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O FANTÁSTICO MUNDO DOS

ANIMAIS PEÇONHENTOS
Flávia Cappuccio de Resende
(Coord.)

FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS


Fascículo 2 - Aracnídeos

características, história natural e


ESPÉCIES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO bRASIL

Flávia Cappuccio de Resende


(Coord.)

FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS


R433f Resende, Flávia Cappuccio de
2023 O fantástico mundo dos animais peçonhentos: aracnídeos;
características, história natural e espécies de importância médica do
Brasil/Flávia Cappuccio de Resende, coordenadora. Belo Horizonte –
Fundação Ezequiel Dias, 2023.

42p.: il. color.

ISBN: 978-65-00-81623-5

1.Animais peçonhentos. 2.Brasil. 3.Aranhas. 4.Escorpiões


5.História natural. 6.Espécies de importância médica. I.Título.

Catalogação na publicação: Anna M. Leite de Andrade CRB6/1782


aPRESENTAÇÃO

Aranhas são animais que fascinam e podem causar pânico em muitas pessoas. Há uma grande
diversidade de espécies, com cores e formatos distintos, e as variadas estratégias que utilizam para
capturar suas presas são, também, fascinantes. No mundo, há mais de 51 mil espécies de aranhas,
sendo encontradas em quase todo o planeta, com exceção da Antártida e do Ártico. Habitam
ambientes aquáticos e a maioria dos ecossistemas terrestres, onde estão entre os principais
predadores, tendo um importante papel ecológico no controle de suas principais presas: os insetos.
Dentre todas as espécies do mundo descritas, apenas cerca de 60 são consideradas perigosas, por
poderem provocar graves envenenamentos em seres humanos. No Brasil, são notificados todos os
anos, aproximadamente 30 mil acidentes por picadas de aranhas.
Os escorpiões também são seres fascinantes que causam medo em muitas pessoas. Eles existem há
centenas de milhões de anos, correspondendo a um grupo menos diverso que o das aranhas, com
quase 3 mil espécies descritas no mundo. Dessas, cerca de 50 possuem veneno forte o suficiente para
matar uma pessoa. No Brasil, são notificados todos os anos aproximadamente 150 mil acidentes por
picadas de escorpiões. Da mesma forma que as aranhas, os escorpiões habitam quase todos os
ecossistemas terrestres, com exceção de regiões extremamente frias. Normalmente se alimentam de
insetos, mas sua dieta pode ser extremamente variável, o que pode explicar sua sobrevivência em
locais inóspitos. Quando as presas são escassas, os escorpiões possuem a incrível capacidade de
diminuir seu metabolismo, passando meses sem alimento.
Este livro apresenta ao leitor as características exclusivas das aranhas e dos escorpiões, além de
informações sobre morfologia externa e história natural, como alimentação, biologia reprodutiva e
comportamentos de defesa. São apresentados, para cada espécie ou gênero de importância médica do
Brasil, distribuição geográfica, habitats, hábitos de vida e sintomas em caso de envenenamento. Tudo
isso em linguagem simples e com belas fotografias!

Boa leitura!
Ficha técnica
Textos
Flávia Cappuccio de Resende
Giselle Agostini Cotta
Luana Silveira da Rocha Nowicki Varela
Mayara Drumond Faustino Magalhães
Thiago Geraldo Nogueira Soares

Capa
Escorpião amarelo - Tityus serrulatus
Foto: Pedro Henrique Martins

DIAGRAMAÇÃO e arte
Flávia Cappuccio de Resende

REVISÃO Científica
Adalberto José dos Santos

REVISÃO de redação
Ana Paula Fidelis Brum
Nayane Breder

FOTOGRAFIAS

Alberto Rech Gilberto Guimarães Mario Sacramento


Cláudio Maurício de Souza Gustavo Cotta Mayara D. F. Magalhães
Danielle Carneiro Leandro O. Drummond Michel Cozijn
Denise Maria Candido Leo Noronha Pedro Henrique Martins
Diego José Santana Lorenzo Prendini Pedro Tunes
Érica Munhoz de Mello Maria Nelman Antunes Roberto Murta
Fábio de Castro Patrício Simon Regler

rEALIZAÇÃO
Fundação Ezequiel Dias

FINANCIAMENTO
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
ÍNDICE

Animais peçonhentos ........................................................................................................................... 4

Aranhas .................................................................................................................................................... 5
Quem são?......................................................................................................................................... 5
Morfologia........................................................................................................................................ 8
História natural ............................................................................................................................. 11
Diversidade e taxonomia............................................................................................................ 14
Aranhas de importância médica ............................................................................................. 16
Loxosceles spp. ........................................................................................................................ 16
Phoneutria spp. ...................................................................................................................... 18
Latrodectus spp. ..................................................................................................................... 20
O tráfico de caranguejeiras e suas implicações .................................................................. 22

Escorpiões ............................................................................................................................................... 23
Quem são?....................................................................................................................................... 23
Morfologia ..................................................................................................................................... 25
História Natural ........................................................................................................................... 27
Diversidade .................................................................................................................................... 29
Escorpiões de importância médica ........................................................................................ 30
Tityus serrulatus .................................................................................................................... 30
Tityus bahiensis ..................................................................................................................... 32
Tityus stigmurus .................................................................................................................... 34
Tityus obscurus ...................................................................................................................... 36

Referências ............................................................................................................................................ 38
ANIMAIS PEÇONHENTOS

Gilberto Guimarães
Animais peçonhentos são aqueles que possuem
glândulas de veneno e estruturas que permitem a
injeção da peçonha, como dentes ou ferrões.
Nesses animais, de um modo geral, a secreção
tóxica é utilizada prioritariamente para A
alimentação, sendo utilizada secundariamente
para defesa. Como exemplo de animais
peçonhentos, podemos citar as aranhas, os
escorpiões e algumas espécies de serpentes.
Já os animais veneno­sos produzem veneno, mas
não possuem um aparelho inoculador. Os
organismos venenosos, na maioria das vezes,
utilizam suas toxinas apenas para defesa. As
Alberto Rech

toxinas atingem a circulação sanguínea do


agressor por meio da pele ou mucosa. Algumas B
espécies de sapos e salamandras são exemplos de
animais venenosos.
No Brasil, são notificados por ano,
aproximadamente 250 mil acidentes com
animais peçonhentos, sendo cerca de 62% com
escorpiões, 12% com serpentes, 12% com aranhas

Gustavo Cotta
e 7% com abelhas. Em inúmeros países tropicais,
os envenenamentos continuam sendo um
importante problema de saúde pública. Nos
últimos anos, 36% das mortes ocorreram com
acidentados por escorpiões, 32% por serpentes, C
19% por abelhas e 7% por aranhas. A mortalidade
é resultante da toxicidade do veneno, associada à
quantidade de veneno inoculado e ao
Mario Sacramento

tratamento tardio ou inadequado.


No segundo fascículo da série “O Fantástico
Mundo dos Animais Peçonhentos”,
abordaremos os aracnídeos, incluindo as
características das aranhas e escorpiões, aspectos
Figura 1 - Estruturas inoculadoras de veneno
da história natural, além do reconhecimento das
de animais peçonhentos. Aguilhão do
espécies de importância médica do Brasil. escorpião-amarelo (A), quelíceras da
aranha-armadeira (B) e presas da jararaca (C).

4
ARANhas
Quem são?

Aranhas são aracnídeos que pertencem ao grupo As aranhas compõem um grupo único (ordem
dos artrópodes. Os animais deste grupo Araneae), uma vez que compartilham três
compartilham algumas características em características exclusivas: a presença de
comum, como a presença de um esqueleto glândulas de seda abdominais, de glândulas de
externo (exoesqueleto) e de pernas articuladas. veneno conectadas às quelíceras e de pedipalpos
O exoesqueleto é rígido e, portanto, para modificados para cópula nos machos (figura 5).
crescerem, precisam realizar ecdises (mudas)
(figura 2).
Os artrópodes são o grupo com maior número

Leo Noronha
de espécies e biomassa do planeta. Dentre eles,
há o subgrupo dos insetos (ex. besouros e
borboletas), dos crustáceos (ex. camarões,
lagostas e caranguejos), dos miriápodes (ex.
centopeias) e dos quelicerados. As aranhas estão Figura 3 - Quelíceras da aranha-armadeira - Phoneutria nigriventer.
incluídas no subgrupo dos quelicerados, animais
que possuem quelíceras: “pinças” preensoras que A
auxiliam na alimentação (figura 3). Nas aranhas,
cada quelícera possui uma presa, responsável
pela inoculação de veneno. O corpo é dividido
em duas regiões: cefalotórax (prossoma) e
abdômen (opistossoma). Possuem quatro pares
de pernas e um par de pedipalpos, que são
estruturas semelhantes a pernas.
Dentre os quelicerados viventes, temos o grupo
dos aracnídeos, composto por escorpiões,
aranhas, opiliões, ácaros, carrapatos (figura 4) e B C
outros grupos menos conhecidos. Figura 4 - Diferentes grupos de aracnídeos. A: Ácaro;
B: Carrapato; C: Opilião. Imagens: Canva.
Leo Noronha
Leo Noronha

Figura 5 - Pedipalpos de macho e fêmea da


aranha-armadeira - Phoneutria nigriventer.
Figura 2 - Muda de aranha-caranguejeira, A - Pedipalpos modificados do macho (setas).
família Theraphosidae. B - Pedipalpos da fêmea (setas).
5
ARANHAS
Quem são?

Nas famílias Uloboridae e Holarchaeidae, as Algumas espécies se adaptaram muito bem à


glândulas de veneno estão ausentes. Houve a perda presença do homem e podem habitar as
dessas estruturas ao longo do processo evolutivo. proximidades ou o interior de moradias nas
As outras espécies conhecidas (99%) possuem zonas urbanas e rurais, bem como nas áreas
glândulas de veneno conectadas às quelíceras e cultivadas ou modificadas pelo homem.
utilizam seu veneno para injetá-lo em presas que,
Condições físicas, como temperatura, umidade,
em seguida, ficam paralisadas ou são mortas.
vento, intensidade luminosa, além dos fatores
biológicos, como tipo de vegetação local,
disponibilidade de presas, competição, predação
e até a presença de parasitas, influenciam na
distribuição das espécies. Algumas aranhas
Maria Nelman Antunes

vivem em habitats mais estáveis e restritos, por


serem mais sensíveis a variações ambientais.
Outras conseguem sobreviver e se reproduzir em
ambientes com condições variadas, o que amplia
sua distribuição geográfica.
Em situações desfavoráveis, quando há o
aumento da competição, ocorrência de
Figura 6 - Extração de glândula de veneno da canibalismo ou diminuição de presas
aranha-armadeira - Phoneutria nigriventer. disponíveis, algumas espécies de aranhas, na fase
juvenil ou até mesmo na fase adulta, podem se
Quando ameaçadas, as aranhas podem se
dispersar para novos ambientes por meio do
defender por meio de picadas, ocasionando
balonismo. Nessa estratégia de dispersão, a
acidentes com seres humanos. Felizmente, na
aranha tece pequenos emaranhados de seda e
maioria dos casos, o veneno das aranhas produz
lança-os no ambiente, até atingirem uma
apenas reações leves e localizadas e os
corrente de ar que irá carregar o indivíduo para
acidentados não requerem atenção médica.
ambientes mais distantes, garantindo a
As aranhas são um grupo extremamente colonização de novas áreas e a manutenção de
diversificado e habitam praticamente todos os
suas populações. O balonismo é um modo de
ecossistemas terrestres, com exceção da
dispersão importante para que as aranhas
Antártida. São encontradas nos mais diferentes
consigam ultrapassar barreiras geográficas e
ambientes, desde regiões costeiras até
alcançar ambientes remotos, como ilhas e topos
montanhas de elevada altitude. Ocupam
de montanhas. Ocasionalmente, as aranhas
habitats muito variados, como desertos, florestas
também podem se dispersar pela ação do
tropicais, topos de montanhas, camadas
homem como, por exemplo, no transporte de
superficiais do solo e serrapilheira, jardins,
cavernas e até mesmo a água doce. frutas de um local para outro ou por navios que
navegam entre continentes.

6
ARANhas
Quem são?

A produção de fios de seda é uma das


características mais marcantes das aranhas. Eles
são compostos pela proteína fibrinoína que,

Érica Munhoz de Mello


após o contato com o ar, solidifica-se e se
transforma em fios flexíveis e mais fortes que
fios de aço da mesma espessura. Os fios de seda
podem ser usados para diferentes finalidades,
como, por exemplo, na confecção de teias para
A
captura e imobilização de presas, na dispersão,
na construção de sacos de ovos e também no
revestimento de tocas e abrigos. O curioso é que
a elaboração das teias pode levar de minutos a
várias horas. Além disso, a teia antiga não é

Canva
desperdiçada, podendo ser ingerida antes ou
durante a produção de uma nova teia.
Apesar de as aranhas serem geralmente
representadas e reconhecidas por construírem B
uma teia aérea, arredondada e simétrica (teia
orbicular) (figura 7), apenas a metade das
espécies tece teias desse tipo para a captura de
presas. As teias podem ser irregulares (figura
8A), em formato de funil (figura 8B),

Canva
semelhantes a lençois (figura 8C), dentre outras.
O formato das teias varia entre as diferentes
famílias. As aranhas-do-fio-de-ouro
(Trichonephila clavipes, Nephilidae) constroem C
teias orbiculares e as aranhas-treme-treme
(Pholcidae) constroem teias tridimensionais
(figura 8D). Ambas utilizadas para captura de
presas.
Canva

D
Canva

Figura 8 - A: teia irregular da aranha-marrom


(Loxosceles sp.); B: teia em formato de funil;
C: teia formando lençois; D: teia tridimensional
da aranha-treme-treme (Pholcidae).

Figura 7 - Teia orbicular. 7


ARANHAS
Morfologia

O corpo de uma aranha é dividido em duas partes: o Aranhas possuem quatro pares de pernas conectadas
cefalotórax e o abdômen. Essas regiões são ao cefalotórax. Cada perna é composta por sete
conectadas por uma estrutura estreita e tubular, segmentos: coxa, trocanter, fêmur, patela, tíbia,
chamada pedicelo. O pedicelo proporciona metatarso e tarso. Nas extremidade do tarso, último
flexibilidade e movimento entre as duas regiões do segmento da perna, as aranhas possuem duas ou três
corpo. O cefalotórax é formado pela fusão da cabeça garras (figura 11). A presença de duas garras tarsais está
e do tórax e é coberto por duas placas: a carapaça associada, usualmente, a tufos de cerdas especializadas
dorsal e o esterno ventral. Essas placas rígidas que ajudam o animal a se aderir em superfícies lisas e
protegem órgãos importantes, como o cérebro e as verticais, comuns em aranhas errantes. A presença de
glândulas de veneno. No cefalotórax também estão três garras tarsais é característica de aranhas
dispostos os olhos, que variam em número e tamanho construtoras de teias. A garra mediana em cada perna
(figuras 9 e 10). Apesar de usualmente possuírem oito é usada para se segurar aos fios de seda. Desse modo, as
olhos, a maioria das aranhas não possui boa visão. No aranhas ficam suspensas em suas teias. A maioria das
entanto, são extremamente sensíveis às vibrações do estruturas sensoriais, como as cerdas (figura 12), estão
ambiente. localizadas nas pernas.

Mayara Magalhães
Pedro Tunes

Figura 9 - Olhos da aranha-de-grama, Lycosa sp., Figura 11 - Garras tarsais da aranha-mármore


família Lycosidae. Xenoctenus marmoratus.
Mayara Magalhães

Mayara Magalhães

Figura 10 - Microscopia eletrônica de varredura dos Figura 12 - Cerdas sensoriais da perna da aranha-
olhos da aranha-mármore - Xenoctenus marmoratus. mármore - Xenoctenus marmoratus. Escala: 100 µm.
Escala: 500 µm. 8
Morfologia externa

Vista dorsal

Carapaça

Olhos

Cefalotórax

Abdômen
Pedipalpo

Vista ventral
Esterno
Quelícera

Endito
Lábio

Epígino

Fiandeira

Figura 13 - Morfologia externa da aranha-armadeira fêmea -


9
Phoneutria nigriventer. Fotos: Leo Noronha.
ARANHAS
Morfologia

As aranhas possuem um par de pedipalpos, também


conhecidos como palpos (figura 5), estruturas
semelhantes às pernas, porém com seis segmentos,

Mayara Magalhães
o metatarso está ausente. Os palpos não possuem
função locomotora, eles são utilizados
principalmente como estruturas táteis na
percepção do substrato, no contato com outros
indivíduos da mesma espécie e na detecção e
manipulação de presas. O palpo dos machos possui Figura 15 - Microscopia eletrônica de varredura evidenciando
uma notável e importante modificação para cópula: a presa da aranha-mármore - Xenoctenus marmoratus.
a presença de um bulbo copulador, utilizado para O abdômen, em geral, não possui placas rígidas
armazenamento e transferência espermática. e, por isso, é muito mais macio que o
As quelíceras, também localizadas no cefalotórax cefalotórax. O abdômen abriga órgãos como os
(figura 14), são estruturas utilizadas para captura de pulmões, o coração e o intestino das aranhas.
presas e defesa contra predadores. Cada quelícera Os órgãos reprodutivos também se localizam
possui uma presa (figura 15) conectada à glândula nessa região. Por não possuir placas rígidas, o
de veneno, que se abre externamente por um abdômen é capaz de se distender para
pequeno orifício circular, semelhante a uma agulha, acomodar uma maior quantidade de alimento
por onde o veneno é ejetado. As quelíceras também ou, no caso das fêmeas, abrigar os ovos durante
desempenham outras funções, que podem variar a fase reprodutiva. Além disso, em sua porção
entre espécies, como cavar, transportar presas e posterior, estão localizadas as glândulas de
carregar os sacos de ovos. seda, que se comunicam externamente pelas
fúsulas, localizadas no ápice das fiandeiras
(figura 16). Originalmente, as primeiras
aranhas possuíam quatro pares de fiandeiras.
Porém, atualmente, somente as aranhas do
grupo Mesothelae ainda possuem o quarto par.
A maioria das aranhas viventes possui somente
três pares de fiandeiras e podem produzir até
Mayara Magalhães

sete tipos diferentes de glândulas de seda.


Leo Noronha

Figura 14 - Microscopia eletrônica de varredura


evidenciando quelíceras da aranha-mármore Figura 16- Fiandeiras (setas) de uma espécie de
Xenoctenus marmoratus. aranha-caranguejeira. Família Theraphosidae.
10
ARANHAS
História Natural

As aranhas são predadoras e alimentam-se


principalmente de insetos (figura 17), exercendo
um papel indispensável no controle populacional
desses animais na natureza, limitando a
proliferação de diversas espécies muitas vezes
nocivas ou consideradas pragas. Além disso, elas

Diego J. Santana
Diego José Santana
podem se alimentar de outros artrópodes e até
predar outras espécies de aranhas. Espécies de
grande tamanho corporal podem se alimentar de
pequenos vertebrados, como peixes, anfíbios
anuros (figura 18), lagartixas, pássaros e roedores.
Em alguns casos, as aranhas podem suplementar
suas dietas com néctar.
As principais estratégias de alimentação
envolvem a captura de presas utilizando teias Figura 18 - Aranha-armadeira - Phoneutria nigriventer
(orbiculares, em funil, irregulares, predando Dendropsophus elegans, uma espécie de
tridimensionais etc.). A seda é utilizada como anfíbio anuro.

armadilha para prender e imobilizar as presas.


Essas aranhas não possuem veneno potente, de
modo que até as maiores construtoras de teias C
são inofensivas para os seres humanos.

Figura 17: Predação em diferentes espécies de aranhas.


A: Espécie da família Thomisidae;
B e C: Espécies da família Salticidae.
Fotos: Pedro Henrique Martins.

11
ARANHAS
História Natural

Algumas aranhas errantes (caçadoras ativas), Nas aranhas, a digestão das presas inicia-se fora
como espécies da família Ctenidae, caçam suas do corpo do animal, quando enzimas digestivas
presas utilizando complexos sistemas sensoriais, são liberadas sobre os tecidos rasgados das
como as tricobótrias e cerdas quimiossensoriais. presas. O fluido parcialmente digerido é então
Elas localizam as presas por estímulos, como sugado pelo animal.
contato, vibrações do substrato ou do ar. Por As aranhas, seus ovos e filhotes fazem parte da
outro lado, as aranhas-saltadoras (Salticidae) dieta de diversos invertebrados, como insetos
(figura 19A) localizam suas presas por meio da (formigas, moscas, besouros, grilos, louva-a-deus),
visão. As espécies caçadoras ativas não utilizam a centopeias, lagartixas, escorpiões e até outras
teia para capturar as presas, mas podem utilizá- espécies de aranhas (figura 20A). Além disso, são
la para envolver e imobilizar a presa após a predadas por uma variedade de animais
captura. Há também espécies que utilizam da vertebrados, incluindo alguns peixes, anfíbios,
tocaia para se alimentarem, como as aranhas-de- répteis, aves (figura 20B) e mamíferos. Aranhas
alçapão, Actinopodidae (figura 19B), que ficam à também podem ser atacadas por insetos
espreita das presas em suas tocas camufladas no parasitóides (vespas, por exemplo), vermes e
solo, capturando-as quando elas se aproximam fungos. A grande diversidade de hábitos de vida e
da entrada do abrigo. Essa estratégia de caça tamanho corporal das aranhas resultou em uma
também é conhecida como “senta-e-espera”. grande variedade de inimigos naturais.
Além disso, também existem estratégias de caça
únicas e peculiares associadas a diferentes
grupos de aranhas. Como exemplos, temos as
aranhas-cuspideiras (Scytodidae), que expelem
pelas quelíceras uma substância pegajosa, como
uma cola, para capturar suas presas. As aranhas-
pescadoras (Pisauridae) que capturam suas
presas debaixo d’água, e as aranhas
cleptoparasitas, como as da subfamília
Argyrodinae (Theridiidae) que se aproveitam da
teia construída por outras aranhas e roubam as A
presas capturadas e já imobilizadas.

A B

B
Figura 20: Eventos de predação de aranhas.
Imagens: Canva.
Figura 19: A: Aranha da família Salticidae. B: Aranha da 12
família Actinopodidae em sua toca no solo.
Imagens: Canva.
ARANHAS
História Natural

A atividade reprodutiva das aranhas no Brasil


acontece principalmente durante a estação
chuvosa, final da primavera e verão, quando ocorre

Maria Nelman Antunes


o acasalamento e a deposição dos ovos. A cópula
varia muito entre as espécies e, em alguns casos,

xxxxxx
envolve comportamentos de corte complexos.
Antes da cópula, os machos depositam o sêmen em
uma estrutura feita de seda, chamada de teia
espermática. O sêmen é então sugado pelo êmbolo,
estrutura presente no bulbo dos palpos dos Figura 21 - Aranha-armadeira - Phoneutria nigriventer
machos. Os espermatozoides ficam armazenados protegendo sua ooteca.
nos palpos até o momento da cópula, quando são
transferidos para a genitália das fêmeas. Machos de
algumas espécies podem morrer logo após o

Maria Nelman Antunes


acasalamento. No entanto, outros reabastecem seus
palpos com espermatozoides e podem acasalar com
múltiplas fêmeas.
A oviposição pode ocorrer de semanas a meses
após a cópula. A fêmea tece uma cama de seda e
deposita os ovos fertilizados, que são liberados pela
abertura genital. Os ovos são então cobertos e Figura 22 - Ooteca aberta da aranha-armadeira -
Phoneutria nigriventer - evidenciando os ovos.
protegidos por várias camadas de seda, formando a
ooteca, também chamada de saco de ovos. Mais de
uma ooteca pode ser produzida em poucas
semanas.
O cuidado parental é presente em diversas espécies
e pode ocorrer de diferentes formas. Em algumas
espécies, as fêmeas protegem as ootecas, como as
Leo Noronha

aranhas do gênero Phoneutria (figura 21), que


apresentam um comportamento agressivo a
qualquer sinal de ameaça. Outras podem carregar a
ooteca pelas fiandeiras ou quelíceras até o
momento de eclosão dos ovos. Na família
Lycosidae, as fêmeas carregam a ooteca nas
fiandeiras por várias semanas. Quando os filhotes
estão prontos para nascer, o saco de ovos é aberto
pela fêmea, utilizando as quelíceras. Os filhotes Figura 23 - Eclosão de ooteca de aranha-armadeira -
sobem para o dorso do abdômen da mãe e se Phoneutria nigriventer - em cativeiro.
agarram às cerdas abdominais até que realizem a
primeira muda. 13
ARANHAS
Diversidade e Taxonomia

Dentre os invertebrados, as aranhas destacam-se


por sua diversidade e abundância. Elas habitam
a maioria dos ecossistemas terrestres, além de
cavernas e ambientes aquáticos. A capacidade de
ocupar diferentes ambientes é um dos fatores
responsáveis por essa elevada diversidade e

Roberto Murta
riqueza de espécies. Atualmente, existem mais
de 51 mil espécies de aranhas descritas,
distribuídas em mais de 4 mil gêneros e 135
famílias. Entretanto, o número de espécies
conhecidas é muito inferior às estimativas de
riqueza do grupo.
Figura 25: Exemplar da subordem Opisthothelae.
A ordem Araneae é dividida em duas subordens: Infraordem Araneomorphae. Família Pisauridae.
Mesothelae, aranhas que possuem o abdômen Observe o abdômen sem placas.

formado por várias placas (figura 24); e


Opisthothelae, aranhas que possuem o abdômen A segunda subordem, Opisthothelae, é dividida em
sem placas (foto 25). A primeira subordem é duas infraordens: Mygalomorphae, grupo representado
composta por duas famílias (Heptathelidae e por aranhas-caranguejeiras (figura 26), aranhas-de-
Liphistiidae). Correspondem ao grupo de alçapão e aranhas-de-teia-de-funil; e Araneomorphae,
aranhas mais antigo, com menos de 200 espécies conhecidas como aranhas "verdadeiras". As
e que habitam o sudeste da Ásia e a região indo- Araneomorphae formam o grupo mais diversificado,
malaia. As glândulas de veneno nessas aranhas que inclui as aranhas mais familiares para a maioria
são muito pequenas e localizam-se na base das pessoas, como as construtoras de teias orbiculares.
quelíceras.

Danielle Carneiro
Simon Regler

Figura 26: Aranha-caranguejeira. Espécie da


família Theraphosidae.
Figura 24: Exemplar da subordem Mesothelae. Observe
o abdômen formado por placas (detalhe ampliado).
Liphistius trang. Família Liphistiidae. 14
ARANHAS
Diversidade e Taxonomia

Nas Mesothelae e nas Mygalomorphae, as presas tato com a pele e mucosa, causam coceira e
das quelíceras se estendem paralelamente ao irritação, sendo um importante modo de defesa
eixo do corpo do animal. São chamadas de para o grupo. As aranhas-caranguejeiras
quelíceras paraxiais (figura 27A) e se movem de possuem a maior longevidade entre as aranhas,
cima para baixo. As Araneomorphae possuem podendo viver de 20 a 30 anos. As fêmeas são
quelíceras diaxiais e suas presas se movem em sedentárias e geralmente ficam entocadas em
direção ao eixo central do corpo, sentido buracos no chão, barrancos ou árvores. Machos
externo-interno (figura 27B). podem ser encontrados caminhando sobre o
A B solo, principalmente na estação chuvosa, quando
estão em busca de fêmeas para o acasalamento.
Diferente da maioria das aranhas, as aranhas-
caranguejeiras possuem baixa capacidade de
Leo Noronha

dispersão e suas populações habitam áreas


pequenas e restritas, sendo fortemente
impactadas por alterações no habitat.
A infraordem Araneomorphae contém a maior
Figura 27 - Quelíceras paraxiais de Mygalomorphae parte das aranhas existentes. Nesse grupo, as
(A). Quelíceras diaxiais de Araneomorphae (B).
glândulas de veneno são maiores e estendem-se
As Mygalomorphae são atualmente das quelíceras ao cefalotórax.
representadas por 31 famílias e possuem Para uma aranha ser considerada de importância
aproximadamente 3 mil espécies descritas. Nesse médica, ela deve ser capaz de sobreviver no
grupo, as glândulas de veneno são pequenas e ambiente urbano ou de alguma forma coexistir
estão alojadas dentro das quelíceras. No Brasil, com os seres humanos, possuir comportamento
uma das famílias mais conhecidas de agressivo mínimo de autodefesa, estando
migalomorfas é a Theraphosidae, popularmente disposta a picar, e ainda possuir veneno tóxico
conhecida como aranha-caranguejeira (figura para humanos. Além disso, somente aranhas
26). Elas se destacam pelo tamanho, podendo com mais de dez milímetros de comprimento
chegar a quase 30 centímetros de comprimento, possuem quelíceras capazes de perfurar a pele
como no caso da maior aranha do mundo. humana. A maioria das aranhas não ataca seres
Devido ao tamanho considerável, criou-se um humanos. Os acidentes acontecem quando elas
mito de que essas aranhas são perigosas e que são espremidas ou se sentem ameaçadas, de
podem atacar e matar. Embora essa crença esteja modo que picam como forma defensiva.
completamente errada, uma vez que a maioria Dentre todas as espécies descritas de aranhas no
das grandes aranhas-caranguejeiras é inofensiva mundo, apenas cerca de 60 são consideradas
para os seres humanos, ela é persistente e perigosas por poderem provocar graves
contribui consideravelmente para a aracnofobia envenenamentos em humanos. No Brasil, as
(medo de aranhas). Quando ameaçadas, as aranhas de importância médica pertencem aos
aranhas-caranguejeiras (Theraphosinae) liberam gêneros Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus, todas
no ar as minúsculas cerdas (pelos) urticantes que Araneomorphae.
estão presentes em seu abdômen, e que, em con-
15
ARANHAS de importância médica

Aranha-marrom ou aranha-violino
Família Sicariidae
Gênero Loxosceles

Pedro Henrique Martins


Figura 28: Loxosceles similis.

Leo Noronha

Figura 29: Loxosceles sp.


16
ARANHAS de importância médica

Desenho em formato de violino na carapaça. O corpo é revestido por pelos finos,


Características pouco aparentes. A maioria das espécies possui coloração marrom uniforme, variando
do animal do marrom-claro ao escuro. Caracteriza-se pela presença de seis olhos, dispostos em
três pares, uma díade anterior e outras duas laterais.
Oito a 15 milímetros de comprimento total do corpo. Suas pernas são longas, medindo
TAMANHO
de oito a 30 milímetros.
Em ambientes naturais, podem ser encontradas sob pedras, em buracos no chão, sob
cascas de árvores, na serrapilheira (camada de folhas no chão da mata), em fendas de
HÁBITAT barrancos, dentro de bambus e em cavernas. Em ambientes urbanos, podem ser
encontradas em fendas dentro e ao redor de construções, em sótãos e garagens, em
montes de tijolos e de madeiras, em caixas de papelão, atrás de quadros e de móveis.
Geralmente alimentam-se de insetos e, diferente de outras aranhas, podem se
ALIMENTAÇÃO
alimentar de presas previamente mortas. Podem viver meses sem comida.
Hábitos noturnos, sedentárias, preferem viver em locais escuros. Constroem um
abrigo de seda com fios brancos irregulares e dispersos, semelhantes a algodão.
HÁBITOs
Machos vivem até dois anos e as fêmeas, até três. Podem viver em altas densidades
populacionais.
Após o acasalamento, as fêmeas produzem de uma a cinco ootecas. Fêmeas de
Loxosceles gaucho colocam a primeira ooteca 20 dias após a cópula e os filhotes
Reprodução eclodem após 40 dias. A média de filhotes é de 60 por ooteca. Na espécie Loxosceles
gaucho, a fêmea produz de três a cinco ootecas em um período de cinco a sete meses.
Os animais atingem a maturidade sexual entre 15 e 18 meses.
Regiões tropicais e subtropicais, Mediterrâneo; algumas espécies introduzidas nos
DISTRIBUIÇÃO EUA, México, Macaronésia, África do Sul, Finlândia, Índia, China, Japão, Coreia,
Laos, Tailândia, Austrália e Havaí.
Veneno de ação proteolítica e hemolítica. A ação hemolítica ocorre em um
Veneno pequeno percentual dos casos e é caracterizada por urina escura e pode levar
à anemia e à insuficiência renal aguda.
Picada indolor, podendo passar desapercebida. Em alguns casos, as picadas induzem poucos danos,
com lesão leve, presença de vermelhidão na pele, coceira e geralmente são autocicatrizantes. Porém,
em outros casos, após 12 ou 24 horas, podem aparecer inchaço e manchas vermelhas no local da
sintomas do
picada (edema e eritema), mal-estar geral e, eventualmente, febre. Posteriormente, podem surgir
envenenamento
manchas na pele por extravasamento de sangue (equimose), vesículas, bolhas, necrose e ulceração
da pele, que podem deixar cicatrizes. Em casos muito raros de reações sistêmicas, o veneno de
Loxosceles pode causar hemólise, coagulação intravascular, sepse, insuficiência renal e morte.

Soro Antiloxoscélico / Antiaracnídico.

17
ARANHAS de importância médica

Aranha-armadeira / Aranha-da-bananeira
Família Ctenidae
Gênero Phoneutria

A B

A
Pedro Henrique Martins

Alberto Rech
Figura 30: A - Phoneutria pertyi; B: Phoneutria eickstedtae.

Leo Noronha

Figura 31: Phoneutria nigriventer.

18
ARANHAS de importância médica

Exibem comportamento de defesa, no qual a aranha eleva as pernas dianteiras,


fica em posição ereta, abre as quelíceras, eriça os espinhos das pernas e realiza
movimentos laterais do corpo. O gênero Phoneutria caracteriza-se pela disposição
dos olhos em três fileiras: a primeira com dois olhos, a segunda com quatro e a
terceira com dois olhos. Além disso, apresentam faixas escuras ligando os olhos
Características laterais.
do animal Em Phoneutria nigriventer, o corpo é coberto por pelos curtos, acinzentados a
castanho-acinzentados, e as quelíceras apresentam pelos ruivos no segmento basal.
O dorso do abdômen possui manchas claras pareadas, formando uma faixa
longitudinal e fileiras laterais de manchas claras menores. O ventre do abdômen é
preto nas fêmeas e alaranjado nos machos. As pernas apresentam numerosos
espinhos.
Podem atingir quatro centímetros de comprimento total do corpo
TAMANHO
e uma envergadura de pernas de até 18 centímetros
Na natureza são encontradas sobre a vegetação e no solo de áreas florestadas.
Vivem embaixo de árvores caídas, em fendas de barrancos, em palmeiras e em
HÁBITAT
bromélias. São frequentemente encontradas em ambientes antropizados, perto de
habitações humanas, onde vivem em montes de madeira, entulhos e em bananeiras.
ALIMENTAÇÃO Insetos em geral, anfíbios anuros ou até outras espécies de aranhas.
São aranhas agressivas, noturnas, errantes, caçam ativamente, dominam suas
presas com a eficácia de seu veneno e não constroem teias. Em algumas regiões,
HÁBITOs
são conhecidas como “aranha-da-banana”, por serem frequentemente observadas
em bananeiras.
P. nigriventer e P. keyserlingi atingem a maturidade sexual com três anos. As fêmeas,
após o acasalamento, produzem de uma a quatro ootecas, produzindo mais de 3 mil
Reprodução
filhotes. As ootecas possuem formato de disco e as fêmeas as protegem. Após o
nascimento dos filhotes, não há cuidado parental.
América Central e América do Sul, desde a Guatemala até o norte da Argentina.
DISTRIBUIÇÃO
Ocasionalmente exportadas acidentalmente para a Europa em cachos de bananas.
Veneno Ação neurotóxica.
Nos acidentes com Phoneutria, na maior parte dos casos, ocorrem manifestações
locais, sendo que as manifestações sistêmicas ocorrem em geral com crianças. As
manifestações locais incluem dor no local da picada, em geral de forte intensidade,
sintomas do
inchaço, vermelhidão, sudorese, formigamento ou dormência. As manifestações
envenenamento
sistêmicas incluem vômitos, sudorese generalizada, pressão baixa, diminuição na
frequência cardíaca, arritmia cardíaca, priapismo (ereção do pênis). Em quadros
graves pode ocorrer edema agudo de pulmão e choque.
Soro Antiaracnídico.

19
ARANHAS de importância médica

Aranhas-Viúvas
Família Theridiidae
Gênero Latrodectus

Cláudio Maurício de Souza


Figura 32: Latrodectus curacaviensis.
Foto da ooteca: Pedro Henrique Martins.

Leo Noronha

Figura 33: Latrodectus geometricus. Insertos: olhos, ooteca e desenho em


formato de ampulheta no ventre do abdômen.
20
ARANHAS de importância médica

As aranhas Latrodectus caracterizam-se por possuírem abdômen globoso e muitas


Características exibem, na face ventral do abdômen, o desenho de uma ampulheta vermelha ou
do animal alaranjada. Os olhos são dispostos em duas fileiras de quatro, sendo que os laterais
são claramente separados.
As fêmeas adultas possuem de oito a 13 milímetros e os machos, cerca de três
TAMANHO
milímetros.
As viúvas-marrons são associadas a ambientes urbanos, sendo mais abundantes
em habitats perturbados que em naturais. Ocorrem em pastagens, arbustos, sob
pedras, sob cascas de árvores, ao redor de habitações humanas, ao longo de cercas,
HÁBITAT
dentro de latas vazias e pneus. As viúvas-negras ocorrem em ambientes naturais,
sendo abundantes em restingas do litoral. Também ocorrem em ambientes rurais,
ao redor de habitações humanas e em barrancos na beira de estradas.
ALIMENTAÇÃO Insetos.
Não são aranhas agressivas. Constroem teias irregulares. Quando se sentem
HÁBITOs
ameaçadas, despencam de suas teias e fingem-se de mortas.
Após a cópula, a fêmea produz de três a cinco ootecas no prazo de poucos dias.
As ootecas são esféricas e ficam dependuradas na teia tridimensional da fêmea.
Reprodução
Os filhotes se dispersam pelo vento, chegando a muitos quilômetros de distância
do local de oviposição.
DISTRIBUIÇÃO Áreas tropicais e subtropicais em todo o mundo; sul do Paleártico.
O veneno das aranhas Latrodectus possui ação neurotóxica, sendo que o da viúva-
Veneno negra L. curacaviensis é mais tóxico que o da viúva-marrom L. geometricus. Apenas
L. curacaviensis apresenta importância à saúde pública no país.
No momento da picada, ocorre uma dor aguda, de intensidade variável. Após 15
minutos, a sensação é de queimadura no local da picada, que atinge sua maior
intensidade entre uma e três horas após o acidente. No local da picada, podem
sintomas do ser observados um ou dois orifícios de um a dois milímetros de distância, pápula
envenenamento eritematosa (pele elevada e avermelhada), edema (inchaço), hiperestesia (excesso
de sensibilidade) e sudorese local. No quadro sistêmico, podem ocorrer dores
musculares nos membros inferiores, dores abdominais, tremores, sudorese,
hipertensão, além de ansiedade e agitação.
Não há disponibilidade de tratamento soroterápico. Nesses casos, utilizam-se
Soro
analgésicos, benzodiazepínicos, gluconato de cálcio e clorpromazina.

21
ARANHAS
O tráfico de aranhas-caranguejeiras e suas implicações

As aranhas-caranguejeiras (Mygalomorphae) são Por apresentarem baixa capacidade de dispersão


populares no mercado de pets exóticos devido ao e distribuição limitada, essas espécies são
tamanho, coloração chamativa, longevidade e altamente impactadas pelo tráfico. O comércio
comportamento dócil e inofensivo. No Brasil, ilegal já foi responsável por colocar dezenas de
essas aranhas são retiradas ilegalmente do seu aranhas-caranguejeiras na lista de animais
habitat natural para serem comercializadas no ameaçados de extinção. Apesar de serem
exterior, principalmente na Europa e na negligenciadas e vistas como perigosas, as
América do Norte. Dependendo da espécie, o aranhas são essenciais para manutenção do
valor de venda pode variar de 200 a 500 dólares equilíbrio do ecossistema, já que são
por indivíduo. importantes predadoras, sendo as aranhas-
caranguejeiras as maiores predadoras entre os
A legislação brasileira considera crime matar, artrópodes.
caçar, retirar da natureza, vender, exportar e
As aranhas apreendidas em decorrência do
manter em cativeiro espécimes da fauna silvestre
tráfico no Brasil são destinadas a institutos de
sem a devida permissão, licença ou autorização
pesquisa, zoológicos ou Cetas (Centro de
do órgão competente (Lei 9.605/98). A
Triagem de Animais Silvestres - Ibama). Para
introdução de animais exóticos (não nativos)
que possam ser reintroduzidas corretamente no
também é crime no Brasil e ainda não há
seu habitat natural, precisam ser identificadas
criadouros legalizados para o comércio de
por um especialista, o aracnólogo. A
aranhas. Sendo assim, atualmente, não há como
identificação é importante para determinar a
comprar ou vender esses animais de forma
destinação mais adequada dos animais, uma vez
legalizada no Brasil. A pena prevista para esse
que espécimes apreendidos devem ser soltos
tipo de crime é de detenção de seis meses a um
somente em regiões de ocorrência natural da
ano e multa, podendo ser aumentada a depender
espécie (Instrução Normativa nº 5/2021 do
da gravidade.
Ibama). Quando as aranhas são soltas em um
A coleta ilegal de aranhas é realizada de forma ambiente diferente daquele em que foram
irrestrita e ilimitada. Os coletores causam retiradas, podem não sobreviver ou afetar
diversos danos ao ambiente, removendo pedras, negativamente a fauna local, aumentando a
cavando buracos no solo, quebrando árvores e predação ou disseminando doenças.
chegam até a utilizar substâncias, como gasolina,
Atualmente, muitos cientistas têm unido
para forçar as aranhas-caranguejeiras a saírem de
esforços para estudar os impactos do tráfico de
suas tocas. Além disso, os espécimes são
aranhas e propor medidas para dificultar a ação
coletados exaustivamente e, independentemente
dos traficantes e auxiliar os órgãos ambientais.
da fase de desenvolvimento, fazendo com que a
população de aranhas caia drasticamente na
região explorada. Para que possam ser
transportadas ilegalmente, as aranhas são
colocadas em potes pequenos e individuais, sem
espaço para movimentação, e muitas morrem
por desidratação ou asfixia muito antes de
chegarem ao seu destino. 22
Escorpiões
Quem são?

Escorpiões (ordem Scorpiones), assim como as A B


aranhas, pertencem ao grupo dos aracnídeos.
Eles correspondem aos artrópodes terrestres
mais antigos, com registro fóssil que data do

Leo Noronha
Siluriano (450 milhões de anos atrás). Acredita-
se que os escorpiões tenham evoluído de
ancestrais aquáticos e teriam invadido o
ambiente terrestre durante o período
Carbonífero, cerca de 350 milhões de anos atrás.
Figura 35 - A: Télson (seta). B: Pedipalpo que se assemelha à
Atualmente, são conhecidas mais de 2.700 pinça. Escorpião-amarelo - Tityus serrulatus.
espécies, todas predadoras terrestres.
Os escorpiões são facilmente identificados por
seu distinto aparato de injeção de veneno,
chamado télson, e pelos pedipalpos que se

Imagem baseada na publicação de


assemelham a pinças (figura 35). Esses animais

Prendini et al., 2010


são únicos por possuírem um par de estruturas
Lorenzo Prendini

Cladistics
chamadas de pentes, que possuem função
sensorial. Todos possuem glândulas de veneno
associadas ao télson. No entanto, a maior parte
das espécies possui venenos pouco tóxicos aos
seres humanos, sendo eficientes predadores de
invertebrados. Menos de 50 espécies podem
causar envenenamentos graves e mortes em seres
humanos.
Figura 36 - Typhlochactas mitchelli. Barra 1 mm.
Quase todas as espécies atuais são solitárias e
noturnas e muitas vivem em tocas. Possuem
ampla variação de tamanho, desde espécies com
menos de um centímetro, como Typhlochactas
mitchelli do México (figura 36), até o enorme
Pandinus imperator (figura 37) da África central,
que mede mais de 20 centímetros.
Leo Noronha

Figura 37- Pandinus imperator. Foto: Canva.

23
Figura 34 - Escorpião-amarelo - Tityus serrulatus.
Escorpiões
Quem são?

Os escorpiões ocorrem em quase todos os De um modo geral, a maior parte das quase 3 mil
ecossistemas terrestres, com exceção de regiões espécies descritas de escorpiões ocorre em baixas
extremamente frias, como a Antártida (figura 38). densidades populacionais em ambientes naturais e
Podem ser encontrados em pastagens, cerrados, não estão adaptadas a viver em ambientes
savanas, florestas tropicais e temperadas, desertos urbanos. Essas espécies produzem ninhadas
e até mesmo em elevadas altitudes, como no únicas, não estocam espermatozoides, possuem
Himalaia e nos Andes. Há espécies que habitam expectativa de vida longa e baixa mobilidade,
cavernas e outras que vivem a beira-mar. A sendo altamente endêmicas. Por outro lado,
sobrevivência do grupo em diversos ambientes algumas espécies de escorpiões são oportunistas,
está associada a adaptações morfológicas ao sendo a maioria delas da família Buthidae. Elas
substrato onde vivem. Espécies que vivem em possuem alta plasticidade ecológica, ou seja, se
tocas no solo duro possuem palpos, pernas e adaptam com as condições do ambiente. Essas
corpos curtos e robustos. Elas utilizam os palpos espécies são capazes de viver em ambientes
para imobilizar as presas e o télson é reduzido. urbanos e estão entre as espécies mais conhecidas
Espécies que vivem em fendas de rochas possuem pela população. Podem produzir várias ninhadas a
adaptações para viverem em locais confinados. partir de uma única inseminação e possuem
Seus corpos são achatados dorso-ventralmente e mecanismos de armazenamento de
possuem modificações nas garras das pernas, que espermatozoides. Além disso, possuem
permitem que esses animais tenham uma boa desenvolvimento embrionário curto, expectativa
adesão às rochas. Também possuem olhos laterais de vida curta, altas densidades populacionais,
muito grandes, que auxiliam na detecção de luz. rápida mobilidade e são amplamente distribuídas.
Espécies que vivem na areia possuem garras
adaptadas para facilitar a locomoção nesse
ambiente, sendo capazes de andar na areia sem se
afundar e de se enterrar nela, quando necessário.
Mapa baseado na publicação
de Lorenço, 2013.
Toxinology

Figura 38 - Distribuição geográfica de escorpiões no mundo.


24
Escorpiões
Morfologia externa

O corpo de um escorpião consiste em duas Os pentes desempenham papel sensorial e atuam


regiões: o prossoma e o opistossoma. Na como quimiorreceptores e mecanorreceptores.
superfície dorsal, o prossoma possui uma São importantes para percepção de presas e
carapaça onde estão localizados os olhos e, na predadores, localização de parceiros sexuais e
superfície ventral, um pequeno esterno de diferenciação de substratos. Os escorpiões
formato variado, dependendo da família do possuem quatro pares de pulmões foliáceos, que
escorpião. Do prossoma partem os principais se abrem por meio de espiráculos. Essas estruturas
apêndices dos escorpiões: quelíceras, pedipalpos são estreitas e, em algumas espécies, suas
e pernas. aberturas são controladas por meio de contrações
musculares, auxiliando na regulação da perda de
As quelíceras estão localizadas entre as bases dos
água.
pedipalpos e são utilizadas na alimentação e na
limpeza de palpos e pernas. Os escorpiões O metassoma é estreito, semelhante a uma cauda,
podem possuir até 12 olhos, sendo um par de e possui cinco segmentos, que são basicamente
olhos medianos e de dois a cinco pares de olhos anéis de quitina cobertos por quilhas e cerdas. O
laterais, pequenos e dispostos em fileiras. Os último segmento possui o télson em sua
olhos medianos formam imagens que permitem extremidade, o qual é formado por um bulbo,
a visão espacial. Já os olhos laterais são mais onde há duas glândulas de veneno e um espinho
sensíveis à luz e eficientes para os hábitos curvo, chamado de acúleo, utilizado para perfurar
noturnos do animal. a presa (figura 35A).

Os palpos semelhantes a pinças (Figura 35B) são O dimorfismo sexual pode se manifestar nos
uma das características mais distintas de um escorpiões de várias formas, como no tamanho do
escorpião. Eles são usados para capturar presas, corpo e no formato de algumas estruturas. No
cavar tocas, se defender e, nos machos, para escorpião-marrom (Tityus bahiensis), os machos
segurar a fêmea durante o acasalamento. Os possuem palpos mais robustos (figura 39).
palpos também possuem função sensorial, uma
Fêmea Macho
vez que são os únicos apêndices que possuem
tricobótrias, pelos sensoriais especiais, que são
longos e finos. As pernas dos escorpiões são
utilizadas para locomoção e para cavar. Possuem
estruturas sensoriais menos especializadas, e as
Leo Noronha

fêmeas também as utilizam para pegar os


filhotes que acabaram de nascer.
O opistossoma é subdividido em duas regiões:
mesossoma e metassoma. A região larga no meio
do corpo, localizada entre o prossoma e o
metassoma, é chamada de mesossoma.
O mesossoma possui sete segmentos. Na
superfície ventral do segundo está localizado o
Figura 39 - Dimorfismo sexual do escorpião-marrom - Tityus
opérculo genital e, na do terceiro, estão
bahiensis. Observe pedipalpos mais robustos no macho.
localizados os pentes.
25
Morfologia Externa

Vista dorsal

Pedipalpo
Prossoma

Mesossoma
Quelíceras

Metassoma

Olhos laterais

Télson
Olhos medianos
Vista ventral

Esterno
Opérculo genital

Pente

Carenas Espiráculos

26
Figura 40 - Morfologia externa do escorpião-amarelo - Tityus serrulatus. Fotos: Leo Noronha.
Escorpiões
História Natural

Os escorpiões são fluorescentes sob luz Há dois tipos de estratégias para a localização
ultravioleta (figura 41). Isso ocorre devido à das presas. Os escorpiões podem ser predadores
presença de substâncias orgânicas, como a “senta-e-espera”, permanecendo imóveis
cumarina, no exoesqueleto do animal. A aguardando a presa passar; ou podem buscar
fluorescência não ocorre em juvenis ou animais pelo alimento de forma ativa. A localização das
que acabaram de realizar a muda do presas ocorre principalmente por meio de
exoesqueleto. Algumas teorias foram propostas estruturas sensoriais, como as cerdas (pelos)
para explicar a função da fluorescência. Uma localizados no corpo e nos apêndices, e por meio
delas diz que o fenômeno é importante para o dos pentes. Os escorpiões com palpos robustos
reconhecimento entre indivíduos da mesma raramente picam. Eles costumam utilizar os
espécie; outra sugere que os compostos palpos para imobilizar e triturar as presas. No
fluorescentes agiram como protetor solar nos entanto, espécies com palpos finos picam as
escorpiões ancestrais. presas e as imobilizam pela ação do veneno.
As quelíceras possuem a função de triturar o
alimento em pequenos pedaços. Fluidos
digestivos são expelidos no alimento triturado e
Fábio Patrício

o escorpião ingere o suco formado. Algumas


espécies, especialmente aquelas que vivem em
regiões áridas, são capazes de passar meses sem
se alimentar. Isso é possível devido à baixa taxa
metabólica desses animais e à capacidade de
ingerirem e armazenarem uma grande
Figura 41 - Escorpião-amarelo - Tityus serrulatus
sob luz ultravioleta.
quantidade de alimento.

Alimentação
A maioria das espécies são generalistas,
alimentando-se de uma grande variedade de
insetos, como larvas de borboletas, besouros,
baratas, cupins e formigas (figura 42). Também
predam outros invertebrados, como aracnídeos,
centopeias, moluscos, vermes anelídeos e
crustáceos. Vertebrados, como serpentes,
lagartos e roedores, podem estar na dieta de
algumas espécies.

Figura 42 - Predação de insetos. Foto: Canva.

27
Escorpiões
História Natural

Reprodução
O processo de acasalamento nos escorpiões é

Michiel Cozijn
complexo e evoluiu de modo que a fêmea
reconheça o macho como um parceiro potencial,
sendo estimulada a se tornar receptiva. A corte
pode se iniciar a partir de feromônios liberados
pela fêmea, o que pode ser particularmente
Figura 44 - Corte na espécie de escorpião
importante para espécies que ocorrem em baixas Babycurus gigas.
densidades populacionais. Após o encontro, os
machos realizam movimentos de trepidação do
corpo para estimular as fêmeas.

Michiel Cozijn
Quando o macho encontra um substrato
adequado, ele deposita o espermatóforo (figura
43) e, com os palpos, conduz a fêmea até ele.
Nesse momento, o macho também pode utilizar
as quelíceras para massagear a fêmea,
Figura 45 - Fêmea do escorpião-preto - Tityus obscurus -
diminuindo sua agressividade. O espermatóforo com seus filhotes.
penetra na abertura genital da fêmea, liberando
os espermatozoides. Após esse processo, o Após o nascimento, a prole permanece no dorso
macho foge, evitando ser devorado. Em algumas da mãe até a realização da primeira ecdise
espécies de escorpiões, as fêmeas possuem (figura 45). Durante esse período, eles não se
mecanismos de armazenamento de alimentam e a nutrição ocorre a partir da
espermatozoides, resultando em múltiplas absorção de nutrientes de reserva. Os juvenis
ninhadas a partir de uma única inseminação. realizam uma média de seis mudas até atingirem
a maturidade sexual, o que pode demorar de seis
meses a mais de seis anos. A longevidade da
maior parte dos escorpiões varia de dois a cinco
anos, sendo que algumas espécies podem viver
Michiel Cozijn

até 25 anos.
A partenogênese ocorre em algumas espécies de
escorpiões. Neste modo reprodutivo, ninhadas
são produzidas a partir de óvulos não
Figura 43 - Epermatofóro de Heteroctenus princeps.
fertilizados, sem a necessidade de serem
fecundados pelos espermatozoides do macho. O
Os escorpiões são vivíparos, as fêmeas ficam
escorpião-amarelo, Tityus serrulatus, é uma das
grávidas. O desenvolvimento dos embriões
espécies que pode se reproduzir por
ocorre em um período variável, dependendo da
partenogênese, o que favoreceu sua dispersão e
espécie. Os nascimentos podem ocorrer em uma
colonização de novos ambientes. Indivíduos
época restrita (geralmente nos meses mais
machos dessa espécie são raros, mas ainda
quentes) ou durante todo o ano. O tamanho da
podem ser encontrados em algumas regiões.
ninhada varia de um a mais de 100 filhotes,
sendo, em média, 26 filhotes. 28
Escorpiões
História Natural e Diversidade

Predadores
São predadores dos escorpiões: aves, como
corujas e seriemas; várias espécies de mamíferos,
como suricatos e mangustos; além de serpentes e
lagartos; sapos e rãs; e até algumas espécies de

Leo Noronha
aranhas, centopeias e formigas. Em algumas
espécies de escorpiões, o canibalismo é comum.
Leandro O. Drummond

Figura 47 - Escorpião-do-nordeste - Tityus stigmurus - em


posição de ataque.

Diversidade
Foram descritas, até o momento, mais de
2.700 espécies de escorpiões e estima-se que,
nas próximas décadas, o número de espécies
Figura 46 - Sapo-cururu (Rhinella icterica) predador voraz conhecidas ultrapasse 7 mil. Apesar dos
do escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), extremamente escorpiões terem a fama de causarem
resistente ao seu veneno. acidentes mortais, provavelmente, menos de
50 espécies são responsáveis por acidentes
Comportamentos de defesa sérios ou fatais.
Os escorpiões possuem uma variedade de As espécies com venenos mais tóxicos
comportamentos de defesa além da injeção de pertencem à família Buthidae. Há também
seus venenos. Evitar os predadores é uma das espécies das famílias Hemiscorpiidae e
melhores maneiras de se proteger. Dessa forma, Scorpionidae com veneno tóxico para seres
muitas espécies ficam a maior parte do tempo humanos. Apesar de haver um pequeno
escondidas em suas tocas e em frestas. número de espécies que podem causar graves
Outras espécies possuem coloração críptica, envenenamentos, elas são responsáveis por
apresentando cores e texturas semelhantes aos um grande número de acidentes que ocorrem
ambientes em que vivem, passando todos os anos.
despercebidas pelos predadores. A capacidade A família Buthidae compreende cerca de 100
de estridular, ou seja, produzir som ao esfregar gêneros e mais de 1.300 espécies,
duas regiões do corpo, também constitui um correspondendo à maioria de todas as
comportamento de defesa dos escorpiões. espécies atualmente conhecidas de
Muitas espécies com palpos robustos os utilizam escorpiões. Dentre esses gêneros, Tityus
para se defender. Espécies da família Buthidae possui aproximadamente 220 espécies
curvam a "cauda" (metassoma), posicionando o descritas. Os gêneros Ananteris e Centruroides
télson na parte anterior do corpo, ficando, também se destacam com cerca de 100
assim, prontas para atacar (figura 47). espécies descritas, cada um.
29
Escorpiões de importância médica

Escorpião-amarelo
Família Buthidae
Tityus serrulatus

Pedro Henrique Martins


Pedro Henrique Martins

Figura 48: Escorpião-amarelo: Tityus serrulatus.

30
Escorpiões de importância médica

Coloração geral amarelada, com mesossoma escuro. Os segmentos I a V do


Características metassoma são amarelados, com áreas laterais e ventrais enegrecidas. Presença
do animal de serrilhas na região dorsal dos segmentos III e IV do metassoma, o que dá o
nome da espécie.
TAMANHO Porte médio, variando de 55 a 70 milímetros de comprimento total.
Espécie adaptada a ambientes urbanos. Abrigam-se em tijolos, telhas, entulhos
HÁBITAT e galerias de esgoto. Na natureza, são encontrados debaixo de cascas de árvores
e madeiras em decomposição.
ALIMENTAÇÃO Insetos. Sobrevivem por mais de 400 dias sem alimento.
Ativos durante a noite. Durante o dia, ficam escondidos, evitando luz solar,
HÁBITOs
temperatura alta e predadores.
Sexuada e partenogenética. Na partenogênese, a prole é produzida pela fêmea a
partir de óvulos não fecundados, sendo geradas apenas fêmeas. Produzem
Reprodução ninhadas durante todo o ano. Desenvolvimento embrionário de 2,5 a 3 meses.
Ninhadas de oito a 36 filhotes. Após o parto, os filhotes se acomodam no dorso
da fêmea e ficam com a mãe até a primeira muda, se dispersando depois.
No Brasil, é encontrado nos estados da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito
Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná,
DISTRIBUIÇÃO
Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Espécie também encontrada na Argentina.
Veneno Ação neurotóxica.
Dor no local da picada, de intensidade variável, podendo estar acompanhada de
sensação de queimação ou agulhada e irradiar-se por todo o membro. Podem
sintomas do
ocorrer vômitos e, menos comumente, diarreia, aumento ou diminuição dos
envenenamento
batimentos cardíacos (alternados ou não), aumento ou diminuição da pressão
arterial e agitação.
Soro Antiescorpiônico / Antiaracnídico.

31
Escorpiões de importância médica

Escorpião-marrom
Família Buthidae
Tityus bahiensis

Leo Noronha
Leo Noronha

Figura 49: Escorpião-marrom: Tityus bahiensis.

32
Escorpiões de importância médica

Coloração geral marrom-escura, com pernas amarelo-avermelhadas e pedipalpos


marrom-avermelhados. Presença de manchas escuras nos pedipalpos e nas pernas,
principalmente nos espécimes provenientes do estado de São Paulo (Brasil), Argentina
Características
e Paraguai. Espécimes de Goiás e Minas Gerais possuem apenas pequenas manchas.
do animal
Os segmentos I a III do metassoma são geralmente marrom-avermelhados, enquanto
os segmentos IV e V são marrom-escuros. Machos possuem a tíbia do pedipalpo mais
robusta que a das fêmeas (figura 39).
TAMANHO Porte médio, variando de 55 a 70 milímetros de comprimento total.
Encontrados em regiões urbanas, abrigando-se em tijolos, telhas, entulhos e galerias
HÁBITAT de esgoto. Na natureza, são encontrados debaixo de cascas de árvores e madeiras em
decomposição.
ALIMENTAÇÃO Insetos.
Ativos durante a noite. Durante o dia, ficam escondidos, evitando luz solar,
HÁBITOs
temperatura alta e predadores.

Espécie vivípara, com ninhadas variando de quatro a 23 filhotes. A atividade


reprodutiva ocorre durante todo o ano, embora nos meses quentes a atividade sexual
Reprodução
seja maior. A fêmea é capaz de produzir de uma a quatro proles a partir de uma única
inseminação. A maioria das parições ocorre nos meses quentes.
Estados brasileiros de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, partes do Mato Grosso
DISTRIBUIÇÃO
do Sul e Paraná, assim como Argentina e Paraguai.
Veneno Ação neurotóxica.
Manifestações locais: dor, que pode irradiar-se pelo membro atingido, sensação de
formigamento ou dormência, inchaço e vermelhidão no local da picada. Manifestações
sintomas do
sistêmicas incluem vômitos, agitação, sudorese, sensação de falta de ar, diminuição ou
envenenamento
aumento da frequência cardíaca, palidez na pele, pressão baixa e diminuição da
temperatura corporal.
Soro Antiescorpiônico / Antiaracnídico.

33
Escorpiões de importância médica

Escorpião-do-nordeste
Família Buthidae
Tityus stigmurus

Denise Maria Candido


Denise Maria Candido

Figura 50: Escorpião-do-nordeste: Tityus stigmurus.


34
Escorpiões de importância médica

Coloração amarelada, com um triângulo escuro invertido na região da carapaça.


Mesossoma com três faixas dorsais longitudinais escuras, sendo a faixa central mais
Características longa que as laterais. Segmentos do metassoma I a IV amarelos, com manchas marrons
do animal escuras nas carenas ventrais. Segmento V amarelo, com mancha ventral escura. Acúleo
amarelo-avermelhado na base e avermelhado na extremidade. Fêmeas apresentam
metassomas mais volumosos.
TAMANHO Porte médio, variando de 55 a 68 milímetros.
Encontrados em regiões urbanas vivendo em esgotos, fossas e locais com acúmulo
HÁBITAT
de lixo e entulho.
ALIMENTAÇÃO Insetos e aranhas.
Ativos durante a noite. Durante o dia ficam escondidos, evitando luz solar,
HÁBITOs
temperatura alta e predadores.
Sexuada e partenogenética, sendo que a última facilitou a disseminação em ambientes
urbanos. O desenvolvimento embrionário de Tityus stigmurus compreende mais de 800
Reprodução
dias, um dos mais longos entre o gênero Tityus. Nascem, em média, dez filhotes por
ninhada.
No Brasil, a espécie é encontrada nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
DISTRIBUIÇÃO Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Bahia. Recentemente encontrado no estado
de São Paulo.
Presença de peptídeos neurotóxicos, que causam distúrbios nos sistemas nervoso,
Veneno
cardiovascular e muscular.
sintomas do Dor local, dormência, sensação de formigamento e inchaço. Podem ocorrer vômitos,
envenenamento dor de cabeça e sudorese.
Soro Antiescorpiônico / Antiaracnídico.

35
Escorpiões de importância médica

Escorpião-Preto
Família Buthidae
Tityus obscurus

Michiel Cozijn
Figura 51: Escorpião preto, Tityus obscurus. Macho adulto.

Michiel Cozijn

Figura 52: Escorpião preto, Tityus obscurus. Fêmea adulta.

36
Escorpiões de importância médica

Adultos possuem corpo preto. Juvenis possuem coloração amarelada, com manchas
Características
pretas. Dimorfismo sexual presente: machos possuem metassoma e pedipalpos mais
do animal
longos e finos.
TAMANHO Porte grande, variando de 85 a 100 milímetros.
Áreas de terra firme e de floresta inundada na Amazônia. Preferência por florestas
primárias, embora também ocorram em fragmentos de mata secundária, próximos a
HÁBITAT
regiões urbanas. Podem ser encontrados na serapilheira, em troncos de palmeiras, em
cachos de frutas, cupinzeiros e na copa das árvores.
ALIMENTAÇÃO Insetos e outros artrópodes.
Ativos durante a noite. Durante o dia ficam escondidos, evitando luz solar,
HÁBITOs
temperatura alta e predadores.
Espécie vivípara com desenvolvimento embrionário de três a quatro meses. Ninhadas
Reprodução de 15 a 31 indivíduos. Após o parto, os filhotes ficam no dorso da fêmea por 15 dias,
até realizarem a primeira muda.
No Brasil, a espécie ocorre nos estados do Pará e Amapá. Espécie presente também na
DISTRIBUIÇÃO
Guiana Francesa, Suriname, Equador, Guiana e Panamá.
Presença de peptídeos neurotóxicos. Alta abundância de sequências de
Veneno metaloproteinases e de toxinas dos canais de sódio e potássio, constituindo o núcleo
tóxico do veneno.
Manifestações locais: dor, inchaço e vermelhidão. Manifestações sistêmicas: sonolência,
sintomas do
aceleração do ritmo respiratório (taquipneia), taquicardia, prostração, sudorese,
envenenamento
salivação excessiva e vômitos.
Soro Antiescorpiônico / Antiaracnídico.

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