para colocar seus ovos ou
larvas.
Os hábitos alimentares das moscas são bastante variados, podendo ingerir
fezes, restos de animais e vegetais em decomposição e substâncias açucaradas. As
características morfológicas do aparelho bucal das moscas permitem que elas se
alimentem apenas de substâncias líquidas e pastosas. Para tanto, estes insetos lançam
uma substância sobre os alimentos, para só então, poderem ingeri-lo.
Algumas espécies de moscas possuem alto grau de sinantropia, pois se
adaptaram a viver junto ao ser humano, resistindo ao processo de urbanização. Essa
condição se deve principalmente à disponibilidade de restos de alimentos e abrigo que
as edificações em geral oferecem.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

190

Algumas moscas são hematófagas, isto é, alimentam-se de sangue, como é o


caso das mutucas. Outras, mesmo não sendo hematófagas, são importantes para a saúde
pública, como as moscas domésticas e as varejeiras. As primeiras atuam como vetores
mecânicos de agentes patogênicos, como vírus, bactérias e ovos de helmintos, uma vez
que pousam em substâncias contaminadas, retendo estes patógenos em seus corpos e
posteriormente contaminam alimentos e utensílios domésticos através do contato com
eles. Já as varejeiras compreendem várias espécies de moscas de cores metálicas e
podem provocar miíases, também chamadas popularmente de bicheiras.
A presença de moscas causa irritação e pode provocar decréscimo
significativo na atividade humana e produtividade animal, além de estarem
frequentemente relacionadas à intoxicações alimentares e a transmissão de diversas
doenças, como conjuntivite, cólera, salmonelose, febre tifoide, giardíase e outras.
Entretanto, estes insetos também podem ser benéficos, haja vista que algumas espécies
de moscas são utilizadas em estudos genéticos, bem como no controle biológico de
plantas daninhas e insetos praga, na decomposição de matéria orgânica e na
entomologia forense, auxiliando na investigação de crimes.
As moscas são muito ativas durante o dia e a noite repousam. A ocorrência
de moscas está relacionada a vários fatores, dentre eles as condições climáticas, o
saneamento básico deficiente, acondicionamento inadequado do lixo e a falta de
conscientização da população.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: mosca-doméstica


Nome científico: Musca domestica Linnaeus, 1758.

191

FOTO: Jim Kalisch, UNL Entomology


House Fly, Musca domestica2

Dados

Esta espécie apresenta distribuição cosmopolita, com alto grau de


sinantropia e endofilia (frequentador constante de residências). Tem grande habilidade
de dispersão, ocorrendo abundantemente na região urbana. Possui elevado poder
reprodutivo, com capacidade de se desenvolver em vários substratos. As moscas adultas
vivem cerca de 30 dias, possuem de 5 a 8 mm de comprimento e apresentam coloração
variável de cinza claro a escuro, com quatro listras longitudinais no tórax.

2
Imagem com direitos autorais liberados, disponível em: http://entomology.unl.edu/images/muscidflies/

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

192
Interesse à saúde

Estas moscas não picam, entretanto, atuam como vetores mecânicos. Após
pousarem sobre fezes, animais em decomposição, feridas ou outras substâncias
consideradas sujas, podem entrar em contato com alimentos e contaminá-los,
depositando bactérias, vírus, protozoários e ovos de vermes contidos em seu corpo.
Dessa forma, são transmissoras da febre tifoide, amebíase, cólera, giardíase dentre
diversas outras enfermidades.

Prevenção

Manter o ambiente sempre limpo. O lixo deve estar acondicionado em


sacolas plásticas e dentro de lixeiras com tampa, os alimentos devem ser guardados em
recipientes fechados e podem-se colocar telas em portas e janelas, em casos de grandes
infestações. Uma vez que as moscas utilizam excrementos para se alimentar e
reproduzir, devem-se evitar criações de animais em residências e realizar a coleta
frequente de fezes dos animais domésticos. Soma-se a esses cuidados, o fechamento de
fossas, efetuando-se a ligação do esgoto doméstico à rede de coleta.

O que fazer em caso de acidente/doença

Uma grande variedade de doenças diferentes pode ser transmitida pelas


moscas domésticas, não existindo uma enfermidade específica e muitas vezes sendo
difícil relacionar diretamente alguma patologia à ocorrência destes insetos. Dessa forma,
é recomendado que se procure um médico para que seja realizado o tratamento
adequado.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: moscas-varejeiras


Nome científico: Chrysomya spp.

193

FOTO: Arquivo Fiocruz3

Dados

Originalmente, sua distribuição geográfica compreendia regiões tropicais e


subtropicais do Velho Mundo, tendo sido introduzidas acidentalmente no Brasil na
década de 70. Possuem elevado grau de sinantropia. Devido a sua grande capacidade
reprodutiva estas moscas competem com espécies nativas, deslocando-as para outras
regiões. Atualmente, são as moscas mais abundantes em diversas regiões do país. Os
adultos medem até um centímetro de comprimento, tem coloração verde metálica, e
possuem aparelho bucal do tipo lambedor sugador. As larvas tem aparelho bucal
mastigador.

Interesse à saúde

As moscas deste gênero podem causar míiase cutânea secundária, também


chamada de bicheira, pois colocam seus ovos em ulcerações da pele, onde as larvas se
desenvolvem. As moscas varejeiras também estão relacionadas à dispersão mecânica de
patógenos.

3
Imagem com direitos autorais livres, disponível em: http://www.bancodeimagens.fiocruz.br

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Para se evitar as varejeiras e suas miíases devem-se tomar os mesmos


cuidados mencionados para prevenir as moscas domésticas, bem como cuidar e tratar as
feridas e lesões da pele.

O que fazer em caso de acidente/doença


194

Caso ocorram larvas em lesões da pele e mucosas, deve-se procurar


atendimento médico para retirada dos insetos e tratamento das feridas. Ocorrendo
miíase em animais, deve-se consultar um médico veterinário.

Informações adicionais

Moscas de outros gêneros de insetos, como Lucilia e Cochliomyia, também


são chamadas vulgarmente de moscas varejeiras e apresentam características
semelhantes.

Referências

CORRÊA, E. C.; KOLLER, W. W.; BARROS, A. T. M. 2010. Abundância relativa de


Chrysomya (Díptera: Calliphoridae) no Pantanal Sul-Mato-Grossense, Brasil.
Revista Brasileira de Parasitologia. Jaboticatal, v. 19, n. 2, p.85-88.
GOMES, E. C. C. 2002. Bactérias veiculadas por moscas coletadas em restaurantes de
Curitiba, PR. Monografia de Especialização em Epidemiologia de Vetores
Importantes em Saúde Pública. Departamento de Parasitologia, Setor de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Paraná. 43p.
MARCONDES, C. B. 2001. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Atheneu,
2001.

Dados da autora

Juliana Margarida Martins

Bióloga formada pela Universidade Federal do Paraná (2000). Mestre em Ciências


Biológicas e Especialista em Administração Pública. Há cinco anos atua na área de
Vigilância em Saúde Ambiental na Prefeitura Municipal de Curitiba.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Mosquitos
Por Márcia Saad

195

Lista de animais de interesse à saúde

Mosquitos

Nome vulgar: Mosquito-da-dengue


Nome científico: Aedes aegypti

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

196

Introdução

A entomologia é a parte da biologia que estuda os insetos sob todos os aspectos


estabelecendo as relações com seres humanos, plantas e animais.
Os insetos começam a causar incômodos ou invadir o espaço urbano quando
alteramos e ou destruímos os ambientes naturais onde eles vivem. É costume observá-los
sob uma ótica negativa, considerando apenas aspectos prejudiciais destes seres vivos ao
homem, e esquecendo, muitas vezes, da sua importância, por estarem inseridos no
ambiente, desempenhando função no equilíbrio da natureza.
Alguns insetos trazem benefícios diretos ao homem, por exemplo, os que
fornecem mel, cera, fios de seda, matéria corante e os empregados no controle biológico de
pragas. Outros podem afetar a economia e causar danos à saúde humana, direta ou
indiretamente, como vetores de doenças.
Apesar de a classe Insecta ser representada por mais ou menos 900.000
espécies, o destaque deste capítulo serão os mosquitos, conhecidos também como
pernilongos, muriçocas ou carapanãs.
Os mosquitos pertencem ao Filo Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Diptera,
Família Culicidae e têm sido intensamente estudados desde o final século XIX, quando
foram, pela primeira vez, relacionados à transmissão de patógenos ao homem e outros
vertebrados. Os gêneros Anopheles, Culex e Aedes agregam vetores dos três mais
importantes grupos de patógenos humanos: os parasitas que causam a malária, pertencentes
ao gênero Plasmodium, as filárias e os arbovírus, que são numerosos e incluem os
causadores tanto da dengue quanto da febre amarela.
A compreensão sobre a fauna de mosquitos como um todo, permite conhecer
quais são vetores de doenças, possibilitando que as ações contra um eventual problema
epidemiológico sejam mais eficientes.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

A distribuição de mosquitos é mundial, desde o ártico até os mais remotos


oásis do deserto. Os mosquitos possuem um ciclo de vida que compreende quatro fases:
ovo, larva, pupa e adulto. As fases imaturas, ovos, larvas e pupas vivem no meio
aquático, enquanto na fase adulta são alados, possuem pernas, antenas longas e exploram
o ambiente aéreo/terrestre. As fêmeas adultas são hematófagas, sendo que muitas
espécies são antropofílicas, isto é se alimentam do sangue dos seres humanos e podem
transmitir doenças ao homem durante o repasto sanguíneo.
Estima-se que, atualmente, existam bem mais de 3.000 espécies de mosquitos
descritas, porém neste capítulo abordaremos uma espécie de interesse á saúde pública, de 197
ocorrência no município de Curitiba, o mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti.

Nome vulgar: Mosquito-da-dengue


Nome científico: Aedes aegypti

FOTO: James Gathany4

4
Esta imagem encontra-se em domínio público por ser uma obra do Governo Federal dos EUA- Centers
for Disease Control and Preventionnos termos do Título 17, Capítulo 1, Secção 105 do US Code.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Aedes_aegypti_CDC-Gathany.jpg

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

198

Ovos de Aedes aegypti


FOTOS: CDC5

Larva de Aedes aegypti


FOTO: CDC/ Dr. Pratt5

5
Esta imagem encontra-se em domínio público por ser uma obra do Governo Federal dos EUA- Centers
for Disease Control and Preventionnos termos do Título 17, Capítulo 1, Secção 105 do US Code.
Disponível em: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

199

Larvas (1) e pupas (2) de Aedes aegypti


FOTOS: CDC6

6
Esta imagem encontra-se em domínio público por ser uma obra do Governo Federal dos EUA- Centers
for Disease Control and Preventionnos termos do Título 17, Capítulo 1, Secção 105 do US Code.
Disponível em: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

200

O mosquito Aedes aegypti é uma espécie tropical originária da África e,


atualmente, pode ser considerado cosmopolita. Foi disseminado de forma passiva pelo
homem através de embarcações, trens, automóveis, aviões, caminhões e outras formas
que transportam seus ovos passivamente. Como encontrou condições favoráveis para a
sua proliferação, estão presentes nos mais variados locais, principalmente, dentro ou ao
redor dos domicílios, preferencialmente, aqueles com maior concentração de pessoas.
Embora a literatura normalmente cite que o Aedes aegypti não suporta um
inverno muito rigoroso, esta espécie está adaptada a locais com diversas variações.
Curitiba é uma cidade situada a 945 m de altitude e informações obtidas pelo Programa
Municipal de Controle da Dengue, da Secretaria Municipal da Saúde, revelam a presença
desta espécie de mosquito a partir do ano de 1994, sendo constatada, desde então,
inclusive nos meses de abril e maio que tiveram o registro de baixas temperaturas.
O ciclo de vida do Aedes aegypti, desde o ovo até o mosquito adulto, leva de
7 a 10 dias. Os ovos têm um contorno alongado e medem, aproximadamente, 1 mm de
comprimento. São depositados pelas fêmeas em diversos recipientes, preferencialmente,
com água limpa e parada, próximo a superfície da água, e não diretamente sobre o
líquido. Outra grande vantagem para o mosquito, e por outro lado uma dificuldade para
o controle, é a capacidade dos ovos em resistir longos períodos de dessecação,
permitindo que sobrevivam por muitos meses em ambientes secos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

201

Interesse à saúde

O Aedes aegypti é o mosquito transmissor da dengue, hoje a mais importante


arbovirose que afeta o homem. Representa um sério problema de saúde pública no
mundo, especialmente, nos países tropicais, onde as condições criadas pela poderosa
influência do homem sobre o ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do
mosquito transmissor. A dengue é transmitida durante a picada da fêmea do Aedes
aegypti infectada com o vírus, no ciclo homem - mosquito – homem. A transmissão não
ocorre por contato direto com o doente infectado ou suas secreções, nem através da
ingestão de água ou alimentos.
Atualmente, são conhecidos quatro tipos de vírus DENV1, DENV2, DENV3,
DENV4 que causam ou já causaram epidemias no Brasil. Em função da existência dos
quatro sorotipos e a inexistência de vacina, há possibilidade de uma mesma pessoa
contrair a doença quatro vezes. Isto ocorre porque a imunidade permanente é somente
para o sorotipo que causou a infecção. Portanto, pessoas previamente expostas a um
determinado sorotipo podem ser mais suscetíveis a desenvolver a doença.
No homem a infecção pelo vírus da dengue pode se manifestar das seguintes
formas:
 dengue clássica (que pode ou não apresentar sintomas);
 febre hemorrágica da dengue (FHD);
 síndrome do choque da dengue (SCD).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Ações para evitar a transmissão

Agir uma vez por semana nos locais com água onde a fêmea costuma
colocar seus ovos, ainda é o melhor método para se prevenir a proliferação de
mosquitos e, consequentemente, das doenças transmitidas por eles. 202
Caso a eliminação dos criadouros seja realizada, podemos interferir no seu
desenvolvimento e impedir que ovos, larvas e pupas cheguem à fase adulta.
Eliminar focos de água parada é simples: desobstruir calhas, eliminar lixo a
céu aberto que possa acumular água, encaminhar pneus para a reciclagem.
Mas, existem recipientes difíceis de eliminar e que podem se tornar
importantes reservatórios do A. aegypti, como caixas d’água, tambores e tonéis, ou
mesmo pratinhos de plantas. Mesmo assim, há o que pode ser feito. Primeiramente, as
caixas d’água e tonéis devem ser vedados, não apenas tampados, mas, totalmente
vedados, já que o A. aegypti consegue entrar em fendas e frestas muito pequenas para
depositar seus ovos. Para os pratinhos dos vasos de plantas e qualquer outro reservatório
de água que não possa ser eliminado, é importante trocar a água e lavar as paredes do
recipiente com palha de aço ou escova de cerdas duras, no mínimo, uma vez por
semana, para eliminar ovos.

O que fazer em caso de suspeita de dengue

Em Curitiba, ainda não foram registrados casos autóctones da doença, isto é,


não houve a transmissão dentro do município. Há somente o registro de casos importados,
ou seja, pessoas que contraíram a doença fora do município. O primeiro caso importado de
dengue ocorreu em 1995. A partir de então, casos importados de dengue passaram a ser
registrados anualmente no município, acompanhando a tendência nacional da transmissão
da doença.
A orientação é deve procurar uma Unidade de Saúde mais próxima toda pessoa
que tenha suspeita de dengue apresentando os sintomas: febre alta de 39° a 40°C com
duração máxima de sete dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas:
dor de cabeça intensa, dor no fundo dos olhos, dor nos músculos e nas articulações,
fraqueza, e que esteve, nos últimos 15 dias, em área onde esteja ocorrendo transmissão de
Dengue ou tenha a presença de Aedes aegypti. O aparecimento de manchas vermelhas na
pele, sangramentos de nariz e gengivas, dor abdominal intensa e contínua e vômitos
persistentes podem indicar um sinal de alarme para dengue hemorrágica.
Embora não exista tratamento específico para dengue, sempre é necessário
procurar a orientação médica que avaliará o paciente levando-se em consideração sinais e
sintomas apresentados, bem como o reconhecimento precoce dos sinais de alarme.
Medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina) são contra indicados,
podendo aumentar ou provocar sangramentos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

203

Referências

CURITIBA. 2000. Secretaria Municipal da Saúde. Construindo um ambiente saudável.


Curitiba.101p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância a Saúde. 2009. Diretrizes
nacionais para a prevenção e controle de epidemias de dengue. Brasília, 162 p.
DENGUE. In: Fiocruz. Disponível em: http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/
start.htm?infoid= 339&sid=12. Acesso em: 20/06/2011

Dados da autora

Márcia Rocha Saad

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa em


1991. Bióloga da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba desde 1992. Coordenadora
do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores em 1997, Coordenadora do Programa
Municipal de Controle da Dengue de 1998 a 2008. Atualmente, desenvolve atividades
no Centro de Epidemiologia na Secretaria Municipal da Saúde.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Percevejos
Por Diogo da Cunha Ferraz

204

Lista de animais de interesse à saúde

Percevejos

Nome vulgar: Percevejo-de-cama


Nome científico: Cimex sp.

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Triatoma infestans

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Panstrongylus megistus

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Rhodnius prolixus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução
Muito comuns em áreas rurais e observados com frequência em ambientes
urbanos, os percevejos são insetos que pertencem à ordem Hemiptera, usualmente
inofensivos à saúde humana. Conhecem-se cerca de 22 mil espécies de percevejos.
Aqueles que apresentam interesse médico podem atuar como insetos vetores, pois
carregam no interior de seu tubo digestivo o protozoário Trypanosoma cruzi, causador 205
da Doença de Chagas. Alimentam-se por um aparelho bucal sugador e podem ser
divididos, inicialmente, em dois grupos: os hematófagos (alimentam-se de sangue) e os
não hematófagos (não se alimentam de sangue).
Os percevejos não hematófagos podem ser classificados como fitófagos ou
predadores. Os fitófagos não apresentam interesse médico, são os mais comuns e,
geralmente, se alimentam de seiva das plantas. São popularmente conhecidos como
“fede-fede” ou “maria-fedida”, pois exalam um odor característico quando tocados.
Normalmente, são encontrados em grande quantidade durante o dia, pois tem hábito
diurno. Outra característica bastante comum é sua presença em hortas, servindo-se da
seiva de diversas hortaliças, tendo, por isso, grande importância na agricultura.
Apresentam duas características marcantes: olhos simples, adaptados à visão diurna, e
um aparelho bucal longo e reto (para alcançar a seiva no caule das plantas). Este, é
formado por quatro segmentos, ultrapassando, na sua totalidade, o primeiro par de patas.
Os percevejos predadores ou entomófagos, apesar de serem capazes de
produzir uma picada dolorida quando incomodados, não são animais que apresentam
interesse médico. A principal característica deste tipo de inseto é a presença de um
aparelho bucal curto, robusto e curvo (em forma de vírgula). Neste caso, o aparelho
bucal é formado por três segmentos que não ultrapassam o primeiro par de patas.
Também possuem olhos simples, alimentam-se, geralmente, de outros insetos e há
diversas espécies que apresentam aspecto curioso. Muitos são coloridos, com
ornamentações que lhe conferem aspecto singular.
Os hematófagos são de interesse à saúde, como veremos a seguir.

Animais de interesse à saúde


Percevejo-de-cama
Barbeiro
A principal característica destes insetos é o fato de alimentarem-se de
sangue. Por esse motivo, possuem hábito noturno, nutrindo-se, em geral, após as luzes
serem apagadas e usando como esconderijo as frestas presentes nas camas, pisos e
paredes, onde permanecem e colocam seus ovos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Percevejo-de-cama


Nome científico: Cimex sp.

206

FOTO: João Justi Junior e Francisco Zorzenon

Os cimicídeos, popularmente conhecidos como percevejos de cama, são


insetos bastante comuns. Apresentam bastante mobilidade, especialmente no escuro.
Podem, ainda, ser transportados na mobília ou em roupas. Em área urbana, estão,
geralmente, associados a instalações que apresentam precárias condições higiênicas
(principalmente, nas camas e colchões). Outra possibilidade é a permanência nas roupas
de andarilhos que não as trocam com frequência, comportando-se como piolhos. Apesar
de não terem importância médica significativa, são suspeitos como transmissores de
parasitos. Suas picadas irritantes podem desencadear processos alérgicos e dermatites
(aparecimento de lesões e coceira na pele).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Barbeiro, chupão


Nome científico: Gêneros Triatoma, Panstrongylus, Rhodnius

Os triatomíneos, conhecidos popularmente como barbeiros, chupança,


procotó, vum-vum, fincão, entre outros, são percevejos hematófagos, nutrindo-se, 207
portanto, de sangue. A maioria das 128 espécies conhecidas ocorre nas Américas.
Várias destas podem ocorrer nas áreas de domicílio e peridomicílio (nas proximidades,
ao redor das casas), sendo, por isso, importantes na transmissão de parasitos ao ser
humano. Animais de hábito noturno, os barbeiros têm olhos compostos, bastante
diferentes dos olhos dos percevejos de hábitos diurnos. Quanto ao aparelho bucal, este é
reto, formado por três segmentos cujo comprimento não ultrapassa o primeiro par de
patas. A importância médica destes insetos está no fato de transmitirem o
Trypanossoma cruzi ao ser humano. Este protozoário é o agente etiológico (causador)
da Doença de Chagas, parasitose exclusiva do continente americano. A transmissão
ocorre pela picada do barbeiro, cujas fezes infectadas pelo parasito chegam à corrente
sanguínea devido ao fato de que a vítima coça o local da picada.
Os três gêneros mais importantes de triatomíneos associados aos domicílios
são: Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus. As espécies de Triatoma ocorrem
frequentemente em abrigos localizados nas pedras, as de Panstrongylus em tocas de
animais no solo (tatu) e as de Rhodnius em palmeiras. Algumas espécies dos três
gêneros, em decorrência à destruição de seus ambientes naturais pela construção de
casas em condições precárias e por seu potencial de adaptação, passaram a colonizar
domicílios. Nestes locais, adaptaram-se a viver em frestas de paredes, embaixo de
camas, atrás de quadros e armários, entre objetos amontoados (roupas, caixas, alimentos
como o milho, etc.), em geral, perto das camas dos moradores.
Presentes em um ambiente com poucos predadores e com disponibilidade de
alimento, encontram condições muito favoráveis para aumentar rapidamente sua
população. Alguns registros já revelaram casos extremos, como 14 mil exemplares
numa única casa, em Honduras. As casas de taipa (construção rudimentar feita a partir
de madeira ou bambu, preenchidas com barro e fibras) e as com paredes e/ou teto de
folhas de palmeiras, apresentam condições que favorecem a colonização dos
triatomíneos. No entanto, eles podem se adaptar a qualquer tipo de habitação, desde que
encontrem abrigo.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Triatoma infestans

208

FOTO: Marcelo C. Pereira, ICB/USP.

Esta espécie de triatomíneo tem sua distribuição natural na Bolívia, no


entanto, devido à grande capacidade de adaptação alcançou outras áreas da América do
Sul como Argentina, Brasil, Paraguai, Peru e Uruguai. No Brasil, possuem ampla
distribuição, sendo observados do estado do Rio Grande do Sul ao da Paraíba. A
migração destes insetos, do sul para o norte do país, ocorreu ao longo dos séculos XIX e
XX, período de intenso desmatamento. Em decorrência deste processo, houve um
aumento populacional nas áreas em que ocorriam em baixa quantidade, resultando numa
maior incidência da Doença de Chagas no Brasil. Sua cor é predominantemente marrom
e o comprimento do corpo varia entre 21 e 29 mm.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Panstrongylus megistus

209

FOTO: Marcelo C. Pereira, ICB/USP.

Esta espécie de triatomíneo apresenta ampla distribuição no território


nacional, alcançando países limítrofes. Há um número significativo de relatos sobre
infestação desses insetos nas casas da região sul do Brasil. Em outras localidades, já foi
verificada a sua presença em ocos de árvores e em palmeiras. Quando encontrados nos
domicílios, são frequentemente vistos nas partes mais baixas das paredes. Os registros
de captura de percevejos hematófagos, nos últimos anos, revelam que, na cidade de
Curitiba, o gênero Panstrongylus é o que ocorre com maior frequência. Os exames
diagnósticos para T. cruzi, realizados neste gênero de triatomíneo, tem sistematicamente
apresentado resultados negativos. Pode-se afirmar, portanto, que para este momento,
não há, na cidade de Curitiba, a transmissão vetorial (feita pelo inseto). Este modo de
transmissão pode ser considerado interrompido, uma vez que, este gênero de percevejo,
não se comporta como vetor para a Doença de Chagas nesta cidade.
Quanto à morfologia, apresentam cor preta, com pequenas manchas
vermelhas e comprimento que pode variar entre 26 e 38mm.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Barbeiro, chupança


Nome científico: Rhodnius prolixus

210

FOTO: Marcelo C. Pereira, ICB/USP.

No que diz respeito à transmissão de T.cruzi, esta espécie apresenta grande


relevância no norte da América do Sul e, em alguns países da América Central. A
chegada desses insetos à América Central ocorreu, provavelmente, pelo norte da
América do Sul, através de aves migratórias que carregavam ovos desses insetos junto
às penas. Nestas localidades são encontrados em domicílios, mas podem,
eventualmente, ser vistos em palmeiras. No Brasil, é frequente a sua ocorrência em
ambientes silvestres, no entanto, a possibilidade de adaptação aos domicílios não pode
ser descartada. Possuem cor predominantemente amarelada, com manchas marrons e
comprimento entre 17,5 e 21,5 mm.

Interesse à saúde
Os percevejos de cama, apesar de não representarem um grupo de grande
interesse médico, causam considerável incômodo e, por serem hematófagos (alimentam-
se de sangue), podem levar crianças com deficiência nutricional à anemia. A picada
provoca intenso prurido (coceira), podendo causar ferimentos na pele e infecção
secundária. A qualidade do sono também pode ser afetada pela atividade noturna destes
insetos.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

A sucção de sangue realizada pelos triatomíneos costuma ser vagarosa e a


picada é, usualmente, indolor, não causando reações alérgicas. É comum os
triatomíneos eliminarem fezes e urina durante e logo após sua alimentação. Caso
estejam infectados, podem depositar protozoários causadores da Doença de Chagas
sobre a pele e mucosas. O parasito pode penetrar em pequenas lesões da pele ou em
mucosa sem ferimentos. Sabe-se que as possibilidades deste modo de transmissão,
aumentam muito com a exposição diária e contínua à presença do inseto e suas picadas.
A transmissão ao ser humano também pode ocorrer por transfusão de
sangue, ingestão de alimentos contaminados, manuseio de animais silvestres (carne de
caça como o tatu e o porco do mato) e domésticos, transplantes de órgãos, da mãe para
o filho pela placenta e em acidentes em laboratório e hospitais. 211
A transmissão via transfusão de sangue tem ganhado relevância nas duas
últimas décadas em função da migração da população rural infectada para os grandes
centros urbanos. A falta de estrutura e organização dos bancos de sangue também
contribui para este aumento.
O parasito pode causar problemas sérios, principalmente, de insuficiência
cardíaca, levando uma parcela dos infectados a séria deficiência e possível óbito.

Prevenção
Há uma estreita relação entre as precárias condições higiênico-sanitárias e a
ocorrência de percevejos de cama. Por este motivo, faz-se necessária a vedação de
frestas, a eliminação de possíveis abrigos nas estruturas da cama, bem como a exposição
de colchões e roupas de cama ao sol. Atitudes simples, como afastar a cama da parede,
dificultam o acesso do inseto e interfere de maneira positiva como medida que oferece
proteção. O uso de inseticidas, nos pontos de infestação dentro de casa, mostra-se
eficiente apenas em curto prazo. Em longo prazo, o uso contínuo seleciona aqueles
insetos já naturalmente resistentes e, uma vez permitida a sua reprodução, conduz a um
processo chamado de “resistência do inseto ao inseticida”. Não se recomenda o uso de
repelentes, dada a ineficiência em oferecer proteção ao usuário.
Os triatomíneos são frequentemente encontrados na zona rural, no entanto,
quando as habitações encontram-se em condições precárias, podem ser verificados
focos urbanos. Os triatomíneos são bastante sensíveis aos inseticidas, não
desenvolvendo, usualmente, resistência a estes. O controle a ser realizado no entorno
dos domicílios mostra-se um desafio de difícil solução, em função, principalmente, da
menor persistência dos inseticidas nestes locais. No entanto, a redução dos índices de
infestação, colonização e transmissão do parasito ao ser humano, revela que o uso
cauteloso de inseticidas pode alcançar resultados positivos, desde que associado à
constante vigilância epidemiológica. A manutenção constante do entorno, procurando-
se evitar o acúmulo de materiais que propiciem abrigo, auxilia no controle.
Do mesmo modo, no interior dos domicílios, devem-se eliminar frestas,
evitar amontoados de objetos, afastar a construção de galinheiros e depósitos de cereais
da casa principal - a fim de que não sirvam como abrigo e fonte de alimento aos
triatomíneos. A reforma nas casas deve estar associada a uma educação sanitária
(condições de higiene) consistente e à melhora nas condições socioeconômicas da
população. A rápida comunicação da população com as autoridades sanitárias tem papel
fundamental neste processo, tendendo a se consolidar com uma população bem
informada.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

O que fazer em caso de acidente


Em casos de acidente ou aparecimento destes insetos no ambiente domiciliar
da cidade de Curitiba, recomenda-se que o cidadão encaminhe exemplares do inseto à
Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores (CCZV). Um meio possível de se fazer
o envio é levá-los à Unidade de Saúde mais próxima da residência do cidadão, com as
respectivas informações (nome, endereço, data e telefone para contato) que identifiquem
o recipiente utilizado para transporte. Deste modo, é possível uma equipe de
profissionais habilitados fazer a identificação adequada do animal, providenciando o
retorno das informações obtidas ao interessado. Ressalta-se que esta medida contribui 212
com a precisão do diagnóstico, tendo como consequência positiva o tratamento médico
adequado. A identificação do inseto deve ser seguida, necessariamente, por
acompanhamento médico, quando a espécie envolvida é hematófaga e tenha causado
acidente.

Referências

BAPTISTA, T. V. 2011. Vigilância Epidemiológica da Doença de Chagas no Estado do


Paraná. Curitiba.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. 2005. Doenças
infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Brasília: Ministério da Saúde.
JUNIOR, J. J. & ZORZENON, F. J. 2006. Manual Ilustrado de Pragas Urbanas e Outros
Animais Sinantrópicos. São Paulo: Instituto Biológico.
LUCCHETTI, R.F. 2001. Como Eliminar Pragas Domésticas, São Paulo.
MARCONDES, C.B. 2011. Entomologia Médica e Veterinária. São Paulo.
RACHEL,L. Do caldo de cana ao suco de açaí (parte I). Disponível em:
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2005/ju283pag02.html.
Acesso em: 06 jun. 2011.
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE CURITIBA. COORDENAÇÃO DE
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. 2005. Doença de Chagas. Curitiba.
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA.
2001. Curso de Especialização em Epidemiologia de Vetores Importantes em Saúde
Pública. Triatominae & Cimicidae. Universidade Federal do Paraná. Curitiba.

Dados do Autor

Diogo da Cunha Ferraz

Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná, 2005. Biólogo


da Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores (CCZV) - Centro de Saúde
Ambiental - Secretaria Municipal de Saúde - Prefeitura Municipal de Curitiba. Professor
na área de Meio Ambiente, Curso Técnico em Meio Ambiente, Colégio Estadual Paulo
Leminski, desde 2007.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Roedores
Por Simone do Rocio Ferreira

213

Lista de animais de interesse à saúde

Roedores

Nome vulgar: ratazana, rato-de-esgoto, rato-marrom,


rato-da-Noruega, gabiru etc.
Nome científico: Rattus norvegicus

Nome vulgar: rato-de-telhado, rato-preto, rato-de-forro,


rato-de-paiol, rato-silo, rato-de-navio etc.
Nome científico: Rattus rattus

Nome vulgar: camundongo, mondongo, catita, rato-de-


gaveta, rato-de-botica, ratinho etc.
Nome científico: Mus musculus

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Os roedores são mamíferos pertencentes à Ordem Rodentia (do latim


rodere, que significa roer). Apresentam duas características marcantes que os une: a 214
presença de dentes incisivos proeminentes, que crescem continuamente, e a ausência de
caninos. Esta ordem é a mais numerosa da Classe Mammalia, possui cerca de 40
famílias e corresponde, aproximadamente, a 40% das espécies de mamíferos existentes.
Entre todos os mamíferos, inclusive o homem, são os roedores sinantrópicos que mais
triunfam na luta pela sobrevivência, pois têm uma extraordinária capacidade reprodutiva
e facilidade de adaptação às mais diversas condições ambientais e antrópicas. Possuem
hábito noturno, tendo a visão pouco desenvolvida, diferenciando apenas a intensidade
da luz (claro ou escuro). O paladar é muito aguçado. Audição e tato são os sentidos mais
aperfeiçoados, auxiliando-os no deslocamento em busca de alimentos e abrigo.
A partir do momento que o homem começa a se estabelecer em
determinadas localidades, desenvolvendo a agricultura e ampliando os povoados,
surgem os excessos alimentares e possibilidades de abrigo para população murina.
Assim, deu-se início a uma relação de sinantropia com estes animais. O crescimento
desordenado das cidades estabeleceu as condições necessárias para o comensalismo de
roedores com populações humanas. Esta relação permitiu a proliferação das populações
murinas sinantrópicas devido à disponibilização farta de: alimento, água, abrigo, acesso
(4As) e a simultânea ausência de predadores. Em áreas urbanas predominam três
espécies: Rattus norvegicus, Rattus rattus e Mus musculus, que são responsáveis por
grandes prejuízos econômicos e em saúde pública.
Devido ao risco que estes animais representam para a população, em relação
à saúde pública e prejuízos materiais, faz-se necessário adotar medidas de controle
eficazes. Para garantir o sucesso da metodologia empregada é de extrema importância o
conhecimento da biologia e comportamento da espécie em questão. Deve-se possibilitar
a participação popular em ações de educação em saúde. Assim, torna-se possível
minimizar a poluição ambiental resultante dos resíduos gerados pela utilização de
raticidas, muitas vezes, aplicados em larga escala por desconhecimento do manejo
ambiental.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012
Ratazana

215

FONTE: CCZV José Zorzenon Francisco, João Justi Junior

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012
Nome vulgar: ratazana, rato de esgoto, rato marrom, rato da Noruega, gabiru, etc.
Nome científico: Rattus norvegicus (Berkenhout, 1769)

Dados

É a espécie mais frequente no litoral. O tamanho de suas colônias depende


dos alimentos e abrigos disponíveis. Seu hábito é fossorial, tendo focinho adaptado para
escavar a terra. Prefere abrigos externos. Seus membros cavam ninheiras (tocas) abaixo
do nível do solo, próximas à fonte de alimento e água. O medo do novo é típico na
espécie. Sua dispersão pode ocorrer passivamente, tendo seu deslocamento propiciado
pelo homem e seus meios de transporte, ou ativamente, quando o indivíduo migra 216
devido à redução de espaço e alimentos.
Possuem um corpo que pode alcançar 25 centímetros de comprimento (da
cabeça a cauda), pesando até 500 gramas. São revestidos por pelos ásperos, de
coloração castanho-acinzentado. A cauda é grossa, pouco peluda e mais curta que o
conjunto cabeça e corpo. O focinho é arredondado, as orelhas diminutas e voltadas para
traz. Entre seus dedos existem membranas interdigitais, que facilitam a atividade de
nadar, na qual têm desempenho excelente. Seu raio de ação raramente ultrapassa 100
metros de seu abrigo. São onívoras, mas, preferem carnes, peixes e cereais.

Rato de telhado

FOTO: José Zorzenon Francisco, João Justi Junior

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: rato preto, rato silo, rato de telhado, de forro, de paiol, de navio etc.
Nome científico: Rattus rattus (Linnaeus, 1758)

Dados

É um roedor comum em áreas rurais e pequenas cidades do interior.


Entretanto, o crescimento urbano vertical, com fachadas arquitetônicas que facilitam o
abrigo e o acesso a andares superiores, vem contribuindo com sua dispersão em
ambientes urbanos.
A presença desta espécie é cada vez mais frequente em grandes cidades 217
como Rio de Janeiro e São Paulo. Bairros em que havia predomínio de ratazanas
passaram a ser tomados por ratos de telhado. Uma das explicações recai sobre o fato de
que as ações de controle são direcionadas às ratazanas.
No município de Curitiba, segundo o Serviço de Controle de Roedores, o
problema com esta espécie é esporádico e pontual, sendo predominante a infestação por
Rattus norvegicus (ratazana).
O focinho dos ratos de telhado é delgado. Sua cauda tem um comprimento
mais longo do que a distância existente entre a cabeça e o final do corpo. Essa relação
favorece o equilíbrio do animal. Possui orelhas avantajadas, de coloração entre preto e
cinza escuro. Sua destreza ao deslocar-se escalando e seu equilíbrio bem desenvolvido,
permitem a definição de um raio de ação mais amplo do que o da ratazana.
Seus abrigos preferenciais são: forros, telhados e sótãos, devido ao fato de ser
uma espécie arborícola (espécie que vive nas árvores). Habitualmente, constroem ninhos
em construções altas. Embora sejam onívoros, preferem cereais, legumes e frutos.

Camundongo

FOTO: José Zorzenon Francisco, João Justi Junior

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: camundongo, mondongo, ratinho, catita, rato-de-gaveta, rato-de-botica etc.


Nome científico: Mus musculus (Linnaeus, 1758)

Dados

Estes roedores são considerados cosmopolitas. Surgiram, originalmente, em


formações de vegetação rasteira da Ásia Central. A sinantropia da espécie remonta,
218
possivelmente, há milhares de anos.
Seu comprimento total, da cabeça à cauda é cerca de 18 centímetros e o
peso, aproximadamente, 25 gramas. Estas características facilitam seu transporte
passivo para dentro das habitações humanas. Seus pelos são acinzentados, as orelhas
sobressaem-se e os olhos destacam-se. Definem seu raio de ação em torno de 3 metros,
explorando-o detalhadamente, apreciando novidades (neofílicos), ocupando móveis em
desuso e outros abrigos próximos a fontes de alimento. Entretanto, suas ninheiras
podem ser feitas em áreas externas. Grãos e cereais são seus alimentos preferidos,
entretanto, são onívoros.

Características do desenvolvimento reprodutivo dos roedores urbanos

Comportamento e Ratazana Rato de Telhado Camundongo


Características Rattus norvegicus Rattus rattus Mus musculus

Gestação 22 a 24 dias 20 a 22 dias 19 a 21 dias


Ninhadas por ano 8 a 12 4a8 5a6
Filhotes por
7 a 12 7 a 12 3a8
ninhada
Idade de desmame 28 dias 28 dias 25 dias
Idade de
60 a 90 dias 60 a 75 dias 42 a 45 dias
maturidade sexual
FONTE: Adaptado de Funasa, 2002.

Interesse à saúde

Os roedores podem carrear ectoparasitas de potencial risco à saúde humana


ou funcionar como reservatórios de patógenos. A transmissão de doenças pode ocorrer
através do contato direto ou indireto dos seres humanos com urina, fezes, saliva, sangue
e ectoparasitas desses animais. Acredita-se que possam existir em torno de quatro
dezenas de doenças diferentes que os roedores transmitem, das quais citamos algumas:

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Doença Características 219

Causada pela bactéria Leptospira. A infecção ocorre através


da exposição à urina de animais infectados, principalmente
Leptospirose roedores (portador crônico assintomático), diluída na água ou
lama de enchente. A bactéria penetra na pele, lesionada ou
não, e também através das mucosas.
Causada pela bactéria Yersinia pestis. A transmissão ocorre
de roedor para roedor e roedor para os seres humanos, através
Peste da picada da pulga (Xenopsilla cheopis) contaminada. É
bubônica considerada endêmica no país. É endêmica no Nordeste
brasileiro, particularmente em certas cidades onde há
presença dos roedores silvestres.
Causada por bactérias do gênero Salmonella, presente
Salmonelose frequentemente em fezes de roedores. Provoca intoxicação
alimentar quando ingerida por humanos.
Causada por vírus. Os roedores silvestres são os principais
transmissores. Geralmente, o ser humano contrai inalando
poeiras (aerossóis) contaminadas pelas fezes, urina e saliva
dos roedores silvestres infectados. Existem dois quadros
clínicos relacionados aos hantavírus:
1. Os vírus Hantaan, Seoul, Dobrava e Puumala estão associados à
Febre Hemorrágica com Síndrome Renal, envolvendo roedores
Hantavirose da subfamília Murinae e Arvicolinae, tendo a sua origem
localizada na Europa e Ásia, assim como seus hospedeiros
Rattus sp.;
2. Os vírus Sin Nombre, Juquitiba, Araraquara, Jaboara, Castelo
dos Sonhos, Andes, Laguna Negra, associados à Síndrome
Cardio Pulmonar por Hantavírus, ocorrem apenas nas
Américas, incluindo o Brasil e o Paraná, assim como seus
reservatórios os roedores silvestres, da subfamília
Sigmodontinae (Akodon sp, Oligoryzomys sp.,Calomys sp. etc).

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Prevenção

Manejo Integrado

Para manter baixos os níveis da infestação por roedores sinantrópicos,


objetivando a prevenção de doenças e a redução de prejuízos econômicos, é muito
importante utilizar metodologias que já foram testadas e bem descritas. O manejo
integrado é uma delas e compreende cinco fases distintas: inspeção, ou seja, diagnóstico 220
bem detalhado; identificação ou suspeita da espécie problema; medidas preventivas e
corretivas (antirratização); desratização; avaliação e monitoramento.

1- Inspeção - consiste na coleta de dados (presença de tocas/ninheiras,


fezes, roeduras, trilhas e manchas de gordura) da localidade infestada,
características do ambiente que favorecem a instalação e proliferação de
roedores sinantrópicos (disponibilidade de alimento, abrigo, água e
acesso).
2- Identificação – indicação da espécie que está infestando a
localidade/residência ou estabelecimento, pois permite o planejamento
da estratégia de controle, levando em consideração a biologia e
comportamento.
3- Medidas preventivas e corretivas (antirratização) – adoção de
medidas que visam impedir e/ou dificultar a instalação e proliferação da
espécie que está infestando o local. Um exemplo de medida preventiva
é o manejo adequado do lixo (depósitos higienizados e que inviabilizem
o acesso de roedores, segregação correta dos resíduos gerados e respeito
ao horário e dias de coleta pública).
4- Desratização – medida que visa à eliminação física do roedor
infestante e pode ser por meio de processo físico ou mecânico
(ratoeiras, armadilhas colantes), ou químico (substâncias químicas
denominadas raticidas ou rodenticidas que devem ter registro no
Ministério da Saúde – ANVISA – os mais usados são anticoagulantes).
A utilização única e exclusiva de raticidas não é eficaz e, além disso,
pode contaminar solo, água e animais não alvo.
5- Avaliação e Monitoramento – fase de extrema importância no manejo
integrado, pois demonstrará se houve redução no nível de infestação.
Deve ser conduzido de maneira a envolver a comunidade atingida nas
questões relativas ao manejo do ambiente (adoção de medidas
preventivas e corretivas).

A comunidade deve eliminar ou reduzir a disponibilidade dos 4 As


(alimento, abrigo, água e acesso), pois, desta maneira, estará contribuindo para o
equilíbrio das populações de roedores.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

221

O que fazer em caso de acidentes

Em caso de mordedura, lavar com água e sabão e, o mais breve possível,


procurar a unidade de saúde mais próxima. Se apresentar sintomas suspeitos, em relação
às doenças citadas, procurar serviço médico, pois somente este profissional poderá
realizar o diagnóstico e conduzir o tratamento.

Acidentes toxicológicos com raticida

Os raticidas somente podem ser comercializados e utilizados no país se


devidamente registrados na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). E
mesmo os registrados merecem cautela em sua utilização, pois apresentam toxicidade.
Apesar de haver antídoto, os raticidas causam transtornos à família envolvida no
acidente, por isso, cuidados devem ser adotados em relação às crianças e animais não
alvo. Em caso de dúvida sobre como proceder à aplicação de raticida com segurança e
efetividade, procurar um profissional especializado na área de controle de roedores.
Procurar o médico imediatamente após o acidente, levar a embalagem ou a informação
sobre a formulação do produto. Em acidentes toxicológicos envolvendo os raticidas
ilegais, a reversão do quadro é muito difícil e, além disso, os usuários deste produto
podem ser responsabilizados criminalmente. São considerados raticida ilegais, a saber,
formulações líquidas à base de Antu (alfa-naftil-tio-réia), arsênico, estricnina, fosfetos
metálicos, fósforo, 1080 (monofluoraceto de sódio),1081 (fluoracetamida), sais de bário
e sais de tálio, conforme legislação (Portaria nº 321/ MS, 08/08/1997).
O carbamato (conhecido popularmente como chumbinho) é permitido
legalmente com receita agronômica, apenas para ser utilizado na agricultura.
Fracionado e com a finalidade de eliminação de roedores, sua utilização é proibida, pois
é um produto altamente tóxico, sendo um problema de saúde pública devido, à
gravidade das intoxicações e alta mortalidade.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências

AMORIM, M. A. et al. X Encontro Latino de Iniciação Científica e VI Encontro Latino


Americano de Pós- Graduação – Universidade do Vale do Paraíba. Intoxicação
exógena por carbamato conhecido popularmente como “chumbinho”. Disponível em:
http://www.inicpg.univap.br. Acesso em 06/06/2011.
BRASIL. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. 2002. Manual de controle de
roedores. Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. 222
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. 2008. Manual de
vigilância e controle da peste. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em
Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. 2008. Doenças
infecciosas e parasitárias: guia de bolso, Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 7 ed. Ver.
Brasília: Ministério da Saúde.
COSTA, F. et al. 2009. Anais III Congresso Latino Americano de Ecologia. Infestação
por roedores no ambiente urbano: o papel das deficiências ambientais na transmissão
da leptospirose. São Lourenço/ Minas Gerais, 10 a 13 de setembro de 2009.
FRANCISCO, J. Z.; JUSTI JR., J. 2006. Manual Ilustrado de pragas urbanas e outros
animais sinantrópicos. São Paulo: Instituto Biológico. p.151
ISHIZUKA, M. M. 2008. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Controle de roedores na suinocultura. Mar/Abr. Disponível em http://
www.porkworld.com.br. Acesso internet em 27/05/2011.
LANGE, R. B.; JABLONSKI, E. F. 1979. Estudos de Biologia número II. Roedores do
Paraná. Imprensa Universitária da UCP. Curitiba/ PR. Março.
PORTARIA Nº 321/MS, 08/08/1997. Disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/321_97.htm. Acesso em 25/05/2011.
*Comunicação Pessoal - Hantavirose 2011. Gisélia Burigo Guimarães Rubio. Bióloga,
Chefe da Divisão de Zoonoses e Intoxicações da Secretaria Estadual de Saúde do
Paraná

Dados da Autora

Simone do Rocio Ferreira Gusi

Bióloga, formada pela PUC/PR. Especialização em Epidemiologia de vetores


importantes em Saúde Pública/ UFPR. Chefe de Serviço/Coordenação de Controle de
Zoonoses e Vetores.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

223

OUTROS ANIMAIS DE INTERESSE À SAÚDE

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Peixes
Por Vinícius Abilhoa

224

Lista de animais de interesse à saúde

Peixes

Osteichthyes
Siluriformes
Callichthyidae
Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)
Corydoras ehrhardti Steindachner, 1910

Nome vulgar: Coridoras-pimenta,


cascudinho, capotinha-de-aço
Nome científico: Corydoras paleatus

Nome vulgar: Coridoras, cascudinho,


capotinha-de-aço
Nome científico: Corydoras ehrhardti

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Introdução

Os peixes apresentam enorme diversidade de formas, tamanho, padrões de


coloração, ciclos de vida e estratégias reprodutivas, representando o grupo mais 225
numeroso e diversificado entre os vertebrados, com mais de 32 mil espécies conhecidas.
Aproximadamente 40% dessas espécies vivem em ambientes de água doce como rios,
riachos e lagos, os quais representam menos de 1% da superfície da Terra.
Na bacia do Rio Iguaçu o número de espécies de pequeno (<20cm), médio
(entre 20 e 40cm) e grande porte (>40cm) gira em torno de 90, muitas das quais são
consideradas raras e endêmicas. A distribuição dos peixes ao longo do curso do Rio
Iguaçu não é uniforme, sendo que algumas espécies são encontradas apenas em regiões
de maior altitude, próximas às cabeceiras desse sistema na Região Metropolitana de
Curitiba, enquanto outras são exclusivas das regiões do curso médio e baixo.
A fauna de peixes de Curitiba é representada por 29 espécies, distribuídas
em sete ordens e 12 famílias. De uma forma geral, as espécies de peixes que ocorrem
em Curitiba podem ser divididas basicamente em duas categorias. A primeira categoria
é formada pelas espécies nativas, que apresentam ocorrência generalizada na região e na
bacia do Rio Iguaçu (algumas ocorrem em outras bacias hidrográficas também),
normalmente de pequeno e médio porte (entre 20 e 40cm). A segunda categoria é
formada pelas espécies introduzidas, também chamadas de exóticas, que ocorrem na
região por causa da introdução acidental (aquicultura) ou intencional (“peixamento” de
represas).
Dentre as espécies de peixes registradas em Curitiba, os caracídeos
(lambaris), loricarídeos (cascudos) e calictídeos (cascudinhos) são as mais
representativas. Os caracídeos são peixes lateralmente achatados que apresentam
hábitos alimentares diversificados (herbívoros, onívoros e carnívoros) e exploraram uma
grande variedade de habitats. Os cascudos possuem o corpo recoberto por placas ósseas
em várias séries, os lábios alargados em forma de ventosa e as maxilas providas de
dentículos adaptados para raspar alimentos do substrato. Os cascudinhos são peixes de
pequeno e médio porte que possuem o corpo recoberto por duas séries de placas ósseas,
e apresentam espinho nas nadadeiras dorsal e peitorais. Em algumas espécies de
cascudinho esses espinhos parecem esporões de borda serrilhada, que são capazes de
causar acidentes e ferimentos (ictismo). Essas espécies podem ser encontradas em
diversos ambientes aquáticos como riachos, rios, lagoas naturais, cavas e canais.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Coridoras-pimenta, cascudinho, capotinha-de-aço


Nome científico: Corydoras paleatus (Jenyns, 1842)

226

FOTO: Vinícius Abilhoa

Dados

Espécie nativa que pode ser encontrada em drenagens costeiras entre os


estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e também nas bacias dos rios Uruguai e
Paraná. Ocorre principalmente em riachos de correnteza e águas claras, mas como
possuem adaptações anatômicas e fisiológicas que lhes permitem realizar respiração
acessória através do trato digestório, podem ser encontrados em diversos ambientes
aquáticos, inclusive locais com baixa concentração de oxigênio. É um peixe de pequeno
porte, robusto, caracterizado por apresentar o corpo revestido por dupla fileira de placas
ósseas e espinho nas nadadeiras dorsal e peitorais. O corpo é castanho-amarelado, com
inúmeras manchas escuras e algumas áreas com um brilho metálico azul-esverdeado. A
boca é subterminal, pequena, rodeada por pequenos tentáculos maxilares e
mandibulares. Vivem no fundo dos rios e alimentam-se basicamente de larvas de
insetos. Na região de Curitiba são bastante comuns em lagoas e cavas, ambientes
artificiais formados pela atividade de extração de areia e pelo represamento da
drenagem local.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Interesse à saúde

Apesar da proibição de banho e dos perigos relacionados com a qualidade


da água e afogamentos, as cavas são utilizadas como local de lazer em Curitiba e é
durante a realização dessa atividade que os acidentes com essa espécie acontecem. Os 227
acidentes traumatogênicos com os espinhos ocorrem, principalmente, no momento em
que esses animais são pisados, pois devido a sua coloração é comum que esse peixe seja
confundido com a areia, pedras ou até mesmo com pequenos galhos de árvores
encontrados ao longo do solo irregular das cavas. Como as espécies de coridoras são
bastante utilizadas na aquariofilia, acidentes também podem ocorrer durante o manuseio
dos exemplares.

Prevenção

Ações para evitar acidentes envolvem a proibição de atividades de lazer


(banho) em cavas e a utilização de equipamentos de proteção (luvas grossas de
borracha) para o manuseio de exemplares em aquários. As complicações decorrentes de
infecções bacterianas podem ser evitadas com a limpeza do ferimento, a extração de
possíveis fragmentos de espinhos e tratamento médico.

O que fazer em caso de acidente

O ferimento deve ser cuidadosamente lavado com água e sabão e


fragmentos do espinho devem obrigatoriamente ser retirados. O uso de um antisséptico
pode ser feito após a lavagem do ferimento. Os ferimentos são mais leves que os
causados por outras espécies de peixes peçonhentos ou acantotóxicos, como bagres e
raias, mas podem causar muita dor puntiforme, sangramento local, edemas e
inflamações. O tratamento médico deve objetivar a assepsia do ferimento, o alívio da
dor e a prevenção de infecção bacteriana secundária, a qual pode evoluir para casos de
gangrena gasosa e tétano.

Informações adicionais

Nos acidentes traumatogênicos o prognóstico é, usualmente, favorável,


mesmo nos casos com demora da cicatrização.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

228

Referências

ABILHOA, V. & BOSCARDIN, C. R. 2004. A Ictiofauna do alto curso do rio Iguaçu


na Região metropolitana de Curitiba, Paraná. Sanare 22: 58-65.
HADDAD-JUNIOR, V. 2003. Animais aquáticos de importância médica no Brasil.
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 36(5): 591-597.
INGENITO, L.F.S., DUBOC, L.F. & ABILHOA, V. 2004. Contribuição ao
conhecimento da ictiofauna do Alto Iguaçu, Paraná, Brasil. Arquivos de Ciências
Veterinárias e Zoologia da Unipar, 7(1), 23-36.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OMS. 2004. Manual de segurança
biológica em laboratório – 3ª. edição. Genebra: Organização Mundial da Saúde,
203p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. 2001, Manual de
diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília:
Fundação Nacional de Saúde, 120p.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Nome vulgar: Coridoras, cascudinho, capotinha-de-aço


Nome científico: Corydoras ehrhardti Steindachner, 1910

229

FOTO: Vinícius Abilhoa

Dados

Espécie nativa que pode ser encontrada em drenagens costeiras entre os


estados de Santa Catarina e Paraná, e também na bacia do Rio Iguaçu. Ocorre,
principalmente, em riachos de correnteza e águas claras, embora essa espécie também
possa estar presente em ambientes poluídos. Vive próximo às margens sob a vegetação,
formando pequenos cardumes. É um peixe de pequeno porte, robusto, caracterizado por
apresentar o corpo revestido por dupla fileira de placas ósseas, três manchas escuras no
flanco e espinho nas nadadeiras dorsal e peitorais. A boca é subterminal, pequena,
rodeada por pequenos tentáculos maxilares e mandibulares. Vivem no fundo dos rios e
riachos e alimentam-se basicamente de larvas de insetos.

Interesse à saúde

Os acidentes traumatogênicos com os espinhos ocorrem, principalmente, no


momento em que esses animais são pisados, pois devido a sua coloração é comum que
esse peixe seja confundido com o substrato dos riachos. Como as espécies de coridoras
são bastante utilizadas na aquariofilia, acidentes também podem ocorrer durante o
manuseio dos exemplares.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

230
Prevenção

Ações para evitar acidentes envolvem a utilização de equipamentos de


segurança (luvas grossas de borracha) para o manuseio de exemplares em aquários. As
complicações decorrentes de infecções bacterianas podem ser evitadas com a limpeza
do ferimento, a extração de possíveis fragmentos de espinhos e o tratamento médico.

O que fazer em caso de acidente

O ferimento deve ser cuidadosamente lavado com água e sabão e


fragmentos do espinho devem obrigatoriamente ser retirados. O uso de um antisséptico
pode ser feito após a lavagem do ferimento. Os ferimentos são mais leves que os
causados por outras espécies de peixes peçonhentos ou acantotóxicos, como bagres e
raias, mas, podem causar muita dor puntiforme, sangramento local, edemas e
inflamações. O tratamento médico deve objetivar a assepsia do ferimento, o alívio da
dor e a prevenção de infecção bacteriana secundária, a qual pode evoluir para casos de
gangrena gasosa e tétano.

Informações adicionais

Nos acidentes traumatogênicos o prognóstico é, usualmente, favorável,


mesmo nos casos com demora da cicatrização.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Referências
231
ABILHOA, V. & BOSCARDIN, C. R. 2004. A Ictiofauna do alto curso do rio Iguaçu
na Região metropolitana de Curitiba, Paraná. Sanare 22: 58-65.
HADDAD-JUNIOR, V. 2003. Animais aquáticos de importância médica no Brasil.
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 36(5): 591-597.
INGENITO, L.F.S., DUBOC, L.F. & ABILHOA, V. 2004. Contribuição ao
conhecimento da ictiofauna do Alto Iguaçu, Paraná, Brasil. Arquivos de Ciências
Veterinárias e Zoologia da Unipar, 7(1), 23-36.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OMS. 2004. Manual de segurança
biológica em laboratório – 3ª. edição. Genebra: Organização Mundial da Saúde,
203p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. 2001, Manual de
diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. Brasília:
Fundação Nacional de Saúde, 120p.

Dados do autor

Vinícius Abilhoa

Biólogo, Coordenador do Grupo de Pesquisas em Ictiofauna do Museu de História Natural Capão


da Imbuia. Mestre e Doutor em Zoologia (UFPR), com aperfeiçoamento em Sistemas de
Informação em Biodiversidade e Estatística para Ecologia e Conservação. Especialista em Análise
Ambiental (UP). Docente do curso de especialização em Conservação da Natureza da PUCPR e
orientador nos programas de Mestrado e Doutorado em Zoologia da UFPR.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

Dados dos autores

Adelinyr Azevedo de Moura Cordeiro: Curadora da Coleção Malacológica do Museu de História


Natural Capão da Imbuia (MHNCI), licenciada em História Natural pela Universidade Católica do 232
Paraná, com especialização em Ecologia de Águas Continentais pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná.

Cláudia Staudacher: Chefe de Fauna Sinantrópica - Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores -


Centro de Saúde Ambiental - Secretaria Municipal de Saúde – Prefeitura Municipal de Curitiba. Bacharel
e Licenciatura em Biologia pela Universidade Católica do Paraná. Especialização em Epidemiologia de
Vetores Importantes em Saúde Pública – Universidade Federal do Paraná

Dayana Kososki: Bióloga do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores – Setor de Fauna Sinantrópica,
Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba.

Deni Lineu Schwartz Filho: Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná (1986)
e mestre em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná (1990). Atualmente, é
consultor e empreendedor na área de conservação e manejo de fauna nativa e exótica. Tem experiência na área
de biogeografia, ecologia, conservação e manejo das abelhas neotropicais, bem como no manejo e uso
econômico da fauna nativa e exótica.

Diogo da Cunha Ferraz: Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná, 2005.
Biólogo da Coordenação de Controle de Zoonoses e Vetores (CCZV) - Centro de Saúde Ambiental -
Secretaria Municipal de Saúde - Prefeitura Municipal de Curitiba. Professor na área de Meio Ambiente,
Curso Técnico em Meio Ambiente, Colégio Estadual Paulo Leminski, desde 2007.

Eric Koblitz: Médico Veterinário atuante no Centro de Saúde Ambiental, Programa da Dengue. Foi
Coordenador da Coordenação de Zoonoses e Vetores e atuou em diversos municípios do interior do
Paraná, reunindo experiência vasta na área de saúde coletiva.

Gisélia Burigo Guimarães Rubio: Bióloga formada pela Universidade Católica do Paraná em 1984.
Chefe da Divisão de Zoonoses e Intoxicações da Secretaria de Estado da Saúde e Coordenadora do
Centro de Envenenamentos de Curitiba.

Juliana Margarida Martins: Bióloga formada pela Universidade Federal do Paraná (2000). Mestre em
Ciências Biológicas e Especialista em Administração Pública. Há cinco anos atua na área de Vigilância
em Saúde Ambiental na Prefeitura Municipal de Curitiba.

Juliano Ribeiro: Possui graduação em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Positivo (2002) e
Mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (2006). Biólogo da Prefeitura Municipal de
Curitiba desde 2006, ocupando a função de Coordenador do Centro de Controle de Zoonoses e Vetores de
Curitiba.

Julio Cesar de Moura Leite: Doutor em Zoologia (2001) pela UFPR. Curador da coleção herpetológica
do Museu de História Natural Capão da Imbuia (Prefeitura Municipal de Curitiba) desde 1990 e Professor
Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Vice-coordenador do Curso de Especialização em
Ecologia Urbana (PUCPR), participou da elaboração de listas de espécies ameaçadas em nível nacional e
regional.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012
Marcelo L. Vettorello: Biólogo, formado pela PUC-Pr, especialista em Epidemiologia de Vetores pela
UFPr, responsável técnico pela Epidemiologia dos Acidentes por Animais Peçonhentos no Centro de
Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba. Fotógrafo atuante na área macrofotografia,
fotografia de natureza e processamento digital de imagens.

Márcia Arzua: É bióloga e pesquisadora do laboratório de Parasitologia e Curadora da Coleção


Ectoparasitológica do Museu de História Natural Capão da Imbuia. É Mestre e Doutora em Zoologia, área
de concentração em Entomologia, pela UFPR. Especialista em Acarologia, tem como foco principal a
pesquisa com carrapatos de animais silvestres.

Márcia Rocha Saad: Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa em
1991. Bióloga da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba desde 1992. Coordenadora do Centro de
Controle de Zoonoses e Vetores em 1997, Coordenadora do Programa Municipal de Controle da Dengue
de 1998 a 2008. Atualmente, desenvolve atividades no Centro de Epidemiologia na Secretaria Municipal 233
da Saúde.

Maristela Zamoner: Mestre em Zoologia, Especialista em Educação Ambiental, Licenciada em


Biologia, bióloga atuante no Museu de História Natural Capão da Imbuia, experiência docente em cursos
de graduação e pós-graduação, autora de 8 livros dentre os quais destaca-se o livro “Biologia Ambiental”,
Editora Protexto, 2007.

Odete Lopez Lopes: Curadora das coleções científicas Crustacea e Miriapoda do Museu de História
Natural Capão da Imbuia, Curitiba, Paraná. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal
do Paraná, Especialização em Educação Ambiental, Mestrado e Doutorado em Zoologia pela
Universidade Federal do Paraná. Autora do livro: “Coletânea de Atividades Interpretativas em Educação
Ambiental”.

Patrícia Weckerlin e Silva Trindade: É bióloga e pesquisadora do laboratório de Parasitologia do


Museu de História Natural Capão da Imbuia. É Mestre em Microbiologia pelo Departamento de Ciências
do Solo/ Agronomia da UFPR. Especialista em atividades de Educação ambiental Formal e Não Formal e
produção de material didático.

Pedro Scherer Neto M. Sc.: Engenheiro Agrônomo / Ornitólogo. Mestre em Zoologia / Universidade
Federal do Paraná. Pesquisador voluntário no Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna / Museu
de História Natural Capão da Imbuia / Zoológico de Curitiba.

Simone do Rocio Ferreira Gusi: Bióloga, formada pela PUC/PR. Especialização em Epidemiologia de
vetores importantes em Saúde Pública/ UFPR. Chefe de Serviço/Coordenação de Controle de Zoonoses e
Vetores.

Solange Regina Malkowski: Graduada em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (1985) e mestre em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná
(1992). Bióloga do Museu de História Natural Capão da Imbuia em Curitiba-PR, Laboratório de
Entomologia. Curadora da coleção entomológica, com experiência em entomologia urbana.

Tomaz Fumio Takeuchi: Biólogo da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba desde 2007, formado
em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Paraná em 2006.

Vinícius Abilhoa: Biólogo, Coordenador do Grupo de Pesquisas em Ictiofauna do Museu de História Natural
Capão da Imbuia. Mestre e Doutor em Zoologia (UFPR), com aperfeiçoamento em Sistemas de Informação
em Biodiversidade e Estatística para Ecologia e Conservação. Especialista em Análise Ambiental (UP).
Docente do curso de especialização em Conservação da Natureza da PUCPR e orientador nos programas de
Mestrado e Doutorado em Zoologia da UFPR.

Vivien Midori Morikawa: Graduada em Medicina Veterinária, UNESP Botucatu, 2001. Especialista em
Radiodiagnóstico Veterinário, Instituto Veterinário de Imagem/IVI, São Paulo/SP. Doutoranda em Ciências
Veterinárias, UFPR. Coordena a Divisão de Monitoramento e de Proteção Animal do Departamento de
Pesquisa e Conservação da Fauna, SMMA. Atua em Medicina Veterinária, com ênfase em Saúde Pública,
Zoonoses e Manejo de Fauna Urbana.

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

234

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA

Rua Benedito Conceição, 407


Capão da Imubia - Curitiba – Paraná
CEP 82810080
Telefone: 3313-5480
E-mail: mhnci@smma.curitiba.pr.gov.br

Curitiba, 2012

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA


Fauna curitibana de interesse à saúde
.2012

235

MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL CAPÃO DA IMBUIA

Você também pode gostar