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Profª.

Anacássia Fonseca de Lima


cassialima3@hotmail.com
 Os animais venenosos são animais que possuem
veneno, mas não possuem mecanismo de inoculação,
provocando envenenamento passivo por contato
(taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão
(peixe baiacu).
 Animais peçonhentos são aqueles que produzem
substância tóxica (veneno) e apresentam um aparelho
especializado para inoculação desta substância.
 Possuem glândulas que se comunicam com dentes
ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno
passa ativamente.
 Serpentes
 Aranhas
 Escorpiões
 Lagartas
Dentre os acidentes por animais peçonhentos, o
ofidismo é o principal deles, pela sua
freqüência e gravidade. Ocorre em todas as
regiões e estados brasileiros e é um importante
problema de saúde, quando não se institui a
soroterapia de forma precoce e adequada.
 São cerca de 2.930 espécies de serpentes
estudadas no mundo.

 Sendo 250 do Brasil, com 2 famílias de


serpentes peçonhentas com 70 espécies.

 Fam. Viperidae: Bothrops, Crotalus, Lachesis.

 Fam. Elapidae: Micrurus


Serpentes Peçonhentas do Brasil
Distribuição Geográfica

Bothrops
Lachesis
(jararaca, jararacuçu, urutu,
(surucucu-pico-de-jaca)
cotiara, caiçaca)

Micrurus Crotalus
(corais-verdadeiras). (cascavel)
Solenóglifa

Proteróglifa

Áglifa
Opistóglifa
Ofídio Peçonhento e Não Peçonhento

Não Peçonhentas Não Peçonhentas

Coral - Micrurus
Bothrops, Lachesis, Crotalus
Classificação das principais serpentes causadores de
acidentes ofídicos no Brasil

 Áglifas: sem presas inoculadoras


de veneno.

Boa constrictor
(jibóia)
Classificação das principais serpentes causadores de
acidentes ofídicos no Brasil
 Áglifas: sem presas inoculadoras
de veneno

Eunectes murinus
(Sucuri)
Proteróglifas
Classificação das principais serpentes
causadores de acidentes ofídicos no Brasil
Opistóglifas

Tipo de presas Família Espécies Nome popular

Philodryas Cobra
olfersii verde
Opistóglifas Colubridae Philodryas Jararacussu
patagoniensis dourado
Clelia Muçurana
plumbea
Proteróglifas Elapidae Micrurus spp Corais
verdadeiras
Solenóglifas
Classificação das principais serpentes
causadores de acidentes ofídicos no Brasil

Tipo de Família Espécies Nome popular


presas
Bothrops jararaca Jararaca

B. jararacussu Jararacussu

Solenóglifas Viperidae B. alternatus Urutu

Crotalus durissus Cascavel

Lachesis muta Surucucu


Diferenciação entre ofídios venenosos e não venenosos. As
diferenças não são válidas para as cobras corais

Diferenciação Família Viperidae Não venenosas

Formato da cabeça Triangular Arredondada

Fosseta lacrimal Presente Ausente

Olhos Pupilas elípticas Pupilas arredondadas

Escamas da cabeça Presentes Ausentes

Presas inoculadoras Presentes Ausentes

Cauda Mais curta. Término abrupto. Mais longa e afilada nos


Chocalho na cascavel machos
Identificação ofídio Peçonhento

Cauda de jararaca (Bothrops)


Aspecto uniforme, liso ao tato

Cauda de surucucu (Lachesis)


Aspecto eriçado na parte ventral

Fosseta loreal ou lacrimal

Cauda de cascavel (Crotalus)


Observar o guiso, ou chocalho
Serpentes Peçonhentas no Brasil
Viperidae
Bothrops – jararaca
Lachesis – surucucu
Crotalus – cascavel Fosseta loreal ou lacrimal

Elapidae
Micrurus - coral
A serpente é peçonhenta?

Sim

Qual o gênero da cobra?

Crotalus - cascavel
Peçonhenta ou não peçonhenta? Peçonhenta

Qual o gênero? Bothrops

Bothrops atrox
Peçonhenta ou não peçonhenta? Não peçonhenta
Cobra coral verdadeira
Coral verdadeira ou falsa?

Falsa Coral

Coral Verdadeira
 As corais verdadeiras são causa rara de acidentes pois
os hábitos dessas serpentes não propiciam a ocorrência
de acidentes.
 As surucucus são serpentes que habitam matas fechadas
sendo portanto encontradas principalmente na
Amazônia e, mais raramente, na Mata Atlântica.
 As jararacas respondem por quase 90% dos
acidentes ofídicos registrados, sendo encontradas em
todo o país.
 Já as cascavéis preferem ambientes secos e abertos, não
sendo comuns nas áreas onde as surucucus
predominam.
AÇÃO PROTEOLÍTICA - também denominada de necrosante, decorre da ação
citotóxica direta nos tecidos por frações proteolíticas do veneno. Pode haver lise das
paredes vasculares.
Caracteriza-se pela destruição das proteínas do organismo. Provoca, no local da
mordida, intensa reação que se reconhece pela dor, edema firme (inchaço duro),
equimose (manchas), rubor (avermelhamento), bolhas hemorrágicas (ou não), que
pode se seguir de necrose que atinge pele, músculos e tendões. As enzimas
proteolíticas podem, pela agressão às proteínas, induzir a liberação de substâncias
vasoativas, tais como bradicinina e histamina, substâncias estas que, nos
envenenamentos graves, podem levar à morte.
AÇÃO COAGULANTE - substâncias que, através da mordida, penetram na
circulação sanguínea, ativam o fibrinogênio e consequentemente a cascata de
coagulação, com isso há deposição de microcoágulos principalmente nos pulmões.
Assim, o restante do sangue fica incoagulável por falta do fibrinogênio, sem que
necessariamente haja hemorragia. Esta aparece quando as paredes dos vasos
sanguíneos menores são lesadas pela ação proteolítica.
AÇÃO NEUROTÓXICA - Nos acidentes causados por CROTALUS,
clinicamente há ptose palpebral (queda de pálpebra) e diplopia (visão
dupla) poucas horas após o acidente. Já nos indivíduos mordidos por
MICRURUS, além dos sintomas descritos acima, superpõe-se mialgia
generalizada (dores nos músculos), mal estar geral, sialorréia (salivação
abundante), e dificuldade de deglutição. A insuficiência respiratória é a
causa de óbito nos pacientes deste grupo.

AÇÃO HEMOLÍTICA - a atividade hemolítica (destruição das células


vermelhas do sangue) se expressa sob a forma de hemoglobinúria (urinar
sangue). Este quadro evolui, quando não convenientemente tratado, para
insuficiência renal aguda, causa principal de óbito nos pacientes. As
alterações urinárias devido à hemólise não aparecem nas primeiras
horas, surgindo entre 12 e 24 horas após o acidente.
Bothrops
Micrurus Proteolítico
Neurotóxico Coagulante
Hemorrágico

Crotalus Lachesis
Neurotóxico Proteolítico
Miotóxico Coagulante
Coagulante Hemorrágico
Neurotóxico
 É o nome comum
dos répteis escamados pertencentes ao
gênero Bothrops da família Viperidae.
São serpentes peçonhentas,
encontradas nas Américas Central e
do Sul, sendo importantes causadoras
de acidentes com altas taxas
de morbidade e mortalidade. As
diferentes espécies apresentam grande
variabilidade, principalmente nos
padrões de coloração e tamanho, ação
da peçonha, dentre outras
características. Atualmente 32 espécies
são reconhecidas, mas é consenso
dentre os pesquisadores que
a taxonomia e sistemática deste grupo
está mal resolvida, de modo que novas
espécies têm sido descritas.
Dor
Edema
Ações do veneno Bothrops Eritema
Calor
Bolhas
Abscessos
Necrose

Incoagulabilidade sanguínea
Proteolítico Aumento do Tempo de Coagulação (TC)
Coagulante Sangramentos no local da picada
Sangramentos sistêmicos
Hemorrágico (gengivorragia, epistaxes, hematêmese,
hemoptise, hematúria, metrorragia,
equimoses e etc.)

Sangramentos no local da picada


Sangramentos sistêmicos
(gengivorragia, epistaxes,
hematêmese, hemoptise, hematúria,
metrorragia, equimoses e etc.)
Fisiopatologia da peçonha ofídica e a sua correlação com os
achados clínicos. O gênero Bothrops

Proteolítica Ação direta nos tecidos  mionecrose, liponecrose, lise das paredes
ou vasculares  edema, calor, rubor, dor intensa no local da picada.
citotóxica Hipotensão e choque nos casos graves. Evolutivamente bolhas,
equimoses, necrose; infecção secundária
Transforma fibrinogênio em fibrina (tipo trombina). Ativação do fator X e
Coagulante da protombina. Pode haver consumo de fatores, plaquetas, CID e
microtrombos na rede capilar  manifestações hemorrágicas:
gengivorragias, equimoses, hematúria, hematêmese, melena....
Alteração do tempo de coagulação até a incoagubilidade
Hemorrágica ou Lesões do endotélio vascular locais ou sistêmicas, favorecendo as
Vasculotóxica manifestações hemorrágicas
Outras Lesão renal. Choque...
Marca das 2 presas inoculadoras. Notar o edema e a
tonalidade equimótica no dorso do pé. Bothrops
Notar as marcas das presas inoculadoras com discreto
sangramento. Edema no local da picada (Bothrops)
Acidente por Bothrops. Notar a necrose e edema no
local da picada. Ação proteolítica ou citotóxica
As marcas das 2 presas inoculadoras de veneno.
Notar a mão edemaciada
Acidente ofídico por Bothrops alternatus. Lesões no local da
picada de natureza proteolítica.
Acidente botrópico (B. atrox). Notar as lesões no local da
inoculação do veneno
Acidente botrópico (B. neuwied). Notar o
sangramento no local da inoculação do veneno
Evolução da lesão local em um caso de acidente por
Bothrops
Ação proteolítica ou citotóxica de acidente ofídico
 Serpentes de grande porte, como o
nome indígena representa surucucu
grande serpente.
 Apresentam cabeça triangular,
fosseta loreal e cauda com escamas
arrepiadas e presa inoculadora de
veneno. Com duas subespécies, é a
maior serpente peçonhenta das
Américas.
 São poucos os relatos de acidente
onde o animal causador foi trazido
para identificação. Existem
semelhanças nos quadros clínicos
entre os acidentes laquético e Lachesis muta rhombeata
botrópico, com possibilidade de
confusão diagnóstica entre eles.
Incoagulabilidade sanguínea
Aumento do Tempo de Coagulação (TC)
Sangramentos no local da picada
Ações do veneno Lachesis Sangramentos sistêmicos
(gengivorragia, epistaxes,
hematêmese, hemoptise, hematúria,
metrorragia, equimoses e etc.)

Dor
Cólica abdominal, Proteolítico Edema
Vômitos Eritema
Diarréia, Coagulante
Calor
Bradicardia Hemorrágico Bolhas
Hipotensão Neurotóxico Abscessos
Necrose
Estimulo do nervo
vago

Sangramentos no local da picada


Sangramentos sistêmicos
(gengivorragia, epistaxes,
hematêmese, hemoptise, hematúria,
metrorragia, equimoses e etc.)
Fisiopatologia da peçonha ofídica e a sua correlação com os
achados clínicos. O gênero Lachesis

 As ações proteolítica, coagulante e vasculotóxica são semelhantes ao


Bothrops. Tem ação neurotóxica discreta: manifestações vagais e
diarréia

Lachesis
muta
 A cascavel é uma serpente inconfundível pela
presença do chocalho ou gizo na extremidade
da cauda, coloração geral é olivácea.
 Habita campos abertos de cerrados, áreas
pedregosas, secas e quentes.
 O número de segmentos que compõe o
chocalho determina o número de trocas de
peles realizadas.
 Cada vez que o animal muda de pele, o que
ocorre de 2 a 4 vezes por ano, ele acrescenta
um novo anel no chocalho.
 Alimenta-se de roedores e pequenas aves em
geral.
Parestesia local Ação do veneno Crotalus
fácies miastênica

Ação pré-sinaptica inibe


a liberaçãoda Ach.
Bloqueio neuromuscular

Mialgia generalizada Neurotóxico


Colúria (avermelhada a escura) Miotóxico
Oligúria / anúria (IRA)
Coagulante

Incoagulabilidade sanguínea
Aumento do Tempo de Coagulação (TC)
Sangramentos no local da picada
Sangramentos sistêmicos
(gengivorragia, epistaxes,
hematêmese, hemoptise, hematúria,
metrorragia, equimoses e etc.)
Fisiopatologia da peçonha ofídica e a sua correlação com os
achados clínicos. O gênero Crotalus

Rabdomiólise  liberação de mioglobina e enzimas


Miotóxica musculares. Dores musculares generalizadas, urina
escura, discreto edema no local da picada,
mioglobinúria, podendo evoluir para I renal aguda
Bloqueio da junção neuromuscular, inibindo a
Neurotóxica liberação de acetilcolina na pré-sinapse. Ptose
palpebral, diplopia, oftalmoplegias, fasciculações
musculares, face neurotóxica
Coagulante Aumento do tempo de coagulação nos casos mais
graves
Outras hepatotóxica; nefrotóxica
Acidentes por Crotalus spp (cascavel) facies neurotóxico
Acidente por Crotalus durissus (cascavel) facies neurotóxico.
Mioglobinúria
 Este grupo é formado pelas corais
verdadeiras. É importante lembrar
que as corais não possuem fosseta
loreal.
 Em virtude de apresentarem dentes
pequenos e fixos, seus inoculadores
de veneno, e habitarem,
preferencialmente, buracos, os
acidentes são raros, porém mais
graves do que os causados pelos
demais ofídios, devido a sua
potencial evolução para o bloqueio
neuromuscular, paralisia
respiratória e óbito.
 A prevalência de acidentes por
Micrurus é baixíssima,
representando menos de 0,5% do
total de acidentes ofídicos.
Ação do veneno Micrurus

Parestesia local
Fácies miastênica
Neurotóxico
Ação pré e pós-sinaptica inibe
a liberaçãoda e fixação da Ach.
Bloqueio neuromuscular
Exemplar de Micrurus coralinus (coral verdadeira). Principais
ações do veneno elapídico

 O veneno da coral é exclusivamente neurotóxico


 Competem com a acetilcolina na junção neuromuscular (pós-sináptica)
 Atuam bloqueando a liberação de acetilcolina (pré-sinapse)
Acidente por Micrurus lemniscatus (Manock)
Exemplar de Micrurus spp (coral verdadeira )
Paciente com facies neurotóxico típico
 O veneno das corais atua rapidamente. Não há reação no local da
picada. Não há alterações da coagulação. Não há miotoxicidade.
Face neurotóxica. Paralisias progressivas. Disfagia. Insuficiência
respiratória aguda
Acidente por coral; facies neurotóxico. Micrurus frontalis com
a sua trinca de aneis negros intercalados por aneis vermelhos
Exames recomendados nos acidentes ofídicos e os objetivos

 Hemograma completo. Plaquetometria. Hemossedimentação


 Avaliação da coagulação: tempo de protombina, tempo parcial de
tromboplastina, fibrinogênio, produtos de degradação da fibrina
 Tempo de coagulação
 Elementos anormais e sedimento urinário. Hematúria. Mioglobinúria
 Uréia e creatinina.
 Eletrólitos, cálcio, fósforo, ácido úrico, gasometria, Ph, em casos de IRA
 CPK, LDH, AST, ALT, aldolase e bilirrubinas
 Métodos de imagem na área afetada pelo Lachesis ou Bothrops
 ELISA para detecção de veneno e diferenciação de Lachesis e Bothrops
Definição de gravidade para prognóstico e cálculo da dose de
soro anti-botrópico (MS)

Manifestações Leves Moderados Graves


Dor, edema e Ausentes ou Evidentes Intensas
equimose no local discretas
Hemorragia grave Ausentes Ausentes Presentes
choque ou anúria
Tempo de Normal ou Normal ou Em geral
coagulação aumentado aumentado alterado
Soroterapia número 2a4 4a8 12
de ampolas EV
Definição de gravidade para prognóstico e cálculo da dose de
soro anti-laquético

Manifestações Moderados Graves

Dor, edema e equimose no Evidentes Intensas


local Nercrose local
Hemorragia grave Presente Intensa
choque ou anúria Choque
hipovolêmico
Tempo de coagulação Normal ou Em geral
aumentado alterado
Soroterapia número de 10 20
ampolas EV
Acidente Leve
Acidente Moderado
Acidente Grave

Foto: Liliam Rodrigues


Acidente Grave
Gravidade do acidente por Crotalus
(sinais/sintomas)

Moderada
Sem dor e edema local Grave
Parestesia local
Leve Sem dor e edema local
Fácies miastênica Parestesia local
Sem dor e edema local
discreta ou evidente Fácies miastênica
Parestesia local
de instalação precoce Evidente
Fácies miastênica
Mialgia discreta Mialgia
ausente ou discreta,
Cólúria ausente Fraqueza muscular
de aparecimento tardio
ou pouco evidente Colúria
Mialgia ausente ou
TC normal Oligúria ou anúria
discreta
ou alterado IRA
TC normal
10 ampolas TC normal ou alterado
ou alterado
5 ampolas 20 ampolas
Acidente por cascavel
Gravidade do acidente por Micrurus

Grave
Sem dor e edema
Parestesia local
Fraqueza muscular progressiva
Dificuldade de deambular
Fácies miastênica
Dificuldade de deglutir
Insuficiência respiratória
de instalação precoce

10 ampolas
Acidente por Coral verdadeira

Foto:HVB-IB
Medidas gerais.
Conduta no atendimento fora do hospital

 Remover a vítima do território da serpente.


 Paciente deve ficar aquecido, em repouso e o mais tranqüilo possível
 Imobilizar a área lesada em posição funcional e abaixo do coração
 O ferimento deve ser limpo. Não colocar “remédios” populares
 Tentar identificar a serpente sem riscos para o paciente ou o seu
acompanhante. Foto digital se possível a uma distância segura
 Transportar o paciente para o hospital o mais rápido possível
 A questão da bandagem nas serpentes da família Elapidae
Tratamento dos acidentes ofídicos. Medidas gerais.
Conduta no atendimento fora do hospital de acordo com o
Instituto Butantan de São Paulo
Medidas não recomendadas em acidentes ofídicos

 “Remédios” caseiros. “Ervas”.


 Cortes. Multipunturas. Sucção oral
 Sucção mecânica com aparelhos
 Choque elétrico. Crioterapia
 Não usar torniquetes
 Nada de bebidas alcoólicas ou drogas .
 Não manipular a serpente diretamente. Elas mantém o reflexo de
picar mesmo após a morte aparente
Folclore no “tratamento” do ofidismo
Tratamento dos acidentes ofídicos. O uso do soro-antiofídico
(SAO)

 O SAO deve ser específico contra o ofídio causador do acidente


 As associações de SAO usam-se em poucas situações especiais
 Sempre que possível o SAO deve ser prescrito EV em dose única
 As doses são as mesmas em crianças ou adultos
 Os testes intradérmicos não são realizados na maioria dos centros,
pois retardam o uso do soro, só detectam reações do tipo Ig E, com
muitos resultados falso positivos (33 %) e falso negativos (10 a 36
%), além de não detectarem as reações
anafilactóides e poderem causar reações
no próprio teste.
O uso do soro-antiofídico (SAO)

 O uso do SAO, em muitos centros, é antecedido da administração de


antagonistas do H1 (prometazina ou maleato de dextroclorofeniramina),
do H2 (cimetidina ou ranitidina) e corticóides.
 O uso de SAO EV implica em:
 Garantir um bom acesso venoso. Supervisão médica durante a infusão
 Material para tratar eventual angiodema de glote (entubação)
 Fazer a pré-medicação 10 a 15 minutos antes do soro
 Ter à mão adrenalina 1:1000, anti-histamínicos, corticóides, oxigênio,
broncodilatadores e soro fisiológico
 O SAF pode ser diluído em SF ou SG a 5%, na proporção 1:2 a 1:5, e
ser feito mais lentamente EV.
O uso do soro-antiofídico (SAO). Os produtos disponiveis

 SAB: Soro antibotrópico


 SABL: Soro antibotrópico + antilaquético
 SABC: Soro antibotrópico + anticrotálico
 SAC: Soro anticrotálico
 SAL: Soro antilaquético
 SAE: Soro antielapídico
O uso do soro-antiofídico (SAO) Dosagem em função da
gravidade (manual do MS)

Gênero da Leve Moderado Grave SAO SAO


serpente indicado alternativo
Bothrops 2a4 4a8 12 Anti- SABL ou
ampolas ampolas ampolas botrópico SABC
Lachesis 10 20 Anti- SABL
ampolas ampolas laquético
Crotalus 5 10 20 Anti- SABC
ampolas ampolas ampolas Crotálico
Micrurus 10 Anti-
ampolas elapídico
Tratamento do acidente botrópico. Medidas gerais

 Limpeza e assepsia do local da picada


 Acompanhamento, com cirurgião se necessário, da evolução das lesões.
Debridamento do material necrótico. Cirurgia plástica.
 Profilaxia antibiótica discutível. A maioria dos autores prefere acompanhar
e tratar se houver infecção secundária
 Profilaxia do tétano de acordo com a história vacinal do paciente
 Analgesia. Evitar os anti-inflamatórios
 Vigiar o aparecimento de complicações no curto e no médio prazo
 Outras medidas conforme o caso
Tratamento dos acidentes ofídicos. Principais complicações
dos acidentes botrópicos

 Síndrome compartimental: compressão do feixe vásculo-nervoso


 Infecção bacteriana secundária. Abscessos
Gram negativos, anaeróbios e cocos gram positivos
 Necrose no local. Necrose de extremidades
 Choque  Hemorragias
 Insuficiência renal aguda

Necrose intensa após desbridamento (Marcelo et al) Hemorragia cerebral (Otero et al)
Medidas complementares para o acidente crotálico
 Hidratação adequada para prevenir o surgimento da I renal aguda
 Se necessário induzir diurese osmótica com o uso de manitol
 Diuréticos de alça se houver oligúria
 Manter a urina com ph acima de 6,5. Uso de bicarbonato se necessário
 Monitorizar a função renal
 Acompanhar o surgimento de complicações neurológicas e IRA
 Raramente há significado clínico com a alteração da coagulação
Medidas complementares para os acidentes elapídico e
laquético

 As medidas complementares para o acidente laquético e suas


complicações são as mesmas citadas para o acidente botrópico
 No acidente elapídico é fundamental manter o paciente
adequadamente ventilado. Oxigênio, máscara e se necessário
ventilação mecânica
 O paciente deve ser transferido para um centro onde haja
possibilidade de ventilação mecânica, se for necessária
 O uso de anticolinesterásicos pode minorar a neurotoxicidade do
veneno elapídico. As drogas mais citadas tem sido a neostigmina e o
cloridrato de edrofônio
Profilaxia dos acidentes ofídicos

 Botas de cano alto evitam quase 80 % dos acidentes ofídicos


 Se não houver botas, perneiras, calças de brim, sapatos, são medidas
simples que também diminuem os acidentes
 Luvas nas atividades de risco evitam cerca de 15 % dos acidentes
 Os ofídios costumam se abrigar em locais quentes, escuros e úmidos,
como tocas abandonadas de outros animais e cupinzeiros
 Manter o terreno em volta da casa limpo, sem frestas nas portas
 Onde há ratos há cobras. Evitar o acúmulo de lixo. Armazenar
alimentos de forma adequada para não atrair roedores e os ofídeos
 Respeitar o equilíbrio ecológico onde os concorrentes dos ofídios
mantém o equilíbrio
 Uma cobra asiática desenvolveu o que
poderíamos chamar de "veneno terceirizado":
no lugar de produzir sua própria peçonha, ela
aproveita a existente nos sapos que devora e a
utiliza contra seus próprios inimigos quando
necessário.
 O truque foi flagrado por pesquisadores
americanos e japoneses que estudam
a Rhabdophis tigrinus, espécie comum em várias
ilhas do Japão.

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