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Ano 5, núm.

02 - Fevereiro 2008
Informativo do Projeto
Entomologistas do Brasil

Inteligência Coletiva: Os insetos


possuem!

Veneno de inseto
Lagarta tropical é mais vira analgésico
exigente para comer

Mosca pode ajudar a


decifrar regulação do
sono nos humanos
Ciência usa
homossexualismo
para diminuir
população de insetos
Formigas jovens
acumulam conhecimento
para vida adulta
As Borboletas no
Contexto da Biologia
da Conservação A Fragmentação Florestal
e a Diversidade de
Invasões biológicas e Insetos nas Florestas
insetos sociais invasores Tropicais Úmidas

Piolhos migraram
Os “insetos” e sua
com os seres humanos
utilização como
Vespas Travam Guerra desde a África
recursos medicinais
Entre Irmãos
Info Insetos - Informativo do Projeto Entomologistas do Brasil

Editorial
P
rezado Leitor neste número, várias notícias foram sele- segundo o estudo de pesquisadores do Neurosciences Institu-
cionadas e de capa trazemos a “Inteligência Coletiva dos te de San Diego. Isso só é possível porque as mosca-das-frutas
Insetos” e ligada a está notícias temos a transferência de (Drosophila melanogaster) experimentam um processo de sono
conhecimento das formigas na fase jovens, para a fase adulta, o biologicamente similar ao dos mamíferos.
que prova de certo modo, que há sim um armazenamento de in- A fragmentação florestal e a diversidade de insetos nas
formações ao logo da vida destes insetos. Tratando-se de insetos florestas tropicais úmidas e as borboletas no contexto da biolo-
sociais como as formigas e trazemos um resumo do artigo “Inva- gia da conservação, são assuntos de dois textos publicados neste
sões biológicas e insetos sociais invasores”, uma preocupação da número. Um assunto muito atual é a biologia da conservação e a
invasão de insetos, o que pode criar um processo de desequilí- biodiversidade são abordadas de forma alertar sobre a extinção
brio na biodiversidade brasileira. Ainda sobre os insetos sociais, de espécies, através o uso inadequado da nossa biodiversidade.
pesquisadores estudaram a vespa Copidosoma floridanum que Em se tratando de borboletas, novos estudos revelam que as la-
elas travam guerra entre irmãos. Assim apenas um ovo é capaz gartas tropicais são mais exigentes em termo de alimentação.
de gerar mais de 3 mil irmãos geneticamente idênticos. Ainda em relação as borboletas os cientistas realizam aplicação
Vários artigos em algumas revistas especializadas (pe- de hormônios feminino em Euproctis chrysorrhoea para dimi-
riódicos) brasileiros publicaram nos últimos anos, a utilização nuir a população desta espécie. No controle utiliza-se o hormô-
de insetos como recursos alimentares e medicinais, assim tra- nio feminino para enganar os machos da espécie e forçá-los a
zemos este mês um artigo sobre o conhecimento popular da uti- pensar que são do mesmo sexo.
lização dos insetos na medicina popular, no município de Feira Para finalizar, estudiosos revelam que piolhos isolados
de Santana. E dentro da medicina os insetos são utilizados cada de duas múmias encontradas no litoral desértico do Peru indi-
dia mais, recentemente o veneno de vespas está sendo utilizado cam que esses insetos migraram com os seres humanos desde a
como analgésico. Os estudos foram realizados por pesquisado- saída do continente africano, há 51 mil anos.
res brasileiros. A proteína segundo o estudo é capaz de capazes Boa leitura e até o próximo número. 
de inibir crises convulsivas.
Moscas podem auxiliar na regulação do sono humano, William Costa Rodrigues
Editor Chefe

Sumário
 Lagarta tropical é mais exigente para comer................................................................................................................3
 Veneno de inseto vira analgésico...................................................................................................................................3
 Mosca pode ajudar a decifrar regulação do sono nos humanos...................................................................................4
 Ciência usa homossexualismo para diminuir população de insetos............................................................................4
 Formigas jovens acumulam conhecimento para vida adulta........................................................................................4
 A Fragmentação Florestal e a Diversidade de Insetos nas Florestas Tropicais Úmidas..............................................5
 As Borboletas no Contexto da Biologia da Conservação...............................................................................................6
 Os “insetos” e sua utilização como recursos medicinais...............................................................................................6
 Invasões biológicas e insetos sociais invasores.............................................................................................................7
 Inteligência Coletiva: Os insetos possuem!...................................................................................................................7
 Vespas Travam Guerra Entre Irmãos............................................................................................................................9
 Piolhos migraram com os seres humanos desde a África............................................................................................10

Sobre o Info Insetos


Este Informativo é uma publicação do projeto Entomologistas do Brasil. As notícias aqui publicadas são selecionada na rede mundial de computa-
dores, em sites de jornais nacionais e internacionais (de renome), sites de empresas públicas e/ou privadas, além de periódicos científicos, nacio-
nais e internacionais. As informações apresentadas aqui são previamente selecionadas, para oferecer a você leitor informação de qualidade.

Objetivo:
Oferecer a comunidade técnico-científica, acadêmica e a sociedade em geral informações sobre entomologia.

Periodicidade:
2008: Mensal; 2007: Trimestral, com um suplemento; 2006 - 2005: Semestral; 2004: Quadrimestral

Copyright©2004-2008, Entomologistas do Brasil



Ano 5, Número 02, Fevereiro 2008

Lagarta tropical é mais exigente para comer

U
m grupo internacional de pesquisadores distância da linha do Equador. Afinal, a região equa-
estudou oito regiões da América e torial está naturalmente associada às florestas
fez uma constatação que parece tropicais, em que a variedade de plantas é
um contra-senso: quanto mais plantas maior.
existem numa região, mais frescas para Foram coletadas em regiões tem-
comer ficam as lagartas. peradas (Estados Unidos e Canadá) e
Os resultados foram publicados na tropicais (Panamá, Costa Rica, Equador e
última edição da revista científica britânica Brasil) mais de 75 mil amostras de tatura-
“Nature” e oferecem a primeira evidência nas e lagartas. Os resultados então foram
quantitativa de que o grau de especializa- comparados pelos cientistas, que tinham
Lagarta da espécie Antheraea
ção na degustação de certos alimentos pode polyphemus, comum nas regiões em suas fileiras uma pesquisadora brasilei-
variar, dependendo da disponibilidade de temperadas, tem dieta abrangente ra, Helena de Morais, da Universidade de
plantas para consumo. (Foto: David Wagner/Nature) Brasília.
Isso dá contornos mais concretos a Eles estudaram especificamente as lagar-
uma especulação que já circulava no meio científico desde tas da ordem Lepidoptera, a que pertencem as borboletas
Charles Darwin e Alfred Russel Wallace (os “pais” da teoria e mariposas, e constataram as diferenças entre os animais
da evolução pela seleção natural), de que a especificidade das regiões. 
de certos animais com relação ao alimento variava com a Fonte: G1 (ww.g1.com.br)

Veneno de inseto vira analgésico

P
esquisadores do departamento de Biologia da Fa- a intenção não é machucá-lo”, explicou o professor da
culdade de Filosofia, Ciências e Letras de FFCLRP, que também é presidente da comissão
Ribeirão Preto (FFCLRP), da Uni- de ética em experimentação animal do cam-
versidade de São Paulo, identificaram no pus da USP em Ribeirão Preto.
veneno de uma vespa, popularmente “Para que a dor cessasse nos dois
conhecida como marimbondo-estrela modelos, tivemos que usar de duas a
(Polybia occidentalis), uma substância três doses adicionais de morfina para
que, em testes laboratoriais, mostrou- ter exatamente o mesmo efeito encon-
se de duas a três vezes mais eficaz do trado com uma única dose de cinina.
que a morfina no controle da dor. Esse efeito é identificado pelo tempo
A responsável pelo efeito é de permanência do animal nas duas
uma cinina, substância derivada da plataformas”, disse Ferreira dos Santos.
Treonina-6 Bradicinina (T6Bk), peptídeo O estudo foi publicado em maio em arti-
amplamente conhecido na literatura cientí- go no British Journal of Pharmacology, com
fica. A cinina foi identificada durante os elogios no editorial da revista inglesa,
Pesquisa brasileira publicada no British
trabalhos de rotina dos cientistas no Labo- Journal of Pharmacology destaca que escrito por Istvan Nagy, chefe do Depar-
ratório de Neurobiologia e Peçonhas, que substância extraída do veneno de ma- tamento de Anestesiologia do Centro de
se concentram na prospecção – no veneno rimbondo-estrela é até três vezes mais Cuidados Intensivos de Medicina da Dor
de diferentes espécies de aranhas e vespas eficaz do que a morfina no controle da do Imperial College de Londres, e Char-
dor. (Foto: Universidade de Washington)
– de drogas neuroprotetoras e anticonvul- les Paule e John White, pesquisadores do
sivantes, isto é, capazes de inibir crises convulsivas. mesmo departamento, além de Laszlo Urban, diretor do
O estudo da cinina teve início há cerca de três Lead Discovery Center, um centro de testes pré-clínicos na
anos com a tese de doutorado de Márcia Renata Morta- Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos.
ri. “O elevado potencial da substância frente à morfina foi “Como os mecanismos que causam a dor têm for-
comprovado em experimentos em que a cinina foi injetada te relação com os circuitos cerebrais, outra novidade do
no cérebro de ratos com dor induzida por meio de hiper- estudo foi a identificação de uma nova via, um novo espa-
termia, modelo que utiliza altas temperaturas”, disse o co- ço, para o controle da dor utilizando cininas. A substância
ordenador do estudo e orientador da tese, Wagner Ferreira se mostrou atuante em um sistema do cérebro conhecido
do Santos, à Agência FAPESP. como calicreína-cinina, que é responsável por várias pato-
Foram utilizados dois modelos tradicionais para o logias cerebrais, como a formação de edemas, por exem-
estudo da dor, o hotplate (placa quente) e o tailflick (teste plo”, disse Ferreira dos Santos.
de retirada da cauda). Os animais foram inseridos nesses Segundo ele, com o estudo da estrutura molecular
dois testes para a verificação de resistência à dor causada da cinina, o próximo passo será a exploração da substância
pelo aumento da temperatura. de maneira sintética, visando ao estudo de novos sistemas
No hotplate, o animal foi induzido a sair da pla- de controle da dor no cérebro e a possível criação, após ou-
ca. Quando as duas drogas foram aplicadas, eles ficaram tros testes com modelos animais e com seres humanos, de
mais tempo ali, mesmo com a noção de que deveriam sair. medicamento analgésico em parceria com empresas priva-
No tailflick, a cauda foi inserida em um pequeno filamento das.
bem aquecido. Além de Ferreira do Santos e de Márcia Renata,
“Nesse caso, se o animal não retirar a cauda em integram o grupo responsável pelo estudo os professores
dois ou três segundos o aparelho desliga, uma vez que Norberto Peporini Lopes, da Faculdade de Ciências Far-


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macêuticas, Joaquim Coutinho-Netto e Norberto Coim- macology (2007) 151, 860–869. 
bra, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Pre-
to, e Antônio Miranda, da Escola Paulista de Medicina da Fontes:
Agência Fapesp e British Journal of Pharmacology
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). (www.agencia.fapesp.br e www.nature.com/bjp)
O artigo foi publicado no British Journal of Phar-

Mosca pode ajudar a decifrar regulação do sono nos humanos

A
pesquisa, dirigida por Ralph Greenspan, do da mosca muito parecida ao hipotálamo dos mamíferos,
Neurosciences Institute de San Diego (Califórnia, a zona cerebral que os humanos usam para controlar o
EUA), sugere que a mosca pode ser sono.
um “bom modelo” para identificar as “rotas Além disso, os especialistas de San
moleculares” implicadas nos mecanismos do Diego comprovaram que a Drosophila
sonho. melanogaster responde aos mesmos agentes
Segundo os especialistas farmacológicos que modulam a excitação
americanos, o funcionamento do sono é nos mamíferos, enquanto os níveis de
um mistério e existe pouca informação sono do inseto diminuem e se fragmentam
sobre essas “rotas de sinalização”. com a idade.
A mosca-da-fruta representa um “A utilização deste enfoque experimental
“modelo promissor”, já que experimenta pode tornar mais fácil e rápido para os
um processo de sono biologicamente similar cientistas identificar moléculas adicionais
ao dos mamíferos, asseguram os cientistas necessárias para a indução ou a manutenção do
americanos. sono”, concluem os autores do estudo.
Drosophila melanogaster (mosca-das-frutas).
No inseto, o estado de inércia Foto: divulgação “Então, as companhias
inclui consolidados períodos de farmacêuticas poderiam usar essa
inatividade, um acentuado umbral de despertar e um informação para criar melhores produtos para ajudar a
impulso homeostático para recuperar o solo perdido. dormir”, acrescentam.
Essa regulação acontece em uma região do cérebro
Fonte: Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br)

Ciência usa homossexualismo para diminuir população de insetos

A
homossexualidade pode ser a arma para combater pelos machos, mesmo se não são fêmeas.
a invasão de insetos conhecidos como “brown- O disfarce parece funcionar porque esses insetos
tail moth” (nome científico Euproctis “têm um cérebro muito pequeno e uma péssima
chrysorrhoea). A descoberta é de alguns visão”. Segundo Andrew Gibson, um dos cien-
cientistas britânicos preocupados com tistas do Yorkshire Wild Trust, a “Euproctis
o crescimento desproporcional destes chrysorrhoea” apresenta características
insetos na foz do Humber, no nordeste da particulares. “Enquanto com outras espé-
Inglaterra. cies a farsa com os hormônios não é eficaz,
Em busca de um remédio contra neste caso é”, explicou.
sua elevada proliferação, cada fêmea bota A ação dos pesquisadores foi necessá-
entre 200 e 300 ovos no fim de cada verão, ria por causa do aumento sem precedentes
um grupo de estudiosos do Yorkshire Wild de “brown-tail moth” na estação de resgate de
Trust descobriu que é possível utilizar Euproctis chrysorrhoea. Sturn Point, onde estão os equipamen-
Foto: © Wszelkie prawa zastrzeżone
os hormônios femininos para enganar tos e as respectivas famílias que ali vi-
os machos da espécie e forçá-los a pensar que são do ems- vem. As larvas se multiplicaram, de fato, a ponto de cau-
mo sexo”, segundo o Times. sarem dermatite e dificuldade respiratória aos habitantes.
Como? Os hormônios são misturados a um pó Isso por causa de uma espécie de pelagem que a recobre,
branco espalhado ao redor dos ninhos. Quando os ovos que irrita o tato quando tocada e se torna venenosa uma
se abrem, a substância acaba por revestir as larvas recém- vez que termina no ar. 
nascidas, que desta maneira ficam sexualmente atraídas Fonte: ANSA

Formigas jovens acumulam conhecimento para vida adulta

A
s experiências acumuladas durante a juventu- outra metade em uma área sem nenhum tipo de alimen-
de pelas formigas da espécie Cerapachys to em potencial.
biroi determinam seu comportamento Um mês mais tarde, a primeira metade
durante a etapa adulta, afirma um estudo pu- do grupo havia se especializado na busca por
blicado pela revista “Current Biology”. alimentos. Em contrapartida, a segunda havia
Biólogos da Universidade de Paris se voltado para o cuidado das mais jovens no
dividiram um grupo de formigas, todas elas interior do ninho, segundo os cientistas.
em idade de buscar comida para as larvas, em “A história individual possui um papel na
dois grupos: metade dos insetos foi intro- organização das sociedades de insetos. A
duzida em uma zona onda havia presas e Formigasusarão
aprendem ainda jovens o que
na idade adulta.
experiência vivida surge como uma variá-


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vel fundamental no desenvolvimento do comportamento”, duzem sem fecundação, o que faz de todos os seus indiví-
afirmaram. duos “cópias perfeitas”. 
Originárias do Japão e de Taiwan, essas formigas
biroi foram eleitas para esse experimento porque se repro- Fonte: Folha Online(www.folha.uol.com.br)

A Fragmentação Florestal e a Diversidade de Insetos nas


Florestas Tropicais Úmidas

F
ragmentos florestais são áreas de vegetações natu- Diferenças na composição de espécies de borbole-
rais interrompidas por barreiras antrópicas ou na- tas em fragmentos florestais, com diferentes graus de per-
turais, capazes de diminuir, significativamente, o turbação, na Costa Rica onde nos fragmentos mais depau-
fluxo de animais, pólen ou sementes. A borda, o tipo de perados, ausência de Charaxinae e Nymphalinae e grande
vizinhança, o grau de isolamento e o tamanho efetivo dos abundância de Cissia satyrina (Satyrinae).
fragmentos florestais são os principais fatores que devem De modo geral, parece que níveis intermediários
ser considerados, para medir as alterações dos de perturbações em florestas tropicais, prin-
processos biológicos de determinado ecos- cipalmentes aquelas bem próximas dos
sistema. O isolamento dos fragmentos níveis de perturbações naturais em flo-
florestais causa modificações profun- restas primárias, podem aumentar a
das na dinâmica das populações de riqueza de espécies de insetos, sendo
animais e vegetais . os níveis de alterações variáveis em
Alguns dos primeiros estudos função dos diferentes táxons. Já per-
visando avaliar o efeito da fragmenta- turbações de maior grandeza como
ção de florestas tropicais sobre insetos desmatamentos e formação de pasta-
foram realizados em Manaus, dentro do gens, assim como a conseqüente formação
projeto “Dinâmica Biológica de pequenos fragmentos de florestas primá-
de Fragmentos Florestais”. Durante o Floresta Tropical. Foto: Divulgação rias, parecem, de maneira geral, levar a
período seco, a dinâmica populacional uma perda na riqueza e/ou diversidade
de machos de abelhas da subfamília Euglossinae em frag- de espécies de diversos grupos de insetos.
mentos recentes de 1, 10 e 100 ha e clareiras comparando Paisagens com mais de 30% de conversão de flo-
os dados com aqueles obtidos antes do isolamento (frag- restas, incluindo a derrubada seletiva de árvores, apresen-
mentação). Observaram redução no número de indivídu- tam alterações irreversíveis na composição de espécies de
os visitantes assim como na composição das espécies nas borboletas, com perdas de muitos componentes da comu-
áreas fragmentadas. nidade deste grupo.
O número de espécies de borboletas nas bordas De modo geral, sugere-se a utilização dos seguin-
dos fragmentos geralmente atinge níveis mais altos que tes grupos em trabalhos de levantamento e monitoramen-
os registrados antes do processo de isolamento. Por serem to da biodiversidade de insetos em fragmentos florestais:
borboletas heliófilas que habitam a mata secundária e in- lepidópteros (borboletas no caso de avaliações mais rápi-
vadem a floresta até 300 m para o interior desta. das); coleópteros, principalmente pertencentes às famílias
O tamanho de um fragmento parece ser menos Scarabaeidae e Carabidae; himenópteros (Formicidae e
importante do que o efeito de borda e a diversificação do abelhas da subfamília Euglossinae) e cupins.
habitat para prever a riqueza local. Fatores que contribuem Resultados muito variáveis têm sido encontrados
para a heterogeneidade ou conectividade (topografia, cli- quanto à alteração na diversidade de insetos em função
ma e distúrbios) mostram clara correlação com a riqueza de fragmentação, desmatamentos ou diferentes estágios
de insetos, enquanto outros fatores como vegetação, solo, de sucessão ecológica. Em alguns casos, esses distúrbios
latitude e superfície permanente de água apresentam bai- estão associados à redução na diversidade de espécies de
xa correlação. insetos e, em outros casos, contrariamente, esses fatores
A avaliação de pequenos distúrbios em florestas estão associados até a um aumento na diversidade local.
em Trinidad, causados pela queda e retirada de árvores, 
também revelou maior riqueza de borboletas nos ambien-
tes perturbados. Baseado em:
Uma maior diversidade de espécies de borboletas Thomazini, M.J. & A.P.B.W. Thomazini. 2000. A Fragmentação
em florestas secundárias não protegidas do que em flores- Florestal e a Diversidade de Insetos nas Florestas Tropicais Úmi-
tas menos perturbadas na Indonésia, e que as espécies de das. Documentos, Embrapa, nº57, 21p.
maior ocorrência nas florestas não perturbadas apresen- http://zoo.bio.ufpr.br/diptera/bz023/Ciencia%20Hoje.pdf
Nota: O texto na íntegra encontra-se no endereço da web acima.
taram distribuição geográfica limitada, contrariamente
às espécies de maior densidade nas florestas secundárias,
que apresentaram ampla distribuição geográfica.
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As Borboletas no Contexto da Biologia da Conservação

A
exploração inadequada da natureza vem provo- Além de terem inspirado a geração de teorias evo-
cando a extinção de grande número de espécies, lutivas fundamentais, como a do mimetismo, as borbole-
nos diferentes ecossistemas da Terra, em es- tas são hoje alvos de grande atenção porque são ade-
pecial nos países em desenvolvimento situados quadas para testar novas idéias importantes para
em regiões tropicais, onde . por muitas razões, a biologia da conservação. Como têm vida curta,
entre elas o clima . se encontra a maior biodi- e portanto muitas gerações em pouco tempo,
versidade. permitem a acumulação rápida de informa-
A fragmentação de diferentes am- ções taxon ômicas, ecológicas e evolutivas.
bientes naturais, decorrente da ação huma- Além disso, a facilidade de captura, marcação
na, vem ameaçando a preservação de mui- e recaptura (Figura 2) preexistorna
tos animais e vegetais. A extinção de muitas esses insetos ideais para o estudo de dinâmica
espécies só será evitada com a formulação de de populações e para determinação de padrões
estratégias que levem em conta esse processo e de distribuição espacial.
seus efeitos sobre as populações em perigo. Esse Em geral, as borboletas estão presentes
é um dos objetivos da biologia da conser- apenas em parte dos fragmentos, ou seja,
Figura 1. As borboletas, que sempre
vação, que nos últimos anos, com o de- atraíram muito interesse por suas cores,
em qualquer momento há fragmentos de-
senvolvimento da chamada teoria de me- hoje mostram-se importantes nos estudos socupados. As populações locais ligam-se
tapopulações, vem mudando a forma de de biologia da conservação. Dryas julia, através da dispersão de pequeno número
avaliar os problemas e propor soluções. sobre uma orquídea). de indivíduos migrantes, que fundam
As borboletas são os organismos novas populações ou se juntam a popu-
que mais contribuíram para o conhecimento e os lações preexistentes. A distância média de deslocamento
testes de modelos de metapopulações. Os de um indivíduo de M. cinxia é 590 m, enquanto
principais estudos foram realizados em áreas a distância média entre fragmentos de campos
naturalmente fragmentadas da Finlândia, secos é 240 m, o que possibilita movimenta-
com a espécie Melitaea cinxia (família ção suficiente de indivíduos entre diferentes
Nymphalidae, subfamília Melitaeinae), fragmentos.
e dos Estados Unidos, com Euphydryas A fragmentação do hábitat original de
editha (Nymphalidae, Melitaeinae), e em inúmeras espécies de animais e plantas é
áreas fragmentadas pela ação humana freqüente hoje no Brasil, em especial nos
na Grã-Bretanha, com Hesperia comma estados mais desenvolvidos, em função da
(Hesperiidae), Plebejus argus (Lycaenidae) rápida expansão agrícola. No entanto, a con-
e Thymelicus acteon (Hesperiidae). Tais servação de um número muito maior de espé-
estudos podem servir de modelos para outras cies, em áreas agrícolas e urbanas, poderia ser
populações de borboletas. Estima-se, por garantida apenas mantendo-se, em cada
exemplo, que cerca de 75% das espécies Figura 2. Nos estudos populacionais com propriedade, áreas relativamente peque-
de borboletas da Grã-Bretanha e 60% das borboletas, os indivíduos são marcados nas de matas, cerrados e campos, crian-
– como esta Hamadryas arete (Nym-
espécies da Finlândia tenham estrutura phalidae), da mata atlântica da Reserva do-se assim um sistema de fragmentos de
metapopulacional. Florestal de Linhares (ES) – para que sua vegetação capazes de interconectar popu-
Borboletas são os insetos que movimentação possa ser acompanhada. lações atualmente restritas a unidades de
mais atraem a atenção, por sua ampla conservação. 
variedade de formas e cores (Figura 1). Por isso, sempre
despertaram interesse, seja de biólogos profissionais ou de Baseado em:
amadores (a estes deve-se grande parte do conhecimen- Marini-Filho, O.J. & R.P.Martins. 2000. Teoria de metapopulações: No-
vos princípios na biologia da conservação, Ciência Hoje 27: 22-29.
to da biologia de várias espécies desses insetos, em todo o http://zoo.bio.ufpr.br/diptera/bz023/Ciencia%20Hoje.pdf
mundo). Nota: O texto na íntegra encontra-se no endereço da web acima.

Os “insetos” e sua utilização como recursos medicinais

A
utilização de insetos como fonte de matéria prima Lista de insetos e sua utilização medicinais:
para a manipulação de medicamentos populares AbelhaFerrãoA ferroada é indicada para curar reu-
é uma prática realizada em todo mundo. No matismo, dores nas costas e nas juntas.
Brasil, especificamente em Feira de Santana, MelMisturar o mel ao sumo do limão
Bahia, dois pesquisadores realizaram um para curar gripe.
estudo com objetivo de registrar a utiliza- BarataIntegralBeber a água na qual
ção medicinal de animais percebidos po- o “inseto” foi cozido para tratar azia. To-
pularmente como “insetos” (inclusive os mar chá de uma barata torrada para tratar
próprios insetos) por feirantes do Centro de asma.
Abastecimento da cidade. BarbeiroIntegralPegar um barbeiro ma-
Os resultados relacionados aos insetos podem ser cho, colocá-lo numa panela e fazer um chá, o qual é indica-
verificados abaixo, os demais resultados poderão ser con- do para o tratamento de todo tipo de doença do coração.
sultados no artigo (endereço da Internet ao final desta ma- Besouro-do-amendoimIntegralComer o besouro
téria). puro ou misturado na comida para tratar impotência se-


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xual, irritação nos olhos e reumatismo. seminado e constante de matérias primas animais na me-
FormigaIntegralPegar formigas pequenas e misturá- dicina popular em Feira de Santana, Estado da Bahia, e o
las com o açúcar. Adoçar o café ou o suco com este açúcar relato testemunhal de seus usuários quanto a sua eficácia
para melhorar a visão. permitem supor que substâncias de valor medicinal desco-
Formiga-preta-grandeIntegralTorrar o “inseto” nhecidas pela ciência ocidental possam estar presentes”.
todo, depois moê-lo e colocar o pó na comida ou fazer um concluem ainda que “torna-se necessário, contudo, desco-
chá para tratar asma. brir se as aplicações medicinais dos produtos de origem
FerrãoA ferroada é indicada para curar reu- animal apresentam efeitos significativos no reestabeleci-
matismo e dores nas costas. mento das condições de saúde e bemestar dos usuários. Se
GafanhotoCascaDa “casca” (exoesqueleto) moída é levados em conta, os remédios zooterápicos poderiam au-
feito um chá que cura doença de pele e derrame. xiliar em programas locais de saúde pública”. E finalizam
Integral Torrar ou secar ao sol o animal todo, “Deve-se atentar, porém, para a utilização sustentável dos
depois moê-lo e colocar o pó na água fervente; depois coar recursos animais para evitar sua depleção. Neste sentido,
e beber o chá para curar asma ou hepatite. aquelas espécies que possuam efeitos curativos semelhan-
GriloIntegralTorrar ou secar ao sol animal todo, de- tes podem substituir as que são raras e/ou difíceis de obter
pois moê-lo e colocar o pó na água fervente; depois coar e em seu ambiente natural.” 
beber o chá para curar asma. Cozinhar um grilo inteiro e
beber o caldo para curar “doenças de mulher” (?). Baseado em:
Costa Neto, E M. & J.J. Resende. 2004. A percepção de animais como
Rola-bostaIntegralLavar bem o besouro e fazer um “insetos” e sua utilização como recursos medicinais na cidade de Feira de
chá, o qual é recomendado para cansaço e derrame. Santana, Estado da Bahia, Brasil. Acta Scientiarum. Biological Sciences,
TanajuraIntegralTorrar toda a formiga e fazer um 26:143-149.
chá, o qual é recomendado para o tratamento de falta de http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciBiolSci/index
ar e dor de garganta. Nota: O texto na íntegra encontra-se no endereço da web acima.
Os autores concluiram no estudo que “O uso dis-

Invasões biológicas e insetos sociais invasores

A
s invasões biológicas, além de causarem preju- tanto para o homem quanto ao ambiente natural. Parte de
ízos à economia e à saúde humana, são uma das seu sucesso em invadir ambientes deve-se aos seus dife-
principais causas da redução da biodiversidade. rentes modos de reprodução, dispersão e comportamen-
Embora essas invasões ocorram naturalmente, o homem tos, característicos de insetos sociais. Essas características
as potencializa e acelera, transportando e introduzindo os aumentam suas taxas reprodutivas, bem como alteram sua
organismos invasores, eliminando seus inimigos naturais resposta às condições ambientais e às interações com ou-
e criando condições ambientais favoráveis para seu desen- tros organismos, assim devem ser levadas em consideração
volvimento. Para se prever e traçar estratégias de controle em modelos de invasão delineados para esses insetos. 
de invasões é importante o estudo de modelos de como as
invasões biológicas ocorrem e quais os fatores que as in- Baseado em:
Ribeiro, F.M. & A.E. de C. Campos-Farinha. 2005. Invasões biológicas e
fluenciam, como a taxa de crescimento da população exóti- insetos sociais invasores. Biológico, 67:11-17
ca, sua freqüência de chegada ao ambiente, sua resistência www.biologico.sp.gov.br/biologico/v67_1_2/ribeiro.PDF
a fatores bióticos e a presença do homem na área invadida.
Os insetos sociais, principalmente as formigas, estão en- Nota: O texto na íntegra encontra-se no endereço da web acima.
tre os organismos invasores que causam grandes prejuízos

Inteligência Coletiva: Os insetos possuem!

A
inteligência coletiva inclui qualquer tentativa de Sendo assim, um sistema coletivo é aquele com-
projetar algoritmos ou dispositivos distribuídos de posto por um conjunto de agentes capazes de interagir en-
solução de problemas inspirados pelo comporta- tre si e com o meio ambiente. A inteligência coletiva é uma
mento coletivo de insetos sociais e outras sociedades ani- propriedade emergente de um sistema coletivo que resulta
mais. Desta forma, A vida em grupos sociais aumenta a de seus princípios de proximidade, qualidade, diversidade,
probabilidade de acasalamento, facilita a caça e coleta de estabilidade e adaptabilidade.
alimentos, reduz a probabilidade de ataque por predado- Na matéria “Teoria dos enxames”, publicada na
res, permite a divisão de trabalho, etc. edição de julho de 2007 pela National Geographic, Petter
Miller aborda vários aspectos da teria dos enxames, de-
Algumas propriedades da inteligência coletiva: montrando como os insetos tem uma organização harmô-
ÜProximidade: os agentes devem ser capazes de intera- nica. Na referida reportagem a Dra. Deborah M. Gordon,
gir; da Stanford University, declara que “se notarmos uma
ÜQualidade: os agentes devem ser capazes de avaliar seus formiga tentando fazer algo sozinha, ficaremos impressio-
comportamentos; nados com a sua estipidez”, mas o êxito de mais de 12 mil
ÜDiversidade: permite ao sistema reagir a situações ines- espécies de formigas, espalhadas pelo mundo inteiro é ex-
peradas; plicado pelo processo de coletividade de aprendizado (ver
ÜEstabilidade: nem todas as variações ambientais devem matéria Formigas jovens acumulam conhecimento para
afetar o comportamento de um agente; vida adulta, página 4). Desta forma, uma colônia é capaz
ÜAdaptabilidade: capacidade de se adequar a variações de resolver problemas inconcebíveis para cada formiga, tal
ambientais. como achar o caminho mais curto para a fonte de alimento


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(Figura 1). Individualmente as formigas são incapazes de fontes de alimento.
realizar uma tarefa, mas a coletividade age com rapidez e A escolha do caminho mais curto entre a fonte de alimen-
eficiência. to e o ninho permite que as formigas minimizem o tempo

Figura 1. Processos de recrutamento de formigas (Castro & Von Zuben).


As formigas agem com o processo de recrutamento, que gasto nesta viagem, o que possibilita menor gasto de ener-
facilita a atividade em grupo. Existem diversas formas de gia por parte da colônia. Enquanto uma formiga atravessa
recrutamento como segue: um determinado caminho entre cidades, ela libera uma
ÜRecrutamento em massa: um explorador descobre a fon- certa quantidade de feromônio inversamente proporcional
te de alimento e retorna ao ninho, liberando uma substân- ao comprimento total do caminho percorrido pela formi-
cia química denominada de feromônio e iniciando a for- ga: quanto menor o comprimento do caminho percorrido,
mação de uma trilha. Outras formigas detectam a trilha de maior a quantidade de feromônio liberada e vice-versa.
feromônio e seguem-na de forma a reforçá-la. Depois que todas as formigas tiverem completado suas ro-
ÜRecrutamento de grupo: o explorador guia um grupo de tas e liberado feromônio, as conexões pertencentes a maior
formigas até a fonte de alimento utilizando uma substân- quantidade de rotas mais curtas terão mais feromônio de-
cia química com ação de curto alcance. positado. Como o feromônio evapora com o tempo, quanto
ÜRecrutamento em linha: o explorador convida outras maior o comprimento do caminho, mais rápido será o de-
formigas a seguí-lo. saparecimento de uma trilha em um caminho longo.
O feromônio possui duas funções importantes: Um fato muito intrigante é: como centenas de for-
definir a trilha a ser seguida e o Servir como sinal de orien- migas realizam uma determinada tarefa sem alguém no
tação para as formigas passeando fora do ninho. Exemplo comando? A teoria dos cientistas convergem para que o
de experimento realizado com formigas para avaliar a im- funcionamento da colônia está baseado em incontáveis in-
portância da trilha de feromônio na coleta de alimentos, terações entre as formigas individuais, cada qual seguindo
pode ser verificado na Figura 2. regras práticas muito simples, sendo este tipo de sistema
Algumas observações importantes deste experimento: descrito com auto-organizados.
Os caminhos mais curtos são privilegiados; Considerando o problema de distribuição de ta-
ÜA probabilidade de um caminho mais curto ser escolhido refas, podemos considerar o deserto do Arizona, local de
aumenta com a diferença de comprimento entre os cami- estudo de Deborah Gordon sobre as formigas-colhedoras-
nhos (estigmergia); vermelhas (Pogonomyrmex barbatus), a cada manhã a co-
ÜSe o caminho mais curto for apresentado (muito) depois l6onia decide quantas operárias serão enviadas para fora
do caminho mais longo, ele não será selecionado, a não em busca de alimento. E essa quantidade pode variar, de-
ser que o feromônio pendendo das con-
evapore (muito) ra- dições de cada dia.
pidamente; Caso as formigas
ÜA quantidade de forrageiras tenham
feromônio que uma topado recentemen-
formiga libera é di- te com um depósito
retamente propor- excepcional de se-
cional à qualidade mentes nutritivas,
da fonte de alimento talvez seja preciso
(estímulo) encontra- enviar mais operá-
da; rias a fim de trans-
ÜA aleatoriedade portar o tesouro
possui um papel im- Figura 2. Marcação de trilha através feromônio, demonstrando a melhor rota (caminho mais para o formigueiro.
portante neste pro- curto). (Castro & Von Zuben). Este foi danificado,
cesso. As formigas na noite anterior,
não seguem as trilhas perfeitamente, elas possuem uma por uma chuva forte? Um grupo adicional precisa ficar e
determinada probabilidade de se perderem da trilha ao ajudar nos reparos. A mesma formiga pode trabalhar um
longo do percurso. Este tipo de comportamento é impor- dia no formigueiro e, no seguinte, levar o lixo para fora
tantíssimo para que seja possível a descoberta de outras dele. A pergunta é: como a colônia consegue fazer tais


Ano 5, Número 02, Fevereiro 2008
ajustes se não há ninguém no comando? Deborah sugere Quando se trata de inteligência de enxame, as for-
uma explicação para isso. migas não são os únicos insetos que têm algo útil a nos
As formigas comunicam-se por meio do toque e do ensinar. Em uma pequena ilha no litoral sul do Maine,
odor. Quando uma delas dá um encontrão em outra, am- o biólogo Thomas Seeley vem investigando a extraordi-
bas se farejam com suas antenas para ver se pertencem ao nária capacidade das abelhas para tomar boas decisões.
mesmo formigueiro e em que tarefas estão empenhadas. Com uma única colmeia abrigando até 50 mil operárias,
(Aquelas que trabalham fora do formigueiro exalam um elas aperfeiçoaram maneiras de resolver as diferenças de
cheiro diferente das que permanecem no interior.) Antes opinião entre os indivíduos em benefício da colônia. Se as
de deixarem o formigueiro a cada dia, as forrageiras espe- pessoas pudessem fazer o mesmo em salas de reuniões ou
ram pelo retorno das patrulheiras que saíram de manhã. assembléias de condomínio, diz Seeley, evitaríamos mui-
Assim que estas retornam, elas tocam brevemente com tos desgastes associados à tomada de decisões que afetam
suas antenas nas das forrageiras. “Ao entrar em contato nossa vida. 
com uma patrulheira, a forrageira tem um estímulo para Baseado em:
Castro, L.N. & F.J. Von Zuben. Inteligência Coletiva, IA006, DCA/FEEC/
sair”, diz Deborah. “Mas são necessários vários contatos Unicamp, disponível em:
com intervalos inferiores a dez segundos para que ela tome ftp://ftp.dca.fee.unicamp.br/pub/docs/vonzuben/ia006_03/topico4_03.pdf
essa decisão.” Gordon, D.M. 2002. Formigas em ação - como se organiza uma sociedade
Hoje as empresa Norte Americanas utilizam o sis- de insetos, Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 144p.
Miller, P. 2007. Teoria dos enxames. National Geographic, julho 2007.
tema de rotas semelhante ao das formigas. Um exemplo 88:36-57.
é a a Air Liquide, que associou a abordagem das formigas http://nationalgeographic.abril.com.br/ng/edicoes/88/reportagens/mt_239989.shtml

a outras técnicas de inteligência artificial de modo a levar


Leitura Recomendada:
em conta todas as permutações entre cronogramas de pro- Dorigo, M. & T. Stutzle. 2004. Ant Colony Optimization. MIT Press. Gor-
dução de suas usinas, condições climáticas e rotas de ca- don, D.M. “Control Without Hierarchy.” Nature (March 2007).
minhões - milhões de possíveis decisões e resultados por Moffett, Mark W. “Army Ants: Inside the Ranks.” National Geographic
dia. Todas as noites, o modelo computacional é alimenta- (August 2006), 136-49.
www.nationalgeographic.com/ngm/0608/feature7/index.html
do com previsões de demanda e de custos de produção. Seeley, T.D., P.K. Visscher & K.M. Passino. “Group Decision Making in
“Leva quatro horas para fazer todo o processamento”, con- Honey Bee Swarms.” American Scientist (May-June 2006), 220.
ta Charles N. Harper, que cuida do sistema de entregas da
Air Liquide. “Mas todas as manhãs, às 6 horas, temos um
esquema para orientar-nos durante o dia.

Vespas Travam Guerra Entre Irmãos

P
ara compreender as regras que regem a vida, os bi- soldados, por fim, começam a devorar os órgãos da hospe-
ólogos muitas vezes saem em busca de extremos ra- deira, transformam-se em pupa e finalmente viram vespas
ros. E, em se tratando de vida familiar, é difícil en- adultas capazes de voar. Os soldados, por outro lado, não
contrar um exemplo mais esquisito do que o de uma vespa conseguem fugir. “É o fim da linha para os soldados quan-
comum conhecida como Copidosoma floridanum (Hym.: do seus irmãos devoram a lagarta”, disse Strand.
Encyrtidae). Os biólogos conhecem os estranhos soldados da
“Seria impossível imaginar um ciclo de C. floridanum há mais de um século, mas estão
vida mais surreal do que o desses animais”, aproveitando uma nova onda de interesse
declarou Mike Strand, professor em um modelo que os cientistas podem
da Universidade da Geórgia. A C. estudar para aprender sobre a evolu-
floridanum, comum no território ção das famílias. As forças que con-
americano, é um parasita. As tribuem para essa evolução podem
vespas fêmeas depositam um ser particularmente intensas entre
ou dois ovos dentro do ovo da essas vespas, porque milhares de-
lagarta-do-repolho. À medida que las estão lutando para obter comi-
o ovo hospedeiro se transforma em da dentro de um único hospedeiro.
lagarta, o ovo da vespa vira uma massa
microscópica semelhante a um cacho de Soldados misteriosos
uvas. Os biólogos estão tentando en-
Cada massa de células, Vespa Copidosoma floridanum: larvas comem lagarta por tender como os soldados se en-
dentro e travam “guerra” misteriosa (Foto: Divulgação)
por sua vez, transforma-se em um caixam nessa batalha. “A grande
embrião de vespa. Apenas um ovo discussão sobre esses soldados é
é capaz de gerar mais de 3 mil irmãos geneticamente idên- o que estão fazendo dentro do hospedeiro”, declarou An-
ticos, cada um com cerca de meio centímetro de compri- drew Gardner, biólogo evolucionista da Universidade de
mento. Edimburgo.
A maior parte das larvas lembra vermes, que pas- Alguns indícios sugerem que os soldados existem
sam a sugar o sangue da lagarta. No entanto, cerca de um para destruir a competição. A larva do repolho muitas ve-
quarto das vespas assume uma forma completamente di- zes faz o papel de hospedeira de larvas de diversas mães
ferente. Elas desenvolvem corpos finos e mandíbulas áspe- vespas. Pode até carregar larvas de outras espécies de ves-
ras. Em vez de sugarem sangue, essas centenas de solda- pas. Os soldados eliminam as vespas com as quais não são
dos atacam outras larvas de vespas. aparentados e assim permitem que seus irmãos comam
As sugadoras de sangue que não são mortas pelos mais.


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Os soldados em si não são capazes de se reproduzir de vespas. Strand e Gardner planejam combinar seus dados
(sequer possuem células sexuais). Contudo, a seleção natu- experimentais e modelos matemáticos para verificar se os
ral pode favorecer os genes dessas criaturas. Extinguindo soldados beneficiam seus irmãos de duas formas, em vez de
os concorrentes, eles aumentam as chances de que seus ir- uma. 
mãos geneticamente idênticos sobrevivam e tenham prole.
Strand e colegas descobriram que os soldados con- Fonte: G1 (www.g1.com.br)
seguem distinguir entre seus irmãos e as vespas sem paren-
tesco, habilidade fundamental para a destruição dos rivais. Piolhos migraram com os seres
Em outro experimento, eles injetaram ovos de vespas Co- humanos desde a África
pidosoma sem parentesco em uma larva do repolho que já

P
era hospedeira de larvas desenvolvidas. As intrusas foram iolhos isolados de duas múmias
em quase todos os casos aniquiladas pelos soldados resi- encontradas no litoral desértico
dentes. do Peru indicam que esses insetos
Por outro lado, Strand e equipe também documen- migraram com os seres humanos desde
taram que os soldados chegam a matar membros da própria a saída do continente africano, há 51 mil
família. Quando as mães Copidosoma colocam dois ovos anos (segundo estudos recentes).
em uma hospedeira, um ovo produz milhares de machos Análises genéticas mostram que Foto: Ciência Hoje
e o outro produz milhares de fêmeas. Os soldados-fêmea os piolhos de cabeça vistos agora são seme-
acabam destruindo muitos irmãos. lhantes a outros, espalhados pelo mundo, e que já se sabia
Gardner e sua equipe recentemente desenvolve- que viviam na época em que o homem deixou a África.
ram um modelo matemático dos soldados e sugadores de Os cientistas já identificaram três grupos de piolhos no
sangue da C. floridanum, para compreender como esse mundo. O tipo A é cosmopolita. O B é mais comum na Amé-
tipo de fratricídio pode ter se desenvolvido. Embora os sol- rica do Norte e Europa e o C é o mais raro.
dados sejam geneticamente idênticos às irmãs, eles com- As cabeças das duas múmias de mil anos, que es-
partilham apenas alguns dos seus genes com os machos, tavam separadas do corpo no momento do estudo, tinham
que são provenientes de um ovo separado. Isso significa 400 e 500 piolhos cada. 
que os soldados obtêm uma vantagem evolutiva maior com Fonte: Folha Online (www.folha.uol.com.br)
o sucesso das irmãs do que com o dos irmãos. Poucos ma-
chos são mais do que suficientes para fertilizar milhares de
fêmeas. Qualquer excesso de machos dentro do hospedeiro
é apenas competição para as irmãs.

Guerra dos sexos


“Há uma guerra entre os sexos”, disse Gardner.
“Os soldados-fêmea estão comendo os machos para que as
fêmeas possam obter mais recursos.” O modelo de Gardner
prevê que, se um conflito de proporção de sexos está resul-
tando na evolução dos soldados, os ovos femininos devem
se desenvolver em mais soldados do que os ovos masculi-
nos. E é exatamente isso que parece acontecer.
Gardner e Strand agora estão unindo forças para
estudar as vespas. Eles concordam que a história completa O projeto Entomologistas do Brasil oferece um ferramenta para estudos
de comunidades, trata-se software DivEs - Diversidade de Espécies
dos soldados pode, na realidade, associar as duas explica- v2.0, esta ferramenta é gratuita e está disponível no site do projeto
ções. “Temos de usar ambas”, disse Strand. (www.ebras.bio.br/dives).
O fato é que os soldados surgem em duas formas di-
ferentes. Os soldados que se desenvolvem cedo costumam Expediente
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atacar a própria família. Os soldados com desenvolvimento Editor-Chefe: William C. Rodrigues
mais tardio têm maior propensão a atacar outras espécies Endereço e contato:
 Rua Saquerema, 20 Casa 05 Boa Esperança Seropédica-RJ CEP
23.890-000
Curiosidades Sobre Insetos Tel: 21-9385-9538, 21-2682-0235
O mais forte de todos os animais - besouro e-mail: ebras@ebras.bio.br; infoinsetos@ebras.bio.br 
rinoceronte (Oryctes rhinoceros) Site: www.ebras.bio.br 
- Ele vive na America do Sul é o Periodicidade: Mensal (2008)
Publicação on-line no site do projeto Entomologistas do Brasil
mais forte de todos os animais.
Diagramação: Lizaro Soft - www.lizarosoft.ebras.bio.br 
Este inseto surpreendente pode Este Informativo é distribuído através da Creative Commons Licence.
erguer oitocentas cinqüenta http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br 
vezes seu próprio peso. Se http://www.ebras.bio.br/licenca.asp 
você fosse tão forte quanto
este besouro, você poderia
erguer três elefantes - um peso
equivalente a 12 toneladas. 

Foto: Jonas (www.photografos.com.br)

Fonte: Saúde Animal (www.saudeanimal.com.br)

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