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SURCE 2022

CADERNO DE QUESTÕES
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QUESTÃO 01 QUESTÃO 03
Durante uma consulta, um paciente assintomático, de Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), uma mu-
32 anos, apresenta um ultrassom abdominal revelando lher de 65 anos é admitida com quadro de vômitos por
um cálculo da vesícula biliar de 3 cm. Qual deve ser a obstrução neoplásica pré-pilórica, desidratação e in-
conduta do cirurgião? gesta oral zero, aguarda transferência para um hospital
A) Solicitar tomografia para avaliar vesícula em por- terciário. Vem recebendo hidratação e suporte calórico
celana ou vegetação intravesicular, e assim, decidir por meio de soro glicosado a 5%. Após três dias de
quanto a necessidade de colecistectomia. espera, queixando-se de cefaleia refratária a dipirona,
apresenta episódio de convulsão. Qual a causa provável
B) Programar a cirurgia, já que esta apresenta poucos da crise convulsiva dessa paciente?
riscos, ao contrário do alto risco de desenvolvimen-
to de câncer a que esse paciente está exposto. A) Hiponatremia.
C) Descrever ao paciente os riscos potenciais da cole- B) Hiperglicemia.
cistectomia, bem como da preservação da vesícula C) Metástase em SNC.
com o cálculo, e ouvir a opinião do paciente quan- D) Alcalose metabólica.
to à conduta cirúrgica.
D) Sugerir ao paciente que por se tratar de um cálculo
assintomático em paciente jovem, ele deve aguardar QUESTÃO 04
apresentar os primeiros sintomas, antes de ser sub- Após tratamento neoadjuvante, uma paciente de 54
metido à colecistectomia. anos, com diagnóstico de adenocarcinoma tipo intes-
tinal de 2 cm no antro gástrico, realiza tomografia que
QUESTÃO 02 demonstra adenopatias em tronco celíaco, ausência de
metástases hepáticas ou ascite. Atualmente, apresen-
Um paciente de 25 anos, vítima de politrauma grave ta-se com bom estado geral e sem outras comorbida-
com TCE e choque hipovolêmico por fratura pélvica, é des. Para essa paciente, qual o próximo passo para o
submetido à cirurgia para controle de hemorragia. Du- seu tratamento?
rante a cirurgia, o anestesista opta por utilizar fluidos A) Gatrectomia parcial com linfadenectomia D1 e re-
aquecidos para infundir no doente. Qual a principal construção a BII.
vantagem dessa conduta?
B) Gatrectomia parcial com linfadenectomia D2 e re-
A) Preservar tecido cerebral por evitar hipoter- construção a BII.
mia extrema. C) Gatrectomia total com linfadenectomia D2 e re-
B) Diminuir o metabolismo e resposta inflamató- construção em Y de Roux.
ria exagerada. D) Gatrectomia subtotal com linfadenectomia D2 e
C) Aquecer o paciente para evitar tremores e conse- reconstrução em Y de Roux.
quente perda de energia.
D) Prevenir distúrbios de coagulação em consequência
de ação fibrinolítica.
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QUESTÃO 05 QUESTÃO 07
A suplementação com líquidos sem resíduos, ricos Homem de 56 anos portador de hepatopatia crôni-
em carboidratos (líquidos claros), apresenta vanta- ca devido ao consumo diário de bebidas alcoólicas é
gem quando ingeridos no preparo de pacientes para acompanhado no ambulatório de gastroenterologia por
cirurgias eletivas. Até quanto tempo antes da cirurgia ascite recorrente. O paciente apresenta sintomas rela-
é seguro a ingesta desse tipo de substância para um pa- cionados a “má digestão” e em certas ocasiões apresenta
ciente eutrófico ASA I que será submetido a uma cirur- dor abdominal e vômitos. Ultrassonografia abdominal
gia ortopédica? de rotina revela cálculos na vesícula biliar de aproxima-
A) 2h antes da cirurgia. damente 0,5 a 1 cm e fígado de aspecto cirrótico. O
gastroenterologista encaminha o paciente para avalia-
B) 6h antes da cirurgia. ção do cirurgião. Qual deve ser a conduta em relação
C) 8h antes da cirurgia. ao cálculo da vesícula biliar?
D) 12h antes da cirurgia. A) Classificar o paciente para transplante e então indi-
car a colecistectomia.
QUESTÃO 06 B) Observar o desenvolvimento de uma colecistite,
para indicar a cirurgia.
Uma paciente com púrpura trombocitopênica idiopá-
C) Indicar a colecistectomia aberta, para melhor con-
tica irá ser submetida a esplenectomia videolaparoscó-
trole de hemorragia.
pica. O médico orienta a aplicação de uma vacina 20
dias antes da retirada do baço. Qual doença deve ser D) Indicar a colecistectomia por videolaparoscopia,
prevenida através dessa vacina? para prevenir hérnias.

A) Tétano.
B) Hepatite. QUESTÃO 08
C) Pneumonia. Na emergência, um cirurgião atende menino de 10
D) Coronavirus. anos com dor testicular, há cerca de 4 horas, de início
súbito. Ao exame da hemibolsa escrotal esquerda, há
pouca mobilidade a palpação e desaparecimento do re-
flexo cremastérico. Não há disponível ultrassonografia
na região. Qual o diagnóstico provável?
A) Torção testicular.
B) Hidrocele escrotal.
C) Hematoma testicular.
D) Orquiepidimite infecciosa.
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QUESTÃO 09 QUESTÃO 11
Um jovem de 28 anos, atleta de natação, será subme- Um paciente de 85 anos apresenta dor abdominal agu-
tido a abdominoplastia após perder 45 kg por cirurgia da há 48h. A dor é difusa porém mais intensa em fossa
bariátrica, há 3 anos, e mudança em hábitos de vida. ilíaca direita (FID). HPP: DM e HAS compensadas
Qual das seguintes medidas apresenta maior impac- com medicações. A tomografia sem contraste sugere
to na prevenção de infecção do sítio cirúrgico para apêndice espessado, liquido em FID e pelve compa-
esse paciente? tível com apendicite. Qual deve ser a conduta para
A) Uso de drenos de sucção e remoção de pe- esse paciente?
los abdominais. A) Apendicectomia videolaparoscópica.
B) Tempo cirúrgico abreviado e uso criterioso B) Apendicectomia aberta infra-umbilical.
do eletrocautério. C) Drenagem percutânea e apendicectomia em
C) Uso de antibiótico profilaxia 1 h antes da realização 4 semanas.
da incisão. D) Colonoscopia, para avaliar neoplasia de
D) Suplementação preoperatória hipocalórica e com base apendicular.
alto teor de proteína.

QUESTÃO 12
QUESTÃO 10
Qual das seguintes características abaixo sugere uma
Um homem submetido a duodenopancreatectomia por via aérea difícil de ventilar/entubar?
neoplasia de pâncreas encontra-se no 6o pós-operatório A) Abertura da boca de 6 cm.
e está com dieta oral líquida 50 ml a cada 3h, associa-
da à nutrição enteral 1500ml/d. O paciente refere dor B) Cirurgia de artrodese cervical.
abdominal. Ao examinar o paciente, o médico percebe C) Distância tireomentoniana aumentada.
dor abdominal difusa e eliminação de secreção esverde- D) Visualização da úvula, no teste de Mallampati.
ada em ferida operatória. Diante do quadro, qual deve
ser a conduta médica?
A) Solicitar tomografia para avaliar a necessidade de
drenagem de coleções.
B) Abrir protocolo sepse e indicar laparotomia explo-
radora de urgência.
C) Alimentar o paciente por sonda nasoenteral com
dieta oligomérica.
D) Suspender a dieta, iniciar NPT e antibióticos e rea-
valiar após 24h.
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QUESTÃO 13 QUESTÃO 15
Paciente de 27 anos vem evoluindo há 3 dias com disú- Uma paciente de 54 anos queixa-se de dor e assimetria
ria e hematúria. Há cerca de 24h, houve piora do qua- abdominal do lado direito, logo abaixo da linha da cin-
dro com febre elevada, e calafrios. Deu entrada na emer- tura e lateral ao músculo reto abdominal. Ao exame,
gência com os seguintes parâmetros: PA 80x50mmHg, percebe- se a dor à palpação dessa região e leve abau-
FC: 120bpm. Qual a melhor conduta, nesse caso? lamento. Uma tomografia revela protrusão e conteúdo
A) Solicitar exames de sangue, sumário de urina e uri- abdominal entre as camadas musculares da parede ab-
nocultura para orientar terapêutica. dominal lateral, com aponeurose do músculo oblíquo
externo íntegra. A paciente refere cirurgia cesariana
B) Prescrever antibiótico empírico (quinolonas) por 7 prévia há 25 anos. Nega outras cirurgias. Qual a causa
dias e acompanhamento ambulatorial. da dor dessa paciente?
C) Indicar internamento hospitalar, antibiótico veno-
so, seguido de tomografia ou ultrassonografia. A) Hérnia incisional.
D) Administrar antitérmicos e hidratação, se ob- B) Tumor desmoide.
tiver boa resposta, iniciar antibiótico e progra- C) Hérnia de Spiegel.
mar retorno. D) Implante endometrial.

QUESTÃO 14 QUESTÃO 16
Um homem de 64 anos sofre queda do telhado en- Um paciente cirrótico de 56 anos é admitido na emer-
quanto realizava um conserto elétrico na sua casa. Uma gência com hematêmese importante. Os exames de-
ambulância foi acionada e o paciente levado para um tectaram uma queda de hemoglobina de 14g/dl (re-
centro de trauma. O paciente referia dor torácica à di- ferência de exame realizado 1 mês atrás) para 6g/dl.
reita, na projeção de escoriações da pele. Ao exame, es- Inicialmente, foi realizada a reposição volêmica e medi-
tava com estado geral comprometido, cianótico, fácies cado com inibidor de bomba de prótons, vasopressina
de dor, dispneico, sudoreico, hipotenso, com sensação e vitamina K. Aparentemente, apresenta uma remissão
de crepitação subcutânea torácica e ruídos abolidos em do sangramento e uma endoscopia foi solicitada. Qual
hemotórax direito. O que o emergencista deve fazer, das seguintes fontes de sangramento apresenta maior
nesse momento? risco de recorrência da hemorragia para esse paciente?
A) Solicitar o desfibrilador e avaliar arritmia cardíaca. A) Laceração de Mallory-Weiss.
B) Solicitar tomografia de tórax, para mensurar contu- B) Varizes gastroesofágicas.
são pulmonar. C) Gastropatia hipertensiva.
C) Infundir cristalóides e sangue total e oferecer oxigê- D) Úlcera Forrest IIb.
nio em máscara.
D) Descomprimir o tórax com agulha, seguida de dre-
nagem em selo d’água.
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QUESTÃO 17 QUESTÃO 20
Uma paciente de 35 anos está na sala de recuperação Homem de 64 anos, fumante, obeso (grau I), DM de
após uma tiroidectomia total. A saturação está cain- longa data e hipertenso, queixas de dor e fadiga nos
do abaixo de 80%, e a paciente apresenta voz rouca membros inferiores ao deambular, principalmente à
e estridulosa. Qual a conduta apropriada para reverter esquerda. Atualmente,refere piora com bastante limi-
essa situação? tação de caminhada e dor até em repouso no pé e pan-
A) Aplicação de máscara laríngea. turrilha esquerda alternando com dormência da região.
Qual deve ser o próximo passo para esse paciente?
B) Sedação e entubação orotraqueal.
C) Abertura da pele e planos musculares. A) Prescrever terapia farmacológica com Pentoxifilina.
D) Confecção de traqueostomia de urgência. B) Realizar a amputação da perna esquerda acima
do joelho.
C) Realizar procedimento endovascular para colocação
QUESTÃO 18 de Stent.
Uma paciente de 47 anos é investigada por “desmaios”. D) Realizar angioressonância ou angiotomografia de
Ela refere pouca tolerância ao jejum e sente necessidade membros inferiores
de alimentar-se com frequência de alimentos doces. Na
avaliação, foi detectada somente insulina alta e um nó-
dulo no pâncreas de 1cm, vista a tomografia. Demais QUESTÃO 21
exames sem alterações. Durante laparotomia, identifi- Homem, 70 anos, vem em consulta ambulatorial quei-
ca-se um nódulo avermelhado na superfície pancreática xando-se de dispneia progressiva nos últimos 2 meses e,
de 1cm à esquerda dos vasos mesentéricos sem relação agora, em repouso. Relata também edema de membros
com o ducto pancreático principal. Qual deve ser a es- inferiores e acorda com falta de ar durante a noite. É
tratégia cirúrgica? hipertenso e obeso. Fez um ECG, que revelou sinais
A) Enucleação do nódulo. de sobrecarga ventricular esquerda e um ecocardiogra-
B) Pancreatectomia central. ma, com FEVE = 65%, disfunção diastólica, pressão
sistólica na artéria pulmonar de 40mmHg e sinais de
C) Duodenopancreatectomia. aumento de pressões no enchimento do VE (E/e` >
D) Pancreatectomia corpo-caudal. 9). Está em uso de Losartana 50mg 2 vezes ao dia e
Hidroclorotiazida 25mg cedo. Ao exame físico: PA =
150 x 90mmHg, FC = 80bpm, crepitações pulmona-
QUESTÃO 19 res em terço inferior bilateralmente, ausência de sopros
Na investigação de um paciente com queixa de disfa- cardíacos, edema de membros inferiores de 2+/4+. LE-
gia, qual exame serve para orientar condutas clínicas GENDA: VE = Ventrículo Esquerdo; FEVE = Fração
e cirúrgicas, demonstrando pontos de estenose, estase, de Ejeção do VE. Qual é sua conduta inicial?
aspecto da mucosa e coleta de fragmentos. Qual dos A) Associar betabloqueador e diurético de alça e man-
exames atende a essa necessidade? ter o restante dos medicamentos.
A) Manometria de alta resolução. B) Orientar perda de peso, associar hidralazina via oral
B) Endoscopia digestiva alta. e encaminhar ao pneumologista.
C) Cintilografia esofágica. C) Introduzir antagonista da aldosterona e diurético
D) Esofagograma digital. de alça e manter os outros remédios.
D) Trocar tiazídico por diurético de alça e associar blo-
queador de canal de cálcio à receita.
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QUESTÃO 22 QUESTÃO 23
Homem de 70 anos, viúvo, aposentado e alcoolista di- Homem de 70 anos, hipertenso de longa data, é ad-
ário, vai à consulta médica para acompanhar Hiperten- mitido na emergência com dispneia aguda. Ao exame
são Arterial Sistêmica e Diabetes anteriormente conhe- físico, apresenta pressão arterial de 220x120mmHg e
cidas e controladas. Durante a consulta, fica evidente crepitações pulmonares bilaterais em dois terços in-
humor deprimido constante, fala em volume baixo e feriores. Considerando o diagnóstico mais provável,
pouco espontâneo. Relata perda do interesse na convi- quais medicamentos dentre os listados abaixo, devem
vência com os netos e nos jogos de futebol que costuma ser prescritos, prioritariamente.
acompanhar, insônia intermediária, perda de peso in- A) Morfina e Dobutamina.
voluntária por redução do apetite, e ideias de que é um
fardo para a família. Tem ideia de morte, achando que B) Morfina e Nitroglicerina.
pode ser um alívio, inclusive com pensamentos sobre C) Furosemida e Dobutamina.
suicídio, mas sem planejamento no momento. Qual D) Furosemida e Nitroglicerina.
a opção correta em relação ao manejo do paciente no
contexto descrito acima?
QUESTÃO 24
A) O uso de antidepressivo tricíclico deve ser evitado
pelo risco de morte em caso de ingestão em grande Homem de 35 anos apresenta quadro de tosse pro-
quantidade. dutiva com expectoração amarelada, há 2 dias, asso-
B) O médico deve evitar o uso de Inibidor de Recap- ciada a febre. Ao exame físico, apresenta crepitações
tação de Serotonina, pela possibilidade do aumento em base direita, estado confusional, pressão arterial
de risco de suicídio. 80x50mmHg e frequência respiratória de 26irpm. Ra-
diografia de tórax evidencia infiltrado alveolar em base
C) Como perguntar sobre ideias de suicídio pode in-
direita. Qual o tratamento inicial mais adequado para
duzir ou aumentar o risco de tentativa, tal questio-
esse caso clínico?
namento deve ser evitado.
D) O grau de preocupação é baixo e a intervenção mé- A) Expansão volêmica e antibioticoterapia.
dica deve ser pouco invasiva, pois o paciente está B) Hidrocortisona e expansão volêmica.
fora da faixa etária de maior incidência de suicídio. C) Noradrenalina e antibioticoterapia.
D) Noradrenalina e hidrocortisona.
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QUESTÃO 25 QUESTÃO 27
Homem de 36 anos, portador de epilepsia, em uso de Paciente feminina, 25 anos, em acompanhamento por
carbamazepina, chega ao departamento de emergência asma, desde a adolescência, no momento em uso de
com episódio convulsivo, após mais de cinco anos sem Budesonida inalatória 400 mcg duas vezes ao dia. Vem
crises dessa natureza. Está euvolêmico, ao exame físico. apresentando tosse e sibilância que cessam com o uso
Seus exames evidenciam dosagem de sódio de 110mE- de salbutamol inalatório, pelo menos três vezes por se-
q/L. Peso 60Kg. Qual a conduta imediata? mana, nos últimos quatro meses. Refere que neste perí-
A) Restrição hídrica de 1000ml/dia. odo acordou 2 vezes à noite com crise de asma. Negou
fatores precipitantes ou exposições ambientais relevan-
B) Reposição de 180ml de cloreto de sódio 3% em 3 tes ou novas. Neste contexto, a estratégia terapêutica
horas. preferencial seria:
C) Expansão volêmica com 1000ml de soro fisioló-
gico 0,9%. A) Associar Montelucarste oral uma vez ao dia.
D) Infusão de 500ml de cloreto de sódio 20% em B) Acrescentar Tiotrópio inalatório uma vez ao dia.
30 minutos. C) Adicionar Formoterol inalatório duas vezes ao dia.
D) Aumentar Budesonida inalatória para três vezes
ao dia.
QUESTÃO 26
Paciente, 26 anos, procura Unidade Básica de Saúde
com queixa de adinamia leve, gengivorragia durante
escovação e parestesias em mãos e pés. Refere que os
sintomas iniciaram há cerca de 6 semanas. Refere que
há 2 anos faz reposição de levotiroxina pois “”tireoide
deixou de funcionar””(sic). Ao exame físico, apresen-
tava palidez cutâneo- mucosa 2+/4+, língua despapila-
da, ausência de adenomegalias ou visceromegalias. Foi
solicitado hemograma que evidenciou hemoglobina
7,8g/dL hematócrito 22% VCM 118 leucócitos 4800
(neutrófilos 1580) plaquetas 42000/mm3 reticulócitos
38000. Considerando a principal hipótese diagnóstica,
que outros exames laboratoriais devem ser solicitados a
fim de confirmar o diagnóstico e qual alteração espera-
da nesses exames?
A) Desidrogenase láctica elevada, homocisteína dimi-
nuída e bilirrubina indireta elevada.
B) Teste de antiglobulina direta positivo, bilirrubina
direta elevada e homocisteína diminuída.
C) Ácido metilmalônico elevado, bilirrubina indireta
elevada e desidrogenase láctica elevada.
D) Índice de saturação de transferrina diminuído, fer-
ritina diminuída e desidrogenase láctica normal.
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QUESTÃO 28
Mulher de 50 anos, moradora de Fortaleza, sem co- QUESTÃO 30
morbidades, procura pronto- socorro referindo quadro
ACR, 82 anos, advogado aposentado, há 6 meses pas-
iniciado há 5 dias de febre alta, cefaleia, mialgia e dor
sou a apresentar esquecimento para fatos recentes, ten-
retrorbitária. Embora a febre tenha desaparecido após o
do passado a esquecer de pagar as contas da casa e teve
terceiro dia de doença, desde esta manhã relata exante-
sua energia cortada pela companhia elétrica. Relata que
ma difuso e pruriginoso e dor abdominal mal definida,
no fim da tarde é comum ver uma criança desconhecida
que não cede com analgésicos comuns. Ao exame: Es-
brincando na varanda de sua casa. Relata também sono
tado geral regular; Peso: 75 Kg. Pele: exantema mácu-
agitado com muitos pesadelos frequentes. A esposa in-
lo-papular difuso com “ilhas”” de pele normal; Pressão
forma que há dias em que ele está muito apático, ficando
arterial: deitada = 130 x 80 mmHg, sentada = 118 x 76
isolado, sem se comunicar. O exame físico é normal ex-
mmHg; Prova do laço: positiva; Abdome: semigloboso,
ceto pela presença de rigidez em roda denteada em pu-
flácido, moderadamente doloroso à palpação profunda
nho direito. Mini-exame do estado mental (MEEM) foi
em epigastro, mesogastro e hipocôndrio direito. Ruí-
25/30. Durante o MEEM respondeu que estava no con-
dos hidroaéreos presentes. Extremidades: boa perfusão
sultório de seu dentista, lembrou duas das três palavras
periférica, sem edemas. Considerando a principal hi-
solicitadas na evocação e errou três cálculos. Os exames
pótese diagnóstica para o caso, que conduta terapêutica
laboratoriais são normais, exceto por anemia leve obser-
imediata deve ser tomada?
vada no hemograma (Hb = 11g/dl; Ht 38%; VCM 100
A) Soro fisiológico a 0,9% 750 ml, endovenoso, em 1 fl; HCM 31 pg). A dosagem de vitamina B12 foi 259
hora. pg/ml (VR: 239 a 931 pg/ml). A Ressonância magnética
B) Soro fisiológico a 0,9% 1500 ml, endovenoso, em de crânio mostrou atrofia global leve e escala de atrofia
20 minutos. mesial temporal (MTA) de 1. Qual a principal hipótese
C) Soro de reidratação oral 1500 ml + Líquidos diver- diagnóstica para o caso clínico?
sos 3000 ml, por via oral, em 24 horas. A) Doença de Alzheimer.
D) Soro glicosado a 5% 3000 ml + Soro fisiológico a B) Doença de Parkinson.
0,9% 1500 ml, endovenoso, em 24 horas.
C) Demência por corpúsculos de Lewy.
D) Demência por deficiência de vitamina B12.
QUESTÃO 29
Homem de 18 anos é admitido na emergência com
quadro de redução do nível de consciência, náuseas,
vômitos e dor abdominal difusa. Apresenta glicemia
capilar de 300mg/dL e gasometria com acidose meta-
bólica. Com o objetivo de confirmar o diagnóstico da
emergência clínica em questão, qual exame deveria ser
solicitado?
A) Hemoglobina glicada.
B) Sumário de urina.
C) Lactato sérico.
D) Hemograma.
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QUESTÃO 31 QUESTÃO 32
Mulher, 70 anos, é trazida por familiares à emergên- Paciente masculino, 45 anos, dá entrada na emergência
cia com história de cinco dias de tosse seca e três dias com hematêmese volumosa, inédita, associada à lipoti-
de queda do apetite e apatia intensa. Tem história de mia. O mesmo encontra-se em acompanhamento por
insuficiência cardíaca congestiva. Apresenta-se alerta, cirrose de etiologia alcoólica e coronariopatia mas não
sem taquidispneia e SpO₂: 96% em ar ambiente. Nor- vem em uso de medicações. A equipe de plantão ini-
motensa e afebril. Ausculta cardíaca com ritmo regular ciou ressuscitação volêmica e foi realizada endoscopia
em 2 tempos e Fc: 90 bpm. Ausculta respiratória com que mostrou varizes de médio calibre sangrantes. Qual
crepitações bibasais mais intensas, à direita. O hemo- das opções abaixo descreve a medida mais adequada a
grama não mostra anemia, nem plaquetopenia e leuco- ser realizada nesse momento?
grama com 12.000/mm³ sem desvios. Proteína C rea- A) Realizar escleroterapia e prescrever carvedilol.
tiva 6,0 (normal até 0,5), Glicemia 110 mg/dl, Ureia
de 40 mg/dl , Creatinina 0,8 mg/dl, Sódio 133 mEq/L, B) Realizar ligadura de varizes e associar octreotide.
Potássio 3,9 mEq/L Swab nasal com painel viral ne- C) Iniciar beta bloqueador e administrar somatostatina.
gativo (SARS- Cov 2, Influenza, VSR e Rinovírus). A D) Administrar plasma fresco congelado e terlipressina.
radiografia de tórax em PA é mostrada na figura abaixo.
Neste contexto, e considerando o diagnóstico mais pro-
vável, a abordagem de escolha para essa paciente seria:

A) Cefepime + Azitromicina.
B) Ceftriaxona + Claritromicina.
C) Moxifloxacina + Azitromicina.
D) Amoxicilina/Clavulanato + Claritromicina.
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QUESTÃO 33 QUESTÃO 34
Homem, 33 anos, obeso, etilista, hipertenso em uso Homem, 70 anos, procura atendimento médico em Uni-
de hidroclorotiazida, com história de alta hospitalar, há dade Básica de Saúde devido a episódio de fraqueza em
24 horas, após colecistectomia, procura UPA com re- hemicorpo à direita e dificuldade na fala, durante 1 hora,
lato de dor intensa e alodínia em hálux esquerdo há 3 que aconteceram há duas semanas. Paciente procurou,
horas. Ao exame: Estado Geral Regular, fácies de dor, naquela ocasião, emergência médica onde fez tomografia
T:37,9°; abdome flácido e ferida operatória sem sinais de crânio e doppler de carótidas e vertebrais com laudos
flogísticos; sistema osteo- articular: edema, rubor e dor normais, exames de sangue que não mostraram altera-
à movimentação de hálux (vide imagem). Que conduta ções, e eletrocardiograma que mostrou fibrilação atrial.
está indicada neste momento? Paciente optou por não permanecer internado, saiu do
hospital sem nenhuma prescrição médica e veio à con-
sulta hoje, devido ao “”medo de sentir novamente os sin-
tomas”” e querendo saber qual o melhor tratamento que
deve fazer para evitar essa recorrência. Tem antecedente
de febre reumática com necessidade de troca valvar (vál-
vula metálica) há 5 anos, mas vinha em uso irregular de
suas medicações. No momento está sem utilizar nenhu-
ma. Pulso: 80bpm, PA:120x80mmHg. Exame neuroló-
gico sem alterações. Qual medicação está indicada para a
profilaxia secundária, nesse paciente?
A) Ácido acetil salicílico.
B) Clopidogrel.
C) Apixabana.
D) Varfarina

A) Coleta de duas amostras de hemoculturas.


B) Punção de metatarsofalangeana.
C) Dosagem de ácido úrico sérico.
D) Iniciar cefalexina.
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QUESTÃO 35 dio atual não melhorou, procurando então a emergên-


cia. Chegou com pressão arterial = 120 x 80 mmHg,
Mulher, 56 anos, hipertensa e diabética chegou na frequência cardíaca = 140 batimentos por minuto e o
emergência referindo palpitação e taquicardia há 3 dias. eletrocardiograma está abaixo. Qual é a melhor condu-
Refere episódios semelhantes, esporadicamente, que ta para essa paciente?
costumam melhorar espontaneamente, porém o episó-

A) Cloridrato de amiodarona endovenoso e ablação


posterior.
B) Cloridrato de amiodarona endovenoso e anticoa-
gulação.
C) Tartarato de metoprolol endovenoso e anticoagula-
ção.
D) Cardioversão elétrica com 100 J e anticoagulação.
Tema importantíssimo!
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QUESTÃO 36 QUESTÃO 37
Mulher de 30 anos procura atendimento no posto Homem de 22 anos queixa-se de febre baixa e tosse
de saúde devido a episódios de cefaleia holocraniana seca, há 2 semanas, e nos últimos dias tem tido expec-
em aperto, desde os 20 anos. Durante os episódios, toração mucoide discreta. Refere que ha 24 horas apre-
a paciente deixa de fazer atividades cotidianas, assim senta dispneia, mesmo em repouso. Ao exame: estado
como prefere ficar em seu quarto com janela fechada geral comprometido, anictérico, hipocorado 1+/4+,
e sem barulho. Ao tentar fazer atividade física durante dispneico (frequência respiratória = 32 irpm). Presença
os episódios, relata piora dos sintomas com dor pul- de placas esbranquiçadas recobrindo palato e língua.
sátil em região temporal. Nega vômitos durante os Ausculta pulmonar: murmúrio vesicular universal sem
episódios. Se não tomar analgésicos, a paciente refere ruídos adventícios. SatO2 em ar ambiente: 90%. Exa-
que fica até dois dias com dor. Faz uso de paracetamol mes iniciais: Hb 10,0 g/dL Leucócitos 5.200/mm3
1 grama durante os episódios e, em algumas ocasiões, Plaquetas 165.000/mm3 Desidrogenase láctica 672
faz uso deste medicamento mais de duas vezes ao dia U/L (VR = 140-271 U/L) TGO 20 U/L TGP 32 U/L
. Nos últimos meses, apresenta em média 8 crises ao Rx de tórax: tênue infiltrado intersticial peri-hilar bila-
mês. É portadora de Asma e tem exame físico e neu- teral; Teste rápido para HIV: reagente. Qual a condu-
rológico normais. Qual das medicações a seguir deve ta terapêutica recomendada para a principal hipótese
ser utilizada na paciente acima para diminuir a ocor- diagnóstica deste caso?
rência de crises de cefaleia? A) Anfotericina B.
A) Topiramato. B) Anfotericina B + Prednisona.
B) Naratriptano. C) Sulfametoxazol-Trimetoprim.
C) Propranolol. D) Sulfametoxazol-Trimetoprim + Prednisona
D) Dipiriona.
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QUESTÃO 38 QUESTÃO 39
Mulher, 24 anos, diagnóstico de diabetes mellitus tipo Mulher, 52 anos, procura a Unidade Básica de Saú-
1 aos 10 anos, em uso de insulina e losartana 50 mg/ de, por apresentar lesão pigmentada assintomática em
dia, e diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico aos 20 membro inferior, percebida há 8 meses (figura). A lesão
anos, em uso de hidroxicloroquina 400 mg/dia, pred- possui 0.9 cm de diâmetro e está localizada na região
nisona 5 mg/dia, e vitamina D3 1000UI/dia, relata há lateral da coxa direita. Em relação ao próximo passo
4 meses apresentar turvação visual, fadiga, dispneia aos na abordagem da lesão em questão, marque a alterna-
médios esforços e ganho de peso. Ao exame: anasarca e tiva correta.
PA 150 x 80 mmHg. Exames complementares: hemo-
grama, PCR, TGO, TGP, TP: normais; VHS 28 mm/h
(VR 20 mm na 1 hora); Cr 1.5 mg/dl (VR 1,2 mg/
dl); Ur 60 mg/dl (VR 15-45 mg/dl); albumina 3.0 mg/
dl (VR 3.5-4mg/dl); Hb Glicada 6.6%; Colesterol to-
tal 250mg/dl (VR < 200mg/dl), LDL 140mg/dl (VR<
100 mg/dl); Triglicerídeos 300 (VR< 150 mg/dl); SU:
proteína 4+; proteinúria em 24h: 4g/24h; fator anti-
núcleo reagente 1:160 padrão pontilhado fino denso.
Sorologias HIV, anti- HBsAg, anti-HCV e VDRL: ne-
gativas. Que alteração na investigação complementar
confirmaria o diagnóstico mais provável?
A) Dosagem sérica elevada de CH50, C3 e C4.
B) Nódulos de Kimmelstiel-Wilson na biópsia renal.
C) Depósitos imunes subendoteliais focais glomerula-
res na biópsia renal.
D) Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos reagente A) Encaminhar para cirurgião para realizar excisão
no padrão citoplasmático. com margens de 1 cm.
B) Acompanhar clinicamente a lesão com foto e visitas
periódicas semestrais.
C) Encaminhar para dermatologista para realizar der-
matoscopia e biópsia excisional.
D) Realizar biópsia incisional na própria unidade bási-
ca para elucidação diagnóstica.
16 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 40 QUESTÃO 41
Mulher de 42 anos teve alta hospitalar há 5 semanas, A fase crítica da infecção pelo vírus da Dengue pode
após internamento por pancreatite aguda grave. Esta- se seguir à fase febril, em alguns pacientes, que podem
va bem, clinicamente, quando voltou a apresentar dor evoluir para as formas graves. O aparecimento dos si-
abdominal, náuseas e vômitos, além de elevação das en- nais de alarme deve ser rotineiramente pesquisados nos
zimas pancreáticas. Qual a complicação mais provável, casos suspeitos. Dentre os principais sinais de alarme,
nesse momento? destacam-se: dor abdominal intensa (referida ou à pal-
A) Pseudocisto pancreático. pação) e contínua; vômitos persistentes; acúmulo de
líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico);
B) Coleções necróticas agudas. hipotensão postural e/ou lipotimia; hepatomegalia > 2
C) Trombose de veia esplênica. cm abaixo do rebordo costal; sangramento de mucosa;
D) Abcessos peripancreáticos agudos letargia e/ou irritabilidade; aumento progressivo do he-
matócrito. O que traduzem esses sinais de alarme?
A) Esses sinais podem traduzir o aumento da pneu-
monia causada pelo vírus, edema agudo de pulmão
e evolução para o agravamento clínico do paciente
com derrame pleural.
B) Esses sinais podem traduzir a instalação de insufi-
ciência cardíaca e hipertensão arterial, permitindo
a evolução para o agravamento clínico do paciente
com o potencial de choque ou derrame pericárdico.
C) Esses sinais podem traduzir o aumento da per-
meabilidade vascular acarretando hipertensão ar-
terial, o agravamento clínico do paciente para o
choque ou derrames cavitários pelo extravasamen-
to plasmático.
D) Esses sinais podem traduzir o aumento da permea-
bilidade vascular e evolução para o agravamento clí-
nico do paciente, com o potencial de evoluir para o
choque ou derrames cavitários pelo extravasamen-
to plasmático.
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QUESTÃO 42 QUESTÃO 44
Diante de um recém-nascido conduzido à mesa de re- Criança de 8 anos de idade, masculino, com qua-
animação, deve-se iniciar os passos da estabilização na dro clínico de obesidade com IMC acima de z-score
sequência adequada, com duração de no máximo 30 +3, presença de acantose nigricans em região cervical,
segundos. Qual das opções abaixo apresenta a sequ- obesidade central com circunferência abdominal acima
ência correta? de P90 para idade e sexo, estrias claras em abdomen e
A) Prover calor, fazer estímulo táctil, aspirar boca e na- membros inferiores, pressão sistólica acima de P90 para
rinas (se necessário) e enxugar. a idade, exames laboratoriais mostrando resistência à
insulina e triglicerídeos acima de 110 mg/dL. Obser-
B) Fazer estimulação táctil, posicionar a cabeça em vando o quadro clínico descrito, qual a assertiva correta
leve extensão, aspirar boca e narinas e secar. sobre os fatores associados à fisiopatologia da Síndrome
C) Prover calor, posicionar a cabeça em leve extensão, Metabólica?
aspirar boca e narinas (se necessário) e secar.
A) Hipertensão arterial e dislipidemia correlacionam-
D) Enxugar e aquecer, posicionar a cabeça em extensão, -se melhor com o próprio índice de massa corpórea
aspirar boca e narinas (se necessário) e estimular (IMC) do que com circunferência da cintura.
B) O aumento da circunferência abdominal, indicati-
QUESTÃO 43 va de acúmulo visceral de tecido adiposo, confere
um risco independente de doença cardiovascular.
Um casal de adolescentes traz seu filho de 6 meses à
C) Os índices de lesão orgânica subclínica refletem
Unidade de Saúde, preocupado se seu desenvolvimen-
menor risco de doença cardiovascular em adultos e
to está se dando de forma normal. O lactente nasceu
estão relacionados a aumento de IMC em crianças.
a termo e está em aleitamento materno exclusivo. Ao
examiná-lo, o médico orienta o casal em relação à aqui- D) A resistência insulínica associada à obesidade na
sição de novas habilidades pelo bebê. Aos 6 meses, o infância não exerce influência na fisiopatologia da
que se espera que um lactente com desenvolvimento síndrome metabólica e do diabetes melito tipo 2
normal seja capaz de fazer?
A) Arrastar-se e dar “”tchau””.
B) Engatinhar e bater palmas.
C) Ficar em pé com apoio e falar ao menos 1 palavra
com sentido.
D) Segurar um objeto com as duas mãos, levá-lo à boca
e rolar no leito
18 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 45 QUESTÃO 46
Paciente lactente de 1 ano e dois meses foi levado ao Criança de 1 ano e 4 meses vai iniciar atividades es-
ambulatório de Puericultura com quadro de lesões colares e a creche solicitou à mãe que levasse o cartão
papulares eritematosas pruriginosas e vesículas disse- de vacina, para verificação. Na avaliação, foi visto que
minadas em palmas das mãos, plantas dos pés, nos tinha as seguintes vacinas administradas até aquela
espaços interdigitais, antebraço, axilas e região glú- data: BCG e Hepatite B, 03 doses da poliomielite
tea. Mãe nega febre ou outros comemorativos e relata VIP, 02 doses da rotavírus, 03 doses da DTP+Hi-
estar apresentando quadro de prurido corporal há 3 b+HB (Penta), 02 doses da Pneumocócica 10 valen-
semanas. Nega contato do paciente com animais. De te, 02 doses da Meningocócica C (conjugada) e 01
acordo com o quadro clínico exposto, qual o diagnós- dose da Influenza. De acordo com o calendário de
tico e tratamento? vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS), quais
A) Pediculose / Ivermectina 200 mcg/kg em dose única. vacinas precisam ser administradas para que o cartão
vacinal fique atualizado?
B) Escabiose / Permetrina em loção cremosa a 1 ou
5%. A) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjugada
C) Miíase / Aplicação de vaselina sólida e retirada reforço; Meningocócica C conjugada reforço; Trí-
com pinça. plice Viral 1a dose; DTP 1o reforço; Poliomielite
1o reforço (VOP); Hepatite A 1 dose; Tetra viral
D) Larva migrans / Tiabendazol a 5%, 2x/dia, por (Tríplice Viral 2a dose + Varicela); Influenza 2a
2 semanas dose.
B) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjugada
3a dose e reforço; Meningocócica C conjugada 3a
dose e reforço; Tríplice Viral 1a dose; Pentavalente
1o reforço; Poliomielite 2o reforço (VOP); Hepa-
tite A 1 dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose +
Varicela); Influenza 2a dose.
C) Febre Amarela 1a dose e 2a dose; Pneumocócica
conjugada 3a dose; Meningocócica C conjugada 3a
dose; Tríplice Viral 1a dose; Pentavalente 1o refor-
ço; Poliomielite 1o reforço (VOP); Hepatite A 1
dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose + Varicela);
Influenza 3a dose.
D) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjugada
reforço; Meningocócica C conjugada reforço; Trí-
plice Viral 1a dose e 2a dose; DTP 1o reforço; Po-
liomielite 1o reforço (VOP); Hepatite A 1a dose e
2a dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose + Varice-
la); Influenza 3a dose.
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QUESTÃO 47 QUESTÃO 48
O Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de Mãe trouxe para avaliação no posto de saúde um lac-
2 anos trouxe uma atualização de Dez passos para Doze tente com 6 meses de idade, que apresentava, há 3 dias,
Passos para uma Alimentação Saudável, ampliando a im- febre, tosse seca, prostração intensa. Evoluiu com exan-
portância do conhecimento na manutenção da alimen- tema inicialmente na face que se estendeu pelo tronco
tação saudável no lactente. Qual recomendação é dada e membros, coriza abundante e hialina e os olhos hi-
pelo Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de peremiados. Na orofaringe apresentava-se hiperemiada
2 anos acerca da oferta da alimentação infantil? com manchas brancoazuladas e pequenas. Mãe relata
A) Não deve ser oferecido açúcar nem preparações ou que um tio havia chegado de viagem e estava com sin-
produtos que contenham açúcar à criança até 2 tomas semelhantes com suspeita de sarampo. Como
anos de idade. devemos proceder quanto ao bloqueio vacinal?
B) Podem ser oferecidos à criança menor de 2 anos, A) Caracterizando situação de surto, os contactantes
alimentos preparados em casa com pequenas quan- gestantes e crianças abaixo dos 6 meses de idade
tidades de açúcar. também devem ser vacinados.
C) Produtos ultraprocessados que não contenham B) A aplicação da vacina deve ser realizada no prazo
açúcar em suas preparações, podem ser oferecidos máximo de 5 dias, nos contactantes, apenas no caso
a partir de 1 ano de idade. confirmado de sarampo.
D) Para uma alimentação variada, oferecer à criança, C) Contatos com idade a partir dos 3 meses até 11
além de água própria para o consumo, sucos e ou- meses e 29 dias devem receber uma dose da vacina
tras bebidas açucaradas. tríplice viral válida para a rotina de vacinação.
D) A vacinação de bloqueio deve ser realizada no prazo
máximo de até 72 horas após o contato com o caso
suspeito ou confirmado de sarampo.

QUESTÃO 49
Um rapaz de 16 anos que vive numa favela com precá-
rias condições, sem instalações sanitárias, é atendido na
Unidade Básica de Saúde. Seus pais relatam um episódio
de crise convulsiva sem outros sintomas. Negam casos de
epilepsia na família. Qual das opções abaixo apresenta o
diagnóstico mais provável é compatível com esse caso?
A) Neurocisticercose.
B) Abcesso cerebral.
C) Encefalite aguda.
D) Meningite bacteriana
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QUESTÃO 50 QUESTÃO 52
Uma criança de três anos de idade vem ao ambulatório A apresentação clínica do Covid-19 em criança guarda
com relato materno de que nos últimos 12 meses teve algumas peculiaridades que a diferenciam do quadro
seis infecções respiratórias, sendo que em vários destes clínico dos adultos. Assinale abaixo a opção que apre-
episódios fez uso de antibióticos com resposta satisfató- senta uma situação comum nos quadros suspeitos de
ria. Ao examinar a criança, o médico constata boa evo- Covid-19 em crianças.
lução do desenvolvimento pondero estatural e ausência A) A febre sempre está presente e dura apenas 2 dias.
de anormalidades no exame físico. Qual a interpretação
adequada para o problema que essa criança apresenta? B) Diarreia intensa acompanha praticamente todos
os casos.
A) Infecções respiratórias de repetição na infância, em sua C) A febre sempre está presente e ausência de sinto-
maioria, estão associadas a falhas na resposta imunológica. mas gastrointestinais.
B) São identificados como fatores de risco: ambiente D) A febre pode estar ausente e sintomas gastrointesti-
de creche, número de irmãos, poluição ambiental e nais podem estar presentes
tabagismo passivo.
C) Infecções respiratórias de repetição na infância re-
fletem imaturidade imunológica e maior exposição QUESTÃO 53
a microrganismos infecciosos durante os primeiros Na etapa inicial da anamnese do adolescente, com a
anos de vida. presença dos pais ou responsáveis, devem ser aborda-
D) Deve-se prosseguir investigação de doenças de base, dos o motivo da consulta e informações sobre história
seja de natureza aspirativa, doença cardíaca congê- pregressa e imunizações. A seguir, é importante pedir
nita, distúrbio neuromuscular, imunodeficiência licença aos pais para conversar a sós com o jovem.
ou malformação pulmonar. Alguns instrumentos possibilitam a triagem de situ-
ações de risco nessa faixa etária. Quais as situações
que devem ser rotineiramente pesquisadas atualmen-
QUESTÃO 51 te, possíveis de avaliação através desses instrumentos
Uma menina de 6 anos é trazida à Unidade Básica de padronizados de triagem?
Saúde com tosse persistente e cansaço há 48 horas e A) Uso de substâncias psicoativas, orientação sexual
febre há 24 horas. Os pais referem que é o terceiro epi- e delinquência.
sódio este ano. Fez uso de nebulizações com 2 gotas de B) Uso e abuso de meios eletrônicos, ações violentas e
salbutamol, xarope para tosse e amoxicilina, repetindo mau desempenho escolar.
receita anterior. Pais com sintomas compatíveis com
Rinite Alérgica. Qual o diagnóstico dessa paciente? C) Envolvimento em ações violentas, preferências se-
A) Sinusite Aguda. xuais e mau desempenho escolar.
D) Uso de substâncias psicoativas, uso e abuso de
B) Asma intermitente. meios eletrônicos e internet e depressão
C) Bronquite catarral aguda.
D) Amigdalites de repetição.
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QUESTÃO 54 QUESTÃO 56
Uma criança de três meses de idade, em aleitamento Uma criança de sete anos de idade chega à sala de emer-
materno exclusivo, apresenta história de sangramento gência com história de infecção intestinal há 2 sema-
intestinal de pequena monta e diarreia com muco e nas, e que após a melhora clínica passou a apresentar
sangue, estado geral satisfatório e ganho de peso ade- fraqueza muscular em ambos os membros inferiores
quado. De modo intermitente também apresenta có- acompanhados de dor e parestesia bem como de di-
lica intestinal, irritabilidade e choro excessivo. Qual a ficuldades de deglutição e constipação intestinal. Os
principal hipótese diagnóstica? reflexos tendinosos estavam ausentes. Qual a hipótese
A) Gastroenteropatia eosinofílica. diagnóstica mais provável?
B) Proctite ou proctocolite alérgica. A) Esclerose múltipla.
C) Enteropatia induzida por proteínas alimentares. B) Encefalite herpética.
D) Síndrome da enterocolite induzida por proteína ali- C) Polirradiculoneurite aguda.
mentar (FPIES). D) Encefalomielite disseminada aguda.

QUESTÃO 55 QUESTÃO 57
Uma criança de cinco anos de idade chega ao ambula- Na Atenção Básica de Saúde você atende uma puérpera
tório por apresentar dor óssea em membros inferiores, amamentando seu filho de 45 dias de vida. Ela informa
dificultando a deambulação e sem ceder facilmente aos suas dúvidas acerca do bem estar do filho por causa do
analgésicos habituais. Também apresenta dor toraco- ritmo de mamadas, do sono e do ganho de peso dele.
lombar e astenia. Ao exame físico, é identificado febre Qual a alternativa correta em relação a tais aspectos?
e hepatomegalia, esplenomegalia e linfonodomegalias
generalizadas. Qual a principal hipótese diagnóstica? A) Se a mãe estiver acima do peso é recomendável ini-
ciar dieta para emagrecimento e aumentar a ingesta
A) Leucemia linfoide aguda. de líquidos.
B) Leucemia mieloide aguda. B) Se o bebê dorme bem, está ganhando peso (curva
C) Mononucleose infecciosa. de crescimento revela percentil 15, a quantidade de
D) Artrite reumatoide juvenil. leite deve estar sendo suficiente para ele.
C) Essa puérpera deveria ter uma alimentação saudá-
vel, tomar líquidos em quantidade suficiente para
saciar a sede e incluir alimentos hipercalóricos.
D) Se após a mamada, a mãe percebe que o bebê
está satisfeito, mas ela ainda tem muito leite, de-
veria continuar oferecendo a mama até sentir que
elas esvaziaram.
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QUESTÃO 58 QUESTÃO 60
No ambulatório, uma criança de 30 meses de idade Uma criança de 3 anos de idade chega ao ambulatório
apresenta alterações compatíveis com Transtorno do com relatos dos pais de que há cerca de três dias vem
Espectro Autista. Qual dos critérios abaixo certamente apresentando sintomas como como enurese, urgência
foram considerados como os mais importantes na defi- urinária, polaciúria, disúria, incontinência urinária
nição da hipótese diagnóstica com urina fétida e turva. Qual o diagnóstico ao qual
A) Capacidade limitada para fazer amizade com seus esses sintomas podem estar relacionados?
pares assim como algum prejuízo na capacidade de A) Cistite aguda.
iniciar ou manter uma conversação. B) Pielonefrite aguda.
B) Prejuízo limitado na espontaneidade de compar- C) Presença de ureter ectópico.
tilhar prazer, interesses ou realizações com outras D) Balanopostites e vulvovaginites
pessoas (p.ex., não mostrar, trazer ou apontar obje-
tos de interesse).
C) Prejuízo acentuado no uso de múltiplos comporta-
mentos não verbais, como contato visual direto, ex-
pressão facial, postura corporal e gestos para regular
a interação social.
D) Prejuízo limitado na atividade imaginativa, como
representação de papéis de adultos, personagens de
fantasia ou animais; falta de interesse em histórias
sobre acontecimentos imaginários

QUESTÃO 59
Os pais de uma criança de seis anos de idade vêm ao am-
bulatório com queixas de que a criança está com posturas
desafiadoras; recusa em aceitar ordens ou solicitações de
adultos, com os quais discute com frequência; e tendendo
a responsabilizar os outros pelos seus atos. Esses sintomas
ocorrem em casa e em outros espaços sociais. Diante desse
relato, qual a principal hipótese diagnóstica?
A) Transtorno de conduta.
B) Transtorno explosivo intermitente.
C) Transtorno de oposição desafiante.
D) Transtorno da personalidade antissocial.
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QUESTÃO 61 QUESTÃO 62
Correlacione a Tabela A, com Princípios e Diretrizes do Correlacione a Tabela A, com os Atributos Nucleares
SUS, e a Tabela B, que traz situações típicas da atuação da Atenção Primária, e a Tabela B,
médica na Atenção Primária. com exemplos de situações vivenciadas pelo médico na
Tabela A; (I) Longitudinalidade; (II) Hierarquização; Atenção Primária.
(III) Territorialização; (IV) Equidade. Tabela A;
Tabela B; (I) Acesso/Atenção ao primeiro contato;
( ) O médico da Atenção Primária recebe pacien- (II) Coordenação;
te contrarreferenciado da Atenção Terciária, após alta
hospitalar, constando relatório para o seguimento do (III) Longitudinalidade;
cuidado do paciente na Atenção Básica. (IV) Integralidade/Cuidado Abrangente;
( ) A Visita Domiciliar é uma ferramenta utilizada na Tabela B;
Atenção Primária para garantir atendimento a pacien-
( ) O médico acompanha suas famílias adscritas du-
tes na área adscrita que não podem se deslocar para a
rante todos os ciclos de vida daquela família: desde a
Unidade de Saúde.
chegada de um novo membro através do nascimento,
( ) O médico da Atenção Primária percebe que mui- até as crises decorrentes do falecimento de familiares.
tas famílias de uma mesma microárea apresentam qua-
( ) Durante um caso clínico complexo na APS, o mé-
dro de diarreia aguda nas temporadas de chuvas. Du-
dico referencia o paciente para ambulatório
rante a reunião ordinária de equipe, coleta informações
com sua Agente de Saúde sobre o saneamento e acesso especializado. Após dois meses, o paciente retorna com
a água tratada da microárea. a contrarreferência do especialista
( ) Durante o turno de HiperDia de sua ESF, o mé- focal trazendo o plano terapêutico e a programação dos
dico se depara com um paciente com quadro clínico futuros atendimentos no ambulatório
complexo, com multimorbidade e resposta inadequada de especialidades.
às propostas terapêuticas instituídas. Após afastar má-
-adesão, decide por encaminhar o paciente para ambu- ( ) O atendimento clínico na APS contempla o pa-
latório especializado. ciente com suas multimorbidades e a experiência sub-
jetiva do paciente em relação ao seu adoecimento.
Assinale a opção que traz a correlação correta, de cima
para baixo. ( ) Durante a reunião ordinária de equipe, é pactua-
do que sejam garantidas vagas de demanda espontânea
A) I; IV; II; III mesmo nos turnos de demanda programada. A inten-
B) I; IV; III; II ção é organizar a dinâmica da UAPS de forma a garan-
C) II; I; III; IV tir atendimento de casos agudos.
D) II; I; IV; III Assinale a alternativa que traz a ordem correta, de cima
para baixo.
A) II; III; I; IV
B) II; III; IV; I
C) III; II; I; IV
D) III; II; IV; I
24 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 63 QUESTÃO 64
A Participação da Comunidade é uma das Diretrizes do A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi for-
SUS. A Lei N° 8142, de 28 de mulada pela primeira vez em
dezembro de 1990, dispôs sobre a participação da co- 2006, sendo considerada um marco histórico na Aten-
munidade. Sobre Conselhos e ção Primária à Saúde no Brasil.
Conferências de Saúde, assinale a alternativa correta. Assinale a alternativa que contempla o principal objeti-
A) Os Conselhos e Conferências de Saúde terão sua vo da PNAB de 2006.
organização e normas definidas pelo Poder Legisla- A) Consolidar e qualificar a Estratégia Saúde da Famí-
tivo e autorizadas pelo Poder Executivo. lia (ESF) como modelo de atenção básica à saúde
B) Os Conselhos de Saúde têm poder consultivo e de e centro ordenador das redes de atenção à saúde
vistas em relação à prestação de contas. Quaisquer no SUS.
vetos em relação a prestações de conta implicam a B) Firmar compromisso entre os gestores do SUS, em
dissolução do Conselho e a formação de um novo, torno de prioridades básicas que apresentam impac-
de modo que as contas possam ser aprovadas. to sobre a situação de saúde da população brasileira.
C) Os Conselhos e Conferências de Saúde são forma- C) Garantir a universalidade do direito à atenção básica à
dos por representantes de entidades e dos movi- saúde, oficializado na Constituição Federal de 1988, e
mentos sociais dos usuários do SUS, de entidades com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
de profissionais de saúde, do governo, de entidades D) Promover reformas institucionais, com pacto en-
de prestadores de serviços de saúde, do CONASS, tre as três esferas (União, Estados e Municípios),
do CONASEMS e de entidades empresariais com para inovar processos e instrumentos de gestão da
atividade na área da saúde. Todos esses membros atenção básica à saúde e alcançar maior eficiência e
em mesma proporção. qualidade no SUS.
D) Conferência de Saúde é instância colegiada que se
reúne a cada quatro anos, com a representação dos
vários segmentos sociais, para avaliar a situação de
saúde e propor as diretrizes para a formulação da
política de saúde nos níveis correspondentes
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QUESTÃO 65 QUESTÃO 66
Os conceitos de Território e Territorialização estão in- Durante seu atendimento na demanda espontânea em
timamente relacionados às Diretrizes Organizacionais uma UBS, você atende Dona
do SUS, tais como Hierarquização e Descentralização, Marta, de 52 anos. Dona Marta vem com queixa de
sendo também uma das Diretrizes da Atenção Básica. “”angústia”” e traz o seguinte relato:
Assinale a alternativa que traz um conceito de território
e um exemplo prático. “”Doutor, desde agosto de 2019, quando minha filha ter-
minou o namoro com um rapaz, eu não consigo superar o
A) Território-Distrito: Um paciente grave é atendi- fim do relacionamento dela, porque ela perdeu a virginda-
do no setor de urgência de um hospital munici- de com esse rapaz. Doutor, eu durmo e acordo pensando
pal de baixa complexidade e, após estabilização, é nisso, eu não consigo tirar esse problema da minha cabe-
transferido para um hospital de referência de ou- ça. Eu já perdi 7 quilos, desde o fim desse relacionamento
tro município. deles dois. Eu reconheço que isso é ridículo, que não faz
B) Território-Área: Durante uma reunião de uma equi- sentido, que não me faz bem, mas eu não consigo nem
pe de saúde da família em uma UBS, uma agente mais ter relação com meu marido desde então. Eu não
comunitária traz a demanda de realizar uma ativi- consigo tirar esses pensamentos da cabeça. Eu cheguei ao
dade de educação em saúde com famílias acompa- ponto de escrever cartas sobre como a vida dele e da mi-
nhadas por ela, pois há um surto de escabiose em nha filha poderia ser. Eu só consigo melhorar essa angústia
uma determinada rua. se eu escrever. Eu já escrevi mais de 30 cartas.”
C) Território-Microárea: Um médico programa uma Considerando o relato de Dona Marta, assinale a alter-
visita domiciliar, para avaliar um caso de um pa- nativa com hipótese diagnóstica mais provável.
ciente que abandonou o tratamento para Tuber-
culose Pulmonar por diversas vezes, para entender A) Fobia Social.
fatores que possam estar impactando na adesão B) Transtorno Esquizoafetivo.
ao tratamento. C) Transtorno Obsessivo Compulsivo.
D) Território-Moradia: Durante a quadra chuvosa, D) Transtorno de Ansiedade Generalizada.
médicos de uma UBS realizam atendimentos de de-
manda espontânea de pacientes de todas as equipes
da estratégia saúde da família da unidade.
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QUESTÃO 67 QUESTÃO 68
Considere o texto abaixo para responder à questão. “As Durante sua primeira semana de atendimento em sua
mulheres são atingidas pela violência interpessoal de Unidade de Saúde, você participa de uma reunião de
modo singular, na maioria das vezes, por parceiros ínti- equipe envolvendo todas as equipes e gestores. Dentre os
mos ou familiares, envolvendo agressões físicas, sexuais pontos de fragilidade que são trazidos pela gestão, você
e também danos psíquicos. [...] [...] Estudos nacionais percebe que não constam pacientes com Hanseníase nas
e internacionais apontam entre os usuais fatores asso- microáreas das suas Agentes Comunitárias de Saúde.
ciados à violência por parceiro íntimo o consumo de Posteriormente, em uma reunião somente com sua equi-
substâncias psicoativas. [...] Adicionalmente relevante pe (enfermeira e agentes comunitários de saúde), você
se torna o consumo de medicamentos, realizado espe- decide reabordar a temática, trazendo algumas sugestões
cialmente por mulheres, e sua relação com os episó- para a Investigação Epidemiológica para o diagnóstico
dios de violência entre parceiros íntimos, o que pode precoce de casos. Assinale a alternativa que contempla
ser considerado um novo desafio para os profissionais um componente da Investigação Epidemiológica.
de saúde, [...] devido ao risco de corroborar para uma A) Busca ativa de todos os casos do território, incluin-
medicalização excessiva. Na América Latina, [...] o uso do antigos e novos casos.
de álcool pelo parceiro íntimo se insere entre as demais
características apresentadas pelas mulheres agredidas, a B) Vigilância de contatos somente de pacientes de
saber: coabitação com o parceiro sem casamento for- classe operacional Multibacilar.
mal; muitos filhos; não compartilhamento da tomada C) Vigilância de contatos de pacientes independen-
de decisão; disparidade no nível de instrução. Assim, o temente de classe operacional: seja Paucibacilar
consumo de álcool, especificamente, está incluído en- ou Multibacilar.
tre os riscos para a violência doméstica, principalmente D) Realização de atendimento com exame dermato-
se o padrão de consumo for elevado. [...].” SILVA, Va- neurológico para dermatoses e/ou neuropatias pe-
léria Nanci. “Violência e uso de substância psicoativas: riféricas de todos os moradores da microárea.
um estudo com mulheres usuárias de um serviço de
Atenção Primária à Saúde de São Paulo / Valéria Nanci
Silva. – São Paulo, 2008.
O texto faz referência a que fenômeno observado na
saúde pública?
A) Carga de doença.
B) Cascata de prescrição.
C) Determinantes Sociais de Saúde.
D) Barreiras geográficas da Atenção Primária.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 27

QUESTÃO 69 QUESTÃO 70
Durante seu acompanhamento com Edmilson, você Em uma de suas consultas com Edmilson, ele pergunta
nota que a baciloscopia antes de reiniciar a RHZE foi se pode conversar sobre outro problema. Considerando
positiva (3+), que a baciloscopia com 15 dias após rei- o cuidado integral, você explora essa nova demanda.
nício de tratamento persistiu positiva (1+), mas que ele Edmilson relata que namora Iraneide há três meses, e
ficou assintomático. A baciloscopia realizada após o estava tudo bem, porém sua exnamorada o procurou
primeiro mês de tratamento permaneceu positiva (1+). há 1 semana, e ele acabou se relacionando sexualmente
Em sua consulta, ao término do segundo mês de trata- com a mesma. Desde então, evoluiu com corrimento
mento, você atende Edmilson, que está assintomático e uretral. Relata ainda que nesse período, não teve relação
com baciloscopia negativa. Assinale a alternativa corre- sexual com Iraneide. Você orienta quanto ao diagnósti-
ta em relação ao seguimento clínico. co e riscos e Edmilson indaga sobre o tratamento. As-
A) Considerando a persistência de baciloscopia posi- sinale a alternativa com a opção terapêutica adequada.
tiva até o término do primeiro mês de tratamento, A) Aciclovir 200mg, 2 comprimidos, VO, 3x/dia por
estender a fase de ataque (RHZE) por um terceiro 7 dias.
mês e solicitar baciloscopias quinzenais.
B) Doxiciclina 100mg, VO, 1 comprimido, 2x/dia,
B) Considerando que o paciente evoluiu assintomáti- por 21 dias.
co e a baciloscopia está negativa, iniciar a fase de
manutenção (RH) por quatro meses e solicitar ba- C) Ceftriaxona 500mg, IM, dose única + Azitromicina
ciloscopia de escarro em periodicidade mensal. 500mg, 02 comprimidos, VO, dose única.
C) Considerando que o paciente evoluiu assintomáti- D) Ceftriaxona 500mg, IM, dose única + Doxiciclina
co e a baciloscopia está negativa, mas que o pacien- 100mg, VO, 2x/dia, por 14 dias + Metronidazol
te tem histórico de abandono de tratamento prévio, 250mg, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 14 dias.
estender a fase de ataque (RHZE) por um terceiro
mês e solicitar baciloscopia mensal.
D) Considerando que o paciente evoluiu assintomáti-
co e a baciloscopia está negativa, mas que o pacien-
te tem histórico de abandono de tratamento prévio,
estender a fase de manutenção (RH) por três meses
adicionais, totalizando sete meses de fase RH.
28 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 71

Em seu atendimento com Vanessa, com a finalidade de o relato da Vanessa trouxe as mesmas informações pre-
estabelecer um vínculo com uma paciente com contex- viamente já passadas pelo Dr. Marcos Júlio, assinale a
to familiar e social tão complexo, você resolve confec- alternativa que traz uma informação não contemplada
cionar um Genograma de Vanessa. Considerando que pelo Genograma ilustrado na Figura 1.

A) Histórico obstétrico de Vanessa.


B) Relação conflituosa entre Vanessa e seus pais.
C) Relação conflituosa entre Vanessa e Ubiratan.
D) Histórico familiar de AVCs na família de Vanessa.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 29

QUESTÃO 72 QUESTÃO 74
A revisão do prontuário de atendimentos prévios da Após você realizar as orientações de redução de risco,
Vanessa mostra que exames de pesquisa de anticoagu- quanto ao fumo, durante o aleitamento, você explora as
lante lúpico e anticorpo anticardiolipina foram solici- motivações de Vanessa de planejar voltar a fumar após
tados duas vezes, em intervalo maior que 12 semanas, o término da gravidez. Vanessa informa que fuma “para
com resultados persistentemente elevados. A partir das fazer companhia ao Edberto”. Após identificar Edberto
informações coletadas, assinale a alternativa com risco como um personagem chave para abordar o tabagismo
gestacional de Vanessa. de Vanessa, você agenda uma consulta para Edberto.
A) Alto risco. Durante a consulta com Edberto, através da entrevis-
ta motivacional, você identifica que ele se encontra no
B) Risco habitual. estágio Contemplativo. Qual abordagem, a partir da
C) Risco habitual com vulnerabilidades. entrevista motivacional, é a mais adequada nesse caso?
D) Não há informações suficientes para classificar o A) Tirar dúvidas e ajudar na escolha de melhor estraté-
risco gestacional. gia em busca da mudança.
B) Ajudar a perceber gatilhos para prevenir recaí-
QUESTÃO 73 das. Construir estratégias para enfrentar eventu-
ais gatilhos.
Durante a consulta de pré-natal, Vanessa informa que
fuma tabaco, ocasionalmente, e que pretende parar de C) Levantar dúvidas sobre sintomas e queixas do pa-
fumar durante a gestação, mas que vai voltar a fumar ciente sobre possível relação com tabagismo e au-
após o nascimento da criança. Considerando a redução mentar a percepção sobre riscos do hábito.
de riscos, como orientar uma mulher que amamenta e D) Desfazer a postura de ambivalência, inclinando a
que faz uso de tabaco? balança ao evocar riscos de não mudar e numerar
motivos para mudar. Fortalecer a autossuficiência.
A) Realizar abordagem cognitivo comportamental
básica e orientar a reduzir o consumo o máximo
possível. Se não for possível a cessação do tabagis-
mo por completo, orientar procurar fumar pouco
tempo antes da amamentação, para que o leite pro-
duzido não tenha vestígios de nicotina.
B) Realizar abordagem cognitivo comportamental
básica e orientar a reduzir o consumo o máximo
possível. Se não for possível a cessação do tabagis-
mo por completo, orientar procurar fumar após a
amamentação e não fumar no mesmo ambiente em
que a criança se encontra.
C) Informar que o tabagismo é contraindicação abso-
luta para a amamentação e, considerando a redução
de riscos, orientar a oferta de leite artificial.
D) Realizar abordagem cognitivo comportamental bá-
sica e contraindicar amamentação até que paciente
cesse completamente o tabagismo.
30 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 75 QUESTÃO 76
Em sua consulta com Edberto, ele refere que o medo A abordagem adequada frente à demanda, ilustra-
de desenvolver câncer de pulmão é uma das razões que da na questão anterior, de Edberto quanto a exames
o motiva a parar de fumar. Ele, então, pergunta se você de rastreio de câncer de pulmão configura que nível
pode solicitar algum exame de rastreio para câncer de de Prevenção?
pulmão nele. De acordo com recomendações nacionais A) Primária.
para o rastreio do câncer de pulmão, assinale a alterna-
tiva com a conduta adequada. B) Secundária.
C) Terciária.
A) Informar que até o momento não existe diretriz na-
cional governamental para o rastreamento de cân- D) Quaternária.
cer de pulmão, além de ele não ter indicação de
realizar o exame. QUESTÃO 77
B) Solicitar exame de radiografia simples de tórax para
Durante o exame físico de Edberto, você aferiu PA
acolher a demanda do paciente e avaliar seu risco de
= 162x114mmHg, IMC = 38kg/m² , circunferência
câncer de pulmão, sem recorrer a um exame onero-
abdominal = 110cm e glicemia capilar em jejum =
so e complexo.
158mg/dl. A ausculta cardíaca evidenciou frequência
C) Solicitar exame de tomografia de tórax de bai- cardíaca de repouso de 120bpm, ictus deslocado para o
xa energia para acolher a demanda do paciente e 6º espaço intercostal e com caráter propulsivo. Edberto
condicionar a solicitação do exame à cessação do ficou surpreso com o valor de sua pressão arterial, refe-
tabagismo de Edberto, ajudando na motivação da rindo que, apesar de não lembrar quando fora a última
parada do tabagismo. vez que teve a pressão arterial aferida, nunca havia che-
D) Informar que a diretriz ministerial brasileira prevê gado a esse nível pressórico. Ele, então, pergunta qual
que a tomografia de tórax de baixa energia está indi- significado clínico desse valor. Assinale a alternativa
cada no rastreamento de câncer de pulmão somente com a conduta correta.
na população considerada de alto risco: idade entre
A) Orientar que essa aferição isolada não implica diag-
50 e 80 anos e carga tabágica de pelo menos 30
nóstico de HAS, mas, em próximo atendimento,
maços-ano.
caso nível pressórico esteja maior que 140x90, será
dado o diagnóstico de HAS.
B) Orientar que essa aferição isolada não implica diag-
nóstico de HAS. Solicitar diário pressórico (MRPA)
para diagnóstico de HAS em próximo atendimento.
C) Diagnosticar e comunicar evento de Emergência
hipertensiva e encaminhar a serviço de Urgência e
Emergência para controle parenteral.
D) Informar que mesmo com somente essa aferição
isolada, considerando dados clínicos, o paciente
tem diagnóstico de HAS em medição única.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 31

QUESTÃO 78 QUESTÃO 79
Ainda na consulta de Edberto, foi verificada glicemia capi- Em um turno de demanda programada na Unidade,
lar em jejum de 158 mg/dl, e o mesmo questiona o signi- Vanusa, irmã de Vanessa, traz dona Benzarina para
ficado clínico desse achado. Corretamente, você responde atendimento. A consulta é para mostrar exames so-
que a glicemia capilar ainda não está validada para diag- licitados há seis meses. O registro no prontuário traz
nóstico, mas a glicemia capilar alterada sugere alteração “síndrome demencial com predominância de disfun-
no exame de glicemia sérica plasmática. Vendo que não ção executiva, sintomas neurológicos focais, síndrome
constam exames prévios no prontuário de Edberto, você, pseudobulbar e início precoce de alteração de marcha”.
então, solicita exames laboratoriais para avaliação meta- A ressonância nuclear magnética de crânio evidencia
bólica e agenda o retorno. Após um mês, Edberto retorna acometimento extenso de substância branca, no giro
com os exames complementares, que trazem glicemia de do cíngulo, no lobo temporal medial e no tálamo. As-
jejum de 160 mg/dl, HbA1c = 8,0%, Colesterol Total = sinale a alternativa com o diagnóstico mais provável.
270 mg/dl, HDL = 30 mg/dl, Triglicerídeos séricos = 300 A) Demência vascular.
mg/dl. Não havia alterações em eletrólitos, nem alterações
sugestivas de nefropatia diabética ou doença coronariana B) Demência de Alzheimer.
isquêmica. Assinale a alternativa que contempla a opção C) Demência frontotemporal (DFT).
terapêutica adequada quanto à hiperglicemia. D) Demência por corpúsculo de Lewy.
A) Orientar mudanças de estilo de vida (MEVs) e re-
torno em seis meses com os mesmos exames labora- QUESTÃO 80
toriais para nova avaliação.
Após o atendimento de dona Benzarina, Vanusa per-
B) Introduzir Metformina associada a MEVs. A asso-
gunta se você poderia fazer “uma consulta rapidinha”
ciação de um segundo antidiabético pode ser consi-
dela. Por Vanusa ser a cuidadora principal de sua mãe,
derada e pactuada individualmente.
quase não podendo vir à UAPS, e pela própria história
C) Iniciar a Insulinoterapia plena para o controle gli- clínica de AVC precoce de Vanusa, você acolhe a solici-
cêmico precoce de imediato. Depois, descalonar tação dela. Vanusa vem com queixa de sangramento re-
para terapia oral associada a MEVs. gular, mas intenso, desde menarca, que se intensificou
D) Iniciar terapia farmacológica em esquema de Insu- nos últimos 10 anos e passou a ser irregular.
linoterapia Basal Plus: (Insulinoterapia Basal + In-
Consultando o prontuário, você vê que a USG pélvi-
sulinoterapia Prandial + Hipoglicemiantes orais).
ca transvaginal realizada há seis meses não evidenciou
nenhuma alteração estrutural. Você realiza exame gine-
cológico, sem evidenciar nenhuma lesão vaginal e sem
nenhuma alteração em exame especular. Qual opção
terapêutica seria adequada para a queixa de sangramen-
to uterino de Vanusa?
A) Anticoncepcional oral combinado.
B) Dispositivo intrauterino (DIU) de cobre.
C) Dispositivo intrauterino com sistema de liberação
prolongada de levonorgestrel.
D) Encaminhamento para ambulatório de ginecologia
para programação de histerectomia eletiva.
32 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 81 QUESTÃO 82
Gestante, de 29 anos, com 34 semanas de idade gesta- Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
cional, comparece à emergência preocupada por achar definem cuidado pré- concepcional como “um conjun-
estar com Covid-19, referindo adinamia, congestão na- to de intervenções que visam identificar e modificar ris-
sal e dispneia leve, principalmente ao deitar. Seu exame cos biomédicos, comportamentais e sociais para a saú-
mostrou saturação de oxigênio de 96% em ar ambien- de ou o resultado da gestação por meio de intervenções
te, frequência respiratória de 23 irpm, temperatura axi- profiláticas e terapêuticas ” (Johnson, 2006). Dentre
lar de 37,2 °C e ausculta pulmonar com murmúrios ve- os cuidados prestados durante o pré-natal destacam-se
siculares diminuídos nas bases bilateralmente. Marque o rastreio para a Diabetes Mellitus e a profilaxia desta
o item que contém sua hipótese diagnóstica e conduta. patologia. Desta maneira, é correto afirmar:
A) Síndrome gripal. Internamento hospitalar, monito- A) Estabelecer o diagnóstico do Diabetes Mellitus
rização e tratamento clínico até resultado de exames Gestacional (DMG) oferece a oportunidade de
confirmatórios de Covid-19. melhorar o prognóstico da gravidez, mas não reduz
B) Gestação fisiológica. Orientações a respeito de uso os fatores de risco associados ao desenvolvimento
de máscara, distanciamento social e sintomas de subsequente do diabetes tipo 2.
alarme para doença respiratória. B) O diabetes pré-gestacional merece ser identificado
C) Síndrome gripal. Coleta de secreções respiratórias na 1a consulta pré-natal, pois compromete a mãe e
para PCR-RT de covid-19 e liberação para isola- o feto. Mulheres diabéticas que desejam engravidar,
mento em domicílio usando oseltamivir. devem ser avaliadas apenas se apresentarem história
D) Síndrome respiratória aguda grave. Internamento de mal passado obstétrico.
para monitorização e interrupção da gestação por C) Grávidas de alto risco para diabetes que apresentam
cesárea, após corticoide para maturação pulmonar. no 1o trimestre valor da HbA1c ≥ 6% têm reduzi-
do valor preditivo para Diabetes Mellitus Gestacio-
nal. Mulheres com diabetes tipo 1 que pretendam
engravidar devem passar por avaliação da tireoide
pela determinação do TSH e do anticorpo anti-ti-
reoperoxidase (anti-TPO).
D) Toda mulher com Diabetes Mellitus Gestacional
(DMG) deve ser rastreada entre 6 e 12 semanas
após o parto pelo TOTG-75 g de 2h. Diabéticas
que planejam a gravidez, devem ser aconselhadas
a utilizar suplementação com ácido fólico 3 meses
antes da concepção e por 12 semanas depois, para
prevenir os defeitos do tubo neural (DTN).
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 33

QUESTÃO 83 QUESTÃO 84
A residente B.M.W. chega ao plantão obstétrico em hos- Paciente, 23 anos, G1P0A0, em seguimento pré-natal
pital terciário recebendo de seu colega médico, em pas- na Unidade Básica de Saúde, mostra-se preocupada acer-
sagem de plantão, a história da paciente N.A.S.A., 16 ca da dor durante o trabalho de parto e as formas mais
anos, primigesta com idade gestacional de 34 semanas, adequadas de seu alívio e aborda seu prenatalista sobre a
apresentando quadro de elevação dos níveis pressóricos, maneira mais indicada de se conduzir diante desta situa-
PA: 160x100mmhg, Ausculta Fetal com BCF: 180bpm, ção. Identifique a melhor orientação a ser dada.
dinâmica uterina ausente, em uso de sonda vesical de A) A pré-hidratação, acesso venoso periférico e manu-
demora, sem apresentar diurese nas últimas 3 horas tenção de decúbito lateral são obrigatórios durante
No momento da passagem do caso, a paciente encontra- todo o tempo em que a paciente estiver sob analge-
va-se em uso da 2a fase de sulfato de magnésio (MgSO4), sia peridural.
iniciado no momento de sua internação, motivada pelo B) A solicitação materna por analgesia farmacológica
quadro descrito em associação com cefaleia occipital, de parto não compreende indicação suficiente para
vômitos persistentes e alterações visuais (escotomas e sua realização. Avaliação e prescrição conjunta, de
amaurose). A conduta adequada a ser tomada é: obstetra e anestesista, deve ser sempre realizada e
A) Manter a infusão de sulfato de Magnésio 50%, todos os métodos não farmacológicos devem ter
visando prevenir crises convulsivas, AVC e edema sido esgotados previamente.
agudo de pulmão. C) Os métodos não farmacológicos de alívio da dor,
B) Administrar hidralazina 5 mg, EV, para tratar o tais como imersão em água, áudio- analgesia e aro-
pico pressórico e betametazona 12 mg, IM, para materapia, devem ser oferecidos à mulher antes da
promoção da maturação pulmonar fetal. utilização de métodos farmacológicos, pois consti-
C) Confirmar a vitalidade fetal pela ultrassonografia tuem intervenções não invasivas e sem descrição de
obstétrica com doppler e resolver a gestação via va- efeitos colaterais.
ginal, através de indução com misoprostol. D) Os métodos não farmacológicos de alívio da dor tais
D) Administrar nifedipina 20 mg, via oral, para tra- como imersão em água, áudio- analgesia, aromate-
tar pico pressórico e solicitar hematócrito, hemo- rapia, injeção de água estéril, estimulação elétrica
globina, contagem de plaquetas, creatinina, TGO, transcutânea e acupuntura, devem ser sempre ofere-
LDH, TP, TTPa, fibrinogênio e relação proteína cidos à parturiente, já que se tratam de intervenções
creatinina, para avaliar lesões de órgãos alvo. não invasivas e sem descrição de efeitos colaterais.
34 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 85 QUESTÃO 86
A prematuridade permanece, nos dias atuais, como Gestante de 34 anos, G1P0A0, realizou fertilização in
sério problema perinatal, sendo responsável por cerca vitro, comparece à segunda consulta de pré-natal com
de 75% de toda a morbidade e mortalidade neonatais ultrassom revelando gestação gemelar dicoriônica no
(Blencowe et al., 2013; ACOG, 2016). Com relação ao curso da 8ª semana. Qual das afirmativas não é verda-
Trabalho de Parto Prematuro, é correto afirmar: deira em relação a esta gestação?
A) O nifedipino é o fármaco de primeira escolha para A) 70-75% das gestações gemelares são dizigóticas, sendo
inibir o parto pré-termo, por apresentar as seguin- estas dicoriônicas e diamnióticas em 100% dos casos.
tes vantagens: via oral de administração, poucos B) O seguimento pré-natal desta gestação deve ser re-
efeitos colaterais e eficácia em reduzir as complica- alizado de forma mensal, até a 28ª semana, a cada
ções neonatais. A indometacina também pode ser 2-3 semanas a partir da 28ª semana e, semanal, a
utilizada, especialmente após a 32ª semana. partir da 36ª semana.
B) O uso de tocolítico visa prolongar a gestação por 48 C) Após a prematuridade, a complicação mais frequen-
h enquanto se aguardam os efeitos benéficos do cor- te da gravidez gemelar dicoriônica é a síndrome da
ticoide e se transfere a paciente para maternidade de transfusão feto fetal (STFF), sendo importante cau-
nível terciário. A manutenção do tratamento tocolí- sa de morbimortalidade perinatal.
tico acima de 48 h, também é eficaz em prevenir o D) O rastreamento ultrassonográfico da gestação ge-
parto prematuro e melhorar o prognóstico neonatal. melar dicoriônica, se faz entre a 11ª e 14ª semana
C) O sulfato de magnésio (MgSO) utilizado para a para datação e rastreamento de cromossomopatias
neuroproteção fetal está indicado na gestação entre e entre a 20ª e 22ª semana para avaliação detalhada
23+0 e 31+6 semanas quando há risco de parto nos da anatomia fetal e comprimento do colo. Após a
próximos 7 dias. A profilaxia antibiótica intrapar- 24ª semana, realiza-se a cada 30 dias para avaliar o
to (PAI) contra estreptococo do grupo B (GBS) é crescimento, o líquido amniótico e doppler fetal.
obrigatória, a menos que a cultura vaginorretal te-
nha sido negativa nas últimas 5 semanas.
D) O corticoide é capaz não só de reduzir a incidência
de Síndrome da Angústia Respiratória (SAR) como
também de outras complicações no recém-nascido,
tais como hemorragia intraventricular, retinopatia
da prematuridade, enterocolite necrosante, persis-
tência do canal arterial e, o que é mais importante,
a taxa de mortalidade neonatal. O repouso no leito
e a hidratação de nada servem para a prevenção do
parto prematuro.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 35

QUESTÃO 87 QUESTÃO 88
A.B.S., 16 anos, G1P0A0, moradora de rua, usuária de Primigesta, de 27 anos, comparece à emergência de ma-
álcool, tabaco, maconha e crack é trazida ao pré-natal ternidade em início da fase ativa do trabalho de parto.
de adolescente pelo serviço social, para acompanha- Apresenta RT-PCR para Covid-19 positivo do dia an-
mento. Identifique a melhor opção acerca dos efeitos terior. Informa quadro gripal há 6 dias, com adinamia,
do uso de drogas durante a gestação e melhor maneira odinofagia, anosmia e febre baixa. Nega dispneia. Ao
de abordagem dos sintomas de abstinência. exame, saturação de oxigênio de 98%. Paciente solicita
A) O uso de álcool durante a gestação está associado à direito a acompanhante e apresenta plano de parto que
maior ocorrência de parto prematuro, abortamen- deseja seguir. Suas orientações, levando em considera-
to e natimortos. Uma abordagem multidisciplinar, ção a pandemia do Covid-19, são:
com enfoque no tratamento psicossocial e compor- A) A Covid-19 é indicação para alterar a via de parto,
tamental, está indicada no intuito de cessar o uso sendo o parto cesáreo a via de parto mais indicada
durante o pré-natal, não sendo necessária a intro- nesse caso. Durante a realização da cesárea, o plano
dução de tratamento medicamentoso. de parto da paciente deve ser seguido, com direito a
B) O uso de crack durante a gestação está associado à acompanhante de sua escolha, bem como clampea-
maior ocorrência de parto prematuro, abortamen- mento oportuno do cordão umbilical.
to e fetos grandes para a idade gestacional. Uma B) Não só a gestante, mas também seu recém-nascido
abordagem multidisciplinar, com enfoque no tra- e seu acompanhante deverão ser isolados, de pre-
tamento psicossocial e comportamental, está indi- ferência em um quarto de alojamento conjunto.
cada, sendo necessário o início de tratamento me- Quando sozinhos no alojamento conjunto com o
dicamentoso no intuito de cessar o uso durante a recém-nascido, o uso da máscara não se faz necessá-
gravidez. rio pela puérpera e pelo seu acompanhante.
C) O uso de tabaco durante a gestação está associado C) Privilegiar o aleitamento natural, com liberação da
à maior ocorrência de baixo peso ao nascimento, prática da amamentação, desde que medidas que
parto prematuro, descolamento prematuro de pla- garantam a proteção, tanto da mãe quanto do re-
centa, abortamento, natimortos e malformações cém-nascido, sejam seguidas. Puérperas com disp-
congênitas. Uma abordagem multidisciplinar, com neia, podem retirar a máscara enquanto amamen-
enfoque no tratamento psicossocial e comporta- tam para conforto materno e melhora da saturação
mental, está indicada no intuito de diminuir ou de oxigênio.
cessar o uso durante o pré-natal. D) Priorizar o parto vaginal, por ser mais seguro a ges-
D) O uso de maconha durante a gestação está asso- tantes com Covid-19. Deve-se explicar à paciente
ciado à maior ocorrência de anemia durante a ges- e aos seus familiares sobre risco de contaminação e
tação, porém não demonstra interferência na pre- orientar que o isolamento é a medida mais segura.
maturidade e no peso fetal, ao nascimento. Uma No caso de o acompanhante permanecer, não deve
abordagem multidisciplinar, com enfoque no trata- circular nas demais áreas do hospital e precisa usar
mento psicossocial e comportamental está indicada máscara quando o fizer.
no intuito de cessar o uso durante o pré-natal, não
sendo necessária a introdução de tratamento medi-
camentoso.
36 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 89 QUESTÃO 90
Paciente de 22 anos, G1P0A1, comparece ao seu plan- MSS, 38 anos, G5P4A0, IG 40 semanas, apresentan-
tão em emergência obstétrica referindo sangramento do polidrâmnio é admitida no centro obstétrico com
transvaginal persistente desde curetagem uterina reali- feto cefálico, 3 contrações 50 segundos em 10 minutos,
zada há 45 dias por abortamento espontâneo. Ao exa- colo com 7 cm dilatação, bolsa das águas íntegras. Com
me, você percebe colo amolecido com orifício interno relação às medidas de prevenção da hemorragia pós-
entreaberto. Ela traz exames realizados hoje: beta-hCG -parto (HPP), nesta paciente, qual a afirmativa correta?
quantitativo de 12.000 mIU/ml e ultrassom transvagi- A) Acesso venoso calibroso, reserva de sangue e oci-
nal mostrando útero de 150cm³, endométrio de 4mm, tocina 10 unidades intramuscular, imediatamente
imagem heterogênea de limites indefinidos em pare- após o nascimento.
de miometrial anterior, apresentando fluxo vascular
de baixa resistência ao doppler. Sua principal hipótese B) Amniotomia, metilergometrina 0,2 mg intramus-
diagnóstica e conduta são: cular, imediatamente após o nascimento, seguida
de tração controlada do cordão umbilical.
A) Mola hidatiforme parcial. Realizar aspiração manu- C) Expressão do fundo uterino, associada à tração
al intrauterina. controlada do cordão umbilical, ácido tranexâ-
B) Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG). Reali- mico 1,0 g endovenoso e reserva de concentrado
zar histerectomia. de hemáceas.
C) Mola hidatiforme completa. Realizar aspiração ma- D) Obtenção de acesso venoso calibroso, elevação dos
nual intrauterina. membros inferiores, monitorização dos sinais vitais
D) Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG). Enca- e tônus uterino a cada 15 minutos, durante a pri-
minhar para quimioterapia. meira hora pós-parto.

QUESTÃO 91
Menina de 16 anos vem ao posto de saúde com sua
mãe com queixa de nunca ter menstruado. Refere ter
tido telarca e pubarca aos 10 anos, nega dor. Ao exame
físico, mamas Tunner IV, abdome, sem massas palpá-
veis ou pontos dolorosos, vulva com
pilificação ginecoide, Tunner IV, com clítoris, peque-
nos e grandes lábios normais, porém o introito vaginal
não permite a passagem de um cotonete. Qual o me-
lhor exame para auxiliar no diagnóstico diferencial?
A) Ultrassom pélvico.
B) Dosagem sérica de FSH e LH.
C) Dosagem sérica de Prolactina e TSH.
D) Dosagem sérica de estrogênio e progesterona.
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QUESTÃO 92 QUESTÃO 94
Mulher de 35 anos, casada, dois filhos de parto normal, Mulher de 30 anos, nuligesta, comparece ao setor de
procura atendimento na Unidade Básica de Saúde com emergência do hospital com quadro de atraso mens-
desejo de reiniciar contraceptivo oral. Refere enxaqueca trual de dois meses, dor abdominal difusa, tontura e
com aura, hipertensão em uso de medicação. Nega ta- sangramento vaginal discreto. Ao exame, nota-se pa-
bagismo. Informa ter ciclos menstruais regulares e nega lidez cutâneo-mucosa, sudorese, PA: 90 x 50 mmHg,
outras queixas ou comorbidades. Ao exame: Obesa FC: 140bpm, abdome doloroso à descompressão brus-
(IMC=30), PA: 130x90mmHg. Qual a melhor opção ca, principalmente em fossa ilíaca direita. Toque vagi-
contraceptiva para esse caso? nal com abaulamento e dor em fundo de saco poste-
A) Anel vaginal. rior. Realizou ultrassonografia pélvica transvaginal não
visualiza imagem de saco gestacional intrauterino e vê
B) Adesivo transdérmico. imagem anexial sugestiva de prenhez ectópica íntegra <
C) Dispositivo Intrauterino (DIU). 4 cm. Dosagem de ß-hCG = 2.500 UI/L. Hemogobi-
D) Contraceptivo oral combinado. na=7,0mg/dL e Hematócrito= 25%. Assinale a asserti-
va correta quanto à conduta mais adequada deste caso.

QUESTÃO 93 A) Laparoscopia ginecológica de urgência.


B) Metotrexate 50 mg / m2 intramuscular dose única.
Mulher 30 anos, solteira, procura atendimento devido
C) Dosagens seriadas de ß-hCG sérico quantitativo e
a queixa de conteúdo vaginal abundante com odor féti-
manter paciente internada.
do há cerca de 5 dias. Relata novo parceiro há cerca de 2
meses, em uso de contraceptivo combinado oral. Nega D) Metotrexate 1,0mg/Kg intramuscular (dia 1) + Áci-
outras queixas clínicas, como alterações menstruais ou do folínico 0,1mg/Kg via oral (dia 2).
disúria. Ao exame: Vulva sem alterações. Ao exame es-
pecular: conteúdo fluido algo bolhoso em moderada QUESTÃO 95
quantidade, de odor fétido. Colpite ausente. Colo com
muco opaco, sem alterações. Teste de pH= 4,8 Resul- Paciente 26 anos, nuligesta, refere ciclos menstruais
tado de bacterioscopia por Gram: Células escamosas regulares com dismenorreia, dor pélvica crônica pro-
+++ Leucócitos ++ Microbiota constituída por: Bacilos gressiva desde menarca, além de dispareunia. Deseja
curtos Gram- negativos, cocobacilos Gram variáveis e engravidar mas está há dois anos sem métodos contra-
cocos Gram-positivos. Escore de Nugent= 8. Qual tra- ceptivos e não consegue. Realizou espermograma do
tamento é mais adequado nesta situação? companheiro que foi normal, Ao exame físico, encon-
A) Azitromicina 1g via oral em dose única. tra-se dor e espessamento bilateral em ligamentos úte-
rossacrais e nodularidade dolorosa em fundo de saco
B) Metronidazol 500mg, via oral, de 12/12 horas por vaginal. Fez ultrassonografia pélvica transvaginal com-
7 dias. patível com ovários aumentados de volume bilaterais,
C) Fluconazol 150 mg via oral em dose única e Metro- imóveis, centralizados e posteriorizados. Qual a prin-
nidazol gel vaginal 7 dias. cipal hipótese diagnóstica mais provável para o fator
D) Ceftriaxona 500mg intramuscular, Azitromicina 1g causal dessa infertilidade primária.
em dose única e Metronidazol gel vaginal 7 dias. A) Endometriose profunda.
B) Falência ovaríana prematura.
C) Sequela de Doença Inflamatória pélvica.
D) Anovulação crônica por Síndrome de Ovários Poli-
císticos.
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QUESTÃO 96 QUESTÃO 98
Mulher, 35 anos, G3P2A0, três cesáreas prévias, com Mulher, 45 anos, obesa, com queixa de perda de uri-
história de sangramento uterino de 9 dias de duração, na ao tossir, espirrar e ao caminhar. Realizou estudo
com intervalo cíclico mensal regular e de grande volu- urodinâmico que observou detrusor estável e pressão
me que extravasa do absorvente, desde última cesárea de perda à manobra de Valsalva de 42cmH2O. Qual a
ha 8 anos. Associado quadro de cólicas incapacitantes melhor opção terapêutica para tratamento da inconti-
em baixo ventre, progressiva, que intensifica nos pri- nência urinária?
meiros 3 dias de fluxo necessitando de AINEs. Refere A) Agente de preenchimento uretral.
anemia crônica e fraqueza. Realizou ultrassonografia
pélvica transvaginal que excluiu a possibilidade de leio- B) Colposuspensão retropúbica.
miomas e mostrou um útero aparentemente normal. C) Sling retropúbico.
Assinale a assertiva correta que corresponde à causa D) Colpoperineoplastia.
mais provável do sangramento uterino anormal.
A) Endometrite. QUESTÃO 99
B) Adenomiose.
Mulher, 85 anos, com queixa de bola na vagina. Ao
C) Coagulopatia.
exame físico, apresenta prolapso uterino estadio 4.
D) Anovulação crônica. Paciente hipertensa e diabética em uso de insulina e
não deseja procedimento cirúrgico. Qual melhor op-
QUESTÃO 97 ção terapêutica?
A) Pessário vaginal.
Mulher, multípara de 65 anos, com menopausa aos 50
anos, assintomática desde então. Sem comorbidades. B) Histerectomia total vaginal.
Realiza exames ginecológicos regulares sem alterações. C) Fisioterapia do assoalho pélvico.
Apresenta sangramento uterino anormal há 3 dias em D) Colpoplastia anterior e posterior.
pequena quantidade de aspecto descrito como em bor-
ra de café. Nega dores abdominais ou quaisquer outras
queixas. Assinale a assertiva correta quanto ao diagnós-
tico mais provável para este caso de sangramento ute-
rino anormal.
A) Neoplasia intraepitelial endometrial.
B) Neoplasia intraepitelial cervical.
C) Adenocarcinoma de endométrio.
D) Atrofia endometrial.
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QUESTÃO 100
Paciente, 35 anos, realizou biopsia mamária de nódulo
compatível com hiperplasia ductal atípica. Não sabe re-
ferir história familiar pois foi adotada na infância. Pro-
cura ginecologista para realizar exames para prevenção
do câncer de mama. Assinale a assertiva correta quanto
à classificação de risco da paciente e adequada estraté-
gia de rastreamento com as recomendações do Colégio
Brasileiro de Radiologia e da Federação Brasileira de
Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
A) Risco intermediário: realizar mamografia anual +
Ultrassonografia (USG) pode ser solicitada de ma-
neira individualizada.
B) Risco intermediário: realizar mamografia anual +
Ultrassonografia e ressonância magnética comple-
mentares.
C) Alto Risco: realizar mamografia anual + Ultrasso-
nografia e ressonância magnética complementares.
D) Alto Risco: Mamografia e ressonância magnética
anuais a partir dos 30 anos.
40 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1
SURCE 2022
CADERNO DE RESPOSTAS
42 |
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QUESTÃO 01 - Drenagem anômala da via biliar, propiciando


maior risco de impactação do cálculo
Durante uma consulta, um paciente assintomático, de
32 anos, apresenta um ultrassom abdominal revelando - Vesícula em porcelana, caracterizada pela calcifica-
um cálculo da vesícula biliar de 3 cm. Qual deve ser a ção da parede da vesícula biliar, sendo uma condi-
conduta do cirurgião? ção com associação com câncer de vesícula biliar
em até 10% dos casos
A) Solicitar tomografia para avaliar vesícula em por-
celana ou vegetação intravesicular, e assim, decidir - Presença de adenomas ou pólipos da vesícula, nor-
quanto a necessidade de colecistectomia. malmente quando maiores que 1cm ou quando as-
sociados a colelitíase já indicam cirurgia
B) Programar a cirurgia, já que esta apresenta poucos
riscos, ao contrário do alto risco de desenvolvi- - Cálculos grandes, maiores que 3cm, tem uma as-
mento de câncer a que esse paciente está exposto. sociação com câncer de vesícula biliar, e também
C) Descrever ao paciente os riscos potenciais da cole- indica a cirurgia
cistectomia, bem como da preservação da vesícula - Pacientes com doenças hemolíticas como anemia
com o cálculo, e ouvir a opinião do paciente quan- falciforme, propensos a formação de cálculos de bi-
to à conduta cirúrgica. lirrubina
D) Sugerir ao paciente que por se tratar de um cálculo - Pacientes jovens (< 50 anos) que irão viver mais
assintomático em paciente jovem, ele deve aguardar tempo com a colelitíase e portanto têm maior risco
apresentar os primeiros sintomas, antes de ser sub- de desenvolver complicações cumulativamente
metido à colecistectomia.
- Pacientes diabéticos
Resposta correta: Letra ANULADA
- Pacientes em nutrição parenteral prolongada
Comentários:
A colecistectomia é uma das cirurgias mais realizadas
no mundo, e devemos conhecer bem as indicações des-
sa cirurgia.
A principal e mais clara é a colelitíase sintomática, ca-
racterizada por episódios de dor em cólica em hipo-
côndrio direito pós prandial, normalmente autolimita-
das e com duração inferior a 6 horas. Nessas situações
indicamos a colecistectomia eletiva, preferencialmente
videolaparoscópica, para controle dos sintomas e evitar
o desenvolvimento de episódio de colecistite.
Agora existem também indicações em pacientes assin-
tomáticos, cada uma com sua particularidade. Alguns
achados associam-se com maior risco de câncer, e in-
dicam a colecistectomia com análise histopatológica, Supõe-se que a inflamação crônica da vesícula biliar
outros se associam a maior risco de colecistite e compli- causada pela colelitíase seja fator de risco independente
cações, também indicando abordagem cirúrgica, entre para câncer, diretamente proporcional ao tamanho dos
outros. Vamos ver as indicações clássicas a seguir em cálculos (especialmente quando maior que 3cm), sen-
colelitíase assintomática: do o risco de câncer 7x maior.
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A histologia do câncer de vesícula biliar é normalmente QUESTÃO 02


adenocarcinoma, sendo estadiado pelo TNM. Infeliz-
mente, a maioria dos adenocarcinomas de vesícula biliar Um paciente de 25 anos, vítima de politrauma grave
apresentam-se avançados ao diagnóstico, com doença com TCE e choque hipovolêmico por fratura pélvica, é
linfonodal em 35% dos casos e metástases em 40%. submetido à cirurgia para controle de hemorragia. Du-
rante a cirurgia, o anestesista opta por utilizar fluidos
aquecidos para infundir no doente. Qual a principal
Vamos às alternativas:
vantagem dessa conduta?
A) INCORRETA - Caso o cálculo fosse menor, po- A) Preservar tecido cerebral por evitar hipoter-
deríamos proceder a investigação com USG para mia extrema.
avaliar presença de pólipos, ou exame radiológico
B) Diminuir o metabolismo e resposta inflamató-
para avaliar vesícula em porcelana. Porém já temos
ria exagerada.
a indicação cirúrgica pelo tamanho do cálculo, sen-
do dispensável aprofundar a investigação na busca C) Aquecer o paciente para evitar tremores e conse-
de outra indicação cirúrgica. quente perda de energia.
B) CORRETA - Pela idade nosso paciente provavel- D) Prevenir distúrbios de coagulação em consequên-
mente tem baixo risco cirúrgico. O risco de câncer cia de ação fibrinolítica.
é aumentado em até 7x, podendo ser interpretado Resposta correta: Letra D
como alto risco.
C) CORRETA - É fundamental informar o pacien- Comentários:
te sobre os riscos e benefícios e obter uma deci-
Vamos lembrar da tríade letal do trauma, responsável
são conjunta.
por rápido declínio do paciente traumatizado e alta
D) INCORRETA - Paciente já tem indicação cirúrgica mortalidade. A combinação de acidose, hipotermia e
pelo tamanho do cálculo, não deve aguardar os de- coagulopatia forma um ciclo vicioso que se retroali-
senvolvimento de sintomas para indicar cirurgia. menta e aumenta o risco de sangramento e disfunção
orgânica, piorando o prognóstico do nosso paciente.
Take-Home Message: A perfusão tecidual insuficiente resulta em metabolis-
Indicações de colecistectomia eletiva laparoscópica em mo anaeróbio e acidose com produção de lactato. O
paciente assintomático aporte insuficiente de substrato energético (ATP) im-
pede adequada manutenção de temperatura corporal.
- Drenagem anômala da via biliar A hipotermia e acidose reduzem a funcionalidade enzi-
- Presença de adenomas ou pólipos da vesícula > 1cm mática, causando uma coagulopatia funcional além da
coagulopatia por perda e consumo de fatores de coa-
- Cálculos maiores que 3cm
gulação já presentes no trauma. O aumento no sangra-
- Doenças hemolíticas mento prejudica a perfusão e retroalimenta a acidose
- Jovens (< 50 anos) e hipotermia.
- Diabéticos O melhor método para quebrar esse ciclo é baseado
no controle do sangramento e controle da hipotermia.
- Pacientes em nutrição parenteral prolongada Muitas vezes, a hipotermia tem um fator iatrogênico
muito importante associado quando há reposição volê-
mica com fluidos ou sangue não aquecido.
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O uso de fluidos aquecidos é realizado com objetivo QUESTÃO 03


de evitar a hipotermia. Outras formas para evitar hi-
potermia envolvem secar o paciente para evitar perda Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), uma mu-
por evaporação, cobrir paciente, uso de aquecedor. Co- lher de 65 anos é admitida com quadro de vômitos por
brir a cabeça do paciente também ajuda significativa- obstrução neoplásica pré-pilórica, desidratação e in-
mente a reduzir a perda de calor. Aquecimento ativo gesta oral zero, aguarda transferência para um hospital
externo é menos eficiente devido à insulação do teci- terciário. Vem recebendo hidratação e suporte calórico
do adiposo, sendo o melhor método o uso de placas por meio de soro glicosado a 5%. Após três dias de
de aquecimento. espera, queixando-se de cefaleia refratária a dipirona,
apresenta episódio de convulsão. Qual a causa provável
da crise convulsiva dessa paciente?
Vamos às alternativas:
A) Hiponatremia.
A) INCORRETA - A hipotermia de fato pode reduzir
B) Hiperglicemia.
o metabolismo cerebral, mas não é uma vantagem
frente a paciente traumatizado com sangramento. C) Metástase em SNC.
B) INCORRETA - De fato a baixa temperatura tem D) Alcalose metabólica.
esses efeitos, e por isso utilizamos gelo em feridas Resposta correta: Letra A
para reduzir inflamação. Porém em paciente trau-
matizado nosso foco é no sangramento e na tríade Comentários:
letal, e a hipotermia torna-se prejudicial.
Estamos diante de paciente com ingesta oral prejudica-
C) INCORRETA - A prevenção de tremores não é
da, em jejum total e recebendo aporte hidroeletrolíti-
nosso objetivo com o aquecimento.
co apenas via endovenosa. O controle hidroeletrolítico
D) CORRETA - A alternativa fala exatamente da dos diversos eletrólitos ocorre por um controle fino de
tríade letal, sendo nosso objetivo interrompê-la diversos sistemas hormonais em interação contínua e
o quanto antes com controle da hipotermia, do interligada, além é claro do aporte e absorção e excre-
sangramento e da coagulopatia. ção gastrointestinal e renal.
Diante de pacientes com risco de distúrbios hidroele-
Take-Home Message: trolíticos elevado e crise convulsiva e cefaleia aguda de-
Devemos lembrar que no paciente traumatizado vemos pensar principalmente num quadro de edema
devemos evitar a tríade letal: hipotermia, acidose cerebral por provável hiponatremia.
e coagulopatia. Hiponatremia pode ser leve (130-135), moderada
(120-130) ou grave (< 120). Normalmente a forma
leve e moderada são assintomáticas, sendo a forma gra-
ve mais associada com cefaleia, letargia, convulsões e
outros eventos neurológicos.
A classificação depende também do estado volêmico
do paciente. Causas renais incluem insuficiência renal
ou problemas associados a ADH ou diuréticos. Causas
extra renais envolvem feridas, queimaduras, sudorese,
ICC, cirrose, perdas pelo TGI e síndrome cerebral per-
dedora de sal. Outra causa muito importante é iatrogê-
46 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

nica, com infusão de líquidos livres de sódio (soro gli- Algumas equações de uso clínico para cálculo de dé-
cosado) em pacientes desidratados, causando diluição e ficit de sódio em paciente hiponatrêmico e déficit de
perda de sódio renal. água livre em paciente hipernatrêmico são apresenta-
das abaixo.

Vamos às alternativas: QUESTÃO 04


A) CORRETA - Em paciente com alto risco de distúr- Após tratamento neoadjuvante, uma paciente de 54
bio hidroeletrolítico pela limitação de ingesta oral anos, com diagnóstico de adenocarcinoma tipo intes-
e reposição inadequada de líquidos, os sintomas tinal de 2 cm no antro gástrico, realiza tomografia que
neurológicos agudos nos indicam provável edema demonstra adenopatias em tronco celíaco, ausência de
cerebral pela hiponatremia. metástases hepáticas ou ascite. Atualmente, apresen-
B) INCORRETA - Pode causar uma hiponatremia, ta-se com bom estado geral e sem outras comorbida-
normalmente visto em episódios de cetoacidose des. Para essa paciente, qual o próximo passo para o
diabética ou estado hiperglicêmico. Não é nossa hi- seu tratamento?
pótese nesse momento. A) Gatrectomia parcial com linfadenectomia D1 e re-
C) INCORRETA - Podem cursar com alterações e hi- construção a BII.
ponatremia, porém de forma mais crônica e dificil- B) Gatrectomia parcial com linfadenectomia D2 e re-
mente agudamente sintomática. construção a BII.
D) INCORRETA - A obstrução pré pilórica pode cau- C) Gatrectomia total com linfadenectomia D2 e re-
sar perda de secreção gástrica rica em ácido, cau- construção em Y de Roux.
sando um alcalose metabólica. Porém esse distúrbio D) Gatrectomia subtotal com linfadenectomia D2 e
não se apresenta como quadro convulsivo agudo. reconstrução em Y de Roux.
Resposta correta: Letra D
Take-Home Message:
Em pacientes com dieta oral zero devemos nos atentar Comentários:
a possibilidade de presença de distúrbios hidroeletrolí- A abordagem do câncer gástrico, como qualquer outra
ticos, particularmente hiponatremia por reposição ina- neoplasia, depende de seu estadiamento.
dequada de volume livre de sódio.
Tumores precoces que também atinjam alguns critérios
podem ser ressecados endoscopicamente por mucosec-
tomia (= ESD). Para isso, devem ser tumores restritos
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 47

à mucosa (T1a), menores que 2cm, bem diferenciados Quanto ao tratamento quimioterápico, normalmente
(tipo intestinal), não ulcerados, sem invasão linfovas- está indicado a partir de T2 ou N+ para realizar a QT
cular ou linfonodal. neoadjuvante (lembrando que pacientes em urgência
Nesse caso do paciente descrito, vemos que há provável como obstrução ou sangramento não devem aguardar a
acometimento linfonodal pela adenopatia do tronco QT para iniciar o tratamento cirúrgico). O tratamento
celíaco, mas sabemos também que não há metástases adjuvante está indicado a partir de T3 ou N+.
identificadas durante o estadiamento nem ascite (que Vamos ver agora algumas particularidades quanto a
indicaria provável metástase com carcinomatose peri- abordagem mais frequente com gastrectomia com lin-
toneal). Nesse contexto de tumor que não pode ser res- fadenectomia D2. Tumores proximais (no corpo, fun-
secado endoscopicamente, porém ainda é ressecável e do ou cárdia) devem ser ressecados com gastrectomia
não metastático podemos realizar o tratamento clássico TOTAL, enquanto tumores mais distais (antro ou pi-
do câncer de estômago: gastrectomia com linfadenec- loro) admitem ressecções pouco menos agressivas com
tomia D2 com posterior reconstrução. gastrectomia SUBTOTAL (que não é sinônimo de
Em casos avançados e metastáticos o tratamento ci- gastrectomia parcial). A margem livre objetivada deve
rúrgico fica reservado para alguns poucos casos que ser maior que 5cm no tipo intestinal e maior que 8cm
respondem a QT de conversão: tumores previamente no difuso.
irresecáveis por invasão de estruturas nobres ou por A reconstrução mais realizada é com bypass em Y de
presença de carcinomatose peritoneal que apresentam Roux, que tem vantagem de evitar o refluxo alcalino,
regressão da invasão ou da carcinomatose após os ciclos porém há outras opções como Billroth I e Billroth II,
de QT, permitindo abordagem cirúrgica clássica. por exemplo.
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A linfadenectomia D2 envolve a retirada de ao menos Vamos às alternativas:


15 linfonodos para estadiamento, numerados de 1-12,
sendo esse o padrão ouro do tratamento. A linfadenec- A) INCORRETA - Paciente com tumor de estôma-
tomia D1 com retirada das cadeias 1-7 é reservada para go ainda candidato a tratamento cirúrgico, por não
pacientes que tem tumores precoces mas não atingiram precoce. O tratamento padrão ouro envolve linfa-
critérios suficientes para realizar a abordagem endoscó- denectomia D2.
pica ou para pacientes baixo status performance para B) INCORRETA - A gastrectomia que pode ser re-
abordagem cirúrgica mais agressiva. alizada em tumores distais é a SUBTOTAL, que
abrange uma porção maior do estômago que
a PARCIAL.
C) INCORRETA - Tumores distais admitem ressec-
ções pouco menos agressivas, podendo-se preservar
o fundo gástrico com a gastrectomia subtotal.
D) CORRETA - É o tratamento padrão ouro de ade-
nocarcinoma gástrico não precoce nem avançado
(gastrectomia) localizado em antro (subtotal) com
linfadenectomia D2 e reconstrução em Y de Roux
que é o padrão ouro.

Take-Home Message:
Tratamento cirúrgico do câncer gástrico (não ressecável
endoscopicamente nem metastático)
Gastrectomia
- Fundo, cárdia, corpo: total
- Antro, piloro: subtotal
Linfadenectomia
- D2 na grande maioria
- D1 se tumor precoce não ressecado endoscopica-
mente ou paciente de alto risco cirúrgico
Reconstrução em Y de roux
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QUESTÃO 05 Vamos às alternativas:


A suplementação com líquidos sem resíduos, ricos A) CORRETA - É o tempo de jejum indicado para
em carboidratos (líquidos claros), apresenta vanta- ingesta de líquidos claros.
gem quando ingeridos no preparo de pacientes para B) INCORRETA - É o tempo de jejum indicado para
cirurgias eletivas. Até quanto tempo antes da cirurgia dieta leve, leite ou fórmulas.
é seguro a ingesta desse tipo de substância para um pa- C) INCORRETA - É o mais realizado, mas é necessá-
ciente eutrófico ASA I que será submetido a uma cirur- rio apenas para comidas sólidas, gordurosas ou para
gia ortopédica? carnes de mais lenta digestão.
A) 2h antes da cirurgia. D) INCORRETA - Não são necessárias 12h de jejum.
B) 6h antes da cirurgia.
C) 8h antes da cirurgia. Take-Home Message:
D) 12h antes da cirurgia.
A fim de evitar o trauma metabólico do trauma, deve-
Resposta correta: Letra A mos evitar a fórmula de “jejum a partir de meia noite”,
permitindo ingesta escalonada de alimentos com pou-
Comentários: cos resíduos no pre operatório de cirurgias eletivas.
Normalmente o tempo de jejum preconizado no pré
operatório é de 8h. Porém sabemos que o inicio preco-
ce de jejum (a partir de meia noite), muitas vezes asso-
QUESTÃO 06
ciado à náusea pós anestesia do pós operatório já pode Uma paciente com púrpura trombocitopênica idiopá-
acumular um período maior que 24h de não alimenta- tica irá ser submetida a esplenectomia videolaparoscó-
ção, tendo já efeitos maléficos ao paciente cirúrgico. A pica. O médico orienta a aplicação de uma vacina 20
duração do jejum pode ser reduzida permitindo-se tem- dias antes da retirada do baço. Qual doença deve ser
pos diferentes para diferentes alimentos com resíduos prevenida através dessa vacina?
para permitir menos impacto metabólico no paciente
A) Tétano.
cirúrgico. A ingesta de líquidos ricos em carboidratos
no perioperatório reduz a perda muscular, resistência B) Hepatite.
insulínica e glicosilação tecidual no pós operatório. C) Pneumonia.
Os tempos preconizados de jejum são: D) Coronavirus.
Líquidos claros → 2 horas Resposta correta: Letra C
Leite materno → 4 horas
Comentários:
Dieta leve, leite normal, fórmulas → 6 horas
Um componente muito importante do sistema imune,
Comida sólida, gordurosa, carne → 8 horas particularmente responsável pela remoção de agentes
encapsulados, é o baço. Portanto, devemos sempre nos
atentar ao risco infeccioso aumentado nesses pacientes,
inclusive de sepse grave por estes agentes como pneu-
mococo, haemophilus influenzae e meningococo.
50 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Em casos de esplenectomia eletiva, devemos realizar a va- Em casos de urgência, podemos realizar imediatamente
cinação para esses agentes ao menos 2 semanas antes da a vacina pneumo 23, porém devemos esperar ao menos
cirurgia, com pneumo 23, haemophilus e meningo C. 2 semanas para administrar haemophilus e meningo C.

Um ponto fundamental é a educação do paciente e fa-


miliares para rápida identificação de sinais infecciosos
e busca por serviço de saúde, reduzindo a incidência de
sepse por germes encapsulados pós esplenectomia.
A revacinação com pneumo 23 após 5 anos é indicada
para pacientes de alto risco:
- Pacientes que receberam a pneumo 14
- Queda rápida de anticorpos (sd nefrótica,
DRC, transplantados)
- Asplenia, síndrome nefrítica e anemia falciforme
As demais vacinas devem ser tomadas conforme o es-
quema normal.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 51

Vamos às alternativas: QUESTÃO 07


A) INCORRETA - Deve ser aplicada a cada 10 anos, Homem de 56 anos portador de hepatopatia crôni-
sem relação com o momento da esplenectomia. ca devido ao consumo diário de bebidas alcoólicas é
B) INCORRETA - Não há alteração no esquema de acompanhado no ambulatório de gastroenterologia por
doses por causa da esplenectomia. ascite recorrente. O paciente apresenta sintomas rela-
C) CORRETA - Devemos aplicar a pneumo 23 ao cionados a “má digestão” e em certas ocasiões apresenta
menos 14 dias antes da esplenectomia. dor abdominal e vômitos. Ultrassonografia abdominal
de rotina revela cálculos na vesícula biliar de aproxima-
D) INCORRETA - Deve ser aplicada normalmente, damente 0,5 a 1 cm e fígado de aspecto cirrótico. O
sem relação com o momento da esplenectomia. gastroenterologista encaminha o paciente para avalia-
ção do cirurgião. Qual deve ser a conduta em relação
Take-Home Message: ao cálculo da vesícula biliar?
Pacientes esplenectomizados têm risco aumentado de A) Classificar o paciente para transplante e então indi-
sepse por germes encapsulados. car a colecistectomia.
Esplenectomia eletiva: vacinação ao menos 14 dias an- B) Observar o desenvolvimento de uma colecistite,
tes com pneumo 23, meningo C e haemophilus para indicar a cirurgia.
C) Indicar a colecistectomia aberta, para melhor con-
Esplenectomia urgência: vacinação imediata com
trole de hemorragia.
pneumo 23 e ao menos 14 dias após com meningo C
e haemophilus. D) Indicar a colecistectomia por videolaparoscopia,
para prevenir hérnias.
Resposta correta: Letra D

Comentários:
Dois problemas cirúrgicos mais frequentes em pacien-
tes cirróticos são hérnias (umbilical e inguinal) devido
ao aumento da pressão abdominal e colecistite.
O aumento da pressão causado pela ascite aumenta o
risco para 20% de hérnia umbilical, que são de difí-
cil manejo devido ao risco de rotura espontânea e alta
mortalidade associada. Correções eletivas desse tipo de
hérnia podem ser feitos com segurança em pacientes
Child A e B, com baixo risco de recorrência, e sem evi-
dência de risco aumentado em Child C nem em casos
de ascite refratária.
Idealmente, a correção eletiva da hérnia deve ser feita
quando a ascite foi reduzida ao mínimo. A mortalidade
desse procedimento ainda é de aproximadamente 14%.
52 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

O achado incidental de cálculo na vesícula biliar em QUESTÃO 08


cirróticos assintomáticos não indica a realização de
colecistectomia, devido ao maior risco cirúrgico com- Na emergência, um cirurgião atende menino de 10
parado ao risco de complicações. O acesso videolapa- anos com dor testicular, há cerca de 4 horas, de início
roscópico reduz essas complicações, seja em perda san- súbito. Ao exame da hemibolsa escrotal esquerda, há
guínea quanto em infecção de ferida operatória. pouca mobilidade a palpação e desaparecimento do re-
flexo cremastérico. Não há disponível ultrassonografia
Malnutrition is common in cirrhotic patients and is na região. Qual o diagnóstico provável?
associated with a reduction in hepatic glycogen stores
and reduced hepatic protein synthesis. Patients with A) Torção testicular.
advanced liver disease often have a poor appetite, tense B) Hidrocele escrotal.
ascites, and abdominal pain. Attention must be given C) Hematoma testicular.
to appropriate enteral supplementation, as for all pa- D) Orquiepidimite infecciosa.
tients at significant nutritional risk.
Resposta correta: Letra Letra A 
Vamos às alternativas:
Comentário
A) INCORRETA - A indicação de transplante segue
Criança pré-pubere de 10 anos com diagnóstico sin-
outros critérios, que não nos foram fornecidos.
drômico de “escroto agudo”. Questão aborda diag-
B) INCORRETA - Paciente com litíase biliar sinto- nóstico etiológico. Escroto agudo na infância é uma
mático tem indicação de colecistectomia. emergência e o médico deve sempre excluir ou não o
C) INCORRETA - A abordagem aberta se associa diagnóstico de torção testicular no qual o tratamento
com maior risco de perda sanguínea. (cirurgia) e preservação testicular depende do tempo
D) CORRETA - A abordagem videolaparoscópica é decorrido entre o início do quadro até a cirurgia (ide-
a padrão outro para colecistectomia, inclusive em almente deve ser <6h para evitar orquiectomia). Além
pacientes cirróticos com ascite, nos quais o risco do exame físico e história clínica (avaliado na questão),
de hérnia incisional por cirurgia aberta é aumen- caso disponível o médico deve solicitar um ultrassom
tado pelo maior pressão intraabdominal. de bolsa testicular bilateral COM DOPPLER.
Além do diagnóstico de torção testicular devemos
Take-Home Message: pensar nos diagnósticos diferenciais: torção das hidá-
tides (apêndice: testicular ou do epidídimo), orquie-
Pacientes cirróticos com ascite tem aumento da pressão pididimites, orquites virais (e.g. caxumba), hérnia
abdominal, fator muito importante para desenvolvi- inguino-escrotal incarcerada, hematoma testicular
mento de hérnias, e por isso devemos optar por abor- (pós-traumático).
dagens que reduzam o risco de hérnias.
No caso em questão algumas pistas da história clínica
Hérnias em pacientes cirróticos ascíticos têm risco de e exame físico nos levam a pensar em torção testicular:
rotura espontânea, com alta taxa de mortalidade.
• Epidemiologia: maioria ocorre >10 anos com pico
entre 12 e 16 anos de idade;
• Quadro agudo/ início súbito: quase 70% das tor-
ções se apresentam com <12h de evolução;
• Ausência do reflexo cremastérico: 100% de sensibili-
dade e 66% de especificidade para torção testicular;
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• Sinal de Prehn (não descrito na questão): ao elevar-se QUESTÃO 09


o testículo o paciente sente alívio da dor (sinal + caso
melhora = mais suspeito para orquiepididimite); caso Um jovem de 28 anos, atleta de natação, será subme-
a dor não melhore com a elevação o sinal de Prehn é tido a abdominoplastia após perder 45 kg por cirurgia
negativo e assim suspeito para torção testicular. bariátrica, há 3 anos, e mudança em hábitos de vida.
Qual das seguintes medidas apresenta maior impac-
• Testículo em posição mais cranial na bolsa (“mais to na prevenção de infecção do sítio cirúrgico para
alto”) – não descrito na questão; esse paciente?
• Testículo com orientação transversal (não descrito A) Uso de drenos de sucção e remoção de pe-
na questão) los abdominais.
A) CORRETA – Torção testicular: quadro de início B) Tempo cirúrgico abreviado e uso criterioso
súbito com dor de forte intensidade em pré-ado- do eletrocautério.
lescente com ausência de reflexo cremastérico; C) Uso de antibiótico profilaxia 1 h antes da realização
B) INCORRETA – Hidrocele Escrotal: a hidrocele da incisão.
na criança é comunicante e geralmente de evolu- D) Suplementação preoperatória hipocalórica e com
ção mais arrastada (meses). Geralmente é indolor; alto teor de proteína.
O exame físico o reflexo cremastérico é presen-
te e outros sinais como transiluminação da bolsa Resposta correta: Letra B
está presente.
C) INCORRETA – Hematoma testicular: normal- Comentários:
mente vem associada a um quadro de trauma e Vamos antes de tudo avaliar que tipo de cirurgia esta-
equimose local é observada na bolsa escrotal; mos diante, e o que pode ser feito para otimizar o risco
D) INCORRETA – Orquiepididimite infecciosa: nor- de infecção.
malmente tem um quadro de dor mais arrastado A abdominoplastia é uma cirurgia classificada como
em relação a torção testicular; sinais como cremas- limpa, portanto sobre isso sabemos que o uso de an-
térico e de Prehn (descrito acima) estão presentes. tibiótico profilático é controverso, não sendo indicado
nessas situações para reduzir o risco de infecção.
Take-Home Message: torção testicular geralmente aco- A nutrição pré operatória tem como objetivo otimizar
mete crianças pré-puberes com quadro de dor escrotal o status nutricional e permitir melhor cicatrização e
súbito de forte intensidade e alterações do exame físico reduzir risco de infecção no pós OP. Normalmente é
como ausência do reflexo cremasterico, ausência do si- indicada em pacientes desnutridos ou com alto risco de
nal de Prehn e testículo horizontalizado. desnutrição: IMC baixo, obesidade mórbida, doenças
consuptivas, dissaborção do TGI, perda > 5% em 30
dias, albumina < 3,5, anemia ou linfócitos < 1500.
Referências 
O uso rotineiro de drenos não está indicado em cirur-
1. Acute Scrotum: EAU Guidelines. Edn. presented at gias sem indicação, podendo inclusive aumentar o risco
the EAU Annual Congress Amsterdam 2022. ISBN de infecção operatória. A tricotomia reduz o risco de
978-94-92671-16-5. infecção, devendo ser feita preferencialmente no dia
2. Acute scrotum chapter 44 – Urology - Campell-Wal- anterior, com máquina no dia anterior.
sh-Wein. 12th Edition Por fim, a técnica operatória adequada, com antissepsia
e assepsia bem realizadas, é a melhor forma de preven-
54 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

ção de infecção de sítio cirúrgico. Nenhuma quantida- QUESTÃO 10


de de antibiótico ou outra medida são capazes de subs-
tituir essas medidas. Um homem submetido a duodenopancreatectomia por
neoplasia de pâncreas encontra-se no 6o pós-operatório
e está com dieta oral líquida 50 ml a cada 3h, associa-
Vamos às alternativas:
da à nutrição enteral 1500ml/d. O paciente refere dor
A) INCORRETA - A tricotomia pode ser utilizada abdominal. Ao examinar o paciente, o médico percebe
para reduzir o risco de infecção, porém o uso roti- dor abdominal difusa e eliminação de secreção esverde-
neiro de drenos não é indicado. ada em ferida operatória. Diante do quadro, qual deve
B) CORRETA - A boa técnica operatória e asséptica ser a conduta médica?
é a medida mais efetiva para prevenção de infec- A) Solicitar tomografia para avaliar a necessidade de
ções de ferida operatória. drenagem de coleções.
C) INCORRETA - Nessa cirurgia (limpa) o uso de B) Abrir protocolo sepse e indicar laparotomia explo-
antibiótico profilático não está indicado. Mas mes- radora de urgência.
mo que estivesse, apenas é uma medida adjuvante à C) Alimentar o paciente por sonda nasoenteral com
técnica adequada. dieta oligomérica.
D) INCORRETA - Nutrição pré operatória reduz a D) Suspender a dieta, iniciar NPT e antibióticos e rea-
taxa de infecções, mas tem suas indicações e tam- valiar após 24h.
bém é adjuvante à técnica adequada.
Resposta correta: Letra B
Take-Home Message: Comentários:
A melhor forma de prevenir infecções de sítio cirúrgico A questão descreve a saída de bile pela ferida operatória,
são a técnica operatória e asséptica adequadas. As de- com secreção esverdeada. Em cirurgias como a gastro-
mais medidas, como antibiótico, tricotomia e nutrição duodenopancreatectomia, normalmente é deixado um
pré operatória são adjuvantes. dreno sentinela, e esta drenagem biliosa é observada na
quantificação do dreno.
Essa secreção ocorre frente a fístula da anastomose bi-
liodigestiva, por onde tem o escoamento da bile em
direção ao transito intestinal. Caso a fístula estivesse já
drenada e o paciente estável, poderíamos solicitar uma
TC para avaliar presença de coleções drenáveis ou líqui-
do livre (da fístula) que indicaria abordagem cirúrgica.
Nesse caso temos uma fístula não drenada e com pa-
ciente apresentando sinais de peritonite, com dor abdo-
minal difusa. Se nosso paciente ainda não está instável
certamente estará no caminho para instabilização. Nos-
sa conduta nessas situações é cirúrgica para drenagem.
Para evitar esse tipo de abordagem de urgência, deve ser
colocado o dreno sentinela durante o intra-OP.
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Vamos às alternativas: Comentários:

A) INCORRETA - Em paciente estável com fístula já Não há dúvida que estamos diante de um quadro de
drenada, poderíamos solicitar TC para avaliar cole- apendicite, certo? A dúvida e a confusão nessa questão
ções ou líquido livre. se dá pelos diferenciais num quadro como este em pa-
ciente mais idosos.
B) CORRETA - Nosso paciente está com fístula não
drenada e peritonite, devemos abordar de urgência. Nesse pico de apresentação mais tardio da apendicite
C) INCORRETA - Outra forma de se abordar a fístula devemos nos atentar a possibilidade de um quadro de
do trânsito intestinal, porém não da biliodigestiva. neoplasia de apêndice associada à apendicite, normal-
mente cursando com quadro mais arrastado e insidioso
D) INCORRETA - Poderia ser uma abordagem ini-
de apendicite.
cial da fístula da anastomose do trânsito intestinal,
porém o aspecto bilioso nos direciona por fístula Esses quadros insidiosos podem se apresentar com cole-
da biliodigestiva. ções, e portanto como apendicites complicadas. Nesse
contexto podemos realizar a apendicectomia de inter-
valo com o objetivo de evitar ressecções desnecessárias
Take-Home Message: do cólon direito e permitir a identificação de possíveis
Fístulas de anastomose normalmente se manifestam neoplasias do apêndice associadas. Para essa aborda-
pelo 5o PO, e devem ser abordadas agressivamen- gem realizamos controle até estabilização do paciente,
te quando não drenadas ou quando o paciente esti- punção das coleções (> 4cm), antibioticoterapia e co-
ver instável. lonoscopia + TC de controle em 3 semanas e cirurgia
definitiva em 6 semanas.
Mas veja bem, não é esse o caso do nosso paciente.
QUESTÃO 11 Apesar da apresentação nessa faixa etária levantar sus-
Um paciente de 85 anos apresenta dor abdominal agu- peita para doença neoplásica, a TC demonstra apenas
da há 48h. A dor é difusa porém mais intensa em fossa uma apendicite não complicada, com pouco líquido de
ilíaca direita (FID). HPP: DM e HAS compensadas provável origem do processo inflamatório. Nesse con-
com medicações. A tomografia sem contraste sugere texto a melhor abordagem é a clássica: apendicectomia
apêndice espessado, liquido em FID e pelve compa- videolaparoscópica ou aberta (McBurney).
tível com apendicite. Qual deve ser a conduta para
esse paciente?
A) Apendicectomia videolaparoscópica.
B) Apendicectomia aberta infra-umbilical.
C) Drenagem percutânea e apendicectomia em
4 semanas.
D) Colonoscopia, para avaliar neoplasia de
base apendicular.
Resposta correta: Letra A
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Vamos às alternativas: QUESTÃO 12


A) CORRETA - Abordagem correta para apendicite Qual das seguintes características abaixo sugere uma
não complicada. via aérea difícil de ventilar/entubar?
B) INCORRETA - Os principais acessos para apendi- A) Abertura da boca de 6 cm.
cite não complicada são videolaparoscópico e por B) Cirurgia de artrodese cervical.
incisão local (McBurney).
C) Distância tireomentoniana aumentada.
C) INCORRETA - Seria uma ótima opção caso encon-
trássemos uma coleção puncionável (> 4cm) na to- D) Visualização da úvula, no teste de Mallampati.
mografia, realizando a apendicectomia de intervalo. Resposta correta: Letra B
D) INCORRETA - Também nos guia na direção da
apendicectomia de intervalo, mas não temos uma Comentários:
apendicite complicada que necessite desse tipo Frente a um paciente com necessidade de suporte ven-
de abordagem. tilatório, antes mesmo de indicar uma IOT, devemos
nos atentar a via aérea do paciente e a possibilidade de
Take-Home Message: uma intubação difícil.
Apendicite não complicada: acesso videolaparoscópico A via aérea difícil é definida como incapacidade de ven-
ou McBurney tilar paciente ou garantir uma via aérea por IOT por
um profissional experiente.
Apendicite complicada com paciente estável: podemos
tentar a apendicectomia de intervalo (drenagem, ATB, Alguns preditores de via aérea difícil ANTES da tenta-
colonoscopia em 3sem, TC de controle e apendicecto- tiva de IOT por profissional experiente são do mnemô-
mia em 6sem). nico LEMON:
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LOOK EXTERNALLY: boca pequena, pescoço curto, Take-Home Message:


paciente obeso Preditores de via aérea difícil (LEMON)
EVALUATE 3-3-2: distancia entre arcada dentária LOOK EXTERNALLY: boca pequena, pescoço curto,
com boca aberta de 3 dedos + hióide-mento de 3 dedos paciente obeso
+ tireoide-mandíbula de 2 dedos
EVALUATE 3-3-2: distancia entre arcada dentária
MALLAMPATI: visualização da hipofaringe com boca aberta de 3 dedos + hióide-mento de 3 dedos
OBSTRUCTION: obstrução + tireoide-mandíbula de 2 dedos
MOBILITY: reduzida em contexto de trauma pelo co- MALLAMPATI: visualização da hipofaringe
lar cervical OBSTRUCTION: obstrução
E quando estamos frente a via aérea difícil confirmada MOBILITY: reduzida em contexto de trauma pelo co-
após tentativas de IOT? Devemos inicialmente chamar lar cervical
alguém mais experiente e realizar nova tentativa. Po-
demos então prosseguir com materiais para via aérea
difícil como o Bougie. Após a 3a tentativa falha temos QUESTÃO 13
indicação de via aérea cirúrgica.
Paciente de 27 anos vem evoluindo há 3 dias com
Vamos às alternativas: disúria e hematúria. Há cerca de 24h, houve piora
do quadro com febre elevada, e calafrios. Deu entra-
A) INCORRETA - A abertura de 6cm é de aproxima- da na emergência com os seguintes parâmetros: PA
damente 3 dedos, indicando boa abertura. 80x50mmHg, FC: 120bpm. Qual a melhor conduta,
B) CORRETA - É justamente o M do nosso mnemô- nesse caso?
nico, a artrodese cervical indica mobilidade redu- A) Solicitar exames de sangue, sumário de urina e uri-
zida, e portanto dificuldade de alinhamento das nocultura para orientar terapêutica.
estruturas para IOT mais fácil.
B) Prescrever antibiótico empírico (quinolonas) por 7
C) INCORRETA - Uma distância DIMINUÍDA é dias e acompanhamento ambulatorial.
que prediz uma via aerea dificil.
C) Indicar internamento hospitalar, antibiótico ve-
D) INCORRETA - É um bom preditor de via aérea, noso, seguido de tomografia ou ultrassonografia.
uma vez que ainda não é uma Mallampati 3 ou 4
que indicariam dificuldade na IOT. D) Administrar antitérmicos e hidratação, se ob-
tiver boa resposta, iniciar antibiótico e progra-
mar retorno.
Resposta correta: Letra C

Comentários:
Paciente com disúria e hematúria, jovem, muito prova-
velmente estamos frente a um quadro de ITU simples
(cistite, afebril), certo? A piora do quadro com febre
e calafrios indica ascensão da infecção, provavelmente
uma ITU complicada (pielonefrite, febril).
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Apesar desse raciocínio ser importante, num setor de Vamos às alternativas:


emergência nossas condutas devem ser rápidas e dire-
cionadas, e dessa forma temos uma abordagem defini- A) INCORRETA - A terapêutica empírica é orienta-
da para pacientes em sepse, inicialmente independente da pela clínica inicial, devendo ser o escalonamento
do foco. Mais particularmente, paciente em choque ou descalonamento realizado com base nos exames
séptico com indicativos de piora hemodinâmica (PAS e culturas.
< 100 e FC elevada). Temos muitos outros fatores a B) INCORRETA - Choque séptico deve ser manejado
serem considerados para definir um choque, como FR, em ambiente hospitalar.
TEC, lactato arterial, alteração do nível de consciência C) CORRETA - Choque séptico há indicação de in-
entre outros. ternação, fluidoterapia, antibioticoterapia e busca
E qual a abordagem inicial do choque séptico? por foco infeccioso. A alternativa não está completa
para o manejo adequado, mas não apresenta erros.
Assegurar via aérea e corrigir hipoxemia, estabelecer
D) INCORRETA - Choque séptico tem indicação de
acesso venoso para fluidos e antibioticoterapia.
antibióticos independente da resposta à hidratação.
Em até 45min devemos obter exames laboratoriais (lac-
tato arterial, gasometria arterial, hemocultura de 2 sí-
tios, cultura de urina e escarro) e se possível e imagem Take-Home Message:
do foco suspeito. Manejo de choque séptico:
Em até 1h iniciamos o antibiótico empírico, normal- Internação hospitalar
mente combinados em pacientes em choque. O antibi-
Assegurar via aérea, corrigir hipoxemia e estabelecer
ótico depende do paciente, apresentação e suspeita de
acesso venoso
foco de infecção.
Administração de fluidos e antibióticos.
Os fluidos a serem administrados devem ser com SF
0,9% ou RL 30mL/kg, dentro da primeira hora e com- Exames laboratoriais, lactato, gasometria arterial, he-
pleta até a 3ª hora de atendimento, idealmente em alí- mocultura (aeróbia e anaeróbia) de 2 sítios, cultura de
quotas até normalização da PA ou até que haja sinais urina e escarro se possível e imagem do foco suspeito.
de hipervolemia como edema pulmonar ou ausência de Inicio de drogas vasoativas de paciente refratário
resposta adicional. O objetivo é de uma PAM 60-70 e à fluidoterapia.
débito urinário ≥ 0.5 mL/kg/hour
Se após fluidos adequadamente administrados man-
tiver hipotensão, devemos iniciar vasopressores (no-
repinefrina preferencialmente) e eventualmente gli-
cocorticóides, inotrópicos, transfusão (hb < 7) de
forma individualizada.
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QUESTÃO 14 pela pressão torácica) como desvio de traqueia, turgên-


cia jugular, sinais de choque e insuficiência respiratória.
Um homem de 64 anos sofre queda do telhado en- Poderia ser nosso caso, mas o enfisema subcutâneo não
quanto realizava um conserto elétrico na sua casa. Uma seria bem explicado.
ambulância foi acionada e o paciente levado para um
centro de trauma. O paciente referia dor torácica à di- O pneumotórax aberto ocorre quando há um feri-
reita, na projeção de escoriações da pele. Ao exame, es- mento grande o suficiente para que a pressão negativa
tava com estado geral comprometido, cianótico, fácies exercida no tórax permite entrada preferencialmente
de dor, dispneico, sudoreico, hipotenso, com sensação pelo ferimento (de menos resistência se for grande) do
de crepitação subcutânea torácica e ruídos abolidos em que pela traqueia. O quadro se caracteriza por falência
hemotórax direito. O que o emergencista deve fazer, respiratória por incapacidade de ventilação pulmonar,
nesse momento? podendo se associar a desvio de estruturas mediastinais
também. Não vemos ferimento aberto, então dificil-
A) Solicitar o desfibrilador e avaliar arritmia cardíaca. mente seria nosso caso.
B) Solicitar tomografia de tórax, para mensurar contu-
O hemotórax maciço ocorre por sangramento volumo-
são pulmonar.
so (1500mL) para o espaço pleural, caracterizando-se
C) Infundir cristalóides e sangue total e oferecer oxigê- por choque obstrutivo por desvio de estruturas medias-
nio em máscara. tinais mas principalmente por choque hipovolêmico
D) Descomprimir o tórax com agulha, seguida de dre- pela perda maciça de sangue. A percussão é maciça e as
nagem em selo d’água. jugulares estão colabadas por hipovolemia.
Resposta correta: Letra ANULADA O tamponamento cardíaco é um trama torácico com
foco mediastinal, com sangramento para a cavidade pe-
Comentários: ricárdica causando um “competição” por espaço entre
as câmaras cardíacas e o sangue acumulado. A tríade
Questão sobre lesões torácicas com risco iminente de
clássica (e infrequente) de Beck é composta por esta-
morte no trauma. Temos um paciente com estigmas
se jugular, hipotensão e abafamento de bulhas. Nesse
de trauma torácico (dor torácica, escoriações no tórax,
caso, os murmúrios vesiculares podem estar normais
crepitação subcutânea torácica e redução de MV) e de
caso não haja associação com outros traumas torácicos.
choque iminente (senão já estabelecido) com dispneia,
hipotensão, sudorese. Por fim as lesões traqueobronquicas centrais ocorrem
quando há uma lesão próxima a carina nos brônquios.
Frente a esse quadro sindrômico, quais são nossos prin-
São identificadas normalmente após drenagem torácica
cipais diferenciais? São 5 principais:
que não cessa o débito aéreo. Outros achados envolvem
- Pneumotórax hipertensivo enfisema de subcutâneo, fraturas de costela associadas
- Hemotórax maciço e pneumotórax associado, podendo haver hemoptise
pela lesão brônquica. A abordagem dessas lesões envol-
- Pneumotórax aberto ve intubação seletiva para o brônquio não acometido
- Tamponamento cardíaco em pacientes instáveis (como o nosso), sendo indicada
a intervenção cirúrgica de urgência. Já em pacientes es-
- Lesão traqueobrônquica central
táveis podemos programar o tratamento com broncos-
O pneumotórax hipertensivo caracteriza-se por acú- copia após estudo de imagem (TC).
mulo de ar por vazamento unidirecional para a cavi-
dade pleural. Os principais achados se dão por choque
obstrutivo (pela compressão das estruturas mediastinais
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Dentre os quadros apresentados, o que apresenta o en- achados de tamponamento cardíaco. Portanto frente a
fisema de subcutâneo é a lesão traqueobrônica central, essa suspeita nossa conduta inicial é a intubação seleti-
além do nosso paciente não apresentar desvio de estru- va para o lado não lesado para permitir uma ventilação
turas mediastinais sugestivas dos outros diagnósticos ou adequada do pulmão não lesado.
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Vamos às alternativas: QUESTÃO 15


A) INCORRETA - O ritmo cardíaco deve ser avaliado Uma paciente de 54 anos queixa-se de dor e assimetria
desde a chegada do paciente, se possível, ou no C. abdominal do lado direito, logo abaixo da linha da cin-
Arritmias não são nossa suspeita nesse momento. tura e lateral ao músculo reto abdominal. Ao exame,
B) INCORRETA - Paciente instável, não devemos percebe- se a dor à palpação dessa região e leve abau-
pensar em realizar exame de imagem neste momen- lamento. Uma tomografia revela protrusão e conteúdo
to. Frente a hipótese de lesão traqueobrônica central, abdominal entre as camadas musculares da parede ab-
a TC deve ser solicitada apenas em pacientes estáveis. dominal lateral, com aponeurose do músculo oblíquo
C) INCORRETA - A infusão de cristaloides e oxigê- externo íntegra. A paciente refere cirurgia cesariana
nio faz parte do atendimento inicial ao politrau- prévia há 25 anos. Nega outras cirurgias. Qual a causa
matizado, porém a infusão de sangue deve ser rea- da dor dessa paciente?
lizada em pacientes com choque hemorrágico não A) Hérnia incisional.
respondedores ou respondedores transitórios. Não B) Tumor desmoide.
é o quadro no momento. C) Hérnia de Spiegel.
D) INCORRETA - Se nossa hipótese fosse de pneu- D) Implante endometrial.
motórax hipertensivo essa seria uma conduta ade-
quada imediata a ser realizada. Porém estamos Resposta correta: Letra C
diante de lesão traqueobrônica central com insu-
ficiência respiratória por ventilação inadequada. A Comentários:
drenagem de tórax não resolveria nosso problema, Protrusão de conteúdo abdominal pela parede abdo-
já a intubação seletiva controlaria temporariamente minal. Não há dúvida de que se trata de uma hérnia,
e seria uma medida adequada. correto? A localização também é peculiar: lateral ao
músculo reto abdominal - ou seja, na linha semilunar.
Take-Home Message: Pra alunos MedCof a questão fica fácil! Trata-se de uma
Lesão traqueobrônquica central: causam insuficiência hérnia de Spiegel. É um tipo de hérnia de parede abdo-
respiratória por “vazamento” de ar. São raras, porém minal, menos comum e de difícil diagnóstico.
tem alguns achados sugestivos como enfisema de sub- São defeitos profundos, normalmente com a aponeuro-
cutâneo, hemoptise e os sinais de insuficiência respi- se superficial íntegra, insinuando-se pelas fibras muscu-
ratória. A conduta inicial depende da estabilidade: se lares do transverso e do oblíquo interno. A aponeurose
estável faremos estudo com TC e broncoscopia para íntegra normalmente torna o diagnóstico por exame fí-
abordagem definitiva, se instável faremos IOT seletiva sico difícil, sendo necessária um exame de imagem para
para otimizar a ventilação do lado não acometido e ci- avaliar com mais precisão a parede abdominal e fechar
rurgia de urgência. o diagnóstico.
A localização típica é na linha semilunar lateral ao reto
abdominal, normalmente no cruzamento com a linha
arqueada de Douglas.
O tratamento é cirúrgico, necessitando de colocação
de tela pré peritoneal.
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QUESTÃO 16
Um paciente cirrótico de 56 anos é admitido na emer-
gência com hematêmese importante. Os exames de-
tectaram uma queda de hemoglobina de 14g/dl (re-
ferência de exame realizado 1 mês atrás) para 6g/dl.
Inicialmente, foi realizada a reposição volêmica e medi-
cado com inibidor de bomba de prótons, vasopressina
e vitamina K. Aparentemente, apresenta uma remissão
do sangramento e uma endoscopia foi solicitada. Qual
das seguintes fontes de sangramento apresenta maior
risco de recorrência da hemorragia para esse paciente?
A) Laceração de Mallory-Weiss.
B) Varizes gastroesofágicas.
C) Gastropatia hipertensiva.
Vamos às alternativas: D) Úlcera Forrest IIb.
A) INCORRETA - A localização da incisão não coin- Resposta correta: Letra B
cide com a descrição da localização da hérnia.
B) INCORRETA - É um tumor benigno porém inva- Comentários:
sivo que pode surgir na localização de incisões pré-
- Ia: úlcera com vaso sangrante em jato
vias. Não caracteriza-se por herniação de conteúdo
abdominal, mas por tecido neoplásico. - IQuadro clássico de hemorragia digestiva alta
C) CORRETA - Hérnia em localização típica na li- (HDA) com exteriorização por hematêmese. Todas
nha semilunar da parede abdominal. as alternativas apresentadas apontam possíveis etio-
logias para o sangramento, algumas mais ou me-
D) INCORRETA - Também uma possibilidade, po-
nos prováveis, porém todas possíveis. A etiologia
rém a clínica seria diferente e a localização na cica-
varicosa é responsável por até 20% das HDAs, e
triz da incisão. O exame de imagem não revelaria
mesmo em cirróticos as outras etiologias ainda tem
herniação de conteúdo abdominal.
grande importância, apesar das varizes esofágicas
serem responsáveis por grande parte das etiologias.
Take-Home Message:
Hérnia de Spiegel: ocorre na linha semilunar, de difícil - A questão pergunta sobre a recorrência do sangra-
diagnóstico necessitando de exame de imagem. O tra- mento nas etiologias citadas.
tamento é feito com tela pré peritoneal.

- A laceração de Mallory-Weiss ocorre por laceração


na transição esôfago gástricas após episódios repe-
tidos de vômitos. O sangramento geralmente não
é grave, sendo autolimitado ou quando necessário
tratado com clipagem, esclerose, ligadura elástica
ou métodos térmicos pela endoscopia.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 63

- A gastropatia hipertensiva caracteriza-se por um classificada com a classificação de Forrest para de-
sangramento multifocal, com padrão em mosaico, terminar a chance de ressangramento e a terapia in-
que ocorre em decorrência da pressão portal au- dicada.b: úlcera com sangramento em babação
mentada, sendo caracterizado por um sangramento - IIa: úlcera com vaso visível não sangrante
crônico, normalmente não exteriorizado. O trata-
mento é clínico com suporte e tratamento da hiper- - IIb: úlcera com coágulo aderido
tensão portal e suas casuas. - IIc: úlcera com ponto vermelho na base
- III: úlcera com base limpa
- A DUP continua a ser a causa mais prevalente de A chance de ressangramento é decrescente conforme
HDA. Normalmente quando há sangramento es- progredimos a escala, podendo chegar a 70-100% em
tamos diante de uma úlcera recente, que deve ser Ia ou < 3% em III.

Já a HDA varicosa é mais complexa, seja pela comor- tudos indicam evidência de benefício mesmo em
bidade do paciente que pelo próprio sangramento. cirróticos sem ascite)
Apresenta mortalidade de 20-40%, tendo altas taxas - Lactulona objetivando 2-3 evacuações pastosas ao dia
de recorrências e raramente cessam espontaneamen-
te. É responsável por 60-70% das HDA em pacien-
tes cirróticos.
Vamos às alternativas:
As varizes se formam quando o gradiente entre a porta A) INCORRETA - Por vezes autolimitada, não apre-
e veia cava inferior supera 10mmHg. Em pacientes com senta alta taxa de ressangramento.
suspeita de varizes esofâgicas devemos entrar com medi- B) CORRETA - É a causa com maior taxa de sangra-
das adicionais iniciais (mesmo que antes do diagnóstico mento e ressangramento.
definitivo) para controle de varizes esofágicas como: C) INCORRETA - Não se apresenta como hematêmese.
- Octreotide (terlipressina é uma opção para pacien- D) INCORRETA - Apresenta uma taxa de ressangra-
tes com suspeita de síndrome hepatorrenal) mento baixa (< 10%)
- Ciprofloxacino ou ceftriaxone para prevenção de
PBE em paciente cirrótico com HDA (alguns es-
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Take-Home Message: dade elevada quando não abordado. O quadro clíni-


HDA varicosa: associada a pacientes cirróticos, alta co de um paciente com hematoma geralmente inclui
mortalidade e ressangramento. abaulamento cervical, desconforto/insuficiência res-
piratória, estridor e agitação. Nesse momento, o mé-
Medidas inicias adicionais em paciente com suspeita de dico que estiver próximo deve prontamente realizar a
sangramento por varizes esofágicas evacuação do sangue acumulado (se não der tempo de
- Octreotide ou terlipressina ser no centro cirúrgico, a beira leito mesmo!) para di-
minuir a pressão do compartimento central e impedir
- Ciprofloxacino ou ceftriaxone
a progressão do quadro. Em seguida, tirada a situação
- Lactulona emergencial, explorar (aí sim, idealmente, no centro
cirúrgico) novamente o pescoço em busca de algum
sangramento ativo.
QUESTÃO 17 Outra complicação específica e importante é a disfonia
Uma paciente de 35 anos está na sala de recuperação pós-operatória por lesão temporária ou definitiva dos
após uma tiroidectomia total. A saturação está cain- nervos laríngeos inferiores. O nervo laríngeo recorrente
do abaixo de 80%, e a paciente apresenta voz rouca é um ramo do nervo vago responsável pela inervação
e estridulosa. Qual a conduta apropriada para reverter motora de toda a musculatura intrínseca da laringe
essa situação? (com exceção do músculo cricotireóideo). Observa-se
maior incidência de lesão nas reoperações, em tumores
A) Aplicação de máscara laríngea.
malignos, na não identificação do nervo laríngeo e em
B) Sedação e entubação orotraqueal. tireoidectomia total. Na lesão unilateral, a sintomato-
C) Abertura da pele e planos musculares. logia depende da posição da prega vocal paralisada. Se
D) Confecção de traqueostomia de urgência. for mediana, o paciente pode não ter disfonia, pois a
outra prega consegue fazer contato na fonação. Se for
Resposta correta: Letra ANULADA paramediana ou lateral, a voz é pior. Quando a paralisia
é bilateral, se a posição da paralisia for paramediana, a
Explicação: voz é ruim, mas a respiração é boa. Quando é mediana
Questão bastante confusa sobre complicações de tireoi- dos dois lados, há dispneia importante, podendo ser
dectomia e que não apresenta uma resposta inequívoca necessária traqueostomia. A frequência de paralisias de-
- por isso foi anulada. Mas nem por isso não podemos finitivas, felizmente, é muito pequena, menor que 1%
aprender com ela… em serviço especializado.
As complicações cirúrgicas da tireoidectomia (em par- Voltemos à questão… Um paciente submetido à ti-
ticular) já são bem estudadas e conhecidas. As mais reoidectomia total está nos primeiros momentos de re-
importantes incluem: lesão de nervo laríngeo inferior, cuperação após a cirurgia - ainda em centro cirúrgico.
hipoparatireoidismo e hematoma cervical. De repente, inicia um quadro agudo e crítico, promo-
vendo voz rouca e estridulosa e dessaturação (podemos
A hipocalcemia decorrente do hipoparatireoidismo é a
até imaginar um quadro de agitação psicomotora asso-
mais frequente. Pode ser temporária, muito mais co-
ciado devido ao desconforto). Veja, o que pode estar
mum, ou definitiva.
acontecendo? Basicamente duas coisas: 1) algo sangrou
O hematoma cervical é uma complicação não tão in- no leito operatório após a extubação e está fazendo um
frequente, mas que possui morbidade e/ou mortali- hematoma cervical, comprimindo a via aérea e promo-
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vendo diminuição do retorno venoso que, por sua vez, Vamos às alternativas:
gera um edema da mucosa respiratória com consequen-
te obstrução. Nesse caso, a conduta é a reabordagem A) INCORRETA - A máscara laríngea não ajudaria
cirúrgica, com abertura imediata dos tecidos moles em nenhuma situação. Se fosse hematoma, deve-
(pele, subcutâneo, musculatura) de modo a evacuar o mos reabrir o pescoço e evacuar. Se fosse paralisia
hematoma. Veja, não adianta tentarmos intubar o pa- mediana de pregas vocais, precisaríamos de uma via
ciente nesse momento - devemos eliminar a causa do aérea definitiva.
desconforto. Muitas vezes, esses pacientes apresentam B) INCORRETA - A sedação para posterior intuba-
uma distorção e edema tão importantes que é muito ção apenas traria atraso na resolução do quadro. Es-
difícil a visualização da via aérea, impedindo uma ade- tamos frentes a uma situação de urgência! Não há
quada intubação orotraqueal, perdendo tempo precio- tempo para indução. Apesar de a IOT poder ser até
so na sua tentativa. Ou então tentada enquanto o paciente está na sala operatória,
não mais vai ser uma medida nesse momento, po-
2) houve lesão iatrogênica de ambos os nervos laríngeos
dendo retardar a conduta definitiva e promover um
inferiores (recorrentes) e as pregas vocais paralisaram
desfecho ruim.
em topografia mediana. Nesse caso, o paciente não
consegue promover a abdução das pregas vocais e abrir C) (IN)CORRETA - Essa conduta seria adequada
a glote para respiração. Geralmente essa complicação caso o paciente apresentasse um hematoma cervi-
é notada logo após a extubação - entretanto, ela pode cal. Quadro possível pela história e descrição.
ser clinicamente significativa após alguns minutos (ou D) (IN)CORRETA - Essa conduta seria adequada caso
quando o paciente está na RPA…). O que fazer quan- o paciente apresentasse paralisia bilateral de pregas
do isso ocorre? Corre para abrir novamente o pescoço e vocais em posição mediana por lesão de nervos la-
fazer uma traqueostomia de urgência! Agora, como po- ríngeos inferiores. Quadro possível pela história
demos discernir entre cenário 1 e 2? Através de algumas e descrição.
observações que a questão, infelizmente, não nos deu.
Se o paciente estava bem após a extubação e agora está
Take-Home Message:
com esse desconforto associado a abaulamento cervical,
devemos suspeitar de um hematoma cervical (afinal, o Questão ruim em seu essência, porém podemos apren-
pescoço é um local confinado, sem espaços “mortos” der bastante com ela. Ainda bem que a banca teve o
para o sangue se depositar, comprimindo estruturas bom senso de anular… Falou em pós-operatório recen-
quando acumulado e abaulando seu aspecto externo). te de tireoidectomia, insuficiência respiratória e agita-
Agora, se o paciente encontra-se com o pescoço sem ção psicomotora devemos sempre levantar a suspeita
abaulamentos, porém com uma história de extubação de hematoma cervical ou paralisia bilateral de pregas
um pouco mais “áspera”, pode ser que ambas as pregas vocais em posição mediana. Saberemos distinguir pela
vocais estejam paralisadas em posição mediana, tradu- história da extubação (se foi lisa ou não) e pela presença
zindo uma lesão nervosa bilateral. ou não de abaulamento cervical. Quando temos um
hematoma cervical, a conduta imediata é a abertura da
ferida operatória para evacuação dos coágulos. Quando
estamos diante de paralisia de prega vocal bilateral me-
diana, corre para a traqueostomia de urgência.
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QUESTÃO 18 O diagnóstico do insulinoma é feito no teste de jejum


com documentação de hipoglicemia, pela dosagem
Uma paciente de 47 anos é investigada por “desmaios”. de peptídeo C (subproduto da produção de insulina)
Ela refere pouca tolerância ao jejum e sente necessidade elevado e pela cintilografia marcada com GLP-1 para
de alimentar-se com frequência de alimentos doces. Na identificar o nódulo pancreático responsável pela pro-
avaliação, foi detectada somente insulina alta e um nó- dução. O tratamento é realizado com simples enuclea-
dulo no pâncreas de 1cm, vista a tomografia. Demais ção do nódulo com USG intra operatório para maior
exames sem alterações. Durante laparotomia, identifi- segurança de margens.
ca-se um nódulo avermelhado na superfície pancreática
de 1cm à esquerda dos vasos mesentéricos sem relação Outros tumores funcionantes envolvem os gastrino-
com o ducto pancreático principal. Qual deve ser a es- mas, glucagonomas, somatostatinomas e VIPomas.
tratégia cirúrgica?
Vamos às alternativas:
A) Enucleação do nódulo.
B) Pancreatectomia central. A) CORRETA - Frente a suspeita de insulinoma, o
C) Duodenopancreatectomia. tratamento é a enucleação.
D) Pancreatectomia corpo-caudal. B) INCORRETA - Técnica que envolve a ressecção e
reconstrução em Y de Roux devido a manutenção
Resposta correta: Letra A da cauda do pâncreas, não é utilizada no tratamen-
to de insulinomas.
Comentários: C) INCORRETA - Seria uma conduta adequada fren-
Paciente com pouca tolerância ao jejum, com neces- te a suspeita de adenocarcinoma de pâncreas resse-
sidade de alimentação frequente. Pode ser apenas um cável. Porém não é nossa suspeita.
hábito beliscador da paciente? Pode. Mas a questão D) INCORRETA - Não são necessárias ressecções ra-
não dá essas informações de graça. Associado ao qua- dicais para o tratamento do insulinoma.
dro apresenta também quadros de “desmaios”. Esse
conjunto é sugestivo de sintomas glicopênicos, ou
seja, hipoglicemia. Take-Home Message:

Normalmente esse quadro é visto em pacientes usuá- Insulinoma


rios de antidiabéticos ou insulina, que podem ter como Tríade de Whipple do insulinoma nada mais é que
efeito colateral a hipoglicemia. Em pacientes previa- uma continuação desse conceito: sintomas de hipo-
mente hígidos, com nódulo pancreático associado, de- glicemia + hipoglicemia documentada + reversão após
vemos certamente pensar em uma produção exógena glicose EV.
de insulina, mais precisamente um insulinoma.
Diagnóstico: teste de jejum, dosagem de peptídeo C
Dos nódulos pancreáticos funcionantes e sintomáticos, (subproduto da produção de insulina) elevado e cinti-
o insulinoma é o mais frequente. É um tumor indo- lografia marcada com GLP-1
lente, de baixo risco metastático, originado das células
Tratamento: enucleação do nódulo com USG intra
beta. Caracteriza-se por sintomas de hipoglicemia, com
operatório
reversão após ingesta de glicose. A tríade de Whipple
do insulinoma nada mais é que uma continuação desse
conceito: sintomas de hipoglicemia + hipoglicemia do-
cumentada + reversão após glicose EV.
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QUESTÃO 19 - Neoplasias de esôfago

Na investigação de um paciente com queixa de disfa- - Neoplasias de cabeça e pescoço


gia, qual exame serve para orientar condutas clínicas
e cirúrgicas, demonstrando pontos de estenose, estase, Vamos às alternativas:
aspecto da mucosa e coleta de fragmentos. Qual dos
A) INCORRETA - Importante exame na investigação
exames atende a essa necessidade?
de acalásia ou outros distúrbios motores esofágicos.
A) Manometria de alta resolução. B) CORRETA - É o exame inicial na investigação de
B) Endoscopia digestiva alta. disfagia e também permite intervenções e bióp-
C) Cintilografia esofágica. sias, por exemplo.
D) Esofagograma digital. C) INCORRETA - Pode ser utilizada para investiga-
ção de refluxo gastroesofágico.
Resposta correta: Letra B
D) INCORRETA - Permite uma boa avaliação do di-
âmetro esofágico, especialmente frente a hipótese
Comentários:
de acalásia.
Questão sobre exames de investigação de disfagia.
Frente a disfagia, nosso primeiro exame a ser realizado
é uma EDA para excluir neoplasia, sendo associado a Take-Home Message:
um esofago-estomago-duodeno-grafia (EED). Exames O exame inicial para investigação de disfagia é a EDA,
como tomografia ou ressonância magnética, manome- que permite avaliar a mucosa, realizar biópsias, inter-
tria, pHmetria, cintilografia podem nos fornecer dados venções e tratamentos quando necessário.
precisos sobre determinados parâmetros (refluxo ácido,
pressão esofágica, estenoses extrínsecas…). Porém o
exame que permite visualizar a mucosa, obter biópsias QUESTÃO 20
e realizar intervenções é certamente a endoscopia di-
gestiva alta. Homem de 64 anos, fumante, obeso (grau I), DM de
longa data e hipertenso, queixas de dor e fadiga nos
Algumas causas de disfagia incluem membros inferiores ao deambular, principalmente à
- Alterações motoras orofaríngeas (como na esclero- esquerda. Atualmente,refere piora com bastante limi-
se sistêmica) tação de caminhada e dor até em repouso no pé e pan-
turrilha esquerda alternando com dormência da região.
- Acalásia por distúrbios motores esofágicos, mais Qual deve ser o próximo passo para esse paciente?
bem avaliada pelo EED
A) Prescrever terapia farmacológica com Pentoxifilina.
- Estenoses de esôfago (por causas pépticas, formação
de aneis ou membranas) B) Realizar a amputação da perna esquerda acima
do joelho.
- Compressão extrínseca (como por uma subclá- C) Realizar procedimento endovascular para colocação
via aberrante que comprime o esôfago na disfa- de Stent.
gia lusória)
D) Realizar angioressonância ou angiotomografia de
- Divertículos esofágicos (Zenker) que são mais bem membros inferiores
vistos no EED do que na EDA
Resposta correta: Letra D
- Esofagite eosinofílica
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O paciente acima apresenta doença arterial obstrutiva D) CORRETA - Paciente com isquemia crítica e por-
periférica crônica com claudicação que evoluiu para is- tanto com indicação de revascularização, sem dados
quemia crítica (dor ao repouso ou lesão trófica). que indiquem necessidade de amputação primária
Enquanto claudicante, o paciente não tem indicação ou paliação. O próximo passo é um exame de ima-
de revascularização, pois o risco de piora da isquemia gem para avaliação anatômica da obstrução arterial
do membro com a intervenção é maior do que o bene- e definição de qual melhor forma de intervenção
fício, uma vez que há formação de circulação colateral (endovascular ou aberto com enxerto). Lembran-
que tende a compensar o membro. O paciente que tem do que antes de indicar o exame devemos realizar
apenas claudicação deve, portanto, seguir apenas com um bom exame físico vascular. Angiotomografia ou
o tratamento clínico. angiorressonância avaliam bem os territórios aor-
to-ilíaco e femoro-poplíteo. Se paciente apresenta
Já o paciente com doença arterial crônica periférica que pulsos poplíteos, USG Doppler e Arteriografia (pa-
evoluiu com isquemia crítica ( dor ao repouso e lesão drão-ouro) são os exames indicados.
trófica) tem indicação cirúrgica e deve ser estratificado
conforme mostrado no fluxograma abaixo do Guideli-
ne Europeu. São 3 os principais aspectos: QUESTÃO 21
Condições clínicas do paciente - avaliação do risco Homem, 70 anos, vem em consulta ambulatorial quei-
cirúrgico xando-se de dispneia progressiva nos últimos 2 meses e,
Grau de isquemia/infecção do pé - avaliação do risco de agora, em repouso. Relata também edema de membros
perda do membro e da probabilidade de benefício da inferiores e acorda com falta de ar durante a noite. É
revascularização hipertenso e obeso. Fez um ECG, que revelou sinais
de sobrecarga ventricular esquerda e um ecocardiogra-
Anatomia da obstrução arterial - exame de imagem dos ma, com FEVE = 65%, disfunção diastólica, pressão
membros inferiores sistólica na artéria pulmonar de 40mmHg e sinais de
A) INCORRETA - O tratamento clínico para pa- aumento de pressões no enchimento do VE (E/e` >
cientes com doença arterial obstrutiva periférica 9). Está em uso de Losartana 50mg 2 vezes ao dia e
crônica incluem prioritariamente: cessação do ta- Hidroclorotiazida 25mg cedo. Ao exame físico: PA =
bagismo, controle de comorbidades, AAS, estatina 150 x 90mmHg, FC = 80bpm, crepitações pulmona-
e exercício físico programado. A pentoxifilna é um res em terço inferior bilateralmente, ausência de sopros
derivado da xantina com ação anti-inflamatória e cardíacos, edema de membros inferiores de 2+/4+. LE-
vasodilatadora que pode ser utilizada para melhora GENDA: VE = Ventrículo Esquerdo; FEVE = Fração
dos sintomas dos pacientes claudicantes, mas não de Ejeção do VE. Qual é sua conduta inicial?
tem eficácia comprovada. Nesse caso também o pa- A) Associar betabloqueador e diurético de alça e man-
ciente apresenta isquemia crítica (dor ao repouso) ter o restante dos medicamentos.
tendo indicação de tratamento cirúrgico.
B) Orientar perda de peso, associar hidralazina via oral
B) INCORRETA - Não foram apresentados dados so- e encaminhar ao pneumologista.
bre as condições do paciente e/ ou do membro que
C) Introduzir antagonista da aldosterona e diurético
indiquem uma amputação primária (amputação
de alça e manter os outros remédios.
sem revascularização).
D) Trocar tiazídico por diurético de alça e associar
C) INCORRETA - O paciente ainda não teve uma
bloqueador de canal de cálcio à receita.
avaliação anatômica da obstrução arterial para defi-
nir qual melhor forma de intervenção (endovascu- Resposta correta: Letra D
lar ou aberto com enxerto).
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A questão nos expõe um paciente com quadro de In- gue que sai de uma câmara cardíaca a cada batimento.
suficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada Portanto, podemos ir mais além desse conceito frio e en-
com se encontra descompensado (dispneia progressiva, tender que, em cada classificação segundo a FE temos
ortopneia). Como Insuficiência Cardíaca é uma doen- processos patológicos distintos ocorrendo no coração.
ça com várias classificações, vamos relembrá-las antes Na ICFEr há uma redução da contratilidade miocárdi-
de ir para o tratamento dessa condição! ca. Se menos sangue sai durante a sístole, o ventrículo
Podemos classificar a Insuficiência cardíaca da se- fica sobrecarregado, pois além do sangue que chegará, há
guinte maneira: uma sobra não ejetada! A conclusão disso é a dilatação
1) Pelo seu estágio de desenvolvimento: ventricular. Assim, um ventrículo que já não tinha um
miocárdio saudável, perderá cada vez mais tecido viável.
a. A: São os pacientes apenas em um risco de desen-
volvimento, sem evidentes alterações estruturais. Na ICFEp o problema não é na ejeção e sim no en-
Basicamente os pacientes portadores de síndro- chimento. As paredes ventriculares são tão rígidas que
me metabólica o enchimento diastólico é extremamente dificultado.
Mas a contração miocárdica é preservada.
b. B: São os pacientes que apresentam algum tipo de
alteração estrutural cardíaca, mas que não apre- Vejam que o problema da primeira é na sístole. O pro-
sentam sintomas. Por exemplo: pacientes com hi- blema da segunda, na diástole. Por isso que antigamen-
pertrofia ventricular, história prévia de IAM... te elas se chamavam IC sistólica e IC diastólica! Mas
esse termo está cada vez mais raro.
c. C: São os pacientes sintomáticos e com altera-
ções cardíacas estruturais Essa classificação é, sem dúvidas, a mais importante,
principalmente porque define o tipo de tratamento ins-
d. D: São os pacientes refratários ao tratamento tituído! Várias drogas aprovadas no contexto de uma
2) Classe funcional NYHA: (Essa classe funcional define ICFEr não são usadas em ICFEp.
o grau de SINTOMA de pacientes portadores de IC. 4) Classificação quanto ao perfil hemodinâmico
Pacientes nos estágios A e B possuem sintomas? Não!!
Então eles não são classificados com o NYHA!!) Essa classificação é mais utilizada em contexto de des-
compensações. São 4 tipos:
Paciente sem limitações durante
NYHA I Sem congestão Com congestão
atividades cotidianas
Sintomas leves durante as Boa
NYHA II B(Quente/
atividades diárias perfusão A (Quente/Seco)
Úmido)
NYHA III Dispneia aos pequenos esforços periférica
NYHA IV Dispneia ao repouso Má
perfusão L (Frio/Seco) C(Frio/Úmido)
periférica
3) Esse é um conceito relacionado com a evolução da
doença. O ponto de corte para classificarmos uma IC
baseado na FE é: O perfil hemodinâmico irá definir a lógica do trata-
1) FE preservada se valores acima ou igual a 50% mento da descompensação:

2) FE intermediária se valores entre 40 e 49% A (Quente/Seco): um paciente que não está congesto
e não está com má perfusão deve ser investigado para
3) FE reduzida se menor que 40% outras causas de dispneia!
Mas o que é fração de ejeção? É a porcentagem de san- B (Quente/Úmido): é o perfil hemodinâmico mais co-
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mum! Como o paciente tem bom débito, o tratamen- 3) Espironolactona: aumenta sobrevida! Deve ser ini-
to é a diureticoterapia com furosemida venosa! Outra ciada em pacientes sintomáticos! Ou seja, diferen-
classe medicamentosa muito usada são os vasodilatado- temente das anteriores, essa não é iniciada de rotina
res (nitroprussiato e nitroglicerina) em pacientes assintomáticos.
L (Frio/Úmido): nesse perfil, o paciente não tem perfu- 4) Hidralazina + Nitrato: aumenta sobrevida! Com-
são adequada por causa do baixo débito. O carro chefe binação que substitui o IECA/BRA em pacientes
do tratamento é a dobutamina e a milrinona. intolerantes OU que se apresenta como opção em
D (Frio/Seco): como o paciente não apresenta conges- quem se apresenta sintomático mesmo com trata-
tão, mas está com baixo débito, uma hidratação parci- mento otimizado com as drogas acima!
moniosa deve ser instituída. 5) Ivabradina: aumenta sobrevida! Tem uma indicação
Para fecharmos o comentário, como a questão cobrou muito especifica! Eu preciso de um paciente em a)
dados da ICFEp , é importante uma boa noção do tra- Ritmo Sinusal 2)FC maior ou igual a 70 3) Sinto-
tamento ambulatorial das duas condições. As diferen- mático a despeito de um tratamento otimizado.
ças irão nortear a resolução da questão: 6) Sacubitril-Valsartan: aumenta sobrevida! Indicado
1) IECA ou BRA: aumentam a sobrevida! Devemos em pacientes otimizados com IECA/BRA que per-
iniciar em todos os pacientes!! Inclusive em pacien- sistem sintomáticos
tes apenas hipertensos (estagio A). Iniciar doses mais Quem ficou mais atento percebeu que os seis acima
baixas e titular até o máximo tolerado (interromper comprovadamente aumentam a sobrevida. Então que
o aumento se hipercalemia, hipotensão ou azotemia) drogas não aumentam a sobrevida?
a. Os BRAs são reservados a quem tem Contraindi- 1) Diuréticos: usado majoritariamente em pacien-
cação aos IECAs (angioedema ou tosse refratária) tes SINTOMÁTICOS.
2) Betabloqueador: aumenta a sobrevida! Devemos 2) Digoxina: usado em pacientes que se apresentem
iniciar em todos os pacientes com IC estabelecida. sintomáticos a despeito de terapia otimizada. Po-
a. Aqui mora uma das grandes pegadinhas da pro- rém nesse caso não houve aumento de sobrevida!
va. Nem todo betabloqueador é aprovado. Ape- a. A intoxicação digitálica é complicação comum,
nas: Bisoprolol, Carvedilol e Metoprolol. E para se manifestando principalmente por um quadro
dificultar mais ainda, não é qualquer conforma- gastrointestinal proeminente associado a arrit-
ção do metoprolol. É o SUCCINATO de Meto- mias. A hipopotassemia é um distúrbio que pode
prolol e não o TARTARATO. Acreditem ou não, gerar a intoxicação mesmo com doses adequadas!
isso já caiu em prova E a ICFEp??
b. Quem é melhor em fisiopatologia deve pensar: As drogas citadas acima (exceto Ivabradina e Sacubi-
mas se o betabloqueador reduz a frequência cardí- tril-Valsartan) podem ser usadas no sentido de controle
aca, ele não deveria piorar a IC? Isso é uma meia de fatores de risco (Fibrilação Atrial, Hipertensão), mas
verdade. Nas primeiras 8 a 12 semanas o betablo- os estudos relacionando o uso dessas drogas e aumento
queador realmente piora os sintomas. Por isso, de sobrevida ainda estão em andamento. Por enquan-
NÃO DEVEMOS INICIAR SE O PACIENTE to, Ivabradina e Sacubitril-Valsartan não são validados
ESTÁ DESCOMPENSADO. para essa entidade!
c. Por fim, lembrar das contraindicações dos beta-
bloqueadores: asma grave, hipotensão ou bradi-
cardia importante!
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 71

Vamos às alternativas: QUESTÃO 22


A) INCORRETA Nós jamais associamos um betablo- Homem de 70 anos, viúvo, aposentado e alcoolista di-
queador em um paciente descompensado! ário, vai à consulta médica para acompanhar Hiperten-
B) INCORRETA O paciente se encontra congesto e são Arterial Sistêmica e Diabetes anteriormente conhe-
descompensado. Não cabe perda de peso e encami- cidas e controladas. Durante a consulta, fica evidente
nhamento! Ele precisa minimamente de diuretico- humor deprimido constante, fala em volume baixo e
terapia pouco espontâneo. Relata perda do interesse na convi-
C) INCORRETA A introdução da espironolactona é vência com os netos e nos jogos de futebol que costuma
indicada na IC de fração de ejeção reduzida em pa- acompanhar, insônia intermediária, perda de peso in-
cientes sintomáticos. Como esse paciente se encon- voluntária por redução do apetite, e ideias de que é um
tra com uma FE de 65%, não é a melhor indicação fardo para a família. Tem ideia de morte, achando que
pode ser um alívio, inclusive com pensamentos sobre
D) CORRETA Além do tratamento com diurético de suicídio, mas sem planejamento no momento. Qual
alça, como o paciente não se encontra com uma a opção correta em relação ao manejo do paciente no
PA controlada, devemos associar eventualmente contexto descrito acima?
um novo anti-hipertensivo seguindo recomenda-
ções do tratamento geral da HAS. O bloqueador A) O uso de antidepressivo tricíclico deve ser evitado
do canal de cálcio é uma boa opção! pelo risco de morte em caso de ingestão em gran-
de quantidade.
Take-Home Message: B) O médico deve evitar o uso de Inibidor de Recap-
tação de Serotonina, pela possibilidade do aumento
1) A IC apresenta diversas classificações e divisões, sen- de risco de suicídio.
do as mais importantes a NYHA e a divisão pela Fra- C) Como perguntar sobre ideias de suicídio pode in-
ção de Ejeção. Essas ajudam a definir o tratamento duzir ou aumentar o risco de tentativa, tal questio-
2) As 3 principais classes de droga que aumentam so- namento deve ser evitado.
brevida nos casos de ICFEr são: Betabloqueadores D) O grau de preocupação é baixo e a intervenção mé-
(nem todos!!), IECA/BRA e Espironolactona. Re- dica deve ser pouco invasiva, pois o paciente está
centemente entraram no mercado Ivabradina e Sa- fora da faixa etária de maior incidência de suicídio.
cubitril-Valsartana!
Resposta correta: Letra A
3) As medicações mais novas são, até o momento, mais
indicadas em casos refratários (sintomáticos a des- Questão sobre depressão! Como é um tema bem recor-
peito do tratamento otimizado) rente, vamos estudá-lo com atenção:
4) Os perfis hemodinâmicos nos ajudam a definir qual A depressão é um distúrbio psiquiátrico que tem em
a lógica do tratamento: sua espinha dorsal clínica a tristeza ou a perda de inte-
a. A (Quente/Seco): Investigar outras causas resse/prazer. É extremamente prevalente, sendo estima-
b. B (Quente/Úmido): Diuréticos de alça e Vaso- dos mais de 10 milhões de casos apenas no Brasil. Por
dilatadores definição a depressão leva ao prejuízo social e econômi-
co, logo é uma das doenças que causa maior impacto
c. L (Frio/Úmido): Dobutamina econômico no mundo.
d. D (Frio/Seco): Hidratação parcimoniosa
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Os fatores de risco mais associados à depressão são: se- Por fim, o paciente não pode ter apresentado nenhum
dentarismo, alcoolismo, má alimentação, idade avan- episódio de mania ou hipomania!!
çada. Além disso a prevalência é maior em mulheres do
que em homens (2:1)
O DSM-5 ainda separa uma situação especial: o luto!
O transtorno depressivo maior é uma doença com al- Ele descreve que o julgamento clínico nessa situação
tíssima taxa de recorrência é de extrema importância, devido à sobreposição dos
Vamos estudar alguns outros pontos do transtorno de- sintomas.
pressivo maior: 2) Classificação de gravidade
1) Critérios diagnósticos para o transtorno depres- „ Leve (5-6 sintomas): ou seja, o paciente apresenta
sivo maior “o mínimo” para o diagnóstico da doença. O pre-
E acordo com o DSM-5, fechamos o diagnóstico de juízo social é pequeno e o manejo mais simples.
depressão da seguinte maneira: „ Moderada: são os casos não classificados como leve
5 ou mais sintomas presentes por um PERÍODO ou grave
MÍNIMO DE 2 SEMANAS, sendo que pelo menos „ Grave (>8 sintomas): o paciente apresenta uma mi-
1 dos sintomas é humor deprimido ou perda de in- ríade de sintomas, com grande prejuízo social e de
teresse ou prazer. difícil manejo.
„ Humor deprimido pela maior parte do dia, quase 3) Subtipos
todos os dias seja por informação do paciente seja
por observação de terceiros. O DSM-5 especifica inúmeros subtipos, mas que no
fundo mais ajudam na noção clínica geral do doente do
„ Redução importante no interesse ou no prazer em que determinam prognóstico ou resposta ao tratamen-
realizar a maior parte das atividades do dia (tam- to. Os mais conhecidos são:
bém por informação do paciente ou por observação
de terceiros) „ Melancolia: que é a tristeza extrema
„ Perda de peso não relacionada à dieta, perda de „ Associado a ansiedade: quando há 2 dos seguintes
apetite ou ganho de peso (>5% em 1 mês) sintomas: tensão, sensação de que algo ruim acon-
tecerá, medo de perder o auto-controle, inquietude
„ Insônia ou hipersonia
„ Atípico: ocorre se o paciente apresenta melhora em
„ Agitação ou retardo psicomotor eventos positivos, sensibilidade maior a eventos de
„ Fadiga ou sensação de estar sem energia rejeição interpessoal...
„ Sensação de inutilidade ou culpa excessiva „ Psicótico: quando há também delírios e alucinações
„ Diminuição da capacidade de concentrar 4) Tratamento
„ Pensamentos de morte recorrente (com ou sem ide- O objetivo do tratamento é a restituição das funções
alização de plano de suicído) sociais com a remissão do quadro depressivo ou pelo
Esses sintomas, além disso, devem causar prejuízo so- menos com uma resposta parcial. Existem, para a ava-
cial e não devem ser causados por causas orgânicas ou liação dessa resposta, algumas escalas:
medicamentosas além de não ser melhor explicada por „ Montgomery-Asberg
outras condições psiquiátricas como: desordem esqui- „ PHQ-9 (Patient Health Questionnaire)
zoafetiva, esquizofrenia ou outros distúrbios psicóticos.
„ Escala de Hamilton
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Não existe uma regra sobre o tratamento inicial de es- „ Tricíclicos


colha. No geral a combinação de psico e farmacotera- o Quais são? Amitriptilina, nortriptilina, imi-
pia é o mais usado, porém estudos não demonstraram pramina
que o uso de um ou outro em monoterapia obtenha
resultados menos satisfatórios. Porém, os guidelines o Efeitos adversos: boca seca, ganho de peso, dis-
da NICE sugerem psicoterapia em monoterapia ape- função sexual
nas para pacientes com depressão leve. Apesar de uma „ Inibidores da Monoamina Oxidase
grande variedade de antidepressivos, a maioria apresen-
o Quais são? Selegilina
ta eficácia semelhante, sendo que a escolha será baseada
em efeitos adversos, tolerância e preço. o Efeitos adversos: síndrome serotoninérgica
A classe mais usada no mundo é a dos Inibidores seleti- Um ponto interessante de acrescentarmos aqui é o
vos da receptação de serotonina. manejo do paciente que possui ideação suicida. O pri-
meiro ponto é avaliar se o paciente possui uma ideação
Devemos reavaliar o paciente em 6 semanas. Em caso
suicida ativa ou passiva:
de não melhora, aumentamos a dose do antidepressivo!
• Ativa é definida por pensamentos de realmente ti-
4.1) Classes de drogas
rar a própria vida, enquanto passiva é o desejo de
„ Inibidores seletivos da receptação de serotonina que alguma coisa tire a vida da pessoa (“quero dor-
o Quais são? Sertralina, Fluoxetina, citalopram, es- mir e não mais acordar”)
citalopram, paroxetina Dessa forma, teremos a definição de onde iremos tratar
o Efeitos adversos: ganho de peso, disfunção sexu- o paciente: intra-hospitalar ou extra-hospitalar. Deve-
al, tontura, distúrbios do sono mos internar os doentes que apresentem plano e in-
tenção de se matar ou aqueles que não irão aderir ao
„ Inibidores da receptação de serotonina-noradrenalina tratamento extra-hospitalar!
o Quais são? Venlafaxina, Desvenlafaxina, Dulo- É muito importante, portanto, conversar abertamente
xetina com os pacientes, uma vez que isso pode representar a
o Efeitos adversos: náuseas, ganho de peso, disfun- salvação da vida da pessoa!!
ção sexual Intervenções úteis incluem:
„ Antidepressivos atípicos • Envolver membros da família
o Quais são? Bupropiona e Mirtazapina • Restringir acesso aos métodos de suicídio (como ar-
o Peculiaridades: a bupropiona é a primeira linha mas de fogo e medicações)
do tratamento do tabagismo. A mirtazapina tem • Educar o paciente sobre o “plano de segurança”
efeito sedativo em baixas doses, além de ter efeito (avaliar precipitantes de crise, lista de contatos pes-
orexígeno. soais e profissionais)
„ Moduladores de serotonina Sobre as medicações, estudos randomizados demons-
o Qual é? Trazodona traram a eficácia do lítio como prevenção de suicídio.
o Efeitos adversos: risco de síndrome serotoninér- Antidepressivos tricíclicos e IMAOs podem ser letais
gica, disfunção sexual, náuseas, tonteira se tomados em altas doses, portanto devem ser evita-
dos se possível!
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Vamos às alternativas: 3) Devemos abordar com o paciente a ideação suici-


da, por ela se tratar de uma urgência médica! O
A) CORRETA Exatamente! Alem dos antidepressi- paciente que tenha planos e intenção de realizar a
vos tricíclicos não serem a primeira escolha em ne- tentativa de auto-extermínio deve ser internado!
nhuma faixa etária, os mesmos devem ser evitados
em pacientes com ideações suicidas. 4) Devemos evitar os tricíclicos em quem possui idea-
ção suicida, pelo risco de overdose medicamentosa.
B) INCORRETA Como devemos iniciar antidepres-
sivos, os ISRS são a primeira escolha! 5) A primeira escolha para o tratamento geral da de-
C) INCORRETA Devemos abordar esse assunto! pressão é a classe dos Inibidores Seletivos da Recap-
Lembrem que se trata de uma emergência médica tação de Serotonina
D) INCORRETA O paciente apresenta ideações suici-
das, além de estar na faixa etária de maior risco.
QUESTÃO 23

Take-Home Message: Homem de 70 anos, hipertenso de longa data, é ad-


mitido na emergência com dispneia aguda. Ao exame
1) O transtorno depressivo maior é uma doença extre- físico, apresenta pressão arterial de 220x120mmHg e
mamente prevalente que é caracterizada por tristeza crepitações pulmonares bilaterais em dois terços in-
ou falta de prazer que levam a um prejuízo social e feriores. Considerando o diagnóstico mais provável,
econômico quais medicamentos dentre os listados abaixo, devem
2) Os critérios diagnósticos são pelo menos 5 ser prescritos, prioritariamente.
dos seguintes: A) Morfina e Dobutamina.
a. Humor deprimido pela maior parte do dia, qua- B) Morfina e Nitroglicerina.
se todos os dias seja por informação do paciente C) Furosemida e Dobutamina.
seja por observação de terceiros.
D) Furosemida e Nitroglicerina.
b. Redução importante no interesse ou no prazer
em realizar a maior parte das atividades do dia Resposta correta: Letra D
(também por informação do paciente ou por ob-
servação de terceiros) O diagnóstico mais provável é o Edema Agudo de Pul-
mão! Por que pensamos isso? Porque estamos diante
c. Perda de peso não relacionada à dieta, perda de da seguinte tríade: DISPNEIA AGUDA + PICO HI-
apetite ou ganho de peso (>5% em 1 mês) PERTENSIVO + SINAIS DE CONGESTÃO (cre-
d. Insônia ou hipersonia pitações bilaterais).
e. Agitação ou retardo psicomotor O mecanismo fisiopatológico definidor é a transudação
de fluido para dentro dos alvéolos. E isso ocorre porque
f. Fadiga ou sensação de estar sem energia
o ventrículo esquerdo não possui força suficiente para
g. Sensação de inutilidade ou culpa excessiva bombear o sangue para frente (seja por disfunção contrá-
h. Diminuição da capacidade de concentrar til, seja por uma elevação importante da pressão arterial).

i. Pensamentos de morte recorrente (com ou sem • A lógica fisiopatológica descrita acima é a do EAP
idealização de plano de suicído) CARDIOGÊNICO. Porém existe um tipo de EAP
não cardiogênico. Nesse caso a PERMEABILIDADE
CAPILAR está aumentada! Dentre as causas dessa ou-
tra classificação se incluem: TEP, SDRA, infecções...
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Tratamento: Vamos às alternativas:


• Suporte clínico geral: são paciente graves! Então A) INCORRETA A morfina apresenta baixa evidência
monitorização cardíaca, 2 acessos, cabeceira elevada nos casos de EAP, devendo ser, portanto, evitada!
e monitorização de diurese são importantíssimos
B) INCORRETA Mesma justificativa da letra A
• Suporte ventilatório: C) INCORRETA A base do tratamento não inclui o
o Se o paciente estiver apenas hipoxêmico (<90%), inotrópico porque o paciente se encontra muito
iniciar máscara facial hipertenso
o Se o paciente apresentar esforço respiratório, aci- D) CORRETA Vasodilatação + Diuréticos! Essa é a base
dose respiratória ou hipoxemia refratária, a preferên-
cia é pela VNI! Take-Home Message:
o Obviamente, se houver ou indicação imediata de 1) Suspeita de EAP = Pico hipertensivo ou disfunção
IOT ou contraindicação à VNI, partimos para a intu- cardíaca + congestão + dispneia aguda
bação! Dentre as contraindicações à VNI, se incluem:
2) Se não houver contraindicações, o suporte ven-
rebaixamento do sensório, trauma de face, paciente não
tilatório para pacientes deve ser a máscara facial
colaborativo, falência de órgãos, obstrução significativa
(se apenas hipoxêmico) ou VNI (se com esforço
de vias aéreas.
respiratório)
• Diuréticos: pacientes com EAP e evidência de so-
3) A base do tratamento é Diureticoterapia + Vaso-
brecarga de volume devem iniciar diuréticos IME-
dilatadores
DIATAMENTE e INDEPENDENTEMENTE
da causa base!
• Terapia vasodilatadora: normalmente devem ser QUESTÃO 24
associados à diureticoterapia como adjuvantes. O
racional é corrigir a alta pós-carga! Os dois mais Homem de 35 anos apresenta quadro de tosse pro-
usados são: dutiva com expectoração amarelada, há 2 dias, asso-
ciada a febre. Ao exame físico, apresenta crepitações
o Nitroglicerina, que possui uma importante ação em base direita, estado confusional, pressão arterial
dilatadora arterial e indicado principalmente nos não 80x50mmHg e frequência respiratória de 26irpm. Ra-
responsivos à diureticoterapia exclusiva! diografia de tórax evidencia infiltrado alveolar em base
o Nitroprussiato de sódio, que possui uma ação vaso- direita. Qual o tratamento inicial mais adequado para
dilatadora equilibrada (arterial e venosa) esse caso clínico?
• Morfina: é um tratamento mais sintomático, ao re- A) Expansão volêmica e antibioticoterapia.
duzir a ansiedade. Porém, devido à evidencia limi- B) Hidrocortisona e expansão volêmica.
tada, devemos EVITAR seu uso! C) Noradrenalina e antibioticoterapia.
• Dobutamina: os inotrópicos são reservados para os D) Noradrenalina e hidrocortisona.
pacientes hipotensos, numa tentativa de manter a
perfusão tecidual! Resposta correta: Letra A

A questão aborda um paciente séptico. Ela em si é sim-


ples, porém devido a importância do tema, usaremos
dela para aprofundar nesse assunto!
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1) Definição Quem pontua 2 ou mais se encontra em uma situação


Sepse é um conjunto de disfunções orgânicas poten- de risco importante!
cialmente fatal causada por uma resposta imune desre- ATENÇÃO: O Surviving Sepsis de 2021 atualizou essa
gulada a um processo infeccioso. Choque séptico, por parte de screening que foi uma das bases desde o ano
sua vez, é a sepse que demanda necessidade de vaso- de 2016. Hoje, a recomendação formal é NÃO usar
pressores para manutenção de PAM > 65 mesmo após o qSOFA como única ferramenta de screening frente
expansão volumétrica adequada. outras como NEWS, MEWS e o SIRS. Isso ocorre por-
2) Identificação que é uma ferramenta específica, porém pouco sensí-
vel. Apenas 24% dos pacientes infectados apresentam
Como sepse é uma condição extremamente grave e de- qSOFA de 2 ou 3. O texto ainda afirma não haver mé-
pendente de tempo, era preciso realizar uma análise ime- todo de screening ideal, sugerindo a soma de 2 ferra-
diata do risco de um paciente infectado ter um pior prog- mentas (qSOFA + SIRS, por exemplo) aliado ao bom
nóstico. Nesse contexto criaram o famoso qSOFA , que, senso do médico assistente.
apesar de não diagnosticar propriamente a sepse, consegue
identificar pacientes de maior risco. São 3 os parâmetros: Feita essa “triagem” em um paciente recém admitido,
a disfunção orgânica dos pacientes é mensurada pelo
• FR 22 irpm SOFA, que possui 6 parâmetros que refletem 6 grandes
• Alteração do estado mental sistemas do corpo:
• PAS 100mmHg

0 1 2 3 4
PaO2/ PaO2/FiO2 PaO2/FiO2
PaO2/FiO2
Pulmão (Ventilação) PaO2/FiO2 >400 FiO2 301- 101 a 200 com 100 com
300
400 suporte suporte
101 000 – 51 000 – 100 21 000 – 50
Coagulação (plaquetas) >150 000 20 000
150 000 000 000
Fígado (bilirrubina) <1,2 1,2 – 1,9 2 – 5,9 6 – 11,9 >12
Sob uso de
Sob uso de
Sob uso de dopamina
dopamina >
dopamina > 15mcg/
5mcg/kg/min,
Cardiovascular (PA) Sem hipotensão PAM < 70 <5mcg/ kg/min,
noradrenalina
kg/min ou noradrenalina
<0,1mcg/kg/
dobutamina >0,1mcg/kg/
min
min
SNC (Glasgow) 15 13-14 10-12 6-9 <6
Rim (Creatinina) <1,2 1,2-1,9 2 – 3,4 3,5 – 4,9 >5
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OBS: Antigamente era usada, para definição de sepse, gulograma, Proteínas totais e frações, glicemia, fun-
o SIRS, que é mais sensível. É bom ter em mente sua ção hepática, gasometria arterial. Todos esses exames
definição, pois o SOFA não é consenso em todos os tem por finalidade acessar e auxiliar no diagnóstico
locais, apesar de seguramente ser bem mais usado hoje! das disfunções orgânicas e da gravidade da sepse.
Variáveis do SIRS: • Expansão volêmica com 30mL/kg de cristaloide em
• Tax < 36°C ou >38°C caso de hipotensão ou lactato > 4 devendo ser ad-
ministrado nas primeiras 3h da admissão
• FC > 90bpm
• Em caso de não resposta à expansão volêmica, ini-
• FR > 20 ciar vasopressores para manter PAM > 65.
• Global de leucócitos >12 000 ou <4 000 • Estabelecer monitorização contínua (débito uriná-
3) Apresentação clínica rio, PAM, oximetria, estado mental), avaliando a
necessidade de monitorização invasiva com PIA e
Pacientes com sepse suspeita ou documentada tipi-
cateter venoso central.
camente se apresentam com hipotensão, taquicardia,
febre e leucocitose. À medida que avança, sinais de Não precisamos esperar 3 horas para avaliar a resposta
choque (pele fria e cianótica) e as disfunções orgânicas ao volume. Como fazemos a expansão volumétrica em
previamente descritas aparecem. bolus, já podemos ter ideia logo na primeira hora se
aquele paciente irá responder! Em caso de manutenção
Sinais e sintomas capazes de localizar o foco infeccioso
dos sintomas de má perfusão, o início dos vasopressores
podem estar presentes (tosse, dispneia, secreção em fe-
está indicado. O objetivo é manter a PAM 65mmHg
rida operatória).
• Primeiro agente: NORADRENALINA
Importante ressaltar que essa evolução natural da sepse
é devido um choque distributivo. Os fatores inflama- • Segundo agente: VASOPRESSINA. Se o choque
tórios causam uma vasodilatação periférica potente que tiver um importante componente cardiogênico
extravasa parte do líquido intravascular para o inters- ou há uma hipoperfusão persistente (evidenciada
tício. A consequência é uma importante má perfusão SvcO2 <70%), a adição de DOBUTAMINA pode
periférica e lesão tecidual. ser considerada.
4) Manejo Agora vem outro ponto fundamental: qual antibiótico?
Tempo é extremamente importante no manejo da Essa é uma decisão mais complexa, pois deve ser, dentro
sepse! Portanto, a partir do momento que o pacien- do possível, individualizada. Devem ser consideradas as
te pisa no pronto-socorro, temos 1h para começarmos seguintes variáveis para a decisão: 1) Suspeita do foco
antibioticoterapia (por isso o valor do qSOFA , que 2) Microbiologia envolvida 3) Fatores de risco para in-
identifica sem demora pacientes mais graves!). Vejam o fecção multirresistente 4) Alergias 5) Imunossupressão
que devemos fazer nessa primeira hora: associada... Vejam, portanto, a importância de coletar
as culturas! Apesar de terem alta taxa de falsos-negati-
• Coletar culturas ANTES do início do antibiótico
vos, o isolamento de um determinado patógeno é capaz
>> 2 hemoculturas com pesquisa de aeróbicos e
de guiar a antibioticoterapia!
anaeróbicos. Urocultura, cultura de ferida operató-
ria, de liquido peritoneal devem ser solicitadas de Outras medidas:
acordo com a suspeita • Corticoides: reservado para o choque séptico re-
• Solicitar Lactato >> aproveitar para coletar também: fratário aos vasopressores. O usado nesses casos é a
hemograma, PCR, Ionograma, Função Renal, Coa- hidrocortisona
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• Transfusão sanguínea: guardada para pacientes 6) Vasopressores estão indicados se não houver respos-
com Hb < 7, salvo exceções como hemorragia ati- ta (NORADRENALINA, VASOPRESSINA e em
va ou isquemia miocárdica (pacientes nesses gru- casos selecionados DOBUTAMINA)
pos devem ser transfundidos quando os valores de 7) Antibiótico deve ser individualizado
Hb estiverem < 9)
• Uso de IBP para profilaxia de úlceras de estresse em
pacientes com fatores de risco para sangramento QUESTÃO 25
• Enoxaparina profilática para TVP Homem de 36 anos, portador de epilepsia, em uso de
carbamazepina, chega ao departamento de emergência
Vamos às alternativas: com episódio convulsivo, após mais de cinco anos sem
crises dessa natureza. Está euvolêmico, ao exame físico.
A) CORRETA Ambas fazem parte do pacote de 1h e Seus exames evidenciam dosagem de sódio de 110mE-
são as primeiras medidas! q/L. Peso 60Kg. Qual a conduta imediata?
B) INCORRETA Hidrocortisona é reservada para
choques refratários A) Restrição hídrica de 1000ml/dia.
C) INCORRETA Não iniciaremos noradrenalina sem B) Reposição de 180ml de cloreto de sódio 3% em
antes tentar a expansão volumétrica 3 horas.
D) INCORRETA Nenhuma das duas representa a pri- C) Expansão volêmica com 1000ml de soro fisioló-
meira medida! gico 0,9%.
D) Infusão de 500ml de cloreto de sódio 20% em
30 minutos.
Take-Home Message:
1) Sepse é um conjunto de disfunções orgânicas po- Resposta correta: Letra B
tencialmente fatal causada por uma resposta imune
desregulada a um processo infeccioso. Paciente portador de epilepsia que evolui com qua-
dro de convulsão sempre deve levantar a hipótese de
2) Choque séptico, por sua vez, é a sepse que demanda má adesão ao tratamento ou uso drogas de reduzam o
necessidade de vasopressores para manutenção de limiar convulsivo. Porém a questão nos dá um sódio
PAM > 65 mesmo após expansão volumétrica ade- baixíssimo de 110mEq/L. Esse valor é mais do que su-
quada ficiente para desencadear por si só a crise convulsiva,
3) Identificação rápida prognóstica: 2 ou mais pontos portanto revisaremos aqui aspectos da hiponatremia.
no qSOFA 1) Definições
a. FR 22 irpm Hiponatremia é um sódio abaixo de 135 e normalmen-
b. Alteração do estado mental te é causado por uma incapacidade de excretar água
corretamente. Em pacientes saudáveis, a ingesta de
c. PAS 100mmHg água não leva à hiponatremia porque a inibição reflexa
4) 6 parâmetros do SOFA: Glasgow, plaquetas, PaO2/ da secreção de ADH garante a excreção de agua e ga-
FiO2, Bilirrubina, PA e Creatinina rante a estabilidade.
5) Dentro de 1h da chegada do paciente: culturas e RL 2) Classificação
(incluindo lactato), inicio de ATB e expansão volu- „ Hiponatremia hipovolêmica: para que isso ocorra
métrica se hipotensão ou lactato alto! devemos ter perdas importantes de líquidos as-
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sociada ao recebimento de líquidos hipotônicos. O tratamento é a elevação do sódio usando solução hi-
Essas perdas podem ser extrarrenais (diarreia, vô- pertônica de NaCl 3%, afim de aumentar o sódio num
mitos) ou renais (hipoaldosteronismo). Para dife- ritmo de 1-2mEq/L/h até o máximo de 4-6mEq/L.
renciarmos uma da outra medimos o sódio uriná- Vamos usar do exemplo da questão para fazermos um
rio: está <20 nas extrarrenais e >20 nas renais. passo a passo:
„ Hiponatremia hipervolêmica: nesse caso, há mui- PASSO 1: Cálculo do déficit de sódio.
to líquido, mas não há tanto sódio que compense! Deficit = 0,6 x Peso x (Na alvo – Na atual)
Nessa classificação temos a DRC, A IC descom-
pensada, a Síndrome Nefrótica e a Cirrose! Como o paciente tem 60kg e Na de 110 com alvo de
116 nas próximas 6h, teremos:
„ Hiponatremia euvolêmica: o grande representan-
te é o SIADH. Como o problema é a secreção Deficit = 216 mEq
inapropriada do ADH, há uma retenção de água PASSO 2: Converter os mEqs em gramas de NaCl (1g
livre sem que curse com uma aumento importante = 17mEq)
da volemia. Outras causas de hiponatremia euvo-
Deficit em gramas = 216/17 = 12,7g
lêmica incluem: hipotireoidismo e a insuficiência
adrenal secundária PASSO 3: Calcular quanto de hipertônica teremos
que utilizar:
o Causas de SIADH: Carbamazepina, Tricíclicos,
AINES grande parte das neoplasias (destaque para 3g NaCl --------- 100mL de solução
Oat Cells de pulmão), Pneumonias, Meningites... 12,7g NaCl ------ ?
Feita essa pequena explanação, nós já podemos identi- Resultado: Aproximadamente 420mL em 6h ou
ficar qual a provável etiologia da hiponatremia do pa- 70mL/h
ciente da questão: SIADH pelo uso de Carbamazepina.
Para não fugirmos muito do foco da questão, iremos >> Após essas medidas iniciais, iniciamos o tratamento
detalhar agora o tratamento para o quadro de hipona- de manutenção que certamente será necessário nesse
tremia sintomática grave, que é o caso! caso, já que se trata de um SIADH. Damos preferência
à restrição hídrica porque é uma causa que não é re-
Uma hiponatremia se manifesta principalmente com um solvida de imediato. Importante respeitar os limites de
quadro neurológico (convulsões, rebaixamento do sen- 8-10mEq/L em 24.
sório, confusão mental). Vamos entender como isso se
dá. A queda de sódio cria, no sangue, uma solução mais Um último conceito! Falamos muito dos limites para
hipotônica. Há, nesse momento, um extravasamento de a elevação do sódio. Qual o problema em se elevar de-
líquido causando um edema celular. Porém o cérebro mais?? Em hiponatremias de curso crônico (>48h) o
não é capaz de suportar esse aumento celular, levando ao SNC se adapta numa tentativa de não sofrer com o
quadro conhecido por encefalopatia hipo-osmolar. edema celular que descrevemos acima. Quando cor-
rigimos o sódio rápido demais, uma situação inversa
O segundo órgão que sofre com esse mecanismo osmó- acontece: o meio extracelular hipertônico “suga” a água
tico é o pulmão. O edema nas células alveolares leva a das células, causando uma quebra da barreira hemato-
um aumento da sua permeabilidade, causando edema encefálica e, consequentemente, uma lesão da mielina:
de pulmão. É a chamada Síndrome da Desmielinização Osmóti-
3) Tratamento da hiponatremia sintomática grave ca! Em hiponatremias muito agudas isso não costuma
ocorre porque o mecanismo de compensação ainda não
Uma hiponatremia é considerada grave quando se en-
foi estabelecido.
contra <120-125.
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Vamos às alternativas: QUESTÃO 26


A) INCORRETA Essa medida será num contexto de Paciente, 26 anos, procura Unidade Básica de Saúde
manutenção com queixa de adinamia leve, gengivorragia durante
B) CORRETA O valor de 180mL é condizente com escovação e parestesias em mãos e pés. Refere que os
uma reposição de 4mEq! sintomas iniciaram há cerca de 6 semanas. Refere que
C) INCORRETA Não há sinais de hipoperfusão para há 2 anos faz reposição de levotiroxina pois “”tireoide
pensarmos em expansão volêmica. deixou de funcionar””(sic). Ao exame físico, apresen-
tava palidez cutâneo- mucosa 2+/4+, língua despapila-
D) INCORRETA Essa solução aumentaria assustado- da, ausência de adenomegalias ou visceromegalias. Foi
ramente o sódio solicitado hemograma que evidenciou hemoglobina
A questão acabou sendo anulada pela banca, porém a 7,8g/dL hematócrito 22% VCM 118 leucócitos 4800
letra B representa uma conduta adequada ao tratamen- (neutrófilos 1580) plaquetas 42000/mm3 reticulócitos
to da hiponatremia! 38000. Considerando a principal hipótese diagnóstica,
que outros exames laboratoriais devem ser solicitados a
fim de confirmar o diagnóstico e qual alteração espera-
Take-Home Message:
da nesses exames?
1) Hiponatremia é um valor de sódio abaixo de 135
A) Desidrogenase láctica elevada, homocisteína dimi-
2) Classificação: nuída e bilirrubina indireta elevada.
a. Hipovolêmica: perda de líquido + reposição com B) Teste de antiglobulina direta positivo, bilirrubina
solução hipotônica direta elevada e homocisteína diminuída.
b. Hipervolêmica: DRC, Cirrose, Síndrome Nefró- C) Ácido metilmalônico elevado, bilirrubina indireta
tica, IC elevada e desidrogenase láctica elevada.
D) Índice de saturação de transferrina diminuído, fer-
c. Euvolêmica: SIADH
ritina diminuída e desidrogenase láctica normal.
3) Tratamento de hiponatremia sintomática grave:
Resposta correta: Letra C
a. Solução salina 3% para repor 4-6mEq/L em 6h
no ritmo de 1-2mEq/h Com dois padrões de classificação já podemos catalo-
b. 1g de NaCl – 17 mEq de Na gar a maioria das anemias, motivo pelo qual os dois se-
guintes exames são os primeiros exames que usualmen-
4) Não repor mais do que 6mEq em 6h ou 10 mEq em
te pedimos na investigação inicial: HEMOGRAMA e
24 horas para evitar o risco da Síndrome da Des-
CONTAGEM DE RETICULÓCITOS
mielinização Osmótica
1) Hemograma:
a. Contagem de eritrócitos e de hemoglobina: usa-
dos para ver se realmente há uma anemia
b. VCM: Volume corpuscular médio. Quando está
abaixo de 80 temos as anemias MICROCÍTI-
CAS. Quando se encontra entre 80 e 100, temos
as anemias NORMOCÍTICAS e quando se en-
contra acima de 100 temos as anemias MACRO-
CÍTICAS. Com um pequeno detalhe: quando
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esse valor se encontra acima de 110 há uma espe- Feito isso, vamos aprofundar no caso clínico da ques-
cificidade grande para anemia megaloblástica. tão: Anemia Megaloblástica
c. HCM: Hemoglobina corpuscular média. Quan- A causa de uma anemia megaloblástica é um defeito na
do está abaixo de 28 temos as anemias HIPO- formação do DNA. A conclusão disso é um atraso na
CRÔMICAS. Quando está entre 28 e 32 temos divisão celular, criando células muito grandes. Como
as anemias NORMOCRÔMICAS. Acima de 32 as duas principais causas são carências (de ácido fólico
temos as anemias HIPERCRÔMICAS. e de vitamina B12), não há aumento da produção de
d. RDW: É o chamado índice de anisocitose. hemácias, portanto é o principal exemplo de anemia
Ele é capaz de medir a diferença de tamanho MACROCÍTICA e HIPOPROLIFERATIVA.
nas hemácias Muito cuidado com um achado laboratorial comum de
2) Contagem de reticulócitos aparecer nas anemias megaloblásticas e que pode gerar
dúvida: MARCADORES DE HEMÓLISE AUMEN-
a. Reticulócitos são hemácias jovens. A contagem TADOS. Ora, se há um déficit de produção de DNA, a
de reticulócitos é uma medida usada para clas- taxa de destruição das hemácias também aumenta, mas
sificar a anemia em HIPERPROLIFERATIVA isso não a torna uma doença hemolítica!
e HIPOPROLIFERATIVA. Qual a lógica? Se
há algum tipo de prejuízo medular (ausência de Existe um achado muito clássico em sangue perifé-
matéria prima, destruição da medula óssea) não rico e que adora cair em prova: achado de neutrófi-
haverá altas taxas de reticulócitos, pois não have- los hipersegmentados:
rá sua produção. Caso a gênese da anemia sejam
perdas externas (sangramentos, hemólise) a me-
dula prontamente responde com uma acelerada
reposição de hemácias. Como essa produção ace-
lerada não é capaz de amadurecer todas as célu-
las, a contagem de reticulócitos aumenta.
b. Qual o valor de referência? 0,5% a 2,0% OU de
30 a 100 mil (há divergências). Muito cuidado
com anemias profusas e porcentagens!!! Se há
pouca massa eritrocitária, a porcentagem de re-
ticulócitos pode estar falsamente aumentada!!
i. Para consertar isso, há uma fórmula que
deve ser aplicada. Chama IRC (Indíce de
Reticulócitos Corrigido) que é calculado
por Hb/15 x % de Reticulócitos >> Um
valor normal é menor que 2% Outro achado típico da anemia megaloblástica é a pre-
ii. Se a questão ainda for chata ela não vai sença dos macro-ovalócitos (grandes eritrócitos ovais)
te dar o valor da hemoglobina, apenas do As provas exploram as diferenças entre a deficiência de
hematócrito. Aí a fórmula é Reticulócitos folato e a deficiência de vitamina B12. Essa tabela resu-
= Ret x Ht/40, sendo que se o valor do me essas diferenças:
hematócrito for abaixo de 30%, ainda di-
vidimos o valor por 2.
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Folato Vitaminas B12


Fonte Figado, folhas escuras Proteínas animais, ovo, leite
Dieta com ausência total de proteínas
Alcoólatras, Gestantes >> Ou animais
seja, aqui primariamente o Má absorção devido ausência do
Causa de deficiência
problema é de ingesta e/ou fator intrínseco (anemia perniciosa/
aumento de gastos. gastrectomia)
Acloridria pelo uso crônico de Omeprazol
Fraqueza, perda de peso, Todos os sintomas da deficiência de folato
Quadro clínico glossite atrófica, queilite + MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS
angular (Exclusividade da deficiência de B12)
<2ng/mL < 200pg/mL
Achados laboratoriais Homocisteína ALTA Homocisteína ALTA
Ácido metilmalônico NORMAL Ácido Metilmalônico ALTO
Inicialmente é intensivo (diário por 1
semana seguido de dia sim dia não por
mais 1 semana)
Tratamento 5mg ao dia
Depois semanalmente por um mês,
seguido de mensalmente por tempo
indeterminado

Vejam que o paciente em questão apresenta manifesta- Essa cinética, apesar de poder ser solicitada em todas
ções neurológicas, sendo a deficiência de B12 o diag- as anemias, é muito mais útil na avaliação das anemias
nóstico mais provável. Já deduzimos, portanto, que os microcíticas!
valores tanto de homocisteína e de ácido metilmalôni-
co estarão altos. Como as opções citam itens da cinética Vamos às alternativas:
do ferro, deem uma revisada!
A) INCORRETA Quase completa! Mas vimos que a
„ Ferritina: reflete os estoques de ferro no corpo. homocisteina é elevada!
Num contexto de perda crônica de ferro, esse va-
B) INCORRETA O teste da antiglobulina é também
lor é o primeiro a se reduzir.
conhecido como Coombs! Ele é positivo nas ane-
„ TIBC (ou Capacidade total de Ligação do Fer- mias hemolíticas secundárias a doenças autoimu-
ro): representa a concentração máxima de ferro nes. O índice de reticulócitos baixo nessa questão
que as proteínas séricas (principalmente a trans- faz a nossa suspeita cair sobre a anemia carencial
ferrina) podem ligar quando seus sítios estão e não sobre a anemia hemolítica, que cursa com
completamente saturados (Soma dos sítios liga- índice de reticulócitos altos.
dos, medida pelo ferro sérico + os sítios livres) C) CORRETA Homocisteina, acido metilmalónico e
„ Ferro sérico marcadores de hemólise elevados!!
„ Indice de saturação da transferrina: Ferro Séri- D) INCORRETA Além de não ter depleção dos esto-
co/TIBC ques de ferro, o LDH está aumentado
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 83

Take-Home Message: QUESTÃO 27


1) Os dois primeiros exames que devemos solicitar Paciente feminina, 25 anos, em acompanhamento por
para investigação de uma anemia são: hemograma asma, desde a adolescência, no momento em uso de
e contagem de reticulócitos Budesonida inalatória 400 mcg duas vezes ao dia. Vem
apresentando tosse e sibilância que cessam com o uso
2) Muito cuidado com a contagem de reticulócitos em
de salbutamol inalatório, pelo menos três vezes por se-
termos de porcentagem! Calcular o IRC é de grande
mana, nos últimos quatro meses. Refere que neste perí-
ajuda (Hb/15 x % de Reticulócitos). Caso só haja
odo acordou 2 vezes à noite com crise de asma. Negou
hematócrito, a fórmula é (Reticulócitos – Ht/40),
fatores precipitantes ou exposições ambientais relevan-
sendo que se o valor de hematócrito for menor que
tes ou novas. Neste contexto, a estratégia terapêutica
30%, ainda dividimos por 2
preferencial seria:
3) Achados que aumentam (e muito!) a suspeita de ane-
A) Associar Montelucarste oral uma vez ao dia.
mia megaloblástica: 1) NEUTRÓFILOS HIPER-
SEGMENTADOS 2) VCM SUPERIOR A 110 B) Acrescentar Tiotrópio inalatório uma vez ao dia.
C) Adicionar Formoterol inalatório duas vezes ao dia.
4) 3 diferenças que salvam vidas quando a questão co-
bra deficiência de folato x deficiência de B12: D) Aumentar Budesonida inalatória para três vezes
ao dia.
a. Deficiência de folato se instaura com meses, de-
ficiência de B12 com anos Resposta correta: Letra C
b. Deficiência de folato NÃO faz manifestações
A asma é uma doença obstrutiva des vias aéreas po-
neurológicas, deficiência de B12 faz
tencialmente reversível cujo marco fisiopatológico
c. Deficiência de folato NÃO aumenta ácido metil- é a hiperrreatividade brônquica a uma infinidade de
malônico, deficiência de B12 sim alérgenos. É caracterizada pela presença de sintomas
5) A anemia ferropriva cursa, inicialmente, com de- respiratórios como sibilos, respiração curta, esfor-
pleção de estoques de ferro. Portanto esperamos, ço respiratório.
inicialmente, ferritina baixa (notadamente abaixo 1) Patogenia
de 15)
O que deve martelar na cabeça de vocês sempre é:
ASMA É INFLAMAÇÃO! Isso ajuda a entender não
só a patogenia como boa parte do tratamento.
Então o que ocorre?
„ Os brônquios são expostos a algum tipo de alér-
geno que desencadeia uma potente reação infla-
matória mediada por eosinófilos, mastócitos e
linfócitos TH2 que liberam uma grande quan-
tidade de fatores inflamatórios (interleucinas,
histamina, leucotrienos).
„ Como há uma predisposição associada, os brô-
nquios reagem exageradamente a essa cascata
inflamatória, levando à constrição e estreita-
mento do lúmen.
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„ De maneira geral essa obstrução é reversível „ Piora dos sintomas a noite ou pela manhã
porque “basta” dilatar os brônquios. Porém sa- „ Sintomas desencadeados por alguma exposição
bemos que, com o tempo, a constante exposi- previamente citada
ção a esses fatores inflamatórios pode levar ao
remodelamento brônquio, gerando pelo menos A suspeita reduzirá se:
em parte um fator de irreversibilidade. „ O paciente se apresentar isoladamente com tosse
Mas quais são os fatores de risco?? „ Produção crônica de catarro
Esse é um tema bastante debatido, afinal é estimado „ Dor torácica
que no mundo existam por volta de 235 milhões de pa-
O exame físico normalmente não apresenta alterações.
cientes portadores de asma. Alguns itens são consenso:
As principais alterações incluem: sibilos, tórax silencio-
„ História familiar positiva e fatores genéticos so (em quadros de asma MUITO graves!!), hipertimpa-
„ Prematuridade nismo, uso de musculatura acessória e redução do FTV.
„ Atopia (extremamente bem documentada) 3) Diagnóstico
„ Exposição a alérgenos: poeira, mofo, animais do- Há 2 critérios importantes: quadro clínico compatí-
mésticos vel + confirmação de obstrução brônquica variável e
reversível.
„ Exposição ao tabagismo
3.1) Espirometria
„ Infecções respiratórias
Como temos um distúrbio OBSTRUTIVO poten-
„ Exposição ocupacional cialmente REVERSÍVEL, então temos que dar um
2) Quadro clínico jeito de visualizar ambas as condições numa espiro-
Como dissemos na definição, a asma é caracterizada metria!
por sibilos, tosse, esforço respiratório e limitação ao O distúrbio obstrutivo é identificado por um Índice
fluxo expiratório que aparecem em crises. Ou seja, ti- de Tiffeneau (VEF1/CVF) < 75-80% em adultos e
rando pacientes muito graves, a pessoa apresenta crises <85% em crianças.
de sintomas mais do que sintomas contínuos. Ótimo, mas como resolvemos a questão da rever-
Dessa forma, podemos estabelecer alguns fenótipos sibilidade?? Fazemos a chamada prova broncodila-
que nos auxiliam na suspeita clínica: tadora! Após definir que há o distúrbio obstrutivo,
„ Asma alérgica: é a mais comum. Se inicia na in- administramos um beta-2-agonista e repetimos a
fância e é relacionada com história familiar po- espirometria após 20 min, na expectativa de reverter
sitiva e atopia. a obstrução!

„ Asma não-alérgica: normalmente sem atopia A prova broncodilatadora é positiva se houver:


associada e com baixa resposta aos corticoi- a. Um acréscimo de 200mL no VEF1 OU
des inalatórios b. >12% do previsto (para crianças não usa-
„ Asma de início no adulto: também não alérgica e mos o valor absoluto! Apenas o >12%!)
comumente relacionada a exposição ocupacional 3.2) Variabilidade excessiva na medida usando o
„ Nossa suspeita clínica de asma aumentará se: Pico de Fluxo Expiratório
„ Os pacientes apresentarem mais do que 2x por dia durante 2 semanas medimos o PFE. Se
um sintoma esse valor for maior que 10% na média, temos um
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 85

diagnóstico positivo. Esse teste é feito com apare- po, poderá ser elevada ou reduzida, a depender de quão
lhos portáteis! controlado o paciente está.
3.3) Melhora da função pulmonar após início do A primeira avaliação deve conter:
tratamento „ Confirmação diagnóstica
Mesmos valores da prova broncodilatadora após 1 „ Avaliar fatores de risco modificáveis e comor-
mês do início do tratamento bidades
3.4) Broncoprovocação „ Avaliar a técnica de uso dos inaladores
Após administração de metacolina, se houver Reavaliamos os pacientes entre 3-6meses após uma
uma queda do VEF1>20% também fechamos o mudança de etapa e se o paciente apresentar asma par-
diagnóstico. cialmente controlada ou não controlada, subiremos
uma etapa!
4) Avaliação do controle da asma Entendendo as 5 etapas:
Essa parte é fundamental para o tratamento! É aplicado ETAPA 1: Corticoide inalatório em dose baixa + for-
um questionário simples com as seguintes perguntas e moterol sob demanda
interpretação: Outras opções: CI + SABA por demanda
Sintomas diurnos mais de 2x por semana? ETAPA 2: Corticoide inalatório em dose baixa + for-
Despertar noturno devido a asma? moterol sob demanda.
Necessidade de terapia de resgate Outras opções: Montelucaste + SABA sob demanda
> 2x por semana?
ETAPA 3: Corticoide inalatório em dose baixa + for-
Qualquer limitação de atividade por
moterol em baixa dose de manutenção
causa da asma?
Outras opções: dose média de CI + SABA sob demanda

Se: ETAPA 4: Corticoide inalatório + formoterol em dose


intermediária
NENHUMA RESPOSTA POSITIVA: Asma controlada
Outras opções: CI dose alta
1 OU 2 RESPOSTAS POSITIVAS: Asma parcialmen-
te controlada ETAPA 5: Referenciar para avaliação fenotípica. Corti-
coide inalatório+formoterol em alta dose e avaliar com-
3-4 RESPOSTAS POSITIVAS: Asma não controlada plementação com anticorpos monoclonais (anti-igE,
5) Inicio de tratamento anti-IL5) ou tiotrópio.
Usaremos algumas siglas para facilitar a leitura: CI Para todas as etapas a terapia de alívio preferencial são
(Corticoide Inalatório) LABA (Beta-agonista de longa as doses baixas de Corticoide Inalatorio+formoterol
duração) SABA (Beta-2 de curta duração) LAMA (An- (BUD-FORM é um termo que pode aparecer, pois o
tagonista Muscarínico de Longa Ação) principal CI que utilizamos é a budesonida)
O tratamento da asma é baseado em etapas. Ou seja, Entendam isso: se vocês pegarem a principal referência
baseado no controle e na gravidade da asma, colocamos há uma enorme variação de opções dentro dessas eta-
os pacientes em uma etapa específica que, com o tem- pas, porém essas são as opções preferenciais!
Para concluirmos: quem começa em qual etapa?
86 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Menos de 4 dias de sintomas Take-Home Message:


Etapa 1-2
por semana 1) Asma é inflamação crônica com hiper-reativida-
Sintomas na maior parte dos dias de brônquica que leva a obstrução reversível das
Etapa 3 ou despertar noturno pelo menos vias aéreas
1x na semana 2) Para acessar o controle da asma fazemos as seguintes
Sintomas diários ou despertar 4 perguntas:
noturno mais de 1x na semana.
Etapa 4 Nessa etapa, em pacientes com asma Sintomas diurnos mais de 2x por semana?
mais severa, um curso de corticoide Despertar noturno devido a asma?
oral pode ser necessário. Necessidade de terapia de resgate > 2x por
Etapa 5 Refratários à etapa 4 semana?
Qualquer limitação de atividade por causa da
asma?
Analisando o caso antes de ir para as alternativas:
Budesonida inalatória 400 mcg duas vezes ao dia. Vem Asma controlada: 0 respostas positivas
apresentando tosse e sibilância que cessam com o uso
de salbutamol inalatório, pelo menos três vezes por Asma parcialmente controlada: 1-2 respostas
semana, nos últimos quatro meses. Refere que neste Asma não controlada: 3-4 respostas
período acordou 2 vezes à noite com crise de asma.
3) A base do tratamento é corticoide inalatório em to-
Paciente com 3 respostas positivas! Portanto, quadro de das as etapas
asma não controlada. Qual a conduta, já que ela já está
4) Avaliamos o paciente a cada 3-6 meses para subir
com parte de tratamento instituído? Subir um degrau!
uma etapa em caso de mau controle ou descer uma
Então vamos ver as alternativas:
em caso de bom controle
A) INCORRETA O Montelucaste só está indicado
após otimização da terapia inalatória!
B) INCORRETA O Tiotrópio é indicado na etapa 5!
Não é o caso da paciente
C) CORRETA Essa é uma ótima opção! Já estamos
com corticoide inalatório. É a estratégia mais usa-
da no contexto da asma! O Bud-form!
D) INCORRETA Antes de elevarmos o corticoide, acres-
centar um beta 2 de longa duração é fundamental.
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QUESTÃO 28 1) Ciclo evolutivo

Mulher de 50 anos, moradora de Fortaleza, sem co- É relativamente simples:


morbidades, procura pronto- socorro referindo quadro • O mosquito infectado, ao picar o homem, inocula
iniciado há 5 dias de febre alta, cefaleia, mialgia e dor o vírus que vive em suas glândulas salivares.
retrorbitária. Embora a febre tenha desaparecido após o
• No homem o vírus se incuba nas células muscu-
terceiro dia de doença, desde esta manhã relata exante-
lares e nos linfonodos. Após isso, passa a circular
ma difuso e pruriginoso e dor abdominal mal definida,
no sangue.
que não cede com analgésicos comuns. Ao exame: Es-
tado geral regular; Peso: 75 Kg. Pele: exantema mácu- • Com o vírus no sangue, o mosquito, ao picar o ho-
lo-papular difuso com “ilhas”” de pele normal; Pressão mem, é infectado.
arterial: deitada = 130 x 80 mmHg, sentada = 118 x 76 2) Aspectos imunes
mmHg; Prova do laço: positiva; Abdome: semigloboso,
flácido, moderadamente doloroso à palpação profunda A suscetibilidade ao vírus da dengue é universal. A
em epigastro, mesogastro e hipocôndrio direito. Ruí- imunidade é permanente para um mesmo sorotipo e
dos hidroaéreos presentes. Extremidades: boa perfusão temporária para os outros sorotipos por meio da imu-
periférica, sem edemas. Considerando a principal hi- nidade cruzada. A ideia, portanto, é que uma pessoa
pótese diagnóstica para o caso, que conduta terapêutica não se infecta 2x pelo mesmo sorotipo! Entraremos
imediata deve ser tomada? em mais detalhes sobre o quadro clínico em breve, mas
para aproveitar o tópico, existem 3 teorias para explicar
A) Soro fisiológico a 0,9% 750 ml, endovenoso, a ocorrência da forma clínica grave da Dengue: A den-
em 1 hora. gue hemorrágica:
B) Soro fisiológico a 0,9% 1500 ml, endovenoso, em
• Uma relaciona o aparecimento da FHD à virulên-
20 minutos.
cia da cepa infectante, de modo que as formas mais
C) Soro de reidratação oral 1500 ml + Líquidos diver- graves sejam resultantes de cepas extremamente vi-
sos 3000 ml, por via oral, em 24 horas. rulentas
D) Soro glicosado a 5% 3000 ml + Soro fisiológico a
• Teoria de Halstead que relaciona infecções sequen-
0,9% 1500 ml, endovenoso, em 24 horas.
ciais por sorotipos diferentes. A FHD seria conse-
Resposta correta: Letra A quência de uma resposta imune exacerbada
• Teoria da multicasualidade: nada mais é que a união
Febre alta que desaparece depois dos primeiros dias dessas duas teorias acima.
+ dor retrorbitária + exantema. Isso é um caso típico
de Dengue! 3) Aspectos clínicos

A dengue é uma doença febril causada por um dos qua- Atenção agora pessoal! Dengue é uma doença traiçoeira
tro tipos de vírus da família dos Flavivirus: DENV-1, que pode variar desde um quadro clinico leve até um
DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Esse vírus é transmiti- choque refratário.
do pelas fêmeas do gênero Aedes, sendo o grande repre- • Dengue clássica: caracterizada por febre alta de
sentante o Aedes aegypti. É uma doença que se apresen- início abrupto, seguida de cefaleia, mialgia, pros-
ta com surtos epidêmicos intercalados com períodos de tração, artralgia, anorexia, astenia, dor retrorbital,
endemia. Os picos vem se tornando cada vez maiores, náuseas, vômitos, exantema e prurido cutâneo. A
sendo que ultimamente ocorrem a cada 3-5 anos. Há doença tem uma duração média de 5 a 7 dias.
um grande dinamismo sobre o subtipo predominante.
• Febre hemorrágica da Dengue: os sintomas ini-
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ciais são semelhantes aos da dengue clássica, po- • Leucopenia


rém evoluem rapidamente para as manifestações Dengue com sinais de alarme: Todo caso de dengue
hemorrágicas, derrames cavitários, instabilidade que no período de defervescência apresente um ou
hemodinâmica e choque. A principal característica mais dos seguintes:
que se relaciona à severidade da Dengue é a efusão
do plasma com valores crescentes do hematócrito • Dor abdominal intensa ou contínua ou dor à pal-
e da hemoconcentração. O choque normalmente pação do abdome
ocorre entre o 3º e o 7º dia precedido por um ou • Vômitos persistentes
mais sinais de alerta.
• Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleu-
Vejam a informação importantíssima: o quadro mais ral, pericárdio)
grave da dengue normalmente ocorre APÓS a defer-
• Sangramento de mucosas
vescência. Como o mecanismo é o extravasamento de
plasma, a leucopenia e trombocitopenia são sinais de • Letargia ou irritabilidade
alarme. Após o 7º dia gradualmente o líquido extra- • Hipotensão postural
vasado é reabsorvido, com retorno à normalidade dos
parâmetros. • Hepatomegalia
E a prova do laço? • Aumento progressivo de hematócrito
• Todos os casos suspeitos de dengue devem realizá-lo Dengue grave: presente um ou mais dos que seguem
• Verificar a pressão arterial e calcular a seguinte fór- • Choque
mula: (PAS+PAD)/2 • Sangramento grave (TGI, SNC)
• Após esse cálculo insuflar o manguito até esse valor • Comprometimento de órgãos (AST,ALT> 1000,
e mantê-lo ou por 5 min ou até o surgimento de alteração de consciência, miocardite)
petequias
5) Exames laboratoriais específicos
• Desenhar um quadrado de 2,5x2,5 no antebraço e
Existem 3 grandes formas de diagnosticar a dengue
contar o numero de petequias
partindo de um caso suspeito e buscando identificar o
• POSITIVA SE 20 OU MAIS PETEQUIAS EM agente etiológico:
ADULTOS
• Antígeno NS1: é um antígeno específico da den-
4) Classificação da dengue gue, porem é um exame com uma sensibilidade
Caso suspeito de dengue: pessoa que viva ou tenha via- não tão alta. Como se trata do antígeno, deve ser
jado nos últimos 14 dias para área onde esteja ocorren- coletado no período da viremia, idealmente nos 3
do transmissão de dengue ou tenha a presença de Aedes primeiros dias.
que apresente FEBRE e duas ou mais das seguintes: • RT-PCR: usado mais como duvidas diagnósticas. É
• Náuseas ou vômitos mais caro, porém mais sensível e específico
• Exantema • Isolamento viral: padrão outro.
• Mialgias, artralgia Há também, a partir do 6º dia, a possibilidade de fazer
a sorologia para IgM e IgG!
• Cefaleia, dor retrorbital
6) Estadiamento e conduta
• Petequias ou prova do laço positiva
Essa é a parte mais interessante, uma vez que a depen-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 89

der do estado geral do paciente, tanto a conduta diag- tamos em um período epidêmico ou não, pedi-
nóstica quanto terapêutica irá se alterar. mos os exames específicos! Além disso, hemogra-
Então, frente a um caso suspeito de dengue, a pri- ma e transaminases são obrigatórios! Exames de
meira pergunta que devemos fazer é: HÁ SINAIS imagem como Radiografia de tórax e ultrassono-
DE ALARME? grafia de abdome são interessantes para avaliar
derrames cavitários.
• NÃO HÁ SINAIS DE ALARME: Pesquisamos en-
tão presença de sangramentos espontâneos de pele 3 Internação por mínimo de 48h
ou induzidos, condições clínicas, risco social ou co- 3 10mL/kg de soro fisiológico na primeira hora
morbidades: de admissão!!
Dengue A: Sem Sinais de alarme, sem condições espe- o Manter 10mL/kg durante a segunda hora,
ciais, sem risco social e sem comorbidades. até avaliação do hematócrito. Sem melho-
3 A conduta diagnóstica nesse caso só é solicitar isola- ra dos parâmetros podemos repetir a fase
mento viral ou sorologia em períodos não epidêmi- de expansão por 3x
cos e o hemograma nesse caso é a critério médico! o Em caso de melhora, passamos à fase de
3 O tratamento é ambulatorial com hidratação manutenção:
oral com 60mL/kg/dia sendo 1/3 com solução 3 25mL/kg em 6h seguido de 25ml/kg em 8 horas
salina de 2/3 de líquidos caseiros se houver melhora clínica
Dengue B: Sem sinais de alarme, com petéquias espon- Dengue D: Sinais de choque
tâneas ou induzidas pela prova do laço ou presença de:
menores de 2 anos ou maiores de 65, gestantes, HAS, Taquicardia
DM, DPOC, DRC, hepatopatias, doenças autoimunes Extremidades frias
ou doenças hematológicas Pulso fraco e filiforme
3 O hemograma, a partir de agora, é obrigatório. Enchimento capilar lento (>2 segundos)
Outros exames são de critério médico. PA convergente
3 Devemos manter o paciente hidratando no hos- Taquipneia
pital até o resultado dos exames: Oliguria (<1,5 mL/kg/h)
o Em caso de hematócrito normal, o trata- Hipotensão arterial
mento será ambulatorial com reavaliação Cianose
diária e agendar retorno em até 48h ou
imediatamente se sinais de alarme
3 Os exames complementares são os mesmos da
o Em caso de sinal de alarme: Conduzir como fase C
grupo C
3 Expansão volêmica com 20mL/kg em até 20 min
• HÁ SINAIS DE ALARME: Nesses pacientes deve- podendo repetir 3x. Se o paciente melhorar, pode-
mos evitar a retirada dos derrames cavitários, salvo mos retornar à conduta do grupo C.
quando estiverem causando a sintomatologia vigente.
3 No caso de resposta inadequada com persistência
Dengue C: Presença de qualquer sinal de alarme que de choque avaliar:
descrevemos no texto mais acima.
o Se o hematócrito estiver em ascensão utili-
3 A partir desse grupo, independentemente se es- zar reposição volêmica com albumina
90 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

o Se estiver em queda, avaliar coagulopatias Take-Home Message:


ou hemorragia persistente! 1) Caso suspeito de dengue: febre + dois ou mais
Sabemos que são muitas informações. Mas revisitem dos seguintes:
esse resumo sempre que aparecerem questões e treinem • Náuseas ou vômitos
principalmente o estadiamento e a conduta. Vamos
analisar o caso e treinar: • Exantema
Mulher de 50 anos, moradora de Fortaleza, sem co- • Mialgias, artralgia
morbidades, procura pronto- socorro referindo quadro • Cefaleia, dor retrorbital
iniciado há 5 dias de febre alta, cefaleia, mialgia e dor
• Petequias ou prova do laço positiva
retrorbitária. Embora a febre tenha desaparecido após o
terceiro dia de doença, desde esta manhã relata exante- • Leucopenia
ma difuso e pruriginoso e dor abdominal mal definida, 2) Sinais de alarme da dengue: Dor abdominal intensa
que não cede com analgésicos comuns. Ao exame: Es- ou contínua ou dor à palpação do abdome // Vô-
tado geral regular; Peso: 75 Kg. Pele: exantema mácu- mitos persistentes // Acúmulo de líquidos (asci-
lo-papular difuso com “ilhas”” de pele normal; Pressão te, derrame pleural, pericárdio) // Sangramento de
arterial: deitada = 130 x 80 mmHg, sentada = 118 x mucosas // Letargia ou irritabilidade // Hipotensão
76 mmHg; Prova do laço: positiva; Abdome: semi- postural // Hepatomegalia // Aumento progressivo
globoso, flácido, moderadamente doloroso à palpação de hematócrito
profunda em epigastro, mesogastro e hipocôndrio di-
reito. Ruídos hidroaéreos presentes. Extremidades: boa 3) Tabela das condutas:
perfusão periférica, sem edemas. Diagnóstico Tratamento
Dengue com sinais de alarme! Aqui no caso temos a Exames específicos
dor abdominal! A paciente não apresenta hipotensão apenas se período
Hidratação horal
Grupo A não epidêmico
postural (Definida por queda > 20mmHg na sistólica 60mL/kg/dia
+ hemograma a
ou >10mmHg na diastólica). Porém a mesma é clas- critério
sificada como Dengue C. Qual a conduta imediata? Exames específicos Se hematócrito
10mL/kg na primeira hora! apenas se período normal: idem A +
Grupo B não epidêmico reavaliação diária
Vamos às alternativas: + hemograma Se sinal de alarme:
obrigatório grupo C
A) CORRETA Essa é a conduta correta! Paciente 10mL/h em 1h
tem 75kg! + 10mL/h na
segunda hora
B) INCORRETA Essa conduta é indicada em pacien- Exames específicos até hematócrito.
tes do grupo D! + hemograma + Podemos repetir 3x
Grupo C
C) INCORRETA Como a paciente possui sinal de transaminases esse protocolo
obrigatórios Manutenção com
alarme, não é indicado, de imediato, reposição oral
25mL/kg em 6 h
D) INCORRETA Temos necessariamente uma fase de seguido de 25mL/h
expansão volêmica em pacientes do grupo C em 8h
Exames específicos
+ hemograma + 20mL/kg em 20min,
Grupo D
transaminases podendo repetir 3x
obrigatórios
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 91

QUESTÃO 29 3) Controle de Disturbios Hidroeletrolíticos: o gran-


de destaque é o Potássio.
Homem de 18 anos é admitido na emergência com
quadro de redução do nível de consciência, náuseas, a. Se <3,3, repor a 20-30mEq por hora e não realizar
vômitos e dor abdominal difusa. Apresenta glicemia insulina
capilar de 300mg/dL e gasometria com acidose meta- b. Se entre 3,3 e 5,2, repor 20-30mEq por hora, mas
bólica. Com o objetivo de confirmar o diagnóstico da fazer insulina
emergência clínica em questão, qual exame deveria ser
c. Se >5,2, checar de 2h em 2h
solicitado?
E o bicarbonato?? Apenas se Ph <6,9
A) Hemoglobina glicada.
B) Sumário de urina. Ora, a questão é até muito simples! Já temos a ACI-
DOSE (evidenciada na gasometria) e a DIABETICA
C) Lactato sérico.
(pela glicemia). Portanto falta a CETO, sendo eviden-
D) Hemograma. ciada no sumário de urina!
Resposta correta: Letra B
Vamos às alternativas:
Estamos diante de uma paciente com um clássico qua-
A) INCORRETA Esse exame é usado para controle
dro de cetoacidose diabética, complicação típica (po-
ambulatorial, uma vez que mede a média de glicose
rém não exclusiva) de pacientes portadores de Diabetes
nos últimos meses. Não é exame de urgência
Mellitus tipo 1. É muito comum ser a apresentação ini-
cial do DM1 com manifestações de polidipsia, poliúria, B) CORRETA É o que completa o diagnóstico
mal estar, rebaixamento de sensório e dor abdominal. C) INCORRETA A acidose do quadro da Cetoacido-
se não é devido ao aumento do lactato! Portanto
Para o diagnóstico, iremos usar o próprio nome:
não auxiliaria no diagnóstico
CETO – Presença de cetonemia ou cetonúria (acima D) INCORRETA O hemograma não nos auxilia na
de 3+ na fita reagente) principal hipótese de Cetoacidose diabética.
ACIDOSE – Ph <7,30 e Bicarbonato < 15
DIABÉTICA – Glicemia > 250mg/dL Take-Home Message:
Os 3 grandes focos terapêuticos são: 1) Reposição Vo- 1) Cetoacidose diabética é uma complicação comum,
lêmica 2) Insulinoterapia 3) Controle de distúrbios hi- porém não exclusiva do Diabetes Mellitus tipo 1.
droeletrolíticos. ATENÇÃO: A grande prioridade é a Devemos sempre tê-la como diagnóstico diferencial
reposição volêmica. de dor abdominal em um paciente jovem.
1) Reposição Volêmica: Iniciar com Cloreto de Sódio 2) Doença dos tripés: diagnóstico (cetonemia, glicose
0,9% (1,0L na primeira hora) e, caso haja hiperna- >250, Ph < 7,30) e terapêutico (volume, insulina,
tremia, passar para Solução 0,45% distúrbios hidroeletrolíticos)
2) Insulina: APENAS INICIAR CASO O POTÁS- 3) A prova quase sempre brincará com os ions. O po-
SIO ESTEJA ACIMA DE 3,3!!! Lembrem que a tássio (que ditará a realização ou não de insulina); o
Insulina induz a entrada do Potassio na célula (não bicarbonato (que só entrará no jogo se o pH estiver
é à toa que um dos tratamentos para a hipercalemia menor que 6,9) e o sódio (se houver valores maiores
é insulinoterapia). Casos graves iniciar com EV e que 135 devemos trocar a reposição volêmica pela
casos moderados ou leves com IM solução hipotônica)
92 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 30 4) Uma imagem de SNC (primeiramente uma TC),


buscando alterações parenquimatosas grosseiras
ACR, 82 anos, advogado aposentado, há 6 meses pas-
sou a apresentar esquecimento para fatos recentes, ten- 5) Se houver suspeita, sorologia para HIV e Sífilis.
do passado a esquecer de pagar as contas da casa e teve A questão não deixa nada transparecer que seja algo
sua energia cortada pela companhia elétrica. Relata que assim. Até porque existem outros sinais descritos que
no fim da tarde é comum ver uma criança desconhecida irão nos auxiliar no diagnóstico final:
brincando na varanda de sua casa. Relata também sono
DEMÊNCIA + ALUCINAÇÕES + ALTERAÇÕES
agitado com muitos pesadelos frequentes. A esposa in-
MOTORAS de instalação recente. O diagnóstico mais
forma que há dias em que ele está muito apático, ficando
provável é a demência dos corpúsculos de Lewy!
isolado, sem se comunicar. O exame físico é normal ex-
ceto pela presença de rigidez em roda denteada em pu- Creio que muitos aqui já devam pensar que essa ques-
nho direito. Mini-exame do estado mental (MEEM) foi tão era de Parkinson, já que trouxe uma característica
25/30. Durante o MEEM respondeu que estava no con- muito típica que é a rigidez em roda denteada! O inte-
sultório de seu dentista, lembrou duas das três palavras ressante é que fisiopatologicamente Lewy e Parkinson
solicitadas na evocação e errou três cálculos. Os exames se formam pelo depósito de alfa-sinucleína no sistema
laboratoriais são normais, exceto por anemia leve obser- nervoso central. Esses depósitos tem efeito neurotóxico
vada no hemograma (Hb = 11g/dl; Ht 38%; VCM 100 cumulativo, porém, guardem o seguinte:
fl; HCM 31 pg). A dosagem de vitamina B12 foi 259 PARKINSON = Predomínio motor e demência tardia
pg/ml (VR: 239 a 931 pg/ml). A Ressonância magnética
de crânio mostrou atrofia global leve e escala de atrofia LEWY = Predomínio de demência com quadro motor
mesial temporal (MTA) de 1. Qual a principal hipótese concomitante.
diagnóstica para o caso clínico? Como estamos diante de um quadro de demência re-
A) Doença de Alzheimer. cente (6 meses), não cabe pensar em Parkinson.
B) Doença de Parkinson. 1) Quadro clínico central
C) Demência por corpúsculos de Lewy. Além de obviamente a demência, os pacientes com
D) Demência por deficiência de vitamina B12. DCL devem apresentar pelo menos 2 manifestações
das que seguem:
Resposta correta: Letra C
3 Flutuações cognitivas: presentes em >60-80%
dos pacientes. Pode ser algo bem discreto (como
Sempre que formos investigar um paciente com de,
não mais conseguir realizar uma atividade diá-
temos SEMPRE que pensar em causas reversíveis an-
ria) ou grave a ponto de ser confundida com um
tes de irmos para diagnóstico como Alzheimer, de-
AVE. O mais interessante é que pode durar mi-
mência vascular... Então no pacote inicial de exames,
nutos ou dias, sendo intercaladas com períodos
devemos solicitar:
de quase normalidade.
1) Íons, glicemia e função renal buscando distúrbios
3 ALUCINAÇÕES: outra manifestação com mais
hidroeletrolíticos e metabólicos
de 70% de prevalência e MUITO explorada em
2) Função tireoidiana provas quando a mesma quer levantar essa hipó-
3) Vitamina B12. Lembrem!!! Deficiência de B12 tem tese. Principal tipo: VISUAIS
como característica a presença de sintomas neuro-
lógicos (diferentemente do folato)
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 93

3 Distúrbios comportamentais durante o sono REM Vamos às alternativas:


3 Parkinsonismo: bradicinesia, tremor de repou- A) INCORRETA Diagnóstico diferencial, mas via de
so, rigidez regra as alucinações são particularmente raras!
2) Quadro clínico suportivo B) INCORRETA A demência na doença de Parkinson
Essas características auxiliam no diagnóstico é tardia!
C) CORRETA Quadro clínico típico
3 Sensibilidade aos antipsicóticos: reações agudas
incluem severo (e por vezes irreversível) parkin- D) INCORRETA Paciente apresenta Vitamina B12
sonismo. São mais comuns com antipsicóticos dentro do adequado. Apesar de com valores limí-
de primeira geração (haloperidol) trofes essa demência ser possível, a questão nos leva
para outros caminhos.
3 Instabilidade postural
3 Disautonomias: disfunção erétil, incontinência Take-Home Message:
urinária, hipotensão postural
1) Para lembrar sempre de Lewy: Demencia de instala-
3 Hipersonia ção recente + alucinações + incontinência urinária
3) Diagnóstico + parkinsonismo
A base é clínica, com a presença de elementos centrais 2) Característica peculiar: sensibilidade a antipsicóticos
+ elementos de apoio. A ressonância magnética mostra, 3) Diferenciar de Parkinson: essa apresenta demên-
normalmente, atrofia generalizada, sendo que alguns cia tardia
estudos demonstram preferência para as áreas do putâ-
men e da substância cinzenta mesopontina.
4) Prognóstico
É uma doença que possui uma expectativa de vida
entre 2 e 9 anos, sendo que o declínio cognitivo e o
parkinsonismo são progressivos.
5) Tratamento
A base são anticolinesterásicos (rivastigmina, donepezi-
la) que amenizam os declínios motor e cognitivo.
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QUESTÃO 31 Essa questão trata de um quadro típico de Pneumonia


Bacteriana adquirida na Comunidade, afinal temos um
Mulher, 70 anos, é trazida por familiares à emergên- paciente com tosse, apatia e um achado de consolida-
cia com história de cinco dias de tosse seca e três dias ção típica na radiografia de tórax. No contexto da PAC,
de queda do apetite e apatia intensa. Tem história de a palavra “quadro típico” ainda guarda relação com
insuficiência cardíaca congestiva. Apresenta-se alerta, qual microorganismo é o causador. Sempre que vemos
sem taquidispneia e SpO₂: 96% em ar ambiente. Nor- pacientes com quadros clínicos floridos, pensamos em
motensa e afebril. Ausculta cardíaca com ritmo regular microorganismos típicos.
em 2 tempos e Fc: 90 bpm. Ausculta respiratória com
crepitações bibasais mais intensas, à direita. O hemo- Qual o principal agente etiológico de uma Pneumonia
grama não mostra anemia, nem plaquetopenia e leuco- Adquirida em Comunidade? Streptococcus pneumonie.
grama com 12.000/mm³ sem desvios. Proteína C rea- Mas e se pegarmos apenas os pacientes que se manifes-
tiva 6,0 (normal até 0,5), Glicemia 110 mg/dl, Ureia tem com quadros mais graves, precisando inclusive de
de 40 mg/dl , Creatinina 0,8 mg/dl, Sódio 133 mEq/L, CTI? Também é o Streptococcus pneumoniae!!!
Potássio 3,9 mEq/L Swab nasal com painel viral ne-
Esse é o primeiro grande recado: exceto se a prova for
gativo (SARS- Cov 2, Influenza, VSR e Rinovírus). A
explícita, te dando condições a mais para pensar em
radiografia de tórax em PA é mostrada na figura abaixo.
outros microorganismos, a resposta, com boa dose de
Neste contexto, e considerando o diagnóstico mais pro-
certeza, será Streptococcus pneumoniae!!!
vável, a abordagem de escolha para essa paciente seria:
Vamos conhecer alguns dos mais importantes outros
causadores de pneumonia bacteriana:
1) Haemophilus influenzae: ganha destaque em pa-
cientes DPOCíticos e em crianças, principalmente
as não vacinadas.
2) Klebsiella pneumoniae: ganha destaque principal-
mente em pacientes diabéticos ou alcoólatras. Veja
abaixo um macete de prova relacionado à Klebsiella

A) Cefepime + Azitromicina.
B) Ceftriaxona + Claritromicina.
C) Moxifloxacina + Azitromicina.
D) Amoxicilina/Clavulanato + Claritromicina.
Resposta correta: Letra D
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Essa radiografia demonstra uma consolidação em lobo b. Staphylococcus aureus: pneumatoceles (disten-
superior que cria uma espécie de curva, como se estivesse sões do alvéolo levando ao aparecimento de cis-
pesando sobre o lobo inferior. O nome desse quadro é tos) e derrame parapneumônico
pneumonia do lobo pesado, ou Pneumonia de Friedlan- Feito o diagnóstico, temos que nos perguntar basica-
der e tem como agente causador a K. pneumoniae mente 2 coisas: com o que tratar e onde tratar.
3) Microorganismos anaeróbios: lembrar sempre em Podemos tratar um paciente em domicílio, na unidade
pacientes com rebaixamento do sensório, doenças de internação ou na UTI. Usamos de alguns escores
degenerativas. São os microorganismos causadores prognósticos para nos ajudar na definição:
de Pneumonia aspirativa.
CURB-65:
a. Pegadinha clássica de prova: qual o diagnósti-
co de um paciente que se apresenta no pronto
socorro com quadro de dessaturação, dispneia
e história de aspiração de conteúdo gástrico há
4 horas? NÃO É PNEUMONIA!!! Trata-se de
uma pneumonite, que algumas bancas gostam de
chama-la pelo seu epônimo: Síndrome de Men-
delson. Uma pneumonia demanda tempo. O pa-
tógeno precisa de instalar no parênquima, então
demora um tempo.
b. Mais um detalhe sobre Pneumonia aspirativa: é
muito mais comum no pulmão direito e, mais
especificamente, no segmento posterior do lobo
superior e no segmento superior do lobo infe-
rior. Qual a lógica? Meramente uma questão de Confusão mental
facilidade e gravidade, afinal o brônquio direito Ureia > 43
é mais retificado. FR > 30
4) Mycoplasma Pneumoniae: essa é queridinha das PA < 90/60
picuinhas de prova, pois se relaciona com algumas Idade maior que 65 anos
manifestações pouco comuns. No geral, se a ques-
tão te apresentar alguma complicação aparente-
mente sem relação com a pneumonia em si, há uma O CURB é o mais simples, sendo essa a interpretação:
boa chance de a resposta ser a M. pneumoniaie
1) 0 ou 1: Paciente candidato ao tratamento ambu-
a. Fenômeno de Raynaud latorial
b. Steven-Johnson 2) 2: Considerar internação
c. MIRINGITE BOLHOSA 3) Acima de 3: Internar, sendo que acima de 4 é indi-
5) Para não fugir mais da questão em si, alguns outros cação de CTI
microorganismos e algo que se deva guardar: Nossa paciente pontuou 1!! Portanto, ela é uma forte
a. Legionella pneumophila: ar condicionado // candidata ao tratamento ambulatorial
Quadro grave // SIAD Pessoal, MUITA ATENÇÃO na hora de aplicar esco-
res em prova. As questões normalmente cobram bom
96 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

senso associado!! Vocês não vão mandar um paciente Para concluir, a Sociedade Americana de Doenças In-
em choque séptico ou intubado para a internação em fecciosas propõe critérios para a decisão de internação
enfermaria só porque eventualmente ele pode não pon- ao CTI (1 maior ou 3 menores). Os critérios são bem
tuar mais de 4 no CURB. Pelo mesmo raciocínio você mais lógicos:
não mandará para casa um paciente institucionalizado, 1) Critérios maiores: (vamos combinar que esses cri-
sem via oral adequada ou sem apoio familiar só porque térios são universais para a admissão em CTI, não
o mesmo pontuou 0 no CURB!!! Bom senso. necessariamente em pacientes com PAC)
Existe outro escore chamado PSI/PORT. Ele é muito a. Instabilidade hemodinâmica
mais completo e complexo, porém muito menos práti-
co. São as seguintes variáveis: b. Insuficiência respiratória

1) Residência em asilo + 10 2) Critérios menores: (se relacionam a disfun-


ções orgânicas)
2) Neoplasia + 30
3) Doença hepática +20 a. Taquipneia grave (>30irpm)
4) IC +10 b. Hipoxemia (PaO2/FiO2 <250)
5) Doença cerebrovascular +10 c. Leucopenia
6) Doença renal +10 d. Trombocitopenia
7) Confusão mental +20
e. Hipotensão ainda sem uso de aminas vasoativas
8) FR > 30 +20
f. Alteração do estado mental
9) PAS <90 +20
10) Hipotermia ou febre alta (>40) +15 g. Acometimento de mais de um lobo pulmonar
11) Taquicardia (>125) +10 h. Ureia>43
12) Acidose +30 Para finalizar esse já extenso comentário, vamos re-
13) Ureia>30 +20 visar o tratamento de uma Pneumonia Adquirida
14) Na<130 +20 na Comunidade:
15) Glicose>250 +10 1) Paciente fora do hospital:
16) Hematócrito<30% +10 a. Se sem nenhuma comorbidade, acreditem ou
17) Hipoxemia +10 não: Macrolídeo
18) Derrame pleural +10 b. Se com alguma comorbidade, algum fator de ris-
co para pneumococo resistente (principalmente
O escore ainda leva em conta a idade, da seguinte forma: hospitalização ou uso de antibióticos nos últimos
Homens: Idade + pontuação 3 meses): Marcrolídeo + Betalactâmico OU
Quinolona respiratória em pacientes alérgicos.
Mulheres: Idade – 10 + pontuação
OBSERVAÇÃO: Quais as 3 quinolonas respirató-
Viram o porquê é muito mais complexo? Ele costuma rias?? Levofloxacino, Gemifloxacino e Moxifloxacino.
ser o escore de estudos, porém para aquele primeiro MUITO cuidado em provas que deixam sorrateira-
contato, o CURB é muito mais prático. Novamente, mente uma opção com Ciprofloxacino isoladamente!!!!
bom senso!! Colocamos o PSI com detalhes porque em
algumas provas mais maldosas a banca gosta de cobrar 2) Paciente na enfermaria (muito semelhante ao paciente
algo relacionado a ele. com comorbidade que tratará fora do hospital)
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a. Macrolídeo + Betalactâmico: mas atenção!!!! Pronto! Vamos às alternativas:


Com o paciente já internado nõs não usamos
Amoxicilina rotineiramente. Os mais usa- A) INCORRETA Paciente advinda da comunidade e
dos são Ceftriaxona, Ampicilina+Sulbactan sem fatores de risco para Pseudomonas! Cefepime é
e Cefotaxima. demais!
B) INCORRETA Essa paciente pontua 1 no CURB-
b. Quinolonas respiratórias
65. Está bastante estável clinicamente e não deve
3) No CTI: (aqui, na maioria esmagadora das vezes. ser internada! Portanto ceftriaxona não é uma boa
teremos uma associação de medicações) opção
a. Betalactâmico + Macrolídeo/Quinolona: Vejam C) INCORRETA Ou uma quinolona ou um betalac-
o detalhe. Aqui, tecnicamente, eu poderia usar tâmico + macrolídeo!
quinolonas não respiratórias, já que seria um tra- D) CORRETA Essa é uma ótima opção para uma pa-
tamento conjugado com outro antibiótico. Mas ciente que trataremos fora do hospital
a preferência é por quinolonas respiratórias de
qualquer forma.
Take-Home Message:
Se pensarmos em Pseudomonas aeruginosas (uso re-
1) PAC é um dos assuntos mais cobrados das provas
cente de antibióticos ou doenças pulmonares graves)
de CLM.
devemos usar um Antipseudomônico associado:
2) Raciocine primeiro qual o patógeno mais provável:
A) Ou a uma quinolona
as provas te darão as informações quando for para
B) Ou a um Aminoglicosídeo + Macrolídeo não suspeitar do maior e mais comum patógeno: o
Não desista!!!! Parece muito complicado num primeiro pneumococo
momento, mas vejam como há uma lógica de escalona- 3) Tenha em mente PELO MENOS o CURB-65 para
mento de antibióticos, sendo que o centro são 3 classes: definição de onde tratar o paciente, mas use sempre
betalactâmicos, macrolídeos e as fluoroquinolonas! do bom senso na aplicação do mesmo. Pacientes
Duas últimas informações muito importantes: que pontual 0 ou 1 são fortes candidatos a trata-
mento ambulatorial.
1) Quais são as drogas capazes de combater a Pseu-
domona aeruginosa? Piperacilina+tazobactam, 4) Defina a antibioticoterapia baseada no patógeno e
Cefepime, Meropenem e Imipenem no local, escalonando à medida que o paciente se
torna mais grave. As 3 principais classes são: beta-
2) E se na questão houver algum tipo de destaque lactâmicos, macrolídeos e as fluoroquinolonas!
para um paciente grave usuário de drogas, inva-
dido por algum cateter ou com crescimento de
Cocos gram positivos na cultura?
Nesses casos pensamos em Staphilococcus aureus resis-
tente a meticilina, o temido MRSA! AÍ associamos a
Vancomicina ou a Linezolida
98 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 32 3 Terapia medicamentosa: devem ser iniciados na


admissão. Feita com medicamentos que reduzem
Paciente masculino, 45 anos, dá entrada na emergência o fluxo sanguíneo portal (Octreotide, Somatos-
com hematêmese volumosa, inédita, associada à lipoti- tatina, Terlipressina).
mia. O mesmo encontra-se em acompanhamento por
cirrose de etiologia alcoólica e coronariopatia mas não 3 Balão de Sengstaken-Blakemore: casos refratá-
vem em uso de medicações. A equipe de plantão ini- rios ou onde há indisponibilidade de EDA
ciou ressuscitação volêmica e foi realizada endoscopia 3 TIPS: Também em casos refratários. Trata-se de
que mostrou varizes de médio calibre sangrantes. Qual um shunt portossistêmico entre a veia hepática e
das opções abaixo descreve a medida mais adequada a a veia porta.
ser realizada nesse momento?
3 Cirurgia: casos extremos!
A) Realizar escleroterapia e prescrever carvedilol.
PASSO 3: Medidas profiláticas
B) Realizar ligadura de varizes e associar octreotide.
3 Evitar ressangramento: feito com betabloqueadores
C) Iniciar beta bloqueador e administrar somatostatina.
D) Administrar plasma fresco congelado e terlipressina. 3 Profilaxia de PBE: 7 dias de norfloxacino (pode-
mos iniciar com Ceftriaxona caso o paciente não
Resposta correta: Letra B apresente VO disponível)
Agora, para complementar o comentário, como faze-
Estamos diante de uma questão sobre hemorragia di-
mos a profilaxia primária?
gestiva alta por varizes esofageanas. Tema muito impor-
tante por ser uma complicação da hipertensão portal Primeiro, como quase 50% dos pacientes cirróticos
típica de pacientes cirróticos. Quase 50% dos pacientes apresentam varizes, a EDA deve ser um exame de ro-
cirróticos irão desenvolver varizes do esôfago. Sem ro- tina nesses casos, sendo repetido bianualmente se o
deios, vamos para a conduta na questão, que trata de paciente não tiver varizes, e anualmente se o paciente
um paciente com sangramento importante e ativo! for mais grave (Child-Pugh pelo menos B) ou se tiver
varizes de pequeno calibre.
1) O que fazer com um paciente sangrando?
Devemos iniciar a profilaxia primária ou se o paciente
PASSO 1: Estabilização hemodinâmica
tiver varizes de médio/grande calibre ou se o paciente
Feita com cristaloides ou hemotransfusão se Hb for Child-Pugh pelo menos B e tiver variezes de qual-
< 7. Se houver RNI>1,7, deve-se considerar o quer tamanho. 2 são as possibilidades:
uso de plasma fresco congelado.
Betabloqueadores: carvedilol, propranolol, nadolol
PASSO 2: Interromper o sangramento (possuem propriedades de vasoconstrição da circula-
3 Terapia endoscópica ou por escleroterapia (ino- ção portal)
culação de substancias irritativas que trombosam Ligadura endoscópica: reservada para pacientes que
os vasos) ou por ligadura elástica (é preferida por não toleram os betabloqueadores
menor taxa de complicações)
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 99

Vamos às alternativas: QUESTÃO 33


A) INCORRETA A escleroterapia até está correta, po- Homem, 33 anos, obeso, etilista, hipertenso em uso
rém o betabloqueador só é iniciado após alguns dias e de hidroclorotiazida, com história de alta hospitalar, há
tem caráter de profilaxia e não de tratamento agudo. 24 horas, após colecistectomia, procura UPA com re-
B) CORRETA Opção muito boa. É a lógica clássica lato de dor intensa e alodínia em hálux esquerdo há 3
da interrupção do sangramento. horas. Ao exame: Estado Geral Regular, fácies de dor,
C) INCORRETA Aqui falta a abordagem endoscópica! T:37,9°; abdome flácido e ferida operatória sem sinais
flogísticos; sistema osteo- articular: edema, rubor e dor
D) INCORRETA Seria interessante caso a questão in- à movimentação de hálux (vide imagem). Que conduta
dicasse um RNI muito alargado. Porém ainda as- está indicada neste momento?
sim faltaria a abordagem endoscópica

Take-Home Message:
1) O primeiro passo em pacientes com HDA é estabi-
lização clínica
2) O passo seguinte é uma terapia endoscópica (escle-
roterapia ou ligadura elástica) + terapia medicamen-
tosa (octreotide ou somatostatina ou terlipressina)
3) Profilaxia secundária: Norfloxacino para PBE e Be-
tabloqueador para ressangramento

A) Coleta de duas amostras de hemoculturas.


B) Punção de metatarsofalangeana.
C) Dosagem de ácido úrico sérico.
D) Iniciar cefalexina.
Resposta correta: Letra B

Edema, dor e rubor à movimentação de uma articula-


ção não há duvidas! Estamos diante de uma MONO-
ARTRITE AGUDA. Ora, a questão deu alguns bons
elementos (além, claro, da localização) para pensarmos
em gota. Mas como o principal diagnóstico diferencial
é a artrite séptica, a conduta obrigatória nesses casos
é a PUNÇÃO DA ARTICULAÇÃO! Só com isso já
matamos a questão. Agora, porque gota é a principal
hipótese diagnóstica?
100 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

1) Aspectos gerais 3 S. aureus é a bactéria mais envolvida nas artrites


Inicialmente o acometimento é na primeira articulação não gonocócicas
metatarsofalangeana. É autolimitada, dando sua carac- 3 Adultos jovens podem ter a chamada artrite go-
terística clássica em surto-remissão. Além disso, a fisio- nocócica, secundária à disseminação do gono-
patologia envolve o depósito de células de defesa que coco, sendo, portanto, secundária a uma DST.
fagocitam o ácido úrico dentro das articulações. Mas Nesses casos, uma poliartrite associada a lesões
porque há acumulo crônico de ácido úrico? A diminui- cutâneas e tenossinovite constitui o quadro clí-
ção da excreção renal é responsável mais importante! nico mais clássico.
A formação do ácido úrico vem da metabolização das
purinas. Portanto dietas ricas em purinas podem ser Vamos às alternativas:
causas da artrite gotosa aguda: fígado, carne, anchovas. A) INCORRETA Primeiro precisamos documentar o
Além disso, o etanol facilita reações de síntese de ácido que está ocorrendo na articulação!
úrico! Por fim o uso de medicações, com os diuréticos
B) CORRETA Essa conduta diferenciará nossas
(principalmente tiazídicos), podem causar hiperurice-
principais hipóteses
mia! >> Façam o paralelo com o caso: paciente obeso,
etilista, usuário de tiazídicos! C) INCORRETA Desnecessária em qualquer quadro,
já que não da diagnóstico de nada
2) Diagnóstico
D) INCORRETA O paciente apresenta dor à mobili-
Ora, se é um problema de ácido úrico, basta dosá-lo, zação articular, portanto até que se prove o contrá-
correto? Não! Qualquer alteração de valor do ácido úri- rio, ele não tem uma infecção de partes moles
co é suficiente para desencadear a crise gotosa. QUAL-
QUER! Inclusive para baixo. Portanto o valor da urice-
Take-Home Message:
mia durante a crise não tem valor diagnóstico nenhum!
1) Monoartrite aguda = punção da articulação
Já explicitamos: o diagnóstico é baseado na Suspeição
clínica + punção articular! É importante a segunda parte 2) Articulação clássica da gota: primeira metatarsofa-
porque monoartrites agudas possuem como importante langeana (Podagra)
diagnóstico diferencial a ARTRITE SÉPTICA (diferen- 3) Achado típico: CRISTAIS EM AGULHA COM
ciaremos pelo crescimento de micro-organismos) BIRREFRINGÊNCIA NEGATIVA à microsco-
Qual o achado típico da punção? CRISTAIS EM pia com luz polarizada
AGULHA COM BIRREFRINGÊNCIA NEGATI- 4) A dosagem de ácido úrico é totalmente desnecessá-
VA à microscopia com luz polarizada ria para o diagnóstico de uma crise
Sobre a artrite séptica, para que tenhamos em mente 5) A artrite séptica é mais típica de grandes articula-
que essa é apenas a segunda hipótese, vejam algumas ções, apesar de não exclusiva!
características:
6) O microorganismo mais envolvido na artrite séptica
3 Normalmente há o envolvimento de grandes ar- é o S. aureus
ticulações (joelho, punhos, tornozelos)
3 A maioria das artrites tem origem da dissemina-
ção hematogênica da bactéria. Alguns fatores de
risco são: idade avançada, cirurgia recente, infec-
ções de partes moles, imunossupressão.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 101

QUESTÃO 34 Vertebrobasilar: diplopia, disartria, ataxia cerebelar,


vertigem
Homem, 70 anos, procura atendimento médico em Uni-
dade Básica de Saúde devido a episódio de fraqueza em Carótida: hemiparesia, dormência, afasia
hemicorpo à direita e dificuldade na fala, durante 1 hora, 1) Causas
que aconteceram há duas semanas. Paciente procurou,
• AIT embólico: imagine uma fonte de êmbolos
naquela ocasião, emergência médica onde fez tomografia
(coração com FA, carótida, artéria vertebral) que
de crânio e doppler de carótidas e vertebrais com laudos
manda um êmbolo grande o suficiente para causar
normais, exames de sangue que não mostraram altera-
sintomatologia, mas pequeno o suficiente para ser
ções, e eletrocardiograma que mostrou fibrilação atrial.
dissolvido pelo próprio organismo. Essa é a ideia do
Paciente optou por não permanecer internado, saiu do
AIT embólico. Vale lembrar que duram mais e reci-
hospital sem nenhuma prescrição médica e veio à con-
divam menos, porém quando isso ocorre, o déficit
sulta hoje, devido ao “”medo de sentir novamente os sin-
é diferente do anterior.
tomas”” e querendo saber qual o melhor tratamento que
deve fazer para evitar essa recorrência. Tem antecedente • AIT de baixo fluxo arterial: a ateromatose é fre-
de febre reumática com necessidade de troca valvar (vál- quente em artérias que irrigam o SNC (notoria-
vula metálica) há 5 anos, mas vinha em uso irregular de mente vertebral e carótida). O que ocorre é uma
suas medicações. No momento está sem utilizar nenhu- instabilização da placa com formação transitória de
ma. Pulso: 80bpm, PA:120x80mmHg. Exame neuroló- trombos. Aqui, a duração do déficit é menor, mas
gico sem alterações. Qual medicação está indicada para a há maior taxa de recidiva.
profilaxia secundária, nesse paciente? • AIT lacunar: causado pela isquemia das artérias la-
A) Ácido acetil salicílico. cunares.
B) Clopidogrel. 2) Diagnóstico
C) Apixabana. Ora, se o que diferencia um AIT de um AVE é a pre-
D) Varfarina sença de infarto cerebral, precisamos de um bom exa-
me de imagem para selar esse diagnóstico! A tomogra-
Resposta correta: Letra D
fia de crânio é ruim em um contexto agudo, já que não
se altera dentro das primeiras 24h. O exame de escolha,
O paciente apresentou um déficit neurológico focal
portanto, é a Ressonância de encéfalo de difusão.
que melhorou. Estamos diante PROVAVELMENTE
de um quadro de Ataque Isquêmico transitório. Tra- Há a necessidade, assim como no AVE, de estudar o
ta-se, por definição, de um evento isquêmico SEM in- paciente para responder a seguinte pergunta: De onde
farto cerebral. Entenderemos durante o texto o porquê veio esse êmbolo?
frisamos que é apenas PROVÁVEL, porém não defini- • Duplex-scan das carótidas e das vertebrais (Opções:
tivo, que se trata de um AIT. angio-TC e angio-RM)
Essa definição é importante porque houve um tempo • Ecocardiograma transtorácico e ECG (pensando
em que a definição era baseada no tempo de melhora em FA)
dos sintomas (<24h). Porém hoje sabemos que AVEs
muito pequenos podem apresentar-se sem sequelas, Entenderam o porquê de não fecharmos o diagnós-
porém com pequenas áreas de infarto cerebral. tico nos moldes que a questão foi formulada? Não é
explicitado se a tomografia foi feita em tempo cor-
As manifestações clínicas são condizentes com o terri- reto! O provável segue como um AIT, mas se formos
tório irrigado: rigorosos, ainda é uma probabilidade! Mas, obvia-
102 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

mente, isso é apenas um detalhe e não brigaremos Vamos às alternativas:


com a questão por isso!
A) INCORRETA A primeira opção é o werfarin! O
3) Prognostico AAS é mais voltado para tratamento de AIT/AVE
Analisamos usando o escore ABCD2: aterotrombóticos
B) INCORRETA É uma opção ao AAS!
Age (>60 anos) 1 ponto
Blood Pressure C) INCORRETA Fundamental lembrar que o pacien-
1 ponto te tem prótese valvar, portanto não podemos utili-
(>140/90)
Paresia/parestesia 2 pontos
zar os novos anticoagulantes
Clinica Distúrbios de fala 1 ponto D) CORRETA É o tratamento específico, já que o
Outros 0 ponto paciente tem FA!
Mais de 59 minutos 2 pontos A questão acabou sendo anulada pela banca, mas a me-
Duração 10-59 minutos 1 ponto lhor resposta seguramente é o warfarin
<10 minutos 0 pontos
Diabetes 1 ponto
Take-Home Message:
6 ou 7 pontos (alto risco de AVE em 48h) // 4 ou 5 1) O AIT, por definição, é isquemia sem infarto cerebral!
pontos (moderado risco de AVE em 48h) // 0 a 3 pon-
2) Os principais são o aterotrombótico (baixo flu-
tos (baixo risco de AVE em 48h)
xo arterial); cardioembólico (principalmente por
4) Tratamento FA) e lacunar
Depende da origem! 3) O diagnóstico necessariamente precisa de um exame
AIT Aterotrombótico: de imagem

No geral é feito com AAS 50-325mg (opção clo- 4) O tratamento é:


pidogrel 75mg/dia) a. AAS ou clopidogrel para eventos de origem ate-
Se o paciente apresentar uma estenose carotídea rotrombótica
entre 70-99% e tiver uma expectativa de vida su- b. Anticoagulantes orais para eventos de origem
perior a 5 anos, uma boa opção é a endarterecto- cardioembólica
mia carotídea.
AIT cardioembólico: anticoagulantes orais, sendo os no-
vos anticoagulantes os preferenciais exceto em caso de
pacientes com prótese valvar, cuja opção é o warfarin!
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 103

QUESTÃO 35 dio atual não melhorou, procurando então a emergên-


cia. Chegou com pressão arterial = 120 x 80 mmHg,
Mulher, 56 anos, hipertensa e diabética chegou na frequência cardíaca = 140 batimentos por minuto e o
emergência referindo palpitação e taquicardia há 3 dias. eletrocardiograma está abaixo. Qual é a melhor condu-
Refere episódios semelhantes, esporadicamente, que ta para essa paciente?
costumam melhorar espontaneamente, porém o episó-

A) Cloridrato de amiodarona endovenoso e ablação A fibrilação atrial é a arritmia mais comum, principal-
posterior. mente nos idosos. Ela é gerada por incontáveis pontos
B) Cloridrato de amiodarona endovenoso e anticoa- de estímulo atriais que geram um verdadeiro curto cir-
gulação. cuito atrial. Porém apenas parte deles são passados ao
C) Tartarato de metoprolol endovenoso e anticoa- nó AV. Como há uma verdadeira anarquia de estimulo,
gulação. o ritmo cardíaco fica irregular!
D) Cardioversão elétrica com 100 J e anticoagulação. 1) Quem tem FA?
Tema importantíssimo! Os principais fatores de risco envolvem algum tipo de
agressão ao átrio:
Resposta correta: Letra C
3 Doença isquêmica
Analisando o eletrocardiograma dado: temos ausência 3 Doenças inflamatórias (pericardite, miocardite)
de onda P + QRS estreito + Intervalo RR irregular. Es- 3 Doenças de depósito (amiloidose, fibrose secun-
tamos diante de uma Fibrilação Atrial! dária a idade)
104 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

3 Hipertensão arterial -hospitalar, caso o paciente apresente novo qua-


3 Tireotoxicose dro agudo, a administração em dos única oral
pode levar à reversão do ritmo. No entanto, pelo
3 Etilismo e tabagismo risco de conversão em flutter, essa droga deve ser
2) Achados clínicos associado a um betabloqueador ou a um bloque-
ador do canal de cálcio
A sintomatologia varia desde um achado ocasional em
um ECG de controle até síncope e Edema Agudo de Porém, o mais importante conceito é: a taxa de reci-
Pulmão. No meio termo teremos um paciente que se diva é absurdamente alta, principalmente em quem já
encontra com palpitação, mal estar, fadiga, dispneia... apresenta fatores de risco não modificáveis. Por isso,
iniciar propafenona ou amiodarona como profilaxia é
Porém tudo isso vem diretamente da arritmia. Alguns
fundamental após o controle do ritmo.
pacientes podem abrir o quadro com um AVE, uma vez
que a fibrilação atrial é um dos principais mecanismos Agora, atenção: devolver a capacidade de um átrio con-
de formação de trombo e, consequentemente, de AVE! trair pode ter consequências importantes! Lembrem
que um átrio que não contrai direito pode formar
O eletrocardiograma será: ausência de onda P, QRS es-
trombos. Retornar essa capacidade pode levar a uma
treito e RR irregular! A frequência cardíaca varia entre
embolização perigosa. Portanto, devemos traçar uma
110 e 170bpm.
estratégia de anticoagulação para os pacientes que irão
Algumas bancas gostam de questões de semiologia e, cardioverter. Para isso levamos em consideração 2 vari-
por vezes, fazem a seguinte pergunta: ávies: CHA2DS2-VASc e o tempo de instalação!
QUAL ACHADO SEMIOLÓGICO NÃO É POS- O CHA2DS2-VASc é o escore de avaliação para o ris-
SÍVEL ENCONTRAR EM UM PACIENTE COM co tromboembólico:
FIBRILAÇÃO ATRIAL? A resposta é B4! Afinal essa é
Congestive Heart Failure (IC, IVE) 1
uma bulha que depende da contração atrial
Hipertensão 1
3) Conduta
Age (>75) 2
PASSO 1: O paciente está instável? Diabetes 1
Se essa resposta for sim, não há conversa! Devemos car- Stroke (AVE, AIT) 2
dioverter o paciente (choque sincronizado) Vascular disease (IAM, DAP) 1
PASSO 2: O paciente está estável? Age (65-75) 1
Sex (Feminino) 1
Nessa hora podemos adotar ou a conduta de cardio-
verter ou a conduta de controlar a frequência. Vamos
abordar cada uma em separado: Traçado isso, teremos 2 grupos:

3.1) Estratégia de cardioversão FA com início em menos de 48h: o racional é que não
houve tempo para a formação de trombos, portanto a
Pode ser feita ou pela cardioversão elétrica sincronizada cardioversão pode ser imediata. Porém:
(200J se monofásico ou 120J se bifásico) ou por meio
de antiarrítmicos (os dois mais usados são a amiodaro- CHA2DS2-VASc 3 na mulher ou 2 no homem, iremos
na e a propafenona) não só realizar anticoagulação imediatamente antes da
cardioversão como serão pacientes de uso crônico.
3 A propafenona, inclusive, é a droga utilizada na
estratégia chamada pill-in-the-pocket. Ou seja, CHA2DS2-VASc de 2 na mulher ou de 1 no homem:
após reversão com segurança em ambiente intra- avaliar individualmente
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 105

CHA2DS2-VASc de 1 na mulher ou de 0 no homem: Vamos às alternativas:


os pacientes não necessitam de anticoagulação (bastavam 2 informações de todas essas citadas: a
paciente está estável e apresenta >48h de sintomas)
FA com início a mais de 48h: o racional é que até que
se prove o contrário esses pacientes formaram trombos A) INCORRETA Não iremos cardioverter sem ECO-
intracavitários! TE ou sem anticoagulação prévia
Podemos realizar um ECO transesofágico. Caso não B) INCORRETA Precisamos anticoagular por no mí-
haja trombo, podemos cardioverter e manter a anticoa- nimo 3 semanas caso formos cardioverter
gulação por 4 semanas C) CORRETA
Caso não seja possível o ECO, igualmente eficaz é D) INCORRETA Idem letra B
iniciar a anticoagulação por 3 semanas, cardioverter e
manter a mesma por mais 4 semanas. Take-Home Message:
3.2) Estratégia de controle de frequência 1) ECG típico de FA: ausência de onda P, QRS estrei-
A ideia aqui é simples: vamos só trazer a frequência to e RR irregular! A frequência cardíaca varia entre
cardíaca para valores menores que 80-110, mesmo que 110 e 170bpm.
se mantenha irregular, uma vez que a sintomatologia 2) Se o paciente estiver instável, cardioverter
reside nessa FC alta! As duas principais classes medica-
mentosas envolvidas são: betabloqueadores e bloquea- 3) FA de mais de 48 h ou anticoagulamos por 3 se-
dores dos canais de cálcio. manas previamente à cardioversão ou fazemos um
ECOTE para garantir a ausência de trombos
Esses pacientes devem realizar anticoagulação crônica,
de acordo com a seguinte lógica: 4) FA < 48 horas seguimos a seguinte lógica:

CHA2DS2-VASc 3 na mulher ou 2 no homem: “No- a. CHA2DS2-VASc 3 na mulher ou 2 no homem,


vos” anticoagulantes orais (apixabana, rivaroxabana, iremos não só realizar anticoagulação imediata-
edoxabana e dabigatrana) mente antes da cardioversão como serão pacien-
tes de uso crônico.
CHA2DS2-VASc de 2 na mulher ou de 1 no homem:
avaliar o HAS-BLED para decidir. Não anticoagular b. CHA2DS2-VASc de 2 na mulher ou de 1 no ho-
se >3! mem: avaliar individualmente

O HAS-BLED é o escore de avaliação do risco c. CHA2DS2-VASc de 1 na mulher ou de 0 no ho-


de sangramento: mem: os pacientes não necessitam de anticoagulação
5) Podemos optar pelo controle de frequência com aná-
Hipertensão 1
lise de anticoagulação crônica pela seguinte lógica:
Alteração renal ou hepática (1pto para cada) 1-2
Stroke (AVE) 1
a. CHA2DS2-VASc 3 na mulher ou 2 no homem:
“Novos” anticoagulantes orais (apixabana, riva-
Bleeding (evento prévio) 1
roxabana, edoxabana e dabigatrana)
Labilidade de RNI 1
Eldery (>65 anos) 1
b. CHA2DS2-VASc de 2 na mulher ou de 1 no
homem: avaliar o HAS-BLED para decidir. Não
Drugs ou Alcool (1pto para cada) 1-2
anticoagular se >3!
c. CHA2DS2-VASc de 1 na mulher ou de 0 no ho-
CHA2DS2-VASc de 1 na mulher ou de 0 no homem: mem: sem anticoagulação
sem anticoagulação
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QUESTÃO 36 te na anamnese é fundamental: período pré menstrual;


álcool, chocolate, estresse, calor, perfumes...
Mulher de 30 anos procura atendimento no posto
de saúde devido a episódios de cefaleia holocraniana Vamos descrever cada uma das fases de um quadro tí-
em aperto, desde os 20 anos. Durante os episódios, pico de enxaqueca:
a paciente deixa de fazer atividades cotidianas, assim PRODROMO: São sintomas que podem aparecer en-
como prefere ficar em seu quarto com janela fechada tre 24-48h antes da crise. Estão presentes em mais de
e sem barulho. Ao tentar fazer atividade física durante 70% dos pacientes: sonolência, euforia, irritabilidade,
os episódios, relata piora dos sintomas com dor pul- tensão muscular, constipação...
sátil em região temporal. Nega vômitos durante os
AURA: Presente em 25% dos casos. São sintomas
episódios. Se não tomar analgésicos, a paciente refere
neurológicos de duração aproximada de 1h que se re-
que fica até dois dias com dor. Faz uso de paracetamol
vertem totalmente. Pode ser visual (mais comum. Es-
1 grama durante os episódios e, em algumas ocasiões,
curecimento da visão, escotomas cintilantes) sensorial
faz uso deste medicamento mais de duas vezes ao dia
(formigamento), de linguagem (disartria), motora (fra-
. Nos últimos meses, apresenta em média 8 crises ao
queza unilateral)
mês. É portadora de Asma e tem exame físico e neu-
rológico normais. Qual das medicações a seguir deve CEFALEIA: Pulsátil, unilateral, intensa e muito fre-
ser utilizada na paciente acima para diminuir a ocor- quentemente associada a náuseas, vômitos, fotofobia,
rência de crises de cefaleia? fonofobia. Atenção: a enxaqueca pode ser bilateral ou
holocraniana. Então analisem, nas questões, não ape-
A) Topiramato.
nas a característica da cefaleia. Analisem também a ida-
B) Naratriptano. de, os sintomas associados e os fatores desencadeantes!
C) Propranolol.
PÓSDROMO: Cansaço, astenia. Pode durar dias.
D) Dipiriona.
3) Diagnóstico
Resposta correta: Letra A
O ICHD-3 define os seguintes critérios:
Dor pulsátil em região temporal + fotofobia + fonofo- 3.1) Migrânea sem aura
bia + piora com atividade física = ENXAQUECA! A) Pelo menos 5 episódios de cefaleia que pre-
1) O que é encham os critérios B até D
É uma das doenças mais prevalentes do mundo, sen- B) Cefaleia que dura de 4 a 72h (não tratada
do também uma das principais causas de afastamento ou tratada com insucesso)
das atividades laborais. Antigamente se achava que a C) Cefaleia com pelo menos 2 das seguin-
origem da migrânea (outro nome para a enxaqueca) tes características:
era devido a vasodilatação de vasos sanguíneos, sendo
a aura causada pela vasoconstrição prévia. Essa teoria a. Unilateral
caiu! Hoje os estudos mostram que há uma hiperexci- b. Pulsátil
tação difusa dos neurônios corticais.
c. Dor moderada a severa
Mais comum em mulheres jovens (até 50 anos)
d. Piora pela atividade física rotineira
2) Quadro clínico
D) Durante a cefaleia, pelo menos 1 dos se-
É importante para o início do quadro um gatilho. Há guintes:
uma miríade de gatilhos possíveis, sendo que essa par-
a. Náuseas ou vômitos
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b. Fotofobia ou fonofobia Algumas outras classes medicamentosas interessantes


Para que classifiquemos como migrânea com aura, ain- de citarmos:
da precisamos de: 3 Corticoide: quando associada ao tratamento
A) 2 episódios que preencham B e C: agudo, a dexametasona reduz a taxa de recorrên-
cia precoce da enxaqueca! Porém não deve ser
B) Um dos seguintes sintomas reversíveis: usada cronicamente
a. Visual 3 Opiodes: devem ser evitados
b. Sensorial 3 Antiemeticos: com destaque para a metoclopra-
c. Linguaguem mida, além de, obviamente, reduzir as náuseas,
ele é adjuvante na redução da enxaqueca pelo seu
d. Motor
efeito antagonista nos receptores de dopamina.
e. Retiniano
4.2) Profilatico
C) Pelo menos 3 dos 6 que seguem:
A enxaqueca é uma doença crônica sem cura. Por-
a. 1 sintoma de aura que dure mais que 5 min tanto alguns pacientes terão de realizar controle de
b. 2 ou mais sintomas em sequencia longo prazo!

c. Cada sintoma dure no máximo 60 min Quem são esses pacientes? Cefaleia frequente (>4 por
mês) ou prolongada (>12h); cefaleia que causa impor-
d. Pelo menos 1 sintoma de aura é unilateral tante impacto social; contraindicações ou refratarieda-
e. Pelo menos 1 sintoma de aura é positivo de às terapias agudas; cefaleia relacionada à menstrua-
ção; risco de abuso de medicação.
f. É acompanhado ou seguido de cefaleia
Três grandes classes de primeira linha:
Vejam que se há aura, não são necessários 5 episódios
de enxaqueca. Bastam 2. 3 Betabloqueadores: propranolol e atenolol
4) Tratamento 3 Antidepressivos: Amitriptilina e venlafaxina
Primeiro passo é a identificação dos gatilhos. Como a 3 Anticonvulsivantes: Topiramato e Valproato
maior parte deles é relacionado com sedentarismo, es- A escolha recairá sobre condições associadas e contrain-
tresse e alimentação, cuidados nesse sentido tendem a dicações! Por exemplo, não usaremos betabloqueadores
espaçar os episódios de crise em pacientes com asma grave. Preferiremos amitrip-
4.1) Abortivo tilina ou venlafaxina em pacientes com transtorno de
ansiedade associados...
3 Pacientes com sintomas leves: AINEs, Dipirona
e Paracetamol Em Março de 2022 houve a publicação de uma meta-
nálise sobre uma droga chamada erenumabe, um an-
3 Pacientes em início da crise severa: Triptanos! Os
tagonista do receptor do peptídeo relacionado ao gene
dois mais disponíveis em nosso meio são o Su-
da calcitonina (CGRP). Ele se mostrou seguro, sendo,
matriptano e o Naratriptano. São antagonistas
portanto, uma opção de segunda linha!
seletivos dos receptores serotoninérgicos 5-HT1.
Sua eficácia é bem maior quando administrada
no início da crise!
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Vamos às alternativas: QUESTÃO 37


A) CORRETA A paciente precisa de profilaxia! Homem de 22 anos queixa-se de febre baixa e tosse
B) INCORRETA Essa droga é abortiva e a pergunta é seca, há 2 semanas, e nos últimos dias tem tido expec-
qual droga devemos usar para diminuir a frequên- toração mucoide discreta. Refere que ha 24 horas apre-
cia da crise senta dispneia, mesmo em repouso. Ao exame: estado
C) INCORRETA Cuidado com a pegadinha! A pa- geral comprometido, anictérico, hipocorado 1+/4+,
ciente é portadora de asma dispneico (frequência respiratória = 32 irpm). Presença
de placas esbranquiçadas recobrindo palato e língua.
D) INCORRETA Idem B! Ausculta pulmonar: murmúrio vesicular universal sem
ruídos adventícios. SatO2 em ar ambiente: 90%. Exa-
Take-Home Message: mes iniciais: Hb 10,0 g/dL Leucócitos 5.200/mm3
Plaquetas 165.000/mm3 Desidrogenase láctica 672
1) A enxaqueca clássica se apresenta por 4 fases: PRÓ-
U/L (VR = 140-271 U/L) TGO 20 U/L TGP 32 U/L
DROMO, AURA, CEFALEIA E PÓSDROMO.
Rx de tórax: tênue infiltrado intersticial peri-hilar bila-
2) A típica cefaleia é: unilateral, pulsátil, intensa e teral; Teste rápido para HIV: reagente. Qual a condu-
associada a sintomas como náuseas, fotofobia e ta terapêutica recomendada para a principal hipótese
fonofobia diagnóstica deste caso?
3) Abortamos a crise com AINEs, Dipirona ou Para- A) Anfotericina B.
cetamol se a crise é leve a moderada. Damos opção B) Anfotericina B + Prednisona.
para Triptanos se as crises são moderadas a graves,
C) Sulfametoxazol-Trimetoprim.
lembrando que essas drogas possuem maior eficácia
no início da crise D) Sulfametoxazol-Trimetoprim + Prednisona

4) Se as crises são frequentes ou duradouras, se o tra- Resposta correta: Letra D


tamento agudo é ineficaz ou se há contraindica-
ção ao mesmo, temos que realizar o tratamento Paciente portador de HIV e provável imunossupressão
profilático. 3 principais classes: betabloqueadores associada evoluindo com dispneia + febre baixa + tosse.
(atenolol, propranolol), antidepressivos (amitrip- Nossa primeira hipótese diagnóstica deve se PNEU-
tilina, desvenlafaxina) e anticonvulsivantes (topi- MOCISTOSE!
ramato e valproato) 1) O que é
A pneumonia por Pneumocystis é uma infecção típica
dos imunossuprimidos. Houve uma mudança de no-
menclatura e hoje o agente etiológico é chamado de
Pneumocystis jirovecii
A PCP, no contexto do HIV, é praticamente exclusiva
de pacientes com contagem celular de CD4+ inferior a
200/mm3. Nos pacientes sem HIV, as doenças de base
mais associadas são as neoplasias hematológicas, tumo-
res sólidos, transplantados e vasculites
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 109

2) Quadro Clínico 4) Tratamento


Tipicamente o paciente se apresenta com um quadro A grande droga de escolha é o Sulfametoxazol-Trimeto-
arrastado de dispneia, tosse seca e febre baixa. prim! Agora, atenção: EM PACIENTES HIPOXÊMI-
Ao exame físico, o que mais chama a atenção é uma COS GRAVES DEVEMOS USAR O TRATAMEN-
hipoxemia por vezes desproporcional! A ausculta cos- TO VENOSO E ASSOCIADO A CORTICOIDES!
tuma ser normal, uma vez que não é típico a evolução Isso é bastante explorado em prova!
com derrame pleural! Definidores de hipoxemia grave: PaO2 < 70mmHg
Os achados laboratoriais são: elevação da LDH (que OU gradiente alveolocapilar > 35mmHg
é um indicador clínico importante!) e do 1-3-beta-D- Esquemas:
-glucano (componente celular do P. jirovecii) SMX/TMP 15/20mg/kg/dia dividido em 3/4 doses
A radiografia de tórax é normal em 25% dos paciente, por 21 dias Prednisona 40mg BID por 5 dias, seguido
porém o achado mais típico é um infiltrado intersti- de 40mg MID por 5 dias, seguido de 20mg MID por
cial peri-hilar bilateral. Um rodapé de página, mas que 11 dias.
pode salvar uma questão de prova: apesar de típico da Clindamicina + primaquina como opção aos alérgicos!
pneumocistose, esse achado é mais visto em pacientes
sem HIV do que com HIV! Mas as provas normalmen- 5) Profilaxia
te cobram exatamente esse padrão. Feiro com SMX/TMP 800/160 3x por semana por
todos os pacientes que já tiveram PCP, pacientes com
contagem de CD4<200, CD4 entre 200 e 250 quando
não conseguimos monitorizar com segurança, ou do-
enças definidoras de AIDS.

Vamos às alternativas:
A) INCORRETA Não é a droga de escolha
B) INCORRETA Idem letra A!
C) INCORRETA??
D) CORRETA??
Vejam bem... A questão não nos deu os parâmetros de
3) Diagnóstico hipoxemia grave, portanto não poderíamos responder
se o paciente em questão tem a necessidade ou não de
PCP é fortemente suspeitada se: 1) Clínica sugesti-
prednisona. A oximetria não é usada para essa defini-
va 2) CD4 < 200 3) Hipoxemia desproporcional 4)
ção, apesar de poder ser uma inferência do que acha-
1-3-beta-D-glucano elevado 5) Infiltrado peri-hilar
ríamos na gasometria. De qualquer forma, prova não
na radiografia
é hora de inferências. Essa questão foi corretamente
O diagnóstico definitivo vem com o isolamento do anulada, porém guardem essa dica: na hora da prova
agente. 2 métodos são excelentes: lavado broncoalveo- escolham a opção com maior lógica clínica e deixem
lar e biópsia (seja transbrônquica, seja aberta) para brigar depois!
O agente é corado pelo método Giemsa e pelo pra-
ta-metenamina
110 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Take-Home Message: QUESTÃO 38


1) Pneumocistose é uma importante doença pulmonar Mulher, 24 anos, diagnóstico de diabetes mellitus tipo
no contexto de pacientes imunossuprimidos. 1 aos 10 anos, em uso de insulina e losartana 50 mg/
2) Seu quadro clínico clássico é tosse, febre baixa, hi- dia, e diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico aos 20
poxemia desproporcional de instalação indolente anos, em uso de hidroxicloroquina 400 mg/dia, pred-
nisona 5 mg/dia, e vitamina D3 1000UI/dia, relata há
3) Achados típicos: infiltrado peri-hilar, aumento de
4 meses apresentar turvação visual, fadiga, dispneia aos
LDH e de 1-3-beta-D-glucano.
médios esforços e ganho de peso. Ao exame: anasarca e
4) Diagnóstico: predominantemente clínico com iso- PA 150 x 80 mmHg. Exames complementares: hemo-
lamento do agente via lavado broncoalveolar grama, PCR, TGO, TGP, TP: normais; VHS 28 mm/h
5) Tratamento: SMX/TMP oral para casos leves. SMX/ (VR 20 mm na 1 hora); Cr 1.5 mg/dl (VR 1,2 mg/
TMP venoso + Prednisona para hipoxemias graves dl); Ur 60 mg/dl (VR 15-45 mg/dl); albumina 3.0 mg/
(PaO2<70 ou gradiente alveolocapilar >35mmHg) dl (VR 3.5-4mg/dl); Hb Glicada 6.6%; Colesterol to-
tal 250mg/dl (VR < 200mg/dl), LDL 140mg/dl (VR<
6) Profilaxia: 100 mg/dl); Triglicerídeos 300 (VR< 150 mg/dl); SU:
1. CD4<200 ou <250 se não for possível controle proteína 4+; proteinúria em 24h: 4g/24h; fator anti-
regular. núcleo reagente 1:160 padrão pontilhado fino denso.
Sorologias HIV, anti- HBsAg, anti-HCV e VDRL: ne-
2. Pacientes que já tiveram PCP
gativas. Que alteração na investigação complementar
3. Pacientes com condições definidoras de AIDS confirmaria o diagnóstico mais provável?
A) Dosagem sérica elevada de CH50, C3 e C4.
B) Nódulos de Kimmelstiel-Wilson na biópsia renal.
C) Depósitos imunes subendoteliais focais glomerula-
res na biópsia renal.
D) Anticorpo anticitoplasma de neutrófilos reagente
no padrão citoplasmático.
Resposta correta: Letra B

Questão muito difícil! Vamos sistematizar o caso para


entender tudo. Primeiro: qual o diagnóstico sindrômi-
co dessa paciente? Síndrome Nefrótica!
A Sindrome Nefrótica, como toda síndrome, é um
conjunto de sinais e sintomas, caracterizada pela inca-
pacidade do rim em reter proteínas filtradas. Existem
4 grandes pontos que giram em torno dessa perda de
proteína na urina:
1) Proteinúria importante (>3g ao dia)
2) Hipoalbuminemia (2,5g) >> Afinal há a perda pro-
teica na urina
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 111

3) Edema (não raramente anasarca)>> Devido a dimi- d. O padrão de lesão mais visto em biópsia
nuição da pressão oncótica sanguínea se chama Glomeruloesclerose Difusa. A
4) Hipercolesterolemia/Hipertrigliceridemia >> Devi- expansão mesangial nodular, que também
do a uma tentativa hepática de aumentar os níveis pode ser encontrada na biópsia, recebe o
proteicos. Como as lipoproteínas são de grande nome de Nódulos de Kimmelstiel-Wilson!
peso molecular, elas são retidas. e. Tratamento é feito com 1) Medidas dieté-
Apesar de não apresentar albumina <2,5, ela já está ticas com máximo de proteína de 0,8g/kg/
abaixo do valor de referência, além de apresentar os ou- dia 2) Controle da dislipidemia 3) Inter-
tros componentes! rupção do tabagismo

Bom, agora vem a pergunta de milhões: de onde vem i. Destaque para uso de drogas inibidoras do
essa síndrome nefrótica? Afinal, essa paciente apresenta sistema renina angiotensina aldosterona que,
2 condições que agridem o rim: 1) Diabetes Mellitus 2) se iniciadas em fase sem doença renal crônica
Lúpus Eritematoso Sistêmico estabelecida são NEFROPROTETORAS

1) Nefropatia diabética 2) Nefrite lúpica

a. Uma das principais causas de doença renal a. Todo paciente com LES deve ser triado
crônica (há divergências se a principal cau- para acometimento renal com função re-
sa no Brasil seria ela ou a hipertensiva) nal e EAS. A principal manifestação clínica
é a proteinúria. Porém, uma franca síndro-
b. O mecanismo de lesão é majoritariamen- me nefrótica pode acontecer!
te glomerular. Portanto o grande exame de
rastreio é a dosagem de albumina na urina. b. A biópsia renal é indicada em todos os
Isso é feito com a relação albumina/creatini- pacientes que apresentem alterações nes-
na maior que 30mg/g. Além disso, como há ses exames, pois modifica o tratamento.
uma chance razoável de evolução para DRC, Pacientes com altas taxas de fibrose não se
devemos medir a TFG periodicamente. beneficiam tanto de terapias agressivas!

c. A evolução natural da doença é: HIPER- c. O grande auto-anticorpo relacionado ao LES


FILTRAÇÃO >> MICROALBUMINÚ- é o anti-DNA-nativo que, ATENÇÃO: pos-
RIA >> MACROALBUMINÚRIA sui um padrão nuclear homogêneo no FAN.
Há, além disso, consumo de complemento.
d. Classificação histopatológica:

I Mesangial mínima Depósitos mesangiais Bom prognóstico, oligossintomática


Hipercelularidade mesangial com
II Mesangial proliferativa Bom prognóstico, oligossintomática
expansão de matriz
Proliferação endocapilar+ extracapilar Sintomático e pior prognóstico. Realizar
III Nefrite focal
focal com depósitos subendoteliais imunossupressão
Proliferação endocapilar+ extracapilar Sintomático e pior prognóstico. Realizar
IV Nefrite difusa
difusa com depósitos subendoteliais imunossupressão
Espessamento de membranas basais Tratamento dependerá do grau de
V Nefrite Membranosa
com depósitos subendoteliais sintomas.
VI Nefrite esclerótica Esclerose difusa Estágio final da nefrite lúpica
112 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A questão mostra um FAN com padrão pontilhado 3) Nefrite lúpica


fino denso, que não é o típico de Nefrite lúpica. Por- a. A principal manifestação clínica é a proteinú-
tanto o mais provável é que se trate de uma síndrome ria. Porém, uma franca síndrome nefrótica
nefrótica secundária ao diabetes. pode acontecer!
A) INCORRETA Mesmo se pensarmos em nefrite lú- b. A biópsia renal é indicada em todos os pacientes
pica, há um consumo de complemento. que apresentem alterações nesses exames, pois
B) CORRETA É um achado típico de lesão renal se- modifica o tratamento
cundária ao DM c. Tipos I e II possuem bom prognóstico. Tipo III
C) INCORRETA Essa é a definição histopatológica e IV possuem pior prognóstico (IV pior). Tipo V
de uma nefrite focal, porém pensamos mais em um varia muito. Tipo VI é o estagio terminal
quadro relacionado ao DM.
d. Principal auto-anticorpo: anti-DNA, que pos-
D) INCORRETA ANCA não é uma opção. Nada nos sui um padrão nuclear homogêneo. Há consu-
indica um quadro de vasculite mo de complemento!

Take-Home Message:
1) Constituintes da síndrome nefrótica:
QUESTÃO 39
a. Proteinúria importante (>3g ao dia) Mulher, 52 anos, procura a Unidade Básica de Saú-
de, por apresentar lesão pigmentada assintomática em
b. Hipoalbuminemia (2,5g) >> Afinal há a perda membro inferior, percebida há 8 meses (figura). A lesão
proteica na urina possui 0.9 cm de diâmetro e está localizada na região
c. Edema (não raramente anasarca)>> Devido a di- lateral da coxa direita. Em relação ao próximo passo
minuição da pressão oncótica sanguínea na abordagem da lesão em questão, marque a alterna-
tiva correta.
d. Hipercolesterolemia/Hipertrigliceridemia >>
Devido a uma tentativa hepática de aumentar os
níveis proteicos. Como as lipoproteínas são de
grande peso molecular, elas são retidas.
2) Nefropatia diabética:
a. O mecanismo de lesão é majoritariamente
glomerular
b. A evolução natural da doença é: HIPERFIL-
TRAÇÃO >> MICROALBUMINÚRIA >>
MACROALBUMINÚRIA
c. O padrão de lesão mais visto em biópsia se cha-
ma Glomeruloesclerose Difusa. A expansão me-
sangial nodular, que também pode ser encontra-
da na biópsia, recebe o nome de Nódulos de
Kimmelstiel-Wilson!
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 113

A) Encaminhar para cirurgião para realizar excisão I In situ


com margens de 1 cm.
II Derme papilar superior
B) Acompanhar clinicamente a lesão com foto e visitas
III Derme papilar
periódicas semestrais.
IV Derme reticular
C) Encaminhar para dermatologista para realizar der-
matoscopia e biópsia excisional. V Hipoderme
D) Realizar biópsia incisional na própria unidade bási-
ca para elucidação diagnóstica. ÍNDICE DE BRESLOW (espessura do tumor)

Resposta correta: Letra C Menor ou igual a 1mm


1-2 mm
Uma lesão de pele que apresenta o seguinte: 2-4 mm
Assimetria > 4mm
Bordas irregulares
Cores diferentes Esse índice é muito importante para a definição da
margem de excisão do melanoma!
Diâmetro > 6mm
O estadiamento é baseado no TNM e é, por si só, muita
Evolução (descrita como qualquer mudança na lesão) decoreba e raramente cobrado, portanto não entraremos
Esse é o ABCDE do MELANOMA! em detalhes no comentário! Duas informações apenas:
Sempre que estamos diante de uma lesão de pele que A presença de ulceração sempre elevará o estadiamento
nos levante a hipótese dessa séria neoplasia, devemos T (passará de a para b)
imediatamente encaminhar o paciente para um derma- A pesquisa de acometimento linfonodal se faz pela pes-
tologista realizar a dermatoscopia e realizar uma bióp- quisa do linfonodo sentinela (primeiro linfonodo da
sia EXCISIONAL com margem de 1-3mm. cadeia correspondente que recebe células neoplásicas).
Existem condições que impedem a biópsia excisional: É indicada para pacientes com espessura >0,8mm ou
tumores maiores ou na face, mão e pés. Nesse caso deve <0,8mm com ulceração.
ser incisional. O tratamento é baseado na ressecção com margem de
O laudo histopatológico compreende várias informa- segurança:
ções essenciais, como índice mitótico, invasão perineu- ESPESSURA MARGEM
ral e fases de crescimento (radial ou vertical). Deixare-
mos 2 índices que podem ser cobrados por uma banca In situ 0,5-1cm de margem
mais maldosa: Menor ou igual a 1 mm 1cm de margem
1 – 2 mm 1 a 2 cm de margem
CLASSIFICAÇÃO DE CLARK (Invasão tumoral)
> 2mm 2 cm de margem

O tratamento adjuvante é indicado em tumores a par-


tir do estádio IIB (maiores que 2,0mm de espessura
ou qualquer acometimento linfonodal). Houve uma
gigantesca mudança de paradigma nesse tratamento,
com o advento da imunoterapia. Uma dupla que ele-
114 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

vou de maneira importante a taxa de remissão com- QUESTÃO 40


pleta foi o Ipilumumabe (anti-CTLA4) + Nivolumabe
(anti-PD1) Mulher de 42 anos teve alta hospitalar há 5 semanas,
após internamento por pancreatite aguda grave. Esta-
va bem, clinicamente, quando voltou a apresentar dor
Vamos às alternativas:
abdominal, náuseas e vômitos, além de elevação das en-
A) INCORRETA A excisão será feita apenas após a zimas pancreáticas. Qual a complicação mais provável,
biópsia, já que a margem depende desses dados nesse momento?
B) INCORRETA A Lesão tem todos os sinais suspei- A) Pseudocisto pancreático.
tos. Não devemos apenas acompanhar! B) Coleções necróticas agudas.
C) CORRETA Conduta perfeita! C) Trombose de veia esplênica.
D) INCORRETA Apenas realizamos biópsias incisio- D) Abcessos peripancreáticos agudos
nais em grandes tumores ou em locais como face,
pés e mãos. Resposta correta: Letra A

A pancreatite aguda é um mundo à parte! E dentro des-


Take-Home Message:
se mundo há um tema que vale a pena ser abordado
1) A suspeita clínica do melanoma é feita pelo AB- separadamente: complicações da pancreatite aguda.
CDE: Assimetria // Bordas irregulares // Cores di-
Pacientes com pancreatite aguda que recebem o trata-
ferentes // Diâmetro > 6mm // Evolução (descrita
mento suportivo adequado recuperam-se sem compli-
como qualquer mudança na lesão)
cações locais ou sistêmicas.
2) A primeira conduta é dermatoscopia e biópsia inci-
1) Curso natural da doença
sional com margem de 1-3 mm.
80% dos pacientes apresentam pancreatite edemato-
3) As duas principais classificações são Clark (profun-
sa. 15-20% apresentam necrose pancreática, mesma
didade) e Breslow (espessura)
porcentagem dos pacientes que acabam desenvolven-
4) A base terapêutica é a excisão com margens a depen- do complicações.
der da espessura tumoral. A adjuvância é indicada
2) Complicações locais
em tumores maiores de 2mm de espessura ( a partir
do estádio IIB) A) Coleção fluida peripancreática: é a mais comum.
Há a saída de secreção ao redor do pâncreas. É uma
complicação mais precoce. Na maioria das vezes é
reabsorvida, porém quando isso não ocorre, há a
formação dos pseudocistos.
a. A conduta é expectante! Apenas se hou-
ver suspeita de infecção realizaremos
punção e antibiótico.
B) Necrose pancreática: a morte de tecido no processo
da pancreatite. Pode permanecer estéril, ou se in-
fectar, sendo essa uma complicação extremamente
temida, pelo risco de sepse. Geralmente ocorre em
até 4 semanas.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 115

a. Se não houver suspeita de infecção, a con- ocorre em tromboses que se estendem à veia porta),
duta pode ser expectante. No entanto, em deve-se começar anticoagulação mesmo com a pos-
caso de infecção, é necessária a necrosecto- siblidade da necrose pancreática se tornar necro-he-
mia e antibiótico. morrágica. Esplenectomia profilática não é rotina!
C) Pseudocisto pancreático: é a coleção fluida persistente. 3) Complicações sistêmicas
É uma complicação crônica, ocorrendo após a quarta Quando acontecem, essas tendem a ser durante a
semana. Clinicamente ele se manifesta com dor abdo- fase aguda da pancreatite e indicam maior severida-
minal, náuseas, vômitos, elevação persistente de en- de: Coagulação Intravascular Disseminada; Falência
zimas pancreáticas. Se o mesmo infectar, chamamos Renal; Choque...
de abcesso pancreático. A conduta é expectante se o
paciente se apresentar assintomático ou drenagem se Vamos às alternativas:
houver sintomas ou complicações associadas.
D) Trombose venosa portoesplenomesentérica: chega a A) CORRETA Excelente! Volta da sintomatologia
acontecer em aproximadamente 50% dos pacientes após 4 semanas e sem febre
com pancreatite aguda necrotizante e é rara na au- B) INCORRETA Não pensamos em quadros agudos
sência de necrose. O tratamento deve ser focado na devido o tempo de 5 semanas
pancreatite, sendo que isso pode resultar na resolu- C) INCORRETA Normalmente é assintomática
ção espontânea da trombose. Se o paciente apresen- D) INCORRETA Não pensamos em infecção nesse caso
ta grande sintomatologia (que normalmente apenas

Take-Home Message:
COMPLICAÇÃO CARACTERÍSTICAS CONDUTA
Mais comum Conservadora OU
Coleção fluida peripancreática Maioria é reabsorvida Punção e antibiótico se houver
A persistência forma os pseudocistos infecção
Expectante se não houver
Ocorre em até 4 semanas infecção OU
Necrose pancreática
Pode se infectar Necrosectomia + Antibiótico se
infecção
Se sem sintomatologia, apenas
Ocorre após 5 semanas
expectante OU
Retorno de sintomatologia após alta
Pseudocisto pancreático Drenagem em caso de
A infecção do pseudocisto ganha o
sintomatologia antibiótico em
nome de abcesso
caso de infecção
O tratamento da pancreatite
Trombose de veia esplênica Assintomática se discreta
costuma ser suficiente
116 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 41 Temos aqui uma questão sobre dengue, que exige do


candidato conhecer aspectos gerais da fisiopatologia da
A fase crítica da infecção pelo vírus da Dengue pode se dengue grave. Relembrando um pouco dessa doença, a
seguir à fase febril, em alguns pacientes, que podem dengue é uma arbovirose, que tem como vetor o mos-
evoluir para as formas graves. O aparecimento dos quito do Aedes aegypti, que tem um amplo espectro de
sinais de alarme deve ser rotineiramente pesquisa- apresentação clínica, desde formas oligossintomáticas
dos nos casos suspeitos. Dentre os principais sinais até o óbito.
de alarme, destacam-se: dor abdominal intensa (re-
ferida ou à palpação) e contínua; vômitos persisten- As manifestações clássicas da dengue são a febre, as-
tes; acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, sociada à mialgia, cefaleia, dor retroorbitária, artralgia
derrame pericárdico); hipotensão postural e/ou li- podendo cursar com diarreia, vômitos, rash cutâneo e
potimia; hepatomegalia > 2 cm abaixo do rebordo sintomas respiratórios associados. A duração da doença
costal; sangramento de mucosa; letargia e/ou irrita- é em torno de 5-7 dias. Com o desaparecimento da fe-
bilidade; aumento progressivo do hematócrito. O bre, há tendência da resolução dos sintomas, podendo
que traduzem esses sinais de alarme? persistir a prostração e o rash cutâneo costuma aparecer
no final do quadro.
A) Esses sinais podem traduzir o aumento da pneu-
monia causada pelo vírus, edema agudo de pulmão O manejo clínico da dengue vai depender da apresen-
e evolução para o agravamento clínico do paciente tação clínica e da presença ou não de sinais de alarme,
com derrame pleural. já citados pelo enunciado da questão. Trago aqui o flu-
B) Esses sinais podem traduzir a instalação de insufi- xograma do manejo clínico da dengue sugerido pelo
ciência cardíaca e hipertensão arterial, permitindo Ministério da Saúde:
a evolução para o agravamento clínico do paciente
com o potencial de choque ou derrame pericárdico.
C) Esses sinais podem traduzir o aumento da per-
meabilidade vascular acarretando hipertensão ar-
terial, o agravamento clínico do paciente para o
choque ou derrames cavitários pelo extravasamen-
to plasmático.
D) Esses sinais podem traduzir o aumento da perme-
abilidade vascular e evolução para o agravamento
clínico do paciente, com o potencial de evoluir
para o choque ou derrames cavitários pelo extra-
vasamento plasmático.
Resposta correta: Letra D
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 117

Material Adaptado de: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
das Doenças Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança, 5.ed. - Brasília 2016.

Qual a fisiopatologia da doença para investigarmos os Entendido a etiopatogenia da doença, fica mais claro
sinais de alarme citados pela questão e orientados pe- entender porque pesquisamos sinais de choque, derra-
los fluxogramas de manejo da doença? A “Febre he- mes cavitários, manifestações hemorrágicas e hipoten-
morrágica da dengue”, como antigamente chamada, são. E também porque o tratamento da dengue grave
ou da dengue com sinais de alarme e/ou choque, estão é baseado em hidratação vigorosa via endovenosa, com
relacionados tanto com o tipo de sorotipo quanto fa- controle do risco hemorrágico e da hemoconcentração.
tores do hospedeiro, que desencadeiam uma resposta
imunológica anômala, com liberação de citocinas in- Vamos agora analisar
flamatórias e imunocomplexos, que levam ao aumento as alternativas:
da permeabilidade vascular, com consequente extrava-
samento de líquido para o interstício, queda da pressão A) - Incorreta. O vírus da dengue raramente atua no
arterial e manifestações hemorrágicas. parênquima pulmonar, causando pneumonia. O
edema agudo e o derrame pleural podem estar asso-
A diminuição do volume intravascular gera hemo-
ciado ao extravasamento de líquido para o interstício
concentração, má perfusão tecidual e hipóxia. O ex-
relacionadas à liberação de citocinas inflamatórias
travasamento de líquido pode gerar hepatomegalia e
derrames cavitários. B) - Incorreta. Como ocorre extravasamento de líqui-
do para o terceiro espaço, os pacientes tendem a
Além disso, há trombocitopenia e disfunção plaquetá- hipovolemia e, portanto, hipotensão. A origem do
ria associada, com maior risco para sangramentos. choque é pela perda de líquido intravascular.
118 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

C) - Incorreta. Como ocorre extravasamento de líqui- QUESTÃO 42


do para o terceiro espaço, os pacientes tendem a
hipovolemia e, portanto, hipotensão Diante de um recém-nascido conduzido à mesa de re-
animação, deve-se iniciar os passos da estabilização na
D) - Correta. Conforme vimos, os sinais de alarme
sequência adequada, com duração de no máximo 30
nos orientam possível indícios de que o pacien-
segundos. Qual das opções abaixo apresenta a sequ-
te está apresentando aumento da permeabilidade
ência correta?
vascular, com suas consequências
A) Prover calor, fazer estímulo táctil, aspirar boca e na-
rinas (se necessário) e enxugar.
Take-Home Message:
B) Fazer estimulação táctil, posicionar a cabeça em
1) Os sinais de alarme na dengue são: leve extensão, aspirar boca e narinas e secar.
- dor abdominal intensa (referida ou à pal- C) Prover calor, posicionar a cabeça em leve extensão,
pação) e contínua; aspirar boca e narinas (se necessário) e secar.
- vômitos persistentes; D) Enxugar e aquecer, posicionar a cabeça em extensão,
aspirar boca e narinas (se necessário) e estimular
- acúmulo de líquidos (ascite, derrame
pleural, derrame pericárdico); Resposta correta: Letra C
- hipotensão postural e/ou lipotimia;
Temos aqui uma questão bem simples, sobre um tema
- hepatomegalia > 2 cm abaixo do rebor- que cai frequentemente em suas provas de residência
do costal; médica: reanimação neonatal! Vamos relembrar o flu-
- sangramento de mucosa; xograma de atendimento e os passos da reanimação?
- letargia e/ou irritabilidade;
- aumento progressivo do hematócrito
2) Os sinais de alarme da dengue e o choque estão rela-
cionados com o aumento da permeabilidade capilar
pela liberação de citocinas inflamatórias
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 119

Imagem retirada das Diretrizes de Reanimação Neonatal de 2016, da SBP.


120 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Os passos iniciais devem ser feitos para todos os re- Assim, vamos analisar as
cém-nascidos (RNs) que têm indicação de ser levado à alternativas:
mesa de reanimação, que são:
A) - Incorreta. Não há necessidade de fazer o estímulo
- Prematuros < 34 semanas
tátil nos passos iniciais
- Hipotonia B) - Incorreta. Não há necessidade de fazer o estímulo
- Apneia ou respiração irregular. tátil nos passos iniciais
Lembrando que qualquer uma das indicações citadas C) - Correta. Aquecer, posicionar, aspirar (se necessá-
acima já são suficientes para o clampeamento imediato rio) e secar.
do cordão umbilical e ser levado à mesa e feitos pas- D) - Não há necessidade de fazer o estímulo tátil nos
sos iniciais. passos iniciais
Os passos iniciais se baseiam em resolver obstrução de
vias aéreas altas e hipotermia, que podem ser fatores Take-Home Message:
envolvidos no desconforto respiratório e/ou hipotonia
1) As indicações para levar um RN ao berço são: pre-
e devem ser feitos em até 30 segundos. Gosto de usar o
maturidade (<34 semanas), hipotonia e respiração
mnemônico “APAS” para relembrar os passos iniciais,
irregular/apneia
já que ao trazer um RN ao mundo, estamos trazendo “a
paz” (desculpem pela péssima piada). 2) Os passos iniciais da reanimação neonatal devem ser
feitos em até 30 segundos
A = aquecer.
3) Os passos iniciais são: “APAS” Aquecer Posicionar
Provemos calor posicionando o RN em campos aqueci-
Aspirar (se necessário) Secar
dos, no berço com fonte de calor radiante, para manter
a normotermina (36,5 - 37,5 ºC)
P = posicionar. QUESTÃO 43
Posicionamos o pescoço em leve extensão a fim de Um casal de adolescentes traz seu filho de 6 meses à
manter a permeabilidade das vias aéreas. Podemos co- Unidade de Saúde, preocupado se seu desenvolvimen-
locar um coxim subescapular para ajudar. to está se dando de forma normal. O lactente nasceu
A = aspirar (se necessário) a termo e está em aleitamento materno exclusivo. Ao
examiná-lo, o médico orienta o casal em relação à aqui-
Quando há sinais de obstrução de vias aéreas, está
sição de novas habilidades pelo bebê. Aos 6 meses, o
indicada aspiração com sonda da bocas e, em segui-
que se espera que um lactente com desenvolvimento
da, das narinas
normal seja capaz de fazer?
S = Secar.
A) Arrastar-se e dar “”tchau””.
Para manter a normotermia, é importante secar o cor- B) Engatinhar e bater palmas.
po do RN e desprezar os campos úmidos.
C) Ficar em pé com apoio e falar ao menos 1 palavra
com sentido.
D) Segurar um objeto com as duas mãos, levá-lo à
boca e rolar no leito
Resposta correta: Letra D
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 121

Temos aqui uma questão simples sobre desenvolvimen- xação do olhar, sorriso social, sustentação do pescoço
to neuropsicomotor das crianças, exigindo do candida- até as atividades motoras mais complexas, como andar
to relembrar os principais marcos dos 6 meses de idade. e correr sem apoio. Para relembrar todos esses marcos,
Lembrando que o desenvolvimento motor da criança trago aqui a tabela presente na Caderneta da Criança,
ocorre de maneira crânio-caudal, começando com a fi- do Ministério da Saúde:

Caderneta da Criança, Ministério da Saúde 2020

Vejam que os principais marcos colocados aos 6 meses - 3 meses: sustenta a cabeça
de idade são: - 4 meses: leva objetos à boca
- Busca ativa por objetos - 6 meses: senta com apoio; leva objetos de uma mão
- Leva objetos até a boca para outra; balbucia
- Localiza o som - 8 meses: senta sem apoio; engatinha/arrasta-se; “dá
- Muda de posição (rola sobre superfície plana) tchau”; fale duas palavras

Outros marcos que valem a pena relembrar: - 12 meses: anda com apoio

- 2 meses: sorriso social - 15 meses: anda sozinho


122 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Vamos analisar as alternativas: QUESTÃO 44


A) - Incorreta. Espera-se que uma criança consiga se Criança de 8 anos de idade, masculino, com qua-
arrastar e dar tchau por volta de 8 meses dro clínico de obesidade com IMC acima de z-score
B) - Incorreta. Espera-se que uma criança engatinhe +3, presença de acantose nigricans em região cervical,
por volta de 8 meses obesidade central com circunferência abdominal acima
C) - Incorreta Espera-se que uma criança fique em pé de P90 para idade e sexo, estrias claras em abdomen e
com apoio por volta de 12 meses e fale uma palavra membros inferiores, pressão sistólica acima de P90 para
por volta de 8 meses a idade, exames laboratoriais mostrando resistência à
insulina e triglicerídeos acima de 110 mg/dL. Obser-
D) - Correta. Espera-se que uma criança de 6 meses já vando o quadro clínico descrito, qual a assertiva correta
consiga levar objetos até a boca e consiga rolar em sobre os fatores associados à fisiopatologia da Síndrome
superfície plana Metabólica?
A) Hipertensão arterial e dislipidemia correlacionam-
Take-Home Message: -se melhor com o próprio índice de massa corpórea
1) O desenvolvimento motor da criança ocorre de ma- (IMC) do que com circunferência da cintura.
neira crânio caudal B) O aumento da circunferência abdominal, indicati-
2) Espera-se que a criança de 6 meses já consiga: va de acúmulo visceral de tecido adiposo, confere
um risco independente de doença cardiovascular.
- Trocar objetos de mão
C) Os índices de lesão orgânica subclínica refletem
- Rolar em superfície plana menor risco de doença cardiovascular em adultos e
- Balbucie sons estão relacionados a aumento de IMC em crianças.
D) A resistência insulínica associada à obesidade na
3) Uma importante para você decorar: 8 meses: sen-
infância não exerce influência na fisiopatologia da
ta sem apoio; engatinha/arrasta-se; “dá tchau”; fala
síndrome metabólica e do diabetes melito tipo 2
duas palavras
Resposta correta: Letra B

Temos aqui uma questão sobre síndrome metabólica


na pediatria. A Síndrome metabólica é um termo uti-
lizado para descrever um conjunto de alterações que
são relacionadas ao maior risco de eventos cardiovascu-
lares e diabetes tipo II em adultos: obesidade visceral,
hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão arterial sistê-
mica (HAS). Não se sabe ao certo a aplicação desses
conceitos na pediatria, pois o diagnóstico pode mudar
na puberdade e não se sabe ao certo quais são os des-
fechos que essa síndrome pode determinar. Assim, seu
diagnóstico só é feito em crianças a partir de 10 anos
de idade.
A fisiopatologia da síndrome é complexa e multifato-
rial, envolvendo os seguintes fatores:
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1) Resistência à insulina: o excesso de ácidos graxos cir- arterial, a medida de circunferência abdominal é
culantes associado à maior quantidade de tecido adi- usada como critério diagnóstico para a síndrome.
poso está relacionado com resistência à ação da insu-
lina, necessitando de maior secreção desse hormônio 3) Dislipidemia: O aumento do fluxo de áci-
para manter níveis normais de glicemia. Está relacio- dos graxos livres no fígado aumenta a produ-
nado com maior risco de DM tipo II no futuro ção de lipoproteínas de densidade muito alta
. (VLDL), resultando em aumento de LDL e tri-
2) Obesidade: Tanto a obesidade devido ao aumen- glicérides, aumentando o risco de aterosclero-
to de gordura no subcutâneo quando a obesida- se e eventos cardiovasculares. Além disso, com o
de visceral estão relacionados com maior núme- aumento de TG, pode haver redução do HDL.
ro de ácidos graxos livres circulantes, porém na
obesidade visceral, os derivados de lipídios são 4) Hipertensão arterial: relacionada à resistência insu-
liberados diretamente na circulação portal, alcan- línica e aumento de ácidos graxos livres circulantes
çando o fígado e alterando mais intensamente Relembrado os principais fatores relacionados à etiopa-
seu metabolismo de produção de glicose, síntese togenia da síndrome metabólica, vamos relembrar os
lipídica e secreção de proteínas pró trombóticas. critérios diagnósticos, sendo que o utilizado pela So-
Como a obesidade visceral tem risco indepen- ciedade Brasileira de Pediatria são os da International
dente para resistência insulínica e hipertensão Diabetes Federation (IDF):

Retirado do Manual de Orientação da SBP: “Obesidade na infância e adolescência, 3ª edição, 2019”


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O diagnóstico é feito com pelo menos três critérios dos Take-Home Message:
cinco apresentados, sendo obrigatório o aumento da 1) Os principais pilares da fisiopatologia da síndrome
circunferência abdominal. metabólica são: resistência insulínica, acúmulo de
O tratamento é feito com orientações de mudança de gordura visceral, dislipidemia e hipertensão.
estilo de vida, com ajuste da alimentação e inclusão de 2) O diagnóstico na pediatria é feito a partir dos
atividade física regular. Além disso, são usadas medi- 10 anos de idade, preenchendo 3 dos 5 critérios
cações que atuam diminuindo a resistência insulínica, diagnósticos, que são aumento da circunferência
como a metformina. abdominal (CC ≥ p90) E mais dois outros crité-
Relembrado os principais aspectos da síndrome, vamos rios entre:
analisar as alternativas: 1) hipertensão arterial sistêmica (PAS ≥ 130
A) - Incorreta. Falso. A circunferência abdominal em ou ≥ PAD 85 mm Hg)
crianças, assim como em adultos é um preditor in- 2) hipertrigliceridemia (≥ 150 mg/dL )
dependente de resistência insulínica, concentração
sérica elevada de lipídios e pressão arterial. 3) HDL baixo (< 40 mg/dL)
B) - Correta. A circunferência abdominal está rela- 4) glicemia de jejum elevada (≥ 100).
cionada com acúmulo de gordura visceral, que
correlaciona-se com aumento da resistência insu-
línica, hipertensão e dislipidemia e, portanto, de QUESTÃO 45
eventos cardiovasculares.
Paciente lactente de 1 ano e dois meses foi levado ao
C) - Incorreta. O IMC aumentado está relacionado ambulatório de Puericultura com quadro de lesões
com maior quantidade de ácidos graxos livres cir- papulares eritematosas pruriginosas e vesículas disse-
culantes, mas não se correlaciona à gordura visceral minadas em palmas das mãos, plantas dos pés, nos
e toda a etiopatogenia da doença. espaços interdigitais, antebraço, axilas e região glú-
D) - Incorreta. A resistência insulínica é um dos prin- tea. Mãe nega febre ou outros comemorativos e relata
cipais componentes da fisiopatologia da síndro- estar apresentando quadro de prurido corporal há 3
me metabólica. semanas. Nega contato do paciente com animais. De
acordo com o quadro clínico exposto, qual o diagnós-
tico e tratamento?
A) Pediculose / Ivermectina 200 mcg/kg em dose única.
B) Escabiose / Permetrina em loção cremosa a 1 ou 5%.
C) Miíase / Aplicação de vaselina sólida e retirada
com pinça.
D) Larva migrans / Tiabendazol a 5%, 2x/dia, por
2 semanas
Resposta correta: Letra B

Temos aqui uma questão de uma criança com uma do-


ença eritematosa pruriginosa, com início há 3 semanas,
sem piora do estado geral e febre. Os locais de infecção
preferêncial são: palmas das mãos, plantas dos pés, espa-
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ços interdigitais, axilas, região glútea e antebraço. O que - Lesão elementar: vesículas, pápulas, crotas e
não podemos deixar de pensar? Nas ectoparasitoses e, “túneis” pruriginosas, com progressão da área
especialmente, em escabiose! Vamos entender o porquê? acometida
Antes de nos aprofundarmos na escabiose, vamos re- - Locais preferências: locais “quentes”: áreas flexo-
lembrar os principais aspectos das ectoparasitoses: ras, coxas, virilha, mamas, interdigitais
- Piora dos sintomas á noite e após banho
1) Pediculose: o famoso “piolho”. Quadro clínico é de - Epidemiologia: contato com pessoas com prurido
prurido em couro cabeludo, com lêndeas nos fios
dos cabelos e, às vezes, a visualização do próprio pio-
lho adulto. Tratamento com permetrina shampoo

2) Tungíase: conhecido como “bicho-de-pé”, trata-


mento é a remoção mecânica

3) Larva migrans: popularmente conhecido como “bi-


cho-geográfico”. A larva do Ancylostoma brasilien-
ses, presente em fezes de animais domésticos, pene-
tra a pele humana e deixa o “caminho” demarcado
por onde se locomove. Tratamento é feito com anti-
parasitários como albendazol, tópico ou sistêmico.

4) Miíase: deposição de larvas de moscas, popular-


mente conhecido como “berne”.. Tratamento é a
retirada da larva.
Para relembrar, a escabiose, popularmente conheci-
da como “sarna”, é uma ectoparasitose da pele causa-
da pelo ácaro Sarcoptes scabiei cuja penetração deixa
lesões em forma de vesículas, pápulas ou pequenos
sulcos (“túneis”), nos quais ele deposita seus ovos. As
lesões aparecem preferencialmente em espaços interdi-
gitais nas mãos, áreas flexoras de punhos e extensoras
de cotovelos, dobras axilares, cintura, coxas, genitália,
mamas, abdômen (peri umbilical), sulco interglúteos
e nádegas. O dorso e a cabeça são poupados. Lacten-
tes podem apresentar quadro atípico, com vesículas em Imagens retiradas do UpToDate: Imagem
face, pescoço, palmas e plantas. Geralmente o pruri- 1: lesões interdigitais; Imagem 2: Pápulas
eritematosas, vesículas e crostículas em
do é pior no período noturno ou após o banho, que é recém nascido
quando o ácaro se desloca para depositar seus ovos.
Reforçando os pontos aqui:
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O diagnóstico é clínico, com visualização direta das le- QUESTÃO 46


sões. O tratamento é indicado ao diagnóstico para o
paciente e seus contactantes, sendo realizado com: Criança de 1 ano e 4 meses vai iniciar atividades es-
colares e a creche solicitou à mãe que levasse o cartão
1) Crianças > 2 meses: Permetrina 5% tópica - poden- de vacina, para verificação. Na avaliação, foi visto que
do ser repetida 1 semana após tinha as seguintes vacinas administradas até aquela
2) Crianças < 2 meses: sabonete de enxofre 10% data: BCG e Hepatite B, 03 doses da poliomielite
VIP, 02 doses da rotavírus, 03 doses da DTP+Hi-
Em casos de não resposta à terapia tópica ou mais
b+HB (Penta), 02 doses da Pneumocócica 10 valen-
grave, pode-se usar a ivermectina oral a partir de
te, 02 doses da Meningocócica C (conjugada) e 01
15kg ou 5 anos.
dose da Influenza. De acordo com o calendário de
vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS), quais
Vamos agora analisar as vacinas precisam ser administradas para que o cartão
alternativas: vacinal fique atualizado?
A) - Incorreta. A pediculose se apresenta como prurido A) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjuga-
em couro cabeludo da reforço; Meningocócica C conjugada refor-
B) - Correta. A escabiose, como vimos acima, apre- ço; Tríplice Viral 1a dose; DTP 1o reforço; Po-
senta essas lesões características liomielite 1o reforço (VOP); Hepatite A 1 dose;
C) - Incorreta. A míiase é a deposição das larvas na pele, Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose + Varicela);
com apresentação clínica semelhante à “furúnculo” Influenza 2a dose.
D) - Incorreta. A história negativa de contato com ani- B) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjugada
mais e ausência de lesões que formam “caminhos” 3a dose e reforço; Meningocócica C conjugada 3a
não nos faz pensar em larva migrans dose e reforço; Tríplice Viral 1a dose; Pentavalente
1o reforço; Poliomielite 2o reforço (VOP); Hepa-
tite A 1 dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose +
Take-Home Message: Varicela); Influenza 2a dose.
1) Lesão elementar de escabiose é polimórfica: envolve C) Febre Amarela 1a dose e 2a dose; Pneumocócica
pápulas, vesículas, crostículas. Pode ter nódulos e conjugada 3a dose; Meningocócica C conjugada 3a
“túneis” dose; Tríplice Viral 1a dose; Pentavalente 1o refor-
ço; Poliomielite 1o reforço (VOP); Hepatite A 1
2) O principal sintoma é o prurido
dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose + Varicela);
3) As localizações preferenciais são: axilas, pubiana, ná- Influenza 3a dose.
dega, interdigitais e áreas flexoras D) Febre Amarela 1a dose; Pneumocócica conjugada
4) O tratamento é feito com permetrina tópica a partir reforço; Meningocócica C conjugada reforço; Trí-
dos 2 meses de idade plice Viral 1a dose e 2a dose; DTP 1o reforço; Po-
liomielite 1o reforço (VOP); Hepatite A 1a dose e
2a dose; Tetra viral (Tríplice Viral 2a dose + Varice-
la); Influenza 3a dose.
Resposta correta: Letra A
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Temos aqui uma questão bem direta, que exige do can- 3º mês: Meningocócica C
didato relembrar toda a carteirinha de vacinação até 1 4º mês: Pentavalente, Pneumo10, VIP, rotavírus
ano e 4 meses, para saber quais são as vacinas faltantes.
Vamos relembrar o calendário do Programa Nacional 5º mês: Meningocócica C
de Imunização (PNI) de 2021: 6º mês: Pentavalente, VIP. A partir dos 6 meses, influenza
Vamos relembrar cada mês. Deixarei grifada àquelas 9º mês: Febre amarela
que a criança de nossa questão recebeu. 12º mês: Pneumo10, MeningoC, Tríplice viral (Saram-
Ao nascimento: BCG e Hepatite B (1ª dose) po, caxumba e rubéola)
2º mês: Pentavalente (DTP/Hib/Hep B), Pneumo10, 15º mês: VOP, Tretra viral (tríplice + varicela), hepatite
VIP, rotavírus A e DTP
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Calendário de Vacinação da Saúde - Retirado do site do Governo Federal


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Assim, avaliando as cadernetas, as vacinas restante são: QUESTÃO 47


febre amarela, reforço da pneumo10, reforço da me-
ningo C, 1ª dose da tríplice viral, 1ª dose da VOP, 1ª O Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de
dose da tetra viral, hepatite A e DTP. 2 anos trouxe uma atualização de Dez passos para Doze
Passos para uma Alimentação Saudável, ampliando a im-
Além disso, há um detalhe nessa questão: a vacina da portância do conhecimento na manutenção da alimen-
influenza, apesar de ser anual, quando administrada tação saudável no lactente. Qual recomendação é dada
pela primeira vez em crianças menores que 9 anos, de- pelo Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de
vem ser feitas duas doses com intervalo de 30 dias entre 2 anos acerca da oferta da alimentação infantil?
elas, faltando também a segunda dose da influenza.
A) Não deve ser oferecido açúcar nem preparações ou
Assim, vamos analisar as alternativas: produtos que contenham açúcar à criança até 2
A) - Correta. Conforme vimos, são as vacinas restan- anos de idade.
tes para completar o calendário vacinal B) Podem ser oferecidos à criança menor de 2 anos,
B) - Incorreta. Não há reforço de pneumo 10 e menin- alimentos preparados em casa com pequenas quan-
go B nesse período após a 3ª dose tidades de açúcar.
C) - Incorreta. Reforço da febre amarela é só com 4 anos C) Produtos ultraprocessados que não contenham
D) - Incorreta. Reforço da hepatite A é apenas com 18 açúcar em suas preparações, podem ser oferecidos
meses e o reforço da tríplice viral é feito junto com a a partir de 1 ano de idade.
tetra. Além disso, só é necessário 2 doses de influenza D) Para uma alimentação variada, oferecer à criança,
além de água própria para o consumo, sucos e ou-
tras bebidas açucaradas.
Take-Home Message:
Resposta correta: Letra A
1) A vacina da influenza, apesar de ser anual, quando
administrada pela primeira vez em crianças meno-
Temos aqui uma questão de puericultura, em que cita
res que 9 anos, devem ser feitas duas doses com in-
uma fonte específica, sobre orientações gerais para
tervalo de 30 dias
alimentação saudável em uma criança menor que
dois anos.
O guia citado pela questão traz um resumo com 12
passos para uma alimentação saudável:
1) Amamentar até 2 anos ou mais, oferecendo somen-
te o leite materno até 6 meses
2) Oferecer alimentos in natura ou minimamente pro-
cessados, além do leite materno, a partir dos 6 meses
3) Oferecer água própria para o consumo à criança em
vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas
4) Oferecer a comida amassada quando a criança come-
çar a comer outros alimentos além do leite materno
5) Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos
que contenham açúcar à criança até 2 anos de idade
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6) Não oferecer alimentos ultraprocessados para a QUESTÃO 48


criança
Mãe trouxe para avaliação no posto de saúde um lac-
7) Cozinhar a mesma comida para a criança e para a tente com 6 meses de idade, que apresentava, há 3 dias,
família febre, tosse seca, prostração intensa. Evoluiu com exan-
8) Zelar para que a hora da alimentação da criança seja tema inicialmente na face que se estendeu pelo tronco
um momento de experiências positivas, aprendiza- e membros, coriza abundante e hialina e os olhos hi-
do e afeto junto da família peremiados. Na orofaringe apresentava-se hiperemiada
com manchas brancoazuladas e pequenas. Mãe relata
9) Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da
que um tio havia chegado de viagem e estava com sin-
criança e conversar com ela durante a refeição
tomas semelhantes com suspeita de sarampo. Como
10) Cuidar da higiene em todas as etapas da ali- devemos proceder quanto ao bloqueio vacinal?
mentação da criança e da família
A) Caracterizando situação de surto, os contactantes
11) Oferecer à criança alimentação adequada e sau- gestantes e crianças abaixo dos 6 meses de idade
dável também fora de casa também devem ser vacinados.
12) Proteger a criança da publicidade de alimentos B) A aplicação da vacina deve ser realizada no prazo
máximo de 5 dias, nos contactantes, apenas no caso
Esses doze passos citados basicamente falam sobre a
confirmado de sarampo.
importância de oferecer alimentos in natura, com o mí-
nimo de processamento possível e sem açúcar em suas C) Contatos com idade a partir dos 3 meses até 11
fórmulas. Aqui entra o conceito dos “1000 dias”, em meses e 29 dias devem receber uma dose da vacina
que os nove meses de gestação e os dois primeiros anos tríplice viral válida para a rotina de vacinação.
de vida são fundamentais na formação do seu hábito D) A vacinação de bloqueio deve ser realizada no pra-
alimentar. Além disso, o guia cita da importância do zo máximo de até 72 horas após o contato com o
leite materno e as medidas comportamentais associadas caso suspeito ou confirmado de sarampo.
ao hábito de comer, sem forçar a alimentação, respei-
Resposta correta: Letra D
tando os sinais de saciedade da criança e que seja um
momento de participação de toda a família.
Aqui temos uma questão em que é apresentado caso
Relembrado esses pontos, vamos analisar as alternativas: clínico de sarampo, em que o próprio enunciado con-
A) - Correta. Não é indicado o consumo de açúcar firma a suspeita diagnóstica e exige de você saber como
em crianças menores que dois anos deve ser feito o bloqueio vacinal nos contactantes. Va-
mos relembrar os aspectos gerais do sarampo e apro-
B) - Incorreta. O guia não encoraja o consumo de ne-
fundar no tema cobrado pela questão.
nhum tipo de alimento açucarado até os 2 anos de
idade, mesmo os preparados em casa A infecção por sarampo é caracterizada por: febre alta,
C) - Incorreta Os alimentos devem ser oferecidos in acima de 38,5°C, exantema maculopapular morbilifor-
natura ou minimamente processados, independen- me, tosse seca (inicialmente), coriza, conjuntivite não
te da quantidade de açúcar purulenta e manchas de Koplik, que é definida por pe-
quenos pontos brancos amarelados na mucosa bucal,
D) - Incorreta. É recomendado o consumo de leite e
na altura do terceiro molar, antecedendo ao exantema.
água. Não se recomenda consumo de bebidas açu-
Esse sinal é patognomônico da doença. A evolução na-
caradas e sucos, mesmo que naturais
tural da doença pode ser dividida em três períodos:
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1) Período de infecção: duração de cerca de 1 sema- 3) Remissão: Melhora dos sintomas, exantema pode
na. Inicia com febre acompanhada de tosse, coriza, se tornar escurecido e com descamação furfurácea
conjuntivite e fotofobia. Por volta do 3º dia, sur- O diagnóstico pode ser feito com anticorpos especí-
ge o exantema maculopapular morbiliforme com ficos para sarampo (IgM e IgG) ou teste de detecção
áreas de confluência, de evolução craniocaudal direta do vírus, como PCR no sangue e/ou urina.. Em
casos de surto instalado, o diagnóstico pode ser feito
2) Período toxêmico – período onde ocorrem as com- pelo quadro clínico compatível e vínculo epidemioló-
plicações, principalmente nas crianças menores do gico. O tratamento é feito com base em sintomáticos
que 2 anos. e vitamina A, já que alguns estudos apontam redução
da morbimortalidade.
Em relação ao bloqueio vacinal, ele é realizado de ma-
neira seletiva, levando em consideração a idade e esque-
ma vacinal do paciente, como resume a tabela abaixo:

Tabela retirada do Fluxograma de Atendimento de Sarampo, Ministério da Saúde, 2019

Assim, vamos analisar as alternativas:

A) - Incorreta. Por se tratar de vacina de vírus vivo ate- C) - Incorreta. A vacina está contraindicada para me-
nuado, a vacinação não é recomendada para gestan- nores que 6 meses de idade
tes e crianças menores de 6 meses. D) - Correta. Conforme vimos, a vacinação deve ser
B) - Incorreta. O bloqueio vacinal pode ser feito em até 3 feita em até 72h após contato com caso suspeito
dias após contato com caso confirmado ou suspeito ou confirmado
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pode variar desde assintomático até evoluiu para hiper-


tensão intracraniana. O diagnóstico é feito com base na
história clínica, em associação com exames de imagem
QUESTÃO 49 - que evidenciam os cisticercos no parênquima cerebral -
e, se disponível, testes sorológicos para cisticercose.
Um rapaz de 16 anos que vive numa favela com precá-
rias condições, sem instalações sanitárias, é atendido na O tratamento é feito com antiparasitários, com alben-
Unidade Básica de Saúde. Seus pais relatam um episódio dazol e praziquantel, de 10 a 14 dias. Além disso, pode
de crise convulsiva sem outros sintomas. Negam casos de ser necessário uso de anticonvulsivantes para controle
epilepsia na família. Qual das opções abaixo apresenta o das crises convulsivas.
diagnóstico mais provável é compatível com esse caso? Relembrado sobre o tema, vamos analisar as alternativas:
A) Neurocisticercose. A) - Correta. Uma forma comum de apresentação da
B) Abcesso cerebral. doença é com crises convulsivas
C) Encefalite aguda. B) - Incorreta Esperaríamos quadro febril associado à
D) Meningite bacteriana déficits neurológicos focais
C) - Incorreta Esperaríamos outros achados neurológi-
Resposta correta: Letra A
cos além da crise convulsiva
Temos aqui uma questão sobre um episódio convulsivo D) - Incorreta. Esperaríamos quadro febril, associado à
isolado, em um rapaz de 16 anos que vive em condi- cefaléia, prostração e outros achados clínicos.
ções precárias de saneamento básico, sem outras quei-
xas associadas. Não tem febre, rebaixamento de nível
QUESTÃO 50
de consciência ou outros déficits neurológicos associa-
dos. Assim, fica menos provável a gente pensar em uma Uma criança de três anos de idade vem ao ambulatório
causa bacteriana para um quadro, já que as infecções com relato materno de que nos últimos 12 meses teve
bacterianas do sistema nervoso central costumam se seis infecções respiratórias, sendo que em vários destes
apresentar com quadro de febre, cefaléia, déficits neu- episódios fez uso de antibióticos com resposta satisfató-
rológicos e até sinais de hipertensão intracraniana. Com ria. Ao examinar a criança, o médico constata boa evo-
isso, a hipótese de neurocisticercose fica mais compa- lução do desenvolvimento pondero estatural e ausência
tível com o quadro apresentado. Vamos relembrar os de anormalidades no exame físico. Qual a interpretação
aspectos gerais dessa doença e entender quais outros adequada para o problema que essa criança apresenta?
pontos do enunciado reforçam essa hipótese. A) Infecções respiratórias de repetição na infância, em sua
A neurocisticercose é a infecção do sistema nervoso maioria, estão associadas a falhas na resposta imunológica.
central pela forma larvária da Taenia solium, sendo a B) São identificados como fatores de risco: ambiente
parasitose mais comum do sistema nervoso. Está as- de creche, número de irmãos, poluição ambiental
sociado a más condições de saneamento básico, pois e tabagismo passivo.
diferente da teníase, em que o homem é o hospedeiro
intermediário da larva e os sintomas são decorrentes da C) Infecções respiratórias de repetição na infância
ingestão da larva, na neurocisticercose ocorre ingestão refletem imaturidade imunológica e maior expo-
dos ovos, tornando o homem o hospedeiro definitivo. sição a microrganismos infecciosos durante os pri-
meiros anos de vida.
O sintoma mais comum é de crises convulsivas, poden- D) Deve-se prosseguir investigação de doenças de base,
do ser inclusive o único achado. Porém, o quadro clínico seja de natureza aspirativa, doença cardíaca congê-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 133

nita, distúrbio neuromuscular, imunodeficiência Os recém-nascidos possuem altos níveis de IgG


ou malformação pulmonar. maternos pela placenta, tendo uma redução im-
portante entre 3 a 9 meses, sendo que a norma-
Resposta correta: Letra B e C (anulada) lização pode se estender até os 5 anos de idade
Temos aqui uma questão que aborda uma situação co-
mum nas consultas pediátricas: a queixa de infecções 4) Reconhecer as imunodeficiências primárias:
respiratórias de “repetição”, sendo que foram 6 episó- Para relembrar, os 10 sinais de imunodeficiência
dios no último ano, com necessidade de uso de antibi- na criança:
ótico, com boa resposta.
1. Duas ou mais pneumonias no último ano;
Bom, para respondermos a questão, vamos lembrar. O
que define em pediatria infecções respiratórias de repe- 2. Quatro ou mais otites no ano;
tição (IRR)? 3. Estomatites de repetição ou Monilíase (sapinho)
• Seis ou mais infecções respiratórias por ano; por mais de dois meses;

• Uma ou mais infecções respiratórias mensais; 4. Abscessos de repetição ou ectima (infecção bac-
teriana da pele);
• Três ou mais infecções anuais do trato respiratório
inferior 5. Dois ou mais episódios de infecção sistêmica gra-
ve (meningite, osteoartrite, septicemia);
Dessas crianças, cerca de 50% são saudáveis. Da outra
metade, cerca de 30% apresentam alguma condição alér- 6. Infecções intestinais de repetição/diarréia crônica;
gica, 10% alguma doença crônica como doença do reflu- 7. Asma grave, doenças do colágeno ou doen-
xo gastroesofágico e apenas 10% apresentam algum tipo ça autoimune;
de imunodeficiência. No geral, essas infecções cursam 8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção
com melhora espontânea, sem grandes complicações. por micobactéria;
Ocorrem devido ao aumento da exposição a agentes in-
fecciosos do meio ambiente nos primeiros anos de vida. 9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada
à imunodeficiência;
Cabe ao pediatra uma avaliação completa do quadro
clínico, para identificar os casos de possível imunodefi- 10. Histórico familiar da doença
ciência. Para isso, é importante avaliar:
1) Identificar alguma doença de base:
Agora vamos analisar
as alternativas:
Há doenças crônicas que podem facilitar a ocorrência
de IRR, como refluxo gastroesofágico, fibrose cística, A) - Incorreta. A maioria das infecções respiratórias de
asma, rinite alérgica. repetição na infância são autolimitadas e ocorre em
crianças saudáveis, por fatores de risco e imaturida-
2) Identificar fatores de risco:
de imunológica
Algumas situações aumentam o risco de desenvol- B) - Correta Como vimos, frequentar creche, polui-
vimento de IRR, como frequentar creches, irmãos ção, tabagismo e domicílio com grande quantida-
mais velhos no domicílio, exposição à tabagismo, de de pessoas são fatores de risco
poluição atmosférica, domicílio com muitas pessoas
C) - Correta. Há uma hipogamaglobulinemia na infân-
cia, que tende a se normalizar com 4-5 anos. Além
3) Reconhecer a imaturidade do sistema imunológi- disso, ocorre aumento na exposição de patógenos
co adaptativo nos primeiros anos de vida:
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D) - Incorreta Apenas 10% das crianças apresentam duração inalatório nas crises. A questão exige que o
alguma doença crônica de base, sendo avaliado na candidato escolha a hipótese diagnóstica mais provável.
anamnese e exame físico. Entre as alternativas, fica relativamente fácil definir que
Como há duas alternativas corretas, a questão é asma intermitente, por exclusão, já que amigdalites
foi anulada. de repetição e sinusites não cursam com desconforto
respiratório por ser uma infecção de vias aéreas altas.
Take-Home Message: Em relação à bronquite catarral aguda, que é um sinô-
1) As infecções respiratórias de repetição são carac- nimo para o quadro de bronquiolite, geralmente ocorre
terizadas por: em crianças pequenas (até 1 ano de idade), não sendo
• Seis ou mais infecções respiratórias por ano; um quadro recorrente. Vamos relembrar os critérios
diagnósticos da asma e seu quadro clínico para enten-
• Uma ou mais infecções respiratórias mensais; der melhor a questão.
• Três ou mais infecções anuais do trato respirató- A asma é uma doença inflamatória crônica, caracteri-
rio inferior zada por sinais e sintomas, recorrentes ou persistentes,
2) Seus fatores de risco são: frequentar creches, irmãos de obstrução de vias aéreas, relacionados à hiperres-
mais velhos no domicílio, exposição à tabagismo, ponsividade brônquica e desencadeados por fatores
poluição atmosférica, domicílio com muitas pes- como exercício físico, alérgenos e infecções virais. Es-
soas ses sintomas são tosse, chiado no peito, dor torácica e
dificuldade respiratória. A obstrução ao fluxo aéreo é
3) Metade das crianças com IRR são saudáveis, apenas
difusa, variável e reversível espontaneamente ou com
10% apresentam alguma imunodeficiência primária
tratamento. É uma condição multifatorial determinada
pela interação de fatores genéticos e ambientais.
QUESTÃO 51 O diagnóstico em crianças é difícil pela limitação em
realizar a espirometria, que é definido por limitação
Uma menina de 6 anos é trazida à Unidade Básica de ao fluxo aéreo com padrão obstrutivo (VEF1/CVF <
Saúde com tosse persistente e cansaço há 48 horas e 0,80) e/ou resposta ao broncodilatador (aumento no
febre há 24 horas. Os pais referem que é o terceiro epi- VEF1>12%). Assim, usamos índices preditivos para
sódio este ano. Fez uso de nebulizações com 2 gotas de tentar entender a probabilidade de se tratar de uma
salbutamol, xarope para tosse e amoxicilina, repetindo asma alérgica diante de um sibilante recorrente. O ín-
receita anterior. Pais com sintomas compatíveis com dice mais conhecido são os critérios de Castro-Rodri-
Rinite Alérgica. Qual o diagnóstico dessa paciente? guez, definidos abaixo:
A) Sinusite Aguda.
CRITÉRIOS MAIORES:
B) Asma intermitente.
- História pessoal de dermatite atópica
C) Bronquite catarral aguda.
D) Amigdalites de repetição. - História parental (1º grau) de asma
CRITÉRIOS MENORES:
Resposta correta: Letra B
- História pessoal de rinite alérgica
Temos aqui uma questão que traz uma criança de 6 - Eosinofilia > 4%
anos, em seu terceiro episódio de sibilância, com his-
tória de quadro infeccioso prévio ao desconforto respi- - Crises de sibilância fora de quadros infecciosos
ratório. Costuma fazer uso de beta-2-agonista de curta A classificação da asma vai depender dos sintomas di-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 135

ários, frequência das crises, necessidade de internação e uso de medicação broncodilatadora, conforme mostra a
tabela abaixo:

Tabela retirada do III Consenso de Asma reas altas que persistem com febre e rinorreia impor-
da Sociedade Brasileira de Pediatria tante por mais de 5 dias ou com evolução bifásica.
Assim, a criança da questão apresentada apresentava B) - Correta. Conforme vimos, enquadra-se em qua-
quadros de sibilância esporádicos (< que 1 vez por se- dro de asma intermitente
mana), geralmente associado a um quadro infeccioso, C) - Incorreta. A bronquite aguda é um quadro que
com boa resposta ao broncodilatador, classificando-se ocorre em lactentes, com obstrução da saída de
como asmática intermitente. ar por acúmulo de secreção nas vias aéreas de pe-
queno diâmetro
Vamos analisar as alternativas: D) - Incorreta. Os quadros de amigdalite de repetição
A) - Incorreta. Sinusite é um quadro com cefaleia, não cursam com desconforto respiratório pela to-
rinorreia purulenta e geralmente com uma das 2 pografia alta, nem respondem à broncodilatador.
apresentações clínicas clássicas: infecção de vias aé-
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Temos aqui uma questão sobre a apresentação clínica


da COVID-19, doença infecciosa de grande repercus-
QUESTÃO 52 são nos últimos dois anos devido a pandemia instaura-
A apresentação clínica do Covid-19 em criança guarda da. Caracterizada por quadro de sintomas respiratórios
algumas peculiaridades que a diferenciam do quadro associado a febre, mialgia, cefaleia, anosmia, podendo
clínico dos adultos. Assinale abaixo a opção que apre- evoluir com síndrome do desconforto respiratório, le-
senta uma situação comum nos quadros suspeitos de são renal aguda e até morte. Vamos lembrar das parti-
Covid-19 em crianças. cularidades dessa infecção na criança.
A) A febre sempre está presente e dura apenas 2 dias. A apresentação clínica do COVID geralmente apresen-
B) Diarreia intensa acompanha praticamente todos ta os seguintes sintomas: febre (> 37,8°C), tosse, disp-
os casos. neia, mialgia, fadiga, sintomas respiratórios e gastrin-
testinais, como diarreia e vômitos. A definição de caso
C) A febre sempre está presente e ausência de sinto-
suspeito é definido na tabela abaixo:
mas gastrointestinais.
D) A febre pode estar ausente e sintomas gastrointes-
tinais podem estar presentes
Resposta correta: Letra D

Tabela retirada do “PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DE PACIENTES PEDIÁTRICOS COM


COVID-19”, da Sociedade Alagoana de Pediatria, adaptado da SBP (2020).

Além da apresentação clínica clássica, a infecção por e, mais tardiamente, como a síndrome inflamatória
covid pode se manifestar em suas formas mais graves, multissistêmica (MISC), conforme está definida pelas
como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) tabelas abaixo:
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 137

Tabela retirada do “PROTOCOLO DE MANEJO CLÍNICO DE PACIENTES PEDIÁTRICOS COM


COVID-19”, da Sociedade Alagoana de Pediatria, adaptado da SBP (2020).
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Relembrada as formas de apresentação clínica da CO- Temos aqui uma questão conceitual sobre a consulta
VID-19, vamos analisar as alternativas: com o adolescente, questionando ao candidato quais
A) - Incorreta.. A febre pode estar presente, mas não é são as principais questões que devem ser abordadas,
critério obrigatório pensando em situações de potencial risco ao paciente
especialmente quando realizamos a consulta sem a pre-
B) - Incorreta. A diarreia pode estar presente, especial- sença dos pais ou responsáveis.
mente nos pacientes pediátricos, mas não é a forma de
apresentação mais comum nem critério diagnóstico O Ministério da Saúde define a adolescência como o
C) - Incorreta A febre não é obrigatória na definição de período determinado pela Organização Mundial da
caso suspeito Saúde (OMS), que caracteriza o período de 10 e 20
anos incompletos. Esse período é caracterizado por im-
D) - Correta Conforme vimos, sintomas gastroin- portantes transformações físicas – crescimento como
testinais sem febre podem ocorrer na população um todo e surgimento da puberdade, evidenciada pelos
pediátrica caracteres sexuais secundários – reorganização psíquica,
peculiaridades afetivo-sexuais, comportamentais, so-
QUESTÃO 53 cioculturais, espirituais, com busca de projetos de vida
e outra percepção do mundo.
Na etapa inicial da anamnese do adolescente, com a
Apesar de vivenciarem questões semelhantes, os ado-
presença dos pais ou responsáveis, devem ser aborda-
lescentes são seres complexos e heterogêneos, sendo
dos o motivo da consulta e informações sobre história
necessária uma consulta que consiga abordar os aspec-
pregressa e imunizações. A seguir, é importante pedir
tos físicos, psíquicos, sociais, culturais, sexuais e espi-
licença aos pais para conversar a sós com o jovem.
rituais. De maneira prática, realizamos a avaliação em
Alguns instrumentos possibilitam a triagem de situ-
três momentos:
ações de risco nessa faixa etária. Quais as situações
que devem ser rotineiramente pesquisadas atualmen- - Consulta com o adolescente e seus familiares
te, possíveis de avaliação através desses instrumentos - Consulta com o adolescente a sós
padronizados de triagem?
- Consulta com o responsável a sós
A) Uso de substâncias psicoativas, orientação sexual
e delinquência. Esses três momentos são necessários para entender o
ambiente familiar que o adolescente convive, a dinâ-
B) Uso e abuso de meios eletrônicos, ações violentas e
mica da família, as demandas do próprio paciente e
mau desempenho escolar.
da família e, principalmente na consulta a sós com o
C) Envolvimento em ações violentas, preferências se- paciente, identificar situações de possível risco. Para
xuais e mau desempenho escolar. isso, há um instrumento denominado “HEADSS”, re-
D) Uso de substâncias psicoativas, uso e abuso de centemente atualizado para “HEEADSSS”, que avalia
meios eletrônicos e internet e depressão todas as possíveis situações de risco, conforme mostra
a tabela abaixo:
Resposta correta: Letra Anulada
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Relembrada a técnica de consulta com o adolescente, Uso e abuso de eletrônicos: deve ser avaliada
vamos analisar as possibilidades da questão: Ações violentas: deve ser avaliada
Uso de substâncias psicoativas: deve ser avaliada Mau desempenho escolar: deve ser avaliado
Orientação sexual: deve ser avaliada Depressão: deve ser avaliada
Delinquência: não sabemos o que a questão define Assim, todas as alternativas são cabíveis de ser correta e
como “delinquência”, mas poderia se enquadrar em si- a questão foi anulada.
tuações de violência talvez.
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QUESTÃO 54 Vamos entender o porque das outras alternativas esta-


rem incorretas:
Uma criança de três meses de idade, em aleitamento
materno exclusivo, apresenta história de sangramento 1) Gastroenteropatia eosinofílica:
intestinal de pequena monta e diarreia com muco e Doença rara com apresentação heterogênea caracteri-
sangue, estado geral satisfatório e ganho de peso ade- zada pela presença de intenso infiltrado de eosinófilos
quado. De modo intermitente também apresenta có- em um ou em múltiplos segmentos do trato gastroin-
lica intestinal, irritabilidade e choro excessivo. Qual a testinal. Os sintomas variam conforme a topografia
principal hipótese diagnóstica? acometida, sendo que a forma mais comum, acomete
A) Gastroenteropatia eosinofílica. a mucosa do TGI, se apresentam com achados abdo-
minais não específicos, como dor abdominal, náusea,
B) Proctite ou proctocolite alérgica.
vômitos, diarreia, sangue oculto nas fezes, anemia e
C) Enteropatia induzida por proteínas alimentares. perda de peso
D) Síndrome da enterocolite induzida por proteína ali-
2) Enteropatia induzida por proteínas alimentares:
mentar (FPIES).
Trata-se de uma alergia alimentar crônica, não IgE me-
Resposta correta: Letra B diada, que resulta da exposição crônica diária à proteí-
na alimentar patogênica. Diarreia persistente, vômitos
Temos aqui um caso de um lactente com quadro de intermitentes e déficit pôndero-estatural compõem a
diarréia muco sanguinolenta de pequena quantidade, FPIES crônica.
sem comprometimento do estado geral e do ganho de
peso. Apesar de estar em aleitamento materno exclu- 3) Sindrome da enterocolite induzida por proteí-
sivo, a única alternativa que se enquadra é a de aler- nas alimentares:
gia à proteína do leite de vaca (APLV), representada A síndrome de enterocolite induzida por proteína ali-
pela alternativa B, pois todas as outras condições apre- mentar, conhecida como “FPIES” (do inglês: Food
sentadas teriam alguma repercussão no estado geral Protein-Induced Enterocolitis Syndrome) é uma das apre-
ou nutricional. sentações da alergia alimentar não IgE mediada. Os
A APLV é a alergia alimentar mais comum nas crianças principais alimentos relacionados são: leite de vaca,
de até 24 meses e é caracterizada pela reação anormal ovo, peixe e amendoim. Seu quadro clínico é hetero-
do sistema imunológico contra as proteínas presentes gêneo, sendo que algumas formas são potencialmente
no leite, principalmente a caseína, Pode apresentar fatais. A forma aguda é caracterizada por vômitos pro-
manifestações cutâneas (urticárias, edema de mucosas, fusos após 1-4 horas e/ou diarreia em até 24 horas após
prurido), gastrointestinais (sangramentos, diarreia, dor consumo de alimento desencadeante.
abdominal, refluxo gastroesofágico), respiratórios (tos-
se, broncoespasmos) e gerais (baixo ganho pondero-es-
tatural). O quadro clínica típico é a criança em bom
estado geral, com diarréia mucosanguinolenta.
O diagnóstico é suspeitado pela apresentação dos sin-
tomas alérgicos após exposição ao leite e seus derivados,
podendo ser confirmada pelo teste de provocação oral.
O tratamento é a dieta de exclusão de leite e derivados,
que no caso do nosso lactente, seria da dieta materna,
mantendo o aleitamento materno exclusivo.
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Vamos analisar as alternativas: liferativa. Entre leucemia linfoide aguda (LLA) e leuce-
mia mieloide aguda (LMA), qual escolher?
A) - Incorreta. A gastroenteropatia eosinofílica cursa
com perda de peso e outros sintomas gastrointesti- As leucemias são o grupo de câncer mais comum na
nais associados infância, representando cerca de 30% dos casos, sendo
que 80% são de LLA e cerca de 15-20% das LMA.
B) - Correta. Diarreia mucosanguinolenta sem com-
A leucemia mieloide crônica corresponde apenas a 5%
prometimento do estado geral deve ser suspeitado
dos casos, sendo seu pico de incidência na 4-5ª década
de APLV
de vida. O pico de incidência da LLA ocorre entre os
C) - Incorreta A enteropatia induzida por proteínas 2 e 4 anos e a LMA é mais frequente em crianças com
alimentares cursa com perda ponderal menos de 1 ano de idade e em adolescentes.
D) - Incorreta. Na “FPIES”, ocorre um importante
O quadro clínico vai depender do grau de infiltração
comprometimento do estado geral
medular e da extensão da doença extramedular, mas seus
principais achados são: astenia, febre, linfoadenomega-
Take-Home Message: lia, hepatoesplenomegalia associado a eventos hemorrá-
gicos. A dor óssea é um sintoma frequente (25-40%),
1) Lactente com diarréia mucosanguinolenta, sem
principalmente em membros inferiores, que pode ser tão
comprometimento do estado geral ou perda de
intensa impedindo a deambulação. Nos casos de infiltra-
peso, deve ser suspeitado por APLV
ção articular, a doença pode ser confundida com doen-
ças reumatológicas, mas quando associada a mais de um
parâmetro alterado no hemograma, sugere a presença de
QUESTÃO 55
uma neoplasia maligna e não de doença reumatoide.
Uma criança de cinco anos de idade chega ao ambula- Entre as alterações em exames complementares, po-
tório por apresentar dor óssea em membros inferiores, demos citar anemia, plaquetopenia, leucocitose, neu-
dificultando a deambulação e sem ceder facilmente aos tropenia, presença de blastos em sangue periférico. O
analgésicos habituais. Também apresenta dor toraco- diagnóstico definitivo é feito com exame citomorfo-
lombar e astenia. Ao exame físico, é identificado febre lógico do sangue periférico ou de aspirado de medu-
e hepatomegalia, esplenomegalia e linfonodomegalias la óssea, sendo imprescindível o estudo imunofenotí-
generalizadas. Qual a principal hipótese diagnóstica? pico para determinar o prognóstico e o tratamento a
A) Leucemia linfoide aguda. ser implementado.
B) Leucemia mieloide aguda. Relembrado os principais aspectos das leucemias na in-
C) Mononucleose infecciosa. fância, vamos analisar as alternativas:
D) Artrite reumatoide juvenil. A) - Correta. A LLA é o tumor mais comum da infância
B) - Incorreta. Apesar de se tratar de um quadro de
Resposta correta: Letra A
leucemia, pela prevalência maior da LLA, a LMA
não seria a principal hipótese diagnóstica
Temos aqui uma criança com astenia, febre e hepatoes-
plenomegalia associado à linfoadenomegalia. Até aqui, C) - Incorreta. A mononucleose cursa com hepatoes-
ficamos em dúvida se estamos diante de uma doença plenomegalia febril associado à linfoadenomegalia,
linfoproliferativa ou quadro infeccioso, como uma mas não cursa com acometimento ósseo
“mono-like”. Contudo, com o dado de dor óssea, tanto D) - Incorreta. A artrite reumatóide juvenil, apesar da dor
em membros inferiores quanto em região toracolom- óssea, não cursa com hepatoesplenomegalia febril
bar, nos fazendo pensar mais em uma doença linfopro-
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Take-Home Message: Entre os agentes etiológicos que estão mais relaciona-


1) A dor óssea é uma queixa frequente nas leucemias, dos à SGB, podemos citar: Mycoplasma pneumoniae,
podendo ser o único sintoma clínico. Outros acha- Haemophilus influenzae e, mais comumente, Cam-
dos clínicos são: astenia, febre, linfoadenomegalia, pylobacter jejuni. Em relação aos vírus: Epstein-Barr,
hepatoesplenomegalia associado a eventos hemor- citomegalovirus, influenza, HIV e até COVID.
rágicos O quadro clínico envolve desde dor, parestesia e fra-
2) As leucemias correspondem a 30% dos tumores ma- queza nos membros, que progride de maneira simétrica
lignos da infância, sendo o principal as leucemias e ascendente, até pares cranianos e musculatura respira-
linfóides agudas (LLA) tória, levando até a morte. Também podem apresentar
como sintomas sinais de disautonomia, como taquicar-
dia sinusal, bradicardia, hipertensão ou hipotensão e
QUESTÃO 56 diaforese. De maneira geral, os casos evoluem bem e
cerca de metade dos pacientes ficam sem sequelas ao
Uma criança de sete anos de idade chega à sala de emer- longo dos meses. A apresentação ocorre de maneira
gência com história de infecção intestinal há 2 sema- unimodal, apresentando o pico de piora dos sintomas
nas, e que após a melhora clínica passou a apresentar em 2 semanas e melhora progressiva após.
fraqueza muscular em ambos os membros inferiores
O diagnóstico é clínico, pela combinação da história
acompanhados de dor e parestesia bem como de di-
clínica compatível e exame físico com os achados cita-
ficuldades de deglutição e constipação intestinal. Os
dos acima. Entretanto, alguns exames complementares
reflexos tendinosos estavam ausentes. Qual a hipótese
podem reforçar ainda mais seu diagnóstico:
diagnóstica mais provável?
- No líquor, a alteração típica é a dissociação albumi-
A) Esclerose múltipla.
nocitológica. Isso significa um aumento da protei-
B) Encefalite herpética. norraquia com celularidade normal
C) Polirradiculoneurite aguda. - A eletroneuromiografia pode apresentar alterações
D) Encefalomielite disseminada aguda. típicas, relacionadas à anormalidades de condução
Resposta correta: Letra C - A ressonância magnética com preenchimento com
gadolínio pode mostrar padrão de desmielinização
Temos aqui mais uma questão clássica da sua prova de
residência: criança que após 2 semanas de um quadro
infeccioso apresentou sintomas neurológicos em mem-
bros inferiores, que progrediu para disfagia e constipa-
ção intestinal. Qual síndrome não podemos deixar de
pensar nesses casos? A síndrome de Guillain Barré!
A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença imuno-
mediada dos nervos periféricos, de início agudo, ge-
ralmente com antecedente de quadro infeccioso como
gatilho há cerca de 1-3 semanas antes do aparecimento
dos sintomas neurológicos. É caracterizada por ser uma
polirradiculoneuropatia idiopática, que gera uma para-
lisia flácida aguda.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 143

Vamos analisar as alternativas: QUESTÃO 57


A) - Incorreta. A esclerose múltipla é uma doença Na Atenção Básica de Saúde você atende uma puérpera
neurológica desmielinizante, que ocorre em surtos, amamentando seu filho de 45 dias de vida. Ela informa
com melhora transitória do quadro, que não parece suas dúvidas acerca do bem estar do filho por causa do
ocorrer em nosso paciente. ritmo de mamadas, do sono e do ganho de peso dele.
B) - Incorreta. A encefalite herpética cursaria com Qual a alternativa correta em relação a tais aspectos?
outras alterações neurológicas, incluindo déficits A) Se a mãe estiver acima do peso é recomendável ini-
focais, alterações de comportamento, febre, con- ciar dieta para emagrecimento e aumentar a ingesta
vulsões… No quadro clínico, temos uma doença de líquidos.
exclusivamente periférica B) Se o bebê dorme bem, está ganhando peso (curva
C) - Correta. O gatilho infeccioso levando a paralisia de crescimento revela percentil 15, a quantidade
flácida de membros inferiores nos faz pensar em de leite deve estar sendo suficiente para ele.
polirradiculoneurite aguda C) Essa puérpera deveria ter uma alimentação saudá-
D) - incorreta Falso. Não há história de febre, piora do vel, tomar líquidos em quantidade suficiente para
estado geral ou sinais neurológicos focais. saciar a sede e incluir alimentos hipercalóricos.
D) Se após a mamada, a mãe percebe que o bebê
Take-Home Message: está satisfeito, mas ela ainda tem muito leite, de-
1) A Síndrome de Guillain Barré é uma doença imu- veria continuar oferecendo a mama até sentir que
nológica dos nervos periféricos, geralmente com elas esvaziaram.
gatilho infeccioso. Também é chamado de polirra- Resposta correta: Letra B
diculoneurite aguda.
2) A característica é a paralisia flácida simétrica, as- Temos aqui uma questão de puericultura, que aborda
cendente, com hiporreflexia/arreflexia dos refle- aspectos sobre orientações de mamada e crescimento
xos tendinosos pondero estatural. É importante lembrarmos quais são
os sinais de que a mamada está adequada e o RN ga-
nhando peso para interpretarmos essa questão.
Em relação à amamentação, é recomendada que seja
feita de maneira exclusiva, sobre livre demanda, com
a pega adequada, sendo importante a percepção que o
RN fique satisfeito ao final da mamada.
Já em relação ao ganho de peso, espera-se pelo menos
um ganho de 25g/dia. De modo geral, o lactente dobra
de peso aos 6 meses de idade e triplica de peso com 1
ano. Mesmo que o peso de nascimento seja abaixo do
esperado, espera-se um ganho de peso contínuo.
Sobre o sono do lactente, nesse período não há bem esta-
belecido ciclo sono-vigília, sendo que o bebê acorda du-
rante à noite para mamar. espera que esse período ocorra
numa média de 3/3 horas, pois é o tempo que as reservas
de glicogênio aguentam para manter a normoglicemia.
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Relembrado esses aspectos, vamos analisar QUESTÃO 58


as alternativas:
No ambulatório, uma criança de 30 meses de idade
A) - Incorreta. Amamentar gera um gasto enérgico apresenta alterações compatíveis com Transtorno do
grande, sendo necessário manter o suporte nutri- Espectro Autista. Qual dos critérios abaixo certamente
cional nessa puérpera, sem necessidade de controle foram considerados como os mais importantes na defi-
de calorias nição da hipótese diagnóstica
B) - Correta. Mesmo que o lactente esteja no limite
A) Capacidade limitada para fazer amizade com seus
de percentil de peso para a idade, o ganho de
pares assim como algum prejuízo na capacidade de
peso está adequado, o que mostra que a quanti-
iniciar ou manter uma conversação.
dade de leite ofertada está sendo suficiente para
ser desenvolvimento B) Prejuízo limitado na espontaneidade de compar-
tilhar prazer, interesses ou realizações com outras
C) - Incorreta. As recomendações de ingesta adequada
pessoas (p.ex., não mostrar, trazer ou apontar obje-
de oferta hídrica e calórica deve ser feita para todas
tos de interesse).
as gestantes. Entretanto, não há necessidade de re-
comendar dieta hipercalórica e a recomendação é C) Prejuízo acentuado no uso de múltiplos compor-
a ingestão de grande quantidade de líquidos para tamentos não verbais, como contato visual direto,
produção de leite expressão facial, postura corporal e gestos para re-
gular a interação social.
D) - Incorreta. Conforme vimos, a amamentação deve
ser sobre demanda do lactente, sem forçar aceita- D) Prejuízo limitado na atividade imaginativa, como
ção, ainda mais se houver sinais de satisfação. representação de papéis de adultos, personagens de
fantasia ou animais; falta de interesse em histórias
sobre acontecimentos imaginários
Take-Home Message:
Resposta correta: Letra C
1) Não há recomendações e restrições dietéticas espe-
cíficas para as puérperas, sendo recomendada ali-
Temos aqui uma questão bem conceitual a respeito do
mentação balanceada, sem alimentos industriali-
Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma dos trans-
zados, suficientes para atingir a oferta calórica. É
tornos do neurodesenvolvimento mais prevalentes na
recomendada ingesta hídrica vigorosa
infância e que vem ganhando espaço nos últimos anos.
Para relembrar, a história típica do TEA é uma criança
“normal”, que por volta de 6 meses ocorre uma parada
ou até mesmo a regressão dos marcos de desenvolvi-
mento. São crianças com dificuldade de interação so-
cial, que não olham nos olhos, podem ser agressivas
e brincam de uma maneira própria. Porém, podem se
desenvolver normalmente até os 18 meses, com regres-
são após. Pela alta prevalência, a SBP recomenda o uso
de um questionário denominado MCHAT-R, entre 16
a 30 meses, como triagem de TEA.
O quadro clínico se caracteriza pelo comprometimento
de dois domínios centrais:
1) déficits na comunicação social e interação social
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2) padrões repetitivos e restritos de comportamento, - Reação exagerada ou diminuída a dor ou temperatura


interesses ou atividades - Interesse intenso por alguns estímulos ao redor
Alguns comportamentos comuns refletem como luzes, padrões e movimentos
esse comprometimento: - Rigidez extrema ou rituais relacionados com chei-
- Discurso repetitivo comum ou a repetição de per- ros, texturas e aparência da comida são comuns e
guntas feitas ao indivíduo (ecolalia) podem causar restrição alimentar excessiva
- Movimentos estereotipados, que ocorrem sempre O diagnóstico é feito com base em critérios diagnósti-
que a criança está empolgada ou chateada, como cos, definido pelo DSM V, conforme mostrado abaixo:
sacudir as mãos, bater palmas, correr sem um obje-
tivo ou balançar o tronco
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Relembrado seus principais aspectos e os critérios diag- QUESTÃO 59


nósticos, vamos analisar as alternativas:
Os pais de uma criança de seis anos de idade vêm ao am-
A) - Incorreta. Apesar de a criança autista ter dificul- bulatório com queixas de que a criança está com posturas
dades em responder à interações sociais, pode ser desafiadoras; recusa em aceitar ordens ou solicitações de
justificado por timidez ou início do processo de in- adultos, com os quais discute com frequência; e tendendo
teração social. a responsabilizar os outros pelos seus atos. Esses sintomas
B) - Incorreta. Não necessariamente uma criança que ocorrem em casa e em outros espaços sociais. Diante desse
não comaprtilha seus objetos de interesse não con- relato, qual a principal hipótese diagnóstica?
segue realizar uma boa interação social
A) Transtorno de conduta.
C) - Correta. O prejuízo acentuado dos compor-
B) Transtorno explosivo intermitente.
tamentos não verbais no processo de interação
social, como “não olhar nos olhos”, é algo mui- C) Transtorno de oposição desafiante.
to comum do TEA e está especificado nos crité- D) Transtorno da personalidade antissocial.
rios diagnósticos.
Resposta correta: Letra C
D) - Incorreta. Apesar de a criança com TEA ter di-
ficuldade em compartilhar brincadeiras imagina- Temos aqui uma questão que apresenta uma criança
tivas, esse item isolado sem prejuízo na interação que desafia seus pais, não consegue aceitar ordens e
social é característica do transtorno. discute com seus responsáveis com frequência. Vamos
entender o que cada transtorno apresentado representa
Take-Home Message: para entendermos o gabarito da questão.

1) O transtorno do espectro autista tem duas caracte- Transtorno de conduta


rísticas principais: déficits na comunicação social/ Segundo o DSM-V, as características do Transtorno de
interação social e padrões repetitivos/restritos de Conduta são “um padrão de comportamento repetitivo e
comportamento, interesses ou atividades persistente no qual são violados direitos básicos de outras
2) Uma característica comum é o prejuízo no uso pessoas ou normas ou regras sociais relevantes e apropria-
de múltiplos comportamentos não verbais, como das para a idade”. Entre os comportamentos envolvidos,
não estabelecer contato visual ou ausência de ex- podemos citar agressão à animais/pessoas, destruição de
pressões faciais propriedade, falsidade/furtos e violação de regras graves.
Transtorno explosivo intermitente
Crianças com sintomas sugestivos de transtorno explo-
sivo intermitente que apresentam momentos de explo-
sões de raiva graves. As explosões de raiva característica
do TEI são classificadas em dois tipos: “leves” ou “seve-
ras”. As chamadas explosões “leves” são ameaças, xinga-
mentos, ofensas, gestos obscenos, ataques de objetos e
agressões físicas sem lesão corporal. Elas precisam ocor-
rer com uma frequência média de 2 vezes na semana
por um período mínimo de 3 meses. As explosões mais
severas são destruição de propriedade/patrimônio e
ataques físicos com lesão corporal e precisam acontecer
ao menos 3 episódios dentro do período de um ano.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 147

Essas lesões não podem estar relacionadas ao uso de D. Não são satisfeitos os critérios para Transtorno da
substâncias ou condições clínicas, como TCE. Conduta (TC) e, se o indivíduo tem 18 anos ou
Transtorno de Oposição desafiante mais, não são satisfeitos os critérios para Trans-
torno da Personalidade Antissocial
São crianças jovens, caracterizado essencialmente por
um comportamento provocador, desobediente ou per- Transtorno de personalidade antissocial
turbador e não acompanhado de comportamentos de- O transtorno de personalidade antissocial é caracteri-
lituosos ou de condutas agressivas ou dissociais graves zado por pessoas que carecem de empatia, tendendo
A. Critério Geral: a insensibilidade, cinismo e desdém ao sentimento,
direito e sofrimento alheio. Donos de uma personali-
Os pacientes devem apresentar um padrão de compor- dade arrogante, inflada, autoconfiante ou convencido.
tamento negativista, hostil e desafiador durando pelo Propensos a prisões sucessivas e abuso de substâncias,
menos 6 meses, durante os quais quatro (ou mais) das lícitas e ilícitas, sem sinais de arrependimento, ou ra-
seguintes características estão presentes: cionalização precária de seus atos.
Humor raivoso: O seu diagnóstico é feito a partir dos 18 anos, Ter evi-
(1) frequentemente perde a paciência dências de transtorno de conduta antes dos quinze anos
de idade, agressão a pessoas, animais, destruição de pro-
(2) frequentemente é sensível ou facilmente in-
priedade, fraude, roubo ou violação a regras, são com-
comodado
portamentos característicos de um desvio de conduta
(3) com frequência é raivoso e ressentido
Relembrada as características de cada transtorno, po-
Comportamento questionador e desafiante: demos avaliar que a criança citada tem um comporta-
(4) frequentemente questionado figuras de autorida- mento não só desobediente, mas desafiador, sem causar
de (adultos) delitos ou violações graves de regras, sendo compatível
com Trasntorno de Oposição Desafiante.
(5) frequentemente desafia acintosamente ou se re-
cusa a obedecer a regras ou pedidos de figuras de A) - Incorreta. Não há delitos ou agressões graves para
autoridade caracterizar transtorno de conduta
B) - Incorreta. Não há história de explosões de raiva
(6) frequentemente incomoda deliberadamente ou-
tras pessoas C) - Correta. A criança tem comportamento provoca-
dor, sem causar delitos
(7) frequentemente culpa os outros por seus erros
D) - Incorreta. Além de ser um diagnóstico dado para
Índole vingativa: maiores de 18 anos, mas não delitos ou agressões
(8) foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes à terceiros.
nos últimos 6 meses
Outros Critérios: Take-Home Message:
B. A perturbação do comportamento causa prejuízo Crianças que são desobedientes e provocadoras, com
clinicamente significativo no funcionamento so- comportamentos vingativos, hostis e agressivos, preju-
cial, acadêmico ou ocupacional . dicando o convívio familiar e com terceiros, mas sem
cometer delitos ou agressões graves, são classificadas
C. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente
como transtorno de oposição desafiante.
durante o curso de um Transtorno Psicótico ou
Transtorno do Humor
148 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 60 O tratamento é iniciado empiricamente, com antibió-


ticos que cubram E. coli e as outras bactérias uropato-
Uma criança de 3 anos de idade chega ao ambulatório gênicas, como cefalosporinas de 2ª geração, amoxicili-
com relatos dos pais de que há cerca de três dias vem na + clavulanato e quinolonas, e deve ser ajustado após
apresentando sintomas como como enurese, urgência com base no antibiograma da cultura.
urinária, polaciúria, disúria, incontinência urinária
com urina fétida e turva. Qual o diagnóstico ao qual Relembrado sobre as ITUs na infância, vamos analisar
esses sintomas podem estar relacionados? as alternativas.

A) Cistite aguda. A) - Correta. Temos uma criança com sintomas de


ITU afebril, sendo um provável quadro de cistite
B) Pielonefrite aguda.
B) - Incorreta Apesar de apresentar o sintomas clás-
C) Presença de ureter ectópico.
sicos da ITU, como não há febre, provavelmente
D) Balanopostites e vulvovaginites trata-se de uma ITU baixa
Resposta correta: Letra A C) - Incorreta. O ureter ectópico vai se manifestar a
depender da sua implatação “anômala”, podendo
Temos aqui uma criança com quadro de disúria, polaci- gerar incontinência urinária e enurese, mas não dá
úria, incontinência urinária e urina fétida, sem história sinais de infecção como disúria e nem teria início
de febre ou corrimento associado. Nesse caso, não tem tão agudo (3 dias).
como não pensarmos que trata-se de uma cistite aguda. D) - Incorreta. As vulvovaginites e balanopostites po-
Vamos relembrar sobre a infecção do trato urinário da dem causar disúria, porém teríamos sintomas tópi-
pediatria para entender o gabarito da questão. cos relacionados, como vermelhidão, corrimento e
As infecções do trato urinário (ITU) são de extrema alguma lesão no genital.
importância na pediatria, pois são a principal causa de
febre sem sinais localizatórios em lactentes e estão asso- Take-Home Message:
ciados à morbidade elevada com risco de sepse e podem
ser indicados de anormalidades do trato urinário. 1) A ITU é a principal causa de febre sem sinais locali-
zatórios nos lactentes
O quadro clínico nos recém-nascidos e lactentes é bas-
tante inespecífico, podendo incluir baixo ganho pon- 2) Toda ITU febril em lactentes é classificada como
deral, astenia e seu principal sintoma é a febre. Nessa pielonefrite
idade, toda ITU febril é considerada pielonefrite. Já 3) Nos escolares e pré-escolares, a ITU baixa (cistite) é
nos pré-escolas e escolares, a ITU baixa (cistite) é ca- caracterizada por disúria, polaciúria, urgência mic-
racterizada por disúria, polaciúria, urgência miccional, cional, febre baixa (< 38ºC), desconforto suprapú-
febre baixa (< 38ºC), desconforto suprapúbico. Já a bico. Já a pielonefrite (ITU alta) por prostração, dor
pielonefrite (ITU alta) por prostração, dor lombar, fe- lombar, febre alta (> 38,5ºC), calafrios, vômitos.
bre alta (> 38,5ºC), calafrios, vômitos.
Entre os principais agentes etiológicos, o principal é a
Escherichia coli. O diagnóstico definitivo é feito com
a sintomatologia associada ao crescimento de bactérias
uropatogênicas em urocultura. Entretanto, o exame de
urina I pode auxiliar pela análise da leucocitúria, nitrito
e bacteriúria.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 149

QUESTÃO 61 A) INCORRETA. A primeira situação da tabela B, em


que um médico de família recebe uma contrarre-
Correlacione a Tabela A, com Princípios e Diretrizes do ferência para o seguimento do paciente na Aten-
SUS, e a Tabela B, que traz ção Primária à Saúde (APS), ilustra o aspecto de
situações típicas da atuação médica na Atenção Primária. longitudinalidade da APS (I). A segunda situação
da tabela B, em que a visita domiciliar é colocada
Tabela A; (I) Longitudinalidade; (II) Hierarquização;
como uma forma de facilitar o acesso aos que não
(III) Territorialização; (IV) Equidade.
conseguem se deslocar à Unidade de Saúde, ilustra
Tabela B; o princípio da equidade (IV). A terceira situação da
( ) O médico da Atenção Primária recebe pacien- tabela B, em que o médico de família procura co-
te contrarreferenciado da Atenção Terciária, após alta nhecer aspectos do território (saneamento e acesso
hospitalar, constando relatório para o seguimento do a área tratada) em uma determinada microárea para
cuidado do paciente na Atenção Básica. entender o vínculo epidemiológico entre os casos
de diarreia aguda, ilustra o aspecto da territorializa-
( ) A Visita Domiciliar é uma ferramenta utilizada na ção da APS (III). A quarta situação da tabela B, em
Atenção Primária para garantir atendimento a pacien- que o médico encaminha paciente multimórbido
tes na área adscrita que não podem se deslocar para a com falha de tratamento na APS para atenção se-
Unidade de Saúde. cundária, ilustra o princípio da hierarquização (II).
( ) O médico da Atenção Primária percebe que mui- A opção A troca as duas últimas correlações.
tas famílias de uma mesma microárea apresentam qua- B) CORRETA. Esta alternativa faz as correlações
dro de diarreia aguda nas temporadas de chuvas. Du- adequadas, conforme explicado na opção A.
rante a reunião ordinária de equipe, coleta informações C) INCORRETA. Esta alternativa troca as correlações
com sua Agente de Saúde sobre o saneamento e acesso da segunda e da quarta situações.
a água tratada da microárea.
D) INCORRETA. Esta alternativa traz todas as corre-
( ) Durante o turno de HiperDia de sua ESF, o mé- lações incorretas.
dico se depara com um paciente com quadro clínico Explicação:
complexo, com multimorbidade e resposta inadequada
às propostas terapêuticas instituídas. Após afastar má- A Lei 8.080, Lei Orgânica da Saúde, estabeleceu os
-adesão, decide por encaminhar o paciente para ambu- princípios e diretrizes do SUS, que algumas referências
latório especializado. dividem em princípios doutrinários e princípios orga-
nizativos. Seguem os principais:
Assinale a opção que traz a correlação correta, de cima
para baixo. Princípios doutrinários:

A) I; IV; II; III Universalidade:


B) I; IV; III; II É a garantia de que todos os cidadãos devem ter acesso
C) II; I; III; IV aos serviços de saúde públicos e privados conveniados
D) II; I; IV; III Integralidade:
O atendimento deve englobar promoção de saúde, pre-
venção, atendimento curativo e reabilitação.
150 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Equidade: saúde. Nesse processo, é importante realizar a delimita-


Princípio que visa à redução de desigualdade. O acesso ção da área de atuação dos serviços, a análise do ambien-
aos serviços de saúde deve ser garantido a toda a popu- te e da população, a contextualização da dinâmica social
lação em condições de igualdade, mas pode haver uma da área e definição das relações horizontais com outros
discriminação positiva, em que a prioridade deve ser serviços e verticais com centros de referência
dada a quem tem mais necessidades.
Princípios organizativos: Take-Home Message:
Hierarquização e regionalização: É importante atentar para os princípios do SUS, pois
Os serviços de saúde precisam estar organizados em ní­ costumam ser muito cobrados em provas de residência.
veis de complexidade crescente, com tecnologia ade- Há três princípios doutrinários, que são a universali-
quada para cada nível. dade, equidade e integralidade. E os princípios orga-
nizativos são: Hierarquização e regionalização, descen-
Descentralização: tralização, participação social e complementaridade do
Pressupõe uma direção única em cada esfera de gover- setor privado. É importante atentar para as definições e
no, mas a o município deve ser a célula básica, ficando tomar cuidado para não confundir com os atributos da
para os Estados e para a União os serviços de alta com- Atenção Primária
plexidade tecnológica
Participação ou controle social:
Garantia de que a sociedade civil tem possibilidade Fonte:
concreta de influir sobre as políticas públicas de saúde.
A participação popular deve ter caráter deliberativo, e Prova de Residência Médica SURCE 2022
ocorre através dos Conselhos de Saúde e Conferências Duncan - Medicina Ambulatorial - 4ª edição
de Saúde. LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990
Complementaridade do setor privado: Oliveira MA de C, Pereira IC. Atributos essenciais da
O setor público contrata, por necessidade, muitos ser- Atenção Primária e a Estratégia Saúde da Família. Rev
viços do setor privado, dando-se preferência aos de ca- Bras Enferm. setembro de 2013;66(spe):158–64
ráter não lucrativo PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO
A longitudinalidade, normalmente trazida como atri- DE 2017 https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
buto essencial da Atenção Primária à Saúde, e não gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
como princípio do SUS, implica na existência de uma Territorialização como instrumento do planejamento
fonte regular de atenção e seu uso ao longo do tempo, local na Atenção Básica [Recurso eletrônico] / Uni-
independente da presença de problemas específicos re- versidade Federal de Santa Catarina. Organizadoras:
lacionados à saúde ou do tipo de problema. Claudia Flemming Colussi; Katiuscia Graziela Pereira.
A territorialização também não é normalmente trazi- - Florianópolis: UFSC, 2016.
da como princípio do SUS, mas como ferramenta da 86 p. : il. color. (Série – Formação para Atenção Básica).
Atenção Primária. É um processo de reconhecimento do
território que possibilita o reconhecimento do ambien-
te, das condições de vida e da situação de saúde de sua
população, assim como o seu acesso a ações e serviços de
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 151

QUESTÃO 62 A) INCORRETA. Esta alternativa traz erro em todas


correlações apresentadas, conforme explicado na
Correlacione a Tabela A, com os Atributos Nucleares opção D, que traz as correlações corretas.
da Atenção Primária, e a Tabela B,
B) INCORRETA. Esta alternativa troca as duas pri-
com exemplos de situações vivenciadas pelo médico na meiras correlações, conforme explicado na opção
Atenção Primária. D, que traz as correlações corretas.
Tabela A; C) INCORRETA. Esta alternativa troca as duas últi-
mas correlações, conforme explicado na opção D,
(I) Acesso/Atenção ao primeiro contato;
que traz as correlações corretas.
(II) Coordenação; D) CORRETA. A primeira situação da tabela B, em
(III) Longitudinalidade; que um médico de família faz o seguimento do
paciente na Atenção Primária à Saúde (APS) du-
(IV) Integralidade/Cuidado Abrangente;
rante todo o seu ciclo de vida, ilustra o atributo
Tabela B; da longitudinalidade da APS (III). A segunda si-
( ) O médico acompanha suas famílias adscritas du- tuação da tabela B, em que um médico de família
rante todos os ciclos de vida daquela família: desde a recebe uma contrarreferência para o seguimento
chegada de um novo membro através do nascimento, do paciente na APS, ilustra o atributo da coorde-
até as crises decorrentes do falecimento de familiares. nação do cuidado (II). A terceira situação da ta-
bela B, em que o atendimento busca contemplar
( ) Durante um caso clínico complexo na APS, o mé- os diversos aspectos da multimorbidade, levando
dico referencia o paciente para ambulatório em consideração também a experiência da doença
especializado. Após dois meses, o paciente retorna com (“ilness”), ilustra o atributo da integralidade/cui-
a contrarreferência do especialista dado abrangente (IV). A quarta situação da tabe-
la B, em que se organiza o atendimento para dar
focal trazendo o plano terapêutico e a programação dos
assistência aos casos agudos, aborda o atributo do
futuros atendimentos no ambulatório
acesso/primeiro contato da APS (I).
de especialidades. Explicação:
( ) O atendimento clínico na APS contempla o pa- A Atenção Primária à Saúde tem como atributos es-
ciente com suas multimorbidades e a experiência sub- senciais a atenção no primeiro contato (ou acesso), a
jetiva do paciente em relação ao seu adoecimento. longitudinalidade, a integralidade e a coordenação do
( ) Durante a reunião ordinária de equipe, é pactua- cuidado, e como atributos derivados a orientação fami-
do que sejam garantidas vagas de demanda espontânea liar e comunitária e a competência cultural.
mesmo nos turnos de demanda programada. A inten- Atenção ao primeiro contato/ acesso:
ção é organizar a dinâmica da UAPS de forma a garan-
tir atendimento de casos agudos. A Atenção Primária deve ser porta de entrada dos ser-
viços de saúde. Espera-se que os serviços desse nível de
Assinale a alternativa que traz a ordem correta, de cima atenção sejam acessíveis e resolutivos frente às princi-
para baixo. pais necessidades de saúde trazidas pela população.
A) II; III; I; IV Longitudinalidade:
B) II; III; IV; I
Implica a existência de uma fonte regular de atenção e
C) III; II; I; IV seu uso ao longo do tempo, independente da presença
D) III; II; IV; I
152 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

de problemas específicos relacionados à saúde ou do QUESTÃO 63


tipo de problema.
A Participação da Comunidade é uma das Diretrizes do
Integralidade/ cuidado abrangente: SUS. A Lei N° 8142, de 28 de
Possui quatro dimensões: ações de promoção e pre- dezembro de 1990, dispôs sobre a participação da co-
venção, atenção nos três níveis de complexidade da as- munidade. Sobre Conselhos e
sistência médica, articulação das ações de promoção,
proteção e prevenção e abordagem integral do indiví- Conferências de Saúde, assinale a alternativa correta.
duo e das famílias. Uma Atenção Primária resolutiva é A) Os Conselhos e Conferências de Saúde terão sua
responsável não somente por ações rotineiras, de pre- organização e normas definidas pelo Poder Legisla-
venção ou promoção da saúde, mas atendimento de tivo e autorizadas pelo Poder Executivo.
demanda espontânea, realização de diagnósticos, trata- B) Os Conselhos de Saúde têm poder consultivo e de
mento e reabilitação. vistas em relação à prestação de contas. Quaisquer
Coordenação do cuidado: vetos em relação a prestações de conta implicam a
dissolução do Conselho e a formação de um novo,
Articulação entre os diversos serviços e ações de saúde,
de modo que as contas possam ser aprovadas.
de forma que estejam sincronizados e voltados ao al-
cance de um objetivo comum, que é ofertar ao usuário C) Os Conselhos e Conferências de Saúde são forma-
um conjunto de serviços e informações que respondam dos por representantes de entidades e dos movi-
a suas necessidades de saúde de forma integrada, por mentos sociais dos usuários do SUS, de entidades
meio de diferentes pontos da rede de atenção à saúde de profissionais de saúde, do governo, de entidades
de prestadores de serviços de saúde, do CONASS,
Orientação familiar e comunitária: do CONASEMS e de entidades empresariais com
Efetiva-se quando a avaliação das necessidades para a atividade na área da saúde. Todos esses membros
atenção integral considera o contexto familiar e sua ex- em mesma proporção.
posição a ameaças à saúde D) Conferência de Saúde é instância colegiada que se
Competência cultural: reúne a cada quatro anos, com a representação dos
vários segmentos sociais, para avaliar a situação de
Implica uma capacidade dos fornecedores e das organiza- saúde e propor as diretrizes para a formulação da
ções de cuidados em saúde de compreender e responder política de saúde nos níveis correspondentes
efetivamente às necessidades culturais e linguísticas, tra-
zidas pelos pacientes às situações de cuidados de saúde.
A) INCORRETA. Os conselhos e conferências tem
sua organização e normas definidas pela Lei 8142,
Take-Home Message: de 28 de dezembro de 1990. A conferência de saú-
de é convocada pelo poder executivo, mas o conse-
A Atenção Primária à Saúde tem como atributos es-
lho de saúde tem caráter permanente.
senciais a atenção no primeiro contato (ou acesso), a
longitudinalidade, a integralidade e a coordenação do B) INCORRETA. Os conselhos de saúde tem caráter
cuidado, e como atributos derivados a orientação fami- deliberativo, não consultivo. Além disso, tem cará-
liar e comunitária e a competência cultural. É impor- ter permanente, não ocorre a dissolução que a alter-
tante lembrar desses conceitos e de suas definições, pois nativa traz.
costumam ser temas de questões de residência.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 153

C) INCORRETA. Os conselhos e conferências são Take-Home Message:


formados por representantes do governo (gesto- As provas de residência com muita frequência abordam
res), prestadores de serviço, trabalhadores de saúde o tema da legislação que determina as formas de par-
e usuários, sendo que os usuários correspondem a ticipação popular na gestão do SUS. Importa lembrar
50% dos membros. que os conselhos de saúde são permanentes e deliberati-
D) CORRETA. A afirmativa descreve corretamente vos, com 50% dos membros sendo usuários e reunem-
a conferência de saúde e suas atribuições: ava- -se, no geral, uma vez por mês, atuando no controle da
liar a situação de saúde e propor as diretrizes execução política de saúde. Já as conferências de saúde
para a formulação da política de saúde nos ní- são realizadas a cada 4 anos, propondo diretrizes para
veis correspondentes, a formulação de políticas de saúde, e também contam
Explicação: com 50% de seus membros dentre usuários de saúde
A lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre
a participação da comunidade na gestão
QUESTÃO 64
do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transfe-
rências intergovernamentais de recursos financeiros na A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi for-
área de saúde. mulada pela primeira vez em
A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos 2006, sendo considerada um marco histórico na Aten-
com a representação dos vários segmentos sociais, para ção Primária à Saúde no Brasil.
avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a Assinale a alternativa que contempla o principal objeti-
formulação da política de saúde nos níveis correspon- vo da PNAB de 2006.
dentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordi-
A) Consolidar e qualificar a Estratégia Saúde da Fa-
nariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde. 50%
mília (ESF) como modelo de atenção básica à saú-
dos seus membros devem ser usuários de saúde
de e centro ordenador das redes de atenção à saúde
O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deli- no SUS.
berativo, órgão colegiado composto por representan- B) Firmar compromisso entre os gestores do SUS, em
tes do governo, prestadores de serviço, profissionais de torno de prioridades básicas que apresentam impac-
saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e to sobre a situação de saúde da população brasileira.
no controle da execução da política de saúde na ins-
C) Garantir a universalidade do direito à atenção básica à
tância correspondente, inclusive nos aspectos econô-
saúde, oficializado na Constituição Federal de 1988, e
micos e financeiros, cujas decisões serão homologadas
com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
pelo chefe do poder legalmente constituído em cada
esfera do governo. D) Promover reformas institucionais, com pacto en-
tre as três esferas (União, Estados e Municípios),
O Conselho de Saúde será composto por representan- para inovar processos e instrumentos de gestão da
tes do governo (gestores), prestadores de serviço, traba- atenção básica à saúde e alcançar maior eficiência e
lhadores de saúde e usuários, sendo que a representa- qualidade no SUS.
ção dos usuários deverá ser paritária (50%) em relação
ao conjunto dos demais segmentos.
154 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A) CORRETA. O Pacto pela Vida definiu como Tem como marco o fortalecimento da Atenção primá-
prioridade: “consolidar e qualificar a estratégia ria à Saúde (APS) e sua constituição como porta de
Saúde da Família como modelo de Atenção Básica entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS),
e centro ordenador das redes de atenção à saúde sendo o ponto de partida para a estruturação dos sis-
no Sistema Único de Saúde (SUS)”, que é consi- temas locais de saúde. Sua prioridade era, em concor-
derado norteador da publicação da PNAB 2006. dância com Pacto pela Vida: “consolidar e qualificar a
B) INCORRETA. O enfoque da PNAB 2006 foi que estratégia Saúde da Família como modelo de Atenção
as prioridades que apresentam impacto sobre a situ- Básica e centro ordenador das redes de atenção à saúde
ação de saúde da população brasileira fossem vistas no Sistema Único de Saúde (SUS).
a partir da Atenção Básica como porta de acesso
para o sistema e centro ordenador deste.
Take-Home Message:
C) INCORRETA. A PNAB 2006 levou em conta
princípios do SUS, como a universalidade explici- A PNAB de 2006 traz a redefinição dos princípios ge-
tada, levando em conta as diretrizes do Pacto em rais, responsabilidades de cada
Defesa do SUS. Mas o principal objetivo era o for- esfera de governo, infra-estrutura e recursos necessários,
talecimento da Atenção Primária como ponto de características do processo de trabalho, atribuições dos
partida para estruturação dos sistemas. profissionais, e as regras de financiamento, incluindo
D) INCORRETA. A PNAB 2006 aponta para a rede- as especificidades da estratégia Saúde da Família. Seu
finição de responsabilidades de cada esfera de go- principal marco foi “consolidar e qualificar a estratégia
verno na gestão, mas o principal objetivo foi trazer Saúde da Família como modelo de Atenção Básica e
a regulamentação da Atenção Básica para colocá-la centro ordenador das redes de atenção à saúde no Siste-
como centro ordenador das redes. ma Único de Saúde (SUS) ”.
Explicação:
A construção da Política Nacional de Atenção Básica
de 2006 se fundamentou nos eixos transversais da uni-
versalidade, integralidade e eqüidade, em um contexto
de descentralização e controle social da gestão, princí-
pios assistenciais e organizativos do SUS, consignados
na legislação. Traz como proposta a redefinição dos
“princípios gerais, responsabilidades de cada
esfera de governo, infra-estrutura e recursos necessários,
características do processo de trabalho, atribuições dos
profissionais, e as regras de financiamento, incluindo as
especificidades da estratégia Saúde da Família.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 155

QUESTÃO 65 C) INCORRETA. O território abordado na visita do-


miciliar do caso relatado de tuberculose é o territó-
Os conceitos de Território e Territorialização estão in- rio-moradia, a casa do paciente.
timamente relacionados às Diretrizes Organizacionais
D) INCORRETA. Atendimentos de todas as equipes
do SUS, tais como Hierarquização e Descentralização,
da unidade abrangem o território-área, que é o es-
sendo também uma das Diretrizes da Atenção Básica.
paço correspondente à população adscrita daquele
Assinale a alternativa que traz um conceito de território
centro de saúde.
e um exemplo prático.
Explicação:
A) Território-Distrito: Um paciente grave é atendi-
do no setor de urgência de um hospital munici- A territorialização é um processo de reconhecimento do
pal de baixa complexidade e, após estabilização, é território que possibilita o reconhecimento do ambien-
transferido para um hospital de referência de ou- te, das condições de vida e da situação de saúde de sua
tro município. população, assim como o seu acesso a ações e serviços de
saúde. Nesse processo, é importante realizar a delimita-
B) Território-Área: Durante uma reunião de uma equi-
ção da área de atuação dos serviços, a análise do ambien-
pe de saúde da família em uma UBS, uma agente
te e da população, a contextualização da dinâmica social
comunitária traz a demanda de realizar uma ativi-
da área e definição das relações horizontais com outros
dade de educação em saúde com famílias acompa-
serviços e verticais com centros de referência
nhadas por ela, pois há um surto de escabiose em
uma determinada rua. A divisão do território na ESF compõe três níveis de
C) Território-Microárea: Um médico programa uma atuação: território-área, território-microárea e territó-
visita domiciliar, para avaliar um caso de um pa- rio moradia.
ciente que abandonou o tratamento para Tuber- O território-área é o espaço correspondente a uma po-
culose Pulmonar por diversas vezes, para entender pulação adscrita, ou seja, aquela que estabelece vínculo
fatores que possam estar impactando na adesão com uma Unidade de Saúde.
ao tratamento.
O território-microárea é uma subdivisão do territó-
D) Território-Moradia: Durante a quadra chuvosa, rio-área, em que atua o agente comunitário de saúde
médicos de uma UBS realizam atendimentos de de- (ACS). São espaços onde se concentram grupos popu-
manda espontânea de pacientes de todas as equipes lacionais homogêneos com objetivo de uma melhor
da estratégia saúde da família da unidade. programação e acompanhamento das ações em saúde.
A sua delimitação leva em consideração barreiras ge-
A) CORRETA. O território-distrito é uma unida- ográficas, condições socioeconômicas, acessibilidade,
de organizacional do sistema de saúde que deve número de pessoas a serem atendidas e existência de
conter uma rede de serviços adequada para as ca- estruturas já definidas por outros órgãos institucionais
racteristicas epidemiológicas da população. Pode (setores censitários do IBGE, por exemplo).
constituir um consórcio entre municípios, que é O distrito sanitário é uma unidade organizacional do
o caso em questão. Pela ausência de hospital em sistema de saúde que deve conter uma rede de serviços
um município, o paciente foi encaminhado para adequada para as caracteristicas epidemiológicas da po-
o hospital de referência pertencente ao território- pulação. O distrito pode coincidir com o território de
-distrito, em outro município. um município, ser parte dele ou,pode constituir um
B) INCORRETA. A área de abrangência em que atua consórcio entre municípios.
o agente comunitário de saúde é o território micro-
-área, não o território-área.
156 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Take-Home Message: A) INCORRETA. Na fobia social, a pessoa apresenta


A territorialização é um processo de reconhecimento do medo de ser observada, o que a leva a evitar situa-
território que possibilita o reconhecimento do ambiente, ções sociais. A pessoa pode manifestar rubor, tre-
das condições de vida e da situação de saúde de sua popu- mores, náuseas quando exposta a essas situações.
lação, assim como o seu acesso a ações e serviços de saúde. B) INCORRETA. No transtorno esquizoafetivo, há
A adscrição de clientela permite uma melhor relação entre episódios de transtorno de humor e psicóticos. Há
a população e o serviço, assim como uma melhor organi- presença de delírios ou alucinações por pelo menos
zação dos fluxos e o acompanhamento de uma população duas semanas sem sintomas de humor com intensi-
por uma mesma equipe de saúde ao longo do tempo. dade suficiente para justificar esses sintomas. É um
transtorno do espectro da esquizofrenia.
A divisão do território na ESF compõe três níveis de
atuação: território-área, território-microárea e territó- C) CORRETA. O Transtorno Obsessivo Compul-
rio moradia, sendo que a microárea é a área de atuação sivo (TOC) é caracterizado por ideias obsessivas
do ACS (agente comunitário de saúde). ou comportamentos compulsivos recorrentes. No
caso, a paciente apresentava como obsessões os
pensamentos relacionados ao término do namoro
QUESTÃO 66 da filha e como compulsão o ato de escrever cartas
sobre o tema.
Durante seu atendimento na demanda espontânea em D) INCORRETA. O Transtorno de Ansiedade Gene-
uma UBS, você atende Dona ralizada está relacionado com ansiedade generaliza-
Marta, de 52 anos. Dona Marta vem com queixa de da e recorrente diante de eventos gerais e diversos,
“”angústia”” e traz o seguinte relato: que persiste por pelo menos 6 meses.
“”Doutor, desde agosto de 2019, quando minha filha ter- Explicação:
minou o namoro com um rapaz, eu não consigo superar o O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é ca-
fim do relacionamento dela, porque ela perdeu a virginda- racterizado por ideias obsessivas ou comportamentos
de com esse rapaz. Doutor, eu durmo e acordo pensando compulsivos recorrentes. Obsessões são pensamentos,
nisso, eu não consigo tirar esse problema da minha cabe- imagens ou impulsos que se intrometem na consciên-
ça. Eu já perdi 7 quilos, desde o fim desse relacionamento cia do sujeito de modo repetitivo e estereotipado. Em
deles dois. Eu reconheço que isso é ridículo, que não faz geral, elas geram perturbação e a pessoa tenta, com
sentido, que não me faz bem, mas eu não consigo nem frequência, resistir a elas, mas sem sucesso. A pessoa
mais ter relação com meu marido desde então. Eu não reconhece, apesar disso, que se trata de seus próprios
consigo tirar esses pensamentos da cabeça. Eu cheguei ao pensamentos, estranhos à sua vontade e em geral des-
ponto de escrever cartas sobre como a vida dele e da mi- prazerosos. As compulsões são atividades estereotipadas
nha filha poderia ser. Eu só consigo melhorar essa angústia repetitivas, que não geram prazer nem levam à realiza-
se eu escrever. Eu já escrevi mais de 30 cartas.” ção de tarefas úteis por si mesmas, que a pessoa faz de
Considerando o relato de Dona Marta, assinale a alter- maneira ritualística para tentar prevenir algum evento
nativa com hipótese diagnóstica mais provável. ou evitar a ansiedade decorrente das obsessões. O sujei-
to normalmente reconhece o absurdo e a inutilidade de
A) Fobia Social. seu comportamento e de esforça para resistir a ele. Tal
B) Transtorno Esquizoafetivo. comportamento deve, para ser considerado um trans-
C) Transtorno Obsessivo Compulsivo. torno, tomar tempo ou causar sofrimento clinicamente
D) Transtorno de Ansiedade Generalizada. significativo para a vida do indivíduo.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 157

Take-Home Message: A) Carga de doença.


O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é caracte- B) Cascata de prescrição.
rizado por ideias obsessivas ou comportamentos com- C) Determinantes Sociais de Saúde.
pulsivos recorrentes. Obsessões são pensamentos, ima- D) Barreiras geográficas da Atenção Primária.
gens ou impulsos que se intrometem na consciência do
sujeito de modo repetitivo e estereotipado.
A) INCORRETA. Carga de doença é uma medida
As compulsões são atividades estereotipadas repetitivas para quantificar a perda de saúde devido a uma
que a pessoa faz de maneira ritualística para tentar pre- determinada condição de saúde. Um exemplo é a
venir algum evento ou evitar a ansiedade decorrente quantificação de anos de vida perdidos ajustados
das obsessões. por incapacidade.
B) INCORRETA. Cascata de prescrição é o nome
dado ao fenômeno que ocorre quando o efeito ad-
QUESTÃO 67 verso de um medicamento é interpretado como
Considere o texto abaixo para responder à questão. “As sintoma de uma doença e outro medicamento é
mulheres são atingidas pela violência interpessoal de acrescentado para tratá-lo, em vez de ser suspenso
modo singular, na maioria das vezes, por parceiros ínti- ou modificado o fármaco que causou o problema.
mos ou familiares, envolvendo agressões físicas, sexuais C) CORRETA. O texto traz condições sociais, como
e também danos psíquicos. [...] [...] Estudos nacionais parcerias que fazem uso de substâncias psicoati-
e internacionais apontam entre os usuais fatores asso- vas, coabitação com parceiro sem casamento, mui-
ciados à violência por parceiro íntimo o consumo de tos filhos, como determinantes sociais da saúde
substâncias psicoativas. [...] Adicionalmente relevante das mulheres, por afetarem sua exposição à vio-
se torna o consumo de medicamentos, realizado espe- lência doméstica.
cialmente por mulheres, e sua relação com os episó- D) INCORRETA. Barreiras geográficas da Atenção
dios de violência entre parceiros íntimos, o que pode Primária à Saúde (APS) são obstáculos para o aces-
ser considerado um novo desafio para os profissionais so e utilização de serviços na APS, como ladeiras,
de saúde, [...] devido ao risco de corroborar para uma escadarias, alagamentos.
medicalização excessiva. Na América Latina, [...] o uso
Explicação:
de álcool pelo parceiro íntimo se insere entre as demais
características apresentadas pelas mulheres agredidas, a Os fatores sociais, econômicos,culturais, étnico-raciais,
saber: coabitação com o parceiro sem casamento for- psicológicos e comportamentais que influenciam a
mal; muitos filhos; não compartilhamento da tomada ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de ris-
de decisão; disparidade no nível de instrução. Assim, o co na população.
consumo de álcool, especificamente, está incluído en- trazem o conceito de que as condições de vida e
tre os riscos para a violência doméstica, principalmente
se o padrão de consumo for elevado. [...].” SILVA, Va- trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão
léria Nanci. “Violência e uso de substância psicoativas: relacionadas com sua situação de saúde. Essas condições
um estudo com mulheres usuárias de um serviço de de vida, por sua vez, são influenciadas pela organização
Atenção Primária à Saúde de São Paulo / Valéria Nanci sociopolítica que se concretiza com políticas públicas.
Silva. – São Paulo, 2008. Em 2005, foi criada uma Comissão sobre Determinan-
O texto faz referência a que fenômeno observado na tes Sociais da Saúde na Organização Mundial da Saúde
saúde pública? (OMS), que define os DSS como fatores sociais, eco-
nômicos,culturais, étnico-raciais, psicológicos e com-
158 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

portamentais que influenciam a ocorrência de proble- A) INCORRETA. Deve ser feita vigilância dos casos
mas de saúde e seus fatores de risco na população. novos e dos seus contatos. Os casos antigos, se já
tiverem sido adequadamente manejados clinica-
mente, além de ter sido feita investigação de seus
Take-Home Message: contatos adequada, não precisariam da busca ativa.
Não se esqueça dos Determinantes Sociais de Saúde B) INCORRETA. A vigilância dos contatos indepen-
(DSS). São fatores sociais, econômicos,culturais, ét- de da forma clínica do caso com o qual tiveram
nico-raciais, psicológicos e comportamentais que in- contato.
fluenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus C) CORRETA. Considera-se como contato intrado-
fatores de risco na população. miciliar toda pessoa que more ou já morou nos
últimos 5 anos com indivíduos apresentando han-
seníase, independente de sua forma clínica. To-
QUESTÃO 68 dos os contatos devem ser convocados para fazer o
Durante sua primeira semana de atendimento em sua exame dermatoneurológico.
Unidade de Saúde, você participa de uma reunião de D) INCORRETA. Não é necessário convocar todos os
equipe envolvendo todas as equipes e gestores. Dentre os moradores, apenas os contatos intradomiciliares.
pontos de fragilidade que são trazidos pela gestão, você Explicação:
percebe que não constam pacientes com Hanseníase nas
O M. leprae (conhecido também como bacilo de Han-
microáreas das suas Agentes Comunitárias de Saúde.
sen) é um bacilo álcool-ácido-resistente com afinidade
Posteriormente, em uma reunião somente com sua equi-
por células cutâneas e células dos nervos periféricos.
pe (enfermeira e agentes comunitários de saúde), você
A sua transmissão ocorre pelas vias aéreas superiores a
decide reabordar a temática, trazendo algumas sugestões
partir de pessoas com as formas multibacilares (MBs)
para a Investigação Epidemiológica para o diagnóstico
da doença, sem tratamento. É necessário o contato
precoce de casos. Assinale a alternativa que contempla
prolongado com indivíduos doentes multibacilares não
um componente da Investigação Epidemiológica.
tratados para contrair a doença.
A) Busca ativa de todos os casos do território, incluin-
Considera-se como contato intradomiciliar toda pessoa
do antigos e novos casos.
que more ou já morou nos últimos 5 anos com indi-
B) Vigilância de contatos somente de pacientes de víduos apresentando hanseníase, independente de sua
classe operacional Multibacilar. forma clínica. Todos os contatos devem ser convocados
C) Vigilância de contatos de pacientes independen- para fazer o exame dermatoneurológico.
temente de classe operacional: seja Paucibacilar
ou Multibacilar.
D) Realização de atendimento com exame dermato-
neurológico para dermatoses e/ou neuropatias pe-
riféricas de todos os moradores da microárea.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 159

A vacina BCG-ID (bacilo de Calmette e Guérin – in- QUESTÃO 69


tradérmico) deverá ser aplicada nos contatos intrado-
miciliares que não tiverem sinais e sintomas de hanse- Durante seu acompanhamento com Edmilson, você
níase no momento da avaliação, independente de serem nota que a baciloscopia antes de reiniciar a RHZE foi
contatos de casos da forma paucibacilar ou multibaci- positiva (3+), que a baciloscopia com 15 dias após rei-
lar. A aplicação da vacina varia conforme a presença nício de tratamento persistiu positiva (1+), mas que ele
de cicatriz da BCG. Pessoas sem cicatriz ou com uma ficou assintomático. A baciloscopia realizada após o
cicatriz de BCG devem receber uma dose. Pessoas com primeiro mês de tratamento permaneceu positiva (1+).
duas cicatrizes de BCG não precisam receber a vacina. Em sua consulta, ao término do segundo mês de trata-
Além disso, contatos intradomiciliares de hanseníase mento, você atende Edmilson, que está assintomático e
com menos de 1 ano, já vacinados, não necessitam da com baciloscopia negativa. Assinale a alternativa corre-
aplicação de outra dose de BCG. ta em relação ao seguimento clínico.
A) Considerando a persistência de baciloscopia posi-
tiva até o término do primeiro mês de tratamento,
Take-Home Message: estender a fase de ataque (RHZE) por um terceiro
Na vigilância dos casos de hanseníase, considera-se mês e solicitar baciloscopias quinzenais.
como contato intradomiciliar toda pessoa que more ou B) Considerando que o paciente evoluiu assintomá-
já morou nos últimos 5 anos com indivíduos apresen- tico e a baciloscopia está negativa, iniciar a fase
tando hanseníase, independente de sua forma clínica. de manutenção (RH) por quatro meses e solicitar
Todos os contatos devem ser convocados para fazer o baciloscopia de escarro em periodicidade mensal.
exame dermatoneurológico. A vacina BCG deverá ser C) Considerando que o paciente evoluiu assintomáti-
aplicada nos contatos intradomiciliares que não tive- co e a baciloscopia está negativa, mas que o pacien-
rem sinais e sintomas de hanseníase no momento da te tem histórico de abandono de tratamento prévio,
avaliação, independente de serem contatos de casos da estender a fase de ataque (RHZE) por um terceiro
forma paucibacilar ou multibacilar, com base na pre- mês e solicitar baciloscopia mensal.
sença de cicatriz prévia de BCG. Contatos menores de
D) Considerando que o paciente evoluiu assintomáti-
1 ano vacinados não precisam repetir. Pessoas sem cica-
co e a baciloscopia está negativa, mas que o pacien-
triz ou com uma cicatriz de BCG devem receber uma
te tem histórico de abandono de tratamento prévio,
dose. Pessoas com duas cicatrizes de BCG não precisam
estender a fase de manutenção (RH) por três meses
receber a vacina. Fiquem atentos a esses detalhes
adicionais, totalizando sete meses de fase RH.
160 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A) INCORRETA. O que se leva em consideração para ca insatisfatórias, entre outros. O abandono prévio
passar da fase de ataque para a de manutenção é a de tratamento não indica prolongamento da fase
baciloscopia do segundo mês. de manutenção.
B) CORRETA. Tanto para casos novos quanto para D) INCORRETA. Conforme explicação da alterna-
retratamento após abandono de tratamento pré- tiva C.
vio de tuberculose, o paciente deve realizar trata- Explicação:
mento com RHZE por dois meses, seguindo para
fase de manutenção com RH caso baciloscopia do Tanto os casos novos de tuberculose quanto os casos de
segundo mês negativa. A baciloscopia deve ser pe- retratamento (recidiva e reingresso após abandono que
dida mensalmente no seguimento. apresentem doença ativa) em adultos e adolescentes (≥
10 anos de idade) devem seguir o seguinte esquema
C) INCORRETA. O prolongamento da fase de ma- básico, conforme o quadro apresentado. Esse esquema
nutenção em geral é feito na atenção secundária é válido para a maioria das apresentações clínicas (pul-
em casos como baciloscopias de acompanhamen- monares e extrapulmonares), exceto a forma meningo-
to negativas, com evolução clínica e/ou radiológi- encefálica e ostearticular.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 161

O prolongamento da fase de manutenção deve ser defi- isoladamente, com boa evolução clínica e radio-
nido, idealmente, na referência da Atenção Secundária lógica. É necessário investigar a possibilidade de
para tuberculose. Algumas indicações para a ampliação TB resistente;
do tempo de tratamento são: › pacientes com apresentação radiológica eviden-
› pacientes com baciloscopias de acompanhamen- ciando múltiplas cavidades, especialmente se
to negativas, com evolução clínica e/ou radioló- exibem baciloscopia positiva ao final do segundo
gica insatisfatórias; mês de tratamento. É necessário investigar a pos-
› pacientes com baciloscopia positiva (com poucos sibilidade TB resistente.
bacilos) no quinto ou sexto mês de tratamento, O seguimento deve ser feito de acordo com o seguin-
te quadro:
162 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Take-Home Message: A) INCORRETA. Aciclovir é usado no tratamento de


No tratamento da tuberculose (pulmonar e extrapul- herpes genital, que se apresenta com úlceras genitais
monar, exceto meningoencefálica e osteoarticular, é e/ou vesículas sobre base eritematosa, dolorosas.
importante lembrar do esquema básico: 2 meses de B) INCORRETA. Esse tratamento descrito é feito
rifampicina + isoniazida+ pirazinamida + etambutol para linfogranuloma venéreo, que não é suspeita
(RHZE), na chamada fase intensiva ou de ataque. Caso neste caso, pois não há linfonodomegalias dolo-
baciloscopia positiva no segundo mês, há progressão rosas. O quadro de corrimento uretral é típico
para a fase de manutenção, com rifampicina + isoniazi- de uretrite.
da por 4 meses. O Ministério da Saúde recomenda que C) CORRETA. A presença de corrimento uretral
a baciloscopia de controle seja feita mensalmente. diante de exposição sexual de risco é diagnóstica
de uretrite, que deve ser tratada com ceftriaxona e
azitromicina, conforme descrito.
QUESTÃO 70 D) INCORRETA. Não há necessidade de adicionar
Em uma de suas consultas com Edmilson, ele pergunta doxiciclina e/ou metronidazol para o tratamento
se pode conversar sobre outro problema. Considerando de uretrite.
o cuidado integral, você explora essa nova demanda. Explicação:
Edmilson relata que namora Iraneide há três meses, e A uretrite pode se apresentar com corrimento uretral,
estava tudo bem, porém sua exnamorada o procurou disúria, dor, eritema e prurido uretral. Os principais
há 1 semana, e ele acabou se relacionando sexualmente agentes etiológicos são N. gonorrhoeae, causador da
com a mesma. Desde então, evoluiu com corrimento uretrite gonocócica, e C. trachomatis, U. urealyticum,
uretral. Relata ainda que nesse período, não teve relação M. hominis e T. vaginalis, causadores de uretrite não
sexual com Iraneide. Você orienta quanto ao diagnósti- gonocócica.
co e riscos e Edmilson indaga sobre o tratamento. As- O manejo pode ser feito de acordo com o quadro:
sinale a alternativa com a opção terapêutica adequada.
A) Aciclovir 200mg, 2 comprimidos, VO, 3x/dia por
7 dias.
B) Doxiciclina 100mg, VO, 1 comprimido, 2x/dia,
por 21 dias.
C) Ceftriaxona 500mg, IM, dose única + Azitromici-
na 500mg, 02 comprimidos, VO, dose única.
D) Ceftriaxona 500mg, IM, dose única + Doxiciclina
100mg, VO, 2x/dia, por 14 dias + Metronidazol
250mg, 2 comprimidos, VO, 2x/dia, por 14 dias.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 163

Ciprofloxacina, 500 mg, 1 comprimido, VO, dose


única + azitromicina, 500 mg, 2 comprimidos, VO,
dose única. Mas fiquem atentos! O uso da ciprofloxa-
cina está contraindicado nos estados do Rio de Janeiro,
Minas Gerais e São Paulo, considerando estudos reali-
zados nos últimos anos, os quais demonstraram a cir-
culação de cepas de gonococos com taxas de resistência
antimicrobiana igual ou maior que 5%, limite determi-
nado internacionalmente para aceitação do uso de um
antibiótico. Em Florianópolis, também já não se utiliza
mais ciprofloxacina. Fique atento ao seu local de prova.
Na dúvida, melhor marcar ceftriaxona.

Take-Home Message:
Uretrite se apresenta com disúria e corrimento uretral,
na maior parte dos casos. O tratamento de escolha é
feito com Ceftriaxona, 500 mg, IM dose única +azi-
tromicina, 500 mg, 2 comprimidos, VO, dose única.
Em algumas localidades, ainda é possível usar Cipro-
floxacina, mas não em São Paulo, Minas gerais e Rio de
Janeiro. Fiquem atentos.

O tratamento de escolha é feito com Ceftriaxona, 500


mg, IM dose única +azitromicina, 500 mg, 2 compri-
midos, VO, dose única. Em algumas localidades, ainda
é possível usar
164 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

QUESTÃO 71
Em seu atendimento com Vanessa, com a finalidade de o relato da Vanessa trouxe as mesmas informações pre-
estabelecer um vínculo com uma paciente com contex- viamente já passadas pelo Dr. Marcos Júlio, assinale a
to familiar e social tão complexo, você resolve confec- alternativa que traz uma informação não contemplada
cionar um Genograma de Vanessa. Considerando que pelo Genograma ilustrado na Figura 1.

A) Histórico obstétrico de Vanessa. D) INCORRETA. A partir do genograma é possível


B) Relação conflituosa entre Vanessa e seus pais. ver que Vanusa, irmã de Vanessa, e Benzarina, sua
C) Relação conflituosa entre Vanessa e Ubiratan. mãe, tem sequela de AVC.
D) Histórico familiar de AVCs na família de Vanessa. Explicação:
Genograma ou heredograma familiar
A) INCORRETA. O histórico obstétrico está contem- Trata-se de uma ferramenta que mostra graficamente a
plado sim no genograma da figura 1. É possível ver estrutura e o padrão de repetição das relações familiares.
que ela teve um aborto espontâneo no relaciona- O genograma mostra as doenças que ocorrem na fa-
mento com Ubiratan e que está gestante, esperando mília ao longo do tempo, os padrões de repetição de
um filho do relacionamento com Edberto. tipos de relacionamento e conflitos, que costumam es-
B) CORRETA. Não existe essa informação no geno- tar relacionados com o adoecimento. Não existe um
grama. Quem tem uma relação conflituosa assina- momento específico designado para fazer um genogra-
lada no genograma é Edberto. ma, nem mesmo há necessidade de aplicação durante
C) INCORRETA. O símbolo da relação entre Ubira- a rotina de atendimento, mas é uma ferramenta que
tan e Vanessa é de relação conflituosa, realmente. pode ser utilizada quando conveniente.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 165

O genograma deve conter: ao menos três gerações; querda para a direita; uma legenda explicando os sím-
nomes dos familiares; idade dos membros; mortes (in- bolos utilizados.
cluindo idade de morte e causa); doenças significativas Veja a figura a seguir, que contém alguns símbolos con-
dos familiares; nascimentos listados em ordem, da es- vencionados no genograma:
166 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Figura adaptada de: “Tratado de Medicina de Família e Comunidade: 2 Volumes: Princípios, Formação e Prática.
Gusso, G; Lopes, JMC; Dias, LC – 2ª edição - 2019”

Take-Home Message: QUESTÃO 72


O genograma é uma ferramenta que mostra grafica- A revisão do prontuário de atendimentos prévios da
mente a estrutura e o padrão de repetição das relações Vanessa mostra que exames de pesquisa de anticoagu-
familiares. É importante saber os principais símbolos lante lúpico e anticorpo anticardiolipina foram solici-
utilizados, pois podem ser cobrados nas provas. tados duas vezes, em intervalo maior que 12 semanas,
com resultados persistentemente elevados. A partir das
informações coletadas, assinale a alternativa com risco
gestacional de Vanessa.
A) Alto risco.
B) Risco habitual.
C) Risco habitual com vulnerabilidades.
D) Não há informações suficientes para classificar o
risco gestacional.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 167

A) CORRETA. Atualmente, somente a trombofilia Características individuais e condIções


adquirida é considerada associada à morbidade sociodemográficas:
obstétrica. As hereditárias não se associam a maior • Idade <15 anos e >40 anos.
risco obstétrico e não devem ser investigadas ou
tratadas. A trombofilia adquirida relacionada • Obesidade com IMC >40.
ao aborto espontâneo de repetição é a síndrome • Baixo peso no início da gestação (IMC <18).
dos anticorpos antifosfolipides (SAF), que se ca-
• Transtornos alimentares (bulimia, anorexia).
racteriza por morbidade obstétrica e presença de
anticorpos antifosfolípides. Os anticorpos que • Dependência ou uso abusivo de tabaco, álcool ou ou-
definem a síndrome são anticardiolipina (IgG ou tras drogas.
IgM), lúpus anticoagulante e beta-2-glicoproteína História reprodutiva anterior:
1 autoanticorpos. Os anticorpos devem estar pre-
sentes em títulos altos, e a positividade repetida e • Abortamento espontâneo de repetição (três ou mais
confirmada em 12 semanas, devendo ser dosados em sequência).
fora do período gestacional. • Parto pré-termo em qualquer gestação anterior (espe-
B) INCORRETA. Conforme explicado na opção A, cialmente <34 semanas).
a síndrome dos anticorpos antifosfolípides, diag- • Restrição de crescimento fetal em gestações anteriores.
nóstico dessa paciente, é uma condição que ele-
va o risco gestacional, devendo essas pacientes ser • Óbito fetal de causa não identificada.
encaminhadas para o seguimento no Pré-natal de • História característica de insuficiência istmocervical.
Alto Risco.
• Isoimunização Rh.
C) INCORRETA. Conforme explicado na opção A,
a síndrome dos anticorpos antifosfolípides, diag- • Acretismo placentário.
nóstico dessa paciente, é uma condição que eleva o • Pré-eclâmpsia precoce (<34 semanas), eclâmpsia ou
risco gestacional, devendo essas pacientes ser enca- síndrome HELLP.
minhadas para o seguimento no Pré-natal de Alto
Condições clínicas prévias à gestação:
Risco. (OPÇÃO D) – INCORRETA. A positivi-
dade em altos títulos dos anticorpos anticoagulante • Hipertensão arterial crônica.
lúpico e anticorpo anticardiolipina com intervalo • Diabetes mellitus prévio à gestação.
maior que 12 semanas em período fora da gestação
são suficientes para classificar essa paciente, com • Tireoidopatias (hipertireoidismo ou hipotireoidismo
SAF, em alto risco gestacional. clínico).
Explicação: • Cirurgia bariátrica.
Há algumas condições clínicas que indicam maior ris- • Antecedentes de tromboembolismo.
co de desenvolvimento de patologias com potencial de • Cardiopatias maternas.
óbito materno-fetal, que devem ser consideradas nos
critérios de encaminhamento de gestante/puérpera à • Doenças hematológicas (doença falciforme, púrpu-
unidade de atenção ao pré-natal de alto risco. ra trombocitopênica autoimune (PTI), e trombótica
(PTT), talassemias, coagulopatias).
Seguem algumas condições, de acordo com Manual
atualizado do Ministério da Saúde de 2022: • Nefropatias.
• Neuropatias.
168 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

• Hepatopatias. Take-Home Message:


• Doenças autoimunes. Existem algumas condições clínicas que indicam maior
• Ginecopatias (malformações uterinas, útero bicorno, risco de desenvolvimento de patologias com potencial de
miomas grandes). óbito materno-fetal, que devem ser consideradas nos cri-
térios de encaminhamento de gestante/puérpera à uni-
• Câncer diagnosticado. dade de atenção ao pré-natal de alto risco. Atualmente,
• Transplantes. somente a trombofilia adquirida é considerada associada
à morbidade obstétrica. As hereditárias não se associam
• Portadoras do vírus HIV.
a maior risco obstétrico e não devem ser investigadas ou
Intercorrências clínicas/obstétricas na gestação atual: tratadas. A trombofilia adquirida relacionada ao abor-
• Síndromes hipertensivas (hipertensão gestacional e to espontâneo de repetição é a síndrome dos anticorpos
pré-eclâmpsia). antifosfolipides (SAF), que se caracteriza por morbidade
obstétrica e presença de anticorpos antifosfolípides (an-
• Diabetes mellitus gestacional com necessidade de uso ticardiolipina e anticoagulante lúpico).
de insulina.
• Infecção urinária alta.
QUESTÃO 73
• Cálculo renal com obstrução.
• Restrição de crescimento fetal. Durante a consulta de pré-natal, Vanessa informa que
fuma tabaco, ocasionalmente, e que pretende parar de
• Feto acima do percentil 90% ou suspeita de macros- fumar durante a gestação, mas que vai voltar a fumar
somia. após o nascimento da criança. Considerando a redução
• Oligoâmnio/polidrâmnio. de riscos, como orientar uma mulher que amamenta e
que faz uso de tabaco?
• Suspeita atual de insuficiência istmo cervical.
A) Realizar abordagem cognitivo comportamental
• Suspeita de acretismo placentário.
básica e orientar a reduzir o consumo o máximo
• Placenta prévia. possível. Se não for possível a cessação do tabagis-
• Hepatopatias (por exemplo: colestase gestacional ou mo por completo, orientar procurar fumar pouco
elevação de transaminases). tempo antes da amamentação, para que o leite pro-
duzido não tenha vestígios de nicotina.
• Anemia grave ou anemia refratária ao tratamento.
B) Realizar abordagem cognitivo comportamental
• Suspeita de malformação fetal ou arritmia fetal. básica e orientar a reduzir o consumo o máximo
• Isoimunização Rh. possível. Se não for possível a cessação do tabagis-
mo por completo, orientar procurar fumar após a
• Doenças infecciosas na gestação: sífilis (terciária ou amamentação e não fumar no mesmo ambiente
com achados ecográficos sugestivos de sífilis congênita em que a criança se encontra.
ou resistente ao tratamento com penicilina benzatina),
C) Informar que o tabagismo é contraindicação abso-
toxoplasmose aguda, rubéola, citomegalovírus, herpes
luta para a amamentação e, considerando a redução
simples, tuberculose, hanseníase, hepatites, condiloma
de riscos, orientar a oferta de leite artificial.
acuminado (no canal vaginal/colo ou lesões extensas
localizadas em região genital/perianal). D) Realizar abordagem cognitivo comportamental bá-
sica e contraindicar amamentação até que paciente
• Suspeita ou diagnóstico de câncer. cesse completamente o tabagismo.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 169

A) INCORRETA. A puérpera deve ser orientada a orientar procurar fumar após a amamentação e não fu-
procurar fumar após a amamentação, caso não con- mar no mesmo ambiente em que a criança se encontra.
siga, realmente, cessar por completo o tabagismo.
B) CORRETA. Aconselhamento comportamental é
a principal intervenção para a cessação do tabagis- Take-Home Message:
mo e a prevenção de recaídas durante a gestação A nicotina provoca aumento do batimento cardíaco no
e o puerpério. Se não for possível a cessação do feto, redução de peso, menor estatura, além de altera-
tabagismo por completo, orientar procurar fumar ções neurológicas. O risco de abortamento espontâneo
após amamentação e num ambiente diferente po- é maior nas mães que fumam. O cigarro é associado a
dem ser medidas de redução de danos. efeitos deletérios nos recém-nascidos, incluindo aumen-
C) INCORRETA. Tabagismo não é contraindicação to do risco para doenças respiratórias e otite infecciosa,
absoluta para a amamentação. Se não for possível síndrome da morte súbita, transtornos comportamen-
cessação, a puérpera deve ser estimulada a reduzir tais e comprometimento cognitivo. Aconselhamento
o consumo e não fumar no ambiente em que a comportamental é a principal intervenção para a ces-
criança está. sação do tabagismo e a prevenção de recaídas durante
D) INCORRETA. Tabagismo não é contraindicação a gestação e o puerpério. Devem ser orientadas a redu-
absoluta para a amamentação. zir o consumo o máximo possível. Se não for possível
a cessação do tabagismo por completo no puerpério,
Explicação: orientar procurar fumar após a amamentação e não fu-
É importante, na abordagem do tabagismo durante o mar no mesmo ambiente em que a criança se encontra.
pré-natal, esclarecer que, quando a mãe fuma durante
a gravidez, “o feto também fuma”. A nicotina provoca
aumento do batimento cardíaco no feto, redução de QUESTÃO 74
peso, menor estatura, além de alterações neurológicas.
Após você realizar as orientações de redução de risco,
O risco de abortamento espontâneo é maior nas mães
quanto ao fumo, durante o aleitamento, você explora as
que fumam.
motivações de Vanessa de planejar voltar a fumar após
É comum que as mulheres consigam manter a absti- o término da gravidez. Vanessa informa que fuma “para
nência ou a redução do tabagismo durante a gestação, fazer companhia ao Edberto”. Após identificar Edberto
mas há uma frequente “compensação” após o parto, como um personagem chave para abordar o tabagismo
com aumento do uso nos primeiros 6 meses. Essa re- de Vanessa, você agenda uma consulta para Edberto.
caída, infelizmente, acaba ocorrendo em um momento Durante a consulta com Edberto, através da entrevis-
muito importante para a vinculação mãe-bebê. Mulhe- ta motivacional, você identifica que ele se encontra no
res que fumavam antes da gestação são mais propensas estágio Contemplativo. Qual abordagem, a partir da
ao desmame precoce, a fim de voltar a fumar. O cigar- entrevista motivacional, é a mais adequada nesse caso?
ro é associado a efeitos deletérios nos recém-nascidos,
A) Tirar dúvidas e ajudar na escolha de melhor estraté-
incluindo aumento do risco para doenças respiratórias
gia em busca da mudança.
e otite infecciosa, síndrome da morte súbita, transtor-
nos comportamentais e comprometimento cognitivo. B) Ajudar a perceber gatilhos para prevenir recaí-
Aconselhamento comportamental é a principal inter- das. Construir estratégias para enfrentar eventu-
venção para a cessação do tabagismo e a prevenção de ais gatilhos.
recaídas durante a gestação e o puerpério. Devem ser C) Levantar dúvidas sobre sintomas e queixas do pa-
orientadas a reduzir o consumo o máximo possível. Se ciente sobre possível relação com tabagismo e au-
não for possível a cessação do tabagismo por completo, mentar a percepção sobre riscos do hábito.
170 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

D) Desfazer a postura de ambivalência, inclinando a nefícios de cessação; envolva familiares/ rede de apoio e
balança ao evocar riscos de não mudar e numerar aborde problemas de saúde mental (depressão/ansieda-
motivos para mudar. Fortalecer a autossuficiência. de) que possam estar presentes em conjunto.
3.Preparação: a pessoa inicia algumas mudanças, faz
A) INCORRETA. Essa abordagem é indicada para a planos, cria condições favoráveis para a mudança, revisa
pessoa em fase de preparação para a ação de parar tentativas passadas (nos próximos 30 dias). Na aborda-
de fumar. gem, coloque-se à disposição para acompanhar e mar-
B) INCORRETA. Essa abordagem é indicada a pessoa car uma data para parar deixar de fumar nos próximos
nas fases de preparação para para parar de fumar ou 30 dias. Informe sobre a síndrome de abstinência, seus
de ação e manutenção, em que a pessoa já parou sintomas,e sua duração, assim como sobre a “fissura”.
de fumar. Ajuda a escolher a melhor estratégia para a mudança.
C) INCORRETA. Essa abordagem é indicada para a 4. Ação: a pessoa implementa mudanças no ambien-
pessoa em fase de pré-contemplação. te e no comportamento, dedica tempo e energia para
D) CORRETA. Quando a pessoa está em fase de con- que ocorra e se mantenha a mudança (que ocorreu há
templação, é importante abordar a ambivalência, menos de 6 meses). Na abordagem, parabenize pelo es-
reforçar riscos e benefícios de parar de fumar e forço, reforce os benefícios que está tendo e aborde abs-
fortalecer a motivação/autossuficiencia. tinência/fissura e métodos para prevenção de recaída.
Explicação: 5. Manutenção: é a continuação do trabalho iniciado
A mudança de comportamento é um verdadeiro desa- no estágio de ação, para que a pessoa consiga manter os
fio para a promoção de saúde. Nesse processo, a mo- ganhos que teve com a mudança e prevenir a recaída
tivação é um aspecto chave. No estudo da abordagem nos velhos hábitos (nesse estágio, a mudança ocorreu
motivacional, são definidos alguns estágios para mu- há mais de 6 meses).
dança de hábito, dentro do chamado modelo transte- Uma pessoa pode transitar por esses estágios, progre-
órico, que são muito usados no processo de cessação dindo ou regredindo devido a diversos fatores, intrín-
de tabagismo: secos e extrínsecos.
1.Pré-contemplação: nesse estágio, a pessoa não consi- A entrevista motivacional é uma conversa voltada para
dera a possibilidade de mudança e isso não é motivo de o fortalecimento da motivação de uma pessoa, visando
preocupação para ela. Na abordagem, identifique que ao seu comprometindo com uma mudança. Tem como
razões e medos impedem a pessoa a pensar em deixar principal objetivo resolver a ambivalência, que é o con-
de fumar. Estimule a pensar sobre o assunto, forneça flito psicológico existente quando há a necessidade de
material educativo, identifique se a pessoa conhece decidir entre dois caminhos possíveis. Trata-se de uma
os riscos de adoecimento relacionados ao tabagismo, e intervenção breve que pode
se esse tipo de argumento é relevante para ela, forneça
essas informações, assim como sobre os benefícios de
parar de fumar. Volte a abordar na próxima consulta.
2.Contemplação: a pessoa admite que tem um proble-
ma, encontra-se ambivalente com relação à mudança
e considera adotar mudanças (nos próximos 6 meses).
Na abordagem, pergunte razões/motivações para parar
de fumar, identifique medos e barreiras e aborde-os;
aborde ambivalência; reforce riscos do tabagismo e be-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 171

QUESTÃO 75 D) INCORRETA. Os estudos para rastreamento de


câncer de pulmão com tomografia de baixa dosa-
Em sua consulta com Edberto, ele refere que o medo gem envolvem indivíduos de alto risco (tabagistas
de desenvolver câncer de pulmão é uma das razões que com exposição maior do que 30 anos-maço ou
o motiva a parar de fumar. Ele, então, pergunta se você ex-tabagistas com menos de 15 anos de cessação e
pode solicitar algum exame de rastreio para câncer de exposição equivalente). No entanto, essa estratégia
pulmão nele. De acordo com recomendações nacionais não foi implementada pelo Ministério da Saúde.
para o rastreio do câncer de pulmão, assinale a alterna-
Explicação:
tiva com a conduta adequada.
Não há recomendação para realização de radiografia
A) Informar que até o momento não existe diretriz
torácica com objetivo de rastreamento para câncer de
nacional governamental para o rastreamento de
pulmão, uma vez que a eficácia de detecção é de cerca
câncer de pulmão, além de ele não ter indicação
de 36%. Um ensaio clínico randomizado (ECR) apre-
de realizar o exame.
sentou como resultado redução da mortalidade geral e
B) Solicitar exame de radiografia simples de tórax para específica por câncer de pulmão com o rastreamento de
acolher a demanda do paciente e avaliar seu risco de indivíduos de alto risco (tabagistas com exposição maior
câncer de pulmão, sem recorrer a um exame onero- do que 30 anos-maço ou ex-tabagistas com menos de 15
so e complexo. anos de cessação e exposição equivalente) com tomogra-
C) Solicitar exame de tomografia de tórax de bai- fias de baixa dosagem, mas esse rastreamento não está
xa energia para acolher a demanda do paciente e disponível e nem é recomendado no Brasil.
condicionar a solicitação do exame à cessação do
tabagismo de Edberto, ajudando na motivação da
parada do tabagismo. Take-Home Message:
D) Informar que a diretriz ministerial brasileira prevê Há estudos que apontam para redução de mortalidade
que a tomografia de tórax de baixa energia está indi- com implementação de rastreamento de câncer de pul-
cada no rastreamento de câncer de pulmão somente mão com tomografia de baixa dosagem, envolvendo in-
na população considerada de alto risco: idade entre divíduos de alto risco (tabagistas com exposição maior
50 e 80 anos e carga tabágica de pelo menos 30 do que 30 anos-maço ou ex-tabagistas com menos de
maços-ano. 15 anos de cessação e exposição equivalente). No en-
tanto, é importante lembrar que essa estratégia não foi
A) CORRETA. Não há diretriz nacional para realização implementada pelo Ministério da Saúde no Brasil.
de rastreio de câncer de pulmão. Há estudos envol-
vendo uso de tomografia computadorizada para ras-
treio, mas isso não foi implementado no Brasil. QUESTÃO 76
B) INCORRETA. Não há recomendação para reali- A abordagem adequada frente à demanda, ilustra-
zação de radiografia torácica com objetivo de ras- da na questão anterior, de Edberto quanto a exames
treamento para câncer de pulmão, uma vez que a de rastreio de câncer de pulmão configura que nível
eficácia de detecção é de cerca de 36%. de Prevenção?
C) INCORRETA. Há estudos envolvendo uso de to- A) Primária.
mografia computadorizada de baixa dosagem para
B) Secundária.
rastreio de câncer de pulmão, mas isso não foi im-
plementado no Brasil. C) Terciária.
D) Quaternária.
172 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A) INCORRETA. Prevenção primária, nesse caso, da entre as pessoas não doentes sobre o surgimento de
seria abordagem para cessação do tabagismo, que uma doença que ameace sua qualidade de vida, esti-
atua no fator de risco para câncer de pulmão antes mulando atitudes (lucrativas para alguns setores) para
que a doença se instale. reduzir esse risco.
B) INCORRETA. Prevenção secundária seria a re-
alização de um exame capaz de realizar detecção
precoce do câncer de pulmão, com benefício claro Take-Home Message:
para redução de mortalidade. Não foi essa a condu- A prevenção primária é aquela que atua nos fatores
ta tomada no caso de Edberto, em que não havia de risco, antes do adoecimento. A secundária atua na
indicação de solicitação de exame para rastreio de fase precoce da doença, assintomática. A terciária atua
acordo com as diretrizes nacionais. em fase mais avançada da doença, para evitar compli-
C) INCORRETA. Prevenção terciária seria atuação cações. São termos bastante cobrados nos concursos
para prevenção de complicações de uma doença de residência.
já instalada. Não é o caso, Edberto tem um fator
de risco, que é o tabagismo, mas não tem doen-
ça instalada. QUESTÃO 77
D) CORRETA. A partir do momento em que se evi- Durante o exame físico de Edberto, você aferiu PA
tou a solicitação de um exame não indicado, que = 162x114mmHg, IMC = 38kg/m² , circunferência
foi o caso do exame para rastreio de câncer de pul- abdominal = 110cm e glicemia capilar em jejum =
mão, realizou-se a prevenção quaternária. 158mg/dl. A ausculta cardíaca evidenciou frequência
Explicação: cardíaca de repouso de 120bpm, ictus deslocado para o
6º espaço intercostal e com caráter propulsivo. Edberto
O termo prevenção primária refere-se a medidas que
ficou surpreso com o valor de sua pressão arterial, refe-
são realizadas para evitar as causas de adoecimento, ou
rindo que, apesar de não lembrar quando fora a última
fatores de risco, antes que a doença se instale.
vez que teve a pressão arterial aferida, nunca havia che-
A prevenção secundária abrange medidas que têm a fi- gado a esse nível pressórico. Ele, então, pergunta qual
nalidade de realizar detecção e intervenção precoces de significado clínico desse valor. Assinale a alternativa
um problema ou doença. com a conduta correta.
Já a prevenção terciária tem como foco a prevenção de A) Orientar que essa aferição isolada não implica diag-
complicações de uma doença ou problema existente, nóstico de HAS, mas, em próximo atendimento,
por meio de tratamento e reabilitação. caso nível pressórico esteja maior que 140x90, será
A prevenção quaternária é um conjunto de ações feitas dado o diagnóstico de HAS.
para identificar pacientes em risco de supermedicaliza- B) Orientar que essa aferição isolada não implica diag-
ção, protegendo-os do risco de uma intervenção médi- nóstico de HAS. Solicitar diário pressórico (MRPA)
ca invasiva. para diagnóstico de HAS em próximo atendimento.
A desprescrição é o processo de revisão e análise da pres- C) Diagnosticar e comunicar evento de Emergência
crição de medicamentos, levando à modificação de do- hipertensiva e encaminhar a serviço de Urgência e
sagens, substituição ou eliminação de alguns fármacos. Emergência para controle parenteral.
D) Informar que mesmo com somente essa aferição
O disease mongering pode ser traduzido como “co-
isolada, considerando dados clínicos, o paciente
mercializar a doença”. Trata-se da fomentação de uma
tem diagnóstico de HAS em medição única.
preocupação generalizada, indiscriminada e inadequa-
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A) INCORRETA. Em geral, o diagnóstico de Hiper- Take-Home Message:


tensão Arterial Sistêmica (HAS) não deve se ba- O diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
sear exclusivamente na medida da PA em apenas é definido quando há registro de pressão arterial (PA)
uma consulta médica, a menos que haja PA > ou elevada em, pelo menos, duas medidas em encontros
=180x110mmHg (HAS estágio 3) ou evidência de clínicos diferentes. Situações de exceção, em que já se
lesão de órgão alvo (LOA) estabelecida. Nesse caso, poderia estabelecer diagnóstico com medida isolada,
o ictus deslocado para o 6º espaço é indicativo de são a presença de PA substancialmente elevada (HAS
aumento do ventrículo esquerdo, que pode ser con- estágio 3, PAS > ou = 180 mmHg e/ou PAD > ou =
siderado uma LOA. 110mmHg) ou diagnóstico estabelecido de lesão de ór-
B) INCORRETA. A presença de LOA evidenciada gão-alvo (LOA) ou de doença cardiovascular.
pelo desvio do ictus para 6º espaço intercostal au-
toriza diagnóstico de HAS nesse caso.
C) INCORRETA. Não há quadro de emergência hi- QUESTÃO 78
pertensiva. Paciente assintomático, sem sinais e sin-
Ainda na consulta de Edberto, foi verificada glicemia capi-
tomas que indiquem quadro de emergência.
lar em jejum de 158 mg/dl, e o mesmo questiona o signi-
D) CORRETA. Conforme trazido nas explicações ficado clínico desse achado. Corretamente, você responde
das alternativas anterires, a presença de LOA evi- que a glicemia capilar ainda não está validada para diag-
denciada pelo desvio do ictus para 6º espaço inter- nóstico, mas a glicemia capilar alterada sugere alteração
costal autoriza diagnóstico de HAS mesmo com no exame de glicemia sérica plasmática. Vendo que não
medida isolada de PA nesse caso. constam exames prévios no prontuário de Edberto, você,
Explicação: então, solicita exames laboratoriais para avaliação meta-
O diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) bólica e agenda o retorno. Após um mês, Edberto retorna
é definido quando há registro de pressão arterial (PA) com os exames complementares, que trazem glicemia de
elevada em, pelo menos, duas medidas em encontros jejum de 160 mg/dl, HbA1c = 8,0%, Colesterol Total =
clínicos diferentes. Algumas diretrizes mais rigorosas 270 mg/dl, HDL = 30 mg/dl, Triglicerídeos séricos = 300
indicam a monitorização ambulatorial da PA (MAPA) mg/dl. Não havia alterações em eletrólitos, nem alterações
ou a monitorização residencial da PA (MRPA) como sugestivas de nefropatia diabética ou doença coronariana
padrão-ouro para o diagnóstico. A MAPA tende a isquêmica. Assinale a alternativa que contempla a opção
corrigir o sobrediagnóstico e pode ser custo-efetiva. A terapêutica adequada quanto à hiperglicemia.
medida no consultório pode estar alterada por diversos A) Orientar mudanças de estilo de vida (MEVs) e re-
fatores – falta de tempo para técnica correta, ansieda- torno em seis meses com os mesmos exames labora-
de, dor ou desconforto. O diagnóstico de HAS é feito toriais para nova avaliação.
quando há PA média após medidas acima de 140/90. B) Introduzir Metformina associada a MEVs. A as-
Como a PA pode ter alta variabilidade, o diagnóstico, sociação de um segundo antidiabético pode ser
em geral, não deve se basear na medida da PA isolada considerada e pactuada individualmente.
em consulta médica. Situações de exceção, em que já se C) Iniciar a Insulinoterapia plena para o controle gli-
poderia estabelecer diagnóstico, são a presença de PA cêmico precoce de imediato. Depois, descalonar
substancialmente elevada (HAS estágio 3) ou diagnós- para terapia oral associada a MEVs.
tico estabelecido de lesão de órgão-alvo (LOA) ou de D) Iniciar terapia farmacológica em esquema de Insu-
doença cardiovascular. linoterapia Basal Plus: (Insulinoterapia Basal + In-
sulinoterapia Prandial + Hipoglicemiantes orais).
174 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A) INCORRETA. Edberto é obeso (IMC de 38) e


apresenta já níveis moderados de glicemia média.
Dessa forma, se houver boa aceitação do paciente,
metformina pode ser introduzida já ao diagnóstico,
pelo seu efeito na perda de peso e melhores desfe-
chos nesses casos.
B) CORRETA. Em caso de níveis moderados de gli-
cemia ao diagnóstico, com HbA1c entre 7,5% e
9,0%, pode-se iniciar antidiabético oral em con-
junto com as MEVs, podendo ser associado já um
segundo fármaco a depender da aceitação e moti-
vação do paciente.
C) INCORRETA. Em geral, reserva-se o início de
insulinoterapia plena no momento do diagnóstico
para os casos em que já glicemia > 300 e/ou sinto-
mas importantes de hiperglicemia.
D) INCORRETA. Nesses níveis de glicemia, é pos-
sível tentar o uso de antidiabéticos orais antes da
introdução da insulina.
Explicação:
No tratamento do Diabetes Mellitus (DM) , as mu-
danças de estilo de vida (MEVs), que incluem dieta
adequada, atividade física regular, aconselhamento so-
bre o uso de álcool, tabaco e outras drogas, têm efeito
sobre o controle glicêmico semelhante aos antidiabé-
ticos orais, além de reduzirem o risco cardiovascular
global. A adequação da alimentação associada à prática
regular de atividades físicas são consideradas terapias de
primeira escolha para DM.
A metformina é o fármaco de escolha para pessoas com
sobrepeso e obesidade, uma vez que não causa hipogli-
cemia, pode promover discreta perda de peso e exerce
efeito na redução de LDL e triglicérides. É recomenda-
do o seguinte fluxograma para tratamento:
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 175

Define-se como 7% a meta de HbA1c para adultos QUESTÃO 79


com diabetes e na ausência de gravidez. Para pessoas
com diagnóstico recente, longa expectativa de vida, Em um turno de demanda programada na Unidade,
sem doenças cardiovasculares (DCVs) e pouco risco Vanusa, irmã de Vanessa, traz dona Benzarina para
de hipoglicemias pode-se ser mais rígido, com metas atendimento. A consulta é para mostrar exames so-
de HbA1c entre 6,0 e 6,5%. Entretanto, para crianças, licitados há seis meses. O registro no prontuário traz
adolescentes, idosos fragilizados e pessoas com expec- “síndrome demencial com predominância de disfun-
tativa de vida limitada, um controle mais flexível com ção executiva, sintomas neurológicos focais, síndrome
HbA1c entre 7,5 e 8,5% pode ser aceito. pseudobulbar e início precoce de alteração de marcha”.
A ressonância nuclear magnética de crânio evidencia
Se as metas de controle glicêmico não forem alcançadas acometimento extenso de substância branca, no giro
após três a seis meses de uso de metformina, pode ser do cíngulo, no lobo temporal medial e no tálamo. As-
associada ao tratamento uma sulfonilureia. Elas tam- sinale a alternativa com o diagnóstico mais provável.
bém podem ser utilizadas como primeira escolha quan-
do há perda de peso e teores glicêmicos mais elevados. A) Demência vascular.
B) Demência de Alzheimer.
Se o controle metabólico não for alcançado ainda as-
sim, com a associação desses fármacos por três a seis C) Demência frontotemporal (DFT).
meses, deve ser considerada uma terceira medicação, D) Demência por corpúsculo de Lewy.
que pode ser a insulina. A insulina também também
pode ser iniciada antes quando os níveis de glicose plas- A) CORRETA. A presença de disfunção executiva, iní-
mática estiverem maiores de 300 mg/dL na primeira cio precoce de alteração de marcha e sintomas neu-
avaliação ou no momento do diagnóstico, principal- rológicos focais, além do acometimento, em exame
mente se a pessoa apresentar sintomas pronunciados de imagem, de substância branca cerebral (leucoa-
de hiperglicemia. raiose) falam a favor de uma demência vascular.
B) INCORRETA. Em geral, na demência de Alzhei-
Take-Home Message: mer é mais marcante o comprometimento da me-
mória, que não é descrito nesse caso, enquanto a
No tratamento de DM, lembre da importância das mu- disfunção executiva costuma ser vista em fases mais
danças de estilo de vida, que são consideradas primeira tardias. A apraxia também costuma aparecer nas fa-
escolha ao diagnóstico. Em geral, em níveis glicêmicos ses mais avançadas.
menores, recomenda-se iniciar com MEVs por três me-
C) INCORRETA. A maioria dos casos de demência
ses antes de avaliar introdução de hipoglicemiante oral.
frontotemporal se apresenta com alteração de com-
Em pacientes com sobrepeso ou obesidade, pode já ser
portamento, em que há inadequação social, compor-
iniciada metformina. Além disso, quando há níveis
tamento excessivamente desinibido. Outras apresen-
moderados de glicemia ao diagnóstico, com HbA1c
tações iniciam com problemas em linguagem, mas
entre 7,5% e 9,0%, pode-se iniciar antidiabético oral
não são compatíveis com o quadro descrito.
em conjunto com as MEVs, podendo ser associado já
um segundo fármaco a depender da aceitação e motiva- D) INCORRETA. A demência por corpúsculo de
ção do paciente. Para glicemias > 300 e/ou sintomas de Lewy está associada a parkinsonismo (bradicinesia,
hiperglicemia pronunciados ao diagnóstico, recomen- rigidez, tremor de repouso e/ou instabilidade cor-
da-se a introdução de insulina plena, que pode perma- pural) espontâneo associado a demência de início
necer ou ser retirada após. após os 65 anos de idade, sem os achados de ima-
gem de demência microvascular.
176 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Explicação: QUESTÃO 80
A demência vascular está entre as principais causas de Após o atendimento de dona Benzarina, Vanusa per-
demência no Brasil. É importante ressaltar que a mino- gunta se você poderia fazer “uma consulta rapidinha”
ria dos casos tem uma história clássica de AVE ou sinais dela. Por Vanusa ser a cuidadora principal de sua mãe,
de hemiparesia. quase não podendo vir à UAPS, e pela própria história
Em geral, as primeiras manifestações de demência vascu- clínica de AVC precoce de Vanusa, você acolhe a solici-
lar são a disfunção executiva do tipo “lentificação do ra- tação dela. Vanusa vem com queixa de sangramento re-
ciocínio”, que muitas vezes não é trazida como problema gular, mas intenso, desde menarca, que se intensificou
pela família, a incontinência urinária do tipo urgência e nos últimos 10 anos e passou a ser irregular.
a apraxia de marcha. O déficit de memória é despropor- Consultando o prontuário, você vê que a USG pélvi-
cionalmente pequeno, se comparada a outras etiologias ca transvaginal realizada há seis meses não evidenciou
de demência. A apraxia de marcha inclui a marcha de nenhuma alteração estrutural. Você realiza exame gine-
passos curtos e a falência em iniciar a marcha (chama- cológico, sem evidenciar nenhuma lesão vaginal e sem
da de festinação) ou ainda qualquer outra anormalidade nenhuma alteração em exame especular. Qual opção
neurológica da marcha que não exclusivamente atáxica. terapêutica seria adequada para a queixa de sangramen-
O diagnóstico deve ser estabelecido quando um indi- to uterino de Vanusa?
víduo com quadro demencial apresentar algum dos se- A) Anticoncepcional oral combinado.
guintes achados:
B) Dispositivo intrauterino (DIU) de cobre.
• Sinal de lesão cortical focal ou em outro domínio, C) Dispositivo intrauterino com sistema de liberação
como linguagem ou visuoespacial, após episó- prolongada de levonorgestrel.
dio agudo.
D) Encaminhamento para ambulatório de ginecologia
• História confirmada de AVE para programação de histerectomia eletiva.
• Apraxia de marcha do tipo pequenos passos de
início insidioso (na ausência de outras causas A) INCORRETA. Devido ao antecedente de AVC
de parkinsonismo) de Vanusa, o anticoncepcional oral combinado é
• Exame de imagem confirmando ao menos uma nível 4 (contraindicado) de acordo com classifica-
área de necrose causada por AVE e/ou leucoaraiose ção da OMS.
periventricular significativa B) INCORRETA. O DIU de cobre não é usado para
tratamento de sangramento uterino anormal. Pelo
contrário, muitas vezes é associado com aumento
Take-Home Message: de sangramento menstrual.
A demência vascular está entre as principais causas de C) CORRETA. O DIU com liberação de levonor-
demência no Brasil. É importante ressaltar que a mino- gestrel pode ser usado para tratamento de sangra-
ria dos casos tem uma história clássica de AVE ou sinais mento uterino anormal na ausência de lesão estru-
de hemiparesia. tural, quando há suspeita de disfunção ovulatória.
Em geral, as primeiras manifestações de demência vas- D) INCORRETA. Não há indicação de histerectomia
cular são a disfunção executiva do tipo “lentificação do nesse caso. Foi afastada presença de lesão estrutural.
raciocínio”, incontinência urinária do tipo urgência e a
apraxia de marcha. O déficit de memória é despropor-
cionalmente pequeno.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 177

Explicação:
No planejamento familiar e mesmo no uso para tra-
tamento de sangramento uterino anormal, é sempre
importante lembrar as indicações e contraindicações
dos métodos contraceptivos. Nessa questão, esse era
o principal conhecimento cobrado, uma vez que, na
ausência de lesão estrutural, poderia ser usado tanto o
contraceptivo oral combinado quanto um método com
progestágeno isolado.
A OMS criou uma classificação de indicação e con-
traindicação de contraceptivos, em que os métodos são
classificados como seguros (C1), provavelmente segu-
ros (C2), provavelmente inseguros (C3) ou contraindi-
cados para a situação em análise (C4).
Vamos destacar as seguintes contraindicações (C4) para
contraceptivo combinado (oral, injetável ou mesmo
em adesivo ou anel vaginal): Mulheres amamentando;
tabagistas de 15 ou mais cigarros ao dia; Hipertensas
não controladas ≥ 160/100mmHg; enxaqueca com
aura; antecedente ou quadro atual de: TVP, TEP, AVE,
doença coronariana.
Segue tabela para análise:
178 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Take-Home Message: mialgia, cefaleia ou artralgia. Já a Síndrome Respira-


É sempre importante lembrar as indicações e contrain- tória Aguda Grave (SRAG) ocorre em pacientes com
dicações dos métodos contraceptivos. síndrome gripal que apresentam sinais de gravidade:
dispneia, desconforto respiratório, Saturação de O2
Vamos destacar as seguintes contraindicações (C4, de <95% ou exacerbação de doença pré-existente.
acordo com classificação da OMS) para contraceptivo
combinado (oral, injetável ou mesmo em adesivo ou Na gravidez, especificamente, devemos lembrar que di-
anel vaginal): Mulheres amamentando; tabagistas de 15 versas modificações ocorrem nos mais variados órgãos e
ou mais cigarros ao dia; Hipertensas não controladas ≥ sistemas. No que tange ao sistema respiratório, observa-se
160/100mmHg; enxaqueca com aura; antecedente ou ingurgitamento capilar venoso nas vias aéreas superiores,
quadro atual de: TVP, TEP, AVE, doença coronariana. causando modificações na voz, dificultando a respiração
pela maior congestão nasal. Além disso, há diminuição
gradativa do volume de reserva expiratório (VRE), do
QUESTÃO 81 volume residual (VR) e da capacidade residual funcional
(CRF); há aumento do volume-minuto. Estas alterações
Gestante, de 29 anos, com 34 semanas de idade gesta- levam a um aumento da frequência respiratória com per-
cional, comparece à emergência preocupada por achar cepção de maior cansaço durante a gravidez.
estar com Covid-19, referindo adinamia, congestão na-
sal e dispneia leve, principalmente ao deitar. Seu exame Vamos às alternativas:
mostrou saturação de oxigênio de 96% em ar ambien-
te, frequência respiratória de 23 irpm, temperatura axi- A) INCORRETA: paciente não apresenta critérios
lar de 37,2 °C e ausculta pulmonar com murmúrios ve- para síndrome gripal
siculares diminuídos nas bases bilateralmente. Marque B) CORRETA: devido às modificações do sistema
o item que contém sua hipótese diagnóstica e conduta. respiratório, espera-se naturalmente maior con-
A) Síndrome gripal. Internamento hospitalar, monito- gestão nasal e desconforto respiratório, entretan-
rização e tratamento clínico até resultado de exames to, não se pode afastar a possibilidade de infecção
confirmatórios de Covid-19. pela COVID-19, devendo ser orientada quanto a
medidas de isolamento e sinais de alarme
B) Gestação fisiológica. Orientações a respeito de uso
de máscara, distanciamento social e sintomas de C) INCORRETA: como já dito, não se enquadra
alarme para doença respiratória. como caso de síndrome gripal
C) Síndrome gripal. Coleta de secreções respiratórias D) INCORRETA: a SRAG deve ser considerada em
para PCR-RT de covid-19 e liberação para isola- pacientes com síndrome gripal e com sinais de alar-
mento em domicílio usando oseltamivir. me; nenhum dos dois cenários se enquadram no
caso em tela
D) Síndrome respiratória aguda grave. Internamento
para monitorização e interrupção da gestação por
cesárea, após corticoide para maturação pulmonar. Take-Home Message:

Resposta correta: Letra B • Síndrome Gripal = febre + algum outro sintoma res-
piratório
Para definição de Síndrome Gripal, considera-se o in- • SRAG = febre com sinais de alarme
divíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado • Modificações fisiológicas respiratórias durante a
por febre (mesmo que referida) acompanhada de tos- gravidez incluem aumento da frequência respirató-
se ou dor de garganta e pelo menos um dos sintomas: ria e congestão nasal, mas não alteram sinais vitais
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 179

QUESTÃO 82 Glicemia de jejum: 

Os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) 92 - 125 ⇒ diabetes mellitus gestacional (DMG)
definem cuidado pré- concepcional como “um conjun- >125 ⇒ diabetes prévio
to de intervenções que visam identificar e modificar ris-
Entre 24 e 28 semanas está indicado o Teste Oral de
cos biomédicos, comportamentais e sociais para a saú-
Tolerância à Glicose (TOTG), onde se avalia a glicemia
de ou o resultado da gestação por meio de intervenções
de jejum, após isso, a paciente ingere 75g de glicose e
profiláticas e terapêuticas ” (Johnson, 2006). Dentre
é submetida a nova aferição da glicemia em 1 hora e
os cuidados prestados durante o pré-natal destacam-se
2 horas.
o rastreio para a Diabetes Mellitus e a profilaxia desta
patologia. Desta maneira, é correto afirmar: Glicemia de jejum: 
A) Estabelecer o diagnóstico do Diabetes Mellitus <92 ⇒ normal
Gestacional (DMG) oferece a oportunidade de 92 - 125 ⇒ DMG
melhorar o prognóstico da gravidez, mas não reduz
os fatores de risco associados ao desenvolvimento >125 ⇒ diabetes prévio (overt diabetes)
subsequente do diabetes tipo 2. 1h após:
B) O diabetes pré-gestacional merece ser identificado <180 ⇒ normal
na 1a consulta pré-natal, pois compromete a mãe e
o feto. Mulheres diabéticas que desejam engravidar, ≥ 180 ⇒ DMG
devem ser avaliadas apenas se apresentarem história 2h após:
de mal passado obstétrico.
<153 ⇒ normal
C) Grávidas de alto risco para diabetes que apresentam
no 1o trimestre valor da HbA1c ≥ 6% têm reduzi- ≥ 153 a 199 ⇒ DMG
do valor preditivo para Diabetes Mellitus Gestacio- ≥ 200 ⇒ diabetes prévio.
nal. Mulheres com diabetes tipo 1 que pretendam O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é uma do-
engravidar devem passar por avaliação da tireoide ença com prevalência progressivamente maior entre as
pela determinação do TSH e do anticorpo anti-ti- gestantes, uma vez que diversos fatores de risco para seu
reoperoxidase (anti-TPO). desenvolvimento estão mais prevalentes na população,
D) Toda mulher com Diabetes Mellitus Gestacional tais como sobrepeso e obesidade. No que se refere ao
(DMG) deve ser rastreada entre 6 e 12 semanas impacto para a gestação em si, não há associação com
após o parto pelo TOTG-75 g de 2h. Diabéticas malformações fetais pois é uma doença que se desen-
que planejam a gravidez, devem ser aconselhadas volve na gravidez, podendo ocorrer, por exemplo, após
a utilizar suplementação com ácido fólico 3 meses 12 semanas (período crítico para embriogênese).
antes da concepção e por 12 semanas depois, para
prevenir os defeitos do tubo neural (DTN). Quanto às malformações, em geral, as condições pré-
-existentes são as que mais chamam atenção e preocu-
Resposta correta: Letra D pam, como é o caso de DM tipo 1 e 2. Nestes casos
está indicada a suplementação de ácido fólico antes da
Um dos exames obrigatórios no pré-natal é a dosagem concepção (03 meses), devendo ser mantida até, pelo
de glicemia de jejum, idealmente, no primeiro trimes- menos, 12 semanas de gestação, com intuito de preve-
tre. Este exame é muito importante para diagnóstico nir defeitos do fechamento do tubo neural. Além disso,
de diabetes mellitus gestacional, bem como avaliação é imperativo que os níveis glicêmicos estejam bem con-
clínica de pacientes diabéticas prévias. trolados a fim de minimizar os riscos para o concepto.
180 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

As pacientes com DMG apresentam alto risco de QUESTÃO 83


manutenção de intolerância à glicose no pós parto e,
parte, mantém-se diabética no pós parto (DM2). Por- A residente B.M.W. chega ao plantão obstétrico em hos-
tanto, recomenda-se que toda paciente com dMG, in- pital terciário recebendo de seu colega médico, em pas-
dependente do tratamento utilizado na gestação, rea- sagem de plantão, a história da paciente N.A.S.A., 16
lize o TOTG a partir de 06 semanas pós parto (fim anos, primigesta com idade gestacional de 34 semanas,
do puerpério) apresentando quadro de elevação dos níveis pressóricos,
PA: 160x100mmhg, Ausculta Fetal com BCF: 180bpm,
dinâmica uterina ausente, em uso de sonda vesical de
Vamos às alternativas:
demora, sem apresentar diurese nas últimas 3 horas
A) INCORRETA: em geral o DMG está associado a No momento da passagem do caso, a paciente encontra-
outros fatores de risco modificáveis para o DM2, va-se em uso da 2a fase de sulfato de magnésio (MgSO4),
como sobrepeso e obesidade. Dessa forma, ao diag- iniciado no momento de sua internação, motivada pelo
nosticar e tratar o DMG é possível minimizar os quadro descrito em associação com cefaleia occipital,
riscos de DM2 no futuro. vômitos persistentes e alterações visuais (escotomas e
B) INCORRETA: toda paciente com diabetes (bem amaurose). A conduta adequada a ser tomada é:
como quaisquer outras comorbidades) e que deseja
A) Manter a infusão de sulfato de Magnésio 50%,
engravidar merece ser avaliada na consulta pré-con-
visando prevenir crises convulsivas, AVC e edema
cepcional quanto ao controle clínico da doença, va-
agudo de pulmão.
cinação, suplementação vitamínica etc
B) Administrar hidralazina 5 mg, EV, para tratar o
C) INCORRETA: um valor de HbA1c >6% aumenta
pico pressórico e betametazona 12 mg, IM, para
o risco de DMG, portanto é tem alto valor prediti-
promoção da maturação pulmonar fetal.
vo positivo para a doença.
C) Confirmar a vitalidade fetal pela ultrassonografia
D) CORRETA
obstétrica com doppler e resolver a gestação via va-
ginal, através de indução com misoprostol.
Take-Home Message: D) Administrar nifedipina 20 mg, via oral, para tra-
• Toda grávida deve ser rastreada para diabetes no tar pico pressórico e solicitar hematócrito, hemo-
pré-natal globina, contagem de plaquetas, creatinina, TGO,
LDH, TP, TTPa, fibrinogênio e relação proteína
• Nas consultas pré-concepcionais, preconiza-se con-
creatinina, para avaliar lesões de órgãos alvo.
trole clínico de comorbidades existentes, suplemen-
tação vitamínica adequada e vacinação Resposta correta: Letra B
• O controle adequado do DMG durante a gesta-
ção minimiza os riscos para o binômio mãe-feto, Pré-eclâmpsia é definida classicamente por hiperten-
além de minimizar riscos pós natais de evolução são arterial (≥ 140 e/ou 90 mmHg) identificada pela
para DM2 primeira após a 20ª semana associada à proteinúria
significativa (>300mg/24h) e/ou edema. Entretanto,
atualmente admite-se tal diagnóstico se o estado hiper-
tensivo estiver acompanhado de comprometimento sis-
têmico ou disfunção de órgãos-alvo (trombocitopenia,
disfunção hepática, insuficiência renal, edema agudo
de pulmão, iminência de eclâmpsia ou eclâmpsia), ain-
da que na ausência de proteinúria.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 181

A Pré-Eclâmpsia é considerada grave sempre Os rins são os principais reguladores da concentração


que houver: sérica do magnésio, já que quase a totalidade da droga
• Pico pressórico ≥ 160 e/ou 110 mmHg; é excretada pela, atenção deve ser dada ao fato de que o
magnésio não é nefrotóxico, entretanto, caso haja al-
• Iminência de eclâmpsia: cefaleia + escotomas visu- gum comprometimento da função renal, sua excreção
ais + epigastralgia associada a pico pressórico; poderá estar diminuída e a paciente apresenta maiores
• Eclâmpsia: convulsões tônico-clônico generalizadas riscos de intoxicação. Os efeitos colaterais maternos são
em paciente com pré-eclâmpsia; dependentes da adequação das doses e da velocidade
de infusão e aqueles mais frequentes (rubor, sudorese,
• Oligúria: diurese <500ml/24h;
náuseas, sonolência, cefaleia e visão borrada) são tran-
• Lesão renal aguda: Creatinina ≥ 1,2 mg/dL; sitórios e de menor gravidade. As doses de manuten-
• Edema agudo de Pulmão; ção só devem ser administradas após avaliação clínica
obrigatória da toxicidade do MgSO4, que deve ser re-
• Síndrome HELLP: hemólise (LDH >600UI/L alizada a cada uma ou duas horas e incluir a presença
ou BT>1,2mg/dL + TGO/TGP > 70 + Plaquetas do reflexo patelar, a frequência respiratória (normal
<100.000/mm³). >12-16irpm) e o débito urinário (>25ml/h).
Os sinais e sintomas da pré-eclâmpsia grave muitas ve-
zes são transitórios e a paciente pode ter sua comple- Vamos às alternativas
ta reversão clínica após adequado controle pressórico,
portanto, o parto só estará indicado em casos de dete- A) INCORRETA: paciente está sem diurese, portanto
rioração ou de refratariedade clínicas, a saber: deve ter a infusão de sulfato de magnésio interrom-
pida pelo maior risco de toxicidade
• Síndrome HELLP; B) CORRETA: paciente ainda com pico pressóri-
• Eclâmpsia; co, portanto, deve ser administrada hidralazina
• Descolamento prematuro de placenta; via endovenosa para controle de pressão arterial
e avaliação de sua resposta (lembrar que a sinto-
• Edema agudo de pulmão/comprometimento matologia tende a melhorar após controle da PA).
cardíaco; O melhor período para uso da corticoterapia para
• Alterações laboratoriais progressivas (trombocito- amadurecimento pulmonar é antes das 34sema-
penia, elevação de enzimas hepáticas); nas, porém alguns estudos apontam benefícios se
for feita após esse período.
• Insuficiência renal evidenciada, principalmente,
por elevação progressiva dos níveis de ureia e creati- C) INCORRETA: o parto estará indicado se houver
nina, oligúria e anasarca; alteração de vitalidade fetal, entretanto, caso isso
ocorra deverá ser pela via mais rápida; consideran-
• Alterações na vitalidade fetal. do que a paciente está fora de trabalho de parto,
O sulfato de magnésio é a droga de escolha para os casos seria indicada a cesariana.
de iminência de eclâmpsia, eclâmpsia, síndrome HELLP, D) INCORRETA: a solicitação de exames até está in-
pré-eclâmpsia com deterioração clínica e/ou laboratorial dicada a fim de avaliar comprometimento sistêmi-
(incluindo hipertensão de difícil controle) ou se uma pa- co (lesões de órgão-alvo), porém a nifedipina de-
ciente com pré-eclâmpsia grave entrar em trabalho de moraria horas para surtir efeito, a paciente está com
parto. Deve ser administrada quando do diagnóstico pico e necessita de controle o mais rápido possível
(iminência, eclampsia, síndrome HELLP, pré-eclâmpsia para que não tenha piora clínica.
grave em trabalho de parto) até 24h após o parto.
182 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Take-Home Message: O medo da dor no trabalho de parto ainda é um fator


• Pico pressórico sintomático sempre deve fazer pen- que motiva muitas mulheres a buscarem pela cesaria-
sar em pré-eclâmpsia grave na. Desde o pré-natal deve ser esclarecido às pacientes
quanto a possibilidade de oferta de medidas farmacoló-
• Sulfato de magnésio é a maneira mais eficaz em pre- gicas, ou não, para alívio da dor no trabalho de parto.
venir complicação/deterioração clínica da paciente
(evitando evoluir para eclâmpsia) Diversas medidas não farmacológicas para alívio da dor
podem e devem ser oferecidas às parturientes, confor-
• O parto só está indicado se deterioração ou refra- me disponibilidade na maternidade, a saber: imersão
tariedade clínicas e, nesses casos, a via de parto é a em água, acupuntura, técnicas de massagem, escalda-
mais rápida (não necessariamente cesárea) -pés, meditação, músicas relaxantes. Idealmente devem
ser oferecidos antes da utilização de medidas invasivas e
não estão relacionados a efeitos colaterais.
QUESTÃO 84
A estimulação elétrica transcutânea é uma técnica uti-
Paciente, 23 anos, G1P0A0, em seguimento pré-natal lizada para alívio da dor e consiste na aplicação de ele-
na Unidade Básica de Saúde, mostra-se preocupada acer- trodos cutâneos superficiais que emitem uma corrente
ca da dor durante o trabalho de parto e as formas mais elétrica com o objetivo de modular as respostas das fi-
adequadas de seu alívio e aborda seu prenatalista sobre a bras nervosas visando levando a menor percepção de
maneira mais indicada de se conduzir diante desta situa- dor. Esse método não deve ser indicado para pacientes
ção. Identifique a melhor orientação a ser dada. em trabalho de parto, pois não se mostrou eficaz na re-
A) A pré-hidratação, acesso venoso periférico e manu- dução da dor e da necessidade de medicação analgésica.
tenção de decúbito lateral são obrigatórios durante As medidas farmacológicas para alívio da dor da par-
todo o tempo em que a paciente estiver sob analge- turiente incluem analgesia inalatória, intramuscular,
sia peridural. endovenosa e a regional (raquianestesia, peridural ou
B) A solicitação materna por analgesia farmacológica duplo-bloqueio). A solicitação materna por analgesia
de parto não compreende indicação suficiente para de parto já configura indicação suficiente para que a
sua realização. Avaliação e prescrição conjunta, de mesma seja administrada, especialmente, se já esgota-
obstetra e anestesista, deve ser sempre realizada e das as medidas não farmacológicas.
todos os métodos não farmacológicos devem ter
sido esgotados previamente.
C) Os métodos não farmacológicos de alívio da dor, tais
como imersão em água, áudio- analgesia e aromatera-
pia, devem ser oferecidos à mulher antes da utilização
de métodos farmacológicos, pois constituem interven-
ções não invasivas e sem descrição de efeitos colaterais.
D) Os métodos não farmacológicos de alívio da dor tais
como imersão em água, áudio- analgesia, aromate-
rapia, injeção de água estéril, estimulação elétrica
transcutânea e acupuntura, devem ser sempre ofere-
cidos à parturiente, já que se tratam de intervenções
não invasivas e sem descrição de efeitos colaterais.
Resposta correta: Letra C
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 183

Vamos às alternativas QUESTÃO 85


A) INCORRETA: apesar de o acesso venoso ser neces- A prematuridade permanece, nos dias atuais, como
sário durante a aplicação de analgesia regional, não sério problema perinatal, sendo responsável por cerca
se deve administrar pré-hidratação de rotina. Além de 75% de toda a morbidade e mortalidade neonatais
disso, a paciente deve ser estimulada a se movimen- (Blencowe et al., 2013; ACOG, 2016). Com relação ao
tar durante o trabalho de parto, não devendo ficar Trabalho de Parto Prematuro, é correto afirmar:
em uma mesma posição A) O nifedipino é o fármaco de primeira escolha para
B) INCORRETA: a solicitação de analgesia pela par- inibir o parto pré-termo, por apresentar as seguin-
turiente já é condição suficiente para que a mesma tes vantagens: via oral de administração, poucos
seja realizada. efeitos colaterais e eficácia em reduzir as complica-
C) CORRETA ções neonatais. A indometacina também pode ser
D) INCORRETA: a estimulação elétrica transcutânea utilizada, especialmente após a 32ª semana.
não deve ser realizada em parturientes B) O uso de tocolítico visa prolongar a gestação por 48
h enquanto se aguardam os efeitos benéficos do cor-
Take-Home Message: ticoide e se transfere a paciente para maternidade de
nível terciário. A manutenção do tratamento tocolí-
• O medo da dor durante o trabalho de parto confi- tico acima de 48 h, também é eficaz em prevenir o
gura grande medo para muitas gestantes o que está parto prematuro e melhorar o prognóstico neonatal.
relacionado a maior taxa de cesáreas. C) O sulfato de magnésio (MgSO) utilizado para a
• Medidas não farmacológicas para alívio da dor de- neuroproteção fetal está indicado na gestação entre
vem ser oferecidas para todas as parturientes, con- 23+0 e 31+6 semanas quando há risco de parto nos
forme disponibilidade próximos 7 dias. A profilaxia antibiótica intrapar-
• O simples desejo materno por medidas farmacoló- to (PAI) contra estreptococo do grupo B (GBS) é
gicas, é indicação suficiente para que a mesma seja obrigatória, a menos que a cultura vaginorretal te-
oferecida e administrada nha sido negativa nas últimas 5 semanas.
D) O corticoide é capaz não só de reduzir a incidên-
cia de Síndrome da Angústia Respiratória (SAR)
como também de outras complicações no recém-
-nascido, tais como hemorragia intraventricular,
retinopatia da prematuridade, enterocolite necro-
sante, persistência do canal arterial e, o que é mais
importante, a taxa de mortalidade neonatal. O re-
pouso no leito e a hidratação de nada servem para
a prevenção do parto prematuro.
Resposta correta: Letra D

Os principais agentes tocolíticos citados na literatura


são os betamiméticos (beta 2 adrenérgicos, principal-
mente terbutalina, salbutamol e ritodrina), bloqueado-
res de canais de cálcio (com destaque para a nifedipina),
inibidores da síntese de prostaglandinas (inibidores da
184 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

cicloxigenase, como a indometacina), sulfato de mag- balho de parto prematuro


nésio e os antagonistas de receptores de ocitocina (atosi-
ban). Os de primeira linha são: terbutalina, nifedipina Take-Home Message:
e o atosiban. A indometacina e o sulfato de magnésio
não devem mais ser utilizados com esse objetivo frente • Tocolíticos de primeira linha são: betamiméticos
aos efeitos colaterais relevantes e à baixa eficácia asso- (indometacina), bloqueador do canal de cálcio
ciados ao seu uso. (nifedipino) e antagonista dos receptores de oci-
tocina (atosiban)
O objetivo da tocólise não é só inibir as contrações
uterinas, mas principalmente ganhar tempo suficiente • O tempo de tocólise deve ser 48h a fim de permitir
para transferir a gestante para um centro de referência, transferência da paciente para Unidade de referên-
bem como permitir o uso oportuno de corticosteroides cia e permitir administração do corticoide
para indução de maturidade pulmonar fetal a fim de • Sulfato de magnésio para neuroproteção fetal pode
diminuir os agravos neonatais da prematuridade. Até ser administrado até 31sem6d (<32sem) na imi-
o momento, a recomendação mais bem aceita é que nência de a paciente evoluir para parto.
se mantenha a tocólise por 48h, pois não se mostrou
haver grandes benefícios da mesma em período supe-
rior a este. Além do amadurecimento pulmonar, alguns QUESTÃO 86
estudos relacionam o uso de corticosteroides à redução
da morbimortalidade neonatal com redução de hemor- Gestante de 34 anos, G1P0A0, realizou fertilização in
ragia intraventricular, retinopatia da prematuridade e vitro, comparece à segunda consulta de pré-natal com
enterocolite necrotizante. ultrassom revelando gestação gemelar dicoriônica no
curso da 8ª semana. Qual das afirmativas não é verda-
O sulfato de magnésio tem sido usado como neuro- deira em relação a esta gestação?
protetor fetal, casos de sinais de parto iminente, espe-
cialmente <32semanas, devendo ser administrado até o A) 70-75% das gestações gemelares são dizigóticas, sendo
parto ou por 24h, o que ocorrer antes. estas dicoriônicas e diamnióticas em 100% dos casos.
B) O seguimento pré-natal desta gestação deve ser re-
Vamos às alternativas: alizado de forma mensal, até a 28ª semana, a cada
2-3 semanas a partir da 28ª semana e, semanal, a
A) INCORRETA: a indometacina não é medicação partir da 36ª semana.
de primeira linha para tocólise e, quando adminis- C) Após a prematuridade, a complicação mais fre-
trada no 3ºtrimestre aumenta substancialmente o quente da gravidez gemelar dicoriônica é a síndro-
risco de fechamento do canal arterial me da transfusão feto fetal (STFF), sendo impor-
B) INCORRETA: não há grandes evidências que se- tante causa de morbimortalidade perinatal.
jam favoráveis à manutenção da tocólise por perío- D) O rastreamento ultrassonográfico da gestação ge-
do superior a 48h. melar dicoriônica, se faz entre a 11ª e 14ª semana
C) INCORRETA: o uso de sulfato de magnésio para para datação e rastreamento de cromossomopatias
neuroproteção fetal deve ser feito se a paciente esti- e entre a 20ª e 22ª semana para avaliação detalhada
ver na iminência de evoluir para parto e não até 07 da anatomia fetal e comprimento do colo. Após a
dias, como diz a alternativa. 24ª semana, realiza-se a cada 30 dias para avaliar o
D) CORRETA: apesar de ser costumeiramente re- crescimento, o líquido amniótico e doppler fetal.
comendada, não há correlação clara relação entre
Resposta correta: Letra C
repouso e hidratação venosa na prevenção ao tra-
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Classificação: Dentre as complicações das gestações múltiplas, certa-


Quanto à zigoticidade mente a prematuridade é a mais comum, ocorrendo em
cerca de 50% dos casos. A depender do tipo de gesta-
• Gestações monozigóticas: resultam da divisão de ção múltipla, algumas outras complicações específicas
massa embrionária inicial comum, gerando produ- podem surgir, como é o caso da síndrome de transfusão
tos conceptuais com carga genética idêntica. Re- feto-fetal que só ocorre em gestações monocoriônicas.
presentam de 25% a 30% das gestações gemelares
naturalmente concebidas. O seguimento ultrassonográfico das gestações dicoriô-
nicas pode ser visto na figura abaixo:
• Gestações polizigóticas: resultam da fecundação de
mais de um óvulo e geram produtos conceptuais
com materiais genéticos distintos. Representam de
70 a 75% dos casos.
Quanto à corionicidade:
• Gestações dicoriônicas diamnióticas: quando a di-
visão do blastocisto ocorre até 72 horas após a fer-
tilização e cada massa embrionária desenvolve cório
e âmnio próprios.
• Gestações monocoriônicas diamnióticas: quando
a divisão do blastocisto ocorre entre o quarto e o
oitavo dia após a fertilização e a diferenciação das
células que dão origem ao cório já ocorreu, as mas-
sas embrionárias compartilharão a mesma placenta,
mas serão formadas duas cavidades amnióticas.
• Gestações monocoriônicas monoamnióticas: quan-
do a divisão do blastocisto ocorre entre o 8o e o 13o
dia após a fertilização e a placa coriônica e o saco
amniótico já estão formados, então as massas em-
brionárias compartilharão os mesmos cório e âm-
nio. Representam cerca de 1% dos casos. Gestações
monocoriônicas são sempre monozigóticas.
O diagnóstico ultrassonográfico para classificação da
corionicidade pode ser definido com maior acurácia
quando realizado entre 6 semanas e 9 semanas: nas
dicoriônicas há um septo entre os sacos gestacionais e
nas monocoriônicas há somente um saco gestacional.
Já entre 11 e 13 semanas e 6 dias ainda é possível fa-
zer a distinção ultrassonográfica. A projeção do cório
entre os folhetos do âmnio forma o sinal do lambda
nas dicoriônicas e a quando a membrana amniótica se
insere de maneira abrupta na placenta há o sinal do T
nas monocoriônicas.
186 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

Vamos às alternativas: QUESTÃO 87


A) CORRETA A.B.S., 16 anos, G1P0A0, moradora de rua, usuária de
B) CORRETA: a rotina de seguimento pode ser men- álcool, tabaco, maconha e crack é trazida ao pré-natal
sal até 28-30sem e depois com maior frequência, de adolescente pelo serviço social, para acompanha-
pois devemos lembrar que a prematuridade é a mento. Identifique a melhor opção acerca dos efeitos
principal complicação das gestações múltiplas do uso de drogas durante a gestação e melhor maneira
C) INCORRETA: STFF não ocorre em gestações di- de abordagem dos sintomas de abstinência.
coriônicas A) O uso de álcool durante a gestação está associado à
D) CORRETA: afirmativa conceitual e correta. maior ocorrência de parto prematuro, abortamen-
to e natimortos. Uma abordagem multidisciplinar,
com enfoque no tratamento psicossocial e compor-
Take-Home Message: tamental, está indicada no intuito de cessar o uso
• Toda gestação dicoriônica é diamniótica durante o pré-natal, não sendo necessária a intro-
• Toda gestação monocoriônica é monozigótica dução de tratamento medicamentoso.
B) O uso de crack durante a gestação está associado à
• A complicação mais frequente das gestações múlti-
maior ocorrência de parto prematuro, abortamen-
plas é a prematuridade
to e fetos grandes para a idade gestacional. Uma
• Sinal do lamba é típico das gestações dicoriônicas e abordagem multidisciplinar, com enfoque no tra-
sinal do T nas monocoriônicas tamento psicossocial e comportamental, está indi-
cada, sendo necessário o início de tratamento me-
dicamentoso no intuito de cessar o uso durante a
gravidez.
C) O uso de tabaco durante a gestação está associado
à maior ocorrência de baixo peso ao nascimento,
parto prematuro, descolamento prematuro de pla-
centa, abortamento, natimortos e malformações
congênitas. Uma abordagem multidisciplinar,
com enfoque no tratamento psicossocial e com-
portamental, está indicada no intuito de diminuir
ou cessar o uso durante o pré-natal.
D) O uso de maconha durante a gestação está asso-
ciado à maior ocorrência de anemia durante a ges-
tação, porém não demonstra interferência na pre-
maturidade e no peso fetal, ao nascimento. Uma
abordagem multidisciplinar, com enfoque no trata-
mento psicossocial e comportamental está indicada
no intuito de cessar o uso durante o pré-natal, não
sendo necessária a introdução de tratamento medi-
camentoso.
Resposta correta: Letra C
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Na gravidez, as drogas ilícitas mais utilizadas são a ma- Take-Home Message:


conha, merla, cocaína e crack. O uso dessas substâncias • Não há dose mínima segura de drogas para consu-
pode causar problemas perinatais como: nascimento mo durante a gravidez
pré-termo, baixo peso ao nascer, malformações e di-
minuição do perímetro cefálico. As crianças pré-termo • O consumo de drogas na gestação está associado a:
podem levar a alterações musculares, neurológicas e do- abortamento, restrição do crescimento fetal, pre-
enças múltiplas. Analisar o contexto sociocultural que a maturidade, natimorto e malformações fetais.
gestante está inserida é uma necessidade. A dependên-
cia promove um isolamento social do indivíduo, levan-
do à marginalidade e, como consequência, está sujeita QUESTÃO 88
a doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indese- Primigesta, de 27 anos, comparece à emergência de ma-
jada, já que o uso de drogas tem um estreitamento de ternidade em início da fase ativa do trabalho de parto.
relação com o comportamento sexual. Apresenta RT-PCR para Covid-19 positivo do dia an-
Em relação ao álcool, assim como para todas as outras terior. Informa quadro gripal há 6 dias, com adinamia,
drogas, não existe dose segura na gravidez e os prin- odinofagia, anosmia e febre baixa. Nega dispneia. Ao
cipais riscos perinatais são: abortamento, aumento do exame, saturação de oxigênio de 98%. Paciente solicita
risco de natirmoto, de paralisia cerebral, de baixo peso direito a acompanhante e apresenta plano de parto que
ao nascer e de síndrome alcoólica fetal. deseja seguir. Suas orientações, levando em considera-
ção a pandemia do Covid-19, são:
O consumo de tabaco durante a gestação aumenta o
risco de descolamento prematuro de placenta, além A) A Covid-19 é indicação para alterar a via de parto,
de restrição do crescimento fetal, malformações fetais sendo o parto cesáreo a via de parto mais indicada
(fenda labiopalatina), prematuridade, abortamento nesse caso. Durante a realização da cesárea, o plano
e natimorto. de parto da paciente deve ser seguido, com direito a
acompanhante de sua escolha, bem como clampea-
A abordagem terapêutica para o enfrentamento ao con-
mento oportuno do cordão umbilical.
sumo de drogas por gestantes demanda atuação multi-
disciplinar e abordagem psicossocial e, eventualmente, B) Não só a gestante, mas também seu recém-nascido
com necessidade da administração de medicações para e seu acompanhante deverão ser isolados, de pre-
ajuda no controle da abstinência (benzodiazepínicos, ferência em um quarto de alojamento conjunto.
adesivos de nicotina etc). Quando sozinhos no alojamento conjunto com o
recém-nascido, o uso da máscara não se faz necessá-
Vamos às alternativas: rio pela puérpera e pelo seu acompanhante.
C) Privilegiar o aleitamento natural, com liberação da
A) INCORRETA: eventualmente pode ser necessária prática da amamentação, desde que medidas que
a inclusão de terapia medicamentosa para trata- garantam a proteção, tanto da mãe quanto do re-
mento de dependência pelo álcool cém-nascido, sejam seguidas. Puérperas com disp-
B) INCORRETA: o uso de drogas ilícitas está associado neia, podem retirar a máscara enquanto amamen-
a restrição de crescimento fetal e não fetos grandes. tam para conforto materno e melhora da saturação
C) CORRETA de oxigênio.
D) INCORRETA: a prematuridade e alteração no D) Priorizar o parto vaginal, por ser mais seguro a
crescimento fetal são consequências associadas ao gestantes com Covid-19. Deve-se explicar à pa-
uso de maconha na gravidez ciente e aos seus familiares sobre risco de contami-
nação e orientar que o isolamento é a medida mais
188 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

segura. No caso de o acompanhante permanecer, da pela via de parto, clampeamento tardio do cordão
não deve circular nas demais áreas do hospital e umbilical ou contato pele a pele, amamentação ou
precisa usar máscara quando o fizer. alojamento conjunto – desde que as medidas de pre-
caução sejam mantidas.
Resposta correta: Letra D
Não só a gestante que testou positivo, mas também seu
O atendimento de gestantes em trabalho de parto e recém-nascido (RN) e seu acompanhante deverão ser
com COVID19 é sempre desafiador. Devemos estra- isolados, de preferência em um quarto de alojamento
tificá-las conforme a gravidade para oferecimento ade- conjunto. Importante orientar puérperas e acompa-
quado do suporte e assistência. nhantes da necessidade de usar máscara o tempo todo,
a fim de garantir a segurança do RN e da equipe. A
amamentação deve ser estimulada, porém, reforçando
a segurança do RN a partir do uso adequado de más-
caras pela mãe e, de preferência, em ambiente arejado.
A OMS entende que os benefícios do aleitamento ma-
terno superam largamente o baixo risco da transmis-
são vertical.
A gestante que teve RT-PCR positivo com sintomas
há mais de 10 dias e que passe 24 horas de resolução
de febre sem uso de medicamentos antitérmicos e re-
missão dos sintomas respiratórios deve ser considerada
recuperada da covid-19 e, ao internar em trabalho de
parto, pode ser atendida em área NÃO covid-19 e em
alojamento conjunto.
Vamos às alternativas
A) INCORRETA: a via de parto é obstétrica, respei-
tando o quadro clínico da paciente; não há superio-
ridade da cesárea em relação ao parto vaginal para
minimização de riscos de transmissão vertical.
B) INCORRETA: o uso de máscaras deve ser estimula-
do o tempo todo no alojamento conjunto, a fim de
proteção da gestante, de seu acompanhante, do RN
e da equipe, mesmo quando estiverem sozinhos.
C) INCORRETA: dispneia é um critério para que a
paciente seja estratificada, ao menos, como caso
moderado de COVID, portanto, deverá ter medias
de suporte, como O2 suplementar. A simples reti-
Em relação à via de parto de pacientes com COVID, rada de máscara não resolve o problema.
dá-se preferência pela via vaginal desde que as con- D) CORRETA: deve-se manter o isolamento no
dições clínicas da gestante permitam, uma vez que quarto durante todo o período de internação
as evidências disponíveis mostram que a transmissão da paciente.
vertical existe, mas é pouco frequente, e não é afeta-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 189

Take-Home Message: de volume aumentado para a idade gestacional, hipe-


• A via de parto nos casos de infecção pela COVID rêmese gravídica, podendo, ainda, apresentar sintomas
19 é obstétrica de hipertireoidismo.

• A transmissão vertical pode ocorrer, porém não é A estabilização ou ao aumento da concentração de hCG
comum após esvaziamento molar aumenta em muito a possibili-
dade de diagnóstico de neoplasia trofoblástica gestacio-
• Os benefícios do aleitamento materno superam o nal (desde que afastada a possibilidade de gravidez).
baixo risco de transmissão pelo leite
Critérios diagnósticos da Neoplasia Trofoblásti-
• Puérpera internada com COVID deve permanecer ca Gestacional:
isolada, junto ao seu acompanhante e RN (em alo-
jamento conjunto) durante toda a internação da • Pelo menos 4 valores estáveis de hCG, por no míni-
mesma, se as condições clínicas dela permitirem. mo 3 semanas, nos dias 1, 7, 14 e 21
• Elevação dos títulos de hCG em pelo menos 10%,
por no mínimo três valores ao menos por 2 sema-
QUESTÃO 89 nas, nos dias 1, 7 e 14
Paciente de 22 anos, G1P0A1, comparece ao seu plan- • Diagnóstico histológico
tão em emergência obstétrica referindo sangramento • Evidência de doença metastática
transvaginal persistente desde curetagem uterina reali-
zada há 45 dias por abortamento espontâneo. Ao exa- Após diagnóstico da neoplasia trofoblástica gestacio-
me, você percebe colo amolecido com orifício interno nal é preciso realizar a pesquisa de metástases a fim de
entreaberto. Ela traz exames realizados hoje: beta-hCG definir estadiamento e tratamento adequados. Exames
quantitativo de 12.000 mIU/ml e ultrassom transvagi- principais incluem: hemograma, função renal, função
nal mostrando útero de 150cm³, endométrio de 4mm, hepática, ultrassonografia transvaginal/pélvica com do-
imagem heterogênea de limites indefinidos em pare- ppler e radiografia de tórax.
de miometrial anterior, apresentando fluxo vascular O tratamento para NTG se dá com a quimioterapia,
de baixa resistência ao doppler. Sua principal hipótese com destaque ao metotrexato. Procedimentos cirúrgi-
diagnóstica e conduta são: cos (novo esvaziamento uterino ou histerectomia) en-
A) Mola hidatiforme parcial. Realizar aspiração manu- tram como coadjuvantes na terapêutica, especialmente
al intrauterina. nos casos de pacientes com doença refratária à terapia
clínica. Quando implementado o tratamento adequa-
B) Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG). Reali-
do, há altas chances de cura.
zar histerectomia.
C) Mola hidatiforme completa. Realizar aspiração ma- Vamos às alternativas:
nual intrauterina.
D) Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG). Enca- A) INCORRETA: questão traz descrição de uma
minhar para quimioterapia. imagem heterogênea em região intrauterina a qual
é compatível com nodulação/tumor (fluxo ao do-
Resposta correta: Letra D ppler). Nas doenças trofoblásticas gestacionais be-
nignas, após o adequado esvaziamento uterino, não
A gravidez molar é um dos diagnósticos diferenciais se espera novas imagens intrauterinas.
das hemorragias de primeira metade da gestação. As B) INCORRETA: a cirurgia no tratamento da neo-
manifestações clínicas são sangramento transvaginal de plasia trofoblástica gestacional entra como terapêu-
repetição (aspecto de suco de ameixa/framboesa), útero
190 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

tica coadjuvante. QUESTÃO 90


C) INCORRETA: o achado ultrassonográfico típi-
MSS, 38 anos, G5P4A0, IG 40 semanas, apresentan-
co na mola completa é de tempestade de neve ou
do polidrâmnio é admitida no centro obstétrico com
flocos de neve e representam as vesículas molares.
feto cefálico, 3 contrações 50 segundos em 10 minutos,
Numa paciente em que já foi feito o esvaziamento
colo com 7 cm dilatação, bolsa das águas íntegras. Com
uterino de uma doença benigna, não são esperadas
relação às medidas de prevenção da hemorragia pós-
novas imagens intrauterinas.
-parto (HPP), nesta paciente, qual a afirmativa correta?
D) CORRETA: apesar de não cumprir os critérios
diagnósticos para neoplasia trofoblástica gesta- A) Acesso venoso calibroso, reserva de sangue e oci-
cional, a persistência de altos níveis de beta-h- tocina 10 unidades intramuscular, imediatamente
CG associada a imagem heterogênea (tumor?) após o nascimento.
intrauterina com baixa resistência ao doppler su- B) Amniotomia, metilergometrina 0,2 mg intramus-
gerem NTG e o tratamento de primeira linha é a cular, imediatamente após o nascimento, seguida
quimioterapia de tração controlada do cordão umbilical.
C) Expressão do fundo uterino, associada à tração
controlada do cordão umbilical, ácido tranexâ-
Take-Home Message:
mico 1,0 g endovenoso e reserva de concentrado
• Persistência de altos níveis de BHCG pós parto/ de hemáceas.
abortamento devem levantar suspeita de neoplasia D) Obtenção de acesso venoso calibroso, elevação dos
trofoblástica gestacional membros inferiores, monitorização dos sinais vitais
• Imagem ultrassonográfica em floco de neve/nevasca e tônus uterino a cada 15 minutos, durante a pri-
sugerem mola completa meira hora pós-parto.
• Tratamento principal para NTG é quimioterapia, Resposta correta: Letra A
sendo o principal agente o metotrexato
• Cirurgias, como o esvaziamento uterino e a histe- A hemorragia pós parto (HPP) é, ainda hoje, a princi-
rectomia, por exemplo, são tratamento coadjuvan- pal causa de morte materna no mundo. Os principais
tes na neoplasia trofoblástica gestacional fatores de risco para hemorragia pós parto são:
• Anteparto: história prévia de HPP, distensão ute-
rina (gestação múltipla, polidrâmnio, macrossô-
mico etc), placenta prévia, acretismo placentário,
grande multípara
• Intraparto: trabalho de parto prolongado, trabalho
de parto taquitócito, corioamnionite, parto instru-
mentalizado, lacerações vaginais extensas (3º e 4º
graus), descolamento prematuro de placenta
• Pós-parto: não administração de ocitocina, má as-
sistência à puérpera
A principal medida preventiva da hemorragia pós-parto
é a administração intramuscular de 10 unidades de oci-
tocina imediatamente após o nascimento, associada ao
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 191

manejo ativo do terceiro período (clampeamento opor- QUESTÃO 91


tuno - entre um e três minutos - e a tração controlada
do cordão umbilical, o contato pele a pele e a vigilân- Menina de 16 anos vem ao posto de saúde com sua
cia uterina nas primeiras duas horas após a dequitação. mãe com queixa de nunca ter menstruado. Refere ter
Outras medidas associadas podem ser estabelecidas, a tido telarca e pubarca aos 10 anos, nega dor. Ao exame
critério clínico, como a reserva de hemocomponentes. físico, mamas Tunner IV, abdome, sem massas palpá-
veis ou pontos dolorosos, vulva com
Uma vez diagnosticada a hemorragia pós parto, os prin-
cipais medicamentos utilizados na terapia farmacológi- pilificação ginecoide, Tunner IV, com clítoris, peque-
ca são a ocitocina, os derivados do ergot (por ex: me- nos e grandes lábios normais, porém o introito vaginal
tilergometrina), o misoprostol e o ácido tranexâmico. não permite a passagem de um cotonete. Qual o me-
lhor exame para auxiliar no diagnóstico diferencial?
Vamos às alternativas: A) Ultrassom pélvico.
B) Dosagem sérica de FSH e LH.
A) CORRETA: paciente sob risco de HPP precisa de
acesso venoso calibroso a partir do qual serão in- C) Dosagem sérica de Prolactina e TSH.
fundidas medicações e/ou sangue, se necessário. D) Dosagem sérica de estrogênio e progesterona.
B) INCORRETA: a metilergometrina só deverá ser Resposta correta: Letra A
utilizada após diagnóstico de hemorragia pós parto
e não para sua profilaxia. Amenorreia primária pode ser definida como ausência
C) INCORRETA: expressão do fundo uterino asso- de menstruação em mulheres aos 14 anos sem caracte-
ciada à tração controlada do cordão fazem parte res sexuais secundários ou aos 16 anos com caracteres
do manejo ativo do terceiro período o que previne sexuais secundários. Antes disso, não há necessidade
HPP, entretanto, ácido tranexâmico só deve ser usa- de investigação.
do na vigência do evento e não para proifilaxia
A abordagem diagnóstica das causas de amenorreia
D) INCORRETA: a monitorização extensiva e eleva- primária divide-se em casos com caracteres sexuais se-
ção de membros são medidas para tratamento do cundários ou sem tais caracteres. Nas pacientes com
HPP e não para prevenção características sexuais secundárias, deve-se proceder
avaliação uterovaginal: inclui hímen imperfurado, sep-
Take-Home Message: to vaginal transverso e fusão labial. Para o hímen im-
perfurado e septo vaginal transverso, procede-se com
• Hemorragia pós parto é a principal causa de morte
a incisão e secção dos mesmos, respectivamente. Para
materna no mundo;
fusão labial pode-se ser tratado com estrogênio tópico
• A principal medida preventiva da hemorragia pós- ou separação cirúrgica.
-parto é a administração intramuscular de 10 uni-
Na síndrome de agenesia mulleriana (Síndrome de
dades de ocitocina imediatamente após o nascimen-
Rokitansky) a paciente apresenta cariótipo 46XX, ca-
to, associada ao manejo ativo do terceiro período.
racteres sexuais secundários, ovários normofuncionan-
• Os principais medicamentos utilizados na terapia tes (FSH e LH normais), testosterona em níveis femi-
farmacológica da hemorragia pós-parto são a ocito- ninos, porém sem útero, tubas e porção superior da
cina, os derivados do ergot, o misoprostol e o áci- vagina. Na síndrome da insensibilidade completa dos
do tranexâmico. androgênios (Síndrome de Morris) a paciente apresen-
ta um cariótipo 46,Xy com testículos normofuncio-
nantes (FSH e LH são normais), porém a testosterona
192 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

não consegue se ligar aos tecidos e exercer sua ação. A QUESTÃO 92


paciente apresenta, portanto, características sexuais se-
cundárias femininas decorrente da ação de estrógenos Mulher de 35 anos, casada, dois filhos de parto normal,
circulantes (mamas e vagina), porém sem útero, tubas procura atendimento na Unidade Básica de Saúde com
e porção superior da vagina. desejo de reiniciar contraceptivo oral. Refere enxaqueca
com aura, hipertensão em uso de medicação. Nega ta-
Nas pacientes sem características sexuais secundárias, bagismo. Informa ter ciclos menstruais regulares e nega
deve-se diferenciar o hipogonadismo como sendo hiper outras queixas ou comorbidades. Ao exame: Obesa
ou hipogonadotrófico. Se FSH/LH estiverem altos (hi- (IMC=30), PA: 130x90mmHg. Qual a melhor opção
pergonadotrófico), avalia cariótipo (principal Síndro- contraceptiva para esse caso?
me de Turner), se normais/baixos (hipogonadotrófico)
a causa é hipotalâmica ou hipofisária. A) Anel vaginal.
B) Adesivo transdérmico.
Vamos às alternativas C) Dispositivo Intrauterino (DIU).
D) Contraceptivo oral combinado.
A) CORRETA: a paciente em questão tem alguma
alteração anatômica subjacente (vagina curta, hí- Resposta correta: Letra C
men imperfurado, septo vaginal transverso), por-
tanto a ultrassonografia será capaz de ajudar na Os contraceptivos intrauterinos, também conhecidos
elucidação diagnóstica como DIUs (dispositivos intrauterinos) compreendem
B) INCORRETA: como paciente apresenta caracteres os dispositivos intrauterinos contendo cobre e o siste-
sexuais secundários normais, é possível considerar ma intrauterino de levonorgestrel (SIU-LNG).
que suas dosagens hormonais estejam adequadas, As principais contraindicações para o DIU são:
não sendo, portanto, a causa da amenorreia.
• Gravidez
C) INCORRETA: hiperprolactinemia e distúrbios
da tireoide são causas mais significativas de ame- • Doença inflamatória pélvica (DIP) ou IST atual,
norreia primária e não secundária, além disso, têm recorrente ou recente (nos últimos três meses)
maior relevância pensar neles como causa se outras • Sepse puerperal
manifestações clínicas estiverem presentes.
• Imediatamente pós-aborto séptico
D) INCORRETA: igual letra B
• Cavidade uterina deturpada
Take-Home Message: • Hemorragia vaginal inexplicada.
• Amenorreia primária = ausência de menstruação de- • Câncer cervical ou endometrial
pois dos 14 anos sem caracteres sexuais secundários • Doença trofoblástica maligna
ou 16 anos com caracteres sexuais secundários;
• Alergia ao cobre (para DIUs de cobre)
• Causas anatômicas para amenorreia primária:
hímen imperfurado, septo vaginal transverso, Os anticoncepcionais hormonais combinados (estro-
agenesia mulleriana e insensibilidade completa gênio + progesterona) podem ser divididos em quatro
aos androgênios. grupos: injetável mensal, vaginal, transdérmico e oral.
Quando utilizados da forma correta, apresentam baixas
• Exames de imagem (USG, tomografia, RNM etc) taxas de falha na contracepção.
são indispensáveis para avaliação de causas anatô-
micas de amenorreia primária Independente da via de administração, as contraindi-
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 193

cações para sua utilização são as mesmas. As principais Take-Home Message:


a serem lembradas (e que são cobradas em prova) estão • Na presença de comorbidades clínicas (HAS, DM,
listadas abaixo: trombofilia, câncer, IAM etc) sempre considerar
• TVP/EP métodos contraceptivos sem estrogênio
• Cirurgia maior com imobilização prolongada • Dispositivos intrauterinos sempre devem considera-
• Lúpus eritematosos sistêmico dos como alternativa aos métodos hormonais “con-
vencionais”
• Tabagismo (≥ 15 cigarros/dia) + idade superior a
35 anos • Nuliparidade e adolescência não contraindicam uso
de DIU
• Doença cardíaca isquêmica atual ou pregressa
• Hipertensão arterial sistêmica
QUESTÃO 93
• Acidente vascular cerebral atual ou pregresso
Mulher 30 anos, solteira, procura atendimento devido
• Enxaqueca com aura (enxaqueca sem aura + idade
a queixa de conteúdo vaginal abundante com odor féti-
≥ 35 anos
do há cerca de 5 dias. Relata novo parceiro há cerca de 2
• Câncer de mama meses, em uso de contraceptivo combinado oral. Nega
• Diabetes Mellitus outras queixas clínicas, como alterações menstruais ou
disúria. Ao exame: Vulva sem alterações. Ao exame es-
• Cirrose hepática pecular: conteúdo fluido algo bolhoso em moderada
• Lactante quantidade, de odor fétido. Colpite ausente. Colo com
• Puérpera não lactante, com fator de risco para TVP muco opaco, sem alterações. Teste de pH= 4,8 Resul-
(trombofilia, obesidade, hemorragia pós parto etc) tado de bacterioscopia por Gram: Células escamosas
+++ Leucócitos ++ Microbiota constituída por: Bacilos
curtos Gram- negativos, cocobacilos Gram variáveis e
Vamos às alternativas: cocos Gram-positivos. Escore de Nugent= 8. Qual tra-
A) INCORRETA: paciente tem enxaqueca, é hiper- tamento é mais adequado nesta situação?
tensa e obesa, logo apresenta contraindicação para A) Azitromicina 1g via oral em dose única.
utilização de métodos hormonais combinados, in-
B) Metronidazol 500mg, via oral, de 12/12 horas por
dependente da via de administração.
7 dias.
B) INCORRETA: igual leta A
C) Fluconazol 150 mg via oral em dose única e Metro-
C) CORRETA: o uso de DIU é excelente alternativa nidazol gel vaginal 7 dias.
a quem apresenta contraindicação ao uso de anti-
D) Ceftriaxona 500mg intramuscular, Azitromicina 1g
concepcionais hormonais combinados.
em dose única e Metronidazol gel vaginal 7 dias.
D) INCORRETA: igual letra A
Resposta correta: Letra B
194 | DEZ 22 SURCE 2022 - R1

A vaginose bacteriana é um estado de desequilíbrio da Vamos às alternativas:


flora vaginal normal, onde há substituição dos Lacto-
bacilos por bactérias anaeróbias e facultativas, com des- A) INCORRETA: azitromicina é utilizada para tra-
taque para: Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Megas- tamento de clamídia, uma infecção sexualmente
phaera, Leptotrichia, Sneatia, Bifidobacterium, Dialister, transmissível
Clostridium e Mycoplasmas. B) CORRETA
Os sintomas são corrimento de intensidade variável, C) INCORRETA: paciente apresenta quadro clássico
acompanhado de odor vaginal fétido (“odor d e peixe” de vaginose bacteriana, não há indicação de associa-
ou amoniacal), que piora com o intercurso sexual des- ção com fluconazol para tratamento de candidíase
protegido e durante a menstruação D) INCORRETA: a combinação de ceftriaxone + azi-
tromicina é utilizada no tratamento de cervicite
Para diagnóstico de Vaginose Bacteriana, podemos uti-
com clamídia e neisseria
lizar os critérios de Amsel (3 dos 4)
• Corrimento vaginal branco-acinzentado homogê-
Take-Home Message:
neo aderente às paredes vaginais;
• Sintomas da vaginose são corrimento vaginal abun-
• pH vaginal maior do que 4,5
dante, com odor típico, piorado na menstruação e
• Tfeste das aminas (whiff test) positivo após relação sexual
• Presença de “clue cells”. • Critérios de Amsel para vaginose bacteriana (3 de
O escore de Nugent é outra ferramenta que pode ser 4): Corrimento vaginal branco-acinzentado ho-
utilizada para diagnóstico da vaginose e se baseia em mogêneo aderente às paredes vaginais; pH vaginal
elementos avaliados na bacterioscopia do conteúdo maior do que 4,5; Teste das aminas (whiff test) po-
vaginal (Gram). O resultado da avaliação é traduzi- sitivo; Presença de “clue cells”.
do em escores: • Tratamento da vaginose bacteriana é com metroni-
• Escore de 0 a 3 – padrão normal; dazol 500mg de 12/12h por 07 dias
• Escore de 4 a 6 – flora vaginal intermediária;
• Escore de 7 a 10 – vaginose bacteriana
O Tratamento da vaginose bacteriana visa o reequilí-
brio da flora, com redução dos anaeróbios. As princi-
pais medicações são:
• Metronidazol 500 mg por via oral (VO) duas vezes
ao dia durante sete dias;
• Metronidazol gel 0,75% – 5g (um aplicador) intra-
vaginal ao deitar durante cinco dias;
• Clindamicina creme 2% – 5g (um aplicador) intra-
vaginal ao deitar durante sete dias.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 195

QUESTÃO 94 • Ausência de atividade cardíaca do produto conceptual

Mulher de 30 anos, nuligesta, comparece ao setor de • BHCG sérica ≤5.000 e crescente em duas dosagens
emergência do hospital com quadro de atraso mens- consecutivas (acima de 10%) em duas dosagens
trual de dois meses, dor abdominal difusa, tontura e consecutivas (24h a 48h)
sangramento vaginal discreto. Ao exame, nota-se pa-
lidez cutâneo-mucosa, sudorese, PA: 90 x 50 mmHg,
Conduta expectante está indicada:
FC: 140bpm, abdome doloroso à descompressão brus-
ca, principalmente em fossa ilíaca direita. Toque vagi- • Estabilidade hemodinâmica
nal com abaulamento e dor em fundo de saco poste- • Desejo de procriação
rior. Realizou ultrassonografia pélvica transvaginal não
visualiza imagem de saco gestacional intrauterino e vê • Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior diâ-
imagem anexial sugestiva de prenhez ectópica íntegra < metro
4 cm. Dosagem de ß-hCG = 2.500 UI/L. Hemogobi- • Ausência de atividade cardíaca do produto conceptual
na=7,0mg/dL e Hematócrito= 25%. Assinale a asserti-
BHCG sérica ≤5.000 e decrescente em duas dosagens
va correta quanto à conduta mais adequada deste caso.
consecutivas
A) Laparoscopia ginecológica de urgência.
A salpingectomia é indicada:
B) Metotrexate 50 mg / m2 intramuscular dose única.
• Instabilidade hemodinâmica
C) Dosagens seriadas de ß-hCG sérico quantitativo e
manter paciente internada. • Gestação ectópica rota.
D) Metotrexate 1,0mg/Kg intramuscular (dia 1) + Áci- • Hemorragia continua após a salpingostomia.
do folínico 0,1mg/Kg via oral (dia 2).
• Local de implantação muito danificado ou necrosado
Resposta correta: Letra A • Sem desejo futuro de procriação

Uma gestação ectópica rompida é uma emergência • A gestação ectópica representa uma falha do proce-
cirúrgica porque causa hemorragia materna e risco dimento de esterilização anterior.
de morte; o diagnóstico imediato é essencial devido
choque hipovolêmico, além de intensa dor abdominal Vamos às alternativas:
(sangue é um importante irritativo peritoneal). A) CORRETA: paciente se encontra instável e com
O tratamento da gestação ectópica depende de diversos anemia aguda. A cirurgia está indicada
fatores, entre eles o estado hemodinâmico da paciente, B) INCORRETA: tratamento medicamentoso só em
integridade da tuba e do seu desejo de novas gestações. casos de ectópica íntegra em paciente estável o que
Pode ser clínico (medicamentoso ou expectante) ou, não é o caso em tela
ainda, cirúrgico (laparotomia/laparoscopia). C) INCORRETA: paciente em estado grave, não deve
O uso de metotrexato está indicado para pacientes com: ser realizada medida expectante
• Estabilidade hemodinâmica D) INCORRETA: igual letra B
• Desejo de procriação
• Gestação ectópica íntegra de até 4cm no maior
diâmetro
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Take-Home Message: perficiais no ovário ou cistos (endometriomas); e en-


• Gestação ectópica deve ser suspeitada sempre que o dometriose profunda, que é definida como uma lesão
BHCG >1500-2000 sem visualização de embrião que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos
na cavidade uterina órgãos pélvicos, com profundidade de 5 mm ou mais.

• Tratamentos conservador e medicamentoso apenas Os principais mais comumente associados são os sintomas
em casos selecionados, especialmente com paciente associados são dismenorreia, dor pélvica crônica ou dor
estável, tamanho de massa até 4cm acíclica, dispareunia de profundidade, alterações intesti-
nais cíclicas (distensão abdominal, sangramento nas fezes,
• Sempre que a paciente estiver instável, deve-se pro- constipação, disquezia e dor anal no período menstrual),
ceder com tratamento cirúrgico alterações urinárias cíclicas (disúria, hematúria, polaciúria
e urgência miccional no período menstrual) e infertilidade.

QUESTÃO 95 Algumas alterações no exame físico podem ser extrema-


mente significativos na na suspeita clínica da doença.
Paciente 26 anos, nuligesta, refere ciclos menstruais Nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco
regulares com dismenorreia, dor pélvica crônica pro- posterior ao exame especular; no toque vaginal pode-
gressiva desde menarca, além de dispareunia. Deseja -se encontrar útero com pouca mobilidade (aderências
engravidar mas está há dois anos sem métodos contra- pélvicas), nódulos geralmente dolorosos também em
ceptivos e não consegue. Realizou espermograma do fundo de saco posterior podem estar associados a lesões
companheiro que foi normal, Ao exame físico, encon- retrocervicais, nos ligamentos uterossacros, no fundo
tra-se dor e espessamento bilateral em ligamentos úte- de saco vaginal posterior ou intestinais. Anexos fixos e
rossacrais e nodularidade dolorosa em fundo de saco dolorosos, assim como a presença de massas anexiais,
vaginal. Fez ultrassonografia pélvica transvaginal com- podem estar relacionados a endometriomas ovarianos.
patível com ovários aumentados de volume bilaterais,
Os principais exames de imagem que auxiliam no diag-
imóveis, centralizados e posteriorizados. Qual a prin-
nóstico e estadiamento da endometriose são as ultras-
cipal hipótese diagnóstica mais provável para o fator
sonografias pélvica e transvaginal com preparo intesti-
causal dessa infertilidade primária.
nal e a ressonância magnética.
A) Endometriose profunda.
B) Falência ovaríana prematura. Vamos às alternativas
C) Sequela de Doença Inflamatória pélvica. A) CORRETA: paciente com quadro típico de en-
D) Anovulação crônica por Síndrome de Ovários Poli- dometriose: dismenorreia intensa e dispareunia,
císticos. além de alterações em exame físico e exames com-
Resposta correta: Letra A plementares que sugerem a doença
B) INCORRETA: paciente com falência ovariana
A endometriose é caracterizada pela presença de tecido/ prematura não cursa com ciclos menstruais regu-
glândulas estroma endometrial fora da cavidade uteri- lares, pelo contrário, é uma das causas de amenor-
na, estando predominantemente na pelve, mas não res- reia secundária.
trita a ela. Existem diversas classificações para a mesma, C) INCORRETA: não há nenhum relato de quadro in-
mas didaticamente podemos dividi-la entre: endome- feccioso pélvico prévio para que se suspeite de sequela
triose profunda, peritoneal e ovariana. A peritoneal é D) INCORRETA: assim como na falência ovaria,
aquela que se caracteriza pela presença de implantes anovulação crônica da SOP cursaria com parada da
superficiais no peritônio; a ovariana, por implantes su- menstruação e não ciclos menstruais regulares.
SURCE 2022 - R1 DEZ 22 | 197

Take-Home Message: Adenomiose é uma alteração benigna do útero carac-


• Deve-se pensar em endometriose sempre que a pa- terizada pela pela invasão benigna do endométrio no
ciente tiver: dismenorreia intensa, dor pélvica crô- miométrio com presença de glândulas e estroma endo-
nica, dispareunia de profundidade e infertilidade metriais circundados por hiperplasia e hipertrofia das
células miometriais. Suas principais características são
• Exames de imagem mais importantes para diag- aumento difuso do útero com sangramento menstrual
nóstico de endometriose: ultrasosnografia pélvica aumentado e dismenorreia intensa.
e transvaginal com preparo intestinal e ressonância
magnética Para diagnóstico, a Ultrassonografia transvaginal
(USTV) e Ressonância Nuclear Magnética (RNM) são
ótimos métodos complementares. Sinais ultrassono-
QUESTÃO 96 gráficos de adenomiose incluem aumento heterogêneo
do volume uterino sem nódulos miomatosos, assime-
Mulher, 35 anos, G3P2A0, três cesáreas prévias, com tria entre paredes uterinas, heterogeneidade difusa ou
história de sangramento uterino de 9 dias de duração, focal, cistos anecoicos no miométrio e estrias radiadas
com intervalo cíclico mensal regular e de grande volu- partindo do endométrio. Apesar disso, nem sempre as
me que extravasa do absorvente, desde última cesárea alterações são muito evidentes e deve-se lembrar que se
ha 8 anos. Associado quadro de cólicas incapacitantes trata de um exame operador-dependente. Já na RNM,
em baixo ventre, progressiva, que intensifica nos pri- observa-se espessamento focal ou difuso da zona jun-
meiros 3 dias de fluxo necessitando de AINEs. Refere cional e em até metade dos casos, observam-se focos de
anemia crônica e fraqueza. Realizou ultrassonografia alta intensidade na zona juncional (cistos com sangue).
pélvica transvaginal que excluiu a possibilidade de leio-
O diagnóstico definitivo é dado pela análise anatomo-
miomas e mostrou um útero aparentemente normal.
patológica do produto da histerectomia que evidencia
Assinale a assertiva correta que corresponde à causa
glândulas e estroma endometrial a 2,5 cm ou mais da
mais provável do sangramento uterino anormal.
junção endomiometrial.
A) Endometrite.
As coagulopatias são causas não estruturais de sangra-
B) Adenomiose. mento uterino anormal (estão no PALM-COEIN).
C) Coagulopatia. Devem ser suspeitadas, especialmente, em adolescen-
D) Anovulação crônica. tes que apresentam sangramento regular e intenso des-
de a menarca e tal investigação se dá a partir de exa-
Resposta correta: Letra B mes como hemograma com contagem de plaquetas
e coagulograma.
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Vamos às alternativas: Take-Home Message:

A) INCORRETA: a endometrite é um quadro infec- • Lembrar do PALM COEIN sempre que estiver
cioso, geralmente pós parto. A paciente em tela não diante de sangramento uterino anormal
apresenta nenhum critério para que se pense em • Adenomiose = dismenorreia intensa + sangramento
processo infeccioso. menstrual aumentado
B) CORRETA: apesar de não estarem eviden- • Coagulopatia como causa de sangramento mens-
tes alterações ultrassonográficas significativas, trual aumentado deve ser pensado em meninas que
a adenomiose é causa clássica de sangramento desde a menarca têm aumento do fluxo.
uterino anormal, cursando, ainda, com dismenor-
reia intensa.
C) INCORRETA: coagulopatia é um distúrbio con- QUESTÃO 97
gênito, portanto, esperaríamos história de aumento
do volume de sangramento desde sempre e não só Mulher, multípara de 65 anos, com menopausa aos 50
após o parto, especialmente em paciente que não anos, assintomática desde então. Sem comorbidades.
faz uso de medicação cronicamente. Realiza exames ginecológicos regulares sem alterações.
Apresenta sangramento uterino anormal há 3 dias em
D) INCORRETA: paciente apresenta ciclos regu-
pequena quantidade de aspecto descrito como em bor-
lares, portanto, é impossível que tenha anovula-
ra de café. Nega dores abdominais ou quaisquer outras
ção crônica.
queixas. Assinale a assertiva correta quanto ao diagnós-
tico mais provável para este caso de sangramento ute-
rino anormal.
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A) Neoplasia intraepitelial endometrial. Take-Home Message:


B) Neoplasia intraepitelial cervical. • Causas mais comuns de sangramento pós menopau-
C) Adenocarcinoma de endométrio. sa: atrofia endometrial e uso de terapia de reposição
D) Atrofia endometrial. hormonal

Resposta correta: Letra D • Todo sangramento pós menopausa merece ser in-
vestigado incialmente com USG para avaliar eco
Na pós menopausa, as principais causas de sangramen- endometrial
to uterino anormal, em ordem decrescente, são atrofia • Investigação intrauterina está indicada se eco endo-
endometrial/endometrite e terapia de reposição hor- metrial >4mm em não usuárias de TRH ou >8mm
monal (empatados em 1ºlugar), câncer de endométrio em usuárias de TRH
e pólipos endometriais/cervicais. • Padrão ouro para investigação endometrial é histe-
O exame inicial a ser solicitado deve ser a US transva- roscopia com biópsia
ginal, para avaliação da cavidade endometrial. O valor
de normalidade do eco endometrial é de até 4mm se a
paciente não faz uso de terapia de reposição hormonal QUESTÃO 98
(TRH) ou até 8mm se a mesma fizer uso de tal tera-
Mulher, 45 anos, obesa, com queixa de perda de uri-
pêutica. Se houver espessamento endometrial, o exame
na ao tossir, espirrar e ao caminhar. Realizou estudo
padrão-ouro para avaliação da cavidade endometrial é
urodinâmico que observou detrusor estável e pressão
a histeroscopia com biópsia dirigida, podendo ser uti-
de perda à manobra de Valsalva de 42cmH2O. Qual a
lizado a curetagem uterina ou biópsia com Pipelle, na
melhor opção terapêutica para tratamento da inconti-
ausência da disponibilidade da histeroscopia.
nência urinária?
A hiperplasia endometrial pode ser considerada uma
A) Agente de preenchimento uretral.
lesão precursora de câncer de endométrio. Deve ser sus-
peitada quando a espessura endometrial for >4mm em B) Colposuspensão retropúbica.
mulheres sem terapia de reposição hormonal (TRH) e C) Sling retropúbico.
>8mm quando há TRH. D) Colpoperineoplastia.

Vamos às alternativas: Resposta correta: Letra C

A) INCORRETA: deve-se pensar em neoplasias de A incontinência urinária (IU) de esforço ocorre quan-
endométrio quando houver espessamento endome- do há perda involuntária de urina durante aumento da
trial o que não foi exposto na questão. pressão abdominal, sem contração do detrusor (espir-
B) INCORRETA: não há descrição de exame físico ro, tosse, risada etc). Pode ocorrer por hipermobilidade
para pensar, como primeira hipótese, em alteração (defeito anatômico) ou defeito esfincteriano intrínseco.
no colo do útero O estudo urodinâmico é capaz de definir objetivamen-
C) INCORRETA: igual letra A te as funções vesical e uretral. Compreende algumas
D) CORRETA: atrofia endometrial é a principal cau- fases de urofluxometria, cistometria e estudo miccio-
sa de sangramento pós menopausa em pacientes nal, podendo fazer diagnóstico diferencial dos quadros
não usuárias de TRH de incontinência: IU esforço por defeito esfincteriano
ou por hipermobilidade, hiperatividade detrusora, IU
mista (esforço + hiperatividade) etc.
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O tratamento conservador deve ser sempre encorajado, D) INCORRETA: a colpoperineoplastia está indica-
com destaque aos exercícios de Kegel para fortaleci- da como tratamento de defeito do corpo perine-
mento do assoalho pélvico, podendo ser feitos isolados al, logo não há relação com incontinência urinária
ou em conjunto com biofeedback, estimulação elétrica de esforço.
e/ou cones vaginais. Para as gestantes e puérperas, con-
siste no tratamento padrão. Take-Home Message:
O uso de medicamentos para incontinência urinária • Incontinência urinária de esforço deve ser tratada
por esforço tem papel secundário. A imipramina é um com exercícios pélvicos com ou sem cirurgia
antidepressivo tricíclico com efeitos alfa-adrenérgicos
que pode auxiliar contração do esfíncter uretral, entre- • Primeira linha de tratamento cirúrgico é a colocação
tanto pode complicar com retenção urinária (percebida dos slings (faixas livres de tensão)
como bexigoma). A duloxetina também tem sido útil • Uso de agentes preenchedores de uretra é medida
para aliviar os sintomas da IUE. de exceção
A utilização de faixas vaginais livres de tensão (slin-
gs) é atualmente considerada o procedimento padrão
para incontinência urinária de esforço (IUE), poden- QUESTÃO 99
do ser por via transobturatória ou retropúbica. Tra- Mulher, 85 anos, com queixa de bola na vagina. Ao
dicionalmente eram indicadas para IUE causada por exame físico, apresenta prolapso uterino estadio 4.
defeito esfincteriano, entretanto, hoje em dia são in- Paciente hipertensa e diabética em uso de insulina e
dicadas, também, para hipermobilidade e na refrata- não deseja procedimento cirúrgico. Qual melhor op-
riedade de outros procedimentos. Apresentam taxas de ção terapêutica?
cura semelhantes ou superiores ao tratamento cirúrgi-
co tradicional. A) Pessário vaginal.
B) Histerectomia total vaginal.
A injeção dos chamados agentes de preenchimento na
submucosa é um método minimamente invasivo, dis- C) Fisioterapia do assoalho pélvico.
ponível para tratar mulheres. com IUE decorrente de D) Colpoplastia anterior e posterior.
defeito esfincteriano intrínseco e ausência de mobilida-
Resposta correta: Letra A
de uretral. Está indicada na refratariedade cirúrgica ou
em pacientes com contraindicação à cirurgia.
O tratamento cirúrgico dos prolapsos genitais depende
de qual estrutura está prolapsada, mas em geral pode
Vamos às alternativas: ser feito por via vaginal. No de cúpula, esta é fixada no
A) INCORRETA: os preenchedores de uretra não são promontório ou no sacro ou, ainda, colpocleise para
primeira linha de tratamento, além disso, há neces- idosas sem atividade sexual. O de parede vaginal ante-
sidade de avaliação de uretra fixa para sua utilização rior pode-se usar a colporrafia para correção da fáscia
pubovesicocervical (cirurgia de Kelly Kennedy). O de
B) INCORRETA: a cirurgia de colpossuspensão re-
parede posterior, faz-se a colporrafia corrigindo a fáscia
tropúbica já foi muito utilizada para o tratamen-
retovaginal. No caso de prolapso uterino pode-se fazer
to de incontinência urinária de esforço, entretanto
histerectomia com reconstrução do assoalho.
hoje, os slings apresentam melhores resutados pós
operatórios e menores taxas de recorrência A colpocleise é um procedimento obliterativo (fecha-
C) CORRETA: os slings são, atualmente, a primeira mento da vagina), ideal para pacientes mais idosas e/ou
linha de tratamento para IUE clinicamente comprometidas, sem desejo de atividade
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sexual futura. É tecnicamente mais fácil, com taxas de QUESTÃO 100


sucesso superiores em relação às técnicas reconstrutivas
e menor recidiva. Após sua realização, às vezes, pode Paciente, 35 anos, realizou biopsia mamária de nódulo
evidenciar incontinência que estava oculta na vigência compatível com hiperplasia ductal atípica. Não sabe re-
do prolapso. ferir história familiar pois foi adotada na infância. Pro-
cura ginecologista para realizar exames para prevenção
Nas situações onde a paciente não tenha condições do câncer de mama. Assinale a assertiva correta quanto
clínicas para a cirurgia ou tenha preferência por um à classificação de risco da paciente e adequada estraté-
tratamento não invasivo, pode-se optar pelo pessário. gia de rastreamento com as recomendações do Colégio
Este dispositivo de silicone comumente é utilizado na Brasileiro de Radiologia e da Federação Brasileira de
forma de anel ou donut, devendo ser individualmente Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
adaptado de acordo com a avaliação do quociente de
prolapso de órgãos pélvicos (POP-Q), tem a vantagem A) Risco intermediário: realizar mamografia anual +
de poder ser colocado e retirado pela própria pacien- Ultrassonografia (USG) pode ser solicitada de ma-
te, quando devidamente orientada, não influenciando neira individualizada.
negativamente em seu convívio social, trabalho e ativi- B) Risco intermediário: realizar mamografia anual +
dade sexual. Ultrassonografia e ressonância magnética comple-
mentares.
Vamos às alternativas: C) Alto Risco: realizar mamografia anual + Ultrasso-
nografia e ressonância magnética complementares.
A) CORRETA: paciente idosa e com muitas comor-
D) Alto Risco: Mamografia e ressonância magnética
bidades, além de não ter desejo cirúrgico, benefi-
anuais a partir dos 30 anos.
cia-se da utilização do pessário
B) INCORRETA: paciente não deseja cirurgia Resposta correta: Letra B
C) INCORRETA: fisioterapia não corrigirá prolap-
so genital GABARITO MEDCOF:
D) INCORRETA: paciente não tem desejo cirúrgico sem resposta correta, questão anulada!

A Hiperplasia Ductal Atípica é uma lesão precursora


Take-Home Message: de câncer de mama, manifestam-se radiologicamente
• Tratamento cirúrgico depende da idade, perfil de como as microcalcificações agrupadas observadas em
comorbidades, atividade sexual e desejo da paciente exames de imagem. O risco relativo para desenvolvi-
mento de câncer de mama é de quatro a dez vezes e
• Prolapso de parede anterior  colporrafia anterior
alguns estudos mostraram que até 30% das pacientes
(cirurgia de Kelly Kennedy)
com esse tipo de hiperplasia evolui para carcinoma in-
• Prolapso de parede posterior  colporrafia poste- vasivo, considerando, portanto, essa população de alto
rior risco para desenvolvimento do câncer.
• Idosa e sem atividade sexual  colpocleise Há consenso de que mulheres com esse diagnóstico
• Prolapso uterino  histerectomia vaginal com en- devem iniciar o rastreamento mamográfico anual logo
curtamento dos ligamentos uterossacros após o diagnóstico. O maior debate, por outro lado,
gira em torno de qual seria o melhor exame comple-
• Sem desejo/condição cirúrgica  pessário mentar a auxiliar a mamografia no esclarecimento dos
achados mamográficos, uma vez que mulheres jovens
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apresentam mamas densas o que diminui a sensibili-


dade da mamografia. Dito isto, segundo as últimas
recomendações do Colégio Brasileiro de Radiologia e
da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia
(Febrasgo), recomenda-se que todas essas pacientes
sejam submetidas a ressonância nuclear magnética
como exame suplementar, ficando a ultrassonografia
como segunda escolha para aquelas que não tiverem
acesso à RNM.

Vamos às alternativas:
A) INCORRETA: a lesão é de alto risco e não de risco
intermediário
B) INCORRETA: igual letra A
C) INCORRETA: deve-se optar entre a ressonância e
a ultrassonografia, não as duas simultaneamente
D) INCORRETA: o início do rastreamento deve ser
feito logo após o diagnóstico e não só a partir dos
30 anos.

Take-Home Message:
• Rastreamento de câncer de mama em pacientes de
alto risco deve ser feito com mamografia anual +
ressonância nuclear magnética, se necessário
• A ultrassonografia das mamas atualmente é o exame
de segunda escolha para complementação diagnós-
tica, quando a ressonância não está disponível
• Hiperplasia ductal atípica é lesão precursora de cân-
cer de mama (alto risco).
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