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Dissertação de Mestrado
em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território
Nota: Márcio Filipe Paulo de Campos,
Cidades Circulares: Estratégias de
Climáticas, 2023
Janeiro, 2023
Cidades Circulares:
Estratégias de Eco-Urbanismo em territórios Brownfield para a
Descarbonização, Mitigação e Adaptação às Alterações Climáticas
Versão corrigida e melhorada após defesa pública
Dissertação de Mestrado
em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território
Janeiro, 2023
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
do grau de Mestre em Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território,
realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Margarida Pereira e
coorientação do Professor Doutor José Eduardo Ventura
Copyright
CIDADES CIRCULARES: ESTRATÉGIAS DE ECO-URBANISMO EM TERRITÓRIOS
BROWNFIELD PARA A DESCARBONIZAÇÃO, MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO ÀS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Márcio Filipe Paulo de Campos
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Faculdade de Ciências e Tecnologia e a
Universidade Nova de Lisboa
(Assinatura)
ii
Dedicatória pessoal
iii
AGRADECIMENTOS
Por fim, um agradecimento especial ao meu Pai, à minha Mãe e à minha Irmã pelo
apoio incondicional, amor e carinho ao longo de toda a vida e pela motivação que
sempre transmitiram ao longo do meu percurso académico. Uma dedicatória especial
ao meu Pai que estará sempre presente.
iv
CIDADES CIRCULARES: ESTRATÉGIAS DE ECO-URBANISMO EM TERRITÓRIOS
BROWNFIELD PARA A DESCARBONIZAÇÃO, MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO ÀS
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
RESUMO
Os desafios que as cidades enfrentarão num futuro próximo relegam para a construção
de estratégias para uma maior resiliência dos territórios e a necessária sustentabilidade
ambiental. Devido às incertezas e vulnerabilidades a que os territórios estarão sujeitos
em todo o mundo, como resultado das imprevisibilidades das Alterações Climáticas,
diversas consequências se expectam. Neste âmbito, a presente dissertação pretende
discutir a importância de um Planeamento Urbano Sustentável que remeta para a
descarbonização das cidades através da circularidade de recursos e para premissas que
resultem em modelos de adaptação e mitigação às Alterações Climáticas através de
princípios claros que se estabeleçam como estratégias de Eco-urbanismo a implementar
nos territórios, tendo como resultado a definição de modelos de Cidades Circulares. As
frentes de água poderão assumir um papel fundamental no desenvolvimento de
experiências urbanas inovadoras, não só pela posição central que desempenham, mas
também pelo seu carácter obsoleto. Assim, esta investigação pretende alcançar, com
objectividade, a consolidação do conhecimento produzido em torno desses temas, em
articulação com a análise mais específica de conceitos de Urbanismo Sustentável
aplicados à apropriação regenerativa de brownfields portuários, como motores de um
desenvolvimento urbano ecológico, de uma protecção costeira e das actividades que na
cidade ocorrem.
v
CIRCULAR CITIES: ECO-URBANISM STRATEGIES IN BROWNFIELD TERRITORIES FOR
DECARBONIZATION, MITIGATION AND ADAPTATION TO CLIMATE CHANGE
ABSTRACT
The challenges that cities will face in the near future relegate to the construction of
strategies for greater resilience of the territories and the necessary environmental
sustainability. Due the uncertainties and vulnerabilities that territories will be subject to
around the world, as a result of the unpredictability of Climate Change, several
consequences are expected. In this context, the present dissertation intends to discuss
the importance of a Sustainable Urban Planning that refers to the decarbonization of
cities through the circularity of resources and to premises that result in models of
adaptation and mitigation to Climate Change through clear principles that are
established as Eco-urbanism strategies to be implemented in the territories, resulting in
the definition of Circular Cities models. Waterfronts could play a key role in the
development of innovative urban experiences, not only because of their central position
but also because of their obsolete nature. Thus, the research aims to objectively achieve
the consolidation of the knowledge produced around these themes, in articulation with
a more specific analysis of Sustainable Urbanism concepts applied to the regenerative
appropriation of port brownfields, as engines of an ecological urban development, the
coastal protection and the activities that take place in the city.
vi
ÍNDICE
vii
II. 2.3 Brownfield .......................................................................................................... 57
Capítulo III: Caso referencial de boas práticas: Stockholm Royal Seaport ................... 71
Capítulo IV: Caso de estudo: Frente Ribeirinha de Vila Franca de Xira ...................... 100
viii
IV. 4.3.2 Frente Ribeirinha de VFX ................................................................ 118
ix
Capítulo VI: Conclusões ............................................................................................ 173
Anexos .......................................................................................................................... i
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Framework 9R – Sistema evolutivo para a transição de uma economia linear para
uma economia circular ........................................................................................................ 20
Figura 6 (a) e (b): Emissões antropogénicas futuras dos principais impulsionadores das
alterações climáticas e contribuições de aquecimento por grupos de impulsionadores para
os cinco cenários ilustrativos .............................................................................................. 46
Figura 8: Localização e limite da área de intervenção do SRS e vista aérea do SRS ......... 75
Figura 14: Localização e vista aérea do Royal National City Park ...................................... 78
Figura 17: Localização de Vila Franca de Xira na AML, relação com a península de Setúbal
e integração na Região de Lisboa e Vale do Tejo ............................................................. 116
Figura 18: Organização administrativa do território de Vila Franca de Xira ................... 117
xi
Figura 19: Delimitação do caso de estudo........................................................................ 119
Figura 20: Concelho de Vila Franca de Xira e identificação de Mouchões e Lezíria ....... 119
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 10: Estratégias de adaptação face à subida do nível médio das águas do mar ... 57
Tabela 13: Tabela síntese com a relação dos objectivos de desenvolvimento do SRS com
os princípios de planeamento urbano e metas de desenvolvimento sustentável .......... 82
Tabela 17: Temas, categorias e subcategorias que integram o conjunto de questões .. 109
Tabela 20: Variáveis climáticas e respectivas tendências recentes no concelho ........... 133
xiii
Tabela 21: Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX: Barreiras, desafios e soluções .. 168
Tabela 22: Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX: Oportunidades e contributos ... 170
xiv
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo VI: Exemplos de áreas requalificadas na Frente Ribeirinha de VFX ...................... xiv
Anexo IX: Síntese dos principais impactes futuros para o concelho de VFX associados às
alterações climáticas .......................................................................................................... xxi
xv
LISTA DE ABREVIATURAS
AC Alterações Climáticas
AML Área Metropolitana de Lisboa
APA Agência Portuguesa do Ambiente
AR4 Fourth Assessment Report (Quarto Relatório de Avaliação)
AR5 Fifth Assessment Report (Quinto Relatório de Avaliação)
AR6 Sixth Assessment Report (Sexto Relatório de Avaliação)
CABERNET Concerted Action on Brownfield and Economic Regeneration
Network
CCDR-LVT Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa
e Vale do Tejo
CDB Convenção sobre Diversidade Biológica
CE Comissão Europeia
CEDRU Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano
CPDP Climate Positive Development Programme
CQNUAC Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas
CMVFX Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
CO2 Dióxido de Carbono
COP Conference of the Parties (Conferência das Partes)
DGT Direcção Geral do Território
EbA Ecosystem-based adaptation
EC Economia Circular
EEA European Environment Agency
EIB European Investment Bank
EMF Ellen MacArthur Foundation
EMAAC Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas
ENAAC Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas
ENSURE European Sustainable Urbanisation through port city
Regeneration
ESPON European Territorial Observatory Network
xvi
EPA Environmental Protection Agency
FAR First Assessment Report (Primeiro Relatório de Avaliação)
GEE Gases de Efeito de Estufa
GMST Global mean surface temperature (temperatura média global da
superfície)
GSI Green Space Index (Índice de Espaço Verde)
GST Global Surface Temperature (Temperatura global da superfície)
HOMBRE Holistic Management of Brownfield Regeneration
ICNF Instituto de Conservação da Natureza e Florestas
IEEP Institute for European Environmental Policy
IGT Instrumentos de Gestão Territorial
IPBES Platform on Biodiversity and Ecosystem Services
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
IPMA Instituto Português do Mar e da Atmosfera
I&D Investigação e Desenvolvimento
LBGPPSOTU Lei de Bases Gerais da Política Pública de Solos, de Ordenamento
do Território e de Urbanismo
NAU Nova Agenda Urbana
NbS Nature-based Solutions (Soluções de Base Natural)
NC Neutralidade Carbónica
NCS Natural Climate Solutions (Soluções Climáticas Naturais)
NDCs Nationally Determined Contributions
NMM Nível Médio das Águas do Mar
NU Nações Unidas
ºC Graus celsius
ODS Objectivos de Desenvolvimento Sustentável
ONU Organização das Nações Unidas
OT Ordenamento do Território
PAEC Plano de Acção para a Economia Circular
PPM Parts Per Million (Partes Por Milhão)
PPB Parts Per Billion (Partes Por Bilião)
xvii
PDL Previously Developed Land
PDM Plano Director Municipal
PDM-VFX Plano Director Municipal de Vila Franca de Xira
PMAAC-AML Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas (Área
Metropolitana de Lisboa)
PMAAC-VFX Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas (Vila
Franca de Xira)
PNAC Programa Nacional para as Alterações Climáticas
PNPOT Programa Nacional da Polítia do Ordenamento do Território
PROT Plano Regional de Ordenamento do Território
PROT-AML Plano Regional de Ordenamento do Território da Área
Metropolitana de Lisboa
RAN Reserva Agrícola Nacional
REN Reserva Ecológica Nacional
RNET Reserva Natural do Estuário do Tejo
RESCUE Regeneration of European Sites in Cities and Urban Environments
RCD Resíduos de Construção e Demolição
RLVT Região de Lisboa e vale do Tejo
RJIGT Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial
RNBC Roteiro Nacional de Baixo Carbono
RNC Roteiro Nacional para a Neutralidade Carbónica
SAR Second Assessment Report (Segundo Relatório de Avaliação)
SFP Summary for Policymakers
SNM Subida do Nível Médio das Águas do Mar
SRS Stockholm Royal Seaport
TAR Third Assessment Report (Terceiro Relatório de Avaliação)
TIMBRE Tailored Improvement of Brownfield Regeneration in Europe
UE União Europeia
UN United Nations (Nações Unidas)
UNEP United Nations Environment Programme (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente)
UNFCCC United nations Framework Conventionon Climate Change
xviii
(Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas)
U4SSC United for Smart Sustainable Cities
VFX Vila Franca de Xira
WCED World Comission on Environment and Development (Comissão
Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento)
WEF World Economic Forum (Fórum Económico Mundial)
WMO World Meteorological Organization (Organização Meteorológica
Mundial)
xix
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
Partindo destes territórios obsoletos que, na maior parte das vezes, resultam em
passivos ambientais com consequências drásticas para a contaminação dos solos, dos
lençóis freáticos e para o funcionamento dos ecossistemas, importa abordar as
potencialidades de um sistema de circularidade de recursos nos processos de
regeneração ou reconversão destas áreas industriais abandonadas, como ponto de
1
partida para a resiliência urbana das cidades face aos desafios que a crise climática
apresenta.
“Em meados do século XX, vimos o nosso planeta do espaço pela primeira vez. Os
historiadores podem, eventualmente, descobrir que essa visão teve um impacto maior
no pensamento do que a revolução copernicana do século XVI, que perturbou a auto-
imagem humana ao revelar que a Terra não é o centro do universo. Do espaço, nós
vemos uma pequena e frágil bola dominada não pela actividade humana e pelo edifício,
mas por um padrão de nuvens, oceanos, vegetação e solos. A incapacidade de a
humanidade encaixar as suas actividades nesse padrão está a mudar os sistemas
planetários, fundamentalmente. Muitas dessas mudanças são acompanhadas por riscos
que ameaçam a vida. Essa nova realidade, da qual não há escapatória, deve ser
reconhecida e gerida” (UN, 1987, p.11). O relatório Our Common Future (1987), também
conhecido por Brundtland Report, elaborado pela World Comission on Environment and
Development, inicia uma nova abordagem para a acção ambiental focada no conceito
(primeiramente utilizado) de Desenvolvimento Sustentável1, alertando, ainda nos finais
do século XX, para os desafios ambientais futuros. Mas, antes desse momento, um dos
primeiros relatórios das Nações Unidas, datado de 1968 – Activities of United Nations
Organizations and programes relevant to the human environment: report of the
Secretary-General2 – aborda diversas questões que se relacionam com o ambiente,
poluição, crescimento urbano desordenado e descontrolado, uso racional do solo
urbano, planeamento para o desenvolvimento urbano, clima urbano, entre outros
temas que já na altura se revelavam de máxima pertinência (UN, 1968, pp.3-4). Neste
mesmo documento, a problemática das alterações no clima é pela primeira vez
abordada, sendo aí referido que “Nas actividades de planeamento é essencial saber até
que ponto as condições atmosféricas normais estão estáveis (…) revelando-se como uma
questão importante que deve ser considerada, quer essas mudanças tenham sido
1
O relatório Our Common Future define o Desenvolvimento Sustentável como: “(…) a development that
meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own
needs”. (UN, 1987, p.37).
2
Fonte: https://digitallibrary.un.org/record/729430?ln=en
2
introduzidas pelo homem, quer através de eventos atmosféricos. Na maioria dos casos,
as modificações introduzidas pelo homem não são deliberadas, mas outras são e pensa-
se que no futuro o homem pode ser capaz de influenciar o clima, não apenas numa escala
pequena, nas também sobre áreas maiores” (UN, 1968, p.22).
3
Fonte: https://ec.europa.eu/clima/eu-action/european-green-deal_en
4
A neutralidade climática refere-se a um estado em que as actividades humanas resultam em nenhum
efeito líquido sobre o sistema climático (sistema complexo que consiste em cinco componentes principais:
atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera, biosfera e as interacções entre elas). Alcançar tal estado requer
o equilíbrio entre emissões residuais e a remoção de emissões de dióxido de carbono, bem como
contabilizar os efeitos biogeofísicos regionais ou locais de actividades humanas que, por exemplo,
afectam o clima (IPCC, 2018, p.545).
3
Por outro lado, os fenómenos climáticos extremos que têm sucedido um pouco
por todo o mundo são, com clareza científica, resultado das mudanças climáticas. A 21ª
Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações
Climáticas (COP21), que teve lugar em Paris, em 2015, constituiu um momento histórico
no qual foi assinado o Acordo de Paris, o qual estabeleceu, como uma das suas ambições
de longo prazo, de acordo com o relatório do Painel Intergovernamental para as
Alterações Climáticas (IPCC), a limitação do aumento da temperatura média global a
níveis abaixo dos 2°C acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar
o aumento da temperatura a 1,5°C, reconhecendo que isso reduzirá, significativamente,
os riscos e impactos resultantes das imprevisibilidades futuras das alterações climáticas5
(IPCC, 2018). Apesar da pandemia da COVID-19 ter causado uma redução pouco
expressiva nas emissões de dióxido de carbono, o mundo caminha para um aumento de
temperatura de 3,2°C ainda neste século - muito além das metas anunciadas no Acordo
de Paris (UNEP, 2020, p.13). O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC – Alterações
Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade – veio reforçar a necessidade
das cidades e os governos locais unirem esforços para a concretização de acções
concretas de adaptação e mitigação sob pena das projecções climáticas actuais serem
irreversíveis (IPCC, 2022). O relatório sugere que o mundo deve reduzir suas emissões
totais em 45% até 2030 para evitar uma catástrofe climática. Nos níveis atuais, as
emissões globais aumentarão quase 14% neste período. Se for esse o caso, teremos de
nos adaptar a impactos irreversíveis, como o degelo, eventos climáticos frequentes e
intensos e perda imensurável de biodiversidade e ecossistemas. O relatório conclui que
quase 3,3 bilhões de pessoas vivem agora em contextos climáticos altamente
vulneráveis, sendo que o desaparecimento, em massa, de fauna e flora poderá ser uma
consequência nefasta no futuro. Segundo o relatório mais recente - Emissions Gap
5
As alterações climáticas referem-se a uma mudança no estado do clima que pode ser identificada (por
exemplo, usando testes estatísticos) por mudanças na média e/ou na variabilidade das suas propriedades
e que persiste por um período prolongado, normalmente décadas ou mais. As alterações climáticas
podem resultar de processos internos naturais ou forças externas, como modulações dos ciclos solares,
erupções vulcânicas e mudanças na composição da atmosfera ou no uso da terra. A Convenção-Quadro
sobre Alterações Climáticas (UNFCCC), no seu artigo 1.º, define as alterações climáticas como: ‘uma
mudança de clima que é atribuída directa ou indirectamente à actividade humana que altera a
composição da atmosfera global e que se soma à variabilidade natural do clima observada em períodos
de tempo comparáveis’. Existe aqui uma distinção entre as alterações climáticas atribuíveis às actividades
humanas e a variabilidade climática atribuível a causas naturais (IPCC, 2018, p.544).
4
Report 2021: The Heat Is On - se não existir uma rápida e imediata redução da emissão
de gases de efeito de estufa (GEE), a probabilidade de o aquecimento global ultrapassar
1,5°C nas próximas duas décadas será uma realidade, estando fora de alcance a
limitação do aquecimento a 1,5°C ou até mesmo a 2°C até ao final do século (UNEP,
2021a, p.16).
6
Toponímia que designa terrenos que foram consolidados através de ocupação secular agropecuária,
formados a partir de deposições aluvionares na parte superior do Estuário do Tejo, que formam ou não
ilhas, protegidas das águas estuarinas por um sistema de diques ou comportas - Plano de Ordenamento
da Reserva Natural do Estuário do Tejo, DR 1ª Série n.º 228 de 24 de novembro de 2008 (Câmara Municipal
de Vila Franca de Xira, 2016, p.2).
5
ponto de partida para a sua adaptação aos riscos e vulnerabilidades que resultam das
Alterações Climáticas (AC).
6
que se estabeleçam como estratégias de Eco-urbanismo a implementar nos territórios e
no planeamento urbano, tendo como objectivo a construção de modelos de Cidades
Circulares e Circularidade Urbana. Por outro lado, segundo Fernandes et al. (2018,
p.1531), a discussão científica tem dado pouca atenção à forma como os processos de
regeneração de brownfields poderão incorporar medidas de adaptação às
vulnerabilidades impostas pelos impactos das alterações climáticas nesses territórios.
7
I. 1.3.1 Objectivos gerais
8
OE.03 - Analisar a relação entre princípios de circularidade urbana e estratégias
de Eco-Urbanismo na regeneração de territórios brownfield de VFX na óptica do
ordenamento do território (OT);
9
Q.03 - Quais as oportunidades e as barreiras para a transição circular das cidades
numa perspectiva de reconversão de zonas portuárias/industriais, tendo como base os
passivos ambientais que estas áreas representam e a relação multinível de intervenção
dos diversos agentes urbanos e/ou locais – representantes políticos, quadros técnicos
dos municípios, técnicos urbanistas e arquitectos, especialistas – na definição e
operacionalização de planos e estratégias?
I. 1.5 Metodologia
10
Considerando os objectivos da investigação, importa referir que, embora o caso
referencial de boas práticas internacional e o caso de estudo apresentem características
territoriais distintas e instrumentos de planeamento próprios, existem similitudes que
permitiram constatar que estratégias poderão ser transpostas para o caso nacional,
assim como identificar quais os obstáculos que poderão condicionar a sua
implementação. Encontram-se, assim, semellhanças pelo facto dos dois territórios se (i)
localizarem em “frentes de água”, (ii) apresentarem características pós-industriais e
portuárias e (iii) constituirem uma oportunidade de regeneração urbana a partir de
brownfields que potenciem a descarbonização e a mitigação e adaptação do território
às AC, para além da multiplicidade de benefícios que essa transformação sustentável
poderá potenciar, aos níveis social, económico, ambiental e de governança.
11
Fase 4 - Resultados e discussão: (i) Resultados - descrever os resultados obtidos
na análise do objecto empírico para conduzir ao desenvolvimento de novos
paradigmas e produzir conhecimento para estudos futuros; (ii) Barreiras -
identificar eventuais limitações e obstáculos para a implementação de princípios
de circularidade urbana; (iii) Oportunidades - identificar as oportunidades e
benefícios para a transição circular nas cidades como resposta às alterações
climáticas e descarbonização urbana; (iv) Contributos - descrever a contribuição
que a investigação científica terá no desenvolvimento de projectos de urbanismo
sustentável em zonas portuárias/industriais abandonadas e/ou obsoletas e que
aspectos poderão ser considerados em estudos futuros e na produção de
conhecimento na área científica explorada; (v) Recomendações - identificar as
principais recomendações a considerar na regeneração da Frente Ribeirinha de
VFX ao nível da remediação de solos de territórios brownfield, da mitigação e
adaptação climática, do urbanismo ecológico e da circularidade de recursos.
Capítulo III Caso referencial de boas práticas: Análise de exemplo de reconversão de brownfields
Stockholm Royal Seaport (SRS) portuários/industriais localizados na cidade de
Estocolmo.
Capítulo IV Caso de estudo: Frente Ribeirinha Análise empírica do caso de estudo localizado no
de Vila Franca de Xira Estuário do Tejo e definição de estratégias e
princípios para a sua reconversão.
12
Capítulo VI Conclusão Síntese das conclusões obtidas e contributos para
estudos futuros.
13
inclusiva e resiliente. O European Green Deal é um plano de acção rumo a uma economia
mais sustentável que comporta como principais eixos estratégicos:
É um facto que o conceito e aplicações de EC nas cidades tem ganho, nos últimos
10 anos, grande relevância e notoriedade nas agendas europeias, academia, governos e
no sector de negócios (Chen, 2021, p.1) como forma de se alcançar maior eficiência
económica e ambiental na gestão dos recursos e matérias-primas e novos modos de
produção e consumo. No entanto, a reflexão em torno de tais princípios numa
perspectiva aplicada aos sistemas urbanos, que resultem em cidades circulares, tem
tido, mais recentemente, diversos enquadramentos (Ferreira e Fuso-Nerini, 2019;
Girard e Nocca, 2019; Marin e De Meulder, 2018; Williams, 2021). Importa, assim,
apresentar, em primeiro, as diversas escolas de pensamento e definições que
caracterizam o modelo de EC para, de seguida, abordar a sua evolução na dimensão
urbana e das Cidades Circulares.
14
naturais (Rizos, V., 2017, p.1), verifica-se na literatura científica a seguinte evolução
teórico-conceptual:
15
v) 1996 - Design Regenerativo: em 1996, John T. Lyle desenvolveu ideias de
design regenerativo que poderiam ser aplicadas em todos os sistemas
(Ellen MacArthur Foundation, 2017b, p.50; Jonck et al., 2019, p.26)
através da sua obra Regenerative Design For Sustainable Development,
na qual descreve aplicações práticas para os sistemas essenciais de
desenvolvimento regenerativo do solo: fluxos de energia e água,
agricultura, uso do solo e design de edifícios;
16
Com base nos princípios que foram desenvolvidos pelas diversas escolas de
pensamento ao longo do tempo, conforme descrito na literatura revista, importa
sistematizar os principais fundamentos para cada uma delas (Tabela 3).
Permacultura Bill Mollison e David 1976 Conceito de “(…) design consciente para a
(Permaculture) Holmgren manutenção de ecossistemas agrícolas
produtivos que têm a diversidade, estabilidade e
resiliência dos ecossistemas naturais”.
(Ellen MacArthur Foundation, 2017b, p.53).
Biomimética Janine Benuys 1997 Conceito que se traduz numa “(…) nova disciplina
(Biomimicry) que estuda as melhores ideias da natureza e
então replica esse design e processos para
solucionar os problemas humanos”.
(Ellen MacArthur Foundation, 2017b, p.52; Jonck
et al., 2019, p.27).
17
(Prendeville et al., 2018, p.173; Ellen MacArthur
Foundation, 2017b, p.51; Jonck et al., 2019,
p.26).
Economia Azul Gunter Pauli 2010 Conceito que propõe um sistema de múltiplos
(Blue Economy) fluxos (resíduo igual a valor) em oposição a uma
visão linear depletiva da criação de valor.
(Prendeville et al., 2018, p.173).
18
níveis mais altos possíveis em todos os momentos, iii) Tornar o sistema mais eficaz
eliminando externalidades negativas”. Por outro lado, a EC equilibra o desenvolvimento
económico com a proteção ambiental e dos recursos (UNEP, 2019a, p.11). Para a Ellen
MacArthur Foundation (2013a, 2013b, 2015, 2017a), fundação que tem contribuído de
uma forma bastante activa na investigação e promoção da economia circular, este é um
sistema industrial restaurador ou regenerativo por intenção e design. Ele substitui o
conceito de 'fim de vida' por restauração, numa perspectiva de uso de energia
renovável, elimina o uso de produtos químicos tóxicos que prejudicam a reutilização e
visa a eliminação de resíduos, por intermédio do design, de materiais, produtos,
sistemas e, dentro disso, modelos de negócios. O objetivo geral é permitir fluxos eficazes
de materiais, energia, trabalho e informação para que o capital natural e social possa
ser reconstruído e os produtos e materiais possam ser mantidos em uso pelo maior
tempo possível (eliminando resíduos e poluição). Por conseguinte, Sauvé et al. (2016,
p.53) abordam os conceitos de EC quanto à produção e consumo de bens por meio de
fluxos de materiais em circuito fechado que internalizam as externalidades ambientais
vinculadas à extração de recursos virgens e à geração de resíduos e poluição, prevenindo
a eventual deposição de desperdícios e resíduos em aterros. Para Preston (2012, p. 1)
este modelo económico transformará a função dos recursos na economia, convertendo
os resíduos das fábricas em inputs valiosos para outros processos, potenciando a
reparação, reutilização e o upgrade dos produtos em alternativa ao seu descarte.
19
Figura 1: Framework 9R – Sistema evolutivo para a transição de uma economia linear para uma
economia circular. Fonte: Kirchherr et al. (2017, p.224).
20
a indústria humana pode ser apenas menos má, mas como pode ser melhor (…)”
(Braungart e McDonough, 2013, pp.8-11).
Figura 2: Diagrama dos sistemas da Economia Circular. Fonte: Ellen MacArthur Foundation (2015).
21
Importa referir, no âmbito do presente trabalho, a importância da EC como uma
resposta premente à perda de biodiversidade7 e dos ecossistemas8 e como este modelo
regenerativo poderá contribuir para uma abordagem sistémica e transformativa que
reverta essa situação. Os “Sistemas económicos lineares têm impactos negativos no
ambiente e ameaçam a vida humana e não humana cada vez mais de uma forma mais
persistente” (Buchmann-Duck e Beazley, 2020, p.2). Embora seja imperativo que as
limitações da economia circular para a conservação da biodiversidade sejam
reconhecidas na arena global (Buchmann-Duck e Beazley, 2020, p.2), a Ellen MacArthur
Foundation (EMF) descreve a importância dos ciclos técnicos e biológicos na EC,
demonstrando uma relação, implícita, entre esse modelo económico e biodiversidade
(Buchmann-Duck e Beazley, 2020, p.3). O relatório da EMF (2021) - The Nature
Imperative: How the circular economy tackles biodiversity loss - aborda um conjunto de
drivers de mudança assentes nos três princípios que definem a EC e que estão
generalizados nas definições anteriormente apresentadas – eliminar desperdício e
poluição, circular produtos e materiais e regenerar a natureza. É um facto que “a perda
de biodiversidade é amplamente reconhecida como um risco sistémico que ameaça não
apenas a nossa prosperidade, mas também o nosso futuro como espécie. Para reverter
essa perda, uma mudança transformadora na sua principal causa – economia baseada
na extracção, desperdício e poluição – torna-se urgentemente necessária”. A EC é
reconhecida como um modelo imperativo para alcançar essa mudança (Ellen McArthur
Foundation, 2021, p.5) e permite uma abordagem aos cinco principais factores de perda
de biodiversidade identificados pelo Intergovernamental Platform on Biodiversity and
Ecosystem Services (IPBES) no seu relatório The global assessment report on biodiversity
and ecosystem services (2019) (Tabela 4).
7
Definição adoptada pela Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CDB) em 1992: “Variabilidade
de organismos vivos de todas as origens, incluindo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e
outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; a diversidade dentro de
espécies, entre espécies e de ecossistemas”.
8
Definição adoptada pela UN Millenium Ecosystem Assessment “Complexo dinâmico de comunidades de
plantas, animais e microrganismos e o ambiente não vivo interagindo como uma unidade funcional”.
22
i) Mudanças no uso da terra e do mar. Reduz a quantidade de terra necessária para
fornecer recursos para a economia.
ii) Exploração directa de organismos e recursos Gere os recursos renováveis a longo prazo.
naturais.
23
investigação e visões de sustentabilidade” (Marin e De Meulder, 2018, p.2). A
operacionalização dos conceitos e princípios analisados no subcapítulo anterior e a sua
aplicabilidade no contexto das cidades, numa perspectiva de transição circular, tem-se
revelado, segundo a leitura de alguns artigos, de difícil implementação, existindo
barreiras que têm condicionado essa efectivação. E, por isso mesmo, o conceito de EC,
aplicado às cidades, não deverá ser entendido, somente, no âmbito dos produtos e
serviços. Embora resida, em si, a dimensão económica (que está na sua origem), terá de
ser encarada numa perspectiva mais ampla, abrangendo, também, os bens públicos e
privados que constituem as cidades, de forma a prolongar o tempo de vida dos seus
componentes e garantir uma gestão eficiente de matérias-primas e recursos naturais
em todos os seus ciclos e fluxos. Para além disso, há-que considerar as condições
intrínsecas de cada cidade para que os seus sistemas e funções urbanas sejam
ponderados nos processos de transição. Cada cidade tem as suas especificidades
territoriais, juntamente com os desafios associados. Portanto, é importante que as
cidades identifiquem seus pontos de partida, ou situação atual, no que diz respeito à
circularidade. A diferença entre o estado actual e o futuro circular pretendido cria um
enorme potencial de inovação para as cidades e comunidades (UN, 2020, p.17).
24
estratégias de EC terão que ser adaptadas à realidade de cada contexto” (Levoso et al.,
2019, p.2), sendo que “o conceito de circularidade pode ser estendido para além da
esfera da economia. As cidades são o lar de uma impressionante quantidade e variedade
de activos e recursos que podem não apenas ser produzidos, mas também usados de
uma forma mais eficiente e sustentável. A eficiência de cada sistema pode ser melhorada
através da aplicação de design circular, trazendo impactos sociais, econômicos e
ambientais positivos a uma escala muito maior. A transição para uma economia circular
também apoiará os líderes das cidades a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável e outros objetivos climáticos globais” (UN, 2020, p.1), sendo que a EC se
relaciona em particular com os ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), 12
(Produção e Consumo Sustentáveis) e 13 (Acção Climática). Combinar a circularidade
das cidades com os ODS garante a universalidade global da visão da cidade circular, uma
vez que os ODS representam as metas universais para um mundo sustentável (Paiho et
al., 2020, p.6).
25
se um pouco por todo o mundo, a criação de novos sentidos de apropriação de
determinados usos transitórios e experimentais implementados a uma escala de
proximidade e vizinhança através da adaptação e refuncionalização de diversas
infraestruturas existentes (Mehta, 2020; Martí e Espindola, 2020; Malonza, 2020; Hsu,
2020, Gehl People, 2021). Este desenvolvimento circular das cidades durante e no pós-
pandemia demonstrou a importância destes processos de transformação na construção
de novos metabolismos territoriais. Permitiu, ainda, que as comunidades participassem
e colaborassem em novos modelos de inovação urbana e se adaptassem aos contextos
de mudança (Williams, 2021b, p.2).
26
políticas, técnicos e conhecimento. Williams (2019b, p.3) refere que as acções de
looping nas cidades circulares estão relacionadas com diferentes temas,
designadamente desafios socioculturais, económicos e financeiros, informativos,
regulamentares, políticos, institucionais, técnicos e de design e ambientais.
27
circularidade de uma cidade (Ferreira e Fuso-Nerini, 2019, p.3) e descreve como a EC
pode manifestar-se, apenas, ao nível dos negócios e políticas (Prendeville et al., 2018,
p.173). Por conseguinte, Williams (2019a, pp.2750-2754) apresenta seis limitações que
dificultam a implementação da metodologia ReSOLVE como uma abordagem circular
para a gestão dos recursos urbanos, acrescentando, dessa forma e em simultâneo,
novas dimensões a ter em consideração para a teorização em torno das cidades
circulares:
28
centralizar a produção com o consumo à escala local, de forma a reduzir
os recursos consumidos pelo transporte e as emissões produzidas.
Já a Organização das Nações Unidas criou um guia para as cidades circulares que
contém um enquadramento metodológico para a implementação de acções circulares
que apoie os diferentes stakeholders, através da iniciativa United for Smart Sustainable
Cities (U4SSC). Dividida em quatro fases, esta metodologia assenta nos princípios:
Avaliar, Priorizar e Catalisar (UN, 2020). Segundo este estudo, as quatro componentes
fundamentais para a implementação de circularidade nas cidades são:
ii) “Ações circulares”: ações específicas e orientadas para resultados que podem
ser aplicadas aos bens da cidade e produtos que incluem partilha, reciclagem,
renovação, reutilização, substituição e digitalização;
De acordo com o referido guia, os bens das cidades e produtos são classificados em
três categorias (Figura 3):
29
iii) Bens e serviços: produtos do sector económico e industrial em forma de
bens ou serviços.
Figura 3: Categorização detalhada de bens da cidade e produtos. Fonte: Adaptado de UN (2020, p.6).
Lucertini e Musco (2020) introduzem uma nova abordagem conceptual que concilia
os princípios de economia circular com os princípios de metabolismo urbano9 e como os
seus conceitos podem ser usados, de uma forma combinada (fluxos de mobilidade,
produção de alimento, energia, materiais), permitindo “(…) unificar campos de
investigação e promover a colaboração entre disciplinas que operam no planeamento,
design e gestão de cidades e suas complexidades”. Os autores, designaram este novo
enquadramento como: “Metabolismo Urbano Circular” (Figura 4). Segundo Lucertini e
Musco (2020), no contexto do planeamento urbano, este enquadramento permitirá
aumentar a resiliência dos bairros dentro das cidades e destas dentro das regiões,
existindo uma relação de causa-efeito entre áreas urbanas, periurbanas e rurais. Há
nesta perspectiva um entendimento mais macro em como as interdependências
urbanas poderão favorecer a construção de novos metabolismos urbanos que
potenciem a circularidade urbana desde a escala de proximidade (bairro) à escala da
cidade extensiva.
9
“Soma total dos processos técnicos e socioeconômicos que ocorrem nas cidades, resultando em
crescimento, produção de energia e eliminação de resíduos”. (Kennedy et al., 2007).
30
Figura 4: Framework “Metabolismo Urbano Circular”10. Fonte: Lucertini e Musco (2020, p.141).
10
Ao identificar conexões espaciais e temporais entre fluxos materiais, energéticos e económicos e
sociais, a abordagem é capaz de identificar o potencial para implementar princípios de EC. A figura
descreve os princípios da EC, como redução, reutilização e recuperação, mas outros aspectos dos nove
“Rs” também são aplicáveis. Os princípios de “Rethink” e “Redesign” surgem fora da esfera urbana a fim
de fortalecer as conexões para determinados CE princípios entre os espaços rurais e urbanos. Até a
poluição e os desperdícios podem ser reintegrados no sistema circular como matérias-primas secundárias
(Lucertini e Musco, 2020, p.141).
31
(implementar, por parte da administração da cidade e outras partes interessadas,
diversas acções circulares) e Mobilizar / Monitorizar (disseminar conhecimento e
entendimento entre todos os stakeholders tendo em vista a transição circular e
monitorizar e comunicar o progresso do desenvolvimento circular da cidade).
Planear 1. Caracterizar e analisar o contexto local e os fluxos dos recursos e identificar activos
ociosos;
2. Conceptualizar e priorizar opções entre sectores com potencial circular;
3. Criar uma visão e estratégia com metas e objectivos circulares claros;
Agir 4. Fechar ciclos, conectando geradores de lixo / resíduos / água / calor com “off-
takers”;
5. Considerar opções para prolongar a vida útil de activos e produtos ociosos;
6. Construir e adquirir edifícios circulares, energia e sistemas de mobilidade;
7. Conduzir a experiências circulares – abordar problemas urbanos com soluções
circulares;
8. Catalisar o desenvolvimento circular através de regulamentação, incentivos e
financiamento;
9. Criar mercados e procura por produtos e serviços circulares;
10. Capitalizar novas ferramentas de Information Communication Technology (ICT)
suportando modelos de negócios circulares;
32
espécies e eventos extremos (IPCC, 2014). Cientistas do Painel Intergovernamental
sobre as Alterações Climáticas (IPCC) têm previsto os impactos das AC ao longo de
décadas, podendo afirmar-se com clareza científica que as mudanças do clima são
induzidas pelo homem e uma questão de (in)justiça associada a falhas de
desenvolvimento, de mitigação e de adaptação (Boyd et al., 2021, p.1365).
Durante o ciclo da sexta avaliação elaborada pelo IPCC em 2019, foi produzido
um relatório especial cujo foco se centrou nos gases de efeito de estufa (GEE) em
ecossistemas terrestres, uso do solo e gestão sustentável da terra, em relação à
adaptação e mitigação às AC, desertificação, degradação da terra e segurança alimentar
(IPCC, 2019, p.4). O Climate Change and Land Special Report deixa claro que as
mudanças nas condições do solo11, quer sejam resultado do uso do solo, quer das AC,
afectam o clima global e regional. “À escala regional, as mudanças nas condições do solo
podem reduzir ou acentuar o aquecimento e afectam a intensidade frequência e duração
de eventos extremos” (IPCC, 2019, p.12). No entanto, as imprevisibilidades das
projecções e dos riscos associados a estes desafios resultam da relação dos perigos
33
relacionados ao clima com a vulnerabilidade12 e exposição13 dos sistemas humanos e
naturais, assim como da resiliência e capacidade de adaptação14 (UNEP, 2019b, p.22).
34
Report 2021, lançado antes da COP2615, concluiu que as Contribuições Nacionalmente
Determinadas (Nationally Determined Contributions16 - NDCs, na sigla em Inglês) deixam
o mundo a caminho de um aumento da temperatura global de, pelo menos, 2,7°C neste
século. Se fossem cumpridas as promessas de emissões líquidas zero, esse aumento
cairia para 2,2°C (UNEP, 2021). Dados preocupantes que estão acima das metas para a
limitação do aumento da temperatura média global a níveis abaixo dos 2°C acima dos
níveis pré-industriais17 e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a
1,5°C (IPCC, 2014). Para além das AC serem uma das prioridades das agendas europeias
através de inúmeros relatórios científicos de diversas entidades internacionais, a nível
nacional assumem-se, também, como uma acrescida prioridade, face aos impactes
previstos. A Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas 2020, (ENAAC18),
agora prorrogada até 31 de dezembro de 2025, apresenta-se como o documento
estratégico que procura auxiliar os vários sectores (agricultura, biodiversidade,
economia, energia e segurança energética, florestas, saúde humana, segurança de
pessoas e bens, transportes, comunicações e zonas costeiras), a administração central,
regional e local e os decisores políticos a encontrarem as ferramentas para a
implementação de medidas de adaptação e integração nas diversas políticas sectoriais
e instrumentos de planeamento territorial das regiões e municípios (APA, 2015, p.11).
15 26ª Conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas que decorreu em Glasgow, em 2021.
Conference of the Parties (COP): Orgão supremo das convenções da Organização das Nações Unidas, como
a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (CQNUAC), compreendendo partes
com direito a voto que ratificaram ou aderiram à convenção (IPCC, 2018, p.546).
16 NDCs é o termo usado na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC),
na qual qualquer país que tenha aderido ao Acordo de Paris delineia os seus planos para reduzir as suas
emissões. As NDCs de alguns países também abordam como estes se adaptarão aos impactos das
alterações climáticas e de que apoio eles precisam ou fornecerão a outros países para a adopção de
caminhos de baixo carbono e construírem resiliência climática. De acordo com o n.º 2, do artigo 4.º do
Acordo de Paris, cada Parte deverá preparar, comunicar e manter sucessivas NDCs que pretende alcançar
(IPCC, 2018, p.554).
35
O Plano Nacional Energia e Clima 203019 (PNEC 2030) é, igualmente, um instrumento de
política energética e climática fundamental para a década 2021-2030, rumo a um futuro
neutro em carbono. À escala da Área Metropolitana de Lisboa (AML), o Plano
Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas 2018 (PMAAC-AML, 2018)
constitui-se como “(…) um instrumento fundamental para, por um lado, concretizar as
estratégias europeia e nacional de adaptação às alterações climáticas, criando
condições para a sua operacionalização à escala regional, com as necessárias
transposições e ajustamentos e, por outro, enquadrar o planeamento adaptativo local –
a realizar por cada uma das autarquias – definindo uma estratégia que potencie
sinergias no conhecimento das vulnerabilidades e na concretização de opções de
adaptação de âmbito intermunicipal” (AML, 2018, p.13). E porque sustentabilidade e
alterações climáticas são conceitos interligados nas políticas dos municípios (Bick e
Keele, 2022, p.1), este Plano Metropolitano pretende, assim, apoiar o planeamento
adaptativo dos territórios à escala local.
19 O Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) foi aprovado pela Resolução do Conselho de
Ministros n.º 53/2020, de 10 de julho. Surge no quadro de obrigações estabelecidas pelo Regulamento
(UE) 2018/1999 do Parlamento Europeu e do Conselho de 11 de dezembro de 2018, relativo à Governação
da União da Energia e da Acção Climática que “prevê que todos os Estados-Membros elaborem e
apresentem à Comissão Europeia um Plano Nacional integrado de Energia e Clima para o horizonte 2021-
2030”. Fonte: Diário da República - 1.ª SERIE, Nº 133, de 2020-07-10, p.2.
36
atualização da sua estratégia territorial, as “Mudanças Ambientais e Climáticas” foram
entendidas como mudanças críticas a ter em consideração no desenho do modelo
territorial e na definição da Agenda para o Território (CCDRLVT, 2019, p23). O PNPOT
deixa claro que “o planeamento urbano e a construção do espaço urbano passam a
incorporar ópticas de mitigação e da adaptação, designadamente a alteração dos
modos e formas de utilização dos transportes, a redução do efeito de ilha de calor
urbana, a gestão do ciclo da água e a eficiência do uso da energia em todas as
actividades, edifícios e infraestruturas neles existentes” (DGT, 2019, p.20). Por outro
lado, a Lei de Bases do Clima (Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro de 2021) veio
estabelecer as bases da política do clima expressas na Lei Europeia do Clima
(Regulamento 2021/1119 do Parlamento Europeu e do Conselho de 30 de junho de
202121), que cria o “regime para alcançar a neutralidade climática e um regime para a
redução irreversível e gradual das emissões antropogénicas22 de gases de efeito de
estufa23 (GEE) por fontes e para o aumento das remoções por sumidouros
regulamentados no direito da União” (UE, 2021, p.8). Na Lei de Bases do Clima nacional
estabelece o modelo de organização do território nacional. Constitui-se como o quadro de referência para
os demais programas e planos territoriais e como um instrumento orientador das estratégias com
incidência territorial (DGT, 2019, p.9).
22 Emissões antropogénicas referem-se a emissões de gases de efeito de estufa (GEE), precursores de GEE
e aerossóis causados por actividades humanas. Essas actividades incluem a queima de combustíveis
fósseis, desflorestação, uso do solo e mudanças no uso do solo, produção de gado, fertilização, gestão de
resíduos e processos industriais (IPCC, 2018, p.543).
23 Gases de efeito de estufa (GEE) referem-se a substâncias gasosas que absorvem parcialmente a
radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre, dificultando a sua saída para a atmosfera.
Impedem, deste modo, uma perda relevante de calor, mantendo o Planeta aquecido, alterando o
fenómeno natural de “efeito de estufa” que possibilita a manutenção da vida na Terra, impedindo que a
temperatura seja muito baixa (AML, 2021, p.19). Os principais GEE são: dióxido de carbono (CO2), metano
(CH4) e óxido nitroso (N2O). Não tão predominantes, mas muito poderosos, são os hidrofluorocarbonetos
(HFCs), os perfluorocarbonetos (PFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) (fonte:
https://unfccc.int/process-and-meetings/the-convention/glossary-of-climate-change-acronyms-and-
terms#g).
37
é expressamente reconhecida a situação de “emergência climática”24, através de um
“equilíbrio ecológico”25 que resulte no direito ao “equilíbrio climático”26. O artigo 74.º
desta Lei estipula que “Até ao final do ano de 2023 são aprovados planos sectoriais de
mitigação e planos sectoriais de adaptação às alterações climáticas para os sectores
considerados prioritários” (Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro de 2021, p.31),
obrigando a que os municípios, num prazo de 24 meses a partir da entrada em vigor
desta lei, aprovem um plano municipal de acção climática.
24Nº 1, do Artigo 2.º (Emergência climática), da Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro. Fonte: República
Portuguesa (2021, p.5).
25Artigo 3.º (Objectivos da política do clima), da Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro. Fonte: República
Portuguesa (2021, p.5).
26Artigo 5.º (Direito ao equilíbrio climático), da Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro. Fonte: República
Portuguesa (2021, pp.6-7).
38
apresentam uma elevada vulnerabilidade às alterações climáticas (AC), verificando-se
nos últimos anos o aumento de estratégias e planos de adaptação para fazer face aos
seus impactos. Porém, as orientações destes planos não possuem carácter regulamentar
e frequentemente não são incorporadas de forma explícita nos planos municipais de
ordenamento do território através de opções de adaptação concretas”. Nesse sentido,
Gargiulo, C. et al. (2020, p.3), apontam que, do ponto de vista do planeamento urbano,
tem sido dada pouca atenção aos processos de avaliação da vulnerabilidade das cidades
costeiras, sendo que, à escala local, “os índices que demonstram essas vulnerabilidades
foram definidos ignorando as características mais significativas dos sistemas costeiros
urbanos”.
27
Resiliência urbana pode ser definida como o conceito que estuda os sistemas urbanos face aos riscos.
Refere-se a uma abordagem sistémica que engloba as múltiplas camadas e estruturas que produzem uma
visão integrada do “objeto urbano”, permitindo definir as diferentes capacidades de cada elemento que
define este sistema para viver e sobreviver a um evento disruptivo (Heinzlef et al., 2022, p.2).
39
relacionados com o clima, como ondas de calor, chuvas intensas e secas, continuam a
aumentar em frequência e em intensidade em muitas regiões”. (EEA, 2017, p.12).
O aquecimento global que se tem observado a nível global tem sido motivo
acrescido de preocupação por parte da comunidade científica internacional, “(…) em
virtude de estar a ocorrer a um ritmo sem precedentes nos últimos 1.300 anos mas,
sobretudo, porque o aumento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) resulta
grandemente de ações antropogénicas. A atual temperatura média do planeta é 0,85°C
superior à do século XIX e os últimos três decénios foram os mais quentes desde 1850,
ano a partir do qual há registos de temperatura” (AML, 2018, p. 19).
Embora desde os anos 1990 que a tomada de consciência acerca dos impactos
das alterações climáticas (AC) tenha vindo a crescer, nomeadamente após a Conferência
do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (1992) e com a assinatura do
Protocolo de Quioto (1997) (Ribeiro, 2017, p.14), em 1968 a problemática das alterações
no clima foi pela primeira vez abordada no relatório Activities of United Nations
Organizations and programes relevant to the human environment: report of the
Secretary-General (UN, 1968), no qual se alerta para a influência humana no clima (UN,
1968, p.22). Considerada essa evidência, em 1988 foi criada, pela World Meteorological
Organization (WMO) e pelo United Nations Environment Programme (UNEP), a
organização científico-política denominada Intergovernmental Panel on Climate Change
(IPCC). Esta organização ficou responsável pelo estudo, avaliação e divulgação do
conhecimento mais avançado sobre as alterações climáticas (causas, efeitos e riscos
futuros e opções de adaptação e mitigação), providenciando aos governos toda a
informação científica para o desenvolvimento de políticas climáticas. Desde a data da
sua criação e com mais de 30 anos de actividade, o IPCC teve cinco ciclos de avaliação,
produzindo e divulgando cinco relatórios nos quais constam o conhecimento científico
mais reconhecido, mundialmente, em torno do tema das AC, auxiliando a capacidade
de resposta dos governos aos riscos futuros.
40
documento foi decisivo na criação da United Nations Framework Convention on Climate
Change (UNFCCC), considerado como o principal tratado internacional para reduzir o
aquecimento global e lidar com as consequências das mudanças climáticas. O Segundo
Relatório de Avaliação (Second Assessment Report - SAR, sigla em inglês), produzido em
1995, divulgou informação científica da máxima importância para os governos
utilizarem no período que antecedeu a adopção do Protocolo de Quioto em 1997. O
Terceiro Relatório de Avaliação (Third Assessment Report – TAR, sigla em inglês),
produzido em 2001, concentrou a atenção nos impactos das mudanças climáticas e a
necessidade de adaptação. O Quarto Relatório de Avaliação (Fourth Assessment Report
- AR4, sigla em inglês), datado de 2007, lançou as bases para um acordo pós-Quioto,
com foco na limitação do aquecimento a 2°C. O Quinto Relatório de Avaliação (Fifth
Assessment Report - AR5, sigla em inglês), finalizado entre 2013 e 2014, forneceu a
contribuição científica que deu origem ao Acordo de Paris (2015). O IPCC encontra-se,
actualmente, no seu Sexto Ciclo de Avaliação onde irá preparar três Relatórios Especiais,
um Relatório Metodológico e o Sexto Relatório de Avaliação (Sixth Assessment Report -
AR6, sigla em ingês) 28.
28 Fonte: https://www.ipcc.ch/about/history/
41
2014, p.2). A evidência da influência humana no sistema climático aumentou desde o
Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (AR4). “(…) é bastante provável que mais de
metade do aumento observado na temperatura média global da superfície de 1951 a
2010 foi causado pelo aumento antropogénico das concentrações de GEE e outros
forçamentos antropogénicos” (IPCC, 2014, p.5). Ainda de acordo com o IPCC, desde o
seu quinto relatório de avaliação (AR5 - Fifth Assessment Report), apresentado em 2014,
existiram melhorias nas evidências científicas através de estimativas baseadas na
observação e em informações de arquivos paleoclimáticos, permitindo uma “(…) visão
abrangente de cada componente do sistema climático e suas mudanças até ao presente”
(IPCC, 2021, p.4). É no seguimento da elaboração do Sexto Relatório de Avaliação (AR6
- Sixth Assessment Report) que o Working Group I (WGI) do IPCC contribuiu para a
actualização do estado da arte sobre a ciência das alterações climáticas, através do
relatório Climate Change 2021: The Physical Science Basis "
Figura 5: História da alteração de temperatura global e causas do aquecimento recente. Painel a) 29:
Mudanças na temperatura da superfície global reconstruídas a partir de arquivos paleoclimáticos e de
29 “Changes in global surface" temperature reconstructed from paleoclimate archives (solid grey line,
years 1–2000) and from direct observations (solid black line, 1850–2020), both relative to 1850–1900 and
decadally averaged. The vertical bar on the left shows the estimated temperature (very likely range) during
the warmest multi-century period in at least the last 100,000 years, which occurred around 6500 years
ago during the current interglacial period (Holocene). The Last Interglacial, around 125,000 years ago, is
the next most recent candidate for a period of higher temperature. These past warm periods were caused
by slow (multi-millennial) orbital variations. The grey shading with white diagonal lines shows the very
likely ranges for the temperature reconstructions” (IPCC, 2021, p.6).
42
observações directas. Painel b) 30: Mudanças na temperatura da superfície global nos últimos 170 anos.
Fonte: IPCC (2021, p.6).
Este estudo reforça o que anteriormente já tinha sido reportado como uma
evidência, clarificando e reforçando a influência humana como a grande causadora das
variadas e rápidas alterações ocorridas na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera e
aumentos observados nas concentrações de GEE desde o período industrial (1750),
inequivocamente, provocados por actividades humanas (Figura 5).
30 “Changes in global surface temperature over the past 170 years (black line) relative to 1850–1900 and
annually averaged, compared to Coupled Model Intercomparison Project Phase 6 (CMIP6) climate model
simulations (see Box SPM.1) of the temperature response to both human and natural drivers (brown) and
to only natural drivers (solar and volcanic activity, green). Solid coloured lines show the multi-model
average, and coloured shades show the very likely range of simulations”. (IPCC, 2021, p.6).
31 O termo “temperatura global da superfície” (‘global surface temperature’) é usado em referência tanto
à “temperatura média global da superfície” (‘global mean surface temperature’) quanto à “temperatura
global do ar na superfície” (‘global air surface temperature’). (IPCC, 2021, p.5).
32 De acordo com o relatório Summary for Policymakers (SPM) - Climate Change 2021: The Physical
Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovermmental
43
A Organização Mundial de Meteorologia (World Meteorological Organization -
WMO, sigla em inglês), no seu relatório mais recente sobre o estado do clima observado
em 2021 (State of the Global Climate 2021), evidencia uma continuidade das tendências
anteriores ao nível de indicadores-chave que apontam para as mudanças no clima já
enumeradas. Descrevem-se, na Tabela 6, algumas das alterações registadas durante o
ano de 2021.
Tabela 6: Alterações no clima registadas durante o ano de 2021.
ii) Subida do nível médio do - O nível médio global do mar atingiu um novo recorde em 2021,
mar (SNM) subindo uma média de 4,5 mm por ano durante o período 2013-2021.
iii) Camada do ozono - O buraco na camada de ozono da Antártida atingiu uma área máxima
(Antártida) de 24,8 milhões de km2 em 2021.
vi) Inundações - A Europa experienciou algumas das suas inundações mais graves
registadas em meados de julho de 2021;
- Estes eventos levaram a perdas económicas na Alemanha superiores
a US$ 20 biliões.
vii) Seca - A seca afectou muitas partes do mundo, incluindo áreas no Canadá,
Estados Unidos da América, República Islâmica do Irão, Afeganistão,
Paquistão, Turquia e Turquemenistão;
Panel on Climate Change – a influência humana é a principal causadora (ou o principal motor),
considerando-a como responsável por mais de 50% das alterações (IPCC, 2021, p.5).
44
- Os efeitos combinados de conflitos, eventos climáticos extremos e
choques económicos, agravados, ainda mais, pela pandemia de
COVID-19, desacelerou décadas de progresso para melhorar a
segurança alimentar globalmente.
33 Estes cenários têm em consideração a actividade solar e o forçamento provocado pelos vulcões. Os
resultados para o decorrer do século XXI são fornecidos para o curto prazo (2021-2040), médio prazo
(2041-2060) e longo prazo (2081-2100) em relação a 1850-1900 (IPCC, 2021, p.12).
45
Figura 6 (a) e (b): Emissões antropogénicas futuras dos principais impulsionadores das alterações
climáticas e contribuições de aquecimento por grupos de impulsionadores para os cinco cenários
ilustrativos. Fonte: IPCC (2021, p.13).
46
nacional e no âmbito da alteração do PNPOT (2018), sintetizam-se, na tabela 7, os
factores e cenários numa perspectiva de consolidação do conhecimento produzido em
torno dos principais desafios que o território em Portugal enfrenta face às alterações
climáticas na dimensão do ordenamento do território. Importa referir que, nas políticas
de mitigação, Portugal comprometeu-se a garantir a neutralidade carbónica até 2050,
numa trajectória de redução de emissões de GEE a longo prazo.
iii) Subida do nível médio do mar (SNM) - Em Portugal, com base no marégrafo de Cascais,
registaram-se subidas do nível médio do mar (SNM)
47
- Nos Açores, a subida poderá atingir um metro até ao final
do século;
As interacções entre esses sistemas são a origem dos riscos emergentes das AC,
da degradação dos ecossistemas e perda de biodiversidade. Por outro lado, constituem
oportunidades de futuro mediante os impactos que a sociedade humana poderá ter
para minimizar os riscos e as vulnerabilidades (IPCC, 2022, p.4). Os impactos observados
pelo IPCC (2022), revelam que eventos extremos mais frequentes e intensos originam
perdas irreversíveis para a natureza e pessoas. O aumento das taxas e magnitudes do
aquecimento e outras mudanças no sistema climático, acompanhadas pela acidificação
dos oceanos, aumentam o risco de impactos prejudiciais severos. A temperatura da
superfície do mar, temperatura do ar, nível do mar, temperatura troposférica, conteúdo
de calor dos oceanos e humidade específica seguem as mesmas tendências. Para além
48
do aumento da temperatura, os impactos já observados incluem mudanças no ciclo da
água, aquecimento dos oceanos, diminuição da cobertura de gelo no Ártico, aumento
da média global do nível do mar e alteração dos ciclos de carbono e biogeoquímicos.
Denotou-se, ainda, o aumento da frequência e intensidade de incêndios florestais que,
por sua vez, libertam GEE (UNEP, 2019b, p.46).
Impactes Efeitos
49
- Aumento da injustiça social, com consequências sobre as
desigualdades intra e intergeracionais.
iii) Alterações económicas e sociais - Consumo acrescido de energia para climatização ou para a rega;
No que refere à subida do nível médio das águas do mar (SNM), citando alguns
autores, Fernandes et al. (2017, pp.328-329), referem que, para além das previsões que
constam dos relatórios do IPCC, “têm vindo ainda a ser desenvolvidos vários modelos
climáticos que preveem a continuação daquela subida de forma mais ou menos
acentuada. Por exemplo Church et al. (2013) apresentam, com base em modelos
geofísicos, projeções da subida do NMM entre 0,19 e 0,83 m para o horizonte temporal
2100, enquanto Vermeer e Rahmstorf (2009), utilizando uma abordagem semi-empírica,
apresentam projeções da subida do NMM entre 0,75 e 1,90 m para o mesmo período.
Para a Região de Lisboa, Antunes et al. (2013), com base em dados do marégrafo de
Cascais, projetam uma subida do NMM de 0,95 m (valor central) para o período 2000-
2100”.
No âmbito da presente investigação importa referir que, segundo Ventura, C.,
Sousa, J., Fernandes, A. (2017, p.329), “(…) a vulnerabilidade a inundações no Estuário
do Tejo não é similar em todo o território, existindo áreas com maior vulnerabilidade,
como são os casos de Alhandra e Vila Franca de Xira, que se apresentam mais vulneráveis
a inundações que Lisboa”. Algo que, de acordo com estes autores, “(…) se verifica
principalmente nas áreas de baixa altitude, quando marés altas e eventos climáticos se
combinam”.
50
II. 2.2.3 Adaptação e mitigação
É cada vez mais reconhecido que as condições da vida mudam e que as cidades
têm de se adaptar a um clima futuro instável e incerto (Madsen et al., 2018, p.192).
Como resultado da extensão e complexidade das AC, a mitigação sem adaptação
resultaria em perdas e danos aos ambientes naturais e humanos. Da mesma forma,
adaptação sem mitigação não poderia ser sustentada, obrigando a esforços adaptativos
que precisariam dar resposta a novos referenciais à medida que o clima continua a
mudar (Hurlimann et al., 2021, p.1). Devido à amplitude de pesquisas e práticas em
torno da adaptação, o significado do termo varia (Aguiar et al., 2018, p.38). No entanto,
há uma definição mais comum na literatura científica analisada e que descreve a
adaptação como “o processo de ajustamento ao clima actual ou previsto e aos seus
efeitos” (IPCC, 2014, p.118). Já quanto à mitigação, refere-se “à intervenção humana
para reduzir as fontes ou aumentar os sumidouos de gases de efeito de estufa (GEE)”
(IPCC, 2014, p.125).
51
outro lado, é claro que o sucesso da implementação das opções de resposta dependerá,
inevitavelmente, das condições ambientais e socio-económicas locais (IPCC, 2019, p.18).
34
O evento “storm surge” refere-se ao aumento temporário, numa determinada localidade, da altura do
mar devido a condições meteorológicas extremas (baixa pressão atmosférica e/ou ventos fortes). Resulta
no excesso acima do nível esperado da variação das marés naquele momento e local (IPCC, 2014, p.127).
52
A adaptação às AC pode ser alcançada de diversas maneiras. Uma forma que está
a atrair cada vez mais atenção é por meio de abordagens baseadas nos ecossistemas
(Ecosystem-based adaptation - EbA, sigla em inglês) (Geneletti e Zardo, 2016, p.38),
através do recurso à biodiversidade e aos serviços ecossistêmicos para ajudar as pessoas
a adaptarem-se aos efeitos adversos das AC (CBD, 2009, p.6). De facto, os caminhos de
desenvolvimento centrados na natureza baseiam-se no conceito de Nature-based
Solutions 35 (NbS), podendo incluir nesse tipo de intervenções os ecossistemas e os
serviços que estes fornecem para responder a desafios sociais, como as AC, segurança
alimentar ou desastres naturais (Cohen-Shacham et al., 2016, p.2). Por outro lado, a
protecção e restauração de habitats tem um grande potencial para proporcionar
benefícios de mitigação climática através do aumento do sequestro e armazenamento
de carbono e evitando emissões de ecossistemas degradados (Kopsieker, Costa Domingo,
Underwood, 2021, p.1). Não existindo um caminho claro para a mitigação climática sem o
investimento na natureza, o recurso a Natural climate solutions36 (NCS) oferece uma
oportunidade para enfrentar as crises climáticas e da natureza, potenciando, também,
significativos benefícios ambientais, sociais e económicos. Um aumento de temperatura
de 1,5°C ou 2°C até 2030 requer cerca de 50% de redução líquida de emissões, que
corresponde a 23Gt de CO2 até essa data, a partir dos níveis de 2019. NCS poderão
fornecer um terço desta redução líquida de emissões (WEF, 2021, p.4-11) e oferecem
uma variedade de opções para o cumprimento do Acordo de Paris, melhorando a
produtividade do solo, aumentando a qualidade do ar e da água e potenciando a
mautenção da biodiversidade (W. Griscom et al., 2017, p.11645). No contexto da
regeneração de brownfields, as intervenções de remediação dos solos (técnica de
Fitorremediação, por exemplo) através de NbS, oferecem variadas vantagens
(ambientais, económicas e sociais) comparando com abordagens mais tradicionais
(O´Connor et al., 2019, p.2), podendo assim funcionar como eficazes estratégias de
35
Nature-based Solutions (NbS): “(…) Actions to protect, sustainably manage and restore natural or
modiied ecosystems that address societal challenges effectively and adaptively, simultaneously providing
human well-being and biodiversity beneits” (Cohen-Shacham et al., 2016, p.2).
36
Natural climate solutions (NCS): “(…) conservation, restoration and improved land management actions
that increase carbon storage and/or avoid greenhouse gas emissions (…)” (W. Griscom et al., 2017,
p.11645).
53
adaptação e mitigação às AC. No que diz respeito aos oceanos e áreas costeiras, a
implementação de NbS tem, de igual forma, um importante papel não só na
conservação como no sequestro de carbono (Mckinsey & Company, 2022, p.2).
Ecossistemas costeiros, como manguezais, pântanos de maré e prados de ervas
marinhas, actuam como reservatórios profundos de carbono, enquanto os ecossistemas
e a fauna marinhos absorvem e sequestram GEE através do ciclo do carbono (IUCN,
2017).
54
Climáticas, é importante verter nos Instrumento de Gestão Territorial (IGT) as
preocupações e medidas que constam nesses documentos (CCDRLVT, 2019, p.45). À
escala local, “os planos municipais de ordenamento do território constituem uma
ferramenta valiosa para incluir opções de adaptação no sentido de reduzir ou mesmo
evitar os impactos das AC, dada a sua natureza estratégica, regulamentar e operacional”
(Ribeiro, 2017, p.24). Em Portugal, o Plano Director Municipal (PDM) é o IGT que os
governos locais têm para implementar as estratégias de adaptação às AC tendo por base
as orientações nacionais e regionais que constam de outros planos ou programas
(Ribeiro, 2017, p.24). Para além disso, trata-se de um IGT de cobertura territorial mais
abrangente, de elaboração obrigatória e que vincula a actuação das entidades públicas
e, ainda, directa e indirectamente os particulares (CCDRLVT, 2019, p. 46). De acordo com
a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (2019,
p.47) os instrumentos de planeamento territorial, “através do estabelecimento de
opções de uso do solo e padrões de funcionamento e organização do território que
potenciem a concentração e reabilitação urbana e economias de partilha”, poderão
contribuir significativamente para a concretização das diversas medidas para a
mitigação e adaptação às AC (Tabela 9). Essa contribuição poderá integrar, também,
“(…) regras e parâmetros para o licenciamento das operações urbanísticas que
incentivem a adoção de soluções de eficiência energética, hídrica e de materiais nos
novos desenvolvimentos territoriais ou na reabilitação e restruturação de preexistências,
assegurando a transição para um modelo de neutralidade carbónica e a introdução de
fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação dos recursos, num processo
integrado (…)” de circularidade urbana.
55
Manutenção / aumento da capacidade de (relocalizações de edificações em áreas de risco e
sequestro de carbono – serviços dos consideração de áreas, infraestruturas e
ecossistemas. equipamentos para socorro).
56
Tabela 10: Estratégias de adaptação face à subida do nível médio das águas do mar (SNM).
57
económica das áreas urbanas para as suburbanas, resultaram no correspondente legado
de espaços industriais improdutivos, abandonados ou subutilizados” (Queirós, 2004,
p.3). Essas transformações marcadas pelo “(…) declínio da indústria pesada e por
mutações assinaláveis na indústria dos transportes marítimos (…) ditou a emergência de
um novo ciclo da vida da cidade” (Fernandes, 2014, p.61). Esta tendência de alteração
do paradigma do sector industrial a partir dos anos 1980 levou a uma transferência da
actividade industrial para a periferia dos núcleos urbanos (Augusto, 2017, p.12). As
características obsoletas dos territórios brownfield revelam evidentes oportunidades de
mudança e transformação através do seu aproveitamento e (re)integração de novos
usos que contribuam para a requalificação e regeneração urbana de áreas
metropolitanas, potenciando múltiplos benefícios. Esta capacidade adaptativa e de
(re)utilização do solo pode, segundo Queirós (2004, p.4), melhorar as condições
ambientais e a saúde das pessoas, contribuir para o desenvolvimento local/regional e
participar na revitalização social das comunidades envolventes. No entanto, apesar da
existência de territórios brownfield em locais que, muitas das vezes, assumem grande
centralidade e constituem uma evidente barreira na relação com a cidade, o
desenvolvimento urbano em greenfields continua a ser o motor de expansão em muitas
regiões europeias (Pahlen e Glöckner, 2004, p.222). Embora a definição de ‘greenfield
development’ como um processo de expansão urbana em terrenos não urbanizados seja
bastante clara, a noção de ‘brownfield development’ resulta em processos de renovação
ou regeneração em propriedades devolutas ou abandonadas em territórios
previamente desenvolvidos (Adams et al., 2010).
58
verdadeiras oportunidades para o desenvolvimento urbano sustentável, para a
regeneração ambiental e ecológica, contribuindo, dessa forma para responderem,
também, aos actuais desafios resultantes das alterações climáticas e às vulnerabilidades
que lhes estão associadas. Sendo a terra um recurso finito, para proteger os habitats e
garantir a sua sustentabilidade, torna-se fundamental uma gestão eficiente do solo (EC,
2013, p.3).
59
e economicamente exequíveis e apetecíveis, como a implementação de Nature-based
Solutions (NbS), infraestruturas verdes, design biofílico, reflorestamento, entre outras
(Sessa et al., 2022, p.2)
60
de uso do solo numa perspectiva “multi-stakeholder”, com o objectivo de “(…) melhorar
a reabilitação de terrenos abandonados no contexto de desenvolvimento sustentável das
cidades europeias, partilhando experiências e fornecendo novas estratégias de gestão,
ferramentas inovadoras e um quadro de actividades coordenadas de pesquisa”
(CABERNET, 2006, p.14). Outros programas de investigação e desenvolvimento
tecnológico financiados pela União Europeia surgiram na primeira e segunda década do
século XXI, como é o caso do projecto de investigação RESCUE (Regeneration of
European Sites in Cities and Urban Environments), que ocorreu entre 2002-2005,
integrando o conceito de sustentabilidade na regeneração de brownfields (Maliene et
al., 2012, p.3), ou o projecto TIMBRE (Tailored Improvement of Brownfield Regeneration
in Europe) que, com suporte financeiro apoiado no 7º programa-quadro da CE, decorreu
entre 2011-2014 e focava a sua abordagem na pesquisa em torno do tema “Megasites”.
61
ambiental, aliviando, dessa forma, a escassez de solo urbano, controlando a expansão
urbana e estimulando o crescimento económico (Zhang et al., 2021, p.1), contribuindo
para cenários Win-Win quer seja para a economia quer seja para o ambiente (Thornton
et al., 2007, p. 116) ou ainda permitindo a descontaminação do solo, providenciando
habitats para flora e fauna (Maliene et al., 2012, p.5). Contudo, a transformação destes
territórios para novos usos é um processo longo e de custos elevados resultante das
actividades poluentes anteriores (Chowdhury et al., 2020, p.2), sendo que a eficácia e a
sustentabilidade dos processos de regeneração exigirão abordagens inovadoras e
integradas (EC, 2013, p.3). Associando estes espaços a um ambiente poluído, implica
avultados investimentos que os potenciais promotores nem sempre estão dispostos a
assumir (Queirós, 2004, p.3). Apresentando níveis incertos de contaminação, como
resultado de usos anteriores (industriais, portuários, comerciais ou militares) as áreas
brownfield consomem recursos do solo escassos, causando riscos ambientais e de saúde
assim como custos económicos e sociais (EC, 2013, p.3). Sendo que “o interesse na
recuperação destas áreas centra-se em torno de questões como: limpeza e restauro
ambiental, criação de emprego e retenção de população local e das actividades de base,
atracção ou criação de novas actividades ou outras compatíveis, envolvimento de
investimentos públicos e privados” (Queirós, 2004, p.4), o processo de planeamento
destas áreas dependerá das suas especificidades, natureza, escala e também inserção
urbana (Rey et al., 2022, p.5).
62
Coelho e Costa (2006, p.42) constatam que “(…) os projectos urbanos de renovação de
frentes de água têm uma tripla dimensão urbanística, à escala da cidade: i) são acções
paralelas à modernização de infraestruturas que justificam o seu tratamento singular;
ii) são acções ‘exemplares’ de espaço público e; iii) são acções estratégicas de
planeamento da cidade”. Segundo Fernandes et al. (2018, p.1531), “a regeneração de
antigos complexos industriais situados em frentes de água representa um importante
desafio para várias áreas metropolitanas em todo o mundo”. Os mesmos autores
referem que esses desafios resultam das particularidades territoriais desses espaços,
designadamente ‘da sua localização periférica em relação à cidade consolidada e no
contexto das regiões metropolitanas em que estão inseridos’ (Costa, 2013; Fernandes,
Figueira de Sousa e Costa, 2016), ‘da grande área a ser intervencionada’ (Costa, 2013),
‘da necessidade de resolver os problemas ambientais existentes’ (Fernandes, Figueira
de Sousa e Costa, 2016) e ‘do risco associado às suas condições ambientais’ (Leger, Balch
e Garvin 2016). Por outro lado, os mesmos autores constatam que estando esses
brownfields localizados no interface “terra-água”, importa ter em consideração nos
processos de regeneração desses espaços de transição os efeitos das mudanças
climáticas, nomeadamente a subida do nível médio das águas do mar (SNM).
63
metropolitanas, tendo em consideração a diversidade e abrangência deste tipo de
territórios, sobretudo, quanto à sua localização (que poderá ser bastante heterogénea)
e dos usos anteriores ao seu abandono. Esta classificação centra-se em brownfields
localizados em áreas suburbanas circundantes e áreas periurbanas as quais representam
oportunidades estratégicas para a transição para a sustentabilidade dos territórios
metropolitanos. Na tabela 11 sintetiza-se o contributo de Rey et al. (2022) na
sistematização do conhecimento produzido até à data em torno da classificação deste
tipo de territórios.
64
iii) Áreas ferroviárias industriais: áreas
ferroviárias ocupadas com caminhos de
ferro relacionados, directamente, com
brownfields industriais e cujo abandono
leva à descativação dessas redes de
conexão, potenciando projectos de
regeneração de grande escala.
65
apresentando grande potencial de
reconversão para espaços públicos, áreas
de recreio e outros espaços de lazer;
37
“However, while the energy transition induces the emergence of this new category per se, energy
brownfields have certainly existed in the past, although not to the extent of creating a separate, clearly
identified group. Abandoned urban network management areas like electricity conversion compounds,
gasholder works, power stations, and coal-mining sites, for instance, were typically included in the
industrial brownfield category” (Rey et al, 2022, p.37).
66
Numa perspectiva evolutiva, Rey et al. (2022) referem que, para além do grupo
de brownfields identificados, outro tipo de espaços ou sítios abandonados poderão
proliferar como consequência de transformações socio-económicas que poderão ter
impacto nas actividades e nos usos dos edifícios. São dados exemplos de diversas
possibilidades de brownfields: relacionados com a saúde, religiosos, educacionais,
prisionais, recreativos, especulativos e estratégicos (Rey et al., 2022, pp.40-41).
67
Figura 7: Principais benefícios de projectos de remediação de territórios brownfield. Fonte: Adaptado
de Turvani e Tonin (2008, p.402).
Financeiras Financeiras
(i) Elevado custo de avaliação, remediação do (i) Planeamento proactivo incluindo estudo de
solo e reconversão de brownfields; (ii) Baixa viabilidade com avaliação de diferentes
procura e reduzido valor do solo; (iii) Período cenários; (ii) Abordagem faseada para distribuir
relativamente longo de um projecto o encargo financeiro; (iii) Subsídios e redução
brownfield; (iv) Elevada incerteza e riscos de impostos; (iv) Empréstimos; (v) Seguro
ambiental.
68
financeiros em comparação com o
desenvolvimento de greenfield.
(i) Conhecimento pouco claro dos níveis de (i) Investir em experiência ambiental de alta
contaminação; (ii) Complexidade da geologia e qualidade; (ii) Investigações do solo suficientes
da contaminação; (iii) Ausência de técnicas de para desenvolver um bom modelo conceptual
remediação rentáveis e sustentáveis; (iv) Uso do local; (iii) Investimentos em investigação e
circular de solo contaminado ou limpo; (v) desenvolvimento; (iv) Considerar o uso
Presença de contaminação residual. temporário do local; (v) Remediação
sustentável e baseada no risco; (vi) Gestão do
solo para a sua reutilização; (vii) Integração do
património cultural no projecto.
De acordo com o World Bank (2010, pp.4-7), existem quatro fases a partir das
quais as entidades públicas terão de envolver-se e considerar, desde a fase do projecto
até à sua implementação. Numa primeira fase (Recolha de dados e avaliação), para
muitas autoridades locais e regionais o ponto de partida na gestão de brownfields
consubstancia-se na criação e manutenção de uma base de dados destes territórios,
incluindo a informação de planeamento urbano e ambiental encontrados dentro dos
limites da localidade. A segunda fase (Pré-viabilidade) pressupõe o desenvolvimento de
conceitos preliminares e o desempenho de uma avaliação preliminar de risco.
Dependendo das condições de mercado, restrições legais, questões de propriedade e
extensão da contaminação, uma lista de locais tipo B com potencial para serem
reconvertidos deve ser elaborada, em conjunto com a inventariação de potenciais
fontes de cofinanciamento para cada um deles. A terceira fase (Viabilidade) implica a
identificação de acordos de financiamento e investimento, assim como das opções de
remediação e reconversão. Por último, a quarta fase (Implementação) envolve um
69
processo interactivo de remediação e reconversão e inclui, geralmente, monitorização
e estratégias de marketing territorial.
i) Tipo A: São locais que podem facilmente ser desenvolvidos por entidades
privadas (CABERNET, 2006, p.44) porque têm um nível de contaminação
mínimo (o que permite uma remediação rápida e económica), uma boa
localização (o que pode proporcionar margens de lucro elevadas, mesmo
70
quando os custos de remediação são contabilizados) e um mercado
imobiliário dinâmico e expansivo, assim como um zonamento permissivo,
que possa superar os custos ambientais, permitindo uma ocupação de
maior densidade (World Bank, 2010, p.3);
ii) Tipo B: São locais que estão no limite da rentabilidade e cuja reconversão
exige uma partilha de custos entre o sector público e o sector privado ou
parcerias (CABERNET, 2006, p.44). Em consequência do nível de
contaminação moderado/grave (que exigem investimentos significativos
de avaliação e remediação no início do processo de reconversão), da má
localização e de um mercado imobiliário anémico, as oportunidades de
lucro do novo projeto ficam prejudicadas (World Bank, 2010, p.3);
iii) Tipo C: São locais sem condições para que a regeneração possa ser
lucrativa, sendo que dependerá, principalmente, de projectos dirigidos
pelo sector público ou municípios. O financiamento público ou a criação
de instrumentos legislativos específicos (incentivos fiscais, por exemplo)
são fundamentais para estimular a regeneração desses locais (CABERNET,
2006, p.44). Nestes casos, está em questão a contaminação grave dos
solos (locais expostos a radioatividade, por exemplo) e/ou a má
localização, assim como o mercado imobiliário anémico (World Bank,
2010, p.3).
71
de Hammarby Sjöstad38 e, mais recentemente, o Stockholm Royal Seaport (SRS). Ao
longo dos anos o município ampliou, nestes desenvolvimentos urbanos, o foco de
sustentabilidade a vários níveis, nomeadamente quanto à gestão de resíduos e água, no
que diz respeito às alterações climáticas e serviços ecossistêmicos (Brokking, Mörtberg
e Balfors, 2021, p.8). O SRS está entre os principais projectos que atende aos desafios
climáticos, considerando-se um referencial de desenvolvimento urbano e ambiental de
sucesso, demonstrando que as “(…) cidades podem reduzir as emissões de carbono e, ao
mesmo tempo, crescer de forma favorável às mudanças no clima” (Bibri e Krogstie, 2020,
p.9). Tal como acontece com a maioria das cidades do mundo, a capital da Suécia está a
crescer como resultado do aumento populacional, o que origina uma maior procura de
habitação e espaços de trbalho.
38
Hammarby Sjöstad serviu como referencial para o desenvolvimento urbano do SRS quanto à procura
de soluções sustentáveis adaptadas às mudanças no clima, ao nível do uso de energia, gestão de resíduos,
e transporte. Assim, com base nas lições aprendidas e nas experiências adquiridas a partir de Hammarby
Sjöstad, o SRS estabeleceu os seus objetivos ambientais (City of Stockholm, 2009, p.16).
72
inovação através do modelo de cooperação que o processo de desenvolvimento urbano
estabelece entre academia, indústria e a cidade. Tendo em consideração que a
concretização do plano de regeneração está em curso e o seu término está previsto para
2030 (City of Stockholm, 2017, p.8), numa perspectiva de maximizar as acções do ponto
de vista da regeneração circular, Williams (2019c) sugere que o plano do SRS deverá
incentivar à renovação ecológica, a novas actividades económicas, ao treino de novas
estratégias, a empregos e serviços para as comunidades existentes, à disponibilização
de habitação acessível, ao reaproveitamento de infraestruturas e brownfields e à
adaptação do território às inundações.
73
Verde Europeia39 em 2010 (European Green Capital, 2009). Mesmo com a previsão de
crescimento populacional de 40 % em 2050 em relação a 2012, outras metas estão bem
demarcadas nas estratégias de longo prazo para a descarbonização da cidade,
ambicionando o abandono de combustíveis fósseis em 2030 (City of Stockholm, 2017,
p.8).
39
“As áreas urbanas são a fonte de muitos dos desafios ambientais de hoje – não surpreendentemente,
uma vez que dois em cada três europeus vivem em vilas e cidades. Os governos e autoridades locais podem
fornecer o compromisso e a inovação necessários para enfrentar e resolver muitos desses problemas. O
Prémio Capital Verde (Europeu) da Comissão Europeia reconhece e premia os esforços locais para
melhorar o meio ambiente e, assim, a economia e a qualidade de vida nas cidades. O Prémio é concedido
todos os anos a uma cidade que está liderando o caminho da vida urbana, ecologicamente, correta”.
Fonte: https://environment.ec.europa.eu/topics/urban-environment/european-green-capital-award_en
74
Figura 8: Localização e limite da área de intervenção do SRS e vista aérea do SRS. Fonte: City of
Stockholm (2021).
Figura 9: Localização e vista aérea de Gasverket. Fonte: City of Stockholm (2021, p.14).
ii) Hjorthagen (Figura 10): área residencial construída entre 1897 e 1965. O
carácter da área é marcado pelo seu desenvolvimento urbano de
75
pequena escala com edifícios envolvidos pela vegetação e topografia da
cidade;
Figura 10: Localização e vista aérea de Hjorthhagen. Fonte: City of Stockholm (2021,
pp.16-17).
Figura 11: Localização e vista aérea de áreas industriais. Fonte: City of Stockholm
(2021, pp.18-19).
76
Mälaren e desempenha, também, um papel significativo no serviço de
cruzeiros no Mar Báltico;
Figura 12: Localização e vista aérea de áreas portuárias. Fonte: City of Stockholm
(2021, p.20).
Figura 13: Localização e vista aérea de “frente de água”. Fonte: City of Stockholm
(2021, p.22).
vi) Royal National City Park (Figura 14): é uma das áreas verdes de Estocolmo
mais populares da região, pelos valores ecológicos, culturais e históricos.
77
Estende-se por mais de 10 quilômetros, envolvendo quase toda a área do
SRS.
Figura 14: Localização e vista aérea do Royal National City Park. Fonte: City of
Stockholm (2021, p.24).
40
Fonte: https://unric.org/en/the-royal-seaport-the-ideal-testbed-for-stockholms-ambition-to-be-fossil-
free-by-2040/
78
combinada com eventos extremos de precipitação, poderá causar inundações em
“frentes de água” mais vulneráveis. Já no Mar Báltico, haverá um aumento da
temperatura em vários graus e a extensão de gelo irá reduzir drasticamente. Aliando
essas alterações às mudanças no fornecimento de nutrientes e nas condições da
precipitação e do vento, diversas consequências se expectam nos processos biológicos,
impactando as espécies marinhas e os ecossistemas (Swedish Government, 2007).
41
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/timeline
79
O projecto de regeneração e a visão de futuro assentam em cinco objectivos para
o desenvolvimento urbano, os quais interligam as metas de sustentabilidade com os
princípios de planeamento da cidade (Anexo II).: i) Cidade Vibrante (“Vibrant city”) –
centrada nas pessoas através do estabelecimento de um ambiente urbano atraente e
vibrante; ii) Acessibilidade e proximidade (“Accessibility and proximity”) – significa criar
uma cidade densa e acessível que forneça uma base para o transporte sustentável; iii)
Eficiência de recursos e impacto climático reduzido (“Resource efficience and reduced
climate impact”) – Soluções flexíveis e robustas que contribuem para a eficiência dos
recursos numa perspectiva de resposta aos desafios futuros; iv) Deixar a natureza fazer
o trabalho (“Let nature do the work”) – remete para a importância dos ecossistemas na
criação de um ambiente natural rico e para a saúde e bem-estar das pessoas; v)
Participação e aprendizagem (“Participation and learning”) – permite uma
aprendizagem contínua e a disseminação de conhecimento e experiências inovadoras.
80
apresenta um compromisso entre mobilidade e acessibilidade, envolvendo um conjunto
de infraestruturas que criam uma rede interconectada com a área do SRS e com o centro
da cidade através de autocarros, eléctricos, metro e comboio. O sistema de energia
assume um papel fundamental no planeamento através do recurso a renováveis à escala
dos edifícios e infraestruturas no âmbito da redução de emissões de CO2. Também ao
nível da gestão de lixo e resíduos o SRS contempla um sistema integrado de recolha e
tratamento, numa perspectiva de reutilização e reciclagem em termos de materiais e
energia. Esta gestão sustentável implica acrescida eficiência no reaproveitamento de
águas residuais e pluviais. Ao nível dos materiais de construção, o desenvolvimento do
SRS prevê um desempenho ambiental de referência e inovador que confere maior
resiliência ao ambiente construído, através de materiais de base natural, reciclados e
reutilizáveis tendo em vista o prolongamento do seu ciclo de vida e uma maior
capacidade regenerativa de o ambiente construído se adaptar às mudanças no clima.
81
desenvolvimento urbano sustentável (City of Stockholm, 2021, p.27), conforme se
sintetiza na (Tabela 13).
Tabela 13: Tabela síntese com a relação dos objectivos de desenvolvimento do SRS com os
princípios de planeamento urbano e metas de desenvolvimento sustentável.
82
energia sem
combustíveis fósseis;
- Impacto climático
baixo (na construção e
ciclo de vida dos
edifícios e instalações)
Edifícios e instalações
(“Buildings and
facilities”)
- Ambientes interiores
saudáveis;
- Materiais
sustentáveis.
83
escala nacional e municipal, existe uma abordagem sistémica na incorporação de
diversos documentos orientadores, nomeadamente: City of Stockholm´s Vision 2040,
estratégias de investimento, Programa Ambiental e de Sustentabilidade, Plano de
Gestão Climática, entre outros. Ao nível da área de intervenção, um conjunto de
relatórios vão acompanhando o progresso da implementação do plano.
84
Tabela 14: Processo, organização e responsabilidades no planeamento e implementação do SRS.
Análise da área do projecto i) A análise das características (qualidades e condições únicas) da área
de intervenção fornece as bases para a construção dos princípios de
planeamento urbano e metas de sustentabilidade.
Planeamento detalhado i) Os planos detalhados são elaborados para cada fase através da
regulamentação do uso do solo;
ii) Os planos de desenvolvimento detalhados resultam em programas
de qualidade que se baseiam nas qualidades únicas do local e nos
princípios de planeamento urbano;
iii) Com base nos objectivos de sustentabilidade, são realizados
programas de ação (com requisitos de sustentabilidade) para os
projetos de desenvolvimento urbano de cada área e na
contratualização da aquisição de terrenos públicos;
iv) Elaboração de um acordo de uso do solo, que integra o programa
de acção.
85
ii) O município reporta, anualmente, os resultados com todos os
intervenientes no planeamento e implementação;
iii) Outros fóruns são organizados para divulgação educacional e
diálogo, com o objectivo de trocar experiências entre o Município, a
sociedade civil, promotores, proprietários de infraestruturas,
consultores, empresários fornecedores e academia.
86
energias renováveis é incorporado quer nos edifícios, quer nos espaços públicos (City of
Stockholm, 2021, pp.38-43).
Figura 15: Eco-Cycle Model 2.0 – Funções, fluxos e sinergias de energia, materiais e água. Fonte: City of
Stockholm e KTH School of Architecture and the Built Environment (2014, p.21).
87
da cidade de Estocolmo no ano de 2020, 28 % do solo foi remediado e 2 milhões de
toneladas de solo foram manuseadas no local (City of Stockholm, 2020, p.13).
Uma vez que o SRS está localizado ao lado de uma passagem que interliga a parte
norte e sul do Royal National City Park, espera-se que esta proximidade forneça
qualidades endógenas para fortalecer a conectividade ecológica na área abrangida pelo
plano. Também será importante proteger e fortalecer essas relações na “frente de
água”. Assim, o desenho urbano, os parques públicos e os pátios privados são
relacionados com esta conexão natural e com os valiosos serviços que os ecossistemas
prestam, através da proporção de espaços verdes em relação ao ambiente construído.
O SRS inclui vários princípios de eco-urbanismo através da implementação de NbS42. Os
espaços verdes multifuncionais melhoram os ecossistemas e sua conectividade, a gestão
42
No entendimento de Brokking, Mörtberg e Balfors (2021, p.15) o caso de estudo do SRS revela a
complmentaridade entre três quadros conceptuais no planeamento e desenvolvimento de Nature-based
Solutions (NbS): i) Os serviços ecossistémicos são usados no planeamento e no projecto de espaços
verdes; ii) As infraestruturas verdes fornecem uma ferramenta para abordar a conectividade no
planeamento com o fim de aumentar a biodiversidade e as estruturas urbanas; iii) O rácio de espaços
verdes (“Green Space Index”) constitui uma ferramenta reguladora para promover os serviços
ecossistémicos, sobretudo, nas propriedades privadas.
88
local de águas pluviais e a agricultura urbana. Pelo facto de o planeamento prever a
plantação de um grande número de árvores e outro tipo de vegetação, permitirá um
maior conforto no ambiente urbano e maior resiliência a altas temperaturas e a ondas
de calor, contribuindo para produzir sombras e para o melhorar o ambiente acústico no
espaço público. Outra das condições implícitas, desde a fase de projecto, é a utilização
de vegetação na cobertura e nas fachadas dos edifícios, potenciando o prolongamento
das funções ecológicas ao longo do ambiente construído. Não menos importante é o
impulso dado para a criação de espaços de cultivo (“agricultura urbana”) em espaços
públicos, privados ou partilhados, como é o caso de coberturas, pátios, terraços e
varandas (City of Stockholm, 2021, pp.45-47). Para além disso, a proximidade é
destacada no SRS onde o acesso a espaços verdes num raio de 200 m é utilizado como
indicador para acompanhar o objectivo de sustentabilidade “serviços ecossistémicos
para um ambiente urbano resiliente e saudável” (Brokking, Mörtberg e Balfors, 2021,
p.15).
43
“O projeto decorreu de 2011 a 2018. Após a sua conclusão, vários actores nele envolvidos formaram
uma associação para gerir e aprofundar o conhecimento na área dos serviços ecossistémicos urbanos a
nível nacional e internacional. A cidade de Estocolmo (Departamento de Saúde e Ambiente) liderou o
projeto”. Um total de onze partes interessadas participaram no projecto, incluindo municípios,
promotores, consultores e academia. O projecto foi financiado pela agência de inovação sueca Vinnova.
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/innovations/cocity
89
deterioração dos ecossistemas face à evolução da urbanização. O projeto teve como
objectivo criar conhecimento sobre como as estruturas verdes do SRS poderiam apoiar
e desenvolver valiosos serviços ecossistémicos, nomeadamente através da ferramenta
“Green Space Index” (GSI) 44 que, aplicada aos espaços públicos, permite identificar os
melhores rácios de plantação para regular os serviços dos ecossistemas, promover a
gestão de águas pluviais, aumentar a biodiversidade e potenciar funções recreativas e
de lazer45.
44
“O GSI é uma ferramenta de cálculo de espaços eco eficientes, contribuindo, positivamente, para o
ecossistema da área e para o clima local, bem como para os valores sociais ligados à vegetação e/ou à
água”. O GSI foi desenvolvido para o SRS em 2010 e desde 2016 passou a ser incorporado em todos os
projetos de desenvolvimento em terrenos cuja propriedade é detida e gerida pela cidade de Estocolmo.
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/innovations/cocity
45
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/innovations/cocity
90
Tabela 15: Desafios na implementação dos objectivos de sustentabilidade do SRS.
Objectivos do plano Desafios e barreiras
91
iv) Lacunas no conhecimento sobre aspectos éticos e de
responsabilidade social nas cadeias de abastecimento.
Objectivo 04 i) Os efeitos das funções das estruturas verdes e azuis são baseados
Deixe a natureza fazer em cálculos teóricos. É necessário rever com maior ênfase estas
o trabalho funções para validar o valor dos serviços ecossistêmicos;
(“Let nature do the work”) ii) É necessário melhorar o conhecimento e rotinas para assegurar a
gestão e funcionamento a longo prazo das estruturas verdes e azuis
em termos de função;
iii)As condições técnicas e legais para a implementação de soluções de
controlo de águas pluviais adaptadas localmente em espaços públicos
requerem coordenação interna dentro da cidade de Estocolmo e entre
os promotores;
iv) O aumento do nível do mar, devido às alterações climáticas, exige
soluções inovadoras para os edifícios existentes na área.
92
aspectos ecológicos, sociais e económicos. Tendo em consideração que o projecto
ambiciona a transformação de territórios brownfield de um antigo porto industrial num
ambiente urbano resiliente e moderno para residentes e empresas, todo o processo
implica a interacção de diversos stakeholders. É nesse sentido que um grande número
de investigadores e academia, empresas, organizações e actores do sector público e
privado procuram testar e pensar novas formas de inovação urbana para que os
objectivos do plano sejam alcançados. Quando o município de Estocolmo designou o
SRS como uma área com um perfil de sustentabilidade de referência, foram nomeados
grupos de trabalho de diversos departamentos em colaboração com especialistas de
diferentes administrações e empresas. O modelo de governança territorial colaborativa
implícita no processo permitiu uma maior abrangência de abordagens e uma visão
holística dos problemas vs soluções.
46
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/about/the-development-project
93
departamento do ambiente e saúde. Outros órgãos que trabalham activamente no
projeto incluem o departamento do distrito da cidade de Östermalm, Estocolmo Vatten
och Avfall AB e outras entidades de gestão como é o caso dos portos de Estocolmo. “Em
questões em que a autarquia não tem condições de actuar, mas que são importantes
para o projeto, são realizados trabalhos de apoio regional e colaboração nacional. Um
exemplo disso é a construção de habitação no ambiente portuário” (City of Stockholm,
2021, p.54).
De acordo com o Stockholm Royal Seaport Road Map47, na sua versão de 2017,
obtiveram-se diversas lições, no âmbito da participação, que merecem ser partilhadas:
(i) O apoio e o consenso político são essenciais para a tomada de decisão e para que as
metas mais ambiciosas possam ser estabelecidas e alcançadas; (ii) O desenvolvimento
de processos integrados permitem um entendimento comum (entre todas as partes
interessadas) da visão de futuro; (iii) O envolvimento e o diálogo com os principais
stakeholders é a base para uma aprendizagem mútua e evolutiva; (iv) Através de um
processo cooperativo, aprendizagens e boas práticas podem ser incorporados em
futuros projetos de desenvolvimento; (v) Os processos de monitorização e
acompanhamento são essenciais e, para isso, são necessário recursos; (vi) Os projectos
de Investigação e Desenvolvimento (I&D), combinados com processos de contratação
inovadores e concursos de inovação, contribuirão para a criação de novas ideias e
soluções; (vii) A inovação deverá ser catalisada, não só por requisitos funcionais, mas
também por um benchmarking contínuo; (viii) A cidade deverá cooperar de várias
maneiras com a academia, indústria privada e moradores para desenvolver novas
ferramentas, processos de trabalho e soluções técnicas disruptivas (City of Stockholm,
2017, pp.53-54). É assim notório que a cooperação e o pensamento inovador abrem o
caminho para soluções criativas e incentivam o amplo envolvimento da comunidade.
47
O Stockholm Royal Seaport Road Map: The Journey Has Begun, desenvolvido de acordo com o Climate
Positive Development Program Framework, resume e analisa os esforços e progressos em termos de
reduções calculadas das emissões de GEE e quais as lições aprendidas ao longo do processo. Descreve,
também, as medidas que devem ser implementadas para reduzir as emissões (City of Stockholm, 2017,
p.7).
94
III. 3.4 Análise interpretativa de resultados
48
Fonte: https://www.norradjurgardsstaden2030.se/en
95
perspectiva da cidade expandida constata-se uma preocupação acrescida em mitigar o
impacto climático e adaptar o território através de uma rede de espaços verdes e
extensões de água que regulam a temperatura e aumentam a resiliência às inundações.
96
(ii) Ao nível do planeamento urbano os cinco objectivos definidos no
Programa de Desenvolvimento Urbano Sustentável auxiliam os técnicos
urbanistas no ordenamento do território de uma forma mais estruturada,
tendo em vista a sua articulação com as metas de sustentabilidade. Para
que as funções urbanas não sejam afectadas pelos impactos das
mudanças no clima, a adaptação climática dos ambientes existentes
deverá ser considerada no desenvolvimento urbano. Por outro lado,
enquanto o planeamento de base ecológica, centrada na natureza,
reforça a capacidade regenerativa de o território se adaptar aos riscos
climáticos, o planeamento focado na circularidade e eficiência dos
recursos disponíveis promove fluxos em ciclos fechados de energia,
materiais e água, contribuindo para a redução de emissões e mitigação
climática. Os processos de planeamento e ordenamento do território
baseados em princípios de circularidade revelam uma preocupação na
relação de proximidade entre as diversas funções urbanas e as
actividades do dia-a-dia (viver, trabalhar e lazer). O planeamento
colaborativo, com diversas actividades de participação e envolvimento
dos cidadãos, promove maior conhecimento e co-responsabilidade ao
longo de todo o processo;
97
City e da ferramenta GSI (no âmbito da ecologia urbana). Por outro lado,
depreende-se que a avaliação e monitorização constante da
implementação do plano, assim como dos resultados obtidos e sua
relação com os objectivos de sustentabilidade, ao serem comunicados
em reports anuais de acesso público, geram maior conhecimento e
confiança entre todos os intervenientes. A multiplicidade de stakeholders
envolvidos no processo de regeneração de brownfields e os variados
interesses que caracterizam a influência de cada interveniente revelam a
importância de uma gestão e planeamento estratégico com base numa
governança eficaz, capaz de mobilizar e envolver para uma
responsabilidade cooperativa entre a população para a manutenção das
qualidades ecológicas, para novos estilos de vida e para novas interacções
sociais;
98
extensão do ciclo de vida dessas construções, eliminado o impacto dos
processos de demolição e de construção nova. Por outro, a escolha
inovativa e disruptiva dos materiais de construção e sistemas
construtivos, através da aplicação de princípios de eco-design é,
indiscutivelmente, um fator decisivo para a resiliência do ambiente
construído, na sua relação com os sistemas naturais. A regeneração da
“frente de água” e a sua reintegração nesta nova centralidade urbana
representa, não só as qualidades visuais da presença do elemento “água”
como elemento unificador, mas também a oportunidade de integração
recreativa e conexões ecológicas. A recuperação de solos contaminados
caracterizados por diversos brownfields permitiu a expansão urbana para
territórios obsoletos numa perspectiva de desenvolvimento da cidade
consolidada. Na dimensão ambiental, o desenvolvimento circular nestes
territórios resultou na regeneração das funções ecológicas e dos
ecossistemas terrestres e aquáticos (beneficiando pessoas e
biodiversidade) através da integração de infraestruturas verdes e azuis.
O desenvolvimento do SRS sobre o existente proporcionou um modelo
mais compacto e multifuncional beneficiando o sistema urbano
(mobilidade, edifícios, espaços públicos e infraestruturas de produção e
abastecimento) e uma racionalização dos fluxos cíclicos de energia,
materiais e água para um metabolismo urbano capaz de responder aos
desafios emergentes. A constituição de áreas de cultivo (agricultura
urbana) traduz-se na produção de alimento localmente e de uma forma
regenerativa, resultando em múltiplos benefícios (ao nível do transporte,
da logística, da biodiversidade, das interacções sociais, da autonomia
alimentar e economia local);
99
para espécies, manutenção de diversidade genética e funções ecológicas
(serviços de suporte). O elemento “água” e as estruturas verdes (que
incluem a plantação de diversas espécies de árvores e variada vegetação)
articulam os edifícios com os espaços públicos aumentando o conforto
térmico, permitindo uma maior adaptação do território a temperaturas
elevadas, ondas de calor e ao efeito das “ilhas de calor”, funcionando,
também, como medidas de mitigação no sequestro e armazenamento de
carbono. Como resposta ao aumento de eventos extremos de
precipitação e cenários de cheias, o sistema integrado de gestão local de
águas pluviais funciona através de infraestruturas verdes e azuis e
permitem maior permeabilidade e controlo do escoamento de águas
superficiais, minimizando os riscos para edifícios, pessoas e
infraestruturas. Quanto à subida do nível médio das águas do mar, a
elevação dos níveis do solo funciona como medida de adaptação às
vulnerabilidades do território costeiro. A regeneração dos ecossistemas
e a conexão ecológica que o plano prevê permite responder às previsões
de perda de biodiversidade (terrestre e marinha), contribuindo para a
resiliência destes sistemas aos impactos das AC. Na perspectiva do
ordenamento do território, a distribuição territorial compacta, as
densidades previstas e a definição de usos mistos permitem uma
evidente mobilidade sustentável, resultando na redução das emissões de
GEE. Já no que refere à valorização e incorporação de infraestruturas
verdes como premente medida de adaptação, conduz ao aumento da
capacidade de sequestro de carbono por parte dos serviços dos
ecossistemas, ao nível da mitigação.
100
desocupados e sem qualquer função urbana. “Os espaços estuarinos, em geral, e as
frentes ribeirinhas estuarinas, em particular, traduzem, de um modo geral, um longo e
complexo processo de acumulação e sucessão de funções”. “(…) é o substracto territorial
herdado deste processo que constitui o suporte às intervenções que têm vindo a ser
prosseguidas no período pós-industrial, objectivadas na revitalização destas áreas de
interface terra-água” (Fernandes, 2014, p.1).
101
IV. 4.2 Metodologia da abordagem
102
Franca de Xira, assim como outras informações relevantes, nomeadamente: eventual
existência de territórios brownfields contaminados, prioridades de actuação, contexto
actual de governança territorial, stakeholders envolvidos ou que poderão ser
mobilizados para a participação na tomada de decisão e implementação de medidas e
acções que se coadunem com os objectivos 2030/2050 para a redução de emissões de
gases de efeito de estufa (GEE) e descarbonização, importância do Plano Municipal de
Adaptação às Alterações Climáticas à escala do território estuarino, entre outras
constatações relacionadas, também, com o ordenamento e planeamento do território,
numa óptica de circularidade de recursos e na, eventual, (re)funcionalização de áreas
degradadas ou em desuso.
OE.01 - Definir quais os princípios Q.01; Q.02 - Planos, projectos e estratégias com
de circularidade urbana para maior incidência na requalificação da Frente
eficiência na regeneração de Ribeirinha de VFX;
territórios brownfield na área - Dados e informação específica sobre as
delimitada para o caso de estudo. características territoriais da Frente
Ribeirinha de VFX;
- Políticas de suporte à regeneração de
territórios brownfield.
103
regeneração de territórios - Identificação de usos do solo
brownfield de VFX na óptica do OT. compatíveis e condicionantes de
ocupação;
104
circularidade urbana) no caso da regeneração da Frente Ribeirinha de Vila Franca de
Xira.
105
evidências em um estudo de caso (Yin, 2001, p.115). Segundo Quivy e Campenhoudt
(2005, p.69): “As leituras dão um enquadramento às entrevistas exploratórias e estas
esclarecem-nos quanto à pertinência desse enquadramento”; “As entrevistas
exploratórias têm, portanto, a função principal revelar determinados aspectos do
fenómeno estudado em que o investigador não teria espontaneamente pensado por si
mesmo e, assim, completar as pistas de trabalho sugeridas pelas suas leituras”. Por
conseguinte, Yin (2001, p.112) constata que uma das principais fontes de informações
para um caso de estudo são as entrevistas.
106
(Ao nível Metropolitano)
107
cenarização bioclimática de base de adaptação (CEDRU, 2021b); Fase 3
(junho de 2022): Relatório de caracterização de impactes e
vulnerabilidades actuais e futuras (CEDRU, 2022);
108
Tabela 17: Temas, categorias e subcategorias que integram o conjunto de questões.
Temas (T.) Categorias (C.) Subcategorias (SC.)
109
SC.24 - Restauração dos
serviços dos ecossistemas;
SC.25 - (Re)estabelecimento dos
ecossistemas e biodiversidade
do Estuário do Tejo;
110
Sustentável e Adaptação do mesmo Departamento). Foram feitas, também, duas
entrevistas à CCDR-LVT, que aconteceram em simultâneo (Direcção de Serviços
de Ordenamento do Território e Direcção de Serviços de Desenvolvimento
Regional).
49
A sessão da entrevista com a AML decorreu com a presença, em simultâneo, de dois técnicos superiores
(um para cada um dos departamentos referidos), constatando-se a complementaridade entre ambos.
111
d) As entrevistas decorreram em formato on-line, através da plataforma para
reuniões virtuais “zoom” mediante a aceitação das partes entrevistadas. Este
modelo permitiu agilizar as disponibilidades dos interlocutores e tornar mais
flexível a calendarização para o desenvolvimento da componente empírica da
dissertação, sem que com isso condicionasse o rigor exigido pela investigação.
112
qualquer relutância50. Atendendo ao facto de o modelo de entrevista semi-
estruturada permitir antecipar um roteiro de perguntas previamente
estabelecidas, mas com um carácter flexível e espontâneo durante o seu
desenvolvimento, revelou-se de grande utilidade ao longo de cada sessão, quer
na condução da entrevista, quer na intervenção dos interlocutores. Permitiu que,
embora as entrevistas estejam subdivididas por blocos temáticos, o resultado do
conjunto de perguntas/respostas originou o sentido de unidade expectável que
se pretendia incutir ao guião.
Por fim, importa salientar que, apesar dos pedidos para a realização de
entrevistas a algumas entidades e respectivas unidades orgânicas não ter tido resposta
(pelo que não foi possível obter esse contributo), como é o caso da solicitação feita ao
ICNF (Direcção Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do
Tejo / Departamento Regional de Conservação da Natureza e Biodiversidade) e CMVFX
(Presidência, Direcção Municipal de Desenvolvimento do Território, Direcção do
Departamento de Ordenamento e Gestão Urbanística, Direcção de Departamento do
Amabiente e Espaço Público e Divisão de Reabilitação Urbana), considera-se que o
desenvolvimento da investigação e os resultados que viriam a emergir das entrevistas
efectuadas não foram condicionados nem comprometidos.
50
Conforme a condição “sine qua non” expressa no Anexo I (Guião de entrevista) remetido, previamente,
aos entrevistados, todos os comentários específicos que venham a ser divulgados não serão atribuídos a
nenhum entrevistado. Pretende-se não identificar os diversos interlocutores, mas sim analisar e contribuir
para o debate em torno da situação real.
113
a) (Anexo V) Participação, como observador, na 1ª sessão intersectorial -
Workshop com técnicos municipais - no qual foi apresentado o cenário base de
adaptação, contextualização climática, riscos, identificação e avaliação de
impactes e vulnerabilidades climáticas actuais e futuras para o Município através
do Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas de Vila Franca de Xira
(PMAAC VFX), cofinanciado pelo EEA GRANTS 2014-2021, que se realizou no dia
8 de abril de 2022, entre as 10H00 e as 13H00, na Fábrica das Palavras em Vila
Franca de Xira. Com a duração de três horas, esta sessão dirigida aos diversos
agentes municipais permitiu observar e constatar o envolvimento entre diversos
sectores quanto à cenarização apresentada pelo Centro de Estudos e
Desenvolvimento Regional e Urbano (CEDRU), cuja coordenação geral foi
assumida pelo Dr. Sérgio Barroso.
114
No âmbito desta investigação, e tendo em consideração a recolha de dados
qualitativos resultantes da análise documental e das entrevistas semi-estruturadas, a
análise de dados insere-se na segunda categoria (análise de conteúdo). De acordo com
Bardin (2009), a análise de conteúdo resulta da observação a posteriori para interpretar
os resultados, desdobrando-se em três fases: (i) pré-análise (a partir da qual se faz uma
primeira leitura dos documentos, à formulação de hipóteses, dos objectivos e
indicadores que fundamentem a interpretação final); (ii) a exploração do material
(através de operações de codificação e enumeração); e o (iii) tratamento dos resultados
(a inferência e a interpretação).
115
transversal dos entendimentos e constatações que cada entrevistado evidenciou. Por
fim, estabeleceu-se um (vii) raciocínio interpretativo dessas evidências, através de
proposições teóricas explicativas do fenómeno em estudo a partir do cruzamento da
diversidade das informações e dados qualitativos recolhidos (Sub-capítulo 4.7 –
Perspectiva de stakeholders).
Figura 17: Localização de Vila Franca de Xira na AML, relação com a Península de Setúbal e integração
na Região de Lisboa e Vale do Tejo. Fonte: CCDR-LVT (2010).
116
Após a reorganização administrativa do território, passou de onze para seis
freguesias (União de freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz; União
de freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho; União de freguesias de Castanheira
do Ribatejo e Cachoeiras; União de freguesias de Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa;
Freguesia de Vialonga; Freguesia de Vila Franca de Xira) (Figura 18).
Legenda:
01 – Póvoa de Santa Iria; 02 – Vialonga; 03 – Forte da Casa; 04 – Alverca do Ribatejo; 05 – Calhandriz;
06 – Sobralinho; 07 – Alhandra; 08 – São João dos Montes; 09 – Vila Franca de Xira; 10 – Cachoeiras;
11 – Castanheira do Ribatejo.
Figura 18: Organização administrativa do território de Vila Franca de Xira. Fonte: Elaboração própria.
Adaptado de Google Earth.
Este território é dividido pelo rio Tejo em três áreas com características distintas:
i) Zona oriental - planícies, lezírias e mouchões, pouco povoada, na qual predomina a
exploração agrícola e a criação de gado; ii) Zona ocidental – litoral, onde predominam
as principais indústrias e os maiores núcleos urbanos; iii) Área interior - rural, com
especial predominância da pequena propriedade (CMVFX, 2020a, p.22). Constata-se,
assim, uma diferenciação territorial entre a margem esquerda e a margem direita do
estuário do Tejo e entre o norte e o sul do Concelho.
117
Como resultado da transformação económica do município ao longo dos tempos,
existem bolsas de dimensão expressiva de (i) espaços devolutos que se caracterizam por
“(…) vários terrenos industriais ativos ou abandonados com passivos ambientais
relevantes que interessa resolver (…)”, “(…) algumas urbanizações, espaços industriais e
de logística devolutos que carecem de requalificação e um grande potencial de
regeneração urbana (…)” (PMA, CMVFX, 2020a p.24) e (ii) terrenos expectantes “(…) em
que nalguns casos estão (semi)infraestruturados ou parcialmente edificados, enquanto
que noutros casos estão efectivamente vazios” (CMVX, 2020b, p.42). Em oposição a
estas características obsoletas, do ponto de vista das características naturais existentes,
VFX integra “(…) cerca de dois terços de águas estuarinas e abrange território
pertencente aos Concelhos de Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira. Beneficia
também de uma generosa frente ribeirinha, com elevado potencial de aproveitamento
para equipamentos e atividades de lazer e elevado potencial de renaturalização e de
conservação da natureza” (CMVFX, 2020a, p.24). Quanto ao Capital Natural, importa
referir que 51,4% da Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET), 80,26% do território
classificado como Reserva Ecológica Nacional (REN) e 49,4% do solo afecto a Reserva
Agrícola Nacional (RAN) ocupam o concelho de VFX (CMVFX, 2018, p.25).
Existem diversos mouchões ao longo do rio Tejo que resultam numa paisagem
natural única e que são constituídos por espaços de cariz, essencialmente, agrícola. No
concelho de Vila Franca de Xira identificam-se três mouchões (Figura 20 e anexo VII): o
Mouchão de Alhandra, o Mouchão do Lombo do Tejo e o Mouchão da Póvoa (CMVFX,
2016, p.2).
118
Figura 19: Delimitação do caso de estudo. Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Google Earth.
Figura 20: Concelho de Vila Franca de Xira e identificação de Mouchões e Lezíria. Fonte: Elaboração
própria. Adaptado de Google Earth.
119
Estas áreas, com uma topografia plana, apresentam grande diversidade biológica
(fauna e flora) e habitats de elevado valor ecológico. E são essas as razões pelas quais
estes espaços (propriedades privadas onde existem explorações agrícolas e criação de
gado) foram inseridas na Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET)51 e na Zona de
Proteção Especial52. “Neles, destacam-se alguns edifícios de habitação e de apoio à
atividade agrícola” (CMVFX, 2016, p.3). Importa ainda referir que “Um acidente com o
rompimento de um dique no Mouchão da Póvoa (abril de 2016) levou à inundação de
90% dessa ilha no estuário do Tejo, com perda equivalente de terrenos disponíveis para
actividade agropecuária e conservação da natureza”. (CMVFX, 2020a, p.24). Situação
que ainda continua por resolver.
“Para além dos mouchões, a RNET inclui uma extensa superfície de águas
estuarinas, zonas de sapal, salinas e terrenos agrícolas (lezíria), e tem como objetivos a
manutenção das funções naturais numa área representativa do ecossistema estuarino”
(CMVFX, 2016, p.4). “Sendo que cerca de metade do território municipal corresponde a
ocupação agrícola” (CMVX, 2020b, p.38), constata-se a sua importância como um
imprescindível território produtivo à escala metropolitana e como uma área de grande
valor ecológico que importa preservar e proteger como resposta às alterações
climáticas. Os contextos actuais de incerteza e as crises cíclicas que têm surgido nos
últimos dois anos relegam para a potencialidade destes territórios ao nível da produção
de alimento a uma escala de proximidade.
51
A Reserva Natural do Estuário do Tejo foi criada pelo DL n.º 565/76, de 19 de julho.
52
A Zona de Proteção Especial do Estuário do Tejo foi criada pelo DL n.º 280/94, de 5 de novembro.
120
foi concebida para 2030, tendo como cenário as visões prospetivas para 2050 (DGT,
2019, p.13).
121
deverão considerar, entre outras directrizes, “(…) a eficiência energética nas opções de
povoamento e de mobilidade (…)”; “(…) novas economias multifuncionais e novas
relações urbano-rurais (…)”; a delimitação de “(…) áreas de susceptibilidade a perigos e
de risco tendo em consideração os cenários de alteração climática e definir as medidas
de precaução, prevenção, adaptação e redução de exposição (…)”; a integração de “(…)
estratégias de (…) salvaguarda e valorização de recursos e valores naturais (…), a criação
de estruturas ecológicas e infraestruturas verdes, a conservação da natureza, em
particular em áreas classificadas e a valorização dos serviços dos ecossistemas e a
qualificação das unidades de paisagem” ; a promoção da “(…) regeneração, reabilitação,
reutilização e revitalização urbana(…)”; a identificação de “(…) passivos ambientais e o
solo urbano com usos obsoletos e ocupações desqualificadas e definir estratégias e ações
de incentivo à sua recuperação, reconversão e/ou reposição (…)” (DGT, 2019, pp.313-
314).
Tendo em vista a consagração das directrizes que constam do PNPOT nos Planos
Regionais de Ordenamento do Território (PROT), o PROT-AML53 constitui uma
importante estratégia de ordenamento do território para a Área Metropolitana de
Lisboa. No entanto, o que se encontra em vigor data de 2002, encontrando-se
desajustado às conjunturas actuais e aos desígnios que constam do PNPOT. Ainda assim,
de acordo com a proposta de alteração ao PROT-AML em vigor, elaborada pela CCDR-
LVT, “Este plano criou um quadro de referência para a relação com os municípios (…)” e
“(…) a obtenção de consensos em torno de opções de ordenamento do território”.
Porém, alguns aspectos menos positivos são identificados nesta proposta de alteração,
designadamente: “a) Grau demasiado subjectivo e generalista das normas, em
53
“O Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT AML) foi
aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 68/2002, de 8 de abril e foi deliberada a sua
alteração pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 92/2008, de 5 de junho. Do processo de alteração
resultou uma proposta de PROT AML, submetida a discussão pública entre 2010 e 2011, que não
prosseguiu por motivos de alteração do contexto macroeconómico nacional e internacional e de suspensão
da concretização das infraestruturas de transportes”. Fonte: https://www.ccdr-lvt.pt/ordenamento-do-
territorio/prot/prot-da-area-metropolitana-de-lisboa-prot-aml/
122
particular as de ordenamento do território; b) Documento com alguma complexidade de
leitura e interpretação, nomeadamente em termos dos normativos e na articulação com
a estratégia definida para a AML” (CCDR-LVT, 2010, p.13). No domínio do modelo
territorial previsto na proposta de alteração, importa salientar, no âmbito da
investigação: A necessidade de princípios da “cidade compacta” estruturada por
territórios urbanos multifuncionais, em oposição às tendências fragmentárias; A
oportunidade para a reconversão urbana de áreas degradadas e obsoletas nas margens
do Estuário do Tejo, “preservando-se o território fora dos perímetros urbanos
consolidados”; A reabilitação do edificado existente e o desenvolvimento urbano a partir
de espaços urbanizados, permitindo a “(…) valorização funcional e económica de outros
centros urbanos” e a “(…) regeneração dos núcleos existentes.”; e “(…) uma intervenção
integrada e sustentável que garanta a qualificação e consolidação dos espaços urbanos
e a preservação dos espaços naturais, agrícolas e florestais” (CCDR-LVT, 2010, pp.30-
31).
123
IV. 4.4.3 Nível Metropolitano
As mudanças que têm ocorrido de uma forma cíclica exigem respostas multinível
e é nesse sentido que a estratégia AML 2030 foi formulada, em 2020, por uma entidade
intermunicipal (AML) e um serviço da administração directa do estado (CCDR-LVT)
mediante a auscultação de diversos interlocutores. Esta estratégia de desenvolvimento
regional para a década abrange cinco domínios temáticos: (i) Inovação e
Competitividade, (ii) Sustentabilidade Ambiental e Resiliência aos Riscos, (iii)
Capacitação e Coesão Social, (iv) Mobilidade e Conectividade Sustentável, e (v)
Desenvolvimento Urbano e Mudança Transformadora. A abordagem delineada
considera, ainda, três domínios que são transversais a toda a estratégia: Cultura e
Inovação, Ação Climática e Sustentabilidade Demográfica (AML, 2020, p.65). No domínio
da Sustentabilidade Ambiental e Alimentar e Mitigação de Riscos Naturais a AML reforça
a necessidade de preparar a região através de seis subdomínios: (i) Descarbonização e
transição energética; (ii) Adaptação climática e mitigação de riscos; (iii) Economia
circular; (iv) Biodiversidade; (v) Sistema alimentar e Desenvolvimento Rural; e (vi) Mar,
estuários e zonas costeiras (AML, 2020, pp.75-76). No domínio do Desenvolvimento
Urbano e Mudança Transformadora a AML reforça a necessidade em valorizar os activos
territoriais através de quatro subdomínios: (i) Regeneração urbana e habitat; (ii)
Habitação e habitabilidade; (iii) Economia urbana; e (iv) Gestão urbana. Segundo esta
estratégia, no contexto metropolitano, “(…) as disparidades territoriais em termos
económicos e sociais são essencialmente resultado, a um tempo, da insuficiente
capacidade em superar iniquidades impostas pela geografia para uma eficaz integração
social, económica e cultural dos vários espaços, a um segundo tempo, da incapacidade
em conduzir os processos de desenvolvimento urbano, mitigando dinâmicas de
segregação, polarização e desqualificação territorial e, a um terceiro tempo, resultado
dos ciclos de inovação produtiva, geradores de localizações emergentes e de espaços em
declínio.” (AML, 2020, p.106).
124
áreas através da sua reutilização e transformação (e.g.: brownfields, áreas e edificado
obsoleto, espaços vazios, etc.), (…) Esta mudança de paradigma de um desenvolvimento
urbano mais expansionista para um mais orientado para a regeneração e reabilitação
urbana consta do relatório Habitat III da ONU, é um dos objetivos da Agenda Urbana
para a EU (…)”, constituindo-se como uma mudança primordial na AML (AML, 2020,
p.50). No contexto das imprevisibilidades resultantes das mudanças no clima, o Plano
Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas da Área Metropolitana de Lisboa
(PMAAC-AML), para além de promover um maior conhecimento da vulnerabilidade
regional, identifica as respostas e medidas adaptativas necessárias para o território
metropolitano, contribuindo para uma melhor capacitação técnica no que diz respeito
ao fenómeno das alterações climáticas, perspectivando acções que consideram a escala
metropolitana e local do território.
125
Metropolitana de Lisboa – define quatro dimensões para a integração da adaptação no
ordenamento do território (Tabela 19). “Estas formas de integração da adaptação
podem ser aplicadas, por um lado, nos documentos e peças cartográficas que constituem
os diferentes instrumentos de gestão territorial (IGT), e/ou, por outro lado, nos próprios
processos de elaboração e de implementação/acompanhamento dos programas e
planos” (AML, 2019b, p.11).
126
iii) Promovendo a coordenação de diferentes políticas;
127
significativas de ocupação/ uso do solo, quando comparadas as versões da COS de 2007
e 2015, acontecem nas Áreas Agrícolas e Agroflorestais, que em termos absolutos
perderam 228,3 ha”. “Por oposição, os Territórios Artificializados e os Corpos de Água
são as classes que mais aumentaram, em termos absolutos registaram-se ganhos de
156,7ha de Territórios Artificializados e 243,6 ha de Corpos de Água” (CMVX, 2018a,
p.73).
54
A revisão do Plano Director Municipal de Vila Franca de Xira foi publicada em Diário da República através
do Aviso n.º 20905/2009 de 18 de novembro, Aviso n.º 2956/2009 de 3 de dezembro (Declaração de
Retificação), Aviso n.º 14674/2010 de 23 de julho (Alteração por Adaptação), Aviso n.º 16081/2010 de 11
de agosto (Declaração de Retificação), Declaração n.º 173/2013 de 8 de agosto (Declaração de Retificação)
e Aviso n.º 10348/2013 de 16 de agosto (1.ª Alteração) (CMVFX, 2016, p.7).
128
Recursos agrícolas e florestais (Figura AVIII-5, do Anexo X). As áreas classificadas incluem
a Reserva Natural do Estuário do Tejo, Rede Natura 2000, Zona de Protecção Especial e
o Sítio do Estuário do Tejo, constituindo-se como os “(…) principais instrumentos para a
conservação e salvaguarda da natureza, testemunhando a biodiversidade e outros
valores naturais presentes no concelho”. O domínio do Capital Natural inclui, também,
a Reserva Ecológica Nacional (REN) (“estrutura biofísica que integra áreas com valor e
sensibilidade ecológicos ou expostas e com susceptibilidade a riscos naturais”), presente
em 80% do território do concelho, e a Reserva Agrícola Nacional (RAN) (“conjunto de
terrenos que, em virtude das suas características, em termos agroclimáticos,
geomorfológicos e pedológicos apresentam maior aptidão para a actividade agrícola”)
que afeta 49,4% do território concelhio (CMVFX, 2018a, p.20). De acordo com o n.º 1,
do Artigo 7.º do Regulamento do PDM, “Nas áreas abrangidas por servidões
administrativas e restrições de utilidade pública aplicam-se os respectivos regimes
jurídicos em vigor” (CMVFX, 2018b, p.13), nomeadamente quanto ao uso e
transformação do solo a usos e acções compatíveis. Quanto à qualificação do solo,
processa-se de acordo com as categorias e subcategorias que constam da Carta de
Classificação e Qualificação do solo (Figura AVIII-2, do Anexo VIII). Para efeitos de
ocupação, uso e transformação do solo, é estabelecida a classificação de Solo Rural
(“aquele a que é reconhecida vocação para as actividades agrícolas, pecuárias, florestais
ou minerais, assim como o que integra os espaços naturais de protecção ou de lazer, ou
que seja ocupado por infraestruturas que não lhe confiram o estatuto de solo urbano”)
e de Solo Urbano (“aquele a que é reconhecida vocação para o processo de urbanização
e de edificação, nele se compreendendo os terrenos urbanizados ou cuja urbanização
seja possível programar e os afectos à estrutura ecológica urbana, constituindo no seu
todo o perímetro urbano”) (CMVFX, 2018b, p.14). De acordo com o REOT de 2018, o
Solo Rural representa 76,42% do Município, e o Solo Urbano 14,15%. O Plano classifica,
ainda, os Espaços Canais e Outras Infraestruturas e identifica os Valores Culturais e as
Áreas de Risco ao Uso do Solo (Figura AVIII-1, do Anexo VIII). A Estrutura Ecológica
Municipal está representada na respectiva Planta de Ordenamento (Figura AVIII-3, do
Anexo VIII) e inclui a classificação de solos que consta do Artigo11.º do Regulamento do
PDM VFX (CMVFX, 2018b, p.15).
129
IV. 4.4.4.3 Estratégia de Requalificação da Frente Ribeirinha de VFX
130
aumentar a eficiência energética do município “(…) através de adoção de soluções
urbanas inteligentes complementadas com soluções inovadoras vocacionadas para a
melhoria do bem-estar dos cidadãos em diferentes áreas de atuação como sejam a
Governação, a Mobilidade, a Energia, o Ambiente e os Edifícios” (CMVFX, 2018c, p.11).
131
IV. 4.4.4.5 Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas
de VFX
132
Tabela 20: Variáveis climáticas e respectivas tendências recentes no concelho.
Variável Tendências
Extremos térmicos “Dias muito quentes: A frequência anual tem tido uma tendência
de subida desde 1979, com uma tendência linear de cerca de cerca
de +2 dias/século”;
Nível médio das águas do mar “Tendência de subida, com um valor linear de cerca de 3,1
mm/ano”.
133
sistemas ecológicos”; (ii) “O aumento claro da frequência de dias muito quentes, com
temperatura máxima superior a 35ºC, terá com certeza efeitos na saúde pública,
nomeadamente nos grupos populacionais mais sensíveis”; (iii) “O aumento da
frequência de noites quentes irá ter um impacto também significativo (…)”; (iv) “(…) uma
diminuição ligeira da precipitação anual e uma alteração do regime de precipitação no
sentido de uma maior torrencialidade”; (v) “(…) a conjugação da diminuição da
precipitação com o aumento do número de dias secos e subida da temperatura, irão
acentuar o défice hídrico. O clima da região já apresenta uma estação seca significativa,
mais acentuada entre maio e setembro, com um déficit hídrico anual importante.
Espera-se que haja uma extensão da estação seca e um agravamento do número de dias
secos e muito secos, assim como uma redução da extensão da estação húmida e da
frequência dos períodos de recarga de aquíferos (…)”; vi) a subida do nível das águas no
estuário do Tejo, “(…) irá colocar em risco as áreas ribeirinhas e a mais baixa altitude.
Há um risco de inundação crescente especialmente em preia-mar equinocial, assim como
de agravamento de eventuais situações de cheia no Tejo. Corre-se o risco de ruptura de
diques artificiais e perda de território, para além do avanço de massas de água salinas
para interior, com contaminação de solos e aquíferos”. (CEDRU, 2021b, p.57).
134
aumento da atractividade dos espaços ribeirinhos no verão, entre outros (CEDRU, 2022,
pp.126-127).
135
concelhos contíguos, sendo fundamental um planeamento para as áreas mais
vulneráveis (sobretudo os espaços urbanos que confinam com essa frente) com o
objectivo de proteger e permitir, ao mesmo tempo, actividades de lazer e serviços.
Ainda segundo o entendimento municipal, essa regeneração será determinante para o
futuro do concelho naquilo que deverá ser o seu papel na AML através de duas
dimensões que se complementam: (i) o que poderá significar o estuário do Tejo e as
suas margens para a população; e (ii) as transformações inovadoras a partir de áreas
industriais obsoletas para gerar novas dinâmicas urbanísticas e socio-económicas. É
afirmado que a forma como os territórios brownfield serão requalificados reposicionará
a Frente Ribeirinha e o concelho no estuário do Tejo. O município reforça a vontade de
Regeneração da Frente Ribeirinha e de interligação dos seus 23Km referindo que
diversas ligações ribeirinhas encontram-se já executadas através de parques lineares
que devolvem a frente estuarina à população e privilegiam a adaptação às AC,
considerando como estratégia futura a articulação dessa intervenção (investimento
público) com a intervenção (investimento privado) na antiga fábrica da Solvay
(actualmente com a produção de algas e, numa perspectiva de longo prazo, também
com a produção de energia), a partir da qual novas dinâmicas territoriais e experiências
urbanas inovadoras poderão emergir.
136
de capacidade e de condições agrícolas na lezíria e nos mouchões e que (ii) na margem
direita, considerando as ondas de calor um dos efeitos mais impactantes no território
de VFX, o desafio de regeneração é elevado, na criação, por exemplo, de estruturas
verdes que amenizem as temperaturas.
137
IV. 4.5.2 Ordenamento do território na resposta às mudanças climáticas (C.01)
138
e da energia. Ainda ao nível regional é considerado que uma gestão eficiente dos
recursos, nomeadamente a partir da reutilização e refuncionalização de territórios
brownfiled (em alternativa à construção nova), trará sempre um contributo ao OT.
139
deveria ser revertido para os IGT para garantir a compatibilização com aquilo que são os
usos do solo.
140
margem direita têm as suas particularidades. Por conseguinte, estando a margem
esquerda inserida na RNET, é fundamental a sua protecção e valorização. No entanto, o
município constata que é incontornável que a salinidade nos terrenos da lezíria e dos
mouchões está a atingir proporções cada vez maiores, afectando a sua capacidade
agrícola e que as projecções evidenciam o aumento dessa tendência, perspectivando-se
que caso não haja rentabilidade privada o Estado terá de assumir a manutenção destas
estruturas de alto valor de avifauna na AML. Outro tema considerado crítico para a
CMVFX tem a ver como o município e as restantes entidades envolvidas deverão abordar
o risco associado com as “áreas inundáveis”. Em 2007, a CMVFX encomendou ao LNEC
um estudo hidrológico do concelho, no âmbito do PDM à data, para identificar a cheia
do Tejo e a cheia rápida das ribeiras (áreas inundáveis). Mas, coloca-se em discussão
como é que o município irá agir sobre estas áreas, o que se vai permitir e de que forma
vai regular em solo urbano. O actual executivo municipal assume a existência de regras
que evidenciam alguma permissividade, na perspectiva do que está edificado em área
inundável poder ser substituído (dando resposta a áreas devolutas ou obsoletas), no
entanto, considera que, estabelecendo-se um regime legal demasiado condicionador
nestas áreas, seguramente irá resultar em territórios - sem pessoas, constituindo -
passivos ambientais, que não terão rentabilidade de investimento e sobre os quais o
Estado não terá interesse em intervir.
141
e uma adaptação dos espaços envolventes (caracterizados por áreas artificializadas –
estacionamentos, áreas pavimentadas e impermeáveis) com mais arborização e melhor
conforto térmico que mitiguem os gradientes térmicos. Outra preocupação da
consultora externa do município para a elaboração do PMAAC-VFX tem a ver com a
protecção das infraestruturas existentes (a ferrovia localizada junto da margem, por
exemplo).
Por conseguinte, para a APA é necessário que não sejam criados outro tipo de
riscos a partir do IGT, porque o objectivo da compatibilização dos instrumentos é,
precisamente, o oposto. Constata, ainda, que será importante existirem medidas que
mitiguem as emissões na Frente Ribeirinha (zonas para peões e para mobilidade suave,
evitar a circulação de veículos a combustão, entre outras) criando, na medida do
possível, um conjunto de estratégias (baseadas em sistemas naturais) que possam dar a
oportunidade às pessoas de estarem em sintonia com a natureza e com o rio Tejo.
142
sua complexidade e diversidade que muitas vezes leva à “não acção”. Como um serviço
central da administração directa do Estado (integrado na área do governo da Coesão
Territorial), esta entidade releva a importância de, através dos IGT, contribuir-se para a
diminuição dos desequilíbrios e desigualdades territoriais e para o desígnio europeu e
nacional que conduza a uma maior Coesão Territorial. Outros desafios (que constam do
PNPOT) são referenciados, como é o caso da gestão dos recursos naturais de forma
sustentável e a promoção de um sistema urbano policêntrico (visto que VFX integra a
AML).
A CMVFX assume que o PMAAC-VFX tem a sua importância como estratégia para
a salvaguarda dos equipamentos, bens da cidade, infraestruturas e saúde da população.
No entanto, não sendo as inundações identificadas como o principal risco, mas sim as
ondas de calor, a adaptação do espaço público é um tema sensível e preocupante,
garantindo o município ter revertidas estas preocupações na revisão do actual PDM.
Também a CEDRU tem este Plano como de extrema importância, dada a grande
diversidade territorial em VFX, que resulta num elevado grau de vulnerabilidade e de
exposição a uma série de riscos climáticos: (i) a importância ao nível agrícola que remete
para o problema da seca extrema (que tende a agravar-se) e a (ii) existência de maciços
florestais com risco de incêndio elevado (que importa salvaguardar). Por isso o PMAAC-
VFX é importante para criar a sensibilização e preocupação em torno destas matérias,
sendo, também, uma oportunidade para a regeneração e funcionamento bioclimático
destes territórios (aglomerados urbanos e ribeirinhos com défice de estruturas verdes e
presença de linhas de água artificializadas) e salvaguarda da ocupação de toda a Frente
Ribeirinha. Por conseguinte, é afirmado que o PMAAC-VFX pretende desencadear um
conjunto de acções de curto prazo, centradas nos riscos actuais, com resultados
múltiplos (melhorar a qualidade do ambiente urbano, do espaço público e adaptar o
território). Apesar dos PMAAC não terem um carácter obrigatório e regulamentar, a
CEDRU considera que a sua metodologia estabelece prioridades em como as medidas
de adaptação podem ser incorporadas no PDM através de: (i) Estratégia no
Planeamento, (ii) Dimensão regulamentar (condicionantes), (iii) Dimensão operacional
143
(por exemplo, como se vai fazer a construção do dique de protecção e engenharia
natural) e (iv) Dimensão de governança (envolvimento de stakeholders).
55 “Através do Acordo do Espaço Económico Europeu (EEE), assinado na cidade do Porto em maio de
1992, a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega, são parceiros no mercado interno com os Estados-
Membros da União Europeia. Como forma de promover um contínuo e equilibrado reforço das relações
económicas e comerciais, as partes do Acordo do Espaço Económico Europeu estabeleceram
um Mecanismo Financeiro plurianual, conhecido como EEA Grants, através do qual a Islândia, o
Liechtenstein e a Noruega apoiam financeiramente os Estados membros da União Europeia com
maiores desvios da média europeia do PIB per capita, onde se inclui Portugal”. Fonte:
https://www.eeagrants.gov.pt/pt/eea-grants/
144
A CCDR-LVT considera que, para além da vantagem destes Planos serem
financiados, são úteis porque criam um pensamento estratégico intersectorial (entre
entidades externas e o corpo técnico e político das Câmaras Municipais) e
interdepartamental (envolvendo os diversos serviços e departamentos do município).
Salienta que, sendo um Plano Municipal e tendo em conta a sua escala e o compromisso
político que requer, traz as decisões para a esfera pública e dos cidadãos, criando maior
participação (comparando com a escala metropolitana), o que, à partida, trará
benefícios e contributos para a tomada de decisão. A CCDR-LVT reflecte, ainda, sobre as
orientações estratégicas que cada município tem ao seu dispor (focadas mais na
mobilidade, ou mais na infraestrutura verde, ou no aumento do coberto arbóreo),
constatando que, embora a ideologia que estiver subjacente à governação do município
poder constituir ou não uma barreira ou um desafio, a cultura de adaptação está muito
enraizada nos municípios, nos técnicos e nos políticos (e isso é muito evidente na área
metropolitana), considerando, dessa forma, que um dos desafios de implementação do
PMAAC nos PDM é a vontade ideológica. No entanto, na perspectiva da AML, as obras
de adaptação (“a sério”) que contribuam, de facto, para o controlo de cheias e
inundações (por exemplo), são obras que exigem uma elevada capacidade de
investimento em redes de águas pluviais (sendo pouco apetecíveis para os eleitos, pela
falta de visibilidade dessas infraestruturas). Embora a CCDR-LVT considere o PMAAC-
VFX um instrumento que vai dar suporte para a actuação no território e a partir do qual
os municípios terão de ter a capacidade de traduzir essas orientações em regulamentos
de âmbito local, o PDM define o uso, ocupação, e transformação do solo, mas tem
limitações no âmbito da sua intervenção, implicando que nem tudo pode ou deve ser
integrado nesse IGT (devendo ser, também, através de regulamentos municipais ou
planos estratégicos por exemplo).
145
considera que, com o tempo, a operacionalização destes Planos terá de ser mais
evidente, até porque a Lei de Bases do Clima56, aprovada em dezembro de 2021, é o
primeiro passo que impõe os Planos de Acção Climática para os municípios e para as
regiões, ainda que sem o vínculo desejado.
56
A Lei de Bases do Clima (Lei n.º 98/2021), aprovada pela Assembleia da República em 31 de dezembro
de 2021, vem consolidar objetivos, princípios e obrigações para os diferentes níveis de governação para
a ação climática através de políticas públicas e estabelece novas disposições em termos de política
climática. A Lei de Bases do Clima veio assim estabelecer um conjunto de obrigações relativas à
necessidade de desenvolvimento de novos instrumentos da política climática, entre os quais se destacam
os Planos Regionais de Ação Climática e os Planos Municipais de Ação Climática (Art.º 14.º - Políticas
Climáticas regionais e locais). Fonte: https://dre.pt/dre/detalhe/lei/98-2021-176907481.
146
implicará a capacidade de envolver os investidores no momento certo e de a CMVFX, a
montante, ter planeado o que quer para o território.
147
perspectiva desta entidade, a ocupação de territórios existentes já comprometidos em
oposição ao desenvolvimento de greenfields, que teria como consequência o consumo
de recursos (nomeadamente solo) e o aumento de fluxos de mobilidade, energia e
materiais. Neste sentido, será de grande utilidade conciliarem-se estas duas
perspectivas (o “modelo metapopulacional”, do ponto de vista do equilíbrio ecológico e
dos habitats, com a circularidade de recursos existentes).
148
IV. 4.5.6 Estratégias de Eco-urbanismo para a regeneração das funções
ecológicas (C.05)
149
adaptação e mitigação) e que, para este corredor continuar a existir, é indispensável
esta articulação e uma política pública e metropolitana que envolva as entidades ao
nível intermunicipal e regional (CCDR, AML e APA) para acções consertadas.
150
criação de bacias de retenção naturais e em outras soluções de recarga de aquíferos que
possam criar, simultaneamente, condições para o desenvolvimento da biodiversidade.
151
Na perspectiva da CCDR-LVT, a cultura de adaptação às AC vai-se fazendo através
de processos colaborativos e de contínua aprendizagem (workshops, reuniões,
seminários) que implicam fases diferentes do processo (desde a concepção da estratégia
à definição de prioridades do ponto de vista de apoios ou financiamentos), com
momentos diferentes de participação dos diversos intervenientes (administração
pública, cidadãos e academia), sendo sempre necessária uma liderança forte (neste
caso, por parte do município). Ainda segundo a CCDR-LVT, a dinâmica de interacção
entre os stakeholders de uma região ou à escala municipal tem diversos momentos para
o cruzamento de informação e readaptação de prioridades e estratégias. Por outro lado,
esta entidade refere que a interação de muitos stakeholders requer um tempo de
reflexão que já não se conjuga tão bem com mudanças que estão a acontecer muito
depressa. É salientado, ainda, que o corpo técnico e a dimensão política terão de ser
mais pró-activos, não só no sentido que não esperarem pelos fundos comunitários para
elaborarem os planos, como também no sentido da urgência da execução das
estratégias.
152
Seguindo a lógica das categorias temáticas que caracterizam o guião da
entrevista, evidenciam-se, de seguida, os resultados alcançados que importa salientar:
153
preocupação (generalizada) com a adaptação da frente ribeirinha a
inundações. Mas, persiste a indefinição de medidas concretas para a
protecção de infraestruturas existentes, da máxima importância para o
concelho e, no caso da ferrovia, também a nível nacional. Apesar da
posição convergente das entidades consultadas para o planeamento
destes territórios (mais vulneráveis) no sentido da desobstrução ou da
permissão de funções temporárias e flexíveis às imprevisibilidades
futuras, não é evidente o que deverá ser considerado, em concreto, no
uso, ocupação e transformação do solo nestas áreas e como, por
exemplo, as unidades industriais em funcionamento (designadamente a
fábrica da CIMPOR localizada na proximidade da margem, com elevada
exposição ao impacto provocado pela subida das marés) serão
acauteladas nesse planeamento que deverá dar uma resposta, eficaz, aos
desafios das AC. Por outro lado, para além da premência da adaptação,
também não é claro como o município poderá responder às exigências
actuais de descarbonização e de redução de emissões de CO2, através da
conjugação de medidas de mitigação a partir da logística industrial
localizada nestes territórios. A Regeneração da Frente Ribeirinha não se
coadunará com a manutenção de actividades poluidoras, exigindo uma
reflexão em torno de metas de sustentabilidade concretas que procurem
novos modelos de funcionamento, a partir de princípios de Economia
Circular, das actividades económicas e industriais. Há, no entanto, uma
preocupação da entidade metropolitana quanto à variação dos estudos
existentes, baseados em formas de cálculo com diferentes pressupostos,
apontando para cenários diferenciados quanto à SNM no rio Tejo, não
existindo consenso científico quanto aos reais impactos. Esta constatação
revela que, de certa forma, as medidas de protecção e salvaguarda das
frentes localizadas junto dos “plano de água” estão a ser assumidas
através de pressupostos que induzem a um planeamento que poderá não
dar respostas efectivas às AC (na definição do tipping point para a
implantação de construções ou de estruturas elevadas de protecção, por
exemplo), podendo resultar numa lógica de incoerência na
154
implementação de acções ao longo das margens do Tejo e na relação
contígua que se pretende alcançar. Numa perspectiva de
complementariedade, ao nível da administração central é considerado
que a compatibilização entre as acções locais com o enquadramento
metropolitano, deverá considerar os níveis estratégicos europeu,
nacional e regional para uma melhor coordenação multinível e
concertação dos stakeholders envolvidos.
155
do “plano de água”para que não haja o risco de contaminação das águas
(que aumentará a degradação ambiental, a perda de biodiversidade e o
decréscimo das funções dos ecossistemas), podendo resultar na falha da
adaptação e da mitigação.
156
articulação que produza mudanças transformadoras (no paradigma do
planeamento e governança local e supralocal).
157
autorização a um organismo de administração indirecta do Estado (não
tendo sido revelada qual) para uma obra de emergência a fim de conter
a entrada de água (após o incidente), tendo sido negada. Ora se a Agência
Portuguesa do Ambiente, nos termos do Decreto-Lei n.º 56/2012, de 12
de março, “(…) tem por missão propor, desenvolver e acompanhar a
gestão integrada e participada das políticas de ambiente,
nomeadamente no âmbito da gestão de recursos hídricos, com vista à sua
proteção e valorização, exercendo neste domínio as funções de
Autoridade Nacional da Água” e “No âmbito das suas atribuições a APA,
I. P., detém a competência para, no domínio dos recursos hídricos, gerir
situações de seca e de cheia (…)”, de acordo com o estipulado no artigo
3.º do Decreto-Lei n.º 56/2012, de 12 de março, que aprovou a Lei
Orgânica da APA, I. P 57, considera-se que esta entidade, como instituto
público integrado na administração indirecta do Estado, tem as devidas
competências para a reparação do rombo no dique de protecção do
Mouchão da Póvoa.
57 Fonte: https://dre.pt/dre/detalhe/decreto-lei/56-2012-553603
158
adaptada que tenha cotas de “não inundação”. Depreende-se que, de
facto, a incerteza de como regulamentar a ocupação em áreas
inundáveis, ao nível local, resulta do receio em perder-se território (como
suporte essencial de interacções sociais e económicas dinamizadoras do
ambiente urbano). No entanto, a não consideração das condições reais a
que os territórios estuarinos estarão sujeitos, nomeadamente a
inundações e cheias progressivas, poderá condicionar a adaptação à
SNM. Observando as orientações que constam do Guia para a Integração
da Adaptação no Planeamento Municipal, Intermunicipal e
Metropolitano (destacado pela entidade metropolitana como um
documento que evidencia que recomendações poderão ser consideradas
nos PDM), deverão estabelecer-se um conjunto de disposições
regulamentares para a adaptação à subida do nível médio das águas do
mar, nomeadamente (i) “(…) para a adopção de soluções construtivas e
reabilitação de estruturas adaptadas aos riscos costeiros e estuarinos”
através da alteração e implementação de “(…) normas de
construção/reabilitação dedicadas a aumentar a resistência dos edifícios
ao galgamento e inundação”; (ii) “(…) que restrinjam o uso e ocupação do
solo nas zonas estuarinas sujeitas a galgamento e inundação em cenário
de alteração climática” através da restrição de “(…) novas edificações ou
reabilitação desadequada em zonas estuarinas muito vulneráveis a
submersão por subida do nível médio do mar”; (iii) “(…) para a definição
de áreas multifuncionais, compatíveis com os riscos costeiros e
estuarinos” através do condicionamento dos “(…) usos abaixo da cota de
galgamento e inundação oceânica e estuarina aos usos non edificandi,
multifuncionais e compatíveis com os riscos” (AML, 2019b, pp.50-51).
Complementarmente, a APA considera que não deverão ser criados
outros riscos a partir dos IGT, enquanto a CCDR-LVT reforça a importância
dos IGT na compatibilidade do uso, ocupação e transformação do solo
com os riscos identificados, garantindo uma maior eficiência na gestão
dos recursos disponíveis e na resposta às mudanças climáticas.
159
A DGT ressalva que, em oposição ao carácter “proibitório” dos
regulamentos (tema também considerado pelo município, embora no
contexto da ocupação de áreas de risco), a atractividade dos territórios
passa pela visão estratégica que os PDM terão de prever para a promoção
de actividades económicas, qualidade de vida das populações, reforço da
competitividade, coesão territorial, o que, evidentemente, contribuirá
para a diminuição de desequilíbrios e desigualdades territoriais.
Constata-se que o facto de os PDM terem um carácter regulamentar que
condiciona, muitas vezes, o envolvimento dos agentes económicos e dos
particulares, poderá resultar na permanência das áreas subvalorizadas
que caracterizam o caso de estudo. Por conseguinte, considera-se
indispensável uma alteração profunda ao quadro legal vigente e a DGT
deveria ter um papel decisivo nesse processo, enquanto organismo
público ao qual incumbe a prossecução das políticas públicas de
ordenamento do território e de urbanismo, nomeadamente através da
promoção de boas práticas e critérios técnicos que capacitem os agentes
locais e supralocais para uma adequação dos regulamentos aos desígnios
nacionais.
160
através de: (i) Estratégia no planeamento, (ii) Dimensão regulamentar
(condicionantes), (iii) Dimensão operacional e (iv) Dimensão de
governança. Depreende-se, por afirmação dos serviços técnicos
muncipais, que estas preocupações estão a ser tidas em consideração na
revisão do PDM em vigor.
161
Ribeirinha, pelas restrições que irá ter, sendo impensável qualquer tipo
de construção em áreas de elevada susceptibilidade à SNM. Em
complementariedade, enquanto a APA considera que a
operacionalização destes Planos é agora mais evidente com a aprovação
da Lei de Bases do Clima, a DGT reforça que a problemática da
implementação é um aspecto recorrente que poderá justificar-se pelo
carácter regulamentar “proibitivo” que condiciona a acção e pela falta de
cooperação e entendimento dos problemas reais. Importa, portanto,
reflectir sobre a temática da implementação de estratégias que os
PMAAC definem. Embora as entidades entrevistadas refiram que o
envolvimento de diversos stakeholders na elaboração do PMAAC está na
base do sucesso (inédito) dessa cooperação, constata-se que, ao nível da
sua operacionalização, parece evidente que o sentido de trabalho em
“rede” (neste caso, entre instituições) não existe, resultando na falta de
mecanismos financeiros que alavanquem a realização das intervenções
necessárias ou porque os programas de execução não garantem a
exequibilidade dos investimentos correspondentes.
162
inovar); (ii) constitui, também, uma evidente barreira na relação dos
aglomerados urbanos com os espaços próximos do “plano de água”. Na
perspectiva do município, a requalificação ambiental exigirá a
recuperação de solos contaminados, representando um duplo desafio
pelo facto de constituirem um investimento adicional dos privados e
porque estes terrenos, na sua maioria, não são contíguos (o que
condicionará a implementação de acções de descontaminação de um
conjunto mais alargado de propriedades que se relacionem entre si,
tendo como consequência o acréscimo dos custos). Através da análise de
cartografia disponibilizada pelo município, na qual são identificados os
terrenos com ocupações/construções devolutas (Anexo XI), constata-se
que ao longo da Frente Ribeirinha existem trinta propriedades, dispersas,
com essas características, que apresentam um elevado potencial de
reintegração no sistema urbano que confina com o estuário do Tejo.
Importa salvaguardar que o serviço camarário que disponibizou esta
informação referiu a dificuldade na inventariação de todas as antigas
áreas industriais, sendo que a informação cedida corresponde a “áreas
existentes devolutas” porque (“tratando-se de uma matéria com uma
dinâmica muito própria e que a CMVFX tem alguma dificuldade em
controlar, até porque muitas vezes estas áreas são ocupadas sem
conhecimento prévio”). Embora na perspectiva municipal seja assumido
que a solução de descontaminação e regeneração passará pelo
envolvimento dos particulares no momento certo e na definição concreta
das estratégias que o executivo camarário quer para o território (tendo
sido observado, anteriormente, que essa estratégia resulta na vontade
de interligação dos 23Km ribeirinhos), face aos desafios enumerados e à
complexidade que estes territórios aparentam representar para o
município, ao nível de um conhecimento mais aprofundado dos passivos
ambientais que pautam a frente estuarina, considera-se de difícil
quantificação a totalidade de espaços a carecerem de descontaminação
e reconversão, condicionando, evidentemente, o planeamento territorial
e a gestão urbanística. Por conseguinte, após solicitação, ao
163
Departamento de Resíduos da Agência Portuguesa do Ambiente, de uma
inventariação dos territórios contaminados na Frente Ribeirinha de VFX,
a resposta remeteu para uma consulta ao município, visto que essa
identificação não está disponível na APA. Assim, é evidente uma
generalizada ausência de (i) conhecimento dos níveis de contaminação
dos solos anteriormente ocupados por indústrias e dos (ii) custos reais de
descontaminação, o que implica a indefinição de prioridades de acção de
intervenção. No mesmo contacto dirigido à APA, solicitou-se informação
quanto a instrumentos de financiamento para a remediação de solos
contaminados sendo que a resposta referiu que os mecanismos
financeiros existentes “(…) tais como o Fundo Ambiental ou Fundos
Comunitários, têm como requisito de base, para efeitos de ilegibilidade, a
impossibilidade de aplicação do princípio do poluidor-pagador”.
Demostra-se que, desta forma, para além dos obstáculos enumerados
(territórios dispersos, propriedades privadas e níveis de contaminação
desconhecidos), a carência de instrumentos financeiros que potenciem
processos de descontaminação constitui uma dificuldade acrescida.
164
será fundamental para a protecção, (re)estabelecimento e conectividade
ecológica (valorização de ecossistemas, recuperação de sapais e de
outros habitats ribeirinhos) a partir de territórios brownfield degradados
ou artificializados. Enquanto o município enfatiza o valor ecológico dos
territórios em detrimento do carácter obsoleto que os caracteriza,
exigindo um equilíbrio financeiro que só poderá existir mediante a
quantificação (monetária) dos serviços dos ecossistemas, a CCDR-LVT
releva a importância de uma política pública e metropolitana que envolva
as entidades aos níveis intermunicipal e regional para que o corredor
ecológico (constituido pelo estuário do Tejo) tenha as suas funções
valorizadas e contribua para níveis partilhados de medidas de adaptação
e mitigação. Em complementariedade, a CEDRU defende que essa
conectividade (dos sistemas naturais) deverá interligar a Frente
Ribeirinha de VFX com os aglomerados urbanos através de corredores
verdes e azuis, minimizando os impactos das ondas de calor (risco
acrescido a que o território de VFX estará exposto gradualmente). No
âmbito da protecção costeira, dos ecossistemas e da biodiversidade local,
a entidade metropolitana reforça a preocupação quanto aos estudos
científicos existentes (desenvolvidos com base em pressupostos
metodológicos diferentes e que resultam em cenarizações dispares)
acerca da problemática da SNM e que impactos, de facto, terá nas
margens do estuário do Tejo. De facto, somente um estudo que reúna
consenso técnico-científico permitirá perceber quais as melhores
estratégias de Eco-urbanismo a implementar na proximidade do “plano
de água”, numa acção que deverá ser concertada pelos municípios
contíguos. A DGT remete para um entendimento das potencialidades
resultantes da restauração dos sistemas naturais, como benefícios para a
economia e desenvolvimento territorial local e metropolitano. A APA
preconiza uma opção crescente para a implementação de NbS (pela
multiplicidade de benefícios associados a estes bioterritórios).
165
vii) Envolvimento de stakeholders: no âmbito da elaboração do PMAAC-VFX
é notória uma concordância entre todos os entrevistados quanto à
importância deste tipo de processos colaborativos que envolvem
cidadãos e todas as entidades aos níveis nacional, regional e
intermunicipal, permitindo uma visão local adaptada às estratégias
supramunicipais. O município reforça que, no âmbito da governança
territorial, a consciencialização da população é determinante na decisão
da administração local. No entanto, um dos problemas que a consultora
externa do município para a elaboração do PMAAC-VFX constata é a
incoerência destes Planos com o facto de se continuar a construir junto
dos planos de água. Na perspectiva da CCDR-LVT, uma das barreiras nas
relação multinível e multisectorial deve-se à necessidade de interacção
entre diversos interlocutores, impondo um tempo de reflexão poucas
vezes ajustado com as mudanças cíclicas que exigem mudanças urgentes
nos territórios. A mesma entidade com competências ao nível regional
salienta que deverá haver maior pró-actividade do corpo político e
técnico na execução das estratégias.
A partir dos (i) resultados apresentados, tendo como referência o (ii) conceito de
Resiliência Urbana que implica “a capacidade dos sistemas sociais, económicos e
ambientais de lidarem com um evento ou tendência incerta ou perturbação,
respondendo ou reorganizando-se de forma a manterem a sua função essencial,
identidade e estrutura, mantendo ao mesmo tempo a capacidade de adaptação,
aprendizagem e transformação” (IPCC, 2014, p.127) e com base nas evidências que
definem o (iii) conceito de Cidades Circulares abordado no enquadramento teórico-
166
conceptual (Capítulo II), considera-se pertinente uma evolução e adaptação dos
modelos de circularidade urbana, anteriormente descritos na revisão bibliográfica, ao
caso de estudo.
Figura 21: Modelo de circularidade urbana para a Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX.
Fonte: Elaboração própria.
167
V. 5.2 Barreiras, desafios, soluções, oportunidades e constributos
Propriedade privada dos Falta de autonomia do poder (i) Visão de futuro do município na
territórios brownfield que se local para intervir nestes aquisição de terrenos privados; (ii)
localizam na Frente Ribeirinha espaços. Desenvolvimento de uma visão
(excepto o antigo complexo da comum de longo prazo; (iii)
Marinha adquirido pelo Processos de expropriação para
município). constituição de Servidões
Administrativas e Restrições de
168
Utilidade Pública, mediante
modelos compensatórios; (iv)
Modelos sancionatórios pela
manutenção de passivos
ambientais.
Ausência de um estudo científico Ineficácia das medidas de (i) Constituição de comité científico
que reúna consenso na avaliação adaptação ao longo da frente para a elaboração de um estudo
dos impactos da SNM do rio Tejo. ribeirinha dos concelhos que integrado, com base em
integram a AML. metodologias e parâmetros de
cálculo consensuais, para a
observação dos impactos futuros
da SNM no estuário do Tejo, até
2100.
Inacção da administração central Perca das suas características e (i) Envolvimento da Administração
quanto ao problema persistente capacidade para produção Central na protecção deste recurso
no Mouchão da Póvoa que, agrícola. ecológico que integra a RNET;
depois do rompimento de um
dique de protecção em 2016,
continua por resolver.
169
Inexistência de inventariação de Impedimento da reutilização de (i) Inventariação de solos
solos contaminados em solo degradado e contaminado degradados e quantificação de
territórios brownfield localizados numa perspectiva de níveis de contaminação; (ii)
na Frente Ribeirinha de VFX e de circularidade de recursos. Avaliação dos custos associados
soluções técnicas de aos processos de
descontaminação. descontaminação; (iii)
Hierarquização das soluções de
descontaminação com base na
gestão do risco; (iv)
Implementação de projectos de
I&D na procura de soluções
sustentáveis de descontaminação
compatíveis com a capacidade de
investimento.
Presença de linha férrea ao longo Barreira na relação entre a (i) Integração da ferrovia no
da Frente Ribeirinha. Frente Ribeirinha e os desenho urbano da Frente
aglomerados urbanos e elevada Ribeirinha para a criação de eixo
exposição à SNM. multimodal; (ii) Protecção da
ferrovia no eixo que encosta à
margem do rio através de sistemas
de engenharia.
Envolvimento e partilha da acção local (VFX) com (i) Protecção e valorização das qualidades
os municípios contíguos (que integram a AML). ecológicas que constituem o estuário do Tejo; (ii)
Maior eficácia na resposta às AC (medidas de
adaptação e mitigação) das frentes situadas junto
do plano de água.
(Re)utilização de espaços vazios e/ou edifícios (i) Combate à degradação física e a obsolescência
devolutos. funcional de pré-existências; (ii) protecção dos
recursos naturais (solo, água e biodiversidade); (iii)
Controlo da expansão urbana em greenfields. (iv)
Planeamento centrado na circularidade e eficiência
170
dos recursos disponíveis; (v) Regeneração
adaptada aos riscos climáticos.
Valorização da identidade histórica das paisagens (i) Redução dos resíduos de demolição; (ii) Criação
industriais, adaptadas a novas qualidades de uma abordagem conceptual que considere o
funcionais. carácter histórico do local.
Interligação da Frente Ribeirinha de VFX com os (i) Implementação de infraestrutura verde e azul
municípios contíguos. que conecte os diferentes espaços intersticiais ao
longo dos 23Km; (ii) Melhoria das qualidades do
ambiente urbano e do espaço público; (iii) Criação
de uma rede de percursos de mobilidade suave
(pedonal e ciclável).
Protecção e valorização dos territórios agrícolas (i) Constituição de áreas de cultivo e bacias
para o fortalecimento das relações urbano-rurais. alimentares de proximidade; (ii) Promoção de
maior autonomia alimentar e equilíbrio da
economia local.
Incorporação de NbS ao longo da intervenção. (i) Regeneração das funções ecológicas e dos
ecossistemas terrestres e aquáticos, beneficiando
de serviços reguladores (regulação climática),
serviços culturais (espaços de lazer e recreio) e
serviços de suporte (habitat para espécies,
manutenção de diversidade genética).
Integração dos ODS 2030 (i) Acções que poderão abranger uma
multiplicidade de ODS;
Circularidade Urbana a partir de territórios (i) Criação de novas dinâmicas e inovações urbanas
brownfield. a partir dos recursos existentes; (ii) Diversificação
do uso do solo e criação de espaços
multifuncionais; (iii) Desenvolvimento urbano a
partir de espaços obsoletos.
Reintegração da frente estuarina na dimensão (i) Devolução do rio à população; (ii) Melhoria da
urbana, como oportunidade recreativa e de lazer. qualidade de vida e a saúde da comunidade local;
(iii) Reforço das interacções sociais entre a
comunidade local.
171
na gestão dos recursos endógenos que compõem
o sistema urbano (água, energia e materiais).
V. 5.3 Recomendações
172
águas pluviais robusto e adaptado ao clima, através de sistemas de captação técnicas e
naturais. A refuncionalização destes territórios obsoletos deve prever a constituição de
espaços multifuncionais e de usos temporários, podendo funcionar para retardar,
atenuar e limpar os fluxos de água. A regeneração da Frente Ribeirinha de VFX deve
estar de acordo com os planos de acção climática local em articulação com os planos
intermunicipais, contribuindo para o bom estado das águas ao longo das margens
estuarinas que interligam os restantes concelhos.
173
uma importante ferramenta de priorização de acções a longo-prazo (no sentido da
neutralidade carbónica em 2030); (ii) do planeamento urbano – com metas de
sustentabilidade definidas a priori que promovem a circularidade e eficiência na gestão
dos recursos disponíveis (naturais e artificializados), numa perspectiva de
“proximidade” entre todas as funções urbanas; (iii) do envolvimento de stakeholders –
a partir de um modelo de governança (no qual o município de Estocolmo assume uma
forte liderança) e com um compromisso de co-responsabilidade e inovação, potenciado
pelo envolvimento e participação da comunidade e da academia; (iv) da regeneração de
brownfields (através de princípios de circularidade urbana) – que permitem a
(re)utilização dos espaços vazios e/ou edifícios devolutos, combatendo a degradação
física e a obsolescência funcional e contribuindo para a protecção dos recursos naturais
(solo, água e biodiversidade) e das qualidades históricas e a identidade
industrial/portuária que são (re)integradas nas novas funções urbanas, resultando numa
diversificação de usos; e da (v) mitigação e adaptação às alterações climáticas (através
de estratégias de Eco-urbanismo) – com a incorporação de NbS em ambiente urbano
permitindo regenerar os serviços dos ecossistemas, a biodiversidade e habitats,
aumentando a resiliência climática de todo o território.
174
e os privados que caminhe nesse sentido. Quanto à margem esquerda, a protecção (à
SNM e intrusão de salinidade), a manutenção (do valor ecológico e produtivo a nível
metropolitano) e a rentabilidade (através da capacidade agrícola e pecuária ou de outros
usos compatíveis com as qualidades naturais existentes) da lezíria terão de ser uma
prioridade nas acções e estratégias do município em articulação com a administração
central e com as entidades privadas que detêm e gerem estes territórios produtivos. A
mesma preocupação terá de ser revertida para os três mouchões localizados no rio Tejo.
Os cenários climáticos são de conhecimento científico global, nacional, regional e local,
denotando-se que a acção para a implementação de medidas concretas constitui um
desafio, até porque o desfasamento entre o planeamento, as crises transicionais e o
carácter imprevisível de todos os fenómenos climáticos expectáveis, revelam diversas
barreiras na operacionalização das estratégias. Por conseguinte, conclui-se que a chave
do sucesso estará num trabalho em rede, não só no sentido da sensibilização e
capacitação, como também na definição de prioridades de investimento e alocação dos
financiamentos comunitários. A revisão do PDM-VFX em vigor é o momento oportuno
para reverter as estratégias de mitigação e adaptação às AC para o OT, com o objectivo
de transformar a Frente Ribeirinha de VFX num eixo estuarino resiliente aos impactos
esperados, possibilitando a articulação dos municípios contíguos através de uma acção
intermunicipal conjunta. Mas, para isso, será fundamental um quadro legal e
regulamentar robusto que permita estas transformações e adaptações urbanas, para
uma maior atractividade (económica e territorial). O carácter fragmentado da Frente
Ribeirinha de VFX e a degradação de alguns espaços que aí se localizam deverão ser
considerados como uma oportunidade na conectividade dos sistemas naturais (na
protecção de habitats e valorização dos serviços dos ecossistemas, nomeadamente dos
sapais e das áreas húmidas estuarinas) para um aumento da capacidade de mitigação e
adaptação do concelho às AC. Embora não exista a evidência de qualquer conhecimento
quanto aos níveis de contaminação desses territórios, será prudente que a
requalificação ambiental seja suportada por uma gestão do risco associada à
necessidade de descontaminação de solos. Sendo este um problema, assumidamente,
condicionador de investimento, podendo afectar a vontade do município em interligar
a Frente Ribeirinha, será fundamental uma cooperação entre a administração local e
central com as entidades privadas (não só numa perspectiva de potenciar um interesse
175
comum, como fazê-lo através de compensações ou sanções pecuniárias), numa
perspectiva equitativa de redistribuição de valor urbano capturado para o domínio
público e de justiça territorial. O Estuário do Tejo constitui o suporte onde assenta a
biodiversidade da região metropolitana. E, nessa perspectiva, a implementação de
estratégias de Eco-urbanismo, através do planeamento e OT, é fundamental para a
Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX e das suas funções ecológicas. A incorporação
de soluções de base natural, infraestruturas verdes e azuis, permitirão um equilíbrio
ambiental e económico. Na dimensão da Governança será fundamental uma
coordenação multinível (Nacional, Regional, Intermunicipal e Local), uma participação
da comunidade, tecido empresarial e entidades privadas (naquilo que são os problemas
e interesses reais) e um envolvimento da academia (no desenvolvimento de inovação e
tecnologia), desde as fases iniciais de planeamento até à concretização de estratégias e
avaliação e monitorização dos resultados.
176
finito); e (v) a multiplicidade de benefícios que resultam da regeneração de
brownfields em oposição ao desenvolvimento de greenfields, combatendo a
escassez do solo.
177
degradados, nomeadamente através de NbS; e (iii) a necessidade de restauração
dos ciclos naturais destes territórios (ar, água, solo, flora e fauna) e sua
(re)integração no sistema urbano.
178
adaptada, adaptação de processos de planeamento; (ii) Transformação Urbana
(Transformar) – (re)funcionalização urbana, multifuncionalidade de usos,
mobilidade suave, controlo da expansão urbana; (iii) Inovação Urbana (Inovar) –
(re)industrialização “verde”, experiências urbanas, bacias alimentares, hubs
multimodais, relação urbano-rural; (iv) Ecologia Urbana (Regenerar) –
(re)estabelecimento de biodiversidade, serviços de ecossistemas,
implementação de NbS, infraestruturas verdes e azuis; (v) Sistema Urbano
(Circular) – energia, materiais, água, sistemas naturais, alimento; (vi) Co-criação
Urbana (Envolver) – abordagem sectorial, articulação multinível, informar e
capacitar stakeholders, envolver cidadãos, empresas e academia.
179
históricas e industriais em oposição ao desenvolvimento de greenfields; (iii) na
definição do uso, ocupação e transformação do solo e compatibilidades com os
riscos climáticos e impactos esperados no território; (iv) no desenvolvimento de
um sistema urbano compacto e multifuncional através da articulação entre
edificado, espaço público, mobilidade e infraestruturas de produção e
abastecimento; (v) na flexibilidade dos usos tendo em consideração as mudanças
e incertezas futuras (vi) no combate à degradação física e a obsolescência
funcional de pré-existências; (vii) na (re)integração da frente estuarina na nova
dimensão urbana, como oportunidade recreativa e de conexão ecológica; e (viii)
num planeamento adaptado à cenarização climática e centrado na circularidade
e eficiência na gestão dos recursos disponíveis.
180
sociais desses processos de renovação em propriedades devolutas ou
abandonadas anteriormente ocupadas por indústrias; (iii) a importância da
minimização dos impactes ambientais que estes espaços apresentam na frente
estuarina, como estímulo para uma maior qualidade urbana, atractividade e
competitividade territorial; (iv) a prioridade em valorizar o recurso solo e
combater a sua escassez; (v) a premência em quantificar e remunerar os serviços
prestados pelos ecossistemas; (vi) a urgência em valorizar a paisagem natural
como um activo territorial, eliminando-se os passivos ambientais que
condicionam a estratégia municipal para a interligação da Frente Ribeirinha.
181
VI. 6.1 Resposta às questões da investigação
Q.01 - Quais os princípios da Economia Circular (EC) que deverão transitar para
o conceito de Cidades Circulares e que eventuais lacunas existem para a
aplicabilidade e operacionalização de tais premissas à escala urbana – do
brownfield portuário/industrial à expansão da cidade para frentes ribeirinhas?
182
constatou-se que essas lacunas resultam do facto de estes territórios
apresentarem um carácter marginal à centralidade das cidades, caracterizarem-
se por solos que estão, na maior parte das vezes, contaminados e constituírem
uma barreira na apropriação dos espaços que interagem com o “plano de água”,
exigindo um esforço acrescido, também pela diversidade de partes interessadas
envolvidas (nomeadamente entidades privadas, município e administrações
indirectas do Estado). Por conseguinte, considera-se pertinente uma
complementaridade dos princípios descritos a partir da revisão bibliográfica com
os conceitos - “Transformar”, “Inovar” e “Envolver”. O Modelo evolutivo de
Circularidade Urbana para a Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX (Figura
21), articula, desta forma, os conceitos: (i) Adaptação Urbana (Adaptar), (ii)
Transformação Urbana (Transformar), (iii) Inovação Urbana (Inovar), (iv) Ecologia
Urbana (Regenerar), (v) Sistema Urbano (Circular) e (vi) Co-criação Urbana
(Envolver).
183
Tabela 23: Relação entre princípios de Circularidade Urbana e estratégias de Eco-
urbanismo, a partir de brownfields, na Regeneração da Frente Ribeirinha de VFX, para
a descarbonização, mitigação e adaptação às AC.
Princípios de Estratégias de Acções de:
Circularidade Eco-urbanismo Descarbonização (D)
Urbana Mitigação às AC (M)
Adaptação às AC (A)
184
Multifuncionalidade de usos que
conectem os aglomerados urbanos (D) (M)
com o “plano de água”. ● ●
Transformação de territórios
(D) (M)
degradados em novas ocupações,
● ●
combatendo a escassez de solo e
controlando a expansão urbana.
185
Implementação de NbS e NcS através
de infraestruturas verdes e azuis para (D) (M) (A)
maior resiliência climática e melhorias ● ● ●
das qualidades urbanas.
186
Participação da academia para a
criação de conhecimento em como as
estruturas verdes podem apoiar o (D) (A)
desenvolvimento dos serviços ● ●
ecossistémicos, através de ferramentas
de monitorização.
187
locais abandonados, obsoletos e degradados continuam a não suscitar interesse
dos investidores devido aos níveis de poluição associados, a um quadro legal
desajustado e à carência de mecanismos financeiros e incentivos fiscais que
potenciem a regeneração destes territórios.
188
e à ausência de resposta às solicitações de entrevistas. Por outro lado, a análise do caso
de estudo (Capítulo IV), embora tenha permitido o entendimento de um contexto
territorial específico através da análise documental, observação directa e obtenção de
dados qualitativos através de entrevistas a diferentes stakeholders que intervêm em
diversas escalas do planeamento e ordenamento do território (escala local,
intermunicipal, regional e nacional), revelou, também, limitações, devido à
indisponibilidade ou ausência de resposta, de alguns interlocutores, em acederem ao
pedido de entrevista, o que condicionou a abrangência expectável na auscultação de
agentes políticos, como complemento ao corpo técnico entrevistado.
189
Universidade de Aveiro, IST de Lisboa, Faculdade de Arquitectura e no caso de VFX, foi
considerado o estudo do LNEC datado de 2002) os modelos e metodologias de cálculo
seguem diversas lógicas, pelo que é indispensável uma abordagem comum para que
dados concretos resultantes de consenso técnico e científico possam ser integrados nos
IGT, nomeadamente na definição de tipping point mínimo para protecção, implantação
de edificações ou para a sobrelevação de infraestruturas ou equipamentos localizados
na frente ribeirinha de VFX. Este facto constatou-se, também, na auscultação dos
diversos stakeholders que, por desconhecimento ou por referências diversas, não
apontaram uma cota altimétrica concreta que deveria ser assumida na definição do
tipping point (no horizonte temporal 2050-2100).
Considerando que o PNPOT especifica que os PROT têm como funções principais:
i) definir directrizes para o uso, ocupação e transformação do território, num quadro de
opções estratégicas estabelecidas a nível regional; ii) promover, no plano regional, a
integração das políticas sectoriais e ambientais no ordenamento do território e a
coordenação das intervenções; e iii) formular orientações para a elaboração dos planos
municipais de ordenamento do território (CCDR-LVT, 2010, p.12), é evidente que a
desactualização do PROT-AML limitou o enquadramento da análise do objecto empírico
à escala supralocal, embora se tenha considerado pertinente a análise da proposta de
alteração datada de 2010.
190
VI. 6.3 Recomendações para investigações futuras
191
Por outro lado, atendendo ao facto que a remediação e reconversão de áreas
contaminadas tem sido reconhecida, internacionalmente (conforme se constatou no
enquadramento teórico-conceptual), como a chave para promover a reutilização
sustentável do solo urbano e evitar a expansão, ficou claro, também na revisão de
literatura, que o desenvolvimento urbano a partir destes territórios implica a interacção
de diversos actores, quer seja numa perspectiva de compromisso técnico quer seja a
partir de vontades e interesses comuns (de administrações locais, entidades privadas e
cidadãos). Contudo, constatou-se uma falta de capacitação dos stakeholders
entrevistados para este tipo de processos, designadamente à escala municipal. Será
fundamental que em investigações futuras que prossigam com estudos no âmbito da
refuncionalização e valorização destes territórios, considerem a consolidação de
conhecimento em torno das metodologias de cooperação entre todos os intervenientes
a partir de uma liderança forte por parte do município, para uma melhor gestão da
complexidade inerente a estes processos.
192
interdependências que decorrem da articulação das temáticas abordadas (Circularidade
Urbana, Alterações Climáticas e Brownfield) são factores preponderantes, se não
decisivos, na actualidade, para o desenvolvimento urbano sustentável e para a definição
de novas centralidades a partir de territórios industriais e portuários obsoletos
localizados em frentes de água.
193
preocupante não existir qualquer levantamento e inventariação (nomeadamente por
parte da APA e da CMVFX) dos níveis de contaminação dos solos dos vários terrenos
brownfield, condicionando a acção e os processos de transformação urbana que se
perspectivam na revisão do PDM de VFX em vigor. Embora os riscos climáticos e
vulnerabilidades do território delimitado no caso de estudo estejam concretamente
definidos e conhecidos, continua a existir uma inacção para a operacionalização dos
Planos Municipais. Exemplo disso é o facto de se continuar a construir junto dos planos
de água, em áreas que se sabe que são inundáveis ou por, simplesmente, não se
ponderarem as consequências drásticas que a SNM sobre territórios contaminados
poderá causar na Reserva Natural do Estuário do Tejo (nomeadamente quanto às suas
funções ecossistémicas e de regulação climática), não sendo visível qualquer intenção
para que estas constatações sejam revertidas. Também no que diz respeito ao uso do
solo e à eventual perca de território causada por uma regulamentação que,
inevitavelmente, terá de condicionar a ocupação em zonas mais baixas do município,
considera-se fundamental uma manutenção e valorização da capacidade dos sistemas
naturais regenerarem-se em oposição à criação ou primazia de actividades económicas
ou culturais em áreas de risco elevado ou de grande susceptibilidade à SNM. Embora os
processos e metodologias das fases de elaboração do PMAAC tenham potenciado um
envolvimento multinível e multissectorial, é evidente a fraca capacitação política e
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210
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211
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212
ANEXOS
i
decisão e implementação de medidas e acções que se coadunem com os objectivos
2030/2050 para a redução de emissões de gases de efeito de estufa (GEE) e
descarbonização, importância do Plano Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas à
escala do território estuarino, entre outros.
ii
Tabela AI-1: Perspectiva de stakeholders: grupos e tipos de entrevistados
Entidade Grupo Guião Tipo Unidades orgânicas
Município Grupo de Guião de Representante E.01
(CMVFX) stakeholders 01 entrevista 01 político Presidência da CMVFX
Município Grupo de Guião de Representante E.02
(CMVFX) stakeholders 01 entrevista 01 político Direcção Municipal de
Desenvolvimento do
Território
Município Grupo de Guião de Corpo Técnico E.03
(CMVFX) stakeholders 02 entrevista 01 Direcção Municipal de
Desenvolvimento do
Território / Gabinete de
Planeamento e Inteligência
Territorial
Município Grupo de Guião de Corpo Técnico E.04
(CMVFX) stakeholders 02 entrevista 01 Direcção do Departamento
de Ordenamento e Gestão
Urbanística
Município Grupo de Guião de Corpo Técnico E.05
(CMVFX) stakeholders 02 entrevista 01 Direcção do Departamento
do Ambiente e Espaço
Público
Município Grupo de Guião de Corpo Técnico E.06
(CMVFX) stakeholders 02 entrevista 01 Divisão de Reabilitação
Urbana
Município Grupo de Guião de Corpo Técnico E.07
(CMVFX) stakeholders 02 entrevista 01 Unidade de Ambiente e
Adaptação às Alterações
Climáticas
Centro de Grupo de Guião de Corpo Técnico E.08
Estudos e stakeholders 03 entrevista 02 Direcção
Desenvolvimento
Regional e Urbano
(CEDRU)
Área Metropolitana Grupo de Guião de Corpo Técnico E.09
de Lisboa (AML) stakeholders 03 entrevista 03 Departamento de Gestão
do Território / Divisão de
Ordenamento do Território
Comissão de Grupo de Guião de Corpo Técnico E.10
Coordenação e stakeholders 03 entrevista 03 Direcção de Serviços de
Desenvolvimento Ordenamento do Território
Regional de Lisboa e
Vale do Tejo (CCDR- E.11
LVT) Direcção de Serviços de
Desenvolvimento Regional
Agência Portuguesa Grupo de Guião de Corpo Técnico E.12
do Ambiente (APA) stakeholders 03 entrevista 03 Direcção de Departamento
de Alterações Climáticas
E.13
Departamento de
Alterações Climáticas /
Divisão de Financiamento
Sustentável e Adaptação
iii
Direcção Geral do Grupo de Guião de Corpo Técnico E.14
Território (DGT) stakeholders 03 entrevista 03 Direcção de Serviços de
Ordenamento do Território
/ Divisão de
Desenvolvimento
Territorial e Política de
Cidades
Instituto da Grupo de Guião de Corpo Técnico E.15
Conservação da stakeholders 03 entrevista 03 Direcção Regional da
Natureza e das Conservação da Natureza e
Florestas (ICNF) Floretas de Lisboa e Vale do
Tejo / Departamento
Regional de Conservação
da Natureza e da
Biodiversidade / Divisão de
Ordenamento do Território
Nota: As entidades sublinhadas não foram entrevistadas por indisponibilidade das mesmas.
iv
Tabela AI-2: Guião da entrevista 01
Referência Tipo de entrevista Desenvolvimento
Guião 01 Semi-estruturada Q.01 - Qual o entendimento quanto à importância da
regeneração da frente ribeirinha de VFX?
(Numa perspectiva da extensão da cidade consolidada, no
contexto de uma eventual interligação com os municípios
contíguos e do ponto de vista de uma transformação urbana
sustentável).
v
Q.08 - No contexto de Governança Territorial, como é entendida
e potenciada a relação entre todos os agentes locais
(nomeadamente entre os privados) para uma tomada de decisão
consertada e colaborativa e para o envolvimento das partes
interessadas?
(No âmbito da regeneração de brownfields industriais/portuários e
da adaptação do território estuarino às AC).
vi
Tabela AI-3: Guião da entrevista 02
Referência Tipo de entrevista Desenvolvimento
Guião 02 Semi-estruturada Q.01 - Qual o entendimento quanto à importância da
regeneração da frente ribeirinha de VFX no âmbito das AC?
(Na resposta às alterações no clima e seus impactos no território à
escala local e na relação com a AML)
vii
Tabela AI-4: Guião da entrevista 03
Referência Tipo de entrevista Desenvolvimento
Guião 03 Semi-estruturada Q.01 - Qual o entendimento quanto à importância da
regeneração da frente ribeirinha de VFX no âmbito das AC?
(Na resposta às alterações no clima e seus impactos no território à
escala local e na relação com a AML)
viii
municípios contíguos ou outras entidades como a APA, a
CCDRLVT e a AML e entre estas e a academia e os cidadãos)?
(No âmbito da consciencialização, planeamento e implementação
de medidas de mitigação e adaptação às AC).
ix
ANEXO II – Plano da cidade de Estocolmo
x
ANEXO III – Timeline de desenvolvimento do Stockholm Royal Seaport
xi
ANEXO IV – Plano urbano do SRS
xii
ANEXO V – 1ª sessão intersectorial - Workshop com técnicos municipais
(PMAAC-VFX)
xiii
ANEXO VI – Exemplos de áreas requalificadas na Frente Ribeirinha de VFX
Figura AVI-1: Parque Urbano Ribeirinho de Figura AVI-2: Caminho Ribeirinho entre
Alhandra. Fonte: CMVFX (2018). Alhandra e VFX. Fonte: CMVFX (2018).
Figura AVI-3: Caminho Ribeirinho Fábrica do Figura AVI-4: Requalificação do Cais de VFX.
Descasque de Arroz. Fonte: CMVFX (2018). Fonte: CMVFX (2018).
Figura AVI-5: Parque Linear Ribeirinho do Figura AVI-6: Parque Ribeirinho Moinhos da
Estuário do Tejo. Fonte: CMVFX (2018). Póvoa e Ciclovia do Tejo. Fonte: CMVFX (2018).
xiv
ANEXO VII – Mouchões
xv
ANEXO VIII- Cartas de Ordenamento do PDM VFX
Figura AVIII-1: Áreas de Risco ao Uso do Solo e Unidades Operativas de Planeamento e Gestão.
Fonte: Adaptado de CMVFX (2020).
xvi
Cartas de Ordenamento do PDM VFX
xvii
Cartas de Ordenamento do PDM VFX
xviii
Cartas de Ordenamento do PDM VFX
xix
Cartas de Ordenamento do PDM VFX
xx
ANEXO IX- Síntese dos principais impactes futuros para o concelho de VFX associados
às alterações climáticas
xxi
Economia - Maior ocorrência e intensificação dos - Alterações na biodiversidade e na
danos em áreas de atividades paisagem com interesse turístico;
económicas; - Potenciais impactes resultantes das
- Aumento do consumo energético dos doenças transmitidas por vetores;
alojamentos hoteleiros e alojamentos - Aumento da morbilidade associada ao
locais; desconforto térmico estival;
- Aumento do desconforto térmico dos - Maior ocorrência e intensificação dos
turistas; danos em infraestruturas de transporte;
- Maior ocorrência e intensificação dos - Maior ocorrência de falhas de
danos nos elementos do património fornecimento de energia elétrica a
histórico-cultural edificado, sobretudo o unidades/estabelecimentos.
património arqueológico, o mais
vulnerável.
xxii
Energia - Aumento dos picos de consumo de - Menor conforto térmico das habitações no
energia com ocorrência de ondas de verão;
calor; - Dificuldades no arrefecimento de
- Desequilíbrios entre procura e oferta processos ou equipamentos com recurso a
de eletricidade; água;
- Aumento dos danos em infraestruturas - Redução da produção de energia elétrica
energéticas; em centrais termoelétricas;
- Redução da eficiência e eventual falha - Redução da capacidade produtiva
nos sistemas de distribuição e hidroelétrica;
transporte de energia; - Diminuição da biomassa para centrais
- Perda de rendimento dos termoelétricas a biomassa.
equipamentos de produção de energia
elétrica.
xxiii
ANEXO X- Vulnerabilidades climáticas de VFX (actuais e futuras)
xxiv
Vulnerabilidades climáticas de VFX (actuais e futuras)
xxv
Vulnerabilidades climáticas de VFX (actuais e futuras)
xxvi
Vulnerabilidades climáticas de VFX (actuais e futuras)
xxvii
Vulnerabilidades climáticas de VFX (actuais e futuras)
xxviii
ANEXO XI- Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxix
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxx
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxxi
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxxii
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxxiii
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxxiv
Identificação de brownfields na Frente Ribeirinha de VFX
xxxv