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INFECTOLOGIA Prof.

Clarissa Cerqueira | Animais Peçonhentos 2

INTRODUÇÃO

PROF. CLARISSA
CERQUEIRA

Olá, futuro(a) Residente, tudo bem?

Vamos iniciar agora um assunto que não é muito frequente


nas provas de Residência, mas que pode fazer a diferença para sua
aprovação: acidentes por animais peçonhentos! Discutiremos
os tópicos mais importantes e mais recorrentes nos concursos.
Quando você acabar de ler este livro digital, já estará muito bem
preparado para acertar todas as questões desse tema. Conte
comigo para ajudá-lo durante todo o processo de aprendizagem.
Estarei diariamente à sua disposição em nosso Fórum para tirar
suas dúvidas de estudo e apoiá-lo na conquista de sua aprovação.

Estratégia
MED
@draclarissacerqueira
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Meu nome é Clarissa, sou médica infectologista e, ao da faculdade de nutrição: ser infectologista. Abandonei a cirurgia
contrário de muita gente, eu não tinha a intenção de prestar e segui minha vocação.
vestibular para medicina. Não me sentia capaz de enfrentar a Minha história de especialista inicia-se com a Residência
concorrência. Escolhi prestar vestibular para nutrição e fiquei Médica em infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
surpresa com a minha conquista do segundo lugar entre os Um período de muito aprendizado e autoconhecimento, em que
aprovados. Ao iniciar meus estudos na faculdade, fui apresentada tive a oportunidade de aprender com grandes especialistas de
ao programa de microbiologia e fiquei encantada pelo assunto. reconhecimentos nacional e internacional. Durante a Residência,
Percebi, naquele momento, que queria aprender mais sobre o busquei expandir meu aprendizado com estágios em Portugal
tema. Após um ano e meio de curso, estava suficientemente (Hospital Curry Cabral) e nos Estados Unidos (Cleveland
confiante e motivada a prestar novamente vestibular, dessa vez, Clinic). Minha formação continuou com um ano extra (R4) de
para medicina. Fui novamente surpreendida pelo resultado, complementação na Universidade de São Paulo em Infecção
aprovada na primeira tentativa (após ser aluna de nutrição). em Imunodeprimidos e curso de pós-graduação em Controle de
Durante a faculdade, sentia-me um pouco perdida entre Infecção Hospitalar no Hospital Albert Einstein.
as especialidades. Não tenho familiares médicos que pudessem Claro que sou suspeita para falar, mas o universo da
me orientar na escolha da carreira. Entretanto, tive a sorte de ter infectologia é apaixonante. Atualmente, além de ser sua
um professor de neurocirurgia que me apresentou aos campos professora no Estratégia MED, trabalho em Salvador nas áreas de
da cirurgia e das ciências neurológicas e me incentivou a buscar infecção hospitalar, interconsultas da especialidade e consultório.
meus interesses e paixões. Após seis anos, o sonho realizou-se e Aqui no Estratégia MED, todos nós temos um objetivo
o objetivo foi conquistado: a formatura em medicina! comum: sua aprovação no concurso de Residência Médica!
No momento de prestar a prova para Residência Médica. A equipe da infectologia do Estratégia MED resolveu mais
Minha primeira escolha de especialidade após a faculdade, de 3.000 questões de infectologia de provas do Brasil inteiro.
entretanto, não foi infectologia. Escolhi Cirurgia Geral. Mas, como Dessas, 65 foram de acidentes por animais peçonhentos. Isso
essa especialidade se relaciona com a infectologia? Foi no meu corresponde a 1,3% das questões de infectologia. Não é um
primeiro dia como Residente que reconheci meu desejo e minha assunto muito frequente, mas ele pode fazer a diferença na hora
paixão de longos tempos, germinados nas aulas de microbiologia da aprovação.

/estrategiamed Estratégia Med

@estrategiamed t.me/estrategiamed
Estratégia
MED
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Escrevi este livro baseada nos tópicos que mais caem Como o ofidismo é o assunto mais frequente, vamos estudá-
nas provas. Os animais peçonhentos cobrados são: o ofidismo lo com muita atenção. Uma informação valiosa: as questões sobre
(principalmente acidente botrópico e crotálico), o escorpionismo, o ofidismo requerem o conhecimento sobre como identificar as
o araneísmo e, muito raramente, o erucismo e acidentes por manifestações clínicas de cada serpente, portanto aprenda como
himenópteros. A prevalência dos assuntos cobrados é a seguinte: apresenta-se cada acidente. No decorrer do livro, darei várias
dicas.
PREVALÊNCIA DE CADA ASSUNTO
NAS PROVAS DE RESIDÊNCIA Outra informação importante: além de cobrar a diferença
entre os acidentes ofídicos, as provas exigem também o
1%
3% 1% conhecimento de como diferenciar esses acidentes do araneísmo
e escorpionismo. Fique atento à leitura para aprender isso
5%
6% também.
Para passar informações precisas a você, este livro
34%
11% tem, como bibliografia principal, o Manual de Diagnóstico e
Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério
17% da Saúde, de 2001. Ele é antigo, mas é o último que foi lançado.
22%
Como esses acidentes são mais específicos do nosso país, não é
frequente o encontro de material informativo sobre esse tópico
em outras referências.
Botrópico Araneísmo Erucismo
Preparado (a)? Vamos começar!
Acidente por
Crotálico Laqué�co
himenópteros
Prevenção
Escorpionismo Elapídico
de acidentes
/estrategiamed Estratégia Med
Gráfico 1. Prevalência dos assuntos cobrados sobre acidentes por animais

peçonhentos nas provas de Residência Médica. @estrategiamed t.me/estrategiamed

Estratégia
MED
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SUMÁRIO

1.0 OFIDISMO 7
1 .1 MEDIDAS GERAIS APÓS ACIDENTE OFÍDICO 8

1 .2 ACIDENTE BOTRÓPICO 9

1.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 9

1.2.2 TRATAMENTO 13

1 .2 ACIDENTE CROTÁLICO 14

1.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 15

1.2.2 TRATAMENTO 18

1 .3 ACIDENTE LAQUÉTICO 19

1.3.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 19

1.3.2 TRATAMENTO 20

1 .4 ACIDENTE ELAPÍDICO 21

1.4.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 22

1.4.2 TRATAMENTO 22

1 .5 RESUMO DE ACIDENTES OFÍDICOS 23

2.0 ESCORPIONISMO 26
2 .1 TITYUS 26

2.1.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 27

2.1.1 TRATAMENTO 27

3.0 ARANEÍSMO 30
3 .1 PHONEUTRIA 30

3.1.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 30

3.1.2 TRATAMENTO 31

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3 .2 LOXOSCELES 31

3.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 31

3.2.1 TRATAMENTO 32

3 .3 LATRODECTUS 34

3.3.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 34

3.3.2 TRATAMENTO 35

3 .4 RESUMO DO ARANEÍSMO 35

4.0 ERUCISMO 36
5.0 ACIDENTES POR HIMENÓPTEROS 38
6.0 MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS 39
7.0 LISTA DE QUESTÕES 40
8.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 41
9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 41

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CAPÍTULO

1.0 OFIDISMO
O ofidismo, ou acidente ofídico, é aquele causado por serpentes peçonhentas, ou seja, que conseguem inocular o veneno na vítima.
Todas elas têm em comum a presença da fosseta loreal, um órgão sensorial termorreceptor que fica entre o olho e a narina da serpente (figura
1).

Figura 1. A seta branca aponta para a fosseta loreal. Todas as serpentes que possuem esse órgão são peçonhentas.

No Brasil, a maioria dos acidentes ofídicos é causada por serpentes do gênero Bothrops (acidente botrópico), correspondendo a cerca
de 90% do total de casos. Em segundo lugar, é o crotálico, seguido do laquético e elapídico. Observe este gráfico para visualizar melhor:

DISTRIBUIÇÃO DE ACIDENTES OFÍDICOS


SEGUNDO O GÊNERO DAS SERPENTES

1,40% 0,40%
O acidente ofídico mais frequente no Brasil é o
botrópico.
7,70%
Dica: no alfabeto, a letra B, de botrópico, vem antes
das iniciais dos outros acidentes ofídicos ( C, L e E ).

O pé e a perna são os locais mais acometidos pelas picadas


das serpentes, correspondendo a cerca de 70% dos acidentes. Nas
90% questões de provas, geralmente, esses locais também são os mais
descritos. A mão e o antebraço aparecem em seguida. Por causa
disso, ao frequentar regiões de mata onde é mais comum encontrar
essas serpentes, é importante o uso de equipamentos de proteção
individual, como sapatos, botas e luvas (de couro).

Botrópico (Jararaca) Laqué�co (Surucucu)

Crotálico (Cascavel) Elapídico (Coral)

Gráfico 2. Gráfico de prevalência dos acidentes ofídicos no Brasil.

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CAI NA PROVA
(SCMMA – SP 2019) Qual dos acidentes ofídicos é o mais frequentes no Brasil?

A) Crotálico 
B) Elapídico 
C) Botrópico
D) Laquetico

COMENTÁRIO:

Agora que você aprendeu, fica mais fácil, não é mesmo? O acidente ofídico mais frequente no Brasil é o
Correta a alternativa C
botrópico. É só lembrar que B, de botrópico, vem antes de “C, L e E”.

1.1 MEDIDAS GERAIS APÓS ACIDENTE OFÍDICO

Estrategista, antes de partirmos para o quadro clínico e o tratamento específico de cada serpente, aprenda aqui as medidas gerais a
serem tomadas após um acidente ofídico.
As condutas de primeiros socorros são:
• Lavar a ferida com água e sabão.
• Manter o paciente deitado e hidratado.
• Procurar atendimento médico.
• Se possível, levar o animal para identificação. É preciso ter cuidado para não tentar pegar o animal vivo e causar outro acidente
(isso acontece, acredite!).
É importante, também, saber o que não fazer:
• Não fazer torniquete ou garrote. Dessa forma, o veneno fica concentrado no local e as manifestações clínicas pioram.
• Não cortar o local da picada.
• Não perfurar ao redor do local da picada.
• Não colocar folhas, pó de café ou outras substâncias.
• Não oferecer bebidas alcoólicas ou outros tóxicos.

CAI NA PROVA
(SCML – SP 2018) Em caso de ofidismo devemos:

A) Manter o paciente deitado.


B) Fazer torniquete ou garrote.
C) Cortar o local da picada.
D) Perfurar ao redor do local da picada.

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COMENTÁRIO:

Após o acidente por serpente, devemos manter o paciente deitado, lavar a ferida com água e sabão,
Correta a alternativa A
procurar atendimento médico e, se possível, levar o animal para identificação. Com isso, a alternativa A é
a correta. As demais alternativas trazem condutas que não devem ser feitas, como, por exemplo, fazer torniquete ou garrote (incorreta a
alternativa B), cortar o local da picada (incorreta a alternativa C) e perfurar ao redor da picada (incorreta a alternativa D).

1.2 ACIDENTE BOTRÓPICO

Vamos começar estudando o acidente mais importante


que temos no Brasil. Ele é prevalente também nas provas de
Residência, sendo assim, preste muito mais atenção. O acidente
botrópico é aquele causado por espécies como a Bothrops jararaca
e jararacussu, serpente mais conhecida como jararaca.

Figura 2. Serpente da espécie Bothrops jararaca.


Fonte: Shutterstock.

1.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno dessa serpente tem três ações principais:


• Coagulante. Há consumo dos fatores de coagulação e o paciente pode apresentar hemorragias e um coagulograma alargado
(tempo de coagulação, tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcialmente ativada).
• Hemorrágica. Essa ação leva a manifestações no local da picada, como equimoses e sangramentos. Também pode levar à
plaquetopenia e a alterações da coagulação.
• Proteolítica. Essa ação é a responsável pelo intenso processo inflamatório no local da picada, que leva a sinais e sintomas como
dor e edema.
Por conta dessas ações, as manifestações no local da picada são bem intensas. Isso é bem frequente e questionado nas questões.
Geralmente, esses pacientes apresentam dor e edema precoce no local da picada e de caráter progressivo. Com o tempo, bolhas e sangramentos
podem aparecer. Isso pode levar a complicações locais, como o aparecimento de um quadro de síndrome compartimental (compressão do
feixe vasculonervoso do membro acometido por conta do edema), formação de abscessos e necrose com risco de amputação do membro.

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Figura 3. Manifestações locais do acidente botrópico. Observe a equimose e bolhas.

De manifestações sistêmicas, podem ocorrer hemorragias, como epistaxes, gengivorragias, hematúria etc. Como principal complicação,
e também a mais cobrada nas provas, o paciente pode evoluir com insuficiência renal aguda e choque.
De achados laboratoriais, o paciente pode ter um tempo de coagulação alterado, hemograma com leucocitose às custas de neutrófilos
e plaquetopenia. Pode também ocorrer alteração na função renal, com piora na ureia e creatinina. O tempo de coagulação é de extrema
importância e deve ser feito anteriormente e 24 horas após a soroterapia. Caso ele permaneça alterado, já adianto que está indicado mais
duas ampolas de soro antibotrópico.
Para ajudá-lo a lembrar as principais manifestações clínicas do acidente botrópico, recorde-se do seguinte macete:

Botrópico

Plaquetopenia COmplicações locais


(Lembrar-se de sangramentos Insuficiencia (dor, edema,
e alargamento do tempo renal sangramentos,
de coagulação) necrose, etc.)

Figura 4. Complicações do acidente botrópico.

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CAI NA PROVA
(UNAERP – SP 2017) Adolescente deu entrada na UPA com história de picada por cobra. Ao exame, apresenta
apenas uma marca puntiforme com sangramento na perna direita. Há dor e edema importantes de tornozelo
e pé, além de bolhas de conteúdo hemorrágico. Há 15 minutos iniciou com epistaxe. Trata-se de acidente:

A) Crotálico, podendo evoluir para insuficiência respiratória por conta do veneno neurotóxico e miotóxico.
B) Laquético, podendo evoluir para CIVD por conta do efeito coagulante e neurotóxico.
C) Crotálico, que cujo veneno tem ação proteolítica, hemorrágica e coagulante.
D) Botrópico, podendo evoluir para choque hipovolêmico e/ou insuficiência renal.
E) Botrópico cujo veneno tem ação neurotóxica e miotóxica e consequente síndrome compartimental.

COMENTÁRIO:

Temos aqui um paciente que foi picado por uma serpente e apresenta queixas e alterações no local da picada (dor, sangramento,
edema e bolha). Além disso, apresentou sangramento nasal, que é compatível com venenos de ação hemorrágica. Como acabamos de ver, o
veneno que pode causar isso tudo é o botrópico, logo, duas alternativas podem ser o gabarito: a letra D ou a letra E.
A letra E está errada, porque o veneno botrópico não tem ação neurotóxica.
Analisando-se as outras alternativas, a letra A está errada, porque a suspeita, nesse caso, não é de acidente crotálico. Como vimos, é
de acidente botrópico.
A letra B está errada, porque a CIVD não é frequente em acidentes laquéticos.
Para finalizar, a letra C está errada, porque a suspeita não é de acidente crotálico e, mesmo que fosse, ele não tem ações proteolítica
e hemorrágica.

Correta a alternativa D

(UNICAMP – SP 2016) Menino, 12 anos, refere ter sido picado na perna direita por animal há 2 horas quando estava em mata, com dor
no local desde então. Exame físico: FC = 124 bpm; FR = 20 irpm; PA = 100 x 60 mmHg; membro inferior direito: edema até fossa poplítea e
equimose em tornozelo. O diagnóstico é:

A) Acidente elapídico.
B) Acidente por Loxosceles.
C) Acidente crotálico.
D) Acidente botrópico.

COMENTÁRIO:

Caro colega, a vítima estava na mata e foi picado na perna. Quando houver relatos desse tipo nas provas de Residência, devemos
pensar em acidente ofídico. Com isso, já descartamos a alternativa B, que está errada, uma vez que sugere acidente por Loxosceles (aranha).

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Voltando para analisar o enunciado, clinicamente o paciente tem manifestações locais intensas, como dor,
Correta a alternativa D
edema e equimose. A serpente que faz isso é a do gênero Bothrops, ou seja, a hipótese diagnóstica é a de
que o paciente foi vítima de acidente botrópico.

Incorreta a alternativa A. O acidente elapídico tem como principal manifestação sintomas neurológicos, que o paciente não apresentou.
Incorreta a alternativa C. O acidente não apresenta manifestações locais importantes, sendo a dor discreta ou ausente no acidente
crotálico.

(SINOP – MT 2017) Paciente masculino, 45 anos, cortador de cana, foi picado por uma Jararaca em tornozelo direito. No atendimento inicial
são esperadas as seguintes manifestações, EXCETO:

A) Ptose palpebral.
B) Hematúria.
C) Bolha e Equimose no local da picada.
D) Edema na região da picada.

COMENTÁRIO:

O paciente foi vítima de um acidente botrópico (jararaca). O que será que ele pode apresentar? Lembre-se do mnemônico botróPICO
(PICO):
P: plaquetopenia (sangramentos);
I: insuficiência renal;
CO: complicações locais.
As alternativas B, C e D trazem manifestações no local da picada que são bem características do acidente botrópico. A alternativa A
refere-se a uma manifestação do acidente crotálico, que tem ação miotóxica. Como a banca pede a manifestação que não é esperada, o
gabarito é a alternativa A.

Correta a alternativa A

Com base nessas manifestações, o acidente botrópico pode ser classificado da seguinte forma (isso já caiu em prova):
• Leve: dor e edema ausentes ou pouco intensos, com ou sem sangramentos locais.
• Moderado: dor e edema evidentes que ultrapassam o segmento anatômico picado, com ou sem sangramentos locais ou
sistêmicos.
• Grave: manifestações locais, podendo atingir todo o membro picado, geralmente há bolhas e podem aparecer sinais de isquemia.

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1.2.2 TRATAMENTO

O tratamento deve ser feito com medidas gerais e soroterapia.

Tratamento do acidente botrópico

• Manter o membro picado elevado;


• Prescrever analgésicos em caso de dor;
Medidas gerais
• Hidratação venosa;
• Antibióticos somente se houver evidência de infecção bacteriana secundária.

Soro antibotrópico ou soro antibotrópico-crotálico ou antibotrópico-laquético. A dose


varia, conforme a gravidade:
Tratamento específico Casos leves: 2 - 4 ampolas
Casos moderados: 4 - 8 ampolas
Casos graves: 12 ampolas

A dose do soro dos acidentes ofídicos baseia-se na gravidade do quadro, não no peso ou na idade do paciente.
Após 24 horas da soroterapia, devemos repetir o tempo de coagulação e indicar 2 ampolas adicionais de soro,
caso o exame ainda esteja alterado.

Os acidentes por animais peçonhentos são tratados com a administração de so-


roterapia. O soro é feito por meio da inoculação do veneno da cobra em animais,
como o cavalo. Após alguns dias, com a produção de anticorpos pelo animal, seu
sangue é retirado para confecção do soro. Resumindo, ele é um concentrado de
imunoglobulinas obtidas pela sensibilização de animais. Como esse soro foi pro-
duzido por um animal diferente do homem, há alto risco de efeitos adversos na
sua administração, como uma reação anafilática. Por causa disso, recomenda-se a
infusão de drogas anti-histamínicas, como a prometazina ou dextroclorfeniramina e
hidrocortisona, antes da administração do soro.

DICA
Se você não souber qual é o acidente ofídico, a conduta inicial é iniciar hidratação vigorosa do paciente.

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CAI NA PROVA
(HEA – AC 2015) Paciente de 18 anos, masculino, residente no interior do Acre foi "picado no pé direito por
uma cobra" há cerca de 4 horas. Relata dor moderada no local da picada e diz que sua perna está "inchando".
Nega outras queixas. Exame físico: BEG, LOTE, fácies atípica, eucárdico (FC: 88 bpm) eupnéico (FR: 18 irpm),
PA: 120 x 80 mmHg, TA: 36ºC, AC: normal, AP: normal, abdome sem alterações, no pé direito há pequenos
orifícios, edema se estendendo do pé até a região proximal da coxa direita, duas bolhas no dorso do pé direito,
além de equimoses distribuídas pelo pé e perna direitos. A classificação do acidente e a melhor conduta com
relação à soroterapia é:

A) Acidente leve / Soro antibotrópico.


B) Acidente moderado / Soro antibotrópico.
C) Acidente grave / Soro antibotrópico-crotálico.
D) Acidente grave / Soro antibotrópico-laquético.

COMENTÁRIO

Essa questão conta o caso de um paciente que foi picado por cobra no pé e tem todo o membro acometido. Qual é a classificação do
acidente?
Como acabamos de ver, esse tipo de acidente com essa extensão classifica-se como grave; é considerado leve quando há somente
um acometimento local discreto; e moderado quando ultrapassa o seguimento anatômico. Você ainda não aprendeu isso, mas logo adiante
explicarei que o acidente laquético é semelhante clinicamente ao botrópico, portanto o soro recomendado é o antibotrópico-laquético.

Correta a alternativa D

1.2 ACIDENTE CROTÁLICO

O segundo acidente ofídico mais importante no Brasil é o


crotálico. Nas provas de Residência, ele e o botrópico são os mais
abordados. De todos os acidentes, ele é o mais letal por conta da
frequência com que os pacientes evoluem para insuficiência renal
aguda.
Quem causa esse acidente são as serpentes da espécie
Crotalus durissus. A espécie é única, porém contém diversas
subespécies. Popularmente, as serpentes desse gênero são
conhecidas como cascavel (lembre-se: C de crotalus, C de cascavel),
que apresentam um chocalho na cauda e produzem um ruído bem
característico.
Figura 5. Serpente da espécie Crotalus durisus, mais conhecida como cascavel.
Perceba seu chocalho na cauda. Fonte: Shutterstock.

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1.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno do acidente crotálico tem três ações principais:

• Neurotóxica. Em decorrência dessa ação do veneno, a vítima pode apresentar sonolência, inquietação e boca seca. O veneno tem
uma ação precoce e, logo nas primeiras horas após a picada, o paciente pode apresentar fácies miastênica (ptose palpebral uni
ou bilateral, com flacidez da musculatura da face), oftalmoplegia (dificuldade de mexer os olhos), turvação visual e/ou diplopia.
É uma paralisa de evolução craniocaudal.
• Miotóxica. O paciente evolui com rabdomiólise da musculatura esquelética e com consequente queixa de mialgia intensa. Nos
exames laboratoriais, conseguimos evidenciar a consequência dessa lesão muscular por meio da elevação de CK (creatinoquinase),
AST, ALT, LDH (lactado desidrogenase) e aldolase. A fibra muscular também libera mioglobina, que é excretada pela urina
(mioglobinúria). Isso leva ao aparecimento de uma urina escurecida, frequentemente referida nas questões como “urina cor de
Coca-Cola”.

Figura 2: Aqui temos um paciente com fácies miastênica (perceba a ptose palpebral e a flacidez da musculatura facial). Ao lado, você consegue perceber a evolução da
cor da urina entre a admissão do paciente e 48h após. Isso é decorrência da mioglobinúria. Frequentemente, o paciente queixa-se de urina com cor de “Coca-Cola”.

• Coagulante. Há o consumo do fibrinogênio que pode levar à incoagulabilidade sanguínea. Em geral, as manifestações hemorrágicas
são discretas.

Você percebeu que até agora não mencionei as manifestações no local da picada? Esse veneno, ao contrário do botrópico, não apresenta
manifestações locais importantes. Geralmente, não há dor. Algumas vezes, o paciente pode queixar se de um discreto edema e parestesia.
A principal complicação sistêmica desse envenenamento é a insuficiência renal aguda com necrose tubular de início nas primeiras 48
horas.

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Para sintetizar tudo isso, lembre-se principalmente das seguintes manifestações:

Crotálico

Complicações
Insuficiência
locais leves ou Neurotoxicidade Miotoxicidade
renal aguda
ausentes
- Fácies miastênica - Rabdomiólise - Mioglubinúria
- Turvação visual - Mialgia - Urina escura
- Ptose palpebral
Figura 3. Principais manifestações clínicas do acidente crotálico.

Eu sei que é difícil diferenciar os acidentes ofídicos. Para facilitar a memorização, lembre-se do seguinte macete:

Crotálico

Cascavel Cérebro CRoca-cola Olho caído

Lembrar de: Lembrar da: Lembrar de:


- Fácies miastênica - Mioglubinúria - Turvação visual
- Urina escura - Ptose palpebral
- Insuficiência renal
Figura 4. Macete para memorizar achados clínicos do acidente crotálico.

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CAI NA PROVA
(USP RP – SP 2019) Homem 27 anos, trabalhador rural, refere ter sido picado por animal não identificado em membro inferior direito há 3
horas, evoluindo com turvação visual além de alteração em exame físico (figura). Qual é a alteração laboratorial esperada pelo veneno deste
animal?

A) Hipocalemia. 
B) Elevação de AST. 
C) Elevação de troponina. 
D) Hematúria. 

COMENTÁRIO:

Paciente foi picado por cobra e apresenta turvação visual e ptose palpebral. Isso são manifestações de
Correta a alternativa B
veneno com ação neurotóxica. Logo, devemos pensar em acidente crotálico, visto que ele é o mais
frequente do Brasil que apresenta esse tipo de ação (o veneno botrópico não é neurotóxico). Além da neurotoxicidade, esse veneno faz
rabdomiólise e algumas enzimas que ficam no músculo são liberadas no soro, com consequente aumento de seu nível sérico. Mas, quem
são essas enzimas que ficam no músculo estriado? São AST, ALT, CK (creatinoquinase), DHL (desidrogenase lática) e aldolase. Dessa forma,
a alternativa correta é a letra B. Analisando-se as demais alternativas, temos: a letra A está errada, pois seria esperado uma hipercalemia
desse paciente pela insuficiência renal (decorrente da rabdomiólise). A letra C está errada, porque o veneno não faz lesão de miocárdio
com aumento de troponina, e a letra D está errada, porque o esperado é mioglobunúria, e não hematúria.

(UFMT – MT 2019) Um trabalhador rural de 28 anos dá entrada no PS trazido por amigos, com história de picada por cobra há três horas, sem
visualização de detalhes do animal, que fugiu. O paciente refere dor local leve. Também queixa-se de mialgia, dificuldade para articular bem
as palavras e visão embaçada e dupla. Exames laboratoriais mostram alterações relevantes, como tempo de coagulação alargado, leucocitose
sem desvio à esquerda e EAS com urina de aspecto escuro, porém sem hematúria. O quadro clínico-laboratorial descrito permite o diagnóstico
de qual tipo de acidente ofídico?

A) Botrópico
B) Laquético
C) Elapídico 
D) Crotálico 

COMENTÁRIO:

Paciente vítima de acidente ofídico tem poucas manifestações locais, tem mialgia e alterações que sugerem
Correta a alternativa D.
uma neurotoxicidade (disartria, turvação visual e diplopia). Além disso, ele tem urina escura (cor de
"CROca-cola" → lembre-se: nas provas de Residência devemos lembrar do acidente CROtálico). Fica mais fácil depois de estudar, não é
mesmo? Toda essa manifestação clínica do paciente é compatível com o acidente crotálico.

Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Fevereiro 2021 17


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MED

(IPSEMG – MG 2018) Sobre os acidentes crotálicos é correto afirmar, EXCETO:

A) Em geral cursam com muita dor local.


B) São pouco importantes, diferindo dos acidentes botrópico e laquético.
C) Sintomas neurológicos como fácies miastênica, surgem nas primeiras horas após a picada.
D) A principal complicação, em nosso meio, é a Insuficiência Renal Aguda ( IRA ).

COMENTÁRIO:

Incorreta a alternativa A. Essa questão foi anulada, mas é bem interessante para discutirmos as alternativas. Os acidentes crotálicos
cursam com pouca dor local, logo a alternativa A está errada.
Incorreta a alternativa B. São acidentes importantes, afinal eles correspondem a 7,7% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil e
apresentam o maior coeficiente de letalidade, tendo em vista que evoluem para insuficiência renal aguda. Ou seja, a alternativa B também
está errada.
Correta a alternativa C. A alternativa C é verdadeira, afinal, como você já aprendeu aqui, esse veneno é neurotóxico com manifestações
precoces.
Correta a alternativa D. A alternativa D também está correta, visto que a complicação principal do acidente crotálico é a insuficiência renal
aguda.
Como a banca pede a alternativa errada, há duas opções: a letra A e a letra B. Como há dois gabaritos possíveis,
Questão Anulada
essa questão foi anulada.

1.2.2 TRATAMENTO

O tratamento específico desse acidente deve ser feito com o soro anticrotálico. Caso ele não esteja disponível, pode-se usar o
antibotrópico-crotálico. Além disso, o paciente deve receber hidratação venosa vigorosa para prevenir a insuficiência renal. A diurese osmótica
pode ser induzida com o uso do manitol ou da furosemida, caso o paciente permaneça oligúrico. O pH urinário deve ser mantido acima de 6,5
para evitar precipitação da mioglobina, logo, se for necessário, deve ser administrado bicarbonato de sódio.

CAI NA PROVA
(USP RP – SP 2020) Menino, 5 anos, procedente da zona rural chega na emergência com história de picada
por animal não identificado. Logo em seguida apresentou vômitos, sudorese e sonolência. Ao exame físico:
MEG, descorado, acianótico, hidratado. Olhos: ptose palpebral. Boca: seca. Ausculta cardíaca e pulmonar sem
alterações, FR 30 ipm, FC 130 bpm, pulsos cheios. Tempo de enchimento capilar 2 segundos. PA: 100 x 60
mmHg. Abdome: plano, normotenso, indolor, fígado e baço não palpáveis. SN hipotonia de musculatura e
midríase. Diante deste quadro clínico qual o soro antiveneno você optaria?

A) Soro antibotrópico.
B) Soro antiloxosceles.
C) Soro anticrotálico.
D) Soro antiescorpiônico.

Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Fevereiro 2021 18


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COMENTÁRIO:

Paciente com quadro de ptose palpebral, boca seca, hipotonia de musculara e midríase (turvação visual).
Correta a alternativa C.
Qual é o veneno que faz esse quadro de neurotoxicidade? O crotálico! O acidente elapídico também pode
fazer um quadro semelhante, mas não há alternativa com essa opção. Dessa forma, o tratamento deve ser feito com soro anticrotálico.

Incorreta a alternativa A, porque o veneno botrópico não é neurotóxico. Sua principal característica é a presença de manifestações no
local da picada, como dor, edema, equimose e sangramentos.
Incorreta a alternativa B, porque o soro antiloxosceles é indicado para acidente pela aranha marrom (Loxosceles), que também tem como
principal característica uma lesão dolorosa no local da picada, essa lesão evolui para necrose. Esse veneno não tem ação neurotóxica.
Incorreta a alternativa D, porque o acidente por escorpião tem ação neurotóxica, mas com acometimento do sistema nervoso autônomo.
O paciente geralmente apresenta manifestações sistêmicas, como sudorese, náuseas, vômitos, taquicardia e taquipneia.

1 .3 ACIDENTE LAQUÉTICO

Chegou a hora de aprender um pouco sobre o acidente


laquético. Ele é causado por serpentes do gênero Lachesis, que
popularmente são conhecidas como surucucu. Elas são as maiores
serpentes peçonhentas encontradas no Brasil. Podem chegar a até
3,5m de comprimento.
O acidente por Lachesis não é muito frequente, tanto no
Brasil quanto nas provas de Residência. Em geral, ele é citado em
alternativas de questões sobre outros animais peçonhentos. De
qualquer forma, seu entendimento é fundamental para acertar
algumas questões que podem fazer a diferença na hora da
aprovação.
Figura 5. Serpente da espécie Lachesis muta. Fonte: Shutterstock.

1.3.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno dessa serpente tem quatro ações:


• Coagulante, uma vez que uma fração do veneno tem atividade tipo trombina (converte fibrinogênio em fibrina).
• Hemorrágica, resultando em equimoses e sangramentos no local da picada.
• Proteolítica, levando ao aparecimento de manifestações intensas no local da picada, como dor e edema.
• Neurotóxica (por estimulação vagal).
Você percebeu alguma semelhança com algum dos acidentes já estudados? Ele é parecido com o acidente botrópico! As ações
coagulante, hemorrágica e proteolítica levam a um quadro de manifestações locais importantes, como dor, hemorragia e edema que podem
acometer todo o membro. As presenças de vesículas e bolhas no local da picada também podem ser observadas. Complicações, como
síndrome compartimental, necrose e abscessos, podem estar presentes em casos mais graves.

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A ação neurotóxica acontece por estimulação vagal, ou seja, o paciente pode referir hipotensão, tontura, bradicardia, cólica abdominal
e diarreia (síndrome vagal). Não confunda essa neurotoxicidade do acidente laquético com a do acidente crotálico. Este último caracteriza-se
por paralisia crânio-caudal precoce, com achados como a ptose palpebral, fácies miastênica, turvação visual etc.

Laquético

Semelhante ao
Síndrome vagal
acidente botrópico

Complicações locais: Hipotensão, tontura,


dor, edema, bradicardia, cólica
equimose, abdominal.
sangramentos,
bolhas, abscessos e
necrose.
Figura 6. Características do acidente laquético.

1.3.2 TRATAMENTO

Além das medidas gerais, deve-se indicar o soro antilaquético ou antibotrópico-laquético.

CAI NA PROVA
(HOSPITAL SÃO JULIÃO - HSJ – MS 2018) Paciente masculino, 19 anos, picado no antebraço direito por
uma serpente. Admitido e internado no Hospital em cerca de 2 horas após. Apresentando edema discreto
no antebraço direito, dor intensa no local, náuseas e vômitos, que coincidiam com cólicas abdominais
paroxísticas, além de sudorese, visão turva, discreta epistaxe e diarréia; a frequência cardíaca, ao início com
108 batimentos por minuto, chegando a 62 após a soroterapia e pressão arterial em 130/80 mmHg; tempo de
sangria em 4 min 15 seg, tempo de coagulação acima de 15 min, tempo de protrombina acima de 1 minuto.
Após o anti-veneno o paciente evoluiu com melhora clínica; continuou assintomático até receber alta no
terceiro dia, curado (textro extraído do artigo PARDAL et al, 2007). Quanto ao gênero da cobra, assinale o
CORRETO:

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A) Bothrops
B) Crotalus
C) Micrurus
D) Laquesis

COMENTÁRIO:

Esse paciente foi picado por uma cobra e apresenta manifestações locais intensas (dor e edema), um quadro sistêmico de estimulação
vagal (cólicas, turvação visual e diarreia) e coagulopatia (coagulograma alargado). O acidente ofídico que justifica todos esses achados é o
laquético. Seu veneno tem ação proteolítica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica. Essas ações levam a manifestações locais intensas,
como dor, edema, eritema, bolhas, equimose, sangramentos, abscesso e necrose. As manifestações sistêmicas incluem hipotensão, tontura,
escurecimento visual, bradicardia, cólica abdominal e diarreia.

Incorreta a alternativa A. O veneno botrópico tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica. Isso leva a um quadro com manifestações
locais importantes, como dor, edema, eritema, equimoses, bolhas, sangramentos e até mesmo necrose. Se você perceber, são manifestações
bem parecidas com as do acidente laquético, por isso esses dois acidentes são bem semelhantes. A diferença está no fato de o acidente
botrópico não estar associado a manifestações neurológicas.
Incorreta a alternativa B. As manifestações locais do acidente crotálico são geralmente ausentes, ao contrário do apresentado nesse caso.
Incorreta a alternativa C. O veneno da cobra coral (acidente elapídico) não tem ação miotóxica e nem coagulante. Ele é somente neurotóxico.
Geralmente, o paciente vítima desse acidente apresenta-se com quadro neurológico, que leva a uma fraqueza muscular generalizada.

O acidente laquético é aquele que lembra o botrópico, porque tem manifestações locais idênticas, porém,
Correta a alternativa D
ao contrário dele, apresenta uma associação de um quadro neurológico de estimulação vagal. Como já
discutido no início da questão, todo o quadro clínico do paciente é compatível com esse acidente laquético.

1.4 ACIDENTE ELAPÍDICO

Vamos agora aprender sobre o acidente elapídico. Ele


é causado por serpentes do gênero Micrurus, popularmente
conhecidas como cobras corais. Correspondem a um percentual
bem pequeno de acidentes ofídicos e também caem pouco nas
provas de Residência. Assim como o acidente laquético, ele aparece
mais em alternativas de questões que abordam diagnóstico
diferencial de picadura por serpentes.
Existem serpentes que se parecem com as corais, porem os
anéis de seu corpo não envolvem toda a circunferência do corpo.
Elas são chamadas de falsas-corais. Além disso, elas não têm dentes
inoculadores, logo, não são peçonhentas.
Figura 7. Serpente da espécie Micrurus lemniscatus. Fonte: Shutterstock.

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1.4.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno dessa serpente tem somente ação neurotóxica. flacidez muscular pode levar ao aparecimento de fácies miastênica,
Ele compete com a acetilcolina na junção pós-sináptica e também ptose palpebral e dificuldade em manter a postura ereta. Com a
pode bloquear sua liberação na junção neuromuscular. Dessa progressão do quadro e o comprometimento da musculatura
forma, o impulso nervoso é impedido e o paciente evolui com respiratória, o paciente pode apresentar apneia com insuficiência
fraqueza muscular progressiva. Assim como no acidente crotálico, a respiratória aguda. No local da picada, há dor discreta e parestesia.

1.4.2 TRATAMENTO

Além das medidas gerais e do tratamento de suporte, da infusão da neostigmina, para aumentar a frequência cardíaca do
deve-se indicar o soro antielapídico. Caso o paciente evolua para paciente.
insuficiência respiratória, a neostigmina (um anticolinesterásico) Para facilitar a memorização desse acidente, tente associar o
e a atropina podem ser utilizadas. A neostigmina pode reverter o nome ELApídico à ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica). São doenças
bloqueio do veneno na junção neuromuscular e prolongar a meia- diferentes, porém, como a ELA é caracterizada por fraqueza
vida da acetilcolina. Dessa forma, o paciente pode ter uma melhora muscular, dá para você fazer essa associação e lembrar-se do
da sintomatologia. A atropina deve ser administrada sempre antes acidente elapídico.

Lembrar-se de:
- Fraqueza muscular progressiva
- Fácies miastênica
Elapídico Lembre-se de ELA*
- Turvação visual
- Ptose palpebral
*Esclerose lateral amiotrófica
- Insuficiência respiratória

Figura 8. Dica para lembrar da clínica do acidente elapídico.

CAI NA PROVA
(HFA-DF 2016) A respeito do tratamento de acidentes ofídicos, assinale a alternativa correta.

A) No acidente elapídico, pode-se, além do soro, utilizar atropina e anticolinesterásico.


B) A administração de heparina sempre deve preceder o uso de antibotrópico.
C) Reações tardias como urticária, febre e adenomegalia, após a administração do soro, ocorrem apenas
quando se utiliza de anticrotálico.
D) O tratamento da insuficiência respiratória aguda deve ser a primeira medida no tratamento do acidente
laquético.
E) O uso de torniquete nos membros inferiores está especialmente indicado quando a serpente for do
gênero Bothrops.

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COMENTÁRIO:

Vamos analisar as alternativas?

Como acabamos de aprender, o veneno liberado pelas serpentes do gênero Micrurus (acidente elapídico)
Correta a alternativa A
é constituído por neurotoxinas que bloqueiam a transmissão do impulso nervoso. Dessa forma, em casos
graves, o uso de neostigmina e atropina podem ser usados naqueles que evoluem para insuficiência respiratória.

Incorreta a alternativa B. Não há nenhuma necessidade de administrar heparina antes do soro antibotrópico. O que é recomendado é o
uso de anti-histamínicos e corticoide.
Incorreta a alternativa C, porque todos os soros antiofídicos podem causar esse tipo de reação tardia, chamada de doença do soro.
Incorreta a alternativa D, porque o acidente laquético é aquele que parece o botrópico, porém com manifestações neurológicas (síndrome
vagal). Não é esperado que o paciente evolua com insuficiência respiratória.
Finalizando, a alternativa E está errada, uma vez que NÃO é indicado fazer torniquete em acidentes com qualquer animal peçonhento.
Há muita coisa cobrada aqui nessa questão, não é mesmo? Mas agora que você já aprendeu tudo, o gabarito é a letra A.

1 .5 RESUMO DE ACIDENTES OFÍDICOS

A diferenciação entre os acidentes ofídicos é uma dos principais formas das provas cobrarem o conhecimento
sobre o assunto. É muito frequente um tipo de questão que conta o quadro clínico de uma pessoa que sofreu um
acidente por animal peçonhento e, em seguida, a banca pergunta qual é esse acidente. Para facilitar seus estudos,
observe essa tabela com cuidado:

Características Botrópico Crotálico Laquético Elapídico

Nome popular Jararaca Cascavel Surucucu Coral

Zonas rurais e
periféricas de
São encontradas São encontradas
grandes cidades. Podem ser
em campos em florestas
Essas serpentes encontradas em
Habitat abertos, áreas úmidas, como
preferem todo o território
secas, arenosas e a Amazônia e a
ambientes úmidos, nacional.
pedregosas. Mata Atlântica.
como matas, e com
roedores.

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Características Botrópico Crotálico Laquético Elapídico

Proteolítica,
Hemorrágica,
Proteolítica, Neurotóxica,
Coagulante,
Ações do veneno Hemorrágica, Miotóxica, Neurotóxica.
Neurotóxica
Coagulante. Coagulante.
(estimulação
vagal).

Dor, edema,
Dor, edema,
eritema, bolhas,
eritema, bolhas,
Manifestações Discretas ou equimose,
equimose, Discreta dor local.
locais ausentes. sangramentos,
sangramentos,
abscesso e
abscesso e necrose.
necrose.

Fácies miastênica,
Fraqueza muscular
ptose palpebral, Hipotensão,
progressiva,
flacidez da tontura,
ptose palpebral,
musculatura facial, escurecimento
Manifestações Insuficiência renal oftalmoplegia,
turvação visual, visual,
sistêmicas aguda. fácies miastênica,
diplopia, mialgia, bradicardia, cólica
insuficiência
rabdomiólise, abdominal e
respiratória e
mioglobinúria e diarreia.
apneia.
insuficiência renal.

Manter o paciente
Hidratação; adequadamente
Hidratação; Hidratação;
Antibióticos, ventilado;
Antibióticos, Bicarbonato de
se infecção Neostigmina
Tratamento se infecção sódio, se pH
secundária; e atropina, se
secundária; urinário for < 6,5;
Soro insuficiência
Soro antibotrópico. Soro anticrotálico.
antilaquético. respiratória;
Soro antielapídico.
Tabela 1. Acidentes ofídicos.

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CAI NA PROVA
(SCM Barra Mansa – RJ 2016) Assinale a alternativa correta que correlaciona o agente causal com as manifestações clínicas dos acidentes
ofídicos:
I- Botrópico;
II- Laquético;
III- Crotálico.

1. Manifestações neuroparalíticas com progressão crânio-caudal, iniciando-se por ptose palpebral, turvação visual e oftalmoplegia.
Progressivamente, surgem mialgia generalizada e escurecimento da cor da urina ( cor de "Coca-Cola" ou "chá preto" ). A insuficiência
renal aguda é a principal complicação e causa de óbito.
2. As marcas de picada e sangramento nem sempre são visíveis nos pontos de introdução das presas. Bolhas com conteúdo seroso ou sero-
hemorrágico podem surgir e originar áreas de necrose, que, juntamente com infecção secundária, constituem as principais complicações
locais e podem levar à amputação e/ou déficit funcional do membro. Sangramentos em pele e mucosas são comuns ( gengivorragia,
equimoses a distância do local da picada ); hematúria, hematêmese e hemorragia em outras cavidades. Hipotensão pode ser decorrente
de sequestro de líquido no membro picado ou hipovolemia consequente a sangramentos;
3. Presença de alterações vagais (náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, hipotensão, choque).

A) I-3; II-1; III-2


B) I-2; II-1; III-3
C) I-1; II-3; III-2
D) I-3; II-2; III-1
E) I-2; II-3; III-1

COMENTÁRIO:

Vamos testar o que você aprendeu até agora? Essa questão é boa para revisarmos tudo. Vamos começar com as manifestações clínicas
e, depois, correlacionaremos com o acidente:
Número 1. São manifestações de um veneno neurotóxico e miotóxico, que evolui para insuficiência renal. Todas essas características
são do acidente crotálico. Lembre-se também de que urina cor de "CROca-cola" é característica do acidente CROtálico. Com isso, já podemos
associar o III-1.
Número 2. Nesse, caso, estão descritas manifestações locais intensas. Quem faz isso? O acidente botróPICO (Plaquetopenia
[sangramentos], Insuficiência renal e COmplicações locais). O laquético também pode apresentar-se dessa forma, porém o paciente apresenta
sintomas vagais em associação com as complicações no local da picada. Já podemos associar o I-2.
Número 3. Agora, que só sobrou esse, fica mais fácil. De qualquer forma, como já expliquei antes, o acidente laquético é aquele que
lembra o botrópico com manifestações vagais. Resposta: II-3.

Correta a alternativa E Juntando todas as associações, há a seguinte ordem: I-2; II-3; III-1.

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CAPÍTULO

2.0 ESCORPIONISMO
Estrategista, já estudamos tudo que cai em provas sobre frequência e do potencial de gravidade. Os estados de Minas Gerais
serpentes. Agora é hora de aprender sobre os escorpiões. Preste e São Paulo são responsáveis pela maioria dos casos registrados.
bem atenção, pois é um assunto que as bancas gostam! As crianças e os adolescentes são as faixas etárias mais atingidas
Eles são artrópodes (insetos que têm “patas articuladas”) e, nas provas de residência, grande parte das questões conta casos
que fazem parte da mesma classe das aranhas, a Arachnida. Ou seja, que ocorreram em crianças. Ao contrário dos acidentes ofídicos, na
são aracnídeos. Esse é o motivo de o tratamento do escorpionismo maioria dos casos, as picadas por escorpião atingem os membros
poder, também, ser feito com o soro antiaracnídico. Mais adiante, superiores. O gênero peçonhento é o Tityus (escorpião amarelo) e
vou explorar mais esse assunto. é dele que vamos aprender agora.
O acidente por escorpião é importante por conta da

2 .1 TITYUS

As principais espécies são o Tityus serrulatus, que é o


responsável pela maioria e pela maior gravidade dos casos, o T.
bahiensis e T. stigmurus.
Eles têm hábitos noturnos e, durante o dia, escondem-se
em entulhos, tijolos, telhas e abaixo de troncos ou pedras. São
animais que vivem em áreas urbanas e, geralmente, nas questões,
isso é relatado no enunciado. Essa informação ajuda a diferenciar
acidentes com eles dos acidentes ofídicos, que ocorrem em matas.

Figura 9. Tityus serrulatus. Fonte: Shutterstock.

Nas questões sobre escorpionismo, o enunciado geralmente refere-se a acidente


ocorrido em área urbana, em que há ao redor algum tipo de entulho de obras, como
telhas ou tijolos.

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2.1.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno do escorpião age nos canais de sódio, despolarizando as terminações nervosas pós-ganglionares, levando a uma liberação
de catecolaminas e acetilcolina, por isso podem aparecer manifestações decorrentes de efeitos simpáticos ou parassimpáticos. O acidente
caracteriza-se por dor intensa no local da picada e, às vezes, parestesias. Sinais e sintomas sistêmicos podem acometer diversos órgãos,
como coração, pulmão, trato gastrointestinal e sistema nervoso central. Veja como é o quadro clínico e como esses acidentes podem ser
classificados:
• Casos leves são aqueles que só apresentam manifestações locais, como dor e parestesia.
• Casos moderados são aqueles que, além das manifestações locais, evoluem com manifestações sistêmicas, como sudorese,
náuseas, vômitos, taquicardia e taquipneia.
• Casos graves são pacientes que apresentam sudorese profusa, vômitos incoercíveis, alternância de agitação com prostração,
salivação excessiva, bradicardia, insuficiência cardíaca, convulsões, edema pulmonar (já caiu em prova!), choque e coma.
Para um manejo adequado desses casos, é importante solicitar um ECG (eletrocardiograma) para investigar arritmias e uma radiografia
de tórax, uma vez que pode evidenciar um aumento da área cardíaca e sinais de edema agudo de pulmão. Caso seja necessário, devemos
solicitar um ecocardiograma, que pode demonstrar hipocinesia do septo interventricular e da parede posterior, com ou sem regurgitação
mitral.
Laboratorialmente, o paciente pode apresentar hiperglicemia, amilase elevada, leucocitose com neutrofilia, hipocalemia, hiponatremia,
além de aumento da CPK e sua fração MB.

2.1.1 TRATAMENTO

O tratamento é recomendado nos casos moderados a graves e é feito com a administração do soro antiescorpiônico ou antiaracnídico,
da forma mais rápida possível.

Já caiu em prova: os Ocorre em


áreas urbanas,
casos leves não necessitam de geralmente onde
há entulho.
soroterapia. Nesses casos, deve ser
feito o controle da dor e manter-se
o paciente em observação por 6 a Tratamento com Crianças e
soro anti-aracnídico adolescentes
12 horas. ou anti- são os mais
escorpiônico*. acometidos.
Escorpionismo

Como a dor é intensa, pode-se realizar a infiltração de


anestésico no local da picada ou o uso de analgésicos sistemáticos, Clínica: dor, O veneno tem
parestesia, náuseas, ação neurotóxica
como a dipirona. vômitos, salivação (sistema nervoso
etc. autônomo).
Revise aqui os pontos mais importantes sobre o
escorpionismo:
Figura 10. Características do escorpionismo.

Prof. Clarissa Cerqueira | Curso Extensivo | Fevereiro 2021 27


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CAI NA PROVA
(SUS – SP 2019) Em relação aos acidentes com escorpiões:

A) O quadro clínico sistêmico é mais frequente em adultos do que em crianças.


B) CIVD e insuficiência renal aguda são complicações frequentes.
C) A soroterapia está indicada nos casos de acidente escorpiônico de gravidade moderada e grave.
D) A espécie Tityus bahiensis ( escorpião marrom ) é a responsável pela maioria dos casos de acidentes escorpiônicos.
E) O quadro clínico local apresenta dor, com intensidade fraca, sudorese, eritema e piloereção.

COMENTÁRIO:

Vamos aproveitar essa questão para revisar o que foi aprendido?

Incorreta a alternativa A. O escorpionismo é mais frequente em crianças do que em adultos, ou seja, a alternativa A está errada.
Incorreta a alternativa B. O acidente por escorpião apresenta como complicação o aparecimento de sintomas neurológicos relacionados
ao sistema nervoso autônomo, como parestesia no local da picada, sudorese, náuseas, vômitos, taquicardia e taquipneia. Dessa forma, a
alternativa B está errada.
A alternativa seguinte, letra C, é a correta. Como acabamos de aprender, o soro antiaracnídico, usado para
Correta a alternativa C
acidentes por escorpiões, só está indicado em casos moderados a graves.

Incorreta a alternativa D, afinal, a espécie mais frequente é a Tityus serrulatus.


Incorreta a alternativa E, porque a dor no local do acidente é intensa, que pode vir ou não associada a parestesias.
Revisamos bastante coisa, não é mesmo?

(UNIUBE 2017) Qual das seguintes alterações não seria encontrada na avaliação clínica e nos exames complementares de uma criança de 2
anos, vítima de um acidente escorpiônico clinicamente grave?

A) Aumento de CK e CK-MB.
B) Bradicardia sinusal. 
C) Distúrbio de coagulação.
D) Taquicardia sinusal.

COMENTÁRIO:

Essa questão é bem legal para revisarmos os achados de exames no acidente escorpiônico. Uma dica: lembre-se de que o veneno
escorpiônico “gosta” muito de acometer o coração, levando à elevação de CK-MB e arritmias.

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Incorreta a alternativa A. A CK e CK-MB estão elevadas em uma porcentagem significativa dos casos.
Incorreta a alternativa B. A bradicardia sinusal pode estar presente nos casos graves, em decorrência da disautonomia.

Correta a alternativa C O veneno do escorpião não está relacionado aos distúrbios da coagulação.

Incorreta a alternativa D. A taquicardia sinusal também pode acontecer nos acidentes por escorpião, por ação da liberação de catecolaminas.

(SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE BELO HORIZONTE - SCMBH 2020) Analise o quadro clínico a seguir. Um lactente de 2 anos de idade é levado
ao pronto-atendimento devido a choro inconsolável durante a madrugada enquanto dormia em colchão no chão, em um barracão, numa área
de ocupação. Ao exame, o paciente estava irritado, com mácula eritematosa em antebraço esquerdo, sudorese profusa, bradicárdico e com
crepitações à ausculta pulmonar bilateralmente. Diante desse quadro,  é correto afirmar:

A) O paciente pode ter sido picado por um escorpião amarelo, e o quadro é considerado grave, sendo necessária a infusão de soro específico.
B) Trata-se de um quadro clínico sugestivo de erucismo por lagarta Lonomia sp, e o paciente necessita receber antifibrinolítico.
C) O pediatra deve pensar em picadura por Crotalus sp, realizar um torniquete no local da picada e transferir o paciente para outro hospital.
D) O quadro clínico é sugestivo de acidente com aranha armadeira, Phoneutria sp, e o paciente deverá receber alta com analgésicos comuns.

COMENTÁRIO:

Temos aqui uma criança que se encontrava em área de ocupação e, após picada de algum animal peçonhento, evoluiu com sinais e
sintomas autonômicos e edema pulmonar, pois tem crepitações bilaterais à ausculta. Qual é o animal encontrado em regiões com entulhos e
tem veneno com essas características? O escorpião! As crianças e os adolescentes são as faixas etárias mais atingidas.

O acidente por escorpião é o mais provável, nesse caso. O tratamento é feito com a administração do soro
Correta a alternativa A
antiescorpiônico em casos moderados a graves, como dessa criança, que apresenta edema pulmonar.

Incorreta a alternativa B. O erucismo é o acidente decorrente das lagartas. A Lonomia é o gênero de lagartas que pode causar o acidente
mais grave. Seu veneno tem ação hemorrágica e pode desencadear uma discrasia sanguínea, acompanhada ou não de manifestações
hemorrágicas. Nessa questão, a criança não apresentou nenhum quadro de sangramento para que pudéssemos cogitar essa hipótese
diagnóstica.
Incorreta a alternativa C, porque o acidente crotálico leva a um quadro clínico de paralisia crânio-caudal e insuficiência renal. O paciente
não apresentou nenhum desses sintomas. Além disso, não se deve fazer torniquete após um acidente por animal peçonhento, porque,
dessa forma, o veneno fica concentrado e o paciente corre mais riscos de complicações.
Incorreta a alternativa D. Essa é a alternativa que mais pode confundir. O veneno da aranha armadeira também pode levar a uma
disautonomia. O que a deixa errada é a conduta. Se fosse um acidente por Phoneutria, ele seria grave e o paciente teria indicação de soro
antiaracnídico e não simplesmente indicação de alta com analgésicos.

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CAPÍTULO

3.0 ARANEÍSMO
Estamos perto de acabar. Calma que ainda faltam alguns temas interessantes. Pegue seu café, sua água ou chá e vamos lá!
Existem três gêneros de aranhas que são peçonhentas: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus. Vamos aprender um pouquinho sobre
cada um deles.

De todos os acidentes por aranhas, aqueles por Loxoceles são os mais cobrados nas provas de Residência.

3 .1 PHONEUTRIA

Popularmente conhecida como aranha armadeira, são


responsáveis por 42,2% dos casos de araneísmo no Brasil. São mais
frequentes nas regiões Sul e Sudeste.
Ao contrário dos acidentes ofídicos, que ocorrem
principalmente em matas, os acidentes por Phoneutria são mais
frequentes em áreas urbanas.

Figura 11. Aranha do gênero Phoneutria. Fonte: Shutterstock.

3.1.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O veneno da aranha armadeira tem ação neurotóxica e pode levar a um quadro de disautonomia. Ele pode ser confundido clinicamente
com o acidente por escorpião. As manifestações no local da picada são importantes e imediatas. O paciente geralmente refere dor, eritema,
edema, parestesia e sudorese. Alguns casos podem apresentar manifestações sistêmicas mais graves, como taquicardia, sialorreia, diarreia,
priapismo, hipertonia muscular, choque e edema agudo de pulmão.

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3.1.2 TRATAMENTO

O tratamento é feito com sintomáticos, como o uso de analgésicos, e/ou infiltração de anestésicos.
Casos graves, como aqueles que apresentam sudorese profusa, sialorreia, vômitos frequentes, diarreia, priapismo, hipertonia muscular,
hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo, têm indicação de soroterapia (soro antiaracnídico).

3.2 LOXOSCELES

Esse gênero corresponde a aranhas conhecidas como


aranhas-marrons. Não são agressivas. Elas refugiam-se no interior
de sapatos e roupas e picam somente quando são comprimidas
contra o corpo.

Figura 12. Aranha marrom (gênero Loxosceles). Fonte: Shutterstock.

3.2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

O quadro clínico do acidente por Loxosceles pode ser dividido


de duas formas:
• Forma cutânea.
A picada da aranha-marrom é geralmente imperceptível e
o paciente tende a não valorizar a dor, o edema e o eritema que
aparecem no local. Após 24 a 72 horas, esses sintomas tendem a
piorar e podem aparecer:
օ Bolhas.
օ Equimoses.
օ Lesões hemorrágicas focais mescladas com
áreas pálidas de isquemia. Elas são chamadas
de placas marmóreas. Figura 13. Ferimento causado pela picada da aranha marrom. Perceba a necrose
no centro (parte escurecida). Fonte: Shutterstock.

Após cerca de sete a doze dias, a lesão pode evoluir para uma necrose seca. No decorrer de algumas semanas, essa necrose tende a
destacar-se e forma uma úlcera de difícil cicatrização.

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Figura 14. Placa marmórea. Lesão característica do acidente por Loxosceles. Perceba áreas de hiperemia mescladas com áreas pálidas de isquemia, lembrando um
mármore.

• Forma cutâneo-visceral
Além das manifestações locais, observa-se, em alguns casos, manifestações clínicas decorrentes de hemólise intravascular, como
anemia, icterícia, hemoglobinúria, aumento de DHL e bilirrubina indireta. Em casos mais graves, o paciente pode evoluir para uma CIVD
(coagulação intravascular disseminada).

No acidente pela aranha-marrom (Loxosceles), as manifestações locais são de evolução lenta


e na forma sistêmica, o paciente pode apresentar manifestações decorrentes de hemólise.

3.2.1 TRATAMENTO

O tratamento de casos leves é feito com sintomáticos. Casos moderados e graves devem receber o soro antiaracnídico e prednisona.

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CAI NA PROVA
(USP RP – SP 2017) Homem, 54 anos, etilista, sem outros problemas de saúde, procurou atendimento
em pronto-socorro por picada de animal desconhecido em membro inferior esquerdo há 2 dias enquanto
trabalhava em área rural na proximidade de Ribeirão Preto. Após o acidente, apresentou dor local e, após
cerca de 12 horas, notou a formação de eritema e bolha hemorrágica associados com febre, calafrios
e náuseas. Exame físico: bom estado geral, descorado +/4, hidratado, acianótico, ictérico +/4; pele: lesão
cutânea mostrada na figura abaixo: Ausculta pulmonar e cardíacas normais, FC = 92 bpm; PA = 135 x 80 mmHg; abdome: sem alterações.
Exames: hemoglobina = 9,5 g/dl; VCM = 94 fl (VN: 80–95); HCM = 31 (VN: 27–32); GB = 18.000 (05% bastões); plaquetas = 180.000; LDH =
2.300 U/L (VN < 460); bilirrubina indireta = 2,5 mg/dl (VN < 0,9); bilirrubina direta = 0,28 mg/dl (VN < 0,3); creatinina = 1,6 mg/dl (VN < 1,5);
ALT = 28 U/L (VN < 31); AST = 40 U/L (VN < 32); INR = 1,2 (VN: até 1,3); TTPA (ratio) = 1,12 (VN < 1,26). Qual é o agente etiológico mais provável?

A) Loxosceles sp.
B) Bothrops sp.
C) Phoneutria sp.
D) Crotalus sp.

COMENTÁRIO:

Vamos analisar esse caso juntos. Um paciente foi vítima de um acidente por um animal peçonhento que
Correta a alternativa A
tem manifestações locais importantes e uma evolução lenta (só depois de 12 h notou o eritema com bolha
hemorrágica). Nos exames, chama a atenção uma leucocitose, que é inespecífica, e sinais de hemólise (paciente descorado, com anemia
e icterícia, DHL elevado e com aumento da bilirrubina indireta). Todos esses achados são característicos do acidente por Loxosceles, mais
conhecida como aranha-marrom. Dessa forma, a alternativa A está correta.

Incorreta a alternativa B. Seguindo a análise, a alternativa B está errada, porque as manifestações locais do acidente botrópico são
precoces, ao contrário do descrito.
Incorreta a alternativa C. A alternativa C está errada, porque as aranhas do gênero Phoneutria, como você também acabou de aprender,
fazem ferimentos de início imediato após a picada.
Incorreta a alternativa D. A alternativa D está errada, porque o acidente crotálico não apresenta manifestações locais importantes.
Vamos fazer mais uma questão para fixar mais sobre a aranha-marrom?

(PUC – RS 2016) Em relação ao acidente por picada de Loxosceles (“aranha marrom”) considere as seguintes afirmativas:
I. Os sinais e sintomas surgem precocemente (30 a 60 minutos após a picada).
II. As formas clínicas descritas são: cutânea e cutâneo visceral.
III. Deve-se solicitar hemograma, exame comum de urina, ureia e creatinina, exceto para casos cutâneos puros.
Está/estão correta(s) a(s) afirmativa(s):

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A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas III.
D) Apenas I e II.
E) I, II e III.

COMENTÁRIO:

Vamos revisar o que acabamos de aprender? Como mencionei anteriormente, o acidente por Loxosceles é o mais frequente entre o
araneísmo. Vamos analisar cada afirmativa?

A afirmativa I está errada. Os sinais e sintomas do acidente por Loxosceles surgem lentamente. Esse conhecimento também foi cobrado
na questão anterior.
A afirmativa II está certa. Como já descrito acima no tópico sobre Loxocesles, essas são as duas formas clínicas descritas.
A afirmativa III está errada, porque os exames a serem solicitados para casos cutâneos-viscerais são aqueles relacionados com a hemólise,
como hemograma, bilirrubinas e DHL.

Correta a alternativa B Temos aqui somente a afirmativa II correta, dessa forma, o gabarito é a letra B.

3.3 LATRODECTUS

As aranhas desse gênero são popularmente conhecidas


como viúvas-negras.

3.3.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Seu veneno atua nas terminações nervosas do sistema


nervoso autônomo, levando à liberação de neurotransmissores
adrenérgicos e colinérgicos. Atua também na junção neuromuscular
pré-sináptica, alterando a permeabilidade aos íons sódio e potássio.
Por esse motivo, o paciente refere dor no local da picada, que
evolui para uma sensação de queimadura e hiperestesia. Lesões
puntiformes podem ser visualizadas em associação com placa Figura 15. Aranha do gênero Latrodectus. Fonte: Shutterstock.
urticariforme e enfartamento ganglionar regional.

Manifestações sistêmicas podem ser observadas em casos mais graves, como tremores, hiperreflexia, contrações espasmódicas e
trismo, taquicardia, bradicardia, desconforto precordial, náuseas, vômitos, sialorreia, ptose, edema bipalpebral, hiperemia conjuntival e
midríase.

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3.3.2 TRATAMENTO

O tratamento é feito com medicações sintomáticas em casos leves e sedativos com soro antilatrodético em casos moderados a graves.

3 .4 RESUMO DO ARANEÍSMO

Características Phoneutria Loxosceles Latrodectus

Nome popular Aranha armadeira Aranha-marrom Viúva-negra

Ficam em tijolos, Encontradas em


Ficam em residências e barrancos, cascas de vegetações arbustivas
proximidades, em sapatos, árvores, atrás de quadro e gramíneas, mas
Habitat
materiais de construção, e móveis, em cantos de também podem ter
entulhos e lenha. parede. Sempre ficam ao hábitos domiciliares e
abrigo da luz solar. peridomiciliares.

Neurotóxica (sistema Coagulante, hemolítica e Neurotóxica (sistema


Ações do veneno
nervoso autônomo). proteolítica. nervoso autônomo).

Dor, edema, eritema,


equimose, bolha e
Dor, edema, eritema, necrose. Hemorragias Dor, edema, eritema,
Manifestações locais
sudorese e parestesia. focais mescladas com sudorese e parestesia.
áreas pálidas de isquemia
(placa marmórea).

Taquicardia, hipertensão Tremores e contraturas,


Consequências da
arterial, sudorese, parestesia em membros,
hemólise: anemia,
Manifestações agitação, priapismo, sudorese, mialgia, cefaleia,
icterícia, hemoglobinúria,
sistêmicas hipertonia muscular, tontura, priapismo,
petéquias, equimoses e
diarreia, choque e edema dificuldade para
CIVD.
agudo de pulmão. deambular.

Casos leves: sintomáticos. Casos leves: sintomáticos.


Casos leves: sintomáticos.
Casos moderados/ Casos moderados/graves:
Tratamento Casos moderados/graves:
graves: prednisona e soro analgésico, sedativos e
soro antiaracnídico.
antiaracnídico. soro antilatrodético.
Tabela 2. Diferenças entre os acidentes por aranhas.

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4.0 ERUCISMO
O erucismo não é um acidente que aparece comumente em
provas de Residência, porém já foi cobrado algumas poucas vezes,
por isso você deve conhecer esse assunto.
Esse é o nome do acidente causado por lagartas, como as do
gênero Lonomia, que podem causar acidentes graves decorrentes
de uma síndrome hemorrágica.
São lagartas que possuem “espinhos” em sua superfície,
lembrando uma árvore (figura 16). As glândulas de veneno
localizam-se no ápice dessas cerdas.
Geralmente, o paciente acidenta-se ao encostar em alguma
árvore onde essas lagartas ficam camufladas. Após o contato com
as cerdas e com o veneno, ele pode apresentar sinais e sintomas Figura 16: Lagarta do gênero Lonomia. Fonte: Shutterstock.

de uma síndrome hemorrágica, com manifestações diversas, como


equimoses, gengivorragias, hematomas, epistaxes e, em casos mais graves, podem ocorrer hematêmese, hipermenorragia, hemorragias
pulmonar e intracraniana.
O tratamento é feito com repouso, anti-histamínicos e, em casos graves, podem ser utilizados agentes antifibrinolíticos.

Erucismo por Lonomia causa manifestações hemorrágicas.

CAI NA PROVA
(USP - RP 2020) Você atende um paciente de 20 anos que estava caminhando na beira do rio, quando encostou
em um galho de árvore e sentiu uma ardência e dor em queimação no braço direito. A pele ficou com eritema
e edema na região de contato, evoluindo com lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculação das
cerdas. O paciente apresentou apenas lesões locais e foi orientado a lavar o local com água corrente e colocar
compressas geladas. Qual a principal complicação causada pelo envenenamento das cerdas das lagartas deste
gênero?

A) Agitação psicomotora.
B) Contraturas musculares intermitentes.
C) Arritmia cardíaca.
D) Manifestações hemorrágicas.

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COMENTÁRIO:

Temos aqui um acidente por Lonomia bem característico. Vamos analisar as alternativas:

Incorreta a alternativa A. A agitação psicomotora é uma complicação que pode ocorrer em acidentes por escorpião do gênero Tityus e
não é característico do erucismo.
Incorreta a alternativa B. As contraturas musculares intermitentes podem ser evidenciadas nos acidentes pela aranha viúva-negra (gênero
Latrodectus).
Incorreta a alternativa C. A arritmia cardíaca é uma complicação que pode ser decorrente do acidente por Latrodectus (aranha) ou por
Tityus (escorpião).

Correta a alternativa D Como já discutimos, a Lonomia pode levar a quadros hemorrágicos.

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CAPÍTULO

5.0 ACIDENTES POR HIMENÓPTEROS


A ordem Hymenoptera corresponde aos insetos que picada. A abelha deixa o ferrão após a picada.
apresentam ferrão verdadeiro, como as abelhas, vespas e formigas. O acidente por vespas é clinicamente semelhante ao das
Vamos aprender um pouquinho sobre eles. abelhas. Uma diferença entre eles é que as vespas não deixam o
Na picada de abelha, o paciente pode apresentar edema, ferrão no local da picada.
prurido, vermelhidão e dor no local. O quadro evoluiu para o O acidente por formigas lava-pés (gênero Solenopsis)
aparecimento de uma enduração, que aumenta de tamanho dentro apresenta a formação de uma pápula urticariforme que evolui,
de 24 a 48 horas. Essas manifestações podem ser tão exuberantes após 24 horas, para uma pústula estéril. Ela é reabsorvida dentro
que limitam a mobilidade do membro. Outra apresentação clínica de 7 a 10 dias.
é de anafilaxia, com início dos sintomas após alguns minutos da

CAI NA PROVA
(SURCE 2018) Na Emergência, a mãe de uma criança de três anos de idade relata que a mesma foi picada por um inseto há cerca de 3 dias e
que já recebeu um primeiro atendimento numa Unidade de Pronto Atendimento, cerca de duas horas após a picada. No momento, há dor
aguda no local, vermelhidão, prurido e edema flogístico que evoluiu para enduração local; também há dificuldades de mobilidade no membro
afetado. Na UPA, o médico havia conseguido identificar e retirar o ferrão. Qual o inseto mais provável de ter causado essas alterações?

A) Vespa.
B) Arraia.
C) Abelha.
D) Formiga.

COMENTÁRIO:

Uma criança foi picada por um inseto e desenvolve dor, eritema, prurido e edema no local. A questão fornece uma informação muito
importante para chegarmos ao gabarito: esse inseto que causou o acidente é do tipo que deixa o ferrão. Vamos analisar as alternativas e
discutir juntos, com base no que acabamos de aprender:

Incorreta a alternativa A. As vespas não deixam o ferrão no local da picada.


Incorreta a alternativa B. Não há relato de nenhum contato com água ou exposição de risco para o acidente por arraia.

Ao contrário da vespa, a abelha é um inseto que deixa o ferrão após a picada. Além disso, todo o quadro
Correta a alternativa C
clínico é compatível com esse tipo de acidente.

Incorreta a alternativa D. O acidente por formigas lava-pés evolui após 24 horas para uma pústula estéril que é reabsorvida dentro de 7 a
10 dias. Nesse caso da questão, não há nada característico desse tipo de acidente.

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CAPÍTULO

6.0 MAPA MENTAL DOS PRINCIPAIS ACIDENTES POR


ANIMAIS PEÇONHENTOS
Animais
Peçonhentos

Escorpionismo Ofidismo Araneísmo

Tityus Phoneutria Loxosceles Latrodectus

Veneno neurotóxico com


manifestações relacionadas Manifestações
Veneno
ao sistema nervoso neurotóxico com locais como dor, Veneno
autônomo (simpático ou manifestações edema e eritema neurotóxico com
parassimpático): dor, relacionadas que evoluem para manifestações
parestesia, sudorese, ao sistema nervoso ferimento com relacionadas
autônomo. Pode necrose. Também ao sistema
salivação, náuseas, levar ao quadro de
vômitos, taquicardia pode aparecer a nervoso autônomo.
priapismo.
ou bradicardia. Pode placa marmórea
complicar com edema
agudo de pulmão.

Bothrops Crotalus Lachesis Micrurus


(Botrópico) (Crotálico) (Laquético) (Elapídico)

Lembre-se de ELA*
“CRO” que faz fraqueza
CRoca-cola muscular. Esse veneno
“Lembra vagalmente
“PICO” (urina escura pela é neurotóxico e,
o botrópico”
Plaquetopenia rabdomiólise e IRA) também, faz fraqueza
Manifestações locais
(sangramentos) Cérebro (fácies muscular progressiva,
semelhantes ao
Insuficiência renal miastênica) além de ptose
botrópico com
COmplicações locais Olho caído (turvação palpebral, oftalmoplegia,
síndrome vagal.
visual e ptose fácies miastênica,
palpebral) insuficiência respiratória
e apnéia.
*Esclerose lateral amiotrófica
Figura 17. Resumo de todos os acidentes por animais peçonhentos cobrados em provas.

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CAPÍTULO

8.0 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


1. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde de 2001.

CAPÍTULO

9.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ufa, chegamos ao fim do livro. Lembre-se de revisar o assunto e fazer mais questões. Tenho certeza de que você será bem-sucedido(a)
nesta jornada.
Faça, agora, uma pausa para descansar, mas não se esqueça de ampliar seu aprendizado e aumentar suas chances de aprovação com
a leitura das outras matérias.
Recomendo seguir o Estratégia MED (@estrategiamed) no Instagram, meu perfil @draclarissacerqueira e dos outros professores.
Dessa forma, você vai manter-se atualizado(a) sobre todas as novidades referentes à Residência Médica.
Lembre-se de que estou à disposição para tirar dúvidas no Fórum de Dúvidas.
Beijos e abraços,
Clarissa Cerqueira

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